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Conto 10<br />
Txuaret<br />
CONTOS DE GUERRA CRAÔS — 32 — JULIO CEZAR MELATTI<br />
Narrada a Melatti por Diniz em 26-03-71<br />
(tradução para o inglês em Wilbert e Simoneau,<br />
1984, pp. 316-318).<br />
Txuaret reuniu três al<strong>de</strong>ias para atacar uma al<strong>de</strong>ia (talvez <strong>dos</strong> mã’krare). E<br />
vinham vindo. Arrancharam a uma distância como daqui no varedão (área <strong>de</strong> chão<br />
úmido e fofo, perto da al<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> Cachoeira, da qual o narrador é chefe).<br />
Um índio <strong>de</strong>ssa al<strong>de</strong>ia andava caçando veado. Os vea<strong>dos</strong> só corriam para o<br />
canto (área apertada entre morros). Ele <strong>de</strong>sconfiou. Chegou no alto e viu fumaça.<br />
E viu barracas: eram muitas. Ele correu para avisar à al<strong>de</strong>ia. E veio gritando e o<br />
povo ajuntou no pátio. O “governador” lhe perguntou: “O que você viu? Será<br />
porco, será índio?” “Eu vi índio mesmo, é inimigo, vem atacar a al<strong>de</strong>ia, lá naquela<br />
cabeceira.” Dois rapazes disseram: “É conversa, ele viu foi porco queixada.” Aí<br />
ele se danou e voltou, foi para a casa. Os outros disseram: “Deixe ele contar<br />
primeiro!” Seu “compadre” (hõpin) pediu para o chamar. E ele veio comendo<br />
batata na cuia na direção do pátio. Quando chegou, perguntaram-lhe: “Como é,<br />
você viu mesmo? Porque seu hõpin está chamando você para contar a verda<strong>de</strong>,<br />
para a gente ficar sabendo.” “Não, não é porco não, é gente mesmo que vem<br />
atacar a al<strong>de</strong>ia.” Outro rapaz disse: “Eu estava duvidando, mas vou lá para ver.” E<br />
pôs o arco no ombro e correu. Foi lá, viu e voltou: “Não, não é mentira <strong>de</strong>le não, é<br />
certo, eu vi!” Dois rapazes foram ver lá perto também. E correram. Viram e<br />
voltaram. E contaram: “Não é mentira <strong>de</strong>le não, é certo, eu vi!” E outro foi ver<br />
também.<br />
E na al<strong>de</strong>ia mesmo combinaram: “Como vamos fazer?” Os mais novos<br />
falaram com os mais velhos: “É este povo que gosta <strong>de</strong> atacar esta al<strong>de</strong>ia e<br />
aproveitar batata, inhame e comida daqui mesmo, porque lá não trabalha, vem só<br />
atacar a al<strong>de</strong>ia daqui para aguentar.” “Como vamos fazer, para não correr daqui?”<br />
Os mais novos disseram: “Vamos fazer assim: não po<strong>de</strong>mos topar aqui na al<strong>de</strong>ia;<br />
vamos encontrá-los lá on<strong>de</strong> estão arrancha<strong>dos</strong>.” “É, assim está bom.” O<br />
“governador” falou: “E vamos escolher quem é mais alto e mais grosso para nós<br />
empenarmos (emplumarmos) e para nós não corrermos. Se nós não emplumarmos<br />
outro, nós vamos correr e estragar o <strong>de</strong> comer.” O “governador” falou: “Assim<br />
está bom.” E viram homem forte, alto e grosso e o emplumaram. E foram saindo<br />
lá para o rumo <strong>de</strong> Txuaret. Então foram andando. Já era tar<strong>de</strong>. Foram <strong>de</strong>vagar. Já<br />
<strong>de</strong> tardinha andavam.<br />
Um <strong>dos</strong> do povo <strong>de</strong> Txuaret estava caçando e estava escavando toca <strong>de</strong> tatu<br />
no meio da estrada. O povo o viu e disse: “Outro está tirando tatu daqui, vamos<br />
ver.” A arara preta dava volta por cima daquele que estava escavando buraco <strong>de</strong><br />
tatu. O povo foi andando para o rumo <strong>de</strong> Txuaret e pegou um coco e jogou por<br />
cima do homem que estava escavando tatu. O homem pegou o coco e falou para<br />
as araras: “Segura com o bico; você está apanhando com o bico e está soltando<br />
aqui, segura com o bico. Se você soltar aí no meio, aí dá na minha cabeça.” O<br />
povo ficou quieto, tornou a dar a volta e jogou outro coco. O homem falou a<br />
mesma coisa. E o povo foi andando. O homem largou o tatu e foi andando atrás.