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V EPCC<br />
Encontro Internacional de Produção Científica <strong>Cesumar</strong><br />
23 a 26 de outubro de 2007<br />
A CONSTRUÇÃO DO MÉTODO PSICANALÍTICO NOS PRIMÓRDIOS DA<br />
PSICANÁLISE (1887 – 1896)<br />
Mayra Andrade Leandro 1<br />
RESUMO: A análise dos textos referentes ao período de 1887 a 1896 indica que o método psicanalítico foi<br />
construído gradualmente através das experiências que Freud teve na clinica. O método que inicialmente<br />
era usado por ele, era o método catártico de Breuer, baseado na hipnose, o qual foi sendo gradualmente<br />
modificado, a partir de tentativas de intervenções diferenciadas na clínica, até que desenvolvesse o método<br />
de associação livre. Ao trabalhar com o método catártico, Freud depara-se com alguns problemas: em<br />
primeiro lugar, nem todos os seus pacientes eram hipnotizáveis, e, depois, a dificuldade em obter curas<br />
efetivas, já que o método catártico lidava apenas com os sintomas e não a etiologia da neurose. Depois de<br />
abandonar a hipnose, passa a se utilizar da técnica da pressão, que consistia em pressionar a testa do<br />
paciente e solicitar que, de olhos fechados, se concentrasse, a fim de recuperar a lembrança perdida. Essa<br />
técnica simulava o estado hipnótico, o que nesse momento da teorização freudiana era visto como uma<br />
expansão da consciência. Assim, a construção do método psicanalítico se dá a partir da adoção e<br />
modificação do método catártico, passando pelas técnicas da pressão e concentração, até a descoberta da<br />
associação livre.<br />
Palavras-chave: epistemologia, psicanálise, método psicanalítico, associação livre.<br />
1 INTRODUÇÃO<br />
O presente estudo tem por objetivo esclarecer o desenvolvimento do método<br />
psicanalítico, e como este se deu no período que vai de 1887 a 1896. Entende-se que por<br />
meio deste estudo possamos contribuir para a compreensão de um componente<br />
fundamental da psicanálise, o método da associação livre.<br />
2 MATERIAL E MÉTODOS<br />
Inicialmente fez-se um levantamento bibliográfico sobre o assunto, após o que<br />
foram selecionados os textos considerados pertinentes (ver referências). Após o<br />
levantamento e seleção da bibliografia, esta foi analisada e fichada, a fim de subsidiar a<br />
redação de um artigo.<br />
3 DESENVOLVIMENTO<br />
Como aponta Assoun (1983), Freud baseia-se na ciência natural para criar a<br />
psicanálise, e não a concebe fora desta. E desta forma, acaba por construir a psicanálise<br />
através de tentativas que confluem na criação do método de associação livre.<br />
1 Discente do curso de jornalismo do Centro Universitário de Maringá – CESUMAR.<br />
V EPCC<br />
CESUMAR – Centro Universitário de Maringá<br />
Maringá – Paraná – Brasil
A histeria veio a contribuir largamente para o surgimento da psicanálise, pois é na<br />
clínica da histeria que Freud começa a entrar em contato com as carências apresentadas<br />
pelas teorias e métodos de estudo da mente então existentes. E é a partir dessa clínica<br />
que ele começa a construir seu próprio método de análise da mente.<br />
Em princípio, Freud utilizava no tratamento de seus pacientes o método catártico,<br />
desenvolvido por Josef Breuer (1842-1925), que dispunha da hipnose para ampliar-lhes o<br />
campo da memória possibilitando assim o tratamento. No método catártico o paciente era<br />
hipnotizado e levado a lembrar-se da história do desenvolvimento de sua doença. O<br />
paciente era reconduzido até o momento das primeiras manifestações de seu sofrimento,<br />
ou seja, até a cena traumática, e incentivado a revivê-la de forma adequada, liberando a<br />
reação afetiva necessária e que na época da vivência do trauma por algum motivo não foi<br />
efetivada.<br />
Mas ao adotar esse método, Freud deparou-se com duas dificuldades, a primeira<br />
era que nem todas as pessoas podiam ser hipnotizadas, a segunda seria o que<br />
caracteriza a histeria e a distingue de outras neuroses, ou seja, o método catártico era<br />
ineficaz quanto à etiologia da histeria, só eliminava os sintomas.<br />
Freud começa a buscar uma melhora no método, e constata que, unindo o método<br />
catártico de Breuer com o método de repouso de Weir Mitchell atingiu melhores<br />
resultados. Mesmo assim, ainda havia limitações com o método, e as pessoas que não<br />
eram hipnotizáveis, que tinham forte resistência a hipnose, não podiam ainda ser tratadas<br />
pelo método catártico, ou seja, não recebiam tratamento, já que não havia como expandir<br />
sua memória.<br />
Freud, então, passa a insistir com seus pacientes para testar até onde ia a<br />
capacidade de memória destes sem a hipnose, para isso, insistia para que lembrassem<br />
de algo relacionado a sua patologia. De início encontra uma forte resistência, mas aos<br />
poucos o paciente começava a lembrar-se. Freud pedia que o paciente se deitasse e<br />
fechasse os olhos (simulando uma hipnose), alegando que isto ajudaria o paciente a<br />
concentrar-se melhor. Aos poucos Freud percebeu que a resistência apresentada por<br />
seus pacientes tem a mesma origem da própria neurose. Tornou-se claro um processo de<br />
defesa, que ocorria devido ao sofrimento psíquico que estas lembranças esquecidas<br />
traziam para a consciência.<br />
Há uma espécie de ‘censura’ no eu ou ego 2 a qual a nova representação deve<br />
submeter-se, esta ‘censura’ é estruturada de acordo com as representações já reunidas<br />
no eu ou ego. Assim, há recalcamento 3 se não houver ‘aprovação’, esta repulsão é uma<br />
resistência, portanto o paciente ‘não quer lembrar’, em um nível de mais ou menos<br />
consciência. Como aponta Freud,<br />
O ego do paciente teria sido abordado por uma representação que se mostrara<br />
incompatível, o que provocara, por parte do ego, uma força de repulsão cuja finalidade<br />
seria defender-se da representação incompatível. Essa defesa seria de fato bemsucedida.<br />
A representação em questão fora forçada para fora da consciência e da<br />
memória. Seu traço psíquico foi aparentemente perdido de vista. Não obstante, esse traço<br />
deveria estar ali. Quando eu me esforçava para dirigir a atenção do paciente para ele,<br />
2<br />
De acordo com Laplanche e Pontalis (1998, p.124 ) “[...] o ego esta numa relação de dependência tanto<br />
para com as reivindicações do id, como para com os imperativos do superego e exigências da realidade.<br />
Embora se situe como mediador, encarregado dos interesses da totalidade da pessoa, a sua autonomia é<br />
apenas relativa.” definição esta que aparecerá apenas mais tarde na obra freudiana, no período ao qual nos<br />
propusemos a estudar existe uma idéia de eu ou ego a qual não é ainda muito clara.<br />
3<br />
Ainda segundo Laplanche e Pontalis (1998, p.430) “ Operação pela qual o sujeito procura repelir ou<br />
manter no inconsciente representações (pensamentos, imagens, recordações) ligadas a uma pulsão.” ,<br />
termo que também melhor se definirá posteriormente na obra de Freud, mas que, como defesa contra<br />
recordações de experiências dolorosas ou desagradáveis, já aparece em textos como A psicoterapia da<br />
histeria, de 1895.<br />
V EPCC<br />
CESUMAR – Centro Universitário de Maringá<br />
Maringá – Paraná – Brasil
apercebia-me, sob a forma de resistência, da mesma forma que se mostrara sob a forma<br />
de repulsão quando o sintoma fora gerado. Ora, se eu pudesse fazer com que parecesse<br />
provável que a representação se tornara patogênica precisamente em conseqüência de<br />
sua expulsão e de seu recalcamento, a cadeia pareceria completa. (1996b, p. 284, grifo<br />
do autor)<br />
Um pouco mais tarde, Freud cria a técnica de ‘pressão na testa’. Pressionando a<br />
testa do paciente, pede a este que lhe relate a idéia ou imagem que lhe ocorre, que a<br />
descreva seja qual for, e sempre da ao paciente certeza de que algo lhe ocorrerá.<br />
Segundo Freud, este método nunca falhou, sempre apontando um caminho para<br />
desenvolver a investigação sobre a patologia. A pressão distrai o paciente de reflexões<br />
conscientes, e já que a associação com os fatores patogênicos parece estar sempre ‘à<br />
mão’, só é preciso retirar do caminho os obstáculos, ou seja, a vontade do paciente.<br />
Ao promover estas alterações no método catártico, Freud percebe que a hipnose<br />
não é mais necessária no tratamento de seus pacientes, pois mesmo sem ela ele<br />
consegue avançar sobre a memória de seus pacientes atingindo as cenas traumáticas.<br />
Neste período da obra freudiana muitos dos termos que serão conhecidos posteriormente<br />
não estão bem definidos, muitos são apenas idéias as quais começam a se formar e aos<br />
poucos vem sendo construídas e expressas, uma dessas idéias é a da associação livre, a<br />
qual terá fundamental importância para o método de análise freudiano.<br />
E é assim que Freud chega ao método da associação livre 4 , por tentativas, ao<br />
adaptar o método catártico, deixando a hipnose, fazendo constates modificações, até<br />
atingir uma forma de observação da mente humana que estivesse relacionado ao método<br />
naturalista, e que possibilitasse uma explicação lógica da mente humana, pautada em<br />
argumentos concretos.<br />
5 CONCLUSÃO<br />
Ao entrar em contato com as neuroses na clínica, Freud começa a usar o método<br />
catártico de Breuer, mas na prática sente-se insatisfeito com este método, pois este<br />
apresentava dois problemas, em primeiro lugar não trabalha com a origem da neurose,<br />
curando apenas o sintoma, em segundo lugar o grande número de pessoas que não eram<br />
hipnotizáveis, e portanto não podiam ser tratadas.<br />
Através do método catártico Freud constrói um método que no futuro será<br />
conceituado como método da associação livre, o qual tem por objetivo chegar a etiologia<br />
da neurose tratada, por meio de uma cadeia de associações, as quais são feitas<br />
livremente pelo paciente.<br />
O período estudado neste trabalho, demonstra que Freud encontrava-se em<br />
processo de construção do método de associação livre, portanto este método não está<br />
definido de forma clara, mas já ganha corpo principalmente quando Freud percebe que a<br />
pressão na testa dos pacientes não é necessária, e deixa de usá-la. Esta construção<br />
gradual, ainda inacabada neste momento da história da psicanálise contribuiu para a<br />
elucidação da teoria psicanalítica, pois através da associação livre que Freud mais tarde<br />
trilhará um caminho para o inconsciente, conceito este que surgirá posteriormente na obra<br />
freudiana.<br />
Referências<br />
4<br />
Assim como indicado por Laplanche e Pontalis (1998, p.38) associação livre é o “Método que consistem<br />
expandir indiscriminadamente todos os pensamentos que ocorrem ao espírito, quer a partis de um elemento<br />
dado ( palavra, numero, imagem de um sonho, qualquer representação), quer de forma espontânea.” Porem<br />
este método também não esta bem definido no período estudado.<br />
V EPCC<br />
CESUMAR – Centro Universitário de Maringá<br />
Maringá – Paraná – Brasil
ASSOUN, P. Introdução à epistemologia freudiana, Rio de Janeiro: Imago, 1983.<br />
FREUD, S. A psicoterapia da histeria. In: Obras completas de Sigmund Freud. Rio de<br />
Janeiro: Imago, 1996b, vol.2. p. 271-319.<br />
FREUD, S. Histeria. In: Obras completas de Sigmund Freud. Rio de Janeiro: Imago,<br />
1996a, vol.1. p. 75-99.<br />
FREUD, S. Algumas considerações para um estudo comparativo das paralisias<br />
motoras orgânicas e histéricas. In: Obras completas de Sigmund Freud. Rio de Janeiro:<br />
Imago, 1996a, vol.1. p. 199-218.<br />
FREUD, S. A etiologia da histeria. In: Obras completas de Sigmund Freud. Rio de<br />
Janeiro: Imago, 1996c, vol.3. p. 187-218.<br />
FREUD, S. Projeto de uma psicologia, Rio de Janeiro: Imago Editora, 1995.<br />
FREUD, S. A correspondência completa de Sigmund Freud para Wilhelm Fliess<br />
(1887-1904), J. M. Masson, Rio de Janeiro: Imago Editora, 1986.<br />
HONDA, H. Método e metapsicologia em Freud: sobre a relação entre técnica e teoria<br />
psicanalíticas. Psicologia em Estudo, v. 4., n. 2, p. 23-55, 1999.<br />
LAPLANCHE, J. PONTALIS, J. B. Vocabulário da psicanálise, São Paulo: Martins<br />
Fontes, 1998.<br />
V EPCC<br />
CESUMAR – Centro Universitário de Maringá<br />
Maringá – Paraná – Brasil