You also want an ePaper? Increase the reach of your titles
YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.
Conto 4<br />
Iohen<br />
CONTOS DE GUERRA CRAÔS — 16 — JULIO CEZAR MELATTI<br />
Narrada a Melatti provavelmente por Esteves<br />
(Itxẽk Hëktókót), em 15-11-63 (tradução para o<br />
inglês em Wilbert e Simoneau, 1984, pp. 338-<br />
340).<br />
Um rapaz daqui estava caçando veado na chapada. Antigamente havia muito<br />
veado. Enxergou rastro <strong>de</strong> porco queixada. Quando voltou, contou ao povo, <strong>de</strong><br />
manhã. Ainda pela manhã, o governador falou com o povo: “Amanhã nós vamos<br />
levar só mulher solteira, sem filhos.” Mandaram um rapaz botar para fora (do<br />
mato?) os porcos queixadas. O rapaz apanhou a buzina, tocou-a até pôr para fora<br />
os porcos queixadas. Os velhos disseram: “Vocês <strong>de</strong>ixem Iohen — chefe <strong>de</strong><br />
partido — flechar primeiro.” E ele flechou primeiro. O genro <strong>de</strong>le flechou três<br />
porcos queixadas. A mulher <strong>de</strong> Iohen avisou: “Não, awawï (marido da tua irmã) já<br />
flechou porco queixada; talvez sua irmã já moqueou.” Iohen foi a casa da irmã<br />
<strong>de</strong>le: “Ipantumẽtxi, eu venho aqui, talvez você arrange um pouco <strong>de</strong> carne para eu<br />
pôr no grolado.” “Meu irmão, a carne não está boa não, a carne está crua.” Aí<br />
Iohen ficou com vergonha. O marido <strong>de</strong>la só estava escutando. “Bom, só para isso<br />
eu vim; vou embora.” Aí o marido falou: “Oh, como é que você está fazendo<br />
assim; podia você ... (ilegível) seu irmão; <strong>de</strong>ixa cortar, para comer para esperar a<br />
mulher <strong>de</strong>le; você não está com vergonha?”<br />
Iohen ficou com vergonha e raiva da esposa, porque a irmã não lhe <strong>de</strong>u<br />
carne. Aí a mulher ofereceu porco a Iohen e ele se zangou e não comeu. “Não,<br />
não fique zangado comigo não.” Mas ele só escutou e não respon<strong>de</strong>u. Aí a mulher<br />
moqueou porco queixada. Fez cama e <strong>de</strong>itou. Quando estava bom, tirou do<br />
moquém e jogou ao pé <strong>de</strong> Iohen; tirou palha, agitou o abano para esfriar. A<br />
mulher conversou até que ele comeu. “Eu como, foi você que contou, mas eu<br />
como, mas eu fiquei com vergonha.”<br />
De madrugada, o povo estava tirando toras para correr para a al<strong>de</strong>ia. De<br />
manhã, ele arrumou o cofo da mulher <strong>de</strong>le e armas e tudo: “Po<strong>de</strong> ir adiante,<br />
quando chegar, eu vou dizer para você.” Aí a mulher chegou primeiro e Iohen<br />
chegou <strong>de</strong>pois com tora. A mãe <strong>de</strong> Iohen estava na al<strong>de</strong>ia; não tinha saído não.<br />
Ela falou com a filha: “Você <strong>de</strong>u carne para Iohen?” “Não.” A mãe apanhou a<br />
banda <strong>de</strong> porco queixada e foi para o outro lado. Iohen estava <strong>de</strong>itado na casa da<br />
sogra. Não queria (um pouco ilegível) o porco que a mãe oferecia. A sogra<br />
apanhou-o: “Come, come um pedaço, fui eu quem <strong>de</strong>u para você.” Iohen só<br />
escutou, porque ele era quem mandava na al<strong>de</strong>ia.<br />
Entar<strong>de</strong>cia. Ele foi com a mulher para a fonte. Banharam-se. Ele falou:<br />
“Quebre carvão para mim.” Queria pôr enfeite (pintar) na boca. A mulher <strong>de</strong>le<br />
chorou e disse: “Para que você quer carvão?” Ela já estava sabendo que ele ia<br />
morrer com flecha. “Bom, eu vou ao pátio.” Estavam to<strong>dos</strong> no pátio. Uma mulher<br />
velha o enxergou: “Aquele homem não vai governar mais a al<strong>de</strong>ia não. Ele vai<br />
morrer.” Os companheiros estavam esperando por ele. “Amanhã nós vamos tirar<br />
olho <strong>de</strong> buriti; minha casa (cama?) já está muito velha, não presta.” Duas<br />
raparigas chamaram Iohen. Ele sentou entre elas. Elas pelejaram, pegaram nas