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QUE MATAI 'TAMBÉM CURA - Nosso Tempo Digital

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O aparelho de estereotaxia,<br />

importado da Alemanha.<br />

quatro horas, mas o césio continua<br />

no tubo introduzido no cérebro<br />

emitindo radiotividade por um período<br />

de até 150 horas, e depois<br />

continuará agindo sobre as células<br />

durante aproximadamente 6 meses.<br />

Nos pacientes operados no Hospital<br />

Erasto Gaertner, os tumores reduziram-se<br />

significativamente e em<br />

pelo menos na metade deles a massa<br />

doente desapareceu das imagens<br />

tomográficas, deixando apenas cicatrizes<br />

e sinais de células mortas,<br />

sem danos para as partes sadias.<br />

conta Gláucio Veras.<br />

O sucesso da operação, porém,<br />

está sempre na dependência do estágio<br />

de desenvolvimento e do grau<br />

de malignidade dos tumores. "Algumas<br />

formas de tumor cerebral são<br />

tão malignas que, mais cedo ou<br />

mais tarde, recidivam, e aí é impossível<br />

repetir a cirurgia com o césio,<br />

pois não haveria margem alguma de<br />

segurança na sua aplicação.<br />

Em Foz do Iguaçu, onde o<br />

dr. Gláucio Veras mantém uma<br />

clínica, um operário voltou ao traba<br />

lho na Itaipu Binacional depois de<br />

submeter a urna operação por irradiação<br />

intersticial no Hospital Erasto<br />

Gaertner e passa bem. O césio<br />

eliminou de seu cérebro um tumor<br />

maligno que, de outra forma, certamente<br />

já lhe teria ceifado a vida.<br />

Atualmente, a equipe do dr.<br />

Gláucio Veras se dedica ao<br />

desenvolvimento de uma tecnologia<br />

cirúrgica ainda mais avançada - a<br />

radiocirurgia estereotáxica, que deverá<br />

possibilitar, através de acelerador<br />

linear, o bombardeio de tumores<br />

sem necessidade de abrir o corpo<br />

do paciente para introduzir tubos<br />

condutores do elemento radioativo<br />

FOZ PERDEU OPORTUNIDADE DE TER CENTRO<br />

O curso de especialização em<br />

neurocirurgia estereotáxica que o<br />

médico de Foz do Iguaçu Gláucio<br />

Veras fez nos 6 anos em que permaneceu<br />

na Universidade de<br />

Gottingen, Alemanha, custou, aos<br />

preços de hoje, segundo ele, mais<br />

de 1 milhão de dólares. O governo<br />

alemão, que pagou em marcos a<br />

bolsa de estudos de Gláucio, ao<br />

saber que, terminado o curso, ele<br />

voltaria ao Brasil, temeu que o dinheiro<br />

que aplicou e a tecnologia<br />

e o médico adquiriu fossem jogados<br />

pela janela. Para evitar o desperdício<br />

e assegurar o aproveitamento<br />

do especialista formado pela.<br />

Universidadede Gottingen por<br />

alguma universidade brasileira, o<br />

governo alemão ofereceu àquela<br />

que o admitisse em seu corpo docente<br />

farto material hospitalar,<br />

desde um laboratório, sala cirúrgica<br />

equipada com o que há de mais<br />

moderno, aparelhos de fisioterapia,<br />

até quatro milhões de seringas descartáveis.<br />

Com o diploma de doutor e<br />

essa oferta nada desprezi'vel, Gláucio<br />

voltou ao Brasil e começou por<br />

onde devia começar - mantendo<br />

contatos com as universidades oferecendo<br />

seus serviços e toda a rica<br />

oferta do governo alemão. A universidade<br />

caberia apenas o trabalho<br />

e o gasto com o transporte do material<br />

e dos equipamentos que viriam<br />

da Alemanha. Mas, depois de<br />

levar propostas a nada menos que<br />

25 universidades brasileiras, o médico<br />

descobriu que tinha fundamento<br />

o temor do governo alemão<br />

de que, no Brasil, o investimento<br />

seria jogado pela janela. Nenhuma<br />

universidade se interessou pela especialidade<br />

de Gláucio nem pela<br />

oferta alemã. Só a Universidade<br />

Federal de Pernambuco esboçou<br />

alguma atenção. Gláucio tentou<br />

um último recurso - foi ter com<br />

o ministro da Educação de então,<br />

Marco Maciel, apelando para que<br />

ajudasse a Universidade de Pernambuco<br />

a admitir o médico e a<br />

habilitar-se a receber a oferta do<br />

governo alemão. Inútil. O ministro<br />

também nada fez, o material<br />

e os equipamentos hospitalares alemães<br />

continuam na Alemanha e o<br />

dr. Gláucio divide seu tempo entre<br />

sua clínica em Foz do Iguaçu e o<br />

Hospital Erasto Gaertner, de Curitiba,<br />

para onde vai periodicamente<br />

curar tumores cerebrais com a téc-<br />

DE TECNOLOGIA DE PONTA<br />

nica das operações por irradiação<br />

intersticial, em que o césio 137<br />

toma o lugar dos bisturis e bombardeios<br />

da medicina convencional.<br />

PENSANDO EM LOMBRIGA<br />

Com seu próprio aparelho de<br />

estereotaxia, o computador e demais<br />

equipamentos auxiliares, Gláucio<br />

Veras se resignou a plantar sua<br />

especialidade em Foz do Iguaçu,<br />

de onde saíra para estudar na Alemanha.<br />

Conseguiu uma sala na<br />

Santa Casa Monsenhor Guilherme<br />

e lá se instalou. Mas, mal estava ele<br />

começando a aplicar o método,<br />

quando houve mudança na direção<br />

da Santa Casa, que colocou na direção<br />

o dr. Edir de Oliveira, e este, logo<br />

que assumiu o cargo, mandou esvaziar<br />

a sala em que estava montada<br />

a clínica de radioterapia. Certa manhã,<br />

o dr. Gláucio foi ao hospital e<br />

foi surpreendido por seus equipamentos<br />

amontoados no corredor e<br />

por uma singular explicação<br />

do diretor clínico do<br />

estabelecimento: "A Santa<br />

Casa funcionou mais de 30 anos<br />

sem isso", justificou o dr. Edir. -<br />

"É muita manteiga para um pobre<br />

tostão como este", arrematou<br />

Desiludido, Gláucio julgou<br />

que, definitivamente, estava de<br />

posse de conhecimentos e equipamentos<br />

ociosos para os padrões da<br />

medicina brasileira, que ele diz<br />

estar, ao menos a nivel de governo,<br />

"Perdida no tempo e no espaço,<br />

pensando em lombriga" e nem um<br />

pouco em penhada em tecnologia<br />

de ponta, como é a radioterapêutica<br />

Mas no meio de tantos percalços,surgiu<br />

o interesse do neurocirurgião<br />

Alceu Correia e do radioterapeuta<br />

José Gasparim, do Hospital<br />

Erasto Gaertner, de Curitiba, e foi<br />

lá que Gláucio Veras pôde, enfim,<br />

aproveitar o que aprendeu e os<br />

equipamentos que adquiriu na Alemanha.<br />

Em Curitiba, junto com<br />

uma equipe de mais de 17 especialistas<br />

em física, neurocirurgia e<br />

radioterapia, ele cura tumores cerebrais<br />

em pacientes desenganados<br />

pela medicina tradicional, ganhou<br />

projeção nacional, é procurado por<br />

doentes e médicos de todo o País e,<br />

atualmente, está desenvolvendo<br />

uma teconoloqia ainda mais avançada<br />

que a cirurgia por irradiação intersticial<br />

com césio 137 - a utilização<br />

de aceleradores lineares que<br />

têm a pretensão de injetar a radioatividade<br />

diretamente no tumor sem<br />

necessidade de perfurar o corpo do<br />

doente. "Se Foz do Iguaçu tivesse<br />

acolhido minha especialidade, seria<br />

hoje um centro de desenvolvimento<br />

de tecnologia de ponta visitado<br />

por especialistas do Brasil e do exterior,<br />

mas o que se viu foi que aqui<br />

também ainda se está preso à preocupação<br />

com lombrigas", lamenta<br />

Gláucio Veras.<br />

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