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Nº3 NOVEMBRO 2002<br />
José da Costa Rodrigues<br />
Marques<br />
PAREDES DE TAIPA<br />
- 1 -
A monografia apresentada foi<br />
realizada no âmbito da cadeira de<br />
Tecnologias da Construção de<br />
Edifícios do 11º Mestrado em<br />
Construção do Instituto Superior<br />
Técnico<br />
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ÍNDICE<br />
1 – INTRODUÇÃO GERAL<br />
1.1 – NOTA INTRODUTÓRIA -------------------------------------------------------------- 5<br />
1.2 – CONSIDERAÇÕES GERAIS ------------------------------------------------------- 5<br />
2 – TERRA ( A MATÉRIA PRIMA )<br />
2.1 – CARACTERIZAÇÃO GERAL ------------------------------------------------------- 7<br />
2.2 - A ESCOLHA DA TERRA ------------------------------------------------------------- 8<br />
2.3 - ENSAIOS EXPEDITOS --------------------------------------------------------------- 8<br />
⇒ Observação da cor -------------------------------------------------------------- 8<br />
⇒ Teste do Cheiro ------------------------------------------------------------------ 9<br />
⇒ Teste ao Tacto -------------------------------------------------------------------- 9<br />
⇒ Teste do Brilho ------------------------------------------------------------------ 9<br />
⇒ Teste da Aderência ------------------------------------------------------------- 9<br />
⇒ Teste à Lavagem ---------------------------------------------------------------- 9<br />
⇒ Teste de Sedimentação -------------------------------------------------------- 10<br />
⇒ Teste Visual por Peneiração Expedita ------------------------------------- 10<br />
⇒ Teste de Retenção de Água -------------------------------------------------- 10<br />
⇒ Teste de Resistência à Secagem ------------------------------------------- 11<br />
⇒ Teste do Rolinho ----------------------------------------------------------------- 11<br />
⇒ Teste da Cinta -------------------------------------------------------------------- 12<br />
2.4 – ENSAIOS LABORATORIAIS ------------------------------------------------------- 12<br />
⇒ Análise granulométrica --------------------------------------------------------- 12<br />
⇒ Limite de Consistência ( ou Atterberg) ------------------------------------- 11<br />
⇒ Actividade da Argila ------------------------------------------------------------- 13<br />
⇒ Retracção Relativa -------------------------------------------------------------- 15<br />
⇒ Compactação ( Ensaio de PROCTOR ) ---------------------------------- 15<br />
2.5 - ACÇÕES CORRECTIVAS DA TERRA<br />
⇒ Arenosa ---------------------------------------------------------------------------- 16<br />
⇒ Argilosa ----------------------------------------------------------------------------- 16<br />
⇒ Estabilização ---------------------------------------------------------------------- 16<br />
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3 – O PROCESSO CONSTRUTIVO<br />
3.1 – UTENSÍLIOS ---------------------------------------------------------------------------- 17<br />
3.2 – PREPARAÇÃO DA TERRA -------------------------------------------------------- 18<br />
3.3 – FUNDAÇÕES --------------------------------------------------------------------------- 19<br />
3.4 – A PAREDE ------------------------------------------------------------------------------ 20<br />
3.5 – REVESTIMENTO DA PAREDE ---------------------------------------------------- 22<br />
3.6 – VÃOS ------------------------------------------------------------------------------------- 23<br />
3.7 – CUNHAIS E PONTOS DE ENCONTRO DE PAREDES<br />
⇒ Cunhais ----------------------------------------------------------------------------- 24<br />
⇒ Contrafortes ----------------------------------------------------------------------- 25<br />
3.8 - COBERTURAS E TELHADOS ------------------------------------------------------ 26<br />
4 – PATOLOGIAS -------------------------------------------------------------------------------------- 28<br />
5 – RENTABILIDADE ---------------------------------------------------------------------------------- 29<br />
6 – CONSIDERAÇÕES FINAIS --------------------------------------------------------------------- 30<br />
Notas ------------------------------------------------------------------------------------------------------ 30<br />
BIBLIOGRAFIA ---------------------------------------------------------------------------------------- 31<br />
ANEXOS - FOTOGRAFICOS ---------------------------------------------------------------------- 32<br />
PORTOFÓLIO DA CONSTRUÇÃO MODERNA EM TERRA CRUA – USA<br />
PORTOFÓLIO DA CONSTRUÇÃO DE UM EDIFÍCIO EM – PISÉ – USA – 1999<br />
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1 – INTRODUÇÃO GERAL<br />
1.1 – NOTA INTRODUTÓRIA<br />
Esta monografia desenvolvida no âmbito da cadeira de Tecnologia da Construção de<br />
Edifícios, tem <strong>com</strong>o objectivo a anotação de um processo construtivo milenar sobre o qual<br />
possui o nosso país um importante legado, assim <strong>com</strong>o uma breve descrição do seu<br />
desenvolvimento <strong>com</strong>o técnica face às actuais possibilidades de utilização.<br />
1.2 – CONSIDERAÇÕES GERAIS<br />
Esta técnica de construção encontra-se entre as mais antigas. A sua origem remonta há<br />
época das civilizações Caldeias e Assírias do crescente fértil Mesopotâmico, constituindo<br />
posteriormente também uma prática construtiva das civilizações romana e árabe,<br />
principalmente em zonas de fraca pluviosidade.<br />
Devido ás suas características, este processo encontra-se espalhado um pouco por todo<br />
o mundo, sendo utilizado actualmente principalmente em países do norte de África, da<br />
Arábia e do Yémen do Sul ( onde se encontra a cidade de Shibam, totalmente construída<br />
em terra, cujos edifícios chegam a atingir os 8 pisos )[ Anexos fotográficos].<br />
- 5 -
Fig. 1 [ 1 ] - Localização das construções de Taipa em Portugal<br />
Em Portugal existem grandes manchas de construção em terra, tanto no Alentejo <strong>com</strong>o<br />
no Algarve, sendo <strong>com</strong>um há umas décadas atrás, ver Taipeiros aos pares sobre as<br />
paredes apiloando a terra á cadência certa de uma canção própria.<br />
Como exemplos centenários de construção em terra no nosso país temos os castelos de<br />
Alcácer do Sal, Juromenha, Paderne, Salir e Silves e algumas secções do Paço Ducal de<br />
Vila Viçosa.<br />
Actualmente verifica-se que países industrializados <strong>com</strong>o a França e os Estados Unidos,<br />
a partir da década de 70, vêm a retomar e a actualizar os processos de construção<br />
antigos <strong>com</strong>o a Taipa, <strong>com</strong>o forma de fazer fase a novos desafios e necessidades, tais<br />
<strong>com</strong>o a escassez de energia e a procura de materiais mais económicos. Para tornar<br />
exequível este processo há que adapta-lo ás novas realidades do mundo actual, o que<br />
constitui um grande desafio <strong>com</strong> vista ao desenvolvimento de novos processos<br />
construtivos e utilização racional de algo que se pode considerar praticamente<br />
inesgotável, a Terra.<br />
Em Portugal o processo de construção em taipa apresenta, além do património histórico,<br />
já anteriormente referido, uma tímida quantidade de edifícios actuais havendo a salientar<br />
as obras do Arquitecto José Alberto Alegria, tais <strong>com</strong>o uma vivenda junto ao golfe de<br />
Vilamoura e o mercado da Guia e ainda a reconstrução de duas torres albarrãs do<br />
Castelo de Silves, pela DGEMN, sendo também relevante o trabalho desenvolvido desde<br />
de 1993, pela Escola Profissional de Desenvolvimento Rural de Serpa em colaboração<br />
<strong>com</strong> a Direcção Geral dos Edifícios e Monumentos Nacionais, no estudo, ensino e<br />
divulgação destas técnicas de construção.<br />
Ao nível mundial existem várias entidades que se dedicam ao estudo e conservação<br />
destas técnicas, nomeadamente a CRATerre-EAG ( Centre de Recherche d`Architecture<br />
de Terre / École d`Architecture de Grenoble), a ICCROM ( Centro Internacional de<br />
Estudos para a Conservação e Restauro de Bens Culturais) organismo da UNESCO, que<br />
tem promovido as Conferências Internacionais Sobre o Estudo e Conservação da<br />
Arquitectura da Terra, de que Portugal foi palco em Silves da 7ª Conferência em 1993,<br />
- 6 -
tendo-se realizado em Maio de 2000 a 8ª Conferência n a localidade de Torquay, Devon,<br />
Inglaterra.<br />
2 – TERRA ( A MATÉRIA PRIMA )<br />
2.1 – CARACTERIZAÇÃO GERAL<br />
Material que está ao alcance de todos, inesgotável, fácil de trabalhar e duradouro,<br />
quando tomadas as devidas precauções. Uma casa construída em terra possui um bom<br />
<strong>com</strong>portamento térmico e acústico devido á grande inércia das suas paredes, as que<br />
se <strong>com</strong>portam <strong>com</strong>o uma barreira eficaz contra as intempéries. No entanto a sua<br />
resistência mecânica é da ordem de 10-30 Kg / cm 2 à <strong>com</strong>pressão e fraquíssima à<br />
tracção (1) , apresentando um óptimo <strong>com</strong>portamento ao fogo.<br />
A Taipa é constituída por terra húmida <strong>com</strong>primida entre taipais móveis de madeira,<br />
formando, pela sua secagem e após a retirada daqueles, paredes ou muros homogéneos<br />
e monolíticos.<br />
- 7 -
2.2 - A ESCOLHA DA TERRA<br />
Fig. 2 - Dois tipos de Taipa diferentes<br />
A terra para a construção destas alvenarias deve apresentar um grau de gordura justo<br />
dado pela argila, visto que se for muito gorda – ( muito argila ) – ao secar terá tendência a<br />
originar fendilhações de retracção. Por outro lado, se a terra for demasiado magra – (<br />
pouca argila ) – não apresenta as características aglutinantes necessárias para manter a<br />
forma.<br />
• A constituição da terra para a construção de uma boa Taipa deve:<br />
Ter uma boa distribuição granulométrica dos elementos sendo admissível a<br />
existência de cascalho, desde que a sua dimensão não ultrapasse 20 e 25 mm, e<br />
apresentar um teor de Argila entre 15 e 30 % (1) .<br />
2.3 - ENSAIOS EXPEDITOS<br />
- 8 -
Verifica-se que uma terra dá uma taipa de qualidade, ao amassar-se a terra <strong>com</strong> água e<br />
enchendo-se um molde prismático de madeira de (0,50 x 0,50 cm) em camadas de 10 cm<br />
de espessura, bem amassada e <strong>com</strong>pactada. Ao fim de uma semana quando a terra<br />
estiver bem seca retira-se o molde. Passados alguns meses examina-se se a sua<br />
consistência aumentou ou diminuiu. Mediante o resultado obtido, assim se conclui quanto<br />
ás boas capacidades mecânicas dessa terra (2) .<br />
A mistura de areia e argila <strong>com</strong> 1/3 de terra franca também origina uma boa Taipa. A terra<br />
franca reconhece-se quando, apertando-a na mão, esta mantêm as marcas dos dedos (2) .<br />
Pode-se proceder também a uma observação expedita das características do solo no<br />
terreno, realizando os seguintes ensaios (EUSÉBIO,pag130 a 135):<br />
⇒ Observação da cor<br />
A cor é a primeira característica do solo a sobressair pois, a cor dos solos depende da<br />
sua constituição química. Assim a cor escura indica a presença de materiais orgânicos. O<br />
vermelho, indica a coloração causada por óxidos de ferro hidratado. O amarelo são<br />
colorações causadas por óxidos de ferro mais ou menos hidratados. A cor parda indica a<br />
presença de óxidos de ferro hidratados ou óxidos de ferro associados a matéria orgânica.<br />
Os solos pálidos indicam a presença de areias quartozas ou feldspáticas<br />
⇒ Teste do Cheiro<br />
Imediatamente após a extracção, a terra deverá ser cheirada para detectar matéria<br />
orgânica, cheiro que se amplifica por humedecimento ou aquecimento do solo. Na<br />
construção não deverão, em caso algum, ser usados solos que contenham matéria<br />
orgânica.<br />
⇒ Teste ao Tacto<br />
Depois de tirar as partículas maiores, esfrega-se uma amostra entre os dedos. Os solos<br />
arenosos sentem-se ásperos e não têm coesão quando de humedecem. Um solo siltoso<br />
ainda se sente áspero mas apresenta certa coesão quando se humedece. Torrões duros,<br />
resistentes ao esmagamento quando secos, mas tornando-se plásticos e pegajosos ou<br />
viscosos quando húmidos, indicam uma alta percentagem de argila.<br />
- 9 -
⇒ Teste do Brilho<br />
Uma bola de solo ligeiramente humedecida e recentemente cortada <strong>com</strong> uma faca,<br />
apresenta-nos-á uma superfície opaca se houver predominância de silte, ou uma<br />
superfície brilhante se houver predominância de argila.<br />
⇒ Teste da Aderência<br />
Quando a faca penetra facilmente numa bola de terra, a proporção de argila é geralmente<br />
baixa, porque os solos argilosos tendem a resistir à penetração e aderem à faca quando<br />
ela é retirada.<br />
⇒ Teste à Lavagem<br />
Ao lavar as mãos depois de realização destes testes, a forma <strong>com</strong>o o solo é eliminado,<br />
dá-nos indicação suplementar da sua <strong>com</strong>posição: a areia e o silte são fáceis de retirar,<br />
enquanto a argila precisa de ser esfregada.<br />
⇒ Teste de Sedimentação<br />
Enche-se ¼ de um frasco <strong>com</strong> solo e <strong>com</strong>pleta-se <strong>com</strong> água limpa quase até cima. Deixa-<br />
se repousar, bem tapado, durante uma hora. Em seguida agita-se fortemente e deixa-se<br />
novamente repousar durante uma hora, no fim da qual se agitará novamente e se voltará<br />
a deixar repousar durante, pelo menos 45 minutos.<br />
Passado este tempo, as partículas sólidas assentarão e poder-se-á medir <strong>com</strong> alguma<br />
precisão as proporções relativas de areia (camada inferior), silte e argila. Convirá ter em<br />
atenção que o silte e a argila se terão expandido <strong>com</strong> a água.<br />
⇒ Teste Visual por Peneiração Expedita<br />
Com o solo seco e após esmagamento dos torrões, faz-se a separação das partículas<br />
através da passagem por dois peneiros ( um <strong>com</strong> malha de 0,074 mm e outro de 2 mm),<br />
passando-se primeiro pelo peneiro n.º 200 (0,074 mm ) e seguidamente pelo n.º 10<br />
(2mm), sendo assim possível fazer uma classificação grosseira do solo.<br />
Passagem através do peneiro n.º 200<br />
• O solo será argiloso se o montículo de material passado (silte mais argila) for<br />
maior que o do retido (areia mais seixo).<br />
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