24.04.2013 Views

O que escuto é por ouvir - Escola Letra Freudiana

O que escuto é por ouvir - Escola Letra Freudiana

O que escuto é por ouvir - Escola Letra Freudiana

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

L’etourdit. Ela nos dizia tamb<strong>é</strong>m: “O <strong>que</strong> corta, para nós como analistas, <strong>que</strong> <strong>é</strong> o <strong>que</strong><br />

nos interessa, não <strong>é</strong> a tesoura. São os ditos.” 6<br />

Dos verbetes do dicionário, percorremos o <strong>que</strong> está na língua, mas o <strong>que</strong> nos<br />

interessa <strong>é</strong> o <strong>que</strong> <strong>é</strong> da alíngua. É da psicanálise o <strong>que</strong> se trata; <strong>por</strong>tanto, da lalangue,<br />

melhor dizendo. É, <strong>por</strong> isto, <strong>por</strong><strong>que</strong> Lacan fala em nome da psicanálise, <strong>que</strong> não há<br />

diferença entre o público da televisão e o do seu seminário. É o discurso analítico <strong>que</strong><br />

está aí posto. É desde aí <strong>que</strong> se opera em uma análise. É ele <strong>que</strong> emerge a cada<br />

passagem de um discurso a outro.<br />

Em seu seminário, O sinthoma, Lacan enuncia:<br />

ensinamos o analisante a fazer epissure entre seu sinthoma e o real<br />

parasita do gozo, o <strong>que</strong> <strong>é</strong> característico de nossa operação. Tornar esse<br />

gozo possível <strong>é</strong> a mesma coisa <strong>que</strong> o <strong>que</strong> escreverei como gouço-sentido.<br />

É a mesma coisa <strong>que</strong> <strong>ouvir</strong> um sentido. 7<br />

Aqui, ele joga com gozo e ouço <strong>que</strong> ressoa: gouço. Seria aí a escrita<br />

possível desse gouço, do sentido (sense) ao não sentido (non sense), ao final de<br />

análise? Desse intransmissível, mas <strong>que</strong> poderia ser ouvido e se transmita em um<br />

passe. Poderíamos pensar <strong>que</strong> <strong>é</strong> dessa ordem o <strong>que</strong> está aí colocado?<br />

Há diferença, <strong>por</strong>tanto, entre ‘<strong>é</strong>couter’ e ‘entendre’, escutar e <strong>ouvir</strong>.<br />

Vamos tomá-los aqui como significantes. Tomados desta forma, ressoa-me ‘etour-dit’<br />

<strong>que</strong> me faz voltar a: “Qu´on dise reste obli<strong>é</strong> derrière ce qui se dit dans<br />

ce qui s´entend.” 8 (<strong>que</strong> se diga fica es<strong>que</strong>cido <strong>por</strong> trás do <strong>que</strong> se diz em o <strong>que</strong> se<br />

ouve), em L’Etourdit, e em Encore, “Qu’on dise” dá lugar a “le dire”. Aparece<br />

assim: “le dire est justement ce <strong>que</strong> reste obli<strong>é</strong>, derri<strong>é</strong>re ce qui est dit, dans ce<br />

qu’on entend” 9 ( ...o dizer <strong>é</strong> justamente o <strong>que</strong> fica es<strong>que</strong>cido <strong>por</strong> trás do <strong>que</strong> <strong>é</strong><br />

dito no <strong>que</strong> se ouve).<br />

Há aí o dito e o dizer. O dizer fica es<strong>que</strong>cido <strong>por</strong> trás do dito no <strong>que</strong> se ouve.<br />

Portanto, <strong>é</strong> preciso uma escuta flutuante para <strong>que</strong> se ouça sem saber <strong>que</strong> se sabe, sem<br />

<strong>que</strong> se ouça. Para <strong>que</strong> se faça corte, lembra-nos D<strong>é</strong>lia Elmer, <strong>é</strong> preciso <strong>que</strong> o dizer fi<strong>que</strong><br />

es<strong>que</strong>cido. Não nos es<strong>que</strong>çamos do <strong>que</strong> ela nos ensinou: corte <strong>é</strong> o dito; não há dito sem<br />

dizer; há ditos e ditos; dizeres e dizeres; o dito <strong>é</strong> um corte esf<strong>é</strong>rico, isto <strong>é</strong>, há ditos <strong>que</strong><br />

não produzem mudança na estrutura, são os <strong>que</strong> não ficam es<strong>que</strong>cidos. Poderia se dizer<br />

<strong>que</strong> esses cortes não são interpretações, seu dizer correspondente não fica es<strong>que</strong>cido,<br />

falou-nos D<strong>é</strong>lia. Entretanto, o dizer <strong>que</strong> fica es<strong>que</strong>cido, produz mudança de estrutura.<br />

Não nos es<strong>que</strong>çamos <strong>que</strong> estrutura <strong>é</strong> sempre de discurso. E quando há mudança de<br />

estrutura, para <strong>que</strong> a mudança ocorra, o <strong>que</strong> emerge, para a passagem de um a outro<br />

discurso, <strong>é</strong> sempre o discurso analítico.<br />

Com este percurso realizado, podemos su<strong>por</strong> <strong>que</strong> entendre se aproxima a <strong>ouvir</strong><br />

desse dizer <strong>que</strong> fica es<strong>que</strong>cido e <strong>que</strong>, talvez, possamos saber algo disso se algum efeito<br />

há, isto <strong>é</strong>, se há mudança de estrutura. É tamb<strong>é</strong>m <strong>ouvir</strong> o <strong>que</strong> está em gouço? Parece <strong>que</strong><br />

<strong>é</strong> <strong>por</strong> aí <strong>que</strong> devemos perseverar em nossa hipótese.... buscando ler nos seminários <strong>que</strong><br />

ainda não foram objetos de nossa leitura nesta busca.<br />

Termino, falando do título escolhido “O <strong>que</strong> eu <strong>escuto</strong> <strong>por</strong> <strong>ouvir</strong>”, traduzido de<br />

“... j’<strong>é</strong>coute est d’entendement. L’entendement ne me force par à compreende.”. Parece<br />

6<br />

Elmer, Delia. Seminário de 28-2-2002, ELF. está sendo transcrito <strong>por</strong> Diana Mariscal<br />

e Anete T T Arita<br />

7<br />

Lacan, Jac<strong>que</strong>s. O seminário o Sinthoma, estabelecido <strong>por</strong> Jac<strong>que</strong>s-Alain Miller, tradução de S<strong>é</strong>rgio<br />

Laia, revisão de Andr<strong>é</strong> Telles, Rio de Janeiro, Jorge Zahar editor, 2007, p 71<br />

8<br />

Lacan, Jac<strong>que</strong>s. L’Etourdit in: Outros Escritos, trad.Vera Ribeiro, Rio de Janeiro. Jorge Zahar Ed., 2003,<br />

p 449<br />

9 Lacan, Jac<strong>que</strong>s, Encore, seminário in<strong>é</strong>dito<br />

38

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!