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Dezembro 2007 / Janeiro 2008 - Edição 285 - Cave

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ducave 3<br />

2 elásticos podem curar 1 tristeza?<br />

Outro dia, estava à espera de minha<br />

mãe numa imobiliária, na qual, por sua<br />

vez, ela iria receber algum pagamento.<br />

Ali se encontravam poltronas confortáveis,<br />

propositadamente colocadas, para<br />

que as demais pessoas, como eu, e também<br />

alguns idosos, pudessem descansar<br />

enquanto a fila desenrolava.<br />

Em meio a tanto tumulto, gente que<br />

passava de um lado para o outro, celulares<br />

tocando freneticamente, abrir<br />

e fechar de portas, telefone<br />

chamando, máquinas imprimindo<br />

documentos, ventilador<br />

girando sistematicamente,<br />

um bebê chorava<br />

angustiado a espera de alguma<br />

atenção de sua<br />

mãe e um homem esbaforido<br />

se negava, a todo<br />

custo, pagar a inoportuna multa de<br />

condomínio. Ali estávamos todos nós assistindo<br />

àquela discussão tempestiva entre<br />

o homem e a funcionária do caixa, e<br />

que mais parecia um duelo entre a razão<br />

e a obrigação. Entre tudo isso, lá estava<br />

eu, calma, absorta em profundos pensamentos...<br />

tão longe e tão perto, vazia e<br />

repleta, tudo ao mesmo tempo.<br />

Foi assim que, de um momento para<br />

o outro, apareceu na minha frente um<br />

homem, que aparentava ser de meia<br />

idade; surgira do nada e com toda a familiaridade,<br />

sem reserva alguma, se<br />

aproximou de mim, com uma expressão<br />

gozada, carregando nas mãos um<br />

monte de elásticos de borracha, daqueles<br />

bem novinhos, nunca usados e ainda<br />

duros. O homem que<br />

usava um uniforme daquela<br />

imobiliária foi logo dizendo<br />

sem meias palavras:<br />

"Mas como pode uma jovem<br />

tão bonita, estar com<br />

uma cara tão triste ao receber<br />

um pagamento? Não<br />

vejo ninguém aqui que<br />

possa estar triste quando se fala em ganhar<br />

dinheiro..." E meio no susto, eu ri<br />

sem graça do que ele havia dito, fiquei<br />

no vácuo por alguns segundos, mas suprimida<br />

pela necessidade de dar alguma<br />

satisfação, tropeçando entre palavras<br />

que saíam engasgadas da minha<br />

boca, que de modo algum eu estava<br />

triste ou algo parecido. Era<br />

sono, cansaço, tédio e por<br />

aí vai. Podia estar até meditando<br />

mas meu argumento<br />

de nada valeu porque o tal homem<br />

não se convenceu e, ao sair da sala,<br />

quase num ato de prodigalidade, me deu<br />

dois de seus elásticos, não ousou pronunciar<br />

palavra alguma e sumiu, ali mesmo,<br />

naquele tumulto.<br />

Aquele simples gesto me deixou confusa<br />

e com dois elásticos nas mãos, aparentemente<br />

inúteis. Mas olhando para<br />

eles, e um pouco menos distante dos<br />

meus pensamentos anteriores, comecei<br />

a refletir sobre o comportamento daquele<br />

homem. Como pode alguém,<br />

que nunca me viu, se intrometer<br />

na minha vida? O que o<br />

fazia rir daquela maneira tão gozada<br />

e irônica? Aquilo me intrigou<br />

e me tirou da letargia em que<br />

me encontrava.<br />

Comecei a brincar com os tais<br />

elásticos, puxando-os para cá e<br />

para lá, improvisando de fazde-conta<br />

que é um estilingue.<br />

Lembrando de quando era<br />

pequena e com pouca coisa me contentava.<br />

Coloquei-os entre os dedos e recordei<br />

do elástico de pular. Das amigas<br />

levadas e risonhas. Das brigas e até do<br />

que julgava injusto nas brincadeiras. Era<br />

eu ali e mais dois elásticos amarelos, revivendo<br />

doces momentos da minha infância,<br />

de anos não tão longe idos, mas<br />

que) na minha plena adolescência, já deixava<br />

como um rastro de poeira para trás.<br />

Fiquei rindo sozinha e, ao mesmo<br />

tempo, cercada de todo tipo de vida. Estava<br />

feliz, observando o quanto é rica,<br />

preciosa e mágica a nossa vida.<br />

Será que em meio a tanta correria do<br />

nosso dia-a-dia nos esquecemos dos verdadeiros<br />

valores da vida?<br />

Será que os homens só se<br />

preocupam com o bem-estar<br />

próprio e com a ganância<br />

de ganhar cada vez mais<br />

dinheiro? Talvez as verdadeiras<br />

coisas da vida estejam<br />

em respirar o perfume<br />

das flores, sentir a brisa do<br />

mar, ver o pôr-do-sol, tomar uma água<br />

gelada num dia quente, sorrir com um<br />

sorriso de criança, olhar para as montanhas<br />

e perceber que tem muito mais por<br />

trás delas, rir sem motivo de algo banal,<br />

estar com as pessoas que você mais<br />

ama... Talvez a vida passe muito rápido<br />

e seja flexível e colorida como os elásti-<br />

PISM II<br />

cos, só depende de nós... Ela vai passar<br />

e você nem vai ver... Assim como todo<br />

elástico que vai e vem.<br />

Pamella Valente Palma<br />

Que fase, heim?!<br />

Ensino médio: período de diversão e<br />

de muitas dúvidas. A corrida incessante<br />

ao vestibular. O estresse, o cansaço, uma<br />

vida que não imaginamos ser das melhores.<br />

Tudo o que queremos são as festas<br />

e baladas, sendo que na segunda-feira<br />

nos espera um caminhão de matéria,<br />

e não adianta só tirar notas, tem que realmente<br />

saber e não pode esquecer de<br />

nada até o final do ano. Vida ingrata,<br />

não? Não. Como dizem nossos pais,<br />

depois piora, e a gente pensa: dá pra pirar?<br />

E no fundo sabemos que dá.<br />

Ainda fica a dúvida: será que vou<br />

continuar no processo pelo PISM ou vou<br />

para o vestibular? Não pode ser. O pior<br />

é que pode sim. O mundo hoje está<br />

muito concorrido, cheio de pessoas capazes<br />

e logo a gente pensa que são pessoas<br />

muito mais capazes do que nós, o<br />

que não é verdade, todos nós somos,<br />

podemos, sim, ter mais facilidade ou dificuldade<br />

em alguns pontos, mas todos<br />

somos bons em alguma coisa. Aí vem<br />

mais uma ingratidão: não podemos ser<br />

bons, temos que ser ótimos. Será que<br />

isso nunca acaba? Não. Sempre há um<br />

novo desafio pela frente: um vestibular,<br />

uma prova, um concurso, um emprego,<br />

mas se pensamos bem não teria graça<br />

se tudo fosse fácil, não é mesmo?<br />

Mas nessa “lenga-lenga” toda, chega<br />

a nossa hora. Eu, por exemplo, tenho a<br />

certeza de que a minha vai chegar, até a<br />

de Augusto Matraga chegou, por que a<br />

minha não há de chegar?<br />

Enquanto não chega, vamos aqui, estudando,<br />

vivendo e aprendendo a cada<br />

dia, tirando o maior proveito possível de<br />

tudo; claro que, de vez em quando, uma<br />

folguinha ou um churrasquinho, mas<br />

nunca deixemos nossas responsabilidade<br />

de lado, porque lá na frente os resultados<br />

serão extremamente gratificantes.<br />

Luciane C. di Ornellas Carvalho

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