27.04.2013 Views

Os Lusíadas, de Luiz Vaz de Camões Análise da obra Publicado em ...

Os Lusíadas, de Luiz Vaz de Camões Análise da obra Publicado em ...

Os Lusíadas, de Luiz Vaz de Camões Análise da obra Publicado em ...

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

<strong>Os</strong> <strong>Lusía<strong>da</strong>s</strong>, <strong>de</strong> <strong>Luiz</strong> <strong>Vaz</strong> <strong>de</strong> <strong>Camões</strong><br />

<strong>Análise</strong> <strong>da</strong> <strong>obra</strong><br />

<strong>Publicado</strong> <strong>em</strong> 1572 sob a proteção do Rei D. Sebastião, o po<strong>em</strong>a épico <strong>Os</strong> <strong>Lusía<strong>da</strong>s</strong>, <strong>de</strong> Luís<br />

<strong>Vaz</strong> <strong>de</strong> <strong>Camões</strong>, t<strong>em</strong> como assunto central a viag<strong>em</strong> <strong>de</strong> Vasco <strong>da</strong> Gama às Índias (1497 -<br />

1498). As perigosas viagens por mares nunca <strong>da</strong>ntes navegados, o contato com povos e<br />

costumes diferentes, a exaltação do hom<strong>em</strong>-herói (navegador, sol<strong>da</strong>do, aventureiro,<br />

cavaleiro e amante) encontram, na euforia antropocêntrica do Renascimento, um instante<br />

oportuno para o sentimento heróico e conquistador, não apenas dos portugueses, mas <strong>de</strong><br />

to<strong>da</strong> Europa quinhentista.<br />

Obra <strong>de</strong> cunho enciclopédico, o po<strong>em</strong>a narra, além <strong>da</strong> <strong>de</strong>scoberta do caminho marítimo<br />

para as Índias, as gran<strong>de</strong>s navegações portuguesas, a conquista do Império Português do<br />

Oriente e to<strong>da</strong> a história <strong>de</strong> Portugal, seus reis, seus heróis e as batalhas que venceram.<br />

Paralelamente a essa dupla ação histórica (a viag<strong>em</strong> <strong>de</strong> Vasco <strong>da</strong> Gama e a história <strong>de</strong><br />

Portugal), <strong>de</strong>senvolve-se uma importantíssima ação mitológica: a luta que travam os<br />

<strong>de</strong>uses olímpicos (o "maravilhoso pagão"), contrapondo Vênus e Marte (favoráveis aos<br />

lusos) a Baco e Netuno (contrários às navegações).<br />

<strong>Os</strong> <strong>Lusía<strong>da</strong>s</strong> fun<strong>de</strong>m harmoniosamente os i<strong>de</strong>ais renascentistas, imperialistas e nacionalista<br />

<strong>de</strong> expansão do Império, com a i<strong>de</strong>ologia medieval, feu<strong>da</strong>l e conservadoras; a mitologia<br />

pagã com o i<strong>de</strong>al cristão; o tom épico na exaltação dos feitos dos navegadores e guerreiros<br />

e o tom lírico do amor trágico <strong>de</strong> Inês <strong>da</strong> Castro; a objetivi<strong>da</strong><strong>de</strong> e a subjetivi<strong>da</strong><strong>de</strong>; o<br />

ufanismo e o espírito crítico; o espírito clássico com acentos maneiristas e antecipação<br />

barroca.<br />

O po<strong>em</strong>a divi<strong>de</strong>-se <strong>em</strong> 10 cantos. Ca<strong>da</strong> canto contém <strong>em</strong> média 100 estrofes ou estâncias.<br />

O canto III é o mais curto, com 87 estrofes; o canto X é o mais longo, com 156 estrofes. O<br />

po<strong>em</strong>a todo compõe-se <strong>de</strong> 1.102 estrofes ou estâncias. Ca<strong>da</strong> uma <strong>de</strong>las contém<br />

regularmente 8 versos (oitavas). O po<strong>em</strong>a totaliza 8.816 versos, <strong>de</strong>cassílabos (medi<strong>da</strong><br />

nova), predominando os <strong>de</strong>cassílabos heróicos, com a 6ª e a 10ª sílabas tônicas. Há<br />

também alguns <strong>de</strong>cassílabos sáficos, com a 4ª, a 8ª e a 10ª sílabas tônicas.<br />

<strong>Os</strong> <strong>Lusía<strong>da</strong>s</strong> são o maior po<strong>em</strong>a <strong>da</strong> língua portuguesa e a maior expressão <strong>de</strong> sua<br />

excelência literária. <strong>Camões</strong> soube elaborar uma linguag<strong>em</strong> suficient<strong>em</strong>ente rica e<br />

maleável, elegante e sonora, com que exprimiu tanto os feitos heróicos e altissonantes,<br />

como as dolorosas súplicas <strong>de</strong> Inês <strong>de</strong> Castro diante <strong>de</strong> seus algozes ou o <strong>de</strong>sconsolo do<br />

eu-po<strong>em</strong>ático diante do "<strong>de</strong>sconcerto do mundo" e <strong>da</strong> <strong>de</strong>cadência <strong>de</strong> seu país.<br />

<strong>Os</strong> <strong>Lusía<strong>da</strong>s</strong> t<strong>em</strong> cinco partes, como a tradição clássica impõe a uma epopéia:<br />

1 - Proposição - É a apresentação do po<strong>em</strong>a, a síntese do assunto. Ocupa as três<br />

primeiras estrofes. Evi<strong>de</strong>ncia algumas características fun<strong>da</strong>mentais <strong>da</strong> <strong>obra</strong>: o caráter<br />

coletivo do herói, a valorização do hom<strong>em</strong> (antropocentrismo), a sobrevivência do "i<strong>de</strong>al<br />

cruza<strong>da</strong>", a valorização <strong>da</strong> Antigüi<strong>da</strong><strong>de</strong> clássica, o nacionalismo (ufanismo), sintaxe rica e<br />

complexa.<br />

2 - Invocação <strong>da</strong>s Tági<strong>de</strong>s - É o pedido <strong>de</strong> inspiração às musas. <strong>Camões</strong> elege como<br />

suas inspiradoras as Tági<strong>de</strong>s, ninfas do rio Tejo, "nacionalizando" suas musas.<br />

3 - Dedicatória ao Rei D. Sebastião - É como menino ain<strong>da</strong>, como dádiva <strong>de</strong> Deus, que<br />

<strong>Camões</strong> apresenta D. Sebastião na <strong>de</strong>dicatória. O jov<strong>em</strong> rei assumiu o trono aos 14 anos,


<strong>em</strong> 1568, e como a re<strong>da</strong>ção do po<strong>em</strong>a consumiu mais <strong>de</strong> 12 anos, <strong>Camões</strong> não <strong>de</strong>ixa <strong>de</strong><br />

observar que ele é "novo no ofício" e disso abusam seus conselheiros. O fato do jov<strong>em</strong> rei<br />

ser exaltado como símbolo e esperança <strong>da</strong> pátria, não impe<strong>de</strong> <strong>de</strong> o poeta critique as<br />

intrigas palacianas e a ambição <strong>de</strong> mando e <strong>de</strong> riqueza dos jesuítas e seus aliados.<br />

4 - Narração - A narração <strong>de</strong> <strong>Os</strong> <strong>Lusía<strong>da</strong>s</strong> compreen<strong>de</strong> três ações principais: a viag<strong>em</strong> <strong>de</strong><br />

Vasco <strong>da</strong> Gama às Índias, a narrativa <strong>da</strong> história <strong>de</strong> Portugal e as lutas e intervenções dos<br />

<strong>de</strong>uses do Olimpo. São, portanto, duas ações históricas e uma ação mitológica que se<br />

alternam e se interpenetram no po<strong>em</strong>a. A narrativa começa já no meio <strong>da</strong> aventura do<br />

herói, quando Vasco <strong>da</strong> Gama e os navegadores estão <strong>em</strong> pleno Oceano Índico, na costa<br />

leste <strong>da</strong> África, próximo ao Canal <strong>de</strong> Moçambique. A narrativa histórica termina com a<br />

parti<strong>da</strong> <strong>de</strong> Calicute. <strong>Camões</strong> não narra o regresso a Lisboa. <strong>Os</strong> acontecimentos anteriores<br />

são relatados por discursos dos protagonistas humanos (Vasco <strong>da</strong> Gama e seu irmão Paulo<br />

<strong>da</strong> Gama), e os acontecimentos futuros são anunciados por <strong>de</strong>uses ou outras personagens<br />

com o dom <strong>da</strong> profecia. Nessa profusão <strong>de</strong> episódios históricos, mitológicos, proféticos,<br />

simbólicos, líricos, guerreiros e romanescos, <strong>Camões</strong> entr<strong>em</strong>eia <strong>de</strong>scrições <strong>de</strong> fenômenos<br />

naturais (a tromba marítima, o fogo-<strong>de</strong>-anselmo etc) e freqüentes dissertações poéticas<br />

sobre a moral, sobre a <strong>de</strong>sconsi<strong>de</strong>ração <strong>de</strong> seus cont<strong>em</strong>porâneos pela poesia, sobre o<br />

ver<strong>da</strong><strong>de</strong>iro valor <strong>da</strong> glória, sobre a onipotência do ouro e <strong>da</strong> riqueza e sobre o <strong>de</strong>stino <strong>de</strong><br />

Portugal. É uma ver<strong>da</strong><strong>de</strong>ira enciclopédia <strong>de</strong> Portugal e do hom<strong>em</strong> renascentista.<br />

5 - Epílogo - Contém as lamentações e críticas do poeta, suas exortações ao Rei D.<br />

Sebastião e os vaticínios sobre as futuras glórias portuguesas. São as doze últimas estrofes<br />

do po<strong>em</strong>a. Contrastando com o tom vibrante e ufanista do início, o tom agora é <strong>de</strong><br />

pessimismo, <strong>de</strong>sencanto e <strong>de</strong> crítica à <strong>de</strong>cadência do país e aos portugueses <strong>de</strong> seu t<strong>em</strong>po,<br />

esquecidos dos valores nacionais. É uma clara pr<strong>em</strong>onição <strong>da</strong> <strong>de</strong>rroca<strong>da</strong> <strong>de</strong> Portugal,<br />

submetido <strong>em</strong> 1580 ao domínio espanhol, e <strong>da</strong> retratação do Império do Oriente. Há ain<strong>da</strong><br />

o sentido <strong>de</strong> <strong>de</strong>sabafo <strong>de</strong> <strong>Camões</strong>, que se queixa <strong>da</strong> incompreensão e <strong>da</strong>s privações pelas<br />

quais parece ter passado <strong>em</strong> seus últimos anos <strong>de</strong> vi<strong>da</strong>.<br />

Enredo dos Cantos<br />

Canto I e II - Após as partes introdutórias e a rápi<strong>da</strong> apresentação dos navegadores <strong>em</strong><br />

pleno Oceano Índico, narra-se o Consílio dos Deuses no Olimpo. Convocados por Júpiter,<br />

os <strong>de</strong>uses irão <strong>de</strong>liberar sobre o <strong>de</strong>stino dos novos argonautas. Baco é contrário aos<br />

portugueses, pois t<strong>em</strong>e que eles super<strong>em</strong> seus feitos no Oriente. Vênus, e <strong>de</strong>pois Marte,<br />

toma a <strong>de</strong>fesa dos lusos. Júpiter encerra o consílio, <strong>de</strong>cidindo a favor <strong>da</strong>s navegadores.<br />

Baco, inconformado, resolve agir. Assumindo a formas humana <strong>de</strong> um velho sábio, instiga<br />

o governador <strong>de</strong> Moçambique contra os portugueses, põe a bordo <strong>da</strong> esquadra um traidor,<br />

falso piloto, arma cila<strong>da</strong>s <strong>em</strong> Quiloa e Mombaça. Graças às intervenções <strong>de</strong> Vênus, <strong>da</strong>s<br />

nerei<strong>da</strong>s, <strong>de</strong> Mercúrio e à corag<strong>em</strong> e astúcia <strong>de</strong> Vasco <strong>da</strong> Gama, os portugueses chegam a<br />

Melin<strong>de</strong>, terra <strong>de</strong> muçulmanos que, por <strong>obra</strong> <strong>de</strong> Mercúrio, enviado por Júpiter, a pedido <strong>de</strong><br />

Vênus, tinham se tornado simpáticos aos portugueses. Durante os perigos e provações, o<br />

capitão roga a proteção <strong>da</strong> Providência Divina e agra<strong>de</strong>ce por ela ao Deus cristão, mas<br />

qu<strong>em</strong> aten<strong>de</strong> às suas preces é Vênus, divin<strong>da</strong><strong>de</strong> pagã, meiga e sedutora, <strong>de</strong>usa do amor,<br />

que convence Júpiter a aju<strong>da</strong>r seus protegidos. Paganismo e cristianismo juntos, s<strong>em</strong><br />

qualquer constrangimento.<br />

Nota: Essa ação mitológica, a disputa entre Vênus e Baco, t<strong>em</strong> o propósito <strong>de</strong> elevar os<br />

navegadores à condição <strong>de</strong> s<strong>em</strong>i-<strong>de</strong>uses. Numa clara alegoria, os portugueses, senhores do<br />

amor e <strong>da</strong> guerra, protegidos por Vênus e Marte, triunfam sobre os oceanos (Netuno) e<br />

sobre seus adversários no Oriente (Baco).


Canto III - Após <strong>Camões</strong> invocar a inspiração <strong>de</strong> Calíope, musa grega <strong>da</strong> poesia épica,<br />

Vasco <strong>da</strong> Gama começa a contar ao rei Melin<strong>de</strong> a história <strong>de</strong> Portugal. Principia pela<br />

localização geográfica do país no mapa <strong>da</strong> Europa: “Eis aqui quase cume <strong>da</strong> cabeça / De<br />

Europa to<strong>da</strong>, o Reino Lusita no / On<strong>de</strong> a terra se acaba e o mar começa / E on<strong>de</strong> Febo<br />

repousa no Oceano” (Lus., III. 20). Fala <strong>da</strong>s origens <strong>de</strong> Portugal, do primeiro herói, Viriato,<br />

o Pastor <strong>da</strong> Serra <strong>da</strong> Estrela, que resistiu à dominação romana. Na Guerra <strong>de</strong> Reconquista,<br />

que os povos já cristianizados moveram contra árabes invasores, no século XII, surge o<br />

Reino <strong>de</strong> Portugal e a Primeira Dinastia, a Casa <strong>de</strong> Borgonha. O terceiro canto contém a<br />

história <strong>de</strong> todos os reis <strong>de</strong>ssa dinastia, <strong>de</strong>stacando-se seu fun<strong>da</strong>dor, Afonso Henriques <strong>de</strong><br />

Borgonha. vencedor <strong>da</strong> Batalha <strong>de</strong> Ourique, contra os árabes, ao lado <strong>de</strong> Egas Moniz,<br />

símbolo nacional <strong>de</strong> leal<strong>da</strong><strong>de</strong> e honra<strong>de</strong>z. Ain<strong>da</strong> sob a Dinastia <strong>de</strong> Borgonha, no reinado <strong>de</strong><br />

D. Afonso IV, ocorre o episódio <strong>de</strong> Inês <strong>de</strong> Castro, aquela“que <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> ser morta foi<br />

rainha".<br />

Canto IV - Vasco <strong>da</strong> Gama prossegue a narrativa <strong>da</strong> história <strong>de</strong> Portugal, concentrando-se<br />

na Segun<strong>da</strong> Dinastia, a Casa <strong>de</strong> Avis. Fala <strong>da</strong> Revolução <strong>de</strong> Avis (1383 - 1385), <strong>de</strong> seu<br />

gran<strong>de</strong> herói, D. Nuno Álvares Pereira, <strong>da</strong> Batalha <strong>de</strong> Aljubarrota e <strong>de</strong> D. João I, Mestre <strong>de</strong><br />

Avis, que fun<strong>da</strong> o Estado Nacional Português, consoli<strong>da</strong> a centralização monárquica e inicia<br />

a expansão ultramarina, com a Toma<strong>da</strong> <strong>de</strong> Ceuta, <strong>em</strong> 1415. A partir do reinado <strong>de</strong> D.<br />

Manuel I, o Venturoso, Vasco <strong>da</strong> Gama começa a narrar os episódios preliminares <strong>de</strong> sua<br />

viag<strong>em</strong>. D. Manuel tivera um sonho profético: os rios Indo e Canges, sob forma <strong>de</strong> dois<br />

anciões, profetizam os sucessos e perigos que os portugueses enfrentariam no Oriente.<br />

Estimulado por esse sonho, D, Manuel I pe<strong>de</strong> a Vasco <strong>da</strong> Gama que monte uma esquadra<br />

para concretizar a profecia. Na parti<strong>da</strong> <strong>da</strong>s naus <strong>da</strong> praia <strong>de</strong> Belém, um ancião, o Velho do<br />

Restelo, faz uma enfática advertência contra as navegações portuguesas.<br />

Canto V - Vasco <strong>da</strong> Gama conclui a narrativa <strong>de</strong> sua viag<strong>em</strong> até Melin<strong>de</strong>. Fala <strong>da</strong> parti<strong>da</strong><br />

<strong>da</strong> esquadra, do Cruzeiro do Sul, <strong>de</strong>screve o fogo-<strong>de</strong>-santelmo, <strong>de</strong>pois uma tromba<br />

marítima na costa <strong>da</strong> Guiné, e a aventura cômica <strong>de</strong> Veloso. Perto <strong>da</strong> África do Sul, na<br />

travessia do Cabo <strong>da</strong>s Tormentas, os portugueses <strong>de</strong>frontam-se com o Gigante A<strong>da</strong>mastor,<br />

monstro disforme que simboliza a superação do medo do “Mar Tenebroso” e o domínio do<br />

hom<strong>em</strong> sobre as crendices medievais e sobre a natureza. De volta a Melin<strong>de</strong>, Vasco <strong>da</strong><br />

Gama conclui o seu relato elogiando a tenaci<strong>da</strong><strong>de</strong> portuguesa. Encenando a primeira parte<br />

<strong>da</strong> epopéia, <strong>Camões</strong> retoma a palavra para lamentar o <strong>de</strong>scaso dos portugueses pela<br />

poesia.<br />

Canto VI - Enquanto os portugueses rumam <strong>em</strong> direção às Índias, Baco <strong>de</strong>sce ao palácio<br />

<strong>de</strong> Netuno e incita os <strong>de</strong>uses marinhos contra a esquadra <strong>de</strong> Vasco <strong>da</strong> Gama. Novamente<br />

Vênus e as nerei<strong>da</strong>s salvam os navegadores. A bordo <strong>da</strong> nau capitânea, o marinheiro<br />

Veloso entretém seus companheiros com a narrativa cavaleiresca <strong>de</strong> <strong>Os</strong> Doze <strong>de</strong><br />

Inglaterra: doze portugueses, li<strong>de</strong>rados pelo Magriço, vão à Inglaterra resgatar a honra <strong>de</strong><br />

doze donzelas inglesas ultraja<strong>da</strong>s por doze cavaleiros bretões. <strong>Os</strong> navegadores avistam<br />

Calicute, e o narrador medita sobre o sentido e valor <strong>da</strong> glória.<br />

Canto VII e VIII - Vasco <strong>da</strong> Gama faz contato com as autori<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> Calicute. O<br />

samorim (= rei) <strong>de</strong>termina ao catual (= governador) que receba os navegadores. Vasco <strong>da</strong><br />

Gama <strong>de</strong>s<strong>em</strong>barca na Índia, visita o samorim e oferece a amiza<strong>de</strong> dos portugueses, <strong>em</strong><br />

nome <strong>de</strong> D. Manuel. O catual colhe informações sobre os recém-chegados e, <strong>em</strong> visita à<br />

esquadra, in<strong>da</strong>ga Paulo <strong>da</strong> Gama acerca do significado <strong>da</strong>s figuras <strong>de</strong>senha<strong>da</strong>s nas<br />

ban<strong>de</strong>iras lusas. O irmão do coman<strong>da</strong>nte assume a narrativa e conta os feitos dos heróis<br />

<strong>da</strong> pátria (Viriato, D. Afonso Henriques, Egas Moniz, D. Nuno Álvares e outros). <strong>Os</strong><br />

muçulmanos tramam contra os cristãos portugueses e envenenam as boas relações com o<br />

samorim. Novas cila<strong>da</strong>s. Vasco <strong>da</strong> Gama é feito prisioneiro. Negocia com o catual sua


liber<strong>da</strong><strong>de</strong>, <strong>em</strong> troca <strong>de</strong> mercadorias européias. O poeta encerra o oitavo canto com<br />

dissertação sobre o po<strong>de</strong>r do dinheiro.<br />

Canto IX e X - Ain<strong>da</strong> <strong>em</strong> Melin<strong>de</strong>, na parti<strong>da</strong> <strong>da</strong>s naus, dois feitores portugueses que<br />

vendiam mercadorias <strong>em</strong> Calicute são retidos <strong>em</strong> terra para retar<strong>da</strong>r a parti<strong>da</strong> <strong>da</strong>s naus e<br />

permitir que foss<strong>em</strong> alcança<strong>da</strong>s e <strong>de</strong>struí<strong>da</strong>s por uma esquadra muçulmana. Em represália,<br />

Vasco <strong>da</strong> Gama retém a bordo vários mercadores indianos. Trocam-se os feitores<br />

portugueses pelos mercadores orientais, o samorim man<strong>da</strong> <strong>de</strong>volver as fazen<strong>da</strong>s que os<br />

portugueses pagaram como resgate pelo capitão, e os navegadores, cumpri<strong>da</strong> sua missão,<br />

iniciam a viag<strong>em</strong> <strong>de</strong> regresso a Lisboa. <strong>Os</strong> historiadores registram ter sido uma viag<strong>em</strong><br />

aci<strong>de</strong>nta<strong>da</strong>, mas <strong>Camões</strong> encerra aqui a matéria propriamente histórica do po<strong>em</strong>a. O longo<br />

episódio <strong>da</strong> Ilha dos Amores pertence já ao plano mitológico, fantástico. É o<br />

congraçamento entre os homens e os <strong>de</strong>uses, a elevação dos navegadores à esfera <strong>da</strong><br />

imortali<strong>da</strong><strong>de</strong>.<br />

Vênus <strong>de</strong>ci<strong>de</strong> pr<strong>em</strong>iar os navegadores e, numa ilha paradisíaca, reúne as nerei<strong>da</strong>s (ninfas<br />

marinhas), feri<strong>da</strong>s por Cupido com suas setas, para que ar<strong>da</strong>m <strong>de</strong> amor pelos portugueses.<br />

Estes, <strong>de</strong>slumbrados com o espetáculo divino, passam a perseguir as ninfas que se <strong>de</strong>ixam<br />

alcançar e se entregam, entre gritinhos <strong>de</strong> prazer. É a mais clara manifestação do panerotismo,<br />

<strong>da</strong> idéia <strong>de</strong> que não há pecado sexual.<br />

Oh! Que famintos beijos na floresta,<br />

E que mimoso choro que soava!<br />

Que afagos tão suaves, que ira honesta,<br />

Que <strong>em</strong> risinhos alegres se tornava!<br />

O que mais passam na manhã e na sesta,<br />

Que Vênus com prazeres inflamava,<br />

Melhor é exp’rimentá-lo que julgá-lo;<br />

Mas julgue-o qu<strong>em</strong> não po<strong>de</strong> exp’rimentá-lo.<br />

(Lus., IX, 83)<br />

Após um banquete oferecido por Tétis e pelas ninfas, uma <strong>de</strong>las, Sirena (ou sereia),<br />

anuncia as futuras conquistas portuguesas. Tétis conduz Vasco <strong>da</strong> Gama a uma elevação e<br />

mostra a ele a Máquina do Mundo, réplica <strong>em</strong> miniatura do sist<strong>em</strong>a solar, segundo a teoria<br />

geocêntrica <strong>de</strong> Ptolomeu, e que somente os <strong>de</strong>uses podiam cont<strong>em</strong>plar. Descobrindo o<br />

orbe terrestre, Tétis aponta os lugares on<strong>de</strong> os portugueses ain<strong>da</strong> se farão presentes. Aí,<br />

s<strong>em</strong> que se dê particular importância, fala-se do Descobrimento do Brasil.<br />

Mas cá on<strong>de</strong> mais se alarga, ali tereis<br />

Parte também, com pau vermelho nota;<br />

De Santa Cruz o nome lhe poreis;<br />

Descobri-la-á a primeira vossa frota.<br />

(Lus.. X, 140)<br />

Na estrofe 144 do 10º canto, os portugueses estão <strong>de</strong> volta a Lisboa. Segue-se o epílogo<br />

do po<strong>em</strong>a.<br />

Nota: A <strong>obra</strong> <strong>Os</strong> <strong>Lusía<strong>da</strong>s</strong> passaram pela censura inquisitorial, <strong>de</strong>safiando o espírito <strong>da</strong><br />

Contra-Reforma, as convenções moralistas e repressoras <strong>da</strong> corte, orienta<strong>da</strong> pelos jesuítas.<br />

A publicação <strong>de</strong>veu-se ao <strong>em</strong>penho <strong>de</strong> alguns admiradores <strong>de</strong> <strong>Camões</strong>: D. Manuel <strong>de</strong><br />

Portugal, Dona Francisca <strong>de</strong> Aragão (amiga íntima <strong>da</strong> rinha), os dominicanos, a qu<strong>em</strong> não<br />

<strong>de</strong>viam <strong>de</strong>sagra<strong>da</strong>r as críticas do po<strong>em</strong>a aos jesuítas. O censor <strong>da</strong> <strong>obra</strong>, o frei dominicano<br />

Bartolomeu Ferreira, não só aprovou a <strong>obra</strong> como também a elogiou.


Busca livros

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!