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Hora de continuar expansão - Fiec

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“ “<br />

Em 1845,<br />

e em anos<br />

subsequentes, o café<br />

cearense levado à<br />

Antuérpia (Bélgica)<br />

foi classificado entre<br />

as melhores espécies <strong>de</strong><br />

café Bourbon, Java e<br />

Ceilão do mundo.<br />

nicolau Moreira,<br />

na publicação Breves, <strong>de</strong> 1873<br />

Praga popularmente conhecida como<br />

broca do café, que comprometeu as<br />

safras <strong>de</strong> 1954 e 1955<br />

A muda (que vingou) trazida por Uchoa foi<br />

plantada no sítio Santa Úrsula, na serra <strong>de</strong><br />

Meruoca, em 1747. De lá, sementes foram levadas<br />

para a Serra Gran<strong>de</strong>. A outra região serrana<br />

a receber o ouro preto foi a do Araripe, cujas<br />

primeiras mudas vieram <strong>de</strong> Pernambuco, em 1822.<br />

Cândido Couto conta que o processo introdutório<br />

do café no Ceará suce<strong>de</strong>u-se <strong>de</strong> forma artesanal<br />

e <strong>de</strong>spretensiosa, muitas vezes apenas como uma<br />

troca <strong>de</strong> presentes entre amigos.<br />

“Algumas sementes oriundas do Araripe foram<br />

doadas ao capitão Antônio Pereira <strong>de</strong> Queirós,<br />

que as semeou no sítio Mungaípe, em Baturité.<br />

Desses cafeeiros, Domingos da Costa e Silva colheu<br />

sementes e as levou para a serra da Aratanha, no<br />

sítio Serrinha, <strong>de</strong> on<strong>de</strong> seu irmão João da Costa<br />

e Silva, em 1826, mudou alguns pés para a sua<br />

proprieda<strong>de</strong> <strong>de</strong> nome Imboaçu”, <strong>de</strong>screve Cândido<br />

Couto, mostrando o modo inusitado <strong>de</strong> como o café<br />

se espalhou no estado.<br />

Para o escritor, é à família Albano, em especial a<br />

José Antônio da Costa e Silva, pai do poeta Juvenal<br />

Galeno, que o <strong>de</strong>senvolvimento do cultivo do café<br />

no Araripe <strong>de</strong>ve reconhecimento. Da mesma forma,<br />

Filipe Castelo Branco, que em 1824 trouxe mudas<br />

e sementes do Pará, e as plantou no sítio “Bagaço”,<br />

é o responsável pela <strong>expansão</strong> da planta em<br />

Guaramiranga, que anos mais tar<strong>de</strong> se tornaria um<br />

dos principais produtores do fruto no Ceará.<br />

Somente <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> cem anos <strong>de</strong> sua chegada,<br />

a partir <strong>de</strong> 1846, é que o café entra na lista das<br />

exportações da província. Registros do historiador<br />

Barão <strong>de</strong> Studart dão conta que das safras <strong>de</strong><br />

1846 e 1857 foram exportados pelo porto <strong>de</strong><br />

Fortaleza 9 795 quilos. Nos dois anos seguintes,<br />

as exportações subiram para 113 635 quilos. É<br />

fato que a qualida<strong>de</strong> do café cearense era boa,<br />

consi<strong>de</strong>rada melhor que a do Rio <strong>de</strong> Janeiro,<br />

diferencial responsável pelo incremento da<br />

produção e comércio local.<br />

Na publicação Breves consi<strong>de</strong>rações sobre<br />

a história e cultura do cafeeiro, publicada no<br />

ano <strong>de</strong> 1873, Nicolau Moreira afirma que em<br />

1845, e em anos subsequentes, o café cearense<br />

levado à Antuérpia (Bélgica) foi classificado<br />

entre as melhores espécies <strong>de</strong> café Bourbon,<br />

Java e Ceilão do mundo, fato que se repetia em<br />

diversos países europeus.<br />

Nos tempos áureos, as exportações <strong>de</strong> café<br />

superaram em valor as do algodão exatamente nos<br />

anos <strong>de</strong> 1860, 1861, 1864, 1865, 1877 e 1878.<br />

A partir <strong>de</strong> 1890, os dois gêneros mantiveram<br />

mais ou menos o mesmo volume <strong>de</strong> exportações.<br />

Somente após 1898, o algodão recuperou seu<br />

status <strong>de</strong> principal produto <strong>de</strong> exportação. No<br />

Ceará, essa cultura continuou rentável até o ano <strong>de</strong><br />

1922, quando uma série <strong>de</strong> fatores <strong>de</strong>sfavoráveis<br />

eclodiu <strong>de</strong>ntro e fora do país. Entre os gargalos,<br />

a superprodução no estado <strong>de</strong> São Paulo e uma<br />

crise econômica nos Estados Unidos da América<br />

(EUA), então maior mercado importador <strong>de</strong> café.<br />

A consequência foi um <strong>de</strong>créscimo acentuado<br />

na procura do produto e no preço, com graves<br />

prejuízos para a economia brasileira, refletindo<br />

negativamente na cafeicultura cearense.<br />

Antes do final da década <strong>de</strong> 1920, no entanto,<br />

houve recuperação dos preços e consequente<br />

estabilização do mercado cafeeiro. Com isso, o<br />

governo brasileiro incentivou a ampliação dos<br />

plantios por meio <strong>de</strong> uma política <strong>de</strong> subsídios.<br />

Com as medidas, o problema passou a ser outro:<br />

o da superprodução, especialmente no período<br />

<strong>de</strong> 1929 a 1934. Aliado a este novo percalço, o<br />

aumento da concorrência internacional contribuiu<br />

para baixar o preço do produto. O governo interveio<br />

novamente, <strong>de</strong>struindo 34 milhões <strong>de</strong> sacas<br />

<strong>de</strong> café, reduzindo o estoque nacional para 20<br />

milhões. Essa política <strong>de</strong> incentivo e <strong>de</strong>struição <strong>de</strong><br />

estoque perdurou até o início da década <strong>de</strong> 1950.<br />

No Ceará, a cafeicultura no final <strong>de</strong> 1950 e<br />

início dos anos 1960 teve <strong>de</strong> enfrentar dois graves<br />

problemas: a praga popularmente conhecida<br />

como broca do café (Hypothenemu Hampei<br />

Ferrari), que comprometeu as safras <strong>de</strong> 1954 e<br />

1955; e o efeito das políticas governamentais,<br />

<strong>de</strong> or<strong>de</strong>m institucional e financeira, que <strong>de</strong>veriam<br />

beneficiar os cafezais <strong>de</strong> todo o país, mas que só<br />

foram úteis em nosso estado em 1966, quando<br />

o Instituto Brasileiro do Café (IBC), órgão criado<br />

para fixar o preço e ajudar os produtores, passou<br />

a adquirir os grãos das fazendas locais, como<br />

forma <strong>de</strong> incentivo à produção.<br />

A partir <strong>de</strong> 1970, as geadas e a praga<br />

da “ferrugem” nos cafezais do Sul/Su<strong>de</strong>ste<br />

ocasionaram a redução do parque cafeeiro<br />

nacional, ameaçando não somente o<br />

cumprimento dos compromissos internacionais<br />

como também o abastecimento interno.<br />

Esses fatos provocaram uma mudança na<br />

política cafeeira do governo fe<strong>de</strong>ral, com o IBC<br />

incentivando a <strong>expansão</strong> da cultura em outros<br />

estados não tradicionais, especialmente no<br />

Nor<strong>de</strong>ste, na Bahia, Pernambuco e Ceará.<br />

Segundo Cândido Couto, o incremento<br />

no Ceará ganhou ainda mais impulso com a<br />

introdução <strong>de</strong> máquinas importadas, movidas a<br />

vapor, roda <strong>de</strong> água ou a eletricida<strong>de</strong>. “Vestindo<br />

as faldas da serra <strong>de</strong> Baturité – especialmente<br />

os municípios <strong>de</strong> Guaramiranga, Pacoti e Baturité<br />

–, multiplicaram-se os cafezais, transformando a<br />

região no maior centro <strong>de</strong> produção no Ceará.”<br />

Também na década <strong>de</strong> 1970 cresceram os<br />

cafezais na Serra da Ibiapaba, nos municípios <strong>de</strong><br />

Ibiapina, São Benedito, Tianguá, Ubajara, Viçosa e<br />

Ipu. No Cariri, tiveram <strong>de</strong>staque os produtores <strong>de</strong><br />

Missão Velha, Brejo Santo, Crato e Caririaçu. Serra<br />

<strong>de</strong> Maranguape, Meruoca e Uruburetama também<br />

viveram seus tempos áureos.<br />

Tempos áureos<br />

No início do século 19, Baturité, a cerca<br />

<strong>de</strong> cem quilômetros <strong>de</strong> Fortaleza,<br />

teve na cultura do café sua principal<br />

ativida<strong>de</strong> econômica. Na época, o município<br />

se tornou um importante produtor nacional,<br />

chegando a <strong>de</strong>ter 2% <strong>de</strong> toda a produção<br />

brasileira e figurou entre aqueles mais<br />

prósperos do estado. Há registros <strong>de</strong> que o<br />

café baturiteense era um dos mais apreciados<br />

nas cafeterias francesas.<br />

A importância <strong>de</strong>ssa economia era tanta<br />

que, para escoar a safra, foi construída a<br />

primeira ferrovia no estado – a Companhia<br />

Cearense da Via Férrea <strong>de</strong> Baturité –,<br />

interligando Baturité à capital. Entre os muitos<br />

fatos emblemáticos que mostram a opulência<br />

do período está a criação <strong>de</strong> uma moeda<br />

própria para organizar o comércio. De bronze e<br />

cunhada em Portugal, em 1895, por or<strong>de</strong>m do<br />

proprietário do Sítio Bom Sucesso, fazen<strong>de</strong>iro<br />

Luiz Manoel José d’Oliveira Figueiredo, a<br />

moeda tinha lastro no café e funcionava como<br />

promissória. Seus valores correspondiam a um<br />

alqueire (128 litros), uma quarta (32 litros)<br />

O processo <strong>de</strong> moagem<br />

evoluiu bastante<br />

34 | RevistadaFIEC 60 anos | Janeiro <strong>de</strong> 2011<br />

Janeiro <strong>de</strong> 2011 35<br />

| RevistadaFIEC 60 anos |

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