EDITORIAL SOB PÔNCIO PILATOS O que faz Pilatos no ... - IDC
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<strong>EDITORIAL</strong><br />
<strong>SOB</strong> <strong>PÔNCIO</strong> <strong>PILATOS</strong><br />
O <strong>que</strong> <strong>faz</strong> <strong>Pilatos</strong> <strong>no</strong> Credo?<br />
“Estou como <strong>Pilatos</strong> <strong>no</strong> Credo” é uma expressão corrente para designar<br />
“estou deslocado” ou “não sei o <strong>que</strong> estou <strong>faz</strong>endo aqui” ou “estou<br />
perdido”.<br />
De fato, ao enunciarmos a <strong>no</strong>ssa prossão de fé mencionamos Deus<br />
(Pai, Filho e Espírito Santo), a Virgem Maria, e...e...Pôncio <strong>Pilatos</strong>!<br />
Glória imorredoura e imerecida!<br />
Nem tanto.<br />
Apesar de parecer uma honrosa menção, a posição do governador<br />
roma<strong>no</strong> da Judeia é ancilar.<br />
Sua função é a de calendário.<br />
Em <strong>que</strong> época morreu Jesus? A resposta poderá ser dada a partir de<br />
um complicado cálculo <strong>que</strong> vai do calendário gregoria<strong>no</strong> e recua para chegar<br />
ao calendário roma<strong>no</strong> reformado por Numa Pompílio. E, se a pergunta<br />
vier de um judeu deve se procurar o dia correspondente <strong>no</strong> calendário lunar<br />
judaico.<br />
Estas incursões a diversos calendários, e são muitos, quase sempre<br />
resultam em conclusões erradas e dizem pouco. Mas, se apontam para o governante,<br />
não só teremos a data mais aproximada como situamos o evento<br />
<strong>no</strong> tempo e <strong>no</strong> espaço com todas as suas circunstâncias constatáveis em qual<strong>que</strong>r<br />
calendário.<br />
Exemplos?<br />
Quando nasceu Jesus? Sob César Augusto, sendo Quiri<strong>no</strong> governador<br />
da Síria (Lucas, 2, 1 e 2).<br />
Quando morreu Jesus? Sob Pôncio <strong>Pilatos</strong> foi crucicado, morto e<br />
sepultado (do Credo). Não demora muito para o pesquisador situar o evento<br />
<strong>no</strong> auge da dominação romana (Pax Romana).<br />
Sempre me intrigou a gura de <strong>Pilatos</strong> tido quase sempre como um<br />
pusilânime. O lava-mãos seria covardia. Indecisão. Não foi.<br />
Cumpre lembrar: Quando os partos invadiram Jerusalém quase<br />
conseguiram liquidar os israelitas, ocupando o território, escravizando a população<br />
sobrevivente e profanando o Templo. Houve reação de Matatias e,<br />
depois, de seus lhos, liderados por Judas Macabeu, <strong>que</strong> conseguiram recuperar<br />
o território do rei<strong>no</strong> de Israel.
Mas a manutenção do território era precária por<strong>que</strong> os partos eram<br />
mais fortes e não davam tréguas. Os livros de Macabeus descrevem as contínuas,<br />
intermináveis e sangrentas batalhas.<br />
Os judeus foram procurar Júlio César <strong>que</strong>, <strong>no</strong> a<strong>no</strong> 48 aC, estava na<br />
Síria recém-ocupada, para pedir a proteção do conquistador, o <strong>que</strong> resultou<br />
<strong>no</strong> acordo feito <strong>no</strong> Senado Roma<strong>no</strong>, <strong>que</strong> consta do livro I dos Macabeus,<br />
cap. 8, versículos 27 e seguintes.<br />
Em outras palavras, os roma<strong>no</strong>s protegeriam os judeus e a Terra Santa<br />
e manteriam a liberdade religiosa dos judeus.<br />
Firmado o acordo, Roma armou os judeus, afastou os partos, recolocou<br />
Hirca<strong>no</strong> como sumo sacerdote, mas, quando viram <strong>que</strong> ele era um<br />
administrador incompetente, entregaram o poder para um árabe com cidadania<br />
romana chamado Antípater ou Antípatro<br />
Antípater teve dois lhos: Farael e Herodes. E foi Herodes <strong>que</strong>m o<br />
sucedeu e enfeixou o poder como rei da Judeia. Hábil, realizador, inteligente,<br />
Herodes soube equilibrar o conveniado. De um lado, <strong>faz</strong>ia a política de<br />
Roma e, de outro, estimulava a prática religiosa dos judeus. Claro <strong>que</strong> houve<br />
reações, especialmente de fariseus, mas Herodes contava com os saduceus,<br />
me<strong>no</strong>s radicais, mais contemporizadores e, até certo ponto, heréticos.<br />
Entre o império de Júlio César e o império da última dos ptolomeus<br />
<strong>no</strong> Egito, Cleópatra, estava justamente a Terra Prometida. Cleópatra, vendo<br />
<strong>que</strong> Israel estava do lado roma<strong>no</strong>, procurou Júlio César para um acordo.<br />
Unir-se-iam, e o lho <strong>que</strong> resultasse desta união herdaria um império universal,<br />
do Oriente ao Ocidente, da Mesopotâmia ao Nilo. César concordou<br />
e do conúbio nasceu Cesário. Acontece <strong>que</strong> César foi apunhalado por seu<br />
outro lho Brutus, e os generais Marco Antônio e Otavia<strong>no</strong> passaram a lutar<br />
pelo cetro imperial.<br />
Cleópatra não se fez esperar. Procurou Marco Antônio para com ele<br />
dividir o leito e assim enfeixar os dois grandes impérios.<br />
Herodes, <strong>que</strong> era amigo de Marco Antônio, tomou seu partido. Otavia<strong>no</strong><br />
venceu Marco Antônio em Accio e Cleópatra, sem futuro, deixou-se<br />
picar por uma serpente.<br />
Herodes teve melhor sorte. Foi mantido por Otavia<strong>no</strong> <strong>que</strong> assumiu<br />
o império com o <strong>no</strong>me de Augustus, e o rei<strong>no</strong> de Judá teve o poder delegado<br />
aos governadores roma<strong>no</strong>s, Copônio, Valério Grato e, nalmente, Pôncio<br />
<strong>Pilatos</strong>.<br />
Herodes foi um grande rei. Reconstruiu o Templo, construiu a fortaleza<br />
Antônia, em honra de Marco Antônio, a fortaleza de Heródio, em<br />
honra de si próprio e, ainda, a fortaleza de Massada <strong>que</strong> tinha a pretensão de
ter o luxo dos palácios roma<strong>no</strong>s. Se não tinha, chegou perto. Enlou<strong>que</strong>cido,<br />
Herodes, temendo a perda de sua coroa, matou seu irmão, sua mãe, seu lho,<br />
o avô de sua segunda mulher, Mariana, e, sabendo, pelos magos do Oriente,<br />
do nascimento de um rei em Belém de Judá, mandou matar todos os meni<strong>no</strong>s<br />
de me<strong>no</strong>s de dois a<strong>no</strong>s para afastar a possibilidade de ser suplantado e<br />
substituído por outro rei.<br />
Foi em razão do acordo rmado, acima mencionado, <strong>que</strong> Pôncio<br />
<strong>Pilatos</strong> tremeu nas bases ao negar-se a condenar Jesus, “pois nele não encontrou<br />
culpa alguma”, mas a turma gritava: “Se não o condenares, não és amigo<br />
do Imperador”. Esta expressão “amigo de César” refere-se ao pacto de amizade<br />
rmado pelos roma<strong>no</strong>s com os judeus, escrito em placas de bronze.<br />
Se Pôncio <strong>Pilatos</strong> não cedesse à pressão dos <strong>que</strong> clamavam para crucicar<br />
Jesus, perderia seu cargo por romper um pacto rmado e conrmado<br />
pelo Senado Roma<strong>no</strong>, pois estaria intervindo na liberdade religiosa dos judeus.<br />
Por isso, lavou as mãos.<br />
A destruição de Jerusalém pelos roma<strong>no</strong>s foi se dar 37 a<strong>no</strong>s após a<br />
morte de Jesus Cristo, por Tito, após revolta dos judeus, especialmente dos<br />
fariseus, <strong>que</strong> sempre hostilizaram a dominação romana.<br />
Não é de hoje, portanto, <strong>que</strong> a Palestina é dominada, ou aliada, ou<br />
protegida pela mais forte potência de cada momento histórico. Foram assim<br />
as dominações dos caldeus, dos persas, dos egípcios, dos gregos, dos árabes,<br />
dos cruzados franceses, dos franceses de Napoleão, dos otoma<strong>no</strong>s e dos ingleses<br />
até 1948, quando Israel tor<strong>no</strong>u-se um Estado. E <strong>que</strong>m o protege e in-<br />
uencia atualmente são os Estados Unidos, já <strong>que</strong> este país é hodiernamente<br />
a maior potência mundial.<br />
Hoje, o calendário gregoria<strong>no</strong> com cinco séculos de uso é aceito universalmente,<br />
sendo referido, até mesmo subsidiariamente, pelos países <strong>que</strong><br />
adotam outros calendários. E a Páscoa da Ressurreição é celebrada <strong>no</strong> primeiro<br />
domingo após a última lua cheia da quaresma. Recorre-se, assim, nas<br />
festas móveis, ao sistema lunar, xando a data da crucicação na sexta-feira<br />
anterior à Páscoa, quando <strong>Pilatos</strong> lavou as mãos.<br />
Nos séculos vindouros quando outros calendários forem criados,<br />
talvez também se reram aos eventos do <strong>no</strong>sso tempo <strong>no</strong>minando <strong>no</strong>ssos<br />
dirigentes políticos.<br />
Credo!<br />
Lavo minhas mãos.<br />
Sergio Almeida de Figueiredo