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Hora de continuar expansão - Fiec

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“ “<br />

Quem<br />

procurava o<br />

Manoel para pilar<br />

café entrava na fila<br />

da pilagem, <strong>de</strong>ixava o<br />

café no Bom Sucesso e<br />

levava as moedas.<br />

“<br />

Francisco Luiz,<br />

no livro As Moedas da Fazenda<br />

Bom Sucesso<br />

O café produzido no Maciço <strong>de</strong><br />

Baturité reergue-se graças ao<br />

esforço <strong>de</strong> alguns produtores<br />

e uma terça (oito litros). “Quem procurava<br />

o Manoel para pilar café entrava na fila da<br />

pilagem, <strong>de</strong>ixava o café no Bom Sucesso e<br />

levava as moedas”, <strong>de</strong>screve Francisco Luiz,<br />

neto do velho Manoel Figueiredo, no livro As<br />

Moedas da Fazenda Bom Sucesso.<br />

A moeda circulou por todo o maciço e chegou<br />

a várias regiões do sertão, como Quixadá. Era<br />

popularmente conhecida como “borós” e também<br />

servia para pagamento <strong>de</strong> mão <strong>de</strong> obra nas<br />

gran<strong>de</strong>s fazendas. A i<strong>de</strong>ia era avançada, mas<br />

as crises da época fizeram com que Manoel<br />

abandonasse a inovação em poucos anos.<br />

Fracassado e tendo que honrar suas dívidas em<br />

dinheiro, suicidou-se em sua fazenda logo que<br />

conseguiu pagar a todos os seus credores.<br />

Mas a morte <strong>de</strong> seu Manoel não está<br />

associada à crise do café, segundo Francisco<br />

Luiz. O fracasso do seu avô teve origem numa<br />

economia quase <strong>de</strong>sconhecida da população<br />

local: a borracha da maniçoba, árvore nativa que<br />

produz látex idêntico às seringueiras da Amazônia.<br />

Por estar no auge do consumo internacional, a<br />

espécie trouxe riqueza rápida para os fazen<strong>de</strong>iros<br />

que usavam o dinheiro do café para multiplicar os<br />

lucros da borracha. “Nos roçados abandonados,<br />

on<strong>de</strong> morria o café, a maniçoba nascia em<br />

abundância, e assim a serra conheceu um ‘ciclo<br />

da borracha’ <strong>de</strong>sconhecido <strong>de</strong> muitos nos dias <strong>de</strong><br />

hoje”, relata Francisco Luiz.<br />

Tal ativida<strong>de</strong>, no entanto, teve vida curta.<br />

A crise internacional da borracha ensejou<br />

dificulda<strong>de</strong>s financeiras nas pessoas envolvidas<br />

com sua extração. Muitas <strong>de</strong>las, então, passaram<br />

a procurar Manoel Figueiredo. “Corriam boatos <strong>de</strong><br />

sua fraqueza financeira e iam a ele para trocar<br />

as moedas por café. Infelizmente, já não havia<br />

café suficiente nos armazéns da Fazenda Bom<br />

Sucesso para lastrear as moedas”. Antes <strong>de</strong><br />

morrer, porém, explica Luiz, “ele toma uma grave<br />

<strong>de</strong>cisão: ven<strong>de</strong>r terras para se capitalizar, saldar<br />

suas dívidas e honrar e reaver as moedas que<br />

tinham seu nome”. Essa é verda<strong>de</strong>ira história do<br />

homem que po<strong>de</strong> ser consi<strong>de</strong>rado o precursor do<br />

dinheiro social no país.<br />

De forma geral, em todo o estado, a crise <strong>de</strong><br />

1929, os <strong>de</strong>smandos político-administrativos<br />

do governo fe<strong>de</strong>ral e a inevitável <strong>de</strong>gradação<br />

dos solos são apontados como causa da quase<br />

extinção <strong>de</strong>ssa ativida<strong>de</strong> no Ceará.<br />

À sombra dos ingás<br />

Atualmente, o café produzido no Maciço<br />

<strong>de</strong> Baturité está se reerguendo graças à<br />

persistência <strong>de</strong> alguns agricultores que<br />

<strong>de</strong>scumpriram as or<strong>de</strong>ns do IBC, <strong>de</strong>terminando,<br />

na década <strong>de</strong> 1970, a <strong>de</strong>rrubada <strong>de</strong> ma<strong>de</strong>iras<br />

nobres para o plantio do fruto (período em que<br />

os cafezais do Sul e Su<strong>de</strong>ste foram atingidos<br />

por geadas e pragas) e mantiveram o plantio<br />

sombreado – técnica que protege o café da<br />

exposição direta ao sol (modo convencional) e<br />

não usa agrotóxico.<br />

Entre essa “gente teimosa” estão os irmãos<br />

Gerardo Queiroz Farias e Alfredo Farias Filho (com<br />

85 e 102 anos, mas em plena forma e ativida<strong>de</strong>),<br />

cuja família há mais <strong>de</strong> um século mantem no<br />

município <strong>de</strong> Mulungu a tradição <strong>de</strong> cultivar café<br />

sob a sombra <strong>de</strong> ingazeiras – árvore típica <strong>de</strong><br />

Mata Atlântica. Remanescente da época <strong>de</strong> ouro,<br />

Gerardo Farias pô<strong>de</strong> sentir novamente, há 13<br />

anos, o doce sabor <strong>de</strong> ter seu produto apreciado<br />

por especialistas europeus. É que parte da sua<br />

produção artesanal foi parar nas xícaras <strong>de</strong><br />

famílias suecas, apreciadoras do café ecológico.<br />

“Na época, ganhamos até um selo ver<strong>de</strong> da<br />

empresa sueca Arvid Nordquist”, relembra<br />

Gerardo Farias, que atualmente cultiva mais <strong>de</strong> 30<br />

hectares <strong>de</strong> café sob a floresta.<br />

O cultivo sombreado, que há mais <strong>de</strong> 150<br />

anos faz parte da cultura <strong>de</strong> parte dos agricultores<br />

do Maciço <strong>de</strong> Baturité, ganhou força em 2009<br />

com a implantação <strong>de</strong> uma mini-indústria <strong>de</strong><br />

torrefação <strong>de</strong> café ecológico. A instalação da<br />

fábrica, que funciona em regime <strong>de</strong> cooperativa,<br />

faz parte <strong>de</strong> um projeto implantado há 15 anos<br />

e visa recuperar a lavoura cafeeira na região. A<br />

iniciativa é gerida pela Associação dos Produtores<br />

Ecológicos do Maciço <strong>de</strong> Baturité (Apemb), em<br />

parceria com o Centro <strong>de</strong> Educação Popular<br />

em Defesa do Meio Ambiente (Cepema). Hoje,<br />

beneficia mais <strong>de</strong> cem agricultores <strong>de</strong> sete<br />

municípios do maciço, entre eles Re<strong>de</strong>nção,<br />

Guaramiranga e Mulungu (se<strong>de</strong> da mini-indústria)<br />

O empreendimento tem capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

torrar cerca <strong>de</strong> 20 toneladas <strong>de</strong> café por mês,<br />

quantida<strong>de</strong> que aten<strong>de</strong> à <strong>de</strong>manda da população<br />

No Ceará, a cultura do<br />

café foi rentável até o<br />

ano <strong>de</strong> 1922<br />

local. Segundo o presi<strong>de</strong>nte do Conselho Diretor<br />

do Cepema, Danilo Galvão Peixoto Filho, o projeto<br />

preten<strong>de</strong> ampliar as vendas para o mercado<br />

nacional e até internacional. A i<strong>de</strong>ia é que a<br />

pequena empresa volte a escoar os produtos<br />

para o exterior, como ocorreu nos anos <strong>de</strong> 1996<br />

e 1997, quando a cooperativa exportou parte<br />

<strong>de</strong> seus produtos para a Suécia (oportunida<strong>de</strong><br />

aproveitada pelos irmãos Farias). “Dessa vez,<br />

o café ecológico não será mais enviado em<br />

grão natural, mas sairá torrado, empacotado e<br />

carregando o selo internacional <strong>de</strong> “Fair Tra<strong>de</strong>”,<br />

que, além <strong>de</strong> garantir a qualida<strong>de</strong> do produto,<br />

comprova sua inserção na re<strong>de</strong> <strong>de</strong> comércio<br />

justo”, explica Danilo Galvão. Dá até vonta<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

tomar um (bom) cafezinho!<br />

Segundo do Nor<strong>de</strong>ste<br />

O café<br />

ecológico<br />

sairá com o selo<br />

internacional <strong>de</strong> “Fair<br />

Tra<strong>de</strong>”, que, além <strong>de</strong><br />

garantir a qualida<strong>de</strong><br />

do produto, comprova<br />

sua inserção na re<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> comércio justo.<br />

“<br />

Danilo Galvão<br />

Apesar <strong>de</strong> praticamente importar quase todo o café que consome, o beneficiamento<br />

do produto movimenta no Ceará em torno <strong>de</strong> R$ 15 milhões por mês, gerando 1 500<br />

empregos diretos e cerca <strong>de</strong> 6 000 indiretos. Segundo presi<strong>de</strong>nte do Sindicato das<br />

Indústrias <strong>de</strong> Torrefação e Moagem <strong>de</strong> Café do Estado do Ceará (Sindcafé), Jocely Dantas<br />

<strong>de</strong> Andra<strong>de</strong> Filho, a produção mensal da indústria local gira em torno <strong>de</strong> 50 000 sacas,<br />

que correspon<strong>de</strong> a 3 000 toneladas. Os números colocam o estado na posição <strong>de</strong> segundo<br />

torrefador do Nor<strong>de</strong>ste e quinto do país.<br />

A matéria-prima beneficiada pelas torrefações cearenses é originária dos estados <strong>de</strong> Minas<br />

Gerais, Bahia e Espírito Santo. Meta<strong>de</strong> da produção cearense <strong>de</strong> café torrado e moído abastece<br />

80% do mercado interno. Os outros 50% são exportados para estados do Norte e Nor<strong>de</strong>ste. A<br />

indústria <strong>de</strong> café do Ceará <strong>de</strong>tém 5% do mercado nacional.<br />

O CAFÉ NO CEARÁ<br />

O beneficiamento do<br />

café movimenta no<br />

Ceará em torno <strong>de</strong><br />

R$ 15 milhões por mês,<br />

gerando<br />

1 500 empregos diretos<br />

e cerca <strong>de</strong><br />

6 000 indiretos.<br />

Os números colocam o<br />

estado na posição <strong>de</strong><br />

segundo torrefador do<br />

Nor<strong>de</strong>ste e quinto do país.<br />

36 | RevistadaFIEC 60 anos | Janeiro <strong>de</strong> 2011<br />

Janeiro <strong>de</strong> 2011 37<br />

| RevistadaFIEC 60 anos |

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