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CAMILA, A VIRGEM GUERREIRA* - Universidade de Coimbra

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<strong>CAMILA</strong>, A <strong>VIRGEM</strong> GUERREIRA 119<br />

tos finais da heroína 10 . Com efeito, apesar <strong>de</strong> disposta a viver mais<br />

tempo — ainda tenta arrancar a lança que, fatal, a atingiu —, encara<br />

a morte com calma. É esta calma que lhe permite preocupar-se com os<br />

outros, nomeadamente através do envio <strong>de</strong> uma mensagem militar a<br />

Turno 11 . Só <strong>de</strong>pois <strong>de</strong>ste aviso a Turno é que larga as ré<strong>de</strong>as e se<br />

<strong>de</strong>ixa tombar, inanimada, para o solo.<br />

Mas se, a nível individual, o comportamento <strong>de</strong> Camila é <strong>de</strong> mol<strong>de</strong><br />

a ofuscar as tropas inimigas 12 e a contagiar o comportamento das<br />

mulheres da cida<strong>de</strong> — ainda que fique obscurecido pela <strong>de</strong>satenção<br />

que a jovem manifesta aos perigos que a ro<strong>de</strong>iam —, a actuação no<br />

comando das tropas que lhe estão confiadas aparece manchada por<br />

zonas <strong>de</strong> penumbra.<br />

De facto, a posição <strong>de</strong> Camila como comandante <strong>de</strong> tropas só é<br />

brilhante na sua fachada — lembremos o final do canto sétimo e a sua<br />

apresentação a Turno—, porque a realida<strong>de</strong> é bem diferente: a jovem<br />

rainha dá mostras <strong>de</strong> alguma pressa e até <strong>de</strong> certa inconsciência (e assim<br />

paga o preço da sua ousadia).<br />

Ainda na apresentação a Turno, quando se oferece para, sozinha,<br />

<strong>de</strong>frontar o exército <strong>de</strong> Eneias, <strong>de</strong>monstra a sua precipitação, além <strong>de</strong><br />

mostrar alguma presunção e certa agressivida<strong>de</strong>. Na verda<strong>de</strong>, ela não<br />

possuía um conhecimento suficientemente amplo da situação militar<br />

para empreen<strong>de</strong>r sem risco tal iniciativa, e só <strong>de</strong>pois Turno lhe expõe<br />

as posições dos Troianos e o seu (bom) plano para os <strong>de</strong>frontar.<br />

Além disso, a confiança que manifesta em si própria e a atitu<strong>de</strong><br />

quase agressiva que assume para com Turno 13 — ao pôr-se em pé <strong>de</strong><br />

10 Repare-se, no entanto, que o Poeta tem o cuidado <strong>de</strong> limitar progressivamente<br />

o brilho da acção <strong>de</strong> Camila, nomeadamente quando a apresentada dominada<br />

pelo furor do combate sem ter em consi<strong>de</strong>ração as súplicas que lhe são feitas<br />

(cf. o símile do falcão e da pomba, 11.718-724, que volta a ser apresentado, agora<br />

com variantes, para caracterizar a actuação <strong>de</strong> Tárcon).<br />

u. Esta mensagem po<strong>de</strong>rá ser consi<strong>de</strong>rada precipitada e mesmo alarmista,<br />

se não aten<strong>de</strong>rmos ao clima emocional do momento em que é proferida; este aspecto,<br />

porém, diz respeito à sua qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> comandante <strong>de</strong> forças <strong>de</strong>fensivas e não propriamente<br />

ao seu comportamento perante a morte.<br />

12 Este comportamento individual surge, naturalmente, marcado pelo<br />

heroísmo. Trata-se, porém, <strong>de</strong> um heroísmo sobrenatural que só pela traição é<br />

vencido, ao passo que o heroísmo natural <strong>de</strong> Palante e <strong>de</strong> Lauso é vencido por guerreiros<br />

mais fortes.<br />

13 É verda<strong>de</strong> que po<strong>de</strong>remos ver nesta atitu<strong>de</strong> o <strong>de</strong>stemor dos heróis homéricos<br />

que não só avaliam o seu próprio valor, como também vêem nos outros igual<br />

quinhão <strong>de</strong> valentia.

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