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1 O Papel da Aprendizagem na Padronização de Serviços ... - Anpad

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Resumo<br />

O <strong>Papel</strong> <strong>da</strong> <strong>Aprendizagem</strong> <strong>na</strong> <strong>Padronização</strong> <strong>de</strong> <strong>Serviços</strong> <strong>de</strong> Beleza<br />

Autoria: Angélica Hammerschmitt, Debora Azevedo<br />

A partir <strong>da</strong> abor<strong>da</strong>gem <strong>Aprendizagem</strong> Organizacio<strong>na</strong>l Basea<strong>da</strong> em Prática, este artigo se<br />

propõe a compreen<strong>de</strong>r o papel <strong>da</strong> aprendizagem <strong>na</strong> padronização <strong>de</strong> serviços. Foi realizado<br />

um estudo <strong>de</strong> caso em uma organização do segmento <strong>de</strong> serviços <strong>de</strong> beleza que conta com 50<br />

uni<strong>da</strong><strong>de</strong>s, <strong>da</strong>s quais estu<strong>da</strong>ram-se cinco. Os resultados indicam que a aprendizagem formal é<br />

ancora<strong>da</strong> pela prática e é pela aprendizagem informal que os profissio<strong>na</strong>is a<strong>da</strong>ptam as práticas<br />

ao contexto. Neste processo, o julgamento estético dá suporte ao que é consi<strong>de</strong>rado o padrão<br />

<strong>da</strong> organização, tor<strong>na</strong>ndo a formação do gosto um dos aprendizados centrais para a<br />

padronização dos serviços.<br />

1


1 Introdução<br />

As pesquisas sobre a <strong>Aprendizagem</strong> Organizacio<strong>na</strong>l (AO) cresceram muito <strong>na</strong>s últimas<br />

déca<strong>da</strong>s (GHERARDI, 2001; GODOY; ANTONELLO, 2011), especialmente a partir dos<br />

anos 90, abrindo portas para diversas novas abor<strong>da</strong>gens neste campo. Segundo Antonello e<br />

Godoy (2011), a maioria <strong>da</strong>s abor<strong>da</strong>gens estu<strong>da</strong><strong>da</strong>s são muito amplas, por isso, possibilitam<br />

ain<strong>da</strong> muitos aprofun<strong>da</strong>mentos <strong>na</strong>s diversas linhas <strong>de</strong> pesquisa. Inter<strong>na</strong>cio<strong>na</strong>lmente, <strong>na</strong> última<br />

déca<strong>da</strong>, tem-se consoli<strong>da</strong>do uma abor<strong>da</strong>gem <strong>da</strong> AO foca<strong>da</strong> <strong>na</strong> prática. Nessa concepção, a<br />

aprendizagem po<strong>de</strong> ser conceitua<strong>da</strong> como um processo, por meio do qual “os atores refletem<br />

sobre suas práticas para enten<strong>de</strong>r as conexões entre os aspectos <strong>de</strong>termi<strong>na</strong>ntes, as ações e os<br />

resultados” (ANTONELLO; GODOY, 2011, p. 15). A abor<strong>da</strong>gem basea<strong>da</strong> em prática permite<br />

que se vá além <strong>da</strong> análise dos níveis <strong>de</strong> aprendizagem, pois consi<strong>de</strong>ra o caráter situado no<br />

conhecimento e afasta-se <strong>de</strong> uma concepção puramente cognitivista <strong>de</strong>ste, discutindo aspectos<br />

perceptivo-sensoriais e a estética. Para compreen<strong>de</strong>r o processo <strong>de</strong> AO Basea<strong>da</strong> em Práticas é<br />

proposto neste artigo um estudo <strong>de</strong> caso em uma organização <strong>de</strong> serviços <strong>de</strong> beleza, <strong>na</strong> qual a<br />

aprendizagem foi estu<strong>da</strong><strong>da</strong> a partir <strong>da</strong>s ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s cotidia<strong>na</strong>s <strong>de</strong> trabalho.<br />

No estudo <strong>da</strong>s organizações <strong>de</strong> serviços com várias uni<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> negócio, o aspecto<br />

rotinizado e muitas vezes institucio<strong>na</strong>lizado <strong>da</strong>s práticas permite a discussão dos processos <strong>de</strong><br />

padronização. A questão <strong>da</strong> padronização no caso estu<strong>da</strong>do é fun<strong>da</strong>mental, pois a organização<br />

procura manter um <strong>de</strong>termi<strong>na</strong>do “padrão <strong>de</strong> quali<strong>da</strong><strong>de</strong>” em suas diferentes uni<strong>da</strong><strong>de</strong>s. A<br />

organização estu<strong>da</strong><strong>da</strong> conta com 50 uni<strong>da</strong><strong>de</strong>s, entre próprias e franquea<strong>da</strong>s. Neste estudo<br />

foram pesquisa<strong>da</strong>s: duas uni<strong>da</strong><strong>de</strong>s próprias e três franquea<strong>da</strong>s localizados em diferentes<br />

Estados. O objetivo geral <strong>de</strong>sta pesquisa foi, a partir <strong>da</strong> abor<strong>da</strong>gem <strong>de</strong> AO basea<strong>da</strong> em prática,<br />

compreen<strong>de</strong>r o papel <strong>da</strong> aprendizagem <strong>na</strong> padronização <strong>de</strong> serviços.<br />

Este artigo está estruturado <strong>da</strong> seguinte forma: após a introdução, a revisão teórica é<br />

<strong>de</strong>linea<strong>da</strong>, <strong>de</strong>stacando a abor<strong>da</strong>gem <strong>de</strong> AO basea<strong>da</strong> em prática e discutindo um dos tipos <strong>de</strong><br />

conhecimento consi<strong>de</strong>rados nessa abor<strong>da</strong>gem, o conhecimento estético. As seções seguintes<br />

tratam do método utilizado e <strong>da</strong> apresentação e análise dos <strong>da</strong>dos. Para fi<strong>na</strong>lizar, são<br />

apresenta<strong>da</strong>s algumas consi<strong>de</strong>rações do estudo.<br />

2 <strong>Aprendizagem</strong> Organizacio<strong>na</strong>l Basea<strong>da</strong> em Prática<br />

Os estudos <strong>de</strong> AO dissemi<strong>na</strong>m-se a partir <strong>da</strong> déca<strong>da</strong> <strong>de</strong> 80 como tentativas <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>screver processos <strong>de</strong> mu<strong>da</strong>nça <strong>na</strong>s organizações. Gherardi (2001) afirma que por mais que a<br />

AO seja estu<strong>da</strong><strong>da</strong> há mais <strong>de</strong> 30 anos, e que a literatura e a comuni<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> estudiosos neste<br />

tema tenha crescido imensamente, isso não significa que o tema tenha sido explorado<br />

satisfatoriamente; nem significa que hoje se saiba muito mais do que há alguns anos. Além<br />

disto, a AO possui diversi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> abor<strong>da</strong>gens e também diferentes vertentes. Essa varie<strong>da</strong><strong>de</strong> é<br />

positiva, pois se acredita que para a compreensão do processo <strong>de</strong> aprendizagem é necessária a<br />

interlocução <strong>de</strong> diferentes áreas do conhecimento (ANTONELLO, 2005).<br />

Uma <strong>da</strong>s vertentes dos estudos <strong>de</strong> AO, e tema <strong>de</strong>ste artigo, é a basea<strong>da</strong> em prática,<br />

abor<strong>da</strong>gem esta que começou a ser estu<strong>da</strong><strong>da</strong> a partir dos anos 90. Segundo Gherardi (2000<br />

apud STRATI, 2007, p.67) a AO não é uma mercadoria e tampouco ocorre ape<strong>na</strong>s <strong>na</strong> cabeça<br />

dos indivíduos, mas é um processo que gera “conhecimento situado em práticas<br />

organizacio<strong>na</strong>is”. Essas são “acessa<strong>da</strong>s por meio <strong>de</strong> socialização organizacio<strong>na</strong>l e são<br />

adquiri<strong>da</strong>s ao serem <strong>de</strong>sempenha<strong>da</strong>s <strong>na</strong> consciência do ‘mistério’ que distingue a sua<br />

colocação-em-uso”.<br />

Esta concepção <strong>da</strong> aprendizagem sofreu influências principalmente <strong>da</strong> Sociologia e <strong>da</strong><br />

Filosofia, especialmente no que se refere às concepções <strong>de</strong> prática, que são varia<strong>da</strong>s.<br />

Reckwitz (2002) <strong>de</strong>fine prática como um tipo <strong>de</strong> comportamento rotinizado que consiste <strong>de</strong><br />

2


muitos elementos, interconectados uns aos outros: formas <strong>de</strong> ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s corpóreas e mentais,<br />

‘coisas’ e seus usos, uma base <strong>de</strong> conhecimentos <strong>na</strong> forma <strong>de</strong> compreensão, know-how,<br />

estados <strong>de</strong> emoção e conhecimento motivacio<strong>na</strong>l. Já Geiger (2009) enten<strong>de</strong> a prática como<br />

ciclos <strong>de</strong> ações, ou seja, roti<strong>na</strong>s, que são realiza<strong>da</strong>s por <strong>de</strong>termi<strong>na</strong>dos atores. Uma <strong>da</strong>s noções<br />

mais difundi<strong>da</strong>s <strong>de</strong> prática é a <strong>de</strong> Schatzki (2001) que enten<strong>de</strong> prática tanto como uma<br />

enti<strong>da</strong><strong>de</strong> coor<strong>de</strong><strong>na</strong><strong>da</strong> – um <strong>de</strong>sdobramento temporal e espacialmente disperso <strong>de</strong> nexus <strong>de</strong><br />

fazeres e dizeres, esquemas e<strong>na</strong>gidos que po<strong>de</strong>m ser transpostos <strong>de</strong> uma situação (ou<br />

domínio) à outra, ligados por três gran<strong>de</strong>s eixos: compreensões, regras explícitas (princípios,<br />

preceitos e instruções), e estruturas “teleoafetivas” – quanto como um <strong>de</strong>sempenho – o<br />

executar a prática, <strong>de</strong>sempenhar os fazeres e dizeres que realizam e sustentam as práticas no<br />

sentido dos nexus.<br />

Sustenta<strong>da</strong> em vários estudos já realizados, Gherardi (2009a, 2009b) argumenta que as<br />

práticas são muito mais do que um conjunto <strong>de</strong> ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s ou ações, pois não são ape<strong>na</strong>s<br />

padrões recorrentes <strong>da</strong> ação (nível <strong>de</strong> produção), mas também padrões recorrentes <strong>de</strong> ações<br />

socialmente sustenta<strong>da</strong>s, ou seja, o que as pessoas produzem em suas práticas situa<strong>da</strong>s não é<br />

ape<strong>na</strong>s o trabalho, mas a (re)produção <strong>da</strong> socie<strong>da</strong><strong>de</strong>. A prática enfatiza a interação social e<br />

pós-social, a negociação coletiva, a construção coletiva <strong>da</strong> “legitimi<strong>da</strong><strong>de</strong>” <strong>da</strong> própria prática<br />

<strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> um contexto organizacio<strong>na</strong>l específico (STRATI, 2007).<br />

A noção <strong>de</strong> conhecimento adquire outra <strong>na</strong>tureza nessa abor<strong>da</strong>gem e <strong>de</strong>ixa <strong>de</strong> ser<br />

meramente cognitiva. Para Gherardi (2009b, p. 353) o conhecimento <strong>de</strong>ve ser <strong>de</strong>finido como<br />

uma ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>, como um “fazer” distribuído e coletivo, o que o leva a ser consi<strong>de</strong>rado como<br />

“uma ativi<strong>da</strong><strong>de</strong> situa<strong>da</strong> no tempo e no espaço”, e que ocorre <strong>na</strong>s práticas <strong>de</strong> trabalho. Essas<br />

práticas, portanto, compõem o lugar do apren<strong>de</strong>r, do trabalhar e do inovar, e estes, por sua<br />

vez, po<strong>de</strong>m ser conceituados como práticas. Para a mesma autora, o conhecimento surge a<br />

partir do saber em combi<strong>na</strong>ção ao fazer, ou seja, <strong>da</strong> prática. E complementa ain<strong>da</strong> que o<br />

conhecimento não é ape<strong>na</strong>s uma ativi<strong>da</strong><strong>de</strong> situa<strong>da</strong> <strong>na</strong>s práticas, mas também é uma ativi<strong>da</strong><strong>de</strong><br />

distribuí<strong>da</strong> entre os humanos e não-humanos: objetos, ferramentas e artefatos incorporam<br />

conhecimento – eles ancoram as práticas em sua materiali<strong>da</strong><strong>de</strong>, interrogam os seres humanos<br />

e são extensões <strong>da</strong> sua memória. Um conjunto <strong>de</strong> práticas envolve o conhecimento, os sujeitos<br />

e os objetos envolvidos no ato <strong>de</strong> organizar. Portanto, é a ação <strong>de</strong> organizar que<br />

<strong>de</strong>sempenhará (e<strong>na</strong>ct) os sujeitos (indivíduos, coletivos, organizacio<strong>na</strong>is e institucio<strong>na</strong>is), os<br />

objetos e as relações entre eles em torno <strong>de</strong> uma prática (GHERARDI, 2001).<br />

Outro aspecto importante <strong>na</strong> relação entre prática e conhecimento é consi<strong>de</strong>rar que o<br />

conhecimento tácito está embutido <strong>na</strong>s práticas, que é, portanto, aprendido através <strong>da</strong><br />

participação em si, e é um conhecimento que contém elementos <strong>de</strong> hábitos, habitus e<br />

habitualização (GHERARDI, 2009b). Este aspecto permite <strong>de</strong>stacar que a prática é um<br />

conceito que se encontra “entre” o hábito e a ação. Para a mesma autora, um ponto que po<strong>de</strong><br />

ser a<strong>na</strong>lisado em relação a prática é a lacu<strong>na</strong> entre o que po<strong>de</strong> ser prescrito, ou seja, <strong>de</strong>legado,<br />

e o que po<strong>de</strong> ser incorporado, ou seja, aprendido através <strong>da</strong> roti<strong>na</strong>. Isso porque, estas ações<br />

rotineiras, acabam se tor<strong>na</strong>ndo parte <strong>de</strong> uma competência do profissio<strong>na</strong>l, que é capaz <strong>de</strong><br />

realizar as mesmas prática em diferentes situações. Gherardi (2009b) enfatiza que o<br />

conhecimento prático é o pré-requisito para o exercício competente <strong>da</strong> mesma ação ao longo<br />

do tempo e, portanto, para a repetição e reprodução do conhecimento no cotidiano.<br />

Gherardi (2009a) consi<strong>de</strong>ra que a prática é socialmente sustenta<strong>da</strong>, aprendi<strong>da</strong> e<br />

constantemente refi<strong>na</strong><strong>da</strong>. Esse processo envolve julgamentos instrumentais e éticos, gosto e<br />

avaliação. O gosto se baseia no subjetivo do objeto <strong>da</strong> prática, que é aprendido e ensi<strong>na</strong>do<br />

como parte do processo para se tor<strong>na</strong>r um praticante. Isto é realizado <strong>de</strong> forma coletiva,<br />

situado <strong>na</strong> ativi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong>ntro <strong>da</strong> prática. Assim, a elaboração do gosto e o aprimoramento <strong>de</strong><br />

uma prática <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> uma comuni<strong>da</strong><strong>de</strong> envolvem a “formação do gosto”, a qual é basea<strong>da</strong> em<br />

conhecimento sensível e <strong>na</strong> contínua negociação <strong>da</strong>s categorias estéticas.<br />

3


A formação do gosto é uma realização coletiva realiza<strong>da</strong> por meio <strong>de</strong> três processos:<br />

o <strong>de</strong>senvolvimento coletivo <strong>de</strong> um léxico do gosto; a formação <strong>de</strong> um senso <strong>de</strong><br />

pertencimento a uma comuni<strong>da</strong><strong>de</strong> epistêmica; e o refi<strong>na</strong>mento dos <strong>de</strong>sempenhos por<br />

meio <strong>da</strong> negociação <strong>de</strong> julgamentos estéticos. (GHERARDI, 2009a, p. 541).<br />

É o julgamento estético que dá suporte aos modos situados e locais <strong>de</strong> praticar –<br />

“enquanto ele sustenta uma relatabili<strong>da</strong><strong>de</strong> normativa <strong>da</strong> prática, também aprimora<br />

constantemente suas mo<strong>da</strong>li<strong>da</strong><strong>de</strong>s, alimentando a paixão dos praticantes pelo que eles fazem”<br />

(GHERARDI, 2009a, p. 539). Assim, o conhecimento estético, ou conhecimento sensível,<br />

tem central importância no que se diz respeito a aprendizagem basea<strong>da</strong> em prática. Relacio<strong>na</strong>se<br />

com o que é percebido, julgado, produzido/reproduzido por meio dos cinco sentidos: tato,<br />

olfato, visão, audição, pala<strong>da</strong>r e no julgamento estético-sensível. Ou seja, é todo o<br />

conhecimento advindo <strong>de</strong> experiências que envolvem sensações. “O conhecimento sensível<br />

envolve o que é ‘apreendido’ emocio<strong>na</strong>lmente, a afetivi<strong>da</strong><strong>de</strong> conecta<strong>da</strong> com o que é<br />

percebido, o julgamento baseado no gosto, o estilo <strong>de</strong> ação” (STRATI, 2007, p. 64).<br />

Para Strati (2003), os estudos sobre estética si<strong>na</strong>lizam à AO que:<br />

<strong>de</strong>ve-se ter em conta o conhecimento pessoal, baseado <strong>na</strong> facul<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> julgamento<br />

estético e <strong>na</strong>s capaci<strong>da</strong><strong>de</strong>s perceptivo-sensoriais. Nisso resi<strong>de</strong> a ruptura radical com<br />

a tradição domi<strong>na</strong>nte <strong>da</strong> teoria cognitiva <strong>na</strong> aprendizagem organizacio<strong>na</strong>l que a<br />

compreensão estética implica. Nisso é embasado o entrelaçamento entre o saber<br />

estético e o conhecimento tácito (STRATI, 2003, p.4-5).<br />

As pessoas <strong>de</strong>senvolvem percepções diferentes <strong>de</strong> uma mesma situação porque a<br />

aprendizagem do conhecimento sensorial se <strong>de</strong>senvolve através <strong>de</strong> estágios, que se esten<strong>de</strong>,<br />

por exemplo, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o conhecimento mun<strong>da</strong>no, até o domínio <strong>de</strong> conhecimentos <strong>de</strong><br />

especialista <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> uma comuni<strong>da</strong><strong>de</strong> profissio<strong>na</strong>l. O conhecimento sensível também sofre<br />

influências <strong>da</strong> participação <strong>na</strong> comuni<strong>da</strong><strong>de</strong> em que ca<strong>da</strong> ser vive, pois esta é contextual para a<br />

aprendizagem (GHERARDI, 2009a). Portanto, como to<strong>da</strong>s as pessoas situam-se em práticas<br />

específicas <strong>de</strong> diferentes comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>s, elas possuem percepções distintas <strong>de</strong> um mesmo fato.<br />

Gherardi (2001, p. 132) acredita que a adoção <strong>de</strong> uma abor<strong>da</strong>gem <strong>de</strong> AO basea<strong>da</strong> em<br />

prática implica em algumas escolhas epistemológicas e metodológicas, <strong>da</strong>s quais ela <strong>de</strong>staca:<br />

a visão <strong>da</strong> aprendizagem como um dispositivo interpretativo para a<strong>na</strong>lisar a “transformação<br />

organizacio<strong>na</strong>l do conhecimento”; a necessi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> um objeto que circunscreva<br />

empiricamente a aprendizagem, no caso a prática; e a não compartimentalização <strong>da</strong><br />

aprendizagem em níveis. Assim, no presente estudo, consi<strong>de</strong>ra-se a aprendizagem como uma<br />

realização prática – por meio <strong>da</strong> qual o conhecimento é produzido, institucio<strong>na</strong>lizado,<br />

reproduzido e transformado – não cabendo a distinção dos níveis <strong>de</strong> aprendizagem.<br />

3 Metodologia<br />

Foi realizado um estudo <strong>de</strong> caso qualitativo, <strong>de</strong> caráter <strong>de</strong>scritivo. O estudo <strong>de</strong> caso foi<br />

escolhido, pois permite uma investigação que preserve as características holísticas e<br />

significativas <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> real, e permite, ain<strong>da</strong>, estu<strong>da</strong>r em profundi<strong>da</strong><strong>de</strong> o problema em questão<br />

e, com isso, enten<strong>de</strong>r melhor os aspectos relacio<strong>na</strong>dos (YIN, 2001).<br />

A organização estu<strong>da</strong><strong>da</strong> insere-se no ramo <strong>de</strong> serviços <strong>de</strong> beleza e conta com 50<br />

uni<strong>da</strong><strong>de</strong>s, entre próprias e franquea<strong>da</strong>s, sendo 4 <strong>de</strong>las no exterior. As uni<strong>da</strong><strong>de</strong>s brasileiras<br />

estão distribuí<strong>da</strong>s em 7 Estados. Para o estudo foram realiza<strong>da</strong>s pesquisas em duas uni<strong>da</strong><strong>de</strong>s<br />

próprias e três franquea<strong>da</strong>s, localiza<strong>da</strong>s em diferentes Estados.<br />

A coleta <strong>de</strong> <strong>da</strong>dos foi realiza<strong>da</strong> entre fevereiro e maio <strong>de</strong> 2011, e como técnicas foram<br />

utiliza<strong>da</strong>s entrevistas, observação participante e análise <strong>de</strong> documentos. Foram entrevistados o<br />

4


presi<strong>de</strong>nte <strong>da</strong> organização, as proprietárias <strong>da</strong>s uni<strong>da</strong><strong>de</strong>s franquea<strong>da</strong>s, gerentes, recepcionistas,<br />

instrutores, alunos e funcionários, somando-se no total 26 entrevistas. Os documentos<br />

a<strong>na</strong>lisados foram as apostilas dos diferentes serviços que a organização possui, em que estão<br />

explícitos os padrões que <strong>de</strong>vem ser seguidos por todos <strong>da</strong> organização, as políticas <strong>da</strong><br />

empresa e também o passo a passo <strong>de</strong> ca<strong>da</strong> serviço. Para os apontamentos <strong>da</strong> observação<br />

participante, foi elaborado um diário <strong>de</strong> campo para ca<strong>da</strong> uni<strong>da</strong><strong>de</strong> estu<strong>da</strong><strong>da</strong>.<br />

Para a análise dos <strong>da</strong>dos coletados foi emprega<strong>da</strong> a Análise <strong>de</strong> Conteúdo, conforme<br />

proposta por Moraes (1999), com cinco etapas fun<strong>da</strong>mentais: preparação <strong>da</strong>s informações,<br />

transformação do conteúdo em uni<strong>da</strong><strong>de</strong>s, categorização, <strong>de</strong>scrição e, por fim, interpretação.<br />

Iniciou-se com a preparação <strong>da</strong>s informações. Isto consistiu em separar as anotações do diário<br />

<strong>de</strong> campo e a transcrição <strong>da</strong>s entrevistas em grupos referentes a ca<strong>da</strong> uni<strong>da</strong><strong>de</strong> estu<strong>da</strong><strong>da</strong>,<br />

imprimir e reler esses materiais. O segundo passo foi a transformação do conteúdo em<br />

uni<strong>da</strong><strong>de</strong>s, quando as pesquisadoras a<strong>na</strong>lisaram todo o material novamente, <strong>de</strong>stacando os<br />

pontos principais, para em segui<strong>da</strong> classificar essas informações em uni<strong>da</strong><strong>de</strong>s, nomeando-as<br />

<strong>de</strong> acordo com o conteúdo. Concluídos esses dois processos, partiu-se para a categorização:<br />

reuniram-se to<strong>da</strong>s as uni<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> conteúdo que emergiram dos textos, separando-as em<br />

grupos. Os assuntos foram agrupados <strong>de</strong> forma que, ao fi<strong>na</strong>l, todos os conteúdos <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong><br />

ca<strong>da</strong> grupo estivessem correlacio<strong>na</strong>dos, emergindo em um tema. Assim, surgiram quatro<br />

diferentes temas, que são as categorias <strong>de</strong> análise do estudo. O passo seguinte foi <strong>de</strong> <strong>de</strong>screver<br />

as categorias e, por fim, interpretá-las, relacio<strong>na</strong>ndo-as com o embasamento teórico do estudo.<br />

Para facilitar a compreensão e o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>da</strong> análise <strong>de</strong> <strong>da</strong>dos, utilizaram-se<br />

índices para retomar os textos do campo. Assim, “DC” indica <strong>da</strong>dos registrados no diário <strong>de</strong><br />

campo e “E”, <strong>da</strong>dos registrados <strong>na</strong>s entrevistas. Na seção seguinte são incluídos alguns<br />

trechos <strong>de</strong>sses materiais ao longo <strong>da</strong> apresentação <strong>da</strong>s categorias <strong>de</strong> análise.<br />

4 Apresentação e Análise <strong>de</strong> Dados<br />

Nesta seção, inicialmente, são apresenta<strong>da</strong>s algumas informações sobre a organização<br />

estu<strong>da</strong><strong>da</strong>. Em segui<strong>da</strong>, <strong>de</strong>screvem-se as quatro categorias emergi<strong>da</strong>s <strong>da</strong> análise <strong>de</strong> <strong>da</strong>dos.<br />

Fi<strong>na</strong>lmente, discutem-se os <strong>da</strong>dos com base nessas categorias e no referencial teórico.<br />

4.1 A organização<br />

A organização estu<strong>da</strong><strong>da</strong> atua no ramo <strong>de</strong> serviços <strong>de</strong> beleza, foi fun<strong>da</strong><strong>da</strong> <strong>na</strong> déca<strong>da</strong> <strong>de</strong><br />

1980 e atualmente possui 50 uni<strong>da</strong><strong>de</strong>s, entre próprias e franquea<strong>da</strong>s. O fun<strong>da</strong>dor e seus irmãos<br />

são os principais responsáveis pela administração <strong>da</strong>s uni<strong>da</strong><strong>de</strong>s próprias.<br />

As uni<strong>da</strong><strong>de</strong>s são “salões <strong>de</strong> beleza” que oferecem diferentes serviços, tais como: corte,<br />

coloração, <strong>de</strong>pilação, escova, manicure, pedicure e tratamentos capilares. Dentre os serviços<br />

oferecidos, há alguns específicos <strong>da</strong> marca, <strong>de</strong>senvolvidos a ca<strong>da</strong> semestre por uma equipe<br />

especializa<strong>da</strong>, chamados “coleções”, baseados <strong>na</strong>s tendências <strong>de</strong> cores e cortes para os<br />

cabelos e <strong>de</strong> maquiagens, e divulgados por meio eletrônico e impresso para to<strong>da</strong>s as uni<strong>da</strong><strong>de</strong>s.<br />

As uni<strong>da</strong><strong>de</strong>s franquea<strong>da</strong>s <strong>de</strong>vem seguir o mesmo padrão <strong>de</strong> serviços <strong>da</strong>s uni<strong>da</strong><strong>de</strong>s<br />

próprias. Para isso, o franqueador possui algumas exigências <strong>de</strong> perfil para os novos<br />

franqueados, com características como: empreen<strong>de</strong>dorismo, i<strong>de</strong>ntificação com o segmento <strong>de</strong><br />

beleza, disponibili<strong>da</strong><strong>de</strong> fi<strong>na</strong>nceira e comprometimento com a imagem <strong>da</strong> marca.<br />

As cinco uni<strong>da</strong><strong>de</strong>s estu<strong>da</strong><strong>da</strong>s são assim caracteriza<strong>da</strong>s: uni<strong>da</strong><strong>de</strong> central, chama<strong>da</strong> neste<br />

estudo <strong>de</strong> Escola (representa<strong>da</strong> pelo número 1); uma uni<strong>da</strong><strong>de</strong> própria (representa<strong>da</strong> pelo<br />

número 2) <strong>na</strong> mesma ci<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong> uni<strong>da</strong><strong>de</strong> central; uma franquea<strong>da</strong> também <strong>na</strong> mesma ci<strong>da</strong><strong>de</strong><br />

(representa<strong>da</strong> pelo número 3) e duas uni<strong>da</strong><strong>de</strong>s franquea<strong>da</strong>s situa<strong>da</strong>s em outros Estados<br />

5


(representa<strong>da</strong>s pelos números 4 e 5). Assim, <strong>na</strong> apresentação dos <strong>da</strong>dos, E2 indica uma<br />

entrevista realiza<strong>da</strong> <strong>na</strong> uni<strong>da</strong><strong>de</strong> própria, por exemplo.<br />

É <strong>na</strong> Escola que são realizados os cursos <strong>de</strong> especialização nos diferentes serviços, em<br />

uma estrutura que inclui salas <strong>de</strong> aula e um espaço similar ao dos salões. Nela,<br />

obrigatoriamente, são trei<strong>na</strong>dos todos os profissio<strong>na</strong>is que trabalham <strong>na</strong> organização no<br />

Estado em que se localiza a matriz, e também ocorrem os trei<strong>na</strong>mentos <strong>de</strong> alguns<br />

profissio<strong>na</strong>is <strong>de</strong> uni<strong>da</strong><strong>de</strong>s franquea<strong>da</strong>s <strong>de</strong> outros Estados.<br />

4.2 Categorias <strong>de</strong> análise<br />

Apresentam-se a seguir as quatro categorias que emergiram ao longo <strong>da</strong> análise dos<br />

<strong>da</strong>dos, consi<strong>de</strong>ra<strong>da</strong>s <strong>de</strong> relevância para o estudo: <strong>Padronização</strong>, <strong>Aprendizagem</strong> Formal,<br />

<strong>Aprendizagem</strong> Informal e Valor <strong>da</strong> Excelência.<br />

4.2.1 <strong>Padronização</strong><br />

A primeira categoria a emergir dos <strong>da</strong>dos foi a padronização. Esse aspecto diz respeito<br />

a características materiais (<strong>de</strong> humanos e não-humanos) e comportamentais.<br />

A organização possui as mesmas características <strong>de</strong> layout em to<strong>da</strong>s as uni<strong>da</strong><strong>de</strong>s<br />

estu<strong>da</strong><strong>da</strong>s. Destacam-se as cores claras <strong>na</strong>s pare<strong>de</strong>s, a cor vermelha, as ca<strong>de</strong>iras <strong>de</strong> couro e os<br />

<strong>de</strong>talhes em ma<strong>de</strong>ira utilizados tanto no interior quanto <strong>na</strong>s facha<strong>da</strong>s dos salões. O logo <strong>da</strong><br />

empresa é representado por uma letra em vermelho exposta <strong>na</strong> facha<strong>da</strong> <strong>de</strong> to<strong>da</strong>s as lojas.<br />

A organização possui parceria com quatro renoma<strong>da</strong>s marcas <strong>de</strong> produtos <strong>de</strong> beleza.<br />

Esses produtos estão a ven<strong>da</strong> <strong>na</strong>s lojas, expostos <strong>na</strong> vitrine e <strong>na</strong>s prateleiras localiza<strong>da</strong>s <strong>na</strong><br />

recepção. Assim, ao entrar em uma uni<strong>da</strong><strong>de</strong>, visualiza-se a recepção e logo atrás os produtos a<br />

ven<strong>da</strong>. To<strong>da</strong>s essas características compõem um padrão visual <strong>da</strong>s lojas, assim tor<strong>na</strong>-se fácil<br />

i<strong>de</strong>ntificar uma uni<strong>da</strong><strong>de</strong> olhando ape<strong>na</strong>s para a facha<strong>da</strong> – se “reconhece” os salões.<br />

Além <strong>da</strong> padronização do que “se vê”, também há a padronização do que “se ouve”.<br />

Salões <strong>de</strong> beleza são caracterizados por um conjunto <strong>de</strong> sons: os secadores <strong>de</strong> cabelo, a<br />

conversa <strong>da</strong> qual participam profissio<strong>na</strong>is e clientes. Além <strong>de</strong>sses sons, todos os salões<br />

possuem músicas <strong>de</strong> fundo pré-estabeleci<strong>da</strong>s, o estilo é sempre pop. Durante a observação esse<br />

foi um dos primeiros aspectos a ser registrado no Diário <strong>de</strong> Campo. Para essa padronização a<br />

organização produz CDs que são distribuídos a to<strong>da</strong>s as uni<strong>da</strong><strong>de</strong>s, em curtos períodos <strong>de</strong><br />

tempo, <strong>de</strong> acordo com os lançamentos musicais. São várias as opções <strong>de</strong> músicas conti<strong>da</strong>s<br />

nestas gravações, para que não se repitam.<br />

O leiaute dos salões é projetado para que ca<strong>da</strong> espaço seja ocupado por um tipo <strong>de</strong><br />

serviço: corte, coloração, manicures e lavatórios. Essa distribuição é verifica<strong>da</strong> <strong>na</strong>s diferentes<br />

uni<strong>da</strong><strong>de</strong>s estu<strong>da</strong><strong>da</strong>s. Assim, on<strong>de</strong> se localiza o espaço <strong>de</strong>sti<strong>na</strong>do ao corte, ape<strong>na</strong>s o profissio<strong>na</strong>l<br />

especializado neste serviço po<strong>de</strong> trabalhar. As manicures possuem um local <strong>de</strong>termi<strong>na</strong>do, mas<br />

para elas há uma exceção, pois se o(a) cliente está cortando o cabelo e quer fazer o serviço <strong>de</strong><br />

unhas, este po<strong>de</strong> ser realizado no local do corte.<br />

Algumas regras contribuem para a manutenção <strong>da</strong> setorização. Por exemplo, todos os<br />

profissio<strong>na</strong>is cabeleireiros <strong>de</strong>vem fazer uma escolha ao ingressar <strong>na</strong> organização: cortar ou<br />

colorir. Isso porque, a organização acredita <strong>na</strong> especialização do profissio<strong>na</strong>l, ou seja, quem<br />

corta <strong>de</strong>verá ape<strong>na</strong>s cortar e se especializar neste serviço, o mesmo se repete para a coloração.<br />

E parte-se <strong>da</strong> premissa <strong>de</strong> que todos já são especializados em escova, pois este é um serviço<br />

exigido para ambas as posições.<br />

Os uniformes utilizados pelos funcionários também fazem parte do padrão. Todos<br />

utilizam uma combi<strong>na</strong>ção <strong>de</strong> cores <strong>de</strong> acordo com as tendências <strong>da</strong> estação do ano. As cores e<br />

mo<strong>de</strong>los variam <strong>de</strong> acordo com o serviço que o profissio<strong>na</strong>l presta, mas <strong>de</strong>vem incluir o logo<br />

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<strong>da</strong> marca. Em campo observou-se que quase todos usavam uniformes <strong>da</strong> cor branca, exceto a<br />

responsável pela limpeza que usava preto.<br />

Uma característica <strong>da</strong> organização é o cui<strong>da</strong>do exigido dos funcionários referente a<br />

aparência. In<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte <strong>da</strong> posição, todos cui<strong>da</strong>m <strong>da</strong> aparência pessoal seguindo tendências <strong>de</strong><br />

maquiagens, penteados, esmaltes, coloração e cortes, como aponta o Diário <strong>de</strong> Campo:<br />

Há pouco chegou uma quarta recepcionista para a troca <strong>de</strong> turno, ela está se<br />

arrumando para iniciar o trabalho... Um dos cabeleireiros faz o cabelo e a maquiagem<br />

<strong>de</strong>la antes <strong>da</strong> troca (DC2).<br />

A maioria dos(as) profissio<strong>na</strong>is aqui são muito bem arrumados, escovam o cabelo,<br />

usam salto alto, maquiagem e acessórios (DC5).<br />

Além <strong>da</strong> padronização dos aspectos materiais e corpóreos, também é busca<strong>da</strong> uma<br />

padronização comportamental: o atendimento cortês é um requisito em to<strong>da</strong>s as uni<strong>da</strong><strong>de</strong>s. Isto<br />

porque a organização quer ser reconheci<strong>da</strong> não só pelos seus serviços <strong>de</strong> quali<strong>da</strong><strong>de</strong>, mas<br />

também pela experiência que oferece aos clientes. Consi<strong>de</strong>ram que um bom atendimento é<br />

uma <strong>da</strong>s características para se diferenciar no mercado <strong>da</strong> beleza. Por isso, adotam a prática <strong>de</strong><br />

buscar o cliente <strong>na</strong> recepção, chamá-lo pelo nome, ser educado e gentil sem ultrapassar limites<br />

e, para isso, os profissio<strong>na</strong>is <strong>de</strong>vem saber i<strong>de</strong>ntificar quais são os limites <strong>de</strong> ca<strong>da</strong> cliente.<br />

Um dos temas centrais <strong>da</strong> padronização é aquele referente aos serviços oferecidos.<br />

Busca-se que os diferentes profissio<strong>na</strong>is ofereçam “o mesmo” serviço aos clientes em termos<br />

<strong>de</strong> quali<strong>da</strong><strong>de</strong>. Como material <strong>de</strong> apoio para essa padronização, a organização <strong>de</strong>senvolveu<br />

apostilas específicas para ca<strong>da</strong> serviço. To<strong>da</strong>s as apostilas iniciam com o mesmo conteúdo, em<br />

que é apresenta<strong>da</strong> a missão <strong>da</strong> organização, segui<strong>da</strong> pela composição administrativa <strong>da</strong> Escola<br />

e pelas <strong>de</strong>scrições <strong>de</strong> regras, tais como:<br />

(...) horário e frequência <strong>na</strong> Escola; funcio<strong>na</strong>mento <strong>da</strong> agen<strong>da</strong>; limpeza, organização e<br />

utilização do espaço; apresentação pessoal: estar sempre mo<strong>de</strong>rno (corte, coloração,<br />

unhas e maquiagem), transmitir o que ven<strong>de</strong>mos; cancelamentos; pagamentos <strong>de</strong><br />

mensali<strong>da</strong><strong>de</strong> (DC1).<br />

Após o conteúdo inicial padronizado, ca<strong>da</strong> apostila apresenta a teoria <strong>de</strong> um serviço<br />

específico, ou seja, corte, coloração, unhas ou maquiagem. Por exemplo, no material para<br />

manicures é ilustra<strong>da</strong> a a<strong>na</strong>tomia <strong>da</strong> mão, bem como as partes que compõem a unha e<br />

características <strong>de</strong> doenças relacio<strong>na</strong><strong>da</strong>s a essa, além dos respectivos tratamentos. Já para<br />

manter o padrão <strong>de</strong> corte, a organização possui <strong>de</strong>z mo<strong>de</strong>los <strong>de</strong> cortes base (10B). Esses <strong>de</strong>z<br />

mo<strong>de</strong>los assumem um papel fun<strong>da</strong>mental <strong>na</strong> padronização dos serviços e todos os profissio<strong>na</strong>is<br />

do setor <strong>de</strong> corte <strong>de</strong>vem saber como fazê-los. Isso porque a organização lança semestralmente<br />

uma coleção própria, que envolve tendências <strong>de</strong> cortes e <strong>de</strong> cores e, para o <strong>de</strong>senvolvimento<br />

<strong>de</strong>sta, a base dos novos looks são os 10B. O presi<strong>de</strong>nte explica a importância <strong>de</strong>sta prática:<br />

Isso foi planejado para gerar a padronização <strong>de</strong> cortes, cores, tons, etc. Assim, a<br />

cliente que vem aqui fazer o B101, po<strong>de</strong> ir para [outro Estado] e pedir o B101 com a<br />

garantia <strong>de</strong> que será o mesmo. Isso é padronizar serviços, pois [a organização] não é<br />

uma loja multimarcas, e sim uma griffe (E2).<br />

Como base para a observação do padrão “<strong>de</strong>sejado” foram utiliza<strong>da</strong>s a Escola e a<br />

uni<strong>da</strong><strong>de</strong> própria. Na observação <strong>da</strong>s uni<strong>da</strong><strong>de</strong>s franquea<strong>da</strong>s foi realiza<strong>da</strong> a comparação com<br />

esse padrão <strong>de</strong>sejado. Muitos fatores <strong>da</strong> padronização foram percebidos como “impecáveis”<br />

<strong>na</strong>s uni<strong>da</strong><strong>de</strong>s franquea<strong>da</strong>s, como, por exemplo, o leiaute <strong>da</strong>s lojas, as cores, os produtos e<br />

marcas utilizados e vendidos, a varie<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> serviços oferecidos e a higiene.<br />

Por outro lado, alguns aspectos não mantinham o padrão estabelecido. Na uni<strong>da</strong><strong>de</strong><br />

franquea<strong>da</strong> 3 perceberam-se poucos fatores fora do padrão, como: “A moça <strong>da</strong> limpeza usa<br />

um uniforme <strong>de</strong> uma empresa terceiriza<strong>da</strong>, e não a roupa preta com o símbolo” (DC3). Por<br />

meio <strong>da</strong>s entrevistas e observações foi possível diagnosticar que este pequeno número <strong>de</strong><br />

aspectos fora do padrão nos serviços nessa uni<strong>da</strong><strong>de</strong>, <strong>de</strong>ve-se ao fato <strong>de</strong> que todos os<br />

profissio<strong>na</strong>is que lá trabalham fizeram cursos <strong>na</strong> Escola. Já as uni<strong>da</strong><strong>de</strong>s dos outros Estados<br />

possuem mais fatores fora do padrão. Por exemplo, tratando-se <strong>da</strong> uni<strong>da</strong><strong>de</strong> franquea<strong>da</strong> 4<br />

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i<strong>de</strong>ntificou-se que as manicures e recepcionistas utilizavam a camisa <strong>da</strong> nova coleção, já os<br />

profissio<strong>na</strong>is do corte usavam roupas seguindo um padrão <strong>de</strong> cor (preta ou branca), mas com<br />

estilos variados e sem o símbolo <strong>da</strong> marca.<br />

Um dos principais fatores observados <strong>de</strong> não conformi<strong>da</strong><strong>de</strong> com o padrão está no<br />

aspecto técnico dos serviços. Como há uma única Escola, os profissio<strong>na</strong>is <strong>da</strong>s franquias dos<br />

outros Estados trabalham com suas próprias técnicas. São poucos os que vão até a Escola para<br />

se especializar. As uni<strong>da</strong><strong>de</strong>s franquea<strong>da</strong>s possuem as apostilas, mas o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong>stes<br />

profissio<strong>na</strong>is não é igual aos dos que fazem os cursos <strong>da</strong> organização. Assim, eles realizam os<br />

serviços <strong>de</strong>ntro dos padrões <strong>de</strong> higiene, utilizando as marcas <strong>de</strong> produtos <strong>de</strong>termi<strong>na</strong><strong>da</strong>s pelo<br />

franqueador, sabendo os 10B, mas ca<strong>da</strong> um com sua técnica própria.<br />

4.2.2 <strong>Aprendizagem</strong> Formal<br />

Esta categoria trata <strong>da</strong>s aprendizagens formais que foram i<strong>de</strong>ntifica<strong>da</strong>s neste estudo,<br />

ou seja, todos os processos <strong>de</strong> aprendizagem que são intencio<strong>na</strong>lmente construídos pela<br />

organização e estão explícitos. Como já referido, a organização possui uma Escola, <strong>na</strong> qual se<br />

disponibilizam diferentes cursos para ensi<strong>na</strong>r e trei<strong>na</strong>r funcionários. Por meio <strong>da</strong>s observações<br />

neste local, i<strong>de</strong>ntificaram-se muitos exemplos dos processos <strong>de</strong> aprendizagem formal.<br />

Na Escola são oferecidos cursos abertos à comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>. Todos os cursos são pagos<br />

pelos alunos e os interessados são submetidos a um processo seletivo. A participação em um<br />

curso não garante vaga <strong>de</strong> trabalho <strong>na</strong> organização, entretanto para trabalhar em um dos salões<br />

no Estado on<strong>de</strong> está situa<strong>da</strong> a Escola é obrigatório fazer o curso respectivo. Para entrar em um<br />

dos cursos, os interessados (sejam eles funcionários <strong>da</strong> organização ou não) necessitam<br />

primeiramente se inscrever e aguar<strong>da</strong>r serem chamados para seleção, como no trecho a seguir.<br />

O meu sonho é ser <strong>de</strong>piladora. Eu já fiz um curso <strong>de</strong> <strong>de</strong>pilação fora [<strong>da</strong> organização],<br />

mas para ser <strong>de</strong>piladora aqui, o curso precisa ser feito <strong>na</strong> [Escola]. Já me inscrevi no<br />

curso, mas estou aguar<strong>da</strong>ndo eles me chamarem (E2).<br />

No processo <strong>de</strong> seleção são avalia<strong>da</strong>s as competências necessárias para ca<strong>da</strong> função. Se<br />

o interessado for aprovado, ele po<strong>de</strong> se matricular no curso que <strong>de</strong>seja. Caso contrário, ocorre a<br />

reprovação ou o encaminhamento <strong>de</strong>sta pessoa para outra função. Após isto, o candi<strong>da</strong>to está<br />

apto a iniciar a fase teórica do processo, que geralmente tem a duração <strong>de</strong> quatro a sete meses.<br />

As aulas teóricas tem como estrutura: salas <strong>de</strong> aula equipa<strong>da</strong>s com classes, televisores e<br />

aparelho <strong>de</strong> DVD; material teórico <strong>de</strong> apoio; e instrutores capacitados e com especialização <strong>na</strong><br />

área. A fase teórica só é fi<strong>na</strong>liza<strong>da</strong> se o aluno tiver o número <strong>de</strong> presenças mínimo exigido e<br />

for aprovado <strong>na</strong>s avaliações, como mostra o trecho subsequente.<br />

A instrutora [nome] explica para as alu<strong>na</strong>s do curso <strong>de</strong> manicures que o curso tem a<br />

duração <strong>de</strong> sete meses, mas quem já trabalhou com isso geralmente sai antes. Ain<strong>da</strong><br />

diz que serão exigidos trabalhos para serem entregues, bem como prova teórica com<br />

média sete (DC1).<br />

A nota mínima necessária para obter a aprovação em qualquer um dos cursos é <strong>de</strong> sete pontos,<br />

caso contrário, o aluno não recebe o diploma e tem como opções <strong>de</strong>sistir e não ganhar o<br />

certificado, ou pagar o curso novamente e refazer as aulas.<br />

Fi<strong>na</strong>liza<strong>da</strong> a fase teórica, o aluno está apto a iniciar as aulas práticas, que têm duração<br />

in<strong>de</strong>termi<strong>na</strong><strong>da</strong>, influencia<strong>da</strong> pela experiência prévia do aluno. Isso porque, como o curso é<br />

obrigatório para todos, existem muitos profissio<strong>na</strong>is que já tem conhecimento e prática <strong>na</strong> área<br />

em que estu<strong>da</strong>m. De qualquer forma, eles precisam fazer o curso para apren<strong>de</strong>r o “jeito” <strong>da</strong><br />

organização <strong>de</strong> atuar. De modo geral, o tempo que este profissio<strong>na</strong>l levará para aperfeiçoar a<br />

prática será menor que o do iniciante. Por isso, a organização consi<strong>de</strong>ra que ca<strong>da</strong> pessoa tem<br />

um tempo in<strong>de</strong>termi<strong>na</strong>do <strong>de</strong> apren<strong>de</strong>r a prática, mas todos <strong>de</strong>vem passar pela prova fi<strong>na</strong>l.<br />

As aulas práticas contam com to<strong>da</strong> a estrutura já mencio<strong>na</strong><strong>da</strong> anteriormente. Nos casos<br />

<strong>de</strong> corte, coloração e escova, ca<strong>da</strong> profissio<strong>na</strong>l adquire uma cabeça <strong>de</strong> boneca, específica para<br />

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o trei<strong>na</strong>mento. Estas bonecas possuem o tamanho <strong>de</strong> uma cabeça huma<strong>na</strong>, além <strong>de</strong> terem um<br />

implante <strong>de</strong> cabelos <strong>na</strong>turais. Nas aulas, um instrutor expõe as técnicas enquanto os exercícios<br />

são praticados nestas bonecas.<br />

Uma <strong>da</strong>s instrutoras <strong>de</strong> coloração me levou até uma sala on<strong>de</strong> estava sendo realiza<strong>da</strong><br />

uma aula <strong>de</strong> coloração. Ao entrar <strong>na</strong> sala me <strong>de</strong>parei com sete mulheres praticando<br />

em uma cabeça <strong>de</strong> boneca. A instrutora me explica que os cabelos <strong>da</strong>s bonecas são<br />

<strong>na</strong>turais. Para não estragar os cabelos e para apren<strong>de</strong>rem as técnicas, elas<br />

primeiramente trei<strong>na</strong>m com uma mistura <strong>de</strong> farinha e hidratante (que imita a textura<br />

<strong>na</strong>tural <strong>da</strong> coloração). Depois disso, elas iniciam com tinta <strong>de</strong> ver<strong>da</strong><strong>de</strong>, e fazem<br />

misturas erra<strong>da</strong>s justamente para ver quais os resultados <strong>de</strong> alguns erros. O curso tem<br />

a duração <strong>de</strong> dois meses (DC1).<br />

Ao concluírem esta fase, uma prova prática é aplica<strong>da</strong>. Os alunos <strong>de</strong>vem levar uma<br />

mo<strong>de</strong>lo até a aca<strong>de</strong>mia e aplicar nos cabelos <strong>de</strong>sta o que for solicitado pelo instrutor. O<br />

instrutor fica presente durante to<strong>da</strong> a prova e, ao fi<strong>na</strong>l, dá a aprovação ou não.<br />

A etapa seguinte para os alunos é prestar serviços <strong>na</strong> própria Escola. Os clientes sabem<br />

que esses profissio<strong>na</strong>is estão em trei<strong>na</strong>mento e que muitos <strong>de</strong>les ain<strong>da</strong> não possuem to<strong>da</strong>s as<br />

competências necessárias para atuar em um salão e, por isso, pagam 50% do valor<br />

normalmente cobrado pelos serviços. Os alunos são mantidos <strong>na</strong> Escola até <strong>de</strong>senvolverem<br />

to<strong>da</strong>s as competências necessárias. Isso envolve um processo <strong>de</strong> avaliação contínuo por parte<br />

dos instrutores, a ca<strong>da</strong> serviço realizado.<br />

Ao concluir <strong>de</strong> pintar minha mão, a manicure me levou até a instrutora para que ela<br />

avaliasse o serviço. A instrutora criticou a limpeza do esmalte, disse que ela <strong>de</strong>veria<br />

limpar melhor, pois ain<strong>da</strong> tinha esmalte <strong>na</strong> pele que cerca a unha. A manicure<br />

retornou ao seu lugar e corrigiu o que a instrutora falou (DC1).<br />

Nessa fase, o instrutor ain<strong>da</strong> acompanha os alunos, mas eles já têm certa autonomia. Ao<br />

longo do dia os professores a<strong>na</strong>lisam os resultados dos serviços. Esse processo acontece até o<br />

momento em que é consi<strong>de</strong>rado que o aprendiz está apto a ser encaminhado para um salão.<br />

Assim, durante o processo <strong>de</strong> aprendizagem, o aluno apren<strong>de</strong> não só a realizar a prática, mas<br />

também a avaliar o próprio trabalho, ouvindo as avaliações dos instrutores.<br />

Para os profissio<strong>na</strong>is que já atuam no salão, sempre que novos tratamentos e serviços<br />

são lançados, eles recebem trei<strong>na</strong>mentos. Além disto, são aplicados cursos <strong>de</strong> reciclagem em<br />

todos os setores e em to<strong>da</strong>s as uni<strong>da</strong><strong>de</strong>s. Quando o presi<strong>de</strong>nte faz algum curso no exterior, ao<br />

retor<strong>na</strong>r ao Brasil ele organiza workshops para repassar as novas técnicas para os funcionários.<br />

Como há uma única Escola, são poucos os profissio<strong>na</strong>is <strong>da</strong>s uni<strong>da</strong><strong>de</strong>s franquea<strong>da</strong>s <strong>de</strong><br />

outros Estados que vão até esse local para se especializar. As uni<strong>da</strong><strong>de</strong>s franquea<strong>da</strong>s possuem<br />

as apostilas, mas o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong>stes profissio<strong>na</strong>is não é igual ao dos que fazem os<br />

cursos. As uni<strong>da</strong><strong>de</strong>s franquea<strong>da</strong>s <strong>de</strong> outros Estados possuem os representantes que vão até a<br />

Escola semestralmente, no lançamento <strong>de</strong> novos produtos e serviços. Eles fazem um curso<br />

rápido e <strong>na</strong> volta repassam para a equipe, como mostra o seguinte relato:<br />

Sou mestre <strong>de</strong> corte, por isso fiz dois meses <strong>de</strong> especialização antes <strong>de</strong>sta uni<strong>da</strong><strong>de</strong><br />

abrir. Todo início <strong>de</strong> coleção eu volto para [a Escola] para apren<strong>de</strong>r as novas<br />

técnicas. Depois repasso para a equipe. (...) Eu ensino a filosofia, mas não posso<br />

obrigar ninguém a seguir a risca o que está escrito (E4).<br />

Assim, a ausência do processo formal <strong>de</strong> aprendizagem impacta no serviço oferecido. Os<br />

processos e técnicas trei<strong>na</strong>dos à exaustão <strong>na</strong> Escola, são vistos <strong>na</strong>s franquea<strong>da</strong>s <strong>de</strong> outros<br />

Estados como algo que “não se po<strong>de</strong> obrigar ninguém a seguir à risca”.<br />

4.2.3 <strong>Aprendizagem</strong> Informal<br />

A aprendizagem informal foi a terceira categoria a emergir <strong>da</strong> análise <strong>de</strong> <strong>da</strong>dos e<br />

relacio<strong>na</strong>-se a todo o conhecimento que é gerado e transformado no dia-a-dia <strong>da</strong> organização,<br />

ou seja, não há nenhum documento ou processo formal para especificá-la. Assim, esta é gera<strong>da</strong><br />

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através <strong>da</strong>s experiências individuais e coletivas dos profissio<strong>na</strong>is, não sendo controla<strong>da</strong><br />

diretamente pela organização. Consi<strong>de</strong>rando que a organização oferece serviços, e que esses<br />

serviços são constituídos por práticas, a aprendizagem informal acontece a todo o momento em<br />

que o profissio<strong>na</strong>l está trabalhando.<br />

Nos salões pu<strong>de</strong>ram-se i<strong>de</strong>ntificar algumas situações <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong>sta<br />

aprendizagem, que ocorre tanto <strong>na</strong> execução <strong>de</strong> uma prática quanto ao se falar sobre uma<br />

prática. E as práticas envolvi<strong>da</strong>s dizem respeito tanto à relação interpessoal com os clientes,<br />

quanto ao <strong>de</strong>senvolvimento dos serviços.<br />

A aprendizagem é muitas vezes incremental e acontece com base nos erros e acertos<br />

que ocorrem no <strong>de</strong>senvolvimento dos serviços, como no seguinte comentário registrado a partir<br />

do <strong>de</strong>poimento <strong>de</strong> um cabeleireiro:<br />

Ele me diz que enten<strong>de</strong>r o que é curto para uma pessoa é complicado, pois o curto<br />

para ele é diferente do curto <strong>da</strong> cliente, ou do curto para mim. Às vezes a cliente diz<br />

que quer encurtar o cabelo e, ela está se referindo a cortar ape<strong>na</strong>s 10 centímetros. Por<br />

isso já errou algumas vezes, até <strong>de</strong>senvolver uma técnica pessoal, a <strong>de</strong> conversar com<br />

a cliente antes <strong>de</strong> cortar e <strong>de</strong> mostrar imagens para avaliar o que <strong>de</strong> fato a cliente quer,<br />

para não haver erros (E2).<br />

O contexto em que os serviços são praticados difere <strong>de</strong> cliente para cliente. Os cabelos<br />

são diferentes, tanto <strong>na</strong> questão <strong>da</strong> composição física dos fios, cor, quanti<strong>da</strong><strong>de</strong>, espessura,<br />

quanto <strong>na</strong> composição química, influencia<strong>da</strong> pelo produto utilizado no momento do serviço e<br />

também pelos tratamentos a que os fios já foram submetidos. Todos estes fatores interferem no<br />

resultado fi<strong>na</strong>l. Assim, são muitas as questões que po<strong>de</strong>m levar o profissio<strong>na</strong>l a acertar ou<br />

errar, e parte <strong>de</strong>sse conhecimento só é <strong>de</strong>senvolvido ao longo do tempo, pois se refere à<br />

compreensão do caráter situado <strong>da</strong>s práticas e ao <strong>de</strong>senvolvimento <strong>da</strong> competência para<br />

praticá-las, como <strong>na</strong> situação subsequente.<br />

Uma senhora chegou para fazer escova e já veio com o cabelo lavado. Ela quer que a<br />

o cabelo tenha mais volume no centro <strong>da</strong> cabeça, pois ela tem calvície e quer<br />

escon<strong>de</strong>r. A profissio<strong>na</strong>l fez a escova e atingiu o objetivo. Ao concluir ela<br />

encaminhou a cliente até a recepção, retornou a sua ca<strong>de</strong>ira e comentou com a colega:<br />

“não dá para a cliente lavar o cabelo em casa e vir ape<strong>na</strong>s escovar, pois elas enchem<br />

<strong>de</strong> condicio<strong>na</strong>dor <strong>na</strong> raiz e assim a escova não fica com a mesma quali<strong>da</strong><strong>de</strong>. Imagi<strong>na</strong><br />

se eu não tivesse enxaguado o cabelo <strong>de</strong>la antes, a escova não ficaria boa e eu teria<br />

que refazer tudo.” (DC3).<br />

Também ocorrem situações em que a cliente está com pressa e solicita ao profissio<strong>na</strong>l para<br />

acelerar o processo. Nesse tipo <strong>de</strong> situação é o aspecto temporal do contexto que mu<strong>da</strong> e, com<br />

ele, o <strong>de</strong>sempenho <strong>da</strong> prática, como no relato <strong>de</strong> uma manicure:<br />

Ela me conta que quando uma a cliente chega e diz que está com pressa e pe<strong>de</strong> para<br />

ela fazer o serviço mais rápido, ela coloca ape<strong>na</strong>s o algodão em cima <strong>de</strong> ca<strong>da</strong> cutícula<br />

e molha com água. Isso faz com que o serviço termine mais rápido (E3).<br />

Percebe-se assim, o processo <strong>de</strong> aprendizado, por meio do qual os profissio<strong>na</strong>is <strong>de</strong>senvolvem<br />

suas próprias técnicas para não repetir erros já cometidos no passado (por eles mesmos ou por<br />

colegas) ou para a<strong>da</strong>ptar a prática ao contexto em que ela se insere. O que faz <strong>de</strong>sse processo<br />

parte <strong>da</strong> construção do conhecimento-<strong>na</strong>-prática, por meio <strong>de</strong> aprendizagem informal.<br />

Uma vez que a organização está presente em diferentes Estados, outra questão que<br />

<strong>de</strong>ve-se levar em consi<strong>de</strong>ração algumas diferenças regio<strong>na</strong>is. Isto também faz parte <strong>da</strong><br />

aprendizagem informal, pois é no dia-a-dia e <strong>na</strong>s conversas com os clientes que os próprios<br />

profissio<strong>na</strong>is po<strong>de</strong>m i<strong>de</strong>ntificar algumas causas <strong>de</strong> insatisfação ou a i<strong>na</strong><strong>de</strong>quação <strong>de</strong> algumas<br />

práticas, como no exemplo:<br />

Tem coisas do [Estado on<strong>de</strong> está a Escola] que não funcio<strong>na</strong>m aqui. Por exemplo, a<br />

empresa estimula que a gente dê cortesia para o cliente, mas aqui no [Estado] as<br />

clientes não acham isso bom, pois <strong>de</strong>sconfiam. Elas pensam “se fosse tão bom assim<br />

eles não estariam me <strong>da</strong>ndo”. A cultura é diferente, por isso que a gente parou <strong>de</strong> <strong>da</strong>r<br />

cortesia, pois as clientes começaram a <strong>da</strong>r si<strong>na</strong>is disso (E4).<br />

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Outra situação que faz parte <strong>de</strong>ssa aprendizagem é <strong>de</strong>corrente do convívio e <strong>da</strong><br />

a<strong>da</strong>ptação ao cliente. Isso po<strong>de</strong> ser percebido <strong>na</strong> uni<strong>da</strong><strong>de</strong> franquea<strong>da</strong> 3, em que as manicures<br />

tiveram que a<strong>da</strong>ptar uma prática padrão para agra<strong>da</strong>r aos antigos clientes. A circunstância a<br />

seguir exemplifica isto. Um dos padrões cobrados <strong>da</strong>s manicures é a utilização <strong>da</strong> luva com hidratante. Esta<br />

possui a fi<strong>na</strong>li<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> amolecer a cutícula e <strong>de</strong> hidratar os pés e as mãos. Porém,<br />

neste salão vejo poucas manicures utilizando as luvas, <strong>na</strong> maioria, elas utilizam<br />

recipientes com água (DC3).<br />

A [nome], uma <strong>da</strong>s franquea<strong>da</strong>s, me explica que como o salão já existe há 12 anos, a<br />

maioria <strong>da</strong>s clientes são antigas e preferem o método antigo, ou seja, a água e não as<br />

luvas. To<strong>da</strong>s as manicures possuem as luvas, mas elas <strong>de</strong>ixam as clientes <strong>de</strong>cidirem<br />

qual dos dois procedimentos preferem (E3).<br />

Percebe-se assim que algumas a<strong>da</strong>ptações são vistas pelos profissio<strong>na</strong>is como<br />

necessárias para agra<strong>da</strong>r e conquistar o cliente, e isso só po<strong>de</strong> ser diagnosticado no cotidiano<br />

do salão, pois <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> do contexto em que a prática está inseri<strong>da</strong>.<br />

4.2.4 O Valor <strong>da</strong> Excelência<br />

A organização estimula e <strong>de</strong>senvolve diversas práticas <strong>de</strong> gestão <strong>de</strong> pessoas com<br />

objetivos motivacio<strong>na</strong>is. Isso porque acredita que funcionários motivados tor<strong>na</strong>m-se um dos<br />

segredos para obter o sucesso. Este foi um tema muito citado <strong>na</strong>s entrevistas realiza<strong>da</strong>s com<br />

os profissio<strong>na</strong>is. Por isto, essa é a quarta categoria a emergir <strong>na</strong> análise <strong>de</strong> <strong>da</strong>dos.<br />

Um aspecto a ser <strong>de</strong>stacado é a i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> carreira profissio<strong>na</strong>l no contexto dos salões.<br />

Os profissio<strong>na</strong>is cabeleireiros <strong>de</strong> corte e coloração po<strong>de</strong>m ascen<strong>de</strong>r à posição <strong>de</strong> ‘mestre’ e,<br />

<strong>de</strong>pois disso, à posição <strong>de</strong> ‘franqueado técnico’. A organização tem como objetivo ter dois<br />

mestres por uni<strong>da</strong><strong>de</strong>, um mestre <strong>de</strong> coloração e um mestre <strong>de</strong> corte. Tor<strong>na</strong>-se mestre o<br />

profissio<strong>na</strong>l que <strong>de</strong>senvolve o serviço seguindo todos os padrões estipulados, e apresenta uma<br />

boa <strong>de</strong>senvoltura junto a equipe. Para isso é necessário ter competências como: quali<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

serviço, entusiasmo, conhecimento técnico e <strong>de</strong> padronização. Assumir o papel <strong>de</strong> mestre<br />

envolve obtenção <strong>de</strong> status <strong>na</strong> organização e perante os colegas, como neste trecho:<br />

No evento realizado <strong>na</strong> aca<strong>de</strong>mia esta manhã, para falar do concurso [nome], só<br />

foram convi<strong>da</strong>dos os mestres (corte e coloração) <strong>da</strong>s lojas. Eles são os responsáveis<br />

por tirar dúvi<strong>da</strong>s e motivar a equipe. Eles são referência e <strong>de</strong>vem ensi<strong>na</strong>r as novas<br />

técnicas (DC2).<br />

O papel <strong>de</strong>sses profissio<strong>na</strong>is é muito importante, pois são eles que representam as<br />

uni<strong>da</strong><strong>de</strong>s em eventos e, além disso, são responsáveis por <strong>de</strong>senvolver a equipe. Quando novos<br />

produtos ou serviços são lançados, são os mestres que assistem aos cursos e apren<strong>de</strong>m as<br />

novas técnicas para repassar os passos para a equipe <strong>de</strong> sua uni<strong>da</strong><strong>de</strong> – já que faz parte do<br />

padrão todos os profissio<strong>na</strong>is saberem os novos produtos do semestre. Seu papel no<br />

trei<strong>na</strong>mento e <strong>de</strong>senvolvimento <strong>da</strong>s equipes, especialmente no aspecto técnico é ilustrado no<br />

próximo parágrafo.<br />

O mestre <strong>de</strong> corte <strong>da</strong> franquia conta que participou <strong>de</strong> todo o trei<strong>na</strong>mento e<br />

<strong>de</strong>senvolvimento <strong>da</strong> equipe no momento em que a franquia foi aberta. Todo início<br />

<strong>de</strong> coleção ele vai para [a Escola], on<strong>de</strong> fica dois dias em trei<strong>na</strong>mento. Depois disto,<br />

retor<strong>na</strong> e trei<strong>na</strong> a equipe (E4).<br />

Além disto, são os mestres que ministram as aulas <strong>de</strong> reciclagem.<br />

A troca dos mestres é estipula<strong>da</strong> pelas próprias uni<strong>da</strong><strong>de</strong>s, e para eleger alguém ao<br />

posto o merecimento parece ser a característica <strong>de</strong>cisiva. De modo geral, a ca<strong>da</strong> ano, é eleito<br />

um mestre para ca<strong>da</strong> salão, e para estar nesta função o profissio<strong>na</strong>l <strong>de</strong>ve se candi<strong>da</strong>tar e ser<br />

eleito pela administração do salão ou pela equipe, <strong>de</strong> acordo com a <strong>de</strong>cisão <strong>de</strong> ca<strong>da</strong> uni<strong>da</strong><strong>de</strong>.<br />

Entretanto, as dinâmicas variam. Na franquia 4 o mestre <strong>de</strong> corte se mantém o mesmo <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a<br />

abertura <strong>da</strong> uni<strong>da</strong><strong>de</strong>. Já a franquia 5 não possui um mestre fixo. Assim, para ca<strong>da</strong> workshop,<br />

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trei<strong>na</strong>mento <strong>de</strong> coleção nova ou evento, a gerente escolhe um representante por merecimento,<br />

avaliando o comprometimento <strong>de</strong>ste profissio<strong>na</strong>l e também o faturamento gerado por ele.<br />

Na hierarquia <strong>da</strong> organização, acima do mestre existe o franqueado técnico, que é<br />

responsável por assegurar a técnica <strong>da</strong> equipe. Ele geralmente era mestre e se mostrou muito<br />

competente nesta função. Os franqueados técnicos são escolhidos pela organização e, <strong>na</strong><br />

maioria <strong>da</strong>s vezes, são convi<strong>da</strong>dos a participar do <strong>de</strong>senvolvimento <strong>da</strong>s novas coleções, ou<br />

seja, tem seu nome e trabalho vinculados a isto.<br />

Além <strong>de</strong> reuniões motivacio<strong>na</strong>is realiza<strong>da</strong>s pelo presi<strong>de</strong>nte, há diversos eventos que<br />

estimulam a equipe a apren<strong>de</strong>r as novas coleções, como o concurso – um evento realizado<br />

pela organização duas vezes por ano (a ca<strong>da</strong> coleção lança<strong>da</strong>). To<strong>da</strong>s as uni<strong>da</strong><strong>de</strong>s são<br />

convi<strong>da</strong><strong>da</strong>s para o evento, mas ape<strong>na</strong>s as uni<strong>da</strong><strong>de</strong>s do Estado on<strong>de</strong> está situa<strong>da</strong> a Escola fazem<br />

parte <strong>da</strong> competição. O evento consiste em uma competição entre salões, que avalia a técnica<br />

dos profissio<strong>na</strong>is participantes. O mestre é o responsável por trei<strong>na</strong>r a equipe para <strong>de</strong>senvolver<br />

os cortes e cores <strong>da</strong> nova coleção, pois este é o quesito <strong>de</strong> avaliação do evento. Neste dia,<br />

ca<strong>da</strong> equipe precisa <strong>de</strong> uma mo<strong>de</strong>lo para aplicar ao vivo os serviços que são pré<strong>de</strong>termi<strong>na</strong>dos.<br />

Neste momento, o mestre não po<strong>de</strong> mais auxiliar os colegas. Vence a equipe<br />

que tiver a melhor <strong>de</strong>senvoltura perante o júri. O prêmio é uma quantia em dinheiro, produtos<br />

<strong>de</strong> beleza e o <strong>de</strong>staque para os profissio<strong>na</strong>is vencedores, ou seja, publici<strong>da</strong><strong>de</strong>, pois o evento é<br />

aberto ao público e os clientes são convi<strong>da</strong>dos.<br />

Existem diferenças entre as políticas <strong>de</strong> contratação <strong>na</strong>s uni<strong>da</strong><strong>de</strong>s pesquisa<strong>da</strong>s. Como<br />

por exemplo, os profissio<strong>na</strong>is do Estado on<strong>de</strong> está a Escola possuem vínculo regido pela CLT.<br />

Já nos outros Estados eles são autônomos. O vínculo como autônomo gera certa cautela <strong>da</strong><br />

gerencia ao li<strong>da</strong>r com os colaboradores, pois eles po<strong>de</strong>m sair do emprego a hora que<br />

quiserem. Esse aspecto influencia a permanência do profissio<strong>na</strong>l <strong>na</strong> organização e a sua<br />

relação com a mesma. Todo início <strong>de</strong> coleção eu volto para [a Escola] para apren<strong>de</strong>r as novas técnicas.<br />

Depois repasso para a equipe, mas não posso <strong>de</strong>ixar as apostilas com eles, pois todos<br />

são autônomos e po<strong>de</strong>m sair a hora que quiserem. Por isso é arriscado <strong>de</strong>ixar a<br />

apostila com os funcionários, assim elas ficam <strong>na</strong> empresa. (E4).<br />

Como eles são autônomos, a rotativi<strong>da</strong><strong>de</strong> é gran<strong>de</strong>, ou seja, não tem como trei<strong>na</strong>r<br />

ca<strong>da</strong> profissio<strong>na</strong>l do salão (E5).<br />

A proximi<strong>da</strong><strong>de</strong> com o franqueador e a existência <strong>da</strong> Escola reforçam a i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong><br />

crescimento e valorização <strong>na</strong>s uni<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>da</strong>quele Estado. Entretanto, algumas práticas <strong>de</strong><br />

valorização do profissio<strong>na</strong>l ocorrem em to<strong>da</strong>s as uni<strong>da</strong><strong>de</strong>s estu<strong>da</strong><strong>da</strong>s, como a nomeação <strong>de</strong><br />

mestres.<br />

4.3 Discussão<br />

Esta seção visa relacio<strong>na</strong>r o embasamento teórico apresentado neste artigo com os<br />

<strong>da</strong>dos que emergiram <strong>da</strong> pesquisa <strong>de</strong> campo, além <strong>de</strong> relacio<strong>na</strong>r as categorias entre si.<br />

A <strong>Padronização</strong> está estrutura<strong>da</strong> em termos <strong>de</strong> ambiente físico, comportamentos e<br />

serviços prestados. Na Escola e <strong>na</strong> uni<strong>da</strong><strong>de</strong> Própria, os serviços <strong>de</strong>senvolvidos apresentavam<br />

poucos aspectos fora do padrão estipulado nos manuais. Acredita-se que alguns dos pequenos<br />

<strong>de</strong>talhes percebidos como fora do padrão (começar a manicure pela mão não indica<strong>da</strong>, ou não<br />

separar o cabelo como a apostila <strong>de</strong>screve) são <strong>na</strong>turais <strong>da</strong>s práticas quando se trata <strong>de</strong><br />

serviços, <strong>na</strong> interação entre humanos e não-humanos, já que sofrem a influência <strong>de</strong> muitos<br />

fatores, como as preferências pessoais ou questões <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>. Por isso, acredita-se que as<br />

peque<strong>na</strong>s variações observa<strong>da</strong>s nessas uni<strong>da</strong><strong>de</strong>s são <strong>na</strong>turais do aspecto situado <strong>da</strong>s práticas.<br />

Percebeu-se uma variação mais relevante uni<strong>da</strong><strong>de</strong> franquea<strong>da</strong> 3 – sendo a relevância<br />

atribuí<strong>da</strong> ao fato <strong>de</strong> a prática em questão ter sido consi<strong>de</strong>ra<strong>da</strong> como <strong>de</strong>sviante pelo próprio<br />

franqueador e estar sendo monitora<strong>da</strong>. Trata-se do pedido origi<strong>na</strong>do por clientes antigos, que<br />

12


nos serviços <strong>de</strong> manicure preferem utilizar potinhos <strong>de</strong> água e não as luvas com hidratante<br />

para amolecer as cutículas. A encarrega<strong>da</strong> por fiscalizar o padrão <strong>da</strong>s lojas explicou que uma<br />

ação junto às manicures está sendo <strong>de</strong>senvolvi<strong>da</strong>, <strong>de</strong> modo a reforçar todos os benefícios que<br />

as luvas proporcio<strong>na</strong>m. Assim, elas po<strong>de</strong>rão fazer esta ação junto às clientes, buscando<br />

convencê-las dos benefícios <strong>da</strong> hidratação para os pés e as mãos. Percebe-se aqui uma ação<br />

educativa e não punitiva para alterar o ‘<strong>de</strong>sempenho’ <strong>da</strong> prática <strong>na</strong> direção <strong>da</strong> prática<br />

‘normatiza<strong>da</strong>’ (SCHATZKI, 2001). Isso <strong>de</strong>staca o aspecto <strong>da</strong> prática como enti<strong>da</strong><strong>de</strong><br />

coor<strong>de</strong><strong>na</strong><strong>da</strong> – ao ser produzi<strong>da</strong> e reproduzi<strong>da</strong>, a prática po<strong>de</strong> colocar em tensão suas<br />

normatizações, estruturas teleoafetivas e compreensões e essa tensão po<strong>de</strong> gerar a necessi<strong>da</strong><strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> uma nova negociação sobre a própria prática. No caso em questão, mais do que a regra, o<br />

nexus que liga a prática e ao qual se recorre para discuti-la é a estrutura teleoafetiva <strong>de</strong><br />

“benefício ao cliente” – o padrão vale não porque é a regra, mas porque é o que aporta maior<br />

benefício.<br />

Já nos salões <strong>de</strong> outros Estados foram encontra<strong>da</strong>s maiores dificul<strong>da</strong><strong>de</strong>s em manter o<br />

padrão proposto. Também se encontraram peque<strong>na</strong>s alterações no padrão origi<strong>na</strong><strong>da</strong>s<br />

<strong>na</strong>turalmente no dia-a-dia <strong>de</strong> trabalho, mas além <strong>de</strong>stas existem outras. Isso ocorre porque os<br />

profissio<strong>na</strong>is que trabalham nestas uni<strong>da</strong><strong>de</strong>s operam com suas próprias técnicas, e não passam<br />

pelo processo <strong>de</strong> formação <strong>na</strong> Escola. É consi<strong>de</strong>rado que questões logísticas e <strong>de</strong> custos<br />

tor<strong>na</strong>m impossível encaminhar todos os funcionários <strong>de</strong> outros Estados para se<br />

especializarem. Ao invés disso, os mestres viajam para participar dos cursos e <strong>de</strong>pois<br />

repassam o conhecimento para a equipe <strong>de</strong> sua uni<strong>da</strong><strong>de</strong>. Assim, os mestres <strong>de</strong>stas uni<strong>da</strong><strong>de</strong>s<br />

possuem papel fun<strong>da</strong>mental no <strong>de</strong>senvolvimento do padrão, pois <strong>de</strong>vem repassar o know-how<br />

para a equipe. Além disto, quando o representante do franqueado não po<strong>de</strong> viajar até a Escola,<br />

existem instrutores que vão até estas uni<strong>da</strong><strong>de</strong>s para ministrar aulas rápi<strong>da</strong>s <strong>de</strong> reciclagem ou<br />

<strong>de</strong> novas técnicas. Também foi percebido que existe certa flexibili<strong>da</strong><strong>de</strong> com relação a<br />

cobrança <strong>da</strong> execução <strong>da</strong>s técnicas junto aos profissio<strong>na</strong>is <strong>de</strong> outros Estados. Como estes<br />

profissio<strong>na</strong>is são autônomos, há o entendimento <strong>de</strong> que não po<strong>de</strong> ser exigido <strong>de</strong>les o que se<br />

exige <strong>de</strong> um funcionário registrado, pois quando isso acontece muitos não voltam para<br />

trabalhar no dia seguinte. Portanto, a questão do modo <strong>de</strong> vínculo tem reflexos diretos nos<br />

padrões <strong>da</strong> organização.<br />

Entretanto, uma padronização absoluta também não é <strong>de</strong>sejável. Como existem<br />

diferenças culturais entre os três Estados, o público também é distinto. Por isso, é necessário<br />

que haja uma flexibilização quanto ao padrão, cabendo ao franqueador possibilitar que o<br />

franqueado possa alterar algumas práticas a partir <strong>da</strong>s necessi<strong>da</strong><strong>de</strong>s ou dos perfis dos clientes.<br />

Como no caso <strong>de</strong>scrito <strong>da</strong> uni<strong>da</strong><strong>de</strong> franquea<strong>da</strong> 4, em que as clientes <strong>de</strong>sconfiam ao receberem<br />

algum produto ou serviço como cortesia. Cabe aos franqueados terem a sensibili<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

perceber isso e realizar as <strong>de</strong>vi<strong>da</strong>s mu<strong>da</strong>nças <strong>na</strong>s práticas.<br />

Algumas vezes são os pedidos dos cliente que geram <strong>de</strong>svios do padrão. Por exemplo,<br />

<strong>na</strong> situação <strong>de</strong> um cliente estar com pressa e solicitar para a manicure fazer o serviço mais<br />

rapi<strong>da</strong>mente. Para aten<strong>de</strong>r ao pedido, o profissio<strong>na</strong>l necessita fazer alguns procedimentos fora<br />

do padrão, ou seja, precisa “ajustar” a prática. Entretanto, percebe-se que pedidos <strong>de</strong> clientes<br />

po<strong>de</strong>m gerar tanto variações “aceitas” (por exemplo, o algodão) quanto “não aceitas” (por<br />

exemplo, o potinho <strong>de</strong> água) <strong>da</strong>s práticas. A classificação <strong>de</strong> uma variação <strong>da</strong> prática envolve<br />

tanto a estrutura teleoafetiva <strong>de</strong> seu nexus, quanto o julgamento estético. O profissio<strong>na</strong>l, ao<br />

julgar uma variação <strong>de</strong> uma prática como “aceitável” ou não, precisa possuir um<br />

conhecimento origi<strong>na</strong>do informalmente, para saber <strong>de</strong>termi<strong>na</strong>r quais dos procedimentos<br />

po<strong>de</strong>m ser realizados <strong>de</strong> maneira diferente, sem que se perca a “quali<strong>da</strong><strong>de</strong> fi<strong>na</strong>l” exigi<strong>da</strong> dos<br />

serviços. Essa quali<strong>da</strong><strong>de</strong> fi<strong>na</strong>l não é um absoluto, tampouco é normatiza<strong>da</strong>; ela representa um<br />

gosto formado (GHERARDI, 2009a) <strong>na</strong> prática e pela participação nesta comuni<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

praticantes.<br />

13


Os processos <strong>de</strong> aprendizagem estu<strong>da</strong>dos, categorizados como aprendizagem formal e<br />

informal representam aprendizagem basea<strong>da</strong> <strong>na</strong> prática e são discutidos <strong>na</strong> sequência. Como<br />

Geiger (2009) <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>, para que se possa compreen<strong>de</strong>r as práticas <strong>de</strong>ve-se a<strong>na</strong>lisar os ciclos<br />

<strong>de</strong> ações que são realiza<strong>da</strong>s pelos atores, e os processos <strong>de</strong> implementação contínua que<br />

ocorrem no dia-a-dia.<br />

A aprendizagem no caso estu<strong>da</strong>do está intimamente relacio<strong>na</strong><strong>da</strong> com o conhecimento<br />

estético (STRATI, 2007). Para exemplificar, po<strong>de</strong>-se recor<strong>da</strong>r o caso <strong>da</strong> mistura com<br />

hidratante e farinha, feita no curso prático <strong>de</strong> coloração, para imitar a textura <strong>da</strong> coloração<br />

real. Quando os alunos fazem isso estão <strong>de</strong>senvolvendo o conhecimento estético. Isso porque<br />

se baseiam em dois sentidos, a visão para avaliar as quanti<strong>da</strong><strong>de</strong>s necessárias <strong>de</strong> ca<strong>da</strong> produto e<br />

o tato para sentir a textura correta <strong>da</strong> mistura, para apren<strong>de</strong>r a como aplicar uma tintura aos<br />

cabelos. Outro exemplo <strong>da</strong>s aulas é o incentivo aos alunos a fazerem combi<strong>na</strong>ções erra<strong>da</strong>s <strong>de</strong><br />

tinta, para que eles possam avaliar os resultados que algumas misturas po<strong>de</strong>m ocasio<strong>na</strong>r – eles<br />

estão utilizando os sentidos novamente: apren<strong>de</strong>m a ver o ‘feio’, ou seja, apren<strong>de</strong>m o<br />

julgamento estético, para po<strong>de</strong>r apren<strong>de</strong>r o ‘belo’. Isto porque, segundo Strati (2007), o<br />

conhecimento estético é <strong>de</strong>senvolvido por meio dos sentidos humanos, relacio<strong>na</strong>ndo-os com o<br />

que é percebido, julgado, produzido/reproduzido por meio <strong>de</strong>stes.<br />

Destaca-se ain<strong>da</strong> a importância dos não-humanos <strong>na</strong> aprendizagem <strong>da</strong>s práticas<br />

estu<strong>da</strong><strong>da</strong>s. No momento em que os alunos realizam as práticas, eles utilizam os materiais que<br />

são essenciais para o <strong>de</strong>senvolvimento dos serviços. Como exemplo, os secadores para os<br />

escovistas, os alicates para as manicures, o pincel para os coloristas e a tesoura para os<br />

profissio<strong>na</strong>is do corte. O conhecimento é <strong>de</strong>senvolvido <strong>na</strong> interação com estes materiais, que<br />

se tor<strong>na</strong>m extensões <strong>da</strong> memória (incorpora<strong>da</strong>), como <strong>de</strong>fen<strong>de</strong> Gherardi (2009b), e âncoras <strong>da</strong><br />

prática em sua materiali<strong>da</strong><strong>de</strong>.<br />

Também foram i<strong>de</strong>ntificados nesse estudo os três processos que Gherardi (2009a, p.<br />

541) sugere como parte <strong>da</strong> formação do gosto enquanto realização coletiva. O primeiro <strong>de</strong>les,<br />

refere-se ao “<strong>de</strong>senvolvimento coletivo <strong>de</strong> um léxico do gosto” – este léxico po<strong>de</strong> ser<br />

percebido <strong>na</strong> formação dos 10B, ou no uso <strong>da</strong> palavra “embelezamento” para se referir aos<br />

processos <strong>de</strong> manicure e pedicure. Pois para a formação do gosto específico, precisa-se <strong>de</strong> um<br />

conjunto <strong>de</strong> palavras que tenham um significado compartilhado para to<strong>da</strong>s as pessoas, neste<br />

caso para clientes e profissio<strong>na</strong>is. O segundo processo é “a formação <strong>de</strong> um senso <strong>de</strong><br />

pertencimento a uma comuni<strong>da</strong><strong>de</strong> epistêmica<br />

14<br />

i ”. Dentro <strong>da</strong> organização, consi<strong>de</strong>ra-se que os<br />

profissio<strong>na</strong>is formam uma comuni<strong>da</strong><strong>de</strong> que compreen<strong>de</strong> as práticas <strong>de</strong> uma forma muito<br />

semelhante: compartilham normas, <strong>de</strong>finições <strong>de</strong> vali<strong>de</strong>z e passam por uma formação<br />

pareci<strong>da</strong>, com base nos valores <strong>da</strong> organização em questão. Eles constituem uma comuni<strong>da</strong><strong>de</strong><br />

epistêmica, cujo centro está no próprio presi<strong>de</strong>nte e nos franqueados técnicos. O terceiro,<br />

“refi<strong>na</strong>mento dos <strong>de</strong>sempenhos por meio <strong>da</strong> negociação <strong>de</strong> julgamentos estéticos” acontece<br />

em momentos como o <strong>de</strong>scrito <strong>da</strong> manicure que mostra para a sua instrutora o resultado do<br />

serviço <strong>na</strong> mão <strong>da</strong> cliente. Para esse processo <strong>de</strong> avaliação, a instrutora julga com base no<br />

senso estético, ou seja, <strong>na</strong> percepção basea<strong>da</strong> nos cinco sentidos. Ao <strong>da</strong>r o feedback para a<br />

manicure falando o que está bom e o que está ruim, compõe o refi<strong>na</strong>mento do gosto no<br />

<strong>de</strong>sempenho <strong>de</strong>sta aprendiz. E cabe ressaltar que muitas vezes julgamentos éticos e estéticos<br />

se confun<strong>de</strong>m, como comenta Strati (2008, p. 233), “a estética e a ética se entrelaçaram <strong>de</strong><br />

modo que frequentemente era muito difícil <strong>de</strong>termi<strong>na</strong>r se “belo” estava sendo usado como<br />

sinônimo <strong>de</strong> ‘bom’”.<br />

O julgamento estético dá suporte às práticas que compõe o padrão <strong>da</strong> organização e<br />

faz parte do aprimoramento dos serviços, como si<strong>na</strong>liza Gherardi (2009a). Isso porque, os<br />

profissio<strong>na</strong>is apren<strong>de</strong>m a julgar o que é bom e o que é belo <strong>de</strong>ntro do “jeito <strong>de</strong> fazer” <strong>da</strong><br />

organização, ou seja, no gosto formado e <strong>de</strong>senvolvido <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong>la. Na aca<strong>de</strong>mia ou em um<br />

salão, o profissio<strong>na</strong>l precisa ter a capaci<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> olhar para uma escova, e avaliar se ficou boa


ou não (<strong>de</strong> acordo com o que é compartilhado como “uma escova boa”) e, se for necessário,<br />

refazer o serviço. Parte <strong>de</strong>sse conhecimento é aprendido <strong>na</strong> Escola, mas no salão cabe ao<br />

profissio<strong>na</strong>l i<strong>de</strong>ntificar isso sozinho – ele julga esteticamente o seu trabalho com relação ao<br />

padrão. E esse julgamento só se tor<strong>na</strong> possível a partir <strong>de</strong> um gosto compartilhado.<br />

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS<br />

Este estudo buscou compreen<strong>de</strong>r como se dá o processo <strong>de</strong> <strong>Aprendizagem</strong><br />

Organizacio<strong>na</strong>l basea<strong>da</strong> em prática em uma organização. Para tanto, foi <strong>de</strong>senvolvi<strong>da</strong> uma<br />

pesquisa em cinco uni<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>da</strong> organização. Buscou-se participar <strong>de</strong> algumas ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s, bem<br />

como utilizar os serviços e assistir aulas teóricas (com as manicures) e práticas (com os<br />

coloristas). Isso permitiu que os processos <strong>da</strong> <strong>Aprendizagem</strong> <strong>na</strong> Prática fossem i<strong>de</strong>ntificados e<br />

também <strong>de</strong>scritos. Percebeu-se que a própria organização enten<strong>de</strong> a prática como ciclos <strong>de</strong><br />

ações (GEIGER, 2009), e esta estruturou e formalizou processos <strong>de</strong> aprendizagem <strong>na</strong> forma<br />

cursos específicos sobre ca<strong>da</strong> um <strong>de</strong> seus serviços, nos quais são trabalha<strong>da</strong>s as teorias e as<br />

práticas consi<strong>de</strong>ra<strong>da</strong>s necessárias para <strong>de</strong>senvolvê-los.<br />

Tornou-se central para esta pesquisa consi<strong>de</strong>rar o conhecimento estético envolvido, e<br />

compreen<strong>de</strong>r como este se <strong>de</strong>senvolve em meio às práticas <strong>da</strong> organização. Uma vez que o<br />

julgamento estético é um apoio aos modos situados e locais <strong>de</strong> praticar, este po<strong>de</strong> ser notado<br />

<strong>na</strong> maioria dos processos <strong>da</strong> aprendizagem formal que utilizam-se <strong>da</strong> prática para ensi<strong>na</strong>r a<br />

como fazer certo e a como avaliar o que foi feito – se uma mão está bem feita, se o corte foi<br />

feito corretamente, se a coloração utilizou uma boa técnica ou se a escova ficou bonita. Estes<br />

julgamentos apoiam-se no senso estético e <strong>na</strong> percepção por meio dos 5 sentidos, tanto para<br />

avaliação, por parte dos instrutores, quanto para aprendizagem, por parte dos alunos, em um<br />

processo <strong>de</strong> formação e <strong>de</strong>senvolvimento do gosto.<br />

Outra proposta <strong>de</strong>ste estudo foi a<strong>na</strong>lisar como se compreen<strong>de</strong> e aplica a noção <strong>de</strong><br />

padrão <strong>na</strong> organização. Ao fazer isto, pô<strong>de</strong>-se i<strong>de</strong>ntificar algumas dificul<strong>da</strong><strong>de</strong>s para <strong>de</strong>finir até<br />

que ponto o padrão <strong>de</strong>ve (e po<strong>de</strong>) ou não ser seguido. Fatores <strong>de</strong> contexto geram reflexos <strong>na</strong><br />

padronização dos serviços e <strong>na</strong> dinâmica <strong>da</strong>s uni<strong>da</strong><strong>de</strong>s (por exemplo, a questão <strong>da</strong><br />

rotativi<strong>da</strong><strong>de</strong>). Além disso, a existência <strong>de</strong> ape<strong>na</strong>s um centro <strong>de</strong> formação <strong>de</strong> profissio<strong>na</strong>is, a<br />

Escola, tor<strong>na</strong> inviável que todos os profissio<strong>na</strong>is <strong>da</strong>s diferentes uni<strong>da</strong><strong>de</strong>s passem pelo mesmo<br />

processo <strong>de</strong> formação (por questões <strong>de</strong> logística e custos). A organização <strong>de</strong>senvolveu, ao<br />

longo do tempo, algumas estratégias para amenizar este fato, como a <strong>de</strong> nomear mestres <strong>de</strong><br />

corte e <strong>de</strong> coloração em ca<strong>da</strong> uni<strong>da</strong><strong>de</strong>. A partir <strong>da</strong> análise dos <strong>da</strong>dos, percebe-se que o papel<br />

dos mestres é fun<strong>da</strong>mental no processo <strong>de</strong> padronização e <strong>na</strong> manutenção do padrão. Esse<br />

papel é <strong>de</strong>sempenhado <strong>de</strong> dois modos, imbricados <strong>na</strong> prática: compartilhar a técnica e atuar <strong>na</strong><br />

formação do gosto. Conhecimentos explícitos unem-se a conhecimentos estéticos <strong>na</strong><br />

realização cotidia<strong>na</strong> do padrão.<br />

Destaca-se que os aspectos tratados neste artigo muitas vezes se complementaram, em<br />

um ciclo <strong>de</strong> produção/reprodução. A padronização sofre <strong>de</strong>svios para aten<strong>de</strong>r a pedidos dos<br />

clientes, gerando uma aprendizagem informal. Mas os profissio<strong>na</strong>is necessitam saber como<br />

alterar o padrão sem que se perca a quali<strong>da</strong><strong>de</strong>, e sem <strong>de</strong>sviar-se totalmente <strong>de</strong>le, <strong>de</strong> modo a<br />

não per<strong>de</strong>r a i<strong>de</strong>nti<strong>da</strong><strong>de</strong> dos serviços. De modo semelhante, a aprendizagem <strong>na</strong> prática e o<br />

conhecimento estético aparecem fortemente ligados <strong>na</strong>s ações que envolvem a aprendizagem<br />

formal.<br />

Este estudo abordou, entre outros aspectos, o papel do conhecimento estético <strong>na</strong> AO e<br />

a importância <strong>da</strong> formação do gosto <strong>na</strong> manutenção <strong>de</strong> um padrão em serviços. Esses são<br />

temas ain<strong>da</strong> a serem explorados em outras pesquisas.<br />

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15


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especializa<strong>da</strong> em uma área particular do conhecimento, que partilham valores, normas, crenças causais e<br />

<strong>de</strong>finições <strong>de</strong> vali<strong>de</strong>z.<br />

16

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