Polêmica sobre células-tronco embrionárias reacende discussão ...
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Co:::unicação<br />
6 maio de 2008<br />
comportamento<br />
ESPIRITUALIDADE A religião ainda ocupa um importante espaço na vida de muitos jovens contemporâneos<br />
A fé segundo a juventude<br />
Ser jovem. “Aproveitem a melhor fase da<br />
vida’’, dizem os pais em nostalgia. Ir a festas<br />
e conhecer os prazeres da liberdade, consolidar<br />
ou estrear amizades, escolher a profissão<br />
a ser seguida pelo o resto da vida. Juventude<br />
combina com música alta, com imediatismo,<br />
com o primeiro carro e com o primeiro amor<br />
– que alguns descobrem em Deus.<br />
Segundo pesquisa encomendada pelo<br />
Comunicação à Agência de Relações Públicas<br />
da UFPR, que ouviu universitários entre<br />
17 e 25 anos, 74% dos entrevistados julgam a<br />
religiosidade algo de grande importância em<br />
suas vidas – 44% desses mantêm o costume<br />
de freqüentar missas ou cultos semanalmente.<br />
Tamanho engajamento é justificado de<br />
maneira unânime: a busca pela fé.<br />
Freqüentador da Igreja Universal, Nathanael<br />
de Lima, 19, envolveu-se com a religiosidade<br />
na época de seu primeiro vestibular. “Precisava<br />
de mais confiança e de algo em que acreditar”,<br />
explica. No seu trajeto diário rumo ao cursinho<br />
pré-vestibular, costumava observar o prédio da<br />
igreja e, certo dia, resolveu conhecer seu interior.<br />
“Fui muito bem recebido e me senti bem<br />
no ambiente. Foi como se eu encontrasse tudo<br />
o que procurava”, revela. O vestibular passou e<br />
sua fé, entretanto, consolidou-se. “Não deixo<br />
mais de vir orar”, conta.<br />
Foi também motivada por uma situação<br />
de angústia que Meiriany Andrade, 18, procurou<br />
apoio na fé. Após perder a mãe em um<br />
trágico acidente automobilístico, a jovem<br />
enfrentou os sintomas de uma depressão<br />
profunda que a levaram ao divã de um psicanalista.<br />
Seis meses após o incidente e sem<br />
observar melhoras em seu quadro médico,<br />
Meiriany seguiu a sugestão de amigos e<br />
acompanhou, pela primeira vez, um culto<br />
religioso. “Ao orar senti um enorme alívio e<br />
bem-estar, coisa que nem as sessões de terapia<br />
conseguiam me proporcionar”, recorda.<br />
A procura por uma religião influenciada<br />
por amigos ou conhecidos não é particularidade<br />
do caso de Meiriany – pelo contrário, é<br />
a causa mais freqüente de novos adeptos às<br />
igrejas, segundo o pastor responsável pelo<br />
grupo de jovens da Igreja Presbiteriana Central,<br />
Wladimir Moura. “Muitos adolescentes<br />
chegam até nosso grupo por indicação de<br />
amigos que já fazem parte das nossas reuniões.<br />
A cada semana esse grupo aumenta”,<br />
conta. A decisão por permanecer ou não<br />
nos encontros, no entanto, é estritamente<br />
pessoal, embora a maioria dos jovens que<br />
visitam o templo pela primeira vez se tornem<br />
freqüentadores assíduos. “A grande maioria<br />
permanece por encontrar novas razões para<br />
viver na fé. E isso ainda resulta em novas amizades<br />
com quem professa a mesma crença,<br />
há identificação, fundamental na juventude”,<br />
explica o pastor, que vê em um dos jovens<br />
desse grupo seu sucessor no templo.<br />
Quando a vocação se manifesta<br />
Arthur Ferreira Martins tinha apenas<br />
cinco anos em 1995. Tomado pela mão, foi<br />
levado pelos pais a um templo presbiteriano,<br />
crença para a qual a família tinha acabado de se<br />
converter. O menino cresceu em meio às poltronas,<br />
às músicas e às citações bíblicas – que,<br />
até então, não lhe significavam muito mais que<br />
a religião que os pais tinham escolhido. Foram<br />
Segundo pesquisa do Comunicação, 44% dos jovens freqüentam missas ou cultos semanalmente<br />
necessários dez anos e um acampamento religioso<br />
para que Arthur descobrisse que aquela<br />
era, antes de tudo, sua própria escolha. Ou<br />
melhor, sua própria vocação.<br />
Em meio a todo o divertimento do<br />
acampamento de que participava junto aos<br />
colegas presbiterianos, Arthur conta que teve<br />
sua primeira experiência pessoal com Deus.<br />
Incerto de como colocá-la em palavras, o<br />
jovem explica: “Deus conversou comigo, eu<br />
o ouvi e soube o que deveria fazer”. Hoje, aos<br />
17 anos, estuda Teologia e prepara-se para se<br />
tornar pastor. Na sua rotina semanal, são dois<br />
cultos e ainda a ‘aula’ que ministra ao restante<br />
dos jovens do grupo, sempre aos domingos:<br />
é nessa escola dominical que ele treina suas<br />
futuras pregações, aos olhos do pastor Wladimir.<br />
“Ele percebeu minha vocação antes<br />
mesmo de eu lhe contar <strong>sobre</strong> o que aconteceu<br />
no acampamento”, diz o futuro pastor.<br />
Claro em relação à sua proximidade com<br />
a fé, Arthur afirma nunca ter sofrido preconceito<br />
quanto a sua forte religiosidade. “Meus<br />
amigos aprenderam a lidar com o fato de que<br />
eu vou ser pastor. E os que não conseguiram<br />
aprender a lidar se afastaram”, explica, enfatizando<br />
que há respeito por sua escolha. “Rola<br />
brincadeira, claro. Me chamam de pastor o<br />
tempo todo, mas também pedem para eu<br />
orar”, conta. A família, por sua vez, o apóia<br />
incondicionalmente. “Sabem que faz bem<br />
para mim”, justifica.<br />
Antes de deixar-se envolver pela fé, Arthur<br />
conta ter tido problemas pessoais, entre<br />
os quais se destacavam os de auto-estima. O<br />
jovem diz ter sofrido de um forte complexo<br />
de inferioridade, superado somente depois<br />
da experiência que compartilhou com Deus.<br />
“Depois disso eu soube que Deus me amava,<br />
e isso foi suficiente para mim. Me bastou. Se<br />
ele me amava, não havia porque me sentir<br />
inferior”, relata. “Passei a me valorizar mais,<br />
e a valorizar os outros, aprendi a amar”,<br />
completa ele.<br />
Hoje, Arthur e seus colegas de templo<br />
formam um grupo chamado Oxigênio, que<br />
trabalha com arte de rua e possui diversas<br />
oficinas, como teatro, percussão e pirofagia.<br />
Juntos, se apresentam em instituições e entidades<br />
carentes, fazendo números artísticos<br />
e palestrando <strong>sobre</strong> os perigos das drogas.<br />
“Repassamos o que aprendemos na igreja,<br />
<strong>sobre</strong> os dogmas. Nada é imposto, aprendemos<br />
a avaliar e a fazer escolhas”, declara.<br />
Várias ou nenhuma religião<br />
Da missa para o templo budista, do templo<br />
para a comunhão: assim se resume a relação<br />
de Gustavo Heiss, 18, com a religiosidade.<br />
De família católica, interessou-se pela filosofia<br />
budista por acaso. “Sempre que ia para a<br />
academia passava pela Praça do Japão [que<br />
abriga a Comunidade Zen-Budista de Curitiba]<br />
e um dia resolvi entrar”, recorda. Ao conhecer<br />
os preceitos da religião, passou a freqüentar<br />
os cultos e os estudos <strong>sobre</strong> eles. “Sempre<br />
gostei de conhecer novas culturas, mas com<br />
o budismo foi diferente. Meditei e senti um<br />
bem-estar que nunca tinha experimentado”,<br />
confessa. Por a religião não requerer exclusividade,<br />
Gustavo concilia suas orações budistas<br />
com as missas tradicionais.<br />
A liberdade religiosa acaba gerando<br />
também a liberdade de não seguir religião<br />
específica – sem que isso afete, no entanto, a<br />
existência da fé. Para Tiago Bandeira, 20, não<br />
freqüentar igrejas ou templos não diminui<br />
sua proximidade com Deus. “Fui batizado<br />
e fiz primeira comunhão, mas não me considero<br />
católico. Sou contra a existência de<br />
instituições, posso rezar e orar com as minhas<br />
palavras e em qualquer lugar”, declara.<br />
É essa ‘proximidade’ com um ser maior,<br />
onipotente e presente que Marianne Anunes,<br />
21, não consegue sentir. Filha de uma<br />
família católica tradicional e praticante, ela<br />
não reluta em contar que não acredita em<br />
Deus. “Passei a desacreditar no Ensino Médio,<br />
quando percebi que tudo pode ser explicado<br />
pela ciência. A partir desse momento<br />
Deus não fez mais sentido”, retrata.<br />
Já Giuliana Pavanelli, 18, se diz agnóstica<br />
– alguém que acredita que a questão da existência<br />
ou não de um poder superior (Deus)<br />
não foi e nem será resolvida. Embora sua mãe<br />
seja católica, a jovem não mantém sequer o<br />
costume de orar em agradecimento ou pedido.<br />
“Acho que rezar não influi no decorrer das coisas.<br />
É mais uma busca por conforto”, defende.<br />
No ano passado, Giuliana teve uma conversa<br />
definitiva com a mãe <strong>sobre</strong> a religião e a falta<br />
dela. “Ela respeita minha posição, e disse que<br />
acredita em Deus por refúgio, porque talvez<br />
não tivesse coragem de não acreditar”, recorda.<br />
“Também respeito a fé de quem acredita em<br />
Deus. Ele pode ser constante na vida dessas<br />
pessoas, mas não é na minha”, conclui.<br />
Confira na editoria de Comportamento<br />
do site do Comunicação (www.jornalcomunicacao.ufpr.br)<br />
mais matérias da série<br />
de reportagens <strong>sobre</strong> juventude.<br />
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