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Em <strong>Concessa</strong> - Pendura e Cai inúmeros são os excelentes achados da direção com<br />
a atriz. A cortina representa o tradicional empanado, utilizado no teatro popular e<br />
formado por chitões floridos. Naturalmente, é a personagem quem 'abre a alegórica<br />
cortina'. Ao mesmo tempo que a tradição do empanado se faz presente, os tecido<br />
poderiam representar os lençóis da casa. Em um quintal de casa do subúrbio,<br />
<strong>Concessa</strong>, estende roupas, recém-lavadas, da família em um varal<br />
(extremamente interessante, posto aproximar-se imageticamente de bandeirolas de<br />
festividades juninas). As roupas estendidas no varal são de seu sempre calado<br />
marido e dos quatro filhos: dois rapazes e duas moças. Salvo engano, não há peças<br />
de roupa de <strong>Concessa</strong> nesse varal...<br />
Ao estender a roupa, ao vê-las dependuradas, ao retirá-las do varal, ao dobrá-las,<br />
<strong>Concessa</strong> conta histórias de sua vida com essas quatro e ausentes personagens,<br />
apresentando suas muitas dúvidas e algumas poucas certezas de seus entes<br />
queridos. Além dos integrantes da família, há uma camiseta de Mary Any, namorada<br />
do filho Anderson Clayton, que, por um programa de rádio, revelar-se-á grávida ao<br />
apresentador do programa! <strong>Concessa</strong> será avó! Esse mote, fica pendente, com<br />
certeza para uma outra obra...<br />
No varal, em que as peças de roupa se encontram, de certa forma, a hierarquia<br />
existente naquela família, a função social, sobretudo do marido — um macacão;<br />
certos processos de identidade e do contexto atual: camisetas com frases em inglês,<br />
camisetas cavadas da 'nora'; roupas masculinas de uma das filhas: que anda direto<br />
com outra moça... vêm à tona. Trata-se, realmente de uma família do século XXI! De<br />
todas as situações, Cida Almeida consegue tirar o riso certo, sem apelações<br />
facilitatórias.<br />
Apesar de todo falado (narrado), há momentos em que os gestos ganham uma<br />
dimensão muito significativa, alegórica e épica. As roupas, ao serem retiradas do<br />
varal, ao serem dobradas (e o caso das meias: enroladas, formando uma 'trouxinha'<br />
- comentam a fala contraditoriamente!). O grande alemão Bertolt Brecht<br />
recomendava, em alguns de seus ensaios, que o gesto (para ter uma dimensão<br />
social além do estético) precisaria: fugir do óbvio (afinal, o gesto em teatro deve ser<br />
elaborado!); do senso comum (que veicula ideologia perversa) e ter sempre uma<br />
dimensão crítica do intérprete. <strong>Concessa</strong> consegue, em vários momentos realizar<br />
essa solicitação!!!<br />
Oh, Cida Mendes, lolene de Stéfano brechtianas? Não, claro que não, ocorre que<br />
uma das fontes de pesquisa de Brecht foi o teatro popular! Pronto! Brecht deve à<br />
tradição popular alguns de seus achados e não o contrário! Muito prazeroso<br />
acompanhar o trabalho de Cida Mendes.<br />
Sucesso total de público: crianças, jovens, adultos e velhos se divertem e saem mais<br />
leves. A qualidade das palmas é consagradora! O riso remete, em vários momentos,<br />
a pensar em nossas famílias: o um, formado por vários e diferentes!<br />
'Comparação', penso que no próximo trabalho o gesto, acompanhando ou não a<br />
narrativa, pode ganhar um destaque ainda maior! 'Espichar' as fronteiras é sempre<br />
bom! Longa vida às artistas e aos dois espetáculos. Que a atriz-comediante consiga<br />
ouvir sempre sua gente e traze-la para perto, dignificando-a em alegria!<br />
-- Final da crítica --