Ensaios de Geografia Humana na obra de Aroldo ... - Jornal O Lince
Ensaios de Geografia Humana na obra de Aroldo ... - Jornal O Lince
Ensaios de Geografia Humana na obra de Aroldo ... - Jornal O Lince
You also want an ePaper? Increase the reach of your titles
YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.
A reforma <strong>de</strong> Gustavo Capanema (1942-1945) reestruturou o ensino secundário, dividindo-o em dois<br />
ciclos: gi<strong>na</strong>sial e clássico ou científico. Concomitante às reformas, Vargas efetua trans-formações políticas,<br />
econômicas e sociais no país, nunca, até então, feitas para a <strong>Geografia</strong>. É importante lembrar que, <strong>de</strong><br />
acordo com o MEC, em 1938, por meio do Decreto-Lei nº 1.006, <strong>de</strong> 30/12/38, “o Estado institui a Comissão<br />
Nacio<strong>na</strong>l do Livro Didático (CNLD), estabelecendo sua primeira política <strong>de</strong> legislação e controle <strong>de</strong><br />
produção e circulação do livro didático do país”, o que viria a ser uma das primeiras políticas <strong>de</strong> controle <strong>de</strong><br />
produção como também acerca dos conteúdos presentes no livro didático. Coinci<strong>de</strong>ntemente ou não, nesse<br />
período é iniciada a construção da i<strong>de</strong>ologia do <strong>na</strong>cio<strong>na</strong>lismo patriótico, quando o Estado Novo passa a<br />
opi<strong>na</strong>r com mais força a respeito da ciência geográfica no Brasil. Era o Estado forte e interventor que<br />
<strong>de</strong>fendia um governo autoritário, necessário para se construir a <strong>na</strong>ção mo<strong>de</strong>r<strong>na</strong> (Ferraz, 1995, p. 103).<br />
Entre os intelectuais presentes <strong>de</strong>sse período, estava Oliveira Via<strong>na</strong>, consi<strong>de</strong>rado como o homem do<br />
saber, articulado e presente no governo <strong>de</strong> Getúlio Vargas, estava próximo aos pensadores da <strong>Geografia</strong><br />
mo<strong>de</strong>r<strong>na</strong>. Oliveira Via-<strong>na</strong> <strong>de</strong>senvolveu alguns trabalhos, implementou reformas educacio<strong>na</strong>is, praticou as<br />
teorias do darwinismo social, o positivismo, a eugenia e o neolamarkismo. Mo<strong>de</strong>los <strong>de</strong> pensamentos até<br />
então discutidos e revistos no século passado, mas agora revistos e republicados nos livros didáticos <strong>de</strong><br />
<strong>Aroldo</strong> <strong>de</strong> Azevedo.<br />
Por outro lado Gilberto Freyre, Nelson Werneck Sodré, José Honório Rodrigues e Sérgio Buarque <strong>de</strong><br />
Holanda faziam ferrenhas críticas a postura <strong>de</strong> Oliveira Via<strong>na</strong>, pelos seus modos <strong>de</strong> pensar. (Machado,<br />
1995, p. 341)<br />
Foi no meio <strong>de</strong>sse contexto histórico e político que <strong>Aroldo</strong> <strong>de</strong> Azevedo <strong>de</strong>senvolve suas idéias.<br />
Costa escreve a respeito do tema:<br />
observa-se <strong>de</strong> imediato que a opção preferencial da esmagadora maioria dos que aqui se<br />
<strong>de</strong>dicaram a eles foi a geopolítica, tal qual formulada por Kjéllen e <strong>de</strong>senvolvida por Haushofer, isto é<br />
a manipulação <strong>de</strong> alguns conhecimentos “ditos” geográficos para a formulação <strong>de</strong> esquemas que<br />
interessem às políticas <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r. (1992, p. 177)<br />
Como professor no Departamento <strong>de</strong> <strong>Geografia</strong> da Universida<strong>de</strong> <strong>de</strong> São Paulo, as influências da escola<br />
francesa sobre suas <strong>obra</strong>s foram fortíssimas, como se po<strong>de</strong> notar em uma das suas primeiras publicações,<br />
em específico, no capítulo XII <strong>de</strong> “Raças e povos da Terra”, no qual apresenta uma divisão das raças<br />
segundo “cor da pele, forma do crânio, qualida<strong>de</strong> do cabelo, forma do <strong>na</strong>riz, do queixo e classificações <strong>de</strong><br />
raças” (p. 187) 7<br />
.<br />
O professor Kabengele Mu<strong>na</strong>nga 8<br />
historiciza como o conceito <strong>de</strong> raça foi empregado <strong>na</strong>s ciências<br />
huma<strong>na</strong>s politicamente, passando pelos escritos <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a Antiguida<strong>de</strong>, passando pela Ida<strong>de</strong> Média, Tempos<br />
Mo<strong>de</strong>rnos e Época Contemporânea. Posteriormente, discute o conceito <strong>de</strong> racismo e seus diversos usos e<br />
sentidos, passando pelas diversas interpretações do conceito <strong>de</strong> racismo nos campos da Biologia, da<br />
Sociologia, da Antropologia, da Psicologia e da Psicanálise, aborda as gran<strong>de</strong>s doutri<strong>na</strong>s racistas, tais como<br />
o gobinismo, o <strong>na</strong>zismo, o darwinismo social, o que reflete, por exemplo, a Europa Atual, as Américas e o<br />
Brasil. A respeito do tema, Mu<strong>na</strong>nga escreve que o conceito <strong>de</strong> ra-ça, “tal como o empregamos hoje, <strong>na</strong>da<br />
tem <strong>de</strong> biológico. É um conceito carregado <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ologia, pois, assim como todas as i<strong>de</strong>ologias, escon<strong>de</strong><br />
uma coisa não proclamada: a relação <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r e <strong>de</strong> domi<strong>na</strong>ção”. Mu<strong>na</strong>nga (2004, p. 22).<br />
Uma <strong>de</strong>finição que saiu dos círculos intelectuais e acadêmicos para se difundir no tecido social das<br />
populações oci<strong>de</strong>ntais. Um conjunto <strong>de</strong> elementos que, para alguns, era necessário para classificar e<br />
agrupar colocando juntos os que parecem ser mais semelhantes ou distantes <strong>de</strong> um grupo social.<br />
Vejamos a figura 1, extraída do livro <strong>de</strong> <strong>Aroldo</strong> <strong>de</strong> Azevedo <strong>de</strong> 1952, p. 187.<br />
No livro <strong>de</strong> <strong>Aroldo</strong>, vemos que ele seguiu as divisões <strong>de</strong> or<strong>de</strong>m taxonômica num “universo dos fenótipos”<br />
<strong>de</strong>finindo as raças em função da cor da pele (negros, brancos, e amarelos), como a textura do cabelo (lisos,<br />
anelados e crespos) ou mesmo tamanhos da caixa do crânio entre dolicocéfalos ou braquicéfalos,<br />
(re)criando variáveis e idéias questionáveis. “O crânio alongado, dito dolicocéfalo, por exemplo, era tido<br />
como característica dos brancos “nórdicos”, enquanto o crânio arredondado, o braquicéfalo, era<br />
consi<strong>de</strong>rado como característica física dos negros e amarelos”. (Mu<strong>na</strong>nga, 2004, p. 20)<br />
Em outra pesquisa a respeito das doutri<strong>na</strong>s raciais encontramos a “frenologia e a antropometria como<br />
teorias que passaram a interpretar a capacida<strong>de</strong> huma<strong>na</strong> tomando em conta o tamanho e proporção do<br />
cérebro dos diferentes povos. Uma nova craniologia técnica, que introduzia a medição do índice cefálico”.<br />
(Schwarcz, 1993, p. 48)<br />
Segundo a autora, teoria <strong>de</strong>senvolvida pelo antropólogo André Ratzius em meados do século XIX. O<br />
critério da morfologia, o tamanho do crânio e seus ângulos, como das <strong>de</strong>mais partes da cabeça, <strong>na</strong>riz,<br />
queixo e lábios entram <strong>na</strong> avaliação <strong>de</strong> superiorida<strong>de</strong> e inferiorida<strong>de</strong> huma<strong>na</strong>. Po<strong>de</strong>mos dizer dos discursos<br />
<strong>de</strong> hierarquização <strong>de</strong> uma raça sobre a outra, a legitimação da domi<strong>na</strong>ção. Basta lembrarmos a <strong>obra</strong> <strong>de</strong>