produção de café arábica especial - Centro de Ciências Jurídicas e ...
produção de café arábica especial - Centro de Ciências Jurídicas e ...
produção de café arábica especial - Centro de Ciências Jurídicas e ...
You also want an ePaper? Increase the reach of your titles
YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.
UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESPÍRITO SANTO<br />
CENTRO DE CIÊNCIAS JURÍDICAS E ECONÔMICAS<br />
DEPARTAMENTO DE ECONOMIA<br />
PRODUÇÃO DE CAFÉ ARÁBICA ESPECIAL: AS<br />
POTENCIALIDADES DO ESTADO DO ESPÍRITO SANTO<br />
VITÓRIA / 2009
MAURÍCIO MIRANDA LEITE<br />
PRODUÇÃO DE CAFÉS ESPECIAIS: AS POTENCIALIDADES DO<br />
ESTADO DO ESPÍRITO SANTO<br />
Monografia apresentada ao Departamento <strong>de</strong><br />
Economia da Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral do<br />
Espírito Santo, como requisito parcial para<br />
obtenção do título <strong>de</strong> Bacharel em <strong>Ciências</strong><br />
Econômicas.<br />
Orientador: Professor. MS. Roberto Ama<strong>de</strong>u<br />
Fassarella.<br />
VITÓRIA / 2009<br />
2
Agra<strong>de</strong>ço a Deus pela oportunida<strong>de</strong>, a minha família<br />
pelo apoio, e ao Professor Ama<strong>de</strong>o Fassarella pelas<br />
orientações e conselhos.<br />
3
RESUMO<br />
O Espírito Santo é o terceiro produtor <strong>de</strong> Café Arábica do Brasil. A <strong>produção</strong> é até<br />
hoje baseada na pequena proprieda<strong>de</strong> familiar, reflexo da colonização dos<br />
imigrantes europeus. Pequenas proprieda<strong>de</strong>s baseados na agricultura familiar têm<br />
como característica a diversificação, com potencialida<strong>de</strong>s para a <strong>produção</strong> <strong>de</strong><br />
produtos diferenciados, com alto valor agregado e qualida<strong>de</strong>. Os Cafés Especiais<br />
possuem atributos intrínsecos ao seu modo <strong>de</strong> <strong>produção</strong>, do preparo do terreno à<br />
colheita, além <strong>de</strong> fatores relacionados ao clima, solo e altitu<strong>de</strong>. Os Cafés Especiais<br />
po<strong>de</strong>m ser do tipo Gourmet, Orgânico, Fair Tra<strong>de</strong> e o <strong>de</strong> Certificado <strong>de</strong> Origem. O<br />
Espírito Santo produz Cafés Especiais, e existe muito espaço para o aumento <strong>de</strong>ssa<br />
<strong>produção</strong>. Pesquisas indicam crescimento do nicho <strong>de</strong> mercado <strong>de</strong> Cafés Especiais<br />
no Brasil e no mundo. O Café Especial possui certificados para atestarem a sua<br />
qualida<strong>de</strong>, o certificado é garantia <strong>de</strong> alta qualida<strong>de</strong> e que vários padrões foram<br />
seguidos. O predomínio em todos os municípios produtores <strong>de</strong> Café Arábica da<br />
agricultura familiar é o diferencial do Estado em relação aos <strong>de</strong>mais para a <strong>produção</strong><br />
<strong>de</strong> Cafés Especiais. Outros fatores críticos ao potencial do Estado é o clima <strong>de</strong><br />
montanhas i<strong>de</strong>al para a <strong>produção</strong> do <strong>café</strong> <strong>arábica</strong>, associações locais ligadas a<br />
<strong>produção</strong> da pequena proprieda<strong>de</strong> familiar; órgãos do governo estadual e municipal<br />
<strong>de</strong> fomento a agricultura.<br />
Palavras-chaves: Café Arábica, Cafés Especiais, Qualida<strong>de</strong>.<br />
4
ABSTRACT<br />
The state of Espírito Santo is the third largest producer of Arabica coffee in Brazil.<br />
The production is so far based on small family farms, reflecting the colonization of<br />
European immigrants. Small farms based on family farms are characterized by<br />
diversification, with the potential to produce differentiated products with high ad<strong>de</strong>d<br />
value and quality. The Specialty Coffee attributes are intrinsic to their mo<strong>de</strong> of<br />
production, from preparing the land to harvest, as well as factors related to climate,<br />
soil and altitu<strong>de</strong>. The Specialty Coffee can be Gourmet, Organic, Fair Tra<strong>de</strong> and the<br />
Certificate of Origin. The state of Espírito Santo produces Specialty Coffee, and there<br />
is potential to increase this production. Research indicates growth in the niche market<br />
of Specialty Coffee in Brazil and the world. Coffee has special certificates attesting to<br />
its quality, the certificate is a guarantee of high quality and various standards have<br />
been followed. The predominance in all municipalities producing Arabica coffee<br />
farming family is the cornerstone of the state in relation to the other for the production<br />
of Specialty Coffee. Other critical factors to the potential is the climate of the<br />
mountains i<strong>de</strong>al for the production of Arabica coffee, local associations connected<br />
with the production of small family farms; organs of state and local government to<br />
promote agriculture.<br />
Keywords: Arabica Coffee, Specialty Coffee, Quality.<br />
5
LISTA DE TABELAS<br />
TABELA 1 – PRODUÇÃO E PRODUTIVIDADE DE CAFÉ EM ESTADOS<br />
SELECIONADOS DO BRASIL/SAFRA 2009.............................................................13<br />
TABELA 2 – IDADE DAS LAVOURAS DE CAFÉ NO ESTADO DO ESPÍRITO<br />
SANTO SEGUNDO LEVANTAMENTO DO INCAPER..............................................19<br />
TABELA 3 – PRODUÇÃO DE CAFÉ NO ESTADO DO ESPÍRITO SANTO NO<br />
PERÍODO DE 1992 A 2008. ......................................................................................21<br />
TABELA 4 – ESTABELECIMENTOS RURAIS NO ESTADO DO ESPÍRITO SANTO<br />
POR ESTRATO DE ÁREA DE ACORDO COM O CENSO AGROPECUÁRIO DE<br />
2006............................................................................................................................42<br />
TABELA 5 - PROPRIEDADES BASEADAS NA AGRICULTURA FAMILIAR NOS<br />
MUNICÍPIOS DO ESTADO DO ESPÍRITO SANTO SEGUNDO CENSO<br />
AGROPECUÁRIO 2006.............................................................................................44<br />
TABELA 6 - PRODUÇÃO DE CAFÉ ARÁBICA POR ESTRATO DE ÁREA<br />
(HECTARE) DO ESTADO DO ESPÍRITO SANTO SEGUNDO CENSO<br />
AGROPECUÁRIO 2006.............................................................................................47<br />
TABELA 7 - PRINCIPAIS MUNICÍPIOS PRODUTORES DE CAFÉ ARÁBICA NO<br />
ESTADO DO ESPÍRITO SANTO, SEGUNDO CENSO AGROPECUÁRIO 2006......50<br />
6
SUMÁRIO<br />
INTRODUÇÃO ........................................................................................................... 8<br />
1. O CAFÉ ARÁBICA NO BRASIL E NO ESPÍRITO SANTO. ................................ 11<br />
1.1. A CULTURA DO CAFÉ NO BRASIL ................................................................. 11<br />
1.2. O CAFÉ ARÁBICA NO ESPÍRITO SANTO ....................................................... 14<br />
2. QUALIDADE ........................................................................................................ 25<br />
2.1 CONCEITOS DE QUALIDADE .......................................................................... 25<br />
2.2 QUALIDADE NO AGRONEGÓCIO .................................................................... 28<br />
2.3 ATRIBUTOS DE QUALIDADE DO CAFÉ ESPECIAL ........................................ 34<br />
3. ESPÍRITO SANTO E POTENCIALIDADES PARA A PRODUÇÃO DE CAFÉS<br />
ESPECIAIS .............................................................................................................. 42<br />
3.1 AS CARACTERÍSITCAS DA PRODUÇÃO DE CAFÉ ARÁBICA NO ESTADO<br />
ESPÍRITO SANTO. .................................................................................................. 42<br />
3.2. AS CARACTERÍSTICAS DA PRODUÇÃO DE CAFÉ ARÁBICA NO ESTADO<br />
DO ESPÍRITO SANTO E SUAS RELAÇÔES COM A QUALIDADE DO CAFÉ<br />
ARÁBICA.................................................................................................................. 51<br />
4. CONCLUSÃO ...................................................................................................... 58<br />
REFERÊNCIAS ........................................................................................................ 61<br />
7
INTRODUÇÃO<br />
O <strong>café</strong> é a segunda bebida mais consumida no mundo, <strong>de</strong>pois da água. Café é uma<br />
bebida estimulante, beber o <strong>café</strong> é sinônimo <strong>de</strong> convívio social, hospitalida<strong>de</strong> e<br />
aproximação entre as pessoas. Em diversas culturas, tomar <strong>café</strong> é um hábito<br />
popular ou um ritual <strong>de</strong> caráter religioso, como entre os povos árabes (MARTINS DE<br />
SOUZA, 2006, p.17)<br />
O cafeeiro é uma planta <strong>de</strong> origem africana, perene, arbustiva, que pertence à<br />
família das Rubiáceas. O cafeeiro da espécie Coffea Arabica, conhecida como Café<br />
Arábica que representa aproximadamente 70% da <strong>produção</strong> mundial, numa<br />
referência aos árabes, que o acolheram e disseminaram pelo mundo. O hábito <strong>de</strong><br />
tomar <strong>café</strong> é originário das montanhas altas da província <strong>de</strong> Kaffa (acima <strong>de</strong> 1.000<br />
m) no sudoeste da Etiópia, on<strong>de</strong> é encontrado no sub-bosque da floresta. A espécie<br />
Coffea Canephora, também chamado Café robusta ou Conilon, responsável pelos<br />
30% restantes da <strong>produção</strong>, é proveniente do Vale do Rio Congo região equatorial<br />
baixa, quente e úmida, o que requer temperaturas mais altas, entre 22 o C e 26 o C,<br />
em diversas condições <strong>de</strong> sombreamento e altitu<strong>de</strong>. No Brasil e no mundo são<br />
produzidos e transformados em bebida grãos <strong>de</strong>ssas duas espécies, embora<br />
existam mais <strong>de</strong> 80 espécies (FAVARIN, 2006, p.01), (MARTINS DE SOUZA, 2006,<br />
p. 25).<br />
A lendária origem do cafeeiro (Coffea Arabica) está associada a rituais religiosos.<br />
Kaldi era um pastor <strong>de</strong> cabras da Etiópia que observou o efeito excitante que as<br />
folhas e frutos <strong>de</strong> <strong>de</strong>terminado arbusto produziam em seu rebanho. Os animais que<br />
mastigavam a planta se tornavam mais lépidos, subiam as montanhas com<br />
agilida<strong>de</strong>, revelavam melhor resistência, percorriam quilômetros <strong>de</strong> subidas<br />
íngremes. Ao experimentar os tais frutos, o pastor confirmou seus dotes<br />
estimulantes, e a notícia se disseminou pela região, provocando <strong>de</strong> imediato seu<br />
consumo, na forma macerada (MARTINS, 2008, P. 18)<br />
No século passado, o <strong>café</strong> foi símbolo <strong>de</strong> toda economia brasileira e responsável em<br />
gran<strong>de</strong> parte pelo <strong>de</strong>senvolvimento nacional, e até hoje a imagem do <strong>café</strong> é<br />
associado ao nome Brasil.<br />
8
Atualmente, o Estado do Espírito Santo li<strong>de</strong>ra a <strong>produção</strong> brasileira do Café Conilon,<br />
porém é gran<strong>de</strong> o aumento da <strong>produção</strong> do <strong>café</strong> tipo Arábica, sobretudo dos <strong>café</strong>s<br />
finos do tipo Arábica. Júlio César Toledo <strong>de</strong> Carvalho (2005, p. 3) afirma que a<br />
<strong>de</strong>manda <strong>de</strong> <strong>café</strong> commodity cresce em um ritmo lento, enquanto o consumo <strong>de</strong><br />
<strong>café</strong>s especais cresce vigorosamente, caracterizando importante mudança no<br />
ambiente competitivo.<br />
Segundo a Secretaria <strong>de</strong> Desenvolvimento do Estado – SEDES: 350 mil é o número<br />
<strong>de</strong> trabalhadores, no Estado, envolvidos na cafeicultura, sendo a ativida<strong>de</strong> agrícola<br />
que mais emprega; 60 mil é o número <strong>de</strong> proprieda<strong>de</strong>s que possuem áreas<br />
estimadas ao cultivo <strong>de</strong> <strong>café</strong> Conilon e <strong>arábica</strong>.<br />
O Plano Estratégico <strong>de</strong> Desenvolvimento da Agricultura Capixaba, novo Pe<strong>de</strong>ag<br />
2007 – 2025 traz como característica a agricultura familiar como variável chave a ser<br />
levada em consi<strong>de</strong>ração na formulação do planejamento estratégico da agricultura<br />
capixaba. Os números sintetizam a dimensão e a importância <strong>de</strong>sse modo <strong>de</strong><br />
<strong>produção</strong> no território capixaba que abrange 77% do total dos produtores, ocupa 220<br />
mil agricultores, abrange 40% da área rural, gera 36% do Valor da Produção<br />
Agropecuária, respon<strong>de</strong> por 61% da <strong>produção</strong> <strong>de</strong> olerícolas, produz 56% da<br />
<strong>produção</strong> <strong>de</strong> cereais, é responsável por 43% da <strong>produção</strong> <strong>de</strong> frutas, e por 62%<br />
quando não se consi<strong>de</strong>ra a <strong>produção</strong> <strong>de</strong> mamão, produz 42% da <strong>produção</strong> <strong>de</strong> leite,<br />
e é responsável por 41% da <strong>produção</strong> cafeeira (SEAG, 2009)<br />
O presente trabalho tem por objetivo geral analisar a <strong>produção</strong> <strong>de</strong> Cafés Especiais e<br />
as potencialida<strong>de</strong>s que o Espírito Santo apresenta para esses produtos.<br />
Os objetivos específicos são:<br />
• Fazer um breve histórico do Café Arábica no Espírito Santo.<br />
• Descrever sobre qualida<strong>de</strong> da <strong>produção</strong>,<br />
• Descrever os critérios e atributos <strong>de</strong> qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> um Café Especial.<br />
• Analisar algumas características da agricultura do Estado do Espírito Santo<br />
para a <strong>produção</strong> <strong>de</strong> Cafés Especiais.<br />
O projeto <strong>de</strong> monografia envolve pesquisa bibliográfica sobre as ativida<strong>de</strong>s da<br />
indústria do Café Arábica no Estado do Espírito Santo. Os dados serão coletados<br />
por meio <strong>de</strong> levantamento <strong>de</strong> dados relativo ca<strong>de</strong>ia produtiva do Café Arábica no<br />
9
Espírito Santo, trabalhos publicados por entida<strong>de</strong>s governamentais (notas técnicas,<br />
publicações periódicas), monografias e dissertações <strong>de</strong> instituições <strong>de</strong> ensino<br />
superior, assim como revistas cientificas e meios <strong>de</strong> comunicação, como jornais<br />
revistas e ainda, através <strong>de</strong> banco <strong>de</strong> dados na Internet, como a Associação<br />
Brasileira da Indústria do Café (ABIC), Instituto Capixaba <strong>de</strong> Pesquisa, Assistência<br />
Técnica e Extensão Rural (INCAPER).<br />
10
1. O CAFÉ ARÁBICA NO BRASIL E NO ESPÍRITO SANTO.<br />
1.1. A CULTURA DO CAFÉ NO BRASIL<br />
O cafeeiro foi introduzido no Brasil, no Estado do Pará, por volta <strong>de</strong> 1750,<br />
proveniente da Guiana Francesa pelo Capitão Mor Francisco <strong>de</strong> Mello Palheta, que<br />
o receberá <strong>de</strong> presente das mãos <strong>de</strong> Madame d’Orvilliers, esposa do governador <strong>de</strong><br />
Caiena, capital da Guiana Francesa (FAVARIN, 2006, p.01).<br />
Em seguida foi introduzido no Maranhão e estados vizinhos, Bahia e Rio <strong>de</strong> Janeiro.<br />
No Espírito Santo, mais precisamente Vitória, o produto chegou no inicio do século<br />
XIX, pela região Sul, provavelmente com a expansão das áreas <strong>de</strong> cultivo do Norte<br />
Fluminense. Da capital o <strong>café</strong> foi levado para a região Norte capixaba sendo<br />
inicialmente cultivado em São Mateus e Nova Venécia. Pouco tempo <strong>de</strong>pois,<br />
Colatina tornou-se o maior produtor nacional <strong>de</strong> <strong>café</strong> (SCHMIDT; DE MUNER,<br />
FORNAZIER, 2004, p. 09).<br />
Penetrando pelo vale do Rio Paraíba do Sul, a mancha ver<strong>de</strong> dos cafezais, chegou a<br />
São Paulo, que, a partir da década <strong>de</strong> 1880, passou a ser o principal produtor<br />
nacional. Na sua marcha foi criando cida<strong>de</strong>s e fazendo fortunas. Ao terminar o<br />
século XIX, o Brasil controlava o mercado cafeeiro mundial (ANDRADE &<br />
JAFELICE, 2005, P. 241)<br />
Segundo a Associação Brasileira da Indústria do Café – ABIC, a cultura do <strong>café</strong> se<br />
estabeleceu inicialmente no Vale do Rio Paraíba, iniciando em 1825 um novo ciclo<br />
econômico no país. No final do século XVIII, o principal produtor Haiti, entrou em<br />
crise <strong>de</strong>vido à guerra <strong>de</strong> in<strong>de</strong>pendência contra a França. Logo o Brasil aumentou<br />
significativamente a sua <strong>produção</strong> e passou a exportar o produto com maior<br />
regularida<strong>de</strong>, mesmo que em pequena escala.<br />
Ainda segundo a ABIC, o ponto <strong>de</strong> partida das gran<strong>de</strong>s plantações foi o Rio <strong>de</strong><br />
Janeiro, com as matas da Tijuca tornando-se gran<strong>de</strong>s cafezais. O <strong>café</strong> esten<strong>de</strong>u-se<br />
para Angra dos Reis, Parati e chegou a São Paulo por Ubatuba. Em pouco tempo, o<br />
vale do rio Paraíba se tornou a gran<strong>de</strong> região produtora da lavoura cafeeira no<br />
11
Brasil. Subindo pelo Paraíba, invadiu a parte oriental da província <strong>de</strong> São Paulo e a<br />
região da fronteira <strong>de</strong> Minas Gerais.<br />
A cafeicultura no centro-sul do Brasil enfrentou problemas em 1870, quando uma<br />
gran<strong>de</strong> geada atingiu as plantações do oeste paulista provocando gran<strong>de</strong>s prejuízos,<br />
e, mais tar<strong>de</strong>, durante a crise <strong>de</strong> 1929. No entanto, após se recuperar das crises, a<br />
região se manteve como importante centro produtor. Nela se <strong>de</strong>stacam quatro<br />
Estados produtores: Minas Gerais, São Paulo, Espírito Santo e Paraná. Como a<br />
busca pela região i<strong>de</strong>al para a cultura do <strong>café</strong> cobriu todo o país, a Bahia se firmou<br />
como pólo produtor no Nor<strong>de</strong>ste e Rondônia na região Norte.<br />
Conhecido como o irmão mais novo do vinho, o <strong>café</strong> é a commodity mais<br />
comercializada no mundo, <strong>de</strong>pois do petróleo. Atualmente, a viagem <strong>de</strong> um grão <strong>de</strong><br />
<strong>café</strong> das áreas <strong>de</strong> <strong>produção</strong> até a nossa xícara envolve vários acordos<br />
internacionais, tra<strong>de</strong>rs, gran<strong>de</strong>s corporações e protecionismo <strong>de</strong> países produtores,<br />
com inúmeras evidências <strong>de</strong> <strong>de</strong>struição e opressão nas áreas <strong>de</strong> <strong>produção</strong><br />
(MARTINS DE SOUZA, 2006, apud DICUM e LUTTINGER, 1999).<br />
Nas exportações, o Brasil <strong>de</strong>ve se <strong>de</strong>stacar ainda mais em 2009 como o maior<br />
fornecedor mundial da commodity, respon<strong>de</strong>ndo por cerca <strong>de</strong> 25% do mercado<br />
internacional. O Brasil é o segundo maior consumidor mundial do grão, per<strong>de</strong>ndo<br />
apenas para os Estados Unidos. Conforme dados da Associação Brasileira da<br />
Indústria <strong>de</strong> Café (ABIC), foram vendidas 17,6 milhões <strong>de</strong> sacas em 2008. Os<br />
americanos, por sua vez, compraram pouco mais <strong>de</strong> 20 milhões <strong>de</strong> sacas (GAZETA<br />
MERCANTIL, 2009, p. 09)<br />
Segundo a consultoria <strong>especial</strong>izada em agronegócios, Safras & Mercado (Dez.<br />
2008), a safra brasileira <strong>de</strong> <strong>café</strong> 2009/10 <strong>de</strong>ve ficar entre 38,25 a 41,20 milhões <strong>de</strong><br />
sacas, realizada através <strong>de</strong> um levantamento realizado junto a produtores,<br />
agrônomos, técnicos, cooperativas e secretarias <strong>de</strong> agricultura, entre outros órgãos<br />
das regiões produtoras <strong>de</strong> <strong>café</strong> do Brasil. O número médio ficou em 39,073 milhões<br />
<strong>de</strong> sacas.<br />
A <strong>produção</strong> total <strong>de</strong> Arábica 2009/10 <strong>de</strong>ve ficar em torno <strong>de</strong> 27,55 a 29,70 milhões<br />
<strong>de</strong> sacas, com retração <strong>de</strong> 22% a 27% sobre 2008/09 (37,85 milhões <strong>de</strong> sacas). Já a<br />
safra 2009/10 <strong>de</strong> Conilon foi colocada em 10,7 a 11,5 milhões <strong>de</strong> sacas, <strong>de</strong>vendo ter<br />
12
queda <strong>de</strong> 7% a 14% na comparação com 2008/09 12,40 milhões <strong>de</strong> sacas (SAFRAS<br />
& NEGÓCIOS, 2008).<br />
TABELA 1 – PRODUÇÃO E PRODUTIVIDADE DE CAFÉ EM ESTADOS<br />
SELECIONADOS DO BRASIL/SAFRA 2009<br />
Estado /<br />
Região<br />
Produção (Mil sacas<br />
beneficiadas)<br />
Produtivida<strong>de</strong><br />
Arábica Conilon TOTAL (Sacas /ha)<br />
Minas Gerais 18.965 271 19.236 19,34<br />
Espírito Santo 2.502 7.553 10.055 20,68<br />
São Paulo 3.415 - 3.415 18,76<br />
Paraná 1.590 - 1.590 18,6<br />
Bahia 1.381 552 1.933 15,32<br />
Rondônia - 1.706 1.706 10,89<br />
Mato Grosso 12 130 142 9,34<br />
Pará - 229 229 17,73<br />
Rio <strong>de</strong> Janeiro 252 13 265 19,03<br />
Outros 206 296 502 21,22<br />
BRASIL 28.323 10.750 39.073 18,63<br />
Fonte: CONAB 2009.<br />
A tabela 1 mostra a <strong>produção</strong> nacional por sacas beneficiadas e produtivida<strong>de</strong> por<br />
Estado. Minas Gerais aparece como o maior produtor nacional <strong>de</strong> Café Arábica, com<br />
mais <strong>de</strong> 18 milhões <strong>de</strong> sacas <strong>de</strong> Café Arábica e 271 mil sacas do Café Robusta,<br />
dando um total <strong>de</strong> 19,236 milhões <strong>de</strong> sacas <strong>de</strong> <strong>café</strong>. O Espírito Santo é o terceiro<br />
produtor nacional <strong>de</strong> Café Arábica, com 2,502 milhões <strong>de</strong> sacas, em contrapartida é<br />
o maior produtor <strong>de</strong> Café Conilon, com 7,553 milhões <strong>de</strong> sacas, respon<strong>de</strong>ndo por<br />
mais <strong>de</strong> 70% da <strong>produção</strong> nacional. A produtivida<strong>de</strong> total, sacas por ha, do Espírito<br />
Santo foi <strong>de</strong> 20,68, um pouco maior que a Mineira, que foi <strong>de</strong> 19,34, e maior que a<br />
média nacional que foi <strong>de</strong> 18,63.<br />
O Espírito Santo é o segundo maior produtor <strong>de</strong> <strong>café</strong> do Brasil. A <strong>produção</strong> capixaba<br />
representa mais <strong>de</strong> 25% do total nacional, <strong>de</strong>stacando-se o plantio das espécies<br />
Arábica e Conilon, sendo que para o Conilon, é o primeiro colocado na <strong>produção</strong><br />
nacional. O Estado fica em 3º lugar no ranking nacional do Café Arábica, per<strong>de</strong>ndo<br />
apenas para Minas Gerais e São Paulo.<br />
13
1.2. O CAFÉ ARÁBICA NO ESPÍRITO SANTO<br />
O Café Arábica no Espírito Santo é cultivado na região <strong>de</strong> montanhas numa altitu<strong>de</strong><br />
predominante entre 450 e 850 metros, em topografia fortemente ondulada e<br />
temperaturas médias mínimas do mês mais frio entre 9,65 e 12° C, e médias<br />
máximas do mês quente entre 28 e 31° C, com número <strong>de</strong> meses secos variando <strong>de</strong><br />
0 a 4,5 e precipitação bem distribuída.<br />
Atualmente o estado é caracterizado por pequenas proprieda<strong>de</strong>s e <strong>de</strong> agricultura<br />
familiar. A agricultura familiar respon<strong>de</strong> por 77,5% dos 73.2888 estabelecimentos<br />
rurais, por 30,5% dos 46.098,77 km2 e por 36% do valor bruto da <strong>produção</strong><br />
agropecuária (IGBE, 1996, apud SCHMIDT, DE MUNER, FORNAZIER, 2004, p. 15).<br />
Num primeiro momento a <strong>produção</strong> <strong>de</strong> <strong>café</strong> no Espírito Santo foi originário da<br />
expansão das lavouras <strong>de</strong> <strong>café</strong> do norte do Rio <strong>de</strong> Janeiro, baseado em latifúndios,<br />
gran<strong>de</strong>s plantações e mão <strong>de</strong> obra escrava. Essa situação perdurou até a chegada<br />
dos imigrantes europeus.<br />
O segundo momento da agricultura do Espírito Santo é caracterizada com a vinda<br />
dos imigrantes, principalmente Italianos, que colonizaram o interior do estado e<br />
mudaram a concepção do tamanho da proprieda<strong>de</strong> e do tipo <strong>de</strong> mão <strong>de</strong> obra usada.<br />
A agricultura familiar no Estado do Espírito Santo é originaria da colonização com<br />
imigrantes europeus. Segundo CELIN (1984, p.39), a imigração no sul do país e no<br />
Espírito Santo não assumia o caráter <strong>de</strong> fornecedora <strong>de</strong> braços. Nessas regiões<br />
procurava-se, em primeiro lugar, povoar e ocupar a terra. Ainda segundo o autor, no<br />
inicio do século passado, a maioria dos imigrantes tornaram-se pequenos<br />
proprietários. O tamanho das proprieda<strong>de</strong>s variava, assim como o contra pagamento<br />
que <strong>de</strong>veria ser pago ao Fisco da época. No inicio os lotes eram <strong>de</strong><br />
aproximadamente 50 hectares, <strong>de</strong>pois, lotes <strong>de</strong> 25 e 30 hectares, ao preço <strong>de</strong> 93 mil<br />
réis cada (CELIN, 1984, p. 90). No Espírito Santo foi se formando núcleos <strong>de</strong><br />
colonos que eram proprietários <strong>de</strong> suas terras e plantações. As causas do<br />
movimento imigratório foram: as colônias criadas por iniciativa do Governo Imperial;<br />
a política <strong>de</strong> povoamento com as promoções à imigração através <strong>de</strong> financiamento,<br />
imigração subsidiada, como pela propaganda difundida pela Europa nos principais<br />
centros emigratórios; as condições <strong>de</strong>sfavoráveis dos Estados Unidos e da<br />
14
Argentina, que eram os principais concorrentes do Brasil para o estabelecimento <strong>de</strong><br />
imigrante; por último, uma gran<strong>de</strong> quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> terras <strong>de</strong>volutas e não apropriadas<br />
no Espírito Santo (CELIN, p. 88).<br />
Os resultados <strong>de</strong>sse segundo momento, ou seja, a vinda dos imigrantes e<br />
distribuição <strong>de</strong> terras <strong>de</strong> 50, 30 e 25 hectares ainda perdura no Estado. do Espírito<br />
Santo.<br />
A <strong>produção</strong> do Café Arábica representa 72,49% (28,3 milhões <strong>de</strong> sacas <strong>de</strong> <strong>café</strong><br />
beneficiado) da <strong>produção</strong> do País, e tem como maior produtor Minas Gerais, com<br />
66% (18,97 milhões <strong>de</strong> sacas <strong>de</strong> <strong>café</strong> beneficiado). O Espírito Santo participa com<br />
2,502 milhões <strong>de</strong> sacas, ou aproximadamente 8% da <strong>produção</strong> nacional <strong>de</strong> Café<br />
Arábica (CONAB, 2009, P. 5).<br />
A cafeicultura é a principal ativida<strong>de</strong> agrícola do Espírito Santo. Ela emprega 33% da<br />
população ativa do Estado e está presente em todos os municípios, exceto Vitória.<br />
Ocupa 500 mil hectares <strong>de</strong> área em 60 mil proprieda<strong>de</strong>s (das 90 mil existentes), e<br />
representa sozinha 40% do PIB agrícola do Estado, movimentando cerca <strong>de</strong> R$ 1,6<br />
bilhão. A ativida<strong>de</strong> envolve cerca <strong>de</strong> 130 mil famílias, gerando aproximadamente 400<br />
mil postos <strong>de</strong> trabalho diretos e indiretos. É conduzida prioritariamente por<br />
produtores <strong>de</strong> base familiar, com tamanho médio das lavouras em torno <strong>de</strong> 9,4<br />
hectares (GOVERNO DO ESTADO DO ESPÍRITO SANTO, 2009).<br />
O Café Arábica é um dos mais tradicionais produtos da agricultura capixaba,<br />
presente em 49 municípios, numa área <strong>de</strong> aproximadamente 190 mil ha e com<br />
envolvimento <strong>de</strong> 53 mil famílias distribuídas em mais <strong>de</strong> 20 mil pequenas<br />
proprieda<strong>de</strong>s <strong>de</strong> regime familiar. As áreas <strong>de</strong> cultivo estão mais concentradas em<br />
altitu<strong>de</strong>s entre 400 e 1.100 metros, a <strong>produção</strong> é distribuída pelas regiões do<br />
Caparaó (37,42%), Serrana (36,71%), Sul (15,34%) e Noroeste/Nor<strong>de</strong>ste/Norte<br />
(10,53%). Os principais municípios produtores encontram-se nas duas primeiras<br />
regiões: Brejetuba, Iúna, Vargem Alta, Irupi, Ibatiba e Afonso Cláudio (FERRÃO, et<br />
AL., 2008, p.7,8).<br />
Segundo a Associação Brasileira das Instituições <strong>de</strong> Pesquisa e Tecnologia –<br />
ABIPTI, em dados do Relatório técnico consolidado do diagnóstico participativo da<br />
ca<strong>de</strong>ia do Café Arábica da Microrregião do Caparaó – ES (2005, p. 44), o setor<br />
cafeeiro do Espírito Santo vem atravessando ao longo da história, períodos cíclicos,<br />
15
on<strong>de</strong> aparecem oscilações nos níveis <strong>de</strong> preços, <strong>produção</strong> e estoques <strong>de</strong> <strong>café</strong>, cujas<br />
conseqüências ten<strong>de</strong>m a ser mais problemática on<strong>de</strong> existem concentrações<br />
significativas <strong>de</strong>ssa lavoura, como é o caso do Espírito Santo.<br />
Isto po<strong>de</strong> ser notado com mais evidência a partir da década <strong>de</strong> 60, quando o<br />
Governo Fe<strong>de</strong>ral incentivou a erradicação das lavouras, <strong>de</strong>vido ao gran<strong>de</strong> estoque<br />
exce<strong>de</strong>nte a nível mundial, sendo prontamente executado no Estado.<br />
Em contrapartida, a partir <strong>de</strong> 1975, em face <strong>de</strong> elevação dos preços, houve estímulo<br />
ao plantio com a renovação e revigoramento dos cafezais, proporcionando uma<br />
recuperação significativa das lavouras. Na década <strong>de</strong> 80 surgiram várias situações<br />
favoráveis e <strong>de</strong>sfavoráveis aos produtores em função das condições <strong>de</strong> mercado<br />
internacional.<br />
O Relatório diagnosticou que ao longo da década <strong>de</strong> 90 o Estado apresentou<br />
resultados positivos quanto à melhoria do processo produtivo, seja na utilização <strong>de</strong><br />
irrigações bem como, nos trabalhos técnicos <strong>de</strong>senvolvidos pelo INCAPER –<br />
Instituto Capixaba <strong>de</strong> Pesquisa e Extensão Rural e CETCAF – <strong>Centro</strong> <strong>de</strong><br />
Desenvolvimento Tecnológico do Café, no que diz respeito ao zoneamento<br />
agroecológico para a cultura do <strong>café</strong> e programas <strong>de</strong> revigoramento/a<strong>de</strong>nsamento<br />
das lavouras.<br />
Atualmente, <strong>de</strong>stacam-se as produções <strong>de</strong> <strong>café</strong>s especiais “Café das Montanhas do<br />
Espírito Santo” (para o Arábica) e “Conilon Capixaba o Robusta <strong>de</strong> Qualida<strong>de</strong>” (para<br />
o Conilon). Entretanto, no final da década <strong>de</strong> 90 e início da atual o mercado mundial<br />
sofreu um excesso <strong>de</strong> oferta <strong>de</strong> <strong>café</strong>, face às produções dos Países Asiáticos,<br />
refletindo nos preços praticados internacionalmente e por conseqüência, afetando o<br />
mercado nacional e capixaba.<br />
No Programa <strong>de</strong> Retenção <strong>de</strong> Café, o Governo Fe<strong>de</strong>ral assinou com os países<br />
produtores <strong>de</strong> <strong>café</strong> (com a concordância dos seguimentos envolvidos) reterem 20 %<br />
dos <strong>café</strong>s <strong>de</strong>stinados à exportação. Contudo, pelas informações somente o Brasil o<br />
fez, o que trouxe prejuízos para o setor.<br />
Felizmente, o Governo Fe<strong>de</strong>ral lançou em 2002, um novo instrumento <strong>de</strong><br />
comercialização <strong>de</strong> <strong>café</strong>, que foi bem recebido pelos produtores <strong>de</strong>nominado<br />
Mercado <strong>de</strong> Opção para Venda <strong>de</strong> Contrato para Venda <strong>de</strong> Café, que aliado a outras<br />
situações como queda na <strong>produção</strong> mundial, fizeram que o mercado <strong>de</strong>sse produto<br />
16
eagisse (Associação Brasileira das Instituições <strong>de</strong> Pesquisa e Tecnologia – ABIPTI,<br />
2005, p. 45).<br />
Dados da Companhia Nacional <strong>de</strong> Abastecimento – CONAB (2009, p. 5), revelaram<br />
que a <strong>produção</strong> total <strong>de</strong> <strong>café</strong>s no Brasil para a safra <strong>de</strong> 2009 sofrerá uma queda,<br />
15% comparada aos 46 milhões <strong>de</strong> sacas obtidas na temporada anterior. Estima-se<br />
que a colheita será da or<strong>de</strong>m <strong>de</strong> 39,07 milhões <strong>de</strong> sacas <strong>de</strong> 60 quilos <strong>de</strong> <strong>café</strong><br />
beneficiado.<br />
Essa redução se dará na <strong>produção</strong> <strong>de</strong> Café Arábica, com queda <strong>de</strong> 20,2% (redução<br />
<strong>de</strong> 7.161 milhões <strong>de</strong> sacas). Para a <strong>produção</strong> do Conilon, a previsão aponta um<br />
crescimento <strong>de</strong> 2,0%, ou seja, acréscimo <strong>de</strong> 217 mil sacas.<br />
Os principais fatores responsáveis pela redução na <strong>produção</strong> são os seguintes: ciclo<br />
<strong>de</strong> baixa bienualida<strong>de</strong> na maioria das áreas <strong>de</strong> Café Arábica; regime <strong>de</strong> chuvas<br />
bastante irregular e temperaturas elevadas; menor investimento nos tratos culturais<br />
diante do alto custo <strong>de</strong> <strong>produção</strong> e Intensificação <strong>de</strong> práticas culturais como podas<br />
(esqueletamento e recepas);<br />
A ca<strong>de</strong>ia produtiva do <strong>café</strong> no Espírito Santo é longa, e existem outros fatores que<br />
acarretam para uma baixa produtivida<strong>de</strong> e qualida<strong>de</strong> dos <strong>café</strong>s capixabas. Segundo<br />
os dados da publicação do Incaper (2004, p.07) diversos fatores estão interferindo<br />
negativamente no <strong>de</strong>senvolvimento da ca<strong>de</strong>ia da economia cafeeira no Espírito<br />
Santo oriunda da agricultura familiar, sendo os mais relevantes a alta <strong>de</strong>pendência<br />
financeira do setor <strong>de</strong> <strong>café</strong>; baixa produtivida<strong>de</strong> e qualida<strong>de</strong> do produto; falta <strong>de</strong><br />
diversificação <strong>de</strong> culturas nas proprieda<strong>de</strong>s familiares; infra-estrutura <strong>de</strong>ficitária <strong>de</strong><br />
secagem, beneficiamento e armazenamento; mão-<strong>de</strong>-obra pouco qualificada<br />
(tecnologia <strong>de</strong> <strong>produção</strong> e gestão); baixo nível <strong>de</strong> organização dos produtores<br />
(associativismo e cooperativismo); baixo alcance da assistência técnica; escassez<br />
<strong>de</strong> crédito rural para custeio e investimento; políticas setoriais insuficientes para o<br />
sistema <strong>de</strong> <strong>produção</strong> sustentável (orgânico e tradicional); gran<strong>de</strong> número <strong>de</strong><br />
atravessadores até o exportador final; gran<strong>de</strong> ociosida<strong>de</strong> da indústria <strong>de</strong> torrefação<br />
no Estado.<br />
Para Schmidt (2004, p. 17), o baixo volume <strong>de</strong> <strong>produção</strong>, aliado à <strong>de</strong>sorganização, à<br />
ação <strong>de</strong> intermediários e a ausência <strong>de</strong> uma política agrícola que facilite acesso a<br />
novas tecnologias, à assistência técnica pública e gratuita e aos financiamentos para<br />
17
infra-estrutura e custeio da safra, tem dificultado seu acesso ao mercado<br />
principalmente <strong>de</strong> <strong>café</strong>s finos. A situação <strong>de</strong> acesso ao crédito rural para<br />
investimentos é preocupante. Somente 14% dos produtores <strong>de</strong> Café Arábica foram<br />
atendidos nos últimos dois anos, fato justificado pelos próprios cafeicultores pela<br />
falta <strong>de</strong>sse tipo <strong>de</strong> crédito e pelas exigências relativas à burocracia e garantias reais.<br />
O autor enfatizou que as proprieda<strong>de</strong>s rurais <strong>de</strong> perfil familiar, se <strong>de</strong>vidamente<br />
apoiadas com crédito e tecnologia, têm vantagens em relação às gran<strong>de</strong>s fazendas,<br />
pois são mais produtivas e economicamente mais viáveis em função <strong>de</strong> sua<br />
diversificação e disponibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> mão-<strong>de</strong>-obra, preservando melhor o meio<br />
ambiente.<br />
A falta <strong>de</strong> políticas <strong>de</strong> financiamento, ao acesso a taxas reduzidas ou a planos mais<br />
longos, impe<strong>de</strong> investimentos em estruturas básicas para obtenção <strong>de</strong> qualida<strong>de</strong>,<br />
como a construção <strong>de</strong> terreiros, tulhas, aquisição <strong>de</strong> lavadores, separadores,<br />
<strong>de</strong>scascadores, equipamentos para secagem e beneficiamento da <strong>produção</strong>.<br />
O CONAB divulgou que a <strong>produção</strong> capixaba <strong>de</strong> Café Arábica po<strong>de</strong>ria ser melhor, se<br />
não houvesse <strong>de</strong>ficiência hídrica acentuada que ocorreu no período <strong>de</strong> agosto a<br />
<strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 2008, nas fases <strong>de</strong> florescimento e formação dos frutos e grãos.<br />
Além da <strong>de</strong>ficiência hídrica acentuada, o CONAB também divulgou que o parque<br />
cafeeiro <strong>de</strong> Arábica apresenta potencial para aumento significativo da <strong>produção</strong>,<br />
necessitando principalmente, <strong>de</strong> ser renovado, uma vez que em média encontra-se<br />
envelhecido. Parque cafeeiro envelhecido é sinônimo <strong>de</strong> queda na <strong>produção</strong> do Café<br />
Arábica.<br />
O programa Renovar Café Arábica que está sendo implantado no Estado auxiliará o<br />
aumento da produtivida<strong>de</strong> e da <strong>produção</strong> do Café Arábica no Espírito Santo<br />
(CONAB, 2009, p. 9).<br />
Como reflexo da <strong>de</strong>scapitalização dos cafeicultores, em função dos preços baixos<br />
praticados em anos anteriores, os produtores, têm realizado as adubações, o<br />
controle <strong>de</strong> pragas e <strong>de</strong> doenças, entre outras práticas, ainda insuficientes, levando<br />
à produtivida<strong>de</strong> média estadual a continuar ainda baixa.<br />
Segundo a Secretaria da Agricultura, Abastecimento, Aqüicultura e Pesca do Estado<br />
do Espírito Santo – SEAG (2009), o objetivo do Programa Renovar Arábica é<br />
aumentar a produtivida<strong>de</strong> do Café Arábica, melhorar a qualida<strong>de</strong> do produto e<br />
18
oferecer maior sustentabilida<strong>de</strong> à cultura, a partir da renovação e do revigoramento<br />
das lavouras <strong>de</strong> Café Arábica. Estudos <strong>de</strong>sse programa, assim como o CONAB,<br />
diagnosticaram que o parque cafeeiro esta envelhecido.<br />
Além do envelhecimento do parque cafeeiro, existe o problema da baixa <strong>de</strong>nsida<strong>de</strong><br />
populacional <strong>de</strong> plantas por ha, fato justificado pelos plantios terem sidos realizados<br />
entre as décadas <strong>de</strong> 70 e 80, que recomendava espaçamento médio <strong>de</strong> 3m x 2m,<br />
proporcionando <strong>de</strong>nsida<strong>de</strong> <strong>de</strong> 1666 plantas por hectare. Esse é o motivo que o<br />
CONAB diagnosticou da baixa produtivida<strong>de</strong> Atualmente novas técnicas elevam<br />
essa produtivida<strong>de</strong> para patamares superiores, elevando a <strong>de</strong>nsida<strong>de</strong> <strong>de</strong> plantas por<br />
ha.<br />
A Tabela 2 abaixo mostra a distribuição das lavouras no espírito santo conforme<br />
ida<strong>de</strong> dos cafezais, porcentagem da área e produtivida<strong>de</strong>.<br />
TABELA 2 – IDADE DAS LAVOURAS DE CAFÉ NO ESTADO DO ESPÍRITO<br />
SANTO SEGUNDO LEVANTAMENTO DO INCAPER<br />
Ida<strong>de</strong> das<br />
lavouras<br />
% da<br />
área<br />
Produtivida<strong>de</strong><br />
Em formação 2,5 3242 plantas/ha<br />
2 a 10 anos 46,5 3200 plantas/ha<br />
11 a 18 anos 27,6 2219 plantas/ha<br />
Maior <strong>de</strong> 18 anos 23,4 1711 plantas/ha<br />
TOTAL 100,0% -<br />
Fonte: Schmidt (2008, p.28)<br />
A Tabela 2 confirma os resultados <strong>de</strong>sses estudos do CONAB e da Secretaria da<br />
Agricultura, Abastecimento, Aqüicultura e Pesca do Estado do Espírito Santo –<br />
SEAG, on<strong>de</strong> 46,5% das lavouras têm <strong>de</strong> 2 a 10 anos, e 51% acima <strong>de</strong> 11 anos.<br />
Apenas 2,5% das lavouras estão em formação. Conforme supracitado cafezal<br />
envelhecido é sinônimo <strong>de</strong> queda na <strong>produção</strong> do Café Arábica.<br />
As expectativas do programa, entre outras ações, é dobrar a produtivida<strong>de</strong> e a<br />
<strong>produção</strong> do Café Arábica capixaba, uma vez que os pés <strong>de</strong> Café Arábica estão, na<br />
19
maior parte, velhos. É esperando que essas outras ações propostas pelo programa<br />
vão <strong>de</strong> encontro com principais fatores levantados pelo INCAPER que interferem<br />
negativamente na agricultura familiar capixaba da <strong>produção</strong> do Café Arábica.<br />
Além da renovação do parque cafeeiro, técnicas mais mo<strong>de</strong>rnas <strong>de</strong>vem ser<br />
adotadas para o aumento da produtivida<strong>de</strong> por ha. Nas lavouras mais novas po<strong>de</strong> se<br />
observar a<strong>de</strong>nsamentos <strong>de</strong> plantios mais mo<strong>de</strong>rnos. A técnica <strong>de</strong> a<strong>de</strong>nsamento <strong>de</strong><br />
lavouras tem sido adotada em proprieda<strong>de</strong>s familiares visando o aumento da<br />
produtivida<strong>de</strong>.<br />
A SEAG preten<strong>de</strong> implementar o programa em 49 municípios produtores <strong>de</strong> Café<br />
Arábica, e em uma área <strong>de</strong> aproximadamente 190 mil hectares, abrangendo mais <strong>de</strong><br />
20 mil pequenas proprieda<strong>de</strong>s <strong>de</strong> base familiar, que envolve, em média, 53 mil<br />
famílias, <strong>de</strong>ixando evi<strong>de</strong>nte que a agricultura do espírito santo, em <strong>especial</strong>, a da<br />
cultura do Café Arábica, é <strong>de</strong> base familiar.<br />
Entre as principais metas, que <strong>de</strong>verão ser cumpridas em um prazo <strong>de</strong> 15 anos, está<br />
a renovação <strong>de</strong> 100% do parque cafeeiro <strong>de</strong> Arábica, com varieda<strong>de</strong>s<br />
recomendadas pelas pesquisas científicas e com a utilização <strong>de</strong> boas práticas<br />
agrícolas. Com isso, será possível dar um salto na <strong>produção</strong> do Café Arábica<br />
capixaba: dobrar a produtivida<strong>de</strong>, elevando <strong>de</strong> 12 sacas beneficiadas/ha para 23<br />
sacas e aumentar a <strong>produção</strong> <strong>de</strong> dois para quatro milhões <strong>de</strong> sacas, sem aumentar<br />
a área plantada.<br />
O Programa Renovar Café Arábica está inserido no Programa Estadual <strong>de</strong><br />
Cafeicultura Sustentável, o qual está sendo elaborado com base no Novo Plano<br />
Estratégico <strong>de</strong> Desenvolvimento da Agricultura Capixaba (Novo Pe<strong>de</strong>ag 2007 –<br />
2025), e recebe o apoio do Consórcio Brasileiro <strong>de</strong> Pesquisa e Desenvolvimento do<br />
Café (CBP&D Café), da Deutsche Gesellschaft für Technische Zusammenarbeit<br />
GmbH –Cooperação Técnica Alemã (GTZ), entre outros (SEAG, 2009).<br />
Em relação à produtivida<strong>de</strong> do <strong>café</strong> <strong>arábica</strong> nos municípios capixabas, a Tabela 3<br />
mostra a <strong>produção</strong> tanto do Café Arábica quanto do Conilon, do ano <strong>de</strong> 1992 até o<br />
ano <strong>de</strong> 2008.<br />
20
TABELA 3 – PRODUÇÃO DE CAFÉ NO ESTADO DO ESPÍRITO SANTO NO<br />
PERÍODO DE 1992 A 2008.<br />
Produção (Sacas <strong>de</strong> 60 kg)<br />
Ano Conilon Arábica Total<br />
1992 2.410.000 980.000 3.390.000<br />
1993 2.825.000 895.000 3.720.000<br />
1994 2.035.000 1.573.000 3.608.000<br />
1995 1.503.000 847.000 2.350.000<br />
1996 3.283.000 1.687.000 4.970.000<br />
1997 2.435.000 992.000 3.427.000<br />
1998 3.002.000 2.068.000 5.070.000<br />
1999 2.694.000 1.792.000 4.486.000<br />
2000 4.036.000 2.215.000 6.251.000<br />
2001 5.930.000 1.960.000 7.890.000<br />
2002 7.250.000 2.630.000 9.880.000<br />
2003 5.820.000 1.440.000 7.260.000<br />
2004 5.500.000 2.120.000 7.620.000<br />
2005 6.014.000 2.056.000 8.070.000<br />
2006 6.881.000 2.128.000 9.009.000<br />
2007 7.567.000 2.016.000 9.583.000<br />
2008 7.363.000 2.867.000 10.230.000<br />
Fonte: CETCAF/CONAB 2009.<br />
Os dados apresentados na tabela 3 po<strong>de</strong>m, também, serem observados no gráfico.<br />
Conforme a linha <strong>de</strong> tendência, a <strong>produção</strong> do Café Arábica ten<strong>de</strong> a crescer no<br />
Espírito Santo.<br />
O Estado do Espírito Santo é o terceiro produtor nacional <strong>de</strong> Café Arábica e o<br />
primeiro produtor <strong>de</strong> Café Conilon. A tabela acima nos mostra a <strong>produção</strong> <strong>de</strong> sacas<br />
do Café Arábica e do Conilon, evi<strong>de</strong>nciando a maior <strong>produção</strong> do Café Conilon. Vale<br />
ressaltar que a <strong>produção</strong> do Café Arábica vem crescendo ao longo dos últimos anos,<br />
conforme gráfico a seguir.<br />
21
Milhões <strong>de</strong> sacas<br />
8.000<br />
7.000<br />
6.000<br />
5.000<br />
4.000<br />
3.000<br />
2.000<br />
1.000<br />
Produção cafeeira - Safras <strong>de</strong> 1992 a 2008<br />
0<br />
1992 1994 1996 1998 2000 2002 2004 2006 2008<br />
Conilon<br />
Ano<br />
Arábica Linear (Arábica)<br />
Gráfico 1 – PRODUÇÃO CAFEEIRA NO ESPÍRITO SANTO 1992/2008<br />
A figura um, a seguir na próxima página, mostra o mapa geográfico do Espírito<br />
Santo e dos municípios produtores <strong>de</strong> Café Arábica. Cada município tem uma cor<br />
conforme a sua <strong>produção</strong> <strong>de</strong> Café Arábica e esta dividido por estratos <strong>de</strong> área.<br />
Os maiores produtores são: Vargem Alta, Muniz Freire, Iúna, Brejetuba e Afonso<br />
Cláudio (todos na cor vermelha), municípios com mais <strong>de</strong> 15.000 ha <strong>de</strong>stinados a<br />
<strong>produção</strong> do Café Arábica.<br />
Os municípios na cor azul escuro <strong>de</strong>stinam <strong>de</strong> 10.001 até 15.000 ha para a<br />
<strong>produção</strong> do <strong>café</strong> <strong>arábica</strong>, são eles: Mimoso do Sul, Irupi, Ibatiba.<br />
Os municípios na cor laranja <strong>de</strong>stinam <strong>de</strong> 6.001 até 10.000 ha, compreendidos por:<br />
Guaçui, Alegre, Ibitirama, Castelo, Domingos Martins, Santa Maria <strong>de</strong> Jetibá, Santa<br />
Teresa, Itaguaçú e Alto do Rio Novo.<br />
Os municípios na cor ver<strong>de</strong> claro <strong>de</strong>stinam 3.001 a 6.000 ha, são eles: São José do<br />
Calçado, Dores do Rio Preto, Divino São Lourenço, Conceição do Castelo, Venda<br />
Nova do Imigrante, Marechal Floriano, Itarana, Baixo Guandú, Mantenópolis e Água<br />
Doce do Norte.<br />
22
Os municípios na cor marrom, que <strong>de</strong>stinam <strong>de</strong> 1.001 até 3.000 ha são: Apiacá,<br />
Muqui, Rio Novo do Sul, Alfredo Chaves, Santa Leopoldina, São Roque do Canaã,<br />
Colatina, Pancas, Ecoporanga.<br />
Os municípios na cor laranja escuro <strong>de</strong>stinam <strong>de</strong> 100 até 1.000 ha para <strong>produção</strong> <strong>de</strong><br />
<strong>café</strong> <strong>arábica</strong>, sendo eles: Bom Jesus do Norte, Jerônimo Monteiro, Atílio Vivácqua,<br />
Cachoeiro <strong>de</strong> Itapemirim, Iconha, Guarapari, Viana, Laranja da Terra, Ibiraçú, João<br />
Neiva e Barra <strong>de</strong> São Francisco.<br />
Os <strong>de</strong>mais municípios que aparecem na cor branca do mapa da próxima página, não<br />
<strong>de</strong>stinam áreas significantes para <strong>produção</strong> do <strong>café</strong> <strong>arábica</strong>.<br />
Um fenômeno mais recente se coloca nesse momento para a cafeicultura capixaba.<br />
Esse fenômeno é o crescimento no mundo e no Brasil do consumo <strong>de</strong> <strong>café</strong>s<br />
especiais.<br />
Vale <strong>de</strong>stacar a tendência do aumento do consumo <strong>de</strong> <strong>café</strong>s especiais no Brasil e no<br />
exterior. Segundo a Associação Brasileira <strong>de</strong> Cafés Especiais (BSCA), foi observado<br />
nos últimos anos que os consumidores começaram a se preocupar mais com a<br />
qualida<strong>de</strong> do <strong>café</strong>, valorizando mais o seu sabor, o seu aroma, e a higiene do<br />
produto. Esses consumidores estão dispostos a pagar mais caro por <strong>café</strong>s <strong>de</strong><br />
qualida<strong>de</strong>. A BSCA constatou que o mercado <strong>de</strong> <strong>café</strong>s especiais vem crescendo,<br />
aproximadamente, 10% ao ano, e alguns fatores responsáveis por esse aumento<br />
são o surgimento <strong>de</strong> cafeterias voltadas para esse conceito <strong>de</strong> qualida<strong>de</strong>, o aumento<br />
do consumo fora do lar e a maior exigência <strong>de</strong> qualida<strong>de</strong> e curiosida<strong>de</strong> do<br />
consumidor (BSCA, 2009).<br />
Já no mercado capixaba, segundo o Sindicato da Indústria <strong>de</strong> Torrefação e Moagem<br />
<strong>de</strong> Café do Espírito Santo SINDICAFE apontou um crescimento <strong>de</strong> 25% no consumo<br />
<strong>de</strong> <strong>café</strong>s especiais nos últimos dois anos. O SINDICAFE revelou que as indústrias<br />
capixabas produzem cerca <strong>de</strong> 1200 toneladas <strong>de</strong> <strong>café</strong>, sendo do total, 3% <strong>de</strong> <strong>café</strong>s<br />
especiais, o que equivale a 35 toneladas. O baixo índice revela um mercado com<br />
potencial para crescer, já que nos últimos anos o consumo <strong>de</strong>ste tipo <strong>de</strong> <strong>café</strong> vem<br />
crescendo a taxas anuais <strong>de</strong> 15% (SINDICAFE, 2009).<br />
23
Figura 1: Mapa dos municípios capixabas produtores <strong>de</strong> Café Arábica.<br />
Fonte: INCAPER<br />
24
2. QUALIDADE<br />
2.1 CONCEITOS DE QUALIDADE<br />
Para Borras e Toledo (2006, p.191), o conceito <strong>de</strong> qualida<strong>de</strong> po<strong>de</strong> ser visto sob<br />
diferentes conjuntos <strong>de</strong> métodos utilizados por uma organização para atendimento<br />
do conjunto completo das características da qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> um processo, produto ou<br />
serviço, com valor nominal e suas respectivas tolerâncias. Para os autores, o<br />
enfoque baseado no produto tem a qualida<strong>de</strong> como variável mensurável e precisa,<br />
resumindo-se na quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> atributos presentes em um <strong>de</strong>terminado produto. Um<br />
produto po<strong>de</strong> ser consi<strong>de</strong>rado <strong>de</strong> maior ou menor qualida<strong>de</strong> ao apresentar mais ou<br />
menos <strong>de</strong> <strong>de</strong>terminado atributo. Dois resultados <strong>de</strong>ssa abordagem são o <strong>de</strong> que<br />
quanto maior a qualida<strong>de</strong>, maior o custo <strong>de</strong> <strong>produção</strong> do produto e o <strong>de</strong> que a<br />
qualida<strong>de</strong> é vista com característica inerente ao produto e não atribuído a ele.<br />
A qualida<strong>de</strong> do produto é resultante da interação entre as qualida<strong>de</strong>s do projeto do<br />
produto, projeto do processo, <strong>de</strong> conformação e da qualida<strong>de</strong> dos serviços<br />
associados ao produto. A qualida<strong>de</strong> do produto estaria associada a <strong>de</strong>terminadas<br />
características especificas, cada característica da qualida<strong>de</strong> po<strong>de</strong> ser <strong>de</strong>finida como<br />
qualquer proprieda<strong>de</strong> ou atributo <strong>de</strong> produtos, materiais ou processos, necessários<br />
para se seguir satisfazer o máximo às necessida<strong>de</strong>s do cliente. Um atributo po<strong>de</strong> ser<br />
entendido como uma proprieda<strong>de</strong> <strong>de</strong> um produto ou serviço, avaliada quanto à<br />
existência ou não <strong>de</strong> um requisito especificado ou esperado (BORRÁS e TOLEDO,<br />
2006, p.193).<br />
A qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> um produto está relacionada à presença <strong>de</strong> um conjunto <strong>de</strong><br />
características que lhe confere um <strong>de</strong>sempenho único comparável a padrões<br />
estabelecidos, e isto precisa ser atingido sem a presença <strong>de</strong> falhas e com mínima<br />
variação (BATALHA, 2008, p. 507).<br />
KOTLER (2000, p. 79), <strong>de</strong>finiu que qualida<strong>de</strong> é a totalida<strong>de</strong> dos atributos e<br />
características <strong>de</strong> um produto ou serviço que afetam sua capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> satisfazer<br />
necessida<strong>de</strong>s <strong>de</strong>claradas ou implícitas. A qualida<strong>de</strong> total é a chave para a criação <strong>de</strong><br />
valor e satisfação <strong>de</strong> clientes.<br />
25
Para CHIAVENATO (2000, p. 663) por trás do conceito <strong>de</strong> qualida<strong>de</strong> esta a figura do<br />
cliente, que po<strong>de</strong> ser interno ou externo. Em toda organização existe uma infinida<strong>de</strong><br />
<strong>de</strong> ca<strong>de</strong>ias <strong>de</strong> fornecedores e clientes: cada funcionário é um cliente do anterior (do<br />
qual recebe suas entradas) e um fornecedor para o seguinte (para o qual entrega<br />
suas saídas). A idéia <strong>de</strong> fornecedores/clientes internos e externos constitui o núcleo<br />
da qualida<strong>de</strong> total. Ainda o autor, enquanto a melhoria contínua <strong>de</strong> qualida<strong>de</strong> é<br />
aplicável no nível operacional, a qualida<strong>de</strong> total esten<strong>de</strong> o conceito <strong>de</strong> qualida<strong>de</strong><br />
para toda a organização, abrangendo todos os níveis organizacionais, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o<br />
pessoal <strong>de</strong> escritório e do chão da fábrica até a cúpula em um envolvimento total.<br />
Tanto a melhoria continua como a qualida<strong>de</strong> total são abordagens incrementais para<br />
se obter excelência em qualida<strong>de</strong> dos produtos e processos. O autor enfatizou que o<br />
objetivo é fazer acréscimos <strong>de</strong> valor continuamente. Ambas seguem um processo<br />
composto das seguintes etapas: escolha <strong>de</strong> uma área <strong>de</strong> melhoria, como redução <strong>de</strong><br />
percentagens <strong>de</strong> <strong>de</strong>feitos; redução no tempo <strong>de</strong> ciclo <strong>de</strong> <strong>produção</strong>; redução no<br />
tempo <strong>de</strong> parada <strong>de</strong> máquinas ou redução do absenteísmo <strong>de</strong> pessoal; <strong>de</strong>finição da<br />
equipe <strong>de</strong> trabalho que irá tratar da melhoria. A melhoria continua e a qualida<strong>de</strong> total<br />
põem forte ênfase no trabalho em equipe. São técnicas participativas para mobilizar<br />
as pessoas na <strong>de</strong>rrubada <strong>de</strong> barreias à qualida<strong>de</strong>; i<strong>de</strong>ntificação dos benchmarks.<br />
Benchmark significa um padrão <strong>de</strong> excelência que <strong>de</strong>ve ser i<strong>de</strong>ntificado, conhecido,<br />
copiado e ultrapassado. O benchmark po<strong>de</strong> ser interno (<strong>de</strong> outro <strong>de</strong>partamento, por<br />
exemplo) ou externo (uma empresa concorrente). O benchmark serve como guia <strong>de</strong><br />
referência; análise do método atual. A equipe <strong>de</strong> melhoria analisa o método atual <strong>de</strong><br />
trabalho para comparar e verificar como ele po<strong>de</strong> ser melhorado para alcançar ou<br />
ultrapassar o benchmark localizado. Fatores como equipamento, materiais, métodos<br />
<strong>de</strong> trabalho, pessoas, habilida<strong>de</strong>s etc., <strong>de</strong>vem ser consi<strong>de</strong>rados nessa análise;<br />
estudo piloto da melhoria. A equipe <strong>de</strong>senvolve um esquema piloto para solucionar o<br />
problema e melhorar a qualida<strong>de</strong> e testa a sua relação <strong>de</strong> custo e benefício;<br />
implementação das melhorias. A equipe propõe a melhoria e cabe à direção<br />
assegurar sua implementação. A melhoria fortalece a competitivida<strong>de</strong> da<br />
organização e aumenta a motivação das pessoas envolvidas no processo<br />
incremental;.<br />
O Gerenciamento da Qualida<strong>de</strong> Total (Total Quality Management – TQM) é um<br />
conceito <strong>de</strong> controle que proporciona às pessoas, mais do que aos gerentes e<br />
26
dirigentes, a responsabilida<strong>de</strong> pelo alcance <strong>de</strong> padrões <strong>de</strong> qualida<strong>de</strong>. O tema central<br />
da qualida<strong>de</strong> total é bastante simples: a obrigação <strong>de</strong> alcançar qualida<strong>de</strong> está nas<br />
pessoas que a produzem, os funcionários e não os gerentes são os responsáveis<br />
pelo alcance <strong>de</strong> elevados padrões <strong>de</strong> qualida<strong>de</strong> (CHIAVENATO, 2000. p.664). A<br />
qualida<strong>de</strong> total muda o foco do controle externo para o interior <strong>de</strong> cada individuo. O<br />
objetivo é fazer com que cada pessoa seja responsável por seu próprio <strong>de</strong>sempenho<br />
e que todos se comprometam a atingir a qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> maneira altamente motivada.<br />
Destaca o autor, que a qualida<strong>de</strong> total está baseada no empo<strong>de</strong>ramento<br />
(empowerment) das pessoas. O conceito empowerment significa proporcionar aos<br />
funcionários as habilida<strong>de</strong>s e a autorida<strong>de</strong> para tomar <strong>de</strong>cisões que tradicionalmente<br />
eram dadas aos gerentes, significa também a habilitação dos funcionários para<br />
resolverem os problemas do cliente sem consumir tempo para aprovação do<br />
gerente.<br />
Chiavenato (2000, p. 666) enumerou <strong>de</strong>z mandamentos para a qualida<strong>de</strong> total,<br />
sendo: a satisfação do cliente; <strong>de</strong>legação; gerência; melhora continua;<br />
<strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> pessoas; disseminação <strong>de</strong> informações; não aceitação <strong>de</strong> erros;<br />
constância <strong>de</strong> propósitos; garantia <strong>de</strong> qualida<strong>de</strong>; gerência <strong>de</strong> processos;<br />
Após conceituação da qualida<strong>de</strong> em sentido geral, <strong>de</strong>screvemos a visão da<br />
qualida<strong>de</strong> no agronegócio que é diretamente ligada a questão da segurança<br />
alimentar. Logo produtos do agronegócio com certificações, que apresentam<br />
rastreabilida<strong>de</strong>, métodos <strong>de</strong> <strong>produção</strong> padronizados são produtos com qualida<strong>de</strong>.<br />
27
2.2 QUALIDADE NO AGRONEGÓCIO<br />
Para Décio Zylbersztajn (2003, p. 15), o termo agronegócio é entendido como o<br />
conjunto <strong>de</strong> operações que envolvem <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o setor produtor <strong>de</strong> insumos para a<br />
ativida<strong>de</strong> produtiva primária, até a distribuição do alimento, <strong>produção</strong> <strong>de</strong> energia e<br />
fibras. Segundo o autor, rastreabilida<strong>de</strong>, certificação e padronização, convergindo<br />
para a segurança do alimento são sinônimos <strong>de</strong> qualida<strong>de</strong>.<br />
A padronização nos sistemas agroindustriais representa um modo particular <strong>de</strong><br />
reunir, filtrar e estocar gran<strong>de</strong> parte da informação sobre processos e produtos, o<br />
resultado das mudanças no ambiente institucional, tecnológico e competitivo, a<br />
tendência à diferenciação crescente das commodities tem-se consolidado, e a<br />
padronização assume novos papéis. Padrões <strong>de</strong> referência incluem <strong>de</strong>finições,<br />
terminologias e princípios <strong>de</strong> classificação e rotulagem, isto é, quais informações<br />
<strong>de</strong>vem estar nos rótulos e <strong>de</strong> que forma. A adoção <strong>de</strong> padrões <strong>de</strong> referência no<br />
mercado final facilita a coor<strong>de</strong>nação entre consumidor e o ofertante, porque reduz os<br />
custos <strong>de</strong> aquisição da informação sobre os produtos e limita situações sujeitas ao<br />
chamado risco moral criadas pela falta <strong>de</strong> informação dos compradores e a<br />
possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> que os ven<strong>de</strong>dores dissimulem problemas <strong>de</strong> qualida<strong>de</strong><br />
(ZYLBERSZTAJN, 2003, p. 20).<br />
Na <strong>produção</strong> agroindustrial, os padrões <strong>de</strong> referência po<strong>de</strong>m <strong>de</strong>sempenhar um papel<br />
dinâmico na <strong>de</strong>sintegração vertical e <strong>especial</strong>ização da oferta, po<strong>de</strong> ter como efeito<br />
a abertura <strong>de</strong> oportunida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> investimentos para maior número <strong>de</strong> empresas<br />
fornecedoras.<br />
A adoção <strong>de</strong> padrões por uma coletivida<strong>de</strong> permite que a <strong>produção</strong> seja realizada<br />
em pequenas explorações, e as eficiências <strong>de</strong>correntes da comercialização em<br />
gran<strong>de</strong> escala possam ser obtidas pela ação cooperativa.<br />
O funcionamento do mercado <strong>de</strong> commodities agrícolas, como o <strong>café</strong> e soja, baseia-<br />
se em padrões <strong>de</strong> classificação <strong>de</strong> produtos reconhecidos e adotados<br />
internacionalmente. Segundo o autor, a padronização po<strong>de</strong> ser vista como um bem<br />
público a ser oferecido pelo governo, um bem coletivo a ser oferecido por uma<br />
associação profissional ou um bem privado quando é base para sustentação <strong>de</strong><br />
estratégias <strong>de</strong> firmas individuais (ZYLBERSZTAJN, 2003, p 21).<br />
28
Padrões associados a estratégias competitivas <strong>de</strong> empresas individuais ten<strong>de</strong>m a<br />
ser mais complexos e estritos. Nesse caso a adoção <strong>de</strong> padrões diferenciados<br />
objetiva a segmentação do mercado, a obtenção <strong>de</strong> vantagens competitivas e lucros<br />
diferenciais.<br />
A <strong>de</strong>nominação <strong>de</strong> origem “Café do Cerrado”, Café das Montanhas no mercado<br />
brasileiro po<strong>de</strong> ser tomada como exemplo. Ainda Zylbersztajn, a qualida<strong>de</strong> po<strong>de</strong> ser<br />
garantida pela reputação das marcas.<br />
Segundo NASSAR (2003, p. 30), a certificação é a <strong>de</strong>finição <strong>de</strong> atributos <strong>de</strong> um<br />
produto, processo ou serviço e a garantia <strong>de</strong> que eles se enquadram em normas<br />
pre<strong>de</strong>finidas, seja na esfera privada, pública, nacional ou internacional e um órgão<br />
certificador com po<strong>de</strong>r <strong>de</strong> monitoramento e exclusão. A certificação tem dois<br />
objetivos. Sendo o primeiro do lado da oferta, como instrumento que oferece<br />
procedimentos e padrões básicos que permitam ás regras participantes gerenciar o<br />
nível <strong>de</strong> qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> seus produtos e garantir um conjunto <strong>de</strong> atributos. Já do lado<br />
da <strong>de</strong>manda, a certificação espera informar o consumidor <strong>de</strong> que <strong>de</strong>terminado<br />
produto tem certos atributos por ele procurados, servindo portanto como mecanismo<br />
<strong>de</strong> redução <strong>de</strong> assimetrias informacionais, aumentando a eficiência dos mercados.<br />
É importante lembrar que um sistema <strong>de</strong> certificação garante que um produto esteja<br />
<strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> especificações pre<strong>de</strong>terminadas, porém, a certificação não <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> da<br />
padronização. A certificação baseia-se nos princípios <strong>de</strong> gerar aos consumidores<br />
benefícios que reduza a assimetria informacional sobre o produto consumido; e cria<br />
incentivos à cooperação horizontal e vertical entre firmas.<br />
Segundo André Meloni Nassar (2003, p. 35), experiências permitem divisão no<br />
sistema <strong>de</strong> certificação por rótulo, <strong>de</strong>nominação <strong>de</strong> origem, sanida<strong>de</strong>, pureza,<br />
socioambiental, produtos orgânicos, certificação interna, e produtos da fazenda.<br />
Outra possibilida<strong>de</strong> para garantir a qualida<strong>de</strong> no agronegócio é a rastreabilida<strong>de</strong>.<br />
Para JANK (2003, p. 47), rastreabilida<strong>de</strong> é um conceito que po<strong>de</strong> ser entendido<br />
como a capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> reencontrar o histórico, a utilização ou a localização <strong>de</strong> um<br />
produto qualquer através <strong>de</strong> meios <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ntificação registrados. A crise da “vaca<br />
louca” foi consi<strong>de</strong>rada como o principal gatilho para o surgimento do conceito. Para o<br />
autor, o tema ainda é novo e carente <strong>de</strong> exemplos. Mais do que controlar os elos da<br />
ca<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> um produto, a rastreabilida<strong>de</strong> permite que se remontem as transações<br />
29
pelas quais passou um produto, dando nome e en<strong>de</strong>reço <strong>de</strong> seus agentes, sendo o<br />
ponto mais importante o <strong>de</strong> <strong>de</strong>terminar as responsabilida<strong>de</strong> inerentes aos produtos<br />
ofertados em casa etapa da ca<strong>de</strong>ia produtiva. Segundo LOMBARDI (1998, p. 90),<br />
com respeito à segurança alimentar, a rastreabilida<strong>de</strong> é uma garantia dada ao<br />
consumidor, por meio <strong>de</strong> legislação comunitária, que lhe dá a certeza <strong>de</strong> estar<br />
consumindo um produto que está sendo controlado em todas as fases da <strong>produção</strong>:<br />
da fazenda ao prato final.<br />
Para JANK (2003, p. 50) a rastreabilida<strong>de</strong> trona-se um instrumento cada vez mais<br />
importante, pois privilegia as preferências e a satisfação do consumidor; <strong>de</strong>corre da<br />
crescente preocupação com a qualida<strong>de</strong> e segurança dos alimentos e é a base para<br />
a implantação <strong>de</strong> um programa <strong>de</strong> qualida<strong>de</strong> em toda a ca<strong>de</strong>ia.<br />
O último conceito ligado a qualida<strong>de</strong> no agronegócio é o <strong>de</strong> segurança do alimento,<br />
que segundo SPERS (2003, p. 61) é a garantia <strong>de</strong> o consumidor em adquirir um<br />
alimento com atributos <strong>de</strong> qualida<strong>de</strong> que sejam <strong>de</strong> seu interesse, entre os quais se<br />
<strong>de</strong>stacam os atributos ligados a sua saú<strong>de</strong> juntamente com os novos processos <strong>de</strong><br />
industrialização e com as novas tendências <strong>de</strong> comportamento do consumidor. Vale<br />
ressaltar que segurança alimentar é diferente <strong>de</strong> segurança do alimento. Aquele se<br />
refere ao abastecimento a<strong>de</strong>quando <strong>de</strong> uma população. Para o autor, a segurança<br />
do alimento, também, refere-se a uma alimentação saudável, rica em vegetais e<br />
frutas.<br />
Em relação à qualida<strong>de</strong> no agronegócio é necessário tecer um breve comentário a<br />
respeito da assimetria informacional. A assimetria <strong>de</strong> informação permite a<br />
ocorrência <strong>de</strong> ação oportunística, por parte <strong>de</strong> agentes <strong>de</strong> mercado. O ven<strong>de</strong>dor<br />
sabe muito mais a respeito da qualida<strong>de</strong> e da segurança do produto do que o<br />
comprador. O problema da assimetria informacional é justamente um agricultor ou<br />
indústria alimentar, na intenção <strong>de</strong> diferenciar seu produto e a atingir novos nichos,<br />
alega que seu produto é isento <strong>de</strong> aditivos, pesticidas ou agrotóxicos. O problema é<br />
que essas características não são visualizadas externamente, tornando necessária a<br />
análise em laboratórios <strong>especial</strong>izados, e muitas vezes, <strong>de</strong>vido ao elevado custo, a<br />
veracida<strong>de</strong> da informação não po<strong>de</strong> ser constatada (SPERS, 2003, p. 62). Ainda<br />
Spers, existe a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> evitar ou atenuar a ocorrência <strong>de</strong>ssa ação<br />
oportunística com a criação <strong>de</strong> marcas, padrões ou certificados que assegura um<br />
padrão <strong>de</strong> qualida<strong>de</strong>, ou <strong>de</strong> uma legislação mais rigorosa, que puna e controle esse<br />
30
tipo <strong>de</strong> atitu<strong>de</strong>. Demandas por mais e melhores serviços, além da conscientização<br />
sobre a ecologia e sobre a importância da saú<strong>de</strong> física e do bem estar, aumentam o<br />
interesse pelos atributos relacionados com a qualida<strong>de</strong> e a segurança dos alimentos.<br />
O nível <strong>de</strong> segurança vai <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>r do custo, do <strong>de</strong>stino, do mercado, da estrutura<br />
da empresa, do consumidor-alvo e do nível <strong>de</strong> integração.<br />
A <strong>de</strong>finição <strong>de</strong> qualida<strong>de</strong>, traduzida pela totalida<strong>de</strong> das proprieda<strong>de</strong>s e<br />
características <strong>de</strong> um produto, serviço ou processo, que contribuem para satisfazer<br />
necessida<strong>de</strong>s explicitas ou implícitas dos clientes intermediários e finais <strong>de</strong> uma<br />
ca<strong>de</strong>ia produtiva e <strong>de</strong> seus componentes é <strong>de</strong>fendida por CASTRO (2000, p. 9). A<br />
qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> produtos e processos na ca<strong>de</strong>ia produtiva <strong>de</strong>ve ser avaliada por<br />
indicadores <strong>de</strong> qualida<strong>de</strong>, preferencialmente quantitativos, cujo conjunto irá compor<br />
uma norma <strong>de</strong> qualida<strong>de</strong>, para <strong>de</strong>terminado produto ou processo produtivo.<br />
Segundo Carvalho (2005, p. 8), para uma investigação total do <strong>café</strong>, vários fatores<br />
<strong>de</strong>vem ser observados, como peculiarida<strong>de</strong>s regionais (clima), espécies e<br />
varieda<strong>de</strong>s culturais utilizadas, sistema <strong>de</strong> processamento e comercialização, fatores<br />
que envolvem a pré colheita, a colheita e o pós colheita<br />
Segundo o autor, existem três <strong>de</strong>terminantes para classificar a qualida<strong>de</strong> do <strong>café</strong> no<br />
Brasil, sendo eles: por tipo, separando os <strong>de</strong>feitos e impurezas; pela prova da<br />
bebida feita por provadores e por peneira, separando-se uma amostra <strong>de</strong> grãos por<br />
tamanho e formato.<br />
Algumas vezes é utilizada uma classificação com relação ao aspecto, em que<br />
visualmente verifica-se a aparência consi<strong>de</strong>rando o tamanho dos grãos, quantida<strong>de</strong><br />
<strong>de</strong> <strong>de</strong>feitos e impurezas, manchas e <strong>de</strong>scolorações.<br />
A qualida<strong>de</strong> da bebida do <strong>café</strong>, porém, <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> da composição química dos grãos,<br />
que possuem substâncias que vão formar o sabor e o aroma da bebida, existindo a<br />
necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> se buscar métodos químicos que complementem a prova da xícara.<br />
A ABIC implementou o Programa <strong>de</strong> Monitoramento e Aperfeiçoamento da<br />
Qualida<strong>de</strong> do Café – PMAQC. Esse programa auxilia os associados no<br />
monitoramento da qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> seus produtos, através <strong>de</strong> pesquisas, avaliações e<br />
informações técnicas. Os associados <strong>de</strong>vem fazer uma série <strong>de</strong> análises para<br />
obterem o laudo <strong>de</strong> qualida<strong>de</strong> do <strong>café</strong>. As análises são a sensorial, <strong>de</strong> microbiologia,<br />
<strong>de</strong> microscopia, físico-química, <strong>de</strong> micotoxinas, e <strong>de</strong> resíduos <strong>de</strong> pesticidas.<br />
31
A análise sensorial consiste na avaliação das proprieda<strong>de</strong>s sensoriais (aroma, sabor,<br />
corpo, torra, aci<strong>de</strong>z, doçura, bebida) – avaliação da preferência e aceitabilida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />
alimentos. A análise microbiologia faz a avaliação da qualida<strong>de</strong> microbiológica,<br />
através <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ntificação <strong>de</strong> bactérias patogênicas potenciais causadoras <strong>de</strong><br />
infecções e intoxicação <strong>de</strong> origem alimentos. A análise <strong>de</strong> microscopia consiste na<br />
avaliação <strong>de</strong> nível higiênico, através da pesquisa <strong>de</strong> matérias estranhas, avaliação<br />
da i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> dos produtos alimentícios, por meio <strong>de</strong> análise histológica. A análise<br />
físico-química é a avaliação dos atributos físico-químicos, através da <strong>de</strong>terminação<br />
do valor nutricional e comprovação dos padrões <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> e qualida<strong>de</strong> pré-<br />
estabelecidas. A análise <strong>de</strong> micotoxinas <strong>de</strong>termina o grau <strong>de</strong> contaminação <strong>de</strong>vido<br />
às toxinas carcinogênicas produzidas por fungos (Aflatoxina e Ocratoxina A). A<br />
análise <strong>de</strong> resíduos <strong>de</strong> pesticidas <strong>de</strong>termina o grau <strong>de</strong> contaminação química<br />
(resíduos <strong>de</strong> agrotóxicos).<br />
Segundo CHAGAS e LEITE (Informativo NECAF – 2004), alguns aspectos são<br />
necessários a serem observados na colheita para garantir a <strong>produção</strong> <strong>de</strong> um <strong>café</strong> <strong>de</strong><br />
melhor qualida<strong>de</strong>, como não comece a colheita com porcentagem alta <strong>de</strong> frutos<br />
ver<strong>de</strong>s; não misture <strong>café</strong>s <strong>de</strong>rriçados no pano e <strong>café</strong>s <strong>de</strong> varrição; não amontoe <strong>café</strong><br />
recém colhido ou úmido, na roça, na carreta ou em tanques <strong>de</strong> recepção; não seque<br />
em camadas ou em leiras altas no início da secagem; não trabalhe o secador com<br />
meia carga; não ultrapasse 45 0 C na massa <strong>de</strong> <strong>café</strong> no secador; não use sacaria<br />
com cheiros estranhos; não armazene o <strong>café</strong> em local com alta umida<strong>de</strong> e<br />
temperatura ou muita luz; não armazena outros produtos na tulha ou armazém <strong>de</strong><br />
<strong>café</strong>; não comercialize seu <strong>café</strong> sem conhecer a sua qualida<strong>de</strong>.<br />
Para Mário Otávio Batalha, a qualida<strong>de</strong> da mercadoria transacionada, mais do que o<br />
preço, é o principal ponto <strong>de</strong> referência, sendo esse o caso das sub ca<strong>de</strong>ias <strong>de</strong><br />
<strong>café</strong>s finos, <strong>de</strong> carnes <strong>de</strong> primeira, <strong>de</strong> algumas frutas in natura, entre outras<br />
(BATALHA, 2008, p.77). O autor <strong>de</strong>ixou claro que, em alguns casos, a qualida<strong>de</strong> do<br />
insumo não po<strong>de</strong> ser verificada facilmente antes da compra. No ponto final da<br />
ca<strong>de</strong>ia produtiva, o consumidor disposto a pagar mais por um produto <strong>de</strong> maior<br />
qualida<strong>de</strong> somente o faz se a qualida<strong>de</strong> for facilmente observável, ou se alguma<br />
informação adicional lhe indica que o produto é <strong>de</strong> alta qualida<strong>de</strong>. A sobrevivência<br />
<strong>de</strong> uma ca<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> produtos e alta qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> da disponibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong>ssa<br />
informação.<br />
32
A fim <strong>de</strong> assegurar a aquisição <strong>de</strong> produtos com a qualida<strong>de</strong> necessária, as<br />
empresas po<strong>de</strong>m recorrer a dois tipos principais <strong>de</strong> mecanismos: a certificações, e a<br />
contratos <strong>de</strong> longo prazo, em que o nível <strong>de</strong> qualida<strong>de</strong> é formalmente ou tacitamente<br />
especificado.<br />
33<br />
A certificação tem o papel <strong>de</strong> reduzir a varieda<strong>de</strong> da qualida<strong>de</strong> no grupo <strong>de</strong><br />
produtos certificados, sendo muitas vezes realizadas por uma terceira parte.<br />
Algumas vezes, a qualida<strong>de</strong> exigida para os insumos não é <strong>de</strong> consumo<br />
geral, <strong>de</strong> tal modo que o fornecedor necessita <strong>de</strong> alguma garantia para o<br />
seu provimento. Essa garantia po<strong>de</strong> se dar na forma <strong>de</strong> um contrato <strong>de</strong><br />
longo prazo, em que o nível <strong>de</strong> qualida<strong>de</strong> é formalmente ou tacitamente<br />
especificado (BATALHA, 2008, p. 77).<br />
Depois <strong>de</strong> <strong>de</strong>finido a qualida<strong>de</strong> em sentido geral e qualida<strong>de</strong> no agronegócio, o<br />
próximo tópico vai abordar os atributos <strong>de</strong> qualida<strong>de</strong> no <strong>café</strong> que o torna <strong>especial</strong>, ou<br />
seja, o que leva um Café Arábica a se tornar um <strong>café</strong> <strong>especial</strong>, <strong>de</strong> qualida<strong>de</strong> e valor<br />
agregado.
2.3 ATRIBUTOS DE QUALIDADE DO CAFÉ ESPECIAL<br />
O <strong>café</strong> <strong>especial</strong> é um tipo <strong>de</strong> <strong>café</strong> com certas características <strong>de</strong> qualida<strong>de</strong>, obtida por<br />
um conjunto <strong>de</strong> operações que abrangem <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o cultivo da planta à forma <strong>de</strong><br />
preparo da bebida, possibilitando a obtenção <strong>de</strong> um <strong>café</strong> <strong>especial</strong>. Este produto tem<br />
maior valor <strong>de</strong> venda e uma forte aceitação nos mercados nacional e internacional<br />
(AGROLINK, 2009).<br />
No relatório final do diagnóstico sobre o sistema agroindustrial <strong>de</strong> <strong>café</strong>s especiais e<br />
qualida<strong>de</strong> superior do estado <strong>de</strong> Minas Gerais, uma das conclusões sobre a<br />
pesquisa foi que a gran<strong>de</strong> maioria dos consumidores se mostrou sensibilizada a<br />
pagar mais por um <strong>café</strong> <strong>de</strong> melhor qualida<strong>de</strong>. Entretanto o preço baixo é o fator <strong>de</strong><br />
maior importância na escolha do consumidor (PENSA, 2001, p. 23). Na pesquisa<br />
houve <strong>de</strong>gustações, e o <strong>café</strong> do tipo Gourmet foi consi<strong>de</strong>rado o mais saboroso,<br />
seguido do Café Tradicional e Superior.<br />
Para a Associação Brasileira <strong>de</strong> Cafés Especiais (BSCA, 2009), a busca por<br />
qualida<strong>de</strong> na indústria <strong>de</strong> alimentos está mostrando um crescimento constante na<br />
última década, fruto das mudanças nas preferências dos consumidores.<br />
A crescente busca pela qualida<strong>de</strong> po<strong>de</strong> ser reforçada por Souza, Saes e Otani<br />
(2000, p. 4). Para as autoras, houve um crescimento na busca por qualida<strong>de</strong> em<br />
produtos agroindustriais, fruto <strong>de</strong> mudanças nas preferências dos consumidores,<br />
pois há aqueles dispostos a pagar mais por produtos com alguns atributos<br />
<strong>de</strong>sejados. Para as autoras, a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> diferenciação e segmentação <strong>de</strong><br />
produtos estão entre os fatores mais relevantes que influenciam a competitivida<strong>de</strong><br />
dos produtos agroindustriais. Em conseqüência disso, alguns atributos <strong>de</strong> qualida<strong>de</strong>,<br />
passíveis <strong>de</strong> certificação, estão sendo incorporado, como instrumento <strong>de</strong><br />
concorrência do produto final.<br />
Quando a certificação envolve todo o sistema, é necessário rastrear. Para Batalha<br />
(2008, p. 549), rastreabilida<strong>de</strong> é a habilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> rastrear um lote <strong>de</strong> um produto ou a<br />
história por toda a ca<strong>de</strong>ia agroindustrial ou por parte <strong>de</strong>la da <strong>produção</strong> rural até os<br />
canais <strong>de</strong> distribuição. Deve ser administrada pelo estabelecimento <strong>de</strong> um sistema<br />
<strong>de</strong> rastreabilida<strong>de</strong> que mantém os registros. As informações po<strong>de</strong>m ser sobre<br />
34
insumos utilizados, os processos <strong>de</strong> <strong>produção</strong>, pessoal envolvido, equipamentos<br />
utilizados, etc.<br />
Para o autor, o objetivo é i<strong>de</strong>ntificar a origem do produto <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o campo até o<br />
consumidor, po<strong>de</strong>ndo ter sido, ou não, transformado ou processado, composto como<br />
um conjunto <strong>de</strong> medidas que possibilitam controlar e monitorar todas as<br />
movimentações nas unida<strong>de</strong>s, <strong>de</strong> entrada e saída, a fim <strong>de</strong> atingir um produto <strong>de</strong><br />
qualida<strong>de</strong> e com origem garantida.<br />
Segundo a Associação Brasileira <strong>de</strong> Cafés Especiais (BSCA, 2009), a preparação <strong>de</strong><br />
<strong>café</strong> <strong>especial</strong> começa no plantio, na seleção da área e da varieda<strong>de</strong> a ser plantada,<br />
pois o local <strong>de</strong> plantio relaciona-se com a qualida<strong>de</strong> do <strong>café</strong> e a sustentabilida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />
seu cultivo. Essa escolha é essencial, uma vez que a qualida<strong>de</strong> final da bebida não<br />
po<strong>de</strong>rá ser modificada <strong>de</strong>pois por práticas culturais ou tipo <strong>de</strong> processamento.<br />
A colheita cuidadosa e processamento a<strong>de</strong>quado acontecem durante os meses<br />
mais secos do ano.<br />
A secagem inicia-se logo após a colheita, para evitar a fermentação, que interfere no<br />
sabor, na qualida<strong>de</strong> e valor comercial do grão. A secagem ao sol em camadas finas,<br />
controlada por mão-<strong>de</strong>-obra experiente e bem treinada, po<strong>de</strong> ser completada em<br />
secadores mo<strong>de</strong>rnos on<strong>de</strong> a secagem lenta e o controle preciso da temperatura<br />
garante <strong>café</strong>s <strong>de</strong> qualida<strong>de</strong> consistente durante toda a colheita. No secador a<br />
temperatura do ar circulante entre os grãos não <strong>de</strong>ve ultrapassar 40o C, o grão não<br />
<strong>de</strong>ver ficar exposto a essas condições por tempo superior a 5 dias.<br />
Na etapa da torrefação é necessário cuidados nas seguintes variáveis: o tipo <strong>de</strong> <strong>café</strong><br />
torrado, o grau <strong>de</strong> torra e a granulometria da moagem.<br />
A torra clara <strong>de</strong> acentuada aci<strong>de</strong>z suaviza o aroma e sabor e é menos amargo. Já o<br />
<strong>de</strong> torra escura diminui a aci<strong>de</strong>z, acentua o sabor amargo e a bebida é mais escura.<br />
O grau <strong>de</strong> moagem <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> da maneira <strong>de</strong> como vai ser preparado o <strong>café</strong><br />
(AGROLINK, 2009).<br />
Segundo a publicação, Diagnóstico da Produção no Segmento <strong>de</strong> Cafés Especiais<br />
Paulista, os <strong>café</strong>s especiais envolvem uma ampla gama <strong>de</strong> conceitos, que vão<br />
<strong>de</strong>s<strong>de</strong> as características tangíveis, atributos físicos e sensoriais, como tamanho dos<br />
grãos, origens, aroma e sabor da bebida, até as características intangíveis como<br />
atributos ambientais e sociais da <strong>produção</strong>, valores cada vez mais incorporados às<br />
35
características superiores <strong>de</strong> qualida<strong>de</strong> da bebida. (SOUZA, SAES e OTANI, 2003,<br />
p. 24).<br />
Uma ampla <strong>de</strong>finição do conceito <strong>de</strong> Cafés Especiais po<strong>de</strong> ser:<br />
36<br />
“O conceito <strong>de</strong> <strong>café</strong>s especiais está intimamente ligado ao prazer<br />
proporcionado pela bebida. Tais <strong>café</strong>s <strong>de</strong>stacam-se por algum atributo<br />
específico associado ao produto, ao processo <strong>de</strong> <strong>produção</strong> ou ao serviço a<br />
ele relacionado. Diferenciam-se por características como qualida<strong>de</strong> superior<br />
da bebida, aspecto dos grãos, forma <strong>de</strong> colheita, tipo <strong>de</strong> preparo, história,<br />
origem dos plantios, varieda<strong>de</strong>s raras e quantida<strong>de</strong>s limitadas, entre outras.<br />
Po<strong>de</strong>m também incluir parâmetros <strong>de</strong> diferenciação que se relacionam à<br />
sustentabilida<strong>de</strong> econômica, ambiental e social da <strong>produção</strong>, <strong>de</strong> modo a<br />
promover maior eqüida<strong>de</strong> entre os elos da ca<strong>de</strong>ia produtiva. Mudanças no<br />
processo industrial também levam à diferenciação, com adição <strong>de</strong><br />
substâncias, como os aromatizados, ou com sua subtração, como os<br />
<strong>de</strong>scafeinados. A rastreabilida<strong>de</strong> e a incorporação <strong>de</strong> serviços também são<br />
fatores <strong>de</strong> diferenciação e, portanto, <strong>de</strong> agregação <strong>de</strong> valor” (SAES e<br />
FARINA, 1999, p. 68-69).<br />
Para as autoras existem quatro tipos <strong>de</strong> <strong>café</strong>s especiais: Café Gourmet, Café <strong>de</strong><br />
Origem Certificada, Café Orgânico e Café Fair Tra<strong>de</strong>.<br />
O Café Gourmet, está relacionado aos grãos <strong>de</strong> <strong>café</strong> <strong>arábica</strong> <strong>de</strong> alta qualida<strong>de</strong>. É<br />
um produto diferenciado, quase livre <strong>de</strong> <strong>de</strong>feitos. A <strong>produção</strong> <strong>de</strong> <strong>café</strong> gourmet tem<br />
sido incentivada pela Organização Internacional do Café (OIC). Esse tipo <strong>de</strong> <strong>café</strong> <strong>de</strong><br />
alta qualida<strong>de</strong> tem características intrínsecas ao grão ver<strong>de</strong>, como o aroma, sabor,<br />
corpo, aci<strong>de</strong>z e sabor residual. Café Gourmet refere-se a <strong>café</strong>s preparados "Tipo 3<br />
para melhor", "<strong>de</strong> aspecto uniforme muito bom", com bebida "mole/estritamente<br />
mole”. Na maior parte, o fruto cereja maduro do <strong>café</strong> <strong>arábica</strong> que esta no cafezal<br />
possui uma excelente qualida<strong>de</strong>, <strong>de</strong> mole para melhor. O problema que po<strong>de</strong> ocorrer<br />
quando o fruto é colhido é a fermentação, pois esse <strong>café</strong> contém açúcar. O <strong>café</strong><br />
Gourmet só tem essa qualida<strong>de</strong>, pois o furto maduro é apartado, ele seca<br />
separadamente dos frutos secos, a fim <strong>de</strong> formar lotes segregados. Nas<br />
proprieda<strong>de</strong>s <strong>especial</strong>izadas na <strong>produção</strong> do Café Gourmet, 40 a 50% da safra<br />
po<strong>de</strong>m ser vendidas como Gourmet, o resto são negociados como <strong>café</strong> commodity.<br />
O entrave das proprieda<strong>de</strong>s não esta na <strong>produção</strong> <strong>de</strong> Café Gourmet, teoricamente<br />
qualquer proprieda<strong>de</strong> po<strong>de</strong> produzir certa quantida<strong>de</strong>.<br />
A dificulda<strong>de</strong> se encontra na conquista do mercado, e o trabalho <strong>de</strong> <strong>produção</strong> e<br />
segregação da colheita <strong>de</strong> grãos maduros só será realizado se o mercado pagar por<br />
esse tipo <strong>especial</strong> <strong>de</strong> <strong>café</strong>.
O Café <strong>de</strong> origem certificada relaciona-se às regiões <strong>de</strong> origem dos plantios, uma<br />
vez que alguns dos atributos <strong>de</strong> qualida<strong>de</strong> do produto são inerentes à região on<strong>de</strong> a<br />
planta é cultivada. O monitoramento da <strong>produção</strong> é necessário para a rotulagem.<br />
No Espírito Santo tem o <strong>café</strong> conhecido como ”Cafés das Montanhas”, referência às<br />
características da região on<strong>de</strong> é plantado o <strong>café</strong> <strong>arábica</strong>, tradicionalmente cultivado<br />
por pequenos produtores dos seguintes municípios: Domingos Martins, Marechal<br />
Floriano, Venda Nova do Imigrante, Alfredo Chaves, Conceição do Castelo, Ibatiba,<br />
Iúna, Santa Maria <strong>de</strong> Jetibá, Afonso Cláudio e Irupi.<br />
Em Minas Gerais existe o certificado <strong>de</strong> origem para os <strong>café</strong>s do estado, <strong>de</strong>limitando<br />
quatro regiões produtoras: Sul <strong>de</strong> Minas, Cerrado, Jequitinhonha e Montanhas <strong>de</strong><br />
Minas.<br />
O Certi<strong>café</strong>, certificado <strong>de</strong> origem do <strong>café</strong> <strong>de</strong> Minas Gerais, foi lançado em junho <strong>de</strong><br />
1997 e previa que a partir <strong>de</strong>ssa data os <strong>café</strong> produzidos no cerrado mineiro e<br />
submetidos ao IMA - Instituto Mineiro <strong>de</strong> Agropecuária para exame <strong>de</strong>veriam portar<br />
na sacaria um selo, contendo informações sobre a procedência do produto (nome do<br />
produtor, região), safra e classificação por bebida, tipo e peneira.<br />
O Café Orgânico é produzido sob as regras da agricultura orgânica. Tem como<br />
objetivo o fortalecimento dos processos biológicos, por meio <strong>de</strong> diversificação <strong>de</strong><br />
culturas, fertilização com adubos orgânicos e o controle <strong>de</strong> pragas e doenças <strong>de</strong>ve<br />
ser feito por meio <strong>de</strong> controle biológico, não são usados fertilizantes solúveis e<br />
agrotóxicos.<br />
Os padrões para o Café Orgânico seguem os princípios mais gerais da agricultura<br />
orgânica, já que não há critérios específicos para <strong>café</strong>. Segundo SOUZA (2006,<br />
p.96) os seguintes padrões a serem seguidos pela agricultura do <strong>café</strong> orgânico são:<br />
cultivo <strong>de</strong> leguminosas, adubos ver<strong>de</strong>s ou plantas <strong>de</strong> raízes profundas <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> um<br />
programa <strong>de</strong> rotação plurianual; Incorporação no solo <strong>de</strong> matéria orgânica, esterco e<br />
húmus; controle <strong>de</strong> pragas e doenças pelo uso <strong>de</strong> varieda<strong>de</strong>s apropriadas, rotação<br />
<strong>de</strong> culturas, controle biológico, práticas mecânicas ou uso <strong>de</strong> fogo para as plantas<br />
invasoras; uso <strong>de</strong> sementes e outros materiais <strong>de</strong> propagação produzidos <strong>de</strong> modo<br />
orgânico; e limitação do uso <strong>de</strong> fertilizantes não orgânicos e agrotóxicos.<br />
37
Para a autora, a certificação orgânica é importante para garantir a ausência <strong>de</strong><br />
agrotóxicos nas áreas <strong>de</strong> <strong>produção</strong>, com menor impacto sobre o meio ambiente e a<br />
saú<strong>de</strong> dos trabalhadores<br />
Para ser rotulado como orgânico, tanto a <strong>produção</strong> como o processamento precisam<br />
ser monitorados por uma agência certificadora cre<strong>de</strong>nciada. Devido essas<br />
peculiarida<strong>de</strong>s, o Café Orgânico apresenta características <strong>de</strong> preservação ambiental,<br />
mas não <strong>de</strong>sconsi<strong>de</strong>ra os aspectos econômicos e sociais da <strong>produção</strong> agrícola,<br />
porém com ênfase menor que nos Cafés Fair Tra<strong>de</strong>. A agricultura orgânica consiste<br />
em um sistema que procura melhorar a saú<strong>de</strong> do solo e das plantas por meio <strong>de</strong><br />
praticas, como a reciclagem dos nutrientes da matéria orgânica (tais como<br />
compostos ou resíduos das plantas), rotação <strong>de</strong> culturas, manejo apropriado do solo<br />
e ausência <strong>de</strong> fertilizantes sintéticos e herbicidas. (BATALHA, 2008, p. 683).<br />
Para SOUZA (2006, p. 66), o conceito Café Orgânico é bastante amplo, apresenta<br />
fortes características <strong>de</strong> preservação ambiental, mas também consi<strong>de</strong>ra aspectos<br />
econômicos e sociais da <strong>produção</strong>, com ênfase crescente, porém menor do que nos<br />
produtos do comércio solidário, o <strong>café</strong> Fair tra<strong>de</strong>. Ainda a autora, os consumidores<br />
preocupados com os impactos dos agrotóxicos sobre o ambiente e a saú<strong>de</strong> dos<br />
trabalhadores nas lavouras po<strong>de</strong>m se interessar e até mesmo pagar mais caro pelos<br />
Cafés Orgânicos, uma vez que o <strong>café</strong> é a terceira cultura que mais emprega<br />
agrotóxicos no mundo, atrás do algodão e do tabaco, lembrando que o <strong>café</strong> orgânico<br />
não faz o uso <strong>de</strong> agrotóxicos e um possível resíduo <strong>de</strong> agrotóxico não afeta<br />
diretamente os consumidores <strong>de</strong> <strong>café</strong>, já que o agrotóxico po<strong>de</strong> ser eliminado pelas<br />
altas temperaturas do processo <strong>de</strong> torrefação.<br />
O Café para ser rotulado como orgânicos, tanto a <strong>produção</strong> como o processamento<br />
industrial precisam ser monitorados por certificadores cre<strong>de</strong>nciados. Países<br />
exportadores <strong>de</strong> produtos orgânicos, a certificação po<strong>de</strong> ser feita por organizações<br />
locais, por parcerias entre agências locais e internacionais, por organizações<br />
internacionais, ou por uma <strong>de</strong> suas filiais (SOUZA, 2006, p. 97).<br />
O Café Orgânico também é conhecido como <strong>café</strong> ecológico em virtu<strong>de</strong> do uso da<br />
agricultura orgânica, geralmente é cultivado em sistema <strong>de</strong> <strong>produção</strong> sombreado.<br />
Para um <strong>café</strong> ser rotulado como orgânico a <strong>produção</strong> e o processamento <strong>de</strong>vem ser<br />
monitorados por certificadores cre<strong>de</strong>nciados.<br />
38
O selo orgânico é o símbolo <strong>de</strong> processos mais ecológicos <strong>de</strong> se plantar, cultivar e<br />
colher alimentos (PLANETA ORGÂNICO, 2009). Para Maria Célia Martins <strong>de</strong> Souza<br />
(2006, p. 67), a transição para práticas orgânicas é relativamente simples para<br />
agricultores familiares, muitos <strong>de</strong>les já não usam insumos químicos e por isso são<br />
chamados <strong>de</strong> “organic by <strong>de</strong>fault”. Os produtores “organic by <strong>de</strong>fault” têm<br />
dificulda<strong>de</strong>s para acessar estes mercados sem a ajuda <strong>de</strong> organizações <strong>de</strong> apoio à<br />
<strong>produção</strong> e comercialização.<br />
O Espírito Santo tem o certificador Chão Vivo, atua em todo o território nacional,<br />
orienta suas ativida<strong>de</strong>s para a certificação orgânica <strong>de</strong> produtos in natura, semi-<br />
elaborados ou industrializados, <strong>de</strong> modo a garantir a produtores, consumidores,<br />
comerciantes, a qualida<strong>de</strong> da <strong>produção</strong>, preservação do ecossistema e a qualida<strong>de</strong><br />
<strong>de</strong> vida para todos (CHÃO VIVO, 2009).<br />
No Brasil, existem diversas certificadoras <strong>de</strong> produtos orgânicos. O selo <strong>de</strong><br />
certificação <strong>de</strong> um alimento orgânico fornece ao consumidor certeza <strong>de</strong> um produto<br />
isento <strong>de</strong> contaminação química, e que esse produto é resultado <strong>de</strong> uma agricultura<br />
capaz <strong>de</strong> assegurar qualida<strong>de</strong> do ambiente natural, qualida<strong>de</strong> nutricional e biológica<br />
<strong>de</strong> alimentos e qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida para quem vive no campo e nas cida<strong>de</strong>s.<br />
Algumas das certificadoras são: Associação <strong>de</strong> Agricultores Biológicos (ABIO); A<br />
Associação <strong>de</strong> Certificação Sócio participativa da Amazônia – ACS; A Associação <strong>de</strong><br />
Agricultura Natural <strong>de</strong> Campinas e região (ANC); A APAN - Associação dos<br />
Produtores <strong>de</strong> Agricultura Natural <strong>de</strong> Marinque (SP); IBD - Associação <strong>de</strong><br />
Certificação Instituto Biodinâmico, DE Botucatu (SP); OIA–BRASIL <strong>de</strong> São Paulo<br />
(SP); A Farm Verified Organic – FVO, é americana, no Brasil esta situada em Recife,<br />
e <strong>de</strong>ntre outras certificadoras (PLANETA ORGÂNICO, 2009).<br />
Segundo FARINA e SAES (apud UNCTAD, 1999), nos países exportadores <strong>de</strong><br />
produtos orgânicos, a certificação po<strong>de</strong> se feita por organizações locais, por<br />
parcerias entre agências locais e internacionais, por organizações internacionais, ou<br />
por uma <strong>de</strong> suas filiais. Em alguns casos, os serviços <strong>de</strong> certificação po<strong>de</strong>m ser sub-<br />
contratados ou serem realizados por grupos <strong>de</strong> pequenos produtores, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> que<br />
sejam <strong>de</strong>senvolvidos mecanismos <strong>de</strong> inspeção e <strong>de</strong> controle interno conforme os<br />
padrões da agricultura orgânica.<br />
39
O Café Fair Tra<strong>de</strong> é o preferido por consumidores <strong>de</strong> países <strong>de</strong>senvolvidos,<br />
preocupados com as condições sociais e ambientais sob as quais o <strong>café</strong> é cultivado.<br />
É comercializado sob princípios <strong>de</strong> comércio justo e solidário. Os consumidores<br />
estão dispostos a pagar mais pelo <strong>café</strong> produzido por pequenos agricultores e<br />
<strong>produção</strong> sombreada. A <strong>produção</strong> e o processamento são monitorados para garantir<br />
a presença dos atributos <strong>de</strong>sejados. As organizações <strong>de</strong> Fair Tra<strong>de</strong> estão se<br />
tornando um importante canal <strong>de</strong> distribuição <strong>de</strong> produtos orgânicos na Europa,<br />
englobando produtos como bananas, cacau, mel, chá e <strong>café</strong> (FARINA e SAES, apud<br />
UNCTAD, 1999, p.24). O Café Fair Tra<strong>de</strong> e o movimento Fair Tra<strong>de</strong>, que engloba<br />
outros produtos, se preocupam na situação social e econômica dos produtores <strong>de</strong><br />
países em <strong>de</strong>senvolvimento, objetivando a melhora do padrão <strong>de</strong> vida das famílias<br />
dos produtores mediante o sistema <strong>de</strong> venda direta aos torrefadores e varejistas,<br />
eliminando intermediários.<br />
FLO (Fairtra<strong>de</strong> Labelling Organizations International) é uma certificadora<br />
internacional in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte que oferece certificados <strong>de</strong> Fair Tra<strong>de</strong> para clientes em<br />
mais <strong>de</strong> 70 países, ajuda no <strong>de</strong>senvolvimento sócio econômico <strong>de</strong> produtos vindos<br />
<strong>de</strong> países sub<strong>de</strong>senvolvidos ou em <strong>de</strong>senvolvimento (no site diz que ajuda países<br />
da parte sul do globo terrestre) e ajudar a promover relações <strong>de</strong> longo prazo e <strong>de</strong><br />
boas práticas com os comerciantes <strong>de</strong> produtos certificados Fair Tra<strong>de</strong>.<br />
A FLO estabelece dois conjuntos <strong>de</strong> produtores. O primeiro conjunto refere-se aos<br />
organizados em cooperativas ou outra forma <strong>de</strong> organização estruturada <strong>de</strong> modo<br />
<strong>de</strong>mocrático e participativo. Tais padrões incluem parâmetros <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento<br />
social, para garantir que a a<strong>de</strong>são faça diferença para os produtores certificados,<br />
como <strong>de</strong>mocracia, participação e transparência nas transações comerciais, além <strong>de</strong><br />
não discriminação; <strong>de</strong>senvolvimento econômico, como o pagamento <strong>de</strong> um prêmio<br />
que <strong>de</strong>ve ser administrado pelos agricultores para seu <strong>de</strong>senvolvimento, acesso aos<br />
mercados, e fortalecimento da organização; <strong>de</strong>senvolvimento ambiental, como<br />
planejamento do uso <strong>de</strong> agrotóxicos, manejo <strong>de</strong> resíduos, <strong>de</strong> solo e água, e<br />
interdição <strong>de</strong> transgênicos, e condições <strong>de</strong> trabalho, como liberda<strong>de</strong> <strong>de</strong> associação e<br />
ausência <strong>de</strong> trabalho infantil (SOUZA, 2006, p. 105).<br />
O segundo conjunto é relacionado a trabalhadores organizados, cujos<br />
empregadores pagam salários dignos, garantem o direito <strong>de</strong> serem sindicalizados e<br />
fornecem habitação, quando necessário. Nas fábricas e plantações precisam ser<br />
40
espeitados padrões mínimos ambientais, <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> e segurança, assim como a<br />
ausência <strong>de</strong> trabalho infantil.<br />
Do outro lado da ca<strong>de</strong>ia, existem critérios para os compradores <strong>de</strong> produtos do Fair<br />
Tra<strong>de</strong>, segundo a FLO (2006), são: o preço pago aos agricultores <strong>de</strong>ve cobrir os<br />
custos <strong>de</strong> sua sobrevivência e da <strong>produção</strong> sustentável; pagamento <strong>de</strong> um prêmio<br />
para que os agricultores possam investir em seu <strong>de</strong>senvolvimento; adiantamento<br />
parcial do pagamento, quando solicitado pelos produtores; assinatura <strong>de</strong> contratos<br />
que permitam o planejamento <strong>de</strong> longo prazo e adoção <strong>de</strong> práticas <strong>de</strong> <strong>produção</strong><br />
sustentáveis.<br />
O SINDICAFÉ, propõe uma outra classificação em cinco categorias:<br />
Café Gourmet: são os produtos excelentes, raros e exclusivos, sendo que todos<br />
seus atributos <strong>de</strong> qualida<strong>de</strong> são positivos. Suas características únicas e marcantes<br />
conferem-lhes valor agregado muito mais elevado;<br />
Cafés Superiores: são aqueles cuja qualida<strong>de</strong> é reconhecidamente boa. Os<br />
consumidores que os valorizam mantêm a fi<strong>de</strong>lida<strong>de</strong> à bebida, sobretudo pelo preço<br />
acessível. Seu valor agregado <strong>de</strong>ve ser alto o suficiente para permitir o uso <strong>de</strong><br />
matérias-primas superiores, ótimas embalagens e reinvesti mento permanente.<br />
Cafés Tradicionais: são produtos com qualida<strong>de</strong> intermediária, ligeiramente boa a<br />
boa, com a melhor relação custo-benefício pela qualida<strong>de</strong>. São os “<strong>café</strong>s do dia-a-<br />
dia”, representando atualmente a maior parcela do mercado. Seu valor agregado<br />
<strong>de</strong>ve permitir um preço superior ao que vem sendo obtido.<br />
Cafés Funcionais: oferecem algo mais além do prazer da bebida. Contribuem para<br />
o bem-estar dos consumidores proporcionando-lhes a satisfação <strong>de</strong> necessida<strong>de</strong>s<br />
associadas à saú<strong>de</strong>, como os <strong>de</strong>scafeinados, os vitaminados, os orgânicos e os<br />
enriquecidos, entre outros.<br />
Cafés inovadores: dizem respeito a produtos <strong>de</strong> uma nova geração tecnológica,<br />
como os <strong>café</strong>s com leite, cappuccinos, shakes, <strong>café</strong>s gelados enlatados, entre<br />
outros.<br />
Nesse trabalho adotamos para análise a classificação da SAES e FARINA (1999).<br />
41
3. ESPÍRITO SANTO E POTENCIALIDADES PARA A PRODUÇÃO DE CAFÉS<br />
ESPECIAIS<br />
3.1 AS CARACTERÍSITCAS DA PRODUÇÃO DE CAFÉ ARÁBICA NO ESTADO<br />
ESPÍRITO SANTO.<br />
Este subcapítulo traz as características da <strong>produção</strong> <strong>de</strong> Café Arábica no Espírito<br />
Santo. Foi <strong>de</strong>scrito que a colonização do estado foi realizada por imigrantes<br />
europeus que recebiam terras <strong>de</strong> 50, 30 e 25 hectares. A Tabela 4 mostra a<br />
distribuição dos estabelecimentos rurais por estrato <strong>de</strong> área no Espírito Santo no ano<br />
para o ano <strong>de</strong> 2006<br />
TABELA 4 – ESTABELECIMENTOS RURAIS NO ESTADO DO ESPÍRITO SANTO<br />
POR ESTRATO DE ÁREA DE ACORDO COM O CENSO AGROPECUÁRIO DE<br />
2006.<br />
Estrato <strong>de</strong> área<br />
TOTAL<br />
Fonte: IBGE / SIDRA – 2008<br />
Número <strong>de</strong><br />
estabelecimentos<br />
% Acumulado<br />
Mais <strong>de</strong> 0 a menos <strong>de</strong> 0,5 ha 1829 2,1 7,5<br />
De 0,5 a menos <strong>de</strong> 1 ha 1.740 2,0 4,2<br />
De 1 a menos <strong>de</strong> 2 ha 4.433 5,2 9,4<br />
De 2 a menos <strong>de</strong> 3 ha 5.425 6,4 15,9<br />
De 3 a menos <strong>de</strong> 4 ha 4.508 5,3 21,2<br />
De 4 a menos <strong>de</strong> 5 ha 5.464 6,4 27,7<br />
De 5 a menos <strong>de</strong> 10 ha 16.849 19,9 47,7<br />
De 10 a menos <strong>de</strong> 20 ha 16.544 19,6 67,3<br />
De 20 a menos <strong>de</strong> 50 ha 16.638 19,7 87,0<br />
De 50 a menos <strong>de</strong> 100 ha 5.872 6,9 94,0<br />
De 100 a menos <strong>de</strong> 200 ha 2.533 3,0 97,0<br />
De 200 a menos <strong>de</strong> 500 ha 1.423 1,6 98,7<br />
De 500 a menos <strong>de</strong> 1000 ha 343 0,4 99,1<br />
De 1000 a menos <strong>de</strong> 2500 ha 112 0,1 99,2<br />
De 2500 ha e mais 45 0,1 99,2<br />
Produtor sem área 598 0,7 100,0<br />
84.356<br />
100,0%<br />
-<br />
42
A tabela acima a distribuição dos estabelecimentos rurais no Estado do Espírito<br />
Santo por estrato <strong>de</strong> área, segundo o censo agropecuário 2006. Fica evi<strong>de</strong>nte que o<br />
estado do Espírito Santo apresenta como característica principal a pequena<br />
proprieda<strong>de</strong>, marcante <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o inicio da sua colonização, on<strong>de</strong> até hoje 87,1% das<br />
proprieda<strong>de</strong>s do estado estão compreendidas em áreas <strong>de</strong> 20 até 50 hectares.<br />
A tabela 5 mostra a distribuição das proprieda<strong>de</strong>s com base na agricultura familiar<br />
nos municípios do Espírito Santo. Dos 77 municípios capixabas, a porcentagem das<br />
proprieda<strong>de</strong>s com base na agricultura familiar é, em média, 79,2%.<br />
43
TABELA 5 - PROPRIEDADES BASEADAS NA AGRICULTURA FAMILIAR NOS<br />
MUNICÍPIOS DO ESTADO DO ESPÍRITO SANTO SEGUNDO CENSO<br />
AGROPECUÁRIO 2006<br />
Municípios<br />
Agricultura<br />
familiar<br />
Não<br />
familiar<br />
Total<br />
(continua)<br />
44<br />
% das proprieda<strong>de</strong>s baseada<br />
na agricultura familiar<br />
Afonso Cláudio 2.270 388 2.658 85,4<br />
Águia Branca 785 197 982 79,9<br />
Água Doce do Norte 776 165 941 82,4<br />
Alegre 1.107 307 1.414 78,2<br />
Alfredo Chaves 920 152 1.072 85,8<br />
Alto Rio Novo 392 67 459 85,4<br />
Anchieta 276 98 374 73,8<br />
Apiacá 295 82 377 78,2<br />
Aracruz 387 198 585 66,1<br />
Atílio Vivacqua 337 88 425 79,2<br />
Baixo Guandu 778 215 993 78,3<br />
Barra <strong>de</strong> São Francisco 1.698 365 2.063 82,3<br />
Boa Esperança 365 134 499 73,1<br />
Bom Jesus do Norte 88 39 127 69,2<br />
Brejetuba 543 118 661 82,1<br />
Cachoeiro <strong>de</strong> Itapemirim 1.381 468 1.849 74,6<br />
Cariacica 291 63 354 82,2<br />
Castelo 995 499 1.494 66,6<br />
Colatina 1.243 444 1.687 73,6<br />
Conceição da Barra 327 40 367 89,1<br />
Conceição do Castelo 661 215 876 75,4<br />
Divino <strong>de</strong> São Lourenço 530 88 618 85,7<br />
Domingos Martins 2.540 389 2.929 86,7<br />
Dores do Rio Preto 267 90 357 74,7<br />
Ecoporanga 1.044 313 1.357 76,9<br />
Fundão 395 75 470 84,0<br />
Governador Lin<strong>de</strong>nberg 440 152 592 74,3<br />
Guaçuí 693 254 947 73,1<br />
Guarapari 719 253 972 73,9<br />
Ibatiba 930 113 1.043 89,1<br />
Ibiraçu 194 32 226 85,8<br />
Ibitirama 570 225 795 71,7<br />
Iconha 947 88 1.035 91,5<br />
Irupi 575 149 724 79,4<br />
Itaguaçú 892 252 1.144 77,9<br />
Itapemirim 521 108 629 82,8<br />
Itarana 773 109 882 87,6
TABELA 5 - PROPRIEDADES BASEADAS NA AGRICULTURA FAMILIAR NOS<br />
MUNICÍPIOS DO ESTADO DO ESPÍRITO SANTO SEGUNDO CENSO<br />
AGROPECUÁRIO 2006 (continuação)<br />
Municípios<br />
Agricultura<br />
familiar<br />
Não<br />
familiar<br />
Total<br />
% das proprieda<strong>de</strong>s<br />
baseada na<br />
agricultura familiar<br />
Iúna 1.092 317 1.409 77,5<br />
Jaguaré 544 220 764 71,2<br />
Jerônimo Monteiro 552 89 641 86,1<br />
João Neiva 123 40 163 75,4<br />
Laranja da Terra 1.137 317 1.454 78,2<br />
Linhares 1.208 710 1.918 62,9<br />
Mantenópolis 546 146 692 78,9<br />
Marataízes 1.131 143 1.274 88,7<br />
Marechal Floriano 662 80 742 89,2<br />
Marilândia 415 217 632 65,6<br />
Mimoso do Sul 1.437 473 1.910 75,2<br />
Montanha 608 165 773 78,6<br />
Mucurici 264 75 339 77,8<br />
Muniz Freire 2.132 223 2.355 90,5<br />
Muqui 494 169 663 74,5<br />
Nova Venécia 1.297 548 1.845 70,3<br />
Pancas 1.044 133 1.177 88,7<br />
Pedro Canário 227 114 341 66,6<br />
Pinheiros 471 146 617 76,3<br />
Piúma 65 45 110 59,1<br />
Ponto Belo 185 69 254 72,8<br />
Presi<strong>de</strong>nte Kennedy 401 109 510 78,6<br />
Rio Bananal 1.058 316 1.374 77,0<br />
Rio Novo do Sul 538 66 604 89,1<br />
Santa Leopoldina 994 204 1.198 82,9<br />
Santa Maria <strong>de</strong> Jetibá 3.659 439 4.098 89,3<br />
Santa Teresa 994 232 1.226 81,1<br />
São Domingos do Norte 635 151 786 80,8<br />
São Gabriel da Palha 861 302 1.163 74,0<br />
São José do Calçado 349 212 561 62,2<br />
São Mateus 1.473 339 1.812 81,3<br />
São Roque do Canaã 606 190 796 76,1<br />
Serra 90 105 195 46,1<br />
Sooretama 349 188 537 64,9<br />
45
TABELA 5 - PROPRIEDADES BASEADAS NA AGRICULTURA FAMILIAR NOS<br />
MUNICÍPIOS DO ESTADO DO ESPÍRITO SANTO SEGUNDO CENSO<br />
AGROPECUÁRIO 2006 (conclusão)<br />
Municípios<br />
Agricultura<br />
familiar<br />
Não<br />
familiar<br />
Total<br />
% das proprieda<strong>de</strong>s<br />
baseada na<br />
agricultura familiar<br />
Vargem Alta 737 157 894 82,4<br />
Venda Nova do Imigrante 370 233 603 61,3<br />
Viana 345 133 478 72,2<br />
Vila Pavão 824 282 1.106 74,5<br />
Vila Valério 1.136 302 1.438 79,0<br />
Vila Velha 54 57 111 48,6<br />
TOTAL 59.052 15.488 74.540 79,2<br />
Fonte: IBGE / SIDRA - 2008<br />
Com base nos dados apresentados pela da Tabela 5, concluímos que o Estado do<br />
Espírito Santo tem como a sua característica principal proprieda<strong>de</strong>s baseadas na<br />
agricultura familiar, isso em todos os municípios. Das 74.540 proprieda<strong>de</strong>s que o<br />
IBGE catalogou no censo agropecuário 2006, 59.052 proprieda<strong>de</strong>s são baseadas na<br />
agricultura familiar, isso representa 79,2%. Essa característica marcante das<br />
proprieda<strong>de</strong>s revela a importância que a agricultura familiar exerce no Estado.<br />
Já o INCAPER revelou que 77,0 % dos estabelecimentos rurais do Estado são<br />
familiares, percentual próximo ao apresentado pelo IGBE, que foi <strong>de</strong> 79,2%. Esse<br />
enorme contingente <strong>de</strong> trabalhadores <strong>de</strong>tém 40% da área e gera 36% do valor da<br />
<strong>produção</strong> rural.<br />
46
TABELA 6 - PRODUÇÃO DE CAFÉ ARÁBICA POR ESTRATO DE ÁREA<br />
(HECTARE) DO ESTADO DO ESPÍRITO SANTO SEGUNDO CENSO<br />
AGROPECUÁRIO 2006<br />
Estrato <strong>de</strong> área (ha)<br />
Produção<br />
Toneladas<br />
Participação no<br />
Total %<br />
%<br />
Acumulado<br />
Maior <strong>de</strong> 0 a menos <strong>de</strong> 1 ha 3.144 2,8 2,8<br />
De 1 a menos <strong>de</strong> 2 ha 6.079 5,4 8,2<br />
De 2 a menos <strong>de</strong> 5 ha 24.867 22,2 30,4<br />
De 5 a menos <strong>de</strong> 10 ha 21.381 19,1 49,5<br />
De 10 a menos <strong>de</strong> 20 ha 21.101 18,8 68,4<br />
De 20 a menos <strong>de</strong> 50 ha 18.818 16,8 85,2<br />
De 50 a menos <strong>de</strong> 100 ha 8.212 7,3 92,5<br />
De 100 a menos <strong>de</strong> 200 ha 4.092 3,6 96,2<br />
De 200 a menos <strong>de</strong> 500 ha 4.194 3,7 100,0<br />
TOTAL 111.889 100,0 -<br />
Fonte: IBGE / SIDRA - 2008<br />
A tabela 6 nos informa a <strong>produção</strong> do Café Arábica no Estado do Espírito Santo por<br />
estrato <strong>de</strong> área, <strong>de</strong> proprieda<strong>de</strong>s com tamanho <strong>de</strong> 1 hectare até 500 hectares.<br />
A tabela foi montada em dados extraídos da plataforma SIDRA 1 do IBGE. O<br />
resultado da tabela é uma amostra que representa a <strong>produção</strong> <strong>de</strong> Café Arábica por<br />
estrato <strong>de</strong> área, a participação <strong>de</strong> cada faixa <strong>de</strong> estrato <strong>de</strong> área.<br />
As conclusões da tabela são que a pequena proprieda<strong>de</strong> é a responsável pela<br />
<strong>produção</strong> do Café Arábica no estado, sendo que 85,25% da <strong>produção</strong> esta<br />
concentrada em proprieda<strong>de</strong>s <strong>de</strong> até 50 hectares.<br />
Se for levando em consi<strong>de</strong>ração a caracterização da pequena proprieda<strong>de</strong> familiar<br />
segundo a Secretaria <strong>de</strong> Agricultura do Estado, <strong>de</strong> até 9,4 hectares, a pequena<br />
proprieda<strong>de</strong> seria responsável por aproximadamente 49,58% da <strong>produção</strong> do Café<br />
Arábica. Se for levado em consi<strong>de</strong>ração o tamanho médio <strong>de</strong>fendido pelo INCAPER,<br />
1 SIDRA é um sistema <strong>de</strong>senvolvido pelo IBGE <strong>especial</strong>mente para facilitar a recuperação <strong>de</strong> dados<br />
do banco <strong>de</strong> dados agregados do IBGE.<br />
47
<strong>de</strong> 25,2 hectares a pequena proprieda<strong>de</strong> representaria mais <strong>de</strong> 68,44% da<br />
<strong>produção</strong>.<br />
Os dados extraídos da Tabela 6 confirmam que a pequena proprieda<strong>de</strong> é<br />
responsável pela <strong>produção</strong> <strong>de</strong> Café Arábica no Estado do Espírito Santo. A<br />
agricultura do Espírito Santo é caracterizada pela pequena proprieda<strong>de</strong> <strong>de</strong> mão <strong>de</strong><br />
obra familiar.<br />
A <strong>produção</strong> do <strong>café</strong> Arábia é <strong>de</strong> base familiar, a mão-<strong>de</strong>-obra utilizada na colheita é<br />
a familiar, sendo que 63,5% das proprieda<strong>de</strong>s produtoras não possuem meeiros, ou<br />
seja, utilizam somente a força <strong>de</strong> trabalho da família. No período da colheita ocorre a<br />
contratação <strong>de</strong> trabalhadores temporários, num total <strong>de</strong> 30.806 pessoas (SCHMIDT;<br />
DE MUNER; FORNAZIER, 2004, p. 21).<br />
Na <strong>produção</strong> e condução da cafeicultura <strong>de</strong> <strong>arábica</strong> em sistema familiar encontram-<br />
se envolvidos 122.200 trabalhadores, são 67.198 trabalhadores rurais familiares que<br />
resi<strong>de</strong>m nas proprieda<strong>de</strong>s, além dos filhos menores <strong>de</strong> 12 anos. A participação da<br />
força <strong>de</strong> trabalho familiar é <strong>de</strong> 3,62 pessoas, não sendo computados os filhos e<br />
filhas que <strong>de</strong>ixaram suas residências em busca <strong>de</strong> alternativas <strong>de</strong> trabalho<br />
(SCHMIDT, DE MUNER, FORNAZIER, 2004, p.21).<br />
Ainda os autores, o Café Arábica é principal fonte <strong>de</strong> recursos das proprieda<strong>de</strong>s <strong>de</strong><br />
base familiar em todos os pólos do estado, representando, em média 70,8% do total<br />
<strong>de</strong> suas receitas. A <strong>de</strong>pendência econômica do <strong>café</strong> nas proprieda<strong>de</strong>s como única<br />
fonte <strong>de</strong> renda são os pólos Caparaó com 75,8%, e Central-Serrano com 72,9%, a<br />
região Serrana apresenta <strong>de</strong>pendência <strong>de</strong> 71&, a região Noroeste apresenta<br />
<strong>de</strong>pendência <strong>de</strong> 66,6%, a região <strong>de</strong> Cachoeiro apresenta <strong>de</strong>pendência <strong>de</strong> 67,9%.<br />
Segundo CARMO (1999, p. 6), nos anos 90 observou-se a tendência mundial <strong>de</strong><br />
movimentos <strong>de</strong> consumidores interessados na qualida<strong>de</strong> do <strong>café</strong>, como os <strong>café</strong>s<br />
orgânicos, <strong>café</strong>s gourmets e os <strong>café</strong>s sustentáveis. No começo <strong>de</strong>sse movimento as<br />
pequenas e médias proprieda<strong>de</strong>s ganharam espaço para o plantio <strong>de</strong>sses <strong>café</strong>s <strong>de</strong><br />
qualida<strong>de</strong> diferenciada.<br />
O Estado do Espírito Santo tem como característica marcante a pequena<br />
proprieda<strong>de</strong>, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o início dos imigrantes que chegaram da Europa para colonizar<br />
as terras do interior do estado e receberam seus lotes <strong>de</strong> terra.<br />
48
É extremamente importante esclarecer que a inclusão <strong>de</strong> pequenos produtores fa-<br />
miliares é fruto da possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> diferenciação e segmentação do mercado, e tem<br />
representado um fator relevante que, nos últimos anos, está influenciando a<br />
competitivida<strong>de</strong> <strong>de</strong>sse segmento excluído do avanço tecnológico, buscando ganhos<br />
<strong>de</strong> escala (SOUZA, SAES e OTANI, 2002, p. 1)<br />
Para as autoras, os nichos <strong>de</strong> mercado, <strong>de</strong>vido à presença <strong>de</strong> atributos <strong>de</strong> qualida<strong>de</strong><br />
específicos, po<strong>de</strong>m ser potenciais espaços a serem ocupados por esses produtores,<br />
que têm a peculiar característica <strong>de</strong> participar ativamente, com a família, <strong>de</strong> todo o<br />
processo produtivo, e assim obter um produto diferenciado, <strong>de</strong> melhor qualida<strong>de</strong>.<br />
O Plano Estratégico <strong>de</strong> Desenvolvimento da Agricultura Capixaba, Pe<strong>de</strong>ag 2007 –<br />
2025 traz como característica a agricultura familiar como variável chave a ser levada<br />
em consi<strong>de</strong>ração na formulação do planejamento estratégico da agricultura<br />
capixaba. Os números abaixo sintetizam a dimensão e a importância <strong>de</strong>sse modo <strong>de</strong><br />
<strong>produção</strong> no território capixaba, que é responsável por 41,0% da <strong>produção</strong> cafeeira.<br />
Isso reforça a importância a ser dada à <strong>produção</strong> familiar na formulação das políticas<br />
agrícolas, das políticas públicas e no Planejamento Estratégico da Agricultura<br />
Capixaba (SEAG, 2009).<br />
As potencialida<strong>de</strong>s para a <strong>produção</strong> do Café Gourmet, Café Orgânico, Café com<br />
Certificado <strong>de</strong> Origem e Café Fair Tra<strong>de</strong> se confun<strong>de</strong>m, pois esses são <strong>café</strong>s<br />
produzidos somente do tipo <strong>arábica</strong>. É claro que cada um tem suas características<br />
particulares.<br />
Dentre os maiores produtores <strong>de</strong> Café Arábica no Espírito Santo, <strong>de</strong>stacados na<br />
tabela abaixo, todos os municípios têm como característica mais <strong>de</strong> 70% das<br />
proprieda<strong>de</strong>s serem baseados na agricultura familiar, com exceção <strong>de</strong> Castelo que<br />
apresenta 66,6% <strong>de</strong>ssas proprieda<strong>de</strong>s baseadas na agricultura familiar. Entretanto,<br />
a tabela informa municípios on<strong>de</strong> essa participação ultrapassa 85%, que é o caso <strong>de</strong><br />
Afonso Cláudio, Alto do Rio Novo, Domingos Martins, Ibatiba, Muniz Freire e Santa<br />
Maria <strong>de</strong> Jetibá. Mais uma vez, são dados que fortalecem o fato que os municípios<br />
capixabas apresentarem como característica a agricultura familiar.<br />
A tabela 7 além <strong>de</strong> representar os maiores produtores <strong>de</strong> Café Arábica do Estado,<br />
compreen<strong>de</strong> os municípios da região das montanhas do Espírito Santo, e esses<br />
municípios fazem parte da área que <strong>de</strong>limita a região que já possuí um Café com<br />
49
Certificado <strong>de</strong> Origem, que é o Café das Montanhas do Espírito Santo. A tabela 7<br />
mostra também a <strong>produção</strong> <strong>de</strong> Café Arábica, em toneladas, pelos municípios que<br />
apresentaram a maior <strong>produção</strong> em 2006, segundo o censo agropecuário 2006.<br />
Os municípios da tabela representaram juntos 74,2% da <strong>produção</strong> <strong>de</strong> Café Arábica<br />
do Estado em 2006, ou 82.978 do total <strong>de</strong> 111.882 toneladas.<br />
TABELA 7 - PRINCIPAIS MUNICÍPIOS PRODUTORES DE CAFÉ ARÁBICA NO<br />
ESTADO DO ESPÍRITO SANTO, SEGUNDO CENSO AGROPECUÁRIO 2006<br />
Municípios<br />
Agricultura<br />
familiar<br />
Não<br />
familiar Total<br />
% das proprieda<strong>de</strong>s<br />
com base na<br />
agricultura familiar<br />
Produção<br />
Café Arábica<br />
2006<br />
(Toneladas)<br />
50<br />
% da<br />
<strong>produção</strong><br />
por<br />
município<br />
Brejetuba 543 118 661 82,1 8.871 7,9<br />
Domingos Martins 2.540 389 2.929 86,7 8.133 7,2<br />
Ibatiba 930 113 1.043 89,1 6.862 6,1<br />
Afonso Cláudio 2.270 388 2.658 85,4 6.245 5,5<br />
Irupi 575 149 724 79,4 5.354 4,7<br />
Santa Maria <strong>de</strong><br />
Jetibá<br />
3.659 439 4.098 89,2 4.331 3,8<br />
Santa Teresa 994 232 1.226 81,0 4.249 3,8<br />
Guaçuí 693 254 947 73,1 4.224 3,7<br />
Castelo 995 499 1.494 66,6 4.203 3,7<br />
Muniz Freire 2.132 223 2.355 90,5 4.194 3,7<br />
Ibitirama 570 225 795 71,7 4.022 3,5<br />
Conceição do<br />
Castelo<br />
661 215 876 75,4 3.525 3,1<br />
Vargem Alta 737 157 894 82,4 3.217 2,8<br />
Mimoso do Sul 1.437 473 1.910 75,2 3.057 2,7<br />
Venda Nova do<br />
Imigrante<br />
370 233 603 61,3 2.882 2,6<br />
Baixo Guandu 778 215 993 78,3 2.607 2,3<br />
Alfredo Chaves 920 152 1.072 85,8 2.380 2,1<br />
Itarana 773 109 882 87,6 2.312 2,1<br />
Marechal Floriano 662 80 742 89,2 2.310 2,1<br />
TOTAL DO<br />
ESTADO<br />
59.052 15.488 74.540 79,0% 111.882 74,2%<br />
Fonte: IBGE / SIDRA – 2008
3.2. AS CARACTERÍSTICAS DA PRODUÇÃO DE CAFÉ ARÁBICA NO ESTADO<br />
DO ESPÍRITO SANTO E SUAS RELAÇÔES COM A QUALIDADE DO CAFÉ<br />
ARÁBICA.<br />
Dentre as potencialida<strong>de</strong>s que o Espírito Santo apresenta para o <strong>de</strong>senvolvimento<br />
da <strong>produção</strong> do Café Arábica, temos a própria agricultura familiar. A agricultura<br />
familiar é que apresenta o lócus i<strong>de</strong>al para a <strong>produção</strong> <strong>de</strong> <strong>café</strong>s especiais,<br />
principalmente para o Café Orgânico, Café Fair Tra<strong>de</strong>, pois a <strong>produção</strong> <strong>de</strong>sses <strong>café</strong>s<br />
tem como característica pequenas produções.<br />
O Café Orgânico segue os princípios da agricultura orgânica e sustentável, o<br />
produtor rural não faz o uso <strong>de</strong> agrotóxicos na <strong>produção</strong>, esses produtos químicos<br />
não afetam a sua saú<strong>de</strong> e nem a da sua família, além <strong>de</strong> não poluir o meio em que<br />
ele vive. A <strong>produção</strong> <strong>de</strong> Café Orgânico é mais viável para a pequena proprieda<strong>de</strong>,<br />
pois é a que faz o emprego da mão <strong>de</strong> obra familiar e a que agregaria valor ao<br />
produto final.<br />
Segundo estudos, a <strong>produção</strong> familiar po<strong>de</strong> representar o lócus i<strong>de</strong>al da agricultura<br />
ambientalmente sustentável, dada as suas características <strong>de</strong><br />
diversificação/integração <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong>s vegetais e animais, e por trabalhar em<br />
menores escalas (CARMO, 2005, p. 15).<br />
TINOCO (2006, p.6) também evi<strong>de</strong>ncia as vantagens da <strong>produção</strong> familiar como<br />
espaço i<strong>de</strong>al e privilegiado para consolidação <strong>de</strong> uma agricultura <strong>de</strong> base<br />
sustentável: “A lógica <strong>de</strong> funcionamento das explorações familiares, baseada na<br />
associação dos objetivos <strong>de</strong> <strong>produção</strong>, consumo e acumulação patrimonial, resulta<br />
num espaço <strong>de</strong> re<strong>produção</strong> social cujas características <strong>de</strong> diversida<strong>de</strong> e integração<br />
<strong>de</strong> ativida<strong>de</strong>s produtivas vegetais e animais, ocupação <strong>de</strong> força <strong>de</strong> trabalho dos<br />
membros da família e controle <strong>de</strong>cisório sobre todo o processo produtivo são<br />
sensivelmente mais vantajosos ao <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> uma agricultura<br />
ambientalmente sustentável que as explorações capitalistas patronais”.<br />
No cultivo do <strong>café</strong> orgânico, outras plantas são cultivadas em consórcio, como as<br />
leguminosas, que são plantas que tem como característica nutrir o solo. Para<br />
SOUZA (2006, p. 88) as associações vegetais são mais interessantes sob o aspecto<br />
econômico para agricultores com pequenas áreas que buscam complementar sua<br />
51
enda e reduzir <strong>de</strong>spesas com insumos, as culturas alimentares, como feijão, milho,<br />
arroz e inhame, logo o pequeno agricultor obtém renda com a venda Café Orgânico,<br />
além <strong>de</strong> insumos para alimentação da sua família.<br />
Outro aspecto levantado pela autora é que a <strong>produção</strong> do <strong>café</strong> <strong>especial</strong> para o<br />
pequeno produtor é uma forma <strong>de</strong>ste obter mais renda com a <strong>produção</strong> <strong>de</strong> um<br />
produto diferenciado, mesmo com baixa <strong>produção</strong>. Ele ganha mais com o valor<br />
adicionado do que produzir uma quantida<strong>de</strong> maior <strong>de</strong> <strong>café</strong> <strong>de</strong> baixa qualida<strong>de</strong>.<br />
A certificação orgânica é importante para garantir a ausência <strong>de</strong> agrotóxicos nas<br />
áreas <strong>de</strong> <strong>produção</strong>, com menor impacto sobre o meio ambiente e saú<strong>de</strong> dos<br />
trabalhadores, além <strong>de</strong> garantir um produto saudável.<br />
O Café Orgânico também conhecido como Ecológico é produzidos sob um processo<br />
monitorado por certificadores cre<strong>de</strong>nciados. O gran<strong>de</strong> exemplo <strong>de</strong> Café Orgânico no<br />
Estado é o da Fazenda Camocim, que possui certificado emitido pela Associação<br />
Brasileira <strong>de</strong> Cafés Especiais – BSCA, além da fazenda produzir o Café Jacu, ou<br />
Jacu Bird Coffee, uma iguaria <strong>de</strong> <strong>café</strong> fino, comparado ao Kopi Luwak. Outro fator<br />
que contribui é o Estado já possuir <strong>produção</strong> <strong>de</strong> Café Orgânico certificado por uma<br />
certificadora baseada no estado, a Chão Vivo. Com a certificadora no estado,<br />
incentivos po<strong>de</strong>m ser criados para o incremento <strong>de</strong> <strong>café</strong>s orgânicos Em Irupi e Iúna<br />
existe a FACI - Fe<strong>de</strong>ração <strong>de</strong> Associações Comunitárias <strong>de</strong> Iúna e Irupi, um<br />
consórcio <strong>de</strong> 27 associações que envolvem cerca <strong>de</strong> 1.000 famílias <strong>de</strong> agricultores<br />
no su<strong>de</strong>ste do estado do Espírito Santo produtores <strong>de</strong> <strong>café</strong> orgânico. Esse tipo <strong>de</strong><br />
associação po<strong>de</strong> ser realizado em outras partes do estado com o propósito <strong>de</strong><br />
incremento da <strong>produção</strong> do <strong>café</strong> orgânico.<br />
Com relação a <strong>produção</strong> do Café Fair Tra<strong>de</strong>, também são gran<strong>de</strong>s as<br />
potencialida<strong>de</strong>s para sua <strong>produção</strong> no Estado do Espírito Santo. A <strong>produção</strong> <strong>de</strong>sse<br />
<strong>café</strong> <strong>especial</strong> se baseia em pressupostos em condições sociais e ambientais sob as<br />
quais é cultivado, por quem esse <strong>café</strong> é produzido e como a sua <strong>produção</strong> afeta o<br />
meio ambiente. Ele é produzido sob condições sociais e ambientais em que os<br />
consumidores estão dispostos a pagar mais pelo <strong>café</strong> produzido por pequenos<br />
agricultores, característica da agricultura capixaba. O Café Fair Tra<strong>de</strong> envolve vários<br />
aspectos que incorporam preocupações <strong>de</strong> or<strong>de</strong>m ambiental e social, é um <strong>café</strong><br />
preferido por consumidores <strong>de</strong> países <strong>de</strong>senvolvidos. É fato que os consumidores do<br />
Café Fair Tra<strong>de</strong> estão dispostos a pagar mais pelo <strong>café</strong> produzido por pequenos<br />
52
agricultores. O Café Fair Tra<strong>de</strong> tem potencial <strong>de</strong> ser produzido no estado <strong>de</strong>vido à<br />
crescente tendência do mercado mundial, principalmente Europeu, <strong>de</strong> consumir<br />
produtos socioeconômicos responsáveis. Vale lembrar que o Café Fair Tra<strong>de</strong> no<br />
Estado do Espírito Santo po<strong>de</strong> ser produzido por pequenos produtores<br />
<strong>de</strong>scen<strong>de</strong>ntes dos imigrantes europeus que o colonizaram e isso tornar-se um<br />
atributo para negociar nos mercados europeus.<br />
O Café com Certificado <strong>de</strong> Origem apresenta potencial <strong>de</strong> <strong>produção</strong> no Estado, pois<br />
já existe uma marca, que é o Café das Montanhas Capixabas. Todas as<br />
proprieda<strong>de</strong>s que fazem parte da região caracterizada como “Montanhas do Espírito<br />
Santo”, po<strong>de</strong>m produzi-lo. O diferencial <strong>de</strong>sse tipo <strong>de</strong> <strong>café</strong> é justamente a região das<br />
montanhas que é caracterizada por condições edafoclimáticas i<strong>de</strong>ais para a<br />
<strong>produção</strong> <strong>de</strong> <strong>café</strong> <strong>arábica</strong> <strong>de</strong> qualida<strong>de</strong>. O que importa é se as proprieda<strong>de</strong>s são da<br />
área <strong>de</strong>limitada como região das montanhas e se cumprem os padrões <strong>de</strong> qualida<strong>de</strong><br />
que são <strong>de</strong>finidos para a <strong>produção</strong>. Assegurado que a proprieda<strong>de</strong> faz parte da<br />
região das Montanhas Capixabas e que cumpre os padrões <strong>de</strong> qualida<strong>de</strong>, esse <strong>café</strong><br />
é um <strong>café</strong> <strong>de</strong> Certificado <strong>de</strong> Origem. Já existem várias marcas que usam a<br />
certificação Cafés das Montanhas do Espírito Santo, e vários incentivos para os<br />
melhores produtores, como prêmios em dinheiro que incentivam a busca constante<br />
da melhoria da qualida<strong>de</strong>.<br />
O Café Gourmet é um tipo <strong>de</strong> <strong>café</strong> <strong>especial</strong> que po<strong>de</strong> ser produzido por qualquer<br />
tipo <strong>de</strong> proprieda<strong>de</strong>, pequena, média gran<strong>de</strong>. Não há necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> a mão <strong>de</strong> obra<br />
ser familiar. O seu diferencial é o uso <strong>de</strong> grãos perfeitos, secagem apartada dos<br />
<strong>de</strong>mais grãos que lhe conferem atributos <strong>de</strong> qualida<strong>de</strong> superior.<br />
O Plano Estratégico <strong>de</strong> Desenvolvimento da Agricultura Capixaba (SEAG, 2009),<br />
que é composto <strong>de</strong> várias metas para vários setores da agricultura capixaba, <strong>de</strong>ntro<br />
<strong>de</strong>ssas metas mobilizadoras temos as metas para a agricultura familiar, metas para<br />
a agricultura orgânica e metas para o Café Arábica.<br />
Metas para o Café Arábica englobam a <strong>produção</strong> para o Café <strong>de</strong> Certificado <strong>de</strong><br />
Origem, Café Orgânico, Gourmet e o Café Fair Tra<strong>de</strong>.<br />
Nada mais justo o estabelecimento <strong>de</strong> metas para esse principal elo da ca<strong>de</strong>ia<br />
agroindustrial no Estado do Espírito Santo. As metas mobilizadoras para a<br />
agricultura familiar consistem em: regular a situação fundiária <strong>de</strong> 100% dos<br />
53
agricultores familiares; expandir para 100% dos municípios interioranos o Pronaf<br />
Infra-estrutura e Serviços; quadruplicar o número <strong>de</strong> contratos anuais <strong>de</strong> crédito<br />
rural; promover 4.000 assentamentos com crédito fundiário. Essas metas<br />
mobilizadoras para a agricultura mão <strong>de</strong> obra familiar visam o aumento da <strong>produção</strong><br />
dos produtos produzidos pelas proprieda<strong>de</strong>s, <strong>de</strong>ntre eles o <strong>café</strong> <strong>arábica</strong>.<br />
Para a <strong>produção</strong> orgânica as metas mobilizadoras consistem em: passar para 2.500<br />
proprieda<strong>de</strong>s certificadas; ampliar significativamente a exportação <strong>de</strong> <strong>café</strong>, frutas e<br />
hortaliças orgânicas; ampliar a participação dos produtos orgânicos no consumo<br />
alimentar. O Café Orgânico será muito beneficiado pela certificação, pois a<br />
certificação <strong>de</strong> um <strong>café</strong> como orgânico é característica que a proprieda<strong>de</strong> passou a<br />
adotar como procedimentos padrões para a <strong>produção</strong> <strong>de</strong> <strong>café</strong> orgânico, produto que<br />
foi produzido livre <strong>de</strong> agrotóxicos, sem impactos ao meio ambiente e à saú<strong>de</strong> dos<br />
trabalhadores.<br />
O Plano Estratégico da Cafeicultura prevê estratégias e ações estratégicas, com<br />
base em um mo<strong>de</strong>lo gerencial e tecnológico apropriado, com enfoque no aumento<br />
da produtivida<strong>de</strong>, na melhoria da qualida<strong>de</strong> e na comercialização para agregação <strong>de</strong><br />
valor ao produto. As ações <strong>de</strong>lineadas envolvem toda a ca<strong>de</strong>ia do agronegócio <strong>café</strong>,<br />
tornando a cafeicultura capixaba altamente competitiva em nível nacional e<br />
internacional, baseadas em critérios <strong>de</strong> sustentabilida<strong>de</strong> e projeção <strong>de</strong> um cenário<br />
<strong>de</strong>sejável para os próximos 10 anos.<br />
Em relação ao Café Arábica capixaba as metas consistem em: atingir produtivida<strong>de</strong><br />
média <strong>de</strong> 20 sacas/hectare; ampliar, sem aumento da área, a <strong>produção</strong> para 4,6<br />
milhões <strong>de</strong> sacas anuais; alcançar o patamar <strong>de</strong> 1,2 milhões <strong>de</strong> sacas com <strong>café</strong>s <strong>de</strong><br />
qualida<strong>de</strong>; ampliar as exportações <strong>de</strong> <strong>café</strong>s com valor agregado; e implantar 27<br />
salas <strong>de</strong> prova/classificação para averiguação da qualida<strong>de</strong> dos <strong>café</strong>s, inclusive os<br />
<strong>café</strong>s especiais.<br />
O plano também visa o aumento da produtivida<strong>de</strong> do “Café das Montanhas do<br />
Espírito Santo, um <strong>café</strong> <strong>de</strong> certificado <strong>de</strong> origem”, redução <strong>de</strong> custos e maior<br />
competitivida<strong>de</strong> no cenário internacional, além <strong>de</strong> melhoria na qualida<strong>de</strong> do “Café<br />
das Montanhas do Espírito Santo”, visando uma participação mais efetiva no<br />
mercado externo.<br />
54
As ações estratégicas para o Café Arábica são <strong>de</strong> estabelecer um programa <strong>de</strong><br />
renovação e <strong>de</strong> substituição <strong>de</strong> lavouras cafeeiras, principalmente em áreas menos<br />
aptas ao cultivo e à <strong>produção</strong> <strong>de</strong> qualida<strong>de</strong>, logo somente áreas que são i<strong>de</strong>ais ao<br />
cultivo do <strong>café</strong> <strong>arábica</strong>, a qualida<strong>de</strong> do <strong>café</strong> <strong>arábica</strong> esta ligado as condições do<br />
clima, áreas <strong>de</strong> clima muito quente não são as i<strong>de</strong>ais; estabelecer novos sistemas <strong>de</strong><br />
plantio para aumento da produtivida<strong>de</strong>; implantar um sistema <strong>de</strong> nutrição do<br />
cafeeiro, baseado na interação solo e análise <strong>de</strong> plantas e produtivida<strong>de</strong>;<br />
<strong>de</strong>senvolver cultivares resistentes a pragas, doenças e nematói<strong>de</strong>s; <strong>de</strong>senvolver<br />
cultivares <strong>de</strong> maturação uniforme; <strong>de</strong>senvolver cultivares <strong>de</strong> maturação em épocas<br />
diferenciadas: precoces, médias e tardias; estabelecer normas para o correto<br />
manejo fitossanitário da lavoura cafeeira, visando à sustentabilida<strong>de</strong> do sistema;<br />
promover a melhoria do gerenciamento do sistema produtivo <strong>de</strong> <strong>café</strong>; <strong>de</strong>senvolver<br />
sistema <strong>de</strong> colheita manual mecanizada; criar leis estadual e/ou municipais para<br />
erradicação <strong>de</strong> lavouras abandonadas; prestar assistência técnica diferenciada nas<br />
regiões com maior concentração <strong>de</strong> <strong>café</strong> <strong>arábica</strong>, melhorando a eficiência do<br />
processo <strong>de</strong> transferência <strong>de</strong> tecnologia. Todas essas estratégias <strong>de</strong>vem ser<br />
utilizadas para a melhora da qualida<strong>de</strong> do <strong>café</strong> <strong>arábica</strong> no estado, <strong>de</strong>stacando que o<br />
Café Gourmet está relacionado aos grãos <strong>de</strong> alta qualida<strong>de</strong>, mesmo po<strong>de</strong>ndo ser<br />
produzido por qualquer proprieda<strong>de</strong>, entretanto vale enfatizar novamente que a<br />
característica do estado é a pequena proprieda<strong>de</strong> baseada na mão <strong>de</strong> obra familiar,<br />
e a chance <strong>de</strong>sse Café Gourmet ser produzido nessa pequena proprieda<strong>de</strong> é muito<br />
gran<strong>de</strong>.<br />
Resumidamente as principais ações são <strong>de</strong> realizar campanha <strong>de</strong> esclarecimento<br />
das técnicas <strong>de</strong> colheita, processamento e armazenamento; promover a melhoria da<br />
infra-estrutura para processamento e armazenamento <strong>de</strong> <strong>café</strong>s naturais e <strong>de</strong> cerejas<br />
<strong>de</strong>scascadas; capacitar, periodicamente, produtores rurais, parceiros, trabalhadores<br />
rurais, colhedores, terreiristas, maquinistas, classificadores e <strong>de</strong>gustadores <strong>de</strong> <strong>café</strong>;<br />
promover zoneamento <strong>de</strong> áreas aptas para maior proporção na <strong>produção</strong> <strong>de</strong> <strong>café</strong>s<br />
com qualida<strong>de</strong> superior, em regiões <strong>de</strong> altitu<strong>de</strong>; ampliar o volume <strong>de</strong> crédito para<br />
investimento <strong>de</strong>stinado à aquisição <strong>de</strong> máquinas, equipamentos e infra-estrutura<br />
para o processamento, beneficiamento e armazenamento do <strong>café</strong>; <strong>de</strong>senvolver<br />
equipamentos a<strong>de</strong>quados à realida<strong>de</strong> dos pequenos cafeicultores, entre outros.<br />
55
Depois <strong>de</strong> <strong>de</strong>scritos os principais projetos e estratégias para agricultura familiar,<br />
temos ainda, os fatores facilitadores para essas estratégicas darem certas.<br />
Temos os fatores facilitadores no âmbito da agricultura, comércio, indústria,<br />
exportação, prestação <strong>de</strong> serviços, e por fim, no âmbito estratégico.<br />
No âmbito da agricultura, os fatores facilitadores no estado é a própria agricultura ser<br />
<strong>de</strong> base familiar a predominante na cafeicultura estadual; a colheita é única, não<br />
seletiva; a estrutura fundiária composta por pequenas proprieda<strong>de</strong>s; existem<br />
concursos <strong>de</strong> qualida<strong>de</strong> do <strong>café</strong> <strong>arábica</strong> e Conilon; custos competitivos da<br />
cafeicultura capixaba em níveis nacional e internacional, tanto para o Conilon,<br />
quanto para o <strong>arábica</strong> <strong>de</strong> qualida<strong>de</strong> superior; vocação edafoclimática a<strong>de</strong>quada para<br />
o cultivo dos <strong>café</strong>s <strong>arábica</strong> e Conilon; infra-estrutura inicial instalada (armazém,<br />
máquina <strong>de</strong> pilar, etc.); sistema <strong>de</strong> parceria agrícola na <strong>produção</strong> do <strong>café</strong>; existência<br />
<strong>de</strong> <strong>produção</strong> <strong>de</strong> <strong>café</strong>s <strong>de</strong> qualida<strong>de</strong> superior, principalmente na região serrana,<br />
conhecida como produtora <strong>de</strong> Cafés das Montanhas Capixabas; cafeicultura<br />
orgânica em fase inicial no ES; certificadora <strong>de</strong> produtos orgânicos presente e<br />
atuante no estado, a exemplo da Chão Vivo; existência <strong>de</strong> uma re<strong>de</strong> cooperativa <strong>de</strong><br />
cafeicultores no estado; e capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>produção</strong> <strong>de</strong> <strong>café</strong>s diferenciados:<br />
diferentes <strong>arábica</strong>s e Conilon.<br />
Os fatores facilitadores no âmbito do comércio são que o <strong>café</strong> é um produto <strong>de</strong> boa<br />
liqui<strong>de</strong>z (ven<strong>de</strong> facilmente, em época <strong>de</strong> preços altos ou baixos); existem opções <strong>de</strong><br />
comercialização: Cédula do Produtor Rural, leilão <strong>de</strong> opções, BM& F – Bolsa<br />
Mercantil e <strong>de</strong> Futuros; existência <strong>de</strong> mercado para o <strong>café</strong>; existência <strong>de</strong><br />
compradores que motivam a melhoria da qualida<strong>de</strong> do <strong>café</strong>; re<strong>de</strong> <strong>de</strong> intermediários<br />
que atuam na compra <strong>de</strong> <strong>café</strong>; o Brasil é o 2° maior consumidor <strong>de</strong> <strong>café</strong> do mundo, o<br />
Espírito Santo o segundo maior produtor <strong>de</strong> <strong>café</strong> Arábica do país e primeiro produtor<br />
<strong>de</strong> <strong>café</strong> Conilon; o mercado interno gran<strong>de</strong> e em expansão, <strong>especial</strong>mente para<br />
<strong>café</strong>s finos; por fim, o início da participação <strong>de</strong> gran<strong>de</strong>s re<strong>de</strong>s distribuidoras, com<br />
marca própria, no mercado <strong>de</strong> torrado e moído;<br />
Os fatores facilitadores no âmbito da indústria consistem na Infra-estrutura instalada<br />
para processamento <strong>de</strong> torrado e moído e solúvel para exportação internacional. No<br />
Espírito Santo, temos o Grupo Real<strong>café</strong> expandindo a <strong>produção</strong> <strong>de</strong> <strong>café</strong> solúvel<br />
visando o mercado exterior. Outro fator consiste no oferecimento <strong>de</strong> blends, com<br />
56
aumento no uso <strong>de</strong> Conilon <strong>de</strong> qualida<strong>de</strong> e a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> criação <strong>de</strong> diferentes<br />
blends <strong>de</strong> <strong>café</strong>, no ES.<br />
Os fatores facilitadores no âmbito da exportação esta na tendência <strong>de</strong> crescimento<br />
do consumo <strong>de</strong> <strong>café</strong> solúvel em países consumidores <strong>de</strong> chá; o crescente mercado<br />
internacional para <strong>café</strong> orgânico; o mercado internacional <strong>de</strong> <strong>café</strong>s especiais/finos<br />
em expansão; e por fim, a estrutura exportadora capixaba consolidada.<br />
Os fatores facilitadores no âmbito da prestação <strong>de</strong> serviços consistem em juros<br />
diferenciados para custeio e investimento para a agricultura familiar; ação conjunta<br />
da classe política e produtora; existência <strong>de</strong> crédito rural para investimento e custeio;<br />
logística bem <strong>de</strong>senvolvida; processo <strong>de</strong> transferência grupal <strong>de</strong> tecnologia<br />
satisfatório, sendo <strong>de</strong>senvolvido através <strong>de</strong> parceria entre os setores público e<br />
privado; e a disponibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> insumos e equipamentos.<br />
Os fatores facilitadores no âmbito estratégico relacionam-se ao entrosamento dos<br />
diversos segmentos da cafeicultura estadual, aliado a existência <strong>de</strong> armazéns<br />
públicos para armazenamento administrados pela CONAB, prontos para<br />
cre<strong>de</strong>nciamento pela BM&F, inclusive o armazém estratégico (CONAB) <strong>de</strong> Vitória e<br />
a proximida<strong>de</strong> do porto, para exportação; contato do mercado comprador com a<br />
região produtora, pela pequena distância do porto e do aeroporto, e a boa qualida<strong>de</strong><br />
das estradas que ligam Vitória à região produtora; existência <strong>de</strong> algumas secretarias<br />
municipais <strong>de</strong> agricultura estruturadas para aten<strong>de</strong>r às <strong>de</strong>mandas locais da<br />
cafeicultura; tradição na ativida<strong>de</strong> há várias gerações; eletrificação rural,<br />
praticamente em todas as proprieda<strong>de</strong>s rurais do ES; existência <strong>de</strong> salas <strong>de</strong> prova<br />
para <strong>café</strong> <strong>arábica</strong>, em 13 municípios do ES; existência <strong>de</strong> salas <strong>de</strong> classificação para<br />
o <strong>café</strong> Conilon em 3 cooperativas do ES.<br />
57
4. CONCLUSÃO<br />
A cultura e expansão do <strong>café</strong> no Brasil tiveram como suporte a gran<strong>de</strong> proprieda<strong>de</strong> e<br />
a <strong>produção</strong> em larga escala que posicionaram o país como o maior produtor no<br />
cenário internacional, sob forte proteção do Estado. No Espírito Santo, tivemos a<br />
cultura baseada na pequena proprieda<strong>de</strong> <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o inicio da sua colonização.<br />
No Brasil, o que interessava era a quantida<strong>de</strong> produzida e não a qualida<strong>de</strong>, nos<br />
anos 90 observou-se a tendência mundial <strong>de</strong> movimentos <strong>de</strong> consumidores<br />
interessados na qualida<strong>de</strong> do <strong>café</strong>, como os <strong>café</strong>s orgânicos, <strong>café</strong>s gourmets e os<br />
<strong>café</strong>s sustentáveis. No começo <strong>de</strong>sse movimento as pequenas e médias<br />
proprieda<strong>de</strong>s ganharam espaço para o plantio <strong>de</strong>sses <strong>café</strong>s <strong>de</strong> qualida<strong>de</strong><br />
diferenciada.<br />
O Estado do Espírito Santo é o 4º lugar no ranking nacional <strong>de</strong> <strong>produção</strong> <strong>de</strong> Café<br />
Arábica, per<strong>de</strong>ndo apenas para Minas Gerais, São Paulo e Paraná. Fato <strong>de</strong> extrema<br />
relevância se consi<strong>de</strong>rar o Espírito Santo um estado pequeno, em relação a Minas<br />
Gerais e a São Paulo.<br />
O estado tem como característica principal a pequena proprieda<strong>de</strong>, sendo parte do<br />
seu passado histórico colonizador, on<strong>de</strong> os imigrantes recebiam pequenas<br />
proprieda<strong>de</strong>s rurais. Sendo um estado pequeno e caracterizado <strong>de</strong> pequenas<br />
proprieda<strong>de</strong>s, a posição sustentada do estado é excelente, em relação a Minas<br />
Gerais e São Paulo, estados que possuem extensas proprieda<strong>de</strong>s rurais. Logo a<br />
tendência observada na década <strong>de</strong> 90 veio para ficar no Espírito Santo, terra <strong>de</strong><br />
pequenas proprieda<strong>de</strong>s e <strong>de</strong> agricultura familiar.<br />
O <strong>de</strong>staque da <strong>produção</strong> capixaba <strong>de</strong> Café Arábica é a sua alta qualida<strong>de</strong>, o <strong>café</strong> é<br />
produzido com excelentes condições edafoclimáticas, e exporta mundo a fora. Vale<br />
lembrar que os <strong>café</strong>s especiais são somente do tipo <strong>arábica</strong>.<br />
Foi <strong>de</strong>scrito a classificação dos tipos <strong>de</strong> <strong>café</strong>s finos, o gourmet, o <strong>de</strong> certificado <strong>de</strong><br />
origem, o orgânico e o Fair Tra<strong>de</strong>. Todos esses tipos <strong>de</strong> <strong>café</strong>s finos têm condições<br />
claras <strong>de</strong> ser produzido em terras capixabas.<br />
O <strong>café</strong> Fair Tra<strong>de</strong> é aquele produzido sob condições sociais e ambientais em que os<br />
consumidores estão dispostos a pagar mais pelo <strong>café</strong> produzido por pequenos<br />
58
agricultores e <strong>de</strong> envolver vários aspectos que incorporam preocupações <strong>de</strong> or<strong>de</strong>m<br />
ambiental e social.<br />
O <strong>café</strong> orgânico ou ecológico são os produzidos sob um processo monitorado por<br />
certificadores cre<strong>de</strong>nciados, esse tipo <strong>de</strong> <strong>produção</strong> reverte renda maior as famílias<br />
produtoras é produzido junto <strong>de</strong> outros produtos que fazem parte da alimentação do<br />
pequeno agricultor (feijão,milho, arroz inhame).<br />
O Café com Certificado <strong>de</strong> Origem é o Café das Montanhas Capixabas, é o <strong>café</strong><br />
produzido em uma região <strong>de</strong>limitada com suas características edafoclimáticas<br />
próprias. O gran<strong>de</strong> diferencial <strong>de</strong>sse tipo <strong>de</strong> <strong>café</strong> é <strong>de</strong> que as proprieda<strong>de</strong>s apenas<br />
precisam estar situadas na região <strong>de</strong>limitada e seguir alguns padrões <strong>de</strong> qualida<strong>de</strong>.<br />
Dados do IBGE-SIDRA, conforme a tabela 4 confirma que 87,05% das proprieda<strong>de</strong>s<br />
do estado possui área <strong>de</strong> 20 até 50 hectares, compreen<strong>de</strong>ndo o tamanho da<br />
pequena proprieda<strong>de</strong>; dados da Tabela 7 confirma que 85,25% da <strong>produção</strong> <strong>de</strong> Café<br />
Arábica por estrato <strong>de</strong> área têm como característica ser realizado por pequenas<br />
proprieda<strong>de</strong>s <strong>de</strong> 20 até 50 hectares; e dados da Tabela 5, em média, 79,22% das<br />
proprieda<strong>de</strong>s no Estado do Espírito Santo são baseadas na agricultura familiar,<br />
po<strong>de</strong>-se concluir que no estado do Espírito Santo a <strong>produção</strong> do Café Arábica é<br />
realizada pela pequena proprieda<strong>de</strong>, como característica a mão <strong>de</strong> obra familiar, e<br />
há espaço para a <strong>produção</strong> dos quatro tipos <strong>de</strong> Cafés Especiais, gourmet, orgânico,<br />
Fair Tra<strong>de</strong> e <strong>de</strong> certificado <strong>de</strong> origem.<br />
O Espírito Santo apresenta potencialida<strong>de</strong>s para a <strong>produção</strong> <strong>de</strong> <strong>café</strong>s especiais, pois<br />
a <strong>produção</strong> da pequena proprieda<strong>de</strong> baseada na mão <strong>de</strong> obra familiar trabalha com<br />
menores escala <strong>de</strong> <strong>produção</strong>, mas com alta qualida<strong>de</strong>, além <strong>de</strong> ser também o lócus<br />
i<strong>de</strong>al ao <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> uma agricultura ambientalmente sustentável, ou seja, a<br />
que respeita o meio ambiente e o trabalhador rural, conforme CARMO (2005, p. 8).<br />
Finalizando, o estado apresenta todas as condições favoráveis para a <strong>produção</strong> dos<br />
<strong>café</strong>s especiais. Aqui se encontra quem produz o <strong>café</strong> <strong>especial</strong>, que é o pequeno<br />
agricultor, a característica do estado é a pequena proprieda<strong>de</strong>; a <strong>produção</strong> <strong>de</strong> <strong>café</strong>s<br />
especiais tem como característica a mão <strong>de</strong> obra familiar, pois essa é quem agrega<br />
valor ao produto, uma vez que ganhará mais renda com a comercialização <strong>de</strong><br />
produtos <strong>de</strong> alta qualida<strong>de</strong>, e a mão <strong>de</strong> obra das proprieda<strong>de</strong>s do estado é familiar,<br />
conforme dados do censo agropecuário do IBGE; além do estado ser o terceiro<br />
59
maior produtor <strong>de</strong> <strong>café</strong> <strong>arábica</strong> do país e apresentar condições edafoclimáticas<br />
favoráveis.<br />
60
REFERÊNCIAS<br />
ABIPTI - ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DAS INSTITUIÇÕES DE PESQUISA<br />
TECNOLÓGICA. Agropolo da Serra do Caparaó. Relatório técnico consolidado do<br />
diagnóstico participativo da ca<strong>de</strong>ia do <strong>café</strong> <strong>arábica</strong> da microrregião do<br />
Caparaó/ES.Brasília, 2005.<br />
ANDRADE, Adriano Soares; JAFELICE, Rosana Sueli da Motta. A História do Café<br />
no Brasil. Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong> Uberlândia. Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Matemática. Revista<br />
FAMATA nº 04, abril <strong>de</strong> 2005, p. 241.<br />
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DA INDÚSTRIA DO CAFÉ – ABIC. Disponível em:<br />
. Acesso em: 01 jun. 2009.<br />
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE CAFÉS ESPECIAIS – BSCA. Disponível em: <<br />
http://www.bsca.com.br/news.php?lang=pt-BR&an_id=496&anc_id=5>. Acesso em:<br />
20 out. 2009.<br />
BATALHA, Mário Otávio, Coor<strong>de</strong>nador. Gestão Agroindustrial. GEPAI - Grupo <strong>de</strong><br />
Estudos e Pesquisas Agroindustriais. 3 ed. São Paulo: Atlas, 2008. 1 v.<br />
BORRÁS, M. A. A.; TOLEDO, José Carlos <strong>de</strong>. Qualida<strong>de</strong> dos Produtos<br />
Agroalimentares: a importância da Gestão da Qualida<strong>de</strong> no agronegócio. In: Luiz<br />
Fernando Soares Zuin; Timóteo Ramos Queiroz. (Org.). Agronegócio: Gestão e<br />
Inovação. São Paulo: Saraiva, 2006, v. 1, p. 189-218.<br />
CARMO, Maristela S. do A <strong>produção</strong> familiar como lócus i<strong>de</strong>al da agricultura<br />
sustentável. Agricultura em São Paulo, SP, 45(1):1-15, 2005.<br />
CARVALHO, Júlio César Toledo <strong>de</strong>. A Competitivida<strong>de</strong> da ca<strong>de</strong>ia produtiva do<br />
<strong>café</strong> em minas gerais: uma análise <strong>de</strong> qualida<strong>de</strong>. FEAD-MINAS – <strong>Centro</strong> <strong>de</strong><br />
Gestão Empreen<strong>de</strong>dora. XLIII Congresso da SOBER. Belo Horizonte, 2005.<br />
CASTRO, Antônio Maria Gomes <strong>de</strong>. Análise da Competitivida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Ca<strong>de</strong>ias<br />
Produtivas. In: WORKSHOP CADEIAS PRODUTIVAS E EXTENSÃO RURAL NA<br />
AMAZÔNIA, 2000, Manaus.<br />
CELIN, José Lázaro. Migração européia, expansão cafeeira e o nascimento da<br />
pequena proprieda<strong>de</strong> no Espírito Santo. Dissertação (Mestrado em Economia). –<br />
Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>Ciências</strong> Econômicas da Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral do Rio Gran<strong>de</strong> do Sul,<br />
Porto Alegre, 1984.<br />
CETCAF - <strong>Centro</strong> <strong>de</strong> Desenvolvimento Tecnológico do Café. Disponível em:<br />
.Acesso em: 17 ago.<br />
2009.<br />
CHIAVENATO, Idalberto. Introdução à Teoria Geral da Administração. São Paulo:<br />
Campus, 2000. 6. ed. São Paulo: Ed. Prentice Hall, 2001.<br />
61
CHAGAS, Sílvio Júlio Rezen<strong>de</strong> e LEITE, Iran Pereira. Alguns aspectos a serem<br />
observados na colheita para garantir a <strong>produção</strong> <strong>de</strong> um <strong>café</strong> <strong>de</strong> melhor<br />
qualida<strong>de</strong>. Disponível em:<br />
.<br />
Acesso em 14 set. 2009.<br />
CHÃO VIVO. Associação <strong>de</strong> Certificação <strong>de</strong> Produtos Orgânicos do ES – Chão Vivo.<br />
Disponível em: . Acesso em: 15 set.<br />
2009.<br />
CONAB – Companhia Nacional <strong>de</strong> Abastecimento. Acompanhamento da Safra<br />
Brasileira. Safra 2009, segunda estimativa, maio <strong>de</strong> 2009. Disponível em:<br />
. Acesso<br />
em: 02 jun. 2009.<br />
CRU, Ariele Chagas; MATTIELLO, Henrique. A administração na cafeicultura<br />
brasileira e a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> uma visão sistêmica. 2005. Disponível em: <<br />
http://www.sober.org.br/palestra/2/1044.pdf>. Acesso em: 26 out. 2009.<br />
DICUM, G.; LUTTINGER, N. The Coffee Book: anatomy of an industry from crop<br />
tothe last drop. New York: The New York Press, 1999. 196p. In. MARTINS DE<br />
SOUZA, Maria Célia. Cafés sustentáveis e <strong>de</strong>nominação <strong>de</strong> origem: a<br />
certificação <strong>de</strong> qualida<strong>de</strong> na diferenciação <strong>de</strong> <strong>café</strong>s orgânicos, sombreados e<br />
solidários. 2006. 177 f. Dissertação (Doutora em Ciência Ambiental) - Programa <strong>de</strong><br />
Pós-Graduação em Ciência Ambiental, Universida<strong>de</strong> <strong>de</strong> São Paulo, São Paulo,<br />
2006.<br />
FAVARIN, José Laércio. Aula: Ca<strong>de</strong>ia produtiva do <strong>café</strong>. Departamento <strong>de</strong><br />
Produção Vegetal – ESALQ/USP. 2006.<br />
FERRAO, M. A. G. ; FERRAO, R. G. ; FORNAZIER, M. J. ; PREZOTTI, L. C. ;<br />
FONSECA, A. F. A. ; ALIXANDRE,F.T. ; COSTA, H. ; ROCHA, A. C. ; MORELI, A. P.<br />
; GUARÇONI MARTINS, A. ; RIVA-SOUZA, E. M. ; VENTURA, J. A. ; CASTRO,<br />
L.L.F. <strong>de</strong> ; GUARÇONI, R.C. Técnicas <strong>de</strong> <strong>produção</strong> <strong>de</strong> <strong>café</strong> <strong>arábica</strong>: renovação e<br />
revigoramento das lavouras no Estado do Espírito Santo. Vitoria: Incaper, 2008<br />
(Circular Técnica Nº05-I).<br />
GIL, Antônio Carlos. Como elaborar projetos <strong>de</strong> pesquisa. 4 ed. São Paulo: Atlas,<br />
2002.<br />
GOVERNO DO ESTADO DO ESPÍRITO SANTO. Seag promove lançamento<br />
regional do programa ‘Renovar Arábica’ Disponível em:<<br />
http://www.incaper.es.gov.br/?a=noticias/2009/abril/noticias_22_04_2009>>. Acesso<br />
em: 01 jun. <strong>de</strong> 2009.<br />
GOVERNO DO ESTADO DO ESPÍRITO SANTO. Região Sul recebe incentivo do<br />
Incaper para ampliar <strong>produção</strong> <strong>de</strong> <strong>café</strong> <strong>arábica</strong>. Disponível em:<<br />
http://www.seag.es.gov.br/?p=4984>>. Acesso em: 01 jun. <strong>de</strong> 2009.<br />
62
JANK, Marcos Sawaya. Rastreabilida<strong>de</strong> nos Agronegócios. In ZYLBERSZTAJN,<br />
Décio: SCARE, Roberto Fava. Gestão e Qualida<strong>de</strong> no Agribusiness: estudos e<br />
casos. São Paulo: Atlas, 2003.<br />
MARTINS DE SOUZA, Maria Célia. Cafés sustentáveis e <strong>de</strong>nominação <strong>de</strong><br />
origem: a certificação <strong>de</strong> qualida<strong>de</strong> na diferenciação <strong>de</strong> <strong>café</strong>s orgânicos,<br />
sombreados e solidários. 2006. 177 f. Dissertação (Doutora em Ciência Ambiental)<br />
- Programa <strong>de</strong> Pós-Graduação em Ciência Ambiental, Universida<strong>de</strong> <strong>de</strong> São Paulo,<br />
São Paulo, 2006.<br />
MARTINS, Ana Luíza. História do Café. São Paulo: Contexto, 2008. 320 páginas<br />
NASSAR, André Meloni. Certificaçãono Agrobusiness. In ZYLBERSZTAJN, Décio:<br />
SCARE, Roberto Fava. Gestão e Qualida<strong>de</strong> no Agribusiness: estudos e casos.<br />
São Paulo: Atlas, 2003.<br />
PEQUENAS EMPRESAS GRANDES NEGÓCIOS. Cafeicultores lucram com o<br />
comércio justo. 2008. Disponível em: <<br />
http://pegntv.globo.com/Pegn/0,6993,LBS324276-5186,00.html>. Acesso em: 16 set.<br />
2009.<br />
PLANETA ORGÂNICO. Portal Planeta Orgânico. Disponível em:<br />
. Acesso em: 16 set. 2009.<br />
SAES, M. S. M.; FARINA, E. M. M. Q. O agribusiness do <strong>café</strong> no Brasil. São<br />
Paulo: IPEA/PENSA/USP: Milkbizz, set. 1999.<br />
SAFRAS & NEGÓCIOS. Disponível em:<br />
. Acesso em:<br />
01 jun. 2009.<br />
SEAG. Secretaria <strong>de</strong> Estado da Agricultura, Abastecimento, Aquicultura e Pesca.<br />
Disponível em: < http://www.seag.es.gov.br/pe<strong>de</strong>ag/livro/livro_web.swf>. Acesso em:<br />
08 ago. 2009.<br />
SINDICAFE. Sindicato do Comércio <strong>de</strong> Café em Geral do Estado do Espírito Santo.<br />
Disponível em: < http://www.sindicafe.com.br/>. Acesso em: 16 set. 2009.<br />
SISTEAM IBGE DE RECUPERAÇÃO AUTOMÁTICA – SIDRA. Censo<br />
Agropecuário 2006. Disponível em: <<br />
http://www.sidra.ibge.gov.br/bda/pesquisas/ca/<strong>de</strong>fault.asp#10>. Acesso em: 30 out.<br />
2009.<br />
SCHMIDT, Hans Christian; DE MUNER, Lúcio Herzog; FORNAZIER, Maurício José.<br />
Ca<strong>de</strong>ia produtiva do <strong>café</strong> <strong>arábica</strong> da agricultura familiar no Espírito Santo.<br />
Vitória-ES: Incaper, 2004. 52 p.<br />
SOUZA,M. C. M.; SAES, M. S. M.; OTANI, M. N. Pequenos produtores e o<br />
segmento <strong>de</strong> <strong>café</strong>s especiais no Brasil: uma abordagem preliminar. São Paulo,<br />
2000.<br />
63
SOUZA,M. C. M.; SAES, M. S. M.; OTANI, M. N. Diagnóstico da Produção no<br />
Segmento <strong>de</strong> Cafés Especiais Paulista. Instituto <strong>de</strong> Economia Agrícola.<br />
Informações Econômicas. São Paulo, 2003, volume 33, nº. 3.<br />
SPERS, Eduardo Eugênio; ZYLBERSZTAJN, Décio. Dungullin Estate -<br />
Certificação <strong>de</strong> Qualida<strong>de</strong> na Agricultura Australiana. In: ZYLBERSZTAJN,<br />
Décio: SCARE, Roberto Fava. Gestão e Qualida<strong>de</strong> no Agribusiness: estudos e<br />
casos. São Paulo. Atlas, 2003.<br />
TINOCO, Sonia Terezinha Juliatto. Conceituação <strong>de</strong> agricultura familiar uma<br />
revisão bibliográfica. São Paulo, 2006.<br />
TENÓRIO, Roberto. Conquistas e <strong>de</strong>safios marcam dia do <strong>café</strong>. Gazeta<br />
Mercantil, São Paulo, 22 Maio. 2009. Finanças e Mercados, p. 09. Disponível em: <<br />
http://in<strong>de</strong>xet.gazetamercantil.com.br/arquivo/2009/05/22/412/Conquistas-e-<strong>de</strong>safiosmarcam-dia-do-cafe.html<br />
>. Acesso em: 01 jun. <strong>de</strong> 2009.<br />
UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESPÍRITO SANTO. Biblioteca Central.<br />
Normalização <strong>de</strong> Referência: NBR 6023:2002. Vitória, 2006.<br />
UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESPÍRITO SANTO. Biblioteca Central.<br />
Normalização e Apresentação <strong>de</strong> Trabalhos Científicos e Acadêmicos. Vitória,<br />
2006.<br />
Zambolim, LAÉRCIO. Rastreabilida<strong>de</strong> a ca<strong>de</strong>ia produtiva do Café. Viçosa: DFP,<br />
2007.<br />
ZYLBERSZTAJN, Décio: SCARE, Roberto Fava. Gestão e Qualida<strong>de</strong> no<br />
Agribusiness: estudos e casos. São Paulo: Atlas, 2003.<br />
64