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Contos de Guerra dos Índios Craôs

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Vieram três apanhãmekra. Buzinaram e ele mandou o irmão: “Vá ver quem<br />

está chegando.” O irmão disse: “Ah, esse aí falou <strong>de</strong> você, que você é feio, não<br />

vale nada, que não tem força no braço.” O irmão estava só mentindo. Txórtxó<br />

falou: “Deixe estar amanhã vão sair to<strong>dos</strong> alegres para a al<strong>de</strong>ia <strong>de</strong>les.” Entrou e<br />

<strong>de</strong>itou. Quando era noite, ficou sentado; a rapaziada disse: “Vamos embora<br />

<strong>de</strong>itar.” Viu o lugar on<strong>de</strong> os três apanhãmekra tinham <strong>de</strong>itado. Txórtxó conversou,<br />

conversou, e foi embora. Quando to<strong>dos</strong> dormiam, ele veio e matou os três,<br />

embrulhou-os e foi embora. O dia amanheceu e disseram: “Vão acordar aquele<br />

povo para banhar.” Abriram e estavam mortos. Não disseram nada e sepultaram.<br />

Passaram uns <strong>de</strong>z dias vieram cinco apanhãmekra. Buzinaram. Txórtxó<br />

mandou o irmão: “Sai e vê quem vem.” “Vêm cinco, to<strong>dos</strong> falaram <strong>de</strong> você, que<br />

você é menino que não sabe terminar serviço.” “É, <strong>de</strong>ixa.” De noite fez a mesma<br />

coisa. Sentando, quando to<strong>dos</strong> dormiram, matou to<strong>dos</strong> os cinco e embrulhou-os<br />

com a esteira. Amanheceu e falaram: “Levantem aquele povo, vamos embora<br />

banhar.” Mas estavam mortos. E os botaram no buraco.<br />

Aí os mã’krare combinaram: “Mas quem é que está fazendo assim? Agora<br />

vamos ver se aparece este matador.” Combinaram fora (na ausência) <strong>de</strong> Txórtxó e<br />

ele não estava sabendo. No outro dia veio um apanhãmekra. Chegou. Txórtxó já<br />

tinha matado mais <strong>de</strong> cem pessoas. O povo disse: “Agora vamos ver esse<br />

matador.” Txórtxó fez a mesma coisa: matou e foi embora. Bem cedo ajuntaram<br />

no centro, já estavam combina<strong>dos</strong> e não sabiam quem tinha matado. “Quem está<br />

fazendo isso venha acabar <strong>de</strong> matar, <strong>de</strong>ixando o homem sofrer.” Txórtxó pensou:<br />

“Como é que está vivo? Eu matei direito, foi com toda a força! Como é que ele<br />

levantou?” Puxou a borduna e foi para o centro. Aí todo o mundo viu. Ele<br />

<strong>de</strong>stampou e bateu com força na barriga e na testa: “Como é que ele levanta? Está<br />

morto!” “Ah, é Txórtxó que está fazendo isso!”<br />

Aí o pessoal conversou com o amigo <strong>de</strong> Txórtxó para que, quando chegasse<br />

outro, levasse para longe. Quando chegou outro apanhãmekra, o amigo (amigo<br />

formal?) foi falar com Txórtxó: “Agora você <strong>de</strong>ixa isso, vamos matar lá longe.”<br />

Estava só mentindo; eles queriam matar Txórtxó. No outro dia levaram-no para<br />

longe. O homem que havia chegado estava cantando. Quando chegava alguém, ele<br />

perguntava: “Quem é que vem aí?” Txórtxó chegou com a borduna amarrada no<br />

pescoço. O apanhãmekra perguntou: “É ele mesmo que já vem?” “É.” Aí o<br />

apanhãmekra cantou remedando Txórtxó. Aí este veio <strong>de</strong>pressa mesmo, no rumo<br />

<strong>de</strong>le. Chegou, ro<strong>de</strong>ou: “Como é que você está dizendo?” E bateu-lhe na cabeça.<br />

Acabou <strong>de</strong> matar o apanhãmekra. Aí os Mãkraré avançaram para Txórtxó e<br />

chegaram <strong>de</strong> flecha, mas ele se <strong>de</strong>sviava e as flechas não pegavam nele; até que as<br />

flechas se acabaram. Aí Txórtxó começou a tomar os arcos. Tomou os arcos <strong>de</strong><br />

todo mundo. Fez um gran<strong>de</strong> feixe <strong>de</strong> arcos e caminhou para o rumo <strong>de</strong> casa.<br />

Quando chegou, já tinham matado a avó — mãe da mãe — <strong>de</strong>le. Ele ficou<br />

zangado. Pôs os arcos num canto. Sua avó foi enterrada. Ele estava em casa e<br />

ninguém entrava nela. Só estava <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> casa e não saía. Todo pessoal <strong>de</strong>le<br />

estava sem saber <strong>de</strong> Txortxó. Não tinham arco.<br />

Passaram cinco dias e o pessoal conversou com o amigo — hõpin — <strong>de</strong>le:<br />

“Fala com ele para entregar logo os arcos, para a gente caçar.” O amigo foi. E<br />

falou: “Agora, meu amigo, você vai entregar as armas do pessoal, que estão com<br />

as mãos limpas e estão achando ruím, tenha a bonda<strong>de</strong> <strong>de</strong> entregar; eles não<br />

fizeram nada com você.” “Está bem. Vou entregar, mas que eles venham amanhã<br />

CONTOS DE GUERRA CRAÔS — 40 — JULIO CEZAR MELATTI

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