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Polêmica sobre células-tronco embrionárias reacende discussão ...

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www.jornalcomunicacao.ufpr.br jornal laboratório do curso de jornalismo da ufpr<br />

edição 02 | maio de 2008<br />

Co:::unicação<br />

PolítiCa<br />

<strong>Polêmica</strong> <strong>sobre</strong><br />

<strong>células</strong>-<strong>tronco</strong> <strong>embrionárias</strong><br />

<strong>reacende</strong> <strong>discussão</strong> em torno<br />

da Lei de Biossegurança<br />

Coexistência dos sistemas<br />

majoritário e proporcional gera<br />

<strong>discussão</strong> <strong>sobre</strong> a eficiência das<br />

eleições democráticas brasileiras<br />

Ge r a l<br />

Comprometimento e<br />

profissionalismo podem garantir<br />

efetivação após o período<br />

de estágio<br />

Cu lt u r a<br />

P á G. 3 P á G. 5 P á G. 8<br />

Pesquisa mostra que menos de<br />

25% dos estudantes da<br />

UFPR leêm mais de dez<br />

livros por ano


Co:::unicação<br />

2 maio de 2008<br />

Editorial<br />

O que de fato importa<br />

A Coréia do Norte, do ditador Kim<br />

Jong II, chama-se oficialmente República<br />

Democrática Popular da Coréia, o que tem<br />

como intuito projetar uma cortina de fumaça<br />

<strong>sobre</strong> o fato de que ela é hoje a nação mais<br />

fechada do globo. As vozes oficiais são, na<br />

maioria das vezes, exatamente isso – acordos<br />

tácitos para esconder o estado deplorável<br />

dos bastidores.<br />

Algo parecido acontece com o Brasil<br />

quando nos declaramos um Estado laico.<br />

Ignora-se que somos o maior contingente<br />

de católicos do planeta, inseridos em um<br />

continente que hoje é o principal pilar de<br />

sustentação da Igreja de Bento XVI. Mas<br />

isso não modifica os fatos. Aqui, assuntos<br />

estritamente éticos e jurídicos sempre ganharam<br />

um protagonista a mais: a moral<br />

cristã. A questão do aborto é um exemplo.<br />

As pesquisas com <strong>células</strong>-<strong>tronco</strong> <strong>embrionárias</strong><br />

transformaram-se em outro. Para isso, a<br />

Igreja não precisa de bancadas no Congresso<br />

– embora as tenha. Seus dogmas se tornaram<br />

uma questão cultural.<br />

Em qualquer debate a respeito de questões<br />

como o aborto ou as <strong>células</strong>-<strong>tronco</strong>, lá<br />

está um padre, um bispo ou um monsenhor,<br />

batendo na tecla do direito à vida e da não<br />

interferência do homem no que Deus criou à<br />

sua imagem e semelhança. Têm uma posição<br />

firme e clara, disso não há dúvida. Mas não é<br />

para menos: ela é a mesma há milênios. Ainda<br />

assim, existe um grande contingente pronto<br />

a acatar qualquer coisa que eles digam com<br />

a força de uma lei outorgada. E fica cada vez<br />

mais difícil manter um debate sensato orbitando<br />

em torno de verdades absolutas.<br />

Nossa matéria de capa fala justamente<br />

<strong>sobre</strong> o problema ético-científico da vez, as<br />

<strong>células</strong>-<strong>tronco</strong> <strong>embrionárias</strong>. Colocamos a<br />

lente <strong>sobre</strong> o ponto da questão que mais gera<br />

discórdia, os embriões excedentes das clínicas<br />

de fertilização in vitro. Não há opiniões<br />

religiosas – pelo menos não oficialmente –,<br />

o que não significa que não haja divergências:<br />

o próprio meio científico não entra<br />

em consenso <strong>sobre</strong> muitos pontos do tema.<br />

Completando, na entrevista ao lado abordamos<br />

a clonagem terapêutica, uma possível<br />

alternativa da ciência para o tratamento de<br />

doenças degenerativas.<br />

Porém, como o fato de termos apartado<br />

a fé da <strong>discussão</strong> científica não significa uma<br />

militância anti-religião, trazemos na editoria<br />

de Comportamento uma reportagem <strong>sobre</strong><br />

a juventude e a busca pela espiritualidade.<br />

A coexistência, no Brasil, de dois sistemas<br />

eleitorais distintos (que em outubro, elegerão<br />

nossos representantes municipais) e<br />

as divergências e incongruências que eles<br />

geram no cenário político também são temas<br />

desta edição. Antecipamos, assim, um trabalho<br />

que terá continuidade no Comunicação<br />

Online – e talvez aqui mesmo – na tentativa<br />

de esclarecer e preparar o leitor para as eleições<br />

deste ano.<br />

Há ainda matérias <strong>sobre</strong> os hábitos de<br />

leitura dos universitários da UFPR, incluindo<br />

uma pesquisa <strong>sobre</strong> o quanto e o que<br />

estamos lendo, e o mercado de trabalho<br />

para os estagiários – afinal, o que se espera<br />

dos estudantes quando eles enfim colocam<br />

a mão na massa?<br />

Um novo debate ético<br />

Atualmente, debate-se no Brasil a constitucionalidade<br />

da Lei de Biossegurança<br />

que permite a pesquisa com <strong>células</strong>-<strong>tronco</strong>,<br />

obtidas a partir de embriões congelados em<br />

clínicas de fertilização in vitro. Porém, em<br />

alguns países já se pesquisa a possibilidade<br />

de obtenção das mesmas <strong>células</strong>-<strong>tronco</strong> a<br />

partir da clonagem terapêutica.<br />

O método, que já foi testado em cobaias<br />

em países como Inglaterra e Coréia do Sul,<br />

consiste em retirar o núcleo de uma célula<br />

já diferenciada (adulta e formada) e inseri-la<br />

em um óvulo vazio, sem núcleo. Caso o procedimento<br />

tenha sucesso, o óvulo forma um<br />

embrião. A partir dele, podem-se adquirir as<br />

mesmas <strong>células</strong> <strong>embrionárias</strong> do processo<br />

‘normal’. O aspecto inovador dessa técnica<br />

é que uma pessoa que possua um problema<br />

no fígado, por exemplo, poderá valer-se de<br />

sua própria célula no processo (uma célula<br />

da pele, por exemplo), fazendo com que as<br />

celulas-<strong>tronco</strong> resultantes se diferenciem<br />

em <strong>células</strong> hepáticas, sem correr o risco de<br />

rejeição, já que o material genético final seria<br />

o seu próprio.<br />

Para alguns, a polêmica dessa pesquisa<br />

consiste no fato de os cientistas estarem<br />

gerando embriões com o fim exclusivo de<br />

destruí-los – além do método para a obtenção<br />

de óvulos ser considerado ‘invasivo’.<br />

Críticos ainda afirmam que esse tipo<br />

de pesquisa pode vir a estimular a realização<br />

da clonagem reprodutiva, a mesma<br />

realizada com a ovelha Dolly. Para eles,<br />

também é inviável produzir um embrião<br />

clonado a partir de qualquer DNA que<br />

não seja o da própria doadora do óvulo,<br />

o que restringiria bastante a utilização da<br />

técnica. Nesse caso, só a partenogênese<br />

(quando o óvulo anucleado recebe, em<br />

seguida, o DNA de uma célula da mesma<br />

mulher de que proveio) daria resultado<br />

e, somente a própria doadora do óvulo<br />

poderia ser beneficiada.<br />

Para entender melhor esse processo –<br />

tido como promissor, porém controverso – o<br />

Comunicação conversou com o doutor em<br />

genética médica Salmo Raskin, incentivador<br />

da clonagem terapêutica e estudioso do tema<br />

há mais de 15 anos.<br />

Por que existe uma polêmica tão grande a<br />

respeito da clonagem terapêutica?<br />

Salmo Raskin: Essa polêmica existe porque<br />

ela é uma ferramenta que permite<br />

produzir <strong>células</strong>-<strong>tronco</strong> <strong>embrionárias</strong> a<br />

partir das <strong>células</strong> adultas de um indivíduo.<br />

E envolve a destruição do embrião para<br />

isso. Nessa técnica, você cria um embrião<br />

que será destruído para dele obter <strong>células</strong><strong>tronco</strong>.<br />

Parte da sociedade que é contrária<br />

à clonagem terapêutica alega que são<br />

cometidos dois ‘erros’ no procedimento:<br />

a criação do embrião com a finalidade de<br />

destruí-lo, e a própria destruição. O primeiro<br />

não ocorre quando se trata de embriões<br />

<strong>sobre</strong>ssalentes de clínicas de fertilização<br />

in vitro. Daí vem toda a polêmica, e é por<br />

isso que a Lei de Biossegurança proíbe a<br />

clonagem terapêutica.<br />

O embrião gerado pode vir a se desenvolver?<br />

Raskin: Se for implantado em um útero, o<br />

embrião pode se desenvolver. Mas acontece<br />

que o procedimento é feito todo em laboratório,<br />

sem a participação de uma gestante.<br />

Para o senhor, se a clonagem terapêutica for<br />

permitida, a reprodutiva também poderá ser?<br />

Raskin: Acredito que não há risco algum<br />

de a clonagem reprodutiva ser legalizada.<br />

Primeiramente, porque não traz qualquer<br />

benefício para a sociedade, ao contrário da<br />

terapêutica, que tem um enorme potencial.<br />

Além disso, a clonagem reprodutiva carrega<br />

todo o ônus do problema ético, religioso,<br />

moral, filosófico. Outro aspecto é a sua<br />

ineficiência técnica [os clones apresentam<br />

envelhecimento precoce e maior tendência<br />

a adquirirem determinadas doenças]. Não<br />

consigo visualizar o dia em que ela seja<br />

legalizada. O que existe é a possibilidade de<br />

algum maluco implantar em um útero um<br />

embrião gerado para clonagem terapêutica.<br />

Isso não é impossível.<br />

O senhor conhece as opiniões de juristas<br />

<strong>sobre</strong> a clonagem terapêutica?<br />

Raskin: Não, embora eu acompanhe discussões<br />

<strong>sobre</strong> o tema. Por outro lado, ouvi de<br />

um jurista que a clonagem terapêutica seria<br />

menos antiética do que o uso de embriões<br />

gerados em clínicas de reprodução assistida.<br />

Ele apontou que, no procedimento, não ocorre<br />

fecundação, e sabe-se que um dos dogmas<br />

envolvidos na <strong>discussão</strong> é que a vida se inicia<br />

quando o óvulo é fecundado. Além disso,<br />

o objetivo não é gerar um indivíduo, mas<br />

apenas <strong>células</strong>-<strong>tronco</strong>. Já o embrião gerado<br />

a partir de fertilização in vitro é criado com<br />

o objetivo de se desenvolver, embora nem<br />

sempre seja implantado. Não posso dizer<br />

que todos os juristas pensam assim, apenas<br />

conheço a opinião deste em especial.<br />

E qual é a sua opinião?<br />

Raskin: Acredito que a pesquisa deve ser<br />

legalizada. Vale ressaltar a diferença entre<br />

pesquisa e uso clínico. Às vezes, o intervalo<br />

entre ambos é de cinco décadas. Do mesmo<br />

modo, acredito que o uso de <strong>células</strong>-<strong>tronco</strong><br />

<strong>embrionárias</strong> em pesquisas deva ser permitido<br />

também.<br />

Como é o procedimento para a obtenção de<br />

óvulos? É invasivo?<br />

opinião<br />

Raskin: Sim, é um procedimento bastante<br />

invasivo, porque a mulher recebe altas doses<br />

de hormônios para liberar vários óvulos.<br />

Também é necessário realizar uma pequena<br />

cirurgia para retirá-los das trompas uterinas.<br />

Vamos salientar que no Brasil não se realiza<br />

esse tipo de intervenção para se obter óvulos<br />

destinados à pesquisa.<br />

As <strong>células</strong>-<strong>tronco</strong> geradas a partir da<br />

clonagem terapêutica têm maior risco de<br />

apresentar mutações do que as <strong>embrionárias</strong><br />

comuns?<br />

Raskin: Nunca ouvi dizer que houvesse<br />

maiores chances do que as naturais. É uma<br />

pergunta a ser respondida pela pesquisa.<br />

E <strong>sobre</strong> a polêmica das <strong>células</strong>-<strong>tronco</strong> <strong>embrionárias</strong>,<br />

o senhor possui uma opinião<br />

formada?<br />

Raskin: É um assunto bastante complexo e<br />

não se pode formar opinião de um minuto<br />

para o outro. Depois de estudar o assunto,<br />

acredito que a sociedade deve permitir a<br />

pesquisa com <strong>células</strong>-<strong>tronco</strong> provenientes<br />

de embriões <strong>sobre</strong>ssalentes, com o consentimento<br />

dos pais, em troca da possibilidade<br />

de cura.<br />

Qual é a situação das pesquisas com clonagem<br />

terapêutica em outros países?<br />

Raskin: Inglaterra, Israel e Coréia do Sul têm<br />

avançado de maneira impressionante nessa<br />

área, embora ainda não tenham idealizado<br />

tratamentos. Afinal, a pesquisa não se mede<br />

em meses, mas em décadas.<br />

Que interesses prevalecem na <strong>discussão</strong>? Os<br />

econômicos ou os da saúde?<br />

Raskin: Acredito que não haja o predomínio<br />

de um <strong>sobre</strong> outro. É importante que haja<br />

esse equilíbrio, para que não se repita o que<br />

ocorreu com os remédios para tratamento da<br />

Aids. Nesse caso, o setor privado investiu pesadamente,<br />

e o setor público tomou a decisão<br />

fácil de quebrar a patente. É mais cômodo do<br />

que apostar nas pesquisas do país.<br />

Gu i l h e r m e d e So u z a


política<br />

Co:::unicação<br />

maio de 2008 3<br />

VOTO Coexistência de dois sistemas eleitorais distintos gera opiniões divergentes<br />

O desafio das eleições democráticas<br />

Em outubro serão realizadas eleições diretas<br />

e universais pela 12° vez no Brasil desde a<br />

redemocratização. O voto é obrigatório para a<br />

faixa etária que vai dos 18 aos 70 anos. O comparecimento<br />

às urnas de idosos com mais de<br />

70 e de jovens entre 16 e 18 anos é facultativo.<br />

“Somos um dos países com maior contingente<br />

etário de eleitores”, informa o coordenador de<br />

Comunicação do Tribunal Regional Eleitoral<br />

(TRE), Marden Machado.<br />

A legislação brasileira prevê a coexistência<br />

de dois sistemas eleitorais: o majoritário e o<br />

proporcional. Prefeitos, governadores, senadores<br />

e o presidente da República são eleitos<br />

de acordo com o sistema majoritário. Prefeitos<br />

de cidades com mais de 200 mil habitantes, governadores<br />

e o presidente precisam da maioria<br />

absoluta dos votos (50% mais um), seja em<br />

primeiro ou segundo turno. Já os senadores são<br />

eleitos quando conquistam a chamada maioria<br />

relativa – o maior número de votos em relação<br />

aos demais candidatos de um dado território. A<br />

maioria relativa também se aplica aos prefeitos<br />

de cidades com menos de 200 mil habitantes.<br />

Já o sistema proporcional regulamenta a<br />

escolha dos vereadores e dos deputados estaduais<br />

e federais. Marden Machado explica que<br />

dessa forma a representação é distribuída proporcionalmente<br />

entre os partidos concorrentes<br />

– assim, segundo ele, os partidos pequenos têm<br />

a chance de conquistar mais cadeiras.<br />

Pelo sistema proporcional, há o chamado<br />

quociente eleitoral, que corresponde ao número<br />

de eleitores votantes dividido pelo número<br />

de vagas em disputa. O resultado da divisão<br />

dos votos recebidos por cada partido ou coligação<br />

por esse quociente, representa o número<br />

de vagas a que cada legenda tem direito. “Se um<br />

partido consegue um total de 320 mil votos<br />

com todos os seus candidatos e o quociente<br />

eleitoral é de 105 mil, ele terá direito a três<br />

vagas, que serão ocupadas por seus candidatos<br />

mais votados”, exemplifica Machado.<br />

Esse sistema, entretanto, gera <strong>discussão</strong><br />

<strong>sobre</strong> a possibilidade de um candidato menos<br />

votado conseguir se eleger apoiado pelos votos<br />

de outro. Foi o que aconteceu quando Enéas<br />

Carneiro (1938-2007), do Prona, obteve mais<br />

de 1,5 milhão de votos para deputado federal,<br />

em 2002, em São Paulo. Sua votação acabou<br />

levando para a Câmara mais cinco candidatos<br />

do partido que obtiveram votações inexpressivas<br />

– quatro delas abaixo dos mil votos. “O<br />

fato de outros candidatos entrarem de ‘carona’<br />

numa eleição, sem dúvida, é uma distorção da<br />

representação política no Brasil”, defende o<br />

pesquisador do Núcleo de Sociologia Política<br />

Brasileira da UFPR, Bruno Bolognesi. Já para<br />

o deputado estadual Tadeu Veneri (PT-PR)<br />

a tese de que o mandato pertence ao partido<br />

justifica o sistema proporcional. “Ele é democrático<br />

porque, em teoria, naquele momento,<br />

todos os que foram eleitos representam um<br />

projeto partidário”, diz ele.<br />

A tese dos mandatos partidários foi endossada,<br />

em outubro do ano passado, por<br />

uma decisão do Tribunal Superior Eleitoral<br />

(TSE). Agora, os políticos eleitos tanto pelo<br />

sistema proporcional quanto pelo majoritário<br />

ficam sujeitos a perda do cargo caso mudem<br />

de legenda durante o mandato. Com isso,<br />

pretende-se driblar o troca-troca de partidos<br />

e evitar outro ponto falho do sistema proporcional:<br />

o comportamento individualista<br />

de vereadores e deputados que, depois de<br />

eleitos, fogem do controle dos partidos.<br />

Fortalecimento da Democracia<br />

A reforma política, que ainda não foi<br />

votada, pode melhorar o funcionamento das<br />

eleições. A proposta que tramita no Congresso<br />

regulariza a<br />

fidelidade partidária,<br />

a cláusula de barreira,<br />

o voto obrigatório e<br />

o fundo público de<br />

“<br />

campanha. A cláusula<br />

de barreira, um dos<br />

pontos mais polêmicos,<br />

estabelece uma<br />

série de restrições<br />

aos partidos ‘nanicos’.<br />

Para terem direito ao<br />

funcionamento parlamentar<br />

em qualquer<br />

casa legislativa, eles<br />

precisariam alcançar<br />

pelo menos 5% dos<br />

votos válidos para<br />

deputado federal no<br />

país. Do contrário,<br />

não poderiam mais<br />

ter estrutura de liderança,<br />

nem participar de bancadas nas câmaras<br />

municipais e Federal ou nas assembléias<br />

legislativas. Para alguns, a ‘cláusula de barreira’<br />

é importante porque evita a fragmentação<br />

ideológica das legendas e coíbe os chamados<br />

partidos de ‘aluguel’ – aqueles que, sem uma<br />

ideologia clara, acabam negociando apoios no<br />

Legislativo e dificultando a governabilidade.<br />

Outros, contudo, apontam a livre organização<br />

partidária como um aspecto positivo na<br />

É claro<br />

que não se trata de<br />

um sistema [eleitoral]<br />

perfeito, mas funciona<br />

bem quando o<br />

objetivo é fazer com<br />

que os representantes<br />

se aproximem dos<br />

representados”<br />

defesa da democracia. De acordo com Tadeu<br />

Veneri, é preciso que as pessoas e os grupos<br />

tenham liberdade de organização em partidos<br />

que se identifiquem com suas propostas e<br />

idéias. “Não podemos deixar de ter partidos<br />

menores com propostas ideológicas diferentes<br />

dos maiores”, defende. O pesquisador Bruno<br />

Bolognesi concorda. Para ele, ainda é importante<br />

que esses partidos<br />

não se limitem à<br />

atuação parlamentar<br />

Emerson Cervi,<br />

professor d e so c i o l o g i a política d a Ufpr<br />

ou eleitoral, mas sejam<br />

também ativos<br />

em outras áreas. “É o<br />

caso do PV, no Brasil,<br />

que atua nas questões<br />

humanistas e ambientais<br />

e, de certa forma,<br />

reflete isso em capital<br />

político”, exemplifica.<br />

Outro fator que<br />

poderia contribuir<br />

para o processo democrático<br />

seria a regulamentação<br />

interna<br />

dos partidos. Hoje,<br />

eles são considerados<br />

instituições privadas<br />

e desfrutam de uma<br />

larga margem de au-<br />

tonomia. Mas, de acordo com a pesquisadora<br />

do Laboratório de Comunicação e Política da<br />

UFPR Luciana Veiga, o nível de democracia nos<br />

processos de decisão interna varia conforme a<br />

agremiação. “Partidos de direita como PP e PFL<br />

[atual Democratas], são mais centralizados, ao<br />

contrário de PT e PMDB, onde há uma grande<br />

descentralização”. Para Bolognesi, é necessário<br />

fortalecer a democracia dentro dos partidos, o<br />

que envolve mudanças em aspectos do sistema<br />

eleitoral. Um exemplo deste tipo de mudança,<br />

segundo o deputado Tadeu Veneri, seriam as<br />

prévias para a escolha dos candidatos que representarão<br />

cada partido. A legislação permite,<br />

Os vereadores são eleitos pelo sistema proporcional, que alguns especialistas dizem distorcer a representação direta<br />

hoje, que as siglas utilizem métodos diferentes,<br />

que vão desde prévias com a participação dos<br />

filiados até indicações unilaterais da cúpula<br />

partidária. “Quando bem conduzidas, as prévias<br />

permitem que os candidatos, antes de serem<br />

anunciados publicamente, tenham que expor<br />

o que de fato pensam, como irão conduzir o<br />

partido e a campanha, de onde virão os recursos,<br />

como estabelecerão as suas alianças e quais<br />

serão suas prioridades”, defende Veneri.<br />

Apesar de todo o debate, o professor da especialização<br />

em Sociologia Política da UFPR<br />

Emerson Cervi acredita que o sistema eleitoral<br />

brasileiro é democrático, graças ao voto<br />

direto universal e à pluralidade de partidos. “É<br />

claro que não se trata de um sistema perfeito,<br />

mas funciona bem quando o objetivo é fazer<br />

com que os representantes se aproximem dos<br />

representados”, comenta.<br />

A pesquisadora Luciana Veiga lembra<br />

que o sistema eleitoral norte-americano (que<br />

conta com prévias partidárias e apenas duas<br />

legendas de real envergadura) foi considerado<br />

por muito tempo como um exemplo de<br />

democracia, mas começou a perder credibilidade<br />

depois da reeleição de George W. Bush,<br />

em 2004. “Na verdade, ele perdeu em número<br />

de votos oriundos da população, o que mostra<br />

que o modelo eleitoral norte-americano acaba<br />

atrapalhando um processo de representação<br />

direta”, diz. Entretanto, para Bolognesi esta<br />

é uma diferença que deve ser avaliada com<br />

cuidado. “É claro que o sistema brasileiro é<br />

mais direto e sugere uma maior autonomia<br />

de escolha, porém existem fatores como as<br />

próprias prévias que podem qualificar de<br />

forma diferente os sistemas eleitorais ao redor<br />

do mundo”, conclui.<br />

Ju l i a n a Ka r P i nS K i<br />

Fl á v i a Si lv e i r a


Co:::unicação<br />

4 maio de 2008<br />

esportes/ufpr<br />

FUTEBOL O trabalho desenvolvido por trás da festa das torcidas organizadas<br />

Além da paixão pelo clube<br />

As torcidas organizadas não são chamadas<br />

assim por acaso. Elas possuem nome<br />

registrado, símbolos e músicas próprias,<br />

além de uma direção formal que cuida das<br />

finanças, dos eventos e da festa nos estádios.<br />

São mantidas como empresas e financiadas<br />

pela venda de material referente a elas. “Nós<br />

temos uma marca, reconhecida como marca<br />

de patente, com registro, CNPJ e conta no<br />

banco”, explica Luiz Fernando Correa, o<br />

Papagaio, presidente da Império Alviverde,<br />

torcida organizada do Coritiba que, ao lado<br />

da Fanáticos, do Atlético Paraense, é a principal<br />

do Paraná – ambas criadas em 1977.<br />

Segundo Correa, seu trabalho envolve<br />

a compra e a venda de materiais para os<br />

torcedores, a organização de excursões para<br />

jogos fora da capital e o desenho de faixas,<br />

bandeiras e uniformes. De acordo com ele,<br />

ser presidente da Império é sua profissão.<br />

“Não dá para ter dois empregos. Alguém<br />

que exerça qualquer outra atividade além da<br />

torcida não consegue desenvolver um bom<br />

trabalho”. Para o vice-presidente da Fanáticos,<br />

Juliano Rodrigues, a presidência, além de auxiliar<br />

a torcida em tudo o que for necessário,<br />

também tem a função de manter o diálogo<br />

com o clube, a imprensa e a policia.<br />

E esses trabalhos vêm rendendo resultados.<br />

O chefe do Setor de Planejamento do<br />

Comando de Policiamento da Capital, major<br />

Douglas Dabul, conta que os confrontos<br />

envolvendo torcidas estão diminuindo – o<br />

último aconteceu no final do ano passado,<br />

no jogo entre Coritiba e Marilia, no Couto<br />

Pereira, quando torcedores que ficaram fora<br />

do estádio entraram em conflito com a polícia.<br />

A diminuição da violência, de acordo<br />

com o major, é resultado de um trabalho de<br />

As organizadas funcionam como empresas e realizam, inclusive, trabalhos de cunho social<br />

prevenção. “Atuamos bastante nessa questão.<br />

Fazemos uma reunião preparatória e<br />

escoltamos as torcidas de um lugar para o<br />

outro. Organizamos um acompanhamento”.<br />

Mas aconselha: “Seria importante que<br />

os próprios dirigentes das organizadas se<br />

entendessem melhor, com uma postura de<br />

gerência e não de rivalidade”. Algo que as<br />

presidências tanto da Império quanto da<br />

Fanáticos garantem fazer, coibindo atos de<br />

violência e desenvolvendo um trabalho de<br />

conscientização junto aos torcedores para<br />

pacificar os estádios.<br />

O diálogo com os clubes, porém, não<br />

é tão aberto, apesar de ambas as torcidas<br />

possuírem uma boa imagem mesmo perante<br />

ELEIÇÕES Universidade não deve ser afetada pelo afastamento de Moreira<br />

Reitoria terá nova direção em junho<br />

O reitor da UFPR, Carlos Augusto Moreira<br />

Júnior, terá de se afastar do cargo até o<br />

dia 05 de junho para se dedicar à sua candidatura<br />

a prefeito de Curitiba pelo PMDB. De<br />

acordo com o Tribunal Regional Eleitoral<br />

(TRE), o afastamento será definitivo e responde<br />

à lei de desincompatibilização, que,<br />

em casos como esse, prevê a necessidade<br />

de renúncia ao cargo de reitor quatro meses<br />

antes das eleições. A partir de então, quem<br />

deve desempenhar a função é a vice-reitora,<br />

Márcia Helena Mendonça. É o que prevê o regimento<br />

interno da UFPR. Segundo ele, em<br />

circunstâncias de renúncia o vice-reitor deve<br />

assumir, sem necessidade de novas eleições,<br />

se o titular já houver completado pelo menos<br />

metade do mandato – caso de Moreira que,<br />

reeleito, assumiu pela segunda vez em abril de<br />

2006. Novas eleições só seriam necessárias se<br />

o reitor, não obtendo sucesso em sua candidatura,<br />

quisesse retornar ao cargo. Pretensão<br />

que Moreira afirma ter. “Se eu não for eleito<br />

e se a lei permitir, quero dar continuidade ao<br />

trabalho na Universidade”, declara.<br />

Mas, segundo o prefeito da Cidade Universitária,<br />

Ernesto Sperandio, mesmo que a<br />

campanha obtenha sucesso, as mais de cem<br />

obras que atualmente estão em andamento<br />

na Universidade não devem ser afetadas<br />

pela saída do reitor – entre elas estão as salas<br />

de aula do setor de Agrárias e dos cursos<br />

de Terapia Ocupacional e Enfermagem, o<br />

novo Restaurante Universitário do Centro<br />

Politécnico e o Centro de Convivência do<br />

mesmo campus. “Não há uma certeza, mas<br />

acredito que quem assumir dará prosseguimento<br />

aos projetos. Me parece que a equipe<br />

está concentrada nesse aspecto”, declara.<br />

A possível candidatura de Moreira parece<br />

não ter surpreendido ninguém dentro<br />

da UFPR. A presidente da Associação dos<br />

Professores da Universidade Federal do<br />

Paraná (APUFPR), Arislete de Aquino, não<br />

é exceção. “A filiação ao partido de Requião<br />

é uma prova que ele já pensava em seguir a<br />

carreira política”.<br />

A coordenadora do Setorial de Ciências<br />

Humanas, Letras e Artes do Diretório Central<br />

dos Estudantes (DCE), Gabriela Caramuru,<br />

concorda que a candidatura do reitor não é<br />

novidade. “Há um consenso entre os alunos<br />

partidários do DCE de que a Reitoria está sendo<br />

utilizada como espaço de campanha, pois o<br />

reitor comparece a todos os eventos e formatu-<br />

os torcedores não associados. “Preferimos<br />

ser independentes da diretoria, para ter voz<br />

ativa quando achamos que o clube está errado”,<br />

diz Rodrigues. Independência que, no<br />

caso da Fanáticos, faz com que a torcida não<br />

receba nenhum apoio financeiro do clube<br />

e seja mantida apenas com o dinheiro dos<br />

torcedores. “Todo o lucro é para manutenção<br />

e investimento, ou seja, para auto-sustento”,<br />

afirma ele. Situação parecida com a da Império,<br />

que, porém, algumas vezes recebe<br />

apoio do Coritiba, seja na colaboração para o<br />

pagamento de ônibus em excursões, seja no<br />

subsídio de ingressos para os associados.<br />

li n a ha m da r<br />

Caso não seja eleito, Moreira diz que quer retornar<br />

ao cargo de reitor<br />

aSSeSSoria d e Co m u n i C a ç ã o da uFPr<br />

Torcida solidária<br />

As duas torcidas possuem projetos sociais<br />

que visam ajudar instituições filantrópicas e<br />

pessoas que passam por dificuldades.<br />

A Fanáticos auxilia a Renascer, instituição<br />

de apoio a dependentes químicos, com<br />

a arrecadação de alimentos. A Império, por<br />

sua vez, possui a Torcida Social, projeto que<br />

envolve doação de sangue, apoio na busca<br />

por crianças desaparecidas, cuidados com<br />

crianças abandonadas e combate à pedofilia<br />

e às drogas. Além disso, faz campanhas para a<br />

arrecadação de materiais escolares, alimentos<br />

e brinquedos para entidades filantrópicas.<br />

ras da UFPR fazendo discursos elogiosos a seus<br />

projetos”, acusa. Moreira, contudo, nega que<br />

suas atitudes como dirigente da UFPR tenham<br />

caráter eleitoreiro. “Tudo o que eu faço dentro<br />

da Universidade é pela própria Universidade e<br />

não para me promover”, defende-se.<br />

Gabriela Caramuru considera também<br />

que o aumento no número de obras realizadas<br />

nos campi da UFPR desde o ano passado<br />

visam às eleições de outubro. Em 2007 foram<br />

gastos cerca de R$ 14 milhões em obras,<br />

quase o dobro dos dois anos anteriores somados<br />

– em 2005 e 2006 o orçamento anual<br />

ficou em torno de R$ 4,5 milhões. Para esse<br />

ano, ainda não há uma estimativa da verba<br />

total, mas os valores em licitações abertas já<br />

giram em torno de R$ 8 milhões.<br />

Porém, Ernesto Sperandio, apesar de<br />

acreditar que as obras beneficiam a imagem<br />

do reitor, diz não saber se os feitos terão reflexos<br />

fora do ambiente acadêmico. “Isso vai<br />

ficar na história da instituição, sem dúvida,<br />

mas não sei como o fato será levado para fora<br />

da Universidade. Isso só vai ser verificado na<br />

campanha eleitoral”, finaliza.<br />

Ga b r i e l a ba S to S<br />

aSSeSSoria d e im P r e n S a d o atlétiCo Pa r a na e n S e


geral<br />

TRABALHO JOVEM Empresas buscam universitários promissores e comprometidos<br />

À procura do estagiário perfeito<br />

Na busca por uma vaga de estágio,<br />

qualidade técnica é indispensável. Para estudantes<br />

universitários, cursos de extensão,<br />

inglês e informática passaram de diferenciais<br />

a requisitos básicos na hora de driblar<br />

a concorrência. No entanto, empresas e<br />

consultorias apontam a verdadeira chave<br />

para quem quer aproveitar as melhores<br />

oportunidades do mercado de trabalho: o<br />

profissionalismo.<br />

Os recrutadores são unânimes ao afirmar<br />

que são o dinamismo, a responsabilidade e<br />

a comunicação verbal que fazem uma boa<br />

entrevista de estágio. “Estamos sempre<br />

atentos ao surgimento de novos talentos,<br />

de estudantes que possam crescer dentro<br />

da empresa”, ressalta a assistente de recursos<br />

humanos (RH) Fabiana Rodigheri. Próatividade,<br />

foco em resultados e capacidade<br />

de concentração também são importantes.<br />

Para a sócia-gerente de um escritório de contabilidade,<br />

Marli Batista, o estagiário precisa<br />

ter perfil decisivo na empresa e, ao mesmo<br />

tempo, não comprometer na harmonia de<br />

sua equipe de trabalho. “A não adaptação e<br />

a rejeição são extremamente prejudiciais ao<br />

grupo”, analisa.<br />

Esses critérios são avaliados não somente<br />

durante a entrevista, mas no decorrer de<br />

todo o período de contrato, o que dá margem<br />

à efetivação do estudante. “Havendo<br />

demanda de mercado, qualidade técnica e<br />

comprometimento, o estagiário certamente<br />

será contratado”, garante o também assistente<br />

de RH Antônio Ferreira.<br />

Para a coordenadora de relacionamentos<br />

de mercado do Instituto Euvaldo Lodi (IEL),<br />

Emanuele Spaine, o processo de aprendizagem<br />

pode justificar os erros técnicos do<br />

estudante, mas não os problemas comportamentais.<br />

O descomprometimento, de<br />

acordo com Rodigheri, é um dos problemas<br />

mais comuns encontrados. “Chegar sempre<br />

atrasado ou sair mais cedo demonstram falta<br />

de interesse”, diz ela. Marli Batista acredita<br />

que, nesse sentido, a internet prejudica muito<br />

o desempenho dos futuros profissionais.<br />

“Longas conversas no MSN e no Orkut são<br />

hábitos que não devem ser levados para o<br />

ambiente de trabalho”, esclarece.<br />

Para Vinícius Cordeiro, o estágio pode ajudar na<br />

hora de definir a especialização<br />

Mas, de acordo com Spaine, esse tipo de<br />

comportamento está em extinção dentro das<br />

empresas. “Os critérios de seleção estão cada<br />

vez mais rigorosos e somente os estagiários<br />

de ponta são contratados”, afirma. Ela diz<br />

que o mercado de trabalho exige um perfil<br />

completo dos estagiários em todas as áreas.<br />

“A idéia de que alunos de engenharia não<br />

precisam entender de gestão de pessoas, por<br />

exemplo, morreu”, destaca.<br />

Vantagens e desvantagens<br />

O estágio é uma oportunidade de complementação<br />

do aprendizado e inserção do<br />

estudante inexperiente no mercado de trabalho.<br />

Hoje, somente pela rede IEL, quatro<br />

art h u r d o Ca r m o<br />

mil universitários estagiam em Curitiba.<br />

“Este ano, pretendemos inserir mais de 13<br />

mil alunos no mercado”, informa Spaine.<br />

Vinícius Cordeiro é estudante do quinto<br />

período de Economia da UFPR, e há um ano<br />

e meio estagia. Ele define a experiência como<br />

importante para o seu desenvolvimento<br />

profissional. “Saímos um pouco da perfeição<br />

da teoria vista nas aulas e aplicamos esses<br />

conhecimentos”, diz. O aluno do quinto<br />

período de Direito da UFPR Mozart Pereira<br />

tem opinião parecida. Ele estagiou durante<br />

todo o ano de 2007 em um escritório de advocacia.<br />

“Eu fazia de tudo um pouco: escrevia<br />

petições, carregava processos pra lá e pra cá,<br />

ia ao Fórum levar documentos”, conta.<br />

Uma das vantagens do estágio enumerada<br />

pelos universitários é a oportunidade de<br />

conhecer as áreas de trabalho com as quais<br />

se têm mais afinidade. “Isso vai facilitar a<br />

decisão <strong>sobre</strong> em qual setor eu vou me especializar<br />

futuramente”, afirma Cordeiro.<br />

Mas nem todos os empregadores agem<br />

corretamente ao contratar um estagiário.<br />

De acordo com o advogado Ernani Kavalkievicz,<br />

como o estágio não acarreta<br />

vínculo empregatício de qualquer natureza<br />

e, portanto, não onera a empresa com os<br />

encargos trabalhistas, alguns empregadores<br />

maquiam essa relação para adquirir mãode-obra<br />

barata. “O estagiário não deve ficar<br />

somente atendendo telefone ou trabalhando<br />

como office-boy, mas sim praticar a sua<br />

futura profissão”, esclarece Kavalkievicz.<br />

O advogado explica que tais distorções<br />

acontecem pela falta de uma fiscalização<br />

rígida por parte do Estado. “Além disso, a<br />

lei atual não é clara e deixa a negociação<br />

para as partes”, completa.<br />

A nova lei<br />

A <strong>discussão</strong> <strong>sobre</strong> a reformulação da<br />

lei dos estágios passou pelo Senado e pela<br />

Câmara dos Deputados em 2007, e aguarda<br />

sanção presidencial para entrar em vigor.<br />

Uma das mudanças previstas pela nova<br />

regulamentação é a redução da jornada de<br />

trabalho para, no máximo, seis horas diárias.<br />

Segundo Ernani Kavalkievicz, a alteração é<br />

Co:::unicação<br />

maio de 2008 5<br />

importante. “Assim, o aluno tem tempo para<br />

se dedicar à faculdade”, afirma.<br />

De acordo com as regras que vigoram<br />

atualmente a carga horária a ser cumprida<br />

não é específica, mas não pode prejudicar a<br />

freqüência do aluno na universidade. Alguns<br />

empregadores procuram ser flexíveis. “Entendemos<br />

que, às vezes, o estagiário precisa<br />

sair mais cedo para comparecer às aulas, e<br />

isso não compromete seu desempenho”,<br />

garante Antônio Ferreira. Ainda assim, as<br />

reclamações são freqüentes. Mozart Pereira<br />

relata que a longa jornada de trabalho foi<br />

um dos principais motivos que o fizeram<br />

sair do escritório de advocacia. “O estágio<br />

tomava muito tempo, não dava pra fazer<br />

outras coisas”, conta.<br />

O valor da bolsa-estágio também gera<br />

descontentamentos. Em busca de uma renda<br />

maior, muitos universitários, principalmente<br />

aqueles que moram sozinhos ou em repúblicas,<br />

deixam o estágio de lado e optam por<br />

um emprego com vínculos empregatícios.<br />

A estudante de Ciências Sociais da UFPR<br />

Giseli Gonstarski é um exemplo. Ela, que<br />

mora na Casa da Estudante Universitária<br />

de Curitiba e, já foi vendedora de papelaria,<br />

mas agora trabalha em uma instituição de<br />

pesquisa. “O trabalho me proporciona maior<br />

independência financeira e flexibilidade de<br />

horários”, explica a estudante.<br />

Como não existe um piso de remuneração<br />

preestabelecido para os estagiários – a<br />

negociação do valor da bolsa é feita entre o<br />

aluno e o contratante – é possível também<br />

encontrar estudantes satisfeitos. A aluna do<br />

sétimo período de Engenharia Ambiental<br />

da UFPR Maria Luísa de Aguiar estagia há<br />

um mês em sua área. “Sou bem remunerada,<br />

e a empresa oferece vários benefícios”, diz.<br />

Segundo Kavalkievicz, a nova regulamentação<br />

não prevê mudanças significativas nesse<br />

aspecto. “Contudo, a remuneração e a cessão<br />

de vale-transporte tornam-se obrigatórias”,<br />

adianta. Outras novidades são o direito à<br />

férias remuneradas de 30 dias após um ano<br />

dentro da empresa e o período máximo de<br />

contrato de dois anos.<br />

naya r a br a n t e


Co:::unicação<br />

6 maio de 2008<br />

comportamento<br />

ESPIRITUALIDADE A religião ainda ocupa um importante espaço na vida de muitos jovens contemporâneos<br />

A fé segundo a juventude<br />

Ser jovem. “Aproveitem a melhor fase da<br />

vida’’, dizem os pais em nostalgia. Ir a festas<br />

e conhecer os prazeres da liberdade, consolidar<br />

ou estrear amizades, escolher a profissão<br />

a ser seguida pelo o resto da vida. Juventude<br />

combina com música alta, com imediatismo,<br />

com o primeiro carro e com o primeiro amor<br />

– que alguns descobrem em Deus.<br />

Segundo pesquisa encomendada pelo<br />

Comunicação à Agência de Relações Públicas<br />

da UFPR, que ouviu universitários entre<br />

17 e 25 anos, 74% dos entrevistados julgam a<br />

religiosidade algo de grande importância em<br />

suas vidas – 44% desses mantêm o costume<br />

de freqüentar missas ou cultos semanalmente.<br />

Tamanho engajamento é justificado de<br />

maneira unânime: a busca pela fé.<br />

Freqüentador da Igreja Universal, Nathanael<br />

de Lima, 19, envolveu-se com a religiosidade<br />

na época de seu primeiro vestibular. “Precisava<br />

de mais confiança e de algo em que acreditar”,<br />

explica. No seu trajeto diário rumo ao cursinho<br />

pré-vestibular, costumava observar o prédio da<br />

igreja e, certo dia, resolveu conhecer seu interior.<br />

“Fui muito bem recebido e me senti bem<br />

no ambiente. Foi como se eu encontrasse tudo<br />

o que procurava”, revela. O vestibular passou e<br />

sua fé, entretanto, consolidou-se. “Não deixo<br />

mais de vir orar”, conta.<br />

Foi também motivada por uma situação<br />

de angústia que Meiriany Andrade, 18, procurou<br />

apoio na fé. Após perder a mãe em um<br />

trágico acidente automobilístico, a jovem<br />

enfrentou os sintomas de uma depressão<br />

profunda que a levaram ao divã de um psicanalista.<br />

Seis meses após o incidente e sem<br />

observar melhoras em seu quadro médico,<br />

Meiriany seguiu a sugestão de amigos e<br />

acompanhou, pela primeira vez, um culto<br />

religioso. “Ao orar senti um enorme alívio e<br />

bem-estar, coisa que nem as sessões de terapia<br />

conseguiam me proporcionar”, recorda.<br />

A procura por uma religião influenciada<br />

por amigos ou conhecidos não é particularidade<br />

do caso de Meiriany – pelo contrário, é<br />

a causa mais freqüente de novos adeptos às<br />

igrejas, segundo o pastor responsável pelo<br />

grupo de jovens da Igreja Presbiteriana Central,<br />

Wladimir Moura. “Muitos adolescentes<br />

chegam até nosso grupo por indicação de<br />

amigos que já fazem parte das nossas reuniões.<br />

A cada semana esse grupo aumenta”,<br />

conta. A decisão por permanecer ou não<br />

nos encontros, no entanto, é estritamente<br />

pessoal, embora a maioria dos jovens que<br />

visitam o templo pela primeira vez se tornem<br />

freqüentadores assíduos. “A grande maioria<br />

permanece por encontrar novas razões para<br />

viver na fé. E isso ainda resulta em novas amizades<br />

com quem professa a mesma crença,<br />

há identificação, fundamental na juventude”,<br />

explica o pastor, que vê em um dos jovens<br />

desse grupo seu sucessor no templo.<br />

Quando a vocação se manifesta<br />

Arthur Ferreira Martins tinha apenas<br />

cinco anos em 1995. Tomado pela mão, foi<br />

levado pelos pais a um templo presbiteriano,<br />

crença para a qual a família tinha acabado de se<br />

converter. O menino cresceu em meio às poltronas,<br />

às músicas e às citações bíblicas – que,<br />

até então, não lhe significavam muito mais que<br />

a religião que os pais tinham escolhido. Foram<br />

Segundo pesquisa do Comunicação, 44% dos jovens freqüentam missas ou cultos semanalmente<br />

necessários dez anos e um acampamento religioso<br />

para que Arthur descobrisse que aquela<br />

era, antes de tudo, sua própria escolha. Ou<br />

melhor, sua própria vocação.<br />

Em meio a todo o divertimento do<br />

acampamento de que participava junto aos<br />

colegas presbiterianos, Arthur conta que teve<br />

sua primeira experiência pessoal com Deus.<br />

Incerto de como colocá-la em palavras, o<br />

jovem explica: “Deus conversou comigo, eu<br />

o ouvi e soube o que deveria fazer”. Hoje, aos<br />

17 anos, estuda Teologia e prepara-se para se<br />

tornar pastor. Na sua rotina semanal, são dois<br />

cultos e ainda a ‘aula’ que ministra ao restante<br />

dos jovens do grupo, sempre aos domingos:<br />

é nessa escola dominical que ele treina suas<br />

futuras pregações, aos olhos do pastor Wladimir.<br />

“Ele percebeu minha vocação antes<br />

mesmo de eu lhe contar <strong>sobre</strong> o que aconteceu<br />

no acampamento”, diz o futuro pastor.<br />

Claro em relação à sua proximidade com<br />

a fé, Arthur afirma nunca ter sofrido preconceito<br />

quanto a sua forte religiosidade. “Meus<br />

amigos aprenderam a lidar com o fato de que<br />

eu vou ser pastor. E os que não conseguiram<br />

aprender a lidar se afastaram”, explica, enfatizando<br />

que há respeito por sua escolha. “Rola<br />

brincadeira, claro. Me chamam de pastor o<br />

tempo todo, mas também pedem para eu<br />

orar”, conta. A família, por sua vez, o apóia<br />

incondicionalmente. “Sabem que faz bem<br />

para mim”, justifica.<br />

Antes de deixar-se envolver pela fé, Arthur<br />

conta ter tido problemas pessoais, entre<br />

os quais se destacavam os de auto-estima. O<br />

jovem diz ter sofrido de um forte complexo<br />

de inferioridade, superado somente depois<br />

da experiência que compartilhou com Deus.<br />

“Depois disso eu soube que Deus me amava,<br />

e isso foi suficiente para mim. Me bastou. Se<br />

ele me amava, não havia porque me sentir<br />

inferior”, relata. “Passei a me valorizar mais,<br />

e a valorizar os outros, aprendi a amar”,<br />

completa ele.<br />

Hoje, Arthur e seus colegas de templo<br />

formam um grupo chamado Oxigênio, que<br />

trabalha com arte de rua e possui diversas<br />

oficinas, como teatro, percussão e pirofagia.<br />

Juntos, se apresentam em instituições e entidades<br />

carentes, fazendo números artísticos<br />

e palestrando <strong>sobre</strong> os perigos das drogas.<br />

“Repassamos o que aprendemos na igreja,<br />

<strong>sobre</strong> os dogmas. Nada é imposto, aprendemos<br />

a avaliar e a fazer escolhas”, declara.<br />

Várias ou nenhuma religião<br />

Da missa para o templo budista, do templo<br />

para a comunhão: assim se resume a relação<br />

de Gustavo Heiss, 18, com a religiosidade.<br />

De família católica, interessou-se pela filosofia<br />

budista por acaso. “Sempre que ia para a<br />

academia passava pela Praça do Japão [que<br />

abriga a Comunidade Zen-Budista de Curitiba]<br />

e um dia resolvi entrar”, recorda. Ao conhecer<br />

os preceitos da religião, passou a freqüentar<br />

os cultos e os estudos <strong>sobre</strong> eles. “Sempre<br />

gostei de conhecer novas culturas, mas com<br />

o budismo foi diferente. Meditei e senti um<br />

bem-estar que nunca tinha experimentado”,<br />

confessa. Por a religião não requerer exclusividade,<br />

Gustavo concilia suas orações budistas<br />

com as missas tradicionais.<br />

A liberdade religiosa acaba gerando<br />

também a liberdade de não seguir religião<br />

específica – sem que isso afete, no entanto, a<br />

existência da fé. Para Tiago Bandeira, 20, não<br />

freqüentar igrejas ou templos não diminui<br />

sua proximidade com Deus. “Fui batizado<br />

e fiz primeira comunhão, mas não me considero<br />

católico. Sou contra a existência de<br />

instituições, posso rezar e orar com as minhas<br />

palavras e em qualquer lugar”, declara.<br />

É essa ‘proximidade’ com um ser maior,<br />

onipotente e presente que Marianne Anunes,<br />

21, não consegue sentir. Filha de uma<br />

família católica tradicional e praticante, ela<br />

não reluta em contar que não acredita em<br />

Deus. “Passei a desacreditar no Ensino Médio,<br />

quando percebi que tudo pode ser explicado<br />

pela ciência. A partir desse momento<br />

Deus não fez mais sentido”, retrata.<br />

Já Giuliana Pavanelli, 18, se diz agnóstica<br />

– alguém que acredita que a questão da existência<br />

ou não de um poder superior (Deus)<br />

não foi e nem será resolvida. Embora sua mãe<br />

seja católica, a jovem não mantém sequer o<br />

costume de orar em agradecimento ou pedido.<br />

“Acho que rezar não influi no decorrer das coisas.<br />

É mais uma busca por conforto”, defende.<br />

No ano passado, Giuliana teve uma conversa<br />

definitiva com a mãe <strong>sobre</strong> a religião e a falta<br />

dela. “Ela respeita minha posição, e disse que<br />

acredita em Deus por refúgio, porque talvez<br />

não tivesse coragem de não acreditar”, recorda.<br />

“Também respeito a fé de quem acredita em<br />

Deus. Ele pode ser constante na vida dessas<br />

pessoas, mas não é na minha”, conclui.<br />

Confira na editoria de Comportamento<br />

do site do Comunicação (www.jornalcomunicacao.ufpr.br)<br />

mais matérias da série<br />

de reportagens <strong>sobre</strong> juventude.<br />

il a n a StivelberG<br />

Gi o va n a ne i va


ciência e tecnologia<br />

Co:::unicação<br />

maio de 2008 7<br />

CÉLULAS-TRONCO Esperança e hostilidade permeiam debate <strong>sobre</strong> a manipulação de embriões humanos<br />

Futuro das pesquisas continua incerto<br />

Quando a Lei de Biossegurança foi<br />

aprovada, há três anos, o principal debate<br />

girava em torno dos alimentos transgênicos,<br />

justamente o motivo pelo qual ela havia sido<br />

elaborada. Hoje, discute-se seu quinto artigo,<br />

que especifica as condições para as pesquisas<br />

com <strong>células</strong>-<strong>tronco</strong> <strong>embrionárias</strong>. De um lado,<br />

instituições como a Igreja defendem a integridade<br />

dos embriões humanos. De outro, há a<br />

esperança de que doenças como a diabetes e o<br />

mal de Alzheimer possam ser curadas.<br />

Para as pesquisas científicas, a principal<br />

fonte de <strong>células</strong>-<strong>tronco</strong> <strong>embrionárias</strong> é a<br />

fertilização in vitro. O procedimento consiste<br />

na geração de quatro ou mais embriões em laboratório,<br />

dos quais dois são implantados no<br />

útero da mulher, para que um se desenvolva.<br />

Os embriões que não são utilizados permanecem<br />

congelados, para o caso de implantação<br />

futura, ou são descartados. Eles são o maior<br />

ponto de divergência no que diz respeito às<br />

pesquisas com <strong>células</strong>-<strong>tronco</strong> <strong>embrionárias</strong>. A<br />

ciência reivindica esses embriões, já que provavelmente<br />

eles não serão mais utilizados para<br />

a geração de fetos. Isso porque, para alguns<br />

especialistas, os embriões provenientes da<br />

fertilização in vitro têm grandes chances de se<br />

tornarem inviáveis para fins de gestação após<br />

três anos de congelamento. A comprovação<br />

da inviabilidade, no entanto, ainda não é possível.<br />

No ano passado, nasceu em São Paulo<br />

um menino a partir de um embrião congelado<br />

durante oito anos. A viabilidade imprevisível<br />

dos excedentes é um dos principais argumentos<br />

da Igreja ao discordar das pesquisas.<br />

Atualmente, a legislação prevê o uso dos<br />

embriões excedentes pela ciência, desde que<br />

eles estejam congelados há pelo menos três<br />

anos, haja o consentimento dos genitores e a<br />

aprovação do processo por comitês de ética.<br />

Existe até mesmo a possibilidade da doação<br />

de embriões. Hoje, no Brasil, há cerca de<br />

três mil embriões congelados. O destino a<br />

ser dado a eles é a essência da <strong>discussão</strong> em<br />

torno da Lei de Biossegurança.<br />

Para alguns especialistas, o processo da<br />

fertilização in vitro não está sendo discutido<br />

tanto quanto deveria. É o caso do médico e<br />

presidente da Sociedade Brasileira de Bioética<br />

no Paraná (SBB), José Eduardo de Siqueira.<br />

Segundo ele, a <strong>discussão</strong> a respeito dos<br />

embriões excedentes poderia ser resolvida se<br />

a medicina fosse capaz de garantir a gestação<br />

com apenas um embrião. Sem novos excedentes,<br />

parte da questão estaria solucionada<br />

“<br />

A <strong>discussão</strong><br />

gira em torno de<br />

saber se os embriões<br />

têm os mesmos<br />

direitos de proteção<br />

que o feto, ou<br />

mesmo que a pessoa<br />

humana”<br />

Adriana Corrêa,<br />

a d v o g a d a<br />

Para Karam Saab, a superioridade terapêutica das <strong>células</strong>-<strong>tronco</strong> <strong>embrionárias</strong> ainda é duvidosa<br />

“<br />

– bastaria então resolver o que fazer com os<br />

embriões já congelados. “O ideal é que se<br />

refine a técnica. Hoje os resultados variam<br />

muito, a depender da paciente”, aponta.<br />

Em 1986, quando foi criado o Centro<br />

Paranaense de Fertilidade, o índice de sucesso<br />

da fertilização in vitro girava em torno de 10%.<br />

Agora, o aperfeiçoamento da técnica aumentou<br />

as chances para 40%. Ainda assim, não há<br />

um consenso <strong>sobre</strong> o número de embriões a<br />

ser produzido, pois a resolução nº 1358/1992<br />

do Conselho Federal de Medicina, que regulamenta<br />

a reprodução assistida, não estabelece<br />

um limite máximo. O diretor do Centro, Karam<br />

Abou Saab, acredita que a geração de mais de<br />

dois embriões não precisa ser feita em todos os<br />

casos. “Apenas eventualmente, em casos especiais,<br />

como os de mulheres acima de 40 anos,<br />

podemos produzir três ou quatro embriões”,<br />

diz. Saab ainda lembra, em seu artigo intitulado<br />

Não Briguemos com o Papa, publicado na época<br />

da visita de Bento XVI ao Brasil: “Não está<br />

definido ainda se as <strong>células</strong>-<strong>tronco</strong> de origem<br />

embrionária são melhores [terapeuticamente]<br />

que as obtidas de outros tecidos adultos”.<br />

Em alguns centros de pesquisa, já existem<br />

estudos que visam obter <strong>células</strong>-<strong>tronco</strong> tão<br />

eficientes quanto as <strong>embrionárias</strong> por outros<br />

meios. Há dois anos, um grupo de cientistas<br />

dos Estados Unidos foi bem sucedido ao ‘reprogramar’<br />

<strong>células</strong> adultas em camundongos<br />

para que se tornassem pluripotentes – capazes<br />

Não está<br />

definido ainda se<br />

as <strong>células</strong>-<strong>tronco</strong> de<br />

origem embrionária<br />

são melhores<br />

[terapeuticamente] que<br />

as obtidas de outros<br />

tecidos adultos”<br />

Karam Saab,<br />

diretor d o centro pa r a n a e n s e d e fe r t i l i d a d e<br />

de se diferenciar em <strong>células</strong> de diferentes tecidos.<br />

Desde então, busca-se uma maneira de<br />

repetir o procedimento em seres humanos.<br />

Outra linha de pesquisa que se desenvolve<br />

é a do tratamento de doenças utilizando<br />

<strong>células</strong>-<strong>tronco</strong> <strong>embrionárias</strong> obtidas através<br />

da clonagem terapêutica (proibida no Brasil).<br />

Em março deste ano, pesquisadores do<br />

Instituto Sloan-Kettering, em Nova York<br />

(EUA), conseguiram tratar cobaias com mal<br />

de Parkinson dessa forma. A técnica consiste<br />

em injetar o núcleo de uma célula adulta em<br />

um óvulo que teve seu núcleo previamente<br />

ar q u i vo PeSSoal<br />

removido. Dessa forma, o óvulo dá origem a<br />

um embrião geneticamente compatível com<br />

o doador da célula, o que reduz as chances de<br />

rejeição. A utilização desse procedimento em<br />

seres humanos, porém, também gera polêmica<br />

[veja entrevista da página 02].<br />

Uma questão maior<br />

O debate é agravado pelo fato de não haver<br />

um consenso <strong>sobre</strong> o início biológico da<br />

vida. “A <strong>discussão</strong> gira em torno de saber se os<br />

embriões têm os mesmos direitos de proteção<br />

que o feto, ou mesmo que a pessoa humana”,<br />

explica a advogada Adriana Corrêa. A atual<br />

divergência foi iniciada por uma ação de<br />

inconstitucionalidade contra a Lei de Biossegurança,<br />

que começou a tramitar apenas dois<br />

meses após esta ter sido sancionada pelo presidente<br />

Lula. Segundo a ação, o artigo cinco<br />

da Lei desrespeita o preceito constitucional de<br />

inviolabilidade da vida. “Um dos argumentos<br />

do ex-procurador-geral da República, Cláudio<br />

Fonteles, responsável pela ação, é também<br />

o de que a lei foi implantada sem <strong>discussão</strong><br />

suficiente”, diz Corrêa. Agora, a ação de inconstitucionalidade<br />

está sendo julgada pelo<br />

Supremo Tribunal Federal (STF), embora<br />

esteja temporariamente interrompida, e sem<br />

previsão para ser retomada. Até que o STF<br />

defina a questão, as pesquisas com <strong>células</strong><strong>tronco</strong><br />

<strong>embrionárias</strong> estão suspensas.<br />

Outras questões éticas também permeiam<br />

a <strong>discussão</strong>. “Saber até que ponto nos<br />

é permitido intervir em processos naturais,<br />

como as próprias doenças, é uma questão<br />

complexa”, diz o presidente da SBB, José<br />

Eduardo de Siqueira. Fora isso, existe o fato<br />

de que tratamentos efetivos podem levar anos<br />

para surgir. “Projeções otimistas apontam<br />

que podem se passar dez anos para que as<br />

doenças degenerativas possam ser curadas”,<br />

informa o médico. A imprensa brasileira, no<br />

entanto, tem dado mais destaque ao lado<br />

promissor das pesquisas do que ao tempo<br />

necessário para que novos tratamentos se tornem<br />

viáveis. “É preciso cautela ao se divulgar<br />

novas pesquisas, pois as expectativas geradas<br />

podem prejudicar o debate”, alerta ele.<br />

Para Corrêa, a <strong>discussão</strong> não deveria girar<br />

em torno do início biológico da vida. “Ela deve<br />

levar em conta os interesses do mercado <strong>sobre</strong><br />

as pesquisas com <strong>células</strong>-<strong>tronco</strong>, pois os tratamentos<br />

podem gerar grande retorno financeiro”,<br />

opina. Em países como Inglaterra e Holanda as<br />

pesquisas já estão sendo realizadas há meses, o<br />

que gera expectativa com relação ao Brasil.<br />

Outros métodos<br />

Enquanto se discute o uso de <strong>células</strong><strong>tronco</strong><br />

<strong>embrionárias</strong>, tratamentos utilizando<br />

as chamadas hematopoiéticas – provenientes<br />

da medula óssea e capazes de se diferenciar<br />

em <strong>células</strong> sangüíneas – já são realizados<br />

há anos. O Hospital de Clínicas (HC) da<br />

UFPR, por exemplo, utiliza desde 1979<br />

essas <strong>células</strong>-<strong>tronco</strong> provenientes da medula<br />

óssea. “Esse procedimento já nos permite<br />

tratar uma série de doenças sangüíneas,<br />

como os vários tipos de leucemia”, conta a<br />

hematologista do HC Daniela Setúbal.<br />

Gu i l h e r m e d e So u z a


Co:::unicação<br />

8 maio de 2008<br />

cultura<br />

MEIO UNIVERSITÁRIO Pesquisa mostra os hábitos de leitura dos estudantes da UFPR<br />

O pior cego é aquele que não quer ler<br />

Os índices de leitura do Brasil são<br />

considerados baixos até mesmo quando<br />

comparados com os de demais países<br />

latino-americanos. Em 2006, segundo o<br />

Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada<br />

(IPEA), o brasileiro lia em média 1,8 livro<br />

não-acadêmico anualmente. No mesmo<br />

ano, a Colômbia registrava uma média de<br />

2,4 livros/ano. Estados Unidos e Inglaterra<br />

batiam os cinco, enquanto países como a<br />

França chegavam a sete.<br />

Mas, e no meio universitário brasileiro,<br />

quais são os índices de leitura? De acordo<br />

com pesquisa da Agência de Relações<br />

Públicas da UFPR encomendada pelo<br />

Comunicação, que ouviu 393 estudantes<br />

da entre os dias 1º e 18 de abril, 45,8% dos<br />

alunos da Universidade lêem de um a cinco<br />

livros por ano, e apenas 24,2% ultrapassam<br />

a casa dos dez livros anuais. Dos entrevistados,<br />

61,8% disseram que lêem mais livros<br />

acadêmicos do que de ficção, embora este<br />

seja o gênero preferido de 54,7%. A preferência<br />

dos universitários ainda ficou distribuída<br />

entre os seguintes gêneros: contos<br />

e crônicas (32,8%), biografias (15,3%),<br />

poesia (10,7%), auto-ajuda (4,3%) e outros<br />

(2,5%). Em comparação, outra pesquisa,<br />

feita pela divisão de Extensão da Biblioteca<br />

Pública do Paraná (BPP), mostrou que<br />

os livros de literatura abocanham 20% da<br />

preferência dos freqüentadores, enquanto<br />

os de auto-ajuda e os científicos ficam com<br />

17% cada um.<br />

Ainda segundo a Agência de Relações<br />

Públicas, 46,3% dos entrevistados disseram<br />

ler tanto por obrigação quanto por ‘lazer’,<br />

enquanto 23% afirmaram ler apenas por<br />

obrigação e 13,5% somente por ‘lazer’.<br />

O aluno de Engenharia Química da<br />

UFPR Ricardo Storrer, por exemplo, comenta<br />

que seu tempo disponível para leitura de<br />

‘lazer’ diminuiu exponencialmente desde<br />

que passou no vestibular. “Para os alunos<br />

dos cursos de Exatas o incentivo por parte<br />

de Universidade é muito fraco – excetuando,<br />

é claro, os livros tecnológicos”, conta.<br />

Preço: empecilho ou desculpa?<br />

Para o coordenador do Departamento de<br />

Literatura da Fundação Cultural de Curitiba<br />

(FCC), Mauro Tietz, é uma contradição que<br />

um país com índices de leitura baixos como<br />

o Brasil tenha uma indústria editorial com<br />

lucros “exorbitantes”. “O valor dos livros no<br />

Brasil é vergonhoso”, enfatiza. Mesmo assim,<br />

Tietz acredita que isso não pode servir de<br />

desculpa para a não-leitura, já que existem<br />

alternativas como as bibliotecas públicas e,<br />

para aqueles que gostam de adquirir volumes<br />

expediente<br />

O Comunicação é uma publicação do curso de Jornalismo da<br />

Universidade Federal do Paraná, com a participação de alunos<br />

das disciplinas de Laboratório de Jornalismo Impresso e Laboratório<br />

Avançado de Jornalismo Impresso.<br />

Professor or i e n t a d o r: Mário Messagi Jr. (jornalista responsável<br />

- DRT 2963/PR).<br />

ed i t o r a Ch e f e: Renata Ortega.<br />

se C r e t á r i o d e re d a ç ã o (imPresso): Sandoval Poletto. su b s e-<br />

C r e t á r i a: Manuela Salazar.<br />

As bibliotecas públicas são uma alternativa aos altos preços dos livros no Brasil<br />

sem pagar muito por eles, os pocket books –<br />

ou livros de bolso –, formato em que as obras<br />

custam em torno de 50% menos.<br />

O empréstimo de livros em bibliotecas<br />

ou entre parentes e amigos revelou-se a alternativa<br />

de 30,5% dos 393 entrevistados pela<br />

pesquisa encomendada pelo Comunicação.<br />

Outros 43,3% disseram preferir comprá-los<br />

em sebos ou livrarias, enquanto 26,2% tanto<br />

emprestam quanto adquirem obras.<br />

A aluna de Radiologia da UFPR Ébera<br />

Ascencio costuma emprestar livros, desde<br />

o Ensino Fundamental, no Farol do Saber<br />

Roberto Barrozo, do bairro Novo Mundo.<br />

Apesar de considerar o acervo relativamente<br />

pequeno, conta que já leu mais de<br />

400 volumes dessa biblioteca. “Tive uma<br />

professora que nos obrigava a ler um livro<br />

por semana. No começo, eu detestava por<br />

ser cansativo, mas, com o tempo, comecei<br />

a tomar gosto e adquiri o hábito. Leio por<br />

prazer até hoje”, conta.<br />

O método adotado pela professora de<br />

Ébera é o mais eficiente para incentivar a<br />

leitura, de acordo com a professora de literatura<br />

do Colégio Modelo, Elaine Vieira. “É<br />

fácil perceber a diferença entre uma criança<br />

que foi estimulada a ler desde pequena e<br />

uma que não teve nenhum tipo de incentivo”,<br />

afirma.<br />

O escritor e professor da UFPR, Cristóvão<br />

Tezza, concorda. Segundo ele, o fato<br />

da alfabetização só ter entrado na pauta da<br />

nação há “uns 30 ou 40 anos” contribui para<br />

que o Brasil ainda não seja um país leitor.<br />

“Para mudar esse perfil, só através de escola,<br />

de educação, de bibliotecas e de acesso permanente<br />

à cultura escrita”, resume.<br />

Na mesma linha, Mauro Tietz atribui os<br />

baixos índices nacionais de leitura à exclusão<br />

da arte e da cultura da vida da maioria das<br />

pessoas. Para ele, isso se deve à mudança<br />

ocorrida nos currículos escolares, mesmo<br />

nos de nível superior, nas últimas décadas.<br />

“Existem algumas tentativas de reculturalização<br />

do ensino, mas são isoladas”, afirma.<br />

se C r e t á r i a d e re d a ç ã o (o n-l i n e): Aline Baroni. subseCretár<br />

i a: Iasa Monique. Webmaster: Tiago Capdeville.<br />

Co m u n i C a ç ã o in s t i t u C i o n a l: André Marques assessor d e Com<br />

u n i C a ç ã o: Tiago Cegatta.<br />

Ch e f e d e rePortagem: Rodney Caetano.<br />

edi t o r e s: CiênCia e te C n o l o G i a: Suelen Trevizan. Com P o rta<br />

m e n t o : Giovana Neiva. Cult u r a: Amanda Audi. eSP o rteS:<br />

Danilo Hatori. Ger a l: Poli Brito e Raphael Ramirez.<br />

oPinião: Vanessa Prateano. PolítiCa: Fábio Pupo e Thaíse<br />

Mendonça. uFPr: Amanda Menezes e Chico Marés. Foto -<br />

Ju l i a Gu e d e S<br />

Medidas de incentivo<br />

Para reverter o quadro apontado em<br />

2006 pelo IPEA, os ministérios da Cultura<br />

e da Educação lançaram em março daquele<br />

ano o Plano Nacional do Livro e da Leitura<br />

(PNLL), um conjunto de projetos para a<br />

formação de novos leitores. O PNLL tem<br />

quatro eixos condutores: a valorização da<br />

leitura e da comunicação, a democratização<br />

do acesso, o fomento a novos leitores e o<br />

desenvolvimento da economia do livro. Seu<br />

principal objetivo é aumentar em 50%, ou<br />

seja, para 2,7, a média de livros não-acadêmicos<br />

lidos anualmente pelo brasileiro.<br />

Em Curitiba, há algumas instituições que<br />

promovem ações com o intuito de melhorar<br />

os índices de leitura na cidade. A FCC, por<br />

exemplo, mantém o Programa de Incentivo<br />

à Leitura. Trata-se de um projeto que desenvolve<br />

conjuntos de atividades embasadas<br />

em pesquisas a respeito de determinado<br />

autor ou obra, e as leva para as bibliotecas<br />

coordenadas pela Fundação (localizadas<br />

nas Ruas da Cidadania e no Farol do Saber<br />

da Praça 29 de Março), a fim de divulgar o<br />

escritor ou livro. Outros projetos são a Casa<br />

da Leitura do Parque Barigüi e a organização<br />

de pesquisas na área de literatura.<br />

Mesmo assim, Mauro Tietz salienta que<br />

ainda há muito a ser feito. “O cenário de<br />

Curitiba, assim como do resto do Brasil, é<br />

extremamente difícil. Às vezes temos a impressão<br />

que estamos dando murro em ponta<br />

de faca”, desabafa.<br />

Além da FCC, a BPP também tem<br />

estratégias para conquistar novos leitores.<br />

De acordo com a coordenadora da Seção<br />

de Referência e Informação, Alice Ywatsugu,<br />

a Biblioteca possui um setor que coordena<br />

exposições, palestras e encontros<br />

com escritores. Além disso, disponibiliza<br />

para empréstimo quase todo o acervo de<br />

350 mil volumes, para 135 mil usuários<br />

que retiram da Biblioteca cerca de 1600<br />

livros diariamente.<br />

Fora isso, há uma idéia nova circulando:<br />

trata-se do projeto Perca um Livro. A<br />

prática, conhecida também como bookcroosing,<br />

já existe em vários países, e tem o<br />

intuito de tornar cada cidade ‘uma grande<br />

biblioteca’. Para participar, você precisa<br />

cadastrar um livro no site oficial (http://<br />

livr.us), imprimir a etiqueta com seu código<br />

único e colá-la na contracapa do volume<br />

correspondente. Depois, basta ‘perdê-lo’ em<br />

um local público. Quem encontrá-lo será<br />

orientado pela etiqueta a, após ler o livro,<br />

recomeçar o ciclo.<br />

Keilla rebelo<br />

G r a F i a: Fernanda Trisotto.<br />

Ca P a: Augusto Kraft. Ch a r g e: Antoni Wroblewski. Pl a n e j am<br />

e n t o gr á f i C o e di a g r a m a ç ã o: Renata Bossle.<br />

endereço: Rua Bom Jesus, 650 – Juvevê – Curitiba-PR<br />

telefone: (41) 3313-2032.<br />

e-m a i l: jornalcomunicacao@ufpr.br.<br />

site: www.jornalcomunicacao.ufpr.br<br />

ti r a g e m: 4 mil exemplares.<br />

imPressão: Gráfica O Estado do Paraná.

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