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DE ROBERTO JEFFERSON - Época

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38<br />

BRASIL<br />

E apareceu um la<br />

A incrível história do sorveteiro que ganhou duas emissoras de<br />

rádio do deputado Roberto Jefferson, o pivô da CPI dos Correios<br />

NELITO FERNAN<strong>DE</strong>S<br />

Ohomem em que o presidente Luiz<br />

Inácio Lula da Silva diz confiar<br />

a ponto de lhe dar um cheque em<br />

branco usa um sorveteiro para esconder<br />

seu patrimônio. Ex-motorista, ex-segurança<br />

e ex-funcionário do gabinete do<br />

deputado Roberto Jefferson (PTB-RJ) e<br />

hoje dono de uma sorveteria de beira de<br />

estrada em Cabo Frio, no litoral norte do<br />

Rio de Janeiro, Durval da Silva Monteiro<br />

também é sócio de duas emissoras<br />

de rádio no interior fluminense.<br />

Durval, porém, nunca recebeu um tostão<br />

dos lucros das emissoras e seu padrão<br />

de vida está longe do que seria razoável<br />

para um empresário das comunicações.<br />

O fornecimento de energia de<br />

sua loja está cortado por falta de pagamento.<br />

Antes de vender sorvetes, Durval<br />

era camelô nas ruas de Três Rios, Rio<br />

de Janeiro, reduto eleitoral de Jefferson.<br />

Durval diz que ganhou a Rádio Mato-<br />

zinho FM, de Três Rios, de presente do<br />

deputado em reconhecimento aos serviços<br />

que prestou.<br />

No discurso que fez na Câmara dos<br />

Deputados no dia 17, para se defender<br />

da acusação de ser o chefe de um esquema<br />

de corrupção nos Correios, Roberto<br />

Jefferson, presidente nacional do PTB<br />

e um dos principais aliados do governo,<br />

afirmou que seus únicos bens são<br />

uma casa em Petrópolis e um escritório<br />

no Rio. Mas a incrível história relatada<br />

por Durval a ÉPOCA (leia a entrevista<br />

abaixo) revela o apelo a um truque clássico<br />

para esconder o patrimônio.<br />

Durval, que nega ser laranja de Jefferson,<br />

tem um sócio na rádio cujo nome ele<br />

nem sequer sabe. É o empresário Edson<br />

Elias Bastos Jorge, conhecido como Boy,<br />

que toca a emissora na base eleitoral<br />

do deputado. O sorveteiro conta que, como<br />

não tinha dinheiro para comprar os<br />

equipamentos, recebeu a promessa de<br />

que, no dia em que o negócio desse lu-<br />

“A rádio é minha”<br />

Amigo de Roberto Jefferson, sorveteiro diz que ganhou uma<br />

rádio do deputado e jura confiar em sua honestidade<br />

Na quarta-feira 1o , o ex-assessor de Roberto<br />

Jefferson, Durval da Silva Monteiro,<br />

deu a seguinte entrevista gravada<br />

a ÉPOCA na Sorveteria e Pizzaria Mania, na<br />

periferia de Cabo Frio.<br />

ÉPOCA – O senhor foi usado como laranja<br />

de Roberto Jefferson?<br />

Durval da Silva Monteiro – A rádio é<br />

minha. Ele (Jefferson) jamais ganhou nada<br />

com essas rádios. Não estou defendendo<br />

ele não, ele é deputado, ganha bem,<br />

eu para ganhar R$ 100 aqui é difícil para<br />

caramba.<br />

ÉPOCA – Como um sorveteiro, que há<br />

um ano era camelô, pode ser dono de<br />

rádio?<br />

Monteiro – Eu sou dono de rádio em<br />

termos, né? O Boy (o empresário Édson<br />

Elias Bastos Jorge) que é meu sócio nessa<br />

rádio. O Roberto deu essa rádio para<br />

mim e ele. Juntamos eu e Boy, fomos a São<br />

Paulo, fomos à Rádio Transamérica para<br />

ver o maquinário e fizemos um acordo,<br />

eu e Boy. Eu não tinha dinheiro para gastar,<br />

a não ser que eu apanhasse com o deputado,<br />

mas não interessava ao deputado<br />

dar uma rádio e ainda gastar dinheiro. O<br />

cro, levaria sua parte. Passados quase 20<br />

anos, ele não ganhou um único tostão.<br />

Durval nem ao menos sabia que seu nome<br />

aparece como sócio de outra emissora,<br />

a Rádio Clube Vale do Paraíba, em<br />

Paraíba do Sul – mais uma cidade onde<br />

Jefferson tem base eleitoral. “Essa<br />

aí eu não sei, não. Eu acho que já fui sócio,<br />

mas eles passaram para outra pessoa”,<br />

conta.<br />

Embora negue ser testa-de-ferro do<br />

deputado, Durval cai em contradição.<br />

Em entrevista gravada, ele conta que<br />

chegou a aconselhar o deputado a não<br />

deixar as rádios em seu nome. “O Roberto<br />

queria que eu ficasse administrando<br />

a rádio. Disse a ele: eu vou ficar administrando<br />

essa rádio, você vai ter um<br />

problema aí no futuro, porque eu sou<br />

uma pessoa ligada a você”, lembra.<br />

Mesmo sócio das duas emissoras,<br />

Durval leva uma vida difícil. Desde que<br />

deixou o gabinete do deputado, em<br />

1994, ele fez de tudo para sobreviver. ä<br />

Boy ficou meu sócio com o seguinte acordo:<br />

a rádio começaria a ganhar dinheiro,<br />

automaticamente ela ia cobrindo a parte<br />

das minhas despesas, e nós íamos dividir.<br />

Eu teria direito a 30% ou 50% da rádio.<br />

ÉPOCA – Se o deputado Roberto Jefferson<br />

deu uma rádio, por que o seu<br />

nome aparece em duas, a Matozinho<br />

e a Vale do Paraíba?<br />

Monteiro – Rádio Clube Vale do Paraíba?<br />

Eu não sou sócio dela não. Isso aí é<br />

um troço novo para mim. Rádio Clube Vale<br />

do Paraíba (faz esforço para lembrar)...<br />

Vou lá buscar ela! Quero um pedaço dela<br />

já, já. Essa rádio eu até acho que era sócio<br />

dela também. Ou era.<br />

ÉPOCA – Como alguém pode ter uma<br />

rádio e não saber?<br />

Monteiro – Não é ter uma rádio. Essa<br />

rádio eu pensei que já tinham passado pa-<br />

ÉPOCA 6 <strong>DE</strong> JUNHO, 2005


anja<br />

“Durval é muito trabalhador,<br />

me ajudou muito, fazendo de<br />

tudo. Como sempre foi pobre,<br />

pedi a um amigo dono de rádio<br />

que lhe desse a sociedade. Se<br />

ele não está recebendo nada,<br />

tem de ver com o sócio”<br />

<strong>ROBERTO</strong> <strong>JEFFERSON</strong>,<br />

presidente do PTB<br />

ra o nome de outra pessoa. Para mim foi<br />

surpresa. O Roberto queria que eu ficasse<br />

administrando a rádio. Eu disse a ele: eu<br />

vou ficar administrando essa rádio, você<br />

vai ter um problema aí no futuro, porque<br />

eu sou uma pessoa ligada a você.<br />

ÉPOCA – O senhor nunca ganhou dinheiro<br />

com as rádios?<br />

Monteiro – Eles vão dar agora, porque<br />

agora é que a rádio está faturando.<br />

Nunca ninguém me deu nada, um real. Eu<br />

tenho a participação no lucro, já acertei<br />

com o Boy, já conversamos, ele é um grande<br />

amigo meu. Essa Vale do Paraíba eu<br />

vou caçar agora, é meu, vou pegar um dinheiro<br />

lá.<br />

ÉPOCA – A ex-mulher do deputado<br />

Roberto Jefferson, Ecila Brasil, também<br />

chegou a ser uma das sócias da<br />

rádio...<br />

Eu sou dono da<br />

rádio em termos, né?<br />

O Boy é que é meu<br />

sócio nessa rádio.<br />

O Roberto deu essa<br />

rádio para mim e ele.<br />

Eu não tinha dinheiro<br />

para gastar, a não ser<br />

que apanhasse com o<br />

deputado<br />

Monteiro – Quando eu tive a briga com<br />

ela (Ecila), ela pediu que eu passasse de<br />

volta a rádio para ela. Eu passei um documento<br />

para ela passando a rádio de<br />

volta para ela. Depois ela resolveu devolver.<br />

Ela nunca esteve nisso, teve só um<br />

documentinho em cartório, ela quis me<br />

ameaçar.<br />

ÉPOCA – O senhor era íntimo do casal?<br />

Monteiro – Nós desmanchamos ali uma<br />

amizade... Puxa, eu brincava com a Ecila!<br />

Eu agarrava ela e jogava no colo do Roberto,<br />

ela de baby-doll, pô! Nós éramos<br />

grandes amigos. Eu lia o jornal para ele na<br />

porta do banheiro. Ele deixava a porta aberta<br />

e eu lia aqueles jornais todinhos na porta<br />

do banheiro para ele, pô. Ele exigia que<br />

eu estivesse na casa dele de manhã cedo<br />

para tomar café com ele. Quando eu briguei<br />

com ela, ele falou: “O que você quer ä<br />

ÉPOCA 6 <strong>DE</strong> JUNHO, 2005 39<br />

Fotos Glaucio Dettmar/ÉPOCA, Corbis e Mirian Fichtner/ÉPOCA


40<br />

BRASIL<br />

Comprava biscoitos em Petrópolis, na<br />

região serrana do Rio, e revendia em sua<br />

barraca de camelô em Pavuna, na zona<br />

norte da capital. Depois, comprou um<br />

caminhão velho – com a ajuda de Jefferson,<br />

que lhe deu US$ 1.000 – e passou<br />

a vender água mineral. A aposta fracassou<br />

e Durval voltou às ruas. Foi para<br />

Três Rios, onde vendia CDs numa banquinha<br />

de camelô na rodoviária. De seu<br />

ponto, podia ouvir o som de sua rádio<br />

– a principal emissora de FM local – tocando<br />

numa loja de eletrodomésticos do<br />

outro lado da rua.<br />

No ano passado, Durval mudou-se para<br />

Unamar, distrito de Cabo Frio, na região<br />

dos Lagos do Rio, e hoje toca a Sorveteria<br />

e Pizzaria Mania, de pouco mais<br />

de 25 metros quadrados à beira de uma<br />

estrada. Durval passa os dias atrás do<br />

balcão, de short, camiseta e chinelos, servindo<br />

sorvete e pizza comprada pronta<br />

aos poucos fregueses. O negócio vai mal.<br />

Cabo Frio depende de turistas, raríssimos<br />

naquela região pobre.<br />

Roberto Jefferson disse, através de<br />

sua assessoria de imprensa, que “Durval<br />

é muito trabalhador. Ele me ajudou<br />

muito, fazendo de tudo” e que, por isso,<br />

resolveu retribuir. Como Durval sempre<br />

foi pobre, o deputado pediu a um<br />

amigo dono de rádio que desse a sociedade<br />

a Durval. “Se o sócio não está dando<br />

dinheiro a ele, aí tem de ver com o<br />

sócio”, informou a assessoria.<br />

Uma consulta ao Ministério das Comunicações,<br />

porém, mostra que Durval<br />

que eu faça? Que eu me ajoelhe para você?”<br />

Eu falei para ele: Roberto, você tem<br />

sua mulher, cara. Eu não sou sua mulher,<br />

não sou seu homem. Então você tem que<br />

olhar o lado da sua mulher. Você vai ficar<br />

zangado com a tua mulher e bem comigo.<br />

ÉPOCA – Como o senhor conheceu o<br />

deputado Roberto Jefferson?<br />

Monteiro – Nós chegamos a trabalhar<br />

juntos na (fábrica de sorvetes) Kibon. O<br />

Roberto era chefe do departamento pessoal,<br />

eu era provador de sorvete. Depois<br />

eu vim voltar a encontrar com o Roberto<br />

quando fui trabalhar com um amigo<br />

meu que era banqueiro do jogo do bicho.<br />

Um dia esse senhor, que se chamava Cecílio,<br />

cismou de ajudar Roberto. Ele se<br />

apaixonou pelo Roberto por causa do Povo<br />

na TV (programa do qual o deputado<br />

participou na década de 80), cismou de<br />

dar ajuda.<br />

Mirian Fichtner/ÉPOCA<br />

PIZZA Durval posa na porta da sorveteria, que usa luz emprestada do vizinho<br />

entrou para as rádios já em sua fundação.<br />

Ele é sócio da Matozinho desde<br />

1988 e da Vale do Paraíba desde<br />

1994. Não eram, ao contrário do que<br />

o deputado quer fazer crer, empreendimentos<br />

já existentes e cedidos ao assessor.<br />

Ganha um picolé na sorveteria do<br />

Durval quem conseguir um amigo que,<br />

a troco de nada, lhe dê uma participação<br />

nos negócios. O próprio Durval conta<br />

que foi encarregado pelo deputado<br />

de comprar uma rádio. Jefferson, porém,<br />

não precisou gastar e conseguiu<br />

as concessões no governo Sarney.<br />

Os bastidores da fantástica história<br />

do sorveteiro dono de rádios mostra como<br />

um político poderoso misturou-se<br />

a figuras do submundo. Jefferson tra-<br />

Nós éramos<br />

grandes amigos, de<br />

muito respeito. Ele<br />

exigia que eu tomasse<br />

café com ele. Eu lia o<br />

jornal para ele na<br />

porta do banheiro. Eu<br />

agarrava a mulher dele<br />

e jogava de baby-doll<br />

no colo dele<br />

balhava no Departamento Pessoal da<br />

fábrica Kibon e Durval era provador de<br />

sorvetes (apesar do mesmo sobrenome,<br />

Monteiro, não são parentes). Anos depois,<br />

Durval virou gerente do bicheiro<br />

conhecido como Cecílio, que controlava<br />

bancas de apostas no Centro do<br />

Rio. Advogado, Jefferson ficou famoso<br />

como defensor dos pobres no programa<br />

popularesco O Povo na TV, exibido pela<br />

extinta Tupi e pelo SBT nos anos 80.<br />

Jefferson dava socos na mesa e gritava<br />

em defesa de mulheres desdentadas<br />

que iam ao programa reclamar de<br />

surras do marido. Dividia a bancada<br />

com Wagner Montes, Wilton Franco,<br />

Sergio Mallandro e o inacreditável Roberto<br />

Lemgruber, processado por char-<br />

ÉPOCA – O Cecílio deu dinheiro a Roberto?<br />

Monteiro – O Cecílio resolveu ajudar<br />

com placas, carros, Kombi. Dinheiro eu<br />

nunca vi. Nunca levei. Levei painel, placa,<br />

Kombi com o nome do Roberto. Cecílio<br />

depois tentou me matar porque eu fiquei<br />

amigo do Roberto e me afastei dele. Ele<br />

ficou com ciúme de mim, puxou uma arma<br />

e disse que ia me matar. Ele tinha uns<br />

pontos de bicho ali na Central do Brasil,<br />

eu tomava conta de quatro pontos dele.<br />

Mas não era bicheiro grande, era coisa<br />

miúda.<br />

ÉPOCA – Qual era sua função na campanha?<br />

Monteiro – Eu é que fazia a ajuda do<br />

Cecílio. Eu ajudava o Roberto nos comícios<br />

na campanha. Roberto passou a gostar de<br />

mim porque eu tomei umas atitudes na<br />

campanha dele. Tivemos um problema em<br />

ÉPOCA 6 <strong>DE</strong> JUNHO, 2005


DONO Consulta ao Ministério das Comunicações comprova que o sorveteiro é dono da rádio Matozinho (acima) desde a fundação<br />

latanismo. A atuação no programa foi<br />

o trampolim para o mandato de deputado<br />

federal. Foi eleito em 1983, com<br />

85 mil votos.<br />

Ex-lutador de boxe, assim como o deputado,<br />

Durval passou a abrir os caminhos<br />

para o patrão na base da truculência.<br />

Certa vez, para garantir um comício<br />

em Nova Friburgo, Durval ameaçou os<br />

adversários do deputado: “Eu levei uns<br />

colegas também bons de porrada, entendeu,<br />

para dar segurança ao Roberto.<br />

Falei com os caras assim: meu irmão,<br />

a parada é essa, vocês não vão atrapalhar<br />

os comícios do Roberto, não. Vocês<br />

fazem o de vocês, nós fazemos o nosso,<br />

sem atrito. Se tiver atrito, vai ser ruim<br />

para vocês”, recorda.<br />

Friburgo, com o deputado Leôncio Vasconcelos,<br />

e tivemos uma briga lá com o PMDB<br />

de Friburgo. O Roberto me ligou e disse:<br />

vem para Friburgo porque o PMDB não está<br />

deixando a gente fazer comício aqui.<br />

Aí eu fui para lá. Não fui como gladiador,<br />

nem armado, nem nada. Eu fui para enfrentar<br />

os caras. Eu sempre fui bom de soco,<br />

né? E ali ele foi criando cada vez mais amizade,<br />

cada vez mais respeito um pelo outro.<br />

Passou essa campanha e a gente ficou<br />

amigo e eu fui trabalhar com ele.<br />

ÉPOCA – Mas o senhor continua sendo<br />

amigo dele?<br />

Monteiro – Sou amigo dele, gosto dele.<br />

Agora essa pinimba aí da CPI (dos Correios)<br />

me atrapalhou. Eu estava indo para<br />

Brasília tomar um café com ele, passar uns<br />

dois dias, para resolver um problema meu,<br />

financeiro. Eu estou com um problema<br />

de saúde, circulação. O tratamento de in-<br />

ÉPOCA 6 <strong>DE</strong> JUNHO, 2005<br />

Os métodos agradaram. Eleito, Jefferson<br />

deu a Durval um cargo em seu<br />

gabinete. Além de ser assessor, Durval<br />

dirigia para o deputado e fazia as<br />

vezes de segurança. Jefferson rapidamente<br />

ganhou influência na Câmara.<br />

Truculento, liderou a tropa de choque<br />

que defendia Collor do impeachment.<br />

No discurso na Câmara, o próprio deputado<br />

reconhece que naqueles anos<br />

sua imagem era de “troglodita”. Tinha<br />

170 quilos, fama de brigão e andava armado.<br />

Mudou com ajuda de análise.<br />

O corpo já não é mais o mesmo. Em<br />

2000, fez uma operação de redução do<br />

estômago e perdeu 70 quilos. Separouse,<br />

voltou a casar, virou um gourmet e<br />

fala de vinhos com desenvoltura.<br />

Roberto é ser<br />

humano, espada,<br />

inteligente ao<br />

extremo. Roberto<br />

Jefferson? Pegar R$ 3<br />

mil e deixar a bunda<br />

do lado de fora sem<br />

cueca, meu irmão?<br />

Aqui que o Roberto<br />

deixa, ó!<br />

Fernando Priamo<br />

A amizade entre os dois sofreu um<br />

baque depois de um desentendimento<br />

entre Ecila Brasil, ex-mulher do deputado,<br />

e o assessor por causa de um<br />

cheque sem fundos. Ecila, então, resolveu<br />

tirar as rádios do nome de Durval.<br />

A transação foi registrada em cartório,<br />

mas nunca se efetivou: até hoje ele<br />

aparece como sócio na Junta Comercial<br />

do Rio de Janeiro, conforme consulta<br />

feita no dia 18 de maio. “Teve só<br />

um documentinho em cartório, ela só<br />

quis me ameaçar”, conta Durval. Procurada<br />

por ÉPOCA para explicar sua<br />

participação na rádio, Ecila limitouse<br />

a responder, assustada:<br />

– Cruzes!<br />

E desligou o telefone. n<br />

testino eu fiz na marra. Roberto cortou, eu<br />

fiz na marra. Eu tinha 80 quilos a mais.<br />

ÉPOCA – O senhor acredita na honestidade<br />

do deputado?<br />

Monteiro – Para mim, até que me prove<br />

o contrário, é um cara honesto. O tempo que<br />

eu fiquei com ele, ele vivia de salário. Nossa<br />

vida era dura. Roberto já pegou dinheiro<br />

emprestado comigo. Depois que eu saí é<br />

que eu não sei de mais nada. Eu considero<br />

ele até hoje um homem honrado. Eu já<br />

passei vários problemas perto do Roberto<br />

e vou dizer a você: esse negócio que apareceu<br />

aí dizendo que ele pegou dinheiro, o Roberto?<br />

Conheço o Roberto, pô, lá da essência.<br />

Roberto é ser humano, espada, inteligente<br />

ao extremo. Ninguém ia pegar ele num<br />

troço desse aí. Roberto Jefferson? Pegar R$<br />

3 mil e deixar a bunda do lado de fora, sem<br />

cueca, meu irmão? Aqui que o Roberto deixa,<br />

ó! (dá uma banana com as mãos). n<br />

41


VALÉRIA BLANC<br />

Odeputado federal Roberto Jefferson<br />

(PTB-RJ) é um homem de família.<br />

Depois de apoiar a eleição dos<br />

prefeitos de Três Rios, Areal e Sapucaia,<br />

cidades no interior do Estado do<br />

Rio, o deputado tratou de conseguir um<br />

cargo para seu irmão, Ronaldo Francisco.<br />

Advogado do PTB, Ronaldo era<br />

um nômade. Após um período ganhando<br />

dinheiro numa cidade, pulava para<br />

outra e ocupava funções semelhantes.<br />

Na prefeitura de Areal, município de<br />

10.760 habitantes, seu contrato em<br />

2001 era de R$ 79.700 por 22 meses de<br />

serviço. O cargo de “prestador de serviços<br />

advocatícios”, criado para ele, feriu<br />

a lei municipal, que atribuía à Procuradoria<br />

tarefas destinadas a Ronaldo.<br />

“A prefeitura tinha dois procuradores,<br />

e hoje, sem a ajuda de um advogado<br />

como Ronaldo, um procurador<br />

dá conta do serviço”, afirma Fausto de<br />

Carvalho Lima, secretário de Governo<br />

do atual prefeito, Laerte Calil (PP).<br />

A primeira tentativa de Ronaldo de<br />

atuar numa Procuradoria foi em Pa-<br />

42<br />

BRASIL<br />

Fernando Soba<br />

BONS AMIGOS Roberto Jefferson é amigo do prefeito petebista de Juiz<br />

de Fora, Carlos Alberto Bejani, que emprega um dos irmãos do deputado,<br />

Ricardo Francisco. A prefeitura concederia a maior honraria do município<br />

a Jefferson, mas depois das denúncias desistiu da homenagem<br />

A grande família Jefferson<br />

Parentes de Roberto Jefferson ocupam cargos em cidades cujos<br />

prefeitos foram apoiados pelo deputado do PTB ou são amigos dele<br />

raíba do Sul, de 39 mil habitantes. Em<br />

1999, depois do apoio de Jefferson à<br />

eleição municipal, a Procuradoria encaminhou<br />

à Câmara de Vereadores proposta<br />

de nova estrutura, que somaria<br />

cerca de 60 cargos. Quando o então<br />

prefeito, Rogério Onofre (PSD), viu a<br />

lista, mandou revogar a lei que os criou,<br />

o que provocou atrito com os irmãos<br />

Francisco (o nome completo do deputado<br />

é Roberto Jefferson Monteiro Francisco).<br />

“Demandaria uma despesa absurda,<br />

algo como R$ 100 mil mensais”,<br />

disse Onofre. Nem mesmo hoje a Procuradoria<br />

teria espaço para acomodar<br />

tanta gente – seu tamanho é de um<br />

apartamento de sala e dois quartos.<br />

Já em Três Rios, com 75 mil habitantes,<br />

Ronaldo Francisco revelou-se um<br />

funcionário multiuso: entre 1998 e 2000,<br />

ocupou os cargos de secretário de Meio<br />

Ambiente, subprocurador, subprocurador<br />

judicial e constitucional e, por fim,<br />

procurador-geral. “Herdei um rombo<br />

de R$ 9 milhões numa cidade que tem<br />

orçamento de R$ 42 milhões. Isso inviabiliza<br />

a administração”, disse o atual<br />

prefeito, Celso Jacob (PMDB), referin-<br />

do-se à herança deixada por seu antecessor<br />

do PTB, Ralley Ramalho, da<br />

turma política de Jefferson. As contas<br />

de Três Rios de 1999 foram rejeitadas<br />

pelo Tribunal de Contas do Estado, mas<br />

nunca chegaram a ser votadas na Câmara<br />

dos Vereadores por um motivo curioso:<br />

o relatório do TCE simplesmente<br />

desapareceu. “Eles dizem que não<br />

receberam, mas o TCE enviou. Só não<br />

votaram porque o prefeito ficaria inelegível”,<br />

diz Jacob. Mais adiante, Ronaldo<br />

Francisco buscou novos ares e<br />

mudou-se para outra cidade da redondeza.<br />

Foi para Sapucaia, onde ocupou<br />

cargo de procurador de 2001 a 2004,<br />

ocasião em que o prefeito era Francisco<br />

Orichio, do PTB. Na semana passada,<br />

um primo de Jefferson, Rogério<br />

Jardim Francisco, também petebista,<br />

foi nomeado assessor de turismo dessa<br />

prefeitura. Antes disso, Rogério já ocupava<br />

cargo comissionado no posto do<br />

Ministério do Trabalho local. A saga dos<br />

Franciscos não pára aí. Na Procuradoria-Geral<br />

de Sapucaia, em cargo exercido<br />

pelo primo de Ronaldo até 2004<br />

está hoje outro primo, Leonardo Gia-<br />

ÉPOCA 6 <strong>DE</strong> JUNHO, 2005


notti Francisco, revela o procurador da<br />

Câmara Municipal, Anderson Zanon.<br />

Mais um irmão de Jefferson, Ricardo<br />

Francisco, tentou seguir carreira política<br />

como a do mano e chegou a ser vice-prefeito<br />

de Petrópolis. Desentendeuse<br />

com o prefeito em 1998 e largou o<br />

posto e a cidade. O prefeito na ocasião<br />

era o hoje deputado estadual Leandro<br />

Sampaio (PMDB). Ele nega que Ricardo<br />

tenha tentado montar estruturas para<br />

atender ao PTB, como acusam os adversários<br />

locais. Sampaio diz apenas<br />

que Roberto Jefferson insistiu para Ricardo<br />

Francisco deixar a vice-prefeitura<br />

e a Secretaria de Planejamento, que<br />

também ocupava. Hoje, Ricardo é subsecretário<br />

de Planejamento da prefeitura<br />

de Juiz de Fora, cujo titular é Carlos<br />

Alberto Bejani, do PTB. “Saí da prefeitura<br />

de Petrópolis por discordâncias,<br />

como a terceirização do sistema de<br />

águas. Com a ajuda do Roberto (Jefferson),<br />

o PTB tinha aprovado no orçamento<br />

R$ 12 milhões para obras de saneamento<br />

e a terceirização os desperdiçou”,<br />

afirmou Ricardo Francisco. Recentemente,<br />

a prefeitura mineira incluiu<br />

Jefferson na lista dos agraciados<br />

com o Mérito Comendador Henrique<br />

Guilherme Fernando Halfeld, a maior<br />

honraria de Juiz de Fora. Os nomes são<br />

aprovados por um conselho formado<br />

por representantes de órgãos municipais<br />

e setores da sociedade. Depois das<br />

denúncias envolvendo o deputado, o<br />

conselho decidiu retirá-lo da relação.<br />

ÉPOCA 6 <strong>DE</strong> JUNHO, 2005<br />

Há mais conexões que chamam a<br />

atenção na região do Estado do Rio onde<br />

os Franciscos deram seu apoio político.<br />

Em Comendador Levy Gasparian,<br />

o prefeito apoiado por Jefferson,<br />

Antônio Amanso de Lima (PMDB), foi<br />

cassado na quarta-feira 1 o , por abuso<br />

de poder econômico e compra de votos.<br />

Também nessa cidade, a solidariedade<br />

familiar esteve presente. Ali, Jefferson<br />

indicou o cunhado Marcelino<br />

Novaes, irmão da atual mulher do deputado,<br />

Ana Lúcia, para a Secretaria<br />

de Saúde na gestão passada. Ronaldo<br />

Francisco foi procurado por ÉPOCA<br />

Fernando Priamo<br />

MULTIUSO<br />

Em Três Rios,<br />

outro irmão<br />

de Jefferson,<br />

Ronaldo Francisco,<br />

ocupou quatro<br />

cargos na<br />

prefeitura. Abaixo,<br />

o contrato de<br />

Ronaldo com a<br />

prefeitura de Areal<br />

no telefone de casa – cedido por seus<br />

pais – e no gabinete da vereadora Cristiane<br />

Brasil (filha de Jefferson), onde<br />

também dá expediente. A assessoria<br />

do próprio Jefferson contatou-o. “A<br />

vereadora ordenou que eu pegasse o<br />

seu nome completo, número da identidade,<br />

CPF e endereço residencial”,<br />

disse a ÉPOCA a secretária quando<br />

Cristiane foi informada sobre a reportagem.<br />

A secretária disse ainda que<br />

não poderia passar a ligação para a assessoria<br />

de imprensa. O advogado não<br />

retornou. É uma família muito unida.<br />

E também muito ouriçada. n

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