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Dinâmicas de Intervenção em prol da Inclusão - Município de Arcos ...

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Diagnóstico Social do Concelho <strong>de</strong> <strong>Arcos</strong> <strong>de</strong> Val<strong>de</strong>vez<br />

13. DINÂMICAS DE INTERVENÇÃO EM PROL DA<br />

INCLUSÃO SOCIAL<br />

Fotografia 13.1: Santuário <strong>da</strong> Sra. <strong>da</strong> Pene<strong>da</strong><br />

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Diagnóstico Social do Concelho <strong>de</strong> <strong>Arcos</strong> <strong>de</strong> Val<strong>de</strong>vez<br />

13.1. Enquadramento<br />

Os fenómenos <strong>da</strong> pobreza e <strong>da</strong> exclusão social têm adquirido, nos últimos<br />

anos, uma visibili<strong>da</strong><strong>de</strong> crescente, algo que <strong>de</strong>corre <strong>da</strong> percepção ca<strong>da</strong> vez<br />

mais vinca<strong>da</strong> do seu estatuto enquanto reali<strong>da</strong><strong>de</strong>s que importa combater.<br />

A crescente atenção <strong>da</strong><strong>da</strong> à pobreza reflecte-se, aliás, na progressiva<br />

institucionalização do fenómeno. De facto, é hoje profuso o conjunto <strong>de</strong><br />

intervenções e projectos <strong>de</strong> âmbito mais ou menos alargado que visam<br />

concretizar localmente estratégias <strong>de</strong> combate à pobreza e à exclusão social.<br />

Este movimento institucional está inegavelmente ligado à entra<strong>da</strong> <strong>de</strong> Portugal<br />

na CEE e aos efeitos <strong>de</strong>correntes <strong>da</strong> aplicação no nosso país dos II e III<br />

Programas Europeus <strong>de</strong> Luta Contra a Pobreza (1987-1989 e 1989-1991,<br />

respectivamente), b<strong>em</strong> como aos efeitos <strong>de</strong> vários programas <strong>de</strong> âmbito<br />

nacional, nomea<strong>da</strong>mente do Programa Nacional <strong>de</strong> Luta Contra a Pobreza.<br />

Como não podia <strong>de</strong>ixar <strong>de</strong> ser, também <strong>em</strong> <strong>Arcos</strong> <strong>de</strong> Val<strong>de</strong>vez se têm<br />

<strong>de</strong>senvolvido esforços no sentido não só <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ntificar as principais<br />

probl<strong>em</strong>áticas inerentes aos processos sociais, mas sobretudo <strong>de</strong> investir na<br />

intervenção face à pobreza e à exclusão social.<br />

Não basta, porém, reconhecer a exclusão como probl<strong>em</strong>a social que é<br />

preciso combater, mas é indispensável ir mais além na busca <strong>de</strong> uma visão ao<br />

mesmo t<strong>em</strong>po global e territorializa<strong>da</strong> do fenómeno, que permita apreen<strong>de</strong>r<br />

todo o seu alcance e complexi<strong>da</strong><strong>de</strong>, <strong>de</strong> forma a evitar acções que, por se<br />

dirigir<strong>em</strong> exclusivamente às vítimas dos processos <strong>de</strong> exclusão, se limit<strong>em</strong> a<br />

actuar sobre os efeitos mais visíveis <strong>da</strong> dita exclusão social, s<strong>em</strong> atacar as suas<br />

causas.<br />

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Diagnóstico Social do Concelho <strong>de</strong> <strong>Arcos</strong> <strong>de</strong> Val<strong>de</strong>vez<br />

Neste sentido, é fun<strong>da</strong>mental que os diferentes parceiros sociais, as instituições<br />

e gestores institucionais e a comuni<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>em</strong> geral saibam lançar um olhar<br />

ca<strong>da</strong> vez mais incisivo sobre a reali<strong>da</strong><strong>de</strong> sócio-económica e cultural <strong>em</strong> que<br />

se inser<strong>em</strong>, <strong>de</strong> forma a produzir respostas a<strong>de</strong>qua<strong>da</strong>s aos probl<strong>em</strong>as sociais<br />

sobre os quais é preciso intervir.<br />

Tendo <strong>em</strong> conta o que acabámos <strong>de</strong> afirmar, importa reflectir sobre alguns<br />

princípios analíticos que consi<strong>de</strong>ramos importantes:<br />

• uma análise dos contextos sociais e dos processos <strong>de</strong> mu<strong>da</strong>nça <strong>em</strong><br />

curso <strong>de</strong>ve ser ancora<strong>da</strong> à reali<strong>da</strong><strong>de</strong> social vivencia<strong>da</strong> no contexto <strong>em</strong><br />

análise, isto é, <strong>de</strong>ve estar estreitamente relaciona<strong>da</strong> com os factores e<br />

fenómenos <strong>de</strong> <strong>de</strong>sintegração, <strong>de</strong>squalificação e exclusão sociais<br />

existentes no concelho, numa perspectiva ampla, plurifaceta<strong>da</strong> e<br />

também pluri-sectorial;<br />

• por outro lado, a análise dos processos sociais e <strong>da</strong>s dinâmicas <strong>de</strong><br />

mu<strong>da</strong>nça recobre uma plurali<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> contextos e <strong>de</strong> t<strong>em</strong>áticas inter-<br />

sectoriais, estando <strong>em</strong> causa na sua análise, sobretudo, a necessi<strong>da</strong><strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> procurar um objectivo <strong>de</strong> quali<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> vi<strong>da</strong> e <strong>de</strong> coesão social;<br />

• <strong>da</strong> mesma forma, a análise dos contextos sociais e dos processos <strong>de</strong><br />

mu<strong>da</strong>nça social que lhe estão inerentes no âmbito do concelho <strong>de</strong><br />

<strong>Arcos</strong> <strong>de</strong> Val<strong>de</strong>vez parte <strong>de</strong> dinâmicas já instala<strong>da</strong>s neste domínio e<br />

que operam com vista a uma melhoria <strong>da</strong> quali<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> vi<strong>da</strong> dos seus<br />

habitantes e têm i<strong>de</strong>ias, projectos e acções <strong>em</strong> curso para reinserir ou<br />

reintegrar pessoas <strong>em</strong> risco ou na situação <strong>de</strong> exclusão.<br />

O presente capítulo procurará, pois, i<strong>de</strong>ntificar não só as principais<br />

probl<strong>em</strong>áticas sociais, mas sobretudo os processos, os actores sociais e as<br />

estratégias <strong>de</strong> intervenção que têm sido <strong>de</strong>senvolvi<strong>da</strong>s no concelho <strong>de</strong> <strong>Arcos</strong><br />

<strong>de</strong> Val<strong>de</strong>vez para combater a exclusão social, numa perspectiva que permita<br />

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Diagnóstico Social do Concelho <strong>de</strong> <strong>Arcos</strong> <strong>de</strong> Val<strong>de</strong>vez<br />

reflectir criticamente sobre o(s) caminho(s) percorrido(s) e sobre o(s)<br />

caminho(s) a percorrer a este nível.<br />

Não po<strong>de</strong>mos <strong>de</strong>ixar <strong>de</strong> reforçar a i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> que não existe <strong>de</strong>sintegração<br />

social porque se vive <strong>em</strong> meio rural ou porque se é idoso; existe exclusão social<br />

porque não se t<strong>em</strong> acesso a condições dignas <strong>de</strong> existência física, porque se<br />

vive isolado e confrontado com probl<strong>em</strong>as físicos e psíquicos, porque não se<br />

reivindica o direito <strong>de</strong> ci<strong>da</strong><strong>da</strong>nia e <strong>de</strong> participação cívica, etc.<br />

O gran<strong>de</strong> <strong>de</strong>safio <strong>de</strong>sta área t<strong>em</strong>ática é, <strong>de</strong> facto, a varie<strong>da</strong><strong>de</strong> e<br />

especifici<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> situações-probl<strong>em</strong>a com que nos <strong>de</strong>paramos no concelho,<br />

a consequente análise <strong>da</strong> intervenção social <strong>em</strong> curso e a reflexão mais<br />

sist<strong>em</strong>ática acerca <strong>de</strong> novas dinâmicas <strong>de</strong> coesão e <strong>de</strong> integração sociais.<br />

É óbvio que este exercício só po<strong>de</strong> ser feito tendo presente a noção <strong>de</strong> re<strong>de</strong><br />

social <strong>de</strong> intervenção que envolve os especialistas e profissionais <strong>da</strong> acção<br />

social, os responsáveis políticos na comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>, os responsáveis económicos<br />

presentes na comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>, os interlocutores e representantes cívicos e morais<br />

<strong>da</strong>s populações e as próprias pessoas. Aliás, partimos mesmo <strong>da</strong> i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> que<br />

a noção <strong>de</strong> re<strong>de</strong>, que t<strong>em</strong> por pano <strong>de</strong> fundo a <strong>de</strong> parceria, é essencial para<br />

o sucesso <strong>de</strong> qualquer intervenção, sobretudo <strong>em</strong> termos <strong>de</strong> <strong>de</strong>senho futuro<br />

<strong>da</strong>s dinâmicas <strong>de</strong> actuação face aos contextos sociais <strong>em</strong> presença.<br />

Finalmente, e consi<strong>de</strong>rando que estamos a abor<strong>da</strong>r pessoas, os seus valores, a<br />

sua mentali<strong>da</strong><strong>de</strong>, a sua cultura, pensamos que não é lícito propor um caminho<br />

<strong>de</strong> política e <strong>de</strong> intervenção social, mas caminhos plurais, on<strong>de</strong> os projectos<br />

pessoais possam entrar.<br />

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Diagnóstico Social do Concelho <strong>de</strong> <strong>Arcos</strong> <strong>de</strong> Val<strong>de</strong>vez<br />

13.2. Os processos, os actores e as probl<strong>em</strong>áticas sociais <strong>em</strong> <strong>Arcos</strong> <strong>de</strong><br />

Val<strong>de</strong>vez<br />

Não obstante termos já elencado os principais processos e dinâmicas sociais<br />

que caracterizam os <strong>Arcos</strong> <strong>de</strong> Val<strong>de</strong>vez, valerá a pena sublinhar alguns<br />

aspectos que, a este nível, se revelam importantes para a produção <strong>de</strong> um<br />

olhar mais fino sobre as probl<strong>em</strong>áticas sociais do concelho.<br />

O primeiro traduz-se no facto <strong>de</strong> estarmos perante um contexto<br />

<strong>em</strong>inent<strong>em</strong>ente rural, <strong>de</strong>correndo <strong>da</strong>í uma escassez básica <strong>de</strong> recursos,<br />

proveniente <strong>da</strong> baixa produtivi<strong>da</strong><strong>de</strong> agrícola e <strong>da</strong> falta <strong>de</strong> activi<strong>da</strong><strong>de</strong>s<br />

económicas alternativas, agrava<strong>da</strong> por uma alta <strong>de</strong>pendência face às<br />

prestações <strong>da</strong> segurança social por parte <strong>de</strong> uma população<br />

maioritariamente idosa e relativamente f<strong>em</strong>iniliza<strong>da</strong>.<br />

Este primeiro aspecto encontra-se relacionado com uma cultura tradicional<br />

assente <strong>em</strong> valores <strong>de</strong> soli<strong>da</strong>rie<strong>da</strong><strong>de</strong> e inter-aju<strong>da</strong> 1 ain<strong>da</strong> presentes no quadro<br />

<strong>de</strong> gran<strong>de</strong> parte <strong>da</strong>s freguesias do Vale do Lima. A reali<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong> pobreza<br />

ten<strong>de</strong> a manifestar-se <strong>de</strong> forma difusa no meio físico, arrastando consigo a<br />

<strong>de</strong>gra<strong>da</strong>ção <strong>de</strong> um parque habitacional envelhecido, a inexistência <strong>de</strong><br />

princípios estruturados <strong>de</strong> economia doméstica, assim como a visualização <strong>de</strong><br />

uma certa a<strong>da</strong>ptação ao meio por parte <strong>da</strong>s expressões territoriais e sociais<br />

<strong>da</strong> pobreza e <strong>da</strong> exclusão social.<br />

1 Exist<strong>em</strong> ain<strong>da</strong> algumas al<strong>de</strong>ias on<strong>de</strong> se praticam as chama<strong>da</strong>s vezeiras, isto é, as pessoas<br />

organizam-se comunitariamente, levam o gado para a pastag<strong>em</strong> <strong>de</strong>ntro do quadro<br />

comunitário <strong>da</strong>s re<strong>de</strong>s <strong>de</strong> soli<strong>da</strong>rie<strong>da</strong><strong>de</strong> al<strong>de</strong>ãs. Acontece ain<strong>da</strong> <strong>em</strong> certas al<strong>de</strong>ias do Lindoso,<br />

Germil e Ermi<strong>da</strong>.<br />

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Diagnóstico Social do Concelho <strong>de</strong> <strong>Arcos</strong> <strong>de</strong> Val<strong>de</strong>vez<br />

Esta reali<strong>da</strong><strong>de</strong> cobre uma mancha territorial e humana relativamente<br />

acentua<strong>da</strong>, se consi<strong>de</strong>rarmos que a população do concelho <strong>de</strong> <strong>Arcos</strong> <strong>de</strong><br />

Val<strong>de</strong>vez é essencialmente rural, correspon<strong>de</strong>ndo a 49% 2 do total <strong>da</strong><br />

população resi<strong>de</strong>nte.<br />

Por outro lado, vai-se acentuando uma tendência para o aumento <strong>da</strong> pressão<br />

<strong>de</strong>mográfica nas áreas envolventes à se<strong>de</strong> do concelho. Neste sentido, será<br />

importante, mesmo num concelho pautado pela regressão <strong>de</strong>mográfica,<br />

como é o caso <strong>de</strong> <strong>Arcos</strong> <strong>de</strong> Val<strong>de</strong>vez, estar atento a estas dinâmicas, que<br />

po<strong>de</strong>rão continuar a <strong>de</strong>svalorizar a habitação e o posicionamento <strong>da</strong>s<br />

pessoas <strong>em</strong> meios rurais, ocasionando espaços fragmentados pautados por<br />

lógicas mais ou menos visíveis <strong>de</strong> segregação socio-espacial. Este processo é<br />

já visível no centro <strong>da</strong> vila <strong>de</strong> <strong>Arcos</strong> <strong>de</strong> Val<strong>de</strong>vez, on<strong>de</strong> t<strong>em</strong> sido<br />

perspectiva<strong>da</strong>, ao abrigo <strong>de</strong> uma reflexão mais cui<strong>da</strong><strong>da</strong> e atenta do ponto<br />

<strong>de</strong> vista <strong>da</strong> integração social, a construção <strong>da</strong> habitação social aí localiza<strong>da</strong>,<br />

afectando-lhe estruturas <strong>de</strong> apoio 3 . Também nessa mesma zona foram<br />

equacionados alguns realojamentos, mas no sentido <strong>de</strong> uma crescente<br />

a<strong>da</strong>ptabili<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong>s pessoas às casas que irão ocupar, fazendo-as sentir como<br />

sua pertença efectiva e não zonas <strong>de</strong> transitorie<strong>da</strong><strong>de</strong>, nomea<strong>da</strong>mente pela<br />

actuação conjuga<strong>da</strong> do Projecto <strong>de</strong> Luta Contra a Pobreza, <strong>da</strong> Câmara<br />

Municipal e <strong>de</strong> outras instituições sociais intervenientes no meio. Esta dinâmica<br />

foi impl<strong>em</strong>enta<strong>da</strong> através <strong>da</strong> realização <strong>de</strong> sessões <strong>de</strong> informação e <strong>de</strong><br />

sensibilização face à habitação.<br />

Saliente-se que os probl<strong>em</strong>as habitacionais têm muito a ver com a existência<br />

<strong>de</strong> um edificado antigo e <strong>de</strong>gra<strong>da</strong>do, que não foi objecto <strong>de</strong> qualquer<br />

intervenção ao longo dos anos.<br />

Voltando um pouco atrás, torna-se importante realçar que o crescente<br />

envelhecimento <strong>da</strong> população, assim como o acentuar dos índices <strong>de</strong><br />

2 Fontes: INE, Anuário Estatístico <strong>da</strong> Região Norte, 1997 e DGOTDU, Tipologia <strong>de</strong> Áreas Urbanas,<br />

1998.<br />

3 Trata-se do Bairro do Sobreiro, proprie<strong>da</strong><strong>de</strong> do IGAPHE, <strong>da</strong>tado <strong>de</strong> 2002.<br />

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Diagnóstico Social do Concelho <strong>de</strong> <strong>Arcos</strong> <strong>de</strong> Val<strong>de</strong>vez<br />

<strong>de</strong>pendência <strong>em</strong> <strong>Arcos</strong> <strong>de</strong> Val<strong>de</strong>vez, constitu<strong>em</strong>, por si só, condições <strong>de</strong><br />

vulnerabili<strong>da</strong><strong>de</strong> à exclusão social e à <strong>de</strong>sintegração social neste contexto<br />

territorial específico. Trata-se <strong>de</strong> uma zona que apresenta uma estrutura etária<br />

envelheci<strong>da</strong> tanto na base como no topo, cujos índices <strong>de</strong> envelhecimento<br />

são bastante mais acentuados do que no Minho-Lima ou na Região Norte no<br />

seu todo. Como tiv<strong>em</strong>os oportuni<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> conferir, o índice <strong>de</strong> <strong>de</strong>pendência<br />

total ron<strong>da</strong>va, <strong>em</strong> 2001, os 65%, sendo que o índice <strong>de</strong> <strong>de</strong>pendência dos<br />

idosos atingia os 44,3%. Tais índices revelam-nos que estamos perante uma<br />

socie<strong>da</strong><strong>de</strong> altamente vulnerável a situações <strong>de</strong> precarie<strong>da</strong><strong>de</strong> social, na<br />

medi<strong>da</strong> <strong>em</strong> que estamos perante a <strong>em</strong>ergência <strong>de</strong> uma saturação do sist<strong>em</strong>a<br />

<strong>de</strong> protecção social.<br />

É evi<strong>de</strong>nte que o alcance <strong>de</strong> níveis <strong>de</strong> coesão social aceitáveis não é<br />

incompatível com uma socie<strong>da</strong><strong>de</strong> envelheci<strong>da</strong>. Mas no caso concreto do<br />

nosso país, e do concelho <strong>de</strong> <strong>Arcos</strong> <strong>de</strong> Val<strong>de</strong>vez <strong>em</strong> particular, o<br />

envelhecimento populacional traduz-se especialmente <strong>em</strong> situações <strong>de</strong><br />

isolamento face à socie<strong>da</strong><strong>de</strong> exterior, relativo abandono e <strong>de</strong>clínio social <strong>da</strong>s<br />

pessoas, más condições <strong>de</strong> habitabili<strong>da</strong><strong>de</strong> e <strong>de</strong> alimentação, forte apego<br />

face ao meio <strong>de</strong> orig<strong>em</strong> (a casa), individualismo enquanto forma <strong>de</strong><br />

relacionamento e fatalismo enquanto perspectivação do futuro.<br />

Para além <strong>de</strong> to<strong>da</strong>s estas condicionantes, o envelhecimento populacional é,<br />

<strong>em</strong> geral, acompanhado por um aumento <strong>de</strong> <strong>de</strong>pendência pecuniária face<br />

às prestações sociais do Estado. Sab<strong>em</strong>os que o nível e o montante <strong>da</strong>s<br />

pensões <strong>de</strong> velhice e <strong>de</strong> sobrevivência <strong>em</strong> Portugal é muito restrito, o que<br />

torna os idosos pensionistas, particularmente os que viv<strong>em</strong> <strong>em</strong> zonas rurais,<br />

numa categoria social particularmente vulnerável à pobreza e à<br />

<strong>de</strong>sintegração social. Pelos <strong>da</strong>dos abaixo apresentados, po<strong>de</strong>r<strong>em</strong>os constatar<br />

a particular pr<strong>em</strong>ência <strong>de</strong>sta situação no concelho <strong>de</strong> <strong>Arcos</strong> <strong>de</strong> Val<strong>de</strong>vez.<br />

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Diagnóstico Social do Concelho <strong>de</strong> <strong>Arcos</strong> <strong>de</strong> Val<strong>de</strong>vez<br />

Quadro 13.1.<br />

Pensionistas por ca<strong>da</strong> 100 habitantes e valor médio <strong>da</strong> pensão por pensionista para a Região<br />

Norte, Minho-Lima, Vale Lima e <strong>Arcos</strong> <strong>de</strong> Val<strong>de</strong>vez <strong>em</strong> 1999<br />

Indicador Região Norte Minho-Lima Vale Lima <strong>Arcos</strong> <strong>de</strong> Val<strong>de</strong>vez<br />

Pensionistas por 100 habitantes 22 26 26 35<br />

Pensão/Pensionista (contos) 472 408 420 377<br />

Fonte: INE – Anuário Regional 2000.<br />

A existência, no ano <strong>de</strong> 1999, <strong>de</strong> 35 pensionistas por ca<strong>da</strong> 100 habitantes <strong>de</strong><br />

<strong>Arcos</strong> <strong>de</strong> Val<strong>de</strong>vez traduz um contexto <strong>de</strong> forte vulnerabili<strong>da</strong><strong>de</strong> a situações <strong>de</strong><br />

exclusão, principalmente se tivermos <strong>em</strong> linha <strong>de</strong> conta o carácter <strong>de</strong> relativa<br />

fragili<strong>da</strong><strong>de</strong> do Estado Providência <strong>em</strong> Portugal, que po<strong>de</strong>rá, a curto ou médio<br />

prazo, <strong>de</strong>ixar <strong>de</strong> ser capaz <strong>de</strong> <strong>da</strong>r respostas a este tipo <strong>de</strong> situações. A juntar<br />

ao elevado número <strong>de</strong> pensionistas está o baixo valor médio <strong>da</strong>s pensões por<br />

pensionista, o que agrava ain<strong>da</strong> mais o cenário que vimos traçando.<br />

A probl<strong>em</strong>ática do envelhecimento populacional alerta-nos para a<br />

necessi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> encarar a população idosa como um dos sectores alvo <strong>de</strong><br />

qualquer estratégia <strong>de</strong> intervenção. Na ver<strong>da</strong><strong>de</strong>, o envelhecimento <strong>da</strong><br />

população exige um esforço ca<strong>da</strong> vez mais apurado <strong>de</strong> investimento <strong>em</strong><br />

áreas tão importantes como a saú<strong>de</strong>, a ocupação dos t<strong>em</strong>pos livres ou as<br />

condições habitacionais, no sentido <strong>de</strong> proporcionar a este grupo social níveis<br />

superiores <strong>de</strong> quali<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> vi<strong>da</strong>.<br />

Por outro lado, o envelhecimento populacional e o acentuar dos índices <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>pendência traz<strong>em</strong> para primeiro plano probl<strong>em</strong>áticas como a do<br />

<strong>de</strong>s<strong>em</strong>prego De facto, o concelho <strong>de</strong> <strong>Arcos</strong> <strong>de</strong> Val<strong>de</strong>vez assistiu, nos últimos<br />

anos, a um <strong>de</strong>créscimo <strong>da</strong> taxa <strong>de</strong> activi<strong>da</strong><strong>de</strong>, <strong>de</strong> 35,2% <strong>em</strong> 1991 para 33,7%<br />

<strong>em</strong> 2001, e a um preocupante aumento <strong>da</strong> taxa <strong>de</strong> <strong>de</strong>s<strong>em</strong>prego, <strong>de</strong> 3,8% <strong>em</strong><br />

1991 para 6,7% <strong>em</strong> 2001 4 . Estes números relevam a importância <strong>da</strong> adopção<br />

<strong>de</strong> estratégias <strong>de</strong> intervenção <strong>em</strong> torno <strong>da</strong>s questões, nomea<strong>da</strong>mente através<br />

<strong>da</strong> aposta na dinamização do tecido <strong>em</strong>presarial local e na criação <strong>de</strong><br />

4 Dados dos Censos 2001 (resultados <strong>de</strong>finitivos).<br />

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Diagnóstico Social do Concelho <strong>de</strong> <strong>Arcos</strong> <strong>de</strong> Val<strong>de</strong>vez<br />

<strong>em</strong>prego, b<strong>em</strong> como através do incr<strong>em</strong>ento <strong>da</strong> formação profissional e <strong>da</strong><br />

criação <strong>de</strong> competências sócio-profissionais aos mais diversos níveis, até como<br />

forma <strong>de</strong> criar condições económicas que trav<strong>em</strong> a repulsão populacional e<br />

favoreçam a fixação dos jovens <strong>em</strong> <strong>Arcos</strong> <strong>de</strong> Val<strong>de</strong>vez.<br />

No seguimento do que acabámos <strong>de</strong> afirmar, há que referir uma outra<br />

questão estruturante <strong>em</strong> termos <strong>da</strong> evolução dos processos sociais e dos seus<br />

respectivos actores na região do Vale do Lima e, concretamente, no<br />

concelho <strong>de</strong> <strong>Arcos</strong> <strong>de</strong> Val<strong>de</strong>vez pren<strong>de</strong>-se directamente com a probl<strong>em</strong>ática<br />

<strong>da</strong> repulsão populacional. É preciso salientar que as fortes migrações para as<br />

zonas litorais do país ou para o estrangeiro estrangularam <strong>de</strong>cisivamente a<br />

capaci<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> dinamismo e <strong>de</strong> inovação <strong>de</strong> algumas locali<strong>da</strong><strong>de</strong>s,<br />

facilitando um cenário <strong>de</strong> autênticas “al<strong>de</strong>ias fantasmas”, pauta<strong>da</strong>s por casas<br />

abandona<strong>da</strong>s e <strong>em</strong> elevado estado <strong>de</strong> <strong>de</strong>gra<strong>da</strong>ção física, inexistência <strong>de</strong><br />

forças vivas locais e <strong>de</strong> espírito <strong>em</strong>preen<strong>de</strong>dor. Evi<strong>de</strong>nt<strong>em</strong>ente que estes<br />

cenários, mais frequentes nas freguesias <strong>de</strong> maior interiori<strong>da</strong><strong>de</strong> e<br />

inacessibili<strong>da</strong><strong>de</strong> física, têm vindo a favorecer uma espécie <strong>de</strong> círculo vicioso<br />

<strong>da</strong> repulsão populacional, isto é, são estas as zonas também menos propensas<br />

à fixação, por ex<strong>em</strong>plo, <strong>de</strong> <strong>em</strong>igrantes regressados ou <strong>de</strong> segun<strong>da</strong>s<br />

residências por parte <strong>de</strong> urbanos à procura <strong>de</strong> um cenário relativamente<br />

forçado <strong>de</strong> rurali<strong>da</strong><strong>de</strong>.<br />

É importante consi<strong>de</strong>rar que a fixação <strong>da</strong>s pessoas não <strong>de</strong>ve ser força<strong>da</strong>, pelo<br />

que será importante que sejam os próprios actores sociais a escolher<strong>em</strong> e a<br />

<strong>de</strong>senhar<strong>em</strong> os seus processos <strong>de</strong> fixação. Convém, por isso, dotar estas zonas<br />

<strong>de</strong> estruturas propícias à fixação, nomea<strong>da</strong>mente <strong>de</strong> jovens activos adultos,<br />

por forma a consoli<strong>da</strong>r a atractivi<strong>da</strong><strong>de</strong> do concelho e seu consequente<br />

rejuvenescimento <strong>de</strong>mográfico e social. Contudo, pensamos que o que está<br />

sobretudo <strong>em</strong> jogo na estruturação <strong>de</strong>stes processos sociais resi<strong>de</strong> na<br />

crescente estigmatização que estas zonas têm vindo a acumular perante uma<br />

socie<strong>da</strong><strong>de</strong> que valoriza sobretudo o território urbano. Porém, É preciso ter <strong>em</strong><br />

linha <strong>de</strong> conta que as zonas rurais se afiguram hoje muito mais do que meros<br />

249


Diagnóstico Social do Concelho <strong>de</strong> <strong>Arcos</strong> <strong>de</strong> Val<strong>de</strong>vez<br />

espaços agrícolas; aliás, a agricultura não po<strong>de</strong>rá ser a única alavanca <strong>de</strong><br />

enraizamento <strong>da</strong>s populações a estes locais, o que implica a prefiguração <strong>de</strong><br />

uma multiplici<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> opções credíveis <strong>de</strong> utilização <strong>da</strong>s zonas rurais. Em<br />

síntese, torna-se urgente <strong>da</strong>r conteúdo à expressão: “o interior, um território<br />

visitável, mas também habitável” 5 . Neste prisma, <strong>de</strong>v<strong>em</strong> ser aprofun<strong>da</strong><strong>da</strong>s as<br />

re<strong>de</strong>s <strong>de</strong> compl<strong>em</strong>entari<strong>da</strong><strong>de</strong>s e não <strong>de</strong> <strong>de</strong>pendência <strong>de</strong>stes espaços face às<br />

zonas urbanas, aproveitando e rentabilizando todo o conjunto <strong>de</strong><br />

potenciali<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> carácter paisagístico, ambiental, turístico, cultural,<br />

produtivo, etc. e conferindo a estes espaços a excelência <strong>de</strong> oferta <strong>de</strong> bens<br />

genuínos e <strong>de</strong> eleva<strong>da</strong> quali<strong>da</strong><strong>de</strong> 6 .<br />

Parece evi<strong>de</strong>nte, porém, que o concelho <strong>de</strong> <strong>Arcos</strong> <strong>de</strong> Val<strong>de</strong>vez não oferece<br />

muitos equipamentos que se incluam <strong>de</strong>ntro dos <strong>de</strong>sejos <strong>de</strong> lazer e <strong>de</strong><br />

animação dos jovens <strong>de</strong> hoje <strong>em</strong> dia. Em gran<strong>de</strong> parte <strong>da</strong>s freguesias só<br />

exist<strong>em</strong> estruturas <strong>de</strong> enquadramento para a juventu<strong>de</strong> liga<strong>da</strong>s às<br />

associações recreativas, culturais e <strong>de</strong>sportivas, sendo necessário equacionar<br />

se eventualmente essas estruturas satisfaz<strong>em</strong> as aspirações e motivações dos<br />

jovens na actuali<strong>da</strong><strong>de</strong>. Saliente-se, nesta questão, as diferenças entre a se<strong>de</strong><br />

do concelho, na generali<strong>da</strong><strong>de</strong>, b<strong>em</strong> equipa<strong>da</strong>, e as freguesias mais rurais, mal<br />

equipa<strong>da</strong>s.<br />

Esta questão parece indicar-nos que se torna pr<strong>em</strong>ente repensar a inserção<br />

juvenil <strong>em</strong> meio rural ou s<strong>em</strong>i-rural. Deve ter-se <strong>em</strong> linha <strong>de</strong> conta que o rural é<br />

ca<strong>da</strong> vez menos sinónimo <strong>de</strong> agrícola e, por outro lado, que as re<strong>de</strong>s <strong>de</strong><br />

sociabili<strong>da</strong><strong>de</strong>s inter-juvenis são mais dispersas nos meios rurais 7 . Aqui, torna-se<br />

imperioso consi<strong>de</strong>rar que estes jovens po<strong>de</strong>rão estar receptivos a outras formas<br />

<strong>de</strong> aprendizag<strong>em</strong> e <strong>de</strong> transição para a vi<strong>da</strong> adulta, que são portadores <strong>de</strong><br />

dinâmicas <strong>de</strong> promoção social acelera<strong>da</strong>s, que se pautam por fortes <strong>de</strong>sejos<br />

5 Expressão <strong>de</strong> JOSÉ REIS, in VVAA, Perspectivas <strong>de</strong> Desenvolvimento do Interior - Debates <strong>da</strong><br />

Presidência <strong>da</strong> República, Lisboa, Imprensa Nacional Casa <strong>da</strong> Moe<strong>da</strong>, 1998.<br />

6 Cfr. RUI AZEVEDO, “El <strong>de</strong>sarrolo local en las zonas rurales. Perspectivas para el siglo XXI”, in Pan<br />

Waldchen. In M<strong>em</strong>orian. Lo Local y lo International en el Siglo XXI - La Importancia <strong>de</strong> las Re<strong>de</strong>s<br />

<strong>de</strong> Colaboración, DGXVI, 1993.<br />

7 BERNARD CHARLOT e DOMINIQUE GLASMAN (dir.), Les Jeunes, L’Insertion, L’Emploi, Paris, PUF,<br />

1998.<br />

250


Diagnóstico Social do Concelho <strong>de</strong> <strong>Arcos</strong> <strong>de</strong> Val<strong>de</strong>vez<br />

<strong>de</strong> mu<strong>da</strong>nça, mas que também se encontram numa encruzilha<strong>da</strong><br />

ambivalente <strong>de</strong> construção i<strong>de</strong>ntitária.<br />

A este nível, o papel <strong>da</strong> escola po<strong>de</strong> relevar-se extr<strong>em</strong>amente importante.<br />

Destaque-se que o ensino pré-escolar não cobre to<strong>da</strong> a procura, existindo<br />

ain<strong>da</strong> uma certa <strong>de</strong>svalorização <strong>de</strong>ste nível <strong>de</strong> ensino nas representações e<br />

valores <strong>da</strong> população.<br />

Contudo, permanec<strong>em</strong> gran<strong>de</strong>s oposições e resistências às experiências<br />

escolares, algo que po<strong>de</strong>rá radicar sobretudo na gran<strong>de</strong> distância que ain<strong>da</strong><br />

separa as famílias dos valores escolares. Assim, a escola continua a ser vista<br />

como um espaço <strong>de</strong> certa forma inoperante e incapaz <strong>de</strong> direccionar os filhos<br />

face a trajectórias <strong>de</strong> mobili<strong>da</strong><strong>de</strong> social ascen<strong>de</strong>ntes. A própria prática <strong>de</strong><br />

trabalhos agrícolas ou <strong>de</strong> tarefas domésticas por parte <strong>de</strong> crianças <strong>em</strong> i<strong>da</strong><strong>de</strong><br />

escolar é vista como benéfica e como suporte importante <strong>da</strong> família. Daí<br />

também a relativa <strong>de</strong>svalorização do ensino pré-escolar e a consequente<br />

retenção <strong>da</strong>s crianças no seio familiar, sobretudo <strong>em</strong> meio rural.<br />

Relativamente à probl<strong>em</strong>ática <strong>da</strong> <strong>de</strong>ficiência, também o contexto familiar<br />

assume um papel central que não po<strong>de</strong>mos ignorar. Muitas vezes, exist<strong>em</strong><br />

estratégias vinca<strong>da</strong>s <strong>de</strong> ocultação, <strong>de</strong> <strong>de</strong>sinformação e <strong>de</strong> normalização <strong>da</strong><br />

<strong>de</strong>ficiência por parte <strong>de</strong> muitos núcleos familiares. Esta situação ocasiona<br />

muitas dificul<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>em</strong> termos <strong>de</strong> intervenção. Na generali<strong>da</strong><strong>de</strong>, trata-se <strong>de</strong><br />

indivíduos pouco estimulados que não frequentaram a escola e não<br />

receberam tratamento específico. Ain<strong>da</strong> se está numa fase <strong>de</strong> combate ao<br />

tabu <strong>da</strong> <strong>de</strong>ficiência e portanto importa apostar na informação/formação <strong>da</strong>s<br />

famílias e <strong>da</strong> comuni<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>em</strong> geral. Ressalve-se que esta probl<strong>em</strong>ática<br />

<strong>de</strong>veria ser objecto <strong>de</strong> um estudo concreto no concelho, pois trata-se <strong>de</strong> algo<br />

<strong>de</strong> muito complexo, on<strong>de</strong> se torna pr<strong>em</strong>ente aferir acerca <strong>da</strong>s necessi<strong>da</strong><strong>de</strong>s<br />

<strong>de</strong>sta população.<br />

251


Diagnóstico Social do Concelho <strong>de</strong> <strong>Arcos</strong> <strong>de</strong> Val<strong>de</strong>vez<br />

Em síntese, parece ser possível apontar um conjunto <strong>de</strong> dinâmicas sociais que<br />

potenciam a vulnerabili<strong>da</strong><strong>de</strong> face à pobreza e à exclusão e que constitu<strong>em</strong><br />

probl<strong>em</strong>áticas sobre as quais é imprescindível intervir: acentuado<br />

envelhecimento populacional; elevados índices <strong>de</strong> <strong>de</strong>pendência; baixa taxa<br />

<strong>de</strong> activi<strong>da</strong><strong>de</strong> e eleva<strong>da</strong> taxa <strong>de</strong> <strong>de</strong>s<strong>em</strong>prego; tecido económico e<br />

<strong>em</strong>presarial frágil; carências ao nível <strong>da</strong> formação profissional; repulsão<br />

<strong>de</strong>mográfica e isolamento <strong>de</strong> largas faixas <strong>da</strong> população; fracos atractivos<br />

para a fixação dos jovens; elevado índice <strong>de</strong> insucesso e <strong>de</strong> abandono<br />

escolar; ausência <strong>de</strong> participação cívica activa.<br />

Finalmente, não po<strong>de</strong>mos <strong>de</strong>ixar <strong>de</strong> salientar que as iniciativas <strong>em</strong> <strong>prol</strong> <strong>da</strong><br />

coesão social não po<strong>de</strong>rão implicar evi<strong>de</strong>nt<strong>em</strong>ente uniformi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

comportamentos e <strong>de</strong> padrões <strong>de</strong> vi<strong>da</strong>. As diferenças <strong>de</strong>v<strong>em</strong> ser preserva<strong>da</strong>s<br />

e <strong>de</strong>fendi<strong>da</strong>s, pois só <strong>de</strong>ssa forma se alcançarão patamares <strong>de</strong> integração e<br />

<strong>de</strong> coesão sociais. Esta constatação é tanto mais importante quanto o facto<br />

<strong>da</strong> exclusão possuir um carácter cumulativo, encerrando <strong>em</strong> si processos <strong>de</strong><br />

reprodução – transmissão geracional <strong>da</strong> pobreza – e <strong>de</strong> evolução – novas<br />

formas –, que garant<strong>em</strong> as suas vias <strong>de</strong> persistência, constituindo causa e<br />

consequência <strong>de</strong> múltiplas rupturas na coesão social.<br />

13.3. <strong>Dinâmicas</strong> <strong>de</strong> intervenção face às probl<strong>em</strong>áticas sociais <strong>em</strong> <strong>Arcos</strong><br />

<strong>de</strong> Val<strong>de</strong>vez<br />

Em primeiro lugar, há que reconhecer a crescente ênfase concedi<strong>da</strong> aos<br />

probl<strong>em</strong>as sociais e à necessi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> promover níveis progressivamente mais<br />

elevados <strong>de</strong> coesão social e <strong>de</strong> quali<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> vi<strong>da</strong> <strong>da</strong>s populações nos<br />

concelhos do Vale do Lima e, concretamente, <strong>em</strong> <strong>Arcos</strong> <strong>de</strong> Val<strong>de</strong>vez. Este<br />

facto constitui o ponto <strong>de</strong> parti<strong>da</strong> essencial para que possamos falar <strong>de</strong><br />

estratégias <strong>de</strong> intervenção realmente incisivas e a<strong>de</strong>qua<strong>da</strong>s.<br />

252


Diagnóstico Social do Concelho <strong>de</strong> <strong>Arcos</strong> <strong>de</strong> Val<strong>de</strong>vez<br />

As dinâmicas recentes constitu<strong>em</strong> importantes passos neste sentido, servindo<br />

inclusivamente para pôr a nu as insuficiências existentes <strong>de</strong>ntro <strong>da</strong> autarquia<br />

<strong>em</strong> termos <strong>de</strong> quadros técnicos apropriados e com uma interdisciplinari<strong>da</strong><strong>de</strong><br />

suficient<strong>em</strong>ente a<strong>de</strong>qua<strong>da</strong> às novas necessi<strong>da</strong><strong>de</strong>s neste sector <strong>de</strong><br />

intervenção. É fun<strong>da</strong>mental, neste caso, <strong>de</strong>stacar a necessi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> gerar<br />

compl<strong>em</strong>entari<strong>da</strong><strong>de</strong>s e não concorrência entre os diversos actores que<br />

intervêm no social um pouco por todo o concelho.<br />

Por outro lado, torna-se fun<strong>da</strong>mental pensar que a intervenção social terá <strong>de</strong><br />

ser feita <strong>de</strong> forma a<strong>de</strong>qua<strong>da</strong> às probl<strong>em</strong>áticas efectivamente <strong>de</strong>tecta<strong>da</strong>s no<br />

terreno e nunca <strong>de</strong> forma <strong>de</strong>sajusta<strong>da</strong>, ou porque se <strong>de</strong>sconhec<strong>em</strong> as<br />

questões sociais <strong>em</strong> presença, ou porque não se utilizam os meios mais<br />

a<strong>de</strong>quados <strong>em</strong> termos <strong>de</strong> intervenção.<br />

No concelho <strong>de</strong> <strong>Arcos</strong> <strong>de</strong> Val<strong>de</strong>vez, a intervenção social é assegura<strong>da</strong> pelo<br />

Serviço Local <strong>da</strong> Segurança Social, pelo Serviço Sub-Regional <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

Viana do Castelo, pelo Gabinete <strong>de</strong> Acção Social <strong>da</strong> Câmara Municipal, por<br />

todo um conjunto <strong>de</strong> Instituições Priva<strong>da</strong>s <strong>de</strong> Soli<strong>da</strong>rie<strong>da</strong><strong>de</strong> Social e, até há<br />

pouco t<strong>em</strong>po, pelo Programa <strong>de</strong> Luta Contra a Pobreza. A este propósito, vale<br />

a pena <strong>de</strong>stacar o papel motor que a autarquia t<strong>em</strong> vindo a assumir no<br />

reconhecimento e intervenção face aos probl<strong>em</strong>as sociais. Aliás, as autarquias<br />

têm-se afirmado, <strong>de</strong> um modo geral, como as principais enti<strong>da</strong><strong>de</strong>s<br />

dinamizadoras <strong>da</strong> questão social e <strong>em</strong>preen<strong>de</strong>doras <strong>de</strong> estratégias <strong>de</strong><br />

intervenção. Contudo, é preciso salientar que, frequent<strong>em</strong>ente, a esfera<br />

municipal não consegue <strong>da</strong>r resposta a to<strong>da</strong>s questões que se lhe colocam,<br />

quer pela sua reduzi<strong>da</strong> dimensão e abrangência, quer pela sua reduzi<strong>da</strong><br />

dotação orçamental própria, quer ain<strong>da</strong> pelo facto <strong>de</strong> a diversi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

probl<strong>em</strong>áticas exigir a intervenção <strong>de</strong> uma multiplici<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> actores, inclusive<br />

<strong>de</strong> âmbito regional ou nacional.<br />

Não obstante o reforço visível ao longo dos últimos anos, a intervenção social<br />

no concelho <strong>de</strong> <strong>Arcos</strong> <strong>de</strong> Val<strong>de</strong>vez revela-se ain<strong>da</strong> insuficiente, tanto <strong>em</strong><br />

253


Diagnóstico Social do Concelho <strong>de</strong> <strong>Arcos</strong> <strong>de</strong> Val<strong>de</strong>vez<br />

termos quantitativos como qualitativos. Do ponto <strong>de</strong> vista quantitativo,<br />

fenómenos como o aumento acentuado <strong>da</strong>s taxas <strong>de</strong> envelhecimento<br />

populacional ou o aumento <strong>da</strong> percentag<strong>em</strong> <strong>de</strong> inactivos ou <strong>de</strong>s<strong>em</strong>pregados<br />

<strong>em</strong> i<strong>da</strong><strong>de</strong> adulta têm conduzido a uma saturação <strong>da</strong>s já <strong>de</strong> si poucas<br />

estruturas existentes (cf. Quadro 10.2.). Do ponto <strong>de</strong> vista qualitativo, parec<strong>em</strong><br />

surgir novas probl<strong>em</strong>áticas sociais, como a do <strong>de</strong>senraizamento social <strong>em</strong><br />

geral, que tornam urgente a construção <strong>de</strong> novos perfis interventivos do ponto<br />

<strong>de</strong> vista social.<br />

Quadro 13.2.<br />

Taxas <strong>de</strong> Ocupação <strong>de</strong> Equipamentos/Serviços <strong>de</strong> Acção Social na Região Norte, Minho-Lima,<br />

Vale Lima e <strong>Arcos</strong> <strong>de</strong> Val<strong>de</strong>vez <strong>em</strong> 1998<br />

Taxa <strong>de</strong> Ocupação dos<br />

Serviços <strong>de</strong> Acção Social (%)<br />

Região Norte Minho-Lima Vale Lima <strong>Arcos</strong> <strong>de</strong> Val<strong>de</strong>vez<br />

Creches e Jardins <strong>de</strong> Infância 95,8 96,2 100,1 100<br />

Activi<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> T<strong>em</strong>pos Livres 91,6 95,5 101,3 93,6<br />

Apoio Domiciliário 86,5 84,7 83,1 90<br />

Centros <strong>de</strong> Dia 72,2 66,3 64,2 26,7<br />

Lares <strong>de</strong> Idosos 94,6 94,7 90,4 96,2<br />

Fonte: INE – Anuário Regional 2000.<br />

Focando-nos um pouco mais sobre os diferentes parceiros que asseguram, no<br />

concelho <strong>de</strong> <strong>Arcos</strong> <strong>de</strong> Val<strong>de</strong>vez, as intervenções no âmbito do combate à<br />

pobreza e à exclusão social, começaríamos por <strong>de</strong>screver sucintamente o<br />

trabalho <strong>da</strong> Área <strong>de</strong> Acção Social do Serviço Local <strong>de</strong> Segurança Social,<br />

cujas atribuições passam pelo atendimento e acolhimento <strong>de</strong> indivíduos e<br />

famílias, pela prestação <strong>de</strong> serviços <strong>de</strong> informação e orientação a propósito<br />

<strong>de</strong> probl<strong>em</strong>as pessoais e familiares dos utentes, pela atribuição <strong>de</strong> subsídios<br />

eventuais, no envolvimento no Rendimento Mínimo Garantido (RMG) e <strong>de</strong><br />

subsídios para aju<strong>da</strong>s técnicas, pela colocação institucional <strong>de</strong> crianças,<br />

idosos e <strong>de</strong>ficientes, e ain<strong>da</strong> pela intervenção comunitária, cooperação<br />

intersectorial e realização <strong>de</strong> estudos <strong>em</strong> torno <strong>da</strong> reali<strong>da</strong><strong>de</strong> social do<br />

concelho.<br />

254


Diagnóstico Social do Concelho <strong>de</strong> <strong>Arcos</strong> <strong>de</strong> Val<strong>de</strong>vez<br />

Os <strong>da</strong>dos recolhidos, relativos ao ano <strong>de</strong> 2000, revelam-nos que foram<br />

atendidos pelo Serviço Local <strong>de</strong> Segurança Social <strong>de</strong> <strong>Arcos</strong> <strong>de</strong> Val<strong>de</strong>vez 936<br />

utentes, dos quais 786 pela primeira vez, num total <strong>de</strong> 1113 pedidos. Os<br />

pedidos apresentados visavam, na sua maioria, a procura <strong>de</strong> aju<strong>da</strong><br />

económica, informação e orientação ou apoio técnico <strong>de</strong> serviço social. A<br />

sua natureza radicava basicamente <strong>em</strong> carências económicas, probl<strong>em</strong>as <strong>de</strong><br />

doença e/ou invali<strong>de</strong>z e probl<strong>em</strong>as habitacionais.<br />

Quadro 13.3.<br />

Pedidos apresentados no Serviço Local <strong>de</strong> Segurança Social <strong>de</strong> <strong>Arcos</strong> <strong>de</strong> Val<strong>de</strong>vez, segundo o<br />

tipo <strong>de</strong> pedido, no ano <strong>de</strong> 2000<br />

Tipo <strong>de</strong> Pedido<br />

Utentes<br />

Informação e/ou<br />

Orientação<br />

Aju<strong>da</strong><br />

económica<br />

Apoio técnico <strong>de</strong><br />

Serviço Social<br />

255<br />

Outros Total<br />

Pessoas isola<strong>da</strong>s 20 89 25 4 138<br />

Famílias 350 358 150 50 908<br />

Enti<strong>da</strong><strong>de</strong>s estatais 30 - 20 - 50<br />

Autarquia 10 - 7 - 17<br />

Grupos populacionais - - - - -<br />

Outros - - - - -<br />

Total 410 447 202 54 1113<br />

Fonte: Serviço Local <strong>de</strong> Segurança Social <strong>de</strong> <strong>Arcos</strong> <strong>de</strong> Val<strong>de</strong>vez –2000.<br />

Note-se que estas situações não totalizam o conjunto <strong>de</strong> acções<br />

<strong>de</strong>senvolvi<strong>da</strong>s no concelho na área social.<br />

Ao nível <strong>da</strong>s respostas apresenta<strong>da</strong>s, <strong>de</strong>stacam-se a informação/orientação<br />

(relativamente a probl<strong>em</strong>as pessoais e familiares dos utentes), a aju<strong>da</strong><br />

económica (colaboração no RMG e <strong>de</strong> subsídios eventuais) e, <strong>em</strong>bora <strong>em</strong><br />

menor escala, a aju<strong>da</strong> domiciliária. A colocação institucional é reduzi<strong>da</strong>, uma<br />

vez que o número <strong>de</strong> pedidos exce<strong>de</strong> <strong>em</strong> muito a capaci<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong>s instituições<br />

existentes no concelho. Também a insuficiência <strong>de</strong> recursos materiais e<br />

humanos condiciona o número <strong>de</strong> respostas <strong>da</strong><strong>da</strong>s.


Diagnóstico Social do Concelho <strong>de</strong> <strong>Arcos</strong> <strong>de</strong> Val<strong>de</strong>vez<br />

Um <strong>da</strong>s enti<strong>da</strong><strong>de</strong>s que, <strong>em</strong> termos <strong>de</strong> acção social, ocupa um papel <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>staque é a Câmara Municipal <strong>de</strong> <strong>Arcos</strong> <strong>de</strong> Val<strong>de</strong>vez (CMAV). O Gabinete<br />

<strong>de</strong> Acção Social <strong>da</strong> CMAV centra a sua activi<strong>da</strong><strong>de</strong> sobretudo nas questões<br />

<strong>da</strong> habitação, mas também na orientação e encaminhamento dos utentes<br />

que procuram o Gabinete. É também <strong>da</strong> sua responsabili<strong>da</strong><strong>de</strong> o<br />

<strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> <strong>de</strong>terminados programas e projectos: Projecto <strong>de</strong> Luta<br />

Contra a Pobreza, Comissão <strong>de</strong> Protecção <strong>de</strong> Crianças e Jovens <strong>em</strong> Perigo e<br />

Conselho Local <strong>de</strong> Acção Social. A este nível, um dos constrangimentos ao<br />

aprofun<strong>da</strong>mento <strong>da</strong> intervenção <strong>da</strong> Câmara Municipal <strong>de</strong> <strong>Arcos</strong> <strong>de</strong> Val<strong>de</strong>vez<br />

pren<strong>de</strong>-se efectivamente com a inexistência <strong>de</strong> uma estrutura profissional <strong>de</strong><br />

apoio ao Gabinete <strong>de</strong> Acção Social, situação que, a inverter-se, po<strong>de</strong>ria abrir<br />

novas potenciali<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> trabalho.<br />

Actualmente, a CMAV consi<strong>de</strong>ra que os jovens e idosos são os grupos-chave<br />

<strong>em</strong> termos <strong>de</strong> estratégias <strong>de</strong> intervenção. As suas principais apostas no<br />

domínio do social orientam-se no sentido <strong>de</strong> criar equipamentos <strong>de</strong> apoio à<br />

inserção social (numa lógica <strong>de</strong> parceria), fomentar a criação <strong>de</strong> re<strong>de</strong>s <strong>de</strong><br />

sociabili<strong>da</strong><strong>de</strong> comunitárias (encontros, passeios, turismo sénior...), <strong>de</strong> forma a<br />

combater o isolamento e a solidão, apoiar a inserção <strong>da</strong> população<br />

<strong>de</strong>ficiente do concelho, requalificar o parque habitacional e promover uma<br />

renovação do conceito <strong>de</strong> habitação social, reforçar as dinâmicas <strong>de</strong><br />

economia social (apoio a <strong>em</strong>presas <strong>de</strong> inserção) e apostar na dinamização<br />

dos associativismos locais nas suas vertentes lúdicas e <strong>de</strong>sportivas, tendo <strong>em</strong><br />

vista a inserção e enraizamento dos jovens 8 . Nomea<strong>da</strong>mente, <strong>em</strong> Vilafonche,<br />

Guilha<strong>de</strong>zes e Prozelo.<br />

Recent<strong>em</strong>ente, foi aprovado, no âmbito do Programa “Ser Criança”, o<br />

projecto “Crescer e Mu<strong>da</strong>r”, promovido pela CMAV. O objectivo <strong>de</strong>ste<br />

projecto é facilitar o <strong>de</strong>senvolvimento harmonioso <strong>da</strong>s crianças e a melhoria<br />

<strong>da</strong>s competências parentais/familiares. O projecto iniciar-se-á com uma<br />

intervenção piloto na freguesia <strong>de</strong> Rio Frio e procurará não só criar condições<br />

8 Cf. Câmara Municipal <strong>de</strong> <strong>Arcos</strong> <strong>de</strong> Val<strong>de</strong>vez, 8 Anos <strong>de</strong> Realizações, <strong>Arcos</strong> <strong>de</strong> Val<strong>de</strong>vez,<br />

Câmara Municipal <strong>de</strong> <strong>Arcos</strong> <strong>de</strong> Val<strong>de</strong>vez, 2002.<br />

256


Diagnóstico Social do Concelho <strong>de</strong> <strong>Arcos</strong> <strong>de</strong> Val<strong>de</strong>vez<br />

que permitam às crianças o acesso a equipamentos sociais que favorec<strong>em</strong> a<br />

sua aprendizag<strong>em</strong>, mas também trabalhar com as famílias, <strong>de</strong> modo a<br />

promover uma aproximação entre os seus valores e os valores escolares,<br />

valorizando a escola e o seu papel <strong>de</strong> educadores. O <strong>de</strong>senvolvimento do<br />

projecto será assegurado <strong>em</strong> parceria com diversas enti<strong>da</strong><strong>de</strong>s locais,<br />

nomea<strong>da</strong>mente na área <strong>da</strong> Saú<strong>de</strong>, Segurança Social e Educação.<br />

A intervenção na área do social é ain<strong>da</strong> assegura<strong>da</strong> por um conjunto <strong>de</strong><br />

Instituições Priva<strong>da</strong>s <strong>de</strong> Soli<strong>da</strong>rie<strong>da</strong><strong>de</strong> Social e <strong>de</strong> outras enti<strong>da</strong><strong>de</strong>s, que<br />

asseguram o funcionamento <strong>de</strong> uma série <strong>de</strong> equipamentos e serviços que<br />

importa conhecer.<br />

Quadro 13.4.<br />

Equipamentos e serviços <strong>de</strong> acção social <strong>em</strong> <strong>Arcos</strong> <strong>de</strong> Val<strong>de</strong>vez no ano <strong>de</strong> 2003<br />

Tipo <strong>de</strong> equipamento/Serviço Nº Enti<strong>da</strong><strong>de</strong>/Designação Localização<br />

Centro Social e Paroquial do Vale Vale<br />

Centro Social e Paroquial do Soajo Soajo<br />

Centro <strong>de</strong> Dia 5 Centro Social N. Sra. do Castelo <strong>Arcos</strong> Salvador<br />

Centro Comunitário S. José <strong>Arcos</strong> Salvador<br />

Residência Sto. André Guilha<strong>de</strong>ses<br />

Residência Sto. André Guilha<strong>de</strong>ses<br />

Lar <strong>de</strong> Idosos 4<br />

Lar Soares Pereira<br />

Centro Social e Paroquial do Vale<br />

Proselo<br />

Vale<br />

Centro Social e Paroquial <strong>de</strong> S. Jorge S. Jorge<br />

Centro Social e Paroquial do Vale Vale<br />

Centro Comunitário S.José <strong>Arcos</strong> Salvador<br />

Apoio Domiciliário a Idosos (Inst.) 6<br />

Núcleo <strong>da</strong> Cruz Vermelha Portuguesa<br />

Centro Social e Paroq. <strong>de</strong> Guilha<strong>de</strong>zes<br />

<strong>Arcos</strong> Salvador<br />

Guilha<strong>de</strong>zes<br />

Centro <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> Concelho <strong>em</strong> geral<br />

Centro Social e Paroquial do Soajo Soajo<br />

Aju<strong>da</strong>ntes Domiciliárias Várias freguesias<br />

Centro Social e Paroquial do Vale Vale<br />

Apoio Domiciliário Integrado 3 Centro Comunitário S. José <strong>Arcos</strong> Salvador<br />

Núcleo <strong>da</strong> Cruz Vermelha Portuguesa <strong>Arcos</strong> Salvador<br />

Famílias <strong>de</strong> Acolhimento a Idosos 15 Várias freguesias<br />

Creche 2<br />

Jardim <strong>de</strong> Infância 12<br />

Centro Social e Paroquial <strong>de</strong> AV <strong>Arcos</strong> S. Paio<br />

Centro Social e Paroq. <strong>de</strong> Guilha<strong>de</strong>zes Guilha<strong>de</strong>zes<br />

Junta <strong>de</strong> Freguesia <strong>de</strong> Paçô Paçô<br />

Junta <strong>de</strong> Freguesia <strong>de</strong> Jol<strong>da</strong> Jol<strong>da</strong><br />

257


Diagnóstico Social do Concelho <strong>de</strong> <strong>Arcos</strong> <strong>de</strong> Val<strong>de</strong>vez<br />

Centro <strong>de</strong> ATL 7<br />

Junta <strong>de</strong> Freguesia <strong>de</strong> Giela Giela<br />

Junta <strong>de</strong> Freguesia do Couto Couto<br />

Junta <strong>de</strong> Freguesia <strong>de</strong> Aguiã Aguiã<br />

Junta <strong>de</strong> Freguesia <strong>de</strong> Proselo Proselo<br />

Centro Social e Paroquial do Soajo Soajo<br />

Centro Social e Paroquial do Vale Vale<br />

Centro Social e Paroquial <strong>de</strong> AV <strong>Arcos</strong> S. Paio<br />

Jardim <strong>de</strong> Infância <strong>de</strong> Vilafonche Vilafonche<br />

Centro Social e Paroq. <strong>de</strong> Guilha<strong>de</strong>zes Guilha<strong>de</strong>zes<br />

Assoc. Cult. Recr. Juv. Vilafonche Vilafonche<br />

Centro Social e Paroquial do Vale Vale<br />

Centro Social e Paroquial <strong>de</strong> AV <strong>Arcos</strong> S. Paio<br />

Centro Comunitário S. José <strong>Arcos</strong> Salvador<br />

Centro Social e Paroquial do Soajo Soajo<br />

Centro Social e Paroq. <strong>de</strong> Guilha<strong>de</strong>zes Guilha<strong>de</strong>zes<br />

Assoc. Cult. Recr. Juv. Vilafonche Vilafonche<br />

Centro Paroquial e Social <strong>de</strong> S. Jorge S. Jorge<br />

Lar <strong>de</strong> Crianças 1 Lar Cerqueira Gomes Vilafonche<br />

Uni<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> Apoio Integrado 1 Núcleo <strong>da</strong> Cruz Vermelha Portuguesa <strong>Arcos</strong> Salvador<br />

Fonte: Gabinete <strong>de</strong> Acção Social <strong>da</strong> Câmara Municipal <strong>de</strong> <strong>Arcos</strong> <strong>de</strong> Val<strong>de</strong>vez, 2003.<br />

Da análise <strong>da</strong> reali<strong>da</strong><strong>de</strong> que conhec<strong>em</strong>os, resulta a i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> que este número<br />

<strong>de</strong> equipamentos, assim como os meios humanos e materiais que permit<strong>em</strong> o<br />

seu funcionamento, são ain<strong>da</strong> insuficientes para aten<strong>de</strong>r às situações<br />

diagnostica<strong>da</strong>s (as taxas <strong>de</strong> ocupação, como vimos, ating<strong>em</strong> ou aproximam-<br />

se dos 100%).<br />

O apoio domiciliário e as famílias <strong>de</strong> acolhimento são uma resposta<br />

extr<strong>em</strong>amente positiva <strong>em</strong> termos <strong>de</strong> apoio à população idosa, pois<br />

asseguram a satisfação <strong>da</strong>s necessi<strong>da</strong><strong>de</strong>s básicas, retar<strong>da</strong>ndo a<br />

institucionalização. No entanto, este tipo <strong>de</strong> resposta é claramente residual e,<br />

a<strong>de</strong>mais, é frequente que aqueles que prestam estes serviços não tenham a<br />

formação a<strong>de</strong>qua<strong>da</strong>.<br />

A este propósito, é <strong>de</strong> realçar o lançamento, por parte <strong>da</strong> Santa Casa <strong>de</strong><br />

Misericórdia <strong>de</strong> <strong>Arcos</strong> <strong>de</strong> Val<strong>de</strong>vez 9 , do Centro Comunitário <strong>de</strong> S. José, que<br />

preten<strong>de</strong> reforçar a re<strong>de</strong> <strong>de</strong> coesão social instala<strong>da</strong> no concelho, na medi<strong>da</strong><br />

9 Através <strong>de</strong> uma Candi<strong>da</strong>tura ao Sub-Programa INTEGRAR - Medi<strong>da</strong> 5.<br />

258


Diagnóstico Social do Concelho <strong>de</strong> <strong>Arcos</strong> <strong>de</strong> Val<strong>de</strong>vez<br />

<strong>em</strong> presta serviços <strong>de</strong> informação e <strong>de</strong> atendimento à população <strong>em</strong> geral,<br />

perspectivando a criação <strong>de</strong> um centro <strong>de</strong> apoio à criação <strong>de</strong> micro-<br />

<strong>em</strong>presas no âmbito <strong>da</strong> economia social e como espaço <strong>de</strong> conviviali<strong>da</strong><strong>de</strong><br />

intergeracional. As suas atribuições passam também pelo reforço do apoio<br />

domiciliário aos idosos, pelo acolhimento integrado a todo um conjunto <strong>de</strong><br />

pessoas que vivenciam situações <strong>de</strong> exclusão e <strong>de</strong> isolamento e pela <strong>de</strong><br />

animação sócio-cultural, envolvendo <strong>de</strong>sta forma as cama<strong>da</strong>s mais jovens <strong>da</strong><br />

população num processo <strong>de</strong> dinamização local.<br />

Será também <strong>de</strong> consi<strong>de</strong>rar o papel <strong>da</strong> Associação Cultural e Desportiva <strong>de</strong><br />

Vilafonche, pois esta enti<strong>da</strong><strong>de</strong> t<strong>em</strong> <strong>de</strong>senvolvido activi<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> relevo no<br />

tocante a vários segmentos <strong>da</strong> população; assim, possui um jardim <strong>de</strong><br />

infância, um ATL, uma Pousadinha, um Centro Jov<strong>em</strong>, organiza campos <strong>de</strong><br />

férias, intercâmbios nacionais e internacionais, participa no serviço voluntário<br />

europeu e organiza convívios na comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>. Dentro <strong>de</strong>sta dinâmica, esta<br />

Associação preconiza como projectos futuros a concretização <strong>de</strong> um espaço<br />

intergerações <strong>de</strong>stinado ao usufruto por parte dos idosos e jovens,<br />

promovendo a integração intergeracional.<br />

O Programa Nacional <strong>de</strong> Luta Contra a Pobreza veio também a concretizar-se<br />

no concelho <strong>de</strong> <strong>Arcos</strong> <strong>de</strong> Val<strong>de</strong>vez. A sua missão passava pela eliminação dos<br />

mecanismos <strong>de</strong> pobreza e <strong>de</strong> exclusão social, reforçando os laços <strong>de</strong><br />

cooperação entre o sector público e o sector privado, apostando numa<br />

acção inter-sectorial integra<strong>da</strong> e também na participação e<br />

responsabilização <strong>de</strong> grupos e <strong>de</strong> comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>s locais.<br />

No caso concreto <strong>de</strong> <strong>Arcos</strong> <strong>de</strong> Val<strong>de</strong>vez, a impl<strong>em</strong>entação do Projecto <strong>de</strong><br />

Luta Contra a Pobreza traduziu-se <strong>em</strong> alguns objectivos essenciais:<br />

• fomento <strong>de</strong> dinâmicas inter-sectoriais, <strong>de</strong> forma a multiplicar o acesso a<br />

novas oportuni<strong>da</strong><strong>de</strong>s sociais, no âmbito <strong>da</strong> formação profissional, <strong>da</strong><br />

melhoria habitacional e <strong>da</strong> potenciação dos saberes-fazer locais;<br />

259


Diagnóstico Social do Concelho <strong>de</strong> <strong>Arcos</strong> <strong>de</strong> Val<strong>de</strong>vez<br />

• Favorecimento <strong>da</strong> integração social, assegurando a promoção <strong>da</strong><br />

pessoa humana como um todo, nomea<strong>da</strong>mente através <strong>da</strong><br />

intervenção na célula familiar <strong>de</strong> base;<br />

• Reforço <strong>da</strong>s re<strong>de</strong>s locais <strong>de</strong> proximi<strong>da</strong><strong>de</strong>, favorecendo a <strong>em</strong>ergência<br />

<strong>de</strong> uma re<strong>de</strong> local <strong>de</strong> protecção primária através <strong>da</strong> impl<strong>em</strong>entação<br />

<strong>de</strong> serviços informais e <strong>de</strong> proximi<strong>da</strong><strong>de</strong> local, implicação <strong>da</strong>s mães na<br />

prestação <strong>de</strong> serviços aos seus filhos, robustecimento <strong>da</strong>s capaci<strong>da</strong><strong>de</strong>s<br />

<strong>da</strong> estrutura familiar e mu<strong>da</strong>nça <strong>de</strong> atitu<strong>de</strong>s, no sentido do reforço <strong>da</strong><br />

autonomia, organização intervenção face a probl<strong>em</strong>áticas<br />

habitacionais, limpeza e arranjo <strong>de</strong> espaços, cui<strong>da</strong>dos com crianças e<br />

idosos, etc.;<br />

• Dinamização <strong>de</strong> pequenas iniciativas <strong>em</strong>presariais, nomea<strong>da</strong>mente e<br />

dinamização do mercado social <strong>de</strong> <strong>em</strong>prego, potenciando <strong>de</strong>sta<br />

forma, e <strong>em</strong> simultâneo, a integração socio-profissional e comunitária<br />

<strong>da</strong>s populações.<br />

Enquanto instrumento renovado <strong>de</strong> intervenção <strong>em</strong> termos <strong>de</strong> política social e<br />

territorial, o Projecto <strong>de</strong> Luta Contra a Pobreza constituiu uma iniciativa muito<br />

positiva, funcionando como alavanca dinamizadora <strong>de</strong> outras iniciativas e<br />

re<strong>de</strong>s <strong>de</strong> colaboração e trazendo a lume o <strong>de</strong>bate excessivamente adiado<br />

<strong>da</strong> questão social.<br />

Quadro 13.5.<br />

Síntese <strong>da</strong>s principais dinâmicas do Projecto <strong>de</strong> Luta Contra a pobreza <strong>de</strong> <strong>Arcos</strong> <strong>de</strong> Val<strong>de</strong>vez<br />

Duração Enti<strong>da</strong><strong>de</strong>s Gestoras Parceiros<br />

1996-2000 Santa Casa <strong>da</strong><br />

Misericórdia <strong>de</strong><br />

<strong>Arcos</strong> <strong>de</strong> Val<strong>de</strong>vez<br />

Câmara Municipal<br />

<strong>de</strong> <strong>Arcos</strong> <strong>de</strong><br />

Val<strong>de</strong>vez<br />

260<br />

Serviço Sub-Regional <strong>de</strong> Segurança Social <strong>de</strong> Viana do<br />

Castelo<br />

Centro <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>Arcos</strong> <strong>de</strong> Val<strong>de</strong>vez<br />

Núcleo <strong>da</strong> Cruz Vermelha Portuguesa <strong>de</strong> <strong>Arcos</strong> <strong>de</strong><br />

Val<strong>de</strong>vez<br />

Instituto <strong>de</strong> Emprego e Formação Profissional <strong>de</strong> Viana do<br />

Castelo -


Diagnóstico Social do Concelho <strong>de</strong> <strong>Arcos</strong> <strong>de</strong> Val<strong>de</strong>vez<br />

Âmbito <strong>de</strong> <strong>Intervenção</strong><br />

Região <strong>de</strong> Turismo do Alto Minho<br />

Direcção Regional <strong>de</strong> Agricultura <strong>de</strong> Entre Douro e Minho<br />

Associação Social e Recreativa “Juventu<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

Vilafonche”<br />

Centro Social Paroquial do Vale<br />

Centro Social Paroquial <strong>de</strong> Guilha<strong>de</strong>zes<br />

Centro Social Paroquial do Soajo<br />

Generali<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong> população resi<strong>de</strong>nte no concelho;<br />

Categorias sociais alvo <strong>de</strong> maior incidência: idosos, jovens, <strong>de</strong>s<strong>em</strong>pregados, pequenos<br />

agricultores, artesãos e outros grupos <strong>da</strong> população activa que apresent<strong>em</strong> riscos <strong>de</strong><br />

vulnerabili<strong>da</strong><strong>de</strong> face a situações <strong>de</strong> exclusão social.<br />

Eixos <strong>de</strong> <strong>Intervenção</strong><br />

Aproveitar as potenciali<strong>da</strong><strong>de</strong>s dos produtos locais, nomea<strong>da</strong>mente dos agrícolas e tradicionais;<br />

Apoiar e dinamizar iniciativas <strong>em</strong>presariais no sector social;<br />

Apoiar e dinamizar a criação <strong>de</strong> um Centro <strong>de</strong> Preparação para a Integração Laboral (CPIL);<br />

Apoiar a recuperação <strong>de</strong> habitações no que diz respeito às famílias mais carencia<strong>da</strong>s do<br />

concelho;<br />

Acompanhamento, formação e inserção social <strong>da</strong>s famílias instala<strong>da</strong>s e a instalar <strong>em</strong> habitação<br />

social;<br />

Apoiar a criação e dinamização <strong>de</strong> espaços <strong>de</strong> âmbito sócio-cultural e recreativo;<br />

Elevar os níveis <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> <strong>da</strong> população através <strong>de</strong> campanhas <strong>de</strong> formação/ informação na<br />

área <strong>da</strong> prevenção e <strong>da</strong> saú<strong>de</strong> primária;<br />

Fontes: Boletim Informativo “O Social <strong>em</strong> Acção”, n.º 1, Julho <strong>de</strong> 1997; nº 2, Set<strong>em</strong>bro <strong>de</strong> 1998, Candi<strong>da</strong>tura<br />

dos <strong>Arcos</strong> <strong>de</strong> Val<strong>de</strong>vez ao Programa Nacional <strong>de</strong> Luta Contra a Pobreza, Contactos junto <strong>de</strong> técnicos<br />

locais, 1º Encontro dos Projectos <strong>de</strong> Luta Contra a Pobreza no Alto Minho, 16 e 17 <strong>de</strong> Outubro <strong>de</strong> 1998.<br />

261


Diagnóstico Social do Concelho <strong>de</strong> <strong>Arcos</strong> <strong>de</strong> Val<strong>de</strong>vez<br />

262


Diagnóstico Social do Concelho <strong>de</strong> <strong>Arcos</strong> <strong>de</strong> Val<strong>de</strong>vez<br />

13.4. O caso do Rendimento Mínimo Garantido<br />

Antes <strong>de</strong> avançarmos neste esforço <strong>de</strong> caracterização <strong>da</strong>s dinâmicas <strong>de</strong><br />

intervenção observa<strong>da</strong>s no concelho <strong>de</strong> <strong>Arcos</strong> <strong>de</strong> Val<strong>de</strong>vez, importa abrir aqui<br />

um espaço <strong>de</strong> discussão <strong>em</strong> torno do caso concreto <strong>da</strong> atribuição do<br />

Rendimento Mínimo Garantido, importante medi<strong>da</strong> <strong>de</strong> política social.<br />

A aplicação do RMG traduz-se numa análise mais focaliza<strong>da</strong> <strong>da</strong>s<br />

probl<strong>em</strong>áticas, permitindo ain<strong>da</strong> alargar as bases sociais do seu combate.<br />

To<strong>da</strong>via, e apesar <strong>da</strong>s suas vantagens, po<strong>de</strong>mos constatar alguns entraves<br />

concretos à sua aplicação no terreno.<br />

Uma primeira questão, pren<strong>de</strong>-se com o facto <strong>de</strong> as instituições locais, na sua<br />

diversi<strong>da</strong><strong>de</strong>, ain<strong>da</strong> não estar<strong>em</strong> totalmente abertas a relações <strong>de</strong> parceria e<br />

<strong>de</strong> concertação <strong>de</strong> esforços, levando a uma a<strong>de</strong>são meramente formal ou<br />

mesmo vazia no que concerne às Comissões Locais <strong>de</strong> Acompanhamento do<br />

Rendimento Mínimo Garantido.<br />

Em segundo lugar, e in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nt<strong>em</strong>ente dos sucessos obtidos até ao<br />

momento, <strong>de</strong>v<strong>em</strong>os reflectir acerca <strong>da</strong> inserção social dos beneficiários <strong>de</strong>sta<br />

medi<strong>da</strong>. Neste contexto, um dos principais bloqueios ao cumprimento dos<br />

Programas <strong>de</strong> Inserção pren<strong>de</strong>-se com a relativa ina<strong>de</strong>quação entre as<br />

capaci<strong>da</strong><strong>de</strong>s, expectativas e capaci<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>da</strong>s pessoas e os recursos<br />

disponibilizados pela estrutura social <strong>em</strong> que se situam. Assim, importa <strong>de</strong> certa<br />

forma inverter este estado <strong>de</strong> coisas, motivando os agentes sociais no seu<br />

todo, principalmente os económicos, para as potenciali<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>da</strong> inserção<br />

social. Importa que a estrutura social se requalifique no seu todo, não somente<br />

do ponto <strong>de</strong> vista educativo, habitacional e social, mas também económico.<br />

263


Diagnóstico Social do Concelho <strong>de</strong> <strong>Arcos</strong> <strong>de</strong> Val<strong>de</strong>vez<br />

No ano <strong>de</strong> 2002, estavam abrangidos pelo RMG 447 agregados do concelho<br />

<strong>de</strong> <strong>Arcos</strong> <strong>de</strong> Val<strong>de</strong>vez, correspon<strong>de</strong>ndo a 5,1% do total <strong>da</strong> população<br />

resi<strong>de</strong>nte, número acima dos registados para o Minho-Lima e para o Vale<br />

Lima. Os 238 acordos <strong>de</strong> inserção realizados correspondiam a 621 beneficiários<br />

abrangidos por Programas <strong>de</strong> Inserção. Relativamente às áreas <strong>de</strong> inserção, é<br />

a saú<strong>de</strong> que envolve mais beneficiários (504), seguindo-se a acção social (192)<br />

e a habitação (168). O elevado número <strong>de</strong> pessoas envolvi<strong>da</strong>s na área <strong>de</strong><br />

inserção <strong>da</strong> saú<strong>de</strong> alerta-nos para a necessi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> investir <strong>de</strong>cisivamente<br />

nesta área, sobretudo porque o envelhecimento populacional conduzirá<br />

eventualmente ao congestionamento dos serviços <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> existentes, ain<strong>da</strong><br />

para mais quando os recursos materiais e humanos não são os <strong>de</strong>sejáveis.<br />

De <strong>de</strong>stacar também, a este nível, o peso do concelho <strong>de</strong> <strong>Arcos</strong> <strong>de</strong> Val<strong>de</strong>vez<br />

no contexto do Minho-Lima: dos 1319 acordos <strong>de</strong> inserção estabelecidos nesta<br />

região, 238 (18%) foram-no no concelho <strong>de</strong> <strong>Arcos</strong> <strong>de</strong> Val<strong>de</strong>vez, um dos <strong>de</strong>z<br />

concelhos que constitu<strong>em</strong> o Minho-Lima. O mesmo se passa com o número <strong>de</strong><br />

beneficiários abrangidos. Este facto releva o peso do RMG <strong>em</strong> <strong>Arcos</strong> <strong>de</strong><br />

Val<strong>de</strong>vez enquanto importante medi<strong>da</strong> <strong>de</strong> intervenção social.<br />

Quadro 13.6.<br />

Dados relativos à aplicação do Rendimento Mínimo Garantido no Minho-Lima, Vale Lima e <strong>Arcos</strong><br />

<strong>de</strong> Val<strong>de</strong>vez <strong>em</strong> 2002<br />

Dados do RMG<br />

Nº agreg.<br />

com<br />

RMG<br />

%<br />

Pop.<br />

Res.<br />

Nº<br />

Acordos<br />

Inserção<br />

Tx.<br />

Exec<br />

.<br />

Nº<br />

Benef.<br />

com PI<br />

Nº<br />

Ben.<br />

disp. Educ. Form.<br />

Prof.<br />

Pessoas por Área <strong>de</strong> Inserção<br />

Acção<br />

Social<br />

Saúd. Hab.<br />

Minho-Lima 2528 3,3 1319 66 3524 2446 501 484 1115 1586 814 1582<br />

Vale Lima 1707 4,1 728 54,5 2191 1506 304 345 757 1304 456 833<br />

<strong>Arcos</strong> <strong>de</strong> Val<strong>de</strong>vez 447 5,1 238 53 621 429 124 108 192 504 168 322<br />

Fonte: Serviço Sub-Regional <strong>de</strong> Segurança Social <strong>de</strong> Viana do castelo, 2002.<br />

Tendo como objecto <strong>de</strong> estudo o Rendimento Mínimo Garantido (RMG) e<br />

sobretudo os beneficiários que se encontram no Programa Inserção/Emprego<br />

e no contexto do Instituto <strong>de</strong> Emprego e Formação Profissional – Centro <strong>de</strong><br />

264<br />

PI<br />

cessados


Diagnóstico Social do Concelho <strong>de</strong> <strong>Arcos</strong> <strong>de</strong> Val<strong>de</strong>vez<br />

Emprego <strong>de</strong> <strong>Arcos</strong> <strong>de</strong> Val<strong>de</strong>vez ir<strong>em</strong>os expor algumas <strong>da</strong>s principais questões<br />

levanta<strong>da</strong>s <strong>em</strong> torno <strong>da</strong> aplicação <strong>de</strong>sta medi<strong>da</strong> <strong>de</strong> política social 10 .<br />

Na acepção <strong>de</strong> Luís Capucha o RMG prefigura-se como medi<strong>da</strong> <strong>de</strong> política<br />

social “visando garantir às famílias mais pobres um rendimento que lhes<br />

permita ace<strong>de</strong>r, por um lado, a um nível mínimo <strong>de</strong> subsistência e <strong>de</strong><br />

digni<strong>da</strong><strong>de</strong> e, por outro, a condições e oportuni<strong>da</strong><strong>de</strong>s básicas para o início <strong>de</strong><br />

um percurso social” 11 . O contexto <strong>de</strong> análise <strong>de</strong>ste trabalho situa-se nas<br />

freguesias do Vale e <strong>de</strong> S. Jorge.<br />

O trabalho <strong>em</strong> análise incidiu sobre os beneficiários do Programa<br />

Inserção/Emprego <strong>de</strong>ntro do RMG, com i<strong>da</strong><strong>de</strong> igual ou superior a 18 anos, que<br />

sejam titulares <strong>da</strong> prestação <strong>de</strong> rendimento mínimo, b<strong>em</strong> como os m<strong>em</strong>bros<br />

do seu agregado profissional que não se encontram dispensados <strong>da</strong><br />

disponibili<strong>da</strong><strong>de</strong> activa para a inserção profissional. Os <strong>de</strong>stinatários <strong>de</strong>v<strong>em</strong><br />

estar inscritos nos centros <strong>de</strong> <strong>em</strong>prego, ter<strong>em</strong> celebrado o programa <strong>de</strong><br />

inserção, cont<strong>em</strong>plando o respectivo encaminhamento para o<br />

<strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> activi<strong>da</strong><strong>de</strong>s no domínio do <strong>em</strong>prego e <strong>da</strong> formação, não<br />

estar<strong>em</strong> abrangidos por outros programas <strong>de</strong> inserção nos domínios do<br />

<strong>em</strong>prego ou formação. No caso concreto, a proporção <strong>de</strong> mulheres<br />

participantes é substancialmente superior à dos homens (83%).<br />

Em termos etários, 25% <strong>da</strong> população encontra-se <strong>em</strong> i<strong>da</strong><strong>de</strong> activa, situa<strong>da</strong><br />

entre os 30 e os 40 anos. Saliente-se que cerca <strong>de</strong> 59% <strong>de</strong>stes indivíduos se<br />

encontra numa i<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>em</strong> que <strong>da</strong><strong>da</strong>s as suas qualificações se torna muito<br />

difícil a inserção no mercado <strong>de</strong> trabalho, entre os 41 e os 60 anos. Saliente-se<br />

também ao nível <strong>da</strong>s habilitações literárias, a persistência dos baixos níveis <strong>de</strong><br />

escolari<strong>da</strong><strong>de</strong>, nomea<strong>da</strong>mente no limiar do 1º ciclo do ensino básico.<br />

10 Celisa Alexandra <strong>de</strong> Amorim Pereira, Inserção/Emprego. Ilusão ou reali<strong>da</strong><strong>de</strong>?, Braga,<br />

Universi<strong>da</strong><strong>de</strong> do Minho – Instituto <strong>de</strong> Ciências Sociais, Relatório <strong>de</strong> Estágio <strong>da</strong> Licenciatura <strong>em</strong><br />

Sociologia – Ramo Políticas Sociais, 2001/2002, doc. policopiado.<br />

11 Luís Capucha e Outros, Rendimento Mínimo Garantido: avaliação <strong>da</strong> fase experimental,<br />

Lisboa, Ministério do Trabalho e Soli<strong>da</strong>rie<strong>da</strong><strong>de</strong>/Comissão Nacional do Rendimento Mínimo<br />

Garantido, Departamento <strong>de</strong> Estudos, Prospectiva e Planeamento do Ministérios do Trabalho e<br />

Soli<strong>da</strong>rie<strong>da</strong><strong>de</strong>, 1998, p. 4.<br />

265


Diagnóstico Social do Concelho <strong>de</strong> <strong>Arcos</strong> <strong>de</strong> Val<strong>de</strong>vez<br />

Os agregados familiares <strong>de</strong>stas pessoas são constituídos na sua maioria (83%)<br />

por pessoas com 5 ou mais pessoas. Em todo o caso, a gran<strong>de</strong> maioria <strong>da</strong>s<br />

pessoas <strong>de</strong>seja que os seus filhos prossigam com os seus estudos para po<strong>de</strong>r<strong>em</strong><br />

ter um bom <strong>em</strong>prego e uma vi<strong>da</strong> melhor que a <strong>de</strong>les próprios. Em termos <strong>de</strong><br />

condições <strong>de</strong> habitabili<strong>da</strong><strong>de</strong>, po<strong>de</strong>mos dizer que 58% <strong>de</strong>sta população<br />

habitam <strong>em</strong> casa <strong>em</strong>presta<strong>da</strong>, assim como viv<strong>em</strong> <strong>em</strong> condições sanitárias e<br />

higiénicas precárias. Relativamente aos hábitos alimentares nas famílias,<br />

registam-se eleva<strong>da</strong>s percentagens <strong>de</strong> famílias que não consom<strong>em</strong><br />

diariamente fruta, carne ou peixe. Sobressai ain<strong>da</strong> neste contexto a<br />

importância <strong>da</strong> exploração agrícola familiar para respon<strong>de</strong>r às necessi<strong>da</strong><strong>de</strong>s<br />

alimentares <strong>da</strong> família, e como forma <strong>de</strong> activar um rendimento relativamente<br />

incerto, diminuindo, por isso, as <strong>de</strong>spesas <strong>em</strong> termos <strong>de</strong> alimentação<br />

quotidiana. Dentro dos consumos alimentares <strong>de</strong>sta população, <strong>de</strong>stacam-se<br />

a sopa, o pão e também o vinho, sobressaindo este último como um alimento<br />

ao qual á <strong>da</strong><strong>da</strong> uma conotação <strong>de</strong> alimento e o seu consumo <strong>em</strong>erge como<br />

uma prática social e culturalmente normaliza<strong>da</strong>. Estes consumos alimentares<br />

aponta para algumas carências, nomea<strong>da</strong>mente, <strong>de</strong> peixe, <strong>de</strong> frutas e <strong>de</strong><br />

carne.<br />

Quando abor<strong>da</strong>dos, no quadro do estudo <strong>de</strong> referência que estamos a seguir,<br />

acerca <strong>da</strong> existência <strong>de</strong> pessoas <strong>de</strong>ntro do agregado familiar <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes<br />

do consumo <strong>de</strong> álcool, 58% dos indivíduos <strong>de</strong>clararam que alguns m<strong>em</strong>bros<br />

do agregado têm ou tiveram probl<strong>em</strong>as <strong>de</strong> alcoolismo 12 .<br />

Em termos <strong>de</strong> sociabili<strong>da</strong><strong>de</strong>s e <strong>de</strong> conviviali<strong>da</strong><strong>de</strong>s quotidianas, a maioria <strong>da</strong>s<br />

pessoas (67%) representa-se como <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte dos vizinhos, <strong>de</strong>signa<strong>da</strong>mente<br />

para a realização <strong>de</strong> trabalhos no campo, sendo <strong>de</strong> <strong>de</strong>stacar os intensos<br />

laços <strong>de</strong> soli<strong>da</strong>rie<strong>da</strong><strong>de</strong> vicinal que caracterizam estas pessoas e também a<br />

persistência <strong>de</strong> formas <strong>de</strong> inter-aju<strong>da</strong> activas. Tal como refere a autora do<br />

estudo “além <strong>da</strong>s relações <strong>de</strong> vizinhança e familiares não foi possível <strong>de</strong>tectar<br />

outras relações sociais, o que permite concluir que no local on<strong>de</strong> se inser<strong>em</strong> a<br />

12 Cfr. I<strong>de</strong>m, p. 86.<br />

266


Diagnóstico Social do Concelho <strong>de</strong> <strong>Arcos</strong> <strong>de</strong> Val<strong>de</strong>vez<br />

integração é razoável, no entanto estes indivíduos encontram-se excluídos <strong>de</strong><br />

outras formas <strong>de</strong> participação social” 13 . Aliás, a própria noção <strong>de</strong> t<strong>em</strong>pos livres<br />

não está presente nos quotidianos <strong>de</strong>sta população, o que se pren<strong>de</strong> com<br />

uma vi<strong>da</strong> pauta<strong>da</strong> por um nível <strong>de</strong> vi<strong>da</strong> baixo.<br />

Relativamente às suas representações acerca do RMG, gran<strong>de</strong> parte <strong>da</strong>s<br />

pessoas tomaram conhecimento <strong>de</strong>sta medi<strong>da</strong> ou através <strong>de</strong> párocos na sus<br />

frequência religiosa dominical ou através <strong>de</strong> familiares. I<strong>de</strong>ntificaram o RMG<br />

como uma prestação pecuniária e não como uma medi<strong>da</strong> mais alarga<strong>da</strong> <strong>de</strong><br />

inserção <strong>da</strong>s pessoas na socie<strong>da</strong><strong>de</strong>. A priori, <strong>de</strong>sconheciam o Programa<br />

Vi<strong>da</strong>/Emprego, mas <strong>de</strong>pois <strong>da</strong> sua participação têm acerca <strong>de</strong>le uma opinião<br />

positiva. Relativamente à prossecução <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> quotidiana, e após o terminus<br />

do Programa, a maioria <strong>da</strong>s pessoas sente uma gran<strong>de</strong> frustração na medi<strong>da</strong><br />

<strong>em</strong> que conseguiram estar integra<strong>da</strong>s no mercado <strong>de</strong> trabalho durante 14<br />

meses, tendo retomado assim a sua condição <strong>de</strong> <strong>de</strong>s<strong>em</strong>pregados. Portanto, o<br />

facto <strong>de</strong> a gran<strong>de</strong> maioria dos participantes não se ter integrado no mercado<br />

<strong>de</strong> trabalho parece afigurar-se como um factor <strong>de</strong>terminante na prossecução<br />

<strong>de</strong> uma trajectória <strong>de</strong> vi<strong>da</strong> pauta<strong>da</strong> pela baixa auto estima e reforço <strong>de</strong><br />

i<strong>de</strong>nti<strong>da</strong><strong>de</strong>s negativas. Denote-se que somente 17% <strong>da</strong> população é que ficou<br />

inseri<strong>da</strong> no mercado <strong>de</strong> trabalho. Destaque-se que o Programa<br />

Inserção/Emprego permitiu uma melhoria <strong>da</strong>s condições <strong>de</strong> vi<strong>da</strong> <strong>da</strong>s<br />

populações, mas não suficient<strong>em</strong>ente capaz <strong>de</strong> lançar estas pessoas numa<br />

trajectória <strong>de</strong> mobili<strong>da</strong><strong>de</strong> social ascen<strong>de</strong>nte, o seu <strong>de</strong>sejo era muitas vezes<br />

consubstanciado no facto <strong>de</strong> apenas ter<strong>em</strong> dinheiro para a vi<strong>da</strong> do dia a dia.<br />

A autora do estudo consi<strong>de</strong>ra ain<strong>da</strong> que o facto <strong>de</strong>stas populações viver<strong>em</strong><br />

<strong>de</strong> forma persistente <strong>em</strong> áreas rurais, t<strong>em</strong> contribuído para a persistência <strong>de</strong><br />

condições <strong>de</strong> vi<strong>da</strong> precárias e muito vulneráveis a situações <strong>de</strong> pobreza<br />

absoluta e tradicional 14 . Aliás, a instauração <strong>de</strong> uma espécie <strong>de</strong> cultura <strong>da</strong><br />

pobreza á sintomática <strong>de</strong>sse fenómeno. Aliás, “a luta contra a pobreza passa<br />

pela reconstituição <strong>de</strong> re<strong>de</strong>s <strong>de</strong> soli<strong>da</strong>rie<strong>da</strong><strong>de</strong>, pela educação e pela<br />

13 I<strong>de</strong>m, p. 87.<br />

14 I<strong>de</strong>m, p. 93.<br />

267


Diagnóstico Social do Concelho <strong>de</strong> <strong>Arcos</strong> <strong>de</strong> Val<strong>de</strong>vez<br />

formação profissional com a finali<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> mu<strong>da</strong>r a mentali<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong>stes<br />

agregados 15 ”, se tal não acontecer, “geram-se sentimentos <strong>de</strong> passivi<strong>da</strong><strong>de</strong>,<br />

resignação, <strong>de</strong>pendência e incapaci<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> combater projectos futuros” 16 .<br />

Da mesma forma, outro trabalho <strong>de</strong> pendor qualitativo realizado acerca <strong>da</strong><br />

reali<strong>da</strong><strong>de</strong> concelhia <strong>de</strong> <strong>Arcos</strong> <strong>de</strong> Val<strong>de</strong>vez 17 , também nos permite tecer<br />

algumas consi<strong>de</strong>rações acerca <strong>da</strong> população beneficiária do RMG no<br />

concelho. Destaque-se que este trabalho <strong>de</strong>correu no Serviço Sub-Regional<br />

<strong>de</strong> Segurança Social <strong>de</strong> <strong>Arcos</strong> <strong>de</strong> Val<strong>de</strong>vez e incidiu particularmente na<br />

freguesia <strong>de</strong> S. Jorge.<br />

Aliás, po<strong>de</strong>mos mesmo adiantar que as populações que viv<strong>em</strong> <strong>em</strong> meio rural<br />

vão produzindo e reproduzindo os seus quotidianos e socie<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> uma<br />

forma específica, reflectindo-se <strong>em</strong> maneiras e <strong>de</strong> fazer e <strong>de</strong> estar.<br />

Ex<strong>em</strong>plifica<strong>da</strong>mente, a habitação “simboliza o meio que a ro<strong>de</strong>ia, o hom<strong>em</strong><br />

que a ocupa e, principalmente, o sist<strong>em</strong>a económico, social e cultural no qual<br />

se insere. É neste contexto que se <strong>de</strong>senvolve a pobreza, o trabalho s<strong>em</strong><br />

atractivo e mal r<strong>em</strong>unerado e a habitação <strong>de</strong>gra<strong>da</strong><strong>da</strong> e por vezes<br />

<strong>de</strong>sumana” 18 .<br />

A <strong>de</strong>bili<strong>da</strong><strong>de</strong> ou mesmo a inexistência <strong>de</strong> equipamentos <strong>em</strong> meio rural torna<br />

os quotidianos difíceis, principalmente se tomarmos <strong>em</strong> linha <strong>de</strong> conta a<br />

inexistência <strong>de</strong> serviços <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>, <strong>de</strong> infantários, <strong>de</strong> centros <strong>de</strong> dia para<br />

idosos, faz<strong>em</strong> com que estas populações assumam um estatuto <strong>de</strong> quase<br />

ruptura face ao meio envolvente. As imensas dificul<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>da</strong> re<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

transportes, assim como, o isolamento entre as freguesias, possibilitam<br />

15 I<strong>de</strong>m., p. 95.<br />

16 I<strong>de</strong>m, p. 96.<br />

17 Maria A<strong>de</strong>lai<strong>de</strong> Sousa Alves, A pobreza Rural: práticas e representações dos beneficiários do<br />

RMG, Braga, Universi<strong>da</strong><strong>de</strong> do Minho-Instituto <strong>de</strong> Ciências Sociais, Relatório <strong>de</strong> Estágio <strong>de</strong><br />

Sociologia <strong>da</strong>s Organizações, 2000.<br />

18 I<strong>de</strong>m, p. 54..<br />

268


Diagnóstico Social do Concelho <strong>de</strong> <strong>Arcos</strong> <strong>de</strong> Val<strong>de</strong>vez<br />

condições <strong>de</strong> relacionamento social e o acesso a <strong>de</strong>terminado tipo <strong>de</strong> bens e<br />

<strong>de</strong> serviços 19 .<br />

Em termos <strong>de</strong> análise à escala nacional, po<strong>de</strong>mos dizer que a precarie<strong>da</strong><strong>de</strong> e<br />

a <strong>de</strong>stituição <strong>de</strong>fin<strong>em</strong> a generali<strong>da</strong><strong>de</strong> dos modos <strong>de</strong> vi<strong>da</strong> dos beneficiários do<br />

RMG, assim como, as suas situações profissionais; o número <strong>de</strong> mulheres é<br />

maioritário, <strong>de</strong>vido ao gran<strong>de</strong> número <strong>de</strong> famílias monoparentais; a<br />

escolari<strong>da</strong><strong>de</strong> é baixa, sendo constantes as presenças <strong>de</strong> insucesso, abandono<br />

escolar e analfabetismo; são frequentes as situações <strong>de</strong> <strong>de</strong>s<strong>em</strong>prego <strong>de</strong> longa<br />

duração, <strong>de</strong> precarie<strong>da</strong><strong>de</strong> e sazonali<strong>da</strong><strong>de</strong> laborais, assim como, <strong>de</strong><br />

informali<strong>da</strong><strong>de</strong> contratual; estamos também perante um conjunto <strong>de</strong> pessoas<br />

com iniciação profissional precoce, fracas r<strong>em</strong>unerações, inexistência <strong>de</strong><br />

perspectivas <strong>de</strong> carreira; os seus espaços <strong>de</strong> vivência habitacional também<br />

são pautados por inúmeras carências <strong>em</strong> termos <strong>de</strong> condições <strong>de</strong> conforto, os<br />

seus trajectos marcados por probl<strong>em</strong>as <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> e algumas <strong>de</strong>pendências<br />

(alcoolismo e toxico<strong>de</strong>pendência).<br />

O RMG consoli<strong>da</strong>-se no sentido <strong>de</strong> “uma <strong>de</strong>scentralização <strong>de</strong> competências,<br />

<strong>da</strong>ndo priori<strong>da</strong><strong>de</strong> à actuação local e <strong>da</strong>ndo às enti<strong>da</strong><strong>de</strong>s locais<br />

competências <strong>em</strong> matéria social e financeira. Esta é a principal condição <strong>de</strong><br />

êxito <strong>de</strong>sta medi<strong>da</strong>, pois só com o <strong>em</strong>penhamento simultâneo do Estado e <strong>de</strong><br />

todos os parceiros que, voluntariamente, aceitar<strong>em</strong> participar nestes projectos,<br />

se alcançará o <strong>de</strong>senvolvimento social, a inserção e a <strong>em</strong>ancipação <strong>da</strong>s<br />

pessoas vulneráveis à pobreza e à exclusão. Há uma valorização do local, <strong>da</strong><br />

freguesia, do grupo, <strong>de</strong> tudo aquilo que veicule uma i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> soli<strong>da</strong>rie<strong>da</strong><strong>de</strong><br />

como consequência <strong>da</strong>s similitu<strong>de</strong>s <strong>da</strong>s condições e/ou pertença a um<br />

mesmo meio. A importância <strong>da</strong> parceria, no âmbito do RMG, explica-se por<br />

um regresso à comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>: reforço dos elos sociais no local on<strong>de</strong> as relações<br />

se processam, explorando os recursos potenciais <strong>da</strong>s sociabili<strong>da</strong><strong>de</strong>s<br />

concretas” 20 .<br />

19 I<strong>de</strong>m, Ibi<strong>de</strong>m.<br />

20 I<strong>de</strong>m, p. 92.<br />

269


Diagnóstico Social do Concelho <strong>de</strong> <strong>Arcos</strong> <strong>de</strong> Val<strong>de</strong>vez<br />

A pouca absorção dos beneficiários por parte do mercado <strong>de</strong> trabalho requer<br />

a criação <strong>de</strong> medi<strong>da</strong>s <strong>de</strong> estímulo às <strong>em</strong>presas ou fórmulas <strong>de</strong> <strong>em</strong>prego e<br />

auto-<strong>em</strong>prego e a promoção <strong>de</strong> projectos <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento comunitário<br />

nas zonas <strong>de</strong> maior incidência <strong>da</strong> pobreza. É imprescindível que as instituições<br />

que integram a parceria se comprometam a conceber e a impl<strong>em</strong>entar a<br />

oferta <strong>de</strong> programas <strong>de</strong> formação e apoio <strong>em</strong> inserção sócio-profissional,<br />

eficazes, atractivos e ajustáveis às especifici<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> ca<strong>da</strong> beneficiário” 21 .<br />

No caso concreto do concelho <strong>de</strong> <strong>Arcos</strong> <strong>de</strong> Val<strong>de</strong>vez, po<strong>de</strong>mos salientar que<br />

os beneficiários do RMG são frequent<strong>em</strong>ente agricultores <strong>de</strong> baixos<br />

rendimentos, alicerçados numa agricultura <strong>de</strong> auto-subsistência, pautados por<br />

inúmeras e múltiplas fragili<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>em</strong> termos <strong>de</strong> inserção económica, social e<br />

cultural. Trata-se <strong>de</strong> uma população agrícola caracteriza<strong>da</strong> por baixos índices<br />

<strong>de</strong> produtivi<strong>da</strong><strong>de</strong> cruzados com um <strong>de</strong>senvolvimento industrial ain<strong>da</strong> <strong>em</strong> fase<br />

<strong>de</strong> lançamento 22 . Trata-se <strong>de</strong> uma socie<strong>da</strong><strong>de</strong> marca<strong>da</strong> pelo matriacardo, na<br />

medi<strong>da</strong> <strong>em</strong> que a mulher é chama<strong>da</strong> a responsabilizar-se pela gestão do lar e<br />

<strong>da</strong> família, sendo as mulheres também as mais constrangi<strong>da</strong>s <strong>em</strong> termos <strong>de</strong><br />

perspectivas <strong>de</strong> <strong>em</strong>prego; aliás, a este facto não será alheia a maior<br />

percentag<strong>em</strong> <strong>de</strong> mulheres no requerimento <strong>da</strong> prestação. Em Março <strong>de</strong> 2000,<br />

neste concelho, 804 agregados estavam abrangidos pelo RMG, <strong>de</strong>ntre os<br />

quais somente 103 tinham assinado um projecto <strong>de</strong> inserção. Saliente-se que<br />

este número reduzido <strong>de</strong> projectos pren<strong>de</strong>-se com a preocupação, por parte<br />

do Núcleo Executivo do RMG, <strong>de</strong> elaborar projectos <strong>de</strong> inserção consistentes,<br />

propiciando uma abertura efectiva <strong>da</strong>s portas <strong>da</strong> inserção. As áreas mais<br />

privilegia<strong>da</strong>s pelos projectos <strong>de</strong> inserção eram as seguintes: acção social(165),<br />

a saú<strong>de</strong> (118), a habitação (86), a educação (43) e o <strong>em</strong>prego/formação<br />

profissional (35) 23 .<br />

21<br />

Pierre Guibentif e Outros, As Políticas <strong>de</strong> Rendimento Mínimo na União Europeia, Lisboa, União <strong>da</strong>s<br />

Mutuali<strong>da</strong><strong>de</strong>s Portuguesas, 1997, p. 124.<br />

22<br />

Maria A<strong>de</strong>lai<strong>de</strong> Sousa Alves, A pobreza Rural: práticas e representações dos beneficiários do<br />

RMG, p. 109.<br />

23<br />

I<strong>de</strong>m, p. 111.<br />

270


Diagnóstico Social do Concelho <strong>de</strong> <strong>Arcos</strong> <strong>de</strong> Val<strong>de</strong>vez<br />

De facto, a inserção no mercado <strong>de</strong> trabalho parece ser a área com menor<br />

a<strong>de</strong>são, sendo <strong>de</strong> <strong>de</strong>stacar a importância <strong>de</strong> uma intervenção pluridisciplinar<br />

e progressiva, começando-se geralmente com áreas tais como, o apoio<br />

psico-social, a educação sócio-familiar, os tratamentos e cui<strong>da</strong>dos <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>,<br />

a elevação dos níveis <strong>de</strong> ensino; <strong>de</strong>pois <strong>de</strong>sse enquadramento, seguir-se-á a<br />

integração no mercado <strong>de</strong> trabalho 24 . Destaque-se que uns dos principais<br />

obstáculos para a inserção se pren<strong>de</strong> com uma prática enraiza<strong>da</strong> <strong>de</strong><br />

alcoolismo, assim como, <strong>de</strong> uma relação <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte com os serviços <strong>de</strong><br />

apoio social, o que leva a que o RMG seja muitas vezes representado não<br />

como um instrumento <strong>de</strong> inserção social, mas tão só como uma prestação<br />

monetária.<br />

Por parte <strong>da</strong> CLA <strong>de</strong> <strong>Arcos</strong> <strong>de</strong> Val<strong>de</strong>vez existe um sentimento claro <strong>de</strong> uma<br />

aposta na intensificação <strong>da</strong> articulação entre o <strong>em</strong>prego/formação<br />

profissional e a acção social, permitindo a criação e o reforço <strong>de</strong> respostas ao<br />

nível dos Programas <strong>de</strong> Inserção 25 . No caso particular <strong>da</strong> freguesia <strong>de</strong> S. Jorge,<br />

constata-se a pro<strong>em</strong>inência do género f<strong>em</strong>inino, ressaltando as crianças e<br />

jovens com i<strong>da</strong><strong>de</strong>s até aos 15 anos e o escalão que vai dos 31 aos 40 anos.<br />

Aliás, e relativamente à i<strong>da</strong><strong>de</strong> do requerente, salientam-se as pessoas cujas<br />

i<strong>da</strong><strong>de</strong>s se compreen<strong>de</strong>m entre os 41 e os 45 anos, sendo a maior parte<br />

portadores do 1º ciclo <strong>de</strong> escolari<strong>da</strong><strong>de</strong>, e ain<strong>da</strong> assim, incompleto.<br />

As vulnerabili<strong>da</strong><strong>de</strong>s dos agregados são as seguintes, por or<strong>de</strong>m <strong>de</strong>crescente<br />

<strong>de</strong> importância: baixos rendimentos, <strong>em</strong>prego precário, ausência <strong>de</strong><br />

expectativas, <strong>de</strong>gra<strong>da</strong>ção habitacional, ausência <strong>de</strong> hábitos <strong>de</strong> trabalho,<br />

alcoolismo, instabili<strong>da</strong><strong>de</strong> familiar, <strong>de</strong>s<strong>em</strong>prego, endivi<strong>da</strong>mento, encargos com<br />

saú<strong>de</strong> 26 .<br />

As potenciali<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong>tecta<strong>da</strong>s nos agregados são as seguintes por or<strong>de</strong>m<br />

<strong>de</strong>crescente <strong>de</strong> importância: bom relacionamento com a vizinhança,<br />

24<br />

I<strong>de</strong>m, Ibi<strong>de</strong>m.<br />

25<br />

I<strong>de</strong>m, Ibi<strong>de</strong>m. Entrevista a Rosa Maria Alves.<br />

26<br />

I<strong>de</strong>m, p. 133.<br />

271


Diagnóstico Social do Concelho <strong>de</strong> <strong>Arcos</strong> <strong>de</strong> Val<strong>de</strong>vez<br />

responsabili<strong>da</strong><strong>de</strong>, baixo nível <strong>de</strong> <strong>de</strong>spesas, consciência dos probl<strong>em</strong>as, bom<br />

relacionamento familiar, capaci<strong>da</strong><strong>de</strong> para gerir recursos, boa inserção escolar<br />

e aspirações profissionais 27 . Assim, “apesar do RMG ter permitido uma melhoria<br />

<strong>da</strong>s condições <strong>de</strong> vi<strong>da</strong> <strong>de</strong>sta população, ain<strong>da</strong> não foi suficiente para que a<br />

gran<strong>de</strong> maioria transformasse os seus modos <strong>de</strong> vi<strong>da</strong> e envere<strong>da</strong>sse por<br />

estratégias <strong>de</strong> mobili<strong>da</strong><strong>de</strong> ascen<strong>de</strong>nte. Como se po<strong>de</strong> constatar que a<br />

prestação é canaliza<strong>da</strong> para <strong>de</strong>spesas fun<strong>da</strong>mentais à sobrevivência, como a<br />

alimentação, <strong>de</strong>spesas com a habitação e a saú<strong>de</strong>, o que comprova a<br />

situação <strong>de</strong> pobreza absoluta vivi<strong>da</strong> por estas pessoas que não têm recursos<br />

suficientes para satisfazer as suas necessi<strong>da</strong><strong>de</strong>s básicas” 28<br />

13.5. Conclusão: algumas linhas estratégicas <strong>de</strong> intervenção<br />

Num contexto rural <strong>de</strong> pobreza territorializa<strong>da</strong> como parece ser aquele <strong>em</strong><br />

que se insere o concelho <strong>de</strong> <strong>Arcos</strong> <strong>de</strong> Val<strong>de</strong>vez, a intervenção no combate à<br />

pobreza e à exclusão social <strong>de</strong>ve afirmar-se pela consistência e<br />

multidimensionali<strong>da</strong><strong>de</strong> procurando apoiar a vários níveis, e não só<br />

economicamente, os grupos mais vulneráveis, ao mesmo t<strong>em</strong>po que procura<br />

agir sobre as estruturas mentais <strong>da</strong>s pessoas, no sentido <strong>de</strong> lhes fazer interiorizar<br />

princípios <strong>de</strong> autonomia e participação activa que possam contrariar o<br />

conformismo e a acomo<strong>da</strong>ção que muitas vezes as caracteriza.<br />

A elaboração <strong>de</strong>ssa intervenção consistente e multidimensional, porém, está<br />

<strong>em</strong> gran<strong>de</strong> medi<strong>da</strong> <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte <strong>da</strong> capaci<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong>s instituições e enti<strong>da</strong><strong>de</strong>s<br />

competentes <strong>em</strong> pensar<strong>em</strong> a sua própria actuação e <strong>em</strong> saber<strong>em</strong><br />

aprofun<strong>da</strong>r o seu conhecimento acerca <strong>da</strong> reali<strong>da</strong><strong>de</strong> sobre a qual operam ou<br />

preten<strong>de</strong>m operar. Neste sentido, o Diagnóstico Social assume particular<br />

27 I<strong>de</strong>m, p. 134.<br />

28 I<strong>de</strong>m, p. 144.<br />

272


Diagnóstico Social do Concelho <strong>de</strong> <strong>Arcos</strong> <strong>de</strong> Val<strong>de</strong>vez<br />

relevo, <strong>de</strong>vendo constituir um documento alvo <strong>de</strong> constantes actualizações e<br />

enriquecimentos. Um <strong>de</strong>stes enriquecimentos po<strong>de</strong>ria passar, por ex<strong>em</strong>plo,<br />

pelo aprofun<strong>da</strong>mento do conhecimento acerca dos indivíduos e famílias que<br />

beneficiam <strong>de</strong> medi<strong>da</strong>s <strong>de</strong> política social como o RMG, <strong>de</strong> forma a a<strong>de</strong>quar a<br />

intervenção a ca<strong>da</strong> caso concreto, tarefa essencial para o sucesso <strong>de</strong><br />

processos <strong>de</strong> integração social.<br />

A retracção face ao exercício dos direitos e dos <strong>de</strong>veres <strong>de</strong> ci<strong>da</strong><strong>da</strong>nia parece<br />

efectivamente caracterizar os processos sociais <strong>em</strong> análise. Assim, torna-se<br />

necessário quebrar inércias instala<strong>da</strong>s, rentabilizar as forças vivas locais,<br />

nomea<strong>da</strong>mente presi<strong>de</strong>ntes <strong>de</strong> junta e párocos, assim como professores. Não<br />

nos po<strong>de</strong>mos esquecer que estamos perante uma socie<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>em</strong> que a<br />

proximi<strong>da</strong><strong>de</strong> social e geográfica são el<strong>em</strong>entos fun<strong>da</strong>mentais <strong>de</strong> mobilização.<br />

O que acabámos <strong>de</strong> afirmar, l<strong>em</strong>bra-nos <strong>da</strong> importância <strong>da</strong> participação na<br />

inserção social. Como sab<strong>em</strong>os, a inserção social r<strong>em</strong>ete para um duplo<br />

movimento: por um lado, passa pela concessão às pessoas, famílias ou<br />

categorias sociais <strong>em</strong> situação ou risco <strong>de</strong> exclusão do acesso a direitos e<br />

<strong>de</strong>veres <strong>de</strong> ci<strong>da</strong><strong>da</strong>nia e <strong>de</strong> participação social e cultural; por outro lado, terão<br />

<strong>de</strong> existir agentes integradores, instituições, associações e grupos, que<br />

forneçam a esses mesmos indivíduos possibili<strong>da</strong><strong>de</strong>s e meios <strong>de</strong> iniciar esses<br />

processos <strong>de</strong> forma a combater uma relação <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte. É importante referir<br />

que os processos <strong>em</strong> causa implicam muitas facetas <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> humana, tais<br />

como a interacção social e familiar, o acesso a instituições, as possibili<strong>da</strong><strong>de</strong>s<br />

<strong>de</strong> obter escolarização, a qualificação profissional, o <strong>em</strong>prego, a participação<br />

cívica e política, etc. É importante que o recurso aos serviços <strong>de</strong> apoio social<br />

seja encarado por ambas as partes como um processo <strong>de</strong> constante<br />

negociação, criando espaços <strong>de</strong> autonomia e capaci<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> estratégias <strong>de</strong> reforço <strong>da</strong> auto-estima <strong>da</strong>s populações.<br />

273


Diagnóstico Social do Concelho <strong>de</strong> <strong>Arcos</strong> <strong>de</strong> Val<strong>de</strong>vez<br />

Esta perspectiva parte do pressuposto <strong>de</strong> que é necessário reconhecer as<br />

imensas capaci<strong>da</strong><strong>de</strong>s dos actores locais para apren<strong>de</strong>r<strong>em</strong>, reapren<strong>de</strong>r<strong>em</strong>,<br />

criar<strong>em</strong> e transformar<strong>em</strong> uma infini<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> saberes.<br />

Perante este cenário, parece-nos importante salientar, <strong>em</strong> termos <strong>de</strong><br />

estratégia <strong>de</strong> intervenção, todo o conjunto <strong>de</strong> iniciativas locais <strong>de</strong> <strong>em</strong>prego<br />

que abarqu<strong>em</strong>: serviços <strong>de</strong> amas, creches familiares, creches e guar<strong>da</strong> <strong>de</strong><br />

crianças, jardins <strong>de</strong> infância, ocupação <strong>de</strong> t<strong>em</strong>pos livres para jovens e idosos,<br />

serviços <strong>de</strong>stinados a pessoas com <strong>de</strong>ficiência, apoio domiciliário a pessoas<br />

<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes, uni<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> cui<strong>da</strong>dos continuados, etc. Este tipo <strong>de</strong> iniciativas<br />

visam potenciar os contextos <strong>de</strong> proximi<strong>da</strong><strong>de</strong> e os conhecimentos dos actores<br />

sociais face a esses mesmos contextos.<br />

Outra aposta <strong>de</strong>cisiva pren<strong>de</strong>-se com a vinculação e ancoração dos actores<br />

sociais <strong>em</strong> presença aos recursos locais vastíssimos e riquíssimos do ponto <strong>de</strong><br />

vista económico, i<strong>de</strong>ntitário e simbólico nesta região.<br />

Evi<strong>de</strong>nt<strong>em</strong>ente que o envolvimento dos actores locais e dos seus<br />

conhecimentos terá <strong>de</strong> ser diferenciado e cruzado, indo <strong>de</strong> encontro às suas<br />

próprias motivações e aspirações pessoais. Exist<strong>em</strong> <strong>de</strong>termina<strong>da</strong>s faixas<br />

etárias, por ex<strong>em</strong>plo, que se encontram mais predispostas para assumir<strong>em</strong> um<br />

papel <strong>de</strong> produtores (artesãos), enquanto que outras, porventura mais jovens,<br />

se encontram mais vocaciona<strong>da</strong>s para <strong>de</strong>s<strong>em</strong>penhar<strong>em</strong> funções <strong>de</strong> guias<br />

turísticos, na medi<strong>da</strong> <strong>em</strong> que essa activi<strong>da</strong><strong>de</strong> se prefigura como mais atractiva<br />

do ponto <strong>de</strong> vista do alargamento <strong>de</strong> contactos e <strong>de</strong> sociabili<strong>da</strong><strong>de</strong>s,<br />

proporcionando a esses mesmos jovens estratégias <strong>de</strong> afirmação locais mais<br />

valoriza<strong>da</strong>s e prestigiantes.<br />

Alguns outros factores importantes a ter <strong>em</strong> linha <strong>de</strong> conta na elaboração <strong>de</strong><br />

estratégias <strong>de</strong> intervenção são as li<strong>de</strong>ranças e competências locais, as<br />

parcerias institucionais e o aprofun<strong>da</strong>mento <strong>da</strong> i<strong>de</strong>nti<strong>da</strong><strong>de</strong> e <strong>da</strong> cultura local.<br />

O princípio estruturante <strong>da</strong> parceria assume, aqui, especial relevância, pelo<br />

274


Diagnóstico Social do Concelho <strong>de</strong> <strong>Arcos</strong> <strong>de</strong> Val<strong>de</strong>vez<br />

que <strong>de</strong>v<strong>em</strong> ser realizados esforços ten<strong>de</strong>ntes à sua efectivação, s<strong>em</strong>pre no<br />

respeito pelas competências, especifici<strong>da</strong><strong>de</strong>s e áreas <strong>de</strong> intervenção próprias<br />

<strong>de</strong> ca<strong>da</strong> um dos parceiros. Nesse sentido, é importante criar mecanismos <strong>de</strong><br />

circulação <strong>de</strong> informação entre os parceiros, uma vez que a partilha <strong>de</strong><br />

informação, conhecimentos e experiências facilita a mais correcta<br />

i<strong>de</strong>ntificação <strong>da</strong>s necessi<strong>da</strong><strong>de</strong>s locais, permitindo ain<strong>da</strong> um planeamento<br />

mais a<strong>de</strong>quado <strong>da</strong>s intervenções.<br />

Tomando <strong>em</strong> consi<strong>de</strong>ração as principais probl<strong>em</strong>áticas <strong>de</strong> âmbito social do<br />

concelho <strong>de</strong> <strong>Arcos</strong> <strong>de</strong> Val<strong>de</strong>vez e a linha <strong>de</strong> intervenção social segui<strong>da</strong><br />

actualmente e até aqui, não só pela autarquia, mas também por projectos,<br />

Instituições Priva<strong>da</strong>s <strong>de</strong> Soli<strong>da</strong>rie<strong>da</strong><strong>de</strong> Social ou iniciativas <strong>de</strong> cariz informal,<br />

passamos a apresentar aqueles que consi<strong>de</strong>ramos ser<strong>em</strong>, a este nível, as<br />

gran<strong>de</strong>s linhas estratégicas a seguir.<br />

Princípios orientadores <strong>da</strong> política <strong>de</strong> intervenção social<br />

Apostar na plurali<strong>da</strong><strong>de</strong>, multiformi<strong>da</strong><strong>de</strong> e heterogenei<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> vivências face<br />

à exclusão, vivi<strong>da</strong> num contexto particular <strong>de</strong> intervenção social.<br />

Ancorar as propostas <strong>de</strong> intervenção social às “forças vivas” operantes a nível<br />

<strong>da</strong>s freguesias, on<strong>de</strong> as relações <strong>de</strong> proximi<strong>da</strong><strong>de</strong> e <strong>de</strong> confiança face às<br />

populações são maiores.<br />

Alicerçar as intervenções sociais no quadro afectivo e valorativo <strong>da</strong>s<br />

populações, criando “lí<strong>de</strong>res locais” capazes <strong>de</strong> protagonizar e dinamizar<br />

projectos.<br />

Rentabilizar os “saberes-fazer” e os recursos pessoais dos habitantes <strong>de</strong> forma<br />

a formatar intervenções mais eficazes do ponto <strong>de</strong> vista quantitativo e<br />

qualitativo.<br />

275


Diagnóstico Social do Concelho <strong>de</strong> <strong>Arcos</strong> <strong>de</strong> Val<strong>de</strong>vez<br />

Finalmente, importa não reduzir o global ao local, n<strong>em</strong> o local ao global,<br />

cruzando diferentes níveis <strong>de</strong> intervenção social <strong>de</strong> forma a integrar as<br />

especifici<strong>da</strong><strong>de</strong>s locais e o âmbito <strong>de</strong> intervenção regional ou nacional.<br />

Assumindo os anteriores princípios orientadores, consi<strong>de</strong>ramos que no âmbito<br />

<strong>da</strong> política e <strong>da</strong> intervenção social, se torna necessário propor um conjunto <strong>de</strong><br />

linhas <strong>de</strong> orientação estratégica que privilegi<strong>em</strong> as seguintes vertentes<br />

estruturantes.<br />

Linhas <strong>de</strong> orientação estratégica e vertentes estruturantes<br />

1) Valorização <strong>da</strong> <strong>de</strong>sconcentração dos mecanismos e suportes <strong>de</strong><br />

intervenção local, esten<strong>de</strong>ndo-os gradualmente a to<strong>da</strong>s as freguesias do<br />

concelho, optando por uma lógica <strong>de</strong> intervenção social que tenha na<br />

Câmara Municipal o seu el<strong>em</strong>ento <strong>de</strong> ancoração, mas que se <strong>de</strong>sdobre <strong>em</strong><br />

múltiplas re<strong>de</strong>s territoriais.<br />

2) Criação <strong>de</strong> um corpo técnico especificamente vocacionado para a gestão<br />

<strong>da</strong>s diferentes escalas <strong>de</strong> intervenção social <strong>da</strong> responsabili<strong>da</strong><strong>de</strong> do <strong>Município</strong><br />

ou <strong>de</strong> outro actor relevante no quadro concelhio, e centralizado na se<strong>de</strong> do<br />

concelho.<br />

3) Contenção e selectivi<strong>da</strong><strong>de</strong> na política <strong>de</strong> subsídios por parte <strong>da</strong> autarquia e<br />

opção por formas <strong>de</strong> contratualização mais directas; o mesmo se aplicando<br />

às restantes instituições <strong>de</strong> intervenção social.<br />

4) Motivação para a criação do auto-<strong>em</strong>prego e <strong>de</strong> micro-<strong>em</strong>presas<br />

alicerça<strong>da</strong>s no mercado social <strong>de</strong> <strong>em</strong>prego para um conjunto diversificado<br />

<strong>de</strong> pessoas <strong>em</strong> situação <strong>de</strong> exclusão e <strong>de</strong> vulnerabili<strong>da</strong><strong>de</strong> à exclusão,<br />

276


Diagnóstico Social do Concelho <strong>de</strong> <strong>Arcos</strong> <strong>de</strong> Val<strong>de</strong>vez<br />

aproveitando as riquezas dos recursos locais.<br />

5) Fomento <strong>de</strong> parcerias com o tecido <strong>em</strong>presarial instalado e <strong>de</strong>corrente <strong>de</strong><br />

iniciativas recentes <strong>de</strong> instalação <strong>em</strong> curso, nomea<strong>da</strong>mente industrial, por<br />

forma a dinamizar o mercado <strong>de</strong> trabalho estagnado.<br />

6) Criação <strong>de</strong> parcerias com o tecido escolar envolvente, atraindo as<br />

populações jovens para activi<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> recorte mais inovador <strong>em</strong> termos <strong>de</strong><br />

animação económica, social e cultural.<br />

7) Contrariar processos <strong>de</strong> segregação social e espacial, criando espaços com<br />

digni<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>em</strong> termos <strong>de</strong> urbani<strong>da</strong><strong>de</strong> não só nos centros dos concelhos, mas<br />

também nas suas periferias e al<strong>de</strong>ias mais distantes.<br />

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