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Marinha Mercante Brasileira: Os acertos, erros e ... - Santos Modal

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Brasil precisa desenvolver uma indústria de construção<br />

naval".<br />

Neste momento foi criado por Kubitscheck<br />

um grupo executivo com o objetivo de fazer<br />

crescer a construção naval mercante no Brasil,<br />

o Geicon (Grupo Executivo da Indústria de Construção<br />

Naval). Dentro do plano de metas do governo<br />

foi criado também outro grupo, o Geia<br />

(Grupo Executivo da Indústria Automobilística).<br />

Para Braun, com o Geicon e a criação do Fundo<br />

de <strong>Marinha</strong> <strong>Mercante</strong>, iniciou-se uma nova fase.<br />

Com o impulso dado pelo governo, fundaram-se<br />

dois grandes estaleiros e foram feitas a<br />

ampliação e modernização de outros, com um<br />

investimento total de US$ 40 milhões. O primeiro<br />

navio construído dentro desse programa<br />

foi o pequeno cargueiro Ponta d'Areia, de 1.550<br />

t, em 1961. Depois desse modesto começo, o<br />

progresso foi contínuo até 1979, com a construção<br />

de um número cada vez maior de navios,<br />

não só de maior porte, como mais diversificados<br />

e mais sofisticados. E o aumento de tonelagem<br />

unitária dos navios prosseguia: 18.110 t,<br />

em 1966, 25.000 t, em 1968, 53.500 t, em 1971,<br />

131.000 t, em 1975, 277.000 t, em 1978, chegando-se<br />

afinal, em 1986, aos graneleiros Docefjord<br />

e Tijuca, dois gigantes de 305.000 t, com<br />

332 m de comprimento, que foram, na ocasião,<br />

recorde mundial de navios de sua classe.<br />

A política Kubitscheck gerou transformações.<br />

Ao mesmo tempo que incentivava a construção<br />

naval, para que as empresas brasileiras<br />

praticassem o comércio exterior, atraía empresas<br />

estrangeiras para o Brasil. "Com as iniciativas<br />

de Juscelino as empresas estrangeiras, que<br />

vendiam muitos produtos para o Brasil, começaram<br />

a estabelecer uma parte de sua indústria<br />

aqui e o país passou a produzir muito daquilo<br />

que era importado", relata Braun.<br />

Com o trabalho desenvolvido pelo Geia,<br />

criou-se uma necessidade que atentava para um<br />

problema: "A criação da indústria automobilística,<br />

obviamente obrigou o governo a construir<br />

estradas, porque de que adiantaria construir no<br />

Brasil os veículos e não ter estradas. Podemos<br />

dizer que as estradas e o transporte rodoviário<br />

mataram a cabotagem", relata Braun. E completa:<br />

"A cabotagem não cuidou de si mesma,<br />

até pela imensa burocracia que é uma qualidade<br />

nacional". Fatos como o trabalho nos portos,<br />

burocracia, os longos períodos em trânsito, devido<br />

às escalas, e as avarias nas cargas conspiraram<br />

para decadência da cabotagem. A política<br />

rodoviarista prejudicou não só a cabotagem,<br />

mas também o setor ferroviário.<br />

No que diz respeito ao transporte de longo<br />

8 :: abril :: S antos <strong>Modal</strong><br />

capa<br />

curso, segundo Braun, a grande quebra ocorreu<br />

após o fim do protecionismo aos navios de bandeira<br />

brasileira, em 1969, que trazia muitas vantagens<br />

às armadoras nacionais e as manteve por<br />

muitos anos. A antiga Superintendência Nacional<br />

da <strong>Marinha</strong> <strong>Mercante</strong> - SUNAMAN, então reguladora<br />

do transporte marítimo nacional, através<br />

do decreto N.666 de 1969, instalou diversos<br />

procedimentos beneficiando o país. O decreto<br />

dizia que deveriam predominar no tráfego entre<br />

o Brasil e os demais países os armadores<br />

nacionais do país exportador e importador de<br />

mercadorias, até que seja obtida a igualdade<br />

de participação entre os mesmos armadores<br />

preconizada pela política brasileira de transporte<br />

marítimo internacional. Definia também a<br />

obrigatoriedade, em navios de bandeira brasileira,<br />

respeitado o princípio da reciprocidade,<br />

o transporte de mercadorias importadas por<br />

qualquer órgão da administração pública federal,<br />

estadual e municipal, direta ou indireta,<br />

inclusive, empresas públicas e sociedades de<br />

economia mista, bem como as importadas com<br />

quaisquer favores governamentais e, ainda, as<br />

adquiridas com financiamento, total ou parcial,<br />

de estabelecimento oficial de crédito, assim<br />

também com financiamento externos, concedidos<br />

a órgãos da administração pública federal,<br />

direta ou indireta.<br />

Braun explica que mesmo com todo o protecionismo<br />

às armadoras nacionais, o custo para construção<br />

de navios no Brasil era (e ainda é) alto. Houve<br />

também um certo descuido em não se modernizar<br />

em tempo. Com exceção do Lloyd Brasileiro (fechada<br />

em 1997) e da Aliança (comprada pela Hamburg<br />

Sud), as demais armadoras sentiram mais bruscamente<br />

as transformações do mercado.<br />

Já no fim de seu governo, em 1989, José<br />

Sarney colocou fim ao protecionismo à bandeira<br />

nacional na navegação de longo curso, com<br />

um decreto lei de 20 de fevereiro, onde dispunha<br />

sobre a redistribuição das competências da<br />

já extinta SUNAMAN e como diz Braun, "puxou o<br />

tapete das chamadas conferências de frete,<br />

acabando com as preferências e a proteção das<br />

armadoras nacionais". Com o tráfego aberto,<br />

navios de outras bandeiras poderiam transitar<br />

livremente em águas brasileiras. E para concorrer<br />

com armadores internacionais, de países desenvolvidos,<br />

era preciso competência, qualidade<br />

e tecnologia, entre outros fatores. Mas a<br />

navegação brasileira não estava preparada e o<br />

transporte marítimo tornou-se um campo de<br />

batalha. Até 1990 o Lloyd Brasileiro contava com<br />

20 navios; a Frota Nacional de Petroleiros, da<br />

Petrobrás, com 60; e a Doce Nave (navios da<br />

Vale do Rio Doce), com 15, todas estas estatais.<br />

Hoje a frota brasileira é de apenas 120 embarcações,<br />

de empresas brasileiras de navegação<br />

de longo curso e cabotagem.<br />

Para Braun, "o atual governo precisa estabelecer<br />

normas que acompanhem a sistemática de<br />

outros países e os modelos de leis trabalhistas,<br />

pois o custo da mão-de-obra brasileira é muito<br />

cara; é preciso também um tratamento especial<br />

em termos de preço para combustíveis, já que o<br />

Brasil é um produtor de petróleo; há a necessidade<br />

de critérios especiais na hora da construção<br />

do navio". E acrescenta: "é preciso reviver os<br />

estaleiros, usar a tecnologia e os insumos nacionais,<br />

ativar a reconstrução da frota pesqueira".<br />

O Sindicato Nacional das Empresas de Navegação<br />

Marítima - Syndarma defende um programa<br />

básico para renovação e incorporação da frota<br />

nacional com a construção de 10 navios graneleiros,<br />

6 químicos, 23 de carga geral e 20 embarcações<br />

de apoio marítimo, que implicam em um<br />

investimento de US$ 1.500 bilhões. Mas Elmar<br />

Braun vai mais longe e diz que não vê condições<br />

do Brasil concorrer hoje com os grandes armadores<br />

internacionais. Ele defende a idéia de que<br />

"mesmo que o governo injetasse uma grande quantia<br />

na construção de dezenas de navios para equipar<br />

a <strong>Marinha</strong> <strong>Mercante</strong>, não haveria como competir".<br />

E aponta como alternativa as grandes exportações<br />

de soja e grãos. Segundo Braun, hoje o<br />

Brasil está importando menos e produzindo mais,<br />

e exportando a preços convidativos. "O que falta<br />

são navios graneleiros. Por que não desenvolver<br />

uma frota nacional de navios graneleiros"? diz. Para<br />

Elmar Braun, o Brasil tem agora a chance de oferecer<br />

custo e frete, e assim ganhar no produto e<br />

também no frete. "Exportamos soja, açúcar, milho<br />

e trazermos de fora produtos ainda importados<br />

como carvão e o trigo".<br />

A falta de navios graneleiros é também destacada<br />

pelo diretor do Departamento do Fundo<br />

de <strong>Marinha</strong> <strong>Mercante</strong> do Ministério dos Transportes,<br />

Sérgio Bacci: "O Brasil, em função da<br />

sua posição geográfica em relação aos principais<br />

países importadores de produtos primários,<br />

de baixo valor agregado, em cuja composição<br />

do preço final o frete é relevante, está sendo<br />

afetado pelo aumento do frete e conseqüentemente<br />

do valor de aluguel dos navios graneleiros,<br />

em face do pouco investimento da armação<br />

nacional neste tipo de embarcação".<br />

O panorama do setor<br />

O Fundo de <strong>Marinha</strong> <strong>Mercante</strong>, administra-<br />

do pelo Ministério dos Transportes, arrecada anualmente<br />

cerca de R$ 700 milhões. A principal

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