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Portfólio - Concessa

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Talentos 'natos' cuja capacidade histriônica e de fabulação cômica, com um profundo<br />

olhar calcado na realidade social e dela fazendo parte (não protegidos por paredes,<br />

muros, véus, parentes importantes...) sempre foram encontrados no Brasil.<br />

Artistas populares, capazes de tirar graça: de grandes e de pequenos<br />

acontecimentos: castigando pelo riso; de questões pessoais e das coletivas; daquilo<br />

que é mais próximo e do está mais distante; do estado de felicidade às grandes<br />

tragédias... podem ser encontrados em todos os lugares. Talentos natos, com<br />

'sacação', inteligência e rapidez sempre existiram entre nós, em vários espaços de<br />

representação: da praça pública aos mais luxuosos teatros.1<br />

Aliás, e invariavelmente encontrados a partir de características sociais definidas (e<br />

as diferenças entre arquétipos e estereótipos, além de distinção ideológica, me<br />

parecem conversa-mole para boi dormir), a composição social de boa parte dos tipos<br />

da comédia popular - que são rigorosamente humanos, singulares e coletivos (como<br />

qualquer outro ser humano) - decorre da história. Assim, tendo em vista a essência<br />

da comédia pressupor o ato comunicativo direto, esses tipos tendem a 'ganhar'<br />

características encontradas no contexto onde a obra se dá.<br />

A comédia popular é menor? Está superada? Não tem o 'nível' da denominada alta<br />

comédia? Bem, afinal, depois de tanta 'civilização e progresso' (e o doutor Freud<br />

deixou um legado para quem quiser aprender alguma coisa a respeito desses dois<br />

temas), a fome aí está (parafrasendo Brecht: "Primeiro vem o estômago, depois a<br />

moral!"); a exploração aí continua...; os apetites sexuais, mesmo escorraçados<br />

pela culpa, sobretudo judaico-cristã que nos acomete continua a nos provocar...; o<br />

salário de miséria, reeditando o par: criado-patrão, mesmo depois de tantas<br />

revoluções, estão ou não aí?; as necessidades de tática (esperteza) para vencer os<br />

poderosos e conseguir sobreviver são fundamentais; a consciência de que a corda<br />

sempre arrebenta do lado mais fraco e tantos outros saberes continuam presentes<br />

nesse 'nosso tempo de partido'.<br />

Então, o olhar dos artistas populares percebe a realidade social como um todo,<br />

mas a eles interessa a luta contra a série de coisas apontadas acima. Nessa luta,<br />

invariavelmente, é adotado o procedimento de zombaria, de exposição ao ridículo,<br />

do exagero de uma realidade que se diz asséptica, higiênica e quejandos dessa<br />

natureza.<br />

1 Luxuosos teatros refere-se aqui, principalmente, à experiência desenvolvida com o chamado teatro<br />

de revista (e ainda pouco conhecido entre nós), cujo auge ocorreu nas primeiras três décadas do<br />

século XX. Espetáculos com um significativo número de artistas eram apresentados nas grandes<br />

capitais do Brasil. Para ter acesso a algumas das reflexões acerca dessa experiência, consultar:<br />

Neyde Veneziano, Roberto Ruiz, Salvyano Cavalcanti de Paiva.

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