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Nº 03 - Bem vindo ao site público

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Uma Genealogia da Libertação Feminina<br />

Dona Beatriz da Silva – Vida e Obra de uma Mulher Forte<br />

Porto: Labirinthus, 2008<br />

encomendas para: joseruiteixeira@gmail.com<br />

A vida conventual feminina nos séculos XVI-XVIII tem sido<br />

revisitada como fenómeno, mas esta investigação de José<br />

Félix Duque (n. Óbidos, 1975) leva esse movimento mais<br />

radicalmente. Três questões principais percorrem este duplo<br />

volume de vida e obra de Dona Beatriz da Silva, fundadora<br />

das Concepcionistas: oferecer uma biografi a sustentada<br />

de Dona Beatriz, apoiada em documentação e consciente<br />

dos trabalhos anteriores; estudar o processo de<br />

construção de uma fi gura feminina no contexto da Igreja<br />

Católica, nas suas sucessivas transformações; enquadrar<br />

a obra (não só a ordem, mas o feixe de ideias e concepções)<br />

de Beatriz da Silva, para além da mitifi cação ou do<br />

processo de beatifi cação a que foi posteriormente sujeita.<br />

José Félix Duque inicia o seu trabalho pela clarifi cação de erros<br />

frequentes na história desta mulher portuguesa (Campo<br />

Maior, 1437 - Toledo, 1492): provando defi nitivamente<br />

o seu lugar de origem, e a sua nacionalidade portuguesa;<br />

nos pressupostos marcadamente feministas no século<br />

XV, da fundação da sua ordem; e, com uma perícia de estudo,<br />

no processo de beatifi cação prévia <strong>ao</strong> processo canónico<br />

de facto (que passa pelo fenómeno das “santas vivas”).<br />

Atenta José Félix Duque que este processo foi construído<br />

pela intelligentsia da hierarquia católica masculina, onde<br />

a mulher é repertório de virtudes de abnegação e obediência,<br />

alterando os factos da sua independência face a<br />

esta autoridade, e após a morte de D. Beatriz, as reescritas<br />

e revisões da estrutura original da sua ordem religiosa.<br />

A ordem, que se iniciou independente, foi forçada a cair sob<br />

orientação franciscana, e sujeita a alterações nas suas constituições<br />

originais, normalizando o seu fulgor libertário femi-<br />

Recomendamos<br />

BIOGRAFIA<br />

O Rei-Sol, Nancy Mitford – Livros da Raposa<br />

Uma biografi a original e exemplar sobre uma das fi guras<br />

mais fascinantes e construídas do Ocidente. Mitford faz-nos<br />

entrar no tempo e na intimidade de Luís XIV, Rei de França,<br />

como se num momento do tempo nos fosse dado ver espaço<br />

e tempo, interior e alma. Imperdível.<br />

Literatura<br />

por Pedro Sena-Lino<br />

(poeta, crítico literário, investigador, professor<br />

de escrita criativa na “Companhia do Eu”)<br />

nino. Um dos aspectos que José Félix Duque destaca é o<br />

dos hábitos e símbolos da ordem, inovadores e feministas:<br />

«Era grande a riqueza simbólica do hábito monástico inventado<br />

por Dona Beatriz da Silva (…). Solicitou que as suas<br />

monjas se vestissem com uma túnica e um escapulário<br />

brancos sobre as quais deveria assentar um manto azul celeste.<br />

(…) Eva era representada na iconografi a religiosa com<br />

um corpo despido, exposto e pecaminoso (…) o arquétipo<br />

da decadência moral, o primeiro testemunho da afectação<br />

do corpo feminino pela corrupção e pela morte. (…) A Virgem<br />

Maria, pelo contrário, com frequência era representada<br />

de branco, com um manto azul, a cor da divindade na tradição<br />

da iconografi a oriental. O hábito de Dona Beatriz apresentava<br />

precisamente estas características. Era uma espécie<br />

de novo corpo para as mulheres, um corpo já por si consagrado<br />

pelo voto de castidade, mas também revestido de<br />

brancura imaculada e associado à majestade das luzes cósmicas.<br />

Tratava-se de um corpo simbólico que especulava a<br />

glória da Criação, quando a mulher era pura e limpa de toda<br />

a mancha. (…) Naquela veste reclamava-se um lugar novo<br />

para o corpo feminino na ordem criacional. Na afi rmação<br />

da semelhança com a Virgem exigia-se simbolicamente uma<br />

redefi nição da própria humanidade das mulheres no Logos.»<br />

Este estudo, trabalho efectuado durante dez anos sem<br />

apoios, alarga em Portugal o âmbito dos estudos feministas<br />

à narrativa monástica feminina, lendo nele, mesmo num<br />

século onde seria menos esperado, a raiz de um movimento<br />

libertador, porque assente na vontade de independência e<br />

igualdade da mulher.<br />

Júlio Cortazar – Rayuela, O Jogo do Mundo<br />

Um romance-mundo, onde se cruzam múltiplas leituras<br />

numa construção extr<strong>ao</strong>rdinária. Um dos grandes romances<br />

do século XX.<br />

Cultura<br />

Cultura<br />

Jan 09 49<br />

THE LION

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