VIDA SÓ VALE SE FOR POR PRAZER - GRES Beija-Flor de Nilópolis
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Ricardo Da Fonseca / Hilton Abi-Rihan<br />
<strong>VIDA</strong> <strong>SÓ</strong> <strong>VALE</strong> <strong>SE</strong> <strong>FOR</strong><br />
<strong>POR</strong> <strong>PRAZER</strong><br />
2010 é um ano <strong>de</strong> simbologia muito especial. É o último<br />
ano da primeira década do século 21.<br />
Quantos <strong>de</strong> nós, lá nos anos 80 e 90, não pensávamos<br />
como seria o ano 2000 e como estaríamos com a<br />
chegada do século 21?.<br />
Pois ele chegou. E mais ainda; chegou e segue célere,<br />
indiferente aos planos não concretizados, aos sonhos<br />
não buscados, aos sorrisos não compartilhados.<br />
Por isso, 2010 po<strong>de</strong>r ser para cada um <strong>de</strong> nós um<br />
ano que traz consigo uma importante<br />
mensagem <strong>de</strong> alerta<br />
sobre o que temos feito <strong>de</strong><br />
nossas vidas.<br />
Quantos <strong>de</strong> nós po<strong>de</strong>mos<br />
olhar para trás e dizer: no<br />
novo século, fiz tantas coisas<br />
novas e diferentes, construí e<br />
realizei novos sonhos, <strong>de</strong>ixei<br />
o que não prestava para trás<br />
e avancei em busca <strong>de</strong> novas<br />
conquistas e alegrias.<br />
Quantos <strong>de</strong> nós?<br />
O ano que se inicia - e que representa<br />
o fim <strong>de</strong> uma década<br />
marcada por importantes<br />
mudanças <strong>de</strong> comportamento<br />
- po<strong>de</strong> ser o estímulo para a<br />
construção <strong>de</strong> anos cada vez<br />
melhores, aproveitando cada<br />
minuto e cada momento com<br />
prazer.<br />
O prazer <strong>de</strong> ser útil, prazer <strong>de</strong> apren<strong>de</strong>r, prazer <strong>de</strong><br />
ensinar, <strong>de</strong> compartilhar, <strong>de</strong> sonhar, <strong>de</strong> sorrir...<br />
Hoje é carnaval.<br />
Queremos sim viver momentos felizes, pular, brincar,<br />
cantar....<br />
E o carnaval da cida<strong>de</strong> do Rio <strong>de</strong> Janeiro está aí para<br />
nos oferecer alegres e <strong>de</strong>scontraídos momentos <strong>de</strong><br />
alegria e prazer.<br />
Então não perca essa oportunida<strong>de</strong>!<br />
Pule, brinque, sorria, dance, cante, grite!<br />
Valorize esse momento, e seja feliz! Afinal, como diz<br />
o poeta e músico brasiliense Toninho Alves, “vida só<br />
vale se for por prazer”.<br />
Life is only worthwhile<br />
if lived with pleasure<br />
2010 is a very special and symbolic year. It’s the last year<br />
of the first <strong>de</strong>ca<strong>de</strong> of the twenty-first century. How many of<br />
us, in the 1980s and 90s, didn’t won<strong>de</strong>r what 2000 would<br />
bring, what the coming century would be like? Well, it arrived.<br />
And it did so with an ever more hectic pace of life,<br />
indifferent to plans not materialized, dreams not pursued,<br />
smiles not shared.<br />
For this reason, 2010 can be for each of us a wake-up year<br />
for reflection on what we’ve been doing with our lives. How<br />
many of us can look back and say: in the new century<br />
Nei<strong>de</strong> Tamborim<br />
I’ve done many new things, constructed and realized new<br />
dreams, left behind the bad and advanced in search of new<br />
conquests and happiness. How many of us can say this?<br />
The year that has already started – marking the end of a<br />
<strong>de</strong>ca<strong>de</strong> that was filled with important changes in behavior<br />
– can stimulate us to build better lives, by taking advantage<br />
of every minute, every moment, with pleasure. The pleasure<br />
of being useful, of learning, teaching, sharing, dreaming,<br />
smiling ....<br />
Today is carnival. This is a time to be happy, to dance, sing<br />
and play.... And carnival and the city of Rio <strong>de</strong> Janeiro are<br />
here to offer us joyful and carefree moments. So, don’t miss<br />
this opportunity! Dance, sing, smile, shout! Savor this moment,<br />
be happy. After all, as the Brazilian musician and poet<br />
said, “life is only worthwhile if lived with pleasure”.<br />
Fevereiro 2010
Ricardo Da Fonseca / Hilton Abi-Rihan<br />
<strong>VIDA</strong> <strong>SÓ</strong> <strong>VALE</strong> <strong>SE</strong> <strong>FOR</strong><br />
<strong>POR</strong> <strong>PRAZER</strong><br />
2010 é um ano <strong>de</strong> simbologia muito especial. É o último<br />
ano da primeira década do século 21.<br />
Quantos <strong>de</strong> nós, lá nos anos 80 e 90, não pensávamos<br />
como seria o ano 2000 e como estaríamos com a<br />
chegada do século 21?.<br />
Pois ele chegou. E mais ainda; chegou e segue célere,<br />
indiferente aos planos não concretizados, aos sonhos<br />
não buscados, aos sorrisos não compartilhados.<br />
Por isso, 2010 po<strong>de</strong>r ser para cada um <strong>de</strong> nós um<br />
ano que traz consigo uma importante<br />
mensagem <strong>de</strong> alerta<br />
sobre o que temos feito <strong>de</strong><br />
nossas vidas.<br />
Quantos <strong>de</strong> nós po<strong>de</strong>mos<br />
olhar para trás e dizer: no<br />
novo século, fiz tantas coisas<br />
novas e diferentes, construí e<br />
realizei novos sonhos, <strong>de</strong>ixei<br />
o que não prestava para trás<br />
e avancei em busca <strong>de</strong> novas<br />
conquistas e alegrias.<br />
Quantos <strong>de</strong> nós?<br />
O ano que se inicia - e que representa<br />
o fim <strong>de</strong> uma década<br />
marcada por importantes<br />
mudanças <strong>de</strong> comportamento<br />
- po<strong>de</strong> ser o estímulo para a<br />
construção <strong>de</strong> anos cada vez<br />
melhores, aproveitando cada<br />
minuto e cada momento com<br />
prazer.<br />
O prazer <strong>de</strong> ser útil, prazer <strong>de</strong> apren<strong>de</strong>r, prazer <strong>de</strong><br />
ensinar, <strong>de</strong> compartilhar, <strong>de</strong> sonhar, <strong>de</strong> sorrir...<br />
Hoje é carnaval.<br />
Queremos sim viver momentos felizes, pular, brincar,<br />
cantar....<br />
E o carnaval da cida<strong>de</strong> do Rio <strong>de</strong> Janeiro está aí para<br />
nos oferecer alegres e <strong>de</strong>scontraídos momentos <strong>de</strong><br />
alegria e prazer.<br />
Então não perca essa oportunida<strong>de</strong>!<br />
Pule, brinque, sorria, dance, cante, grite!<br />
Valorize esse momento, e seja feliz! Afinal, como diz<br />
o poeta e músico brasiliense Toninho Alves, “vida só<br />
vale se for por prazer”.<br />
Life is only worthwhile<br />
if lived with pleasure<br />
2010 is a very special and symbolic year. It’s the last year<br />
of the first <strong>de</strong>ca<strong>de</strong> of the twenty-first century. How many of<br />
us, in the 1980s and 90s, didn’t won<strong>de</strong>r what 2000 would<br />
bring, what the coming century would be like? Well, it arrived.<br />
And it did so with an ever more hectic pace of life,<br />
indifferent to plans not materialized, dreams not pursued,<br />
smiles not shared.<br />
For this reason, 2010 can be for each of us a wake-up year<br />
for reflection on what we’ve been doing with our lives. How<br />
many of us can look back and say: in the new century<br />
Nei<strong>de</strong> Tamborim<br />
I’ve done many new things, constructed and realized new<br />
dreams, left behind the bad and advanced in search of new<br />
conquests and happiness. How many of us can say this?<br />
The year that has already started – marking the end of a<br />
<strong>de</strong>ca<strong>de</strong> that was filled with important changes in behavior<br />
– can stimulate us to build better lives, by taking advantage<br />
of every minute, every moment, with pleasure. The pleasure<br />
of being useful, of learning, teaching, sharing, dreaming,<br />
smiling ....<br />
Today is carnival. This is a time to be happy, to dance, sing<br />
and play.... And carnival and the city of Rio <strong>de</strong> Janeiro are<br />
here to offer us joyful and carefree moments. So, don’t miss<br />
this opportunity! Dance, sing, smile, shout! Savor this moment,<br />
be happy. After all, as the Brazilian musician and poet<br />
said, “life is only worthwhile if lived with pleasure”.<br />
Fevereiro 2010
Ricardo Da Fonseca / Hilton Abi-Rihan<br />
<strong>VIDA</strong> <strong>SÓ</strong> <strong>VALE</strong> <strong>SE</strong> <strong>FOR</strong><br />
<strong>POR</strong> <strong>PRAZER</strong><br />
2010 é um ano <strong>de</strong> simbologia muito especial. É o último<br />
ano da primeira década do século 21.<br />
Quantos <strong>de</strong> nós, lá nos anos 80 e 90, não pensávamos<br />
como seria o ano 2000 e como estaríamos com a<br />
chegada do século 21?.<br />
Pois ele chegou. E mais ainda; chegou e segue célere,<br />
indiferente aos planos não concretizados, aos sonhos<br />
não buscados, aos sorrisos não compartilhados.<br />
Por isso, 2010 po<strong>de</strong>r ser para cada um <strong>de</strong> nós um<br />
ano que traz consigo uma importante<br />
mensagem <strong>de</strong> alerta<br />
sobre o que temos feito <strong>de</strong><br />
nossas vidas.<br />
Quantos <strong>de</strong> nós po<strong>de</strong>mos<br />
olhar para trás e dizer: no<br />
novo século, fiz tantas coisas<br />
novas e diferentes, construí e<br />
realizei novos sonhos, <strong>de</strong>ixei<br />
o que não prestava para trás<br />
e avancei em busca <strong>de</strong> novas<br />
conquistas e alegrias.<br />
Quantos <strong>de</strong> nós?<br />
O ano que se inicia - e que representa<br />
o fim <strong>de</strong> uma década<br />
marcada por importantes<br />
mudanças <strong>de</strong> comportamento<br />
- po<strong>de</strong> ser o estímulo para a<br />
construção <strong>de</strong> anos cada vez<br />
melhores, aproveitando cada<br />
minuto e cada momento com<br />
prazer.<br />
O prazer <strong>de</strong> ser útil, prazer <strong>de</strong> apren<strong>de</strong>r, prazer <strong>de</strong><br />
ensinar, <strong>de</strong> compartilhar, <strong>de</strong> sonhar, <strong>de</strong> sorrir...<br />
Hoje é carnaval.<br />
Queremos sim viver momentos felizes, pular, brincar,<br />
cantar....<br />
E o carnaval da cida<strong>de</strong> do Rio <strong>de</strong> Janeiro está aí para<br />
nos oferecer alegres e <strong>de</strong>scontraídos momentos <strong>de</strong><br />
alegria e prazer.<br />
Então não perca essa oportunida<strong>de</strong>!<br />
Pule, brinque, sorria, dance, cante, grite!<br />
Valorize esse momento, e seja feliz! Afinal, como diz<br />
o poeta e músico brasiliense Toninho Alves, “vida só<br />
vale se for por prazer”.<br />
Life is only worthwhile<br />
if lived with pleasure<br />
2010 is a very special and symbolic year. It’s the last year<br />
of the first <strong>de</strong>ca<strong>de</strong> of the twenty-first century. How many of<br />
us, in the 1980s and 90s, didn’t won<strong>de</strong>r what 2000 would<br />
bring, what the coming century would be like? Well, it arrived.<br />
And it did so with an ever more hectic pace of life,<br />
indifferent to plans not materialized, dreams not pursued,<br />
smiles not shared.<br />
For this reason, 2010 can be for each of us a wake-up year<br />
for reflection on what we’ve been doing with our lives. How<br />
many of us can look back and say: in the new century<br />
Nei<strong>de</strong> Tamborim<br />
I’ve done many new things, constructed and realized new<br />
dreams, left behind the bad and advanced in search of new<br />
conquests and happiness. How many of us can say this?<br />
The year that has already started – marking the end of a<br />
<strong>de</strong>ca<strong>de</strong> that was filled with important changes in behavior<br />
– can stimulate us to build better lives, by taking advantage<br />
of every minute, every moment, with pleasure. The pleasure<br />
of being useful, of learning, teaching, sharing, dreaming,<br />
smiling ....<br />
Today is carnival. This is a time to be happy, to dance, sing<br />
and play.... And carnival and the city of Rio <strong>de</strong> Janeiro are<br />
here to offer us joyful and carefree moments. So, don’t miss<br />
this opportunity! Dance, sing, smile, shout! Savor this moment,<br />
be happy. After all, as the Brazilian musician and poet<br />
said, “life is only worthwhile if lived with pleasure”.<br />
Fevereiro 2010
Revista <strong>Beija</strong>-<strong>Flor</strong> <strong>de</strong> <strong>Nilópolis</strong> www.beija-flor.com.br
Fevereiro 2010
A ALMA DO<br />
BRASIL<br />
ANIZIO ABRÃO DAVID<br />
Uma escola <strong>de</strong> samba não é um agrupamento <strong>de</strong><br />
pessoas isolado da socieda<strong>de</strong>.<br />
Ao contrário: seu movimento <strong>de</strong> vida é realizado<br />
por pessoas que, com seus sonhos, observações<br />
e motivações, interagem com a socieda<strong>de</strong>, no trabalho,<br />
junto à família, e nos momentos <strong>de</strong> lazer e<br />
entretenimento, trocando informações, influenciando<br />
e sendo influenciado a cada momento <strong>de</strong> suas<br />
vidas.<br />
Nesse sentido, cabe à administração da escola <strong>de</strong><br />
samba enten<strong>de</strong>r seus integrantes e o que esperam<br />
da agremiação a qual fazem parte, para que haja<br />
uma i<strong>de</strong>ntificação <strong>de</strong> propósitos que culminem em<br />
um convívio pacífico e produtivo.<br />
Além do cuidado que a diretoria da <strong>Beija</strong>-<strong>Flor</strong> <strong>de</strong><br />
<strong>Nilópolis</strong> <strong>de</strong>dica a cada componente - uma das marcas<br />
da nossa escola -, a <strong>de</strong>finição <strong>de</strong> enredos que<br />
se i<strong>de</strong>ntifiquem com o pensamento <strong>de</strong> seus integrantes<br />
é uma importante receita para uma convivência<br />
harmônica.<br />
Nesse sentido, se voltarmos o olhar para o passado<br />
da azul e branco <strong>de</strong> <strong>Nilópolis</strong>, vamos observar uma<br />
forte tendência em <strong>de</strong>senvolver enredos que retratam<br />
a força e capacida<strong>de</strong> do país e do seu povo.<br />
“Riquezas áureas do Brasil”, “Café, riqueza do Brasil”,<br />
“Exaltação a José <strong>de</strong> Alencar”, “Rio, quatro séculos<br />
<strong>de</strong> glória”, “O Gigante em Berço Esplendido”,<br />
“Bidu Sayão e o Canto <strong>de</strong> Cristal”, “Aurora do Povo<br />
Brasileiro”, “Macapaba” e, agora, “Brasília”, entre<br />
tantos outros enredos inesquecíveis, é a constatação<br />
<strong>de</strong>ssa afirmação.<br />
Uma escola <strong>de</strong> samba não é um agrupamento <strong>de</strong><br />
pessoas isolado da socieda<strong>de</strong>.<br />
Somos uma célula viva, atuante e atenta.<br />
Por essa razão, a escolha <strong>de</strong>sses enredos: porque<br />
acreditamos verda<strong>de</strong>iramente - diretoria e componentes<br />
- na força do povo brasileiro e no seu potencial<br />
<strong>de</strong> realização.<br />
Recentemente, após a crise financeira que abalou<br />
o mercado mundial, os olhos dos especialistas se<br />
voltaram para o Brasil.<br />
O <strong>de</strong>safio, temperado com pitadas <strong>de</strong> surpresa, era<br />
enten<strong>de</strong>r porque nosso país não ruiu com a crise.<br />
Mais ainda, como foi possível o Brasil sair da crise<br />
com tanta rapi<strong>de</strong>z.<br />
Naturalmente, existem as explicações acadêmicas,<br />
dadas por sociólogos, economistas, jornalistas, e<br />
outros “istas”. Cada um <strong>de</strong>les, no entanto, apesar<br />
<strong>de</strong> dar ênfase à sua especialida<strong>de</strong> <strong>de</strong> conhecimento,<br />
são unânimes em afirmar que o elemento primordial<br />
<strong>de</strong>ssa realida<strong>de</strong> foi o papel exercido por<br />
cada brasileiro.<br />
A gran<strong>de</strong> <strong>de</strong>scoberta <strong>de</strong>sses experts é um segredo<br />
já <strong>de</strong>svendado pela <strong>Beija</strong>-<strong>Flor</strong> <strong>de</strong> <strong>Nilópolis</strong> há muito<br />
tempo: a força <strong>de</strong> um país resi<strong>de</strong> no seu povo.<br />
Daí porque, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> os nossos primeiros <strong>de</strong>sfiles retratamos<br />
a força e capacida<strong>de</strong> do Brasil e do seu<br />
povo.<br />
E é em homenagem a esse povo, que fez e faz o Brasil<br />
que <strong>de</strong>sejamos a todos um ótimo espetáculo.<br />
Revista <strong>Beija</strong>-<strong>Flor</strong> <strong>de</strong> <strong>Nilópolis</strong> www.beija-flor.com.br
THE SOUL<br />
OF<br />
BRAZIL<br />
A samba school isn’t a group of people isolated from<br />
society.<br />
On the contrary: it’s a living organism ma<strong>de</strong> up of people<br />
that, with their dreams, observations and motivations,<br />
interact with society, at work, with their families and in<br />
their moments of leisure and entertainment, exchanging<br />
information, influencing and being influenced by others at<br />
each moment of their lives.<br />
In this sense, the directors of a samba school must un<strong>de</strong>rstand<br />
its members and what they want, so there will<br />
be unity of purpose culminating in a harmonious and<br />
productive effort.<br />
Besi<strong>de</strong>s the care that the directors of <strong>Beija</strong>-<strong>Flor</strong> <strong>de</strong>dicate<br />
to each member – one of <strong>Beija</strong>-<strong>Flor</strong>’s<br />
“registered tra<strong>de</strong>marks” – the <strong>de</strong>finition of<br />
carnival themes that are in line with the<br />
members’ thinking is an important ingredient<br />
for a harmonious effort.<br />
We need only take a backward look at the blue and white<br />
crew from <strong>Nilópolis</strong> to find a pronounced ten<strong>de</strong>ncy to<br />
<strong>de</strong>velop themes that reflect the strength and capability of<br />
Brazil and its people.<br />
“Gol<strong>de</strong>n Riches of Brazil”, “Coffee, Wealth of Brazil”, “Exaltation<br />
to José <strong>de</strong> Alencar”, “Rio, Four Centuries of Glory”,<br />
“A Giant in a Splendid Cradle”, “Bidu Sayão and the Voice<br />
of Crystal”, “Aurora of the Brazilian People”, “Macapaba”<br />
and now “Brasília”, among so many other unforgettable<br />
carnival themes, serve as proof to this claim.<br />
A samba school isn’t a group of people isolated from society.<br />
We’re a living cell, active and aware.<br />
This explains the choice of these themes: because we really<br />
believe – the directors and members – in the force of the<br />
Brazilian people and their potential for achievement.<br />
Recently, after the financial crisis that rocked the international<br />
market, the eyes of specialists have returned to<br />
Brazil.<br />
The challenge, tempered with a pinch of surprise, was to<br />
un<strong>de</strong>rstand why our country weathered the crisis so well,<br />
and emerged from it so quickly.<br />
Naturally there are aca<strong>de</strong>mic explanations, given by sociologists,<br />
economists, journalists and other “ists”. All of<br />
them – though each focusing on his or her own specialized<br />
knowledge – are unanimous that the basic reason for this<br />
was the role exercised by the Brazilian people.<br />
The great discovery of these experts is a secret long ago<br />
realized by <strong>Beija</strong>-<strong>Flor</strong>: a country’s strength resi<strong>de</strong>s in its<br />
people.<br />
This is why since our first carnival para<strong>de</strong>s we’ve <strong>de</strong>picted<br />
the strength and capability of Brazil and its people.<br />
And in homage to these people, who make Brazil what it<br />
is, we <strong>de</strong>dicate our efforts to put on another in a long line<br />
of spectacular shows.<br />
Fevereiro 2010
Produção<br />
WIDEBRASIL COMUNICAÇÃO E EDITORA<br />
www.wi<strong>de</strong>brasil.com<br />
Editores<br />
Ricardo Da Fonseca<br />
Hilton Abi-Rihan<br />
Jornalista Responsável<br />
Ricardo Da Fonseca, MTb RJ23267JR<br />
Redação<br />
Ana Caroline Chaves, Débora Zampier, Hilton Abi-Rihan,<br />
Íris Ágatha, Miro Lopes, Renata Leal, Thais Me<strong>de</strong>iros,<br />
Ricardo Da Fonseca e Vicente Dattoli.<br />
Transcrição <strong>de</strong> áudio<br />
Macarena Iranzo<br />
Thais Me<strong>de</strong>iros<br />
Projeto Gráfico<br />
R. Gatto<br />
Edição e Tratamento <strong>de</strong> Imagens<br />
Francisco Ragna Junior<br />
Recorte <strong>de</strong> Imagens<br />
Francisco Ragna Junior<br />
Ramon Gonzaga<br />
Agra<strong>de</strong>cimentos<br />
Álvaro Caetano (Alvinho), Ana Saraiva, Augusto Ivan,<br />
Bianca Behrends, Djalma Sabiá, Elmo José dos Santos,<br />
Felipe Ferreira, Haroldo Costa, Hiram Araújo, Jorge Coutinho,<br />
Luciana Luz, Márcia Sant’Anna, Maria Augusta<br />
Rodrigues, Moacyr Luz, Monarco, Perfeito Fortuna, Plínio<br />
Fróes, Rubem Confete, Ubiratan Silva e Vó Nadyr.<br />
Revisão <strong>de</strong> Texto<br />
Marco Antonio Nicolau<br />
Versão para o Inglês<br />
Guy Fulkerson<br />
Versão para o Francês (digital)<br />
Melina Lobo<br />
Versão para o Japonês (digital)<br />
Naomi Kumamoto<br />
Fotografia<br />
Augusto Pedoni, Edgar Rocha, Henrique Matos, Irapuã<br />
Jeferson, Luiz Pinheiro, Luiz Santos, Luiz Trazzi Martins,<br />
Ricardo Da Fonseca e Robson Barreto.<br />
Ilustração Moacyr Luz<br />
Amorim<br />
www.wi<strong>de</strong>brasil.com<br />
e-mail: ricardo@wi<strong>de</strong>brasil.com<br />
SUMÁRIO<br />
Hoje é o nosso dia<br />
A revista <strong>Beija</strong>-<strong>Flor</strong> <strong>de</strong> <strong>Nilópolis</strong> - uma escola <strong>de</strong> vida, ISSN<br />
1678-3611, é uma publicação oficial do Grêmio Recreativo Escola<br />
<strong>de</strong> Samba <strong>Beija</strong>-<strong>Flor</strong> <strong>de</strong> <strong>Nilópolis</strong> e produzido pela Wi<strong>de</strong>Brasil Comunicação<br />
Integrada.<br />
As opiniões emitidas nas entrevistas concedidas e os textos assinados<br />
são <strong>de</strong> responsabilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> seus autores, não refletindo,<br />
necessariamente, a posição dos editores nem da agremiação.<br />
É permitida a reprodução parcial ou total das matérias, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> que<br />
citada a fonte.<br />
Fevereiro <strong>de</strong> 2010 - Tiragem: 60 mil exemplares<br />
Samba carioca - Patrimônio Cultural Brasileiro<br />
Entrevista com Márcia Sant’Anna, Iphan<br />
Anizio, o amigo do samba<br />
Será o fim da ala das baianas?<br />
Brasília: uma jovem senhora com muita história para<br />
contar<br />
Carnaval 2010. Recriando a capital fe<strong>de</strong>ral<br />
Carnaval 2010<br />
Laíla: 50 anos <strong>de</strong> carnaval<br />
Gabriel David: sangue bom nas pistas e na avenida<br />
Revista <strong>Beija</strong>-<strong>Flor</strong> <strong>de</strong> <strong>Nilópolis</strong> www.beija-flor.com.br<br />
Capa<br />
Brasília e <strong>Beija</strong>-<strong>Flor</strong> <strong>de</strong> <strong>Nilópolis</strong>:<br />
Dois Gigantes na Avenida.<br />
Criação da capa:<br />
R. Gatto<br />
Fotos: Carnaval (Henrique Matos<br />
e Augusto Pedoni) e Brasília (Luiz<br />
Trazzi Martins)<br />
08<br />
26<br />
30<br />
36<br />
38<br />
40<br />
44<br />
49<br />
74<br />
84
VOCAÇÕES<br />
Novamente nossos corações aceleram e ganham<br />
o mesmo ritmo dos pés e a força <strong>de</strong> nossos tambores.<br />
Voltar à Sapucaí é, para a <strong>Beija</strong>-<strong>Flor</strong>, reencontrar<br />
sua maior vocação, que é transformar suor,<br />
trabalho e <strong>de</strong>dicação em arte, cultura e folia.<br />
Cada membro da gran<strong>de</strong> família <strong>Beija</strong>-<strong>Flor</strong> trabalhou<br />
muito para tornar possível esse momento, <strong>de</strong><br />
significado tão grandioso.<br />
Quando os mestres Rodney, Plínio e Binho sacudirem<br />
a passarela do samba com nossa bateria, teremos<br />
a certeza <strong>de</strong> que cada ritmista estará apresentando<br />
seu maior talento, como em um momento<br />
único em sua vida.<br />
Ser uma família é algo muito maior do que ser uma<br />
equipe ou uma torcida, e por isso a <strong>Beija</strong>-<strong>Flor</strong> é<br />
grandiosa e esten<strong>de</strong>-se por toda a nação.<br />
Este ano nosso encantamento é ainda mais especial,<br />
pois vamos homenagear o cinquentenário do<br />
coração <strong>de</strong>sse país. Nossa capital, <strong>de</strong> arquitetura<br />
arrojada e cultura tão extensa, dá o norte <strong>de</strong> nosso<br />
<strong>de</strong>sfile em 2010. Recebemos o apoio do po<strong>de</strong>r público<br />
em suas três esferas, como também a representação<br />
<strong>de</strong> nossa comunida<strong>de</strong>, unida pela realização<br />
<strong>de</strong> um espetáculo <strong>de</strong> qualida<strong>de</strong>, que fortalece<br />
e consolida, principalmente, a vocação do Brasil <strong>de</strong><br />
realizar e sediar eventos <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> porte.<br />
O país, que será o foco da atenção <strong>de</strong> olhos do<br />
mundo inteiro na realização da Copa do Mundo <strong>de</strong><br />
Futebol <strong>de</strong> 2014 e dos Jogos Olímpicos <strong>de</strong> 2016,<br />
<strong>de</strong>monstra sua capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> organização e profissionalismo<br />
na perfeição do maior espetáculo cultural<br />
da Terra: O Desfile das Escolas <strong>de</strong> Samba do<br />
Rio <strong>de</strong> Janeiro.<br />
Temos a convicção <strong>de</strong> que continuaremos conquistando<br />
novos espaços no cenário mundial, pois esta<br />
é também nossa aptidão.<br />
Por isso, a <strong>Beija</strong>-<strong>Flor</strong> <strong>de</strong> <strong>Nilópolis</strong> agra<strong>de</strong>ce a todos<br />
os seus membros por lutar com afinco por sua verda<strong>de</strong>ira<br />
vocação, por se empenhar em transformar<br />
todas as adversida<strong>de</strong>s em conquistas e todos os<br />
<strong>de</strong>safios em vitórias.<br />
Tenho muito orgulho <strong>de</strong>, ao lado <strong>de</strong> meu irmão e<br />
nosso gran<strong>de</strong> Patrono Anizio, ser mais um elemento<br />
nessa massa que carrega nas veias o DNA da<br />
família <strong>Beija</strong>-<strong>Flor</strong>.<br />
VOCATIONS<br />
Once again our hearts speed up, beating with the same<br />
rhythm as our feet and force of our drums. For <strong>Beija</strong>-<strong>Flor</strong>,<br />
returning to Sapucaí Avenue is like reencountering its<br />
greatest vocation, which is to transform sweat, work and<br />
<strong>de</strong>dication into art, culture and merrymaking.<br />
Each member of the great <strong>Beija</strong>-<strong>Flor</strong> family has worked hard<br />
to make such a significant moment as this possible.<br />
When masters Rodney, Plínio and Binho vibrate the Sambadrome<br />
with our percussion unit, we’re sure that each member<br />
will be presenting his best talent,<br />
as if his life <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>d on it.<br />
Being a family is much more<br />
than being a team or a group of<br />
fans. This is why <strong>Beija</strong>-<strong>Flor</strong> is so<br />
grand and extends throughout<br />
the nation.<br />
This year, our enchantment<br />
is even more special, because<br />
we’re going to pay homage to<br />
the fiftieth anniversary of our<br />
nation’s heart: Our Capital, with<br />
its daring architecture and varied<br />
culture, is our para<strong>de</strong> theme in<br />
2010.<br />
We’ve received support from the<br />
public sector at all three levels, but<br />
particularly from the efforts of our<br />
community, which is united in<br />
putting on this spectacular show,<br />
one that strengthens and consolidates<br />
Brazil’s vocation of producing<br />
and hosting big events.<br />
The country on which the world’s<br />
eyes will focus during the 2014<br />
World Cup and 2016 Olympic<br />
Games already <strong>de</strong>monstrates its capacity for organization Farid Abrão<br />
and professionalism with the perfection of the greatest cultural<br />
spectacle on earth: The Para<strong>de</strong> of the Samba Schools<br />
of Rio <strong>de</strong> Janeiro.<br />
We know we will continue conquering new space on the<br />
global stage, because it’s in our blood.<br />
For this reason, <strong>Beija</strong>-<strong>Flor</strong> of <strong>Nilópolis</strong> thanks all its members<br />
and fans for their <strong>de</strong>dication to our true vocation, transforming<br />
adversities into conquests and challenges into victories.<br />
I’m proud to be, along with my brother and our great patron,<br />
Anísio, one more element in this mass that carries in its<br />
veins the DNA of the <strong>Beija</strong>-<strong>Flor</strong> family.<br />
Fevereiro 2010
HOJE<br />
é o nosso dia!<br />
Revista <strong>Beija</strong>-<strong>Flor</strong> <strong>de</strong> <strong>Nilópolis</strong> www.beija-flor.com.br
ANA CAROLINE CHAVES<br />
O Grêmio Recreativo Escola <strong>de</strong> Samba <strong>Beija</strong>-<strong>Flor</strong><br />
<strong>de</strong> <strong>Nilópolis</strong> é a prova <strong>de</strong> que uma escola <strong>de</strong> samba<br />
po<strong>de</strong> fazer mais do que música pela comunida<strong>de</strong>.<br />
Seus projetos sociais auxiliam na formação <strong>de</strong><br />
crianças e jovens, na busca <strong>de</strong> um futuro melhor e<br />
ajudam-nos a acreditar no potencial que existe em<br />
cada um <strong>de</strong>les. Concebidos e estruturados por Anizio<br />
Abrão David, presi<strong>de</strong>nte <strong>de</strong> honra da <strong>Beija</strong>-<strong>Flor</strong>,<br />
eles encontram no patrono a força necessária para<br />
servirem <strong>de</strong> exemplo para todo o Brasil.<br />
CRECHE JÚLIA ABRÃO DAVID<br />
Inaugurada em 09 <strong>de</strong> maio <strong>de</strong> 1980, a Creche Júlia<br />
Abrão David completa mais um ano <strong>de</strong> ótimos<br />
resultados. O projeto educacional que começou<br />
com 60 crianças hoje possui cerca <strong>de</strong> 280 alunos<br />
matriculados. A escola foi planejada para ter toda<br />
a infraestrutura necessária visando oferecer o melhor<br />
aos pequenos e contribuir com eles no seu <strong>de</strong>senvolvimento<br />
para que se tornem cidadãos mais<br />
aptos a aproveitar as oportunida<strong>de</strong>s que a socieda<strong>de</strong><br />
oferece. Nomeada em homenagem à matriarca<br />
da Família Abrão David – D. Júlia, mãe dos irmãos<br />
Nelson, Anizio e Farid –, a creche encontra em Anizio<br />
um porto seguro para sua existência.<br />
Para participar do projeto educacional da <strong>Beija</strong>-<strong>Flor</strong><br />
<strong>de</strong> <strong>Nilópolis</strong> a família das crianças <strong>de</strong>ve comprovar<br />
uma renda <strong>de</strong> até três salários mínimos e as crianças<br />
<strong>de</strong>vem ter entre seis meses e seis anos <strong>de</strong> ida<strong>de</strong>.<br />
Para Maria <strong>de</strong> Lour<strong>de</strong>s Goulart, diretora geral<br />
<strong>de</strong>s<strong>de</strong> a inauguração, a proposta da creche é ser<br />
uma extensão do lar <strong>de</strong>ssas famílias: “A partir do<br />
momento que uma mãe entrega essa criança aqui<br />
na creche, ela tem que ter o melhor. Tratamos <strong>de</strong>las<br />
com muito carinho e amor, e seus pais sabem disso”,<br />
afirma a diretora.<br />
A creche funciona em regime <strong>de</strong> semi-internato e<br />
os alunos são divididos em três turmas: Berçário<br />
(dos seis meses aos 3 anos), Jardim I (dos três aos<br />
quatro anos) e Jardim II (dos quatro aos seis anos).<br />
Para que todos tenham conforto, as ativida<strong>de</strong>s das<br />
crianças são divididas em turnos. Enquanto parte<br />
dos alunos estuda pela manhã, os outros participam<br />
<strong>de</strong> ativida<strong>de</strong>s no pátio. Depois as turmas se invertem.<br />
Na creche, as crianças também encontram<br />
o suporte que necessitam para manterem uma vida<br />
saudável: são quatro refeições diárias, além <strong>de</strong> assistência<br />
médica e odontológica – essa realizada no<br />
consultório odontológico instalado no local.<br />
A se<strong>de</strong> da creche conta, ainda, com berçário, salas<br />
<strong>de</strong> aula, salas <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong>s e <strong>de</strong> ví<strong>de</strong>o, dormitórios,<br />
TODAY<br />
is our day!<br />
ANA CAROLINE CHAVES<br />
<strong>Beija</strong>-<strong>Flor</strong> (or Grêmio Recreativo Escola <strong>de</strong> Samba <strong>Beija</strong>-<strong>Flor</strong><br />
<strong>de</strong> <strong>Nilópolis</strong>, as it is officially known) does more than make<br />
music for the community. Its social projects help provi<strong>de</strong><br />
a better future for children and youths by giving them a<br />
chance to realize their potential. Conceived and structured<br />
by Anízio Abrão David, <strong>Beija</strong>-<strong>Flor</strong>’s presi<strong>de</strong>nt of honor, these<br />
projects find in their patron the force necessary to serve as<br />
examples for all of Brazil.<br />
Júlia Abrão David Daycare Center<br />
Opened on May 9, 1980, the Júlia Abrão David Daycare<br />
Center has completed another year of outstanding results. An<br />
educational project that started with 60 children now has<br />
some 280 kids enrolled. The center was planned with the<br />
full infrastructure necessary to help the little ones <strong>de</strong>velop<br />
into useful citizens more able to seize the opportunities that<br />
society offers. Named in honor of the Abrão David family<br />
matriarch – the mother of Nelson, Anízio and Farid – the<br />
center finds safe harbor in the hands of Anízio.<br />
To participate in this educational project of <strong>Beija</strong>-<strong>Flor</strong>, the<br />
children must be between six months and six years old and<br />
their families must have an income of no more than three<br />
times the minimum monthly wage. For Maria <strong>de</strong> Lour<strong>de</strong>s<br />
Goulart, general director since the start, the i<strong>de</strong>a is to make<br />
the center an extension of home for these families: “From the<br />
moment mothers <strong>de</strong>liver their children here, the little ones<br />
receive the best we can give. We treat them with ten<strong>de</strong>rness<br />
and love, and their parents know this,” she says.<br />
The center functions all day and the children are divi<strong>de</strong>d into<br />
three groups: “Nursery” (from six months to three years old),<br />
Kin<strong>de</strong>rgarten I (three and four years old) and Kin<strong>de</strong>rgarten II<br />
(from four to six years old). The kids’ activities are divi<strong>de</strong>d<br />
into two schedules. While part of them study in the morning,<br />
others participate in activities in the play yard. Afterward the<br />
activities invert. Besi<strong>de</strong>s learning and play, the kids find the<br />
support they need for healthy lives: there are three meals and a<br />
snack every day and medical and <strong>de</strong>ntal assistance, the latter<br />
provi<strong>de</strong>d in a <strong>de</strong>ntal office on site.<br />
Fevereiro 2010
efeitórios, cozinha industrial e um espaço ver<strong>de</strong>.<br />
Tudo para oferecer às crianças e às famílias uma<br />
oportunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> crescer e se <strong>de</strong>senvolver em um<br />
ambiente <strong>de</strong> cooperação e incentivo. Também participam<br />
da creche alunos <strong>de</strong> municípios vizinhos,<br />
como Queimados, São João <strong>de</strong> Meriti, Anchieta,<br />
<strong>de</strong>ntre outros. O importante é dar o suporte necessário<br />
para que as crianças cresçam em um ambiente<br />
saudável e estimulador.<br />
Na equipe <strong>de</strong> profissionais, babás, psicólogos, assistentes<br />
sociais, <strong>de</strong>ntistas, faxineiros, cozinheiros,<br />
auxiliares <strong>de</strong> cozinha, secretárias, porteiros, todos<br />
por uma infraestrutura impecável. “Existe uma<br />
união entre todos que trabalham no projeto para<br />
que as crianças recebam o que merecem. E isso<br />
é inovador. E sempre foi inovador, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> que fundamos<br />
a casa. Aqui todos trabalham com amor e<br />
comprometimento”, conta a diretora. A paixão pela<br />
creche transparece ainda mais em Maria <strong>de</strong> Lour<strong>de</strong>s<br />
quando fala <strong>de</strong> seus alunos: “Ninguém é mais verda<strong>de</strong>iro<br />
que uma criança. Eles não mascaram seus<br />
sentimentos, nem suas intenções. São verda<strong>de</strong>iras<br />
e diretas. Fazem questão <strong>de</strong> escrever ou dizer ‘eu<br />
te amo’ quando sentem isso. É comum chegarmos<br />
à creche e sermos abordados por alguma criança<br />
The daycare building also contains a nursery, classrooms,<br />
activity and vi<strong>de</strong>o rooms, a nap room, cafeteria and kitchen,<br />
and there’s a grassed courtyard outsi<strong>de</strong> – everything to offer<br />
the children and their families an opportunity to grow and<br />
<strong>de</strong>velop in a setting of cooperation and encouragement.<br />
Besi<strong>de</strong>s <strong>Nilópolis</strong>, the<br />
center takes kids from<br />
adjacent municipalities,<br />
such as Queimados, São<br />
João <strong>de</strong> Meriti and Anchieta,<br />
among others. The<br />
important point is to give<br />
the support necessary<br />
for the kids to grow in a<br />
healthful and stimulating<br />
environment.<br />
There’s a full staff of<br />
babysitters, psychologists,<br />
social assistants, <strong>de</strong>ntists,<br />
cooks, kitchen helpers,<br />
secretaries and doormen,<br />
to serve all the kids’ needs<br />
in an impeccable facility.<br />
“Everyone who works in<br />
the project is united so<br />
that the kids receive what<br />
they <strong>de</strong>serve. And this is<br />
innovative. It always has<br />
been innovative, since we<br />
foun<strong>de</strong>d the center. Here<br />
everyone works with love<br />
and commitment,” explains the director. Maria <strong>de</strong> Lour<strong>de</strong>s’<br />
passion for the center shines even more when she speaks<br />
of her young charges: “Nobody is truer than a child. They<br />
don’t mask their feelings or intentions. They’re truthful and<br />
direct: they make a point of writing or saying ‘I love you’<br />
when they feel this way. We often are greeted by a smiling<br />
child saying ‘hi teacher, I missed you.’ Little things like this<br />
that we experience daily have no price,” she conclu<strong>de</strong>s.<br />
Abrão David School<br />
Children grow and projects evolve with them. When they<br />
reach the age of seven, the stu<strong>de</strong>nts from the Júlia Abrão<br />
David Daycare Center are automatically transferred to the<br />
Abrão David School. Opened on February 19, 1987, the facility<br />
is inten<strong>de</strong>d to complete the crèche’s work by continuing<br />
the pedagogic concepts, in a rich educational environment<br />
where the stu<strong>de</strong>nts not only learn in classroom subjects, but<br />
0 Revista <strong>Beija</strong>-<strong>Flor</strong> <strong>de</strong> <strong>Nilópolis</strong> www.beija-flor.com.br
que, sorri<strong>de</strong>nte, nos dirige a palavra dizendo: ‘oi tia,<br />
senti sauda<strong>de</strong>’. Acontecimentos como esse, que<br />
vivenciamos no nosso dia a dia, não tem preço”,<br />
conclui emocionada.<br />
EDUCANDÁRIO ABRÃO DAVID<br />
As crianças crescem e os projetos evoluem. Ao<br />
completarem seis anos, todos os alunos da Creche<br />
Júlia Abrão David são transferidos automaticamente<br />
para o Educandário Abrão David. Inaugurado<br />
em 19 <strong>de</strong> fevereiro <strong>de</strong> 1987, o projeto veio<br />
para complementar o trabalho da creche e resgatar<br />
conceitos pedagógicos, como continuida<strong>de</strong> da vida<br />
acadêmica <strong>de</strong>ntro e fora da escola, compreensão<br />
profunda dos assuntos abordados em sala, auto<strong>de</strong>senvolvimento<br />
e entendimento dos diferentes<br />
perfis <strong>de</strong> cada um.<br />
Do primeiro ao nono ano do Ensino Fundamental,<br />
os alunos recebem aulas <strong>de</strong> matemática e português,<br />
e até informática e civilida<strong>de</strong>. A proposta do<br />
educandário é ter um ensino <strong>de</strong> qualida<strong>de</strong> que prepare<br />
os jovens para o mercado <strong>de</strong> trabalho. Alunos<br />
<strong>de</strong> outras comunida<strong>de</strong>s também po<strong>de</strong>m entrar na<br />
escola e buscar lá um caminho <strong>de</strong> aprendizagem.<br />
Maria <strong>de</strong> Lour<strong>de</strong>s Goulart, também diretora geral,<br />
ressalta que o apoio e orientação às famílias<br />
continuam no educandário, além <strong>de</strong> todos os<br />
serviços prestados na creche.<br />
A escola não se fixa apenas ao ensino formal e<br />
oficial; funciona também como incentivadora<br />
<strong>de</strong> cultura e comportamentos.<br />
Em datas comemorativas,<br />
apresentações,<br />
pesquisas e trabalhos<br />
são fornecidos para que<br />
a comunida<strong>de</strong> se integre.<br />
“No <strong>de</strong>sfile <strong>de</strong> escolas<br />
<strong>de</strong> sete <strong>de</strong> setembro,<br />
tivemos o maior contingente<br />
<strong>de</strong> alunos <strong>de</strong>sfilando,<br />
mais <strong>de</strong> 1.700, pois juntamos<br />
as crianças da creche e os jovens<br />
do educandário. As autorida<strong>de</strong>s<br />
nos aplaudiram <strong>de</strong> pé. Não podia<br />
ficar mais feliz”, diz Maria <strong>de</strong><br />
Lour<strong>de</strong>s.<br />
Com uma biblioteca variada e um<br />
laboratório <strong>de</strong> informática, o educandário<br />
oferece uma estrutura<br />
para que seus alunos aprendam<br />
a viver com dignida<strong>de</strong> e construam<br />
uma personalida<strong>de</strong> responsável<br />
e com conhecimento para terem um<br />
also learn how to <strong>de</strong>velop themselves and un<strong>de</strong>rstand their<br />
individual profiles.<br />
From the first through the ninth gra<strong>de</strong>s, the stu<strong>de</strong>nts are<br />
schooled in the full range of subjects, such as math, Portuguese,<br />
civics and informatics. The proposal is to provi<strong>de</strong><br />
an excellent education to prepare young people for the job<br />
market. Stu<strong>de</strong>nts from other communities can also attend<br />
the school. Maria <strong>de</strong> Lour<strong>de</strong>s Goulart, the general director<br />
of the school as well, stresses that support and orientation<br />
to the families continues at the school, along with all the<br />
other services provi<strong>de</strong>d at the daycare center.<br />
The school offers more than just the required basic curriculum.<br />
It also encourages culture and good citizenship. On<br />
commemorative dates, the studies and works are formulated<br />
so the whole community can interact. “In the school para<strong>de</strong><br />
on September Seventh [In<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nce Day], we have the<br />
largest contingent marching, over 1,700, because we combine<br />
the kids from the daycare center with the pupils from the<br />
school. The authorities give us a standing ovation, and I<br />
couldn’t be happier,” says Maria <strong>de</strong> Lour<strong>de</strong>s.<br />
With a varied library and computer room, the<br />
school offers a structure so its stu<strong>de</strong>nts can<br />
learn to live with dignity and become responsible<br />
adults, with the knowledge<br />
necessary for a brighter<br />
future. This is why<br />
professionals<br />
like Maria<br />
<strong>de</strong> Lour<strong>de</strong>s<br />
have worked so<br />
many years on the<br />
project. “The stu<strong>de</strong>nts<br />
are a large<br />
Fevereiro 2010
futuro melhor. É por isso e para isso que profissionais<br />
como Maria <strong>de</strong> Lour<strong>de</strong>s trabalham tantos<br />
anos no projeto. “Os alunos são muito da minha<br />
razão <strong>de</strong> viver. Eles me fortalecem e me confortam.<br />
Enchem-me <strong>de</strong> esperança quando vejo aqueles<br />
olhinhos vidrados no aprendizado, esperançosos<br />
para construir uma vida feliz para eles e seus<br />
familiares... Estar aqui é uma verda<strong>de</strong>ira lição <strong>de</strong><br />
vida”, afirma a diretora.<br />
CENTRO DE ATENDIMENTO COMUNITÁRIO<br />
NELSON ABRÃO DAVID<br />
Os projetos do Grêmio Recreativo <strong>de</strong> <strong>Nilópolis</strong><br />
não param por aí. O Centro <strong>de</strong> Atendimento Comunitário<br />
(CAC) Nelson Abrão David surgiu em<br />
3 <strong>de</strong> agosto <strong>de</strong> 1991 para dar uma especialização<br />
aos jovens da comunida<strong>de</strong> e <strong>de</strong> adjacências.<br />
Anizio po<strong>de</strong> com este projeto ajudar centenas <strong>de</strong><br />
adolescentes a saírem das ruas e terem a chance<br />
<strong>de</strong> um futuro melhor. Aroldo Carlos da Silva,<br />
coor<strong>de</strong>nador do projeto <strong>de</strong>s<strong>de</strong> sua abertura, reconhece<br />
o valor que a família Abrão David dá<br />
para o trabalho: “Em todos os lugares do Brasil,<br />
vamos encontrar necessida<strong>de</strong>s a serem tratadas.<br />
Infelizmente, nem todos serão atendidos pelo<br />
po<strong>de</strong>r público, principal responsável por dar aos<br />
nossos jovens as oportunida<strong>de</strong>s que necessitam.<br />
Por outro lado, existem pessoas, como o Anizio,<br />
que está atento a essa questão, e se vê em condições<br />
<strong>de</strong> fazer alguma coisa. Anizio e a família<br />
Abrão David nos ajudam <strong>de</strong> diversas maneiras a<br />
fazer e dar continuida<strong>de</strong> a um trabalho sério que<br />
tem dado bons resultados <strong>de</strong>s<strong>de</strong> que foi criado.”<br />
Com cursos gratuitos, o CAC tem uma diversida<strong>de</strong><br />
<strong>de</strong> cursos profissionalizantes nos horários da<br />
manhã ou da tar<strong>de</strong>. Para ingressar neles, os alunos<br />
<strong>de</strong>vem ter mais <strong>de</strong> 16 anos <strong>de</strong> ida<strong>de</strong> e comprovar<br />
que estudam na re<strong>de</strong> pública. O processo <strong>de</strong><br />
seleção é específico <strong>de</strong> cada curso, uma vez que<br />
cada curso tem como foco aten<strong>de</strong>r as <strong>de</strong>mandas<br />
do mercado <strong>de</strong> trabalho, uma <strong>de</strong>manda que é específica<br />
<strong>de</strong> cada ativida<strong>de</strong>: umas precisam <strong>de</strong> um<br />
<strong>de</strong>terminado nível <strong>de</strong> escolarida<strong>de</strong> mínimo para a<br />
participação, outros não... Cada caso é um caso.<br />
No entanto, o ponto em comum dos cursos é que<br />
todos são ministrados por profissionais altamente<br />
qualificados. Alguns cursos funcionam em parceria<br />
com gran<strong>de</strong>s empresas e instituições. O CAC<br />
possui, por exemplo, convênio com o <strong>SE</strong>NAC (Serviço<br />
<strong>de</strong> Aprendizagem Comercial) para cursos <strong>de</strong><br />
qualificação comercial (informática, telemarketing,<br />
atendimento ao cliente, administração) e cursos<br />
voltados para a área carnavalesca (a<strong>de</strong>reços, fan-<br />
Revista <strong>Beija</strong>-<strong>Flor</strong> <strong>de</strong> <strong>Nilópolis</strong> www.beija-flor.com.br
part of my reason for living. They strengthen and comfort<br />
me. I fill with pri<strong>de</strong> when I see those attentive little eyes,<br />
looking forward to building a happy future for themselves<br />
and their families…Being here is a veritable lesson in life,”<br />
she states.<br />
Nelson Abrão David Community Center<br />
The projects of <strong>Beija</strong>-<strong>Flor</strong> of <strong>Nilópolis</strong> don’t end there.<br />
The Nelson Abrão David Community Service Center was<br />
opened on August 3, 1991 to provi<strong>de</strong> specialized job training<br />
for youths from the community and surrounding areas.<br />
Through this project, Anízio helps hundreds of teens and<br />
young adults to have a chance for a brighter future. Aroldo<br />
Carlos da Silva, coordinator of the project since its founding,<br />
recognizes the value the Abrão David family attaches to<br />
the work: “Everywhere in Brazil there are needs to be <strong>de</strong>alt<br />
with. Unfortunately, not all of them are met by the public<br />
authorities, <strong>de</strong>spite the main role that government plays in<br />
giving our young people the opportunities they need. On the<br />
other hand, there are people like Anízio who are aware of<br />
this need, and have the means to do something. Anízio and<br />
the Abrão David family help us, in various ways, to give<br />
continuity to a serious effort that has been producing good<br />
results from the outset.”<br />
The community center has a variety of free job training<br />
courses, in the mornings and afternoons. To attend, the<br />
stu<strong>de</strong>nts must be 16 years old and prove they study in a<br />
public school. The selection process is specific for each<br />
course, since each one has a different focus <strong>de</strong>pending on<br />
the profession taught: some require a certain level of schooling<br />
and others don’t.<br />
All the courses are taught by highly qualified instructors.<br />
Some of the courses are given in partnership with large<br />
companies and training institutions. For example, the community<br />
center has a working arrangement with the Commercial<br />
Training Service (<strong>SE</strong>NAC) to give certain commercial<br />
courses (informatics, telemarketing, customer service,<br />
administration) and courses focused on carnival (regalia<br />
and costume making, metalworking and woodworking).<br />
Besi<strong>de</strong>s these, in 2010 Tigre, a company that makes pipes<br />
and connections, will join the project, sponsoring industrial<br />
qualification courses (plumbing and basic sanitation, among<br />
others). Another important aspect is that many stu<strong>de</strong>nts<br />
can’t afford the cost of transportation and eating outsi<strong>de</strong><br />
the home. For this reason, the Nelson Abrão David Community<br />
Center offers a meal and bus coupons to enable the<br />
Fevereiro 2010
tasias, serralheria e marcenaria). Além <strong>de</strong>sses, está<br />
previsto que, em 2010, a Tigre, empresa <strong>de</strong> tubos e<br />
conexões, também se filiará ao projeto com cursos<br />
<strong>de</strong> qualificação industrial (hidráulica e saneamento<br />
básico, <strong>de</strong>ntre outros). Outro aspecto importante da<br />
relação do CAC com os alunos é que a administração<br />
enten<strong>de</strong> que muitos alunos não possuem condições<br />
para arcarem com os custos <strong>de</strong> uma alimentação fora<br />
<strong>de</strong> casa ou para o transporte até o CAC. Por isso,<br />
o Centro <strong>de</strong> Atendimento Comunitário Nelson Abrão<br />
David oferece para os alunos inscritos nos seus cursos<br />
refeição e transporte, tudo para lhes fornecer o<br />
necessário para se manterem nos cursos. Ele conta<br />
que o projeto vai além: pesquisa e realiza contatos<br />
com diversas empresas buscando algum tipo <strong>de</strong><br />
apoio a esses futuros profissionais, auxiliando, assim,<br />
os estudantes a ingressarem no mercado <strong>de</strong> trabalho.<br />
“Muitos dos nossos alunos – especificamente os que<br />
fizeram os cursos <strong>de</strong> a<strong>de</strong>reços, fantasias, serralheria<br />
e marcenaria - são aproveitados pela própria <strong>Beija</strong>-<br />
<strong>Flor</strong> <strong>de</strong> <strong>Nilópolis</strong>”, confi<strong>de</strong>ncia.<br />
“Todo esse trabalho tem efeitos transformadores.<br />
Um jovem orientado, capacitado profissionalmente<br />
e com um emprego está em condições <strong>de</strong> dar início<br />
à sua vida econômica, po<strong>de</strong>ndo comprar um presentinho<br />
para a namorada ou para a mãe, além <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r<br />
investir em si mesmo, comprando um livro, fazendo<br />
outros cursos fora do CAC. Além disso, empregados,<br />
esses jovens que ainda não precisam sustentar<br />
uma nova família, em boa parte das vezes acabam<br />
ajudando seus familiares na divisão das <strong>de</strong>spesas<br />
<strong>de</strong> casa... Todos esses benefícios – os diretos e os<br />
indiretos – são bem compreendidos pelo nosso povo<br />
<strong>de</strong> <strong>Nilópolis</strong> e da baixada. Eles reconhecem nosso<br />
trabalho e muitos dos alunos – até mesmo seus pais<br />
– <strong>de</strong>pois dos cursos voltam ao CAC para agra<strong>de</strong>cer<br />
a ajuda que tiveram”, conclui Anizio.<br />
PROJETO “O SONHO DE UM BEIJA-FLOR”<br />
Transformar sonhos em realida<strong>de</strong> é a expressão que<br />
<strong>de</strong>fine o objetivo do projeto “O Sonho <strong>de</strong> um <strong>Beija</strong>-<br />
<strong>Flor</strong>”. Também é uma ativida<strong>de</strong> <strong>de</strong> inserção social e<br />
educativa realizada pela escola <strong>de</strong> samba, on<strong>de</strong> os<br />
alunos recebem aulas <strong>de</strong> Jiu-Jitsu, tênis <strong>de</strong> mesa,<br />
futebol, natação, dança, <strong>de</strong>ntre outras. Atualmente,<br />
700 crianças participam do projeto, que espera alcançar<br />
dois mil alunos até o final <strong>de</strong> 2010. Com as Olimpíadas<br />
<strong>de</strong> 2016 no Rio <strong>de</strong> Janeiro e a parceria com<br />
a Petrobras, novos cursos serão implantados como<br />
vôlei, basquete, handball, karatê e judô. O que o projeto<br />
propõe é valorizar o potencial <strong>de</strong>ssas crianças e<br />
jovens, reconhecendo seus talentos e fazer que eles<br />
acreditem que seus sonhos são possíveis <strong>de</strong> se tornarem<br />
realida<strong>de</strong>, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> que se empenhem nisso.<br />
stu<strong>de</strong>nts to attend. The center’s administration also makes<br />
regular contacts with companies to learn the specific skills<br />
in <strong>de</strong>mand and the latest job market trends, and to help<br />
place the graduates in good jobs. “Many of our stu<strong>de</strong>nts<br />
– specifically those who complete the courses in regalia and<br />
costume making, metalworking and woodworking – are<br />
hired by <strong>Beija</strong>-<strong>Flor</strong> itself,” says Aroldo.<br />
“All this work has transforming effects: a young person<br />
with the proper guidance, professional skills and a job<br />
is ready to start his economic life, can afford to buy a<br />
present for his girlfriend or mother, besi<strong>de</strong>s being able to<br />
invest in himself, by buying a book or taking other courses<br />
elsewhere. Even though most of these youths don’t yet need<br />
to support a new family, they often help their parents by<br />
sharing household expenses.... All these benefits – the<br />
direct and indirect ones – are un<strong>de</strong>rstood by our people in<br />
<strong>Nilópolis</strong> and surrounding communities. They recognize<br />
our work and many of the stu<strong>de</strong>nts – and even their parents<br />
– return to the center afterward to thank us for the help,”<br />
conclu<strong>de</strong>s Anizio.<br />
The “O Sonho <strong>de</strong> um <strong>Beija</strong>-<strong>Flor</strong>” Project<br />
Transforming dreams into reality is the motto that <strong>de</strong>fines<br />
the objective of the project called “O Sonho <strong>de</strong> um<br />
<strong>Beija</strong>-<strong>Flor</strong>” (“A Hummingbird’s Dream” – beija-flor means<br />
hummingbird). It’s also an activity for education and<br />
social inclusion carried out by the samba school, where<br />
the stu<strong>de</strong>nts take classes in jiu-jitsu, table tennis, soccer,<br />
swimming and dance, among others. Currently 700 children<br />
take part in the project, which is planned to expand<br />
to 2,000 kids by the end of 2010. With Rio <strong>de</strong> Janeiro<br />
having been chosen to host the 2016 Olympics, Petrobras<br />
has provi<strong>de</strong>d funding for new classes, such as volleyball,<br />
basketball, handball, karate and judo. The project proposes<br />
to enhance the potential of these kids and teens, recognizing<br />
their talents and making them believe their dreams can<br />
come true if they work for it.<br />
Jiu-Jitsu<br />
The jiu-jitsu classes have been given since 2006 in the<br />
multi-sports court of <strong>Beija</strong>-<strong>Flor</strong>. They are taught by black belt<br />
Elan Santiago, who has worked with teams from the United<br />
States and Korea: “The jiu-jitsu classes are given in two<br />
periods, so the kids and youths can participate <strong>de</strong>pending<br />
on each one’s school schedule. Today we have around 200
JIU-JITSU<br />
As aulas <strong>de</strong> Jiu-Jitsu são realizadas <strong>de</strong>s<strong>de</strong> 2006<br />
na quadra <strong>de</strong> esportes da agremiação <strong>de</strong> <strong>Nilópolis</strong>,<br />
e ministradas pelo faixa preta Elan Santiago,<br />
que já trabalhou com equipes dos EUA e<br />
da Coreia: “As aulas <strong>de</strong> Jiu-Jitsu são realizadas<br />
em dois turnos, para po<strong>de</strong>r aten<strong>de</strong>r o contingente<br />
<strong>de</strong> crianças e jovens que nos procuram e <strong>de</strong><br />
acordo com o horário escolar <strong>de</strong> cada aluno. Hoje<br />
estamos com cerca <strong>de</strong> 200 alunos matriculados.<br />
O perfil atual dos alunos é formado por crianças<br />
e jovens da região que possuem <strong>de</strong> seis até 17<br />
anos, mas que comprovem estar estudando. Não<br />
abrimos mão disso; afinal, nossa proposta é que<br />
esses pequenos beija-flores voem alto, para alcançarem<br />
todos os sonhos <strong>de</strong> conquista e felicida<strong>de</strong>.<br />
E o estudo, na escola, é tão importante<br />
quanto o esporte aqui na <strong>Beija</strong>-<strong>Flor</strong> para esse<br />
gran<strong>de</strong> voo“, reflete Elan.<br />
Consi<strong>de</strong>rada uma das “meninas dos olhos” do patrono<br />
da escola, Anizio Abrão David, <strong>de</strong> todas as<br />
ativida<strong>de</strong>s esportivas da <strong>Beija</strong>-<strong>Flor</strong> <strong>de</strong> <strong>Nilópolis</strong> o<br />
Jiu-Jitsu é a que mais tem se empenhado em participar<br />
e disputar competições. É, por isso, a que<br />
mais tem trazido medalhas e títulos para casa.<br />
Des<strong>de</strong> o início das ativida<strong>de</strong>s foram mais <strong>de</strong> 150<br />
medalhas, entre ouro, prata e bronze: “Em 2009<br />
participamos <strong>de</strong> diversas disputas fora <strong>de</strong> casa.<br />
As mais importantes foram o campeonato brasileiro<br />
e o estadual <strong>de</strong> Jiu-Jitsu, além da competição<br />
organizada pelo atleta Raphael Abi-Rihan. No<br />
campeonato brasileiro, a equipe da <strong>Beija</strong>-<strong>Flor</strong> <strong>de</strong><br />
<strong>Nilópolis</strong> foi representada por 24 atletas, que conquistaram<br />
sete medalhas <strong>de</strong> ouro, doze <strong>de</strong> prata e<br />
uma <strong>de</strong> bronze, conquistando o 3º lugar por equipe.<br />
No campeonato estadual, 26 atletas nossos<br />
participaram, levando para casa nove medalhas<br />
<strong>de</strong> ouro, três <strong>de</strong> prata e três <strong>de</strong> bronze, e conquistando<br />
o 3º lugar por equipe. Na competição organizada<br />
pelo Raphael, filho do nosso amigo Hilton<br />
Abi-Rihan, conquistamos doze medalhas <strong>de</strong> ouro,<br />
oito <strong>de</strong> prata e cinco <strong>de</strong> bronze, com a participação<br />
<strong>de</strong> 38 atletas. Nesse campeonato, on<strong>de</strong> todas as<br />
gran<strong>de</strong>s aca<strong>de</strong>mias <strong>de</strong> Jiu-Jitsu do Rio <strong>de</strong> Janeiro<br />
participam, conquistamos o 5º lugar por equipe”,<br />
conta orgulhoso o mestre Elan.<br />
Mas se engana quem acha que essa garotada e<br />
seus instrutores estão exclusivamente pensando<br />
em títulos e medalhas. Segundo Elan, “a proposta<br />
será sempre passar para essa criançada que eles<br />
<strong>de</strong>vem enfrentar seus <strong>de</strong>safios e lutar, com respeito<br />
e equilíbrio, para alcançar os resultados que querem<br />
obter, seja on<strong>de</strong> for.”<br />
stu<strong>de</strong>nts enrolled. The current profile is kids from the region<br />
aged six to seventeen years old. They also must prove they<br />
have good school attendance. We don’t overlook this point,<br />
because our aim is for these young ‘hummingbirds’ to fly<br />
high, to realize their dreams and be happy. And studying<br />
in school is just as important for this flight as sports here<br />
at <strong>Beija</strong>-<strong>Flor</strong>,” says Elan.<br />
Consi<strong>de</strong>red one of the “apples of the eye” of the <strong>Beija</strong>-<br />
<strong>Flor</strong>’s patron, Anizio Abrão David, of all the sports<br />
activities, jiu-jitsu is the one where the stu<strong>de</strong>nts most<br />
participate in competitions. For this reason, it’s the sport<br />
in which the program’s stu<strong>de</strong>nts have brought home the<br />
most medals and titles: since its start, over 150 gold,<br />
silver and bronze medals. “In 2009 we took part in various<br />
competitions. The most important were the national<br />
and state jiu-jitsu championships and the competition<br />
organized by the athlete Raphael Abi-Rihan. In the Brazilian<br />
championship, <strong>Beija</strong>-<strong>Flor</strong>’s team consisted of 24<br />
athletes and they won seven gold medals, twelve silvers<br />
and one bronze, putting the team in third place. In the<br />
state championship, 26 of our athletes participated,<br />
bringing home nine gold, three silver and three bronze<br />
medals, again putting the team in third place. And in<br />
the meet organized by Raphael, the son of our longtime<br />
friend Hilton Abi-Rihan, our 38 athletes won twelve gold,<br />
eight silver and five bronze medals. All the large jiu-jitsu<br />
schools in Rio <strong>de</strong> Janeiro participated at this meet, and<br />
we placed fifth,” Elan proudly recalls.<br />
But the stu<strong>de</strong>nts and their instructors are not only thinking<br />
of medals. According to Elan, “the i<strong>de</strong>a is always to convey<br />
to these young people that they have to face their challenges<br />
and fight, with respect and equilibrium, to attain the results<br />
they want, no matter in what facet of life.”<br />
The work is bearing such fruit that the <strong>Beija</strong>-<strong>Flor</strong> jiu-jitsu<br />
team this year will host the first Brazilian Social Projects<br />
Championship, with the official sanction of the Brazilian<br />
Jiu-Jitsu Confe<strong>de</strong>ration and the support of Petrobras, “an<br />
important partner,” according to Elan.<br />
Table Tennis<br />
In its third year, the table tennis program teaches some 80<br />
children one of the world’s most popular sports in terms<br />
of number of players, but still one in its <strong>de</strong>velopment stage<br />
in Brazil. According to the instructor, Pablo Ribeiro, vicepresi<strong>de</strong>nt<br />
for the eastern region of the Brazilian Table Tennis
Elan Santiago<br />
e Mário Dias com<br />
alunos do Jiu-jitsu da <strong>Beija</strong>-<strong>Flor</strong> <strong>de</strong><br />
<strong>Nilópolis</strong>, após conquista <strong>de</strong> medalhas.<br />
E o trabalho <strong>de</strong>senvolvido pela agremiação <strong>de</strong> <strong>Nilópolis</strong><br />
está oferecendo tantos resultados que a equipe<br />
<strong>de</strong> Jiu-Jitsu da <strong>Beija</strong>-<strong>Flor</strong> <strong>de</strong> <strong>Nilópolis</strong> estará organizando,<br />
neste ano, a primeira edição do Campeonato<br />
Brasileiro <strong>de</strong> Projetos Sociais, com a chancela da<br />
Confe<strong>de</strong>ração Brasileira <strong>de</strong> Jiu-Jitsu e o apoio da<br />
“Petrobras, uma importante parceria”, segundo Elan.<br />
TÊNIS DE MESA<br />
Em seu terceiro ano <strong>de</strong> existência, o curso <strong>de</strong> Tênis<br />
<strong>de</strong> Mesa ajuda cerca <strong>de</strong> 80 crianças a conhecer<br />
melhor um dos esportes mais populares do mundo<br />
em termos <strong>de</strong> número <strong>de</strong> jogadores, mas ainda em<br />
<strong>de</strong>senvolvimento no Brasil. Ministrado pelo presi<strong>de</strong>nte<br />
da confe<strong>de</strong>ração da modalida<strong>de</strong> na região<br />
leste, Pablo Ribeiro, a prática <strong>de</strong>sse esporte contribui<br />
para os jovens terem um raciocínio mais rápido<br />
e maior nível <strong>de</strong> concentração. De acordo com Pablo,<br />
“todos os esportes são importantes meios <strong>de</strong><br />
<strong>de</strong>senvolvimento pessoal e social. Quando um aluno<br />
pratica um esporte com <strong>de</strong>dicação, ele conquista<br />
não apenas qualida<strong>de</strong>s <strong>de</strong>ntro do esporte. Por<br />
isso é que consi<strong>de</strong>ro a prática esportiva essencial<br />
Confe<strong>de</strong>ration, playing the sport helps <strong>de</strong>velop faster reasoning<br />
and better concentration. He goes on to say: “All sports<br />
are important means of personal and social <strong>de</strong>velopment.<br />
When stu<strong>de</strong>nts practice a sport with <strong>de</strong>dication, they gain<br />
more than just the qualities offered by that particular sport.<br />
For this reason, I think playing sports is essential in the<br />
formation of good citizens. And what we do at <strong>Beija</strong>-<strong>Flor</strong><br />
is give young people in the region an important instrument<br />
of in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nce. When we show a path to youths without<br />
bearings, they latch onto it because they see in sports an<br />
opportunity to build a better life. But not everyone who<br />
comes to us is adrift in life. Many un<strong>de</strong>rstand from a young<br />
age how to take advantage of opportunities, often with the<br />
support of their parents. In table tennis these opportunities<br />
start here at <strong>Beija</strong>-<strong>Flor</strong> and open up wi<strong>de</strong>r paths. This year,<br />
for example, our stu<strong>de</strong>nts will compete in the state championships.<br />
As their visibility increases, so do their chances to<br />
improve their lives. Besi<strong>de</strong>s this, table tennis is an Olympic<br />
sport, so it’s natural that many of these young people dream<br />
Revista <strong>Beija</strong>-<strong>Flor</strong> <strong>de</strong> <strong>Nilópolis</strong> www.beija-flor.com.br
na formação do cidadão. E o que realizamos aqui<br />
na <strong>Beija</strong>-<strong>Flor</strong> <strong>de</strong> <strong>Nilópolis</strong> é isso: dar aos jovens da<br />
região esse importante instrumento <strong>de</strong> libertação.<br />
Quando damos aos jovens sem rumo um caminho,<br />
eles se agarram com afinco, pois veem no esporte<br />
uma oportunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> construírem uma vida melhor.<br />
Mas nem todos que procuram a prática do esporte<br />
são jovens sem um rumo <strong>de</strong>finido. Muitos, <strong>de</strong>s<strong>de</strong><br />
cedo e com o apoio dos seus pais, sabem o que po<strong>de</strong>m<br />
fazer se aproveitarem as oportunida<strong>de</strong>s. Essas<br />
oportunida<strong>de</strong>s no Tênis <strong>de</strong> Mesa começam aqui<br />
na <strong>Beija</strong>-<strong>Flor</strong> e avançam para caminhos maiores.<br />
Esse ano, por exemplo, nossos alunos vão competir<br />
nos campeonatos estaduais. O nível <strong>de</strong> visibilida<strong>de</strong><br />
aumenta, e as chances <strong>de</strong> melhorarem suas vidas<br />
também. Além disso, o Tênis <strong>de</strong> Mesa é um esporte<br />
olímpico, e por isso é natural que muitos <strong>de</strong>sses jovens<br />
pretendam se preparar e competir para participarem<br />
das Olimpíadas <strong>de</strong> 2016. E nós estaremos<br />
aqui para dar todo o suporte para eles”, conclui.<br />
Assim como o Jiu-Jitsu, as aulas funcionam nos turnos<br />
da manhã e da tar<strong>de</strong>, <strong>de</strong> acordo com o horário<br />
<strong>de</strong> estudo <strong>de</strong> cada um. Para se inscrever basta ter<br />
entre 10 e 17 anos e comprovar estar estudando.<br />
Tênis <strong>de</strong> mesa na quadra da <strong>Beija</strong>-<strong>Flor</strong> <strong>de</strong> <strong>Nilópolis</strong>.<br />
of competing for Brazil in the 2016 Games in Rio. We’re<br />
here to give them all the support we can.”<br />
As with jiu-jitsu, the classes are given in the mornings and<br />
afternoons, so stu<strong>de</strong>nts can participate who attend school<br />
in either the morning or afternoon session. The classes are<br />
open to all between 10 and 17 years of age who are regularly<br />
enrolled in school.<br />
Soccer<br />
The project directed by Mário Dias, coordinator of sports<br />
activities for <strong>Beija</strong>-<strong>Flor</strong>, unites Brazil’s two greatest national<br />
passions: soccer (or futebol, if you please) and samba. The<br />
roughly 150 stu<strong>de</strong>nts enrolled learn the fundamentals of both<br />
regular soccer and “society” soccer (played on a smaller field<br />
with only 7 players to a si<strong>de</strong>). As Mário puts it: “Here at <strong>Beija</strong>-<br />
<strong>Flor</strong> the problem is there are so many activities that I run the<br />
risk the kids will prefer to take jiu-jitsu or table tennis classes<br />
(chuckles). Just joking. We have plenty of kids for all sports<br />
activities. It’s logical that Brazilian culture concentrates on<br />
soccer. Most other sports arrived here more recently. But one<br />
day I’m sure we’ll have greater <strong>de</strong>mand for all sports. The fact<br />
is that today soccer excites the kids’ imaginations the most,<br />
especially because they believe – justifiably so – that soccer is<br />
Fevereiro 2010
FUTEBOL<br />
O projeto ministrado por Mário Dias, coor<strong>de</strong>nador<br />
das ativida<strong>de</strong>s esportivas da <strong>Beija</strong>-<strong>Flor</strong> <strong>de</strong> <strong>Nilópolis</strong>,<br />
une as duas maiores paixões dos brasileiros: o futebol<br />
e o samba. Com aproximadamente 150 alunos matriculados<br />
no ano <strong>de</strong> 2009, a comunida<strong>de</strong> tem acesso à<br />
aulas <strong>de</strong> futebol society e <strong>de</strong> campo. “Aqui na <strong>Beija</strong>-<br />
<strong>Flor</strong> <strong>de</strong> <strong>Nilópolis</strong> o problema acaba sendo que existem<br />
tantas ativida<strong>de</strong>s que eu corro o risco das crianças<br />
preferirem entrar para as aulas <strong>de</strong> jiu-jitsu ou <strong>de</strong> tênis<br />
<strong>de</strong> mesa (risos). Estou brincando. Sabemos que há<br />
alunos para todas as ativida<strong>de</strong>s esportivas. É lógico<br />
que a cultura do brasileiro privilegiará o futebol. Até<br />
porque as <strong>de</strong>mais ativida<strong>de</strong>s são ainda recentes no<br />
próprio país. Mas um dia, tenho certeza <strong>de</strong> que teremos<br />
todas as ativida<strong>de</strong>s com procura cada vez maior.<br />
O fato é que hoje o futebol <strong>de</strong>sperta o interesse da<br />
molecada, inclusive porque eles acreditam – e <strong>de</strong>vem<br />
continuar acreditando – que o futebol é um dos esportes<br />
que melhor paga aos seus atletas. Além disso,<br />
o futebol está no sangue <strong>de</strong>sses meninos. Eles não<br />
têm praticamente que apren<strong>de</strong>r nada. Eles precisam<br />
mais é treinar jogadas, corrigir fundamentos e outros<br />
pequenos <strong>de</strong>talhes, porque saber jogar, todos sabem.<br />
É do brasileiro”, comenta o professor Mário.<br />
DANÇA<br />
Não só <strong>de</strong> esportes é feito o projeto social da <strong>Beija</strong>-<br />
<strong>Flor</strong> <strong>de</strong> <strong>Nilópolis</strong>. Há nove anos, Ghislaine Cavalcanti,<br />
coreógrafa profissional, coor<strong>de</strong>na o “apren<strong>de</strong>ndo com<br />
o balé”, que inclui as aulas <strong>de</strong> balé clássico, jazz e sapateado,<br />
nova modalida<strong>de</strong> que integrará o curso em<br />
2010. Cerca <strong>de</strong> 150 alunos, entre 5 e 17 anos, conhecem<br />
um pouco mais sobre a história da dança e com<br />
a prática adquirem disciplina e concentração. “Convivi<br />
intensamente com a comunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>Nilópolis</strong> e<br />
observei que eles careciam <strong>de</strong> ampliar algumas das<br />
suas condições artísticas. A arte é uma manifestação<br />
humana que <strong>de</strong>ve estar sempre sendo provocada.<br />
Um artista, seja da pintura, da música ou da dança<br />
precisa estar a todo momento se auto <strong>de</strong>safiando.<br />
Em um ambiente on<strong>de</strong> o samba é um gênero <strong>de</strong> gran<strong>de</strong><br />
aceitação, nada mais natural que todos toquem e<br />
dancem samba. E isso é ótimo. Mas se a proposta do<br />
Anizio e da <strong>Beija</strong>-<strong>Flor</strong> <strong>de</strong> <strong>Nilópolis</strong> é contribuir para a<br />
formação <strong>de</strong> um ser humano mais integral, nada mais<br />
natural que busquemos ultrapassar os limites <strong>de</strong> cada<br />
um. Vi, então, nos cursos <strong>de</strong> balé clássico e jazz um<br />
importante meio para que essas crianças e jovens,<br />
que possuem uma enorme veia artística, pu<strong>de</strong>ssem<br />
alçar voos mais altos.”, explica Ghislaine.<br />
Hoje, já com algumas turmas bastante avançadas, a<br />
coreógrafa já po<strong>de</strong> até aproveitar algumas <strong>de</strong> suas<br />
among the sports with the highest professional salaries. In the<br />
final analysis, soccer is in their blood. They hardly need any<br />
explanation of the rules. All they need is to practice plays,<br />
correct fundamentals and other <strong>de</strong>tails, because they already<br />
know how to play. It’s part of being Brazilian.”<br />
Dance<br />
The social project of <strong>Beija</strong>-<strong>Flor</strong> inclu<strong>de</strong>s more than just sports.<br />
For the past nine years, Ghislaine Cavalcanti, a professional<br />
choreographer, has hea<strong>de</strong>d the “learning through dance” program,<br />
which inclu<strong>de</strong>s classical ballet and jazz dance, and in<br />
2010 will be expan<strong>de</strong>d to inclu<strong>de</strong> tap dancing as well. Around<br />
150 stu<strong>de</strong>nts between 5 and 17 learn a little of the history of<br />
dance and by participating acquire discipline and concentration.<br />
“I have an intense relationship with the <strong>Nilópolis</strong><br />
community and I observed that people need to expand some<br />
of their artistic horizons. Art is a human manifestation that<br />
should always be encouraged. Artists – whether painters,<br />
musicians or dancers – need to challenge themselves at every<br />
moment. In an environment where samba has such wi<strong>de</strong><br />
acceptance, it’s only natural that everyone plays or dances<br />
samba. This is great. But since Anízio’s proposal for <strong>Beija</strong>-<br />
Turma <strong>de</strong> balé, com a ilustre visita <strong>de</strong> Haroldo Costa<br />
0 Revista <strong>Beija</strong>-<strong>Flor</strong> <strong>de</strong> <strong>Nilópolis</strong> www.beija-flor.com.br
Alunos da escolinha <strong>de</strong> futebol.
alunas para compor a Comissão <strong>de</strong> Frente da agremiação<br />
<strong>de</strong> <strong>Nilópolis</strong>. E é isso que, há alguns anos,<br />
Ghislaine tem feito: “Os resultados são ótimos, porque<br />
além <strong>de</strong>las já terem a disciplina que é preciso<br />
para ensaiar e <strong>de</strong>corar as coreografias, elas têm o<br />
total envolvimento afetivo com a <strong>Beija</strong>-<strong>Flor</strong> <strong>de</strong> <strong>Nilópolis</strong>,<br />
o que é muito importante na avenida”.<br />
PASSISTA MIRIM, MESTRE-SALA E <strong>POR</strong>TA-BANDEIRA<br />
Ainda atenta à importância da arte e sua preservação,<br />
a agremiação <strong>de</strong> <strong>Nilópolis</strong> não per<strong>de</strong> tempo:<br />
sabe que seu futuro está nas mãos, ou melhor, nos<br />
pés das novas gerações que crescem na região.<br />
Por isso, não abre mão das aulas para formação <strong>de</strong><br />
passistas, mestres-sala e porta-ban<strong>de</strong>iras.<br />
Os alunos do curso <strong>de</strong> passista mirim recebem semanalmente<br />
informações sobre conceitos e fundamentos<br />
<strong>de</strong>ssa arte <strong>de</strong> sambar. Na prática, exercitam<br />
passos, coreografias e gingas, se igualando,<br />
em beleza e emoção, aos gran<strong>de</strong>s passistas da<br />
agremiação, que fizeram história no carnaval.<br />
Com aproximadamente 120 matriculados <strong>de</strong> diversas<br />
ida<strong>de</strong>s, os alunos precisam estudar e passar <strong>de</strong><br />
ano para permanecer na ativida<strong>de</strong>. Selminha Sorriso,<br />
ex-passista e coor<strong>de</strong>nadora do projeto, passa<br />
sua experiência para as crianças: “Espero que através<br />
da minha experiência <strong>de</strong> vida eu possa colaborar<br />
com a formação do futuro dos meus pequeninos”.<br />
Os alunos das aulas <strong>de</strong> mestre-sala e porta-ban<strong>de</strong>ira<br />
também po<strong>de</strong>m comemorar a <strong>de</strong>dicação que recebem<br />
do Mestre-Sala Claudinho e da Porta-Ban<strong>de</strong>ira<br />
Selminha Sorriso. Iniciadas em julho <strong>de</strong> 2006, as<br />
aulas para formação <strong>de</strong> novos casais <strong>de</strong> mestre-sala<br />
e porta-ban<strong>de</strong>ira são uma importante iniciativa para<br />
a preservação da mais importante figura do <strong>de</strong>sfile<br />
<strong>de</strong> carnaval, e responsável por conduzir pela avenida,<br />
com graça e beleza, o pavilhão da agremiação.<br />
A partir dos três anos <strong>de</strong> ida<strong>de</strong>, os alunos po<strong>de</strong>m<br />
apren<strong>de</strong>r com o casal a dançar e muito mais. “Eles<br />
apren<strong>de</strong>m a interagir, a dividir, apren<strong>de</strong>m a viver em<br />
comunida<strong>de</strong>, ou seja, em socieda<strong>de</strong>, apren<strong>de</strong>m a ter<br />
disciplina, respeitar hierarquia, respeitar os amiguinhos”,<br />
afirma Selminha. Com as aulas, essas crianças<br />
e jovens aproveitam a oportunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>de</strong>spertar<br />
o potencial artístico que carregam e, melhor ainda,<br />
<strong>de</strong> crescer <strong>de</strong>ntro da própria agremiação, perpetuando<br />
essa arte tão mágica, expressa no bailado do<br />
casal <strong>de</strong> mestre-sala e a porta-ban<strong>de</strong>ira.<br />
<strong>Flor</strong> is to contribute to the formation of a complete person,<br />
it’s equally natural for us to try to expand horizons for all. I<br />
see in the ballet and jazz dance classes an important way for<br />
these children and teens, who have huge latent artistic talent,<br />
to be able to fly higher,” explains Ghislaine.<br />
Today, with some of the groups quite advanced, the choreographer<br />
can use some of her stu<strong>de</strong>nts to participate in <strong>Beija</strong>-<br />
<strong>Flor</strong>’s front unit of dancers during carnival. In fact, she’s<br />
been doing this for several years. “The results are excellent<br />
because besi<strong>de</strong>s the fact they have the discipline nee<strong>de</strong>d to<br />
rehearse the routines, they have total affective involvement<br />
with <strong>Beija</strong>-<strong>Flor</strong>, which is very important on the avenue.”<br />
Junior Pace Dancers, Masters of Ceremonies and<br />
Standard Bearers<br />
Looking ahead, the group from <strong>Nilópolis</strong> knows its future is<br />
in the hands – or better put, the feet – of the new generations<br />
growing up in the region. For this reason, it provi<strong>de</strong>s classes<br />
to train pace dancers, masters of ceremonies and standard<br />
bearers, the key components of the carnival para<strong>de</strong>.<br />
The stu<strong>de</strong>nts of the junior pace dancer course receive information<br />
on the concepts and fundamentals of this particular<br />
samba art, besi<strong>de</strong>s practicing the steps and movements so<br />
they can reproduce the beauty and emotion of the group’s great<br />
pace dancers who have marked the history of carnival.<br />
All of the 120 stu<strong>de</strong>nts of various ages must be making normal<br />
school progress to remain eligible. Selminha Sorriso, a former<br />
pace dancer and coordinator of the project, passes her experience<br />
to the children: “I hope that through my experience in<br />
life I can help mold a good future for my little ones.”<br />
The stu<strong>de</strong>nts in the master of ceremonies and standard bearer<br />
classes also can commemorate the <strong>de</strong>dication they receive from<br />
<strong>Beija</strong>-<strong>Flor</strong>’s current master of ceremonies, Claudinho, and standard<br />
bearer, Selminha Sorriso. Started in 2006, the classes to<br />
train new master of ceremonies-standard bearer couples are an<br />
important initiative to preserve the most important figures of the<br />
carnival para<strong>de</strong>, responsible for leading the group on the avenue<br />
with grace and beauty. Starting at the age of three, the stu<strong>de</strong>nts<br />
get a chance to learn to dance, and much more, with the couple.<br />
“They learn to interact, share, live in a community, that is, in<br />
society, they learn to have discipline, respect hierarchy, respect<br />
their friends,” states Selminha. With the classes, these children<br />
and teens have an opportunity to discover and <strong>de</strong>velop their<br />
artistic potential, and to grow within the group, to perpetuate<br />
this magic art, expressed in the dancing of the carnival couple<br />
formed by the master of ceremonies and standard bearer.<br />
Revista <strong>Beija</strong>-<strong>Flor</strong> <strong>de</strong> <strong>Nilópolis</strong> www.beija-flor.com.br
<strong>Beija</strong>-<strong>Flor</strong> <strong>de</strong> <strong>Nilópolis</strong><br />
Uma Escola <strong>de</strong> samba sem fronteiras<br />
Uma revista sem fronteiras<br />
A <strong>Beija</strong>-<strong>Flor</strong> <strong>de</strong> <strong>Nilópolis</strong><br />
nos últimos quarenta<br />
anos vem se consolidando<br />
como a principal e mais<br />
bonita escola <strong>de</strong> samba do<br />
Brasil – e do mundo.<br />
Os resultados alcançados nos<br />
<strong>de</strong>sfiles <strong>de</strong> carnaval, expressos<br />
no Ranking da Liesa no período<br />
2005/2009, são claros: a agremiação<br />
<strong>de</strong> <strong>Nilópolis</strong> mantém a primeira<br />
colocação, com 83 pontos, mais <strong>de</strong> vinte<br />
pontos além do segundo colocado.<br />
Por levar para a avenida há muitos anos<br />
consecutivos um <strong>de</strong>sfile bonito, bem cuidado, empolgante<br />
e <strong>de</strong> qualida<strong>de</strong>, é natural que a legião <strong>de</strong><br />
torcedores da agremiação aumente a cada ano.<br />
Paralelo a esse crescente interesse, o surgimento<br />
<strong>de</strong> novos instrumentos eletrônicos e <strong>de</strong> transmissão<br />
<strong>de</strong> dados tem levado as imagens com os <strong>de</strong>sfiles<br />
e ensaios da agremiação para os mais diversos<br />
pontos do planeta.<br />
Hoje, a <strong>Beija</strong>-<strong>Flor</strong> <strong>de</strong> <strong>Nilópolis</strong> não é mais um patrimônio<br />
exclusivo <strong>de</strong> <strong>Nilópolis</strong>. Ela ganhou o mundo.<br />
Por essa razão, nada mais natural do que serem<br />
pensadas formas <strong>de</strong> retribuir o carinho e a atenção<br />
<strong>de</strong>sses milhares <strong>de</strong> torcedores estrangeiros com<br />
ações específicas voltadas para eles.<br />
RICARDO DA FON<strong>SE</strong>CA<br />
E a equipe <strong>de</strong> editores da revista <strong>Beija</strong>-<br />
<strong>Flor</strong> <strong>de</strong> <strong>Nilópolis</strong> – uma escola <strong>de</strong> vida, consi<strong>de</strong>rada<br />
atualmente a principal publicação impressa<br />
<strong>de</strong> escola <strong>de</strong> samba e carnaval, não po<strong>de</strong>ria pensar<br />
e agir <strong>de</strong> outra maneira.<br />
Em homenagem e respeito a essa nação <strong>Beija</strong>-<strong>Flor</strong>,<br />
que nasce e cresce a cada dia nas Américas, Europa,<br />
Ásia, África e Oceania – e dando mais uma evi<strong>de</strong>nte<br />
<strong>de</strong>monstração <strong>de</strong> comprometimento com a<br />
valorização e difusão da cultura brasileira em nível<br />
mundial –, a revista <strong>Beija</strong>-<strong>Flor</strong> <strong>de</strong> <strong>Nilópolis</strong> – uma<br />
escola <strong>de</strong> vida lança a sua versão eletrônica da edição<br />
nº 9 em dois importantes idiomas: francês e<br />
japonês.<br />
Para conhecer a edição, acesse:<br />
www.beija-flor.net.br.<br />
Fevereiro 2010
Revista <strong>Beija</strong>-<strong>Flor</strong> <strong>de</strong> <strong>Nilópolis</strong> www.beija-flor.com.br
Tem coisas que combinam<br />
perfeitamente. Produzida com<br />
água <strong>de</strong> excelente qualida<strong>de</strong><br />
e ingredientes importados<br />
e selecionados, Itaipava<br />
é uma cerveja única. Por isso,<br />
ela combina com o que existe <strong>de</strong><br />
melhor. Itaipava. A cerveja sem<br />
comparação. Combina com tudo.<br />
Principalmente com você.<br />
www.cervejaitaipava.com.br<br />
Fevereiro 2010
UM PATRIMÔNIO BRASILEIRO PEDE PASSAGEM:<br />
O SAMBA CARIOCA<br />
ÍRIS ÁGATHA<br />
RICARDO DA FON<strong>SE</strong>CA<br />
Muitos não se lembram ... outros nem eram nascidos,<br />
mas houve uma época em que o samba carioca<br />
foi chamado <strong>de</strong> barulho. Mas a genialida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />
compositores e a cadência <strong>de</strong>sse gênero musical<br />
foram ecoando e envolvendo <strong>de</strong> tal maneira cada<br />
canto da cida<strong>de</strong>, que o samba tornou-se um símbolo<br />
cultural <strong>de</strong> um povo apreciado nos mais diversos<br />
pontos do planeta.<br />
Originário das reuniões <strong>de</strong> escravizados, que em<br />
torno <strong>de</strong> batuques, cantos e danças manifestavam<br />
crenças e lembranças <strong>de</strong> suas regiões <strong>de</strong> origem, o<br />
samba no Rio <strong>de</strong> Janeiro foi sendo moldado a partir<br />
do crescimento da população negra, vinda das mais<br />
variadas regiões do país<br />
para a lavoura <strong>de</strong> café, e<br />
que trouxeram consigo,<br />
além <strong>de</strong> uma potente mão<br />
<strong>de</strong> obra, diversos ritmos e<br />
hábitos que foram sendo<br />
incorporados ao longo do<br />
tempo pelo carioca.<br />
Mas essa aceitação por<br />
parte da população carioca<br />
não se <strong>de</strong>u <strong>de</strong> modo<br />
simples e sem sofrimento.<br />
De acordo com o historiador<br />
e diretor cultural<br />
da Liesa, Hiram Araújo,<br />
“nos primórdios do samba<br />
no Rio <strong>de</strong> Janeiro, quem<br />
fosse pego com um violão<br />
ia para a ca<strong>de</strong>ia. João da<br />
Baiana foi preso porque<br />
estava com um pan<strong>de</strong>iro<br />
na mão”.<br />
Apesar dos preconceitos, discriminações e prisões,<br />
o som e a poesia do samba carioca convenceram o<br />
país <strong>de</strong> que um violão, um cavaquinho, e um pan<strong>de</strong>iro<br />
nas mãos <strong>de</strong> negros pobres geniais fazem mais<br />
do que simplesmente música; compõem uma obra<br />
que em qualquer parte do planeta é reverenciada<br />
como o retrato do Brasil.<br />
Portanto, não foi à toa que o Iphan – Instituto do<br />
Patrimônio Histórico e Artístico Nacional - reconheceu<br />
as matrizes do samba carioca (samba <strong>de</strong> terreiro,<br />
partido-alto e samba-enredo) como Patrimônio<br />
Cultural do Brasil.<br />
No dia 27 <strong>de</strong> novembro <strong>de</strong> 2007, Márcia Genésia<br />
<strong>de</strong> Sant’Anna, Diretora<br />
do Departamento<br />
do Patrimônio Imaterial<br />
do Iphan, sacramentou<br />
o que, empiricamente,<br />
muitos já<br />
supunham: o samba<br />
carioca foi e é fonte<br />
on<strong>de</strong> compositores <strong>de</strong><br />
outras regiões bebem<br />
para criar subgêneros<br />
<strong>de</strong>sse ritmo. E tem<br />
mais: “As matrizes do<br />
samba carioca são<br />
referências culturais<br />
importantes para a<br />
i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> <strong>de</strong> um segmento<br />
social extremamente<br />
relevante na<br />
história do Estado do<br />
Rio <strong>de</strong> Janeiro. É um<br />
passo fundamental em<br />
Revista <strong>Beija</strong>-<strong>Flor</strong> <strong>de</strong> <strong>Nilópolis</strong> www.beija-flor.com.br<br />
Foto: Acervo Iphan / Luiz Santos
uma política <strong>de</strong> patrimonialização inclusiva”, diz<br />
Márcia Sant’Anna.<br />
Trocando em miúdos: O Iphan reconhece que o samba<br />
une pessoas <strong>de</strong> uma comunida<strong>de</strong>, une comunida<strong>de</strong>s<br />
<strong>de</strong> áreas populares, e essas às chamadas áreas<br />
nobres da cida<strong>de</strong>, do país e do mundo. Já repararam<br />
quanta gente que resi<strong>de</strong> na Zona Sul vai para<br />
as quadras localizadas no subúrbio e na baixada fluminense<br />
participar das festas, feijoadas e ensaios<br />
das escolas <strong>de</strong> samba? E tem os turistas nacionais e<br />
internacionais que amam rodas <strong>de</strong> samba.<br />
UMA ARTE QUE UNE PESSOAS<br />
A vocação do samba carioca para unir pessoas é<br />
inegável.<br />
Segundo o radialista Hilton Abi-Rihan, assessor<br />
do presi<strong>de</strong>nte <strong>de</strong> honra da agremiação <strong>de</strong> <strong>Nilópolis</strong><br />
Anizio Abrão David, “além dos nossos gran<strong>de</strong>s<br />
sambistas, como Monarco, Nelson Sargento, Moacyr<br />
Luz, Alcione, Beth Carvalho, levarem aos quatro<br />
cantos do planeta essa música envolvente que<br />
é o samba, as escolas <strong>de</strong> samba, como a <strong>Beija</strong>-<strong>Flor</strong><br />
<strong>de</strong> <strong>Nilópolis</strong>, voam em turnês mundo afora, levando<br />
além das fronteiras do país o samba e a cultura do<br />
carioca e do fluminense, contagiando muitos ‘gringos’<br />
com esse gênero musical, nos quais <strong>de</strong>sperta,<br />
a partir <strong>de</strong>sse momento, uma paixão pela nossa<br />
música e pela nossa cultura, fazendo com que na<br />
primeira oportunida<strong>de</strong> venham conhecer o país e,<br />
especialmente, a cida<strong>de</strong> maravilhosa. É inegável<br />
que a magia e o envolvimento do samba carioca<br />
<strong>de</strong>spertam o interesse do turista em se aproximar<br />
do nosso país e do nosso povo, que é, aliás, muito<br />
hospitaleiro.”<br />
Acostumado a fazer shows no exterior, o escritor e<br />
produtor Haroldo Costa atesta: ”O samba tem sido<br />
a carteira <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> do brasileiro.”<br />
Monarco excursiona muito com a Velha Guarda da<br />
Portela e relata: “Fomos à França, ao Japão, à Itália...<br />
e nos emocionamos. Na França, crianças cantaram<br />
em português ‘Foi um Rio que passou em Minha<br />
Vida’ com a Velha Guarda, num teatro lindo.”<br />
Além <strong>de</strong> agregar pessoas <strong>de</strong> diferentes posições<br />
sociais, intelectuais e culturais – incluindo <strong>de</strong> nacionalida<strong>de</strong>s<br />
diferentes –, o samba carioca faz outros<br />
prodígios, lembra Abi-Rihan: ”Conduzo programas<br />
<strong>de</strong> rádio há mais <strong>de</strong> quatro décadas, sempre prestigiando<br />
as manifestações artísticas do povo brasileiro.<br />
E uma coisa que vi, entre tantas, e que me<br />
emocionou muito, foi o que as escolas <strong>de</strong> samba<br />
fizeram em suas comunida<strong>de</strong>s, como por exemplo<br />
a <strong>Beija</strong>-<strong>Flor</strong> <strong>de</strong> <strong>Nilópolis</strong>, investindo na melhoria da<br />
qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida das pessoas do entorno, com a<br />
instalação <strong>de</strong> escola <strong>de</strong> ensino fundamental e médio,<br />
cursos profissionalizantes, cursos <strong>de</strong> arte, dança e<br />
música, além <strong>de</strong> outras importantes ações sociais.<br />
Tudo isso faz do samba sim, um instrumento <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento<br />
artístico, social e pessoal”, conclui.<br />
GRANDES BATALHAS PELA DIFUSÃO DO SAMBA<br />
O respeito que o samba conquistou é resultado <strong>de</strong><br />
uma luta em várias frentes.<br />
Além da <strong>de</strong>dicação <strong>de</strong>sinteressada dos artistas,<br />
compositores e intérpretes, que persistiram na manutenção<br />
dos sambas em seus repertórios, muitas<br />
vezes pagando um preço alto – como o do preconceito<br />
e da discriminação – o empenho <strong>de</strong> comunicadores,<br />
especialmente nos veículos <strong>de</strong> massa como<br />
as rádios, foi fundamental para a consolidação e<br />
sobrevivência <strong>de</strong>sse gênero musical.<br />
Hilton Abi-Rihan foi um <strong>de</strong>sses importantes amigos<br />
do samba.<br />
Como diretor da Rádio Continental, ele concebeu e<br />
criou diversos programas <strong>de</strong> samba, que valorizavam<br />
os mais variados estilos do samba, resgatando<br />
verda<strong>de</strong>iras obras <strong>de</strong> arte e apresentando aos ouvintes<br />
novida<strong>de</strong>s e tendências musicais do gênero.<br />
Além disso, Abi-Rihan tinha um diferencial que o<br />
tornou querido em todo o mundo do samba: ele sabia<br />
dar valor não só às músicas que apresentava,<br />
mas também aos sambistas que as compuseram<br />
e as interpretaram. “O Abi-Rihan foi um dos primeiros<br />
radialistas, que me lembre, que davam uma<br />
atenção especial ao sambista, como intérprete e<br />
como compositor. Era muito comum as rádios darem<br />
atenção às músicas que tocavam sem <strong>de</strong>stacar<br />
seus compositores. Lembro que essa sua forma<br />
<strong>de</strong> tratar os compositores e intérpretes <strong>de</strong> samba<br />
foi uma das coisas que muito agradou meu irmão<br />
Nelson David, que se tornou um gran<strong>de</strong> amigo do<br />
Abi-Rihan.”, confi<strong>de</strong>ncia Anizio Abrão David, presi<strong>de</strong>nte<br />
<strong>de</strong> honra da <strong>Beija</strong>-<strong>Flor</strong> <strong>de</strong> <strong>Nilópolis</strong>, e um dos<br />
mais <strong>de</strong>dicados <strong>de</strong>fensores do samba.<br />
Outra importante trincheira em favor do samba foi<br />
montada pelo ator e produtor Jorge Coutinho, que<br />
influenciou uma consi<strong>de</strong>rável parcela dos futuros<br />
formadores <strong>de</strong> opinião resi<strong>de</strong>ntes na Zona Sul carioca:<br />
”Eu achava que os universitários tinham que<br />
conhecer o samba. Por isso eu promovia shows que<br />
misturavam diversos gêneros, como por exemplo<br />
músicas do Milton Nascimento, do Som Imaginário<br />
e <strong>de</strong> Cartola. Também levava sambistas para cantar<br />
na PUC (Pontifícia Universida<strong>de</strong> Católica) – que na<br />
época só tinha alunos da classe A”.<br />
Além disso, Jorge Coutinho, junto com Leoni<strong>de</strong>s<br />
Bayer, i<strong>de</strong>alizou, na década <strong>de</strong> 70, um interessante<br />
Fevereiro 2010
projeto chamado “Noitadas <strong>de</strong> Samba”, que era realizado<br />
todas as segundas-feiras no Teatro Opinião,<br />
em Copacabana. Nas “Noitadas <strong>de</strong> Samba”, artistas<br />
dos morros e do subúrbio carioca, como Cartola,<br />
Guilherme <strong>de</strong> Brito, Nelson Cavaquinho, Martinho<br />
da Vila, Rosinha <strong>de</strong> Valença, Paulinho da Viola,<br />
Clementina <strong>de</strong> Jesus, Dona Ivone Lara, Xangô da<br />
Mangueira, Clara Nunes, entre tantos outros, se<br />
apresentavam para um público formado por moradores<br />
da Zona Sul carioca.<br />
ANIZIO E O SAMBA<br />
Se o samba resistia ao preconceito e o sambista<br />
sobrevivia a duras penas era porque, longe da zona<br />
sul carioca, importantes redutos <strong>de</strong> samba abrigavam<br />
e acolhiam os representantes da arte negra<br />
brasileira.<br />
Eram os Grêmios Recreativos, ou melhor, as escolas<br />
<strong>de</strong> samba, que valorizavam o sambista como se<br />
fosse um integrante <strong>de</strong> sua família.<br />
Eram nas agremiações que os sambistas entregavam<br />
parte do seu tempo. Lá eles compunham,<br />
cantavam, sonhavam... criavam. Era o genuíno espírito<br />
do sambista do Rio <strong>de</strong> Janeiro,<br />
estereotipado, <strong>de</strong>pois, nos meios <strong>de</strong><br />
comunicação pelo mundo. Era um<br />
tempo em que gran<strong>de</strong> parte dos<br />
sambistas e compositores<br />
era ligada<br />
a al- g u m a<br />
agremiação:<br />
M a n g u e i r a ,<br />
Salgueiro, Portela,<br />
Império Serrano... e<br />
tantas outras.<br />
Mas, se as agremiações<br />
eram redutos <strong>de</strong> samba, elas<br />
também enfrentavam dificulda<strong>de</strong>s<br />
para sobreviver.<br />
Subjugadas por uma cultura<br />
<strong>de</strong> exploração da força<br />
<strong>de</strong> trabalho, os sambistas<br />
continuavam à margem,<br />
explorados, mal remunerados,<br />
largados <strong>de</strong> mão.<br />
Entretanto, as escolas<br />
<strong>de</strong> samba foram se fortalecendo,<br />
ganhando respeito,<br />
prestígio e espaço,<br />
resultando também no fortalecimento,<br />
no ganho <strong>de</strong><br />
prestígio e espaço para o<br />
sambista.<br />
Esse capítulo da história do samba é muito bem<br />
lembrado pelo radialista Hilton Abi-Rihan: “O samba<br />
vivia um momento muito difícil porque saía da<br />
clan<strong>de</strong>stinida<strong>de</strong> para se tornar um produto <strong>de</strong> consumo<br />
cultural. No entanto, os agentes que promoviam<br />
essa mudança faziam por questões financeiras.<br />
Não entendiam o samba como manifestação<br />
cultural <strong>de</strong> força, mas sim como um negócio. Com<br />
isso, os sambistas ganhavam muito mal, tanto nas<br />
apresentações em público, como quando tinham<br />
suas músicas gravadas por intérpretes <strong>de</strong> sucesso.<br />
O sambista mal podia contar com o dinheiro que<br />
ganharia como sambista... Felizmente, essa realida<strong>de</strong><br />
estava mudando. Consi<strong>de</strong>ro, no entanto, que<br />
um dos fatores mais importantes para essa mudança<br />
foi a criação e o fortalecimento da Liga In<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte<br />
das Escolas <strong>de</strong> Samba (Liesa), quando,<br />
então, muita coisa po<strong>de</strong> ser feita pelo samba e pelo<br />
sambista. E o Anizio tem um papel <strong>de</strong> <strong>de</strong>staque em<br />
toda essa história. Foi ele que encarou as gravadoras<br />
para que os compositores não ficassem <strong>de</strong><br />
‘pires na mão’, se humilhando para receber o que<br />
era <strong>de</strong> direito <strong>de</strong>les.”, recorda o radialista.<br />
“Além <strong>de</strong> toda a importância que o Anizio tem para o<br />
samba e para o carnaval do Rio <strong>de</strong> Janeiro e para as<br />
escolas <strong>de</strong> samba, ele tem uma importância especial<br />
para os compositores <strong>de</strong> samba. Sou compositor, e<br />
quero <strong>de</strong>stacar que foi através das i<strong>de</strong>ias e ações<br />
tomadas por ele que os compositores das escolas <strong>de</strong><br />
samba passaram a ser reconhecidos e a ser pagos<br />
dignamente pelo trabalho que <strong>de</strong>senvolviam. Gosto<br />
<strong>de</strong> enfatizar isso, porque eu e minha família sentimos<br />
no nosso dia a dia os benefícios <strong>de</strong>ssa e <strong>de</strong> outras<br />
posições tomadas pelo Anizio em favor do samba e<br />
do sambista. Além disso, é bom que se saiba como o<br />
Anizio é um homem justo: apesar do amor todo que<br />
ele tem pela <strong>Beija</strong>-<strong>Flor</strong> <strong>de</strong> <strong>Nilópolis</strong>, durante o período<br />
que esteve na presidência da Liesa, a sua escola<br />
- a <strong>Beija</strong>-<strong>Flor</strong> <strong>de</strong> <strong>Nilópolis</strong> - não ganhou nenhum título.<br />
Isso prova o carinho e o respeito que ele tem pelo<br />
carnaval e por todas as escolas <strong>de</strong> samba.”, enfatiza<br />
o ex-presi<strong>de</strong>nte da Estação Primeira <strong>de</strong> Mangueira,<br />
Álvaro Caetano, o Alvinho.<br />
E em razão <strong>de</strong>sse respeito que Anizio manifesta ao<br />
sambista e ao público que, quando presi<strong>de</strong>nte da Liesa,<br />
implantou diversas melhorias. É ainda seu amigo e<br />
radialista Hilton Abi-Rihan que <strong>de</strong>staca: “Foi o Anizio<br />
que botou pé firme para que o espetáculo tivesse hora<br />
certa para iniciar e para acabar. Lembro-me que na<br />
época o Anizio me contou que essa questão do horário<br />
do <strong>de</strong>sfile havia sido uma das suas principais vitórias<br />
como presi<strong>de</strong>nte da Liesa. E é verda<strong>de</strong>! Lembro-me que<br />
ninguém acreditava que ele conseguiria impor esse ní-<br />
Revista <strong>Beija</strong>-<strong>Flor</strong> <strong>de</strong> <strong>Nilópolis</strong> www.beija-flor.com.br
vel <strong>de</strong> organização. A própria<br />
imprensa especializada não<br />
acreditava. Mas ele conseguiu.<br />
Ele conseguiu manter o<br />
horário do <strong>de</strong>sfile, do começo<br />
ao fim, o que valorizou ainda<br />
mais o espetáculo, além <strong>de</strong><br />
ser uma importante <strong>de</strong>cisão<br />
em respeito aos sambistas e<br />
ao público presente. Foi ele,<br />
também, o Anizio, que com<br />
seu temperamento guerreiro<br />
conquistou o direito <strong>de</strong> arena<br />
para as escolas <strong>de</strong> samba.”.<br />
Sobre isso, é o próprio Anizio<br />
quem relata: “Lutamos<br />
muito, mas consegui que a<br />
televisão pagasse o direito<br />
<strong>de</strong> arena às escolas <strong>de</strong><br />
samba. (direito <strong>de</strong> arena é<br />
o direito que as escolas têm<br />
<strong>de</strong> negociar, autorizar ou não a fixação, transmissão<br />
ou retransmissão <strong>de</strong> imagem <strong>de</strong> espetáculos <strong>de</strong> que<br />
participem). Na época, eu consegui 33 %, para ajudar<br />
as escolas a fazer um carnaval melhor. Hoje a<br />
Liesa recebe 51%, e foi uma gran<strong>de</strong> melhoria. Mas<br />
eu consegui 33% na época, quando não se ganhava<br />
nada. Era quase impossível fazer um espetáculo <strong>de</strong><br />
qualida<strong>de</strong>. Se não fosse o esforço <strong>de</strong> algumas pessoas,<br />
inclusive da comunida<strong>de</strong>, seria impossível levar<br />
ao público um espetáculo como o que levávamos! E<br />
hoje não! Hoje você tem condições <strong>de</strong> dar um cachê<br />
para o mestre-sala e para a porta-ban<strong>de</strong>ira. Você<br />
tem condições <strong>de</strong> dar um cachê para uma comissão<br />
<strong>de</strong> frente, para a bateria. Então, hoje as escolas têm<br />
condições <strong>de</strong> fazer um espetáculo que é divulgado<br />
em todo o mundo e atrair turistas dos mais diversos<br />
países.”, conclui.<br />
Mas a atuação <strong>de</strong> Anizio em <strong>de</strong>fesa do samba não se<br />
limitou às ações como presi<strong>de</strong>nte da Liesa. Segundo<br />
Elmo José dos Santos, ex-presi<strong>de</strong>nte da Estação Primeira<br />
<strong>de</strong> Mangueira e atual diretor da Liesa, “se hoje<br />
as escolas <strong>de</strong> samba são reconhecidas, elas têm que<br />
agra<strong>de</strong>cer muito ao Anizio. Porque, na realida<strong>de</strong>, as<br />
autorida<strong>de</strong>s não respeitavam o sambista. E o Anizio<br />
sempre disse: ‘Eu não vim aqui para ven<strong>de</strong>r pessoas,<br />
eu vim aqui para ven<strong>de</strong>r artista’. E a partir disso, e das<br />
iniciativas que ele promoveu, o samba passou a ser<br />
valorizado, acabou aquele negócio <strong>de</strong> livro <strong>de</strong> ouro.<br />
Acabou aquela história das escolas <strong>de</strong> samba fazendo<br />
seus carnavais embaixo do viaduto. E eu tenho um<br />
<strong>de</strong>poimento muito forte para dar, porque quando eu<br />
assumi a presidência da Mangueira, ela <strong>de</strong>via meio<br />
Foto: Acervo Iphan / Luiz Santos<br />
milhão <strong>de</strong> reais na praça. As lojas<br />
não vendiam para mim nem<br />
um prego, nem um prego! Para<br />
você ter uma i<strong>de</strong>ia, a Mangueira<br />
tinha 20 ca<strong>de</strong>iras! O Anizio<br />
chegou e falou para mim: ‘Elmo,<br />
o que você precisa?’ Anizio me<br />
<strong>de</strong>u crédito na praça, quero dizer,<br />
ele foi o meu avalista para<br />
que as lojas pu<strong>de</strong>ssem voltar a<br />
ven<strong>de</strong>r para a Mangueira, porque<br />
eu tinha que fazer carnaval.<br />
Como é que eu ia fazer carnaval<br />
se não tinha nem som, não tinha<br />
nada? E o Anizio, além disso,<br />
me <strong>de</strong>u carpinteiro, me <strong>de</strong>u<br />
ferreiro, e me <strong>de</strong>u um dos melhores<br />
homens do barracão <strong>de</strong>le<br />
que era o Torim, que até hoje<br />
está no carnaval. E eu consegui<br />
erguer a nossa querida Estação<br />
Primeira <strong>de</strong> Mangueira. Eu só tenho a agra<strong>de</strong>cer a<br />
papai do céu e agra<strong>de</strong>cer ao Anizio, que em nenhum<br />
momento me <strong>de</strong>ixou na chuva. Em todos os momentos<br />
me ajudou a levantar a Estação Primeira <strong>de</strong> Mangueira.<br />
E <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> três anos a Mangueira já andava<br />
com as suas próprias pernas. E o Anizio, em nenhum<br />
momento, <strong>de</strong>ixou que a disputa na avenida interferisse<br />
na sua <strong>de</strong>cisão. E me lembro <strong>de</strong> uma coisa que<br />
ele falou: ‘Elmo, trate todo mundo com carinho, com<br />
amor e com respeito. Nada <strong>de</strong> valentia. Eu acho que<br />
você tem uma gran<strong>de</strong> escola e o <strong>de</strong>sfile das escolas<br />
<strong>de</strong> samba tem que ter uma Mangueira forte! ’. Então,<br />
eu só tenho a agra<strong>de</strong>cer ao Anizio. O Anizio é meu<br />
padrinho, é meu pai, é meu irmão, é uma pessoa que,<br />
na verda<strong>de</strong>, é um gran<strong>de</strong> ídolo que eu tenho no carnaval”,<br />
conclui com emoção.<br />
O RECONHECIMENTO DO IPHAN<br />
Se as conquistas <strong>de</strong>sse gênero musical são resultado<br />
dos esforços <strong>de</strong> artistas, comunicadores, veículos<br />
<strong>de</strong> mídia e do público – que prestigia seus<br />
artistas e suas obras –, é inegável que o registro<br />
concedido pelo Iphan cria novas possibilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong><br />
conquistas, não só para essa arte carioca como<br />
para a cultura brasileira <strong>de</strong> um modo geral.<br />
A partir <strong>de</strong> agora, os próprios sambistas e <strong>de</strong>mais<br />
integrantes <strong>de</strong>sse segmento social po<strong>de</strong>rão propor,<br />
negociar e executar ações para salvaguardar esse<br />
novo patrimônio do Brasil, dialogando com o Po<strong>de</strong>r<br />
Público a implementação <strong>de</strong> ações que proporcionem<br />
a produção, reprodução, reconhecimento, valorização<br />
e divulgação <strong>de</strong>sse bem cultural.<br />
Fevereiro 2010
Em <strong>de</strong>fesa da i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> cultural<br />
O Iphan – Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional – criado em 13 <strong>de</strong> janeiro <strong>de</strong> 1930,<br />
é uma instituição ligada ao Ministério da Cultura e responsável por i<strong>de</strong>ntificar, documentar, proteger<br />
e promover o patrimônio cultural brasileiro, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> construções arquitetônicas até ao modo <strong>de</strong> viver<br />
<strong>de</strong> comunida<strong>de</strong>s do território nacional.<br />
Além disso, o Iphan também é responsável pela implantação do Programa Nacional do Patrimônio<br />
Imaterial, que viabiliza projetos <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ntificação, reconhecimento, salvaguarda e promoção da dimensão<br />
imaterial do patrimônio cultural.<br />
A revista <strong>Beija</strong>-<strong>Flor</strong> <strong>de</strong> <strong>Nilópolis</strong> foi a Brasília, na se<strong>de</strong> do Iphan, para conversar com a diretora do<br />
Departamento do Patrimônio Imaterial do Iphan, Márcia Sant’Anna.<br />
Graduada em Arquitetura e Urbanismo pela Universida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Brasília, Mestre em conservação e restauro,<br />
e Doutora em Urbanismo, ambos os títulos pela Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral da Bahia, Márcia Sant’Anna<br />
trabalha há mais <strong>de</strong> duas décadas junto a organismos governamentais <strong>de</strong> preservação do patrimônio<br />
cultural. Entre 1998 e 2000, coor<strong>de</strong>nou o grupo <strong>de</strong> trabalho criado pelo Ministério da Cultura que<br />
realizou os estudos para a implantação do Registro dos Bens Culturais <strong>de</strong> Natureza Imaterial.<br />
Ricardo Da Fonseca – O que significa “tombar” um bem imaterial?<br />
Márcia Sant’Anna – No caso <strong>de</strong> um bem imaterial, utilizamos<br />
um instrumento parecido com o tombamento, mas que é mais<br />
específico, que é o registro.<br />
O instrumento registro foi criado para dar conta da dimensão<br />
imaterial da cultura. Isto é, aos processos culturais, saberes e<br />
práticas que vão além da dimensão material (edificações, obras<br />
<strong>de</strong> arte, sítios urbanos, sítios arqueológicos...). Os processos <strong>de</strong><br />
registro são fundamentados em interlocução do Estado com as<br />
bases sociais concretas, grupos, comunida<strong>de</strong>s e segmentos sociais<br />
que produzem e reproduzem os fatos culturais, no sentido <strong>de</strong><br />
construir um consenso sobre o que se preten<strong>de</strong> reconhecer como<br />
patrimônio e os motivos para isso.<br />
É realizada uma ampla pesquisa para a i<strong>de</strong>ntificação e entendimento<br />
do universo cultural em questão, a i<strong>de</strong>ntificação dos segmentos<br />
sociais envolvidos e as ações <strong>de</strong> salvaguarda necessárias para que<br />
o fato cultural em questão tenha condições <strong>de</strong> permanência. É<br />
importante <strong>de</strong>stacar que o registro contempla transformações no<br />
bem cultural registrado, pois leva em conta a dinâmica cultural<br />
inerente a qualquer socieda<strong>de</strong>.<br />
Os livros do registro são: Saberes, Formas <strong>de</strong> Expressão, Lugares<br />
e Celebrações.<br />
Ricardo Da Fonseca – E por que com o samba carioca? Qual sua<br />
importância na cultura brasileira e na cultura mundial?<br />
Márcia Sant’Anna – As matrizes do samba carioca (partido-alto,<br />
samba-enredo e samba <strong>de</strong> quadra) são referências culturais importantes<br />
para a i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> <strong>de</strong> segmento social extremamente relevante<br />
na história do Estado do Rio <strong>de</strong> Janeiro. E o reconhecimento,<br />
pelo Estado, da história e legado cultural <strong>de</strong>ste segmento é passo<br />
fundamental em uma política <strong>de</strong> patrimonialização inclusiva. Além<br />
do mais, trata-se <strong>de</strong> um fato cultural cuja relevância transcen<strong>de</strong> o<br />
Estado do Rio, posto que é senso comum tratar-se <strong>de</strong> um signo da<br />
i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> nacional, tanto externa, quanto internamente.<br />
Ricardo Da Fonseca – Que tipo <strong>de</strong> proteção o samba tem a partir<br />
<strong>de</strong>sse título? Os bem materiais tombados são obrigados a manterem<br />
a sua aparência e outras qualida<strong>de</strong>s especificas. Se alguém ou<br />
alguma instituição infringe essa norma e modifica alguma parte<br />
tombada <strong>de</strong>ssas construções, fica passível <strong>de</strong> punição. Existirão<br />
punições ou regras <strong>de</strong> controle do Iphan para o samba, como<br />
bem imaterial?<br />
Márcia Sant’Anna – O registro não engessa, congela ou cria<br />
normas ou parâmetros para a prática. Não há punição, nem<br />
fiscalização, posto que toda cultura se modifica conforme os<br />
interesses da socieda<strong>de</strong>...e a política para o patrimônio imaterial<br />
pressupõe isso.<br />
O registro abre a possibilida<strong>de</strong> do segmento social envolvido<br />
<strong>de</strong>senvolver o diálogo com o Estado no sentido <strong>de</strong> implementar<br />
ações que proporcionem a produção, reprodução, reconhecimento,<br />
valorização e divulgação do bem cultural em questão. Mesmo que<br />
para essa continuida<strong>de</strong> sejam necessárias modificações.<br />
No caso do samba-enredo, por exemplo, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a criação do gênero<br />
musical muitas mudanças ocorreram... e ocorrerão. O Registro<br />
proporcionou um conhecimento dos processos <strong>de</strong> transformações<br />
<strong>de</strong> modo que seja possível conhecer e reproduzir cada momento;<br />
e assim ampliar as possibilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> criação.<br />
No limite, o maior patrimônio cultural que se tem é a criativida<strong>de</strong><br />
humana, que não po<strong>de</strong> ser tolhida <strong>de</strong>s<strong>de</strong> que não fira os direitos humanos.<br />
Nesse sentido, a política é voltada para dar as condições dos<br />
segmentos sociais fazerem a gestão <strong>de</strong> seu patrimônio em parceria<br />
com o Estado; com liberda<strong>de</strong> e movidos pelo interesse coletivo.<br />
Ricardo Da Fonseca – Quais outros benefícios e/ou facilida<strong>de</strong>s o<br />
samba passa a ter a partir da aquisição do título <strong>de</strong> “Patrimônio<br />
Cultural do Brasil”?<br />
Márcia Sant’Anna – Há recursos disponibilizados pelo Estado<br />
por um tempo <strong>de</strong>terminado, os quais são geridos por instituição<br />
oriunda do universo cultural em questão. Eles são utilizados no<br />
sentido <strong>de</strong> realizar ações <strong>de</strong>finidas previamente junto com a base<br />
social e, sobretudo, no sentido <strong>de</strong> dar condições <strong>de</strong> sustentabilida<strong>de</strong><br />
para a gestão do patrimônio <strong>de</strong> maneira autônoma em<br />
relação ao Estado.<br />
Além disso, o registro é uma espécie <strong>de</strong> cre<strong>de</strong>nciamento para a<br />
captação <strong>de</strong> recursos junto a parceiros.<br />
0 Revista <strong>Beija</strong>-<strong>Flor</strong> <strong>de</strong> <strong>Nilópolis</strong> www.beija-flor.com.br
Que paraíso é este <strong>de</strong><br />
águas cristalinas?<br />
A ( ) Ilhabela, SP<br />
B ( ) <strong>Flor</strong>ianópolis, SC<br />
C ( ) Aracati, CE<br />
D ( ) Praia dos Carneiros, PE<br />
Se você é brasileiro e não sabe<br />
a resposta, está na hora<br />
<strong>de</strong> conhecer melhor o Brasil.<br />
RESPOSTA: D – PRAIA DOS CARNEIROS, PE<br />
VIAGEM É PARA TODA A <strong>VIDA</strong>.<br />
VIAJE <strong>POR</strong> TODO O BRASIL.<br />
Consulte seu agente <strong>de</strong> viagem. www.turismo.gov.br<br />
Fevereiro 2010
CARIOCA SAMBA:<br />
A KEY PART OF BRAZIL’S<br />
HERITAGE<br />
ÍRIS ÁGATHA<br />
RICARDO DA FON<strong>SE</strong>CA<br />
Many years ago in the Rio <strong>de</strong> Janeiro neighborhood of<br />
Estácio, a school principal complained of the “mischief” of<br />
sambistas, as samba musicians are called. One of them, the<br />
clever Ismael Silva (later to become one of the most celebrated<br />
samba composers) is said to have retorted, “Deixa falar”<br />
(“Let us speak”).<br />
The phrase became the name of the first samba “school”:<br />
“We’re leading this school. You teach the stu<strong>de</strong>nts to read<br />
and write, but we’re teachers too. We’re a school...a samba<br />
school.” And so goes the story of why carnival groups are<br />
called escolas <strong>de</strong> samba, or “samba schools”.<br />
Many don’t remember... Others weren’t even born. But there<br />
was a time when samba in Rio was looked down on as just<br />
so much noise.<br />
Fortunately, driven by the ingenuity of its composers, the<br />
ca<strong>de</strong>nce of this musical genre caught on and spread so<br />
thoroughly to every corner of the city, and then the country,<br />
that samba has become a cultural icon of the entire<br />
nation, besi<strong>de</strong>s being appreciated by listeners throughout<br />
the world.<br />
Samba traces it roots to gatherings of slaves, who would<br />
express their beliefs and recollections of their origins in<br />
song and dance, accompanied by drumming. Rio <strong>de</strong> Janeiro,<br />
as an important entry port of slaves and a coffee-growing<br />
region that <strong>de</strong>man<strong>de</strong>d labor, was a concentration point for<br />
Africans and their <strong>de</strong>scendants from many places in Africa<br />
and Brazil itself. Besi<strong>de</strong>s their labor, they brought their various<br />
rhythms and dances, which were gradually absorbed by<br />
all Cariocas (as Rio’s resi<strong>de</strong>nts are called).<br />
But this acceptance by the Carioca population at large was<br />
not easy and without suffering. According to the historian<br />
and cultural director of Rio’s League of Samba Schools<br />
(LIESA), Hiram Araújo, “in the early days of samba in Rio<br />
<strong>de</strong> Janeiro, a poor black person with a guitar was subject<br />
to arrest. João da Baiana was jailed just because he had a<br />
tambourine in his hand.”<br />
Despite the prejudice, discrimination and even jailing, the<br />
sound and poetry of Carioca samba finally managed to<br />
convince the country that a guitar, ukulele and tambourine<br />
in the hands of poor blacks represented more than just<br />
music. From such humble beginnings, samba has become<br />
a tra<strong>de</strong>mark of Brazil, recognized and appreciated around<br />
the world.<br />
So it was no acci<strong>de</strong>nt that the National Institute of Historic<br />
and Artistic Heritage (IPHAN) recognized Carioca samba<br />
and its roots elements (samba <strong>de</strong> terreiro, partido alto<br />
and samba enredo) with the Brazilian Cultural Heritage<br />
<strong>de</strong>signation.<br />
On November 27, 2007, Márcia Genésia <strong>de</strong> Sant’Anna,<br />
head of IPHAN’s Department of Intangible Heritage, ma<strong>de</strong><br />
official what was already empirically established: Carioca<br />
samba is the wellspring from which composers from other<br />
regions drink to create the various sub-genres of this musical<br />
genre. As she <strong>de</strong>clared: “The roots elements of Carioca<br />
samba are important cultural references for the i<strong>de</strong>ntity of<br />
an extremely important social segment in the history of<br />
Rio <strong>de</strong> Janeiro. This is a fundamental step in a policy of<br />
preserving heritage.”<br />
IPHAN further recognizes that samba unites people within<br />
communities, unites working-class and upper-class communities,<br />
unites the entire country and even the world. It has<br />
become <strong>de</strong> rigueur for people residing in the more “chic” areas<br />
of the city’s South Zone to go to the carnival school rehearsal<br />
grounds in the suburbs and outlying municipalities of the<br />
Baixada Fluminense region, not only to prepare to para<strong>de</strong><br />
during carnival, but also for parties and feijoada feasts. The<br />
same goes for tourists looking to experience more than just<br />
the city’s <strong>de</strong>servedly famous landmarks and beaches.<br />
Revista <strong>Beija</strong>-<strong>Flor</strong> <strong>de</strong> <strong>Nilópolis</strong> www.beija-flor.com.br
AN ART THAT UNITES PEOPLE<br />
The vocation of Carioca samba to unite people is unquestionable.<br />
According to radio commentator Hilton Abi-Rihan, also<br />
an ai<strong>de</strong> to the presi<strong>de</strong>nt of honor of <strong>Beija</strong>-<strong>Flor</strong> of <strong>Nilópolis</strong>,<br />
Anizio Abrão David, “besi<strong>de</strong>s Brazil’s great samba artists,<br />
such as Monarco, Nelson Sargento, Moacyr Luz, Alcione and<br />
Beth Carvalho, who have taken this music to the four corners<br />
of the world, samba schools like <strong>Beija</strong>-<strong>Flor</strong> make frequent<br />
foreign tours to perform their carnival dance and music,<br />
taking samba and Carioca and Fluminense culture to the rest<br />
of the world, attracting overseas fans to this musical genre<br />
and instilling a passion for our music and culture, making<br />
people yearn to visit our country, especially the “marvelous<br />
city”. There’s no question that the magic and magnetism of<br />
Carioca samba whets this interest to experience our country<br />
and its people’s hospitality first hand.”<br />
Accustomed to putting on<br />
shows abroad, the writer<br />
and producer Haroldo<br />
Costa attests: “Samba<br />
has become a Brazilian<br />
calling card.”<br />
Monarco travels frequently<br />
performing<br />
with the group Velha<br />
Guarda da Portela and<br />
relates: “We’ve been to<br />
France, Japan, Italy...<br />
and the people’s reaction<br />
has been touching.<br />
In France, kids in the<br />
audience sang along with<br />
us in Portuguese, ‘Foi<br />
um Rio que passou em<br />
Minha Vida’.”<br />
Foto: Acervo Iphan / Edgar Rocha<br />
Besi<strong>de</strong>s bringing together<br />
people of different social,<br />
intellectual and cultural<br />
positions – including<br />
different nationalities<br />
– Carioca samba can be credited for other achievements, as<br />
recalled by Abi-Rihan: ”I’ve hosted radio programs for over<br />
four <strong>de</strong>ca<strong>de</strong>s, always featuring the artistic manifestations of<br />
the Brazilian people. And among the many things I’ve seen,<br />
one that really impresses me is what the samba schools do in<br />
their communities, as <strong>Beija</strong>-<strong>Flor</strong> does in <strong>Nilópolis</strong>, investing<br />
to improve people’s quality of life, establishing the elementary<br />
and high school, job training programs, art, dance and<br />
music classes, besi<strong>de</strong>s other important social actions. All this<br />
means that samba is an important instrument for artistic,<br />
social and personal <strong>de</strong>velopment.”<br />
GREAT BATTLES <strong>FOR</strong> THE DIFFUSION OF SAMBA<br />
The respect achieved by samba is the result of a struggle<br />
on various fronts.<br />
Besi<strong>de</strong>s the selfless <strong>de</strong>dication of the performers, composers<br />
and interpreters, who insisted on keeping sambas in their<br />
repertoires, often paying a high price for this – such as<br />
prejudice and discrimination – the efforts of communicators,<br />
especially in the mass media such as radio, was fundamental<br />
to the survival and consolidation of this musical genre.<br />
Hilton Abi-Rihan was and is one of these important friends<br />
of samba.<br />
As the programming director of Rádio Continental, he<br />
created many programs that featured the varied samba<br />
styles, rescuing veritable works of art and presenting to<br />
listeners the latest trends of the style. Besi<strong>de</strong>s this, Abi-<br />
Rihan had a quality that ma<strong>de</strong> him beloved throughout<br />
the world of samba: he not only played the songs, he<br />
also gave proper credit to the artists who composed and<br />
interpreted them. “Abi-Rihan was one of the first <strong>de</strong>ejays,<br />
from what I remember, who gave special attention to the<br />
samba interpreters and composers. It was very common<br />
for the radio stations only to play the music without giving<br />
the composers’ names. I remember that his way of<br />
treating samba composers and interpreters was one of<br />
the things that pleased my brother, Nelson David, who<br />
became a close friend of Abi-Rihan,” says Anizio Abrão<br />
Fevereiro 2010
David, <strong>Beija</strong>-<strong>Flor</strong>’s presi<strong>de</strong>nt of honor and one of the most<br />
<strong>de</strong>dicated supporters of samba.<br />
Another important advance for samba was achieved by actor<br />
and producer Jorge Coutinho, who influenced a consi<strong>de</strong>rable<br />
contingent of future trendsetters living in the city’s South Zone<br />
(Leme, Copacabana, Ipanema and Leblon): “I thought that college<br />
stu<strong>de</strong>nts had to experience samba. So I promoted shows<br />
that mixed various styles, such as songs by Milton Nascimento,<br />
Som Imaginário and Cartola. I also took sambistas to sing at<br />
Pontifical Catholic University, whose stu<strong>de</strong>nt body at the time<br />
was almost exclusively drawn from wealthy families.”<br />
Besi<strong>de</strong>s this, in the 1970s Jorge Coutinho, together with<br />
Leoni<strong>de</strong>s Bayer, created an interesting social project called<br />
“Noitadas <strong>de</strong> Samba” (“Samba Nights”). These were held<br />
every Monday at the Teatro Opinião in Copacabana. At these<br />
events, performers from Rio’s hillsi<strong>de</strong> slums and suburbs,<br />
such as Cartola, Guilherme <strong>de</strong> Brito, Nelson Cavaquinho,<br />
Martinho da Vila, Rosinha <strong>de</strong> Valença, Paulinho da Viola,<br />
Clementina <strong>de</strong> Jesus, Dona Ivone Lara, Xangô da Mangueira<br />
and Clara Nunes, among many others, played for audiences<br />
from the South Zone.<br />
ANIZIO AND SAMBA<br />
But if samba resisted prejudice and the samba singers and<br />
musicians (sambistas) survived, with great difficulty, it was<br />
because far from Rio’s middle class South Zone, important<br />
samba redoubts sheltered and welcomed these representatives<br />
of this important Afro-Brazilian art form.<br />
It was the carnival associations, or the samba schools, that<br />
valued the sambistas as if they were part of the family. It<br />
was at the samba schools where the sambistas spent a good<br />
<strong>de</strong>al of their time, where they composed, sang, dreamed …<br />
created. This was the genuine spirit of the sambista from<br />
Rio <strong>de</strong> Janeiro, later stereotyped in the global media. It was<br />
a time when most sambistas and composers were linked<br />
to a samba school: Mangueira, Salgueiro, Portela, Império<br />
Serrano... and so many others.<br />
But if the carnival associations were redoubts of samba,<br />
the sambistas still faced difficulties to survive. Subjugated<br />
by a native culture of exploitation of the work force, the<br />
sambistas continued at the margin, exploited, poorly paid,<br />
with no security.<br />
But as the samba schools became stronger and gained respect,<br />
prestige and space, the same thing happened to the<br />
sambistas as well.<br />
This chapter in the history of samba is clearly recalled by radio<br />
host Hilton Abi-Rihan: “Samba was going through a difficult<br />
moment even though it was moving from the margins to the<br />
mainstream. The problem was that the agents promoting this<br />
change were doing so for financial questions. They didn’t<br />
un<strong>de</strong>rstand samba’s importance as a cultural manifestation.<br />
To them it was just a business. The upshot was that the<br />
sambistas still were poorly paid, both for public presentations<br />
and when their songs were recor<strong>de</strong>d by mainstream singers.<br />
It was hard to make a living as a sambista. Fortunately, this<br />
reality was changing, due to various factors. But I believe one<br />
of the most important factors for this change was the creation<br />
of the In<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nt League of Samba Schools (LIESA). This<br />
allowed a lot of things to be done for samba and sambistas.<br />
And Anízio has a leading role in all this history. He was the<br />
one who confronted the record companies so the composers<br />
didn’t have to go with hat in hand, humiliating themselves<br />
to try to receive their proper royalties.<br />
Besi<strong>de</strong>s the importance Anízio has for samba, carnival in Rio<br />
<strong>de</strong> Janeiro and samba schools, he has a special importance for<br />
samba composers. I’m a composer myself, and I want to highlight<br />
that it was through his i<strong>de</strong>as and actions that the samba<br />
schools’ composers became recognized and paid properly for<br />
their work. I want to emphasize this, because my family and<br />
I feel in our daily lives the benefits of this and other positions<br />
take by Anízio in favor of samba and sambistas. Besi<strong>de</strong>s this,<br />
Anízio is a fair man: <strong>de</strong>spite his great love for <strong>Beija</strong>-<strong>Flor</strong>, during<br />
the entire period he was presi<strong>de</strong>nt of LIESA, his school didn’t<br />
win a single title. This proves his love and respect for carnival<br />
and all samba schools,” says former presi<strong>de</strong>nt of Mangueira,<br />
Álvaro Caetano, or Alvinho as he’s better known.<br />
And because of this respect that Anízio expresses for sambistas<br />
and the public, when he was presi<strong>de</strong>nt of LIESA, he<br />
implemented various improvements. His friend the radio<br />
announcer Hilton Abi-Rihan points points out: “It was Anízio<br />
who took a firm stance and insisted that the para<strong>de</strong>s have a<br />
<strong>de</strong>finite time to start and finish. I remember that at the time<br />
Anízio told me this question of the para<strong>de</strong> timetable was one<br />
of his main accomplishments as presi<strong>de</strong>nt of LIESA. And it’s<br />
true! I remember that nobody believed he’d manage to impose<br />
this level of organization. The press certainly didn’t believe it.<br />
But he did it. He managed to keep all the schools’ para<strong>de</strong>s on<br />
time, from the start to the finish, which really ad<strong>de</strong>d to the<br />
spectacle’s value, besi<strong>de</strong>s being an important <strong>de</strong>cision showing<br />
respect for the sambistas and spectators. It was Anízio also<br />
who, with his strong-willed temperament, won the arena<br />
rights [the rights to transmit television images of the para<strong>de</strong>s]<br />
for the samba schools,” recalls Abi-Rihan.<br />
Anízio himself remembers: “It was a hard fight, but we<br />
managed to get the TV networks to pay the arena rights<br />
to the samba schools. At the time I managed to get 33%<br />
to help the samba schools put on a better carnival. Today<br />
LIESA receives 51%, a big improvement. But I managed to<br />
get 33% at the time. Before that it was zero. It was almost<br />
impossible to put on a good show. Without the effort of some<br />
people, including from the community, it would have been<br />
impossible to produce the spectacular show we do today!<br />
Revista <strong>Beija</strong>-<strong>Flor</strong> <strong>de</strong> <strong>Nilópolis</strong> www.beija-flor.com.br
Today you can pay something to the master of ceremonies<br />
and the standard bearer. You can pay something to the<br />
comissão <strong>de</strong> frente (lead dancers), to the bateria (percussion<br />
unit). So, today the samba schools have the money to<br />
put on a show that is transmitted all over the world and<br />
attracts tourists from many countries,” says Anízio.<br />
But Anízio’s efforts in support of samba weren’t limited to<br />
his actions as presi<strong>de</strong>nt of LIESA. According to Elmo José<br />
dos Santos, past presi<strong>de</strong>nt of Mangueira and current director<br />
of LIESA, “the recognition the samba schools enjoy today<br />
owes a lot to Anízio. Because in reality the authorities didn’t<br />
respect the sambistas. And Anísio always said: ‘I didn’t come<br />
here to sell a coon show; I came here to sell an art form.’<br />
And this was the starting point of the valorization of samba,<br />
it en<strong>de</strong>d the old practice of asking for donations from local<br />
businesses. It en<strong>de</strong>d the old practice of the samba schools<br />
putting on their para<strong>de</strong>s on a shoestring. And I can attest<br />
to this, because when I became presi<strong>de</strong>nt of Mangueira, it<br />
had <strong>de</strong>bts adding to a half million reais. Stores wouldn’t sell<br />
me a nail, not a single nail. To give you an i<strong>de</strong>a, Mangueira<br />
had 20 chairs! Anízio arrived and said: ‘Elmo, what do you<br />
need?’ Anízio gave me credit, I mean, he was my guarantor<br />
so the stores would resume selling to Mangueira, because I<br />
had to put on a carnival show. How could I do this without<br />
even having a sound system, without anything? And besi<strong>de</strong>s<br />
this, Anízio sent me a woodworker, a metalworker, one of<br />
his best craftsmen, Torim, who is still working on carnival<br />
today. And I managed to rebuild our <strong>de</strong>ar Estação Primeira<br />
<strong>de</strong> Mangueira. I only have Our Father in Heaven and Anísio<br />
to thank. He never left me out in the cold. He helped me in<br />
every way to resurrect Mangueira. And within three years,<br />
Mangueira was back on its own two feet. And Anísio never<br />
let the dispute on the avenue interfere in his <strong>de</strong>cision. I recall<br />
one thing he said: ‘Elmo, treat everyone with love and<br />
respect. Don’t look down on anyone. I think you have a great<br />
samba school and carnival needs a strong Mangueira.’ So, I<br />
can only thank Anísio. He was my godfather, my father, my<br />
brother. He’s one of my carnival idols,” he conclu<strong>de</strong>s.<br />
RECOGNITION BY IPHAN<br />
While the conquests of this musical genre are the result<br />
of the consi<strong>de</strong>rable efforts of composers and performers,<br />
and of the communicators and media outlets that gave<br />
exposure to their works, the Brazilian Cultural Heritage<br />
<strong>de</strong>signation granted by IPHAN certainly has created new<br />
possibilities, not only for this Carioca art, but for Brazilian<br />
culture in general.<br />
This recognition provi<strong>de</strong>s more opportunities for sambistas<br />
and other members of this social segment to carry out actions<br />
with government support to protect and promote this<br />
important heritage.<br />
Fevereiro 2010
O AMIGO DO SAMBA<br />
Ricardo Da Fonseca – Hoje o samba<br />
está nas ruas: na Lapa, Zona Sul, baixada<br />
fluminense. E em todo o mundo. Houve,<br />
no entanto, uma época na qual o samba<br />
não era valorizado. Como era a vida do<br />
sambista no passado?<br />
Anizio Abrão David – Durante muitos<br />
anos, a vida do sambista não era fácil. Ele<br />
não podia sobreviver com dignida<strong>de</strong>, nem<br />
sustentar sua família com o samba. Ele<br />
passava era fome e morava mal. Quando<br />
conseguia alguma coisa, como ganhar um<br />
samba para carnaval ou ter uma cantora<br />
<strong>de</strong> sucesso gravando uma composição sua<br />
em um disco, não recebia quase nada.<br />
Ricardo Da Fonseca – Muitas pessoas que<br />
viveram nessa época dizem que você é o<br />
gran<strong>de</strong> amigo do samba. Por quê?<br />
Anizio Abrão David – Eu acredito que seja porque, quando<br />
pu<strong>de</strong>, fiz alguma coisa pelos sambistas e pelo samba. Quando<br />
fui presi<strong>de</strong>nte da Liesa, já assumi brigando com a ECAD (órgão<br />
responsável pela arrecadação e distribuição dos direitos autorais<br />
das obras musicais) porque para mim eles não tinham<br />
direito a intermediar o pagamento dos sambistas. E fomos<br />
para a briga, fomos à Justiça e ganhamos! Nessa época os<br />
compositores e seus her<strong>de</strong>iros suavam a camisa para receber<br />
o dinheirinho que tinham direito! Você imagina que naquela<br />
época, com inflação <strong>de</strong> até 70%, o que era para ser recebido<br />
em fevereiro só era pago em setembro. O que recebiam não<br />
dava para nada! E a maioria dos compositores naquela época<br />
não sabia nem como assinar um documento para receber<br />
seu dinheiro. Então, chegavam lá, assinavam qualquer papel<br />
e levavam o que lhes <strong>de</strong>ssem. Hoje não. Hoje o compositor<br />
recebe valores mais justos e diretamente da Liesa, e sabe<br />
antecipadamente quanto que tem direito a receber.<br />
Ricardo Da Fonseca – Tudo o que você falou está relacionado<br />
aos sambas-enredo. Mas existem sambistas que<br />
não disputavam sambas-enredo. Como era a vida <strong>de</strong>sses<br />
sambistas... Inclusive os sambistas da baixada fluminense?<br />
Anizio Abrão David – A vida <strong>de</strong>les também era muito<br />
difícil. O sambista no Brasil nunca teve nada. Se a gente<br />
não ajudasse, acho que nem samba tinha mais no Rio <strong>de</strong><br />
Janeiro e no Brasil afora, porque o sambista sempre passou<br />
necessida<strong>de</strong>. Você tinha que ajudar um pouquinho para ele<br />
ter ânimo <strong>de</strong> continuar no samba.<br />
Ricardo Da Fonseca – Mas como<br />
você ajudava esses sambistas?<br />
Anizio Abrão David – Eu patrocinei<br />
a gravação em estúdio e a impressão<br />
<strong>de</strong> discos (LPs) <strong>de</strong> diversos sambistas<br />
que vinham me procurar. Se<br />
você não bancasse, eles não teriam<br />
como gravar. Não havia <strong>de</strong> on<strong>de</strong><br />
eles tirarem dinheiro para custear<br />
essa produção. Não existiam leis do<br />
governo para incentivar empresas<br />
a patrocinar esses discos... Então as<br />
empresas não patrocinavam cultura.<br />
Você tinha que bancar um LP para<br />
eles. Nessa época era muito comum<br />
o “livro <strong>de</strong> ouro”, que era passado<br />
pelos sambistas para conseguir<br />
Anizio e Jamelão. um dinheirinho. Lembro-me que o<br />
Cabana, nosso querido compositor,<br />
fez um samba - usando a i<strong>de</strong>ia do samba do crioulo doido<br />
- que falava assim:<br />
“Nem todo crioulo é doido.<br />
Nem todo crioulo é doido.<br />
Presta atenção pessoal<br />
O crioulo só endoida<br />
quando chega o carnaval.<br />
Quando chega o carnaval<br />
O crioulo sai,<br />
com o livro <strong>de</strong> ouro na mão<br />
passa o dia inteiro,<br />
sem arranjar um tostão.”...<br />
Ricardo Da Fonseca – Como você se sente sabendo que fez<br />
muitas coisas importantes para o sambista e o samba?<br />
Anizio Abrão David – Sinceramente, quem me conhece<br />
sabe que não fiz nada que não fosse motivado pelo meu<br />
<strong>de</strong>sejo sincero <strong>de</strong> ajudar. Papai do céu sempre me <strong>de</strong>u muito<br />
e seria natural que eu fizesse alguma coisa pelas pessoas<br />
que precisam. Se fico feliz <strong>de</strong> ver hoje que aju<strong>de</strong>i muitos<br />
homens a po<strong>de</strong>rem sustentar seus filhos, colocá-los em<br />
uma boa escola, comprar um bom presente para a mulher,<br />
ter uma casa boa para morar? Sim, eu fico feliz. Mas quem<br />
não ficaria?<br />
Revista <strong>Beija</strong>-<strong>Flor</strong> <strong>de</strong> <strong>Nilópolis</strong> www.beija-flor.com.br
Fevereiro 2010
FELIPE FERREIRA<br />
Um dos momentos mais sublimes do <strong>de</strong>sfile <strong>de</strong> uma<br />
escola <strong>de</strong> samba é a passagem da ala <strong>de</strong> baianas.<br />
Aquelas lindas senhoras com suas gran<strong>de</strong>s saias rodadas<br />
são verda<strong>de</strong>iros reservatórios <strong>de</strong> emoção e<br />
amor capazes <strong>de</strong> dar legitimida<strong>de</strong> a qualquer agremiação.<br />
Uma escola <strong>de</strong> samba sem ala <strong>de</strong> baianas<br />
não é uma escola <strong>de</strong> samba. Fica-lhe faltando a<br />
alma, a essência, a raiz e a verda<strong>de</strong>.<br />
Presentes <strong>de</strong>s<strong>de</strong> os primeiros momentos das escolas,<br />
as baianas têm passado, durante todos estes<br />
anos, por muitas modificações, tanto em suas fantasias<br />
quanto na forma como se apresentam. Inicialmente<br />
<strong>de</strong>sfilando em filas laterais, passaram a se<br />
reunir em grupos cada vez maiores formando verda<strong>de</strong>iras<br />
massas <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> <strong>de</strong>staque nos <strong>de</strong>sfiles.<br />
Sua musicalida<strong>de</strong> sempre foi louvada como uma expressão<br />
fundamental da alma brasileira, ecoando os<br />
<strong>SE</strong>RÁ O FIM<br />
DA ALA DE BAIANAS?<br />
cantos negros, os sons do interior do país e a essência<br />
musical popular. Em seus movimentos <strong>de</strong> braços<br />
e giros acumulavam-se <strong>de</strong>voções, procissões, cultos<br />
africanos, católicos, cortejos e danças religiosas traduzidas<br />
em apresentações únicas, soberbas, sempre<br />
louvadas pela intelectualida<strong>de</strong> e aplaudidas pelo público<br />
mesmerizado por uma “coreografia” popular e<br />
espontânea. Sua fantasia – baseada nas indumentárias<br />
tradicionais das baianas quituteiras que ocupavam<br />
as ruas do Rio <strong>de</strong> Janeiro <strong>de</strong>s<strong>de</strong> finais do século<br />
XVIII – reunia itens tradicionais – como os panos da<br />
costa, os torsos, as saias rodadas e o balangandãs<br />
– a elementos singelos – como cestinhas <strong>de</strong> flores,<br />
pequenas ban<strong>de</strong>iras, aviões <strong>de</strong> plástico, réplicas <strong>de</strong><br />
planetas – que ajudavam a contar o “enredo” apresentado<br />
pela escolas. Em suma, os grupos <strong>de</strong> baianas<br />
eram como verda<strong>de</strong>iros traços <strong>de</strong> união entre<br />
Vó Nadyr (a mais antiga baiana em ativida<strong>de</strong> da <strong>Beija</strong>-<strong>Flor</strong> <strong>de</strong> <strong>Nilópolis</strong>), Felipe Ferreira (pesquisador <strong>de</strong> cultura brasileira) e Laíla (diretor<br />
<strong>de</strong> Carnaval da <strong>Beija</strong>-<strong>Flor</strong> <strong>de</strong> <strong>Nilópolis</strong>)<br />
Revista <strong>Beija</strong>-<strong>Flor</strong> <strong>de</strong> <strong>Nilópolis</strong> www.beija-flor.com.br
a tradição mais profunda e a mo<strong>de</strong>rnida<strong>de</strong><br />
possível das escolas <strong>de</strong> samba na expressão<br />
mais popular <strong>de</strong> seus primeiros anos.<br />
As modificações por que passaram os <strong>de</strong>sfiles<br />
– crescendo em importância e tamanho e<br />
transformando-se na principal expressão do<br />
carnaval brasileiro na década <strong>de</strong> 60 – tiveram<br />
reflexos na ala <strong>de</strong> baianas que cresceu em<br />
tamanho, em organização e em imponência.<br />
Pouco a pouco, suas indumentárias tornavam-se<br />
iguais em cada <strong>de</strong>talhe, impedindo<br />
que cada baiana utilizasse suas pulseiras e<br />
colares pessoais. As fantasias ampliavamse<br />
com a incorporação dos gran<strong>de</strong>s aros<br />
dos miniaques (em substituição às antigas<br />
anáguas engomadas) capazes <strong>de</strong> sustentar<br />
saias cada vez mais rodadas e <strong>de</strong>coradas.<br />
Permaneciam, entretanto, as peculiarida<strong>de</strong>s<br />
das baianas <strong>de</strong> cada escola, representadas,<br />
principalmente pelos gestos e movimentos<br />
<strong>de</strong> sua dança, nos quais, um olhar atento,<br />
ainda podia perceber ecos <strong>de</strong> um passado<br />
não tão remoto.<br />
Entretanto, a transformação dos <strong>de</strong>sfiles<br />
em espetáculos audiovisuais, no final do século XX,<br />
iria encontrar na ala <strong>de</strong> baianas uma espécie <strong>de</strong> <strong>de</strong>safio.<br />
Como adaptar aquele grupo <strong>de</strong> senhoras às<br />
necessida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> um espetáculo que se queria cada<br />
vez mais grandioso e internacional? Como traduzir<br />
a respeitabilida<strong>de</strong> e a importância daquela ala sem<br />
perturbar a unida<strong>de</strong> <strong>de</strong> um <strong>de</strong>sfile cada vez mais imponente?<br />
A “solução” encontrada foi a valorização visual da<br />
ala, ampliando suas fantasias – que adquiriam rodas<br />
cada vez mais gigantescas – incorporando esplendores,<br />
golas, a<strong>de</strong>reços <strong>de</strong> mão e <strong>de</strong>corações suntuosas<br />
associados a temáticas que a afastavam cada vez<br />
mais da baiana tradicional. O sucesso <strong>de</strong>ste novo<br />
formato, entretanto, vem cobrando seu preço às escolas.<br />
O <strong>de</strong>slumbrante visual das gran<strong>de</strong>s fantasias<br />
criou a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> um <strong>de</strong>sfile cada vez mais organizado,<br />
em filas e colunas, e com lugares pre<strong>de</strong>terminados<br />
para cada baiana. A grandiosida<strong>de</strong> das<br />
indumentárias passou a impedir os movimentos espontâneos<br />
individuais, que se transformaram em coreografias<br />
ensaiadas nas quais todas as baianas só<br />
po<strong>de</strong>m girar num <strong>de</strong>terminado momento e para um<br />
mesmo lado, por exemplo. Além disso, o peso excessivo<br />
das fantasias, que chegam a atingir mais <strong>de</strong> 30<br />
quilos, acaba por afastar aquelas que <strong>de</strong>veriam ser<br />
as mais importantes personagens do <strong>de</strong>sfile, as mais<br />
velhas senhoras<br />
que guardam,<br />
em seus movimentos<br />
e em<br />
seu cantar, boa<br />
parte da história<br />
e da memória<br />
das escolas <strong>de</strong><br />
samba.<br />
A pergunta que<br />
fizemos no título<br />
<strong>de</strong>ste artigo<br />
marca, <strong>de</strong>sse<br />
modo, uma preocupação,<br />
cada<br />
vez mais presente,<br />
daqueles<br />
que amamos<br />
os <strong>de</strong>sfiles das<br />
escolas. Como<br />
equilibrar a necessida<strong>de</strong><br />
<strong>de</strong><br />
engran<strong>de</strong>cimento<br />
do espetáculo<br />
com a preservação do sentido mais profundo <strong>de</strong> uma<br />
ala tão representativa <strong>de</strong> uma escola <strong>de</strong> samba? O<br />
caminho da grandiosida<strong>de</strong> parece ter chegado a um<br />
beco sem saída na medida em que força o afastamento<br />
exatamente daquelas senhoras que mais<br />
amamos ver <strong>de</strong>sfilar e das quais nenhuma escola<br />
po<strong>de</strong> prescindir. Outras soluções precisam ser <strong>de</strong>scobertas<br />
pela criativida<strong>de</strong> e engenhosida<strong>de</strong> <strong>de</strong> nossos<br />
carnavalescos. Novas regulamentações talvez<br />
possam ser pensadas no sentido <strong>de</strong> limitar tamanho<br />
e peso das fantasias. Soluções inesperadas po<strong>de</strong>m<br />
sair do diálogo entre a inovação dos criadores e a<br />
sabedoria das próprias baianas. As possibilida<strong>de</strong>s<br />
são muitas. O importante é percebermos a tempo<br />
que um caminho diferente precisa ser <strong>de</strong>scoberto<br />
com urgência. Com isto, po<strong>de</strong>remos ter a certeza <strong>de</strong><br />
que, ao contrário do que po<strong>de</strong>ríamos temer, estaremos<br />
presenciando o renascimento da ala que reúne<br />
e representa tudo que mais amamos no carnaval das<br />
escolas <strong>de</strong> samba: nossas “mães” baianas.<br />
Vó Nadyr, em Desfile pela agremiação <strong>de</strong> <strong>Nilópolis</strong> (década<br />
<strong>de</strong> 70)<br />
______________<br />
Felipe Ferreira é professor do Instituto <strong>de</strong> Artes da<br />
Uerj, coor<strong>de</strong>nador do Centro <strong>de</strong> Referência do Carnaval<br />
e Membro do Estandarte <strong>de</strong> Ouro <strong>de</strong> O Globo.<br />
Fevereiro 2010
DÉBORA ZAMPIER<br />
BRASÍLIA<br />
uma jovem senhora<br />
com muita história para contar<br />
Amada ou odiada, Brasília só não <strong>de</strong>sperta um sentimento:<br />
indiferença. A cida<strong>de</strong>, que completa 50<br />
anos no próximo dia 21 <strong>de</strong> abril, foi concebida com<br />
o objetivo <strong>de</strong> chamar atenção para uma região até<br />
então esquecida do interior do país. E cumpriu sua<br />
missão: <strong>de</strong>s<strong>de</strong> os primeiros discursos apaixonados<br />
sobre sua criação até a imponência política e econômica<br />
ostentada atualmente, Brasília rompeu com<br />
o Brasil costumeiro. Um rompimento salutar na <strong>de</strong>finição<br />
<strong>de</strong> nossa própria i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>, embora, parafraseando<br />
Caetano Veloso, muitos narcisos ainda<br />
achem feio o que não é espelho e ainda torçam o<br />
nariz para a capital fe<strong>de</strong>ral.<br />
Brasília já habitava mentes e corações muito antes<br />
<strong>de</strong> existir no papel. Foi em 1893 que se pensou<br />
criar uma cida<strong>de</strong> longe do abarrotado litoral, i<strong>de</strong>ia<br />
passada para o Pequeno Atlas do Brasil em 1922.<br />
A região era conhecida como Quadrilátero Cruls,<br />
referência ao grupo do astrônomo belga Luiz Cruls,<br />
que li<strong>de</strong>rou a Comissão Exploradora do Planalto<br />
Central entre 1892 e 1893. Já em 1927, um documento<br />
registrado em um cartório <strong>de</strong> Planaltina,<br />
hoje cida<strong>de</strong>-satélite do Distrito Fe<strong>de</strong>ral, mostrava<br />
os primeiros traços simples e <strong>de</strong>spojados pelos<br />
quais a nova capital seria conhecida.<br />
Seria ingênuo imaginar que Brasília surgiu por meio<br />
<strong>de</strong> uma vocação natural, muitas vezes respaldada<br />
em argumentos que sugerem o sobrenatural, como<br />
o sonho <strong>de</strong> Dom Bosco. Entretanto, não há brasiliense<br />
que <strong>de</strong>sconheça a passagem referente ao<br />
padre italiano Giovani Bosco, que falava sobre um<br />
“leito muito largo, que partia <strong>de</strong> um ponto on<strong>de</strong> se<br />
formava um lago, situado entre os paralelos 15 e 20<br />
graus <strong>de</strong> latitu<strong>de</strong> sul”, uma “terra prometida, don<strong>de</strong><br />
correrá leite e mel”. O <strong>de</strong>vaneio onírico é datado <strong>de</strong><br />
meados do século XIX e Bosco jamais havia visitado<br />
a região.<br />
Apesar da importância histórica, Bosco e Cruls<br />
chegam a ser coadjuvantes se comparados a um<br />
nome <strong>de</strong>finitivo para o surgimento da nova capital:<br />
Juscelino Kubitschek. JK e Brasília são quase sinônimos,<br />
em uma anomalia sintática que aproxima<br />
criador e criatura. Antes <strong>de</strong> chegar à presidência, o<br />
político mineiro já havia se <strong>de</strong>stacado no Executivo<br />
como prefeito <strong>de</strong> Belo Horizonte e governador <strong>de</strong><br />
Minas Gerais. Como presi<strong>de</strong>nte, fez <strong>de</strong> Brasília a<br />
meta-síntese <strong>de</strong> seu governo. A cida<strong>de</strong> no coração<br />
do Brasil aten<strong>de</strong>ria vários propósitos e marcaria<br />
tanto a trajetória <strong>de</strong> JK quanto o <strong>de</strong>stino do país.<br />
O momento histórico do surgimento <strong>de</strong> Brasília era<br />
<strong>de</strong> extrema falta <strong>de</strong> governabilida<strong>de</strong> no Rio <strong>de</strong> Janeiro<br />
<strong>de</strong>vido a pressões político-militares. A gravida<strong>de</strong><br />
assustava a ponto <strong>de</strong> JK se imaginar <strong>de</strong>posto<br />
antes <strong>de</strong> seu mandato terminar. Era preciso pensar<br />
em uma saída estratégica. A solução vinha <strong>de</strong> uma<br />
tese que surgiu um século antes, <strong>de</strong>fendida sucessivamente<br />
por várias gerações: o <strong>de</strong>sbravamento<br />
do “sertão” brasileiro para levar <strong>de</strong>senvolvimento<br />
e integração ao Brasil. A i<strong>de</strong>ia era substituir o ban<strong>de</strong>irante<br />
passageiro pelo pioneiro perene, conforme<br />
<strong>de</strong>fendido pelo próprio JK em seu livro <strong>de</strong> memórias<br />
Por que construí Brasília.<br />
Foi assim que JK e seus aliados lutaram pela transferência<br />
da capital na Câmara dos Deputados ainda<br />
na década <strong>de</strong> 40, conquistando a aprovação do projeto<br />
<strong>de</strong> lei para a construção <strong>de</strong> cida<strong>de</strong> em meados<br />
<strong>de</strong> 1956. Segundo historiadores, a casa só aprovou<br />
a matéria por acreditar que Juscelino não conseguiria<br />
cumprir o prazo, o que resultaria na cova política<br />
do presi<strong>de</strong>nte visionário. Para surpresa geral, até<br />
0 Revista <strong>Beija</strong>-<strong>Flor</strong> <strong>de</strong> <strong>Nilópolis</strong> www.beija-flor.com.br
Foto: Acervo BrasíliaTur / Luiz Trazzi Martins<br />
mesmo dos oposicionistas mais ferrenhos, Brasília<br />
foi erguida em quatro anos, um verda<strong>de</strong>iro oásis em<br />
meio ao cerrado praticamente intocado.<br />
Mais uma vez criador e criatura se aproximam.<br />
Desta vez, a referência está nos prédios e na arquitetura<br />
da cida<strong>de</strong> que reluz <strong>de</strong> tão nova. Impossível<br />
falar <strong>de</strong> Brasília e não lembrar do arquiteto Oscar<br />
Niemeyer, responsável por obras <strong>de</strong> fama e reconhecimento<br />
mundial, como o Congresso Nacional<br />
e o Palácio da Alvorada. A i<strong>de</strong>ia era que a cida<strong>de</strong><br />
parecesse mo<strong>de</strong>rna mesmo sem estar completa ou<br />
<strong>de</strong>nsamente povoada.<br />
O objetivo foi atingido com o uso <strong>de</strong> traços que <strong>de</strong>safiavam<br />
os padrões vigentes, resultando em inovações<br />
na concepção das estruturas e na proporção<br />
no uso dos materiais. O aço ganhou <strong>de</strong>staque pela<br />
facilida<strong>de</strong> com que dava forma aos prédios imaginados<br />
por Niemeyer, além <strong>de</strong> possibilitar ousadias,<br />
a exemplo das colunas da entrada do Alvorada, “leves<br />
como penas pousando no chão”, segundo as<br />
palavras do próprio arquiteto.<br />
Nome injustamente esquecido pelos menos avisados,<br />
o urbanista Lúcio Costa <strong>de</strong>u a forma <strong>de</strong><br />
“avião” a Brasília. É <strong>de</strong>le o projeto que acumula po<strong>de</strong>r<br />
na área central, espalha residências entre asas,<br />
amplia o horizonte com a abolição <strong>de</strong> arranha-céus,<br />
divi<strong>de</strong> a cida<strong>de</strong> por setores temáticos e a <strong>de</strong>spe <strong>de</strong><br />
calçadas e esquinas, causando tanto estranhamento<br />
aos visitantes. Se ainda hoje Brasília surpreen<strong>de</strong><br />
por ser “diferente”, imagine o impacto que causou<br />
há 50 anos. O impacto também foi financeiro: a<br />
construção da cida<strong>de</strong> consumiu nada menos que<br />
1,5 bilhões <strong>de</strong> dólares – cerca <strong>de</strong> 19,5 bilhões com<br />
correção monetária atual - coincidindo com a explosão<br />
da inflação e da dívida externa do país.<br />
Relatos veiculados nos principais jornais da época<br />
- um <strong>de</strong>les do ilustre dramaturgo Nelson Rodrigues<br />
para o Última Hora - mostravam ao Brasil que a<br />
nova capital era ao mesmo tempo possível, mas<br />
irreal. Em quatro anos, foram erguidos Congresso<br />
Nacional, Palácio do Planalto, Supremo Tribunal<br />
Fe<strong>de</strong>ral, onze edifícios ministeriais e Palácio da<br />
Alvorada. Seus habitantes já disporiam <strong>de</strong> serviço<br />
<strong>de</strong> eletricida<strong>de</strong>, <strong>de</strong> água e <strong>de</strong> esgoto; mais <strong>de</strong> 3000<br />
moradias; hospital público com 500 leitos; escolas<br />
e estação rodoviária. Sua estreia atraiu entre 150<br />
mil e 250 mil visitantes, inclusive aqueles que torciam<br />
o nariz para o sucesso do empreendimento <strong>de</strong><br />
JK.<br />
Um ditado diz que os pioneiros que ergueram a cida<strong>de</strong><br />
trabalhavam 36 horas por dia: 12 horas durante<br />
o dia, 12 a noite e 12 pelo entusiasmo. Entretanto,<br />
esses mesmos pioneiros, que chegaram a dar a<br />
vida pela conclusão da urbe, foram excluídos <strong>de</strong> seu<br />
Fevereiro 2010
convívio. Acabaram levados para as cida<strong>de</strong>s-satélites,<br />
uma vez que não se encaixavam no modo <strong>de</strong><br />
vida mo<strong>de</strong>rno e requintado exigido pela Brasília que<br />
acabaram <strong>de</strong> conceber com as próprias mãos. Hoje<br />
há um bolsão <strong>de</strong> pobreza que cerca o Plano Piloto e<br />
lagos Sul e Norte. Seus habitantes vivem das sobras<br />
da pujança financeira das áreas mais ricas.<br />
No início, a nova capital causou ciumeira generalizada<br />
na cida<strong>de</strong> que a abrigou por tantos anos: o Rio<br />
<strong>de</strong> Janeiro. Os cariocas sabiam que uma perda irreversível<br />
se abatia sob a Cida<strong>de</strong> Maravilhosa, embora<br />
muitos tenham comprado o discurso <strong>de</strong>senvolvimentista<br />
<strong>de</strong> JK, acreditando que a transferência da<br />
capital seria benéfica para o Brasil. Ainda assim,<br />
a doce vida à beira mar dos funcionários públicos<br />
fe<strong>de</strong>rais seria trocada pelo calor seco revestido <strong>de</strong><br />
poeira do cerrado, que cobria <strong>de</strong> tons amarronzados<br />
a fina vestimenta <strong>de</strong> seus novos e ilustres habitantes.<br />
Apesar do esforço hercúleo para disponibilizar <strong>de</strong><br />
recursos <strong>de</strong> infraestrutura e lazer, a cida<strong>de</strong> ainda<br />
estava a milhas do <strong>de</strong>senvolvimento urbano <strong>de</strong> sua<br />
antecessora fluminense. Os poucos hotéis e restaurantes<br />
ficavam lotados, faltavam artigos básicos,<br />
como cabi<strong>de</strong>s e travesseiros, que chegavam<br />
às pressas <strong>de</strong> avião. As pessoas reclamavam da<br />
falta do que fazer e do enorme silêncio e solidão<br />
que pairavam sob o Planalto Central após o frenesi<br />
da inauguração. Essa sensação atingiu até mesmo<br />
Foto: Acervo BrasíliaTur / Luiz Trazzi Martins<br />
a escritora Clarice Lispector, que, em uma crônica<br />
publicada em 1962, clamou: “Cadê as girafas <strong>de</strong><br />
Brasília? É urgente. Se não for povoada, ou melhor,<br />
superpovoada, uma outra coisa vai habitá-la. E<br />
se acontecer, será tar<strong>de</strong> <strong>de</strong>mais: não haverá lugar<br />
para pessoas”.<br />
Para alívio dos solitários, as pessoas começaram<br />
a chegar. A cida<strong>de</strong> foi sendo ocupada por burocratas<br />
que chegavam para assumir seus postos no<br />
funcionalismo público, trazendo família e o estilo<br />
<strong>de</strong> vida da classe média e média alta. Moravam<br />
nos prédios <strong>de</strong> seis andares, todos iguais ao mol<strong>de</strong><br />
<strong>de</strong> gran<strong>de</strong>s pombais; mas as ruas, essas continuavam<br />
vazias. As enormes distâncias impediam<br />
a locomoção a pé (como ainda fazem hoje), e os<br />
pontos <strong>de</strong> encontro possíveis eram restaurantes,<br />
clubes ou salas <strong>de</strong> cinema. Pessoas vinham <strong>de</strong><br />
todo o país em busca <strong>de</strong> trabalho e <strong>de</strong> enriquecimento,<br />
ninguém estava ali para brinca<strong>de</strong>ira. Daí<br />
a fama <strong>de</strong> “formal” que até hoje caracteriza a<br />
cida<strong>de</strong> e seus ocupantes.<br />
Tanta formalida<strong>de</strong> acabou criando um movimento<br />
diametralmente oposto na década <strong>de</strong> 80: o rock<br />
brasiliense. Filhos <strong>de</strong> pais abastados começaram<br />
a se revoltar contra uma vida boa <strong>de</strong>mais, que não<br />
dava brechas para contestação. Surgiram bandas<br />
como Capital Inicial, Plebe Ru<strong>de</strong>, Detrito Fe<strong>de</strong>ral,<br />
e a mais famosa expoente do movimento, Legião<br />
Urbana. O poeta Renato Russo conseguiu sintetizar<br />
em suas músicas o pensamento dos jovens<br />
que já estavam “cheios <strong>de</strong> se sentirem vazios”,<br />
como diz a letra <strong>de</strong> Baa<strong>de</strong>r-Meinhof Blues. Acabou<br />
extrapolando os limites do Plano Piloto e arrebatando<br />
toda uma geração, que passou a olhar<br />
a pulsante capital fe<strong>de</strong>ral com curiosida<strong>de</strong> e inquietação.<br />
Os escândalos políticos, a farra com o dinheiro<br />
público, os altos salários e uma geração criada sem<br />
muitos limites financeiros e éticos acabaram mostrando<br />
um lado repulsivo da cida<strong>de</strong>, dando a falsa<br />
impressão que na ilha da fantasia tudo po<strong>de</strong>. Mas<br />
Brasília é muito mais que um estereótipo, habitada<br />
e impulsionada por milhares <strong>de</strong> pessoas <strong>de</strong> bem.<br />
De fato, está mais para um Brasil em miniatura,<br />
com suas maravilhas e seus problemas. Também<br />
está longe <strong>de</strong> não ter uma i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>, embora essa<br />
seja a avaliação <strong>de</strong> nove entre <strong>de</strong>z observadores.<br />
Assim como nosso país, que se caracteriza pela<br />
união e mescla <strong>de</strong> vários povos e culturas nos últimos<br />
cinco séculos, a i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Brasília está no<br />
mosaico <strong>de</strong> cada pedacinho do Brasil reunido aqui<br />
nas últimas cinco décadas. E como ele, avança para<br />
um futuro promissor.<br />
Revista <strong>Beija</strong>-<strong>Flor</strong> <strong>de</strong> <strong>Nilópolis</strong> www.beija-flor.com.br
Brasília está comemorando 50 anos. E nada melhor que uma cida<strong>de</strong> em festa para receber o<br />
seu evento. O Centro <strong>de</strong> Convenções Ulysses Guimarães, localizado no centro da capital, conta<br />
com infraestrutura completa e capacida<strong>de</strong> para mais <strong>de</strong> nove mil pessoas. Além disso, você<br />
também vai se surpreen<strong>de</strong>r com os monumentos do arquiteto Oscar Niemeyer e com as obras<br />
<strong>de</strong> renomados artistas brasileiros que fizeram da capital Patrimônio Cultural da Humanida<strong>de</strong>.<br />
Brasília é muito mais do que você imagina.<br />
CENTRO DE CONVENÇÕES<br />
ULYS<strong>SE</strong>S GUIMARÃES – BRASÍLIA<br />
NO CENTRO DAS ATENÇÕES,<br />
ASSIM COMO O <strong>SE</strong>U EVENTO.<br />
Foto: Aparecido Pinto Foto: Luiz Trazzi<br />
Foto: Luiz Trazzi<br />
Para mais informações, ligue 61 3214-2756.<br />
Centro <strong>de</strong> Convenções Ulysses Guimarães.<br />
Monumental como Brasília.<br />
ccug@brasiliatur.df.gov.br<br />
Fevereiro 2010<br />
Foto: Luiz Trazzi
THAÍS MEDEIROS<br />
CARNAVAL 2010<br />
Recriando<br />
a capital fe<strong>de</strong>ral<br />
Empenhada em conquistar mais um título <strong>de</strong> campeã do carnaval carioca – o sexto nesse<br />
novo século –, a <strong>Beija</strong>-<strong>Flor</strong> <strong>de</strong> <strong>Nilópolis</strong> apresentará ao público o enredo “Brilhante ao sol do<br />
novo mundo, Brasília: do sonho a realida<strong>de</strong>, a capital da esperança”.<br />
Esse sonho teve início quando a Comissão multidisciplinar do governo do Distrito Fe<strong>de</strong>ral,<br />
responsável pelo planejamento dos diversos eventos que serão realizados em 2010 em comemoração<br />
aos 50 anos da Capital Fe<strong>de</strong>ral, <strong>de</strong>cidiu incluir nos festejos a participação <strong>de</strong><br />
uma escola <strong>de</strong> samba do Rio <strong>de</strong> Janeiro homenageando a data.<br />
Depois <strong>de</strong> muita negociação, a Comissão do GDF (Governo do Distrito Fe<strong>de</strong>ral), em parceria<br />
com a Liesa (Liga In<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte das Escolas <strong>de</strong> Samba), <strong>de</strong>finiu que estariam habilitadas<br />
para essa iniciativa as cinco primeiras colocadas no ranking da Liesa.<br />
O resultado foi o melhor para Brasília: a escola nº 1 do ranking ficou com a responsabilida<strong>de</strong><br />
<strong>de</strong> levar para a avenida um <strong>de</strong>sfile à altura <strong>de</strong>ssa que é a maior obra arquitetônica e administrativa<br />
planejada do século 20.<br />
Iluminando o carnaval carioca com gran<strong>de</strong>s shows<br />
<strong>de</strong> criativida<strong>de</strong> e elegância, a <strong>Beija</strong>-<strong>Flor</strong> <strong>de</strong> <strong>Nilópolis</strong><br />
prepara para 2010 um <strong>de</strong>sfile cheio <strong>de</strong> surpresas<br />
e emoções que promete <strong>de</strong>spertar em seu público<br />
sonhos e paixões. Com esse enredo, a azul e branco<br />
<strong>de</strong> <strong>Nilópolis</strong> tem como principal objetivo apresentar<br />
uma Brasília diferente do que conhecemos,<br />
<strong>de</strong>smistificando a associação da cida<strong>de</strong> à política<br />
do país.<br />
O enredo é uma comemoração à Capital Fe<strong>de</strong>ral<br />
que fora sonhada já por Tira<strong>de</strong>ntes na época da Inconfidência<br />
e tornada realida<strong>de</strong> por Juscelino Kubitschek<br />
anos mais tar<strong>de</strong>, através do trabalho árduo<br />
dos candangos, aqueles que partiram <strong>de</strong> diferentes<br />
partes do país rumo a Brasília para a construção<br />
da terra i<strong>de</strong>alizada, criando a gran<strong>de</strong> miscigenação<br />
que há hoje na cida<strong>de</strong> e que fez <strong>de</strong>la uma região <strong>de</strong><br />
gran<strong>de</strong> mistura racial e cultural.<br />
De olho no título, a <strong>Beija</strong>-<strong>Flor</strong> <strong>de</strong> <strong>Nilópolis</strong> prepara<br />
para a avenida um <strong>de</strong>sfile diferente <strong>de</strong> tudo que<br />
já foi feito pela escola. Para isso, ela conta com o<br />
talento <strong>de</strong> sua competente comissão <strong>de</strong> carnavalescos,<br />
formada por Alexandre Louzada, Ubiratan<br />
Silva, Fran Sérgio e pelo diretor geral <strong>de</strong> carnaval<br />
da agremiação, Laíla, que juntos <strong>de</strong>safiaram a lógica<br />
popular, pensando numa nova forma <strong>de</strong> se apresentar<br />
Brasília. “Eu procurei traçar uma história<br />
que iria além das expectativas <strong>de</strong> todos, ou seja,<br />
falar um pouco da pré-história <strong>de</strong> Brasília, falar <strong>de</strong><br />
todas as coincidências, as inspirações que levaram<br />
as cabeças que pensaram no projeto da cida<strong>de</strong> e<br />
na sua realização, e que ela é um resultado <strong>de</strong>ssas<br />
suposições ou <strong>de</strong>ssas inspirações, que remontam<br />
até 3.000 anos antes <strong>de</strong> cristo”, conta Louzada.<br />
ESTUDANDO O CAMINHO PERCORRIDO<br />
É inegável que a <strong>Beija</strong>-<strong>Flor</strong> <strong>de</strong> <strong>Nilópolis</strong> tem se tornado<br />
cada vez mais exuberante na avenida; daí o<br />
apelido <strong>de</strong> “princesinha da passarela”. Mas para<br />
manter esta fama é necessário muito trabalho duro<br />
e muita <strong>de</strong>dicação também, já que não é qualquer<br />
uma que consegue se manter como a escola número<br />
um no ranking da Liesa, posição mais do que<br />
Revista <strong>Beija</strong>-<strong>Flor</strong> <strong>de</strong> <strong>Nilópolis</strong> www.beija-flor.com.br
merecida, já que nos últimos sete carnavais ela foi<br />
campeã por cinco vezes.<br />
Neste sentido, o primeiro gran<strong>de</strong> <strong>de</strong>safio da agremiação<br />
<strong>de</strong> <strong>Nilópolis</strong> para o carnaval <strong>de</strong> 2010 será<br />
superar a si mesma. Para alcançar esse objetivo<br />
a escola está empenhada em corrigir seus erros,<br />
a fim <strong>de</strong> atingir algo o mais próximo da perfeição.<br />
“Estamos investindo em vários pontos que a escola<br />
falhou no carnaval 2009. Nós verificamos a justificativa<br />
dos jurados, e vimos o que era coerente e o<br />
que não era, o que a gente achava que eles estavam<br />
certos, e o que não concordávamos. Achamos<br />
realmente que havíamos errado em alguns pontos,<br />
os quais nesse ano buscamos aprimorar e corrigir,<br />
para que não cometêssemos os mesmos erros que<br />
cometemos no carnaval <strong>de</strong> 2009.”, relata Ubiratan<br />
Silva, o Bira.<br />
Por essa razão, a participação do Laíla na direção<br />
<strong>de</strong> carnaval da escola para esse <strong>de</strong>sfile foi e é muito<br />
mais efetiva, e tem que ser <strong>de</strong>stacada. Esse é um<br />
carnaval que o Laíla está dirigindo minuciosamente,<br />
verificando cada <strong>de</strong>talhe, discutindo cada ponto,<br />
sendo muito exigente com ele mesmo e com todos<br />
os integrantes da comissão <strong>de</strong> carnavalescos e do<br />
Barracão, para que cada um realize o melhor.<br />
Segundo Fran Sérgio, a direção e os componentes<br />
da agremiação <strong>de</strong> <strong>Nilópolis</strong> são muito exigentes uns<br />
com os outros, no bom sentido. “Temos um respeitável<br />
histórico como campeões do carnaval carioca.<br />
Respeitando nossas coirmãs, sabemos que po<strong>de</strong>mos<br />
vencer sempre, se nos preparamos bem para<br />
isso. Temos uma gran<strong>de</strong> experiência, boas i<strong>de</strong>ias,<br />
bons sambas, ótimos profissionais e muito, muito<br />
coração. Todos nós temos uma autocrítica muito<br />
gran<strong>de</strong>, e é isso que torna a nossa escola cada vez<br />
melhor, cada ano mais bonita. E o envolvimento e<br />
as orientações do Laíla são essenciais nesse processo,<br />
porque <strong>de</strong>spertam em cada componente o<br />
<strong>de</strong>sejo <strong>de</strong> realizar seu trabalho da melhor maneira,<br />
buscando o melhor <strong>de</strong> si”, revela.<br />
O resultado disso nos bastidores da azul e branco<br />
é um clima bastante harmônico, e <strong>de</strong> muito ensaio<br />
também. Além da correção dos erros i<strong>de</strong>ntificados,<br />
a escola está investindo em gran<strong>de</strong>s surpresas.<br />
Segundo Alexandre Louzada, “a <strong>Beija</strong>-<strong>Flor</strong> <strong>de</strong> <strong>Nilópolis</strong><br />
sempre prepara surpresas para a avenida.<br />
Nada assim <strong>de</strong> muito tecnológico não. Queremos<br />
surpreen<strong>de</strong>r pela própria riqueza <strong>de</strong>sse enredo, que<br />
a primeira vista po<strong>de</strong> parecer banal, uma simples<br />
homenagem, um enredo puramente patrocinado,<br />
mais é uma história muito bonita para ser contada.<br />
Uma das surpresas po<strong>de</strong> acontecer nos teatros<br />
que o Hilton Castro fará no chão. Mas a gran<strong>de</strong><br />
surpresa, do meu ponto <strong>de</strong> vista, será a realização<br />
<strong>de</strong> um carnaval totalmente diferente do que foi preparado<br />
até hoje. Bastante diferente, porque o Laíla<br />
não quer nada parecido com algo que já tenha sido<br />
feito. Acho que a gran<strong>de</strong> surpresa é essa mudança:<br />
as fantasias mais leves, os carros mais trabalhados,<br />
porque nós estamos falando <strong>de</strong> algumas obras <strong>de</strong><br />
arquitetura mundialmente conhecidas, e temos que<br />
respeitar esse traço, o traço <strong>de</strong> Oscar Niemeyer;<br />
Alexandre Louzada, Laíla, Bira e Fran-Sérgio, integrantes da<br />
Comissão <strong>de</strong> Carnavalescos da agremiação.<br />
Fevereiro 2010
isso tem que ser colocado<br />
<strong>de</strong> uma forma bastante<br />
correta, porque ele é um<br />
dos ícones da arquitetura<br />
mundial”, conclui.<br />
E não dá para contar a<br />
história da capital da esperança<br />
sem lembrar <strong>de</strong>sses<br />
gran<strong>de</strong>s nomes que<br />
estão envolvidos, <strong>de</strong> forma<br />
direta ou indireta, em<br />
sua construção, nomes <strong>de</strong><br />
gran<strong>de</strong> importância não só<br />
para a construção <strong>de</strong> Brasília<br />
como também para a<br />
construção do Brasil: Oscar<br />
Niemeyer e Lúcio Costa,<br />
autores do projeto do<br />
Plano Piloto.<br />
Mas para fugir dos padrões esperados, foram feitas<br />
muitas pesquisas para se achar o caminho <strong>de</strong><br />
como se fazer um <strong>de</strong>sfile à altura da tradição da<br />
<strong>Beija</strong>-<strong>Flor</strong> <strong>de</strong> <strong>Nilópolis</strong> e da importância <strong>de</strong> Brasília.<br />
Assim, colocando para fora toda a sua experiência<br />
e competência, a agremiação conseguiu <strong>de</strong>senvolver<br />
o enredo <strong>de</strong> uma maneira que foge totalmente<br />
do que as pessoas costumam pensar a respeito da<br />
Capital Fe<strong>de</strong>ral. A azul e branco levará para a avenida<br />
uma cida<strong>de</strong> planejada, uma verda<strong>de</strong>ira obra <strong>de</strong><br />
arte arquitetada pelo homem, localizada no centro<br />
<strong>de</strong> nosso país, e que é hoje um Patrimônio da Humanida<strong>de</strong><br />
e também nossa Capital Fe<strong>de</strong>ral. O in-<br />
tuito é <strong>de</strong>spertar no povo o<br />
carinho e respeito por esta<br />
metrópole.<br />
Por fim, a escola conta ainda<br />
com o apoio da comunida<strong>de</strong>,<br />
sua marca registrada,<br />
para dar um toque<br />
a mais no seu <strong>de</strong>sfile, abrilhantando<br />
sua apresentação,<br />
fazendo com que seu<br />
enredo ecoe como uma<br />
melodia suave aos ouvidos<br />
do público. Segundo Laíla,<br />
esse é na verda<strong>de</strong> o gran<strong>de</strong><br />
trunfo da <strong>Beija</strong>-<strong>Flor</strong> <strong>de</strong> <strong>Nilópolis</strong>:<br />
“temos uma comunida<strong>de</strong><br />
muito forte, e isso<br />
está servindo <strong>de</strong> exemplo<br />
para muitas escolas. O futuro<br />
das escolas <strong>de</strong> samba será com comunida<strong>de</strong>s,<br />
porque se não acaba.”<br />
Com todos esses ingredientes, po<strong>de</strong>mos esperar<br />
para 2010 um <strong>de</strong>sfile com muita garra, emoção,<br />
alegria e confiança na busca <strong>de</strong> mais um título <strong>de</strong><br />
campeã, mostrando mais uma vez ao seu público<br />
que a <strong>Beija</strong>-<strong>Flor</strong> <strong>de</strong> <strong>Nilópolis</strong> é uma escola que vai<br />
à luta e que não <strong>de</strong>siste <strong>de</strong> seus objetivos. “As expectativas<br />
são as melhores. Acho que a escola vem<br />
mais forte do que nunca, o espírito <strong>de</strong>la é <strong>de</strong> união,<br />
um espírito que tem tudo para dar certo. Nós vamos<br />
fazer um belo carnaval... <strong>Beija</strong>-<strong>Flor</strong> 2010 campeã”,<br />
encerra Anizio Abrão David.<br />
Revista <strong>Beija</strong>-<strong>Flor</strong> <strong>de</strong> <strong>Nilópolis</strong> www.beija-flor.com.br
CARNIVAL 2010<br />
BRASÍLIA<br />
Recreating the Capital<br />
Committed to winning another Carioca carnival title – the sixth of this new century – <strong>Beija</strong>-<strong>Flor</strong> of <strong>Nilópolis</strong> will<br />
present the theme “Shining in the New World Sun, Brasília: From dream to reality, the capital of hope”.<br />
This dream started when the multidisciplinary committee of the Fe<strong>de</strong>ral District government, responsible<br />
for planning the various events that will be part of the commemorations of the 50th anniversary of Brazil’s<br />
capital city, <strong>de</strong>ci<strong>de</strong>d to inclu<strong>de</strong> the participation of a carnival association, or samba school, from Rio <strong>de</strong><br />
Janeiro to mark the date.<br />
After extensive negotiations, the government committee, in partnership with the In<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nt League of<br />
Samba Schools (LEISA), <strong>de</strong>ci<strong>de</strong>d that one of the top five samba schools in the LEISA ranking would be<br />
eligible to make the construction of Brasília its carnival theme in 2010.<br />
The result couldn’t have been better for Brasília: none other than Beja-<strong>Flor</strong>, the top-ranked school, accepted<br />
the challenge and will take to the avenue the theme of the greatest architectural and administrative<br />
un<strong>de</strong>rtaking of the twentieth century.<br />
THAÍS MEDEIROS<br />
To light up Carioca carnival with a truly creative and elegant<br />
show, <strong>Beija</strong>-<strong>Flor</strong>’s para<strong>de</strong> in 2010 will be full of surprises<br />
and emotions that promise to whip spectators into a frenzy<br />
of dreams and passions. With this theme, the blue and<br />
white crew from <strong>Nilópolis</strong> will present a Brasília different<br />
than we know, <strong>de</strong>mystifying the city’s association with the<br />
country’s politics.<br />
The theme is a commemoration of the fe<strong>de</strong>ral capital that<br />
was a dream even of Brazil’s in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nce movement hero<br />
Tira<strong>de</strong>ntes at the time of the Inconfidência uprising in the<br />
eighteenth century, and that finally became reality un<strong>de</strong>r<br />
Presi<strong>de</strong>nt Juscelino Kubitscheck so many years later, through<br />
the arduous work of the candangos, the laborers who came<br />
from all over the country to build the i<strong>de</strong>alized city, creating<br />
as well the miscegenation that still marks the city today,<br />
making it a great racial and cultural melting pot.<br />
With its eye on another title, <strong>Beija</strong>-<strong>Flor</strong> has prepared a different<br />
para<strong>de</strong> from anything it has ever done. To do this, it<br />
called on the multiple talents of its carnival committee, formed<br />
of Alexandre Louzada, Ubiratan Silva, Fran Sérgio and the<br />
group’s general director, Laila. Together their challenge was<br />
to find a new way to present Brasília. “We tried to trace out<br />
Fevereiro 2010<br />
Foto: Acervo BrasíliaTur / Luiz Trazzi Martins
a history that goes beyond everyone’s expectations, that is,<br />
to present something of the region’s prehistory, and then to<br />
<strong>de</strong>pict all the coinci<strong>de</strong>nces and inspirations that entered the<br />
heads of those who i<strong>de</strong>alized and built the city, and show that<br />
today it is a result of these inspirations, in a history that goes<br />
back 3,000 years before Christ,” says Louzada.<br />
STUDYING THE PATH FOLLOWED<br />
<strong>Beija</strong>-<strong>Flor</strong> has unquestionably been growing ever more<br />
exuberant on the avenue, earning it the en<strong>de</strong>aring nickname<br />
of the “princess of the para<strong>de</strong>”, but to live up to this fame<br />
takes plenty of hard work and <strong>de</strong>dication. After all, it’s no<br />
mean feat to stay atop the LEISA ranking, an honor gained<br />
for being champion in five of the past seven carnivals.<br />
The first big challenge for the group from <strong>Nilópolis</strong> for the<br />
2010 carnival will be to surpass its own past performances.<br />
To achieve this, the school is focusing on its own errors, to<br />
be as perfect as possible. “We’re investing to correct various<br />
points where we fell short in last year’s carnival. We examined<br />
the reasoning of the jury members and saw what was coherent<br />
and what wasn’t, where they were right and where we<br />
disagreed. And we realized that we really had erred in some<br />
aspects, and this year we intend to correct and improve these,<br />
so we won’t make the same mistakes this year as we did in<br />
2009,” states Ubiratan Silva, or Bira as he’s better known.<br />
For this reason, this year Laila has been even more engaged<br />
as carnival director and he <strong>de</strong>serves to be highlighted for this.<br />
Laila has overseen the preparations for this year’s carnival<br />
meticulously, checking every <strong>de</strong>tail, discussing every point,<br />
being more <strong>de</strong>manding of himself and all the other members<br />
of the carnival committee and the work crew, so that each<br />
can achieve his or her best.<br />
According to Fran Sérgio, the lea<strong>de</strong>rs and the rest of the<br />
group from <strong>Nilópolis</strong> are very <strong>de</strong>manding of each other, in<br />
the positive sense of the word. “We have a notable history of<br />
winning Carioca carnival championships. While respecting<br />
our peers, we know we always have a chance of winning<br />
if we prepare properly. We’ve got unmatched experience,<br />
good i<strong>de</strong>as, good sambas, excellent staff and lots and lots<br />
of heart. All of us are severe self-critics, and this is what<br />
makes our school get better and more beautiful every year.<br />
And Laíla’s involvement and guidance are essential in this<br />
process, because they instill in each of us the <strong>de</strong>sire to work<br />
better, to do our best,” he reveals.<br />
The result of this is a backstage climate of harmonious effort<br />
and <strong>de</strong>dicated rehearsal among the blue and white crew.<br />
Besi<strong>de</strong>s correcting the errors i<strong>de</strong>ntified, the group is investing<br />
in big surprises. According to Alexandre Louzada, “<strong>Beija</strong>-<strong>Flor</strong><br />
always prepares surprises for the avenue. This doesn’t necessarily<br />
mean something high-tech. We want to surprise people<br />
with the richness of this theme, which at first glance might<br />
appear banal, a simple homage, a purely sponsored theme.<br />
But there’s a beautiful story to be told. One of the surprises can<br />
occur with the theaters that Hilton Castro will create on the<br />
ground. But the big surprise, in my point of view, will be the<br />
realization of a totally different carnival para<strong>de</strong> from anything<br />
seen so far. Very different because Laila doesn’t want anything<br />
like what’s been done before. I think the big surprise will be this<br />
change: lighter costumes, more elaborate floats, because we’re<br />
talking about architectural works that are world renowned,<br />
and we have to respect what Oscar Niemeyer sketched out.<br />
This has to be in the forefront and with no mistakes because<br />
Brasília is one of the world’s architectural icons.”<br />
And no story of this capital of hope would be complete<br />
without remembering the great visionaries who were involved,<br />
directly or indirectly, in its construction, names of<br />
great importance not only for Brasília’s construction, but<br />
for Brazil’s as well, particularly Oscar Niemeyer and Lúcio<br />
Costa, the creators of the Pilot Project.<br />
But to surpass expectations, extensive research was done to<br />
create a para<strong>de</strong> worthy of <strong>Beija</strong>-<strong>Flor</strong>’s great tradition and<br />
Brasília’s huge importance. With all their experience and<br />
skill, the staff members managed to <strong>de</strong>velop para<strong>de</strong> motifs<br />
and theme music that go beyond what people usually think<br />
about the country’s capital. The blue and white will take to<br />
the avenue a planned city, a veritable work of art, located<br />
in our country’s heartland, recognized today as a World<br />
Heritage Site, but also our working capital. The aim is to<br />
impart love and respect for this metropolis.<br />
And in this effort, the school as always counts on the support<br />
of the <strong>Nilópolis</strong> community, its tra<strong>de</strong>mark, to give that<br />
extra boost to its para<strong>de</strong>. The public will see this difference<br />
in a shining para<strong>de</strong> and hear it in a smooth and melodious<br />
theme samba. According to Laila, this is <strong>Beija</strong>-<strong>Flor</strong>’s real<br />
trump card: “We’ve got a really strong community, and this<br />
is serving as an example to many other schools. The future<br />
of samba schools rests with the communities, because they’ll<br />
never cease being a wellspring of inspiration.”<br />
With all these ingredients, <strong>Beija</strong>-<strong>Flor</strong>’s 2010 carnival para<strong>de</strong><br />
will be a truly joyous and emotional experience, based on the<br />
hard work and confi<strong>de</strong>nce of everyone involved in seeking<br />
one more in a long line of championships, showing once<br />
again that <strong>Beija</strong>-<strong>Flor</strong> is a carnival group that faces its challenges<br />
and never <strong>de</strong>viates from its goals. “The expectations<br />
are for the best. I think we’re stronger than we’ve ever been,<br />
our spirit of working in harmony will assure that everything<br />
goes right. We’re going to put on a beautiful carnival... <strong>Beija</strong>-<br />
<strong>Flor</strong>, 2010 champion,” predicts Anizio Abrão David.<br />
Revista <strong>Beija</strong>-<strong>Flor</strong> <strong>de</strong> <strong>Nilópolis</strong> www.beija-flor.com.br
Brilhante ao Sol do<br />
Novo Mundo<br />
BRASÍLIA<br />
Do Sonho à Realida<strong>de</strong>, a<br />
Capital da Esperança<br />
Fevereiro 2010
ABERTURA<br />
DáDivas<br />
ConCeDiDas<br />
pelo CriaDor<br />
num sonho<br />
Divinal<br />
Ala: Comissão <strong>de</strong><br />
Frente<br />
Presi<strong>de</strong>nte: Ghislaine<br />
Cavalcante<br />
Número <strong>de</strong> Componentes:<br />
15<br />
O beija-flor, símbolo vivo<br />
do G.R.E.S. <strong>Beija</strong>-<strong>Flor</strong> <strong>de</strong><br />
<strong>Nilópolis</strong> voa velozmente, ultrapassando<br />
as fronteiras do tempo,<br />
materializando o vislumbre que apontava<br />
para o local on<strong>de</strong> <strong>de</strong>veria ser construída a<br />
futura capital do Brasil, então representada<br />
por um <strong>de</strong> seus mais suntuosos monumentos, a<br />
Catedral <strong>de</strong> Brasília.<br />
O pequenino pássaro baila entre a legião <strong>de</strong> arautos<br />
que conduziram o espírito celestial que fez,<br />
através <strong>de</strong> um sonho, a gran<strong>de</strong> anunciação para o<br />
padre Dom Bosco.<br />
“... quando vierem explorar as riquezas prometidas<br />
neste planalto, surgirá aqui a Gran<strong>de</strong> Civilização, a<br />
Terra Prometida, on<strong>de</strong> jorrará leite e mel...”<br />
O Desfile das Escolas <strong>de</strong> Samba do Grupo Especial<br />
vem se tornando, a cada ano, uma arena <strong>de</strong> arte<br />
e competição. As agremiações, comprometidas<br />
com resultados que as levem a brigar pelo título<br />
<strong>de</strong> campeã, investem cada vez mais em inovação<br />
e criativida<strong>de</strong>.<br />
Na <strong>Beija</strong>-<strong>Flor</strong> <strong>de</strong> <strong>Nilópolis</strong> as surpresas já iniciam<br />
no formato da comissão <strong>de</strong> frente, agora integrada<br />
por rapazes mais jovens que nos anos anteriores<br />
– uma média <strong>de</strong> 20 anos <strong>de</strong> ida<strong>de</strong>. Segundo a core-<br />
0 Revista <strong>Beija</strong>-<strong>Flor</strong> <strong>de</strong> <strong>Nilópolis</strong> www.beija-flor.com.br
ógrafa Ghislaine Cavalcanti, “o enredo <strong>de</strong>sse ano<br />
é muito especial. Ele permitiu que concebêssemos<br />
movimentos bem interessantes que, tenho certeza,<br />
agradarão ao público. Esses movimentos, no entanto,<br />
vão exigir mais agilida<strong>de</strong> e dinâmica <strong>de</strong> cada<br />
um <strong>de</strong>les, o que justificou a mudança na formação<br />
da equipe. Para o carnaval <strong>de</strong> 2010, vamos entrar<br />
na avenida com 14 homens – todos eles jovens – e<br />
apenas uma mulher.”<br />
Mas as surpresas não param por aí. Abusando <strong>de</strong><br />
um belo figurino, concebido especialmente pelo <strong>de</strong>signer<br />
Henrique Filho, a comissão <strong>de</strong> frente promete<br />
empolgar o público do primeiro setor com muita<br />
alegria, beleza e criativida<strong>de</strong>.<br />
Criativida<strong>de</strong> que, aliás, é uma marca imposta<br />
pela Coreógrafa Ghislaine Cavalcanti, que comemora<br />
com muita alegria 14 anos na direção da<br />
comissão <strong>de</strong> frente da agremiação <strong>de</strong> <strong>Nilópolis</strong>.<br />
“Quatorze anos é um tempo consi<strong>de</strong>rável <strong>de</strong>ntro<br />
<strong>de</strong> uma escola <strong>de</strong> samba. E o que me <strong>de</strong>ixa muito<br />
feliz e realizada é saber que pu<strong>de</strong> dar a minha<br />
contribuição – pelo meu conhecimento e pela<br />
minha experiência como bailarina – a essa escola<br />
<strong>de</strong> samba que tem como marca a vanguarda.<br />
Acredito que aju<strong>de</strong>i a construir um capítulo <strong>de</strong>ssa<br />
história vitoriosa, que é a história da <strong>Beija</strong>-<strong>Flor</strong><br />
<strong>de</strong> <strong>Nilópolis</strong>. E isso me <strong>de</strong>ixa muito realizada”,<br />
confi<strong>de</strong>ncia a coreógrafa.<br />
o Brilhante olhar De JaCi<br />
Ala: 1o Casal MS e PB<br />
Presi<strong>de</strong>nte: Selmynha SorrisoZ & Claudinho<br />
Número <strong>de</strong> Componentes: 2<br />
Jaci (do Tupi îasy, “lua”), na mitologia Tupi, é a <strong>de</strong>usa<br />
da Lua, protetora dos amantes e da reprodução.<br />
Segundo o Mito Goyás, uma versão indígena para<br />
a formação geográfica da capital Brasília, por contrariar<br />
os <strong>de</strong>sígnios do supremo Deus Tupã, a <strong>de</strong>usa<br />
foi con<strong>de</strong>nada a ficar eternamente no céu, sob a<br />
forma <strong>de</strong> lua. O romântico brilho do luar tornou-se<br />
seu único elo com Paranoá, através <strong>de</strong> seu reflexo<br />
nas águas do lago Paranoá.<br />
a Futura Capital presenCia<br />
a Quimera De sua GeoGraFia<br />
Ala: Força Negra<br />
Presi<strong>de</strong>nte: Alessandra Oliveira<br />
Número <strong>de</strong> Componentes: 15<br />
Gislaine Cavalcanti.<br />
a FasCinante<br />
ira De tupã<br />
Ala: Primavera<br />
Presi<strong>de</strong>nte: Aroldo Carlos<br />
Número <strong>de</strong> Componentes:<br />
100<br />
Consoante o Mito Goyás,<br />
Tupã, o Deus supremo,<br />
fica irado e enciumado da<br />
paixão <strong>de</strong> Jaci, a Deusa<br />
Lua, pelo índio Paranoá e,<br />
em meio à raios e trovões,<br />
retira o encanto <strong>de</strong> Jaci, a<br />
con<strong>de</strong>nando a ser somente<br />
lua, e transformando<br />
Paranoá em um lago..<br />
aleGoria aBre-alas<br />
“o nasCer Do mito Goyás<br />
- o reFlexo Do amor nas<br />
áGuas Do paranoá”<br />
harmonia Do setor:<br />
anízio, laíla & marCos aurélio<br />
Fevereiro 2010
SAGRAÇÃO NEGRA<br />
NA SAPUCAÍ<br />
Selminha e Claudinho celebram 15<br />
anos <strong>de</strong> realeza na Deusa da Passarela<br />
Dunga Tara Singuerê: Salve o gran<strong>de</strong> Senhor! O verso<br />
<strong>de</strong>ste samba-enredo, herança da riqueza do imaginário<br />
africano diversas vezes cantado pela <strong>Beija</strong>-<strong>Flor</strong> <strong>de</strong><br />
<strong>Nilópolis</strong>, certamente formaria um emocionado coro<br />
<strong>de</strong> canto e reza do país do carnaval em agra<strong>de</strong>cimento<br />
e louvor a Selminha Sorriso e Claudinho, primeiro<br />
casal <strong>de</strong> mestre-sala e porta-ban<strong>de</strong>ira da azul e branco,<br />
cujo bailado nobre é signo <strong>de</strong> consagração ritualística<br />
<strong>de</strong> beleza, sedução, magia e religiosida<strong>de</strong>.<br />
O mo<strong>de</strong>rno e luxuoso <strong>de</strong>sfile das escolas <strong>de</strong> samba<br />
do Rio <strong>de</strong> Janeiro, em sua complexa e apaixonante<br />
unida<strong>de</strong> estética e dramática, entrou no terceiro milênio<br />
reafirmando a força das culturas populares brasileiras<br />
em intercorrência com as novas mídias, tecnologias<br />
e sua peculiar capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> atualização <strong>de</strong><br />
seu caráter ritualístico que o consagrou como o maior<br />
espetáculo da terra <strong>de</strong>ntre os diversos<br />
eventos <strong>de</strong>sta natureza no planeta.<br />
É, sem dúvida, esse <strong>de</strong>nso ritual<br />
<strong>de</strong> canto e dança herdado<br />
<strong>de</strong> nossa mãe África, cujos<br />
ancestrais tambores<br />
são matrizes do espetác<br />
u l o do samba carioca<br />
e m forma <strong>de</strong><br />
cortejo d a n ç a d o<br />
que ins- t a u r a<br />
o sentido d e<br />
r e e n c a n -<br />
tamento do<br />
mundo contemporâneo.<br />
Na diversida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />
modalida<strong>de</strong>s coreográficas<br />
revelada na<br />
Sapucaí, encontramos a<br />
singular dança do casal<br />
mestre-sala e porta-ban<strong>de</strong>ira,<br />
que concilia e sintetiza<br />
a um só tempo aspectos<br />
MIGUEL SANTA BRIGIDA<br />
das linguagens dramática, teatral, coreográfica e<br />
performática, <strong>de</strong>ntre outras, além dos códigos e<br />
passos característicos <strong>de</strong>sta dança que <strong>de</strong>finem a<br />
sua tradição. É no rico universo <strong>de</strong>sses casais <strong>de</strong><br />
dançarinos, espécie <strong>de</strong> constelação <strong>de</strong> estrelas negras,<br />
que brilha <strong>de</strong> maneira especial e reluzente, há<br />
quinze anos - o sorriso <strong>de</strong> Selminha e a alegria <strong>de</strong><br />
Claudinho - fazendo o céu nilopolitano iluminar <strong>de</strong><br />
azul e prata o nosso país.<br />
Dançando juntos na escola há quinze anos, o casal se<br />
consagrou com todas as honras e glórias que todos<br />
os casais ambicionam: receberam notas máximas dos<br />
jurados em quase todos os <strong>de</strong>sfiles, diversos estandartes<br />
<strong>de</strong> ouro, além <strong>de</strong> uma infinida<strong>de</strong> <strong>de</strong> prêmios<br />
que, a cada ano, enriquecem suas galerias sublinhando<br />
suas trajetórias <strong>de</strong> excelência coreográfica.<br />
Revista <strong>Beija</strong>-<strong>Flor</strong> <strong>de</strong> <strong>Nilópolis</strong> www.beija-flor.com.br
Para além do domínio técnico e expressivo <strong>de</strong> sua<br />
dança, que contempla <strong>de</strong> forma ilustre todas as responsabilida<strong>de</strong>s,<br />
<strong>de</strong>veres e predicados que um primeiro<br />
casal requer, Selminha e Claudinho brindam<br />
o país com momentos <strong>de</strong> rara beleza e poética ao<br />
atravessarem com enorme arrebatamento e sentido<br />
ritualístico o mar <strong>de</strong> emoção e paixão que se<br />
configura o rio-rito mágico da cena sapucainiana.<br />
Num traço personalizado <strong>de</strong> suas criações, o casal<br />
é responsável por suas próprias coreografias, numa<br />
assinatura autoral <strong>de</strong> suas performances que a<br />
cada enredo apresenta um vocabulário gestual em<br />
consonância com o imaginário e contexto do tema<br />
e do samba escolhido pela escola. Esta dança autoral<br />
é vital para a originalida<strong>de</strong> da cena coreográfica<br />
do casal, que dispensa coreógrafos profissionais,<br />
hábito cada vez mais comum nas gran<strong>de</strong>s escolas e<br />
que tem gerado alguns equívocos na compreensão<br />
e realização <strong>de</strong>sta dança.<br />
Nesses anos <strong>de</strong> parceria no mundo do samba nasceu<br />
uma bonita amiza<strong>de</strong>, construída com afeto e<br />
respeito. Em sua generosida<strong>de</strong> <strong>de</strong> doação e beleza,<br />
Selminha e Claudinho multiplicam-se em cumplicida<strong>de</strong><br />
também em outra profissão, ao integrarem<br />
o Corpo <strong>de</strong> Bombeiros, on<strong>de</strong> o casal faz <strong>de</strong> seus<br />
gestos a <strong>de</strong>licada e corajosa arte <strong>de</strong> contribuir para<br />
salvar vidas.<br />
Mas é na passarela do samba que, ao dançarem<br />
eles rezam, celebram, louvam, agra<strong>de</strong>cem, seduzem<br />
e, sobretudo, enamoram-se. É quando Claudinho,<br />
simbolicamente alado, incorpora sua escola,<br />
tornando-se um beija-flor encantado e seduzido<br />
pelo belo sorriso e beleza <strong>de</strong><br />
sua flor, Selminha. Ele então<br />
a beija e a oferece<br />
ao mundo, brindando<br />
mais uma vez o amor e<br />
a vida.<br />
É nesta contracena <strong>de</strong><br />
poesia que eles elevamnossas<br />
almas<br />
pelo po<strong>de</strong>r<br />
mágico <strong>de</strong><br />
seus corpos<br />
em<br />
estado<br />
<strong>de</strong><br />
amor<br />
ao samba e a escola. Seus corpos apren<strong>de</strong>ram a<br />
dançar nas escolas <strong>de</strong> samba, em suas vivências e<br />
experiências <strong>de</strong> construírem juntos sua dança no<br />
estar - junto com a comunida<strong>de</strong> e o no sentido da<br />
experiência coletiva que o samba promove. Não<br />
são corpos moldados em aca<strong>de</strong>mias <strong>de</strong> dança, e<br />
sim <strong>de</strong>senhados na cadência e ritmo do tambor. E<br />
é sob o signo da paixão que sua dança revela uma<br />
profunda sintonia espiritual, artística e espetacular.<br />
E os <strong>de</strong>uses africanos os abençoam do alto do panteão,<br />
e tudo neles é sagrado.<br />
Como legítimos filhos da <strong>de</strong>usa nilopolitana, o casal,<br />
em sua iluminada trajetória no carnaval brasileiro,<br />
avançou sua dança para outros espaços <strong>de</strong> transmissão<br />
<strong>de</strong> sua arte, sabedoria e respeito às escolas<br />
<strong>de</strong> samba e à cultura brasileira. Eles sistematicamente<br />
ministram cursos no país inteiro e no exterior.<br />
Selminha criou e coor<strong>de</strong>na a escola <strong>de</strong> mestre-sala<br />
e porta-ban<strong>de</strong>ira da <strong>Beija</strong>-flor, <strong>de</strong>volvendo e comungando<br />
saber e sabedoria com a comunida<strong>de</strong>.<br />
Ao comemorarem quinze anos conduzindo o pavilhão<br />
da escola, Selminha e Claudinho merecem<br />
todas as homenagens da comunida<strong>de</strong> nilopolitana,<br />
e em especial do país, que se reconhece na brasilida<strong>de</strong><br />
<strong>de</strong> sua dança. E a <strong>de</strong>usa da passarela continuará<br />
abençoando o rei e a rainha <strong>de</strong> seus <strong>de</strong>sfiles,<br />
ofertando ao mundo a força mítica, mística e<br />
miscigenada <strong>de</strong> seu bailado. E assim, o samba e<br />
os <strong>de</strong>uses permitirão que se diga então: “são eles<br />
maravilhosos e soberanos enamorados <strong>de</strong>sse meu<br />
país.” Salve o Gran<strong>de</strong> Senhor!<br />
______________<br />
Miguel Santa Brigida é doutor em Artes Cênicas<br />
e Pesquisador <strong>de</strong> Carnaval.<br />
Fevereiro 2010
pássaro saGraDo e o plano<br />
piloto<br />
Ala: Karisma<br />
Presi<strong>de</strong>nte: Cleber Moura<br />
Número <strong>de</strong> Componentes: 70<br />
Nekhebet, a Deusa-Abutre, é uma divinda<strong>de</strong> da antiga<br />
religião egípcia. Deusa <strong>de</strong> todo o Alto Egito<br />
e uma das protetoras da realeza egípcia, protegia<br />
ainda os nascimentos, em especial o nascimento<br />
dos reis. Era representada como um abutre, como<br />
uma mulher com cabeça ou toucador em forma <strong>de</strong><br />
abutre, ou ainda como uma mulher com a coroa<br />
branca do Alto Egito. Entre os epítetos utilizados<br />
para se referir à <strong>de</strong>usa, encontram-se “Senhora<br />
dos Céus” e “Regente das Duas Terras” (o Alto e<br />
o Baixo Egito), daí ser consi<strong>de</strong>rada o elo entre os<br />
dois Egitos.<br />
<strong>SE</strong>TOR 01Deus nekheBet – o vôo Do<br />
akhenaton - o revoluCionário<br />
FaraôniCo<br />
Ala: Dos Cem<br />
Presi<strong>de</strong>nte: Terezinha Simões<br />
Número <strong>de</strong> Componentes: 70<br />
Ala: Amar é Viver<br />
Presi<strong>de</strong>nte: Teresinha Alves<br />
O faraó Akhenaton, visionário, revolucionário e<br />
i<strong>de</strong>alista, fundou uma nova capital, batizada com o<br />
seu nome – que significa “o horizonte <strong>de</strong> Aton”. O<br />
faraó impulsionou o monoteísmo, instituindo o <strong>de</strong>us<br />
Aton como a única divinda<strong>de</strong> a ser cultuada, sendo<br />
o próprio faraó o único representante e mediador<br />
<strong>de</strong>ssa divinda<strong>de</strong>. A cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Akhenaton apresenta<br />
muitas semelhanças com Brasília, no que diz respeito<br />
à construção e ao traçado da cida<strong>de</strong>.<br />
os templos Do Deus sol e<br />
as CiDaDes satélites<br />
Ala: Jovem Flu<br />
Presi<strong>de</strong>nte: Sérgio Ayub<br />
Número <strong>de</strong> Componentes: 70<br />
O <strong>de</strong>us egípcio Aton, uma manifestação do <strong>de</strong>us<br />
solar, era representado fisicamente pelo disco solar.<br />
Aton surgiu a partir do monte Benben, e iniciou<br />
a criação do mundo. O faraó Akhenaton era <strong>de</strong>voto<br />
<strong>de</strong> Aton, e mandou construir vários templos em<br />
homenagem ao <strong>de</strong>us solar, além <strong>de</strong> ter criado um<br />
hino e fundado a nova capital do Egito para celebrá-lo.<br />
neFertiti – a Beleza Feminina<br />
Como Fonte De inspiração<br />
Ala: As Guerreiras<br />
Presi<strong>de</strong>nte: Norma Pereira & Carlos Dantas<br />
Número <strong>de</strong> Componentes: 70<br />
Nefertiti, também chamada <strong>de</strong> Nefertiit ou Nefronete,<br />
foi rainha do Egito. A união com Akhenaton fez com<br />
que Nefertiti alcançasse um protagonismo político<br />
sem antece<strong>de</strong>ntes entre as esposas reais. A<strong>de</strong>pta<br />
fervorosa do culto atoniano, <strong>de</strong>sempenhava um papel<br />
central nas concepções religiosas <strong>de</strong> Akhenaton. Seu<br />
nome significa “a bela que chegou”.<br />
sumo saCerDote - a imponênCia<br />
Da arQuitetura<br />
reliGiosa<br />
Ala: Camaleão Dourado<br />
Presi<strong>de</strong>nte: Waltemir Valle<br />
Ala: Uni-Rio<br />
Presi<strong>de</strong>nte: André Porfírio<br />
Número <strong>de</strong> Componentes: 70<br />
No Antigo Egito o rei ou faraó era o elo entre o mundo<br />
dos homens e o mundo dos <strong>de</strong>uses. Como não era<br />
possível o rei estar presente fisicamente em todos os<br />
templos egípcios para celebrar os cultos, ele <strong>de</strong>legava<br />
o seu po<strong>de</strong>r religioso aos sumos sacerdotes, que<br />
conduziam as cerimônias em seu nome. Os Sumos<br />
Sacerdotes eram os Servidores <strong>de</strong> Deus, que realizavam<br />
o culto diário representando o faraó. Tinham<br />
enorme po<strong>de</strong>r e prestígio, tanto espiritual como material,<br />
pois administravam as riquezas e os bens dos<br />
gran<strong>de</strong>s e ricos templos. Eram também os sábios do<br />
Egito, guardadores dos segredos das ciências e dos<br />
mistérios religiosos com seus inúmeros <strong>de</strong>uses.<br />
a DivinDaDe Do DisCo solar<br />
Ala: 1o Passista & Passista Destaque<br />
Presi<strong>de</strong>nte: Cássio Dias & Jaqueline Faria<br />
Número <strong>de</strong> Componentes: 2<br />
aleGoria 01<br />
“akhetaton - erGueu-se<br />
no eGito a Fonte De inspiração”<br />
harmonia Do setor:<br />
Celso Bastos & luis CláuDio<br />
Revista <strong>Beija</strong>-<strong>Flor</strong> <strong>de</strong> <strong>Nilópolis</strong> www.beija-flor.com.br
Fevereiro 2010
avás-Canoeiros<br />
Ala: Foco <strong>de</strong> Luz<br />
Presi<strong>de</strong>nte: Mariza dos Santos<br />
Número <strong>de</strong> Componentes: 70<br />
Os índios Avás-Canoeiros, também conhecidos<br />
como Canoeiros, Carijós, Índios Negros ou Caras-<br />
Pretas, compõem uma tribo indígena brasileira, a<br />
qual localiza-se na região Centro-Oeste e fala uma<br />
língua da família Tupi-Guarani. As marchas dos<br />
<strong>de</strong>sbravadores na direção do interior do Planalto<br />
Central, rasgando o coração da mata, principalmente<br />
em busca <strong>de</strong> riquezas minerais e indígenas<br />
para escravização, ocasionaram um choque cultural<br />
para as tribos indígenas que habitavam a região e a<br />
subjugação dos Avás-Canoeiros.<br />
<strong>SE</strong>TOR 02a suBJuGação Dos ínDios<br />
o Desrespeito aos ínDios<br />
Javaes<br />
Ala: Bem Querer<br />
Presi<strong>de</strong>nte: Osvaldo Luiz Corrêa & Wanda Merce<strong>de</strong>s<br />
Número <strong>de</strong> Componentes: 70<br />
A tribo dos índios Javaes, um dos três subgrupos<br />
em que se divi<strong>de</strong>m os índios Karajá, está localizada<br />
na região Centro-Oeste. Este povo fala a língua<br />
Javaé/Iny, além do português. As marchas dos<br />
<strong>de</strong>sbravadores na direção do interior do Planalto<br />
Central, rasgando o coração da mata, principalmente<br />
em busca <strong>de</strong> riquezas minerais e indígenas<br />
para escravização, <strong>de</strong>srespeitaram os índios Javaes<br />
e ocasionaram um choque cultural para as tribos<br />
indígenas que habitavam a região.<br />
as arreBataDas minas De<br />
ouro Dos ínDios Goyazes<br />
Ala: Baianas I<br />
Presi<strong>de</strong>nte: Pai Jorge<br />
Número <strong>de</strong> Componentes: 110<br />
Os índios Goyazes, também <strong>de</strong>nominados Goiases,<br />
Guayazes, Guaiás, Guoyá, Goyá ou Goiá povoaram<br />
as terras da nascente do rio Vermelho e a região<br />
próxima à Serra Dourada, sendo consi<strong>de</strong>rados a<br />
tribo ou nação aborígine do Centro-Oeste. Acredita-se<br />
que os silvícolas Goyazes tenham se extinguido<br />
com a chegada do <strong>de</strong>sbravador Anhangüera,<br />
dizimados pelo violento embate com os sertanistas,<br />
ávidos por riquezas, principalmente o ouro encontrado<br />
nas minas Goyazes durante o processo <strong>de</strong><br />
ocupação e exploração.<br />
AS BAIANAS DA BEIJA-FLOR<br />
(RENATA LEAL)<br />
As baianas foram incluídas nos <strong>de</strong>sfiles das escolas<br />
<strong>de</strong> samba nos anos 30, como uma homenagem às<br />
“tias baianas” que abrigavam sambistas em suas<br />
casas, marginalizados e perseguidos que eram, na<br />
época, pela prática <strong>de</strong>sse gênero musical.<br />
Essas senhoras, cozinheiras <strong>de</strong> mão cheia, confeitavam<br />
<strong>de</strong>liciosos quitutes, que vendiam pelas ruas<br />
do Rio <strong>de</strong> Janeiro.<br />
Com suas vestimentas características - saia rodada,<br />
pano da costa, roupa rendada - e seus colares e pulseiras,<br />
elas foram se integrando ao cenário cotidiano<br />
da cida<strong>de</strong> para ganharem, então, a atenção e o respeito<br />
das classes dominantes cariocas.<br />
Era ao redor dos tabuleiros com seus quitutes que<br />
elas estabeleciam seus contatos sociais mais amplos,<br />
criando laços e se estabelecendo <strong>de</strong>finitivamente<br />
no cenário cultural carioca.<br />
Muito respeitadas pela comunida<strong>de</strong><br />
negra, as “tias baianas” em<br />
sua comunida<strong>de</strong> exerciam a função<br />
<strong>de</strong> mãe-<strong>de</strong>-santo <strong>de</strong> candomblé<br />
e, por essa razão, participavam<br />
ativamente do cotidiano dos<br />
cidadãos negros e suas famílias<br />
- formada por homens e mulheres<br />
vindos principalmente da Bahia.<br />
As casas <strong>de</strong>ssas “tias” eram, então,<br />
pontos <strong>de</strong> reunião e resistência<br />
da comunida<strong>de</strong> negra. Lá, além<br />
dos rituais e cultos afro-brasileiros,<br />
que fortaleciam suas raízes religiosas,<br />
eram realizados encontros re-<br />
Revista <strong>Beija</strong>-<strong>Flor</strong> <strong>de</strong> <strong>Nilópolis</strong> www.beija-flor.com.br
gados ao samba na sua expressão mais original.<br />
E por ser uma festa popular que representava e fortalecia<br />
os simbolismos do cotidiano do subúrbio da<br />
cida<strong>de</strong> da Rio <strong>de</strong> Janeiro, o Desfile <strong>de</strong> carnaval e seus<br />
blocos naturalmente inseriu a baiana nesse universo.<br />
Para o diretor <strong>de</strong> carnaval da <strong>Beija</strong>-<strong>Flor</strong> <strong>de</strong> <strong>Nilópolis</strong>,<br />
Laíla, as baianas sempre foram figuras representativas<br />
das suas escolas. “É a mãezona! A ala<br />
<strong>de</strong> maior respeito no <strong>de</strong>sfile <strong>de</strong> carnaval. Seja on<strong>de</strong><br />
for. E a <strong>Beija</strong>-<strong>Flor</strong> <strong>de</strong> <strong>Nilópolis</strong> tem um carinho todo<br />
especial por suas avós e tias baianas. Neste ano,<br />
serão 170 mulheres brilhando, e entre elas estarão<br />
senhoras <strong>de</strong> garra e tradição como a Vó O<strong>de</strong>te,<br />
71 anos, a Vó Maria, 75 anos e a Vó Ana Nízia,<br />
69 anos. E fazemos questão <strong>de</strong> ter essas senhoras<br />
em nossa Ala das Baianas: somos uma escola<br />
<strong>de</strong> samba tradicional e por isso não abrimos mão<br />
<strong>de</strong> termos na ala das baianas as verda<strong>de</strong>iras vovós<br />
baianas. Somos a agremiação que mantém senhoras<br />
<strong>de</strong> faixa etária mais elevada representando a<br />
comunida<strong>de</strong> na Avenida”, <strong>de</strong>clara Laíla.<br />
Senhoras como a Vó Nadyr, 93 anos, que <strong>de</strong>sfilando<br />
<strong>de</strong>s<strong>de</strong> os 19 anos na ala <strong>de</strong> baianas da <strong>Beija</strong>-<strong>Flor</strong>,<br />
fazem parte da história <strong>de</strong> tradição da escola e também<br />
daquelas baianas que começaram a participar<br />
do carnaval na década <strong>de</strong> 30. Vó Nadyr é a baiana<br />
mais antiga da comunida<strong>de</strong> e só parou <strong>de</strong> <strong>de</strong>sfilar<br />
na Ala das Baianas há 5 anos. Ela carrega o i<strong>de</strong>al <strong>de</strong><br />
ser baiana no peito: “Eu tenho o maior orgulho <strong>de</strong> ter<br />
sido baiana, e tenho certeza que a nossa ala é muito<br />
importante para o carnaval e para as escolas”.<br />
Mas ela não <strong>de</strong>ixou os <strong>de</strong>sfiles, apesar da ida<strong>de</strong>.<br />
Vó Nadyr não consegue mais carregar as fantasias<br />
<strong>de</strong> baiana, e agora sai no carro alegórico, representando<br />
o respeito que a <strong>Beija</strong>-<strong>Flor</strong> <strong>de</strong> <strong>Nilópolis</strong> tem<br />
por suas baianas e por sua tradição. “Eu tenho um<br />
orgulho imenso <strong>de</strong> ter sido baiana e vou continuar<br />
sempre com esse entusiasmo no meu coração”.<br />
Vó Nadyr viveu a época em que a saia não tinha<br />
bambolê para ficar tão rodada, e as baianas tinham<br />
que colocar goma misturada com farinha <strong>de</strong> trigo e<br />
<strong>de</strong>pois esten<strong>de</strong>r ao sol para secar. “Eu espero ser<br />
um estímulo para novas baianas e também uma<br />
fonte inspiração”, diz Vó Nadyr.<br />
O PESO DE UMA RESPONSABILIDADE<br />
A ala das baianas não é quesito <strong>de</strong> julgamento do<br />
<strong>de</strong>sfile, mas é indispensável para o carnaval carioca.<br />
Elas são as mulheres <strong>de</strong> raça e tradição da Avenida.<br />
“É o coração da escola”, <strong>de</strong>clara o lí<strong>de</strong>r das<br />
baianas da <strong>Beija</strong>-<strong>Flor</strong>, Humberto Martins, o Beto.<br />
A ala das baianas é uma unanimida<strong>de</strong> entre os re-<br />
presentantes da escola. Alexandre Louzada afirma<br />
que as baianas são o xodó <strong>de</strong> qualquer carnavalesco.<br />
“Eu tenho uma estima especial pelas baianas,<br />
pelo que elas representam, pelo que a Vó Nadyr<br />
representa para a escola.” Para Laíla, a Vó Nadyr,<br />
baiana mais antiga, é “a mãe das baianas da <strong>Beija</strong>-<br />
<strong>Flor</strong> e vai ser eternamente”.<br />
o aprisionamento Dos ín-<br />
Dios CaraJás<br />
Ala: É Show<br />
Presi<strong>de</strong>nte: Rosimere Ezequiel & Carlos Roberto<br />
Número <strong>de</strong> Componentes: 70<br />
Os índios Carajás, cuja vida social baseia-se na<br />
família extensa, vivem tradicionalmente da agricultura,<br />
da caça <strong>de</strong> animais da região, e principalmente<br />
da pesca. As marchas dos <strong>de</strong>sbravadores na<br />
direção do interior do Planalto Central, rasgando<br />
o coração da mata, principalmente em busca <strong>de</strong><br />
riquezas minerais e indígenas para aprisionar e escravizar,<br />
ocasionaram um choque cultural para as<br />
tribos indígenas que habitavam a região.<br />
os BanDeirantes e a esCravização<br />
inDíGena<br />
Ala: Pura Raça<br />
Presi<strong>de</strong>nte: Edson Reis<br />
Número <strong>de</strong> Componentes: 70<br />
Denominam-se ban<strong>de</strong>irantes os sertanistas que,<br />
a partir do século XVI, penetraram nos sertões<br />
brasileiros buscando encontrar riquezas minerais<br />
(sobretudo a prata), indígenas para escravizar, e<br />
exterminar quilombos. A maioria dos ban<strong>de</strong>irantes<br />
era composta por índios (escravos e aliados), caboclos<br />
(mestiços <strong>de</strong> índio com branco) e alguns brancos,<br />
que eram os capitães. Os caboclos eram os<br />
principais elementos do grupo, pois eram a ligação<br />
direta entre o branco-colonizador e o nativo que<br />
conhecia as terras.<br />
aleGoria 02<br />
“anhanGuera - o DesBrava-<br />
Dor rasGa o Coração Da<br />
mata”<br />
harmonia Do setor:<br />
Gilvan riBeiro & eDuarDo sumaré<br />
Fevereiro 2010
nhã<br />
Ala: Comigo Ninguém Po<strong>de</strong><br />
Presi<strong>de</strong>nte: Maria Ignêz<br />
Número <strong>de</strong> Componentes: 70<br />
Na época do Império, surgiu no Brasil o emprego <strong>de</strong><br />
acen<strong>de</strong>dor <strong>de</strong> lampião. Cotidianamente, iam caminhando<br />
pelas ruas a parodiar o sol, associandose<br />
à lua e iluminando toda a cida<strong>de</strong>. Acendiam os<br />
lampiões ao cair da noite, voltando para apagá-los<br />
ao amanhecer do novo dia. Executavam a função<br />
<strong>de</strong> modo poético e incansável, tendo sido retratados<br />
nas telas pitorescas do famoso <strong>de</strong>senhista e<br />
pintor francês Jean-Baptiste Debret, artista cujas<br />
obras são exímia importância para a retratação da<br />
História do Brasil.<br />
<strong>SE</strong>TOR 03o aFã De ver um novo ama-<br />
inConFiDênCia mineira<br />
- em BusCa De uma<br />
nova Capital<br />
Ala: Tom & Jerry<br />
Presi<strong>de</strong>nte: Rogério<br />
Coutinho<br />
Número <strong>de</strong><br />
Componentes:<br />
70<br />
A Inconfidência<br />
Mineira foi uma<br />
tentativa <strong>de</strong> revolta<br />
<strong>de</strong> natureza separatista,<strong>de</strong>senca<strong>de</strong>ada<br />
contra a<br />
execução da <strong>de</strong>rrama<br />
e o domínio<br />
português, a qual foi abortada,<br />
pela Coroa portuguesa,<br />
na então capitania <strong>de</strong> Minas<br />
Gerais. Os inconfi<strong>de</strong>ntes,<br />
patriotas da Conjuração Mineira,<br />
<strong>de</strong> 1789, pretendiam<br />
instalar a capital do país na<br />
cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> São João Del Rey /<br />
MG, e alertavam sobre as vantagens <strong>de</strong> a capital<br />
se localizar no interior do país.<br />
tiraDentes - um mártir Da<br />
ConJuração mineira<br />
Ala: Força Total<br />
Presi<strong>de</strong>nte: Hilton Castro<br />
Número <strong>de</strong> Componentes: 56<br />
Joaquim José da Silva Xavier, <strong>de</strong>nominado Tira<strong>de</strong>ntes,<br />
foi preso no Rio <strong>de</strong> Janeiro, acusado <strong>de</strong><br />
crime <strong>de</strong> rebelião e alta traição contra a Coroa, <strong>de</strong><br />
que se constituiu chefe e cabeça na capitania <strong>de</strong><br />
Minas Gerais. Após um longo período <strong>de</strong> interrogatório,<br />
foi julgado e con<strong>de</strong>nado, assumindo toda a<br />
culpa pela Conjuração. Tira<strong>de</strong>ntes foi enforcado no<br />
Largo do Lampadário, no Rio <strong>de</strong> Janeiro, no dia 21<br />
<strong>de</strong> Abril <strong>de</strong> 1792. Dos Inconfi<strong>de</strong>ntes, é o único que<br />
foi executado, o que serviu <strong>de</strong> exemplo. Seu corpo<br />
foi esquartejado e os pedaços foram espalhados ao<br />
longo da estrada que segue para Vila Rica.<br />
Com o objetivo <strong>de</strong> dar um equilíbrio ao <strong>de</strong>sfile da<br />
agremiação <strong>de</strong> <strong>Nilópolis</strong>, nesse ano uma das mais<br />
esperadas alas – as teatrais, compostas por 680<br />
integrantes e dirigidas por Hilton Castro – não se<br />
apresentará nos primeiros setores.<br />
Sucesso nos últimos <strong>de</strong>sfiles <strong>de</strong>vido às inovações<br />
que apresentaram na Avenida, as alas<br />
t e a t r a i s iniciam no setor 3 com<br />
a ala “Tira<strong>de</strong>ntes<br />
– um mártir da<br />
conjuração mineira”.<br />
No entanto, a<br />
gran<strong>de</strong> inovação<br />
– marca dos trabalhos<br />
<strong>de</strong> Hilton<br />
Castro – po<strong>de</strong>rá<br />
ser vista na ala<br />
dos candangos:<br />
“Essa ala, para<br />
mim, é uma ala<br />
muito especial.<br />
Ressalto, no entanto,<br />
que todas as<br />
alas que dirijo e cada<br />
componente que ensaio<br />
são especiais<br />
e dignos <strong>de</strong> meu<br />
afeto e ad- miração. São pessoas<br />
comuns, mas todas vitoriosas. Não necessariamente<br />
a vitória que se alar<strong>de</strong>ia aos quatro cantos,<br />
mas a vitória cotidiana, <strong>de</strong> autossuperação, <strong>de</strong> <strong>de</strong>dicação<br />
às suas crenças, <strong>de</strong> envolvimento em cada<br />
<strong>de</strong>talhe da vida... Tenho muito orgulho <strong>de</strong> trabalhar<br />
com essas pessoas, que me ensinam muito. Mas<br />
como dizia, a ala dos candangos é muito especial<br />
para mim – e acredito que será para o público – por<br />
Revista <strong>Beija</strong>-<strong>Flor</strong> <strong>de</strong> <strong>Nilópolis</strong> www.beija-flor.com.br
diversas razões. A primeira é porque o assunto<br />
“candango” já é envolvente: foram homens anônimos<br />
que <strong>de</strong>dicaram sua vida na construção <strong>de</strong>ssa<br />
monumental obra <strong>de</strong> arte e que não pu<strong>de</strong>ram usufruí-la.<br />
Apesar disso, orgulham-se do que fizeram. E<br />
é essa a marca do cidadão brasileiro, trabalhador.<br />
O que importa para ele é fazer parte da construção<br />
– fazer parte da engrenagem que eleva o país ou a<br />
sua cida<strong>de</strong>. A segunda razão é porque nessa ala estarei<br />
aplicando um conceito novo <strong>de</strong>ntro do <strong>de</strong>sfile<br />
<strong>de</strong> carnaval: Será a primeira vez que uma única ala<br />
se apresentará com figurinos e performances diferentes.<br />
Isso porque a ala será subdividida em cenas,<br />
cada uma com o seu figurino específico, para contar<br />
uma parte <strong>de</strong> uma bela história. Composta por<br />
228 elementos, nessa ala vamos brincar com o cotidiano<br />
dos candangos. Vamos falar da gran<strong>de</strong> ceia<br />
<strong>de</strong>pois do trabalho braçal do candango...”, conclui<br />
Hilton Castro.<br />
GuarDa Do Brasil-império<br />
– a vinDa Da Família real<br />
Ala: Vento Forte<br />
Presi<strong>de</strong>nte: Hilton Castro, Gisele & Renata<br />
Número <strong>de</strong> Componentes: 70<br />
Foi Dom João VI quem criou o 1º Regimento <strong>de</strong><br />
Cavalaria <strong>de</strong> Guardas, em 13 <strong>de</strong> maio <strong>de</strong> 1808.<br />
Na época, o regimento tinha a função <strong>de</strong> fazer a<br />
guarda da Família Real, que naquele ano havia se<br />
refugiado no Brasil, <strong>de</strong>vido à invasão <strong>de</strong> Portugal<br />
pelo exército francês.<br />
tropa De elite Do exérCito<br />
Brasileiro<br />
Ala: 1a Passista e Passistas Especiais<br />
Presi<strong>de</strong>nte: Charlene Costa<br />
Número <strong>de</strong> Componentes: 4<br />
Ala: Diretora dos Passistas<br />
Presi<strong>de</strong>nte: Aline Silva<br />
Número <strong>de</strong> Componentes: 1<br />
Ala: Passista<br />
Presi<strong>de</strong>nte: Ja<strong>de</strong> Barbosa<br />
Número <strong>de</strong> Componentes: 1<br />
Ala: Passistas<br />
Presi<strong>de</strong>nte: Selminha Sorriso<br />
Número <strong>de</strong> Componentes: 100<br />
No início do século XIX, o regimento da tropa <strong>de</strong> elite<br />
do exército brasileiro tinha a função <strong>de</strong> fazer a guarda<br />
da família real, que havia se refugiado no Brasil<br />
<strong>de</strong>vido à invasão <strong>de</strong> Portugal pelo exército francês.<br />
Eram os dragões (soldados da cavalaria) que acomp<br />
a n h a v a m<br />
D. Pedro I<br />
quando ele<br />
<strong>de</strong>clarou a<br />
In<strong>de</strong>pendência<br />
do<br />
Brasil, em<br />
7 <strong>de</strong> setembro<br />
<strong>de</strong> 1822;<br />
m o m e n t o<br />
imortalizado<br />
por Pedro<br />
A m é r i c o<br />
no famoso<br />
quadro intitulado<br />
“O<br />
Grito do<br />
Ipiranga”.<br />
Fevereiro 2010
o Grito Do ipiranGa<br />
Intérprete<br />
Neguinho da <strong>Beija</strong>-<strong>Flor</strong><br />
inDepenDênCia ou morte!<br />
Rainha <strong>de</strong> Bateria<br />
Raíssa Oliveira<br />
0 Revista <strong>Beija</strong>-<strong>Flor</strong> <strong>de</strong> <strong>Nilópolis</strong> www.beija-flor.com.br
a supremaCia Dos DraGões<br />
Da inDepenDênCia<br />
Bateria<br />
Mestres Rodney & Plínio<br />
Número <strong>de</strong> Componentes: 265<br />
Dragões da In<strong>de</strong>pendência é a <strong>de</strong>nominação oficial<br />
dada ao Primeiro Regimento <strong>de</strong> Cavalaria <strong>de</strong><br />
Guardas (1º RCG). É uma Unida<strong>de</strong> do Exército<br />
Brasileiro, que foi criada em 1808, pelo Príncipe<br />
Regente D. João VI. Os Dragões da In<strong>de</strong>pendência<br />
usam um fardamento do século XIX, em branco e<br />
vermelho, que são as cores tradicionais da cavalaria<br />
<strong>de</strong>s<strong>de</strong> a Ida<strong>de</strong> Média. Em festas cívicas e algumas<br />
competições esportivas <strong>de</strong> hipismo, os dragões se<br />
apresentam e fazem <strong>de</strong>monstrações <strong>de</strong> agilida<strong>de</strong> e<br />
<strong>de</strong>streza.<br />
OS MOSQUETEIROS DO RITMO<br />
Comissão da bateria da <strong>Beija</strong>-<strong>Flor</strong><br />
Atento às necessida<strong>de</strong>s que a cada ano o regulamento<br />
do <strong>de</strong>sfile, a competição e especialmente<br />
as exigências do público impõem às escolas <strong>de</strong><br />
samba – isso sem falar na necessida<strong>de</strong> interna <strong>de</strong><br />
mudanças, que exige o aprimoramento do trabalho,<br />
o aperfeiçoamento do produto e o enriquecimento<br />
profissional da equipe visando resultados positivos<br />
em todos os quesitos do <strong>de</strong>sfile –, o Grêmio Recreativo<br />
Escola <strong>de</strong> Samba <strong>Beija</strong>-<strong>Flor</strong> <strong>de</strong> <strong>Nilópolis</strong> preparou-se<br />
para o gran<strong>de</strong> enfrentamento do dia 14<br />
<strong>de</strong> fevereiro com uma inovação. De- p o i s<br />
<strong>de</strong> criar a Comissão <strong>de</strong> Carnavalescos,<br />
o diretor Luiz Fernando<br />
“Laíla” Ribeiro do Carmo criou<br />
a Comissão da Bateria da <strong>Beija</strong>-<br />
<strong>Flor</strong> <strong>de</strong> <strong>Nilópolis</strong>.<br />
O capa-e-espada <strong>de</strong><br />
Alexandre Dumas,<br />
Os Três Mosqueteiros,<br />
é o mote<br />
para se reportar<br />
a mais significativamudançapromovida<br />
na<br />
estrutura<br />
Integrantes da comissão<br />
<strong>de</strong> Bateria: Mestres Plínio,<br />
Binho e Rodney.<br />
<strong>de</strong> Carnaval da <strong>Beija</strong>-<strong>Flor</strong> da <strong>Nilópolis</strong> – e <strong>de</strong> todas<br />
as escolas <strong>de</strong> samba da atualida<strong>de</strong>. Para tal, o<br />
D’artagnan <strong>de</strong>sta estória, que ficará na história do<br />
Carnaval (e que, provavelmente, assim como a Comissão<br />
<strong>de</strong> Carnavalescos alcançará os resultados<br />
esperados), ascen<strong>de</strong>u à condição efetiva do ofício<br />
<strong>de</strong> mestre o músico e diretor Rodney José Ferreira<br />
(seria ele Athos?), que passa a dividir essa função<br />
com mestre Plínio <strong>de</strong> Moraes (possivelmente Porthos?).<br />
Uniu-se] à dupla uma cria da casa, o mestre<br />
Binho (seria ele Aramis?) – Robson da Silva <strong>de</strong> Oliveira<br />
- que vem com uma experiência musical específica<br />
fora da bateria, e pontuada: supervisor. Não<br />
é à toa que os mosqueteiros da bateria da <strong>Beija</strong>-<br />
<strong>Flor</strong> adotaram a epígrafe “Um por todos, todo por<br />
um”. A referência foi endossada e adotada pelos<br />
doze diretores que compõem o esquadrão rítmico<br />
da escola nilopolitana. À trinca cabe a supervisão<br />
do segmento, auxiliada pela diretoria <strong>de</strong> bateria<br />
composta por Carlos Alberto Menezes (Carlinhos),<br />
An<strong>de</strong>rson Miranda da Silva (Kombi), Renato Alves<br />
Gomes (Renato Azul), Márcio do Nascimento<br />
Andra<strong>de</strong> (Márcio da Frigi<strong>de</strong>ira), Celso Geraldo<br />
Alves da Silva (Paduana), Alexan<strong>de</strong>r Braga (Orelha),<br />
Carlos Henrique da Cruz (Perninha), A<strong>de</strong>lino<br />
Vieira Filho (Saul) e Walneir Ferreira Nascimento<br />
(Estrela). Encabeçando essa diretoria-executiva,<br />
mestre Rodney informa que todos têm uma função<br />
<strong>de</strong>terminada, mas insiste que o lema dumasiano é<br />
que realmente move todo o esquema. O esquema é<br />
simples, mas Rodney enfatiza: “Todo mundo trabalha<br />
em prol da bateria. Todos trabalham pela<br />
<strong>Beija</strong>-<strong>Flor</strong> <strong>de</strong> <strong>Nilópolis</strong>”.<br />
Fevereiro 2010
O comando do pelotão, que garante a pulsação da<br />
escola (280 ritmistas) durante todo o <strong>de</strong>sfile, foi assumido<br />
em maio passado. Na ocasião, Laíla apresentou<br />
a comissão e diretores <strong>de</strong> bateria à comunida<strong>de</strong>,<br />
numa noite que inaugurou uma nova era do<br />
calendário <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong>s da <strong>Beija</strong>-<strong>Flor</strong> <strong>de</strong> <strong>Nilópolis</strong>:<br />
os ensaios técnicos da bateria, todas as segundasfeiras.<br />
A i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> realizar ensaios práticos com todos<br />
os ritmistas da escola, até mesmo aqueles ainda não<br />
confirmados no grupo <strong>de</strong> elite que irá para a avenida,<br />
atraiu ao longo do ano – a<strong>de</strong>ntrando 2010 – os<br />
<strong>de</strong>mais segmentos, comprovando que esses ensaios<br />
são indispensáveis para uma maior sincronia entre<br />
as diversas alas com o toque, com o andamento,<br />
com o estilo da orquestra <strong>de</strong> percussão nilopolitana.<br />
Se a antecipação do início dos ensaios técnicos<br />
da bateria e a participação das alas interessadas<br />
foram uma gran<strong>de</strong> mudança revelada pela criação<br />
da Comissão da Bateria, outra gran<strong>de</strong> motivação<br />
que os doze diretores encontraram para se <strong>de</strong>dicar<br />
cada vez mais à escola, através <strong>de</strong> suas atuações<br />
tanto burocráticas quanto artísticas, foi o fato <strong>de</strong><br />
po<strong>de</strong>rem apresentar suas sugestões, propostas e,<br />
principalmente, serem ouvidos. Nem sempre serão<br />
atendidos. Mas isso é assim em qualquer segmento<br />
da vida do homem. Porém, mesmo que suas i<strong>de</strong>ias<br />
não sejam aproveitadas integralmente, ou em parte,<br />
acreditam que sempre <strong>de</strong>ixam uma importante<br />
contribuição que po<strong>de</strong>rá suprir lacunas inesperadas.<br />
As reuniões são sempre fervorosas, mas o clamor<br />
dos ânimos não supera a preocupação <strong>de</strong> reforçar<br />
e buscar o que é melhor para a escola. Nesse ponto<br />
todos comungam o mesmo i<strong>de</strong>al.<br />
QUEM É QUEM<br />
Paduana – Descoberto em um bloco por mestre<br />
Pelé, Paduana está na ala <strong>de</strong> ritmistas <strong>de</strong>s<strong>de</strong> os 14<br />
anos. Toca surdo <strong>de</strong> 3ª, o chamado “fofoqueiro”. Entre<br />
outras atribuições que lhe cabem como diretor <strong>de</strong><br />
bateria está a <strong>de</strong> fazer a manutenção dos instrumentos.<br />
Sua filha, ex-passista mirim, faz parte do naipe<br />
<strong>de</strong> tamborins.<br />
Kombi – Está na escola <strong>de</strong>s<strong>de</strong> 97, integrando-se<br />
imediatamente à bateria. Responsável direto pelos<br />
assuntos administrativos do segmento vem coor<strong>de</strong>nando<br />
a entrega do troféu “Ao mestre, com carinho”,<br />
Revista <strong>Beija</strong>-<strong>Flor</strong> <strong>de</strong> <strong>Nilópolis</strong> www.beija-flor.com.br
premiação criada pela nova comissão para homenagear<br />
os mestres <strong>de</strong> bateria das escolas coirmãs.<br />
Marcinho da Frigi<strong>de</strong>ira - Des<strong>de</strong> criança é ligado à<br />
escola na qual só ingressou <strong>de</strong>finitivamente no ano<br />
2000. Sua tia foi baiana da escola e o primo Albinho<br />
toca tan-tan na bateria. Mestre Pelé e vários<br />
ritmistas da <strong>Beija</strong>-<strong>Flor</strong> são oriundos da escola do<br />
seu avô. Ajudou a formar a Velha Guarda Musical<br />
da <strong>Beija</strong>-<strong>Flor</strong>. É responsável pelos naipes <strong>de</strong><br />
frigi<strong>de</strong>iras (10), e agora da cuíca (12). Ambos os<br />
instrumentos, que foram excluídos da bateria, vêm<br />
agora dar um ‘molho especial’ ao conjunto rítmico.<br />
Renato Azul – Ex-mestre-sala, Renato entrou na<br />
ala mirim em 1988. Convidado pelo Laíla em 98,<br />
passou a diretor <strong>de</strong> bateria. É responsável pela<br />
marcação, com Kombi e Orelha, mais especificamente.<br />
Na parte administrativa, é responsável<br />
pelo setor <strong>de</strong> alimentos e bebidas do<br />
grupo. Água gelada, cafezinho esperto, e<br />
às vezes aquela cervejinha malandreada,<br />
que ninguém é <strong>de</strong> ferro.<br />
Carlinhos – Há doze anos acompanha<br />
a família <strong>Beija</strong>-<strong>Flor</strong>. Declarase<br />
feliz em participar mais<br />
um ano da equipe. Uma<br />
das suas atribuições é<br />
fazer a manutenção dos<br />
instrumentos. Promete<br />
dar o melhor <strong>de</strong> si para<br />
a “gente ser feliz na<br />
avenida”.<br />
Walneir Estrela<br />
– É o mais novo no<br />
mundo do samba.<br />
Está na <strong>Beija</strong>-<strong>Flor</strong><br />
<strong>de</strong>s<strong>de</strong> 2000. Torna<br />
pública sua gratidão ao<br />
amigo Perninha ao enfatizar<br />
que “quem me ensinou<br />
a tocar tamborim foi<br />
o Perninha.”<br />
Perninha – Entrou na <strong>Beija</strong>-<br />
<strong>Flor</strong> em 92. É responsável pelo<br />
naipe <strong>de</strong> tamborim. A humilda<strong>de</strong><br />
sobrepõe-se à gratidão<br />
<strong>de</strong> Walneir: “Apenas passei<br />
para ele o que aprendi”. Segundo<br />
Perninha, ele achou na<br />
escola um cara, Daniel Colete,<br />
que teve paciência para<br />
ensiná-lo a tocar tamborim.<br />
Orelha - Consi<strong>de</strong>ra-se o estilista Jacques Leclair,<br />
personagem <strong>de</strong> novela, pois é responsável por provi<strong>de</strong>nciar<br />
a roupa dos ritmistas, especialmente da<br />
diretoria <strong>de</strong> bateria, que veste mo<strong>de</strong>lo exclusivo. É<br />
ele quem trata <strong>de</strong> todo o vestuário do dia do <strong>de</strong>sfile,<br />
além das roupas que o grupo usa para apresentações<br />
em shows e festivida<strong>de</strong>s da escola.<br />
Chegou à <strong>Beija</strong>-<strong>Flor</strong> em 96 pelas<br />
mãos <strong>de</strong> Nei, ex-diretor.<br />
Mestre Rodney – Com 35<br />
anos <strong>de</strong><br />
p i s t a ,<br />
Rodney<br />
Fevereiro 2010
está na <strong>Beija</strong>-<strong>Flor</strong> <strong>de</strong> <strong>Nilópolis</strong> <strong>de</strong>s<strong>de</strong> 98. O futebol<br />
foi uma das estratégias que ele usou para aproximar<br />
mais os ritmistas fora do período carnavalesco. Laíla<br />
o convidou para participar das gravações dos sambas-enredo<br />
das escolas <strong>de</strong> samba. É um dos “afinadores”<br />
dos instrumentos e também faz a troca dos<br />
“couros” das peças <strong>de</strong> percussão. Com Plínio, ele<br />
forma a dupla <strong>de</strong> mestres <strong>de</strong> bateria.<br />
Saul – É da comunida<strong>de</strong> e frequentador da quadra<br />
<strong>de</strong>s<strong>de</strong> criança. Foi se infiltrando na bateria durante<br />
os ensaios até ser percebido por mestre Pelé, que o<br />
efetivou na ala. Os filhos Sandro e Adriano seguiram<br />
o pai e também são ritmistas da <strong>Beija</strong>-<strong>Flor</strong> <strong>de</strong> <strong>Nilópolis</strong>.<br />
A filha Juliana é passista da escola.<br />
Binho – A mãe, D. Sirinha, integrou a ala das baianas,<br />
e o pai, Rubens, a bateria. Entrou para a ala mirim<br />
em 1977, e participou da co- missão <strong>de</strong><br />
frente. Aos 14 anos foi al- çado por<br />
mestre Pelé à condição <strong>de</strong> ritmista.<br />
Fez incursões especiais<br />
t o c a n d o t u m b a -<br />
dora nos<br />
<strong>de</strong>sfil<br />
e s<br />
d e<br />
2 0 0 0 / 2 0 0 0 4 .<br />
Durante <strong>de</strong>z<br />
anos atuou como<br />
percussionista da<br />
banda <strong>de</strong> Neguinho<br />
da <strong>Beija</strong>-<strong>Flor</strong> até se<br />
agregar ao conjunto<br />
Pique Novo. Há 21<br />
anos atuando como<br />
músico nas gravações<br />
dos sambas-enredo,<br />
recebeu o convite <strong>de</strong><br />
Laíla para supervisionar<br />
a atuação do segmento<br />
com os mes-<br />
tres Rodney e Plínio, e <strong>de</strong>mais diretores <strong>de</strong> bateria.<br />
Mestre Plínio – É ritmista da escola há 37 anos, aten<strong>de</strong>ndo<br />
o honroso chamado <strong>de</strong> Nelson Abrão David para<br />
integrar a bateria regida pelo mestre Vicente, pai do intérprete<br />
Gilson Bacana. Em 1993, o então mestre Odilon<br />
o promoveu a categoria <strong>de</strong> diretor, dividindo com ele<br />
a regência da bateria, funções que exerce até hoje.<br />
NELSON DAVID<br />
Apresentando a Rainha <strong>de</strong> Bateria ao gran<strong>de</strong> público<br />
vem Nelson David, vice-presi<strong>de</strong>nte da agremiação<br />
nilopolitana e filho <strong>de</strong> Nelson Abrão David, um<br />
dos baluartes da <strong>Beija</strong>-<strong>Flor</strong> <strong>de</strong> <strong>Nilópolis</strong> e irmão do<br />
patrono Anizio Abrão David. Nelsinho, que é empresário<br />
do ramo <strong>de</strong> eventos, é pai <strong>de</strong> Julia (7 anos)<br />
e <strong>de</strong> David (10 anos) e vive com a companheira,<br />
segundo ele ‘<strong>de</strong> todas as horas’, Vanessa Pinheiro.<br />
Nelsinho <strong>de</strong>scobriu sua vocação junto à bateria<br />
quando, ao <strong>de</strong>cidir <strong>de</strong>sfilar com o “coração da escola”,<br />
conduziu e apresentou pela primeira vez a<br />
Rainha <strong>de</strong> Bateria. “A bateria transmite uma energia<br />
muito forte, que não é somente sonora. É orgânica<br />
também. O corpo da gente arrepia, o coração acelera...<br />
E quando apresento ao público a Rainha <strong>de</strong> Bateria,<br />
já com todo o envolvimento da bateria, cria-se<br />
um momento único. O público <strong>de</strong>lira. É um acontecimento<br />
muito emocionante e não consigo me ver em<br />
outro lugar senão ao lado da Raíssa e da Bateria.<br />
Esse ano, com a instalação da comissão <strong>de</strong> bateria,<br />
muitas novida<strong>de</strong>s estaremos levando para a avenida,<br />
e acho que isso tornará o <strong>de</strong>sfile da <strong>Beija</strong>-<strong>Flor</strong><br />
<strong>de</strong> <strong>Nilópolis</strong> ainda mais mágico e emocionante.”<br />
a noBreza Das Damas Da<br />
Corte imperial<br />
Ala: 100% Mídia<br />
Presi<strong>de</strong>nte: Luís Carlos & Léo Mídia<br />
Número <strong>de</strong> Componentes: 70<br />
D. João VI, ao embarcar com a Família Real Portuguesa<br />
para o Brasil, trouxe a companhia <strong>de</strong> diversas<br />
Damas da Corte, que usavam vestes cujo aparato<br />
e originalida<strong>de</strong> podiam ser observados através do<br />
romantismo dos laços, babados, bordados e vidrilhos,<br />
tão usuais nos trajes característicos da moda<br />
européia no século XIX. O racionamento <strong>de</strong> água<br />
durante a precária e superlotada viagem dificultou<br />
bastante a higiene à bordo, e um surto <strong>de</strong> piolhos fez<br />
com que a muitas Damas da Corte Imperial tivessem<br />
que raspar as cabeças a fim <strong>de</strong> evitar a propagação,<br />
o que foi disfarçado com o uso <strong>de</strong> a<strong>de</strong>reços.<br />
Revista <strong>Beija</strong>-<strong>Flor</strong> <strong>de</strong> <strong>Nilópolis</strong> www.beija-flor.com.br
o aClamaDo imperaDor D.<br />
peDro i<br />
Ala: Energia do Amor<br />
Presi<strong>de</strong>nte: Aroldo Carlos<br />
Número <strong>de</strong> Componentes: 120<br />
Pedro <strong>de</strong> Alcântara Francisco António João Carlos<br />
Xavier <strong>de</strong> Paula Miguel Rafael Joaquim José Gonzaga<br />
Pascoal Cipriano Serafim <strong>de</strong> Bragança e Bourbon,<br />
filho <strong>de</strong> D. João VI , Rei <strong>de</strong> Portugal, Brasil e<br />
Algarves, e <strong>de</strong> Dona Carlota Joaquina, infanta da<br />
Espanha, nasceu em Queluz, Portugal. Dom Pedro I<br />
do Brasil e IV <strong>de</strong> Portugal, foi o primeiro imperador<br />
do Brasil (<strong>de</strong> 1822 a 1831) e 28º rei <strong>de</strong> Portugal (durante<br />
sete dias <strong>de</strong> 1826). Em Portugal é conhecido<br />
como O Rei-Soldado ou O Rei-Imperador; sendo<br />
também conhecido, <strong>de</strong> ambos os lados do Oceano<br />
Atlântico, como O Libertador — Libertador do Brasil<br />
do domínio português e libertador <strong>de</strong> Portugal do<br />
governo absolutista. Recebeu diversos títulos honoríficos;<br />
entretanto abdicou <strong>de</strong> ambas as coroas.<br />
um Clamor De liBerDaDe<br />
Ala: Esperança<br />
Presi<strong>de</strong>nte: Simone Sant´Anna<br />
Número <strong>de</strong> Componentes: 70<br />
Liberda<strong>de</strong> é a ausência <strong>de</strong> submissão, <strong>de</strong> servidão, aquilo<br />
que qualifica autonomia, in<strong>de</strong>pendência. E foi D.<br />
Pedro I que, às margens do rio Ipiranga, clamou pela<br />
liberda<strong>de</strong> do Brasil com relação à Portugal, em 07 <strong>de</strong><br />
setembro <strong>de</strong> 1822, com sua frase histórica: “Viva a in<strong>de</strong>pendência<br />
e a separação do Brasil! Pelo meu sangue,<br />
pela minha honra, pelo meu Deus, juro promover a<br />
liberda<strong>de</strong> do Brasil! In<strong>de</strong>pendência ou Morte!”.<br />
aleGoria 03<br />
“no Coração Do Brasil - revolta,<br />
insurreições, Coroas<br />
e Brasões”<br />
harmonia Do setor:<br />
CleBer silva & helinho<br />
Fevereiro 2010
<strong>SE</strong>TOR 04<br />
onça pintaDa - o periGo noturno<br />
Do CerraDo<br />
Ala: Cabulosos<br />
Presi<strong>de</strong>nte: Luizinho Cabulosos<br />
Número <strong>de</strong> Componentes: 70<br />
A onça pintada, também chamada <strong>de</strong> jaguar ou jaguaretê,<br />
é um animal solitário, carnívoro e territorialista,<br />
com hábitos predominantemente noturnos.<br />
Excelente caçadora e nadadora, é muito cautelosa<br />
para atacar a vítima, aproximando-se silenciosamente<br />
para surpreen<strong>de</strong>r a presa, saltando sobre<br />
o seu dorso. Membro da família dos<br />
felí<strong>de</strong>os, <strong>de</strong> tons mesclados <strong>de</strong> amarelo,<br />
preto e branco, costuma ser encontrada<br />
em reservas florestais e matas cerradas<br />
do Brasil, mas infelizmente encontra-se<br />
em extinção.<br />
veaDo Campeiro<br />
– a Força Das<br />
GalhaDas<br />
Ala: Sorrizo<br />
P r e s i d e n t e :<br />
M a r c o s<br />
Gomes<br />
Número <strong>de</strong><br />
Componentes:<br />
70<br />
O veado-campeiro é um<br />
veado campestre. Tais<br />
cerví<strong>de</strong>os possuem pelagem<br />
dorsal marrom, círculo branco<br />
ao redor dos olhos e galhada<br />
com três pontas e cerca <strong>de</strong> 30<br />
cm <strong>de</strong> altura. São animais extremamente<br />
ágeis, po<strong>de</strong>ndo<br />
correr a 70 km/h e pular obstáculos<br />
sem diminuir a velocida<strong>de</strong>.<br />
A hierarquia social<br />
é <strong>de</strong>terminada através <strong>de</strong><br />
disputas nas quais os machos<br />
empurram seus adversários<br />
com os chifres, numa prova<br />
<strong>de</strong> força. Esta disputa não<br />
tem por objetivo perfurar<br />
o oponente e o dano mais<br />
comum é a quebra <strong>de</strong> algumas<br />
pontas.<br />
Brilhantes JaziGos De pre-<br />
Ciosos Cristais<br />
Ala: Baianas II<br />
Presi<strong>de</strong>nte: Pai Jorge<br />
Número <strong>de</strong> Componentes: 60<br />
Os cristais são sólidos nos quais os constituintes<br />
– átomos, moléculas ou íons –estão organizados<br />
num padrão tridimensional bem <strong>de</strong>finido, que se<br />
repete no espaço, formando uma estrutura com<br />
uma geometria específica. Durante a realização <strong>de</strong><br />
escavações no rico solo <strong>de</strong> Brasília, foram encontradas<br />
diversas jazidas <strong>de</strong> cristais, preciosas<br />
riquezas do Planalto Central; as quais inspiraram,<br />
inclusive, um projeto paisagístico<br />
<strong>de</strong> Burle Marx.<br />
loBo Guará - o avermelhaDo<br />
solitário<br />
uivante<br />
Ala: Ouro Negro<br />
Presi<strong>de</strong>nte: Cátia Cristina<br />
Sant´Ana<br />
Número <strong>de</strong> Componentes: 70<br />
O Lobo Guará é um animal<br />
selvagem típico dos<br />
cerrados da região<br />
Centro-Oeste. A<br />
sua pelagem<br />
característica é avermelhada<br />
e, ao contrário <strong>de</strong> outros lobos,<br />
esta espécie não forma alcatéias, possuindo<br />
hábitos solitários, juntando-se apenas<br />
em casais durante a época <strong>de</strong> reprodução.<br />
Foi <strong>de</strong>vido ao som dos seus uivos, interpretado<br />
pelos indígenas como “Gua-á gua-á”,<br />
que essa espécie, única do gênero em toda<br />
a América Latina, foi chamada, no Brasil, <strong>de</strong><br />
Lobo Guará. Está em extinção.De aspecto<br />
elegante. Possui pernas compridas e ágeis, e<br />
hábitos exclusivamente noturnos.<br />
tamanDuá BanDeira - o<br />
peluDo CaçaDor De insetos<br />
Ala: Sol Brilhante<br />
Presi<strong>de</strong>nte: Rosinaldo Vieira<br />
Número <strong>de</strong> Componentes: 70<br />
O Tamanduá Ban<strong>de</strong>ira, apelidado <strong>de</strong><br />
“papa-formigas”, é um mamífero quad-<br />
Revista <strong>Beija</strong>-<strong>Flor</strong> <strong>de</strong> <strong>Nilópolis</strong> www.beija-flor.com.br
úpe<strong>de</strong> e <strong>de</strong>s<strong>de</strong>ntado, o qual apresenta uma<br />
pelagem espessa, que se torna maior na cauda.<br />
É dotado <strong>de</strong> longas e fortes garras dianteiras,<br />
as quais utiliza para se <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>r dos<br />
predadores e para escavar as resistentes<br />
pare<strong>de</strong>s dos formigueiros e cupinzeiros em<br />
busca <strong>de</strong> comida. Se alimenta <strong>de</strong> insetos,<br />
normalmente formigas, cupins, larvas e besouros.<br />
a poDerosa rainha<br />
Cupim e seus ninFos<br />
alaDos<br />
Destaques <strong>de</strong> Chão<br />
Kaíka Sabatella, Letícia e Thuãn<br />
solDaDos Cupins - os super<br />
DeCompositores<br />
Ala: Alegria, Alegria<br />
Presi<strong>de</strong>nte: Hilton Castro<br />
Número <strong>de</strong> Componentes: 158<br />
Os cupins são insetos conhecidos por serem<br />
pragas <strong>de</strong> ma<strong>de</strong>ira e <strong>de</strong> outros materiais celulósicos,<br />
e ainda pragas agrícolas. Entretanto,<br />
em termos <strong>de</strong> biomassa e abundância,<br />
os cupins apresentam enorme significância,<br />
po<strong>de</strong>ndo ser comprados, por exemplo, às<br />
formigas e minhocas, estando entre os mais<br />
abundantes invertebrados <strong>de</strong> solo em ecossistemas<br />
tropicais. Esta gran<strong>de</strong> abundância<br />
dos cupins nos ecossistemas, aliada à existência<br />
<strong>de</strong> diferentes simbiontes, confere a<br />
estes insetos a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>de</strong>sempenhar<br />
papéis como o <strong>de</strong> “super <strong>de</strong>compositores” e<br />
auxiliares no balanço Carbono-Nitrogênio.<br />
aleGoria 04<br />
“missão Crulls - a natureza<br />
em sua essênCia<br />
é revelaDa”<br />
harmonia Do setor:<br />
leonarDo Carvalho & luiz silva<br />
Fevereiro 2010
<strong>SE</strong>TOR 05<br />
Bossa nova - a trilha sonora<br />
Do sertão<br />
Ala: Vamos Nessa<br />
Presi<strong>de</strong>nte: Tuninho<br />
Número <strong>de</strong> Componentes: 70<br />
Ala: 1001 Noites<br />
Presi<strong>de</strong>nte: Luiz Figueira<br />
Número <strong>de</strong> Componentes:<br />
A Bossa Nova é um movimento da música popular<br />
brasileira que surgiu no final da década <strong>de</strong> 1950 e<br />
que, anos <strong>de</strong>pois, se tornaria um dos gêneros musicais<br />
brasileiros mais conhecidos no mundo. Fruto<br />
principalmente das reuniões casuais agendadas por<br />
músicos da classe média carioca em apartamentos<br />
da Zona Sul, a Bossa Nova foi o primeiro movimento<br />
musical brasileiro egresso das faculda<strong>de</strong>s, o qual<br />
abordava temáticas leves e <strong>de</strong>scompromissadas.<br />
O Movimento surgiu num momento em que o país<br />
vivia uma profusão cultural singular, e ficou associado<br />
ao crescimento urbano brasileiro, impulsionado<br />
pela fase <strong>de</strong>senvolvimentista da presidência<br />
<strong>de</strong> Juscelino Kubitschek (1955-1960). Os maiores<br />
representantes <strong>de</strong>ste movimento foram: Tom Jobim,<br />
Vinícius <strong>de</strong> Morais e João Gilberto.<br />
Jk e sarah kuBitsChek - a<br />
visão Do amanhã nos anos<br />
DouraDos<br />
Ala: Ouro em Pó<br />
Presi<strong>de</strong>nte: Hilton Castro<br />
Número <strong>de</strong> Componentes: 72<br />
O mineiro Juscelino Kubitschek <strong>de</strong> Oliveira, eleito<br />
Presi<strong>de</strong>nte da República Fe<strong>de</strong>rativa do Brasil – cargo<br />
que exerceu entre 1956 e 1961 – foi casado com<br />
Sarah Kubitschek, com quem teve duas filhas, Márcia<br />
e Maria Estela Kubitschek.<br />
Responsável direto pela construção <strong>de</strong> Brasília,<br />
JK participou das muitas comemorações em homenagem<br />
à inauguração da nova capital, sendo pertinente<br />
<strong>de</strong>stacar o Baile no Palácio do Planalto, on<strong>de</strong><br />
JK e Dona Sarah recepcionaram cerca <strong>de</strong> 3.000<br />
convidados em farto evento, que se <strong>de</strong>u ao som <strong>de</strong><br />
música orquestral.<br />
Durante o mandato <strong>de</strong> JK, o Brasil viveu um<br />
período <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento econômico e<br />
estabilida<strong>de</strong> política, o qual ficou conhecido como<br />
“Anos Dourados”, período em que evoluímos “50<br />
anos em 5”.<br />
Revista <strong>Beija</strong>-<strong>Flor</strong> <strong>de</strong> <strong>Nilópolis</strong> www.beija-flor.com.br
a inDústria automoBilísti-<br />
Ca aJuDa a traçar o Destino<br />
Ala: Casarão das Artes<br />
Presi<strong>de</strong>nte: Graça Oliveira<br />
Número <strong>de</strong> Componentes: 70<br />
Indústria automobilística, automotiva ou automóvel,<br />
é a indústria envolvida com o projeto, o <strong>de</strong>senvolvimento,<br />
a fabricação, a publicida<strong>de</strong> e a venda<br />
<strong>de</strong> veículos automóveis que sirvam para auxiliar no<br />
<strong>de</strong>slocamento e/ou transporte da população, bens<br />
ou serviços. A priorida<strong>de</strong> dada pelo governo JK ao<br />
crescimento e <strong>de</strong>senvolvimento econômico do país<br />
foi fundamental para traçar o <strong>de</strong>stino do Brasil, e<br />
recebeu apoio <strong>de</strong> importantes setores da socieda<strong>de</strong>,<br />
incluindo empresários e industriais, como a<br />
Indústria Automobilística, que se instalou no Brasil<br />
em 1956.<br />
o DeseJo De realizar<br />
Ala: Casais <strong>de</strong> MS & PB<br />
Presi<strong>de</strong>nte: Selminha SorrisoZ & Claudinho<br />
Número <strong>de</strong> Componentes: 6<br />
CanDanGos - o sanGue e o<br />
suor Deste país<br />
Ala: Explosão Geral<br />
Presi<strong>de</strong>nte: Hilton Castro<br />
Número <strong>de</strong> Componentes: 194<br />
Candango, é o termo dado aos trabalhadores que<br />
migravam à futura capital para a sua construção,<br />
embora comumente seja utilizado para <strong>de</strong>signar os<br />
brasilienses. Em sua maioria, eram nor<strong>de</strong>stinos que<br />
migraram para a região do cerrado Planalto Central<br />
e trabalharam arduamente, dia e noite, para construir<br />
e concluir Brasília até a data prefixada <strong>de</strong> 21<br />
<strong>de</strong> abril <strong>de</strong> 1960, em homenagem à Inconfidência<br />
Mineira.<br />
“... Uma caravana parte, épica, qual êxodo caboclo,<br />
epopéia <strong>de</strong> pioneiros, <strong>de</strong>sterrados candangos, operários<br />
guerreiros, vários Brasis, num só Brasil que<br />
se juntam a construir e a crescer...”<br />
plano piloto - num traço,<br />
um poema<br />
Ala: Signus<br />
Presi<strong>de</strong>nte: Débora Rosa<br />
Número <strong>de</strong> Componentes: 70<br />
Plano Piloto, inicialmente uma cruz riscada à lápis<br />
na planta do urbanista Lúcio Costa, foi o nome pelo<br />
qual ficou conhecido o plano urbanístico da capital,<br />
Brasília. O Plano Piloto <strong>de</strong> Brasília, baseado em<br />
quatro escalas – escala monumental, escala resi<strong>de</strong>ncial,<br />
escala gregária e escala bucólica, é o único<br />
projeto urbanístico contemporâneo reconhecido<br />
pela Unesco como Mundial, Cultural e Natural da<br />
Humanida<strong>de</strong>.<br />
a arte Dos mestres<br />
Ala: Amigos do Rei<br />
Presi<strong>de</strong>nte: Presidência<br />
Número <strong>de</strong> Componentes:<br />
120<br />
A i<strong>de</strong>alização e construção<br />
<strong>de</strong> Brasília contaram com o<br />
conhecimento, a <strong>de</strong>dicação e<br />
o trabalho árduo <strong>de</strong> diversos<br />
arquitetos, engenheiros,<br />
técnicos, mestres<br />
<strong>de</strong> obras e operários,<br />
profissionais responsáveis<br />
pelo projeto,<br />
supervisão e execução<br />
das obras. A arte dos<br />
mestres torna real as idéias<br />
bem planejadas, <strong>de</strong>finindo<br />
o traçado básico da cida<strong>de</strong><br />
e a disposição dos principais<br />
elementos da estrutura urbana,<br />
consi<strong>de</strong>rando pontos relevantes<br />
tais como o urbanismo, o paisagismo,<br />
e diversas formas <strong>de</strong> <strong>de</strong>sign,<br />
incluindo a edificação <strong>de</strong><br />
monumentos e praças.<br />
aleGoria 05<br />
“o DesaBroChar Da <strong>Flor</strong>-<br />
Capital pelas mãos De Jk”<br />
harmonia Do setor:<br />
Flávio , sérGio sá & JorGe alexanDre<br />
Fevereiro 2010
<strong>SE</strong>TOR 06<br />
paláCio Da alvoraDa - a moraDa<br />
presiDenCial<br />
Ala: 08 ou 80<br />
Presi<strong>de</strong>nte: Ivone Farranha<br />
Número <strong>de</strong> Componentes: 70<br />
O Palácio da Alvorada é a residência oficial do<br />
presi<strong>de</strong>nte da República Fe<strong>de</strong>rativa do Brasil. Situa-se<br />
às margens do lago Paranoá, e foi o primeiro<br />
edifício inaugurado em Brasília. Projetado por Oscar<br />
Niemeyer, foi símbolo do progresso cultural e<br />
técnico do Brasil durante a década <strong>de</strong> 1950, tornando-se<br />
um dos ícones da arquitetura mo<strong>de</strong>rna brasileira.<br />
O formato diferenciado dos pilares brancos<br />
da edificação <strong>de</strong>u origem ao símbolo e ao emblema<br />
da cida<strong>de</strong>. A construção <strong>de</strong> Niemeyer foi batizada<br />
por JK, que quando questionado sobre o porquê<br />
do nome “Alvorada”, respon<strong>de</strong>u: “Que é Brasília,<br />
senão a alvorada <strong>de</strong> um novo dia para o Brasil?”.<br />
paláCio Do planalto Central<br />
- seDe Do poDer exeCutivo<br />
Ala: Tudo por Amor<br />
Presi<strong>de</strong>nte: Élcio Chaves<br />
Ala: Colibri <strong>de</strong> Ouro<br />
Presi<strong>de</strong>nte: Dinéia Amâncio<br />
Número <strong>de</strong> Componentes: 70<br />
Palácio do Planalto é o nome não oficial do Palácio<br />
dos Despachos. É o local on<strong>de</strong> está localizado o<br />
Gabinete Presi<strong>de</strong>ncial, a Casa Civil, a Secretaria-<br />
Geral e o Gabinete <strong>de</strong> Segurança Institucional da<br />
Presidência da República. Se<strong>de</strong> do Po<strong>de</strong>r Executivo<br />
do Governo Fe<strong>de</strong>ral Brasileiro, o edifício, que<br />
foi projetado por Oscar Niemeyer, está situado na<br />
Praça dos Três Po<strong>de</strong>res, e foi o centro das festivida<strong>de</strong>s<br />
da inauguração <strong>de</strong> Brasília.<br />
CateDral De Brasília - o<br />
templo iluminaDo De viDro<br />
Ala: Damas do Samba<br />
Presi<strong>de</strong>nte: Adilson Pedro & Rosângela<br />
Número <strong>de</strong> Componentes: 100<br />
A Catedral Metropolitana Nossa Senhora Aparecida<br />
é mais conhecida como Catedral <strong>de</strong> Brasília. O<br />
monumento, que é um projeto do arquiteto Oscar<br />
Niemeyer, é composto por uma nave principal em<br />
planta circular, executada em colunas <strong>de</strong> concreto<br />
que surgem <strong>de</strong> um espelho d’água, e encimada por<br />
0 Revista <strong>Beija</strong>-<strong>Flor</strong> <strong>de</strong> <strong>Nilópolis</strong> www.beija-flor.com.br
uma cruz metálica, simbolizando mãos erguidas<br />
em prece na direção do céu.<br />
paláCio itamaraty - o elo<br />
Do Brasil Com o munDo<br />
Ala: Borboletas<br />
Presi<strong>de</strong>nte: Néia Nocciole<br />
Número <strong>de</strong> Componentes: 70<br />
Ala: Travessia<br />
Presi<strong>de</strong>nte: Delano Sessim<br />
O Palácio Itamaraty, também conhecido como<br />
Palácio dos Arcos, foi projetado pelo arquiteto Oscar<br />
Niemeyer no estilo mo<strong>de</strong>rnista. É on<strong>de</strong> está<br />
localizado o Ministério das Relações Exteriores<br />
do Brasil (MRE), um órgão do Po<strong>de</strong>r Executivo,<br />
responsável pelo assessoramento do Presi<strong>de</strong>nte<br />
da República na formulação, <strong>de</strong>sempenho e acompanhamento<br />
das relações do Brasil com outros<br />
países e organismos internacionais. Atualmente<br />
três edifícios compõem a se<strong>de</strong> do Ministério: o<br />
Palácio, o Anexo I e o Anexo II, conhecido popularmente<br />
como “Bolo <strong>de</strong> Noiva”. É consi<strong>de</strong>rado um<br />
dos monumentos mais representativos <strong>de</strong> Brasília<br />
e parece flutuar sobre um espelho d’água.<br />
ConGresso naCional Do<br />
Brasil - seDe Do senaDo e<br />
Câmara Dos DeputaDos<br />
Ala: É Luxo Só<br />
Presi<strong>de</strong>nte: Nádja Gomes<br />
Número <strong>de</strong> Componentes: 70<br />
O Congresso Nacional do Brasil é bicameral, constituído<br />
pelo Senado do Brasil (Câmara Alta) e pela<br />
Câmara dos Deputados do Brasil (Câmara Baixa).<br />
Tal como acontece com a maioria dos edifícios oficiais<br />
na cida<strong>de</strong>, foi projetado por Oscar Niemeyer,<br />
seguindo o estilo da arquitetura mo<strong>de</strong>rna brasileira.<br />
Vistas <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o Eixo Monumental, a calota à esquerda<br />
é a se<strong>de</strong> do Senado e a da direita é a se<strong>de</strong> da<br />
Câmara dos Deputados; e entre elas há duas torres<br />
<strong>de</strong> escritórios. O Congresso também ocupa em torno<br />
outros edifícios, alguns <strong>de</strong>les interligados por um<br />
túnel. A excepcional luminosida<strong>de</strong> do céu <strong>de</strong> Brasília<br />
proporciona uma visão <strong>de</strong>slumbrante do prédio.<br />
a luz Da alvoraDa anunCia<br />
a Capital Da esperança<br />
Ala: Dá Mais Vida<br />
Presi<strong>de</strong>nte: Ana Maria Mascarenhas<br />
Número <strong>de</strong> Componentes: 70<br />
Brasília passou a ser <strong>de</strong>nominada “A Capital da Esperança”<br />
após um discurso feito pelo então Presi<strong>de</strong>nte<br />
Juscelino Kubitschek <strong>de</strong> Oliveira, no dia 02 <strong>de</strong> outubro<br />
<strong>de</strong> 1956, em campo aberto, quando da assinatura do<br />
primeiro ato no local da futura capital, on<strong>de</strong> ele afirmava:<br />
“Deste planalto central, <strong>de</strong>sta solidão que em<br />
breve se transformará em cérebro das altas <strong>de</strong>cisões<br />
nacionais, lanço os olhos sobre o amanhã do meu país<br />
e antevejo esta alvorada com fé inquebrantável e uma<br />
confiança sem limites no seu gran<strong>de</strong> <strong>de</strong>stino.”<br />
aleGoria 06<br />
“Capital Da esperança -<br />
orGulho e patrimônio mun-<br />
Dial”<br />
harmonia Do setor:<br />
Carlos máximo & João<br />
Fevereiro 2010
<strong>SE</strong>TOR 07<br />
CavalhaDas De pirenópolis<br />
- os masCaraDos e as Danças<br />
eQüestres<br />
Ala: Kurtisamba<br />
Presi<strong>de</strong>nte: Marcus Vinícius<br />
Número <strong>de</strong> Componentes: 70<br />
o Brasil, as Cavalhadas foram introduzidas pelos<br />
jesuítas com autorização e recomendação da<br />
Coroa, com o objetivo <strong>de</strong> catequizar os gentios<br />
e escravos africanos, <strong>de</strong>monstrando o po<strong>de</strong>r da<br />
fé cristã. Reconhecida como uma das mais significativas<br />
Cavalhadas do Brasil, a Cavalhada <strong>de</strong><br />
Pirenópolis foi introduzida na cida<strong>de</strong> em 1826, pelo<br />
Padre Manuel Amâncio da Luz, como um espetáculo<br />
chamado <strong>de</strong> “O Batalhão <strong>de</strong> Carlos Magno”. A<br />
pompa, a garbosida<strong>de</strong> e a serieda<strong>de</strong> <strong>de</strong> tal manifestação<br />
envolve toda a população, que mantém<br />
viva a infindável rixa entre mulçumanos e cristãos,<br />
apresentando um belo espetáculo <strong>de</strong> prazer pela<br />
montaria.<br />
BumBa-meu-Boi Do seu teo-<br />
Doro - o misto FolClóriCo<br />
se Fez raiz<br />
Ala: Arte Folia<br />
Presi<strong>de</strong>nte: Valéria Britto<br />
Número <strong>de</strong> Componentes: 97<br />
O Bumba-meu-Boi, mistura<br />
folclórica <strong>de</strong> dança<br />
e tea-<br />
tro, combina elementos <strong>de</strong> comédia, drama, sátira e<br />
tragédia. Surgiu no século XVIII, e é um dos traços<br />
culturais mais marcantes da cultura brasileira, principalmente<br />
no Nor<strong>de</strong>ste. O maranhense Teodoro<br />
Freire, um apaixonado pela tradição do Boi, mudouse<br />
para Brasília na década <strong>de</strong> 1960 e criou o Centro<br />
<strong>de</strong> Tradições Populares, concretizando o sonho <strong>de</strong><br />
divulgar o folclore nor<strong>de</strong>stino. O Bumba-meu-Boi<br />
apresentado em Brasília, uma espécie <strong>de</strong> auto que<br />
encena o rapto, a morte e a ressurreição do Boi,<br />
<strong>de</strong>u popularida<strong>de</strong> à Seu Teodoro.<br />
a Doutrina espiritualista<br />
Cristã Do vale Do amanhe-<br />
Cer<br />
Ala: Sambando na <strong>Beija</strong>-<strong>Flor</strong><br />
Presi<strong>de</strong>nte: Jorge Luiz Soares<br />
Número <strong>de</strong> Componentes: 70<br />
Ala: Amiza<strong>de</strong><br />
Presi<strong>de</strong>nte: Clei<strong>de</strong> Alves<br />
Número <strong>de</strong> Componentes:<br />
O Vale do Amanhecer é uma comunida<strong>de</strong> criada<br />
para abrigar a Doutrina do Amanhecer, doutrina<br />
e s p i r i t u a l i s t a cristã, fundada em 1959,<br />
pela médium clarivi<strong>de</strong>nte<br />
Neiva Chavez Zelaya,<br />
a Tia Neiva. Localizada<br />
a 45 km <strong>de</strong> Brasília, a<br />
Doutrina do Amanhecer<br />
foi trazida, através<br />
da clarivi<strong>de</strong>nte, pelo<br />
espírito <strong>de</strong> Francisco<br />
<strong>de</strong> Assis, conhecido<br />
neste meio como<br />
“Pai Seta Branca”,<br />
e por sua equipe<br />
espiritual, contendo<br />
elementos <strong>de</strong><br />
várias outras religiões.<br />
A Doutrina<br />
do Amanhecer<br />
já conta<br />
com mais <strong>de</strong><br />
600 templos<br />
em todo<br />
o Brasil e<br />
em outros<br />
países.<br />
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sou Brasiliense! sou CalanGo!<br />
sou artista!<br />
Ala: Os Impossíveis<br />
Presi<strong>de</strong>nte: Iara Mariano & Cosme<br />
Número <strong>de</strong> Componentes: 70<br />
Brasília é composta por nor<strong>de</strong>stinos, paulistas,<br />
cariocas, mineiros, nortistas, sulistas, estrangeiros<br />
e brasileiros, formando um verda<strong>de</strong>iro cal<strong>de</strong>irão <strong>de</strong><br />
culturas e biotipos. Calango, o nome do pequeno<br />
lagarto que suporta altas temperaturas em lugares<br />
secos e ensolarados, foi escolhido por artistas,<br />
músicos e esportistas do cerrado para <strong>de</strong>finir o seu<br />
trabalho e representar a miscigenação cultural da<br />
cida<strong>de</strong>. Justamente por estar presente em diversas<br />
regiões do país, o nome tem algo que representa<br />
Brasília e o som diversificado que está sendo feito<br />
na capital, bastante influenciado pelo punk e pelo<br />
rock. Brasília é candanga, é brasileira, é artista!<br />
o prestiGiaDo Festival De<br />
Cinema Brasileiro<br />
Ala: Raízes da <strong>Flor</strong><br />
Presi<strong>de</strong>nte: Luciana Castro & Ivone Pinheiro<br />
Número <strong>de</strong> Componentes: 70<br />
O Festival <strong>de</strong> Brasília, que tem por nome oficial<br />
Festival <strong>de</strong> Brasília do Cinema Brasileiro – FBCB,<br />
existe <strong>de</strong>s<strong>de</strong> 1965, e é promovido pelo Governo do<br />
Distrito Fe<strong>de</strong>ral. O festival, que nas duas primeiras<br />
edições foi chamado <strong>de</strong> Semana do Cinema Brasileiro,<br />
<strong>de</strong>ve apresentar filmes inéditos, tantos os<br />
<strong>de</strong> curta, como os <strong>de</strong> longa metragem. Os vencedores<br />
recebem o Troféu Candango, em homenagem<br />
aos brasilienses, bem como prêmios em dinheiro.<br />
a leGião De artistas Brasilienses<br />
– velha GuarDa<br />
Ala: Velha Guarda<br />
Presi<strong>de</strong>nte: Débora Rosa<br />
Número <strong>de</strong> Componentes: 70<br />
Brasília é um gran<strong>de</strong> palco, que reúne uma legião<br />
<strong>de</strong> artistas <strong>de</strong> variados segmentos. São artesãos,<br />
atores, cantores, compositores, escultores, pintores,<br />
escritores, músicos e artistas diversos, que<br />
misturam aptidões, dons, sons, ritmos e crenças,<br />
caracterizando a i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> local. Brasília, cenário<br />
artístico, cal<strong>de</strong>irão cultural!<br />
aleGoria 07<br />
“Brasília – a esQuina Do<br />
Brasil em um CalDeirão Cultural”<br />
harmonia Do setor:<br />
reinalDo santos & everalDo araúJo<br />
Fevereiro 2010
Laíla<br />
50 anos <strong>de</strong> carnaval<br />
“Devíamos balançar a roseira<br />
Dar um susto na Portela<br />
No Império e na Mangueira<br />
Se houvesse opinião<br />
O Salgueiro apresentava<br />
Uma só união<br />
No meio <strong>de</strong> gente bamba<br />
Frequentadores <strong>de</strong> samba<br />
Iam conhecer o Salgueiro<br />
Como primeiro em melodia<br />
Acontece que chegou a aca<strong>de</strong>mia”<br />
RICARDO DA FON<strong>SE</strong>CA<br />
Geraldo Babão<br />
O Desfile das Escolas <strong>de</strong> Samba do Grupo Especial<br />
po<strong>de</strong> ser consi<strong>de</strong>rado o mais importante evento<br />
cultural e turístico do Brasil e do mundo nesse<br />
período. Destino certo <strong>de</strong> milhares <strong>de</strong> pessoas, o<br />
Desfile <strong>de</strong> Carnaval, como é conhecido, conquista<br />
a cada ano o interesse <strong>de</strong> brasileiros e estrangeiros,<br />
que encontram nesse espetáculo a céu aberto<br />
emoções e divertimento que serão lembrados pelo<br />
resto <strong>de</strong> suas vidas.<br />
A evolução <strong>de</strong>ste quase secular espetáculo se<br />
<strong>de</strong>ve, entre tantos fatores, à <strong>de</strong>dicação <strong>de</strong> alguns<br />
personagens que conceberam caminhos, criaram<br />
formas e inovaram expressões, tornando o Desfile<br />
<strong>de</strong> Carnaval o que é hoje.<br />
Esse ano, no dia 28 <strong>de</strong> fevereiro, um <strong>de</strong>sses personagens<br />
comemora 50 anos <strong>de</strong> <strong>de</strong>dicação e serviços<br />
prestados ao samba e ao carnaval carioca:<br />
Luiz Fernando Ribeiro do Carmo, o Laíla.<br />
Revista <strong>Beija</strong>-<strong>Flor</strong> <strong>de</strong> <strong>Nilópolis</strong> www.beija-flor.com.br
Se existem histórias que parecem ter sido pré<strong>de</strong>terminadas<br />
pela vida, em outra esfera além da<br />
Humanida<strong>de</strong>, a <strong>de</strong> Laíla nos parece ser uma <strong>de</strong>las.<br />
Em um cenário <strong>de</strong> pobreza e dignida<strong>de</strong>, essa história<br />
teve início na cida<strong>de</strong> do Rio <strong>de</strong> Janeiro. Mais<br />
precisamente no Morro do Salgueiro, no bairro da<br />
Tijuca.<br />
Ali, <strong>de</strong>bruçado na janela <strong>de</strong> uma pequena casa <strong>de</strong><br />
ma<strong>de</strong>ira e alvenaria, quase que diariamente o pequeno<br />
Laíla observava, no quintal vizinho, os diretores<br />
<strong>de</strong> uma escola <strong>de</strong> samba do Morro do Salgueiro<br />
discutindo, tomando <strong>de</strong>cisões, festejando e<br />
organizando a escola <strong>de</strong> samba. Com o olhar atento,<br />
o menino observava, percebia, ouvia tudo que<br />
acontecia naquele quintal.<br />
Moleque ainda – entre oito e nove anos –, o pequeno<br />
Laíla fundou no Morro do Salgueiro, on<strong>de</strong> nasceu<br />
e foi criado, uma agremiação mirim <strong>de</strong> samba<br />
e carnaval, formada apenas por crianças do morro.<br />
Era uma escola <strong>de</strong> samba mirim on<strong>de</strong> aproximadamente<br />
40 crianças, no período <strong>de</strong> carnaval, saíam<br />
do Morro do Salgueiro e, seguindo pela Rua General<br />
Roca, iam até a Praça Saens Peña, atraindo<br />
a atenção das pessoas que passavam pelo bairro.<br />
“Era o maior sucesso. As pessoas paravam e acompanhavam<br />
o nosso <strong>de</strong>sfile até a Praça Saens Peña”,<br />
relembra Laíla.<br />
Era início da década <strong>de</strong> 50, e a “In<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte da<br />
la<strong>de</strong>ira” – esse era o nome da agremiação – já tinha<br />
em sua formação um casal <strong>de</strong> mestre-sala e portaban<strong>de</strong>ira<br />
mirim e uma imponente bateria, formada<br />
<strong>de</strong> latões e latas coloridas. Os carros alegóricos,<br />
feitos <strong>de</strong> caixotes <strong>de</strong> bacalhau, e os <strong>de</strong>sfilantes,<br />
fantasiados com muito papel crepom e muito brilho<br />
– das pequenas lâmpadas que, por i<strong>de</strong>ia do Laíla,<br />
enfeitavam as fantasias – eram atração garantida.<br />
A “In<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte da la<strong>de</strong>ira”, tendo como gran<strong>de</strong><br />
comandante o Laíla, que também criava os sambas-enredo<br />
e as alegorias com a ajuda do menino<br />
Totonho, foi sucesso no bairro por mais <strong>de</strong> cinco<br />
anos, tempo que durou a agremiação mirim.<br />
Já naquela época, as suas i<strong>de</strong>ias e iniciativas evi<strong>de</strong>nciavam<br />
que aquele garoto tinha o talento para a<br />
li<strong>de</strong>rança e para a inovação.<br />
E que vinha para fazer e contar uma história importante.<br />
Sempre ao lado <strong>de</strong> D. Corina, sua mãe e primeiro<br />
<strong>de</strong>staque da “Depois eu digo”, uma das tradicionais<br />
escolas <strong>de</strong> samba do Morro do Salgueiro, Laíla<br />
acompanhava <strong>de</strong> perto as disputas <strong>de</strong> sambas-enredo<br />
no Morro do Salgueiro. Não <strong>de</strong>morou muito<br />
para que fosse convidado a integrar uma das principais<br />
escolas <strong>de</strong> samba da época. “Era 1956. Eu<br />
tinha 13 anos <strong>de</strong> ida<strong>de</strong> e gostava <strong>de</strong> cantar, e cantava<br />
relativamente bem. Um dia, o Duduca (autor<br />
<strong>de</strong> sambas-enredo da agremiação tijucana e presi<strong>de</strong>nte<br />
da Ala <strong>de</strong> Compositores) me procurou e me<br />
convidou para <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>r no Salgueiro o samba que<br />
ele havia composto. Muitos estranharam o convite<br />
do Duduca, porque era um garoto <strong>de</strong> 13 anos e<br />
nunca tinha acontecido <strong>de</strong> uma pessoa tão jovem<br />
<strong>de</strong>fen<strong>de</strong>r um samba-enredo. Fiz o que tinha que ser<br />
feito e o samba foi vice-campeão.”<br />
Nesse ano D. Corina faleceu com 34 anos <strong>de</strong> ida<strong>de</strong>,<br />
e Laíla passou a ser criado por seu tio Adão e sua<br />
tia Madalena. A perda <strong>de</strong> uma pessoa importante<br />
na sua vida foi compensada com o acolhimento<br />
pelo casal <strong>de</strong> tios, figuras marcantes e <strong>de</strong> gran<strong>de</strong><br />
importância na formação do caráter <strong>de</strong> Laíla: “Eu<br />
tenho muita gratidão pela tia Madalena e pelo tio<br />
Adão, que me criaram. Eles me <strong>de</strong>ram educação.<br />
Fizeram-me ser homem <strong>de</strong> verda<strong>de</strong>, pessoa correta,<br />
honesta, porque meu tio Adão era uma pessoa<br />
muito trabalhadora e correta, que me ensinou o caminho.<br />
E eu sou muito grato a isso.”<br />
Se em sua vida privada Laíla equilibrava perdas<br />
e ganhos, na Acadêmicos do Salgueiro um novo<br />
ciclo estava se iniciando. Sob o olhar atento dos<br />
diretores da agremiação, em 1960 Laíla fez o seu<br />
primeiro <strong>de</strong>sfile, na Av. Rio Branco, em frente ao<br />
Teatro Municipal: “Lembro-me muito bem. O ano<br />
era 1960. Era um domingo, dia 28 <strong>de</strong> fevereiro. Entramos<br />
na Av. Rio Branco com o enredo que falava<br />
do Quilombo dos Palmares, <strong>de</strong> autoria do Nelson<br />
<strong>de</strong> Andra<strong>de</strong>. Eu era a pessoa da harmonia na avenida,<br />
que fazia o vai e vem. Minha função era circular<br />
com o megafone entre as alas para não <strong>de</strong>ixar o<br />
samba atravessar. Na época, os sambas atravessavam<br />
muito, porque não tinha o apoio dos sons<br />
que tem hoje...”<br />
E na Avenida Laíla não <strong>de</strong>cepcionou. Exercendo a<br />
função com muita eficiência, a atenção dos mais<br />
velhos da agremiação se voltou para o jovem sambista.<br />
Começava ali a trajetória do mais respeitado<br />
e mais completo diretor <strong>de</strong> harmonia e <strong>de</strong> carnaval<br />
da história das escolas <strong>de</strong> samba.<br />
Des<strong>de</strong> sua primeira participação na avenida, em<br />
1960, muita coisa aconteceu.<br />
Foram 50 anos <strong>de</strong> carnaval, e neles Laíla não só<br />
acompanhou todas as importantes mudanças ocorridas<br />
no carnaval e nas escolas <strong>de</strong> samba – na avenida<br />
e nos barracões – como foi o i<strong>de</strong>alizador <strong>de</strong><br />
Fevereiro 2010
Na foto, alguns dos integrantes da Ala dos Compositores da Acadêmicos do Salgueiro: Zuzuca, Sílvio Pompeu, Carlinho<br />
Pepé, Italianinho, Noel Rosa <strong>de</strong> Oliveira, Mário e Laíla.<br />
muitas <strong>de</strong>las. Ele foi o primeiro diretor <strong>de</strong> harmonia<br />
a sair da posição fixa tradicional, que era vir à frente<br />
da ala das baianas, para circular por todas as<br />
alas da escola.<br />
Foi ele também quem substituiu a figura central <strong>de</strong><br />
um carnavalesco por uma equipe <strong>de</strong> carnavalescos.<br />
“A comissão <strong>de</strong> carnavalescos foi i<strong>de</strong>ia minha. Com<br />
a saída do carnavalesco da <strong>Beija</strong>-<strong>Flor</strong> <strong>de</strong> <strong>Nilópolis</strong><br />
para outra escola, o Anizio me chamou e o Cid<br />
Carvalho para uma conversa. Ele queria contratar<br />
um novo carnavalesco, mas era inviável para a<br />
agremiação, porque estávamos com uma <strong>de</strong>spesa<br />
crescente <strong>de</strong>vido ao investimento que estava sendo<br />
realizado na estruturação e fortalecimento das<br />
alas <strong>de</strong> comunida<strong>de</strong>. Eu sugeri ao Anizio que não<br />
contratasse nenhum carnavalesco <strong>de</strong> fora, porque<br />
eu iria formar uma comissão <strong>de</strong> carnaval com as<br />
pessoas talentosas que tínhamos <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> nossa<br />
casa.”<br />
Laíla, que na Acadêmicos do Salgueiro já havia trabalhado<br />
com um mo<strong>de</strong>lo semelhante ao que planejava<br />
para a agremiação nilopolitana, sabia que os<br />
resultados chegariam. “Eu participei, no Salgueiro,<br />
<strong>de</strong> uma comissão que tinha Fernando Pamplona,<br />
Arlindo Rodrigues, Rosa Magalhães, Lícia Lacerda,<br />
João 30 e Maria Augusta Rodrigues. Era uma gran<strong>de</strong><br />
comissão on<strong>de</strong> cada um tinha sua função, apesar<br />
<strong>de</strong> nenhum <strong>de</strong> nós usarmos o termo ‘comissão’.<br />
Na época, ainda se valorizava muito um <strong>de</strong>sfile que<br />
tivesse a assinatura <strong>de</strong> um único carnavalesco, ou<br />
<strong>de</strong> uma dupla <strong>de</strong> carnavalescos. No Salgueiro, os<br />
nomes eram Arlindo Rodrigues e Fernando Pamplona,<br />
mas o nosso grupo <strong>de</strong> carnavalescos realizou<br />
coisas fantásticas no Salgueiro.”<br />
Montada a comissão <strong>de</strong> carnavalescos, com sucesso<br />
comprovado pelos resultados, Laíla lançou na<br />
<strong>Beija</strong>-<strong>Flor</strong> <strong>de</strong> <strong>Nilópolis</strong>, para as outras áreas vitais<br />
da escola, a proposta <strong>de</strong> substituir figuras centrais<br />
por equipes <strong>de</strong> profissionais. Hoje, a agremiação <strong>de</strong><br />
<strong>Nilópolis</strong> conta com uma equipe <strong>de</strong> harmonia, uma<br />
equipe <strong>de</strong> representantes <strong>de</strong> comunida<strong>de</strong> e uma<br />
equipe <strong>de</strong> bateria – a comissão <strong>de</strong> bateria, integrada<br />
pelos Mestres Rodney, Binho e Plínio, além da<br />
comissão <strong>de</strong> carnavalescos, formada por Alexandre<br />
Louzada, Fran Sérgio e Ubiratan Silva, e pelo<br />
próprio Laíla. “Nas escolas <strong>de</strong> samba, cada área,<br />
cada <strong>de</strong>partamento é muito individualizado, centralizado<br />
em uma única pessoa. E, para mim, um bom<br />
Revista <strong>Beija</strong>-<strong>Flor</strong> <strong>de</strong> <strong>Nilópolis</strong> www.beija-flor.com.br
Eu era diretor <strong>de</strong> patrimônio do Salgueiro, e reparava<br />
que ele ficava da janela da casa <strong>de</strong>le observando as<br />
nossas reuniões, que eram realizadas no quintal ao lado<br />
da casa do Laíla. Ele ficava lá, moleque ainda, vendo os<br />
diretores da escola <strong>de</strong>cidirem as coisas do carnaval do<br />
Salgueiro. E ele era um menino muito inteligente, muito<br />
esperto. Sabia que ele ia conseguir conquistar alguma<br />
coisa boa, porque ele era diferente dos outros meninos...<br />
Ele chegou, inclusive, a fundar uma escola <strong>de</strong> samba.<br />
Admiro muito o Laíla, por tudo que ele conseguiu conquistar no carnaval. E suas<br />
conquistas não foram só para ele, foram para todos os que trabalham no carnaval.<br />
Djalma Sabiá<br />
carnaval é o resultado <strong>de</strong> um trabalho <strong>de</strong> base, <strong>de</strong><br />
equipe. Não dá mais para centralizar em uma única<br />
pessoa, seja carnavalesco ou mestre <strong>de</strong> bateria.”<br />
Durante esses anos, Laíla tem atuado <strong>de</strong>ssa maneira;<br />
entra na escola, observa o que funciona bem<br />
e o que não funciona como <strong>de</strong>veria. Lí<strong>de</strong>r nato,<br />
Laíla comanda: briga, exige, pe<strong>de</strong>, faz, aconselha,<br />
incentiva, orienta, pune... Tudo para que a escola<br />
possa fazer um carnaval com a qualida<strong>de</strong> que o espetáculo<br />
e o público exigem.<br />
Temperamento ou vocação, o fato é que ele sabe<br />
muito bem comandar. E por mais que pareça um<br />
ato autoritário, comandar não é uma ação ditatorial.<br />
Comandar tem o significado <strong>de</strong> coor<strong>de</strong>nar<br />
esforços. E comandar exige um profundo conhecimento<br />
do que se faz para po<strong>de</strong>r fazer <strong>de</strong> modo<br />
mais eficaz. Comandar é i<strong>de</strong>ntificar potencialida<strong>de</strong>s<br />
e <strong>de</strong>senvolvê-las. É gritar, é avançar... E recuar,<br />
se preciso for... Mas comandar é sempre, e acima<br />
<strong>de</strong> tudo agir. E talvez seja essa a gran<strong>de</strong> marca <strong>de</strong><br />
Laíla na história do carnaval: atitu<strong>de</strong>. “Lembro-me<br />
que em um <strong>de</strong>terminado ano, durante uma terrível<br />
crise financeira no Salgueiro, duas semanas antes<br />
do carnaval os caras que mandavam na escola fizeram<br />
uma reunião dizendo que a Salgueiro não ia<br />
ter condições <strong>de</strong> colocar o carnaval na rua. Eu fui o<br />
único que peitei – moleque, garoto –, peitei e falei<br />
assim: ’vai colocar o carnaval do Salgueiro na rua<br />
sim, senão morre!’(risos), aquela coisa da ocasião...<br />
Eu era um moleque meio brabo no morro. Ninguém<br />
se metia comigo não. E tem horas que a gente tem<br />
que partir para <strong>de</strong>ntro, não dá para ficar olhando<br />
calado, sentadinho. E o Salgueiro <strong>de</strong>sfilou.”<br />
Um homem <strong>de</strong> atitu<strong>de</strong>, a <strong>de</strong>speito do que os outros<br />
possam dar em troca.<br />
Atitu<strong>de</strong> <strong>de</strong> coragem, como a que teve na Unidos da<br />
Tijuca, em 1981, quando a escola estava totalmente<br />
<strong>de</strong>sfalcada <strong>de</strong> seus componentes, que ainda não<br />
haviam chegado ao <strong>de</strong>sfile. “Eu atrasei o <strong>de</strong>sfile da<br />
Unidos da Tijuca. Chamei o Quiro, presi<strong>de</strong>nte da<br />
agremiação, e o Paulo César, que era o diretor <strong>de</strong><br />
carnaval, e falei: ‘não tem ninguém, não tem baiana,<br />
não tem bateria, não tem ninguém’. E o <strong>de</strong>sfile<br />
iria começar às 18h. Aí tomei uma <strong>de</strong>cisão, que<br />
transmiti a eles: ‘Eu vou atrasar, eu vou arrumar<br />
um jeito, mas vou atrasar. Assim como está a escola<br />
não entra na Avenida! ’ Os carros já estavam<br />
lá perto da pista. Fui lá, tirei os carros, coloquei todos<br />
lá na área <strong>de</strong> concentração. A hora começou<br />
a passar... Aquela coisa <strong>de</strong> entra, não entra, uma<br />
confusão. A Unidos da Tijuca foi entrar às 21h45.<br />
A escola fez um gran<strong>de</strong> <strong>de</strong>sfile e foi a sétima colocada<br />
geral. Tinha que ser feito algo, e eu fiz. Infelizmente,<br />
a escola per<strong>de</strong>u cinco pontos e, para piorar,<br />
as pessoas que me apoiaram na <strong>de</strong>cisão, <strong>de</strong>pois <strong>de</strong><br />
terminado o <strong>de</strong>sfile, acovardaram-se e atribuíram<br />
a mim a culpa pela perda dos pontos, acusando-me<br />
<strong>de</strong> ter feito sem a autorização <strong>de</strong>les. Fiquei muito<br />
<strong>de</strong>cepcionado, mas não recuei e tomei a <strong>de</strong>cisão<br />
que tinha que ser tomada. É bem possível que, se<br />
a escola entrasse na Avenida tão <strong>de</strong>sfalcada como<br />
estava, per<strong>de</strong>ria mais pontos ainda. Mas isso ninguém<br />
quis ver”, <strong>de</strong>sabafa Laíla.<br />
Injustiças à parte, quem conhece Laíla sabe que a<br />
lealda<strong>de</strong> <strong>de</strong>le é ao carnaval. On<strong>de</strong> houver algo errado<br />
a ser i<strong>de</strong>ntificado e corrigido, lá estará o olhar<br />
atento e a língua afiada no carnavalesco.<br />
Mas essa competência e capacida<strong>de</strong> que Laíla possui<br />
em i<strong>de</strong>ntificar necessida<strong>de</strong>s da escola <strong>de</strong> samba<br />
não é um bem herdado; é fruto <strong>de</strong> uma vida inten-<br />
Fevereiro 2010
samente <strong>de</strong>dicada ao samba e ao carnaval. “Dediquei<br />
minha vida ao samba em uma época em que<br />
não se podia viver <strong>de</strong>centemente <strong>de</strong>le. As dificulda<strong>de</strong>s<br />
eram muitas... Eu era moleque, não bandido.<br />
Podia ter me <strong>de</strong>sviado e não me <strong>de</strong>sviei. Muitos<br />
que foram criados comigo no Morro do Salgueiro<br />
acabaram caindo no mundo do crime. Eu tinha preferência<br />
por duas coisas: Samba e Futebol. Eu jogava<br />
bem – tanto que eu fiz parte do time juvenil do<br />
Vasco e do São Cristóvão. Mas eu tive que optar<br />
entre o samba e o futebol, porque o samba me obrigava<br />
ficar acordado até <strong>de</strong> manhã. Não tinha como<br />
eu ir treinar... Eu chegava ao treino muito cansado.<br />
Eu tive que optar e optei pelo samba. No samba<br />
e no carnaval eu sempre buscava, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> moleque,<br />
saber <strong>de</strong> tudo, enten<strong>de</strong>r tudo, fazer tudo. Sempre<br />
observava para apren<strong>de</strong>r. Nessa época <strong>de</strong> garoto,<br />
eu tocava todos os instrumentos <strong>de</strong> percussão. Fui<br />
mestre-sala, fui compositor, cantor... Eu tenho uma<br />
trajetória sólida, eu não entrei pela janela. Foi essa<br />
a minha opção <strong>de</strong> vida.”<br />
Uma opção que o obrigava a viver com restrições.<br />
Acusado <strong>de</strong> vagabundo por familiares por ter optado<br />
pelo samba, não faltaram críticas e conselhos<br />
para Laíla procurar um emprego, seja em uma obra<br />
ou em qualquer outra coisa. Eram tempos difíceis<br />
para quem estava pre<strong>de</strong>stinado a realizar uma<br />
gran<strong>de</strong> missão transformadora no carnaval do Rio<br />
<strong>de</strong> Janeiro. ”Eu passava dificulda<strong>de</strong>s, mas sempre<br />
me mantinha na minha. Eu persisti no samba.”<br />
Nesses momentos difíceis, muitas vezes <strong>de</strong>sempregado,<br />
sem abandonar o samba – que corria solto<br />
nas suas veias –, Laíla trabalhou nas mais diversas<br />
ativida<strong>de</strong>s. Ele foi faxineiro, trabalhou como pintor,<br />
como lixeiro, tudo para ganhar seu próprio dinheiro,<br />
que o samba não lhe dava. “Depois que eu constituí<br />
família, ela sofreu junto comigo todas essas<br />
privações. Eu era o Laíla do Salgueiro... e duro.<br />
Não tinha dinheiro para comprar leite para os meus<br />
filhos, nem pão... E minha família dividia isso comigo:<br />
minha esposa Marli e meus filhos Luís Cláudio e<br />
Denise dividiram essas dificulda<strong>de</strong>s comigo... Mas<br />
eu nunca <strong>de</strong>sisti. E encontrei na minha família muita<br />
força para persistir, correr atrás e chegar on<strong>de</strong><br />
chequei. Hoje, Marli, Luís Cláudio e Denise, e meus<br />
três netos Amanda, Carol e Luís Antônio são a minha<br />
fortaleza. A Marli eu conheci na escola <strong>de</strong> samba<br />
mirim que eu fiz. Comecei a namorar ela com<br />
“Laíla tem o samba na alma, nos pés e na cabeça<br />
<strong>de</strong>s<strong>de</strong> os tempos <strong>de</strong> moleque no Morro<br />
do Salgueiro. Her<strong>de</strong>iro direto da sabedoria e<br />
da paixão carnavalesca <strong>de</strong> Fernando Pamplona<br />
e Arlindo Rodrigues, ele fez da <strong>Beija</strong>-<strong>Flor</strong><br />
sua morada espiritual e lúdica. Exercendo a<br />
li<strong>de</strong>rança com firmeza e <strong>de</strong>terminação, criou<br />
os fatores que ajudaram a formar a história<br />
do orgulho da comunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>Nilópolis</strong>, estado<br />
<strong>de</strong> alegria, cuja capital é a <strong>Beija</strong>-<strong>Flor</strong>.”<br />
Haroldo Costa<br />
15 anos. Ela tinha 11 anos e <strong>de</strong>s<strong>de</strong> aquela época a<br />
Marli sempre esteve comigo em todos esses momentos<br />
<strong>de</strong> dureza. Ela é uma mulher forte que eu<br />
admiro muito.”<br />
O fato é que Laíla persistiu e hoje é reconhecido<br />
pelo seu trabalho, pelo que realizou em favor do<br />
carnaval carioca.<br />
O mundo do samba e do carnaval – e o gran<strong>de</strong><br />
público na avenida e nos lares ao redor do mundo<br />
– agra<strong>de</strong>cem felizes ao Laíla – o comandante do<br />
carnaval – os serviços prestados em favor da arte,<br />
do samba e da cultura brasileira.<br />
Valeu Laíla!<br />
Revista <strong>Beija</strong>-<strong>Flor</strong> <strong>de</strong> <strong>Nilópolis</strong> www.beija-flor.com.br
“Admiro muito a trajetória seguida pelo Laíla.<br />
Ele <strong>de</strong>monstra uma profunda inteligência,<br />
percepção e sensibilida<strong>de</strong> em relação à<br />
vida como um todo. Ele criou e <strong>de</strong>finiu o que<br />
é o diretor <strong>de</strong> carnaval, uma figura <strong>de</strong>cisiva<br />
para um bom <strong>de</strong>sempenho<br />
<strong>de</strong> uma escola <strong>de</strong> samba. Se<br />
analisarmos hoje cada escola<br />
que tem acertado, vamos ver<br />
que elas têm um bom diretor<br />
<strong>de</strong> carnaval, ainda que com<br />
outra <strong>de</strong>signação.<br />
Laíla <strong>de</strong>finiu, criou a função<br />
<strong>de</strong> diretor <strong>de</strong> carnaval. Ele<br />
fez isso com a sua atuação ao<br />
longo da sua vida no carnaval.<br />
É uma função que engloba a<br />
atuação e o conhecimento do<br />
diretor <strong>de</strong> harmonia, do diretor<br />
<strong>de</strong> quadra, do mestre <strong>de</strong><br />
bateria, do presi<strong>de</strong>nte da ala<br />
dos compositores...<br />
Vejo o carnaval com duas dimensões:<br />
a dimensão material,<br />
que engloba o aspecto<br />
visual, ligado à fantasia, à<br />
alegorias e a<strong>de</strong>reços. E a dimensão<br />
imaterial, que envolve<br />
o ritmo da bateria, o andamento<br />
e a evolução da escola,<br />
a tonalida<strong>de</strong> e qualida<strong>de</strong> do<br />
samba-enredo e a relação do<br />
samba-enredo com a bateria.<br />
Ambas dimensões são vitais<br />
para um bom <strong>de</strong>sfile. E o Laíla<br />
conhece profundamente<br />
todas essas dimensões, e por isso ele é<br />
um diretor <strong>de</strong> carnaval e harmonia da qualida<strong>de</strong><br />
que todos reconhecem. E com esse<br />
conhecimento, e acima <strong>de</strong> tudo com essa<br />
vivência, ele vai e faz. É uma pessoa que<br />
eu nunca vi ficar satisfeito com o mais ou<br />
menos. Ele sempre quer fazer o melhor.”<br />
Maria Augusta Rodrigues<br />
Fevereiro 2010
BOAS PARCERIAS<br />
Uma nova parceria, feita <strong>de</strong> inspiração e talento, traçou em samba a trajetória dos 50 anos <strong>de</strong> Brasília,<br />
que a <strong>Beija</strong>-<strong>Flor</strong> <strong>de</strong> <strong>Nilópolis</strong> mostrará na avenida. Todos sambistas da Azul e Branco, <strong>de</strong> pouco ou muito<br />
tempo: Picolé, Samir, Sumaré, Sérgio, André e Marimba. O grupo foi se formando aos poucos: ao “quarteto”<br />
inicial Picolé, Samir, Sumaré e Serginho, uniu-se André e Marimba, vencedor da etapa brasiliense do<br />
concurso <strong>de</strong> samba-enredo, formando assim a parceria vitoriosa do Carnaval 2010.<br />
Amigo comum <strong>de</strong> todos eles, o compositor Pixulé apresentou Samir Trinda<strong>de</strong> ao Picolé da <strong>Beija</strong>-<strong>Flor</strong>, que<br />
recebeu convite <strong>de</strong> Sérgio Sumaré para disputar o novo enredo da <strong>Beija</strong>-<strong>Flor</strong>. Sumaré veio com o xará<br />
Aguiar a reboque. Alguns até já haviam trabalhado juntos, e outros nunca tinham se cruzado. Portanto,<br />
era uma parceria inédita; e tinha tudo para dar errado. Em um primeiro momento, o cavaquinista sumiu.<br />
Felizmente alguém teve a i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> sugerir o nome <strong>de</strong> André para integrar o grupo. A gravação do disco <strong>de</strong><br />
<strong>de</strong>monstração somente foi possível um mês após a data prevista. O refrão foi rejeitado quase às vésperas<br />
da finalíssima. O intérprete que apresentaria o samba na quadra só pô<strong>de</strong> ser confirmado em cima da hora.<br />
Entretanto, a <strong>de</strong>terminação e a persistência foram maiores que os problemas e a nova parceria teve a<br />
escolha do seu samba ratificado pela euforia da comunida<strong>de</strong> na gran<strong>de</strong> final.<br />
Parceiros, se reuniam diversas vezes por semana, conversavam por telefone todos os dias, construíam<br />
poesia e harmonia, discutiam versos e rimas, sustenidos e bemóis, tudo por um único objetivo: levar sua<br />
versão poética e melódica <strong>de</strong> “Brasília, 50 anos - Brasília do Sonho à Realida<strong>de</strong>, a Capital da Esperança”<br />
para a Passarela do Samba, com toda a comunida<strong>de</strong> nilopolitana cantando e sambando com a alegria <strong>de</strong><br />
sempre rumo à conquista <strong>de</strong> mais um título <strong>de</strong> campeã do carnaval carioca.<br />
Quem é quem?<br />
Picolé da <strong>Beija</strong>-<strong>Flor</strong>. Escreveu seu nome na agremiação<br />
<strong>de</strong>s<strong>de</strong> a primeira hora. Segundo ele, a escola<br />
está “sempre <strong>de</strong> braços abertos para receber as pessoas”.<br />
Seus antece<strong>de</strong>ntes têm tudo a ver com samba<br />
e Carnaval: participou dos blocos Deixa Comigo<br />
e Embaixada do Sapo. Por orientação dos amigos<br />
Sebastião Adilson e Isaias Chorão (da Mangueira),<br />
e a convite do então presi<strong>de</strong>nte a Ala <strong>de</strong> Compositores,<br />
Aluisio Machado, ele entrou para Azul e Branco<br />
em 1968. E nela logo venceu o concurso <strong>de</strong> sambas<br />
<strong>de</strong> quadra <strong>de</strong> 1970, “Assim Você Mata, Papai”.<br />
Em 1981, assinou sua primeira conquista: “Carnaval<br />
do Brasil, a Oitava das Sete Maravilhas do Mundo”,<br />
com Dicró. Uma fusão com o samba <strong>de</strong> Nego<br />
e Neguinho da <strong>Beija</strong>-<strong>Flor</strong>, esses autores passam a<br />
integrar a parceria. Diante do êxito com os atuais<br />
companheiros, Picolé <strong>de</strong>clara: “se eu soubesse que<br />
fazer parceria era tão bom, eu já teria feito outras<br />
vezes”. E se serve da mais exata das ciências para<br />
resumir o processo <strong>de</strong> criação do grupo, que acredita<br />
tenha garantido a escolha do samba: “a gente<br />
soma, multiplica, divi<strong>de</strong> e subtrai... isso é igual<br />
a... essência do trabalho”. E arremata: “tivemos a<br />
MIRO LOPES<br />
felicida<strong>de</strong> <strong>de</strong> fazer um trabalho que conquistou a<br />
comunida<strong>de</strong> inteira”.<br />
Filho <strong>de</strong> D. Antonieta e seu José, Hélio Nascimento<br />
nasceu, sob o signo <strong>de</strong> Capricórnio, em Estância,<br />
no Sergipe, há 66 anos. É fisioterapeuta com graduação<br />
em trauma-ortopedia. Ele também expressa<br />
sua criativida<strong>de</strong> e talento através da pintura.<br />
André do Cavaco. Carioca <strong>de</strong> Anchieta, chegou<br />
à <strong>Beija</strong>-<strong>Flor</strong>, com seu amigo Betinho, para contar<br />
e cantar a sua história no enredo <strong>de</strong> “Saco vazio<br />
não pára em pé”, com Bira e Havaí. A experiência<br />
valeu: “Nosso samba tem um diferencial, que permitirá<br />
a galera expressar toda a emoção da letra e<br />
da melodia”. André colocou todo seu conhecimento<br />
e percepção musical a serviço <strong>de</strong>ssa parceria.<br />
Para quem respira e vive unicamente <strong>de</strong> música<br />
– e com ela sustenta a família –, André apostou<br />
todas as fichas do seu talento e <strong>de</strong>dicação nessa<br />
parceria. Formado em Harmonia pelo Centro <strong>de</strong><br />
Aperfeiçoamento Musical, André lapidou sua arte<br />
como violonista, tecladista e também como cavaquinista<br />
acompanhando intérpretes bem conhecidos<br />
como Jorge Aragão. Agora é só expectativa e<br />
ansieda<strong>de</strong>.<br />
0 Revista <strong>Beija</strong>-<strong>Flor</strong> <strong>de</strong> <strong>Nilópolis</strong> www.beija-flor.com.br
Serginho Aguiar. Sérgio Luiz da Costa Aguiar. Nasceu<br />
e se criou na Vila Militar. Milita (sem trocadilho!)<br />
no meio do samba mais da meta<strong>de</strong> dos anos<br />
que já viveu.<br />
O mundo do Carnaval tem seus mistérios. Serginho<br />
conhece bem essas coisas. Os atabaques tocaram,<br />
a parceria se confirmou e os caminhos da criação se<br />
abriram para os poetas do samba. Tinham que molhar<br />
a palavra na preciosa fonte da inspiração. Todos obe<strong>de</strong>ceram<br />
às orientações <strong>de</strong> Ogã. E entre um e outro<br />
gole, o samba foi fluindo. Um pitaco aqui, uma i<strong>de</strong>ia<br />
ali... todo mundo rezando pela mesma cartilha. Foram<br />
alguns meses <strong>de</strong> trabalho. Hoje o samba está ai.<br />
Ter fé é bom. Mesmo quando não se é mais marinheiro<br />
<strong>de</strong> primeira viagem. Serginho já é campeão:<br />
venceu o concurso <strong>de</strong> samba-enredo na Vizinha Fala<strong>de</strong>ira,<br />
em 2002, com Helinho 107, “Todo mundo tem<br />
família, só muda o en<strong>de</strong>reço”. Pago<strong>de</strong>iro inveterado,<br />
ele marca presença na roda <strong>de</strong> samba da Tia Doca<br />
e no pago<strong>de</strong> do Cinema (Madureira). Integrou a ala<br />
dos Compositores, em 2005, e concorreu ao samba<br />
<strong>de</strong> “Poços <strong>de</strong> Caldas”. Diretor <strong>de</strong> harmonia do Salgueiro<br />
há três anos, Serginho dá um tempo para se<br />
<strong>de</strong>dicar integralmente às homenagens a Brasília.<br />
Samir Trinda<strong>de</strong>. Samir é o mais jovem da turma. E<br />
está em estado <strong>de</strong> graça. Além do samba ser escolhido<br />
para representar a <strong>Beija</strong>-<strong>Flor</strong> na avenida,<br />
sua mulher espera mais um filho para janeiro. Dos<br />
seus 26 anos, doze ele já consumiu nas noitadas <strong>de</strong><br />
samba, levado pelo avô Dom Beto, compositor da<br />
Portela, quando <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>u “Olhos da Noite”, estreando<br />
como cantor aos 14 anos. Alma <strong>de</strong> sambista<br />
e <strong>de</strong> intérprete, para Samir se tornar compositor<br />
foi quase natural. Defendia as composições do avô,<br />
mas logo mostrou que também sabia versejar. Nos<br />
últimos oito anos, Samir participou das disputas <strong>de</strong><br />
samba-enredo na Azul e Branco nilopolitana. Defen<strong>de</strong>u<br />
o enredo “Levanta a poeira abala geral é o Boi<br />
com a <strong>Beija</strong>-<strong>Flor</strong> no Carnaval”, com que o Bloco do<br />
Boi homenageava a escola, e continua como intérprete<br />
oficial da Escola <strong>de</strong> Samba Arame <strong>de</strong> Ricardo<br />
(grupo D). Já era parceiro <strong>de</strong> André, mas foi Pixulé<br />
quem o aproximou dos atuais parceiros.<br />
Serginho Sumaré. O mundo do samba é mesmo<br />
envolvente. Paulo Sérgio Alves Teixeira, carioca do<br />
Méier, que o diga. Tem samba na cabeça, nas mãos e<br />
nos pés. Compositor, percussionista e mestre-sala.<br />
Competiu diversas vezes, tanto no Bloco Carnavalesco<br />
União do Parque Vitória (Duque <strong>de</strong> Caxias),<br />
quanto na <strong>Beija</strong>-<strong>Flor</strong> <strong>de</strong> <strong>Nilópolis</strong>. Em ambas sempre<br />
foi finalista, mas só em 2005, com o samba “Em<br />
nome do Pai, do Filho e do Espírito Guarani...” sentiu<br />
o doce gosto da vitória. Agora, o repeteco. Sumaré<br />
exulta: “Hoje eu me sinto um verda<strong>de</strong>iro campeão.<br />
Segui os conselhos do compositor portelense Beto<br />
Sem Braço: tem que ler e que se aperfeiçoar”, comenta,<br />
agra<strong>de</strong>cido pelas dicas. E completa: “a parceria<br />
esteve sempre unida”. Percussionista, é como<br />
músico e autor que ele afirma que “o samba-enredo<br />
está mudando harmonicamente”, e que ele consi<strong>de</strong>ra<br />
isso muito bom, porque exige mais dos compositores.<br />
E tem no DNA a vocação adormecida do<br />
mestre-sala; sua mãe, Vera Lúcia, foi a única mulher<br />
da história do Carnaval que se tem notícia a exercer<br />
oficialmente as funções <strong>de</strong> mestre-sala da União do<br />
Parque Vitória e, <strong>de</strong> quebra, seu pai ser o Ébio Nota<br />
Dez, mestre-sala da <strong>Flor</strong> da Mina do Andaraí.<br />
Picolé e os compositores do samba enredo <strong>de</strong> 2010<br />
Fevereiro 2010
Revista <strong>Beija</strong>-<strong>Flor</strong> <strong>de</strong> <strong>Nilópolis</strong> www.beija-flor.com.br
Fevereiro 2010
G a b r i e l D a v i d<br />
s a n g u e b o m n a s p i s t a s e n a a v e n i d a<br />
HILTON ABI-RIHAN<br />
On<strong>de</strong> quer que estejam, os integrantes da família <strong>Beija</strong>-<strong>Flor</strong> <strong>de</strong> <strong>Nilópolis</strong> <strong>de</strong>ixam a sua<br />
marca <strong>de</strong> guerreiros <strong>de</strong>dicados. De <strong>Nilópolis</strong> à Copacabana, do Amapá ao Rio Gran<strong>de</strong> do<br />
Sul, <strong>de</strong> Kobe à Paris – em pequenas casas ou em gran<strong>de</strong>s apartamentos – esses personagens<br />
da história do samba não renunciam ao seu direito <strong>de</strong> conquista e <strong>de</strong> felicida<strong>de</strong>.<br />
E Gabriel David é um querido representante <strong>de</strong>ssa família que empolga a Marquês<br />
<strong>de</strong> Sapucaí. Apesar da pouca ida<strong>de</strong> - 12 anos - o jovem Gabriel sabe aproveitar as<br />
oportunida<strong>de</strong>s que tem, e não me<strong>de</strong> esforços para conquistar seus sonhos e seu espaço.<br />
Abi-Rihan – Sua vida é um pouco diferente da vida dos<br />
meninos da sua ida<strong>de</strong>, não é? Essa relação tão intensa<br />
com o Samba e o Carnaval que você tem... E agora<br />
com o kart... Diga-me como você se relaciona com<br />
essas diferenças?<br />
Gabriel David – É verda<strong>de</strong> que tenho uma vida muito<br />
diferente. Poucos meninos da minha ida<strong>de</strong> estão ligados<br />
ao Samba e ao Kart como eu estou. Mas eu não vejo<br />
nenhum problema nisso. As pessoas <strong>de</strong>vem procurar<br />
<strong>de</strong>s<strong>de</strong> cedo fazer as coisas que gostam. Além disso,<br />
para mim, o importante é que tanto no samba, na <strong>Beija</strong>-<br />
<strong>Flor</strong> <strong>de</strong> <strong>Nilópolis</strong>, quanto na escola ou no kart eu faço<br />
o que gosto e tenho muitos amigos.<br />
Em cada um <strong>de</strong>sses lugares venho apren<strong>de</strong>ndo a agir<br />
da maneira certa, enten<strong>de</strong>ndo e respeitando meus<br />
amigos e as pessoas como elas são. Meu pai e minha<br />
mãe sempre falam sobre isso para mim. Então, essas<br />
diferenças acabam sendo uma coisa legal, pois estou<br />
apren<strong>de</strong>ndo a ser uma pessoa legal, que enten<strong>de</strong> e que<br />
vive bem com todas as pessoas, não importando on<strong>de</strong><br />
elas vivam ou o que fazem.<br />
Abi-Rihan – Você toca<br />
algum instrumento?<br />
Gabriel David – Dos<br />
instrumentos <strong>de</strong> percussão,<br />
eu sei um pouco <strong>de</strong><br />
alguns. Sei tocar caixa,<br />
repique e surdo. Mas<br />
não é a melhor coisa que<br />
eu faço. No samba, o<br />
que eu sei tocar mesmo<br />
é o tamborim.<br />
No pódium, os pilotos João Roberto<br />
(4), Flavio Mateus (2), Gabriel David<br />
(1) e Ketheryne Marques (3).<br />
Abi-Rihan – Diversas vezes eu vi o seu pai, o Anizio,<br />
com o olhar <strong>de</strong> orgulho quando vê você tocando tamborim<br />
ou conduzindo a <strong>Beija</strong>-<strong>Flor</strong> <strong>de</strong> <strong>Nilópolis</strong>. Como<br />
você se sente?<br />
Gabriel David – Sinto-me bem. Eu acho que meu pai<br />
fica orgulhoso <strong>de</strong> mim porque samba é uma coisa que<br />
ele conhece bem! E quando ele me vê tocando ou<br />
conduzindo a escola, ele enten<strong>de</strong> que estou fazendo<br />
direito. Eu acho que é isso que todos os pais querem<br />
Revista <strong>Beija</strong>-<strong>Flor</strong> <strong>de</strong> <strong>Nilópolis</strong> www.beija-flor.com.br
Equipe Power (da esquerda para a direita): em primeiro<br />
plano, os pilotos Gui Pessoa e Gabriel David.<br />
Em segundo plano, os técnicos Alcindo Teixeira e<br />
Jeison Teixeira. Em terceiro plano, os mecânicos<br />
Alan, Walmir e Bolão.<br />
para os seus filhos; que façam direito as coisas que<br />
escolheram fazer. E gosto <strong>de</strong> saber que ele e minha<br />
mãe querem o meu bem.<br />
Abi-Rihan – E no kart é assim também? Conte como<br />
começou a sua vida no kart?<br />
Gabriel David - É assim também no kart, apesar <strong>de</strong> meus<br />
pais não enten<strong>de</strong>rem tão bem assim as estratégias que<br />
envolvem uma corrida <strong>de</strong> kart. Mas eles sabem que é<br />
um esporte que eu gosto e me dão a maior força.<br />
Sobre o meu início, quando era pequeno eu brincava<br />
muito <strong>de</strong> kart com meus primos e amigos. Nessa época<br />
eu tinha uns seis anos. Com nove anos eu <strong>de</strong>scobri<br />
que tinha um kartódromo ‘indoor’ na Barra da Tijuca.<br />
Comecei a ir muito com uns amigos lá. Aí fui gostando.<br />
Eu ia para me divertir, porque é gostoso dirigir nas<br />
pistas, mesmo sendo ‘indoor’. Aos poucos fui vendo<br />
que levava jeito para corrida. Um dia falei para minha<br />
mãe que eu queria fazer isso profissionalmente, que<br />
eu estava gostando muito <strong>de</strong> kart. Ela e meu pai me<br />
viram correndo, e gostaram. Eu, inclusive, ganhei a<br />
corrida! Eles acabaram aceitando meu pedido. Então,<br />
em 2008 comecei a pilotar um kart bem mais veloz, e<br />
fazendo parte <strong>de</strong> uma equipe muito boa. No começo <strong>de</strong><br />
2009 eu já estava participando <strong>de</strong> campeonatos.<br />
Abi-Rihan – E obteve bons resultados nesses campeonatos?<br />
Gabriel David – Meu primeiro campeonato foi o Serrano,<br />
no qual conquistei o título <strong>de</strong> campeão. É oficial,<br />
da Fe<strong>de</strong>ração Internacional <strong>de</strong> Automobilismo, com<br />
oito etapas. Nas duas primeiras corridas eu fiquei em<br />
segundo lugar, o que não foi um resultado ruim. Na<br />
terceira eu já consegui ganhar. Foi a minha primeira<br />
vitória em um campeonato. Mas, além da vitória, o que<br />
foi muito importante nesse campeonato foram as coisas<br />
que aprendi, principalmente com o Flávio Mateus, um<br />
piloto <strong>de</strong> kart <strong>de</strong> São Paulo. Ele é um piloto muito bom,<br />
com uma gran<strong>de</strong> experiência em kart, que participa <strong>de</strong><br />
todos os campeonatos importantes do Brasil. Pilotar<br />
perto <strong>de</strong>le, observando-o, foi um gran<strong>de</strong> aprendizado.<br />
Evoluí muito pilotando perto <strong>de</strong>le. Eu aprendi muito com<br />
ele, um gran<strong>de</strong> amigo meu.<br />
Fevereiro 2010
Gabriel David, ao lado <strong>de</strong> Djalma Neves, presi<strong>de</strong>nte da Fe<strong>de</strong>ração <strong>de</strong> Automobilismo do Estado<br />
do Rio <strong>de</strong> Janeiro (FAERJ) e <strong>de</strong> Cleyton Pinteiro, presi<strong>de</strong>nte da Confe<strong>de</strong>ração Brasileira <strong>de</strong><br />
Automobilismo (CBA). À direita, sua mãe, Fabíola David, seu pai, Anizio Abrão David, sua irmã<br />
Micaela David e sua prima Marina David.<br />
Abi-Rihan – Quais os motivos dos seus bons resultados?<br />
Gabriel David – Acho que levar jeito para uma coisa é<br />
importante. Mas é muito importante também que você<br />
treine bastante. Se você quer chegar a algum lugar, você<br />
tem que treinar! Isso, tanto no kart como na escola <strong>de</strong><br />
samba e em qualquer coisa... Se não se esforçar não<br />
consegue nada.<br />
Abi-Rihan – Qual foi o momento <strong>de</strong> maior emoção<br />
nessas corridas?<br />
Gabriel David – Cada competição, cada corrida, tem a<br />
sua emoção. É como no <strong>de</strong>sfile <strong>de</strong> carnaval. Cada um tem<br />
o seu significado. Mas a corrida que fiz em Guapimirim<br />
foi emocionante. Eu tinha feito a pole position com um sol<br />
muito forte. Saí na frente e, <strong>de</strong> repente, começou a chover!<br />
Na terceira volta eu ro<strong>de</strong>i e fui para o último lugar.<br />
Vi que os outros pilotos abriram três retas <strong>de</strong> vantagem<br />
sobre mim. Podia até chegar em último, porque minha<br />
colocação no campeonato era excelente. Mas aí pensei:<br />
‘não estou aqui para assistir a corrida. Estou aqui para<br />
ganhar!’ Aí fui pra cima <strong>de</strong>les, sempre respeitando meus<br />
colegas, e fui tirando a diferença, até passar todos os<br />
outros pilotos e ganhar a corrida. Para mim foi a melhor<br />
corrida do ano! Acho que superei meus limites. E <strong>de</strong>vo<br />
isso aos meus pais, que me apóiam e me incentivam,<br />
aos meus treinadores – o Jeison e o Alcindo – e aos<br />
mecânicos da minha equipe, a Power Motorsport.<br />
Abi-Rihan – Que lição ficou <strong>de</strong>ssa corrida?<br />
Gabriel David – Acho que é a certeza <strong>de</strong> que se queremos<br />
vencer na vida, não importa a ida<strong>de</strong> ou as dificulda<strong>de</strong>s. Se<br />
a gente tiver vonta<strong>de</strong> e lutar vai conseguir o que quer.<br />
Revista <strong>Beija</strong>-<strong>Flor</strong> <strong>de</strong> <strong>Nilópolis</strong> www.beija-flor.com.br
LIGA INDEPENDENTE<br />
DAS ESCOLAS DE SAMBA<br />
Hilton Abi-Rihan – Presi<strong>de</strong>nte Jorge Castanheira, como<br />
será o Desfile das Escolas <strong>de</strong> Samba do Grupo Especial<br />
em 2010?<br />
Jorge Castanheira – No próximo carnaval nós vamos ter<br />
12 agremiações, <strong>de</strong>sfilando seis em cada dia. As escolas<br />
<strong>de</strong> samba diversificaram bastante,<br />
e estamos prevendo a apresentação<br />
<strong>de</strong> belos espetáculos e enredos<br />
muito variados.<br />
Hilton Abi-Rihan – Na Avenida, essa<br />
varieda<strong>de</strong> <strong>de</strong> enredos é promessa<br />
<strong>de</strong> varieda<strong>de</strong> <strong>de</strong> formatos e imagens,<br />
o que garante um espetáculo<br />
<strong>de</strong> qualida<strong>de</strong>. E em termos <strong>de</strong> disputa,<br />
<strong>de</strong> regras, <strong>de</strong> avaliação <strong>de</strong><br />
quesitos. Há alguma alteração para<br />
esse ano?<br />
Jorge Castanheira – Sim. Algumas<br />
mudanças técnicas foram introduzidas<br />
para esse ano, por <strong>de</strong>cisão<br />
da maioria do<br />
plenário: ao invés<br />
<strong>de</strong> 40 julgadores,<br />
nós teremos 50<br />
julgadores para<br />
analisar a apresentação<br />
das agremiações,<br />
sendo cinco<br />
julgadores para<br />
cada um dos 10<br />
quesitos. E <strong>de</strong>sses<br />
cinco julgadores,<br />
as cinco notas<br />
serão analisadas e<br />
abertas no dia da<br />
apuração, sendo<br />
que a menor nota<br />
e a maior nota dada<br />
em cada quesito<br />
para cada uma<br />
das escolas será<br />
eliminada. Então,<br />
das cinco notas<br />
num <strong>de</strong>terminado<br />
quesito, a menor e<br />
JORGE CASTANHEIRA<br />
a maior <strong>de</strong> cada escola será eliminada, valendo as três<br />
notas intermediárias. Esse é um processo que já foi usado<br />
pela Liesa, e que aplicaremos novamente este ano para<br />
fazer um novo teste, e verificar a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> incrementar<br />
ainda mais a disputa.<br />
Além disso, temos uma novida<strong>de</strong> para o Desfile: além do<br />
limite <strong>de</strong> cinco a oito alegorias, as agremiações po<strong>de</strong>rão<br />
levar para a Avenida até, no máximo, seis tripés ou elementos<br />
cenográficos com até duas pessoas sobre eles.<br />
Hilton Abi-Rihan – Então, <strong>de</strong>ixe sua mensagem final...<br />
Jorge Castanheira – Temos certeza e esperança <strong>de</strong> que<br />
as escolas farão um gran<strong>de</strong> carnaval, se superando em<br />
criativida<strong>de</strong> e ousadia, realizando um gran<strong>de</strong> espetáculo.<br />
Então, a nossa mensagem é que todos tenham um excelente<br />
carnaval, que tudo transcorra num clima <strong>de</strong> muita<br />
paz e <strong>de</strong> fraternida<strong>de</strong>. E que o carnaval seja mais um exemplo<br />
<strong>de</strong> reunião <strong>de</strong> todas as classes sociais em prol <strong>de</strong><br />
um objetivo comum que é realizar a maior festa popular<br />
do mundo.<br />
Fevereiro 2010
UM OLHAR SOB BRASÍLIA<br />
SIMÃO <strong>SE</strong>SSIM<br />
No ano em que a Capital Fe<strong>de</strong>ral comemora 50 anos, a revista <strong>Beija</strong>-<strong>Flor</strong><br />
<strong>de</strong> <strong>Nilópolis</strong> foi ouvir um dos mais ilustres parlamentares do Estado, que<br />
há 31 anos representa com honestida<strong>de</strong> e pragmatismo a população fluminense:<br />
o <strong>de</strong>putado fe<strong>de</strong>ral Simão Sessim.<br />
Ricardo Da Fonseca – Em que momento <strong>de</strong> sua vida surgiu<br />
o <strong>de</strong>sejo <strong>de</strong> se <strong>de</strong>dicar à política?<br />
Simão Sessim – Foi na década <strong>de</strong> 60, quando eu lecionava<br />
nos principais colégios <strong>de</strong> <strong>Nilópolis</strong>, Mesquita e Nova Iguaçu.<br />
No contato com os jovens, principalmente os mais carentes,<br />
emergia sempre o <strong>de</strong>sejo, o sonho permanente <strong>de</strong> ver um<br />
Brasil gran<strong>de</strong>, <strong>de</strong>senvolvido, <strong>de</strong>mocrático e com justiça social.<br />
Da mesma forma, eu imaginava uma forma <strong>de</strong> ajudar<br />
a oferecer melhor qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida ao povo da cida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />
<strong>Nilópolis</strong>, que me viu nascer e crescer.<br />
Ricardo Da Fonseca – Como foi o seu ingresso na carreira<br />
política? Houve alguma dificulda<strong>de</strong>? Qual?<br />
Simão Sessim – As condições precárias <strong>de</strong> <strong>Nilópolis</strong>, comum<br />
a toda Baixada Fluminense, mostrava que só através da<br />
política po<strong>de</strong>ríamos concretizar o nosso sonho <strong>de</strong> ver chegar<br />
o progresso, o <strong>de</strong>senvolvimento, a justiça social, enfim, o<br />
respeito, a dignida<strong>de</strong> ao povo sofrido e abandonado. Assim,<br />
formamos um grupo na família, aliado a gran<strong>de</strong>s amigos, e<br />
ingressamos nos partidos políticos dispostos a disputar as<br />
eleições. Nesse grupo estavam Jorge David, Miguel Abrão,<br />
Nelson Abrão, Anizio Abrão David, Luiz Cláudio <strong>de</strong> Azevedo<br />
Viana, Farid Abrão, Nagib Sessim, Dr. Israel José <strong>de</strong> Melo, Dr.<br />
Otadélio Magalhães e muitos outros. Tivemos dificulda<strong>de</strong>s<br />
para conseguir vagas nos partidos que eram dominados<br />
pelos <strong>de</strong>putados estaduais da época, como Egídio Mendonça<br />
Thurler, Lucas <strong>de</strong> Andra<strong>de</strong> Figueiras e Jarbas Lopes. O partido<br />
que nos aceitou foi a UDN (União Democrática Nacional),<br />
comandada pelo saudoso e inesquecível João <strong>de</strong> Moraes<br />
Cardoso Junior, que foi o primeiro prefeito <strong>de</strong> <strong>Nilópolis</strong>.<br />
Conquistamos cerca <strong>de</strong> 20 mil votos, <strong>de</strong>rrotando gran<strong>de</strong>s<br />
políticos da época, como João Machado Barcelos, o Mangueira;<br />
o <strong>de</strong>putado estadual Gilberto Rodrigues; o suplente<br />
<strong>de</strong> <strong>de</strong>putado fe<strong>de</strong>ral Adauri Fernan<strong>de</strong>s; o vereador Orlando<br />
Hungria, que era apoiado pelo prefeito Sérgio Cardoso; e o<br />
ex-prefeito Eracyoes Lima. É importante <strong>de</strong>stacar que, já nas<br />
eleições <strong>de</strong> 1962, conseguimos eleger Jorge David <strong>de</strong>putado<br />
estadual, e os vereadores Israel José <strong>de</strong> Melo e Otadélio<br />
Magalhães do Vabo, além <strong>de</strong> Miguel Abrão, pelo PTB.<br />
Ricardo Da Fonseca – Que fato marcante o senhor <strong>de</strong>stacaria<br />
durante toda a sua trajetória política?<br />
Simão Sessim – Sem dúvida alguma a minha eleição para prefeito<br />
em 1972. Jovem, com 37 anos, professor, primeiro diretor<br />
do Colégio Aydano <strong>de</strong> Almeida, que acabara <strong>de</strong> ser fundado.<br />
Recordo que tive uma campanha apoiada, principalmente,<br />
pelos meus alunos dos colégios Olin<strong>de</strong>nse, Nilopolitano,<br />
Filgueiras, José D´Alessandro e o próprio Aydano <strong>de</strong> Almeida.<br />
Foi fundamental, sem dúvida alguma, o apoio da escola <strong>de</strong><br />
samba <strong>Beija</strong>-<strong>Flor</strong> <strong>de</strong> <strong>Nilópolis</strong>, presidida, na época, pelo saudoso<br />
Nelson Abrão David e o patrono Anizio Abrão David,<br />
que ainda pertencia ao 2º Grupo, cujo enredo foi “Educação<br />
Para o Desenvolvimento”, tema que tinha muito a ver com a<br />
nossa campanha e o nosso projeto <strong>de</strong> governo. Esse enredo,<br />
no Carnaval <strong>de</strong> 1973, levou a <strong>Beija</strong>-<strong>Flor</strong> <strong>de</strong> <strong>Nilópolis</strong> ao 1º<br />
Grupo. Ainda no meu mandato <strong>de</strong> prefeito, no Carnaval <strong>de</strong><br />
1976, ela conquistou o seu primeiro título <strong>de</strong> campeã entre as<br />
gran<strong>de</strong>s escolas do Rio <strong>de</strong> Janeiro, com o antológico enredo<br />
“Sonhar com o rei dá leão”, ocasião em que a cida<strong>de</strong> inteira<br />
parou para homenagear Anizio, Nelsinho, Joãozinho Trinta<br />
e todos os componentes da escola. Depois vieram o bi e o<br />
tricampeonato, em 1977 e 1978.<br />
Ricardo Da Fonseca – Como tem sido a sua vida em Brasília,<br />
e como foi a sua adaptação?<br />
Simão Sessim – Assumi o meu primeiro mandato como<br />
<strong>de</strong>putado fe<strong>de</strong>ral no dia 1º <strong>de</strong> fevereiro <strong>de</strong> 1979. Hoje,<br />
já cumpro o meu oitavo mandato consecutivo. Mas, sem<br />
dúvida alguma, me encheu <strong>de</strong> alegria, felicida<strong>de</strong>, emoção e<br />
orgulho a minha chegada a Brasília como representante do<br />
Rio <strong>de</strong> Janeiro no Congresso Nacional, mais precisamente<br />
na Câmara dos Deputados. Já se vão 31 anos consecutivos,<br />
ininterruptos, <strong>de</strong> minha participação no mais importante<br />
cenário da política brasileira, militando com homens e<br />
mulheres que ajudaram a construir este país ao longo <strong>de</strong>sse<br />
período. Na verda<strong>de</strong>, não tive problemas <strong>de</strong> adaptação, uma<br />
vez que, logo no primeiro mandato, fui escolhido pelos meus<br />
colegas da ARENA do Rio <strong>de</strong> Janeiro, meu partido político<br />
na época, para exercer o cargo <strong>de</strong> coor<strong>de</strong>nador da bancada
fluminense. Fiquei surpreso com a <strong>de</strong>ferência, visto que a<br />
nossa bancada, naquele tempo, era composta <strong>de</strong> renomados<br />
e experientes parlamentares, como Célio Borja, Álvaro Valle,<br />
Amaral Neto, Lígia Lessa Bastos, Alair Ferreira, Darcílio Ayres,<br />
Hi<strong>de</strong>kel <strong>de</strong> Freitas, entre outros. Entendo que o Congresso<br />
Nacional é uma universida<strong>de</strong>, e você precisa se nivelar com<br />
os principais políticos do país e ser participativo, criativo e<br />
sensível aos gran<strong>de</strong>s problemas e aos anseios da nação.<br />
Ricardo Da Fonseca – Como legislador,<br />
estando em Brasília, o senhor com<br />
certeza <strong>de</strong>ve ter participado e também<br />
presenciado gran<strong>de</strong>s fatos que, consequentemente,<br />
entraram ou entrarão para<br />
a história do nosso país. Dentre esses<br />
fatos, qual foi o que mais lhe marcou,<br />
e por quê?<br />
Simão Sessim – O primeiro gran<strong>de</strong> fato, na<br />
minha concepção, foi a anistia, que serviu<br />
<strong>de</strong> transição do regime militar para a re<strong>de</strong>mocratização<br />
do país. Votamos a anistia<br />
<strong>de</strong>baixo do clamor <strong>de</strong> que ela <strong>de</strong>veria ser<br />
ampla, geral e irrestrita. Valeu para os dois<br />
lados, governo e oposição. Isto possibilitou<br />
o retorno, ao Brasil, dos gran<strong>de</strong>s lí<strong>de</strong>res<br />
que estavam exilados. Depois, sem dúvida<br />
alguma, o orgulho <strong>de</strong> ter sido Constituinte<br />
juntamente com Lula, José Serra, Fernando<br />
Henrique Cardoso, e tantos outros gran<strong>de</strong>s<br />
lí<strong>de</strong>res. A Assembléia Constituinte foi presidida<br />
pelo <strong>de</strong>putado Ulysses Guimarães,<br />
que batizou a nova Lei Maior do país<br />
como “Constituição Cidadã”, em 1988.<br />
Outro gran<strong>de</strong> episódio foi o afastamento<br />
do presi<strong>de</strong>nte Collor. Votamos, nesse dia,<br />
com a presença <strong>de</strong> mais <strong>de</strong> 200 mil pessoas na frente do Congresso<br />
Nacional e com todo o Brasil acompanhando a sessão<br />
do Congresso Nacional através do rádio e da televisão. Uma<br />
noite que também nos marcou muito foi a impossibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />
o presi<strong>de</strong>nte Tancredo Neves assumir a Presidência da República,<br />
por ter sido acometido <strong>de</strong> uma crise <strong>de</strong> diverticulite, que,<br />
infelizmente, culminou com a sua morte. A <strong>de</strong>cisão para que<br />
José Sarney o substituísse foi tensa, complicada e negociada<br />
entre lí<strong>de</strong>res civis e militares. E nós acompanhamos <strong>de</strong> perto<br />
todos os lances.<br />
Ricardo Da Fonseca – Ainda como <strong>de</strong>putado fe<strong>de</strong>ral, quais as<br />
suas principais realizações em favor do cidadão da Baixada<br />
Fluminense e <strong>de</strong> <strong>Nilópolis</strong>?<br />
Simão Sessim – Ao longo <strong>de</strong> meus mandatos tenho ajudado<br />
a resolver os problemas do país, do meu Estado do Rio <strong>de</strong><br />
Janeiro e, principalmente, da Baixada Fluminense. Cito<br />
como obras marcantes a construção do Porto <strong>de</strong> Itaguaí<br />
e a criação das Escolas Técnicas Fe<strong>de</strong>rais <strong>de</strong> <strong>Nilópolis</strong> e <strong>de</strong><br />
Nova Iguaçu, o saneamento e asfaltamento das principais<br />
estradas que interligam os municípios <strong>de</strong> Nova Iguaçu,<br />
<strong>Nilópolis</strong>, São João <strong>de</strong> Meriti e Duque <strong>de</strong> Caxias. Levamos<br />
também várias áreas <strong>de</strong> esporte e lazer para os municípios<br />
da região; lutamos ainda pela melhoria da saú<strong>de</strong>, com a<br />
implantação dos Hospitais da Posse e <strong>de</strong> Queimados, cuja<br />
construção esteve paralisada por longos anos. Brigamos,<br />
da mesma maneira, pelo Polo Gás-Químico <strong>de</strong> Duque <strong>de</strong><br />
Caxias e pelo Complexo Petroquímico <strong>de</strong> Itaboraí. Outra<br />
importante reivindicação nossa foi o Anel Rodoviário (Arco<br />
Metropolitano), ligando Xerém ao Porto <strong>de</strong> Itaguaí, e que,<br />
sem dúvida alguma, vai representar a re<strong>de</strong>nção econômica<br />
da Baixada Fluminense. Em <strong>Nilópolis</strong>, <strong>de</strong> modo especial,<br />
po<strong>de</strong>mos garantir que ajudamos a construir toda a infraestrutura<br />
urbana da cida<strong>de</strong>, além da conquista <strong>de</strong> uma gran<strong>de</strong><br />
área <strong>de</strong> Gericinó. Além disso, estamos presentes em todas as<br />
reivindicações e liberações <strong>de</strong> recursos do Governo Fe<strong>de</strong>ral<br />
que estão sendo aplicados no novo viaduto <strong>de</strong> <strong>Nilópolis</strong>,<br />
no novo reservatório <strong>de</strong> água no bairro do Cabral e na<br />
revitalização do Centro da cida<strong>de</strong>.<br />
Ricardo Da Fonseca – Que mensagem o senhor gostaria <strong>de</strong><br />
<strong>de</strong>ixar para os nossos leitores?<br />
Simão Sessim – Uma mensagem <strong>de</strong> esperança e <strong>de</strong> muita fé<br />
para todos os brasileiros que acreditam e, por isso mesmo,<br />
sonham com um país mais humano e justo. O futuro <strong>de</strong>sta<br />
nação <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> <strong>de</strong> cada um <strong>de</strong> nós. E que no enredo <strong>de</strong><br />
nossas fantasias o Brasil maravilhoso faça um belo <strong>de</strong>sfile<br />
<strong>de</strong> campeão, com muito ritmo, cadência e empolgação. Até<br />
porque o enredo sobre os 50 anos <strong>de</strong> Brasília, que a nossa<br />
querida escola <strong>de</strong> samba <strong>Beija</strong>-<strong>Flor</strong> <strong>de</strong> <strong>Nilópolis</strong> está levando<br />
para a avenida, fala exatamente <strong>de</strong> esperança, <strong>de</strong> sonhos e<br />
inspirações para que o Brasil se torne grandioso e justo.
VICENTE DATTOLI<br />
O MUNDO<br />
DE OLHO<br />
NO RIO DE JANEIRO<br />
Quando a Liga In<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte das Escolas <strong>de</strong> Samba<br />
do Rio <strong>de</strong> Janeiro foi criada, em 24 <strong>de</strong> julho <strong>de</strong><br />
1984, suas <strong>de</strong>z agremiações fundadoras buscavam<br />
um grito <strong>de</strong> in<strong>de</strong>pendência. <strong>Beija</strong>-<strong>Flor</strong> <strong>de</strong> <strong>Nilópolis</strong>,<br />
Salgueiro, Caprichosos <strong>de</strong> Pilares, Portela, Mangueira,<br />
Império Serrano, União da Ilha, Unidos <strong>de</strong><br />
Vila Isabel, Imperatriz Leopoldinense e Mocida<strong>de</strong><br />
In<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte <strong>de</strong> Padre Miguel estavam cansadas<br />
<strong>de</strong> ver suas propostas <strong>de</strong>rrotadas pelos interesses,<br />
menores, das <strong>de</strong>mais agremiações que compunham<br />
a Associação das Escolas <strong>de</strong> Samba.<br />
Nesses pouco mais <strong>de</strong> 25 anos <strong>de</strong> história, muitas<br />
conquistas po<strong>de</strong>m ser contabilizadas. Direitos<br />
autorais pagos diretamente aos compositores que<br />
têm seus sambas cantados durante os <strong>de</strong>sfiles, valorização<br />
por parte do po<strong>de</strong>r público, mais recursos<br />
na comercialização do espetáculo – leia-se maior<br />
interesse e investimento por parte das emissoras<br />
<strong>de</strong> televisão – e, principalmente, um crescente aumento<br />
do interesse dos veículos <strong>de</strong> comunicação,<br />
notadamente do exterior. A cada ano que passa<br />
mais e mais jornais, revistas, sites e emissoras <strong>de</strong><br />
televisão querem falar e mostrar o nosso <strong>de</strong>sfile do<br />
Grupo Especial.<br />
Nada disso teria acontecido se a organização não<br />
fosse o ponto forte do espetáculo apresentado pelas<br />
12 principais Escolas <strong>de</strong> Samba do Carnaval do<br />
Rio <strong>de</strong> Janeiro. Se, hoje, aquele grupo <strong>de</strong> <strong>de</strong>z fundadoras<br />
sente a ausência <strong>de</strong> algumas agremiações,<br />
momentaneamente em outros <strong>de</strong>sfiles, não se<br />
po<strong>de</strong> negar que as presenças <strong>de</strong> Unidos da Tijuca,<br />
Viradouro, Gran<strong>de</strong> Rio e Porto da Pedra (para citar<br />
as mais bem colocadas no ranking da Liga) servem<br />
para dar mais brilho à apresentação que é feita nas<br />
noites <strong>de</strong> domingo e segunda-feira <strong>de</strong> Carnaval.<br />
Com a escolha do Rio <strong>de</strong> Janeiro para se<strong>de</strong> dos<br />
Jogos Olímpicos <strong>de</strong> 2016, sente-se claramente que<br />
uma boa parcela dos meios <strong>de</strong> comunicação, que<br />
não via no lado sul do globo terrestre fatores maiores<br />
para mostrar a seu público, teve <strong>de</strong> alterar o seu<br />
padrão. E, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a vitória da Cida<strong>de</strong> Maravilhosa,<br />
na primeira semana <strong>de</strong> outubro, quando <strong>de</strong>rrotou<br />
Tóquio, Madrid e Chicago, não há exagero em se<br />
dizer que os olhos do mundo estão voltados para o<br />
Rio <strong>de</strong> Janeiro.<br />
0 Revista <strong>Beija</strong>-<strong>Flor</strong> <strong>de</strong> <strong>Nilópolis</strong> www.beija-flor.com.br
Antes do Carnaval tivemos o réveillon, manifestação<br />
que atraiu cerca <strong>de</strong> 650 mil turistas para o Rio <strong>de</strong> Janeiro.<br />
Foi o primeiro gran<strong>de</strong> evento internacional <strong>de</strong>s<strong>de</strong><br />
a escolha da se<strong>de</strong> olímpica. Um evento, porém,<br />
que possui diversos parâmetros <strong>de</strong> comparação. Todas<br />
as emissoras <strong>de</strong> televisão mostram, no dia 31<br />
<strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro, as passagens <strong>de</strong> ano mais famosas no<br />
mundo: Sidney, na Ponte Habour; Moscou, na Praça<br />
Vermelha; Paris, na Avenida Champs Elysees; Londres,<br />
nas proximida<strong>de</strong>s do parlamento...<br />
Agora, em fevereiro, porém, seremos somente nós.<br />
O mundo inteiro vai parar para ver o <strong>de</strong>sfile das<br />
Escolas <strong>de</strong> Samba do Grupo Especial, que pela 26ª<br />
vez será organizado pela Liga. Não se pense, porém,<br />
que o padrão <strong>de</strong> excelência internacional exibido<br />
hoje foi conseguido <strong>de</strong> uma hora para outra, e<br />
sem esforço. Nada disso. Foram necessários anos<br />
<strong>de</strong> aprendizado. Cada erro cometido era um aviso<br />
e um sinal do que precisava ser alterado, melhorado.<br />
Felizmente, ao longo <strong>de</strong> todo este tempo a<br />
Liga soube olhar para trás e organizar-se – e, claro,<br />
organizar ainda melhor o gran<strong>de</strong> espetáculo.<br />
Para os <strong>de</strong>sfiles <strong>de</strong> 2010 algumas importantes novida<strong>de</strong>s<br />
serão colocadas em prática. Sem alteração<br />
do tempo máximo <strong>de</strong> apresentação (82 minutos),<br />
cada Escola precisará exibir-se para mais um julgador<br />
– agora serão cinco, com as notas extremas<br />
eliminadas. Também serão introduzidos seis novos<br />
elementos cenográficos, que po<strong>de</strong>rão conduzir até<br />
duas pessoas. Tudo pensado para dar ainda mais brilho<br />
às performances das Escolas <strong>de</strong> Samba e manter<br />
a atenção do mundo voltada para o Rio <strong>de</strong> Janeiro.<br />
A revista <strong>Beija</strong>-<strong>Flor</strong> <strong>de</strong> <strong>Nilópolis</strong> - uma escola <strong>de</strong> vida presta aqui, uma homenagem em vida ao jornalista esportivo<br />
e <strong>de</strong> carnaval Vicente Dattoli, que completa em 2010 <strong>de</strong>z anos ininterruptos <strong>de</strong> expressivos serviços ao carnaval carioca<br />
e à Liga In<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte das Escolas <strong>de</strong> Samba - Liesa, exercendo a função <strong>de</strong> assessor <strong>de</strong> imprensa da Liesa.<br />
Graduado pela UFF - Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral Fluminense, Vicente já trabalhou na redação <strong>de</strong> diversos importantes<br />
veículos <strong>de</strong> comunicação, entre eles, Última Hora, Jornal do Brasil e O Dia e TV Globo, tendo iniciado sua atuação<br />
na Liesa à convite do presi<strong>de</strong>nte Luiz Pacheco Drumond (2000) e permanecido na função até os dias atuais.<br />
Parabéns, Vicente!<br />
Fevereiro 2010
Pelos idos <strong>de</strong><br />
1751, havia uma<br />
praia chamada<br />
Areias <strong>de</strong> Espanha<br />
ao lado<br />
<strong>de</strong> uma lagoa<br />
– Lagoa do Boqueirão<br />
– tão insalubre<br />
e cheia<br />
<strong>de</strong> mosquitos que o vice-rei mandou aterrar.<br />
Assim surgiu a região conhecida como Lapa, na cida<strong>de</strong><br />
do Rio <strong>de</strong> Janeiro.<br />
Em volta <strong>de</strong> um seminário e uma capela erguida em<br />
nome <strong>de</strong> Nossa Senhora da Lapa nasceu o bairro-síntese<br />
da alma carioca; da boemia, malandragem,<br />
travestis (antigamente bem mais discretos),<br />
prostitutas e histórias trágicas ou hilariantes nessa<br />
animadíssima região que se esten<strong>de</strong> do Passeio<br />
Público ao Bairro <strong>de</strong> Fátima.<br />
Deca<strong>de</strong>nte entre as décadas <strong>de</strong> 40 e 80, a Lapa<br />
está vigorosa, com as mais variadas tribos cariocas<br />
e visitantes que curtem os diversos sons nas ruas e<br />
que ecoam dos velhos casarões reformados. Samba,<br />
música eletrônica, choro, forró, salsa e merengue,<br />
rock, sinfonia; <strong>de</strong> tudo se ouve na Lapa.<br />
UM PASSADO CHEIO DE MALANDRAGEM<br />
O radialista Rubem Confete vivenciou o reduto entre<br />
os anos 50 e 60, on<strong>de</strong> “gente <strong>de</strong> bem” não pisava:<br />
“A Lapa era uma região da malandragem. Eu<br />
estava no Juca Pato (Rua Viscon<strong>de</strong> <strong>de</strong> Maranguape,<br />
junto ao Largo da Lapa) e Nelson Cavaquinho<br />
também, com seu violão. Passou uma comitiva <strong>de</strong><br />
carros, e num <strong>de</strong>les estava o Vinícius <strong>de</strong> Moraes<br />
(diplomata na época), <strong>de</strong> smoking. Ia ser paraninfo<br />
na Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Direito, na Praça da República.<br />
QUER ENCONTRAR<br />
A ALMA CARIOCA?<br />
VÁ À LAPA.<br />
ÍRIS ÁGATHA<br />
Quando viu o Nelson, saltou e bradou: ‘Não vou<br />
fazer discurso pra reitor nenhum. A garotada que<br />
venha pra cá’. Resultado: rapazes <strong>de</strong> smoking e<br />
moças <strong>de</strong> soirée se formaram no bar.”<br />
Confete conheceu também João Francisco dos Santos,<br />
o lendário Madame Satã, encarregado pelos<br />
rufiões <strong>de</strong> cuidar e <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>r as “meninas” que moravam<br />
no atual Bairro <strong>de</strong> Fátima. Confete recorda<br />
que, em 1972, Madame Satã, em má situação, recebeu<br />
ajuda <strong>de</strong> uma ex-meretriz viúva <strong>de</strong> um general.<br />
Nos anos <strong>de</strong> 1920 e 1930 a vida noturna do bairro<br />
era tão intensa que ele foi chamado <strong>de</strong> “Montmartre<br />
Carioca” (alusão a um bairro <strong>de</strong> Paris, na<br />
França). Havia residências e também cabarés, cassinos,<br />
bares e restaurantes. Mas a repressão do<br />
Estado Novo, com o combate às ativida<strong>de</strong>s ilícitas,<br />
e a concorrência <strong>de</strong> Copacabana levaram a Lapa à<br />
<strong>de</strong>cadência.<br />
UM NOVO RUMO<br />
Em 1982 aconteceu uma união em <strong>de</strong>fesa da Lapa.<br />
O Circo Voador fora expulso do Arpoador (Zona Sul<br />
carioca) e a prefeitura da cida<strong>de</strong> apresentou como alternativa<br />
o terreno baldio do Largo da Lapa (que iria<br />
ser uma extensão do estacionamento da Catedral).<br />
I<strong>de</strong>alizador do Circo, o produtor cultural Perfeito Fortuna<br />
conta: “De positivo, o lugar tinha o caráter central,<br />
atraía uma varieda<strong>de</strong> <strong>de</strong> público muito maior que<br />
o Arpoador. O acesso era mais fácil. Só percebemos<br />
isso <strong>de</strong>pois que nos mudamos, e foi muito positivo. O<br />
Circo jogou luz sobre a Lapa e valorizou a região”.<br />
Mas o Circo Voador não só <strong>de</strong>u um novo rumo à Lapa,<br />
como lançou, na cida<strong>de</strong>, sucessos como o Barão Vermelho,<br />
Blitz, Paralamas do Sucesso, Lobão, Deborah<br />
Colker e a Intrépida Trupe. Além <strong>de</strong> lançar, o Circo<br />
Voador exibiu artistas <strong>de</strong> gerações passadas, como<br />
Revista <strong>Beija</strong>-<strong>Flor</strong> <strong>de</strong> <strong>Nilópolis</strong> www.beija-flor.com.br
Ângela Maria, Cauby Peixoto, e a gafieira mo<strong>de</strong>rna<br />
com a Orquestra Tabajara na Domingueira Voadora.<br />
Augusto Ivan, arquiteto e urbanista, trabalhou no<br />
projeto do Corredor Cultural – criado por <strong>de</strong>creto<br />
pelo então prefeito Marcelo Alencar em 1984 – e na<br />
reurbanização do entorno dos Arcos da Lapa. Segundo<br />
Augusto Ivan, que foi subprefeito do Centro e<br />
Secretário Municipal <strong>de</strong> Urbanismo, ”os comerciantes<br />
da Rua do Lavradio vinham fazendo um trabalho<br />
importantíssimo para reabilitar e recuperar a economia<br />
da área. Sem o trabalho <strong>de</strong>les nada teria sido<br />
possível. A reabilitação da rua do Lavradio é um<br />
exemplo para todo o país e mesmo para fora <strong>de</strong>le”.<br />
Uma outra luta empreendida em favor da memória carioca<br />
e que resultou na criação <strong>de</strong> um ponto <strong>de</strong> importantes<br />
manifestações culturais foi protagonizada na<br />
Fundição Progresso – <strong>de</strong> fogões e cofres –, localizada<br />
ao lado do Circo Voador. A Fundição estava <strong>de</strong>sativada<br />
em 1987 e começava a ser <strong>de</strong>molida. Os integrantes<br />
do Circo Voador, que tinham uma visão apurada<br />
da importância da preservação e da valorização da<br />
arte e da cultura carioca, não se conformaram com<br />
essa situação e foram à luta: com o apoio <strong>de</strong> artistas<br />
e personalida<strong>de</strong>s cariocas, eles se puseram entre o<br />
prédio antigo e os tratores e marretas, impedindo a<br />
<strong>de</strong>molição enquanto parte do grupo ia buscar ajuda<br />
para o embargo da <strong>de</strong>molição por or<strong>de</strong>m judicial.<br />
O esforço não foi em vão.<br />
Após o esforço do grupo e o apoio da socieda<strong>de</strong><br />
civil, o prédio da Fundição Progresso foi mantido <strong>de</strong><br />
pé e os governos municipal e estadual conce<strong>de</strong>ram<br />
ao Circo Voador o uso do espaço físico da Fundição<br />
para a realização <strong>de</strong> eventos culturais.<br />
A Fundição surgiu, então, com capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> aten<strong>de</strong>r<br />
um público <strong>de</strong> cerca <strong>de</strong> 7000 pessoas, com<br />
quatro teatros, três palcos para shows, uma arena,<br />
o Palco São Sebastião (primeiro piso) e a choperia<br />
Parada da Lapa, para shows.<br />
Na Fundição, importantes grupos artísticos encontraram<br />
o espaço para <strong>de</strong>senvolver suas propostas, entre<br />
eles a Intrépida Trupe, o Centro Interativo <strong>de</strong> Circo, o<br />
Armazém Cia. <strong>de</strong> Teatro e o Teatro <strong>de</strong> Anônimo.<br />
Hoje, a Fundição Progresso permanece um espaço<br />
<strong>de</strong>mocrático <strong>de</strong> acesso à arte e à cultura brasileira,<br />
bem no coração da Lapa.<br />
UM BAIRRO DE MUITAS OFERTAS<br />
Segundo informação da Associação Polo Novo Rio<br />
Antigo existem atualmente cerca <strong>de</strong> 400 bares,<br />
restaurantes, sebos, antiquários e casas <strong>de</strong> shows<br />
na região.<br />
Plínio Fróes, diretor da Associação, que li<strong>de</strong>rou a<br />
reabilitação, saiu <strong>de</strong> Copacabana e foi morar na<br />
Rua do Lavradio. É sócio <strong>de</strong> três estabelecimentos:<br />
da casa noturna Rio Scenarium, da cachaçaria<br />
Mangue Seco e do restaurante Santo Scenarium. A<br />
dançante Rio Scenarium, que chega a receber dois<br />
mil clientes em uma noite, tem novo espaço para<br />
músicas líricas e <strong>de</strong> câmara.<br />
Li hoje cedo no jornal que a borracharia que havia na Rua<br />
Mem <strong>de</strong> Sá, na Lapa, enche seu último pneu só até o Natal,<br />
começando o ano com cerveja gelada<br />
e churrasquinho na farofa.<br />
Aliás, tô muito atrasado.<br />
Hoje, aquele cubículo<br />
<strong>de</strong> graxa e aro 26 tá<br />
sendo disputado por<br />
franquias <strong>de</strong> barescom-estilo.<br />
A verda<strong>de</strong> é que esse<br />
bairro trouxe um<br />
novo sol nessa<br />
turma não<br />
bronzeada.<br />
Através dos<br />
Arcos, novas<br />
águas<br />
p a s s a m<br />
por cima<br />
<strong>de</strong>ssa ponte<br />
chamada cultura<br />
carioca.<br />
O samba acenou <strong>de</strong> vez pra<br />
juventu<strong>de</strong>, a escuridão <strong>de</strong> um centro abandonado <strong>de</strong>u luz<br />
e emergentes boêmios que povoarão <strong>de</strong> história o futuro<br />
próximo do Rio <strong>de</strong> Janeiro.<br />
Hoje, não precisamos mais inventar novas ‘rabanadas’<br />
nos pés do lendário Madame Satã, nem <strong>de</strong>positar aos<br />
malandros punguistas a essência <strong>de</strong>sse logradouro.<br />
As sandálias da Carmem Miranda estão calçando a her<strong>de</strong>ira<br />
Teresa Cristina.<br />
No mesmo chapéu do Geraldo Pereira, a cabeça <strong>de</strong> Moyses<br />
Marques.<br />
O Capela berra a cada cabrito servido.<br />
Do lado, O Bar Brasil põe mais gelo na serpentina pra ‘entulipar’<br />
<strong>de</strong> chopp os novos e talentosos cariocas, alma <strong>de</strong><br />
Manuel Ban<strong>de</strong>ira, se<strong>de</strong> <strong>de</strong> Albino Pinheiro.<br />
Não será raro você encontrar alguém entusiasmado pela<br />
Rua do Lavradio, <strong>de</strong>s<strong>de</strong>nhando da Vieira Souto.<br />
É capaz <strong>de</strong> frasear: - Lá só tem mar. A Lapa tem vida!!<br />
Moacyr Luz<br />
Santa Tereza, Rio <strong>de</strong> Janeiro, 22/12/2009<br />
Fevereiro 2010
DO YOU WANT TO FIND<br />
ÍRIS ÁGATHA<br />
THE CARIOCA HEART?<br />
Until 1751 there was a beach called Areias <strong>de</strong> Espanha<br />
nearby a lagoon – Lagoa do Boqueirão – that was so miasmic<br />
and full of mosquitoes that the viceroy or<strong>de</strong>red it filled in.<br />
This is how the region known as Lapa in the city of Rio <strong>de</strong><br />
Janeiro was born.<br />
Around a seminary and chapel built in honor Our Lady of<br />
Lapa grew the neighborhood that’s the essence of the Carioca<br />
soul – filled with Bohemians, rascals, transvestites (more<br />
discreet in the old days), prostitutes and tragic or hilarious<br />
stories. That’s an apt <strong>de</strong>scription of this animated region that<br />
stretches from Passeio Público in the downtown Cinelândia<br />
district to the Fátima district.<br />
Deca<strong>de</strong>nt between the 1940s and 80s, Lapa is now reinvigorated,<br />
attracting the most varied Carioca tribes and visitors<br />
seeking to enjoy the many sounds that echo in the streets<br />
and waft from remo<strong>de</strong>led buildings turned into nightspots.<br />
Samba, electronic music, choro, forró, salsa and merengue,<br />
rock, even chamber music. Lapa has it all and more.<br />
A PAST FULL OF LOWLIFE<br />
The radio host Ruben Confeti experienced the redoubt in the<br />
1950s and 60s, when “<strong>de</strong>cent folk” dared not enter: “Lapa<br />
was filled with lowlife. I was in Juca Pato (Viscon<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />
Maranguape Street where it meets Lapa Square) along with<br />
Nelson Cavaquinho, who was holding his guitar. A procession<br />
of cars passed by, one of them carrying Vinícius <strong>de</strong><br />
Moraes (a diplomat at the time, later one of Brazil’s greatest<br />
composers), wearing an elegant tux. He was going to give a<br />
keynote speech at the School of Law in Praça da República.<br />
When he saw Nelson, he hopped out and shouted: ‘I’m not<br />
going to give a speech to any <strong>de</strong>an. Let’s go everybody’. The<br />
result: young men in tuxedos and ladies in soirées lined up<br />
at the bar.”<br />
GO TO LAPA.<br />
Confeti also was an acquaintance of João Francisco dos<br />
Santos, the legendary drag queen “Madam Satan”, put in<br />
charge by the local ruffians to <strong>de</strong>fend the “girls” who lived<br />
in the Fátima district. Confeti remembers that in 1972,<br />
Madam Satan, having fallen on hard times, received help<br />
from a former call girl, widow of a general.<br />
In the 1920s and 30s the district’s nightlife was so intense<br />
it was called the “Carioca Montmartre” (alluding to the<br />
district in Paris). There were resi<strong>de</strong>nces along with cabarets,<br />
casinos, bars and restaurants. But the repression during<br />
the Estado Novo dictatorship years (1937-1945), with the<br />
crackdown on illicit activities, along with competition from<br />
newer and more chic nightspots in Copacabana, caused Lapa<br />
to enter a long <strong>de</strong>cline.<br />
A NEW LIFE<br />
A key event in Lapa’s revival happened in 1982.<br />
The Circo Voador (“Flying Circus”) show venue lost its zoning<br />
permit in Arpoador (between Copacabana and Ipanema<br />
in Rio’s South Zone) and city officials presented as an alternative<br />
a vacant lot across from Lapa Square (which had<br />
been earmarked as additional parking for the Metropolitan<br />
Cathedral). The head of Circo Voador, the producer Perfeito<br />
Fortuna, recounts: “On the plus si<strong>de</strong>, the place was centrally<br />
located and attracted a much more varied public than Arpoador.<br />
The access was easier. We only realized this after<br />
the move, and it turned out very positively. Circo Voador<br />
put a spotlight on Lapa and triggered the region’s revival.”<br />
But Circo Voador not only gave a new life to Lapa, it also<br />
provi<strong>de</strong>d a stage in the city to launch successful bands<br />
and performers like Barão Vermelho, Blitz, Paralamas do<br />
Sucesso, Lobão, Déborah Colker and Intrépida Trupe. Besi<strong>de</strong>s<br />
new stars, Circo Voador has always also booked old-guard<br />
performers like Ângela Maria and Cauby Peixoto, as well as<br />
Revista <strong>Beija</strong>-<strong>Flor</strong> <strong>de</strong> <strong>Nilópolis</strong> www.beija-flor.com.br
offering mo<strong>de</strong>rn ballroom dancing to the tunes of Orquestra<br />
Tabajara on Domingueira Voadora (“Flying Sundays”).<br />
Augusto Ivan, an architect and urban expert, worked on the<br />
Cultural Corridor project – created in 1984 by then mayor Marcello<br />
Alencar – and on the reurbanization of the area around the<br />
Lapa Arches. According to Augusto, who has been sub-mayor<br />
for downtown and municipal secretary of urbanism, “the merchants<br />
on Lavradio Street have been doing important work to<br />
revitalize the area and its economy. Without them none of this<br />
would have been possible. The recuperation of Lavradio Street<br />
is an example for the entire country and even abroad.”<br />
Another struggle in favor of preserving Rio’s heritage, one that<br />
resulted in the creation of a venue for important cultural manifestations,<br />
was experienced by Progresso Foundry, a maker of<br />
stoves and safes, located alongsi<strong>de</strong> Circo Voador. The foundry<br />
was <strong>de</strong>activated in 1987 and started to be <strong>de</strong>molished. The<br />
members of Circo Voador, who had a sharp insight into the<br />
importance of preserving and valuing Carioca art and culture,<br />
refused to stand for this. They joined with performers and<br />
personalities and formed a cordon between the old building<br />
and the bulldozers and wrecking balls, preventing its <strong>de</strong>molition<br />
while their lawyers sought a court or<strong>de</strong>r to halt it.<br />
The effort was not in vain.<br />
After this effort, Circo Voador, with the help of civil society<br />
organizations, obtained permission from the city and state<br />
governments to use the Progresso Foundry building as a<br />
space to hold cultural events.<br />
The building has now been rema<strong>de</strong> into a venue that can<br />
hold nearly 7,000 people, with four theaters, three stages for<br />
shows, an arena (the ground-floor Palco São Sebastião) and<br />
the Parada da Lapa beer hall.<br />
Important artistic groups find a place to <strong>de</strong>velop their projects,<br />
among them Intrépida Trupe, Centro Interativo <strong>de</strong> Circo,<br />
Armazém Cia. <strong>de</strong> Teatro and Teatro <strong>de</strong> Anônimo.<br />
Today Progresso Foundry remains a space for <strong>de</strong>mocratic<br />
access to Brazilian art and culture in the heart of Lapa.<br />
A DISTRICT WITH MUCH TO OFFER<br />
According to the Associação Pólo Novo Rio Antigo, there<br />
are around 400 bars, restaurants, used bookstores, antique<br />
shops and show venues in Lapa.<br />
Plínio Fróes, the association’s director, led the revitalization<br />
effort and moved from Copacabana to an apartment<br />
on Lavradio Street. He’s a partner in three establishments:<br />
Rio Scenarium nightclub, Mangue Seco bar (specialized in<br />
cachaça, Brazil’s homegrown cane liquor) and Santo Scenarium<br />
restaurant. The swinging Rio Scenarium, which can<br />
hold two thousand people, even has a new space for lyrical<br />
and chamber music concerts.<br />
Fevereiro 2010
THAÍS MEDEIROS<br />
AMOR PELO<br />
SAMBA<br />
<strong>SE</strong> APRENDE EM CASA<br />
Já dizia o velho ditado: “De casa vai à praça”, ou<br />
ainda “filho <strong>de</strong> peixe, peixinho é”. Ambas as expressões<br />
po<strong>de</strong>m ser vistas por muitos apenas como<br />
famosos ditos populares, mas ilustram <strong>de</strong> forma<br />
quase perfeita a realida<strong>de</strong> <strong>de</strong> muitas pessoas. Isso<br />
porque tem sido muito comum encontrarmos<br />
filhos que por motivos<br />
diversos acabam seguindo pelo<br />
mesmo caminho que seus pais. E<br />
assim como os motivos, as explicações<br />
para o fato também são<br />
múltiplas: uma das mais comuns<br />
encontra-se na tão conhecida<br />
curiosida<strong>de</strong>, já que é mais do que<br />
normal que um filho se interesse<br />
pelo trabalho <strong>de</strong> seus pais.<br />
Pináh e Cláudia Ayoub<br />
A gran<strong>de</strong> passarela do samba carioca,<br />
tablado da alegria e assembléia multirracial,<br />
não po<strong>de</strong>ria <strong>de</strong>ixar <strong>de</strong> ser palco <strong>de</strong>ssa gran<strong>de</strong> “reunião<br />
familiar trabalhista”.<br />
E a <strong>Beija</strong>-<strong>Flor</strong> <strong>de</strong> <strong>Nilópolis</strong>, fazendo jus ao apelido<br />
carinhoso <strong>de</strong> “princesinha da passarela”, integra-se<br />
ao cenário <strong>de</strong>ssa confraternização servindo como<br />
se<strong>de</strong> para essa agregação <strong>de</strong> famílias e abrindo alas<br />
para essa gran<strong>de</strong> família pelas mãos duas mulheres<br />
– <strong>de</strong> tantas outras – <strong>de</strong> muita fibra e <strong>de</strong>terminação.<br />
A primeira <strong>de</strong>las é a tão conhecida Pinah Ayoub,<br />
que começou sua história na arte do samba através<br />
do Luiz Carlos Ribeiro, <strong>de</strong>corador com quem participava<br />
<strong>de</strong> concursos <strong>de</strong> fantasias nos teatros cariocas<br />
e que a convidou para <strong>de</strong>sfilar no <strong>GRES</strong> Em<br />
Cima da Hora, em 1974. Embora tenha começado<br />
em outra escola <strong>de</strong> samba, Pinah<br />
carrega a <strong>Beija</strong>-<strong>Flor</strong> <strong>de</strong> <strong>Nilópolis</strong><br />
no coração, e <strong>de</strong>dica os méritos<br />
do que é hoje tão somente ao<br />
samba: “O samba é uma parte<br />
essencial na minha vida, ele me<br />
fez quem eu sou, e eu <strong>de</strong>vo honras<br />
a ele”.<br />
A segunda é a a<strong>de</strong>recista Márcia<br />
Me<strong>de</strong>iros, que sempre sonhou em<br />
fazer parte do mundo do carnaval,<br />
façanha que conseguiu no ano <strong>de</strong><br />
2003, quando criou coragem e saiu batendo <strong>de</strong> porta<br />
em porta nos barracões. A iniciativa ren<strong>de</strong>u uma<br />
vaga para trabalhar no <strong>GRES</strong> São Clemente com<br />
Milton Cunha, então carnavalesco da escola, e <strong>de</strong>s<strong>de</strong><br />
o carnaval <strong>de</strong> 2008 permanece na agremiação nilopolitana.<br />
O trabalho é bastante agitado, mas Márcia<br />
está feliz e garante que isso tudo já faz parte <strong>de</strong><br />
sua vida: “No momento, o carnaval é uma coisa que<br />
Revista <strong>Beija</strong>-<strong>Flor</strong> <strong>de</strong> <strong>Nilópolis</strong> www.beija-flor.com.br
e u<br />
já não<br />
consigo mais ficar<br />
sem. Eu me i<strong>de</strong>ntifico muito<br />
com o trabalho <strong>de</strong> carnaval”.<br />
Já Neguinho da <strong>Beija</strong>-<strong>Flor</strong> conhece bem a avenida.<br />
Ele começou sua história com o samba <strong>de</strong> uma forma<br />
bem arriscada, já que, seguindo um conselho<br />
<strong>de</strong> seu comandante, largou sua farda e <strong>de</strong>ixou tudo<br />
para trás para construir sua carreira no mundo da<br />
música, mais especificamente do samba. Sua <strong>de</strong>cisão<br />
final foi no quartel, mas seu histórico no samba<br />
já existia <strong>de</strong>s<strong>de</strong> pequeno: aos <strong>de</strong>z anos, Neguinho<br />
ganhou o seu primeiro prêmio musical, que ocorreu<br />
em um parque <strong>de</strong> diversões, on<strong>de</strong> arrebatou a terceira<br />
colocação cantando a música do saudoso Jamelão:<br />
“Se acaso você chegasse no meu ‘chateau’<br />
e encontrasse aquela mulher<br />
que você gostou...”.<br />
Luís Antônio Feliciano<br />
Marcon<strong>de</strong>s, seu nome<br />
verda<strong>de</strong>iro, tornou-se<br />
peça tão importante na<br />
história da agremiação<br />
<strong>de</strong> <strong>Nilópolis</strong> que hoje<br />
é difícil imaginar <strong>Beija</strong>-<br />
<strong>Flor</strong> nem Neguinho, e<br />
vice-versa.<br />
E assim, como em coração<br />
<strong>de</strong> mãe, a agremiação<br />
nilopolitana sempre<br />
abre espaço para mais<br />
alguém. O auxiliar <strong>de</strong><br />
almoxarifado Jorginho<br />
Leite começou em meio a<br />
uma forte rivalida<strong>de</strong> protagonizada<br />
pelos então<br />
blocos <strong>de</strong> carnaval <strong>Beija</strong>-<br />
<strong>Flor</strong> <strong>de</strong> <strong>Nilópolis</strong> e Unidos<br />
<strong>de</strong> <strong>Nilópolis</strong>. Porém,<br />
sua mãe sempre<br />
o incentivou a ir para<br />
a Azul e Branco, escola<br />
que apren<strong>de</strong>u a<br />
amar e respeitar e<br />
<strong>de</strong> on<strong>de</strong> hoje tira<br />
o seu sustento:<br />
“Através do samba,<br />
eu estou aqui<br />
trabalhando, criei meus filhos<br />
e sempre trabalhei na <strong>Beija</strong>-<strong>Flor</strong>.<br />
Quer dizer, o samba é a minha vida e o meu ganha<br />
pão”.<br />
E se os filhos são mesmo a luz da casa, como muitos<br />
acreditam por aí, a <strong>Beija</strong>-<strong>Flor</strong> está bem representada<br />
nesse quesito. Tem filhos para todos os gostos e<br />
estilos. Filhos agitados, filhos calmos, filhos dóceis,<br />
filhos não tão dóceis assim, enfim... filhos. Cláudia<br />
Ayoub, filha da ex-<strong>de</strong>staque Pinah, aceitou com<br />
carinho o incentivo <strong>de</strong> sua mãe e ingressou nesse<br />
mundo do samba carregando-o como uma herança<br />
a ser cuidada e preservada com muito respeito.<br />
História não muito diferente da do a<strong>de</strong>recista Thiago<br />
Me<strong>de</strong>iros, filho da também a<strong>de</strong>recista Márcia,<br />
que o trouxe para esse universo carnavalesco como<br />
uma espécie <strong>de</strong> terapia ocupacional, o qual Thiago<br />
encara também como uma forma <strong>de</strong> diversão, já<br />
que garante que faz seu trabalho com muito prazer.<br />
Fevereiro 2010
Outro filho, digamos que um tanto quanto <strong>de</strong>dicado,<br />
é o Luís Antônio, mais conhecido como JR que,<br />
embora estivesse esbanjando <strong>de</strong>sejo, não herdou o<br />
dom <strong>de</strong> seu pai, Neguinho da <strong>Beija</strong>-<strong>Flor</strong>. Mas, apesar<br />
<strong>de</strong> não cantar, JR acredita que não teria muito<br />
como fugir <strong>de</strong>sse <strong>de</strong>stino do samba, já que por ter<br />
sempre acompanhado o trabalho <strong>de</strong> seu pai acabou<br />
conhecendo <strong>de</strong> A a Z essa profissão. Mas o troféu<br />
<strong>de</strong> filho “rebel<strong>de</strong>” foi mesmo para Daniele Leite, filha<br />
da Jorginho Leite, que tentou <strong>de</strong> todas as formas<br />
não “cair no samba”. Mas não teve jeito; o incentivo<br />
da família foi mais forte e ela acabou entrando<br />
também para a arte do carnaval. Outro filho muito<br />
“rebel<strong>de</strong>” é o a<strong>de</strong>recista Fábio Santos, que seguiu<br />
os caminhos do irmão Fabiano<br />
Santos emprestando sua arte<br />
ao carnaval. É a primeira vez<br />
que os irmãos trabalham juntos<br />
e, embora não estejam juntos<br />
o tempo todo, estão achando<br />
muito boa a i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> trabalharem<br />
no mesmo ramo e na <strong>Beija</strong>-<strong>Flor</strong><br />
<strong>de</strong> <strong>Nilópolis</strong>. Quem também<br />
adora trabalhar em família<br />
é a a<strong>de</strong>recista Lei<strong>de</strong> Jane dos<br />
Santos, que divi<strong>de</strong> a bancada<br />
com sua irmã Marisa dos Santos<br />
há cerca <strong>de</strong> cinco anos. Elas<br />
garantem que mesmo que não<br />
houvesse um incentivo mútuo,<br />
ainda assim buscariam esse<br />
mundo do samba.<br />
Ainda no setor a<strong>de</strong>reço,<br />
os irmãos Rogério<br />
Madruga e<br />
Dora começaram<br />
com o pé direito.<br />
Isso porque Dora,<br />
ainda lá no interior,<br />
na <strong>de</strong> cida<strong>de</strong>zinha <strong>de</strong> São<br />
Fidélis, on<strong>de</strong> moravam, ganhou o concurso<br />
para rainha do carnaval. Mas a faísca reacen<strong>de</strong>u<br />
mesmo quando, já no Rio <strong>de</strong> Janeiro, visitou o seu<br />
irmão no barracão da <strong>Beija</strong>-<strong>Flor</strong> <strong>de</strong> <strong>Nilópolis</strong>.<br />
A <strong>de</strong>fensora do pavilhão da escola Selminha Sorriso<br />
aparece fechando com chave <strong>de</strong> ouro esse time<br />
<strong>de</strong> irmãos. Seu irmão, Celso Matos, atribui o seu<br />
ingresso ao carnaval não só ao seu interesse por<br />
essa arte, mas principalmente à admiração pelo<br />
trabalho <strong>de</strong> sua irmã e sua força <strong>de</strong> vonta<strong>de</strong>. E dando<br />
aquela forcinha para o samba, <strong>de</strong>fine-o como a<br />
“cultura do mundo”.<br />
Contudo, essa gran<strong>de</strong> família não se encerra por aqui,<br />
já que toda família feliz conta também com os tios,<br />
que aqui estão representados pela chefe <strong>de</strong> ateliê<br />
Bete Leite, irmã <strong>de</strong> Jorginho Leite. E, coincidência<br />
à parte, também teve um pai compositor, que come-<br />
Revista <strong>Beija</strong>-<strong>Flor</strong> <strong>de</strong> <strong>Nilópolis</strong> www.beija-flor.com.br
ç o u<br />
l e v a n d o - a<br />
para a quadra da <strong>Beija</strong>-<strong>Flor</strong>,<br />
e logo <strong>de</strong>pois carregou o seu irmão também,<br />
e a partir daí <strong>de</strong>senvolveu-se a paixão por essa<br />
arte. E já que tem tia, não po<strong>de</strong>ria faltar o famoso<br />
primo. Alex Marcon<strong>de</strong>s, sobrinho do também patriarca<br />
Neguinho da <strong>Beija</strong>-<strong>Flor</strong>, começou sua vida<br />
na arte do carnaval <strong>de</strong>vido ao forte interesse que<br />
possuía por arte em geral, e acredita que samba<br />
se apren<strong>de</strong> sim em casa, já que no seu caso foi <strong>de</strong><br />
on<strong>de</strong> veio o incentivo maior.<br />
Neste sentido, os protagonistas, além <strong>de</strong> serem<br />
gran<strong>de</strong>s profissionais, são provas <strong>de</strong> que o incentivo<br />
familiar é essencial para a valorização por parte<br />
dos mais jovens <strong>de</strong>ssa arte divina que é o samba.<br />
A reunião termina aqui; porém, as cortinas <strong>de</strong>sse<br />
espetáculo permanecerão abertas para sempre,<br />
oferecendo ao público os próximos espetáculos<br />
protagonizados pelos her<strong>de</strong>iros das nossas histórias,<br />
que farão do samba uma eterna e maravilhosa<br />
arte <strong>de</strong> ser feliz.<br />
Fevereiro 2010
EXPRESSÃO DO SAMBA<br />
Instituído pela revista <strong>Beija</strong>-<strong>Flor</strong> <strong>de</strong> <strong>Nilópolis</strong> – uma escola <strong>de</strong> vida, o título <strong>de</strong> “Expressão do Samba”<br />
reconhece o talento e a <strong>de</strong>dicação que personalida<strong>de</strong>s das artes e da cultura brasileiras <strong>de</strong>votaram ao<br />
samba e ao Carnaval. A homenagem é realizada durante o coquetel <strong>de</strong> lançamento da revista, quando o<br />
presi<strong>de</strong>nte <strong>de</strong> honra da <strong>Beija</strong>-<strong>Flor</strong> <strong>de</strong> <strong>Nilópolis</strong>, Anizio Abrão David, recebe os indicados, amigos e convidados,<br />
numa cerimônia <strong>de</strong> congraçamento animada e fraternal. A indicação dos homenageados é feita pelo<br />
conselho editorial da RBFN, li<strong>de</strong>rado por Hilton Abi-Rihan e Ricardo Da Fonseca (editores) e por Anizio,<br />
o anfitrião da gran<strong>de</strong> noite, que acontece no Clube Monte Líbano, no Rio <strong>de</strong> Janeiro. Eleitos na edição<br />
passada, Alcione, Jorge Goulart, Zé-Di, Dona Ivone Lara, Jorge Aragão e Délcio Carvalho tiveram seus<br />
nomes confirmados como os homenageados este ano.<br />
MIRO LOPES<br />
Alcione é música do Brasil<br />
Acesa, atenta e perfeccionista, a cantora (e trompetista)<br />
sabe <strong>de</strong>tectar mais do que as sutilezas <strong>de</strong><br />
uma letra e a força <strong>de</strong> uma melodia, que se enriquece<br />
com seu talento e interpretação. Disso ninguém<br />
discorda. E sua trajetória e sucessos confirmam.<br />
Em 1972, Alcione gravou pela primeira vez um<br />
compacto simples com os sambas “O sonho acabou”<br />
(Gilberto Gil) e “Figa-<strong>de</strong>-Guiné” (Nei Lopes<br />
e Reginaldo Bessa). No ano seguinte gravou “Tem<br />
<strong>de</strong>ndê”, outro samba da dupla. Reginaldo <strong>de</strong>clara<br />
que “é um orgulho que vou sempre levar comigo,<br />
o <strong>de</strong> ter participado da alvorada <strong>de</strong>ste sol maravilhoso<br />
que é a voz <strong>de</strong> Alcione”. E sacramenta: “não<br />
existe prazer maior para um autor do que ver sua<br />
obra bem interpretada”.<br />
Assim, a Marrom ultrapassa pouco mais <strong>de</strong> três<br />
décadas pontificando nas paradas com sucessos<br />
memoráveis – “Não <strong>de</strong>ixe o samba morrer”, “O<br />
surdo”, “Meu ébano”, “Você me vira a cabeça” – e<br />
ganhando prêmios como o Sharp, Tim e Grammy<br />
Latino. Atenta e acesa, Alcione homenageou Jamelão<br />
em “Pedra 90”. Acesa e atenta Alcione <strong>de</strong>dicou<br />
“Faz uma loucura por mim” ao radialista Luiz<br />
Carlos Paladino. Atenta e acesa, Alcione faz justiça<br />
as suas origens e grava artistas <strong>de</strong> sua terra: Carlinhos<br />
Veloz (“Jóia rara”) e Raimundo Makarra (“Boi<br />
<strong>de</strong> lágrimas”). Acesa e atenta, Alcione lança novos<br />
autores e cantores, como Telma Tavares, autora da<br />
música título do atual CD da Marrom. E recebe no<br />
show Áurea<br />
Martins, sua<br />
amiga <strong>de</strong>s<strong>de</strong><br />
os tempos do<br />
Beco das Garrafas,<br />
on<strong>de</strong><br />
c o m e ç a r a m<br />
suas carreiras.<br />
Lançado ano<br />
passado, “Acesa”<br />
é mais uma<br />
comprovação<br />
<strong>de</strong>snecessária e inevitável <strong>de</strong> que Alcione é uma<br />
expressão maior do samba.<br />
Consi<strong>de</strong>ro Alcione a mais carioca <strong>de</strong> todos os maranhenses.<br />
A mais mangueirense também. E a mais<br />
sambista (por que não?) <strong>de</strong> todas as cantoras não<br />
cariocas. Há 38 anos vivendo na Cida<strong>de</strong> Maravilhosa,<br />
ela ratifica seu amor à capital: “O Rio sempre<br />
foi pra mim uma cida<strong>de</strong> sem <strong>de</strong>feitos”, disse ao repórter<br />
global que pedia a opinião da cantora sobre<br />
os problemas sociais que assolam a cida<strong>de</strong>. Porém,<br />
Alcione faz uma ressalva: “mas eu acho que precisa<br />
fazer uma ocupação cultural nos morros”.<br />
Sem sombras <strong>de</strong> dúvidas, Alcione adotou o Rio<br />
como sua segunda terra natal e fez também da<br />
Estação Primeira sua segunda casa. Ela prestigia<br />
todos os eventos e projetos da Ver<strong>de</strong> e Rosa. É madrinha<br />
dos meninos da Mangueira da escola mirim<br />
e da Orquestra <strong>de</strong> Violinos. Enfim, o coração <strong>de</strong><br />
Alcione é ver<strong>de</strong> e rosa.<br />
00 Revista <strong>Beija</strong>-<strong>Flor</strong> <strong>de</strong> <strong>Nilópolis</strong> www.beija-flor.com.br
Jorge Goulart, o dono da voz<br />
Quando se fala <strong>de</strong> Jorge Goulart, a memória sempre<br />
nos remete às marchinhas que ele tornou inesquecíveis,<br />
por mais que nos sonegem esse <strong>de</strong>licioso<br />
entretenimento momesco. Alguém imaginaria que<br />
um cantor criado em Vila Isabel, que coleciona marchinhas<br />
<strong>de</strong> sucessos como “Cabeleira do Zezé”,<br />
“Joga a chave meu Amor”, <strong>de</strong> João Roberto Kelly,<br />
“Miss Mangueira” <strong>de</strong> Antônio Almeida e “Balzaqueana”,<br />
<strong>de</strong> Antônio Nássara, entre outras, seja um<br />
inveterado imperiano e por isso tenha por escolha<br />
e admiração uma estreita e importante relação com<br />
o mundo do samba? Pois é, foi ele quem cantou<br />
pela primeira vez um samba-enredo no rádio. Quer<br />
mais ainda: acompanhado pela Orquestra Sinfônica<br />
da Rádio Nacional <strong>de</strong> São Paulo. O samba era <strong>de</strong><br />
Elton Me<strong>de</strong>iros.<br />
Bastava isso para ele se inscrever na história do<br />
samba, mas tem mais: Jorge Goulart foi o primeiro<br />
cantor profissional a puxar um samba-enredo, justamente<br />
“O Último Baile da Monarquia”, <strong>de</strong> autoria<br />
<strong>de</strong> Silas <strong>de</strong> Oliveira. Por seis anos puxou sambas<br />
do Império Serrano, no megafone, dispensando<br />
qualquer pagamento, pois seu objetivo era contribuir<br />
para a divulgação dos compositores do morro.<br />
Fez o mesmo na Imperatriz Leopoldinense e na Unidos<br />
<strong>de</strong> Vila Isabel.<br />
Primogênito do jornalista Iberê Bastos e da cant<br />
o ra Arlete Neves Bastos, foi registrado<br />
como Jorge Neves Bastos. O nome<br />
artístico foi sugerido pela notável<br />
rádio-atriz Heloísa Helena, inspirada<br />
numa marca <strong>de</strong> elixir ( Inhame<br />
Goulart ) e na potência do vozeirão<br />
do cantor, que recebeu <strong>de</strong> César<br />
<strong>de</strong> Alencar o epíteto<br />
<strong>de</strong> “Gogó <strong>de</strong> Ouro”,<br />
por suas interpretações<br />
<strong>de</strong> “Dominó”,<br />
“Smile”,<br />
“Laura” e<br />
“Jezebel”.<br />
Paralelam<br />
e n t e ,<br />
J o r g e<br />
G o u -<br />
l a r t<br />
p a r t i -<br />
c i p a v a<br />
dos filmes<br />
da<br />
Atlântida, como “Carnaval<br />
<strong>de</strong> fogo”, “Aviso aos<br />
Navegantes”, entre outros.<br />
Durante dois anos<br />
foi figura <strong>de</strong>stacada do<br />
espetáculo teatral “Um<br />
Milhão <strong>de</strong> Mulheres”.<br />
Mas Jorge começou a<br />
cantar ainda menino, no<br />
programa “Escada <strong>de</strong><br />
Jacó”, do professor Zé<br />
Bacurau, ganhando o<br />
1º prêmio. Antes dos 18<br />
anos,já atuava em circos<br />
e “dancings”, aumentando<br />
a ida<strong>de</strong> para isso.<br />
Estudou no Colégio Pedro II, on<strong>de</strong> começou sua<br />
participação política. Como militante, Jorge Goulart<br />
sofreu as agruras impostas pelo golpe militar<br />
<strong>de</strong> 1964. Em 1983, extraiu a laringe e, mesmo sem<br />
seu principal instrumento <strong>de</strong> trabalho, se apresenta<br />
dublando seus sucessos. Até se expressando por<br />
gestos, o gogó <strong>de</strong> ouro está sempre cantando.<br />
Dona Ivone Lara, a senhora do samba<br />
Negra, pobre e mulher, Yvonne Lara da Costa viveu<br />
todas as mazelas <strong>de</strong> gênero, raça e <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong> social<br />
ao longo <strong>de</strong> quase nove décadas <strong>de</strong> vida. Nasceu<br />
em Botafogo, passou a infância num internato,<br />
apren<strong>de</strong>u a tocar cavaquinho e se formou em enfermagem<br />
trabalhando no tratamento para doentes<br />
mentais com a Drª Nise da Silveira (que introduziu<br />
a psicologia junguiana no Brasil). Depois exerceu as<br />
ativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> assistente social nessa área até se<br />
consagrar como, simplesmente, Dona Ivone Lara,<br />
nome artístico sugerido pelo radialista e apresentador<br />
Oswaldo Sargentelli, o rei do ziriguidum.<br />
Mudou-se para Madureira nos anos 40, passou a<br />
compor para a Prazer da Serrinha, participou <strong>de</strong><br />
rodas <strong>de</strong> samba e conviveu com as mais significativas<br />
expressões do samba, do jongo e do choro,<br />
até consolidar sua carreira com <strong>de</strong>terminação e trabalho,<br />
mas, principalmente, com seu talento para<br />
fazer melodias.<br />
Embora sua vocação já se tivesse manifestado aos<br />
12 anos, quando compôs “Tiê, tiê”, os mais <strong>de</strong> 70<br />
anos <strong>de</strong> carreira <strong>de</strong> Dona Ivone Lara se contabilizam<br />
a partir do momento em que, oficialmente, ela<br />
faz da música sua ocupação <strong>de</strong>finitiva. Até então,<br />
a seu pedido, o tio Fuleiro (um dos fundadores do<br />
Império Serrano e seu parceiro no samba-enredo<br />
Fevereiro 2010 0
“Não me Perguntes”) cantava as composições da<br />
sobrinha como se suas fossem, <strong>de</strong>vido ao machismo<br />
da época. Quando Fuleiro revela a autoria das<br />
canções, Dona Ivone se torna a primeira mulher a<br />
integrar a ala <strong>de</strong> compositores <strong>de</strong> uma escola <strong>de</strong><br />
samba, consagrada como parceira ‘intrometida’ <strong>de</strong><br />
Bacalhau e Silas <strong>de</strong> Oliveira em “Os Cinco Bailes<br />
da História do Rio”(1965). No livro “Nasci para<br />
Sonhar e Cantar”, Mila Burns conta como se <strong>de</strong>u<br />
a parceria: “Silas e Bacalhau não conseguiam escrever<br />
o hino do Império. Haviam bebido <strong>de</strong>mais.<br />
Quando Dona Ivone os encontrou e soube da dificulda<strong>de</strong>,<br />
cantarolou parte <strong>de</strong> uma melodia, que logo<br />
ganharia os inspirados versos da dupla. E a obra<br />
estava completa.”<br />
Participou das rodas <strong>de</strong> samba do Teatro Opinião<br />
nos anos 60, vindo a gravar o primeiro disco apenas<br />
em 1978. Nesse mesmo ano, seu maior sucesso,<br />
“Sonho Meu”, em parceria com Délcio Carvalho, é<br />
gravado por Gal Costa e Maria Bethânia. A música<br />
foi premiada como a melhor do ano.<br />
Aos 93 anos, Dona Ivone agra<strong>de</strong>ce a Deus e diz<br />
que não pensa em parar <strong>de</strong> cantar e compor: “Des<strong>de</strong><br />
que Ele e Nossa Senhora das Cabeças conservem<br />
minha cuca direita.” Assim seja!<br />
Zé Di e o “xamêgo” premiado<br />
Paulista <strong>de</strong> nascimento - afinal “sambista não pe<strong>de</strong><br />
lugar pra nascer” - o salgueirense <strong>de</strong> coração Zé<br />
Di (nova grafia para o nome artístico, com<br />
o qual o poe- ta-cantador Luiz Vieira<br />
batizou José Dias) está se preparando<br />
“para quando o Carnaval<br />
chegar ”. Cultivado <strong>de</strong>s<strong>de</strong><br />
o início <strong>de</strong> carreira, seu<br />
v a s t o e respeitável<br />
b i g o d e não chega para<br />
escon<strong>de</strong>r um sor-<br />
riso largo pela satisfação que sentiu ao receber o<br />
convite para <strong>de</strong>sfilar com seu “Salgueiro chorão”.<br />
Zé Di já pensa numa nova roupa vermelho e branco,<br />
além <strong>de</strong> programar o <strong>de</strong>scanso da garganta e<br />
tranquilida<strong>de</strong> da alma, tudo isso para seu regresso<br />
à Passarela do Samba <strong>de</strong>z anos <strong>de</strong>pois. Assim vai<br />
comemorar seu retornou à ala <strong>de</strong> compositores do<br />
G.R.E.S. Acadêmicos do Salgueiro, escola que lhe<br />
<strong>de</strong>u o campeonato <strong>de</strong> 1974, com o enredo “Rei da<br />
França na Ilha da Assombração”, samba <strong>de</strong>le e Luiz<br />
Malandro.<br />
Como autor, Zé Di sempre encontrou abrigo no repertório<br />
<strong>de</strong> intérpretes dos mais variados gêneros<br />
musicais. De Wan<strong>de</strong>rley Cardoso a Sérgio Reis,<br />
do internacional Cauby Peixoto a Benvienindo<br />
Granda, <strong>de</strong> Marlene à Emilinha Borba, <strong>de</strong> Waldick<br />
Soriano a Sílvio Mazurca e sua orquestra, <strong>de</strong> Luiz<br />
Vieira (é claro!) à Alaí<strong>de</strong> Costa, muitos cantores<br />
fizeram suas composições, como “Samba Sem<br />
Viola”, “Perdoe meu amor”, “Salgueiro Chorão”,<br />
“Último Verão”,”Caminhos do Amor”, chegar ao<br />
gran<strong>de</strong> público. Jair Rodrigues é quem registra o<br />
maior número <strong>de</strong> gravações assinadas por Zé Di.<br />
E a louruda Hebe Camargo fez o seu lançamento<br />
fonográfico, com a gravação <strong>de</strong> Catira (<strong>de</strong>le e Luiz<br />
Vieira) vencedora do 1º Festival da Música Sertaneja,<br />
em 1966.<br />
Até o então sisudo e radical José Ramos Tinhorão –<br />
crítico musical temido por cantores e compositores<br />
– se ren<strong>de</strong>u ao talento <strong>de</strong> Zé Di,: “<strong>de</strong> fato (...), dois<br />
sambas do próprio Zé Di, os intitulados ‘Meu Recado’<br />
e ‘Não Me Atire Pedra’ - recomendam por si<br />
só a compra do LP”. Em “Meu Recado”, observou<br />
Timborão, Zé Di conta e canta maravilhosamente<br />
a sua própria experiência <strong>de</strong> criador das camadas<br />
humil<strong>de</strong>s, confessando seu <strong>de</strong>slumbramento diante<br />
do sucesso, e aproveitando para respon<strong>de</strong>r aos que<br />
estranhavam o fato <strong>de</strong> um paulista ser capaz <strong>de</strong> se<br />
revelar bom compositor <strong>de</strong> sambas.<br />
Jorge Aragão, um sambista <strong>de</strong> respeito<br />
Quem nasceu no Rio, já nasceu com um pé no samba,<br />
canta Aragão, que nasceu em Padre Miguel,<br />
num dia 1º <strong>de</strong> março, data do aniversário da Cida<strong>de</strong><br />
Maravilhosa. Cria do subúrbio carioca, Jorge<br />
foi educado nas rodas <strong>de</strong> samba <strong>de</strong> fundo <strong>de</strong><br />
quintais, sem grana, sem glória, enfrentando<br />
preconceitos e <strong>de</strong>sdém até chegar on<strong>de</strong><br />
chegou. Está tudo isso aí escrito no<br />
autobiográfico e inspirado samba<br />
0 Revista <strong>Beija</strong>-<strong>Flor</strong> <strong>de</strong> <strong>Nilópolis</strong> www.beija-flor.com.br
“Moleque Atrevido”, que<br />
fez com Flávio Cardoso e<br />
Paulinho Rezen<strong>de</strong>. Em tom<br />
<strong>de</strong> ressentimento, Aragão<br />
respon<strong>de</strong>, com apurada afinação,<br />
alguns atrevimentos<br />
que julga ter sido vítima.<br />
Susto o coração já lhe <strong>de</strong>u,<br />
mas continua em estado <strong>de</strong><br />
graça com a vida. Entretanto,<br />
não faz mais sentindo o<br />
‘moleque atrevido’ versejar<br />
“procure primeiro saber<br />
quem eu sou”.<br />
Depois <strong>de</strong> ter gravado <strong>de</strong>zenas<br />
<strong>de</strong> discos, CDs e<br />
ví<strong>de</strong>os, vendido milhões<br />
<strong>de</strong> cópias <strong>de</strong>sses produtos e com eles colecionado<br />
muitos sucessos e prêmios, hoje todo mundo sabe<br />
quem é Jorge Aragão. A nova geração po<strong>de</strong> não<br />
saber que Aragão fez parte da formação original do<br />
Fundo <strong>de</strong> Quintal, mas jamais po<strong>de</strong> afirmar que não<br />
sabia que “Coisinha do pai” (uma parceria Dida e<br />
Neoci Dias) serviu para acordar ‘Mars Pathfin<strong>de</strong>r’,<br />
robô da Nasa que fez pesquisas em Marte e, muito<br />
menos, que <strong>de</strong>sconhece esse samba. Além da<br />
interplanetária “Coisinha do pai” (composta com<br />
Almir Guineto e Luiz Carlos da Vila), quem já não<br />
sacudiu o corpo com a comemorativa “Vou festejar”?!<br />
Ambas foram gravadas por Beth Carvalho,<br />
madrinha dos pago<strong>de</strong>iros do Fundo <strong>de</strong><br />
Quintal, on<strong>de</strong> Aragão ganhou fama <strong>de</strong><br />
bamba, como músico e compositor.<br />
Com o projeto “Samba <strong>de</strong> bambas”,<br />
apresentado no Canecão,<br />
Jorge Aragão lançou, em 2005, a<br />
Velha Guarda Musical da <strong>Beija</strong>-<strong>Flor</strong><br />
<strong>de</strong> <strong>Nilópolis</strong>. E mais recentemente,<br />
compartilha seu interesse pela<br />
gastronomia com os fãs<br />
que frequentam o restaurante<br />
Bossa Nossa,<br />
na Barra da Tijuca<br />
(on<strong>de</strong> Jorge Perlingeiro<br />
grava o programa<br />
“Samba <strong>de</strong><br />
Primeira”). Não dá<br />
para não concordar<br />
com o ‘moleque<br />
atrevido’; tem que<br />
se respeitar quem<br />
soube chegar on<strong>de</strong> a<br />
‘gente’ chegou.<br />
Délcio Carvalho, poeta, sambista e cidadão<br />
carioca<br />
Carioca, como diria Fernando Sabino, é alguém<br />
que, tendo nascido em qualquer parte do Brasil (ou<br />
do mundo) mora no Rio <strong>de</strong> Janeiro e enche <strong>de</strong> vida<br />
as ruas da cida<strong>de</strong>. Délcio Carvalho <strong>de</strong>ixou Campos<br />
dos Goytacazes, no norte fluminense, on<strong>de</strong> nasceu<br />
e veio para o Rio cantar nos bailes da vida e exercer<br />
sua profissão <strong>de</strong> compositor. Daí, Délcio encheu as<br />
ruas, os botecos, os clubes da cida<strong>de</strong>, o radinho lá<br />
<strong>de</strong> casa com samba e poesia. Batizado na roda <strong>de</strong><br />
samba por uma casta rara <strong>de</strong> bambas <strong>de</strong> primeira<br />
linha, como Carlos Cachaça, Monarco, Nelson<br />
Sargento, Zé Kéti , Aluisio da Mangueira , Jorge<br />
FP (parceiro <strong>de</strong> Can<strong>de</strong>ia) e Silas <strong>de</strong> Oliveira, que<br />
certamente abençoou a parceria Délcio-Dona Ivone<br />
Lara, já que o primeiro sucesso da dupla, “Alvorada”,<br />
nasceu durante as exéquias do baluarte do<br />
imperiano. E tempos <strong>de</strong>pois, a carioquice <strong>de</strong> Délcio<br />
é sacramentada pela Medalha Pedro Ernesto, que<br />
oficializa sua cidadania carioca.<br />
Dona Ivone é uma parceira constante (“Acreditar”,<br />
“Liberda<strong>de</strong>”, “Minha Verda<strong>de</strong>” e “Sonho meu” - gravado<br />
por Maria Bethânia, Gal Costa e Clementina<br />
<strong>de</strong> Jesus,). Assim também foi Ivor Lancelloti (“Havia<br />
festa”, “Clarão”, “Velha cicatriz”, “Quando essa<br />
paixão me dominar”, etc.) e seguindo o rastro, vem o<br />
compositor Mário Lago Filho (“A voz que ficará” - uma<br />
homenagem a Mário Lago, “Arma da paixão”, “Cara<br />
ou coroa”, “Estranho”, “Apertamento”, “Coisa feia”<br />
e “Eu estou sofrendo”). A parceria com Francis Hime<br />
aconteceu. Compuseram “De repente”, que Peri Ribeiro<br />
gravou para a minissérie sobre a vida <strong>de</strong> seus<br />
pais, Dalva <strong>de</strong> Oliveira e Herivelto Martins.<br />
A rotina <strong>de</strong> gravar e regravar dá margem a equívocos,<br />
como não dar crédito aos autores das<br />
composições, principalmente quando não são as<br />
do próprio. O MPB-4 cometeu a omissão<br />
em “Nasci para cantar e sambar”,<br />
mas não titubeou na hora<br />
<strong>de</strong> fazer o reparo publicamente<br />
com uma carta aberta distribuída<br />
para a imprensa. E Aquiles,<br />
Dalmo, Magro e Miltinho, integrantes<br />
do MPB4, não exageram<br />
quando afirmam: “E<br />
estamos certos <strong>de</strong> que o<br />
samba e a música brasileira<br />
muito <strong>de</strong>vem a Délcio<br />
Carvalho”.<br />
Fevereiro 2010 0
Brilhante ao sol do novo mundo, Brasília: do<br />
sonho à realida<strong>de</strong>, a capital da esperança<br />
Dádivas o Criador conce<strong>de</strong>u<br />
Fez brotar num sonho divinal o mais precioso cristal<br />
Lágrimas, fascinante foi a ira <strong>de</strong> Tupã<br />
Diz a lenda que o mito Goyás nasceu<br />
O brilho em Jaci vem do olhar<br />
Pra sempre refletido em suas águas<br />
A força que fluiu <strong>de</strong>sse amor é Paranoá... Paranoá<br />
Óh! Deus sol em sua <strong>de</strong>voção<br />
Ergueu-se no Egito fonte <strong>de</strong> inspiração<br />
Pássaro sagrado voa no infinito azul<br />
Abre as asas bordando o cerrado <strong>de</strong> Norte a Sul<br />
Ah! Terra tão rica é o sertão<br />
Rasga o coração da mata <strong>de</strong>sbravador!<br />
Finca a ban<strong>de</strong>ira nesse chão<br />
Pra <strong>de</strong>sabrochar a linda flor<br />
No coração do Brasil, o afã <strong>de</strong> quem viu um novo amanhã<br />
Revolta, insurreições, coroas e brasões<br />
Batismo num clamor <strong>de</strong> liberda<strong>de</strong>!<br />
Segue a missão a caravana em jornada<br />
Enfim a natureza em sua essência revelada<br />
Firmando o <strong>de</strong>sejo <strong>de</strong> realizar<br />
A flor <strong>de</strong>sabrochou nas mãos <strong>de</strong> JK<br />
A miscigenação se fez raiz<br />
Com sangue e o suor <strong>de</strong>ste país<br />
Vem ver... A arte do mestre num traço um poema<br />
Nossa Capital vem ver ...<br />
Legião <strong>de</strong> artistas, cal<strong>de</strong>irão cultural!<br />
Orgulho, patrimônio mundial<br />
Sou candango, calango e <strong>Beija</strong>-<strong>Flor</strong>!<br />
Traçando o <strong>de</strong>stino ainda criança<br />
A luz da alvorada anuncia!<br />
Brasília<br />
capital da esperança<br />
0 Revista <strong>Beija</strong>-<strong>Flor</strong> <strong>de</strong> <strong>Nilópolis</strong> www.beija-flor.com.br
Ricardo Da Fonseca / Hilton Abi-Rihan<br />
<strong>VIDA</strong> <strong>SÓ</strong> <strong>VALE</strong> <strong>SE</strong> <strong>FOR</strong><br />
<strong>POR</strong> <strong>PRAZER</strong><br />
2010 é um ano <strong>de</strong> simbologia muito especial. É o último<br />
ano da primeira década do século 21.<br />
Quantos <strong>de</strong> nós, lá nos anos 80 e 90, não pensávamos<br />
como seria o ano 2000 e como estaríamos com a<br />
chegada do século 21?.<br />
Pois ele chegou. E mais ainda; chegou e segue célere,<br />
indiferente aos planos não concretizados, aos sonhos<br />
não buscados, aos sorrisos não compartilhados.<br />
Por isso, 2010 po<strong>de</strong>r ser para cada um <strong>de</strong> nós um<br />
ano que traz consigo uma importante<br />
mensagem <strong>de</strong> alerta<br />
sobre o que temos feito <strong>de</strong><br />
nossas vidas.<br />
Quantos <strong>de</strong> nós po<strong>de</strong>mos<br />
olhar para trás e dizer: no<br />
novo século, fiz tantas coisas<br />
novas e diferentes, construí e<br />
realizei novos sonhos, <strong>de</strong>ixei<br />
o que não prestava para trás<br />
e avancei em busca <strong>de</strong> novas<br />
conquistas e alegrias.<br />
Quantos <strong>de</strong> nós?<br />
O ano que se inicia - e que representa<br />
o fim <strong>de</strong> uma década<br />
marcada por importantes<br />
mudanças <strong>de</strong> comportamento<br />
- po<strong>de</strong> ser o estímulo para a<br />
construção <strong>de</strong> anos cada vez<br />
melhores, aproveitando cada<br />
minuto e cada momento com<br />
prazer.<br />
O prazer <strong>de</strong> ser útil, prazer <strong>de</strong> apren<strong>de</strong>r, prazer <strong>de</strong><br />
ensinar, <strong>de</strong> compartilhar, <strong>de</strong> sonhar, <strong>de</strong> sorrir...<br />
Hoje é carnaval.<br />
Queremos sim viver momentos felizes, pular, brincar,<br />
cantar....<br />
E o carnaval da cida<strong>de</strong> do Rio <strong>de</strong> Janeiro está aí para<br />
nos oferecer alegres e <strong>de</strong>scontraídos momentos <strong>de</strong><br />
alegria e prazer.<br />
Então não perca essa oportunida<strong>de</strong>!<br />
Pule, brinque, sorria, dance, cante, grite!<br />
Valorize esse momento, e seja feliz! Afinal, como diz<br />
o poeta e músico brasiliense Toninho Alves, “vida só<br />
vale se for por prazer”.<br />
Life is only worthwhile<br />
if lived with pleasure<br />
2010 is a very special and symbolic year. It’s the last year<br />
of the first <strong>de</strong>ca<strong>de</strong> of the twenty-first century. How many of<br />
us, in the 1980s and 90s, didn’t won<strong>de</strong>r what 2000 would<br />
bring, what the coming century would be like? Well, it arrived.<br />
And it did so with an ever more hectic pace of life,<br />
indifferent to plans not materialized, dreams not pursued,<br />
smiles not shared.<br />
For this reason, 2010 can be for each of us a wake-up year<br />
for reflection on what we’ve been doing with our lives. How<br />
many of us can look back and say: in the new century<br />
Nei<strong>de</strong> Tamborim<br />
I’ve done many new things, constructed and realized new<br />
dreams, left behind the bad and advanced in search of new<br />
conquests and happiness. How many of us can say this?<br />
The year that has already started – marking the end of a<br />
<strong>de</strong>ca<strong>de</strong> that was filled with important changes in behavior<br />
– can stimulate us to build better lives, by taking advantage<br />
of every minute, every moment, with pleasure. The pleasure<br />
of being useful, of learning, teaching, sharing, dreaming,<br />
smiling ....<br />
Today is carnival. This is a time to be happy, to dance, sing<br />
and play.... And carnival and the city of Rio <strong>de</strong> Janeiro are<br />
here to offer us joyful and carefree moments. So, don’t miss<br />
this opportunity! Dance, sing, smile, shout! Savor this moment,<br />
be happy. After all, as the Brazilian musician and poet<br />
said, “life is only worthwhile if lived with pleasure”.<br />
Fevereiro 2010
Ricardo Da Fonseca / Hilton Abi-Rihan<br />
<strong>VIDA</strong> <strong>SÓ</strong> <strong>VALE</strong> <strong>SE</strong> <strong>FOR</strong><br />
<strong>POR</strong> <strong>PRAZER</strong><br />
2010 é um ano <strong>de</strong> simbologia muito especial. É o último<br />
ano da primeira década do século 21.<br />
Quantos <strong>de</strong> nós, lá nos anos 80 e 90, não pensávamos<br />
como seria o ano 2000 e como estaríamos com a<br />
chegada do século 21?.<br />
Pois ele chegou. E mais ainda; chegou e segue célere,<br />
indiferente aos planos não concretizados, aos sonhos<br />
não buscados, aos sorrisos não compartilhados.<br />
Por isso, 2010 po<strong>de</strong>r ser para cada um <strong>de</strong> nós um<br />
ano que traz consigo uma importante<br />
mensagem <strong>de</strong> alerta<br />
sobre o que temos feito <strong>de</strong><br />
nossas vidas.<br />
Quantos <strong>de</strong> nós po<strong>de</strong>mos<br />
olhar para trás e dizer: no<br />
novo século, fiz tantas coisas<br />
novas e diferentes, construí e<br />
realizei novos sonhos, <strong>de</strong>ixei<br />
o que não prestava para trás<br />
e avancei em busca <strong>de</strong> novas<br />
conquistas e alegrias.<br />
Quantos <strong>de</strong> nós?<br />
O ano que se inicia - e que representa<br />
o fim <strong>de</strong> uma década<br />
marcada por importantes<br />
mudanças <strong>de</strong> comportamento<br />
- po<strong>de</strong> ser o estímulo para a<br />
construção <strong>de</strong> anos cada vez<br />
melhores, aproveitando cada<br />
minuto e cada momento com<br />
prazer.<br />
O prazer <strong>de</strong> ser útil, prazer <strong>de</strong> apren<strong>de</strong>r, prazer <strong>de</strong><br />
ensinar, <strong>de</strong> compartilhar, <strong>de</strong> sonhar, <strong>de</strong> sorrir...<br />
Hoje é carnaval.<br />
Queremos sim viver momentos felizes, pular, brincar,<br />
cantar....<br />
E o carnaval da cida<strong>de</strong> do Rio <strong>de</strong> Janeiro está aí para<br />
nos oferecer alegres e <strong>de</strong>scontraídos momentos <strong>de</strong><br />
alegria e prazer.<br />
Então não perca essa oportunida<strong>de</strong>!<br />
Pule, brinque, sorria, dance, cante, grite!<br />
Valorize esse momento, e seja feliz! Afinal, como diz<br />
o poeta e músico brasiliense Toninho Alves, “vida só<br />
vale se for por prazer”.<br />
Life is only worthwhile<br />
if lived with pleasure<br />
2010 is a very special and symbolic year. It’s the last year<br />
of the first <strong>de</strong>ca<strong>de</strong> of the twenty-first century. How many of<br />
us, in the 1980s and 90s, didn’t won<strong>de</strong>r what 2000 would<br />
bring, what the coming century would be like? Well, it arrived.<br />
And it did so with an ever more hectic pace of life,<br />
indifferent to plans not materialized, dreams not pursued,<br />
smiles not shared.<br />
For this reason, 2010 can be for each of us a wake-up year<br />
for reflection on what we’ve been doing with our lives. How<br />
many of us can look back and say: in the new century<br />
Nei<strong>de</strong> Tamborim<br />
I’ve done many new things, constructed and realized new<br />
dreams, left behind the bad and advanced in search of new<br />
conquests and happiness. How many of us can say this?<br />
The year that has already started – marking the end of a<br />
<strong>de</strong>ca<strong>de</strong> that was filled with important changes in behavior<br />
– can stimulate us to build better lives, by taking advantage<br />
of every minute, every moment, with pleasure. The pleasure<br />
of being useful, of learning, teaching, sharing, dreaming,<br />
smiling ....<br />
Today is carnival. This is a time to be happy, to dance, sing<br />
and play.... And carnival and the city of Rio <strong>de</strong> Janeiro are<br />
here to offer us joyful and carefree moments. So, don’t miss<br />
this opportunity! Dance, sing, smile, shout! Savor this moment,<br />
be happy. After all, as the Brazilian musician and poet<br />
said, “life is only worthwhile if lived with pleasure”.<br />
Fevereiro 2010