D FATO quatro.cdr - Associação do Ministério Público de Pernambuco
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Revista da <strong>Associação</strong> <strong>do</strong> <strong>Ministério</strong> <strong>Público</strong> <strong>de</strong> <strong>Pernambuco</strong> - AMPPE - n° 4 - setembro / 2009<br />
Associa<strong>do</strong>s conquistam nova<br />
se<strong>de</strong> social em Al<strong>de</strong>ia<br />
Organizações <strong>de</strong> classe<br />
Peças chave na conquista <strong>de</strong> direitos<br />
pelos trabalha<strong>do</strong>res brasileiros<br />
Turismo<br />
Conheça as belezas que<br />
São Benedito <strong>do</strong> Sul e<br />
Quipapá têm a oferecer e<br />
inclua esses roteiros nas<br />
suas próximas férias<br />
Entrevista<br />
Psiquiatra<br />
José Carlos <strong>de</strong> Escobar<br />
Atuação<br />
Persistência e integração<br />
reduzem ação <strong>do</strong> crime<br />
organiza<strong>do</strong> em Jaboatão<br />
Falan<strong>do</strong> em Português<br />
Confira a nova coluna da<br />
jornalista e professora Dad<br />
Squarisi<br />
Artigos<br />
Leia os artigos <strong>de</strong>sta edição
expediente<br />
Revista da <strong>Associação</strong> <strong>do</strong><br />
<strong>Ministério</strong> <strong>Público</strong> <strong>de</strong> <strong>Pernambuco</strong> -<br />
AMPPE<br />
nº 04 - setembro/2009<br />
En<strong>de</strong>reço: Rua Benfica, 810 - Madalena<br />
Recife PE - CEP 50 720 - 001<br />
Fone/fax (81) 3227 0300 / 3228 7491<br />
Site: www.amppe.com.br;<br />
E- mail: amppe@amppe.com.br<br />
Diretoria:<br />
Geral<strong>do</strong> Margela Correia<br />
Presi<strong>de</strong>nte<br />
Paulo Roberto Lapenda Figueiroa<br />
1º Vice-Presi<strong>de</strong>nte<br />
José Edival<strong>do</strong> da Silva<br />
2º Vice-Presi<strong>de</strong>nte<br />
Darwin José Henrique da Silva Junior<br />
1º Secretário<br />
Maria Berna<strong>de</strong>te Gonçalves Aragão<br />
2ª Secretária<br />
Sinei<strong>de</strong> Maria <strong>de</strong> Barros Silva Canuto<br />
1ª Tesoureira<br />
Francisco Ortêncio <strong>de</strong> Carvalho<br />
2º Tesoureiro<br />
Conselho Consultivo e Fiscal<br />
Arabela Maria Matos Porto<br />
José Roberto da Silva<br />
Paulo César <strong>do</strong> Nascimento<br />
Romil<strong>do</strong> Ramos da Silva<br />
Tilemon Gonçalves <strong>do</strong>s Santos<br />
Assessores da Presidência<br />
José Tavares<br />
José Vladimir da Silva Acioli<br />
Muryllo José Salga<strong>do</strong> da Silva<br />
Departamentos<br />
Aposenta<strong>do</strong>s:<br />
Suel<strong>do</strong> Vasconcelos Cavalcanti Melo<br />
Beneficência:<br />
Israel Cabral Cavalcanti<br />
Cultural:<br />
José Lira Gue<strong>de</strong>s<br />
Maria Helena da Fonte Carvalho<br />
Valter Rodrigues da Rosa Borges<br />
Comunicação:<br />
José Vladimir da Silva Acioli<br />
Norma da Mota Sales Lima<br />
Sonia Car<strong>do</strong>so da Silva Santos<br />
Esportivo:<br />
Maviael <strong>de</strong> Souza Silva<br />
Institucional:<br />
Maristela <strong>de</strong> Oliveira Simonin<br />
Solon Ivo da Silva Filho<br />
Jurídico:<br />
Letícia Gue<strong>de</strong>s Coelho<br />
Patrimonial:<br />
Petrúcio José Luna <strong>de</strong> Aquino<br />
Social:<br />
Norma da Mota Sales Lima (interina)<br />
Suplentes<br />
Bettina Estanislau Gue<strong>de</strong>s<br />
Eduar<strong>do</strong> Henrique Tavares <strong>de</strong> Souza<br />
Henrique Ramos Rodrigues<br />
Márcia Cor<strong>de</strong>iro Guimarães Lima<br />
Ricar<strong>do</strong> Lapenda Figueiroa<br />
Stanley <strong>de</strong> Araújo Corrêa<br />
Antônio Victor <strong>de</strong> Araújo Filho<br />
Jornalista responsável: Simonne Lins<br />
(Reg. Prof. 1704 DRT/ PE) ; Estagiária:<br />
Mirella Izídio; Textos: Simonne Lins,<br />
e Mirella Izídio; Diagramação e ilustração:<br />
Amauri Cunha (Reg. Prof. 2177 DRT/PE);<br />
Fotos:<br />
Ival<strong>do</strong> Bezerra, arquivo AMPPE e<br />
arquivo MPPE; Impressão: MXM Gráfica;<br />
Tiragem: 700 exemplares; Distribuição gratuita.<br />
Os artigos assina<strong>do</strong>s não refletem<br />
necessariamente<br />
a opinião da diretoria da AMPPE.<br />
Revista da <strong>Associação</strong> <strong>do</strong> <strong>Ministério</strong> <strong>Público</strong> <strong>de</strong> <strong>Pernambuco</strong> - AMPPE - n° 4 - setembro / 2009<br />
Índice<br />
Editorial 4<br />
Entrevista<br />
Psiquiatra José Carlos <strong>de</strong> Escobar fala a Dfato como grupos <strong>de</strong> discussão po<strong>de</strong>m livrar<br />
Promotores e Procura<strong>do</strong>res <strong>do</strong> estresse 5 a 7<br />
Atuação<br />
Persistência e integração reduzem ação <strong>de</strong> grupos <strong>de</strong> extermínio em Jaboatão 10 a 12<br />
Matéria<br />
Associa<strong>do</strong>s aprovam compra <strong>de</strong> nova se<strong>de</strong> social em Al<strong>de</strong>ia 16 e 17<br />
Matéria<br />
Parceria entre Peritos e MP - Garantia <strong>de</strong> um resulta<strong>do</strong> positivo<br />
nos processos <strong>de</strong> apuração criminal18<br />
e 19<br />
Turismo<br />
Lazer associa<strong>do</strong> à tranquilida<strong>de</strong> e às belezas naturais <strong>do</strong> campo 21 a 24<br />
Matéria principal<br />
Organizações <strong>de</strong> classe - Peças chave na conquista<br />
<strong>de</strong> direitos pelos trabalha<strong>do</strong>res brasileiros 26 a 28<br />
Falan<strong>do</strong> em Português<br />
A Reforma Ortográfica mu<strong>do</strong>u a cara das palavras 29<br />
Cultura<br />
Mistura <strong>de</strong> ritmos embala Balé Popular <strong>do</strong> Recife 30 e 31<br />
O que os Promotores e Procura<strong>do</strong>res <strong>de</strong> Justiça indicam para você 32 e 33<br />
Contraponto<br />
Opiniões distintas sobre a mudança <strong>do</strong> Código <strong>de</strong> Processo Penal 34 e 35<br />
Saú<strong>de</strong><br />
Gripe Influenza - Verda<strong>de</strong>s e cuida<strong>do</strong>s necessários 38<br />
Artigos<br />
Uma verda<strong>de</strong> inconveniente - O crime como uma opção antiética no Brasil<br />
Patricia Ban<strong>de</strong>ira <strong>de</strong> Melo 8 e 9<br />
Efetiva e gratuita contribuição à causa da infância e da juventu<strong>de</strong><br />
Francisco Cruz Rosa 13<br />
Pe<strong>do</strong>filia é um tipo penal?<br />
Janei<strong>de</strong> Oliveira <strong>de</strong> Lima<br />
Delane <strong>de</strong> Barros <strong>de</strong> Arruda 14 e 15<br />
Como e quan<strong>do</strong> a criança e o a<strong>do</strong>lescente têm direitos?<br />
Maxwell An<strong>de</strong>rson Lucena Vignoli 20<br />
Como sanear o Recife o mais rapidamente possível?<br />
Geral<strong>do</strong> Margela Correia 25<br />
A pessoa jurídica como autora <strong>de</strong> crimes<br />
Miguel Sales 36<br />
e 37
Editorial<br />
Participação da classe é premissa<br />
para a <strong>de</strong>fesa <strong>de</strong> prerrogativas<br />
Nós, seres humanos, somos<br />
naturalmente gregários,<br />
procuran<strong>do</strong> sempre apoio uns nos<br />
outros, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> os primórdios das<br />
nossas origens, sempre em busca<br />
<strong>de</strong> <strong>de</strong>fesa e proteção contra as<br />
forças externas <strong>de</strong>strui<strong>do</strong>ras e<br />
inimigas.<br />
Também nos reunimos nos<br />
momentos <strong>de</strong> alegria e celebração,<br />
quan<strong>do</strong> nos extasiamos em danças<br />
e folgue<strong>do</strong>s que constituem<br />
momentos <strong>de</strong> intensa felicida<strong>de</strong>.<br />
Desenvolvemos, <strong>de</strong>sta sorte,<br />
o sentimento <strong>de</strong> pertinência,<br />
inicialmente ao nosso grupo<br />
parental e, com o<br />
<strong>de</strong>senvolvimento das estruturas<br />
mais complexas da socieda<strong>de</strong>,<br />
também às corporações que<br />
criamos, ou que herdamos <strong>do</strong>s<br />
“pais da pátria”.<br />
Estrutura complexa, por<br />
exemplo, é sindicato <strong>de</strong> categoria<br />
profissional ou entida<strong>de</strong> associativa<br />
<strong>de</strong> classe que seus integrantes<br />
criam, ten<strong>do</strong> em vista a proteção<br />
<strong>de</strong> recíprocos interesses e direitos<br />
nas ativida<strong>de</strong>s laborais e o<br />
aperfeiçoamento ético e técnico<br />
<strong>do</strong>s integrantes da classe que se<br />
consi<strong>de</strong>re.<br />
Também po<strong>de</strong> provi<strong>de</strong>nciar<br />
ativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> lazer que contribuem<br />
para <strong>de</strong>sanuviar mentes e<br />
corações da dureza cotidiana das<br />
ativida<strong>de</strong>s e promover cultura para<br />
além <strong>do</strong>s conhecimentos técnicos.<br />
Colabore com Dfato matérias produzidas, traz o<br />
Em breve a diretoria da AMPPE,<br />
através <strong>do</strong> seu <strong>de</strong>partamento <strong>de</strong><br />
comunicação, dará início a<br />
discussão da pauta da próxima<br />
edição da Revista, a Dfato 5.<br />
Esta publicação, além das<br />
04<br />
Tais estruturas complexas,<br />
porém, para realizar suas<br />
ativida<strong>de</strong>s, especialmente<br />
aquelas que significam <strong>de</strong>fesa<br />
das prerrogativas <strong>de</strong> seus<br />
associa<strong>do</strong>s, necessitam <strong>de</strong><br />
recursos e da participação <strong>de</strong><br />
seus membros para execução<br />
das tarefas necessárias ao<br />
cumprimento <strong>de</strong> suas finalida<strong>de</strong>s.<br />
Na verda<strong>de</strong>, elas exigem uma<br />
boa <strong>do</strong>se <strong>de</strong> generosida<strong>de</strong> e <strong>de</strong><br />
...o associa<strong>do</strong> que não enxerga<br />
o valor <strong>do</strong> trabalho associativo,<br />
chega-se ao quadro representa<strong>do</strong><br />
na atual conjuntura <strong>do</strong>s órgãos <strong>de</strong><br />
classe em que o peso <strong>do</strong>s<br />
trabalhos recai sobre os ombros <strong>de</strong><br />
uns poucos abnega<strong>do</strong>s...<br />
voluntaria<strong>do</strong> <strong>de</strong> seus membros<br />
para o cumprimento <strong>de</strong> sua<br />
missão e das metas que são<br />
postas, avançarem e obterem o<br />
aperfeiçoamento da instituição<br />
originária <strong>de</strong> seus quadros, bem<br />
como <strong>de</strong> si próprios.<br />
Quan<strong>do</strong>, ao revés, não há<br />
exercício <strong>de</strong> voluntaria<strong>do</strong> ou este<br />
é diminuto e quan<strong>do</strong> a<br />
contribuição associativa<br />
pecuniária é entendida como um<br />
estorvo para o associa<strong>do</strong> que não<br />
enxerga o valor <strong>do</strong> trabalho<br />
associativo, chega-se ao quadro<br />
representa<strong>do</strong> na atual conjuntura<br />
resulta<strong>do</strong> <strong>de</strong> um somatório <strong>de</strong><br />
idéias e contribuições <strong>de</strong><br />
membros <strong>do</strong> <strong>Ministério</strong><br />
<strong>Público</strong>, que só qualificam a<br />
Revista. Escreva um Artigo,<br />
<strong>do</strong>s órgãos <strong>de</strong> classe em que o<br />
peso <strong>do</strong>s trabalhos recai sobre os<br />
ombros <strong>de</strong> uns poucos abnega<strong>do</strong>s<br />
ou, a minoria participante toma<br />
medidas que consultam seus<br />
próprios interesses, <strong>de</strong>scuran<strong>do</strong><br />
<strong>do</strong>s interesses grupais,<br />
locupletan<strong>do</strong>-se <strong>do</strong>s valores da<br />
entida<strong>de</strong>, nada <strong>de</strong>volven<strong>do</strong> em<br />
benefício <strong>de</strong> to<strong>do</strong>s.<br />
Outra praga ocorrente em muitas<br />
<strong>de</strong>ssas entida<strong>de</strong>s é a ausência <strong>de</strong><br />
compreensão por parte <strong>de</strong> alguns<br />
<strong>de</strong> que os bens e serviços <strong>de</strong>la<br />
pertencem à coletivida<strong>de</strong> e não a<br />
individualida<strong>de</strong>s, <strong>de</strong>ven<strong>do</strong> estar<br />
sempre disponíveis para to<strong>do</strong>s e<br />
não apropria<strong>do</strong>s por uns poucos,<br />
egoisticamente.<br />
Pois bem, nossa AMPPE -<br />
<strong>Associação</strong> <strong>do</strong> <strong>Ministério</strong> <strong>Público</strong><br />
<strong>de</strong> <strong>Pernambuco</strong> (na verda<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />
membros <strong>do</strong> MPPE) necessita da<br />
participação solidária <strong>de</strong> seus<br />
componentes, <strong>de</strong> to<strong>do</strong>s sem<br />
exceção, para atingir suas<br />
finalida<strong>de</strong>s, entre as quais<br />
sobreleva a da <strong>de</strong>fesa permanente<br />
das prerrogativas <strong>de</strong> seus<br />
integrantes, a cada dia sob novo e<br />
cerra<strong>do</strong> ataque por parte daqueles<br />
a quem a Constituição pôs sob seu<br />
controle.<br />
Participação, ainda que difícil, é<br />
a palavra que temos <strong>de</strong> tornar<br />
efetivamente real para enfrentar <strong>de</strong><br />
forma competente to<strong>do</strong>s os<br />
percalços.<br />
um Causo, ou dê sugestões <strong>de</strong><br />
pauta para a próxima edição<br />
da Dfato através <strong>do</strong> e-mail<br />
dpcomunicacao@amppe.com.<br />
br. Contamos com a sua<br />
colaboração!
Entrevista / José Carlos <strong>de</strong> Escobar<br />
Grupos <strong>de</strong> discussão po<strong>de</strong>m livrar<br />
Promotores <strong>do</strong> estresse<br />
Omédico José Carlos Soares <strong>de</strong> Escobar foi um <strong>do</strong>s palestrantes a repassar sua experiência aos<br />
membros <strong>do</strong> <strong>Ministério</strong> <strong>Público</strong> durante o VIII Congresso Estadual <strong>do</strong> MP, nos últimos dias 12, 13 e 14<br />
<strong>de</strong> agosto, em Gravatá. Psiquiatra, Psicanalista, Pesquisa<strong>do</strong>r e Consultor na área <strong>de</strong> Prevenção e<br />
Redução <strong>de</strong> Danos <strong>do</strong> Consumo Prejudicial <strong>de</strong> Álcool e outras Drogas, Escobar, entre outras coisas, é<br />
membro funda<strong>do</strong>r <strong>do</strong> Instituto Antonio Carlos Escobar - IACE, on<strong>de</strong> acompanha as ações <strong>de</strong> combate à<br />
violência no Esta<strong>do</strong>; foi funda<strong>do</strong>r <strong>do</strong> Centro Eulâmpio Cor<strong>de</strong>iro <strong>de</strong> Recuperação Humana, atuan<strong>do</strong> na<br />
prevenção, tratamento e pesquisas na área <strong>de</strong> álcool e outras drogas e é diretor clínico <strong>do</strong> Instituto RAID -<br />
organização não governamental que <strong>de</strong>senvolve projetos <strong>de</strong> prevenção, redução <strong>de</strong> danos e tratamento sobre<br />
o consumo prejudicial <strong>de</strong> drogas. José Carlos <strong>de</strong> Escobar falou à revista Dfato e expôs sua opinião sobre as<br />
ações <strong>de</strong> combate à violência no país e em <strong>Pernambuco</strong>; como o Promotor <strong>de</strong> Justiça po<strong>de</strong> ser melhor<br />
prepara<strong>do</strong> psicologicamente para o exercício <strong>de</strong> sua ativida<strong>de</strong>; os <strong>de</strong>safios da classe e <strong>de</strong> que forma a<br />
AMPPE po<strong>de</strong> contribuir para um maior equilíbrio emocional <strong>do</strong>s seus membros. Confira a entrevista:<br />
DFato - Como o senhor avalia as ações<br />
<strong>de</strong> combate à violência no país. O<br />
trabalho que vem sen<strong>do</strong> <strong>de</strong>senvolvi<strong>do</strong><br />
está no caminho certo?<br />
Escobar - Eu acho que as medidas<br />
a<strong>do</strong>tadas no país, especialmente em<br />
<strong>Pernambuco</strong>, ainda são muito<br />
burocráticas e exercidas <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> um<br />
padrão que não aprofunda as<br />
dificulda<strong>de</strong>s que estamos viven<strong>do</strong>.<br />
Compram-se carros, mais<br />
armamento, investe-se em<br />
equipamentos, mas não se investe no<br />
la<strong>do</strong> humano, que sempre fica a<br />
<strong>de</strong>sejar. As fundações <strong>de</strong><br />
internamento da criança e <strong>do</strong><br />
a<strong>do</strong>lescente continuam no aban<strong>do</strong>no;<br />
os profissionais da área <strong>de</strong> segurança<br />
continuam sem treinamento e<br />
condições <strong>de</strong> trabalho e o que vemos é<br />
um sistema prisional absolutamente<br />
aban<strong>do</strong>na<strong>do</strong>, que não recupera e não<br />
ressocializa. Enfim, são medidas que<br />
não avançam qualitativamente e que<br />
muitas vezes se restringem ao<br />
investimento em mídia. Falta tratar a<br />
05
Entrevista / José Carlos <strong>de</strong> Escobar<br />
violência no Brasil com a serieda<strong>de</strong> e a<br />
profundida<strong>de</strong> que ela está precisan<strong>do</strong><br />
ser vista. Eu participei da discussão <strong>do</strong><br />
Pacto pela Vida, que foi muito ampla,<br />
mas o que vem sen<strong>do</strong> efetivamente<br />
aplica<strong>do</strong> e o que está em andamento é<br />
muito pouco. Se formos ver os<br />
investimentos em <strong>de</strong>legacias, nos<br />
profissionais <strong>de</strong> segurança, nos<br />
programas preventivos para jovens,<br />
assim como no governo passa<strong>do</strong>, o<br />
atual faz um investimento <strong>de</strong> mídia. O<br />
governo Eduar<strong>do</strong> Campos comemorou<br />
a redução da criminalida<strong>de</strong> em 2%<br />
após um perío<strong>do</strong> <strong>de</strong> lançamento <strong>do</strong><br />
Pacto, o que é imoral, pois com o alto<br />
índice <strong>de</strong> criminalida<strong>de</strong> registra<strong>do</strong> no<br />
Esta<strong>do</strong> esse percentual é irrisório. O<br />
governo <strong>de</strong>veria pedir <strong>de</strong>sculpas às<br />
pessoas e não comemorar.<br />
Dfato - Como o Promotor <strong>de</strong> Justiça<br />
po<strong>de</strong> estar melhor prepara<strong>do</strong><br />
psicologicamente para o exercício <strong>de</strong><br />
sua ativida<strong>de</strong> profissional?<br />
Escobar - Uma série <strong>de</strong> profissões<br />
exige estabilida<strong>de</strong> emocional, a<br />
exemplo <strong>do</strong>s médicos. Mesmo sem<br />
conhecer <strong>de</strong> perto o trabalho <strong>do</strong><br />
Promotor <strong>de</strong> Justiça acho que para<br />
qualquer profissional exercer bem sua<br />
profissão é fundamental i<strong>de</strong>ntificar<br />
qual o seu limite. Não só o seu limite<br />
pessoal, mas também o técnico. É<br />
preciso i<strong>de</strong>ntificar como o Promotor<br />
po<strong>de</strong> atuar <strong>de</strong>ntro da técnica e da ética<br />
e até on<strong>de</strong> ele po<strong>de</strong> atuar<br />
individualmente e também<br />
coletivamente. Certo <strong>de</strong>sses limites, o<br />
profissional vai se situar <strong>de</strong> uma forma<br />
menos angustiante. A outra coisa é<br />
você ter instrumentos, formas <strong>de</strong><br />
trabalhar e que possa compartilhar<br />
coletivamente essas dificulda<strong>de</strong>s. Se o<br />
profissional discute as angústias, a<br />
solução chega mais tranquilamente. É<br />
preciso buscar caminhos <strong>de</strong> discussão<br />
coletiva sobre a sua ativida<strong>de</strong> técnica.<br />
Em medicina existe o grupo operativo<br />
que é um instrumento ótimo para se<br />
dividir ansieda<strong>de</strong>s e problemas.<br />
Esse trabalho não seria uma terapia <strong>de</strong><br />
grupo, nem auto-ajuda. Você po<strong>de</strong> ter<br />
um coor<strong>de</strong>na<strong>do</strong>r treina<strong>do</strong>, mas o<br />
importante é que seja uma dinâmica <strong>de</strong><br />
grupo on<strong>de</strong> as pessoas sejam<br />
06<br />
estimuladas a falar da sua ativida<strong>de</strong><br />
profissional e da angústia <strong>de</strong>rivada<br />
<strong>de</strong>ssa ativida<strong>de</strong>. Cabe ao coor<strong>de</strong>na<strong>do</strong>r<br />
guiar o grupo para que essas questões<br />
não se <strong>de</strong>sviem muito para o campo<br />
pessoal, mas que a discussão possa<br />
ficar <strong>de</strong>ntro <strong>do</strong>s problemas gera<strong>do</strong>s<br />
pelo exercício técnico.<br />
Dfato - Vários fatores têm<br />
contribuí<strong>do</strong> para o aumento na<br />
<strong>de</strong>manda <strong>de</strong> processos a serem<br />
julga<strong>do</strong>s pelo Judiciário, que tratam<br />
<strong>do</strong>s mais diversos assuntos.O senhor<br />
acredita que alguns <strong>de</strong>stes conflitos<br />
po<strong>de</strong>riam ser dirimi<strong>do</strong>s com o auxílio<br />
<strong>de</strong> um profissional da sua área?<br />
Escobar - Eu acho que não<br />
necessariamente da área, porque muitas<br />
vezes o trabalho <strong>do</strong> terapeuta não é<br />
conciliar, às vezes é até provocar crise.<br />
Eu acho que esse trabalho po<strong>de</strong> ser<br />
feito por alguém que tenha treinamento<br />
e preparo para isso. Po<strong>de</strong> ser uma<br />
assistente social, uma pessoa da área <strong>de</strong><br />
humanas, mas necessariamente que<br />
tenha um treinamento para trabalhar<br />
em grupo. Eu penso que é muito mais<br />
uma questão <strong>de</strong> talento pessoal <strong>do</strong> que<br />
<strong>de</strong> formação técnica. A sensibilida<strong>de</strong> e<br />
a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> conciliação muitas<br />
vezes vem <strong>de</strong> um talento <strong>de</strong>senvolvi<strong>do</strong><br />
pela própria personalida<strong>de</strong> da pessoa.<br />
Tem pessoas que tem uma formação
individual mais adaptada a essa tarefa<br />
<strong>do</strong> que um técnico. Eu tenho uma certa<br />
resistência da gente circunscrever<br />
algumas áreas <strong>de</strong> relacionamento ao<br />
técnico. Acho que é muito mais pelo<br />
bom senso e pela sensibilida<strong>de</strong> pessoal.<br />
No caso <strong>do</strong>s conflitos judiciais,<br />
acredito que para dirimir conflitos<br />
menores é importante haver uma<br />
autorida<strong>de</strong> constituída, reconhecida,<br />
que possa fazer a conciliação. Agora,<br />
esta autorida<strong>de</strong> tem que ter bom senso<br />
e sensibilida<strong>de</strong> social. Uma pessoa<br />
madura, estruturada, que conheça<br />
gente, po<strong>de</strong>n<strong>do</strong> ser um religioso, um<br />
técnico, entre outros.<br />
isso à <strong>de</strong>fesa da socieda<strong>de</strong>. Ele vai<br />
mais além e vai exigir <strong>do</strong> Promotor<br />
mais <strong>do</strong> que uma postura técnica. Ele<br />
vai exigir uma postura humana e<br />
ética, no seu exercício <strong>de</strong> <strong>de</strong>fensor da<br />
Lei. O Promotor tem em alguns<br />
momentos que promover a crise em<br />
<strong>de</strong>fesa da socieda<strong>de</strong> e não tentar<br />
acomodá-la. Um exemplo prático é<br />
que muitas vezes você tem uma<br />
instituição criada que foi toda<br />
constituída para abrigar cem pessoas<br />
a<strong>de</strong>quadamente, como exige o padrão<br />
<strong>de</strong> atendimento <strong>de</strong>ntro da Lei. Se<br />
alguém colocar uma pessoa a mais<br />
nesse local está rompen<strong>do</strong> com isso e<br />
essa crise não po<strong>de</strong> ser acomodada,<br />
pois quem coloca cento e um, coloca<br />
muito mais... Então, essa exigência<br />
da responsabilização <strong>de</strong> um gestor<br />
Entrevista / José Carlos <strong>de</strong> Escobar<br />
outros da lista também não possam<br />
cumprir bem esse papel, ou talvez<br />
escolha aquele que ele enten<strong>de</strong> que não<br />
criará problema para ele. Qual o<br />
critério da escolha? O Promotor muitas<br />
vezes vai atuar contra o Esta<strong>do</strong> e como<br />
ele po<strong>de</strong> ser escolhi<strong>do</strong> por alguém <strong>do</strong><br />
Esta<strong>do</strong>? Isso é uma distorção que a<br />
Constituição traz. Não estou critican<strong>do</strong><br />
o atual Procura<strong>do</strong>r, que po<strong>de</strong> ser uma<br />
pessoa idônea e isenta. O que estou<br />
discutin<strong>do</strong> é que essa forma <strong>de</strong> escolha<br />
é perversa, porque fundamentalmente<br />
para isso o <strong>Ministério</strong> <strong>Público</strong> precisa<br />
<strong>de</strong> in<strong>de</strong>pendência. É uma distorção que<br />
alguém <strong>de</strong> outro po<strong>de</strong>r <strong>de</strong>termine quem<br />
vai comandar o <strong>Ministério</strong> <strong>Público</strong>.<br />
Dfato - Procura<strong>do</strong>res e Promotores <strong>de</strong><br />
Justiça <strong>de</strong>senvolvem estresse em razão<br />
DFato - De que forma a <strong>Associação</strong><br />
<strong>de</strong> suas ativida<strong>de</strong>s, às vezes resultan<strong>do</strong><br />
<strong>do</strong> <strong>Ministério</strong> <strong>Público</strong>, entida<strong>de</strong> que<br />
em problemas físicos e<br />
congrega Promotores e<br />
psicológicos. Como<br />
Procura<strong>do</strong>res <strong>de</strong> Justiça,<br />
enfrentar com equilíbrio<br />
po<strong>de</strong> contribuir para uma<br />
estas questões?<br />
melhor preparação<br />
psicológica <strong>de</strong> seus<br />
Escobar - Com o ...Eu acho que talvez a expectativa da<br />
associa<strong>do</strong>s para o exercício<br />
reconhecimento da socieda<strong>de</strong> seja <strong>de</strong> que o Promotor venha a ser<br />
<strong>de</strong> sua função?<br />
própria limitação e das o seu <strong>de</strong>fensor e não só da Lei. Essa é uma<br />
dificulda<strong>de</strong>s. Quem coisa muito subjetiva <strong>de</strong> cada um. Muitas vezes Escobar - Eu acho que<br />
trabalha com saú<strong>de</strong> às a <strong>de</strong>fesa da socieda<strong>de</strong> exige que se crie uma <strong>de</strong>ntro da questão da saú<strong>de</strong><br />
vezes se <strong>de</strong>para com a<br />
crise...<br />
mental <strong>do</strong> Promotor, a<br />
situação <strong>de</strong> qual o<br />
<strong>Associação</strong> po<strong>de</strong> ser um<br />
paciente que manda para<br />
agente <strong>de</strong> promoção para o<br />
a UTI, quan<strong>do</strong> existem<br />
encontro <strong>de</strong>sses grupos, até<br />
três pessoas e apenas<br />
mesmo <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ntificar qual<br />
uma vaga. Você vai ter<br />
que ter alguns critérios e o restante público cria uma crise institucional,<br />
seria o melhor grupo e<br />
você vai ter que enfrentar. A angústia é mas é importante que isso aconteça, ofertar isso. Para tal é só i<strong>de</strong>ntificar<br />
inerente à profissão. O Promotor que para que as pessoas não se<br />
profissionais que possam exercer essa<br />
manda alguém para a ca<strong>de</strong>ia vai acomo<strong>de</strong>m a um aspecto perverso das função e promover isso junto aos<br />
acompanhar a <strong>do</strong>r da família, mas tem instituições. Dentro da sua postura associa<strong>do</strong>s. Um Promotor aposenta<strong>do</strong>,<br />
que cumprir seu papel. Por isso a técnica o Promotor po<strong>de</strong> acomodar pela experiência acumulada <strong>do</strong>s anos e<br />
importância <strong>do</strong>s grupos, local em que isso, mas não seria uma atitu<strong>de</strong> ética. pelas dificulda<strong>de</strong>s enfrentadas po<strong>de</strong><br />
você vai dividir isso coletivamente. Eu acho que talvez a expectativa da cumprir esse papel. Com um<br />
socieda<strong>de</strong> seja <strong>de</strong> que o Promotor treinamento específico essa pessoa<br />
DFato - O papel constitucional <strong>do</strong> venha a ser o seu <strong>de</strong>fensor e não só po<strong>de</strong> cumprir esse papel <strong>de</strong><br />
Promotor <strong>de</strong> Justiça é a <strong>de</strong>fesa da da Lei. Essa é uma coisa muito concilia<strong>do</strong>r, <strong>de</strong> coor<strong>de</strong>na<strong>do</strong>r, e<br />
socieda<strong>de</strong>. Na sua avaliação<br />
subjetiva <strong>de</strong> cada um. Muitas vezes a trabalhar com o grupo para reduzir<br />
profissional, quais são as perspectivas <strong>de</strong>fesa da socieda<strong>de</strong> exige que se crie essas angústias. Acho que a<br />
<strong>de</strong> atuação e os <strong>de</strong>safios a serem uma crise. A gente não po<strong>de</strong> se <strong>Associação</strong> po<strong>de</strong>ria encabeçar esse<br />
supera<strong>do</strong>s pela classe?<br />
acomodar para não criar atrito e trabalho, contan<strong>do</strong> também com<br />
problema institucional. Eu acho uma profissionais <strong>de</strong> fora, inclusive<br />
Escobar - A ação <strong>do</strong> Promotor <strong>de</strong> aberração, por exemplo, que o técnicos da área <strong>de</strong> psicologia e<br />
Justiça tem <strong>do</strong>is aspectos: o ético e governa<strong>do</strong>r escolha o Procura<strong>do</strong>r psiquiatria. A execução da<br />
técnico. O técnico se restringe ao Geral <strong>de</strong> Justiça. Ele vai escolher coor<strong>de</strong>nação <strong>de</strong>sse trabalho é que<br />
aprofundamento <strong>do</strong> conhecimento da aquele que no seu enten<strong>de</strong>r melhor necessariamente <strong>de</strong>veria ser <strong>de</strong> uma<br />
Lei e da sua <strong>de</strong>fesa e o ético une tu<strong>do</strong> <strong>de</strong>fenda a socieda<strong>de</strong>, como se os pessoa advinda <strong>do</strong> <strong>Ministério</strong> <strong>Público</strong>.<br />
07
Artigo<br />
Uma verda<strong>de</strong> inconveniente<br />
O crime como uma opção<br />
antiética no Brasil<br />
* Patricia Ban<strong>de</strong>ira <strong>de</strong> Melo<br />
Em plena juventu<strong>de</strong> da Constituição<br />
Fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong> 1988, qual o olhar que os<br />
indivíduos lançam sobre a socieda<strong>de</strong><br />
brasileira <strong>do</strong> século XXI? A verda<strong>de</strong><br />
inconveniente que queremos contar é<br />
uma reflexão para os promotores <strong>de</strong><br />
Justiça corajosos <strong>do</strong> Brasil. Enquanto<br />
nas socieda<strong>de</strong>s antigas a unida<strong>de</strong> básica<br />
era a família, na socieda<strong>de</strong> mo<strong>de</strong>rna o<br />
indivíduo centraliza o olhar <strong>do</strong>s<br />
governantes. É para ele que se dirigem<br />
as políticas públicas, ele é o “pivô” das<br />
ações governamentais.<br />
No Brasil, porém, ser indivíduo<br />
parece negativo, a palavra<br />
carrega um senti<strong>do</strong> <strong>de</strong> estar à<br />
margem. Há uma <strong>de</strong>sconfiança<br />
no Esta<strong>do</strong> e no governo, e uma<br />
confiança na família e nos<br />
parentes. O indivíduo, isola<strong>do</strong>,<br />
<strong>de</strong>stituí<strong>do</strong> <strong>de</strong> uma boa re<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />
relações sociais (o chama<strong>do</strong><br />
know-who,<br />
que po<strong>de</strong>mos<br />
traduzir como quem você<br />
conhece?), é marginal porque<br />
não dispõe <strong>de</strong> relacionamento<br />
com políticos, empresários ou<br />
servi<strong>do</strong>res da lei para facilitar o<br />
“trânsito” social. Assim, ser<br />
brasileiro parece difícil, porque<br />
a Constituição Fe<strong>de</strong>ral não se traduz<br />
igualmente para os <strong>de</strong>stituí<strong>do</strong>s <strong>de</strong> boas<br />
relações.<br />
Falarmos <strong>de</strong> paz e segurança pública<br />
no contexto atual <strong>do</strong> Brasil remete-nos<br />
ao crime <strong>de</strong> rua que nos assusta no<br />
cotidiano. Ao pensarmos no crime, o<br />
senso comum nos força a associá-lo ao<br />
pobre. Este me<strong>do</strong> coletivo <strong>de</strong>corre da<br />
condição <strong>de</strong> ”ninguém” <strong>de</strong>terminada ao<br />
pobre, <strong>de</strong>pois da construção imaginária<br />
que o jogou à marginalida<strong>de</strong>.<br />
Destituí<strong>do</strong> <strong>de</strong> uma boa re<strong>de</strong> <strong>de</strong> relações,<br />
o pobre é associa<strong>do</strong> ao crime e recebe<br />
esta i<strong>de</strong>ntificação sem que haja<br />
correlação efetiva que a justifique, ele é<br />
o bo<strong>de</strong> expiatório escolhi<strong>do</strong> por aqueles<br />
08<br />
que são “alguém” políticos e<br />
encarrega<strong>do</strong>s das instituições<br />
responsáveis pela or<strong>de</strong>m pública<br />
para pagar por toda sorte <strong>de</strong> crime no<br />
Brasil.<br />
Precisamos refletir: quem tem<br />
po<strong>de</strong>r para <strong>de</strong>finir o que é o agir<br />
<strong>de</strong>linquente e quem é criminoso?<br />
Quan<strong>do</strong> a lei associa significa<strong>do</strong>s<br />
negocia<strong>do</strong>s no Congresso Nacional e<br />
hierarquiza o agir criminoso está, em<br />
tese, aten<strong>de</strong>n<strong>do</strong> a um clamor social, a<br />
uma disputa <strong>de</strong> senti<strong>do</strong>s <strong>do</strong> que é pior<br />
em termos <strong>de</strong> ação humana.<br />
...Destituí<strong>do</strong> <strong>de</strong> uma boa re<strong>de</strong> <strong>de</strong> relações, o<br />
pobre é associa<strong>do</strong> ao crime e recebe esta<br />
i<strong>de</strong>ntificação sem que haja correlação efetiva que<br />
a justifique, ele é o bo<strong>de</strong> expiatório escolhi<strong>do</strong> por<br />
aqueles que são “alguém”...<br />
Significa<strong>do</strong>s são negocia<strong>do</strong>s e<br />
hierarquiza<strong>do</strong>s sobre as ações. Estes<br />
agentes autoriza<strong>do</strong>s protegem, <strong>de</strong><br />
alguma forma, o po<strong>de</strong>r e a posição <strong>de</strong><br />
alguns grupos na estrutura social.<br />
Ainda que na socieda<strong>de</strong><br />
contemporânea <strong>de</strong>svios <strong>de</strong> recursos<br />
públicos, sonegação fiscal, frau<strong>de</strong>s e<br />
ações violentas sejam estabelecidas<br />
como crimes, na lógica <strong>de</strong> valor <strong>do</strong><br />
senti<strong>do</strong>, os chama<strong>do</strong>s crimes <strong>de</strong> rua<br />
são mais sérios <strong>do</strong> que os crimes <strong>de</strong><br />
colarinho branco.<br />
Não por acaso, a lei foi aos poucos<br />
<strong>de</strong>scriminalizan<strong>do</strong> e medicalizan<strong>do</strong> o<br />
consumi<strong>do</strong>r <strong>de</strong> drogas normalmente<br />
<strong>de</strong> classes média e alta e<br />
criminalizan<strong>do</strong> o traficante em geral,<br />
<strong>de</strong> classe pobre. Esta competição <strong>de</strong><br />
significação <strong>do</strong> que vem a ser pior fica<br />
clara no caso das drogas com a divisão<br />
<strong>de</strong> senti<strong>do</strong> entre consumo e tráfico após<br />
os anos 60: os consumi<strong>do</strong>res eram<br />
rotula<strong>do</strong>s <strong>de</strong> fracos e tristes,<br />
corrompi<strong>do</strong>s pelos traficantes e<br />
passíveis <strong>de</strong> tratamento. Os traficantes<br />
eram tipos maus que mereciam<br />
punição. Isso foi a pedra fundamental<br />
para anos <strong>de</strong><br />
permissivida<strong>de</strong>, que<br />
fomentou a consequente (e<br />
talvez fracassada) guerra<br />
contra as drogas nos anos<br />
posteriores.<br />
Fala-se que o problema<br />
no Brasil é <strong>de</strong> educação,<br />
mas não é apenas. Na<br />
verda<strong>de</strong>, é <strong>de</strong> ética. Isso<br />
porque ricos e pobres que<br />
têm ética são honestos.<br />
Esta regra não vale para os<br />
<strong>do</strong>utores que sonegam<br />
impostos no Brasil e<br />
aproveitam as<br />
oportunida<strong>de</strong>s <strong>do</strong> know-who para se<br />
proteger da lei. Vejamos o exemplo da<br />
última semana <strong>de</strong> maio <strong>de</strong>ste ano:<br />
cerca <strong>de</strong> 70 jovens entre 20 e 30 anos<br />
foram presos por crimes <strong>de</strong> roubo<br />
cibernético (acesso a contas correntes e<br />
<strong>de</strong>svio <strong>do</strong> dinheiro). A <strong>de</strong>claração <strong>do</strong><br />
policial fe<strong>de</strong>ral foi a<strong>de</strong>quada: to<strong>do</strong>s<br />
jovens, inteligentes e com formação,<br />
“estão no crime por escolha”. É isso:<br />
pensar no crime como uma opção ética<br />
em verda<strong>de</strong>, antiética.<br />
Explicações simplistas que associam<br />
o crime à pobreza esquecem <strong>de</strong><br />
explicar o crime <strong>de</strong> políticos,<br />
empresários e <strong>de</strong> juízes e advoga<strong>do</strong>s<br />
envolvi<strong>do</strong>s com a criminalida<strong>de</strong>,
inclusive com o uso da violência. O<br />
crime, como um <strong>de</strong>svio <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> um<br />
contexto social em que as regras em<br />
vigor são conhecidas pela coletivida<strong>de</strong>,<br />
está associa<strong>do</strong> à ética. O problema<br />
brasileiro é <strong>de</strong> crise ética. Logo, falta<br />
segurança pública porque falta ética aos<br />
indivíduos. E isso é mais complexo <strong>do</strong><br />
que esten<strong>de</strong>r à coletivida<strong>de</strong> a educação<br />
formal (ressalte-se que não <strong>de</strong>vemos<br />
nunca ser contra políticas públicas <strong>de</strong><br />
acesso à educação, habitação e saú<strong>de</strong>!<br />
Mas não po<strong>de</strong>mos apostar todas as<br />
fichas <strong>de</strong> que isso é suficiente para<br />
trazer paz ao Brasil).<br />
A lógica <strong>do</strong> lucro <strong>de</strong>senfrea<strong>do</strong> e <strong>do</strong><br />
pagamento <strong>de</strong> salários irrisórios, da<br />
sonegação <strong>de</strong> impostos, <strong>do</strong> <strong>de</strong>svio <strong>de</strong><br />
verbas públicas, da locupletação <strong>do</strong><br />
lugar político que se ocupa, <strong>do</strong> uso <strong>de</strong><br />
passagens aéreas para interesse<br />
particular, <strong>de</strong> telefones institucionais<br />
para problemas pessoais e <strong>de</strong> cartões<br />
corporativos para consumo próprio não<br />
está acessível aos criminosos <strong>de</strong> classe<br />
social pobre. Esses usam as armas,<br />
evi<strong>de</strong>ncian<strong>do</strong> a diferença <strong>de</strong> como se<br />
rouba a <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>r <strong>do</strong> lugar social que se<br />
ocupa.<br />
Há forte apelo político na associação<br />
entre crime e pobreza, mas os mo<strong>de</strong>los<br />
econométricos que testaram esta<br />
relação indicam que a correlação entre<br />
<strong>de</strong>semprego, pobreza, níveis salariais e<br />
ciclos econômicos é baixa, não<br />
possuin<strong>do</strong> impacto significativo sobre a<br />
criminalida<strong>de</strong>. Por exemplo, na crise<br />
econômica entre 1980 e 1983, a<br />
criminalida<strong>de</strong> no Rio <strong>de</strong> Janeiro e em<br />
São Paulo caiu. Em senti<strong>do</strong> inverso,<br />
quan<strong>do</strong> houve melhoria da oferta <strong>de</strong><br />
emprego, entre 1981 e 1985, houve<br />
aumento da criminalida<strong>de</strong> nas duas<br />
cida<strong>de</strong>s.<br />
O vínculo entre pobreza e<br />
criminalida<strong>de</strong> é perverso e espúrio<br />
porque tipifica um conjunto <strong>de</strong><br />
indivíduos pobres como potenciais<br />
invasores, <strong>de</strong>strui<strong>do</strong>res, saquea<strong>do</strong>res.<br />
O crime como estratégia <strong>de</strong><br />
sobrevivência não sobrevive como<br />
explicação porque nas comunida<strong>de</strong>s<br />
pobres vivem inúmeros indivíduos<br />
que não cometem crimes (são nossas<br />
babás, empregadas <strong>do</strong>mésticas,<br />
motoristas, vigilantes). É verda<strong>de</strong> que<br />
existe uma espécie <strong>de</strong> criminalida<strong>de</strong><br />
praticada por pobres, e que recebe<br />
maior visibilida<strong>de</strong> e reação moral: o<br />
crime <strong>de</strong> rua. Como já dissemos, o<br />
contexto social <strong>de</strong>sse criminoso lhe<br />
dá acesso a meios materiais, as<br />
armas para a sua prática.<br />
Em parte, o crime <strong>de</strong> rua po<strong>de</strong> ser<br />
associa<strong>do</strong> à intenção <strong>de</strong> obter ganhos<br />
financeiros, no caso <strong>de</strong> indivíduos<br />
das classes pobres: assaltos,<br />
sequestros, cárceres priva<strong>do</strong>s. Mas,<br />
como vimos, não explica os crimes<br />
pratica<strong>do</strong>s por membros da elite<br />
econômica e política, que dispõem<br />
<strong>do</strong>s meios legítimos para satisfazer<br />
êxitos pecuniários e ainda assim<br />
cometem crimes cujo objetivo não é<br />
monetário: estupros, violência<br />
<strong>do</strong>méstica, incestos. Estas ações<br />
apresentam um outro tipo <strong>de</strong><br />
vantagem <strong>de</strong> or<strong>de</strong>m psicológica e<br />
social: é a expressão da virilida<strong>de</strong>, <strong>do</strong><br />
po<strong>de</strong>r e da aventura, é prova <strong>de</strong><br />
coragem e expressão da <strong>de</strong>fesa da<br />
honra, a lógica <strong>de</strong> tirar vantagem<br />
sempre.<br />
A incapacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> enten<strong>de</strong>r as<br />
razões <strong>de</strong> atos criminosos <strong>de</strong><br />
violência <strong>de</strong>smedida nos faz associálos<br />
a ritos satânicos, monstros e<br />
<strong>do</strong>enças mentais. No meio disso, há<br />
um Esta<strong>do</strong> que reproduz a falta <strong>de</strong><br />
ética, insuficiente, aparta<strong>do</strong>, para dar<br />
segurança aos indivíduos e conter a<br />
violência privada <strong>do</strong>s proprietários<br />
2. Po<strong>de</strong>mos pensar em outras perspectivas: é o “<strong>de</strong> quem você é filho?”, “qual é mesmo o seu sobrenome?”, “você é parente <strong>de</strong><br />
quem?”.<br />
3. COELHO, Edmun<strong>do</strong> Campos. A Oficina <strong>do</strong> Diabo e outros estu<strong>do</strong>s sobre criminalida<strong>de</strong>. Rio <strong>de</strong> Janeiro: Record, 2005.<br />
4. ZALUAR, Alba. Dilemas da segurança pública no Brasil. In: ZALUAR, Alba, MISSE, Michel, BOURGOIS, Josephine, TEIXEIRA,<br />
Paulo Augusto Souza, BROWNE, Terry Crawford, PETERS, Rebecca, NARVAEZ, Leonel & BINGEMER, Maria Clara Lucchetti.<br />
Desarmamento, segurança pública e cultura <strong>de</strong> paz. Rio <strong>de</strong> Janeiro: Fundação Konrad A<strong>de</strong>nauer, Ca<strong>de</strong>rnos A<strong>de</strong>nauer VI, n. 3, out.<br />
2005, pp. 11-23.<br />
Artigo<br />
<strong>de</strong> terra aos grupos priva<strong>do</strong>s <strong>de</strong><br />
segurança. Como afirma Alba Zaluar,<br />
“o me<strong>do</strong> é, digamos, estrutural, está na<br />
condição <strong>de</strong> sujeito <strong>de</strong>ste Esta<strong>do</strong>”<br />
(ZALUAR, 2005, p. 14).<br />
Um processo <strong>de</strong> socialização<br />
imperfeita e a <strong>de</strong>sor<strong>de</strong>m familiar<br />
(como uma formação em que os pais<br />
ensinam a tirar vantagem em tu<strong>do</strong>,<br />
como vencer acima <strong>de</strong> tu<strong>do</strong>, sem o<br />
senti<strong>do</strong> <strong>de</strong> solidarieda<strong>de</strong>, carida<strong>de</strong> e<br />
respeito ao outro) contribuem para o<br />
aban<strong>do</strong>no <strong>do</strong>s meios legítimos <strong>de</strong><br />
alcance aos objetivos culturais, como<br />
resulta<strong>do</strong> <strong>de</strong> lares <strong>de</strong>sfeitos, problema,<br />
herança genética, <strong>de</strong>sorganização<br />
social. Se isso ajuda a compreen<strong>de</strong>r as<br />
diferenças entre as taxas <strong>de</strong> crimes e os<br />
tipos <strong>de</strong> <strong>de</strong>svio pratica<strong>do</strong>s por<br />
indivíduos <strong>de</strong> estratos sociais<br />
diferentes, não dá conta <strong>de</strong> explicar os<br />
casos <strong>de</strong> criminosos que têm famílias<br />
estruturadas e tiveram acesso à<br />
educação formal.<br />
Este é um nó que precisamos<br />
<strong>de</strong>satar para acabar com o discurso<br />
fácil <strong>de</strong> que há sempre uma relação<br />
causal entre <strong>de</strong>sestruturação familiar,<br />
pobreza e crime. Eis o cenário <strong>de</strong><br />
agora e <strong>do</strong> futuro no Brasil. Os<br />
promotores <strong>de</strong> Justiça comprometi<strong>do</strong>s<br />
com a ética precisam olhar <strong>de</strong> frente<br />
para isso, porque as verda<strong>de</strong>s<br />
inconvenientes normalmente são<br />
embebidas <strong>de</strong> um senti<strong>do</strong> <strong>de</strong> loucura<br />
<strong>do</strong>s que se arvoram a contá-las.<br />
Assumo a minha parcela <strong>de</strong><br />
insanida<strong>de</strong>.<br />
* Pesquisa<strong>do</strong>ra da Fundação Joaquim<br />
Nabuco, mestre em Comunicação e<br />
<strong>do</strong>utoranda pelo Programa <strong>de</strong> Pósgraduação<br />
em Sociologia da Universida<strong>de</strong><br />
Fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong> <strong>Pernambuco</strong>, on<strong>de</strong> está<br />
<strong>de</strong>senvolven<strong>do</strong> a pesquisa <strong>de</strong> tese Entre<br />
atos e fatos: o discurso midiático sobre o<br />
crime violento e o trauma cultural <strong>do</strong> me<strong>do</strong><br />
no Brasil.<br />
09 07
Matéria<br />
Atuação<br />
Persistência e integração reduzem ação <strong>de</strong> g<br />
Aatuação da Promotora <strong>de</strong> Justiça Natália Maria Campelo,<br />
que é titular da 5ª Promotoria <strong>de</strong> Justiça Criminal <strong>de</strong><br />
Jaboatão <strong>do</strong>s Guararapes, po<strong>de</strong>ria ser restrita a oferecer<br />
<strong>de</strong>núncias sobre crimes <strong>do</strong>losos contra a vida no município, sem<br />
buscar alguma relação entre eles, ou aprofundar as investigações.<br />
Mas ela optou por não se limitar a isso! A percepção <strong>de</strong> que vários<br />
<strong>do</strong>s crimes que aconteciam em Jaboatão tinham características<br />
<strong>de</strong> execução, levou a Promotora a dar início a um trabalho árduo<br />
<strong>de</strong> combate ao crime organiza<strong>do</strong> no município.<br />
Fatos como inexistência <strong>de</strong><br />
testemunhas, a reincidência da<br />
prática <strong>de</strong> assassinatos por parte das<br />
mesmas pessoas e a constatação da<br />
presença <strong>do</strong> me<strong>do</strong> nas comunida<strong>de</strong>s,<br />
com a ausência total <strong>de</strong><br />
informações, foram características<br />
que reforçaram o perfil <strong>do</strong>s crimes.<br />
Em <strong>de</strong>termina<strong>do</strong> momento surgiu<br />
a oportunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> fazer um trabalho<br />
com grupos <strong>de</strong> extermínio, fato que,<br />
segun<strong>do</strong> ela, não teria se<br />
concretiza<strong>do</strong> se não fosse o<br />
entrosamento e parceria<br />
formalizadas com a polícia civil,<br />
através <strong>do</strong> Departamento <strong>de</strong><br />
Homicídios e Proteção à Pessoa –<br />
DHPP.<br />
Por outro la<strong>do</strong>, as iniciativas<br />
a<strong>do</strong>tadas também resultaram em<br />
alterações no cotidiano da<br />
Promotora que passou a contar com<br />
a companhia constante <strong>de</strong> um<br />
Ação conjunta <strong>do</strong> MP e SDS surtiram efeitos concretos<br />
10<br />
policial militar, dada a gravida<strong>de</strong><br />
<strong>do</strong>s fatos apura<strong>do</strong>s.<br />
Apesar das evidências<br />
constatadas pela Promotora<br />
Natália Campelo, que na ocasião<br />
atuava em parceria com o<br />
Promotor <strong>de</strong> Justiça Marcos<br />
Carvalho, segun<strong>do</strong> ela, era<br />
necessário reunir informações<br />
para a realização <strong>de</strong> um trabalho<br />
mais consistente. A Operação<br />
Pieda<strong>de</strong> Vida, realizada no mês <strong>de</strong><br />
julho <strong>de</strong> 2007, uma ação rápida<br />
que resultou em 19 pessoas<br />
<strong>de</strong>nunciadas, representou o<br />
“pontapé inicial” para uma<br />
sucessão <strong>de</strong> iniciativas que<br />
contribuíram para o resgate da<br />
confiança da população <strong>de</strong><br />
Jaboatão. “A impunida<strong>de</strong> é<br />
resulta<strong>do</strong> da falta <strong>de</strong> colaboração<br />
da comunida<strong>de</strong>, mas isso não era<br />
feito porque as pessoas não<br />
se sentiam seguras. A partir<br />
<strong>do</strong>s resulta<strong>do</strong>s apresenta<strong>do</strong>s,<br />
passamos a receber<br />
contribuições”, atestou.<br />
Mas a primeira gran<strong>de</strong><br />
operação <strong>de</strong>senca<strong>de</strong>ada em<br />
Jaboatão aconteceu em<br />
novembro <strong>de</strong> 2007, quan<strong>do</strong><br />
foi realizada a maior ação <strong>de</strong><br />
combate ao crime<br />
organiza<strong>do</strong> no município: a<br />
Características <strong>do</strong>s crimes levaram a Promotora Natália Cam<br />
Operação Canaã, que na sua etapa<br />
inicial resultou na prisão <strong>de</strong> 30<br />
pessoas. Outra fase importante veio<br />
em janeiro/2008, quan<strong>do</strong> o<br />
<strong>Ministério</strong> <strong>Público</strong> ofereceu a<br />
<strong>de</strong>núncia, já apontan<strong>do</strong> que havia<br />
<strong>do</strong>is grupos distintos atuan<strong>do</strong> <strong>de</strong>ntro<br />
da Canaã, portanto, que se <strong>de</strong>veria<br />
trabalhar com processos separa<strong>do</strong>s.<br />
Foram 56 <strong>de</strong>nuncia<strong>do</strong>s no primeiro<br />
e mais 7 pessoas em outro processo,<br />
compon<strong>do</strong> o grupo li<strong>de</strong>ra<strong>do</strong> por um<br />
policial militar, conheci<strong>do</strong> por<br />
solda<strong>do</strong> Eduar<strong>do</strong>. Estes indivíduos<br />
até então transitavam livremente
e grupos <strong>de</strong> extermínio em Jaboatão<br />
ália Campelo a i<strong>de</strong>ntificar a ação <strong>de</strong> grupos <strong>de</strong> extermínio em Jaboatão<br />
pelas ruas <strong>de</strong> Jaboatão, dan<strong>do</strong><br />
seguimento a sua trajetória <strong>de</strong><br />
crimes. Matavam<br />
indiscriminadamente por disputa <strong>de</strong><br />
territórios, faziam segurança<br />
privada, assaltos e outros crimes<br />
como receptação, <strong>de</strong>svio <strong>de</strong> cargas e<br />
roubos. “A prisão <strong>do</strong> solda<strong>do</strong><br />
Eduar<strong>do</strong>, que era uma figura<br />
conhecida na cida<strong>de</strong>, impactou as<br />
pessoas e isso gerou uma redução<br />
<strong>do</strong>s crimes em Jaboatão nos cinco<br />
meses que se suce<strong>de</strong>ram ao fato”,<br />
explicou a Promotora.<br />
Trabalho conjunto<br />
O sucesso <strong>do</strong> trabalho<br />
realiza<strong>do</strong> em Jaboatão é para a<br />
Promotora um resulta<strong>do</strong> da<br />
<strong>de</strong>dicação e intercâmbio <strong>de</strong><br />
esforços <strong>do</strong>s entes envolvi<strong>do</strong>s no<br />
senti<strong>do</strong> <strong>de</strong> combater a<br />
criminalida<strong>de</strong>. “Infelizmente<br />
existiam pessoas que praticavam<br />
crimes em Jaboatão há muitos<br />
anos. O trabalho realiza<strong>do</strong> pelo<br />
<strong>Ministério</strong> <strong>Público</strong>, em parceria<br />
com o DHPP transcorreu <strong>de</strong> forma<br />
natural e ágil, isso porque os<br />
Matéria<br />
órgãos estavam imbuí<strong>do</strong>s da<br />
intenção <strong>de</strong> resolver o problema”,<br />
esclareceu.<br />
A redução <strong>do</strong>s índices <strong>de</strong><br />
criminalida<strong>de</strong> no município,<br />
responsável por 12% <strong>do</strong>s crimes<br />
pratica<strong>do</strong>s no Esta<strong>do</strong> <strong>de</strong><br />
<strong>Pernambuco</strong>, ficou evi<strong>de</strong>nte nos<br />
meses <strong>de</strong> novembro/2007 a<br />
março/2008, sen<strong>do</strong> inclusive objeto<br />
<strong>de</strong> comentários positivos por parte<br />
da população local.<br />
A partir <strong>do</strong> sucesso da Operação<br />
Canaã, novas <strong>de</strong>mandas foram<br />
surgin<strong>do</strong> no município. Um pedi<strong>do</strong><br />
<strong>de</strong> proteção <strong>de</strong> um cidadão, que foi<br />
assassina<strong>do</strong> posteriormente,<br />
motivou uma nova investigação: a<br />
Operação Guararapes. Dentro <strong>de</strong>ssa<br />
ação <strong>do</strong> <strong>Ministério</strong> <strong>Público</strong> e da<br />
Secretaria <strong>de</strong> Defesa Social foram<br />
i<strong>de</strong>ntifica<strong>do</strong>s mais três grupos <strong>de</strong><br />
extermínio, que se <strong>de</strong>s<strong>do</strong>braram nas<br />
Operações Guararapes A, que<br />
resultou no indiciamento <strong>de</strong> 10<br />
pessoas; Guararapes B, com o<br />
indiciamento <strong>de</strong> 27 pessoas e a<br />
Guararapes C, com 17 indicia<strong>do</strong>s.<br />
O andamento das investigações<br />
<strong>de</strong>ssa Operação também é<br />
comemora<strong>do</strong> pela Promotora,<br />
informan<strong>do</strong> que <strong>do</strong>s três grupos da<br />
Guararapes, um já se encontra na<br />
fase <strong>de</strong> alegações finais e nos<br />
<strong>de</strong>mais já se encerraram as oitivas<br />
das testemunhas. “Muitas pessoas<br />
acharam que o processo não iria<br />
andar, mas nós tivemos um<br />
resulta<strong>do</strong> inicial muito bom, o que<br />
vem contribuin<strong>do</strong>, inclusive, para o<br />
resgate da credibilida<strong>de</strong> das<br />
instituições”, comemorou.<br />
Uma das mais recentes ações<br />
contra o crime organiza<strong>do</strong> realizada<br />
no município foi a Operação<br />
11
Matéria<br />
Pescaria, no bairro <strong>do</strong> Cura<strong>do</strong> IV,<br />
que aconteceu no mês <strong>de</strong> maio <strong>de</strong><br />
2008, sen<strong>do</strong> mais uma vez exitosa,<br />
resultan<strong>do</strong> no indiciamento <strong>de</strong> nove<br />
pessoas.<br />
Mesmo externan<strong>do</strong> que muito<br />
ainda precisa ser feito em Jaboatão,<br />
a Promotora Natália Campelo se diz<br />
satisfeita com o resulta<strong>do</strong> <strong>do</strong><br />
trabalho realiza<strong>do</strong> até o momento,<br />
Os crimes pratica<strong>do</strong>s em Jaboatão<br />
<strong>do</strong>s Guararapes vão muito além <strong>do</strong>s<br />
caracteriza<strong>do</strong>s como crimes <strong>do</strong>losos<br />
contra a vida. Outra questão que<br />
atormenta a população e assoberba <strong>de</strong><br />
trabalho as três varas criminais <strong>do</strong><br />
município são <strong>de</strong>litos presentes no<br />
cotidiano das pessoas como o sequestro<br />
e o tráfico <strong>de</strong> drogas.<br />
Atuan<strong>do</strong> em Jaboatão <strong>de</strong>s<strong>de</strong> abril/1999,<br />
a Promotora <strong>de</strong> Justiça Érika Loaysa<br />
Elias <strong>de</strong> Farias diz que ao chegar ao<br />
município havia um gran<strong>de</strong> número <strong>de</strong><br />
seqüestros em Jaboatão, índices que<br />
foram reduzi<strong>do</strong>s pela ação constante <strong>do</strong><br />
<strong>Ministério</strong> <strong>Público</strong> no combate a essa<br />
prática. Mas apesar da redução <strong>de</strong>ssa<br />
modalida<strong>de</strong> <strong>de</strong> crime, nos últimos <strong>do</strong>is<br />
anos houve uma mudança <strong>de</strong> perfil<br />
<strong>de</strong>sses <strong>de</strong>litos, passan<strong>do</strong> o tráfico <strong>de</strong><br />
drogas a figurar como o principal crime<br />
cometi<strong>do</strong> no município. “No início o<br />
seqüestro era a gran<strong>de</strong> <strong>de</strong>manda <strong>de</strong><br />
Jaboatão, até que conseguimos reduzir<br />
esses índices. Hoje, nossa gran<strong>de</strong><br />
<strong>de</strong>manda está relacionada ao tráfico,<br />
que é mais lucrativo e rentável para<br />
quem o pratica”, informou a<br />
Promotora.<br />
Dedicada e apaixonada pelo que faz a<br />
Promotora Érika Loaysa acumula<br />
atualmente a 1ª e 2ª Varas, no último<br />
mês <strong>de</strong> julho foi responsável pela 3ª<br />
Vara e ainda junta às suas ativida<strong>de</strong>s a<br />
responsabilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> acumular a 147ª<br />
zona eleitoral. Para dar conta <strong>do</strong><br />
número <strong>de</strong> processos sob sua<br />
responsabilida<strong>de</strong>, a Promotora afirma<br />
que é preciso abrir mão da vida pessoal,<br />
12<br />
<strong>de</strong>stacan<strong>do</strong> que atualmente<br />
existem mais <strong>de</strong> 450 réus presos<br />
na Comarca <strong>de</strong> Jaboatão. Mas<br />
para que essa ação tenha<br />
continuida<strong>de</strong> a Promotora lembra<br />
que é imprescindível a<br />
colaboração da população. “O<br />
número <strong>de</strong> presos pelas operações<br />
é relativamente alto, mas ainda<br />
precisamos fazer muito. Só<br />
através <strong>de</strong> um esforço integra<strong>do</strong><br />
Érica Loaysa aponta o tráfico <strong>de</strong> drogas como<br />
principal crime pratica<strong>do</strong> atualmente em Jaboatão<br />
po<strong>de</strong>remos ir além. As penas para<br />
as pessoas têm que ser compatíveis<br />
com o crime pratica<strong>do</strong>, mas o que<br />
inibe a criminalida<strong>de</strong> é a certeza da<br />
punição”, disse. Além <strong>do</strong> repasse <strong>de</strong><br />
informações pela população, a<br />
Promotora <strong>de</strong>stacou que a solução<br />
<strong>do</strong> problema não está apenas com<br />
repressão qualificada. “É preciso<br />
presença <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> e agilida<strong>de</strong> das<br />
instituições”, concluiu.<br />
Trabalho <strong>do</strong> MP reduz número <strong>de</strong> sequestros<br />
inclusive <strong>de</strong>stinan<strong>do</strong> parte <strong>do</strong>s finais<br />
<strong>de</strong> semana ao trabalho. “Com esse<br />
acúmulo <strong>de</strong> <strong>de</strong>mandas acabamos<br />
pagan<strong>do</strong> com a saú<strong>de</strong>. Em<br />
janeiro/2008 também acumulei três<br />
Promotorias e no final <strong>do</strong> mês estava<br />
com cinco problemas relaciona<strong>do</strong>s ao<br />
estresse”, lembrou.<br />
A Promotora informou que já<br />
solicitou à Procura<strong>do</strong>ria-Geral <strong>de</strong><br />
Justiça a <strong>de</strong>signação <strong>de</strong> um Promotor<br />
para a 1ª Vara, o que irá possibilitar<br />
que ela se <strong>de</strong>dique integralmente<br />
aos quase 1.200 processos que<br />
tramitam na 2ª Vara, da qual é<br />
titular. Sem ver seu pleito<br />
atendi<strong>do</strong>, Érica Loaysa diz que só<br />
contou com ajuda externa no<br />
perío<strong>do</strong> <strong>de</strong> 2002/2003, quan<strong>do</strong><br />
Promotores que atuavam no<br />
Núcleo Integra<strong>do</strong> <strong>de</strong> Repressão à<br />
Criminalida<strong>de</strong> Organizada –<br />
NIRCO, realizaram um trabalho<br />
no município <strong>de</strong> combate à<br />
pirataria. “Apesar da presença <strong>do</strong><br />
NIRCO o trabalho foi<br />
direciona<strong>do</strong>, não se configuran<strong>do</strong><br />
em ajuda às <strong>de</strong>mandas <strong>do</strong> dia-adia<br />
da Promotoria”, esclareceu.<br />
Ressaltan<strong>do</strong> que é uma pessoa <strong>de</strong><br />
perfil centraliza<strong>do</strong>r Érica Loaysa<br />
admite que tem dificulda<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />
trabalhar em grupo e que mesmo<br />
se colocan<strong>do</strong> à disposição da<br />
Secretaria <strong>de</strong> Defesa Social, as<br />
<strong>de</strong>mandas são sempre resolvidas<br />
com cada um atuan<strong>do</strong><br />
isoladamente. “Nunca tive<br />
dificulda<strong>de</strong>s com a SDS para a<br />
realização <strong>do</strong> meu trabalho, mas prefiro<br />
atuar só, pois eu mesma imponho meu<br />
ritmo”, frisou.<br />
O perfil exigente e extremamente<br />
responsável da Promotora é consi<strong>de</strong>ra<strong>do</strong><br />
por ela não uma característica própria,<br />
mas apenas um reconhecimento da sua<br />
responsabilida<strong>de</strong> perante a socieda<strong>de</strong>.<br />
“Eu fiz um juramento, sou paga para<br />
isso e levo muito a sério meu trabalho. É<br />
um compromisso pessoal que assumi<br />
com a socieda<strong>de</strong> e sempre cumpro as<br />
promessas que faço”, enfatizou.
Efetiva e gratuita contribuição à<br />
causa da infância e da juventu<strong>de</strong><br />
* Francisco Cruz Rosa<br />
Não são raras as vezes em que<br />
tomamos conhecimento <strong>de</strong> situações <strong>de</strong><br />
risco com as quais convivem in<strong>de</strong>finidamente<br />
crianças e a<strong>do</strong>lescentes<br />
carentes. Esta dura realida<strong>de</strong> provoca<br />
fortes emoções e nos faz momentaneamente<br />
solidários com os responsáveis<br />
ou voluntários em minorar-lhes o<br />
sofrimento. Nestas frequentes oportunida<strong>de</strong>s<br />
mostramos a nossa indignação<br />
e planejamos contribuir com os nossos<br />
esforços pessoais, “em breve”.<br />
Com o passar <strong>do</strong> tempo, se nada<br />
fazemos <strong>de</strong> concreto, procuramos<br />
ao menos aplacar o “drama <strong>de</strong><br />
consciência” tentan<strong>do</strong> nos isentar<br />
da responsabilida<strong>de</strong>. Afinal somos<br />
muito ocupa<strong>do</strong>s, já fazemos a<br />
nossa parte quan<strong>do</strong> intervimos<br />
nos processos em <strong>de</strong>fesa <strong>do</strong>s<br />
pequenos, já ajudamos as crianças<br />
<strong>de</strong> um abrigo com brinque<strong>do</strong>s e<br />
roupas usadas nos fins <strong>de</strong> ano, já<br />
pagamos pesa<strong>do</strong>s impostos ... .<br />
O nosso conhecimento nos leva<br />
a ligar os fatos ao Estatuto da<br />
Criança e <strong>do</strong> A<strong>do</strong>lescente, que<br />
dispõe sobre a proteção integral e, para<br />
garantir a priorida<strong>de</strong> <strong>do</strong>s direitos<br />
referentes à vida, à saú<strong>de</strong>, alimentação,<br />
à educação, ao esporte, ao lazer, à<br />
profissionalização, à cultura, à dignida<strong>de</strong>,<br />
ao respeito, à liberda<strong>de</strong> e à convivência<br />
familiar e comunitária, estabelece,<br />
entre outras, a preferência na<br />
formulação das políticas sociais<br />
públicas e a <strong>de</strong>stinação privilegiada <strong>de</strong><br />
recursos públicos nas áreas relacionadas<br />
com a proteção à infância e à<br />
juventu<strong>de</strong>. To<strong>do</strong>s nós temos conhecimento<br />
<strong>de</strong> tal priorida<strong>de</strong>,<br />
dita pleonasticamente<br />
absoluta.<br />
Sabemos, entretanto,<br />
que só há efetiva política pública<br />
quan<strong>do</strong> ela é gestada no órgão <strong>de</strong>liberativo<br />
e controla<strong>do</strong>r, o conselho <strong>de</strong><br />
direitos da criança e <strong>do</strong> a<strong>do</strong>lescente.<br />
Cientes disso, nós que fazemos o<br />
<strong>Ministério</strong> <strong>Público</strong> <strong>de</strong> <strong>Pernambuco</strong><br />
lutamos anos a fio com o objetivo <strong>de</strong><br />
<strong>do</strong>tar TODOS os municípios <strong>de</strong><br />
<strong>Pernambuco</strong> <strong>de</strong> tais órgãos.<br />
Incluímos nessa obstinação os<br />
Conselhos Tutelares, participan<strong>do</strong> <strong>de</strong><br />
longo processo para que, além <strong>de</strong><br />
to<strong>do</strong>s os municípios, o Distrito<br />
Estadual <strong>de</strong> Fernan<strong>do</strong> <strong>de</strong> Noronha<br />
também fosse contempla<strong>do</strong>. A<br />
batalha foi longa e tivemos como<br />
...A condição que possibilita a <strong>de</strong>dução é<br />
a <strong>do</strong>ação ser feita diretamente a um<br />
conselho <strong>de</strong> direitos da criança e <strong>do</strong><br />
a<strong>do</strong>lescente. Dessa forma, a <strong>do</strong>ação será<br />
semelhante a um “empréstimo” a ser<br />
<strong>de</strong>volvi<strong>do</strong> ou compensa<strong>do</strong>...<br />
alia<strong>do</strong>s o Conselho Estadual <strong>de</strong><br />
Defesa <strong>do</strong>s Direitos da Criança e <strong>do</strong><br />
A<strong>do</strong>lescente, a <strong>Associação</strong><br />
Municipalista <strong>de</strong> <strong>Pernambuco</strong> e a<br />
Assembléia Legislativa <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong>,<br />
entre vários outros. Embora<br />
<strong>Pernambuco</strong> tenha si<strong>do</strong> um <strong>do</strong>s<br />
primeiros Esta<strong>do</strong>s a cumprir a etapa<br />
<strong>do</strong> planejamento nacional <strong>de</strong> criação<br />
<strong>de</strong> to<strong>do</strong>s os conselhos <strong>de</strong> direitos e<br />
tutelares, ainda é constatada certa<br />
apatia nos seus integrantes.<br />
Afinal, qual a razão <strong>de</strong> participar<br />
as entida<strong>de</strong>s não-governamentais da<br />
articulação <strong>de</strong> ações em parida<strong>de</strong><br />
com o eixo governamental se para<br />
tanto não são <strong>de</strong>stina<strong>do</strong>s recursos que<br />
tornam efetivas as políticas sociais<br />
* 23º Promotor <strong>de</strong> Justiça <strong>de</strong> Defesa da<br />
Cidadania da Capital, com atuação na<br />
Promotoria <strong>de</strong> Justiça da Infância e da<br />
Juventu<strong>de</strong> – Atos Infracionais<br />
Artigo<br />
públicas? Em outras palavras, <strong>de</strong> que<br />
adianta indignar-se, querer mudar,<br />
<strong>de</strong>bater e planejar, se não há ou não<br />
são suficientes os recursos?<br />
Ao la<strong>do</strong> <strong>do</strong>s recursos que <strong>de</strong>vem ser<br />
previstos no orçamento público para<br />
repasses obrigatórios pelo Po<strong>de</strong>r<br />
Executivo aos fun<strong>do</strong>s especiais da<br />
infância e da a<strong>do</strong>lescência (FIA), prevê<br />
a Lei nº 8.069/90 a <strong>de</strong>dutibilida<strong>de</strong> das<br />
<strong>do</strong>ações na <strong>de</strong>claração <strong>do</strong> Imposto<br />
sobre a Renda <strong>do</strong> ano subseqüente. Até<br />
6 (seis) por cento <strong>do</strong> imposto <strong>de</strong> renda<br />
<strong>de</strong>vi<strong>do</strong> po<strong>de</strong> ser <strong>de</strong>stina<strong>do</strong> aos<br />
fun<strong>do</strong>s especiais da infância e da<br />
a<strong>do</strong>lescência, garantida a <strong>de</strong>dução.<br />
Isto significa R$ 600,00 (seiscentos<br />
reais) para cada R$10.000,00<br />
(<strong>de</strong>z mil reais). Faz a diferença!<br />
A condição que possibilita a<br />
<strong>de</strong>dução é a <strong>do</strong>ação ser feita<br />
diretamente a um conselho <strong>de</strong><br />
direitos da criança e <strong>do</strong> a<strong>do</strong>lescente.<br />
Dessa forma, a <strong>do</strong>ação será<br />
semelhante a um “empréstimo” a<br />
ser <strong>de</strong>volvi<strong>do</strong> ou compensa<strong>do</strong> (se<br />
houver imposto a pagar). Basta<br />
entrar em contato com o<br />
CAOP/Infância e Juventu<strong>de</strong> para<br />
informação ou com qualquer <strong>do</strong>s<br />
conselhos <strong>de</strong> direitos municipais,<br />
estaduais ou nacional e efetuar o<br />
<strong>de</strong>pósito até o dia 30 <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro para<br />
que a <strong>de</strong>dução seja possível no ano<br />
seguinte.<br />
Uni<strong>do</strong>s, nós, Promotores e<br />
Procura<strong>do</strong>res <strong>de</strong> Justiça <strong>de</strong><br />
<strong>Pernambuco</strong> po<strong>de</strong>mos contribuir com<br />
mais <strong>de</strong> R$ 1.000.000,00 (um milhão<br />
<strong>de</strong> reais) por ano em <strong>do</strong>ações totalmente<br />
<strong>de</strong>dutíveis. Pensemos nisso!<br />
13
Artigo<br />
Pe<strong>do</strong>filia é um tipo penal?<br />
*Janei<strong>de</strong> Oliveira <strong>de</strong> Lima<br />
Delane Barros <strong>de</strong> Arruda<br />
Elisabeth Roudinesco afirma que a perversão é um<br />
fenômeno sexual, político, social, psíquico, trans-histórico,<br />
estrutural, presente em todas as socieda<strong>de</strong>s humanas. No<br />
que se refere à perversão como <strong>de</strong>nominação, estrutura e<br />
vocábulo, não foi estudada senão pelos psicanalistas.<br />
On<strong>de</strong> começa a perversão e quem<br />
são os perversos? Para Freud, a<br />
perversão está presente, <strong>de</strong>certo em<br />
diversos graus, em todas as formas da<br />
sexualida<strong>de</strong> humana. A vitimização <strong>de</strong><br />
crianças e a<strong>do</strong>lescentes nos crimes<br />
sexuais tem induzi<strong>do</strong> as pessoas a um<br />
equívoco recorrente. Fala-se<br />
habitualmente a palavra pe<strong>do</strong>filia<br />
como se fosse uma prática criminal<br />
específica, isto é, supõe-se que a<br />
legislação penal brasileira <strong>de</strong>fine<br />
pe<strong>do</strong>filia como um crime propriamente<br />
dito. Crimes <strong>de</strong> natureza sexual contra<br />
criança e a<strong>do</strong>lescente são <strong>de</strong>litos<br />
previstos tanto no Código Penal como<br />
em outras leis penais esparsas. Por<br />
exemplo, o artigo 213 <strong>do</strong> Código Penal<br />
<strong>de</strong>fine o estupro como um crime contra<br />
14<br />
a liberda<strong>de</strong> sexual e tanto uma<br />
mulher <strong>de</strong> 18 anos ou mais, quanto<br />
uma criança ou a<strong>do</strong>lescente po<strong>de</strong>m<br />
ser vítimas <strong>do</strong> crime <strong>de</strong> estupro. A<br />
diferença é que em se tratan<strong>do</strong> <strong>de</strong><br />
mulher menor <strong>de</strong> 14 anos surge o<br />
tema da violência presumida,<br />
significa dizer que,<br />
in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntemente <strong>de</strong> emprego <strong>de</strong><br />
violência concreta, por ser irrelevante<br />
o consentimento <strong>de</strong> alguém menor <strong>de</strong><br />
14 anos, consi<strong>de</strong>ra-se crime <strong>de</strong><br />
estupro a conduta <strong>de</strong> manter<br />
conjunção carnal com uma menina <strong>de</strong><br />
até 13 anos. O mesmo ocorre com o<br />
crime <strong>de</strong> atenta<strong>do</strong> violento ao pu<strong>do</strong>r,<br />
previsto no artigo 214 <strong>do</strong> Código<br />
Penal, on<strong>de</strong> po<strong>de</strong>m figurar como<br />
sujeitos passivos homens ou<br />
mulheres, adultos ou menores. Um<br />
...A pe<strong>do</strong>filia é um conceito<br />
liga<strong>do</strong> às ciências que tratam da<br />
estrutura psíquica e não uma<br />
categoria integrante da<br />
taxativida<strong>de</strong> da lei penal...<br />
exemplo <strong>de</strong> crime <strong>de</strong> cunho sexual<br />
<strong>de</strong>scrito em lei extravagante penal se<br />
acha no artigo 240 <strong>do</strong> Estatuto da<br />
Criança e <strong>do</strong> A<strong>do</strong>lescente que proíbe<br />
expressamente a utilização <strong>de</strong> criança<br />
ou a<strong>do</strong>lescente em cena pornográfica.<br />
A Lei 10.764/03 tratou <strong>do</strong> crime <strong>de</strong><br />
divulgação <strong>de</strong> pornografia infantil pela<br />
internet e alterou o artigo 241 <strong>do</strong><br />
Estatuto para atingir a pornografia<br />
infantil divulgada por internautas.<br />
Agora, revogada pela Lei<br />
11.839/2008, que também alterou os<br />
artigos 240 e 241 <strong>do</strong> Estatuto da<br />
Criança e <strong>do</strong> A<strong>do</strong>lescente, aumentan<strong>do</strong><br />
as penas. A lei 11.839/08 trata da<br />
aquisição e posse <strong>de</strong> material<br />
pornográfico envolven<strong>do</strong> infantes e<br />
jovens, via internet. Enfim, o artigo<br />
241 <strong>do</strong> Estatuto sofreu mudanças, com<br />
aumento <strong>de</strong> penas. As penas que eram<br />
<strong>de</strong> 01 a 04 anos passaram a ser <strong>de</strong> 04 a<br />
08 anos. Enfatiza-se que não existe<br />
nenhum crime <strong>de</strong>nomina<strong>do</strong> pe<strong>do</strong>filia. A<br />
pe<strong>do</strong>filia é um conceito liga<strong>do</strong> às<br />
ciências que tratam da estrutura<br />
psíquica e não uma categoria integrante<br />
da taxativida<strong>de</strong> da lei penal. Assim, a<br />
psiquiatria apresenta a pe<strong>do</strong>filia como<br />
uma atração intensa <strong>de</strong> um adulto por<br />
crianças, às vezes <strong>do</strong> mesmo sexo <strong>do</strong><br />
porta<strong>do</strong>r <strong>do</strong> transtorno. O pedófilo<br />
mostra-se incapaz <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolver<br />
relações afetivas. Pelo contrário,<br />
engendra laços assimétricos. É<br />
egocêntrico, não <strong>de</strong>senvolve remorso<br />
ou arrependimento. O objetivo <strong>do</strong>s<br />
contatos com a vítima é satisfazer o<br />
próprio <strong>de</strong>sejo, apenas. Para Miguel<br />
Chalub, psiquiatra forense e professor<br />
<strong>de</strong> Psiquiatria da UFRJ, a pe<strong>do</strong>filia é:<br />
atração que uma pessoa sente por<br />
crianças impúberes, isto é, que não<br />
atingiram a puberda<strong>de</strong>. Se uma pessoa<br />
sente atração por uma criança que<br />
ainda não atingiu os caracteres sexuais
secundários, que não apresenta aptidão<br />
para a vida sexual, nós <strong>de</strong>nominamos,<br />
<strong>de</strong> acor<strong>do</strong> com <strong>de</strong>finições médicas, <strong>de</strong><br />
pe<strong>do</strong>filia. Pe<strong>do</strong>filia é um distúrbio, um<br />
transtorno <strong>de</strong> comportamento,<br />
classifica<strong>do</strong> como <strong>do</strong>ença pela OMS,<br />
espécie <strong>do</strong> gênero parafilia. Quanto ao<br />
tráfico <strong>de</strong> material fotográfico,<br />
inclusive pela internet, envolven<strong>do</strong><br />
criança ou a<strong>do</strong>lescente, há <strong>de</strong> se<br />
indagar se tais “negociantes” teriam<br />
realmente qualquer traço pedófilo. Pelo<br />
que se vê é o interesse financeiro que<br />
anima o comércio <strong>de</strong> tal material e não<br />
algum transtorno <strong>de</strong> personalida<strong>de</strong>.<br />
Não se po<strong>de</strong>, a princípio, classificar o<br />
divulga<strong>do</strong>r <strong>de</strong> tal material pornográfico<br />
como porta<strong>do</strong>r <strong>de</strong> alguma parafilia, no<br />
caso a pe<strong>do</strong>filia. O <strong>de</strong>ver <strong>de</strong> proteção<br />
familiar e social é imposto pelo<br />
Estatuto da Criança e <strong>do</strong> A<strong>do</strong>lescente.<br />
O artigo 13 <strong>de</strong>sta lei diz que “Os casos<br />
<strong>de</strong> suspeita ou confirmação <strong>de</strong> maustratos<br />
contra criança ou a<strong>do</strong>lescente<br />
serão obrigatoriamente comunica<strong>do</strong>s<br />
ao Conselho Tutelar da respectiva<br />
localida<strong>de</strong>, sem prejuízo <strong>de</strong> outras<br />
providências legais”. Os educa<strong>do</strong>res e<br />
os profissionais da área da saú<strong>de</strong><br />
<strong>de</strong>vem intervir diante da suspeita <strong>de</strong><br />
uma agressão. O agressor é,<br />
comumente, alguém liga<strong>do</strong> à criança,<br />
<strong>de</strong>tentor <strong>de</strong> confiança. A vítima<br />
acredita no ofensor e ele impõe o mais<br />
absoluto silêncio, incute na mente da<br />
criança ou a<strong>do</strong>lescente uma culpa,<br />
...O agressor é, comumente,<br />
alguém liga<strong>do</strong> à criança, <strong>de</strong>tentor<br />
<strong>de</strong> confiança. A vítima acredita no<br />
ofensor e ele impõe o mais<br />
absoluto silêncio, incute na mente<br />
da criança ou a<strong>do</strong>lescente uma<br />
culpa, infundin<strong>do</strong>-lhe terror...<br />
infundin<strong>do</strong>-lhe terror, enfim, produz<br />
na criança ou a<strong>do</strong>lescente um trauma<br />
impeditivo <strong>de</strong> reação. A mídia<br />
<strong>de</strong>staca vários abusos sexuais<br />
pratica<strong>do</strong>s por médicos, professores,<br />
autorida<strong>de</strong>s eclesiásticas e outras<br />
figuras tidas como proeminentes num<br />
<strong>de</strong>termina<strong>do</strong> nicho social.<br />
Abusa<strong>do</strong>res que gozam <strong>de</strong> boa<br />
situação financeira e social<br />
rotineiramente escapam. E, quan<strong>do</strong><br />
são colhi<strong>do</strong>s em flagrante, em muitos<br />
casos, conseguem a absolvição.<br />
Assim, família e socieda<strong>de</strong> <strong>de</strong>vem se<br />
comprometer com a situação,<br />
investin<strong>do</strong> em informação, educação<br />
<strong>do</strong>s pais e <strong>de</strong> to<strong>do</strong> o grupo familiar.<br />
Os pais e os educa<strong>do</strong>res <strong>de</strong>vem<br />
conversar com as crianças<br />
Artigo<br />
esclarecen<strong>do</strong> que o corpo <strong>de</strong>les não é<br />
para ser manipula<strong>do</strong> por outras<br />
pessoas, conscientizan<strong>do</strong> os pequenos<br />
quanto à nocivida<strong>de</strong> <strong>do</strong>s abusos. Outra<br />
medida preventiva é se permitir o<br />
acesso <strong>de</strong> equipes <strong>de</strong> instrutores e<br />
profissionais liga<strong>do</strong>s à saú<strong>de</strong> nos<br />
núcleos familiares mais humil<strong>de</strong>s, num<br />
trabalho <strong>de</strong> campo <strong>de</strong> assistência<br />
concreta, psicológica e material. Como<br />
diz o Dr. David Zimermam, médico<br />
psicanalista da Socieda<strong>de</strong> Psicanalítica<br />
<strong>de</strong> Porto Alegre: “Trata-se <strong>de</strong> uma<br />
causa perdida ou os responsáveis pelo<br />
problema da violência é que estão<br />
perdi<strong>do</strong>s na causa?”.<br />
* Procura<strong>do</strong>ra <strong>de</strong> Justiça e Promotora<br />
<strong>de</strong> Justiça, respectivamente<br />
No próximo mês <strong>de</strong> outubro<br />
tem a Festa das Crianças<br />
da AMPPE<br />
Aguar<strong>de</strong> maiores informações!<br />
.<br />
15
Matéria<br />
Associa<strong>do</strong>s conquistam nova sed<br />
Promotores e Procura<strong>do</strong>res <strong>de</strong> Justiça associa<strong>do</strong>s à<br />
AMPPE po<strong>de</strong>rão contar em breve com mais um espaço <strong>de</strong><br />
lazer. A diretoria da <strong>Associação</strong>, seguin<strong>do</strong> o que ficou<br />
<strong>de</strong>termina<strong>do</strong> na Assembléia <strong>do</strong> último dia 31 <strong>de</strong> agosto, realizou<br />
a compra <strong>de</strong> uma se<strong>de</strong> social em Al<strong>de</strong>ia localizada no quilometro<br />
6,0 e com uma área <strong>de</strong> 1,6 hectares.<br />
A aquisição <strong>de</strong> uma nova se<strong>de</strong> social já havia si<strong>do</strong> aprovada em<br />
Assembléia Geral Extraordinária realizada no dia 13 <strong>de</strong> fevereiro<br />
<strong>de</strong> 2006, quan<strong>do</strong> também se <strong>de</strong>liberou pela venda <strong>do</strong> Clube <strong>de</strong><br />
Barra <strong>de</strong> Jangada, espaço que já não atendia às necessida<strong>de</strong>s<br />
da classe. A nova se<strong>de</strong> social da AMPPE é um local arboriza<strong>do</strong>,<br />
dispõe <strong>de</strong> piscina, área para campo <strong>de</strong> futebol, casa principal,<br />
churrasqueira e muitos outros atrativos. A diretoria já está<br />
elaboran<strong>do</strong> o Regulamento com todas as normas <strong>de</strong> utilização,<br />
para que em breve to<strong>do</strong>s possam dispor <strong>do</strong> espaço. Abaixo,<br />
algumas fotos, para que to<strong>do</strong>s os associa<strong>do</strong>s possam conferir as<br />
belezas <strong>do</strong> local:<br />
16<br />
A nova se<strong>de</strong> social da AMPPE,<br />
além <strong>de</strong> em ótimo esta<strong>do</strong> <strong>de</strong><br />
conservação, possui uma<br />
vegetação diversificada<br />
proporcionan<strong>do</strong> ar puro e<br />
tranquilida<strong>de</strong> aos visitantes<br />
Situada no km 5,5, a se<strong>de</strong> social tem uma ótima loc<br />
A se<strong>de</strong> social da AMPPE dispõe <strong>de</strong> área para fute bol,
e<strong>de</strong> social em Al<strong>de</strong>ia<br />
ma localização e acesso fácil<br />
fute bol, além <strong>de</strong> árvores e sombra para a criançada<br />
Um espaço com<br />
churrasqueira, casa <strong>de</strong><br />
apoio e piscina fazem<br />
parte da nova se<strong>de</strong> social<br />
da AMPPE, compon<strong>do</strong><br />
uma área aprazível e<br />
cercada por muito ver<strong>de</strong><br />
Matéria<br />
17
Matéria<br />
Parceria entre Peritos e MP<br />
Garantia <strong>de</strong> um resulta<strong>do</strong> positivo<br />
nos processos <strong>de</strong> apuração criminal<br />
Otrabalho <strong>de</strong>senvolvi<strong>do</strong> por peritos fe<strong>de</strong>rais e estaduais é essencial para o exercício da função<br />
<strong>de</strong> Promotores e Procura<strong>do</strong>res <strong>de</strong> Justiça. Eles são peça indispensável na engrenagem que<br />
move os processos <strong>de</strong> apuração criminal, direcionan<strong>do</strong> investigações para assegurar a<br />
certeza <strong>do</strong>s fatos ocorri<strong>do</strong>s e materiais envolvi<strong>do</strong>s. Longe da mística <strong>do</strong>s filmes, que se norteiam pela<br />
intuição e uma boa <strong>do</strong>se <strong>de</strong> sorte, os peritos precisam reunir uma alta qualificação e os <strong>de</strong>vi<strong>do</strong>s<br />
equipamentos <strong>de</strong> trabalho para exercerem bem sua profissão.<br />
As perícias são acionadas pelas<br />
autorida<strong>de</strong>s policiais, pelo <strong>Ministério</strong><br />
<strong>Público</strong> e também pelo Judiciário. As<br />
instituições estão atreladas às suas<br />
esferas <strong>de</strong> maneira que há uma relação<br />
naturalmente mais ativa entre o MP<br />
Fe<strong>de</strong>ral e peritos da Polícia Fe<strong>de</strong>ral<br />
(PF) e os MPs estaduais e os peritos da<br />
Polícia Civil. No entanto, essas<br />
relações não estão engessadas. Assis<br />
Clemente é perito da polícia fe<strong>de</strong>ral,<br />
com formação em Engenharia Química<br />
e garante que nos últimos anos tem<br />
havi<strong>do</strong> estreitamento das relações entre<br />
os peritos da sua Instituição e o<br />
18<br />
<strong>Ministério</strong> <strong>Público</strong> Estadual: “Diante<br />
da gravida<strong>de</strong> <strong>de</strong> certos casos, o<br />
<strong>Ministério</strong> <strong>Público</strong>, através da Polícia<br />
Civil, po<strong>de</strong> nos acionar sim”. Em<br />
geral crimes políticos, <strong>de</strong>svio <strong>de</strong><br />
verbas e crimes ambientais são as<br />
<strong>de</strong>mandas que os peritos fe<strong>de</strong>rais<br />
recebem da esfera estadual. “Às<br />
vezes uma investigação começa no<br />
plano municipal ou estadual e toma<br />
uma dimensão maior”, explica Assis.<br />
Com os peritos estaduais a<br />
relação com o <strong>Ministério</strong> <strong>Público</strong> <strong>de</strong><br />
<strong>Pernambuco</strong> (MPPE) se tornou mais<br />
consistente e dinâmica após agosto<br />
<strong>de</strong> 2008, momento em que a<br />
<strong>Associação</strong> <strong>do</strong> <strong>Ministério</strong> <strong>Público</strong> <strong>de</strong><br />
<strong>Pernambuco</strong> (AMPPE) sediou o<br />
Encontro <strong>de</strong> membros <strong>do</strong> <strong>Ministério</strong><br />
<strong>Público</strong> e Peritos Criminais <strong>de</strong><br />
<strong>Pernambuco</strong>. Quem assegura essa<br />
melhora nas relações é Atanásia da<br />
Costa Pra<strong>do</strong>, Secretária Geral da<br />
<strong>Associação</strong> <strong>de</strong> Polícia Científica <strong>de</strong><br />
<strong>Pernambuco</strong> (Apocpe). “As entida<strong>de</strong>s<br />
<strong>de</strong> classe propiciaram essa<br />
aproximação entre os membros <strong>do</strong>s<br />
órgãos, pois nessas palestras pu<strong>de</strong>mos<br />
expor nossas dificulda<strong>de</strong>s no trabalho<br />
para que o <strong>Ministério</strong> <strong>Público</strong> tomasse<br />
...Acreditamos que<br />
quan<strong>do</strong> capacitamos um<br />
profissional <strong>de</strong>vemos<br />
fazer <strong>de</strong>le um<br />
multiplica<strong>do</strong>r <strong>de</strong><br />
conhecimentos,<br />
transforman<strong>do</strong>-o em um<br />
perito capacita<strong>do</strong>r <strong>de</strong><br />
outros colegas. O que<br />
estamos notan<strong>do</strong> é que<br />
esse investimento está<br />
sen<strong>do</strong> cada vez mais<br />
individualiza<strong>do</strong>...
...Há 10 anos se iniciou o<br />
processo <strong>de</strong> inovação da<br />
perícia fe<strong>de</strong>ral com a<br />
construção <strong>de</strong> um novo<br />
Instituto Nacional <strong>de</strong><br />
Criminalística, mas não se<br />
limitou a ser um<br />
empreendimento material,<br />
foi muito mais que isso, foi<br />
uma verda<strong>de</strong>ira<br />
revolução...<br />
conhecimento da situação da perícia<br />
no esta<strong>do</strong>. Antes disso, cada um fazia<br />
seu trabalho <strong>de</strong> maneira mais isolada”.<br />
A perita assegura que o ato foi <strong>de</strong><br />
gran<strong>de</strong> importância não só para as<br />
partes envolvidas, mas para toda a<br />
socieda<strong>de</strong>, pois a interação <strong>do</strong>s<br />
responsáveis por investigações <strong>do</strong>s<br />
crimes ocorri<strong>do</strong>s no esta<strong>do</strong> só faz<br />
melhorar esse trabalho e fortalecer as<br />
instituições, sobretu<strong>do</strong> nos crimes<br />
contra a vida, que possui números tão<br />
alarmantes em <strong>Pernambuco</strong>. A perícia<br />
local possui entre suas maiores<br />
<strong>de</strong>mandas, além <strong>de</strong>sse tipo <strong>de</strong><br />
atenta<strong>do</strong>, os crimes contra o<br />
patrimônio público.<br />
Nos encontros ocorri<strong>do</strong>s em<br />
2008, os membros <strong>do</strong> <strong>Ministério</strong><br />
<strong>Público</strong> pu<strong>de</strong>ram ouvir as queixas <strong>de</strong><br />
peritos em relação às dificulda<strong>de</strong>s em<br />
suas condições <strong>de</strong> trabalho. Atanásia<br />
Pra<strong>do</strong> enumera problemas estruturais<br />
da perícia estadual na qual não são<br />
atendidas necessida<strong>de</strong>s básicas, como<br />
material para perícia técnica, artigos<br />
<strong>de</strong> segurança como coletes e armas e<br />
principalmente um melhor preparo e<br />
treinamento <strong>do</strong>s seus membros.<br />
“Acreditamos que quan<strong>do</strong><br />
capacitamos um profissional<br />
<strong>de</strong>vemos fazer <strong>de</strong>le um multiplica<strong>do</strong>r<br />
<strong>de</strong> conhecimentos, transforman<strong>do</strong>-o<br />
em um perito capacita<strong>do</strong>r <strong>de</strong> outros<br />
colegas. O que estamos notan<strong>do</strong> é<br />
que esse investimento está sen<strong>do</strong><br />
cada vez mais individualiza<strong>do</strong>,<br />
com a concentração <strong>de</strong> técnicas que<br />
outros <strong>de</strong>veriam apren<strong>de</strong>r”, avalia<br />
Atanásia.<br />
A realida<strong>de</strong> estadual retratada<br />
pela Secretária Geral da Apocpe é<br />
oposta à apresentada por Assis<br />
Clemente com relação à polícia<br />
fe<strong>de</strong>ral. “ Há 10 anos se iniciou o<br />
processo <strong>de</strong> inovação da perícia<br />
Matéria<br />
fe<strong>de</strong>ral com a construção <strong>de</strong> um<br />
novo Instituto Nacional <strong>de</strong><br />
Criminalística, mas não se limitou a<br />
ser um empreendimento material,<br />
foi muito mais que isso, foi uma<br />
verda<strong>de</strong>ira revolução com o<br />
<strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> novas áreas e,<br />
conseqüentemente, a mo<strong>de</strong>rnização<br />
e capacitação <strong>de</strong> pessoal”. Essa<br />
mo<strong>de</strong>rnização, segun<strong>do</strong> o perito, é<br />
resulta<strong>do</strong> <strong>de</strong> uma parceria firmada<br />
com o governo francês objetivan<strong>do</strong><br />
acabar com o tráfico <strong>de</strong> drogas, que<br />
tem o Brasil com uma <strong>de</strong> suas rotas.<br />
A iniciativa contribuiu para elevar a<br />
qualida<strong>de</strong> <strong>do</strong> serviço presta<strong>do</strong> pela<br />
instituição, colocan<strong>do</strong> atualmente a<br />
perícia fe<strong>de</strong>ral brasileira como<br />
referência mundial.<br />
19
Artigo<br />
Como e quan<strong>do</strong> a criança<br />
e o a<strong>do</strong>lescente têm direitos?<br />
Maxwell An<strong>de</strong>rson Lucena Vignoli<br />
A Política <strong>de</strong> atendimento <strong>do</strong>s<br />
direitos da criança e <strong>do</strong> a<strong>do</strong>lescente farse-á<br />
através <strong>de</strong> um conjunto articula<strong>do</strong><br />
<strong>de</strong> ações governamentais e não<br />
governamentais, da União, <strong>do</strong>s<br />
Esta<strong>do</strong>s, <strong>do</strong> Distrito Fe<strong>de</strong>ral e <strong>do</strong>s<br />
Municípios. Apesar da aparência <strong>de</strong><br />
discurso <strong>de</strong> candidato a cargos<br />
políticos, este texto faz parte da Lei<br />
8060/90, <strong>de</strong>nominada Estatuto da<br />
Criança e <strong>do</strong> A<strong>do</strong>lescente.<br />
Implementar direitos sociais e<br />
culturais como educação, saú<strong>de</strong>, lazer,<br />
etc. exige ações governamentais<br />
positivas num sistema interliga<strong>do</strong> <strong>do</strong>s<br />
Po<strong>de</strong>res Executivos e, em se tratan<strong>do</strong><br />
<strong>de</strong> Esta<strong>do</strong> Democrático <strong>de</strong> Direito,<br />
prévia disposição legal. Na prática,<br />
para a concretização <strong>do</strong> direito à<br />
educação <strong>de</strong> uma criança, por exemplo,<br />
escolas são construídas, professores<br />
são prepara<strong>do</strong>s, currículos são<br />
i<strong>de</strong>aliza<strong>do</strong>s e aulas são ministradas,<br />
tu<strong>do</strong> isso com previsões orçamentárias<br />
<strong>de</strong>scritas minuciosamente em lei.<br />
Esta categoria <strong>de</strong> direitos a<br />
prestações ou direitos <strong>de</strong> quota-parte<br />
que representam exigência <strong>de</strong><br />
comportamento estadual positivo<br />
surgiu, <strong>de</strong> forma mais sistemática, no<br />
final <strong>do</strong> século XIX e início <strong>do</strong> XX.<br />
São direitos realiza<strong>do</strong>s através <strong>do</strong><br />
Esta<strong>do</strong>. Orienta-se essa concepção para<br />
uma or<strong>de</strong>m mais solidária e justa. Essa<br />
nova diretiva reconhece a função social<br />
<strong>do</strong>s direitos na medida em que eles<br />
passam <strong>de</strong> uma concepção<br />
individualista para a concordância e<br />
coerência <strong>de</strong> uma or<strong>de</strong>m maior e<br />
menos alienada e exclu<strong>de</strong>nte. Como<br />
também, o critério para realização <strong>de</strong><br />
direitos coletivos torna-se obrigatório,<br />
para garantia da dignida<strong>de</strong> da pessoa<br />
humana, disposições anunciadas na<br />
Declaração Universal <strong>do</strong>s Direitos <strong>do</strong><br />
Homem, assinada em 10 <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro<br />
<strong>de</strong> 1948.<br />
20<br />
...Articular é unir com<br />
flexibilida<strong>de</strong>, é misturar a dureza<br />
<strong>do</strong> osso com o espaço líqui<strong>do</strong><br />
entre as vértebras, portanto, é<br />
trazer idéias formais para<br />
diálogos em grupo, sempre com<br />
respeito ao conteú<strong>do</strong><br />
apresenta<strong>do</strong> pela outra parte...<br />
É simples dispor na lei que<br />
criança e a<strong>do</strong>lescente, como seres<br />
humanos em <strong>de</strong>senvolvimento, têm<br />
direito, o menos fácil é tirá-lo da letra<br />
preta em contraste com o papel<br />
branco. Para que isso ocorra, ou os<br />
entes governamentais cumprem o<br />
papel para o qual foram eleitos ou<br />
são obriga<strong>do</strong>s a cumprir através <strong>de</strong><br />
esferas <strong>de</strong> controles informais e<br />
formais. O <strong>Ministério</strong> <strong>Público</strong> faz<br />
parte <strong>de</strong>ste último, como <strong>de</strong>fensor<br />
<strong>do</strong>s direitos coletivos (artigo 129, III<br />
da Constituição Fe<strong>de</strong>ral Brasileira).<br />
Seus órgãos precisam conhecer a<br />
necessida<strong>de</strong> da população, planejar<br />
estratégias e exigir ações positivas<br />
<strong>do</strong>s governantes os quais não po<strong>de</strong>m<br />
<strong>de</strong>ixar <strong>de</strong> realizar sob a justificativa<br />
pífia <strong>de</strong> princípios como o da<br />
discricionarieda<strong>de</strong>, mesmo porque, a<br />
política <strong>de</strong> atendimento da infância<br />
<strong>de</strong>ve espelhar as necessida<strong>de</strong>s da<br />
população infanto-juvenil, prevalece,<br />
assim, o princípio da obrigatorieda<strong>de</strong>.<br />
Foi com este entendimento que, em<br />
08 <strong>de</strong> julho <strong>de</strong> 2008, posicionou-se o<br />
Supremo Tribunal Fe<strong>de</strong>ral ao obrigar o<br />
Esta<strong>do</strong> <strong>de</strong> Tocantins a construir centros<br />
<strong>de</strong> educação para internação e semiliberda<strong>de</strong><br />
<strong>de</strong> a<strong>do</strong>lescentes em conflito<br />
com a lei.<br />
A dignida<strong>de</strong> humana <strong>de</strong> crianças,<br />
i<strong>do</strong>sos, mulheres, negros, porta<strong>do</strong>res <strong>de</strong><br />
necessida<strong>de</strong>s especiais, homoafetivos<br />
ou qualquer grupo social que não se<br />
a<strong>de</strong>que perfeitamente numa socieda<strong>de</strong><br />
jovem/adulta, masculina, branca,<br />
convencional e heteroafetiva como a<br />
<strong>do</strong> nor<strong>de</strong>ste brasileiro, só será<br />
alcançada com efetivação <strong>de</strong> um<br />
conjunto <strong>de</strong> ações governamentais e<br />
não governamentais articuladas.<br />
Articular é unir com flexibilida<strong>de</strong>, é<br />
misturar a dureza <strong>do</strong> osso com o<br />
espaço líqui<strong>do</strong> entre as vértebras,<br />
portanto, é trazer idéias formais para<br />
diálogos em grupo, sempre com<br />
respeito ao conteú<strong>do</strong> apresenta<strong>do</strong> pela<br />
outra parte, afinal ela também se liga a<br />
outros ossos. É um amálgama <strong>de</strong><br />
idéias, sentimentos e vonta<strong>de</strong>s expostos<br />
num espaço físico, que po<strong>de</strong>m ser os<br />
conselhos <strong>de</strong> participação pública,<br />
congressos, conferências, seminários,<br />
grupos <strong>de</strong> trabalho e estu<strong>do</strong>, reuniões<br />
públicas ou privadas, mas em to<strong>do</strong>s<br />
eles <strong>de</strong>ve prevalecer um único<br />
propósito que é a garantia da<br />
dignida<strong>de</strong> da pessoa humana.<br />
Destes espaços <strong>de</strong> encontro, <strong>do</strong>s<br />
momentos <strong>de</strong> conversa, da exposição<br />
das necessida<strong>de</strong>s e das transcrições das<br />
idéias, os atentos Membros <strong>do</strong><br />
<strong>Ministério</strong> <strong>Público</strong> recebem o material<br />
mais rico para promoção <strong>do</strong>s direitos<br />
da criança e <strong>do</strong> a<strong>do</strong>lescente.<br />
1º Promotor <strong>de</strong> Justiça <strong>de</strong> Defesa da<br />
Cidadania <strong>de</strong> Jaboatão <strong>do</strong>s Guararapes
Turismo rural<br />
Lazer associa<strong>do</strong> à tranquilida<strong>de</strong><br />
e às belezas naturais <strong>do</strong> campo<br />
Buscar o campo como alternativa <strong>de</strong> lazer po<strong>de</strong> ser uma<br />
ótima opção não só para os dias frios <strong>do</strong> inverno, mas<br />
também para aproveitar o calor <strong>do</strong> verão. Uma das<br />
principais características <strong>de</strong>ssa modalida<strong>de</strong> turística é o<br />
aconchego, que não se limita aos atrativos naturais que o local<br />
oferece, mas também à recepção, sempre feita <strong>de</strong> maneira<br />
familiar pelos proprietários, que normalmente resi<strong>de</strong>m no local.<br />
O turismo rural é en<strong>de</strong>reço certo<br />
para quem gosta <strong>de</strong> uma boa comida<br />
caseira e <strong>de</strong> aproveitar as belezas que a<br />
natureza oferece. Uma ótima opção<br />
para quem busca entretenimento <strong>de</strong>ntro<br />
<strong>de</strong>sse perfil é a Fazenda Hotel Betânia,<br />
localizada no município <strong>de</strong> São<br />
Benedito <strong>do</strong> Sul, a 172 km <strong>do</strong> Recife.<br />
O local tem como público cativo<br />
famílias e grupos da terceira ida<strong>de</strong>, que<br />
têm à disposição durante o perío<strong>do</strong> <strong>de</strong><br />
estadia, além <strong>de</strong> uma alimentação<br />
caseira e saudável, espaços distintos <strong>de</strong><br />
lazer para aten<strong>de</strong>r to<strong>do</strong>s os gostos e<br />
faixas etárias, como quadras <strong>de</strong> vôlei e<br />
futebol; sala <strong>de</strong> leitura; salão <strong>de</strong><br />
jogos; brinque<strong>do</strong>s infantis; área <strong>de</strong><br />
banho, com bicas, toboágua e<br />
caiaques; cavalos, charretes e ainda a<br />
prática da pescaria <strong>de</strong> lazer. Na área<br />
<strong>de</strong> banho, os hóspe<strong>de</strong>s têm ainda à<br />
disposição um barzinho, on<strong>de</strong> a<br />
pedi<strong>do</strong> <strong>do</strong> cliente é servi<strong>do</strong> churrasco,<br />
cerveja gelada, drinks feitos com<br />
diversas frutas e muito mais...<br />
Além <strong>de</strong>ssas opções locais, os<br />
hóspe<strong>de</strong>s po<strong>de</strong>m ainda conhecer as<br />
belezas disponíveis no município <strong>de</strong><br />
São Benedito <strong>do</strong> Sul, como 20<br />
cachoeiras espalhadas em reservas da<br />
Turismo<br />
Mata Atlântica, se configuran<strong>do</strong> em<br />
um gran<strong>de</strong> parque aquático natural e<br />
guias para a realização <strong>de</strong><br />
caminhadas, trilhas, visitas a locais<br />
turísticos, como o engenho Laje<br />
Bonita, a casa <strong>de</strong> farinha e o engenho<br />
Mijada da Velha, <strong>de</strong> on<strong>de</strong> a água<br />
natural brota <strong>de</strong> uma rocha.<br />
Estrutura aconchegante<br />
Funcionan<strong>do</strong> como espaço<br />
turístico <strong>de</strong>s<strong>de</strong> 2002, a Fazenda<br />
Betânia dispõe <strong>de</strong> 14 apartamentos,<br />
to<strong>do</strong>s equipa<strong>do</strong>s com móveis rústicos,<br />
compon<strong>do</strong> o ambiente campestre e<br />
dispõem <strong>de</strong> ar condiciona<strong>do</strong>,<br />
frigobar,TV e chuveiro elétrico.<br />
Complementan<strong>do</strong> o charme das<br />
acomodações, que são simples, mas<br />
belas e aconchegantes, as frutas<br />
servidas à mesa na Fazenda dão nome<br />
aos apartamentos, sen<strong>do</strong> 2 para seis<br />
21
Turismo<br />
pessoas ( <strong>do</strong>is quartos); 3 para cinco<br />
pessoas (<strong>do</strong>is quartos) e 9 apartamentos<br />
para três ou <strong>quatro</strong> pessoas.<br />
Mas para quem além da tranqüilida<strong>de</strong><br />
<strong>do</strong> campo, também gosta <strong>de</strong> dançar e <strong>de</strong><br />
uma boa música, a proprietária da<br />
Fazenda Betânia, Roberta Queiroga,<br />
garante que aos sába<strong>do</strong>s à noite o<br />
silêncio <strong>do</strong> local é quebra<strong>do</strong> pelos<br />
acor<strong>de</strong>s da sanfona, <strong>do</strong> triângulo e da<br />
zabumba, amigos inseparáveis <strong>do</strong>s<br />
grupos <strong>de</strong> pé <strong>de</strong> serra. “A maioria das<br />
pessoas chegam à Fazenda em busca <strong>de</strong><br />
repouso e sossego, além <strong>do</strong> contato<br />
com o ver<strong>de</strong> e <strong>de</strong> uma boa alimentação.<br />
Nós oferecemos tu<strong>do</strong> isso, mas aos<br />
sába<strong>do</strong>s animamos a Fazenda e<br />
proporcionamos aos nossos hóspe<strong>de</strong>s<br />
um bom forró”, informou.<br />
Dentro da gastronomia praticada na<br />
Fazenda não faltam os sucos naturais,<br />
<strong>do</strong>ces caseiros, pães e bolos feitos no<br />
local, leite <strong>de</strong> vaca recém or<strong>de</strong>nhada, e<br />
no almoço, a tradicional buchada,<br />
galinha <strong>de</strong> cabi<strong>de</strong>la, farofa <strong>de</strong> cuscuz,<br />
pernil <strong>de</strong> carneiro ao molho <strong>de</strong><br />
maracujá e muito mais....<br />
Beleza à parte<br />
As vinte cachoeiras espalhadas pelo<br />
município <strong>de</strong> São Benedito <strong>do</strong> Sul<br />
22<br />
contribuem para a beleza <strong>do</strong> local. A<br />
maior da cida<strong>de</strong>, a cachoeira <strong>de</strong> Peri<br />
peri é um espetáculo à parte com seus<br />
cerca <strong>de</strong> 25 metros <strong>de</strong> altura, muito<br />
utilizada para a prática <strong>do</strong> rapel.<br />
Além <strong>de</strong>la, o circuito <strong>de</strong><br />
cachoeiras conta ainda com a<br />
Cachoeira da Laje, o Poço <strong>do</strong><br />
Solda<strong>do</strong>, o Poço <strong>do</strong> Caboclo<br />
e Aritana. Algumas das<br />
cachoeiras da região não são<br />
facilmente acessíveis,<br />
portanto não fazem parte <strong>do</strong><br />
roteiro oficial <strong>de</strong> visitação.<br />
Dia <strong>de</strong> campo<br />
Dentro das opções oferecidas na<br />
Fazenda Betânia, os visitantes<br />
po<strong>de</strong>m optar por se hospedar no<br />
local, incluin<strong>do</strong> toda a estrutura <strong>de</strong><br />
lazer e o pacote completo com as<br />
três refeições, ou pelo Dia <strong>de</strong><br />
Campo, uma alternativa que inclui o<br />
almoço e a utilização da estrutura <strong>de</strong><br />
lazer da Fazenda.<br />
Para a primeira opção, a proprietária<br />
informa que o custo atual é <strong>de</strong> R$<br />
130,00 por pessoa (diária), sen<strong>do</strong><br />
50% <strong>de</strong>sse valor para as crianças <strong>de</strong><br />
6 aos 12 anos. Para quem optar pelo<br />
Dia <strong>de</strong> Campo, o valor pago é <strong>de</strong> R$<br />
35,00 por pessoa.<br />
Fazenda Betânia<br />
BR 101 Sul / PE 125<br />
Contato: Roberta Queiroga e Fábio<br />
Dantas<br />
Telefones: (81) 3684 1126 / (81) 3684<br />
1679 / (81) 9978 0520<br />
site: www.fazendabetania.com.br
Engenho Laje Bonita<br />
O Engenho Laje Bonita, localiza<strong>do</strong><br />
na zona rural <strong>de</strong> Quipapá, é uma opção<br />
<strong>de</strong> lazer à parte para quem se i<strong>de</strong>ntifica<br />
com a beleza e tranqüilida<strong>de</strong> <strong>do</strong> campo.<br />
O local é banha<strong>do</strong> pelo riacho Duas<br />
Barras, cujo leito é forma<strong>do</strong> por uma<br />
única laje que mostra sua gran<strong>de</strong>za em<br />
vários lugares no curso <strong>de</strong> suas águas,<br />
o que originou o seu nome.<br />
Integrante da rota turística Águas<br />
da Mata Sul, assim como a Fazenda<br />
Betânia, o Engenho tem como um <strong>do</strong>s<br />
seus fortes atrativos as marcas da<br />
história <strong>de</strong> <strong>Pernambuco</strong>. Ao chegar ao<br />
local, os visitantes têm à sua disposição<br />
a exibição <strong>de</strong> um ví<strong>de</strong>o sobre a história<br />
da cana-<strong>de</strong>-açúcar no Esta<strong>do</strong> e<br />
acompanham o processo <strong>de</strong> moagem<br />
da cana, que ainda acontece <strong>de</strong> forma<br />
artesanal. A roda d'água inglesa é o<br />
principal atrativo, pois move a moenda,<br />
preservada até hoje nos mesmos<br />
mol<strong>de</strong>s <strong>do</strong> século XIX. As moagens <strong>do</strong><br />
Engenho Laje Bonita acontecem o ano<br />
inteiro, em média duas vezes por<br />
semana.<br />
No local, também <strong>de</strong> forma<br />
artesanal, são produzi<strong>do</strong>s produtos que<br />
têm a cana-<strong>de</strong>-açúcar como matéria<br />
prima principal, como o mel <strong>de</strong><br />
engenho, a rapadura e a cachaça,<br />
utiliza<strong>do</strong>s na produção <strong>de</strong> bolos, <strong>do</strong>ces<br />
e pães, que enchem os olhos e o<br />
apetite <strong>do</strong>s visitantes.<br />
Proprietária <strong>do</strong> local, Melânia<br />
Vieira conta orgulhosa que a primeira<br />
moagem à roda d´água <strong>do</strong> Engenho<br />
aconteceu no dia 21 <strong>de</strong> janeiro <strong>de</strong><br />
1890, pelos antepassa<strong>do</strong>s <strong>do</strong> seu<br />
mari<strong>do</strong>, Paulo Fernan<strong>do</strong> Vieira, que<br />
em 1990 assumiu a administração e a<br />
produção <strong>do</strong> Engenho e hoje é<br />
her<strong>de</strong>iro da proprieda<strong>de</strong>, manten<strong>do</strong> a<br />
tradição secular <strong>de</strong> <strong>de</strong>dicação à<br />
produção <strong>de</strong> rapadura com o<br />
incremento <strong>de</strong> novos produtos. “O<br />
meu mari<strong>do</strong> compõe a quinta geração<br />
<strong>de</strong> uma família que conserva os<br />
meios <strong>de</strong> produção <strong>do</strong> Brasil<br />
Colônia”, enfatizou.<br />
O Engenho possui ainda uma<br />
Reserva Particular <strong>do</strong> Patrimônio<br />
Natural - RPPN, ten<strong>do</strong> si<strong>do</strong><br />
catalogadas na área pela<br />
Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong> <strong>Pernambuco</strong><br />
57 espécies <strong>de</strong> pássaros e 30 árvores<br />
diferentes.<br />
Alternativas <strong>de</strong> visitação<br />
Reforçan<strong>do</strong> a marca <strong>do</strong> turismo<br />
rural, Melânia Vieira diz que recebe<br />
os visitantes pessoalmente e que as<br />
pessoas que chegam ao local não são<br />
Turismo<br />
Cultura<br />
Beleza, clima saudável e um pouco<br />
da história <strong>de</strong> <strong>Pernambuco</strong><br />
oriundas apenas <strong>de</strong> <strong>Pernambuco</strong> e <strong>do</strong><br />
Brasil, mas também <strong>de</strong> outros paises.<br />
Ao chegar, as pessoas têm à<br />
disposição uma área <strong>de</strong> lazer com<br />
açu<strong>de</strong>, caiaques, petisqueira e um<br />
parque aquático que inclui piscinas<br />
naturais e um banho <strong>de</strong> bica.<br />
O espaço dispõe <strong>de</strong> três formatos<br />
<strong>de</strong> visitação. O primeiro, chama<strong>do</strong> Dia<br />
<strong>de</strong> Campo, acontece todas as semanas<br />
<strong>de</strong> segunda a sába<strong>do</strong>, inician<strong>do</strong> às 9h e<br />
se esten<strong>de</strong>n<strong>do</strong> até às 16:30h. Po<strong>de</strong> ser<br />
usufruí<strong>do</strong> exclusivamente na área <strong>do</strong><br />
Engenho on<strong>de</strong> está instala<strong>do</strong> o Parque<br />
Aquático Rural Águas <strong>de</strong> Laje Bonita<br />
incluin<strong>do</strong>, a critério <strong>do</strong> grupo, uma<br />
visita ao prédio <strong>do</strong> Engenho Bangüê,<br />
local on<strong>de</strong> está instalada a roda<br />
d`Água, em dias em que a moagem não<br />
acontece. Outra opção é visitar o<br />
Engenho em dias <strong>de</strong> moagem,<br />
inician<strong>do</strong> o passeio pela visitação ao<br />
local. Para grupos acima <strong>de</strong> 20 pessoas<br />
é servida uma mesa <strong>de</strong> <strong>de</strong>gustação,<br />
on<strong>de</strong> estão à disposição <strong>de</strong>lícias<br />
preparadas com o que é produzi<strong>do</strong> no<br />
Engenho, como o mel <strong>de</strong> engenho,<br />
cana-<strong>de</strong>-açúcar, rapaduras, queijos,<br />
fubá <strong>de</strong> milho torra<strong>do</strong> com mel <strong>de</strong><br />
engenho, cachaça, sucos <strong>de</strong> fruta,<br />
bolos, pães, etc.<br />
O Dia <strong>de</strong> Campo <strong>de</strong>ve ser<br />
23
Turismo<br />
previamente agenda<strong>do</strong> e o tarifário<br />
pratica<strong>do</strong> vai variar <strong>de</strong> acor<strong>do</strong> com os<br />
itens incluí<strong>do</strong>s no pacote pelo grupo,<br />
que vão <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o café da manhã, aos<br />
lanches (manhã e da tar<strong>de</strong>), almoço e a<br />
ceia.<br />
Como segunda alternativa, os<br />
visitantes po<strong>de</strong>rão optar pela visitação<br />
ao local, que tem uma duração média<br />
<strong>de</strong> duas horas. Dentro <strong>de</strong>ssa opção, que<br />
também <strong>de</strong>verá ser agendada, os<br />
proprietários recebem apenas <strong>do</strong>is<br />
grupos por dia, um pela manhã e um à<br />
tar<strong>de</strong>. Para a visitação à moagem <strong>do</strong><br />
Engenho, on<strong>de</strong> também está incluída a<br />
mesa <strong>de</strong> <strong>de</strong>gustação para grupos acima<br />
<strong>de</strong> 20 pessoas, o custo é <strong>de</strong> R$ 15,00<br />
para os adultos e R$ 10,00 para<br />
crianças <strong>de</strong> 8 a 12 anos. Crianças até 7<br />
anos não pagam.<br />
A terceira e última opção é usufruir<br />
<strong>do</strong> Parque Aquático Rural e das belezas<br />
que o local oferece. Aos <strong>do</strong>mingos o<br />
espaço está aberto ao público, que<br />
po<strong>de</strong>rá tomar banho <strong>de</strong> bica e <strong>de</strong><br />
piscina natural, mergulhar no açu<strong>de</strong>,<br />
passear <strong>de</strong> barco, escorregar no<br />
esquibunda, acampar, caminhar pelas<br />
trilhas, enfim, se <strong>de</strong>liciar com as frutas<br />
da estação e com o clima <strong>do</strong> local. O<br />
custo <strong>de</strong>sta opção é <strong>de</strong> R$ 10,00 para os<br />
adultos e R$ 4,00 para crianças a partir<br />
<strong>de</strong> 4 anos <strong>de</strong> ida<strong>de</strong>. Sempre com a<br />
preocupação <strong>de</strong> manter preservadas as<br />
belezas naturais <strong>do</strong> Engenho, a<br />
proprietária informa apenas que para a<br />
opção <strong>de</strong> utilização <strong>do</strong> Parque<br />
Aquático, os visitantes terão que<br />
respeitar algumas regras básicas, que<br />
24<br />
po<strong>de</strong>rão ser conferidas no site <strong>do</strong><br />
Engenho.<br />
Sem dispor <strong>de</strong> acomodações para<br />
hospedagem no local, Melânia Vieira<br />
diz que esta será a próxima meta a ser<br />
atingida no Engenho, mas que ainda<br />
não existe previsão para que essa<br />
idéia saia <strong>do</strong> papel. “Estamos com o<br />
projeto pronto, pois é nossa intenção<br />
oferecer esse serviço, já que hoje<br />
recebemos muitos visitantes que vêm<br />
<strong>de</strong> fora, temos uma parceria com a<br />
Fazenda Betânia e recebemos muitos<br />
<strong>do</strong>s seus hóspe<strong>de</strong>s para visitação”,<br />
explicou.<br />
Projetos maiores<br />
Mas além <strong>de</strong> cuidar <strong>do</strong><br />
funcionamento <strong>do</strong> Engenho Laje<br />
Bonita, Melânia tem participa<strong>do</strong><br />
ativamente <strong>de</strong> iniciativas que visam<br />
consolidar a região como opção<br />
turística em <strong>Pernambuco</strong>. Presi<strong>de</strong>nte<br />
<strong>do</strong> Fórum Regional <strong>de</strong> Turismo Águas<br />
da Mata Sul Forte, Melânia diz que<br />
além <strong>de</strong> São Benedito <strong>do</strong> Sul e<br />
Quipapá, Palmares é o terceiro<br />
município que compõe essa rota<br />
lançada pelo governo <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> em<br />
junho <strong>de</strong> 2008, durante o 3º Salão <strong>de</strong><br />
Turismo <strong>de</strong> <strong>Pernambuco</strong>. “Estamos<br />
trabalhan<strong>do</strong> para transformar esses três<br />
municípios em <strong>de</strong>stinos turísticos<br />
consolida<strong>do</strong>s e para isso estamos nos<br />
organiza<strong>do</strong> através <strong>do</strong> Forte e com o<br />
apoio da Empetur, que já vem<br />
realizan<strong>do</strong> oficinas para que possamos<br />
criar um Centro <strong>de</strong> Atendimento ao<br />
Turismo e oferecer um serviço <strong>de</strong><br />
qualida<strong>de</strong> às pessoas que optarem pela<br />
rota Águas da Mata Sul”, finalizou.<br />
Engenho Laje Bonita<br />
Contato: Melânia e Paulo Vieira<br />
(81) 3361 1124 / (81) 3685 1154<br />
Site: www.lajebonita.com.br
Como sanear o Recife o mais<br />
rapidamente possível?<br />
* Geral<strong>do</strong> Margela Correia<br />
A pergunta é o reconhecimento <strong>de</strong> que a cida<strong>de</strong> <strong>do</strong> Recife é uma cida<strong>de</strong><br />
sem saneamento.<br />
Diz-se que existe um “sistema <strong>de</strong><br />
saneamento” correspon<strong>de</strong>nte a 30% <strong>de</strong><br />
cobertura da cida<strong>de</strong>, mas a realida<strong>de</strong><br />
mostra que esse sistema é apenas forma<strong>do</strong><br />
<strong>de</strong> galerias coletoras, sem que,<br />
efetivamente, funcione qualquer ETE<br />
(Estação <strong>de</strong> Tratamento <strong>de</strong> Esgoto). A<br />
constatação é <strong>de</strong> toda a população <strong>do</strong><br />
Recife em qualquer enquete que se faça e<br />
em to<strong>do</strong>s os bairros, com mínima exceção.<br />
Responsabiliza-se por isso a falta <strong>de</strong><br />
consciência das administrações da cida<strong>de</strong> e<br />
<strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> para esta necessida<strong>de</strong> que,<br />
escondida nos subterrâneos e afloran<strong>do</strong><br />
freqüentemente por toda parte, não produz<br />
votos.<br />
Sanear é obrigação imposta no<br />
or<strong>de</strong>namento jurídico nacional, mas para se<br />
tornar eficaz exige gerenciamento, que na<br />
cida<strong>de</strong> é tarefa <strong>do</strong> po<strong>de</strong>r executivo<br />
municipal, cuja primeira obrigação é o<br />
conhecimento da legislação estabelecida a<br />
partir da Constituição Fe<strong>de</strong>ral, para cada<br />
necessida<strong>de</strong> da população administrada.<br />
A falta <strong>de</strong>sse conhecimento é<br />
freqüente, razão das interferências <strong>de</strong><br />
outras entida<strong>de</strong>s e po<strong>de</strong>res para tentar<br />
corrigir as <strong>de</strong>ficiências <strong>do</strong> gerenciamento.<br />
A interferência também se dá quan<strong>do</strong>,<br />
conhecen<strong>do</strong> a legislação, o gerente não a<br />
realiza ou procura formas <strong>de</strong> burla às suas<br />
<strong>de</strong>terminações.<br />
Sabe-se ser obrigação <strong>do</strong> Município<br />
realizar o saneamento <strong>de</strong> acor<strong>do</strong> com as<br />
diretrizes da União (cf. art 21, inc. XX da<br />
CF) e o estabeleci<strong>do</strong> em seu artigo 30,<br />
inciso V , verbis: “Compete aos<br />
Municípios: V - organizar e prestar,<br />
diretamente ou sob regime <strong>de</strong> concessão ou<br />
permissão, os serviços públicos <strong>de</strong><br />
interesse local, incluí<strong>do</strong> o <strong>de</strong> transporte<br />
coletivo, que tem caráter essencial”.<br />
Po<strong>de</strong> o Município realizar por si o<br />
serviço, ou por meio <strong>de</strong> concessão permitir<br />
que outrem o faça, mas a responsabilida<strong>de</strong><br />
pela tarefa mantém-se na esfera <strong>do</strong><br />
Município, competin<strong>do</strong>-lhe retomá-la <strong>do</strong><br />
concessionário, sempre que enten<strong>de</strong>r não<br />
atendi<strong>do</strong>s os interesses locais ou <strong>do</strong><br />
contrato <strong>de</strong> concessão.<br />
O diagnóstico da situação <strong>do</strong><br />
Município é condição inafastável e que<br />
<strong>de</strong>ve ser realiza<strong>do</strong> para a construção <strong>de</strong><br />
seu Plano Diretor, instrumento <strong>de</strong><br />
execução da política urbana <strong>de</strong>termina<strong>do</strong><br />
pela Lei Fe<strong>de</strong>ral nº 10. 257/2001,<br />
estabelecen<strong>do</strong> as diretrizes para um<br />
correto or<strong>de</strong>namento urbano, o que inclui<br />
um eficiente sistema <strong>de</strong> saneamento<br />
básico.<br />
O Plano Diretor é essencial para o<br />
conhecimento e a or<strong>de</strong>nação <strong>de</strong> seus<br />
recursos, suas potencialida<strong>de</strong>s, a<br />
<strong>de</strong>finição <strong>de</strong> seus mo<strong>de</strong>los <strong>de</strong> gerência, a<br />
<strong>de</strong>fesa e restauração <strong>de</strong> seus recursos<br />
ambientais agredi<strong>do</strong>s por danos e tipos<br />
<strong>de</strong> poluição, inclusive, aquela produzida<br />
em face da inexistência ou <strong>de</strong>ficiência <strong>do</strong><br />
serviço <strong>de</strong> saneamento básico,<br />
responsável pela inassimilável carga <strong>de</strong><br />
efluentes lança<strong>do</strong>s nos cursos d'água com<br />
as mais graves conseqüências para a<br />
saú<strong>de</strong> humana, a vida da fauna e da flora<br />
e a inutilização <strong>de</strong>sses recursos para a<br />
população. Este é o instrumento a se<br />
construir com urgência. A Lei em pauta<br />
impõe a participação da comunida<strong>de</strong>, não<br />
apenas por intermédio <strong>de</strong> representantes,<br />
mas na forma direta que <strong>de</strong>ve ser<br />
privilegiada pelo gerente administra<strong>do</strong>r.<br />
É necessário investir em Ciência e<br />
Tecnologia nesta área <strong>de</strong> saneamento,<br />
qualifican<strong>do</strong> técnicos capazes <strong>de</strong><br />
encontrar soluções mais simples e<br />
a<strong>de</strong>quadas para o tratamento e <strong>de</strong>stino<br />
final <strong>do</strong>s resíduos que geramos.<br />
Precisamos <strong>de</strong> bons engenheiros<br />
sanitaristas com visão ambiental.<br />
O planejamento participativo<br />
pressupõe o controle participativo. A<br />
socieda<strong>de</strong> dispõe <strong>de</strong> instrumentos que<br />
po<strong>de</strong>m aten<strong>de</strong>r a esse controle,tais como<br />
as associações e organizações não<br />
governamentais e os próprios órgãos<br />
estatais.<br />
O controle <strong>de</strong>ve ser azeita<strong>do</strong><br />
pelo gerente - administra<strong>do</strong>r <strong>de</strong> forma a<br />
dar respostas rápidas às necessida<strong>de</strong>s,<br />
<strong>de</strong>ntre as priorizadas para a ação estatal,<br />
sen<strong>do</strong> uma <strong>de</strong>las a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> sanear<br />
que exige, além <strong>do</strong> controle social, uma<br />
perfeita integração <strong>do</strong>s diversos órgãos<br />
da administração sob pena da realização<br />
<strong>de</strong> ações paralelas por <strong>de</strong>partamentos<br />
Artigo<br />
Cultura<br />
estanques, sem visão <strong>de</strong> conjunto.<br />
Integração interna seguida da construção<br />
<strong>de</strong> parcerias externas a fim <strong>de</strong> minimizar e<br />
concentrar esforços, além <strong>de</strong> alcançar<br />
resulta<strong>do</strong>s com maior presteza.<br />
O serviço <strong>de</strong> saneamento não é<br />
gratuito e está correlaciona<strong>do</strong> ao serviço <strong>de</strong><br />
água (cf. § 3º <strong>do</strong> art. 149 da Constituição<br />
<strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> <strong>de</strong> <strong>Pernambuco</strong>). Ao uso da água<br />
<strong>de</strong>ve correspon<strong>de</strong>r o tratamento da que foi<br />
servida, usada e misturada a <strong>de</strong>tritos <strong>de</strong><br />
toda or<strong>de</strong>m. O presta<strong>do</strong>r <strong>de</strong> serviço é<br />
autoriza<strong>do</strong> a cobrar por ele e não por um<br />
serviço que não realiza e, se o fizer,<br />
caracteriza enriquecimento ilícito, pois sem<br />
causa, o que é verda<strong>de</strong>iro para o Po<strong>de</strong>r<br />
<strong>Público</strong> se é ele que presta diretamente o<br />
serviço, quanto para o concessionário.<br />
Prestan<strong>do</strong> o Po<strong>de</strong>r <strong>Público</strong> diretamente<br />
o serviço, os recursos <strong>de</strong>vem ser rubrica<strong>do</strong>s<br />
no orçamento e realiza<strong>do</strong>s na <strong>de</strong>pendência<br />
da arrecadação; po<strong>de</strong> e <strong>de</strong>ve buscá-los em<br />
fontes extraorçamentárias, como verbas<br />
alocadas no orçamento da União e/ou <strong>do</strong><br />
Esta<strong>do</strong> para este setor, celebran<strong>do</strong><br />
convênios, geralmente com contrapartidas<br />
irrisórias.<br />
O Po<strong>de</strong>r <strong>Público</strong> <strong>de</strong>ve também induzir<br />
e obrigar as empresas a processar e tratar<br />
seus próprios resíduos, se perigosos ou<br />
específicos e é o responsável pelo serviço,<br />
ao menos no senti<strong>do</strong> <strong>de</strong> fiscalizar sua<br />
realização e impor metas ao presta<strong>do</strong>r, uma<br />
<strong>de</strong>las sen<strong>do</strong> a da sua universalização. O<br />
presta<strong>do</strong>r é que <strong>de</strong>ve ter seu próprio capital<br />
para investir, louvan<strong>do</strong>-se na cobrança <strong>do</strong><br />
serviço efetivamente presta<strong>do</strong>,<br />
respon<strong>de</strong>n<strong>do</strong>, inclusive criminalmente,<br />
pelas <strong>de</strong>ficiências e ina<strong>de</strong>quações aos<br />
ditames legais.<br />
Já é tempo <strong>de</strong> enten<strong>de</strong>r que não<br />
po<strong>de</strong>mos mais aceitar a discricionarieda<strong>de</strong><br />
<strong>do</strong> administra<strong>do</strong>r em postergar<br />
in<strong>de</strong>finidamente a efetivação <strong>de</strong>sse<br />
direito/interesse essencial da socieda<strong>de</strong>,<br />
para a realização <strong>do</strong> qual contribui na<br />
forma <strong>de</strong> impostos e na forma <strong>de</strong><br />
pagamento por sua utilização.<br />
* Promotor <strong>de</strong> Justiça <strong>de</strong> Meio Ambiente da<br />
Capital e Presi<strong>de</strong>nte da <strong>Associação</strong> <strong>do</strong><br />
<strong>Ministério</strong> <strong>Público</strong> <strong>de</strong> <strong>Pernambuco</strong> - AMPPE<br />
25
Matéria principal<br />
Organizações <strong>de</strong> classe<br />
Peças chave na conquista <strong>de</strong> direitos pelos<br />
Aorganização <strong>do</strong>s trabalha<strong>do</strong>res brasileiros em associações<br />
e sindicatos vem sen<strong>do</strong> ao longo da história <strong>do</strong> país, a mola<br />
propulsora para a conquista <strong>de</strong> direitos que certamente,<br />
sem uma ação coletiva e articulada, não teriam atingi<strong>do</strong> tais<br />
propósitos.<br />
Oriun<strong>do</strong> da ida<strong>de</strong> mo<strong>de</strong>rna, o<br />
conceito <strong>de</strong> associação surgiu com a<br />
necessida<strong>de</strong> da representação <strong>de</strong><br />
interesses, que no geral são<br />
corporativos e aten<strong>de</strong>m a uma<br />
<strong>de</strong>terminada categoria profissional. A<br />
organização <strong>do</strong>s trabalha<strong>do</strong>res em<br />
sindicatos no Brasil alcançou seu ápice<br />
por volta <strong>do</strong>s anos 70, em plena<br />
ditadura militar, com as greves <strong>do</strong> ABC<br />
paulista, movimento que contribuiu<br />
fortemente para a re<strong>de</strong>mocratização <strong>do</strong><br />
país e <strong>de</strong> on<strong>de</strong> emergiram diversas<br />
li<strong>de</strong>ranças sindicais. A partir daí o<br />
sindicalismo ganhou força no país,<br />
ten<strong>do</strong> si<strong>do</strong> fundada em 1983 a Central<br />
Única <strong>do</strong>s Trabalha<strong>do</strong>res CUT, que<br />
aglutinou diversos segmentos <strong>de</strong><br />
trabalha<strong>do</strong>res em torno <strong>de</strong> ban<strong>de</strong>iras<br />
comuns.<br />
O cientista político e professor da<br />
Romeu da Fonte se <strong>de</strong>dicou à <strong>de</strong>fesa <strong>do</strong>s rurais<br />
26<br />
Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong><br />
<strong>Pernambuco</strong>, Michel Zaidan Filho<br />
explica que constituição das<br />
associações correspon<strong>de</strong> a um<br />
processo chama<strong>do</strong> socialização da<br />
política, se configuran<strong>do</strong> em um<br />
momento em que as pessoas <strong>de</strong>ixam<br />
<strong>de</strong> lutar individualmente, para tratar<br />
<strong>de</strong> interesses comuns <strong>de</strong> forma<br />
coletiva, passan<strong>do</strong> a ser sujeitos<br />
representa<strong>do</strong>s por uma entida<strong>de</strong>.<br />
No Brasil esse processo se<br />
iniciou a partir <strong>do</strong> século 20, quan<strong>do</strong><br />
se <strong>de</strong>u a socieda<strong>de</strong> <strong>do</strong> trabalho, com<br />
um grupo <strong>de</strong> serviços consolida<strong>do</strong>,<br />
momento em que os profissionais<br />
liberais passam a ter um papel<br />
primordial, a exemplo <strong>do</strong>s opera<strong>do</strong>res<br />
<strong>do</strong> direito, como membros <strong>do</strong><br />
<strong>Ministério</strong> <strong>Público</strong>, advoga<strong>do</strong>s e<br />
gestores públicos. “Os sindicatos <strong>de</strong><br />
trabalha<strong>do</strong>res estão se abrin<strong>do</strong> para<br />
outras questões em discussão na<br />
socieda<strong>de</strong>, como i<strong>do</strong>sos e<br />
aposenta<strong>do</strong>s. Já as associações <strong>de</strong><br />
profissionais liberais são mais<br />
amplas, pois discutem questões<br />
relativas ao esta<strong>do</strong>, ao or<strong>de</strong>namento<br />
jurídico, às políticas públicas, à<br />
questão da justiça propriamente dita.<br />
Normalmente elas são mais ricas <strong>do</strong><br />
ponto <strong>de</strong> vista da representativida<strong>de</strong>”,<br />
disse Michel Zaidan.<br />
O professor enfatizou o papel <strong>do</strong><br />
<strong>Ministério</strong> <strong>Público</strong> para a<br />
<strong>de</strong>mocracia, apesar da fragilida<strong>de</strong> <strong>do</strong><br />
sistema judicial brasileiro. “A ação da<br />
associação po<strong>de</strong> ser oportuna no<br />
esclarecimento à socieda<strong>de</strong> <strong>do</strong> papel<br />
<strong>do</strong> <strong>Ministério</strong> <strong>Público</strong>, das suas<br />
funções e atribuições para que <strong>de</strong> fato<br />
seus integrantes sintam-se<br />
representa<strong>do</strong>s pela entida<strong>de</strong> que tem<br />
que cumprir a política da categoria”,<br />
Michel Zaidan <strong>de</strong>staca importância das<br />
associações para a <strong>de</strong>fesa <strong>do</strong>s trabalha<strong>do</strong>res<br />
lembrou. Michel Zaidan alertou para o<br />
fato <strong>de</strong> que o <strong>de</strong>sempenho político <strong>de</strong><br />
uma associação <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> <strong>de</strong> sua base,<br />
pois “se ela é anêmica, apática, não<br />
representa o papel que <strong>de</strong>ve<br />
representar, a diretoria da entida<strong>de</strong><br />
ten<strong>de</strong> a usurpar o seu papel na<br />
<strong>de</strong>finição da política a ser a<strong>do</strong>tada pela<br />
entida<strong>de</strong>”.<br />
Experiência acumulada<br />
Deputa<strong>do</strong> fe<strong>de</strong>ral pelo PDT, o<br />
professor Paulo Rubem Santiago<br />
conheceu <strong>de</strong> perto a luta sindical em<br />
<strong>Pernambuco</strong>. Oriun<strong>do</strong> <strong>do</strong> movimento<br />
estudantil, Paulo Rubem iniciou sua<br />
militância sindical em 1979, na antiga<br />
Apenope, hoje Sindicato <strong>do</strong>s<br />
Trabalha<strong>do</strong>res em Educação <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong><br />
<strong>de</strong> <strong>Pernambuco</strong>. Para o <strong>de</strong>puta<strong>do</strong>, os<br />
órgãos <strong>de</strong> classe contribuíram<br />
fortemente para a <strong>de</strong>fesa <strong>do</strong>s salários e<br />
das condições <strong>de</strong> trabalho e<br />
representaram um diferencial<br />
importante para o país ao lutar contra a
os trabalha<strong>do</strong>res brasileiros<br />
ditadura e pelas eleições gerais,<br />
associan<strong>do</strong> <strong>de</strong>mocracia política à<br />
econômica.<br />
Mesmo não ten<strong>do</strong> as mãos<br />
calejadas pela dureza da ativida<strong>de</strong>, o<br />
Conselheiro <strong>do</strong> Tribunal <strong>de</strong> Contas<br />
aposenta<strong>do</strong>, Romeu da Fonte, teve a<br />
maior parte da sua vida profissional<br />
<strong>de</strong>dicada à <strong>de</strong>fesa <strong>do</strong>s trabalha<strong>do</strong>res<br />
rurais em <strong>Pernambuco</strong>. Ele traz na<br />
bagagem a larga experiência <strong>de</strong> ter<br />
atuan<strong>do</strong> como advoga<strong>do</strong> da Fe<strong>de</strong>ração<br />
<strong>do</strong>s Trabalha<strong>do</strong>res na Agricultura<br />
Fetape durante 31 anos (1966 a 1997),<br />
função que só <strong>de</strong>ixou <strong>de</strong> assumir<br />
quan<strong>do</strong> ocupou uma vaga <strong>de</strong><br />
Conselheiro <strong>do</strong> Tribunal <strong>de</strong> Contas, por<br />
haver incompatibilida<strong>de</strong> constitucional<br />
com a sua condição <strong>de</strong> advoga<strong>do</strong><br />
militante. Dedica<strong>do</strong> à causa e<br />
afirman<strong>do</strong> que advogar para os rurais<br />
foi uma lição <strong>de</strong> vida, Romeu da Fonte<br />
explica que a organização <strong>do</strong> segmento<br />
se <strong>de</strong>u muito posteriormente ao <strong>do</strong>s<br />
trabalha<strong>do</strong>res urbanos, graças inclusive,<br />
a fatores culturais. Mas o ápice veio no<br />
ano <strong>de</strong> 1962, quan<strong>do</strong> comunistas e<br />
setores da igreja dividiam a hegemonia<br />
<strong>de</strong>ssa organização. Romeu da Fonte<br />
citou o advoga<strong>do</strong> e político Francisco<br />
Julião, lí<strong>de</strong>r das Ligas Camponesas,<br />
organizações cujo objetivo era lutar<br />
pela distribuição <strong>de</strong> terras e os direitos<br />
para os camponeses, como uma das<br />
figuras chave na organização <strong>do</strong>s rurais<br />
“pois sua forma <strong>de</strong> atuar foi na época<br />
uma profecia <strong>do</strong> que viria mais à frente<br />
com os sem-terra, pois ele evitava<br />
entrar no arcabouço das limitações<br />
regulamentares e legais, buscan<strong>do</strong> a<br />
garantia <strong>de</strong> direitos através <strong>de</strong> outros<br />
instrumentos”.<br />
O advoga<strong>do</strong> cita o primeiro<br />
governo <strong>do</strong> ex-governa<strong>do</strong>r Miguel<br />
Arraes como um importante momento<br />
para a organização sindical e trabalhista<br />
da classe quan<strong>do</strong> foi assina<strong>do</strong> o Acor<strong>do</strong><br />
<strong>do</strong> Campo, esten<strong>de</strong>n<strong>do</strong> o direito ao<br />
salário mínimo aos rurais.<br />
Bem estar social<br />
O professor Michel Zaidan<br />
reforça que a organização sindical é<br />
<strong>de</strong> suma importância para os<br />
trabalha<strong>do</strong>res, pois sem ela jamais se<br />
teria chega<strong>do</strong> ao esta<strong>do</strong> <strong>de</strong> bem estar<br />
social no mun<strong>do</strong> e no Brasil, que é<br />
produto tanto <strong>de</strong>ssa organização,<br />
como da consciência <strong>do</strong>s<br />
profissionais <strong>de</strong> uma maneira geral.<br />
“Não se concebe uma socieda<strong>de</strong> com<br />
bem estar social aon<strong>de</strong> não há<br />
organização. Senão vai se cair na<br />
idéia <strong>de</strong> que o Esta<strong>do</strong> conce<strong>de</strong>,<br />
quan<strong>do</strong> isso só acontece quan<strong>do</strong> ele é<br />
pressiona<strong>do</strong> por uma organização <strong>de</strong><br />
classe po<strong>de</strong>rosa, com alto nível <strong>de</strong><br />
consciência e que propõe políticas<br />
específicas para que o Esta<strong>do</strong> possa<br />
implementá-las”, explicou.<br />
Para Michel Zaidan a história da<br />
organização sindical no Brasil teve<br />
três momentos que merecem<br />
<strong>de</strong>staque. O primeiro, a partir <strong>de</strong><br />
1880, durante a primeira república,<br />
quan<strong>do</strong> se <strong>de</strong>u o processo <strong>de</strong><br />
industrialização <strong>do</strong> país, quan<strong>do</strong><br />
Matéria principal<br />
chegaram ao Brasil os imigrantes, que<br />
não tinham cidadania brasileira e nem<br />
interesse em participar da vida política<br />
<strong>do</strong> país, mas tinham uma autonomia<br />
sindical enorme. “Foi um momento <strong>de</strong><br />
muita greve, muita pressão e muita<br />
organização sindical”, lembrou.<br />
O segun<strong>do</strong> seria a partir <strong>de</strong> 1920,<br />
com o início <strong>do</strong> sindicalismo<br />
burocrático <strong>de</strong> massas, que<br />
correspon<strong>de</strong> ao perío<strong>do</strong> <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong><br />
Novo <strong>de</strong> Getúlio Vargas, momento em<br />
que os sindicatos per<strong>de</strong>m a autonomia<br />
e se transformam em meras correias <strong>de</strong><br />
transmissão <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong>. “Os sindicatos<br />
<strong>de</strong>ixam <strong>de</strong> ter uma característica<br />
combativa e passam a ser órgãos <strong>de</strong><br />
assistência social e <strong>de</strong> cuidar <strong>de</strong><br />
interesses técnicos profissionais, mas<br />
sem nenhuma política. É a época <strong>do</strong><br />
sindicalismo pelego”, <strong>de</strong>stacou.<br />
O momento atual é aponta<strong>do</strong> pelo<br />
professor como outra fase a ser<br />
observada, quan<strong>do</strong> o mun<strong>do</strong> <strong>do</strong><br />
trabalho começa a per<strong>de</strong>r importância,<br />
com a substituição da mão-<strong>de</strong>-obra<br />
pelas tecnologias da informação,<br />
trabalho à distância e trabalho virtual.<br />
Paulo Rubem ressalta o papel <strong>do</strong> movimento sindical no combate à ditadura e pela re<strong>de</strong>mocratização<br />
27
Matéria principal<br />
“Nesse momento o movimento sindical<br />
está na retranca, passan<strong>do</strong> a <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>r o<br />
que foi já conquista<strong>do</strong>”, registrou.<br />
O professor Michel Zaidan<br />
<strong>de</strong>monstrou preocupação com a<br />
organização <strong>do</strong>s sindicatos pós governo<br />
Lula, quan<strong>do</strong> muitos dirigentes<br />
assumiram cargos no governo, o que<br />
para ele representou uma<br />
“<strong>de</strong>capitação”, <strong>do</strong> movimento sindical.<br />
“Além <strong>do</strong> <strong>de</strong>sfalque sofri<strong>do</strong> pelo<br />
movimento com a ascensão <strong>de</strong> Lula à<br />
Ombudsman da socieda<strong>de</strong><br />
O Promotor <strong>de</strong> Justiça <strong>do</strong> Rio <strong>de</strong><br />
Janeiro Eduar<strong>do</strong> Gussem acumula<br />
experiências que mesclam a<br />
institucionalida<strong>de</strong> com o trabalho<br />
classsista, o que o cre<strong>de</strong>nciam a avaliar<br />
com maestria a organização sindical<br />
<strong>do</strong>s membros <strong>do</strong> <strong>Ministério</strong> <strong>Público</strong>.<br />
Ten<strong>do</strong> ingressa<strong>do</strong> no <strong>Ministério</strong><br />
<strong>Público</strong> em 1993, o Promotor já<br />
disputou o cargo <strong>de</strong> Procura<strong>do</strong>r Geral<br />
Eduar<strong>do</strong> Gussem diz que a Conamp e o CNPG <strong>de</strong>vem atuar <strong>de</strong><br />
forma harmônica, <strong>de</strong>ixan<strong>do</strong> <strong>de</strong> la<strong>do</strong> rivalida<strong>de</strong>s internas<br />
28<br />
presidência, Michel Zaidan alertou<br />
para o fato da necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> que os<br />
trabalha<strong>do</strong>res atuem com<br />
in<strong>de</strong>pendência. “Nenhuma entida<strong>de</strong><br />
<strong>de</strong> classe <strong>de</strong>ve ser atrelada a um<br />
governo. Po<strong>de</strong> ser o melhor governo,<br />
mas a autonomia <strong>do</strong> movimento tem<br />
que ser resguardada para preservar os<br />
espaços <strong>de</strong> luta <strong>do</strong>s trabalha<strong>do</strong>res”,<br />
finalizou.<br />
Para o <strong>de</strong>puta<strong>do</strong> Paulo Rubem<br />
Santiago o sindicalismo hoje<br />
<strong>de</strong> Justiça (não sen<strong>do</strong> o mais<br />
vota<strong>do</strong> por uma diferença <strong>de</strong><br />
apenas <strong>quatro</strong> votos) e foi<br />
Secretário Geral <strong>do</strong> <strong>Ministério</strong><br />
<strong>Público</strong> <strong>de</strong> 2005 a 2007, ano em<br />
que se afastou se suas funções<br />
institucionais para disputar a<br />
presidência da <strong>Associação</strong> <strong>do</strong>s<br />
Membros <strong>do</strong> <strong>Ministério</strong> <strong>Público</strong> <strong>do</strong><br />
Rio <strong>de</strong> Janeiro AMPERJ. “Naquele<br />
momento sentíamos a<br />
necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />
participar mais<br />
ativamente das<br />
políticas públicas <strong>do</strong><br />
Esta<strong>do</strong>, nos<br />
aproximan<strong>do</strong> mais <strong>de</strong><br />
outros segmentos da<br />
socieda<strong>de</strong>”, explicou.<br />
Para o Promotor<br />
os órgãos <strong>de</strong> classe<br />
cumprem um papel<br />
fundamental como<br />
nortea<strong>do</strong>res das<br />
políticas institucionais,<br />
mas <strong>de</strong>fen<strong>de</strong> que é<br />
preciso mais<br />
integração, um maior<br />
intercâmbio e troca <strong>de</strong><br />
conhecimento entre as<br />
associações. Para ele, a<br />
<strong>Associação</strong> Nacional<br />
<strong>do</strong>s Membros <strong>do</strong><br />
<strong>Ministério</strong> <strong>Público</strong><br />
Conamp, que reúne<br />
entida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> to<strong>do</strong> o<br />
país e o Conselho<br />
Nacional <strong>de</strong><br />
Procura<strong>do</strong>res Gerais<br />
Matéria<br />
acomo<strong>do</strong>u-se às opções escolhidas pelo<br />
governo atual, ren<strong>de</strong>n<strong>do</strong>-se ao<br />
pragmatismo e às alianças capazes <strong>de</strong><br />
permitir governabilida<strong>de</strong> ao atual<br />
mandato <strong>do</strong> executivo fe<strong>de</strong>ral. “Tenho<br />
dúvidas se <strong>do</strong> atual mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong><br />
sindicalismo reinante sairá uma nova<br />
força capaz <strong>de</strong> reafirmar a radicalida<strong>de</strong><br />
da <strong>de</strong>mocracia e a <strong>de</strong>fesa <strong>de</strong> uma<br />
socieda<strong>de</strong> socialista”, alertou o<br />
<strong>de</strong>puta<strong>do</strong>.<br />
CNPG precisam atuar <strong>de</strong> forma<br />
harmônica. “Rivalida<strong>de</strong>s internas<br />
geram perda <strong>de</strong> força e credibilida<strong>de</strong>.<br />
Não po<strong>de</strong>mos <strong>de</strong>sperdiçar energia”,<br />
frisou. Outro organismo <strong>de</strong> gran<strong>de</strong><br />
importância, na avaliação <strong>de</strong> Eduar<strong>do</strong><br />
Gussem, é o Conselho Nacional <strong>do</strong><br />
<strong>Ministério</strong> <strong>Público</strong> CNMP, alertan<strong>do</strong><br />
para o fato que após a sua criação a<br />
presença permanente <strong>de</strong> Presi<strong>de</strong>ntes <strong>de</strong><br />
associações e Procura<strong>do</strong>res Gerais em<br />
Brasília é quase imperiosa. “Penso que<br />
a Conamp e o CNPG têm que agir <strong>de</strong><br />
forma proativa na elaboração das<br />
resoluções <strong>do</strong> CNMP, buscan<strong>do</strong> uma<br />
maior participação, para que elas sejam<br />
menos específicas, já que a diversida<strong>de</strong><br />
entre os Esta<strong>do</strong>s é muito gran<strong>de</strong>”,<br />
observou.<br />
A organização sindical não só no<br />
âmbito <strong>do</strong> <strong>Ministério</strong> <strong>Público</strong>, mas<br />
também <strong>do</strong>s <strong>de</strong>mais trabalha<strong>do</strong>res<br />
brasileiros é vista pelo Promotor como<br />
<strong>de</strong>terminante para a garantia <strong>de</strong><br />
instituições fortes, dan<strong>do</strong> como<br />
exemplo as conquistas obtidas através<br />
da Constituição <strong>de</strong> 88, “quan<strong>do</strong> o<br />
<strong>Ministério</strong> <strong>Público</strong> <strong>de</strong>u uma gran<strong>de</strong><br />
virada, assumin<strong>do</strong> o papel <strong>de</strong><br />
verda<strong>de</strong>iro ombudsman da socieda<strong>de</strong>,<br />
função que se choca com muitos<br />
interesses relevantes”. “Uma <strong>de</strong> minhas<br />
preocupações é a falta <strong>de</strong><br />
representativida<strong>de</strong> <strong>de</strong> nossa classe na<br />
política partidária, o que tem si<strong>do</strong> um<br />
gran<strong>de</strong> golpe na manutenção das<br />
nossas prerrogativas. Nossa<br />
representação no Congresso Nacional é<br />
ínfima, o que me preocupa muito”,<br />
finalizou.
A reforma ortográfica mu<strong>do</strong>u a cara <strong>de</strong> palavras<br />
* Dad Squarisi<br />
Quem fica para<strong>do</strong> é poste? É. Como<br />
não é poste, a língua se move. No século<br />
passa<strong>do</strong>, teve várias reformas ortográficas.<br />
Graças a elas, pharmacia <strong>de</strong>ixou o ph pra<br />
lá, govêrno per<strong>de</strong>u o chapéu e cafèzinho<br />
aban<strong>do</strong>nou o grampinho. No primeiro dia<br />
<strong>de</strong> 2009, novas alterações entraram em<br />
vigor. Palavras ganharam cara diferente.<br />
Até 31.12.2012, conviverão as duas<br />
grafias. Em concursos, vestibulares,<br />
correspondências, po<strong>de</strong>-se jogar na equipe<br />
<strong>do</strong> passa<strong>do</strong> ou na <strong>do</strong> presente. Po<strong>de</strong>-se, até,<br />
misturar as duas. Em 2013, só a novida<strong>de</strong><br />
terá vez. As alterações são poucas —<br />
atingiram só 0,5% <strong>do</strong> português<br />
tupiniquim. A seguir, você tem um resumo<br />
das mudanças. Guar<strong>de</strong>-o para consulta.<br />
O que muda? Alfabeto: entram k, w e y.<br />
O trema <strong>de</strong>saparece, mas a pronúncia se<br />
mantém. Freqüente, tranqüilo, lingüeta,<br />
lingüiça passam a se grafar frequente,<br />
tranquilo, lingueta, linguiça.<br />
O chapéu <strong>do</strong> ditongo ôo se <strong>de</strong>spe<strong>de</strong>. Vôo,<br />
abençôo, perdôo viram voo, abençoo,<br />
per<strong>do</strong>o.<br />
O circunflexo <strong>do</strong> hiato êem diz a<strong>de</strong>us.<br />
Vêem, crêem, dêem, lêem ganham a forma<br />
veem, creem, <strong>de</strong>em, leem.<br />
O agu<strong>do</strong> <strong>do</strong> u tônico <strong>do</strong>s verbos apaziguar,<br />
averiguar, arguir & cia. some. Apazigúe,<br />
averigúe e argúe ganham a forma apazigue,<br />
averigue, arguem.<br />
O ieu antecedi<strong>do</strong>s <strong>de</strong> ditongo per<strong>de</strong>m o<br />
grampo. Feiúra, baiúca, Sauípe viram<br />
feiura, baiuca, Sauipe.<br />
Os ditongos abertos éi e ói se <strong>de</strong>spe<strong>de</strong>m <strong>do</strong><br />
acento nas paroxítonas. Idéia, jóia, jibóia<br />
exibem a forma i<strong>de</strong>ia, joia, jiboia.<br />
(O grampinho permanece nas oxítonas e<br />
monossílaba<strong>do</strong>s tônicos: papéis, herói,<br />
dói.)<br />
Os acentos diferenciais das paroxítonas se<br />
vão. Pêlo, pélo, pára, pólo, pêra se<br />
transformam em pelo, para, polo, pera.<br />
(Mantém-se o chapéu <strong>de</strong> pô<strong>de</strong>,<br />
passa<strong>do</strong> <strong>do</strong><br />
verbo po<strong>de</strong>r, e <strong>do</strong> verbo pôr).<br />
Hífen<br />
Exigem o hífen sempre<br />
1. Os prefixos segui<strong>do</strong>s <strong>de</strong> h:<br />
anti-higênico,<br />
super-homem, micro-história, extrahumano,<br />
proto-história, sobre-humano,<br />
ultra-heróico.<br />
A reforma é ortográfica refere-se só à<br />
grafia das palavras. Pronúncia,<br />
concordância, regência, crase continuam<br />
como dantes no quartel <strong>de</strong> Abrantes.<br />
Dica 2<br />
A mudança nos acentos só atingiu as<br />
paroxítonas. Proparoxítonas, oxítonas e<br />
monossílabos tônicos não foram nem<br />
arranha<strong>do</strong>s. Mantêm-se como sempre<br />
foram.<br />
Dica 3<br />
No caso <strong>do</strong>s hifens, imperam três regras<br />
<strong>de</strong> ouro. Uma: prefixo segui<strong>do</strong> <strong>de</strong> h (antihistórico).<br />
Duas: os iguais se rejeitam<br />
(micro-ondas). Três: os diferentes se<br />
atraem (autoescola, infraestrutura,<br />
plurianual, semiopaco).<br />
Dica 4<br />
Nos prefixos termina<strong>do</strong>s em vogal que se<br />
juntam a palavras começadas por r ou s,<br />
duplicam-se o r e o s pra manter a<br />
Falan<strong>do</strong> em português<br />
Exceção: subumano, coer<strong>de</strong>iro, inábil, pronúncia: antirrábico, antirrugas,<br />
reaver<br />
antissocial, biorritmo, contrassenso,<br />
2. Além, aquém, ex, pós, pré, pró, recém,<br />
infrassom, microssistema, minissaia,<br />
sem, vice: além-mar, aquém-muros, ex-<br />
multissecular, neossocialismo,<br />
presi<strong>de</strong>nte, pós-graduação, pré-primário,<br />
semirrobusto, ultrarrigoroso, ultrassom.<br />
pró-reitor, recém-chega<strong>do</strong>, sem-terra,<br />
vice-presi<strong>de</strong>nte.<br />
Dica 5<br />
3. Os prefixos termina<strong>do</strong>s pela mesma O co- e o re- sofrem <strong>de</strong> alergia ao hífen.<br />
letra com que se inicia a palavra Com eles é tu<strong>do</strong> cola<strong>do</strong>: coautor, corréu,<br />
seguinte: anti-inflamatório, auto- corresponsável, reeleição.<br />
observação, contra-ataque, micro-ondas,<br />
semi-internato, hiper-rico, inter-racial, Dica 6<br />
sub-bloco, super-resistente, super- Em vez <strong>de</strong> 23 letras, nosso abecedário passa<br />
romântico.<br />
a ter 26. A alteração não muda em nada<br />
Exceção 1: co- se junta ao segun<strong>do</strong> nossa vida <strong>de</strong> to<strong>do</strong>s os dias. Na verda<strong>de</strong>,<br />
elemento mesmo quan<strong>do</strong> ele acaba com torna <strong>de</strong> direito o que é <strong>de</strong> fato. O k já<br />
o: coor<strong>de</strong>nar, coobrigação.<br />
figurava em abreviaturas (kg, km),<br />
fórmulas etc. e tal. O y frequenta certidões<br />
Exceção 2: Sub usa mais um hífen — <strong>de</strong> Yaras e companhias. O w, além <strong>de</strong><br />
com palavra iniciada por r: sub-região,<br />
aparecer em abreviaturas e nomes próprios<br />
sub-raça.<br />
como Wilson e Walter, dá nome a avenidas<br />
4. Os sufixos <strong>de</strong> origem tupi-guarani açu, que cortam Brasília <strong>de</strong> norte a sul.<br />
guaçu e mirim: amoré-guaçu, anajá- Dica 7<br />
mirim, capim-açu.<br />
O trema morreu no português. Mas se<br />
5. A junção <strong>de</strong> duas palavras mesmo mantém em palavras estrangeiras ou <strong>de</strong>las<br />
quan<strong>do</strong> cada uma mantém a<br />
<strong>de</strong>rivadas (Müller, mülleriano). A razão:<br />
individualida<strong>de</strong>: Ponte Rio-Niterói,<br />
nós po<strong>de</strong>mos alterar a nossa língua. Não<br />
trecho Brasília-SãoPaulo, Liberda<strong>de</strong>temos<br />
po<strong>de</strong>r pra mudar a <strong>do</strong>s outros.<br />
Igualda<strong>de</strong>-Fraternida<strong>de</strong>.<br />
Dica 8<br />
6. As expressões latinas aportuguesadas: A reforma só muda a grafia <strong>de</strong> palavras.<br />
in octavo, mas in-oitavo, via crucis, mas<br />
Pronúncia, concordâncias, regências não<br />
via-crúcis.<br />
foram sequer arranhadas.<br />
Dica 1<br />
* Dad Squarise é escritora e professora<br />
<strong>de</strong> Português. É autora <strong>de</strong> vários livros,<br />
Editora <strong>do</strong> Ca<strong>de</strong>rno <strong>de</strong> Opinião <strong>do</strong> Correio<br />
Brasiliense, on<strong>de</strong> escreve a coluna Dicas<br />
<strong>de</strong> Português, veiculada também no<br />
Diário <strong>de</strong> <strong>Pernambuco</strong><br />
dad.squarisi@gmail.com.br<br />
(Blog da Dad www.correiobraziliense.com.br) .<br />
29
Cultura<br />
Dança brasílica<br />
Mistura <strong>de</strong> ritmos embala Balé Popular <strong>do</strong> Recife<br />
Fundada em 1976, a companhia<br />
teve sua origem baseada no Balé<br />
Armorial <strong>do</strong> Nor<strong>de</strong>ste - i<strong>de</strong>aliza<strong>do</strong> pelo<br />
então Secretário <strong>de</strong> Cultura à época, o<br />
escritor Ariano Suassuna -, que apesar<br />
<strong>de</strong> uma vida curta, inspirou a família a<br />
dar início a um projeto que já acumula<br />
33 anos <strong>de</strong> passos e compassos.<br />
As coreografias já apresentadas no<br />
Brasil e em diversos países <strong>do</strong> exterior<br />
pelo Balé Popular <strong>do</strong> Recife são<br />
montadas a partir da Dança Brasílica,<br />
meto<strong>do</strong>logia criada por André<br />
Madureira e que nada mais é <strong>do</strong> que<br />
uma miscigenação cultural, on<strong>de</strong> o<br />
30<br />
Uma celebração <strong>de</strong> amor e alegria. É com<br />
essa frase que o diretor geral <strong>do</strong> Balé<br />
Popular <strong>do</strong> Recife, André Madureira,<br />
traduz o que representa para a sua<br />
família, “alguns abnega<strong>do</strong>s” e bailarinos<br />
ver o grupo entrar em cena.<br />
Nor<strong>de</strong>ste: um <strong>do</strong>s espetáculos apresenta<strong>do</strong>s pela companhia nos 33 anos <strong>de</strong> história<br />
grupo pratica vários ritmos ao mesmo<br />
tempo, manten<strong>do</strong> características <strong>do</strong><br />
popular, mas com um viés mais<br />
turístico. “A miscigenação <strong>de</strong> raças<br />
no Brasil contribuiu culturalmente e<br />
artisticamente para um manancial <strong>de</strong><br />
passos, ritmos, trajes, gestual,<br />
mímica, instrumentação e <strong>de</strong> uma<br />
cultura total para uma nova raça que<br />
está nascen<strong>do</strong> no Brasil, a mestiça”,<br />
explicou André.<br />
O resulta<strong>do</strong> <strong>de</strong>sse trabalho, que<br />
é conduzi<strong>do</strong> por um grupo <strong>de</strong> cinco<br />
pessoas, as professoras Mabel e<br />
Suzana Magdala; Ângela Madureira<br />
Construir uma<br />
se<strong>de</strong> própria<br />
para o balé é<br />
um sonho<br />
persegui<strong>do</strong> <strong>de</strong><br />
forma<br />
incansável por<br />
André<br />
Madureira<br />
(diretora administrativa); Angélica<br />
Madureira (diretora artística) e Andréia<br />
Madureira (produtora) ganha reforço<br />
pela paixão <strong>de</strong> seus bailarinos, que se<br />
distribuem nas três companhias<br />
montadas <strong>de</strong>ntro <strong>do</strong> balé e que abrange<br />
várias faixas etárias. São elas: o Balé<br />
Popular, formada por adultos que já<br />
passaram por outras etapas<br />
anteriormente; o Forrobodó, forma<strong>do</strong><br />
por a<strong>do</strong>lescentes acima <strong>do</strong>s 18 anos; o<br />
Brasil Brinque<strong>do</strong>, com formação <strong>de</strong><br />
crianças <strong>do</strong>s 8 aos 12 anos e <strong>de</strong>ntro <strong>do</strong>s<br />
próximos dias a companhia contará<br />
ainda com outra: o balé Brasílica, uma<br />
nova ramificação formada por<br />
a<strong>do</strong>lescentes <strong>do</strong>s 13 aos 17 anos. Além<br />
disso, o balé mantêm uma escolinha,<br />
que trabalha a dança popular <strong>de</strong>ntro<br />
<strong>do</strong>s seus mais diversos ritmos com<br />
crianças a partir <strong>do</strong>s 4 anos.<br />
Para André Madureira, além da<br />
paixão pela dança e pela cultura<br />
popular, a sobrevivência <strong>do</strong> Balé<br />
Popular <strong>do</strong> Recife <strong>de</strong>ve-se também à<br />
<strong>de</strong>dicação <strong>do</strong>s pais que levam as<br />
crianças <strong>do</strong> Brasil Brinque<strong>do</strong> às aulas e<br />
ensaios. “São vários abnega<strong>do</strong>s <strong>de</strong>ssa<br />
causa. Não é fácil abrir mão <strong>de</strong> finais<br />
<strong>de</strong> semana. É preciso ter muito amor<br />
pela criança e pelo cultural”, frisou<br />
André.
Novas dificulda<strong>de</strong>s<br />
Conviven<strong>do</strong> com diversas<br />
dificulda<strong>de</strong>s financeiras o balé sofreu<br />
um gran<strong>de</strong> impacto no dia 1º <strong>de</strong><br />
fevereiro <strong>de</strong>ste ano, quan<strong>do</strong> o fogo<br />
tomou conta <strong>do</strong> sobra<strong>do</strong> que abrigava<br />
as aulas e ensaios da companhia,<br />
situa<strong>do</strong> na Rua <strong>do</strong> Sossego, centro <strong>do</strong><br />
Recife, e transformou em cinzas a<br />
maioria <strong>do</strong> figurino <strong>do</strong> balé, tornan<strong>do</strong><br />
as apresentações inviáveis.<br />
O incêndio veio aumentar ainda<br />
mais as dificulda<strong>de</strong>s que já se<br />
acumulavam em débitos com o aluguel<br />
da se<strong>de</strong> e a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> manutenção<br />
<strong>do</strong> casario. “Precisamos soerguer a se<strong>de</strong><br />
alugada, cuja reforma está orçada em<br />
cerca <strong>de</strong> 40 mil reais. Com esse<br />
aci<strong>de</strong>nte, vimos <strong>de</strong>smoronar toda a<br />
nossa estrutura, que já era bastante<br />
precária', disse Ângela Fischer, que<br />
além <strong>de</strong> diretora administrativa <strong>do</strong> balé<br />
é também ex-bailarina e esposa <strong>de</strong><br />
André Madureira.<br />
Para dar continuida<strong>de</strong> ao trabalho,<br />
a família Madureira vem contan<strong>do</strong> com<br />
pouca ajuda, mas que tem si<strong>do</strong><br />
significativa. Hoje as aulas <strong>do</strong> Balé<br />
Popular são ministradas às quartasfeiras<br />
e sába<strong>do</strong>s em uma sala na Casa<br />
da Cultura (centro <strong>do</strong> Recife), cedida<br />
pela Fundação <strong>do</strong> Patrimônio Histórico<br />
e Artístico <strong>de</strong> <strong>Pernambuco</strong> Fundarpe,<br />
que também garantiu algumas<br />
apresentações <strong>do</strong> balé e a realização <strong>de</strong><br />
oficinas pelo grupo em algumas<br />
comunida<strong>de</strong>s <strong>do</strong> Recife. Além disso,<br />
Ângela Fischer vem buscan<strong>do</strong> junto à<br />
Prefeitura <strong>do</strong> Recife a garantia <strong>de</strong><br />
algumas apresentações, para assim<br />
garantir algum recurso. “Temos<br />
conta<strong>do</strong> com apoios importantes, mas<br />
as dificulda<strong>de</strong>s são muitas. Estamos<br />
O Balé Popular acumula em suas andanças<br />
várias apresentações no Brasil e no mun<strong>do</strong><br />
Crianças iniciam carreira no Brasil Brinque<strong>do</strong>, companhia mirim <strong>do</strong> Balé Popular <strong>do</strong> Recife<br />
lutan<strong>do</strong> para sensibilizar os governos<br />
<strong>de</strong> que o prejuízo não é só nosso, mas<br />
principalmente da cultura<br />
pernambucana. Passamos três meses<br />
na França quan<strong>do</strong> foram feitas 37<br />
apresentações. Nesse momento<br />
estávamos levan<strong>do</strong> o nome <strong>do</strong> Recife,<br />
<strong>de</strong> <strong>Pernambuco</strong> e <strong>do</strong> Brasil”,<br />
<strong>de</strong>stacou a diretora.<br />
A realida<strong>de</strong> atual <strong>do</strong> Balé<br />
Popular <strong>do</strong> Recife é <strong>de</strong> uma estrutura<br />
precária para a realização <strong>do</strong>s<br />
ensaios, que vêm acontecen<strong>do</strong> em<br />
uma sala cedida pelo Colégio<br />
Nóbrega, já <strong>de</strong>sativa<strong>do</strong> e <strong>de</strong> um parco<br />
figurino espalha<strong>do</strong> em vários locais.<br />
“Chegamos a ter o maior acervo<br />
particular <strong>do</strong> Brasil, com duas mil<br />
peças <strong>de</strong> roupa. Não estamos<br />
totalmente <strong>de</strong>sampara<strong>do</strong>s, mas<br />
precisamos garantir a sobrevivência<br />
<strong>do</strong> elenco, <strong>do</strong> espetáculo e construir a<br />
se<strong>de</strong>”, disse André Madureira.<br />
No compasso <strong>de</strong> um sonho<br />
To<strong>do</strong> o trabalho <strong>de</strong>senvolvi<strong>do</strong><br />
pelos vários “brincantes”, que com o<br />
sorriso nos olhos ocupam ruas e<br />
palcos para levar o nome <strong>do</strong> Balé<br />
Popular <strong>do</strong> Recife, é embala<strong>do</strong> pelo<br />
sonho <strong>de</strong> ver construída uma se<strong>de</strong><br />
própria para a companhia. A <strong>do</strong>ação<br />
Cultura<br />
<strong>de</strong> um terreno para a construção <strong>de</strong>sse<br />
espaço é uma meta perseguida <strong>de</strong><br />
forma incansável por André Madureira,<br />
que sonha com uma estrutura que<br />
comporte salas <strong>de</strong> aula, teatrinho para<br />
apresentações, local para acomodar os<br />
figurinos <strong>do</strong>s vários espetáculos e loja<br />
para a comercialização <strong>de</strong> produtos.<br />
To<strong>do</strong> o projeto já está monta<strong>do</strong> nas<br />
mentes <strong>de</strong> André Madureira e Ângela<br />
Fischer, que afirmam preten<strong>de</strong>r<br />
também <strong>de</strong>senvolver um trabalho<br />
social no local, trabalhan<strong>do</strong> os ciclos<br />
<strong>de</strong> dança <strong>do</strong> ano com crianças e adultos<br />
que não têm condições <strong>de</strong> pagar. “Se já<br />
fazemos tanto, mesmo com as<br />
dificulda<strong>de</strong>s que enfrentamos, imagine<br />
o que po<strong>de</strong>remos fazer ten<strong>do</strong> nossa<br />
se<strong>de</strong>. Com apoio vamos po<strong>de</strong>r<br />
valorizar muito mais a nossa cultura”,<br />
lembrou Ângela.<br />
Sonha<strong>do</strong>res, mas convictos <strong>de</strong> que<br />
estão no caminho certo, André e<br />
Ângela lembram ainda com carinho,<br />
que o espaço <strong>de</strong>verá abrigar oficinas <strong>de</strong><br />
danças, artesanato, figurino, artes<br />
plásticas, áudio, ví<strong>de</strong>o e uma<br />
biblioteca. “Preten<strong>de</strong>mos socializar<br />
esse espaço com outros grupos da<br />
cida<strong>de</strong>. A pauta <strong>do</strong>s teatros vive cheia e<br />
o custo das apresentações é muito alto,<br />
po<strong>de</strong>remos proporcionar a outros<br />
artistas uma alternativa para mostrar<br />
seu trabalho”, finalizou André.<br />
31
Cultura<br />
O que Promotores e Procura<strong>do</strong>res<br />
<strong>de</strong> Justiça indicam para você<br />
32<br />
Ortencio Carvalho - Teoria Geral <strong>do</strong><br />
Direito Penal (Volume I) - Reno<br />
Feitosa Gondim<br />
Esse livro <strong>de</strong> Teoria Geral <strong>do</strong> Direito<br />
Penal representa o início da<br />
sistematização teórica que tem a<br />
Parte Geral <strong>do</strong> Código Penal como<br />
seu núcleo normativo. A partir da<br />
meto<strong>do</strong>logia qualitativa, bem como da articulação<br />
<strong>do</strong> sistema principiológico penal-constitucional, esta<br />
teoria geral se edifica com base na emergência <strong>do</strong><br />
paradigma epistemológico da pós-mo<strong>de</strong>rnida<strong>de</strong>,<br />
buscan<strong>do</strong> a superação <strong>do</strong> positivismo nos mais<br />
diversos níveis da elaboração teórica, e abrin<strong>do</strong> um<br />
horizonte interdisciplinar para a exploração <strong>de</strong><br />
novas possibilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> formação<br />
<strong>do</strong> discurso científico jurídico-penal.<br />
(EDITORA JURUÁ, 2008, 354 pg.)<br />
Geral<strong>do</strong> M. Correia - Sobre a<br />
Democracia - Robert A. Dahl<br />
Para quem se interessa por conhecer<br />
sempre mais sobre temas que dizem<br />
respeito ao trabalho que <strong>de</strong>senvolvemos<br />
no <strong>Ministério</strong> <strong>Público</strong>, penso que seria<br />
interessante ler “Sobre a Democracia”. O<br />
livro é <strong>de</strong> fácil leitura não <strong>de</strong>ixan<strong>do</strong> <strong>de</strong> se<br />
aprofundar sobre a temática <strong>de</strong> mo<strong>do</strong> que se po<strong>de</strong> ganhar<br />
em conhecimento e melhor embasamento para nossas<br />
práticas na ação com a socieda<strong>de</strong>.<br />
(EDITORA UNB, 2001, 230 pg.)<br />
Hugo Cavalcanti Melo - Quan<strong>do</strong><br />
Nietzsche chorou - Irvin D. Yalom<br />
Trata-se <strong>de</strong> uma interessante obra <strong>de</strong><br />
ficção, que envolve personagens reais<br />
como Friedrich Nietzsche e Sigmund<br />
Freud e imaginários como o psicanalista<br />
Josef Breuer, na qual, como seria lícito<br />
esperar, estão expostas iluminadas<br />
visões filosóficas, farta discussão sobre a psicanálise e,<br />
neste campo, a “terapia através da conversa”, então<br />
méto<strong>do</strong> novo <strong>de</strong> tratamento psiquiátrico. Para mim o livro<br />
apresenta uma trama inteligente, culta e interessante que,<br />
sobre ser bem urdida, está muito bem escrita.<br />
(EDITORA EDIOURO RJ, ano da obra: 1992, ano edição: 2005,<br />
412 pg.)<br />
Gilson Barbosa - O Carteiro e o<br />
Poeta - Antonio Skármeta<br />
Gostei muito <strong>do</strong> livro. A obra conta a<br />
história <strong>de</strong> um pesca<strong>do</strong>r que aban<strong>do</strong>na<br />
seu trabalho para ser o carteiro <strong>de</strong><br />
Pablo Neruda. O enre<strong>do</strong> também faz<br />
um retrato da década <strong>de</strong> 1970 no Chile,<br />
perío<strong>do</strong> conturba<strong>do</strong> da história chilena,<br />
enquanto recria a vida <strong>do</strong> gran<strong>de</strong> poeta Neruda. (EDITORA<br />
RECORD, 1997, )<br />
José Roberto da Silva - A Incrível e<br />
Fascinante História <strong>do</strong> Capitão<br />
Mouro - Georges Bour<strong>do</strong>ukan<br />
Livro para se ler num só fôlego, que nos<br />
leva a um passeio por<br />
<strong>Pernambuco</strong>/Alagoas <strong>do</strong> século XVII. A<br />
Incrível e Fascinante História <strong>do</strong> Capitão<br />
Mouro apresenta um retrato da<br />
socieda<strong>de</strong> escravocrata, romancean<strong>do</strong> a hipotética (talvez<br />
nem tanto) ajuda dada pelo muçulmano Saifudin na<br />
fortificação <strong>do</strong> Quilombo <strong>do</strong>s Palmares, já sob o coman<strong>do</strong><br />
<strong>de</strong> Zumbi. Com esse pano <strong>de</strong> fun<strong>do</strong>, o autor aborda, num<br />
sobrevoo, temas como a intolerância (religiosa, sexual,<br />
social, racial) e oferece um ângulo novo para a<br />
reconstituição/interpretação <strong>do</strong>s fatos <strong>de</strong> nossa História.<br />
(EDITORA SOL E CHUVA, 1997, 213 pg.)<br />
Maviael Souza - A Pedra <strong>do</strong> Reino -<br />
Ariano Suassuna<br />
O livro alia fantasia a fatos históricos,<br />
<strong>de</strong>screve a população da época, conta<br />
casos como da Princesa da Paraíba, que<br />
foi um massacre <strong>de</strong> fato. Além <strong>de</strong><br />
mostrar o mo<strong>do</strong> <strong>de</strong> vida sertanejo e uma<br />
apelação ao Tribunal <strong>de</strong> Justiça bastante<br />
curiosa com uma peça jurídica muito interessante.<br />
(EDITORA: JOSE OLYMPIO, 1971, 646 pg.)<br />
Patrícia Lapenda - Comer, rezar,<br />
amar - Elisabeth Gilbert<br />
O livro que estou len<strong>do</strong> e recomen<strong>do</strong>. A<br />
obra tem o formato <strong>de</strong> diário e retrata a<br />
trajetória <strong>de</strong> altos e baixos nos<br />
relacionamentos, a partir <strong>de</strong> um<br />
casamento fracassa<strong>do</strong>. A autorapersonagem<br />
põe em prática planos,<br />
<strong>de</strong>ntre eles o <strong>de</strong> imersão espiritual, encontrar <strong>de</strong>us. Po<strong>de</strong>se<br />
extrair muitos pensamentos e mensagens reflexivas e<br />
ainda é diverti<strong>do</strong>. (EDITORA OBJETIVA, 2008, 344 pg.)
Itamar Dias Noronha - Histórias<br />
Que Meu Pai Contava - Lívia<br />
Valença<br />
Recomen<strong>do</strong> a leitura <strong>do</strong> livro "Histórias<br />
Que Meu Pai Contava". Na primeira<br />
parte, há coletânea <strong>de</strong> casos reais<br />
narra<strong>do</strong>s com bom humor pelo sau<strong>do</strong>so<br />
médico e <strong>de</strong>puta<strong>do</strong> estadual Lívio<br />
Valença ( irmão <strong>do</strong> nosso colega Rubem Valença,<br />
Procura<strong>do</strong>r <strong>de</strong> Justiça aposenta<strong>do</strong>) referentes a fatos<br />
ocorri<strong>do</strong>s nas cida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> <strong>de</strong> São Bento <strong>do</strong> Una e<br />
Pesqueira, on<strong>de</strong> ele viveu durante mais <strong>de</strong> <strong>quatro</strong><br />
décadas. Na segunda parte, estão histórias que escritores<br />
e jornalistas publicaram sobre Lívio, seguin<strong>do</strong>-se crônicas,<br />
cartas e contos <strong>de</strong> sua autoria nas quais sobressai o estilo<br />
claro, em português impecável, e o amor à terra natal bem<br />
como às pessoas, na gran<strong>de</strong> maioria simples, com as<br />
quais conviveu no exercício, principalmente, da Medicina e<br />
alguns <strong>do</strong>s mais corajosos discursos proferi<strong>do</strong>s na<br />
Assembléia Legislativa <strong>de</strong> <strong>Pernambuco</strong>, como opositor da<br />
ditadura instalada em nosso país a partir <strong>de</strong> 1964.<br />
(EDITORA CEPE, 2006)<br />
Heloísa Pollyanna Brito <strong>de</strong> Freitas<br />
Para quem aprecia filmes <strong>de</strong> drama,<br />
minha dica são aqueles dirigi<strong>do</strong>s por Clint<br />
Eastwood, diretor que normalmente<br />
aborda temas interessantes e fortes.<br />
Destaco os seguintes: Menina <strong>de</strong> ouro,<br />
que narra a estória <strong>de</strong> Frankie (Clint<br />
Eastwood), treina<strong>do</strong>r <strong>de</strong> boxe veterano,<br />
cuja vida é transformada após o<br />
aparecimento <strong>de</strong> Maggie (Hilary Swank), jovem<br />
<strong>de</strong>terminada, que vence a sua resistência em treinar<br />
mulheres; Sobre meninos e lobos. Drama policial acerca<br />
<strong>do</strong> assassinato <strong>de</strong> uma jovem, cujas investigações<br />
provocam o reencontro <strong>de</strong> três antigos amigos, os quais<br />
têm que encarar fatos passa<strong>do</strong>s; Gran Torino. Walt<br />
(Eastwood) é um veterano <strong>de</strong> guerra “ranzinza”. Certo dia,<br />
ao impedir o roubo <strong>de</strong> seu veículo Gran Torino, por um<br />
vizinho a<strong>do</strong>lescente, que era pressiona<strong>do</strong> por uma gangue<br />
<strong>do</strong> bairro, passa a ser visto como espécie <strong>de</strong> herói na<br />
comunida<strong>de</strong>. O filme, vale a pena ser visto, pois, leva-nos<br />
a refletir sobre questões como violência, preconceito e<br />
amiza<strong>de</strong>.<br />
Menina <strong>de</strong> Ouro: CLINT EASTWOOD, 2004, 137 min.<br />
Warner Bros. / Europa Filmes; Sobre meninos e lobos:<br />
CLINT EASTWOOD, 2003, 137 min. Warner Bro; Gran<br />
Torino: CLINT EASTWOOD, 2008, 116 min. Warner Bros.<br />
Jecqueline Aymar Elihimas - O<br />
Filho da Noiva<br />
Cultura<br />
Sérgio Souto - Crônica <strong>de</strong> uma tragédia<br />
inesquecível: Autos <strong>do</strong> processo <strong>de</strong><br />
Dilerman<strong>do</strong> <strong>de</strong> Assis, que matou<br />
Eucli<strong>de</strong>s da Cunha<br />
O livro é um relato jurídico e histórico<br />
sobre a morte <strong>do</strong> escritor Eucli<strong>de</strong>s da<br />
Cunha, pois traz as peças <strong>do</strong> processo e<br />
<strong>de</strong>poimentos <strong>de</strong> testemunhas, três<br />
<strong>de</strong>poimentos <strong>de</strong> Ana Emília, as teses <strong>de</strong><br />
acusação e da <strong>de</strong>fesa <strong>do</strong> crime que chocou o Brasil no<br />
ano <strong>de</strong> 1909.<br />
O livro faz o leitor mergulhar neste episódio marcante da<br />
história que ficou conheci<strong>do</strong> como “A tragédia da Pieda<strong>de</strong>”<br />
e nos faz ainda conhecer a trajetória profissional <strong>de</strong><br />
Eucli<strong>de</strong>s da Cunha.<br />
(EDITORAS ALABATRAZ, LOQÜI E TERCEIRO NOME, 2007,<br />
229 pg.)<br />
O filme argentino mostra, por mais<br />
impossível que possa parecer, o<br />
Alzeheimer (da noiva) com uma<br />
leveza maravilhosa. Ajuda a pensar<br />
sobre o que realmente importa nesta<br />
nossa veloz passagem sobre a terra, inclusive<br />
quan<strong>do</strong> mostra a rotina estressada <strong>do</strong> personagem<br />
central (o filho), o efeito <strong>de</strong>la no seu corpo e vida<br />
familiar. E tu<strong>do</strong> é passa<strong>do</strong> <strong>de</strong> forma tão poética com<br />
um final meio "feliz para sempre" que quase não dá<br />
vonta<strong>de</strong> <strong>de</strong> chorar, mas sim <strong>de</strong> sorrir e começar a ver<br />
a vida <strong>de</strong> mo<strong>do</strong> muito mais positivo.<br />
(JUAN JOSÉ CAMPANELLA, 2001, 124 min. Sony<br />
Pictures Classics)<br />
33
Contraponto<br />
Os direitos e garantias individuais<br />
correspon<strong>de</strong>m, na concepção mo<strong>de</strong>rna,<br />
ao elenco <strong>de</strong> princípios, traduzi<strong>do</strong>s<br />
genericamente no chama<strong>do</strong> Direitos<br />
Humanos, cujos prece<strong>de</strong>ntes se<br />
encontram em textos internacionais<br />
como a Convenção Americana sobre<br />
Direitos Humanos, conhecida como<br />
Pacto <strong>de</strong> São José da Costa Rica e<br />
internamente assegura<strong>do</strong>s no texto<br />
constitucional.<br />
O Tribunal <strong>do</strong> Júri - sen<strong>do</strong> no<br />
sistema judiciário brasileiro uma das<br />
instituições mais antigas, introduzi<strong>do</strong><br />
em 1824 - por sua natureza é a<br />
instituição mais <strong>de</strong>mocrática <strong>do</strong> Po<strong>de</strong>r<br />
Judiciário, constitucionalmente<br />
garantida, consequentemente <strong>de</strong>ve ter<br />
maior vínculo com o Princípio da<br />
Humanida<strong>de</strong> por ser princípio<br />
internacional e a melhor forma <strong>de</strong><br />
garantir um justo julgamento como<br />
resposta à socieda<strong>de</strong>.<br />
Nessa linha seguiu bem o<br />
legisla<strong>do</strong>r com a última reforma <strong>do</strong><br />
Código <strong>de</strong> Processo Penal, com as Leis<br />
nº 11.689 e 11.690, <strong>de</strong> 09 <strong>de</strong> junho <strong>de</strong><br />
2008, quan<strong>do</strong> implementou<br />
significativas mudanças no Tribunal <strong>do</strong><br />
Júri e sobre a produção e apreciação<br />
das provas.<br />
Indiscutivelmente a reforma<br />
apresenta garantias ao réu, bem como à<br />
socieda<strong>de</strong>, no que diz respeito a uma<br />
justa resposta para o fato <strong>de</strong>lituoso,<br />
objetivan<strong>do</strong> a não ocorrência <strong>de</strong><br />
prescrição e impunida<strong>de</strong>, como passo a<br />
indicar adiante.<br />
A exclusão <strong>do</strong> recurso conheci<strong>do</strong><br />
como protesto por novo júri, com o<br />
qual a <strong>de</strong>fesa valia-se <strong>de</strong> um novo<br />
julgamento com fundamento apenas no<br />
quantum da pena aplicada.<br />
34<br />
Artigo<br />
Alterações no Júri<br />
Opiniões distintas sobre a mudança d<br />
* Antonio Augusto <strong>de</strong> Arroxelas Mace<strong>do</strong> Filho.<br />
Foi aboli<strong>do</strong> o sistema <strong>de</strong><br />
questionamento longo, sen<strong>do</strong> a<strong>do</strong>tada<br />
uma formulação mais simples e com<br />
um quesito obrigatório se o acusa<strong>do</strong><br />
<strong>de</strong>ve ser absolvi<strong>do</strong> – “O jura<strong>do</strong><br />
absolve o acusa<strong>do</strong>?”. No antigo<br />
...O acusa<strong>do</strong> solto<br />
que não for<br />
encontra<strong>do</strong> será<br />
intima<strong>do</strong> por edital da<br />
<strong>de</strong>cisão <strong>de</strong> pronúncia;<br />
po<strong>de</strong>n<strong>do</strong> haver o<br />
julgamento sem a<br />
presença <strong>do</strong> réu<br />
regularmente<br />
intima<strong>do</strong>, o que<br />
garante seu direito ao<br />
silêncio e evita o<br />
adiamento <strong>do</strong><br />
julgamento...<br />
sistema, quan<strong>do</strong> o conselho <strong>de</strong><br />
sentença queria absolver o acusa<strong>do</strong> por<br />
algum entendimento <strong>de</strong> or<strong>de</strong>m<br />
subjetiva, contrariamente à prova <strong>do</strong>s<br />
autos, respondia <strong>de</strong> forma errada ao<br />
quesito da autoria ou “sim” a tese <strong>de</strong><br />
legitima <strong>de</strong>fesa real, putativa ou<br />
mesmo da honra.<br />
No atual, enten<strong>de</strong>n<strong>do</strong> o Conselho<br />
<strong>de</strong> Sentença que o acusa<strong>do</strong> foi autor <strong>de</strong><br />
um crime, mesmo não haven<strong>do</strong><br />
qualquer exclusão legal, po<strong>de</strong> <strong>de</strong>ntro<br />
<strong>de</strong> seu subjetivo entendimento<br />
absolver, o que representa a garantia da<br />
soberania <strong>do</strong> júri e conseqüentemente a<br />
<strong>de</strong>mocracia.<br />
O procedimento <strong>de</strong> instrução<br />
preliminar <strong>de</strong>verá ser concluí<strong>do</strong> no<br />
prazo máximo <strong>de</strong> 90 dias.<br />
O acusa<strong>do</strong> solto que não for<br />
encontra<strong>do</strong> será intima<strong>do</strong> por edital da<br />
<strong>de</strong>cisão <strong>de</strong> pronúncia; po<strong>de</strong>n<strong>do</strong> haver o<br />
julgamento sem a presença <strong>do</strong> réu<br />
regularmente intima<strong>do</strong>, o que garante<br />
seu direito ao silêncio e evita o<br />
adiamento <strong>do</strong> julgamento. Logo,<br />
passamos a ter julgamento mais<br />
próximo <strong>do</strong> fato, contribuin<strong>do</strong> para a<br />
restauração <strong>do</strong> equilibrio social.<br />
Além <strong>de</strong> outros pontos benéficos<br />
que surgiram com a reforma como:<br />
<strong>de</strong>bates finais orais na fase preliminar;<br />
julgamento pelo Conselho <strong>de</strong> Sentença<br />
sem necessida<strong>de</strong> <strong>do</strong> libelo acusatório,<br />
servin<strong>do</strong> como base para acusação em<br />
plenário a <strong>de</strong>cisão <strong>de</strong> pronúncia e fim<br />
da leitura in<strong>de</strong>vida <strong>de</strong> peças<br />
processuais.<br />
Promotor <strong>de</strong> Justiça com atuação no<br />
Tribunal <strong>do</strong> Júri da Comarca <strong>de</strong> Paulista-<br />
PE e 3ª Vara <strong>do</strong> Tribunal <strong>do</strong> Júri da Capital.
Artigo Contraponto<br />
Artigo<br />
Artigo<br />
ça <strong>do</strong> Código <strong>de</strong> Processo penal<br />
Procedimento <strong>do</strong> Júri: mudança<br />
substancial ou meramente formal?<br />
No senti<strong>do</strong> formal mudança está<br />
associada à idéia <strong>de</strong> transformação, <strong>de</strong><br />
introdução <strong>de</strong> novas formas, <strong>de</strong> novos<br />
ritos, <strong>do</strong> modus como se faz e opera<br />
alguma coisa, todavia num plano mais<br />
substancial, mudança se traduz pela<br />
alteração <strong>do</strong>s paradigmas essenciais,<br />
das bases estruturantes <strong>de</strong> algo ou <strong>de</strong><br />
alguma coisa e neste senti<strong>do</strong> a mudança<br />
modifica a própria cultura, revoluciona,<br />
recria e re<strong>de</strong>fine o mo<strong>do</strong> como as coisas<br />
e as pessoas estão e são.<br />
Com o advento da lei 11.689 <strong>de</strong><br />
agosto <strong>de</strong> 2008, que versa sobre<br />
alterações no procedimento <strong>do</strong>s crimes<br />
<strong>do</strong>losos tenta<strong>do</strong>s e consuma<strong>do</strong>s contra a<br />
vida da competência <strong>do</strong> Tribunal <strong>do</strong><br />
Júri – um <strong>do</strong>s instrumentos legais<br />
<strong>de</strong>stina<strong>do</strong>s a combater a criminalida<strong>de</strong><br />
que ofen<strong>de</strong> sobremo<strong>do</strong> a vida, como o<br />
bem jurídico essencial à coexistência da<br />
socieda<strong>de</strong>, - <strong>de</strong> logo se associou à dita<br />
lei a idéia <strong>de</strong> mudança e a sensação <strong>de</strong><br />
que a partir <strong>de</strong> agora o Esta<strong>do</strong> teria um<br />
instrumento capaz <strong>de</strong> interferir e<br />
combater a criminalida<strong>de</strong>, e<br />
principalmente <strong>de</strong> realização efetiva da<br />
justiça criminal no pais que entre outros<br />
tipos penais, registra alta cifras <strong>de</strong><br />
homicídio.<br />
Sem dúvida que formalmente houve<br />
mudanças!!! O formalismo e para quem<br />
acredita que a verda<strong>de</strong>ira justiça só será<br />
feita por intermédio <strong>de</strong>le não po<strong>de</strong><br />
reclamar a ausências <strong>de</strong>las, até porque,<br />
a peça inicial <strong>de</strong>fensiva chama-se agora<br />
resposta e não mais <strong>de</strong>fesa prévia como<br />
era antes, <strong>de</strong>u-se lugar a audiência<br />
única <strong>de</strong> instrução probatória, po<strong>de</strong>n<strong>do</strong><br />
o juiz in<strong>de</strong>ferir as provas irrelevantes,<br />
impertinentes e protelatórias,<br />
* José Edival<strong>do</strong> da Silva<br />
extinguiram-se o libelo e o protesto<br />
por novo júri, passou-se a ter 25<br />
jura<strong>do</strong>s e não mais 21 como antes, a<br />
ida<strong>de</strong> para ser jura<strong>do</strong> passou <strong>de</strong> 21<br />
anos para 18 anos, os apartes foram<br />
regulamenta<strong>do</strong>s, o pedi<strong>do</strong> <strong>de</strong><br />
<strong>de</strong>saforamento passou-se a ter<br />
preferência para ser aprecia<strong>do</strong>,<br />
ve<strong>do</strong>u-se a leitura <strong>de</strong> <strong>do</strong>cumentos em<br />
plenário, simplificou-se a quesitação,<br />
proibiu-se o uso <strong>de</strong> algema no<br />
plenário, não se po<strong>de</strong> valer <strong>do</strong><br />
silêncio <strong>do</strong> réu ou da <strong>de</strong>cisão <strong>de</strong><br />
pronúncia como argumento <strong>de</strong><br />
...na segunda instância<br />
criminal, o processo penal<br />
continua emperra<strong>do</strong> e o prazo <strong>de</strong><br />
sua tramitação é<br />
irremediavelmente fora <strong>de</strong><br />
contexto, sem olvidar a premente<br />
necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> enfrentamento<br />
sério e sistemático da<br />
criminalida<strong>de</strong>...<br />
autorida<strong>de</strong> para convencer os<br />
jura<strong>do</strong>s, o juiz não faz mais<br />
oralmente o relatório na hora <strong>do</strong><br />
julgamento, o tempo <strong>de</strong> sustentação<br />
oral é <strong>de</strong> uma hora e meia, em alguns<br />
casos o julgamento po<strong>de</strong> se dar<br />
mesmo ausente o réu.<br />
Mas criação legislativa<br />
substancial não houve, pois o<br />
inquérito policial, instrumento<br />
persecutório inicial e<br />
indiscutivelmente <strong>de</strong>satualiza<strong>do</strong><br />
continua incólume, bem como a<br />
superestrutura <strong>do</strong> judiciário criminal,<br />
ou seja, na segunda instância criminal,<br />
o processo penal continua emperra<strong>do</strong> e<br />
o prazo <strong>de</strong> sua tramitação é<br />
irremediavelmente fora <strong>de</strong> contexto,<br />
sem olvidar a premente necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />
enfrentamento sério e sistemático da<br />
criminalida<strong>de</strong>, que se ressente <strong>de</strong><br />
instrumento hábil e capaz.<br />
No entanto para quem acredita nas<br />
mesmas, faremos as seguintes<br />
indagações: estas e outras meras<br />
formalida<strong>de</strong>s trazidas pela nova lei <strong>do</strong><br />
júri vão transformar e reverter os<br />
números estratosféricos <strong>de</strong> homicídio<br />
ocorri<strong>do</strong>s Brasil a fora? Elas vão<br />
aplacar a criminalida<strong>de</strong> <strong>de</strong> gran<strong>de</strong><br />
monta que acomete gran<strong>de</strong> parte <strong>do</strong>s<br />
jovens brasileiros? Vão transformar a<br />
cultura beligerante e da vingança<br />
privada em cultura <strong>de</strong> respeito e <strong>de</strong><br />
solidarieda<strong>de</strong> entre os cidadãos com os<br />
quais trabalhamos? As mudanças<br />
legislativas modificaram ou pelo<br />
menos otimizaram a persecução penal<br />
pré-processual, ou seja, alteraram o<br />
modus faciendi <strong>do</strong> inquérito policial?<br />
Elas alteraram o sistema recursal e<br />
forma <strong>de</strong> atuação <strong>do</strong>s opera<strong>do</strong>res <strong>do</strong><br />
direito na segunda instância da justiça<br />
criminal?<br />
Relen<strong>do</strong> e refletin<strong>do</strong> a lei<br />
11.689/2008, não <strong>de</strong>sconhecemos que<br />
se tenha havi<strong>do</strong> ganhos formais que<br />
fortaleceram o sistema processual<br />
acusatório e as garantias <strong>do</strong> acusa<strong>do</strong>,<br />
mas substancialmente eles são<br />
insuficientes para garantir a<br />
efetivida<strong>de</strong> <strong>do</strong> processo penal<br />
brasileiro mormente para libertar o<br />
povo brasileiro da criminalida<strong>de</strong> a que<br />
está submetida.<br />
Promotor da 46º Promotoria <strong>de</strong> Justiça<br />
Criminal, com atuação no 4º Tribunal <strong>do</strong><br />
Júri.<br />
35
Artigo<br />
A pessoa jurídica como<br />
autora <strong>de</strong> crimes<br />
* Miguel Sales<br />
Em <strong>do</strong>is momentos, a<br />
Constituição <strong>de</strong> 1988, rompen<strong>do</strong><br />
com a tradição da <strong>do</strong>utrina<br />
penal, consi<strong>de</strong>ra a pessoa<br />
jurídica, sem distinguir se<br />
pública ou privada, como ente<br />
capaz <strong>de</strong> cometer crime.<br />
A primeira previsão está situada no<br />
capítulo que trata <strong>do</strong>s princípios gerais<br />
da ativida<strong>de</strong> econômica; a segunda, no<br />
que disciplina o meio ambiente. Quer<br />
dizer, no concernente às relações<br />
econômicas ou<br />
<strong>de</strong> natureza<br />
ambiental a Lei<br />
Maior enten<strong>de</strong>u<br />
que po<strong>de</strong> haver<br />
conduta da<br />
pessoa jurídica a<br />
se tipificar como<br />
crime.<br />
Na primeira<br />
situação, diz a<br />
Constituição: “A<br />
lei, sem prejuízo<br />
da<br />
responsabilida<strong>de</strong><br />
individual <strong>do</strong>s<br />
dirigentes da<br />
pessoa jurídica,<br />
estabelecerá a responsabilida<strong>de</strong> <strong>de</strong>sta,<br />
sujeitan<strong>do</strong>-a às punições compatíveis<br />
com a sua natureza nos atos pratica<strong>do</strong>s<br />
contra a or<strong>de</strong>m econômica e financeira<br />
e contra a economia popular.” (art. 173,<br />
§ 5º). Por sua vez, na outra hipótese,<br />
preceitua: “as condutas e ativida<strong>de</strong>s<br />
consi<strong>de</strong>radas lesivas ao meio ambiente<br />
sujeitarão os infratores, pessoas físicas<br />
ou jurídicas, a sanções penais e<br />
administrativas, in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntemente da<br />
obrigação <strong>de</strong> reparar os danos<br />
36<br />
causa<strong>do</strong>s.” (art. 225, § 3º).<br />
Historicamente, o princípio<br />
Societas <strong>de</strong>linquire non potest,<br />
que<br />
ainda é a<strong>do</strong>ta<strong>do</strong> no or<strong>de</strong>namento<br />
jurídico da maioria das nações, foi<br />
quebra<strong>do</strong> após o fim da II Guerra<br />
Mundial, quan<strong>do</strong> o Tribunal Militar<br />
<strong>de</strong> Nuremberg admitiu a<br />
responsabilida<strong>de</strong> criminal <strong>de</strong><br />
corporações ou agrupamentos<br />
nazistas, como, por exemplo, a<br />
Gestapo, ao con<strong>de</strong>ná-la pelos<br />
...Em resumo, a legislação brasileira e <strong>de</strong> alguns países<br />
europeus, para certas situações, vêm incorporan<strong>do</strong> ao direito<br />
penal, em contraponto à velha teoria da culpabilida<strong>de</strong><br />
pessoal, a responsabilida<strong>de</strong> penal da pessoa jurídica, mesmo<br />
que agregada ao po<strong>de</strong>r público...<br />
<strong>de</strong>nomina<strong>do</strong>s crimes <strong>de</strong> guerra contra<br />
a humanida<strong>de</strong>.<br />
O Brasil, ao la<strong>do</strong> da França,<br />
Portugal e Espanha, foram pioneiros<br />
em admitir a responsabilida<strong>de</strong> penal<br />
da pessoa jurídica. Pelo Código Penal<br />
Francês <strong>de</strong> 1994, que substituiu o<br />
ultrapassa<strong>do</strong> <strong>de</strong> 1810, à exceção <strong>do</strong><br />
Esta<strong>do</strong>, o ente jurídico respon<strong>de</strong><br />
penalmente por vários tipos <strong>de</strong><br />
<strong>de</strong>litos. Os Códigos Penais <strong>de</strong><br />
Portugal, reforma<strong>do</strong> em 1995, e o da<br />
Espanha, revisto em 1996, embora<br />
prevejam a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />
cometimentos <strong>de</strong> crimes pela pessoa<br />
jurídica <strong>de</strong> direito priva<strong>do</strong>, não<br />
apresentam em seus textos disposições<br />
objetivas a respeito <strong>do</strong>s tipos penais a<br />
ela atribuí<strong>do</strong>s.<br />
Mesmo antes da Constituição <strong>de</strong><br />
1988, na legislação brasileira, mas não<br />
no Código Penal, há, em diversas<br />
passagens, a<br />
referência ao<br />
cometimento <strong>de</strong><br />
crime pela pessoa<br />
jurídica,<br />
notadamente se<br />
essa for <strong>de</strong> direito<br />
priva<strong>do</strong>. A<br />
propósito, leia-se o<br />
conti<strong>do</strong> no art. 1º<br />
da Lei 7.492/86, o<br />
art. 14 c/c o<br />
parágrafo único <strong>do</strong><br />
art. 18 da Lei<br />
6.938/81, to<strong>do</strong>s<br />
recepciona<strong>do</strong>s pela<br />
nova Carta Magna,<br />
e após a edição<br />
<strong>de</strong>sta, têm-se,<br />
agora, as disposições contidas nos arts.<br />
1º, 2º e 4º da Lei 8.137/90, no art. 15<br />
da Lei 8.884/94 e, <strong>de</strong> forma mais clara<br />
e ampla, o que estabelece o art. 3º da<br />
9.605/98 - a Lei <strong>de</strong> Crimes Ambientais<br />
-, ao prescrever que "As pessoas<br />
jurídicas serão responsabilizadas<br />
administrativa, civil e penalmente,<br />
conforme o disposto nesta Lei, nos<br />
casos em que a infração seja cometida<br />
por <strong>de</strong>cisão <strong>de</strong> seu representante legal<br />
ou contratual, ou <strong>de</strong> seu órgão
colegia<strong>do</strong>, no interesse ou benefício <strong>de</strong><br />
sua entida<strong>de</strong>." Diz ainda, no parágrafo<br />
único <strong>de</strong>ste artigo que "A<br />
responsabilida<strong>de</strong> das pessoas jurídicas<br />
não exclui a das pessoas físicas,<br />
autoras, co-autoras ou partícipes <strong>do</strong><br />
mesmo fato." E in<strong>do</strong> além, a<strong>do</strong>tan<strong>do</strong> a<br />
teoria contemporânea da<br />
<strong>de</strong>sconsi<strong>de</strong>ração da pessoa jurídica,<br />
preceitua em seu art. 4º, que essa<br />
personalida<strong>de</strong> po<strong>de</strong>rá ser <strong>de</strong>sprezada,<br />
caso ela seja obstáculo ao<br />
ressarcimento <strong>de</strong> prejuízos causa<strong>do</strong>s à<br />
qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida <strong>do</strong> meio-ambiente.<br />
Diz a Lei 8.884, <strong>de</strong> 11.06.94, ao<br />
dispor sobre a prevenção e a repressão<br />
às infrações contra a or<strong>de</strong>m econômica,<br />
em seu art. 15, que ela se aplica às<br />
pessoas físicas ou jurídicas <strong>de</strong> direito<br />
público ou priva<strong>do</strong>, bem como a<br />
quaisquer associações <strong>de</strong> entida<strong>de</strong>s ou<br />
pessoas, constituídas <strong>de</strong> fato ou <strong>de</strong><br />
direito, ainda que temporariamente,<br />
com ou sem personalida<strong>de</strong> jurídica,<br />
mesmo que exerçam ativida<strong>de</strong> sob<br />
regime <strong>de</strong> monopólio legal.<br />
Em resumo, a legislação brasileira<br />
e <strong>de</strong> alguns países europeus, para certas<br />
situações, vêm incorporan<strong>do</strong> ao direito<br />
penal, em contraponto à velha teoria da<br />
culpabilida<strong>de</strong> pessoal, a<br />
responsabilida<strong>de</strong> penal da pessoa<br />
jurídica, mesmo que agregada ao po<strong>de</strong>r<br />
público, mormente nos casos relativos<br />
aos <strong>de</strong>litos contra o meio-ambiente, às<br />
relações <strong>de</strong> consumo, à or<strong>de</strong>m<br />
financeira e tributária, objetivan<strong>do</strong><br />
coibir a impunida<strong>de</strong> que po<strong>de</strong><br />
<strong>de</strong>correr <strong>de</strong> sua complexida<strong>de</strong><br />
organizacional.<br />
A lei é filha <strong>do</strong> tempo e o seu fim<br />
é o Bem Comum. E no sentir <strong>de</strong><br />
Isi<strong>do</strong>ro, em suas Etimologias, "Não é<br />
em vista <strong>de</strong> um interesse priva<strong>do</strong>,<br />
mas da comum utilida<strong>de</strong> <strong>do</strong>s<br />
cidadãos que uma lei <strong>de</strong>ve ser<br />
escrita". Hoje, num mun<strong>do</strong><br />
globaliza<strong>do</strong>, criva<strong>do</strong> pelo<br />
materialismo consumista, pela força<br />
econômica e financeira <strong>de</strong> grupos<br />
econômicos, as pessoas humanas vão,<br />
infelizmente, se tornan<strong>do</strong><br />
inferiorizadas em relação às pessoas<br />
jurídicas, notadamente as <strong>de</strong> cunho<br />
...An<strong>do</strong>u bem o legisla<strong>do</strong>r pátrio em atribuir responsabilida<strong>de</strong> penal à<br />
pessoa jurídica, seja privada ou vinculada ao po<strong>de</strong>r público, caso esta<br />
venha praticar condutas lesivas a direitos <strong>de</strong> interesse maior da socieda<strong>de</strong>,<br />
on<strong>de</strong> não basta tão-somente a responsabilização civil. Não se po<strong>de</strong><br />
esquecer que, por vezes, muitos indivíduos, sob o manto <strong>de</strong> uma<br />
pretendida impunida<strong>de</strong> e com suporte em teorias carcomidas pelo tempo,<br />
aglomeram-se para cometer crimes...<br />
multinacional, que, por vezes,<br />
ensejam <strong>de</strong>litos complexos,<br />
acoberta<strong>do</strong>s na frau<strong>de</strong> e na ânsia <strong>do</strong><br />
lucro <strong>de</strong>smedi<strong>do</strong>, sem falar nos<br />
crimes cometi<strong>do</strong>s contra a Natureza,<br />
em <strong>de</strong>trimento <strong>do</strong>s direitos<br />
elementares <strong>do</strong>s cidadãos e <strong>do</strong>s<br />
interesses mais legítimos da<br />
socieda<strong>de</strong>.<br />
É claro que não se vai colocar<br />
num presídio uma pessoa jurídica, até<br />
mesmo porque segun<strong>do</strong> Savigny, esta<br />
não passa <strong>de</strong> uma ficção criada pelo<br />
sistema legal. Contu<strong>do</strong>, não resta<br />
dúvida que ela é um pólo em torno <strong>do</strong><br />
qual se estabelece, hoje, a maioria<br />
das relações jurídicas. Porém, como<br />
se sabe, ao la<strong>do</strong> da velha pena da<br />
Artigo<br />
restrição da liberda<strong>de</strong>, o Direito Penal<br />
mo<strong>de</strong>rno criou outras formas <strong>de</strong><br />
penalização, como, à guisa <strong>de</strong><br />
exemplificação, a multa, a dissolução,<br />
a interdição, a suspensão da ativida<strong>de</strong>,<br />
o confisco, a perda <strong>de</strong> benefícios<br />
fiscais, entre outros, plenamente em<br />
condições reais <strong>de</strong> serem aplicadas à<br />
pessoa jurídica.<br />
An<strong>do</strong>u bem o legisla<strong>do</strong>r pátrio em<br />
atribuir responsabilida<strong>de</strong> penal à<br />
pessoa jurídica, seja privada ou<br />
vinculada ao po<strong>de</strong>r público, caso esta<br />
venha praticar condutas lesivas a<br />
direitos <strong>de</strong> interesse maior da<br />
socieda<strong>de</strong>, on<strong>de</strong> não basta tão-somente<br />
a responsabilização civil. Não se po<strong>de</strong><br />
esquecer que, por vezes, muitos<br />
indivíduos, sob o manto <strong>de</strong> uma<br />
pretendida impunida<strong>de</strong> e com suporte<br />
em teorias carcomidas pelo tempo,<br />
aglomeram-se para cometer crimes,<br />
notadamente os que dizem respeito às<br />
relações <strong>de</strong> consumo ou que atentam<br />
contra a or<strong>de</strong>m econômica, financeira<br />
ou tributária. Já os <strong>de</strong>litos <strong>de</strong> natureza<br />
ambiental são mais pratica<strong>do</strong>s em<br />
razão da própria ativida<strong>de</strong> da entida<strong>de</strong><br />
empresarial, que cada vez mais carece<br />
<strong>de</strong> maior reprimenda, a fim <strong>de</strong> que<br />
to<strong>do</strong>s possam viver com sadia<br />
qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida, conforme preceitua<br />
o art. 225 da Constituição da<br />
República.<br />
Promotor <strong>de</strong> justiça aposenta<strong>do</strong><br />
37
Saú<strong>de</strong><br />
Gripe influenza<br />
Verda<strong>de</strong>s e cuida<strong>do</strong>s necessários<br />
A gripe influenza, popularmente<br />
conhecida como “gripe suína”, tem<br />
tira<strong>do</strong> o sono <strong>de</strong> muitas pessoas e<br />
altera<strong>do</strong> hábitos antes comuns, como o<br />
contato físico entre amigos, o aperto <strong>de</strong><br />
mãos nas cerimônias religiosas e as<br />
freqüentes visitas aos shoppings<br />
centers.<br />
No começo era uma realida<strong>de</strong><br />
distante, fora <strong>do</strong> Brasil e restrita a<br />
alguns países. Pouco tempo <strong>de</strong>pois<br />
havia casos em algumas regiões<br />
brasileiras, outros tantos suspeitos e<br />
mortes. Em <strong>Pernambuco</strong>, os casos<br />
confirma<strong>do</strong>s já apontam para uma<br />
mudança na forma <strong>de</strong> contágio,<br />
indican<strong>do</strong> que o vírus vem circulan<strong>do</strong><br />
livremente, não se limitan<strong>do</strong> mais às<br />
pessoas que mantiveram contato direto<br />
com <strong>do</strong>entes ou advindas <strong>de</strong> outras<br />
regiões, on<strong>de</strong> a <strong>do</strong>ença se proliferou no<br />
início. Apesar <strong>do</strong> bombar<strong>de</strong>io <strong>de</strong><br />
informações recebidas to<strong>do</strong>s os dias,<br />
Dicas <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong><br />
38<br />
Reprodução<br />
muitas pessoas não conseguem<br />
dimensionar a gravida<strong>de</strong> da Gripe A<br />
(H1N1). Afinal, o que é a nova gripe?<br />
A “gripe suína” é uma <strong>do</strong>ença<br />
respiratória aguda, causada pelo vírus<br />
influenza A (H1N1). Este novo<br />
Nesta edição, a DFato preparou uma seção <strong>de</strong> dicas <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> especial para<br />
que você saiba como se proteger e tirar suas dúvidas sobre a Gripe A (H1N1).<br />
Seguir rigorosamente as recomendações das autorida<strong>de</strong>s sanitárias locais<br />
em relação ao uso <strong>de</strong> máscaras cirúrgicas <strong>de</strong>scartáveis;<br />
Ao tossir ou espirrar cobrir o nariz e a boca com um lenço, preferencialmente<br />
<strong>de</strong>scartável;<br />
Evitar locais com aglomerações <strong>de</strong> pessoas e ambientes fecha<strong>do</strong>s. Deve-se<br />
manter os ambientes <strong>de</strong> circulação <strong>de</strong> pessoas ventila<strong>do</strong>s. É importante que o<br />
espaço <strong>do</strong>méstico seja areja<strong>do</strong> e receba luz solar, pois estas medidas ajudam<br />
a eliminar os possíveis agentes das infecções respiratórias;<br />
Evitar o contato direto com pessoas <strong>do</strong>entes;<br />
Não compartilhar alimentos, copos, toalhas e objetos <strong>de</strong> uso pessoal;<br />
Evitar tocar olhos, nariz e boca, sobretu<strong>do</strong> após contato com superfícies;<br />
Lavar as mãos frequentemente com água e sabão, especialmente <strong>de</strong>pois <strong>de</strong><br />
tossir ou espirrar, usar o banheiro, antes <strong>de</strong> comer, antes <strong>de</strong> tocar os olhos,<br />
boca e nariz;<br />
Não usar medicamentos sem prescrição médica;<br />
Orientar para que o <strong>do</strong>ente evite sair <strong>de</strong> casa enquanto estiver em perío<strong>do</strong><br />
<strong>de</strong> transmissão da <strong>do</strong>ença, correspon<strong>de</strong>nte a cerca <strong>de</strong> 5 dias após o início<br />
<strong>do</strong>s sintomas;<br />
Restrição <strong>do</strong> ambiente <strong>de</strong> trabalho para evitar disseminação;<br />
Manter hábitos saudáveis, alimentação balanceada, ingestão <strong>de</strong> líqui<strong>do</strong>s e<br />
ativida<strong>de</strong>s físicas.<br />
subtipo da influenza, assim como a<br />
gripe comum, é transmiti<strong>do</strong> <strong>de</strong> pessoa<br />
a pessoa principalmente por meio <strong>de</strong><br />
tosse ou espirro e <strong>de</strong> contato com<br />
secreções respiratórias <strong>de</strong> pessoas<br />
infectadas. A nova gripe na verda<strong>de</strong> é<br />
bem parecida com a sazonal, com<br />
mesmos índices <strong>de</strong> mortalida<strong>de</strong>.<br />
Os principais sintomas são: febre<br />
alta, maior que 38º, e tosse po<strong>de</strong>n<strong>do</strong><br />
estar também acompanhadas <strong>de</strong><br />
obstrução nasal, <strong>do</strong>r <strong>de</strong> cabeça, <strong>do</strong>res<br />
musculares e nas articulações,<br />
dificulda<strong>de</strong> respiratória intensa e<br />
fraqueza. Esses sinais po<strong>de</strong>m se<br />
manifestar no perío<strong>do</strong> <strong>de</strong> 3 a 7 dias<br />
após o contato com o vírus e a<br />
transmissão ocorre, principalmente, em<br />
locais fecha<strong>do</strong>s.<br />
O <strong>Ministério</strong> da Saú<strong>de</strong> a<strong>do</strong>tou um<br />
protocolo para tratamento com<br />
utilização <strong>de</strong> um medicamento<br />
antiviral (fosfato <strong>de</strong> oseltamivir),<br />
usa<strong>do</strong> apenas em pacientes que<br />
cumpram a indicação <strong>de</strong>scrita no<br />
protocolo. O remédio é indica<strong>do</strong> para<br />
ser toma<strong>do</strong> até 48 horas a partir <strong>do</strong><br />
início <strong>do</strong>s sintomas. O alerta <strong>de</strong> que<br />
ninguém <strong>de</strong>ve usar medicamentos sem<br />
indicação <strong>de</strong> um profissional <strong>de</strong> saú<strong>de</strong><br />
<strong>de</strong>ve ser respeita<strong>do</strong> sempre. A<br />
automedicação po<strong>de</strong> mascarar<br />
sintomas, retardar o diagnóstico e até<br />
causar resistência ao vírus.<br />
A vacina contra a <strong>do</strong>ença já foi<br />
<strong>de</strong>senvolvida e ainda este ano<br />
começará a campanha no Hemisfério<br />
Norte. No Brasil, possivelmente a<br />
vacinação será feita em 2010.<br />
Serviço<br />
Mais informações po<strong>de</strong>m ser obtidas<br />
pelo Disque Saú<strong>de</strong> (0800-61-1997) e<br />
pelo Portal <strong>do</strong> <strong>Ministério</strong> da Saú<strong>de</strong><br />
(www.sau<strong>de</strong>.gov.br).
Artigo
<strong>Associação</strong> <strong>do</strong> <strong>Ministério</strong> <strong>Público</strong> <strong>de</strong> <strong>Pernambuco</strong><br />
Fundada em 17 <strong>de</strong> Junho <strong>de</strong> 1946