12.04.2013 Views

RESENHA ECONÔMICA - Centro de Ciências Jurídicas e Econômicas

RESENHA ECONÔMICA - Centro de Ciências Jurídicas e Econômicas

RESENHA ECONÔMICA - Centro de Ciências Jurídicas e Econômicas

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

<strong>RESENHA</strong> <strong>ECONÔMICA</strong><br />

Ano 13, n° 148, 05/12/2005 - PET - ECONOMIA<br />

CCJE - UFES<br />

Palestra "O que é transposição do Rio São Francisco?<br />

Vantagens e <strong>de</strong>svantagens", ministrada por Aziz Ab'<br />

Saber. Disponível em:<br />

. Acesso<br />

em: 23 nov 2005.<br />

Uma das problemáticas apontadas pelo<br />

professor Aziz é a falta <strong>de</strong> análise do projeto<br />

<strong>de</strong> transposição sobre a climatologia macro<br />

regional. O projeto envolve regiões do serrado<br />

até o semi-árido. Por isso, é preciso verificar<br />

quanta água será necessária para passar nas<br />

regiões secas, uma quantida<strong>de</strong> para manter o<br />

funcionamento <strong>de</strong> hidrelétricas e outra para o<br />

rio.<br />

Outro ponto é a pobreza regional em<br />

regiões do baixo e médio do São Francisco.<br />

Segundo o professor, o <strong>de</strong>serto esten<strong>de</strong>-se em<br />

6.700 km. Entre 400 e 500 km, há produção<br />

<strong>de</strong> horticultura, enquanto <strong>de</strong> 3 a 4 mil km<br />

possuem métodos <strong>de</strong> irrigação para<br />

<strong>de</strong>senvolver as produções locais. "As pessoas<br />

precisam apren<strong>de</strong>r a olhar imagens <strong>de</strong> satélite<br />

do <strong>de</strong>serto <strong>de</strong> xique-xique para conhecer<br />

mesmo a região <strong>de</strong> que tanto se fala", <strong>de</strong>fen<strong>de</strong><br />

Aziz.<br />

Segundo relato do geógrafo, os<br />

fazen<strong>de</strong>iros da região próxima ao rio Chico<br />

levam carros pipas para buscarem água para<br />

seus animais. "A água do rio vai para gados<br />

<strong>de</strong> fazen<strong>de</strong>iros, enquanto a população pobre<br />

da região fica no prejuízo. Algumas<br />

comunida<strong>de</strong>s <strong>de</strong>senvolvem a cultura <strong>de</strong><br />

vazante, que possibilita a plantação mandioca,<br />

milho e feijão", <strong>de</strong>staca o professor.<br />

Os técnicos do projeto ignoram as<br />

populações que exercem a cultura <strong>de</strong> vazante,<br />

uma prática <strong>de</strong> horticultura <strong>de</strong>senvolvida no<br />

leito dos rios que cortam o São Francisco,<br />

marcados pela perda <strong>de</strong> fluxo durante o ano.<br />

Estas pessoas são os principais prejudicados,<br />

<strong>de</strong> acordo com Aziz. É importante <strong>de</strong>stacar<br />

que estes produtos são comercializados nas<br />

feiras dos sertões para as comunida<strong>de</strong>s <strong>de</strong><br />

baixa renda. Por outro lado, os beneficiados<br />

E O SERTÃO, VAI VIRAR MAR?<br />

seriam os fazen<strong>de</strong>iros que vivem nas colinas,<br />

longe da seca, ou nos gran<strong>de</strong>s centros<br />

urbanos. "Quais são as possibilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong><br />

expansão com a transposição? Não é para as<br />

populações <strong>de</strong> baixa renda, pois os<br />

fazen<strong>de</strong>iros têm o direito <strong>de</strong> continuarem a<br />

tirar água e até colocarem bombas no fundo<br />

do rio para alimentarem seus animais. Para os<br />

engenheiros, parece que o trabalho do pobre<br />

não existe e não acreditam na prática da<br />

vazante", <strong>de</strong>clara Aziz Ab' Saber.<br />

Diante das dificulda<strong>de</strong>s apontadas pelo<br />

professor, é importante ressaltar a falta <strong>de</strong><br />

conhecimento sobre o clima e a periodicida<strong>de</strong><br />

do Rio São Francisco, pois per<strong>de</strong>rá água dos<br />

rios intermitentes-sazonários que receberão<br />

filetes das águas transpostas.<br />

"Eles falam muito sobre revitalização<br />

do rio, mas não explicam exatamente o que é.<br />

Outro erro é quando falam em integração das<br />

bacias, porque só existe esta condição na<br />

circulação entre rios <strong>de</strong> diferentes regiões. E<br />

parece que os técnicos não estudaram<br />

geografia humana, porque não levam em<br />

consi<strong>de</strong>ração que, na região semi-árida, há<br />

povoação <strong>de</strong> famílias com inúmeras crianças",<br />

alerta Aziz.<br />

De acordo com relatos <strong>de</strong> "vazenteiros"<br />

apresentados por Aziz, alguns fazen<strong>de</strong>iros<br />

soltavam seus gados para <strong>de</strong>ntro das suas<br />

plantações. A população pediu ao governo<br />

municipal para colocarem cercas na área da<br />

vazante, mas um candidato a prefeito utilizou<br />

esta proposta para ganhar as eleições na<br />

época. "Isso mostra como é complexa esta<br />

questão da transposição e envolve o po<strong>de</strong>r.<br />

Não é uma ação simples e po<strong>de</strong> se transformar<br />

num projeto politiqueiro", indica.<br />

Na terceira campanha para presidência,<br />

o presi<strong>de</strong>nte Luís Inácio da Silva afirmou à<br />

Aziz que os acadêmicos não dão votos. A<br />

partir disso, o professor acha que esta<br />

transposição será um vezo eleitoreiro no<br />

último ano <strong>de</strong> seu governo e reforça a<br />

necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> novas discussões sobre o


projeto. "O que fazer com as pessoas <strong>de</strong><br />

gran<strong>de</strong>s projetos, que <strong>de</strong>sconhecem os<br />

verda<strong>de</strong>iros beneficiados?" finaliza Aziz com<br />

seu questionamento crítico aos estudantes.<br />

COMENTÁRIO - PET<br />

O nor<strong>de</strong>ste brasileiro foi durante um<br />

longo período da história do Brasil o centro<br />

econômico e dinâmico do país. No entanto,<br />

passado sua época <strong>de</strong> auge, o nor<strong>de</strong>ste se<br />

tornou uma região com baixo dinamismo<br />

econômico. Este fato, atrelado à insuficiência<br />

<strong>de</strong> recursos naturais e calamida<strong>de</strong>s climáticas<br />

caracterizam o nor<strong>de</strong>ste como “área -<br />

problema”.<br />

A questão nor<strong>de</strong>stina foi intensamente<br />

abordada nos estudos <strong>de</strong> Celso Furtado, que<br />

<strong>de</strong>fendia fielmente a intervenção<br />

governamental como uma maneira <strong>de</strong> atenuar<br />

os problemas pelos quais passava a região.<br />

Os estudos <strong>de</strong> Furtado foram<br />

realizados em 1967, mas ainda hoje a<br />

população nor<strong>de</strong>stina sofre na região semiárida<br />

mais povoada do mundo, on<strong>de</strong> bolsões<br />

<strong>de</strong> miséria persistem e a falta <strong>de</strong> recursos<br />

hídricos é um problema crônico.<br />

Não obstante, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o fim do império,<br />

é pensado um projeto com a ambição <strong>de</strong><br />

diminuir, ou quem sabe até eliminar os<br />

persistentes bolsões <strong>de</strong> miséria e a falta <strong>de</strong><br />

recursos hídricos. Esse projeto, <strong>de</strong>nominado<br />

<strong>de</strong> Transposição do Rio São Francisco, foi<br />

recentemente aperfeiçoado pelo governo Lula<br />

numa tentativa <strong>de</strong> atenuar a dívida histórica e<br />

o <strong>de</strong>scaso político-social que o nor<strong>de</strong>ste<br />

sempre sofreu.<br />

Transposição é o ato ou efeito <strong>de</strong><br />

transpor, <strong>de</strong> levar algo <strong>de</strong> um lugar para o<br />

outro. Neste caso específico, a transposição<br />

consistiria em levar as águas do Rio São<br />

Francisco para as bacias hidrográficas do<br />

Nor<strong>de</strong>ste, que por suas vezes se beneficiariam<br />

com a perenida<strong>de</strong> <strong>de</strong>ste rio, uma vez que suas<br />

bacias são constituídas por rios intermitentes.<br />

Isso significa que no período <strong>de</strong> chuvas estes<br />

rios são caudalosos e no período da seca<br />

extinguem-se quase por completo. Essa<br />

intermitência não ocorre com o “Velho<br />

Chico”, então, a água transposta po<strong>de</strong>ria ter<br />

seu uso multiplicado, tais como o consumo<br />

humano e animal, irrigação, geração <strong>de</strong><br />

energia, <strong>de</strong>ntre outros.<br />

O planejamento feito pelo Ministério<br />

afirma que o projeto será concluído até 2015 e<br />

prevê o beneficiamento <strong>de</strong> 12 milhões <strong>de</strong><br />

pessoas com o custo <strong>de</strong> 4,5 bilhões <strong>de</strong> reais<br />

para os cofres públicos.<br />

Ao se observar mais uma tentativa <strong>de</strong><br />

intervenção governamental na região<br />

nor<strong>de</strong>ste, o <strong>de</strong>bate em torno da eficiência <strong>de</strong><br />

políticas públicas realizadas em prol dos<br />

nor<strong>de</strong>stinos ao longo dos anos toma novo<br />

fôlego.<br />

O Projeto <strong>de</strong> Transposição do Rio São<br />

Francisco é apenas mais uma medida paliativa<br />

elaborada pelo governo, pois apesar <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>spen<strong>de</strong>r uma verba vultosa para elaboração<br />

da obra, o governo não se dispõe a fornecer à<br />

população instrumentos que capacitem a<br />

formação <strong>de</strong> uma economia produtiva e<br />

sustentável.<br />

Utilizando-se <strong>de</strong>sse projeto e da crença<br />

disseminada no início do século passado por<br />

padre Cícero que dizia: “O sertão vai virar<br />

mar”, o governo permanece alimentando nos<br />

nor<strong>de</strong>stinos a esperança e a fé, <strong>de</strong> que a seca e<br />

a miséria <strong>de</strong> sua gente acabará e o<br />

<strong>de</strong>senvolvimento econômico emergirá na<br />

região, a mesma<br />

Assim, esse povo, relevante aos olhos<br />

do governo apenas como massa eleitoreira,<br />

permanece <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte da boa vonta<strong>de</strong> dos<br />

políticos, marcado pela concentração <strong>de</strong> renda<br />

e sujeito à perpetuação <strong>de</strong> sua gran<strong>de</strong> miséria.<br />

Camilla dos Santos Nogueira<br />

Daniel Pereira Sampaio<br />

Resenha Econômica é uma publicação do Programa <strong>de</strong><br />

Educação Tutorial - PET/SESU - do Curso <strong>de</strong> <strong>Ciências</strong><br />

<strong>Econômicas</strong>, com resumos <strong>de</strong> comentários ou notícias<br />

apresentados na imprensa. As opiniões aqui expressas<br />

não refletem necessariamente a posição do grupo a<br />

respeito dos temas abordados.<br />

Qualquer dúvida sobre as ativida<strong>de</strong>s do PET escreva<br />

para peteconomia@pop.com.br

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!