PALÁCIO TIRADENTES FIEL À DEMOCRACIA - Assembléia ...
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anda da oposição. E o Partido Republicano, PR, do<br />
ex-presidente Arthur Bernardes, jogava o truco dos<br />
seus interesses mineiros.<br />
Carlos Lacerda foi o maior orador que conheci. Vários<br />
dos seus discursos foram gravados e comprovam a<br />
avaliação consensual. Completo domínio de ator na<br />
tribuna. Físico de atleta de tórax poderoso, gesticulação<br />
perfeita, a voz que percorria toda a escala, do tom<br />
mais grave à blandícia maliciosa dos apartes desmoralizantes.<br />
A deputada Ivete Vargas ousou cutucar o líder da UDN,<br />
com o aparte agressivo à sua crítica destruidora do presidente<br />
Vargas. Gritou o insulto do microfone do plenário:<br />
“Vossa Excelência não passa de um purgante.”<br />
Troco instantâneo: “E Vossa Excelência é o efeito.”<br />
Na mesma ratoeira caiu o deputado Bocaiúva Cunha,<br />
do PTB, insistindo no aparte agressivo, em outro dos<br />
libelos diários contra o ex-ditador: “Vossa Excelência é<br />
um ladrão da honra alheia.”<br />
Carlos Lacerda rebateu de primeira: “Então Vossa<br />
Excelência pode estar tranquilo, pois não tem nada<br />
que eu lhe possa roubar.”<br />
CAPÍTULO 5<br />
Se o deputado Carlos Lacerda foi o maior orador que<br />
conheci em 12 anos de Congresso, o discurso do deputado<br />
Afonso Arinos, na tensão da crise que culmina<br />
com o suicídio de Getúlio Vargas, assinala o mais alto<br />
instante de eloquência parlamentar.<br />
O país vivia o transe histórico com a antevisão do desfecho<br />
iminente e a crispação coletiva no choque passional<br />
da população dividida.<br />
Com a Câmara lotada, do plenário às tribunas, as bancadas<br />
do governo e da oposição agrupadas em volta da<br />
tribuna, o deputado Afonso Arinos, em menos de uma<br />
hora, eletrizou a assistência com a violência crescente<br />
do improviso, de veemência avassaladora, com trechos<br />
de extraordinária beleza literária e a rica adjetivação<br />
de um mestre da língua.<br />
De pé, diante da tribuna, o deputado Gustavo<br />
Capanema, lívido, olhos fixos, viveu o drama da certeza<br />
do fim próximo e da responsabilidade da resposta<br />
em nome da situação perdida.<br />
O repórter Oyama Telles, temperamental de repentes,<br />
interpelou o líder do PSD, emendando a pergunta<br />
na resposta: “Então, deputado? E agora? Está<br />
tudo perdido.”<br />
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