Paradoxos Organizacionais e Tecnologia da Informação ... - Anpad
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<strong>Paradoxos</strong> <strong>Organizacionais</strong> e <strong>Tecnologia</strong> <strong>da</strong> <strong>Informação</strong>: Uma Análise Crítica <strong>da</strong> Implantação de<br />
Sistemas de Auto-Atendimento na Área de Gestão de Pessoas <strong>da</strong> Souza Cruz.<br />
Autoria: Isabella Freitas Gouveia de Vasconcelos, André Ofenhejm Mascarenhas<br />
Resumo: Pesquisas sobre o atual contexto social <strong>da</strong> área de gestão de pessoas no Brasil e no exterior<br />
indicam uma importante fase de transição pela qual a área passa atualmente, de uma atuação<br />
predominantemente operacional para modelos mais orgânicos de gestão de pessoas. Os autores<br />
pesquisados mostram que a aprendizagem organizacional é uma variável importante progressivamente<br />
defendi<strong>da</strong> e valoriza<strong>da</strong> pelos profissionais <strong>da</strong> área nos novos modelos que emergem no Brasil. Esta<br />
época de transição de modelos tem como característica a intensificação de paradoxos e contradições<br />
nas organizações, que adotam rapi<strong>da</strong>mente o novo discurso, mas encontram dificul<strong>da</strong>des operacionais<br />
para implementação <strong>da</strong>s novas formas organizacionais e sistemas próprios aos novos<br />
modelos.Mostraremos como a organização estu<strong>da</strong><strong>da</strong>, a Souza Cruz, conseguiu evitar os efeitos do<br />
paradoxo discurso-prática gerencial, bem caracterizado em diversos artigos científicos e trabalhos<br />
pesquisados nos quais embasamos a nossa pesquisa. Mostraremos através do método etnográfico de<br />
pesquisa como a organização consolidou o modelo Político de Gestão de Pessoas, e como estas<br />
mu<strong>da</strong>nças graduais permitiram aos funcionários <strong>da</strong> organização construir e consoli<strong>da</strong>r as<br />
competências necessárias à implantação de um sistema de informação de auto-atendimento na área de<br />
Gestão de Pessoas, trazendo a democratização <strong>da</strong>s informações, transformações na estrutura de poder<br />
e aprendizagem organizacional.<br />
1. Introdução: A Transição de Modelos de Gestão de Pessoas no Brasil e a <strong>Tecnologia</strong> <strong>da</strong><br />
<strong>Informação</strong><br />
Pesquisas sobre o contexto de gestão de pessoas no Brasil e exterior indicam uma importante fase de<br />
transição pela qual a área passa atualmente, de uma atuação predominantemente operacional para<br />
modelos mais orgânicos de gestão de pessoas. (Fischer, 1998; Fischer, 2000; Fischer e Albuquerque,<br />
2001, Lacombe e Tonelli, 2001). Mais especificamente, o trabalho de Fischer e Albuquerque (2001)<br />
através de uma extensa pesquisa realiza<strong>da</strong> na área de gestão de pessoas no Brasil confirma que os<br />
formadores de opinião em gestão de pessoas no Brasil adotam um discurso organizacional que defende a<br />
politização dos indivíduos. Os autores mostram que a aprendizagem organizacional é uma variável<br />
importante progressivamente defendi<strong>da</strong> e valoriza<strong>da</strong> pelos profissionais <strong>da</strong> área nos novos modelos que<br />
emergem no Brasil. Neste contexto de transição entre o modelo industrial e pós-industrial (Castells,<br />
1999), em geral, a implementação <strong>da</strong> tecnologia <strong>da</strong> informação vem sendo considera<strong>da</strong> uma maneira de<br />
se viabilizar novos arranjos organizacionais <strong>da</strong> área de gestão de pessoas. A importância dos sistemas de<br />
gestão de pessoas baseados no auto-atendimento, implementados em um número crescente de<br />
organizações, é uma evidência desta tendência de informatização <strong>da</strong> área.(Mascarenhas, 2003). Esta<br />
época de transição de modelos tem como característica a intensificação de paradoxos e contradições nas<br />
organizações, que adotam rapi<strong>da</strong>mente o novo discurso mas encontram dificul<strong>da</strong>des operacionais para<br />
implementação <strong>da</strong>s novas formas organizacionais e sistemas próprios aos novos modelos.<br />
Mostraremos como a organização estu<strong>da</strong><strong>da</strong>, a Souza Cruz, conseguiu evitar o paradoxo<br />
discurso-prática gerencial, bem caracterizado em diversos artigos científicos e trabalhos<br />
pesquisados (Lacombe e Tonelli, 2001, Vasconcelos, Motta e Pinochet, 2003). A organização<br />
consolidou com sucesso o modelo Político de Gestão de Pessoas, que descreveremos em<br />
detalhe neste artigo, consoli<strong>da</strong>ndo sistemas de gestão de pessoas favoráveis a aprendizagem<br />
organizacional. Estas mu<strong>da</strong>nças graduais permitiram aos funcionários <strong>da</strong> organização<br />
construir e consoli<strong>da</strong>r as competências necessárias à implantação com sucesso de sistemas de<br />
informação na área de Gestão de Pessoas baseados na democratização <strong>da</strong>s informações e<br />
aprendizagem organizacional. Caso estes sistemas tivessem sido implementados em um<br />
contexto organizacional mais mecanicista e conservador, que não favorecesse a emergência<br />
1
de um perfil de funcionários mais crítico, autônomo e politizado, estes sistemas teriam<br />
dificul<strong>da</strong>de em ser implementados na prática e teria ocorrido este paradoxo discurso-prática e<br />
os efeitos gerenciais indesejados decorrentes destas contradições, que foram evitados pela<br />
Souza Cruz. Caracterizaremos a seguir o tema paradoxos organizacionais e mais<br />
especificamente os efeitos do paradoxo discurso-ação gerencial, conforme descrito nos<br />
trabalhos científicos consultados.<br />
2.Os Efeitos Inesperados do Paradoxo Discurso-Ação<br />
McKinley e Scherer (2000), em um estudo recente sobre paradoxos organizacionais, tratam<br />
<strong>da</strong>s conseqüências indesejáveis do processo de reestruturação organizacional em organizações<br />
burocráticas atuais.O tema paradoxos e organização burocrática é um tema clássico em teoria<br />
<strong>da</strong>s organizações. Merton (1938) em um estudo clássico sobre burocracia e paradoxos, em<br />
seu artigo “The Unanticipated Consequences of Purposive Social Action”, mostra como a<br />
estrutura burocrática introduz transformações na personali<strong>da</strong>de dos seus participantes que<br />
levam à rigidez, às dificul<strong>da</strong>des no atendimento aos clientes e à ineficiência, transformações<br />
essas responsáveis pelo que Merton chama de disfunções ou conseqüências imprevistas <strong>da</strong><br />
ação gerencial. Desta forma, para Merton, to<strong>da</strong> ação social produz um paradoxo básico, tendo<br />
conseqüências contraditórias, <strong>da</strong>do o fato de que para ca<strong>da</strong> efeito desejado de uma ação,<br />
existe uma série de efeitos secundários, não desejados ou previstos, que se contrapõem aos<br />
efeitos buscados pelos indivíduos ao agir. Assim, para ca<strong>da</strong> efeito “positivo” <strong>da</strong> ação<br />
gerencial (“Intended Consequence”) existe um efeito que contraria as expectativas dos<br />
gerentes e administradores em relação a seus subordinados e à organização (“Unintendend<br />
Consequence”).<br />
O paradoxo básico <strong>da</strong> ação social descrito por Merton mostra que não se podem prever as<br />
reações dos indivíduos e os efeitos <strong>da</strong> ação gerencial de forma mecânica, como mostra Weber<br />
e a análise fenomenológica, ao assumir como pressuposto de análise a não-determinação <strong>da</strong><br />
ação humana.(Motta e Vasconcelos, 2002).<br />
Seguindo a tradição weberiana de análise, autores como Selznick (1955), Merton (1938,<br />
1968), analisam as organizações como esferas de poder onde predominam a racionali<strong>da</strong>de<br />
instrumental (adequação meios-fins) e o conflito, trazendo fenômenos de resistência<br />
organizacional <strong>da</strong><strong>da</strong> a imprevisibili<strong>da</strong>de <strong>da</strong> ação humana e os efeitos indesejáveis e não<br />
previstos <strong>da</strong> ação gerencial (paradoxo básico citado por Merton), reali<strong>da</strong>de sempre presente<br />
nas organizações.<br />
Desta forma, a distância entre teoria e prática acentua as percepções contraditórias dos atores<br />
sociais nas organizações atuais e acentua diversos efeitos inesperados e indesejados.<br />
Neste trabalho, utilizamos o conceito de paradoxo descrito por Lewis (2000). Este autor<br />
mostra como, a fim de atribuir sentido e compreender os sistemas complexos e ambíguos nos<br />
quais estão inseridos, os indivíduos têm a tendência a polarizar suas percepções em torno de<br />
elementos contraditórios e opostos.(Lewis, 2000). A partir disso, eles começam a agir em<br />
função desta percepção polariza<strong>da</strong>. <strong>Paradoxos</strong> são assim reali<strong>da</strong>des socialmente construí<strong>da</strong>s, a<br />
partir de percepções simplifica<strong>da</strong>s dos atores sociais, que, ao tentarem atribuir sentido à sua<br />
experiência, representam os sistemas complexos nos quais estão inseridos em torno de duas<br />
percepções contraditórias que passam a orientar a sua ação. (Vasconcelos, Motta e Pinochet,<br />
2003).<br />
São vários os efeitos indesejados do paradoxo discurso-prática nas organizações, conforme<br />
narrado nos artigos pesquisados (Lacombe e Tonelli, 2001).<br />
A partir destas percepções contraditórias provoca<strong>da</strong>s pelas organizações nas quais trabalham,<br />
polarizando sua percepção nas dimensões “discurso” e “prática” incoerentes, promessas e<br />
discursos gerenciais que produzem expectativas que não se realizam, alguns grupos de atores<br />
sociais desenvolvem reações defensivas que aumentam o nível de tensão e stress no sistema<br />
2
organizacional. Estas tensões nas organizações conduzem a fenômenos como a resistência<br />
organizacional e a emergência de conflitos, que impedem a consoli<strong>da</strong>ção de processos de<br />
mu<strong>da</strong>nça e reestruturação. (Cal<strong>da</strong>s e Wood Jr., 1999).<br />
A piora do clima organizacional deve-se às frustrações gera<strong>da</strong>s por estas contradições, como<br />
narram diversos estudos. Mais especificamente, quando “compram” os ideais de qualificação<br />
e aprendizagem pregados pelo discurso oficial, vários indivíduos sentem que este objetivo<br />
está em contradição com o trabalho mecânico que executam, que os impede de alcançarem<br />
concretamente estes objetivos, construindo novas competências. Esta insatisfação no<br />
ambiente de trabalho bem como um estilo gerencial incompatível com a aprendizagem<br />
organizacional explica o fato <strong>da</strong> implementação de sistemas de informação baseados nestas<br />
competências falhar ou do sistema ser implementado mas não ser utilizado na prática como<br />
deveria.(Vasconcelos e Vasconcelos, 2001; Carvalho e Lopes, 2001; Vieira e Misoczky,<br />
2001; Leão Jr., 2001). Desta forma, reforça-se o ciclo vicioso: contradições muito grandes<br />
entre o discurso e a prática gerencial, produzindo nos indivíduos expectativas de<br />
desenvolvimento que não são concretiza<strong>da</strong>s na prática, dificultam construção <strong>da</strong>s<br />
competências necessárias à implementação com sucesso de certos sistemas de informação que<br />
exigem maior autonomia e preparação técnica dos indivíduos, reforçando ain<strong>da</strong> mais a<br />
distância discurso-prática na mesma organização (Teixeira, Hastenreiter e Souza, 2001;<br />
Seleme e Andrade, 1991; Souza, 2000; Soares e Pimenta, 2000).<br />
2.2.Os Modelos de Gestão de Pessoas Predominantes na Implantação de <strong>Tecnologia</strong>s <strong>da</strong><br />
<strong>Informação</strong> Atuais<br />
Shoshana Zuboff descreve o fato de que, por sua própria natureza, a tecnologia <strong>da</strong> informação<br />
é caracteriza<strong>da</strong> por uma duali<strong>da</strong>de fun<strong>da</strong>mental. Em primeiro lugar, a tecnologia pode ser<br />
utiliza<strong>da</strong> para automatizar operações. O objetivo é substituir o esforço e a qualificação<br />
humanos por uma tecnologia que permita que os mesmos processos sejam excutados a um<br />
custo menor, com mais controle e continui<strong>da</strong>de. A robotização de fábricas, substituindo a mão<br />
de obra humana com mais eficiência é um exemplo desta função <strong>da</strong> tecnologia.(Zuboff, 1994)<br />
A tecnologia tem uma outra função: a informatização. Neste caso, vai-se além <strong>da</strong> mera<br />
automação, gera-se e incorpora-se uma informação nova que aperfeiçoa o próprio sistema.Um<br />
sistema que compara informações de dois bancos de <strong>da</strong>dos gerando uma nova informação<br />
para o funcionário de um <strong>da</strong>do setor; um sistema que divulga para diferentes setores de uma<br />
empresa as diferentes práticas organizacionais, comparando-as, estes sistemas geram<br />
informações novas, que permitem o questionamento dos métodos atuais e reconfiguração do<br />
trabalho.<br />
A primeira função, automatização, está relaciona<strong>da</strong> ao modelo industrial e permite a melhoria<br />
contínua dos processos e o atingimento de uma maior eficiência nos procedimentos já<br />
conhecidos e esquematizados.Trata-se <strong>da</strong> aprendizagem de circuito simples.<br />
A segun<strong>da</strong> função <strong>da</strong> tecnologia, informatização, está vincula<strong>da</strong> ao modelo informacional.<br />
Permite a comparação de diferentes sistemas e a geração de informação nova, útil para o<br />
indivíduo que trabalha na interface com a máquina, que pode aumentar o conhecimento sobre<br />
a natureza do próprio trabalho, questionando seus métodos e reconfigurando-os se necessário.<br />
Este sistema permite a aprendizagem de circuito duploe a inovação e está associa<strong>da</strong> com a o<br />
modelo <strong>da</strong>s organizações em aprendizagem e com um modelo político de gestão de pessoas.<br />
Como coloca Zuboff (1994), estas duas funções <strong>da</strong> tecnologia podem levar a caminhos<br />
divergentes. Uma estratégia que enfatiza a automação concentra-se na máquina inteligente,<br />
em volta <strong>da</strong> qual os recursos humanos trabalham de forma automatiza<strong>da</strong>, executando<br />
trabalhos rotineiros e mecânicos e limitando-se à aprendizagem de circuito simples.<br />
Uma estratégia informatizante reconhece o valor e a função <strong>da</strong> máquina inteligente, mas<br />
somente no contexto de sua interdependência com pessoas inteligentes. A máquina rotiniza<br />
3
procedimentos gerando informações novas. Automatizam-se os procedimentos, uma etapa<br />
necessária <strong>da</strong> informatização, mas vai-se além <strong>da</strong> mera automatização de procedimentos. Os<br />
indivíduos podem se concentrar em torno destas informações, gerando novas soluções e novas<br />
idéias. Neste sentido, a organização lucraria duplamente com o sistema de informação. Assim<br />
a função informatizadora <strong>da</strong> tecnologia inclui a automatização mas a vai além dela, na<br />
geração <strong>da</strong> informação nova que permite questionar o sistema, gerando aprendizagem em<br />
circuito duplo no que se refere aos recursos humanos politizados e autônomos envolvidos no<br />
processo de trabalho.<br />
O tipo de sistema ou tecnologia não define por si só a criação de uma organização “mecânica”<br />
ou “informacional”. A maneira como os indivíduos se apropriam <strong>da</strong> ferramenta e atribuem<br />
sentido a ela é que permitirá o seu uso dentro de uma função automatizadora, promovendo<br />
apenas o aprendizado de circuito simples, ou dentro de um paradigma mais amplo, de<br />
informatização, aprendizagem de circuito duplo e inovação.<br />
O paradoxo discurso-prática ao limitar a implementação efetiva de sistemas de informação<br />
que pressupõem para o seu funcionamento indivíduos qualificados tem como conseqüência a<br />
consoli<strong>da</strong>ção de uma organização na qual os sistemas somente automatizam funções, porem<br />
não informatizam, não permitem a utilização dos sistemas para o aprendizado e a inovação,<br />
como descreve Zuboff. Na prática, trata-se de um grande desperdício implementar-se sistemas<br />
sofisticados e caros, que conferem inúmeras possibili<strong>da</strong>des ao usuário, e não poder utiliza-los<br />
por falta de adequação dos modelos de gestão de pessoas e <strong>da</strong> estrutura organizacional como<br />
um todo.<br />
Foi justamente por ter conseguido implementar com sucesso o modelo Político de Gestão de<br />
Pessoas descrito a seguir brevemente bem como implementar práticas de gestão próprias a<br />
uma organização em aprendizagem que a Souza Cruz conseguiu evitar os efeitos negativos do<br />
paradoxo discurso-ação e consoli<strong>da</strong>r uma estratégia informatizante conforme descrito acima<br />
por Zuboff. (1994). Após apresentarmos os principais aspectos do modelo Político de Gestão<br />
de Pessoas, apresentarmos a metodologia utiliza<strong>da</strong>, o estudo de caso, as análises e conclusões<br />
finais.<br />
3. Características <strong>da</strong> Gestão de Pessoas nas Empresas Brasileiras e o Modelo Político de<br />
Gestão de Pessoas<br />
Os padrões de relacionamento entre empresas e empregados, mediados e administrados pela área de RH,<br />
sofreram significativa evolução no decorrer do último século. A literatura geralmente trata deste<br />
desenvolvimento a partir do conceito de modelo de gestão de pessoas. Segundo Fischer (2002), o<br />
modelo de gestão de pessoas é a maneira como uma organização se organiza para gerenciar e orientar o<br />
comportamento humano no ambiente de trabalho.<br />
O modelo de gestão de pessoas relaciona-se intimamente a vários fatores, internos e externos à<br />
organização, como a tecnologia adota<strong>da</strong> e a estratégia de organização do trabalho, a cultura e a estrutura<br />
organizacional, as relações de trabalho e o contexto competitivo. O comportamento esperado <strong>da</strong>s<br />
pessoas no trabalho e o modelo de gestão de pessoas correspondente, portanto, são influenciados tanto<br />
pelas características <strong>da</strong> organização quanto pelo ambiente no qual ela opera. A interação destes fatores<br />
determina o modelo de gestão de pessoas na organização e exerce um papel fun<strong>da</strong>mental na maneira<br />
como ela se posiciona no mercado, sua imagem e competitivi<strong>da</strong>de.(Mascarenhas, 2003).<br />
Lacombe e Tonelli (2001) detectam avanços mais significativos no contexto <strong>da</strong> gestão atual de RH. As<br />
autoras destacam, entretanto, que a abor<strong>da</strong>gem estratégica de RH ain<strong>da</strong> não é uma reali<strong>da</strong>de totalmente<br />
implementa<strong>da</strong> nas empresas brasileiras. A pesquisa empreendi<strong>da</strong> pelas autoras destaca a existência de<br />
três grupos de empresa: o primeiro, com 28% <strong>da</strong> amostra, é composto por empresas cuja área de gestão<br />
de pessoas tinha preocupações estritamente operacionais; o segundo, com 19% <strong>da</strong> amostra, é composto<br />
por empresas cujas áreas de gestão de pessoas estão estrutura<strong>da</strong>s em torno de questões estratégicas<br />
4
(como o papel de RH na empresa, o foco do negócio, o cliente interno e externo, a mu<strong>da</strong>nça constante e<br />
as metas de longo prazo); o terceiro grupo, com 53% <strong>da</strong>s empresas, parecem estar em uma fase de<br />
transição entre os dois estágios. (Lacombe e Tonelli, 2001).<br />
Desta maneira, percebe-se uma aparente evolução dentro do contexto brasileiro, onde 19% <strong>da</strong>s empresas<br />
já alcançaram um patamar em que suas áreas de RH participam do processo de planejamento<br />
estratégico. Utilizando-se do referencial de Fischer (1998), as autoras destacam que estas empresas têm<br />
suas áreas de gestão de pessoas mais próximas do modelo de gestão de pessoas como vantagem<br />
competitiva. As outras empresas têm suas áreas de gestão de pessoas estrutura<strong>da</strong>s em torno de funções<br />
operacionais ou estão em um processo de desenvolvimento em busca de padrões mais modernos de<br />
organização e atuação.<br />
Mesmo que a nomenclatura dos modelos emergentes varie, as tendências descritas por vários autores são<br />
similaresDescreveremos a seguir o modelo Político de Gestão de Pessoas.<br />
O modelo diferencia-se do modelo Instrumental ou mecânico sobretudo pela incorporação <strong>da</strong><br />
idéia de conflito e divergência tendo em vista os diferentes interesses dos atores<br />
organizacionais. Reconhece-se a existência de várias lógicas de ator e critérios de ação<br />
válidos, tendo em vista o modelo <strong>da</strong> racionali<strong>da</strong>de limita<strong>da</strong> de Simon, segundo o qual to<strong>da</strong> a<br />
racionali<strong>da</strong>de é relativa ao ator social que decide, não existindo uma racionali<strong>da</strong>de absoluta<br />
inquestionável. Apesar de reconhecer-se a existência de conflitos na organização, os<br />
dirigentes buscam superá-los através <strong>da</strong> negociação, obtendo a coesão entre as partes<br />
envolvi<strong>da</strong>s no processo de decisão. Um bom gerente, segundo este modelo, é um árbitro que<br />
tem como objetivo obter esta coesão integrando os interesses particulares dos diferentes<br />
grupos de atores sociais visando a obtenção de uma solução negocia<strong>da</strong> junto à direção <strong>da</strong><br />
empresa, resultando em uma espécie de "pacto político". (Mascarenhas, 2003; Vasconcelos e<br />
Vasconcelos, 2002; Lindolfo e Albuquerque, 2001, Lacombe e Tonelli, 2001)..As políticas de<br />
gestão de pessoas <strong>da</strong> empresa são vistas como mutantes e contingentes, sendo soluções<br />
temporárias e características de situações específicas à partir de um diagnóstico<br />
organizacional. (Mascarenhas, 2003)<br />
Principais Características do Modelo Político:<br />
Eficiência econômica negocia<strong>da</strong>, não correspondendo necessariamente à eficiência<br />
social a curto prazo (aceitação de conflitos, buscando-se no entanto absorvê-los através <strong>da</strong><br />
negociação política);<br />
Meio-ambiente negociado e construído;<br />
Avaliação dos resultados feita pelos grupos organizacionais envolvidos no processo de<br />
decisão;<br />
Ator-chave de Recursos Humanos é a direção geral <strong>da</strong> empresa;<br />
Empresa construí<strong>da</strong> socialmente através <strong>da</strong> ação política dos diversos grupos<br />
organizacionais;<br />
Decisões racionais e éticas referindo-se à resolução de conflitos, à obtenção do<br />
consenso e às questões de poder.<br />
Indivíduos vistos como atores políticos válidos com potencial de desenvolvimento<br />
positivo buscando concretizar ativamente seus próprios interesses ("ci<strong>da</strong><strong>da</strong>nia nas<br />
organizações”); modelo ético aplicado à organização.<br />
Este modelo está ligado ao conceito de progresso e construção de uma harmonia social a<br />
longo prazo, à despeito dos conflitos e divergências.Basicamente, conforme citado por<br />
Albuquerque e Fischer (1991) a aprendizagem organizacional, a inovação e uma estratégia<br />
informatizante ( Zuboff,1994) são defendidos neste modelo.(Mascarenhas, 2003).<br />
Apresentaremos agora as características <strong>da</strong> metodologia através <strong>da</strong> qual executamos o nosso<br />
estudo de caso <strong>da</strong> Souza Cruz.<br />
5
4. Metodologia do Estudo de Caso<br />
De acordo com o estudo de caso que segue os padrões <strong>da</strong> pesquisa etnográfica, o pesquisador<br />
deve reconstruir de forma indutiva as interações concretas dos atores sociais em um <strong>da</strong>do<br />
sistema organizacional. Desta forma, o pesquisador compreenderá os interesses em jogo entre<br />
os atores organizacionais situados nos diversos níveis hierárquicos. Através de entrevistas<br />
semi-estrutura<strong>da</strong>s, observações participantes e análise de documentos, o pesquisador<br />
procurará decifrar quais são os objetivos e interesses concretos dos diversos grupos<br />
envolvidos na interação, quais são suas formas de negociar, quais são as suas estratégias,<br />
práticas sociais e subculturas.O pesquisador buscará compreender como os grupos<br />
organizacionais e indivíduos utilizam as regras em seu favor e como buscam negociar<br />
soluções que lhes favoreçam, dentro dos limites de comportamento e <strong>da</strong>s possibili<strong>da</strong>des de<br />
ação ofereci<strong>da</strong>s pelo sistema organizacional e por suas regras. Neste tipo de pesquisa, o<br />
pesquisador tem dois tipos de raciocínios:<br />
a) A lógica estratégica, de natureza indutiva, através <strong>da</strong> qual se busca<br />
compreender as estratégias dos indivíduos e grupos organizacionais específicos,<br />
dependendo de sua posição na hierarquia, seus interesses e objetivos e dos recursos<br />
que controlam.<br />
b) A lógica dedutiva, através <strong>da</strong> qual se busca compreender de modo sistêmico as<br />
políticas organizacionais, a cultura, as regras gerais <strong>da</strong> organização e o espaço de<br />
ação e os jogos de poder que a organização estrutura e estimula entre os seus<br />
membros.<br />
Adota-se o pressuposto metodológico de que ca<strong>da</strong> organização possui um sistema de regras e<br />
jogos de poder bem como padrões culturais únicos, que podem ser similares, em alguns<br />
aspectos, aos de outras organizações, mas nunca serão iguais. Ca<strong>da</strong> sistema organizacional<br />
possui assim seus aspectos únicos e particulares, ligados à sua história e às suas regras e<br />
práticas sociais específicas. O pesquisador deve entrar na organização com um “olhar novo”,<br />
sem hipóteses estabeleci<strong>da</strong>s a priori, buscando compreender e decifrar este universo<br />
organizacional único.<br />
Gibson Burrell e Gareth Morgan (1994:30) em seu livro Sociological Paradigms and<br />
Organizational Analysis tratam <strong>da</strong> sociologia de base fenomenológica, paradigma no qual se<br />
enquadra a análise etnográfica. Os autores demarcam quatro dimensões de análise que<br />
enquadram diferentes paradigmas e métodos de análise. As quatro dimensões de análise<br />
sociológica são as seguintes:<br />
A dimensão sociológica <strong>da</strong> mu<strong>da</strong>nça radical ou conflito entre classes ou grupos sociais;<br />
A dimensão sociológica <strong>da</strong> regulação social, ou integração e harmonia social.<br />
A dimensão objetiva - a reali<strong>da</strong>de social vista como um <strong>da</strong>do objetivo,<br />
determinando ou condicionando a ação humana.<br />
A dimensão subjetiva - a reali<strong>da</strong>de vista como fruto de uma construção social à<br />
partir <strong>da</strong>s interações entre os indivíduos e grupos sociais. Nega-se o pressuposto de<br />
determinismo social, aceitando-se em maior ou menor grau o conceito de liber<strong>da</strong>de de<br />
ação humana (voluntarismo).<br />
A intersecção destas 4 dimensões originam 4 paradigmas de pesquisa em sociologia:<br />
.A intersecção <strong>da</strong> dimensão <strong>da</strong> integração (harmonia social) com o subjetivismo ou<br />
voluntarismo geram o paradigma <strong>da</strong> Sociologia Interpretativa de base Fenomenológica, no<br />
qual se insere nosso trabalho, pressupostos de pesquisa e método de análise.<br />
O paradigma <strong>da</strong> Sociologia Interpretativa conceitua a reali<strong>da</strong>de social como fruto de uma<br />
construção humana, através <strong>da</strong> interação e negociação dos diversos grupos sociais, que<br />
interpretam a reali<strong>da</strong>de segundo critérios pré-existentes, característicos de sua cultura. Ao<br />
6
agirem, no entanto, os indivíduos influenciam e transformam estes mesmos critérios e padrões<br />
nos quais basearam sua ação, em um processo dialético de reinterpretação e reconstrução <strong>da</strong><br />
reali<strong>da</strong>de social.<br />
Apesar de reconhecer o fenômeno <strong>da</strong> objetivação e reificação <strong>da</strong> reali<strong>da</strong>de social (o fato de<br />
que as instituições são percebi<strong>da</strong>s normalmente pelos indivíduos como sendo um <strong>da</strong>do<br />
objetivo <strong>da</strong> reali<strong>da</strong>de e não um construto humano), este paradigma propõe que a reali<strong>da</strong>de<br />
social é um conjunto de conceitos, valores e “frames” expressos cujo conjunto constitui o<br />
Universo Simbólico ou o Imaginário de um <strong>da</strong>do sistema social. Estes valores e<br />
representações são normalmente aceitos pelos atores sociais em questão e considerados<br />
ver<strong>da</strong>deiros. A reali<strong>da</strong>de, desta forma, é defini<strong>da</strong> como uma série crenças partilha<strong>da</strong>s<br />
intersubjetivamente entre os membros de um <strong>da</strong>do grupo social.<br />
Os procedimentos de coleta de <strong>da</strong>dos primários foram empregados por meio <strong>da</strong> realização de<br />
entrevistas semi-estrutura<strong>da</strong>s. Por se tratar de uma pesquisa para analisar as reações dos<br />
indivíduos e grupos foi usado um roteiro de entrevista, que serviu apenas como um guia,<br />
permitindo que os entrevistados pudessem se desviar do assunto e logo ser retomado<br />
novamente. O conteúdo <strong>da</strong>s entrevistas foi transcrito em um caderno de anotações. Não foram<br />
utilizados questionários e gravações nas entrevistas, que foram voluntárias e anônimas.<br />
Foram levados em consideração na análise todos os elementos que puderam contribuir para a<br />
compreensão do universo simbólico <strong>da</strong> organização e <strong>da</strong>s interações entre os atores sociais.<br />
Lin<strong>da</strong> Smircich trata deste tipo de pesquisa salientando que o conhecimento gerado por esta<br />
metodologia pode ser classificado como “conhecimento subjetivo”. Neste tipo de método, o<br />
que caracteriza a ciência positivista, ou seja, as relações do tipo sujeito/objeto são substituí<strong>da</strong>s<br />
por relações do tipo sujeito/sujeito, onde o pesquisador focaliza sua atenção nos significados<br />
partilhados intersubjetivamente. Este método tem como pressuposto que o conhecimento não<br />
é independente do pesquisador. Este último apreende as significações <strong>da</strong>s ações do grupo<br />
através <strong>da</strong> sua interação com os membros <strong>da</strong> organização e assim ele tem uma visão global<br />
dos significados e imagens partilha<strong>da</strong>s pelos membros do grupo organizacional. É importante<br />
ressaltar que um estudo de caso traz informações váli<strong>da</strong>s permitindo aprofun<strong>da</strong>r certos<br />
aspectos de uma teoria ou refutá-la, mas, por não obedecer a técnicas estatísticas, não se pode<br />
fazer afirmações genéricas.(Smircich,1983a)(Smircich, 1983b).<br />
O pesquisador neste método interrogará de forma apropria<strong>da</strong> sobre: quais são estes diferentes<br />
mundos sociais próprios à organização a ser estu<strong>da</strong><strong>da</strong>. Deve-se desven<strong>da</strong>r, em suma:<br />
A análise etnográfica se preocupa com estes <strong>da</strong>dos, procurando reconstituir as “lógicas de ator” e<br />
compreender a racionali<strong>da</strong>de própria a ca<strong>da</strong> ator social ou grupo de atores sociais entrevistados, de forma<br />
indutiva, até compreender a lógica sistêmica, testa<strong>da</strong> em segui<strong>da</strong> através de uma lógica dedutiva de<br />
raciocínio, compreendendo as leis gerais de funcionamento do sistema. A escola <strong>da</strong> Gestalt, tratando de<br />
“insights” ou momentos de compreensão fun<strong>da</strong>menta em parte esta metodologia.. No caso, procuramos<br />
reconstituir as reações dos atores organizacionais à informatização dos serviços de RH <strong>da</strong> organização;<br />
como estes concebiam estes sistemas, se o utilizavam ou não; se havia fenômenos de resistência à<br />
mu<strong>da</strong>nça; se estes sistemas estimulavam aprendizagem organizacional; se havia dicotomias discursoação<br />
na organização e os seus efeitos.<br />
A empresa industrial, a Souza Cruz, pareceu-nos um caso adequado. A organização tem um amplo<br />
histórico de utilização <strong>da</strong> tecnologia <strong>da</strong> informação como ferramenta de competitivi<strong>da</strong>de em seus<br />
processos, e não como negócio central. Além de estar em um estágio avançado de implementação <strong>da</strong> TI<br />
na área de gestão de pessoas, esta se mostrou prontamente disposta e prepara<strong>da</strong> para <strong>da</strong>r o suporte<br />
necessário às ativi<strong>da</strong>des de pesquisa. Foram realiza<strong>da</strong>s X entrevistas com dirigentes, funcionários de RH<br />
e usuários dos serviços de RH e diversos departamentos. A empresa deu autorização para utilização de<br />
seu nome.<br />
5. Estudo de Caso: a Experiência de Informatização <strong>da</strong> Area de Gestão de Pessoas <strong>da</strong><br />
7
Souza Cruz S.A.<br />
A Souza Cruz foi fun<strong>da</strong><strong>da</strong> em 25 de abril de 1903, no Rio de Janeiro, pelo imigrante<br />
português Albino Souza Cruz. Em 1910, foi incorpora<strong>da</strong> a Imperial Fábrica de Rapé, também<br />
no Rio de Janeiro. Em 1914, sentindo necessi<strong>da</strong>de de aporte tecnológico, Albino passou o<br />
controle acionário para a empresa inglesa British American Tobacco, transformando-a em<br />
S/A. Em 1920, inicia o processo de fomento <strong>da</strong> produção de fumo na região sul e instala sua<br />
primeira usina de beneficiamento de fumo em Santa Cruz do Sul (RS).<br />
Nas déca<strong>da</strong>s de 30 e 40 a Souza Cruz consolidou a sua posição no mercado, inaugurou fábricas e, nas<br />
déca<strong>da</strong>s de 70 e 80, abriu filiais em todo o país. Em 1978, foi inaugura<strong>da</strong> a Fábrica de Uberlândia, a<br />
maior e mais moderna uni<strong>da</strong>de de produção <strong>da</strong> América Latina. Em 95 foi inaugura<strong>da</strong> a primeira Central<br />
Integra<strong>da</strong> de Distribuição, em SP. Em 96, a Souza Cruz implantou um Complexo de beneficiamento de<br />
fumo em Santa Cruz do Sul (RS), num investimento de R$ 81 milhões. Em 97, a fábrica de<br />
Cachoeirinha, em Porto Alegre, entrou em funcionamento. No mesmo ano, a Souza Cruz firmou<br />
convênio com o Governo do Estado do Rio Grande do Sul para a construção de um complexo para a<br />
fabricação de cigarros, também em Cachoeirinha. Numa área de 227 hectares e com investimentos<br />
superiores a R$ 500 milhões até 2005, serão fabricados 45 bilhões de cigarros anuais, quase a metade <strong>da</strong><br />
atual produção <strong>da</strong> empresa no Brasil, que é de 110 bilhões. A previsão é de que a fábrica seja inaugura<strong>da</strong><br />
em 25 de abril de 2003.<br />
A Souza Cruz, uma empresa do grupo British American Tobacco, é a décima quinta maior empresa<br />
privado no Brasil, com ven<strong>da</strong>s de mais de 2,7 bilhões de dólares. Atuando nas áreas de fumo e cigarros,<br />
gera cerca de 4.700 empregos diretos, em postos de trabalho espalhados em todo o Brasil, além de 3.000<br />
que trabalham para a empresa na época <strong>da</strong> safra de fumo. A empresa é uma <strong>da</strong>s que mais recolhem<br />
impostos do país. São cerca de 45 mil famílias de produtores de fumo e cerca de 210 mil pontos de<br />
ven<strong>da</strong> atendidos diretamente.<br />
Atualmente, a Souza Cruz mantém diversas uni<strong>da</strong>des espalha<strong>da</strong>s no Brasil, em uma estrutura<br />
organizacional marca<strong>da</strong> pela grande dispersão. A Central Administrativa, localiza<strong>da</strong> em São Paulo,<br />
concentra os departamentos administrativos. As uni<strong>da</strong>des fabris de Uberlândia e Cachoeirinha<br />
concentram os funcionários <strong>da</strong> produção, enquanto que as quatro uni<strong>da</strong>des de Processamento de Fumo,<br />
em Santa Cruz do Sul, Blumenau, Rio Negro e Patos concentram os chamados “safreiros”, funcionários<br />
<strong>da</strong> empresa em regime temporário, que trabalham na época <strong>da</strong> safra de fumo. A matriz, no Rio de<br />
Janeiro concentra, parte <strong>da</strong> administração e o corpo diretivo. Além disso, a empresa conta com estruturas<br />
de logística e ven<strong>da</strong>s espalha<strong>da</strong>s por todo o Brasil, uma força de trabalho móvel e pulveriza<strong>da</strong>,<br />
responsável pela comercialização e entrega dos produtos em todo o território nacional.<br />
5.1.O Histórico <strong>da</strong> área de Gestão de Pessoas e o projeto CSRH<br />
Devido às características relaciona<strong>da</strong>s à organização e disposição geográfica <strong>da</strong> força de trabalho, a área<br />
de RH <strong>da</strong> empresa tem se defrontado, historicamente, com desafios peculiares no que se refere à gestão<br />
de pessoas. A área de RH, antes <strong>da</strong>s mu<strong>da</strong>nças relaciona<strong>da</strong>s à implementação <strong>da</strong> tecnologia, era<br />
organiza<strong>da</strong> de forma totalmente descentraliza<strong>da</strong>. A partir <strong>da</strong> definição <strong>da</strong>s políticas corporativas de gestão<br />
de pessoas, que era feita na uni<strong>da</strong>de do Rio de Janeiro, ca<strong>da</strong> uni<strong>da</strong>de <strong>da</strong> empresa contava com uma<br />
estrutura própria e completa de RH, que se ocupava de processos operacionais e parte dos processos<br />
estratégicos de RH.<br />
A área de gestão de pessos caracterizava-se pela grande complexi<strong>da</strong>de de seus processos, devido<br />
principalmente às características <strong>da</strong> sua organização. A estrutura até então em operação era muito<br />
pesa<strong>da</strong> e de pouca flexibili<strong>da</strong>de. Os processos de RH, tanto os operacionais como os estratégicos, eram<br />
realizados a partir <strong>da</strong> intensa interação entre os analistas <strong>da</strong> área e os gestores <strong>da</strong> organização e, por terem<br />
pouco apoio tecnológico, implicavam em grande quanti<strong>da</strong>de de trabalho. Esses processos, antes <strong>da</strong><br />
implementação <strong>da</strong> tecnologia, caracterizavam-se pela troca intensiva de informações entre seus diversos<br />
atores, de maneira manual. Como colocou um executivo do RH:<br />
8
“Em 90 não existia informática no setor, não tínhamos sequer um micro, nós trabalhávamos<br />
com um terminal <strong>da</strong> IBM. Até 90, 91 era tudo manual. O que se fazia uma vez por mês era a rolagem <strong>da</strong><br />
folha de pagamento, que era feita no Rio de Janeiro. A gente montava as informações aqui no IBM, não<br />
só a uni<strong>da</strong>de de Uberlândia como as demais; essas informações iam para o Rio e eram emitidos os<br />
contra cheques. Nós não tínhamos acesso ao contra cheque e relatórios, como temos hoje, 99% era<br />
manual. “<br />
A estrutura organizacional e o desenho destes processos causavam uma morosi<strong>da</strong>de ain<strong>da</strong> maior na<br />
administração de pessoas quando se tratava de funcionários baseados remotamente. Como colocou um<br />
executivo cliente de RH:<br />
“Você imagina uma situação com a qual eu já convivi: eu emito um aviso de férias para alguém, e esta<br />
pessoa está sedia<strong>da</strong> a quinhentos quilômetros de onde eu estou, e necessariamente esta pessoa tem que<br />
assinar este documento. Eu teria que pegar essa pessoa, assinar, retornar para mim para eu <strong>da</strong>r a<br />
minha assinatura, para eu depois despachá-la para uma central de recursos humanos, que iria colocar<br />
o input no sistema de férias de determinado funcionário. “<br />
Com o início <strong>da</strong> déca<strong>da</strong> de 90 a Souza Cruz começou a passar por um grande processo de racionalização<br />
organizacional, o que levou ao enxugamento <strong>da</strong> empresa. Durante esta déca<strong>da</strong>, a sua força de trabalho<br />
foi reduzi<strong>da</strong> em 50%, passando de 9.500 funcionários em 1991 para 4.700 em 2002. A área de RH, desta<br />
maneira, viu-se diante do desafio de adequar-se à nova reali<strong>da</strong>de.<br />
A pressão pela diminuição <strong>da</strong> força de trabalho <strong>da</strong> área levou à implementação de um amplo projeto que<br />
viabilizasse a total reorganização do RH. Este projeto deveria não somente possibilitar a redução do<br />
efetivo <strong>da</strong> área, acompanhando a racionalização <strong>da</strong> organização como um todo, mas principalmente,<br />
garantir novos padrões de atuação <strong>da</strong> área a partir <strong>da</strong> reorganização de seus processos e estruturas.<br />
O projeto CSRH -Central de Serviços de Recursos Humanos baseava-se na idéia <strong>da</strong> consultoria interna<br />
de recursos humanos. Segundo esta idéia, a área de RH deveria deixar de executar tarefas burocráticas e<br />
operacionais para concentrar-se na prestação de serviços estratégicos à organização. Neste sentido, os<br />
analistas de RH deveriam utilizar seus conhecimentos de questões humanas para concentrar-se no<br />
suporte às deman<strong>da</strong>s <strong>da</strong>s áreas clientes, de forma a melhorar a quali<strong>da</strong>de dos processos de gestão de<br />
pessoas na organização. Esta idéia parte do princípio que os processos de gestão de pessoas são de<br />
responsabili<strong>da</strong>de dos gerentes de linha, já que estes estão em contato direto e diário com as equipes.<br />
A implementação do conceito de consultoria interna na Souza Cruz relaciona-se diretamente<br />
com a necessi<strong>da</strong>de de se racionalizar a organização <strong>da</strong> área.<br />
5.2. Os Processos de Gestão de Pessoas Antes do Projeto CSRH<br />
Os processos de administração de pessoas, antes do projeto CSRH, eram realizados pelos analistas de<br />
RH em ca<strong>da</strong> uni<strong>da</strong>de <strong>da</strong> organização. A maioria destes processos envolvia a interação intensiva entre<br />
estas equipes e os gestores, na medi<strong>da</strong> em que estes são a fonte dos <strong>da</strong>dos e aqueles eram responsáveis<br />
sua centralização e tratamento.<br />
A interação entre funcionários clientes e analistas de RH em processos de administração de pessoas<br />
implicava em etapas desnecessárias de circulação de <strong>da</strong>dos, em fluxos não-racionalizados. Como<br />
colocou um cliente de RH, os processos de reembolso de despesas é um dos maiores exemplos <strong>da</strong>s<br />
dificul<strong>da</strong>des que a organização enfrentava neste sentido:<br />
“[O reembolso de despesas] demorava vários dias. Imagina o seguinte: alguém em Angra dos Reis, ou<br />
em Cabo Frio, vai man<strong>da</strong>r o papel pelo malote, vai ter que chegar em São Paulo, para alguém assinar,<br />
digitar e depois vão creditar na conta do cara, vai demorar no mínimo cinco dias.”<br />
“Você pode fazer coisas, eventualmente, uma informação que você passou está equivoca<strong>da</strong>. É aquela<br />
história do papel que vai e volta, que estava errado. Eu man<strong>da</strong>va um documento para o RH, eu podia<br />
consultar previamente o que eu tinha que estar man<strong>da</strong>ndo, a forma correta. Era muito comum as<br />
cartinhas de RH, dizendo: ‘estamos devolvendo a sua solicitação porque faltou um <strong>da</strong>do, me passe essa<br />
informação para eu poder <strong>da</strong>r prosseguimento’, só que vinha isso para São Paulo e tinha que voltar<br />
para Cabo Frio, e o cara estava esperando o dinheiro dele na conta.”<br />
9
5.3.Os Processos de Gestão de Pessoas Após o Projeto CSRH<br />
O projeto CSRH promoveu a ampla informatização dos processos de administração de pessoas através<br />
de diversos sistemas interativos, como a URA (Uni<strong>da</strong>de de Resposta Audível), e o SAF eletrônico. A<br />
URA é um canal automatizado de administração e atendimento de pessoas na organização. Trata-se de<br />
um sistema, operado a partir do telefone, que disponibiliza diversos serviços e informações, como contra<br />
cheques e saldo de pagamento. Como explicou um executivo <strong>da</strong> área:<br />
“Nós já temos a URA também, informação via telefone, onde ele vai lá e disca: disque 2 para<br />
saber o seu saldo de pagamento, disque 3 para não sei o quê, disque 4 para receber o seu contra cheque<br />
impresso, aí você imprime o contra cheque. Nós já estamos liberando os três últimos contra cheques lá<br />
na URA também, quer dizer, se você estiver na loja e diz: ‘Eu gostaria de comprar este automóvel, me<br />
empresta o seu fax’. Da loja ele disca e obtém os três últimos contra cheques.”<br />
A URA é um dos sistemas disponíveis na Souza Cruz, através dos quais é possível realizar transações e<br />
ter acesso a informações sobre seu relacionamento com a área de RH. Atualmente, os membros <strong>da</strong><br />
organização têm acesso a diversos sistemas que possibilitaram a descentralização <strong>da</strong> alimentação <strong>da</strong>s<br />
informações relaciona<strong>da</strong>s aos processos de RH. Estes sistemas, reunidos no menu RH on Line,<br />
possibilitaram a redução de etapas na execução destes processos, através <strong>da</strong> racionalização do fluxo de<br />
informações. Como colocou um cliente <strong>da</strong> área de RH:<br />
“A responsabili<strong>da</strong>de pelo input, que era <strong>da</strong>do para a área de RH já que ela tinha que colocá-lo no<br />
sistema, foi pulverizado para as pessoas. Com isso, ganharam os funcionários e gerentes, dessa forma o<br />
funcionário faz o input e você como gerente faz só a aprovação, agora se você vai mu<strong>da</strong>r o horário dele,<br />
vai transferir, vai promover, é uma tarefa exclusiva do gerente. “<br />
Os sistemas de RH auto atendimento <strong>da</strong> Souza Cruz são acessados através de terminais espalhados pelas<br />
uni<strong>da</strong>des <strong>da</strong> empresa, no caso de funcionários <strong>da</strong> produção, dos terminais de microcomputadores dos<br />
funcionários de escritório e gestores, e de computadores portáteis <strong>da</strong> empresa, no caso de gestores e<br />
funcionários alocados remotamente. Estes sistemas incluem diversas funções, como resume o quadro<br />
abaixo:<br />
Tabela I – Os Serviços do Auto-Atendimento <strong>da</strong> Área de Gestão de Pessoas<br />
SAF eletrônico Acesso a <strong>da</strong>dos e serviços personalizados, através de senha individual, a<br />
todos os funcionários <strong>da</strong> organização<br />
Recrutamento interno O funcionário disponibiliza, de acordo com seus interesses, seu minicurrículo<br />
pessoal, que é utilizado no processo de recrutamento interno. Tem<br />
acesso às vagas disponíveis na organização, bem como inscrição no processo<br />
de seleção.<br />
Contracheque O funcionário tem acesso ao contracheque do mês. O sistema permite a<br />
impressão.<br />
Consulta de saldos O funcionário tem acesso ao saldo de pagamentos diversos.<br />
Banco de Horas O funcionário de acesso a informações sobre seu saldo de horas e controle de<br />
horários.<br />
Auto Atendimento O funcionário tem acesso a ferramentas e informações como os últimos<br />
contracheques, administração de férias e benefícios. O sistema permite a<br />
impressão.<br />
Assistência à Saúde O funcionário tem acesso às políticas de assistência à saúde e ferramentas<br />
que permitem administrar estes benefícios, como: solicitação de segun<strong>da</strong> via<br />
<strong>da</strong> identificação, inclusão de dependentes, mu<strong>da</strong>nça de planos, etc..<br />
SAF Plus e Safreiros Informações personaliza<strong>da</strong>s e serviços customizados, acessados mediante<br />
senha individual, e direcionados a gestores.<br />
Admissão O gestor tem acesso às ferramentas necessárias para a administração <strong>da</strong>s<br />
admissões. Solicitação de candi<strong>da</strong>tos, aprovação, relatórios, etc.<br />
Aprovação O gestor aprova diversas solicitações, como férias, alteração de horários,<br />
registro de horários.<br />
10
Ca<strong>da</strong>stro de funcionários Os gestores têm acesso a to<strong>da</strong>s as informações pertinentes sobre os<br />
funcionários. Dados ca<strong>da</strong>strais, <strong>da</strong>dos funcionais, solicitação de transferência<br />
e alteração de contrato de trabalho, etc.<br />
Descontos O gestor tem acesso às ferramentas necessárias para a administração de<br />
descontos, como por exemplo telefonemas particulares, equipamentos<br />
<strong>da</strong>nificados e cargas incompletas.<br />
Administração de Férias O gestor tem acesso às ferramentas necessárias para a administração <strong>da</strong>s<br />
férias. Solicitação, aprovação, demonstrativos, etc.<br />
Histórico de operações Os gestores têm acesso a seu histórico de operações nos sistemas em duas<br />
opções: 15 e 30 dias.<br />
Tabelas Os gestores têm acesso a tabelas de cargos existentes na organização,<br />
horários de trabalho, e <strong>da</strong>tas limite para procedimentos de gestão de pessoas.<br />
Lista de funcionários Os gestores têm acesso a uma ferramenta de pesquisa para encontrar<br />
funcionários <strong>da</strong> organização.<br />
Rescisão O gestor tem acesso às ferramentas necessárias para a administração <strong>da</strong>s<br />
rescisões. Solicitação, simulação, exame demissional, etc.<br />
Remuneração Os gestores têm acesso às ferramentas relaciona<strong>da</strong>s à avaliação de<br />
desempenhos dos funcionários de escritório, bem como históricos <strong>da</strong>s<br />
avaliações de desempenho, políticas de promoção, ferramentas de<br />
administração de promoções. Este sistema alimenta também a remuneração<br />
por mérito.<br />
Penas disciplinares O gestor acessa ferramentas para a aplicação de penas disciplinares, como<br />
advertências e suspensões.<br />
Hierarquia <strong>da</strong> empresa O gestor tem informações sobre a estrutura organizacional.<br />
Universi<strong>da</strong>de Souza Cruz Página através <strong>da</strong> qual são acessados cursos online de desenvolvimento<br />
pessoal e profissional. Estes cursos são acessados por todos os funcionários<br />
<strong>da</strong> empresa e são acompanhados através do meio digital. A empresa<br />
disponibiliza salas especiais em suas diversas uni<strong>da</strong>des para o<br />
acompanhamento destes cursos.<br />
Políticas de RH Os gestores têm acesso, através desta página, a to<strong>da</strong>s as políticas de recursos<br />
humanos <strong>da</strong> empresa, em um formato customizado. É possível encontrar as<br />
políticas sobre relações industriais, recrutamento e seleção, idiomas, serviços<br />
de terceiros, etc.<br />
Consultor de RH Os gestores têm acesso, através desta página, a explicações detalha<strong>da</strong>s sobre<br />
procedimentos relacionados à gestão de pessoas, como desligamento,<br />
estagiários, penas disciplinares, recrutamento e seleção, absenteísmo, etc.<br />
RH Excellence Os gestores têm acesso, através desta página, a um grande número de<br />
relatórios customizados sobre as características <strong>da</strong> força de trabalho <strong>da</strong><br />
empresa. As informações incluem perfil educacional, desempenho,<br />
movimentações, processos trabalhistas, etc.<br />
De acordo com este projeto, a descentralização dos processos de administração de pessoas, viabiliza<strong>da</strong><br />
através <strong>da</strong> informatização, possibilitou a sua racionalização na medi<strong>da</strong> em que etapas desnecessárias de<br />
seus fluxos de informações foram suprimi<strong>da</strong>s. A antiga centralização dos <strong>da</strong>dos por parte do RH, que era<br />
responsável pela sua introdução nos antigos sistemas, não existe mais. A descentralização <strong>da</strong> alimentação<br />
de <strong>da</strong>dos possibilitou então maior rapidez e independência dos clientes de RH nestes processos. A seguir,<br />
alguns entrevistados citam importantes modificações nos sistemas: A distância entre departamentos, por<br />
exemplo, deixou de ser um problema, como cita um usuário do serviço de RH:<br />
“...[Os processos de administração] são executados no momento certo, no tempo certo, é diferente do<br />
passado: quando eu precisava do RH amanhã eu tinha que imaginar que o RH está em SP, e eu estou<br />
em Maceió, e o malote vai sair de SP, vai para tal ci<strong>da</strong>de e depois vai para Maceió; o que implica em 24<br />
a 48 horas de espera. Atualmente você não precisa mais esperar, você é quem toma a decisão, é on line:<br />
ótimo! Isso vale para o desligamento, as férias, a rescisão, e muitos outros serviços. Em todos os casos,<br />
o que nós vamos fazer efetivamente: conferir e pedir a transferência do dinheiro, quer dizer, agilizou<br />
11
tudo para o cliente, hoje é muito mais prático. Se você for ver, três, quatro anos atrás você iria encontrar<br />
uma reali<strong>da</strong>de diferente. “<br />
Um funcionário do setor de RH falou sobre a diminuição <strong>da</strong> distância:<br />
“Eu emito um aviso de férias para alguém, e esta pessoa está sedia<strong>da</strong> a quinhentos quilômetros<br />
de onde eu estou, e necessariamente esta pessoa tem que assinar este documento. Eu teria que pegar<br />
essa pessoa, assinar, retornar para mim para eu <strong>da</strong>r a minha assinatura, para eu depois despachá-la<br />
para uma central de recursos humanos, que iria colocar o input no sistema de férias de determinado<br />
funcionário. Sobre esse processo, logicamente, hoje alguém imputa a solicitação de férias, como<br />
aconteceu comigo na semana passa<strong>da</strong> com o meu chefe; eu fiz a minha solicitação de férias, e ele<br />
eletronicamente recebeu lá uma mensagem, falando: “olha tem umas férias aqui para você aprovar, por<br />
gentileza aprove as férias do Edson”. Entrou no sistema e aprovou. Do ponto de vista de tempo, nós<br />
ganhamos, pois tínhamos muita burocracia.”<br />
Um outro usuário do setor de RH falou sobre democratização de informações, um dos principais<br />
benefícios do sistema, o seguinte:<br />
“No passado o que se circulava era papel, não circulava informação. Você não tinha uma base liga<strong>da</strong><br />
que se pudesse acessar a informação, então era só uma caixa preta e quando se precisava de uma<br />
informação você tinha que falar com um intermediário para saber quando o funcionário entrou na<br />
companhia, quando ele tirou férias, por exemplo. Se você marcava férias, você tinha que marcar em um<br />
papel e encaminhar para o RH, o que deman<strong>da</strong>va tempo. Até que aqui a gente não tinha muitas<br />
dificul<strong>da</strong>des pois o RH era próximo, como eu já trabalhei de auditor, durante algum tempo, quando eu<br />
estava em Belém, isso era dificultado, pois você dependia de malote, logo a evolução especificamente do<br />
RH na Souza Cruz foi exemplar, inclusive acho que ela está um ou dois passos na frente <strong>da</strong>s demais<br />
áreas. Hoje eu tenho um sistema em que eu marco férias, vejo currículo, promovo, transfiro, demito, e<br />
obtenho qualquer informação sem levantar <strong>da</strong> cadeira. Se alguma coisa não estiver aqui eu ligo e em<br />
pouco tempo tenho a resposta, quando eles não a possuem esta chega no máximo em um dia. “<br />
Além <strong>da</strong> maior rapidez e independência dos gestores nos processos de RH, a informatização <strong>da</strong><br />
administração de pessoas propiciou o aumento do acesso à informação relaciona<strong>da</strong> a área de RH em<br />
todos os níveis <strong>da</strong> organização. Os processos informatizados e os novos canais de interação entre a área<br />
de RH e seus clientes possibilitam um maior nível de conhecimento sobre as práticas de RH e gestão de<br />
pessoas. A democratização <strong>da</strong>s informações sobre RH teve diversas conseqüências no que diz respeito<br />
ao relacionamento entre chefes e subordinados: a dimimuição de informações e poder.<br />
“Antes, as políticas estavam dentro de um livro chamado blue book, ou seja, lá tinha tudo e ficava na<br />
gaveta do gerente de pessoas fechado a chaves; se alguém fizesse uma consulta e o gerente não estava<br />
ninguém saberia responder. Hoje você entra no sistema e tem isso disponível, portanto ter a informação<br />
não está ligado ao poder, mas sim ligado à habili<strong>da</strong>de de você compartilhá-lo com seus clientes.”<br />
Um perfil mais politizado e crítico de funcionários era estimulado através destas modificações:<br />
“Permitiu-se, com a instalação dos sistemas, que o funcionário tenha um nível muito maior<br />
de acesso à informação, desta forma o cara passa a te deman<strong>da</strong>r mais. Uma coisa é o cara<br />
estar isolado, não tendo acesso a informação. O questionamento muitas vezes vem do acesso<br />
à informação, por esse aspecto aumenta a responsabili<strong>da</strong>de. Ao permitir o acesso, ele vai ter<br />
um nível de questionamento mais elevado.”<br />
Conflitos oriundos dos sistemas:<br />
No contexto do projeto CSRH, os conflitos mais relevantes potencializados pela implementação <strong>da</strong> TI<br />
coincidem com aqueles discutidos pela literatura especializa<strong>da</strong>, e estão relacionados às grandes<br />
mu<strong>da</strong>nças na organização do trabalho <strong>da</strong> área e nas responsabili<strong>da</strong>des pelas tarefas relaciona<strong>da</strong>s à gestão<br />
de pessoas. A descentralização através <strong>da</strong> informatização, neste contexto, e a concessão de uma maior<br />
autonomia aos funcionários é especialmente problemática, por que implica na transferência de<br />
responsabili<strong>da</strong>des de várias ativi<strong>da</strong>des, <strong>da</strong> área de RH para as áreas clientes.<br />
Desta maneira, a descentralização gerou grandes conflitos com as áreas clientes, acostuma<strong>da</strong>s a terem<br />
menos responsabili<strong>da</strong>des, ou nenhuma, em diversos processos administrativos. Este conflito foi mais<br />
12
intenso com os gestores menos familiarizados com o trabalho informatizado, que, por terem dificul<strong>da</strong>des<br />
em se a<strong>da</strong>ptar a esta mo<strong>da</strong>li<strong>da</strong>de de trabalho, viam a introdução do sistema como um grande aumento de<br />
suas tarefas diárias. Como colocou um analista de RH:<br />
“Quando você mostra o projeto, e mostra para o seu usuário que ele vai ter uma carga de trabalho<br />
diferente, o primeiro impacto dessas pessoas é horrível, elas não querem escutar... “É cômodo para eles<br />
[o RH]: jogam nas minhas costas, e eu tenho que vender cigarros e administrar pessoas...” Porque a<br />
princípio eu estou te [aos usuários] <strong>da</strong>ndo mais trabalho, que é o mais comum, a situação mu<strong>da</strong>, nem<br />
todo mundo aceita isso. A princípio foi difícil, tem gente dentro desta empresa com trinta anos de<br />
carreira e não está acostuma<strong>da</strong> a uma ferramenta informatiza<strong>da</strong>, o computador, a Internet.”<br />
Ou um cliente de RH:<br />
“Com certeza quando você sai de um processo manual para um informatizado, você tem um período de<br />
transição, até mesmo com pessoas contra, que preferiram o sistema antigo, não necessariamente por<br />
serem mais velhas, mas pela experiência de uso do sistema antigo.”<br />
Os conflitos com a introdução <strong>da</strong> descentralização, entretanto, diminuíram na medi<strong>da</strong> em que<br />
a organização foi compreendendo os grandes benefícios dos novos processos. O tempo<br />
adicional gasto com determina<strong>da</strong>s rotinas e ativi<strong>da</strong>des é menor que o tempo economizado em<br />
outros aspectos dos novos processos.<br />
5.4.Mu<strong>da</strong>nças na Organização<br />
Um dos aspectos <strong>da</strong> implementação deste projeto do auto-atendimento de RH é o fato <strong>da</strong> organização ter<br />
progressivamente implantado modificações de caráter mais geral compatíveis com as exigências desta<br />
tecnologia. Exigindo um perfil de funcionário mais politizado, independente, capaz de processar<br />
informações, acessar a tecnologia e ser autônomo na gestão de processos, o projeto do auto-atendimento<br />
não teria sido implementado com sucesso se não tivesse sido parte de um processo de mu<strong>da</strong>nça<br />
organizacional mais complexo, no qual a Souza Cruz implementou um modelo de gestão próximo ao<br />
<strong>da</strong>s organizações em aprendizagem, fazendo mu<strong>da</strong>nças no perfil funcionários recrutado; na gestão de<br />
equipes; nos valores difundidos; nas formas de remuneração, nos treinamentos e no desenho <strong>da</strong><br />
estrutura organizacional. Em suma, a Souza Cruz adotou efetivamente o modelo de recursos humanos<br />
Político,descrito na revisão teórica deste artigo, evitando a dicotomia “discurso-ação” ,paradoxo<br />
gerencial típico narrado em diversos trabalhos. Sendo parte coerente de um projeto maior de real adoção<br />
do modelo Político de Gestão de Pessoas, o projeto de auto-atendimento do RH <strong>da</strong> Souza Cruz pode<br />
funcionar bem.<br />
De fato, gradualmente a Souza Cruz foi implementando modificações relevantes.<br />
Os últimos quinze anos na Souza Cruz foram marcados pela diminuição dos níveis hierárquicos <strong>da</strong><br />
estrutura organizacional. De um modelo altamente verticalizado, a organização estrutura-se atualmente<br />
com 3 a 4 níveis hierárquicos a menos.<br />
O perfil educacional mudou e a média de escolari<strong>da</strong>de aumentou na empresa a partir de novas políticas<br />
de desenvolvimento humano e contratação de pessoas. A comunicação na organização melhorou,<br />
conseqüência <strong>da</strong>s mu<strong>da</strong>nças na estrutura organizacional. Estas mu<strong>da</strong>nças foram descritas <strong>da</strong> seguinte<br />
maneira por executivos <strong>da</strong> organização:<br />
“É um pessoal [que trabalha em funções de escritório] que está concluindo o terceiro grau, no mínimo,<br />
e tem em média de 25 a 30 anos, com cerca de até 5 anos de empresa em sua maioria, sendo que 60% é<br />
do sexo masculino e 40% feminino mais ou menos nessa fase. Temos mais homens casados do que<br />
mulheres, mas entre casados e solteiros devemos estar empatados em 50% a 50%, sendo que a faixa<br />
média de i<strong>da</strong>de é 27 anos. A grande maioria, cerca de 80%, tem o superior concluído e/ou em<br />
conclusão. “<br />
13
“Dez, quinze anos atrás, nós começamos a grande reestruturação em 1989-90, e aí sim começou caindo<br />
os níveis. Você vê, tem a gerência depois o analista, não tem mais ninguém nesse meio, logo a<br />
comunicação ficou muito mais fácil, hoje você interage muito mais. A proximi<strong>da</strong>de com o superior<br />
imediato facilita a comunicação, o que nós já falamos aqui, nesses encontros você comunica e<br />
negocia.”<br />
5.5 Mu<strong>da</strong>nças na Área de Gestão de Pessoas<br />
As mu<strong>da</strong>nças descritas acima na organização foram o pano de fundo para a introdução do projeto<br />
CSRH. As pressões pela racionalização <strong>da</strong> organização como um todo, a partir de meados <strong>da</strong> déca<strong>da</strong> de<br />
80, atingiram a área, como não poderia ser diferente, deixando clara a necessi<strong>da</strong>de <strong>da</strong>s profun<strong>da</strong>s<br />
transformações que culminaram na consoli<strong>da</strong>ção do novo modelo de consultoria interna, viabilizado<br />
pela TI. A implementação deste modelo, desta maneira, aconteceu como parte de um processo anterior e<br />
mais amplo, no qual o contexto social <strong>da</strong> área sofreu profun<strong>da</strong>s mu<strong>da</strong>nças.<br />
Nos últimos 10 anos, a estrutura <strong>da</strong> área de RH foi reduzi<strong>da</strong> gradualmente. Como colocou um executivo<br />
<strong>da</strong> área, o RH <strong>da</strong> Souza Cruz, no início <strong>da</strong> déca<strong>da</strong> de 90, contava com aproxima<strong>da</strong>mente 60 executivos e<br />
300 analistas, para uma população de aproxima<strong>da</strong>mente 9.500 funcionários na organização. Atualmente,<br />
estes números não passam de 17 executivos e 35 analistas, para atender a organização com pouco menos<br />
de 5.000 funcionários. O perfil dos funcionários <strong>da</strong> área de gestão de pessoas, como já discutido,<br />
também mudou. O aumento <strong>da</strong> escolari<strong>da</strong>de média na área foi resultado de novas políticas de<br />
contratação e dispensa de funcionários, bem como de estímulo ao desenvolvimento pessoas na última<br />
déca<strong>da</strong>. Além de maior qualificação, autonomia, iniciativa, capaci<strong>da</strong>de de aprendizado e mobili<strong>da</strong>de<br />
social são aspectos valorizados pela organização atualmente de forma concreta e não apenas no discurso.<br />
Estas mu<strong>da</strong>nças exemplificam a transformação <strong>da</strong> área de gestão de pessoas na última déca<strong>da</strong> na<br />
empresa, que implicou também em novas responsabili<strong>da</strong>des dos analistas, nova disposição espacial <strong>da</strong>s<br />
equipes, melhoria na comunicação entre equipes e níveis hierárquicos, etc.<br />
6.Análise do Estudo de Caso e Conclusão<br />
De acordo com o Modelo Político de Gestão de Pessoas, como vimos acima, a mu<strong>da</strong>nça é um<br />
processo de criação coletiva através do qual os membros de uma <strong>da</strong><strong>da</strong> coletivi<strong>da</strong>de inventam e<br />
fixam novas maneiras de jogar o jogo social <strong>da</strong> cooperação e do conflito, negociando<br />
interesses e instaurando uma nova estrutura e uma nova ordem social. Não se trata apenas de<br />
uma mu<strong>da</strong>nça técnica, mas <strong>da</strong> instauração de novos jogos políticos, novas formas de controle<br />
de recursos, hábitos e práticas sociais que favoreçam a implementação efetiva <strong>da</strong> nova<br />
tecnologia, ferramenta ou modelos de gestão. Trata-se <strong>da</strong> construção de um novo sistema<br />
organizacional. A contradição fun<strong>da</strong>mental é que o novo sistema só pode ser construído a<br />
partir do sistema anterior, com o qual, no entanto, deve romper ao menos parcialmente, para<br />
instaurar uma nova distribuição de recursos e poder. O sistema anterior fornece a maioria <strong>da</strong>s<br />
competências disponíveis para a criação do novo. Deve-se, pois, coordenar a transição dos<br />
atores sociais para o novo sistema organizacional negociando soluções com os diversos<br />
grupos de indivíduos, dependendo <strong>da</strong> importância dos recursos que detenham.Caso a<br />
organização compatibilize bem mu<strong>da</strong>nça de sistemas técnicos e informáticos, favorecerá a<br />
estratégia informatizante descrita por Zuboff: aprendizagem de circuito duplo e inovação<br />
favoreci<strong>da</strong> pela implantação de sistemas de informação sofisticados. Caso a organização não<br />
favoreça a implantação efetiva de um modelo político de gestão de pessoas e apenas<br />
implementar sistemas de informação sofisticados que requeiram estas competências para o<br />
seu bom funcionamento, os efeitos inesperados do paradoxo discurso-ação se intensificarão, a<br />
mu<strong>da</strong>nça organizacional não se consoli<strong>da</strong>rá e a organização restringirá a sua política de TI aos<br />
efeitos <strong>da</strong> Automatização, ou seja, à existência de sistemas de informação inteligentes, porém<br />
a manutenção de uma política de gestão de pessoas que não permite a aprendizagem e o<br />
aperfeiçoamento de competências na organização.<br />
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Pesquisas relevantes na área mostram que as organizações brasileiras encontram-se em uma<br />
fase de transição importantes na implementação de suas políticas de Gestão de Pessoas e que<br />
uma <strong>da</strong>s tendências é a implementação de modelos que favoreçam a tecnologia <strong>da</strong> informação<br />
e a aprendizagem(Albuquerque e Fischer, 2001; Lacombe e Tonelli, 2001).O Estudo de caso<br />
<strong>da</strong> Souza Cruz é importante no sentido de oferecer aos profissionais <strong>da</strong> área um exemplo onde<br />
se conseguiu evitar os efeitos do paradoxo discurso-ação gerencial e se consoli<strong>da</strong>r um sistema<br />
onde se associou aprendizagem e sistemas de informação com sucesso.<br />
O projeto de Auto-Atendimento em Recursos Humanos (CSRH) foi implementado gradualmente na<br />
medi<strong>da</strong> em que o contexto social adequava-se às amplas mu<strong>da</strong>nças, narra<strong>da</strong>s em detalhe no caso, como<br />
a mu<strong>da</strong>nça <strong>da</strong>s políticas de recrutamento e seleção, a mu<strong>da</strong>nça <strong>da</strong> estrutura organizacional, dos níveis<br />
hierárquicos, <strong>da</strong> cultura, <strong>da</strong>s formas de gestão de equipes, dos treinamentos, e beneficiou-se de um<br />
ambiente mais propício ao seu sucesso, na medi<strong>da</strong> em que a organização como um todo se distanciava<br />
do modelo burocrático mecânico.<br />
No que se refere a pesquisas futuras na área de gestão de pessoas, este estudo de caso traz contribuições<br />
importantes pois os istemas de RH auto-atendimento, objeto de nossa pesquisa, inserem-se em um<br />
importante contexto atualmente, uma vez que são poucas as empresas brasileiras que os implementaram<br />
e que esta implementação tende a crescer em número rapi<strong>da</strong>mente, tornando-se relevante objeto de<br />
investigação para estudos na área. De fato, segundo as fontes pesquisa<strong>da</strong>s, mais <strong>da</strong> metade <strong>da</strong>s 100<br />
empresas americanas líderes pesquisa<strong>da</strong>s citaram a implementação de sistemas de RH auto-atendimento<br />
como priori<strong>da</strong>de de suas áreas de RH. Bem como a maioria <strong>da</strong>s empresas européias líderes do mercado.<br />
No Brasil, empresas passaram dos primeiros estágios <strong>da</strong> implementação de sistemas RH autoatendimento,<br />
o que faz do caso <strong>da</strong> Souza Cruz uma exceção no setor e oferece pistas para pesquisas<br />
futuras na área.<br />
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