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Marinha Mercante Brasileira: Os acertos, erros e ... - Santos Modal

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c<br />

lassificado como a oitava economia do<br />

mundo, indicada com um PIB superior<br />

a US$ 787 bilhões, segundo o World<br />

Bank (Banco Mundial), o Brasil é responsável<br />

por uma corrente de comércio<br />

exterior superior a US$ 100 bilhões anuais,<br />

da qual 90% do transporte deste comércio é realizado<br />

por via marítima. Isto porque nossa costa<br />

possui mais de oito mil quilômetros, que se acrescida<br />

à extensão do Rio Amazonas até Manaus,<br />

soma mais de dez mil quilômetros navegáveis,<br />

em condições de segurança, durante todo o ano.<br />

E ainda contamos com a maior parte de nosso<br />

parque industrial bem próximo de nossa faixa<br />

costeira atingindo, somente em casos excepcionais,<br />

distâncias superiores a 500 quilômetros.<br />

Estes fatores, apesar de extremamente positivos<br />

para nossa <strong>Marinha</strong> <strong>Mercante</strong>, não determinam<br />

o seu sucesso. Se na década de 70 os<br />

navios de bandeira brasileira transportavam 22%<br />

do nosso comércio internacional da época, hoje<br />

responde por menos de 4%, fazendo com que<br />

paguemos ao exterior quase que tudo o que despendemos<br />

para transportá-lo. Hoje o Brasil gasta,<br />

por ano, cerca de US$ 5 bilhões com afretamento<br />

de embarcações. Segundo Ministério dos<br />

Transportes, este já é o segundo item da balança<br />

de serviço brasileira, perdendo apenas para<br />

os gastos com os juros da dívida externa.<br />

Apesar das favoráveis condições geográficas<br />

de nossa economia, grande parte próxima<br />

ao mar ou de alguma forma ligada a ele, respondemos<br />

por menos de 14% da movimentação<br />

das cargas internas do país e por apenas cerca<br />

de 15% das operações de apoio marítimo. De<br />

acordo com dados da UNCTAD - Review of Maritime<br />

Transport, de 2001, somos a 19ª frota mercante<br />

mundial, responsáveis por pouco mais de<br />

1% da tonelagem total de navios no mundo.<br />

É certo que o setor já empregou cerca de<br />

40 mil pessoas, na década de 70. Porém, mesmo<br />

apresentando uma inexpressiva participação<br />

nos dias atuais, ainda gera aproximadamente<br />

dez mil empregos diretos (levando-se em conta<br />

apenas os funcionários de empresas de navegação<br />

brasileiras) e mais três outros indiretos<br />

para cada direto.<br />

Mas é opinião comum a muitos, e das mais<br />

certas, que a falta de competitividade é a principal<br />

causa da redução de nossa frota mercante,<br />

que já contou, em 1986, com quase 10 milhões<br />

de toneladas, distribuídas em 293 navios.<br />

Na tentativa de desburocratizar e incentivar<br />

a indústria naval brasileira, reduzindo gastos com<br />

afretamentos de navios e gerando empregos, o<br />

governo brasileiro anunciou no Diário Oficial da<br />

capa<br />

União, do último dia 26, a Medida Provisória nº<br />

177 que altera a legislação do Fundo da <strong>Marinha</strong><br />

<strong>Mercante</strong> -FMM. A medida ainda vai ser aprovada<br />

em congresso, mas segundo a Assessoria de Imprensa<br />

do Ministério dos Transportes, as mudanças<br />

foram bastante negociadas e há chances consideráveis<br />

de serem aprovadas.<br />

Medida Provisória 177<br />

A medida provisória do governo Lula regula-<br />

menta o sistema eletrônico de arrecadação do<br />

Adicional ao Frete para Renovação da <strong>Marinha</strong><br />

<strong>Mercante</strong> - AFRMM, contribuição cobrada de cada<br />

navio que atraca nos portos brasileiros e principal<br />

fonte de recursos do Fundo. Até então, o <strong>Mercante</strong><br />

era implantado por meio de decretos. A<br />

MP atende ainda novos setores que poderão recorrer<br />

aos financiamentos do FMM, entre eles,<br />

as embarcações pesqueiras e de transporte fluvial<br />

de passageiros. E se antes apenas o BNDES<br />

atuava neste setor, com a medida será possível a<br />

entrada de novos agentes financeiros.<br />

Outra mudança é a instituição do seguro garantia.<br />

Uma forma de assegurar a performance<br />

do estaleiro na hora de executar a obra. O seguro<br />

deverá arcar com cerca de 20% a 30% do valor<br />

total do navio, no caso de descumprimento do<br />

contrato, permitindo, assim, a continuidade das<br />

obras. Antes os riscos ficavam para os financiadores<br />

e armadores, dificultando a obtenção dos<br />

financiamentos. Além de abrir um novo mercado<br />

para as empresas seguradoras, já comum a outros<br />

países, esse item vai contribuir para tornar<br />

mais fácil a contratação de novos projetos por<br />

parte de grandes compradores de navios.<br />

Este ponto da MP ainda precisa ser regulamentado,<br />

mas o Ministério dos Transportes já<br />

começou a trabalhar neste processo.<br />

A MP altera também a distribuição do rateio<br />

da arrecadação do adicional. Agora, as empresas<br />

estatais, maiores contribuintes, passam a participar<br />

da divisão da arrecadação. E, para as empresas<br />

que estiverem investindo na construção<br />

de novas embarcações, por um período de oito<br />

anos, a cada R$ 1 arrecadado com a contribuição,<br />

o FMM depositará R$ 0,75 na conta vinculada<br />

destas empresas. Estes recursos são utilizados<br />

para construir ou realizar reparos nas embarcações.<br />

Este item vale para navios que operam<br />

na cabotagem e graneleiros na navegação<br />

de longo curso. A medida tem por objetivo fomentar<br />

as navegações de cabotagem e longo curso,<br />

além de contribuir para que as empresas invistam<br />

na construção e modernização de suas embarcações.<br />

Se elas não utilizarem os recursos disponibilizados<br />

pelo FMM no período de 36 meses,<br />

o dinheiro é novamente recolhido ao Fundo.<br />

A medida 177 cria ainda o Fundo Setorial de<br />

Pesquisa dos setores de <strong>Marinha</strong> <strong>Mercante</strong> e<br />

construção naval. Parte da arrecadação do<br />

AFRMM, 3%, será destinada ao financiamento e<br />

apoio às pesquisas desenvolvidas na área de<br />

construção naval. <strong>Os</strong> recursos deste Fundo serão<br />

geridos pelo Ministério da Ciência e Tecnologia,<br />

nos mesmos moldes de outros fundos já<br />

existentes, como o do petróleo, por exemplo.<br />

Em linhas gerais...<br />

Em 2003 o setor naval recebeu do Ministério<br />

dos Transportes 160% a mais que o volume de<br />

recursos aplicados no setor em 2002. Foram R$<br />

640 milhões em 2003 e R$ 250 milhões em 2002.<br />

Mas estas injeções de investimentos e as medidas<br />

anunciadas da medida provisória são apenas<br />

o início de um longo trabalho de incentivo do<br />

qual a <strong>Marinha</strong> <strong>Mercante</strong> <strong>Brasileira</strong> necessita.<br />

Segundo Elmar Braun, que durante 26 anos<br />

esteve a frente do Sindicato das Agências Marítimas<br />

do Estado de São Paulo -Sindamar, e carrega<br />

mais de 50 anos de experiência no setor, é preciso<br />

lembrar que para entender muitas questões<br />

ligadas ao transporte marítimo brasileiro e a marinha<br />

mercante é necessário voltar no tempo.<br />

Ele explica que deve-se relembrar que ao término<br />

da 2º Guerra Mundial, em 1945, as frotas de<br />

quase todos os países sofreram perdas durante a<br />

guerra, inclusive a brasileira. A Europa tinha passado<br />

por uma destruição e a <strong>Marinha</strong> <strong>Mercante</strong><br />

dos países Europeus também. Poucos, como a Suécia,<br />

que permaneceu neutra, tiveram sua <strong>Marinha</strong><br />

preservada. <strong>Os</strong> americanos, que não sofreram<br />

a guerra dentro de seu país, estavam com<br />

uma frota muito boa e uma capacidade desenvolvida<br />

durante este período para construir navios.<br />

"Todos os países desenvolvidos precisavam<br />

se reerguer após término da guerra, reconstruindo<br />

as suas indústrias, reconstruindo seu comércio<br />

exterior e buscando as matérias-primas - como<br />

madeira, o minério, arroz, carnes, couros e o<br />

tabaco (fumo), - trazendo um grande número de<br />

navios para os portos brasileiros", conta.<br />

No final da década de 50, a cabotagem brasileira<br />

fazia a maior parte do transporte interno<br />

nacional e tinha como destaque a Companhia Nacional<br />

de Navegação Costeira. Segundo Braun,<br />

isto porque nesta época, o país possuía poucas<br />

estradas abertas e pavimentadas. "Falta de estradas<br />

exigia a comunicação através de transporte<br />

marítimo, da cabotagem", completa.<br />

Braun relata que, em 1958, no governo do<br />

então presidente Juscelino Kubitscheck, "eles<br />

(o governo) enxergaram, eles sentiram, que o<br />

<strong>Santos</strong> <strong>Modal</strong> :: abril :: 7

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