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VIDA SÓ VALE SE FOR POR PRAZER - GRES Beija-Flor de Nilópolis

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Ricardo Da Fonseca / Hilton Abi-Rihan<br />

<strong>VIDA</strong> <strong>SÓ</strong> <strong>VALE</strong> <strong>SE</strong> <strong>FOR</strong><br />

<strong>POR</strong> <strong>PRAZER</strong><br />

2010 é um ano <strong>de</strong> simbologia muito especial. É o último<br />

ano da primeira década do século 21.<br />

Quantos <strong>de</strong> nós, lá nos anos 80 e 90, não pensávamos<br />

como seria o ano 2000 e como estaríamos com a<br />

chegada do século 21?.<br />

Pois ele chegou. E mais ainda; chegou e segue célere,<br />

indiferente aos planos não concretizados, aos sonhos<br />

não buscados, aos sorrisos não compartilhados.<br />

Por isso, 2010 po<strong>de</strong>r ser para cada um <strong>de</strong> nós um<br />

ano que traz consigo uma importante<br />

mensagem <strong>de</strong> alerta<br />

sobre o que temos feito <strong>de</strong><br />

nossas vidas.<br />

Quantos <strong>de</strong> nós po<strong>de</strong>mos<br />

olhar para trás e dizer: no<br />

novo século, fiz tantas coisas<br />

novas e diferentes, construí e<br />

realizei novos sonhos, <strong>de</strong>ixei<br />

o que não prestava para trás<br />

e avancei em busca <strong>de</strong> novas<br />

conquistas e alegrias.<br />

Quantos <strong>de</strong> nós?<br />

O ano que se inicia - e que representa<br />

o fim <strong>de</strong> uma década<br />

marcada por importantes<br />

mudanças <strong>de</strong> comportamento<br />

- po<strong>de</strong> ser o estímulo para a<br />

construção <strong>de</strong> anos cada vez<br />

melhores, aproveitando cada<br />

minuto e cada momento com<br />

prazer.<br />

O prazer <strong>de</strong> ser útil, prazer <strong>de</strong> apren<strong>de</strong>r, prazer <strong>de</strong><br />

ensinar, <strong>de</strong> compartilhar, <strong>de</strong> sonhar, <strong>de</strong> sorrir...<br />

Hoje é carnaval.<br />

Queremos sim viver momentos felizes, pular, brincar,<br />

cantar....<br />

E o carnaval da cida<strong>de</strong> do Rio <strong>de</strong> Janeiro está aí para<br />

nos oferecer alegres e <strong>de</strong>scontraídos momentos <strong>de</strong><br />

alegria e prazer.<br />

Então não perca essa oportunida<strong>de</strong>!<br />

Pule, brinque, sorria, dance, cante, grite!<br />

Valorize esse momento, e seja feliz! Afinal, como diz<br />

o poeta e músico brasiliense Toninho Alves, “vida só<br />

vale se for por prazer”.<br />

Life is only worthwhile<br />

if lived with pleasure<br />

2010 is a very special and symbolic year. It’s the last year<br />

of the first <strong>de</strong>ca<strong>de</strong> of the twenty-first century. How many of<br />

us, in the 1980s and 90s, didn’t won<strong>de</strong>r what 2000 would<br />

bring, what the coming century would be like? Well, it arrived.<br />

And it did so with an ever more hectic pace of life,<br />

indifferent to plans not materialized, dreams not pursued,<br />

smiles not shared.<br />

For this reason, 2010 can be for each of us a wake-up year<br />

for reflection on what we’ve been doing with our lives. How<br />

many of us can look back and say: in the new century<br />

Nei<strong>de</strong> Tamborim<br />

I’ve done many new things, constructed and realized new<br />

dreams, left behind the bad and advanced in search of new<br />

conquests and happiness. How many of us can say this?<br />

The year that has already started – marking the end of a<br />

<strong>de</strong>ca<strong>de</strong> that was filled with important changes in behavior<br />

– can stimulate us to build better lives, by taking advantage<br />

of every minute, every moment, with pleasure. The pleasure<br />

of being useful, of learning, teaching, sharing, dreaming,<br />

smiling ....<br />

Today is carnival. This is a time to be happy, to dance, sing<br />

and play.... And carnival and the city of Rio <strong>de</strong> Janeiro are<br />

here to offer us joyful and carefree moments. So, don’t miss<br />

this opportunity! Dance, sing, smile, shout! Savor this moment,<br />

be happy. After all, as the Brazilian musician and poet<br />

said, “life is only worthwhile if lived with pleasure”.<br />

Fevereiro 2010


Ricardo Da Fonseca / Hilton Abi-Rihan<br />

<strong>VIDA</strong> <strong>SÓ</strong> <strong>VALE</strong> <strong>SE</strong> <strong>FOR</strong><br />

<strong>POR</strong> <strong>PRAZER</strong><br />

2010 é um ano <strong>de</strong> simbologia muito especial. É o último<br />

ano da primeira década do século 21.<br />

Quantos <strong>de</strong> nós, lá nos anos 80 e 90, não pensávamos<br />

como seria o ano 2000 e como estaríamos com a<br />

chegada do século 21?.<br />

Pois ele chegou. E mais ainda; chegou e segue célere,<br />

indiferente aos planos não concretizados, aos sonhos<br />

não buscados, aos sorrisos não compartilhados.<br />

Por isso, 2010 po<strong>de</strong>r ser para cada um <strong>de</strong> nós um<br />

ano que traz consigo uma importante<br />

mensagem <strong>de</strong> alerta<br />

sobre o que temos feito <strong>de</strong><br />

nossas vidas.<br />

Quantos <strong>de</strong> nós po<strong>de</strong>mos<br />

olhar para trás e dizer: no<br />

novo século, fiz tantas coisas<br />

novas e diferentes, construí e<br />

realizei novos sonhos, <strong>de</strong>ixei<br />

o que não prestava para trás<br />

e avancei em busca <strong>de</strong> novas<br />

conquistas e alegrias.<br />

Quantos <strong>de</strong> nós?<br />

O ano que se inicia - e que representa<br />

o fim <strong>de</strong> uma década<br />

marcada por importantes<br />

mudanças <strong>de</strong> comportamento<br />

- po<strong>de</strong> ser o estímulo para a<br />

construção <strong>de</strong> anos cada vez<br />

melhores, aproveitando cada<br />

minuto e cada momento com<br />

prazer.<br />

O prazer <strong>de</strong> ser útil, prazer <strong>de</strong> apren<strong>de</strong>r, prazer <strong>de</strong><br />

ensinar, <strong>de</strong> compartilhar, <strong>de</strong> sonhar, <strong>de</strong> sorrir...<br />

Hoje é carnaval.<br />

Queremos sim viver momentos felizes, pular, brincar,<br />

cantar....<br />

E o carnaval da cida<strong>de</strong> do Rio <strong>de</strong> Janeiro está aí para<br />

nos oferecer alegres e <strong>de</strong>scontraídos momentos <strong>de</strong><br />

alegria e prazer.<br />

Então não perca essa oportunida<strong>de</strong>!<br />

Pule, brinque, sorria, dance, cante, grite!<br />

Valorize esse momento, e seja feliz! Afinal, como diz<br />

o poeta e músico brasiliense Toninho Alves, “vida só<br />

vale se for por prazer”.<br />

Life is only worthwhile<br />

if lived with pleasure<br />

2010 is a very special and symbolic year. It’s the last year<br />

of the first <strong>de</strong>ca<strong>de</strong> of the twenty-first century. How many of<br />

us, in the 1980s and 90s, didn’t won<strong>de</strong>r what 2000 would<br />

bring, what the coming century would be like? Well, it arrived.<br />

And it did so with an ever more hectic pace of life,<br />

indifferent to plans not materialized, dreams not pursued,<br />

smiles not shared.<br />

For this reason, 2010 can be for each of us a wake-up year<br />

for reflection on what we’ve been doing with our lives. How<br />

many of us can look back and say: in the new century<br />

Nei<strong>de</strong> Tamborim<br />

I’ve done many new things, constructed and realized new<br />

dreams, left behind the bad and advanced in search of new<br />

conquests and happiness. How many of us can say this?<br />

The year that has already started – marking the end of a<br />

<strong>de</strong>ca<strong>de</strong> that was filled with important changes in behavior<br />

– can stimulate us to build better lives, by taking advantage<br />

of every minute, every moment, with pleasure. The pleasure<br />

of being useful, of learning, teaching, sharing, dreaming,<br />

smiling ....<br />

Today is carnival. This is a time to be happy, to dance, sing<br />

and play.... And carnival and the city of Rio <strong>de</strong> Janeiro are<br />

here to offer us joyful and carefree moments. So, don’t miss<br />

this opportunity! Dance, sing, smile, shout! Savor this moment,<br />

be happy. After all, as the Brazilian musician and poet<br />

said, “life is only worthwhile if lived with pleasure”.<br />

Fevereiro 2010


Ricardo Da Fonseca / Hilton Abi-Rihan<br />

<strong>VIDA</strong> <strong>SÓ</strong> <strong>VALE</strong> <strong>SE</strong> <strong>FOR</strong><br />

<strong>POR</strong> <strong>PRAZER</strong><br />

2010 é um ano <strong>de</strong> simbologia muito especial. É o último<br />

ano da primeira década do século 21.<br />

Quantos <strong>de</strong> nós, lá nos anos 80 e 90, não pensávamos<br />

como seria o ano 2000 e como estaríamos com a<br />

chegada do século 21?.<br />

Pois ele chegou. E mais ainda; chegou e segue célere,<br />

indiferente aos planos não concretizados, aos sonhos<br />

não buscados, aos sorrisos não compartilhados.<br />

Por isso, 2010 po<strong>de</strong>r ser para cada um <strong>de</strong> nós um<br />

ano que traz consigo uma importante<br />

mensagem <strong>de</strong> alerta<br />

sobre o que temos feito <strong>de</strong><br />

nossas vidas.<br />

Quantos <strong>de</strong> nós po<strong>de</strong>mos<br />

olhar para trás e dizer: no<br />

novo século, fiz tantas coisas<br />

novas e diferentes, construí e<br />

realizei novos sonhos, <strong>de</strong>ixei<br />

o que não prestava para trás<br />

e avancei em busca <strong>de</strong> novas<br />

conquistas e alegrias.<br />

Quantos <strong>de</strong> nós?<br />

O ano que se inicia - e que representa<br />

o fim <strong>de</strong> uma década<br />

marcada por importantes<br />

mudanças <strong>de</strong> comportamento<br />

- po<strong>de</strong> ser o estímulo para a<br />

construção <strong>de</strong> anos cada vez<br />

melhores, aproveitando cada<br />

minuto e cada momento com<br />

prazer.<br />

O prazer <strong>de</strong> ser útil, prazer <strong>de</strong> apren<strong>de</strong>r, prazer <strong>de</strong><br />

ensinar, <strong>de</strong> compartilhar, <strong>de</strong> sonhar, <strong>de</strong> sorrir...<br />

Hoje é carnaval.<br />

Queremos sim viver momentos felizes, pular, brincar,<br />

cantar....<br />

E o carnaval da cida<strong>de</strong> do Rio <strong>de</strong> Janeiro está aí para<br />

nos oferecer alegres e <strong>de</strong>scontraídos momentos <strong>de</strong><br />

alegria e prazer.<br />

Então não perca essa oportunida<strong>de</strong>!<br />

Pule, brinque, sorria, dance, cante, grite!<br />

Valorize esse momento, e seja feliz! Afinal, como diz<br />

o poeta e músico brasiliense Toninho Alves, “vida só<br />

vale se for por prazer”.<br />

Life is only worthwhile<br />

if lived with pleasure<br />

2010 is a very special and symbolic year. It’s the last year<br />

of the first <strong>de</strong>ca<strong>de</strong> of the twenty-first century. How many of<br />

us, in the 1980s and 90s, didn’t won<strong>de</strong>r what 2000 would<br />

bring, what the coming century would be like? Well, it arrived.<br />

And it did so with an ever more hectic pace of life,<br />

indifferent to plans not materialized, dreams not pursued,<br />

smiles not shared.<br />

For this reason, 2010 can be for each of us a wake-up year<br />

for reflection on what we’ve been doing with our lives. How<br />

many of us can look back and say: in the new century<br />

Nei<strong>de</strong> Tamborim<br />

I’ve done many new things, constructed and realized new<br />

dreams, left behind the bad and advanced in search of new<br />

conquests and happiness. How many of us can say this?<br />

The year that has already started – marking the end of a<br />

<strong>de</strong>ca<strong>de</strong> that was filled with important changes in behavior<br />

– can stimulate us to build better lives, by taking advantage<br />

of every minute, every moment, with pleasure. The pleasure<br />

of being useful, of learning, teaching, sharing, dreaming,<br />

smiling ....<br />

Today is carnival. This is a time to be happy, to dance, sing<br />

and play.... And carnival and the city of Rio <strong>de</strong> Janeiro are<br />

here to offer us joyful and carefree moments. So, don’t miss<br />

this opportunity! Dance, sing, smile, shout! Savor this moment,<br />

be happy. After all, as the Brazilian musician and poet<br />

said, “life is only worthwhile if lived with pleasure”.<br />

Fevereiro 2010


Revista <strong>Beija</strong>-<strong>Flor</strong> <strong>de</strong> <strong>Nilópolis</strong> www.beija-flor.com.br


Fevereiro 2010


A ALMA DO<br />

BRASIL<br />

ANIZIO ABRÃO DAVID<br />

Uma escola <strong>de</strong> samba não é um agrupamento <strong>de</strong><br />

pessoas isolado da socieda<strong>de</strong>.<br />

Ao contrário: seu movimento <strong>de</strong> vida é realizado<br />

por pessoas que, com seus sonhos, observações<br />

e motivações, interagem com a socieda<strong>de</strong>, no trabalho,<br />

junto à família, e nos momentos <strong>de</strong> lazer e<br />

entretenimento, trocando informações, influenciando<br />

e sendo influenciado a cada momento <strong>de</strong> suas<br />

vidas.<br />

Nesse sentido, cabe à administração da escola <strong>de</strong><br />

samba enten<strong>de</strong>r seus integrantes e o que esperam<br />

da agremiação a qual fazem parte, para que haja<br />

uma i<strong>de</strong>ntificação <strong>de</strong> propósitos que culminem em<br />

um convívio pacífico e produtivo.<br />

Além do cuidado que a diretoria da <strong>Beija</strong>-<strong>Flor</strong> <strong>de</strong><br />

<strong>Nilópolis</strong> <strong>de</strong>dica a cada componente - uma das marcas<br />

da nossa escola -, a <strong>de</strong>finição <strong>de</strong> enredos que<br />

se i<strong>de</strong>ntifiquem com o pensamento <strong>de</strong> seus integrantes<br />

é uma importante receita para uma convivência<br />

harmônica.<br />

Nesse sentido, se voltarmos o olhar para o passado<br />

da azul e branco <strong>de</strong> <strong>Nilópolis</strong>, vamos observar uma<br />

forte tendência em <strong>de</strong>senvolver enredos que retratam<br />

a força e capacida<strong>de</strong> do país e do seu povo.<br />

“Riquezas áureas do Brasil”, “Café, riqueza do Brasil”,<br />

“Exaltação a José <strong>de</strong> Alencar”, “Rio, quatro séculos<br />

<strong>de</strong> glória”, “O Gigante em Berço Esplendido”,<br />

“Bidu Sayão e o Canto <strong>de</strong> Cristal”, “Aurora do Povo<br />

Brasileiro”, “Macapaba” e, agora, “Brasília”, entre<br />

tantos outros enredos inesquecíveis, é a constatação<br />

<strong>de</strong>ssa afirmação.<br />

Uma escola <strong>de</strong> samba não é um agrupamento <strong>de</strong><br />

pessoas isolado da socieda<strong>de</strong>.<br />

Somos uma célula viva, atuante e atenta.<br />

Por essa razão, a escolha <strong>de</strong>sses enredos: porque<br />

acreditamos verda<strong>de</strong>iramente - diretoria e componentes<br />

- na força do povo brasileiro e no seu potencial<br />

<strong>de</strong> realização.<br />

Recentemente, após a crise financeira que abalou<br />

o mercado mundial, os olhos dos especialistas se<br />

voltaram para o Brasil.<br />

O <strong>de</strong>safio, temperado com pitadas <strong>de</strong> surpresa, era<br />

enten<strong>de</strong>r porque nosso país não ruiu com a crise.<br />

Mais ainda, como foi possível o Brasil sair da crise<br />

com tanta rapi<strong>de</strong>z.<br />

Naturalmente, existem as explicações acadêmicas,<br />

dadas por sociólogos, economistas, jornalistas, e<br />

outros “istas”. Cada um <strong>de</strong>les, no entanto, apesar<br />

<strong>de</strong> dar ênfase à sua especialida<strong>de</strong> <strong>de</strong> conhecimento,<br />

são unânimes em afirmar que o elemento primordial<br />

<strong>de</strong>ssa realida<strong>de</strong> foi o papel exercido por<br />

cada brasileiro.<br />

A gran<strong>de</strong> <strong>de</strong>scoberta <strong>de</strong>sses experts é um segredo<br />

já <strong>de</strong>svendado pela <strong>Beija</strong>-<strong>Flor</strong> <strong>de</strong> <strong>Nilópolis</strong> há muito<br />

tempo: a força <strong>de</strong> um país resi<strong>de</strong> no seu povo.<br />

Daí porque, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> os nossos primeiros <strong>de</strong>sfiles retratamos<br />

a força e capacida<strong>de</strong> do Brasil e do seu<br />

povo.<br />

E é em homenagem a esse povo, que fez e faz o Brasil<br />

que <strong>de</strong>sejamos a todos um ótimo espetáculo.<br />

Revista <strong>Beija</strong>-<strong>Flor</strong> <strong>de</strong> <strong>Nilópolis</strong> www.beija-flor.com.br


THE SOUL<br />

OF<br />

BRAZIL<br />

A samba school isn’t a group of people isolated from<br />

society.<br />

On the contrary: it’s a living organism ma<strong>de</strong> up of people<br />

that, with their dreams, observations and motivations,<br />

interact with society, at work, with their families and in<br />

their moments of leisure and entertainment, exchanging<br />

information, influencing and being influenced by others at<br />

each moment of their lives.<br />

In this sense, the directors of a samba school must un<strong>de</strong>rstand<br />

its members and what they want, so there will<br />

be unity of purpose culminating in a harmonious and<br />

productive effort.<br />

Besi<strong>de</strong>s the care that the directors of <strong>Beija</strong>-<strong>Flor</strong> <strong>de</strong>dicate<br />

to each member – one of <strong>Beija</strong>-<strong>Flor</strong>’s<br />

“registered tra<strong>de</strong>marks” – the <strong>de</strong>finition of<br />

carnival themes that are in line with the<br />

members’ thinking is an important ingredient<br />

for a harmonious effort.<br />

We need only take a backward look at the blue and white<br />

crew from <strong>Nilópolis</strong> to find a pronounced ten<strong>de</strong>ncy to<br />

<strong>de</strong>velop themes that reflect the strength and capability of<br />

Brazil and its people.<br />

“Gol<strong>de</strong>n Riches of Brazil”, “Coffee, Wealth of Brazil”, “Exaltation<br />

to José <strong>de</strong> Alencar”, “Rio, Four Centuries of Glory”,<br />

“A Giant in a Splendid Cradle”, “Bidu Sayão and the Voice<br />

of Crystal”, “Aurora of the Brazilian People”, “Macapaba”<br />

and now “Brasília”, among so many other unforgettable<br />

carnival themes, serve as proof to this claim.<br />

A samba school isn’t a group of people isolated from society.<br />

We’re a living cell, active and aware.<br />

This explains the choice of these themes: because we really<br />

believe – the directors and members – in the force of the<br />

Brazilian people and their potential for achievement.<br />

Recently, after the financial crisis that rocked the international<br />

market, the eyes of specialists have returned to<br />

Brazil.<br />

The challenge, tempered with a pinch of surprise, was to<br />

un<strong>de</strong>rstand why our country weathered the crisis so well,<br />

and emerged from it so quickly.<br />

Naturally there are aca<strong>de</strong>mic explanations, given by sociologists,<br />

economists, journalists and other “ists”. All of<br />

them – though each focusing on his or her own specialized<br />

knowledge – are unanimous that the basic reason for this<br />

was the role exercised by the Brazilian people.<br />

The great discovery of these experts is a secret long ago<br />

realized by <strong>Beija</strong>-<strong>Flor</strong>: a country’s strength resi<strong>de</strong>s in its<br />

people.<br />

This is why since our first carnival para<strong>de</strong>s we’ve <strong>de</strong>picted<br />

the strength and capability of Brazil and its people.<br />

And in homage to these people, who make Brazil what it<br />

is, we <strong>de</strong>dicate our efforts to put on another in a long line<br />

of spectacular shows.<br />

Fevereiro 2010


Produção<br />

WIDEBRASIL COMUNICAÇÃO E EDITORA<br />

www.wi<strong>de</strong>brasil.com<br />

Editores<br />

Ricardo Da Fonseca<br />

Hilton Abi-Rihan<br />

Jornalista Responsável<br />

Ricardo Da Fonseca, MTb RJ23267JR<br />

Redação<br />

Ana Caroline Chaves, Débora Zampier, Hilton Abi-Rihan,<br />

Íris Ágatha, Miro Lopes, Renata Leal, Thais Me<strong>de</strong>iros,<br />

Ricardo Da Fonseca e Vicente Dattoli.<br />

Transcrição <strong>de</strong> áudio<br />

Macarena Iranzo<br />

Thais Me<strong>de</strong>iros<br />

Projeto Gráfico<br />

R. Gatto<br />

Edição e Tratamento <strong>de</strong> Imagens<br />

Francisco Ragna Junior<br />

Recorte <strong>de</strong> Imagens<br />

Francisco Ragna Junior<br />

Ramon Gonzaga<br />

Agra<strong>de</strong>cimentos<br />

Álvaro Caetano (Alvinho), Ana Saraiva, Augusto Ivan,<br />

Bianca Behrends, Djalma Sabiá, Elmo José dos Santos,<br />

Felipe Ferreira, Haroldo Costa, Hiram Araújo, Jorge Coutinho,<br />

Luciana Luz, Márcia Sant’Anna, Maria Augusta<br />

Rodrigues, Moacyr Luz, Monarco, Perfeito Fortuna, Plínio<br />

Fróes, Rubem Confete, Ubiratan Silva e Vó Nadyr.<br />

Revisão <strong>de</strong> Texto<br />

Marco Antonio Nicolau<br />

Versão para o Inglês<br />

Guy Fulkerson<br />

Versão para o Francês (digital)<br />

Melina Lobo<br />

Versão para o Japonês (digital)<br />

Naomi Kumamoto<br />

Fotografia<br />

Augusto Pedoni, Edgar Rocha, Henrique Matos, Irapuã<br />

Jeferson, Luiz Pinheiro, Luiz Santos, Luiz Trazzi Martins,<br />

Ricardo Da Fonseca e Robson Barreto.<br />

Ilustração Moacyr Luz<br />

Amorim<br />

www.wi<strong>de</strong>brasil.com<br />

e-mail: ricardo@wi<strong>de</strong>brasil.com<br />

SUMÁRIO<br />

Hoje é o nosso dia<br />

A revista <strong>Beija</strong>-<strong>Flor</strong> <strong>de</strong> <strong>Nilópolis</strong> - uma escola <strong>de</strong> vida, ISSN<br />

1678-3611, é uma publicação oficial do Grêmio Recreativo Escola<br />

<strong>de</strong> Samba <strong>Beija</strong>-<strong>Flor</strong> <strong>de</strong> <strong>Nilópolis</strong> e produzido pela Wi<strong>de</strong>Brasil Comunicação<br />

Integrada.<br />

As opiniões emitidas nas entrevistas concedidas e os textos assinados<br />

são <strong>de</strong> responsabilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> seus autores, não refletindo,<br />

necessariamente, a posição dos editores nem da agremiação.<br />

É permitida a reprodução parcial ou total das matérias, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> que<br />

citada a fonte.<br />

Fevereiro <strong>de</strong> 2010 - Tiragem: 60 mil exemplares<br />

Samba carioca - Patrimônio Cultural Brasileiro<br />

Entrevista com Márcia Sant’Anna, Iphan<br />

Anizio, o amigo do samba<br />

Será o fim da ala das baianas?<br />

Brasília: uma jovem senhora com muita história para<br />

contar<br />

Carnaval 2010. Recriando a capital fe<strong>de</strong>ral<br />

Carnaval 2010<br />

Laíla: 50 anos <strong>de</strong> carnaval<br />

Gabriel David: sangue bom nas pistas e na avenida<br />

Revista <strong>Beija</strong>-<strong>Flor</strong> <strong>de</strong> <strong>Nilópolis</strong> www.beija-flor.com.br<br />

Capa<br />

Brasília e <strong>Beija</strong>-<strong>Flor</strong> <strong>de</strong> <strong>Nilópolis</strong>:<br />

Dois Gigantes na Avenida.<br />

Criação da capa:<br />

R. Gatto<br />

Fotos: Carnaval (Henrique Matos<br />

e Augusto Pedoni) e Brasília (Luiz<br />

Trazzi Martins)<br />

08<br />

26<br />

30<br />

36<br />

38<br />

40<br />

44<br />

49<br />

74<br />

84


VOCAÇÕES<br />

Novamente nossos corações aceleram e ganham<br />

o mesmo ritmo dos pés e a força <strong>de</strong> nossos tambores.<br />

Voltar à Sapucaí é, para a <strong>Beija</strong>-<strong>Flor</strong>, reencontrar<br />

sua maior vocação, que é transformar suor,<br />

trabalho e <strong>de</strong>dicação em arte, cultura e folia.<br />

Cada membro da gran<strong>de</strong> família <strong>Beija</strong>-<strong>Flor</strong> trabalhou<br />

muito para tornar possível esse momento, <strong>de</strong><br />

significado tão grandioso.<br />

Quando os mestres Rodney, Plínio e Binho sacudirem<br />

a passarela do samba com nossa bateria, teremos<br />

a certeza <strong>de</strong> que cada ritmista estará apresentando<br />

seu maior talento, como em um momento<br />

único em sua vida.<br />

Ser uma família é algo muito maior do que ser uma<br />

equipe ou uma torcida, e por isso a <strong>Beija</strong>-<strong>Flor</strong> é<br />

grandiosa e esten<strong>de</strong>-se por toda a nação.<br />

Este ano nosso encantamento é ainda mais especial,<br />

pois vamos homenagear o cinquentenário do<br />

coração <strong>de</strong>sse país. Nossa capital, <strong>de</strong> arquitetura<br />

arrojada e cultura tão extensa, dá o norte <strong>de</strong> nosso<br />

<strong>de</strong>sfile em 2010. Recebemos o apoio do po<strong>de</strong>r público<br />

em suas três esferas, como também a representação<br />

<strong>de</strong> nossa comunida<strong>de</strong>, unida pela realização<br />

<strong>de</strong> um espetáculo <strong>de</strong> qualida<strong>de</strong>, que fortalece<br />

e consolida, principalmente, a vocação do Brasil <strong>de</strong><br />

realizar e sediar eventos <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> porte.<br />

O país, que será o foco da atenção <strong>de</strong> olhos do<br />

mundo inteiro na realização da Copa do Mundo <strong>de</strong><br />

Futebol <strong>de</strong> 2014 e dos Jogos Olímpicos <strong>de</strong> 2016,<br />

<strong>de</strong>monstra sua capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> organização e profissionalismo<br />

na perfeição do maior espetáculo cultural<br />

da Terra: O Desfile das Escolas <strong>de</strong> Samba do<br />

Rio <strong>de</strong> Janeiro.<br />

Temos a convicção <strong>de</strong> que continuaremos conquistando<br />

novos espaços no cenário mundial, pois esta<br />

é também nossa aptidão.<br />

Por isso, a <strong>Beija</strong>-<strong>Flor</strong> <strong>de</strong> <strong>Nilópolis</strong> agra<strong>de</strong>ce a todos<br />

os seus membros por lutar com afinco por sua verda<strong>de</strong>ira<br />

vocação, por se empenhar em transformar<br />

todas as adversida<strong>de</strong>s em conquistas e todos os<br />

<strong>de</strong>safios em vitórias.<br />

Tenho muito orgulho <strong>de</strong>, ao lado <strong>de</strong> meu irmão e<br />

nosso gran<strong>de</strong> Patrono Anizio, ser mais um elemento<br />

nessa massa que carrega nas veias o DNA da<br />

família <strong>Beija</strong>-<strong>Flor</strong>.<br />

VOCATIONS<br />

Once again our hearts speed up, beating with the same<br />

rhythm as our feet and force of our drums. For <strong>Beija</strong>-<strong>Flor</strong>,<br />

returning to Sapucaí Avenue is like reencountering its<br />

greatest vocation, which is to transform sweat, work and<br />

<strong>de</strong>dication into art, culture and merrymaking.<br />

Each member of the great <strong>Beija</strong>-<strong>Flor</strong> family has worked hard<br />

to make such a significant moment as this possible.<br />

When masters Rodney, Plínio and Binho vibrate the Sambadrome<br />

with our percussion unit, we’re sure that each member<br />

will be presenting his best talent,<br />

as if his life <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>d on it.<br />

Being a family is much more<br />

than being a team or a group of<br />

fans. This is why <strong>Beija</strong>-<strong>Flor</strong> is so<br />

grand and extends throughout<br />

the nation.<br />

This year, our enchantment<br />

is even more special, because<br />

we’re going to pay homage to<br />

the fiftieth anniversary of our<br />

nation’s heart: Our Capital, with<br />

its daring architecture and varied<br />

culture, is our para<strong>de</strong> theme in<br />

2010.<br />

We’ve received support from the<br />

public sector at all three levels, but<br />

particularly from the efforts of our<br />

community, which is united in<br />

putting on this spectacular show,<br />

one that strengthens and consolidates<br />

Brazil’s vocation of producing<br />

and hosting big events.<br />

The country on which the world’s<br />

eyes will focus during the 2014<br />

World Cup and 2016 Olympic<br />

Games already <strong>de</strong>monstrates its capacity for organization Farid Abrão<br />

and professionalism with the perfection of the greatest cultural<br />

spectacle on earth: The Para<strong>de</strong> of the Samba Schools<br />

of Rio <strong>de</strong> Janeiro.<br />

We know we will continue conquering new space on the<br />

global stage, because it’s in our blood.<br />

For this reason, <strong>Beija</strong>-<strong>Flor</strong> of <strong>Nilópolis</strong> thanks all its members<br />

and fans for their <strong>de</strong>dication to our true vocation, transforming<br />

adversities into conquests and challenges into victories.<br />

I’m proud to be, along with my brother and our great patron,<br />

Anísio, one more element in this mass that carries in its<br />

veins the DNA of the <strong>Beija</strong>-<strong>Flor</strong> family.<br />

Fevereiro 2010


HOJE<br />

é o nosso dia!<br />

Revista <strong>Beija</strong>-<strong>Flor</strong> <strong>de</strong> <strong>Nilópolis</strong> www.beija-flor.com.br


ANA CAROLINE CHAVES<br />

O Grêmio Recreativo Escola <strong>de</strong> Samba <strong>Beija</strong>-<strong>Flor</strong><br />

<strong>de</strong> <strong>Nilópolis</strong> é a prova <strong>de</strong> que uma escola <strong>de</strong> samba<br />

po<strong>de</strong> fazer mais do que música pela comunida<strong>de</strong>.<br />

Seus projetos sociais auxiliam na formação <strong>de</strong><br />

crianças e jovens, na busca <strong>de</strong> um futuro melhor e<br />

ajudam-nos a acreditar no potencial que existe em<br />

cada um <strong>de</strong>les. Concebidos e estruturados por Anizio<br />

Abrão David, presi<strong>de</strong>nte <strong>de</strong> honra da <strong>Beija</strong>-<strong>Flor</strong>,<br />

eles encontram no patrono a força necessária para<br />

servirem <strong>de</strong> exemplo para todo o Brasil.<br />

CRECHE JÚLIA ABRÃO DAVID<br />

Inaugurada em 09 <strong>de</strong> maio <strong>de</strong> 1980, a Creche Júlia<br />

Abrão David completa mais um ano <strong>de</strong> ótimos<br />

resultados. O projeto educacional que começou<br />

com 60 crianças hoje possui cerca <strong>de</strong> 280 alunos<br />

matriculados. A escola foi planejada para ter toda<br />

a infraestrutura necessária visando oferecer o melhor<br />

aos pequenos e contribuir com eles no seu <strong>de</strong>senvolvimento<br />

para que se tornem cidadãos mais<br />

aptos a aproveitar as oportunida<strong>de</strong>s que a socieda<strong>de</strong><br />

oferece. Nomeada em homenagem à matriarca<br />

da Família Abrão David – D. Júlia, mãe dos irmãos<br />

Nelson, Anizio e Farid –, a creche encontra em Anizio<br />

um porto seguro para sua existência.<br />

Para participar do projeto educacional da <strong>Beija</strong>-<strong>Flor</strong><br />

<strong>de</strong> <strong>Nilópolis</strong> a família das crianças <strong>de</strong>ve comprovar<br />

uma renda <strong>de</strong> até três salários mínimos e as crianças<br />

<strong>de</strong>vem ter entre seis meses e seis anos <strong>de</strong> ida<strong>de</strong>.<br />

Para Maria <strong>de</strong> Lour<strong>de</strong>s Goulart, diretora geral<br />

<strong>de</strong>s<strong>de</strong> a inauguração, a proposta da creche é ser<br />

uma extensão do lar <strong>de</strong>ssas famílias: “A partir do<br />

momento que uma mãe entrega essa criança aqui<br />

na creche, ela tem que ter o melhor. Tratamos <strong>de</strong>las<br />

com muito carinho e amor, e seus pais sabem disso”,<br />

afirma a diretora.<br />

A creche funciona em regime <strong>de</strong> semi-internato e<br />

os alunos são divididos em três turmas: Berçário<br />

(dos seis meses aos 3 anos), Jardim I (dos três aos<br />

quatro anos) e Jardim II (dos quatro aos seis anos).<br />

Para que todos tenham conforto, as ativida<strong>de</strong>s das<br />

crianças são divididas em turnos. Enquanto parte<br />

dos alunos estuda pela manhã, os outros participam<br />

<strong>de</strong> ativida<strong>de</strong>s no pátio. Depois as turmas se invertem.<br />

Na creche, as crianças também encontram<br />

o suporte que necessitam para manterem uma vida<br />

saudável: são quatro refeições diárias, além <strong>de</strong> assistência<br />

médica e odontológica – essa realizada no<br />

consultório odontológico instalado no local.<br />

A se<strong>de</strong> da creche conta, ainda, com berçário, salas<br />

<strong>de</strong> aula, salas <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong>s e <strong>de</strong> ví<strong>de</strong>o, dormitórios,<br />

TODAY<br />

is our day!<br />

ANA CAROLINE CHAVES<br />

<strong>Beija</strong>-<strong>Flor</strong> (or Grêmio Recreativo Escola <strong>de</strong> Samba <strong>Beija</strong>-<strong>Flor</strong><br />

<strong>de</strong> <strong>Nilópolis</strong>, as it is officially known) does more than make<br />

music for the community. Its social projects help provi<strong>de</strong><br />

a better future for children and youths by giving them a<br />

chance to realize their potential. Conceived and structured<br />

by Anízio Abrão David, <strong>Beija</strong>-<strong>Flor</strong>’s presi<strong>de</strong>nt of honor, these<br />

projects find in their patron the force necessary to serve as<br />

examples for all of Brazil.<br />

Júlia Abrão David Daycare Center<br />

Opened on May 9, 1980, the Júlia Abrão David Daycare<br />

Center has completed another year of outstanding results. An<br />

educational project that started with 60 children now has<br />

some 280 kids enrolled. The center was planned with the<br />

full infrastructure necessary to help the little ones <strong>de</strong>velop<br />

into useful citizens more able to seize the opportunities that<br />

society offers. Named in honor of the Abrão David family<br />

matriarch – the mother of Nelson, Anízio and Farid – the<br />

center finds safe harbor in the hands of Anízio.<br />

To participate in this educational project of <strong>Beija</strong>-<strong>Flor</strong>, the<br />

children must be between six months and six years old and<br />

their families must have an income of no more than three<br />

times the minimum monthly wage. For Maria <strong>de</strong> Lour<strong>de</strong>s<br />

Goulart, general director since the start, the i<strong>de</strong>a is to make<br />

the center an extension of home for these families: “From the<br />

moment mothers <strong>de</strong>liver their children here, the little ones<br />

receive the best we can give. We treat them with ten<strong>de</strong>rness<br />

and love, and their parents know this,” she says.<br />

The center functions all day and the children are divi<strong>de</strong>d into<br />

three groups: “Nursery” (from six months to three years old),<br />

Kin<strong>de</strong>rgarten I (three and four years old) and Kin<strong>de</strong>rgarten II<br />

(from four to six years old). The kids’ activities are divi<strong>de</strong>d<br />

into two schedules. While part of them study in the morning,<br />

others participate in activities in the play yard. Afterward the<br />

activities invert. Besi<strong>de</strong>s learning and play, the kids find the<br />

support they need for healthy lives: there are three meals and a<br />

snack every day and medical and <strong>de</strong>ntal assistance, the latter<br />

provi<strong>de</strong>d in a <strong>de</strong>ntal office on site.<br />

Fevereiro 2010


efeitórios, cozinha industrial e um espaço ver<strong>de</strong>.<br />

Tudo para oferecer às crianças e às famílias uma<br />

oportunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> crescer e se <strong>de</strong>senvolver em um<br />

ambiente <strong>de</strong> cooperação e incentivo. Também participam<br />

da creche alunos <strong>de</strong> municípios vizinhos,<br />

como Queimados, São João <strong>de</strong> Meriti, Anchieta,<br />

<strong>de</strong>ntre outros. O importante é dar o suporte necessário<br />

para que as crianças cresçam em um ambiente<br />

saudável e estimulador.<br />

Na equipe <strong>de</strong> profissionais, babás, psicólogos, assistentes<br />

sociais, <strong>de</strong>ntistas, faxineiros, cozinheiros,<br />

auxiliares <strong>de</strong> cozinha, secretárias, porteiros, todos<br />

por uma infraestrutura impecável. “Existe uma<br />

união entre todos que trabalham no projeto para<br />

que as crianças recebam o que merecem. E isso<br />

é inovador. E sempre foi inovador, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> que fundamos<br />

a casa. Aqui todos trabalham com amor e<br />

comprometimento”, conta a diretora. A paixão pela<br />

creche transparece ainda mais em Maria <strong>de</strong> Lour<strong>de</strong>s<br />

quando fala <strong>de</strong> seus alunos: “Ninguém é mais verda<strong>de</strong>iro<br />

que uma criança. Eles não mascaram seus<br />

sentimentos, nem suas intenções. São verda<strong>de</strong>iras<br />

e diretas. Fazem questão <strong>de</strong> escrever ou dizer ‘eu<br />

te amo’ quando sentem isso. É comum chegarmos<br />

à creche e sermos abordados por alguma criança<br />

The daycare building also contains a nursery, classrooms,<br />

activity and vi<strong>de</strong>o rooms, a nap room, cafeteria and kitchen,<br />

and there’s a grassed courtyard outsi<strong>de</strong> – everything to offer<br />

the children and their families an opportunity to grow and<br />

<strong>de</strong>velop in a setting of cooperation and encouragement.<br />

Besi<strong>de</strong>s <strong>Nilópolis</strong>, the<br />

center takes kids from<br />

adjacent municipalities,<br />

such as Queimados, São<br />

João <strong>de</strong> Meriti and Anchieta,<br />

among others. The<br />

important point is to give<br />

the support necessary<br />

for the kids to grow in a<br />

healthful and stimulating<br />

environment.<br />

There’s a full staff of<br />

babysitters, psychologists,<br />

social assistants, <strong>de</strong>ntists,<br />

cooks, kitchen helpers,<br />

secretaries and doormen,<br />

to serve all the kids’ needs<br />

in an impeccable facility.<br />

“Everyone who works in<br />

the project is united so<br />

that the kids receive what<br />

they <strong>de</strong>serve. And this is<br />

innovative. It always has<br />

been innovative, since we<br />

foun<strong>de</strong>d the center. Here<br />

everyone works with love<br />

and commitment,” explains the director. Maria <strong>de</strong> Lour<strong>de</strong>s’<br />

passion for the center shines even more when she speaks<br />

of her young charges: “Nobody is truer than a child. They<br />

don’t mask their feelings or intentions. They’re truthful and<br />

direct: they make a point of writing or saying ‘I love you’<br />

when they feel this way. We often are greeted by a smiling<br />

child saying ‘hi teacher, I missed you.’ Little things like this<br />

that we experience daily have no price,” she conclu<strong>de</strong>s.<br />

Abrão David School<br />

Children grow and projects evolve with them. When they<br />

reach the age of seven, the stu<strong>de</strong>nts from the Júlia Abrão<br />

David Daycare Center are automatically transferred to the<br />

Abrão David School. Opened on February 19, 1987, the facility<br />

is inten<strong>de</strong>d to complete the crèche’s work by continuing<br />

the pedagogic concepts, in a rich educational environment<br />

where the stu<strong>de</strong>nts not only learn in classroom subjects, but<br />

0 Revista <strong>Beija</strong>-<strong>Flor</strong> <strong>de</strong> <strong>Nilópolis</strong> www.beija-flor.com.br


que, sorri<strong>de</strong>nte, nos dirige a palavra dizendo: ‘oi tia,<br />

senti sauda<strong>de</strong>’. Acontecimentos como esse, que<br />

vivenciamos no nosso dia a dia, não tem preço”,<br />

conclui emocionada.<br />

EDUCANDÁRIO ABRÃO DAVID<br />

As crianças crescem e os projetos evoluem. Ao<br />

completarem seis anos, todos os alunos da Creche<br />

Júlia Abrão David são transferidos automaticamente<br />

para o Educandário Abrão David. Inaugurado<br />

em 19 <strong>de</strong> fevereiro <strong>de</strong> 1987, o projeto veio<br />

para complementar o trabalho da creche e resgatar<br />

conceitos pedagógicos, como continuida<strong>de</strong> da vida<br />

acadêmica <strong>de</strong>ntro e fora da escola, compreensão<br />

profunda dos assuntos abordados em sala, auto<strong>de</strong>senvolvimento<br />

e entendimento dos diferentes<br />

perfis <strong>de</strong> cada um.<br />

Do primeiro ao nono ano do Ensino Fundamental,<br />

os alunos recebem aulas <strong>de</strong> matemática e português,<br />

e até informática e civilida<strong>de</strong>. A proposta do<br />

educandário é ter um ensino <strong>de</strong> qualida<strong>de</strong> que prepare<br />

os jovens para o mercado <strong>de</strong> trabalho. Alunos<br />

<strong>de</strong> outras comunida<strong>de</strong>s também po<strong>de</strong>m entrar na<br />

escola e buscar lá um caminho <strong>de</strong> aprendizagem.<br />

Maria <strong>de</strong> Lour<strong>de</strong>s Goulart, também diretora geral,<br />

ressalta que o apoio e orientação às famílias<br />

continuam no educandário, além <strong>de</strong> todos os<br />

serviços prestados na creche.<br />

A escola não se fixa apenas ao ensino formal e<br />

oficial; funciona também como incentivadora<br />

<strong>de</strong> cultura e comportamentos.<br />

Em datas comemorativas,<br />

apresentações,<br />

pesquisas e trabalhos<br />

são fornecidos para que<br />

a comunida<strong>de</strong> se integre.<br />

“No <strong>de</strong>sfile <strong>de</strong> escolas<br />

<strong>de</strong> sete <strong>de</strong> setembro,<br />

tivemos o maior contingente<br />

<strong>de</strong> alunos <strong>de</strong>sfilando,<br />

mais <strong>de</strong> 1.700, pois juntamos<br />

as crianças da creche e os jovens<br />

do educandário. As autorida<strong>de</strong>s<br />

nos aplaudiram <strong>de</strong> pé. Não podia<br />

ficar mais feliz”, diz Maria <strong>de</strong><br />

Lour<strong>de</strong>s.<br />

Com uma biblioteca variada e um<br />

laboratório <strong>de</strong> informática, o educandário<br />

oferece uma estrutura<br />

para que seus alunos aprendam<br />

a viver com dignida<strong>de</strong> e construam<br />

uma personalida<strong>de</strong> responsável<br />

e com conhecimento para terem um<br />

also learn how to <strong>de</strong>velop themselves and un<strong>de</strong>rstand their<br />

individual profiles.<br />

From the first through the ninth gra<strong>de</strong>s, the stu<strong>de</strong>nts are<br />

schooled in the full range of subjects, such as math, Portuguese,<br />

civics and informatics. The proposal is to provi<strong>de</strong><br />

an excellent education to prepare young people for the job<br />

market. Stu<strong>de</strong>nts from other communities can also attend<br />

the school. Maria <strong>de</strong> Lour<strong>de</strong>s Goulart, the general director<br />

of the school as well, stresses that support and orientation<br />

to the families continues at the school, along with all the<br />

other services provi<strong>de</strong>d at the daycare center.<br />

The school offers more than just the required basic curriculum.<br />

It also encourages culture and good citizenship. On<br />

commemorative dates, the studies and works are formulated<br />

so the whole community can interact. “In the school para<strong>de</strong><br />

on September Seventh [In<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nce Day], we have the<br />

largest contingent marching, over 1,700, because we combine<br />

the kids from the daycare center with the pupils from the<br />

school. The authorities give us a standing ovation, and I<br />

couldn’t be happier,” says Maria <strong>de</strong> Lour<strong>de</strong>s.<br />

With a varied library and computer room, the<br />

school offers a structure so its stu<strong>de</strong>nts can<br />

learn to live with dignity and become responsible<br />

adults, with the knowledge<br />

necessary for a brighter<br />

future. This is why<br />

professionals<br />

like Maria<br />

<strong>de</strong> Lour<strong>de</strong>s<br />

have worked so<br />

many years on the<br />

project. “The stu<strong>de</strong>nts<br />

are a large<br />

Fevereiro 2010


futuro melhor. É por isso e para isso que profissionais<br />

como Maria <strong>de</strong> Lour<strong>de</strong>s trabalham tantos<br />

anos no projeto. “Os alunos são muito da minha<br />

razão <strong>de</strong> viver. Eles me fortalecem e me confortam.<br />

Enchem-me <strong>de</strong> esperança quando vejo aqueles<br />

olhinhos vidrados no aprendizado, esperançosos<br />

para construir uma vida feliz para eles e seus<br />

familiares... Estar aqui é uma verda<strong>de</strong>ira lição <strong>de</strong><br />

vida”, afirma a diretora.<br />

CENTRO DE ATENDIMENTO COMUNITÁRIO<br />

NELSON ABRÃO DAVID<br />

Os projetos do Grêmio Recreativo <strong>de</strong> <strong>Nilópolis</strong><br />

não param por aí. O Centro <strong>de</strong> Atendimento Comunitário<br />

(CAC) Nelson Abrão David surgiu em<br />

3 <strong>de</strong> agosto <strong>de</strong> 1991 para dar uma especialização<br />

aos jovens da comunida<strong>de</strong> e <strong>de</strong> adjacências.<br />

Anizio po<strong>de</strong> com este projeto ajudar centenas <strong>de</strong><br />

adolescentes a saírem das ruas e terem a chance<br />

<strong>de</strong> um futuro melhor. Aroldo Carlos da Silva,<br />

coor<strong>de</strong>nador do projeto <strong>de</strong>s<strong>de</strong> sua abertura, reconhece<br />

o valor que a família Abrão David dá<br />

para o trabalho: “Em todos os lugares do Brasil,<br />

vamos encontrar necessida<strong>de</strong>s a serem tratadas.<br />

Infelizmente, nem todos serão atendidos pelo<br />

po<strong>de</strong>r público, principal responsável por dar aos<br />

nossos jovens as oportunida<strong>de</strong>s que necessitam.<br />

Por outro lado, existem pessoas, como o Anizio,<br />

que está atento a essa questão, e se vê em condições<br />

<strong>de</strong> fazer alguma coisa. Anizio e a família<br />

Abrão David nos ajudam <strong>de</strong> diversas maneiras a<br />

fazer e dar continuida<strong>de</strong> a um trabalho sério que<br />

tem dado bons resultados <strong>de</strong>s<strong>de</strong> que foi criado.”<br />

Com cursos gratuitos, o CAC tem uma diversida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> cursos profissionalizantes nos horários da<br />

manhã ou da tar<strong>de</strong>. Para ingressar neles, os alunos<br />

<strong>de</strong>vem ter mais <strong>de</strong> 16 anos <strong>de</strong> ida<strong>de</strong> e comprovar<br />

que estudam na re<strong>de</strong> pública. O processo <strong>de</strong><br />

seleção é específico <strong>de</strong> cada curso, uma vez que<br />

cada curso tem como foco aten<strong>de</strong>r as <strong>de</strong>mandas<br />

do mercado <strong>de</strong> trabalho, uma <strong>de</strong>manda que é específica<br />

<strong>de</strong> cada ativida<strong>de</strong>: umas precisam <strong>de</strong> um<br />

<strong>de</strong>terminado nível <strong>de</strong> escolarida<strong>de</strong> mínimo para a<br />

participação, outros não... Cada caso é um caso.<br />

No entanto, o ponto em comum dos cursos é que<br />

todos são ministrados por profissionais altamente<br />

qualificados. Alguns cursos funcionam em parceria<br />

com gran<strong>de</strong>s empresas e instituições. O CAC<br />

possui, por exemplo, convênio com o <strong>SE</strong>NAC (Serviço<br />

<strong>de</strong> Aprendizagem Comercial) para cursos <strong>de</strong><br />

qualificação comercial (informática, telemarketing,<br />

atendimento ao cliente, administração) e cursos<br />

voltados para a área carnavalesca (a<strong>de</strong>reços, fan-<br />

Revista <strong>Beija</strong>-<strong>Flor</strong> <strong>de</strong> <strong>Nilópolis</strong> www.beija-flor.com.br


part of my reason for living. They strengthen and comfort<br />

me. I fill with pri<strong>de</strong> when I see those attentive little eyes,<br />

looking forward to building a happy future for themselves<br />

and their families…Being here is a veritable lesson in life,”<br />

she states.<br />

Nelson Abrão David Community Center<br />

The projects of <strong>Beija</strong>-<strong>Flor</strong> of <strong>Nilópolis</strong> don’t end there.<br />

The Nelson Abrão David Community Service Center was<br />

opened on August 3, 1991 to provi<strong>de</strong> specialized job training<br />

for youths from the community and surrounding areas.<br />

Through this project, Anízio helps hundreds of teens and<br />

young adults to have a chance for a brighter future. Aroldo<br />

Carlos da Silva, coordinator of the project since its founding,<br />

recognizes the value the Abrão David family attaches to<br />

the work: “Everywhere in Brazil there are needs to be <strong>de</strong>alt<br />

with. Unfortunately, not all of them are met by the public<br />

authorities, <strong>de</strong>spite the main role that government plays in<br />

giving our young people the opportunities they need. On the<br />

other hand, there are people like Anízio who are aware of<br />

this need, and have the means to do something. Anízio and<br />

the Abrão David family help us, in various ways, to give<br />

continuity to a serious effort that has been producing good<br />

results from the outset.”<br />

The community center has a variety of free job training<br />

courses, in the mornings and afternoons. To attend, the<br />

stu<strong>de</strong>nts must be 16 years old and prove they study in a<br />

public school. The selection process is specific for each<br />

course, since each one has a different focus <strong>de</strong>pending on<br />

the profession taught: some require a certain level of schooling<br />

and others don’t.<br />

All the courses are taught by highly qualified instructors.<br />

Some of the courses are given in partnership with large<br />

companies and training institutions. For example, the community<br />

center has a working arrangement with the Commercial<br />

Training Service (<strong>SE</strong>NAC) to give certain commercial<br />

courses (informatics, telemarketing, customer service,<br />

administration) and courses focused on carnival (regalia<br />

and costume making, metalworking and woodworking).<br />

Besi<strong>de</strong>s these, in 2010 Tigre, a company that makes pipes<br />

and connections, will join the project, sponsoring industrial<br />

qualification courses (plumbing and basic sanitation, among<br />

others). Another important aspect is that many stu<strong>de</strong>nts<br />

can’t afford the cost of transportation and eating outsi<strong>de</strong><br />

the home. For this reason, the Nelson Abrão David Community<br />

Center offers a meal and bus coupons to enable the<br />

Fevereiro 2010


tasias, serralheria e marcenaria). Além <strong>de</strong>sses, está<br />

previsto que, em 2010, a Tigre, empresa <strong>de</strong> tubos e<br />

conexões, também se filiará ao projeto com cursos<br />

<strong>de</strong> qualificação industrial (hidráulica e saneamento<br />

básico, <strong>de</strong>ntre outros). Outro aspecto importante da<br />

relação do CAC com os alunos é que a administração<br />

enten<strong>de</strong> que muitos alunos não possuem condições<br />

para arcarem com os custos <strong>de</strong> uma alimentação fora<br />

<strong>de</strong> casa ou para o transporte até o CAC. Por isso,<br />

o Centro <strong>de</strong> Atendimento Comunitário Nelson Abrão<br />

David oferece para os alunos inscritos nos seus cursos<br />

refeição e transporte, tudo para lhes fornecer o<br />

necessário para se manterem nos cursos. Ele conta<br />

que o projeto vai além: pesquisa e realiza contatos<br />

com diversas empresas buscando algum tipo <strong>de</strong><br />

apoio a esses futuros profissionais, auxiliando, assim,<br />

os estudantes a ingressarem no mercado <strong>de</strong> trabalho.<br />

“Muitos dos nossos alunos – especificamente os que<br />

fizeram os cursos <strong>de</strong> a<strong>de</strong>reços, fantasias, serralheria<br />

e marcenaria - são aproveitados pela própria <strong>Beija</strong>-<br />

<strong>Flor</strong> <strong>de</strong> <strong>Nilópolis</strong>”, confi<strong>de</strong>ncia.<br />

“Todo esse trabalho tem efeitos transformadores.<br />

Um jovem orientado, capacitado profissionalmente<br />

e com um emprego está em condições <strong>de</strong> dar início<br />

à sua vida econômica, po<strong>de</strong>ndo comprar um presentinho<br />

para a namorada ou para a mãe, além <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r<br />

investir em si mesmo, comprando um livro, fazendo<br />

outros cursos fora do CAC. Além disso, empregados,<br />

esses jovens que ainda não precisam sustentar<br />

uma nova família, em boa parte das vezes acabam<br />

ajudando seus familiares na divisão das <strong>de</strong>spesas<br />

<strong>de</strong> casa... Todos esses benefícios – os diretos e os<br />

indiretos – são bem compreendidos pelo nosso povo<br />

<strong>de</strong> <strong>Nilópolis</strong> e da baixada. Eles reconhecem nosso<br />

trabalho e muitos dos alunos – até mesmo seus pais<br />

– <strong>de</strong>pois dos cursos voltam ao CAC para agra<strong>de</strong>cer<br />

a ajuda que tiveram”, conclui Anizio.<br />

PROJETO “O SONHO DE UM BEIJA-FLOR”<br />

Transformar sonhos em realida<strong>de</strong> é a expressão que<br />

<strong>de</strong>fine o objetivo do projeto “O Sonho <strong>de</strong> um <strong>Beija</strong>-<br />

<strong>Flor</strong>”. Também é uma ativida<strong>de</strong> <strong>de</strong> inserção social e<br />

educativa realizada pela escola <strong>de</strong> samba, on<strong>de</strong> os<br />

alunos recebem aulas <strong>de</strong> Jiu-Jitsu, tênis <strong>de</strong> mesa,<br />

futebol, natação, dança, <strong>de</strong>ntre outras. Atualmente,<br />

700 crianças participam do projeto, que espera alcançar<br />

dois mil alunos até o final <strong>de</strong> 2010. Com as Olimpíadas<br />

<strong>de</strong> 2016 no Rio <strong>de</strong> Janeiro e a parceria com<br />

a Petrobras, novos cursos serão implantados como<br />

vôlei, basquete, handball, karatê e judô. O que o projeto<br />

propõe é valorizar o potencial <strong>de</strong>ssas crianças e<br />

jovens, reconhecendo seus talentos e fazer que eles<br />

acreditem que seus sonhos são possíveis <strong>de</strong> se tornarem<br />

realida<strong>de</strong>, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> que se empenhem nisso.<br />

stu<strong>de</strong>nts to attend. The center’s administration also makes<br />

regular contacts with companies to learn the specific skills<br />

in <strong>de</strong>mand and the latest job market trends, and to help<br />

place the graduates in good jobs. “Many of our stu<strong>de</strong>nts<br />

– specifically those who complete the courses in regalia and<br />

costume making, metalworking and woodworking – are<br />

hired by <strong>Beija</strong>-<strong>Flor</strong> itself,” says Aroldo.<br />

“All this work has transforming effects: a young person<br />

with the proper guidance, professional skills and a job<br />

is ready to start his economic life, can afford to buy a<br />

present for his girlfriend or mother, besi<strong>de</strong>s being able to<br />

invest in himself, by buying a book or taking other courses<br />

elsewhere. Even though most of these youths don’t yet need<br />

to support a new family, they often help their parents by<br />

sharing household expenses.... All these benefits – the<br />

direct and indirect ones – are un<strong>de</strong>rstood by our people in<br />

<strong>Nilópolis</strong> and surrounding communities. They recognize<br />

our work and many of the stu<strong>de</strong>nts – and even their parents<br />

– return to the center afterward to thank us for the help,”<br />

conclu<strong>de</strong>s Anizio.<br />

The “O Sonho <strong>de</strong> um <strong>Beija</strong>-<strong>Flor</strong>” Project<br />

Transforming dreams into reality is the motto that <strong>de</strong>fines<br />

the objective of the project called “O Sonho <strong>de</strong> um<br />

<strong>Beija</strong>-<strong>Flor</strong>” (“A Hummingbird’s Dream” – beija-flor means<br />

hummingbird). It’s also an activity for education and<br />

social inclusion carried out by the samba school, where<br />

the stu<strong>de</strong>nts take classes in jiu-jitsu, table tennis, soccer,<br />

swimming and dance, among others. Currently 700 children<br />

take part in the project, which is planned to expand<br />

to 2,000 kids by the end of 2010. With Rio <strong>de</strong> Janeiro<br />

having been chosen to host the 2016 Olympics, Petrobras<br />

has provi<strong>de</strong>d funding for new classes, such as volleyball,<br />

basketball, handball, karate and judo. The project proposes<br />

to enhance the potential of these kids and teens, recognizing<br />

their talents and making them believe their dreams can<br />

come true if they work for it.<br />

Jiu-Jitsu<br />

The jiu-jitsu classes have been given since 2006 in the<br />

multi-sports court of <strong>Beija</strong>-<strong>Flor</strong>. They are taught by black belt<br />

Elan Santiago, who has worked with teams from the United<br />

States and Korea: “The jiu-jitsu classes are given in two<br />

periods, so the kids and youths can participate <strong>de</strong>pending<br />

on each one’s school schedule. Today we have around 200


JIU-JITSU<br />

As aulas <strong>de</strong> Jiu-Jitsu são realizadas <strong>de</strong>s<strong>de</strong> 2006<br />

na quadra <strong>de</strong> esportes da agremiação <strong>de</strong> <strong>Nilópolis</strong>,<br />

e ministradas pelo faixa preta Elan Santiago,<br />

que já trabalhou com equipes dos EUA e<br />

da Coreia: “As aulas <strong>de</strong> Jiu-Jitsu são realizadas<br />

em dois turnos, para po<strong>de</strong>r aten<strong>de</strong>r o contingente<br />

<strong>de</strong> crianças e jovens que nos procuram e <strong>de</strong><br />

acordo com o horário escolar <strong>de</strong> cada aluno. Hoje<br />

estamos com cerca <strong>de</strong> 200 alunos matriculados.<br />

O perfil atual dos alunos é formado por crianças<br />

e jovens da região que possuem <strong>de</strong> seis até 17<br />

anos, mas que comprovem estar estudando. Não<br />

abrimos mão disso; afinal, nossa proposta é que<br />

esses pequenos beija-flores voem alto, para alcançarem<br />

todos os sonhos <strong>de</strong> conquista e felicida<strong>de</strong>.<br />

E o estudo, na escola, é tão importante<br />

quanto o esporte aqui na <strong>Beija</strong>-<strong>Flor</strong> para esse<br />

gran<strong>de</strong> voo“, reflete Elan.<br />

Consi<strong>de</strong>rada uma das “meninas dos olhos” do patrono<br />

da escola, Anizio Abrão David, <strong>de</strong> todas as<br />

ativida<strong>de</strong>s esportivas da <strong>Beija</strong>-<strong>Flor</strong> <strong>de</strong> <strong>Nilópolis</strong> o<br />

Jiu-Jitsu é a que mais tem se empenhado em participar<br />

e disputar competições. É, por isso, a que<br />

mais tem trazido medalhas e títulos para casa.<br />

Des<strong>de</strong> o início das ativida<strong>de</strong>s foram mais <strong>de</strong> 150<br />

medalhas, entre ouro, prata e bronze: “Em 2009<br />

participamos <strong>de</strong> diversas disputas fora <strong>de</strong> casa.<br />

As mais importantes foram o campeonato brasileiro<br />

e o estadual <strong>de</strong> Jiu-Jitsu, além da competição<br />

organizada pelo atleta Raphael Abi-Rihan. No<br />

campeonato brasileiro, a equipe da <strong>Beija</strong>-<strong>Flor</strong> <strong>de</strong><br />

<strong>Nilópolis</strong> foi representada por 24 atletas, que conquistaram<br />

sete medalhas <strong>de</strong> ouro, doze <strong>de</strong> prata e<br />

uma <strong>de</strong> bronze, conquistando o 3º lugar por equipe.<br />

No campeonato estadual, 26 atletas nossos<br />

participaram, levando para casa nove medalhas<br />

<strong>de</strong> ouro, três <strong>de</strong> prata e três <strong>de</strong> bronze, e conquistando<br />

o 3º lugar por equipe. Na competição organizada<br />

pelo Raphael, filho do nosso amigo Hilton<br />

Abi-Rihan, conquistamos doze medalhas <strong>de</strong> ouro,<br />

oito <strong>de</strong> prata e cinco <strong>de</strong> bronze, com a participação<br />

<strong>de</strong> 38 atletas. Nesse campeonato, on<strong>de</strong> todas as<br />

gran<strong>de</strong>s aca<strong>de</strong>mias <strong>de</strong> Jiu-Jitsu do Rio <strong>de</strong> Janeiro<br />

participam, conquistamos o 5º lugar por equipe”,<br />

conta orgulhoso o mestre Elan.<br />

Mas se engana quem acha que essa garotada e<br />

seus instrutores estão exclusivamente pensando<br />

em títulos e medalhas. Segundo Elan, “a proposta<br />

será sempre passar para essa criançada que eles<br />

<strong>de</strong>vem enfrentar seus <strong>de</strong>safios e lutar, com respeito<br />

e equilíbrio, para alcançar os resultados que querem<br />

obter, seja on<strong>de</strong> for.”<br />

stu<strong>de</strong>nts enrolled. The current profile is kids from the region<br />

aged six to seventeen years old. They also must prove they<br />

have good school attendance. We don’t overlook this point,<br />

because our aim is for these young ‘hummingbirds’ to fly<br />

high, to realize their dreams and be happy. And studying<br />

in school is just as important for this flight as sports here<br />

at <strong>Beija</strong>-<strong>Flor</strong>,” says Elan.<br />

Consi<strong>de</strong>red one of the “apples of the eye” of the <strong>Beija</strong>-<br />

<strong>Flor</strong>’s patron, Anizio Abrão David, of all the sports<br />

activities, jiu-jitsu is the one where the stu<strong>de</strong>nts most<br />

participate in competitions. For this reason, it’s the sport<br />

in which the program’s stu<strong>de</strong>nts have brought home the<br />

most medals and titles: since its start, over 150 gold,<br />

silver and bronze medals. “In 2009 we took part in various<br />

competitions. The most important were the national<br />

and state jiu-jitsu championships and the competition<br />

organized by the athlete Raphael Abi-Rihan. In the Brazilian<br />

championship, <strong>Beija</strong>-<strong>Flor</strong>’s team consisted of 24<br />

athletes and they won seven gold medals, twelve silvers<br />

and one bronze, putting the team in third place. In the<br />

state championship, 26 of our athletes participated,<br />

bringing home nine gold, three silver and three bronze<br />

medals, again putting the team in third place. And in<br />

the meet organized by Raphael, the son of our longtime<br />

friend Hilton Abi-Rihan, our 38 athletes won twelve gold,<br />

eight silver and five bronze medals. All the large jiu-jitsu<br />

schools in Rio <strong>de</strong> Janeiro participated at this meet, and<br />

we placed fifth,” Elan proudly recalls.<br />

But the stu<strong>de</strong>nts and their instructors are not only thinking<br />

of medals. According to Elan, “the i<strong>de</strong>a is always to convey<br />

to these young people that they have to face their challenges<br />

and fight, with respect and equilibrium, to attain the results<br />

they want, no matter in what facet of life.”<br />

The work is bearing such fruit that the <strong>Beija</strong>-<strong>Flor</strong> jiu-jitsu<br />

team this year will host the first Brazilian Social Projects<br />

Championship, with the official sanction of the Brazilian<br />

Jiu-Jitsu Confe<strong>de</strong>ration and the support of Petrobras, “an<br />

important partner,” according to Elan.<br />

Table Tennis<br />

In its third year, the table tennis program teaches some 80<br />

children one of the world’s most popular sports in terms<br />

of number of players, but still one in its <strong>de</strong>velopment stage<br />

in Brazil. According to the instructor, Pablo Ribeiro, vicepresi<strong>de</strong>nt<br />

for the eastern region of the Brazilian Table Tennis


Elan Santiago<br />

e Mário Dias com<br />

alunos do Jiu-jitsu da <strong>Beija</strong>-<strong>Flor</strong> <strong>de</strong><br />

<strong>Nilópolis</strong>, após conquista <strong>de</strong> medalhas.<br />

E o trabalho <strong>de</strong>senvolvido pela agremiação <strong>de</strong> <strong>Nilópolis</strong><br />

está oferecendo tantos resultados que a equipe<br />

<strong>de</strong> Jiu-Jitsu da <strong>Beija</strong>-<strong>Flor</strong> <strong>de</strong> <strong>Nilópolis</strong> estará organizando,<br />

neste ano, a primeira edição do Campeonato<br />

Brasileiro <strong>de</strong> Projetos Sociais, com a chancela da<br />

Confe<strong>de</strong>ração Brasileira <strong>de</strong> Jiu-Jitsu e o apoio da<br />

“Petrobras, uma importante parceria”, segundo Elan.<br />

TÊNIS DE MESA<br />

Em seu terceiro ano <strong>de</strong> existência, o curso <strong>de</strong> Tênis<br />

<strong>de</strong> Mesa ajuda cerca <strong>de</strong> 80 crianças a conhecer<br />

melhor um dos esportes mais populares do mundo<br />

em termos <strong>de</strong> número <strong>de</strong> jogadores, mas ainda em<br />

<strong>de</strong>senvolvimento no Brasil. Ministrado pelo presi<strong>de</strong>nte<br />

da confe<strong>de</strong>ração da modalida<strong>de</strong> na região<br />

leste, Pablo Ribeiro, a prática <strong>de</strong>sse esporte contribui<br />

para os jovens terem um raciocínio mais rápido<br />

e maior nível <strong>de</strong> concentração. De acordo com Pablo,<br />

“todos os esportes são importantes meios <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>senvolvimento pessoal e social. Quando um aluno<br />

pratica um esporte com <strong>de</strong>dicação, ele conquista<br />

não apenas qualida<strong>de</strong>s <strong>de</strong>ntro do esporte. Por<br />

isso é que consi<strong>de</strong>ro a prática esportiva essencial<br />

Confe<strong>de</strong>ration, playing the sport helps <strong>de</strong>velop faster reasoning<br />

and better concentration. He goes on to say: “All sports<br />

are important means of personal and social <strong>de</strong>velopment.<br />

When stu<strong>de</strong>nts practice a sport with <strong>de</strong>dication, they gain<br />

more than just the qualities offered by that particular sport.<br />

For this reason, I think playing sports is essential in the<br />

formation of good citizens. And what we do at <strong>Beija</strong>-<strong>Flor</strong><br />

is give young people in the region an important instrument<br />

of in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nce. When we show a path to youths without<br />

bearings, they latch onto it because they see in sports an<br />

opportunity to build a better life. But not everyone who<br />

comes to us is adrift in life. Many un<strong>de</strong>rstand from a young<br />

age how to take advantage of opportunities, often with the<br />

support of their parents. In table tennis these opportunities<br />

start here at <strong>Beija</strong>-<strong>Flor</strong> and open up wi<strong>de</strong>r paths. This year,<br />

for example, our stu<strong>de</strong>nts will compete in the state championships.<br />

As their visibility increases, so do their chances to<br />

improve their lives. Besi<strong>de</strong>s this, table tennis is an Olympic<br />

sport, so it’s natural that many of these young people dream<br />

Revista <strong>Beija</strong>-<strong>Flor</strong> <strong>de</strong> <strong>Nilópolis</strong> www.beija-flor.com.br


na formação do cidadão. E o que realizamos aqui<br />

na <strong>Beija</strong>-<strong>Flor</strong> <strong>de</strong> <strong>Nilópolis</strong> é isso: dar aos jovens da<br />

região esse importante instrumento <strong>de</strong> libertação.<br />

Quando damos aos jovens sem rumo um caminho,<br />

eles se agarram com afinco, pois veem no esporte<br />

uma oportunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> construírem uma vida melhor.<br />

Mas nem todos que procuram a prática do esporte<br />

são jovens sem um rumo <strong>de</strong>finido. Muitos, <strong>de</strong>s<strong>de</strong><br />

cedo e com o apoio dos seus pais, sabem o que po<strong>de</strong>m<br />

fazer se aproveitarem as oportunida<strong>de</strong>s. Essas<br />

oportunida<strong>de</strong>s no Tênis <strong>de</strong> Mesa começam aqui<br />

na <strong>Beija</strong>-<strong>Flor</strong> e avançam para caminhos maiores.<br />

Esse ano, por exemplo, nossos alunos vão competir<br />

nos campeonatos estaduais. O nível <strong>de</strong> visibilida<strong>de</strong><br />

aumenta, e as chances <strong>de</strong> melhorarem suas vidas<br />

também. Além disso, o Tênis <strong>de</strong> Mesa é um esporte<br />

olímpico, e por isso é natural que muitos <strong>de</strong>sses jovens<br />

pretendam se preparar e competir para participarem<br />

das Olimpíadas <strong>de</strong> 2016. E nós estaremos<br />

aqui para dar todo o suporte para eles”, conclui.<br />

Assim como o Jiu-Jitsu, as aulas funcionam nos turnos<br />

da manhã e da tar<strong>de</strong>, <strong>de</strong> acordo com o horário<br />

<strong>de</strong> estudo <strong>de</strong> cada um. Para se inscrever basta ter<br />

entre 10 e 17 anos e comprovar estar estudando.<br />

Tênis <strong>de</strong> mesa na quadra da <strong>Beija</strong>-<strong>Flor</strong> <strong>de</strong> <strong>Nilópolis</strong>.<br />

of competing for Brazil in the 2016 Games in Rio. We’re<br />

here to give them all the support we can.”<br />

As with jiu-jitsu, the classes are given in the mornings and<br />

afternoons, so stu<strong>de</strong>nts can participate who attend school<br />

in either the morning or afternoon session. The classes are<br />

open to all between 10 and 17 years of age who are regularly<br />

enrolled in school.<br />

Soccer<br />

The project directed by Mário Dias, coordinator of sports<br />

activities for <strong>Beija</strong>-<strong>Flor</strong>, unites Brazil’s two greatest national<br />

passions: soccer (or futebol, if you please) and samba. The<br />

roughly 150 stu<strong>de</strong>nts enrolled learn the fundamentals of both<br />

regular soccer and “society” soccer (played on a smaller field<br />

with only 7 players to a si<strong>de</strong>). As Mário puts it: “Here at <strong>Beija</strong>-<br />

<strong>Flor</strong> the problem is there are so many activities that I run the<br />

risk the kids will prefer to take jiu-jitsu or table tennis classes<br />

(chuckles). Just joking. We have plenty of kids for all sports<br />

activities. It’s logical that Brazilian culture concentrates on<br />

soccer. Most other sports arrived here more recently. But one<br />

day I’m sure we’ll have greater <strong>de</strong>mand for all sports. The fact<br />

is that today soccer excites the kids’ imaginations the most,<br />

especially because they believe – justifiably so – that soccer is<br />

Fevereiro 2010


FUTEBOL<br />

O projeto ministrado por Mário Dias, coor<strong>de</strong>nador<br />

das ativida<strong>de</strong>s esportivas da <strong>Beija</strong>-<strong>Flor</strong> <strong>de</strong> <strong>Nilópolis</strong>,<br />

une as duas maiores paixões dos brasileiros: o futebol<br />

e o samba. Com aproximadamente 150 alunos matriculados<br />

no ano <strong>de</strong> 2009, a comunida<strong>de</strong> tem acesso à<br />

aulas <strong>de</strong> futebol society e <strong>de</strong> campo. “Aqui na <strong>Beija</strong>-<br />

<strong>Flor</strong> <strong>de</strong> <strong>Nilópolis</strong> o problema acaba sendo que existem<br />

tantas ativida<strong>de</strong>s que eu corro o risco das crianças<br />

preferirem entrar para as aulas <strong>de</strong> jiu-jitsu ou <strong>de</strong> tênis<br />

<strong>de</strong> mesa (risos). Estou brincando. Sabemos que há<br />

alunos para todas as ativida<strong>de</strong>s esportivas. É lógico<br />

que a cultura do brasileiro privilegiará o futebol. Até<br />

porque as <strong>de</strong>mais ativida<strong>de</strong>s são ainda recentes no<br />

próprio país. Mas um dia, tenho certeza <strong>de</strong> que teremos<br />

todas as ativida<strong>de</strong>s com procura cada vez maior.<br />

O fato é que hoje o futebol <strong>de</strong>sperta o interesse da<br />

molecada, inclusive porque eles acreditam – e <strong>de</strong>vem<br />

continuar acreditando – que o futebol é um dos esportes<br />

que melhor paga aos seus atletas. Além disso,<br />

o futebol está no sangue <strong>de</strong>sses meninos. Eles não<br />

têm praticamente que apren<strong>de</strong>r nada. Eles precisam<br />

mais é treinar jogadas, corrigir fundamentos e outros<br />

pequenos <strong>de</strong>talhes, porque saber jogar, todos sabem.<br />

É do brasileiro”, comenta o professor Mário.<br />

DANÇA<br />

Não só <strong>de</strong> esportes é feito o projeto social da <strong>Beija</strong>-<br />

<strong>Flor</strong> <strong>de</strong> <strong>Nilópolis</strong>. Há nove anos, Ghislaine Cavalcanti,<br />

coreógrafa profissional, coor<strong>de</strong>na o “apren<strong>de</strong>ndo com<br />

o balé”, que inclui as aulas <strong>de</strong> balé clássico, jazz e sapateado,<br />

nova modalida<strong>de</strong> que integrará o curso em<br />

2010. Cerca <strong>de</strong> 150 alunos, entre 5 e 17 anos, conhecem<br />

um pouco mais sobre a história da dança e com<br />

a prática adquirem disciplina e concentração. “Convivi<br />

intensamente com a comunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>Nilópolis</strong> e<br />

observei que eles careciam <strong>de</strong> ampliar algumas das<br />

suas condições artísticas. A arte é uma manifestação<br />

humana que <strong>de</strong>ve estar sempre sendo provocada.<br />

Um artista, seja da pintura, da música ou da dança<br />

precisa estar a todo momento se auto <strong>de</strong>safiando.<br />

Em um ambiente on<strong>de</strong> o samba é um gênero <strong>de</strong> gran<strong>de</strong><br />

aceitação, nada mais natural que todos toquem e<br />

dancem samba. E isso é ótimo. Mas se a proposta do<br />

Anizio e da <strong>Beija</strong>-<strong>Flor</strong> <strong>de</strong> <strong>Nilópolis</strong> é contribuir para a<br />

formação <strong>de</strong> um ser humano mais integral, nada mais<br />

natural que busquemos ultrapassar os limites <strong>de</strong> cada<br />

um. Vi, então, nos cursos <strong>de</strong> balé clássico e jazz um<br />

importante meio para que essas crianças e jovens,<br />

que possuem uma enorme veia artística, pu<strong>de</strong>ssem<br />

alçar voos mais altos.”, explica Ghislaine.<br />

Hoje, já com algumas turmas bastante avançadas, a<br />

coreógrafa já po<strong>de</strong> até aproveitar algumas <strong>de</strong> suas<br />

among the sports with the highest professional salaries. In the<br />

final analysis, soccer is in their blood. They hardly need any<br />

explanation of the rules. All they need is to practice plays,<br />

correct fundamentals and other <strong>de</strong>tails, because they already<br />

know how to play. It’s part of being Brazilian.”<br />

Dance<br />

The social project of <strong>Beija</strong>-<strong>Flor</strong> inclu<strong>de</strong>s more than just sports.<br />

For the past nine years, Ghislaine Cavalcanti, a professional<br />

choreographer, has hea<strong>de</strong>d the “learning through dance” program,<br />

which inclu<strong>de</strong>s classical ballet and jazz dance, and in<br />

2010 will be expan<strong>de</strong>d to inclu<strong>de</strong> tap dancing as well. Around<br />

150 stu<strong>de</strong>nts between 5 and 17 learn a little of the history of<br />

dance and by participating acquire discipline and concentration.<br />

“I have an intense relationship with the <strong>Nilópolis</strong><br />

community and I observed that people need to expand some<br />

of their artistic horizons. Art is a human manifestation that<br />

should always be encouraged. Artists – whether painters,<br />

musicians or dancers – need to challenge themselves at every<br />

moment. In an environment where samba has such wi<strong>de</strong><br />

acceptance, it’s only natural that everyone plays or dances<br />

samba. This is great. But since Anízio’s proposal for <strong>Beija</strong>-<br />

Turma <strong>de</strong> balé, com a ilustre visita <strong>de</strong> Haroldo Costa<br />

0 Revista <strong>Beija</strong>-<strong>Flor</strong> <strong>de</strong> <strong>Nilópolis</strong> www.beija-flor.com.br


Alunos da escolinha <strong>de</strong> futebol.


alunas para compor a Comissão <strong>de</strong> Frente da agremiação<br />

<strong>de</strong> <strong>Nilópolis</strong>. E é isso que, há alguns anos,<br />

Ghislaine tem feito: “Os resultados são ótimos, porque<br />

além <strong>de</strong>las já terem a disciplina que é preciso<br />

para ensaiar e <strong>de</strong>corar as coreografias, elas têm o<br />

total envolvimento afetivo com a <strong>Beija</strong>-<strong>Flor</strong> <strong>de</strong> <strong>Nilópolis</strong>,<br />

o que é muito importante na avenida”.<br />

PASSISTA MIRIM, MESTRE-SALA E <strong>POR</strong>TA-BANDEIRA<br />

Ainda atenta à importância da arte e sua preservação,<br />

a agremiação <strong>de</strong> <strong>Nilópolis</strong> não per<strong>de</strong> tempo:<br />

sabe que seu futuro está nas mãos, ou melhor, nos<br />

pés das novas gerações que crescem na região.<br />

Por isso, não abre mão das aulas para formação <strong>de</strong><br />

passistas, mestres-sala e porta-ban<strong>de</strong>iras.<br />

Os alunos do curso <strong>de</strong> passista mirim recebem semanalmente<br />

informações sobre conceitos e fundamentos<br />

<strong>de</strong>ssa arte <strong>de</strong> sambar. Na prática, exercitam<br />

passos, coreografias e gingas, se igualando,<br />

em beleza e emoção, aos gran<strong>de</strong>s passistas da<br />

agremiação, que fizeram história no carnaval.<br />

Com aproximadamente 120 matriculados <strong>de</strong> diversas<br />

ida<strong>de</strong>s, os alunos precisam estudar e passar <strong>de</strong><br />

ano para permanecer na ativida<strong>de</strong>. Selminha Sorriso,<br />

ex-passista e coor<strong>de</strong>nadora do projeto, passa<br />

sua experiência para as crianças: “Espero que através<br />

da minha experiência <strong>de</strong> vida eu possa colaborar<br />

com a formação do futuro dos meus pequeninos”.<br />

Os alunos das aulas <strong>de</strong> mestre-sala e porta-ban<strong>de</strong>ira<br />

também po<strong>de</strong>m comemorar a <strong>de</strong>dicação que recebem<br />

do Mestre-Sala Claudinho e da Porta-Ban<strong>de</strong>ira<br />

Selminha Sorriso. Iniciadas em julho <strong>de</strong> 2006, as<br />

aulas para formação <strong>de</strong> novos casais <strong>de</strong> mestre-sala<br />

e porta-ban<strong>de</strong>ira são uma importante iniciativa para<br />

a preservação da mais importante figura do <strong>de</strong>sfile<br />

<strong>de</strong> carnaval, e responsável por conduzir pela avenida,<br />

com graça e beleza, o pavilhão da agremiação.<br />

A partir dos três anos <strong>de</strong> ida<strong>de</strong>, os alunos po<strong>de</strong>m<br />

apren<strong>de</strong>r com o casal a dançar e muito mais. “Eles<br />

apren<strong>de</strong>m a interagir, a dividir, apren<strong>de</strong>m a viver em<br />

comunida<strong>de</strong>, ou seja, em socieda<strong>de</strong>, apren<strong>de</strong>m a ter<br />

disciplina, respeitar hierarquia, respeitar os amiguinhos”,<br />

afirma Selminha. Com as aulas, essas crianças<br />

e jovens aproveitam a oportunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>de</strong>spertar<br />

o potencial artístico que carregam e, melhor ainda,<br />

<strong>de</strong> crescer <strong>de</strong>ntro da própria agremiação, perpetuando<br />

essa arte tão mágica, expressa no bailado do<br />

casal <strong>de</strong> mestre-sala e a porta-ban<strong>de</strong>ira.<br />

<strong>Flor</strong> is to contribute to the formation of a complete person,<br />

it’s equally natural for us to try to expand horizons for all. I<br />

see in the ballet and jazz dance classes an important way for<br />

these children and teens, who have huge latent artistic talent,<br />

to be able to fly higher,” explains Ghislaine.<br />

Today, with some of the groups quite advanced, the choreographer<br />

can use some of her stu<strong>de</strong>nts to participate in <strong>Beija</strong>-<br />

<strong>Flor</strong>’s front unit of dancers during carnival. In fact, she’s<br />

been doing this for several years. “The results are excellent<br />

because besi<strong>de</strong>s the fact they have the discipline nee<strong>de</strong>d to<br />

rehearse the routines, they have total affective involvement<br />

with <strong>Beija</strong>-<strong>Flor</strong>, which is very important on the avenue.”<br />

Junior Pace Dancers, Masters of Ceremonies and<br />

Standard Bearers<br />

Looking ahead, the group from <strong>Nilópolis</strong> knows its future is<br />

in the hands – or better put, the feet – of the new generations<br />

growing up in the region. For this reason, it provi<strong>de</strong>s classes<br />

to train pace dancers, masters of ceremonies and standard<br />

bearers, the key components of the carnival para<strong>de</strong>.<br />

The stu<strong>de</strong>nts of the junior pace dancer course receive information<br />

on the concepts and fundamentals of this particular<br />

samba art, besi<strong>de</strong>s practicing the steps and movements so<br />

they can reproduce the beauty and emotion of the group’s great<br />

pace dancers who have marked the history of carnival.<br />

All of the 120 stu<strong>de</strong>nts of various ages must be making normal<br />

school progress to remain eligible. Selminha Sorriso, a former<br />

pace dancer and coordinator of the project, passes her experience<br />

to the children: “I hope that through my experience in<br />

life I can help mold a good future for my little ones.”<br />

The stu<strong>de</strong>nts in the master of ceremonies and standard bearer<br />

classes also can commemorate the <strong>de</strong>dication they receive from<br />

<strong>Beija</strong>-<strong>Flor</strong>’s current master of ceremonies, Claudinho, and standard<br />

bearer, Selminha Sorriso. Started in 2006, the classes to<br />

train new master of ceremonies-standard bearer couples are an<br />

important initiative to preserve the most important figures of the<br />

carnival para<strong>de</strong>, responsible for leading the group on the avenue<br />

with grace and beauty. Starting at the age of three, the stu<strong>de</strong>nts<br />

get a chance to learn to dance, and much more, with the couple.<br />

“They learn to interact, share, live in a community, that is, in<br />

society, they learn to have discipline, respect hierarchy, respect<br />

their friends,” states Selminha. With the classes, these children<br />

and teens have an opportunity to discover and <strong>de</strong>velop their<br />

artistic potential, and to grow within the group, to perpetuate<br />

this magic art, expressed in the dancing of the carnival couple<br />

formed by the master of ceremonies and standard bearer.<br />

Revista <strong>Beija</strong>-<strong>Flor</strong> <strong>de</strong> <strong>Nilópolis</strong> www.beija-flor.com.br


<strong>Beija</strong>-<strong>Flor</strong> <strong>de</strong> <strong>Nilópolis</strong><br />

Uma Escola <strong>de</strong> samba sem fronteiras<br />

Uma revista sem fronteiras<br />

A <strong>Beija</strong>-<strong>Flor</strong> <strong>de</strong> <strong>Nilópolis</strong><br />

nos últimos quarenta<br />

anos vem se consolidando<br />

como a principal e mais<br />

bonita escola <strong>de</strong> samba do<br />

Brasil – e do mundo.<br />

Os resultados alcançados nos<br />

<strong>de</strong>sfiles <strong>de</strong> carnaval, expressos<br />

no Ranking da Liesa no período<br />

2005/2009, são claros: a agremiação<br />

<strong>de</strong> <strong>Nilópolis</strong> mantém a primeira<br />

colocação, com 83 pontos, mais <strong>de</strong> vinte<br />

pontos além do segundo colocado.<br />

Por levar para a avenida há muitos anos<br />

consecutivos um <strong>de</strong>sfile bonito, bem cuidado, empolgante<br />

e <strong>de</strong> qualida<strong>de</strong>, é natural que a legião <strong>de</strong><br />

torcedores da agremiação aumente a cada ano.<br />

Paralelo a esse crescente interesse, o surgimento<br />

<strong>de</strong> novos instrumentos eletrônicos e <strong>de</strong> transmissão<br />

<strong>de</strong> dados tem levado as imagens com os <strong>de</strong>sfiles<br />

e ensaios da agremiação para os mais diversos<br />

pontos do planeta.<br />

Hoje, a <strong>Beija</strong>-<strong>Flor</strong> <strong>de</strong> <strong>Nilópolis</strong> não é mais um patrimônio<br />

exclusivo <strong>de</strong> <strong>Nilópolis</strong>. Ela ganhou o mundo.<br />

Por essa razão, nada mais natural do que serem<br />

pensadas formas <strong>de</strong> retribuir o carinho e a atenção<br />

<strong>de</strong>sses milhares <strong>de</strong> torcedores estrangeiros com<br />

ações específicas voltadas para eles.<br />

RICARDO DA FON<strong>SE</strong>CA<br />

E a equipe <strong>de</strong> editores da revista <strong>Beija</strong>-<br />

<strong>Flor</strong> <strong>de</strong> <strong>Nilópolis</strong> – uma escola <strong>de</strong> vida, consi<strong>de</strong>rada<br />

atualmente a principal publicação impressa<br />

<strong>de</strong> escola <strong>de</strong> samba e carnaval, não po<strong>de</strong>ria pensar<br />

e agir <strong>de</strong> outra maneira.<br />

Em homenagem e respeito a essa nação <strong>Beija</strong>-<strong>Flor</strong>,<br />

que nasce e cresce a cada dia nas Américas, Europa,<br />

Ásia, África e Oceania – e dando mais uma evi<strong>de</strong>nte<br />

<strong>de</strong>monstração <strong>de</strong> comprometimento com a<br />

valorização e difusão da cultura brasileira em nível<br />

mundial –, a revista <strong>Beija</strong>-<strong>Flor</strong> <strong>de</strong> <strong>Nilópolis</strong> – uma<br />

escola <strong>de</strong> vida lança a sua versão eletrônica da edição<br />

nº 9 em dois importantes idiomas: francês e<br />

japonês.<br />

Para conhecer a edição, acesse:<br />

www.beija-flor.net.br.<br />

Fevereiro 2010


Revista <strong>Beija</strong>-<strong>Flor</strong> <strong>de</strong> <strong>Nilópolis</strong> www.beija-flor.com.br


Tem coisas que combinam<br />

perfeitamente. Produzida com<br />

água <strong>de</strong> excelente qualida<strong>de</strong><br />

e ingredientes importados<br />

e selecionados, Itaipava<br />

é uma cerveja única. Por isso,<br />

ela combina com o que existe <strong>de</strong><br />

melhor. Itaipava. A cerveja sem<br />

comparação. Combina com tudo.<br />

Principalmente com você.<br />

www.cervejaitaipava.com.br<br />

Fevereiro 2010


UM PATRIMÔNIO BRASILEIRO PEDE PASSAGEM:<br />

O SAMBA CARIOCA<br />

ÍRIS ÁGATHA<br />

RICARDO DA FON<strong>SE</strong>CA<br />

Muitos não se lembram ... outros nem eram nascidos,<br />

mas houve uma época em que o samba carioca<br />

foi chamado <strong>de</strong> barulho. Mas a genialida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

compositores e a cadência <strong>de</strong>sse gênero musical<br />

foram ecoando e envolvendo <strong>de</strong> tal maneira cada<br />

canto da cida<strong>de</strong>, que o samba tornou-se um símbolo<br />

cultural <strong>de</strong> um povo apreciado nos mais diversos<br />

pontos do planeta.<br />

Originário das reuniões <strong>de</strong> escravizados, que em<br />

torno <strong>de</strong> batuques, cantos e danças manifestavam<br />

crenças e lembranças <strong>de</strong> suas regiões <strong>de</strong> origem, o<br />

samba no Rio <strong>de</strong> Janeiro foi sendo moldado a partir<br />

do crescimento da população negra, vinda das mais<br />

variadas regiões do país<br />

para a lavoura <strong>de</strong> café, e<br />

que trouxeram consigo,<br />

além <strong>de</strong> uma potente mão<br />

<strong>de</strong> obra, diversos ritmos e<br />

hábitos que foram sendo<br />

incorporados ao longo do<br />

tempo pelo carioca.<br />

Mas essa aceitação por<br />

parte da população carioca<br />

não se <strong>de</strong>u <strong>de</strong> modo<br />

simples e sem sofrimento.<br />

De acordo com o historiador<br />

e diretor cultural<br />

da Liesa, Hiram Araújo,<br />

“nos primórdios do samba<br />

no Rio <strong>de</strong> Janeiro, quem<br />

fosse pego com um violão<br />

ia para a ca<strong>de</strong>ia. João da<br />

Baiana foi preso porque<br />

estava com um pan<strong>de</strong>iro<br />

na mão”.<br />

Apesar dos preconceitos, discriminações e prisões,<br />

o som e a poesia do samba carioca convenceram o<br />

país <strong>de</strong> que um violão, um cavaquinho, e um pan<strong>de</strong>iro<br />

nas mãos <strong>de</strong> negros pobres geniais fazem mais<br />

do que simplesmente música; compõem uma obra<br />

que em qualquer parte do planeta é reverenciada<br />

como o retrato do Brasil.<br />

Portanto, não foi à toa que o Iphan – Instituto do<br />

Patrimônio Histórico e Artístico Nacional - reconheceu<br />

as matrizes do samba carioca (samba <strong>de</strong> terreiro,<br />

partido-alto e samba-enredo) como Patrimônio<br />

Cultural do Brasil.<br />

No dia 27 <strong>de</strong> novembro <strong>de</strong> 2007, Márcia Genésia<br />

<strong>de</strong> Sant’Anna, Diretora<br />

do Departamento<br />

do Patrimônio Imaterial<br />

do Iphan, sacramentou<br />

o que, empiricamente,<br />

muitos já<br />

supunham: o samba<br />

carioca foi e é fonte<br />

on<strong>de</strong> compositores <strong>de</strong><br />

outras regiões bebem<br />

para criar subgêneros<br />

<strong>de</strong>sse ritmo. E tem<br />

mais: “As matrizes do<br />

samba carioca são<br />

referências culturais<br />

importantes para a<br />

i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> <strong>de</strong> um segmento<br />

social extremamente<br />

relevante na<br />

história do Estado do<br />

Rio <strong>de</strong> Janeiro. É um<br />

passo fundamental em<br />

Revista <strong>Beija</strong>-<strong>Flor</strong> <strong>de</strong> <strong>Nilópolis</strong> www.beija-flor.com.br<br />

Foto: Acervo Iphan / Luiz Santos


uma política <strong>de</strong> patrimonialização inclusiva”, diz<br />

Márcia Sant’Anna.<br />

Trocando em miúdos: O Iphan reconhece que o samba<br />

une pessoas <strong>de</strong> uma comunida<strong>de</strong>, une comunida<strong>de</strong>s<br />

<strong>de</strong> áreas populares, e essas às chamadas áreas<br />

nobres da cida<strong>de</strong>, do país e do mundo. Já repararam<br />

quanta gente que resi<strong>de</strong> na Zona Sul vai para<br />

as quadras localizadas no subúrbio e na baixada fluminense<br />

participar das festas, feijoadas e ensaios<br />

das escolas <strong>de</strong> samba? E tem os turistas nacionais e<br />

internacionais que amam rodas <strong>de</strong> samba.<br />

UMA ARTE QUE UNE PESSOAS<br />

A vocação do samba carioca para unir pessoas é<br />

inegável.<br />

Segundo o radialista Hilton Abi-Rihan, assessor<br />

do presi<strong>de</strong>nte <strong>de</strong> honra da agremiação <strong>de</strong> <strong>Nilópolis</strong><br />

Anizio Abrão David, “além dos nossos gran<strong>de</strong>s<br />

sambistas, como Monarco, Nelson Sargento, Moacyr<br />

Luz, Alcione, Beth Carvalho, levarem aos quatro<br />

cantos do planeta essa música envolvente que<br />

é o samba, as escolas <strong>de</strong> samba, como a <strong>Beija</strong>-<strong>Flor</strong><br />

<strong>de</strong> <strong>Nilópolis</strong>, voam em turnês mundo afora, levando<br />

além das fronteiras do país o samba e a cultura do<br />

carioca e do fluminense, contagiando muitos ‘gringos’<br />

com esse gênero musical, nos quais <strong>de</strong>sperta,<br />

a partir <strong>de</strong>sse momento, uma paixão pela nossa<br />

música e pela nossa cultura, fazendo com que na<br />

primeira oportunida<strong>de</strong> venham conhecer o país e,<br />

especialmente, a cida<strong>de</strong> maravilhosa. É inegável<br />

que a magia e o envolvimento do samba carioca<br />

<strong>de</strong>spertam o interesse do turista em se aproximar<br />

do nosso país e do nosso povo, que é, aliás, muito<br />

hospitaleiro.”<br />

Acostumado a fazer shows no exterior, o escritor e<br />

produtor Haroldo Costa atesta: ”O samba tem sido<br />

a carteira <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> do brasileiro.”<br />

Monarco excursiona muito com a Velha Guarda da<br />

Portela e relata: “Fomos à França, ao Japão, à Itália...<br />

e nos emocionamos. Na França, crianças cantaram<br />

em português ‘Foi um Rio que passou em Minha<br />

Vida’ com a Velha Guarda, num teatro lindo.”<br />

Além <strong>de</strong> agregar pessoas <strong>de</strong> diferentes posições<br />

sociais, intelectuais e culturais – incluindo <strong>de</strong> nacionalida<strong>de</strong>s<br />

diferentes –, o samba carioca faz outros<br />

prodígios, lembra Abi-Rihan: ”Conduzo programas<br />

<strong>de</strong> rádio há mais <strong>de</strong> quatro décadas, sempre prestigiando<br />

as manifestações artísticas do povo brasileiro.<br />

E uma coisa que vi, entre tantas, e que me<br />

emocionou muito, foi o que as escolas <strong>de</strong> samba<br />

fizeram em suas comunida<strong>de</strong>s, como por exemplo<br />

a <strong>Beija</strong>-<strong>Flor</strong> <strong>de</strong> <strong>Nilópolis</strong>, investindo na melhoria da<br />

qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida das pessoas do entorno, com a<br />

instalação <strong>de</strong> escola <strong>de</strong> ensino fundamental e médio,<br />

cursos profissionalizantes, cursos <strong>de</strong> arte, dança e<br />

música, além <strong>de</strong> outras importantes ações sociais.<br />

Tudo isso faz do samba sim, um instrumento <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento<br />

artístico, social e pessoal”, conclui.<br />

GRANDES BATALHAS PELA DIFUSÃO DO SAMBA<br />

O respeito que o samba conquistou é resultado <strong>de</strong><br />

uma luta em várias frentes.<br />

Além da <strong>de</strong>dicação <strong>de</strong>sinteressada dos artistas,<br />

compositores e intérpretes, que persistiram na manutenção<br />

dos sambas em seus repertórios, muitas<br />

vezes pagando um preço alto – como o do preconceito<br />

e da discriminação – o empenho <strong>de</strong> comunicadores,<br />

especialmente nos veículos <strong>de</strong> massa como<br />

as rádios, foi fundamental para a consolidação e<br />

sobrevivência <strong>de</strong>sse gênero musical.<br />

Hilton Abi-Rihan foi um <strong>de</strong>sses importantes amigos<br />

do samba.<br />

Como diretor da Rádio Continental, ele concebeu e<br />

criou diversos programas <strong>de</strong> samba, que valorizavam<br />

os mais variados estilos do samba, resgatando<br />

verda<strong>de</strong>iras obras <strong>de</strong> arte e apresentando aos ouvintes<br />

novida<strong>de</strong>s e tendências musicais do gênero.<br />

Além disso, Abi-Rihan tinha um diferencial que o<br />

tornou querido em todo o mundo do samba: ele sabia<br />

dar valor não só às músicas que apresentava,<br />

mas também aos sambistas que as compuseram<br />

e as interpretaram. “O Abi-Rihan foi um dos primeiros<br />

radialistas, que me lembre, que davam uma<br />

atenção especial ao sambista, como intérprete e<br />

como compositor. Era muito comum as rádios darem<br />

atenção às músicas que tocavam sem <strong>de</strong>stacar<br />

seus compositores. Lembro que essa sua forma<br />

<strong>de</strong> tratar os compositores e intérpretes <strong>de</strong> samba<br />

foi uma das coisas que muito agradou meu irmão<br />

Nelson David, que se tornou um gran<strong>de</strong> amigo do<br />

Abi-Rihan.”, confi<strong>de</strong>ncia Anizio Abrão David, presi<strong>de</strong>nte<br />

<strong>de</strong> honra da <strong>Beija</strong>-<strong>Flor</strong> <strong>de</strong> <strong>Nilópolis</strong>, e um dos<br />

mais <strong>de</strong>dicados <strong>de</strong>fensores do samba.<br />

Outra importante trincheira em favor do samba foi<br />

montada pelo ator e produtor Jorge Coutinho, que<br />

influenciou uma consi<strong>de</strong>rável parcela dos futuros<br />

formadores <strong>de</strong> opinião resi<strong>de</strong>ntes na Zona Sul carioca:<br />

”Eu achava que os universitários tinham que<br />

conhecer o samba. Por isso eu promovia shows que<br />

misturavam diversos gêneros, como por exemplo<br />

músicas do Milton Nascimento, do Som Imaginário<br />

e <strong>de</strong> Cartola. Também levava sambistas para cantar<br />

na PUC (Pontifícia Universida<strong>de</strong> Católica) – que na<br />

época só tinha alunos da classe A”.<br />

Além disso, Jorge Coutinho, junto com Leoni<strong>de</strong>s<br />

Bayer, i<strong>de</strong>alizou, na década <strong>de</strong> 70, um interessante<br />

Fevereiro 2010


projeto chamado “Noitadas <strong>de</strong> Samba”, que era realizado<br />

todas as segundas-feiras no Teatro Opinião,<br />

em Copacabana. Nas “Noitadas <strong>de</strong> Samba”, artistas<br />

dos morros e do subúrbio carioca, como Cartola,<br />

Guilherme <strong>de</strong> Brito, Nelson Cavaquinho, Martinho<br />

da Vila, Rosinha <strong>de</strong> Valença, Paulinho da Viola,<br />

Clementina <strong>de</strong> Jesus, Dona Ivone Lara, Xangô da<br />

Mangueira, Clara Nunes, entre tantos outros, se<br />

apresentavam para um público formado por moradores<br />

da Zona Sul carioca.<br />

ANIZIO E O SAMBA<br />

Se o samba resistia ao preconceito e o sambista<br />

sobrevivia a duras penas era porque, longe da zona<br />

sul carioca, importantes redutos <strong>de</strong> samba abrigavam<br />

e acolhiam os representantes da arte negra<br />

brasileira.<br />

Eram os Grêmios Recreativos, ou melhor, as escolas<br />

<strong>de</strong> samba, que valorizavam o sambista como se<br />

fosse um integrante <strong>de</strong> sua família.<br />

Eram nas agremiações que os sambistas entregavam<br />

parte do seu tempo. Lá eles compunham,<br />

cantavam, sonhavam... criavam. Era o genuíno espírito<br />

do sambista do Rio <strong>de</strong> Janeiro,<br />

estereotipado, <strong>de</strong>pois, nos meios <strong>de</strong><br />

comunicação pelo mundo. Era um<br />

tempo em que gran<strong>de</strong> parte dos<br />

sambistas e compositores<br />

era ligada<br />

a al- g u m a<br />

agremiação:<br />

M a n g u e i r a ,<br />

Salgueiro, Portela,<br />

Império Serrano... e<br />

tantas outras.<br />

Mas, se as agremiações<br />

eram redutos <strong>de</strong> samba, elas<br />

também enfrentavam dificulda<strong>de</strong>s<br />

para sobreviver.<br />

Subjugadas por uma cultura<br />

<strong>de</strong> exploração da força<br />

<strong>de</strong> trabalho, os sambistas<br />

continuavam à margem,<br />

explorados, mal remunerados,<br />

largados <strong>de</strong> mão.<br />

Entretanto, as escolas<br />

<strong>de</strong> samba foram se fortalecendo,<br />

ganhando respeito,<br />

prestígio e espaço,<br />

resultando também no fortalecimento,<br />

no ganho <strong>de</strong><br />

prestígio e espaço para o<br />

sambista.<br />

Esse capítulo da história do samba é muito bem<br />

lembrado pelo radialista Hilton Abi-Rihan: “O samba<br />

vivia um momento muito difícil porque saía da<br />

clan<strong>de</strong>stinida<strong>de</strong> para se tornar um produto <strong>de</strong> consumo<br />

cultural. No entanto, os agentes que promoviam<br />

essa mudança faziam por questões financeiras.<br />

Não entendiam o samba como manifestação<br />

cultural <strong>de</strong> força, mas sim como um negócio. Com<br />

isso, os sambistas ganhavam muito mal, tanto nas<br />

apresentações em público, como quando tinham<br />

suas músicas gravadas por intérpretes <strong>de</strong> sucesso.<br />

O sambista mal podia contar com o dinheiro que<br />

ganharia como sambista... Felizmente, essa realida<strong>de</strong><br />

estava mudando. Consi<strong>de</strong>ro, no entanto, que<br />

um dos fatores mais importantes para essa mudança<br />

foi a criação e o fortalecimento da Liga In<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte<br />

das Escolas <strong>de</strong> Samba (Liesa), quando,<br />

então, muita coisa po<strong>de</strong> ser feita pelo samba e pelo<br />

sambista. E o Anizio tem um papel <strong>de</strong> <strong>de</strong>staque em<br />

toda essa história. Foi ele que encarou as gravadoras<br />

para que os compositores não ficassem <strong>de</strong><br />

‘pires na mão’, se humilhando para receber o que<br />

era <strong>de</strong> direito <strong>de</strong>les.”, recorda o radialista.<br />

“Além <strong>de</strong> toda a importância que o Anizio tem para o<br />

samba e para o carnaval do Rio <strong>de</strong> Janeiro e para as<br />

escolas <strong>de</strong> samba, ele tem uma importância especial<br />

para os compositores <strong>de</strong> samba. Sou compositor, e<br />

quero <strong>de</strong>stacar que foi através das i<strong>de</strong>ias e ações<br />

tomadas por ele que os compositores das escolas <strong>de</strong><br />

samba passaram a ser reconhecidos e a ser pagos<br />

dignamente pelo trabalho que <strong>de</strong>senvolviam. Gosto<br />

<strong>de</strong> enfatizar isso, porque eu e minha família sentimos<br />

no nosso dia a dia os benefícios <strong>de</strong>ssa e <strong>de</strong> outras<br />

posições tomadas pelo Anizio em favor do samba e<br />

do sambista. Além disso, é bom que se saiba como o<br />

Anizio é um homem justo: apesar do amor todo que<br />

ele tem pela <strong>Beija</strong>-<strong>Flor</strong> <strong>de</strong> <strong>Nilópolis</strong>, durante o período<br />

que esteve na presidência da Liesa, a sua escola<br />

- a <strong>Beija</strong>-<strong>Flor</strong> <strong>de</strong> <strong>Nilópolis</strong> - não ganhou nenhum título.<br />

Isso prova o carinho e o respeito que ele tem pelo<br />

carnaval e por todas as escolas <strong>de</strong> samba.”, enfatiza<br />

o ex-presi<strong>de</strong>nte da Estação Primeira <strong>de</strong> Mangueira,<br />

Álvaro Caetano, o Alvinho.<br />

E em razão <strong>de</strong>sse respeito que Anizio manifesta ao<br />

sambista e ao público que, quando presi<strong>de</strong>nte da Liesa,<br />

implantou diversas melhorias. É ainda seu amigo e<br />

radialista Hilton Abi-Rihan que <strong>de</strong>staca: “Foi o Anizio<br />

que botou pé firme para que o espetáculo tivesse hora<br />

certa para iniciar e para acabar. Lembro-me que na<br />

época o Anizio me contou que essa questão do horário<br />

do <strong>de</strong>sfile havia sido uma das suas principais vitórias<br />

como presi<strong>de</strong>nte da Liesa. E é verda<strong>de</strong>! Lembro-me que<br />

ninguém acreditava que ele conseguiria impor esse ní-<br />

Revista <strong>Beija</strong>-<strong>Flor</strong> <strong>de</strong> <strong>Nilópolis</strong> www.beija-flor.com.br


vel <strong>de</strong> organização. A própria<br />

imprensa especializada não<br />

acreditava. Mas ele conseguiu.<br />

Ele conseguiu manter o<br />

horário do <strong>de</strong>sfile, do começo<br />

ao fim, o que valorizou ainda<br />

mais o espetáculo, além <strong>de</strong><br />

ser uma importante <strong>de</strong>cisão<br />

em respeito aos sambistas e<br />

ao público presente. Foi ele,<br />

também, o Anizio, que com<br />

seu temperamento guerreiro<br />

conquistou o direito <strong>de</strong> arena<br />

para as escolas <strong>de</strong> samba.”.<br />

Sobre isso, é o próprio Anizio<br />

quem relata: “Lutamos<br />

muito, mas consegui que a<br />

televisão pagasse o direito<br />

<strong>de</strong> arena às escolas <strong>de</strong><br />

samba. (direito <strong>de</strong> arena é<br />

o direito que as escolas têm<br />

<strong>de</strong> negociar, autorizar ou não a fixação, transmissão<br />

ou retransmissão <strong>de</strong> imagem <strong>de</strong> espetáculos <strong>de</strong> que<br />

participem). Na época, eu consegui 33 %, para ajudar<br />

as escolas a fazer um carnaval melhor. Hoje a<br />

Liesa recebe 51%, e foi uma gran<strong>de</strong> melhoria. Mas<br />

eu consegui 33% na época, quando não se ganhava<br />

nada. Era quase impossível fazer um espetáculo <strong>de</strong><br />

qualida<strong>de</strong>. Se não fosse o esforço <strong>de</strong> algumas pessoas,<br />

inclusive da comunida<strong>de</strong>, seria impossível levar<br />

ao público um espetáculo como o que levávamos! E<br />

hoje não! Hoje você tem condições <strong>de</strong> dar um cachê<br />

para o mestre-sala e para a porta-ban<strong>de</strong>ira. Você<br />

tem condições <strong>de</strong> dar um cachê para uma comissão<br />

<strong>de</strong> frente, para a bateria. Então, hoje as escolas têm<br />

condições <strong>de</strong> fazer um espetáculo que é divulgado<br />

em todo o mundo e atrair turistas dos mais diversos<br />

países.”, conclui.<br />

Mas a atuação <strong>de</strong> Anizio em <strong>de</strong>fesa do samba não se<br />

limitou às ações como presi<strong>de</strong>nte da Liesa. Segundo<br />

Elmo José dos Santos, ex-presi<strong>de</strong>nte da Estação Primeira<br />

<strong>de</strong> Mangueira e atual diretor da Liesa, “se hoje<br />

as escolas <strong>de</strong> samba são reconhecidas, elas têm que<br />

agra<strong>de</strong>cer muito ao Anizio. Porque, na realida<strong>de</strong>, as<br />

autorida<strong>de</strong>s não respeitavam o sambista. E o Anizio<br />

sempre disse: ‘Eu não vim aqui para ven<strong>de</strong>r pessoas,<br />

eu vim aqui para ven<strong>de</strong>r artista’. E a partir disso, e das<br />

iniciativas que ele promoveu, o samba passou a ser<br />

valorizado, acabou aquele negócio <strong>de</strong> livro <strong>de</strong> ouro.<br />

Acabou aquela história das escolas <strong>de</strong> samba fazendo<br />

seus carnavais embaixo do viaduto. E eu tenho um<br />

<strong>de</strong>poimento muito forte para dar, porque quando eu<br />

assumi a presidência da Mangueira, ela <strong>de</strong>via meio<br />

Foto: Acervo Iphan / Luiz Santos<br />

milhão <strong>de</strong> reais na praça. As lojas<br />

não vendiam para mim nem<br />

um prego, nem um prego! Para<br />

você ter uma i<strong>de</strong>ia, a Mangueira<br />

tinha 20 ca<strong>de</strong>iras! O Anizio<br />

chegou e falou para mim: ‘Elmo,<br />

o que você precisa?’ Anizio me<br />

<strong>de</strong>u crédito na praça, quero dizer,<br />

ele foi o meu avalista para<br />

que as lojas pu<strong>de</strong>ssem voltar a<br />

ven<strong>de</strong>r para a Mangueira, porque<br />

eu tinha que fazer carnaval.<br />

Como é que eu ia fazer carnaval<br />

se não tinha nem som, não tinha<br />

nada? E o Anizio, além disso,<br />

me <strong>de</strong>u carpinteiro, me <strong>de</strong>u<br />

ferreiro, e me <strong>de</strong>u um dos melhores<br />

homens do barracão <strong>de</strong>le<br />

que era o Torim, que até hoje<br />

está no carnaval. E eu consegui<br />

erguer a nossa querida Estação<br />

Primeira <strong>de</strong> Mangueira. Eu só tenho a agra<strong>de</strong>cer a<br />

papai do céu e agra<strong>de</strong>cer ao Anizio, que em nenhum<br />

momento me <strong>de</strong>ixou na chuva. Em todos os momentos<br />

me ajudou a levantar a Estação Primeira <strong>de</strong> Mangueira.<br />

E <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> três anos a Mangueira já andava<br />

com as suas próprias pernas. E o Anizio, em nenhum<br />

momento, <strong>de</strong>ixou que a disputa na avenida interferisse<br />

na sua <strong>de</strong>cisão. E me lembro <strong>de</strong> uma coisa que<br />

ele falou: ‘Elmo, trate todo mundo com carinho, com<br />

amor e com respeito. Nada <strong>de</strong> valentia. Eu acho que<br />

você tem uma gran<strong>de</strong> escola e o <strong>de</strong>sfile das escolas<br />

<strong>de</strong> samba tem que ter uma Mangueira forte! ’. Então,<br />

eu só tenho a agra<strong>de</strong>cer ao Anizio. O Anizio é meu<br />

padrinho, é meu pai, é meu irmão, é uma pessoa que,<br />

na verda<strong>de</strong>, é um gran<strong>de</strong> ídolo que eu tenho no carnaval”,<br />

conclui com emoção.<br />

O RECONHECIMENTO DO IPHAN<br />

Se as conquistas <strong>de</strong>sse gênero musical são resultado<br />

dos esforços <strong>de</strong> artistas, comunicadores, veículos<br />

<strong>de</strong> mídia e do público – que prestigia seus<br />

artistas e suas obras –, é inegável que o registro<br />

concedido pelo Iphan cria novas possibilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong><br />

conquistas, não só para essa arte carioca como<br />

para a cultura brasileira <strong>de</strong> um modo geral.<br />

A partir <strong>de</strong> agora, os próprios sambistas e <strong>de</strong>mais<br />

integrantes <strong>de</strong>sse segmento social po<strong>de</strong>rão propor,<br />

negociar e executar ações para salvaguardar esse<br />

novo patrimônio do Brasil, dialogando com o Po<strong>de</strong>r<br />

Público a implementação <strong>de</strong> ações que proporcionem<br />

a produção, reprodução, reconhecimento, valorização<br />

e divulgação <strong>de</strong>sse bem cultural.<br />

Fevereiro 2010


Em <strong>de</strong>fesa da i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> cultural<br />

O Iphan – Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional – criado em 13 <strong>de</strong> janeiro <strong>de</strong> 1930,<br />

é uma instituição ligada ao Ministério da Cultura e responsável por i<strong>de</strong>ntificar, documentar, proteger<br />

e promover o patrimônio cultural brasileiro, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> construções arquitetônicas até ao modo <strong>de</strong> viver<br />

<strong>de</strong> comunida<strong>de</strong>s do território nacional.<br />

Além disso, o Iphan também é responsável pela implantação do Programa Nacional do Patrimônio<br />

Imaterial, que viabiliza projetos <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ntificação, reconhecimento, salvaguarda e promoção da dimensão<br />

imaterial do patrimônio cultural.<br />

A revista <strong>Beija</strong>-<strong>Flor</strong> <strong>de</strong> <strong>Nilópolis</strong> foi a Brasília, na se<strong>de</strong> do Iphan, para conversar com a diretora do<br />

Departamento do Patrimônio Imaterial do Iphan, Márcia Sant’Anna.<br />

Graduada em Arquitetura e Urbanismo pela Universida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Brasília, Mestre em conservação e restauro,<br />

e Doutora em Urbanismo, ambos os títulos pela Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral da Bahia, Márcia Sant’Anna<br />

trabalha há mais <strong>de</strong> duas décadas junto a organismos governamentais <strong>de</strong> preservação do patrimônio<br />

cultural. Entre 1998 e 2000, coor<strong>de</strong>nou o grupo <strong>de</strong> trabalho criado pelo Ministério da Cultura que<br />

realizou os estudos para a implantação do Registro dos Bens Culturais <strong>de</strong> Natureza Imaterial.<br />

Ricardo Da Fonseca – O que significa “tombar” um bem imaterial?<br />

Márcia Sant’Anna – No caso <strong>de</strong> um bem imaterial, utilizamos<br />

um instrumento parecido com o tombamento, mas que é mais<br />

específico, que é o registro.<br />

O instrumento registro foi criado para dar conta da dimensão<br />

imaterial da cultura. Isto é, aos processos culturais, saberes e<br />

práticas que vão além da dimensão material (edificações, obras<br />

<strong>de</strong> arte, sítios urbanos, sítios arqueológicos...). Os processos <strong>de</strong><br />

registro são fundamentados em interlocução do Estado com as<br />

bases sociais concretas, grupos, comunida<strong>de</strong>s e segmentos sociais<br />

que produzem e reproduzem os fatos culturais, no sentido <strong>de</strong><br />

construir um consenso sobre o que se preten<strong>de</strong> reconhecer como<br />

patrimônio e os motivos para isso.<br />

É realizada uma ampla pesquisa para a i<strong>de</strong>ntificação e entendimento<br />

do universo cultural em questão, a i<strong>de</strong>ntificação dos segmentos<br />

sociais envolvidos e as ações <strong>de</strong> salvaguarda necessárias para que<br />

o fato cultural em questão tenha condições <strong>de</strong> permanência. É<br />

importante <strong>de</strong>stacar que o registro contempla transformações no<br />

bem cultural registrado, pois leva em conta a dinâmica cultural<br />

inerente a qualquer socieda<strong>de</strong>.<br />

Os livros do registro são: Saberes, Formas <strong>de</strong> Expressão, Lugares<br />

e Celebrações.<br />

Ricardo Da Fonseca – E por que com o samba carioca? Qual sua<br />

importância na cultura brasileira e na cultura mundial?<br />

Márcia Sant’Anna – As matrizes do samba carioca (partido-alto,<br />

samba-enredo e samba <strong>de</strong> quadra) são referências culturais importantes<br />

para a i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> <strong>de</strong> segmento social extremamente relevante<br />

na história do Estado do Rio <strong>de</strong> Janeiro. E o reconhecimento,<br />

pelo Estado, da história e legado cultural <strong>de</strong>ste segmento é passo<br />

fundamental em uma política <strong>de</strong> patrimonialização inclusiva. Além<br />

do mais, trata-se <strong>de</strong> um fato cultural cuja relevância transcen<strong>de</strong> o<br />

Estado do Rio, posto que é senso comum tratar-se <strong>de</strong> um signo da<br />

i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> nacional, tanto externa, quanto internamente.<br />

Ricardo Da Fonseca – Que tipo <strong>de</strong> proteção o samba tem a partir<br />

<strong>de</strong>sse título? Os bem materiais tombados são obrigados a manterem<br />

a sua aparência e outras qualida<strong>de</strong>s especificas. Se alguém ou<br />

alguma instituição infringe essa norma e modifica alguma parte<br />

tombada <strong>de</strong>ssas construções, fica passível <strong>de</strong> punição. Existirão<br />

punições ou regras <strong>de</strong> controle do Iphan para o samba, como<br />

bem imaterial?<br />

Márcia Sant’Anna – O registro não engessa, congela ou cria<br />

normas ou parâmetros para a prática. Não há punição, nem<br />

fiscalização, posto que toda cultura se modifica conforme os<br />

interesses da socieda<strong>de</strong>...e a política para o patrimônio imaterial<br />

pressupõe isso.<br />

O registro abre a possibilida<strong>de</strong> do segmento social envolvido<br />

<strong>de</strong>senvolver o diálogo com o Estado no sentido <strong>de</strong> implementar<br />

ações que proporcionem a produção, reprodução, reconhecimento,<br />

valorização e divulgação do bem cultural em questão. Mesmo que<br />

para essa continuida<strong>de</strong> sejam necessárias modificações.<br />

No caso do samba-enredo, por exemplo, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a criação do gênero<br />

musical muitas mudanças ocorreram... e ocorrerão. O Registro<br />

proporcionou um conhecimento dos processos <strong>de</strong> transformações<br />

<strong>de</strong> modo que seja possível conhecer e reproduzir cada momento;<br />

e assim ampliar as possibilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> criação.<br />

No limite, o maior patrimônio cultural que se tem é a criativida<strong>de</strong><br />

humana, que não po<strong>de</strong> ser tolhida <strong>de</strong>s<strong>de</strong> que não fira os direitos humanos.<br />

Nesse sentido, a política é voltada para dar as condições dos<br />

segmentos sociais fazerem a gestão <strong>de</strong> seu patrimônio em parceria<br />

com o Estado; com liberda<strong>de</strong> e movidos pelo interesse coletivo.<br />

Ricardo Da Fonseca – Quais outros benefícios e/ou facilida<strong>de</strong>s o<br />

samba passa a ter a partir da aquisição do título <strong>de</strong> “Patrimônio<br />

Cultural do Brasil”?<br />

Márcia Sant’Anna – Há recursos disponibilizados pelo Estado<br />

por um tempo <strong>de</strong>terminado, os quais são geridos por instituição<br />

oriunda do universo cultural em questão. Eles são utilizados no<br />

sentido <strong>de</strong> realizar ações <strong>de</strong>finidas previamente junto com a base<br />

social e, sobretudo, no sentido <strong>de</strong> dar condições <strong>de</strong> sustentabilida<strong>de</strong><br />

para a gestão do patrimônio <strong>de</strong> maneira autônoma em<br />

relação ao Estado.<br />

Além disso, o registro é uma espécie <strong>de</strong> cre<strong>de</strong>nciamento para a<br />

captação <strong>de</strong> recursos junto a parceiros.<br />

0 Revista <strong>Beija</strong>-<strong>Flor</strong> <strong>de</strong> <strong>Nilópolis</strong> www.beija-flor.com.br


Que paraíso é este <strong>de</strong><br />

águas cristalinas?<br />

A ( ) Ilhabela, SP<br />

B ( ) <strong>Flor</strong>ianópolis, SC<br />

C ( ) Aracati, CE<br />

D ( ) Praia dos Carneiros, PE<br />

Se você é brasileiro e não sabe<br />

a resposta, está na hora<br />

<strong>de</strong> conhecer melhor o Brasil.<br />

RESPOSTA: D – PRAIA DOS CARNEIROS, PE<br />

VIAGEM É PARA TODA A <strong>VIDA</strong>.<br />

VIAJE <strong>POR</strong> TODO O BRASIL.<br />

Consulte seu agente <strong>de</strong> viagem. www.turismo.gov.br<br />

Fevereiro 2010


CARIOCA SAMBA:<br />

A KEY PART OF BRAZIL’S<br />

HERITAGE<br />

ÍRIS ÁGATHA<br />

RICARDO DA FON<strong>SE</strong>CA<br />

Many years ago in the Rio <strong>de</strong> Janeiro neighborhood of<br />

Estácio, a school principal complained of the “mischief” of<br />

sambistas, as samba musicians are called. One of them, the<br />

clever Ismael Silva (later to become one of the most celebrated<br />

samba composers) is said to have retorted, “Deixa falar”<br />

(“Let us speak”).<br />

The phrase became the name of the first samba “school”:<br />

“We’re leading this school. You teach the stu<strong>de</strong>nts to read<br />

and write, but we’re teachers too. We’re a school...a samba<br />

school.” And so goes the story of why carnival groups are<br />

called escolas <strong>de</strong> samba, or “samba schools”.<br />

Many don’t remember... Others weren’t even born. But there<br />

was a time when samba in Rio was looked down on as just<br />

so much noise.<br />

Fortunately, driven by the ingenuity of its composers, the<br />

ca<strong>de</strong>nce of this musical genre caught on and spread so<br />

thoroughly to every corner of the city, and then the country,<br />

that samba has become a cultural icon of the entire<br />

nation, besi<strong>de</strong>s being appreciated by listeners throughout<br />

the world.<br />

Samba traces it roots to gatherings of slaves, who would<br />

express their beliefs and recollections of their origins in<br />

song and dance, accompanied by drumming. Rio <strong>de</strong> Janeiro,<br />

as an important entry port of slaves and a coffee-growing<br />

region that <strong>de</strong>man<strong>de</strong>d labor, was a concentration point for<br />

Africans and their <strong>de</strong>scendants from many places in Africa<br />

and Brazil itself. Besi<strong>de</strong>s their labor, they brought their various<br />

rhythms and dances, which were gradually absorbed by<br />

all Cariocas (as Rio’s resi<strong>de</strong>nts are called).<br />

But this acceptance by the Carioca population at large was<br />

not easy and without suffering. According to the historian<br />

and cultural director of Rio’s League of Samba Schools<br />

(LIESA), Hiram Araújo, “in the early days of samba in Rio<br />

<strong>de</strong> Janeiro, a poor black person with a guitar was subject<br />

to arrest. João da Baiana was jailed just because he had a<br />

tambourine in his hand.”<br />

Despite the prejudice, discrimination and even jailing, the<br />

sound and poetry of Carioca samba finally managed to<br />

convince the country that a guitar, ukulele and tambourine<br />

in the hands of poor blacks represented more than just<br />

music. From such humble beginnings, samba has become<br />

a tra<strong>de</strong>mark of Brazil, recognized and appreciated around<br />

the world.<br />

So it was no acci<strong>de</strong>nt that the National Institute of Historic<br />

and Artistic Heritage (IPHAN) recognized Carioca samba<br />

and its roots elements (samba <strong>de</strong> terreiro, partido alto<br />

and samba enredo) with the Brazilian Cultural Heritage<br />

<strong>de</strong>signation.<br />

On November 27, 2007, Márcia Genésia <strong>de</strong> Sant’Anna,<br />

head of IPHAN’s Department of Intangible Heritage, ma<strong>de</strong><br />

official what was already empirically established: Carioca<br />

samba is the wellspring from which composers from other<br />

regions drink to create the various sub-genres of this musical<br />

genre. As she <strong>de</strong>clared: “The roots elements of Carioca<br />

samba are important cultural references for the i<strong>de</strong>ntity of<br />

an extremely important social segment in the history of<br />

Rio <strong>de</strong> Janeiro. This is a fundamental step in a policy of<br />

preserving heritage.”<br />

IPHAN further recognizes that samba unites people within<br />

communities, unites working-class and upper-class communities,<br />

unites the entire country and even the world. It has<br />

become <strong>de</strong> rigueur for people residing in the more “chic” areas<br />

of the city’s South Zone to go to the carnival school rehearsal<br />

grounds in the suburbs and outlying municipalities of the<br />

Baixada Fluminense region, not only to prepare to para<strong>de</strong><br />

during carnival, but also for parties and feijoada feasts. The<br />

same goes for tourists looking to experience more than just<br />

the city’s <strong>de</strong>servedly famous landmarks and beaches.<br />

Revista <strong>Beija</strong>-<strong>Flor</strong> <strong>de</strong> <strong>Nilópolis</strong> www.beija-flor.com.br


AN ART THAT UNITES PEOPLE<br />

The vocation of Carioca samba to unite people is unquestionable.<br />

According to radio commentator Hilton Abi-Rihan, also<br />

an ai<strong>de</strong> to the presi<strong>de</strong>nt of honor of <strong>Beija</strong>-<strong>Flor</strong> of <strong>Nilópolis</strong>,<br />

Anizio Abrão David, “besi<strong>de</strong>s Brazil’s great samba artists,<br />

such as Monarco, Nelson Sargento, Moacyr Luz, Alcione and<br />

Beth Carvalho, who have taken this music to the four corners<br />

of the world, samba schools like <strong>Beija</strong>-<strong>Flor</strong> make frequent<br />

foreign tours to perform their carnival dance and music,<br />

taking samba and Carioca and Fluminense culture to the rest<br />

of the world, attracting overseas fans to this musical genre<br />

and instilling a passion for our music and culture, making<br />

people yearn to visit our country, especially the “marvelous<br />

city”. There’s no question that the magic and magnetism of<br />

Carioca samba whets this interest to experience our country<br />

and its people’s hospitality first hand.”<br />

Accustomed to putting on<br />

shows abroad, the writer<br />

and producer Haroldo<br />

Costa attests: “Samba<br />

has become a Brazilian<br />

calling card.”<br />

Monarco travels frequently<br />

performing<br />

with the group Velha<br />

Guarda da Portela and<br />

relates: “We’ve been to<br />

France, Japan, Italy...<br />

and the people’s reaction<br />

has been touching.<br />

In France, kids in the<br />

audience sang along with<br />

us in Portuguese, ‘Foi<br />

um Rio que passou em<br />

Minha Vida’.”<br />

Foto: Acervo Iphan / Edgar Rocha<br />

Besi<strong>de</strong>s bringing together<br />

people of different social,<br />

intellectual and cultural<br />

positions – including<br />

different nationalities<br />

– Carioca samba can be credited for other achievements, as<br />

recalled by Abi-Rihan: ”I’ve hosted radio programs for over<br />

four <strong>de</strong>ca<strong>de</strong>s, always featuring the artistic manifestations of<br />

the Brazilian people. And among the many things I’ve seen,<br />

one that really impresses me is what the samba schools do in<br />

their communities, as <strong>Beija</strong>-<strong>Flor</strong> does in <strong>Nilópolis</strong>, investing<br />

to improve people’s quality of life, establishing the elementary<br />

and high school, job training programs, art, dance and<br />

music classes, besi<strong>de</strong>s other important social actions. All this<br />

means that samba is an important instrument for artistic,<br />

social and personal <strong>de</strong>velopment.”<br />

GREAT BATTLES <strong>FOR</strong> THE DIFFUSION OF SAMBA<br />

The respect achieved by samba is the result of a struggle<br />

on various fronts.<br />

Besi<strong>de</strong>s the selfless <strong>de</strong>dication of the performers, composers<br />

and interpreters, who insisted on keeping sambas in their<br />

repertoires, often paying a high price for this – such as<br />

prejudice and discrimination – the efforts of communicators,<br />

especially in the mass media such as radio, was fundamental<br />

to the survival and consolidation of this musical genre.<br />

Hilton Abi-Rihan was and is one of these important friends<br />

of samba.<br />

As the programming director of Rádio Continental, he<br />

created many programs that featured the varied samba<br />

styles, rescuing veritable works of art and presenting to<br />

listeners the latest trends of the style. Besi<strong>de</strong>s this, Abi-<br />

Rihan had a quality that ma<strong>de</strong> him beloved throughout<br />

the world of samba: he not only played the songs, he<br />

also gave proper credit to the artists who composed and<br />

interpreted them. “Abi-Rihan was one of the first <strong>de</strong>ejays,<br />

from what I remember, who gave special attention to the<br />

samba interpreters and composers. It was very common<br />

for the radio stations only to play the music without giving<br />

the composers’ names. I remember that his way of<br />

treating samba composers and interpreters was one of<br />

the things that pleased my brother, Nelson David, who<br />

became a close friend of Abi-Rihan,” says Anizio Abrão<br />

Fevereiro 2010


David, <strong>Beija</strong>-<strong>Flor</strong>’s presi<strong>de</strong>nt of honor and one of the most<br />

<strong>de</strong>dicated supporters of samba.<br />

Another important advance for samba was achieved by actor<br />

and producer Jorge Coutinho, who influenced a consi<strong>de</strong>rable<br />

contingent of future trendsetters living in the city’s South Zone<br />

(Leme, Copacabana, Ipanema and Leblon): “I thought that college<br />

stu<strong>de</strong>nts had to experience samba. So I promoted shows<br />

that mixed various styles, such as songs by Milton Nascimento,<br />

Som Imaginário and Cartola. I also took sambistas to sing at<br />

Pontifical Catholic University, whose stu<strong>de</strong>nt body at the time<br />

was almost exclusively drawn from wealthy families.”<br />

Besi<strong>de</strong>s this, in the 1970s Jorge Coutinho, together with<br />

Leoni<strong>de</strong>s Bayer, created an interesting social project called<br />

“Noitadas <strong>de</strong> Samba” (“Samba Nights”). These were held<br />

every Monday at the Teatro Opinião in Copacabana. At these<br />

events, performers from Rio’s hillsi<strong>de</strong> slums and suburbs,<br />

such as Cartola, Guilherme <strong>de</strong> Brito, Nelson Cavaquinho,<br />

Martinho da Vila, Rosinha <strong>de</strong> Valença, Paulinho da Viola,<br />

Clementina <strong>de</strong> Jesus, Dona Ivone Lara, Xangô da Mangueira<br />

and Clara Nunes, among many others, played for audiences<br />

from the South Zone.<br />

ANIZIO AND SAMBA<br />

But if samba resisted prejudice and the samba singers and<br />

musicians (sambistas) survived, with great difficulty, it was<br />

because far from Rio’s middle class South Zone, important<br />

samba redoubts sheltered and welcomed these representatives<br />

of this important Afro-Brazilian art form.<br />

It was the carnival associations, or the samba schools, that<br />

valued the sambistas as if they were part of the family. It<br />

was at the samba schools where the sambistas spent a good<br />

<strong>de</strong>al of their time, where they composed, sang, dreamed …<br />

created. This was the genuine spirit of the sambista from<br />

Rio <strong>de</strong> Janeiro, later stereotyped in the global media. It was<br />

a time when most sambistas and composers were linked<br />

to a samba school: Mangueira, Salgueiro, Portela, Império<br />

Serrano... and so many others.<br />

But if the carnival associations were redoubts of samba,<br />

the sambistas still faced difficulties to survive. Subjugated<br />

by a native culture of exploitation of the work force, the<br />

sambistas continued at the margin, exploited, poorly paid,<br />

with no security.<br />

But as the samba schools became stronger and gained respect,<br />

prestige and space, the same thing happened to the<br />

sambistas as well.<br />

This chapter in the history of samba is clearly recalled by radio<br />

host Hilton Abi-Rihan: “Samba was going through a difficult<br />

moment even though it was moving from the margins to the<br />

mainstream. The problem was that the agents promoting this<br />

change were doing so for financial questions. They didn’t<br />

un<strong>de</strong>rstand samba’s importance as a cultural manifestation.<br />

To them it was just a business. The upshot was that the<br />

sambistas still were poorly paid, both for public presentations<br />

and when their songs were recor<strong>de</strong>d by mainstream singers.<br />

It was hard to make a living as a sambista. Fortunately, this<br />

reality was changing, due to various factors. But I believe one<br />

of the most important factors for this change was the creation<br />

of the In<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nt League of Samba Schools (LIESA). This<br />

allowed a lot of things to be done for samba and sambistas.<br />

And Anízio has a leading role in all this history. He was the<br />

one who confronted the record companies so the composers<br />

didn’t have to go with hat in hand, humiliating themselves<br />

to try to receive their proper royalties.<br />

Besi<strong>de</strong>s the importance Anízio has for samba, carnival in Rio<br />

<strong>de</strong> Janeiro and samba schools, he has a special importance for<br />

samba composers. I’m a composer myself, and I want to highlight<br />

that it was through his i<strong>de</strong>as and actions that the samba<br />

schools’ composers became recognized and paid properly for<br />

their work. I want to emphasize this, because my family and<br />

I feel in our daily lives the benefits of this and other positions<br />

take by Anízio in favor of samba and sambistas. Besi<strong>de</strong>s this,<br />

Anízio is a fair man: <strong>de</strong>spite his great love for <strong>Beija</strong>-<strong>Flor</strong>, during<br />

the entire period he was presi<strong>de</strong>nt of LIESA, his school didn’t<br />

win a single title. This proves his love and respect for carnival<br />

and all samba schools,” says former presi<strong>de</strong>nt of Mangueira,<br />

Álvaro Caetano, or Alvinho as he’s better known.<br />

And because of this respect that Anízio expresses for sambistas<br />

and the public, when he was presi<strong>de</strong>nt of LIESA, he<br />

implemented various improvements. His friend the radio<br />

announcer Hilton Abi-Rihan points points out: “It was Anízio<br />

who took a firm stance and insisted that the para<strong>de</strong>s have a<br />

<strong>de</strong>finite time to start and finish. I remember that at the time<br />

Anízio told me this question of the para<strong>de</strong> timetable was one<br />

of his main accomplishments as presi<strong>de</strong>nt of LIESA. And it’s<br />

true! I remember that nobody believed he’d manage to impose<br />

this level of organization. The press certainly didn’t believe it.<br />

But he did it. He managed to keep all the schools’ para<strong>de</strong>s on<br />

time, from the start to the finish, which really ad<strong>de</strong>d to the<br />

spectacle’s value, besi<strong>de</strong>s being an important <strong>de</strong>cision showing<br />

respect for the sambistas and spectators. It was Anízio also<br />

who, with his strong-willed temperament, won the arena<br />

rights [the rights to transmit television images of the para<strong>de</strong>s]<br />

for the samba schools,” recalls Abi-Rihan.<br />

Anízio himself remembers: “It was a hard fight, but we<br />

managed to get the TV networks to pay the arena rights<br />

to the samba schools. At the time I managed to get 33%<br />

to help the samba schools put on a better carnival. Today<br />

LIESA receives 51%, a big improvement. But I managed to<br />

get 33% at the time. Before that it was zero. It was almost<br />

impossible to put on a good show. Without the effort of some<br />

people, including from the community, it would have been<br />

impossible to produce the spectacular show we do today!<br />

Revista <strong>Beija</strong>-<strong>Flor</strong> <strong>de</strong> <strong>Nilópolis</strong> www.beija-flor.com.br


Today you can pay something to the master of ceremonies<br />

and the standard bearer. You can pay something to the<br />

comissão <strong>de</strong> frente (lead dancers), to the bateria (percussion<br />

unit). So, today the samba schools have the money to<br />

put on a show that is transmitted all over the world and<br />

attracts tourists from many countries,” says Anízio.<br />

But Anízio’s efforts in support of samba weren’t limited to<br />

his actions as presi<strong>de</strong>nt of LIESA. According to Elmo José<br />

dos Santos, past presi<strong>de</strong>nt of Mangueira and current director<br />

of LIESA, “the recognition the samba schools enjoy today<br />

owes a lot to Anízio. Because in reality the authorities didn’t<br />

respect the sambistas. And Anísio always said: ‘I didn’t come<br />

here to sell a coon show; I came here to sell an art form.’<br />

And this was the starting point of the valorization of samba,<br />

it en<strong>de</strong>d the old practice of asking for donations from local<br />

businesses. It en<strong>de</strong>d the old practice of the samba schools<br />

putting on their para<strong>de</strong>s on a shoestring. And I can attest<br />

to this, because when I became presi<strong>de</strong>nt of Mangueira, it<br />

had <strong>de</strong>bts adding to a half million reais. Stores wouldn’t sell<br />

me a nail, not a single nail. To give you an i<strong>de</strong>a, Mangueira<br />

had 20 chairs! Anízio arrived and said: ‘Elmo, what do you<br />

need?’ Anízio gave me credit, I mean, he was my guarantor<br />

so the stores would resume selling to Mangueira, because I<br />

had to put on a carnival show. How could I do this without<br />

even having a sound system, without anything? And besi<strong>de</strong>s<br />

this, Anízio sent me a woodworker, a metalworker, one of<br />

his best craftsmen, Torim, who is still working on carnival<br />

today. And I managed to rebuild our <strong>de</strong>ar Estação Primeira<br />

<strong>de</strong> Mangueira. I only have Our Father in Heaven and Anísio<br />

to thank. He never left me out in the cold. He helped me in<br />

every way to resurrect Mangueira. And within three years,<br />

Mangueira was back on its own two feet. And Anísio never<br />

let the dispute on the avenue interfere in his <strong>de</strong>cision. I recall<br />

one thing he said: ‘Elmo, treat everyone with love and<br />

respect. Don’t look down on anyone. I think you have a great<br />

samba school and carnival needs a strong Mangueira.’ So, I<br />

can only thank Anísio. He was my godfather, my father, my<br />

brother. He’s one of my carnival idols,” he conclu<strong>de</strong>s.<br />

RECOGNITION BY IPHAN<br />

While the conquests of this musical genre are the result<br />

of the consi<strong>de</strong>rable efforts of composers and performers,<br />

and of the communicators and media outlets that gave<br />

exposure to their works, the Brazilian Cultural Heritage<br />

<strong>de</strong>signation granted by IPHAN certainly has created new<br />

possibilities, not only for this Carioca art, but for Brazilian<br />

culture in general.<br />

This recognition provi<strong>de</strong>s more opportunities for sambistas<br />

and other members of this social segment to carry out actions<br />

with government support to protect and promote this<br />

important heritage.<br />

Fevereiro 2010


O AMIGO DO SAMBA<br />

Ricardo Da Fonseca – Hoje o samba<br />

está nas ruas: na Lapa, Zona Sul, baixada<br />

fluminense. E em todo o mundo. Houve,<br />

no entanto, uma época na qual o samba<br />

não era valorizado. Como era a vida do<br />

sambista no passado?<br />

Anizio Abrão David – Durante muitos<br />

anos, a vida do sambista não era fácil. Ele<br />

não podia sobreviver com dignida<strong>de</strong>, nem<br />

sustentar sua família com o samba. Ele<br />

passava era fome e morava mal. Quando<br />

conseguia alguma coisa, como ganhar um<br />

samba para carnaval ou ter uma cantora<br />

<strong>de</strong> sucesso gravando uma composição sua<br />

em um disco, não recebia quase nada.<br />

Ricardo Da Fonseca – Muitas pessoas que<br />

viveram nessa época dizem que você é o<br />

gran<strong>de</strong> amigo do samba. Por quê?<br />

Anizio Abrão David – Eu acredito que seja porque, quando<br />

pu<strong>de</strong>, fiz alguma coisa pelos sambistas e pelo samba. Quando<br />

fui presi<strong>de</strong>nte da Liesa, já assumi brigando com a ECAD (órgão<br />

responsável pela arrecadação e distribuição dos direitos autorais<br />

das obras musicais) porque para mim eles não tinham<br />

direito a intermediar o pagamento dos sambistas. E fomos<br />

para a briga, fomos à Justiça e ganhamos! Nessa época os<br />

compositores e seus her<strong>de</strong>iros suavam a camisa para receber<br />

o dinheirinho que tinham direito! Você imagina que naquela<br />

época, com inflação <strong>de</strong> até 70%, o que era para ser recebido<br />

em fevereiro só era pago em setembro. O que recebiam não<br />

dava para nada! E a maioria dos compositores naquela época<br />

não sabia nem como assinar um documento para receber<br />

seu dinheiro. Então, chegavam lá, assinavam qualquer papel<br />

e levavam o que lhes <strong>de</strong>ssem. Hoje não. Hoje o compositor<br />

recebe valores mais justos e diretamente da Liesa, e sabe<br />

antecipadamente quanto que tem direito a receber.<br />

Ricardo Da Fonseca – Tudo o que você falou está relacionado<br />

aos sambas-enredo. Mas existem sambistas que<br />

não disputavam sambas-enredo. Como era a vida <strong>de</strong>sses<br />

sambistas... Inclusive os sambistas da baixada fluminense?<br />

Anizio Abrão David – A vida <strong>de</strong>les também era muito<br />

difícil. O sambista no Brasil nunca teve nada. Se a gente<br />

não ajudasse, acho que nem samba tinha mais no Rio <strong>de</strong><br />

Janeiro e no Brasil afora, porque o sambista sempre passou<br />

necessida<strong>de</strong>. Você tinha que ajudar um pouquinho para ele<br />

ter ânimo <strong>de</strong> continuar no samba.<br />

Ricardo Da Fonseca – Mas como<br />

você ajudava esses sambistas?<br />

Anizio Abrão David – Eu patrocinei<br />

a gravação em estúdio e a impressão<br />

<strong>de</strong> discos (LPs) <strong>de</strong> diversos sambistas<br />

que vinham me procurar. Se<br />

você não bancasse, eles não teriam<br />

como gravar. Não havia <strong>de</strong> on<strong>de</strong><br />

eles tirarem dinheiro para custear<br />

essa produção. Não existiam leis do<br />

governo para incentivar empresas<br />

a patrocinar esses discos... Então as<br />

empresas não patrocinavam cultura.<br />

Você tinha que bancar um LP para<br />

eles. Nessa época era muito comum<br />

o “livro <strong>de</strong> ouro”, que era passado<br />

pelos sambistas para conseguir<br />

Anizio e Jamelão. um dinheirinho. Lembro-me que o<br />

Cabana, nosso querido compositor,<br />

fez um samba - usando a i<strong>de</strong>ia do samba do crioulo doido<br />

- que falava assim:<br />

“Nem todo crioulo é doido.<br />

Nem todo crioulo é doido.<br />

Presta atenção pessoal<br />

O crioulo só endoida<br />

quando chega o carnaval.<br />

Quando chega o carnaval<br />

O crioulo sai,<br />

com o livro <strong>de</strong> ouro na mão<br />

passa o dia inteiro,<br />

sem arranjar um tostão.”...<br />

Ricardo Da Fonseca – Como você se sente sabendo que fez<br />

muitas coisas importantes para o sambista e o samba?<br />

Anizio Abrão David – Sinceramente, quem me conhece<br />

sabe que não fiz nada que não fosse motivado pelo meu<br />

<strong>de</strong>sejo sincero <strong>de</strong> ajudar. Papai do céu sempre me <strong>de</strong>u muito<br />

e seria natural que eu fizesse alguma coisa pelas pessoas<br />

que precisam. Se fico feliz <strong>de</strong> ver hoje que aju<strong>de</strong>i muitos<br />

homens a po<strong>de</strong>rem sustentar seus filhos, colocá-los em<br />

uma boa escola, comprar um bom presente para a mulher,<br />

ter uma casa boa para morar? Sim, eu fico feliz. Mas quem<br />

não ficaria?<br />

Revista <strong>Beija</strong>-<strong>Flor</strong> <strong>de</strong> <strong>Nilópolis</strong> www.beija-flor.com.br


Fevereiro 2010


FELIPE FERREIRA<br />

Um dos momentos mais sublimes do <strong>de</strong>sfile <strong>de</strong> uma<br />

escola <strong>de</strong> samba é a passagem da ala <strong>de</strong> baianas.<br />

Aquelas lindas senhoras com suas gran<strong>de</strong>s saias rodadas<br />

são verda<strong>de</strong>iros reservatórios <strong>de</strong> emoção e<br />

amor capazes <strong>de</strong> dar legitimida<strong>de</strong> a qualquer agremiação.<br />

Uma escola <strong>de</strong> samba sem ala <strong>de</strong> baianas<br />

não é uma escola <strong>de</strong> samba. Fica-lhe faltando a<br />

alma, a essência, a raiz e a verda<strong>de</strong>.<br />

Presentes <strong>de</strong>s<strong>de</strong> os primeiros momentos das escolas,<br />

as baianas têm passado, durante todos estes<br />

anos, por muitas modificações, tanto em suas fantasias<br />

quanto na forma como se apresentam. Inicialmente<br />

<strong>de</strong>sfilando em filas laterais, passaram a se<br />

reunir em grupos cada vez maiores formando verda<strong>de</strong>iras<br />

massas <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> <strong>de</strong>staque nos <strong>de</strong>sfiles.<br />

Sua musicalida<strong>de</strong> sempre foi louvada como uma expressão<br />

fundamental da alma brasileira, ecoando os<br />

<strong>SE</strong>RÁ O FIM<br />

DA ALA DE BAIANAS?<br />

cantos negros, os sons do interior do país e a essência<br />

musical popular. Em seus movimentos <strong>de</strong> braços<br />

e giros acumulavam-se <strong>de</strong>voções, procissões, cultos<br />

africanos, católicos, cortejos e danças religiosas traduzidas<br />

em apresentações únicas, soberbas, sempre<br />

louvadas pela intelectualida<strong>de</strong> e aplaudidas pelo público<br />

mesmerizado por uma “coreografia” popular e<br />

espontânea. Sua fantasia – baseada nas indumentárias<br />

tradicionais das baianas quituteiras que ocupavam<br />

as ruas do Rio <strong>de</strong> Janeiro <strong>de</strong>s<strong>de</strong> finais do século<br />

XVIII – reunia itens tradicionais – como os panos da<br />

costa, os torsos, as saias rodadas e o balangandãs<br />

– a elementos singelos – como cestinhas <strong>de</strong> flores,<br />

pequenas ban<strong>de</strong>iras, aviões <strong>de</strong> plástico, réplicas <strong>de</strong><br />

planetas – que ajudavam a contar o “enredo” apresentado<br />

pela escolas. Em suma, os grupos <strong>de</strong> baianas<br />

eram como verda<strong>de</strong>iros traços <strong>de</strong> união entre<br />

Vó Nadyr (a mais antiga baiana em ativida<strong>de</strong> da <strong>Beija</strong>-<strong>Flor</strong> <strong>de</strong> <strong>Nilópolis</strong>), Felipe Ferreira (pesquisador <strong>de</strong> cultura brasileira) e Laíla (diretor<br />

<strong>de</strong> Carnaval da <strong>Beija</strong>-<strong>Flor</strong> <strong>de</strong> <strong>Nilópolis</strong>)<br />

Revista <strong>Beija</strong>-<strong>Flor</strong> <strong>de</strong> <strong>Nilópolis</strong> www.beija-flor.com.br


a tradição mais profunda e a mo<strong>de</strong>rnida<strong>de</strong><br />

possível das escolas <strong>de</strong> samba na expressão<br />

mais popular <strong>de</strong> seus primeiros anos.<br />

As modificações por que passaram os <strong>de</strong>sfiles<br />

– crescendo em importância e tamanho e<br />

transformando-se na principal expressão do<br />

carnaval brasileiro na década <strong>de</strong> 60 – tiveram<br />

reflexos na ala <strong>de</strong> baianas que cresceu em<br />

tamanho, em organização e em imponência.<br />

Pouco a pouco, suas indumentárias tornavam-se<br />

iguais em cada <strong>de</strong>talhe, impedindo<br />

que cada baiana utilizasse suas pulseiras e<br />

colares pessoais. As fantasias ampliavamse<br />

com a incorporação dos gran<strong>de</strong>s aros<br />

dos miniaques (em substituição às antigas<br />

anáguas engomadas) capazes <strong>de</strong> sustentar<br />

saias cada vez mais rodadas e <strong>de</strong>coradas.<br />

Permaneciam, entretanto, as peculiarida<strong>de</strong>s<br />

das baianas <strong>de</strong> cada escola, representadas,<br />

principalmente pelos gestos e movimentos<br />

<strong>de</strong> sua dança, nos quais, um olhar atento,<br />

ainda podia perceber ecos <strong>de</strong> um passado<br />

não tão remoto.<br />

Entretanto, a transformação dos <strong>de</strong>sfiles<br />

em espetáculos audiovisuais, no final do século XX,<br />

iria encontrar na ala <strong>de</strong> baianas uma espécie <strong>de</strong> <strong>de</strong>safio.<br />

Como adaptar aquele grupo <strong>de</strong> senhoras às<br />

necessida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> um espetáculo que se queria cada<br />

vez mais grandioso e internacional? Como traduzir<br />

a respeitabilida<strong>de</strong> e a importância daquela ala sem<br />

perturbar a unida<strong>de</strong> <strong>de</strong> um <strong>de</strong>sfile cada vez mais imponente?<br />

A “solução” encontrada foi a valorização visual da<br />

ala, ampliando suas fantasias – que adquiriam rodas<br />

cada vez mais gigantescas – incorporando esplendores,<br />

golas, a<strong>de</strong>reços <strong>de</strong> mão e <strong>de</strong>corações suntuosas<br />

associados a temáticas que a afastavam cada vez<br />

mais da baiana tradicional. O sucesso <strong>de</strong>ste novo<br />

formato, entretanto, vem cobrando seu preço às escolas.<br />

O <strong>de</strong>slumbrante visual das gran<strong>de</strong>s fantasias<br />

criou a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> um <strong>de</strong>sfile cada vez mais organizado,<br />

em filas e colunas, e com lugares pre<strong>de</strong>terminados<br />

para cada baiana. A grandiosida<strong>de</strong> das<br />

indumentárias passou a impedir os movimentos espontâneos<br />

individuais, que se transformaram em coreografias<br />

ensaiadas nas quais todas as baianas só<br />

po<strong>de</strong>m girar num <strong>de</strong>terminado momento e para um<br />

mesmo lado, por exemplo. Além disso, o peso excessivo<br />

das fantasias, que chegam a atingir mais <strong>de</strong> 30<br />

quilos, acaba por afastar aquelas que <strong>de</strong>veriam ser<br />

as mais importantes personagens do <strong>de</strong>sfile, as mais<br />

velhas senhoras<br />

que guardam,<br />

em seus movimentos<br />

e em<br />

seu cantar, boa<br />

parte da história<br />

e da memória<br />

das escolas <strong>de</strong><br />

samba.<br />

A pergunta que<br />

fizemos no título<br />

<strong>de</strong>ste artigo<br />

marca, <strong>de</strong>sse<br />

modo, uma preocupação,<br />

cada<br />

vez mais presente,<br />

daqueles<br />

que amamos<br />

os <strong>de</strong>sfiles das<br />

escolas. Como<br />

equilibrar a necessida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong><br />

engran<strong>de</strong>cimento<br />

do espetáculo<br />

com a preservação do sentido mais profundo <strong>de</strong> uma<br />

ala tão representativa <strong>de</strong> uma escola <strong>de</strong> samba? O<br />

caminho da grandiosida<strong>de</strong> parece ter chegado a um<br />

beco sem saída na medida em que força o afastamento<br />

exatamente daquelas senhoras que mais<br />

amamos ver <strong>de</strong>sfilar e das quais nenhuma escola<br />

po<strong>de</strong> prescindir. Outras soluções precisam ser <strong>de</strong>scobertas<br />

pela criativida<strong>de</strong> e engenhosida<strong>de</strong> <strong>de</strong> nossos<br />

carnavalescos. Novas regulamentações talvez<br />

possam ser pensadas no sentido <strong>de</strong> limitar tamanho<br />

e peso das fantasias. Soluções inesperadas po<strong>de</strong>m<br />

sair do diálogo entre a inovação dos criadores e a<br />

sabedoria das próprias baianas. As possibilida<strong>de</strong>s<br />

são muitas. O importante é percebermos a tempo<br />

que um caminho diferente precisa ser <strong>de</strong>scoberto<br />

com urgência. Com isto, po<strong>de</strong>remos ter a certeza <strong>de</strong><br />

que, ao contrário do que po<strong>de</strong>ríamos temer, estaremos<br />

presenciando o renascimento da ala que reúne<br />

e representa tudo que mais amamos no carnaval das<br />

escolas <strong>de</strong> samba: nossas “mães” baianas.<br />

Vó Nadyr, em Desfile pela agremiação <strong>de</strong> <strong>Nilópolis</strong> (década<br />

<strong>de</strong> 70)<br />

______________<br />

Felipe Ferreira é professor do Instituto <strong>de</strong> Artes da<br />

Uerj, coor<strong>de</strong>nador do Centro <strong>de</strong> Referência do Carnaval<br />

e Membro do Estandarte <strong>de</strong> Ouro <strong>de</strong> O Globo.<br />

Fevereiro 2010


DÉBORA ZAMPIER<br />

BRASÍLIA<br />

uma jovem senhora<br />

com muita história para contar<br />

Amada ou odiada, Brasília só não <strong>de</strong>sperta um sentimento:<br />

indiferença. A cida<strong>de</strong>, que completa 50<br />

anos no próximo dia 21 <strong>de</strong> abril, foi concebida com<br />

o objetivo <strong>de</strong> chamar atenção para uma região até<br />

então esquecida do interior do país. E cumpriu sua<br />

missão: <strong>de</strong>s<strong>de</strong> os primeiros discursos apaixonados<br />

sobre sua criação até a imponência política e econômica<br />

ostentada atualmente, Brasília rompeu com<br />

o Brasil costumeiro. Um rompimento salutar na <strong>de</strong>finição<br />

<strong>de</strong> nossa própria i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>, embora, parafraseando<br />

Caetano Veloso, muitos narcisos ainda<br />

achem feio o que não é espelho e ainda torçam o<br />

nariz para a capital fe<strong>de</strong>ral.<br />

Brasília já habitava mentes e corações muito antes<br />

<strong>de</strong> existir no papel. Foi em 1893 que se pensou<br />

criar uma cida<strong>de</strong> longe do abarrotado litoral, i<strong>de</strong>ia<br />

passada para o Pequeno Atlas do Brasil em 1922.<br />

A região era conhecida como Quadrilátero Cruls,<br />

referência ao grupo do astrônomo belga Luiz Cruls,<br />

que li<strong>de</strong>rou a Comissão Exploradora do Planalto<br />

Central entre 1892 e 1893. Já em 1927, um documento<br />

registrado em um cartório <strong>de</strong> Planaltina,<br />

hoje cida<strong>de</strong>-satélite do Distrito Fe<strong>de</strong>ral, mostrava<br />

os primeiros traços simples e <strong>de</strong>spojados pelos<br />

quais a nova capital seria conhecida.<br />

Seria ingênuo imaginar que Brasília surgiu por meio<br />

<strong>de</strong> uma vocação natural, muitas vezes respaldada<br />

em argumentos que sugerem o sobrenatural, como<br />

o sonho <strong>de</strong> Dom Bosco. Entretanto, não há brasiliense<br />

que <strong>de</strong>sconheça a passagem referente ao<br />

padre italiano Giovani Bosco, que falava sobre um<br />

“leito muito largo, que partia <strong>de</strong> um ponto on<strong>de</strong> se<br />

formava um lago, situado entre os paralelos 15 e 20<br />

graus <strong>de</strong> latitu<strong>de</strong> sul”, uma “terra prometida, don<strong>de</strong><br />

correrá leite e mel”. O <strong>de</strong>vaneio onírico é datado <strong>de</strong><br />

meados do século XIX e Bosco jamais havia visitado<br />

a região.<br />

Apesar da importância histórica, Bosco e Cruls<br />

chegam a ser coadjuvantes se comparados a um<br />

nome <strong>de</strong>finitivo para o surgimento da nova capital:<br />

Juscelino Kubitschek. JK e Brasília são quase sinônimos,<br />

em uma anomalia sintática que aproxima<br />

criador e criatura. Antes <strong>de</strong> chegar à presidência, o<br />

político mineiro já havia se <strong>de</strong>stacado no Executivo<br />

como prefeito <strong>de</strong> Belo Horizonte e governador <strong>de</strong><br />

Minas Gerais. Como presi<strong>de</strong>nte, fez <strong>de</strong> Brasília a<br />

meta-síntese <strong>de</strong> seu governo. A cida<strong>de</strong> no coração<br />

do Brasil aten<strong>de</strong>ria vários propósitos e marcaria<br />

tanto a trajetória <strong>de</strong> JK quanto o <strong>de</strong>stino do país.<br />

O momento histórico do surgimento <strong>de</strong> Brasília era<br />

<strong>de</strong> extrema falta <strong>de</strong> governabilida<strong>de</strong> no Rio <strong>de</strong> Janeiro<br />

<strong>de</strong>vido a pressões político-militares. A gravida<strong>de</strong><br />

assustava a ponto <strong>de</strong> JK se imaginar <strong>de</strong>posto<br />

antes <strong>de</strong> seu mandato terminar. Era preciso pensar<br />

em uma saída estratégica. A solução vinha <strong>de</strong> uma<br />

tese que surgiu um século antes, <strong>de</strong>fendida sucessivamente<br />

por várias gerações: o <strong>de</strong>sbravamento<br />

do “sertão” brasileiro para levar <strong>de</strong>senvolvimento<br />

e integração ao Brasil. A i<strong>de</strong>ia era substituir o ban<strong>de</strong>irante<br />

passageiro pelo pioneiro perene, conforme<br />

<strong>de</strong>fendido pelo próprio JK em seu livro <strong>de</strong> memórias<br />

Por que construí Brasília.<br />

Foi assim que JK e seus aliados lutaram pela transferência<br />

da capital na Câmara dos Deputados ainda<br />

na década <strong>de</strong> 40, conquistando a aprovação do projeto<br />

<strong>de</strong> lei para a construção <strong>de</strong> cida<strong>de</strong> em meados<br />

<strong>de</strong> 1956. Segundo historiadores, a casa só aprovou<br />

a matéria por acreditar que Juscelino não conseguiria<br />

cumprir o prazo, o que resultaria na cova política<br />

do presi<strong>de</strong>nte visionário. Para surpresa geral, até<br />

0 Revista <strong>Beija</strong>-<strong>Flor</strong> <strong>de</strong> <strong>Nilópolis</strong> www.beija-flor.com.br


Foto: Acervo BrasíliaTur / Luiz Trazzi Martins<br />

mesmo dos oposicionistas mais ferrenhos, Brasília<br />

foi erguida em quatro anos, um verda<strong>de</strong>iro oásis em<br />

meio ao cerrado praticamente intocado.<br />

Mais uma vez criador e criatura se aproximam.<br />

Desta vez, a referência está nos prédios e na arquitetura<br />

da cida<strong>de</strong> que reluz <strong>de</strong> tão nova. Impossível<br />

falar <strong>de</strong> Brasília e não lembrar do arquiteto Oscar<br />

Niemeyer, responsável por obras <strong>de</strong> fama e reconhecimento<br />

mundial, como o Congresso Nacional<br />

e o Palácio da Alvorada. A i<strong>de</strong>ia era que a cida<strong>de</strong><br />

parecesse mo<strong>de</strong>rna mesmo sem estar completa ou<br />

<strong>de</strong>nsamente povoada.<br />

O objetivo foi atingido com o uso <strong>de</strong> traços que <strong>de</strong>safiavam<br />

os padrões vigentes, resultando em inovações<br />

na concepção das estruturas e na proporção<br />

no uso dos materiais. O aço ganhou <strong>de</strong>staque pela<br />

facilida<strong>de</strong> com que dava forma aos prédios imaginados<br />

por Niemeyer, além <strong>de</strong> possibilitar ousadias,<br />

a exemplo das colunas da entrada do Alvorada, “leves<br />

como penas pousando no chão”, segundo as<br />

palavras do próprio arquiteto.<br />

Nome injustamente esquecido pelos menos avisados,<br />

o urbanista Lúcio Costa <strong>de</strong>u a forma <strong>de</strong><br />

“avião” a Brasília. É <strong>de</strong>le o projeto que acumula po<strong>de</strong>r<br />

na área central, espalha residências entre asas,<br />

amplia o horizonte com a abolição <strong>de</strong> arranha-céus,<br />

divi<strong>de</strong> a cida<strong>de</strong> por setores temáticos e a <strong>de</strong>spe <strong>de</strong><br />

calçadas e esquinas, causando tanto estranhamento<br />

aos visitantes. Se ainda hoje Brasília surpreen<strong>de</strong><br />

por ser “diferente”, imagine o impacto que causou<br />

há 50 anos. O impacto também foi financeiro: a<br />

construção da cida<strong>de</strong> consumiu nada menos que<br />

1,5 bilhões <strong>de</strong> dólares – cerca <strong>de</strong> 19,5 bilhões com<br />

correção monetária atual - coincidindo com a explosão<br />

da inflação e da dívida externa do país.<br />

Relatos veiculados nos principais jornais da época<br />

- um <strong>de</strong>les do ilustre dramaturgo Nelson Rodrigues<br />

para o Última Hora - mostravam ao Brasil que a<br />

nova capital era ao mesmo tempo possível, mas<br />

irreal. Em quatro anos, foram erguidos Congresso<br />

Nacional, Palácio do Planalto, Supremo Tribunal<br />

Fe<strong>de</strong>ral, onze edifícios ministeriais e Palácio da<br />

Alvorada. Seus habitantes já disporiam <strong>de</strong> serviço<br />

<strong>de</strong> eletricida<strong>de</strong>, <strong>de</strong> água e <strong>de</strong> esgoto; mais <strong>de</strong> 3000<br />

moradias; hospital público com 500 leitos; escolas<br />

e estação rodoviária. Sua estreia atraiu entre 150<br />

mil e 250 mil visitantes, inclusive aqueles que torciam<br />

o nariz para o sucesso do empreendimento <strong>de</strong><br />

JK.<br />

Um ditado diz que os pioneiros que ergueram a cida<strong>de</strong><br />

trabalhavam 36 horas por dia: 12 horas durante<br />

o dia, 12 a noite e 12 pelo entusiasmo. Entretanto,<br />

esses mesmos pioneiros, que chegaram a dar a<br />

vida pela conclusão da urbe, foram excluídos <strong>de</strong> seu<br />

Fevereiro 2010


convívio. Acabaram levados para as cida<strong>de</strong>s-satélites,<br />

uma vez que não se encaixavam no modo <strong>de</strong><br />

vida mo<strong>de</strong>rno e requintado exigido pela Brasília que<br />

acabaram <strong>de</strong> conceber com as próprias mãos. Hoje<br />

há um bolsão <strong>de</strong> pobreza que cerca o Plano Piloto e<br />

lagos Sul e Norte. Seus habitantes vivem das sobras<br />

da pujança financeira das áreas mais ricas.<br />

No início, a nova capital causou ciumeira generalizada<br />

na cida<strong>de</strong> que a abrigou por tantos anos: o Rio<br />

<strong>de</strong> Janeiro. Os cariocas sabiam que uma perda irreversível<br />

se abatia sob a Cida<strong>de</strong> Maravilhosa, embora<br />

muitos tenham comprado o discurso <strong>de</strong>senvolvimentista<br />

<strong>de</strong> JK, acreditando que a transferência da<br />

capital seria benéfica para o Brasil. Ainda assim,<br />

a doce vida à beira mar dos funcionários públicos<br />

fe<strong>de</strong>rais seria trocada pelo calor seco revestido <strong>de</strong><br />

poeira do cerrado, que cobria <strong>de</strong> tons amarronzados<br />

a fina vestimenta <strong>de</strong> seus novos e ilustres habitantes.<br />

Apesar do esforço hercúleo para disponibilizar <strong>de</strong><br />

recursos <strong>de</strong> infraestrutura e lazer, a cida<strong>de</strong> ainda<br />

estava a milhas do <strong>de</strong>senvolvimento urbano <strong>de</strong> sua<br />

antecessora fluminense. Os poucos hotéis e restaurantes<br />

ficavam lotados, faltavam artigos básicos,<br />

como cabi<strong>de</strong>s e travesseiros, que chegavam<br />

às pressas <strong>de</strong> avião. As pessoas reclamavam da<br />

falta do que fazer e do enorme silêncio e solidão<br />

que pairavam sob o Planalto Central após o frenesi<br />

da inauguração. Essa sensação atingiu até mesmo<br />

Foto: Acervo BrasíliaTur / Luiz Trazzi Martins<br />

a escritora Clarice Lispector, que, em uma crônica<br />

publicada em 1962, clamou: “Cadê as girafas <strong>de</strong><br />

Brasília? É urgente. Se não for povoada, ou melhor,<br />

superpovoada, uma outra coisa vai habitá-la. E<br />

se acontecer, será tar<strong>de</strong> <strong>de</strong>mais: não haverá lugar<br />

para pessoas”.<br />

Para alívio dos solitários, as pessoas começaram<br />

a chegar. A cida<strong>de</strong> foi sendo ocupada por burocratas<br />

que chegavam para assumir seus postos no<br />

funcionalismo público, trazendo família e o estilo<br />

<strong>de</strong> vida da classe média e média alta. Moravam<br />

nos prédios <strong>de</strong> seis andares, todos iguais ao mol<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> gran<strong>de</strong>s pombais; mas as ruas, essas continuavam<br />

vazias. As enormes distâncias impediam<br />

a locomoção a pé (como ainda fazem hoje), e os<br />

pontos <strong>de</strong> encontro possíveis eram restaurantes,<br />

clubes ou salas <strong>de</strong> cinema. Pessoas vinham <strong>de</strong><br />

todo o país em busca <strong>de</strong> trabalho e <strong>de</strong> enriquecimento,<br />

ninguém estava ali para brinca<strong>de</strong>ira. Daí<br />

a fama <strong>de</strong> “formal” que até hoje caracteriza a<br />

cida<strong>de</strong> e seus ocupantes.<br />

Tanta formalida<strong>de</strong> acabou criando um movimento<br />

diametralmente oposto na década <strong>de</strong> 80: o rock<br />

brasiliense. Filhos <strong>de</strong> pais abastados começaram<br />

a se revoltar contra uma vida boa <strong>de</strong>mais, que não<br />

dava brechas para contestação. Surgiram bandas<br />

como Capital Inicial, Plebe Ru<strong>de</strong>, Detrito Fe<strong>de</strong>ral,<br />

e a mais famosa expoente do movimento, Legião<br />

Urbana. O poeta Renato Russo conseguiu sintetizar<br />

em suas músicas o pensamento dos jovens<br />

que já estavam “cheios <strong>de</strong> se sentirem vazios”,<br />

como diz a letra <strong>de</strong> Baa<strong>de</strong>r-Meinhof Blues. Acabou<br />

extrapolando os limites do Plano Piloto e arrebatando<br />

toda uma geração, que passou a olhar<br />

a pulsante capital fe<strong>de</strong>ral com curiosida<strong>de</strong> e inquietação.<br />

Os escândalos políticos, a farra com o dinheiro<br />

público, os altos salários e uma geração criada sem<br />

muitos limites financeiros e éticos acabaram mostrando<br />

um lado repulsivo da cida<strong>de</strong>, dando a falsa<br />

impressão que na ilha da fantasia tudo po<strong>de</strong>. Mas<br />

Brasília é muito mais que um estereótipo, habitada<br />

e impulsionada por milhares <strong>de</strong> pessoas <strong>de</strong> bem.<br />

De fato, está mais para um Brasil em miniatura,<br />

com suas maravilhas e seus problemas. Também<br />

está longe <strong>de</strong> não ter uma i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>, embora essa<br />

seja a avaliação <strong>de</strong> nove entre <strong>de</strong>z observadores.<br />

Assim como nosso país, que se caracteriza pela<br />

união e mescla <strong>de</strong> vários povos e culturas nos últimos<br />

cinco séculos, a i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Brasília está no<br />

mosaico <strong>de</strong> cada pedacinho do Brasil reunido aqui<br />

nas últimas cinco décadas. E como ele, avança para<br />

um futuro promissor.<br />

Revista <strong>Beija</strong>-<strong>Flor</strong> <strong>de</strong> <strong>Nilópolis</strong> www.beija-flor.com.br


Brasília está comemorando 50 anos. E nada melhor que uma cida<strong>de</strong> em festa para receber o<br />

seu evento. O Centro <strong>de</strong> Convenções Ulysses Guimarães, localizado no centro da capital, conta<br />

com infraestrutura completa e capacida<strong>de</strong> para mais <strong>de</strong> nove mil pessoas. Além disso, você<br />

também vai se surpreen<strong>de</strong>r com os monumentos do arquiteto Oscar Niemeyer e com as obras<br />

<strong>de</strong> renomados artistas brasileiros que fizeram da capital Patrimônio Cultural da Humanida<strong>de</strong>.<br />

Brasília é muito mais do que você imagina.<br />

CENTRO DE CONVENÇÕES<br />

ULYS<strong>SE</strong>S GUIMARÃES – BRASÍLIA<br />

NO CENTRO DAS ATENÇÕES,<br />

ASSIM COMO O <strong>SE</strong>U EVENTO.<br />

Foto: Aparecido Pinto Foto: Luiz Trazzi<br />

Foto: Luiz Trazzi<br />

Para mais informações, ligue 61 3214-2756.<br />

Centro <strong>de</strong> Convenções Ulysses Guimarães.<br />

Monumental como Brasília.<br />

ccug@brasiliatur.df.gov.br<br />

Fevereiro 2010<br />

Foto: Luiz Trazzi


THAÍS MEDEIROS<br />

CARNAVAL 2010<br />

Recriando<br />

a capital fe<strong>de</strong>ral<br />

Empenhada em conquistar mais um título <strong>de</strong> campeã do carnaval carioca – o sexto nesse<br />

novo século –, a <strong>Beija</strong>-<strong>Flor</strong> <strong>de</strong> <strong>Nilópolis</strong> apresentará ao público o enredo “Brilhante ao sol do<br />

novo mundo, Brasília: do sonho a realida<strong>de</strong>, a capital da esperança”.<br />

Esse sonho teve início quando a Comissão multidisciplinar do governo do Distrito Fe<strong>de</strong>ral,<br />

responsável pelo planejamento dos diversos eventos que serão realizados em 2010 em comemoração<br />

aos 50 anos da Capital Fe<strong>de</strong>ral, <strong>de</strong>cidiu incluir nos festejos a participação <strong>de</strong><br />

uma escola <strong>de</strong> samba do Rio <strong>de</strong> Janeiro homenageando a data.<br />

Depois <strong>de</strong> muita negociação, a Comissão do GDF (Governo do Distrito Fe<strong>de</strong>ral), em parceria<br />

com a Liesa (Liga In<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte das Escolas <strong>de</strong> Samba), <strong>de</strong>finiu que estariam habilitadas<br />

para essa iniciativa as cinco primeiras colocadas no ranking da Liesa.<br />

O resultado foi o melhor para Brasília: a escola nº 1 do ranking ficou com a responsabilida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> levar para a avenida um <strong>de</strong>sfile à altura <strong>de</strong>ssa que é a maior obra arquitetônica e administrativa<br />

planejada do século 20.<br />

Iluminando o carnaval carioca com gran<strong>de</strong>s shows<br />

<strong>de</strong> criativida<strong>de</strong> e elegância, a <strong>Beija</strong>-<strong>Flor</strong> <strong>de</strong> <strong>Nilópolis</strong><br />

prepara para 2010 um <strong>de</strong>sfile cheio <strong>de</strong> surpresas<br />

e emoções que promete <strong>de</strong>spertar em seu público<br />

sonhos e paixões. Com esse enredo, a azul e branco<br />

<strong>de</strong> <strong>Nilópolis</strong> tem como principal objetivo apresentar<br />

uma Brasília diferente do que conhecemos,<br />

<strong>de</strong>smistificando a associação da cida<strong>de</strong> à política<br />

do país.<br />

O enredo é uma comemoração à Capital Fe<strong>de</strong>ral<br />

que fora sonhada já por Tira<strong>de</strong>ntes na época da Inconfidência<br />

e tornada realida<strong>de</strong> por Juscelino Kubitschek<br />

anos mais tar<strong>de</strong>, através do trabalho árduo<br />

dos candangos, aqueles que partiram <strong>de</strong> diferentes<br />

partes do país rumo a Brasília para a construção<br />

da terra i<strong>de</strong>alizada, criando a gran<strong>de</strong> miscigenação<br />

que há hoje na cida<strong>de</strong> e que fez <strong>de</strong>la uma região <strong>de</strong><br />

gran<strong>de</strong> mistura racial e cultural.<br />

De olho no título, a <strong>Beija</strong>-<strong>Flor</strong> <strong>de</strong> <strong>Nilópolis</strong> prepara<br />

para a avenida um <strong>de</strong>sfile diferente <strong>de</strong> tudo que<br />

já foi feito pela escola. Para isso, ela conta com o<br />

talento <strong>de</strong> sua competente comissão <strong>de</strong> carnavalescos,<br />

formada por Alexandre Louzada, Ubiratan<br />

Silva, Fran Sérgio e pelo diretor geral <strong>de</strong> carnaval<br />

da agremiação, Laíla, que juntos <strong>de</strong>safiaram a lógica<br />

popular, pensando numa nova forma <strong>de</strong> se apresentar<br />

Brasília. “Eu procurei traçar uma história<br />

que iria além das expectativas <strong>de</strong> todos, ou seja,<br />

falar um pouco da pré-história <strong>de</strong> Brasília, falar <strong>de</strong><br />

todas as coincidências, as inspirações que levaram<br />

as cabeças que pensaram no projeto da cida<strong>de</strong> e<br />

na sua realização, e que ela é um resultado <strong>de</strong>ssas<br />

suposições ou <strong>de</strong>ssas inspirações, que remontam<br />

até 3.000 anos antes <strong>de</strong> cristo”, conta Louzada.<br />

ESTUDANDO O CAMINHO PERCORRIDO<br />

É inegável que a <strong>Beija</strong>-<strong>Flor</strong> <strong>de</strong> <strong>Nilópolis</strong> tem se tornado<br />

cada vez mais exuberante na avenida; daí o<br />

apelido <strong>de</strong> “princesinha da passarela”. Mas para<br />

manter esta fama é necessário muito trabalho duro<br />

e muita <strong>de</strong>dicação também, já que não é qualquer<br />

uma que consegue se manter como a escola número<br />

um no ranking da Liesa, posição mais do que<br />

Revista <strong>Beija</strong>-<strong>Flor</strong> <strong>de</strong> <strong>Nilópolis</strong> www.beija-flor.com.br


merecida, já que nos últimos sete carnavais ela foi<br />

campeã por cinco vezes.<br />

Neste sentido, o primeiro gran<strong>de</strong> <strong>de</strong>safio da agremiação<br />

<strong>de</strong> <strong>Nilópolis</strong> para o carnaval <strong>de</strong> 2010 será<br />

superar a si mesma. Para alcançar esse objetivo<br />

a escola está empenhada em corrigir seus erros,<br />

a fim <strong>de</strong> atingir algo o mais próximo da perfeição.<br />

“Estamos investindo em vários pontos que a escola<br />

falhou no carnaval 2009. Nós verificamos a justificativa<br />

dos jurados, e vimos o que era coerente e o<br />

que não era, o que a gente achava que eles estavam<br />

certos, e o que não concordávamos. Achamos<br />

realmente que havíamos errado em alguns pontos,<br />

os quais nesse ano buscamos aprimorar e corrigir,<br />

para que não cometêssemos os mesmos erros que<br />

cometemos no carnaval <strong>de</strong> 2009.”, relata Ubiratan<br />

Silva, o Bira.<br />

Por essa razão, a participação do Laíla na direção<br />

<strong>de</strong> carnaval da escola para esse <strong>de</strong>sfile foi e é muito<br />

mais efetiva, e tem que ser <strong>de</strong>stacada. Esse é um<br />

carnaval que o Laíla está dirigindo minuciosamente,<br />

verificando cada <strong>de</strong>talhe, discutindo cada ponto,<br />

sendo muito exigente com ele mesmo e com todos<br />

os integrantes da comissão <strong>de</strong> carnavalescos e do<br />

Barracão, para que cada um realize o melhor.<br />

Segundo Fran Sérgio, a direção e os componentes<br />

da agremiação <strong>de</strong> <strong>Nilópolis</strong> são muito exigentes uns<br />

com os outros, no bom sentido. “Temos um respeitável<br />

histórico como campeões do carnaval carioca.<br />

Respeitando nossas coirmãs, sabemos que po<strong>de</strong>mos<br />

vencer sempre, se nos preparamos bem para<br />

isso. Temos uma gran<strong>de</strong> experiência, boas i<strong>de</strong>ias,<br />

bons sambas, ótimos profissionais e muito, muito<br />

coração. Todos nós temos uma autocrítica muito<br />

gran<strong>de</strong>, e é isso que torna a nossa escola cada vez<br />

melhor, cada ano mais bonita. E o envolvimento e<br />

as orientações do Laíla são essenciais nesse processo,<br />

porque <strong>de</strong>spertam em cada componente o<br />

<strong>de</strong>sejo <strong>de</strong> realizar seu trabalho da melhor maneira,<br />

buscando o melhor <strong>de</strong> si”, revela.<br />

O resultado disso nos bastidores da azul e branco<br />

é um clima bastante harmônico, e <strong>de</strong> muito ensaio<br />

também. Além da correção dos erros i<strong>de</strong>ntificados,<br />

a escola está investindo em gran<strong>de</strong>s surpresas.<br />

Segundo Alexandre Louzada, “a <strong>Beija</strong>-<strong>Flor</strong> <strong>de</strong> <strong>Nilópolis</strong><br />

sempre prepara surpresas para a avenida.<br />

Nada assim <strong>de</strong> muito tecnológico não. Queremos<br />

surpreen<strong>de</strong>r pela própria riqueza <strong>de</strong>sse enredo, que<br />

a primeira vista po<strong>de</strong> parecer banal, uma simples<br />

homenagem, um enredo puramente patrocinado,<br />

mais é uma história muito bonita para ser contada.<br />

Uma das surpresas po<strong>de</strong> acontecer nos teatros<br />

que o Hilton Castro fará no chão. Mas a gran<strong>de</strong><br />

surpresa, do meu ponto <strong>de</strong> vista, será a realização<br />

<strong>de</strong> um carnaval totalmente diferente do que foi preparado<br />

até hoje. Bastante diferente, porque o Laíla<br />

não quer nada parecido com algo que já tenha sido<br />

feito. Acho que a gran<strong>de</strong> surpresa é essa mudança:<br />

as fantasias mais leves, os carros mais trabalhados,<br />

porque nós estamos falando <strong>de</strong> algumas obras <strong>de</strong><br />

arquitetura mundialmente conhecidas, e temos que<br />

respeitar esse traço, o traço <strong>de</strong> Oscar Niemeyer;<br />

Alexandre Louzada, Laíla, Bira e Fran-Sérgio, integrantes da<br />

Comissão <strong>de</strong> Carnavalescos da agremiação.<br />

Fevereiro 2010


isso tem que ser colocado<br />

<strong>de</strong> uma forma bastante<br />

correta, porque ele é um<br />

dos ícones da arquitetura<br />

mundial”, conclui.<br />

E não dá para contar a<br />

história da capital da esperança<br />

sem lembrar <strong>de</strong>sses<br />

gran<strong>de</strong>s nomes que<br />

estão envolvidos, <strong>de</strong> forma<br />

direta ou indireta, em<br />

sua construção, nomes <strong>de</strong><br />

gran<strong>de</strong> importância não só<br />

para a construção <strong>de</strong> Brasília<br />

como também para a<br />

construção do Brasil: Oscar<br />

Niemeyer e Lúcio Costa,<br />

autores do projeto do<br />

Plano Piloto.<br />

Mas para fugir dos padrões esperados, foram feitas<br />

muitas pesquisas para se achar o caminho <strong>de</strong><br />

como se fazer um <strong>de</strong>sfile à altura da tradição da<br />

<strong>Beija</strong>-<strong>Flor</strong> <strong>de</strong> <strong>Nilópolis</strong> e da importância <strong>de</strong> Brasília.<br />

Assim, colocando para fora toda a sua experiência<br />

e competência, a agremiação conseguiu <strong>de</strong>senvolver<br />

o enredo <strong>de</strong> uma maneira que foge totalmente<br />

do que as pessoas costumam pensar a respeito da<br />

Capital Fe<strong>de</strong>ral. A azul e branco levará para a avenida<br />

uma cida<strong>de</strong> planejada, uma verda<strong>de</strong>ira obra <strong>de</strong><br />

arte arquitetada pelo homem, localizada no centro<br />

<strong>de</strong> nosso país, e que é hoje um Patrimônio da Humanida<strong>de</strong><br />

e também nossa Capital Fe<strong>de</strong>ral. O in-<br />

tuito é <strong>de</strong>spertar no povo o<br />

carinho e respeito por esta<br />

metrópole.<br />

Por fim, a escola conta ainda<br />

com o apoio da comunida<strong>de</strong>,<br />

sua marca registrada,<br />

para dar um toque<br />

a mais no seu <strong>de</strong>sfile, abrilhantando<br />

sua apresentação,<br />

fazendo com que seu<br />

enredo ecoe como uma<br />

melodia suave aos ouvidos<br />

do público. Segundo Laíla,<br />

esse é na verda<strong>de</strong> o gran<strong>de</strong><br />

trunfo da <strong>Beija</strong>-<strong>Flor</strong> <strong>de</strong> <strong>Nilópolis</strong>:<br />

“temos uma comunida<strong>de</strong><br />

muito forte, e isso<br />

está servindo <strong>de</strong> exemplo<br />

para muitas escolas. O futuro<br />

das escolas <strong>de</strong> samba será com comunida<strong>de</strong>s,<br />

porque se não acaba.”<br />

Com todos esses ingredientes, po<strong>de</strong>mos esperar<br />

para 2010 um <strong>de</strong>sfile com muita garra, emoção,<br />

alegria e confiança na busca <strong>de</strong> mais um título <strong>de</strong><br />

campeã, mostrando mais uma vez ao seu público<br />

que a <strong>Beija</strong>-<strong>Flor</strong> <strong>de</strong> <strong>Nilópolis</strong> é uma escola que vai<br />

à luta e que não <strong>de</strong>siste <strong>de</strong> seus objetivos. “As expectativas<br />

são as melhores. Acho que a escola vem<br />

mais forte do que nunca, o espírito <strong>de</strong>la é <strong>de</strong> união,<br />

um espírito que tem tudo para dar certo. Nós vamos<br />

fazer um belo carnaval... <strong>Beija</strong>-<strong>Flor</strong> 2010 campeã”,<br />

encerra Anizio Abrão David.<br />

Revista <strong>Beija</strong>-<strong>Flor</strong> <strong>de</strong> <strong>Nilópolis</strong> www.beija-flor.com.br


CARNIVAL 2010<br />

BRASÍLIA<br />

Recreating the Capital<br />

Committed to winning another Carioca carnival title – the sixth of this new century – <strong>Beija</strong>-<strong>Flor</strong> of <strong>Nilópolis</strong> will<br />

present the theme “Shining in the New World Sun, Brasília: From dream to reality, the capital of hope”.<br />

This dream started when the multidisciplinary committee of the Fe<strong>de</strong>ral District government, responsible<br />

for planning the various events that will be part of the commemorations of the 50th anniversary of Brazil’s<br />

capital city, <strong>de</strong>ci<strong>de</strong>d to inclu<strong>de</strong> the participation of a carnival association, or samba school, from Rio <strong>de</strong><br />

Janeiro to mark the date.<br />

After extensive negotiations, the government committee, in partnership with the In<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nt League of<br />

Samba Schools (LEISA), <strong>de</strong>ci<strong>de</strong>d that one of the top five samba schools in the LEISA ranking would be<br />

eligible to make the construction of Brasília its carnival theme in 2010.<br />

The result couldn’t have been better for Brasília: none other than Beja-<strong>Flor</strong>, the top-ranked school, accepted<br />

the challenge and will take to the avenue the theme of the greatest architectural and administrative<br />

un<strong>de</strong>rtaking of the twentieth century.<br />

THAÍS MEDEIROS<br />

To light up Carioca carnival with a truly creative and elegant<br />

show, <strong>Beija</strong>-<strong>Flor</strong>’s para<strong>de</strong> in 2010 will be full of surprises<br />

and emotions that promise to whip spectators into a frenzy<br />

of dreams and passions. With this theme, the blue and<br />

white crew from <strong>Nilópolis</strong> will present a Brasília different<br />

than we know, <strong>de</strong>mystifying the city’s association with the<br />

country’s politics.<br />

The theme is a commemoration of the fe<strong>de</strong>ral capital that<br />

was a dream even of Brazil’s in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nce movement hero<br />

Tira<strong>de</strong>ntes at the time of the Inconfidência uprising in the<br />

eighteenth century, and that finally became reality un<strong>de</strong>r<br />

Presi<strong>de</strong>nt Juscelino Kubitscheck so many years later, through<br />

the arduous work of the candangos, the laborers who came<br />

from all over the country to build the i<strong>de</strong>alized city, creating<br />

as well the miscegenation that still marks the city today,<br />

making it a great racial and cultural melting pot.<br />

With its eye on another title, <strong>Beija</strong>-<strong>Flor</strong> has prepared a different<br />

para<strong>de</strong> from anything it has ever done. To do this, it<br />

called on the multiple talents of its carnival committee, formed<br />

of Alexandre Louzada, Ubiratan Silva, Fran Sérgio and the<br />

group’s general director, Laila. Together their challenge was<br />

to find a new way to present Brasília. “We tried to trace out<br />

Fevereiro 2010<br />

Foto: Acervo BrasíliaTur / Luiz Trazzi Martins


a history that goes beyond everyone’s expectations, that is,<br />

to present something of the region’s prehistory, and then to<br />

<strong>de</strong>pict all the coinci<strong>de</strong>nces and inspirations that entered the<br />

heads of those who i<strong>de</strong>alized and built the city, and show that<br />

today it is a result of these inspirations, in a history that goes<br />

back 3,000 years before Christ,” says Louzada.<br />

STUDYING THE PATH FOLLOWED<br />

<strong>Beija</strong>-<strong>Flor</strong> has unquestionably been growing ever more<br />

exuberant on the avenue, earning it the en<strong>de</strong>aring nickname<br />

of the “princess of the para<strong>de</strong>”, but to live up to this fame<br />

takes plenty of hard work and <strong>de</strong>dication. After all, it’s no<br />

mean feat to stay atop the LEISA ranking, an honor gained<br />

for being champion in five of the past seven carnivals.<br />

The first big challenge for the group from <strong>Nilópolis</strong> for the<br />

2010 carnival will be to surpass its own past performances.<br />

To achieve this, the school is focusing on its own errors, to<br />

be as perfect as possible. “We’re investing to correct various<br />

points where we fell short in last year’s carnival. We examined<br />

the reasoning of the jury members and saw what was coherent<br />

and what wasn’t, where they were right and where we<br />

disagreed. And we realized that we really had erred in some<br />

aspects, and this year we intend to correct and improve these,<br />

so we won’t make the same mistakes this year as we did in<br />

2009,” states Ubiratan Silva, or Bira as he’s better known.<br />

For this reason, this year Laila has been even more engaged<br />

as carnival director and he <strong>de</strong>serves to be highlighted for this.<br />

Laila has overseen the preparations for this year’s carnival<br />

meticulously, checking every <strong>de</strong>tail, discussing every point,<br />

being more <strong>de</strong>manding of himself and all the other members<br />

of the carnival committee and the work crew, so that each<br />

can achieve his or her best.<br />

According to Fran Sérgio, the lea<strong>de</strong>rs and the rest of the<br />

group from <strong>Nilópolis</strong> are very <strong>de</strong>manding of each other, in<br />

the positive sense of the word. “We have a notable history of<br />

winning Carioca carnival championships. While respecting<br />

our peers, we know we always have a chance of winning<br />

if we prepare properly. We’ve got unmatched experience,<br />

good i<strong>de</strong>as, good sambas, excellent staff and lots and lots<br />

of heart. All of us are severe self-critics, and this is what<br />

makes our school get better and more beautiful every year.<br />

And Laíla’s involvement and guidance are essential in this<br />

process, because they instill in each of us the <strong>de</strong>sire to work<br />

better, to do our best,” he reveals.<br />

The result of this is a backstage climate of harmonious effort<br />

and <strong>de</strong>dicated rehearsal among the blue and white crew.<br />

Besi<strong>de</strong>s correcting the errors i<strong>de</strong>ntified, the group is investing<br />

in big surprises. According to Alexandre Louzada, “<strong>Beija</strong>-<strong>Flor</strong><br />

always prepares surprises for the avenue. This doesn’t necessarily<br />

mean something high-tech. We want to surprise people<br />

with the richness of this theme, which at first glance might<br />

appear banal, a simple homage, a purely sponsored theme.<br />

But there’s a beautiful story to be told. One of the surprises can<br />

occur with the theaters that Hilton Castro will create on the<br />

ground. But the big surprise, in my point of view, will be the<br />

realization of a totally different carnival para<strong>de</strong> from anything<br />

seen so far. Very different because Laila doesn’t want anything<br />

like what’s been done before. I think the big surprise will be this<br />

change: lighter costumes, more elaborate floats, because we’re<br />

talking about architectural works that are world renowned,<br />

and we have to respect what Oscar Niemeyer sketched out.<br />

This has to be in the forefront and with no mistakes because<br />

Brasília is one of the world’s architectural icons.”<br />

And no story of this capital of hope would be complete<br />

without remembering the great visionaries who were involved,<br />

directly or indirectly, in its construction, names of<br />

great importance not only for Brasília’s construction, but<br />

for Brazil’s as well, particularly Oscar Niemeyer and Lúcio<br />

Costa, the creators of the Pilot Project.<br />

But to surpass expectations, extensive research was done to<br />

create a para<strong>de</strong> worthy of <strong>Beija</strong>-<strong>Flor</strong>’s great tradition and<br />

Brasília’s huge importance. With all their experience and<br />

skill, the staff members managed to <strong>de</strong>velop para<strong>de</strong> motifs<br />

and theme music that go beyond what people usually think<br />

about the country’s capital. The blue and white will take to<br />

the avenue a planned city, a veritable work of art, located<br />

in our country’s heartland, recognized today as a World<br />

Heritage Site, but also our working capital. The aim is to<br />

impart love and respect for this metropolis.<br />

And in this effort, the school as always counts on the support<br />

of the <strong>Nilópolis</strong> community, its tra<strong>de</strong>mark, to give that<br />

extra boost to its para<strong>de</strong>. The public will see this difference<br />

in a shining para<strong>de</strong> and hear it in a smooth and melodious<br />

theme samba. According to Laila, this is <strong>Beija</strong>-<strong>Flor</strong>’s real<br />

trump card: “We’ve got a really strong community, and this<br />

is serving as an example to many other schools. The future<br />

of samba schools rests with the communities, because they’ll<br />

never cease being a wellspring of inspiration.”<br />

With all these ingredients, <strong>Beija</strong>-<strong>Flor</strong>’s 2010 carnival para<strong>de</strong><br />

will be a truly joyous and emotional experience, based on the<br />

hard work and confi<strong>de</strong>nce of everyone involved in seeking<br />

one more in a long line of championships, showing once<br />

again that <strong>Beija</strong>-<strong>Flor</strong> is a carnival group that faces its challenges<br />

and never <strong>de</strong>viates from its goals. “The expectations<br />

are for the best. I think we’re stronger than we’ve ever been,<br />

our spirit of working in harmony will assure that everything<br />

goes right. We’re going to put on a beautiful carnival... <strong>Beija</strong>-<br />

<strong>Flor</strong>, 2010 champion,” predicts Anizio Abrão David.<br />

Revista <strong>Beija</strong>-<strong>Flor</strong> <strong>de</strong> <strong>Nilópolis</strong> www.beija-flor.com.br


Brilhante ao Sol do<br />

Novo Mundo<br />

BRASÍLIA<br />

Do Sonho à Realida<strong>de</strong>, a<br />

Capital da Esperança<br />

Fevereiro 2010


ABERTURA<br />

DáDivas<br />

ConCeDiDas<br />

pelo CriaDor<br />

num sonho<br />

Divinal<br />

Ala: Comissão <strong>de</strong><br />

Frente<br />

Presi<strong>de</strong>nte: Ghislaine<br />

Cavalcante<br />

Número <strong>de</strong> Componentes:<br />

15<br />

O beija-flor, símbolo vivo<br />

do G.R.E.S. <strong>Beija</strong>-<strong>Flor</strong> <strong>de</strong><br />

<strong>Nilópolis</strong> voa velozmente, ultrapassando<br />

as fronteiras do tempo,<br />

materializando o vislumbre que apontava<br />

para o local on<strong>de</strong> <strong>de</strong>veria ser construída a<br />

futura capital do Brasil, então representada<br />

por um <strong>de</strong> seus mais suntuosos monumentos, a<br />

Catedral <strong>de</strong> Brasília.<br />

O pequenino pássaro baila entre a legião <strong>de</strong> arautos<br />

que conduziram o espírito celestial que fez,<br />

através <strong>de</strong> um sonho, a gran<strong>de</strong> anunciação para o<br />

padre Dom Bosco.<br />

“... quando vierem explorar as riquezas prometidas<br />

neste planalto, surgirá aqui a Gran<strong>de</strong> Civilização, a<br />

Terra Prometida, on<strong>de</strong> jorrará leite e mel...”<br />

O Desfile das Escolas <strong>de</strong> Samba do Grupo Especial<br />

vem se tornando, a cada ano, uma arena <strong>de</strong> arte<br />

e competição. As agremiações, comprometidas<br />

com resultados que as levem a brigar pelo título<br />

<strong>de</strong> campeã, investem cada vez mais em inovação<br />

e criativida<strong>de</strong>.<br />

Na <strong>Beija</strong>-<strong>Flor</strong> <strong>de</strong> <strong>Nilópolis</strong> as surpresas já iniciam<br />

no formato da comissão <strong>de</strong> frente, agora integrada<br />

por rapazes mais jovens que nos anos anteriores<br />

– uma média <strong>de</strong> 20 anos <strong>de</strong> ida<strong>de</strong>. Segundo a core-<br />

0 Revista <strong>Beija</strong>-<strong>Flor</strong> <strong>de</strong> <strong>Nilópolis</strong> www.beija-flor.com.br


ógrafa Ghislaine Cavalcanti, “o enredo <strong>de</strong>sse ano<br />

é muito especial. Ele permitiu que concebêssemos<br />

movimentos bem interessantes que, tenho certeza,<br />

agradarão ao público. Esses movimentos, no entanto,<br />

vão exigir mais agilida<strong>de</strong> e dinâmica <strong>de</strong> cada<br />

um <strong>de</strong>les, o que justificou a mudança na formação<br />

da equipe. Para o carnaval <strong>de</strong> 2010, vamos entrar<br />

na avenida com 14 homens – todos eles jovens – e<br />

apenas uma mulher.”<br />

Mas as surpresas não param por aí. Abusando <strong>de</strong><br />

um belo figurino, concebido especialmente pelo <strong>de</strong>signer<br />

Henrique Filho, a comissão <strong>de</strong> frente promete<br />

empolgar o público do primeiro setor com muita<br />

alegria, beleza e criativida<strong>de</strong>.<br />

Criativida<strong>de</strong> que, aliás, é uma marca imposta<br />

pela Coreógrafa Ghislaine Cavalcanti, que comemora<br />

com muita alegria 14 anos na direção da<br />

comissão <strong>de</strong> frente da agremiação <strong>de</strong> <strong>Nilópolis</strong>.<br />

“Quatorze anos é um tempo consi<strong>de</strong>rável <strong>de</strong>ntro<br />

<strong>de</strong> uma escola <strong>de</strong> samba. E o que me <strong>de</strong>ixa muito<br />

feliz e realizada é saber que pu<strong>de</strong> dar a minha<br />

contribuição – pelo meu conhecimento e pela<br />

minha experiência como bailarina – a essa escola<br />

<strong>de</strong> samba que tem como marca a vanguarda.<br />

Acredito que aju<strong>de</strong>i a construir um capítulo <strong>de</strong>ssa<br />

história vitoriosa, que é a história da <strong>Beija</strong>-<strong>Flor</strong><br />

<strong>de</strong> <strong>Nilópolis</strong>. E isso me <strong>de</strong>ixa muito realizada”,<br />

confi<strong>de</strong>ncia a coreógrafa.<br />

o Brilhante olhar De JaCi<br />

Ala: 1o Casal MS e PB<br />

Presi<strong>de</strong>nte: Selmynha SorrisoZ & Claudinho<br />

Número <strong>de</strong> Componentes: 2<br />

Jaci (do Tupi îasy, “lua”), na mitologia Tupi, é a <strong>de</strong>usa<br />

da Lua, protetora dos amantes e da reprodução.<br />

Segundo o Mito Goyás, uma versão indígena para<br />

a formação geográfica da capital Brasília, por contrariar<br />

os <strong>de</strong>sígnios do supremo Deus Tupã, a <strong>de</strong>usa<br />

foi con<strong>de</strong>nada a ficar eternamente no céu, sob a<br />

forma <strong>de</strong> lua. O romântico brilho do luar tornou-se<br />

seu único elo com Paranoá, através <strong>de</strong> seu reflexo<br />

nas águas do lago Paranoá.<br />

a Futura Capital presenCia<br />

a Quimera De sua GeoGraFia<br />

Ala: Força Negra<br />

Presi<strong>de</strong>nte: Alessandra Oliveira<br />

Número <strong>de</strong> Componentes: 15<br />

Gislaine Cavalcanti.<br />

a FasCinante<br />

ira De tupã<br />

Ala: Primavera<br />

Presi<strong>de</strong>nte: Aroldo Carlos<br />

Número <strong>de</strong> Componentes:<br />

100<br />

Consoante o Mito Goyás,<br />

Tupã, o Deus supremo,<br />

fica irado e enciumado da<br />

paixão <strong>de</strong> Jaci, a Deusa<br />

Lua, pelo índio Paranoá e,<br />

em meio à raios e trovões,<br />

retira o encanto <strong>de</strong> Jaci, a<br />

con<strong>de</strong>nando a ser somente<br />

lua, e transformando<br />

Paranoá em um lago..<br />

aleGoria aBre-alas<br />

“o nasCer Do mito Goyás<br />

- o reFlexo Do amor nas<br />

áGuas Do paranoá”<br />

harmonia Do setor:<br />

anízio, laíla & marCos aurélio<br />

Fevereiro 2010


SAGRAÇÃO NEGRA<br />

NA SAPUCAÍ<br />

Selminha e Claudinho celebram 15<br />

anos <strong>de</strong> realeza na Deusa da Passarela<br />

Dunga Tara Singuerê: Salve o gran<strong>de</strong> Senhor! O verso<br />

<strong>de</strong>ste samba-enredo, herança da riqueza do imaginário<br />

africano diversas vezes cantado pela <strong>Beija</strong>-<strong>Flor</strong> <strong>de</strong><br />

<strong>Nilópolis</strong>, certamente formaria um emocionado coro<br />

<strong>de</strong> canto e reza do país do carnaval em agra<strong>de</strong>cimento<br />

e louvor a Selminha Sorriso e Claudinho, primeiro<br />

casal <strong>de</strong> mestre-sala e porta-ban<strong>de</strong>ira da azul e branco,<br />

cujo bailado nobre é signo <strong>de</strong> consagração ritualística<br />

<strong>de</strong> beleza, sedução, magia e religiosida<strong>de</strong>.<br />

O mo<strong>de</strong>rno e luxuoso <strong>de</strong>sfile das escolas <strong>de</strong> samba<br />

do Rio <strong>de</strong> Janeiro, em sua complexa e apaixonante<br />

unida<strong>de</strong> estética e dramática, entrou no terceiro milênio<br />

reafirmando a força das culturas populares brasileiras<br />

em intercorrência com as novas mídias, tecnologias<br />

e sua peculiar capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> atualização <strong>de</strong><br />

seu caráter ritualístico que o consagrou como o maior<br />

espetáculo da terra <strong>de</strong>ntre os diversos<br />

eventos <strong>de</strong>sta natureza no planeta.<br />

É, sem dúvida, esse <strong>de</strong>nso ritual<br />

<strong>de</strong> canto e dança herdado<br />

<strong>de</strong> nossa mãe África, cujos<br />

ancestrais tambores<br />

são matrizes do espetác<br />

u l o do samba carioca<br />

e m forma <strong>de</strong><br />

cortejo d a n ç a d o<br />

que ins- t a u r a<br />

o sentido d e<br />

r e e n c a n -<br />

tamento do<br />

mundo contemporâneo.<br />

Na diversida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

modalida<strong>de</strong>s coreográficas<br />

revelada na<br />

Sapucaí, encontramos a<br />

singular dança do casal<br />

mestre-sala e porta-ban<strong>de</strong>ira,<br />

que concilia e sintetiza<br />

a um só tempo aspectos<br />

MIGUEL SANTA BRIGIDA<br />

das linguagens dramática, teatral, coreográfica e<br />

performática, <strong>de</strong>ntre outras, além dos códigos e<br />

passos característicos <strong>de</strong>sta dança que <strong>de</strong>finem a<br />

sua tradição. É no rico universo <strong>de</strong>sses casais <strong>de</strong><br />

dançarinos, espécie <strong>de</strong> constelação <strong>de</strong> estrelas negras,<br />

que brilha <strong>de</strong> maneira especial e reluzente, há<br />

quinze anos - o sorriso <strong>de</strong> Selminha e a alegria <strong>de</strong><br />

Claudinho - fazendo o céu nilopolitano iluminar <strong>de</strong><br />

azul e prata o nosso país.<br />

Dançando juntos na escola há quinze anos, o casal se<br />

consagrou com todas as honras e glórias que todos<br />

os casais ambicionam: receberam notas máximas dos<br />

jurados em quase todos os <strong>de</strong>sfiles, diversos estandartes<br />

<strong>de</strong> ouro, além <strong>de</strong> uma infinida<strong>de</strong> <strong>de</strong> prêmios<br />

que, a cada ano, enriquecem suas galerias sublinhando<br />

suas trajetórias <strong>de</strong> excelência coreográfica.<br />

Revista <strong>Beija</strong>-<strong>Flor</strong> <strong>de</strong> <strong>Nilópolis</strong> www.beija-flor.com.br


Para além do domínio técnico e expressivo <strong>de</strong> sua<br />

dança, que contempla <strong>de</strong> forma ilustre todas as responsabilida<strong>de</strong>s,<br />

<strong>de</strong>veres e predicados que um primeiro<br />

casal requer, Selminha e Claudinho brindam<br />

o país com momentos <strong>de</strong> rara beleza e poética ao<br />

atravessarem com enorme arrebatamento e sentido<br />

ritualístico o mar <strong>de</strong> emoção e paixão que se<br />

configura o rio-rito mágico da cena sapucainiana.<br />

Num traço personalizado <strong>de</strong> suas criações, o casal<br />

é responsável por suas próprias coreografias, numa<br />

assinatura autoral <strong>de</strong> suas performances que a<br />

cada enredo apresenta um vocabulário gestual em<br />

consonância com o imaginário e contexto do tema<br />

e do samba escolhido pela escola. Esta dança autoral<br />

é vital para a originalida<strong>de</strong> da cena coreográfica<br />

do casal, que dispensa coreógrafos profissionais,<br />

hábito cada vez mais comum nas gran<strong>de</strong>s escolas e<br />

que tem gerado alguns equívocos na compreensão<br />

e realização <strong>de</strong>sta dança.<br />

Nesses anos <strong>de</strong> parceria no mundo do samba nasceu<br />

uma bonita amiza<strong>de</strong>, construída com afeto e<br />

respeito. Em sua generosida<strong>de</strong> <strong>de</strong> doação e beleza,<br />

Selminha e Claudinho multiplicam-se em cumplicida<strong>de</strong><br />

também em outra profissão, ao integrarem<br />

o Corpo <strong>de</strong> Bombeiros, on<strong>de</strong> o casal faz <strong>de</strong> seus<br />

gestos a <strong>de</strong>licada e corajosa arte <strong>de</strong> contribuir para<br />

salvar vidas.<br />

Mas é na passarela do samba que, ao dançarem<br />

eles rezam, celebram, louvam, agra<strong>de</strong>cem, seduzem<br />

e, sobretudo, enamoram-se. É quando Claudinho,<br />

simbolicamente alado, incorpora sua escola,<br />

tornando-se um beija-flor encantado e seduzido<br />

pelo belo sorriso e beleza <strong>de</strong><br />

sua flor, Selminha. Ele então<br />

a beija e a oferece<br />

ao mundo, brindando<br />

mais uma vez o amor e<br />

a vida.<br />

É nesta contracena <strong>de</strong><br />

poesia que eles elevamnossas<br />

almas<br />

pelo po<strong>de</strong>r<br />

mágico <strong>de</strong><br />

seus corpos<br />

em<br />

estado<br />

<strong>de</strong><br />

amor<br />

ao samba e a escola. Seus corpos apren<strong>de</strong>ram a<br />

dançar nas escolas <strong>de</strong> samba, em suas vivências e<br />

experiências <strong>de</strong> construírem juntos sua dança no<br />

estar - junto com a comunida<strong>de</strong> e o no sentido da<br />

experiência coletiva que o samba promove. Não<br />

são corpos moldados em aca<strong>de</strong>mias <strong>de</strong> dança, e<br />

sim <strong>de</strong>senhados na cadência e ritmo do tambor. E<br />

é sob o signo da paixão que sua dança revela uma<br />

profunda sintonia espiritual, artística e espetacular.<br />

E os <strong>de</strong>uses africanos os abençoam do alto do panteão,<br />

e tudo neles é sagrado.<br />

Como legítimos filhos da <strong>de</strong>usa nilopolitana, o casal,<br />

em sua iluminada trajetória no carnaval brasileiro,<br />

avançou sua dança para outros espaços <strong>de</strong> transmissão<br />

<strong>de</strong> sua arte, sabedoria e respeito às escolas<br />

<strong>de</strong> samba e à cultura brasileira. Eles sistematicamente<br />

ministram cursos no país inteiro e no exterior.<br />

Selminha criou e coor<strong>de</strong>na a escola <strong>de</strong> mestre-sala<br />

e porta-ban<strong>de</strong>ira da <strong>Beija</strong>-flor, <strong>de</strong>volvendo e comungando<br />

saber e sabedoria com a comunida<strong>de</strong>.<br />

Ao comemorarem quinze anos conduzindo o pavilhão<br />

da escola, Selminha e Claudinho merecem<br />

todas as homenagens da comunida<strong>de</strong> nilopolitana,<br />

e em especial do país, que se reconhece na brasilida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> sua dança. E a <strong>de</strong>usa da passarela continuará<br />

abençoando o rei e a rainha <strong>de</strong> seus <strong>de</strong>sfiles,<br />

ofertando ao mundo a força mítica, mística e<br />

miscigenada <strong>de</strong> seu bailado. E assim, o samba e<br />

os <strong>de</strong>uses permitirão que se diga então: “são eles<br />

maravilhosos e soberanos enamorados <strong>de</strong>sse meu<br />

país.” Salve o Gran<strong>de</strong> Senhor!<br />

______________<br />

Miguel Santa Brigida é doutor em Artes Cênicas<br />

e Pesquisador <strong>de</strong> Carnaval.<br />

Fevereiro 2010


pássaro saGraDo e o plano<br />

piloto<br />

Ala: Karisma<br />

Presi<strong>de</strong>nte: Cleber Moura<br />

Número <strong>de</strong> Componentes: 70<br />

Nekhebet, a Deusa-Abutre, é uma divinda<strong>de</strong> da antiga<br />

religião egípcia. Deusa <strong>de</strong> todo o Alto Egito<br />

e uma das protetoras da realeza egípcia, protegia<br />

ainda os nascimentos, em especial o nascimento<br />

dos reis. Era representada como um abutre, como<br />

uma mulher com cabeça ou toucador em forma <strong>de</strong><br />

abutre, ou ainda como uma mulher com a coroa<br />

branca do Alto Egito. Entre os epítetos utilizados<br />

para se referir à <strong>de</strong>usa, encontram-se “Senhora<br />

dos Céus” e “Regente das Duas Terras” (o Alto e<br />

o Baixo Egito), daí ser consi<strong>de</strong>rada o elo entre os<br />

dois Egitos.<br />

<strong>SE</strong>TOR 01Deus nekheBet – o vôo Do<br />

akhenaton - o revoluCionário<br />

FaraôniCo<br />

Ala: Dos Cem<br />

Presi<strong>de</strong>nte: Terezinha Simões<br />

Número <strong>de</strong> Componentes: 70<br />

Ala: Amar é Viver<br />

Presi<strong>de</strong>nte: Teresinha Alves<br />

O faraó Akhenaton, visionário, revolucionário e<br />

i<strong>de</strong>alista, fundou uma nova capital, batizada com o<br />

seu nome – que significa “o horizonte <strong>de</strong> Aton”. O<br />

faraó impulsionou o monoteísmo, instituindo o <strong>de</strong>us<br />

Aton como a única divinda<strong>de</strong> a ser cultuada, sendo<br />

o próprio faraó o único representante e mediador<br />

<strong>de</strong>ssa divinda<strong>de</strong>. A cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Akhenaton apresenta<br />

muitas semelhanças com Brasília, no que diz respeito<br />

à construção e ao traçado da cida<strong>de</strong>.<br />

os templos Do Deus sol e<br />

as CiDaDes satélites<br />

Ala: Jovem Flu<br />

Presi<strong>de</strong>nte: Sérgio Ayub<br />

Número <strong>de</strong> Componentes: 70<br />

O <strong>de</strong>us egípcio Aton, uma manifestação do <strong>de</strong>us<br />

solar, era representado fisicamente pelo disco solar.<br />

Aton surgiu a partir do monte Benben, e iniciou<br />

a criação do mundo. O faraó Akhenaton era <strong>de</strong>voto<br />

<strong>de</strong> Aton, e mandou construir vários templos em<br />

homenagem ao <strong>de</strong>us solar, além <strong>de</strong> ter criado um<br />

hino e fundado a nova capital do Egito para celebrá-lo.<br />

neFertiti – a Beleza Feminina<br />

Como Fonte De inspiração<br />

Ala: As Guerreiras<br />

Presi<strong>de</strong>nte: Norma Pereira & Carlos Dantas<br />

Número <strong>de</strong> Componentes: 70<br />

Nefertiti, também chamada <strong>de</strong> Nefertiit ou Nefronete,<br />

foi rainha do Egito. A união com Akhenaton fez com<br />

que Nefertiti alcançasse um protagonismo político<br />

sem antece<strong>de</strong>ntes entre as esposas reais. A<strong>de</strong>pta<br />

fervorosa do culto atoniano, <strong>de</strong>sempenhava um papel<br />

central nas concepções religiosas <strong>de</strong> Akhenaton. Seu<br />

nome significa “a bela que chegou”.<br />

sumo saCerDote - a imponênCia<br />

Da arQuitetura<br />

reliGiosa<br />

Ala: Camaleão Dourado<br />

Presi<strong>de</strong>nte: Waltemir Valle<br />

Ala: Uni-Rio<br />

Presi<strong>de</strong>nte: André Porfírio<br />

Número <strong>de</strong> Componentes: 70<br />

No Antigo Egito o rei ou faraó era o elo entre o mundo<br />

dos homens e o mundo dos <strong>de</strong>uses. Como não era<br />

possível o rei estar presente fisicamente em todos os<br />

templos egípcios para celebrar os cultos, ele <strong>de</strong>legava<br />

o seu po<strong>de</strong>r religioso aos sumos sacerdotes, que<br />

conduziam as cerimônias em seu nome. Os Sumos<br />

Sacerdotes eram os Servidores <strong>de</strong> Deus, que realizavam<br />

o culto diário representando o faraó. Tinham<br />

enorme po<strong>de</strong>r e prestígio, tanto espiritual como material,<br />

pois administravam as riquezas e os bens dos<br />

gran<strong>de</strong>s e ricos templos. Eram também os sábios do<br />

Egito, guardadores dos segredos das ciências e dos<br />

mistérios religiosos com seus inúmeros <strong>de</strong>uses.<br />

a DivinDaDe Do DisCo solar<br />

Ala: 1o Passista & Passista Destaque<br />

Presi<strong>de</strong>nte: Cássio Dias & Jaqueline Faria<br />

Número <strong>de</strong> Componentes: 2<br />

aleGoria 01<br />

“akhetaton - erGueu-se<br />

no eGito a Fonte De inspiração”<br />

harmonia Do setor:<br />

Celso Bastos & luis CláuDio<br />

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Fevereiro 2010


avás-Canoeiros<br />

Ala: Foco <strong>de</strong> Luz<br />

Presi<strong>de</strong>nte: Mariza dos Santos<br />

Número <strong>de</strong> Componentes: 70<br />

Os índios Avás-Canoeiros, também conhecidos<br />

como Canoeiros, Carijós, Índios Negros ou Caras-<br />

Pretas, compõem uma tribo indígena brasileira, a<br />

qual localiza-se na região Centro-Oeste e fala uma<br />

língua da família Tupi-Guarani. As marchas dos<br />

<strong>de</strong>sbravadores na direção do interior do Planalto<br />

Central, rasgando o coração da mata, principalmente<br />

em busca <strong>de</strong> riquezas minerais e indígenas<br />

para escravização, ocasionaram um choque cultural<br />

para as tribos indígenas que habitavam a região e a<br />

subjugação dos Avás-Canoeiros.<br />

<strong>SE</strong>TOR 02a suBJuGação Dos ínDios<br />

o Desrespeito aos ínDios<br />

Javaes<br />

Ala: Bem Querer<br />

Presi<strong>de</strong>nte: Osvaldo Luiz Corrêa & Wanda Merce<strong>de</strong>s<br />

Número <strong>de</strong> Componentes: 70<br />

A tribo dos índios Javaes, um dos três subgrupos<br />

em que se divi<strong>de</strong>m os índios Karajá, está localizada<br />

na região Centro-Oeste. Este povo fala a língua<br />

Javaé/Iny, além do português. As marchas dos<br />

<strong>de</strong>sbravadores na direção do interior do Planalto<br />

Central, rasgando o coração da mata, principalmente<br />

em busca <strong>de</strong> riquezas minerais e indígenas<br />

para escravização, <strong>de</strong>srespeitaram os índios Javaes<br />

e ocasionaram um choque cultural para as tribos<br />

indígenas que habitavam a região.<br />

as arreBataDas minas De<br />

ouro Dos ínDios Goyazes<br />

Ala: Baianas I<br />

Presi<strong>de</strong>nte: Pai Jorge<br />

Número <strong>de</strong> Componentes: 110<br />

Os índios Goyazes, também <strong>de</strong>nominados Goiases,<br />

Guayazes, Guaiás, Guoyá, Goyá ou Goiá povoaram<br />

as terras da nascente do rio Vermelho e a região<br />

próxima à Serra Dourada, sendo consi<strong>de</strong>rados a<br />

tribo ou nação aborígine do Centro-Oeste. Acredita-se<br />

que os silvícolas Goyazes tenham se extinguido<br />

com a chegada do <strong>de</strong>sbravador Anhangüera,<br />

dizimados pelo violento embate com os sertanistas,<br />

ávidos por riquezas, principalmente o ouro encontrado<br />

nas minas Goyazes durante o processo <strong>de</strong><br />

ocupação e exploração.<br />

AS BAIANAS DA BEIJA-FLOR<br />

(RENATA LEAL)<br />

As baianas foram incluídas nos <strong>de</strong>sfiles das escolas<br />

<strong>de</strong> samba nos anos 30, como uma homenagem às<br />

“tias baianas” que abrigavam sambistas em suas<br />

casas, marginalizados e perseguidos que eram, na<br />

época, pela prática <strong>de</strong>sse gênero musical.<br />

Essas senhoras, cozinheiras <strong>de</strong> mão cheia, confeitavam<br />

<strong>de</strong>liciosos quitutes, que vendiam pelas ruas<br />

do Rio <strong>de</strong> Janeiro.<br />

Com suas vestimentas características - saia rodada,<br />

pano da costa, roupa rendada - e seus colares e pulseiras,<br />

elas foram se integrando ao cenário cotidiano<br />

da cida<strong>de</strong> para ganharem, então, a atenção e o respeito<br />

das classes dominantes cariocas.<br />

Era ao redor dos tabuleiros com seus quitutes que<br />

elas estabeleciam seus contatos sociais mais amplos,<br />

criando laços e se estabelecendo <strong>de</strong>finitivamente<br />

no cenário cultural carioca.<br />

Muito respeitadas pela comunida<strong>de</strong><br />

negra, as “tias baianas” em<br />

sua comunida<strong>de</strong> exerciam a função<br />

<strong>de</strong> mãe-<strong>de</strong>-santo <strong>de</strong> candomblé<br />

e, por essa razão, participavam<br />

ativamente do cotidiano dos<br />

cidadãos negros e suas famílias<br />

- formada por homens e mulheres<br />

vindos principalmente da Bahia.<br />

As casas <strong>de</strong>ssas “tias” eram, então,<br />

pontos <strong>de</strong> reunião e resistência<br />

da comunida<strong>de</strong> negra. Lá, além<br />

dos rituais e cultos afro-brasileiros,<br />

que fortaleciam suas raízes religiosas,<br />

eram realizados encontros re-<br />

Revista <strong>Beija</strong>-<strong>Flor</strong> <strong>de</strong> <strong>Nilópolis</strong> www.beija-flor.com.br


gados ao samba na sua expressão mais original.<br />

E por ser uma festa popular que representava e fortalecia<br />

os simbolismos do cotidiano do subúrbio da<br />

cida<strong>de</strong> da Rio <strong>de</strong> Janeiro, o Desfile <strong>de</strong> carnaval e seus<br />

blocos naturalmente inseriu a baiana nesse universo.<br />

Para o diretor <strong>de</strong> carnaval da <strong>Beija</strong>-<strong>Flor</strong> <strong>de</strong> <strong>Nilópolis</strong>,<br />

Laíla, as baianas sempre foram figuras representativas<br />

das suas escolas. “É a mãezona! A ala<br />

<strong>de</strong> maior respeito no <strong>de</strong>sfile <strong>de</strong> carnaval. Seja on<strong>de</strong><br />

for. E a <strong>Beija</strong>-<strong>Flor</strong> <strong>de</strong> <strong>Nilópolis</strong> tem um carinho todo<br />

especial por suas avós e tias baianas. Neste ano,<br />

serão 170 mulheres brilhando, e entre elas estarão<br />

senhoras <strong>de</strong> garra e tradição como a Vó O<strong>de</strong>te,<br />

71 anos, a Vó Maria, 75 anos e a Vó Ana Nízia,<br />

69 anos. E fazemos questão <strong>de</strong> ter essas senhoras<br />

em nossa Ala das Baianas: somos uma escola<br />

<strong>de</strong> samba tradicional e por isso não abrimos mão<br />

<strong>de</strong> termos na ala das baianas as verda<strong>de</strong>iras vovós<br />

baianas. Somos a agremiação que mantém senhoras<br />

<strong>de</strong> faixa etária mais elevada representando a<br />

comunida<strong>de</strong> na Avenida”, <strong>de</strong>clara Laíla.<br />

Senhoras como a Vó Nadyr, 93 anos, que <strong>de</strong>sfilando<br />

<strong>de</strong>s<strong>de</strong> os 19 anos na ala <strong>de</strong> baianas da <strong>Beija</strong>-<strong>Flor</strong>,<br />

fazem parte da história <strong>de</strong> tradição da escola e também<br />

daquelas baianas que começaram a participar<br />

do carnaval na década <strong>de</strong> 30. Vó Nadyr é a baiana<br />

mais antiga da comunida<strong>de</strong> e só parou <strong>de</strong> <strong>de</strong>sfilar<br />

na Ala das Baianas há 5 anos. Ela carrega o i<strong>de</strong>al <strong>de</strong><br />

ser baiana no peito: “Eu tenho o maior orgulho <strong>de</strong> ter<br />

sido baiana, e tenho certeza que a nossa ala é muito<br />

importante para o carnaval e para as escolas”.<br />

Mas ela não <strong>de</strong>ixou os <strong>de</strong>sfiles, apesar da ida<strong>de</strong>.<br />

Vó Nadyr não consegue mais carregar as fantasias<br />

<strong>de</strong> baiana, e agora sai no carro alegórico, representando<br />

o respeito que a <strong>Beija</strong>-<strong>Flor</strong> <strong>de</strong> <strong>Nilópolis</strong> tem<br />

por suas baianas e por sua tradição. “Eu tenho um<br />

orgulho imenso <strong>de</strong> ter sido baiana e vou continuar<br />

sempre com esse entusiasmo no meu coração”.<br />

Vó Nadyr viveu a época em que a saia não tinha<br />

bambolê para ficar tão rodada, e as baianas tinham<br />

que colocar goma misturada com farinha <strong>de</strong> trigo e<br />

<strong>de</strong>pois esten<strong>de</strong>r ao sol para secar. “Eu espero ser<br />

um estímulo para novas baianas e também uma<br />

fonte inspiração”, diz Vó Nadyr.<br />

O PESO DE UMA RESPONSABILIDADE<br />

A ala das baianas não é quesito <strong>de</strong> julgamento do<br />

<strong>de</strong>sfile, mas é indispensável para o carnaval carioca.<br />

Elas são as mulheres <strong>de</strong> raça e tradição da Avenida.<br />

“É o coração da escola”, <strong>de</strong>clara o lí<strong>de</strong>r das<br />

baianas da <strong>Beija</strong>-<strong>Flor</strong>, Humberto Martins, o Beto.<br />

A ala das baianas é uma unanimida<strong>de</strong> entre os re-<br />

presentantes da escola. Alexandre Louzada afirma<br />

que as baianas são o xodó <strong>de</strong> qualquer carnavalesco.<br />

“Eu tenho uma estima especial pelas baianas,<br />

pelo que elas representam, pelo que a Vó Nadyr<br />

representa para a escola.” Para Laíla, a Vó Nadyr,<br />

baiana mais antiga, é “a mãe das baianas da <strong>Beija</strong>-<br />

<strong>Flor</strong> e vai ser eternamente”.<br />

o aprisionamento Dos ín-<br />

Dios CaraJás<br />

Ala: É Show<br />

Presi<strong>de</strong>nte: Rosimere Ezequiel & Carlos Roberto<br />

Número <strong>de</strong> Componentes: 70<br />

Os índios Carajás, cuja vida social baseia-se na<br />

família extensa, vivem tradicionalmente da agricultura,<br />

da caça <strong>de</strong> animais da região, e principalmente<br />

da pesca. As marchas dos <strong>de</strong>sbravadores na<br />

direção do interior do Planalto Central, rasgando<br />

o coração da mata, principalmente em busca <strong>de</strong><br />

riquezas minerais e indígenas para aprisionar e escravizar,<br />

ocasionaram um choque cultural para as<br />

tribos indígenas que habitavam a região.<br />

os BanDeirantes e a esCravização<br />

inDíGena<br />

Ala: Pura Raça<br />

Presi<strong>de</strong>nte: Edson Reis<br />

Número <strong>de</strong> Componentes: 70<br />

Denominam-se ban<strong>de</strong>irantes os sertanistas que,<br />

a partir do século XVI, penetraram nos sertões<br />

brasileiros buscando encontrar riquezas minerais<br />

(sobretudo a prata), indígenas para escravizar, e<br />

exterminar quilombos. A maioria dos ban<strong>de</strong>irantes<br />

era composta por índios (escravos e aliados), caboclos<br />

(mestiços <strong>de</strong> índio com branco) e alguns brancos,<br />

que eram os capitães. Os caboclos eram os<br />

principais elementos do grupo, pois eram a ligação<br />

direta entre o branco-colonizador e o nativo que<br />

conhecia as terras.<br />

aleGoria 02<br />

“anhanGuera - o DesBrava-<br />

Dor rasGa o Coração Da<br />

mata”<br />

harmonia Do setor:<br />

Gilvan riBeiro & eDuarDo sumaré<br />

Fevereiro 2010


nhã<br />

Ala: Comigo Ninguém Po<strong>de</strong><br />

Presi<strong>de</strong>nte: Maria Ignêz<br />

Número <strong>de</strong> Componentes: 70<br />

Na época do Império, surgiu no Brasil o emprego <strong>de</strong><br />

acen<strong>de</strong>dor <strong>de</strong> lampião. Cotidianamente, iam caminhando<br />

pelas ruas a parodiar o sol, associandose<br />

à lua e iluminando toda a cida<strong>de</strong>. Acendiam os<br />

lampiões ao cair da noite, voltando para apagá-los<br />

ao amanhecer do novo dia. Executavam a função<br />

<strong>de</strong> modo poético e incansável, tendo sido retratados<br />

nas telas pitorescas do famoso <strong>de</strong>senhista e<br />

pintor francês Jean-Baptiste Debret, artista cujas<br />

obras são exímia importância para a retratação da<br />

História do Brasil.<br />

<strong>SE</strong>TOR 03o aFã De ver um novo ama-<br />

inConFiDênCia mineira<br />

- em BusCa De uma<br />

nova Capital<br />

Ala: Tom & Jerry<br />

Presi<strong>de</strong>nte: Rogério<br />

Coutinho<br />

Número <strong>de</strong><br />

Componentes:<br />

70<br />

A Inconfidência<br />

Mineira foi uma<br />

tentativa <strong>de</strong> revolta<br />

<strong>de</strong> natureza separatista,<strong>de</strong>senca<strong>de</strong>ada<br />

contra a<br />

execução da <strong>de</strong>rrama<br />

e o domínio<br />

português, a qual foi abortada,<br />

pela Coroa portuguesa,<br />

na então capitania <strong>de</strong> Minas<br />

Gerais. Os inconfi<strong>de</strong>ntes,<br />

patriotas da Conjuração Mineira,<br />

<strong>de</strong> 1789, pretendiam<br />

instalar a capital do país na<br />

cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> São João Del Rey /<br />

MG, e alertavam sobre as vantagens <strong>de</strong> a capital<br />

se localizar no interior do país.<br />

tiraDentes - um mártir Da<br />

ConJuração mineira<br />

Ala: Força Total<br />

Presi<strong>de</strong>nte: Hilton Castro<br />

Número <strong>de</strong> Componentes: 56<br />

Joaquim José da Silva Xavier, <strong>de</strong>nominado Tira<strong>de</strong>ntes,<br />

foi preso no Rio <strong>de</strong> Janeiro, acusado <strong>de</strong><br />

crime <strong>de</strong> rebelião e alta traição contra a Coroa, <strong>de</strong><br />

que se constituiu chefe e cabeça na capitania <strong>de</strong><br />

Minas Gerais. Após um longo período <strong>de</strong> interrogatório,<br />

foi julgado e con<strong>de</strong>nado, assumindo toda a<br />

culpa pela Conjuração. Tira<strong>de</strong>ntes foi enforcado no<br />

Largo do Lampadário, no Rio <strong>de</strong> Janeiro, no dia 21<br />

<strong>de</strong> Abril <strong>de</strong> 1792. Dos Inconfi<strong>de</strong>ntes, é o único que<br />

foi executado, o que serviu <strong>de</strong> exemplo. Seu corpo<br />

foi esquartejado e os pedaços foram espalhados ao<br />

longo da estrada que segue para Vila Rica.<br />

Com o objetivo <strong>de</strong> dar um equilíbrio ao <strong>de</strong>sfile da<br />

agremiação <strong>de</strong> <strong>Nilópolis</strong>, nesse ano uma das mais<br />

esperadas alas – as teatrais, compostas por 680<br />

integrantes e dirigidas por Hilton Castro – não se<br />

apresentará nos primeiros setores.<br />

Sucesso nos últimos <strong>de</strong>sfiles <strong>de</strong>vido às inovações<br />

que apresentaram na Avenida, as alas<br />

t e a t r a i s iniciam no setor 3 com<br />

a ala “Tira<strong>de</strong>ntes<br />

– um mártir da<br />

conjuração mineira”.<br />

No entanto, a<br />

gran<strong>de</strong> inovação<br />

– marca dos trabalhos<br />

<strong>de</strong> Hilton<br />

Castro – po<strong>de</strong>rá<br />

ser vista na ala<br />

dos candangos:<br />

“Essa ala, para<br />

mim, é uma ala<br />

muito especial.<br />

Ressalto, no entanto,<br />

que todas as<br />

alas que dirijo e cada<br />

componente que ensaio<br />

são especiais<br />

e dignos <strong>de</strong> meu<br />

afeto e ad- miração. São pessoas<br />

comuns, mas todas vitoriosas. Não necessariamente<br />

a vitória que se alar<strong>de</strong>ia aos quatro cantos,<br />

mas a vitória cotidiana, <strong>de</strong> autossuperação, <strong>de</strong> <strong>de</strong>dicação<br />

às suas crenças, <strong>de</strong> envolvimento em cada<br />

<strong>de</strong>talhe da vida... Tenho muito orgulho <strong>de</strong> trabalhar<br />

com essas pessoas, que me ensinam muito. Mas<br />

como dizia, a ala dos candangos é muito especial<br />

para mim – e acredito que será para o público – por<br />

Revista <strong>Beija</strong>-<strong>Flor</strong> <strong>de</strong> <strong>Nilópolis</strong> www.beija-flor.com.br


diversas razões. A primeira é porque o assunto<br />

“candango” já é envolvente: foram homens anônimos<br />

que <strong>de</strong>dicaram sua vida na construção <strong>de</strong>ssa<br />

monumental obra <strong>de</strong> arte e que não pu<strong>de</strong>ram usufruí-la.<br />

Apesar disso, orgulham-se do que fizeram. E<br />

é essa a marca do cidadão brasileiro, trabalhador.<br />

O que importa para ele é fazer parte da construção<br />

– fazer parte da engrenagem que eleva o país ou a<br />

sua cida<strong>de</strong>. A segunda razão é porque nessa ala estarei<br />

aplicando um conceito novo <strong>de</strong>ntro do <strong>de</strong>sfile<br />

<strong>de</strong> carnaval: Será a primeira vez que uma única ala<br />

se apresentará com figurinos e performances diferentes.<br />

Isso porque a ala será subdividida em cenas,<br />

cada uma com o seu figurino específico, para contar<br />

uma parte <strong>de</strong> uma bela história. Composta por<br />

228 elementos, nessa ala vamos brincar com o cotidiano<br />

dos candangos. Vamos falar da gran<strong>de</strong> ceia<br />

<strong>de</strong>pois do trabalho braçal do candango...”, conclui<br />

Hilton Castro.<br />

GuarDa Do Brasil-império<br />

– a vinDa Da Família real<br />

Ala: Vento Forte<br />

Presi<strong>de</strong>nte: Hilton Castro, Gisele & Renata<br />

Número <strong>de</strong> Componentes: 70<br />

Foi Dom João VI quem criou o 1º Regimento <strong>de</strong><br />

Cavalaria <strong>de</strong> Guardas, em 13 <strong>de</strong> maio <strong>de</strong> 1808.<br />

Na época, o regimento tinha a função <strong>de</strong> fazer a<br />

guarda da Família Real, que naquele ano havia se<br />

refugiado no Brasil, <strong>de</strong>vido à invasão <strong>de</strong> Portugal<br />

pelo exército francês.<br />

tropa De elite Do exérCito<br />

Brasileiro<br />

Ala: 1a Passista e Passistas Especiais<br />

Presi<strong>de</strong>nte: Charlene Costa<br />

Número <strong>de</strong> Componentes: 4<br />

Ala: Diretora dos Passistas<br />

Presi<strong>de</strong>nte: Aline Silva<br />

Número <strong>de</strong> Componentes: 1<br />

Ala: Passista<br />

Presi<strong>de</strong>nte: Ja<strong>de</strong> Barbosa<br />

Número <strong>de</strong> Componentes: 1<br />

Ala: Passistas<br />

Presi<strong>de</strong>nte: Selminha Sorriso<br />

Número <strong>de</strong> Componentes: 100<br />

No início do século XIX, o regimento da tropa <strong>de</strong> elite<br />

do exército brasileiro tinha a função <strong>de</strong> fazer a guarda<br />

da família real, que havia se refugiado no Brasil<br />

<strong>de</strong>vido à invasão <strong>de</strong> Portugal pelo exército francês.<br />

Eram os dragões (soldados da cavalaria) que acomp<br />

a n h a v a m<br />

D. Pedro I<br />

quando ele<br />

<strong>de</strong>clarou a<br />

In<strong>de</strong>pendência<br />

do<br />

Brasil, em<br />

7 <strong>de</strong> setembro<br />

<strong>de</strong> 1822;<br />

m o m e n t o<br />

imortalizado<br />

por Pedro<br />

A m é r i c o<br />

no famoso<br />

quadro intitulado<br />

“O<br />

Grito do<br />

Ipiranga”.<br />

Fevereiro 2010


o Grito Do ipiranGa<br />

Intérprete<br />

Neguinho da <strong>Beija</strong>-<strong>Flor</strong><br />

inDepenDênCia ou morte!<br />

Rainha <strong>de</strong> Bateria<br />

Raíssa Oliveira<br />

0 Revista <strong>Beija</strong>-<strong>Flor</strong> <strong>de</strong> <strong>Nilópolis</strong> www.beija-flor.com.br


a supremaCia Dos DraGões<br />

Da inDepenDênCia<br />

Bateria<br />

Mestres Rodney & Plínio<br />

Número <strong>de</strong> Componentes: 265<br />

Dragões da In<strong>de</strong>pendência é a <strong>de</strong>nominação oficial<br />

dada ao Primeiro Regimento <strong>de</strong> Cavalaria <strong>de</strong><br />

Guardas (1º RCG). É uma Unida<strong>de</strong> do Exército<br />

Brasileiro, que foi criada em 1808, pelo Príncipe<br />

Regente D. João VI. Os Dragões da In<strong>de</strong>pendência<br />

usam um fardamento do século XIX, em branco e<br />

vermelho, que são as cores tradicionais da cavalaria<br />

<strong>de</strong>s<strong>de</strong> a Ida<strong>de</strong> Média. Em festas cívicas e algumas<br />

competições esportivas <strong>de</strong> hipismo, os dragões se<br />

apresentam e fazem <strong>de</strong>monstrações <strong>de</strong> agilida<strong>de</strong> e<br />

<strong>de</strong>streza.<br />

OS MOSQUETEIROS DO RITMO<br />

Comissão da bateria da <strong>Beija</strong>-<strong>Flor</strong><br />

Atento às necessida<strong>de</strong>s que a cada ano o regulamento<br />

do <strong>de</strong>sfile, a competição e especialmente<br />

as exigências do público impõem às escolas <strong>de</strong><br />

samba – isso sem falar na necessida<strong>de</strong> interna <strong>de</strong><br />

mudanças, que exige o aprimoramento do trabalho,<br />

o aperfeiçoamento do produto e o enriquecimento<br />

profissional da equipe visando resultados positivos<br />

em todos os quesitos do <strong>de</strong>sfile –, o Grêmio Recreativo<br />

Escola <strong>de</strong> Samba <strong>Beija</strong>-<strong>Flor</strong> <strong>de</strong> <strong>Nilópolis</strong> preparou-se<br />

para o gran<strong>de</strong> enfrentamento do dia 14<br />

<strong>de</strong> fevereiro com uma inovação. De- p o i s<br />

<strong>de</strong> criar a Comissão <strong>de</strong> Carnavalescos,<br />

o diretor Luiz Fernando<br />

“Laíla” Ribeiro do Carmo criou<br />

a Comissão da Bateria da <strong>Beija</strong>-<br />

<strong>Flor</strong> <strong>de</strong> <strong>Nilópolis</strong>.<br />

O capa-e-espada <strong>de</strong><br />

Alexandre Dumas,<br />

Os Três Mosqueteiros,<br />

é o mote<br />

para se reportar<br />

a mais significativamudançapromovida<br />

na<br />

estrutura<br />

Integrantes da comissão<br />

<strong>de</strong> Bateria: Mestres Plínio,<br />

Binho e Rodney.<br />

<strong>de</strong> Carnaval da <strong>Beija</strong>-<strong>Flor</strong> da <strong>Nilópolis</strong> – e <strong>de</strong> todas<br />

as escolas <strong>de</strong> samba da atualida<strong>de</strong>. Para tal, o<br />

D’artagnan <strong>de</strong>sta estória, que ficará na história do<br />

Carnaval (e que, provavelmente, assim como a Comissão<br />

<strong>de</strong> Carnavalescos alcançará os resultados<br />

esperados), ascen<strong>de</strong>u à condição efetiva do ofício<br />

<strong>de</strong> mestre o músico e diretor Rodney José Ferreira<br />

(seria ele Athos?), que passa a dividir essa função<br />

com mestre Plínio <strong>de</strong> Moraes (possivelmente Porthos?).<br />

Uniu-se] à dupla uma cria da casa, o mestre<br />

Binho (seria ele Aramis?) – Robson da Silva <strong>de</strong> Oliveira<br />

- que vem com uma experiência musical específica<br />

fora da bateria, e pontuada: supervisor. Não<br />

é à toa que os mosqueteiros da bateria da <strong>Beija</strong>-<br />

<strong>Flor</strong> adotaram a epígrafe “Um por todos, todo por<br />

um”. A referência foi endossada e adotada pelos<br />

doze diretores que compõem o esquadrão rítmico<br />

da escola nilopolitana. À trinca cabe a supervisão<br />

do segmento, auxiliada pela diretoria <strong>de</strong> bateria<br />

composta por Carlos Alberto Menezes (Carlinhos),<br />

An<strong>de</strong>rson Miranda da Silva (Kombi), Renato Alves<br />

Gomes (Renato Azul), Márcio do Nascimento<br />

Andra<strong>de</strong> (Márcio da Frigi<strong>de</strong>ira), Celso Geraldo<br />

Alves da Silva (Paduana), Alexan<strong>de</strong>r Braga (Orelha),<br />

Carlos Henrique da Cruz (Perninha), A<strong>de</strong>lino<br />

Vieira Filho (Saul) e Walneir Ferreira Nascimento<br />

(Estrela). Encabeçando essa diretoria-executiva,<br />

mestre Rodney informa que todos têm uma função<br />

<strong>de</strong>terminada, mas insiste que o lema dumasiano é<br />

que realmente move todo o esquema. O esquema é<br />

simples, mas Rodney enfatiza: “Todo mundo trabalha<br />

em prol da bateria. Todos trabalham pela<br />

<strong>Beija</strong>-<strong>Flor</strong> <strong>de</strong> <strong>Nilópolis</strong>”.<br />

Fevereiro 2010


O comando do pelotão, que garante a pulsação da<br />

escola (280 ritmistas) durante todo o <strong>de</strong>sfile, foi assumido<br />

em maio passado. Na ocasião, Laíla apresentou<br />

a comissão e diretores <strong>de</strong> bateria à comunida<strong>de</strong>,<br />

numa noite que inaugurou uma nova era do<br />

calendário <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong>s da <strong>Beija</strong>-<strong>Flor</strong> <strong>de</strong> <strong>Nilópolis</strong>:<br />

os ensaios técnicos da bateria, todas as segundasfeiras.<br />

A i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> realizar ensaios práticos com todos<br />

os ritmistas da escola, até mesmo aqueles ainda não<br />

confirmados no grupo <strong>de</strong> elite que irá para a avenida,<br />

atraiu ao longo do ano – a<strong>de</strong>ntrando 2010 – os<br />

<strong>de</strong>mais segmentos, comprovando que esses ensaios<br />

são indispensáveis para uma maior sincronia entre<br />

as diversas alas com o toque, com o andamento,<br />

com o estilo da orquestra <strong>de</strong> percussão nilopolitana.<br />

Se a antecipação do início dos ensaios técnicos<br />

da bateria e a participação das alas interessadas<br />

foram uma gran<strong>de</strong> mudança revelada pela criação<br />

da Comissão da Bateria, outra gran<strong>de</strong> motivação<br />

que os doze diretores encontraram para se <strong>de</strong>dicar<br />

cada vez mais à escola, através <strong>de</strong> suas atuações<br />

tanto burocráticas quanto artísticas, foi o fato <strong>de</strong><br />

po<strong>de</strong>rem apresentar suas sugestões, propostas e,<br />

principalmente, serem ouvidos. Nem sempre serão<br />

atendidos. Mas isso é assim em qualquer segmento<br />

da vida do homem. Porém, mesmo que suas i<strong>de</strong>ias<br />

não sejam aproveitadas integralmente, ou em parte,<br />

acreditam que sempre <strong>de</strong>ixam uma importante<br />

contribuição que po<strong>de</strong>rá suprir lacunas inesperadas.<br />

As reuniões são sempre fervorosas, mas o clamor<br />

dos ânimos não supera a preocupação <strong>de</strong> reforçar<br />

e buscar o que é melhor para a escola. Nesse ponto<br />

todos comungam o mesmo i<strong>de</strong>al.<br />

QUEM É QUEM<br />

Paduana – Descoberto em um bloco por mestre<br />

Pelé, Paduana está na ala <strong>de</strong> ritmistas <strong>de</strong>s<strong>de</strong> os 14<br />

anos. Toca surdo <strong>de</strong> 3ª, o chamado “fofoqueiro”. Entre<br />

outras atribuições que lhe cabem como diretor <strong>de</strong><br />

bateria está a <strong>de</strong> fazer a manutenção dos instrumentos.<br />

Sua filha, ex-passista mirim, faz parte do naipe<br />

<strong>de</strong> tamborins.<br />

Kombi – Está na escola <strong>de</strong>s<strong>de</strong> 97, integrando-se<br />

imediatamente à bateria. Responsável direto pelos<br />

assuntos administrativos do segmento vem coor<strong>de</strong>nando<br />

a entrega do troféu “Ao mestre, com carinho”,<br />

Revista <strong>Beija</strong>-<strong>Flor</strong> <strong>de</strong> <strong>Nilópolis</strong> www.beija-flor.com.br


premiação criada pela nova comissão para homenagear<br />

os mestres <strong>de</strong> bateria das escolas coirmãs.<br />

Marcinho da Frigi<strong>de</strong>ira - Des<strong>de</strong> criança é ligado à<br />

escola na qual só ingressou <strong>de</strong>finitivamente no ano<br />

2000. Sua tia foi baiana da escola e o primo Albinho<br />

toca tan-tan na bateria. Mestre Pelé e vários<br />

ritmistas da <strong>Beija</strong>-<strong>Flor</strong> são oriundos da escola do<br />

seu avô. Ajudou a formar a Velha Guarda Musical<br />

da <strong>Beija</strong>-<strong>Flor</strong>. É responsável pelos naipes <strong>de</strong><br />

frigi<strong>de</strong>iras (10), e agora da cuíca (12). Ambos os<br />

instrumentos, que foram excluídos da bateria, vêm<br />

agora dar um ‘molho especial’ ao conjunto rítmico.<br />

Renato Azul – Ex-mestre-sala, Renato entrou na<br />

ala mirim em 1988. Convidado pelo Laíla em 98,<br />

passou a diretor <strong>de</strong> bateria. É responsável pela<br />

marcação, com Kombi e Orelha, mais especificamente.<br />

Na parte administrativa, é responsável<br />

pelo setor <strong>de</strong> alimentos e bebidas do<br />

grupo. Água gelada, cafezinho esperto, e<br />

às vezes aquela cervejinha malandreada,<br />

que ninguém é <strong>de</strong> ferro.<br />

Carlinhos – Há doze anos acompanha<br />

a família <strong>Beija</strong>-<strong>Flor</strong>. Declarase<br />

feliz em participar mais<br />

um ano da equipe. Uma<br />

das suas atribuições é<br />

fazer a manutenção dos<br />

instrumentos. Promete<br />

dar o melhor <strong>de</strong> si para<br />

a “gente ser feliz na<br />

avenida”.<br />

Walneir Estrela<br />

– É o mais novo no<br />

mundo do samba.<br />

Está na <strong>Beija</strong>-<strong>Flor</strong><br />

<strong>de</strong>s<strong>de</strong> 2000. Torna<br />

pública sua gratidão ao<br />

amigo Perninha ao enfatizar<br />

que “quem me ensinou<br />

a tocar tamborim foi<br />

o Perninha.”<br />

Perninha – Entrou na <strong>Beija</strong>-<br />

<strong>Flor</strong> em 92. É responsável pelo<br />

naipe <strong>de</strong> tamborim. A humilda<strong>de</strong><br />

sobrepõe-se à gratidão<br />

<strong>de</strong> Walneir: “Apenas passei<br />

para ele o que aprendi”. Segundo<br />

Perninha, ele achou na<br />

escola um cara, Daniel Colete,<br />

que teve paciência para<br />

ensiná-lo a tocar tamborim.<br />

Orelha - Consi<strong>de</strong>ra-se o estilista Jacques Leclair,<br />

personagem <strong>de</strong> novela, pois é responsável por provi<strong>de</strong>nciar<br />

a roupa dos ritmistas, especialmente da<br />

diretoria <strong>de</strong> bateria, que veste mo<strong>de</strong>lo exclusivo. É<br />

ele quem trata <strong>de</strong> todo o vestuário do dia do <strong>de</strong>sfile,<br />

além das roupas que o grupo usa para apresentações<br />

em shows e festivida<strong>de</strong>s da escola.<br />

Chegou à <strong>Beija</strong>-<strong>Flor</strong> em 96 pelas<br />

mãos <strong>de</strong> Nei, ex-diretor.<br />

Mestre Rodney – Com 35<br />

anos <strong>de</strong><br />

p i s t a ,<br />

Rodney<br />

Fevereiro 2010


está na <strong>Beija</strong>-<strong>Flor</strong> <strong>de</strong> <strong>Nilópolis</strong> <strong>de</strong>s<strong>de</strong> 98. O futebol<br />

foi uma das estratégias que ele usou para aproximar<br />

mais os ritmistas fora do período carnavalesco. Laíla<br />

o convidou para participar das gravações dos sambas-enredo<br />

das escolas <strong>de</strong> samba. É um dos “afinadores”<br />

dos instrumentos e também faz a troca dos<br />

“couros” das peças <strong>de</strong> percussão. Com Plínio, ele<br />

forma a dupla <strong>de</strong> mestres <strong>de</strong> bateria.<br />

Saul – É da comunida<strong>de</strong> e frequentador da quadra<br />

<strong>de</strong>s<strong>de</strong> criança. Foi se infiltrando na bateria durante<br />

os ensaios até ser percebido por mestre Pelé, que o<br />

efetivou na ala. Os filhos Sandro e Adriano seguiram<br />

o pai e também são ritmistas da <strong>Beija</strong>-<strong>Flor</strong> <strong>de</strong> <strong>Nilópolis</strong>.<br />

A filha Juliana é passista da escola.<br />

Binho – A mãe, D. Sirinha, integrou a ala das baianas,<br />

e o pai, Rubens, a bateria. Entrou para a ala mirim<br />

em 1977, e participou da co- missão <strong>de</strong><br />

frente. Aos 14 anos foi al- çado por<br />

mestre Pelé à condição <strong>de</strong> ritmista.<br />

Fez incursões especiais<br />

t o c a n d o t u m b a -<br />

dora nos<br />

<strong>de</strong>sfil<br />

e s<br />

d e<br />

2 0 0 0 / 2 0 0 0 4 .<br />

Durante <strong>de</strong>z<br />

anos atuou como<br />

percussionista da<br />

banda <strong>de</strong> Neguinho<br />

da <strong>Beija</strong>-<strong>Flor</strong> até se<br />

agregar ao conjunto<br />

Pique Novo. Há 21<br />

anos atuando como<br />

músico nas gravações<br />

dos sambas-enredo,<br />

recebeu o convite <strong>de</strong><br />

Laíla para supervisionar<br />

a atuação do segmento<br />

com os mes-<br />

tres Rodney e Plínio, e <strong>de</strong>mais diretores <strong>de</strong> bateria.<br />

Mestre Plínio – É ritmista da escola há 37 anos, aten<strong>de</strong>ndo<br />

o honroso chamado <strong>de</strong> Nelson Abrão David para<br />

integrar a bateria regida pelo mestre Vicente, pai do intérprete<br />

Gilson Bacana. Em 1993, o então mestre Odilon<br />

o promoveu a categoria <strong>de</strong> diretor, dividindo com ele<br />

a regência da bateria, funções que exerce até hoje.<br />

NELSON DAVID<br />

Apresentando a Rainha <strong>de</strong> Bateria ao gran<strong>de</strong> público<br />

vem Nelson David, vice-presi<strong>de</strong>nte da agremiação<br />

nilopolitana e filho <strong>de</strong> Nelson Abrão David, um<br />

dos baluartes da <strong>Beija</strong>-<strong>Flor</strong> <strong>de</strong> <strong>Nilópolis</strong> e irmão do<br />

patrono Anizio Abrão David. Nelsinho, que é empresário<br />

do ramo <strong>de</strong> eventos, é pai <strong>de</strong> Julia (7 anos)<br />

e <strong>de</strong> David (10 anos) e vive com a companheira,<br />

segundo ele ‘<strong>de</strong> todas as horas’, Vanessa Pinheiro.<br />

Nelsinho <strong>de</strong>scobriu sua vocação junto à bateria<br />

quando, ao <strong>de</strong>cidir <strong>de</strong>sfilar com o “coração da escola”,<br />

conduziu e apresentou pela primeira vez a<br />

Rainha <strong>de</strong> Bateria. “A bateria transmite uma energia<br />

muito forte, que não é somente sonora. É orgânica<br />

também. O corpo da gente arrepia, o coração acelera...<br />

E quando apresento ao público a Rainha <strong>de</strong> Bateria,<br />

já com todo o envolvimento da bateria, cria-se<br />

um momento único. O público <strong>de</strong>lira. É um acontecimento<br />

muito emocionante e não consigo me ver em<br />

outro lugar senão ao lado da Raíssa e da Bateria.<br />

Esse ano, com a instalação da comissão <strong>de</strong> bateria,<br />

muitas novida<strong>de</strong>s estaremos levando para a avenida,<br />

e acho que isso tornará o <strong>de</strong>sfile da <strong>Beija</strong>-<strong>Flor</strong><br />

<strong>de</strong> <strong>Nilópolis</strong> ainda mais mágico e emocionante.”<br />

a noBreza Das Damas Da<br />

Corte imperial<br />

Ala: 100% Mídia<br />

Presi<strong>de</strong>nte: Luís Carlos & Léo Mídia<br />

Número <strong>de</strong> Componentes: 70<br />

D. João VI, ao embarcar com a Família Real Portuguesa<br />

para o Brasil, trouxe a companhia <strong>de</strong> diversas<br />

Damas da Corte, que usavam vestes cujo aparato<br />

e originalida<strong>de</strong> podiam ser observados através do<br />

romantismo dos laços, babados, bordados e vidrilhos,<br />

tão usuais nos trajes característicos da moda<br />

européia no século XIX. O racionamento <strong>de</strong> água<br />

durante a precária e superlotada viagem dificultou<br />

bastante a higiene à bordo, e um surto <strong>de</strong> piolhos fez<br />

com que a muitas Damas da Corte Imperial tivessem<br />

que raspar as cabeças a fim <strong>de</strong> evitar a propagação,<br />

o que foi disfarçado com o uso <strong>de</strong> a<strong>de</strong>reços.<br />

Revista <strong>Beija</strong>-<strong>Flor</strong> <strong>de</strong> <strong>Nilópolis</strong> www.beija-flor.com.br


o aClamaDo imperaDor D.<br />

peDro i<br />

Ala: Energia do Amor<br />

Presi<strong>de</strong>nte: Aroldo Carlos<br />

Número <strong>de</strong> Componentes: 120<br />

Pedro <strong>de</strong> Alcântara Francisco António João Carlos<br />

Xavier <strong>de</strong> Paula Miguel Rafael Joaquim José Gonzaga<br />

Pascoal Cipriano Serafim <strong>de</strong> Bragança e Bourbon,<br />

filho <strong>de</strong> D. João VI , Rei <strong>de</strong> Portugal, Brasil e<br />

Algarves, e <strong>de</strong> Dona Carlota Joaquina, infanta da<br />

Espanha, nasceu em Queluz, Portugal. Dom Pedro I<br />

do Brasil e IV <strong>de</strong> Portugal, foi o primeiro imperador<br />

do Brasil (<strong>de</strong> 1822 a 1831) e 28º rei <strong>de</strong> Portugal (durante<br />

sete dias <strong>de</strong> 1826). Em Portugal é conhecido<br />

como O Rei-Soldado ou O Rei-Imperador; sendo<br />

também conhecido, <strong>de</strong> ambos os lados do Oceano<br />

Atlântico, como O Libertador — Libertador do Brasil<br />

do domínio português e libertador <strong>de</strong> Portugal do<br />

governo absolutista. Recebeu diversos títulos honoríficos;<br />

entretanto abdicou <strong>de</strong> ambas as coroas.<br />

um Clamor De liBerDaDe<br />

Ala: Esperança<br />

Presi<strong>de</strong>nte: Simone Sant´Anna<br />

Número <strong>de</strong> Componentes: 70<br />

Liberda<strong>de</strong> é a ausência <strong>de</strong> submissão, <strong>de</strong> servidão, aquilo<br />

que qualifica autonomia, in<strong>de</strong>pendência. E foi D.<br />

Pedro I que, às margens do rio Ipiranga, clamou pela<br />

liberda<strong>de</strong> do Brasil com relação à Portugal, em 07 <strong>de</strong><br />

setembro <strong>de</strong> 1822, com sua frase histórica: “Viva a in<strong>de</strong>pendência<br />

e a separação do Brasil! Pelo meu sangue,<br />

pela minha honra, pelo meu Deus, juro promover a<br />

liberda<strong>de</strong> do Brasil! In<strong>de</strong>pendência ou Morte!”.<br />

aleGoria 03<br />

“no Coração Do Brasil - revolta,<br />

insurreições, Coroas<br />

e Brasões”<br />

harmonia Do setor:<br />

CleBer silva & helinho<br />

Fevereiro 2010


<strong>SE</strong>TOR 04<br />

onça pintaDa - o periGo noturno<br />

Do CerraDo<br />

Ala: Cabulosos<br />

Presi<strong>de</strong>nte: Luizinho Cabulosos<br />

Número <strong>de</strong> Componentes: 70<br />

A onça pintada, também chamada <strong>de</strong> jaguar ou jaguaretê,<br />

é um animal solitário, carnívoro e territorialista,<br />

com hábitos predominantemente noturnos.<br />

Excelente caçadora e nadadora, é muito cautelosa<br />

para atacar a vítima, aproximando-se silenciosamente<br />

para surpreen<strong>de</strong>r a presa, saltando sobre<br />

o seu dorso. Membro da família dos<br />

felí<strong>de</strong>os, <strong>de</strong> tons mesclados <strong>de</strong> amarelo,<br />

preto e branco, costuma ser encontrada<br />

em reservas florestais e matas cerradas<br />

do Brasil, mas infelizmente encontra-se<br />

em extinção.<br />

veaDo Campeiro<br />

– a Força Das<br />

GalhaDas<br />

Ala: Sorrizo<br />

P r e s i d e n t e :<br />

M a r c o s<br />

Gomes<br />

Número <strong>de</strong><br />

Componentes:<br />

70<br />

O veado-campeiro é um<br />

veado campestre. Tais<br />

cerví<strong>de</strong>os possuem pelagem<br />

dorsal marrom, círculo branco<br />

ao redor dos olhos e galhada<br />

com três pontas e cerca <strong>de</strong> 30<br />

cm <strong>de</strong> altura. São animais extremamente<br />

ágeis, po<strong>de</strong>ndo<br />

correr a 70 km/h e pular obstáculos<br />

sem diminuir a velocida<strong>de</strong>.<br />

A hierarquia social<br />

é <strong>de</strong>terminada através <strong>de</strong><br />

disputas nas quais os machos<br />

empurram seus adversários<br />

com os chifres, numa prova<br />

<strong>de</strong> força. Esta disputa não<br />

tem por objetivo perfurar<br />

o oponente e o dano mais<br />

comum é a quebra <strong>de</strong> algumas<br />

pontas.<br />

Brilhantes JaziGos De pre-<br />

Ciosos Cristais<br />

Ala: Baianas II<br />

Presi<strong>de</strong>nte: Pai Jorge<br />

Número <strong>de</strong> Componentes: 60<br />

Os cristais são sólidos nos quais os constituintes<br />

– átomos, moléculas ou íons –estão organizados<br />

num padrão tridimensional bem <strong>de</strong>finido, que se<br />

repete no espaço, formando uma estrutura com<br />

uma geometria específica. Durante a realização <strong>de</strong><br />

escavações no rico solo <strong>de</strong> Brasília, foram encontradas<br />

diversas jazidas <strong>de</strong> cristais, preciosas<br />

riquezas do Planalto Central; as quais inspiraram,<br />

inclusive, um projeto paisagístico<br />

<strong>de</strong> Burle Marx.<br />

loBo Guará - o avermelhaDo<br />

solitário<br />

uivante<br />

Ala: Ouro Negro<br />

Presi<strong>de</strong>nte: Cátia Cristina<br />

Sant´Ana<br />

Número <strong>de</strong> Componentes: 70<br />

O Lobo Guará é um animal<br />

selvagem típico dos<br />

cerrados da região<br />

Centro-Oeste. A<br />

sua pelagem<br />

característica é avermelhada<br />

e, ao contrário <strong>de</strong> outros lobos,<br />

esta espécie não forma alcatéias, possuindo<br />

hábitos solitários, juntando-se apenas<br />

em casais durante a época <strong>de</strong> reprodução.<br />

Foi <strong>de</strong>vido ao som dos seus uivos, interpretado<br />

pelos indígenas como “Gua-á gua-á”,<br />

que essa espécie, única do gênero em toda<br />

a América Latina, foi chamada, no Brasil, <strong>de</strong><br />

Lobo Guará. Está em extinção.De aspecto<br />

elegante. Possui pernas compridas e ágeis, e<br />

hábitos exclusivamente noturnos.<br />

tamanDuá BanDeira - o<br />

peluDo CaçaDor De insetos<br />

Ala: Sol Brilhante<br />

Presi<strong>de</strong>nte: Rosinaldo Vieira<br />

Número <strong>de</strong> Componentes: 70<br />

O Tamanduá Ban<strong>de</strong>ira, apelidado <strong>de</strong><br />

“papa-formigas”, é um mamífero quad-<br />

Revista <strong>Beija</strong>-<strong>Flor</strong> <strong>de</strong> <strong>Nilópolis</strong> www.beija-flor.com.br


úpe<strong>de</strong> e <strong>de</strong>s<strong>de</strong>ntado, o qual apresenta uma<br />

pelagem espessa, que se torna maior na cauda.<br />

É dotado <strong>de</strong> longas e fortes garras dianteiras,<br />

as quais utiliza para se <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>r dos<br />

predadores e para escavar as resistentes<br />

pare<strong>de</strong>s dos formigueiros e cupinzeiros em<br />

busca <strong>de</strong> comida. Se alimenta <strong>de</strong> insetos,<br />

normalmente formigas, cupins, larvas e besouros.<br />

a poDerosa rainha<br />

Cupim e seus ninFos<br />

alaDos<br />

Destaques <strong>de</strong> Chão<br />

Kaíka Sabatella, Letícia e Thuãn<br />

solDaDos Cupins - os super<br />

DeCompositores<br />

Ala: Alegria, Alegria<br />

Presi<strong>de</strong>nte: Hilton Castro<br />

Número <strong>de</strong> Componentes: 158<br />

Os cupins são insetos conhecidos por serem<br />

pragas <strong>de</strong> ma<strong>de</strong>ira e <strong>de</strong> outros materiais celulósicos,<br />

e ainda pragas agrícolas. Entretanto,<br />

em termos <strong>de</strong> biomassa e abundância,<br />

os cupins apresentam enorme significância,<br />

po<strong>de</strong>ndo ser comprados, por exemplo, às<br />

formigas e minhocas, estando entre os mais<br />

abundantes invertebrados <strong>de</strong> solo em ecossistemas<br />

tropicais. Esta gran<strong>de</strong> abundância<br />

dos cupins nos ecossistemas, aliada à existência<br />

<strong>de</strong> diferentes simbiontes, confere a<br />

estes insetos a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>de</strong>sempenhar<br />

papéis como o <strong>de</strong> “super <strong>de</strong>compositores” e<br />

auxiliares no balanço Carbono-Nitrogênio.<br />

aleGoria 04<br />

“missão Crulls - a natureza<br />

em sua essênCia<br />

é revelaDa”<br />

harmonia Do setor:<br />

leonarDo Carvalho & luiz silva<br />

Fevereiro 2010


<strong>SE</strong>TOR 05<br />

Bossa nova - a trilha sonora<br />

Do sertão<br />

Ala: Vamos Nessa<br />

Presi<strong>de</strong>nte: Tuninho<br />

Número <strong>de</strong> Componentes: 70<br />

Ala: 1001 Noites<br />

Presi<strong>de</strong>nte: Luiz Figueira<br />

Número <strong>de</strong> Componentes:<br />

A Bossa Nova é um movimento da música popular<br />

brasileira que surgiu no final da década <strong>de</strong> 1950 e<br />

que, anos <strong>de</strong>pois, se tornaria um dos gêneros musicais<br />

brasileiros mais conhecidos no mundo. Fruto<br />

principalmente das reuniões casuais agendadas por<br />

músicos da classe média carioca em apartamentos<br />

da Zona Sul, a Bossa Nova foi o primeiro movimento<br />

musical brasileiro egresso das faculda<strong>de</strong>s, o qual<br />

abordava temáticas leves e <strong>de</strong>scompromissadas.<br />

O Movimento surgiu num momento em que o país<br />

vivia uma profusão cultural singular, e ficou associado<br />

ao crescimento urbano brasileiro, impulsionado<br />

pela fase <strong>de</strong>senvolvimentista da presidência<br />

<strong>de</strong> Juscelino Kubitschek (1955-1960). Os maiores<br />

representantes <strong>de</strong>ste movimento foram: Tom Jobim,<br />

Vinícius <strong>de</strong> Morais e João Gilberto.<br />

Jk e sarah kuBitsChek - a<br />

visão Do amanhã nos anos<br />

DouraDos<br />

Ala: Ouro em Pó<br />

Presi<strong>de</strong>nte: Hilton Castro<br />

Número <strong>de</strong> Componentes: 72<br />

O mineiro Juscelino Kubitschek <strong>de</strong> Oliveira, eleito<br />

Presi<strong>de</strong>nte da República Fe<strong>de</strong>rativa do Brasil – cargo<br />

que exerceu entre 1956 e 1961 – foi casado com<br />

Sarah Kubitschek, com quem teve duas filhas, Márcia<br />

e Maria Estela Kubitschek.<br />

Responsável direto pela construção <strong>de</strong> Brasília,<br />

JK participou das muitas comemorações em homenagem<br />

à inauguração da nova capital, sendo pertinente<br />

<strong>de</strong>stacar o Baile no Palácio do Planalto, on<strong>de</strong><br />

JK e Dona Sarah recepcionaram cerca <strong>de</strong> 3.000<br />

convidados em farto evento, que se <strong>de</strong>u ao som <strong>de</strong><br />

música orquestral.<br />

Durante o mandato <strong>de</strong> JK, o Brasil viveu um<br />

período <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento econômico e<br />

estabilida<strong>de</strong> política, o qual ficou conhecido como<br />

“Anos Dourados”, período em que evoluímos “50<br />

anos em 5”.<br />

Revista <strong>Beija</strong>-<strong>Flor</strong> <strong>de</strong> <strong>Nilópolis</strong> www.beija-flor.com.br


a inDústria automoBilísti-<br />

Ca aJuDa a traçar o Destino<br />

Ala: Casarão das Artes<br />

Presi<strong>de</strong>nte: Graça Oliveira<br />

Número <strong>de</strong> Componentes: 70<br />

Indústria automobilística, automotiva ou automóvel,<br />

é a indústria envolvida com o projeto, o <strong>de</strong>senvolvimento,<br />

a fabricação, a publicida<strong>de</strong> e a venda<br />

<strong>de</strong> veículos automóveis que sirvam para auxiliar no<br />

<strong>de</strong>slocamento e/ou transporte da população, bens<br />

ou serviços. A priorida<strong>de</strong> dada pelo governo JK ao<br />

crescimento e <strong>de</strong>senvolvimento econômico do país<br />

foi fundamental para traçar o <strong>de</strong>stino do Brasil, e<br />

recebeu apoio <strong>de</strong> importantes setores da socieda<strong>de</strong>,<br />

incluindo empresários e industriais, como a<br />

Indústria Automobilística, que se instalou no Brasil<br />

em 1956.<br />

o DeseJo De realizar<br />

Ala: Casais <strong>de</strong> MS & PB<br />

Presi<strong>de</strong>nte: Selminha SorrisoZ & Claudinho<br />

Número <strong>de</strong> Componentes: 6<br />

CanDanGos - o sanGue e o<br />

suor Deste país<br />

Ala: Explosão Geral<br />

Presi<strong>de</strong>nte: Hilton Castro<br />

Número <strong>de</strong> Componentes: 194<br />

Candango, é o termo dado aos trabalhadores que<br />

migravam à futura capital para a sua construção,<br />

embora comumente seja utilizado para <strong>de</strong>signar os<br />

brasilienses. Em sua maioria, eram nor<strong>de</strong>stinos que<br />

migraram para a região do cerrado Planalto Central<br />

e trabalharam arduamente, dia e noite, para construir<br />

e concluir Brasília até a data prefixada <strong>de</strong> 21<br />

<strong>de</strong> abril <strong>de</strong> 1960, em homenagem à Inconfidência<br />

Mineira.<br />

“... Uma caravana parte, épica, qual êxodo caboclo,<br />

epopéia <strong>de</strong> pioneiros, <strong>de</strong>sterrados candangos, operários<br />

guerreiros, vários Brasis, num só Brasil que<br />

se juntam a construir e a crescer...”<br />

plano piloto - num traço,<br />

um poema<br />

Ala: Signus<br />

Presi<strong>de</strong>nte: Débora Rosa<br />

Número <strong>de</strong> Componentes: 70<br />

Plano Piloto, inicialmente uma cruz riscada à lápis<br />

na planta do urbanista Lúcio Costa, foi o nome pelo<br />

qual ficou conhecido o plano urbanístico da capital,<br />

Brasília. O Plano Piloto <strong>de</strong> Brasília, baseado em<br />

quatro escalas – escala monumental, escala resi<strong>de</strong>ncial,<br />

escala gregária e escala bucólica, é o único<br />

projeto urbanístico contemporâneo reconhecido<br />

pela Unesco como Mundial, Cultural e Natural da<br />

Humanida<strong>de</strong>.<br />

a arte Dos mestres<br />

Ala: Amigos do Rei<br />

Presi<strong>de</strong>nte: Presidência<br />

Número <strong>de</strong> Componentes:<br />

120<br />

A i<strong>de</strong>alização e construção<br />

<strong>de</strong> Brasília contaram com o<br />

conhecimento, a <strong>de</strong>dicação e<br />

o trabalho árduo <strong>de</strong> diversos<br />

arquitetos, engenheiros,<br />

técnicos, mestres<br />

<strong>de</strong> obras e operários,<br />

profissionais responsáveis<br />

pelo projeto,<br />

supervisão e execução<br />

das obras. A arte dos<br />

mestres torna real as idéias<br />

bem planejadas, <strong>de</strong>finindo<br />

o traçado básico da cida<strong>de</strong><br />

e a disposição dos principais<br />

elementos da estrutura urbana,<br />

consi<strong>de</strong>rando pontos relevantes<br />

tais como o urbanismo, o paisagismo,<br />

e diversas formas <strong>de</strong> <strong>de</strong>sign,<br />

incluindo a edificação <strong>de</strong><br />

monumentos e praças.<br />

aleGoria 05<br />

“o DesaBroChar Da <strong>Flor</strong>-<br />

Capital pelas mãos De Jk”<br />

harmonia Do setor:<br />

Flávio , sérGio sá & JorGe alexanDre<br />

Fevereiro 2010


<strong>SE</strong>TOR 06<br />

paláCio Da alvoraDa - a moraDa<br />

presiDenCial<br />

Ala: 08 ou 80<br />

Presi<strong>de</strong>nte: Ivone Farranha<br />

Número <strong>de</strong> Componentes: 70<br />

O Palácio da Alvorada é a residência oficial do<br />

presi<strong>de</strong>nte da República Fe<strong>de</strong>rativa do Brasil. Situa-se<br />

às margens do lago Paranoá, e foi o primeiro<br />

edifício inaugurado em Brasília. Projetado por Oscar<br />

Niemeyer, foi símbolo do progresso cultural e<br />

técnico do Brasil durante a década <strong>de</strong> 1950, tornando-se<br />

um dos ícones da arquitetura mo<strong>de</strong>rna brasileira.<br />

O formato diferenciado dos pilares brancos<br />

da edificação <strong>de</strong>u origem ao símbolo e ao emblema<br />

da cida<strong>de</strong>. A construção <strong>de</strong> Niemeyer foi batizada<br />

por JK, que quando questionado sobre o porquê<br />

do nome “Alvorada”, respon<strong>de</strong>u: “Que é Brasília,<br />

senão a alvorada <strong>de</strong> um novo dia para o Brasil?”.<br />

paláCio Do planalto Central<br />

- seDe Do poDer exeCutivo<br />

Ala: Tudo por Amor<br />

Presi<strong>de</strong>nte: Élcio Chaves<br />

Ala: Colibri <strong>de</strong> Ouro<br />

Presi<strong>de</strong>nte: Dinéia Amâncio<br />

Número <strong>de</strong> Componentes: 70<br />

Palácio do Planalto é o nome não oficial do Palácio<br />

dos Despachos. É o local on<strong>de</strong> está localizado o<br />

Gabinete Presi<strong>de</strong>ncial, a Casa Civil, a Secretaria-<br />

Geral e o Gabinete <strong>de</strong> Segurança Institucional da<br />

Presidência da República. Se<strong>de</strong> do Po<strong>de</strong>r Executivo<br />

do Governo Fe<strong>de</strong>ral Brasileiro, o edifício, que<br />

foi projetado por Oscar Niemeyer, está situado na<br />

Praça dos Três Po<strong>de</strong>res, e foi o centro das festivida<strong>de</strong>s<br />

da inauguração <strong>de</strong> Brasília.<br />

CateDral De Brasília - o<br />

templo iluminaDo De viDro<br />

Ala: Damas do Samba<br />

Presi<strong>de</strong>nte: Adilson Pedro & Rosângela<br />

Número <strong>de</strong> Componentes: 100<br />

A Catedral Metropolitana Nossa Senhora Aparecida<br />

é mais conhecida como Catedral <strong>de</strong> Brasília. O<br />

monumento, que é um projeto do arquiteto Oscar<br />

Niemeyer, é composto por uma nave principal em<br />

planta circular, executada em colunas <strong>de</strong> concreto<br />

que surgem <strong>de</strong> um espelho d’água, e encimada por<br />

0 Revista <strong>Beija</strong>-<strong>Flor</strong> <strong>de</strong> <strong>Nilópolis</strong> www.beija-flor.com.br


uma cruz metálica, simbolizando mãos erguidas<br />

em prece na direção do céu.<br />

paláCio itamaraty - o elo<br />

Do Brasil Com o munDo<br />

Ala: Borboletas<br />

Presi<strong>de</strong>nte: Néia Nocciole<br />

Número <strong>de</strong> Componentes: 70<br />

Ala: Travessia<br />

Presi<strong>de</strong>nte: Delano Sessim<br />

O Palácio Itamaraty, também conhecido como<br />

Palácio dos Arcos, foi projetado pelo arquiteto Oscar<br />

Niemeyer no estilo mo<strong>de</strong>rnista. É on<strong>de</strong> está<br />

localizado o Ministério das Relações Exteriores<br />

do Brasil (MRE), um órgão do Po<strong>de</strong>r Executivo,<br />

responsável pelo assessoramento do Presi<strong>de</strong>nte<br />

da República na formulação, <strong>de</strong>sempenho e acompanhamento<br />

das relações do Brasil com outros<br />

países e organismos internacionais. Atualmente<br />

três edifícios compõem a se<strong>de</strong> do Ministério: o<br />

Palácio, o Anexo I e o Anexo II, conhecido popularmente<br />

como “Bolo <strong>de</strong> Noiva”. É consi<strong>de</strong>rado um<br />

dos monumentos mais representativos <strong>de</strong> Brasília<br />

e parece flutuar sobre um espelho d’água.<br />

ConGresso naCional Do<br />

Brasil - seDe Do senaDo e<br />

Câmara Dos DeputaDos<br />

Ala: É Luxo Só<br />

Presi<strong>de</strong>nte: Nádja Gomes<br />

Número <strong>de</strong> Componentes: 70<br />

O Congresso Nacional do Brasil é bicameral, constituído<br />

pelo Senado do Brasil (Câmara Alta) e pela<br />

Câmara dos Deputados do Brasil (Câmara Baixa).<br />

Tal como acontece com a maioria dos edifícios oficiais<br />

na cida<strong>de</strong>, foi projetado por Oscar Niemeyer,<br />

seguindo o estilo da arquitetura mo<strong>de</strong>rna brasileira.<br />

Vistas <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o Eixo Monumental, a calota à esquerda<br />

é a se<strong>de</strong> do Senado e a da direita é a se<strong>de</strong> da<br />

Câmara dos Deputados; e entre elas há duas torres<br />

<strong>de</strong> escritórios. O Congresso também ocupa em torno<br />

outros edifícios, alguns <strong>de</strong>les interligados por um<br />

túnel. A excepcional luminosida<strong>de</strong> do céu <strong>de</strong> Brasília<br />

proporciona uma visão <strong>de</strong>slumbrante do prédio.<br />

a luz Da alvoraDa anunCia<br />

a Capital Da esperança<br />

Ala: Dá Mais Vida<br />

Presi<strong>de</strong>nte: Ana Maria Mascarenhas<br />

Número <strong>de</strong> Componentes: 70<br />

Brasília passou a ser <strong>de</strong>nominada “A Capital da Esperança”<br />

após um discurso feito pelo então Presi<strong>de</strong>nte<br />

Juscelino Kubitschek <strong>de</strong> Oliveira, no dia 02 <strong>de</strong> outubro<br />

<strong>de</strong> 1956, em campo aberto, quando da assinatura do<br />

primeiro ato no local da futura capital, on<strong>de</strong> ele afirmava:<br />

“Deste planalto central, <strong>de</strong>sta solidão que em<br />

breve se transformará em cérebro das altas <strong>de</strong>cisões<br />

nacionais, lanço os olhos sobre o amanhã do meu país<br />

e antevejo esta alvorada com fé inquebrantável e uma<br />

confiança sem limites no seu gran<strong>de</strong> <strong>de</strong>stino.”<br />

aleGoria 06<br />

“Capital Da esperança -<br />

orGulho e patrimônio mun-<br />

Dial”<br />

harmonia Do setor:<br />

Carlos máximo & João<br />

Fevereiro 2010


<strong>SE</strong>TOR 07<br />

CavalhaDas De pirenópolis<br />

- os masCaraDos e as Danças<br />

eQüestres<br />

Ala: Kurtisamba<br />

Presi<strong>de</strong>nte: Marcus Vinícius<br />

Número <strong>de</strong> Componentes: 70<br />

o Brasil, as Cavalhadas foram introduzidas pelos<br />

jesuítas com autorização e recomendação da<br />

Coroa, com o objetivo <strong>de</strong> catequizar os gentios<br />

e escravos africanos, <strong>de</strong>monstrando o po<strong>de</strong>r da<br />

fé cristã. Reconhecida como uma das mais significativas<br />

Cavalhadas do Brasil, a Cavalhada <strong>de</strong><br />

Pirenópolis foi introduzida na cida<strong>de</strong> em 1826, pelo<br />

Padre Manuel Amâncio da Luz, como um espetáculo<br />

chamado <strong>de</strong> “O Batalhão <strong>de</strong> Carlos Magno”. A<br />

pompa, a garbosida<strong>de</strong> e a serieda<strong>de</strong> <strong>de</strong> tal manifestação<br />

envolve toda a população, que mantém<br />

viva a infindável rixa entre mulçumanos e cristãos,<br />

apresentando um belo espetáculo <strong>de</strong> prazer pela<br />

montaria.<br />

BumBa-meu-Boi Do seu teo-<br />

Doro - o misto FolClóriCo<br />

se Fez raiz<br />

Ala: Arte Folia<br />

Presi<strong>de</strong>nte: Valéria Britto<br />

Número <strong>de</strong> Componentes: 97<br />

O Bumba-meu-Boi, mistura<br />

folclórica <strong>de</strong> dança<br />

e tea-<br />

tro, combina elementos <strong>de</strong> comédia, drama, sátira e<br />

tragédia. Surgiu no século XVIII, e é um dos traços<br />

culturais mais marcantes da cultura brasileira, principalmente<br />

no Nor<strong>de</strong>ste. O maranhense Teodoro<br />

Freire, um apaixonado pela tradição do Boi, mudouse<br />

para Brasília na década <strong>de</strong> 1960 e criou o Centro<br />

<strong>de</strong> Tradições Populares, concretizando o sonho <strong>de</strong><br />

divulgar o folclore nor<strong>de</strong>stino. O Bumba-meu-Boi<br />

apresentado em Brasília, uma espécie <strong>de</strong> auto que<br />

encena o rapto, a morte e a ressurreição do Boi,<br />

<strong>de</strong>u popularida<strong>de</strong> à Seu Teodoro.<br />

a Doutrina espiritualista<br />

Cristã Do vale Do amanhe-<br />

Cer<br />

Ala: Sambando na <strong>Beija</strong>-<strong>Flor</strong><br />

Presi<strong>de</strong>nte: Jorge Luiz Soares<br />

Número <strong>de</strong> Componentes: 70<br />

Ala: Amiza<strong>de</strong><br />

Presi<strong>de</strong>nte: Clei<strong>de</strong> Alves<br />

Número <strong>de</strong> Componentes:<br />

O Vale do Amanhecer é uma comunida<strong>de</strong> criada<br />

para abrigar a Doutrina do Amanhecer, doutrina<br />

e s p i r i t u a l i s t a cristã, fundada em 1959,<br />

pela médium clarivi<strong>de</strong>nte<br />

Neiva Chavez Zelaya,<br />

a Tia Neiva. Localizada<br />

a 45 km <strong>de</strong> Brasília, a<br />

Doutrina do Amanhecer<br />

foi trazida, através<br />

da clarivi<strong>de</strong>nte, pelo<br />

espírito <strong>de</strong> Francisco<br />

<strong>de</strong> Assis, conhecido<br />

neste meio como<br />

“Pai Seta Branca”,<br />

e por sua equipe<br />

espiritual, contendo<br />

elementos <strong>de</strong><br />

várias outras religiões.<br />

A Doutrina<br />

do Amanhecer<br />

já conta<br />

com mais <strong>de</strong><br />

600 templos<br />

em todo<br />

o Brasil e<br />

em outros<br />

países.<br />

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sou Brasiliense! sou CalanGo!<br />

sou artista!<br />

Ala: Os Impossíveis<br />

Presi<strong>de</strong>nte: Iara Mariano & Cosme<br />

Número <strong>de</strong> Componentes: 70<br />

Brasília é composta por nor<strong>de</strong>stinos, paulistas,<br />

cariocas, mineiros, nortistas, sulistas, estrangeiros<br />

e brasileiros, formando um verda<strong>de</strong>iro cal<strong>de</strong>irão <strong>de</strong><br />

culturas e biotipos. Calango, o nome do pequeno<br />

lagarto que suporta altas temperaturas em lugares<br />

secos e ensolarados, foi escolhido por artistas,<br />

músicos e esportistas do cerrado para <strong>de</strong>finir o seu<br />

trabalho e representar a miscigenação cultural da<br />

cida<strong>de</strong>. Justamente por estar presente em diversas<br />

regiões do país, o nome tem algo que representa<br />

Brasília e o som diversificado que está sendo feito<br />

na capital, bastante influenciado pelo punk e pelo<br />

rock. Brasília é candanga, é brasileira, é artista!<br />

o prestiGiaDo Festival De<br />

Cinema Brasileiro<br />

Ala: Raízes da <strong>Flor</strong><br />

Presi<strong>de</strong>nte: Luciana Castro & Ivone Pinheiro<br />

Número <strong>de</strong> Componentes: 70<br />

O Festival <strong>de</strong> Brasília, que tem por nome oficial<br />

Festival <strong>de</strong> Brasília do Cinema Brasileiro – FBCB,<br />

existe <strong>de</strong>s<strong>de</strong> 1965, e é promovido pelo Governo do<br />

Distrito Fe<strong>de</strong>ral. O festival, que nas duas primeiras<br />

edições foi chamado <strong>de</strong> Semana do Cinema Brasileiro,<br />

<strong>de</strong>ve apresentar filmes inéditos, tantos os<br />

<strong>de</strong> curta, como os <strong>de</strong> longa metragem. Os vencedores<br />

recebem o Troféu Candango, em homenagem<br />

aos brasilienses, bem como prêmios em dinheiro.<br />

a leGião De artistas Brasilienses<br />

– velha GuarDa<br />

Ala: Velha Guarda<br />

Presi<strong>de</strong>nte: Débora Rosa<br />

Número <strong>de</strong> Componentes: 70<br />

Brasília é um gran<strong>de</strong> palco, que reúne uma legião<br />

<strong>de</strong> artistas <strong>de</strong> variados segmentos. São artesãos,<br />

atores, cantores, compositores, escultores, pintores,<br />

escritores, músicos e artistas diversos, que<br />

misturam aptidões, dons, sons, ritmos e crenças,<br />

caracterizando a i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> local. Brasília, cenário<br />

artístico, cal<strong>de</strong>irão cultural!<br />

aleGoria 07<br />

“Brasília – a esQuina Do<br />

Brasil em um CalDeirão Cultural”<br />

harmonia Do setor:<br />

reinalDo santos & everalDo araúJo<br />

Fevereiro 2010


Laíla<br />

50 anos <strong>de</strong> carnaval<br />

“Devíamos balançar a roseira<br />

Dar um susto na Portela<br />

No Império e na Mangueira<br />

Se houvesse opinião<br />

O Salgueiro apresentava<br />

Uma só união<br />

No meio <strong>de</strong> gente bamba<br />

Frequentadores <strong>de</strong> samba<br />

Iam conhecer o Salgueiro<br />

Como primeiro em melodia<br />

Acontece que chegou a aca<strong>de</strong>mia”<br />

RICARDO DA FON<strong>SE</strong>CA<br />

Geraldo Babão<br />

O Desfile das Escolas <strong>de</strong> Samba do Grupo Especial<br />

po<strong>de</strong> ser consi<strong>de</strong>rado o mais importante evento<br />

cultural e turístico do Brasil e do mundo nesse<br />

período. Destino certo <strong>de</strong> milhares <strong>de</strong> pessoas, o<br />

Desfile <strong>de</strong> Carnaval, como é conhecido, conquista<br />

a cada ano o interesse <strong>de</strong> brasileiros e estrangeiros,<br />

que encontram nesse espetáculo a céu aberto<br />

emoções e divertimento que serão lembrados pelo<br />

resto <strong>de</strong> suas vidas.<br />

A evolução <strong>de</strong>ste quase secular espetáculo se<br />

<strong>de</strong>ve, entre tantos fatores, à <strong>de</strong>dicação <strong>de</strong> alguns<br />

personagens que conceberam caminhos, criaram<br />

formas e inovaram expressões, tornando o Desfile<br />

<strong>de</strong> Carnaval o que é hoje.<br />

Esse ano, no dia 28 <strong>de</strong> fevereiro, um <strong>de</strong>sses personagens<br />

comemora 50 anos <strong>de</strong> <strong>de</strong>dicação e serviços<br />

prestados ao samba e ao carnaval carioca:<br />

Luiz Fernando Ribeiro do Carmo, o Laíla.<br />

Revista <strong>Beija</strong>-<strong>Flor</strong> <strong>de</strong> <strong>Nilópolis</strong> www.beija-flor.com.br


Se existem histórias que parecem ter sido pré<strong>de</strong>terminadas<br />

pela vida, em outra esfera além da<br />

Humanida<strong>de</strong>, a <strong>de</strong> Laíla nos parece ser uma <strong>de</strong>las.<br />

Em um cenário <strong>de</strong> pobreza e dignida<strong>de</strong>, essa história<br />

teve início na cida<strong>de</strong> do Rio <strong>de</strong> Janeiro. Mais<br />

precisamente no Morro do Salgueiro, no bairro da<br />

Tijuca.<br />

Ali, <strong>de</strong>bruçado na janela <strong>de</strong> uma pequena casa <strong>de</strong><br />

ma<strong>de</strong>ira e alvenaria, quase que diariamente o pequeno<br />

Laíla observava, no quintal vizinho, os diretores<br />

<strong>de</strong> uma escola <strong>de</strong> samba do Morro do Salgueiro<br />

discutindo, tomando <strong>de</strong>cisões, festejando e<br />

organizando a escola <strong>de</strong> samba. Com o olhar atento,<br />

o menino observava, percebia, ouvia tudo que<br />

acontecia naquele quintal.<br />

Moleque ainda – entre oito e nove anos –, o pequeno<br />

Laíla fundou no Morro do Salgueiro, on<strong>de</strong> nasceu<br />

e foi criado, uma agremiação mirim <strong>de</strong> samba<br />

e carnaval, formada apenas por crianças do morro.<br />

Era uma escola <strong>de</strong> samba mirim on<strong>de</strong> aproximadamente<br />

40 crianças, no período <strong>de</strong> carnaval, saíam<br />

do Morro do Salgueiro e, seguindo pela Rua General<br />

Roca, iam até a Praça Saens Peña, atraindo<br />

a atenção das pessoas que passavam pelo bairro.<br />

“Era o maior sucesso. As pessoas paravam e acompanhavam<br />

o nosso <strong>de</strong>sfile até a Praça Saens Peña”,<br />

relembra Laíla.<br />

Era início da década <strong>de</strong> 50, e a “In<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte da<br />

la<strong>de</strong>ira” – esse era o nome da agremiação – já tinha<br />

em sua formação um casal <strong>de</strong> mestre-sala e portaban<strong>de</strong>ira<br />

mirim e uma imponente bateria, formada<br />

<strong>de</strong> latões e latas coloridas. Os carros alegóricos,<br />

feitos <strong>de</strong> caixotes <strong>de</strong> bacalhau, e os <strong>de</strong>sfilantes,<br />

fantasiados com muito papel crepom e muito brilho<br />

– das pequenas lâmpadas que, por i<strong>de</strong>ia do Laíla,<br />

enfeitavam as fantasias – eram atração garantida.<br />

A “In<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte da la<strong>de</strong>ira”, tendo como gran<strong>de</strong><br />

comandante o Laíla, que também criava os sambas-enredo<br />

e as alegorias com a ajuda do menino<br />

Totonho, foi sucesso no bairro por mais <strong>de</strong> cinco<br />

anos, tempo que durou a agremiação mirim.<br />

Já naquela época, as suas i<strong>de</strong>ias e iniciativas evi<strong>de</strong>nciavam<br />

que aquele garoto tinha o talento para a<br />

li<strong>de</strong>rança e para a inovação.<br />

E que vinha para fazer e contar uma história importante.<br />

Sempre ao lado <strong>de</strong> D. Corina, sua mãe e primeiro<br />

<strong>de</strong>staque da “Depois eu digo”, uma das tradicionais<br />

escolas <strong>de</strong> samba do Morro do Salgueiro, Laíla<br />

acompanhava <strong>de</strong> perto as disputas <strong>de</strong> sambas-enredo<br />

no Morro do Salgueiro. Não <strong>de</strong>morou muito<br />

para que fosse convidado a integrar uma das principais<br />

escolas <strong>de</strong> samba da época. “Era 1956. Eu<br />

tinha 13 anos <strong>de</strong> ida<strong>de</strong> e gostava <strong>de</strong> cantar, e cantava<br />

relativamente bem. Um dia, o Duduca (autor<br />

<strong>de</strong> sambas-enredo da agremiação tijucana e presi<strong>de</strong>nte<br />

da Ala <strong>de</strong> Compositores) me procurou e me<br />

convidou para <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>r no Salgueiro o samba que<br />

ele havia composto. Muitos estranharam o convite<br />

do Duduca, porque era um garoto <strong>de</strong> 13 anos e<br />

nunca tinha acontecido <strong>de</strong> uma pessoa tão jovem<br />

<strong>de</strong>fen<strong>de</strong>r um samba-enredo. Fiz o que tinha que ser<br />

feito e o samba foi vice-campeão.”<br />

Nesse ano D. Corina faleceu com 34 anos <strong>de</strong> ida<strong>de</strong>,<br />

e Laíla passou a ser criado por seu tio Adão e sua<br />

tia Madalena. A perda <strong>de</strong> uma pessoa importante<br />

na sua vida foi compensada com o acolhimento<br />

pelo casal <strong>de</strong> tios, figuras marcantes e <strong>de</strong> gran<strong>de</strong><br />

importância na formação do caráter <strong>de</strong> Laíla: “Eu<br />

tenho muita gratidão pela tia Madalena e pelo tio<br />

Adão, que me criaram. Eles me <strong>de</strong>ram educação.<br />

Fizeram-me ser homem <strong>de</strong> verda<strong>de</strong>, pessoa correta,<br />

honesta, porque meu tio Adão era uma pessoa<br />

muito trabalhadora e correta, que me ensinou o caminho.<br />

E eu sou muito grato a isso.”<br />

Se em sua vida privada Laíla equilibrava perdas<br />

e ganhos, na Acadêmicos do Salgueiro um novo<br />

ciclo estava se iniciando. Sob o olhar atento dos<br />

diretores da agremiação, em 1960 Laíla fez o seu<br />

primeiro <strong>de</strong>sfile, na Av. Rio Branco, em frente ao<br />

Teatro Municipal: “Lembro-me muito bem. O ano<br />

era 1960. Era um domingo, dia 28 <strong>de</strong> fevereiro. Entramos<br />

na Av. Rio Branco com o enredo que falava<br />

do Quilombo dos Palmares, <strong>de</strong> autoria do Nelson<br />

<strong>de</strong> Andra<strong>de</strong>. Eu era a pessoa da harmonia na avenida,<br />

que fazia o vai e vem. Minha função era circular<br />

com o megafone entre as alas para não <strong>de</strong>ixar o<br />

samba atravessar. Na época, os sambas atravessavam<br />

muito, porque não tinha o apoio dos sons<br />

que tem hoje...”<br />

E na Avenida Laíla não <strong>de</strong>cepcionou. Exercendo a<br />

função com muita eficiência, a atenção dos mais<br />

velhos da agremiação se voltou para o jovem sambista.<br />

Começava ali a trajetória do mais respeitado<br />

e mais completo diretor <strong>de</strong> harmonia e <strong>de</strong> carnaval<br />

da história das escolas <strong>de</strong> samba.<br />

Des<strong>de</strong> sua primeira participação na avenida, em<br />

1960, muita coisa aconteceu.<br />

Foram 50 anos <strong>de</strong> carnaval, e neles Laíla não só<br />

acompanhou todas as importantes mudanças ocorridas<br />

no carnaval e nas escolas <strong>de</strong> samba – na avenida<br />

e nos barracões – como foi o i<strong>de</strong>alizador <strong>de</strong><br />

Fevereiro 2010


Na foto, alguns dos integrantes da Ala dos Compositores da Acadêmicos do Salgueiro: Zuzuca, Sílvio Pompeu, Carlinho<br />

Pepé, Italianinho, Noel Rosa <strong>de</strong> Oliveira, Mário e Laíla.<br />

muitas <strong>de</strong>las. Ele foi o primeiro diretor <strong>de</strong> harmonia<br />

a sair da posição fixa tradicional, que era vir à frente<br />

da ala das baianas, para circular por todas as<br />

alas da escola.<br />

Foi ele também quem substituiu a figura central <strong>de</strong><br />

um carnavalesco por uma equipe <strong>de</strong> carnavalescos.<br />

“A comissão <strong>de</strong> carnavalescos foi i<strong>de</strong>ia minha. Com<br />

a saída do carnavalesco da <strong>Beija</strong>-<strong>Flor</strong> <strong>de</strong> <strong>Nilópolis</strong><br />

para outra escola, o Anizio me chamou e o Cid<br />

Carvalho para uma conversa. Ele queria contratar<br />

um novo carnavalesco, mas era inviável para a<br />

agremiação, porque estávamos com uma <strong>de</strong>spesa<br />

crescente <strong>de</strong>vido ao investimento que estava sendo<br />

realizado na estruturação e fortalecimento das<br />

alas <strong>de</strong> comunida<strong>de</strong>. Eu sugeri ao Anizio que não<br />

contratasse nenhum carnavalesco <strong>de</strong> fora, porque<br />

eu iria formar uma comissão <strong>de</strong> carnaval com as<br />

pessoas talentosas que tínhamos <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> nossa<br />

casa.”<br />

Laíla, que na Acadêmicos do Salgueiro já havia trabalhado<br />

com um mo<strong>de</strong>lo semelhante ao que planejava<br />

para a agremiação nilopolitana, sabia que os<br />

resultados chegariam. “Eu participei, no Salgueiro,<br />

<strong>de</strong> uma comissão que tinha Fernando Pamplona,<br />

Arlindo Rodrigues, Rosa Magalhães, Lícia Lacerda,<br />

João 30 e Maria Augusta Rodrigues. Era uma gran<strong>de</strong><br />

comissão on<strong>de</strong> cada um tinha sua função, apesar<br />

<strong>de</strong> nenhum <strong>de</strong> nós usarmos o termo ‘comissão’.<br />

Na época, ainda se valorizava muito um <strong>de</strong>sfile que<br />

tivesse a assinatura <strong>de</strong> um único carnavalesco, ou<br />

<strong>de</strong> uma dupla <strong>de</strong> carnavalescos. No Salgueiro, os<br />

nomes eram Arlindo Rodrigues e Fernando Pamplona,<br />

mas o nosso grupo <strong>de</strong> carnavalescos realizou<br />

coisas fantásticas no Salgueiro.”<br />

Montada a comissão <strong>de</strong> carnavalescos, com sucesso<br />

comprovado pelos resultados, Laíla lançou na<br />

<strong>Beija</strong>-<strong>Flor</strong> <strong>de</strong> <strong>Nilópolis</strong>, para as outras áreas vitais<br />

da escola, a proposta <strong>de</strong> substituir figuras centrais<br />

por equipes <strong>de</strong> profissionais. Hoje, a agremiação <strong>de</strong><br />

<strong>Nilópolis</strong> conta com uma equipe <strong>de</strong> harmonia, uma<br />

equipe <strong>de</strong> representantes <strong>de</strong> comunida<strong>de</strong> e uma<br />

equipe <strong>de</strong> bateria – a comissão <strong>de</strong> bateria, integrada<br />

pelos Mestres Rodney, Binho e Plínio, além da<br />

comissão <strong>de</strong> carnavalescos, formada por Alexandre<br />

Louzada, Fran Sérgio e Ubiratan Silva, e pelo<br />

próprio Laíla. “Nas escolas <strong>de</strong> samba, cada área,<br />

cada <strong>de</strong>partamento é muito individualizado, centralizado<br />

em uma única pessoa. E, para mim, um bom<br />

Revista <strong>Beija</strong>-<strong>Flor</strong> <strong>de</strong> <strong>Nilópolis</strong> www.beija-flor.com.br


Eu era diretor <strong>de</strong> patrimônio do Salgueiro, e reparava<br />

que ele ficava da janela da casa <strong>de</strong>le observando as<br />

nossas reuniões, que eram realizadas no quintal ao lado<br />

da casa do Laíla. Ele ficava lá, moleque ainda, vendo os<br />

diretores da escola <strong>de</strong>cidirem as coisas do carnaval do<br />

Salgueiro. E ele era um menino muito inteligente, muito<br />

esperto. Sabia que ele ia conseguir conquistar alguma<br />

coisa boa, porque ele era diferente dos outros meninos...<br />

Ele chegou, inclusive, a fundar uma escola <strong>de</strong> samba.<br />

Admiro muito o Laíla, por tudo que ele conseguiu conquistar no carnaval. E suas<br />

conquistas não foram só para ele, foram para todos os que trabalham no carnaval.<br />

Djalma Sabiá<br />

carnaval é o resultado <strong>de</strong> um trabalho <strong>de</strong> base, <strong>de</strong><br />

equipe. Não dá mais para centralizar em uma única<br />

pessoa, seja carnavalesco ou mestre <strong>de</strong> bateria.”<br />

Durante esses anos, Laíla tem atuado <strong>de</strong>ssa maneira;<br />

entra na escola, observa o que funciona bem<br />

e o que não funciona como <strong>de</strong>veria. Lí<strong>de</strong>r nato,<br />

Laíla comanda: briga, exige, pe<strong>de</strong>, faz, aconselha,<br />

incentiva, orienta, pune... Tudo para que a escola<br />

possa fazer um carnaval com a qualida<strong>de</strong> que o espetáculo<br />

e o público exigem.<br />

Temperamento ou vocação, o fato é que ele sabe<br />

muito bem comandar. E por mais que pareça um<br />

ato autoritário, comandar não é uma ação ditatorial.<br />

Comandar tem o significado <strong>de</strong> coor<strong>de</strong>nar<br />

esforços. E comandar exige um profundo conhecimento<br />

do que se faz para po<strong>de</strong>r fazer <strong>de</strong> modo<br />

mais eficaz. Comandar é i<strong>de</strong>ntificar potencialida<strong>de</strong>s<br />

e <strong>de</strong>senvolvê-las. É gritar, é avançar... E recuar,<br />

se preciso for... Mas comandar é sempre, e acima<br />

<strong>de</strong> tudo agir. E talvez seja essa a gran<strong>de</strong> marca <strong>de</strong><br />

Laíla na história do carnaval: atitu<strong>de</strong>. “Lembro-me<br />

que em um <strong>de</strong>terminado ano, durante uma terrível<br />

crise financeira no Salgueiro, duas semanas antes<br />

do carnaval os caras que mandavam na escola fizeram<br />

uma reunião dizendo que a Salgueiro não ia<br />

ter condições <strong>de</strong> colocar o carnaval na rua. Eu fui o<br />

único que peitei – moleque, garoto –, peitei e falei<br />

assim: ’vai colocar o carnaval do Salgueiro na rua<br />

sim, senão morre!’(risos), aquela coisa da ocasião...<br />

Eu era um moleque meio brabo no morro. Ninguém<br />

se metia comigo não. E tem horas que a gente tem<br />

que partir para <strong>de</strong>ntro, não dá para ficar olhando<br />

calado, sentadinho. E o Salgueiro <strong>de</strong>sfilou.”<br />

Um homem <strong>de</strong> atitu<strong>de</strong>, a <strong>de</strong>speito do que os outros<br />

possam dar em troca.<br />

Atitu<strong>de</strong> <strong>de</strong> coragem, como a que teve na Unidos da<br />

Tijuca, em 1981, quando a escola estava totalmente<br />

<strong>de</strong>sfalcada <strong>de</strong> seus componentes, que ainda não<br />

haviam chegado ao <strong>de</strong>sfile. “Eu atrasei o <strong>de</strong>sfile da<br />

Unidos da Tijuca. Chamei o Quiro, presi<strong>de</strong>nte da<br />

agremiação, e o Paulo César, que era o diretor <strong>de</strong><br />

carnaval, e falei: ‘não tem ninguém, não tem baiana,<br />

não tem bateria, não tem ninguém’. E o <strong>de</strong>sfile<br />

iria começar às 18h. Aí tomei uma <strong>de</strong>cisão, que<br />

transmiti a eles: ‘Eu vou atrasar, eu vou arrumar<br />

um jeito, mas vou atrasar. Assim como está a escola<br />

não entra na Avenida! ’ Os carros já estavam<br />

lá perto da pista. Fui lá, tirei os carros, coloquei todos<br />

lá na área <strong>de</strong> concentração. A hora começou<br />

a passar... Aquela coisa <strong>de</strong> entra, não entra, uma<br />

confusão. A Unidos da Tijuca foi entrar às 21h45.<br />

A escola fez um gran<strong>de</strong> <strong>de</strong>sfile e foi a sétima colocada<br />

geral. Tinha que ser feito algo, e eu fiz. Infelizmente,<br />

a escola per<strong>de</strong>u cinco pontos e, para piorar,<br />

as pessoas que me apoiaram na <strong>de</strong>cisão, <strong>de</strong>pois <strong>de</strong><br />

terminado o <strong>de</strong>sfile, acovardaram-se e atribuíram<br />

a mim a culpa pela perda dos pontos, acusando-me<br />

<strong>de</strong> ter feito sem a autorização <strong>de</strong>les. Fiquei muito<br />

<strong>de</strong>cepcionado, mas não recuei e tomei a <strong>de</strong>cisão<br />

que tinha que ser tomada. É bem possível que, se<br />

a escola entrasse na Avenida tão <strong>de</strong>sfalcada como<br />

estava, per<strong>de</strong>ria mais pontos ainda. Mas isso ninguém<br />

quis ver”, <strong>de</strong>sabafa Laíla.<br />

Injustiças à parte, quem conhece Laíla sabe que a<br />

lealda<strong>de</strong> <strong>de</strong>le é ao carnaval. On<strong>de</strong> houver algo errado<br />

a ser i<strong>de</strong>ntificado e corrigido, lá estará o olhar<br />

atento e a língua afiada no carnavalesco.<br />

Mas essa competência e capacida<strong>de</strong> que Laíla possui<br />

em i<strong>de</strong>ntificar necessida<strong>de</strong>s da escola <strong>de</strong> samba<br />

não é um bem herdado; é fruto <strong>de</strong> uma vida inten-<br />

Fevereiro 2010


samente <strong>de</strong>dicada ao samba e ao carnaval. “Dediquei<br />

minha vida ao samba em uma época em que<br />

não se podia viver <strong>de</strong>centemente <strong>de</strong>le. As dificulda<strong>de</strong>s<br />

eram muitas... Eu era moleque, não bandido.<br />

Podia ter me <strong>de</strong>sviado e não me <strong>de</strong>sviei. Muitos<br />

que foram criados comigo no Morro do Salgueiro<br />

acabaram caindo no mundo do crime. Eu tinha preferência<br />

por duas coisas: Samba e Futebol. Eu jogava<br />

bem – tanto que eu fiz parte do time juvenil do<br />

Vasco e do São Cristóvão. Mas eu tive que optar<br />

entre o samba e o futebol, porque o samba me obrigava<br />

ficar acordado até <strong>de</strong> manhã. Não tinha como<br />

eu ir treinar... Eu chegava ao treino muito cansado.<br />

Eu tive que optar e optei pelo samba. No samba<br />

e no carnaval eu sempre buscava, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> moleque,<br />

saber <strong>de</strong> tudo, enten<strong>de</strong>r tudo, fazer tudo. Sempre<br />

observava para apren<strong>de</strong>r. Nessa época <strong>de</strong> garoto,<br />

eu tocava todos os instrumentos <strong>de</strong> percussão. Fui<br />

mestre-sala, fui compositor, cantor... Eu tenho uma<br />

trajetória sólida, eu não entrei pela janela. Foi essa<br />

a minha opção <strong>de</strong> vida.”<br />

Uma opção que o obrigava a viver com restrições.<br />

Acusado <strong>de</strong> vagabundo por familiares por ter optado<br />

pelo samba, não faltaram críticas e conselhos<br />

para Laíla procurar um emprego, seja em uma obra<br />

ou em qualquer outra coisa. Eram tempos difíceis<br />

para quem estava pre<strong>de</strong>stinado a realizar uma<br />

gran<strong>de</strong> missão transformadora no carnaval do Rio<br />

<strong>de</strong> Janeiro. ”Eu passava dificulda<strong>de</strong>s, mas sempre<br />

me mantinha na minha. Eu persisti no samba.”<br />

Nesses momentos difíceis, muitas vezes <strong>de</strong>sempregado,<br />

sem abandonar o samba – que corria solto<br />

nas suas veias –, Laíla trabalhou nas mais diversas<br />

ativida<strong>de</strong>s. Ele foi faxineiro, trabalhou como pintor,<br />

como lixeiro, tudo para ganhar seu próprio dinheiro,<br />

que o samba não lhe dava. “Depois que eu constituí<br />

família, ela sofreu junto comigo todas essas<br />

privações. Eu era o Laíla do Salgueiro... e duro.<br />

Não tinha dinheiro para comprar leite para os meus<br />

filhos, nem pão... E minha família dividia isso comigo:<br />

minha esposa Marli e meus filhos Luís Cláudio e<br />

Denise dividiram essas dificulda<strong>de</strong>s comigo... Mas<br />

eu nunca <strong>de</strong>sisti. E encontrei na minha família muita<br />

força para persistir, correr atrás e chegar on<strong>de</strong><br />

chequei. Hoje, Marli, Luís Cláudio e Denise, e meus<br />

três netos Amanda, Carol e Luís Antônio são a minha<br />

fortaleza. A Marli eu conheci na escola <strong>de</strong> samba<br />

mirim que eu fiz. Comecei a namorar ela com<br />

“Laíla tem o samba na alma, nos pés e na cabeça<br />

<strong>de</strong>s<strong>de</strong> os tempos <strong>de</strong> moleque no Morro<br />

do Salgueiro. Her<strong>de</strong>iro direto da sabedoria e<br />

da paixão carnavalesca <strong>de</strong> Fernando Pamplona<br />

e Arlindo Rodrigues, ele fez da <strong>Beija</strong>-<strong>Flor</strong><br />

sua morada espiritual e lúdica. Exercendo a<br />

li<strong>de</strong>rança com firmeza e <strong>de</strong>terminação, criou<br />

os fatores que ajudaram a formar a história<br />

do orgulho da comunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>Nilópolis</strong>, estado<br />

<strong>de</strong> alegria, cuja capital é a <strong>Beija</strong>-<strong>Flor</strong>.”<br />

Haroldo Costa<br />

15 anos. Ela tinha 11 anos e <strong>de</strong>s<strong>de</strong> aquela época a<br />

Marli sempre esteve comigo em todos esses momentos<br />

<strong>de</strong> dureza. Ela é uma mulher forte que eu<br />

admiro muito.”<br />

O fato é que Laíla persistiu e hoje é reconhecido<br />

pelo seu trabalho, pelo que realizou em favor do<br />

carnaval carioca.<br />

O mundo do samba e do carnaval – e o gran<strong>de</strong><br />

público na avenida e nos lares ao redor do mundo<br />

– agra<strong>de</strong>cem felizes ao Laíla – o comandante do<br />

carnaval – os serviços prestados em favor da arte,<br />

do samba e da cultura brasileira.<br />

Valeu Laíla!<br />

Revista <strong>Beija</strong>-<strong>Flor</strong> <strong>de</strong> <strong>Nilópolis</strong> www.beija-flor.com.br


“Admiro muito a trajetória seguida pelo Laíla.<br />

Ele <strong>de</strong>monstra uma profunda inteligência,<br />

percepção e sensibilida<strong>de</strong> em relação à<br />

vida como um todo. Ele criou e <strong>de</strong>finiu o que<br />

é o diretor <strong>de</strong> carnaval, uma figura <strong>de</strong>cisiva<br />

para um bom <strong>de</strong>sempenho<br />

<strong>de</strong> uma escola <strong>de</strong> samba. Se<br />

analisarmos hoje cada escola<br />

que tem acertado, vamos ver<br />

que elas têm um bom diretor<br />

<strong>de</strong> carnaval, ainda que com<br />

outra <strong>de</strong>signação.<br />

Laíla <strong>de</strong>finiu, criou a função<br />

<strong>de</strong> diretor <strong>de</strong> carnaval. Ele<br />

fez isso com a sua atuação ao<br />

longo da sua vida no carnaval.<br />

É uma função que engloba a<br />

atuação e o conhecimento do<br />

diretor <strong>de</strong> harmonia, do diretor<br />

<strong>de</strong> quadra, do mestre <strong>de</strong><br />

bateria, do presi<strong>de</strong>nte da ala<br />

dos compositores...<br />

Vejo o carnaval com duas dimensões:<br />

a dimensão material,<br />

que engloba o aspecto<br />

visual, ligado à fantasia, à<br />

alegorias e a<strong>de</strong>reços. E a dimensão<br />

imaterial, que envolve<br />

o ritmo da bateria, o andamento<br />

e a evolução da escola,<br />

a tonalida<strong>de</strong> e qualida<strong>de</strong> do<br />

samba-enredo e a relação do<br />

samba-enredo com a bateria.<br />

Ambas dimensões são vitais<br />

para um bom <strong>de</strong>sfile. E o Laíla<br />

conhece profundamente<br />

todas essas dimensões, e por isso ele é<br />

um diretor <strong>de</strong> carnaval e harmonia da qualida<strong>de</strong><br />

que todos reconhecem. E com esse<br />

conhecimento, e acima <strong>de</strong> tudo com essa<br />

vivência, ele vai e faz. É uma pessoa que<br />

eu nunca vi ficar satisfeito com o mais ou<br />

menos. Ele sempre quer fazer o melhor.”<br />

Maria Augusta Rodrigues<br />

Fevereiro 2010


BOAS PARCERIAS<br />

Uma nova parceria, feita <strong>de</strong> inspiração e talento, traçou em samba a trajetória dos 50 anos <strong>de</strong> Brasília,<br />

que a <strong>Beija</strong>-<strong>Flor</strong> <strong>de</strong> <strong>Nilópolis</strong> mostrará na avenida. Todos sambistas da Azul e Branco, <strong>de</strong> pouco ou muito<br />

tempo: Picolé, Samir, Sumaré, Sérgio, André e Marimba. O grupo foi se formando aos poucos: ao “quarteto”<br />

inicial Picolé, Samir, Sumaré e Serginho, uniu-se André e Marimba, vencedor da etapa brasiliense do<br />

concurso <strong>de</strong> samba-enredo, formando assim a parceria vitoriosa do Carnaval 2010.<br />

Amigo comum <strong>de</strong> todos eles, o compositor Pixulé apresentou Samir Trinda<strong>de</strong> ao Picolé da <strong>Beija</strong>-<strong>Flor</strong>, que<br />

recebeu convite <strong>de</strong> Sérgio Sumaré para disputar o novo enredo da <strong>Beija</strong>-<strong>Flor</strong>. Sumaré veio com o xará<br />

Aguiar a reboque. Alguns até já haviam trabalhado juntos, e outros nunca tinham se cruzado. Portanto,<br />

era uma parceria inédita; e tinha tudo para dar errado. Em um primeiro momento, o cavaquinista sumiu.<br />

Felizmente alguém teve a i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> sugerir o nome <strong>de</strong> André para integrar o grupo. A gravação do disco <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>monstração somente foi possível um mês após a data prevista. O refrão foi rejeitado quase às vésperas<br />

da finalíssima. O intérprete que apresentaria o samba na quadra só pô<strong>de</strong> ser confirmado em cima da hora.<br />

Entretanto, a <strong>de</strong>terminação e a persistência foram maiores que os problemas e a nova parceria teve a<br />

escolha do seu samba ratificado pela euforia da comunida<strong>de</strong> na gran<strong>de</strong> final.<br />

Parceiros, se reuniam diversas vezes por semana, conversavam por telefone todos os dias, construíam<br />

poesia e harmonia, discutiam versos e rimas, sustenidos e bemóis, tudo por um único objetivo: levar sua<br />

versão poética e melódica <strong>de</strong> “Brasília, 50 anos - Brasília do Sonho à Realida<strong>de</strong>, a Capital da Esperança”<br />

para a Passarela do Samba, com toda a comunida<strong>de</strong> nilopolitana cantando e sambando com a alegria <strong>de</strong><br />

sempre rumo à conquista <strong>de</strong> mais um título <strong>de</strong> campeã do carnaval carioca.<br />

Quem é quem?<br />

Picolé da <strong>Beija</strong>-<strong>Flor</strong>. Escreveu seu nome na agremiação<br />

<strong>de</strong>s<strong>de</strong> a primeira hora. Segundo ele, a escola<br />

está “sempre <strong>de</strong> braços abertos para receber as pessoas”.<br />

Seus antece<strong>de</strong>ntes têm tudo a ver com samba<br />

e Carnaval: participou dos blocos Deixa Comigo<br />

e Embaixada do Sapo. Por orientação dos amigos<br />

Sebastião Adilson e Isaias Chorão (da Mangueira),<br />

e a convite do então presi<strong>de</strong>nte a Ala <strong>de</strong> Compositores,<br />

Aluisio Machado, ele entrou para Azul e Branco<br />

em 1968. E nela logo venceu o concurso <strong>de</strong> sambas<br />

<strong>de</strong> quadra <strong>de</strong> 1970, “Assim Você Mata, Papai”.<br />

Em 1981, assinou sua primeira conquista: “Carnaval<br />

do Brasil, a Oitava das Sete Maravilhas do Mundo”,<br />

com Dicró. Uma fusão com o samba <strong>de</strong> Nego<br />

e Neguinho da <strong>Beija</strong>-<strong>Flor</strong>, esses autores passam a<br />

integrar a parceria. Diante do êxito com os atuais<br />

companheiros, Picolé <strong>de</strong>clara: “se eu soubesse que<br />

fazer parceria era tão bom, eu já teria feito outras<br />

vezes”. E se serve da mais exata das ciências para<br />

resumir o processo <strong>de</strong> criação do grupo, que acredita<br />

tenha garantido a escolha do samba: “a gente<br />

soma, multiplica, divi<strong>de</strong> e subtrai... isso é igual<br />

a... essência do trabalho”. E arremata: “tivemos a<br />

MIRO LOPES<br />

felicida<strong>de</strong> <strong>de</strong> fazer um trabalho que conquistou a<br />

comunida<strong>de</strong> inteira”.<br />

Filho <strong>de</strong> D. Antonieta e seu José, Hélio Nascimento<br />

nasceu, sob o signo <strong>de</strong> Capricórnio, em Estância,<br />

no Sergipe, há 66 anos. É fisioterapeuta com graduação<br />

em trauma-ortopedia. Ele também expressa<br />

sua criativida<strong>de</strong> e talento através da pintura.<br />

André do Cavaco. Carioca <strong>de</strong> Anchieta, chegou<br />

à <strong>Beija</strong>-<strong>Flor</strong>, com seu amigo Betinho, para contar<br />

e cantar a sua história no enredo <strong>de</strong> “Saco vazio<br />

não pára em pé”, com Bira e Havaí. A experiência<br />

valeu: “Nosso samba tem um diferencial, que permitirá<br />

a galera expressar toda a emoção da letra e<br />

da melodia”. André colocou todo seu conhecimento<br />

e percepção musical a serviço <strong>de</strong>ssa parceria.<br />

Para quem respira e vive unicamente <strong>de</strong> música<br />

– e com ela sustenta a família –, André apostou<br />

todas as fichas do seu talento e <strong>de</strong>dicação nessa<br />

parceria. Formado em Harmonia pelo Centro <strong>de</strong><br />

Aperfeiçoamento Musical, André lapidou sua arte<br />

como violonista, tecladista e também como cavaquinista<br />

acompanhando intérpretes bem conhecidos<br />

como Jorge Aragão. Agora é só expectativa e<br />

ansieda<strong>de</strong>.<br />

0 Revista <strong>Beija</strong>-<strong>Flor</strong> <strong>de</strong> <strong>Nilópolis</strong> www.beija-flor.com.br


Serginho Aguiar. Sérgio Luiz da Costa Aguiar. Nasceu<br />

e se criou na Vila Militar. Milita (sem trocadilho!)<br />

no meio do samba mais da meta<strong>de</strong> dos anos<br />

que já viveu.<br />

O mundo do Carnaval tem seus mistérios. Serginho<br />

conhece bem essas coisas. Os atabaques tocaram,<br />

a parceria se confirmou e os caminhos da criação se<br />

abriram para os poetas do samba. Tinham que molhar<br />

a palavra na preciosa fonte da inspiração. Todos obe<strong>de</strong>ceram<br />

às orientações <strong>de</strong> Ogã. E entre um e outro<br />

gole, o samba foi fluindo. Um pitaco aqui, uma i<strong>de</strong>ia<br />

ali... todo mundo rezando pela mesma cartilha. Foram<br />

alguns meses <strong>de</strong> trabalho. Hoje o samba está ai.<br />

Ter fé é bom. Mesmo quando não se é mais marinheiro<br />

<strong>de</strong> primeira viagem. Serginho já é campeão:<br />

venceu o concurso <strong>de</strong> samba-enredo na Vizinha Fala<strong>de</strong>ira,<br />

em 2002, com Helinho 107, “Todo mundo tem<br />

família, só muda o en<strong>de</strong>reço”. Pago<strong>de</strong>iro inveterado,<br />

ele marca presença na roda <strong>de</strong> samba da Tia Doca<br />

e no pago<strong>de</strong> do Cinema (Madureira). Integrou a ala<br />

dos Compositores, em 2005, e concorreu ao samba<br />

<strong>de</strong> “Poços <strong>de</strong> Caldas”. Diretor <strong>de</strong> harmonia do Salgueiro<br />

há três anos, Serginho dá um tempo para se<br />

<strong>de</strong>dicar integralmente às homenagens a Brasília.<br />

Samir Trinda<strong>de</strong>. Samir é o mais jovem da turma. E<br />

está em estado <strong>de</strong> graça. Além do samba ser escolhido<br />

para representar a <strong>Beija</strong>-<strong>Flor</strong> na avenida,<br />

sua mulher espera mais um filho para janeiro. Dos<br />

seus 26 anos, doze ele já consumiu nas noitadas <strong>de</strong><br />

samba, levado pelo avô Dom Beto, compositor da<br />

Portela, quando <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>u “Olhos da Noite”, estreando<br />

como cantor aos 14 anos. Alma <strong>de</strong> sambista<br />

e <strong>de</strong> intérprete, para Samir se tornar compositor<br />

foi quase natural. Defendia as composições do avô,<br />

mas logo mostrou que também sabia versejar. Nos<br />

últimos oito anos, Samir participou das disputas <strong>de</strong><br />

samba-enredo na Azul e Branco nilopolitana. Defen<strong>de</strong>u<br />

o enredo “Levanta a poeira abala geral é o Boi<br />

com a <strong>Beija</strong>-<strong>Flor</strong> no Carnaval”, com que o Bloco do<br />

Boi homenageava a escola, e continua como intérprete<br />

oficial da Escola <strong>de</strong> Samba Arame <strong>de</strong> Ricardo<br />

(grupo D). Já era parceiro <strong>de</strong> André, mas foi Pixulé<br />

quem o aproximou dos atuais parceiros.<br />

Serginho Sumaré. O mundo do samba é mesmo<br />

envolvente. Paulo Sérgio Alves Teixeira, carioca do<br />

Méier, que o diga. Tem samba na cabeça, nas mãos e<br />

nos pés. Compositor, percussionista e mestre-sala.<br />

Competiu diversas vezes, tanto no Bloco Carnavalesco<br />

União do Parque Vitória (Duque <strong>de</strong> Caxias),<br />

quanto na <strong>Beija</strong>-<strong>Flor</strong> <strong>de</strong> <strong>Nilópolis</strong>. Em ambas sempre<br />

foi finalista, mas só em 2005, com o samba “Em<br />

nome do Pai, do Filho e do Espírito Guarani...” sentiu<br />

o doce gosto da vitória. Agora, o repeteco. Sumaré<br />

exulta: “Hoje eu me sinto um verda<strong>de</strong>iro campeão.<br />

Segui os conselhos do compositor portelense Beto<br />

Sem Braço: tem que ler e que se aperfeiçoar”, comenta,<br />

agra<strong>de</strong>cido pelas dicas. E completa: “a parceria<br />

esteve sempre unida”. Percussionista, é como<br />

músico e autor que ele afirma que “o samba-enredo<br />

está mudando harmonicamente”, e que ele consi<strong>de</strong>ra<br />

isso muito bom, porque exige mais dos compositores.<br />

E tem no DNA a vocação adormecida do<br />

mestre-sala; sua mãe, Vera Lúcia, foi a única mulher<br />

da história do Carnaval que se tem notícia a exercer<br />

oficialmente as funções <strong>de</strong> mestre-sala da União do<br />

Parque Vitória e, <strong>de</strong> quebra, seu pai ser o Ébio Nota<br />

Dez, mestre-sala da <strong>Flor</strong> da Mina do Andaraí.<br />

Picolé e os compositores do samba enredo <strong>de</strong> 2010<br />

Fevereiro 2010


Revista <strong>Beija</strong>-<strong>Flor</strong> <strong>de</strong> <strong>Nilópolis</strong> www.beija-flor.com.br


Fevereiro 2010


G a b r i e l D a v i d<br />

s a n g u e b o m n a s p i s t a s e n a a v e n i d a<br />

HILTON ABI-RIHAN<br />

On<strong>de</strong> quer que estejam, os integrantes da família <strong>Beija</strong>-<strong>Flor</strong> <strong>de</strong> <strong>Nilópolis</strong> <strong>de</strong>ixam a sua<br />

marca <strong>de</strong> guerreiros <strong>de</strong>dicados. De <strong>Nilópolis</strong> à Copacabana, do Amapá ao Rio Gran<strong>de</strong> do<br />

Sul, <strong>de</strong> Kobe à Paris – em pequenas casas ou em gran<strong>de</strong>s apartamentos – esses personagens<br />

da história do samba não renunciam ao seu direito <strong>de</strong> conquista e <strong>de</strong> felicida<strong>de</strong>.<br />

E Gabriel David é um querido representante <strong>de</strong>ssa família que empolga a Marquês<br />

<strong>de</strong> Sapucaí. Apesar da pouca ida<strong>de</strong> - 12 anos - o jovem Gabriel sabe aproveitar as<br />

oportunida<strong>de</strong>s que tem, e não me<strong>de</strong> esforços para conquistar seus sonhos e seu espaço.<br />

Abi-Rihan – Sua vida é um pouco diferente da vida dos<br />

meninos da sua ida<strong>de</strong>, não é? Essa relação tão intensa<br />

com o Samba e o Carnaval que você tem... E agora<br />

com o kart... Diga-me como você se relaciona com<br />

essas diferenças?<br />

Gabriel David – É verda<strong>de</strong> que tenho uma vida muito<br />

diferente. Poucos meninos da minha ida<strong>de</strong> estão ligados<br />

ao Samba e ao Kart como eu estou. Mas eu não vejo<br />

nenhum problema nisso. As pessoas <strong>de</strong>vem procurar<br />

<strong>de</strong>s<strong>de</strong> cedo fazer as coisas que gostam. Além disso,<br />

para mim, o importante é que tanto no samba, na <strong>Beija</strong>-<br />

<strong>Flor</strong> <strong>de</strong> <strong>Nilópolis</strong>, quanto na escola ou no kart eu faço<br />

o que gosto e tenho muitos amigos.<br />

Em cada um <strong>de</strong>sses lugares venho apren<strong>de</strong>ndo a agir<br />

da maneira certa, enten<strong>de</strong>ndo e respeitando meus<br />

amigos e as pessoas como elas são. Meu pai e minha<br />

mãe sempre falam sobre isso para mim. Então, essas<br />

diferenças acabam sendo uma coisa legal, pois estou<br />

apren<strong>de</strong>ndo a ser uma pessoa legal, que enten<strong>de</strong> e que<br />

vive bem com todas as pessoas, não importando on<strong>de</strong><br />

elas vivam ou o que fazem.<br />

Abi-Rihan – Você toca<br />

algum instrumento?<br />

Gabriel David – Dos<br />

instrumentos <strong>de</strong> percussão,<br />

eu sei um pouco <strong>de</strong><br />

alguns. Sei tocar caixa,<br />

repique e surdo. Mas<br />

não é a melhor coisa que<br />

eu faço. No samba, o<br />

que eu sei tocar mesmo<br />

é o tamborim.<br />

No pódium, os pilotos João Roberto<br />

(4), Flavio Mateus (2), Gabriel David<br />

(1) e Ketheryne Marques (3).<br />

Abi-Rihan – Diversas vezes eu vi o seu pai, o Anizio,<br />

com o olhar <strong>de</strong> orgulho quando vê você tocando tamborim<br />

ou conduzindo a <strong>Beija</strong>-<strong>Flor</strong> <strong>de</strong> <strong>Nilópolis</strong>. Como<br />

você se sente?<br />

Gabriel David – Sinto-me bem. Eu acho que meu pai<br />

fica orgulhoso <strong>de</strong> mim porque samba é uma coisa que<br />

ele conhece bem! E quando ele me vê tocando ou<br />

conduzindo a escola, ele enten<strong>de</strong> que estou fazendo<br />

direito. Eu acho que é isso que todos os pais querem<br />

Revista <strong>Beija</strong>-<strong>Flor</strong> <strong>de</strong> <strong>Nilópolis</strong> www.beija-flor.com.br


Equipe Power (da esquerda para a direita): em primeiro<br />

plano, os pilotos Gui Pessoa e Gabriel David.<br />

Em segundo plano, os técnicos Alcindo Teixeira e<br />

Jeison Teixeira. Em terceiro plano, os mecânicos<br />

Alan, Walmir e Bolão.<br />

para os seus filhos; que façam direito as coisas que<br />

escolheram fazer. E gosto <strong>de</strong> saber que ele e minha<br />

mãe querem o meu bem.<br />

Abi-Rihan – E no kart é assim também? Conte como<br />

começou a sua vida no kart?<br />

Gabriel David - É assim também no kart, apesar <strong>de</strong> meus<br />

pais não enten<strong>de</strong>rem tão bem assim as estratégias que<br />

envolvem uma corrida <strong>de</strong> kart. Mas eles sabem que é<br />

um esporte que eu gosto e me dão a maior força.<br />

Sobre o meu início, quando era pequeno eu brincava<br />

muito <strong>de</strong> kart com meus primos e amigos. Nessa época<br />

eu tinha uns seis anos. Com nove anos eu <strong>de</strong>scobri<br />

que tinha um kartódromo ‘indoor’ na Barra da Tijuca.<br />

Comecei a ir muito com uns amigos lá. Aí fui gostando.<br />

Eu ia para me divertir, porque é gostoso dirigir nas<br />

pistas, mesmo sendo ‘indoor’. Aos poucos fui vendo<br />

que levava jeito para corrida. Um dia falei para minha<br />

mãe que eu queria fazer isso profissionalmente, que<br />

eu estava gostando muito <strong>de</strong> kart. Ela e meu pai me<br />

viram correndo, e gostaram. Eu, inclusive, ganhei a<br />

corrida! Eles acabaram aceitando meu pedido. Então,<br />

em 2008 comecei a pilotar um kart bem mais veloz, e<br />

fazendo parte <strong>de</strong> uma equipe muito boa. No começo <strong>de</strong><br />

2009 eu já estava participando <strong>de</strong> campeonatos.<br />

Abi-Rihan – E obteve bons resultados nesses campeonatos?<br />

Gabriel David – Meu primeiro campeonato foi o Serrano,<br />

no qual conquistei o título <strong>de</strong> campeão. É oficial,<br />

da Fe<strong>de</strong>ração Internacional <strong>de</strong> Automobilismo, com<br />

oito etapas. Nas duas primeiras corridas eu fiquei em<br />

segundo lugar, o que não foi um resultado ruim. Na<br />

terceira eu já consegui ganhar. Foi a minha primeira<br />

vitória em um campeonato. Mas, além da vitória, o que<br />

foi muito importante nesse campeonato foram as coisas<br />

que aprendi, principalmente com o Flávio Mateus, um<br />

piloto <strong>de</strong> kart <strong>de</strong> São Paulo. Ele é um piloto muito bom,<br />

com uma gran<strong>de</strong> experiência em kart, que participa <strong>de</strong><br />

todos os campeonatos importantes do Brasil. Pilotar<br />

perto <strong>de</strong>le, observando-o, foi um gran<strong>de</strong> aprendizado.<br />

Evoluí muito pilotando perto <strong>de</strong>le. Eu aprendi muito com<br />

ele, um gran<strong>de</strong> amigo meu.<br />

Fevereiro 2010


Gabriel David, ao lado <strong>de</strong> Djalma Neves, presi<strong>de</strong>nte da Fe<strong>de</strong>ração <strong>de</strong> Automobilismo do Estado<br />

do Rio <strong>de</strong> Janeiro (FAERJ) e <strong>de</strong> Cleyton Pinteiro, presi<strong>de</strong>nte da Confe<strong>de</strong>ração Brasileira <strong>de</strong><br />

Automobilismo (CBA). À direita, sua mãe, Fabíola David, seu pai, Anizio Abrão David, sua irmã<br />

Micaela David e sua prima Marina David.<br />

Abi-Rihan – Quais os motivos dos seus bons resultados?<br />

Gabriel David – Acho que levar jeito para uma coisa é<br />

importante. Mas é muito importante também que você<br />

treine bastante. Se você quer chegar a algum lugar, você<br />

tem que treinar! Isso, tanto no kart como na escola <strong>de</strong><br />

samba e em qualquer coisa... Se não se esforçar não<br />

consegue nada.<br />

Abi-Rihan – Qual foi o momento <strong>de</strong> maior emoção<br />

nessas corridas?<br />

Gabriel David – Cada competição, cada corrida, tem a<br />

sua emoção. É como no <strong>de</strong>sfile <strong>de</strong> carnaval. Cada um tem<br />

o seu significado. Mas a corrida que fiz em Guapimirim<br />

foi emocionante. Eu tinha feito a pole position com um sol<br />

muito forte. Saí na frente e, <strong>de</strong> repente, começou a chover!<br />

Na terceira volta eu ro<strong>de</strong>i e fui para o último lugar.<br />

Vi que os outros pilotos abriram três retas <strong>de</strong> vantagem<br />

sobre mim. Podia até chegar em último, porque minha<br />

colocação no campeonato era excelente. Mas aí pensei:<br />

‘não estou aqui para assistir a corrida. Estou aqui para<br />

ganhar!’ Aí fui pra cima <strong>de</strong>les, sempre respeitando meus<br />

colegas, e fui tirando a diferença, até passar todos os<br />

outros pilotos e ganhar a corrida. Para mim foi a melhor<br />

corrida do ano! Acho que superei meus limites. E <strong>de</strong>vo<br />

isso aos meus pais, que me apóiam e me incentivam,<br />

aos meus treinadores – o Jeison e o Alcindo – e aos<br />

mecânicos da minha equipe, a Power Motorsport.<br />

Abi-Rihan – Que lição ficou <strong>de</strong>ssa corrida?<br />

Gabriel David – Acho que é a certeza <strong>de</strong> que se queremos<br />

vencer na vida, não importa a ida<strong>de</strong> ou as dificulda<strong>de</strong>s. Se<br />

a gente tiver vonta<strong>de</strong> e lutar vai conseguir o que quer.<br />

Revista <strong>Beija</strong>-<strong>Flor</strong> <strong>de</strong> <strong>Nilópolis</strong> www.beija-flor.com.br


LIGA INDEPENDENTE<br />

DAS ESCOLAS DE SAMBA<br />

Hilton Abi-Rihan – Presi<strong>de</strong>nte Jorge Castanheira, como<br />

será o Desfile das Escolas <strong>de</strong> Samba do Grupo Especial<br />

em 2010?<br />

Jorge Castanheira – No próximo carnaval nós vamos ter<br />

12 agremiações, <strong>de</strong>sfilando seis em cada dia. As escolas<br />

<strong>de</strong> samba diversificaram bastante,<br />

e estamos prevendo a apresentação<br />

<strong>de</strong> belos espetáculos e enredos<br />

muito variados.<br />

Hilton Abi-Rihan – Na Avenida, essa<br />

varieda<strong>de</strong> <strong>de</strong> enredos é promessa<br />

<strong>de</strong> varieda<strong>de</strong> <strong>de</strong> formatos e imagens,<br />

o que garante um espetáculo<br />

<strong>de</strong> qualida<strong>de</strong>. E em termos <strong>de</strong> disputa,<br />

<strong>de</strong> regras, <strong>de</strong> avaliação <strong>de</strong><br />

quesitos. Há alguma alteração para<br />

esse ano?<br />

Jorge Castanheira – Sim. Algumas<br />

mudanças técnicas foram introduzidas<br />

para esse ano, por <strong>de</strong>cisão<br />

da maioria do<br />

plenário: ao invés<br />

<strong>de</strong> 40 julgadores,<br />

nós teremos 50<br />

julgadores para<br />

analisar a apresentação<br />

das agremiações,<br />

sendo cinco<br />

julgadores para<br />

cada um dos 10<br />

quesitos. E <strong>de</strong>sses<br />

cinco julgadores,<br />

as cinco notas<br />

serão analisadas e<br />

abertas no dia da<br />

apuração, sendo<br />

que a menor nota<br />

e a maior nota dada<br />

em cada quesito<br />

para cada uma<br />

das escolas será<br />

eliminada. Então,<br />

das cinco notas<br />

num <strong>de</strong>terminado<br />

quesito, a menor e<br />

JORGE CASTANHEIRA<br />

a maior <strong>de</strong> cada escola será eliminada, valendo as três<br />

notas intermediárias. Esse é um processo que já foi usado<br />

pela Liesa, e que aplicaremos novamente este ano para<br />

fazer um novo teste, e verificar a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> incrementar<br />

ainda mais a disputa.<br />

Além disso, temos uma novida<strong>de</strong> para o Desfile: além do<br />

limite <strong>de</strong> cinco a oito alegorias, as agremiações po<strong>de</strong>rão<br />

levar para a Avenida até, no máximo, seis tripés ou elementos<br />

cenográficos com até duas pessoas sobre eles.<br />

Hilton Abi-Rihan – Então, <strong>de</strong>ixe sua mensagem final...<br />

Jorge Castanheira – Temos certeza e esperança <strong>de</strong> que<br />

as escolas farão um gran<strong>de</strong> carnaval, se superando em<br />

criativida<strong>de</strong> e ousadia, realizando um gran<strong>de</strong> espetáculo.<br />

Então, a nossa mensagem é que todos tenham um excelente<br />

carnaval, que tudo transcorra num clima <strong>de</strong> muita<br />

paz e <strong>de</strong> fraternida<strong>de</strong>. E que o carnaval seja mais um exemplo<br />

<strong>de</strong> reunião <strong>de</strong> todas as classes sociais em prol <strong>de</strong><br />

um objetivo comum que é realizar a maior festa popular<br />

do mundo.<br />

Fevereiro 2010


UM OLHAR SOB BRASÍLIA<br />

SIMÃO <strong>SE</strong>SSIM<br />

No ano em que a Capital Fe<strong>de</strong>ral comemora 50 anos, a revista <strong>Beija</strong>-<strong>Flor</strong><br />

<strong>de</strong> <strong>Nilópolis</strong> foi ouvir um dos mais ilustres parlamentares do Estado, que<br />

há 31 anos representa com honestida<strong>de</strong> e pragmatismo a população fluminense:<br />

o <strong>de</strong>putado fe<strong>de</strong>ral Simão Sessim.<br />

Ricardo Da Fonseca – Em que momento <strong>de</strong> sua vida surgiu<br />

o <strong>de</strong>sejo <strong>de</strong> se <strong>de</strong>dicar à política?<br />

Simão Sessim – Foi na década <strong>de</strong> 60, quando eu lecionava<br />

nos principais colégios <strong>de</strong> <strong>Nilópolis</strong>, Mesquita e Nova Iguaçu.<br />

No contato com os jovens, principalmente os mais carentes,<br />

emergia sempre o <strong>de</strong>sejo, o sonho permanente <strong>de</strong> ver um<br />

Brasil gran<strong>de</strong>, <strong>de</strong>senvolvido, <strong>de</strong>mocrático e com justiça social.<br />

Da mesma forma, eu imaginava uma forma <strong>de</strong> ajudar<br />

a oferecer melhor qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida ao povo da cida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

<strong>Nilópolis</strong>, que me viu nascer e crescer.<br />

Ricardo Da Fonseca – Como foi o seu ingresso na carreira<br />

política? Houve alguma dificulda<strong>de</strong>? Qual?<br />

Simão Sessim – As condições precárias <strong>de</strong> <strong>Nilópolis</strong>, comum<br />

a toda Baixada Fluminense, mostrava que só através da<br />

política po<strong>de</strong>ríamos concretizar o nosso sonho <strong>de</strong> ver chegar<br />

o progresso, o <strong>de</strong>senvolvimento, a justiça social, enfim, o<br />

respeito, a dignida<strong>de</strong> ao povo sofrido e abandonado. Assim,<br />

formamos um grupo na família, aliado a gran<strong>de</strong>s amigos, e<br />

ingressamos nos partidos políticos dispostos a disputar as<br />

eleições. Nesse grupo estavam Jorge David, Miguel Abrão,<br />

Nelson Abrão, Anizio Abrão David, Luiz Cláudio <strong>de</strong> Azevedo<br />

Viana, Farid Abrão, Nagib Sessim, Dr. Israel José <strong>de</strong> Melo, Dr.<br />

Otadélio Magalhães e muitos outros. Tivemos dificulda<strong>de</strong>s<br />

para conseguir vagas nos partidos que eram dominados<br />

pelos <strong>de</strong>putados estaduais da época, como Egídio Mendonça<br />

Thurler, Lucas <strong>de</strong> Andra<strong>de</strong> Figueiras e Jarbas Lopes. O partido<br />

que nos aceitou foi a UDN (União Democrática Nacional),<br />

comandada pelo saudoso e inesquecível João <strong>de</strong> Moraes<br />

Cardoso Junior, que foi o primeiro prefeito <strong>de</strong> <strong>Nilópolis</strong>.<br />

Conquistamos cerca <strong>de</strong> 20 mil votos, <strong>de</strong>rrotando gran<strong>de</strong>s<br />

políticos da época, como João Machado Barcelos, o Mangueira;<br />

o <strong>de</strong>putado estadual Gilberto Rodrigues; o suplente<br />

<strong>de</strong> <strong>de</strong>putado fe<strong>de</strong>ral Adauri Fernan<strong>de</strong>s; o vereador Orlando<br />

Hungria, que era apoiado pelo prefeito Sérgio Cardoso; e o<br />

ex-prefeito Eracyoes Lima. É importante <strong>de</strong>stacar que, já nas<br />

eleições <strong>de</strong> 1962, conseguimos eleger Jorge David <strong>de</strong>putado<br />

estadual, e os vereadores Israel José <strong>de</strong> Melo e Otadélio<br />

Magalhães do Vabo, além <strong>de</strong> Miguel Abrão, pelo PTB.<br />

Ricardo Da Fonseca – Que fato marcante o senhor <strong>de</strong>stacaria<br />

durante toda a sua trajetória política?<br />

Simão Sessim – Sem dúvida alguma a minha eleição para prefeito<br />

em 1972. Jovem, com 37 anos, professor, primeiro diretor<br />

do Colégio Aydano <strong>de</strong> Almeida, que acabara <strong>de</strong> ser fundado.<br />

Recordo que tive uma campanha apoiada, principalmente,<br />

pelos meus alunos dos colégios Olin<strong>de</strong>nse, Nilopolitano,<br />

Filgueiras, José D´Alessandro e o próprio Aydano <strong>de</strong> Almeida.<br />

Foi fundamental, sem dúvida alguma, o apoio da escola <strong>de</strong><br />

samba <strong>Beija</strong>-<strong>Flor</strong> <strong>de</strong> <strong>Nilópolis</strong>, presidida, na época, pelo saudoso<br />

Nelson Abrão David e o patrono Anizio Abrão David,<br />

que ainda pertencia ao 2º Grupo, cujo enredo foi “Educação<br />

Para o Desenvolvimento”, tema que tinha muito a ver com a<br />

nossa campanha e o nosso projeto <strong>de</strong> governo. Esse enredo,<br />

no Carnaval <strong>de</strong> 1973, levou a <strong>Beija</strong>-<strong>Flor</strong> <strong>de</strong> <strong>Nilópolis</strong> ao 1º<br />

Grupo. Ainda no meu mandato <strong>de</strong> prefeito, no Carnaval <strong>de</strong><br />

1976, ela conquistou o seu primeiro título <strong>de</strong> campeã entre as<br />

gran<strong>de</strong>s escolas do Rio <strong>de</strong> Janeiro, com o antológico enredo<br />

“Sonhar com o rei dá leão”, ocasião em que a cida<strong>de</strong> inteira<br />

parou para homenagear Anizio, Nelsinho, Joãozinho Trinta<br />

e todos os componentes da escola. Depois vieram o bi e o<br />

tricampeonato, em 1977 e 1978.<br />

Ricardo Da Fonseca – Como tem sido a sua vida em Brasília,<br />

e como foi a sua adaptação?<br />

Simão Sessim – Assumi o meu primeiro mandato como<br />

<strong>de</strong>putado fe<strong>de</strong>ral no dia 1º <strong>de</strong> fevereiro <strong>de</strong> 1979. Hoje,<br />

já cumpro o meu oitavo mandato consecutivo. Mas, sem<br />

dúvida alguma, me encheu <strong>de</strong> alegria, felicida<strong>de</strong>, emoção e<br />

orgulho a minha chegada a Brasília como representante do<br />

Rio <strong>de</strong> Janeiro no Congresso Nacional, mais precisamente<br />

na Câmara dos Deputados. Já se vão 31 anos consecutivos,<br />

ininterruptos, <strong>de</strong> minha participação no mais importante<br />

cenário da política brasileira, militando com homens e<br />

mulheres que ajudaram a construir este país ao longo <strong>de</strong>sse<br />

período. Na verda<strong>de</strong>, não tive problemas <strong>de</strong> adaptação, uma<br />

vez que, logo no primeiro mandato, fui escolhido pelos meus<br />

colegas da ARENA do Rio <strong>de</strong> Janeiro, meu partido político<br />

na época, para exercer o cargo <strong>de</strong> coor<strong>de</strong>nador da bancada


fluminense. Fiquei surpreso com a <strong>de</strong>ferência, visto que a<br />

nossa bancada, naquele tempo, era composta <strong>de</strong> renomados<br />

e experientes parlamentares, como Célio Borja, Álvaro Valle,<br />

Amaral Neto, Lígia Lessa Bastos, Alair Ferreira, Darcílio Ayres,<br />

Hi<strong>de</strong>kel <strong>de</strong> Freitas, entre outros. Entendo que o Congresso<br />

Nacional é uma universida<strong>de</strong>, e você precisa se nivelar com<br />

os principais políticos do país e ser participativo, criativo e<br />

sensível aos gran<strong>de</strong>s problemas e aos anseios da nação.<br />

Ricardo Da Fonseca – Como legislador,<br />

estando em Brasília, o senhor com<br />

certeza <strong>de</strong>ve ter participado e também<br />

presenciado gran<strong>de</strong>s fatos que, consequentemente,<br />

entraram ou entrarão para<br />

a história do nosso país. Dentre esses<br />

fatos, qual foi o que mais lhe marcou,<br />

e por quê?<br />

Simão Sessim – O primeiro gran<strong>de</strong> fato, na<br />

minha concepção, foi a anistia, que serviu<br />

<strong>de</strong> transição do regime militar para a re<strong>de</strong>mocratização<br />

do país. Votamos a anistia<br />

<strong>de</strong>baixo do clamor <strong>de</strong> que ela <strong>de</strong>veria ser<br />

ampla, geral e irrestrita. Valeu para os dois<br />

lados, governo e oposição. Isto possibilitou<br />

o retorno, ao Brasil, dos gran<strong>de</strong>s lí<strong>de</strong>res<br />

que estavam exilados. Depois, sem dúvida<br />

alguma, o orgulho <strong>de</strong> ter sido Constituinte<br />

juntamente com Lula, José Serra, Fernando<br />

Henrique Cardoso, e tantos outros gran<strong>de</strong>s<br />

lí<strong>de</strong>res. A Assembléia Constituinte foi presidida<br />

pelo <strong>de</strong>putado Ulysses Guimarães,<br />

que batizou a nova Lei Maior do país<br />

como “Constituição Cidadã”, em 1988.<br />

Outro gran<strong>de</strong> episódio foi o afastamento<br />

do presi<strong>de</strong>nte Collor. Votamos, nesse dia,<br />

com a presença <strong>de</strong> mais <strong>de</strong> 200 mil pessoas na frente do Congresso<br />

Nacional e com todo o Brasil acompanhando a sessão<br />

do Congresso Nacional através do rádio e da televisão. Uma<br />

noite que também nos marcou muito foi a impossibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

o presi<strong>de</strong>nte Tancredo Neves assumir a Presidência da República,<br />

por ter sido acometido <strong>de</strong> uma crise <strong>de</strong> diverticulite, que,<br />

infelizmente, culminou com a sua morte. A <strong>de</strong>cisão para que<br />

José Sarney o substituísse foi tensa, complicada e negociada<br />

entre lí<strong>de</strong>res civis e militares. E nós acompanhamos <strong>de</strong> perto<br />

todos os lances.<br />

Ricardo Da Fonseca – Ainda como <strong>de</strong>putado fe<strong>de</strong>ral, quais as<br />

suas principais realizações em favor do cidadão da Baixada<br />

Fluminense e <strong>de</strong> <strong>Nilópolis</strong>?<br />

Simão Sessim – Ao longo <strong>de</strong> meus mandatos tenho ajudado<br />

a resolver os problemas do país, do meu Estado do Rio <strong>de</strong><br />

Janeiro e, principalmente, da Baixada Fluminense. Cito<br />

como obras marcantes a construção do Porto <strong>de</strong> Itaguaí<br />

e a criação das Escolas Técnicas Fe<strong>de</strong>rais <strong>de</strong> <strong>Nilópolis</strong> e <strong>de</strong><br />

Nova Iguaçu, o saneamento e asfaltamento das principais<br />

estradas que interligam os municípios <strong>de</strong> Nova Iguaçu,<br />

<strong>Nilópolis</strong>, São João <strong>de</strong> Meriti e Duque <strong>de</strong> Caxias. Levamos<br />

também várias áreas <strong>de</strong> esporte e lazer para os municípios<br />

da região; lutamos ainda pela melhoria da saú<strong>de</strong>, com a<br />

implantação dos Hospitais da Posse e <strong>de</strong> Queimados, cuja<br />

construção esteve paralisada por longos anos. Brigamos,<br />

da mesma maneira, pelo Polo Gás-Químico <strong>de</strong> Duque <strong>de</strong><br />

Caxias e pelo Complexo Petroquímico <strong>de</strong> Itaboraí. Outra<br />

importante reivindicação nossa foi o Anel Rodoviário (Arco<br />

Metropolitano), ligando Xerém ao Porto <strong>de</strong> Itaguaí, e que,<br />

sem dúvida alguma, vai representar a re<strong>de</strong>nção econômica<br />

da Baixada Fluminense. Em <strong>Nilópolis</strong>, <strong>de</strong> modo especial,<br />

po<strong>de</strong>mos garantir que ajudamos a construir toda a infraestrutura<br />

urbana da cida<strong>de</strong>, além da conquista <strong>de</strong> uma gran<strong>de</strong><br />

área <strong>de</strong> Gericinó. Além disso, estamos presentes em todas as<br />

reivindicações e liberações <strong>de</strong> recursos do Governo Fe<strong>de</strong>ral<br />

que estão sendo aplicados no novo viaduto <strong>de</strong> <strong>Nilópolis</strong>,<br />

no novo reservatório <strong>de</strong> água no bairro do Cabral e na<br />

revitalização do Centro da cida<strong>de</strong>.<br />

Ricardo Da Fonseca – Que mensagem o senhor gostaria <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>ixar para os nossos leitores?<br />

Simão Sessim – Uma mensagem <strong>de</strong> esperança e <strong>de</strong> muita fé<br />

para todos os brasileiros que acreditam e, por isso mesmo,<br />

sonham com um país mais humano e justo. O futuro <strong>de</strong>sta<br />

nação <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> <strong>de</strong> cada um <strong>de</strong> nós. E que no enredo <strong>de</strong><br />

nossas fantasias o Brasil maravilhoso faça um belo <strong>de</strong>sfile<br />

<strong>de</strong> campeão, com muito ritmo, cadência e empolgação. Até<br />

porque o enredo sobre os 50 anos <strong>de</strong> Brasília, que a nossa<br />

querida escola <strong>de</strong> samba <strong>Beija</strong>-<strong>Flor</strong> <strong>de</strong> <strong>Nilópolis</strong> está levando<br />

para a avenida, fala exatamente <strong>de</strong> esperança, <strong>de</strong> sonhos e<br />

inspirações para que o Brasil se torne grandioso e justo.


VICENTE DATTOLI<br />

O MUNDO<br />

DE OLHO<br />

NO RIO DE JANEIRO<br />

Quando a Liga In<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte das Escolas <strong>de</strong> Samba<br />

do Rio <strong>de</strong> Janeiro foi criada, em 24 <strong>de</strong> julho <strong>de</strong><br />

1984, suas <strong>de</strong>z agremiações fundadoras buscavam<br />

um grito <strong>de</strong> in<strong>de</strong>pendência. <strong>Beija</strong>-<strong>Flor</strong> <strong>de</strong> <strong>Nilópolis</strong>,<br />

Salgueiro, Caprichosos <strong>de</strong> Pilares, Portela, Mangueira,<br />

Império Serrano, União da Ilha, Unidos <strong>de</strong><br />

Vila Isabel, Imperatriz Leopoldinense e Mocida<strong>de</strong><br />

In<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte <strong>de</strong> Padre Miguel estavam cansadas<br />

<strong>de</strong> ver suas propostas <strong>de</strong>rrotadas pelos interesses,<br />

menores, das <strong>de</strong>mais agremiações que compunham<br />

a Associação das Escolas <strong>de</strong> Samba.<br />

Nesses pouco mais <strong>de</strong> 25 anos <strong>de</strong> história, muitas<br />

conquistas po<strong>de</strong>m ser contabilizadas. Direitos<br />

autorais pagos diretamente aos compositores que<br />

têm seus sambas cantados durante os <strong>de</strong>sfiles, valorização<br />

por parte do po<strong>de</strong>r público, mais recursos<br />

na comercialização do espetáculo – leia-se maior<br />

interesse e investimento por parte das emissoras<br />

<strong>de</strong> televisão – e, principalmente, um crescente aumento<br />

do interesse dos veículos <strong>de</strong> comunicação,<br />

notadamente do exterior. A cada ano que passa<br />

mais e mais jornais, revistas, sites e emissoras <strong>de</strong><br />

televisão querem falar e mostrar o nosso <strong>de</strong>sfile do<br />

Grupo Especial.<br />

Nada disso teria acontecido se a organização não<br />

fosse o ponto forte do espetáculo apresentado pelas<br />

12 principais Escolas <strong>de</strong> Samba do Carnaval do<br />

Rio <strong>de</strong> Janeiro. Se, hoje, aquele grupo <strong>de</strong> <strong>de</strong>z fundadoras<br />

sente a ausência <strong>de</strong> algumas agremiações,<br />

momentaneamente em outros <strong>de</strong>sfiles, não se<br />

po<strong>de</strong> negar que as presenças <strong>de</strong> Unidos da Tijuca,<br />

Viradouro, Gran<strong>de</strong> Rio e Porto da Pedra (para citar<br />

as mais bem colocadas no ranking da Liga) servem<br />

para dar mais brilho à apresentação que é feita nas<br />

noites <strong>de</strong> domingo e segunda-feira <strong>de</strong> Carnaval.<br />

Com a escolha do Rio <strong>de</strong> Janeiro para se<strong>de</strong> dos<br />

Jogos Olímpicos <strong>de</strong> 2016, sente-se claramente que<br />

uma boa parcela dos meios <strong>de</strong> comunicação, que<br />

não via no lado sul do globo terrestre fatores maiores<br />

para mostrar a seu público, teve <strong>de</strong> alterar o seu<br />

padrão. E, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a vitória da Cida<strong>de</strong> Maravilhosa,<br />

na primeira semana <strong>de</strong> outubro, quando <strong>de</strong>rrotou<br />

Tóquio, Madrid e Chicago, não há exagero em se<br />

dizer que os olhos do mundo estão voltados para o<br />

Rio <strong>de</strong> Janeiro.<br />

0 Revista <strong>Beija</strong>-<strong>Flor</strong> <strong>de</strong> <strong>Nilópolis</strong> www.beija-flor.com.br


Antes do Carnaval tivemos o réveillon, manifestação<br />

que atraiu cerca <strong>de</strong> 650 mil turistas para o Rio <strong>de</strong> Janeiro.<br />

Foi o primeiro gran<strong>de</strong> evento internacional <strong>de</strong>s<strong>de</strong><br />

a escolha da se<strong>de</strong> olímpica. Um evento, porém,<br />

que possui diversos parâmetros <strong>de</strong> comparação. Todas<br />

as emissoras <strong>de</strong> televisão mostram, no dia 31<br />

<strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro, as passagens <strong>de</strong> ano mais famosas no<br />

mundo: Sidney, na Ponte Habour; Moscou, na Praça<br />

Vermelha; Paris, na Avenida Champs Elysees; Londres,<br />

nas proximida<strong>de</strong>s do parlamento...<br />

Agora, em fevereiro, porém, seremos somente nós.<br />

O mundo inteiro vai parar para ver o <strong>de</strong>sfile das<br />

Escolas <strong>de</strong> Samba do Grupo Especial, que pela 26ª<br />

vez será organizado pela Liga. Não se pense, porém,<br />

que o padrão <strong>de</strong> excelência internacional exibido<br />

hoje foi conseguido <strong>de</strong> uma hora para outra, e<br />

sem esforço. Nada disso. Foram necessários anos<br />

<strong>de</strong> aprendizado. Cada erro cometido era um aviso<br />

e um sinal do que precisava ser alterado, melhorado.<br />

Felizmente, ao longo <strong>de</strong> todo este tempo a<br />

Liga soube olhar para trás e organizar-se – e, claro,<br />

organizar ainda melhor o gran<strong>de</strong> espetáculo.<br />

Para os <strong>de</strong>sfiles <strong>de</strong> 2010 algumas importantes novida<strong>de</strong>s<br />

serão colocadas em prática. Sem alteração<br />

do tempo máximo <strong>de</strong> apresentação (82 minutos),<br />

cada Escola precisará exibir-se para mais um julgador<br />

– agora serão cinco, com as notas extremas<br />

eliminadas. Também serão introduzidos seis novos<br />

elementos cenográficos, que po<strong>de</strong>rão conduzir até<br />

duas pessoas. Tudo pensado para dar ainda mais brilho<br />

às performances das Escolas <strong>de</strong> Samba e manter<br />

a atenção do mundo voltada para o Rio <strong>de</strong> Janeiro.<br />

A revista <strong>Beija</strong>-<strong>Flor</strong> <strong>de</strong> <strong>Nilópolis</strong> - uma escola <strong>de</strong> vida presta aqui, uma homenagem em vida ao jornalista esportivo<br />

e <strong>de</strong> carnaval Vicente Dattoli, que completa em 2010 <strong>de</strong>z anos ininterruptos <strong>de</strong> expressivos serviços ao carnaval carioca<br />

e à Liga In<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte das Escolas <strong>de</strong> Samba - Liesa, exercendo a função <strong>de</strong> assessor <strong>de</strong> imprensa da Liesa.<br />

Graduado pela UFF - Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral Fluminense, Vicente já trabalhou na redação <strong>de</strong> diversos importantes<br />

veículos <strong>de</strong> comunicação, entre eles, Última Hora, Jornal do Brasil e O Dia e TV Globo, tendo iniciado sua atuação<br />

na Liesa à convite do presi<strong>de</strong>nte Luiz Pacheco Drumond (2000) e permanecido na função até os dias atuais.<br />

Parabéns, Vicente!<br />

Fevereiro 2010


Pelos idos <strong>de</strong><br />

1751, havia uma<br />

praia chamada<br />

Areias <strong>de</strong> Espanha<br />

ao lado<br />

<strong>de</strong> uma lagoa<br />

– Lagoa do Boqueirão<br />

– tão insalubre<br />

e cheia<br />

<strong>de</strong> mosquitos que o vice-rei mandou aterrar.<br />

Assim surgiu a região conhecida como Lapa, na cida<strong>de</strong><br />

do Rio <strong>de</strong> Janeiro.<br />

Em volta <strong>de</strong> um seminário e uma capela erguida em<br />

nome <strong>de</strong> Nossa Senhora da Lapa nasceu o bairro-síntese<br />

da alma carioca; da boemia, malandragem,<br />

travestis (antigamente bem mais discretos),<br />

prostitutas e histórias trágicas ou hilariantes nessa<br />

animadíssima região que se esten<strong>de</strong> do Passeio<br />

Público ao Bairro <strong>de</strong> Fátima.<br />

Deca<strong>de</strong>nte entre as décadas <strong>de</strong> 40 e 80, a Lapa<br />

está vigorosa, com as mais variadas tribos cariocas<br />

e visitantes que curtem os diversos sons nas ruas e<br />

que ecoam dos velhos casarões reformados. Samba,<br />

música eletrônica, choro, forró, salsa e merengue,<br />

rock, sinfonia; <strong>de</strong> tudo se ouve na Lapa.<br />

UM PASSADO CHEIO DE MALANDRAGEM<br />

O radialista Rubem Confete vivenciou o reduto entre<br />

os anos 50 e 60, on<strong>de</strong> “gente <strong>de</strong> bem” não pisava:<br />

“A Lapa era uma região da malandragem. Eu<br />

estava no Juca Pato (Rua Viscon<strong>de</strong> <strong>de</strong> Maranguape,<br />

junto ao Largo da Lapa) e Nelson Cavaquinho<br />

também, com seu violão. Passou uma comitiva <strong>de</strong><br />

carros, e num <strong>de</strong>les estava o Vinícius <strong>de</strong> Moraes<br />

(diplomata na época), <strong>de</strong> smoking. Ia ser paraninfo<br />

na Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Direito, na Praça da República.<br />

QUER ENCONTRAR<br />

A ALMA CARIOCA?<br />

VÁ À LAPA.<br />

ÍRIS ÁGATHA<br />

Quando viu o Nelson, saltou e bradou: ‘Não vou<br />

fazer discurso pra reitor nenhum. A garotada que<br />

venha pra cá’. Resultado: rapazes <strong>de</strong> smoking e<br />

moças <strong>de</strong> soirée se formaram no bar.”<br />

Confete conheceu também João Francisco dos Santos,<br />

o lendário Madame Satã, encarregado pelos<br />

rufiões <strong>de</strong> cuidar e <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>r as “meninas” que moravam<br />

no atual Bairro <strong>de</strong> Fátima. Confete recorda<br />

que, em 1972, Madame Satã, em má situação, recebeu<br />

ajuda <strong>de</strong> uma ex-meretriz viúva <strong>de</strong> um general.<br />

Nos anos <strong>de</strong> 1920 e 1930 a vida noturna do bairro<br />

era tão intensa que ele foi chamado <strong>de</strong> “Montmartre<br />

Carioca” (alusão a um bairro <strong>de</strong> Paris, na<br />

França). Havia residências e também cabarés, cassinos,<br />

bares e restaurantes. Mas a repressão do<br />

Estado Novo, com o combate às ativida<strong>de</strong>s ilícitas,<br />

e a concorrência <strong>de</strong> Copacabana levaram a Lapa à<br />

<strong>de</strong>cadência.<br />

UM NOVO RUMO<br />

Em 1982 aconteceu uma união em <strong>de</strong>fesa da Lapa.<br />

O Circo Voador fora expulso do Arpoador (Zona Sul<br />

carioca) e a prefeitura da cida<strong>de</strong> apresentou como alternativa<br />

o terreno baldio do Largo da Lapa (que iria<br />

ser uma extensão do estacionamento da Catedral).<br />

I<strong>de</strong>alizador do Circo, o produtor cultural Perfeito Fortuna<br />

conta: “De positivo, o lugar tinha o caráter central,<br />

atraía uma varieda<strong>de</strong> <strong>de</strong> público muito maior que<br />

o Arpoador. O acesso era mais fácil. Só percebemos<br />

isso <strong>de</strong>pois que nos mudamos, e foi muito positivo. O<br />

Circo jogou luz sobre a Lapa e valorizou a região”.<br />

Mas o Circo Voador não só <strong>de</strong>u um novo rumo à Lapa,<br />

como lançou, na cida<strong>de</strong>, sucessos como o Barão Vermelho,<br />

Blitz, Paralamas do Sucesso, Lobão, Deborah<br />

Colker e a Intrépida Trupe. Além <strong>de</strong> lançar, o Circo<br />

Voador exibiu artistas <strong>de</strong> gerações passadas, como<br />

Revista <strong>Beija</strong>-<strong>Flor</strong> <strong>de</strong> <strong>Nilópolis</strong> www.beija-flor.com.br


Ângela Maria, Cauby Peixoto, e a gafieira mo<strong>de</strong>rna<br />

com a Orquestra Tabajara na Domingueira Voadora.<br />

Augusto Ivan, arquiteto e urbanista, trabalhou no<br />

projeto do Corredor Cultural – criado por <strong>de</strong>creto<br />

pelo então prefeito Marcelo Alencar em 1984 – e na<br />

reurbanização do entorno dos Arcos da Lapa. Segundo<br />

Augusto Ivan, que foi subprefeito do Centro e<br />

Secretário Municipal <strong>de</strong> Urbanismo, ”os comerciantes<br />

da Rua do Lavradio vinham fazendo um trabalho<br />

importantíssimo para reabilitar e recuperar a economia<br />

da área. Sem o trabalho <strong>de</strong>les nada teria sido<br />

possível. A reabilitação da rua do Lavradio é um<br />

exemplo para todo o país e mesmo para fora <strong>de</strong>le”.<br />

Uma outra luta empreendida em favor da memória carioca<br />

e que resultou na criação <strong>de</strong> um ponto <strong>de</strong> importantes<br />

manifestações culturais foi protagonizada na<br />

Fundição Progresso – <strong>de</strong> fogões e cofres –, localizada<br />

ao lado do Circo Voador. A Fundição estava <strong>de</strong>sativada<br />

em 1987 e começava a ser <strong>de</strong>molida. Os integrantes<br />

do Circo Voador, que tinham uma visão apurada<br />

da importância da preservação e da valorização da<br />

arte e da cultura carioca, não se conformaram com<br />

essa situação e foram à luta: com o apoio <strong>de</strong> artistas<br />

e personalida<strong>de</strong>s cariocas, eles se puseram entre o<br />

prédio antigo e os tratores e marretas, impedindo a<br />

<strong>de</strong>molição enquanto parte do grupo ia buscar ajuda<br />

para o embargo da <strong>de</strong>molição por or<strong>de</strong>m judicial.<br />

O esforço não foi em vão.<br />

Após o esforço do grupo e o apoio da socieda<strong>de</strong><br />

civil, o prédio da Fundição Progresso foi mantido <strong>de</strong><br />

pé e os governos municipal e estadual conce<strong>de</strong>ram<br />

ao Circo Voador o uso do espaço físico da Fundição<br />

para a realização <strong>de</strong> eventos culturais.<br />

A Fundição surgiu, então, com capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> aten<strong>de</strong>r<br />

um público <strong>de</strong> cerca <strong>de</strong> 7000 pessoas, com<br />

quatro teatros, três palcos para shows, uma arena,<br />

o Palco São Sebastião (primeiro piso) e a choperia<br />

Parada da Lapa, para shows.<br />

Na Fundição, importantes grupos artísticos encontraram<br />

o espaço para <strong>de</strong>senvolver suas propostas, entre<br />

eles a Intrépida Trupe, o Centro Interativo <strong>de</strong> Circo, o<br />

Armazém Cia. <strong>de</strong> Teatro e o Teatro <strong>de</strong> Anônimo.<br />

Hoje, a Fundição Progresso permanece um espaço<br />

<strong>de</strong>mocrático <strong>de</strong> acesso à arte e à cultura brasileira,<br />

bem no coração da Lapa.<br />

UM BAIRRO DE MUITAS OFERTAS<br />

Segundo informação da Associação Polo Novo Rio<br />

Antigo existem atualmente cerca <strong>de</strong> 400 bares,<br />

restaurantes, sebos, antiquários e casas <strong>de</strong> shows<br />

na região.<br />

Plínio Fróes, diretor da Associação, que li<strong>de</strong>rou a<br />

reabilitação, saiu <strong>de</strong> Copacabana e foi morar na<br />

Rua do Lavradio. É sócio <strong>de</strong> três estabelecimentos:<br />

da casa noturna Rio Scenarium, da cachaçaria<br />

Mangue Seco e do restaurante Santo Scenarium. A<br />

dançante Rio Scenarium, que chega a receber dois<br />

mil clientes em uma noite, tem novo espaço para<br />

músicas líricas e <strong>de</strong> câmara.<br />

Li hoje cedo no jornal que a borracharia que havia na Rua<br />

Mem <strong>de</strong> Sá, na Lapa, enche seu último pneu só até o Natal,<br />

começando o ano com cerveja gelada<br />

e churrasquinho na farofa.<br />

Aliás, tô muito atrasado.<br />

Hoje, aquele cubículo<br />

<strong>de</strong> graxa e aro 26 tá<br />

sendo disputado por<br />

franquias <strong>de</strong> barescom-estilo.<br />

A verda<strong>de</strong> é que esse<br />

bairro trouxe um<br />

novo sol nessa<br />

turma não<br />

bronzeada.<br />

Através dos<br />

Arcos, novas<br />

águas<br />

p a s s a m<br />

por cima<br />

<strong>de</strong>ssa ponte<br />

chamada cultura<br />

carioca.<br />

O samba acenou <strong>de</strong> vez pra<br />

juventu<strong>de</strong>, a escuridão <strong>de</strong> um centro abandonado <strong>de</strong>u luz<br />

e emergentes boêmios que povoarão <strong>de</strong> história o futuro<br />

próximo do Rio <strong>de</strong> Janeiro.<br />

Hoje, não precisamos mais inventar novas ‘rabanadas’<br />

nos pés do lendário Madame Satã, nem <strong>de</strong>positar aos<br />

malandros punguistas a essência <strong>de</strong>sse logradouro.<br />

As sandálias da Carmem Miranda estão calçando a her<strong>de</strong>ira<br />

Teresa Cristina.<br />

No mesmo chapéu do Geraldo Pereira, a cabeça <strong>de</strong> Moyses<br />

Marques.<br />

O Capela berra a cada cabrito servido.<br />

Do lado, O Bar Brasil põe mais gelo na serpentina pra ‘entulipar’<br />

<strong>de</strong> chopp os novos e talentosos cariocas, alma <strong>de</strong><br />

Manuel Ban<strong>de</strong>ira, se<strong>de</strong> <strong>de</strong> Albino Pinheiro.<br />

Não será raro você encontrar alguém entusiasmado pela<br />

Rua do Lavradio, <strong>de</strong>s<strong>de</strong>nhando da Vieira Souto.<br />

É capaz <strong>de</strong> frasear: - Lá só tem mar. A Lapa tem vida!!<br />

Moacyr Luz<br />

Santa Tereza, Rio <strong>de</strong> Janeiro, 22/12/2009<br />

Fevereiro 2010


DO YOU WANT TO FIND<br />

ÍRIS ÁGATHA<br />

THE CARIOCA HEART?<br />

Until 1751 there was a beach called Areias <strong>de</strong> Espanha<br />

nearby a lagoon – Lagoa do Boqueirão – that was so miasmic<br />

and full of mosquitoes that the viceroy or<strong>de</strong>red it filled in.<br />

This is how the region known as Lapa in the city of Rio <strong>de</strong><br />

Janeiro was born.<br />

Around a seminary and chapel built in honor Our Lady of<br />

Lapa grew the neighborhood that’s the essence of the Carioca<br />

soul – filled with Bohemians, rascals, transvestites (more<br />

discreet in the old days), prostitutes and tragic or hilarious<br />

stories. That’s an apt <strong>de</strong>scription of this animated region that<br />

stretches from Passeio Público in the downtown Cinelândia<br />

district to the Fátima district.<br />

Deca<strong>de</strong>nt between the 1940s and 80s, Lapa is now reinvigorated,<br />

attracting the most varied Carioca tribes and visitors<br />

seeking to enjoy the many sounds that echo in the streets<br />

and waft from remo<strong>de</strong>led buildings turned into nightspots.<br />

Samba, electronic music, choro, forró, salsa and merengue,<br />

rock, even chamber music. Lapa has it all and more.<br />

A PAST FULL OF LOWLIFE<br />

The radio host Ruben Confeti experienced the redoubt in the<br />

1950s and 60s, when “<strong>de</strong>cent folk” dared not enter: “Lapa<br />

was filled with lowlife. I was in Juca Pato (Viscon<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

Maranguape Street where it meets Lapa Square) along with<br />

Nelson Cavaquinho, who was holding his guitar. A procession<br />

of cars passed by, one of them carrying Vinícius <strong>de</strong><br />

Moraes (a diplomat at the time, later one of Brazil’s greatest<br />

composers), wearing an elegant tux. He was going to give a<br />

keynote speech at the School of Law in Praça da República.<br />

When he saw Nelson, he hopped out and shouted: ‘I’m not<br />

going to give a speech to any <strong>de</strong>an. Let’s go everybody’. The<br />

result: young men in tuxedos and ladies in soirées lined up<br />

at the bar.”<br />

GO TO LAPA.<br />

Confeti also was an acquaintance of João Francisco dos<br />

Santos, the legendary drag queen “Madam Satan”, put in<br />

charge by the local ruffians to <strong>de</strong>fend the “girls” who lived<br />

in the Fátima district. Confeti remembers that in 1972,<br />

Madam Satan, having fallen on hard times, received help<br />

from a former call girl, widow of a general.<br />

In the 1920s and 30s the district’s nightlife was so intense<br />

it was called the “Carioca Montmartre” (alluding to the<br />

district in Paris). There were resi<strong>de</strong>nces along with cabarets,<br />

casinos, bars and restaurants. But the repression during<br />

the Estado Novo dictatorship years (1937-1945), with the<br />

crackdown on illicit activities, along with competition from<br />

newer and more chic nightspots in Copacabana, caused Lapa<br />

to enter a long <strong>de</strong>cline.<br />

A NEW LIFE<br />

A key event in Lapa’s revival happened in 1982.<br />

The Circo Voador (“Flying Circus”) show venue lost its zoning<br />

permit in Arpoador (between Copacabana and Ipanema<br />

in Rio’s South Zone) and city officials presented as an alternative<br />

a vacant lot across from Lapa Square (which had<br />

been earmarked as additional parking for the Metropolitan<br />

Cathedral). The head of Circo Voador, the producer Perfeito<br />

Fortuna, recounts: “On the plus si<strong>de</strong>, the place was centrally<br />

located and attracted a much more varied public than Arpoador.<br />

The access was easier. We only realized this after<br />

the move, and it turned out very positively. Circo Voador<br />

put a spotlight on Lapa and triggered the region’s revival.”<br />

But Circo Voador not only gave a new life to Lapa, it also<br />

provi<strong>de</strong>d a stage in the city to launch successful bands<br />

and performers like Barão Vermelho, Blitz, Paralamas do<br />

Sucesso, Lobão, Déborah Colker and Intrépida Trupe. Besi<strong>de</strong>s<br />

new stars, Circo Voador has always also booked old-guard<br />

performers like Ângela Maria and Cauby Peixoto, as well as<br />

Revista <strong>Beija</strong>-<strong>Flor</strong> <strong>de</strong> <strong>Nilópolis</strong> www.beija-flor.com.br


offering mo<strong>de</strong>rn ballroom dancing to the tunes of Orquestra<br />

Tabajara on Domingueira Voadora (“Flying Sundays”).<br />

Augusto Ivan, an architect and urban expert, worked on the<br />

Cultural Corridor project – created in 1984 by then mayor Marcello<br />

Alencar – and on the reurbanization of the area around the<br />

Lapa Arches. According to Augusto, who has been sub-mayor<br />

for downtown and municipal secretary of urbanism, “the merchants<br />

on Lavradio Street have been doing important work to<br />

revitalize the area and its economy. Without them none of this<br />

would have been possible. The recuperation of Lavradio Street<br />

is an example for the entire country and even abroad.”<br />

Another struggle in favor of preserving Rio’s heritage, one that<br />

resulted in the creation of a venue for important cultural manifestations,<br />

was experienced by Progresso Foundry, a maker of<br />

stoves and safes, located alongsi<strong>de</strong> Circo Voador. The foundry<br />

was <strong>de</strong>activated in 1987 and started to be <strong>de</strong>molished. The<br />

members of Circo Voador, who had a sharp insight into the<br />

importance of preserving and valuing Carioca art and culture,<br />

refused to stand for this. They joined with performers and<br />

personalities and formed a cordon between the old building<br />

and the bulldozers and wrecking balls, preventing its <strong>de</strong>molition<br />

while their lawyers sought a court or<strong>de</strong>r to halt it.<br />

The effort was not in vain.<br />

After this effort, Circo Voador, with the help of civil society<br />

organizations, obtained permission from the city and state<br />

governments to use the Progresso Foundry building as a<br />

space to hold cultural events.<br />

The building has now been rema<strong>de</strong> into a venue that can<br />

hold nearly 7,000 people, with four theaters, three stages for<br />

shows, an arena (the ground-floor Palco São Sebastião) and<br />

the Parada da Lapa beer hall.<br />

Important artistic groups find a place to <strong>de</strong>velop their projects,<br />

among them Intrépida Trupe, Centro Interativo <strong>de</strong> Circo,<br />

Armazém Cia. <strong>de</strong> Teatro and Teatro <strong>de</strong> Anônimo.<br />

Today Progresso Foundry remains a space for <strong>de</strong>mocratic<br />

access to Brazilian art and culture in the heart of Lapa.<br />

A DISTRICT WITH MUCH TO OFFER<br />

According to the Associação Pólo Novo Rio Antigo, there<br />

are around 400 bars, restaurants, used bookstores, antique<br />

shops and show venues in Lapa.<br />

Plínio Fróes, the association’s director, led the revitalization<br />

effort and moved from Copacabana to an apartment<br />

on Lavradio Street. He’s a partner in three establishments:<br />

Rio Scenarium nightclub, Mangue Seco bar (specialized in<br />

cachaça, Brazil’s homegrown cane liquor) and Santo Scenarium<br />

restaurant. The swinging Rio Scenarium, which can<br />

hold two thousand people, even has a new space for lyrical<br />

and chamber music concerts.<br />

Fevereiro 2010


THAÍS MEDEIROS<br />

AMOR PELO<br />

SAMBA<br />

<strong>SE</strong> APRENDE EM CASA<br />

Já dizia o velho ditado: “De casa vai à praça”, ou<br />

ainda “filho <strong>de</strong> peixe, peixinho é”. Ambas as expressões<br />

po<strong>de</strong>m ser vistas por muitos apenas como<br />

famosos ditos populares, mas ilustram <strong>de</strong> forma<br />

quase perfeita a realida<strong>de</strong> <strong>de</strong> muitas pessoas. Isso<br />

porque tem sido muito comum encontrarmos<br />

filhos que por motivos<br />

diversos acabam seguindo pelo<br />

mesmo caminho que seus pais. E<br />

assim como os motivos, as explicações<br />

para o fato também são<br />

múltiplas: uma das mais comuns<br />

encontra-se na tão conhecida<br />

curiosida<strong>de</strong>, já que é mais do que<br />

normal que um filho se interesse<br />

pelo trabalho <strong>de</strong> seus pais.<br />

Pináh e Cláudia Ayoub<br />

A gran<strong>de</strong> passarela do samba carioca,<br />

tablado da alegria e assembléia multirracial,<br />

não po<strong>de</strong>ria <strong>de</strong>ixar <strong>de</strong> ser palco <strong>de</strong>ssa gran<strong>de</strong> “reunião<br />

familiar trabalhista”.<br />

E a <strong>Beija</strong>-<strong>Flor</strong> <strong>de</strong> <strong>Nilópolis</strong>, fazendo jus ao apelido<br />

carinhoso <strong>de</strong> “princesinha da passarela”, integra-se<br />

ao cenário <strong>de</strong>ssa confraternização servindo como<br />

se<strong>de</strong> para essa agregação <strong>de</strong> famílias e abrindo alas<br />

para essa gran<strong>de</strong> família pelas mãos duas mulheres<br />

– <strong>de</strong> tantas outras – <strong>de</strong> muita fibra e <strong>de</strong>terminação.<br />

A primeira <strong>de</strong>las é a tão conhecida Pinah Ayoub,<br />

que começou sua história na arte do samba através<br />

do Luiz Carlos Ribeiro, <strong>de</strong>corador com quem participava<br />

<strong>de</strong> concursos <strong>de</strong> fantasias nos teatros cariocas<br />

e que a convidou para <strong>de</strong>sfilar no <strong>GRES</strong> Em<br />

Cima da Hora, em 1974. Embora tenha começado<br />

em outra escola <strong>de</strong> samba, Pinah<br />

carrega a <strong>Beija</strong>-<strong>Flor</strong> <strong>de</strong> <strong>Nilópolis</strong><br />

no coração, e <strong>de</strong>dica os méritos<br />

do que é hoje tão somente ao<br />

samba: “O samba é uma parte<br />

essencial na minha vida, ele me<br />

fez quem eu sou, e eu <strong>de</strong>vo honras<br />

a ele”.<br />

A segunda é a a<strong>de</strong>recista Márcia<br />

Me<strong>de</strong>iros, que sempre sonhou em<br />

fazer parte do mundo do carnaval,<br />

façanha que conseguiu no ano <strong>de</strong><br />

2003, quando criou coragem e saiu batendo <strong>de</strong> porta<br />

em porta nos barracões. A iniciativa ren<strong>de</strong>u uma<br />

vaga para trabalhar no <strong>GRES</strong> São Clemente com<br />

Milton Cunha, então carnavalesco da escola, e <strong>de</strong>s<strong>de</strong><br />

o carnaval <strong>de</strong> 2008 permanece na agremiação nilopolitana.<br />

O trabalho é bastante agitado, mas Márcia<br />

está feliz e garante que isso tudo já faz parte <strong>de</strong><br />

sua vida: “No momento, o carnaval é uma coisa que<br />

Revista <strong>Beija</strong>-<strong>Flor</strong> <strong>de</strong> <strong>Nilópolis</strong> www.beija-flor.com.br


e u<br />

já não<br />

consigo mais ficar<br />

sem. Eu me i<strong>de</strong>ntifico muito<br />

com o trabalho <strong>de</strong> carnaval”.<br />

Já Neguinho da <strong>Beija</strong>-<strong>Flor</strong> conhece bem a avenida.<br />

Ele começou sua história com o samba <strong>de</strong> uma forma<br />

bem arriscada, já que, seguindo um conselho<br />

<strong>de</strong> seu comandante, largou sua farda e <strong>de</strong>ixou tudo<br />

para trás para construir sua carreira no mundo da<br />

música, mais especificamente do samba. Sua <strong>de</strong>cisão<br />

final foi no quartel, mas seu histórico no samba<br />

já existia <strong>de</strong>s<strong>de</strong> pequeno: aos <strong>de</strong>z anos, Neguinho<br />

ganhou o seu primeiro prêmio musical, que ocorreu<br />

em um parque <strong>de</strong> diversões, on<strong>de</strong> arrebatou a terceira<br />

colocação cantando a música do saudoso Jamelão:<br />

“Se acaso você chegasse no meu ‘chateau’<br />

e encontrasse aquela mulher<br />

que você gostou...”.<br />

Luís Antônio Feliciano<br />

Marcon<strong>de</strong>s, seu nome<br />

verda<strong>de</strong>iro, tornou-se<br />

peça tão importante na<br />

história da agremiação<br />

<strong>de</strong> <strong>Nilópolis</strong> que hoje<br />

é difícil imaginar <strong>Beija</strong>-<br />

<strong>Flor</strong> nem Neguinho, e<br />

vice-versa.<br />

E assim, como em coração<br />

<strong>de</strong> mãe, a agremiação<br />

nilopolitana sempre<br />

abre espaço para mais<br />

alguém. O auxiliar <strong>de</strong><br />

almoxarifado Jorginho<br />

Leite começou em meio a<br />

uma forte rivalida<strong>de</strong> protagonizada<br />

pelos então<br />

blocos <strong>de</strong> carnaval <strong>Beija</strong>-<br />

<strong>Flor</strong> <strong>de</strong> <strong>Nilópolis</strong> e Unidos<br />

<strong>de</strong> <strong>Nilópolis</strong>. Porém,<br />

sua mãe sempre<br />

o incentivou a ir para<br />

a Azul e Branco, escola<br />

que apren<strong>de</strong>u a<br />

amar e respeitar e<br />

<strong>de</strong> on<strong>de</strong> hoje tira<br />

o seu sustento:<br />

“Através do samba,<br />

eu estou aqui<br />

trabalhando, criei meus filhos<br />

e sempre trabalhei na <strong>Beija</strong>-<strong>Flor</strong>.<br />

Quer dizer, o samba é a minha vida e o meu ganha<br />

pão”.<br />

E se os filhos são mesmo a luz da casa, como muitos<br />

acreditam por aí, a <strong>Beija</strong>-<strong>Flor</strong> está bem representada<br />

nesse quesito. Tem filhos para todos os gostos e<br />

estilos. Filhos agitados, filhos calmos, filhos dóceis,<br />

filhos não tão dóceis assim, enfim... filhos. Cláudia<br />

Ayoub, filha da ex-<strong>de</strong>staque Pinah, aceitou com<br />

carinho o incentivo <strong>de</strong> sua mãe e ingressou nesse<br />

mundo do samba carregando-o como uma herança<br />

a ser cuidada e preservada com muito respeito.<br />

História não muito diferente da do a<strong>de</strong>recista Thiago<br />

Me<strong>de</strong>iros, filho da também a<strong>de</strong>recista Márcia,<br />

que o trouxe para esse universo carnavalesco como<br />

uma espécie <strong>de</strong> terapia ocupacional, o qual Thiago<br />

encara também como uma forma <strong>de</strong> diversão, já<br />

que garante que faz seu trabalho com muito prazer.<br />

Fevereiro 2010


Outro filho, digamos que um tanto quanto <strong>de</strong>dicado,<br />

é o Luís Antônio, mais conhecido como JR que,<br />

embora estivesse esbanjando <strong>de</strong>sejo, não herdou o<br />

dom <strong>de</strong> seu pai, Neguinho da <strong>Beija</strong>-<strong>Flor</strong>. Mas, apesar<br />

<strong>de</strong> não cantar, JR acredita que não teria muito<br />

como fugir <strong>de</strong>sse <strong>de</strong>stino do samba, já que por ter<br />

sempre acompanhado o trabalho <strong>de</strong> seu pai acabou<br />

conhecendo <strong>de</strong> A a Z essa profissão. Mas o troféu<br />

<strong>de</strong> filho “rebel<strong>de</strong>” foi mesmo para Daniele Leite, filha<br />

da Jorginho Leite, que tentou <strong>de</strong> todas as formas<br />

não “cair no samba”. Mas não teve jeito; o incentivo<br />

da família foi mais forte e ela acabou entrando<br />

também para a arte do carnaval. Outro filho muito<br />

“rebel<strong>de</strong>” é o a<strong>de</strong>recista Fábio Santos, que seguiu<br />

os caminhos do irmão Fabiano<br />

Santos emprestando sua arte<br />

ao carnaval. É a primeira vez<br />

que os irmãos trabalham juntos<br />

e, embora não estejam juntos<br />

o tempo todo, estão achando<br />

muito boa a i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> trabalharem<br />

no mesmo ramo e na <strong>Beija</strong>-<strong>Flor</strong><br />

<strong>de</strong> <strong>Nilópolis</strong>. Quem também<br />

adora trabalhar em família<br />

é a a<strong>de</strong>recista Lei<strong>de</strong> Jane dos<br />

Santos, que divi<strong>de</strong> a bancada<br />

com sua irmã Marisa dos Santos<br />

há cerca <strong>de</strong> cinco anos. Elas<br />

garantem que mesmo que não<br />

houvesse um incentivo mútuo,<br />

ainda assim buscariam esse<br />

mundo do samba.<br />

Ainda no setor a<strong>de</strong>reço,<br />

os irmãos Rogério<br />

Madruga e<br />

Dora começaram<br />

com o pé direito.<br />

Isso porque Dora,<br />

ainda lá no interior,<br />

na <strong>de</strong> cida<strong>de</strong>zinha <strong>de</strong> São<br />

Fidélis, on<strong>de</strong> moravam, ganhou o concurso<br />

para rainha do carnaval. Mas a faísca reacen<strong>de</strong>u<br />

mesmo quando, já no Rio <strong>de</strong> Janeiro, visitou o seu<br />

irmão no barracão da <strong>Beija</strong>-<strong>Flor</strong> <strong>de</strong> <strong>Nilópolis</strong>.<br />

A <strong>de</strong>fensora do pavilhão da escola Selminha Sorriso<br />

aparece fechando com chave <strong>de</strong> ouro esse time<br />

<strong>de</strong> irmãos. Seu irmão, Celso Matos, atribui o seu<br />

ingresso ao carnaval não só ao seu interesse por<br />

essa arte, mas principalmente à admiração pelo<br />

trabalho <strong>de</strong> sua irmã e sua força <strong>de</strong> vonta<strong>de</strong>. E dando<br />

aquela forcinha para o samba, <strong>de</strong>fine-o como a<br />

“cultura do mundo”.<br />

Contudo, essa gran<strong>de</strong> família não se encerra por aqui,<br />

já que toda família feliz conta também com os tios,<br />

que aqui estão representados pela chefe <strong>de</strong> ateliê<br />

Bete Leite, irmã <strong>de</strong> Jorginho Leite. E, coincidência<br />

à parte, também teve um pai compositor, que come-<br />

Revista <strong>Beija</strong>-<strong>Flor</strong> <strong>de</strong> <strong>Nilópolis</strong> www.beija-flor.com.br


ç o u<br />

l e v a n d o - a<br />

para a quadra da <strong>Beija</strong>-<strong>Flor</strong>,<br />

e logo <strong>de</strong>pois carregou o seu irmão também,<br />

e a partir daí <strong>de</strong>senvolveu-se a paixão por essa<br />

arte. E já que tem tia, não po<strong>de</strong>ria faltar o famoso<br />

primo. Alex Marcon<strong>de</strong>s, sobrinho do também patriarca<br />

Neguinho da <strong>Beija</strong>-<strong>Flor</strong>, começou sua vida<br />

na arte do carnaval <strong>de</strong>vido ao forte interesse que<br />

possuía por arte em geral, e acredita que samba<br />

se apren<strong>de</strong> sim em casa, já que no seu caso foi <strong>de</strong><br />

on<strong>de</strong> veio o incentivo maior.<br />

Neste sentido, os protagonistas, além <strong>de</strong> serem<br />

gran<strong>de</strong>s profissionais, são provas <strong>de</strong> que o incentivo<br />

familiar é essencial para a valorização por parte<br />

dos mais jovens <strong>de</strong>ssa arte divina que é o samba.<br />

A reunião termina aqui; porém, as cortinas <strong>de</strong>sse<br />

espetáculo permanecerão abertas para sempre,<br />

oferecendo ao público os próximos espetáculos<br />

protagonizados pelos her<strong>de</strong>iros das nossas histórias,<br />

que farão do samba uma eterna e maravilhosa<br />

arte <strong>de</strong> ser feliz.<br />

Fevereiro 2010


EXPRESSÃO DO SAMBA<br />

Instituído pela revista <strong>Beija</strong>-<strong>Flor</strong> <strong>de</strong> <strong>Nilópolis</strong> – uma escola <strong>de</strong> vida, o título <strong>de</strong> “Expressão do Samba”<br />

reconhece o talento e a <strong>de</strong>dicação que personalida<strong>de</strong>s das artes e da cultura brasileiras <strong>de</strong>votaram ao<br />

samba e ao Carnaval. A homenagem é realizada durante o coquetel <strong>de</strong> lançamento da revista, quando o<br />

presi<strong>de</strong>nte <strong>de</strong> honra da <strong>Beija</strong>-<strong>Flor</strong> <strong>de</strong> <strong>Nilópolis</strong>, Anizio Abrão David, recebe os indicados, amigos e convidados,<br />

numa cerimônia <strong>de</strong> congraçamento animada e fraternal. A indicação dos homenageados é feita pelo<br />

conselho editorial da RBFN, li<strong>de</strong>rado por Hilton Abi-Rihan e Ricardo Da Fonseca (editores) e por Anizio,<br />

o anfitrião da gran<strong>de</strong> noite, que acontece no Clube Monte Líbano, no Rio <strong>de</strong> Janeiro. Eleitos na edição<br />

passada, Alcione, Jorge Goulart, Zé-Di, Dona Ivone Lara, Jorge Aragão e Délcio Carvalho tiveram seus<br />

nomes confirmados como os homenageados este ano.<br />

MIRO LOPES<br />

Alcione é música do Brasil<br />

Acesa, atenta e perfeccionista, a cantora (e trompetista)<br />

sabe <strong>de</strong>tectar mais do que as sutilezas <strong>de</strong><br />

uma letra e a força <strong>de</strong> uma melodia, que se enriquece<br />

com seu talento e interpretação. Disso ninguém<br />

discorda. E sua trajetória e sucessos confirmam.<br />

Em 1972, Alcione gravou pela primeira vez um<br />

compacto simples com os sambas “O sonho acabou”<br />

(Gilberto Gil) e “Figa-<strong>de</strong>-Guiné” (Nei Lopes<br />

e Reginaldo Bessa). No ano seguinte gravou “Tem<br />

<strong>de</strong>ndê”, outro samba da dupla. Reginaldo <strong>de</strong>clara<br />

que “é um orgulho que vou sempre levar comigo,<br />

o <strong>de</strong> ter participado da alvorada <strong>de</strong>ste sol maravilhoso<br />

que é a voz <strong>de</strong> Alcione”. E sacramenta: “não<br />

existe prazer maior para um autor do que ver sua<br />

obra bem interpretada”.<br />

Assim, a Marrom ultrapassa pouco mais <strong>de</strong> três<br />

décadas pontificando nas paradas com sucessos<br />

memoráveis – “Não <strong>de</strong>ixe o samba morrer”, “O<br />

surdo”, “Meu ébano”, “Você me vira a cabeça” – e<br />

ganhando prêmios como o Sharp, Tim e Grammy<br />

Latino. Atenta e acesa, Alcione homenageou Jamelão<br />

em “Pedra 90”. Acesa e atenta Alcione <strong>de</strong>dicou<br />

“Faz uma loucura por mim” ao radialista Luiz<br />

Carlos Paladino. Atenta e acesa, Alcione faz justiça<br />

as suas origens e grava artistas <strong>de</strong> sua terra: Carlinhos<br />

Veloz (“Jóia rara”) e Raimundo Makarra (“Boi<br />

<strong>de</strong> lágrimas”). Acesa e atenta, Alcione lança novos<br />

autores e cantores, como Telma Tavares, autora da<br />

música título do atual CD da Marrom. E recebe no<br />

show Áurea<br />

Martins, sua<br />

amiga <strong>de</strong>s<strong>de</strong><br />

os tempos do<br />

Beco das Garrafas,<br />

on<strong>de</strong><br />

c o m e ç a r a m<br />

suas carreiras.<br />

Lançado ano<br />

passado, “Acesa”<br />

é mais uma<br />

comprovação<br />

<strong>de</strong>snecessária e inevitável <strong>de</strong> que Alcione é uma<br />

expressão maior do samba.<br />

Consi<strong>de</strong>ro Alcione a mais carioca <strong>de</strong> todos os maranhenses.<br />

A mais mangueirense também. E a mais<br />

sambista (por que não?) <strong>de</strong> todas as cantoras não<br />

cariocas. Há 38 anos vivendo na Cida<strong>de</strong> Maravilhosa,<br />

ela ratifica seu amor à capital: “O Rio sempre<br />

foi pra mim uma cida<strong>de</strong> sem <strong>de</strong>feitos”, disse ao repórter<br />

global que pedia a opinião da cantora sobre<br />

os problemas sociais que assolam a cida<strong>de</strong>. Porém,<br />

Alcione faz uma ressalva: “mas eu acho que precisa<br />

fazer uma ocupação cultural nos morros”.<br />

Sem sombras <strong>de</strong> dúvidas, Alcione adotou o Rio<br />

como sua segunda terra natal e fez também da<br />

Estação Primeira sua segunda casa. Ela prestigia<br />

todos os eventos e projetos da Ver<strong>de</strong> e Rosa. É madrinha<br />

dos meninos da Mangueira da escola mirim<br />

e da Orquestra <strong>de</strong> Violinos. Enfim, o coração <strong>de</strong><br />

Alcione é ver<strong>de</strong> e rosa.<br />

00 Revista <strong>Beija</strong>-<strong>Flor</strong> <strong>de</strong> <strong>Nilópolis</strong> www.beija-flor.com.br


Jorge Goulart, o dono da voz<br />

Quando se fala <strong>de</strong> Jorge Goulart, a memória sempre<br />

nos remete às marchinhas que ele tornou inesquecíveis,<br />

por mais que nos sonegem esse <strong>de</strong>licioso<br />

entretenimento momesco. Alguém imaginaria que<br />

um cantor criado em Vila Isabel, que coleciona marchinhas<br />

<strong>de</strong> sucessos como “Cabeleira do Zezé”,<br />

“Joga a chave meu Amor”, <strong>de</strong> João Roberto Kelly,<br />

“Miss Mangueira” <strong>de</strong> Antônio Almeida e “Balzaqueana”,<br />

<strong>de</strong> Antônio Nássara, entre outras, seja um<br />

inveterado imperiano e por isso tenha por escolha<br />

e admiração uma estreita e importante relação com<br />

o mundo do samba? Pois é, foi ele quem cantou<br />

pela primeira vez um samba-enredo no rádio. Quer<br />

mais ainda: acompanhado pela Orquestra Sinfônica<br />

da Rádio Nacional <strong>de</strong> São Paulo. O samba era <strong>de</strong><br />

Elton Me<strong>de</strong>iros.<br />

Bastava isso para ele se inscrever na história do<br />

samba, mas tem mais: Jorge Goulart foi o primeiro<br />

cantor profissional a puxar um samba-enredo, justamente<br />

“O Último Baile da Monarquia”, <strong>de</strong> autoria<br />

<strong>de</strong> Silas <strong>de</strong> Oliveira. Por seis anos puxou sambas<br />

do Império Serrano, no megafone, dispensando<br />

qualquer pagamento, pois seu objetivo era contribuir<br />

para a divulgação dos compositores do morro.<br />

Fez o mesmo na Imperatriz Leopoldinense e na Unidos<br />

<strong>de</strong> Vila Isabel.<br />

Primogênito do jornalista Iberê Bastos e da cant<br />

o ra Arlete Neves Bastos, foi registrado<br />

como Jorge Neves Bastos. O nome<br />

artístico foi sugerido pela notável<br />

rádio-atriz Heloísa Helena, inspirada<br />

numa marca <strong>de</strong> elixir ( Inhame<br />

Goulart ) e na potência do vozeirão<br />

do cantor, que recebeu <strong>de</strong> César<br />

<strong>de</strong> Alencar o epíteto<br />

<strong>de</strong> “Gogó <strong>de</strong> Ouro”,<br />

por suas interpretações<br />

<strong>de</strong> “Dominó”,<br />

“Smile”,<br />

“Laura” e<br />

“Jezebel”.<br />

Paralelam<br />

e n t e ,<br />

J o r g e<br />

G o u -<br />

l a r t<br />

p a r t i -<br />

c i p a v a<br />

dos filmes<br />

da<br />

Atlântida, como “Carnaval<br />

<strong>de</strong> fogo”, “Aviso aos<br />

Navegantes”, entre outros.<br />

Durante dois anos<br />

foi figura <strong>de</strong>stacada do<br />

espetáculo teatral “Um<br />

Milhão <strong>de</strong> Mulheres”.<br />

Mas Jorge começou a<br />

cantar ainda menino, no<br />

programa “Escada <strong>de</strong><br />

Jacó”, do professor Zé<br />

Bacurau, ganhando o<br />

1º prêmio. Antes dos 18<br />

anos,já atuava em circos<br />

e “dancings”, aumentando<br />

a ida<strong>de</strong> para isso.<br />

Estudou no Colégio Pedro II, on<strong>de</strong> começou sua<br />

participação política. Como militante, Jorge Goulart<br />

sofreu as agruras impostas pelo golpe militar<br />

<strong>de</strong> 1964. Em 1983, extraiu a laringe e, mesmo sem<br />

seu principal instrumento <strong>de</strong> trabalho, se apresenta<br />

dublando seus sucessos. Até se expressando por<br />

gestos, o gogó <strong>de</strong> ouro está sempre cantando.<br />

Dona Ivone Lara, a senhora do samba<br />

Negra, pobre e mulher, Yvonne Lara da Costa viveu<br />

todas as mazelas <strong>de</strong> gênero, raça e <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong> social<br />

ao longo <strong>de</strong> quase nove décadas <strong>de</strong> vida. Nasceu<br />

em Botafogo, passou a infância num internato,<br />

apren<strong>de</strong>u a tocar cavaquinho e se formou em enfermagem<br />

trabalhando no tratamento para doentes<br />

mentais com a Drª Nise da Silveira (que introduziu<br />

a psicologia junguiana no Brasil). Depois exerceu as<br />

ativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> assistente social nessa área até se<br />

consagrar como, simplesmente, Dona Ivone Lara,<br />

nome artístico sugerido pelo radialista e apresentador<br />

Oswaldo Sargentelli, o rei do ziriguidum.<br />

Mudou-se para Madureira nos anos 40, passou a<br />

compor para a Prazer da Serrinha, participou <strong>de</strong><br />

rodas <strong>de</strong> samba e conviveu com as mais significativas<br />

expressões do samba, do jongo e do choro,<br />

até consolidar sua carreira com <strong>de</strong>terminação e trabalho,<br />

mas, principalmente, com seu talento para<br />

fazer melodias.<br />

Embora sua vocação já se tivesse manifestado aos<br />

12 anos, quando compôs “Tiê, tiê”, os mais <strong>de</strong> 70<br />

anos <strong>de</strong> carreira <strong>de</strong> Dona Ivone Lara se contabilizam<br />

a partir do momento em que, oficialmente, ela<br />

faz da música sua ocupação <strong>de</strong>finitiva. Até então,<br />

a seu pedido, o tio Fuleiro (um dos fundadores do<br />

Império Serrano e seu parceiro no samba-enredo<br />

Fevereiro 2010 0


“Não me Perguntes”) cantava as composições da<br />

sobrinha como se suas fossem, <strong>de</strong>vido ao machismo<br />

da época. Quando Fuleiro revela a autoria das<br />

canções, Dona Ivone se torna a primeira mulher a<br />

integrar a ala <strong>de</strong> compositores <strong>de</strong> uma escola <strong>de</strong><br />

samba, consagrada como parceira ‘intrometida’ <strong>de</strong><br />

Bacalhau e Silas <strong>de</strong> Oliveira em “Os Cinco Bailes<br />

da História do Rio”(1965). No livro “Nasci para<br />

Sonhar e Cantar”, Mila Burns conta como se <strong>de</strong>u<br />

a parceria: “Silas e Bacalhau não conseguiam escrever<br />

o hino do Império. Haviam bebido <strong>de</strong>mais.<br />

Quando Dona Ivone os encontrou e soube da dificulda<strong>de</strong>,<br />

cantarolou parte <strong>de</strong> uma melodia, que logo<br />

ganharia os inspirados versos da dupla. E a obra<br />

estava completa.”<br />

Participou das rodas <strong>de</strong> samba do Teatro Opinião<br />

nos anos 60, vindo a gravar o primeiro disco apenas<br />

em 1978. Nesse mesmo ano, seu maior sucesso,<br />

“Sonho Meu”, em parceria com Délcio Carvalho, é<br />

gravado por Gal Costa e Maria Bethânia. A música<br />

foi premiada como a melhor do ano.<br />

Aos 93 anos, Dona Ivone agra<strong>de</strong>ce a Deus e diz<br />

que não pensa em parar <strong>de</strong> cantar e compor: “Des<strong>de</strong><br />

que Ele e Nossa Senhora das Cabeças conservem<br />

minha cuca direita.” Assim seja!<br />

Zé Di e o “xamêgo” premiado<br />

Paulista <strong>de</strong> nascimento - afinal “sambista não pe<strong>de</strong><br />

lugar pra nascer” - o salgueirense <strong>de</strong> coração Zé<br />

Di (nova grafia para o nome artístico, com<br />

o qual o poe- ta-cantador Luiz Vieira<br />

batizou José Dias) está se preparando<br />

“para quando o Carnaval<br />

chegar ”. Cultivado <strong>de</strong>s<strong>de</strong><br />

o início <strong>de</strong> carreira, seu<br />

v a s t o e respeitável<br />

b i g o d e não chega para<br />

escon<strong>de</strong>r um sor-<br />

riso largo pela satisfação que sentiu ao receber o<br />

convite para <strong>de</strong>sfilar com seu “Salgueiro chorão”.<br />

Zé Di já pensa numa nova roupa vermelho e branco,<br />

além <strong>de</strong> programar o <strong>de</strong>scanso da garganta e<br />

tranquilida<strong>de</strong> da alma, tudo isso para seu regresso<br />

à Passarela do Samba <strong>de</strong>z anos <strong>de</strong>pois. Assim vai<br />

comemorar seu retornou à ala <strong>de</strong> compositores do<br />

G.R.E.S. Acadêmicos do Salgueiro, escola que lhe<br />

<strong>de</strong>u o campeonato <strong>de</strong> 1974, com o enredo “Rei da<br />

França na Ilha da Assombração”, samba <strong>de</strong>le e Luiz<br />

Malandro.<br />

Como autor, Zé Di sempre encontrou abrigo no repertório<br />

<strong>de</strong> intérpretes dos mais variados gêneros<br />

musicais. De Wan<strong>de</strong>rley Cardoso a Sérgio Reis,<br />

do internacional Cauby Peixoto a Benvienindo<br />

Granda, <strong>de</strong> Marlene à Emilinha Borba, <strong>de</strong> Waldick<br />

Soriano a Sílvio Mazurca e sua orquestra, <strong>de</strong> Luiz<br />

Vieira (é claro!) à Alaí<strong>de</strong> Costa, muitos cantores<br />

fizeram suas composições, como “Samba Sem<br />

Viola”, “Perdoe meu amor”, “Salgueiro Chorão”,<br />

“Último Verão”,”Caminhos do Amor”, chegar ao<br />

gran<strong>de</strong> público. Jair Rodrigues é quem registra o<br />

maior número <strong>de</strong> gravações assinadas por Zé Di.<br />

E a louruda Hebe Camargo fez o seu lançamento<br />

fonográfico, com a gravação <strong>de</strong> Catira (<strong>de</strong>le e Luiz<br />

Vieira) vencedora do 1º Festival da Música Sertaneja,<br />

em 1966.<br />

Até o então sisudo e radical José Ramos Tinhorão –<br />

crítico musical temido por cantores e compositores<br />

– se ren<strong>de</strong>u ao talento <strong>de</strong> Zé Di,: “<strong>de</strong> fato (...), dois<br />

sambas do próprio Zé Di, os intitulados ‘Meu Recado’<br />

e ‘Não Me Atire Pedra’ - recomendam por si<br />

só a compra do LP”. Em “Meu Recado”, observou<br />

Timborão, Zé Di conta e canta maravilhosamente<br />

a sua própria experiência <strong>de</strong> criador das camadas<br />

humil<strong>de</strong>s, confessando seu <strong>de</strong>slumbramento diante<br />

do sucesso, e aproveitando para respon<strong>de</strong>r aos que<br />

estranhavam o fato <strong>de</strong> um paulista ser capaz <strong>de</strong> se<br />

revelar bom compositor <strong>de</strong> sambas.<br />

Jorge Aragão, um sambista <strong>de</strong> respeito<br />

Quem nasceu no Rio, já nasceu com um pé no samba,<br />

canta Aragão, que nasceu em Padre Miguel,<br />

num dia 1º <strong>de</strong> março, data do aniversário da Cida<strong>de</strong><br />

Maravilhosa. Cria do subúrbio carioca, Jorge<br />

foi educado nas rodas <strong>de</strong> samba <strong>de</strong> fundo <strong>de</strong><br />

quintais, sem grana, sem glória, enfrentando<br />

preconceitos e <strong>de</strong>sdém até chegar on<strong>de</strong><br />

chegou. Está tudo isso aí escrito no<br />

autobiográfico e inspirado samba<br />

0 Revista <strong>Beija</strong>-<strong>Flor</strong> <strong>de</strong> <strong>Nilópolis</strong> www.beija-flor.com.br


“Moleque Atrevido”, que<br />

fez com Flávio Cardoso e<br />

Paulinho Rezen<strong>de</strong>. Em tom<br />

<strong>de</strong> ressentimento, Aragão<br />

respon<strong>de</strong>, com apurada afinação,<br />

alguns atrevimentos<br />

que julga ter sido vítima.<br />

Susto o coração já lhe <strong>de</strong>u,<br />

mas continua em estado <strong>de</strong><br />

graça com a vida. Entretanto,<br />

não faz mais sentindo o<br />

‘moleque atrevido’ versejar<br />

“procure primeiro saber<br />

quem eu sou”.<br />

Depois <strong>de</strong> ter gravado <strong>de</strong>zenas<br />

<strong>de</strong> discos, CDs e<br />

ví<strong>de</strong>os, vendido milhões<br />

<strong>de</strong> cópias <strong>de</strong>sses produtos e com eles colecionado<br />

muitos sucessos e prêmios, hoje todo mundo sabe<br />

quem é Jorge Aragão. A nova geração po<strong>de</strong> não<br />

saber que Aragão fez parte da formação original do<br />

Fundo <strong>de</strong> Quintal, mas jamais po<strong>de</strong> afirmar que não<br />

sabia que “Coisinha do pai” (uma parceria Dida e<br />

Neoci Dias) serviu para acordar ‘Mars Pathfin<strong>de</strong>r’,<br />

robô da Nasa que fez pesquisas em Marte e, muito<br />

menos, que <strong>de</strong>sconhece esse samba. Além da<br />

interplanetária “Coisinha do pai” (composta com<br />

Almir Guineto e Luiz Carlos da Vila), quem já não<br />

sacudiu o corpo com a comemorativa “Vou festejar”?!<br />

Ambas foram gravadas por Beth Carvalho,<br />

madrinha dos pago<strong>de</strong>iros do Fundo <strong>de</strong><br />

Quintal, on<strong>de</strong> Aragão ganhou fama <strong>de</strong><br />

bamba, como músico e compositor.<br />

Com o projeto “Samba <strong>de</strong> bambas”,<br />

apresentado no Canecão,<br />

Jorge Aragão lançou, em 2005, a<br />

Velha Guarda Musical da <strong>Beija</strong>-<strong>Flor</strong><br />

<strong>de</strong> <strong>Nilópolis</strong>. E mais recentemente,<br />

compartilha seu interesse pela<br />

gastronomia com os fãs<br />

que frequentam o restaurante<br />

Bossa Nossa,<br />

na Barra da Tijuca<br />

(on<strong>de</strong> Jorge Perlingeiro<br />

grava o programa<br />

“Samba <strong>de</strong><br />

Primeira”). Não dá<br />

para não concordar<br />

com o ‘moleque<br />

atrevido’; tem que<br />

se respeitar quem<br />

soube chegar on<strong>de</strong> a<br />

‘gente’ chegou.<br />

Délcio Carvalho, poeta, sambista e cidadão<br />

carioca<br />

Carioca, como diria Fernando Sabino, é alguém<br />

que, tendo nascido em qualquer parte do Brasil (ou<br />

do mundo) mora no Rio <strong>de</strong> Janeiro e enche <strong>de</strong> vida<br />

as ruas da cida<strong>de</strong>. Délcio Carvalho <strong>de</strong>ixou Campos<br />

dos Goytacazes, no norte fluminense, on<strong>de</strong> nasceu<br />

e veio para o Rio cantar nos bailes da vida e exercer<br />

sua profissão <strong>de</strong> compositor. Daí, Délcio encheu as<br />

ruas, os botecos, os clubes da cida<strong>de</strong>, o radinho lá<br />

<strong>de</strong> casa com samba e poesia. Batizado na roda <strong>de</strong><br />

samba por uma casta rara <strong>de</strong> bambas <strong>de</strong> primeira<br />

linha, como Carlos Cachaça, Monarco, Nelson<br />

Sargento, Zé Kéti , Aluisio da Mangueira , Jorge<br />

FP (parceiro <strong>de</strong> Can<strong>de</strong>ia) e Silas <strong>de</strong> Oliveira, que<br />

certamente abençoou a parceria Délcio-Dona Ivone<br />

Lara, já que o primeiro sucesso da dupla, “Alvorada”,<br />

nasceu durante as exéquias do baluarte do<br />

imperiano. E tempos <strong>de</strong>pois, a carioquice <strong>de</strong> Délcio<br />

é sacramentada pela Medalha Pedro Ernesto, que<br />

oficializa sua cidadania carioca.<br />

Dona Ivone é uma parceira constante (“Acreditar”,<br />

“Liberda<strong>de</strong>”, “Minha Verda<strong>de</strong>” e “Sonho meu” - gravado<br />

por Maria Bethânia, Gal Costa e Clementina<br />

<strong>de</strong> Jesus,). Assim também foi Ivor Lancelloti (“Havia<br />

festa”, “Clarão”, “Velha cicatriz”, “Quando essa<br />

paixão me dominar”, etc.) e seguindo o rastro, vem o<br />

compositor Mário Lago Filho (“A voz que ficará” - uma<br />

homenagem a Mário Lago, “Arma da paixão”, “Cara<br />

ou coroa”, “Estranho”, “Apertamento”, “Coisa feia”<br />

e “Eu estou sofrendo”). A parceria com Francis Hime<br />

aconteceu. Compuseram “De repente”, que Peri Ribeiro<br />

gravou para a minissérie sobre a vida <strong>de</strong> seus<br />

pais, Dalva <strong>de</strong> Oliveira e Herivelto Martins.<br />

A rotina <strong>de</strong> gravar e regravar dá margem a equívocos,<br />

como não dar crédito aos autores das<br />

composições, principalmente quando não são as<br />

do próprio. O MPB-4 cometeu a omissão<br />

em “Nasci para cantar e sambar”,<br />

mas não titubeou na hora<br />

<strong>de</strong> fazer o reparo publicamente<br />

com uma carta aberta distribuída<br />

para a imprensa. E Aquiles,<br />

Dalmo, Magro e Miltinho, integrantes<br />

do MPB4, não exageram<br />

quando afirmam: “E<br />

estamos certos <strong>de</strong> que o<br />

samba e a música brasileira<br />

muito <strong>de</strong>vem a Délcio<br />

Carvalho”.<br />

Fevereiro 2010 0


Brilhante ao sol do novo mundo, Brasília: do<br />

sonho à realida<strong>de</strong>, a capital da esperança<br />

Dádivas o Criador conce<strong>de</strong>u<br />

Fez brotar num sonho divinal o mais precioso cristal<br />

Lágrimas, fascinante foi a ira <strong>de</strong> Tupã<br />

Diz a lenda que o mito Goyás nasceu<br />

O brilho em Jaci vem do olhar<br />

Pra sempre refletido em suas águas<br />

A força que fluiu <strong>de</strong>sse amor é Paranoá... Paranoá<br />

Óh! Deus sol em sua <strong>de</strong>voção<br />

Ergueu-se no Egito fonte <strong>de</strong> inspiração<br />

Pássaro sagrado voa no infinito azul<br />

Abre as asas bordando o cerrado <strong>de</strong> Norte a Sul<br />

Ah! Terra tão rica é o sertão<br />

Rasga o coração da mata <strong>de</strong>sbravador!<br />

Finca a ban<strong>de</strong>ira nesse chão<br />

Pra <strong>de</strong>sabrochar a linda flor<br />

No coração do Brasil, o afã <strong>de</strong> quem viu um novo amanhã<br />

Revolta, insurreições, coroas e brasões<br />

Batismo num clamor <strong>de</strong> liberda<strong>de</strong>!<br />

Segue a missão a caravana em jornada<br />

Enfim a natureza em sua essência revelada<br />

Firmando o <strong>de</strong>sejo <strong>de</strong> realizar<br />

A flor <strong>de</strong>sabrochou nas mãos <strong>de</strong> JK<br />

A miscigenação se fez raiz<br />

Com sangue e o suor <strong>de</strong>ste país<br />

Vem ver... A arte do mestre num traço um poema<br />

Nossa Capital vem ver ...<br />

Legião <strong>de</strong> artistas, cal<strong>de</strong>irão cultural!<br />

Orgulho, patrimônio mundial<br />

Sou candango, calango e <strong>Beija</strong>-<strong>Flor</strong>!<br />

Traçando o <strong>de</strong>stino ainda criança<br />

A luz da alvorada anuncia!<br />

Brasília<br />

capital da esperança<br />

0 Revista <strong>Beija</strong>-<strong>Flor</strong> <strong>de</strong> <strong>Nilópolis</strong> www.beija-flor.com.br


Ricardo Da Fonseca / Hilton Abi-Rihan<br />

<strong>VIDA</strong> <strong>SÓ</strong> <strong>VALE</strong> <strong>SE</strong> <strong>FOR</strong><br />

<strong>POR</strong> <strong>PRAZER</strong><br />

2010 é um ano <strong>de</strong> simbologia muito especial. É o último<br />

ano da primeira década do século 21.<br />

Quantos <strong>de</strong> nós, lá nos anos 80 e 90, não pensávamos<br />

como seria o ano 2000 e como estaríamos com a<br />

chegada do século 21?.<br />

Pois ele chegou. E mais ainda; chegou e segue célere,<br />

indiferente aos planos não concretizados, aos sonhos<br />

não buscados, aos sorrisos não compartilhados.<br />

Por isso, 2010 po<strong>de</strong>r ser para cada um <strong>de</strong> nós um<br />

ano que traz consigo uma importante<br />

mensagem <strong>de</strong> alerta<br />

sobre o que temos feito <strong>de</strong><br />

nossas vidas.<br />

Quantos <strong>de</strong> nós po<strong>de</strong>mos<br />

olhar para trás e dizer: no<br />

novo século, fiz tantas coisas<br />

novas e diferentes, construí e<br />

realizei novos sonhos, <strong>de</strong>ixei<br />

o que não prestava para trás<br />

e avancei em busca <strong>de</strong> novas<br />

conquistas e alegrias.<br />

Quantos <strong>de</strong> nós?<br />

O ano que se inicia - e que representa<br />

o fim <strong>de</strong> uma década<br />

marcada por importantes<br />

mudanças <strong>de</strong> comportamento<br />

- po<strong>de</strong> ser o estímulo para a<br />

construção <strong>de</strong> anos cada vez<br />

melhores, aproveitando cada<br />

minuto e cada momento com<br />

prazer.<br />

O prazer <strong>de</strong> ser útil, prazer <strong>de</strong> apren<strong>de</strong>r, prazer <strong>de</strong><br />

ensinar, <strong>de</strong> compartilhar, <strong>de</strong> sonhar, <strong>de</strong> sorrir...<br />

Hoje é carnaval.<br />

Queremos sim viver momentos felizes, pular, brincar,<br />

cantar....<br />

E o carnaval da cida<strong>de</strong> do Rio <strong>de</strong> Janeiro está aí para<br />

nos oferecer alegres e <strong>de</strong>scontraídos momentos <strong>de</strong><br />

alegria e prazer.<br />

Então não perca essa oportunida<strong>de</strong>!<br />

Pule, brinque, sorria, dance, cante, grite!<br />

Valorize esse momento, e seja feliz! Afinal, como diz<br />

o poeta e músico brasiliense Toninho Alves, “vida só<br />

vale se for por prazer”.<br />

Life is only worthwhile<br />

if lived with pleasure<br />

2010 is a very special and symbolic year. It’s the last year<br />

of the first <strong>de</strong>ca<strong>de</strong> of the twenty-first century. How many of<br />

us, in the 1980s and 90s, didn’t won<strong>de</strong>r what 2000 would<br />

bring, what the coming century would be like? Well, it arrived.<br />

And it did so with an ever more hectic pace of life,<br />

indifferent to plans not materialized, dreams not pursued,<br />

smiles not shared.<br />

For this reason, 2010 can be for each of us a wake-up year<br />

for reflection on what we’ve been doing with our lives. How<br />

many of us can look back and say: in the new century<br />

Nei<strong>de</strong> Tamborim<br />

I’ve done many new things, constructed and realized new<br />

dreams, left behind the bad and advanced in search of new<br />

conquests and happiness. How many of us can say this?<br />

The year that has already started – marking the end of a<br />

<strong>de</strong>ca<strong>de</strong> that was filled with important changes in behavior<br />

– can stimulate us to build better lives, by taking advantage<br />

of every minute, every moment, with pleasure. The pleasure<br />

of being useful, of learning, teaching, sharing, dreaming,<br />

smiling ....<br />

Today is carnival. This is a time to be happy, to dance, sing<br />

and play.... And carnival and the city of Rio <strong>de</strong> Janeiro are<br />

here to offer us joyful and carefree moments. So, don’t miss<br />

this opportunity! Dance, sing, smile, shout! Savor this moment,<br />

be happy. After all, as the Brazilian musician and poet<br />

said, “life is only worthwhile if lived with pleasure”.<br />

Fevereiro 2010


Ricardo Da Fonseca / Hilton Abi-Rihan<br />

<strong>VIDA</strong> <strong>SÓ</strong> <strong>VALE</strong> <strong>SE</strong> <strong>FOR</strong><br />

<strong>POR</strong> <strong>PRAZER</strong><br />

2010 é um ano <strong>de</strong> simbologia muito especial. É o último<br />

ano da primeira década do século 21.<br />

Quantos <strong>de</strong> nós, lá nos anos 80 e 90, não pensávamos<br />

como seria o ano 2000 e como estaríamos com a<br />

chegada do século 21?.<br />

Pois ele chegou. E mais ainda; chegou e segue célere,<br />

indiferente aos planos não concretizados, aos sonhos<br />

não buscados, aos sorrisos não compartilhados.<br />

Por isso, 2010 po<strong>de</strong>r ser para cada um <strong>de</strong> nós um<br />

ano que traz consigo uma importante<br />

mensagem <strong>de</strong> alerta<br />

sobre o que temos feito <strong>de</strong><br />

nossas vidas.<br />

Quantos <strong>de</strong> nós po<strong>de</strong>mos<br />

olhar para trás e dizer: no<br />

novo século, fiz tantas coisas<br />

novas e diferentes, construí e<br />

realizei novos sonhos, <strong>de</strong>ixei<br />

o que não prestava para trás<br />

e avancei em busca <strong>de</strong> novas<br />

conquistas e alegrias.<br />

Quantos <strong>de</strong> nós?<br />

O ano que se inicia - e que representa<br />

o fim <strong>de</strong> uma década<br />

marcada por importantes<br />

mudanças <strong>de</strong> comportamento<br />

- po<strong>de</strong> ser o estímulo para a<br />

construção <strong>de</strong> anos cada vez<br />

melhores, aproveitando cada<br />

minuto e cada momento com<br />

prazer.<br />

O prazer <strong>de</strong> ser útil, prazer <strong>de</strong> apren<strong>de</strong>r, prazer <strong>de</strong><br />

ensinar, <strong>de</strong> compartilhar, <strong>de</strong> sonhar, <strong>de</strong> sorrir...<br />

Hoje é carnaval.<br />

Queremos sim viver momentos felizes, pular, brincar,<br />

cantar....<br />

E o carnaval da cida<strong>de</strong> do Rio <strong>de</strong> Janeiro está aí para<br />

nos oferecer alegres e <strong>de</strong>scontraídos momentos <strong>de</strong><br />

alegria e prazer.<br />

Então não perca essa oportunida<strong>de</strong>!<br />

Pule, brinque, sorria, dance, cante, grite!<br />

Valorize esse momento, e seja feliz! Afinal, como diz<br />

o poeta e músico brasiliense Toninho Alves, “vida só<br />

vale se for por prazer”.<br />

Life is only worthwhile<br />

if lived with pleasure<br />

2010 is a very special and symbolic year. It’s the last year<br />

of the first <strong>de</strong>ca<strong>de</strong> of the twenty-first century. How many of<br />

us, in the 1980s and 90s, didn’t won<strong>de</strong>r what 2000 would<br />

bring, what the coming century would be like? Well, it arrived.<br />

And it did so with an ever more hectic pace of life,<br />

indifferent to plans not materialized, dreams not pursued,<br />

smiles not shared.<br />

For this reason, 2010 can be for each of us a wake-up year<br />

for reflection on what we’ve been doing with our lives. How<br />

many of us can look back and say: in the new century<br />

Nei<strong>de</strong> Tamborim<br />

I’ve done many new things, constructed and realized new<br />

dreams, left behind the bad and advanced in search of new<br />

conquests and happiness. How many of us can say this?<br />

The year that has already started – marking the end of a<br />

<strong>de</strong>ca<strong>de</strong> that was filled with important changes in behavior<br />

– can stimulate us to build better lives, by taking advantage<br />

of every minute, every moment, with pleasure. The pleasure<br />

of being useful, of learning, teaching, sharing, dreaming,<br />

smiling ....<br />

Today is carnival. This is a time to be happy, to dance, sing<br />

and play.... And carnival and the city of Rio <strong>de</strong> Janeiro are<br />

here to offer us joyful and carefree moments. So, don’t miss<br />

this opportunity! Dance, sing, smile, shout! Savor this moment,<br />

be happy. After all, as the Brazilian musician and poet<br />

said, “life is only worthwhile if lived with pleasure”.<br />

Fevereiro 2010

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