abrigos em movimento: - Instituto Fazendo História
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“Ajudou-nos a perceber<br />
que, ao mesmo t<strong>em</strong>po<br />
<strong>em</strong> que queríamos uma<br />
mudança, havia certa<br />
resistência. Começamos<br />
a ver com outros olhos.”<br />
Pod<strong>em</strong>os constatar que o olhar estrangeiro estranha e denuncia o que a lógica<br />
do sist<strong>em</strong>a instituído “naturaliza”. Expõe aspectos do sist<strong>em</strong>a que são fonte de<br />
sofrimento institucional, mas que, de alguma forma, permanece acomodado na<br />
própria dinâmica. Por esta razão, na maioria das vezes, o “estrangeiro” desperta<br />
resistências às ideias que apresenta.<br />
Horizonte do possível<br />
Um aspecto fundamental neste momento inicial do processo foi a mobilização das<br />
pessoas frente à resistência institucional à mudança.<br />
No ano de 1998, as técnicas reivindicaram e passaram a receber supervisão<br />
técnica constante e periódica de profissionais especialistas <strong>em</strong> <strong>abrigos</strong>. Foi constituído<br />
um grupo operativo com estes profissionais seguindo alguns pressupostos:<br />
• valorização das experiências e das vivências das pessoas do grupo,<br />
• respeito às histórias, às singularidades.<br />
Este grupo foi o primeiro espaço no qual as profissionais puderam ser ouvidas e,<br />
por meio do intercâmbio de ideias, dar sentido ao trabalho, confrontar as diferenças,<br />
conter suas angústias e transformar a queixa <strong>em</strong> desejo de mudança.<br />
Neste período, dois projetos foram implantados: o Projeto Passos e o Projeto<br />
Religar.<br />
• O Projeto Passos foi uma resposta à situação dos jovens que deixavam o educandário<br />
s<strong>em</strong> ter uma família que pudess<strong>em</strong> recebê-los.<br />
• O Projeto Religar foi pensado para dar apoio às famílias de crianças e adolescentes<br />
abrigados, e seu objetivo era garantir as condições para que a criança/o<br />
adolescente abrigado pudesse voltar ao convívio familiar.<br />
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De acordo com os gestores, o Projeto Passos foi, naquele momento,<br />
um importante balisador institucional uma vez que, por meio dele,<br />
ficaram evidentes os efeitos causados pelo modelo de abrigamento<br />
na subjetividade dos jovens. Estes jovens, inicialmente nove, saídos<br />
do abrigo do Educandário na condição de orfandade ou de abandono<br />
expressavam <strong>em</strong> seu comportamento o estigma do “internato”,<br />
a dificuldade para o convívio social, a falta de recursos internos<br />
para assumir a própria vida.<br />
“Eles tinham vergonha, por ex<strong>em</strong>plo, de sair com a perua da instituição.<br />
Eles abaixavam a cabeça, se escondiam, porque era uma<br />
marca muito forte, muito pesada.”