29.04.2013 Views

Igor Fagundes

Igor Fagundes

Igor Fagundes

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

luminosidade ao obscuro, realização ao que, antes, era só possibilidade ou<br />

impossibilidade. Tornar exposto o não-posto. Sonhar é, mais do que fazer do<br />

silêncio palavra, mas – objetivando o subjetivo, subjetivando o objetivo,<br />

clareando o obscuro e obscurecendo o claro (no paradoxo impetuoso do<br />

público-privado) – fazer da palavra palavrão. Viver à procura do objetivo<br />

compreenderia, enfim, uma utopia, porque realidade não é, conforme foi já dito,<br />

apenas o que está dado, o que presta à visibilidade, identificação,<br />

representação e mensuração. O que está posto, em síntese, diante de nós. O<br />

que está em síntese. A realidade jamais chega a isto: à síntese. Eis o que<br />

apenas poderia sintetizar a realidade: um palavrão! Mas um palavrão pode se<br />

inscrever no discurso que corre em busca da síntese? No discurso, dito<br />

filosófico, acadêmico? O palavrão, aqui, nosso discurso epidêmico. Na<br />

epidemia acadêmica do subjetivo x objetivo, dizer que o objetivo é o que está<br />

posto diante de nós não significa dizer que ele é o que está posto pelo<br />

subjetivo? Mas ela mesma, a subjetividade, já não é uma forma de nos<br />

colocarmos diante de nós? De nos representarmos, identificarmos, medirmos<br />

como... sujeitos? A subjetividade já não diz de uma objetivação da nossa<br />

impalpabilidade, de uma nomeação de nosso inominável, uma tentativa de<br />

tocar o que, em nós mesmos, não tocamos? A subjetividade, como a<br />

objetividade e já como objetividade, não seria, também, uma utopia? Uma<br />

construção imaginária, principalmente porque isso que somos é sempre um<br />

projeto inacabado e provisório? O que somos hoje não é o que fomos ontem<br />

nem o que seremos amanhã. O subjetivo: uma casa não terminada. Ainda e<br />

sempre em obra. Objetar e subjetar consistiriam, assim, em figurações de<br />

nossa perseverante desfiguração e infigurabilidade. Espécies de sonhos que<br />

sonhamos acordados. Probabilidades sem provas. Ou provas refutáveis.<br />

Sentenças suscetíveis à revogação. No lugar do juízo, construções: poéticas.<br />

E, quando perdemos o juízo, o que soltamos? Palavrões. Caralho! Fodeu!<br />

Viver, nesse sentido, é uma ficção, mas não porque vida figura<br />

mentirosa. Ficção não significa o contrário da realidade. Realizar, enquanto um<br />

dar figura, um figurar, um ficcionar, é fingir. Em latim, fingir, ficcionar e figurar<br />

dizem o mesmo na palavra fingere. Como se nós, homens, em latim, húmus –<br />

terra –, fôssemos figurações – singularizações – dessa mesma matéria comum<br />

a todos. A matéria da vida. Que verte a vida e nos reverte, inverte,<br />

virtuosamente. Nossa virtualidade, eis isto: não o virtual como o sinônimo de<br />

5

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!