01.05.2013 Views

Leitura, escrita e análise linguística: alguns pressupostos teórico ...

Leitura, escrita e análise linguística: alguns pressupostos teórico ...

Leitura, escrita e análise linguística: alguns pressupostos teórico ...

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

PREFEITURA DA CIDADE DO RIO DE JANEIRO<br />

SECRETARIA MUNICIPAL DE EDUCAÇÃO<br />

SUBSECRETARIA DE ENSINO<br />

COORDENADORIA DE EDUCAÇÃO<br />

<strong>Leitura</strong>, <strong>escrita</strong> e<br />

<strong>análise</strong> <strong>linguística</strong>:<br />

<strong>alguns</strong> <strong>pressupostos</strong><br />

<strong>teórico</strong>-metodológicos<br />

2012


EDUARDO PAES<br />

PREFEITURA DA CIDADE DO RIO DE JANEIRO<br />

CLAUDIA COSTIN<br />

SECRETARIA MUNICIPAL DE EDUCAÇÃO<br />

REGINA HELENA DINIZ BOMENY<br />

SUBSECRETARIA DE ENSINO<br />

MARIA DE NAZARETH MACHADO DE BARROS VASCONCELLOS<br />

COORDENADORIA DE EDUCAÇÃO<br />

MARIA DE FÁTIMA CUNHA<br />

SANDRA MARIA DE SOUZA MATEUS<br />

COORDENADORIA TÉCNICA<br />

MARIA TERESA TEDESCO<br />

CONSULTORIA<br />

GINA PAULA BERNARDINO CAPITÃO MOR<br />

MARIA TERESA TEDESCO<br />

SARA LUISA OLIVEIRA LOUREIRO<br />

WELINGTON M MACHADO<br />

ELABORAÇÃO<br />

LEILA CUNHA DE OLIVEIRA<br />

MARIA ALICE OLIVEIRA DA SILVA<br />

SIMONE CARDOZO VITAL DA SILVA<br />

REVISÃO<br />

CARLA DA ROCHA FARIA<br />

LETICIA CARVALHO MONTEIRO<br />

MARIA PAULA SANTOS DE OLIVEIRA<br />

DIAGRAMAÇÃO<br />

BEATRIZ ALVES DOS SANTOS<br />

MARIA DE FÁTIMA CUNHA<br />

DESIGN GRÁFICO<br />

3


4<br />

Colegas,<br />

Como professores, sabemos dos desafios para ensinar<br />

nossa língua portuguesa. Nós os sentimos, vemos e ouvimos a<br />

cada novo dia letivo. Sabemos também que esses desafios<br />

podem ser enfrentados, já que os enfrentamos, em nossa luta<br />

para vencer as dificuldades cotidianas. O que pretendemos<br />

com este material é continuar o diálogo com você. Isso mesmo:<br />

continuar o diálogo há muito iniciado – desde a implantação da<br />

MULTIEDUCAÇÃO, passando pela sua atualização e<br />

chegando, mais recentemente, aos debates que possibilitaram<br />

as orientações curriculares e deram origem aos CADERNOS<br />

DE APOIO PEDAGÓGICO. Esse diálogo é a chave de todo o<br />

trabalho – de alunos e professores – com a língua portuguesa.<br />

O que importa é a interação.<br />

Equipe de Língua Portuguesa


Introdução<br />

I. <strong>Leitura</strong><br />

Sumário<br />

1. Estratégias de leitura ................................................................................................... 10<br />

2. Habilidade e competência leitora ................................................................................. 15<br />

3. Gênero do discurso ...................................................................................................... 18<br />

4. Objetivos da leitura. Enfim, para que lemos? ............................................................... 25<br />

II. Escrita<br />

5. Para que escrever? ..................................................................................................... 28<br />

6. Planejando a <strong>escrita</strong> .................................................................................................... 30<br />

7. Reescrevendo, corrigindo, revisando ......................................................................... 33<br />

8. Os erros de quem escreve .......................................................................................... 36<br />

III. Oralidade ....................................................................................................................... 43<br />

IV. Modos de ler, modos de escrever .............................................................................. 47<br />

V. Considerações finais .................................................................................................... 64<br />

Apêndice<br />

O mundo digital – universo discursivo da Internet ............................................................ 66<br />

5


Introdução<br />

6<br />

LEITURA, ESCRITA E ORALIDADE<br />

“... a evidência de que as línguas só existem para promover a interação<br />

entre as pessoas nos leva a admitir que somente uma concepção<br />

interacionista da linguagem, eminentemente funcional e<br />

contextualizada, pode, de forma ampla e legítima, fundamentar um<br />

ensino da língua que seja, individual e socialmente, produtivo e<br />

relevante.” (Irandé Antunes)<br />

Introduzimos este trabalho citando a Irandé Antunes (2004), por ser a concepção de<br />

linguagem que ela defende a que vai nortear o trabalho em Língua Portuguesa, que aqui se<br />

propõe. Essa concepção não se destina a uma determinada faixa etária ou a um<br />

determinado nível de escolaridade, mas a todo e qualquer trabalho significativo com a<br />

Língua Portuguesa.<br />

Para a autora, o fato de que uma língua-em-função apenas ocorre sob a forma de<br />

textualidade, evidencia que só o estudo das regularidades textuais e discursivas, na sua<br />

produção e interpretação, pode constituir o objeto de um ensino da língua. Esse ensino,<br />

que ela chama de produtivo e relevante, entendemos aqui como sendo o trabalho efetivo<br />

em Língua Portuguesa. Efetivo no sentido de mostrar o que há a ser feito em uma escola<br />

que assume seu papel social de formar pessoas capazes para o exercício pleno e<br />

consciente da cidadania. Pessoas com voz própria para, nos planos individual e coletivo,<br />

conquistarem espaços de ação transformadora, na busca de uma nova ordem social,<br />

lembrando que para ter vez é preciso ter voz e que para ter voz é preciso saber ouvir,<br />

entender os desafios do cotidiano e a eles responder.<br />

A partir da escolha dessa concepção, a única opção possível e produtiva para o<br />

ensino de Língua Portuguesa se concretiza na aula que tenha o texto como ponto de<br />

partida e ponto de chegada, como objeto de e objetivo do trabalho.


I. <strong>Leitura</strong><br />

Consideramos o texto como uma unidade de sentido. Falar/escrever é produzir<br />

sentidos. Ouvir/ler, portanto, não é decifrar; é, seguindo as pistas que o texto dá, construir<br />

uma teia de significados. Entram em jogo, nessa competência, <strong>alguns</strong> fatores, como:<br />

Em uma atividade de leitura, é importante estar atento para ativar todos esses<br />

conhecimentos. Vejamos como isso foi proposto nas atividades abaixo.<br />

Texto I<br />

\<br />

conhecimento de mundo conhecimento linguístico<br />

conhecimento textual (dos gêneros discursivos)<br />

http://www.hortifruti.com.br/campanhas/campanhas-hortifruti.html<br />

1 - O texto é um outdoor. Para que serve um<br />

outdoor?<br />

Para anunciar algo.<br />

2 – O que está sendo anunciado?<br />

A loja Hortifruti.<br />

Aqui, por exemplo, as perguntas direcionam a leitura para a compreensão da intencionalidade do texto,<br />

o que exige o conhecimento de outro texto, com o qual a publicidade dialoga.<br />

No quadro da sala de aula, o professor pode registrar a letra da música com a qual o texto mantém<br />

relação intertextual, bem como outros exemplos de diálogos textuais desse tipo, que levem o aluno a construir<br />

seu próprio conceito de intertextualidade. Observe:<br />

Haja Amor (Luiz Caldas)<br />

Eu queria ser uma abelha<br />

Pra pousar na tua flor<br />

Haja amor! Haja amor!<br />

X<br />

3 – Por que existe um microfone na imagem?<br />

Aqui o aluno deve perceber que o microfone é pista<br />

para a intertextualidade com a música.<br />

4 – Você conhece alguma música com versos que se<br />

pareçam com a mensagem <strong>escrita</strong> “Eu queria ser uma<br />

abelha pra pousar na couve-flor”, que aparece na<br />

propaganda? Transcreva o refrão da música. Se você<br />

não conhecer, converse com seus colegas e com o<br />

Professor e tente descobrir.<br />

Colega, aqui a proposta é sondarmos o conhecimento<br />

de mundo do aluno. A música de referência é ”Haja<br />

amor”, de Luiz Caldas.<br />

5 – Observe também as fitas que estão no cartaz. O<br />

que significam?<br />

De novo a proposta é ativar o conhecimento de<br />

mundo do aluno. As fitas remetem à Bahia.<br />

Eu queria ser uma abelha<br />

Pra pousar na couve-flor<br />

7


8<br />

Há na propaganda palavras que citam as da música e ativam, na mente de quem as lê, as sensações<br />

de alegria, de festa, das boas energias associadas à música e ao seu contexto. As fitinhas coloridas fazem<br />

lembrar a Bahia e sua rica cultura, reforçando o clima proposto. A frase “Entre no ritmo do HORTIFRUTI” faz o<br />

convite explícito: venha para essa festa!<br />

Como vemos, o repertório de textos lidos possibilita ao aluno maior ou menor competência de leitura. O<br />

trabalho de leitura em sala de aula utiliza-se, portanto, desse repertório, do conhecimento de mundo que o<br />

aluno já possui. No caso, foi necessário reconhecer a tradição das fitas coloridas na Bahia para, assim, melhor<br />

identificar a canção do texto-base e sua origem, bem como possibilitar que o aluno, no ato mesmo de ler,<br />

dialogasse com os textos, ampliando cada vez mais seu repertório de informações, seu conhecimento. Para<br />

isso, interação é a palavra-chave! Ampliar o repertório do aluno é um dos objetivos da escola.<br />

Paralelo a isso, o conhecimento textual permitiu que o aluno desvendasse a intencionalidade do texto,<br />

afinal, logo na primeira pergunta, ele foi encaminhado para refletir sobre a função social de um outdoor.<br />

Texto II<br />

http://img399.imageshack.us/i/autosonic3.jpg/<br />

1 – O texto é uma charge. Onde você costuma encontrar<br />

charges para ler? Relembre com seu Professor e seus<br />

colegas <strong>alguns</strong> pontos importantes sobre as charges – Para<br />

que servem? Para quem se dirigem? Que temas abordam?<br />

O professor deve situar o gênero “charge” com o aluno.<br />

2 – No texto, quem está conversando?<br />

Onde se dá a conversa?<br />

Dois mosquitos num bar.<br />

3 – Por que pedem ao garçom “água bem<br />

paradinha”?<br />

Aqui o aluno deve revelar seu<br />

conhecimento de mundo sobre a dengue.<br />

4 – Que crítica pode ser percebida no<br />

texto?<br />

A falta de cuidado para prevenir a dengue.<br />

No Texto II, entram em jogo o conhecimento do mundo e o conhecimento do gênero discursivo. Se o<br />

leitor não possuir <strong>alguns</strong> conhecimentos sobre a epidemia da dengue, principalmente sobre o ambiente<br />

propício à reprodução do mosquito aedes aegypti, não fará uma leitura proficiente do texto. As perguntas<br />

instigam, apontam para a ativação do conhecimento. Além disso, conhecer o gênero CHARGE, reconhecer<br />

sua função, seu tom crítico, lembrar onde é habitual ler o texto e para quem se dirige, é fundamental para a<br />

leitura.


A falta desses conhecimentos em uma turma de alunos não impede que, na gradação adequada, mais<br />

e mais textos sejam apresentados. O conhecimento de mundo em muito vai se ampliando pela leitura de<br />

textos em sala de aula. Afinal, essa é uma das principais funções da escola.<br />

Texto III<br />

Ouviram do Ipiranga as margens plácidas<br />

De um povo heróico o brado retumbante<br />

E o sol da liberdade em raios fúlgidos<br />

Brilhou no céu da pátria nesse instante<br />

Hino Nacional Brasileiro, letra de Joaquim Osório<br />

Duque Estrada (fragmento)<br />

1 – Em “Ouviram”, quem ouviu?<br />

“As margens plácidas do Ipiranga”.<br />

O Texto III nos permite refletir sobre a importância do conhecimento linguístico. Vejamos: nos dois<br />

primeiros versos, se o leitor não perceber que existe uma ação de ouvir praticada pelo sujeito “as margens<br />

plácidas do Ipiranga”, poderá não entender o início da letra do Hino. Trata-se, aí, de uma ordem sintáticosemântica<br />

que exige um conhecimento linguístico que o aluno em sala de aula pode não ter. Cabe, então, ao<br />

professor favorecer esse conhecimento necessário à construção de sentidos. Esse tipo de abordagem<br />

gramatical é, sim, fundamental para uma leitura competente do texto. E, para isso, o aluno não necessita de<br />

uma aula expositiva sobre sujeito, nem da nomenclatura e das classificações propostas pela gramática. Ele<br />

precisa refletir sobre a sua língua materna, analisando suas estruturas e percebendo os efeitos de sentido.<br />

Veja só essas duas frases:<br />

2 – Converse com seu Professor sobre a importância da<br />

ordem das palavras na construção de frases da Língua<br />

Portuguesa. Pesquise sobre ordem direta e indireta.<br />

3 – Após a pesquisa, indique quem “brilhou”.<br />

“O sol da liberdade”.<br />

João ama Maria. X Maria ama João.<br />

Só mudamos a ordem das palavras e tudo mudou! Como costumam ser ordenadas as frases em nossa<br />

língua? Existe uma ordem direta e uma ordem indireta. O que significa isso na prática? Todas essas questões<br />

podem orientar o início de um estudo significativo da sintaxe, fundado no uso e não em regras gramaticais e<br />

nomes.<br />

Selecionamos intencionalmente esses três textos, para explicitar fatores que entram<br />

em jogo na competência leitora. São fatores que precisam estar sempre presentes, quando<br />

o professor planeja uma atividade de leitura.<br />

9


10<br />

A prática de leitura amplia repertórios de informação, conhecimentos linguísticos e<br />

capacidade de reflexão e deve ser trabalhada em sala de aula como ato de conhecimento,<br />

como ato de prazer estético e como forma de acesso ao “poder dizer o que se tem a dizer”,<br />

pela oralidade e/ou pela <strong>escrita</strong>, em suas especificidades. A exposição a bons textos<br />

escritos, de diferentes gêneros do discurso, amplia a capacidade de produção <strong>escrita</strong> do<br />

aluno, sendo que quanto maior for a exposição, maior e mais rápida será a percepção das<br />

regularidades que ocorrem nas diferentes práticas discursivas.<br />

Pela leitura de textos escritos, compreende-se o que é próprio da língua <strong>escrita</strong>, o que<br />

é próprio dessa modalidade, em suas especificidades de gênero; nos aspectos<br />

morfossintáticos característicos da <strong>escrita</strong>; as formas de estruturação dos diversos gêneros<br />

textuais.<br />

Deve-se buscar, através da leitura, que o aluno perceba os recursos linguísticos<br />

utilizados para construir o sentido, em atividades que não sejam o mero localizar, identificar,<br />

analisar palavras e termos que, isolados, fora do texto, não passam de nomenclatura vazia.<br />

Num texto, palavras e sintagmas servem à textualidade, são funções, estão em função do<br />

texto.<br />

1. Estratégias de leitura<br />

Formar alunos que sejam leitores competentes é tanto objetivo de toda e qualquer<br />

prática pedagógica, quanto um desafio a ser superado. Muito se fala sobre leitura, há vasto<br />

material para estudo e consulta – inclusive na bibliografia sugerida ao final deste trabalho.<br />

Vamos, contudo, aqui reunir <strong>alguns</strong> princípios básicos que norteiam ou devem nortear as<br />

práticas de leitura na Rede Municipal de Ensino da Cidade do Rio de Janeiro..<br />

O professor tem um papel relevante na orientação do trabalho com a leitura. Para<br />

que o aluno se torne um leitor crítico e competente é necessário que seja exposto a<br />

diferentes gêneros textuais, a diferentes níveis de texto, a diferentes estímulos de reflexão.<br />

O tipo de trabalho que o professor fará em sala de aula será determinante para que se atinja<br />

o objetivo desejado.


Esse trabalho não tem receita, mas tem princípios. É fundamental partir de uma<br />

concepção de leitura clara, objetiva. Observe o esquema:<br />

Não é só...<br />

Decifrar<br />

Oralizar<br />

Descobrir<br />

LEITURA<br />

Interação<br />

Atividade social<br />

Desse modo, compreendendo a leitura como interação e atividade social, logo se<br />

verifica a inutilidade de práticas descontextualizadas, de leituras seguidas por questionários<br />

com perguntas que somente mobilizam o aluno para procurar respostas prontas no texto.<br />

Ler é muito mais do que apontar o que está explícito no texto. Essa é só uma das<br />

habilidades dentre as que constituem a competência leitora.<br />

A leitura envolve seguir as pistas que o<br />

texto dá e ir elaborando hipóteses,<br />

reelaborando-as e corrigindo até a construção<br />

de sentidos. Esse movimento é um diálogo<br />

leitor–texto, em que são ativados os<br />

conhecimentos desse leitor, instigado a trazer<br />

tudo de si para o jogo que é a aventura de ler.<br />

Assim, um princípio básico de qualquer prática<br />

de leitura deve ser: promover o diálogo leitor–<br />

texto.<br />

Como diz Rubem Alves, aqui muito mais<br />

importa fazer perguntas do que oferecer<br />

respostas. Ao perguntar, o professor<br />

assume o papel de mediador desse diálogo<br />

e, como tal, deve estimular que os alunos<br />

também se façam perguntas ao ler.<br />

É ...<br />

Construir sentidos<br />

Dialogar com o texto<br />

Usar estratégias<br />

Ativar conhecimentos<br />

(de mundo, linguísticos)<br />

A leitura é o processo no qual o leitor<br />

realiza um trabalho ativo de compreensão e<br />

interpretação do texto, a partir de seus<br />

objetivos, de seu conhecimento sobre o<br />

assunto, sobre o autor, de tudo o que sabe<br />

sobre a linguagem etc. Não se trata de<br />

extrair informação, decodificando letra por<br />

letra, palavra por palavra [grifo nosso].<br />

Trata-se de uma atividade que implica<br />

estratégias de seleção, antecipação,<br />

inferência e verificação, sem as quais não é<br />

possível proficiência. É o uso desses<br />

procedimentos que possibilita controlar o que<br />

vai sendo lido, permitindo tomar decisões<br />

diante de dificuldades de compreensão,<br />

avançar na busca de esclarecimentos, validar<br />

no texto suposições feitas.<br />

In: Parâmetros Curriculares Nacionais:<br />

terceiro e quarto ciclos de ensino<br />

fundamental: língua portuguesa/Secretaria<br />

de Educação Fundamental. –Brasília:<br />

MEC/SEF, 1998.<br />

11


12<br />

O ato de ler implica uma série de ações denominadas estratégias de leitura, que<br />

ocorrem de forma mais ou menos consciente. Essas estratégias facilitam a compreensão<br />

dos textos e conhecê-las pode ajudar-nos na elaboração das propostas de leitura.<br />

Seleção<br />

Predição<br />

Inferência<br />

Autocontrole<br />

Autocorreção<br />

São estratégias de leitura:<br />

Escolha do que nos parece mais<br />

relevante para a leitura.<br />

Não lidamos com todas as<br />

informações de uma só vez.<br />

Dependendo do texto e dos objetivos<br />

da leitura há informações<br />

irrelevantes.<br />

Antecipação de informações,<br />

construção de hipóteses a partir das<br />

pistas que o texto ofereceu.<br />

O leitor completa o não-dito do texto<br />

com seus conhecimentos prévios.<br />

Refere-se ao conhecimento implícito.<br />

Ligação entre as hipóteses e as<br />

respostas que o leitor obtém no<br />

texto.<br />

Redirecionamento de hipóteses a<br />

partir do que descobriu no texto,<br />

abandonando as que não são<br />

adequadas e construindo outras.<br />

Alguns questionamentos para ativar<br />

essas estratégias<br />

O que chamou a atenção?<br />

Palavras, frases, partes do texto?...<br />

O que parece mais importante?<br />

O que causou estranhamento?<br />

A partir do título do texto, qual o<br />

assunto?<br />

Qual a finalidade do texto?<br />

Como deve ser o próximo<br />

parágrafo?<br />

Como você chegou a essa<br />

conclusão? Que pista permite<br />

chegar a essa informação que não<br />

está <strong>escrita</strong> no texto?<br />

Ao ler mais um pouco do texto,<br />

como fica a hipótese que tínhamos<br />

construído?<br />

A partir do que lemos, que hipóteses<br />

se confirmam? Quais são negadas?<br />

Que novas hipóteses construímos?


Vejamos essas estratégias de leitura, a partir da crônica “Tatuagem” (Moacyr Scliar,<br />

Folha de São Paulo,10/03/2003).<br />

Reparem nesse<br />

pequeno texto. Ele<br />

faz parte do texto<br />

“Tatuagem”?<br />

Aqui, o professor<br />

pode informar sobre<br />

o que seja uma<br />

epígrafe e<br />

questionar sobre<br />

sua relação com o<br />

texto que introduz.<br />

Com essas<br />

informações já é<br />

possível questionar<br />

as predições feitas<br />

ao responder às<br />

perguntas<br />

anteriores.<br />

Tatuagem<br />

Enfermeira inglesa de 78 anos manda tatuar<br />

mensagem no peito pedindo para não<br />

proceder a manobras de ressuscitação em<br />

caso de parada cardíaca. Mundo Online,<br />

4/fev/2003.<br />

Ela não era enfermeira (era secretária), não era<br />

inglesa (era brasileira) e não tinha 78 anos, mas sim 42:<br />

bela mulher, muito conservada. Mesmo assim, decidiu fazer<br />

a mesma coisa. Foi procurar um tatuador, com o recorte da<br />

notícia. O homem não comentou: perguntou apenas o que<br />

era para ser tatuado.<br />

Qual será o tema de<br />

um texto com esse<br />

título?<br />

Alguém conhece<br />

outro texto com<br />

esse título?<br />

Essas perguntas<br />

possibilitam fazer<br />

predições, ativando<br />

o conhecimento de<br />

mundo dos alunos,<br />

bem como seu<br />

conhecimento<br />

linguístico. Será que<br />

algum aluno<br />

conhece a música<br />

Tatuagem, de Chico<br />

Buarque?<br />

A partir da leitura desse primeiro parágrafo, para que serviu a epígrafe?<br />

Quem era “Ela”? A quem se refere o pronome que inicia o texto?<br />

Que ideia é reforçada pela expressão “mesmo assim”?<br />

A quem se refere o termo “O homem”?<br />

Quando o texto diz que ela decidiu fazer a “mesma coisa”, que coisa era essa?<br />

O fato linguístico deve estar a serviço da leitura.<br />

Nesse caso, o fundamental é perceber as relações entre partes de um texto, identificando as palavras e<br />

expressões que cumprem a função de substituir outras, evitando repetições e contribuindo para a continuidade<br />

do texto.<br />

13


- É bom você anotar -disse ela - porque não será uma<br />

mensagem tão curta como essa da inglesa.<br />

Ele apanhou um caderno e um lápis e dispôs-se a anotar.<br />

- "Em caso de que eu tenha uma parada cardíaca" -ditou ela-,<br />

"favor não proceder à ressuscitação".<br />

Uma pausa, e ela continuou:<br />

- "E não procedam à ressuscitação, porque não vale a pena.<br />

A vida é cruel, o mundo está cheio de ingratos."<br />

Ele continuou escrevendo, sem dizer nada. Era pago para<br />

tatuar, e quanto mais coisas tatuasse, mais ganharia.<br />

Ela continuou falando. Agora voltava à sua infância pobre;<br />

falava no sacrifício que fora para ela estudar. Contava do rapaz que<br />

conhecera num baile de subúrbio, tão pobre quanto ela, tão<br />

esperançoso quanto ela.<br />

Descrevia os tempos de namoro, o noivado, o casamento, o<br />

nascimento dos dois filhos, agora grandes e morando em outra<br />

cidade. Àquela altura o tatuador, homem vivido, já tinha adivinhado<br />

como terminaria a história: sem dúvida ela fora abandonada pelo<br />

marido, que a trocara por alguma mulher mais jovem e mais bonita.<br />

E antes que ela contasse sua tragédia resolveu interrompê-la.<br />

Desculpe, disse, mas para eu tatuar tudo que a senhora me contou,<br />

eu precisaria de mais três ou quatro mulheres.<br />

Ela começou a chorar. Ele consolou-a como pôde. Depois,<br />

convidou-a para tomar alguma coisa num bar ali perto.<br />

14<br />

Estão vivendo juntos há algum tempo. E se dão<br />

muito bem. Ela sente um pouco de ciúmes quando ele é<br />

procurado por belas garotas, mas sabe que isso é, afinal, o<br />

seu trabalho. Além disso, ele fez uma tatuagem<br />

especialmente para ela, no seu próprio peito. Nada de<br />

muito artístico, o clássico coração atravessado por uma<br />

flecha, com os nomes de ambos. Mas cada vez que ela vê<br />

essa tatuagem, ela se sente reconfortada. Como se tivesse<br />

sido ressuscitada, e como se estivesse vivendo uma nova,<br />

e muito melhor, existência.<br />

Moacyr Scliar, Folha de S. Paulo, 10/03/2003<br />

LEVANTANDO UMA HIPÓTESE.<br />

Por que motivo ela não queria ser<br />

ressuscitada em caso de uma<br />

parada cardíaca?<br />

CONFIRMANDO OU NÃO A<br />

HIPÓTESE.<br />

A continuidade da leitura<br />

confirmou ou não a hipótese<br />

levantada?<br />

O motivo que faz a mulher não<br />

querer ser ressuscitada é um fato<br />

i i ?<br />

Que expressões estabelecem<br />

a ideia de proporcionalidade<br />

entre o tamanho da tatuagem<br />

e o quanto ela custaria?<br />

LEVANTANDO HIPÓTESE DE<br />

NOVO.<br />

O que acontecerá após esse<br />

convite?<br />

CONFIRMANDO OU NÃO A<br />

HIPÓTESE.<br />

A leitura do parágrafo final<br />

confirmou ou não a sua<br />

hipótese?<br />

Que consequência teve a ida<br />

da mulher ao tatuador?<br />

Essa consequência confirma<br />

ou não a sua hipótese?<br />

LEVANTANDO OUTRA<br />

HIPÓTESE.<br />

O que ele tatuou no próprio<br />

peito?


O modo de apresentar o texto para leitura também é importante ponto para reflexão, e<br />

sempre de acordo com as características da turma. Uma sugestão é o professor ocultar o<br />

texto, ir apresentando as sequências da crônica à medida que o aluno vai elaborando<br />

hipóteses, fazendo suas previsões da continuidade narrativa. Para observar esse modo de<br />

ler, sugerimos verificar a proposta de leitura do conto “Moça tecelã”, de Marina Colassanti,<br />

no CADERNO DE APOIO PEDAGÓGICO I/ 2009/ 9º ANO.<br />

Para ampliar o estudo sobre as estratégias de <strong>Leitura</strong>, sugerimos o livro “Ler e<br />

compreender o sentido do texto”, de Ingedore Villaça Koch e Vanda Maria Elias, da Editora<br />

Contexto, de 2006.<br />

2. Habilidades e competência leitora<br />

Compreender a necessidade de desenvolver a competência leitora significa<br />

primeiramente entender a leitura como uma competência.<br />

Segundo Philippe Perrenoud, “[competência é a] capacidade de agir eficazmente em<br />

um determinado tipo de situação, apoiada em conhecimentos, mas sem limitar-se a eles.” (<br />

PERRENOUD, 1999).<br />

Para construir competências é imperativo realizar ações concretas: as habilidades. O<br />

MEC (http://portal.mec.gov.br) lista as habilidades necessárias para desenvolver a<br />

competência leitora, o que nos ajuda a compreender melhor as ações cotidianas que não<br />

podemos perder de vista se desejamos formar um leitor competente.<br />

A seguir, apresentaremos, a título de exemplificação, <strong>alguns</strong> textos com propostas de<br />

atividades que enfocam habilidades importantes no desenvolvimento da competência leitora.<br />

a) Habilidade: Distinguir um fato da opinião relativa a esse fato<br />

Enfocaremos a habilidade de distinguir em um texto o que seja fato do que seja<br />

opinião relativa a esse fato.<br />

Opinião (do grego δόξα, doxa) ou conjectura é a ideia confusa acerca da realidade e<br />

que se opõe ao conhecimento verdadeiro. Como verbete de dicionário, define-se opinião<br />

como a maneira pessoal de julgar; conceito formado a respeito de um assunto, tema<br />

ou conversa, seja ele refletido ou infundado; julgamento de valor.<br />

15


16<br />

O fato é um acontecimento sobre o qual podemos ter opiniões. Muitas pessoas<br />

confundem fatos e opiniões; devemos, portanto, ter cuidado com as informações que nos<br />

chegam e perguntar-nos sempre se são informações sobre o fato ou opiniões sobre ele.<br />

Em textos de diferentes funções, de diferentes linguagens ou modos de produção,<br />

muitas vezes os fatos apresentados vêm misturados a opiniões sobre eles, sendo<br />

necessário distinguir essas duas dimensões, para uma recepção mais crítica da mensagem.<br />

Uma notícia e uma carta de leitor, como aparecem em jornais, por exemplo, servem<br />

bem à finalidade de se trabalhar a habilidade de reconhecer fato e opinião.<br />

Ressaltamos a importância de o professor trabalhar a intertextualidade, na prática da<br />

leitura, utilizando outros textos para complementar, desdobrar, ampliar o sentido de um texto<br />

lido.<br />

O velho, o menino e o burro<br />

La Fontaine<br />

Um velho e um menino seguiam pela estrada montados num burro. Pelo<br />

caminho, as pessoas com as quais cruzavam diziam:<br />

─ Que crueldade a desses dois! Querem matar o burro!<br />

O velho, impressionadíssimo com os comentários, mandou o menino descer.<br />

Mais adiante, outras pessoas, observando a cena, diziam:<br />

─ Que velho malvado, refestelado no burro, e o menino, coitado, andando a pé!<br />

O velho, então, desceu do burro e mandou o menino montar. Daí a pouco,<br />

outras pessoas, vendo a cena, comentaram:<br />

─ Onde já se viu coisa igual? Um menino cheio de vida, montado no burro, e o<br />

velho a caminhar pela estrada!<br />

Depois dessa, o velho não teve dúvidas. Mandou o menino descer e ambos,<br />

com esforço, passaram a carregar o burro.<br />

Está claro que os comentários não se fizeram demorar, e desta vez seguidos<br />

de gargalhadas. Evidentemente, todo o mundo estranhava os dois carregarem o burro.<br />

* * * *


O texto foi escolhido porque nele ocorre um interessante jogo de mudanças entre<br />

fato e opinião. A graça do texto e o prazer do leitor são alcançados pela percepção desse<br />

jogo.<br />

Observe, no quadro, feito a partir da leitura do texto, a diferença entre fato e opinião.<br />

Esse modelo pode ser utilizado para melhor compreensão do aluno dessa habilidade.<br />

Fato Opinião sobre o fato<br />

O velho e o menino montados num burro. Crueldade contra o burro<br />

O velho montado no burro e o menino seguindo<br />

a pé.<br />

Crueldade contra o menino<br />

Menino montado no burro. Velho a pé. Crueldade contra o velho<br />

Velho e menino carregando o burro. Estranho, absurdo, que faz rir.<br />

b) Habilidade: Inferir uma informação implícita em um texto.<br />

In: CADERNOS DE APOIO PEDAGÓGICO, 6° ANO, ABRIL DE 2010.<br />

Essa habilidade, importante para a compreensão do texto, exige que o leitor faça<br />

inferências, vá além da superfície do texto, desenvolvendo, assim, a capacidade de ler nas<br />

entrelinhas.<br />

A beleza<br />

Gonçalo Tavares<br />

Numa certa cidade, o arco-íris um dia apareceu e nunca mais foi embora. Durante um ano permaneceu<br />

no mesmo sítio do céu. Tornou-se aborrecido.<br />

Um dia, finalmente, o arco-íris desapareceu e o céu ficou cinzento escuro por completo. As crianças<br />

dessa cidade, excitadas, apontavam para o céu cinzento e gritavam uns para os outros: Olha, que bonito!<br />

TAVARES, Gonçalo. O senhor Brecht. Rio de Janeiro: Casa da Palavra, 2005.<br />

A seguir, apresentamos propostas de atividades de leitura que poderiam ser trabalhadas com os<br />

alunos, enfocando a distinção entre fato e opinião, o implícito no texto, a relação causa e consequência e o<br />

levantamento de hipótese.<br />

1) Refletindo sobre o que você leu sobre fato e opinião e utilizando o modelo de quadro apresentado a<br />

partir da leitura da fábula de La Fontaine, tente distinguir, no texto “A beleza”, o que é fato do que é<br />

opinião.<br />

(Ver quadro abaixo)<br />

17


2) Que opinião o texto expressa sobre o que seja beleza?<br />

A beleza está no que não é cotidiano, no diferente.<br />

3) Reflita sobre a relação de causa e consequência e diga o que é causa e o que é consequência em cada<br />

um dos parágrafos.<br />

1ºparágrafo – causa: O arco- íris ficou muito tempo no céu – consequência: tornou-se aborrecido<br />

2º parágrafo – causa: O arco-íris desapareceu e o céu ficou cinzento – consequência: as crianças acharam<br />

bonito.<br />

4) De acordo com a ideia expressa no texto, o que acontecerá, caso o céu permaneça cinzento escuro por<br />

completo durante muito tempo?<br />

Ele perderá o encanto para as crianças.<br />

Caderno de Apoio Pedagógico – 6° ano – abril de 2010.<br />

18<br />

O texto A beleza foi intencionalmente escolhido para mostrar que a complexidade<br />

independe de o texto ser mais ou menos extenso. Um texto curto, como o de Gonçalo<br />

Tavares, é prova disso, permitindo-nos trabalhar não só a implicitude, como também outras<br />

habilidades envolvidas no desenvolvimento da competência leitora.<br />

3. Gêneros do discurso<br />

Outra questão significativa quando se estrutura o trabalho de leitura é: por que a<br />

opção de trabalhar com gêneros do discurso? A resposta é direta: sem cumprir uma função<br />

comunicativa socialmente específica e relevante não há abordagem de texto que seja<br />

significativa para o aluno. Ao tomar, ainda, a frase, a oração ou o período como pontos de<br />

partida para o ensino de Língua Portuguesa, a instituição escolar aposta numa visão<br />

estrutural da língua, descolada de sua função social. Ao optar pelo trabalho com gêneros<br />

discursivos a aposta é a de aproveitar a interação do aluno com o mundo em que vive.<br />

Para além disso, a escola não deve ter por objetivo apenas trabalhar com os gêneros<br />

de que o aluno já se utiliza concretamente nas suas práticas sociais, mas ampliar seu<br />

repertório. Busca-se que ele vivencie, reflita, reproduza e produza outras práticas,<br />

construindo assim um caminho mais competente e produtivo de atuação na sociedade.<br />

Resumindo: trata-se de ampliar a capacidade comunicativa do aluno.


A escola não é o único lugar de acesso letrado, mas torna-se o lugar privilegiado para<br />

isso pela mediação do professor, pela interação com os colegas, por ser um lugar de<br />

reflexão sobre o mundo letrado. Em que situações sociais, sociocomunicativas, o aluno<br />

interage, ou seja, utiliza-se do que consideramos como aspecto funcional, discursivo, da<br />

língua? Em que momentos ele faz uso, de forma mais ou menos competente, da oralidade e<br />

da <strong>escrita</strong> em situações discursivas? Quando, por exemplo, ele informa, apela, seduz,<br />

instrui, relata, argumenta etc?<br />

Cabe ao professor, em sala de aula, estimular esses momentos, funcionando como<br />

mediador, no sentido de contribuir para ampliar a competência dos seus alunos nessas<br />

práticas discursivas.<br />

Gêneros do discurso, no pensamento de Bakhtin (1992), são modos de dizer sócio-<br />

historicamente reconhecidos, disponíveis, padronizados e aceitos, surgidos das<br />

necessidades de comunicação humana; circulando socialmente.<br />

Desse modo, o fluxo de gêneros é direcionado pelo uso social dos textos. Muitos<br />

gêneros aparecem e depois somem, só para atender a uma necessidade social. Um bom<br />

exemplo é o telegrama, outrora tão útil e, em tempos de internet, muitas vezes desconhecido<br />

pelos alunos. Exatamente por essa questão, segundo KOCH (2006), os estudiosos<br />

desistiram de empreender esforços no sentido de classificar e/ou listar os gêneros, até<br />

porque essa seria uma lista teoricamente infinita.<br />

A noção de gênero do discurso aqui trabalhada refere-se aos textos com que entramos<br />

em contato ao longo da vida e que possuem características próprias. São exemplos de<br />

gêneros do discurso: poemas, romances, contos, bate-papos, outdoors, cartas, e-mails,<br />

chats, telefonemas, piadas, vídeo-conferências, aulas, notícias de jornal etc.<br />

Ao estudar um texto, importa<br />

percebê-lo em suas características<br />

próprias e pela função social que o<br />

define. Um aspecto fundamental desse<br />

estudo é a observação do suporte em<br />

que o texto se concretiza.<br />

“Há suportes que foram elaborados tendo em vista a sua<br />

função de portarem ou fixarem textos. São os que passo<br />

a chamar de suportes convencionais. E outros que<br />

ocorrem como suportes ocasionais ou eventuais, que<br />

poderiam ser chamados de suportes incidentais, com<br />

uma possibilidade ilimitada de realizações na relação<br />

com textos escritos. Em princípio, toda superfície física<br />

pode, em alguma circunstância, funcionar como suporte.”<br />

MARCUSCHI (2002)<br />

19


20<br />

Os gêneros do discurso utilizam-se de diferentes suportes, que são os espaços físicos<br />

onde eles aparecem materializados. São exemplos de suporte textual: o livro, o computador,<br />

o celular, o folder, a folha da bula de remédio, a televisão, o jornal, por exemplo. Esses são<br />

suportes convencionais, segundo Marcuschi (2002), que também vê o que ele chama de<br />

suportes incidentais, tais como: o muro, como lugar das mensagens dos grafiteiros; o céu,<br />

para as mensagens da esquadrilha da fumaça; o corpo, como superfície para as tatuagens<br />

etc.<br />

A título de clareza didática, podemos nos valer da organização proposta por DOLZ e<br />

SCHNEUWLY (1996), anteriormente citada no CADERNO DE APOIO PEDAGÓGICO III/<br />

2010/ PROFESSOR.<br />

Capacidades de<br />

Linguagem Dominantes<br />

Refere-se à discussão de<br />

questões sociais<br />

controversas, exige<br />

sustentação, refutação e<br />

negociação nas tomadas<br />

de posição.<br />

Voltado à construção e<br />

transmissão de saberes,<br />

exige apresentação textual<br />

para organização das<br />

ideias e dos conceitos.<br />

Refere-se às instruções e<br />

prescrições de ações<br />

voltadas à regulação<br />

mútua de comportamento.<br />

Agrupamentos Gêneros Textuais<br />

ARGUMENTAR<br />

EXPOR<br />

INSTRUIR<br />

Editorial, carta de reclamação,<br />

artigo de opinião, ensaio<br />

argumentativo, debate regrado,<br />

resenha crítica...<br />

Conferência, palestra, resumo de<br />

texto expositivo, seminário, verbete<br />

de enciclopédia, comunicação oral,<br />

relatório científico...<br />

Receita, regulamento, regra de<br />

jogo, manual de instrução,<br />

regimento, mandamento...


Voltado à cultura literária<br />

ficcional e à recriação da<br />

realidade, caracteriza-se<br />

pela intriga no campo do<br />

verossímil.<br />

Refere-se à documentação<br />

e memorização de ações<br />

humanas que representam<br />

pelo discurso de<br />

experiências vividas<br />

situadas no tempo e no<br />

espaço.<br />

NARRAR<br />

RELATAR<br />

Lenda, romance, fábula,novela,<br />

biografia, conto de aventura, conto<br />

de fada, crônica literária, adivinha,<br />

piada, ficção científica, biografia<br />

romanceada, epopeia...<br />

Notícia, reportagem, anedota,<br />

caso, diário íntimo, testemunho,<br />

currículo, relato histórico,, de<br />

viagem e policial...<br />

O poema e o texto publicitário, numa determinada perspectiva, são gêneros. Na<br />

verdade, o quadro apresentado se propõe a tratar das sequências textuais, ou seja, de como<br />

a linguagem se estrutura em um dado momento da enunciação. Assim, pode-se ter um<br />

poema narrativo, um poema descritivo etc.<br />

O importante é observar que o que define o gênero é a sua função. Vejamos uma<br />

proposta de atividade dirigida aos alunos.<br />

Texto I<br />

Poema tirado de uma notícia de jornal<br />

João Gostoso era carregador de feira livre e morava no morro da Babilônia<br />

num barracão sem número<br />

Uma noite ele chegou no bar Vinte de Novembro<br />

Bebeu<br />

Cantou<br />

Dançou<br />

Depois se atirou na lagoa Rodrigo de Freitas e morreu afogado.<br />

BANDEIRA. Manuel. Libertinagem & Estrela da manhã. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2005.<br />

21


Texto II<br />

Homem morre com fome e sede em matagal de Teresina<br />

Josenal Cardoso tinha sintomas de depressão e saiu de casa na madrugada de sexta-feira.<br />

22<br />

O corpo de um homem foi encontrado em um matagal da Cerâmica Cil, zona rural de Teresina, no início<br />

desta tarde.<br />

Josenal Cardoso Ferreira, 57 anos, saiu de casa na última sexta pela madrugada rumo a Demerval<br />

Lobão (a 30 km de Teresina).<br />

O Instituto Médico Legal não identificou marcas de agressão. As suspeitas inicias da perícia são de que<br />

ele tenha morrido de fome e sede.<br />

Segundo o delegado Francisco Mesquita, Josenal chegou de São Paulo há cerca de 20 dias com sérios<br />

problemas de coluna e apresentava sintomas de depressão.<br />

Ele estava morando com o irmão, um cabo do Corpo de Bombeiros chamado Manoel Messias. A família<br />

não viu quando Josenal saiu e entrou no meio do mato. O corpo foi encontrado 6 km distante da casa onde<br />

ele morava.<br />

Compare os textos I e II e responda:<br />

1) Quais as semelhanças entre eles?<br />

Os textos se assemelham quanto ao tema e ao fato de ambos serem de base<br />

narrativa.<br />

2) Quais as diferenças?<br />

A forma e a finalidade dos textos são diferentes.<br />

Nayara Felizardo, especial para o Cidadeverde.com<br />

O título do poema mostra sua origem: uma notícia de jornal. Tirado de seu suporte de<br />

origem e estruturado na forma de poema, o fato perde seu caráter de efemeridade. Ao se<br />

trabalhar com as semelhanças e diferenças entre esses dois textos, busca-se chegar à<br />

função de cada um deles e, assim, perceber que o que define um gênero é a sua função,<br />

não a sua forma.<br />

Ao propor atividades de leitura, também é fundamental refletir sobre a natureza<br />

literária ou não literária do texto. Como se sabe, a linguagem literária é subjetiva e serve à<br />

expressão de realidade interior. É plurissignificativa, conotativa. A função emotiva, poética,<br />

aparece como dominante em poemas, romances, contos, crônicas, peças de teatro etc. Já a<br />

linguagem não literária é objetiva e serve à expressão de realidade exterior. Traz sentido


comum, denotativo. A função referencial aparece como dominante em textos informativos,<br />

jornalísticos, científicos, instrucionais etc.<br />

O interessante é que para distinguir um texto literário de um não literário há que analisar a<br />

função predominante em cada um, seu objetivo principal. Contudo, esses critérios de classificação<br />

não se sustentam numa relação de oposição, havendo textos híbridos, em que o literário e o não<br />

literário se misturam, mesmo dominados por uma função. Um exemplo disso seria a obra Os<br />

sertões, de Euclides da Cunha, em que o jornalístico, o científico e o subjetivismo poético se<br />

misturam de tal forma que dificultam a identificação de uma função predominante. Por outro lado, há<br />

ricos exemplos de recursos literários em propagandas.<br />

LINGUAGEM LITERÁRIA LINGUAGEM NÃO LITERÁRIA<br />

Sugere, insinua, evoca, conota. Diz, afirma, declara, denota.<br />

Tem a marca da subjetividade Tem a marca da objetividade,<br />

linguagem impessoal.<br />

Intenção estética, jogo entre forma e<br />

conteúdo, com vários recursos expressivos<br />

abertos a várias interpretações.<br />

Linguagem arte<br />

Palavra: matéria-prima<br />

Intenção utilitária, ênfase no conteúdo,<br />

com recursos expressivos voltados à<br />

informação objetiva.<br />

Linguagem utilitária<br />

Palavra: instrumento<br />

Outro conceito que precisa ficar bem claro é a diferenciação entre o verbal e o não<br />

verbal, retomando a noção de texto como unidade e sentido.<br />

O texto verbal é o que se utiliza de palavras, oralmente ou por escrito, para<br />

comunicar uma mensagem.<br />

O texto não verbal não se utiliza das palavras para comunicar; utiliza-se de outros<br />

meios comunicativos, como figuras, gestos, sons, objetos, cores...<br />

O sinal de trânsito, o apito do juiz numa partida de futebol, o cartão vermelho, o cartão<br />

amarelo, uma dança, os ícones de “não fume” ou de “silêncio”, o bocejo, a identificação de<br />

“feminino” e “masculino” por meio de figuras na porta do banheiro, as placas de trânsito, a<br />

dança, a mímica são exemplos de linguagem não verbal.<br />

23


24<br />

O texto pode ser misto, com elementos verbais e não verbais ao mesmo tempo,<br />

organizando-se para comunicar a mensagem, como acontece em conversas, em<br />

comunicados orais, em algumas charges, em cartoons, em anúncios publicitários.<br />

Na interação, os elementos verbais e os não verbais são importantes para que o<br />

processo de comunicação seja eficiente. Uma habilidade de leitura fundamental é “ler com o<br />

auxílio de material gráfico”. Observe as atividades abaixo.<br />

magnumfumeta.blogspot.com<br />

Situando o texto como uma charge, explore com o aluno o conteúdo crítico que pode<br />

ser lido. As perguntas apontam para os elementos gráficos que podem contribuir para a<br />

construção de sentidos.<br />

4. Objetivos da leitura. Enfim, para que lemos?<br />

É importante ressaltar que toda e qualquer atividade de leitura deve ter seu<br />

objetivo combinado com o aluno, previamente explicitado. E o ato de ler pode ter<br />

variados objetivos. Sugerimos que você diversifique as atividades tendo–os em vista. Veja<br />

como Isabel Solé nos ajuda nesse sentido.<br />

Os diferentes objetivos da leitura: Para que vou ler?<br />

Ler para obter uma informação precisa: leitura seletiva<br />

Ler para seguir instruções.<br />

Ler para obter uma informação de caráter geral.<br />

Ler para aprender.<br />

Ler para revisar um escrito próprio.<br />

Ler por prazer.<br />

Ler para comunicar um texto a um auditório.<br />

1) No texto ao lado, onde as pessoas estão?<br />

No quarto de dormir.<br />

2) O que elas estão fazendo?<br />

Conversando através do computador.<br />

3) Qual a relação entre as pessoas do texto?.<br />

Supõe-se que são um casal.<br />

4) Como você lê o conteúdo dos balões?<br />

Como um beijo de boa noite.<br />

Solé, Isabel.Estratégias de <strong>Leitura</strong>. Porto Alegre:ArtMed,1998.


Enfim, toda prática de leitura supõe a existência de um leitor ideal, aquele que se<br />

almeja formar. Para ilustrar, traçamos um perfil possível para esse leitor também possível.<br />

conversamos.wordpress.com<br />

conversamos.wordpress.com<br />

II. Escrita<br />

O leitor que queremos formar...<br />

- formula perguntas enquanto lê;<br />

- seleciona pistas de leitura nos textos;<br />

- constrói, avalia e reconstrói hipóteses;<br />

- compreende os implícitos;<br />

- pressupõe;<br />

- dialoga com outros textos;<br />

- percebe intenções e finalidades dos textos...<br />

Lê a palavra e o mundo...<br />

...e segue lendo na escola e pela vida.<br />

A prática da leitura, por si só, não garante o bom desempenho na produção <strong>escrita</strong>. É<br />

claro que o ato de ler contribui para tornar o aluno mais competente na <strong>escrita</strong>, mas o bom<br />

desempenho nessa modalidade só é garantido pelo constante exercício de escrever.<br />

<strong>Leitura</strong> e <strong>escrita</strong> exigem diferentes habilidades. Queremos dizer com isso que a leitura<br />

ajuda, mas só se aprende a escrever, escrevendo. Conforme Antunes (2003),<br />

“Se faltam as ideias, se falta a informação, vão faltar as palavras. Daí que nossa providência<br />

maior deve ser encher a cabeça de idéias, ampliar nosso repertório de informações e sensações,<br />

alargar nossos horizontes de percepção das coisas. Aí as palavras virão, e a crescente<br />

competência da <strong>escrita</strong> vai ficando por conta da prática de cada dia, do exercício de cada evento,<br />

com as regras próprias de cada tipo e de cada gênero de texto.”<br />

Lembremos que só escreve quem tem algo a dizer, e que dizer bem o que se tem a<br />

dizer é questão de prática, tanto de leitura quanto da própria <strong>escrita</strong>. Lembremos ainda que<br />

quem escreve, escreve para alguém e que esse outro para quem se escreve é o elemento<br />

definidor daquilo que se vai escrever e da forma como se vai fazê-lo.<br />

25


26<br />

O contato do aluno com textos escritos, formais ou informais, de diferentes gêneros<br />

discursivos, mais do que ao desenvolvimento da compreensão deve levá-lo à elaboração de<br />

seus próprios textos.<br />

Gostaríamos de ressaltar que como não existe um único modelo de textos orais,<br />

também não existe um único modelo de textos escritos: há textos formais orais e escritos e<br />

textos informais orais e escritos. Desse modo, para que os alunos saibam produzir textos<br />

escritos formais é necessário que tenham contato com esse modelo de textos.<br />

Outro aspecto a ser ressaltado na produção de um texto escrito são as etapas<br />

necessárias à sua produção: o planejamento, a <strong>escrita</strong> e a revisão.<br />

O planejamento deve considerar a escolha do tema, do gênero e do registro e<br />

os possíveis leitores.<br />

No ato da <strong>escrita</strong> importa a escolha das palavras e das estruturas frasais, a<br />

preocupação com a coerência...<br />

Na revisão, verifica-se se o texto está coerente, se o tema foi bem<br />

desenvolvido, se as estruturas sintáticas estão bem construídas, se a ortografia<br />

e a pontuação foram respeitadas, por exemplo. É hora, então, de reescrever o<br />

texto. E essa reescritura pode ser a primeira de muitas.<br />

Dessas três etapas, todas importantes, ressaltamos o momento da revisão/reescritura<br />

como fundamental para a qualidade da produção <strong>escrita</strong> do aluno. O professor deve investir<br />

nessa etapa, valorizar as emendas, as rasuras, as várias tentativas, as necessárias<br />

reescrituras do seu aluno. Vejamos um exemplo do que queremos ressaltar, nesta página<br />

de Guimarães Rosa, em Grande sertão: veredas, apresentada a seguir. Ela serve somente<br />

de ilustração, para afirmar que até os grandes mestres riscam e rabiscam.


http://afetivagem.blogspot.com<br />

Se os grandes escritores, como Guimarães Rosa, para chegar à melhor forma de dizer<br />

aquilo que pretendem, escrevem páginas e páginas, revisam, reescrevem, riscam e<br />

rabiscam por que não o fariam nossos alunos? E nós mesmos? Essa percepção do texto<br />

como seu e como objeto em construção é fundamental para a formação do aluno-leitor-autor<br />

que desejamos.<br />

Passo a passo, vejamos <strong>alguns</strong> pontos fundamentais no trabalho da <strong>escrita</strong>.<br />

Para que escrever?<br />

Para registrar.<br />

Para aprender a escrever.<br />

Para nos tornarmos mais competentes no uso dos textos<br />

em sociedade.<br />

Como escrever?<br />

Com objetivos claros compartilhados com os alunos.<br />

Partindo da <strong>escrita</strong> dos alunos.<br />

27


5. Para que escrever?<br />

28<br />

Todos nós já incorporamos o discurso de que a prática de <strong>escrita</strong> deve ser<br />

contextualizada. Muitas vezes essa questão é compreendida como uma forma de criar uma<br />

atividade que reproduza o uso social da <strong>escrita</strong>, contudo isso também pode ser algo artificial,<br />

meramente didático, sem significado para o aluno. Para que a atividade seja significativa, a<br />

contextualização é, antes de tudo, partilhar com o aluno o objetivo dessa <strong>escrita</strong>. O alunoautor<br />

deve encarar a <strong>escrita</strong> como um trabalho que exige planejamento. Planejar a <strong>escrita</strong><br />

com o aluno começa com essa pergunta – Por que escreveremos?<br />

Como sabemos que só dá para aprender a escrever... escrevendo, é ponto pacifico no<br />

discurso pedagógico que é preciso utilizar os gêneros na escola com a sua finalidade<br />

preservada. Só precisamos cuidar para que se evitem artificialismos exagerados. Não é<br />

porque há um bolo de aniversário na sala de aula que se deve estudar o texto receita. Não<br />

negamos que há momentos em que é necessário escrever para “aprender a escrever” e<br />

forçar um contexto real nesses momentos pode reforçar a didatização da <strong>escrita</strong>. A chave<br />

pode estar em dois pontos:<br />

- esclarecer os objetivos da <strong>escrita</strong>. Combinar com o aluno o “para quê” daquela<br />

atividade didática.<br />

- partir da revisão dos textos dos alunos. São os textos produzidos pela turma e a<br />

necessidade de melhorá-los que indicam os conteúdos das aulas. Os fatos gramaticais são<br />

úteis para a re<strong>escrita</strong> do texto, por isso seu estudo se torna significativo.<br />

Um exemplo pode ser o exercício a seguir - atividade gentilmente cedida por professora<br />

de língua portuguesa da EE Presidente Gronchi. Após orientar a produção de um texto<br />

argumentativo com o tema “O candidato ideal”, o professor verifica que um fato relevante<br />

nas produções é a repetição desnecessária de palavras, um problema clássico de coesão<br />

textual. A partir desse diagnóstico, o problema passa a ser o foco da próxima aula. Vários<br />

trechos dos textos são selecionados e aos alunos é lançada a questão: Que problema é<br />

recorrente nos trechos citados?


Para ilustrar, um dos trechos citados foi:<br />

“O melhor candidato é o candidato que tem características pessoais marcantes. O candidato que<br />

tem código de ética firme. O candidato que não se vende. O candidato que sabe lidar com as<br />

pressões do cargo. O candidato que não se deixa corromper pelo poder.”<br />

Os alunos chegam à conclusão de que problema se trata e são desafiados a “escrever<br />

para aprender a escrever” propondo possibilidades de re<strong>escrita</strong> do trecho, solucionando o<br />

problema.<br />

O professor interfere nessas tentativas, responde às dúvidas que surgem e, enfim, a<br />

turma chega à seguinte re<strong>escrita</strong>:<br />

“O melhor candidato é o que tem características pessoais marcantes e código de<br />

ética firme. Aquele que não se vende e sabe lidar com as pressões do cargo. Enfim, o<br />

homem que não se deixa corromper pelo poder.”<br />

A partir daí, o professor diz aos alunos que esse é um problema recorrente e que seria<br />

útil registrar o que fizeram na reescritura para que pudessem consultar e utilizar em outros<br />

momentos de <strong>escrita</strong>. A turma se volta, então, para a comparação entre o trecho original e<br />

sua re<strong>escrita</strong>.<br />

Podemos<br />

substituir a<br />

palavra por<br />

um<br />

pronome.<br />

Podemos somente retirar a palavra.<br />

“O melhor candidato é o candidato que tem características<br />

pessoais marcantes. O candidato que tem código de ética firme. O<br />

candidato que não se vende. O candidato que sabe lidar com as<br />

pressões do cargo. O candidato que não se deixa corromper pelo<br />

poder.”<br />

Podemos substituir a palavra por outra mais geral.<br />

Podemos acrescentar uma palavra que indique<br />

conclusão, no caso, “enfim”.<br />

Podemos juntar<br />

frases, usando um<br />

elemento de<br />

ligação, no caso o<br />

“e”.<br />

29


30<br />

Dessa atitude reflexiva mediada pelo professor surgem regras, que são registradas no<br />

caderno, utilizando a linguagem dos alunos e com o objetivo de municiar novas reescrituras.<br />

O professor pode e deve, dependendo do trabalho já realizado e da <strong>análise</strong> de sua<br />

turma, construir conceitos gramaticais nesses momentos de língua portuguesa em uso.<br />

Assim, o fato gramatical será recurso para a re<strong>escrita</strong> e não somente uma nomenclatura a<br />

ser memorizada, assim como as regras serão significativas e não meramente prescrições.<br />

No exercício realizado seria útil a noção de pronome e de conjunção, por exemplo.<br />

6. Planejando a <strong>escrita</strong><br />

A primeira exigência ao se planejar a <strong>escrita</strong> é que não se solicite ao aluno que<br />

produza texto de gênero discursivo com que não tenha entrado em contato, com que não<br />

esteja familiarizado o bastante para identificar-lhe função, partes estruturais, linguagem<br />

adequada, elementos constitutivos etc.<br />

Os critérios de elaboração do texto, que serão levados em conta na revisão e<br />

reescritura também já podem estar anunciados na proposta, que serve de guia. Num<br />

primeiro momento, o professor direciona a <strong>escrita</strong> e discute com os alunos passo a passo a<br />

proposta. Pouco a pouco, o aluno vai se tornando mais autônomo, interferindo mais na<br />

proposta e debatendo critérios que permitam responder à pergunta chave: Como escrever<br />

um bom texto, segundo o que foi proposto?<br />

Vejamos a proposta abaixo, que consta do CADERNO DE APOIO<br />

PEDAGÓGICO DE ABRIL DE 2010/9° ANO.<br />

A proposta surge a partir da leitura de uma entrevista com Nelson Mandela e<br />

logo o gênero é apontado: entrevista. O primeiro passo leva o aluno a se organizar para a<br />

produção. Afinal, não se escreve a partir do nada. O aluno é estimulado a ler para escrever.


No segundo passo, escolhido o entrevistado, o professor poderia mediar,<br />

refletindo com o aluno sobre a linguagem – em que registro se dará a entrevista?<br />

Mais formal ou mais coloquial? Perceba que foi utilizada a expressão ROTEIRO e não<br />

a usual “RASCUNHO”, tão pouco significativa para os alunos. No “fique ligado”, o<br />

aluno recebe mais uma dica para o sucesso de sua produção.<br />

No passo 3, temos o registro da entrevista ; no passo 4, a revisão orientada.<br />

31


32<br />

Dessa forma, o aluno está sendo guiado para construir a noção da <strong>escrita</strong> como um<br />

trabalho que exige organização e não tem nada de estático: é dinâmico!<br />

Na proposta anteriormente comentada, o tema não foi objeto de trabalho, somente<br />

sendo determinado pelo Professor. Observe a próxima proposta, presente no CADERNO DE<br />

APOIO PEDAGÓGICO DE JULHO DE 2010/ NONO ANO.<br />

Nela se orienta a produção de um diálogo após a leitura do texto “Boca de Luar”, de<br />

Carlos Drummond de Andrade. Para cada elemento presente – personagens, cenário,<br />

assunto – são feitas perguntas para ativar a criatividade do aluno. Uma das competências<br />

que o aluno deve desenvolver para progredir na <strong>escrita</strong> é a de elaborar perguntas que o<br />

ajudem a ter ideias sobre o tema e sobre os elementos do texto. Algumas vezes as<br />

perguntas podem ser elaboradas pelo professor; outras vezes pelos próprios alunos, que,<br />

construindo autonomia, vão assumindo esse papel. Nessa atividade a revisão do texto foi<br />

somente anunciada, devendo aluno e professor estabelecerem os critérios para que a<br />

re<strong>escrita</strong> se realize.


Para não esquecer! A produção de textos na escola...<br />

...DEVE<br />

- propor <strong>escrita</strong>s contextualizadas. Sempre perguntar: Para quem se escreve? Por que se<br />

escreve? Quem é o leitor? Qual o objetivo da <strong>escrita</strong>?<br />

- definir o gênero e ler vários textos, analisando-os e construindo modelos de <strong>escrita</strong>. A<br />

<strong>análise</strong> de textos permite construir esses modelos, embora a atividade de leitura, por si só,<br />

não baste para “aprender a escrever”.<br />

- Compreender o aluno como autor e a <strong>escrita</strong> como trabalho.<br />

- Adequar a linguagem ao interlocutor. Essa etapa é a do planejamento e precisa ser<br />

retomada na revisão/re<strong>escrita</strong>.<br />

7. Reescrevendo, corrigindo, revisando<br />

A correção de textos dos alunos é um trabalho que, em geral, é relatado pelos<br />

professores como infrutífero e desgastante. Se essa correção consiste em marcar os erros<br />

no texto do aluno, ou somente atribuir uma nota ou um conceito – bom, regular...o que<br />

isso significa? - com certeza será de pouca valia.<br />

Os alunos compreendem as “correções” feitas no texto? As marcações que o<br />

professor faz no texto em princípio deveriam estimular o diálogo do aluno com o que<br />

escreveu, deveria mediar a reescritura. Desse modo, ao marcar o texto a atitude deve ser de<br />

questionar, sinalizar problemas, comentar estruturas, indicar possibilidades...conversar<br />

sobre o texto.<br />

Para que essa interferência na <strong>escrita</strong> do aluno seja significativa, também deve ser<br />

combinada. E há várias formas de correção:<br />

- individualmente, face a face com o aluno, numa leitura atenta. Exige trabalho<br />

diversificado com a turma;<br />

- coletiva, com um texto no quadro sendo analisado pela turma;<br />

- em duplas ou pequenos grupos.<br />

Em qualquer das formas, é fundamental que os critérios apontem claramente o que<br />

deve ser observado. O professor pode estabelecer códigos para cada item a ser observado<br />

ou problema encontrado no texto.<br />

Outra estratégia é estabelecer etapas de correção:<br />

- etapa 1: compreensão geral<br />

33


- etapa 2: ortografia<br />

- etapa 3: pontuação, por exemplo.<br />

Observar todas as questões simultaneamente exige do aluno alto poder de<br />

concentração. Por isso também, dependendo da turma, é muito importante variar momentos<br />

individuais e coletivos.<br />

Outro ponto fundamental é que a revisão do texto deve levar em conta aspectos de<br />

conteúdo e forma, sem deixar de atentar para a proposta de <strong>escrita</strong>.<br />

Vejamos os textos abaixo – a atividade foi gentilmente cedida por professora da EE<br />

Presidente Gronchi. Ambos partiram da leitura da música “Os anjos” (Legião Urbana), com a<br />

seguinte proposta de <strong>escrita</strong>:<br />

“Como analisamos na leitura, a letra de “Os anjos” contém uma receita. Crie uma nova receita<br />

que anule os efeitos da que está na música.<br />

Critérios para construção do texto:<br />

- Tem que ser uma receita. Como é uma receita? Que partes a compõe? Que vocabulário<br />

costuma ser usado nesse texto? Como costuma ser estruturado o texto?<br />

- Tem que anular a receita da música. Como é a receita da música? Como seria o seu<br />

oposto?<br />

- Deve usar a língua portuguesa padrão informal, pois se dirige aos jovens em geral.”<br />

- Não se esqueça! Cuide da pontuação!”<br />

Música<br />

Os anjos<br />

Renato Russo<br />

Hoje não dá<br />

Hoje não dá<br />

Não sei mais o que dizer<br />

E nem o que pensar<br />

Hoje não dá<br />

Hoje não dá<br />

A maldade humana agora não tem nome<br />

Hoje não dá<br />

Pegue duas medidas de estupidez<br />

Junte trinta e quatro partes de mentira<br />

Coloque tudo numa forma<br />

Untada previamente<br />

Com promessas não cumpridas<br />

Adicione a seguir o ódio e a inveja<br />

Dez colheres cheias de burrice<br />

Mexa tudo e misture bem<br />

34<br />

E não se esqueça antes de levar ao forno temperar<br />

Com essência de espirito de porco<br />

Duas xícaras de indiferença<br />

e um tablete e meio de preguiça<br />

Hoje não dá<br />

Hoje não dá<br />

Está um dia tão bonito lá fora<br />

E eu quero brincar<br />

Mas hoje não dá<br />

Hoje não dá<br />

Vou consertar a minha asa quebrada<br />

E descansar<br />

Gostaria de não saber destes crimes atrozes<br />

É todo dia agora e o que vamos fazer?<br />

Quero voar pra bem longe mas hoje não dá<br />

Não sei o que pensar e nem o que dizer<br />

Só nos sobrou do amor<br />

A falta que ficou<br />

http://letras.terra.com.br/legiao-urbana/46964/


Texto do aluno 1<br />

“Seria mais gradavel adicionar uma pitada de amor e comprieção e mas gumas colheres de<br />

compaxão ao próximo.”<br />

Comentário: O aluno compreendeu que a receita deveria se opor à da música, mas não a desenvolveu,<br />

somente se atendo a responder ao que foi proposto.<br />

Observe a revisão do texto. O professor distribui uma tabela com os critérios estipulados pela proposta<br />

de <strong>escrita</strong> e assume o papel de leitor 1, o que já encaminha para a existência de outras leituras.<br />

“Seria mais gradavel adicionar uma pitada de amor e comprieção e mas gumas colheres de compaxão<br />

ao próximo.”<br />

Conforme o proposto, analise seu texto:<br />

Critério Comentário - leitor 1 Auto-avaliação<br />

do autor<br />

Tem que ser uma receita. Como é uma<br />

receita? Que partes a compõem? Que<br />

vocabulário costuma ser usado nesse<br />

texto? Como costuma ser estruturado o<br />

texto?<br />

Tem que anular a receita da música.<br />

Como é a receita da música? Como<br />

seria o seu oposto?<br />

Deve usar a língua portuguesa padrão<br />

informal, pois se dirige aos jovens em<br />

geral<br />

Você poderia ter pensado melhor na estrutura<br />

do texto. Só citou <strong>alguns</strong> ingredientes, mas<br />

não disse o modo de fazer, por exemplo.<br />

Reflita sobre o formato usual de uma receita.<br />

Que tal observar o que registrou no seu<br />

caderno em nossa ultima aula, quando lemos<br />

e analisamos várias receitas? Volte lá e<br />

verifique o que concluímos sobre a estrutura<br />

típica das receitas.<br />

Você realmente se colocou contrário à música,<br />

mas não desenvolveu a receita...Escreveu tão<br />

pouco...<br />

Você não usou a língua padrão.<br />

Observe:<br />

Gradavel - agradável<br />

Comprieção - compreensão<br />

Mas – aqui é o advérbio de intensidade mais<br />

(referente à quantidade) e não o mas<br />

conjunção, que dá ideia de oposição.<br />

Ex: Gosto de sorvete, mas não posso tomar.<br />

Quero mais tempo para a tarefa.<br />

Gumas - algumas<br />

Compaxão – compaixão<br />

Você escreveu tão pouco que não dá para<br />

perceber se pensou no seu leitor... Nem dá<br />

para avaliar se o texto [é informal...<br />

Não se esqueça! Cuide da pontuação!” Proponho a seguinte pontuação para<br />

seu texto:<br />

Seria mais agradável adicionar uma pitada de<br />

amor, compreensão e mais algumas colheres<br />

de compaixão ao próximo.<br />

35


Essa foi só a primeira etapa da revisão, devendo ser seguida da auto-avaliação<br />

do aluno e re<strong>escrita</strong> do texto.<br />

36<br />

8. Os “erros” de quem escreve<br />

Pontos de observação e algumas intervenções possíveis<br />

Sintaxe<br />

Alguns erros de sintaxe no texto que condenava um homem à morte transformaram<br />

esse homem em novo Rei.<br />

Esse novo Rei, que escapara por um triz sintático à pena de morte, decidiu utilizar<br />

outros meios para determinar o enforcamento do antigo rei. Evitando escrever uma única<br />

linha, falou. Porém, explicou-se mal. Os seus próprios homens, obedecendo às suas<br />

palavras, enforcaram-no.<br />

(Gonçalo Tavares, em O Senhor Brecht)<br />

Partindo do princípio, já expresso neste trabalho, de que só se aprende a escrever,<br />

escrevendo, a produção de texto do aluno deve ser encarada como um contínuo exercício,<br />

sempre sujeito a “erros”, no processo de constante aprendizado em que todos nos achamos<br />

envolvidos. Antes de abordar <strong>alguns</strong> problemas mais comuns observados na produção<br />

<strong>escrita</strong> do aluno, chamamos a atenção do professor para o relativismo que há na noção de<br />

erro e para o fato de que em toda produção do aluno deve-se levar em conta a adequação<br />

do texto à sua função, à situação de interação, ao interlocutor, enfim, às peculiaridades de<br />

cada gênero.<br />

Cabe ao professor, observando os trabalhos produzidos pelo aluno, levantar os<br />

problemas que prejudicam a qualidade da sua produção textual. A partir dos problemas é<br />

que o professor planejará suas aulas, as atividades, com o objetivo de melhorar a<br />

competência discursiva do aluno. Elegemos, para este enfoque, três aspectos gramaticais<br />

que comumente aparecem como problemas na produção do aluno: concordância, pontuação<br />

e coesão. Esses aspectos estão relacionados a problemas detectados na produção do<br />

aluno, vista sob a ótica da norma padrão.<br />

Vejamos cada um dos aspectos, através de atividades de produção textual.


Concordância<br />

Em termos gerais, o conceito de concordância implica a competência de relacionar as<br />

palavras e perceber nessa relação uma estrutura de hierarquia entre determinante e<br />

determinado. O trabalho com o texto em sala de aula deve levar o aluno a perceber esse<br />

aspecto gramatical, bem como a utilizá-lo significativamente em suas produções.<br />

É muito comum encontrar em textos de aluno problemas de concordância, tanto<br />

nominal, quanto verbal. Você deve reconhecer os exemplos abaixo:<br />

“Eu amo meu país, mas sei que tem muitos problema. Problema que agente não<br />

temos como resolver sozinhos. (...)” (aluno 1)<br />

“Pegue duas pitada de amor.<br />

5 tablete de sorte...” (aluno 2)<br />

Para resolver esses problemas, exercícios descontextualizados não são eficazes. O<br />

aluno pode resolver inúmeros exercícios gramaticais sobre concordância e não construir<br />

competência para, em seu discurso mais espontâneo, se valer desse conhecimento. O<br />

caminho é, ao invés de fazer exercícios sobre concordância, trazer para a sala de aula o<br />

uso desse conceito. Esse caminho pode ser construído a partir dos próprios textos dos<br />

alunos, no movimento constante de <strong>análise</strong> <strong>linguística</strong>, revisão e reescritura. Ou também, em<br />

atividades como a que se segue, devidamente contextualizadas.<br />

O lavrador e seus filhos<br />

Um lavrador, estando a morrer e querendo que seus filhos ganhassem experiência na<br />

agricultura, chamou-os e disse: “Meus filhos, logo vou deixar a vida, mas não vou deixá-los<br />

desamparados. Vocês procurem o que está escondido em nossas terras, e tudo<br />

encontrarão.”. Os filhos pensaram que, em algum lugar, ele havia enterrado um tesouro.<br />

Reviraram todo o solo da propriedade, depois da morte do pai, e não encontraram tesouro<br />

nenhum enterrado; mas a terra herdada, depois de lavrada desse jeito, lhes deu muito mais<br />

frutos.<br />

Moral da história: No trabalho é que o homem encontra o verdadeiro tesouro.<br />

ESOPO. Fábulas completas.Trad.SMOLKA, Neide. Rio de Janeiro, Moderna, 2005.<br />

37


Atividade – A fábula traz como personagens um lavrador e seus filhos. Ao aluno será<br />

solicitado que reescreva o texto imaginando como personagens um lavrador e apenas um<br />

filho e fazendo as alterações necessárias.<br />

Atividades como esta, isoladamente, não propiciarão melhor desempenho do aluno,<br />

quanto ao aspecto enfocado, devendo ocorrer com regularidade, dentro de um processo de<br />

trabalho que inclua muita leitura e muita produção textual.<br />

38<br />

Pontuação<br />

O trabalho com o conceito de “pontuação” vai muito além do mero reconhecimento<br />

dos sinais de nossa língua e da sua relação com a entonação. A pontuação tem<br />

motivação sintática e valor expressivo, contribuindo para a construção dos sentidos do<br />

texto. Seus sinais não são meramente “separadores” de partes do texto.<br />

A importância da pontuação<br />

Um homem rico estava muito mal, agonizando. Pediu papel e caneta. Escreveu assim:<br />

“Deixo meus bens à minha irmã não a meu sobrinho jamais será paga a conta do padeiro<br />

nada dou aos pobres” .<br />

Morreu antes de fazer a pontuação. A quem deixava ele a fortuna?<br />

Eram quatro concorrentes: o sobrinho, a irmã, o padeiro e os pobres da cidade.<br />

1) O sobrinho fez a seguinte pontuação:<br />

Deixo meus bens à minha irmã? Não! A meu sobrinho. Jamais será paga a conta do padeiro.<br />

Nada dou aos pobres.<br />

2) A irmã chegou em seguida. Pontuou assim o escrito:<br />

Deixo meus bens à minha irmã. Não a meu sobrinho. Jamais será paga a conta do padeiro.<br />

Nada dou aos pobres.<br />

3) O padeiro pediu cópia do original. Puxou a brasa pra sardinha dele:<br />

Deixo meus bens à minha irmã? Não! A meu sobrinho? Jamais! Será paga a conta do<br />

padeiro. Nada dou aos pobres.


4) Aí, chegaram os descamisados da cidade. Um deles, sabido, fez esta interpretação:<br />

Deixo meus bens à minha irmã? Não! A meu sobrinho? Jamais! Será paga a conta do<br />

padeiro? Nada! Dou aos pobres.<br />

http://www.luso-poemas.net (Circulando na internet)<br />

Atividade – Apresentar o texto para o aluno, sem a parte em que cada concorrente<br />

apresenta a pontuação que lhe interessa, e pedir que ele pontue o que o homem rico<br />

escreveu, de modo que a fortuna fique para<br />

1) o sobrinho<br />

2) a irmã<br />

3) o padeiro<br />

4) os pobres<br />

Uma outra estratégia que leva a bons resultados no domínio da adequada pontuação<br />

de textos é a de apresentar ao aluno, com regularidade, textos sem qualquer sinal de<br />

pontuação, para que ele vá pontuando, à medida que o professor vá fazendo a leitura<br />

expressiva do texto dado. Após isso, discutir as alternativas de pontuação sugeridas pelos<br />

alunos e compará-las com a pontuação original do texto é também boa reflexão. Reiteramos<br />

que o contínuo exercício resulta em crescente competência do aluno.<br />

O professor deve levar em conta o caráter flexível da pontuação. Naqueles casos em<br />

que o sentido fica preservado, pode-se considerar a pontuação uma questão de estilo.<br />

Coesão textual<br />

Ressaltamos a importância que tem para a competência leitora a compreensão dos<br />

elementos que constituem a textualidade, ou seja, aqueles que constroem a articulação<br />

entre as diversas partes de um texto, ou seja, a coesão. Esses mecanismos são<br />

fundamentais não só para a leitura e a compreensão de textos como também para sua<br />

produção.<br />

39


40<br />

A coesão ou conectividade é a ligação, o nexo sequencial que se estabelece entre<br />

as partes de um texto. São elementos coesivos:<br />

de natureza gramatical - pronomes, advérbios, elementos de subordinação, e<br />

coordenação, ordem dos vocábulos e orações, concordância nominal, concordância<br />

verbal;<br />

de natureza lexical - sinônimos, antônimos, repetições, hiperônimos (termos mais<br />

gerais), hipônimos ( termos mais específicos).<br />

A coesão sequencial, aparente ou não, é um dos requisitos fundamentais para a<br />

construção de qualquer texto, em qualquer função. Há que se saber estabelecer relações<br />

entre partes de um texto, identificando repetições ou substituições que contribuem para a<br />

continuidade. Há que se perceber os elementos que garantem a textualidade e identificar as<br />

relações de coerência (lógico-discursivas) estabelecidas no texto.<br />

Sugestão de atividade – Uma das exigências é que o aluno vá sendo levado a entenderas<br />

partes estruturais de um texto: orações, períodos, parágrafos, versos, estrofes...<br />

Lembremos que uma leitura mais efetiva resulta da percepção das conexões<br />

estabelecidas pelos conectivos e anafóricos, na construção do texto. Assim, a melhor<br />

estratégia para levar os alunos a perceberem, compreenderem e utilizarem adequadamente<br />

os elementos coesivos é observá-los em funcionamento nos textos que lhes são dados para<br />

leitura.<br />

Nos fragmentos de texto a seguir, podem-se identificar elementos de coesão cujo<br />

funcionamento, relações que estabelecem, devem ser comentadas com os alunos.<br />

[...]<br />

Não é que eu ame apesar<br />

Do absurdo de amar<br />

Mas justamente<br />

Porque é absurdo sem par<br />

(In Sábios costumam mentir, composição de João Bosco/ Antônio Cícero / Waly Salomão)


O Xá do Blá-Blá-Blá<br />

Era uma vez, no país de Alefbey, uma triste cidade, a mais triste das cidades, uma<br />

cidade tão arrasadoramente triste que tinha esquecido até seu próprio nome. Ficava à<br />

margem de um mar sombrio, cheio de peixosos – peixes queixosos e pesarosos, tão<br />

horríveis de se comer que faziam as pessoas arrotarem de pura melancolia, mesmo quando<br />

o céu estava azul.<br />

Ao norte dessa cidade triste havia poderosas fábricas nas quais a tristeza (assim me<br />

disseram) era literalmente fabricada, e depois embalada e enviada para o mundo inteiro, que<br />

parecia sempre querer mais. Das chaminés das fábricas de tristeza saía aos borbotões uma<br />

fumaça negra, que pairava sobre a cidade como uma má notícia.<br />

E nas entranhas da cidade, atrás de uma velha zona de edifícios caindo aos pedaços,<br />

que mais pareciam corações partidos, vivia um garoto feliz, chamado Haroun, filho único de<br />

Rashid Khalifa, o contador de histórias, cuja alegria era famosa em toda aquela infeliz<br />

metrópole. [...] Haroun foi criado numa casa onde, em vez de tristeza e rugas na testa, havia<br />

o riso fácil do pai e a voz doce da sua mãe cantando canções que voavam pelo ar.<br />

Foi então que alguma coisa deu errado. [...]<br />

RUSHDIE, Salman. Haroun e o Mar de Histórias. São Paulo: Companhia das Letras, 2010.<br />

Outras atividades sugeridas:<br />

O professor pode apresentar pequenos textos sem <strong>alguns</strong> elementos coesivos,<br />

para que o aluno perceba as falhas relacionais e como preenchê-las.<br />

Apresentar à turma, produções textuais de alunos, cujos problemas de coesão<br />

comprometam a coerência do texto, buscando junto à turma as alternativas de<br />

reescritura das partes com problemas.<br />

Um problema recorrente já apresentado neste trabalho e que pode encontrar<br />

solução com a estratégia apresentada acima é o de produções em que a<br />

repetição de palavras compromete a qualidade do texto.<br />

41


42<br />

Muito da coerência de um texto resulta do adequado funcionamento dos elementos<br />

coesivos. Mais do que isso, porém, resulta do diálogo entre as ideias expostas no texto,<br />

entre as suas partes; está na interrelação de sentido e na interdependência semântica das<br />

partes com o todo. Está, ainda, na linguagem adequada à função de um texto, ao seu<br />

propósito comunicativo, ao receptor desse texto.<br />

Para que ocorra coerência textual é necessário, então, que as ideias nele expostas<br />

dialoguem também com os fatores externos (diálogo com o mundo). Neste caso, como<br />

aponta KOCH (2006), muitas vezes a coerência vai exigir o conhecimento de mundo do<br />

leitor. Observe o texto abaixo:<br />

ozeroeoinfinito.blogspot.com<br />

Percebe-se que, para entender a mensagem do texto publicitário acima, é necessário<br />

que ativemos nosso conhecimento de mundo. Neste contexto, identificar a imagem à direita<br />

– Gandhi - e saber quem foi essa grande figura da independência da Índia. Feito isso,<br />

entenderemos o sentido do texto: se com sandálias esse homem caminhou 360 km para<br />

libertar o povo do seu país, imagine... o que ele faria, com tênis NIKE!<br />

Com esse texto como exemplo, reafirmamos que, muitas vezes, a coerência não<br />

está no texto, mas fora dele, ou seja, nos conhecimentos que o leitor tem de mundo e<br />

que poderão ser ativados no momento da leitura.


III. Oralidade<br />

A modalidade <strong>escrita</strong> continua dominando a prática de ensino de língua. Esse domínio<br />

maior da leitura e da <strong>escrita</strong> não seria problema, se não excluísse quase por completo as<br />

práticas de oralidade, como se essas não contribuíssem para ampliar a capacidade de<br />

interação do aluno, em seu diálogo com o mundo.<br />

Entre os equívocos que relegam a oralidade a segundo plano no ensino de língua estão<br />

a visão da fala como lugar privilegiado para violação das regras da gramática e a crença<br />

ingênua de que os usos orais da língua estão tão ligados à vida, que não precisam ser<br />

matéria de sala de aula. O texto falado somente como ponto de partida para se chegar à<br />

produção <strong>escrita</strong> é mais uma forma de privilegiar a <strong>escrita</strong> em detrimento da fala.<br />

Precisamos, como ponto de partida para uma nova prática, reconhecer que oralidade e<br />

<strong>escrita</strong> são duas modalidades da língua, com semelhanças, por fazerem parte de um mesmo<br />

sistema, e diferenças.<br />

Algumas diferenças e semelhanças entre <strong>escrita</strong> e fala<br />

Ambas servem à interação verbal<br />

As condições de produção e recepção são diferentes.<br />

Na fala, o interlocutor está presente no No ato da <strong>escrita</strong>, não ocorre essa<br />

ato da produção.<br />

simultaneidade, o que exige cuidados em prol<br />

da clareza.<br />

A fala, em situação de diálogo, é mais Como será fixada, permite re<strong>escrita</strong>, correção,<br />

imediata.<br />

planejamento.<br />

A <strong>escrita</strong> não é sempre formal, nem a fala é sempre informal: ambas são dependentes do<br />

seu contexto de uso.<br />

As graduações – variantes regionais, sociais, jargões, diferentes usos em diferentes<br />

situações – ocorrem tanto na fala como na <strong>escrita</strong>.<br />

43


44<br />

Ao chegar à escola, o aluno já vem com uma competência para o uso da língua<br />

materna. Em sala de aula, a função é ampliar essa competência, desenvolver a capacidade<br />

de comunicação do aluno pela utilização ampla das possibilidades que a língua lhe permite,<br />

estimulando a reflexão sobre variação <strong>linguística</strong>, sobre adequações de uso para diferentes<br />

situações e contra os preconceitos relacionados ao uso coloquial da fala.<br />

MARCUSCHI, Luiz Antônio. Produção textual, <strong>análise</strong> de gêneros e compreensão. São Paulo: Parábola<br />

Editorial, 2008.<br />

É fundamental que os diferentes gêneros estejam na sala de aula de língua portuguesa,<br />

por isso o quadro acima pode nos auxiliar. Atente para o fato de que há uma multiplicidade<br />

de gêneros afeitos às práticas de <strong>escrita</strong>, mas também outros tantos gêneros afeitos às<br />

práticas orais.


Sabemos que o trabalho com a oralidade não está completamente ausente da sala de<br />

aula. No entanto, quando trabalhada, os resultados não são devidamente considerados para<br />

efeito de avaliação do desempenho do aluno. Negligenciar a oralidade e trabalhá-la como<br />

um item de menor importância tem sido a regra geral. Por que, por exemplo, dar importância<br />

somente ao texto escrito como suporte para a apresentação dos trabalhos a serem<br />

avaliados? Num ambiente de interação <strong>linguística</strong>, por que não dar oportunidade de o aluno<br />

apresentar e defender oralmente os seus trabalhos em debates, sendo esses momentos<br />

avaliados com o mesmo peso dado à produção <strong>escrita</strong>?<br />

As práticas de retextualização do oral para o escrito e vice-versa, as apresentações<br />

orais de trabalhos, os debates, que ocorrem algumas vezes em sala de aula, por exemplo,<br />

não dão conta nem mesmo do que os PCN apontam e sugerem sobre a importância do<br />

trabalho com a modalidade oral no processo de inclusão social dos alunos.<br />

Ressaltamos que as práticas da modalidade oral devem levar em conta a familiaridade<br />

que o aluno tem com os gêneros discursivos e a adequada gradação com que levamos cada<br />

aluno a experimentar os gêneros que ainda não fazem parte de seu cotidiano.<br />

A língua oral em situações formais de comunicação deve estar presente em sala de<br />

aula. O aluno deve ter a oportunidade de recepção de discursos orais mais formais como os<br />

dos jornais televisivos. Segundo Ramos (1997), “é necessário que o aluno tenha acesso à<br />

linguagem dessas pessoas, quer por contato direto, quer por vídeos e textos escritos dos<br />

mais diferentes tipos.”. O professor, como mediador, deve fazer com que o aluno perceba a<br />

diferença entre esse tipo de registro e aqueles a que ele está exposto nas suas interações<br />

mais informais.<br />

É preciso reconhecer a escola, a sala de aula, como espaço de interlocução.<br />

Isso precisa ser rotina, ter continuidade. Entre os objetivos mais específicos do trabalho com<br />

a oralidade estariam aqueles capazes de fazer o aluno<br />

- perceber as diferenças de registros que existem na modalidade oral;<br />

- aperfeiçoar a oralidade, ampliando sua capacidade de comunicação em diferentes<br />

gêneros discursivos;<br />

- desenvolver a criticidade, a capacidade de argumentação, o respeito à opinião do<br />

outro;<br />

- aprimorar o exercício do diálogo.<br />

45


46<br />

Sugestões de atividades<br />

Uma atividade interessante de trabalho com a oralidade seria a simulação pelo<br />

aluno de jornais televisivos, usando a linguagem como aparecem na televisão.<br />

Essa atividade pode ser desdobrada em prática de recepção crítica, como por<br />

exemplo, comparar as várias formas como uma mesma notícia aparece<br />

veiculada em diferentes canais; reconhecer assunto e tratamentos diversos;<br />

formar grupos de discussão sobre um fato veiculado e sobre essas variadas<br />

formas de veiculação etc.<br />

Organizar, dentro do horário das aulas, seja na sala de aula, na sala de leitura<br />

ou em outro espaço propício:<br />

Hora de contar – em que o aluno conte histórias, anedotas, casos, conte<br />

fatos do seu dia a dia, resgatando as narrativas orais que estão na origem<br />

das narrativas.<br />

Roda de leitura com textos literários – poemas, narrativas, crônicas etc. Aqui<br />

vale o ler por prazer, porque os textos são bonitos, interessantes, intrigantes<br />

e porque é necessário construir repertórios de textos, ampliar os horizontes<br />

da leitura. Nesse momento, o professor pode ler para a turma, pois, muitas<br />

vezes, no começo dessa prática, o aluno pode não conseguir, em suas<br />

leituras, explorar adequadamente a pontuação e não trabalhar a entonação,<br />

dando um aspecto “quebrado” à leitura. Os próprios alunos reclamam dos<br />

colegas, não é? Então, essa é uma boa hora para experimentar “modos de<br />

ler” um texto e oferecer ao aluno a leitura do professor como uma referência<br />

do quanto o texto ganha de sentido, quando lido adequadamente (leitura<br />

expressiva).<br />

Hora da conversa – em que o aluno converse e discuta sobre temas por ele<br />

sugeridos e temas atuais, que ampliem seu conhecimento de mundo.


A partir da leitura de jornais, pode-se solicitar que o aluno selecione as notícias<br />

cujos conteúdos irá narrar oralmente para a turma.<br />

Propor ao aluno atividades de fala planejada, em que se trabalhe a oralidade<br />

com uso do suporte escrito. Exemplos: pronunciamento de um discurso;<br />

exposição de um trabalho de pesquisa, a partir de registro ou roteiro;<br />

apresentação e defesa de trabalho escrito.<br />

É preciso levar o aluno a se exercitar nos discursos mais formais e, nesse<br />

exercício, perceber suas peculiaridades. A sugestão é a de lhe proporcionar<br />

oportunidade de recepção, por exemplo, de palestras, de pronunciamentos, de<br />

debates, de programa de entrevistas, de jornais televisivos, com a mediação<br />

do Professor chamando a atenção para as peculiaridades desses discursos. A<br />

posterior simulação pelo aluno dessas situações de uso mais formal<br />

complementaria a atividade.<br />

IV. MODOS DE LER, MODOS DE ESCREVER<br />

Agora, após tratarmos da leitura e da <strong>escrita</strong>, convidamos você para um passeio por<br />

<strong>alguns</strong> gêneros discursivos. Essa viagem não se pretende definitiva, somente inicia um<br />

caminho e retoma algumas orientações já anunciadas nos tópicos anteriores.<br />

A primeira orientação é que não se solicite ao aluno que produza texto de gênero<br />

discursivo com que ele não tenha entrado em contato, com que não esteja familiarizado o<br />

bastante para identificar-lhe função, partes estruturais, linguagem adequada, elementos<br />

constitutivos etc.<br />

Ao trabalhar os diferentes gêneros do discurso, o aluno se apropria de suas<br />

peculiaridades, o que irá auxiliá-lo na sua competência leitora e na produção dos seus<br />

textos. Por esse motivo, elegemos <strong>alguns</strong> desses gêneros – já que não poderíamos<br />

apresentá-los todos, pois são quase infinitos – para sugerir uma abordagem em sala de<br />

aula.<br />

47


48<br />

Dos gêneros que elegemos, apresentamos aqui apenas características básicas que<br />

julgamos ser importante que o aluno reconheça na leitura e utilize na sua produção <strong>escrita</strong>.<br />

O conto<br />

O conto é um gênero da ordem do narrar. Em linhas gerais, o conto consiste em uma<br />

sequência narrativa com algumas características bem definidas. Na sucessão de fatos,<br />

enfatiza-se a ação. Os traços característicos de personagens não vão além daqueles que os<br />

representem como agentes dos fatos narrados. A sequência narrativa desenrola-se até<br />

atingir um clímax que prepara o desenlace.<br />

Sugerimos iniciar a abordagem desse gênero com algumas perguntas ao aluno: O<br />

que é um conto? Você conhece algum? Qual?<br />

Depois disso, um conto clássico poderia ser lido e, a partir dele, seriam elencadas<br />

suas características:<br />

É um gênero discursivo de base narrativa<br />

É mais breve que um romance<br />

Possui um número pequeno de personagens, um único conflito e tempo e<br />

espaço reduzidos<br />

Sugestão de atividade: usando o esquema básico que se segue o aluno lerá o conto “Os<br />

homens que se transformavam em barbantes”, de Ignácio de Loyola Brandão, reconhecendo<br />

nele os elementos de um texto de base narrativa.<br />

Esquema básico abaixo para leitura de um texto de base narrativa<br />

Quem narra a história?<br />

O quê? Situação inicial<br />

Conflito gerador<br />

Clímax<br />

Desfecho<br />

Quem? Personagem principal<br />

Personagem(ns) secundário(s)<br />

Onde?<br />

Quando?


Os homens que se transformavam em barbantes<br />

Havia uma cidade, grande, desenvolvida. As pessoas que moravam lá eram saudáveis,<br />

simpáticas e alegres. Não me lembro o nome da cidade, porque eu tinha quinze anos quando passei<br />

por ela, levado por meu pai. Nessa época, não me preocupava com o nome, mas sim com os lugares<br />

propriamente.<br />

Acontece que, certo dia, um habitante desta cidade saiu de casa, pela manhã, dirigindo-se<br />

alegremente ao emprego. Fez todas as coisas de praxe. Cumprimentou os vizinhos, o barbeiro da<br />

esquina, o vendeiro, os colegas no ponto de ônibus, agradeceu ao motorista, ao ascensorista,<br />

sentou-se em sua mesa.<br />

Nesse dia, no fim do expediente, o homem notou que seu pulso esquerdo parecia mais fino.<br />

“Bobagem. Impressão. Acho que estou cansado demais.” Foi para casa, jantou, viu telenovela,<br />

dormiu. Na manhã seguinte, o pulso tinha se afinado mais. E suas canelas pareciam de criança.<br />

Chamou a mulher. Ela ficou tão impressionada, que o homem se arrependeu de ter mostrado. Não<br />

havia dor, apenas fraqueza.<br />

Partiu para o emprego. Contente, cumprimentando as pessoas e agradecendo ao motorista e<br />

ao ascensorista. No meio da tarde, porém, não conseguiu trabalhar. O pulso estava fino e dobravase.<br />

Maleável, sem consistência. O homem, envergonhado, puxou a manga da camisa. O mais que<br />

pode, para que os colegas não vissem.<br />

Mas viram. Porque o homem tinha o corpo transformado. A cabeça, única coisa normal, caiu<br />

sobre a mesa. O torso não era mais grosso que um lápis, suas pernas e braços, finos como cordéis.<br />

Mas ele estava lúcido, coerente, o cérebro não tinha sido perturbado. Além do impacto, e da<br />

surpresa ante o estranho, o homem continuava o mesmo. Levado para casa, chamaram o médico. E<br />

o médico chamou outro médico. Porque:<br />

– Não é o primeiro. É o terceiro, nesta semana.<br />

Os jornais noticiaram o fato e as notícias trouxeram à luz novos casos. Pela cidade inteira,<br />

acontecia aquilo:, as pessoas se adelgaçavam, tornavam-se frágeis. Em pouco tempo, outro fato<br />

surgiu, ao lado dos homens que se transformavam em barbantes. Eram os que se transformavam em<br />

vidro. Tinham que ter muito cuidado, ao andar pela rua, ao trabalhar, porque podiam se quebrar com<br />

qualquer batida. Vez ou outra, os homens de vidro se desfaziam. Em plena rua, à vista de todos.<br />

Como o vidro blindex que se estilhaça por inteiro.<br />

49


Aquela população alegre, saudável, descontraída, começou a viver apavorada. Sem saber se,<br />

a qualquer momento, o vírus (seria vírus?) podia atacar. Mudando a pessoa em vidro ou barbante.<br />

Muitos começaram a se mudar, indo para cidades distantes. A secretaria de saúde analisou o ar, a<br />

água, tudo, em busca das causas. Mas o ar era bom, não poluído. E as águas vinham de nascentes<br />

puras ou de poços artesianos límpidos. Pensou-se que algumas pessoas podiam estar colocando<br />

elementos venenosos na comida ou em caixas de água. Investigações nada concluíram.<br />

E até hoje, nada se sabe. A cidade parece estar se habituando à possibilidade de<br />

eventualmente alguém se transmutar. Não causa mais surpresa quando um barbante é levado pelo<br />

vento ou, em dias de chuva, é tragado pela enxurrada. Ou quando os vidros se liquefazem, no<br />

momento em que uma pessoa vira a esquina ou dá um esbarrão noutra. A população se acostumou.<br />

Parece que o homem se adapta às piores condições, conformando-se com os acontecimentos.<br />

Naquela cidade, tudo é muito frágil, a vida humana tem a espessura de um fio. Ou é delgada como<br />

um vidro. Mas isto vai se constituindo na normalidade.<br />

50<br />

BRANDÃO, Ignácio de Loyola. Cadeiras proibidas. São Paulo: Global, 1998.<br />

Outras atividades que podem ser propostas a partir do gênero discursivo CONTO:<br />

Reescritura do texto, mudando o foco narrativo, situações ou o desfecho; adicionando<br />

personagens, transformando o discurso direto em indireto e vice-versa etc.<br />

Reconhecer em um conto lido, se houver, as relações de causa e conseqüência, as<br />

estabelecidas por outros elementos coesivos, os elementos que evitam repetições e<br />

garantem a continuidade do texto, os fatos e as opiniões sobre os fatos.<br />

Nem todos os textos desse gênero discursivo possuem as características dos contos<br />

mais tradicionais. São os contos não canônicos, que devem também ser lidos e comentados<br />

em sala de aula, comparando-os aos clássicos. Guimarães Rosa, Julio Cortázar, Clarice<br />

Lispector são exemplos de autores que, muitas vezes, subvertem o esquema do conto<br />

tradicional.<br />

O texto abaixo é um exemplo de conto não canônico. Observe como ele subverte os<br />

elementos da narrativa e usa a pontuação de forma expressiva.


Teoria do caranguejo<br />

Julio Cortázar<br />

Tinham construído a casa no limite da selva, orientada para o sul evitando assim que a<br />

umidade dos ventos de março se somasse ao calor que a sombra das árvores atenuava um pouco.<br />

Quando Winnie chegava<br />

Deixou o parágrafo no meio, empurrou a máquina de escrever e acendeu o cachimbo. Winnie.<br />

O problema, como sempre, era Winnie. Quando tratava dela a fluidez se coagulava numa espécie de<br />

Suspirando, apagou numa espécie de, porque detestava as facilidades do idioma, e pensou<br />

que não poderia continuar trabalhando até depois do jantar; as crianças logo iam chegar da escola e<br />

ele teria que preparar o banho, fazer a comida e ajudá-las nos seus<br />

Por que no meio de uma enumeração tão simples havia como um buraco, uma impossibilidade<br />

de continuar? Era incompreensível, pois tinha passagens muito mais árduas que se construíam sem<br />

nenhum esforço, como se de algum modo já estivessem prontas para incidir na linguagem.<br />

Obviamente, nesses casos o melhor era<br />

Largando o lápis, pensou que tudo se tornava abstrato demais; os obviamente os nesses<br />

casos, a velha tendência a fugir de situações definidas. Tinha a impressão de estar se afastando<br />

cada vez mais das fontes, de organizar quebra-cabeças de palavras que por sua vez<br />

Fechou abruptamente o caderno e saiu para a varanda.<br />

Impossível deixar essa palavra, varanda.<br />

*Triunfo, Madri, nº 418, 6 de junho de 1970<br />

A história em quadrinhos - (HQs)<br />

As HQs também são uma narração. Nelas as narrativas se dão numa sequência de<br />

pequenos quadros desenhados, com ou sem língua <strong>escrita</strong>. Via de regra, o texto em língua<br />

<strong>escrita</strong> vem, nos quadros, circunscrito por um balão, marca do discurso direto nas histórias<br />

em quadrinhos, a expressar as falas dos personagens. Emoções, sentimentos dos<br />

personagens aparecem expressos, fora ou dentro de balões, através de recursos gráficos<br />

específicos. Sons, por exemplo, aparecem representados de forma onomatopaica (plof,<br />

bang, crash, ring, ping etc). A letras e palavras, por vezes, aparecem desenhadas em outro<br />

tipo, conforme o efeito de sentido que se pretenda. Pensamentos vêm em balões diferentes<br />

dos desenhados para expressar fala. São recursos, mecanismos, elementos da linguagem<br />

própria das HQs.<br />

51


52<br />

O texto seguinte apresenta uma pequena história em quadrinhos (“tira”). São as<br />

famosas HQs, que tanto nos deliciam quando as vemos/lemos em jornais, em revistas ou<br />

nos nossos queridos gibis. A linguagem caracteriza-se, principalmente, pela articulação<br />

entre elementos das linguagens verbal e não verbal apresentados numa sequência de<br />

quadros.<br />

QUINO. Toda Mafalda. São Paulo: Martins Fontes, 1993.<br />

O professor deve levar o aluno a observar, com atenção, na sequência apresentada<br />

nos cinco quadrinhos da tira da Mafalda,<br />

a) a função do relógio, que aparece em todos os quadrinhos;<br />

b) a mudança de cor de fundo dos dois últimos quadrinhos;<br />

c) os recursos utilizados, nos dois últimos quadrinhos, para indicar que o pai de<br />

Mafalda não conseguiu dormir e acabou acordando sua esposa, que dormia a seu<br />

lado;<br />

d) o que indica que a personagem Mafalda fala de fora do quarto dos pais.<br />

Ao trabalhar esses aspectos na leitura do texto, o professor já estará dando ao aluno<br />

os elementos para entender a linguagem desse gênero discursivo.<br />

Pode-se propor uma continuidade da tira, utilizando os recursos das linguagens verbal<br />

e não verbal desse gênero de texto. Veja algumas possibilidades:<br />

– Uma reação da mãe por ter sido acordada de repente.<br />

– O pai indo ao quarto da filha e acordando-a, para esclarecer com ela a questão.<br />

– A Mafalda reclamando, lá do quarto dela, porque o pai a acordou.<br />

São apenas sugestões, possibilidades. Você pode criar sua própria sequência.


A notícia de jornal<br />

Uma notícia é uma narração ordenada, objetiva e clara de fatos ou de situações de<br />

interesse público, sem comentários nem apreciações.<br />

Na estrutura desse gênero discursivo, podem-se perceber três partes básicas:<br />

- título - deve resumir a notícia no menor número possível de palavras e atrair o leitor<br />

para ler a notícia. Pode ser antecedido do assunto.<br />

- cabeça da notícia ou lead – parágrafo escrito em caracteres diferentes e<br />

destacado do corpo da notícia. Começa do mais importante para o menos importante,<br />

buscando responder às perguntas: Quem?, O quê?, Quando? e Onde?<br />

- corpo da notícia - desenvolve as informações do lead, sempre do mais<br />

importante para o menos importante. Além disso, procura-se responder às<br />

questões Como? e Por quê?<br />

53


Sugestões de atividades<br />

54<br />

Para compreender, não o conteúdo, mas a forma como se estrutura uma<br />

notícia de jornal, pode-se propor ao aluno o reconhecimento, no texto, dos<br />

elementos básicos que o constituem.<br />

Para compreender o conteúdo da notícia, pode-se aplicar o esquema básico de<br />

leitura, a seguir:<br />

Havendo um COMO e um PORQUÊ no corpo da notícia, deve-se acrescentar<br />

ao quadro.<br />

Quem?<br />

O quê?<br />

Quando?<br />

Onde?<br />

Para produzir uma notícia, o professor proporá que o aluno parta de um fato<br />

ocorrido na escola ou no seu bairro, orientando-o para a fase pré-textual de<br />

levantamento das informações necessárias e, a partir disso planejar e construir<br />

o seu texto observando a estrutura já apresentada para esse gênero<br />

discursivo.<br />

O texto apresentado no gênero discursivo “CONTO” pode ser aproveitado para<br />

que o aluno reflita sobre as diferentes funções do conto e da notícia de jornal,<br />

compare as linguagens usadas nos dois textos e redija o que seria uma notícia<br />

sobre os fatos narrados no conto.<br />

As imagens abaixo exemplificam o trabalho com notícias proposto no CADERNO DE<br />

APOIO PEDAGÓGICO – JULHO DE 2010. Após a leitura de uma notícia, que na atividade<br />

era o texto 5, propõe-se a <strong>escrita</strong> de um lead.<br />

Observe que o aluno é orientado a, antes de iniciar a <strong>escrita</strong>, definir o seu leitor.<br />

Nesse momento, o professor deve refletir com o aluno sobre a variante <strong>linguística</strong> a ser<br />

escolhida, bem como sobre o uso do registro formal ou informal. Após isso, quadro a quadro<br />

se fazem as perguntas básicas - Quem?/O quê?/Quando? /Onde?/Por quê/Como?


Observe a atividade.<br />

55


texto.<br />

56<br />

Na próxima imagem, analise a orientação que o aluno recebe para revisar o próprio<br />

Poema<br />

Não se esqueça de escolher uma manchete bem legal para a sua notícia!<br />

Antes de abordarmos o gênero discursivo POEMA, faz-se necessário, um breve<br />

esclarecimento sobre o que seja poesia e o que seja poema.<br />

Poesia é a arte de criar imagens que resultem de um olhar sensível, que sugiram<br />

emoções e que se expressem em diferentes linguagens – literatura, pintura, música, cinema<br />

etc.<br />

Poema é a concretização da sensibilidade poética em textos verbais estruturados,<br />

geralmente, em versos.<br />

Vejamos textos que materializam a poesia, seja em forma de prosa...


O poema<br />

Uma formiguinha atravessa, em diagonal, a página em branco. Mas ele, aquela noite,<br />

não escreveu nada. Para quê? Se por ali já haviam passado o frêmito e o mistério da vida...<br />

...seja em forma de poema.<br />

Gastei uma hora pensando um verso<br />

Que a pena não quer escrever.<br />

No entanto ele está cá dentro<br />

Inquieto, vivo.<br />

Ele está cá dentro<br />

E não quer sair.<br />

Mas a poesia deste momento<br />

Inunda minha vida inteira.<br />

QUINTANA, Mario. Poesia completa. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2005.<br />

Poesia<br />

Andrade, Carlos Drummond de. Poesia brasileira. Rio de Janeiro: Agir, 1935.<br />

“Mas quando o poeta diz “meta”<br />

pode estar querendo dizer o indizível”<br />

(Gilberto Gil, in Metáfora)<br />

Podemos dizer que o poema se constitui como o lugar de uma linguagem em que<br />

palavras e demais marcas <strong>linguística</strong>s mostram-se com grande poder expressivo, que vai<br />

além da expressividade do dizer, para tentar dizer mais, dizer imagens subjetivas, muitas<br />

vezes indizíveis. Por essa razão, a conotação como característica. No poema, a linguagem<br />

se enriquece, pois que a poesia quer chegar mesmo ao mistério das coisas, quer chegar ao<br />

mistério da palavra. Recursos como repetições, elipses, rimas e ritmos, metáforas,<br />

sonoridades, disposição das palavras na página querem transmitir ideia, experiência<br />

sensível, emoção. O trabalho de produção de sentido pelo escritor e pelo leitor se faz mais<br />

complexo e, por isso mesmo, estimulante. Poemas são objetos escritos, continentes que<br />

guardam conteúdos de um jogo lúdico, encantatório.<br />

57


Sugestões de atividades<br />

- O professor deve, antes de trabalhar o gênero discursivo em questão, propor atividades<br />

que permitam perceber o que o aluno já sabe de poesia e de poema, para ir ampliando-lhe o<br />

repertório. Quadras populares, parlendas, poemas de cordel mais simples são ótimos textos<br />

para familiarizar o aluno com a estrutura do poema.<br />

- Declamações de quadras rimadas ou de poemas populares como o cordel; quadras e<br />

poemas com versos incompletos, para completar a rima; são atividades iniciais que ajudam<br />

muito o aluno a compreender o tipo de texto, para chegar a sua própria produção.<br />

- Poemas escritos a partir de experiências concretas, de fatos, de notícias de jornal são um<br />

bom passo para que o aluno chegue à produção de seus primeiros poemas. Apresentar-lhe<br />

o “Poema tirado de uma notícia de jornal” junto com uma notícia de jornal, como já enfocado<br />

neste trabalho, e outros semelhantes.<br />

-Uma imagem em foto, retrato, pintura, a experiência subjetiva de estar diante de, pode<br />

inspirar poemas.<br />

- “Quem sou eu” ou “O lugar onde vivo“ são temas que costumam encorajar nossos “novos<br />

poetas”.<br />

- Atividades de produção coletiva, a partir de tema dado ou de um poema iniciado.<br />

- O registro é fundamental em todo trabalho. Registre com a turma, em um mural, por<br />

exemplo, os poemas lidos e produzidos.<br />

- Solicite que o aluno vá à SALA DE LEITURA, leia poemas, registre-os e traga para a sala<br />

de aula aqueles de que gostou.<br />

- Que poetas você já conhece? Existem poetas no bairro? Que poemas as pessoas da<br />

família conhecem? Através de perguntas como essas, o professor consegue que o aluno<br />

traga para a sala de aula textos que façam parte de seu cotidiano.<br />

58


- Organize rodas de leitura dos poemas que o aluno traz para a sala de aula ou daqueles<br />

produzidos por ele e depois converse com a turma sobre o que seria um poema, sua função,<br />

sua linguagem, suas diferentes estruturas.<br />

Textos de opinião<br />

Neste trabalho optamos por classificar os textos relacionando-os ao gênero do<br />

discurso. Vale, no entanto, pensar também em sua tipologia, enfatizando o tipo<br />

argumentativo-dissertativo. Esse tipo textual se materializa, por exemplo, na carta<br />

argumentativa, no artigo de opinião, no editorial...<br />

Um texto argumentativo-dissertativo exige que o aluno saiba expressar uma ideia<br />

completa (com início, meio e fim) sobre determinado assunto, de forma clara, objetiva,<br />

coerente e convincente.<br />

Não se trata de reproduzir “verdades’, mas de produzir outras, as verdades de cada<br />

um, frutos de opiniões individuais defendidas com bons argumentos. Lembremos que<br />

liberdade de pensar e de expressar o que pensamos inclui também a de mudar de opinião,<br />

quando outros argumentos, mais convincentes, nos são apresentados.<br />

59


60<br />

O processo de elaboração se dá em dois níveis:<br />

Organização das ideias (CONTEÚDO)<br />

- Delimitar o tema, definindo: Ideia central<br />

e enfoque(s)/argumento(s).<br />

- Definir as ideias secundárias para<br />

desenvolver cada enfoque/argumento.<br />

- Definir o tipo de conclusão (crítica,<br />

propositiva, resumo e reafirmação etc.)<br />

-----------------------------------------------------<br />

OBSERVE - opinião própria e articulação<br />

entre as ideias (progressão, evitando repetir ,<br />

criar um círculo vicioso ou uma miscelânea<br />

de ideias).<br />

Organização <strong>escrita</strong> (FORMA)<br />

Introdução - Declara a ideia central e o(s) enfoque(s)<br />

ou argumento(s), com a necessária coesão.<br />

Desenvolvimento - Defende cada argumento, dando<br />

unidade formal (coesão) às ideias secundárias de cada<br />

enfoque.<br />

Conclusão – Retoma a ideia central e, tendo em vista a<br />

argumentação anterior, a conclui, reafirmando o que<br />

foi dito, ou fazendo uma proposta, ou criticando, ou<br />

abrindo uma nova questão sobre o tema, etc.<br />

-----------------------------------------------------------------<br />

OBSERVE – Linguagem objetiva. Elementos<br />

coesivos dentro dos parágrafos e entre eles.<br />

<strong>Leitura</strong> de seu próprio texto (saber se ouvir), correções<br />

necessárias e reescritura são partes fundamentais do<br />

processo.<br />

Trabalho pronto? Escolha um título! Você não precisa escrever “Título:” ou “Introdução:” ou<br />

“Desenvolvimento” ou “Conclusão:”.<br />

O que evitar em um texto argumentativo-dissertativo<br />

- Gírias , provérbios ou ditos populares.<br />

- Defender ou propagar doutrinas. Não use tom emocional.<br />

- Utilizar exemplos caseiros, domésticos . Não conte “casos”. Se for citar exemplos, cite<br />

apenas os de conhecimento público, que sejam argumentos de autoridade.<br />

- Repetir desnecessariamente palavras ou ideias. Nunca use abreviações.<br />

- Fazer uma miscelânea de ideias, tentando abarcar todo o tema .<br />

- (Fugir ao tema. Lembre sempre: Palavras sem ideias são palavras sem sentido. São<br />

as ideias que “puxam” as palavras, delas se servindo para se expressarem.<br />

- Não se esqueça : Coesão é unidade. Prime sempre pela coerência e clareza do texto.


Esquema básico de leitura/produção de um texto de opinião com dois enfoques<br />

Introdução Ideia central:<br />

Enfoque(s):<br />

Desenvolvimento<br />

Ideias secundárias (argumentação):<br />

(1º enfoque)<br />

Desenvolvimento<br />

(2º enfoque)<br />

Ideias secundárias (argumentação):<br />

Conclusão Tipo de conclusão:<br />

O aluno deve ter contato anterior com textos deste gênero e observar-lhes o processo<br />

de elaboração.<br />

Sugestão de atividade 1 – Apresentar ao aluno o texto dissertativo-argumentativo básico, a<br />

seguir, e pedir que “desconstrua”, ou seja, identifique suas partes constitutivas, usando o<br />

esquema de leitura dado acima. Após essa etapa, o aluno poderá, por exemplo, identificar<br />

os elementos de coesão presentes e comentar como ela se dá dentro dos períodos, entre os<br />

períodos e entre os parágrafos.<br />

Política e linguagem<br />

Política é a arte da sedução pela linguagem. Sendo a sociedade constituída de<br />

diferenças, é preciso uni-las em torno de interesses comuns e, para isto acontecer, a<br />

linguagem é um poderoso instrumento.<br />

A sociedade não é um bloco compacto, já que existe uma grande diversidade<br />

de interesses nela envolvidos. Unir essa diversidade é fundamento da política. Problemas,<br />

conflitos, enfrentamentos sociais exigem que haja sempre soluções negociadas e decisões<br />

consensuais, surgidas do debate, do diálogo democrático, onde todos tenham efetivamente<br />

vez e voz.<br />

Matéria-prima da arte política, a linguagem, como instrumento de persuasão ou<br />

convencimento, é uma técnica que dá grande vantagem a quem a domina melhor. Em<br />

política, a técnica da linguagem e do discurso faz-se instrumento de poder, de dominação,<br />

mas também de possível transformação da sociedade. Nesse sentido, o nível de igualdade<br />

61


ou de desigualdade cresce à medida do maior ou menor nível de conhecimento da linguagem<br />

e, vale lembrar, da maior ou menor possibilidade de acesso aos meios de comunicação.<br />

Sendo a política a arte da sedução, que tem na linguagem sua técnica privilegiada, a<br />

efetiva democracia de uma sociedade não passa apenas pelo voto; passa antes pela<br />

igualdade de oportunidades nesse campo; passa, portanto, pela democratização da oferta de<br />

ensino escolar e do acesso aos meios de produção e de veiculação de mensagens.<br />

(Texto cedido por professor de Língua Portuguesa, utilizado para trabalho com texto argumentativo-dissertativo,<br />

em turmas do 9° ano do ensino fundamental da E.M. Jenny Gomes.)<br />

Sugestão de atividade 2 – Antes de solicitar que o aluno produza seu próprio texto, desenvolvendo<br />

sua própria ideia, solicitar-lhe produções em que ele estruture textos de opinião, a partir de ideias<br />

sugeridas pelo Professor. Assim, o aluno vai se familiarizando com o gênero discursivo em questão.<br />

Com os elementos dados abaixo, estruture um texto de opinião observando a adequada coesão<br />

dentro dos períodos, entre os períodos e entre os parágrafos.<br />

Introdução – Ideia principal: Ler é muito importante.<br />

62<br />

Enfoques: A leitura está diretamente ligada ao hábito de refletir, de produzir ideias.<br />

A leitura está diretamente ligada à capacidade de expressar essas<br />

ideias.<br />

Desenvolvimento – Enfoque 1 - A leitura introduz o leitor no saudável hábito de pensar, de refletir,<br />

de ter ideias próprias. A leitura amplia não só o vocabulário como a visão crítica do leitor. A leitura<br />

estimula a imaginação criativa do leitor.<br />

Enfoque 2 - A leitura desenvolve no leitor a capacidade de se expressar; de expor suas ideias, falando<br />

ou escrevendo. A leitura torna a pessoa que lê mais capaz de defender suas ideias e de convencer os<br />

outros. .<br />

Conclusão – Uma conclusão propositiva , coerente com o que se disse anteriormente. Poderia<br />

começar assim:<br />

Reconhecida a importância da leitura para a formação de pessoas criativas, com<br />

capacidade de reflexão crítica e de expressão de ideias, faz-se necessário um esforço no sentido de<br />

.........(A proposta é sua! A partir daqui, complete seu texto, concluindo-o com coerência.)


Você também pode observar a proposta de <strong>escrita</strong> apresentada abaixo, que está no<br />

CADERNO DE APOIO PEDAGÓGICO – JULHO DE 2010. Após ler na ficha 5 vários textos<br />

de opinião, o aluno é desafiado a refletir sobre argumentação e a produzir um texto<br />

argumentativo.<br />

63


V. Considerações finais<br />

64<br />

Nossa função como professores de língua portuguesa é desenvolver a<br />

proficiência comunicativa dos estudantes, auxiliando-os na tarefa de se tornarem<br />

leitores autônomos e produtores de textos proficientes. Esse é o nosso primeiro<br />

compromisso como educadores.<br />

Defendemos um pressuposto básico para o processo ensinar- aprender da língua<br />

portuguesa:<br />

O aprendizado da leitura e da <strong>escrita</strong> NÃO VAI resultar de competências espontaneamente<br />

desenvolvidas ao longo da escolaridade.<br />

Por isso, o investimento que nós, professores, devemos fazer é em um trabalho<br />

sistemático de leitura e <strong>escrita</strong>, independente do nível de conhecimento de leitura (níveis de<br />

letramento) dos estudantes com que estamos lidando, bem como do seu nível de<br />

escolaridade. Isso reforça a ideia de que o planejamento das aulas de língua do<br />

primeiro ano de escolaridade ao último deve estar centrado na leitura e produção de<br />

textos com o objetivo de explicitar os variados processos de construção de<br />

significados. Essa explicitude de recursos linguísticos passa, necessariamente, pelos<br />

estudos gramaticais, considerando uma abordagem descritiva, de uso da língua. O<br />

entendimento que norteia o trabalho de língua portuguesa da Secretaria Municipal de<br />

Educação da Cidade do Rio de Janeiro é que os conhecimentos necessários para ler e<br />

produzir textos são de três níveis:<br />

a) Conhecimento do sistema linguístico;<br />

b) Conhecimento do contexto de produção de um dado texto;<br />

c) Conhecimento dos mecanismos ( estilísticos e pragmáticos) de estruturação do<br />

significado;<br />

Portanto, na abordagem textual proposta, esses três níveis de <strong>análise</strong> devem<br />

coexistir. Ao realizarmos este tipo de trabalho tanto para a leitura de textos quanto para a<br />

produção <strong>escrita</strong> de nossos alunos, estaremos ensejando a possibilidade de


desenvolvimento de diferentes habilidades que, juntas, propiciarão o desenvolvimento da<br />

competência comunicativa dos estudantes.<br />

Para amenizar as dificuldades que sabemos rondar o nosso fazer, não faltam<br />

propostas pedagógicas. Algumas se dedicam às generalidades, a certo vazio que julgamos<br />

não leva a nada. Vimos procurando demonstrar por intermédio dos vários documentos que<br />

a Equipe do Núcleo Central tem divulgado para as escolas que são necessários <strong>alguns</strong><br />

procedimentos básicos em se tratando de aulas de língua portuguesa.<br />

a) A explicitação de mecanismos de construção dos diferentes textos. Tal atitude<br />

contribui decisivamente para o desenvolvimento das habilidades de leitura e de<br />

<strong>escrita</strong>.<br />

b) A associação do ensino da <strong>escrita</strong> ao ensino da leitura como condição primeira para<br />

o desenvolvimento da competência discursiva dos estudantes.<br />

c) A efetiva prática de <strong>escrita</strong> de diferentes textos, associado ao estudo dos<br />

mecanismos linguísticos necessários para o aperfeiçoamento do texto.<br />

Entende-se que os três itens acima se constituem em procedimentos metodológicos<br />

para a aula de língua portuguesa.<br />

Acredita-se que a sensibilidade para a leitura do texto não é algo inato. Constitui-se<br />

em mecanismos que precisam ser aguçados, para que o leitor seja capaz de resgatá-los,<br />

entendê-los na leitura do texto. Da mesma forma, para que seja capaz de usar na sua<br />

produção de textos, o produtor precisa viver/ vivenciar a experiência do uso dos diferentes<br />

mecanismos linguísticos. Sem essa chamada, sem essa conscientização <strong>linguística</strong>,<br />

dificilmente, o leitor se tornará proficiente.<br />

Por fim, a proficiência na leitura e na <strong>escrita</strong> é o mais significativo indicador do bom<br />

desempenho linguístico do cidadão porque implica ser capaz de aprender os significados<br />

inscritos no texto, relacionando-os com o conhecimento de mundo que circula nas atividades<br />

sociais em que o texto é produzido. São as relações interdiscursivas. Da mesma forma,<br />

produzir um bom texto é ser capaz de transmitir para a sua audiência aquilo que se tem em<br />

mente. Por isso, a relação estreita entre <strong>análise</strong> <strong>linguística</strong>/ leitura e <strong>escrita</strong>. Essa é a<br />

perspectiva que norteia o material didático que chega á escola, bem como este Caderno<br />

<strong>teórico</strong>-metodológico que ora lhes apresentamos.<br />

65


66<br />

Apêndice<br />

O coloquial digital<br />

(...) uma coisa que me deixa perturbado é a linguagem adolescente digital,<br />

essa que se usa hoje em dia em mensagens instantâneas por celular ou no<br />

computador. Ela tem lá os seus atrativos, em custo e tempo. Mas será que as<br />

crianças estão desaprendendo a língua portuguesa?<br />

A receita parece ser mais ou menos assim: primeiro acabamos com os<br />

acentos. (...) não vira naum, é vira eh e assim por diante. Aí, eliminam-se os hífens e<br />

algumas vogais e consoantes que estão mesmo sobrando - você vira vc, que vira q.<br />

Para terminar, re-escrevemos algumas palavras de acordo com seus sons “falados”<br />

economizando mais algumas letras – achei vira axei, aquilo vira akilo, mesa vira<br />

meza, almoço vira aumosso. E pronto, está criada a linguagem adolescente digital.<br />

(Fabio Tagnin, postado em 16/08/2007, no seu Blog da semana”,<br />

disponível na Internet)<br />

http://www.cangucuemfoco.com.br/2010/10/vende-se-casa.html<br />

O mundo digital – universo discursivo da Internet<br />

(I aeh blz? aki blz tbem bjs bjs bjs)


“A escola precisar saber conviver com as novas realidades”. Esta frase, bastante<br />

ouvida nos mais diferentes meios, parece vir de uma preocupação social positiva com<br />

relação a uma escola sempre atual, com teorias e métodos adequados a seu tempo, aos<br />

homens de cada instante. Parece, mas não é bem assim. Temos de ir aprendendo, ainda e<br />

sempre, a nos fazer as perguntas certas, que soem, não como as respostas definitivas, mas<br />

como a voz da escola questionadora diante da afirmação acima; sem fáceis planícies, onde<br />

não cabem os simplismos, as soluções simplificadoras. A escola de que a sociedade sempre<br />

precisou é a que aprende e ensina a conviver com o conflito, a que sabe e a que faz saber<br />

que é preciso enfrentar cada nova realidade com criticidade.<br />

Tudo agora pode ser já é e todos podem ser é nóis: blz, no problem; já temos<br />

aprendido, na escola, a não problematizar negativamente a renovação que as línguas<br />

trazem à LÍNGUA, a inventividade ininterrupta da fala coloquial, as gramáticas próprias de<br />

diferentes grupos em diferentes situações, os diversos jargões, a linguagem dos homens de<br />

cada instante.<br />

O saber conviver não pode ser entendido como um ir se adaptando, sem conflitos, a<br />

cada nova exigência da realidade. A boa convivência, a que enriquece todos os polos<br />

conviventes, é aquela que não esconde os conflitos, a que se coloca permanentemente em<br />

questão, a que acolhe do outro as boas novas e lhe doa frutos dessa boa acolhida. No jogo<br />

simbólico das dádivas e contradádivas, diferenças são riquezas.<br />

As novas realidades vêm se fazendo cada vez mais rápidas, vindo cada vez num<br />

ritmo mais vertiginoso a bordo das novas tecnologias. O mundo digital, o universo discursivo<br />

da Internet há muito tempo já é, é o que há. As práticas discursivas interacionais do mundo<br />

digital invadem o dia a dia de nossos alunos, fora e dentro das escolas. Já não se trata de<br />

trazer ou não a gramática própria da língua, da novilíngua(*) em que ocorrem essas práticas<br />

discursivas para dentro da sala de aula; ela já entrou e já se instalou. Há, pois que acolhê-la<br />

e, fazendo dela objeto de reflexão, aprender com ela e doar os bons frutos dessa nova<br />

aprendizagem.<br />

Quando, no início deste trabalho, propusemos a concepção interacionista da<br />

linguagem, nos termos da linguista Irandé Antunes, era disso que falávamos: da escola<br />

como o lugar privilegiado de reflexão sobre o mundo letrado. Muito das práticas<br />

discursivas de nossos alunos ocorrem, hoje, no meio digital, através do computador, via<br />

67


Internet, do telefone celular e de outras máquinas computadorizadas. Nesse meio, ele<br />

interage, pergunta e responde, corresponde-se, informa e se informa, seduz e é seduzido,<br />

ouve e fala, lê e escreve apelos, instruções, relatos, registros, argumentos. Em que língua,<br />

com que regularidades textuais e discursivas, ele faz isso?<br />

68<br />

O internetês é a novilíngua da coloquialidade, nesse mundo digital; não um mundo à<br />

parte, mas parte deste mundo em que estamos, do nosso instante no mundo. Nela, as<br />

palavras e os sintagmas dançam, com criatividade, um ritmo veloz; jogam um jogo rápido de<br />

estímulos e respostas. O risco é deixar que nessa dança veloz, nesse jogo rápido, o<br />

pensamento dance e saia derrotada a capacidade de reflexão.<br />

Ausência de pontuação, de acentuação e de outras marcas grafológicas; abreviação<br />

de sílabas ao mínimo necessário para o entendimento; uso de onomatopeias ou emoticons<br />

para expressar sentimentos, emoções; a expressão <strong>escrita</strong> mais próxima da oralidade, com<br />

uso de letras mais fiéis ao som da fala; fazem a gramática dessa novilíngua.<br />

A gramática própria do internetês, ou seja, as regularidades que ocorrem na prática<br />

discursiva digital têm sido vistas, em seus aspectos positivos ou negativos, por diferentes<br />

<strong>teórico</strong>s como nova forma de expressão grafo<strong>linguística</strong> adequada à nova dinâmica social;<br />

forma de expressão ligeira, funcional, esperta; linguagem da velocidade que acaba<br />

renovando a LÍNGUA, ajudando, por exemplo, a reduzir excessos da ortografia; para muitos,<br />

um Frankenstein da linguagem, que induz o usuário a escrever mal, com o risco de levar<br />

“nossas crianças a desaprender a língua portuguesa”.<br />

Sabemos que cada vez mais amplia-se o universo de usuários e o tempo que passam<br />

expostos à novilíngua. Sabemos também que a memória visual do leitor tem fundamental<br />

papel na sua maior ou menor competência <strong>linguística</strong>. Na escola, o professor deve estar<br />

atento à linguagem adotada pelo seu aluno, observar o modo como escreve e alertar para<br />

que não confunda a linguagem cifrada do internetês como única ou mais eficaz língua de<br />

comunicação. A melhor abordagem, portanto, é a abordagem aqui já proposta, a que leva o<br />

aluno a perceber as regularidades próprias de cada gênero, a que alerte para os diferentes<br />

usos da língua em diferentes práticas discursivas.<br />

(*) Neologismo cunhado por George Orwell, em seu romance 1984.


Epílogo ou “para continuar a refletir”<br />

“Ler é ser questionado pelo mundo e por nós mesmos; é saber que certas respostas podem ser encontradas<br />

no escrito; é poder ter acesso a esse escrito; é construir uma resposta que integre uma parte das<br />

informações novas a tudo o que já sabemos.”<br />

Jean Foucambert<br />

“Todo o cidadão tem o direito de ter acesso à Literatura e de descobrir como partilhar de uma herança<br />

humana comum. Prazer de ler não significa apenas achar uma história divertida ou seguir as peripécias de<br />

um enredo empolgante e fácil - além dos prazeres sensoriais que compartimos com outras espécies, existe<br />

um prazer puramente humano , o de pensar, decifrar, argumentar, raciocinar, contestar, enfim: unir e<br />

confrontar ideias diversas. E a literatura é uma das melhores maneiras de nos encaminhar para esse<br />

território de requintados prazeres. Uma democracia não é digna desse nome se não proporcionar a todos o<br />

acesso à leitura de literatura”.<br />

Ana Maria Machado<br />

In: MACHADO, Ana Maria. Texturas – sobre leituras e escritos. Rio de Janeiro, Nova Fronteira, 2001.<br />

69


70<br />

Referências Bibliográficas<br />

ANTUNES, I. (2004). Aula de português: encontros e interação. São Paulo: Parábola.<br />

BAKHTIN, M. Estética da Criação Verbal. São Paulo: Martins Fontes, 2003.<br />

BRONCKART, J.-P. (1999). Atividades de linguagem, textos e discursos. Por um<br />

interacionismo sócio-discursivo. São Paulo: Editora da PUC/SP.<br />

FÁVERO, L. L. & KOCH, I. V. (1987). “Contribuição a uma tipologia textual”. In Letras &<br />

Letras. Vol. 03, nº 01. Uberlândia: Editora da Universidade Federal de Uberlândia.<br />

MARCUSCHI, L. A. (2002). “Gêneros textuais: definição e funcionalidade” In DIONÍSIO, Â. et<br />

al. Gêneros textuais e ensino. Rio de Janeiro: Lucerna.<br />

SCHNEUWLY, B. & DOLZ, J. (2004). Gêneros orais e escritos na escola. Campinas:<br />

Mercado de Letras.<br />

PERRENOUD,Philippe.(1999).Construir as competências desde a escola. Porto Alegre:<br />

Artmed.<br />

MARCUSKI, Luiz Antônio. Da fala para a <strong>escrita</strong>. Cortez Editora: Campinas, 1995.<br />

RAMOS, Jânia M. O espaço da oralidade em sala de aula. São Paulo: Martins Fontes, 1999.<br />

KOCH, I. V.; ELIAS, V. M. Ler e compreender: os sentidos do texto. São Paulo: Editora<br />

Contexto, 2006.

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!