06.05.2013 Views

A Doença como Linguagem da Alma - Escola da Luz

A Doença como Linguagem da Alma - Escola da Luz

A Doença como Linguagem da Alma - Escola da Luz

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

Rüdger Dahlke<br />

A <strong>Doença</strong> com o<br />

<strong>Linguagem</strong> <strong>da</strong><br />

<strong>Alma</strong><br />

OS SINTOMAS COMO OPORTUNIDADES DE<br />

DESENVOLVIMENTO<br />

Traduçã o<br />

DANTE PIGNATARI


2<br />

EDITORA CULTRIX<br />

São Paulo<br />

199 2


Para Margit<br />

3


Sumário<br />

Introdução<br />

PRIMEIRA PARTE<br />

1. Introdução à filosofia <strong>da</strong> significação dos sintomas<br />

1. Interpretação e valoração<br />

2. Cegueira de si mesmo e projeção<br />

3. Valoração dos sintomas<br />

4. Deslocamento de sintomas em duas direções<br />

5. Forma e conteúdo<br />

6. Homeopatia<br />

7. O jogo <strong>da</strong>s causas<br />

8. Analogia e simbolismo<br />

9. Campos formativos<br />

2. <strong>Doença</strong> e ritual<br />

1. Rituais em nossa socie<strong>da</strong>de<br />

2. Rituais de passagem<br />

3. Rituais <strong>da</strong> medicina moderna<br />

4. Rituais <strong>da</strong> medicina antiga<br />

5. <strong>Doença</strong> e padrão<br />

6. Pensamento vertical e princípios primordiais<br />

7. <strong>Doença</strong> <strong>como</strong> ritual<br />

3. Indicações práticas para a elaboração dos sintomas<br />

1. Nosso vocabulário<br />

2. Mitos e contos de fa<strong>da</strong>s<br />

3. O caminho do reconhecimento sobre o pólo oposto<br />

4. Resumo<br />

1. Pontos de parti<strong>da</strong><br />

4


2. Instruções e perguntas básicas<br />

3. <strong>Doença</strong> <strong>como</strong> oportuni<strong>da</strong>de<br />

S E GUNDA PARTE<br />

1. O esquema cabeça- pé<br />

2. Câncer<br />

1. A imagem do câncer em nossa época<br />

2. O câncer no nível celular<br />

3. A gênese do câncer<br />

4. Os níveis de significação do evento cancerígeno<br />

5. Fases de desenvolvimento do sintoma<br />

6. Regressão e religião<br />

7. O câncer <strong>como</strong> caricatura de nossa reali<strong>da</strong>de<br />

8. Câncer e defesa<br />

9. O câncer no plano social<br />

10. Solução (redenção) do problema do câncer<br />

11. Princípios terapêuticos<br />

3. A cabeça<br />

1. Os cabelos<br />

Hirsutismo - A per<strong>da</strong> de todos os pêlos do corpo -<br />

Que<strong>da</strong> de cabelos<br />

2. O rosto<br />

Ruborização - Nevralgia do trigêmeo ou dores<br />

nervosas no rosto - Paralisia facial ou paralisia<br />

nervosa do rosto - Erisipela facial - Herpes labial<br />

Vista e visão<br />

Ouvido e audiçã o<br />

Tinnitus ou ruído nos ouvidos<br />

Órgão do equilíbrio e esta bili<strong>da</strong>d e<br />

A vertigem - Mal de Ménière<br />

5


Nariz e olfato<br />

Inflamação dos seios <strong>da</strong> face ou sinusite - Pólipos -<br />

Desvio de septo nasal - Rinofima ou nariz bulboso<br />

ou nariz de bêbado - Fratura do vômer<br />

Pala<strong>da</strong>r<br />

4. O sistema nervoso<br />

1. Do nervosismo ao colapso nervoso<br />

2. Comoção cerebral<br />

3. Meningite<br />

4. Sintomas neurológicos<br />

Mal de Parkinson – Coréia ou <strong>da</strong>nça de São Guido -<br />

Derrame - Esclerose múltipla - Epilepsia<br />

5. O pescoço<br />

1. A laringe<br />

A voz: barômetro do ânimo - O pigarro <strong>como</strong><br />

sintoma<br />

2. A tireóide<br />

O bócio - Hipertireoidismo - Hipotireoidismo<br />

6. A coluna vertebral<br />

1. Problemas de disco<br />

2. Deslocamento <strong>da</strong> primeira vértebra cervical<br />

3. Problemas de postura<br />

Cifose, lordose e “espinha estica<strong>da</strong>"<br />

4. A corcun<strong>da</strong><br />

5. A escoliose ou desvio lateral <strong>da</strong> coluna<br />

6. Paralisia causa<strong>da</strong> por secção <strong>da</strong> medula<br />

7. Os ombros<br />

1. Problemas dos ombros<br />

O braço luxado - A síndrome ombro-braço - Tensão<br />

nos ombros<br />

8. Os braços<br />

1. Problemas dos braços<br />

6


Fraturas dos braços - Inflamação dos tendões<br />

2. O cotovelo<br />

9. As mãos<br />

1. Contração de Dupuytren ou mão torci<strong>da</strong><br />

2. As unhas<br />

Inflamação <strong>da</strong>s unhas<br />

10. O peito<br />

1. O tórax saliente<br />

2. O tórax estreito<br />

3. “Sintomas" do peito<br />

Fratura de costelas - Roncar - Para<strong>da</strong> respiratória<br />

em recém-nascidos ou morte infantil súbita<br />

4. O peito feminino<br />

Câncer de mama<br />

11. O ventre<br />

1. Herpes- zoster, a zona<br />

2. Rompimentos ou hérnias<br />

Hérnia umbilical - Hérnia inguinal<br />

12. A bacia<br />

1. Herpes genital<br />

2. A próstata e seus problemas<br />

3. A articulação coxo-femural<br />

13. As pernas<br />

1. A articulação do joelho - Problemas de menisco<br />

2. A panturrilha e suas cãibras<br />

3. Rompimento do tendão de Aquiles<br />

14. Os pés<br />

1. O astrágalo<br />

7


2. Olho de peixe<br />

3. Fungos<br />

4. Verrugas na sola do pé<br />

15. Os problemas <strong>da</strong> velhice<br />

1. A velhice em nossa época<br />

2. A guerra moderna contra o padrão <strong>da</strong> vi<strong>da</strong><br />

3. Menopausa e osteoporose<br />

4. A crise <strong>da</strong> meia-i<strong>da</strong>de<br />

5. Fratura do fêmur<br />

6. Barba feminina ou a integração dos opostos<br />

7. Da ampla visão <strong>da</strong> velhice às rugas<br />

8. A cor cinza<br />

9. O Mal de Alzheimer<br />

Conclusão<br />

Notas<br />

8


Introdução<br />

Dez ano s após a publicaç ã o <strong>da</strong> prim eira ediç ã o de Krankh eit<br />

als We g (A Doe n ç a co m o Ca minh o , publicad o pela Editora<br />

Cultrix, São Paulo, 19 9 2) , ch e g o u a hora de continuar e am pliar<br />

o tem a des crito naqu el e livro. O fato de que o con c eito tenha<br />

en c o ntrad o tanta ress o n â n ci a, a princípio so br etud o entre os<br />

leigos intere s s a d o s e, co m o temp o, cad a vez m ais tam b é m<br />

entre os profission ais <strong>da</strong> m e di cin a, pod e ser um sinal <strong>da</strong><br />

cres c e nt e nec e s si d a d e de um a co m pr e e n s ã o <strong>da</strong> do e n ç a que<br />

volte a unificar form a e conteúd o , corp o e alm a.<br />

As reaç õ e s de paci ent e s , participante s de se min ário s e<br />

leitore s tam b é m express a v a m a nec e s s i d a d e de m ais<br />

interpreta ç õ e s , esp e ci al m e n t e <strong>da</strong>qu el e s sinto m a s que não<br />

fora m ab ord a d o s no prim eiro livro. Essas interpretaç õ e s são<br />

apres e nt a d a s ag or a de form a am pliad a. Seguind o vários<br />

estí m ul o s e sug e st õ e s , não se enfatiza a imen s a quanti<strong>da</strong>d e de<br />

sinto m a s . A idéia foi apre s e nt á- los de tal man eira que a pes s o a<br />

afetad a rec o n h e ç a a direç ã o na qual dev e continuar a<br />

trabalhar.<br />

Uma <strong>da</strong>s con s e q ü ê n c i a s do prim eiro volu m e foi tom ar os<br />

pas s o s inter m e di ários, dos quais resulta m interpretaç õ e s , mais<br />

explícitos, be m co m o aprofund ar o assi m cha m a d o<br />

“pens a m e n t o vertical”, que esta na bas e de todo es s e principio.<br />

Um recurs o que se rev el ou igual m e nt e útil e m confer ê n ci a s foi<br />

o de não só m o strar os asp e ct o s particular m e nt e<br />

impres si o n a nt e s de um sinto m a , m a s cerc á- lo por vá- rios<br />

lado s. Talvez a interpretaç ã o de vários sinto m a s e diagn ó stic o s<br />

individuais de um m e s m o quadr o diminua o prazer <strong>da</strong> leitura<br />

por parte <strong>da</strong>s pes s o a s não afetad a s , m a s des s a m an eira o<br />

trabalh o dos afetad o s tom a- se mais frutífero e con s e q ü e n t e . Na<br />

m e s m a linha de pens a m e n t o , surgira m no entrete m p o os livros<br />

de bols o <strong>da</strong> série “Heilen” [“Curar”], que ab ord a m<br />

9


por m e n o riz ad a m e n t e grand e s tem a s tais co m o proble m a s<br />

coron ário s e de circulaç ã o , proble m a s digestivo s e proble m a s<br />

de pes o, tornan d o pos sív el tanto um a co m pr e e n s ã o<br />

aprofund a d a dos próprios sinto m a s co m o o apren dizad o <strong>da</strong><br />

interpreta ç ã o .<br />

Para iluminar m elh or o ca m p o de abran g ê n c i a de cad a<br />

sinto m a , pres cindiu- se de um a divisã o de ac ord o co m as<br />

funçõ e s tais co m o são des critas pela m e di cin a, e m favor de um<br />

es qu e m a cab e ç a - pé. Os tem a s do cân c er e os proble m a s <strong>da</strong><br />

i<strong>da</strong>d e são as únicas exc e ç õ e s , sen d o apres e nt a d o s tanto no<br />

inicio co m o no final. Dess a m an eira, é pos sív el proc e d e r a um a<br />

exten s a introduç ã o a um deter min a d o sinto m a não só e m<br />

relaç ã o ao sim b olis m o do órg ã o afetad o m a s tam b é m ao<br />

sim b olis m o <strong>da</strong> regiã o corresp o n d e n t e .<br />

O trabalh o psicot er ap ê utic o prático co m es s e s con c eito s<br />

resultara m na ampliaç ã o de algun s ponto s e na corre ç ã o de<br />

outros. Assim, no prim eiro volum e , ab and o n a m o s parcial m e nt e<br />

a bas e <strong>da</strong> prática ho m e o p á tic a, por exe m pl o quan d o se<br />

rec o m e n d a v a ao (à) pacient e co m pres s ã o arterial baixa que<br />

imagin a s s e e fingiss e ter vigor. De fato, trata- se neste cas o de<br />

antes, confor m ar- se co m a exig ê n ci a direta do sinto m a e,<br />

portanto, de apren d er a ac eitar a fraqu ez a e exer citar a<br />

abn e g a ç ã o e a humil<strong>da</strong>d e. Significativa m e n t e , o ca minh o e m<br />

direç ã o ao pólo opo st o so m e n t e pod e resultar <strong>da</strong> liberaç ã o <strong>da</strong><br />

exig ê n ci a direta. Com o temp o, o vigor surg e <strong>da</strong> entreg a e <strong>da</strong><br />

humil<strong>da</strong>d e, não sen d o entretanto o objetivo primário. Dedicouse<br />

to<strong>da</strong> uma seç ã o à idéia ho m e o p á tic a para tornar mais claro<br />

es s e principio básic o. Ao lado do con c eito fun<strong>da</strong> m e n t al de que<br />

“a do e n ç a en o br e c e ", nest e volum e levou- se se m pr e e m<br />

con sid er a ç ã o a form a salvad or a no que se refer e a um<br />

sinto m a , o axio m a “a do e n ç a indica a tarefa a ser exe c utad a".<br />

As perguntas ao final de cad a capítulo alm eja m tanto o âm bito<br />

liberad o co m o aqu el e que ain<strong>da</strong> não foi res olvido.<br />

O capitulo "Introduç ã o à filosofia <strong>da</strong> significaçã o dos<br />

sinto m a s " é unica m e n t e um resu m o dos pres s up o st o s básic o s .<br />

Deu- se um a ênfas e esp e ci al àqu el e s ponto s que, de ac ord o<br />

1 0


co m noss a exp eri ên ci a, leva m mais freqü e nt e m e n t e a malenten<br />

did o s . De resto, a parte geral de A Doe n ç a co m o<br />

Ca minh o levou- nos a evitar as rep etiç õ e s . A Introduç ã o a este<br />

nov o volum e esta parcial m e nt e impre g n a d a <strong>da</strong>s reaç õ e s ao<br />

prim eiro e, nest e cas o , pres s up õ e sua existên ci a. Tem a s<br />

con cr et o s tais co m o "polari<strong>da</strong>d e e uni<strong>da</strong>d e", "be m e m al” e<br />

“so m b r a s” so m e n t e são tocad o s para e m b a s a r nov o s con c eito s<br />

tais co m o os ca m p o s de des e n v o l vi m e n t o e os rituais.<br />

Os grand e s ca m p o s tem átic o s , tais co m o o coraç ã o , os<br />

nervo s e o fígad o, tratad o s por outro lado no prim eiro volum e<br />

ou nos livros de bols o <strong>da</strong> série "Heilen" ["Curar"], não são<br />

rep etido s.<br />

Certam e nt e foi nec e s s á ri o reto m ar e ampliar<br />

con sid er a v el m e n t e todo o tem a do cân c er, tend o e m vista o<br />

cân c er mais freqü e nt e nas mulh er e s , o cân c er de m a m a .<br />

Tend o servido original m e nt e co m o en c err a m e n t o ao prim eiro<br />

volu m e , o capítulo so br e o cân c er provou ser en g a n o s o para<br />

muitos(as) pacient e s por colo c ar de m a s i a d a ênfas e no<br />

segun d o pas s o do aprendizad o , o am or, m e n o s p r e z a n d o o<br />

nec e s s á ri o prim eiro pas s o , o <strong>da</strong> luta.<br />

Por fim, resta- m e ain<strong>da</strong> lam e nt ar que Thorwald Dethlefs e n,<br />

que imprimiu sua m ar c a e m todo este principio, tenha- se<br />

retirado de man eira tão definitiva <strong>da</strong> ativi<strong>da</strong>d e pública, a ponto<br />

de não se deixar conv e n c e r a participar <strong>da</strong> continuaç ã o do<br />

trabalh o co m e ç a d o .<br />

1 1


Primeira Parte<br />

1<br />

Introdução à Filosofia <strong>da</strong> Significação dos Sintomas<br />

1. Interpretação e valoração<br />

O titulo A Do e n ç a co m o Ca minh o levou a alguns m alenten<br />

did o s . Ele dev e ser enc ar a d o de man eira ab s oluta m e n t e<br />

literal e se m qualqu er atributo de valor. A do e n ç a é um<br />

ca min h o que pod e ser perc orrido, ne m bo m ne m mau e m si<br />

m e s m o . O que fazer a resp eito dep e n d e única e<br />

exclusiva m e n t e do afetad o. Eu viven ci ei co m um a série de<br />

pacient e s co m o eles perc orr er a m con s ci e nt e m e n t e es s e<br />

ca min h o e puder a m con statar retrosp e ctiva m e n t e que "seu<br />

exc e s s o de pes o", "seu infarto do mio c ár dio" ou até m e s m o<br />

"seu cân c er" transfor m ar a m - se e m um a grand e oportuni<strong>da</strong>d e .<br />

Hoje é precis o assu mir que foi seu infarto do mio c ár di o que<br />

levou santa Tere s a de Ávila a perc orr er o ca minh o que<br />

perc orr eu. Sab e m o s quã o intima m e n t e as visõ e s de Hildeg ard<br />

von Bingen estav a m liga<strong>da</strong> s à sua enxa q u e c a . Estas duas<br />

mulh er e s extraordinárias evid e nt e m e n t e rec e b e r a m as<br />

m e n s a g e n s trans miti<strong>da</strong>s por seus sinto m a s e transfor m ar a m<br />

suas vi<strong>da</strong>s de m an eir a exe m pl ar. É isso exata m e n t e o que<br />

exig e A Do e n ç a co m o Ca minh o: aprend er e cres c e r a partir dos<br />

próprios sinto m a s .<br />

Utilizar mal es s e con c eito e a filosofia que subjaz a ele é um<br />

grand e mal- enten did o. O es ot eris m o não tem na<strong>da</strong> a ver co m a<br />

atribuiçã o de culpa, tratand o- se, tal co m o esta explicitado<br />

exten s a m e n t e no prim eiro volu m e , de que cad a pes s o a é<br />

fun<strong>da</strong> m e n t al m e n t e culpad a por ter se sep ar a d o <strong>da</strong> uni<strong>da</strong>d e.<br />

Ser culpad o não é um a que st ã o de pequ e n a s ou grand e s faltas<br />

co m e tid a s na vi<strong>da</strong> cotidian a, ma s de algo fun<strong>da</strong> m e n t al. A culpa<br />

1 2


hum a n a primordial resid e no ab and o n o <strong>da</strong> uni<strong>da</strong>d e<br />

paradisíac a. A vi<strong>da</strong> neste mund o de opo st o s é<br />

nec e s s a ria m e n t e ch eia de faltas e serv e para que se<br />

reen c o ntr e o ca min h o de volta à uni<strong>da</strong>d e. Ca<strong>da</strong> falta e cad a<br />

sinto m a significa m ele m e n t o s que faltam para a perfeiç ã o ,<br />

transfor m a n d o - se e m oportuni<strong>da</strong>d e s de des e n v olvi m e nt o .<br />

Distorc er o significad o <strong>da</strong> do e n ç a para avaliar outras<br />

pes s o a s é um m al- enten did o so b vários ponto s de vista. Ele<br />

não pod e servir para a atribuiçã o de culpa, já que a culpa<br />

primordial foi distribuí<strong>da</strong> há muito e não precis a de nenhu m a<br />

colab o r a ç ã o hum a n a. Da m e s m a form a, pod ería m o s<br />

con gr atular os afetad o s por suas do e n ç a s devid o às<br />

pos sibili<strong>da</strong>d e s de des e n v olvi m e nt o e aprendizad o nelas<br />

conti<strong>da</strong> s. Os assi m cha m a d o s “primitivo s" estã o bastant e mais<br />

avan ç a d o s que nós nes s e sentido, já que con sid er a m os<br />

sinto m a s <strong>da</strong> do e n ç a co m o golp e s do destino e m suas vi<strong>da</strong>s, e<br />

os ac eita m de bo m grad o co m o prova s. Em muitas tribos, o<br />

candi<strong>da</strong>t o a xam ã sofre sua do e n ç a de iniciaç ã o , único m ei o<br />

que pod e introduzi- lo e m nov o s ca m p o s de exp eriên ci a. Às<br />

vez e s es s e pen s a m e n t o é seguid o de m an eira tão<br />

con s e q ü e n t e que um curand eiro so m e n t e pod e tratar aqu el e s<br />

sinto m a s que ele m e s m o pad e c e u de corpo e alm a. Essa<br />

postura é forços a cas o se enten d a o curand eir o co m o sen d o<br />

um guia de alm a s pelo s mun d o s interiores, já que, afinal, um<br />

guia de viag e n s dev eria con h e c e r de ante m ã o o país atrav é s<br />

do qual guia os outros.<br />

Entre nós existe m so m e n t e traço s des s a m an eira de pens ar.<br />

Assim, e m ale m ã o se rec o n h e c e a “cura enviad a" (ge s c hi c kt e<br />

Heil, do latim salu s = Heil) na palavra destino (Schick s al ).<br />

Dever- se- ia pen s ar tam b é m nas prova s de m e di c a m e n t o s dos<br />

ho m e o p a t a s . Ness e cas o, o m é di c o pen etra de livre e<br />

esp o nt â n e a vontad e no âm bito de exp eriên ci a s <strong>da</strong> do e n ç a para<br />

rec o n h e c e r o padrã o de seu m e dic a m e n t o , ou m ei o de cura. E<br />

finalm e nt e esp er a m o s co m razã o que um psicot er ap e ut a tenha<br />

viajad o exten s a m e n t e pelo s país e s aní mic o s próprios e<br />

coletivo s e que saib a aond e está ac o m p a n h a n d o seu pacient e.<br />

1 3


Acusar o fato fun<strong>da</strong> m e n t al e que nos une a todo s, o estar<br />

do e nt e de um a pes s o a , um a difícil ép o c a de aprendizad o co m<br />

as corre s p o n d e n t e s oportuni<strong>da</strong>d e s de cres ci m e n t o , não leva a<br />

lugar algu m. Isso, pelo m e n o s , não tem na<strong>da</strong> a ver co m “a<br />

do e n ç a co m o ca min h o ", e sim co m o des ej o de ator m e nt ar<br />

algué m .<br />

Quem transfor m a seu ded o indicad or e m arm a e,<br />

“interpretan d o " seus sinto m a s , incrimina outras pes s o a s ou<br />

culpa a si m e s m o e m relaç ã o a isso, dá a enten d er alé m do<br />

mais que co m pr e e n d e u mal todo o principio. O mau uso <strong>da</strong><br />

interpreta ç ã o co m o incrimina ç ã o , segun d o o lem a “voc ê está<br />

co m prisão de ventre porqu e é um trem e n d o de um avar e nt o!",<br />

implica no des c o n h e c i m e n t o do caráter de so m b r a que existe<br />

e m cad a sinto m a de um a do e n ç a . Por definiçã o, so m b r a é o<br />

que é incon s ci e nt e para o afetad o. Por isso m e s m o , a pes s o a<br />

incriminad a des s a man eira não pod er á de m o d o algu m ac eitar<br />

a interpretaç ã o . Se ela soub e s s e que é avar e nta, não hav eria a<br />

m e n o r razão pata que tives s e prisão de ventre. A so m b r a não<br />

assu m e o ataqu e. Ao contrário, é precis o proc e d e r co m<br />

extre m a cautela nest e que é o tem a m ais difícil de nos s a<br />

existên ci a. O afetad o precis a de to<strong>da</strong> a sua en er gia e de muito<br />

esp a ç o e m term o s de am bi e nt e para, de pequ e n o pas s o e m<br />

pequ e n o pas s o , des c o b rir sua relaç ã o co m o tem a expres s o no<br />

sinto m a <strong>da</strong> do e n ç a . Para isso a valora ç ã o é tão prejudicial<br />

quanto a interpretaç ã o é significativa.<br />

Quem culpa a si m e s m o des s a man eira deixa igualm e nt e de<br />

rec o n h e c e r as oportuni<strong>da</strong>d e s de cres ci m e n t o <strong>da</strong> do e n ç a . Ver o<br />

plan o <strong>da</strong> alm a atrav é s do sinto m a não mud a na<strong>da</strong> ne m devid o<br />

à culpa fun<strong>da</strong> m e n t al ne m devid o ao s fatos con cr et o s do<br />

probl e m a e m que st ã o . Isso tamp o u c o faz co m que um a pes s o a<br />

se tom e m elh or ou pior; ela se tom a única e exclusiva m e n t e<br />

mais sábia e co m m ais con s ci ê n ci a de resp o n s a bili<strong>da</strong>d e . Caso<br />

se ignor e es s e con h e ci m e n t o e a resp o n s a bili<strong>da</strong>d e nele<br />

implícita, pouc o mud a, tudo continua co m o antes. Caso<br />

contrário, se assu m e a resp o n s a b ili<strong>da</strong>d e pelo próprio destino, a<br />

do e n ç a transfor m a- se e m oportuni<strong>da</strong>d e e pos sibilita resp o n d e r<br />

14


às indicaç õ e s do próprio padrã o.<br />

O proc e di m e n t o para isso não é de form a algu m a difícil.<br />

Qualquer um pod e indicar na sup erfície do corpo, ou seja,<br />

colo c ar o ded o so br e o lugar que lhe caus a incô m o d o s . O<br />

objetivo dest e livro é relacion ar es s a exp eri ên ci a co m o plan o<br />

aní mic o. Apontar co m o ded o corpór e o era tão óbvio ante s<br />

quanto o é ag or a. Trata- se de colo c ar o ded o na feri<strong>da</strong> e m<br />

sentido figurad o. Isso exig e cora g e m , m a s ne m tanta assi m,<br />

pois a feri<strong>da</strong> já está lá. Ela não surg e no m o m e n t o e m que se<br />

colo c a o ded o so br e ela, so m e n t e se torna mais con s ci e nt e.<br />

Através des s e pas s o corajo s o obté m - se, a long o prazo, a<br />

pos sibili<strong>da</strong>d e de curar- se.<br />

2. Cegueira de si mesmo e projeção<br />

A oportuni<strong>da</strong>d e m e s m a não se en c o ntra na interpreta ç ã o de<br />

sinto m a s alhei o s e sim na interpreta ç ã o dos próprios sinto m a s .<br />

Isso é dificultado pela onipre s e nt e ce g u eira de si m e s m o . A<br />

probl e m á tic a <strong>da</strong> projeç ã o , nos s a tend ê n ci a de transp ortar tudo<br />

o que é incô m o d o e difícil para fora e lá tam b é m elab or á- lo e<br />

co m b a t ê- lo, prova ser prejudicial tam b é m no que se refer e à<br />

interpreta ç ã o dos sinto m a s . Ao m e s m o temp o que<br />

rec o n h e c e m o s clara m e n t e o cisc o no olho dos outros, de bo m<br />

grad o deixa m o s de ver a trave que tem o s no nos s o . A<br />

exp eriên ci a co m A Doe n ç a co m o Ca minh o resultou e m um<br />

padrã o notáv el. Às interpretaç õ e s de sinto m a s verb alizad a s por<br />

amig o s e con h e ci d o s contrap õ e - se um grand e "Mas" no que se<br />

refer e ao s próprios sinto m a s . O que tinha funcion a d o de<br />

man eira tão convinc e nt e co m os parc eiro s ou sogr o s, de<br />

rep ent e falhav a.<br />

Interpretar os sinto m a s <strong>da</strong> do e n ç a é trabalhar nas so m b r a s<br />

e, justa m e nt e por es s a razão, freqü e nt e m e n t e des a g r a d á v el.<br />

Pode- se inclusive con cluir a partir diss o que as interpreta ç õ e s<br />

orais trop e ç a m na recus a esp o ntân e a . Se um a interpreta ç ã o de<br />

rep ent e pare c e agrad á v el, ela ou não é correta ou, de qualqu er<br />

1 5


form a, não é suficiente m e n t e profun<strong>da</strong>. Ness e cas o , o m ais<br />

simpl e s é aprend er co m os sinto m a s alhei o s e entã o aplicar<br />

es s e s con h e ci m e n t o s e m si m e s m o . O con c eito so m e n t e<br />

adquire sentido co m o con s e q ü ê n c i a des s e difícil pas s o . Mas<br />

entã o ele transfor m a- se e m um ver<strong>da</strong>d eir o ca minh o de autocon<br />

h e ci m e n t o e auto- realizaç ã o .<br />

Em relaç ã o a outros siste m a s de interpreta ç ã o ,<br />

esp e ci al m e n t e do âm bito es ot éric o, o sim b olis m o dos sinto m a s<br />

tem a vantag e m de não deixar pratica m e n t e qualqu er m ar g e m<br />

para mal- enten did o s quanto à área afetad a. O risco de<br />

interpretar um a úlcera do estô m a g o co m o sen d o um sinal de<br />

um iminent e proc e s s o de fulminaç ã o imediata é be m m e n o r. O<br />

corp o confirm a que se trata aqui de uma tarefa de aprendizad o<br />

palpáv el, substanci al m e nt e enraizad a no mun d o mat erial.<br />

3. Valoração dos sintomas<br />

À prim eira vista, a diferen ç a m ais marc a nt e e m relaç ã o à<br />

m e di cin a usual é a noss a avaliaç ã o positiva dos sinto m a s . Em<br />

vez de aliar- se ao pacient e contra seus sinto m a s , co m o é<br />

costu m e , trata- se de aliar- se ao m e s m o temp o ao s sinto m a s<br />

para rec o n h e c e r o que falta ao pacient e e pres e nt e á - lo tanto<br />

co m es s e s sinto m a s co m o co m as suas car ên ci a s. O sinto m a ,<br />

quan d o liberad o de sua valora ç ã o neg ativa, pod e se<br />

transfor m ar e m um exc el e nt e indicad or de ca minh o e guiar- nos<br />

ao s tem a s car en ci ais, aju<strong>da</strong>n d o a que nos tom e m o s mais<br />

saud á v ei s e íntegr o s.<br />

Há aqui uma imen s a oportuni<strong>da</strong>d e de cres ci m e n t o , já que<br />

to<strong>da</strong>s as pes s o a s apre s e nt a m sinto m a s . Quanto a este último<br />

conto, imp er a um a rara unani mi<strong>da</strong> d e e m todo s os ca m p o s <strong>da</strong><br />

m e di cin a. A m e dicin a ac ad ê m i c a , co m seus m ét o d o s de<br />

pes q uis a cad a vez m ais refinad o s , enc o ntra algu m desvi o <strong>da</strong><br />

nor m a e m pratica m e n t e todo s os ser e s hum a n o s . As<br />

estatística s de saúd e 1 , que são na ver<strong>da</strong>d e estatística s de<br />

do e n ç a , falam um a lingua g e m igualm e nt e clara. A m e di cin a<br />

1 6


natural, co m seus proc e di m e n t o s de diagn ó stic o ain<strong>da</strong> m ais<br />

sen sív ei s, já não enc o ntra m ais indivíduo s saud á v ei s. As duas<br />

tend ê n ci a s co m b at e m es s e estad o de coisa s, en quant o a<br />

religião e o es ot eris m o o ac eita m co m o sen d o uma reali<strong>da</strong>d e<br />

inevitáv el. Segund o sua con c e p ç ã o , o ser hum a n o é um<br />

univers o polar nec e s s a ria m e n t e não saud á v el, e m bus c a <strong>da</strong><br />

uni<strong>da</strong>d e perdi<strong>da</strong> que ele deixou no Paraís o quan d o<br />

e m pr e e n d e u seu ca min h o de des e n v olvi m e nt o . É interes s a nt e<br />

notar que a m an eir a pela qual a saúd e é defini<strong>da</strong> pela OMS 2 e<br />

que é adota d a pela m e di cin a ac ad ê m i c a lem br a a tradiçã o<br />

es ot éric a. Trata- se de um estad o livre de sofrim e nt o físico,<br />

espiritual e social. Cons e q ü e n t e m e n t e , fora dos livros de<br />

anato mi a e fisiologia não existe neste mund o um único ser<br />

hum a n o são.<br />

Tanto se ve m o s noss o estad o geral de do e n ç a co m o um<br />

es c â n d al o <strong>da</strong>s políticas de saúd e ou co m o sen d o a nec e s s á ri a<br />

con s e q ü ê n c i a de noss o desvi o <strong>da</strong> Uni<strong>da</strong>d e, per m a n e c e o fato<br />

de que todo s tem o s sinto m a s e, co m isso, a oportuni<strong>da</strong>d e de<br />

cres c e r a partir deles. A que st ã o é: quer e m o s continuar<br />

tentan d o o que tem fracas s a d o há milênio s, ou seja, eliminá- los<br />

do mund o , ou quer e m o s fazer o esforç o de rec o n h e c ê - los<br />

co m o indicad or e s de ca min h o e segui- los?<br />

4. Deslocamento de sintomas em duas direções<br />

A m e di cin a é ab s oluta m e n t e a única que acredita pod er<br />

eliminar cois a s do mund o. Os quí mic o s e os físico s sab e m e<br />

prova m que so m e n t e é pos sív el a transfor m a ç ã o de um a<br />

manife staç ã o e m outra, jam ais um des a p ar e ci m e n t o se m<br />

repo siç ã o .<br />

Através do aqu e ci m e n t o de um bloc o de gelo, m at éria sóli<strong>da</strong><br />

transfor m a- se e m água. Caso continu e m o s a aqu e c ê - la, o<br />

liquido pas s a para a form a gas o s a , transfor m a n d o - se e m<br />

vap or. Através do resfriam e nt o , es s e proc e s s o pod e ser<br />

rev ertido, gás transfor m a n d o - se e m líquido que por sua vez se<br />

17


transfor m a e m gelo sólido. Isso é óbvio para nós, e é explicad o<br />

pela física atrav é s <strong>da</strong> lei <strong>da</strong> con s er v a ç ã o de en er gia, segun d o a<br />

qual a so m a <strong>da</strong> en er gi a per m a n e c e se m pr e con sta nt e. Na<strong>da</strong><br />

jam ais é real m e nt e aniquilad o.<br />

A física en sin a ain<strong>da</strong> que as várias form a s de manife staç ã o<br />

<strong>da</strong> água estã o liga<strong>da</strong>s a diferent e s estad o s de vibraç ã o de suas<br />

m ol é c ul a s. No estad o sólido, os co m p o n e n t e s m ol e c ular e s<br />

básic o s vibra m a um a freqü ê n ci a relativa m e n t e baixa. No<br />

âm bito líquido eles estã o en er g etic a m e n t e m ais estimulad o s e<br />

vibra m mais rapi<strong>da</strong> m e n t e . No estad o gas o s o sua estimulaç ã o e<br />

con s e q ü e n t e m e n t e sua freqü ê n ci a são as mais altas pos sív ei s.<br />

O es ot eris m o deriva um a interpreta ç ã o corre s p o n d e n t e ao<br />

relacion ar o sólido ao ele m e n t o terra, mat erial, o liquido à água<br />

aní mic a e a form a gas o s a ao espiritual, ele m e n t o ar.<br />

Transp o st o para o tem a e m questã o , isto significa o seguinte: o<br />

corp o, co m o expres s ã o do mun d o m at erial, tem a freqü ê n ci a<br />

de vibraç ã o mais baixa, o plano aní mic o tem um a freqü ê n ci a<br />

m é di a, en qu a nt o o plan o m e ntal tem a freqü ê n ci a mais alta.<br />

Para que um tem a que se degr a d o u ao plan o inferior de<br />

freqü ê n ci a de vibraç ã o co m o sinto m a corpor al seja elev a d o ao<br />

nível aní mic o, é precis o injetar- lhe en er gia. Mais en er gia ain<strong>da</strong><br />

é nec e s s á ria para elev á- lo ao plan o m e ntal. Na interpreta ç ã o<br />

dos sinto m a s <strong>da</strong> do e n ç a , es s a en er gia dev e surgir so b a form a<br />

de con s ci e ntizaç ã o e de entreg a.<br />

No proc e s s o contrário, o do surgimento <strong>da</strong> doença , es s a<br />

en er gi a foi arm az e n a d a . Quando um tem a co m o qual não<br />

quer e m o s li<strong>da</strong>r se aproxi m a de nós, ec o n o m i z a m o s en er gia ao<br />

deixar que ele m er gulh e no âm bito aní mic o e, mais long e<br />

ain<strong>da</strong>, no corp o. Aquilo que não quer e m o s ter na con s ci ê n ci a e,<br />

ignoran d o , acr edita m o s deixar de lado, aterriss a de fato ao lado<br />

ou, na termin ol o gi a de C. G. Jung, na sombra . A so m b r a<br />

con sist e portanto de tudo aquilo que não perc e b e m o s e não<br />

ac eita m o s , e que gostaría m o s de não ver. Em posiç ã o<br />

diam etr al m e n t e opo sta está o Ego, que con siste de tudo aquilo<br />

que ac eita m o s e m nós e co m o qual nos identifica m o s . Neste<br />

sentido, não há nen hu m Ego ne m nen hu m ser hum a n o que se<br />

1 8


alegr e ao reen c o ntr ar os tem a s acu m ul a d o s na so m b r a.<br />

Com o, entretanto, a so m b r a é um a parte nec e s s á ria de<br />

noss a totali<strong>da</strong>d e, so m e n t e pod e m o s tornar- nos são s, no<br />

sentido de íntegr o s, atrav é s justa m e n t e de sua integra ç ã o .<br />

Uma pes s o a inteira con siste de eg o e so m b r a. Os dois juntos<br />

resulta m no “si m e s m o " , ou s elf, que repres e nt a a pes s o a<br />

integrad a, que realizou a si m e s m a . A ac eitaç ã o e a elab or a ç ã o<br />

dos tem a s <strong>da</strong> so m b r a m at erializad o s nos sinto m a s é<br />

con s e q ü e n t e m e n t e um ca minh o de bus c a de si m e s m o .<br />

Sinto m a s são m anifesta ç õ e s <strong>da</strong> so m b r a muito ac e s s í v ei s<br />

devido ao fato de tere m e m er gid o <strong>da</strong>s profund ez a s <strong>da</strong> alm a<br />

para a sup erfície do mund o corp ór e o , tom a n d o - se assi m<br />

exc e p ci o n ai s indicad or e s do ca min h o <strong>da</strong> perfeiç ã o .<br />

O fenô m e n o do desl o c a m e n t o dos sinto m a s co m suas duas<br />

direç õ e s diferent e s ficará m ais claro co m o exe m pl o con cr et o<br />

de um a úlcera esto m a c a l. O con c eito foi difundido pela<br />

m e di cin a e pela psicolo gi a ac ad ê m i c a quan d o se rec o n h e c e u<br />

que sinto m a s "eliminad o s " pela terapia voltava m a e m e r gir e m<br />

outro lugar. Para a m e dicin a aca d ê m i c a , fixa<strong>da</strong> no corp o, o<br />

deslo c a m e n t o de sinto m a s tam b é m oc orr e, natural m e nt e, no<br />

corp o. Cinica m e n t e , pod er- se- ia dizer que os sinto m a s<br />

deslo c a m - se de órgã o para órgã o, de pacient e para<br />

esp e ci alista e de esp e ci alista para esp e ci alista.<br />

Quem procura o m é dic o devido a m ol é stias nervo s a s do<br />

estô m a g o , geral m e n t e rec e b e hoje e m dia um psicofár m a c o<br />

que produz um assi m cha m a d o deslig a m e n t o psicov e g e t ativ o.<br />

Isso quer dizer que a ligaç ã o entre os nervo s veg et ativo s do<br />

estô m a g o e a psiqu e é bloqu e a d a quimic a m e n t e , o que entã o<br />

imp e d e que o estô m a g o reaja ao s impuls o s <strong>da</strong> psiqu e. A<br />

rem o ç ã o <strong>da</strong> dor, que não m o difica na<strong>da</strong> na situaç ã o <strong>da</strong> pes s o a<br />

afetad a, tem um efeito tem p or al m e n t e limitado. O pas s o<br />

seguinte <strong>da</strong> m e di cin a ac ad ê m i c a seria o deslig a m e n t o<br />

psicov e g e t ativo por via cirúrgica, ond e os ram o s<br />

corre s p o n d e n t e s do nervo vag o são sec ci o n a d o s . Caso já seja<br />

tarde de m ai s para isso tam b é m , amputa- se um ou dois terço s<br />

do estô m a g o ultrafatigad o. O que não existe m ais não pod e<br />

19


do er, esta é a lógica tão simple s quanto míop e, já que log o o<br />

estô m a g o diminuído des s a m an eira co m e ç a a apres e nt ar<br />

outros probl e m a s digestivo s. Todo s es s e s pas s o s visa m<br />

exclusiva m e n t e o corp o. Os sinto m a s são deslo c a d o s para o<br />

corp or al e, ao m e s m o temp o, para o plano horizontal.<br />

A alternativa seria desl o c á- los na vertical: do plano corp or al<br />

para o aní mic o e, finalm e nt e, para o plano m e ntal. Entretanto,<br />

para pas s ar de um plan o de baixa freqü ê n ci a de vibraç ã o para<br />

outro de freqü ê n ci a mais alta é nec e s s á ri a um a certa<br />

quanti<strong>da</strong>d e de en er gi a que o próprio afetad o dev e prov er.<br />

Neste cas o, o m é di c o pod e unica m e n t e des e m p e n h a r o pap el<br />

de catalisad or 3 . Com o eng aja m e n t o con s ci e nt e é pos sív el ir<br />

e m busc a <strong>da</strong>s razõ e s aní mic a s <strong>da</strong> dor de estô m a g o . O que<br />

pres si o n a es s e estô m a g o , o que é que se en g ol e e que não é<br />

digerív el, o que leva a este ato de auto dilac er a m e n t o que to<strong>da</strong><br />

úlcera do estô m a g o repre s e nt a? É pos sív el, atrav é s <strong>da</strong><br />

pes q uis a corresp o n d e n t e . enc o ntrar e elab or ar os padrõ e s de<br />

con s ci ê n ci a que estã o por trás dos tem a s assi m sen si bilizad o s .<br />

Tal desl o c a m e n t o de sinto m a s na vertical tem a vantag e m de<br />

não per mitir que a es c al a d a <strong>da</strong> sinto m átic a continue, tornand oa,<br />

ao contrário, solúv el.<br />

5. Forma e conteúdo<br />

Os plan o s do corp o, <strong>da</strong> alm a e <strong>da</strong> m e nt e, dispo sto s<br />

vertical m e nt e um so br e o outro, corresp o n d e m ao s âm bito s <strong>da</strong><br />

form a e do conteúd o . O corpo repres e nt a o asp e ct o form al,<br />

en qu a nt o tanto a alm a co m o o espírito form a m o cont eú d o . Do<br />

ponto de vista religios o e es ot éric o es s e paralelis m o é óbvio,<br />

sen d o , ao contrário, estran h o para as ciên cias naturais. Para<br />

os antigo s, to<strong>da</strong> form a, e portanto to<strong>da</strong> cois a, era a<br />

manife staç ã o <strong>da</strong> idéia que está por trás dela. Goeth e ain<strong>da</strong><br />

formulou se m ser refutad o: "Tudo o que é transitório é so m e n t e<br />

uma m etáfora". Em muitas áre a s <strong>da</strong> vi<strong>da</strong>, <strong>da</strong> arte à técnic a, a<br />

relaç ã o entre form a e conteúd o é evid e nt e para nós até hoje.<br />

20


Nós apre cia m o s um a es c ultura de Michelan g el o por aquilo que<br />

ela expres s a . Por m ais important e que seja it mat erial, ele ve m<br />

dep ois do conteú d o . A lâmp a d a de alerta que se ac e n d e e m<br />

um apar elh o técnic o nos leva a investigar as caus a s<br />

subjac e nt e s . Nós quer e m o s sab er o que a lâmp a d a ac e s a<br />

significa. Entretanto, quan d o o corp o expres s a dolor o s o s sinais<br />

de alar m a, muitas pes s o a s tenta m subjug á- los co m<br />

co m pri mid o s se m aprofund ar- se e m busc a <strong>da</strong>s caus a s . Por<br />

que justa m e nt e os sinais do corp o não significaria m na<strong>da</strong>?<br />

Nossa saúd e já estaria aten di<strong>da</strong> se tratás s e m o s o corpo de<br />

man eira tão con s ci e nt e co m o o faze m o s co m qualqu er<br />

má q uin a.<br />

O exe m pl o seguinte pod e es clar e c e r a relaç ã o entre a<br />

m e di cin a científica e a m e dicin a interpretativa. Suponh a m o s<br />

que, ao ser perguntad o so br e a última peç a de teatro, um<br />

con h e ci d o resp o n d a: "O palco tinha oito m etro s de largura por<br />

quatro de profundi<strong>da</strong>d e e dois m etro s de altura. Havia 14<br />

atore s, dentre eles oito mulh er e s e seis ho m e n s . Os figurino s<br />

fora m feitos co m 86 m etro s de linho e 45 m etro s de se<strong>da</strong>, o<br />

palc o estav a iluminad o por 35 holofote s [...], etc.". Nós<br />

ficaría m o s bastant e insatisfeitos co m es s a resp o st a, ma s<br />

valoriza m o s muito um m é dic o que, apó s o exa m e , nos<br />

co m u nic a uma série de <strong>da</strong>d o s e fatos so br e noss o corpo. Esse<br />

m é di c o , que flutua no âm bito form al, deixa que seus pacient e s<br />

fique m igual m e nt e boian d o no ar. Som e nt e ao final, após to<strong>da</strong><br />

a enu m e r a ç ã o <strong>da</strong>s m e di<strong>da</strong> s e dos resultad o s obtido s, quan d o<br />

ele diz, por exe m pl o, que "tudo isso cha m a - se pneu m o n i a", é<br />

que o pacient e se sent e um pouc o m ais es clar e cid o . Agora o<br />

m é di c o interpretou seus núm er o s e seus resultad o s , e aquilo<br />

que expres s a m imediata m e n t e adquire sentido para o afetad o.<br />

Neste ponto, noss o princípio unica m e n t e dá mais algun s<br />

pas s o s adiante. Pois naturalm e nt e é pos sív el pros s e g uir um<br />

pouc o m ais nesta direç ã o significativa co m a pergunta: o que<br />

significa pneu m o ni a? O local nos dá o resp e ctivo plan o<br />

afetad o . Os pulm õ e s são o órg ã o <strong>da</strong> troca de gas e s , co m sua<br />

aju<strong>da</strong> nós tam b é m nos co m u ni c a m o s , pois a lingua g e m surg e<br />

21


atrav é s <strong>da</strong> m o dulaç ã o do fluxo respiratório. Todo s nós<br />

respira m o s o m e s m o ar e, portanto, esta m o s e m contato uns<br />

co m os outros atrav é s dos pulm õ e s . No corp o, os dois pulm õ e s<br />

liga m o lado es qu er d o e o direito, assi m co m o a respiraç ã o<br />

tam b é m liga a con s ci ê n ci a co m o incon s ci e nt e. Nenhu m a outra<br />

funçã o orgânic a tem ac e s s o ao s dois plan o s de m an eir a tão<br />

equival e nt e. Com o órgã o pulm ã o é enun ciad o tam b é m o plano<br />

do probl e m a e o tem a do contato, <strong>da</strong> co m u nic a ç ã o . Tal co m o<br />

de m o n s tr a m insistent e m e n t e os resultad o s <strong>da</strong> m e di cin a<br />

ac ad ê m i c a , um a inflam a ç ã o é um conflito bélico, um a guerra.<br />

Os anticorp o s lutam contra o ag e nt e caus a d o r, que é arm a d o ,<br />

co m b a tid o, m orto e ven cid o. Cons e q ü e nt e m e n t e , co m um a<br />

pneu m o n i a [inflam a ç ã o dos pulm õ e s] nós en c arn a m o s um<br />

conflito no âm bito <strong>da</strong> co m u nic a ç ã o . Após es s a interpreta ç ã o ,<br />

que já vai um pouc o m ais long e, pod e- se pros s e g uir e<br />

continuar interpretan d o : por que justa m e n t e co mi g o ,<br />

justa m e nt e isso, justa m e n t e ag or a? O que é que isso impe d e , a<br />

que m e força?<br />

De qualqu er m an eira, interpreta ç õ e s real m e nt e ac ertad a s<br />

resulta m so m e n t e quan d o o contexto individual é delimitad o e a<br />

sinto m átic a, se m pr e esp e cifica, e levad a e m con sid er a ç ã o . A<br />

interpreta ç ã o de diagnósticos e m proc e di m e n t o s sum ário s, tal<br />

co m o já ac o nt e c e u , é tão ineficaz co m o o próprio diagn ó stic o.<br />

Ain<strong>da</strong> assi m faz sentido interpretar diagn ó stic o s , e m b o r a isso<br />

contribua ap en a s co m algu m a s pedrinha s na co m p o s i ç ã o do<br />

grand e m o s ai c o que é o quadr o <strong>da</strong> do e n ç a . Seja m eles<br />

con stituído s de voc á b ul o s latinos ou, m ais rec e nt e m e n t e , e m<br />

inglês, a prim eira cois a que se rec o m e n d a é a traduç ã o . A<br />

traduç ã o do diagn ó stic o se m pr e joga algu m a luz so br e o<br />

sinto m a . Alguns diagn ó stic o s simples m e n t e implod e m ,<br />

perd e n d o assi m pelo m e n o s sua cap a ci<strong>da</strong>d e de assu star.<br />

Paciente s abalad o s pod e m rec o br ar o ânim o , por exe m pl o,<br />

atrav é s <strong>da</strong> traduç ã o do "veredicto" PCP 4 : Poli (muitas) Artrite<br />

(inflam a ç ã o <strong>da</strong> articulaç ã o) Crônica (de evoluç ã o lenta)<br />

P rimária (desd e o inicio). Não é precis o m é di c o algu m para tal<br />

22


diagn ó stic o. O próprio paci ent e sab e que des d e o principio<br />

muitas articulaç õ e s co m e ç a r a m lenta m e n t e a se inflam ar.<br />

Confrontar form a e conteúd o pod e aju<strong>da</strong>r a es clar e c e r o<br />

quanto am b o s são importante s. Nenhu m a peç a de teatro faz<br />

sentido se m um palco e se m atore s, ela no míni m o caus aria<br />

uma impre s s ã o pen o s a cas o não houv e s s e figurinos, se m<br />

ilumina ç ã o o sentido per m a n e c e ri a nec e s s a ri a m e n t e ob s c ur o.<br />

To<strong>da</strong> s es s a s cois a s são importante s , ma s elas não são tudo. A<br />

situaç ã o é análo g a e m relaç ã o ao s diagn ó stic o s e <strong>da</strong>d o s<br />

m étrico s do corp o. Eles são indisp e n s á v ei s para a des criç ã o<br />

dos asp e ct o s form ais, e nós obvia m e n t e tam b é m os usa m o s<br />

co m o ponto de parti<strong>da</strong>. Eles pos sibilitam o prim eiro pas s o e<br />

torna m- se co m isso condiç ã o nec e s s á ri a para o se gund o ,<br />

en c o ntrar o sentido, ou seja, a interpreta ç ã o . Mas eles<br />

natural m e nt e não a sub stitue m .<br />

A m e di cin a ac ad ê m i c a , portanto, forne c e uma bas e<br />

importante, e a m e dicin a interpretativa não a torna sup érflua,<br />

am pliand o- a su b st a n cia lment e. Não há portanto qualqu er<br />

ataqu e fun<strong>da</strong> m e n t al a ela de nos s a parte. De fato, am b a s as<br />

tend ê n ci a s têm a m e s m a bas e, o corpo hum a n o , m a s seus<br />

âm bito s principais de ativi<strong>da</strong>d e estã o e m plano s diferent e s .<br />

A m e dicin a ac ad ê m i c a restringiu- se ao corp o, e no âm bito<br />

<strong>da</strong>s rec o n stituiçõ e s realiza muitas vez e s ver<strong>da</strong> d eir o s milagr e s.<br />

Mais rec e nt e m e n t e , ela deixou a preo c up a ç ã o co m a alm a para<br />

a psicolo gi a, e a teolo gia há muito enc arr e g o u- se do espírito.<br />

Quem atac a a m e dicin a ac ad ê m i c a por não curar sua alm a faz<br />

co m o aqu el e que visita uma piscina pública e se queixa porqu e<br />

não tem vista para o m ar. Não lhe pro m et er a m isso, assi m<br />

co m o a m e di cin a hoje não pro m et e m ais a cura do corp o, <strong>da</strong><br />

alm a e do espírito, limitand o- se m o d e s t a m e n t e a um bo m<br />

trabalh o de repara ç ã o no âm bito do corp o.<br />

A m e di cin a ac ad ê m i c a co m p artilha a retira<strong>da</strong> do plan o<br />

interpretativo co m a m ai oria <strong>da</strong>s práticas naturalistas 5 . Ambas<br />

são mais se m e l h a nt e s do que e m geral se supõ e, pois parte m<br />

<strong>da</strong> m e s m a visão m e c â ni c a do mun d o . Elas procura m as<br />

caus a s no pas s a d o e co m p et e m para ver qual enc o ntra a mais<br />

23


profun<strong>da</strong> e elimina os sinto m a s <strong>da</strong> m an eir a mais efetiva. Elas<br />

são m ais pare cid a s 6 do que ad mite m até m e s m o na es c olh a<br />

<strong>da</strong>s arm a s . Quem sai o ca m p o contra os sinto m a s precis a de<br />

arm a s e evid e nt e m e n t e defen d e o ponto de vista alop átic o, que<br />

visa o opon e nt e e tenta neutralizá- lo co m os m elh or e s<br />

antídoto s.<br />

Quando m é di c o s naturalistas atac a m a m e dicin a aca d ê m i c a<br />

porqu e ela utiliza a cortiso n a co m de m a si a d a freqü ê n ci a,<br />

dev er- se- ia pen s ar que a cortiso n a é um hor m ô ni o fabricad o<br />

pelo próprio corpo, e que, por con s e q ü ê n c i a, perten c e<br />

ine quivo c a m e n t e à naturez a, mais esp e cifica m e n t e à noss a<br />

própria naturez a. O prep ar a d o para o cora ç ã o preferido pela<br />

m e di cin a aca d ê m i c a , digitalis , não é outra cois a que um a<br />

planta cuja naturali<strong>da</strong>d e não pod e ser conte sta d a. Por trás até<br />

m e s m o do prim eiro e mais utilizado antibiótico, a penicilina,<br />

está o As p e r gillus penicillinum , um cogu m e l o . Por outro lado, a<br />

ho m e o p a tia não é ab s oluta m e n t e natural. Jamais oc orr e<br />

natural m e nt e um a con c e ntr a ç ã o tal co m o um a C 30 ou uma D<br />

20 0. A ho m e o p a ti a é uma prática artificial, e os antigo s<br />

m é di c o s ho m e o p a t a s não se ac anha m e m caract erizá- la e<br />

praticá- la co m o arte.<br />

6. Homeopatia<br />

A ho m e o p a tia e sua co m pr e e n s ã o do mun d o opõ e- se<br />

diam etr al m e n t e tanto à m e di cin a aca d ê m i c a co m o à m e dicin a<br />

natural, form an d o a bas e espiritual para uma m e di cin a<br />

real m e nt e alternativa que tam b é m está co m pr o m e tid a co m<br />

noss o principio. Não se trata aqui de co m b a t er um sinto m a co m<br />

seu contrário, m a s sim de aliar- se ao sinto m a e e m última<br />

instância até m e s m o apoiá- lo e m sua tentativa de trazer um<br />

principio car en ci al à vi<strong>da</strong> do do e nt e.<br />

O sím b ol o <strong>da</strong> m e di cin a, a serp e nt e que so b e pelo bastã o de<br />

Esculápio, de m o n s tr a que original m e nt e a m e di cin a estav a<br />

profun<strong>da</strong> m e n t e enraiza<strong>da</strong> nes s a m an eira de pens ar. Escolhido<br />

24


co m o sím b ol o m é dic o obrigatório pela Organizaç ã o Mundial de<br />

Saúde so m e n t e nos ano s 50, es s e sím b ol o tem um a história<br />

que rem o nt a ao s prim órdio s <strong>da</strong> hum a ni<strong>da</strong>d e . No Paraís o é a<br />

serp e nt e que, co m o um prolon g a m e n t o do braç o do de m ô ni o ,<br />

leva o ho m e m ao ca min h o do des e n v olvi m e nt o . Ela é o<br />

sím b ol o do mun d o polar dos opo st o s e serp e nt ei a pelo s dois<br />

pólos <strong>da</strong> reali<strong>da</strong>d e para seguir adiante. Ela está pres a à terra<br />

co m o nenhu m outro anim al, tanto devido ao bani m e nt o divino<br />

oc a si o n a d o pelo pec a d o original co m o por sua form a. O filósofo<br />

<strong>da</strong> religião Herman Weidelen er diz que to<strong>da</strong> ela é pé 7 . Ela<br />

en g ol e suas vitima s inteiras, co m o o reino dos m orto s, do qual<br />

tam b é m é sím b ol o. Além de seus dois dente s que injeta m<br />

ven e n o , ela tem tam b é m a língua bifurcad a, um sím b ol o <strong>da</strong><br />

desl e ald a d e , <strong>da</strong> disc órdia e <strong>da</strong> desuniã o . Ela tem ain<strong>da</strong> a<br />

cap a cid a d e de deixar radical m e n t e para trás o velho e o já<br />

vivido e a cad a ano, ao trocar de pele, esta b el e c e um início<br />

totalm e nt e novo. Mas ela tem aci m a de tudo o ven e n o , que<br />

pod e matar e curar. A palavra ingles a gift [ven en o], que<br />

tam b é m quer dizer pres e nt e, do m, repres e nt a muito be m es s a<br />

relaç ã o contraditória de significad o s .<br />

Tal co m o na Antigui<strong>da</strong>d e, quan d o a serp e nt e era m anti<strong>da</strong> no<br />

templ o sagr ad o de Esculápio (Asklepios, e m greg o), a miss ã o<br />

mais caract erística e nobr e do m é dic o é transfor m ar o ven e n o 8<br />

<strong>da</strong> polari<strong>da</strong>d e e m um pres e nt e, co m o qual o paci ent e pod e<br />

cres c e r e curar- se. A m e di cin a ho m e o p á tic a se g u e es s e<br />

ca min h o des d e o início e m sua man eira de pen s ar e agir e até<br />

m e s m o na produç ã o de seus m e di c a m e n t o s . A ho m e o p a tia<br />

fabrica rem é di o s a partir de ven e n o s tais co m o ars ê nic o e<br />

Lache sis 9 , livrand o- os pouc o a pouc o de sua m at eriali<strong>da</strong>d e<br />

atrav é s <strong>da</strong> agitaç ã o . Essa assi m cha m a d a poten cia ç ã o não é<br />

uma diluiçã o, m a s um a agitaç ã o ou dina miz a ç ã o , tal co m o<br />

enfatiza m os ho m e o p a t a s . Dess a m an eir a, a cad a etap a de<br />

dina miz a ç ã o a sub stân ci a ou tintura original é reduzi<strong>da</strong> a um<br />

déci m o (potên cia D para deci m al) ou um cent é si m o (potên cia C<br />

para cente si m al) e a cad a etap a transfer e seu padrã o para o<br />

solvent e atrav é s <strong>da</strong> dina miz a ç ã o 1 0 . Através dest e m ét o d o ,<br />

25


potên ci a s sup erior e s a D 23 já não contê m na<strong>da</strong> <strong>da</strong> sub stân ci a<br />

original, con s erv a n d o sua inform a ç ã o totalm e nt e livre <strong>da</strong><br />

toxici<strong>da</strong>d e original. Essa inform a ç ã o perten c e ao plan o<br />

espiritual, tend o sup er a d o o plano mat erial, que tem um a<br />

freqü ê n ci a de vibraç ã o m ais baixa. Liberad a de sua<br />

mat eriali<strong>da</strong>d e e transp ortad a a um plano sup erior, ela pod e agir<br />

co m o um ver<strong>da</strong>d eir o rem é di o. Ela dá ao paci ent e um a<br />

inform a ç ã o que lhe falta, tornan d o - o assi m mais são.<br />

Os m e dic a m e n t o s ho m e o p á tic o s são des c o b e rt o s atrav é s<br />

<strong>da</strong>s provas m é dic a s já m e n ci o n a d a s . Nelas, m é di c o s são s<br />

tom a m os m e dic a m e n t o s e m potên cia s baixas, e que portanto<br />

contê m a substânci a, registra m os sinto m a s provo c a d o s por<br />

eles. Caso um pacient e tenha os m e s m o s sinto m a s , ou<br />

sinto m a s se m el h a nt e s , ele na m ai oria <strong>da</strong>s vez e s tom a o<br />

m e di c a m e n t o e m um a potên cia mais alta, livre <strong>da</strong> sub stân ci a.<br />

Com o inform a ç ã o pura, ela pod e ag or a contribuir para sua<br />

cura, contanto que o quadr o do m e dic a m e n t o corresp o n d a ao<br />

quadr o de sinto m a s .<br />

Ca<strong>da</strong> sinto m a é a expr e s s ã o de uma idéia que afundou no<br />

corp o, sen d o portanto um padrã o que falta à con s ci ê n ci a. Ele<br />

pod e ser tratado co m um a inform a ç ã o m e dic a m e n t o s a ou<br />

espiritual se m e l h a nt e. No prim eiro cas o falam o s de<br />

ho m e o p a tia, no segun d o , de con s ci e ntizaç ã o do padrã o ou<br />

interpreta ç ã o dos sinto m a s . De ac ord o co m sua naturez a, a<br />

inform a ç ã o está e m um plano de vibraç ã o sup erior ao do<br />

probl e m a corpor al. Quando se con s e g u e levar a proble m átic a a<br />

es s e plano sup erior, o ven e n o se transfor m a e m pres e nt e. A<br />

manife staç ã o <strong>da</strong> so m b r a na sinto m átic a leva à sua ilumina ç ã o ,<br />

a do e n ç a transfor m a- se em ca min h o de auto- con h e ci m e n t o .<br />

7. O jogo <strong>da</strong>s causas<br />

O con c eito de caus ali<strong>da</strong>d e esta no ca minh o <strong>da</strong> m e dicin a<br />

tanto no que se refer e ao conteúd o co m o à m e n s a g e m<br />

trans miti<strong>da</strong> pelo s sinto m a s . Assim co m o as ciên cias naturais,<br />

26


ela ch e g o u à con clus ã o de que tudo tem um a caus a que se<br />

en c o ntra no pas s a d o . Seu objetivo é enc o ntrá- la e eliminá- la.<br />

Defens or e s de outros princípios costu m a m atac ar a m e dicin a<br />

ac ad ê m i c a por não ser científica, uma crítica que se volta<br />

contra eles m e s m o s , co m o se verá.<br />

O que mais cha m a a aten ç ã o nes s e con c eito de caus ali<strong>da</strong> d e<br />

é sua limitaç ã o . Ele só pod e investigar e m um a direç ã o , ou<br />

seja, no pas s a d o , e a pergunta stand ard , “Por quê?", so m e n t e<br />

pod e ser feita um a ou no máxi m o duas vez e s . Naturalm e nt e se<br />

pod eria pes q uis ar e m outras direç õ e s continuar perguntan d o<br />

tanto quanto se queira. Por que tenh o um resfriado? Uma<br />

resp o st a ac ad ê m i c a ac eitáv el pod eria ser: “Porqu e contrai o<br />

ag e nt e caus a d o r há dois dias". Mas por que contraí o ag e nt e<br />

caus a d o r? - "Por que m eu siste m a imun oló gi c o estav a<br />

debilitado". Aqui tam b é m pod e- se continuar perguntan d o : Por<br />

que o siste m a imun ol ó gic o estav a debilitado? Em algu m<br />

m o m e n t o a resp o st a se referirá à heranç a gen étic a, seguind o o<br />

refrão: "Porqu e eu herd ei es s e siste m a de defe s a de m e u s<br />

pais". Mas por que meus pais m e trans mitira m exata m e n t e este<br />

equipa m e n t o imun ol ó gi c o ? A resp o st a entã o dirige- se ao s<br />

avô s, que nova m e n t e o her<strong>da</strong>r a m de seus pais, etc. Ao final<br />

ch e g a- se a Adão e Eva e à pergunta: "Por que os prim eiro s<br />

ser e s hum a n o s incorp or ar a m um tal siste m a imun ol ó gic o?"<br />

Com a m e s m a técnic a de pergunta s, pod ería m o s ch e g ar<br />

"cientifica m e n t e" ao Big Bang. De qualqu er man eira, a resp o sta<br />

à pergunta se guinte per m a n e c e e m ab erto: Por que - pelo<br />

am or de Deu s- houv e es s a explos ã o inicial?<br />

O principio de caus ali<strong>da</strong>d e so m e n t e ag e de m an eira tão<br />

convinc e nt e à prim eira vista, m o strand o fraqu ez a s evid e nt e s a<br />

um olhar m ais atento. Sua m ai or fraqu ez a é que ele<br />

co m pr o v a d a m e n t e não se ajusta à reali<strong>da</strong>d e , co m o nos<br />

de m o n s tr a a física m o d e r n a. Sendo a ciên cia natural mais<br />

avan ç a d a , ela ultrapas s o u as fronteiras de uma visão de<br />

mund o m e c a ni cista bas e a d a no principio <strong>da</strong> caus ali<strong>da</strong>d e e o<br />

refuta.<br />

Os físico s ch e g ar a m a este ponto de transiç ã o , decisivo não<br />

27


apen a s para a m e di cin a, pes q uis a n d o as minús c ulas partículas<br />

no interior do áto m o . Eles des c o b rira m que to<strong>da</strong>s as partículas,<br />

até m e s m o o fóton de luz, pos s u e m um a imag e m e m esp el h o<br />

no pólo opo st o 1 1 . Para cad a partícula existe portanto um a<br />

partícula gê m e a , que lhe é exata m e n t e contrária e m tudo. O<br />

m ét o d o de exp eri m e nt a ç ã o segun d o o qual um a <strong>da</strong>s duas<br />

partículas gê m e a s resultante s é estimulad a en quant o a outra é<br />

deixad a e m paz rem et e a Albert Einstein. O des c o n c e rt a nt e é<br />

que se co m pr o v o u que no m o m e n t o <strong>da</strong> mud a n ç a de estad o <strong>da</strong><br />

partícula estimulad a a outra, não- estimulad a, tam b é m se<br />

m o dificav a, de tal m an eira que am b a s continuava m e m pólo s<br />

opo st o s . Mais ass o m b r o s o ain<strong>da</strong> é que am b a s as m o difica ç õ e s<br />

oc orria m no m e s m o m o m e n t o , des c artand o assi m qualqu er<br />

form a de trans mi s s ã o de inform a ç õ e s co m o explicaç ã o .<br />

Finalm e nt e o inglês John Bell pôd e provar mat e m a tic a m e n t e<br />

que partículas de um a deter min a d a fonte, cha m a d a s partículas<br />

de fase fecha d a, estã o liga<strong>da</strong>s para se m pr e, sen d o que isso<br />

ac o nt e c e de um a man eira não caus al, que não pod e ser<br />

con c e b i d a logica m e n t e . O teor e m a de Bell dá ain<strong>da</strong> mais um<br />

pas s o e prova que isto não é válido so m e n t e para as<br />

minús c ulas partículas sub atô m i c a s , sen d o um a lei geral. Com<br />

isso, o princípio <strong>da</strong> caus ali<strong>da</strong>d e foi refutad o e reb aixad o a um<br />

m o d el o de explicaç ã o que so m e n t e per mite um a ab ord a g e m<br />

aproxi m a d a <strong>da</strong> reali<strong>da</strong>d e .<br />

Consider a n d o que, de ac ord o co m a ciên cia, noss o univers o<br />

surgiu de uma explo s ã o , o cha m a d o Big Bang, ele<br />

nec e s s a ria m e n t e tem que se con stituir de partículas<br />

estreita m e n t e liga<strong>da</strong>s um a s às outras. E é exata m e n t e diss o<br />

que trata m as es crituras sagr ad a s do Oriente. Os Ve<strong>da</strong>s hindus<br />

e os Sutras do Budism o des cr e v e m a reali<strong>da</strong>d e co m o estan d o<br />

per m a n e n t e m e n t e liga<strong>da</strong> e m todo s os seus asp e ct o s a todo s<br />

os seus outros asp e ct o s . Emb or a hoje e m dia os físico s<br />

apres e nt e m resultad o s que pare c e m igualm e nt e m etafísic o s,<br />

não se trata de uma aproxim a ç ã o do con h e ci m e n t o m o d e r n o<br />

ao antigo, tal co m o se co stu m a afirmar, ma s de um a<br />

aproxi m a ç ã o unilateral por parte <strong>da</strong>s ciên cias naturais ao<br />

28


con h e ci m e n t o ate m p o r al contido nos tratad o s de sab e d o ri a.<br />

Mas se a caus ali<strong>da</strong>d e é refuta<strong>da</strong>, per m a n e c e a pergunta: por<br />

que continuar atend o- se a ela? Não con s e g ui m o s viver<br />

totalm e nt e se m a caus ali<strong>da</strong> d e , de qualqu er form a não nesta<br />

soci e d a d e 1 2 , porqu e nos s o pens a m e n t o está impre g n a d o de<br />

caus ali<strong>da</strong>d e até na lingua g e m (co m o de m o n s tr a por exe m pl o<br />

esta fras e). Entretanto, não há nen hu m a razão para aferrar- se<br />

a um a form a inferior e limita<strong>da</strong> de pen s a m e n t o caus al, tal co m o<br />

o siste m a cientifico. Na melh or <strong>da</strong>s hipótes e s , pod e m o s am pliar<br />

a caus ali<strong>da</strong> d e para utilizá- la co m o m ei o de aproxi m a ç ã o ao<br />

univers o que “ac o nt e c e " sincronic a m e n t e , tal co m o já o fez<br />

Aristóteles. A vantag e m de sua co m pr e e n s ã o mais ampla <strong>da</strong><br />

caus ali<strong>da</strong>d e torna- se evident e assi m que colo c a m o s<br />

cientifica m e n t e so b a lupa um fenô m e n o simple s tal co m o um<br />

ac o nt e ci m e n t o esp ortivo. Até m e s m o a corri<strong>da</strong> de ce m m etro s<br />

raso s ain<strong>da</strong> é long a de m ai s, e precis a m o s portanto rec ortar<br />

uma pequ e n a se ç ã o , talvez a larga<strong>da</strong>. À pergunta cientifica<br />

padrã o: qual é a caus a para que os esp ortistas se ponh a m a<br />

correr rep entina m e n t e ? ha um a resp o st a cientifica m e n t e<br />

ac eitáv el: o tiro de largad a. Ele atua do pas s a d o para o<br />

pres e nt e, se m pr e ac o nt e c e e pod e ser repro duzid o.<br />

Entretanto, qualqu er um que enten d a um pouc o de atletis m o<br />

ficará pouc o satisfeito co m es s a explicaç ã o . Ele entã o indicará<br />

que a caus a real para a parti<strong>da</strong> dos esp ortistas é seu des ej o de<br />

gan h ar uma m e d al h a de ouro. Mas um a ev e ntual vitória<br />

en c o ntra- se ain<strong>da</strong> no futuro, não sen d o portanto ac eitáv el<br />

co m o caus a pela ciên cia. Segund o a con c e p ç ã o de Aristóteles,<br />

tam b é m existe uma caus a- padrã o por trás de cad a<br />

ac o nt e ci m e n t o . Na corri<strong>da</strong> de ce m m etro s ras o s, seria m as<br />

regras do jogo. Estas, por exe m pl o, proíb e m que se use um a<br />

bicicleta ou outro mei o de auxilio não per mitido. Na ver<strong>da</strong>d e , os<br />

esp ortistas so m e n t e sab e m e m que direç ã o dev e m largar<br />

graç a s ao padrã o "ce m m etro s ras o s", que existe há muito<br />

temp o. Finalm e nt e, há ain<strong>da</strong> a bas e m at erial ou caus a s que se<br />

en c o ntra m nas raias, nos mús c ul o s, etc., e que tam b é m são<br />

ac eitas pela ciên cia. Com quatro caus a s e m vez de um a, ain<strong>da</strong><br />

29


não faze m o s justiça à reali<strong>da</strong>d e , mas esta m o s mais perto. E se<br />

de qualqu er m an eira não existe caus a algu m a e m última<br />

instância, dev e- se per mitir que se co m pl et e um a co m três<br />

outra;. Caso e m pr e g u e m o s es s a s quatro caus a s para a<br />

interpreta ç ã o dos sinto m a s , aqu el a apre s e nt a d a pela m e dicin a<br />

ac ad ê m i c a não se torna errad a, sen d o so m e n t e co m pl etad a e<br />

am pliad a.<br />

Devido ao hábito e à ce gu eira de si mes m o , ac o nt e c e muitas<br />

vez e s que a pes s o a se refugie nos braç o s <strong>da</strong> mon o c a u s ali<strong>da</strong>d e<br />

habitual justa m e n t e quan d o se trata de importante s sinto m a s<br />

próprios. A pneu m o ni a própria é entã o atribuí<strong>da</strong> unica m e n t e ao<br />

ag e nt e caus a d o r, e a partir <strong>da</strong>í não se pergunta m ais na<strong>da</strong>. Em<br />

cad a cas o de pneu m o ni a há natural m e nt e ag e nt e s caus a d o r e s<br />

e m jogo, eles fornec e m a caus a que atua a partir do pas s a d o .<br />

Talvez o fato de que a maioria <strong>da</strong>s pes s o a s sas abrigu e m e m<br />

seus pulm õ e s os ag e nt e s corresp o n d e n t e s se m que por isso<br />

ado e ç a m co m pr o v e que eles não são os únicos resp o n s á v ei s .<br />

Caso a pes s o a seja isolad a e m um a uni<strong>da</strong>d e de terapia<br />

intensiva devido, por exe m pl o, a um grav e acident e de carro,<br />

os m e s m o s ag e nt e s pod e m tornar- se subita m e n t e ativo s. O<br />

perig o de contrair uma pneu m o ni a e m um a uni<strong>da</strong>d e de terapia<br />

intensiva não é tão grand e pelo fato de hav er tantos ag e nt e s ,<br />

ao contrário, e m nenhu m outro lugar eles são tão pers e g uid o s<br />

e dizim ad o s . A ver<strong>da</strong>d eir a razã o está no conflito de<br />

co m u nic a ç ã o que se esta b el e c e assi m que todo contato<br />

so m e n t e oc orr e atrav é s de tubo s de plástico. Assim co m o<br />

se m pr e se en c o ntra um a caus a funcion al, se m pr e surgirá<br />

tam b é m uma caus a de objetivo ou de significad o, be m co m o<br />

um padrã o e m que todo o ac o nt e ci m e n t o oc orr e.<br />

8. Analogia e simbolismo<br />

Ain<strong>da</strong> que rec orra m o s às quatro caus a s de Aristóteles, a<br />

filosofia de A Do e n ç a co m o Ca minh o está bas e a d a muito m ais<br />

no pens a m e n t o analó gic o que no pen s a m e n t o caus al.<br />

30


Nova m e nt e, é a física que pod e abrir- nos o ca min h o para es s a<br />

visão de mund o . Os físico s colo c ar a m a sim etria no lugar <strong>da</strong><br />

caus ali<strong>da</strong>d e , explican d o que as últimas leis que pod e m ser<br />

con c e b i d a s por nós são teor e m a s sim étric o s. O pen s a m e n t o<br />

analó gic o <strong>da</strong> m e di cin a antiga, tal co m o expres s o na propo siç ã o<br />

de Parac els o "micro c o s m o s = m a cr o c o s m o s " ou na tes e<br />

fun<strong>da</strong> m e n t al de todo o es ot eris m o "assi m e m cim a co m o<br />

e m b aix o e assi m dentro co m o fora", aproxim a- se des s a<br />

con c e p ç ã o sim étrica. Estam o s m ais próxim o s <strong>da</strong> reali<strong>da</strong>d e<br />

quan d o ve m o s form a e conteú d o , corp o e alm a 13 , ser hum a n o e<br />

mund o de m an eira análo g a do que bus c a n d o caus a s , pois a<br />

física prova que o mun d o não está con stituído de fatos que se<br />

suc e d e m , ma s de fatos sincrô nic o s justap o st o s .<br />

A chav e para esta co m pr e e n s ã o do mund o não está na<br />

analis e, m a s no sim b olis m o . Este tam b é m se en c o ntra no<br />

centro <strong>da</strong> interpreta ç ã o dos sinto m a s . Sinto m a s são imag e n s<br />

<strong>da</strong> do e n ç a ; assi m co m o outras imag e n s , eles não pod e m ser<br />

co m pr e e n di d o s atrav é s <strong>da</strong> anális e do m at erial, ma s por m ei o<br />

<strong>da</strong> ob s erv a ç ã o cont e m pl ativa 14 de sua totali<strong>da</strong>d e. A expr e s s ã o<br />

de um a imag e m nos es c a p a quan d o tenta m o s en c o ntrá- la na<br />

anális e do m at erial, por mais refina<strong>da</strong> que esta seja. Ao final<br />

obte m o s algun s <strong>da</strong>d o s num éric o s so br e a co m bin a ç ã o de<br />

pigm e nt o s , ma s perd e m o s o am bi e nt e outon al. Este está mais<br />

no sim b olis m o <strong>da</strong>s cor e s que e m sua quí mic a. Para que<br />

pos s a m o s interpretar um a imag e m , todo s os detalh e s dev e m<br />

unir-se e m um a impre s s ã o geral. O todo é mais que a so m a de<br />

suas partes.<br />

Nossa palavra "sím b ol o" deriva <strong>da</strong> palavra greg a sy m b allein,<br />

que significa algo co m o juntar, reunir. Para co m pr e e n d e r a<br />

interpreta ç ã o dos sinto m a s do ser hum a n o e m sua totali<strong>da</strong>d e é<br />

nec e s s á ri o juntar to<strong>da</strong> s as impre s s õ e s individuais e m um<br />

padrã o, ou seja, reunir todo s os pequ e n o s sím b ol o s e m um<br />

único sím b ol o abran g e nt e.<br />

Apesar <strong>da</strong> legitima ç ã o obti<strong>da</strong> graç a s à física m o d e r n a, o<br />

pen s a m e n t o analó gic o pas s a facilm e nt e ao segun d o plan o e m<br />

relaç ã o ao pen s a m e n t o analítico. Ain<strong>da</strong> assi m, ele impregn a<br />

31


noss a s vi<strong>da</strong>s e m muito maior m e di<strong>da</strong> que a que esta m o s<br />

dispo st o s a ad mitir. Quando en c o ntra m o s uma pes s o a pela<br />

prim eira vez, form a m o s uma imag e m dela que se apóia e m<br />

uma co m pr e e n s ã o sim b ólic a e analó gic a. Ain<strong>da</strong> que o intelecto<br />

nos queira sug erir que a prim eira impres s ã o é en g a n o s a ,<br />

sab e m o s que não é assi m . Caso nos fiem o s <strong>da</strong> razão,<br />

precis a m o s freqü e nt e m e n t e de muito temp o para che g ar à<br />

con clus ã o de que tudo já estav a lá des d e o Inicio. Assim que<br />

visita m o s algu é m e m sua cas a, form a m o s uma imag e m <strong>da</strong><br />

cas a e <strong>da</strong> pes s o a , o m e s m o ac o nt e c e n d o quan d o ele sai de<br />

seu carro. Tudo isso bas ei a- se e m um a co m pr e e n s ã o<br />

sim b ólic a m ais ou m e n o s con s ci e nt e. To<strong>da</strong> s as refer ên ci a s<br />

religios a s tam b é m estã o bas e a d a s no sim b olis m o e na<br />

analo gia. Som e nt e des s a man eira pod e- se enten d e r as<br />

co m p ar a ç õ e s . Quando, no pai- nos s o , reza m o s "Seja feita a<br />

Sua vontad e , assi m na Terra co m o no céu", utilizam o s um a<br />

outra formulaç ã o para o "assi m e m cim a co m o e m b aix o";<br />

esta m o s nos mov e n d o so br e o solo <strong>da</strong> analo gia.<br />

A um olhar m ais atento, até m e s m o as ciên cias naturais<br />

bas ei a m - se no pen s a m e n t o co m p ar ativo, já que qualqu er<br />

fenô m e n o m e n s ur á v el é um a co m p ar a ç ã o e um proc e s s o de<br />

esta b el e c e r relaç õ e s , ou seja, de criar analo gi a s. Tanto faz se<br />

m e di m o s um a distância, a temp er atura ou a pres s ã o , so m o s<br />

se m pr e rem etid o s à co m p ar a ç ã o co m um a es c al a de aferiçã o.<br />

Com o as m e did a s são a bas e <strong>da</strong>s ciên cias naturais, e m última<br />

instância elas tam b é m estã o bas e a d a s no pen s a m e n t o<br />

co m p ar ativo.<br />

Pode- se rec o n h e c e r ain<strong>da</strong> mais clara m e n t e o quanto a<br />

m e di cin a está próxim a do pen s a m e n t o co m p ar ativo no âm bito<br />

<strong>da</strong> estatística, um a de suas disciplinas preferi<strong>da</strong> s. Estam o s<br />

se m pr e nos dep ar an d o co m tentativas de extrair provas de<br />

estatística s. Trata- se de um m ét o d o con h e ci d o e tentad or.<br />

Pergunta- se a 100 heroin ô m a n o s se eles ante s tinha m<br />

con s u mi d o produto s derivad o s <strong>da</strong> Canna bi s tais co m o o haxixe<br />

e a ma c o n h a . Quando 90 % resp o n d e m co m um "sim", produzse<br />

a "prova" de que a Canna bi s é a drog a de iniciaç ã o ao<br />

32


con s u m o de heroín a. O que so a tão lógic o não prova<br />

entretanto ab s oluta m e n t e na<strong>da</strong>. Mu<strong>da</strong>ndo- se a pergunta, pod ese<br />

"provar" estatistica m e n t e que o leite é a drog a de iniciaç ã o<br />

mais perigo s a do mund o, já que 10 0 % dos heroin ô m a n o s e<br />

todo s os alco ól atras co m e ç a r a m co m ele. Não se trata aqui de<br />

man eira algu m a de distorc er as estatística s e sim, ao contrário,<br />

de reabilitar o pen s a m e n t o co m p ar ativo que está e m sua bas e.<br />

A estatística pod e expres s ar cois a s sub stan ci ais, ma s jam ais<br />

pod er á provar algo, pois suas correla ç õ e s não têm na<strong>da</strong> a ver<br />

co m a caus ali<strong>da</strong>d e . Tanto os fenô m e n o s m e n s ur á v ei s co m o as<br />

estatística s m o stra m co m o o pen s a m e n t o analó gic o está<br />

difundido. O fato de que não o queira m o s perc e b e r não mud a<br />

muita cois a.<br />

O sim b olis m o continua tend o um significad o decisivo para a<br />

própria m e dicin a m o d er n a. Tal co m o ain<strong>da</strong> se m o strará, hoje,<br />

tanto quanto antiga m e n t e , os sím b ol o s e os rituais que se<br />

org aniza m a partir deles des e m p e n h a m na sani<strong>da</strong>d e um pap el<br />

do min a nt e que, entretanto, pas s a e m grand e parte<br />

des p er c e b i d o . Isso está be m já por es s a m e s m a razão, pol que<br />

os sinto m a s tam b é m se co m p õ e m de sím b ol o s e co m p el e m a<br />

autêntic o s rituais.<br />

9. Campos formativos<br />

Com o não existe nenhu m a cultura antiga ne m tamp o u c o<br />

qualqu er so ci e d a d e m o d e r n a se m rituais, pod e- se deduzir que<br />

eles forço s a m e n t e faze m pan e <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> hum a n a. Em prop orç ã o<br />

à sua diss e m i n a ç ã o , a m an eir a co m o atua m ain<strong>da</strong> é pouc o<br />

con h e ci d a. Som e nt e na última déc a d a en c o ntrou- se um<br />

principio es clar e c e d o r , co m a teoria de Sheldrak e so br e<br />

ca m p o s m orfo g e n é tic o s ou form ativo s. Através de<br />

exp eri m e nt o s , Sheldrak e confirm o u que há relaç õ e s entre<br />

distintos ser e s vivos que es c a p a m a explicaç õ e s lógica s. Ele<br />

postulou os cha m a d o s ca m p o s form ativo s, que serv e m de<br />

m e di a d or e s para es s a s ligaç õ e s se m a nec e s s i d a d e de<br />

33


trans mitir mat éria ou inform a ç õ e s . Várias exp eriên ci a s<br />

co m pr o v a m que ser e s vivos e m um ca m p o co m u m estã o<br />

ligad o s uns ao s outros de m an eir a inexplicáv el, de man eira<br />

muito se m el h a nt e às partículas gê m e a s dos físico s atô mi c o s .<br />

Eles vibra m ao m e s m o temp o no m e s m o plano de vibraç ã o e<br />

co m p o rta m - se quas e co m o se foss e m um ser, co m p ar á v el<br />

talvez a um grand e cardu m e de peixes ou um ca m p o de trigo<br />

so br e o qual o vento sopra. Nas situaç õ e s que fora m<br />

ob s erva<strong>da</strong>s , não havia ne m m e s m o temp o para que se<br />

co m u nic a s s e m entre si no sentido tradicion al.<br />

O am eric a n o Conden pôd e des c o b rir algo se m el h a nt e entre<br />

ser e s hum a n o s . Ele filmou de perfil e e m câ m ar a lenta pes s o a s<br />

que se co m u ni c a v a m . Com isso con statou- se que tanto a<br />

pes s o a que fala co m o o ouvinte estã o ligad o s no m e s m o<br />

instante por m o vi m e n t o s minús c ulo s, cha m a d o s<br />

micro m o vi m e n t o s . Este vibrar um co m o outro está pres e nt e<br />

e m todo s os ser e s hum a n o s , co m exc e ç ã o <strong>da</strong>s crianç a s<br />

autistas. Está- se aqui na pista de um a con e x ã o que, no âm bito<br />

<strong>da</strong> vi<strong>da</strong> org ânic a, corresp o n d e aqu el a inexplicáv el e<br />

caract erística con e x ã o <strong>da</strong>s partículas físicas ele m e n t ar e s .<br />

Qualquer um pod e fazer um exp eri m e nt o de tais ca m p o s<br />

indep e n d e n t e s no tem p o e no esp a ç o e m uma sala de<br />

con c ert o s, ond e reina uma har m o ni a inexplicáv el segun d o<br />

critérios tradicion ais. Com o é pos sív el, pod e- se perguntar<br />

ingenu a m e n t e , que tantos músic o s diferent e s co m tem p o s de<br />

reaç ã o tão diferente s toqu e m todo s no m e s m o an<strong>da</strong> m e n t o ?<br />

Eles naturalm e nt e estã o todo s olhan d o para o m e s m o reg e nt e,<br />

ma s devido ao s temp o s de reaç ã o individuais, cad a um deles<br />

dev eria transp or os sinais para seu instrum e nt o e m temp o s<br />

diferent e s . A razã o de isso não ser assi m está no padrã o<br />

vinculante <strong>da</strong> músic a. Em lugar do cao s que logica m e n t e seria<br />

de esp er ar, pod e resultar um a sinfonia, um so ar conjunto,<br />

porqu e os músic o s torna m- se um no padrã o e atua m co m o um<br />

único ser. Os ouvintes tam b é m pod e m introduzir- se nes s e<br />

padrã o e tornar- se um na músic a, co m o reg e nt e, os músic o s e<br />

os outros ouvintes. Esse é um mistério que ne m m e s m o a<br />

34


m elh or repro du ç ã o técnic a pos sív el do con c eito pod e sub stituir.<br />

Experiên cias práticas co m es s e s ca m p o s que não pod e m<br />

ser co m pr e e n di d o s logica m e n t e , ne m vistos, ma s que pod e m<br />

ser sentido s, per mite m tam b é m a m e ditaç ã o . Em quas e todo s<br />

os m o st eiro s havia salas de oraç ã o que era m manti<strong>da</strong> s<br />

exclusiva m e n t e co m es s e prop ó sito, para não perturb ar a<br />

atm o sf er a. Quem já m e ditou e m um claustro ond e so m e n t e a<br />

m e ditaç ã o foi praticad a nos último s mil ano s con h e c e a<br />

exp eriên ci a. Aqui, entra- se e m estad o de m e ditaç ã o m ais<br />

facilm e nt e e m ais profun<strong>da</strong> m e n t e que no dor mitório de cas a ou<br />

até m e s m o viajand o de avião. Grand e s grupos que estã o e m<br />

uníss o n o tam b é m cria m um ca m p o que pod e ser sentido. No<br />

Tai-Chi, uma antiga m e ditaç ã o chin e s a feita atrav é s de<br />

m o vi m e nt o s , ele é esp e ci al m e n t e perc e ptív el. Surge uma<br />

en or m e en er gi a quan d o um grupo se m o vi m e n t a co m o se<br />

foss e um único ser. Uma antiga exp eriên ci a militar afirma que é<br />

mais fácil m ar c h ar ao m e s m o temp o. Pode- se ver quã o grand e<br />

a en er gi a do uníss o n o , <strong>da</strong> ress o n â n ci a pod e se tornar quan d o<br />

se sab e do perigo (de des a b a m e n t o) que as coluna s e m<br />

marc h a repres e nt a m para as ponte s.<br />

Para ilustrar co m o es s e s ca m p o s pod e m se form ar ao<br />

m e s m o temp o a grand e s distâncias, tem o s o fato de que<br />

freqü e nt e m e n t e as des c o b e rt a s são feitas ao mes m o temp o em<br />

diferent e s partes do mund o e que as mes m a s idéias surg e m no<br />

m e s m o instante e m lugare s diferent e s . Essa exp eri ên ci a pod e<br />

precipitar- se até m e s m o na política. A en er gi a de um ca m p o de<br />

padrã o vigent e ficou de m o n s tr a d a na que d a quas e sincrônic a<br />

dos regi m e s do bloc o europ e u oriental. Seu temp o tinha se<br />

es g ot a d o e até m e s m o os tanqu e s , que durante déc a d a s<br />

tinha m pres erv a d o a paz dos ce mitério s, rep e ntina m e n t e não<br />

podia m fazer m ais na<strong>da</strong>. Emb or a o intelecto, m o v e n d o - se por<br />

ca min h o s estreito s, ain<strong>da</strong> pos s a procurar outras explicaç õ e s<br />

para todo s es s e s exe m pl o s , há um a exp eriên ci a drástica que<br />

nes s e sentido repres e nt a para ele um probl e m a insolúv el.<br />

Separou- se um a cad el a poodl e de seus filhotes que fora m<br />

levad o s a milhar e s de quilô m etr o s de distân cia e m um<br />

35


sub m a rin o atô mic o . À m e di<strong>da</strong> e m que eles iam sen d o<br />

sacrificad o s a esp a ç o s de temp o deter min a d o s , a m ã e "reagia"<br />

de man eira m e n s ur á v el. A palavra "reagir" não é de fato<br />

apropriad a para este cas o, pois não havia qualqu er razã o para<br />

que a m ã e reagis s e a qualqu er cois a; ela na ver<strong>da</strong>d e estiva<br />

liga<strong>da</strong> a seus filhote s e m um ca m p o . A reaç ã o requ er tem p o ,<br />

sen d o que aqui tudo suc e di a simultan e a m e n t e .<br />

Enquanto ain<strong>da</strong> acr edita m o s que são as mais divers a s<br />

caus a s que mant ê m o mund o e m m o vi m e nt o , a física m o d e r n a<br />

prova justa m e n t e o contrário. na reali<strong>da</strong>d e, so m o s regido s por<br />

uma sincronici<strong>da</strong>d e inexplicáv el, não pas s a n d o a caus ali<strong>da</strong>d e<br />

de um equív o c o , ain<strong>da</strong> que plausív el. Os fenô m e n o s que<br />

e m e r g e m nos ca m p o s form ativo s oc orr e m de m an eir a<br />

sincrô nic a e não pod e m mais ser explicad o s de man eira<br />

caus al. Estam o s co m e ç a n d o a susp eitar que a física e a<br />

biolo gia estã o na pista <strong>da</strong>qu el a reali<strong>da</strong>d e m ais profun<strong>da</strong> que<br />

nas es crituras sagra d a s do Oriente é des crita co m o um grand e<br />

padrã o oc orr e n d o de man eira sincrô nic a e m plano s diferent e s ,<br />

ond e tudo tem seu lugar, está relacion a d o entre si, ma s não<br />

está de m o d o algu m relacion a d o de man eira caus al. A doutrina<br />

analó gic a é a que mais coincid e co m as noç õ e s dos ca m p o s<br />

form ativo s. Neste sentido é co m pr e e n s í v el que en sin a m e n t o s<br />

antigo s tais co m o de Parac el s o , de que o ho m e m e o mund o<br />

são um 1 5 , volte m a ser levad o s e m con sid er a ç ã o .<br />

Falta pouc o para que se relacion e o efeito dos rituais co m os<br />

ca m p o s form ativo s. Os rituais são o ca min h o m ais direto para<br />

con struir es s e s ca m p o s e anc or á- los na reali<strong>da</strong>d e. A susp eita<br />

transfor m a- se e m certez a quan d o se con sid er a os antigo s ritos<br />

de iniciaç ã o e de cura. Nos rituais <strong>da</strong> pub erd a d e não se explica<br />

ao s adol e s c e n t e s o mund o dos adultos e suas regras, m a s<br />

atrav é s <strong>da</strong> exe c u ç ã o dos proc e di m e n t o s rituais eles se torna m<br />

parte do m e s m o se m precis ar enten d er coisa algu m a . Uma vez<br />

introduzido s no ca m p o <strong>da</strong> nova esfer a, to<strong>da</strong>s as suas<br />

pos sibili<strong>da</strong>d e s abr e m - se para ele auto m atic a m e n t e . Nós, que<br />

não acr edita m o s mais e m rituais e por es s a razã o tamp o u c o<br />

con struí m o s ca m p o s fortes, mal pod e m o s imagin ar algo<br />

36


se m el h a nt e.<br />

37


2<br />

<strong>Doença</strong> e Ritual<br />

1. Rituais em nossa socie<strong>da</strong>de<br />

As antigas culturas que con h e c e m o s tinha m , se m exc e ç ã o ,<br />

uma cois a e m co m u m : a partir de sím b ol o s , elas criava m rituais<br />

não só para as principais fase s de transiç ã o <strong>da</strong> vi<strong>da</strong>, m a s<br />

tam b é m para o dia- a- dia e suas exig ê n ci a s . Som e nt e o ho m e m<br />

m o d e r n o acredita pod er se guir adiante se m rituais,<br />

con sid er a n d o - os cren dic e s já sup er a d a s . Contra este pan o de<br />

fundo, é de ad mirar ain<strong>da</strong> m ais o grand e núm er o de rituais que<br />

fora m con s er v a d o s e m noss a es clar e cid a ép o c a.<br />

Desp er c e b i d o s ou prop o sitad a m e n t e ignorad o s , eles continua m<br />

do min a n d o a imag e m <strong>da</strong> so ci e d a d e . Ao lado dos pouc o s rituais<br />

que perdurara m con s ci e nt e m e n t e , tais co m o o batis m o , a<br />

prim eira co m u n h ã o , a cris m a, o m atrim ô ni o e o sepulta m e n t o ,<br />

há inúm er a s aç õ e s se mi c o n s ci e nt e s e incon s ci e nt e s que vive m<br />

de seu caráter ritual. Pequ e n o s rituais obrigatório s preen c h e m<br />

o cotidian o, co m o se rep entina m e n t e pes s o a s adultas não<br />

pudes s e m , se m eles, des e n v o l v er se qü ê n ci a s de pas s o s<br />

próprias dentro do padrã o <strong>da</strong> m ar c h a diária, seja a co m p uls ã o<br />

de contar as coluna s que pas s a m rapi<strong>da</strong> m e n t e pela janela<br />

en qu a nt o viaja m o s de m etrô, quan d o se tem que verificar cinc o<br />

vez e s se o carro está real m e nt e fecha d o , se a porta <strong>da</strong> cas a<br />

está tranc a d a, se os apar elh o s estã o desliga d o s <strong>da</strong> tom a d a e<br />

assi m por diante. Todo s es s e s proc e di m e n t o s não têm<br />

qualqu er sentido lógic o apre e n s í v el, tratand o- se unica m e n t e ,<br />

tal co m o é típico dos rituais, <strong>da</strong> aç ã o por si m e s m a . Ao lado<br />

des s e s rituais cotidian o s e apar ent e m e n t e secun d ári o s, há<br />

tam b é m grand e núm er o de rituais importante s .<br />

Nossa justiça ergu e- se so br e o pres s up o st o de que os<br />

m e m b r o s <strong>da</strong> so ci e d a d e rec o n h e c e m e acr edita m nes s e antigo<br />

ritual que é a jurisdiçã o . Em cad a proc e di m e n t o , o caráter ritual<br />

38


torna- se claro e m sua ev oluç ã o rigi<strong>da</strong> m e n t e ritualiza<strong>da</strong>. A<br />

jurisdiçã o corresp o n d e quas e a um a orde m , seja ela religios a<br />

ou laical. As toga s dos m a gi strad o s , dos pro m ot or e s e dos<br />

adv o g a d o s de defe s a são hábito s rituais chei o s de significad o.<br />

Por que outra razã o dev eria um jurista adulto usar um vestido e<br />

uma peruc a se não para servir ritualm e nt e à deus a Justiça? Tal<br />

co m o os sac erd ot e s , o juiz exerc e seu carg o se m levar e m<br />

con sid er a ç ã o sua própria pes s o a ou a do acus a d o . Enquanto<br />

ocup a seu carg o, só está sub m e tid o às regra s do ritual <strong>da</strong><br />

justiça e deixa de ser um a pes s o a individual particular co m<br />

opiniõ e s próprias até o final do julga m e n t o . Caso não con sig a<br />

isso, estan d o co m pr o m e ti d o co m outras cois a s que não<br />

exclusiva m e n t e os livros <strong>da</strong> lei, ele é recus a d o por ser parcial.<br />

O fech a m e n t o de um contrato, o rec o n h e c i m e n t o con s ci e nt e<br />

dos fatos atrav é s <strong>da</strong> assinatura do próprio punho, preen c h e os<br />

critérios de um ritual. Precis a m e n t e , não é pos sív el <strong>da</strong>tilografar<br />

ou carim b ar o no m e na folha de pap el, ain<strong>da</strong> que assi m ele<br />

foss e mais legív el. Nos ac ord o s político s, a cel e br a ç ã o <strong>da</strong><br />

ratificaç ã o co m o ritual de rec o n h e c i m e n t o cha m a<br />

esp e ci al m e n t e a aten ç ã o . As relaç õ e s usuais entre as pes s o a s<br />

tam b é m estã o sub m e tid a s a regras rituais que têm pouc o<br />

sentido se con sid er a d a s do ponto de vista funcion al. Por que,<br />

ao cumpri m e nt ar algué m , se dá justa m e nt e a m ã o direita<br />

ab erta e não o punh o es qu er d o fecha d o ? Nossa vi<strong>da</strong> está<br />

deter min a d a por sím b ol o s e sinais, <strong>da</strong>s cor e s <strong>da</strong>s roupa s até<br />

os sinais de trânsito. Todo s os proc e di m e n t o s rituais des s e tipo<br />

so m e n t e sub siste m porqu e são rec o n h e c i d o s e se g uid o s .<br />

Regras e sinais de trânsito não têm qualqu er sentido e m si<br />

m e s m o s m a s, resp eitad o s por todo s, regula m e n t a m as mais<br />

difíceis situaç õ e s . Rituais não são lógic o s, mas sim b ólic o s. eles<br />

são o padrã o op er a nt e. Sem eles, a vi<strong>da</strong> e m soci e d a d e seria<br />

impo s sív el.<br />

O probl e m a está em que rituais incon s ci e nt e s não funcion a m<br />

tão be m quanto aqu el e s que são con s ci e nt e s , e na so ci e d a d e<br />

industrial m o d er n a pred o m i n a um a forte tend ê n ci a à<br />

incon s ci ê n ci a. De man eira cad a vez mais durad o ur a, o<br />

39


significad o dos rituais perd e seu e m b a s a m e n t o na con s ci ê n ci a<br />

e m er g ulh a na so m b r a. Na sup erfície social, as form a s<br />

esv aziad a s de sentido deg e n e r a m e m costu m e s . Estes são<br />

manife sta m e n t e persistent e s devido ao fato de tere m suas<br />

raízes profun<strong>da</strong> s no padrã o que um dia foi con s ci e nt e. Ain<strong>da</strong><br />

que o sentido original tenha sido es qu e ci d o há muito, os<br />

costu m e s sub siste m e continua m <strong>da</strong>nd o à soci e d a d e uma<br />

m oldura. As tentativas de eliminá- los atrav é s de refor m a s<br />

muitas vez e s naufrag a m devido a seu profund o enraiza m e n t o .<br />

Por muito brio que os revolucion ário s franc e s e s de 178 9<br />

tenha m posto na tentativa de transfor m ar a se m a n a de 7 dias<br />

e m um ritmo deci m al m ais lógic o e produtivo, o ritmo seten ário<br />

estav a profun<strong>da</strong> m e n t e enraizad o na reali<strong>da</strong>d e e so br e viv e u à<br />

Revoluç ã o .<br />

Até m e s m o quan d o não con h e c e m o s m ais as raízes,<br />

continuan d o ain<strong>da</strong> assi m vigent e s as regra s que delas se<br />

originara m , per m a n e c e m o s na se gur an ç a do padrã o. O único<br />

perig o está e m que a carg a aní mic a es m o r e ç a junto co m a<br />

con s ci ê n ci a. Caso as regra s so m e n t e seja m cumpri<strong>da</strong> s<br />

m e c a ni c a m e n t e , se m con s ci ê n ci a, elas se trivializa m. Quando<br />

seu sentido não é mais rec o n h e c i d o , elas nos pare c e m<br />

ab surd a s . Por es s a razão, nós não as interpreta m o s mais, e<br />

elas nec e s s a ri a m e n t e perd e m significad o.<br />

2. Rituais de passagem<br />

As etap a s de transiç ã o <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> exig e m rituais e eles<br />

estivera m pres e nt e s em to<strong>da</strong> s as ép o c a s . Enquanto as culturas<br />

arcaic a s confiava m na en er gi a iniciática dos ritos <strong>da</strong><br />

pub erd a d e , nós desv al oriza m o s e m grand e m e di<strong>da</strong> as últimas<br />

relíquias dest e s último s, a prim eira co m u n h ã o e a confirm a ç ã o .<br />

Não estan d o suficiente m e n t e carre g a d o s de con s ci ê n ci a, eles<br />

deg e n e r ar a m e m co stu m e s que pratica m e n t e já não pod e m<br />

mais cumprir sua funçã o. É difícil para um jove m de hoje<br />

cres c e r pois faltam- lhe rituais de pas s a g e m con s ci e nt e s que o<br />

40


prend a m co m se gur an ç a no nov o padrã o do mund o dos<br />

adultos, co m suas regras e sím b ol o s totalm e nt e diferent e s. Alí<br />

ond e acr editáv a m o s estar- lhes poup and o dos horror e s <strong>da</strong>s<br />

mais so m b rias sup er stiç õ e s , na ver<strong>da</strong> d e lhes roub a m o s<br />

substanci ais oportuni<strong>da</strong>d e s de am a d ur e ci m e n t o . Por mais<br />

duro s e sinistros que pos s a m ser os ritos corresp o n d e n t e s <strong>da</strong>s<br />

culturas arcaic a s, des d e pas s ar dias a fio ao relento no mato<br />

ou e m es c ur a s cav er n a s até san gr e nta s provas de cora g e m e<br />

en c o ntro s co m espíritos que caus a m ver<strong>da</strong> d eir o terror, tratavase<br />

de etap a s viáv eis para pas s ar ao nov o plano.<br />

Com o é impo s sí v el fazê- lo se m rituais, os adol e s c e n t e s de<br />

hoje têm de se esforç ar para en c o ntrar sub stitutos. O prim eiro<br />

cigarro, fumad o quas e ritualm e nt e no círculo de<br />

correligion ários, é um a tentativa corresp o n d e n t e . Sab en d o<br />

muito be m que ain<strong>da</strong> não são adultos, eles ous a m antecip ar- se<br />

e m um dos ain<strong>da</strong> proibido s privilégio s do mun d o dos adultos.<br />

Quebran d o es s e tabu, eles incon s ci e nt e- m e nt e esp er a m forçar<br />

a entrad a no novo padrã o. A angú stia está pres e nt e, de<br />

man eira similar ao s rituais de pub erd a d e arcaic o s . O nov o<br />

plan o é perig o s o , e o prim eiro cigarro o de m o n s tr a. A maioria<br />

dos participante s do ritual sent e m a corre s p o n d e n t e diarréia,<br />

um sinal do quanto eles têm as calça s ch eia s. Mas tossind o<br />

corajo s a e agre s siv a m e n t e , eles des afia m es s a s dificul<strong>da</strong>d e s<br />

iniciais.<br />

O exa m e para a obte n ç ã o <strong>da</strong> carteira de m ot orista é um<br />

ritual sub stitutivo ain<strong>da</strong> mais importante. É precis o rec e b e r a<br />

corre s p o n d e n t e legitim a ç ã o para tornar- se m e m b r o de um a<br />

soci e d a d e m otorizad a. Após a sup er a ç ã o des s a ver<strong>da</strong> d eir a<br />

prova de m aturi<strong>da</strong>d e, têm inicio as prova s de cora g e m nas<br />

ruas. O núm er o e o tipo de acid e nt e s que oc orr e m no prim eiro<br />

ano de carta de m ot orista de m o n s tr a m que corresp o n d e<br />

so br etud o ao s ho m e n s joven s aprend er a con h e c e r o m e d o<br />

des s a man eir a.<br />

O proble m a de tais proc e di m e n t o s substitutivo s é que eles<br />

não ofer e c e m nenhu m a segur an ç a no novo plano devido à falta<br />

de con s ci ê n ci a e, so br etud o, devido à falta de um a mã o auxiliar<br />

41


do outro lado, nes s e cas o do lado adulto. Dess a man eira, os<br />

adol e s c e n t e s aca b a m ficand o dep e n d e n t e s dos rituais<br />

substitutivo s, tornan d o- se fumant e s inveter a d o s e m otoristas<br />

furios o s e fantas m a g ó ri c o s , ma s não adultos.<br />

Antiga m e nt e, os joven s profission ai s era m enviad o s e m<br />

pere grina ç ã o e até há pouc o s ano s as m o ç a s au- pair viajava m<br />

ao estran g eir o para gan h ar exp eriên ci a e "cortar as garras". A<br />

soci e d a d e ain<strong>da</strong> tinha con s ci ê n ci a do quanto os joven s<br />

ignorant e s podia m tornar- se perig o s o s cas o suas garras não<br />

foss e m cortad a s . Hoje e m dia, é freqü e nt e que principal m e nt e<br />

crianç a s burgu e s a s , legitima d a s pelo s regula m e n t o s<br />

educ a ci o n ai s profun<strong>da</strong> m e n t e refor m a d o s , per m a n e ç a m e m<br />

cas a, tornand o- se ver<strong>da</strong>d eir o s ap ên dic e s do am or patern o ou<br />

mat ern o . As ruas repres e nt a m portanto um a saí<strong>da</strong>, ain<strong>da</strong> que<br />

perig o s a. Os filmes de terror, cujo boo m pod e ser explicad o<br />

pelo déficit de m e d o , terror e aventura que existe entre os<br />

joven s, não pod e m pre e n c h e r o vácu o, eles apen a s o ilustra m.<br />

3. Rituais <strong>da</strong> medicina moderna<br />

Na Antigui<strong>da</strong>d e, a vi<strong>da</strong> co m e ç a v a co m um ritual de<br />

nas ci m e nt o e terminav a co m um ritual de m orte. Hoje e m dia,<br />

am b o s fora m transferido s e m grand e parte para as clínica s,<br />

transfor m a n d o - as assi m e m refúgio s de ritos incon s ci e nt e s . Os<br />

rituais pred o m i n a nt e s na m e di cin a pod e m aju<strong>da</strong>r- nos a<br />

entrev er o valor geral <strong>da</strong> ritualística para os proc e s s o s de cura,<br />

dev e n d o portanto ser con sid er a d o s de m an eira mais<br />

minucio s a.<br />

Com o nec e s s á ri o olhar aguç a d o , pod e- se en c o ntrar nas<br />

clínicas m o d er n a s um a des c o n c e rt a nt e quanti<strong>da</strong>d e de má gic a,<br />

à altura de qualqu er curand eir o. Em temp o s arcaic o s , quan d o<br />

os pacient e s se entre g a v a m ao s cui<strong>da</strong>d o s dos curand eir o s,<br />

precis a n d o confiar inteira m e nt e no outro mund o dest e s último s,<br />

eles perdia m todo s os direitos de autod et er mi n a ç ã o e<br />

entreg a v a m - se a Deus e, portanto, ao s xam ã s que o<br />

42


epre s e nt a v a m . Hoje e m dia nós enc e n a m o s um efeito<br />

se m el h a nt e de man eira ain<strong>da</strong> mais ostento s a. O pacient e<br />

m o d e r n o tam b é m abdic a de seu direito à autod et er mi n a ç ã o ,<br />

e m geral já na rec e p ç ã o . Esta continua sen d o um lugar<br />

es s e n ci al de qualqu er clínica, guar<strong>da</strong>nd o o limiar do outro<br />

mund o assi m co m o o fazia m antiga m e n t e as portas do tem plo.<br />

Devido à sua invisibili<strong>da</strong>d e e à tem átic a <strong>da</strong> do e n ç a , senti<strong>da</strong> por<br />

trás de tudo, o mun d o que está alé m <strong>da</strong> rec e p ç ã o provo c a<br />

angústia. De man eira corresp o n d e n t e , não é raro que os<br />

pacient e s se sinta m oprimid o s por to<strong>da</strong> s as cois a s que vê m até<br />

eles e que eles não co m pr e e n d e m . Os antigo s devia m sentir- se<br />

de man eira se m el h a nt e ao entrar e m um templ o de Esculápio<br />

e m busc a de cura, co m a diferen ç a de que o fazia m de form a<br />

mais con s ci e nt e.<br />

Após ser e m registrad o s se gund o um es qu e m a rígido, os<br />

pacient e s são enviad o s para a ca m a o mais rapi<strong>da</strong> m e n t e<br />

pos sív el. Ain<strong>da</strong> que esteja m totalm e nt e são s e ch e g u e m na<br />

noite anterior a um exa m e ou um a interven ç ã o , no hospital os<br />

pacient e s dev e m deitar- se, Aqui a cab e ç a , que repre s e nt a o<br />

co m a n d o central, não pod e ser m anti<strong>da</strong> ergui<strong>da</strong>, dev e n d o por<br />

princípio reclinar- se. Dess a m an eir a ass e g ur a- se tam b é m que<br />

os pacient e s esteja m ao s pés dos m é di c o s , ao m e n o s<br />

fisica m e n t e, manifestand o - se co m clarez a que discus s õ e s de<br />

igual para igual estã o fora de questã o . Para eles, não resta<br />

muito para conv er s ar e pratica m e n t e na<strong>da</strong> que pos s a m decidir.<br />

Tanto e m relaç ã o à form a quanto ao conteúd o , eles são<br />

transfor m a d o s o m ais rapi<strong>da</strong> m e n t e pos sív el e m pacient e s . Faz<br />

parte des s e ritual ser colo c a d o na ca m a por um a enfer m eir a tal<br />

co m o se foss e m crianç a s , isso dep ois de ob e d e c e r à orde m de<br />

se des pir, assi m co m o o fato de que não pod e m m ais decidir<br />

por si m e s m o s quan d o dev e m ir para a ca m a e quan d o dev e m<br />

se levantar. Te m início o retroc e s s o ao nível de<br />

resp o n s a bili<strong>da</strong>d e de um a crianç a. Na m ai oria <strong>da</strong>s clinicas<br />

pas s a- se a m ai or parte do temp o no quarto, exata m e n t e co m o<br />

na ép o c a <strong>da</strong> infância. Isso ac arreta ain<strong>da</strong> o efeito adicion al de<br />

que a enfer m eira dev e decidir quan d o é hora de dor mir, isso<br />

43


des ej a n d o o m elh or para as "queri<strong>da</strong> s crianç a s", naturalm e nt e:<br />

apag ar a luz, fech ar os olho s! Na man h ã seguinte, apó s a<br />

ord e m de lavar- se, não há na<strong>da</strong> <strong>da</strong>quilo que os paci ent e s<br />

gosta m de co m e r no café <strong>da</strong> m anhã. Nova m e n t e , são outros<br />

que decid e m o que é m elh or para eles. E quan d o não co m e m<br />

tudo, são brand a m e n t e repre e n di d o s e rec e b e m os olhar e s<br />

corre s p o n d e n t e s . Muitas enfer m eir a s ain<strong>da</strong> caricatura m es s a<br />

situaç ã o incon s ci e nt e m e n t e ao rec air e m um a esp é ci e de<br />

tatibitate infantil que, ain<strong>da</strong> que a intenç ã o seja carinh o s a,<br />

indica ain<strong>da</strong> mais univo c a m e n t e ao pacient e o pap el que lhe<br />

corre s p o n d e .<br />

Celebr a- se aqui um grandio s o ritual co m o único objetivo de<br />

transfor m ar ser e s hum a n o s e m pacient e s , m ais propria m e n t e<br />

transfor m a n d o - os de nov o e m crianç a s . Muitos detalh e s<br />

con c orr e m para a con s e c u ç ã o des s e proc e s s o : cas o os<br />

pacient e s queira m pas s e a r, têm de fazê- lo de pijam a, ca mis ol a<br />

ou roupã o de ban h o , ma s nunc a co m o adultos e m a n cip a d o s<br />

nor m ai s. Eles não pod e m estar tão saud á v ei s a ponto de não<br />

ter de deitar- se na ca m a quan d o o m é dic o os visita,<br />

aguard a n d o pacient e m e n t e as m anife staç õ e s dos se mi d e u s e s .<br />

Estes, de fato, decid e m e m grand e m e di<strong>da</strong> o destino dos<br />

pacient e s , os quais são inform a d o s apen a s dos resultad o s . Os<br />

m é di c o s , quan d o discute m entre si, utilizam um a lingua g e m<br />

secr eta pratica m e n t e inco m pr e e n s í v el, co m p ar a n d o curvas,<br />

gráficos e m e did a s que pare c e m um cofre fech a d o a sete<br />

chav e s .<br />

As visitas do m é dic o ao leito do do e nt e reg e m - se por regras<br />

rituais rígi<strong>da</strong>s. Na maioria <strong>da</strong>s vez e s , cele br a- se uma lição de<br />

hierarquia. Hierarquia, traduzido literalm e nt e do greg o , quer<br />

dizer "gov er n o do que é sagr ad o". Trata- se, portanto, so m e n t e<br />

de um a con s e q ü ê n c i a quan d o o chefe, na ponta <strong>da</strong> hierarquia,<br />

gov er n a e deixa gov er n ar co m o se foss e um sac er d ot e do Sol.<br />

Certas liber<strong>da</strong> d e s , que são pos sív ei s co m a infantaria de<br />

enfer m eir o s , estã o obvia m e n t e fora de questã o no que a ele se<br />

refer e. Ele dá a impres s ã o de sab er tudo e não precis a<br />

fun<strong>da</strong> m e n t ar na<strong>da</strong>. Pode m aflorar na m e nt e dos paci ent e s<br />

44


lem br a n ç a s de um pai sev er o, do ch ef e de família. Quando não<br />

se instala m por si m e s m o s , o resp eito e a con sid er a ç ã o são<br />

impo st o s co m ênfas e . Nestes tem p o s de m o c r átic o s , as<br />

tentativas de ab olir hierarquia s en c o ntra m resistên ci a s<br />

profun<strong>da</strong> m e n t e enraizad a s , esp e ci al m e n t e na medicin a.<br />

Todo o ritual de regr e s s ã o , cui<strong>da</strong>d o s a m e n t e plan ejad o , tem<br />

tam b é m suas faceta s agrad á v ei s para os paci ent e s que, por<br />

exe m pl o, são levad o s e m suas ca m a s a to<strong>da</strong> parte, ain<strong>da</strong> que<br />

pos s a m ca min h ar até lá se m qualqu er probl e m a . Mas eles não<br />

dev e m se can s ar e não dev e m pen s ar muito. Calma para o<br />

corp o, para a alm a e para o espírito é rec o m e n d a d a e aju<strong>da</strong> na<br />

cura. É portanto um a m er a con s e q ü ê n c i a que os m é dic o s , já<br />

que não os próprios pacient e s , deci<strong>da</strong> m quan d o eles pod e m<br />

ca min h ar por si m e s m o s e, entã o, quan d o pod e m voltar para<br />

cas a. Caso os pacient e s não rec o n h e ç a m os sinais e<br />

des e n v olva m idéias próprias, eles são posto s e m seus devido s<br />

lugare s e en qu a dr a d o s dentro <strong>da</strong>s regras previstas atrav é s de<br />

san ç õ e s . “O do nº 17 é difícil", registra m os enfer m eir o s ,<br />

ev e ntual m e n t e inform a n d o ao s sup erior e s. Caso ele seja muito<br />

difícil, o próprio ch ef e se dirigirá ao difícil, de prefer ê n ci a no<br />

plural maje st átic o: "Qual é entã o o proble m a que tem o s aqui...”<br />

À m e dicin a, naturalm e nt e, oc orr e m divers a s razõ e s para<br />

to<strong>da</strong>s es s a s m e di<strong>da</strong>s, e m b o r a a palavra ritual jam ais seja<br />

utiliza<strong>da</strong>. Um olhar é suficiente para que to<strong>da</strong> s elas se rev el e m<br />

co m o racion alizaç õ e s . Diz-se que os m é di c o s precis a m<br />

apren d er latim suficiente para fazer- se enten d er tam b é m<br />

interna ci o n al m e n t e . Em 20 ano s de estud o e de prática eu<br />

jam ais en c o ntr ei um m é di c o que tives s e conv er s a d o e m latim<br />

co m um coleg a ou que pelo m e n o s estive s s e e m condiç õ e s de<br />

fazê- lo. Caso algu é m tentas s e , certa m e n t e seria con sid er a d o<br />

louc o pelo s coleg a s . O latim é suficiente apen a s para pod er<br />

mant er o club e fecha d o . Isto é, as palavra s decisiva s são<br />

manti<strong>da</strong> s fora do alcan c e dos pacient e s , ao s quais, co m o às<br />

crianç a s , não se pod e dizer to<strong>da</strong> a ver<strong>da</strong>d e .<br />

Algo se m e l h a nt e ac o nt e c e co m o branc o "estéril" usad o pelo<br />

pes s o al clínico, ao qual não pod e hav er nen hu m a exc e ç ã o .<br />

45


Razõ e s higiênic a s não falam mais e m favor do bran c o que,<br />

diga m o s , do am ar el o. Por que, entã o, o branc o univers al? Será<br />

que isso, talvez, tenha algo a ver co m o fato de o Papa usar<br />

branc o , tal co m o de resto a maioria dos gurus? Será que os<br />

se mid e u s e s tam b é m precis a m de roupa s rituais para seus<br />

rituais secr et o s e simpl e s m e n t e não quer e m ad miti- lo? Será<br />

que a vivên cia <strong>da</strong> m e dicin a é impe n s á v e l se m o bran c o porqu e<br />

ele contê m e m si to<strong>da</strong>s as outras cor e s e é, portanto, a cor <strong>da</strong><br />

integri<strong>da</strong>d e e <strong>da</strong> perfeiç ã o?<br />

Muitas coisa s, assi m co m o talvez a m a gi a que cerc a a<br />

higien e, falam e m favor des s a s razõ e s mais profun<strong>da</strong> s.<br />

Original m e nt e, impo n d o o branc o imaculad o contra violenta<br />

opo siç ã o <strong>da</strong> arte m é dic a, a higien e criou para si uma pátria<br />

natal na ritualística sub stitutiva. Hoje e m dia ela é defendid a <strong>da</strong><br />

man eira igual m e nt e violenta e, às vez e s , irracion al, co m que foi<br />

original m e nt e atac a d a. Tais carga s alta m e nt e e m o ci o n ai s são<br />

e m geral um sinal de que algo mais oculta- se por trás de um<br />

tem a. Neste cas o pod e- se entrev er, brilhand o nas profund ez a s ,<br />

pres criç õ e s rituais de limp ez a e cerim ô ni a s de purificaç ã o .<br />

Pode- se ob s erv ar a higienic a m e n t e significativa purificaç ã o a<br />

que se sub m e t e m os cirurgiõ e s quan d o se prep ar a m para um a<br />

op er a ç ã o . Eles lava m as m ã o s pol alguns minuto s so b água<br />

corrent e quent e en qu a nt o as friccion a m agr e s siva m e n t e co m<br />

sabã o liquido e es c o v a s . A duraç ã o des s a lavag e m está<br />

pres crita co m exatidã o, sen d o pen o s a m e n t e se guid a co m o<br />

auxílio de cron ô m e tr o s . Após es s e proc e di m e n t o , as mã o s<br />

continua m “sujas”, já que finalm e nt e precis a m ser outra vez<br />

lavad a s long a m e n t e co m álco ol de alta con c e ntra ç ã o . Em<br />

seguid a, e m situaç ã o ain<strong>da</strong> extre m a m e n t e prec ária do ponto de<br />

vista higiênic o, elas dev e m ser enfia<strong>da</strong>s e m luvas de borracha<br />

esteriliza<strong>da</strong> s. Não há ritual m ais disp en di o s o para a purificaç ã o<br />

<strong>da</strong>s mã o s ne m m e s m o e m cultos con s ci e nt e m e n t e mági c o s .<br />

Desd e este ponto de vista, os muitos pequ e n o s exer cício s<br />

de purificaç ã o que perpa s s a m o dia- a- dia de um a clinica<br />

pod e m ser rec o n h e c i d o s co m o rituais, já que e m sua m ai oria<br />

não traze m qualqu er ben efício higiênic o. Até o dia de hoje, o<br />

46


m é di c o se m pr e lava as mã o s até que e st eja m livre s de culpa.<br />

Ele tam b é m desinfeta a pele do local ond e aplicará uma<br />

injeç ã o , de um a man eira que, tal co m o se provou há muito, não<br />

tem qualqu er sentido do ponto de vista higiênic o. Mas os<br />

m é di c o s , co m razão, não quer e m abdic ar des s e ritual, ao qual<br />

se afeiç o ar a m . Eles prefer e m en c o ntrar as racion alizaç õ e s<br />

mais estran h a s para, à m an eira dos xam ã s , preparar de<br />

ante m ã o o local do ferim e nt o co m traço s funcion al m e n t e se m<br />

sentido ma s que atua m ma gic a m e n t e . Neste cas o , o álco ol<br />

pre e n c h e talvez a funçã o des e m p e n h a d a pela água benta à<br />

entrad a <strong>da</strong> igreja. Nenhu m dos dois purifica do ponto de vista<br />

higiênic o, ma s am b o s purifica m e ab e n ç o a m des d e um ponto<br />

de vista mais profund o. Os m é di c o s , co m razão, aferra m- se a<br />

es s e ritual, e os pacient e s , co m razão, o esp er a m , pois <strong>da</strong><br />

m e s m a m an eir a co m o e m outras áre a s, os rituais são<br />

extre m a m e n t e nec e s s á ri o s para a m e di cin a. Ain<strong>da</strong> que às<br />

vez e s as razõ e s aleg a d a s para defend er antigo s rituais contra<br />

refor m a s seja m algo peculiar e s, o fun<strong>da</strong> m e n t o básic o esta<br />

correto.<br />

A prática m é di c a nor m al tam b é m está impregn a d a de rituais<br />

totalm e nt e incon s ci e nt e s . Após ser e m legitima d o s e m form a de<br />

ficha por forças auxiliares sub ordin a d a s , os pacient e s faze m<br />

jus ao no m e por m ei o de um a long a esp er a. Em una atm o sf er a<br />

carre g a d a de tens ã o e m m ei o ao s outros do e nt e s , eles<br />

esp er a m ansio s a m e n t e o m o m e n t o e m que serã o atendid o s.<br />

Eles o esp er a m e o tem e m na m e s m a m e did a e m que há mil<br />

ano s um pacient e o fazia e m relaç ã o ao en c o ntro co m<br />

Esculápio, o deus <strong>da</strong> cura. Finalm e nt e ad mitido ao s mistério s<br />

do m é dic o , este s de fato rev ela m - se co m o sen d o be m<br />

misterio s o s . O sentido e o objetivo dos apar elh o s que são<br />

trazido s per m a n e c e m e m grand e m e di<strong>da</strong> ob s c ur o s para o<br />

pacient e. De qualqu er man eira, eles se tranqüiliza m ao ver que<br />

o doutor está be m apar elh a d o para todo s os cas o s , co m o que<br />

as m á q uin a s e ap etre c h o s cumpr e m co m seu objetivo ain<strong>da</strong><br />

que não ch e g u e m a entrar e m açã o. O doutor m e s m o tem,<br />

natural m e nt e, pouc o tem p o ; não é para m e n o s , sen d o ele tão<br />

47


importante! Som e nt e a idéia de fazê- lo esp er ar um minuto, a<br />

ele, que nos exigiu um a hora de paci ên ci a, é impe n s á v e l.<br />

Finalm e nt e, ele dirige a palavra ao "pacient e" durante um<br />

m o m e n t o ínfimo. Tend o- lhe sido dito que estav a do e nt e ante s,<br />

ele ag or a é inform a d o do fato por es crito. Ao m e s m o tem p o ,<br />

decr et a- se um ver e dicto so br e a do e n ç a . Ela rec e b e um temp o<br />

de duraç ã o e um rem é di o, dep oi s diss o dev e ced er. Com a<br />

rec eita o Senh or Doutor, pelo pod er de seu carg o, esta b el e c e<br />

um prazo para o paci ent e e seu sinto m a . Caso este<br />

des a p ar e ç a , o afetad o volta auto m atic a m e n t e a ser decr et a d o<br />

saud á v el. Essa am e a ç a é docu m e n t a d a (por m ei o do atestad o<br />

de incap a ci<strong>da</strong>d e para o trabalh o), e, co m um se gund o<br />

atesta d o , o pacient e volta a ser liberad o , e m geral rapi<strong>da</strong> m e n t e .<br />

Esses pap éis são dupla m e nt e cifrado s, por um lado porqu e a<br />

letra do m é dic o é ilegív el, e por outro porqu e as palavra s e<br />

sinais prov ê m de outro plan eta. Mas o farm a c ê utic o,<br />

igual m e nt e vestido de bran c o e, portanto, perten c e nt e à<br />

m e s m a corp ora ç ã o de iniciad o s, decifra habilm e nt e a rec eita 16<br />

e entreg a as gotas ou pastilhas salvad or a s . O padrã o é tão<br />

antigo quanto eficaz.<br />

Em m ei o a to<strong>da</strong> es s a ma gi a, os m é dic o s esta b el e c e r a m um a<br />

posiç ã o resp eitáv el que é con sid er a d a co m o sen d o<br />

esp e ci al m e n t e importante e decisiva. Enquanto , na ver<strong>da</strong>d e ,<br />

so m e n t e Deus decid e so br e a vi<strong>da</strong> e a m orte, nest e cas o to<strong>da</strong><br />

uma corpor a ç ã o man o b r o u para colo c ar- se nas suas<br />

proximi<strong>da</strong>d e s . Quando se con sid er a todo s os critérios que<br />

faze m extern a m e n t e um xam ã, o resultad o é se m pr e um<br />

m é di c o . A vesti m e nt a cha m ativa é co m u m a am b o s e vai muito<br />

alé m <strong>da</strong>s cor e s. As diferen ç a s hierárquic a s estã o con s oli<strong>da</strong> d a s<br />

até m e s m o no padrã o do corte do so br etud o. Hoje e m dia os<br />

enfer m eir o s pod e m até m e s m o tirar as touca s, ma s ai <strong>da</strong>qu el e<br />

que vestir um so br etud o co m colarinh o alto, tentand o assi m<br />

co m p artilhar tal privilégio m é dic o . Os ver<strong>da</strong>d eir o s xam ã s quas e<br />

nunc a renun cia m a dispor seus amul et o s curativo s ao redor<br />

dos que o procura m . Os m é di c o s , e m lugar <strong>da</strong>qu el e s , usa m<br />

esteto s c ó pi o s , que e m pr e g a m so br e o cora ç ã o e outros ponto s<br />

48


importante s do paci ent e. Os xam ã s freqü e nt e m e n t e utilizam<br />

uma linguag e m inco m pr e e n s í v el para os não iniciado s e<br />

exe c uta m aç õ e s rituais cujo significad o profund o so m e n t e eles<br />

m e s m o s con h e c e m . Em am b o s os cas o s , os m é di c o s<br />

m o d e r n o s não fica m atrás. A digni<strong>da</strong>d e do curand eiro<br />

expr e s s a - se co m freqü ê n ci a e m um co m p o rta m e n t o que dá<br />

pouc a importân ci a as cois a s dest e mund o. Eles pod e m<br />

per mitir-se deixar os pacient e s esp er a n d o e tratá- los de ac ord o<br />

co m a pirâmid e hierárquic a, de cim a para baixo. No grau e m<br />

que se enc o ntra m , eles natural m e nt e não têm na<strong>da</strong> a ver co m<br />

fatos mat eriais; outros co br a m os e m olu m e n t o s . Os m é di c o s<br />

até hoje utilizam intens a m e n t e es s a s pos sibili<strong>da</strong>d e s , e m<br />

prim eiro lugar co m os paci ent e s e seu dinh eiro, e e m se g un d o<br />

lugar co m solícitas e m pr e s a s de produto s farm a c ê utic o s . E<br />

co m o se m pr e, eles têm aju<strong>da</strong>nt e s que des e m p e n h a m as<br />

tarefas m e n o s digna s 17 . Pois, afinal, os curand eir o s tam b é m se<br />

cerc a m de sím b ol o s m á gi c o s que impõ e m resp eito,<br />

impres si o n a m os não- iniciado s e até m e s m o os am e dr o nt a m . É<br />

neste contexto que entra a relaç ã o que se des e n v olv e u ao<br />

long o <strong>da</strong> história entre os m é dic o s e a serp e nt e, aqu el a víbor a<br />

de Esculápio que se enro s c a perigo s a m e n t e no bastã o do<br />

m e s m o no m e . Esculápio, o m o d el o dos m é di c o s , tinha pod er<br />

so br e as serp e nt e s e seu reino, a polari<strong>da</strong>d e . Os ver<strong>da</strong>d eir o s<br />

curand eir o s se distingu e m pela en er gia que irradia m, que se<br />

manife sta <strong>da</strong> m an eir a m ais evid e nt e na form a de um a auré ol a<br />

ao redor <strong>da</strong> cab e ç a . Neste sentido, os m é di c o s m o d er n o s<br />

so m e n t e pod e m ofer e c e r um substituto. Mas é notáv el co m o<br />

seu protótipo é repre s e nt a d o de múltiplas man eira s pelo<br />

oftalm o s c ó pi o dos otorrinolaring ol o gi sta s, que pelo m e n o s imita<br />

a auréol a e exib e adiante, na testa, um brilhante sím b ol o solar,<br />

aqu el e esp elh o que, junta m e nt e co m os raios de luz, atrai para<br />

si a aten ç ã o de todo s os não- iniciado s .<br />

Mais do que a des criç ã o e m tom irônic o que vai <strong>da</strong> luz dos<br />

santo s ao atesta d o m é di c o , trata- se aqui de relíquias <strong>da</strong> luta<br />

dos m é di c o s pelo pod er ou até m e s m o de sua m e g al o m a n i a,<br />

que nec e s s ita m urgent e m e n t e de refor m a s . Tal avaliaç ã o ,<br />

49


entretanto, con sid er a apen a s um lado <strong>da</strong> m o e d a . Quando se<br />

ob s erva o outro, trata- se do padrã o central e, tanto ante s co m o<br />

ag or a, eficaz, de um a m e dicin a que não sab e ela m e s m a<br />

porqu e funcion a.<br />

A do e n ç a continua sen d o tam b é m regr e s s ã o , e<br />

auto m atic a m e n t e leva as pes s o a s a um a postura de entre g a e<br />

de impotên ci a. A posiç ã o horizontal do corp o volta a regular<br />

algo que antes era evident e m e n t e um pouc o louc o: não é a<br />

vi<strong>da</strong> que está a nos s o s pés, ma s nós que esta m o s prostrad o s<br />

frente a ela. Neste cas o , qualqu er form a de do e n ç a dignifica. A<br />

postura de humil<strong>da</strong>d e co m bi n a d a co m a calm a que se instaura<br />

e a co a ç ã o para a<strong>da</strong>ptar- se ao padrã o "Seja feita a Sua<br />

vontad e!" tem efeito s curativo s. A do e n ç a , portanto, per mite<br />

que se tire férias <strong>da</strong> extenu a nt e e gen er alizad a postura<br />

hum a n a de "Seja feita a minha vontad e!". Quanto m ais<br />

con s ci e nt e é a instauraç ã o do estad o de entre g a e o<br />

con s e q ü e n t e cas o ideal de humil<strong>da</strong>d e, m ais eficaz é o ritual de<br />

cura.<br />

Por en qu a nt o, to<strong>da</strong> s as tentativas de con c e d e r igual<strong>da</strong>d e de<br />

direitos e e m a n cip ar os pacient e s , ain<strong>da</strong> que be m -<br />

intencion a d a s , continua m sen d o contrapr o du c e n t e s , tend o e m<br />

vista o padrã o curativo propria m e n t e dito. Isso se torna<br />

esp e ci al m e n t e evid e nt e e m clínicas priva<strong>da</strong> s, ond e um<br />

trata m e nt o de prim eira clas s e não resulta de form a algu m a e m<br />

uma m elh or cura. Justam e nt e, não se trata de que o pacient e<br />

pros sig a na situaç ã o de do e n ç a , ac eitan d o- se seu jogo de<br />

pod er e suas exig ê n ci a s. O que ele precis a é ter a<br />

pos sibili<strong>da</strong>d e de tornar- se con s ci e nt e <strong>da</strong> situaç ã o<br />

fun<strong>da</strong> m e n t al m e n t e des pr ot e gid a e m que se enc o ntra. Até<br />

m e s m o os m o d e r n o s e incon s ci e nt e s rituais de hospital o<br />

aju<strong>da</strong> m nes s e sentido.<br />

Não é ne m a organiza ç ã o hierárquic a <strong>da</strong> clinica ne m o jogo<br />

de end e u s a m e n t o que nela tem lugar que colo c a m real m e nt e<br />

e m perigo as chanc e s de cura do pacient e, m a s sim as<br />

fantasias de onipotên ci a de m é dic o s ce g o s para a reali<strong>da</strong>d e ,<br />

que dão a enten d e r que ele s têm tudo so b controle. Na<br />

50


eali<strong>da</strong>d e, ape s ar <strong>da</strong>s resp eitáv ei s contribuiç õ e s para a<br />

con struç ã o <strong>da</strong> torre <strong>da</strong> ciên cia m é di c a, são justa m e n t e es s e s<br />

m é di c o s que jam ais en c o ntra m a ver<strong>da</strong>d eir a ponta <strong>da</strong><br />

hierarquia, o sagr ad o . Ain<strong>da</strong> que hoje con strua m co m marfim,<br />

eles e m algu m m o m e n t o co m p artilharã o o destino de seus<br />

igual m e nt e ativos pred e c e s s o r e s no canteiro de obras <strong>da</strong> Torre<br />

de Babel.<br />

O efeito plac e b o 18 , visto co m des c o nfian ç a por m é dic o s que<br />

pen s a m cientifica m e n t e , e o "m é dic o de drog a s", são partes<br />

integrant e s do m o d e r n o ritual <strong>da</strong> m e di cin a. Quanto mais os<br />

pacient e s estiver e m e m con diç õ e s de rec o n h e c e r o pred o m í ni o<br />

do sagr ad o na hierarquia, ao m e n o s sim b olic a m e n t e , m ai or e s<br />

serã o as suas chan c e s de cura. Neste cas o , o m é dic o é um a<br />

sup erfície de projeç ã o para a nostalgia de direç ã o e orienta ç ã o<br />

que vê m do alto, do mais alto. Um m é dic o que deixe Deus, isto<br />

é, o principio <strong>da</strong> uni<strong>da</strong>d e, fora do jogo, precis ar á se m pr e de<br />

deus e s substitutos, ou entã o a cura lhe es c a p ar á totalm e nt e. O<br />

se mid e u s vestido de bran c o é so m e n t e um a caricatura, m a s<br />

ain<strong>da</strong> assi m é m elh or do que nenhu m deus. Até m e s m o a<br />

m e di cin a naturalista, que tenta mant er seus proc e di m e n t o s o<br />

mais objetivo s pos sív el e livres <strong>da</strong>s impon d e r a bili<strong>da</strong>d e s <strong>da</strong><br />

alm a, não pod e renun ciar a Deus, so m e n t e que para ela seu<br />

no m e e “Ciência". Por es s a razã o, a cren ç a e m uma m e dicin a<br />

onipot ent e e infalível conté m e m si um a chanc e de<br />

resta b el e ci m e n t o para as pes s o a s que acredita m na m e di cin a.<br />

No entanto, tend o e m vista o que stion a m e n t o e a busc a <strong>da</strong><br />

dúvi<strong>da</strong> que faz parte <strong>da</strong> religião cientifica, esta é um a<br />

pos sibili<strong>da</strong>d e de cura ver<strong>da</strong>d eira m e n t e des e s p e r a d a .<br />

4. Rituais <strong>da</strong> medicina antiga<br />

A m e di cin a dos antigo s nos m o stra o quanto os ca m p o s<br />

form a d o s por rituais são eficaz e s no âm bito m é di c o . Os<br />

hospitais <strong>da</strong>qu el a ép o c a era m os templo s do deus Esculápio.<br />

Os do e nt e s e os que precis av a m de aju<strong>da</strong> vinha m de long e,<br />

51


e m pr e e n d e n d o long a s jornad a s . Após a che g a d a , eles<br />

pas s a v a m por rituais preparatório s de am bi e nt a ç ã o e<br />

purificaç ã o exe c utad o s por servidor e s do tem plo. A m e di cin a,<br />

no sentido que lhe <strong>da</strong> m o s hoje, não oc orria. Não se fazia m<br />

op er a ç õ e s ne m se aplicav a m m e dic a m e n t o s eficaz e s tal co m o<br />

o enten d e m o s atual m e nt e. Das áre a s que nos são familiare s,<br />

so m e n t e a higien e e dietética des e m p e n h a v a m um pap el.<br />

Por outro lado, es s a s era m co m pr e e n di d a s de man eira muito<br />

mais abran g e nt e que hoje e m dia.<br />

No centro des s a m e di cin a, co m o esp a ç o m e s m o ,<br />

en c o ntrav a- se o templ o de Esculápio. Através de muitos rituais<br />

surgi- aqui um ca m p o ond e a cura podia ac o nt e c e r. O pacient e<br />

era prep ar a d o durante se m a n a s para viven ci ar a noite decisiva<br />

de sua estadia, o pern oite no tem plo, assi m cha m a d a<br />

incub a ç ã o . Nesta noite esp e ci al, e m um lugar esp e ci al do<br />

templ o, ele se deitava en q u a nt o a atm o sf er a era prepara d a por<br />

m ei o <strong>da</strong> luz e <strong>da</strong>s es s ê n ci a s odoríficas corresp o n d e n t e s , e<br />

finalm e nt e ador m e c i a. O decisivo ac o nt e ci a durante o estad o<br />

de son o, segun d o o ditado de que ”O Senhor dá a cad a um o<br />

que lhe corre s p o n d e durante o son o". O paci ent e son h a v a co m<br />

a soluç ã o de seu proble m a . Ou ele via direta m e n t e imag e n s<br />

que surgia m diante de si, ou Esculápio apar e ci a diante dele e<br />

lhe <strong>da</strong>va a enten d e r para ond e seu ca min h o se dirigia.<br />

Isso so a ingênu o para nos s o m o d e r n o enten di m e n t o , ma s<br />

ain<strong>da</strong> assi m dev eria ficar claro que tal m e di cin a obtinha êxitos<br />

e enc a minhava curas. Segund o nos s a atual visã o psicoló gic a,<br />

diría m o s que foi criado um esp a ç o ond e a soluç ã o podia<br />

e m e r gir do incon s ci e nt e. Quando se enten d e a cura e m um<br />

sentido profund o, não se vend o nela so m e n t e um a repara ç ã o<br />

ou um con s ert o, torna- se desn e c e s s á ri o ocultar es s a m e di cin a<br />

atrás <strong>da</strong> atual. Ao contrário, ela tinha con s ci ê n ci a de proc e s s o s<br />

que so m e n t e ag or a esta m o s red e s c o b rin d o . À m e di<strong>da</strong> que<br />

apren d e m o s a tornar con s ci e nt e s os ca m p o s que são<br />

pred o m i n a nt e s para nós e a li<strong>da</strong>r co m eles, pas s a m o s tam b é m<br />

a ter resp eito pela m e di cin a dos antigo s. Ela se apoiav a na<br />

sab e d o ria conti<strong>da</strong> nos rituais.<br />

52


Há muito faland o e m favor de que os ca m p o s<br />

m orfo g e n é tic o s repre s e nt a m as próprias estruturas nas quais<br />

se con s u m a m des e n v o l vi m e n t o s e, tam b é m , curas. Até m e s m o<br />

o m ai or dos des e n v olvi m e nt o s a ev oluç ã o , pod e ser assi m<br />

explicad o . Os ca m p o s esta b el e c e m a m oldura dentro <strong>da</strong> qual<br />

oc orr e o des e n v o l vi m e n t o . Entretanto, so m e n t e certo s quadr o s<br />

a<strong>da</strong>pta m - se a um a m oldura esp e c ífica, e portanto ne m tudo é<br />

pos sív el na evoluç ã o , ma s so m e n t e aquilo que se ad e q u a à<br />

m oldura pre e st a b el e c i d a. Por esta razão, a cura no sentido de<br />

um resta b el e ci m e n t o co m pl et o não é alcan ç á v el e m todo s os<br />

cas o s , m a s so m e n t e naqu el e s que estã o previsto s na naturez a<br />

do afetad o, ou seja, e m seu padrã o 19 . A cura no sentido de<br />

red e n ç ã o ou res g at e do próprio padrã o é, ao contrário, se m pr e<br />

pos sív el.<br />

5. <strong>Doença</strong> e padrão<br />

Sinto m a s repre s e nt a m ca m p o s . Ca<strong>da</strong> sinto m a conté m não<br />

apen a s sua form a corp or al ma s tam b é m um ca m p o<br />

circund a nt e dos padrõ e s de co m p o rta m e n t o e <strong>da</strong>s estraté gi a s<br />

de (sobr e)vivênci a corre s p o n d e n t e s . No quadr o de um a<br />

do e n ç a , uma certa quanti<strong>da</strong>d e de en er gi a fluiu pai a uma<br />

estrutura rígi<strong>da</strong> que está profun<strong>da</strong> m e n t e gravad a no<br />

incon s ci e nt e so b a form a de padrã o. Som e nt e o asp e ct o form al<br />

ch e g a a ser visível, tal co m o a ponta de um ice b e r g. Isso fica<br />

muito claro se torna m o s co m o exe m pl o as manias. O probl e m a<br />

aqui não são os sinto m a s corp or ais, que por subtraç ã o pod e m<br />

ser sup er a d o s e m pouc o s dias, m a s o padrã o, profund o e<br />

imun e, do qual o dep e n d e n t e não pod e livrar- se. To<strong>da</strong> s as<br />

terapias be m - intencion a d a s que não ch e g a m a atingir o plan o<br />

do padrã o fun<strong>da</strong> m e n t al traze m pouc o s ben efício s a long o<br />

prazo. É um a questã o de temp o; e m algu m m o m e n t o o padrã o<br />

trará o afetad o de volta a seu ca m p o de atraç ã o . Justam e nt e<br />

para os pacient e s m aní a c o s , é importante es clar e c e r que este<br />

53


padrã o não pod e ser m o dificad o , que a única chan c e con siste<br />

e m vivê- lo de outra form a.<br />

O ca m p o form ativo alim e nta- se do padrã o profund o. Este<br />

pod e ser co m p ar a d o a um a m oldura que ad mite divers a s<br />

imag e n s que a ela se a<strong>da</strong>pta m , ma s de m o d o algu m to<strong>da</strong> s<br />

elas. A m oldura esta b el e c e o principio que pod e expres s ar- se<br />

e m seu ca m p o . Em um deter min a d o tipo de solo, por exe m pl o,<br />

pod e m des e n v olv e m - se várias plantas, ma s não to<strong>da</strong>s.<br />

Asparg o s, pinheiro s e palm eiras cres c e m e m solo s aren o s o s ;<br />

já os ab et o s, não. To<strong>da</strong> s as plantas que m e dr a m no m e s m o<br />

tipo de solo dev e m refletir o princípio que está e m sua bas e ,<br />

que na areia pod eria ser o <strong>da</strong> m o d er a ç ã o .<br />

Contrair um a do e n ç a quer dizer o se guinte: um a tem átic a<br />

fun<strong>da</strong> m e n t al co m o , por exe m pl o, um probl e m a de agre s s ã o ,<br />

esta b el e c e a moldura no plan o do padrã o. Na sup erfície pod e m<br />

form ar- se quadr o s apar e nt e m e n t e muito diferent e s , talvez<br />

alergias, pres s ã o alta, cálculo s biliares ou a co m p uls ã o de roer<br />

as unha s. Com isso, entretanto, so m e n t e se des cr e v e a<br />

sup erfície do plano corp or al. No plan o do co m p o rta m e n t o há<br />

igual m e nt e uma paleta de pos sibili<strong>da</strong>d e s nas quais o m e s m o<br />

padrã o pod e expres s ar- se. Ataques de fúria freqü e nt e s , um a<br />

relaç ã o en ér gic a co m a própria impulsivi<strong>da</strong>d e ou um a<br />

aproxi m a ç ã o ofen siva de tem a s so m b ri o s seria m algu m a s<br />

des s a s pos sibili<strong>da</strong>d e s . Além diss o, o padrã o tam b é m pod e<br />

assu mir form a s diferen ciad a s no plan o do pen s a m e n t o :<br />

fantasias sexuais agre s siv a s ofer e c e m um a pos sibili<strong>da</strong>d e, ma s<br />

tam b é m o pen s a m e n t o radical pura e simples m e n t e , que por<br />

principio tem suas raízes volta<strong>da</strong> s para um âm bito es cur o. No<br />

plan o aní mic o, sentim e nt o s de auto- agre s s ã o seria m um a<br />

variante, ou fantasias de auto- flag elaç ã o e até depr e s s õ e s ,<br />

ma s tam b é m um a vi<strong>da</strong> de e m o ç õ e s e sentim e nt o s radicais.<br />

Nos diferent e s plan o s existe m as m ais diferent e s<br />

pos sibili<strong>da</strong>d e s de repre s e nt a ç ã o , per m a n e c e n d o to<strong>da</strong> s elas<br />

entretanto dentro do quadr o de pos sibili<strong>da</strong>d e s <strong>da</strong>d a s de<br />

ante m ã o pelo padrã o básic o. Som e nt e um a investig a ç ã o m ais<br />

detalhad a do padrã o profund o per mite esp e cificar a tem átic a.<br />

54


Caso, por exe m pl o, se trate m de agr e s s õ e s que se inflam a m<br />

co m os es c ur o s tem a s “sujos" <strong>da</strong> vi<strong>da</strong>, a es c ol h a resu m e - se às<br />

alergias. Mas mes m o assi m há ain<strong>da</strong> muitas pos sibili<strong>da</strong>d e s que<br />

se reflete m no grand e núm er o e rico sim b olis m o dos<br />

alerg ê ni c o s .<br />

Nossa vi<strong>da</strong> está impre g n a d a de padrõ e s que esta b el e c e m<br />

as condiç õ e s <strong>da</strong> m oldura. Segund o a con c e p ç ã o es ot éric a,<br />

eles são trazido s a vi<strong>da</strong> para ser e m viven ci ad o s co m o pas s ar<br />

do tem p o . O auto- con h e ci m e n t o é, e m última anális e, a<br />

con s ci e ntizaç ã o do padrã o, a auto- realizaç ã o <strong>da</strong>quilo que ele<br />

supõ e e libera. Cons e q ü e nt e m e n t e , o ca m p o de trabalh o do<br />

auto- con h e ci m e n t o vai des d e os plano s sup erficiais, o corp o e<br />

o co m p o rta m e n t o , até o cern e do ser divino, o “si m e s m o ”<br />

[self]. Estar pres o a padrõ e s incon s ci e nt e s ved a o ac e s s o ao<br />

ver<strong>da</strong>d eir o ser.<br />

O ca minh o perc orrido e m A Doe n ç a co m o Ca minh o co m e ç a<br />

na sup erfície e vai desd e os sinto m a s corp or ais visíveis e<br />

perc e ptív eis até as estruturas aní mic a s profun<strong>da</strong> s . A gen étic a<br />

fornec e outro m ei o de ac e s s o ao padrã o que é ac eito de<br />

man eira geral 20 . O códig o gen étic o do DNA conté m to<strong>da</strong> a<br />

inform a ç ã o so br e nós. Aqui estã o não so m e n t e as condiç õ e s<br />

<strong>da</strong> m oldura corp or al m a s tam b é m as que esta b el e c e m o<br />

co m p o rta m e n t o . Em con s e q ü ê n c i a, os padrõ e s prim ordiais<br />

tam b é m dev e m pod er ser en c o ntrad o s aqui, e m b o r a a<br />

pes q uis a ain<strong>da</strong> não tenha avan ç a d o tanto.<br />

Segund o nos s o ponto de vista a pergunta <strong>da</strong> m e di cin a:<br />

"contraíd o ou her<strong>da</strong>d o ", é ocio s a. O probl e m a está nas<br />

alternativas apar e nt e s que se revela m co m o ilusõ e s a um a<br />

ob s erva ç ã o m ais atenta. Tudo foi contraíd o algu m a vez e m<br />

algu m m o m e n t o e tudo está esta b el e ci d o no padrã o. As<br />

alternativas des a p ar e c e m quan d o ob s erva m o s co m algu m<br />

distancia m e n t o . Mesm o no estági o atual de con h e ci m e n t o s <strong>da</strong><br />

gen étic a, muita coisa é esta b el e ci d a na con c e p ç ã o . Com es s e<br />

ac o nt e ci m e n t o , fornec e- se um a m oldura bastant e clara. Assim,<br />

e m todo s os cas o s , um ser hum a n o surg e <strong>da</strong> fertilizaçã o de um<br />

óvulo hum a n o . Ness e m o m e n t o , as pos sibili<strong>da</strong>d e s cão ou<br />

55


can guru não estã o m ais conti<strong>da</strong>s na m oldura pre e st a b el e ci d a.<br />

Ain<strong>da</strong> que de início não haja extern a m e n t e qualqu er diferen ç a<br />

de um futuro cão ou can guru, no que se refer e a isso os <strong>da</strong>d o s<br />

já fora m lanç ad o s . O padrã o está lá, e as pos sibili<strong>da</strong>d e s de<br />

viven ci á- lo são adquiri<strong>da</strong>s ao long o <strong>da</strong> vi<strong>da</strong>. Elas ocorr e m<br />

regular m e n t e co m o temp o, dentro <strong>da</strong> moldura <strong>da</strong>quilo que está<br />

previsto.<br />

Um outro plan o e m que o padrã o se torna rec o n h e c í v el é o<br />

dos arqu étipo s tal co m o definido s por C. G. Jung. Eles são<br />

muito se m el h a nt e s ao s princípio s prim ordiais que se<br />

en c o ntra m , por exe m pl o, na bas e <strong>da</strong> astrolo gia 2 1 . Os princípio s<br />

primordiais são única e exclusiva m e n t e arqu étipo s muito puros.<br />

Emb or a exista m na ver<strong>da</strong>d e muitíssi m o s arqu étipo s, na maioria<br />

dos cas o s trabalha- se so m e n t e co m sete ou dez 22 princípio s<br />

primordiais que rec e b e m o no m e dos plan etas. As tarefas de<br />

apren dizad o que o ser hum a n o tem de levar a cab o ao long o<br />

<strong>da</strong> vi<strong>da</strong> estã o esta b el e ci d a s e m padrõ e s . Os padrõ e s , por sua<br />

vez, são con struído s a partir de princípio s prim ordiais e <strong>da</strong>s<br />

relaç õ e s e existent e s entre eles.<br />

Não é obrigatório dedic ar- se à co m pr e e n s ã o <strong>da</strong><br />

interpreta ç ã o dos sinto m a s até o plano dos princípios<br />

primordiais. Por outro lado este pas s o , difícil e fascinant e ao<br />

m e s m o temp o, pod e facilitar muita cois a, tal co m o exp eriên ci a s<br />

e m se min ário s de sinto m a s o de m o n s tr a m . No âm bito dest e<br />

livro, so m e n t e é pos sív el lanç ar um brev e olhar so br e es s e<br />

pen s a m e n t o 23 .<br />

6. Pensamento vertical e princípios primordiais<br />

Segund o nos s a visã o de mun d o , há plano s horizontais e<br />

verticais que atrav e s s a m a reali<strong>da</strong>d e. Os princípios prim ordiais<br />

corre s p o n d e m ao s princípios de ord en a ç ã o verticais,<br />

co m p ar á v ei s talvez ao s ele m e n t o s quí mic o s <strong>da</strong> tab ela<br />

periódic a. Com o tudo con sist e de ele m e n t o s , eles participa m<br />

<strong>da</strong>s várias form a s de m anife staç ã o . Tanto o carvã o co m o o<br />

56


diam a nt e são con stituído s de carb o n o , estan d o assi m<br />

“vertical m e nt e" ligado s um ao outro por m ei o des s e ele m e n t o ,<br />

e m b o r a de m o n s tr e m pouc a se m el h a n ç a no plano <strong>da</strong>s<br />

manife staç õ e s . O trabalh o co m os “plano s verticais" é um<br />

do mínio <strong>da</strong>s disciplinas es ot éric a s , sen d o que a orden a ç ã o nos<br />

"plan o s horizontais" des critivo s é um a tarefa cumpri<strong>da</strong> pela<br />

ciên cia.<br />

O diagra m a es qu e m a tiz a d o ab aixo pod e ilustrar o caráter<br />

distinto de am b a s as man eira s de pen s ar por m ei o de um a<br />

pequ e n a divisã o e m três cad ei a s de asp e ct o s verticais e vários<br />

asp e ct o s horizontais, e <strong>da</strong>r um a bas e mais profun<strong>da</strong> para a<br />

co m pr e e n s ã o de fenô m e n o s tais co m o o deslo c a m e n t o , a<br />

elab or a ç ã o e o resg at e de sinto m a s .<br />

57


Princípio<br />

Primordial<br />

Princípio<br />

Plano<br />

Anímico<br />

Plano<br />

Corporal<br />

Ativi<strong>da</strong>de<br />

Típica<br />

Ambiente<br />

Social<br />

Regiões,<br />

Órgãos do<br />

Corpo<br />

Tendências<br />

a <strong>Doença</strong>s<br />

Vênus Marte Saturno<br />

União,<br />

har m o ni a,<br />

equilíbrio<br />

Energia<br />

Conc e ntraç ã o ,<br />

cons oli<strong>da</strong>ç ã o<br />

Amor Corag e m Pers ev e r a n ç a<br />

Sensu ali<strong>da</strong>d e Força mus cular Ossos<br />

Sabor e ar,<br />

co m e r<br />

Hotel de luxo,<br />

bord el<br />

Pele(contat o),<br />

nerv o s, lábios<br />

Diabet e,<br />

acn e,<br />

ob e sid a d e<br />

Lutar, avan ç ar Resistir<br />

Arena, quadra de<br />

esp ort e s, ca m p o de<br />

batalhas<br />

Músculos, san gu e ,<br />

testa, pênis<br />

Ferim e nt o s, infecç õ e s<br />

agud a s<br />

Prisão, hospital,<br />

m o st eiro<br />

Pele (fronteira),<br />

joelho s, es qu el et o<br />

Cálculos,<br />

psorías e , artros e<br />

Comi<strong>da</strong>s Doces Comi<strong>da</strong> s cruas, carn e Grãos, noz e s<br />

O pen s a m e n t o "horizontal", nas cate g o rias usuais, está<br />

muito mais próxim o de noss a ép o c a orientad a cientifica m e n t e,<br />

en qu a nt o o pen s a m e n t o "vertical" ou analó gic o , apoiad o nos<br />

princípio s primordiais, é mais difícil de apre e n d e r, pois se opõ e<br />

à lógica co m a qual esta m o s ac o stu m a d o s . Ele pen etrou<br />

so m e n t e no ca m p o <strong>da</strong> psicot er apia. O mun d o <strong>da</strong> psiqu e não e<br />

co m p o rta ne m lógica ne m cron ol o gic a m e n t e ; aqui pred o m i n a m<br />

a sincronici<strong>da</strong>d e e a analo gia, co m o nos de m o n s tr a m os<br />

son h o s a cad a noite.<br />

Não faz tanto temp o assi m, todo s os ser e s hum a n o s<br />

co m p artilhav a m esta co m pr e e n s ã o "psíquic a" do mund o . Mas<br />

inclusive a porç ã o minoritária <strong>da</strong> hum a ni<strong>da</strong>d e que aba n d o n o u<br />

es s a visã o de mun d o e à qual perten c e m o s está, devid o às<br />

antigas raízes, intuitiva e secr eta m e n t e muito m ais liga<strong>da</strong> a ela<br />

do que ad mite. O sim b olis m o primitivo está vivo. Nós talvez<br />

tenha m o s verg o n h a dele e o denun ci e m o s co m o prec o n c eito e<br />

sup er stiçã o, ma s não o aba n d o n a m o s . Nem m e s m o os<br />

58


grand e s jornais pod e m se per mitir pres cindir de um horó s c o p o ,<br />

e quanta s não são as pes s o a s que o lêe m se m jam ais ad mitilo<br />

24 . Nós continua m o s co m p ar e c e n d o ao s enterro s vestido s de<br />

preto, e m b o r a não tenha m o s qualqu er explicaç ã o razo á v el<br />

para isso. Tudo se torna ver m el h o quan d o esta m o s irado s, e<br />

não am ar el o. Vemo s tudo negr o quan d o não tem o s mais<br />

esp er a n ç a . Quando ach a m o s que algu é m está louc o, nós lhe<br />

m o stra m o s um pás s ar o e não um jum e nt o, e se m pr e o<br />

faze m o s indican d o a cab e ç a , e não o joelho. O joelho<br />

repre s e nt a a humil<strong>da</strong>d e e não idéias (maluc a s). Nós ve m o s a<br />

tenacid a d e repres e nt a d a pelo pes c o ç o de um touro, en qu a nt o<br />

o pes c o ç o de um cisn e repre s e nt a a ele g â n ci a e a arrog â n ci a.<br />

To<strong>da</strong> s esta s e muitas outras relaç õ e s são usuais para nós e,<br />

entretanto, disp en s a m qualqu er explicaç ã o caus al. Elas<br />

disp en s a m a lógica usual, m a s não to<strong>da</strong> lógica; elas estã o<br />

bas e a d a s na analo gia.<br />

Sinto m a s são a expres s ã o de padrõ e s que têm raízes<br />

forte m e nt e anc or a d a s na matriz <strong>da</strong> reali<strong>da</strong>d e. Eles en c o ntra m<br />

sua expres s ã o mais ab strata no padrã o dos princípios<br />

primordiais e suas relaç õ e s mútua s. Para influenciar os<br />

sinto m a s de m an eir a durad o ur a não basta proc e d e r a<br />

m o dificaç õ e s co s m é tic a s na sup erfície. Além diss o, um sinto m a<br />

não pod e ser jam ais eliminad o se m que oc orra um a<br />

substituiçã o, pois o padrã o que se en c o ntra e m sua bas e não<br />

des a p ar e c e simples m e n t e . Na m elh or <strong>da</strong>s hipótes e s , os<br />

sinto m a s são interc a m b i á v ei s dentro de sua resp e ctiva<br />

m oldura. No proc e di m e n t o alop átic o <strong>da</strong> m e di cin a ac ad ê m i c a , e<br />

tam b é m no assi m cha m a d o pen s a m e n t o positivo, o perigo está<br />

e m co brir o padrã o profund o co m m e di c a m e n t o s ou afirma ç õ e s<br />

be m - intenci o n a d a s aplicad o s e m plan o s mais sup erficiais.<br />

A ver<strong>da</strong>d eira cura requ er uma alternativa na m oldura do<br />

padrã o pre e sta b el e ci d o . Simples m e n t e opor- se a ele co m seu<br />

contrário pod e de fato lograr um alívio a curto prazo, ma s no<br />

long o prazo termina por agrav ar o proble m a . O co m b at e faz<br />

co m que o co m b a tid o se torne involuntaria m e n t e mais forte, de<br />

form a que co m o temp o é precis o ergu er muro s cad a vez m ais<br />

59


ma ci ç o s para contê- lo. Quem co m b a t e seu ecz e m a co m<br />

cortison a, real m e nt e o elimina <strong>da</strong> pele co m o por arte de m a gi a,<br />

e m p urran d o a en er gia corre s p o n d e n t e mais para o fundo,<br />

quas e se m pr e para os pulm õ e s , nos s o se g un d o órg ã o de<br />

contato junta m e nt e co m a pele. Quanto mais se co m b a t e o<br />

ecz e m a na pele, mai or se torna o poten cial <strong>da</strong> do e n ç a no plan o<br />

profund o, que cres c e na m e s m a prop orç ã o <strong>da</strong>s m e did a s de<br />

defe s a. Algo se m e l h a nt e ac o nt e c e quan d o se co m b a t e a<br />

tristeza co m palavra s alegr e s . O poten ci al depr e s siv o au m e nt a<br />

co m a ca m a d a sup erficial <strong>da</strong>s assi m cha m a d a s afirma ç õ e s<br />

positivas. Após m elh orias de curta duraç ã o , interpretad a s<br />

erron e a m e n t e co m o curas, o tem a reprimido volta a e m er gir<br />

mais tarde em outro lugar.<br />

Sinto m a s de do e n ç a s pod e m de fato ser interc a m b i a d o s por<br />

conteú d o s aní mic o s ou padrõ e s de co m p o rta m e n t o , m a s este s<br />

têm de estar de ac ord o des d e o ponto de vista dos princípio s<br />

primordiais, ou seja, as alternativa s não pod e m originar- se no<br />

pólo contrário, dev e n d o estar inseri<strong>da</strong> s na m e s m a cad ei a<br />

sim b ólic a. No que se refer e a seu padrã o prim ordial, elas<br />

dev e m ser o m ais se m e l h a nt e s pos sív el ou, dito de outra<br />

form a, ser ho m e o p á tic a s . Para pod er con duzir a en er gia para<br />

um outro ca m p o , ain<strong>da</strong> que de imag e n s corresp o n d e n t e s , é<br />

nec e s s á ri o portanto avalizar o sinto m a <strong>da</strong> do e n ç a .<br />

Com o cad a sinto m a cura o afetad o, este não pod e eliminar<br />

ou m o dificar à vontad e nenhu m deles. Sem seu sinto m a, o<br />

pacient e está enfer m o e des e q uilibrad o . Caso seja tratad o<br />

alopatica m e n t e , ou seja, co m seu contrário, o equilíbrio que se<br />

esta bilizou co m a aju<strong>da</strong> do sinto m a é perturb ad o .<br />

Isso pod e ficar mais claro e m um exe m pl o: que m sofre um<br />

des g o s t o des e n v olv e um sinto m a que cumpr e a funçã o de<br />

mant er seu equilíbrio. Visto co m o um todo, trata- se de<br />

ob e sid a d e , que lhe prop orci o n a uma certa ca m a d a protetor a<br />

contra um am bi e nt e rude e lhe pos sibilita um a satisfaç ã o<br />

substitutiva ao co m e r, evident e m e n t e m elh or que, talvez,<br />

co m e t e r suicídio devid o a um sofrim e nt o am or o s o incontroláv el.<br />

Quando entã o se ac o n s el h a um trata m e nt o alopátic o a es s e<br />

60


pacient e, um a dieta rígi<strong>da</strong>, colo c a- se o pacient e e m perig o no<br />

que se refer e a seu equilíbrio. Ele perd e sua ca m a d a de<br />

gordura se m obter um sub stituto e se m con s e g uir um outro tipo<br />

de satisfaç ã o . Ele, so br etud o , não con s e g u e aquilo que lhe<br />

seria impre s cin dív el, ou seja, am or. Naturalm e nt e, o tipo de<br />

am or co m o qual ele se nutre, so b a form a de doc e s , que tão<br />

óbvia e exclusiva m e n t e pas s a pelo estô m a g o , não é um a<br />

soluç ã o ideal, m a s ain<strong>da</strong> assi m trata- se de um a elab or a ç ã o do<br />

tem a. Com doc e s e outras "coisa s bo a s" não se prop orci o n a na<br />

ver<strong>da</strong>d e ao afetad o aquilo de que real m e nt e se trata, m a s<br />

ain<strong>da</strong> assi m prop orci o n a- se algu m a cois a. Uma dieta rígi<strong>da</strong>, em<br />

seu cas o, não contribui e m na<strong>da</strong> para solucion ar o probl e m a .<br />

Um indicaç ã o ho m e o p á tic a teria por objetivo ofer e c e r ao<br />

pacient e algo de um princípio se m el h a nt e ao <strong>da</strong> co mid a. No<br />

plan o aní mic o, se ofer e c e ria imediata m e n t e o am or co m to<strong>da</strong>s<br />

as suas corresp o n d ê n c i a s no que se refer e à satisfaç ã o do<br />

des ej o. O pacient e precis aria portanto voltar a en c o ntrar, se<br />

não um a pes s o a , pelo m e n o s algo que pudes s e satisfaz er sua<br />

nec e s si d a d e de am or. Quando ele tives s e apren did o a tornar<br />

con s ci e nt e seu des ej o de co m e r e a co m e r co m ver<strong>da</strong>d eir o<br />

prazer, isso ain<strong>da</strong> teria m ais sentido que a renún cia total.<br />

Com er doc e s de man eira incon s ci e nt e ou se mi c o n s ci e nt e é<br />

unica m e n t e um a elab or a ç ã o do tem a, e ain<strong>da</strong> por cim a e m um<br />

plan o não apropriad o. O resultad o m ais significativo e de mais<br />

long o alcan c e seria aprend er a am ar a si m e s m o .<br />

O ho m e m nas c e co m seu padrã o, que con siste de divers o s<br />

padrõ e s sub ordin ad o s . Ele pod e ser rec o n h e c i d o na heran ç a<br />

gen étic a, nos arqu étipo s, no horós c o p o , nos sinto m a s ou e m<br />

outros níveis de projeç ã o . No dec orr er <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> es s e padrã o<br />

torna- se atual e m seus diferent e s asp e ct o s Ningué m pod e<br />

evitá- lo, ele precis a ser realizad o, ou seja, pre e n c hi d o co m<br />

vi<strong>da</strong>. Caso se tenha, por exe m pl o, rec o n h e c i d o e visto até o<br />

fundo parte de sua estrutura, seja por m ei o de exp eriên ci a s ou<br />

<strong>da</strong> terapia, as alternativas de realiza ç ã o tom a m - se pos sív ei s.<br />

Esse interc â m b i o , dentro dos níveis verticais, é a chanc e que<br />

resulta <strong>da</strong> filosofia conti<strong>da</strong> em A Doe n ç a co m o Ca minh o.<br />

6 1


Os sinto m a s surg e m quan d o tem a s aní mic o- espirituais<br />

desliza m do plan o con s ci e nt e para o corp o. No sentido<br />

contrário, pod e- se tam b é m voltar a filtrar os tem a s aní mic oespirituais<br />

a partir dos sinto m a s . A pas s a g e m pelas imag e n s<br />

puras dos princípios primordiais facilita os pas s o s<br />

subs e q ü e n t e s por outros níveis de repres e nt a ç ã o des s e<br />

principio. É uma situaç ã o co m p ar á v el ao apren dizad o de<br />

idio m a s . Caso se queira apren d er italiano, esp a n h ol e franc ê s ,<br />

o m ais simpl e s é aprend er latim antes. Todo s os outros pas s o s<br />

torna m- se mais fác eis a partir des s a bas e co m u m .<br />

Trabalhar tenaz m e n t e e m parc eria e m vez de ter nódulos<br />

nervo s o s seria um a rec o m e n d a ç ã o terap êutic a bas e a d a na<br />

idéia dos princípio s prim ordiais. Os nervo s , be m co m o a<br />

parc eria, dep e n d e m do princípio de Vênus, nódulos e pedra s<br />

dep e n d e m do princípio de Saturno, ao qual se atribui tam b é m o<br />

trabalh o tenaz. Os nódulos nervo s o s sim b oliza m no plan o<br />

corp or al a areia na en gr e n a g e m <strong>da</strong> parc eria. Os afetad o s<br />

precis a m enten d e r- se co m am b o s os princípio s que deslizara m<br />

para a corp orali<strong>da</strong>d e, pod e n d o es c ol h er unica m e n t e o plano<br />

e m que o farão.<br />

As sug e st õ e s terap ê utica s que se g u e m es s a linha de<br />

pen s a m e n t o são des afiad or a s , m a s elas, justa m e n t e , força m<br />

de volta para a sup erfície <strong>da</strong> con s ci ê n ci a os princípios que<br />

fora m rep elido s. Quando não se ofer e c e qualqu er resistên ci a a<br />

um tem a, ele não é e m p urrad o para a so m b r a. Mas cas o se<br />

tenha forçad o o tem a a corpor alizar- se co m o probl e m a , as<br />

corre s p o n d ê n c i a s aní mic a s tam b é m serã o des a gr a d á v e i s.<br />

Caso não o seja m , dev e- se ter cui<strong>da</strong>d o . Existe a susp eita de<br />

que as corresp o n d ê n c i a s não seja m con c o r d e s .<br />

Sobre a bas e dos princípios primordiais, tam b é m se torna<br />

mais fácil a significaç ã o dos órg ã o s e <strong>da</strong>s área s corpor ais.<br />

Pode- se perc e b e r de man eira muito direta que o pes c o ç o tem a<br />

ver co m a incorp or a ç ã o a partir de sua funçã o e <strong>da</strong>s<br />

corre s p o n d e n t e s indicaç õ e s idio m átic a s tais co m o Geizkra g e n<br />

ou Gier- e Geizhal s [= avar e nto. Geiz = avar ez a; Krag e n =<br />

colarinho; Gier = avidez; Hals = pes c o ç o]. Nota- se que os<br />

62


joelho s estã o ligado s à humil<strong>da</strong>d e atrav é s <strong>da</strong>s funçõ e s de<br />

dobrar os joelho s e ajo elh ar- se, ma s pod e- se perc e b e r mais<br />

facilm e nt e que os nervo s estã o ligad o s à parc eria a partir do<br />

con h e ci m e n t o dos princípios primordiais. Isso tam b é m pod e ser<br />

deduzido a partir <strong>da</strong> funçã o dos nervo s, m a s para isso já é<br />

nec e s s á ri o algu m con h e ci m e n t o de m e dicin a.<br />

7. <strong>Doença</strong> <strong>como</strong> ritual<br />

A do e n ç a é a corp oralizaçã o proble m átic a de um padrã o.<br />

Por m ei o dela, o paci ent e é forçad o a pas s ar por es s e padrã o<br />

ao qual resiste e que não ac eita con s ci e nt e m e n t e . A vivên ci a<br />

con s ci e nt e de um padrã o é um ritual. Um ac o nt e ci m e n t o<br />

patoló gic o é, con s e q ü e n t e m e n t e , um ritual incon s ci e nt e, ou<br />

seja, que m er g ulh o u na so m b r a. O prim eiro pas s o em direç ã o à<br />

cura é ir bus c ar es s e ritual na con s ci ê n ci a. lima aju<strong>da</strong><br />

substanci al para isso é fazer aquilo que o sinto m a de qualqu er<br />

man eira nos força a fazer, ma s con s ci e nt e m e n t e e de livre e<br />

esp o nt â n e a vontad e . No exe m pl o <strong>da</strong> ob e si d a d e tratava- se, por<br />

exe m pl o, de petisc ar con s ci e nt e m e n t e . A m e di<strong>da</strong> que se<br />

incorp or a des p erta e atenta m e n t e todo s os doc e s e<br />

gulos ei m a s , surg e um sentim e nt o e m relaç ã o ao praz er<br />

implícito. Isso pod eria resultar e m um ritual de petisc ar divertido<br />

e prazer o s o . O important e é não per mitir que surja nen hu m<br />

sentim e nt o de culpa. O sentim e nt o de culpa ve m do pólo<br />

alopátic o e, nest e cas o , so m e n t e pod eria prejudic ar.<br />

Quando, e m vez de se abarrotar de senti m e nt o de culpa,<br />

co m e ç a - se a praticar rituais con s ci e nt e s de praz er, a pres s ã o<br />

do sinto m a ced e . Por um lado, co m o praz er con s ci e nt e já não<br />

é precis o co m e r tanto; por outro, ac eita- se m elh or o au m e nt o<br />

de pes o resultante. Agora se sab e o que se con s e g uiu co m<br />

aquilo. Quando se m er g ulh a na corrent e do praz er, outros<br />

plan o s de prazer tam b é m se abr e m co m o que por si m e s m o s .<br />

No Reino de Vênus há, ao lado <strong>da</strong> gula, outras pos sibili<strong>da</strong>d e s<br />

corre s p o n d e n t e s . O praz er atrav é s de outros sentido s alivia o<br />

63


estô m a g o so br e c a rr e g a d o se m ab and o n ar o tem a <strong>da</strong><br />

sen s u ali<strong>da</strong>d e . O praz er atrav é s dos olho s, dos ouvido s, do<br />

nariz e <strong>da</strong> pele pre e n c h e mais ou m e n o s o m e s m o padrã o.<br />

Com o órgã o de Vênus, a pele, nes s e âm bito, é se m dúvi<strong>da</strong> o<br />

mais apropriad o, ao lado do pala<strong>da</strong>r. A m elh or alternativa para<br />

co m e r seria portanto o praz er sen s u al do tato. Beijar pod e<br />

substituir de m an eira bastant e ade q u a d a a avidez por doc e s , já<br />

que o praz er aqui parte <strong>da</strong> m e s m a muc o s a . Carícias<br />

trans mite m um sentim e nt o de be m - estar, de m an eir a<br />

se m el h a nt e a quan d o se acaricia a barriga após um a bo a<br />

refeiç ã o .<br />

Criar um ritual con s ci e nt e a partir do padrã o incon s ci e nt e do<br />

sinto m a é o prim eiro pas s o . O pas s o seguinte tem por objetivo<br />

trocar os tristes plan o s de elab or a ç ã o por plan o s de res g at e<br />

plen o s de des e n v olvi m e nt o . Isso resulta m ais fácil na m e s m a<br />

m e di<strong>da</strong> e m que este s último s se ajusta m ao padrã o, ou seja,<br />

ao princípio primordial afetad o . O padrã o não se deixa<br />

m o dificar, mas sim o plan o de sua elaboração ou resgate .<br />

Existe um ver<strong>da</strong> d eir o abis m o sep ar a n d o es s e s dois<br />

con c eito s. A elab ora ç ã o é so br etud o labor, ou trabalh o,<br />

en qu a nt o o resg at e tem a vantag e m <strong>da</strong> soluç ã o a seu favor<br />

[em ale m ã o Einlö s u n g = res g at e / Lö s u n g = soluç ã o]. No<br />

exe m pl o anterior de ob e si d a d e , a elab or a ç ã o do tem a, nest e<br />

cas o natural m e nt e um a elab or a ç ã o prazer o s a, seria talvez um<br />

progra m a de ma s s a g e n s de que se desfruta para ade q u ar- se<br />

às exig ê n ci a s do princípio de Vênus. Massag e n s can s ativa s ou<br />

dolor o s a s não seria m apropriad a s ao princípio venusian o . O<br />

am or, que inclui o corp o, a alm a e a m e nt e seria, ao contrário,<br />

um resg at e e até m e s m o a red e n ç ã o do tem a.<br />

Resg at e s não alm eja m um objetivo, eles não ac o nt e c e m<br />

para que se con sig a algu m a cois a, ma s parte m de um a<br />

nec e s si d a d e interior e afeta m a pes s o a e m sua totali<strong>da</strong>d e. Por<br />

es s a razão, eles pre e n c h e m o principio de man eira abran g e nt e<br />

e fun<strong>da</strong> m e n t al. A elab or a ç ã o con s ci e nt e está sujeita ao perigo<br />

de destap ar ap en a s âm bito s isolad o s . A mas s a g e m , <strong>da</strong> m e s m a<br />

man eira que petisc ar, afeta so m e n t e o plano do praz er<br />

64


corp or al. A elab or a ç ã o incon s ci e nt e tam b é m pod e se m dúvi<strong>da</strong><br />

abran g e r to<strong>da</strong> a pes s o a , m a s ela tocará o tem a de um a<br />

man eira m e n o s profun<strong>da</strong>.<br />

Caso se tenha um probl e m a não con s ci e nt e co m o principio<br />

primordial de Marte, pod e- se por exe m pl o elab or ar sua<br />

agre s sivi<strong>da</strong>d e co m o esp e ct a d o r nos ca m p o s de futeb ol. Mas<br />

m e s m o estan d o lá de corp o e alm a, o tem a não se deixa<br />

solucion ar por m ei o de gritos de batalha. Quem, ao contrário,<br />

elab or a seu tem a de m an eir a con s ci e nt e, tem a vantag e m de<br />

con h e c ê - lo. Faz sentido que o afetad o, por exe m pl o, deci<strong>da</strong><br />

praticar uma varied a d e de luta para <strong>da</strong>r vazã o à sua<br />

agre s sivi<strong>da</strong>d e ; o perigo esta poré m e m que ele participe<br />

apen a s co m o corp o, m a s não co m a alm a. Um resg at e seria<br />

que ele se deixas s e arreb atar, tom a s s e sua vi<strong>da</strong> de ass alto, se<br />

confrontas s e corajo s a m e n t e co m as tarefas pend e nt e s e<br />

vives s e sua vi<strong>da</strong> de man eir a res oluta.<br />

Faz parte de um ritual a con s ci ê n ci a de todo s os plan o s<br />

env olvido s . Além diss o, os rituais são tanto mais eficaz e s<br />

quanto m ais plano s co m pr e e n d e m . Disso resulta tam b é m a<br />

pouc a eficácia relativa <strong>da</strong> do e n ç a para o res g at e de um tem a 25 .<br />

Na maioria <strong>da</strong>s vez e s os sinto m a s so m e n t e leva m à<br />

elab or a ç ã o , já que falta a con s ci ê n ci a aní mic o- espiritual. Caso<br />

esta seja trazi<strong>da</strong> para o sinto m a e se transfor m e na sinto m átic a<br />

<strong>da</strong> do e n ç a e m um ritual con s ci e nt e que abranja todo s os<br />

plan o s implicad o s , aum e nt a m as chan c e s de se res g at ar o<br />

tem a.<br />

Esta é tam b é m a chav e para se fazer resg at e s a partir de<br />

tentativas de elab or a ç ã o . No exe m pl o aci m a, seria pos sív el<br />

dedic ar- se de m an eir a tão con s ci e nt e à varied a d e de luta<br />

es c ol hi<strong>da</strong> que ela ch e g a s s e a abran g e r tam b é m a alm a e a<br />

m e nt e e se tornass e arte marcial, que a partir de sua filosofia<br />

abran g e to<strong>da</strong> a vi<strong>da</strong>, <strong>da</strong> sup erfície às raízes. A partir <strong>da</strong>í<br />

cres c e r á, co m o que por si m e s m a , um a ab ertura e m relaç ã o ao<br />

tem a <strong>da</strong> agre s s ã o que termin a por abrir ca minh o para a<br />

en er gi a marciana tam b é m e m outros âm bito s <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> e leva o<br />

afetad o a ous ar viver de m an eir a corajo s a. Onde os sinto m a<br />

65


incitam a <strong>da</strong>r caráter ritual à vi<strong>da</strong>, eles colab or a m não so m e n t e<br />

para o auto- con h e ci m e n t o , ma s tam b é m para a autorealizaç<br />

ã o , já que o objetivo do ca min h o do des e n v olvi m e nt o é<br />

transfor m ar to<strong>da</strong> a vi<strong>da</strong> e m um ritual con s ci e nt e.<br />

66


3<br />

Indicaçõe s Práticas para a Elaboração dos Sintomas<br />

1 - Nosso vocabulário<br />

No centro <strong>da</strong> interpretaç ã o está o co m o – e esp e ci al m e n t e a<br />

linguag e m dos sinto m a s . Com o todo s os ser e s hum a n o s têm<br />

sinto m a s , ela é de long e a lingua g e m m ais difundi<strong>da</strong> do<br />

plan eta. Emb or a fala<strong>da</strong> à perfeiçã o por todo s, são pouc o s os<br />

que a co m pr e e n d e m con s ci e nt e m e n t e . Quanto mais<br />

intelectualizad a s as pes s o a s se tom a m , m e n o s resta, de<br />

man eira geral, <strong>da</strong> co m pr e e n s ã o intuitiva des s a form a de<br />

expr e s s ã o . É por es s a razão que os assi m cha m a d o s povo s<br />

primitivos estã o muito avan ç a d o s e m relaç ã o a nós no que a<br />

isso se refer e, assi m co m o as crianç a s são sup erior e s a seus<br />

pais.<br />

A lingua g e m verb al, juntam e nt e co m a linguag e m do corp o,<br />

tam b é m pod e ser muito útil. Pois não é so m e n t e o corp o que<br />

fala, a lingua g e m tam b é m é corp or al. Um grand e núm er o de<br />

expr e s s õ e s psico s s o m á ti c a s ilumina significativa m e n t e o corp o<br />

e a alm a. Uma pes s o a ob stinad a [versto c kt] não está [ste c kt]<br />

ch eia de co á g ul o s; e m sentido figurad o, seu próprio fluido vital<br />

está ficand o con g e s ti o n a d o [in Sto c k e n raten]; algué m tenaz<br />

[verbis s e n] não finca seus dente s con cr et o s e m na<strong>da</strong> [beis s e n<br />

= m ord er], ne m um teim o s o [hartnä c kig] tem os mús c ul o s do<br />

pes c o ç o [Nack e n] duros [hart]. Som e nt e quan d o tais posturas<br />

interna s não são mais con s ci e nt e s para seus pos suid or e s é<br />

que elas tend e m a se corp or alizar. Portanto, não é tão<br />

surpre e n d e n t e que noss o co m o re s p o n d a não apen a s ao<br />

trata m e nt o ma s tam b é m ao significad o.<br />

A lingua g e m colo quial expres s a ain<strong>da</strong> mais clara m e n t e os<br />

contexto s corre s p o n d e n t e s , esp e ci al m e n t e lá ond e é gros s eira<br />

e pouc o so ciáv el. As expr e s s õ e s idio m átic a s e os prov ér bi o s<br />

67


ev ela m muitas vez e s um profund o con h e ci m e n t o <strong>da</strong><br />

interd ep e n d ê n c i a do corp o e <strong>da</strong> alm a. O ditado já sabia há<br />

muito tem p o que o am or pas s a pelo estô m a g o , muito ante s que<br />

os psicólo g o s pude s s e m provar que a crianç a obtê m mais do<br />

que calorias no seio mat ern o . Expres s õ e s co m o Kum m e r s p e c k<br />

[= do br a s de gordura] [Kum m e r = aflição, des g o s t o / Sp e c k =<br />

toucinh o] deixa m entrev er que mais tarde o am or ain<strong>da</strong> pod e<br />

regr e dir ao plan o infantil.<br />

A sab e d o ria <strong>da</strong> linguag e m é muito mais confiáv el do que<br />

geral m e n t e supo m o s . Os sinto m a s e m trata m e n t o resp o n d e m<br />

no sentido mais ver<strong>da</strong>d eir o <strong>da</strong> palavra. Uma palavra co m o<br />

Krãnkun g [= ofen s a, agrav o] nos m o stra que ofen s a s , ao long o<br />

do tem p o , faze m co m que se ado e ç a , isso muito antes que<br />

estud o s psico s s o m á ti c o s o co m pr o v a s s e m .<br />

A aju<strong>da</strong> m ais substanci al por parte d;i linguag e m do corp o,<br />

no que se refer e ao con h e ci m e n t o , à co m pr e e n s ã o do<br />

significad o dos sinto m a s , prov é m de sua hon e sti<strong>da</strong>d e . Esta vai<br />

muito alé m do que se supõ e, razão pela qual as pes s o a s<br />

m o d e r n a s não deixa m de tentar na<strong>da</strong>, de co s m é tic o s e<br />

ses s õ e s de bronz e a m e n t o artificial a interven ç õ e s cirúrgica s,<br />

para retoc ar a impre s s ã o exc e s si v a m e n t e hon e st a que sua<br />

pele trans mite. Por esta razão “um a pele hon e st a" [eine<br />

ehrlich e Haut ] é um a expr e s s ã o para pes s o a s crédulas,<br />

ingênu a s , que hon e st a e "sup erficial m e nt e" de m o n s tr a m tudo o<br />

que sent e m na própria pele. Na psicot er apia nós utilizam o s<br />

es s e ca minh o hon e st o e, e m fase s difíceis, nos co m u nic a m o s<br />

co m a epid er m e e tam b é m co m a resistên ci a epid ér mi c a dos<br />

pacient e s . Todo s os jogo s de dissi m ula ç ã o e de oculta m e n t o<br />

que seu proprietário pos s a ter des e n v olvid o são estran h o s à<br />

hon e st a pele.<br />

2. Mitos e contos de fa<strong>da</strong>s<br />

Imag e n s do âm bito <strong>da</strong> mitolo gia ou <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> de<br />

pers o n ali<strong>da</strong>d e s destac a d a s que se tornara m mito pod e m ser de<br />

68


grand e aju<strong>da</strong> para a interpreta ç ã o , des d e que apre s e nt e m<br />

similari<strong>da</strong>d e s co m o próprio padrã o. Os conto s de fa<strong>da</strong>s<br />

tam b é m nos confronta m co m m otivo s arqu etípic o s, sen d o que<br />

não raras vez e s , e m roupag e m m o d er n a, e m e r g e m na<br />

en c e n a ç ã o <strong>da</strong> própria vi<strong>da</strong>. Esse s padrõ e s ate m p o r ai s, tal<br />

co m o apar e c e m freqü e nt e m e n t e tam b é m na po e si a, não<br />

pas s a m <strong>da</strong> es s ê n ci a po etizad a de exp eri ên ci a s de vi<strong>da</strong>. Um<br />

dos objetivo s <strong>da</strong> terapia <strong>da</strong> reen c arn a ç ã o é procurar es s e s<br />

padrõ e s para entã o tornar con s ci e nt e o mito do paci ent e.<br />

Reconh e c e r o mito <strong>da</strong> própria vi<strong>da</strong> e des c o b rir que pap el o<br />

padrã o <strong>da</strong> do e n ç a des e m p e n h a nele é igual m e nt e útil para a<br />

interpreta ç ã o dos sinto m a s .<br />

Ca<strong>da</strong> ser hum a n o tem tam b é m seu conto de fa<strong>da</strong>s, sen d o<br />

indiferent e se ele son h a con s ci e nt e m e n t e co m suas imag e n s<br />

ou não. Desc o brir es s e conto pod e ser de grand e aju<strong>da</strong> no<br />

ca min h o para a interpreta ç ã o do padrã o <strong>da</strong> do e n ç a , assi m<br />

co m o para a co m pr e e n s ã o do significad o de todo o padrã o <strong>da</strong><br />

vi<strong>da</strong>. Pode- se enten d e r o m o d el o de ca m a d a s do padrã o a<br />

partir dos conto s de fa<strong>da</strong>s. Os conto s de reis e de m a gi a, tais<br />

co m o os coletad o s . pelo s irmã o s Grim m, repre s e nt a m na<br />

ver<strong>da</strong>d e um grand e padrã o, o ca min h o <strong>da</strong> alm a rum o à<br />

perfeiç ã o . O her ói precis a ir e m b o r a de cas a, o que às vez e s<br />

lhe É facilitado por m adr a st a s antipáticas ou nec e s s i d a d e s<br />

mat eriais. A seguir, ele dev e sup er ar as provas <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> no<br />

mund o antes de finalm e nt e enc o ntrar sua outra m etad e , unir-se<br />

a ela e m um cas a m e n t o místic o 26 e tornar- se imortal. Este<br />

padrã o básic o é co m u m à maioria dos conto s de fa<strong>da</strong>s e<br />

repre s e nt a o ca min h o aní mic o co m u m a todo s os ser e s<br />

hum a n o s . O significad o de muitos conto s está nos muitos e<br />

variad o s arqu étipo s individuais que se so br e p õ e m ao padrã o<br />

básic o e repre s e nt a m ca minh o s de vi<strong>da</strong> pes s o ai s.<br />

3. O caminho do reconhecimento sobre o pólo oposto<br />

O ca minh o de trata m e n t o so br e o pólo opo st o tal co m o é<br />

69


tentad o na alop atia não pod e, a long o prazo, levar à soluç ã o de<br />

uma probl e m átic a se tenta tam b é m gan h ar temp o no curto<br />

prazo. Na interpreta ç ã o , ao contrário, <strong>da</strong>r um a olha<strong>da</strong> no pólo<br />

opo st o, no outro extre m o , provou ser muito útil. Os opo st o s<br />

estã o muito mais próxim o s um do outro do que noss a man eira<br />

de pens ar usual perc e b e . Nova m e nt e, a sab e d o ria popular<br />

pod e nos <strong>da</strong>r indicaç õ e s partindo, por exe m pl o, de que “os<br />

psiquiatras estã o louc o s", sen d o que no imagin ário burgu ê s<br />

ideal eles justa m e n t e dev eria m ser as pes s o a s mais saud á v ei s,<br />

m e ntal m e nt e faland o. Quando se pens a que um psiquiatra<br />

decidiu por livre e esp o nt â n e a vontad e pas s ar m etad e de sua<br />

vi<strong>da</strong> e m um a instituiçã o para do e nt e s m e ntais, a sab e d o ri a<br />

popular pod eria muito be m ter razão. Uma pes s o a precis a<br />

sentir um en or m e fascínio pelo s tortuos o s desvio s <strong>da</strong> alm a<br />

para es c ol h er es s a profiss ã o . Mas de ond e viria es s a<br />

predileç ã o , sen ã o do fato de estar a própria pes s o a afetad a?<br />

Isso não é nenhu m a des v a nta g e m , ma s a garantia m e s m a <strong>da</strong><br />

pos sibili<strong>da</strong>d e de realizaç ã o do m é di c o de alm a s .<br />

Por es s a razão, tamp o u c o é de surpre e n d e r que muitos<br />

m é di c o s exiba m traço s de hipo c o n dria. Eles, de livre e<br />

esp o nt â n e a vontad e , pas s a m m etad e <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> e m um hospital<br />

ou e m um con s ultório. Eles, exata m e n t e co m o as outras<br />

pes s o a s , o faze m porqu e têm m e d o de estar do e nt e s e ter que<br />

m orr er. É justa m e nt e um a sorte que a m otiva ç ã o para a<br />

profiss ã o de m é di c o surja do des ej o de livrar de um a vez por<br />

to<strong>da</strong>s o mund o e principal m e nt e a si m e s m o <strong>da</strong> do e n ç a . Dess a<br />

man eira, o co m pr o m i s s o não es m o r e c e ne m m e s m o so b as<br />

condiç õ e s mais difíceis.<br />

Outros padrõ e s profission ai s tam b é m exib e m es s a à<br />

prim eira vista surpre e n d e n t e união de posiç õ e s opo sta s. Caso<br />

o criminalista não pen s a s s e de man eira tão crimin o s a co m o o<br />

crimin o s o , jam ais pod eria apan h á- lo. Caso o mission ário<br />

tives s e en c o ntrad o Deus e m seu cora ç ã o , não precis aria<br />

inculcá- lo e m outras pes s o a s de man eira tão ob stinad a. No<br />

fundo de seu cora ç ã o ele é um des cr e nt e e, ao conv ert er os<br />

outros, tenta conv ert er a si m e s m o .<br />

70


No que se refer e ao s sinto m a s , as posiç õ e s contrárias<br />

tam b é m se iguala m . Trata- se de um único e m e s m o tem a,<br />

exata m e n t e co m o criminalista e crimin o s o . As pes s o a s que<br />

sofre m de prisão de ventre e os pacient e s co m diarréia<br />

elab or a m e m seus intestino s a tem átic a prend er/s oltar. Quando<br />

sofre m o s de pres s ã o arterial alta, pacient e s co m pres s ã o baixa<br />

pod e m nos eluci<strong>da</strong>r muita cois a a resp eito de nos s o próprio<br />

probl e m a . No centro de am b o s os cas o s está a que st ã o de<br />

qual é o esp a ç o ocup a d o pela própria en er gi a vital.<br />

Isso se torna ain<strong>da</strong> m ais evid e nt e no tem a conflitante<br />

co m p artilhad o por alco ólic o s e abstin ent e s 27 . Um ag arra<br />

avi<strong>da</strong> m e n t e todo s os cop o s que vê, o outro cen s ur a todo s os<br />

que o faze m . A vi<strong>da</strong> de am b o s gira ao redor de um tem a: o<br />

álco ol. Quanto à sua saúd e aní mic o- espiritual, o abstin e nt e se<br />

en c o ntra igual m e nt e am e a ç a d o . É ver<strong>da</strong>d e que muitas vez e s o<br />

alco ólic o colo c a a culpa de suas mis érias nos outros, ma s e m<br />

geral ele ain<strong>da</strong> tem con s ci ê n ci a de sua situaç ã o pouc o<br />

saud á v el. Isso é mais difícil no que se refer e ao abstin e nt e e ao<br />

seu am bi e nt e. Geralm e nt e ele está m er g ulh a d o tão<br />

profun<strong>da</strong> m e n t e na projeç ã o , está tão conv e n ci d o <strong>da</strong> culpa dos<br />

outros que não pod e m ais rec o n h e c e r seu próprio proble m a .<br />

Perdido e m sublim e s teorias so br e livrar a hum a ni<strong>da</strong>d e do vicio<br />

ou algo do m e s m o estilo, ele não pod e mais ver seu próprio<br />

extre mi s m o .<br />

Neste último exe m pl o pod e ficar claro que qualqu er carg a<br />

extre m a e m relaç ã o a um tem a deter min a d o é susp eita. Na<br />

maioria dos cas o s é justa m e nt e aí, ond e m e n o s se presu m e ,<br />

que nos enc o ntra m o s próxim o s do pólo opo st o.<br />

71


4<br />

Resum o<br />

1. Pontos de parti<strong>da</strong><br />

1. Não se trata e m nen hu m cas o de avaliaçã o, ma s de<br />

interpreta ç ã o.<br />

2. Todo s têm sinto m a s , porqu e tudo na vi<strong>da</strong> enc o ntra- se na<br />

polari<strong>da</strong>d e , sep ar a d o <strong>da</strong> uni<strong>da</strong>d e, e portanto não está são.<br />

3. Todo sinto m a é a expr e s s ã o de uma falta, m o strand o<br />

algo que falta para a integri<strong>da</strong>d e .<br />

4. Na<strong>da</strong> pod e des a p ar e c e r definitiva m e nt e, razão pela<br />

qual, e m todo s os cas o s , so m e n t e é pos sív el o desl o c a m e n t o<br />

de sinto m a s .<br />

5. Form a e conteú d o corresp o n d e m ao corp o e à alm a e<br />

estã o relacion a d o s . A form a (o corpor al) é o nec e s s á ri o ponto<br />

de contato co m o conteú d o (anímic o), <strong>da</strong> m e s m a man eira<br />

co m o o palc o é o ponto de contato co m a peç a de teatro.<br />

6. Não existe m caus a s e m última instân cia. Entretanto,<br />

quan d o nos referim o s a elas, para aproxi m ar- nos e m<br />

pen s a m e n t o <strong>da</strong> reali<strong>da</strong>d e, tem sentido partir <strong>da</strong>s quatro caus a s<br />

clás sic a s dos antigo s: Cau s a efficien s (que atua a partir do<br />

pas s a d o), Cau s a finalis (que visa um objetivo), Cau s a formalis<br />

(caus a- padrã o), Cau s a materialis (caus a m at erial, ou seja, co m<br />

bas e mat erial).<br />

7. A reali<strong>da</strong>d e con sist e de plano s sim étrico s. O<br />

pen s a m e n t o analó gic o corre s p o n d e a ela de man eira mais<br />

ver<strong>da</strong>d eira que o pen s a m e n t o caus al.<br />

8. Todo s os plano s se relacio n a m de man eira sincrônic a, e<br />

não caus al, e tamp o u c o logica m e n t e no sentido usual, ma s<br />

analo gic a m e n t e .<br />

9. Os rituais form a m o suporte básic o <strong>da</strong> conviv ê n ci a<br />

hum a n a, seja de man eira con s ci e nt e ou incon s ci e nt e m e n t e ,<br />

co m o um padrã o- so m b r a.<br />

72


10. Sinto m a s são rituais- so m b r a que m ant ê m as pes s o a s<br />

e m equilíbrio e que pod e m ser substituído s por rituais<br />

con s ci e nt e s do mes m o padrã o primordial.<br />

73


2. Instruções e perguntas básicas<br />

As quatro "caus a s" pod e m contribuir para decifrar o ritual ao<br />

qual o sinto m a nos força. Para isso, o ca m p o e m que o afetad o<br />

vive dev e ser son d a d o . As pergunta s caus ai s seria m:<br />

1. De ond e ve m o sinto m a? Qual é sua bas e funcion al?<br />

Respo sta para o exe m pl o “gripe": situaç ã o dois dias ante s,<br />

quan d o o afetad o se resfriou, contraind o o vírus <strong>da</strong> gripe.<br />

2. De que bas e mat erial parte o sinto m a e o que rev ela o<br />

órg ã o afetad o ?<br />

Exemplo: os órgã o s do esp a ç o nas ofarín g e o e os órg ã o s<br />

dos sentido s. Trata- se de troca e tom a d a de contato co m o<br />

mund o exterior.<br />

3. Em que m oldura o sinto m a se expand e ? Quais são as<br />

regras de seu jogo?<br />

Exemplo: a pes s o a não quer mais abrir- se, entusias m a r- se<br />

pela resp e ctiva situaç ã o , está ch eia, não quer m ais es c utar,<br />

ne m ver. O contato co m o exterior é recus a d o so m e n t e para<br />

ser resta b el e ci d o de form a agr e s siva. Ela toss e (algo para o<br />

outro), espirra, funga e co sp e.<br />

4. Qual o objetivo do sinto m a ? Para ond e ele quer levar o<br />

afetad o?<br />

Exemplo de resp o st a: ele dev e ad mitir que já está chei o e<br />

quer livrar- se <strong>da</strong>s agr e s s õ e s .<br />

A evoluç ã o do resfriad o “nor m al” m o stra o ritual que força<br />

seu direito à vi<strong>da</strong> acim a dos sinto m a s individuais. O ato de<br />

fechar- se é en c e n a d o no palco do corpo: os órg ã o s dos<br />

sentido s e <strong>da</strong> respiraç ã o - ou seja, os can ais de co m u nic a ç ã o -<br />

são bloqu e a d o s , as agre s s õ e s reprimi<strong>da</strong> s são viven ci ad a s<br />

corp or al m e n t e . O am bi e nt e rec o n h e c e este s sinais e m and a o<br />

afetad o , tossind o e ofeg a nt e, para cas a. Te m início um ritual de<br />

retira<strong>da</strong> de co m b at e , sen d o que o co m b at e se des e n r ol a<br />

so br etud o nos tecido s, en qu a nt o a retira<strong>da</strong> se realiza<br />

principal m e nt e no am bi e nt e social.<br />

74


O ritual prev ê que os gripad o s não serã o m ais agr edid o s ,<br />

pod e n d o retirar- se de man eira ord en a d a . Caso os outros<br />

participante s não rec o n h e ç a m os sinais imediata m e n t e , os<br />

afetad o s se impõ e m de man eira amisto s a m e n t e direta: "Não se<br />

aproxi m e de mi m, estou resfriado!" Os gripad o s ad mite m co m<br />

to<strong>da</strong> a candura o quanto es s e ritual é nec e s s á ri o quan d o<br />

confe s s a m que pe g ar a m a gripe. Naturalm e nt e, so m e n t e se<br />

peg a aquilo de que se precis a.<br />

P er g u nta s so br e o ritual <strong>da</strong> do e n ç a e sua moldura:<br />

1. Com o foi que eu arranjei es s e probl e m a ?<br />

2. Por que foi ac o nt e c e r justa m e n t e ag or a? Em proc e s s o s<br />

crônic o s : quan d o isso m e afetou pela prim eira vez? Quando de<br />

man eira esp e ci al m e n t e intens a?<br />

3. Por que justa m e nt e este quadr o me afetou?<br />

4. A qual padrã o rep etitivo de minha vi<strong>da</strong> o ritual <strong>da</strong> do e n ç a<br />

faz alusã o ?<br />

3. <strong>Doença</strong> <strong>como</strong> oportuni<strong>da</strong>de<br />

Os sinto m a s se m pr e pod e m ser con sid er a d o s so b um duplo<br />

asp e ct o. Em prim eiro lugar, eles se co m p o rta m hon e st a m e n t e<br />

e nos m o stra m aquilo que até entã o não quis e m o s perc e b e r.<br />

Uma paralisia pod e, por exe m pl o, <strong>da</strong>r a enten d e r ao afetad o o<br />

quanto ele é (se tornou) aleijad o e imóv el no âm bito aní mic oespiritual.<br />

Em se gund o lugar, cad a sinto m a tem um sentido e<br />

rev ela um a tarefa. A paralisia pod eria talvez deixar entrev er<br />

que vale a pen a afrouxar os control e s con s ci e nt e s e entre g arse<br />

ao des c a n s o . O axio m a "a do e n ç a torna a pes s o a hon e st a"<br />

m o stra o plano do padrã o ain<strong>da</strong> não res g at a d o , en qu a nt o<br />

atrav é s de “a do e n ç a m o stra a tarefa" torna- se claro aqu el e<br />

padrã o que já o foi.<br />

De ac ord o co m o prim eiro ponto de vista, m anife sta- se um<br />

padrã o de sofrim e nt o e um a evoluç ã o <strong>da</strong> do e n ç a que não<br />

estã o pres e nt e s na con s ci ê n ci a. A ac eitaç ã o des s e padrã o e<br />

75


sua m e n s a g e m pod e levar ao se gund o plano e transfor m ar a<br />

exp eriên ci a doloro s a e m um ritual que torne pos sív el o<br />

cres ci m e n t o .<br />

Algué m desinter e s s a d o , ob s ervando de fora, não pod e<br />

jam ais afirmar e m que plan o e e m que fase os afetad o s já<br />

estã o. Uma exub er â n ci a corp or al apar e nt e é freqü e nt e m e n t e a<br />

co m p e n s a ç ã o para um a falta de realizaç ã o interna, segun d o o<br />

m oto: “assi m dentro co m o fora". Mas “assi m dentro co m o fora"<br />

ela pod eria tam b é m refletir a realizaç ã o interna. Ain<strong>da</strong> que este<br />

último cas o seja mais raro, ne m por isso deixa de ser pos sív el.<br />

Quando pen s a m o s no Bu<strong>da</strong>, inclina m o - nos a supor que a<br />

abun d â n ci a extern a, as alm ofa d a s de gordura so br e as quais<br />

ele repous a, são expres s ã o de sua realizaç ã o interna. E veja<br />

be m , o Budism o parte do princípio de que todo ser hum a n o traz<br />

e m si a naturez a do Bu<strong>da</strong>. Isso co m o nova adv ertên ci a para<br />

que um maravilho s o m e c a ni s m o de auto- con h e ci m e n t o não<br />

deg e n e r e e m m ei o de distribuiçã o de culpas atrav é s <strong>da</strong><br />

valora ç ã o , <strong>da</strong> emis s ã o de juízos de valor.<br />

76


Segun<strong>da</strong> Parte<br />

1<br />

O Esque ma Cabeça- Pé<br />

Tradicion al m e n t e a m e di cin a subdivid e o organis m o e m<br />

uni<strong>da</strong>d e s funcion ais, para as quais há se m pr e um m é di c o<br />

co m p et e nt e. Assim, o gastro e nt er ol o gi sta está esp e ci alizad o no<br />

trato gastrointe stinal, o nefrolo gista nos rins e o neurolo gista<br />

nos nervo s. O paci ent e, ao contrário, viven ci a o org anis m o<br />

co m o um a uni<strong>da</strong>d e. Trata- se de um a só cois a, se g un d o sua<br />

man eira de ver, pois a rigor as uni<strong>da</strong>d e s funcion ais não se<br />

deixa m sep ar ar, tudo está de m a s i a d o relacio n a d o co m todo o<br />

resto. Os nervo s e os vas o s san g üín e o s estã o e m pratica m e n t e<br />

todo o corp o, e órg ã o s individualizad o s tais co m o o fígad o ou<br />

os rins atua m se m pr e e m todo o org anis m o A visã o integrad or a<br />

está portanto mais próxim a do leigo, já que ele viven cia seus<br />

ach a q u e s co m o perturba ç õ e s do be m - estar co m o um todo.<br />

Muitas vez e s ele so m e n t e pod e perc e b e r de m an eir a vag a de<br />

qual regiã o parte o incô m o d o . A divisã o, tanto e m ciclos<br />

funcion ais co m o e m regiõ e s apres e nt a vantag e n s , m a s<br />

con sid er ar os sinto m a s des d e um ponto de vista region al<br />

provou ser m ais produtivo para a avaliaç ã o integral dos<br />

sinto m a s . Quando interpreta m o s os sinto m a s a partir de sua<br />

regiã o, co m e ç a m o s co m sua bas e , ou seja, o palco so br e o<br />

qual tom a corp o o dra m a aní mic o- espiritual. Na pneu m o ni a, os<br />

pulm õ e s m o stra m o plano e m que se des e nr ol a o conflito. No<br />

enfis e m a pulm o n ar, o m e s m o plano de co m u ni c a ç ã o está<br />

afetad o , m a s co m o exc e s s o de ventilaç ã o dos alvé ol o s e <strong>da</strong><br />

form a ç ã o de um peito inchad o , é outra a peç a que está tend o<br />

lugar nes s e m e s m o palco. Proble m a s co m pl et a m e n t e<br />

diferent e s pod e m portanto ter uma bas e co m u m a partir <strong>da</strong><br />

m e s m a regiã o.<br />

77


Para tornar isso m ais claro, a partir de ag or a os probl e m a s<br />

esp e c ífic o s serã o tratado s de cim a para baixo, se m pr e<br />

focalizan d o e m prim eiro lugar a regiã o afetad a. Os sinto m a s<br />

que assi m e m er g e m serã o entã o interpretad o s de ac ord o co m<br />

seu significad o e freqü ê n ci a, des d e que isso não tenha sido<br />

feito antes.<br />

Muitas culturas co m pr e e n d e r a m e indicara m à sua man eira<br />

os centro s do corpo e suas resp e ctiva s relaç õ e s . Aquilo que os<br />

chin e s e s des cr e v e m co m o m eridian o s é cha m a d o de nadis<br />

pelo s hindus. Muitos povo s arcaic o s tam b é m des e n v o l v er a m<br />

um impre s si o n a nt e con h e ci m e n t o so br e os ca min h o s de<br />

co m u nic a ç ã o de en er gia do corp o. Lugare s ond e a en er gia<br />

está con c e ntra d a, con h e ci d o s co m o chakra s pela cultura<br />

indian a, são m e n ci o n a d o s e m divers a s tradiçõ e s . No Oriente,<br />

tem- se sete des s e s chakras principais co m o ponto de parti<strong>da</strong>.<br />

Os dois sup erior e s enc o ntra m - se na cab e ç a , os inferiores na<br />

pelve, o terc eiro está na pas s a g e m <strong>da</strong> regiã o <strong>da</strong> pelve para a<br />

regiã o do ventre, o quinto na regiã o do pes c o ç o , sen d o que o<br />

quarto, central, é o chakra do cora ç ã o . Desta man eira, do<br />

ponto de vista en er g étic o existe m três ponto s principais no<br />

org anis m o : a cab e ç a co m o pólo opo st o <strong>da</strong> pelve e entre os<br />

dois, no m ei o, o peito co m a área do cora ç ã o . Embor a o<br />

con h e ci m e n t o so br e es s e s três centro s principais pos s a ser<br />

en c o ntrad o e m pratica m e n t e todo o mund o , os ponto s<br />

principais são dispo st o s de m an eira muito diferent e. Ao long o<br />

de seu des e n v o l vi m e n t o , os pov o s ger m â ni c o s do norte<br />

apren d er a m a enfatizar a cab e ç a , en qu a nt o os povo s<br />

m e diterrân e o s vive m m ais a partir do coraç ã o ; já as<br />

am e a ç a d a s culturas orientais <strong>da</strong> Índia ab and o n a m - se à<br />

sen s a ç ã o que prov é m do ventre. Em co m p ar a ç ã o co m o êxito<br />

de outras culturas, eles en c o ntra m - se de fato e m situaç ã o de<br />

ver<strong>da</strong>d eir o aban d o n o. Apoiado s e m suas instituiçõ e s , eles não<br />

puder a m fazer frente ne m ao s povo s de san g u e quent e <strong>da</strong><br />

Espanh a e de Portugal ne m à razão agre s siv a <strong>da</strong>s culturas<br />

nórdic a s.<br />

Se no inicio <strong>da</strong> história rec o n h e c i d a por nós a hum a ni<strong>da</strong>d e ,<br />

78


as e a n d o - se na sen s a ç ã o do ventre e seus instintos, vivia e m<br />

estreita relaç ã o co m a Mãe Terra, o centro do coraç ã o pas s o u<br />

a ser pred o m i n a nt e a partir do do mí ni o do mun d o por<br />

esp a n h ói s e portugu e s e s para ser finalm e nt e sub stituído pelo<br />

pod er intelectual <strong>da</strong> cab e ç a . Com o instân cia sup erior do corp o,<br />

ao long o <strong>da</strong> história a cab e ç a aprend e u a do min ar os outros<br />

centro s. As culturas que enfatiza m a cab e ç a subjug ar a m a<br />

Terra. Mas aquilo que ac o nt e c e u no mun d o teve lugar tam b é m ,<br />

paralela m e n t e , no corpo e na alm a. A cab e ç a sub m e t e u o<br />

coraç ã o e o ventre e teve início um impied o s o do mí ni o <strong>da</strong><br />

razã o. Com olho s, ouvido s, nariz e papilas gustativas, ela<br />

dispõ e de um m o n o p óli o pratica m e n t e ab s oluto <strong>da</strong><br />

inform a ç ã o 28 ; alé m diss o, tend o o cér e br o no centro, ad ministra<br />

es s e fluxo de inform a ç ã o a seu bel- prazer. Desd e que o ho m o<br />

erectus ergu e u a cab e ç a , ele pas s o u a ter não ap en a s os<br />

m e m b r o s anterior e s livres para cui<strong>da</strong>r de seus intere s s e s , ele<br />

pôd e tam b é m transfor m ar seu cér e br o e m um órgã o m ai or.<br />

Este, e m con s e q ü ê n c i a, transfor m o u- se na maior potên cia<br />

decisiva do corp o, tom a n d o a iniciativa de do min ar e<br />

do m e s tic ar todo s os outros órg ã o s . "O pé dev e (segun d o o<br />

ditado) ir para ond e a cab e ç a quer". Sendo o lugar ond e<br />

oc orr eu tal con c e ntra ç ã o de pod er, a cab e ç a tom o u- se cap o,<br />

ch ef e principal, a cois a capital (do latim capita = cab e ç a) <strong>da</strong><br />

vi<strong>da</strong>. Tal co m o a capital de um pais centralista, ela reg e as<br />

província s do corp o. Conc eito s co m o cab e c ilha e capit ão o<br />

co m pr o v a m . Da m e s m a man eira co m o o capitão reg e o navio,<br />

o capital, que reg e o mun d o , é outra de m o n s tr a ç ã o de que m é<br />

o sen h or <strong>da</strong> cas a. Os rom a n o s gov ern a v a m seu império<br />

mundial a partir do Capit ólio, e os am eric a n o s reg e m a maior<br />

parte do mun d o a partir de Washingto n, que eles tam b é m<br />

cha m a m de "capital".<br />

Construindo co m diligên cia (indu stria e m latim) e razã o, os<br />

ho m e n s <strong>da</strong>s culturas industriais per mitira m ain<strong>da</strong> que a cab e ç a<br />

utilizass e seu m o n o p ólio so br e os órgã o s dos sentido s para<br />

reprimir a sen s u ali<strong>da</strong> d e . O olfato, original m e nt e do min a nt e já<br />

que assu mi a, entre outras, a funçã o de perc e b e r o aro m a <strong>da</strong><br />

79


co mi d a, foi o prim eiro a ser banido. O palad ar lhe está<br />

esp e ci al m e n t e próxim o, e con s e q ü e n t e m e n t e tam b é m perd eu<br />

significad o. O grand e e antigo rino e n c éf al o, que co m o siste m a<br />

límbic o está ag or a relacio n a d o à elab or a ç ã o <strong>da</strong>s sen s a ç õ e s ,<br />

ain<strong>da</strong> hoje é teste m u n h a des s e pas s a d o . A audiç ã o tam b é m<br />

teve de pas s ar a um se gund o plano e m relaç ã o ao s olho s que,<br />

a partir do m o m e n t o e m que o ho m e m se ergu e u so br e as<br />

perna s tras eiras, pas s ar a m a ocup ar o lugar mais elev a d o de<br />

todo s os órg ã o s dos sentido s e fora m os único s que saíra m<br />

gan h a n d o co m a adquiri<strong>da</strong> cap a ci<strong>da</strong>d e de visão geral. Os<br />

outros sentido s, na ver<strong>da</strong> d e , sofrera m des v a nt a g e n s , já que<br />

ficara m m ais afastad o s de suas fontes de inform a ç ã o . Os<br />

olho s, no entanto, des c o b rira m um a torrente de inform a ç õ e s de<br />

long o alcan c e e, assi milan d o - as, seu asp e ct o sen s u al foi<br />

diminuind o progr e s siva m e n t e .<br />

O estad o e m que hoje se enc o ntra a Terra subjug a d a é tão<br />

co m o v e n t e co m o o estad o e m que se en c o ntra o corp o,<br />

tam b é m subjug a d o e m sua m ai or parte, indican d o que o<br />

do mínio unilateral <strong>da</strong> cab e ç a pod eria ser tam b é m um be c o se m<br />

saí<strong>da</strong>. Apesar <strong>da</strong> inteligên ci a alta m e nt e des e n v o l vi<strong>da</strong> dos<br />

cap o s, os probl e m a s cres c e m mais rapi<strong>da</strong> m e n t e que as<br />

soluç õ e s , já que não conta co m o se ntid o co m u m e m suas<br />

fileiras.<br />

Pess o a s sen s u ai s estã o mais ab ertas para os m o vi m e nt o s<br />

do cora ç ã o , que por sua vez am e a ç a m a m o n ar q ui a <strong>da</strong> cab e ç a .<br />

Quando, por exe m pl o, e m estad o de paixão, a fria cab e ç a só<br />

pod e ob s erv ar impot e nt e co m o o quent e cora ç ã o assu m e o<br />

pod er. Mas ela não pod e simpl e s m e n t e ac eitar este fato e<br />

co m e ç a imediata m e n t e a distribuir culpa, afirmand o que outro<br />

teria virad o a cab e ç a de seu proprietário, que este ficou ce g o e<br />

entã o perd e u a cab e ç a . Isso não pod eria ac o nt e c e r cas o a<br />

cab e ç a estives s e funcion a n d o nor m al m e n t e . Antes que o<br />

afetad o perc a co m pl eta m e n t e a razão, ou seja, antes que esta<br />

perc a sua primazia, o intelecto tratará de con struir as<br />

afirma ç õ e s m ais estran h a s para pôr fim a este divino estad o<br />

que para ele é tão am e a ç a d o r . Quase se m pr e, são seus<br />

80


argu m e n t o s racion ais que perturb a m e destro e m o am or,<br />

termin and o co m o pas s ei o pelo reino do coraç ã o . Ain<strong>da</strong> que a<br />

cab e ç a tenha de sofrer algu m a s derrota s no front do cora ç ã o ,<br />

ela certa m e n t e m ant é m a intuição do ventre firme m e n t e so b<br />

control e. Som e nt e o irracion al sentim e nt o popular é con h e ci d o<br />

ain<strong>da</strong> por per mitir-se ver co m o cora ç ã o e viver de ac ord o co m<br />

as sen s a ç õ e s do ventre. Em ditado s tais co m o "am or e razão<br />

rara m e n t e ca minha m juntos" ou "quan d o o coraç ã o quei m a , a<br />

cab e ç a precis a bus c ar água", expres s a- se a rivali<strong>da</strong>d e entre a<br />

cab e ç a , o coraç ã o e as sen s a ç õ e s . A "m e dicina" popular sab e<br />

que "o fogo do coraç ã o es q u e nt a a cab e ç a ", e uma cab e ç a<br />

que nt e, natural m e nt e, dói.<br />

Muitas vez e s os intelectuais não con s e g u e m decidir se a<br />

cab e ç a é don a <strong>da</strong> pes s o a e m que st ã o ou se é esta que é don a<br />

<strong>da</strong> própria cab e ç a . Seja lá co m o for, para os ho m e n s mod er n o s<br />

ela é a regiã o sup erior e mais important e, co m a qual nos<br />

ocup a m o s e preo c up a m o s <strong>da</strong> man eira mais intens a. A m ai oria<br />

<strong>da</strong>s pes s o a s e m pr e g a m mais temp o disp en s a n d o - lhe cui<strong>da</strong>d o s<br />

que co m todo o resto do corp o. No trabalh o e no temp o livre,<br />

nós nos servi m o s principal m e nt e <strong>da</strong> cab e ç a , confiand o no<br />

co m a n d o central de seu cér e br o.<br />

De sua elev a d a posiç ã o , que é por assi m dizer co m o a coro a<br />

<strong>da</strong> coluna vertebr al ereta, nota- se que o pap el de ch ef e de fato<br />

lhe cai be m . Sua form a redond a, próxim a <strong>da</strong> esfera ideal,<br />

indica tam b é m a posiç ã o esp e ci al que ocup a. Apesar diss o,<br />

dev ería m o s perguntar se o típico ho m e m - cab e ç a de nos s a<br />

cultura ain<strong>da</strong> tem con s ci ê n ci a de que os outros centro s<br />

tam b é m são de importân cia vital e de que à cab e ç a cab e<br />

so m e n t e o pap el de "prim eiro entre iguais". Basta ob s ervar a<br />

linguag e m para ouvir que a cab e ç a so m e n t e pod e afirmar<br />

[be haupt en / Haupt = cab e ç a], m a s não apre e n d e r. Para isso<br />

ela precis a <strong>da</strong>s mã o s . Até m e s m o suas afirma ç õ e s ficam no ar<br />

en qu a nt o não fore m fun<strong>da</strong> m e n t a d a s [begründ et / Grund =<br />

chã o]. O prim eiro lugar corre s p o n d e à cab e ç a , tal co m o<br />

de m o n s tr a a anato mi a, m a s ela não seria na<strong>da</strong> se m a bas e do<br />

corp o so br e a qual se apóia. A voz popular sab e que "o<br />

81


coraç ã o sec a quan d o só a cab e ç a do min a". Sendo assi m, não<br />

é de estran h ar que as do e n ç a s coron ária s e, desta s,<br />

esp e ci al m e n t e o infarto do coraç ã o , assu m a m co m folga o<br />

prim eiro lugar nas estatística s de m ortali<strong>da</strong>d e . No infarto, tratase<br />

de uma falta de irrigaç ã o san g üín e a do cora ç ã o - é co m o se<br />

este morr e s s e de fom e.<br />

Apesar dos muitos coraç õ e s que gritam de dor e bate m<br />

des c o ntr olad a m e n t e , a central <strong>da</strong> cab e ç a é que rec e b e , de<br />

long e, a m ai oria de nos s a s aten ç õ e s . Nós nos afirma m o s co m<br />

a cab e ç a , noss o objetivo m ais elev a d o é m ant ê- la alta na luta<br />

pelo pod er que tem lugar na soci e d a d e . Na<strong>da</strong> pod e pa s s a r por<br />

cima de no s s a s ca b e ç a s , e ai <strong>da</strong>qu el e que <strong>da</strong>n ç a so br e noss a s<br />

cab e ç a s . "Manter a cab e ç a ergui<strong>da</strong>!", anim a m o s a nós mes m o s<br />

quan d o algu m a cois a não dá certo, ou: "Não pod e m o s nos<br />

reb aixar!" Não quer e m o s ter nen hu m contato co m as zona s<br />

inferiores. E quan d o esta m o s co m a cab e ç a pes a d a, muitas<br />

vez e s lem br a m o s uns ao s outros que é precis o não ab aixar a<br />

cab e ç a ", prev e nind o- nos assi m contra um a recaíd a nos<br />

(bons?) velho s tem p o s e m que a cab e ç a não era o nº 1<br />

ab s oluto. Conven cid o s de ser a coro a ç ã o <strong>da</strong> criaç ã o , dirigim o s<br />

prefer e n ci al m e nt e o olhar à nos s a coro a. A freqü ê n ci a e a<br />

diss e m i n a ç ã o <strong>da</strong> enxa q u e c a deixa m entrev er que es s a<br />

insistên ci a exc e s si v a não é muito saud á v el.<br />

Em con s e q ü ê n c i a de nos s a am bi ç ã o , que enfatiza a cab e ç a ,<br />

muita cois a nos subiu a ca b e ç a , transfor m a n d o - a e m um a<br />

dolor o s a caixa troante que muitas vez e s pare c e que vai<br />

arreb e nt ar. Aquilo que se m et e na ca b e ç a per m a n e c e na<br />

cab e ç a , e não é raro que atrav é s do acú m ul o a pes s o a se<br />

torne entã o um ver<strong>da</strong>d eir o cab e ç a - dura. Não há pratica m e n t e<br />

mais nenhu m a pes s o a e m nos s a so ci e d a d e que não con h e ç a a<br />

sen s a ç ã o de ter um a cab e ç a dura; <strong>da</strong> m e s m a m an eira, não há<br />

um só m e m b r o de um a <strong>da</strong>s culturas cha m a d a s de primitivas<br />

que pos s a imagin ar algo parecid o. Embora não seja m o s<br />

ca b e ç a s oca s, muitas vez e s não sab e m o s m ais ond e e sta m o s<br />

co m a cab e ç a . Pess o a s que não estã o o temp o todo<br />

que brando a cab e ç a , que não têm a tend ê n ci a de bater co m a<br />

82


ca b e ç a na pared e , que não precis a m afirmar- se [sich<br />

be haupt en / Haupt = cab e ç a] ou ch e g ar à con clus ã o de que o<br />

mund o so m e n t e se des e n v olv e correta m e n t e quan d o tudo<br />

oc orr e de acord o co m a sua ca b e ç a , es s a s pes s o a s não<br />

sab e m o que é um a dor de cab e ç a . Abrigad o s pela con s ci ê n ci a<br />

de que de qualqu er man eira a criaç ã o se des e n v o lv e de ac ord o<br />

co m o plano de Deus, eles não têm um a tábua diante <strong>da</strong> testa<br />

[Brett vor m Hirn hab e n = ser obtus o, parvo], coisa que<br />

dolor o s a m e n t e adquire m tantos ser e s hum a n o s m o d er n o s . A<br />

pres s ã o que colo c a m o s so br e nós m e s m o s ao assu mir m o s o<br />

pap el de sen h o r e s des s a criaç ã o , pres si o n a- nos muitas vez e s<br />

naqu el a regiã o co m cuja aju<strong>da</strong> nos afirma m o s . A m an eira pela<br />

qual a m ai oria dos sinto m a s une resulta m des s a situaç ã o de<br />

des e q uilíbrio afeta m o corp o oprimido expr e s s a - se não<br />

so m e n t e no interior <strong>da</strong> cab e ç a ma s tam b é m fora, no rosto.<br />

Provav el m e n t e dev e m o s à exc e s si v a enfatizaç ã o <strong>da</strong> cab e ç a<br />

não só as dor e s lancinant e s co m o tam b é m a maior parte de<br />

to<strong>da</strong>s as m ol é stias psico s s o m á ti c a s , que são totalm e nt e<br />

des c o n h e c i d a s pelas assi m cha m a d a s culturas arcaic a s , que<br />

vive m próxim a s à naturez a e pres cind e m de to<strong>da</strong><br />

intelectuali<strong>da</strong>d e. Apesar dest e con h e ci m e n t o , faz pouc o sentido<br />

ab aixar a cab e ç a , é mais saud á v el interpretar os próprios sinais<br />

de alar m e e de so br e c ar g a e prop orci o n ar a outras regiõ e s do<br />

corp o o significad o que lhes corre s p o n d e .<br />

Antes de <strong>da</strong>r inicio a esta tarefa e des c e r m o s até noss a s<br />

raízes dentro do es qu e m a cab e ç a - pé, dev e m o s ab ord ar o tem a<br />

do cân c er. Significativa m e n t e , isso oc orr e fora do es qu e m a<br />

cab e ç a - pé, porqu e o cân c er pod e afetar pratica m e n t e todo s os<br />

órg ã o s e tecido s. Tam b é m nest e cas o se rec o m e n d a estu<strong>da</strong>r a<br />

regiã o afetad a antes de dedic ar- se ao capitulo seguinte, que<br />

ab ord a o cân c er de man eir a geral 29 .<br />

83


2<br />

Câncer<br />

1. A imagem do câncer em nossa época<br />

Por trás do diagn ó stic o “cân c er" oculta- se um grand e padrã o<br />

que pod e se expres s ar e m uma grand e varied a d e de sinto m a s .<br />

Ca<strong>da</strong> um deles afeta to<strong>da</strong> a existên cia <strong>da</strong> pes s o a , não<br />

importan d o e m qual órgã o tenha se originad o . Neste ponto, o<br />

ac o nt e ci m e n t o do cân c er é de m a si a d o co m pl ex o para estar<br />

relacion a d o apen a s co m o órg ã o afetad o. Sua tend ê n ci a de<br />

propa g ar- se por todo o corpo m o stra que se trata de to<strong>da</strong> a<br />

pes s o a . O cân c er, so b a form a de fantas m a que ass o m b r a<br />

noss a ép o c a , toca não apen a s aqu el e s que são direta m e n t e<br />

afetad o s , ma s to<strong>da</strong> a so ci e d a d e , que o transfor m o u e m tabu<br />

co m o nenhu m outro sinto m a. Anualm e nt e m orr e m 20 0 mil<br />

pes s o a s de cân c er na Alem anha, e para 199 1 esp er a v a m - se<br />

33 0 mil novo s do e nt e s . Mais <strong>da</strong> m etad e dos afetad o s m orr e m ,<br />

e a taxa e m núm er o s ab s oluto s de m ortes por cân c er continua<br />

subind o, ape s ar dos êxitos con s e g ui d o s pela m e dicin a.<br />

Até a des c o b e rt a dos hunza , não se con h e ci a nen hu m a<br />

cultura que tives s e sido inteira m e n t e poup ad a do cân c er.<br />

Admite- se que so m e n t e este pequ e n o povo m o ntan h ê s do<br />

Himalaia, até o contato co m a civilizaç ã o m o d e r n a, e m m e a d o s<br />

dest e século, jam ais soub e o que era o c ânc er. Os traç o s<br />

des s e sinto m a enc o ntra m - se hoje por to<strong>da</strong> parte, pod e n d o ser<br />

detectad o s até no pas s a d o graç a s ao s m o d e r n o s<br />

proc e di m e n t o s de pes q uis a. A pres e n ç a de tum or e s foi<br />

co m pr o v a d a até m e s m o e m mú mi a s incas co m 500 ano s de<br />

i<strong>da</strong>d e. Apesar des s a diss e m i n a ç ã o univers al, o cân c er tornouse<br />

um a marc a distintiva <strong>da</strong>s naç õ e s industrializa<strong>da</strong> s m o d er n a s .<br />

Ele não gan h o u terren o de man eira tão fulminant e e m nen hu m<br />

outro lugar. O argu m e n t o de que ele so m e n t e é m ais freqü e nt e<br />

nas naç õ e s industrializa<strong>da</strong> s devido ao fato de que as pes s o a s<br />

84


que nelas vive m ating e m uma i<strong>da</strong>d e mais avan ç a d a é correto<br />

no que se refer e a algu m a s culturas, ma s não se sustenta por<br />

principio, pod e n d o ser reb atido e m vários ponto s. Por um lado,<br />

há tipos de cân c er que ating e m o ápic e nos ano s de juventud e,<br />

por outro a própria m e dicin a tradicion al de m o n s tr a que<br />

deter min a d o s tipos d< cân c er, tal co m o o cân c er dos pulm õ e s ,<br />

estã o relacion a d o s de man eira unívo c a co m hábitos e ven e n o s<br />

de noss a civilizaç ã o . Mas, so br etud o , havia culturas antigas<br />

que pos sibilitava m um a long a exp e ct ativa de vi<strong>da</strong> co m um<br />

baixo risco de cân c er. Na cultura chin e s a de orienta ç ã o taoísta,<br />

o cân c er era extre m a m e n t e raro, e m b o r a a exp e ct ativa m é di a<br />

de vi<strong>da</strong> <strong>da</strong>s pes s o a s foss e a m e s m a <strong>da</strong> China atual Viver ce m<br />

ano s era con sid er a d o nor m al.<br />

Sab e- se que antes de ser e m sub m e tid o s , os indíg e n a s que<br />

habitava m original m e nt e a América vivia m m ais que nas<br />

ép o c a s "civiliza<strong>da</strong>s" posterior e s. Eles pratica m e n t e não<br />

con h e ci a m o cân c er antes, ma s a partir de entã o pas s ar a m a<br />

pag ar tam b é m es s e tributo. Uma outra prova de quanto o<br />

cân c er tornou- se uma desta c a d a am e a ç a à saúd e e m noss a<br />

ép o c a é o fato de ser ele, dentre to<strong>da</strong> s as do e n ç a s , a que nos<br />

infund e m ai or terror. A des criç ã o <strong>da</strong> do e n ç a já traz o selo de<br />

noss a avaliaç ã o : m align o. O infarto do coraç ã o , que ceifa m ais<br />

vi<strong>da</strong>s e confronta as pes s o a s co m a m ais pavor o s a dor que se<br />

con h e c e , não des p erta se m e l h a nt e horror. O cân c er<br />

nec e s s a ria m e n t e nos confronta co m um tem a que esta<br />

m er gulha d o ain<strong>da</strong> m ais profun<strong>da</strong> m e n t e na so m b r a que a dor e<br />

que a própria m orte. Além diss o, nen hu m outro sinto m a torna<br />

tão clara a relaç ã o entre corp o, alm a, m e nt e e soci e d a d e co m o<br />

o cân c er. Quer parta m o s do nível celular, <strong>da</strong> estrutura <strong>da</strong><br />

pers o n ali<strong>da</strong>d e ou <strong>da</strong> situaç ã o so cial, por to<strong>da</strong> parte<br />

en c o ntra m o s padrõ e s se m e l h a nt e s que con h e c e m o s muito<br />

be m , que nos cho c a m e que não pod e m ser eliminad o s porqu e<br />

são os próprios padrõ e s primordiais.<br />

2. O câncer no nível celular<br />

85


A m an eira m ais se gur a de diagn o stic ar o cân c er enc o ntrad a<br />

pela m e di cin a é nos grupo s de células. Células can c erí g e n a s<br />

diferen cia m - se <strong>da</strong>s células saud á v ei s por seu cres ci m e n t o<br />

des ord e n a d o e caótic o. Na célula individual, impres si o n a o<br />

grand e tam a n h o do núcleo. Tal co m o se foss e a cab e ç a do<br />

e m pr e e n di m e n t o célula, ele contê m to<strong>da</strong> a inform a ç ã o<br />

nec e s s á ria para seu co m plic a d o funcion a m e n t o . Ele controla o<br />

m eta b olis m o , o cres ci m e n t o e a divisã o. A perv er sid a d e que<br />

gan h a expres s ã o no núcle o sup erdi m e n si o n a d o tem sua caus a<br />

na en or m e ativi<strong>da</strong>d e divisória <strong>da</strong> célula, que não mais<br />

des e m p e n h a suas tarefas e m conjunto co m as outras células e<br />

pas s a a atuar so br etud o na multiplicaç ã o de si m e s m a .<br />

Enquanto o núcle o é na ver<strong>da</strong>d e pequ e n o no m eta b olis m o<br />

nor m al, co m a caótica divisã o celular do ev e nt o can c erí g e n o<br />

ele cres c e para alé m de si m e s m o no mais puro sentido <strong>da</strong><br />

palavra, forne c e n d o um projeto atrás do outro para sua<br />

des c e n d ê n c i a. Até m e s m o os proc e s s o s de reg e n e r a ç ã o no<br />

interior do corp o celular são deixad o s para trás e m favor <strong>da</strong><br />

ince s s a nt e produç ã o de nova s gera ç õ e s de células.<br />

Este co m p o rta m e n t o lem br a as células joven s, ou seja, e m<br />

estad o e m bri o n ário, quan d o o objetivo é aci m a de tudo o<br />

cres ci m e n t o e a multiplicaç ã o . As células <strong>da</strong> m órula, aqu el e<br />

aglo m e r a d o de células e m que a vi<strong>da</strong> hum a n a se con c e ntra a<br />

princípio, não têm ain<strong>da</strong> que des e m p e n h a r qualqu er tarefa<br />

esp e ci alizad a, cui<strong>da</strong>n d o so m e n t e de sua multiplicaç ã o . Elas<br />

faze m isso atrav é s de anim a d a s divisõ e s e do resp e ctivo<br />

cres ci m e n t o . Ain<strong>da</strong> assi m, isso oc orr e de m an eira mais ord eira<br />

que co m as des c o n si d er a d a s células can c erí g e n a s . Além dos<br />

núcleo s celulare s sup erdi m e n si o n a d o s e sua exag er a d a<br />

tend ê n ci a à divisã o, a indiferen ci a ç ã o <strong>da</strong>s células tam b é m<br />

lem br a as form a s <strong>da</strong> prim eira etap a, ain<strong>da</strong> não ma dur a s. Em<br />

seu delírio de propa g a ç ã o elas des c uid a m muitas outras<br />

cois a s, perd e n d o muitas vez e s a cap a ci<strong>da</strong>d e de exe c utar<br />

co m plica d o s proc e s s o s m eta b ólic o s tais co m o a oxi<strong>da</strong>ç ã o .<br />

Enquanto, por um lado, regride m à primitiva etap a prepar atória<br />

86


<strong>da</strong> ferm e nt a ç ã o , por outro elas recup er a m a cap a ci<strong>da</strong>d e de<br />

produzir sub stân ci a s que so m e n t e células e m bri o n ária s e fetais<br />

pos su e m . A m e di cin a cha m a es s e novo des p ertar e es s a<br />

reativaç ã o de gen e s <strong>da</strong>s prim eiras fas e s do des e n v o l vi m e n t o<br />

de anaplasia. O que extern a m e n t e se supõ e ser um cao s faz<br />

sentido do ponto de vista do cân c er. Ele recup er a cap a ci<strong>da</strong>d e s<br />

primordiais e para isso elimina a esp e ci alizaç ã o . Até m e s m o<br />

es s a elimina ç ã o apres e nt a um a vantag e m . É ver<strong>da</strong>d e que a<br />

oxi<strong>da</strong>ç ã o , por exe m pl o, é m ais eficient e que a ferm e nt a ç ã o ,<br />

ma s esta é e m grand e m e di<strong>da</strong> indep e n d e n t e de forne c e d o r e s .<br />

Enquanto as células nor m ai s dep e n d e m <strong>da</strong> respiraç ã o para o<br />

forneci m e n t o , via san gu e fresc o , de oxig êni o, um a célula que<br />

se limita à ferm e nta ç ã o é e m grand e m e did a autôn o m a .<br />

Cons e q ü e nt e m e n t e , a célula can c erí g e n a tem m e n o s<br />

nec e s si d a d e de co m u nic ar- se co m suas vizinha s, o que é<br />

vantajo s o se con sid er a m o s suas pés si m a s relaç õ e s de<br />

vizinhan ç a. Enquanto as células nor m ai s têm o que se cha m a<br />

de inibidor de contato, que susp e n d e seu cres ci m e n t o quan d o<br />

en c o ntra m outros corn o s celular e s, as células can c erí g e n a s se<br />

co m p o rta m exata m e n t e ao contrário. Não tend o fronteiras para<br />

resp eitar, elas invad e m territórios estran g eir o s co m brutali<strong>da</strong>d e.<br />

É co m pr e e n s í v el que, co m isso, elas des p ert e m a hostili<strong>da</strong>d e<br />

<strong>da</strong> vizinhan ç a. Desc o briu- se há pouc o que as células<br />

can c erí g e n a s não se acanha m ne m m e s m o e m<br />

ver<strong>da</strong>d eira m e n t e es cr avizar outras células. Com o são<br />

de m a s i a d o primitivas para exe c utar proc e s s o s m eta b ólic o s<br />

diferen ciad o s , elas utilizam células nor m ai s e as priva m dos<br />

frutos de seu trabalh o. A célula can c erí g e n a não tem<br />

es crúpulo s e so m e n t e se preo c up a, <strong>da</strong> m an eir a m ais eg oí sta,<br />

co m seu cres ci m e n t o , e isso até m e s m o e m relaç ã o à sua<br />

própria prog ê ni e, form a d a exata m e n t e à sua imag e m . Muitas<br />

vez e s , tam b é m , os próprios pais fica m no ca min h o , sup er a d o s<br />

pelo des e n v o lvi m e nt o furios o e privad o s de provis ório s.<br />

Encontra m - se, freqü e nt e m e n t e , células m ortas, necr o s a d a s , no<br />

interior dos tum or e s , indican d o sim b olic a m e n t e que a<br />

m e n s a g e m central des s e novo cres ci m e n t o é a m orte.<br />

87


A regr e s s ã o <strong>da</strong> célula can c erí g e n a a um padrã o de vi<strong>da</strong><br />

anterior m o stra- se tam b é m e m sua atitude parasita. Ela tom a<br />

tudo aquilo que pod e con s e g uir e m alim e nta ç ã o e en er gi a se m<br />

estar dispo sta a <strong>da</strong>r algo e m troca ou a participar <strong>da</strong>s tarefas<br />

sociais que oc orr e m e m qualqu er org anis m o . Ela, assi m,<br />

exa g er a um tipo de co m p o rta m e n t o que ain<strong>da</strong> é apropriad o<br />

para células e m bri o n árias. Evidente m e n t e , no entanto, aquilo<br />

que se tolera e m um a crianç a pequ e n a torna- se um proble m a<br />

e m um adulto.<br />

Ao ignorar to<strong>da</strong>s as fronteiras, rev ela. se um outro pas s o<br />

atrás. Assim co m o as crianç a s apren d e m pouc o a pouc o a<br />

resp eitar limites, e m seu proc e s s o de am a d ur e ci m e n t o e<br />

diferen cia ç ã o as células tam b é m aprend e m a resp eitar<br />

estruturas <strong>da</strong>d a s e a per m a n e c e r dentro <strong>da</strong> m oldura prevista<br />

para elas. As células can c erí g e n a s , ao contrário, sa e m <strong>da</strong><br />

m oldura e deixa m para trás tudo o que apren d er a m ao long o<br />

<strong>da</strong> ev oluç ã o . Elas não pod e m controlar ne m fronteiras vitais,<br />

ne m as grand e s estruturas do corp o. Elas perd e m totalm e nt e<br />

aqu el e padrã o para o qual fora m destinad a s original m e nt e.<br />

Uma célula secr et or a <strong>da</strong> muc o s a nor m al do intestino se dividirá<br />

uma e outra vez para aten d er às nec e s si d a d e s de um<br />

org anis m o m ai or, o intestino, m a s não es c a p ar á <strong>da</strong> m oldura<br />

prevista para ela e suas iguais, esp alhando - se pelo intestino. A<br />

célula intestinal que deg e n e r a e m cân c er real m e nt e se<br />

deg e n e r a, mud a de esp é ci e, ab and o n a tudo o que é esp e cifico<br />

do intestino e segu e seu próprio ca minh o eg oísta. O padrã o<br />

intestino que foi <strong>da</strong>d o de ante m ã o tom a- se de m a si a d o restrito<br />

para ela, que entã o salta so br e suas fronteiras de m an eira tão<br />

revolucion ária co m o destrutiva.<br />

À m e di<strong>da</strong> que os ca m p o s m orfo g e n é ti c o s m e n ci o n a d o s<br />

antes fore m sen d o pes quis a d o s , pos siv el m e n t e se che g ar á a<br />

uma co m pr e e n s ã o m ais profun<strong>da</strong> <strong>da</strong> proble m á tic a do cân c er.<br />

Assim co m o ver o probl e m a - no plan o gen étic o - e m urna<br />

mutaç ã o , tem igualm e nt e sentido ab ord á- lo a partir do ângulo<br />

cintilante dos ca m p o s form ativo s. O proble m a entã o pas s a a<br />

estar no ab and o n o <strong>da</strong> m oldura pree sta b el e ci d a. Com isso, o<br />

88


probl e m a se esten d eri a para alé m <strong>da</strong> célula individual,<br />

tornan d o- se um probl e m a do tecido ou órg ã o afetad o, que não<br />

esta mais e m posiç ã o de impor seu padrã o a to<strong>da</strong> s as células<br />

individuais. Este principio pod eria co m pl etar a explicaç ã o<br />

gen étic a, já que e m am b o s os cas o s expres s a- se na m e s m a<br />

m e di<strong>da</strong> o tem a <strong>da</strong> eva s ã o <strong>da</strong>s nor m a s esta b el e ci d a s . De fato, o<br />

cân c er é tanto um probl e m a do m ei o co m o <strong>da</strong> célula<br />

individual 30 .<br />

As tend ê n ci a s de regr e s s ã o a que nos referim o s apar e c e m<br />

até m e s m o no no m e , já que cân c er é aqu el e anim al con h e ci d o<br />

principal m e nt e por an<strong>da</strong>r para trás. O caran g u ej o, que tam b é m<br />

é acus a d o co m o sen d o resp o n s á v el pelo batis m o , tamp o u c o se<br />

m o vi m e nt a para a frente, e sim de lado. As expr e s s õ e s<br />

“krab b e ln" e "heru m kr e b s e n" [= arrastar- se], utiliza<strong>da</strong> s para<br />

aqu el e s pen o s o s esforç o s que não leva m adiante, den ot a m<br />

tipos de m o vi m e n t o para a frente que não são des s e m e l h a n t e s<br />

dos m o vi m e n t o s executa d o s pelo s pacient e s ante s <strong>da</strong> erupç ã o<br />

do cân c er. Não se pod e explicar a orig e m do no m e "cânc er" de<br />

man eira inequív o c a . Mas até m e s m o a derivaç ã o apre s e nt a d a<br />

pela m e dicin a, a de um a form a de cân c er <strong>da</strong> ma m a cujas<br />

células dev or a m o tecido co m p o n d o a form a de uma pinça,<br />

m e s m o isso apo nta para um a direç ã o se m e l h a nt e 31 . Quem<br />

quer que tenha cunh a d o es s e no m e , enc o ntr ou a es s ê n ci a <strong>da</strong><br />

imag e m <strong>da</strong> do e n ç a .<br />

3. A gênese do câncer<br />

No que se refer e à gên e s e do cân c er no nível celular,<br />

atual m e nt e os pes q uis a d o r e s são pratica m e n t e unâni m e s e m<br />

rec o n h e c e r que as mutaç õ e s ocup a m o prim eiro plan o 32 . A<br />

palavra ve m do latim e significa m o dificaç ã o . Caso um a célula<br />

seja estimulad a durante temp o suficiente, pod e sofrer<br />

m o dificaç õ e s drástica s que têm orige m no nível do m at erial<br />

gen étic o. Os estí m ul o s que prep ar a m es s e ca minh o pod e m ser<br />

os mais variad o s: m e c â ni c o s , quí mic o s ou físico s. Press ã o<br />

89


prolon g a d a , o alcatrão dos cigan o s ou radiaç ã o pen e trant e são<br />

algu m a s <strong>da</strong>s pos sibili<strong>da</strong>d e s .<br />

As células do tecido corresp o n d e n t e pod e m con s e g uir<br />

suportar a estimula ç ã o continua por muito tem p o , ma s e m<br />

algu m m o m e n t o um a delas é sup er e sti m ulad a e deg e n e r a . Ela,<br />

no mais puro sentido <strong>da</strong> palavra, m o difica seus gen e s e se gu e<br />

seu próprio ca minh o que, no entanto, leva na ver<strong>da</strong>d e a um a<br />

eg o- trip. Ela co m e ç a algo totalm e nt e nov o para suas<br />

circunstânci a s, dedic a n d o - se ao cres ci m e n t o e à autorealizaç<br />

ã o . Um dos no m e s m é di c o s para o cân c er é<br />

ne o plas m a . Ele expres s a es s e "novo cres ci m e n t o". Aquilo que<br />

para corp o repres e nt a um perig o de vi<strong>da</strong> é, para a célula<br />

martiriza<strong>da</strong> por tanto temp o, um ato de libertaç ã o . Agora tudo<br />

de pend e de o corp o dispor de suficiente esta bili<strong>da</strong>d e e pod er<br />

de defe s a para derrotar a insurreiç ã o <strong>da</strong>s células. Hoje e m dia<br />

os pes q uis a d o r e s parte m do principio de que células<br />

deg e n e r a m co m relativa freqü ê n ci a, m a s torna m - se inofen siva s<br />

graç a s a um bo m siste m a de defe s a. A fraqu ez a <strong>da</strong>s defe s a s<br />

do org anis m o tem portanto um significad o decisivo para o<br />

surgim e nt o do cân c er. De fato, é freqü e nt e en c o ntrar e m<br />

retrosp e ct o um colap s o <strong>da</strong>s defe s a s justa m e nt e na ép o c a e m<br />

que se presu m e que o tum or tenha surgido. De qualqu er<br />

man eira, ne m se m pr e é fácil es clar e c e r es s e ponto. A rapidez<br />

do des e n v o l vi m e n t o dep e n d e na ver<strong>da</strong> d e do tipo de tum or, ma s<br />

por outro lado flutua tam b é m e m tum or e s do m e s m o tipo,<br />

dep e n d e n d o <strong>da</strong> situaç ã o geral. Muitas vez e s , um tum or já<br />

existe há ano s no m o m e n t o e m que é des c o b e rto, tend o um<br />

pes o de cerc a de um gra m a e con sistindo de milhõ e s de<br />

células. Deste ponto de vista, ningu é m pod e sab er co m certez a<br />

se tem cân c er ou não. Nós provav el m e n t e esta m o s se m pr e<br />

tend o cân c er, só que o siste m a imun oló gi c o continua sen d o<br />

sen h o r <strong>da</strong> situaç ã o . Isto tam b é m pod e ser um a razã o para o<br />

terror inaudito que o tem a cân c er infunde.<br />

90<br />

4. Os níveis de significação do evento cancerígeno


O co m p o rta m e n t o <strong>da</strong> célula can c erí g e n a m o stra uma<br />

problemática de crescimento co m o tem a de fundo. Após<br />

muita con sid er a ç ã o e cautela, a célula decid e fazer o contrário.<br />

Cresci m e nt o caótic o e trans b or d a nt e se m cui<strong>da</strong>d o e se m<br />

con sid er a ç ã o que não poupa ne m territórios estran h o s ne m a<br />

própria bas e <strong>da</strong> vi<strong>da</strong>. Em con s e q ü ê n c i a, as leis do cres ci m e n t o<br />

saud á v el são ignorad a s . A célula can c erí g e n a se colo c a acim a<br />

<strong>da</strong>s regra s de conviv ê n ci a nor m al dentro <strong>da</strong> ass o ci a ç ã o de<br />

células e, se m pudor, romp e tabus de importân cia vital. Em<br />

lugar de assu mir o lugar que lhe foi desig n a d o e cumprir co m<br />

seu dev er, ela sai perig o s a m e n t e dos limites e <strong>da</strong> esp é ci e.<br />

Dedican d o - se a uma se]vag e m e eg o c ê n tric a ativi<strong>da</strong>d e<br />

divisória, ela se divide para todo s os lado s. A vizinhan ç a e até<br />

m e s m o as regiõ e s mais afastad a s do corp o co m e ç a m a sentir<br />

sua agr e s s ã o brutal. A eg o- trip form a- se devid o a um a ênfas e<br />

exc e s siv a na cab e ç a <strong>da</strong>s células, es s e s núcle o s<br />

sup erdi m e n si o n a d o s , es s e s centro s hidro c ef álic o s co m sua<br />

ativi<strong>da</strong>d e fren étic a. De fato, tudo tem de ac o nt e c e r na cab e ç a<br />

<strong>da</strong> célula can c erí g e n a , to<strong>da</strong> sua des c e n d ê n c i a é form a d a<br />

exata m e n t e à sua imag e m . Assim, ela é totalm e nt e autárquic a<br />

e cria seus filhotes se m aju<strong>da</strong> extern a, virge m por assi m dizer.<br />

Com es s a prole, ela vai de cab e ç a contra a pared e , no mais<br />

ver<strong>da</strong>d eir o sentido <strong>da</strong> palavra. Nem m e s m o as m e m b r a n a s<br />

basai s, os mais importante s muro s fronteiriço s entre os tecido s,<br />

pod e m resistir às suas agre s s õ e s .<br />

A célula can c erí g e n a de m o n s tr a <strong>da</strong> m e s m a m an eir a crua<br />

seu en or m e problema de comunicação, reduzind o to<strong>da</strong> s as<br />

relaç õ e s de vizinhan ç a a um a política <strong>da</strong> cotov el a d a<br />

agre s siv a m e n t e reprimi<strong>da</strong>. Com a en er gia nas ci<strong>da</strong> de sua<br />

imaturi<strong>da</strong>d e virginal, ela não tem es crúpulos em fazer valer a lei<br />

do mais forte e, espr e m e n d o seus vizinho s mais frág eis contra<br />

a pared e, ela os destrói ou os transfor m a e m es cr av o s . Ela<br />

sacrifica o ac e s s o ao padrã o <strong>da</strong>s estruturas adultas e m favor<br />

<strong>da</strong> indep e n d ê n c i a. Ela desistiu <strong>da</strong> co m u nic a ç ã o co m o ca m p o<br />

de des e n v olvi m e nt o para o qual unha sido destinad a e m favor<br />

91


do eg oí s m o e de reivindic a ç õ e s de onipot ên ci a e imortali<strong>da</strong>d e.<br />

O proble m a de co m u nic a ç ã o ganh a expr e s s ã o sim b ólic a na<br />

respiraç ã o celular destruí<strong>da</strong>, já que a respiraç ã o repre s e nt a o<br />

inter- câ m bi o e o contato.<br />

5. Fases de desenvolvimento do sintoma<br />

A imag e m deline a d a até ag or a parec e fazer justiça so m e n t e<br />

a uma pequ e n a parte dos paci ent e s de cân c er pois este s, de<br />

uma man eira geral, apre s e nt a m um padrã o de co m p o rta m e n t o<br />

que parec e antes o contrário. Isso se dev e a que o padrã o<br />

reprimido do cân c er quas e se m pr e, por um lado, co m p e n s a , e<br />

por outro des cr e v e tais perfis de pers o n ali<strong>da</strong>d e na ép o c a<br />

anterior ao surgi m e nt o do sinto m a . Mas nesta fas e o corp o<br />

tam b é m apres e nt a um a imag e m muito diferente. É o estági o <strong>da</strong><br />

excitaç ã o contínua, que os tecido s e suas células tolera m se m<br />

reagir. Elas tenta m se proteg er e ergu er barreiras na medi<strong>da</strong> do<br />

pos sív el para, atrav é s <strong>da</strong> imo bili<strong>da</strong>d e, so br e viv er, ou seja,<br />

suportar a des a gr a d á v e l situaç ã o . Caso uma célula<br />

exp eri m e nt e reb el ar- se contra a estimula ç ã o prolon g a d a e<br />

tente seguir seu próprio ca min h o , deg e n e r a n d o , saind o <strong>da</strong><br />

esp é ci e, es s a insurreiç ã o é imediata m e n t e reprimi<strong>da</strong> pelo<br />

siste m a imun ol ó gic o .<br />

Neste padrã o, que corresp o n d e à prim eira fas e <strong>da</strong> do e n ç a ,<br />

fica caract eriza<strong>da</strong> a pers o n ali<strong>da</strong>d e típica do cân c er. São<br />

pes s o a s extre m a m e n t e a<strong>da</strong>ptad a s que tenta m viver <strong>da</strong> man eira<br />

mais desp er c e b i d a pos sív el, ade q u a n d o - se às nor m a s e jam ais<br />

inco m o d a n d o algué m co m as próprias exig ê n ci a s. Elas e m<br />

grand e m e di<strong>da</strong> ignora m os des afio s para cres c e r<br />

espiritual m e nt e e para o des e n v olvi m e nt o aní mic o , já que de<br />

man eira algu m a quer e m se exp or. Sua vi<strong>da</strong> é pouc o<br />

estimulant e e m um duplo sentido: por um lado elas evita m,<br />

se m pr e que pos sív el, exp eriên ci a s novas que pod eria m<br />

m o vi m e nt ar sua vi<strong>da</strong>, já que mal se atrev e m a aproxi m ar- se de<br />

suas fronteiras. Elas trata m de ignorar os pouc o s estí mulo s que<br />

92


omp e m sua couraç a defen siva. A repres s ã o <strong>da</strong>s<br />

pos sibili<strong>da</strong>d e s de exp eriên ci a s- limite reflete- se<br />

imp er c e ptiv el m e n t e na interrupç ã o <strong>da</strong> ativi<strong>da</strong>d e defen siva do<br />

corp o, que m ant ê m tudo se g ura m e n t e so b control e.<br />

Experiên cias que ultrapas s a m os limites ou simpl e s m e n t e<br />

algu m a inofen siva pula<strong>da</strong> de cerc a são sufoc a d a s ain<strong>da</strong> e m<br />

gér m e n para, a qualqu er preç o, mant er a situaç ã o co stu m eir a<br />

co m o se m pr e.<br />

O degr au seguinte <strong>da</strong> es c al a d a m o stra co m o es s e preç o<br />

pod e ser alto: é quan d o a corrent e de impuls o s de cres ci m e n t o<br />

estan c a d a durante ano s romp e o dique <strong>da</strong> repre s s ã o e goza<br />

des c o ntr olad a m e n t e a vi<strong>da</strong> até o es g ota m e n t o . Após o<br />

rompi m e nt o do dique, não há ne m volta ne m parad a. O corp o<br />

lanç a- se àqu el e outro extre m o que até entã o tinha reprimido<br />

abn e g a d a m e n t e . Freqü e nt e m e n t e o fenô m e n o <strong>da</strong> repres s ã o<br />

m o stra- se tanto na história aní mic a <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> co m o na história<br />

<strong>da</strong>s do e n ç a s do corp o. Não é raro en c o ntrar as cha m a d a s<br />

ana m n e s e s vazias, ou seja, que o afetad o não apre s e nt a v a o<br />

m e n o r sinto m a ano s e até déc a d a s ante s do surgim e nt o do<br />

cân c er. O que à prim eira vista pare c e um a saúd e imaculad a,<br />

rev ela- se co m o rigoros a repre s s ã o a um olhar mais atento. Não<br />

so m e n t e os des vi o s aní mic o s <strong>da</strong> nor m a, os des vi o s corp or ais<br />

tam b é m fora m totalm e nt e reprimido s . Ness e contexto, o psicoonc<br />

ol o gi sta Wolf Büntig fala de "nor m o p atia" quan d o o ater- se<br />

rígi<strong>da</strong> e inflexivel m e nt e às nor m a s transfor m a- se e m do e n ç a . O<br />

que pod eria pare c e r co m o contenç ã o simp átic a ou nobr e, pod e<br />

ser na ver<strong>da</strong>d e repres s ã o de impuls o s vitais e, e m última<br />

instância, vi<strong>da</strong> não vivi<strong>da</strong>. Assim co m o a célula so b<br />

estimulaç ã o forte e con sta nt e faz tudo o que pod e para<br />

continuar des e m p e n h a n d o seu dev er co m o célula do intestino<br />

ou do pulm ã o , os pacient e s tam b é m tenta m pers e v e r ar no<br />

cumpri m e nt o satisfatório de seus dev er e s co m o filha, filho,<br />

mã e, pai, sub ordin a d o , etc., e m detrim e nt o de suas<br />

nec e s si d a d e s individuais. O próprio des e n v olvi m e nt o dev e ficar<br />

para trás, co m o ac o nt e c e co m a célula martiriza<strong>da</strong>.<br />

De man eira corresp o n d e n t e , a tend ê n ci a fun<strong>da</strong> m e n t al des s a<br />

93


vi<strong>da</strong> "não vivi<strong>da</strong>" é tam b é m reprimi<strong>da</strong>. Muitas vez e s o afetad o<br />

não tem con s ci ê n ci a de sua dispo siç ã o depr e s siva latente, <strong>da</strong><br />

m e s m a man eira co m o não é con s ci e nt e <strong>da</strong> repres s ã o <strong>da</strong>s<br />

tentativas de insurreiç ã o do corp o. O m ei o am bi e nt e não<br />

perc e b e na<strong>da</strong>, já que ele não m o stra nenhu m a inclinaç ã o a<br />

participar diss o, de m o n s tr a n d o m e n o s ain<strong>da</strong> qualqu er<br />

dispo siç ã o a real m e nt e co m p artilhar sua vi<strong>da</strong> co m outros. É<br />

so m e n t e quan d o o dique é rompid o e a vi<strong>da</strong> reprimi<strong>da</strong> irromp e<br />

que a dispo siç ã o de participar ve m à língua de m an eira livre e<br />

ve e m e n t e .<br />

Na fase do surgim e nt o do sinto m a, os afetad o s já são de<br />

fato "pacient e s", eles são sofred or e s ass o m b r o s a m e n t e<br />

pacient e s . Indep e n d e nt e s e m grand e m e di<strong>da</strong> do m ei o que os<br />

cerc a e e m prol <strong>da</strong>s bo a s relaç õ e s de vizinhan ç a, eles o temp o<br />

todo dão m o stra s de amig á v el con sid er a ç ã o . Além diss o, eles<br />

são pes s o a s confiáv eis co m que m se pod e contar, e m b o r a<br />

esteja m rep elind o os impuls o s de mud a n ç a ain<strong>da</strong> e m gér m e n .<br />

Em seu esforç o para não inco m o d a r e não ser um fardo para<br />

ningu é m , não é difícil para os pacient e s fazer amig o s . Mas isso<br />

imp e d e que se form e m amizad e s profun<strong>da</strong> s, já que eles não<br />

con h e c e m ne m a si m e s m o s e m sua individuali<strong>da</strong>d e e não<br />

pod e m ne m m e s m o m o strar- se real m e nt e . Com o eles não<br />

apóia m a si m e s m o s , pare c e fácil ao s outros estar a seu lado.<br />

Então, quan d o no dec orr er <strong>da</strong> do e n ç a apar e c e m traç o s de<br />

caráter m ais profund o s, porqu e eles co m e ç a m a afirmar sua<br />

própria vi<strong>da</strong>, não é fácil ne m para os pacient e s ne m para o<br />

m ei o circund a nt e ac eitar es s a s faceta s totalm e nt e inesp er a d a s .<br />

Os pacient e s nor m o p at a s têm freqü e nt e m e n t e a seu redor<br />

pes s o a s que estã o e m dívi<strong>da</strong> para co m eles. Com o eles<br />

se m pr e se esforç ar a m para fazer tudo direito e deixara m para<br />

trás o próprio cres ci m e n t o , pes s o a s co m um a ress o n â n ci a<br />

corre s p o n d e n t e pas s a m a estar ag or a a seu lado.<br />

O co m p o rta m e n t o social dos pacient e s pod e ser des crito<br />

exe m pl ar m e n t e a partir do co m p o n e n t e social a que cha m a m o s<br />

"maioria silencio s a", à qual eles m e s m o s perten c e m muitas<br />

vez e s . Com razã o eles se con sid er a m pilares <strong>da</strong> soci e d a d e .<br />

94


Entretanto, por trás des s a fachad a de orde m m o d el ar<br />

espr eita m to<strong>da</strong>s aqu el a s caract erística s contrárias que se<br />

tom a m evid e nt e s no nível substituto, no corpo, quan d o o<br />

segun d o está gi o do surgi m e nt o do cân c er se instaura. O que<br />

jam ais foi ventilad o na con s ci ê n ci a en c o ntra ag or a seu palc o,<br />

um palco ond e ac o nt e c e m so br etud o dra m a s , ou seja, “jogo s<br />

de so m b r a".<br />

Os impuls o s de mud a n ç a que fora m rep elido s ao long o dos<br />

ano s se estend e m pelo corpo so b a form a de mutaç õ e s .<br />

Esque c e - se o que se faz ou se deixa de fazer, ag or a a única<br />

cois a que interes s a é a própria eg o- trip. A perfeita a<strong>da</strong>pta ç ã o<br />

social transfor m a- se e m parasitis m o eg oí sta que não resp eita<br />

ne m a tradiçã o ne m os direitos alheio s. E se ante s a pes s o a<br />

não se per mitiu uma única opinião própria, e m e r g e ag or a <strong>da</strong>s<br />

so m b r a s a long a m e n t e reprimi<strong>da</strong> preten s ã o de <strong>da</strong>r form a a<br />

todo o mund o (corpo) segun d o a própria imag e m . O org anis m o<br />

é saturad o de filiae , as filhas portad or a s <strong>da</strong> m orte. A<br />

se m e n t eira aní mic a reti<strong>da</strong> por long o temp o e m e r g e ag or a<br />

corp or al m e n t e e m temp o rec ord e e m o stra co m o era forte o<br />

des ej o até entã o não vivido de auto- realizaç ã o e de impo siç ã o<br />

dos próprios interes s e s .<br />

A erupç ã o do sinto m a pod e tom ar visível um a grand e parte<br />

<strong>da</strong>s reivindic a ç õ e s reprimi<strong>da</strong>s do eg o, e m contrast e co m o<br />

co m p o rta m e n t o do pacient e. Quando es s e s co m p o n e n t e s<br />

so m b ri o s sa e m à sup erfície, é principal m e nt e o m ei o<br />

circund a nt e que fica ad mirad o . Pess o a s até entã o pac ata s<br />

exig e m rep entina m e n t e que tudo gire e m turno delas e de "sua<br />

do e n ç a ". Tend o o diagn ó stic o co m o álibi, elas ag or a se<br />

atrev e m a virar a m e s a e deixar que os outros <strong>da</strong>n c e m<br />

segun d o sua músic a. A conten ç ã o e, literalm e nt e, o co m p a s s o<br />

pod e m ag or a ser atirado s so br e a amura d a para ser e m<br />

substituído s por son s totalm e nt e novo s. Pess o a s ideal m e nt e<br />

a<strong>da</strong>ptad a s rep entina m e n t e sa e m <strong>da</strong> raia e pula m a cerc a. Por<br />

mais des a g r a d á v el que tal atitude pos s a ser para o m ei o<br />

circund a nt e, há niss o um a grand e oportuni<strong>da</strong>d e para o afetad o .<br />

Caso a partir de ag or a os princípio s de transfor m a ç ã o , de auto-<br />

95


ealizaç ã o e de con s e c u ç ã o pas s e m a ser vivido s no plano<br />

aní mic o- espiritual e se torne m visíveis no nível social, o plano<br />

corp or al é aliviado. Entretanto, muitos pacient e s fora m tão<br />

long e no pap el de cumpridor <strong>da</strong>s nor m a s que che g a m a mant er<br />

o pap el de m ártir m e s m o e m fac e <strong>da</strong> m orte. Sem o alívio do<br />

plan o aní mic o, o princípio do eg o per m a n e c e voltad o<br />

exclusiva m e n t e para o palc o do corp o. As chan c e s de aca b ar<br />

co m o cân c e r são muito m elh or e s quan d o to<strong>da</strong> a pes s o a<br />

ad mite o confronto e não envia unica m e n t e o corpo co m o seu<br />

repre s e nt a nt e na batalha. Para ac a b ar real m e nt e co m algo, é<br />

nec e s s á ri o prim eiro ad miti- lo.<br />

Após a prim eira fas e de conten ç ã o e a sub s e q ü e n t e erupç ã o<br />

do cân c er, fase que muitas vez e s dura déc a d a s , confronta o<br />

pacient e a última etap a, de caquexia, co m um terc eiro padrã o.<br />

O co m o se entreg a à dev or a ç ã o de suas en er gias pelo cân c er.<br />

No sentido mais ver<strong>da</strong>d eir o <strong>da</strong> palavra, ele se deixa dev or ar<br />

se m ofer e c e r resistên ci a. A dev o ç ã o e a entre g a ao curs o do<br />

destino são vivido s sub stitutiva m e nt e pelo corp o. Ao final, todo<br />

pacient e viven cia este tem a. con s ci e nt e m e n t e , quan d o<br />

con s e g u e trazer a tem átic a de volta ao nível espiritual, ou<br />

incon s ci e nt e m e n t e cas o o corp o seja ab and o n a d o e m sua<br />

atitude de entre g a e o pacient e continu e lutand o contra o<br />

inevitáv el. Parec e hav er aqui um a contradiç ã o , já que<br />

imputa m o s ao afetad o o fato de ele não lutar o suficiente,<br />

deixand o- se con duzir pela vontad e dos outros. Neste ponto há<br />

um enc o ntr o de dois plan o s, dos quais nos ocup ar e m o s no<br />

próxim o capitulo. Por um lado, o pacient e de fato luta muito<br />

pouc o, por outro lado ele luta e m de m a si a. Em relaç ã o a seu<br />

am bi e nt e, que o degr a d a a deter min a d a s funçõ e s , ele<br />

decidi<strong>da</strong> m e n t e luta pouc o. Para isso ele se defend e tanto m ais<br />

de suas tarefas vitais, seu ca min h o e seu destino. Ele pod eria<br />

ab and o n a r es s a resistên ci a co m to<strong>da</strong> a confianç a. Em qualqu er<br />

cas o , seu sinto m a o força a isso, pois tanto ven c e n d o o cân c er<br />

co m o sen d o ven cid o por ele, a fase de rendiç ã o oc orr er á 33 .<br />

96


6. Regressão e religião<br />

Paralela m e n t e àquilo que foi dito até ag or a, torna- se claro na<br />

regr e s s ã o um outro m otivo básic o do ado e ci m e n t o por cân c er<br />

que, igualm e nt e m er g ulh a d o nas so m b r a s , é vivido de man eira<br />

substitutiva pelo corp o. Regres s ã o é a volta ao s inícios, à<br />

orig e m . Os afetad o s perd er a m o contato co m sua orige m<br />

primária, as células do tum or têm de viver o tem a e m si<br />

m e s m a s e o faze m corpor al m e nt e à sua m an eir a letal. A<br />

pes s o a evid e nt e m e n t e precis a do relacion a m e n t o vivo co m<br />

suas raízes, a re- ligio.<br />

Mas isso não significa ap en a s o pas s o atrás m a s tam b é m<br />

uma reto m a d a . Som e nt e o pas s o atrás que se tom a um a<br />

religaç ã o torna o progr e s s o real pos sív el. Essa apar e nt e<br />

contradiç ã o é expres s a tam b é m na imag e m do cân c er. Por um<br />

lado as células dão um pas s o atrás e retroc e d e m às primitivas<br />

form a s juvenis e por outro, co m a tend ê n ci a à onipot ên ci a e à<br />

imortali<strong>da</strong>d e , progride m furios a m e n t e .<br />

Tal contradiç ã o so m e n t e pod e ser res olvi<strong>da</strong> pelo sentido<br />

primário <strong>da</strong> religião. Religio quer dizer religaç ã o co m a orige m ,<br />

co m a uni<strong>da</strong>d e. Por outro lado, esta uni<strong>da</strong>d e cha m a d a de<br />

Paraís o pela cristand a d e , é tam b é m o objetivo do ca minh o de<br />

des e n v olvi m e nt o cristão. Segund o a Bíblia, os ho m e n s prov ê m<br />

do Paraís o e um dia dev e m voltar para lá. É o ca min h o que vai<br />

<strong>da</strong> uni<strong>da</strong>d e incon s ci e nt e para a uni<strong>da</strong>d e con s ci e nt e. A expulsã o<br />

do Paraís o é co m pl et a d a pelo retorn o do filho pródig o à cas a<br />

de seu pai. Pode m o s ver quã o profun<strong>da</strong> m e n t e este padrã o<br />

arqu etípic o está enraizad o no ser hum a n o pelo fato de a<br />

religião hindu des cr e v e r o ca minh o de m an eir a bastant e<br />

análo g a: “Daqui para aqui”. O antigo sím b ol o do urob or o, a<br />

serp e nt e que m ord e a própria caud a, é a imag e m mais<br />

oportuna dest e padrã o ver<strong>da</strong>d eir a m e n t e abran g e n t e . As<br />

religiõ e s se m pr e des cr e v e m o ca minh o rum o à ilumina ç ã o , ou<br />

seja, rum o à imortali<strong>da</strong>d e , co m uma ca minhad a para a frente<br />

e m direç ã o à saí<strong>da</strong>, e o ca minh o co m o um m o vi m e n t o circular,<br />

ou seja, e m espiral. Consider a ç ã o e cui<strong>da</strong>d o são igual m e nt e<br />

97


nec e s s á ri o s e visa m o mes m o objetivo, a uni<strong>da</strong>d e.<br />

Nos pacient e s de cân c er, a recup er a ç ã o <strong>da</strong> con s ci ê n ci a <strong>da</strong><br />

orig e m co m a pergunta "De ond e venh o?", assi m co m o a<br />

persp e ctiva futura, co m a pergunta "Para ond e vou?", saíra m<br />

<strong>da</strong> con s ci ê n ci a para m er g ulh ar nas so m b r a s , pas s a n d o a ser<br />

repre s e nt a d a s corp or al m e n t e . O cui<strong>da</strong>d o e con sid er a ç ã o<br />

exa g er a d o s co m que os afetad o s se m ant ê m nos estreito s<br />

limites <strong>da</strong> vizinhan ç a e do futuro con cr et o s m o stra m co m o eles<br />

se tom ar a m míop e s para o significad o direto <strong>da</strong>s perguntas.<br />

Eles têm tanta con sid er a ç ã o para co m as outras pes s o a s , sua<br />

m or al e suas regra s de vi<strong>da</strong> e vão ao en c o ntro do am a n h ã e de<br />

tudo o que é nov o e distante co m tanto cui<strong>da</strong>d o, que não so br a<br />

esp a ç o algu m para as grand e s que st õ e s do pas s a d o e do<br />

futuro. O proc e s s o can c erí g e n o , co m sua regr e s s ã o ao abis m o<br />

e seu avan ç o des e s p e r a d o , É um esp el h o tão terrível co m o fiel<br />

<strong>da</strong> situaç ã o .<br />

O reto m o con s ci e nt e ao inicio, co m suas pos sibili<strong>da</strong>d e s<br />

ilimita<strong>da</strong> s, e a bus c a de valor e s etern o s , são ca minh o s<br />

totalm e nt e valido s. O deslo c a m e n t o para o incon s ci e nt e, ao<br />

contrário, leva à “do e n ç a co m o ca minh o". E tam b é m es s e<br />

ca min h o é se m pr e um ca min h o que, m e s m o sen d o terrível, traz<br />

e m si a pos sibili<strong>da</strong>d e de <strong>da</strong>r frutos. É algo assi m co m o um a<br />

última sacudid a para que se desp ert e para as próprias<br />

nec e s si d a d e s .<br />

É aí que se enc aixa a exp eriên ci a psicot er ap ê utic a de que<br />

freqü e nt e m e n t e os pacient e s de cân c er são profun<strong>da</strong> m e n t e<br />

"arreligio s o s ". E ain<strong>da</strong> que muitos perfis de pers o n ali<strong>da</strong> d e<br />

pareç a m contradiz er isso e enfatize m a religiosi<strong>da</strong>d e e a<br />

dev o ç ã o ao destino, trata- se na m ai oria <strong>da</strong>s vez e s <strong>da</strong>qu el a<br />

crendic e de igreja que não tem nenhu m ponto de contato co m<br />

a religio, ma s que deixa que a vi<strong>da</strong> seja ad ministrad a e<br />

regula m e n t a d a pela autori<strong>da</strong>d e ecle siá stic a. Aferrar- se a<br />

pres criç õ e s religios a s é na ver<strong>da</strong> d e o contrario <strong>da</strong> religio e<br />

deixa o cora ç ã o frio e vazio. O que parec e um a impres si o n a nt e<br />

vi<strong>da</strong> religios a para o exterior, evid e nt e m e n t e pod e ser oc o no<br />

íntimo. A falta de vi<strong>da</strong> no centro de uma ativi<strong>da</strong>d e extern a<br />

98


exa g er a d a é repres e nt a d a anato mi c a m e n t e por muitos tum or e s<br />

que têm seus centro s necr o s a d o s (= partes m ortas). De<br />

man eira se m el h a nt e, a dev o ç ã o , a entreg a ao destino<br />

des c o b e rta pelo s so ci ólo g o s <strong>da</strong> m e dicin a não dev e ser<br />

confundi<strong>da</strong> co m a postura religios a do "Seja feita a Sua<br />

vontad e!". Na m ai oria <strong>da</strong>s vez e s , trata- se de resign a ç ã o e m<br />

relaç ã o a um destino sentido co m o sup erior, ma s que não se<br />

ac eita. No m ais profund o intimo, a bas e <strong>da</strong> entreg a não é a<br />

confian ç a na criaç ã o de Deus, ma s sim o des e s p e r o e a<br />

impotênci a. Em vez de entre g ar- se à vi<strong>da</strong> e às suas<br />

pos sibili<strong>da</strong>d e s , os pacient e s poten ci ais de cân c er estã o<br />

entregu e s a seus cui<strong>da</strong>d o s e con sid er a ç õ e s a curto prazo e a<br />

um m e d o fun<strong>da</strong> m e n t al <strong>da</strong> existên cia.<br />

7. O câncer <strong>como</strong> caricatura de nossa reali<strong>da</strong>de<br />

Relatos so br e pes s o a s co m cân c er que fora m<br />

«ine s p er a d a m e n t e ceifad o s <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> pela pérfi<strong>da</strong> do e n ç a na flor<br />

<strong>da</strong> i<strong>da</strong>d e, no aug e de suas carreiras e de suas<br />

resp o n s a bili<strong>da</strong>d e s " pare c e m contradiz ê- lo dia m etral m e nt e.<br />

Quando se ob s erva m as histórias de vi<strong>da</strong> que estã o ocultas por<br />

trás diss o, tal form a de falar reflete um a ass o m b r o s a cegu eira<br />

para tem a s so m b ri o s. Um olhar mais atento revela que o<br />

ac o nt e ci m e n t o não se deu de form a assi m tão rep entina e se m<br />

prévio s sinais de alar m e . Justam e nt e a falta de qualqu er<br />

reaç ã o corpor al e qualqu er sinto m a é um sinal de "nor m o p atia".<br />

A ênfas e nas grand e s resp o n s a bili<strong>da</strong>d e s , quan d o exa min a d a<br />

co m precis ã o , revela que o afetad o cumpria co m o seus<br />

dev er e s se m se queixar. Respon s a bili<strong>da</strong>d e, ao contrário,<br />

significa a cap a cid a d e de <strong>da</strong>r um a resp o st a às nec e s s i d a d e s<br />

<strong>da</strong> vi<strong>da</strong> 34 . Mas os paci ent e s poten ciais de cân c er não pos su e m<br />

es s a cap a ci<strong>da</strong>d e . Com o eles não pod e m impor limites e m al<br />

pod e m dizer não, eles facilm e nt e se deixa m so br e c arr e g a r co m<br />

obriga ç õ e s . Por outro lado, eles as assu m e m de bo m grad o,<br />

para <strong>da</strong>r um sentido extern o a suas vi<strong>da</strong>s - na falta de um<br />

99


sentido interno. Os logro s e êxitos obtido s são portanto bons<br />

disfarc e s - por trás dos quais pulula m sentim e nt o s de falta de<br />

sentido e depr e s s õ e s .<br />

A psiquiatria con h e c e co m o depr e s s ã o larval aqu el a s<br />

depr e s s õ e s por trás <strong>da</strong>s quais se oculta m sinto m a s físico s. Por<br />

oc a si ã o do ac o nt e ci m e n t o can c erí g e n o , não é raro en c o ntrar<br />

depr e s s õ e s ocultas atrás do êxito extern o. Aqui, a larva é ti<strong>da</strong><br />

e m tão alta con sid er a ç ã o pela soci e d a d e que não se pod e ne m<br />

m e s m o pen s ar e m um sinto m a. Sob muitos ponto s de vista, a<br />

típica pers o n ali<strong>da</strong> d e can c erí g e n a é con sid er a d a m o d el ar. Ela é<br />

valent e e não agre s siv a, quieta e pacient e, atua de man eira<br />

equilibrad a e tão simp átic a porqu e não é eg oí sta, alé m diss o é<br />

desinter e s s a d a e solicita, pontual e m et ó dic a não lhe falta<br />

pratica m e n t e nen hu m dos ideais desta so ci e d a d e , e portanto<br />

não é de ad mirar que esteja intima m e n t e liga<strong>da</strong> a es s e<br />

sinto m a . O êxito so cial, ape s ar ou justa m e nt e devid o à rigidez<br />

interna, perten c e ao âm bito dos típico s ideais secun d ário s, mas<br />

se ajusta perfeita m e nt e à imag e m ideal do ho m e m m o d e r n o .<br />

Tamp o u c o se pod e neg ar que o cân c er obtê m um êxito<br />

impres si o n a nt e no plan o sup erficial. Pratica m e n t e nen hu m a<br />

outra do e n ç a pod e subjug ar um org anis m o e ajustá- lo a seu<br />

próprios desí g ni o s tão rapi<strong>da</strong> m e n t e , nenhu m a é tão tenaz e<br />

resistent e às medi<strong>da</strong>s defen siva s e terap êutic a s.<br />

Não é de ad mirar que tenha m o s tanto m e d o do cân c er, já<br />

que nen hu m outro sinto m a está mais equipad o para nos<br />

m o strar o esp el h o . O cân c er pers o nifica a transfor m a ç ã o dos<br />

digno s ideais secun d ário s no pólo opo st o, o principio do eg o<br />

total. A caricatura física des s e ideal costu m a ser levad a a m al,<br />

co m o to<strong>da</strong> caricatura. Mas se m pr e que tal oc orr e co m o um a<br />

caricatura des s e destino, isso não ac o nt e c e porqu e ela é falsa,<br />

ao contrário: ela se ajusta a ele e até m e s m o o sup er a.<br />

1 0<br />

0


8. Câncer e defesa<br />

Dos diagn ó stic o s e sinto m a s m e n ci o n a d o s , o cân c er<br />

repre s e nt a um proc e s s o de cres ci m e n t o e regr e s s ã o<br />

m er gulha d o no corp o. A este s dois so m a- se ain<strong>da</strong> um terc eiro<br />

co m p o n e n t e , a defe s a. A situaç ã o básic a do cân c er pod e criarse<br />

ao long o dos ano s se m che g ar à form a ç ã o de um tum or. A<br />

m e di cin a, e principal m e nt e a m e di cin a natural, con h e c e m es s a<br />

situaç ã o a cha m a m de pré- can c er o s a . Os pres s up o st o s<br />

aní mic o s des critos pod e m estar pres e nt e s há muito temp o,<br />

assi m co m o os pres s up o st o s físico s so b a form a dos estad o s<br />

carcin o g ê ni c o s e de estimulaç ã o corresp o n d e n t e s , e ain<strong>da</strong><br />

assi m o cân c er pod e ser disparad o so m e n t e apó s a oc orr ên ci a<br />

de deter min a d o s estí mulo s. Até entã o, é co m o se ele estive s s e<br />

pres o e subjug a d o por um siste m a imun ol ó gic o do min a d o r.<br />

Som e nt e o colap s o <strong>da</strong>s defe s a s do corp o lhe dá um a chan c e<br />

de form ar um tum or primário. O colap s o do siste m a de defe s a<br />

é detectad o por muitos paci ent e s , sen d o caract erizad o<br />

retrosp e ctiva m e n t e co m o uma ép o c a de estad o s de tens ã o e<br />

de angústia.<br />

A estreita relaç ã o entre o cân c er e o siste m a imun ol ó gic o é<br />

m o strad a ain<strong>da</strong> pelo fato de o cân c er utilizar o siste m a de<br />

defe s a que na ver<strong>da</strong>d e dev eria co m b a t ê- lo para esp alh ar- se.<br />

Ele é atac a d o e expuls o dos gân glio s linfático s pelo s linfócitos<br />

e utiliza os can ais linfático s para se guir adiante. Os gân glio s<br />

linfático s são lugar e s favoritos para o ataqu e. Ocupan d o as<br />

cas ern a s do equipa m e n t o militar do corpo e avan ç a n d o por<br />

suas estrad a s , o cân c er de m o n s tr a co m o seu ataqu e é<br />

corajo s o e que está dispo st o a ous ar tudo e m um confronto<br />

total. Por outro lado, lá m o stra- se tam b é m a fraqu ez a <strong>da</strong><br />

defe s a. Ela está literalm e nt e de mã o s ata<strong>da</strong> s. O cân c er<br />

con s e g u e ficar e m tal situaç ã o graç a s a um a ca m uflag e m<br />

perfeita. Assim co m o está e m posiç ã o de des ativar os “gen e s<br />

alterad o s" de suas células, o cân c er con s e g u e tam b é m deixar<br />

se m en er gia o siste m a que per mite rec o n h e c e r as células<br />

1 0<br />

1


des d e o exterior. Por trás des s a ca m uflag e m , as células<br />

can c erí g e n a s pod e m m et e m - se direta m e n t e na cova do leão,<br />

no centro de defe s a, se m ser e m rec o n h e c i d a s e, so br etud o ,<br />

impun e m e n t e . E nest e ponto que existe a chan c e de um a<br />

terapia m é dic o- bioló gic a no nível funcion al. Quando se<br />

con s e g u e des ar m a r as células can c erí g e n a s<br />

imun ol o gic a m e n t e , elas pas s a m a correr grand e perig o.<br />

A questã o do que, e m um nível m ais profund o, leva ao nãofuncion<br />

a m e n t o do siste m a de defe s a e à corre s p o n d e n t e<br />

situaç ã o de humilha ç ã o , pod e ser resp o n di<strong>da</strong> de man eira geral<br />

e não se limita ao proc e s s o can c erí g e n o . O fenô m e n o apar e c e<br />

e m cad a resfriad o: assi m que um a pes s o a está até o nariz e se<br />

fecha animic a m e n t e , o corp o, substitutiva m e n t e, abr e- se ao s<br />

ag e nt e s irritantes corre s p o n d e n t e s e o nariz con cr et o se fech a.<br />

Expres s o m e dic a m e n t e , uma fraqu ez a <strong>da</strong>s defe s a s deixa o<br />

afetad o sus c etív el. Quando a con s ci ê n ci a se fecha para os<br />

tem a s irritantes, o corpo precis a se abrir sub stitutiva m e n t e para<br />

os irritantes corresp o n d e n t e s . A defe s a imun ol ó gic a tom a- se<br />

entã o cad a vez m ais fraca na m e di<strong>da</strong> e m que a defe s a no nível<br />

<strong>da</strong> con s ci ê n ci a é exag er a d a .<br />

Fun<strong>da</strong> m e n t al m e n t e , o ser hum a n o está equipad o co m um a<br />

defe s a saud á v el e m am b o s os níveis. Evidente m e n t e , frente a<br />

um mund o estran h o ch ei o de perig o s, é importante proteg er as<br />

fronteiras do corp o co m a aju<strong>da</strong> de um siste m a imun oló gi c o<br />

vital. Nós precis a m o s igual m e nt e de um a certa defe s a aní mic a,<br />

para não ser m o s inun<strong>da</strong>d o s por impres s õ e s de m a si a d o fortes<br />

que nos fariam cair na psico s e . O objetivo, e m am b o s os<br />

níveis, é o ponto m é di o entre a ab ertura total e o fech a m e n t o 35<br />

ab s oluto. Caso se vá long e de m ai s e m um dos níveis, o outro é<br />

des e q uilibrad o na direç ã o contrária. Quem se fecha de m ai s na<br />

con s ci ê n ci a, sen d o portanto de m a s i a d o ave s s o ao s conflitos,<br />

força a ab ertura para as so m b r a s , e ela entã o e m er g e no corp o<br />

so b a form a de sus c etibili<strong>da</strong>d e ao s ag e nt e s patoló gic o s .<br />

O estad o ideal caract eriza- se por um a am pla ab ertura<br />

aní mic a ass e nt a d a so br e uma bas e de força. Pode- se deixar<br />

entrar tudo o que se imagin e se m precis ar tem er pela própria<br />

1 0<br />

2


saúd e aní mic a. Isso é pos sív el so br e a bas e de uma defe s a<br />

poten ci al m e n t e forte, que alé m diss o não entra e m açã o<br />

pratica m e n t e nunc a. Caso isso seja nec e s s á ri o, seu<br />

proprietário pod e confiar e m seu pod er de pen etraç ã o .<br />

Justam e nt e porqu e pod e dizer não de man eira decidi<strong>da</strong> e<br />

assi m proteg er seu esp a ç o vital, ele rara m e n t e a nec e s s ita. A<br />

defe s a que lhe corresp o n d e , graç a s a seu bo m treina m e n t o ,<br />

elimina qualqu er ag e nt e patoló gic o e está à altura de qualqu er<br />

exig ê n ci a. Exata m e nt e por não ser poup ad a, confrontan d o- se<br />

co m muitos des afio s e m um a vi<strong>da</strong> corajo s a, ela está se m pr e<br />

pronta para a luta e segur a <strong>da</strong> vitória. A principal razão de ela<br />

não correr o ris o de sucu m bir ao s ag e nt e s patoló gic o s dev e- se<br />

a que ela não é enfraqu e ci d a pelo plano aní mic o. Quem se<br />

deixa atac ar na con s ci ê n ci a e se defen d e lá m e s m o , não<br />

precis a e m p urrar o tem a para o corp o.<br />

O fecha m e n t o exag er a d o na con s ci ê n ci a e a con s e q ü e n t e<br />

ab ertura grand e de m ai s no corp o é muito m ais freqü e nt e e m<br />

um mun d o que obté m a maior parte de sua cultura e de sua<br />

civili<strong>da</strong>d e evitand o os conflitos. Quando o não- pod er- dizer- não<br />

que evita os conflitos m er gulha no corp o, volta a tornar- se<br />

visível so b a form a de incap a ci<strong>da</strong>d e de limitar- se. A exp eriên ci a<br />

de vi<strong>da</strong> cotidian a confirm a este principio. Uma pes s o a que<br />

enfrenta a vi<strong>da</strong> ab erta m e n t e (vital) dispõ e de um a defe s a<br />

corp or al saud á v el, sen d o portanto m e n o s prop e n s a a<br />

infecç õ e s . Uma pes s o a estreita, m e dr o s a , "peg ar á" mais<br />

ag e nt e s patoló gic o s e cultivará os resfriad o s corresp o n d e n t e s<br />

mais freqü e nt e m e n t e devido a seu m al equipa m e n t o de defe s a.<br />

Ao contrário, um a pes s o a entusias m a d a , que se inflam a co m<br />

um tem a, pratica m e n t e não pod e se resfriar, não e m um a<br />

situaç ã o tão ab erta. Todo s tivera m a exp eriên ci a de um a coriza<br />

fulminant e que des a p ar e c e por si m e s m a apó s a pes s o a<br />

pas s ar duas horas assistind o co m entusias m o um filme de<br />

susp e n s e . Som e nt e ao final do filme, quan d o se lem br a que o<br />

nariz estav a es c o rr e n d o , é que o nariz volta a se en c h er.<br />

É nec e s s á ri o que o bloqu ei o e o fech a m e n t o seja m muito<br />

profund o s para que o colap s o <strong>da</strong> defe s a seja tão co m pl et o a<br />

1 0<br />

3


ponto de per mitir o surgi m e nt o de um tum or. Tais con st el a ç õ e s<br />

aflora m quan d o um a pes s o a não se abr e mais para um<br />

asp e ct o es s e n ci al de sua vi<strong>da</strong>. Caso es s e contato já esteja por<br />

um fio e este se romp a brusc a m e n t e , é co m o se o fio <strong>da</strong> vi<strong>da</strong><br />

se romp e s s e . Caso um a pes s o a depr e s siva que pratica m e n t e<br />

não se co m u ni c a m ais co m o m ei o circund a nt e perc a a única<br />

pes s o a co m que m se relacion a, isso pod e real m e nt e<br />

ac o nt e c e r. Com o não participa mais do fluxo <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> se m es s a<br />

pes s o a , ela pod e se recus ar a ac eitar um a per<strong>da</strong> tão<br />

des pr o p o sitad a. Sua defe s a aní mic a au m e nt a na m e s m a<br />

m e di<strong>da</strong> e m que ela fecha sua con s ci ê n ci a para a per<strong>da</strong> e a<br />

defe s a corp oral entra e m colap s o . Assim, o siste m a<br />

imun ol ó gic o pas s a a ser um anún ci o de ab ertura e vitali<strong>da</strong>d e.<br />

Em pacient e s que sofre m algu m tipo de depr e s s ã o , tudo o<br />

que torna real es s a situaç ã o tão volátil pod e levar a um<br />

enfraqu e ci m e n t o decisivo do siste m a imun oló gi c o . A de mi s s ã o<br />

de um e m pr e g o que tinha se transfor m a d o no próprio conteúd o<br />

<strong>da</strong> vi<strong>da</strong> pod e bastar, ou um a dec e p ç ã o definitiva co m um sócio<br />

apó s ano s de eng a n o . Partindo de seu padrã o interno, o típico<br />

pacient e de cân c er costu m a se env olv er e m tais situaç õ e s . Sei<br />

ser a<strong>da</strong>ptad o e, alé m diss o, oprimid o, volta um a e outra vez a<br />

se colo c ar so b pres s ã o para arrisc ar um a nova tentativa de<br />

revivificaç ã o . Ca<strong>da</strong> um a des s a s tentativa pod e tom ar real a<br />

sen s a ç ã o de ab surd o m anti<strong>da</strong> so b controle a tão duras pen a s ,<br />

e um novo fecha m e n t o rep entin o pod e des e n c a d e a r a erupç ã o<br />

<strong>da</strong> do e n ç a . Os paci ent e s de cân c er que têm êxito tam b é m<br />

en c o ntra m inúm er a s pos sibili<strong>da</strong>d e s para fech ar- se à en er gi a <strong>da</strong><br />

vi<strong>da</strong>. Qualquer cois a que colo q u e e m que st ã o a m á s c ar a de<br />

sua depr e s s ã o , o suc e s s o , está apta para isso.<br />

9. O câncer no plano social<br />

A célula can c erí g e n a quer tom ar todo o mun d o (corpo) de<br />

ass alto e fazer tudo à sua m an eir a. É por es s a razã o que ela<br />

pen etra e m to<strong>da</strong> parte, envian d o seus agre s siv o s<br />

1 0<br />

4


"mission ários" até os rec anto s m ais afastad o s do país (corpo).<br />

A m e di cin a as cha m a de filiae (latim: filhas) ou m etá st a s e s .<br />

Esta última palavra é greg a e quer dizer transfor m a ç ã o ,<br />

transplant e ou migraç ã o . A preten s ã o de pod er "m et er- se” até<br />

m e s m o nas partes mais afastad a s do corp o está feita so b<br />

m e di<strong>da</strong> para a célula e m bri o n ária, que e m sua indiferen cia ç ã o<br />

ain<strong>da</strong> traz e m si to<strong>da</strong> s as pos sibili<strong>da</strong>d e s . No entanto,<br />

des e n v olvi m e nt o significa, entre outras cois a s, limitaç ã o e<br />

esp e ci alizaç ã o . A célula can c erí g e n a sup er o u ou perd e u de<br />

vista a am b a s .<br />

A co m p ar a ç ã o do co m p o rta m e n t o adulto e infantil revela a<br />

imaturi<strong>da</strong>d e de tal postura. A crianç a ain<strong>da</strong> tem o direito de verse<br />

e m to<strong>da</strong> s as profiss õ e s e to<strong>da</strong>s as form a s de vi<strong>da</strong> e de<br />

acr editar que seu papai, sen d o um au m e nt o de seu próprio eu,<br />

pod e tudo. Ela pod e son h ar que viaja por todo o mun d o se m<br />

precis ar preo c up ar- se co m que st õ e s con cr eta s tais co m o a<br />

obte n ç ã o dos m ei o s nec e s s á ri o s. Sua reivindic a ç ã o de brincar<br />

e m todo s os brinqu e d o s do playground e, alé m diss o, participar<br />

de todo s os jogo s pod e irritar os pais, ma s não che g a a ser um<br />

probl e m a nes s a fas e. Um adulto que fizess e es s a s exig ê n ci a s,<br />

ao contrário, che g aria rapi<strong>da</strong> m e n t e a um impa s s e co m o m ei o<br />

circund a nt e, deixan d o ap en a s duas alternativas: ou ele ou o<br />

m ei o circund a nt e. Ele é conv e n ci d o ou obriga d o pelo m ei o a<br />

a<strong>da</strong>ptar- se a suas exig ê n ci a s , o que o força a um a esp é ci e de<br />

am a d ur e ci m e n t o prec o c e , que corresp o n d e à tentativa de<br />

ress o ci alizaç ã o no cumpri m e nt o <strong>da</strong>s pen a s, ou entã o ele é<br />

confinad o definitiva m e n t e .<br />

A segun d a pos sibili<strong>da</strong>d e, a de que es s a pes s o a preval e ç a<br />

so br e seu m ei o e imponha sua vontad e, é m ais rara. No plan o<br />

aní mic o- espiritual, as tentativas corresp o n d e n t e s são<br />

con sid er a d a s m e g al o m a n i a, quas e se m pr e subjug a d a s e<br />

confinad a s "co m êxito" e m um a instituiçã o psiquiátrica. E<br />

relativa m e n t e raro que um "louc o" con sig a real m e nt e tom ar o<br />

pod er. No âm bito político, as tentativas corre s p o n d e n t e s são<br />

co m b a ti<strong>da</strong> s co m o terroris m o e quas e se m pr e sub m e tid a s por<br />

m ei o <strong>da</strong> violên ci a, e só muito rara m e nt e atrav é s do pod er de<br />

1 0<br />

5


persua s ã o . Os terroristas cha m a m a si m e s m o s de<br />

revolucion ário s, às vez e s tam b é m falam de célula s<br />

revolucion ária s, ma s para o estad o afetad o são con sid er a d o s<br />

crimin o s o s que não dev e m esp er ar ne m de m ê n c i a ne m<br />

con sid er a ç ã o . Caso ven ç a m , seu pod er será resp eitad o, pois<br />

eles serã o os nov o s sen h o r e s do pais.<br />

No âm bito ec o n ô m i c o , os repres e nt a nt e s <strong>da</strong> atitude<br />

corre s p o n d e n t e são aplaudid o s des d e o inicio, já que o cân c er<br />

evid e n ci a a atitude que faz o êxito e m pr e s arial. O<br />

e m pr e e n d e d o r típico <strong>da</strong> prim eira fase do capitalis m o ultrapas s a<br />

as fronteiras esta b el e ci d a s e atac a a con c orr ê n ci a se m<br />

co m p aixã o , expulsand o - a <strong>da</strong> áre a, já que co m o pod er de seus<br />

cotov el o s pres si o n a- a contra a pared e e a tira do neg ó ci o, mina<br />

o seu terren o ou pelo m e n o s se infiltra e m seus m er c a d o s . Em<br />

lugar de m etá st a s e s , sucurs ais, filiae torna m - se aqui filiais,<br />

e m pr e s a s afilia<strong>da</strong>s são fun<strong>da</strong>d a s . No principio a matriz, co m o o<br />

tum or corresp o n d e n t e , cres c e para alé m de si m e s m a , entã o<br />

ela se infiltra na vizinhan ç a para finalm e nt e tornar- se ativa por<br />

todo o pais e, ideal m e n t e , no mun d o todo. Estar pres e nt e e m<br />

to<strong>da</strong> parte e ter tudo so b control e. Este é o cred o do<br />

capitalis m o e o co m p o rta m e n t o tradicion al <strong>da</strong>s grand e s<br />

e m pr e s a s . Evidente m e n t e , proc e d e - se de man eira agr e s siva e<br />

des c o n si d er a d a .<br />

As m etá st a s e s do cân c er e as sucurs ais <strong>da</strong>s e m pr e s a s têm<br />

objetivo s análo g o s . Elas se esforç a m para colo c ar o m áxi m o<br />

pos sív el de seu próprio progra m a se m <strong>da</strong>r a m e n o r chan c e às<br />

forças locais. O m o d el o ideal do cân c er tom a- se explícito no<br />

mapa- múndi e m um es critório e m pr e s a rial. Um gros s o círculo<br />

ver m el h o no m ei o assin ala a localizaç ã o <strong>da</strong> e m pr e s a m atriz,<br />

que se infiltra nas regiõ e s circund a nt e s co m pequ e n a s filiais<br />

marc a d a s tam b é m e m ver m el h o , poré m m e n o r e s . Estas<br />

m etá st a s e s diminu e m e m núm er o à m e di<strong>da</strong> e m que nos<br />

aproxi m a m o s <strong>da</strong> periferia. Alguns país e s ain<strong>da</strong> estã o livres,<br />

en qu a nt o e m outros há grand e s colônia s que por sua vez<br />

diss e m i n a m filiais a seu redor. Os m ap a s assinalad o s des s a<br />

man eira são ass o m b r o s a m e n t e se m el h a nt e s às imag e n s de<br />

1 0<br />

6


corp o s tom a d o s pelo cân c er obti<strong>da</strong>s por proc e di m e n t o s de<br />

diagn ó stic o tais co m o a cintilografia.<br />

Há um outro paralelo ao ac o nt e ci m e n t o can c erí g e n o , m e n o s<br />

carre g a d o de e m o ç ã o porqu e já sup er a d o pela história, que é o<br />

do colonialis m o . A form a ç ã o de colônias fora do próprio pais,<br />

con sid er a d a do ponto de vista de cad a imp ério, era um a<br />

estraté gi a can c erí g e n a . Na m e di<strong>da</strong> do pos sív el, quer er- se- ia<br />

colo c ar o mund o inteiro so b a própria influência e eles. de<br />

form a algu m a sentia m- se con stran gid o s e m invadir<br />

violenta m e n t e as fronteiras e atac ar brutal m e nt e culturas e m<br />

sua maioria intactas, so m e n t e que m e n o s agre s siv a s . As<br />

condiç õ e s de vi<strong>da</strong> não era m ne m resp eita<strong>da</strong> s ne m poup ad a s , e<br />

as pes s o a s que se en c o ntrav a era m declara d a s min orias e<br />

es cr a vizad a s . Ca<strong>da</strong> império estav a de tal man eira conv e n cid o<br />

<strong>da</strong> própria m e g al o m a n i a a ponto de quer er lançar e m todo o<br />

mund o grand e s ou pequ e n a s ediç õ e s <strong>da</strong> Inglaterra, <strong>da</strong><br />

Espanh a, de Portugal, <strong>da</strong> Franç a ou <strong>da</strong> Alemanha. Som e nt e os<br />

outros imp ério s, igualm e nt e can c er o m o rf o s , colo c a v a m limites<br />

a seu cres ci m e n t o invasivo. Tal co m o seu pen d a nt anatô mi c o ,<br />

os rem o s coloniais freqü e nt e m e n t e tinha m probl e m a s de<br />

ab a st e ci m e n t o , ma s tratava- se so br etud o de expan s ã o , e muito<br />

m e n o s <strong>da</strong> falta de infra- estrutura nec e s s á ria para tal. Assim<br />

co m o nos tum or e s , pod e- se en c o ntrar nos resto s, diga m o s , do<br />

imp ério colonial portugu ê s , um a notáv el carên ci a de infraestrutura.<br />

Com es s a esp é ci e de cres ci m e n t o indiferen ci a d o ,<br />

muito veio abaixo tanto nas colônia s m eta st átic a s co m o na<br />

matriz <strong>da</strong>s num er o s a s filhas m alvad a s . Em um deter min a d o<br />

m o m e n t o , tum or e s matrize s minús c ulo s tais co m o Portugal ou<br />

a Inglaterra tinha m pend e nt e s de si imp ério s gigant e s c o s , que<br />

continuav a m a se expan dir e a con s u mir en er gia. A Inglaterra<br />

aproxi m o u- se esp e ci al m e n t e <strong>da</strong> imag e m do cân c er co m suas<br />

colônias totalm e nt e e m a n cip a d a s do “tum or m atriz" (EUA,<br />

Canad á, Austrália, Rodésia ou África do Sul). A história <strong>da</strong><br />

ép o c a colonial deixa claro que, no que se refer e ao s tum or e s<br />

nacio n ai s, tratava- se muito m ais de expans ã o e ostentaç ã o de<br />

pod er que de co m é r ci o e interc a m b i o . De m an eir a se m el h a nt e<br />

1 0<br />

7


a cab e ç a s hidro c ef álica s, ad ministraç õ e s coloniais infla<strong>da</strong> s<br />

parasitava m país e s ec o n o m i c a m e n t e indigent e s cuja estrutura<br />

própria tinha sido saqu e a d a , apoian d o - se nas costa s de<br />

"primitivo s" es cr a vizad o s cujo caráter certa m e n t e jam ais atingiu<br />

o grau de primitivis m o <strong>da</strong>qu el e s que os colonizav a m . As<br />

células can c erí g e n a s , co m seus núcle o s sup erdi m e n si o n a d o s<br />

exib e m , e m relaç ã o a seu entorn o, um exc e s s o de primitivis m o<br />

se m el h a nt e.<br />

O padrã o do cân c er não confirm a o de nos s o mund o ap en a s<br />

e m grand e s traço s, pod e n d o ser seguid o e m detalh e para<br />

aqu el e s que têm olho s para vê- lo. O cres ci m e n t o <strong>da</strong>s grand e s<br />

ci<strong>da</strong>d e s m o d er n a s ofer e c e um a imag e m explícita de ânsia de<br />

expan s ã o de tipo can c er o m o rf o. As fotos bra<strong>da</strong> s por satélites<br />

m o stra m co m o elas dev or a m e ulcera m a paisa g e m<br />

circund a nt e. Tal co m o um tum or can c er o s o , elas confia m no<br />

cres ci m e n t o des al ojad o r e infiltrante, en qu a nt o ao m e s m o<br />

temp o e mis s ário s isolad o s são enviad o s so b a form a de<br />

ci<strong>da</strong>d e s - satélites, ci<strong>da</strong>d e s - dor mitório, zona s industriais e outras<br />

ativi<strong>da</strong>d e s meta stática s.<br />

Quando se con sid er a a Terra co m o um todo, a m an eira<br />

co m o por to<strong>da</strong> parte ela é can c erig e n a m e n t e dev or a d a ,<br />

saqu e a d a impied o s a m e n t e e priva<strong>da</strong> de sua cap a ci<strong>da</strong>d e de<br />

reaç ã o , a imag e m corresp o n d e àqu el a de um corp o que<br />

sucu m biu ao cân c er. Quanto à avaliaç ã o do está gi o e m que ela<br />

se en c o ntra, se ain<strong>da</strong> pod e lutar para defen d e r- se ou se já está<br />

e m estad o termin al, os ec o n o m i st a s , biólo g o s , teólo g o s e<br />

outros “istas" e "ólog o s" não ch e g ar a m a um ac ord o. O<br />

corre s p o n d e n t e estad o de resign a ç ã o do corp o frente à en er gi a<br />

vital juvenil do cân c er cha m a - se caqu exia. Ele se entreg a à<br />

con s u m a ç ã o , de m o n s tr and o e m sua atitude de entre g a que<br />

está ab erto para pas s ar ao outro mun d o . Com o a nos s a Terra<br />

continua tentand o reg e n e r ar- se e se defen d e en er gic a m e n t e do<br />

pululante gên er o hum a n o , ain<strong>da</strong> há esp er a n ç a para ela.<br />

Mas não so m e n t e os princípios de nos s a m an eira de pens ar<br />

no que se refer e à Terra ass e m e l h a m - se àqu el e s <strong>da</strong> célula<br />

can c erí g e n a , nós co m p artilha m o s tam b é m um laps o decisivo,<br />

1 0<br />

8


ou seja, não m e di m o s as con s e q ü ê n c i a s de noss o<br />

co m p o rta m e n t o : a m orte de todo o organis m o implica<br />

inevitav el m e n t e na m orte de to<strong>da</strong> s as suas células, inclusive as<br />

células do cân c er. Som e nt e o co m e ç o de todo o<br />

e m pr e e n di m e n t o é pro mis s o r para as células do cân c er. Elas<br />

con s e g u e m liberar- se de seu am bi e nt e e aproxim ar- se do ideal<br />

de autarquia, onipot ên ci a e onipre s e n ç a . Tal co m o um<br />

org anis m o unicelular, que dep e n d e unica m e n t e de si m e s m o ,<br />

con c e ntrand o to<strong>da</strong> s as funçõ e s e m um único corpo, elas se<br />

transfor m a m e m um guerr eiro solitário pratica m e n t e<br />

indep e n d e n t e e m m ei o à co m u ni<strong>da</strong>d e celular. Elas troca m suas<br />

habili<strong>da</strong>d e s altam e nt e esp e ci alizad a s pela imortali<strong>da</strong>d e<br />

poten ci al, tal co m o pos sui o org anis m o unic elular. Os<br />

org anis m o s unicelular e s e as células can c erí g e n a s<br />

per m a n e c e m vivos en quant o há alim e nt o suficiente. To<strong>da</strong> s as<br />

outras células organizad a s estã o liga<strong>da</strong> s a um a exp e ct ativa de<br />

vi<strong>da</strong> natural, esta b el e ci d a e m seu mat erial gen étic o. As células<br />

do cân c er des ativara m es s a limitaç ã o e não m o stra m nenhu m a<br />

tend ê n ci a ao env elh e ci m e n t o , co m o o de m o n s tr a um<br />

exp eri m e nt o ma c a b r o . As células de um tum or cujo proprietário<br />

m orr eu nos ano s 20, justa m e n t e devid o a es s e tum or, vive m e<br />

se divide m até hoje e m um a soluç ã o nutriente se m m o strar<br />

qualqu er sinal de env elh e ci m e n t o ou can s a ç o . O fato de as<br />

células can c erí g e n a s nor m al m e n t e m orr er e m log o apôs a<br />

m orte de seu hosp e d e ir o dev e- se ao es g ota m e n t o do<br />

suprim e nt o de alim e nt o e en er gi a. Enquanto o organis m o<br />

unicelular real m e nt e perdura indep e n d e n t e e imortal e m seu<br />

mund o aquátic o de sup er a b u n d â n ci a, a célula can c erí g e n a não<br />

perc e b e que é ap en a s poten ci al m e n t e imortal e já não pod e<br />

tornar- se indep e n d e n t e . Exatam e nt e co m o o ser hum a n o no<br />

mund o, seu destino estará se m pr e ligad o ao corp o e m que<br />

vive.<br />

A caricatura de noss o s ideais repres e nt a d a pelo cân c er<br />

deixa claro que nos s o plan eta já atingiu a fase de erupç ã o <strong>da</strong><br />

do e n ç a . Mais dec e p ci o n a nt e ain<strong>da</strong>, no entanto, é o incô m o d o<br />

con h e ci m e n t o de que nós m e s m o s so m o s o cân c er <strong>da</strong> Terra.<br />

1 0<br />

9


Do m e s m o m o d o , o cres ci m e n t o de noss a ciên cia é tão<br />

de m e n t e co m o o do cân c er. Os índic e s de cres ci m e n t o são<br />

en or m e s , ma s o e m pr e e n di m e n t o não tem nenhu m objetivo<br />

que pos s a ser alcan ç a d o . O objetivo do progr e s s o é m ais<br />

progr e s s o e assi m, por principio, ca min h a rum o ao futuro e<br />

para fora de nos s o alcan c e . O cân c er tam b é m tem um objetivo<br />

pouc o realista. Este se enc o ntra e m sua so m b r a e é a ruína do<br />

org anis m o . Se fôss e m o s mais hon e st o s , tería m o s de ad mitir<br />

que o objetivo final de nos s o progr e s s o é igual m e nt e a ruína do<br />

org anis m o Terra. Bastaria que os piedo s o s des ej o s dos<br />

político s se tom a s s e m reali<strong>da</strong>d e e os pais e s e m<br />

des e n v olvi m e nt o saís s e m do atras o tecn ol ó gic o e m que se<br />

en c o ntra m para que a já am e a ç a d a ec ol o gi a dest e plan eta<br />

rec e b e s s e um golp e m ortal. Em todo cas o, pod e- se ficar<br />

tranqüilo e m relaç ã o a isso, já que es s e s des ej o s não são<br />

levad o s co m muita seried a d e . Entretanto, aqu el e s des ej o s que<br />

insiste m e m um progr e s s o linear para nos s a parte do mund o o<br />

são totalm e nt e, e eles têm algo de deg e n e r a d o , já que colo c a m<br />

a esp é ci e e m risco. Sem a con s ci ê n ci a de noss a orig e m na<br />

naturez a e se m ter um objetivo no âm bito espiritual, corre m o s o<br />

perig o de nos tornar m o s um cân c er que não pod e m ais ser<br />

controlad o. Nós já pre e n c h e m o s todo s os pré- requisitos<br />

nec e s s á ri o s para tal.<br />

Quando es s a do e n ç a malign a m o stra sua face terrível, nos<br />

assusta m o s porqu e rec o n h e c e m o s a nós m e s m o s . Não<br />

quer e m o s ver- nos de man eira tão hon e st a, recus a m o s um<br />

esp elh o tão nítido. A hum a ni<strong>da</strong>d e tem isso e m co m u m co m<br />

todo s os pacient e s .<br />

1 1<br />

0


10. Solução (redenção) do problema do câncer<br />

Com bas e e m noss a perplexi<strong>da</strong>d e por um lado, e noss a<br />

valora ç ã o por outro, é difícil ver ain<strong>da</strong> um a (dis)soluç ã o na<br />

repre s e nt a ç ã o do cân c er. Com o co m u nid a d e , tem o s muito<br />

m e d o <strong>da</strong>s nos s a s próprias forças e <strong>da</strong>s en er gi a s que estã o<br />

ador m e c i d a s e m nós. Amparad o s por inúm er o s álibis sociais,<br />

nós as e m p urra m o s para a so m b r a. Emb or a a so ci e d a d e tenha<br />

estilizad o a livre manife staç ã o do individuo e a livre e m pr e s a<br />

co m o sen d o o objetivo m áxi m o a ser atingido, a maioria de<br />

seus m e m b r o s individuais é ator m e nt a d a por m e d o s e<br />

angústias con sid er á v ei s no que a isso se refer e. Os índic e s de<br />

cres ci m e n t o aní mic o- espiritual continua m sen d o muito m ais<br />

baixo s que os índic e s de cres ci m e n t o científico. A long o prazo,<br />

noss o grandio s o produto nacion al bruto não pod e co m p e n s a r a<br />

falta de cres ci m e n t o interior. Com o apoio <strong>da</strong> soci e d a d e , ma s<br />

por iniciativa própria, muitas pes s o a s con s e g u e m bloqu e ar a<br />

manife staç ã o de seu eu, en c aixand o - se e m estruturas<br />

pred et er min a d a s co m facili<strong>da</strong>d e ou, muitas vez e s tam b é m à<br />

força. Gratificaç õ e s ex- ternas aliviam a renún cia ao<br />

des e n v olvi m e nt o <strong>da</strong> individuali<strong>da</strong>d e e pro m o v e m a<br />

ma s sifica ç ã o <strong>da</strong> pes s o a . Apenas um pequ e n o pas s o sep ar a o<br />

indivíduo ma s sificad o do "nor m o p at a".<br />

Com o a auto- realizaç ã o é parte do ca minh o de<br />

des e n v olvi m e nt o do ser hum a n o , ela não pod e ser eliminad a<br />

do mund o , pod e n d o no máxi m o ser posta de lado. Quando<br />

e m p urrad a para o lado, ela aterriss a na so m b r a. Esta tem duas<br />

pos sibili<strong>da</strong>d e s de expr e s s ã o no mund o mat erial: o mun d o<br />

corp or al interior (micro c o s m o s ) e o mun d o (meio am bi e nt e)<br />

exterior (macr o c o s m o s ). Cons e q ü e n t e m e n t e , o ca minh o dos<br />

proc e s s o s de cres ci m e n t o reprimido s vai <strong>da</strong> con s ci ê n ci a para o<br />

mund o de so m b r a s do incon s ci e nt e, e <strong>da</strong>li para o plano<br />

corp or al ou para o mun d o exterior. Com o o princípio é<br />

con s erv a d o a cad a pas s o e precis a a<strong>da</strong>ptar suas<br />

pos sibili<strong>da</strong>d e s de expr e s s ã o ao plan o e m que se manifesta, ele<br />

1 1<br />

1


pod e ser enc o ntrad o por to<strong>da</strong> parte, seja e m sua m anife staç ã o<br />

redimi<strong>da</strong> ou e m sua form a não- redi mi<strong>da</strong>. Quanto m ais ele é<br />

reprimido, men o s redi mid o ele se apres e nt a, mas mes m o so b a<br />

form a m e n o s redi mi<strong>da</strong> dev e ser pos sív el vislum br ar ain<strong>da</strong> o<br />

plan o redimid o.<br />

Nós e m geral con sid er a m o s o plano mat erial co m o nãoredimid<br />

o, e o plano aní mic o- espiritual co m o redimid o. No<br />

ac o nt e ci m e n t o do cân c er, nós con sid er a m o s malign o aquilo<br />

que e m sentido figurad o nos parec e totalm e nt e des ej á v el: o<br />

princípio de expan s ã o . O cân c er ultrapas s a to<strong>da</strong> s as fronteiras<br />

e ob stá c ul o s, estend e - se por tudo, pen etra e m tudo, participa<br />

de tudo, une- se a tudo, até a estruturas alheias, não se deté m<br />

diante de na<strong>da</strong>, não pod e ser detido por pratica m e n t e na<strong>da</strong>, é<br />

quas e imortal e não tem e ne m m e s m o a m orte. O cân c er é a<br />

expan s ã o que m er g ulh o u nas so m b r a s (do corpo).<br />

Cons e q ü e nt e m e n t e , trata- se de expandir a con s ci ê n ci a, de<br />

des c o b rir a infinitude e a imortali<strong>da</strong>d e <strong>da</strong> alm a. Não<br />

dev ería m o s nos ad mirar que o principio m ais elev a d o apar e ç a<br />

por inter m é di o do mais m align o de todo s os sinto m a s . A<br />

so m b r a m ais es cur a se m pr e e mite a luz m ais brilhante. Com a<br />

auto- realizaç ã o , no cân c er, o que m er g ulh o u nas so m b r a s é o<br />

tem a que procura atingir o objetivo final de todo<br />

des e n v olvi m e nt o: o"si mes m o ”.<br />

Emb or a o m ei o seja o objetivo final, no início do ca min h o é<br />

nec e s s á ri o confiar e m si m e s m o e ir para os extre m o s . Quando<br />

Cristo diz: "Seja quent e ou frio, o m orn o eu cuspirei", ele está<br />

faland o so br e um a etap a do ca min h o . É o m ei o co m o<br />

co m pr o m i s s o podr e que dev e ser aba n d o n a d o . Aqui está a<br />

tarefa mais difícil do aprendizad o do paci ent e de cân c er. Ness e<br />

sentido, o tranqüilo m ei o- term o no qual o nor m o p at a se<br />

ac o m o d o u não é de form a algu m a um lugar definitivo. Em lugar<br />

<strong>da</strong> har m o ni a do m ei o, o que imp er a é um a har m o ni a apar e nt e.<br />

As ("malign a s") en er gias do eg o não são visíveis, ma s sua vi<strong>da</strong><br />

nas so m b r a s é tanto mais intens a. O nor m o p at a jam ais ferirá<br />

algué m co m um não eg oísta e des c o m p r o m i s s a d o , ma s<br />

tamp o u c o fará algu é m feliz co m um sim incondicion al. Ele se<br />

1 1<br />

2


des culpa per m a n e n t e m e n t e por sua existên ci a, m a s não se<br />

livra <strong>da</strong> culpa primordial (a sep ar a ç ã o <strong>da</strong> uni<strong>da</strong>d e). Para ele, a<br />

apar ê n ci a é m ais importante que o ser. Entretanto, trata- se e m<br />

última instân cia do ser, e ele portanto não en c o ntra a paz final<br />

no cô m o d o m ei o, um ca min h o to long o do qual ele enc o ntra<br />

pouquís si m a resistên ci a, ou seja, a paz que ele p de en c o ntrar<br />

aqui não é real m e nt e a paz definitiva.<br />

A prim eiríssi m a coisa que ele dev e fazer é co m e ç a r a se<br />

m o v er, a cres c e r, a se transfor m ar e a se des e n v olv er. Faz<br />

parte, tam b é m , aprend er a dizer não, detectar e viver seus<br />

des ej o s eg oísta s, exp eri m e nt ar reb el ar- se contra regra s<br />

rígi<strong>da</strong>s, es c a p ar de estruturas de m a s i a d o estreitas, che g ar<br />

perto e perto de m ai s dos outros, pular fronteiras, ignorar<br />

limitaç õ e s , viver to<strong>da</strong>s as cois a s que, cas o contrário, oc orr e m<br />

nas so m b r a s co m o ac o nt e ci m e n t o can c erí g e n o . Em vez de<br />

mutaç õ e s no nível celular, pod eria hav er m eta m o rf o s e s nos<br />

âm bito s aní mic o, espiritual e so cial; e m vez de sair <strong>da</strong> esp é ci e<br />

(deg e n e r ar), ele pod eria pular a cerc a (de m a si a d o opres s o r a).<br />

Trata- se de travar con h e ci m e n t o co m o próprio eg o, ain<strong>da</strong>, e<br />

principal m e nt e, quan d o ele não é um desta c a d o<br />

conte m p o r â n e o e, por es s a razão, não traz muita distinçã o ao<br />

m ei o circund a nt e. Em vez de sair <strong>da</strong> esp é ci e, trata- se de<br />

en c o ntrar a própria esp é ci e. Em vez de sep ar a ç ã o , o que se<br />

procura é continui<strong>da</strong>d e e resp o n s a b ili<strong>da</strong>d e por si m e s m o .<br />

A orienta ç ã o terap êutic a do radiolo gista am eric a n o Carl<br />

Simonto n vai nes s a direç ã o de uma m an eir a muito corp oral.<br />

Simonto n, co m bastant e suc e s s o , deixa que seus pacient e s<br />

entre m diaria m e nt e e m um a guerra múltipla. Em m e ditaç õ e s<br />

dirigi<strong>da</strong>s, eles co m b at e m o cân c er no nível celular co m sua<br />

agre s sivi<strong>da</strong>d e que aca b a de ser red e s c o b e rta. O siste m a<br />

imun ol ó gic o é apoiad o e m sua luta pela existên cia co m<br />

imag e n s interna s e fantasias cria<strong>da</strong>s pela imagin a ç ã o , e assi m<br />

a agr e s s ã o tão long a m e n t e reprimi<strong>da</strong> ass a a ser vivi<strong>da</strong>. À<br />

prim eira vista, m a s so m e n t e à prim eira vista, o con s el h o de<br />

co m b a t er o cân c er a todo custo pare c e estar e m contradiç ã o<br />

co m o princípio ho m e o p á tic o. Com o agre s siv o cân c er, é<br />

1 1<br />

3


justa m e nt e a agr e s s ã o que é ho m e o p á tic a pois trata- se de um<br />

rem é di o se m el h a nt e.<br />

Emb or a estas prim eiras etap a s do desp ertar para as<br />

próprias nec e s si d a d e s seja tam b é m muito importante e não<br />

pos s a ser sub stituí<strong>da</strong>, o ca minh o não pára ai. O “seja quent e<br />

ou frio..." cristão é inevitáv el, m a s o des e n v o l vi m e n t o continua,<br />

e entã o, finalm e nt e trata- se de: "Se algu é m golp eia sua fac e<br />

es qu er d a, ofer e c e - lhe a direita". Essas duas fras e s<br />

contraditórias já criara m muita perplexi<strong>da</strong>d e , porqu e se refer e m<br />

a diferent e s etap a s do ca min h o . É justa m e nt e nest e ponto que<br />

é perigo s o continuar a es cr e v e r, pois se gund o ti<strong>da</strong>s as<br />

exp eriên ci a s, justa m e n t e aqu el e s pacient e s que ain<strong>da</strong> têm de<br />

li<strong>da</strong>r muito e por muito temp o co m os pas s o s des crito s até<br />

ag or a, de ass er ç ã o agr e s siva de si m e s m o s , tend e m a refugiarse<br />

rapi<strong>da</strong> m e n t e nos "plan o s mais elev a d o s ". Por trás diss o está<br />

a supo siç ã o equivo c a d a de que a realizaç ã o de um tem a tão<br />

sublim e co m o o am or levará facilm e nt e à libertaç ã o do eg o,<br />

juntam e nt e co m suas en er gias agre s siv a s . Mas quan d o se<br />

salta ou se ab and o n a co m de m a si a d a rapidez um plan o<br />

anterior, o plan o se guinte não tem a m e n o r chanc e . Não se<br />

gan h a na<strong>da</strong> se algu é m "morn o", por pura covardia, ofer e c e a<br />

face direita após lhe tere m golp e a d o a es qu er d a. O am or entã o<br />

se transfor m ar á e m um sentim e nt o m orn o, e a salva ç ã o e m<br />

hipocrisia. Um pacient e de cân c er não pod e se <strong>da</strong>r ao luxo de<br />

co m e t e r tais erro s, dos quais a la<strong>da</strong>inha de "luz e am or <strong>da</strong> cen a<br />

ne w ag e se aproxi m a muito.<br />

Apesar do perigo de se incorrer e m m al- enten did o s , é<br />

nec e s s á ri o já ter e m vista um objetivo, ain<strong>da</strong> que esteja muito<br />

distante. Mas os pas s o s e tarefas seguinte s pres s up õ e m o<br />

do mínio dos pas s o s anterior e s, pois cas o contrário eles se<br />

trans- form a m facilm e nt e e m um bum er a n g u e , tal co m o<br />

de m o n s tr ar a m as exp eriên ci a s co m o capitulo so br e cân c er do<br />

prim eiro volu m e .<br />

Por mais importante que seja a exibiçã o <strong>da</strong>s en er gi a s do eg o<br />

durante o percurs o, ela não pod e ser o objetivo final. O<br />

ca min h o a seguir e o seu objetivo estã o se m pr e implícitos no<br />

1 1<br />

4


próprio ac o nt e ci m e n t o can c erí g e n o . Em vez de cres ci m e n t o<br />

corp or al, trata- se de cres ci m e n t o aní mic o- espiritual. O ser<br />

hum a n o cres c e fisica m e n t e durante cerc a de vinte ano s; dep ois<br />

diss o ele precis a continuar cres c e n d o aní mic a e<br />

espiritual m e nt e, ou entã o o cres ci m e n t o afun<strong>da</strong> na so m b r a.<br />

Esse cres ci m e n t o pod e se <strong>da</strong>r no mun d o exterior durante muito<br />

temp o, pod e n d o , por exe m pl o, aprov eitar as pos sibili<strong>da</strong>d e s<br />

corre s p o n d e n t e s de um neg ó ci o e m expan s ã o . Mas e m algu m<br />

m o m e n t o ele terá por objetivo a auto- realizaç ã o e m um sentido<br />

mais elev a d o . Em última instância, trata- se de tornar- se um<br />

co m o todo, retorn ar ao Paraís o, ou seja, deixar que o eu e as<br />

so m b r a s aflore m no self . Esse estad o , que rec e b e tantos<br />

no m e s diferent e s e m diferent e s culturas e que m e s m o assi m<br />

quer dizer se m pr e a m e s m a coisa, não pod e ser repre s e nt a d o<br />

co m exatidã o a partir do mund o <strong>da</strong> polari<strong>da</strong>d e. Palavras co m o<br />

eterni<strong>da</strong>d e , nirvan a, reino dos céus, reino de Deus, paraís o, ser<br />

ou m ei o são so m e n t e aproxi m a ç õ e s . O proble m a , não só dos<br />

pacient e s de cân c er ma s de todo s os ser e s hum a n o s , são os<br />

pas s o s que leva m a es s e objetivo e à sua se qü ê n ci a.<br />

A regr e s s ã o retratad a pelo proc e s s o can c erí g e n o , que<br />

corp or aliza a bus c a <strong>da</strong> orig e m , indica o ca minh o . Em vez de<br />

regr e s s ã o no corp o, trata- se de religio no âm bito aní mic oespiritual.<br />

O cres ci m e n t o deg e n e r a d o e caótic o e m to<strong>da</strong> s as<br />

direç õ e s mostra o perig o, que o progr e s s o se m objetivo termin a<br />

na m orte. Morrer, tam b é m , que paira am e a ç a d o r a m e n t e so br e<br />

o ac o nt e ci m e n t o can c erí g e n o , é um a form a de retira<strong>da</strong> do<br />

mund o polar para a uni<strong>da</strong>d e. To<strong>da</strong> s as indicaç õ e s aponta m<br />

para um único ponto, a uni<strong>da</strong>d e. Mas isso não pod e ser<br />

realizad o co m as forças do eg o. Assim co m o é important e para<br />

o pacient e des c o b rir seu eg o, mais tarde será igualm e nt e<br />

importante cres c e r para alé m dele. Depois que ele tiver<br />

apren did o a se impor, ch e g a- se ao pólo opo st o do plan o de<br />

apren dizad o : aprend er a inserir- se na uni<strong>da</strong>d e m ai or. Primeiro<br />

pod e ser importante prote star contra as regra s estritas <strong>da</strong> vi<strong>da</strong><br />

labor al ou so cial, rec o n h e c e r que o próprio ch ef e não é<br />

nen hu m deus. Mas quan d o o eg o está des e n v o l vid o e e m<br />

1 1<br />

5


plen a pos s e s s ã o do pod er pelo qual lutou, é precis o<br />

rec o n h e c e r que o ca min h o do eg o leva à catástrofe tanto co m o<br />

sua repress ã o . Depois que a pequ e n a ord e m <strong>da</strong>s regra s<br />

m e s q uinha s foi salta<strong>da</strong>, é precis o en c o ntrar a grand e e ac eitála.<br />

“Seja feita a Sua vontad e", diz o pai- noss o , e isso não quer<br />

dizer, co m o antes, o sup erior hierárquic o ou o sócio ou o eu,<br />

ma s Deus, ou seja lá co m o se queira cha m a r a uni<strong>da</strong>d e.<br />

É nest e ponto que está o principal en g a n o do cân c er, e ele<br />

volta a ser um esp elh o perfeito do principal en g a n o <strong>da</strong><br />

hum a nid a d e m o d er n a. A célula can c erí g e n a tenta alcan ç ar a<br />

imortali<strong>da</strong>d e por si m e s m a e à custa do resto do corpo.<br />

Fazen d o isso, ela não vê que es s e ca minh o , e m última<br />

instância, a m atar á junta m e nt e co m o corp o, assi m co m o a<br />

hum a nid a d e não viu até ag or a que sua eg o- trip à custa do<br />

mund o so m e n t e pod e terminar co m o naufrágio conjunto. Não<br />

existe qualqu er indep e n d ê n ci a <strong>da</strong> uni<strong>da</strong>d e m ai or à qual se<br />

perten c e . As justas am biç õ e s de auto- realizaç ã o e imortali<strong>da</strong>d e<br />

so m e n t e pod e m culminar no con h e ci m e n t o espiritual de que o<br />

único objetivo é o si m e s m o , a uni<strong>da</strong>d e co m tudo. Esta não<br />

exclui na<strong>da</strong> ne m ningu é m , e por si m e s m a não se deixa<br />

con q uistar pes s o al m e n t e de man eira eg oí sta. Ela conté m tanto<br />

a individuali<strong>da</strong>d e co m o a orde m mais elev a d a. Ela se en c o ntra<br />

no próprio m ei o, no de cad a célula e no de cad a ser hum a n o e<br />

ain<strong>da</strong> assi m é so m e n t e o um. Não existe ne m o m eu self ne m o<br />

seu self, so m e n t e o s elf.<br />

É precis o enc o ntrar a uni<strong>da</strong>d e, a imortali<strong>da</strong>d e <strong>da</strong> alm a e m si<br />

m e s m o , e rec o n h e c e r que o todo já esta e m nós m e s m o s<br />

assi m co m o nós m e s m o s esta m o s no todo. Este, entretanto, é<br />

o ponto final. ou m elh or, o ponto do m ei o, que so m e n t e pod e<br />

ser ab erto pelo am or. E isso tam b é m já está sim b olizad o no<br />

ac o nt e ci m e n t o do cân c er. Assim co m o o am or, o cân c er<br />

tam b é m ultrapas s a to<strong>da</strong> s as fronteiras, co br e to<strong>da</strong>s as<br />

distância s, atrav e s s a to<strong>da</strong>s as barreiras, sup er a todo s os<br />

ob stácul o s assi m co m o o am or ele não se deté m diante de<br />

na<strong>da</strong>, estend e - se por tudo, pen etra e m todo s os âm bito s <strong>da</strong><br />

vi<strong>da</strong>, do min a to<strong>da</strong> a vi<strong>da</strong>; assi m co m o o am or, o cân c er busc a a<br />

1 1<br />

6


imortali<strong>da</strong>d e e nes s a bus c a, assi m co m o o am or, não tem e<br />

ne m m e s m o a m orte. O cân c er, portanto, tam b é m é de fato um<br />

am or que m er g ulh o u nas so m b r a s .<br />

1 1<br />

7


11. Princípios terapêuticos<br />

A m elh or terapia co m e ç a ced o , co m a co m pr e e n s ã o de que<br />

o quadr o de nor m o p atia já é um sinto m a , ain<strong>da</strong> que se<br />

aproxi m e do ideal de nos s a ép o c a. Ao contrário, <strong>da</strong>i se con clui<br />

que esta ép o c a son h a um son h o que fom e nt a o cân c er. Os<br />

ag e nt e s can c erí g e n o s des c o b e rt o s diaria m e n t e , quan d o<br />

co m p ar a d o s a este con h e ci m e n t o , são inofen siv o s. Quando se<br />

co m e ç a a ca minhar e m direç ã o à individua ç ã o já nes s e s<br />

prim eiros está gi o s, pod er- se- ia usar de fato a palavra<br />

prev e n ç ã o se m deturpá- la co m o sentido usual de diagn ó stic o<br />

prec o c e 36 . Nesta etap a, ain<strong>da</strong> seria pos sív el <strong>da</strong>r os pas s o s<br />

nec e s s á ri o s se m de m a s i a d a pres s ã o . Quando o diagn ó stic o já<br />

con statou a do e n ç a , a pres s ã o é m o n struo s a . Mas ela pod e<br />

não ap en a s oprimir, pod e tam b é m <strong>da</strong>r cora g e m e pro m o v e r o<br />

des e n v olvi m e nt o . Entretanto, muitos pacient e s viven cia m a<br />

enun ciaç ã o do diagn ó stic o “cânc er" co m o se foss e a<br />

decr et a ç ã o de uma sent e n ç a de m orte. Seu ca minh o de volta<br />

está entã o na resign a ç ã o , eles por assi m dizer não sub s cr e v e m<br />

mais esta vi<strong>da</strong>. Alguns falam até m e s m o de um certo alívio,<br />

pois co m isso to<strong>da</strong>s as resp o n s a bili<strong>da</strong>d e s lhes são retira<strong>da</strong> s.<br />

Outros pacient e s tom a m o des afio segun d o o lem a "co m e ç a r a<br />

fazer as cois a s certas". O diagn ó stic o atua para eles co m o a<br />

iniciaç ã o para uma nova etap a <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> que dev e trans c orr er de<br />

ac ord o co m outras leis. Aquilo que para o prim eiro grupo é o<br />

fim de tudo, para eles é o co m e ç o . E não é raro que aí esteja o<br />

principio de um a nova vi<strong>da</strong>. Segund o a exp eriên ci a <strong>da</strong> própria<br />

m e di cin a aca d ê m i c a , o progn ó stic o m é dic o exer c e muito<br />

m e n o s influên cia so br e a exp e ct ativa de vi<strong>da</strong> que a atitude<br />

interna. Trata- se decidi<strong>da</strong> m e n t e de sab er se os afetad o s ain<strong>da</strong><br />

esp er a m algo <strong>da</strong> vi<strong>da</strong>, pois quan d o es s e é o cas o eles tam b é m<br />

esp er a m um pouc o mais. Ao cumprir seus 1 2 trabalh o s , que<br />

corre s p o n d e m às tarefas arqu etípic a s do zodíac o , Hércules é<br />

m ordid o por um terrível caran g u ej o quan d o está lutand o contra<br />

a Hidra. Em vez de recuar assu stad o , ele luta e o aniquila<br />

1 1<br />

8


antes de ven c er a Hidra.<br />

Após a con stataç ã o do diagn ó stic o, é precis o rec ortar tantos<br />

pas s o s quanto for pos sív el do âm bito <strong>da</strong>s so m b r a s . Aquilo que<br />

é se m pr e mantido e viven ci ad o na con s ci ê n ci a não precis a ser<br />

repre s e nt a d o no palco do corp o. Um pres s up o st o para isso é<br />

olhar hon e st a m e n t e para a própria situaç ã o até che g ar à<br />

co m pr e e n s ã o de que na<strong>da</strong> ac o nt e c e por aca s o , m a s que tudo<br />

faz sentido, m e s m o e m um sinto m a tão horrível. O des e s p e r o<br />

que o diagn ó stic o "cân c er" libera so m e n t e pod e ser viven ci ad o<br />

co m bas e nes s e fun<strong>da</strong> m e n t o . Por duro que isso pos s a so ar,<br />

trata- se de algo es s e n ci al para que se pos s a <strong>da</strong>r outros<br />

pas s o s . Uma m e dicin a que oculta o diagn ó stic o do pacient e e<br />

lhe m e nt e "para seu próprio be m " pod e parec er m ais hum a n a.<br />

Por outro lado, ela bloqu ei a to<strong>da</strong> s as chan c e s de<br />

des e n v olvi m e nt o que ain<strong>da</strong> pos s a m existir.<br />

Entre as pos sibili<strong>da</strong>d e s de retirar do corp o o que na ver<strong>da</strong>d e<br />

é tarefa <strong>da</strong> alm a, está todo o esp e ctr o de imag e n s às quais o<br />

cân c er força o organis m o , des d e saltar a cerc a até a agr e s s ã o<br />

mais selva g e m , pas s a n d o pelo cres ci m e n t o vital. Trata- se de<br />

trocar a posiç ã o m orn a pelas alturas e profund ez a s <strong>da</strong> própria<br />

vi<strong>da</strong>. To<strong>da</strong> a criativi<strong>da</strong>d e des e nfr e a d a que se expr e s s a no<br />

ac o nt e ci m e n t o can c erí g e n o dev e ser leva<strong>da</strong> para o esp a ç o vital<br />

con s ci e nt e, do âm bito corp or al para o âm bito aní mic oespiritual.<br />

As mutaç õ e s estã o à esp er a, e requ er e m corag e m .<br />

Elas têm m ais sentido e m qualqu er outro lugar que não seja o<br />

corp o. Enquanto a ev oluç ã o bioló gic a oc orr eu atrav é s de<br />

mutaç õ e s corpor ais, a evoluç ã o individual dev e ser levad a por<br />

um ca minh o de transfor m a ç õ e s aní mic o- espirituais. Assim<br />

co m o a célula do cân c er faz algo de si m e s m a , os pacient e s<br />

dev e m fazer algo de suas vi<strong>da</strong>s. E é precis o que seja algo<br />

próprio - que se aproxi m e <strong>da</strong>s preten s õ e s autárquic a s do<br />

cân c er. O próprio pacient e dev e viver a fertili<strong>da</strong>d e <strong>da</strong>s células<br />

can c erí g e n a s . Em tudo isso, m o stra- se con sid er a ç ã o pelas<br />

próprias raízes - talvez seja literalm e nt e nec e s s á ri o renun ciar à<br />

funçã o alta m e nt e esp e ci alizad a que se assu miu na so ci e d a d e ,<br />

na firma ou na família, para voltar a se tornar um ser hum a n o<br />

1 1<br />

9


co m nec e s si d a d e s próprias e idéias maluc a s .<br />

Todo s os pacient e s que, por um a vez ain<strong>da</strong>, virara m a<br />

página, conta m que suas vi<strong>da</strong>s mud ar a m radical m e nt e atrav é s<br />

<strong>da</strong> do e n ç a . Em vez do con s e nti m e n t o dos outros, pas s a a<br />

hav er auto- afirma ç ã o , e m lugar <strong>da</strong> sub mi s s ã o do sub altern o, a<br />

reb eliã o declarad a. Com os pacient e s social m e n t e be m -<br />

suc e did o s , pod e ac o nt e c e r que a eg o- trip vivi<strong>da</strong> ma s não vista<br />

pelo próprio pacient e tenha de ser integrad a à con s ci ê n ci a.<br />

Constata- se entã o que há outra coisa muito mais es s e n ci al.<br />

Os critérios apres e nt a d o s , de man eira bastant e análo g a, são<br />

válido s tam b é m para as terapias dirigi<strong>da</strong>s ao corp o, dos<br />

exer cíci o s bio e n e r g étic o s que m o biliza m a en er gia vital às<br />

injeç õ e s . Sempr e que as terapias assu m e m os princípio s que o<br />

cân c er vive de fato, suas chan c e s aum e nt a m<br />

con sid er a v el m e n t e . Assim, a m e dicin a antrop o s ófic a, por<br />

exe m pl o, utiliza o visc o 37 para colo c ar e m jogo um a<br />

excr e s c ê n c i a que corresp o n d e parcial m e nt e ao cres ci m e n t o do<br />

tum or. Além diss o, as injeç õ e s leva m a um a estimula ç ã o do<br />

org anis m o que o incita à luta. O já m e n ci o n a d o tipo de<br />

psicot er apia praticad o por Simonto n 38 tam b é m se enc aixa aqui,<br />

se be m que ela mata dois co elh o s co m uma só cajad a d a, já<br />

que leva os pacient e s a viven ci ar suas agre s s õ e s e co m isso,<br />

ao m e s m o temp o, mina o terren o do tum or. Entretanto, ao lutar<br />

contra as células can c erí g e n a s é precis o ter cui<strong>da</strong>d o para que<br />

a luta contra as células can c erí g e n a s não se transfor m e e m<br />

uma luta contra o próprio destino. Antes de cad a cura há um a<br />

etap a, nec e s s á ria, de ac eitaç ã o ; brigar co m o destino leva à<br />

direç ã o contrária 39 .<br />

Em última instância, trata- se de <strong>da</strong>r uma aju<strong>da</strong> à vitali<strong>da</strong>d e e à<br />

criativi<strong>da</strong>d e do pacient e, e não mais ou m e n o s soterrá- las atrav é s<br />

de "aço, raios e quí mic a". Quando, ain<strong>da</strong> assi m, es s a s cois a s<br />

dev a m ser usad a s, faça m sentido ou não, tais m e did a s dev eria m<br />

ser con sid era d a s unica m e nt e um ganh o de temp o pelo qual se<br />

paga muito caro, sen d o as m e di<strong>da</strong> s que au m e nt a m a vitali<strong>da</strong>d e<br />

introduzi<strong>da</strong> s ao m e s m o temp o e, principal m e nt e , dep ois. Método s<br />

co m o o de Simonto n, por exe m pl o, são tam b é m ótim o s subsídios<br />

para apoiar uma quimiot er apia ou uma radioterapia. De qualqu er<br />

1 2<br />

0


man eira, o contrário não é ver<strong>da</strong>d eir o. A respiraç ã o é um ponto<br />

es s e n ci al. Respiraç ã o é co m u nic a ç ã o e esta, no cânc e r, foi<br />

atira<strong>da</strong> para um plano primitivo e radical. Até este ponto, uma<br />

terapia respiratória radical é uma bo a pos sibili<strong>da</strong>d e , tanto mais<br />

que a cad a se s s ã o o corp o é inun<strong>da</strong> d o de oxigêni o. Isso já se<br />

tornou um m ét o d o de trata m e nt o de cânc e r adotad o pela m e dicin a<br />

alternativa. Além diss o, e m muitos pacient e s de cânc e r a<br />

respiraç ã o , send o uma expre s s ã o do fluxo <strong>da</strong> vi<strong>da</strong>, está limita<strong>da</strong> e<br />

prejudicad a . Há na cres c e nt e libera ç ã o <strong>da</strong> respiraç ã o uma grand e<br />

oportuni<strong>da</strong> d e de voltar a abrir- se para o fluxo <strong>da</strong> vi<strong>da</strong>.<br />

A mutaç ã o no nível celular enc o ntra corre sp o n d ê n c i a na<br />

m eta m o rf o s e do nível aní mic o- espiritual. Encontra- se nest e<br />

ca min h o tudo o que reforç a a relaç ã o co m a religio e que per mite<br />

o ac e s s o dos afetad o s a seu s níveis mais profund o s. Após to<strong>da</strong> a<br />

nec e s s á ri a reb eliã o contra seu oportunista jogo social, tend o<br />

enc o ntrad o seu s ver<strong>da</strong>d eir o s lugare s e tend o- os assu mid o de<br />

corp o e alm a ele s, e m qualqu er cas o, venc e r a m . Isso entã o<br />

significa nova m e n t e o fim de to<strong>da</strong> s as tentativa s de ser algo<br />

esp e ci al, o fim de todo o eg oí s m o . Eles rec o n h e c e m que estã o no<br />

lugar certo e que sã o um co m tudo. Isso seria tam b é m a<br />

(dis)soluç ã o para a célula canc e ríg e n a : não assu mir seu lugar<br />

co m resign a ç ã o e por falta de alternativa s, ma s assu mi- lo<br />

con s ci e nt e m e n t e e rec o n h e c e r sua uni<strong>da</strong>d e co m todo o corp o.<br />

Psicoterapias revela d or a s pod e m ser de valor decisivo nes s e<br />

ca min h o , desd e que env olv a m os níveis do corp o e dos<br />

sentim e nt o s e não se limite m aos "pens a m e n t o s <strong>da</strong> cab e ç a ". A<br />

grand e oportuni<strong>da</strong>d e está e m decifrar o padrã o de vi<strong>da</strong> no qual o<br />

cânc e r tornou- se nec e s s á ri o. A outra é uma quest ã o de humil<strong>da</strong> d e<br />

e de de m ê n c i a. Pois o am or que tudo abran g e , sen d o a chav e <strong>da</strong><br />

imortali<strong>da</strong>d e , não pod e ser co m pr o v a d o e ne m m e s m o ser de fato<br />

utilizado terap eutica m e n t e . Pode- se unica m e n t e preparar algu é m<br />

para que esteja alerta quand o isso lhe aco nt e ç a . Em to<strong>da</strong> s as<br />

épo c a s alguns pacient e s de cânc e r aprov eitara m a pos sibili<strong>da</strong>d e<br />

ofere cid a pelo fato de estar e m m ortal m e nt e do e nt e s para abrir- s e<br />

para ess e grand e pass o . Embor a tam b é m tenh a m co m e ç a d o<br />

co m o nor m o p at a s eles, so b a pres s ã o de seu sinto m a ,<br />

transfor m ar a m - se e m ser e s hum a n o s que impre s si o n a v a m os<br />

outros unica m e nt e co m sua pres e n ç a .<br />

1 2<br />

1


P ergunt a s<br />

1. Vivo minh a vi<strong>da</strong> ou deixo que ela seja deter min a d a do<br />

exterior?<br />

2. Eu arrisc o perd er minh a cab e ç a ou assu m o todo tipo de<br />

co m pr o m i s s o para ficar em paz?<br />

3. Deixo esp a ç o para minh a s en er gias ou se m pr e as<br />

sub ordin o a regra s e deter min a ç õ e s pre e st a b e l e cid a s ?<br />

4 Eu m e per mito expres s ar as agre s s õ e s ou guard o tudo<br />

para mim me s m o e co mi g o m e s m o ?<br />

5. Que pap el des e m p e n h a m as transfor m a ç õ e s e m minh a<br />

vi<strong>da</strong>? Tenh o a cora g e m de estend e r- m e e m nov o s ca m p o s ? Sou<br />

frutífero e criativo?<br />

6. A co m u nic a ç ã o e um vivo intercâ m b i o ocup a m um lugar de<br />

desta q u e e m minh a vi<strong>da</strong>, ou eu m e entend o m elh or co mi g o<br />

m e s m o ?<br />

7 Eu m e per mito pular a cerc a de vez e m quan d o , ou para<br />

mim o melh or é a<strong>da</strong>ptar- m e a tudo?<br />

8. Minhas defe s a s aní mic a s e física s estã o e m har m o ni a, ou<br />

será que a defe s a corp or al está enfraqu e cid a e m favor <strong>da</strong> defe s a<br />

anímic a?<br />

9 Que papel des e m p e n h a m e m minh a vi<strong>da</strong> as duas<br />

pergunta s fun<strong>da</strong> m e nt ais: De ond e venh o? Para ond e vou?<br />

10 Será que o grand e am or que tudo abran g e tem algu m a<br />

chan c e e m minh a vi<strong>da</strong>?<br />

1 1 . Que papel des e m p e n h a e m minh a vi<strong>da</strong> o ca minh o que<br />

se gu e o se guinte lem a: "CONHECE A TI MESMO – PARA QUE<br />

POSSAS CONHECER A DEUS"?<br />

1 2<br />

2


3<br />

A Cabe ça<br />

1. Os cabelos<br />

Vistos anato mi c a m e n t e , os cab el o s localiza m- se na parte<br />

mais alta do corp o e co br e m o lado so m b ri o ou noturno de<br />

noss o glob o terrestr e pes s o al. Nossa força e nos s o brilho<br />

reflete m - se e m sua força e e m seu brilho. Quando esta m o s e m<br />

form a e saud á v ei s, eles tam b é m o estã o. Sua lingua g e m<br />

sim b ólic a rev ela muitos tem a s ca b elu d o s . Eles fizera m história<br />

co m o sím b ol o <strong>da</strong> liber<strong>da</strong> d e . A ép o c a hippie, co m suas len<strong>da</strong>s<br />

surgi<strong>da</strong> s e m torno <strong>da</strong> Era de Aquário e do music al "Hair",<br />

de m o n s tr a plastica m e n t e a relaç ã o entre o orgulho capilar e a<br />

reivindica ç ã o de liber<strong>da</strong>d e . O pólo opo st o dos hippie s <strong>da</strong> Era<br />

de Aquário con stituído pelo s sol<strong>da</strong> d o s de to<strong>da</strong> s as ép o c a s e de<br />

todo s os país e s . Por m ais antag ô ni c a s que as ideolo gi a s<br />

pos s a m ser, elas lutam, e ao fazê- lo se m pr e sacrifica m algo<br />

[Haar = cab el o / Haare las s e n mü s s e n = sacrificar algo contra a<br />

vontad e] – tanto literalm e nt e co m o e m sentido figurad o. Todo s<br />

os exér cito s regular e s são unâni m e s e m rapar o cab el o de<br />

seus recrutas. Pois assi m, juntam e nt e co m seus cab el o s , cortase<br />

sim b olic a m e n t e tam b é m sua liber<strong>da</strong> d e . Encontra- se o<br />

m e s m o fenô m e n o nos m o n g e s zen, e m b o r a renun ci e m ao s<br />

cab el o s e à liber<strong>da</strong>d e extern a que eles sim b oliza m por livre e<br />

esp o nt â n e a vontad e e con s ci e nt e m e n t e . Seu objetivo é aqu el a<br />

liber<strong>da</strong> d e interna m ais profun<strong>da</strong> no âm bito espiritual, para cuja<br />

realizaç ã o as liber<strong>da</strong>d e s extern a s seria m so m e n t e um estorv o.<br />

Mas ob s ervand o co m distancia m e n t o , os m o n g e s zen dev e m<br />

renun ciar à própria vontad e de man eira tão estrita co m o os<br />

sol<strong>da</strong> d o s . A ob e di ê n ci a ve m e m prim eiro lugar, e para isso os<br />

próprios cach o s [Lock e n ] e as sedu ç õ e s [Lockun g e n ] do<br />

mund o, sim b olic a m e n t e , atrapalharia m . Para os guerr eiro s <strong>da</strong><br />

liber<strong>da</strong> d e , indivíduo s resp o n s á v ei s por si m e s m o s que lutam<br />

1 2<br />

3


por seu país e por sua indep e n d ê n ci a, os cab el o s não<br />

atrapalha m de form a algu m a . Eles bus c a m expres s a m e n t e a<br />

liber<strong>da</strong> d e extern a, ou seja, política. Aos serv o s, ao contrário,<br />

estav a ved a d o o uso de um a orgulho s a cab el eira. Eles era m<br />

"rapad o s ", tal co m o o de m o n s tr a até hoje a expres s ã o bávar a<br />

corre s p o n d e n t e . Ela explícita ain<strong>da</strong> a depr e ci a ç ã o que as<br />

pes s o a s "se m" cab el o s tinha m de suportar na ép o c a , e que<br />

muitos "carec a s " sofre m até hoje.<br />

Os cab el o s são um dos ca m p o s de batalha favoritos para as<br />

lutas sim b ólic a s pela liber<strong>da</strong>d e . Na China, erigiu- se to<strong>da</strong> um a<br />

ord e m social, literalm e nt e, co m as tranç a s. Ain<strong>da</strong> hoje nós<br />

corta m o s sim b olic a m e n t e as velha s tranç a s. Em sua<br />

ord en a ç ã o estrita, a existên ci a <strong>da</strong> tranç a dep e n d e de que cad a<br />

m e c h a tenha e mant e n h a exata m e n t e o seu lugar. O próprio<br />

ato de fazer a tranç a já é um ato de disciplina. Caso se co m e c e<br />

todo s os dias co m es s a autodis ciplina sim b ólic a, a vi<strong>da</strong> adquire<br />

uma m oldura ord en a d a , m a s tam b é m doloro s a m e n t e<br />

controlad a. Nenhu m fio de cab el o pod e se g uir seu próprio<br />

ca min h o , cad a m e c h a está firme m e n t e so b controle. Ness e<br />

sentido, cortar as tranç a s é até hoje para muitas m e nin a s um<br />

ato de libertaç ã o e de e m a n cip a ç ã o . Em ép o c a s mais antigas,<br />

os cab el o s long o s não era m tanto um sím b ol o de liber<strong>da</strong>d e<br />

para as mulh er e s , pois era m um a obvied a d e . Por esta razão,<br />

que br ar es s a regra era um ato de e m a n cip a ç ã o , e co m isso a<br />

mulh er queria de fato libertar- se do típico pap el feminino, que<br />

se por um lado a livrava <strong>da</strong>s preo c up a ç õ e s co m a subsist ên ci a,<br />

por outro livrava- a tam b é m de qualqu er resp o n s a bili<strong>da</strong>d e<br />

social.<br />

O selva g e m cres ci m e n t o dos cab el o s <strong>da</strong> gera ç ã o de Aquário<br />

pod e ter sido so m e n t e um brev e relâ m p a g o se o co m p ar a m o s<br />

co m a torm e nt a que se des e n c a d e o u quan d o as prim eiras<br />

mulh er e s ab and o n ar a m suas long a s e orden a d a s cab el eira s<br />

para, co m pente a d o s pag e m e à Ia garç o n, assu mir as<br />

liber<strong>da</strong> d e s do mund o dos ho m e n s . Em am b o s os cas o s ,<br />

tratava- se de impor a própria cab e ç a e não m ais <strong>da</strong>nç ar de<br />

ac ord o co m a músic a dos outros. Por trás do lem a: “O cab el o é<br />

1 2<br />

4


m e u” está, de m an eira ain<strong>da</strong> m ais decidi<strong>da</strong>: "Eu tenh o minha<br />

própria cab e ç a e pos s o deter min ar de man eira indep e n d e n t e o<br />

que cres c e so br e ela e o que ac o nt e c e dentro dela!”.<br />

Os pente a d o s reflete m posturas intelectuais. Assim, os<br />

artistas freqü e nt e m e n t e tend e m a usar pente a d o s<br />

extrava g a nt e s en quant o as pes s o a s que estã o co m pr o m e tid a s<br />

co m as nor m a s <strong>da</strong> soci e d a d e tend e m a usar pente a d o s<br />

uniform e s , nor m ai s e pouc o fantasio s o s . Os “coqu e s ", que<br />

pod e m ser enc o ntrad o s rara m e n t e no ca m p o , são um cas o<br />

ain<strong>da</strong> m ais extre m o que o <strong>da</strong>s tranç a s . Tudo está <strong>da</strong>d o de<br />

ante m ã o na form a rígi<strong>da</strong>, ne m um único fio de cab el o pod e<br />

levantar- se, não há lugar ne m para a liber<strong>da</strong> d e ne m para a<br />

criativi<strong>da</strong>d e, seja na cab e ç a ou na vi<strong>da</strong>. No pólo opo st o, os<br />

pente a d o s dos punk s são um sinal <strong>da</strong>d o con s ci e nt e m e n t e de<br />

que eles assu m e m to<strong>da</strong> s as liber<strong>da</strong> d e s e não quer e m ter m ais<br />

na<strong>da</strong> a ver co m a disciplina e a orde m sim b olizad a s pelos<br />

pente a d o s usuais.<br />

Sendo assi m, a pele <strong>da</strong> cab e ç a é um bo m palco para a<br />

con stataç ã o do pap el que se está des e m p e n h a n d o nesta vi<strong>da</strong>.<br />

Entretanto, hoje é precis o pen s ar ain<strong>da</strong> na pos sibili<strong>da</strong>d e <strong>da</strong><br />

co m p e n s a ç ã o . Na ép o c a de Luís XV, um op er ário não tinha a<br />

pos sibili<strong>da</strong>d e de m elh or ar exterior m e nt e sua posiç ã o so cial<br />

usan d o um a peruc a de cac h o s e m p o a d o s . Hoje e m dia, ao<br />

contrário, qualqu er um pod e enc e n a r o son h o de sua vi<strong>da</strong><br />

so br e a cab e ç a se m que isso corresp o n d a nec e s s a ri a m e n t e à<br />

sua vi<strong>da</strong> con cr eta. Quem agü e nt a um a vi<strong>da</strong> de rato cinzento<br />

e m um es critório cinzento pod e, co m um a louc a cab el eira de<br />

cac h o s ver m el h o s , indicar que outros tem a s muito diferent e s<br />

esp er a m ser des c o b e rt o s . Mesm o que isso ain<strong>da</strong> seja um<br />

son h o distante, os sinais corresp o n d e n t e s já fora m <strong>da</strong>d o s . A<br />

selva g e ria dos cac h o s pod e ser entã o co m p e n s a ç ã o para um a<br />

vi<strong>da</strong> m o n ót o n a, claro que pod e n d o estar anun ciand o tam b é m<br />

as corre s p o n d e n t e s reivindic a ç õ e s e m relaç ã o ao futuro. O<br />

son h o não vivido torna- se esp e ci al m e n t e cha m a tivo e<br />

sinto m átic o quan d o tanto a cor co m o a form a são produzi<strong>da</strong> s<br />

artificialm e nt e. Neste cas o , quer- se real m e nt e con q uistar nova s<br />

1 2<br />

5


terras. Caso a po m p a seja, ao contrário, autêntica, é prováv el<br />

que se esteja indican d o âm bito s que vê m naturalm e nt e à<br />

pes s o a e que, nest e cas o , tam b é m se irão co m a m e s m a<br />

facili<strong>da</strong>d e.<br />

Um outro nível de significad o dos cab el o s gira ao redor do<br />

tem a poder. Pode- se pen s ar aqui na história bíblica de<br />

Sansã o , que ao perd er seus formidáv ei s cab el o s perd eu<br />

tam b é m a Energia e o pod er corresp o n d e n t e s , ou nos reis<br />

franc o s <strong>da</strong> I<strong>da</strong>de Média. Seu pod er ilimitado e sua<br />

invulnera bili<strong>da</strong>d e dep e n di a, não por ac a s o , de long o s cab el o s<br />

que jam ais tives s e m sido tocad o s por um a faca. Pess o a s <strong>da</strong>s<br />

mais varia<strong>da</strong> s culturas tend e m a entrete c e r porç õ e s<br />

suple m e n t ar e s de cab el o para realçar sua apar ên ci a. Para as<br />

culturas que pen s a m sim b olic a m e n t e , não é nec e s s á ri o ne m<br />

m e s m o que se trate m de cab el o s ver<strong>da</strong>d eir o s, tais co m o<br />

noss a s peruc a s e apliqu e s, as pes s o a s tam b é m gosta m de<br />

adorn ar- se co m mat eriais e plum a s alheia s. Os co c ar e s dos<br />

índios se g u e m o exe m pl o <strong>da</strong> plum a g e m dos pás s ar o s . A<br />

cab e ç a de um chefe e m oldura d a por um formidáv el co c a<br />

expr e s s a força, pod er e digni<strong>da</strong>d e , be m co m o proximi<strong>da</strong>d e do<br />

céu.<br />

Na batalha, os guerr eiro s celtas confiava m in seus<br />

pente a d o s de guerra, nos quais os cab el o s assu mi a m form a s<br />

altíssi m a s e impres si o n a nt e s . Com o se foss e um a esp é ci e de<br />

fixador primitivo, eles usav a m lam a. Com os cab el o s assi m<br />

transfor m a d o s e m m o ntan h a s , eles m o strav a m ao s inimig o s<br />

que alé m de ter cab el o s na cab e ç a , não tinha m pêlo s na<br />

língua. Com o a de m o n s tr a ç ã o de pod er está se m pr e liga<strong>da</strong> ao<br />

m e d o , fica claro neste cas o que co m tal esp et á c ul o os cab el o s<br />

dos inimig o s tam b é m fica s s e m e m pé. Os pás s ar o s arrepia m<br />

as plum a s e os anim ai s eriça m os pêlos quan d o de m o n s tr a m<br />

pod er e quan d o têm bo a s razõ e s para sentir m e d o . Em<br />

situaç õ e s corresp o n d e n t e m e n t e difíceis os ser e s hum a n o s<br />

arranc a m os próprios cab el o s , o que por um lado expres s a<br />

des e s p e r o por outro confer e um a apar ê n ci a m ais<br />

impres si o n a nt e. Quando não se toca “ne m em fio de cab el o" de<br />

1 2<br />

6


uma pes s o a , deixa- se intacto s seu pod er e sua digni<strong>da</strong>d e.<br />

Quando, ao contrário, duas pes s o a s se agarra m pelo s cab el o s,<br />

o objetivo de cad a um humilhar e sup er ar o outro. O opon e nt e<br />

dev e ser de p e n a d o , e para isso tira- s e pêlo <strong>da</strong> cara dele. Isso<br />

pod e levar à discus s ã o por caus a de minúcia s [Haar s palterei /<br />

Haar = cab el o / Sp alt = fen<strong>da</strong>] e, alé m diss o, faz co m que e m<br />

todo cas o se enc o ntr e um cab el o na so p a [Ein Haar in der<br />

Sup p e finden = dep ar ar- se co m algo des a gr a d á v e l].<br />

O pólo opo st o do pod er m o stra- se na per<strong>da</strong> de cab el o. As<br />

reclus a s e as mulh er e s que tinha m dor mid o co m sol<strong>da</strong> d o s<br />

inimig o s tinha m suas cab e ç a s rapad a s , o que lhes retirava<br />

tanto a liber<strong>da</strong> d e co m o seu pod er e en er gia feminino s, para<br />

marc á- las e puni- las. Antiga m e nt e , o m e s m o trata m e nt o era<br />

disp en s a d o às “bruxas", já que seus cab el o s prefer e n ci al m e nt e<br />

ruivos era m um sinal do pod er feminin o co m o qual elas fazia m<br />

co m que "ho m e n s inoc e nt e s " perd e s s e m a cab e ç a .<br />

Uma variante mais suav e des s a violaç ã o é o “puxar os<br />

cab el o s", co m u m até os dias de hoje. Além do asp e ct o de<br />

puniçã o, co m isso indica- se tam b é m dolor o s a m e n t e a m ais<br />

ab s oluta impotên ci a. Quando o profes s o r ergu e o aluno de seu<br />

ass e nt o puxand o- o por seu sím b ol o de pod er, digni<strong>da</strong>d e e<br />

liber<strong>da</strong> d e , ele de m o n s tr a co m isso o próprio pod er e a<br />

impotênci a de sua vítima. Quando algo é "puxad o pelos<br />

cab el o s"' [etwa s an den Haaren herb eizie h e n / puxar algo pelo s<br />

cab el o s = distorc er a ver<strong>da</strong>d e de ac ord o co m a própria<br />

conv e ni ê n ci a] a ver<strong>da</strong> d e é viola<strong>da</strong> e torci<strong>da</strong> até ficar do jeito<br />

que se quer.<br />

Os pente a d o s altos de so b er a n a s no estilo de Nefertiti une m<br />

o tem a do pod er co m o tem a <strong>da</strong> digni<strong>da</strong>de. Um pente a d o alto<br />

e sen h oril frisa ain<strong>da</strong> mais o berç o nobr e. De m an eira<br />

corre s p o n d e n t e , e e m con s o n â n ci a co m suas portad or a s , os<br />

pente a d o s até hoje tend e m a alcan ç ar alturas cad a vez m ais<br />

elev a d a s . Quem erig e seus cab el o s e m um a form a<br />

impres si o n a nt e, sacrifican d o para isso temp o e dinh eiro, pen s a<br />

alto e esp er a que tanto seu orna m e n t o co m o seu investi m e nt o<br />

valha m a pen a. Assim, o alto nas ci m e n t o e as altas am biç õ e s<br />

1 2<br />

7


estã o próxim o s , e não é raro que pente a d o s altos repre s e nt e m<br />

objetivo s corre s p o n d e n t e s . O au m e nt o <strong>da</strong> con s ci ê n ci a de si<br />

m e s m o tam b é m des e m p e n h a um pap el no contexto do pod er e<br />

<strong>da</strong> digni<strong>da</strong>d e , o que é perc e bid o por qualqu er adol e s c e n t e que<br />

cui<strong>da</strong>d o s a m e n t e lava ou penteia seu topete ante s <strong>da</strong> festa para<br />

apar e c e r um pouquinh o mais.<br />

Sendo um ap ên dic e <strong>da</strong> pele, os cab el o s tam b é m colo c a m<br />

e m jogo quali<strong>da</strong>d e s venusian a s , talvez quan d o eles, tingido s<br />

co m a própria cor de Vênus, transfor m a m a cab e ç a e m um<br />

farol ou exib e m um a selva g e m juba de leão sedutor a m e n t e<br />

ma ci a. Os cach o s [Lock e n ] têm algo de enc a ntad o r [lock end],<br />

atraind o [lock e n = atrair] outros participante s de m an eira<br />

relaxad a [lock er = frouxo, fofo, relaxad o). Os cab el o s<br />

cac h e a d o s [Lock e n kopf / kopf = cab e ç a] repre s e nt a m a<br />

indep e n d ê n c i a no sentido m ais ver<strong>da</strong>d eir o <strong>da</strong> palavra já que<br />

cad a cac h o , contra qualqu er orde m esta b el e ci d a, segu e seu<br />

próprio ca minh o criativo. Jubas não pod e m ne m precis a m ser<br />

pente a d a s , agitá- las é suficiente. Caso algu é m ous e tentar<br />

do m ar um tal gato pre<strong>da</strong> d o r e selva g e m , os long o s cab el o s<br />

cac h e a d o s pod e m rev elar- se tam b é m m eig o s e insinuante s .<br />

Seu brilho sed o s o expr e s s a sua vitali<strong>da</strong>d e.<br />

Entretanto, uma bela e cheia cab el eira pod e tam b é m<br />

apo ntar na direç ã o contrária quan d o os cab el o s , dividido s ao<br />

m ei o co m m o d é s tia de Madona, ca e m lisos so br e os o m br o s . A<br />

en er gi a e a digni<strong>da</strong>d e tam b é m estã o evid e n ci a d a s aqui, m a s o<br />

ca min h o ord en a d o que elas segu e m e a divisã o equilibrad a do<br />

caud al faz co m que seja m con sid er a d a s do ponto de vista <strong>da</strong><br />

har m o ni a. E para impre s si o n ar co m es s e cab el o, é nec e s s á ri o<br />

e m todo cas o um en or m e volu m e , já que os cac h o s , por sua<br />

própria naturez a, ocup a m m ais esp a ç o . No pólo opo st o, a<br />

renún cia voluntária ao adorn o dos cab el o s deixa claro co m o a<br />

pes s o a faz pouc o <strong>da</strong> impres s ã o que exerc e so br e o sexo<br />

opo st o. Ela dev eria ser indiferent e para os m o n g e s , e outras<br />

cois a s estã o progra m a d a s para os sol<strong>da</strong> d o s , m e s m o que se<br />

trate de um oficial. Durante o serviç o militar eles serv e m a sua<br />

pátria, e para isso o eg o precis a ser obliterad o e a liber<strong>da</strong>d e<br />

1 2<br />

8


pes s o al e o efeito que se exer c e dev e m pas s ar para o segun d o<br />

plan o.<br />

A proble m á tic a do enc a n e c i m e n t o dos cab el o s será trata<strong>da</strong><br />

no final, junta- m e nt e co m OS sinto m a s <strong>da</strong> velhic e. Som e nt e os<br />

próprios afetad o s pod e m decidir se o cinzento extern o reflete o<br />

cinza interno ou se a brancur a dos cab el o s reflete sab e d o ria ou<br />

apen a s a simula. O que é decisivo é sab er se eles sofre m so b<br />

o efeito des s a colora ç ã o . O sofrim e nt o se m pr e nos diz que algo<br />

saiu <strong>da</strong> con s ci ê n ci a e foi e m p urrad o para o corp o para entã o<br />

tornar- se incô m o d o lá. Quanto ao s cab el o s tingidos<br />

artificialmente, esta m o s m ais próxim o s do plano <strong>da</strong><br />

co m p e n s a ç ã o . Os punk s, de man eira muito evid e nt e, leva m<br />

para seus pente a d o s as cor e s de que sent e m falta na vi<strong>da</strong>.<br />

Quem acre s c e n t a um pai de m e c h a s a seus cab el o s de cor<br />

uniform e quer evid e nt e m e n t e um pouc o de variaç ã o na<br />

m o n ót o n a uniformi<strong>da</strong>d e de suas cab e ç a s . Isso pod e se <strong>da</strong>r<br />

co m o co m p e n s a ç ã o , ma s tam b é m de m an eir a progra m á tic a,<br />

sen d o entã o ac o m p a n h a d o <strong>da</strong>s tentativas corre s p o n d e n t e s de<br />

tam b é m expr e s s ar es s a variaç ã o e m outros plano s.<br />

No jogo <strong>da</strong>s cor e s, o que m e n o s se ped e é a médi a. Cab el o s<br />

es c ur o s são tingido s de prefer ê n ci a de negr o azevic h e ,<br />

en qu a nt o para o castanho - claro prefer e- se o m ais lumino s o<br />

louro. O anjo louro- ourop el e a misterio s a noite es c ura são<br />

co m p a dr e s . A tend ê n ci a ao s extre m o s extern o s não raro<br />

contrasta m co m um a dispo siç ã o m orn a no interior. A fras e de<br />

Cristo: “Seja quent e ou frio, o m orn o eu cuspirei" refer e- se<br />

bastant e univo c a m e n t e à alm a, m a s é m ais simpl e s e cô m o d o<br />

aplicá- la extern a m e n t e .<br />

Finalm e nt e os cab el o s , co m o ap ên dic e <strong>da</strong> pele, funcion a m<br />

tam b é m co m o anten a s a serviç o <strong>da</strong> perc e p ç ã o extern a e <strong>da</strong><br />

vigilância. Ness e cas o, pen s a m o s nos bigod e s dos gato s e nos<br />

pêlo s m ais finos do corp o hum a n o . Uma pes s o a se m pêlo s,<br />

portanto, não tem anten a s volta<strong>da</strong> s para fora. Entre os<br />

sol<strong>da</strong> d o s , o isola m e n t o sim b ólic o do mun d o exterior é<br />

des ej á v el expres s a n d o - se tam b é m no interna m e n t o <strong>da</strong><br />

cas ern a. Já entre os m o n g e s zen, o retraim e nt o <strong>da</strong>s anten a s<br />

1 2<br />

9


extern a s por m ei o do rec olhi m e nt o na solidã o do m o st eiro tem<br />

um significad o ain<strong>da</strong> mais profund o.<br />

Pêlos no peito e nas perna s, por fim, per mite m entrev er um<br />

sim b olis m o hum a n o - anim al e s c o , evo c a n d o o pas s a d o <strong>da</strong><br />

história <strong>da</strong> ev oluç ã o , ch ei o de en er gia exub er a nt e e selva g e ria<br />

anim al. Os pêlo s de barb a nas fac e s e no queixo, por sua vez,<br />

são con sid er a d o s adorn o s clas sic a m e n t e ma s c ulino s. Um<br />

cavan h a q u e pod e ac e ntuar o asp e ct o <strong>da</strong> força de vontad e e <strong>da</strong><br />

cap a cid a d e de se impor, en q u a nt o um a barb a cheia pod e<br />

tam b é m natural m e nt e ocultá- las, ou seja, deixá- las no es cur o.<br />

Enquanto os ho m e n s que lem br a m noss o peludo pas s a d o<br />

primordial gosta m de se van gloriar, os ac e s s ó ri o s<br />

corre s p o n d e n t e s são insup ortáv ei s para as mulh er e s . Pêlos de<br />

barb a e cab el o s no peito arruína m a aura feminina e são<br />

arranc a d o s um a um. A hon e st a naturez a, entretanto, é<br />

teim o s a , e as ex cr e s c ê n c i a s ma s c ulina s se m pr e volta m a<br />

cres c e r. As expres s õ e s plen a s de significad o corresp o n d e n t e s<br />

equival e m à cap a ci<strong>da</strong>d e de resistên ci a do organis m o .<br />

Hirsutismo<br />

O surgi m e nt o de pêlo s corp or ais gros s o s tipica m e nt e<br />

ma s c ulino s e m mulh er e s produz um sofrim e nt o con sid er á v el.<br />

Este sinto m a nos per mite rec o n h e c e r co m clarez a que<br />

co m p o n e n t e s ma s c ulino s fora m forçad o s para a so m b r a e, de<br />

lá, tenta m tornar- se do min a nt e s no corpo. A situaç ã o hor m o n al,<br />

co m um a prep o n d e r â n ci a de co m p o n e n t e s ma s c ulino s, m ais<br />

reflete o fenô m e n o que o explica. As mulh er e s afetad a s vive m<br />

e des c o b r e m suas preten s õ e s e co m p o n e n t e s aní mic o s<br />

ma s c ulino s incon s ci e nt e s na sup erfície <strong>da</strong> sinc er a pele. De<br />

fato, to<strong>da</strong> s as mulh er e s têm a obriga ç ã o de des c o b rir e<br />

des e n v olv er seu pólo ma s c ulino, cha m a d o de animu s por Jung.<br />

Mas isso dev eria oc orr er na con s ci ê n ci a, e não no corp o. É<br />

esp e ci al m e n t e nos ano s de pub erd a d e que es s a tem átic a<br />

aflora, e es s a ép o c a está pred e stin ad a para a m anife staç ã o<br />

1 3<br />

0


física <strong>da</strong> m a s c ulini<strong>da</strong>d e quan d o não se dá nen hu m a chan c e<br />

para a mas c ulini<strong>da</strong>d e aní mic o- espiritual.<br />

A erupç ã o <strong>da</strong> en er gia ma s c ulina no cres ci m e n t o <strong>da</strong> barb a<br />

rev ela a reivindica ç ã o incon s ci e nt e de força de vontad e e<br />

cap a cid a d e de se impor. Uma pelug e m esp e s s a no corp o deixa<br />

entrev er um co m p o n e n t e anim al. Caso os afetad o s sofra m co m<br />

es s e s sinto m a s , há muito faland o e m favor de que eles vive m<br />

muito pouc o seu lado de anim al hum a n o , tend o que expres s álo<br />

no corp o. Caso não haja nen hu m sofrim e nt o e m jogo, coisa<br />

co m u m entre os ho m e n s , o exterior reflete o interior. O cas o<br />

extre m o , que não se limita às mulh er e s , seria o dos cha m a d o s<br />

"homens- cão ", e m que a integra ç ã o <strong>da</strong> parte anim al adquire<br />

primazia. Quando um ho m e m torna- se cão, isso quer dizer que<br />

ele che g o u ao ponto mais baixo. No que se refer e à hierarquia<br />

<strong>da</strong> evoluç ã o , isso tam b é m é válido para os ho m e n s peludo s<br />

que são confrontad o s co m seu pas s a d o anim al. Quando, no<br />

hirsutis m o , esta b el e c e - se um padrã o de pêlo s púbic o s<br />

ma s c ulino s, a veia fálica agre s siv a não declar ad a é ac e ntuad a.<br />

Os sinais de “machificaç ã o " (virilizaçã o , do latim vir = ho m e m )<br />

que muitas vez e s se so br e p õ e m ao cres ci m e n t o de pêlo s<br />

apo nta m na m e s m a direç ã o . Para os outros, torna- se<br />

imediata m e n t e claro que es s a mulh er é uma “mulh er- m a c h o ",<br />

ou seja, um a pes s o a que não se pod e tratar assi m de qualqu er<br />

man eira e que ela não está para brinca d eira s. O sinto m a quer<br />

que ela m e s m a o perc e b a .<br />

A tarefa de apren dizad o não con siste e m lutar contra o<br />

ma s c ulino e sim, ao contrário, e m sua realizaç ã o na própria<br />

vi<strong>da</strong>. Em vez de ac e ntuar o queixo co m um a barb a, trata- se de<br />

prop orci o n ar um a via de manifesta ç ã o para a própria vontad e.<br />

Em vez de env olv er- se e m um a den s a pelug e m , teria m ais<br />

sentido bus c ar proteç ã o por mei o do resp eito. Em lugar de um a<br />

apar ê n ci a extern a m e n t e ma s c ulina, que surja do íntimo um a<br />

irradiaç ã o de en er gia e pod er. Em vez de ocultar- se do mund o<br />

so b a form a de um ser peludo, trata- se justa m e n t e de deixar<br />

todo o mund o sab er que tamp o u c o a mulh er recua diante de<br />

situaç õ e s cab elud a s , que tamp o u c o tem pêlos na língua e que<br />

1 3<br />

1


tam b é m pod e esp et ar. Um certo contra- eriça m e n t o é uma <strong>da</strong>s<br />

liçõ e s a ser e m apren di<strong>da</strong> s . Renitên cia e a cap a cid a d e de<br />

eriçar- se ac e ntua m a própria vontad e e a pos sibili<strong>da</strong>d e de<br />

ofer e c e r resistên ci a de man eira m ais eficaz e durad o ur a que<br />

um cavanh a q u e . O ma s c ulino é um dos dois pólos <strong>da</strong><br />

reali<strong>da</strong>d e, não há a m e n o r chan c e de eliminá- lo do mund o co m<br />

uma pinça. A única pos sibili<strong>da</strong>d e con siste e m rec o n ciliar- se<br />

co m ele.<br />

A per<strong>da</strong> de todos o pêlos do corpo<br />

Em pacient e s que sofre m dest e sinto m a, o organis m o torna<br />

explícita de m an eira radical um a forte tend ê n ci a incon s ci e nt e<br />

de desistênci a <strong>da</strong> tarefa cumpri<strong>da</strong> pelas anten a s extern a s. Os<br />

pêlo s m orr e m a partir <strong>da</strong> raiz se m qualqu er razão apar e nt e e<br />

deixa m o afetad o literalm e nt e car e c a e pelad o. Com o eles se<br />

env er g o n h a m de apar e c e r e m público se m pêlo s, o sinto m a<br />

muitas vez e s leva a um isola m e n t o total. Com isso, entretanto,<br />

efetua- se a desistên ci a que os pacient e s não têm cora g e m de<br />

levar a cab o con s ci e nt e m e n t e . No sinto m a, o corp o m o stra- lhes<br />

sim b olic a m e n t e o prop ó sito incon s ci e nt e de rec olh er as<br />

anten a s e interro m p e r os contato s co m o m ei o circund a nt e e<br />

realiza es s e des ej o. Há muito já que eles se sent e m de fato<br />

nus, des pr ot e gid o s e exp o st o s , se m no entanto ad miti- lo para<br />

si m e s m o s . O sinto m a m o stra a verg o n h a dos pacient e s e m<br />

duplo sentido. A per<strong>da</strong> do rosto senti<strong>da</strong> incon s ci e nt e m e n t e<br />

tam b é m está implícita, pois alé m dos pêlo s púbic o s e <strong>da</strong>s<br />

axilas eles perd e m tam b é m is so br a n c el h a s e os cílios. Quando<br />

eles aprend e m a sup er ar a carên ci a co m a aju<strong>da</strong> de peruc a s e<br />

ma q uia g e m , o sinto m a perd e significad o e, quan d o na<strong>da</strong><br />

ac o nt e c e interna m e n t e , a angústia aum e nt a co m o retorn o à<br />

vi<strong>da</strong> e m so ci e d a d e .<br />

A tarefa de apren dizad o é evid e nt e: trata- se de retirar- se<br />

para dentro de si m e s m o e rec olh er as anten a s . O que está<br />

sen d o exigido é a hon e sti<strong>da</strong>d e nua e a ab ertura despr ot e gi d a,<br />

co m o as de um be b ê . Tentativas de en c o b ri m e n t o cos m é ti c o<br />

1 3<br />

2


contribu e m co m o tentativa de deixar pas s ar inadv erti<strong>da</strong> a<br />

m e n s a g e m do sinto m a e não para sua cura. Juntam e nt e co m<br />

os cab el o s é retira<strong>da</strong> tam b é m a liber<strong>da</strong>d e , por exe m pl o a<br />

liber<strong>da</strong> d e de m o v er- se e m m ei o a outras pes s o a s de man eira<br />

livre e desi m p e di d a. Sendo assi m, perd e- se tam b é m parte do<br />

ma g n e tis m o e, portanto, do pod er que se exer c e so br e outras<br />

pes s o a s , esp e ci al m e n t e so br e o sex o opo st o. A pos sibili<strong>da</strong>d e<br />

de enc a ntar co m os cab el o s fica des c arta d a, já que pestan a s<br />

que não estã o mais disponív ei s não pod e m pisc ar.<br />

O sinto m a rem et e- se à verg o n h a natural e m o stra a própria<br />

situaç ã o de des a m p a r o . Ele interliga vários jogo s sociais e<br />

so br etud o o jogo <strong>da</strong> autoc o nfian ç a. Ele é igual m e nt e o pólo<br />

opo st o do hirsutis m o . Enquanto este sug eria impor- se por m ei o<br />

<strong>da</strong> en er gia e do pod er para assi m des o b rig ar o corpo des s a<br />

tarefa, a co m pl et a per<strong>da</strong> de pêlos força ain<strong>da</strong> m ais<br />

profun<strong>da</strong> m e n t e a um estad o de des a m p a r o infantil.<br />

Que<strong>da</strong> de cabelos<br />

Quando as anten a s tão ch eias de significad o, adorn o s<br />

valios o s , sím b ol o s de pod er, liber<strong>da</strong>d e e vitali<strong>da</strong>d e são<br />

perdi<strong>da</strong> s atrav é s <strong>da</strong> vil sinto m átic a <strong>da</strong> qued a de cab el o s , dev ese<br />

pen s ar e m todo s os tem e s citado s acim a. Além diss o,<br />

so m a m - se a eles to<strong>da</strong>s as situaç õ e s nas quais é precis o<br />

sacrificar algo [Haare lars e n = deixar cab el o s]. Caso se deixe<br />

de notar a nec e s si d a d e de um a mud a n ç a aní mic o- espiritual, o<br />

org anis m o é forçad o a incorp or ar o tem a substitutiva m e n t e.<br />

Com o os cab el o s são ap ên dic e s <strong>da</strong> pele, nest e contexto seria<br />

o cas o de se pen s ar tam b é m no sim b olis m o <strong>da</strong> mud a,<br />

esp e ci al m e n t e se qued a de cab el o s ve m ac o m p a n h a d a <strong>da</strong><br />

form a ç ã o de casp a. A serp e nt e ab and o n a sua pele velha<br />

quan d o está ma dur a para uma nova. Portanto, colo c a- se a<br />

seguinte que st ã o : Será que eu neglig e n ci ei despir minha velha<br />

pele e per mitir o cres ci m e n t o de um a nova?<br />

Expres s õ e s tais co m o "deixar cab el o s" ou "pen a s" [ver<br />

aci m a: Haare Iars e n] e “sentir- se dep e n a d o " dão a enten d er<br />

1 3<br />

3


que foi precis o pag ar algo, ou seja, fazer um sacrifício que não<br />

se queria fazer de livre e esp o ntân e a vontad e. Não se saiu<br />

iles o des s a situaç ã o , m a s bastant e dep e n a d o e vulnerá v el.<br />

Aqui surg e a questã o : Onde e quan d o eu deixei de pag ar, ou<br />

seja, de lazer o sacrifício nec e s s á ri o?<br />

A tarefa de apren dizad o oculta so b este asp e ct o <strong>da</strong> que d a<br />

de cab el o s é, con s e q ü e n t e m e n t e , livrar- se de man eira<br />

con s ci e nt e <strong>da</strong>quilo que é velho e que foi sup er a d o pelo temp o<br />

para abrir esp a ç o para o nov o. Trata- se es s e n ci al m e n t e de <strong>da</strong>r<br />

es s e pas s o de m an eira con s ci e nt e, para assi m liberar o corp o<br />

<strong>da</strong> tarefa substitutiva de despr e n di m e n t o . Além diss o, impõ e- se<br />

a indicaç ã o de que muito pouc o nov o volta a cres c e r. A qued a<br />

total exig e que se livre radical m e n t e , real m e nt e até as raízes<br />

(dos cab el o s), dos velho s tem a s já sup er a d o s .<br />

A outra pos sibili<strong>da</strong>d e é ad mitir e ac eitar a per<strong>da</strong> de liber<strong>da</strong> d e<br />

que se instaurou. O corp o entã o tamp o u c o irá apre s e nt ar o<br />

tem a nova m e n t e so br e o trave s s eir o a cad a man h ã. Quem<br />

enten d e que sua liber<strong>da</strong>d e con sist e e m fazer con s ci e nt e m e n t e<br />

e de livre e esp o ntân e a vontad e aquilo que dev e ser feito não<br />

precis a tem er por seus sím b ol o s de liber<strong>da</strong>d e . Isso é<br />

esp e ci al m e n t e important e e m per<strong>da</strong>s de liber<strong>da</strong> d e inevitáv eis<br />

tais co m o , por exe m pl o, o tornar- se adulto. Pacient e s. q u e<br />

co m e ç a m a perd er cab el o s já na adol e s c ê n c i a de m o n s tr a m<br />

que não estã o suficiente m e n t e con ciliad o s co m o fato de<br />

tornar- se adultos. A care c a prec o c e , portanto, m o stra um rosto<br />

duplo. Por um lado os afetad o s , extern a m e n t e , pare c e m<br />

prec o c e m e n t e "env elh e ci d o s ”, já que a car e c a é um sinal dos<br />

ano s “madur o s". Por outro lado, um olhar treinad o<br />

sim b olic a m e n t e rec o n h e c e tam b é m a falta de cab el o s do<br />

rec é m - nas cid o, esp e ci al m e n t e se e m vez de voltare m a cres c e r<br />

nov o s cab el o s , form a- se um a suav e pelug e m A expr e s s ã o<br />

"carec a co m o a bund a de um be b ê " traz à tona es s e duplo<br />

asp e ct o. Quando a care c a já e mite reflexo s, a soluç ã o está<br />

entã o no am a d ur e ci m e n t o aní mic o- espiritual. Nunca é tarde<br />

de m ai s para livrar- se <strong>da</strong> pelug e m <strong>da</strong> infância, ou seja, de<br />

red e s c o b rir o próprio infantilism o e m um nível mais elev a d o .<br />

1 3<br />

4


Outras ép o c a s típicas para a qued a de cab el o s são o<br />

períod o que antec e d e o m atrim ô ni o, ante s de assu mir um<br />

posto fixo, ante s de uma no m e a ç ã o , etc. Aqui dev e- se pens ar<br />

no m e s m o principio: não é a desistên ci a con s ci e nt e <strong>da</strong><br />

liber<strong>da</strong> d e e <strong>da</strong> indep e n d ê n c i a que colo c a m e m perigo os<br />

adorn o s <strong>da</strong> cab e ç a m a s c ulina ma s, e m deter min a d a s<br />

circunstânci a s, a incon s ci ê n ci a que a ac o m p a n h a e a tentativa<br />

de não pag ar pelas vantag e n s que são reivindic ad a s . Quem se<br />

torna funcion ário público co m intenç ã o e paixão e, por isso,<br />

abdic a de bo m grad o de deter min a d a s liber<strong>da</strong>d e s , tem seus<br />

cab el o s se g ur o s . Muito mais am e a ç a d o esta que m se sent e<br />

artista e son h a son h o s de alto vôo ma s, devido ao m e d o não<br />

ad mitido que sente diante <strong>da</strong> existên cia, entra para o<br />

funcion alis m o público. É precis o pag ar por um tal pas s o e m<br />

falso, por exe m pl o, sen d o sim b olic a m e n t e dep e n a d o .<br />

As mud a n ç a s no cres ci m e n t o dos cab el o s durante a<br />

gravid ez e apó s o nas ci m e nt o ilumina m o m e s m o tem a a partir<br />

de um outro ponto de vista. Muitas mulh er e s obtê m um cab el o<br />

den s o e vital durante a gravid ez, ma s algu m a s volta m a perd er<br />

es s e acré s ci m o log o após o nas ci m e nt o . O asp e ct o do<br />

sacrifício é nítido no nas ci m e n t o . Para pre s e nt e a r uma criança<br />

co m a vi<strong>da</strong> a mulh er precis a sep ar ar- se dela, e ela alé m diss o<br />

dá um pres e nt e, ou seja, ela dá algo de si m e s m a . Uma forte<br />

que d a de cab el o s apó s o nas ci m e n t o oc orr e esp e ci al m e n t e<br />

co m mulh er e s que têm probl e m a s co m o des e m p e n h o do pap el<br />

de m ã e e seu asp e ct o de sacrifício. Por um lado, elas leva m<br />

para a cab e ç a o sacrifício que não foi feito esp o nt an e a m e n t e , e<br />

por outro elas tam b é m vive m no corp o o asp e ct o de<br />

transfor m a ç ã o que suas vi<strong>da</strong>s dev e m sofrer após o nas ci m e nt o<br />

<strong>da</strong> crianç a.<br />

Na que d a de cab el o s circular, a cha m a d a Alopecia areata ,<br />

trata- se <strong>da</strong> m e s m a tem átic a referind o- se a um âm bito m ais<br />

circuns crito. A tarefa aqui é des c o b rir es s e âm bito restringido,<br />

livrar- se de estruturas sup er a d a s e per mitir que um novo<br />

impulso surja e m seu lugar.<br />

Deve- se fazer um a distinçã o co m a qued a dos cab el o s<br />

1 3<br />

5


ma s c ulino s naqu el e lugar típico que lem br a a tonsura de um<br />

m o n g e . Será que se trata de aproxim ar- se do arqu étipo do<br />

m o n g e , que co m a aju<strong>da</strong> <strong>da</strong> sua tonsura no lugar do chakra<br />

sup erior tenta sinalizar para o alto? Será que há aqui um<br />

convite para fazer co m o o m o n g e e livrar- se tend e n ci o s a m e n t e<br />

do mun d o exterior para abrir- se m ais para os mund o s<br />

sup erior e s?<br />

As cha m a d a s "entra<strong>da</strong> s" dão a enten d e r algo se m el h a nt e ao<br />

conferir um a fronte de pen s a d o r e, assi m, ac e ntuar o asp e ct o<br />

filosófic o do ho m e m . Neste cas o tam b é m pod e- se ap en a s<br />

presu mir se algo que foi neglig e n ci a d o do ponto de vista<br />

aní mic o- espiritual é expr e s s o no plano corp or al, ou se a fronte<br />

de pen s a d o r distingu e o pen s a d o r.<br />

P er g u nta s<br />

1. Estou m e punindo por algo, ou eu m e deixo punir?<br />

2. Estou sacrificand o m eu s cab el o s , sinal de m eu pod er e<br />

de minh a digni<strong>da</strong>d e , e m penitên ci a? Em cas o afirmativo, para<br />

quê?<br />

3. Esqueci de pag ar pela liber<strong>da</strong> d e , digni<strong>da</strong>d e e pod er<br />

desfrutad o s ?<br />

4. Onde fiquei pend e nt e de con c e p ç õ e s de liber<strong>da</strong> d e<br />

infantis e imaturas?<br />

5. Será que neglig e n ci ei desfaz er- m e de velha s estruturas<br />

de pod er já caduc a s ?<br />

6. Será que eu quis fazer perdurar por de m a s i a d o temp o<br />

estruturas de digni<strong>da</strong>d e e con sid er a ç ã o já sup er a d a s ?<br />

7 Será que ao aferrar- m e a velha s estruturas eu, se m<br />

perc e b e r, perdi a liber<strong>da</strong>d e real, o ver<strong>da</strong>d eir o pod er e a<br />

corre s p o n d e n t e digni<strong>da</strong>d e?<br />

8. Onde foi que eu deixei de per mitir que nov o s impuls o s e<br />

nova s en er gias foss e m injetad o s e m minha vi<strong>da</strong>?<br />

1 3<br />

6<br />

2. O rosto


O rosto é não apen a s a parte de noss o corp o co m a qual<br />

ve m o s o mund o, ele é so br etud o a parte de nós que ante s de<br />

todo o resto vê o mun d o pela prim eira vez. Imag e m e<br />

apar ê n ci a tam b é m faze m parte do jogo. Qualquer tom a d a de<br />

contato co m e ç a co m o sentido <strong>da</strong> visã o, co m noss o s olho s.<br />

Eles são hoje nos s o s órg ã o s sen s oriais m ais importante s . Os<br />

term o s de avaliaç ã o ficam claro s quan d o , para algo caríssi m o ,<br />

dize m o s que custa "os olho s <strong>da</strong> cara". Nos prim órdio s <strong>da</strong><br />

hum a nid a d e , um bo m nariz era ain<strong>da</strong> mais important e; de<br />

form a corresp o n d e n t e , a parte do cér e br o resp o n s á v e l pelo<br />

olfato é maior e m ais antiga. Um ouvido apurad o tam b é m era<br />

importante para a so br e viv ê n ci a, já que o ho m e m era<br />

am e a ç a d o por perigo s naturais. Até m e s m o o pala<strong>da</strong>r, que no<br />

entrete m p o tornou- se pratica m e n t e um sentido de luxo, podia<br />

decidir entre a vi<strong>da</strong> e a m orte quan d o era precis o sep ar ar os<br />

alim e nt o s estrag a d o s dos co m e s tív ei s. A vista é o que m ais<br />

cha m a nos s a aten ç ã o . Nós avalia m o s o mun d o a olho. Apesar<br />

diss o, a per<strong>da</strong> <strong>da</strong> audiçã o é ain<strong>da</strong> m ais grav e para o be m - estar<br />

aní mic o que a per<strong>da</strong> <strong>da</strong> visão, o que de m o n s tr a que nas<br />

profund ez a s <strong>da</strong> alm a pred o m i n a m outros valor e s.<br />

Não so m e n t e os sentido s mais importante s estã o localizad o s<br />

no rosto, nos s a sen s u ali<strong>da</strong> d e tam b é m se esp elh a nele, assi m<br />

co m o nele expr e s s a m - se noss o s estad o s de ânim o . É,<br />

portanto, co m pr e e n s í v el que prest e m o s a ele noss a máxi m a<br />

aten ç ã o . Nós tenta m o s pres er v ar o rosto pratica m e n t e a<br />

qualqu er preç o, e tem o s m e d o de perd ê- lo. Emb or a, e m noss o<br />

âm bito cultural, seja a única parte do corpo que revela m o s<br />

des c o b e rta ao mund o, aqu el e rosto que m o stra m o s só<br />

rara m e n t e é nos s o ver<strong>da</strong>d eir o rosto. No curs o <strong>da</strong> vi<strong>da</strong><br />

adquirim o s um se m - núm er o de má s c ar a s para não term o s de<br />

ab and o n a r nos s a posiç ã o na vi<strong>da</strong>. Uma <strong>da</strong>s m á s c ar a s mais<br />

difundi<strong>da</strong> s goz a de grand e apreç o entre nós, ap e s ar do no m e<br />

norte- am eric a n o : é o ke e p- s miling. Aconteç a o que ac o nt e c e r,<br />

se sorri. "Fazer bo a cara a um mau jogo", diz a voz popular<br />

des s a repres e nt a ç ã o des o n e s t a, <strong>da</strong> am a bili<strong>da</strong>d e e cov ardia de<br />

um cas a m e n t o apar e nt e m e n t e feliz m a s que é totalm e nt e<br />

1 3<br />

7


insatisfatório para a vi<strong>da</strong> intima. E assi m sorrim o s<br />

ator m e nt a d o s o dia todo, m e s m o que não tenha m o s nen hu m a<br />

razã o para sorrir. Essa discr ep â n ci a entre nos s o ver<strong>da</strong>d eir o<br />

rosto e o rosto que m o stra m o s é resp o n s á v e l por inúm er a s<br />

tens õ e s mus c ular e s . No que a isso se refer e, os asiático s<br />

leva m outra vantag e m so br e nós. Som e nt e um esp e ci alista<br />

pod e dizer o que real m e nt e se es c o n d e por trás <strong>da</strong> radiante<br />

facha d a de seus rosto s per m a n e n t e m e n t e sorrident e s . O<br />

rev ers o <strong>da</strong> facha<strong>da</strong> sorrident e é a má s c ar a circunsp e c t a de<br />

que m arca co m grand e s resp o n s a bili<strong>da</strong>d e s que os político s<br />

gosta m tanto de usar.<br />

Muitas pes s o a s utilizam suas diferent e s m á s c ar a s co m<br />

grand e facili<strong>da</strong>d e, pas s a n d o de um sorriso char m o s o a um<br />

co m p a s s i v o , de um olhar significativo a um a elo qü e nt e<br />

seried a d e de ac ord o co m a nec e s s i d a d e . Outros troca m a<br />

má s c ar a inteira e, de ac ord o co m a oc a si ã o , m o stra m um rosto<br />

feliz ou, se for nec e s s á ri o, triste. Pode- se guiar até mes m o pelo<br />

calen d ário e voltar a mo strar a cara de segun d a- feira de manhã<br />

apó s ter usad o a do feriado de do min g o . Com a pergunta "por<br />

que voc ê está co m es s a cara hoje?” so m o s lem br a d o s , e m<br />

certas circunstân ci a s, que co m tanta sinc eri<strong>da</strong> d e se foi long e<br />

de m ai s. Um sac er d ot e m e diss e que tinha um rosto de<br />

batizad o, um rosto de cas a m e n t o e um rosto de enterro. Essas<br />

má s c ar a s profission ai s estã o pelo m e n o s tão difundi<strong>da</strong>s quanto<br />

os uniform e s profission ai s. O sorriso faz parte do uniform e de<br />

aer o m o ç a s e garç o n s , en qu a nt o para juizes e cov eiro s es s a<br />

má s c ar a teria pouc a utili<strong>da</strong>d e. Os atore s, por outro lado,jo g a m<br />

o jogo, e m si des o n e s t o , de man eira hon e st a, quan d o entra m<br />

"na má s c ar a" ante s <strong>da</strong> cen a e se caract eriza m para subir ao<br />

palc o. O rosto m o stra o quanto atua m o s e co m o enc o b ri m o s<br />

noss a ver<strong>da</strong>d eir a expr e s s ã o . Há, portanto, muitas razõ e s para<br />

não mo strar no s s o rosto verd a d eiro.<br />

Em um a so ci e d a d e que m e n o s pr e z a a i<strong>da</strong>d e, muitas<br />

pes s o a s sente m - se inco m o d a d a s quan d o o rosto co m e ç a a<br />

esp elh ar os traç o s <strong>da</strong> vi<strong>da</strong>. O ideal seria op er ar as marc a s<br />

deixad a s pelo temp o, e algun s cirurgiõ e s plástico s leva m uma<br />

1 3<br />

8


o a vi<strong>da</strong> bas e a d a nes s e m e d o <strong>da</strong> i<strong>da</strong>d e. A pos sibili<strong>da</strong>d e de<br />

e m b el e z ar a reali<strong>da</strong>d e cirurgica m e n t e pod e ser nova, m a s a<br />

idéia é antiqüís si m a. Com mét o d o s parcial m e nt e se marciais, já<br />

na cinzenta pré- história se tentava m correç õ e s <strong>da</strong> testa, do<br />

nariz e até mes m o <strong>da</strong> cab e ç a .<br />

E e m nenhu m a outra parte se disfarça tanto co m o no rosto,<br />

pois e m nenhu m a outra parte há tanto para en c o b rir. Quando<br />

se ous a levantar a má s c ar a, para rasp ar o verniz e ver o que<br />

há so b a tinta, a sinc eri<strong>da</strong>d e é posta a des c o b e rt o. Há to<strong>da</strong><br />

uma indústria viven d o diss o, fingindo o que não é co m<br />

cos m é ti c o s , bronz e a m e n t o artificial, etc., e ocultand o o que é.<br />

Apesar de tudo isso, os reto qu e s não dev e m sei des c artad o s<br />

radical m e n t e (co m o des o n e s t o s). Depen d e <strong>da</strong> intenç ã o .<br />

Quando uma pes s o a assu m e a posiç ã o do lótus, as reali<strong>da</strong>d e s<br />

interna e extern a, de m an eira geral, não coincid e m<br />

inteira m e nt e. A perfeita form a extern a en c o b r e algo que (ain<strong>da</strong>)<br />

não existe interna m e n t e . Apesar diss o, faz sentido praticar<br />

es s e s antiqüís si m o s exer cíci o s, na esp er a n ç a de que co m o<br />

temp o o interior se iguale ao exterior. Vistas des s a man eira,<br />

algu m a s tentativas cos m é ti c a s con s ci e nt e s tam b é m adquire m<br />

significad o.<br />

O estud o <strong>da</strong>s fision o mi a s deriva imag e n s do caráter a partir<br />

<strong>da</strong>s indicaç õ e s <strong>da</strong> form a do rosto. Parte des s e con h e ci m e n t o<br />

surg e nova m e n t e na sab e d o ria e expres s õ e s popular e s,<br />

fazend o parte do ac erv o de exp eriên ci a s do con h e ci m e n t o<br />

hum a n o subjac e nt e, quas e incon s ci e nt e, m a s que é utilizado<br />

por quas e to<strong>da</strong> s as pes s o a s . Muitas pes s o a s sab e m e todo s<br />

sent e m que lábios gros s o s reflete m uma sen s u ali<strong>da</strong>d e<br />

esp e ci al, e que um queixo pro e mi n e nt e deixa entrev er um a<br />

vontad e equival e nt e. A testa estreita m o stra m e n o s intelecto<br />

que uma fronte alta, olho s pequ e n o s e profund o s den ot a m<br />

rec olhi m e nt o , en qu a nt o os saliente s olho s dos que sofre m do<br />

mal de Based o w têm algo de indiscr eto s e, ao m e s m o tem p o ,<br />

assustad or. A interpreta ç ã o incon s ci e nt e dos padrõ e s do rosto<br />

é utiliza<strong>da</strong> am pla m e n t e na vi<strong>da</strong> cotidian a. Ela decid e se um a<br />

pes s o a é simp átic a ou antipática. O estad o de ânim o tam b é m<br />

1 3<br />

9


se manife sta de form a esp o nt â n e a na expres s ã o do rosto e,<br />

nova m e n t e , não sab e m o s co m o isso ac o nt e c e .<br />

Com tanta sinc eri<strong>da</strong>d e e m um único lugar e tantas tentativas<br />

de e m b e l e z á- la, não é de ad mirar que os sinto m a s frustre m<br />

níti<strong>da</strong> e algo doloro s a m e n t e o oculta m e nt o dos fatos. É<br />

tam b é m no rosto que o org anis m o ag e m ais ativa m e nt e e m<br />

relaç ã o ao tem a <strong>da</strong> sinc eri<strong>da</strong>d e . Quando tenta m o s ocultar co m<br />

truque s o que está es crito e m nos s a cara, o destino utiliza um<br />

buril mais duro para traçar seus risco s na matriz <strong>da</strong> reali<strong>da</strong>d e,<br />

neste cas o a pele de noss a fac e.<br />

Ruborização<br />

O destino tem sinais mais suav e s à dispo siç ã o , dos quais se<br />

serv e antes de rec orr er a m e di<strong>da</strong> s doloro s a s e desfigurad or a s .<br />

A ruborizaç ã o , freqü e nt e m e n t e , é um fenô m e n o que quer trazer<br />

um tem a à con s ci ê n ci a do afetad o e que este bloqu ei a. A<br />

situaç ã o tem algo de teatral. Na maioria <strong>da</strong>s vez e s, trata- se de<br />

um tem a m alicio s o que, env olvido e m um a pia<strong>da</strong>, por exe m pl o,<br />

impregn a o ar <strong>da</strong> sala. Os afetad o s tenta m ignorar o tem a e<br />

ag e m , por exe m pl o, co m o se não tives s e m enten did o a pia<strong>da</strong> e<br />

de qualqu er form a não tives s e m na<strong>da</strong> a ver co m isso. Apesar<br />

de que eles adoraria m que o chã o se abriss e so b seus pés<br />

para que pudes s e m tornar- se invisíveis, a sinc er a pele (do<br />

rosto) anuncia, atrav é s <strong>da</strong> ruborizaç ã o , que eles sim têm algo a<br />

ver co m isso. A "cara cor de tom at e" atrai ma gic a m e n t e a<br />

aten ç ã o para si. Quanto m ais seu proprietário resiste a es s e<br />

con h e ci m e n t o e tenta ac al m ar- se, m ais ver m el h o e m ais<br />

quent e vai se tornan d o seu rosto. Com o um farol, ele anun cia a<br />

pen o s a ver<strong>da</strong>d e . O próprio tem a é aludido até m e s m o pelas<br />

"luzes ver m e lhas" que, no mund o exterior, trans mite m a<br />

m e s m a m e n s a g e m quan d o colo c a d a s diante dos<br />

esta b el e ci m e n t o s corresp o n d e n t e s . A pele do rosto faz co m<br />

que seja impo s sív el deixar de ver aquilo que os afetad o s não<br />

quer e m perc e b e r .<br />

14<br />

0


A lição a ser aprendid a está clara. A lâmp a d a ver m el h a<br />

so m e n t e se apag a quan d o a pes s o a se dispõ e a rec o n h e c e r o<br />

tem a ao qual não prestou a devi<strong>da</strong> aten ç ã o e ad mite sua<br />

relaç ã o co m ele. Aquilo que viven cia m o s de man eira nor m al e<br />

natural não pod e ac e n d e r a luz <strong>da</strong> verg o n h a e m noss a cara.<br />

Quando for real m e nt e pos sív el contar um a pia<strong>da</strong><br />

corre s p o n d e n t e se m m orr er de verg o n h a , isso significa que o<br />

tem a foi integrad o , e a luz de alar m a fica apa g a d a . O m ais<br />

importante é que o âm bito que ante s era des a g r a d á v el e<br />

estav a carreg a d o de angú stia pod e ag or a ser viven ciad o<br />

ab erta m e n t e , co m alegria, e ser integrad o à vi<strong>da</strong>. Até m e s m o<br />

um sinto m a apar ent e m e n t e tão pequ e n o e inofen siv o esta e m<br />

condiç õ e s de revelar grand e s tarefas de apren dizad o .<br />

P er g u nta s<br />

1. Quais âm bito s <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> são pen o s o s para mi m? De que<br />

eu me env er g o n h o ?<br />

2. Quais são os sentim e nt o s e sen s a ç õ e s pelo s quais não<br />

pos s o resp o n d e r?<br />

3. Quais são as situaç õ e s que eu se m pr e evito?<br />

4. O que eu pod eria e dev eria aprend er justa m e nt e co m<br />

es s a s situaç õ e s ?<br />

5. O que significa para mi m expor- m e ao público e ser o<br />

centro <strong>da</strong>s aten ç õ e s ?<br />

6. Com o pod eria transferir o tem a do erotis m o <strong>da</strong> cab e ç a<br />

para o cora ç ã o e a regiã o genital?<br />

Neuralgia do trigêmeo ou dores nervosa s no rosto<br />

O trigê m e o é o quinto dos doz e nervo s cer e br ai s e é<br />

resp o n s á v e l, entre outras cois a s, pelas delicad a s sen s a ç õ e s do<br />

rosto. Ele tem três ramificaç õ e s . A ramificaç ã o sup erior ocup ase<br />

<strong>da</strong> testa, a do m ei o é resp o n s á v e l pela regiã o do m axilar<br />

sup erior e a inferior pela regiã o do maxilar inferior. A palavra<br />

neuralgia significa sen s a ç ã o dolor o s a no trajeto de um nervo e<br />

suas ramificaç õ e s ; as caus a s <strong>da</strong> neuralgia do trigê m e o não<br />

14<br />

1


estã o claras para a m e di cin a. De fato, a açã o do fenô m e n o<br />

so br e a vi<strong>da</strong> do afetad o é sen s a ci o n al - no sentido m ais<br />

des a gr a d á v e l <strong>da</strong> palavra. No inicio, as dore s surg e m quas e<br />

se m pr e so b a form a de ataqu e e, muitas vez e s ,<br />

unilateral m e nt e. Elas pod e m afetar ramificaç õ e s isolad a s do<br />

nervo, ma s tam b é m várias delas ao m e s m o temp o , e pod e m<br />

des e n v olv er- se até se tornar um a dor prolon g a d a crônic a. Com<br />

as dor e s violentas, o rosto do pacient e é trazido à sua<br />

con s ci ê n ci a de m an eira instantân e a ou con sta nt e. Des env olv ese<br />

rapi<strong>da</strong> m e n t e um a hipers e n si bili<strong>da</strong>d e (ou hiper e st e si a) <strong>da</strong><br />

pele do rosto, sen d o que os ponto s de parti<strong>da</strong> dos nervo s<br />

torna m- se esp e ci al m e n t e dolorido s. Os paci ent e s sent e m o<br />

mal- estar não so m e n t e na pele, eles têm vontad e de gritar por<br />

trás <strong>da</strong> m á s c ar a. Para eles é indizivel m e nt e difícil mant er a<br />

expr e s s ã o do rosto. Às vez e s, a cois a ch e g a a tal ponto que os<br />

traç o s nor m al m e n t e con s erv a d o s des a p ar e c e m para <strong>da</strong>r lugar<br />

a um a car eta corroí<strong>da</strong> pela dor. Em tais situaç õ e s , quan d o a<br />

mus c ulatura tam b é m reag e e os traç o s do rosto do pacient e<br />

são eliminad o s , a m e dicin a fala de tique doloro s o . Som a- se a<br />

isso um a intens a ruborizaç ã o do rosto, suor e s e fluxo de<br />

lágrim a s . Os pacient e s dão a impre s s ã o de quer er uivar, gritar<br />

e vociferar ao m e s m o tem p o , co m o se estive s s e m preste s a ter<br />

um ataqu e de fúria ou algu m outro tipo de ataqu e aterrorizante.<br />

Quem am e a ç a perd er o control e devid o à dor não pod e olhar<br />

de m an eira des c o ntraí<strong>da</strong> para a cara de outras pes s o a s e, e m<br />

última instân cia, do mun d o . Ele se contorc e de dor e a form a<br />

que assu m e é mais a de um ver m e que a de um ser hum a n o . A<br />

postura retorci<strong>da</strong> e o rosto dev or a d o pela dor indica m algo que<br />

esta no plan o de fundo. No fundo, algo não faz sentido, as<br />

cois a s não estã o mais direitas e sim curva<strong>da</strong> s e retorci<strong>da</strong>s.<br />

O tem a <strong>da</strong> agre s s ã o não pod e estar muito long e quan d o as<br />

dore s des e m p e n h a m um pap el tão central A pes s o a afetad a<br />

pela neuralgia do trigê m e o sente- se golp e a d a , e a situaç ã o e m<br />

que se enc o ntra é de fato a de algu é m que está sen d o<br />

es b of et e a d o pelo destino. A irrupçã o de dor co m a qual o<br />

afetad o está se m pr e am e a ç a d o co m pr o v a igual m e nt e a<br />

14<br />

2


probl e m á tic a agr e s siva. Medica m e n t e não faz sentido sab er<br />

até que ponto a sinto m átic a <strong>da</strong> dor m elh or aria atrav é s <strong>da</strong> açã o<br />

de estí m ul o s agre s siv o s . Simb olic a m e n t e , entretanto, a relaç ã o<br />

entre dor e agr e s s ã o é evid e nt e, já que o m e s m o deus <strong>da</strong><br />

guerra, Marte, está por trás de am b a s . Muitos pacient e s têm a<br />

sen s a ç ã o de que <strong>da</strong>r golp e s lhes traria algu m alívio.<br />

Em uma tal situaç ã o , seria terap eutic a m e n t e intere s s a nt e<br />

sab er e m que direç ã o eles seria m <strong>da</strong>d o s . Quem m er e c e ri a os<br />

sop ap o s m ais do que eles? Golpes contido s termin a m de fato<br />

por golp e ar a própria pes s o a e m algu m m o m e n t o . Quem<br />

se m pr e se contê m e mant é m a m e s m a cara, dev e contar co m<br />

que a situaç ã o se volte contra ele e provo q u e contrag olp e s .<br />

Tudo o que é retido per m a n e c e , naturalm e nt e, na própria<br />

pes s o a . Ness e sentido, é extre m a m e n t e des a gr a d á v e l reter<br />

algo tão des a g r a d á v el co m o golp e s. Pode- se ver co m o es s e<br />

estad o cai m al ao pacient e quan d o ele se arrasta pelas<br />

proximi<strong>da</strong>d e s co m o um cão esp a n c a d o e afirma que já não<br />

agü e nta m ais. Isso quer dizer que ele não suporta m ais es s a s<br />

dore s, ou seja, es s a s agr e s s õ e s . A soluç ã o está lá ond e ele<br />

não con s e g u e m ais se conter. Seu rosto dolorido arde por<br />

alívio e relaxa m e n t o . Muitas vez e s isso se nota pouc o<br />

extern a m e n t e , os mús c ul o s do rosto m ant ê m a form a e ain<strong>da</strong><br />

faze m boa cara a um mau jogo. Mas o pacient e não pod e m ais<br />

suportar a sen s a ç ã o que está no fundo, por trás des s a<br />

má s c ar a. Durante o ataqu e, que se m pr e é tam b é m um a<br />

insolên ci a, a facha<strong>da</strong> se que br a diante dos olho s de todo s e ele<br />

não pod e fazer outra cois a que exibir sua dor.<br />

Ao m e s m o temp o, o sinto m a o impe d e de agü e ntar ain<strong>da</strong><br />

mais e con s er v ar a form a para o exterior, ele o força a ser<br />

insole nt e e gritar ao s quatro vento s a dor que no fundo sente.<br />

Ele precis a co m u nic ar ao entorn o o torm e nt o infernal que<br />

sent e. Deve tornar- se alto e público o torm e nt o que a vi<strong>da</strong><br />

significa por trás <strong>da</strong> má s c ar a e que ele não vai continuar assi m,<br />

porqu e ele não pod e agü e nt ar m ais se m co m e ç a r a distribuir<br />

golp e s a seu redor. É precis o con front ar aqu el e s a que m seus<br />

golp e s dev eria m real m e nt e atingir, é isso que sua dolor o s a<br />

14<br />

3


fronte des ej a ardent e m e n t e .<br />

Em todo cas o , partir para a aç ã o so m e n t e traz alívio quan d o<br />

oc orr e co m um a certa con s ci ê n ci a. A irritaçã o m al- hum or a d a<br />

que se m anifesta à m e n o r oportuni<strong>da</strong>d e e que muitas vez e s se<br />

des e n v olv e co m o con s e q ü ê n c i a do sinto m a não é uma<br />

soluç ã o . Ela so m e n t e m o stra co m mais sinc eri<strong>da</strong>d e que m na<br />

reali<strong>da</strong>d e m or a por trás <strong>da</strong> fachad a. A hipers e n si bili<strong>da</strong>d e <strong>da</strong><br />

pele do rosto e a irrupçã o de ataqu e s de dor ao men o r estí m ul o<br />

rev ela m a mi m o s a , um a planta que se fecha ao m e n o r toqu e;<br />

mais do que eles m e s m o s , sua mí mic a é que está ator m e nt a d a<br />

por agr e s s õ e s incon s ci e nt e s . A ruborizaç ã o do rosto, a<br />

su<strong>da</strong>ç ã o , as lágrim a s e o fato de que é precis o tão pouc o para<br />

provo c ar as dor e s reforç a m a impre s s ã o de que se trata de<br />

uma pes s o a que foi provo c a d a e irrita<strong>da</strong> até o extre m o e que<br />

não rec o n h e c e sua situaç ã o . Em vez diss o, seu rosto dev e<br />

incorp or ar a situaç ã o explo siva. O próprio pacient e diz<br />

clara m e n t e o que está ac o nt e c e n d o : ele precis a de to<strong>da</strong> s as<br />

suas forças para conter- se e não sair gritand o, e às vez e s eles<br />

afrouxa m no des e m p e n h o des s a fatigante tarefa.<br />

O fato de que a cha m a d a form a es s e n ci al do sinto m a afete<br />

co m maior freqü ê n ci a mulh er e s co m mais de 50 ano s de i<strong>da</strong>d e<br />

ajusta- se be m a es s a imag e m . Em um a so ci e d a d e de<br />

resultad o s do min a d a pelo s ho m e n s , é mais difícil para as<br />

mulh er e s m o strar e m seu ver<strong>da</strong>d eir o rosto e distribuir as<br />

agre s s õ e s que elas real m e nt e não pod e m eng olir. Com m e d o<br />

de ser e m elas próprias eng oli<strong>da</strong> s ou ser e m posta s de lado,<br />

elas tend e m ao ke e p- s miling até m e s m o nas situaç õ e s e m que<br />

interna m e n t e têm vontad e de urrar. Com a i<strong>da</strong>d e mais<br />

avan ç a d a , quan d o a pres s ã o se torna insup ortáv el elas, e m<br />

vez de ter ataqu e s extern o s de fúria, têm ataqu e s interno s de<br />

dor que só muito rara m e nt e che g a m a ser visíveis.<br />

A desig n a ç ã o m é dic a es s e n ci al'', que muitas vez e s<br />

ac o m p a n h a diagn ó stic o s cujas caus a s não estã o claras, be m<br />

co m o a corre s p o n d e n t e hiperten s ã o (press ã o alta do san gu e)<br />

colo c a, se m quer er, uma certa sinc eri<strong>da</strong>d e e m jogo. A<br />

sinto m átic a é de fato es s e n ci al para os afetad o s , já que de fato<br />

14<br />

4


é sua única chanc e de expres s ar o que eles de outra form a<br />

reprimiria m.<br />

O local <strong>da</strong> dor reforç a ain<strong>da</strong> m ais a expres s ã o : a fronte é o<br />

local natural <strong>da</strong> confrontaç ã o e <strong>da</strong> auto- afirma ç ã o . Quando a<br />

própria cab e ç a quer se impor, es s a é a parte exigi<strong>da</strong>, ain<strong>da</strong> que<br />

seja para investir de cab e ç a contra o muro. As m axilas têm os<br />

dent e s e, quan d o nec e s s á ri o, estã o e m condiç õ e s de m ord er e<br />

m o strar os dente s. Quando, na neuralgia do trigê m e o , a área<br />

dos m axilares apres e nt a dor e s lancinant e s, colo c a- se e m<br />

que st ã o a m ord e d ur a e a mord a ci d a d e . Não o en c arniç a m e n t o ,<br />

ma s a agr e s s ã o que m o stra os dente s, os m axilares ped e m a<br />

gritos para m o v er- se. Em vez de deixar que lhe “que br e m a<br />

cara", rec o m e n d a - se m ord er e "botar para que br ar". Mas isso<br />

dev e ac o nt e c e r con s ci e nt e m e n t e e nos lugar e s certo s, pois<br />

cas o contrário con s e g u e - se um a elab or a ç ã o na m elh or <strong>da</strong>s<br />

hipóte s e s , m a s não a (dis)soluç ã o <strong>da</strong> sinto m átic a e do conflito<br />

de fundo.<br />

As pres criç õ e s terap êutic a s <strong>da</strong> m e di cin a aca d ê m i c a , de<br />

man eira caract erística, não são m e n o s agr e s sivas. Elas<br />

procura m unica m e n t e dirigir as agr e s s õ e s para dentro, ou seja,<br />

ain<strong>da</strong> mais contra o próprio pacient e, e m um a form a m a c a b r a<br />

de prote ç ã o ao meio am bi e nt e. A repres s ã o <strong>da</strong> dor co m a aju<strong>da</strong><br />

de analg é si c o s pes a d o s vai nes s a direç ã o . Com o e m pr e g o de<br />

psicofár m a c o s a psiqu e, que de qualqu er m an eir a já está<br />

am ord a ç a d a , vê- se ain<strong>da</strong> m ais restringi<strong>da</strong>, para que o pacient e<br />

não cha m e a aten ç ã o e ningu é m se es c a n d aliz e co m ele. É a<br />

tentativa des e s p e r a d a de evitar a m anifesta ç ã o de um a<br />

situaç ã o que ped e sinc eri<strong>da</strong> d e a gritos. A cirurgia, co m o último<br />

recurs o, é mais sinc er a ain<strong>da</strong>. Seccio n a n d o de fato o nervo, a<br />

cruez a e m e s m o a violên cia e m pr e g a d a s torna m- se palpáv ei s<br />

A eletro c o a g ul a ç ã o do ganglion ga s s e ri vai m ais long e ain<strong>da</strong>.<br />

Em um pas s o terap êutic o m arcial, es s e centro nervo s o , de<br />

ond e o trigê m e o parte, é obliterad o eletrica m e n t e . A lingua g e m<br />

científica m ais refinad a não pod e ocultar o tem a e m questã o :<br />

trata- se de agre s s ã o que, co m dor e s lancinant e s , cla m a ao s<br />

céus para irromp er, exigindo um corte radical ou assu mir<br />

14<br />

5


corajo s a m e n t e a própria vi<strong>da</strong>.<br />

P er g u nta s<br />

1. Que dor está es crita na minha cara? Onde minh a<br />

sen si bili<strong>da</strong>d e está perturb ad a?<br />

2. O que imp e d e que eu m e sinta be m dentro de minha<br />

própria pele?<br />

3. Qual defor mi<strong>da</strong>d e , que defeitos eu tenh o que ocultar?<br />

4. Com o se cha m a o mau jogo ao qual eu faço bo a cara?<br />

O que m e irrita e m e provo c a mais profun<strong>da</strong> m e n t e ?<br />

5. A que m estã o destinad o s os golp e s contido s que arde m<br />

na minh a cara? O que me imp e d e de desf eri- los?<br />

6. O que vale confrontar- se? Onde m e falta a autoafirma<br />

ç ã o , ond e m e falta a nec e s s á ri a cap a cid a d e de mord er?<br />

7. O que é que a minha en er gi a repres a d a quer assu mir e<br />

e m pr e e n d e r e m segui<strong>da</strong>?<br />

Paralisia facial ou paralisia nervosa do rosto<br />

O nervo facial é o sétim o nervo cer e br al, sen d o resp o n s á v e l<br />

pela ativi<strong>da</strong>d e m otor a <strong>da</strong> mus c ulatura do rosto. Sua tarefa é<br />

pos sibilitar noss o s gesto s faciais, de franzir o cen h o a fechar os<br />

olho s, torc er o nariz ou a bo c a. O que o trigê m e o é para as<br />

sen s a ç õ e s , o nervo facial é para os m o vi m e n t o s e a expr e s s ã o<br />

do rosto. Com sua paralisia, a área afetad a é a m e s m a <strong>da</strong><br />

neuralgia do trigê m e o , m a s e m lugar de sen s a ç õ e s interna s, o<br />

centro focal é ag or a a apar ên ci a extern a. Ain<strong>da</strong> assi m, há uma<br />

transiç ã o continua. Assim co m o o pico de um ataqu e de dor na<br />

neuralgia do trigê m e o pod e levar a um a convuls ã o dos<br />

mús c ul o s do rosto, muitas vez e s a paralisia facial provo c a<br />

tam b é m perturb a ç õ e s <strong>da</strong>s sen s a ç õ e s , principal m e nt e na área<br />

dos pô m ul o s faciais e dos ouvido s. Isso pod e provo c ar<br />

hiperacu si a, um a extre m a sen sibili<strong>da</strong>d e ao s ruído s.<br />

Para fora, o que mais impres si o n a é a ab oliç ã o <strong>da</strong> sim etria<br />

<strong>da</strong>s m etad e s do rosto. Há um a diferen ç a entre as m etad e s do<br />

rosto de to<strong>da</strong>s as pes s o a s , ma s ela é pratica m e n t e<br />

14<br />

6


imp er c e ptív el a um prim eiro olhar. Som e nt e quan d o se<br />

rec o n str ói o rosto fotografica m e n t e co m duas m etad e s<br />

es qu er d a s ou duas m etad e s direitas é que se pod e ad mirar<br />

co m o a m etad e es qu er d a, feminina, é m ais suav e e m ei g a e m<br />

co m p ar a ç ã o co m a m etad e direita, m a s c ulina. Ness e sentido,<br />

to<strong>da</strong> pes s o a tem duas caras. Na paralisia facial isso se torna<br />

visível de m an eir a assustad or a, já que o lado afetad o cai <strong>da</strong><br />

m oldura de man eira tão evid e nt e. A paralisia eviden ci a um a<br />

profun<strong>da</strong> fissura <strong>da</strong> alm a. De um lado os afetad o s têm tudo so b<br />

control e, co m o de costu m e , e mant ê m a facha<strong>da</strong> alta, en qu a nt o<br />

do outro eles estã o caldo s, derrotad o s . O colap s o <strong>da</strong> facha<strong>da</strong><br />

extern a anun cia um colap s o intern o. Essa cisã o não ad miti<strong>da</strong> é<br />

en c arn a d a por m ei o do sinto m a. É esp e ci al m e n t e o asp e ct o de<br />

estar caíd o, que con diz tão pouc o co m seu lado intacto e co m a<br />

parte de seu ser volta<strong>da</strong> para fora, que des ej a vir a público, e o<br />

con s e g u e co m o sinto m a. Duas alm a s vive m e m seu seio e<br />

rep entina m e n t e tam b é m estã o olhan d o para fora a partir de<br />

seu rosto. O lado rigoro s a m e n t e arrum a d o , que até entã o tinha<br />

podido repres e nt ar o todo, gan h o u um parc eiro abs oluta m e n t e<br />

malcriad o, que não tem mais nen hu m tipo de con sid er a ç ã o<br />

para co m a bo a impre s s ã o geral.<br />

Trata- se de um lado bastant e caíd o que apar e c e aqui e m<br />

prim eiro plano e de m o n s tr a sua ser e nid a d e e m relaç ã o ao<br />

rígido lado opo st o. Raram e nt e as so m b r a s aflora m na<br />

sup erfície co m tanta nitidez. Quem não se per mite satisfaz er a<br />

nec e s si d a d e básic a de ser e nid a d e e relaxa m e n t o dev e ter e m<br />

conta que es s a nec e s si d a d e m er g ulh a nas so m b r a s e é<br />

repre s e nt a d a no palco do corp o. Ela entã o, de todo s os<br />

esp elh o s , olha irrem e di a v el m e n t e para a pes s o a . O<br />

relaxa m e n t o está caricaturad o na paralisia, a des c uid a d a<br />

ser e nid a d e transfor m a- se e m pálpe br a s caí<strong>da</strong> s, <strong>da</strong>nd o ao rosto<br />

uma apar ê n ci a algo ab ati<strong>da</strong>, des arru m a d a . O lado do e nt e<br />

de m o n s tr a um a sen s a ç ã o de total indiferen ç a que é visível<br />

para todo s: “Por mi m voc ê s pod e m fazer o que be m<br />

enten d e r e m !" Dentre as fórmulas de expr e s s ã o bávar a s há um<br />

gesto que expres s a isso co m exatidã o: puxar a pálpe br a<br />

14<br />

7


inferior de um olho para baixo co m o ded o . Pacient e s co m<br />

paralisia facial vive m per m a n e n t e m e n t e e m um dos lado s<br />

des s a expr e s s ã o . As marc a s de expres s ã o entre o nariz e os<br />

canto s <strong>da</strong> bo c a, que e m paci ent e s que sofreu mal e s<br />

esto m a c ai s de m o n s tr a m des g o s t o e o rem o e r interno de<br />

e m o ç õ e s , na paralisia facial reflete m o quanto es s e lado dos<br />

pacient e s desistiu de continuar se esforç a n d o . Ajusta- se<br />

tam b é m a isso o fato de a testa não mais franzir- se. Essa parte<br />

<strong>da</strong> pers o n ali<strong>da</strong>d e já se can s o u de cis m ar. Finalm e nt e, o canto<br />

<strong>da</strong> bo c a caído quer dizer que já basta, que o estad o de ânim o<br />

oscila entre o rabug e nt o e o ofendid o e que todo s dev e m ver<br />

isso. O pólo opo st o do ke e p- s miling foi alcan ç a d o . Este canto<br />

<strong>da</strong> bo c a não mais se ergu er á para fazer cara alegr e para um a<br />

situaç ã o triste. O olho não se abr e m ais totalm e nt e, co m o se<br />

não houv e s s e na<strong>da</strong> de substanci al para ser visto e que<br />

m er e c e s s e tal ab ertura. Mas ele tamp o u c o se fecha direito,<br />

co m o se o pacient e assi m m e s m o não en c o ntra s s e paz.<br />

Frouxo e relaxad o , ele se imo biliza em um ponto médi o, m orn o.<br />

Há risco de lesã o <strong>da</strong> córn e a por ress e c a m e n t o , razã o pela qual<br />

a medi cin a fech a o olho afetad o co m um tapa- olho e, pens a n d o<br />

sinc er a m e n t e e m proteg er o pacient e, deixa- o caolh o. Com o<br />

ress e c a m e n t o <strong>da</strong> córn e a, a per<strong>da</strong> definitiva de um olho provo c a<br />

a per<strong>da</strong> <strong>da</strong> visão esp a ci al e, co m isso, <strong>da</strong> dim e n si o n ali<strong>da</strong>d e . A<br />

visão ficaria ach atad a.<br />

A expres s ã o triste é res s altad a ain<strong>da</strong> mais pela lágrim a que<br />

pend e indecis a <strong>da</strong> bor<strong>da</strong> <strong>da</strong> pálpe br a. Este lado do pacient e<br />

anun cia que tem vontad e de gritar. A per<strong>da</strong> <strong>da</strong> sen s a ç ã o do<br />

palad ar mo stra que ele não tem mais go sto pela vi<strong>da</strong>. Tudo tem<br />

o m e s m o gosto para que m não sent e m ais go sto. A<br />

hipers e n si bili<strong>da</strong>d e auditiva indica que os ruído s do am bi e nt e<br />

são de m a si a d o pen etrant e s e, portanto, m ol e st o s . O todo<br />

resulta e m um a imag e m de resign a ç ã o . Uma <strong>da</strong>s m etad e s não<br />

quer mais. Ela desistiu de fazer qualqu er esforç o para<br />

continuar mant e n d o - se apru m a d a , e deixa que os traço s<br />

des c arrile m e que a apar ê n ci a se desfaç a. Por trás diss o,<br />

am e a ç a d o r , está o fantas m a de um a pers o n ali<strong>da</strong> d e esfac el a d a.<br />

14<br />

8


Na discr ep â n ci a entre os lado s, es s e fantas m a apar e c e de<br />

form a ain<strong>da</strong> m ais sinc er a co m o um terc eiro. A m á s c ar a que<br />

durara até entã o transfor m a- se e m car eta. O olho se mi c err a d o<br />

confer e ao rosto algo do caolh o, en qu a nt o a conten ç ã o<br />

dec orr e nt e <strong>da</strong> tentativa de ain<strong>da</strong> obter o m elh or resultad o<br />

pos sív el co m os traç o s des a p ar e ci d o s dão um a apar ê n ci a de<br />

astúcia. A saliva gotejant e lem br a avidez, co biç a, des ej o s<br />

inconfes s á v ei s . O sorriso m ais char m o s o transfor m a- se e m um<br />

es g ar franc a m e n t e satânic o. Satã, o Senhor <strong>da</strong> Duali<strong>da</strong>d e,<br />

expr e s s a - se de man eira muito evid e nt e nes s e s traço s dividido s<br />

e des e s p e r a d o s , fazen d o caretas para a existên cia de bo m<br />

burgu ê s do afetad o .<br />

A lição a ser aprendid a está es crita na cara do paci ent e. Ele<br />

tem so m e n t e que lê- la no esp elh o e ad mitir para si m e s m o que<br />

tem dois lado s diferent e s. É precis o rec o n h e c e r e integrar à<br />

vi<strong>da</strong> o lado que foi até entã o ignorad o . A discr ep â n ci a surgi<strong>da</strong><br />

entre a apar ê n ci a extern a e a reali<strong>da</strong>d e interna quer ser<br />

ad miti<strong>da</strong> pela desuniã o incon s ci e nt e. Isso não é fácil e m um a<br />

ép o c a de crítica interna tão violenta, m a s tamp o u c o dev e ser<br />

contorn a d o . Aquele cuja cara se desfaz sente- se, no todo,<br />

dilac er a d o e denun ci ad o . Pois um a crítica dilac er a nt e so m e n t e<br />

é des a g r a d á v el e doloro s a quan d o contê m algo de ver<strong>da</strong>d e . A<br />

des ar m o ni a do rosto é um a co m p e n s a ç ã o para a har m o ni a<br />

apar e nt e que se exib e para con s u m o extern o. É esp e ci al m e n t e<br />

difícil para o afetad o ad mitir que a ver<strong>da</strong> d eir a har m o ni a resulta<br />

<strong>da</strong> guerra e <strong>da</strong> paz. Estar prep ar a d o para o conflito é que<br />

pos sibilita a cap a cid a d e para a paz. Além diss o, dev e- se<br />

ob s ervar qual lado foi afetad o pela paralisia, se o es qu er d o ,<br />

feminin o, ou o direito, ma s c ulino.<br />

Os sinto m a s eluci<strong>da</strong> m os asp e ct o s individuais <strong>da</strong>s tarefas<br />

que se tem pela frente. Os tecido s pendura d o s são a<br />

so m atiza ç ã o <strong>da</strong> nec e s si d a d e do relaxa m e n t o e <strong>da</strong> atitude de<br />

deixar ac o nt e c e r. Em vez de se m pr e dirigir e controlar tudo,<br />

seria importante deixar por uma vez que as cois a s siga m seu<br />

curs o. A paralisia frouxa não pas s a de um a per<strong>da</strong> de controle.<br />

A express ã o triste do rosto fala <strong>da</strong> nostalgia dos lado s m ais<br />

14<br />

9


es c ur o s <strong>da</strong> pers o n ali<strong>da</strong> d e , que dev e m ser levad o s igualm e nt e<br />

a sério. O jogo expres siv o so m e n t e des a p ar e c e u do lado<br />

e m p e n h a d o e m m ant er o ke e p- s miling. Foi-se o temp o de<br />

brincar de es c o n d e - es c o n d e por trás de uma facha<strong>da</strong> intacta.<br />

Trata- se de m o strar seu ver<strong>da</strong>d eir o rosto tam b é m e m sentido<br />

figurad o e per mitir a participaçã o dos ver<strong>da</strong>d eir o s traço s dos<br />

outros lado s <strong>da</strong> alm a. Com o os mús c ul o s mi m étic o s<br />

ab and o n a r a m o trabalh o de disfarc e, trata- se de en c o ntrar a<br />

nota sinc er a tam b é m no plan o aní mic o, ain<strong>da</strong> que nest e cas o<br />

se trate de um a músic a co m pl et a m e n t e diferent e. A<br />

mus c ulatura do rosto so m e n t e relaxa quan d o é rec o n h e c i d a e<br />

ac eita. Até m e s m o o de m ô ni o perd e pod er ao ser identificad o.<br />

A m e di cin a ac ad ê m i c a tem pouc o s recurs o s terap êutic o s<br />

para lutar contra es s e autêntic o dra m a. Na fase agud a inicial,<br />

aplica- se cortison a rep eti<strong>da</strong> m e n t e para reprimir o proc e s s o ,<br />

sen d o que na m ai oria <strong>da</strong>s vez e s não está na<strong>da</strong> claro de que<br />

proc e s s o se trata. Neste cas o , a form a mais freqü e nt e não é<br />

cha m a d a de es s e n ci al, m a s de idiopática. Isto, no entanto,<br />

significa algo co m o "que sofre de si m e s m o ”. Fora isso,<br />

rec o m e n d a - se tranqüili<strong>da</strong>d e, repous o e ativi<strong>da</strong>d e s anti-stre s s ,<br />

e m outras palavra s, simpl e s m e n t e relaxar. Dess a form a, o<br />

des a m p a r o <strong>da</strong> m e dicin a termin a resultand o e m um a pres criç ã o<br />

terap êutic a útil.<br />

O sinto m a atua de man eira a colo c ar o progra m a terap êutic o<br />

e m an<strong>da</strong> m e n t o já que, de m an eir a bastant e enfática, faz co m<br />

que o afetad o não tenha vontad e de apar e c e r e m público.<br />

Todo s vão lhe perguntar o que ac o nt e c e u e ningu é m vai<br />

acr editar quan d o ele afirm ar que "não é na<strong>da</strong> de m ais". Sob<br />

es s a pres s ã o , o progn ó stic o pas s a a ser bo m na m ai oria dos<br />

cas o s e os surtos de paralisia vão diminuind o na m e s m a<br />

m e di<strong>da</strong> e m que o pacient e des o b rig a o corp o do dra m a que<br />

está sen d o repres e nt a d o e o transfer e para a alm a.<br />

Entretanto, pod e m surgir proble m a s durante a fas e de<br />

reg e n e r a ç ã o quan d o as en er gias libera<strong>da</strong> s são levad a s na<br />

direç ã o erra<strong>da</strong>. O fenô m e n o <strong>da</strong>s lágrim a s de croc o dilo, que<br />

surg e so b a form a de ataqu e s , é esp e ci al m e n t e<br />

1 5<br />

0


impres si o n a nt e. Em seus esforç o s de reg e n e r a ç ã o apó s a<br />

paralisia, fibras do nervo facial pen etra m nas glândulas<br />

lacrim ais e m vez de fazê- lo nas glândulas salivar e s, e a cad a<br />

bo c a d o os olho s dos pacient e s se enc h e m de lágrim a s. Em<br />

situaç õ e s de <strong>da</strong>r água na bo c a, form a m - se e m vez diss o<br />

grand e s lágrim a s de croc o dilo. Ao co m e r, que é um ato de<br />

incorp or a ç ã o do mund o, o pacient e se põ e a chorar, isto é, sua<br />

tristeza não vivi<strong>da</strong> e, principal m e nt e , a nec e s s i d a d e de<br />

extravas ar sua alm a mistura m- se co m a ingestã o cotidian a de<br />

alim e nt o s. Fica de m o n s tr a d o que ele continua estan d o cheio<br />

do mund o, pois mal ele o deixa entrar e já se põ e a chorar.<br />

A hipers e n si bili<strong>da</strong>d e auditiva seria um bo m indicad or para<br />

evitar es s e s ca minh o s equivo c a d o s . Ela faz co m que o afetad o<br />

con sid er e o volum e do entorn o insup ortav el m e n t e alto e assi m<br />

reforç a suas tend ê n ci a s de rec olhi m e nt o. Ao m e s m o temp o, ela<br />

aguça sua audiçã o e, co m isso, sug er e que ele es cut e mais<br />

atenta m e n t e e des p ert e. A ép o c a de rec olhi m e nt o é um a<br />

oportuni<strong>da</strong>d e ideal para per mitir que a própria voz interna se<br />

torne alta e para enc o ntrar e m si uma nova har m o ni a.<br />

P er g u nta s<br />

1. Qual lado de minha vi<strong>da</strong> eu estou neglig e n ci a n d o ?<br />

2. Onde na vi<strong>da</strong> eu m e resign ei e m e curvei? Onde eu<br />

estou desistind o de algo?<br />

3. Onde eu brinqu ei de m e es c o n d e r por trás de um a<br />

facha d a apar e nt e m e n t e intacta? Até que ponto eu distorç o a<br />

reali<strong>da</strong>d e?<br />

4. O que me imp e d e , a que me força seu colap s o ?<br />

5. Onde eu sofro de perturb a ç õ e s e ab erra ç õ e s do gosto?<br />

Para ond e eu não quer o olhar direito?<br />

6. Onde eu controlo de m ai s para mant er a har m o ni a?<br />

7. Onde eu cai na parciali<strong>da</strong>d e , ond e minh a vi<strong>da</strong> am e a ç a<br />

des c arrilar e m razão de um a divisã o interna?<br />

8. O que na vi<strong>da</strong> m e ofend e? Com que eu ofend o a vi<strong>da</strong>?<br />

9. Até que ponto care ç o de ser e nid a d e , relaxa m e n t o e<br />

entreg a?<br />

1 5<br />

1


10. Que outro lado se ab at e e m minh a cara?<br />

Erisipela facial<br />

Entend e- se por este sinto m a um surto de herp e s- zoster no<br />

rosto. A ele estã o liga<strong>da</strong> s dor e s intens a s , co m o na neuralgia do<br />

trigê m e o , e tam b é m sinais extern o s niti<strong>da</strong> m e nt e visíveis, se<br />

be m que de um tipo muito diferent e dos sinais <strong>da</strong> paralisia<br />

facial. Trata- se de um a segun d a infec ç ã o co m o vírus <strong>da</strong><br />

varic ela zoster, que por oc a si ã o <strong>da</strong> prim eira infec ç ã o provo c o u<br />

a catap or a. Pratica m e n t e to<strong>da</strong>s as pes s o a s são portad or a s do<br />

vírus, já que uma porc e nta g e m próxim a a 100 % <strong>da</strong> populaç ã o<br />

está infecta<strong>da</strong>. A catap or a é um a do e n ç a infantil inofen siva,<br />

ma s extre m a m e n t e conta gi o s a. A conta mi n a ç ã o se dá não<br />

so m e n t e por gotículas, m a s tam b é m pelo ar. Os ag e nt e s<br />

patoló gic o s flutua m e m um a áre a de até dois m etro s ao redor<br />

do do e nt e e pod e m ser esp alhad o s pelo vento.<br />

Quase se m pr e o sinto m a é suportad o bastant e be m<br />

extern a m e n t e , ma s os ag e nt e s patoló gic o s não m ais<br />

ab and o n a m o corp o, instaland o- se nas raízes dos nervo s <strong>da</strong><br />

m e d ul a dors al. Som e nt e no âm bito <strong>da</strong> cab e ç a existe m 24<br />

des s a s pos sibili<strong>da</strong>d e s de esta b el e ci m e n t o , que corresp o n d e m<br />

ao s 1 2 pare s de nervo s cer e br ais, razã o pela qual a infecç ã o ,<br />

teorica m e n t e , pod eria e m e r gir e m qualqu er parte. O vírus, na<br />

prática, tem prefer ê n ci a s decidi<strong>da</strong> m e n t e claras, e no rosto é<br />

so br etud o a pele que é afetad a, m ais rara m e n t e os ouvido s e<br />

mais rara m e nt e ain<strong>da</strong> os olho s. A ép o c a e m que oc orr e m a<br />

maioria dos cas o s situa- se entre os 50 e os 70 ano s de i<strong>da</strong>d e,<br />

ma s um a pes s o a pod e ser ac o m e ti<strong>da</strong> pelo mal e m qualqu er<br />

outra i<strong>da</strong>d e.<br />

A evoluç ã o <strong>da</strong> do e n ç a é típica de uma inflam a ç ã o . O surto<br />

de erupç õ e s cutân e a s é prec e di d o de dore s e ardor e s<br />

violento s. Em segui<strong>da</strong>, des e n v o l v e m - se pequ e n a s bolha s que<br />

se limita m estrita m e nt e à áre a de difusã o do nervo afetad o e<br />

quas e se m pr e de um só lado. É raro que am b o s os lado s<br />

seja m afetad o s ou que as bolhas se esp alh e m por dois ou mais<br />

1 5<br />

2


seg m e n t o s de nervo. Finalm e nt e, as bolhas cheias de líquido<br />

sec a m e form a m um a crosta, quas e se m pr e se m deixar<br />

cicatrizes. Mas a questã o não dev e ser <strong>da</strong><strong>da</strong> por enc erra d a<br />

co m isso, o vírus continua <strong>da</strong>nd o prova s de sua persistên ci a.<br />

Às vez e s são m e n ci o n a d a s dor e s e extre m a sen si bili<strong>da</strong>d e até<br />

um ou dois ano s apó s o des a p ar e ci m e n t o <strong>da</strong> manifesta ç ã o<br />

cutân e a <strong>da</strong> do e n ç a .<br />

Com o to<strong>da</strong> a sup erfície <strong>da</strong> pele está provi<strong>da</strong> de nervo s, o<br />

sinto m a pod e es c ol h er e atac ar o ponto m ais sen sív el e m cad a<br />

pes s o a . As situaç õ e s típicas para ado e c e r são aqu el a s e m que<br />

a cap a ci<strong>da</strong>d e de defe s a está diminuí<strong>da</strong> e m con s e q ü ê n c i a de<br />

infecç õ e s grav e s tais co m o pneu m o ni a, tuberculo s e ou tam b é m<br />

diab et e s , alé m de do e n ç a s que con s o m e m tais co m o cân c er e<br />

tam b é m intoxicaç õ e s grav e s ou um colap s o do siste m a<br />

imun ol ó gic o devido à AIDS, leuc e m i a ou terapias m o d er n a s<br />

que ag e m na inibiçã o do siste m a imun oló gi c o , co m o por<br />

exe m pl o e m transplant e s de órg ã o s . Cerca de m etad e dos<br />

pacient e s que requ er e m transplante s de m e d ul a óss e a para o<br />

trata m e nt o <strong>da</strong> leuc e m i a adquire m um a infec ç ã o por herp e s<br />

zoster. Ness e cas o , a m e di cin a m o d er n a colab or o u bastant e<br />

para sua difusã o.<br />

A m e di cin a ac ad ê m i c a rec o n h e c e u que alé m do<br />

enfraqu e ci m e n t o <strong>da</strong>s forças de defe s a corp or ais, a situaç ã o<br />

aní mic a tam b é m des e m p e n h a um pap el decisivo nes s e<br />

sinto m a . O exc e s s o de stre s s é con sid er a d o culpad o. O<br />

acú m ul o de exig ê n ci a s que con stitui o stre s s é se m pr e<br />

perig o s o . Ness e sentido o stre s s exig e na ver<strong>da</strong>d e muito <strong>da</strong>s<br />

forças de defe s a. Entretanto, co m o exc e s s o de exig ê n ci a s o<br />

pacient e tenta se prote g e r do am bi e nt e que o aflige. Dess a<br />

man eira, ele colo c a o corpo co m o repres e nt a nt e e mina sua<br />

cap a cid a d e de resistên ci a.<br />

O pacient e de erisipela facial é algu é m marc a d o por seu<br />

sinto m a . A flor que des a b r o c h a no m ei o de sua cara [erisipela<br />

facial = Ge si c ht sr o s e = rosa facial] anuncia para ele e para o<br />

am bi e nt e que algo aqui irromp e u. O vírus que, de tocaia,<br />

estav a pacient e m e n t e a espr eita, aprov eita a situaç ã o de<br />

1 5<br />

3


fraqu ez a geral para exp or suas exig ê n ci a s. O tem a se cha m a<br />

conflito, pois a bas e do herp e s- zoster, que repre s e nt a ele<br />

m e s m o um conflito, é nova m e n t e um conflito, tal co m o m o stra<br />

o historial do ado e ci m e n t o de fundo. Um conflito adiad o por<br />

muito temp o atrai a aten ç ã o para si co m a aju<strong>da</strong> de tropas<br />

estran g eir a s, <strong>da</strong>s quais dep e n d e . Assim co m o na neuralgia do<br />

trigê m e o , a proble m á tic a <strong>da</strong> agr e s s ã o é declara d a, e a<br />

desfiguraç ã o , ou seja, a repres e nt a ç ã o de um a reali<strong>da</strong>d e muito<br />

diferent e prov e ni e nt e <strong>da</strong>s profund ez a s <strong>da</strong> alm a, é se m e l h a nt e<br />

ao que ac o nt e c e na paralisia facial. Juntam e nt e co m o caráter<br />

de bo m b a - relógio, estã o ac e ntuad a s as probl e m átic a s <strong>da</strong><br />

defe s a e <strong>da</strong> resistên ci a.<br />

Uma alta resistên ci a aní mic a já sug er e a do e n ç a de fundo. A<br />

m e di cin a aca d ê m i c a , cas o não rec o n h e ç a nen hu m a à prim eira<br />

vista, busc ar á algu m a que esteja oculta, tal co m o um foco<br />

infeccio s o ou um carcin o m a que ain<strong>da</strong> não foi detectad o . Caso<br />

não se enc o ntr e na<strong>da</strong> diss o, pod e- se deduzir que a resistên ci a<br />

aní mic a contra um âm bito central <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> é muito forte e<br />

suficiente para enfraqu e c e r as defe s a s corp or ais a ponto de<br />

des e n c a d e a r um ataqu e de herp e s- zoster e m b o s c a d o . O<br />

sinto m a de m o n s tr a que algo afetou os nerv o s e se met e u na<br />

pele de algu é m por muito temp o e ag or a quer voltar à tona. O<br />

mais doloro s o e o mais difícil é o surto e a erupç ã o . A<br />

resistên ci a contra es s e proc e s s o e a angú stia que produz<br />

so m atiza m - se e m um a dor agud a que quei m a e um a sen s a ç ã o<br />

de tolhed or a tens ã o . Quando a barreira se romp e , as bolhas,<br />

na m ai oria dos cas o s , sec a m e se cura m e m duas ou três<br />

se m a n a s . O ataqu e ating e a pes s o a justa m e n t e e m seu ponto<br />

mais fraco naqu el e m o m e n t o ; no cas o <strong>da</strong> erisipela facial,<br />

direta m e n t e na cara. Assim co m o ac o nt e c e co m um a bofetad a,<br />

so m e n t e a face atingi<strong>da</strong> arde. Mas tam b é m se pod e levar um<br />

tapa no nariz, na orelha ou no olho. Os últimos golp e s,<br />

esp e ci al m e n t e, são tão duro s que se perd e a visã o e a audiç ã o<br />

dest e lado. Enquanto o afetad o se sente "apen a s " desfigurad o ,<br />

marc a d o e golp e a d o na testa e nas face s, o herp e s <strong>da</strong> córn e a,<br />

extre m a m e n t e perig o s o , pod e deixá- lo ceg o , e o do ouvido,<br />

1 5<br />

4


surdo. O pior é talvez que es s e s ataqu e s oc orra m quan d o o<br />

pacient e, e m outro sentido, já foi sev er a m e n t e golp e a d o<br />

(do en ç a de fundo). Há se m pr e um a certa perfídia niss o tudo<br />

quan d o se tem e m conta que o vírus esp er o u durante ano s por<br />

es s e m o m e n t o de fraqu ez a de sua vítima para, deixand o seu<br />

es c o n d e rijo nas raízes dos nervo s, atac ar.<br />

Antes es s e sinto m a rec e bi a o no m e de ignis sa c e r, fogo<br />

sagra d o ou fogo selva g e m . Ele era tratad o co m rem é di o s<br />

má gic o s porqu e se vislum br a v a ali um sinal de um plano mais<br />

elev a d o . Ele é de fato um sinal de outro plano, se be m que<br />

próprio e interno. A ira selva g e m que jam ais se manifestou até<br />

entã o arde na cara. Tal ira flam ejant e pod e naturalm e nt e ce g ar<br />

e en surd e c e r , se m pr e de man eira mes q uin h a.<br />

Pode ficar claro que e m tais ép o c a s existe tam b é m a chan c e<br />

de transfor m a ç ã o pelo fato de existir tam b é m a ira sagr ad a,<br />

que a mar c a de Caim não é so m e n t e um a marc a, m a s tam b é m<br />

uma m ar c a de distinçã o, tend o levad o aqu el e que lhe dá o<br />

no m e para o ca minh o do des e n v olvi m e n t o . Na expres s ã o "ros a<br />

facial" [Ge si c ht sr o s e = erisipela facial] am b a s as pos sibili<strong>da</strong>d e s<br />

estã o lado a lado: o flores ci m e n t o <strong>da</strong> rosa co m o imag e m <strong>da</strong><br />

bel ez a, que se sedi m e nt a na rosa flam ejant e do gótico tardio, e<br />

no sim b olis m o <strong>da</strong> própria rosa ver m el h a, que co m seus<br />

espinh o s , sím b ol o de Marte, deus <strong>da</strong> guerra, pod e ferir nos s a<br />

carn e, m a s, que está liga<strong>da</strong> tam b é m a Vênus, a deus a do<br />

am or. Por trás dos ac e s s o s de ira pod e m estar as labar e d a s do<br />

entusias m o flam ejant e e do am or tórrido, ma s tam b é m a fúria<br />

mitigad a.<br />

A tarefa de aprendizad o do afetad o está e m real m e nt e sair,<br />

romp er m e s m o , deixar des a b r o c h a r o outro cern e de seu ser,<br />

igual m e nt e ver<strong>da</strong>d eir o, e extern ar se m floreio s o que se m o v e<br />

no m ais íntim o de seu ser. Aquilo que eles até entã o<br />

contiver a m e deixara m ador m e c i d o nas profund ez a s quer ser<br />

ag or a liberad o. Seja a ira sagr ad a ou profan a, a vingan ç a<br />

rec e nt e ou antiqüís si m a , reto m a a nec e s si d a d e de extern á- la.<br />

É justa m e nt e es s e abrir e es s e irromp er que pod e m colo c ar e m<br />

m o vi m e nt o a en er gia nec e s s á ri a para atac ar aqu el a outra<br />

1 5<br />

5


probl e m á tic a de defe s a que surg e à luz <strong>da</strong> sinto m átic a de<br />

fundo. Trata- se de reduzir a resistên ci a aní mic a ao espinh o s o<br />

tem a, e não às defe s a s do organis m o .<br />

P er g u nta s<br />

1. Qual conflito esta es crito em minh a cara?<br />

2. O que me atac a os nervo s, o que m e enfurec e ?<br />

3. Que m e d o torna minha alm a tão estreita para que eu<br />

tenha de m e abrir tanto corpor al m e nt e?<br />

4. Qual o âm bito <strong>da</strong> vi<strong>da</strong>, qual o tem a que exig e de m ai s de<br />

mi m?<br />

5. O que aflora em minha cara que eu não pos s o expres s ar<br />

se m res erv a s? O que dev o abrir e deixar que saia para fora de<br />

mi m?<br />

6. O que me marc a? O que me distingu e?<br />

7. Que bo m b a s - relógio ficara m no ca m p o <strong>da</strong> minha alm a?<br />

8. O que minh a erisipela diz a resp eito de minha s<br />

fraqu ez a s aní mic a s ? Há algo que aflora e m m e u s lábio s que eu<br />

não queria dizer? Minhas face s arde m devido às bofetad a s que<br />

não dei?<br />

9. Que pap el des e m p e n h a a perfídia em minh a vi<strong>da</strong>?<br />

10. É feita justiça à ira flam ejant e e ao entusias m o em minh a<br />

vi<strong>da</strong>?<br />

Herpes labial<br />

O vírus zoster que aca b a m o s de des cr e v e r é apen a s um dos<br />

repre s e nt a nt e s des s a num er o s a família que abran g e mais de<br />

90 vírus. Eles são resp o n s a bilizad o s por to<strong>da</strong> uma série de<br />

atroci<strong>da</strong>d e s , inclusive de favor e c e r o surgim e nt o do cân c er. Do<br />

ponto de vista dos vírus, trata- se de um a <strong>da</strong>s famílias mais<br />

be m - suc e di<strong>da</strong> s . Sua m an eir a de agir é se m el h a nt e à <strong>da</strong> Máfia.<br />

Eles se esp e ci alizara m e m diferent e s ram o s parcial m e nt e<br />

vizinho s e divide m hon e st a m e n t e entre si o ca m p o de trabalh o,<br />

no cas o o corpo hum a n o , e m b o r a sua m an eir a de trabalhar<br />

seja abs oluta m e n t e "des o n e s t a".<br />

1 5<br />

6


No rosto, alé m do zoster, o vírus do herp e s simpl e x é<br />

esp e ci al m e n t e significativo. Ele englo b a dois tipos, sen d o que o<br />

prim eiro se esp e ci alizou na regiã o aci m a <strong>da</strong> linha <strong>da</strong> cintura,<br />

mo strando- s e resp o n s á v el pelo herp e s labial. O tipo II, ap en a s<br />

leve m e n t e diferent e, en c arr e g a - se <strong>da</strong> m etad e do corp o que<br />

está ab aixo <strong>da</strong> cintura e form a a bas e <strong>da</strong> mais difundi<strong>da</strong><br />

do e n ç a ven ér e a <strong>da</strong> atuali<strong>da</strong>d e , o herp e s genital.<br />

O tipo 1, que é o ag e nt e caus a d o r do herp e s labial, é<br />

benign o , m a s está m ais difundido justa m e nt e por es s a razão:<br />

99 % dos ser e s hum a n o s o abriga m e m seu apar elh o digestivo.<br />

Pratica m e n t e to<strong>da</strong>s as crianç a s entrara m e m contato co m ele<br />

durante os ano s de es c ol arizaç ã o . Embor a o vírus pos s a ser<br />

en c o ntrad o por to<strong>da</strong> parte, so m e n t e um de cad a ce m<br />

portad or e s preo c up a- se co m a m ol é stia, tipica m e n t e<br />

rec orr ent e.<br />

Com dor e s agud a s , irritantes, estirante s ou provo c a n d o<br />

co mi c h õ e s , des e n v o l v e m - se pequ e n a s bolha s nos lábios e<br />

muito m ais rara m e n t e tam b é m e m outros lugar e s, co m o por<br />

exe m pl o à entrad a do nariz. Elas estã o cheias de um liquido<br />

claro no início, m a s que vai se turvand o co m o tem p o ,<br />

en qu a nt o o tecido e m volta fica inchad o e aver m el h a d o . Nos<br />

dias se g uintes, as bolhas arreb e nt a m e sec a m e no máxi m o<br />

e m um a se m a n a e m ei a a ass o m b r a ç ã o volta a des a p ar e c e r.<br />

Muito rara m e nt e, no entanto, há ev oluç õ e s grav e s que afeta m<br />

a muc o s a <strong>da</strong> bo c a e, mais rara m e nt e ain<strong>da</strong>, as m e nin g e s .<br />

Com o caus a s , assi m co m o ac o nt e c e co m o herp e s genital, a<br />

m e di cin a aca d ê m i c a indica várias situaç õ e s que reduz e m a<br />

cap a cid a d e de defe s a. A proximi<strong>da</strong>d e <strong>da</strong>s situaç õ e s que<br />

dispara m o ataqu e é natural m e nt e se m el h a nt e à proximi<strong>da</strong>d e<br />

sim b ólic a dos lábios sup erior e inferior. Os gatilho s são os raios<br />

do Sol, a febre ou o nervo sis m o . Até m e s m o as mud a n ç a s<br />

hor m o n ai s que oc orr e m no períod o <strong>da</strong> m e n struaç ã o pod e m ser<br />

suficiente s. Mas são so br etud o as co m o ç õ e s aní mic a s e muito<br />

esp e ci al m e n t e as que estã o liga<strong>da</strong> s a sen s a ç õ e s de<br />

repugn â n ci a ou de des ej o “reprimid o" não ad mitido que<br />

prov o c a m o herp e s .<br />

1 5<br />

7


Na febre, alé m do calor e <strong>da</strong> dispo siç ã o para a luta do corp o,<br />

são liberad o s tam b é m fantasias e son h o s e o des ej o febril de<br />

alívio. O nervo si s m o evid e n ci a clara m e n t e um a contradiç ã o<br />

interna: procura- se co m prazer um a situaç ã o que atrai e ao<br />

m e s m o temp o am e dr o nt a. Deseja- se o rec o n h e c i m e n t o e a<br />

aten ç ã o justa m e nt e <strong>da</strong>qu el a s pes s o a s <strong>da</strong>s quais se tem m e d o .<br />

A febr e de viag e m tam b é m pod e levar ao herp e s, evid e n ci an d o<br />

igual m e nt e uma situaç ã o de dois gum e s . Por um lado se está<br />

ard e n d o para viajar, por outro o há um m e d o não ad mitido que<br />

se expres s a e m tens ã o e pod e quei m ar os lábio s. Não é raro<br />

que a fras e não declara d a “Que tal deixar m o s a viag e m para<br />

lá?" aflore ao s lábio s so b a form a de bolha s de herp e s e m vez<br />

de palavras.<br />

Ao be b er do m e s m o cop o usad o por outra pes s o a m e s cl a m -<br />

se a repugn â n ci a e o m e d o de perd er a proximi<strong>da</strong>d e e a<br />

aten ç ã o des s a pes s o a . A pes s o a não se atrev e a recus ar a<br />

intimi<strong>da</strong>d e do cop o co m u m e por es s a razã o não per mite que<br />

sua sen s a ç ã o de repugn â n ci a se m anife st e. O herp e s entã o,<br />

substitutiva m e n t e, traz ao s lábio s aquilo que a própria pes s o a<br />

não ous o u expres s ar. Ele enc arn a a aver s ã o não declara d a de<br />

seu portad or nas bolhas repulsivas. O contá gi o físico pelo cop o<br />

não des e m p e n h a qualqu er pap el, já que de qualqu er man eir a o<br />

vírus está disponív el e m todo s os participante s.<br />

Para muitas pes s o a s basta ver algu é m que tem herp e s .<br />

Elas, de nojo, viram as costa s interna m e n t e , fech a m - se<br />

animic a m e n t e para es s a pes s o a e e m vez diss o têm que abrirlhe<br />

as muc o s a s de seus lábios. O herp e s labial (de m an eir a<br />

se m el h a nt e à úlcera de estô m a g o , e m b o r a m ais inofen siv o) de<br />

fato explicita um a despr o p or ç ã o entre a muc o si d a d e protetora<br />

e a agre s siv a en er gi a <strong>da</strong> perturba ç ã o (destruidora). O que<br />

jam ais aflorou ao s lábios do afetad o verb al m e n t e , expr e s s a - se<br />

assi m m e s m o no herp e s . As muc o s a s são a áre a pred e stin ad a<br />

para as sen s a ç õ e s de repug n â n ci a, já que e m nos s a cultura o<br />

muc o provo c a repugn â n ci a. Para os indian o s, ao contrário, ele<br />

é valios o e sim b oliza a resid ê n ci a <strong>da</strong> vi<strong>da</strong>, porqu e eles<br />

tom ar a m con s ci ê n ci a de que ele é importante para a criaç ã o de<br />

1 5<br />

8


vi<strong>da</strong> nova. É por isso que os indian o s pod e m m a stig ar<br />

previa m e n t e o alim e nt o para suas crianç a s ou do e nt e s , por<br />

exe m pl o, se m a m e n o r sen s a ç ã o de repugn â n ci a. O herp e s<br />

labial não des e m p e n h a qualqu er pap el entre eles.<br />

O Sol é o sím b ol o do princípio m a s c ulin o e <strong>da</strong> vitali<strong>da</strong>d e,<br />

razã o pela qual sua proximi<strong>da</strong>d e é bus c a d a co m des ej o, muito<br />

e m b o r a não seja raro que ele se porte m al e m relaç ã o a seus<br />

ador a d o r e s . Isso se dá de man eira esp e ci al m e n t e explosiva<br />

nas altas montan h a s , quan d o esta m o s esp e ci al m e n t e próxim o s<br />

a ele devid o à pureza do ar e ond e ele, de prefer ê n ci a, faz sair<br />

o herp e s simpl e x. Tal co m o ensin a o exe m pl o de Ícaro, suas<br />

quei m a d ur a s pod e m até m e s m o colo c ar a vi<strong>da</strong> e m perig o.<br />

Quem quei m a os próprios lábios co m o princípio físico de<br />

vitali<strong>da</strong>d e sentirá, de man eir a corresp o n d e n t e , um a repulsa não<br />

ad miti<strong>da</strong> e m relaç ã o a es s e principio na con s ci ê n ci a. Aquele s<br />

que, se guind o o rastro de Ícaro, aproxi m a m - se do Sol<br />

es c al a n d o gel eiras e m o ntan h a s e assi m libera m seu herp e s<br />

so b a form a de quei m a d ur a s , apres e nt a m traç o s am bival e nt e s .<br />

Eles dev eria m que stion ar sua vitali<strong>da</strong>d e de heróis do Sol e pelo<br />

m e n o s bus c ar seu lado rev er s o . Isso pod eria fazer surgir algu m<br />

tipo de calor ab afad o na fria clari<strong>da</strong>d e do ar puro <strong>da</strong> monta n h a .<br />

Com o ç õ e s aní mic a s no início <strong>da</strong> m e n struaç ã o pod e m trair<br />

uma divisã o não ad miti<strong>da</strong> e m relaç ã o ao des ej o de ter filhos.<br />

Além diss o, o san gr a m e n t o m e n s al de muitas mulh er e s é<br />

con sid er a d o co m o algo impuro que as enc h e de repulsa e<br />

asc o .<br />

Consider a d o do ponto de vista <strong>da</strong> m e di cin a, o herp e s labial é<br />

con sid er a d o um sinto m a inofen siv o que mal requ er algu m<br />

trata m e nt o. A carg a que existe por trás do tem a tem sua<br />

orig e m na valoraç ã o . Os afetad o s sent e m - se desfigurad o s e,<br />

e m seu nojo e repulsa, expo st o s a todo o mund o. Muitos<br />

evita m sair a público co m os lábio s tão sujos para não ter que<br />

m o strar sua impurez a. As úlceras benign a s nas fronteiras de<br />

suas muc o s a s deixa m entrev er algo de exc e s si v a m e n t e<br />

explo siv o e m suas alm a s. Seus portõ e s de entrad a sup erior e s<br />

estã o incan d e s c e n t e s e, co m isso, arde m e m conflito. Os lábios<br />

1 5<br />

9


apar e c e m niti<strong>da</strong> m e nt e mais gros s o s , indican d o uma<br />

sen s u ali<strong>da</strong>d e que extrap ola a m oldura prevista. A am bival ê n ci a<br />

tam b é m des e m p e n h a um pap el aqui: por um lado, os lábios<br />

ch ei o s de bolha s aum e nt a m e atrae m a aten ç ã o para si, e por<br />

outro eles ao m e s m o temp o sinaliza m: “Não m e toqu e m , sou<br />

repulsivo e nojento". Uma simulaç ã o torna- se visível na<br />

desfiguraç ã o . O corp o sinc er o evid e n ci a algo que seu<br />

proprietário não quer ad mitir. O que se desta c a ali é algo sujo<br />

que ve m do próprio interior.<br />

Agora as pes s o a s têm nojo do afetad o, e ele sente repulsa<br />

do outro lado. Aquilo que se m pr e lhe quei m o u os lábios e que<br />

não aflorou ao s lábios devid o ao dec or o e a um apar e nt e<br />

desinter e s s e ganh a vi<strong>da</strong> não na fala, ma s nas bolhas de<br />

herp e s. A apar ê n ci a extern a é arruinad a pelas bolha s ardent e s<br />

que lem br a m a bab a, a purulenta franqu e z a exag er a d a e as<br />

crosta s de sujeira de um a crianç a. As críticas e as bron c a s , as<br />

palavras cáustic a s, os co m e n t ário s "sujos" e a franqu e z a ferina<br />

que fora m retido s por lábios cerrad o s torna m - se ag or a sua<br />

oportuni<strong>da</strong>d e . O herp e s labial é a repulsa so m atizad a diante<br />

dos próprios abis m o s . Ele é a form a corp oral de to<strong>da</strong> s as<br />

sujeiras que não fora m ditas. Basta pen s ar e m beijar lábio s<br />

co b erto s por herp e s para se ter uma idéia do quanto a tem átic a<br />

é repugn a nt e para a pes s o a .<br />

Neste ponto surg e a chan c e de co m pr e e n d e r m ais<br />

profun<strong>da</strong> m e n t e o princípio do contá gi o. O fenô m e n o do<br />

contágio existe de m an eir a inequív o c a no herp e s labial, e<br />

neste cas o, de man eira igual m e nt e inequív o c a , o fenô m e n o<br />

não tem pratica m e n t e na<strong>da</strong> a ver co m o ag e nt e caus a d o r. Isso<br />

não precis a ser assi m, co m o herp e s genital viven ciar e m o s<br />

co m o a transfer ê n ci a do ag e nt e físico des e m p e n h a um pap el<br />

mais importante. O principio do contá gi o, no entanto, continua<br />

sen d o o m e s m o . Nós acredita m o s que algo extern o e<br />

conta gi o s o entra e m nós e entã o ado e c e m o s . Na reali<strong>da</strong>d e ,<br />

so m e n t e pod e m o s en c o ntrar algo conta gi o s o quan d o isso já se<br />

en c o ntra e m nos s a alm a. Na<strong>da</strong> prov e ni e nt e do exterior pod e<br />

nos am e dr o nt ar se não existe e m nós so b a form a de padrã o.<br />

1 6<br />

0


No herp e s labial, es s e padrã o já está disponív el não ap en a s na<br />

con s ci ê n ci a ma s tam b é m fisica m e n t e. Neste sentido, o<br />

contá gi o físico não des e m p e n h a qualqu er pap el aqui, so m e n t e<br />

o aní mic o é decisivo. Ambivalên ci a, repugn â n ci a e m e d o do<br />

contá gi o, ao e m b ar al h ar o equilíbrio aní mic o, pod e m fazer co m<br />

que os vírus mantido s so b control e no corp o perc a m o controle.<br />

Os vírus mais pérfido s não pod e m tornar- se perig o s o s se m ser<br />

ativad o s pelo padrã o interno. A vi<strong>da</strong> e a ativi<strong>da</strong>d e de m é di c o s<br />

fam o s o s que tratava m de epide mi a s , tais co m o Nostra<strong>da</strong> m u s , o<br />

corro b o r a m . Eles não tinha m m e d o , ao contrário, sentia m- se<br />

interna m e n t e con ciliad o s co m o sinto m a , e assi m ne m os<br />

ag e nt e s mais am e a ç a d o r e s podia m lhes fazer mal algu m.<br />

Em se tratand o de herp e s, o perig o de cair e m um círculo<br />

vicios o está esp e ci al m e n t e próxim o quan d o as valora ç õ e s<br />

substitue m as interpreta ç õ e s . Quem con c e b e o herp e s não<br />

co m o express ã o <strong>da</strong> repugn â n ci a que sent e e sim co m o<br />

puniçã o por pen s a m e n t o s “sujos" continuará fazen d o des s a<br />

área tabu e, co m isso, a e m p urrará ain<strong>da</strong> m ais profun<strong>da</strong> m e n t e<br />

para a so m b r a. A reaç ã o sinc er a do corp o será m ais herp e s<br />

labial.<br />

Pelo contrário, a tarefa de aprendizad o con siste e m<br />

rec o n h e c e r , ac eitar co m o próprios e expres s ar a sen s u ali<strong>da</strong> d e<br />

e os outros tem a s discr ep a nt e s . Externar verb al m e n t e os<br />

pen s a m e n t o s corre s p o n d e n t e s e m vez de fazê- lo so b a form a<br />

de bolhas de herp e s proteg e os lábios. Caso contrário o risco<br />

de se quei m ar (no cas o, a bo c a) é alto. A seu favor está a<br />

atraent e oportuni<strong>da</strong>d e de se tornar um a pes s o a m ais ab erta e<br />

e m a n cip a d a.<br />

Em um sentido mais con cr et o, os lábio s herp étic o s san gr a m<br />

e form a m crosta de form a muito pare cid a a lábios mordid o s .<br />

Trata- se de sup er ar a repugn â n ci a para ch e g ar à<br />

sen s u ali<strong>da</strong>d e e, alé m do lado repugn a nt e do muc o , rec o n h e c ê -<br />

lo e desfrutá- lo co m o doa d o r de vi<strong>da</strong>. A vi<strong>da</strong> surgiu do es cur o<br />

pântan o prim ordial e todo s os ser e s hum a n o s rastejara m para<br />

fora do es c ur o útero, a m e n struaç ã o co m seus suc o s es cur o s é<br />

1 6<br />

1


o pré- requisito para a criaç ã o de vi<strong>da</strong> nova e dev e ser ac eita<br />

co m o parte substanci al <strong>da</strong> vi<strong>da</strong>.<br />

Os pen s a m e n t o s ácido s pod eria m conferir agud e z a e<br />

temp er o à própria vi<strong>da</strong>, impuls o s de falar mal ou espu m ar de<br />

raiva pod eria m ser exprimid o s so b a form a de crítica<br />

con strutiva ou até mes m o ferina. Em um nicho so cial, o cabar é,<br />

havia até m e s m o a pos sibili<strong>da</strong>d e de levá- la direta m e n t e ao s<br />

lábio s e fazê- la tanto ao ho m e m co m o à mulh er. O que se fazia<br />

ali é exata m e n t e servir co qu et éi s verb ais temp er a d o s que<br />

eleg a nt e m e n t e ultrapas s a v a m certas fronteiras e que podia m<br />

ser leve m e n te susp eito s e, às vez e s , até m e s m o ofen siv o s. A<br />

pia<strong>da</strong> seria um a outra form a de per mitir que es s a tem átic a<br />

aflore, liberan d o - a de um a man eir a ain<strong>da</strong> toleráv el.<br />

P er g u nta s<br />

1. Qual tem a e m b a r alh a m eu equilíbrio aní mic o e abr e<br />

ca min h o para o herp e s?<br />

2. O que m e dá nojo? O que m e rep el e? De que m an eira<br />

dou asc o ao s outros?<br />

O que m e inspira aver s ã o ? O que con sid er o es c ória? Até<br />

que ponto a repugn â n ci a que sinto está liga<strong>da</strong> ao des ej o?<br />

3. Que relaç ã o tenh o co m o muc o (e as muc o s a s)? Poss o<br />

desfrutá- lo quan d o é o cas o ?<br />

4. Com quais pen s a m e n t o s sujos eu m e es c o n d o ,<br />

deixand o que m e u s lábio s trans b o r d a nt e s os expr e s s e m ? Que<br />

expr e s s õ e s eu jam ais per mitiria que m e vies s e m ao s lábios?<br />

5. Será que eu m e desfiguro para não ter de configurar os<br />

tem a s e parc eiro s e m questã o ? Eu imp e ç o beijos ou outro tipo<br />

de contato co m lábio s rep el e nt e s ?<br />

6. A idéia de expres s ar m e u s proble m a s m e dá m e d o , e eu<br />

con sig o isso justa m e nt e co m m eu sinto m a ? O que existe de<br />

indizivel m e nt e indizível em minh a vi<strong>da</strong>?<br />

7. Que dile m a m e dá trabalh o? De qual ferro<br />

incan d e s c e n t e eu não ous o real m e nt e m e aproxim ar, e m b o r a<br />

pretend a fazê- lo?<br />

1 6<br />

2


Vista e visão<br />

No prim eiro volum e , trata m o s por m e n o riza d a m e n t e dos<br />

probl e m a s mais freqü e nt e s dos olho s e m e n o s exten s a m e n t e<br />

dos proble m a s dos ouvido s, sen d o que a per<strong>da</strong> do olfato e do<br />

palad ar não foi ab ord a d a . Isso corresp o n d e co m bastant e<br />

exatidã o à es c al a de valor e s liga<strong>da</strong> ao s mal e s que nos afeta m ,<br />

expr e s s a n d o uma valoraç ã o tipica m e n t e cultural na qual vale a<br />

pen a aprofund ar- se. Por sua apar ê n ci a extern a, os olho s<br />

corre s p o n d e m ao Sol e ao princípio ma s c ulino 40 . Na formulaç ã o<br />

de Goeth e. "Se o olho não foss e solar, o Sol jam ais pod eria vêlo".<br />

Já o órgã o auditivo, ao contrário, impres si o n a extern a m e n t e<br />

atrav é s do pavilhã o auricular, que sim b olic a m e n t e está próxim o<br />

<strong>da</strong> Lua e do princípio feminino.<br />

Os olho s são a única parte de nos s o corpo ond e o cér e br o<br />

se torna visível, já que eles, de ac ord o co m a história <strong>da</strong><br />

ev oluç ã o e junta m e nt e co m o nervo ocular e a retina, são parte<br />

do siste m a nervo s o central. Devido à sua própria naturez a,<br />

visão e con s ci ê n ci a estã o natural m e nt e liga<strong>da</strong>s. A pro m o ç ã o<br />

dos olho s a órgã o dos sentido s de prim eira clas s e oc orr eu<br />

juntam e nt e co m a primazia con q uistad a pelo cér e br o. O<br />

pen s a m e n t o impregn a noss a visã o, m a s a visã o tam b é m<br />

impregn a o pen s a m e n t o . Um corresp o n d e ao outro e m suas<br />

pos sibili<strong>da</strong>d e s e fontes de erro e se pro m o v e r a m mutua m e n t e .<br />

O pen s a m e n t o , eleg a nt e m e n t e , supriu várias deficiên cias <strong>da</strong><br />

visão. Enquanto, por exe m pl o, pod e m o s ouvir e ch eirar e m<br />

to<strong>da</strong>s as direç õ e s , nós per m a n e n t e m e n t e ve m o s apen a s<br />

m etad e do mun d o . Apenas algun s deus e s co m muitos olho s e<br />

o pastor Argos pod e m ad mirar a totali<strong>da</strong>d e.<br />

A visã o é orientad a pela luz do Sol, cujos raios pare c e m<br />

tom ar se m pr e o ca minh o reto e, portanto, m ais curto.<br />

Corresp o n d e n t e m e n t e , nós tenta m o s pen s ar e plan ejar<br />

linear m e nt e e se m rod ei o s. Nós orienta m o s noss o am bi e nt e<br />

artificial por linhas e ângulo s retos en quant o a naturez a, ao<br />

contrário, vive e m curvas e esfer a s e des c o n h e c e as linhas e<br />

1 6<br />

3


ângulo s retos. Noss o pens a m e n t o não só está atrelad o ao<br />

ca min h o mais curto, to<strong>da</strong> s as nos s a s con c e p ç õ e s e<br />

exp e ctativa s refer e nt e s ao des e n v o l vi m e n t o são projeç õ e s<br />

linear e s no futuro. Mas co m o a reali<strong>da</strong>d e não dec orr e<br />

linear m e nt e , algu m a cois a nes s e s plan o s se m pr e talha. Há<br />

muitos fatores indican d o que a violaç ã o de noss o m ei o<br />

am bi e nt e natural tem muito a ver co m a igualm e nt e violenta<br />

impo siç ã o <strong>da</strong> lineari<strong>da</strong>d e . Esta, entretanto, tem a ver co m um<br />

equív o c o de racio cínio ligado à visão.<br />

Expres s õ e s tais co m o luz do espírito, iluminaç ã o , claro<br />

enten di m e n t o , cab e ç a clara, a I<strong>da</strong>de <strong>da</strong>s Treva s, etc.,<br />

de m o n s tr a m co m o a con s ci ê n ci a, pas s a n d o pela visã o, está<br />

estreita m e n t e liga<strong>da</strong> à luz. Nós falam o s <strong>da</strong> luz do<br />

con h e ci m e n t o co m o sen d o algo totalm e nt e óbvio, e não de seu<br />

so m , go sto ou ch eiro. O so m , ao m e n o s , dev eria ter m ais<br />

direito a es s a honra pois se g un d o os mitos dos m ais variad o s<br />

pov o s, no princípio houv e um so m , e to<strong>da</strong> a criaç ã o co m e ç o u<br />

co m ele. "No princípio era o verb o", en sin a a Bíblia, e<br />

deduzi m o s dos Ve<strong>da</strong>s que tudo surgiu a partir <strong>da</strong> sílab a<br />

primordial OM, en qu a nt o na con c e p ç ã o dos ab orígin e s <strong>da</strong><br />

Austrália, Deus cantou o mun d o . Até m e s m o e m noss o mun d o<br />

des e n c a n t a d o a física en sina que o univers o surgiu a partir de<br />

um estrond o prim ordial.<br />

Não enten d e n d o es s a situaç ã o , nós favor e c e m o s a visão em<br />

prejuízo <strong>da</strong> audiçã o e colo c a m o s nos s a razão cristalina e m<br />

prim eiro lugar. A prim eira cois a que nos suc e d e é ver a luz do<br />

mund o, e m b o r a saib a m o s que se es c uta o batim e nt o cardía c o<br />

mat ern o muito ante s que a luz do mund o seja visível e que e m<br />

fase s decisiva s <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> o m elh or é es cutar a voz do coraç ã o .<br />

A estrutura do olho rev ela um a outra propried a d e de nos s a<br />

visão e tam b é m , portanto, de noss a con s ci ê n ci a, que não deixa<br />

de ser proble m á tic a. Nós não ve m o s igual m e nt e be m e co m a<br />

m e s m a nitidez e m to<strong>da</strong> a sup erfície <strong>da</strong> retina. A cap a ci<strong>da</strong>d e de<br />

visão é m ais fraca nas bor<strong>da</strong> s, e a sen s a ç ã o <strong>da</strong>s cor e s<br />

deficiente, m elh or a n d o à m e di<strong>da</strong> que se aproxim a do ponto<br />

central. A visã o tornou- se para nós um ato de con c e ntra ç ã o ,<br />

1 6<br />

4


pois nós fixam o s o olhar e m um ponto per mitindo, assi m, que o<br />

resto fique auto m atic a m e n t e fora de foco. De man eira<br />

corre s p o n d e n t e , con c e ntra m o s noss a con s ci ê n ci a no que é<br />

mais important e, co m o que as cois a s m e n o s importante s são<br />

muitas vez e s es qu e ci d a s . Escolh er tem um duplo caráter,<br />

con sistindo de um a es c ol h a para dentro e um a es c olh a para<br />

fora. Presu m e - se que a visã o não foi se m pr e tão centrad a.<br />

Ain<strong>da</strong> hoje, "outros m a m íf er o s" tais co m o os caval o s enx er g a m<br />

igual m e nt e be m e m todo o ca m p o de visão. Noss o olho tem<br />

ain<strong>da</strong> um ponto ceg o próxim o ao ponto e m que a visã o é m ais<br />

aguçad a , o local ond e o nervo ocular pen etra na retina. A<br />

con s ci ê n ci a, treinad a para es c ol h er e para adotar ponto s de<br />

vista unívo c o s e a seguir racion al m e n t e o ca min h o m ais curto,<br />

tem igual m e nt e outros tantos ponto s ce g o s . To<strong>da</strong> con c e ntra ç ã o<br />

e o con s e q ü e n t e proc e s s o de es c ol h a que se se g u e estã o<br />

bas e a d o s na avaliaç ã o e pres s up õ e m proc e s s o s de<br />

pen s a m e n t o .<br />

A exp eriên ci a <strong>da</strong> persp e ctiva ensin a co m o é importante o<br />

pap el des e m p e n h a d o pela avaliaç ã o , tanto no proc e s s o <strong>da</strong><br />

visão co m o no do pen s a m e n t o . Distorc e n d o a reali<strong>da</strong>d e, nós<br />

perc e b e m o s co m o grand e o que esta próxim o e Com o<br />

pequ e n o o que está long e. Neste ponto já se nota e m nos s o<br />

tipo de visão o eg o c e n tris m o que impregn o u nos s o<br />

pen s a m e n t o ao long o <strong>da</strong> história. Som e nt e aquilo que está<br />

pes s o al m e n t e próxim o a nós rec e b e esp a ç o e m noss o<br />

pen s a m e n t o c na ótica corre s p o n d e n t e . A espinh a que tem o s<br />

no nariz está mais próxim a e, portanto, é mais importante que a<br />

epide mi a de cólera na América Latina.<br />

Existe, por outro lado, o efeito apar ent e m e n t e contraditório<br />

<strong>da</strong> projeç ã o , que está ligad o ao olho de m an eira igual m e nt e<br />

substanci al. Enquanto intencion al m e n t e não veja m o s a viga no<br />

próprio olho, rec o n h e c e m o s niti<strong>da</strong> m e nt e o cisc o no olho dos<br />

outros. Nós nos co m pr o m e t e m o s a ver tudo do lado de fora,<br />

e m b o r a o olho nos prov e o contrário o tem p o todo. To<strong>da</strong> s as<br />

imag e n s se m pr e se form a m so m e n t e so br e a retina, que<br />

inequivo c a m e n t e está dentro. As imag e n s que se form a m a<br />

1 6<br />

5


po st erior ? deixa m isso muito claro: quan d o se olha para a<br />

clari<strong>da</strong>d e do Sol e e m se guid a se fecha os olho s, o que se vê<br />

co m os olho s fecha d o s é um a man c h a es cur a, um neg ativo do<br />

Sol que certa m e n t e não existe do lado de fora.<br />

To<strong>da</strong> s as noites os son h o s nos m o stra m que a retina não é<br />

ne m m e s m o nec e s s á ri a para ver. To<strong>da</strong> s as imag e n s , aqu el a s<br />

que nós apar e nt e m e n t e obte m o s de fora para dentro e<br />

so br etud o as imag e n s oníricas propria m e n t e ditas são na<br />

reali<strong>da</strong>d e imag e n s interna s. Não existe nenhu m a outra e, por<br />

princípio, não pod e hav er nen hu m a outra. Apesar diss o,<br />

con sid er a m o s noss o s olho s co m o sen d o apar elh o s<br />

fotográfico s, e deduzi m o s que aquilo que é fotografad o do lado<br />

de fora está real m e nt e lá fora. Nós m o stra m o s no prim eiro<br />

volu m e co m o es s a supo siç ã o tão óbvia para nós é<br />

probl e m á tic a. Na reali<strong>da</strong>d e, nós ve m o s tudo interna m e n t e e o<br />

explica m o s co m o sen d o o mund o exterior. Este, entretanto, é o<br />

m e c a ni s m o <strong>da</strong> projeção , co m cuja aju<strong>da</strong> e m p urra m o s para<br />

fora tudo aquilo que não pod e m o s supor tar e m nós.<br />

O olho, portanto, forne c e a bas e tanto para a racion alizaç ã o<br />

co m o para a projeç ã o , favor e c e n d o nos s a s valoraç õ e s e<br />

pro m o v e n d o a es c olh a e, co m ela, a limitaç ã o do mun d o . Com o<br />

ele faz tudo isso a serviç o do pen s a m e n t o e sua visão de<br />

mund o linear, racion al e avaliad or a, a con s ci ê n ci a se vinga<br />

co m um artifício ous a d o : ela sug er e que to<strong>da</strong> s as perc e p ç õ e s<br />

de nos s o s olho s são objetivas, ou seja, que aquilo que nós<br />

imagina m o s lá fora corre s p o n d e à reali<strong>da</strong>d e.<br />

Nossa visão de mund o e o pred o m í ni o do intelecto estã o<br />

bas e a d o s nes s e truque. Em última instância, isso se dev e ao s<br />

olho s e seus esforç o s de endireitar artificialm e nt e o mun d o<br />

redond o . Sua própria form a redo n d a m o stra quanta neg a ç ã o<br />

de si m e s m o é nec e s s á ri a para isso. Hoje nós sab e m o s que na<br />

reali<strong>da</strong>d e na<strong>da</strong> nest e mund o oc orr e linear m e nt e. Aquilo que e m<br />

pequ e n a es c al a parec e ser um a reta é na reali<strong>da</strong>d e uma curva,<br />

co m o pod e ser co m pr o v a d o a qualqu er m o m e n t o pela<br />

curvatura <strong>da</strong> Terra. Até m e s m o os raios de luz não vê m do Sol<br />

e m linha reta, e sim e m grand e s espirais. Ness e entrete m p o<br />

1 6<br />

6


fica m o s sab e n d o tam b é m que nos s o s olho s pod e m perc e b e r<br />

so m e n t e um a parte ínfima do esp e ctr o de ond a s<br />

eletro m a g n é ti c a s e, portanto, de noss a "reali<strong>da</strong>d e". Ness a<br />

situaç ã o probl e m átic a, que am e a ç a v a seu do mínio ilimitado, o<br />

olho e o intelecto se ass o ci ar a m ain<strong>da</strong> mais estreita m e n t e e o<br />

intelecto apar elh o u o olho co m o não o fez co m nenhu m outro<br />

sentido. Com recurs o s técnic o s, ele ajudou a am pliar as<br />

limita<strong>da</strong> s cap a cid a d e s do olho, co m micro s c ó pi o s para o<br />

mund o do muito pequ e n o e co m lunetas e teles c ó pi o s para o<br />

am plo esp a ç o do infinito. Todo s os truque s e m ei o s pos sív ei s<br />

sug er e m que noss a visão não vai tão m al co m o os nova m e n t e<br />

sinc er o s olho s individuais m o stra m . Os óculo s deixa m muito<br />

claro que a mai oria dos intelectuais so m e n t e pod e ver o mund o<br />

atrav é s de seus próprios óculo s. A funçã o <strong>da</strong>s lente s de<br />

contato é imp e dir que a vertig e m se torne evid e nt e. O fato de<br />

que mais <strong>da</strong> m etad e <strong>da</strong> populaç ã o <strong>da</strong>s cha m a d a s naç õ e s<br />

des e n v olvid a s m al pod e enx er g ar se m a aju<strong>da</strong> de m ei o s<br />

artificiais pod eria <strong>da</strong>r o que pen s ar. Nem m e s m o os<br />

exp eri m e nt o s co m lente s fixas per m a n e n t e s pod e m m o dificar<br />

isso.<br />

A to<strong>da</strong>s es s a s exp eri ên ci a s doloro s a m e n t e sinc er a s so m ase<br />

a física m o d e r n a que, co m o princípio <strong>da</strong> incertez a de<br />

Heisen b er g prova que nós, fun<strong>da</strong> m e n t al m e n t e , não esta m o s<br />

jam ais e m con diç õ e s de perc e b e r objetiva m e n t e porqu e o<br />

ob s ervad o r subjetivo se m pr e participa do proc e s s o de<br />

perc e p ç ã o . Deve m o s rec o n h e c e r o quanto noss a visã o é<br />

relativa e quã o facilm e nt e ela pod e ser induzi<strong>da</strong> ao eng a n o . A<br />

perc e p ç ã o é o m o d el o de to<strong>da</strong> m e diç ã o científica ma s, assi m<br />

co m o esta, está se m pr e bas e a d a e m co m p ar a ç õ e s e é,<br />

portanto, relativa. A figura ab aixo ilustra o dile m a:<br />

1 6<br />

7


Os dois círculo s intern o s têm o m e s m o tam a n h o m a s,<br />

cerc a d o por círculo s m e n o r e s , o <strong>da</strong> es qu er d a pare c e maior,<br />

en qu a nt o seu irmã o gê m e o <strong>da</strong> direita, cerc a d o por círculo s<br />

maior e s , dá a impre s s ã o de ser pequ e n o . Aquilo que<br />

impres si o n a co m o um a ilusão de ótica corresp o n d e à<br />

exp eriên ci a cotidian a, a ponto de se procurar o am bi e nt e mais<br />

quadriculad o pos sív el para que o efeito seja esp e ci al- m e nt e<br />

grandio s o .<br />

Mas noss a visão não é so m e n t e relativa, ela é tam b é m<br />

en g a n o s a . A cad a filme que assistim o s , viven ci a m o s co m o<br />

imag e n s fixas nos dão a ilusão de m o vi m e nt o , co m o nos filmes<br />

antigo s as ro<strong>da</strong>s <strong>da</strong>s diligên cia s rep e ntina m e n t e giram para<br />

trás, etc.<br />

A imag e m ab aixo ilustra aqu el e que é talvez o asp e ct o m ais<br />

probl e m á tic o de nos s a visão, a es c ol h a e a avaliaç ã o :<br />

Figura de W. E. Hill<br />

Naturalm e nt e, a velha e a jove m estã o se m pr e e ao m e s m o<br />

temp o lá. Entretan to , atrav é s <strong>da</strong> es c olh a pod e m o s perc e b e r<br />

apen a s um a delas e m um prim eiro m o m e n t o , aqu el a co m a<br />

qual tem o s m ais afini<strong>da</strong>d e. Até m e s m o quan d o , finalm e nt e,<br />

des c o b ri m o s as duas, é impo s sí v el vê- las ao m e s m o tem p o ,<br />

e m b o r a saib a m o s que elas estã o lá simultan e a m e n t e . Aquilo<br />

que pod e parec er divertido e m um que br a- cab e ç a visual<br />

adquire um a quali<strong>da</strong>d e muito diferente quan d o nos <strong>da</strong> m o s<br />

conta co m o , ao long o de to<strong>da</strong> a nos s a vi<strong>da</strong>, perc e b e m o s<br />

atrav é s de um des s e s retículos que deixa m pas s ar apen a s<br />

1 6<br />

8


deter min a d a s cois a s que são agradáv ei s para nós, tapand o o<br />

resto. Nós não dirigim o s nos s o olhar ao mun d o a noss o belprazer;<br />

ve m o s algu m a s cois a s nele, e deixa m o s de ver outras.<br />

Na express ã o de Schop e n h a u e r "O mun d o co m o vontad e e<br />

repre s e nt a ç ã o ”, es s a exp eriên ci a é posta e m uso <strong>da</strong> m e s m a<br />

man eira que na opinião de Herman Weidel en er, para que m<br />

olhar é tam b é m se m e a r . Dess a m an eira, abr e m - se as portas<br />

para a esp e c ul a ç ã o (do latim sp e c ular e = espiar), tam b é m<br />

liga<strong>da</strong> à visão, e a visão torna- se ain<strong>da</strong> mais susp eita. Uma<br />

aula de visã o nos é <strong>da</strong><strong>da</strong> pela política, ond e repres e nt a nt e s de<br />

uma m alha so cial pod e m reunir- se co m os adepto s de um<br />

partido con s er v a d o r ou liberal so m e n t e para sep ar ar- se se m<br />

que se che g u e a nen hu m resultad o. Tanto optica m e n t e co m o<br />

e m pen s a m e n t o , so m e n t e pod e m o s con c e ntrar- nos e m um<br />

único ponto de vista e m um deter min a d o m o m e n t o . Quando<br />

nos inclina m o s a fazer des s e ponto de vista o único a ser<br />

defendid o, os probl e m a s con h e ci d o s estã o sen d o préprogra<br />

m a d o s .<br />

Os olho s nos m o stra m co m o esta m o s pres o s à polari<strong>da</strong>d e .<br />

Eles transfor m a m a simultan eid a d e e m um a se qü ê n ci a de<br />

ev e nt o s e garant e m a lineari<strong>da</strong>d e . Eles transfor m a m a uni<strong>da</strong>d e<br />

e m duali<strong>da</strong>d e e, des s a man eira, des e m p e n h a m um pap el<br />

central na des e s p e r a d a situaç ã o e m que nos en c o ntra m o s . O<br />

con h e ci m e n t o <strong>da</strong> uni<strong>da</strong>d e por m ei o dos dois olho s físico s é, por<br />

princípio, impo s sív el.<br />

Sendo assi m, não é de ad mirar, e sim típico, que tenha m o s<br />

probl e m a s nos olho s co m tanta freqü ê n ci a. O fato de que nós,<br />

de m an eira gen er alizad a, tenha m o s a tend ê n ci a de forçar<br />

de m ai s a vista resulta <strong>da</strong>s exig ê n ci a s de nos s o mun d o<br />

primaria m e n t e óptico. Pois os probl e m a s so m e n t e surg e m<br />

quan d o não quer e m o s perc e b e r con s ci e nt e m e n t e as coisa s<br />

perc e bid a s . Não olhar para isso, não quer er perc e b ê - lo, é<br />

so m atizad o nas form a s e sinto m a s mais divers o s . O fato de as<br />

culturas cha m a d a s de “primitivas", m e n o s unilateral e<br />

visual m e nt e orientad a s , sup er ar e m a juventud e se m miopia e a<br />

velhic e se m pres bi o pia, m o stra co m o ap e s ar de sua<br />

1 6<br />

9


freqü ê n ci a, es s e s fenô m e n o s têm a ver esp e cifica m e n t e<br />

con o s c o .<br />

Ouvido e audição<br />

A orelha, que é a parte extern a do ouvido. tem um a form a<br />

e min e nt e m e n t e feminina. Enquanto o olho tem ac e s s o a um<br />

control e ativo, a lei que reg e o ouvido o sub m e t e a um a maior<br />

pas sivi<strong>da</strong>d e . Ele per m a n e c e ab erto m e s m o durante a noite,<br />

que é a m etad e feminina do dia, não se deixa dirigir ou<br />

controlar e, de man eira corresp o n d e n t e , tem m e n o r cap a cid a d e<br />

de con c e ntr a ç ã o . Naturalm e nt e não existe, portanto, um ponto<br />

e m que a audiç ã o é mais aguç a d a. Enquanto o olho, por<br />

princípio, pod e fech ar- se e está limitad o a um a m etad e <strong>da</strong><br />

reali<strong>da</strong>d e, aqu el a para a qual o rosto está voltad o, o ouvido não<br />

pod e ser desliga d o e por es s a razão está se m pr e sen d o<br />

inform a d o de man eira abran g e nt e. Ain<strong>da</strong> que se durm a so br e<br />

um dos ouvido s, o outro continua desp erto. Na es c al a de ond a s<br />

eletro m a g n é ti c a s , a faixa de freqü ê n ci a s perc e bid a pelo ouvido<br />

ultrapas s a e m muito a do olho. Contraria m e n t e às pálpe br a s, a<br />

aus ê n ci a de m o bili<strong>da</strong>d e <strong>da</strong>s orelhas ac e ntua igual m e nt e a<br />

quali<strong>da</strong>d e pas siva do sentido <strong>da</strong> audiç ã o , já que não se<br />

en c o ntra m no centro co m o os olho s m a s, tipica m e n t e, na<br />

periferia do rosto. Nós e m p r e s t a m o s noss o s ouvido s a algu é m<br />

ou <strong>da</strong> m o s uma ouvi<strong>da</strong> no que ele tem a dizer, e m b o r a so m e n t e<br />

lanc e m o s olhar e s ao nos s o redor. O fato de que os anim ais<br />

seja m cap az e s de m o v er as orelha s e de que algu m a s pouc a s<br />

pes s o a s tam b é m tenha m a pos sibili<strong>da</strong>d e de executar<br />

ativa m e nt e co m elas alguns m o vi m e nt o s rudim e nt ar e s per mite<br />

presu mir que es s a cap a ci<strong>da</strong>d e foi sen d o perdi<strong>da</strong> por desl eixo.<br />

É so m e n t e e m sentido figurad o que nós ain<strong>da</strong> pod e m o s ficar<br />

co m as orelhas e m pé. O ponto a que ch e g a m o s pod e ser<br />

co m pr o v a d o pelo fato de ach ar m o s que orelhas m ó v ei s são<br />

cô mi c a s , en qu a nt o olho s imóv ei s nos pare c e m trágic o s. A<br />

diferent e valora ç ã o de am b o s os sentido s m o stra- se tam b é m<br />

17<br />

0


no fato de nós confiar m o s con stant e m e n t e e m noss a ótica,<br />

ma s só muito rara m e nt e se é todo ouvido s, já que nós<br />

pratica m e n t e nos es qu e c e m o s de ouvir co m aten ç ã o .<br />

A có cl e a, o órg ã o <strong>da</strong> audiçã o propria m e n t e dito, que está<br />

situad o no interior do ouvido, é um sinal ain<strong>da</strong> m ais importante<br />

que o pavilhã o auricular. A imag e m <strong>da</strong> espiral é um sím b ol o<br />

primordial que, ao contrário <strong>da</strong>s linhas retas, está muito m ais<br />

próxim a <strong>da</strong> reali<strong>da</strong>d e . No âm bito do infinitam e nt e pequ e n o , os<br />

físico s atô mi c o s en c o ntrara m sua marc a no local de form a ç ã o<br />

de mat éria nova, assi m co m o o fizera m os astrofísic o s nas<br />

gigante s c a s dim e n s õ e s do univers o, so b a form a de nebul o s a s<br />

e m espiral, en qu a nt o os biólo g o s m ol e c ular e s se guira m seu<br />

rastro no mat erial gen étic o do DNA; já os psicot er ap e uta s a<br />

con h e c e m co m o aqu el e red e m o i n h o co m que o ciclo <strong>da</strong> vi<strong>da</strong><br />

tem inicio, na con c e p ç ã o , e co m o qual se fecha ao final <strong>da</strong><br />

vi<strong>da</strong>, quan d o a alm a volta a deixar o corp o.<br />

Cons e q ü e nt e m e n t e , a perc e p ç ã o do ouvido aproxi m a- se mais<br />

<strong>da</strong> reali<strong>da</strong>d e, so br etud o quan d o pens a m o s que tudo na criaç ã o<br />

foi con stituído a partir do so m . "Na<strong>da</strong>- Brahm a, o mun d o é<br />

so m” 41 . C. G. Carus diss e: "O ouvido interno pod e ser<br />

con sid er a d o o órg ã o m ais importante e significativo do<br />

des e n v olvi m e nt o psíquic o"” Schop e n h a u e r e Kant refer e m - se à<br />

relaç ã o entre o ouvido e o temp o, que nós m e di m o s de ac ord o<br />

co m o curs o <strong>da</strong>s estrela s des d e temp o s ime m o ri ais. Suas<br />

"órbitas" são na reali<strong>da</strong>d e espirais. Rudolf Steiner rec o n h e c e u<br />

que a vi<strong>da</strong> é ritmo, e por tam b é m dec orr er ritmica m e n t e 42 , o<br />

temp o está intima m e n t e ligad o à nos s a vi<strong>da</strong>. Nós ve m o s co m<br />

os olho s a sup erfície do mun d o , os fenô m e n o s . Com nos s o s<br />

ouvido s, entretanto, es cuta m o s as profund ez a s , as raízes de<br />

noss a vi<strong>da</strong>. Ness e sentido, os olho s "feno m e n ai s" contrap õ e m -<br />

se ao s ouvido s radicais (do latim radix = raiz). Isso não faz co m<br />

que os ouvido s seja m fun<strong>da</strong> m e n t al m e n t e m elh or e s que os<br />

olho s, so m e n t e m o stra que nós os utilizam o s de outra m an eira,<br />

mais profun<strong>da</strong>.<br />

A relaç ã o dos dois m ais importante s órg ã o s dos sentido s<br />

fica evid e nt e nos relacion a m e n t o s interp e s s o a i s. Nós ve m o s e<br />

17<br />

1


ouvim o s uns ao s outros. Primeiro entra m o s e m contato e por<br />

último, ev e ntual m e nt e, apren d e m o s a nos enten d e r<br />

mutua m e n t e . As reaç õ e s à cegu eira e à surdez de m o n s tr a m<br />

co m o a audiçã o nos toca profun<strong>da</strong> m e n t e . Devido à valora ç ã o<br />

do min a nt e, con sid er a m o s a ce gu eira co m o sen d o muito pior,<br />

ma s a prática de m o n s tr a que ela é m ais fácil de suportar. Com<br />

a audiç ã o , perd e m o s o vibrar junta m e nt e co m o mun d o e,<br />

assi m, a sen s a ç ã o de ser parte dele, o que resulta e m<br />

perturba ç õ e s psíquic a s que che g a m até à depr e s s ã o . A surd ez<br />

ac arreta a aus ê n ci a de sen s a ç õ e s . Quando a m ã o está sur<strong>da</strong><br />

[em ale m ã o = dor m e nt e] não pod e sentir mais na<strong>da</strong>. O ditado<br />

ale m ã o m o stra que ouvir e sentir pod e m substituir um ao outro:<br />

"Aquele que não quer ouvir dev e sentir."<br />

Quando nos priva m <strong>da</strong> audiç ã o , vive m o s e m um mun d o se m<br />

so m . E a sen s a ç ã o de ser expuls o, de ser um estran h o no pior<br />

sentido, o que animic a m e n t e é quas e insup ortáv el. Assim co m o<br />

no início <strong>da</strong> criaç ã o há um so m , to<strong>da</strong> criatura ouv e des d e o<br />

princípio o batim e nt o do cora ç ã o mat ern o . To<strong>da</strong> s as mã e s<br />

sent e m co m o es s e cordã o umbilical acústic o é important e ao<br />

estreitar o filho inquieto contra o peito de m an eir a intuitiva e<br />

esp o nt â n e a . É es s e so m tão con h e ci d o que, e m última<br />

instância, ac al m a a crianç a. Qualquer família de patos mo stra o<br />

fenô m e n o . A mã e gras n a ininterrupta m e n t e e en quant o os<br />

patinho s a es c uta m , tudo está e m orde m . Assim que os<br />

gras nid o s enfraqu e c e m , é hora de retornar.<br />

No en surd e ci m e n t o , ou seja, quan d o se co m e ç a a ter<br />

dificul<strong>da</strong>d e e m ouvir, a indicaç ã o é parar, dirigir a es c uta para<br />

fora e esp er ar que as resp o st a s ven h a m de lá. Não é m ais o<br />

cas o de es cutar o exterior, m a s a voz interna, à qual,<br />

unica m e n t e , se está sen d o rem etid o pelo sinto m a. O ritmo<br />

interno quer ser en c o ntrad o . De ac ord o co m a naturez a, esta é<br />

uma tarefa <strong>da</strong> i<strong>da</strong>d e ma dur a, razão pela qual o sinto m a<br />

tam b é m afeta prefer e n ci al m e n t e es s a faixa etária. Quem, e m<br />

i<strong>da</strong>d e avan ç a d a , continua voltad o ap en a s para o exterior, pod e<br />

contar co m que o destino o corrigirá. Mas isso pod e oc orr er<br />

atrav é s do fech a m e n t o do ouvido extern o. A própria voz<br />

17<br />

2


interna, assi m co m o a voz de Deus, pod e ser ouvi<strong>da</strong><br />

indep e n d e n t e m e n t e dos ouvido s físico s e, e m cas o s extre m o s ,<br />

termin a m sen d o a única con ex ã o . Isso pod e ser sentido co m o<br />

dra m a ou oportuni<strong>da</strong>d e . Neste ponto, dev er- se- ia se pen s ar<br />

tam b é m nos co m p o sitor e s Beetho v e n e Smetan a, que ape s ar<br />

<strong>da</strong> surdez extern a co m p u s e r a m músic a divina e tam b é m<br />

ouvira m interna m e n t e .<br />

Tinnitus ou ruído nos ouvido s<br />

Aquilo que à prim eira vista pod e parec er um sinto m a<br />

pequ e n o e inofen siv o ator m e nt a m ais de seis milhõ e s de<br />

pes s o a s só na Alem anha, tend o assi m alcan ç a d o o grau de<br />

epide mi a. Tinnitus ve m do latim tinnire, que quer dizer,<br />

evid e nt e m e n t e , tinir. Freqü e nt e m e n t e ele é des crito co m o<br />

mur m úrio, bra mid o, zunido, so m de sino s, sussurro, son s<br />

sibilante s, bati<strong>da</strong>s, ass o bi o s , tinidos e até m e s m o uivos. Não<br />

todo s, m a s a grand e m ai oria dos afetad o s sofre co m o ruído<br />

interno, sentindo- se inco m o d a d o s e até incap a citad o s .<br />

A m e dicin a ac ad ê m i c a parte do princípio de que o ruído é a<br />

caus a e m mais <strong>da</strong> m etad e dos pacient e s . Há um a relaç ã o co m<br />

o exc e s s o de stre s s e m pratica m e n t e todo s os pacient e s . Em<br />

última instância, os ruído s nos ouvido s são ruídos intern o s<br />

levad o s para dentro, os afetad o s inco m o d a m a si m e s m o s . Há<br />

muito faland o e m favor de que eles, perturba d o s pelo “ruído"<br />

extern o, não se defend e m e sim incorp or a m , internaliza m a<br />

agre s s ã o .<br />

Em vez de li<strong>da</strong>r co m o stre s s de m an eira con strutiva e ir ao<br />

en c o ntro <strong>da</strong>s exig ê n ci a s no exterior, eles tend e m a res olv er<br />

tudo interna m e n t e , sozinh o s . Não é de ad mirar que algo<br />

ac o nt e ç a interna m e n t e . Os son s no interior (co m o todo s os<br />

sinto m a s) dev e m ser enten did o s co m o sinais que quer e m<br />

trans mitir uma m e n s a g e m . O tipo de m e n s a g e m resulta do tipo<br />

de ruído, que geral m e n t e conté m algo de ad m o nitório ou, pelo<br />

m e n o s , que tenta cha m a r a aten ç ã o . O des p erta d or so and o<br />

quer ac ord ar, a siren e assu star, o uivo de um a bóia, <strong>da</strong> m e s m a<br />

17<br />

3


man eira que um alar m a, avisa que um a tem p e s t a d e se<br />

aproxi m a, que m bate à porta ped e entrad a e aten ç ã o , apitos<br />

avisa m ou e mite m sinais. Tais son s pod e m não ser agrad á v ei s,<br />

ma s são se m pr e significativo s. O bra mid o de um a torm e nt a, o<br />

zunido de um enxa m e de ab elhas ou o rugido de um urso não<br />

pres s a gi a m na<strong>da</strong> de bo m , naturalm e nt e, m a s são muito úteis<br />

quan d o algu é m os es cuta, leva os aviso s a sério e se co m p o rta<br />

de man eira condiz ent e.<br />

Os pacient e s de tinnitus internalizara m a torrente de stre s s e<br />

ag or a ele so a neles a partir de dentro e avisa <strong>da</strong> proximi<strong>da</strong> d e<br />

mais próxim a, já que sinais mais distan ciad o s não são<br />

es c utad o s . O ponto <strong>da</strong> história <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> e m que os avis o s<br />

prov e ni e nt e s do interior co m e ç a r a m m o stra quan d o o cop o<br />

rec e b e u a última gota. A partir de entã o o silênci o interno é<br />

impo s sív el para os paci ent e s , que des s a m an eir a apren d e m a<br />

con h e c e r sua profun<strong>da</strong> nec e s s i d a d e de tranqüili<strong>da</strong>d e. O<br />

silênci o intern o, no entanto, so m e n t e pod e surgir quan d o o<br />

nec e s s á ri o for feito extern a m e n t e . Ness e ponto eles se<br />

co m p ar a m à nos s a so ci e d a d e m o d er n a, que faz co m que o<br />

silênci o seja cad a vez mais impo s sí v el e confronta as pes s o a s<br />

co m cad a vez mais ruído (stre s s ). Mas justa m e nt e assi m ela<br />

des p erta uma nec e s si d a d e cres c e nt e de silêncio. A poluiçã o<br />

son or a cres c e n t e corre s p o n d e ao s ruído s no ouvido cad a vez<br />

mais altos, sen d o que aqui os ruído s dev e m ser<br />

co m pr e e n di d o s de form a muito mais abran g e nt e e não<br />

so m e n t e m e did o s e m decib éi s. Ain<strong>da</strong> que os do e nt e s de<br />

tinnitus seja m tam b é m produto de um a so ci e d a d e que<br />

pratica m e n t e não con h e c e mais o silêncio, eles estã o sen d o<br />

cha m a d o s por seu sinto m a a posicion ar- se frente ao ruído para<br />

assi m apren d er a contorn á- lo. Antes de che g ar a ponto de<br />

co m b a t er o ruído alopatica m e n t e , a tarefa e m mã o s seria<br />

es c utá- los para sab er o que têm a dizer. Na m ai oria <strong>da</strong>s vez e s ,<br />

trata- se <strong>da</strong> exig ê n ci a de falar m ais alto não só interna ma s<br />

tam b é m extern a m e n t e .<br />

Por um lado, os pacient e s estã o be m a<strong>da</strong>ptad o s às<br />

nec e s si d a d e s <strong>da</strong> soci e d a d e , por outro eles estã o muito mal<br />

17<br />

4


a<strong>da</strong>ptad o s às <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> co m suas exig ê n ci a s se m pr e mutante s .<br />

Eles levara m para dentro o stre s s , que pod eria vivificar e pôr<br />

para fora as en er gi a s vitais, e levantara m barricad a s internas<br />

para que a vi<strong>da</strong> extern a continua s s e funcion a n d o be m . Com<br />

freqü ê n ci a, es s a situaç ã o se dá de form a simultân e a co m<br />

proc e s s o s de arterios cl er o s e . O asp e ct o de endur e ci m e n t o e<br />

falta de a<strong>da</strong>pta ç ã o às vicissitud e s <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> evid e n ci a m - se<br />

acustic a m e n t e e m vários ruído s auditivo s: ao caráter<br />

des p erta d or dos ruído s so m a- se o tilintar, o rang er <strong>da</strong>s<br />

estruturas endur e ci<strong>da</strong> s e solidificad a s .<br />

Enquanto os son s repres e nt a m um vibrar har m ô ni c o de<br />

en er gi a, os ruído s se caract eriza m por suas vibraç õ e s<br />

des ar m ô ni c a s . Entretanto, en er gia é libera<strong>da</strong> e m cad a so m .<br />

Neste ponto é pos sív el diferen ciar dois grupo s de afetad o s , o<br />

grand e grupo dos mole sta d o s e o pequ e n o grupo de pes s o a s<br />

que sent e m seu tinnitus co m o so m e pod e m li<strong>da</strong>r co m ele.<br />

Pass ar o pacient e do prim eiro para o segun d o grupo já seria<br />

uma aju<strong>da</strong> substanci al, sen d o o objetivo <strong>da</strong> maior parte <strong>da</strong>s<br />

terapias.<br />

A exp eriên ci a m o stra que um a ac eitaç ã o relaxad a dos<br />

ruídos transfor m a o barulho selva g e m e torm e nt o s o e m son s<br />

ac eitáv ei s que pod e m indicar o ca min h o . Trata- se de voltar a<br />

rec o n h e c e r e confrontar do lado de fora o stre s s internalizad o.<br />

E pod e ser que os sino s esteja m anun ciand o um a temp e st a d e<br />

no sentindo mais ver<strong>da</strong> d eir o <strong>da</strong> palavra, e que se esteja sen d o<br />

cha m a d o à ord e m co m apitos, bra mid o s e rugido s. Em m ei o ao<br />

cao s extern o, um a tarefa substanci al do afetad o é não só<br />

en c o ntrar m a s tam b é m defen d e r e mant er a posiç ã o frente ao<br />

ass alto de am e a ç a s prov e ni e nt e do exterior. Som a- se a isso o<br />

fato de muitos pacient e s de tinnitus tere m tam b é m proble m a s<br />

de equilíbrio. O órg ã o do equilíbrio en c o ntra- se na m e s m a<br />

cavi<strong>da</strong>d e do os s o tem p or al que o ouvido intern o e está ligad o<br />

ao m e s m o nervo, o stato- acu sticu s. Em última instân cia, é a<br />

partir <strong>da</strong>qui que todo s os mús c ul o s são dirigido s, o que nos<br />

per mite fazer frente à força <strong>da</strong> gravi<strong>da</strong>d e . Os probl e m a s<br />

auditivo s que tam b é m se apres e nt a m co m freqü ê n ci a são<br />

17<br />

5


explicad o s pelo perturba d or ruído de fundo interno. Eles<br />

m o stra m co m o o tem a ouvir, es cutar e ob e d e c e r é difícil<br />

quan d o se leva tudo o que está fora para dentro de si m e s m o e<br />

não se tem mais esp a ç o para o que é intern o.<br />

Agora, a tarefa primária de aprendizad o não é desligar- se <strong>da</strong><br />

man eira mais efetiva pos sív el do trans mi s s o r de perturba ç õ e s<br />

interno, tal co m o muitas indicaç õ e s de terapia do<br />

co m p o rta m e n t o pretend e m e sim, ao contrário, es cutá- lo.<br />

Quando os ruído s provo c a m ira, eles estã o indican d o as<br />

próprias agre s s õ e s ; cas o perturb e m a cap a ci<strong>da</strong>d e de<br />

con c e ntra ç ã o , indica m probl e m a s e m ater- se ao que é<br />

es s e n ci al; m a s eles, so br etud o , dize m se m pr e que a raiz está<br />

no próprio interior. O ruído extern o não tem culpa, o<br />

resp o n s á v e l é própria m an eir a de li<strong>da</strong>r co m ele. Ele é<br />

internalizad o e por es s a razão o próprio mun d o interior é<br />

des c uid a d o e per mite que o ruído transfor m e a orde m interna<br />

e m um cao s. A tarefa é obter paz do en erv a nt e exterior e m voz<br />

alta para aprend er a es c utar para dentro. A intuiçã o co m o<br />

ca min h o para a própria orde m e para a própria ver<strong>da</strong>d e voltará<br />

a ser vivifica<strong>da</strong>. A exp eri ên ci a de m o n s tr a que, na m e di<strong>da</strong> e m<br />

que es s a sep ar a ç ã o se dá junta m e nt e co m um voltar- se para o<br />

interior, a caricatura <strong>da</strong> voz interior, o tinnitus, pára de gritar .<br />

Quando o paci ent e apren d e a ouvir co m aten ç ã o de livre e<br />

esp o nt â n e a vontad e, não é mais nec e s s á ri o que lhe grite m. O<br />

ruído perturb ad o r pod e ser transfor m a d o no fam o s o<br />

“ho m e n zinh o no ouvido", que pod e ser muito útil co m o<br />

con s el h eir o e ad m o e s t a d o r. Os pacient e que leva m a cab o<br />

es s a co m uta ç ã o relata m co m o seus son s serv e m de<br />

instrum e nt o indicad or sutil e confiáv el se m e l h a nt e a um<br />

des p erta d or e m b utido que os imp e d e de m er g ulh ar nova m e n t e<br />

na incon s ci ê n ci a. O desp ertad or desp erta e sinaliza o que<br />

neste m o m e n t o se está sen d o exigido. Caso os afetad o s<br />

am e a c e m perd er seu equilíbrio interno, os son s torna m - se mais<br />

altos, eles volta m a internalizar as agre s s õ e s , torna m - se m ais<br />

agre s siv o s , etc.<br />

17<br />

6


Com o voz interna despr ez a d a e m er gulha d a nas so m b r a s , o<br />

tinnitus está e m ord e m e, assi m co m o o príncip e- sap o dos<br />

conto s de fa<strong>da</strong>s, pod e ser retran sfor m a d o . A variaç ã o redimi<strong>da</strong><br />

dos son s intern o s é aqu el a músic a interna des crita pelo s<br />

místico s, a músic a <strong>da</strong>s esfera s do univers o interior. Várias<br />

tradiç õ e s espirituais dão grand e valor à es c uta de tais son s,<br />

interpretand o- a co m o sinal de progr e s s o no ca min h o .<br />

P er g u nta s<br />

1. Com o lido co m o stre s s , ou seja, co m as exig ê n ci a s e<br />

requ eri m e nt o s de m eu entorn o, assi m co m o co m o exc e s s o de<br />

exig ê n ci a s?<br />

2. O que ac o nt e c e u quan d o os son s falara m co mi g o pela<br />

prim eira vez?<br />

3. O que é que eu não quer o mais ouvir, a que m não quer o<br />

mais es cutar e ob e d e c e r ?<br />

4. Com o an<strong>da</strong> o equilíbrio, a firmez a, a auton o m i a e a<br />

cap a cid a d e de m e impor? Estou pisan d o terren o firme?<br />

5. O que é que os son s interno s têm a me dizer? E a minha<br />

voz interna? Que pap el des e m p e n h a m a intuiçã o e o insight na<br />

minh a vi<strong>da</strong>?<br />

Órgão do equilíbrio e estabili<strong>da</strong>de<br />

Assim co m o a có cl e a, no ouvido intern o. corresp o n di a à<br />

espiral do temp o , o labirinto co m seus con duto s serv e para<br />

noss a orientaç ã o no esp a ç o . Três conduto s estã o colo c a d o s<br />

e m ângulo reto entre si e corre s p o n d e m as três dim e n s õ e s de<br />

noss o siste m a de co ord e n a d a s esp a ci ais. Seguind o seu<br />

próprio pes o , as cha m a d a s pedrinha s auditivas m o stra m ao<br />

org anis m o sua posiç ã o no esp a ç o e m relaç ã o à gravi<strong>da</strong> d e e m<br />

um deter min a d o m o m e n t o . Tanto os con duto s co m o a có cl e a<br />

en c o ntra m - se no ouvido interno, am b o s estã o ch ei o s co m o<br />

m e s m o líquido e estã o con e ct a d o s um co m o outro. Ligado s ao<br />

m e s m o nervo cer e br al, o 8 o ou estato- acústic o, os órgã o s do<br />

17<br />

7


sentido do esp a ç o e do tem p o estã o tão estreita m e n t e<br />

relacion a d o s co m o os próprios esp a ç o e tem p o . Não é à toa<br />

que falam o s de um esp a ç o de tem p o , e a física m o d e r n a<br />

des c o b riu no entret e m p o o esp a ç o - temp o. A anato mi a fornec e<br />

o m o d el o des d e temp o s ime m o ri ais. Com a aju<strong>da</strong> dos órgã o s<br />

do ouvido intern o pod e m o s m ant er o prum o, apru m ar as coisa s<br />

e equilibrar- nos.<br />

A vertigem<br />

Não há muito que interpretar na vertige m [Sc h wind el =<br />

vertige m e m ale m ã o , e tam b é m m e ntira, eng a n o]: No m e n est<br />

om e n. A vertig e m se rem et e a um en g a n o mais profund o. Ela<br />

pod e ser entrevista no protótipo do sinto m a , o enjô o que se<br />

sent e e m um navio ou quan d o se viaja. Emb or a seja muito<br />

freqü e nt e durante viag e n s por mar, ela surg e e m viag e n s de<br />

carro ou ônibus, e m parqu e s de divers õ e s e até m e s m o e m<br />

elev a d o r e s . As condiç õ e s para seu apar e ci m e n t o são, e m<br />

princípio, se m pr e idênticas. Uma situaç ã o típica se dá m ais ou<br />

m e n o s <strong>da</strong> se g uinte man eira: a pes s o a está viajand o de navio e<br />

senta- se no conv é s para co m e r. Os olho s vê e m um a m e s a<br />

posta diante de si, firme m e n t e ass e nt a d a no chã o e imóv el. Em<br />

seguid a, eles anuncia m à Central: “Tudo e m paz e e m ord e m ".<br />

Ao m e s m o temp o, entretanto, o órg ã o do equilíbrio, lá de<br />

dentro do ouvido intern o, avisa: "Movim e nt o s de balan ç o".<br />

Surge entã o um a esp é ci e de situaç ã o doubl e- bind 43 , a qual não<br />

tem soluç ã o para a Central. Ou pred o m i n a a calm a ou o<br />

m o vi m e nt o , am b o s ao m e s m o tem p o não são evid e nt e m e n t e<br />

pos sív ei s. Ness a situaç ã o , o org anis m o incorp or a o en g a n o<br />

evid e nt e para co m isso m o strá- lo à con s ci ê n ci a. Aqui fica<br />

esp e ci al m e n t e explícito co m o a do e n ç a o torna hon e st o. O<br />

sinto m a reproduz no próprio corp o do afetad o aquilo que ele<br />

não pod e rec o n h e c e r fora, ou seja, que o chã o está os ciland o<br />

so b seus pés.<br />

No enjõ o que oc orr e durante as viag e n s es s a inform a ç ã o é<br />

inofen siva, porqu e de fato é o chã o con cr et o que se m o v e . Em<br />

17<br />

8


sinto m a s co m o a es cl er o s e múltipla, o sinto m a m o stra<br />

igual m e nt e que o chã o so br e o qual se está oscila. Neste cas o ,<br />

entretanto, isso é enten did o e m sentido figurad o, o que é m ais<br />

am e a ç a d o r . No enjô o <strong>da</strong>s viag e n s , o corpo ao m e s m o temp o<br />

indica co m o mal- estar que ele está a ponto de vo mitar e que<br />

gostaria de sair des s a situaç ã o o mais rapi<strong>da</strong> m e n t e pos sív el.<br />

Os do e nt e s , no sentido m ais ver<strong>da</strong>d eir o <strong>da</strong> palavra, não se<br />

sent e m e m seu ele m e n t o . Ao contrário, eles estã o entre<br />

ele m e n t o s , vive m na ilusão de ain<strong>da</strong> estar pisan d o a confiáv el<br />

e tranqüila terra en qu a nt o há muito estã o balan ç a n d o ao sab or<br />

<strong>da</strong>s ond a s do m ar. Eles dev eria m ad mitir es s a situaç ã o<br />

inteira m e nt e, isto é, co m todo s os sentido s, e entreg ar- se<br />

totalm e nt e ao ele m e n t o aquátic o que os está levan d o , e<br />

rapi<strong>da</strong> m e n t e voltaria m a se sentir be m . Caso eles, vo mitan d o ,<br />

não entre g a s s e m tanto de si con cr et a m e n t e , pod eria m<br />

entreg ar- se à situaç ã o e m sentido figurad o.<br />

O sinto m a conté m a soluç ã o e m si m e s m o e força o afetad o<br />

a vo mitar so br e a amur ad a. Lá seus olho s vê e m os<br />

m o vi m e nt o s <strong>da</strong> água e do navio, e as inform a ç õ e s volta m a<br />

coincidir totalm e nt e co m as do ouvido intern o. A vertig e m e o<br />

mal- estar pod e m pas s ar. Caso, e m um veleiro, se entre g u e o<br />

timã o nas mã o s <strong>da</strong> pes s o a que sofre de vertig en s, a<br />

hon e sti<strong>da</strong>d e volta a se esta b el e c e r imediata m e n t e : ele precis a<br />

con c e ntrar- se na água e os olho s perc e b e m seu en g a n o . Esta<br />

é tam b é m a razão pela qual na<strong>da</strong>r jam ais caus a enjô o. E o<br />

m otorista de um carro não é jam ais ele m e s m o afetad o , m a s<br />

se m pr e so m e n t e os pas s a g e ir o s. São so br etud o as crianç a s<br />

que tend e m a enjo ar. Ao contrário do m ot orista elas e m geral<br />

não ficam olhan d o para a rua, mant e n d o os olho s nas<br />

brinca d eira s que estã o fazend o no interior do carro. É<br />

justa m e nt e es s a situaç ã o que per mite o surgim e nt o do duplo<br />

sentido. As m e n s a g e n s dos órgã o s dos sentido s afetad o s são<br />

inco m p atív ei s. Com o m al- estar que sente m , as crianç a s<br />

natural m e nt e m o stra m tam b é m que não estã o exata m e n t e e m<br />

seu ele m e n t o no carro. Uma soluç ã o simpl e s seria m o v ê - las,<br />

fazend o co m que olhe m para diante m o strand o- lhes algu m a<br />

17<br />

9


cois a interes s a nt e. Um outro m ét o d o , utilizado e m todo s os<br />

cas o s corresp o n d e n t e s , con sist e e m deslig ar tem p or aria m e n t e<br />

as m e n s a g e n s en g a n o s a s simpl e s m e n t e fech a n d o os olho s.<br />

Então, os m o vi m e n t o s que estav a m provo c a n d o o<br />

des a gr a d á v e l enjô o torna m- se agrad á v ei s e faze m co m que a<br />

pes s o a ador m e ç a . Ela está nova m e n t e e m seu ele m e n t o , pois<br />

a vi<strong>da</strong> co m e ç o u exata m e n t e assi m na bols a m at ern a, razão<br />

pela qual muitos adultos gosta m de ser e m b al a d o s co m o<br />

crianç a s . O important e é fech ar os olho s, aba n d o n a r o controle<br />

e entreg ar- se a es s a situaç ã o prim ordial.<br />

O m e s m o princípio é valido para todo s os tipos de vertige m ,<br />

até mes m o para a muito mais freqü e nt e vertige m de circulaç ã o ,<br />

que surpre e n d e as pes s o a s co m pres s ã o baixa quan d o elas se<br />

levanta m rápido de m ai s. Sua vertige m está no "rápido de m ai s".<br />

Elas ag e m co m o se quis e s s e m colo c ar- se e m um nov o dia ou<br />

e m um a nova situaç ã o co m impuls o e en er gia. Quando isso<br />

não é sustenta d o tam b é m por um a postura interna, o corp o<br />

precis a rev elar es s e eng a n o , enc arn a n d o - o. Os afetad o s<br />

volta m a sentar- se e têm um a nova chanc e na velo cid a d e que<br />

lhes corresp o n d e , mais lenta ma s tam b é m mais hon e st a.<br />

Mal de Ménière<br />

Não se trata aqui tanto de um sinto m a circuns crito e sim de<br />

um co m pl ex o de sinto m a s centrad o e m torno de ataqu e s de<br />

vertige m co m vô mito s, suor e s e palidez. Som a m - se a isso<br />

per<strong>da</strong> de audiçã o e/ou zunido s nos ouvido s e, quanto ao s<br />

olho s, um fenô m e n o cha m a d o nysta g m u s . A orig e m <strong>da</strong> palavra<br />

é greg a e quer dizer trem or ou m o vi m e n t o s dos olho s. Ele<br />

surg e e m vários m al e s dos nervo s tais co m o a es cl er o s e<br />

múltipla (EM) e tam b é m , freqü e nt e m e n t e , e m do e n ç a s do<br />

ouvido interno. Entre elas dev e- se incluir tam b é m o Morbus<br />

Ménière, em b o r a muito provav el m e n t e trate- se de um probl e m a<br />

de pres s ã o no siste m a de conduto s do labirinto. O sinto m a<br />

surg e rep entina m e n t e , co m o um raio surgido do céu azul, e<br />

ating e o afetad o so b a form a de ataqu e s ; os intervalo s e m que<br />

1 8<br />

0


o afetad o não sent e nenhu m mal- estar pod e m ter as duraç õ e s<br />

mais varia<strong>da</strong> s.<br />

Tal co m o na EM, aqui a vertige m dev e ser levad a muito a<br />

sério. Por um lado, o corp o dá a enten d er ao afetad o que ele<br />

se enc o ntra so br e um solo os cilante. Às vez e s ele trans mite a<br />

sen s a ç ã o de que o chã o rep e ntina m e n t e lhe foi retirado de so b<br />

os pés. Por outro, ele não co m u ni c a m o vi m e nt o s que<br />

real m e nt e têm lugar no am bi e nt e. O chã o so br e o qual está<br />

bas e a d o tornou- se inse g ur o e ele ag or a tam b é m não pod e<br />

mais estar segur o de seu am bi e nt e. A indep e n d ê n ci a e a<br />

auton o m i a se vê e m per m a n e n t e m e n t e am e a ç a d a s , a firmez a é<br />

colo c a d a em que st ã o .<br />

Durante a bus c a terap ê utica do entorn o aní mic o- espiritual,<br />

des c o b r e - se freqü e nt e m e n t e que os pacient e s subira m a<br />

altura s vertigino s a s co m resp eito à ética, à m or al, à religião ou<br />

à am bi ç ã o . A extrava g â n ci a e o exag er o de suas preten s õ e s<br />

e m si m e s m a s imp ed e m que eles enc o ntr e m um solo vital para<br />

sustentar suas con c e p ç õ e s de alto vôo. Eles precis a m<br />

esforç ar- se per m a n e n t e m e n t e e termin a m por so br e s s air- se<br />

graç a s à férrea cap a ci<strong>da</strong>d e de pers e v e r ar, e m b o r a este jam<br />

se m pr e voltad o s para o rec o n h e c i m e n t o extern o. Quando este<br />

não ac o nt e c e , ch e g a- se às típicas situaç õ e s de<br />

des e n c a d e a m e n t o , que muitas vez e s têm a ver co m um a per<strong>da</strong><br />

de conteú d o vital. Quando se perd e es s e apoio, to<strong>da</strong> a<br />

inse g ur an ç a e o des a m p a r o torna m - se evident e s - se não na<br />

con s ci ê n ci a, entã o no chã o oscilante. Os pacient e s não estã o<br />

mais segur o s de sua vi<strong>da</strong>. Em tais situaç õ e s , e mais inse g ur o s<br />

ain<strong>da</strong> devido à sinto m átic a, não é raro que eles caia m e m um<br />

circulo vicios o. Com o m o vi m e nt o s extern o s des e n c a d e i a m<br />

suas oscilaç õ e s internas, eles se co m p o rta m de man eira quas e<br />

imóv el, afasta m - se de tudo e se isola m do mun d o . A<br />

dificul<strong>da</strong>d e auditiva que se so m a ao s outros sinto m a s reforç a<br />

ain<strong>da</strong> mais o isola m e n t o . Esta imag e m <strong>da</strong> imo bili<strong>da</strong>d e total e m<br />

um pequ e n o mun d o am e a ç a d o por tem p e s t a d e s de m o vi m e n t o<br />

extern o é um a reprodu ç ã o deprim e nt e m e n t e fiel <strong>da</strong> situaç ã o . A<br />

bas e <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> é tão estreita, tão pequ e n a , que eles não pod e m<br />

1 8<br />

1


mais apoiar- se so br e a terra co m am b a s as perna s. Mas eles<br />

não se apóia m co m segur an ç a co m uma <strong>da</strong>s perna s, a de seus<br />

ideais, pois eles se colo c a m tão acim a <strong>da</strong>s cois a s profan a s<br />

dest e mund o, tais co m o a sexuali<strong>da</strong>d e co m o expres s ã o <strong>da</strong><br />

polari<strong>da</strong>d e , que é impo s sí v el evitar a vertige m . O fato de que o<br />

corp o precis e en c e n ar o dra m a m o stra que os pacient e s não<br />

estã o con s ci e nt e s de sua situaç ã o .<br />

A caus a m é di c a para a dificul<strong>da</strong>d e auditiva, que surg e de<br />

golp e ou paulatina m e n t e , dev e ser procurad a igual m e nt e no<br />

ouvido intern o, nas ca m a d a s profun<strong>da</strong> s <strong>da</strong> audiçã o, portanto. O<br />

org anis m o explicita que os afetad o s não pod e m mais ne m<br />

es c utar ne m ob e d e c e r . Suspeita- se que aqu el e que não quer<br />

ouvir dev e sentir. Pois quan d o os ouvido s se fecha m , surg e m<br />

de fato m al- estar e s extre m a m e n t e des a g r a d á v ei s , tal co m o a<br />

náus e a , que m o stra m ao do e nt e que ele não quer eng olir algo<br />

que para ele é indige st o e do qual quer se livrar atrav é s do<br />

vô mito. O trem or dos olho s e o olhar inquieto que ac arreta são<br />

sinais evid e nt e s de perig o (de cair?). A soluç ã o está no<br />

sinto m a principal: o afetad o sent e vertigen s de algo refer ent e à<br />

bas e de sua vi<strong>da</strong>. Esta é os cilante e pouc o confiáv el, a<br />

qualqu er m o m e n t o o chã o am e a ç a ser retirado rep entina m e n t e<br />

de so b seus pés.<br />

A tarefa de aprendizad o expres s a nos sinto m a s é: entreg arse<br />

às oscilaç õ e s até o ponto e m que se torne claro que a vi<strong>da</strong><br />

con sist e de altos e baixo s e que é m elh or apoiar- se so br e duas<br />

perna s que so br e uma só. O sinto m a justa m e n t e força os<br />

afetad o s a busc ar para si um apoio mat erial, cas o contrário<br />

eles des a b a r ã o . Eles co m pr e e n d e r ã o que teria mais sentido<br />

provid e n ci ar sustento e so br etud o conteúd o para as próprias<br />

vi<strong>da</strong>s. A oscilaç ã o indica quanto para isso será nec e s s á ri o<br />

abdic ar do controle exa g er a d o . Em relaç ã o à dificul<strong>da</strong>d e<br />

auditiva, trata- se de não mais ouvir o exterior, não m ais<br />

ob e d e c e r às orden s extern a s, m a s es c utar para dentro, es cutar<br />

a própria voz interna, es cutand o - a tam b é m no que se refer e a<br />

um ca min h o próprio. O enjô o e o vô mito estã o prest e s a<br />

expuls ar tudo o que é estran h o , que não é útil e que não pod e<br />

1 8<br />

2


ser elab or a d o co m o cois a própria, se nec e s s á ri o até mes m o de<br />

man eira agr e s siva. Trata- se muito m ais de busc ar um a bas e<br />

para a própria vi<strong>da</strong> e rend er- se a ela. Os inquieto s m o vi m e nt o s<br />

dos olho s indica m que há pres s a e que não há temp o a perd er.<br />

A soluç ã o está indica<strong>da</strong> no fundo dos sinto m a s . Quando a<br />

bas e <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> é segur a, o delírio dos sentido s pod e abrir as<br />

as a s e es qu e c e r o temp o e o esp a ç o . Os altos e baixo s dos<br />

sentim e nt o s pod e m ser sentido s no delírio de am or, e quan d o<br />

nos atiram o s e m um a aventura vertigino s a, o equilíbrio corp oral<br />

per m a n e c e estáv el e confiáv el e a <strong>da</strong>n ç a <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> transfor m a- se<br />

e m prazer.<br />

P er g u nta s<br />

1. Onde não pos s o mais confiar na bas e de minha vi<strong>da</strong>?<br />

Com o and o de conteú d o e de sustento vital?<br />

2. Por que não quer o ouvir o que minha voz interna quer<br />

dizer?<br />

3. O que não pos s o mais usar para m eu ca min h o de vi<strong>da</strong> e<br />

de que precis o m e desfaz er rapi<strong>da</strong> m e n t e ?<br />

4. Com o an<strong>da</strong> minha orientaç ã o no temp o e no esp a ç o , no<br />

siste m a de co ord e n a d a s <strong>da</strong> vi<strong>da</strong>? Em que pod eria apoiar- m e?<br />

5. Onde está aquilo que é firme e m minh a vi<strong>da</strong>, que é<br />

confiáv el? Há algo e m m e u mun d o os cilante que m e mant é m<br />

firme?<br />

6. Com o pos s o ab and o n ar- m e à <strong>da</strong>n ç a <strong>da</strong> vi<strong>da</strong>, isto é,<br />

incorp or ar- m e a ela?<br />

Nariz e olfato<br />

O nariz é o m ais pro e m i n e nt e de nos s o s órg ã o s dos<br />

sentido s e é con sid er a d o o m ais sinc er o. Em cas o de dúvi<strong>da</strong>,<br />

pod e- se ler a ver<strong>da</strong>d e na ponta do nariz. Devido à sua posiç ã o<br />

expo st a, ele tornou- se um âm bito significativo e prenh e de<br />

significad o s . Com o o ca minh o se m pr e segu e a direç ã o do<br />

nariz, um nariz torto pod e naturalm e nt e levar a um ca min h o<br />

1 8<br />

3


torto. Um nariz e m form a de gan c h o indica um caráter "delator",<br />

outro co m uma curva eleg a nt e repres e nt a a eleg â n ci a<br />

corre s p o n d e n t e , um nariz aristocrátic o repres e nt a o arrojo, um<br />

nariz gros s eir o e se m form a repre s e nt a a gros s e ria. O nariz<br />

es c o rr e n d o den ota desl eixo e a tristeza que o ac o m p a n h a , o<br />

nariz desfigurad o por verrug a s lem br a a bruxa e o perig o que<br />

repre s e nt a en qu a nt o o nariz arrebitad o indica o indiscr et o<br />

caráter infantil que, curios o e esp erto, go sta de estar um pas s o<br />

adiante de seu entorn o. Este "nariz asc e n d e n t e" faz parte do<br />

es qu e m a de criancinh a que está profun<strong>da</strong> m e n t e gravad o e m<br />

nós e que deter min a m ais nos s o co m p o rta m e n t o do que pod e<br />

parec er correto ao intelecto racion al. A voz popular pres s up õ e<br />

que um nariz long o e pontudo se m et er á indiscr eta m e n t e por<br />

to<strong>da</strong> parte, en qu a nt o o bulb o redond o e lumino s a m e n t e<br />

ver m el h o do palhaç o é um sím b ol o de seu des c ar a m e n t o .<br />

Enquanto o mund o inteiro tenta m a q ui ar o nariz para torná- lo<br />

discr eto, tirando seu brilho co m pó ou bas e para tornar mais<br />

dec e nt e e inofen siva a nitidez de seu contorn o, os palhaç o s e<br />

os bo b o s o desta c a m esp e ci al m e n t e, assi m co m o go sta m de<br />

trazer à luz as cois a s mais susp eitas e fazer graç a a resp eito.<br />

O que esta e m jogo aqui é esp e ci al m e n t e a refer ê n ci a sexual<br />

do nariz, que popular m e nt e é co m p ar a d o ao órg ã o sexual<br />

ma s c ulino. A sab e d o ria popular volta a de m o n s tr ar muita<br />

agud e z a, pois de fato há nas muc o s a s <strong>da</strong>s narinas zona s<br />

reflexas para os órg ã o s sexuais. Assim, cad a foss a nas al<br />

torna- se um a esp é ci e de zona de manipulaç ã o dos reflexo s<br />

des s a delicad a área. Essa é tam b é m a razão pela qual m et er o<br />

ded o no nariz é con sid er a d o inde c e nt e e é um costu m e tão<br />

difícil de imp edir. Isso evid e nt e m e n t e trans mite grand e des ej o<br />

àqu el e s que o faze m . Som e nt e quan d o o des ej o sexual se<br />

deslo c a para a áre a genital, ao long o do des e n v o lvi m e nt o , é<br />

que a co m p uls ã o para es c a v ar o nariz ced e .<br />

Em noss a es c al a de valor e s, o olfato e tam b é m o palad ar<br />

estã o ain<strong>da</strong> mais e m segun d o plano que a audiç ã o .<br />

Comp ar a d o co m o cér e br o, bastant e mais jove m , o rinenc éf al o<br />

é antiqüís si m o .Junta m e n t e co m o nariz, ele perten cia<br />

1 8<br />

4


original m e nt e a um órgã o dos sentido s relativa m e n t e<br />

autó cto n e . O nariz farejante era algo ain<strong>da</strong> totalm e nt e anim al,<br />

algo para o qual, hoje, torc e m o s o nariz. Nós orgulho s a m e n t e<br />

nos ergu e m o s do chã o, pas s a m o s a ter o nariz e m pin a d o e<br />

perd e m o s e m grand e parte nos s o bo m olfato, co m o que as<br />

narinas continua m apo ntand o para baixo, para o reino <strong>da</strong>s<br />

mã e s e do mun d o material. Som e nt e quan d o esfre g a m o s<br />

cois a s no nariz ou as tem o s deb aixo do nariz é que pod e m o s<br />

perc e b ê - las co m certez a. Enquanto o olho está con struído<br />

co m o um a câ m ar a e o ouvido co m o um instrum e nt o music al, o<br />

olfato está bas e a d o e m algo mais simples, no princípio de<br />

chav e e fech a d ur a do contato físico diferen ciad o . A muc o s a<br />

olfativa, localizad a no pavilhã o nas al sup erior, está form a d a por<br />

cinc o milhõ e s de células olfativas provi<strong>da</strong> s de cílios sen sív ei s<br />

que são estimulad a s atrav é s do contato. Elas funcion a m co m o<br />

fecha dur a, a m at éria olfativa co m o chav e. Para pod er perc e b e r<br />

o aro m a de uma rosa, algu m a s m ol é c ula s- chav e do “perfum e<br />

de rosa" precis a m en c o ntrar sua fecha dur a no nariz. Lá, entã o,<br />

elas nos rev ela m o aro m a . Uma grand e parte <strong>da</strong> perc e p ç ã o de<br />

sab or e s tam b é m se gu e es s e ca minh o , já que nós tam b é m<br />

perc e b e m o s o aro m a <strong>da</strong>s co mid a s por m ei o <strong>da</strong> muc o s a<br />

olfativa. A coriza nos dá uma co m pr o v a ç ã o prática, quan d o<br />

tudo se torna igual e não tem gosto de na<strong>da</strong>.<br />

Enquanto a visã o oc orr e por m ei o de on<strong>da</strong> s<br />

eletro m a g n é ti c a s , a audiçã o requ er as on<strong>da</strong> s son or a s<br />

mat eriais; já o olfato exig e o contato físico direto entre o<br />

e mis s o r e o rec e pt or. Se co m p ar ar m o s a visão e a audiçã o<br />

co m diferent e s idio m a s alfab étic o s , o olfato e o pala<strong>da</strong>r<br />

corre s p o n d e ri a m à s linguag e n s de figuras, mais antiga s, que<br />

utilizam um sím b ol o próprio para cad a con c eito. O olfato é<br />

portanto um a form a de perc e p ç ã o ain<strong>da</strong> m ais direta é primitiva,<br />

que pen etra mais profun<strong>da</strong> m e n t e não só no âm bito físico ma s<br />

tam b é m no aní mic o. A cap a cid a d e de ch eirar corre s p o n d e ao<br />

grau de intensi<strong>da</strong>d e de nos s a vivên cia aní mic a. Através dos<br />

olho s se dá o prim eiro contato, aprend e m o s a nos con h e c e r<br />

por m ei o do so m <strong>da</strong> voz, atrav é s do ch eiro os corp o s se toca m<br />

1 8<br />

5


pela prim eira vez. Em um grupo estran h o os m e m b r o s se<br />

ch eira m co m cui<strong>da</strong>d o a princípio, até que tenha m confian ç a<br />

uns nos outros, tal co m o noss o s antep a s s a d o s faziam há<br />

milhõ e s de ano s. Quando não quer e m o s mais ver algué m ,<br />

trata- se de um distancia m e n t o relativa m e n t e sup erficial, ma s a<br />

avers ã o é profun<strong>da</strong> quan d o não pod e m o s mais ch eirá- lo. Nas<br />

prim eiras fas e s de nos s a história o olfato atingia o âm bito<br />

intuitivo; ain<strong>da</strong> hoje muitas pes s o a s sente m o cheiro do perigo.<br />

Elas tem faro para situaç õ e s co m plic a d a s . Ness e sentido,<br />

perd e m o s muito de noss o , olfato e m co m p ar a ç ã o co m os<br />

anim ais. Os anim ais sent e m não só o cheiro do perig o, ma s<br />

tam b é m o <strong>da</strong> co mi d a e o do co m p a n h e ir o. Os cha m a d o s<br />

primitivos an<strong>da</strong> hoje são cap az e s de sentir o cheiro <strong>da</strong> água no<br />

des erto. Nós m o d er n o s , no máxi m o sentim o s o mau ch eiro e m<br />

sentido figurad o. Apesar diss o, o nariz ain<strong>da</strong> des e m p e n h a um<br />

pap el muito mais importante do que muitas vez e s ad mitim o s na<br />

busc a de co m p a n h e ir o e de alim e nt o. É coisa sabi<strong>da</strong> que o<br />

gour m e t nec e s s ita principal m e nt e de um nariz sutil. Já a<br />

en or m e abran g ê n c i a <strong>da</strong> indústria de perfum e s pod e es clar e c e r<br />

co m o o ch eiro do co m p a n h eir o é importante. Ela trabalha<br />

quas e que exclusiva m e n t e co m aro m a s de flores e<br />

esp e ci al m e n t e de botõ e s , porqu e este s nos leva m m ais<br />

segur a m e n t e para alé m do intelecto, até os âm bito s arcaic o s<br />

do incon s ci e nt e. Emerg e m sen s a ç õ e s primav eris e imag e n s do<br />

paraís o arm az e n a d a s no nível de padrõ e s ; não por aca s o , o<br />

paraís o é repres e nt a d o co m o um jardim em muitas culturas.<br />

Nós gosta m o s de acr editar que o sexo opo st o exala es s e s<br />

aro m a s . Só muito rara m e n t e ain<strong>da</strong> ach a m o s o olor corp oral<br />

típico <strong>da</strong>s pes s o a s atraent e. Ele é hon e st o de m ai s para nós. É<br />

aqui que os perfumistas intervê m e m nos s o auxilio, quan d o o<br />

ch eiro natural deg e n e r a- se e m odor des a g r a d á v el ou até<br />

m e s m o e m fedor. Não pod e m o s m ais cheirar- nos, e assi m<br />

torna- se forços o o des e n v o l vi m e n t o e m direç ã o a mat eriais<br />

aro m átic o s cad a vez m ais artificiais. No entrete m p o , eles não<br />

são m ais utilizado s so m e n t e pelas mulh er e s , que geral m e n t e<br />

têm narizes mais eficiente s, m a s tam b é m pelo s ho m e n s . Ca<strong>da</strong><br />

1 8<br />

6


um tem seu perfum e e o con sid er a sua marc a pes s o al. Apesar<br />

diss o, é óbvio que se trata m de artigo s fabricad o s e m ma s s a<br />

que, co m no m e s son or o s e preç o s altos, tenta m unica m e n t e<br />

ven d er- nos individuali<strong>da</strong>d e e exclusivi<strong>da</strong>d e. Para que não<br />

note m o s quã o pouc o originais nós m e s m o s so m o s , eles nos<br />

são apre s e nt a d o s propa g a n di stica m e n t e por pes s o a s muito<br />

esp e ci ais. Com o que, um delicios o perfum e pod e naturalm e nt e<br />

valorizar ain<strong>da</strong> mais um a pes s o a , pois se não serv e para<br />

en c o b rir a própria transpiraç ã o , serv e para fortalec er o aro m a<br />

próprio.<br />

Te m o s nos s a s próprias glândulas odorífera s na áre a co b erta<br />

por pêlo s <strong>da</strong>s axilas e do púbis. Há várias razõ e s para que já<br />

não de m o s m ais valor a esta marca de perfum e , que marc a<br />

noss o próprio cheiro. Boa parte dev e- se provav el m e n t e ao fato<br />

de que nós real m e nt e deixa m o s de ter um cheiro agrad á v el.<br />

Costum a- se dizer na Índia que um corp o está puro e inoc e nt e<br />

quan d o tem o aro m a <strong>da</strong> fruta rec é m - colhi<strong>da</strong>. O agradáv el<br />

aro m a dos be b ê s lem br a ain<strong>da</strong> es s e estad o quas e paradisíac o .<br />

No que a isso se refer e, perd e m o s nos s a inoc ê n ci a<br />

paradisíac a, ain<strong>da</strong> que evite m o s co m e r alho. Os indian o s<br />

des cr e vi a m os prim eiro s cab el o s branc o s co m o as fac e s<br />

páli<strong>da</strong>s que fede m na bo c a. Noss o tipo de vi<strong>da</strong> e so br etud o<br />

noss a alim e nta ç ã o exer c er a m m á influên cia so br e noss a<br />

transpiraç ã o . Nós, e m con s e q ü ê n c i a, reagi m o s e m noss a<br />

própria man eira de funcion ar. Encobri m o s aquilo que fede e m<br />

nós co m os mais variad o s spra y s líquido s. A purificaç ã o a partir<br />

de dentro e do fundo é ain<strong>da</strong> m ais extenu a nt e. Quem a arrisca,<br />

talvez so b a form a de um a cura atrav é s do jejum 44 ,<br />

exp eri m e nt ar á o sortim e nt o de detritos co m os resp e ctivo s<br />

olore s que são extraíd o s <strong>da</strong>s profund ez a s de seu corp o.<br />

Por outro lado, e m noss o am bi e nt e industrial so m o s<br />

confrontad o s co m um a tal torrente de olor e s fortes e não<br />

naturais que a sen si bili<strong>da</strong>d e e a cap a cid a d e de diferen ci a ç ã o<br />

se viram con sid er a v el m e n t e reduzi<strong>da</strong> s. Finalm e nt e, nos s a<br />

individuali<strong>da</strong>d e não tem m ais um go sto esp e ci al porqu e nós, de<br />

fato, nos torna m o s ser e s hum a n o s m a s sificad o s . Em vez de<br />

1 8<br />

7


usar a nota perfum a d a individual, nos ate m o s a alguns<br />

m o d el o s pro e mi n e nt e s e assu mi m o s sua m ar c a de perfum e .<br />

Entretanto, não con s e g uir e m o s de todo uniformizar- nos<br />

odorifera m e n t e , o co m p o n e n t e próprio é tão forte que até<br />

m e s m o os perfum e s industriais têm um aro m a diferent e e m<br />

cad a pele.<br />

As borb ol et a s en c o ntra m seus parc eiro s exclusiva m e n t e<br />

atrav é s de partículas odorífera s, e e m noss a bus c a de<br />

co m p a n h eir o o aro m a des e m p e n h a um pap el relev a nt e. As<br />

pes q uis a s de m o n s tr a m que os aro m a s atua m de man eira m ais<br />

erótica que as impre s s õ e s óticas. A atraç ã o irresistível dos<br />

apaixon a d o s , o contá gi o do am or pod e enc o ntrar aqui um a<br />

explicaç ã o adicion al. Irradiaç ã o é tam b é m , sub stan ci al m e n t e ,<br />

exalaç ã o . Podería m o s obter muito m ais do olfato se o<br />

levás s e m o s a sério e não tratás s e m o s so m e n t e de co m b a t ê- lo<br />

e subjug á- lo. Quando cheira m o s mal, esta m o s m al e fed e m o s<br />

diferent e. Quando não suporta m o s sentir o ch eiro de algu é m ,<br />

es s a pes s o a não é bo a para nós. Caso nos s o suor ch eire mal,<br />

noss o corp o está se livrand o de algo que não pod e assi milar,<br />

ele se desintoxic a atrav é s <strong>da</strong> pele. Os m é dic o s antigo s <strong>da</strong>va m<br />

grand e valor a seu órgã o olfativo no esta b el e ci m e n t o de<br />

diagn ó stic o s . Eles não cheirav a m ap en a s secr e ç õ e s isolad a s ,<br />

fazend o- o intens a m e n t e co m to<strong>da</strong> a pes s o a . Dess a m an eir a, o<br />

nariz lhes podia indicar a pista correta e, muitas vez e s , o<br />

ca min h o correto.<br />

O fato de que nós, hoje, confie m o s principal m e nt e no<br />

sentido <strong>da</strong> visã o, ligado às sup erfícies, m o stra o quanto nos<br />

torna m o s sup erficiais. O olfato tam b é m oc orr e exclusiva m e n t e<br />

e m nós, m a s ele pre e n c h e m elh or a exig ê n ci a de perc e p ç ã o<br />

real. O m ét o d o chav e- fecha dur a é m ais primitivo e m e n o s<br />

sujeito a erro s que o co m plic a d o siste m a eletro m a g n é ti c o<br />

visual. Por es s a razão, "con h e c e r algu é m pelo cheiro” diz muito<br />

mais, e m última instância, que ach ar algu é m bonito. É um a<br />

atraç ã o exer ci<strong>da</strong> e m um nível m ais profund o. Neste cas o algo<br />

se ajusta entre duas pes s o a s co m o a chav e e a fecha dur a.<br />

1 8<br />

8


Visto a partir de fora, o aba n d o n o de nos s a cap a ci<strong>da</strong>d e<br />

olfativa pod e parec er não ser nenhu m probl e m a , hoje e m dia<br />

pod e m o s pres cindir dela perfeita m e n t e . Há algun s milhar e s de<br />

ano s, entretanto, ela era crucial para a so br e viv ê n ci a de<br />

noss o s antep a s s a d o s . Por outro lado, o pod er incon s ci e nt e que<br />

o nariz continua exerc e n d o so br e nós e noss a s decis õ e s<br />

m o stra co m o esta m o s profun<strong>da</strong> m e n t e enraizad o s e m nos s o<br />

pas s a d o . O sinto m a <strong>da</strong> hiperosmia , um a perc e p ç ã o olfativa<br />

exa c er b a d a , que pod e apar e c e r co m o aura na epilep sia, e m<br />

histéric o s e durante a gravid ez, m o stra um retorn o a ép o c a s<br />

arcaic a s , quan d o um olfato sutil ain<strong>da</strong> tinha algo a dizer.<br />

Caso nós, m o d er n o s , voltás s e m o s a viver de ac ord o co m<br />

noss o nariz e a valorizar o olfato, algu m a s cois a s seria m m ais<br />

simpl e s e mais fáceis. Criaríam o s para nós mes m o s um mund o<br />

diferent e do nos s o “mund o óptico". A alien a ç ã o do nariz reflete<br />

um mun d o e m que vasta s área s ch eira m mal, e que portanto<br />

ch eira mal para nós. Ter faro para algo significa ter um a<br />

sen s a ç ã o se g ura e m relaç ã o a esta situaç ã o ; seria des ej á v el,<br />

para nós e para noss o mund o, que reapr en d ê s s e m o s a confiar<br />

mais no nariz.<br />

Nós, entã o, certa m e n t e con stataría m o s tam b é m que o ar<br />

que inspira m o s con stant e m e n t e não é so m e n t e um insulto ao<br />

noss o órg ã o olfativo, m a s tam b é m ao noss o siste m a<br />

respiratório, pois afinal o nariz não deixa de ser o co m e ç o <strong>da</strong>s<br />

vias respiratórias. Em relaç ã o a isso, sua funçã o é a de<br />

prim eira esta ç ã o purificad or a do ar, já que apan h a as grand e s<br />

partículas de sujeira e m sua red e de pequ e n o s pêlo s. Além<br />

diss o, ele pré- aqu e c e o ar antes que atingir as vias<br />

respiratórias mais profun<strong>da</strong> s, para o que dispõ e de um long o<br />

siste m a de tubulaç õ e s .<br />

Inflamação dos seios <strong>da</strong> face ou sinusite<br />

Não é por ac a s o , ne m desd e o princípio, que noss a cab e ç a<br />

fica be m no alto. Na m arc h a primitiva, so br e quatro patas, ela<br />

estav a à mes m a altura do peito e <strong>da</strong>s costa s. Ao m e s m o tem p o<br />

1 8<br />

9


e m que a sua asc e n s ã o con c e d e u ao s olho s um ca m p o de<br />

visão mais ampl o, ela afastou o nariz <strong>da</strong> Mãe Terra, colo c a n d o -<br />

o e m um a situaç ã o difícil. Criou- se a pos sibili<strong>da</strong>d e de um<br />

estan c a m e n t o crônic o e m suas profund ez a s e, co m isso, a<br />

oportuni<strong>da</strong>d e para a inflam a ç ã o dos seios <strong>da</strong> face ou sinusite.<br />

Por naturez a, as saí<strong>da</strong>s des s a s cavi<strong>da</strong>d e s estã o dispo stas<br />

de m an eira a que a secr e ç ã o pos s a fluir se m pr e para baixo,<br />

co m a con diç ã o de que a pes s o a ca min h e so br e quatro patas.<br />

Eretos, as saí<strong>da</strong>s pas s a m ocup ar a posiç ã o mais alta e as<br />

secr e ç õ e s não pod e m mais ser exp eli<strong>da</strong> s se g uind o a gravi<strong>da</strong> d e<br />

natural. Eventual m e nt e, precis a m o s entã o apren d er a fungar<br />

mais, para expulsar as secr e ç õ e s elev a n d o a pres s ã o . Quando<br />

isso não ac o nt e c e na hora certa e suficiente m e n t e , a<br />

con s e q ü ê n c i a é uma sinusite.<br />

A situaç ã o aní mic a de fundo, não ad miti<strong>da</strong>, que es s e dra m a<br />

corp or al tom a nec e s s á ria, resulta de nos s a lingua g e m<br />

psico s s o m á ti c a. É precis o estar chei o até o nariz e não<br />

en c o ntrar nen hu m a m an eira de expres s ar es s a situaç ã o<br />

des a gr a d á v e l para que o nariz entre e m açã o. Caso, alé m<br />

diss o, surja a angú stia diante do conflito que se instaura e não<br />

se realize a elab or a ç ã o do tem a e m que st ã o , este m er gulha no<br />

corp o. As cavi<strong>da</strong> d e s nas ais e seus seio s faciais se en c h e m e<br />

en c arn a m o estan c a m e n t o co m o qual os afetad o s sofre m . O<br />

conflito inerent e à situaç ã o reprimi<strong>da</strong> torna- se explícito na<br />

inflam a ç ã o . Muitos pacient e s ac o stu m a m - se, esp e ci al m e n t e<br />

co m a form a latente. O sinto m a m o stra que s e e stá cheio até o<br />

nariz e seu seio facial, e que se m pr e se está ao m e n o s um<br />

pouc o con stipad o . Enquanto eles m e s m o s muitas vez e s<br />

ignor e m o mal, quan d o falam ouv e- se a voz anas al a d a dizer<br />

que não respira m ar suficiente.<br />

As amplas cavi<strong>da</strong>d e s na áre a do crânio são nec e s s á ri a s<br />

para <strong>da</strong>r à cab e ç a sua form a se m e m pr e g a r de m a si a d o<br />

mat erial ós s e o . Elas, con s e q ü e n t e m e n t e , ec o n o m i z a m pes o e<br />

serv e m alé m diss o co m o câ m ar a s de ress o n â n ci a e<br />

timbrística s. Em um nível mais elev a d o , elas corresp o n d e m às<br />

cavi<strong>da</strong>d e s do intestino* e repres e nt a m as câ m ar a s de<br />

19<br />

0


con s ci ê n ci a do mund o inferior, tal co m o a es c uridã o e o<br />

incon s ci e nt e. Exerc en d o funçã o se m e l h a nt e à <strong>da</strong>s cavi<strong>da</strong> d e s<br />

inferiores do intestino gros s o , é difícil co m pr e e n d e r para que<br />

serv e m os seio s faciais sup erior e s. O incon s ci e nt e es c a p a à<br />

co m pr e e n s ã o <strong>da</strong> con s ci ê n ci a. Eles corre s p o n d e m ao inferno no<br />

nível sup erior, assi m co m o o terc eiro olho no alto <strong>da</strong> cavi<strong>da</strong> d e<br />

frontal está próxim o do céu. No estad o bloqu e a d o pela sinusite,<br />

perd e- se a levez a no âm bito <strong>da</strong> cab e ç a e a fala adquire um<br />

caráter nas al que lem br a o franc ê s . A perturb a ç ã o aní mic a<br />

torna- se explícita na m e did a e m que falta res s o n â n ci a à fala.<br />

Quem tem o nariz ch ei o e não vibra mais e m con s o n â n ci a,<br />

perd e um co m p o n e n t e sub stan ci al do intercâ m b i o interp e s s o al.<br />

Os resp e ctivo s seio faciais diferen cia m a imag e m ain<strong>da</strong><br />

mais. Uma inflam a ç ã o crônic a <strong>da</strong>s cavi<strong>da</strong> d e s frontais dá a<br />

imag e m de um a pes s o a tapad a, ac e ntuan d o a ob struç ã o do<br />

pen s a m e n t o . O dolor o s o bloqu ei o <strong>da</strong>s cavi<strong>da</strong>d e s m axilares<br />

m o stra co m o é dolor o s o para o afetad o m ord er<br />

agre s siv a m e n t e . Em todo s os cas o s , a cap a ci<strong>da</strong>d e olfativa é<br />

limita<strong>da</strong>. Possivel m e n t e, cheirav a tão m al para o afetad o que<br />

ele anulou to<strong>da</strong> perc e p ç ã o olfativa Com isso, ele tem<br />

natural m e nt e de agü e nt ar a per<strong>da</strong> do "bo m faro" tam b é m e m<br />

outros ca m p o s . Quem está tão central m e nt e bloqu e a d o<br />

bloqu ei a tam b é m sua intuiçã o e sua cap a cid a d e de<br />

co m pr e e n s ã o . Muitas culturas localiza m na áre a <strong>da</strong> cavi<strong>da</strong>d e<br />

frontal o Terc eiro Olho ou sexto chakra, Ajna, que está ligad o à<br />

intelig ên ci a, e m um sentido profund o.<br />

A tarefa de aprendizad o con siste e m tornar- se con s ci e nt e do<br />

bloqu ei o. Maxilares dolorido s indica m a dolor o s a agr e s s ã o ao<br />

corp o e m um duplo sentido: o m axilar sim b oliza a cap a ci<strong>da</strong>d e<br />

de m ord er, e a dor fala a língua cortante e ferina de Marte. O<br />

próprio sinto m a já sug er e as m e di<strong>da</strong>s a ser e m tom a d a s , pois<br />

força a pes s o a a fungar co m freqü ê n ci a para que pos s a obter<br />

alívio por um m o m e n t o . Trata- se na ver<strong>da</strong>d e de bufar de raiva<br />

para voltar a ter a con s ci ê n ci a livre, apó s os corresp o n d e n t e s<br />

golp e s libertad or e s . Estand o tapad o, é m elh or deter- se e<br />

reorientar- se. A tarefa é des c e r nova m e n t e ao inferno e<br />

19<br />

1


des c o b rir o que ain<strong>da</strong> está pres o no incon s ci e nt e, para entã o<br />

e m e r gir nova m e n t e à luz do con h e ci m e n t o . O ânim o tem diante<br />

de si, ou seja, é pres si o n a d o a um a luta pela con s ci ê n ci a de si<br />

m e s m o . Exige- se tanto cora g e m para o con front o co m o<br />

persistên ci a em uma tal situaç ã o crônic a.<br />

Terapias eficaz e s colo c a m os co m p o n e n t e s<br />

corre s p o n d e n t e s e m jogo, ao m e n o s sim b olic a m e n t e . A luz e o<br />

Sol des e m p e n h a m um pap el sub stan ci al na luta pelo<br />

con h e ci m e n t o . A ca m o m il a, cujos vapor e s dão alívio, traz e m si<br />

a marc a do Sol. Um jejum prolon g a d o , finalm e nt e, é a m elh or<br />

terapia para as cavi<strong>da</strong> d e s do org anis m o entupi<strong>da</strong> s<br />

cronic a m e n t e . Por m ei o de seu efeito purificad or, ele ilumina a<br />

es c uridã o do incon s ci e nt e e per mite que as m a s s a s<br />

bloqu e a d a s fluam con cr et a m e n t e e e m sentido figurad o.<br />

Obs erva d o mais atenta m e n t e , o que pod e pare c e r um<br />

pequ e n o probl e m a periférico na história de nos s o<br />

des e n v olvi m e nt o eviden ci a- se co m o sinto m a típico. O resfriad o<br />

agud o, que tam b é m faz co m que o nariz se enc h a, é o sinto m a<br />

mais difundido mundial m e n t e e, por esta razã o, o mais<br />

importante que tem o s diante de nós. Não é por ac a s o que ele<br />

esteja relacio n a d o co m o nariz. Esse órgã o ven er a n d o foi<br />

neglig e n ci a d o pelo des e n v o l vi m e n t o vertiginos o e, por es s a<br />

razã o, nos mo stra o seu e tam b é m o noss o estad o do e nt e mais<br />

freqü e nt e: con stipad o , ou seja, insultad o.<br />

P er g u nta s<br />

1. Há e m minha vi<strong>da</strong> um conflito que incha de man eira<br />

crônic a?<br />

2. Há um falso co m pr o m i s s o , que eu talvez cumpr a<br />

extern a m e n t e , mas que não mant e n h o interna m e n t e ?<br />

3. Em que âm bito s tend o a ter reaç õ e s ofendi<strong>da</strong> s?<br />

4. De que cois a s e m minha vi<strong>da</strong> eu não pos s o ne m quer o<br />

mais sentir o cheiro?<br />

5. Consig o ar suficiente, tenh o esp a ç o suficiente?<br />

19<br />

2


6. Tenh o intercâ m b i o suficiente co m m eu am bi e nt e?<br />

Encontro ress o n â n ci a suficiente nas pes s o a s co m que m<br />

convivo?<br />

7. Onde eu m e bloqu ei o, bloqu ei o minha intuição, m e u<br />

sexto sentido?<br />

8. Onde eu dev eria m ord er, ond e con s e g uir m ais ar para<br />

mi m?<br />

Pólipos<br />

Os pólipos, que é tam b é m um a gíria e m ale m ã o para<br />

desig n ar a polícia, faze m parte do siste m a linfático de defe s a.<br />

Eles são cha m a d o s tam b é m de amíd al a s, e estã o localizad o s<br />

na cavi<strong>da</strong> d e co m u m ao nariz e à garg a nta. Quando se está<br />

env olvido e m um a luta de defe s a que não se torna<br />

animic a m e n t e con s ci e nt e, os órgã o s linfático s entra m e m aç ã o<br />

e, de m an eira sub stitutiva, parte m para a guerra. Nos tecido s<br />

trava- se a batalha entre os ag e nt e s agr e s s o r e s e as células de<br />

defe s a, às quais os linfócitos tam b é m perten c e m . Estes, por<br />

sua vez, são um sub grup o <strong>da</strong>s células bran c a s do san gu e, a<br />

mais importante tropa policial do corpo.<br />

Os pólipo s, junta m e nt e co m a ca m p ain h a palatina, estã o<br />

entre os lugare s m ais co m b a tid o s no âm bito <strong>da</strong> defe s a do<br />

org anis m o , inchand o de m an eir a corresp o n d e n t e quan d o a<br />

batalha se des e n c a d e i a. Quando o resultad o do conflito agud o<br />

é uma "dor de garg a nta" prolon g a d a , a inflam a ç ã o se torna<br />

crônic a e co m o todo falso co m pr o m i s s o , con s o m e muita<br />

en er gi a. Nesta situaç ã o , ve m o s niti<strong>da</strong> m e n t e co m o as crianç a s<br />

são frág eis e bloqu e a d a s . O nariz entupido leva à respiraç ã o<br />

crônic a pela bo c a. A bo c a per m a n e n t e m e n t e ab erta e as<br />

pálpe br a s leve m e n t e caí<strong>da</strong> s de es g ota m e n t o reflete m um a<br />

situaç ã o de falta de en er gi a e dão muitas vez e s à crianç a um a<br />

expr e s s ã o facial atontad a, sinal do bloqu ei o e m divers o s níveis.<br />

O tem a em que st ã o tem a ver co m a cap a cid a d e de defe s a e<br />

a dispo siç ã o para a luta e co m a co m u nic a ç ã o con duzi<strong>da</strong> por<br />

um can al equivo c a d o , já que o ar é inspirad o por um ca minh o<br />

19<br />

3


imprevisto e pouc o apropriad o, a bo c a. Trata- se de levar es s a<br />

tem átic a para a con s ci ê n ci a e aliviar o corp o. Com o, ao falar de<br />

amí<strong>da</strong>l a s, esta m o s faland o e m grand e parte de probl e m a s<br />

infantis, exig e- se que os pais forne ç a m um a bas e cap az de<br />

suportar tam b é m os conflitos. Enquanto o des e nt e n di m e n t o<br />

circula pelas amíd ala s ao eng olir, o tem a gira ao redor de estar<br />

farto e ser exigido e m de m a si a. A crianç a ag e co m ob stina ç ã o .<br />

Em relaç ã o à co m u ni c a ç ã o que tom o u um ca minh o<br />

equivo c a d o , dev e- se pen s ar em desvi o s e em "cortar ca minh o",<br />

quan d o isso for vantajo s o , e tam b é m e m pretexto s.<br />

Muitas vez e s, nesta situaç ã o , a agr e s s ã o e m que st ã o é<br />

dele g a d a ao cirurgião que, co m o bisturi, con duz a luta de<br />

man eira san gr e nta e simpl e s m e n t e extirpa o ca m p o de batalha.<br />

Os resultad o s são variad o s . Uma parte <strong>da</strong>s crianç a s con s e g u e ,<br />

dep ois <strong>da</strong> op er a ç ã o , levar o des e nt e n di m e n t o de volta para a<br />

con s ci ê n ci a, já que não há mais lugar para ele no lugar<br />

costu m eir o do corpo. De man eira corresp o n d e n t e , elas<br />

co m e ç a m a ir m elh or e não é raro que os pais expliqu e m que<br />

por m ei o <strong>da</strong> op er a ç ã o a crianç a deu um salto e m seu<br />

des e n v olvi m e nt o . Outra parte <strong>da</strong>s crianç a s não con s e g u e <strong>da</strong>r<br />

es s e pas s o , e a luta de defe s a continua sen d o corp or al. Ela<br />

entã o muitas vez e s desl o c a- se para um outro âm bito <strong>da</strong>s<br />

defe s a s próprias do org anis m o para ai continuar a inchar,<br />

en qu a nt o a crianç a continua ado e c e n d o e sinaliza a seu<br />

entorn o que não pod e des e n v olv er- se correta m e n t e . A<br />

agre s s ã o é um tem a tão grav e que não se pod e tratá- la de<br />

man eira abr eviad a. É típico que durante a infância as<br />

inflam a ç õ e s oc orra m esp e ci al m e n t e nos órgã o s de defe s a do<br />

siste m a linfático, os vários gân glio s e o apên dic e . A batalha de<br />

defe s a que a crian ça não con s e g u e travar con s ci e nt e m e n t e<br />

tom a form a no corp o. Com seu nariz bloqu e a d o e a bo c a<br />

etern a m e n t e ab erta, ela é uma imag e m <strong>da</strong> ob stinaç ã o ,<br />

bloqu e a n d o as vias de co m u ni c a ç ã o co m as amí<strong>da</strong>l a s inchad a s<br />

e tentand o per m a n e c e r mud a. E sua m an eir a des aj eitad a de<br />

defend er- se de abus o s e exig ê n ci a s exag er a d a s .<br />

19<br />

4


Reconh e c e m o s noss a postura e m relaç ã o ao tem a <strong>da</strong><br />

agre s s ã o pelo fato de que quas e nenhu m de nos s o s joven s<br />

alcan ç a m a adol e s c ê n c i a co m todo s os seus órgã o s linfático s<br />

de defe s a. Muitas vez e s , os três m ais important e s têm de ser<br />

retirado s, tal co m o preferi m o s dizer co m candur a. Não há<br />

nen hu m pais nest e mun d o , alé m dos Estado s Unidos, ond e<br />

tantos "apên dic e s " são op er a d o s co m o entre nós [ou seja, na<br />

Alemanha]. Poder- se- ia presu mir que nós os caç a m o s . Isso,<br />

entretanto, volta a eviden ci ar o quanto so m o s n a reali<strong>da</strong>d e<br />

agre s siv o s .<br />

P er g u nta s para pais e filhos<br />

1. Há um conflito que arde continua e incon s ci e nt e m e n t e ?<br />

2. Em que disputa estou imo bilizad o, ond e não pos s o m ais<br />

progr e dir e que so m e n t e con s o m e minha en er gi a?<br />

3. Há na família plano s de confianç a cap az e s de suportar<br />

conflitos, ond e se pod e lutar?<br />

4. Em que âm bito s che g a- se à exig ê n ci a exc e s siv a e à<br />

con s e q ü e n t e resign a ç ã o ?<br />

5. Que estruturas imp ed e m o des e n v olvi m e nt o na família?<br />

Desvio de septo nasal<br />

Este sinto m a está bas e a d o e m um a form a ç ã o nas al<br />

assi m étric a. Assim co m o a coluna verte br al, o septo nas al pod e<br />

inclinar- se para um lado, que nes s e cas o é mais ou m e n o s<br />

estreitad o. O significad o des s e sinto m a torna- se<br />

ver<strong>da</strong>d eira m e n t e claro quan d o dirigim o s noss o olhar para o<br />

Oriente. No siste m a <strong>da</strong> yog a indian a o prana, a en er gi a vital<br />

que fluí co m o ar, des e m p e n h a um pap el central. No<br />

pranaya m a , um exercí cio respiratório esp e ci al dá- se grand e<br />

importân cia a que o fluxo respiratório seja distribuído<br />

igual m e nt e entre as duas narinas. Uma pes s o a que so m e n t e<br />

rec e b e ar por um dos lado s tem de fato um interc â m b i o parcial<br />

e deficiente co m o mun d o . Neste ponto dev e- se ob s ervar ain<strong>da</strong><br />

19<br />

5


se está sen d o estreitad o o pólo feminino, repre s e nt a d o pela<br />

narina es qu er d a, ou o ma s c ulino, repre s e nt a d o pela direita.<br />

Li<strong>da</strong>r co m este sinto m a propor cion a um exp eriên ci a váli<strong>da</strong><br />

tam b é m para outras área s . Quando se tenta a violên ci a,<br />

forçan d o para que a m e s m a quanti<strong>da</strong>d e de ar que flui pela<br />

ab ertura larga pas s e pela outra, m ais estreita, o proble m a<br />

so m e n t e se agrav a. A m elh or cois a é a<strong>da</strong>ptar- se à situaç ã o e,<br />

co m suavi<strong>da</strong>d e , so m e n t e deixar pas s ar pelo conduto estreito a<br />

quanti<strong>da</strong>d e de ar que pod e ser inspira<strong>da</strong> co m facili<strong>da</strong>d e. Dess a<br />

form a, tam b é m , indica- se ao plano aní mic o que o pólo reduzido<br />

seja des c arr e g a d o , e m vez de ser posto so b pres s ã o . É entã o<br />

que ele se abr e real m e nt e. Quando, desta man eira, instaura- se<br />

a disten s ã o e m refer ên ci a ao s dois pólo s, de form a que cad a<br />

lado é ac eito e m sua situaç ã o totalm e nt e diferente, é pos sív el<br />

finalm e nt e atingir tam b é m de ver<strong>da</strong> d e o equilíbrio do mei o.<br />

O sinto m a m o stra um a unilaterali<strong>da</strong>d e e m relaç ã o à vi<strong>da</strong>,<br />

quas e se m pr e inata, pois a respiraç ã o é o sím b ol o de noss a<br />

vi<strong>da</strong> na polari<strong>da</strong>d e. Em qualqu er cas o , o fluxo <strong>da</strong> co m u nic a ç ã o<br />

tam b é m se tom a unilateral. É precis o ac eitar es s a<br />

unilaterali<strong>da</strong>d e antes que se pos s a ter esp er a n ç a s de um<br />

retorn o ao m ei o. A op er a ç ã o pod e aju<strong>da</strong>r nest e cas o, se m pr e<br />

que ac o m p a n h a d a <strong>da</strong> nec e s s á ria interven ç ã o <strong>da</strong> con s ci ê n ci a.<br />

Caso se trate so m e n t e de um a correç ã o funcion al, que não<br />

está rech e a d a de vi<strong>da</strong>, o org anis m o terá ain<strong>da</strong> várias outras<br />

pos sibili<strong>da</strong>d e s de apres e nt ar um des e q uilíbrio subsistent e<br />

co m o tarefa de apren dizad o .<br />

P er g u nta s<br />

1. Qual de m e u s lado s é apertad o, o lado es qu er d o ,<br />

feminin o, ou o direito, ma s c ulino?<br />

2. Com o an<strong>da</strong> o fluxo de minha en er gia vital? Com o<br />

pod eria propiciar seu livre fluxo?<br />

3. Com o lido co m a polari<strong>da</strong>d e?<br />

4. O que pod eria aprum ar minh a vi<strong>da</strong> e levar- m e ao mei o?<br />

19<br />

6<br />

Rinofima ou nariz bulbos o ou nariz de bêbado


Este sinto m a desfigurad or já está des crito co m to<strong>da</strong> a nitidez<br />

e alcan c e por seu no m e . Rino quer dizer nariz, e fima significa,<br />

e m greg o , tum or ou excr e s c ê n c i a. Na África, um "rino" é um<br />

rinoc er o nt e. As expres s õ e s nariz bulb o s o ou nariz de tubérculo<br />

tamp o u c o deixa m na<strong>da</strong> a des ej ar quanto à clarez a.<br />

Freqü e nt e m e n t e o sinto m a é agrav a d o ain<strong>da</strong> mais por um<br />

segun d o sinto m a , a cha m a d a Rosácea . A rosá c e a são<br />

man c h a s de colora ç ã o aver m el h a d a que surg e m no rosto e<br />

que m ais tarde es c a m a m e form a m abs c e s s o s e pústulas.<br />

Assim co m o o rinofim a, ela surg e freqü e nt e m e n t e so br e a bas e<br />

de um a con stituiçã o cha m a d a de se b o rr éic a, ou seja, um a<br />

tend ê n ci a a proble m a s nas glândulas se b á c e a s . Às vez e s o<br />

rinofim a é des crito co m o uma subfor m a de rosá c e a , a cha m a d a<br />

rosá c e a hipertrófica, já que am b o s surg e m a partir de<br />

excr e s c ê n c i a s <strong>da</strong>s células se b á c e a s e do tecido conjuntivo.<br />

Trata- se de excr e s c ê n c i a s no m ei o <strong>da</strong> cara, no nariz, que<br />

nas c e m a partir <strong>da</strong>s glândulas <strong>da</strong> pele Estas são resp o n s á v e i s<br />

pela secr e ç ã o <strong>da</strong>qu el a ca m a d a de ole o si<strong>da</strong>d e que rec o br e<br />

noss a pele. Na rosá c e a e no rinofim a, as glândulas exag er a m<br />

e m sua funçã o de form a des m e di d a, e os afetad o s na<strong>da</strong> m , por<br />

assi m dizer, na gordura. Neste quadr o de sup erpro du ç ã o , as<br />

glândulas se b á c e a s tend e m a se entupir, e a partir diss o<br />

surg e m inflam a ç õ e s .<br />

Evidente m e n t e , o sinto m a quer atrair a aten ç ã o de todo s<br />

para o rosto e, e m esp e ci al, para o nariz. O fato <strong>da</strong> graxa do<br />

corp o ser se cr et a d a e m quanti<strong>da</strong>d e s exa g er a d a s leva à<br />

susp eita de que um a deficiente cap a ci<strong>da</strong>d e deslizante <strong>da</strong> alm a<br />

esteja sen d o co m p e n s a d a . Os tem a s pelo s quais ela não<br />

"es c orr e g a" tão be m estã o m ais do que so m e n t e aludido s.<br />

Popular m e nt e, o nariz den ota o falo de man eira sim b ólic a.<br />

Essa relaç ã o é co m pr o v a d a mais seria m e n t e pelas zona s<br />

reflexas dos órg ã o s sexuais nos pavilhõ e s nas ais. Esfreg ar o<br />

nariz e m público não é be m visto, e enfiar o ded o nu nariz é<br />

tabu. Que outras razõ e s hav eria para tal alé m <strong>da</strong>s sim b ólic a s?<br />

Além diss o, so m a- se ao rinofim a o flam eja nt e rubor, que pod e<br />

19<br />

7


sim b o lizar tanto a verg o n h a co m o a ira, tanto a excitaç ã o<br />

sexual co m o a agr e s sivi<strong>da</strong>d e . As pústulas e os muitos<br />

pequ e n o s "vulcõ e s " inflam a d o s lem br a m a acn e <strong>da</strong> pub erd a d e ,<br />

que igualm e nt e m e dr a no solo de uma con stituiçã o seb orr éi c a.<br />

Há muito faland o e m favor de que aqui se trata de um a última<br />

tentativa des e s p e r a d a de pas s ar pela pub erd a d e e tom ar- se<br />

adulto. Entretanto, aqui é a sexuali<strong>da</strong>d e genital, e m vez <strong>da</strong><br />

sexuali<strong>da</strong>d e púb er e, que sim b olic a m e n t e força sua entrad a na<br />

con s ci ê n ci a. O pico de oc orr ê n ci a <strong>da</strong> do e n ç a está na quinta<br />

déc a d a de vi<strong>da</strong>, e os ho m e n s são afetad o s de m an eira quas e<br />

exclusiva. O nariz, co m suas excr e s c ê n c i a s , pod e m anifestar<br />

sua exc e s siv a relaç ã o co m a sexuali<strong>da</strong>d e fálica, e não anun ciar<br />

o res g at e de uma reivindic a ç ã o ao cres ci m e n t o antes que<br />

definitiva m e n t e seja tarde de m ai s. Justa m e nt e na m e did a e m<br />

que a en er gia fálica do afetad o não é um tem a formidáv el para<br />

ele, o nariz que a substitui sim b olic a m e n t e torna- se um nariz<br />

formidáv el e m o stra a importân cia assu mi d a pela tem átic a que<br />

está sen d o aludi<strong>da</strong>,<br />

Essa tem átic a pod e expres s ar- se de man eira varia<strong>da</strong> na<br />

vi<strong>da</strong> do afetad o , ma s se m pr e se rem et e à falta de con s ci ê n ci a.<br />

Por um lado, o rinofim a pod e reproduzir a situaç ã o vital<br />

con cr et a des d e um ponto de vista sexual, por outro pod e<br />

indicar fantasias não vivi<strong>da</strong>s ou, e m terc eiro lugar, pod e ain<strong>da</strong><br />

aludir àquilo que oc orr e no incon s ci e nt e se m ser notad o . Ain<strong>da</strong><br />

que seja m viven ci ad a s , as ex cr e s c ê n c i a s e a depra v a ç ã o no<br />

âm bito sexual não são con s ci e nt e s . Os pequ e n o s vulcõ e s<br />

evid e n ci a m a pres s ã o so b a qual o afetad o se en c o ntra. Os<br />

co m p o n e n t e s agre s siv o s e venusian o s ca minha m de m ã o s<br />

<strong>da</strong><strong>da</strong> s . O nariz bulb o s o lem br a um libertino. Pode- se assu mir<br />

uma posiç ã o sup erficial e m relaç ã o a tal padrã o e usar o bulbo<br />

ver m e lh o de man eira provo c ativa, co m o um clown [palhaç o],<br />

pod e- se tam b é m sentir verg o n h a ou entã o reprimir to<strong>da</strong> a<br />

refer ê n ci a de conteú d o e não quer er sab er na<strong>da</strong> a resp eito dos<br />

próprios son h o s e fantasias des m e s u r a d a s . O surto de<br />

cres ci m e n t o que, e m sentido figurad o, foi muito curto, é<br />

so m atizad o e m seu devido lugar. Todo o líquido fértil que foi<br />

19<br />

8


dissipad o con cr et a m e n t e ou e m fantasias é ag or a se gr e g a d o<br />

substitutiva m e n t e pelas glândulas seb á c e a s e m quanti<strong>da</strong>d e s<br />

ab s oluta m e n t e des a gr a d á v e i s. O asp e ct o de fertili<strong>da</strong>d e é<br />

igual m e nt e anun ciad o pelo notáv el cres ci m e n t o do tecido do<br />

septo nas al. Bate- se co m o nariz no próprio probl e m a , por<br />

assi m dizer, e todo o mun d o pod e vê- lo.<br />

O sinto m a está freqü e nt e m e n t e ass o ci a d o a um a<br />

probl e m á tic a de alco olis m o que colo c a e m jogo o nariz<br />

avermelhado de bêbado . O álcool é a drog a de evas ã o<br />

clás sic a de noss a so ci e d a d e . Justa m e nt e ond e a propa g a n d a<br />

sug er e o contrário, é evid e nt e que são esp e ci al m e n t e as<br />

pes s o a s que não pod e m suportar o ho m e m que têm e m si e m<br />

nen hu m sentido, porqu e são muito m ol e s, que tend e m à<br />

be bid a. Enquanto os be b ê s têm o direito de ficar ag arrad o s à<br />

ma m a d e ir a, nos adultos o que isso m o stra é a dep e n d ê n c i a e a<br />

tend ê n ci a à regr e s s ã o , à fuga. Os outros sinto m a s do<br />

alco olis m o tam b é m ac e ntua m es s a tend ê n ci a: a pes s o a<br />

ca m b al ei a co m o um a crianç a que ain<strong>da</strong> não apren d e u a an<strong>da</strong>r<br />

co m segur an ç a, e balbucia, co m o se ain<strong>da</strong> não do min a s s e a<br />

fala. O fato de que o álco ol seja um forte narc ótic o evid e n ci a<br />

ain<strong>da</strong> que algu é m não quer ad mitir para si m e s m o , e sim<br />

en c o b rir e an e st e si ar a dor caus a d a pelo fraca s s o . Essa<br />

imag e m pare c e contradiz er totalm e nt e aqu el a m ais corriqu eira<br />

do alco ólic o brutal, durão e exc e s siv a m e n t e m a s c ulin o.<br />

Entretanto, es s a s de m o n s tr a ç õ e s sup erficiais de m a s c ulini<strong>da</strong>d e<br />

violen ta , be m co m o de potên cia osten siv a, não pas s a m de<br />

tentativas ofen siva s de co m p e n s a ç ã o <strong>da</strong> própria inse g ur an ç a e<br />

fraqu ez a.<br />

O típico círculo vicios o pod e entã o des e n v olv er- se<br />

rapi<strong>da</strong> m e n t e: o álco ol é a drog a <strong>da</strong> impot ê n ci a e m todo s os<br />

níveis, afog a- se a preo c up a ç ã o co m a própria incap a ci<strong>da</strong>d e .<br />

Por outro lado, pouc a s cois a s caus a m a impotên ci a co m tanta<br />

rapidez co m o a ingestã o regular de álco ol. Não se trata<br />

portanto de ho m e n s fortes, ma s de ho m e n s co m o rabo entre as<br />

perna s. Tam p o u c o dev ería m o s deixar- nos en g a n ar por<br />

tentativas de be b er para criar cora g e m , ach a n d o que a<br />

19<br />

9


covardia é a mã e <strong>da</strong> cautela, ain<strong>da</strong> que o todo resulte e m uma<br />

impon ê n ci a estéril. Seu pai é o des ej o de se atordo ar para não<br />

ter de ver a situaç ã o e m que se está real m e nt e , ou justa m e n t e<br />

e m que não se está. O ver m el h o lumino s o do nariz m o stra a<br />

todo s o que de fato está ac o nt e c e n d o , está na cara, no sentido<br />

mais ver<strong>da</strong> d eir o <strong>da</strong> palavra. Por um lado, pod e tratar- se de<br />

uma adv ertênci a, para não m et e r o nariz e m to<strong>da</strong> parte e<br />

so br etud o para não m et ê- lo muito fund o no cop o, m a s por<br />

outro pod e ser tam b é m a exig ê n ci a de tornar- se don o do<br />

próprio nariz e enfrentar os tem a s que o destino es cr e v e u co m<br />

tinta lumino s a, m ais propria m e n t e co m san gu e, no próprio<br />

rosto.<br />

Em se tratand o do rinofim a e do nariz de bê b a d o , a tarefa de<br />

apren dizad o gira e m torno do rec o n h e c i m e n t o <strong>da</strong> sexuali<strong>da</strong>d e<br />

impulsiva e sua liberaç ã o definitiva. Trata- se de "rec o n h e c e r" a<br />

mulh er, o que so m e n t e é pos sív el e m b e b e n d o - se e m todo s os<br />

níveis do am or sexual. A en er gi a fálica desl o c a- se para o ponto<br />

central e é do min a d a . Trata- se de potên cia, e não <strong>da</strong> variante<br />

de m o n s tr a d a ao s gritos, que não pas s a de um a m á s c ar a para<br />

a fraqu ez a; trata- se de força e de pod er e m níveis m ais<br />

profund o s.<br />

P er g u nta s<br />

1. Onde e m minha vi<strong>da</strong> as coisa s não desliza m tal co m o eu<br />

gostaria?<br />

2. (Com o) Ter min ei minha pub erd a d e ? Quão ma dur a é<br />

minh a sexuali<strong>da</strong>d e ?<br />

3. O que falta para que eu seja um adulto?<br />

4. Com o pod eria e pos s o confiar e m minha ma s c ulini<strong>da</strong>d e ?<br />

Por que eu a exag er ei? Ou a copiei?<br />

5. O que quer e dev e cres c e r ain<strong>da</strong> e m minh a vi<strong>da</strong>? Quão<br />

frutífero foi até ag or a?<br />

6. O que a fuga repres e nt a para mi m? Onde e quan d o<br />

deixei de reg er minha vi<strong>da</strong> de ac ord o co m m eu próprio nariz?<br />

20<br />

0<br />

Fratura do vômer


O vô m e r é o oss o do nariz, e co stu m a- se dizer que um nariz<br />

que br a d o não é assi m tão grav e. Pode- se viver co m isso, não é<br />

precis o ne m m e s m o en g e s s á - lo e fica- se so m e n t e um<br />

pouquinh o desfigurad o . A fratura do vô m e r m o stra que se foi<br />

um pouc o long e de m ai s e se deu um tiro na proa. Esse tiro de<br />

adv ertên ci a na proa <strong>da</strong> nav e do corp o pretend e deter a pes s o a ,<br />

imp e dir que pros sig a ce g a m e n t e no ca minh o que está sen d o<br />

trilhado. O nariz, sen d o a parte mais pro e mi n e nt e do corp o –<br />

tanto aci m a co m o e m b aix o – tem um a relaç ã o sim b ólic a direta<br />

co m aqu el e m e m b r o inferior que, e m deter min a d a s situaç õ e s ,<br />

torna- se igual m e nt e pro e mi n e nt e. Ele repre s e nt a a força, a<br />

en er gi a tipica m e n t e ma s c ulina, que arre m e t e para a frente.<br />

Essa en er gi a é niti<strong>da</strong> m e nt e am ort e cid a pela fratura. Quando se<br />

golp eia o nariz de algué m , es s a pes s o a é degr a d a d a nes s e<br />

ponto sen sív el. A fratura do vô m e r, entã o, adquire algu m<br />

significad o no ca m p o <strong>da</strong> anato mi a sim b ólic a. Quando se<br />

segur a o nariz, o m o vi m e n t o para a frente é fread o. Quando se<br />

dá de nariz contra algo, rec e b e - se o mes m o sinal do destino de<br />

form a ain<strong>da</strong> m ais direta. A sab e d o ria popular tam b é m vai<br />

nes s a direç ã o , prev e nind o contra enfiar o nariz e m to<strong>da</strong> parte.<br />

Os curios o s que br a m o nariz co m facili<strong>da</strong>d e.<br />

Os rapaz e s joven s, principal m e nt e, vê e m nes s e sim b olis m o<br />

a chanc e de exibir- se e m público, m o strand o co m o se atrev e m<br />

a pen etrar e m âm bito s perigo s o s e co m o arrisc a m tudo. Quem<br />

quer tornar- se box e a d o r assu m e o nariz que br a d o co m o um a<br />

obvi ed a d e , tend o até orgulho diss o, assi m co m o os estu<strong>da</strong>nt e s<br />

de um a fraterni<strong>da</strong>d e freqü e nt e m e n t e se orgulha m de suas<br />

roupa s.<br />

O sinto m a ilustra con cr eta m e n t e que, e m deter min a d o s<br />

âm bito s, uma certa conten ç ã o seria mais ac o n s el h á v el e<br />

m e n o s doloro s a. A tarefa de apren dizad o não pretend e levar a<br />

pes s o a a ter exp eriên ci a s- limite e m relaç ã o à própria corag e m<br />

e à en er gi a fálica, e sim m o strar que a pes s o a está se<br />

exer citan d o e m um terren o pouc o apropriad o e está indo long e<br />

de m ai s e m âm bito s que mais provav el m e n t e são<br />

20<br />

1


que stion á v ei s. Está be m arriscar algu m a cois a de vez e m<br />

quan d o e levar algu m golp e, ma s seria precis o exp eri m e nt ar se<br />

não seria m elh or exer c er os esforç o s corre s p o n d e n t e s e m<br />

sentido figurad o.<br />

O fato de que a continui<strong>da</strong>d e do próprio os s o do nariz é<br />

interro m pi<strong>da</strong> co m pr o v a igual m e nt e que o ca minh o de vi<strong>da</strong> que<br />

está sen d o trilhad o - se m pr e seguind o o próprio nariz precis a<br />

de um a correç ã o de curs o.<br />

P er g u nta s<br />

1. Aonde eu fui long e de m ai s?<br />

2. Onde e e m relaç ã o a que precis ei de um am ort e c e d o r , e<br />

co m o con s e g ui um?<br />

3. Até que ponto m e m eti e m cois a s que não serv e m para<br />

mi m?<br />

4. Onde a direç ã o <strong>da</strong> minha vi<strong>da</strong> nec e s sita correç ã o ?<br />

5. Com o pod eria ab ord ar novo s âm bito s de man eira que<br />

fizess e mais sentido?<br />

Pala<strong>da</strong>r<br />

O palad ar, ao lado <strong>da</strong> sen sibili<strong>da</strong>d e sup erficial <strong>da</strong> pele, é<br />

noss o sentido mais direto. As papilas gustativas, localizad a s na<br />

língua, gen giva s , epiglote e na muc o s a <strong>da</strong> garg a nta, precis a m<br />

do contato direto dos rec e pt or e s quí mic o s co m a co mid a para<br />

que a perc e p ç ã o se efetu e. Existe m unica m e n t e quatro<br />

quali<strong>da</strong>d e s de perc e p ç ã o : doc e, azed o , salg ad o e am ar g o . O<br />

grand e esp e ctr o de sab or e s resulta do aro m a , que é perc e bid o<br />

pela muc o s a olfativa do nariz. A per<strong>da</strong> do palad ar não é<br />

perig o s a co m o sinto m a, e por es s a razão se atribui a ela pouc o<br />

valor co m o do e n ç a .<br />

O grand e núm er o de fumant e s já são sinal suficiente de que<br />

não an<strong>da</strong> m o s be m no que se refer e ao s noss o s nervo s do<br />

palad ar. Enquanto a propa g a n d a apre g o a o fino sab or de cad a<br />

tipo de taba c o , é exata m e n t e o contrário que é ver<strong>da</strong>d eir o.<br />

20<br />

2


Na<strong>da</strong> prejudica tanto noss o pala<strong>da</strong>r co m o o fumo. De ce m<br />

fumant e s, so m e n t e um ain<strong>da</strong> está e m con diç õ e s de rec o n h e c e r<br />

sua marc a por seu sab or caract erístico. A falta de palad ar dos<br />

outros já é grand e de m ai s. Esta é tam b é m a razã o pela qual os<br />

fumant e s rara m e nt e go sta m de frutas. Eles não estã o m ais e m<br />

condiç õ e s de perc e b e r suas delicad a s nuan ç a s de sab or e<br />

prefer e m um a alim e nta ç ã o m ais rude, co m condi m e nt o s mais<br />

fortes. Quando con sid er a m o s o aum e nt o do uso de<br />

condi m e nt o s e aro m atizant e s ao long o dos último s 20 0 ano s, o<br />

resultad o é uma so br e e x citaç ã o que, por outro lado,<br />

corre s p o n d e à per<strong>da</strong> de noss a cap a ci<strong>da</strong>d e de perc e p ç ã o do<br />

gosto. Com o to<strong>da</strong> ép o c a de restaura ç ã o , to<strong>da</strong> cura atrav é s do<br />

jejum implica tam b é m e m um nov o co m e ç o , e m o stra co m o<br />

so m e n t e um a pequ e n a quanti<strong>da</strong>d e de mat erial gustativo é<br />

nec e s s á ria quan d o se tem a cap a cid a d e de perc e p ç ã o intacta.<br />

O exc e s s o de condi m e nt o s a que esta m o s ac o stu m a d o s<br />

corre s p o n d e ao nos s o estad o nor m al de so br e e x cita ç ã o e à<br />

tentativa convulsiva de <strong>da</strong>r à vi<strong>da</strong> um pouc o m ais de temp er o<br />

por es s e m ei o. Por outro lado, os aro m atizant e s artificiais<br />

corre s p o n d e m a um a nec e s si d a d e genuín a, pois até m e s m o o<br />

palad ar mais e m b o t a d o dev e perc e b e r co m o tudo se tornou<br />

insípido. Basead o s e m noss a cultura de adub o artificial e<br />

estufa, fizem o s co m que a Mãe Natureza se m o v e s s e e ag or a<br />

ela se m pr e nos forne c e tudo aquilo que quer e m o s e m qualqu er<br />

m o m e n t o . Mas ela nos dá so m e n t e o corp o de suas plantas,<br />

con s erv a n d o a alm a 45 . Externa m e n t e , os m or a n g o s e tom at e s<br />

são m ai or e s e mais bonitos do que nunc a, so m e n t e o sab or<br />

diminuiu de m an eira ass o m b r o s a . Nós nos ac o stu m a m o s e<br />

co m p e n s a m o s a per<strong>da</strong> de quali<strong>da</strong>d e co m m ais quanti<strong>da</strong>d e ou<br />

co m sab or artificial. Noss o s nervo s do pala<strong>da</strong>r a<strong>da</strong>ptara m - se a<br />

isso. Agora são nec e s s á ria s “coisa s fortes" e grand e s<br />

con c e ntra ç õ e s para agra<strong>da</strong>r minim a m e n t e . Noss o sentido do<br />

palad ar mo stra que tem o s cad a vez m e n o s de cad a vez mais.<br />

Isso é confirm a d o tam b é m por nos s o entorn o. O que fizem o s<br />

de nós e de nos s o mund o não é abs oluta m e n t e co m p atív el<br />

co m o bo m go sto e corresp o n d e na ver<strong>da</strong>d e a um a per<strong>da</strong> de<br />

20<br />

3


gosto. Herman Weidelen er rem et e a catástrofe do Ocidente ao<br />

fato de que sep ar a m o s o idio m a do gosto, e m b o r a am b o s<br />

esteja m unido s insep ar a v el m e n t e na língua. A bo c a dos<br />

ocid e ntais dev eria estar na testa, já que é quas e se m pr e seu<br />

cér e br o e quas e nunc a seu gosto que fala. Ain<strong>da</strong> assi m,<br />

rec eita m o s para noss o idio m a a m e s m a cura de gros s e ria que<br />

rec o m e n d a m o s para nos s a s papilas gustativas. Visto des s e<br />

m o d o , um aperfeiç o a m e n t o <strong>da</strong> sen s a ç ã o do idio m a e do<br />

palad ar seria um a terapia para nos s a cultura <strong>da</strong> língua e do<br />

gosto.<br />

20<br />

4


4<br />

O Sistema Nervos o<br />

O cér e br o é o cern e do nos s o siste m a nervo s o central.<br />

Ain<strong>da</strong> que seus sinto m a s afete m todo o organis m o , eles dev e m<br />

ser tratado s e m contexto co m a central, que está localizad a na<br />

cab e ç a . O siste m a nervo s o é o siste m a básic o de inform a ç ã o e<br />

de co m u nic a ç ã o do corp o. Ele regula m e n t a as relaç õ e s entre<br />

os mais variad o s níveis de e mis s ã o de orden s <strong>da</strong> central e a<br />

rec e p ç ã o <strong>da</strong>s orden s na periferia. Juntam e nt e co m o siste m a<br />

hor m o n al, ele é resp o n s á v el por to<strong>da</strong> s as trans mi s s õ e s de<br />

inform a ç ã o 46 . Entretanto, as fronteiras entre as red e s de<br />

co m u nic a ç ã o do corpo não são rígi<strong>da</strong>s. Elas se interp en etr a m ,<br />

form a n d o um siste m a multidim e n si o n al. Dess a man eira, por<br />

exe m pl o, o siste m a nervo s o utiliza, e m seus ponto s de ligaç ã o ,<br />

substânci a s se m e l h a nt e s a hor m ô ni o s , tais co m o a adren alina,<br />

a ac etilcolina, a dop a m i n a, etc., para transp ortar a inform a ç ã o<br />

atrav é s des s a s ponte s, cha m a d a s de sinap s e s . Pode- se<br />

imagin ar as sinap s e s co m o se foss e m tom a d a s nas quais<br />

estã o ligado s divers o s circuitos elétrico s. O siste m a nervo s o<br />

trabalha so br etud o co m eletrici<strong>da</strong>d e , en quant o o siste m a<br />

hor m o n al pod e ser co m p ar a d o a um siste m a de m e n s a g e ir o s<br />

que transp orta a inform a ç ã o so b a form a de sub stân ci a s<br />

quí mic a s . Ness e sentido, os nervo s são os m ais rec e nt e s e<br />

repre s e nt a m a variante que traz e m si o futuro.<br />

Diferen cia- se um siste m a nervo s o voluntário ou sen s o m o t o r<br />

de um involuntário, ou autôn o m o . A parte que pod e ser<br />

controlad a pela vontad e englo b a , por exe m pl o, o padrã o de<br />

m o vi m e nt o s delib er a d o s <strong>da</strong> mus c ulatura do es qu el et o. A parte<br />

involuntária é resp o n s á v el pelo s nervo s dos órg ã o s interno s,<br />

que não dep e n d e m <strong>da</strong> vontad e. Esse siste m a nervo s o <strong>da</strong>s<br />

vísc er a s , cha m a d o de veg et ativo, conté m por seu lado dois<br />

pólos antag ô ni c o s : o simp átic o, que pod eria ser cha m a d o<br />

tam b é m de pólo m a s c ulin o arqu etípic o, já que é resp o n s á v e l<br />

20<br />

5


pelo s m o d o s de co m p o rta m e n t o dirigido s para o exterior tais<br />

co m o a luta, a fuga, o trabalh o e a con c e ntr a ç ã o , e seu<br />

opon e nt e, o parassi m p átic o ou vag o, que é resp o n s á v el por um<br />

lequ e de ativi<strong>da</strong>d e s , dos proc e s s o s reg e n e r ativo s <strong>da</strong> digestã o à<br />

sexuali<strong>da</strong>d e , e que portanto pod e ser con sid er a d o co m o<br />

repre s e nt a nt e do pólo feminino arqu etípic o. Os dois pólo s do<br />

siste m a nervo s o veg et ativo dispõ e m de diferente s substânci a s<br />

quí mic a s transp ortad or a s que são resp o n s á v e i s pela<br />

trans mi s s ã o de inform a ç õ e s entre fibras nervo s a s individuais.<br />

As substânci a s transp ortad or a s cha m a d a s de adren er g ê ni c a s ,<br />

tais co m o a adren alina e a noradr e n alin a, perten c e m ao<br />

siste m a nervo s o dos órg ã o s interno s ma s c ulin o ou simp átic o;<br />

no âm bito do cér e br o , terno s a dop a mi n a. No siste m a feminin o<br />

ou parassi m p átic o pred o m i n a m as substânci a s colinérgic a s,<br />

so br etud o a ac etilcolina.<br />

Caso se faça um a divisã o polar geral, o siste m a nervo s o<br />

voluntário corresp o n d e ri a ao pólo ma s c ulino ou Yang,<br />

en qu a nt o o siste m a nervo s o veg et ativo ou involuntário seria<br />

atribuído ao pólo feminin o ou Yin. O simp átic o é entã o a parte<br />

ma s c ulina des s e âm bito que é e m si fe minino, sen d o o<br />

parassi m p átic o o feminino do feminino.<br />

Ao lado <strong>da</strong> subdivisã o de ac ord o co m o conteú d o , utiliza- se<br />

tam b é m um a subdivisã o cha m a d a de topo gr áfica, de ac ord o<br />

co m a localizaç ã o esp a ci al. Esta diferen cia o siste m a nervo s o<br />

central, co m p o s t o pelo cér e br o e a m e d ula espinh al, do<br />

siste m a nervo s o periférico, que con siste <strong>da</strong>s sen sív ei s vias<br />

nervo s a s voluntárias e involuntárias que atrav e s s a m todo o<br />

corp o. O siste m a periférico trans mite ao central to<strong>da</strong>s as<br />

inform a ç õ e s que rec e b e do corp o e do entorn o e realiza to<strong>da</strong>s<br />

as reaç õ e s que delas resulta m. O siste m a central, portanto, é<br />

resp o n s á v e l por tudo, ma s e m todo s os cas o s conta co m a<br />

colab o r a ç ã o dos nervo s periférico s. Sem es s e trabalh o <strong>da</strong><br />

periferia, a central estaria, por um lado, des c o n e c t a d a do fluxo<br />

de inform a ç õ e s , e por outro, seria incap az de expres s ar suas<br />

ord en s .<br />

20<br />

6


1. Do nervosismo ao colapso nervoso<br />

Com o a co m u ni c a ç ã o é a tarefa central &!o siste m a nervo s o ,<br />

os proble m a s nervo s o s se m pr e oculta m probl e m a s de<br />

co m u nic a ç ã o atrás de si. Quem se sente co m os nerv o s e m<br />

frangalh o s, fraca s s o u e m sua co m u ni c a ç ã o . A voz popular fala<br />

de um nó no s nerv o s. Os próprios afetad o s , entretanto, busc a m<br />

refúgio na projeç ã o e con clu e m que são proprietários de um a<br />

roupa g e m nervo s a muito sen sív el e que os outros ac a b a m co m<br />

seus nervo s. A expr e s s ã o “voc ê me dá nos nervo s” o expres s a .<br />

Assim co m o ac o nt e c e co m to<strong>da</strong> s as outras funçõ e s do corp o,<br />

so m e n t e tom a m o s con s ci ê n ci a dos nervo s quan d o eles<br />

caus a m proble m a s . Quem m o stra os nervo s deixa claro que<br />

não está be m , agind o de man eira nervo s a e sentind o o entorn o<br />

e suas exig ê n ci a s co m o en erv a nt e s . Quem, ao contrário, tem<br />

nervo s co m o ara m e s , pod e se <strong>da</strong>r ao luxo de viver de ac ord o<br />

co m o temp o, ou seja, mant er- se e m contato co m os tem a s do<br />

pres e nt e. Para ele, as exig ê n ci a s são um estimulo nervo s o<br />

be m - vindo e e m vez de ser e m m ol e st a s, propicia m um a<br />

sen s a ç ã o de vitali<strong>da</strong>d e. Uma tal “pes s o a se m nervo s” é algué m<br />

que não tem nec e s s i d a d e de m o strar os nervo s porqu e está<br />

segur o de seu funcion a m e n t o até m e s m o e m situaç õ e s de<br />

perig o. Ele tem real m e nt e nerv o s de aço. É precis o sep ar ar<br />

aqui aqu el a s pes s o a s que não m o stra m os nervo s porqu e<br />

este s, am ort e cid o s e insen sív ei s, já não perc e b e m o que<br />

real m e nt e ac o nt e c e à sua volta. A força nervo s a típica resid e<br />

e m sua auto c o nfian ç a, e não e m poupar os nervo s ou<br />

tranqüilizá- los con stant e m e n t e . Eles estã o relaxad o s e cal m o s ,<br />

até que são exigido s. Então, a tens ã o propicia um a oc a si ã o<br />

para co m u nic ar- se co m o interior e tam b é m co m o exterior. A<br />

pes s o a nervo s a é muito diferent e. Em um a situaç ã o nor m al ela<br />

já está niti<strong>da</strong> m e nt e tens a, e ao ser exigi<strong>da</strong> che g a rapi<strong>da</strong> m e n t e<br />

ao limite de seus nervo s.<br />

Os biólo g o s sab e m que o nervo si s m o oc orr e igual m e nt e no<br />

reino anim al, e não so m e n t e e m caval o s de corri<strong>da</strong>,<br />

20<br />

7


indep e n d e n t e m e n t e <strong>da</strong>s exig ê n ci a s naturais de sua vi<strong>da</strong>.<br />

Quando um a deter min a d a esp é ci e ating e a sup erp o pulaç ã o e,<br />

co m isso, tem seu esp a ç o vital limitado, os anim ais individuais<br />

des e n v olv e m nítidos sinais de nervo si s m o , a co m u nic a ç ã o<br />

entra e m colap s o e oc orr e m surtos de agre s s ã o se m qualqu er<br />

m otivo. A falta de esp a ç o produz a angú stia (do latim angu st u s<br />

= estreito) que faz co m que os fusíveis quei m e m . De m an eir a<br />

análo g a, não é de ad mirar que cad a vez mais pes s o a s sofra m<br />

de mal e s nervo s o s e angústia, esp e ci al m e n t e nos aglo m e r a d o s<br />

<strong>da</strong>s grand e s ci<strong>da</strong>d e s .<br />

Fun<strong>da</strong> m e n t al m e n t e , o tem a <strong>da</strong> co m u nic a ç ã o está por trás<br />

dos proble m a s nervo s o s , unica m e n t e que nos m al e s nervo s o s<br />

ele m er gulh o u m e n o s profun<strong>da</strong> m e n t e na corp or ali<strong>da</strong>d e que nus<br />

cas o s neuroló gic o s . Uma pes s o a nervo s a não tem confian ç a<br />

e m pod er conv e n c e r o entorn o de si m e s m a e de seu valor. Ela<br />

está inse g ur a e busc a con stant e m e n t e sinais que a<br />

reass e g ur e m . Isso se torna esp e ci al m e n t e claro quan d o se<br />

está diante de um a prova esp e ci al m e n t e des g a s t a nt e para os<br />

nervo s, quan d o parec e que os nervo s vão arreb e nt ar de tão<br />

tens o s ante s m e s m o que tudo tenha co m e ç a d o . Tais situaç õ e s<br />

são senti<strong>da</strong>s co m o m ortais pelas pes s o a s de nerv o s delica d o s .<br />

A agitaç ã o nervo s a ating e o aug e pouc o ante s do resultad o<br />

decisivo, e os afetad o s ag e m de man eir a totalm e nt e en er v a nt e.<br />

Antes <strong>da</strong> prova dos nervo s, o m e n o r ruído ou um atras o<br />

míni m o , qualqu er cois a lhes dá nos nervo s. Justa m e nt e nest e<br />

m o m e n t o , e m que tudo dep e n d e do bo m funcion a m e n t o de<br />

seus circuitos, este s parec e m não estar à altura <strong>da</strong> tarefa e dão<br />

a sen s a ç ã o de que vão saltar para fora <strong>da</strong> pele. Isso pod e<br />

explicitar a des pr ot e ç ã o que se sent e e m o stra co m o se está<br />

próxim o de usar os nervo s co m o des c ulp a.<br />

No co m p o rta m e n t o tipica m e n t e nervo s o , impregn a d o de<br />

incon stân ci a e inquieta ç ã o , m o stra- se o des ej o de estar e m<br />

co m u nic a ç ã o co m tudo ao m e s m o temp o. Na maioria <strong>da</strong>s<br />

vez e s , entã o, a hierarquia que existe nas estruturas de<br />

co m u nic a ç ã o entra e m colap s o e cois a s relativa m e n t e pouc o<br />

importante s pas s a m para o prim eiro plan o en quant o outras<br />

20<br />

8


cois a s mais sub stan ci ais ca e m vitima <strong>da</strong> pers e g uiç ã o fren étic a.<br />

A pes s o a nervo s a corre atrás dos ac o nt e ci m e n t o s e não é raro<br />

que se sinta atrop elad a e sup er a d a por eles. Ela, co m seu eg o<br />

e sua nec e s s i d a d e de que tudo gire a seu redor, en c o ntra- se<br />

no m ei o des s e circulo vicios o. Ness a situaç ã o de inse g ur a n ç a<br />

e co m os nervo s totalm e nt e hiperten s o s , os afetad o s ro<strong>da</strong> m e<br />

sofre m um colap s o nervo s o .<br />

E entã o tudo, de fato, gira e m tom o deles. Eles atingira m seu<br />

objetivo, ain<strong>da</strong> que so m e n t e no nível m é di c o , à bas e de<br />

extors ã o física. A terapia simples e efetiva tenta m ant ê- los<br />

afastad o s de to<strong>da</strong> s as cois a s às quais eles atribue m<br />

de m a s i a d a importân cia para que obten h a m paz no exterior e,<br />

so br etud o, no íntim o.<br />

O diagn ó stic o de colap s o nervo s o corresp o n d e a um colap s o<br />

do trânsito no horário de pico. Os antec e d e n t e s , a evoluç ã o e o<br />

resultad o são co m p ar á v ei s. Quando todo s os auto m ó v e i s<br />

quer e m ir a to<strong>da</strong> parte, rapi<strong>da</strong> m e n t e e ao m e s m o temp o ,<br />

des o b e d e c e n d o por es s a razão às regra s do trânsito, log o<br />

ningu é m vai m ais a parte algu m a. É prováv el que todo s os<br />

m otoristas, individual m e nt e , tenha m razõ e s de pes o . Mas<br />

quan d o o cruza m e n t o foi bloqu e a d o , o trânsito não an<strong>da</strong> mais.<br />

Instaura- se a calm a, ain<strong>da</strong> que so br e um nível altíssi m o de<br />

stre s s . A tentativa de auto- aju<strong>da</strong> do corp o transc orr e de<br />

man eira se m el h a nt e, já que ele igualm e nt e trata de con s e g uir<br />

paz quan d o ating e o ápic e <strong>da</strong> torm e nt a nervo s a. Esta cal m a<br />

força<strong>da</strong> tranqüiliza as estruturas so br e c arr e g a d a s , contribuind o<br />

assi m, substanci al m e n t e , para o con s e q ü e n t e des e m b a r a ç o do<br />

e m ar a n h a d o que se havia instaurad o. Nem as ma s ne m as vias<br />

nervo s a s fora m seria m e n t e <strong>da</strong>nificad a s co m es s e colap s o . Em<br />

am b o s os níveis, o colap s o do trânsito ass e m e l h a - se à quei m a<br />

dos fusíveis e m um curto- circuito elétrico. Mas isso imp e d e<br />

tam b é m <strong>da</strong>n o s mais profund o s no âm bito nervo s o .<br />

Neste sentido, o colap s o nervo s o é a própria terapia. Ele põ e<br />

fim a um estad o forçad o, colap s a n d o as co m u nic a ç õ e s co m o<br />

entorn o e isoland o o pacient e. Ao che g ar ao estági o de e m er gir<br />

para o mun d o exterior, ele sinaliza de man eira expr e s siv a que<br />

20<br />

9


isso não pod e continuar assi m e m sua vi<strong>da</strong>. Ele não pod e<br />

mant er tal quanti<strong>da</strong>d e de contato s extern o s e obriga ç õ e s . Aqui,<br />

a tarefa torna- se muito níti<strong>da</strong>: trata- se de ab and o n ar a luta no<br />

exterior, enc o ntrar- se de novo con sig o m e s m o e esta b el e c e r<br />

contato co m o próprio centro. Só entã o tem sentido reto m ar<br />

lenta m e n t e o contato co m o exterior.<br />

O estad o prec e d e n t e de des e q uilíbrio nervo s o devid o à<br />

angústia de estar perd e n d o algo e não estar participan d o de<br />

algo e m algu m lugar m o stra, àqu el e s que quer e m <strong>da</strong>nç ar e m<br />

todo s os cas a m e n t o s , seus limites, ma s tam b é m<br />

oportuni<strong>da</strong>d e s . A tarefa de apren dizad o é, aqui, esta b el e c e r<br />

contato s não so m e n t e co m o exterior ma s tam b é m , e<br />

so br etud o, co m o íntimo. Se o afetad o está per m a n e n t e m e n t e<br />

à procura <strong>da</strong>quilo que é m ais important e no exterior e m um<br />

deter min a d o m o m e n t o , sua tarefa é contatar aquilo que é mais<br />

importante no interior, co m o próprio coraç ã o , portanto. Os<br />

sinto m a s - <strong>da</strong> taquicardia à sínc o p e - que surg e m nes s e<br />

contexto, aponta m nes s a direç ã o . Mais contato co m o<br />

co m a n d o central <strong>da</strong> con s ci ê n ci a tam b é m pod eria ser<br />

nec e s s á ri o, tal co m o o co m pr o v a m os bons resultad o s obtido s<br />

pelas excurs õ e s guia<strong>da</strong> s . Dess a man eira, os pacient e s têm<br />

ac e s s o à paz e à calm a que reina no centro de cad a ser<br />

hum a n o . Eles con stata m que a busc a de contato refleti<strong>da</strong> no<br />

nervo sis m o é um a caricatura <strong>da</strong> busc a de união interna co m o<br />

próprio centro. A fren étic a bus c a de rec o n h e c i m e n t o é<br />

substituí<strong>da</strong> pela am a bili<strong>da</strong>d e interna, e a partir <strong>da</strong>i des e n v olv ese<br />

um a sen s a ç ão de centrali<strong>da</strong>d e e co m u nic a ç ã o genuín a.<br />

Esta, entretanto, não tem so m e n t e um a proximi<strong>da</strong>d e idio m átic a<br />

co m a co m u n h ã o , a ligaç ã o de m ei o co m m ei o, ou seja, de<br />

coraç ã o co m cora ç ã o .<br />

P er g u nta s<br />

1. Meu padrã o de co m u ni c a ç õ e s tem res erv a s ou eu estou<br />

à beira de um colap s o nervo s o devid o à so br e c ar g a contínua?<br />

2. Eu mant e n h o contato co m os tem a s cand e nt e s de minha<br />

vi<strong>da</strong>? Ou uso justa m e nt e os "nervo s fraco s” para es quivar- m e<br />

21<br />

0


deles?<br />

3. Em que circunstân ci a s sinto m e u s nervo s? O que m e dá<br />

nos nervo s? A que m eu per mito pas s e ar por eles?<br />

4. Tenh o esp a ç o suficiente para m e abrir ou sinto- m e<br />

apertad o ?<br />

5. Com o an<strong>da</strong> m minha auto c o nfian ç a e a se g ura n ç a e m<br />

mi m m e s m o ? Eu dispon h o delas ou tenh o de de m o n s tr á- las o<br />

temp o todo?<br />

6. Eu enc o ntr o/sup orto tranqüili<strong>da</strong>d e dentro de mim? Eu a<br />

pres erv o suficiente m e n t e ?<br />

7. Os objetivo s que tenh o diante dos olho s são m eu s<br />

m e s m o , e são realizáv eis? Ou minha vi<strong>da</strong> se dirige a um<br />

colap s o devido à so br e c ar g a ?<br />

2. Comoção cerebral<br />

Tanto no que se refer e ao surgi m e nt o co m o tam b é m e m<br />

relaç ã o à interpreta ç ã o , este sinto m a tem um a certa<br />

se m el h a n ç a co m a fratura do vô m e r. O afetad o foi long e<br />

de m ai s e rec e b e u um golp e na proa. Com o o no m e indica, o<br />

cér e br o é abalad o , so br etud o o <strong>da</strong>qu el a s pes s o a s a que m<br />

na<strong>da</strong> mais pod e abalar. A cab e ç a registra a co m o ç ã o que os<br />

afetad o s não ad mite m no âm bito aní mic o- espiritual. O traum a<br />

está <strong>da</strong>d o de ante m ã o , quas e se m pr e um a que d a. Ain<strong>da</strong> nos<br />

ocup ar e m o s de seu sim b olis m o profund o quan d o tratarm o s <strong>da</strong>s<br />

fraturas de braç o e de perna. Expres s õ e s tais co m o "quanto<br />

mais alto, maior a qued a" mo stra m que se trata freqü e nt e m e n t e<br />

de corrigir um rum o errad o, no qual o afetad o "leva na cab e ç a ”.<br />

Eles quis er a m subir alto de m ai s e são retido s rude m e n t e .<br />

Os sinto m a s individuais <strong>da</strong> <strong>como</strong>ção cerebral (Commotio)<br />

falam uma linguag e m clara. A dor de cab e ç a é teste m u n h a de<br />

tentativas agre s siv a s de ir de cab e ç a contra a pared e. A<br />

tontura sub s e q ü e n t e fala se m rodei o s que se pres s up ô s algo,<br />

que se partiu de pres s up o st o s equivo c a d o s ou que houv e um a<br />

sup erv al orizaç ã o de si m e s m o . Enjôos e vô mito s m o stra m que<br />

21<br />

1


o corp o dev e voltar a se livrar o mais rapi<strong>da</strong> m e n t e pos sív el <strong>da</strong><br />

probl e m á tic a que quer pôr para fora. Na lingua g e m do<br />

estô m a g o e do intestino, isso quer dizer que não é pos sív el<br />

assi milar a última exp eri ên ci a que se viven ci ou. Uma per<strong>da</strong> de<br />

con s ci ê n ci a, ain<strong>da</strong> que curta, é parte <strong>da</strong> co m o ç ã o cer e br al e <strong>da</strong><br />

a enten d er que algu é m , por um curto esp a ç o de temp o,<br />

ab and o n a a resp o n s a b ili<strong>da</strong>d e pela própria vi<strong>da</strong>. A cha m a d a<br />

am n é si a retrógr ad a indica quã o pouc o o afetad o se lem br a <strong>da</strong><br />

marc h a dos ac o nt e ci m e n t o s que levara m ao acident e. To m a- se<br />

evid e nt e ai ain<strong>da</strong> um a am pla neg a ç ã o <strong>da</strong> resp o n s a b ili<strong>da</strong>d e<br />

pelas próprias aç õ e s . A pes s o a se furta à resp o n s a b ili<strong>da</strong>d e,<br />

expr e s s a n d o assi m, que é m elh or que outro assu m a o volante.<br />

Trata- se de uma tática facilm e nt e dete ctáv el que transc orr e<br />

aqui de form a incon s ci e nt e.<br />

No degr au seguinte <strong>da</strong> es c al a d a, a contusão cerebral<br />

(Contusio), os sinto m a s são ain<strong>da</strong> mais fortes, e outros nov o s ,<br />

bastant e grav e s , so m a m - se a eles. O cér e br o , env olvido por<br />

um líquido aqu o s o que am ort e c e os golp e s <strong>da</strong> m elh or man eira<br />

pos sív el, é ab alad o tão forte m e n t e que os am ort e c e d o r e s<br />

falha m e san gr a m e n t o s e co m pr e s s ã o de tecido s surg e m no<br />

local do golp e ou cho q u e , e tam b é m do lado opo st o. A per<strong>da</strong><br />

de con s ci ê n ci a é profun<strong>da</strong> e pod e che g ar ao co m a . Ede m a s<br />

co m a subi<strong>da</strong> <strong>da</strong> pres s ã o cefálica, ataqu e s epiléptic o s e<br />

perturba ç õ e s <strong>da</strong> regulaç ã o <strong>da</strong> respiraç ã o e <strong>da</strong> temp er atura são<br />

algu m a s <strong>da</strong>s co m plica ç õ e s pos sív ei s. Som a m - se a isso<br />

divers a s deficiên cia s tais co m o agn o si a, a incap a ci<strong>da</strong>d e de<br />

rec o n h e c e r , apraxia, a per<strong>da</strong> <strong>da</strong> habili<strong>da</strong>d e, e afasia, a per<strong>da</strong><br />

<strong>da</strong> linguag e m , perturb a ç õ e s <strong>da</strong> m e m ó ri a e do sentido de<br />

orienta ç ã o be m co m o deficiên cia s psíquic a s, de perturb a ç õ e s<br />

<strong>da</strong> m otivaç ã o à per<strong>da</strong> de sen s a ç õ e s , <strong>da</strong> tend ê n ci a a falar<br />

sozinh o até às alucinaç õ e s . Esses sinto m a s , por um lado,<br />

arranc a m o afetad o <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> cotidian a, e por outro força m à luz<br />

<strong>da</strong> con s ci ê n ci a conteúd o s até entã o reprimido s. Suas<br />

m e n s a g e n s falam por si m e s m a s . Tend ê n ci a s reprimi<strong>da</strong>s e não<br />

viven ci ad a s aprov eita m o m o m e n t o favoráv el, o colap s o <strong>da</strong>s<br />

defe s a s por m ei o do violento abalo, para cha m a r a aten ç ã o<br />

21<br />

2


so br e si.<br />

Evidente m e n t e , os afetad o s se dep ar ar a m co m um limite<br />

definitivo, que eles não pod e m ultrapas s ar assi m se m m ais<br />

ne m m e n o s . Ao contrário, eles termin ar a m sen d o contundido s<br />

ao tentá- lo, precis a n d o aprend er nova m e n t e desd e o co m e ç o e<br />

progr e s siva m e n t e , co m o crianç a s , a ocup ar- se dos afaz er e s<br />

cotidian o s e a assu mir a resp o n s a b ili<strong>da</strong>d e so br e si m e s m o s . O<br />

sinto m a os atirou de volta ao nível <strong>da</strong> infância, m o stran d o co m<br />

isso a tend ê n ci a de regr e s s ã o dos afetad o s . Mas ele tam b é m<br />

ofer e c e a oportuni<strong>da</strong>d e de um novo co m e ç o . A audácia, que<br />

muitas vez e s levou ao s acid e nt e s , ve m muito a prop ó sito no<br />

âm bito aní mic o- espiritual.<br />

A tarefa de aprendiza g e m é viver e m sentido figurad o tudo<br />

aquilo pelo qual o corpo pas s o u. Dess a man eira, outros<br />

traum a s físico s se m e l h a nt e s torna m- se sup érfluo s. No cas o de<br />

uma qued a, trata- se de des m o n t ar do alto corc el e deixar- se<br />

co m o v e r e m sentido figurad o, viver a cora g e m de m o n s tr a d a<br />

fisica m e n t e no âm bito aní mic o- espiritual e, aqui, ous ar ain<strong>da</strong><br />

mais. É válido ad mitir a própria impotên ci a e per<strong>da</strong> de<br />

con s ci ê n ci a e por um a vez abdic ar <strong>da</strong> resp o n s a b ili<strong>da</strong>d e para<br />

voltar a assu mi- la pouc o a pouc o con s ci e nt e m e n t e . Na nova<br />

orienta ç ã o que se apres e nt a está a oportuni<strong>da</strong>d e de um nov o<br />

co m e ç o .<br />

P er g u nta s<br />

1. Onde eu bloqu ei o co m o ç õ e s aní mic o- espiritual?<br />

2. De que ca minh o o acident e m e tirou?<br />

3. Onde eu de m o n s tr o a corag e m extern a e a prontidã o<br />

para o risco que me faltam interna m e n t e ?<br />

4. Onde eu m e eng a n ei, ou seja, ond e m e contundi? Onde<br />

minh a corrent e de vi<strong>da</strong> precis a de um a nova orienta ç ã o , um<br />

nov o co m e ç o ?<br />

5. A resp eito de que eu dev eria baixar a bola e pisar<br />

terren o que eu pos s a ver?<br />

6. Onde eu dev eria abdic ar <strong>da</strong> resp o n s a bili<strong>da</strong>d e exterior<br />

para assu mi- la interior m e nt e?<br />

21<br />

3


3. Meningite<br />

Na m e nin gite inflam a m - se as m e m b r a n a s que env olv e m<br />

protetor a m e n t e o cér e br o. Ela con stitui portanto um a guerra, no<br />

nível m ais elev a d o , contra as forças femininas de pres erv a ç ã o .<br />

Não é raro que o suc e s s o termin e afetan d o o cér e br o e se<br />

transfor m e e m um a meningo-encefalite. Tanto a m e nin g e<br />

m ol e (pía mater ) co m o a m e nin g e dura (dura mater ) são<br />

atingi<strong>da</strong> s. Várias bact érias, be m co m o vírus, pod e m participar<br />

<strong>da</strong> enc e n a ç ã o do conflito que se esta b el e c e ao redor <strong>da</strong> central<br />

de co m a n d o . Agente s infiltrado s e m pr e e n d e m um a violenta<br />

batalha contra o siste m a de defe s a do corp o que, co m o e m<br />

to<strong>da</strong> inflam a ç ã o , é travad a se m levar as per<strong>da</strong>s e m conta e<br />

co m as arm a s m ais pérfi<strong>da</strong>s. Neste cas o, trata- se certa m e n t e<br />

de um a guerra para salvar a própria cab e ç a , no sentido mais<br />

ver<strong>da</strong>d eir o <strong>da</strong> palavra. Os sinto m a s , ampla m e n t e subjetivo s e<br />

não- esp e cific o s, indica m que se trata de um quadr o m e n o s<br />

individual. Trata- se <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> e <strong>da</strong> so br e viv ê n ci a e m si mes m a s .<br />

São principal m e nt e os rec é m - nas cid o s e as crianç a s<br />

pequ e n a s que são afetad o s pela do e n ç a primária, <strong>da</strong>nd o a<br />

impres s ã o de que ain<strong>da</strong> estã o lutando para sua entrad a<br />

definitiva nesta vi<strong>da</strong>. A cab e ç a , sup erdi m e n si o n a d a nes s a<br />

i<strong>da</strong>d e tão tenra, torna- se, pela se g un d a vez apó s o nas ci m e n t o<br />

o cen ário de um a luta que põ e e m perig o a própria vi<strong>da</strong>. Assim<br />

co m o um posicion a m e n t o transv er s al ante s do nas ci m e n t o<br />

indica que es s a crianç a está atrav e s s a d a e não participa co m<br />

tanta facili<strong>da</strong>d e do jogo <strong>da</strong> vi<strong>da</strong>, aqui tam b é m ganh a expres s ã o<br />

uma certa resistên ci a. A cab e ç a <strong>da</strong> crianç a, já e m si<br />

sup erdi m e n si o n a d a , incha ain<strong>da</strong> mais, já que a pres s ã o<br />

en c ef álica aum e nt a devid o ao maior influxo de água. A ma ci a<br />

m ol eira fica ab aulad a. A long o prazo, há a am e a ç a de uma<br />

hidroc efalia, trágic o sím b ol o <strong>da</strong> ultra- enfatizaç ã o do pólo<br />

ma s c ulino sup erior. Presu mir um proble m a de eg o ou de<br />

cab e ç a em um está gi o tão prec o c e , tal co m o en c arn a d o por um<br />

21<br />

4


"cab e ç a - dura", parec e que é ir long e de m ai s. Mas no ca m p o<br />

<strong>da</strong>s exp eriên ci a s co m a terapia <strong>da</strong> reen c ar n a ç ã o , incluído s o<br />

nas ci m e nt o rotineiro e as fas e s pré- natais, tais resistên ci a s tão<br />

prec o c e s e des e nt e n di m e n t o s agr e s siv o s quanto à entrad a na<br />

vi<strong>da</strong> que se apres e nt a são ab s oluta m e n t e cotidian a s.<br />

Simb olic a m e n t e , a crianç a ofer e c e m ais resistên ci a e m relaç ã o<br />

à nova vi<strong>da</strong> que e m relaç ã o à ob s c ur a m ã e primordial, de cujo<br />

útero ela ac a b a de liberar- se. Ela transfer e para o palco do<br />

corp o a luta contra as forças <strong>da</strong> mã e prim ordial que a quer e m<br />

reter. Hécate na mitolo gia greg a, Kali na indian a, es s a deus a<br />

san guin ária se vale de recurs o s típico s e m seu trabalh o. O<br />

influxo de líquido provo c a d o pela inflam a ç ã o pres si o n a o tenro<br />

cér e br o contra a dura pared e do crânio. Caso o os s o ain<strong>da</strong><br />

pos s a ced er, há a am e a ç a de hidro c ef alia, e cas o seja tarde<br />

de m ai s para isso, os tecido s do cér e br o são atingido s, co m<br />

con s e q ü ê n c i a s que vão de lesõ e s cer e br ais à debili<strong>da</strong>d e<br />

m e ntal.<br />

Ao contrário de outras inflam a ç õ e s que oc orr e m em esp a ç o s<br />

corp or ais que têm a cap a cid a d e de se expan dir, o acú m ul o de<br />

água que oc orr e e m qualqu er proc e s s o inflam at ório<br />

des e m p e n h a aqui um pap el tão desta c a d o porqu e, co m a<br />

i<strong>da</strong>d e, o duro crânio esta b el e c e fronteiras rígi<strong>da</strong>s que não<br />

ced e m co m a pres s ã o . O e m b at e entre o volu m e cres c e n t e de<br />

água, que exerc e pres s ã o so br e o cér e br o e ao m e s m o temp o<br />

o co m pri m e , e a resistên ci a ofer e cid a pelo s oss o s do crânio, é<br />

viven ci ad o pelo pacient e co m o dor de cab e ç a .<br />

Em adultos, o sinto m a surg e principal m e nt e co no do e n ç a<br />

secun d ária. Quando, por exe m pl o, um a tuberculo s e se esten d e<br />

pelas m e nin g e s , a luta fun<strong>da</strong> m e n t al sofre um a es c al a d a ao<br />

nível m ais alto e transfor m a- se e m luta pela so br e viv ê n ci a. Nos<br />

último s ano s pas s o u- se a falar <strong>da</strong> m e nin g o- enc efalite co m o<br />

uma perig o s a co m plic a ç ã o e m cas o s de ze ck e n bi s s e n<br />

(traduç ã o ao pé <strong>da</strong> letra, “picad a de carrap ato”), tend o feito<br />

co m que muitas pes s o a s perd e s s e m o go sto pela naturez a. Os<br />

minús c ulo s parasitas sug a d o r e s de san g u e , inofen siv o s há até<br />

algu m a s déc a d a s , pod eria m ser vistos co m o a pérfi<strong>da</strong> resp o st a<br />

21<br />

5


<strong>da</strong> naturez a às violaç õ e s que sofre. A Mãe Natureza faz co m<br />

que sinta m o s seu pod er, já que dispõ e de bilhõ e s des s a s<br />

pequ e n a s tropas na terra, na água e no ar e pod e,<br />

apar e nt e m e n t e , despr o v ê - las de seu caráter inofen siv o a seu<br />

bel- prazer, transfor m a n d o - os e m inimig o s do ser hum a n o .<br />

Os sinto m a s <strong>da</strong> m e nin gite gira m ao redor <strong>da</strong> cab e ç a e suas<br />

dore s, sen d o afetad a s tam b é m as m e m b r a n a s <strong>da</strong> m e d ul a,<br />

surgind o freqü e nt e m e n t e mal e s se m e l h a nt e s ao s <strong>da</strong> gripe. No<br />

que se refer e ao s sinto m a s gerais surg e, por um lado,<br />

irritabili<strong>da</strong>d e, e por outro, falta de motiva ç ã o que ch e g a à apatia<br />

e à son ol ê n ci a. A irritabili<strong>da</strong>d e explicita a agre s siv a situaç ã o<br />

básic a e m que o corp o se en c o ntra, freqü e nt e m e n t e ilustra<strong>da</strong><br />

pelo cha m a d o opistóton o , o ergui m e nt o do pacient e en quant o<br />

está deitad o. O pacient e é sacudid o, co m o se um a grand e<br />

força quis e s s e des p ertá- lo para que lute pela vi<strong>da</strong>. A mandí b ula<br />

travad a m o stra a incap a cid a d e de se defen d e r e revi<strong>da</strong>r. O<br />

m e c a ni s m o de agre s s ã o repres e nt a d o pela m andí b ula está<br />

paralisad o no mais alto nível de tens ã o . A hipers e n si bili<strong>da</strong>d e,<br />

cha m a d a de hiper e st e si a, deixa entrev er co m o a pele, e m seu<br />

pap el de fronteira extern a, está irrita<strong>da</strong>. Enquanto a batalha é<br />

travad a ao redor do es cu d o protetor do cér e br o, no mais alto<br />

nível <strong>da</strong> cab e ç a , a ca m a d a protetora do corp o está no míni m o<br />

e m estad o alerta máxi m o .<br />

Por outro lado, sinto m a s co m o a apatia m o stra m quã o pouc o<br />

os pacient e s estã o dispo sto s a conduzir con s ci e nt e m e n t e a luta<br />

pela sua própria vi<strong>da</strong>. Ao contrário, a son ol ê n ci a de m o n s tr a, no<br />

mais profund o sentido, co m o eles pas s a m a própria vi<strong>da</strong><br />

dor mind o. O son o, co m o irmã o caçula <strong>da</strong> m orte, parec e levar a<br />

m elh or e m relaç ã o ao s esforç o s de libertaç ã o <strong>da</strong> m ã e<br />

primordial. A cab e ç a , capital do corpo, precis a deitar- se, e o<br />

cér e br o , seu co m a n d o central, am e a ç a voltar a m er g ulhar nas<br />

águas do mar prim ordial. A total falta de ap etite indica que o<br />

afetad o perd eu ou nunc a teve ap etite pela vi<strong>da</strong>, e talvez<br />

tam b é m quã o pouc o sab or o s a é a atual situaç ã o de sua vi<strong>da</strong>.<br />

Os delírios disp en s a m interpreta ç õ e s , expr e s s a n d o de m an eira<br />

muito direta a tem átic a incon s ci e nt e que até entã o ficara para<br />

21<br />

6


trás. A quali<strong>da</strong>d e <strong>da</strong>s torturantes dore s de cab e ç a vão do<br />

latejar e <strong>da</strong>s pontad a s até a sen s a ç ã o de que a cab e ç a vai<br />

rach ar. Elas quas e se m pr e são de um a intensi<strong>da</strong>d e tal que os<br />

pacient e s ach a m que não vão pod er agü e ntá- las e tem e m<br />

pere c er devid o a elas. Parec e que a cab e ç a vai explodir.<br />

Tal am e a ç a surg e quan d o o proprietário adiou por um temp o<br />

de m a s i a d o long o ou nunc a estev e dispo sto a con quistar seu<br />

esp a ç o vital, m o strand o co m o este ficou estreito. Isso é válido<br />

tam b é m para os rec é m - nas cid o s , que têm de decidir entre a<br />

vi<strong>da</strong> neste mun d o ou o reto m o à Grande Mãe. O esp et á c ul o<br />

infernal no co m a n d o central sup erior reflete a situaç ã o não<br />

ad miti<strong>da</strong> <strong>da</strong> con s ci ê n ci a. A expr e s s ã o "eu pod eria arreb e nt ar<br />

de..." a explicita. Muitos pacient e s têm real m e nt e a sen s a ç ã o<br />

de que seus crânio s vão rachar a qualqu er m o m e n t o , de que a<br />

cab e ç a tem de se abrir para cim a de m an eir a a livrar- se <strong>da</strong><br />

insuportáv el pres s ã o . De fato, aqui já estã o refleti<strong>da</strong>s as<br />

alternativas do pacient e. eles pod e m es c a p ar para cim a e<br />

ab and o n a r o corpo ou ven c er a es cur a e es m a g a d o r a torrente<br />

e livrar- se de seu cerc o. O dec orr er <strong>da</strong> sinto m átic a m o stra as<br />

derrota s que se estã o prepar and o na guerra pela autoafirma<br />

ç ã o . Os paci ent e s não têm con diç õ e s de mant er a<br />

cab e ç a alta e dev e m deitar- se ou, de algu m a m an eira, prostrar<br />

o corp o. No cha m a d o opistóto n o , a hiper exten s ã o <strong>da</strong> coluna<br />

vertebr al, eles certa m e n t e enc arn a m um a última reb eliã o.<br />

Curvar ain<strong>da</strong> que minim a m e n t e a cab e ç a ou o joelho lhes é<br />

dolor o s o . Eles entã o per m a n e c e m deitad o s co m a cab e ç a<br />

enterrad a no pes c o ç o , o queixo esticad o para cim a,<br />

ator m e nt a d o s , ma s ain<strong>da</strong> assi m arrog a nt e s . A postura revela<br />

pouc a humil<strong>da</strong>d e e a inflam a ç ã o , quã o pouc o eles por outro<br />

lado estã o prepar ad o s para lutar con s ci e nt e m e n t e . Seu olhar<br />

dirige- se para cim a, para o teatro <strong>da</strong> guerra ou, por cim a dele,<br />

para o céu, para aqu el e âm bito e m direç ã o ao qual eles<br />

am e a ç a m es c a p ar. Há uma bo a chan c e para sua vi<strong>da</strong> a partir<br />

do mo m e n t o e m que eles decid e m lutar por ela. Som e nt e entã o<br />

a luta física pod e es m o r e c e r .<br />

O sinto m a está ass o ci a d o a febres altas, que m o stra m co m o<br />

21<br />

7


neste conflito se está jogan d o tudo e teve lugar um a<br />

m o bilizaç ã o geral. A cap a cid a d e de defe s a do organis m o m ais<br />

que duplica a cad a grau de febre, en q u a nt o a apatia aní mic a<br />

aum e nt a. Os pen s a m e n t o s co m e ç a m a se torc er, che g a n d o a<br />

delírios febris, e não é raro que os pacient e s viven ci e m sua luta<br />

infernal co m o se estives s e m no cine m a , ilustra<strong>da</strong> por imag e n s<br />

interna s de um a força sim b ólic a impre s si o n a nt e. Protegid o s por<br />

este velar <strong>da</strong> con s ci ê n ci a, eles pod e m ob s ervar co m<br />

distancia m e n t o interno aquilo que lhes seria insup ortáv el e m<br />

seu estad o de con s ci ê n ci a nor m al.<br />

Sinto m a s co m o a pres s ã o cer e br al au m e nt a d a m o stra m as<br />

tens õ e s a que a central está sen d o sub m e tid a e co m o sua<br />

co m u nic a ç ã o apres e nt a- se ab afad a. Nem os adultos ne m os<br />

pequ e n o s pacient e s pod e m impor- se e <strong>da</strong>r aten ç ã o a suas<br />

vontad e s . Segund o o padrã o, to<strong>da</strong> inflam a ç ã o leva a incha ç o s<br />

devido ao influxo de água dos tecido s, só que aqui não há<br />

saí<strong>da</strong> para o fluxo de água. Nos adultos des e n v olv e m - se as<br />

cha m a d a s papilas con g e s tio n a d a s , um a incha ç ã o no ponto de<br />

saí<strong>da</strong> do nervo óptico na retina do olho, o que e m cas o s<br />

extre m o s leva à ce g u eira pelo estran g ula m e n t o do nervo<br />

óptico. Nos be b ê s , a m ol eira, um a regiã o na parte anterior do<br />

crânio que ain<strong>da</strong> não está rec o b e rta por oss o s , torna- se<br />

ab o b a d a d a . As am e a ç a d o r a s co m plica ç õ e s são o ed e m a<br />

cer e br al no prim eiro cas o , e a hidroc efalia no segun d o . No<br />

bra mir <strong>da</strong> guerra, tanto relativo à alm a (água) ficou pelo<br />

ca min h o que am e a ç a sufoc ar as estruturas centrais de<br />

co m u nic a ç ã o . De form a se m e l h a nt e a co m o as m e nin g e s<br />

previstas co m o prote ç ã o transfor m a m - se e m am e a ç a , o líquido<br />

en c ef álic o tam b é m se conv ert e e m um perig o. Condicion a d o<br />

pela inflam a ç ã o , ele au m e nt a cad a vez mais e literalm e nt e<br />

espr e m e o cér e br o.<br />

Quando a guerra se alastra <strong>da</strong> m e nin g e protetor a para a<br />

própria mat éria enc efálica, so b a form a de inflamação<br />

cerebral ou encefalite, repres e nt a quas e se m pr e um a luta de<br />

vi<strong>da</strong> ou m orte. O objetivo final desta guerra é a coro a <strong>da</strong><br />

criaç ã o , o cér e br o. As baixas m ais ou m e n o s elev a d a s<br />

21<br />

8


apo nta m para a direç ã o am e a ç a d o r a . A turvaç ã o m e ntal, que<br />

ch e g a à per<strong>da</strong> <strong>da</strong> con s ci ê n ci a, já confronta o afetad o co m a<br />

sen s a ç ã o de ser ou não ser Ness e estági o, a ligaç ã o co m o<br />

corp o tom a- se m ais frouxa e há fas e s e m que a con s ci ê n ci a<br />

pod e liberar- se do corp o. Essa guerra pod e destruir a bas e de<br />

co m u nic a ç õ e s e deixar baixas atrás de si.<br />

No que se refer e às m e nin g e s , trata- se <strong>da</strong> proteç ã o <strong>da</strong> bas e<br />

<strong>da</strong> vi<strong>da</strong>, en qu a nt o co m o fluxo cres c e n t e de liquor e o cér e br o<br />

que recua tem o s a luta <strong>da</strong>s polari<strong>da</strong>d e s . De um lado a m at ériaprima<br />

de nos s o intelecto, do outro a feminina água (<strong>da</strong><br />

inflam a ç ã o). Em to<strong>da</strong> s as fas e s <strong>da</strong> vi<strong>da</strong>, trata- se aqui de<br />

en c o ntrar o único rem é di o co m o qual a vi<strong>da</strong> é co m p atív el. O<br />

sinto m a m o stra e m prim eiro lugar co m o o muro protetor ao<br />

redor do centro <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> é inse g ur o e disputad o e, e m segun d o<br />

lugar, que se atingiu um ponto de des e q uilíbrio entre as<br />

en er gi a s feminin o- aquátic a s e as ma s c ulin o- fogo s a s . A guerra<br />

cand e nt e pelo do mí ni o do corp o bra m e , por um lado, entre<br />

ag e nt e s caus a d o r e s e defe s a, e por outro entre as en er gi a s<br />

regr e s sivas <strong>da</strong> es cur a m ã e e as lumino s a s en er gias m e ntais,<br />

cujo ímp et o as leva m para diante e para cim a.<br />

Nos adultos, o aum e nt o do influxo de líquido é<br />

freqü e nt e m e n t e um a co m p e n s a ç ã o para um a situaç ã o<br />

aní mic o- espiritual invers a, um intelecto sec o e do min a nt e.<br />

Neste sentido, a tarefa de liberaç ã o estaria e m um<br />

“pens a m e n t o sen sív el” que ligas s e a en er gi a feminin o- aquátic a<br />

do sentim e nt o co m a se c a espirituali<strong>da</strong>d e do intelecto<br />

pen s a nt e. Em rec é m - nas cid o s , a interpreta ç ã o natural é a que<br />

vê o aum e nt o de líquido co m o sen d o a repres e nt a ç ã o <strong>da</strong> luta<br />

primordial entre o es c ur o reino <strong>da</strong>s mã e s e as am bi ci o s a s<br />

en er gi a s espirituais. De ac ord o co m nos s a naturez a, polarizad a<br />

para a so br e viv ê n ci a, apoia m o s o ardent e e febril lado<br />

ma s c ulino que ans ei a por um a soluç ã o e des ej a m o s ao s<br />

rec é m - nas cid o s que e m pr e e n d a m uma luta enc arniç a d a contra<br />

as forças es c ura s e ven ç a m .<br />

Destac a- se nos sinto m a s um a dupla tarefa de aprendizad o<br />

para os adultos. As m ortais dore s de cab e ç a , e m que pare c e<br />

21<br />

9


que a cab e ç a vai arreb e nt ar, expres s a m a inco m p atibili<strong>da</strong>d e<br />

<strong>da</strong>s soluç õ e s . Por um lado, as en er gi a s femininas quer e m<br />

saltar para a vi<strong>da</strong> co m o au m e nt o do fluxo de líquido en c ef álic o.<br />

Por outro lado, o agr e s siv o- m a s c ulin o impõ e- se ain<strong>da</strong> mais.<br />

Trata- se de travar a guerra na instân cia mais alta, de explodir<br />

ond e é nec e s s á ri o, de resp o n d e r pelo próprio ca min h o , de<br />

assu mir aquilo que nos oprim e. Trata- se naturalm e nt e <strong>da</strong> água<br />

feminina, que oprim e o afetad o de man eira muito con cr et a. A<br />

hiper ext en s ã o <strong>da</strong>s costa s expres s a a exig ê n ci a de aprum ar- se,<br />

de des e n v olv er o orgulho e a con s ci ê n ci a de si m e s m o e olhar<br />

para a frente. No que a isso se refer e, pouc a s cois a s são tão<br />

apropriad a s co m o os impuls o s dos próprios pen s a m e n t o s e<br />

seu livre fluxo criativo, tal co m o se dá de form a não redimi<strong>da</strong><br />

nas fantasias dos delírios febris. A mistura de pen s a m e n t o s ,<br />

imag e n s , e m o ç õ e s e sen s a ç õ e s reivindica seu direito à vi<strong>da</strong><br />

con s ci e nt e.<br />

"A guerra é o pai de to<strong>da</strong>s as cois a s" se gund o a formulaç ã o<br />

de Heráclito. Ele evid e nt e m e n t e tinha e m m e nt e o deus <strong>da</strong><br />

guerra, Marte, e seu principio primordial. Exige- se do pacient e<br />

co m m e nin gite ou en c ef alite que faça valer e m sua vi<strong>da</strong> es s e<br />

con h e ci m e n t o ime m o ri al. Marte repres e nt a to<strong>da</strong>s as form a s de<br />

en er gi a e pod e ser liberad o , por exe m pl o, por mei o <strong>da</strong> cora g e m<br />

e de uma postura dinâ mi c a. Aqui seria o cas o de ter a corag e m<br />

para assu mir os prim eiros pas s o s que se dá na vi<strong>da</strong> e de<br />

defend er co m ferro e fogo os ideais que <strong>da</strong>í surg e m . Abor<strong>da</strong>r<br />

inflam a d a m e n t e os tem a s centrais <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> e m vez de per mitir<br />

uma guerra infernal na central. Melhor es qu e nt ar o inferno do<br />

entorn o que fazer <strong>da</strong> cab e ç a palc o para um a cand e nt e guerra<br />

infernal. E é m elh or abrir- se para os tem a s cand e nt e s , excitarse<br />

interna m e n t e e até m e s m o deixar- se provo c ar que abrir- se<br />

para ag e nt e s caus a d o r e s perigo s o s , deixar seu órg ã o central<br />

ser provo c a d o por eles e transfor m á- lo e m ca m p o de batalha.<br />

Em qualqu er cas o, a luta é e m torno de estruturas centrais e o<br />

objetivo é o todo.<br />

To<strong>da</strong> s as cois a s, entretanto, precis a m de uma mã e, que<br />

pod e m o s rec o n h e c e r facilm e nt e na grand e deus a que do a to<strong>da</strong><br />

22<br />

0


a vi<strong>da</strong> e que um dia a recla m ar á de volta. Sem dúvi<strong>da</strong>, é<br />

precis o levar e m conta seu pod er feminin o e m nos s a s vi<strong>da</strong>s,<br />

cas o contrário ela au m e nt ar á seus fluxos ou enc o ntrar á outros<br />

m ei o s de obter resp eito e rec o n h e c i m e n t o para si. Mãe e pai<br />

dev e m estar juntos, e no cas o <strong>da</strong> m e nin g o e n c e f alite trata- se<br />

muito esp e ci al m e n t e de unir es s a s polari<strong>da</strong>d e s fun<strong>da</strong> m e n t ai s<br />

na própria vi<strong>da</strong>: pod e ser um a luta cand e nt e e totalm e nt e<br />

intelectual pelo próprio mun d o feminino dos sentim e nt o s ou o<br />

des e n v olvi m e nt o <strong>da</strong>qu el e pen s a m e n t o sen sív el que se<br />

en c o ntra no m ei o, entre a mã e e o pai, e que faz justiça a<br />

am b o s . Finalm e nt e, e não so m e n t e co m os rec é m - nas cid o s ,<br />

ma s tam b é m co m os adultos, trata- se ain<strong>da</strong> de um novo<br />

nas ci m e nt o , e este é se m pr e um a sep ar a ç ã o entre as en er gias<br />

feminina s con s erv a d o r a s e as progr e s siva s en er gias<br />

ma s c ulina s. E aqui m o stra- se entã o tam b é m a soluç ã o que<br />

dev e levar à vitória <strong>da</strong>s en er gi a s lumino s a s so br e a es c uridã o.<br />

O ventre m at ern o dev e ser finalm e nt e ab and o n a d o , não<br />

neg a n d o suas reivindica ç õ e s , m a s atend e n d o - as e m um nível<br />

mais elev a d o .<br />

P er g u nta s 47<br />

1. Que pas s o s na vi<strong>da</strong> tenh o por diante? Onde tenh o de<br />

deixar para trás o feminino primordial para des c o b ri- lo e m<br />

nov o s níveis?<br />

2. Que conflito de vi<strong>da</strong> ou m orte eu recus ei?<br />

3. Que tem a relacio n a d o ao s senti m e nt o s m e colo c a so b<br />

pres s ã o e am e a ç a explodir o centro de m e u s pens a m e n t o s ?<br />

4. Até que ponto estou prepar ad o para ir con s ci e nt e m e n t e<br />

atrás do todo e lutar por ele? Poss o ver nele tam b é m o<br />

feminin o- sentim e nt al?<br />

5. Em que estou fun<strong>da</strong> m e n t a d o ? Sofro de teim o si a ou de<br />

pes o na cab e ç a ?<br />

6. Até que ponto pos s o e m pin ar minha espinh a, ergu er a<br />

cab e ç a e se guir m eu ca minh o ?<br />

7. Ain<strong>da</strong> tenh o entusias m o suficiente para, co m to<strong>da</strong> a<br />

en er gi a, assu mir a realizaç ã o de meu son h o de vi<strong>da</strong>?<br />

22<br />

1


4. Sintomas neurológicos<br />

Ao contrario dos sinto m a s de mal e s nervo s o s , a orige m aqui<br />

está e m modifica ç õ e s con cr et a s dos nervo s. Diferente m e n t e <strong>da</strong><br />

contus ã o cer e br al ou <strong>da</strong> m e nin gite, eles são de naturez a<br />

crônic a. Neste ponto, dev e- se con cluir que as perturba ç õ e s são<br />

mais profun<strong>da</strong> s e já vê m durand o mais tem p o . Além dos<br />

grand e s sinto m a s , a es cl er o s e múltipla e a epilep sia, é pos sív el<br />

diferen ciar dois sub grup o s : as perturb a ç õ e s <strong>da</strong> cha m a d a via<br />

piramid al, resp o n s á v e l pela co ord e n a ç ã o dos m o vi m e n t o s<br />

sub ordin a d o s à vontad e , e as perturb a ç õ e s <strong>da</strong>s vias<br />

extrapira mid ais. Sendo uma estrutura abran g e nt e, a via<br />

piramid al é resp o n s á v el tam b é m pela inibiçã o dos reflexo s<br />

mus c ular e s e pela reduç ã o de seu estad o de tens ã o . Dess a<br />

man eira ela, des d e cim a, m ant é m so b control e a vi<strong>da</strong> própria<br />

dos mús c ul o s. Caso haja um a interrupç ã o <strong>da</strong> via pirami<strong>da</strong>l,<br />

es s a inibiçã o des a p ar e c e e surg e m paralisias esp á stic a s. A<br />

maior parte <strong>da</strong>s fibras nervo s a s <strong>da</strong> via pirami<strong>da</strong>l cruza para o<br />

lado opo st o na altura <strong>da</strong> bas e do crânio. Por es s a razã o,<br />

perturba ç õ e s circulatórias ou co á g ul o s que oc orr e m e m seu<br />

âm bito, co m o e m um derra m e , por exe m pl o, caus a m<br />

probl e m a s no lado opo st o.<br />

O cha m a d o siste m a extrapira mid al é resp o n s á v el pela<br />

regulaç ã o <strong>da</strong> tens ã o dos mús c ul o s, por m o vi m e n t o s<br />

involuntários e co ord e n a d o s , pela regulaç ã o do equilíbrio e <strong>da</strong><br />

postura corp or al. Em cas o s de perturb a ç õ e s , pod e- se destac ar<br />

dois sub grup o s :<br />

a) As síndro m e s rígido- hipocin étic a s, que leva m à<br />

diminuiçã o dos m o vi m e nt o s e à rigidez, co m o por exe m pl o o<br />

mal de Parkins o n;<br />

b) As síndro m e s hipercin étic a s, co m seus padrõ e s<br />

caract erístico s de m o vi m e n t o s incontroláv ei s. Pode- se<br />

m e n ci o n ar aqui a cor éia e dois sinto m a s raros: a ateto s e , co m<br />

22<br />

2


contorç õ e s se m el h a nt e s às de um ver m e , e o balis m o , co m<br />

seus movi m e n t o s giratórios.<br />

Mal de Parkinson<br />

A do e n ç a de Parkins o n é o sinto m a neuroló gic o mais<br />

freqü e nt e <strong>da</strong> i<strong>da</strong>d e avan ç a d a . Afeta<strong>da</strong> s são as vias<br />

extrapira mid ais, que trabalha m indep e n d e n t e m e n t e <strong>da</strong><br />

vontad e . Segund o foi co m pr o v a d o pela m e di cin a, trata- se <strong>da</strong><br />

deficiên cia de um a sub stân ci a trans mi s s o r a entre as con e x õ e s<br />

nervo s a s adren er g ê ni c a s , o neurotran s m i s s o r cha m a d o de<br />

dop a mi n a, no centro do cér e br o. Trata- se portanto de uma<br />

deficiên cia no pólo m a s c ulin o do siste m a nervo s o central. A<br />

con s e q ü ê n c i a é uma so br e c ar g a do pólo opo st o, do cha m a d o<br />

siste m a colinérgic o, que é atribuído ao pólo feminino.<br />

Os sinto m a s resultante s traça m um quadr o nítido e m que<br />

logo cha m a m a aten ç ã o a má s c ar a inexpres siva do rosto e a<br />

rigidez geral. Todo s os m o vi m e n t o s tom a m - se mais lentos, e<br />

estã o aus e nt e s os m o vi m e n t o s secun d ário s tais co m o o<br />

balan ç o dos braç o s quan d o se ca min h a. A fala é baixa<br />

entrec ortad a e m o n ót o n a . O típico trem or, que se manife sta<br />

esp e ci al m e n t e quan d o o pacient e está imóv el, contrasta co m a<br />

pobr ez a de m o vi m e nt o s . Assim que o paci ent e exe c uta um<br />

m o vi m e nt o e m direç ã o a um objetivo o trem or diminui ou ces s a<br />

co m pl et a m e n t e . O ca min h ar se dá, de m an eira caract erística,<br />

por mei o de pas s o s curtos e arrastad o s , o tronc o parec e quer er<br />

adiantar- se à parte inferior do corpo, o que form a um a<br />

tend ê n ci a de precipitar- se para diante e para o lado. A<br />

tend ê n ci a <strong>da</strong>s perna s de falhar inteira m e nt e de m an eir a<br />

abrupta reforç a o perigo e, co m o os outros sinto m a s , não pod e<br />

ser influen ciad o voluntaria m e n t e. To<strong>da</strong> a postura do pacient e é<br />

inclinad a, co m o a de algu é m curvad o, se não ab atido, pelo<br />

destino. Até m e s m o a caligrafia assu m e es s a form a, as linhas<br />

caind o para a direita e para baixo, as letras dentro <strong>da</strong>s linhas<br />

tornan d o- se cad a vez m e n o r e s , de tal m an eira que a m e di cin a<br />

fala de micro gr afia. Som a m - se a isso sinto m a s veg et ativo s tais<br />

22<br />

3


co m o salivaç ã o , surtos de suor e, ligado a isso, a típica "cara<br />

en g ordur a d a". Obs erv a m - se ain<strong>da</strong> perturb a ç õ e s <strong>da</strong> pele e um<br />

arrefe ci m e n t o <strong>da</strong> ativi<strong>da</strong>d e sexual. No âm bito aní mic o, há um a<br />

oscilaç ã o entre a bo a dispo siç ã o e fase s melan c ólic a s .<br />

O sinto m a pratica m e n t e só surg e na i<strong>da</strong>d e avan ç a d a e<br />

esp e ci al m e n t e e m ho m e n s que vivera m suas vi<strong>da</strong>s de m an eira<br />

muito ativa e so b grand e s exig ê n ci a s, de prefer ê n ci a entre<br />

intelectuais. A m e dicin a diferen cia várias form a s, e m que a<br />

história <strong>da</strong> gên e s e <strong>da</strong> variante m ais freqü e nt e, o cha m a d o<br />

parkins o nis m o primário, tam b é m cha m a d o de Paraly si s<br />

agitan s, não tem explicaç ã o . O no m e "paralisia agitad a" deixa<br />

be m claro qual é o dile m a do afetad o: atrav é s <strong>da</strong> paralisia, seu<br />

co m pr o m i s s o nervo s o perd e o significad o. Há ain<strong>da</strong> os grupos<br />

m e n o r e s <strong>da</strong> síndro m e de Parkins o n secun d ária, que surg e m a<br />

partir de um a es cl er o s e cer e br al, de um a intoxica ç ã o , apó s<br />

uma enc efalite ou provo c a d a de man eira m e dic a m e n t o s a<br />

atrav é s de neurol éptic o s 48 . Uma variante m ais rara é a do e n ç a<br />

dos box e a d o r e s , evident e m e n t e provo c a d a pelas num er o s a s<br />

"co m o ç õ e s cer e br ais", tal co m o a que atingiu o ex- ca m p e ã o<br />

mundial dos pes o s pes a d o s Muham m e d Ali.<br />

Seguind o o lem a "a do e n ç a m o stra so m b r a s ", pod e- se<br />

con cluir que os afetad o s não vê e m a rigidez e m sua expres s ã o<br />

e e m seus m o vi m e n t o s por muito tem p o , até que o corp o faz<br />

co m que não pos s a m deixar de ser vistos. Eles vive m co m o se<br />

estive s s e m paralisad o s de susto, se m ad miti- lo para si<br />

m e s m o s . Eles não m o v e m um só mús c ul o <strong>da</strong> face. A m e di cin a<br />

fala de "ami mi a", a aus ê n ci a total <strong>da</strong> expres s ã o natural do<br />

rosto. O pacient e evident e m e n t e apren d e u a não per mitir que<br />

se note qualqu er reaç ã o sen sív el. Seu rosto con g el o u- se e m<br />

uma má s c ar a que, e m muitos asp e ct o s , lem br a uma má s c ar a<br />

m ortuária. Quando a isso se so m a a rigidez <strong>da</strong> parte sup erior<br />

do corp o, niti<strong>da</strong> m e nt e aproxim a n d o - se do típico rigor, tem o s a<br />

impres s ã o de estar diante de um m orto e m vi<strong>da</strong>, de um zum bi.<br />

Pelo m e n o s a reduç ã o de todo s os m o vi m e nt o s que<br />

ac o m p a n h a m a vi<strong>da</strong> natural deixa claro um des e n v olvi m e nt o<br />

e m direç ã o ao rigor mortis.<br />

22<br />

4


Rigidez cad a v éric a e m vi<strong>da</strong> - no cas o do estadista chin ê s<br />

Mao Tsé- Tung, es s a imag e m de horror tornou- se uma<br />

reali<strong>da</strong>d e ma c a b r a, sen d o transfor m a d o no fim <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> e m um<br />

m o n u m e n t o político vivo pelo s que o cerc a v a m . Conden a d o à<br />

total imo bili<strong>da</strong>d e pelo m al de Parkins o n, ele ao final não podia<br />

ne m m e s m o falar. Mas m e s m o co m o estátua viva ele<br />

continuav a deter min a n d o a vi<strong>da</strong> <strong>da</strong> China, pres e nt e co m o<br />

m o d el o e m to<strong>da</strong> s as partes e e m to<strong>da</strong>s as bo c a s , ain<strong>da</strong> que<br />

sua bo c a há muito expr e s s a s s e so m e n t e a mud e z naqu el a<br />

posiç ã o ligeira m e n t e ab erta que é típica nos pacient e s do mal<br />

de Parkins o n.<br />

Além <strong>da</strong> voz que vai pouc o a pouc o falhand o , outras funçõ e s<br />

do corp o deixa m claro que se trata de um declínio, que as<br />

forças estã o sumind o. Pode- se m e n ci o n ar aqui a tend ê n ci a de<br />

precipitar- se para a frente, que se reflete tam b é m na es crita.<br />

Juntam e nt e co m a paralisia que tem por objetivo a m orte,<br />

expr e s s a - se ain<strong>da</strong> no sinto m a um m e d o profund o, que do min a<br />

o pacient e assi m que ele se con g el a na imo bili<strong>da</strong>d e . Eles não<br />

trem e m de um a man eira sen sív el, co m o folhas ao vento, são<br />

m o vi m e nt o s violento s. Esse trem or gros s eir o, co m o foi dito,<br />

so m e n t e diminui quan d o eles e m pr e e n d e m algu m a ativi<strong>da</strong>d e.<br />

Totalm e nt e rígido e inexpres siv o na cab e ç a e no corp o, os<br />

m o vi m e nt o s trêmul o s m o stra m co m o a inativi<strong>da</strong>d e é<br />

angustiante e probl e m a tic a m e n t e se m sentido. Aqui está a raiz<br />

para o no m e “paralisia trêmula”. Realm e nt e paralisad o e<br />

imóv el, é o m e d o que ain<strong>da</strong> busc a o m o vi m e n t o . É notáv el<br />

tratar- se e m sua maioria de pes s o a s que se impõ e a exig ê n ci a<br />

de m o v er algo no mun d o . O sinto m a m o stra a elas quã o pouc o<br />

elas se põ e m e m m o vi m e n t o e m sua reali<strong>da</strong>d e interna, e m<br />

co m p ar a ç ã o co m suas exig ê n ci a s , e so br etud o quã o pouc o<br />

m o vi m e nt a d a é sua vi<strong>da</strong> aní mic a, cuja rigidez e paralisia estã o<br />

ag or a enc arn a d a s . Além do m e d o , manifesta- se no trem or um a<br />

certa co m o ç ã o , e m que os pacient e s pod e m ser tam b é m<br />

totalm e nt e tom a d o s pelo m e d o . Ness e contexto, é intere s s a nt e<br />

lem br ar que o estudios o de psico s s o m á ti c a Georg Grodd e c k<br />

ob s erv o u um au m e nt o <strong>da</strong> incidên ci a de epilep sia durante os<br />

22<br />

5


ano s <strong>da</strong> Primeira Guerra Mundial.<br />

Coloc a- se a que stã o : por que es s a pes s o a é sacudi<strong>da</strong>, ou<br />

por que ela se sac o d e ? Nós, por exe m pl o, nos sacudi m o s<br />

involuntaria m e n t e quan d o saí m o s <strong>da</strong> água fria, para livrar- nos<br />

do frio e <strong>da</strong> umi<strong>da</strong>d e . Tre m e - se de m e d o e des s a man eira, por<br />

exe m pl o, tenta- se sacudir para long e de si a m orte próxim a ou<br />

outros pers e g uid or e s . Às vez e s trem e- se de horror, apó s ter- se<br />

viven ci ad o algo corresp o n d e n t e . Os afetad o s quer e m , evident e<br />

e incon s ci e nt e m e n t e , sacudir de si e livrar- se de algo que eles<br />

transfor m a m e m angú stia e m e d o . A princípio eles trem e m , no<br />

final eles se vê e m paralisad o s . Estu<strong>da</strong>nd o a história <strong>da</strong> vi<strong>da</strong><br />

dos pacient e s de Parkins o n, tem- se a impre s s ã o de que eles<br />

quer e m livrar- se é <strong>da</strong> exp eriên ci a de sua própria reali<strong>da</strong>d e .<br />

Seus corpo s inertes e seu entorn o igualm e nt e inerte pare c e m -<br />

lhes ab s oluta m e n t e importun o s. Impõ e- se nova m e n t e a<br />

imag e m do "Presid e nt e Mao", que um a e outra vez viu<br />

naufrag ar seus grand e s e ous a d o s pen s a m e n t o s nas inertes<br />

ma s s a s <strong>da</strong> China.<br />

A paralisia co m o o opo st o de ser sacudid o é so m e n t e<br />

apar e nt e. Ela faz co m que o afetad o se torne con s ci e nt e de<br />

quã o imóv ei s e inflexíveis eles são no fundo de suas alm a s ,<br />

ape s ar de to<strong>da</strong> s as cois a s impre s si o n a nt e s que eles se m pr e se<br />

esforç ar a m por colo c ar e m m o vi m e nt o . O corp o os força ao<br />

con h e ci m e n t o de que são incap az e s de a<strong>da</strong>ptar- se às<br />

transfor m a ç õ e s m ais nec e s s á ri a s para a vi<strong>da</strong>. Quando ating e a<br />

respiraç ã o , a paralisia torna- se a caus a <strong>da</strong> m orte. A respiraç ã o<br />

paralisad a en c arn a a co m u nic a ç ã o paralisad a e m um duplo<br />

sentido já que, dep ois <strong>da</strong> pele, os pulm õ e s são nos s o segun d o<br />

órg ã o de co m u nic a ç ã o . Eles são resp o n s á v ei s pela ad mi s s ã o<br />

de en er gi a. Tenh a m o s e m vista o oxig êni o resp o n s á v e l pelo s<br />

proc e s s o s de oxi<strong>da</strong>ç ã o nec e s s á ri o s para a vi<strong>da</strong> ou, segun d o a<br />

con c e p ç ã o oriental, o prana, a en er gia vital: e m am b o s os<br />

cas o s a provis ã o de en er gia paralisa- se co m a paralisia <strong>da</strong><br />

respiraç ã o . O sinto m a deixa claro que não há mais nenhu m a<br />

en er gi a vital entrand o no corp o. A linguag e m está<br />

estreita m e n t e liga<strong>da</strong> ao s pulm õ e s co m o órgã o s de<br />

22<br />

6


co m u nic a ç ã o , já que ela se bas ei a na m o dulaç ã o do fluxo de ar<br />

expira do. Os proble m a s de lingua g e m que vão aum e nt a n d o<br />

co m a evoluç ã o <strong>da</strong> do e n ç a reflete m igual m e nt e a perturb a ç ã o<br />

<strong>da</strong> co m u ni c a ç ã o . A voz não so m e n t e se tom a mais fraca, ma s<br />

tam b é m entrec orta d a. Quando as palavra s não estã o m ais<br />

liga<strong>da</strong> s, des c o n e c t a m - se de seu cont eú d o e a co m u ni c a ç ã o já<br />

não esta b el e c e mais nenhu m tipo de co m u nid a d e .<br />

O outro órgã o de co m u ni c a ç ã o , a pele, é igualm e nt e<br />

afetad o , basta pen s ar na cha m a d a se b o rr éi a e, e m<br />

con s e q ü ê n c i a, no rosto “eng ordura d o ". O suor de m e d o que<br />

co br e per m a n e n t e m e n t e o rosto dos paci ent e s pod e expres s ar<br />

o continuad o m e d o <strong>da</strong> m orte. Por outro lado, pod eria<br />

repre s e nt ar tam b é m o esforç o que eles, co m o suor de s e u s<br />

rosto s, fizera m para con s e g uir algu m a coisa nest e mun d o .<br />

Finalm e nt e, este rosto tem ain<strong>da</strong> algo de ungido e pod eria<br />

indicar uma relaç ã o co m o sagra d o . Christo s quer dizer o<br />

ungido, e antiga m e n t e os reis era m ungido s e m sinal de<br />

resp eito. Aqui tam b é m m o stra m - se preten s õ e s que<br />

m er gulhar a m nas so m b r a s . Os afetad o s dão um a impres s ã o<br />

brilhante, muito e m b o r a no plan o corp oral. O brilho m er gulh o u<br />

nas so m b r a s e obté m con sid er a ç ã o para si no corpo.<br />

Na história <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> de afetad o s en c o ntra- se freqü e nt e m e n t e<br />

um alto nível de exig ê n ci a por realizaç õ e s lograd a s co m o suor<br />

do próprio rosto, ma s junto a isso o m e d o de fracas s ar, de não<br />

con s e g uir na<strong>da</strong> substanci al. Muitas vez e s , de brilhante s feitos<br />

m e m o r á v e i s resta so m e n t e o suad o esforç o. Na m ai oria <strong>da</strong>s<br />

vez e s o objetivo próprio mais profund o (anímic o) e ao m e s m o<br />

temp o m ais elev a d o (social) não é alcan ç á v el, e m e s m o<br />

quan d o obté m o brilho e a glória, no mais intimo de seus ser e s<br />

os afetad o s per m a n e c e m insatisfeitos. O resultad o de seus<br />

grand e s esforç o s no exterior está es crito e m suas caras, e aqui<br />

tam b é m está a chav e de sua situaç ã o . Eles não m o stra m seu<br />

ver<strong>da</strong>d eir o rosto, ma s um a má s c ar a "be m lubrificad a".<br />

De fato, justa m e n t e as pes s o a s que alcan ç a m posiç õ e s<br />

co biç a d a s , tal co m o alm eja m e muitas vez e s logra m os<br />

pacient e s de Parkins o n, rara m e nt e estã o e m condiç õ e s de<br />

22<br />

7


m o strar seu ver<strong>da</strong>d eir o rosto. O m é dic o , por exe m pl o, dev e<br />

estar se m pr e saud á v el e e m bo a form a, já que justa m e nt e faz<br />

parte de seu ideal estar se m pr e m o v e n d o - se co m o um raio e m<br />

prol <strong>da</strong> hum a ni<strong>da</strong>d e sofred or a. As próprias nec e s s i d a d e s<br />

pod e m não ser suficiente s para isso, ou seja, as imag e n s<br />

profission ais <strong>da</strong> so ci e d a d e pod e m ser utiliza<strong>da</strong> s para não<br />

m o strar o próprio rosto e para não cumprir co m a tarefa interna.<br />

Esta tem átic a está igualm e nt e diss e m i n a d a entre advo g a d o s ,<br />

político s, etc., e outros que estã o exp o st o s ao público.<br />

Juntam e nt e co m a tend ê n ci a à transpiraç ã o , as cha m a d a s<br />

perturba ç õ e s tróficas, ou seja, de alim e nta ç ã o <strong>da</strong> pele, tam b é m<br />

des e m p e n h a m um pap el. As deficiên cia s que surg e m rev ela m<br />

o quanto a sup erfície de contato con cr et a co m o am bi e nt e está<br />

perturba d a. A pele, co m o órg ã o que por um lado esta b el e c e<br />

relaç õ e s am á v ei s co m o am bi e nt e e por outro sep ar a dele, está<br />

sen d o mal ab a st e cid a e, co m isso, e m sentido figurad o,<br />

neglig e n ci a d a.<br />

As particulari<strong>da</strong>d e s do an<strong>da</strong>r corro b o r a m as interpretaç õ e s<br />

apres e nt a d a s até ag or a: co m o foi dito, os afetad o s , e m<br />

co m p ar a ç ã o co m suas exig ê n ci a s, so m e n t e avan ç a m co m<br />

pas s o s minús c ulo s. Eles, alé m diss o, têm a tend ê n ci a de cair<br />

para diante, pois avan ç a m mais rapi<strong>da</strong> m e n t e co m a parte<br />

sup erior do que con s e g u e m se guir a reali<strong>da</strong>d e ab aixo. O corp o<br />

de m o n s tr a a cad a pas s o a discr ep â n ci a entre o quer er e o<br />

pod er.<br />

Ain<strong>da</strong> que se trate de pes s o a s ativas, be m - suc e did a s<br />

segun d o critérios extern o s, pes s o a s que fizera m tudo para<br />

de m o n s tr ar a si m e s m a s e ao seu am bi e nt e o quanto tivera m<br />

de se esforç ar, per m a n e c e a susp eita de que eles não<br />

con s e g uira m resg atar suas elev a d a s exig ê n ci a s de progr e s s o<br />

no plano aní mic o- espiritual. O an<strong>da</strong>r, a postura curvad a e aflita<br />

são outros teste m u n h o s , assi m co m o a es crita, co m pr o v a n d o<br />

co m o palavra a palavra be m co m o pas s o a pas s o se des c e a<br />

ladeira. A voz cad a vez mais fraca m o stra que as forças de<br />

expr e s s ã o tam b é m estã o diminuind o. Em sua m o n ot o ni a, ela<br />

sublinha a ester e o tipia <strong>da</strong> expr e s s ã o , e e m seu caráter<br />

22<br />

8


es c o n di d o , sua falta de co m pr o m i s s o . Com o barô m e tr o do<br />

estad o de espírito, ela, no fundo, deixa entrev er algo <strong>da</strong><br />

resign a ç ã o cres c e n t e .<br />

A imag e m de des g a st e e es g ot a m e n t o c'infere co m as<br />

des c o b e rtas segur a s feitas até ag or a pela m e dicin a. É co m o se<br />

a dop a m i n a, aqu el a sub stân ci a transp ortad or a adren er g ê ni c a,<br />

se es g ota s s e devid o à hiperativi<strong>da</strong>d e . No âm bito <strong>da</strong> su b st a ntia<br />

nigra, uma áre a negra no cér e br o, con stata- se uma níti<strong>da</strong><br />

deg e n e r a ç ã o co m des c o r a m e n t o . A con s e q ü ê n c i a é uma<br />

prep o n d e r â n ci a relativa do pólo feminin o <strong>da</strong> ativi<strong>da</strong>d e cer e br al.<br />

O ma s c ulino, apô s ter sido exa g er a d o por um long o tem p o , se<br />

es g ot a. Os afetad o s são forçad o s ao pólo opo st o, não lhes<br />

resta outra cois a a fazer alé m de des c a n s a r graç a s à paralisia<br />

e à rigidez, ain<strong>da</strong> que elas provo q u e m m e d o e trem or e s . O<br />

pacient e so m e n t e se sent e real m e nt e be m e m ativi<strong>da</strong>d e,<br />

quan d o o trem or tam b é m diminui de form a imediata. Muitas<br />

<strong>da</strong>s tend ê n ci a s força<strong>da</strong> s pelo sinto m a têm por objetivo a<br />

reg e n e r a ç ã o , inclusive o aum e nt o do fluxo de saliva, que indica<br />

fom e e ativi<strong>da</strong>d e digestiva. Ain<strong>da</strong> que o afetad o fique co m água<br />

na bo c a à m e n o r oportuni<strong>da</strong>d e , é precis o ante s digerir a vi<strong>da</strong><br />

pas s a d a , cheia de hiperativi<strong>da</strong>d e. Neste contexto, a<br />

exp eriên ci a do neurop sic ól o g o norte- am eric a n o Oliver Sachs é<br />

interes s a nt e: "O pacient e de Parkins o n cap az de m o v er- se<br />

pod e cantar e <strong>da</strong>nç ar, e quan d o o faz, fica totalm e nt e livre dos<br />

imp e di m e n t o s caus a d o s por sua do e n ç a ...” 49 . As cap a ci<strong>da</strong>d e s<br />

do pólo feminin o, portanto, são e m grand e m e di<strong>da</strong> poupa d a s e<br />

per m a n e c e m ab erta s ao paci ent e.<br />

A decr e s c e n t e potên cia sexual é teste m u n h o <strong>da</strong> falta <strong>da</strong><br />

pos sibili<strong>da</strong>d e de ad mitir o outro sex o e, co m isso, a polari<strong>da</strong>d e.<br />

A con s e q ü ê n c i a natural é a esterili<strong>da</strong>d e no âm bito con cr et o<br />

co m o express ã o <strong>da</strong> deficiên cia corresp o n d e n t e no sentido<br />

figurad o. É justa m e nt e nest e sentido que o pacient e queria<br />

de m o n s tr ar fertili<strong>da</strong>d e, muitas vez e s co m esforç o s exag er a d o s .<br />

Seu corp o lhe mo stra que es s a etap a se ac a b o u.<br />

Nos cas o s de Parkins o n evid e n ci a- se um proble m a de<br />

co ord e n a ç ã o e de co m u ni c a ç ã o , o que é típico e m um m al<br />

22<br />

9


nervo s o . A ligaç ã o entre o interno e o extern o se vê tão afetad a<br />

co m o a ligaç ã o entre o que está acim a e o que está ab aixo. O<br />

an<strong>da</strong>r proble m á tic o trai as dificul<strong>da</strong>d e s de co ord e n a ç ã o entre<br />

os plan o s sup erior e inferior, entre a reali<strong>da</strong>d e aní mic oespiritual<br />

e a reali<strong>da</strong>d e física. A ligaç ã o entre o mund o dos<br />

pen s a m e n t o s e a reali<strong>da</strong>d e é substanci al m e nt e mais<br />

probl e m á tic a do que os afetad o s ad mite m para si m e s m o s . A<br />

fala e a es crita, pos sibili<strong>da</strong>d e s clás sic a s de co m u nic a ç ã o ,<br />

m o stra m tend ê n ci a s ao colap s o igual m e nt e típicas.<br />

A discr ep â n ci a entre a exig ê n ci a interna e o êxito extern o<br />

não é tão níti<strong>da</strong> e m nen hu m outro pacient e de Parkins o n co m o<br />

e m Mao Tsé- Tung. Após a vitória militar so br e os nacio n alistas,<br />

ele deu inicio à sua prim eira grand e ca m p a n h a para<br />

ree struturar a China des d e os fun<strong>da</strong> m e n t o s , o “Grand e salto<br />

adiante". Ela transfor m o u- se e m um ino min áv el fiasc o que<br />

arruinou milhõ e s de pes s o a s e m vez de, co m o tinha pro m etid o,<br />

fazer ho m e n s nov o s e felizes. As idéias e con c e p ç õ e s<br />

revolucion ária s não tinha m qualqu er con ex ã o co m a reali<strong>da</strong>d e<br />

ca m p o n e s a <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> rural chin e s a , retirand o os fun<strong>da</strong> m e n t o s de<br />

sua existên cia. O curs o <strong>da</strong> história chin e s a , decidi<strong>da</strong> m e n t e<br />

deter min a d a por Mao a partir des s e m o m e n t o , corre s p o n d e ao<br />

curs o do pacient e de Parkins o n Mao, ain<strong>da</strong> que naqu el a ép o c a<br />

a do e n ç a ain<strong>da</strong> não tives s e se m anifesta d o . O precipitar- se<br />

para diante <strong>da</strong> parte sup erior do corp o é um a caricatura de sua<br />

vi<strong>da</strong>. A cab e ç a cheia de son h o s de alto vôo precipita- se para a<br />

frente e perd e o contato co m a reali<strong>da</strong>d e mat erial sim b olizad a<br />

pelo corp o. As idéias de Mao marc ar a m o mund o espiritual <strong>da</strong><br />

China, ma s o indolent e corp o do povo não as ac o m p a n h o u , e<br />

assi m a ca m p a n h a “Grand e salto adiante" resultou e m um<br />

fraca s s o se m prec e d e n t e s . Planeja<strong>da</strong> co m a m elh or <strong>da</strong>s<br />

intenç õ e s , a gigant e s c a açã o já mal podia ser influen ciad a pela<br />

vontad e . Ela se enc a m i n h a v a direta m e n t e à catástrofe, assi m<br />

co m o o an<strong>da</strong>r dos pacient e s de Parkins o n leva m à que d a,<br />

contra sua vontad e. Os chin e s e s sofre m até hoje as<br />

con s e q ü ê n c i a s <strong>da</strong> última grand e ca m p a n h a de Mao, a<br />

Revoluç ã o Cultural. Nova m e n t e , a teoria revolucion ária só<br />

23<br />

0


podia ser impo sta à reali<strong>da</strong>d e con cr et a co m a mais extre m a<br />

violên cia. Ela não exerc e u qualqu er efeito nos coraç õ e s e<br />

cab e ç a s <strong>da</strong>s pes s o a s , que era m seu objetivo, porqu e estav a<br />

ain<strong>da</strong> m ais distan ciad a <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> real que o prim eiro "Grand e<br />

salto". E assi m a Revoluç ã o Cultural tam b é m redund o u e m um<br />

terrível e estrond o s o fracas s o .<br />

Mao exerc e u um a influên cia tão profun<strong>da</strong> so br e a China, ou<br />

seja, corresp o n di a a es s e gigante s c o país tão perfeita m e nt e<br />

co m o esp el h o , que até be m dep ois de sua morte devido ao mal<br />

de Parkins o n a China apres e nt a a marc a des s e sinto m a. O<br />

rígido e imóv el apar elh o de pod er, que Mao nunc a quis e que<br />

m e s m o assi m sim b olizav a de man eira tão expres siva e até<br />

m e s m o corp oral, faz fraca s s ar até hoje qualqu er tentativa de<br />

renovaç ã o espiritual. Com isso ele bloqu ei a o próprio des ej o de<br />

Mao, a revoluç ã o per m a n e n t e que m ant é m a soci e d a d e e m<br />

con sta nt e m o vi m e n t o . O patolo gista austríac o Hans Bankl<br />

es cr e v e so br e a atual República Popular <strong>da</strong> China: "Um total de<br />

9 milhõ e s de mulh er e s velha s estã o en c arr e g a d a s oficialm e nt e<br />

de vigiar seus con ci<strong>da</strong> d ã o s . Dess a m an eira, tudo é impe did o e<br />

aterrorizad o: as pes s o a s , as famílias e a soci e d a d e são rígi<strong>da</strong>s,<br />

sua postura é forço s a m e n t e curvad a, elas frem e m . A<br />

linguag e m tom o u- se inco m pr e e n s í v el, a co m u ni c a ç ã o co m o<br />

am bi e nt e sucu m biu. É uma trágica ironia <strong>da</strong> história que os<br />

suc e s s o r e s de Mao tenha m conta gi ad o todo o povo co m os<br />

sinto m a s de seu mal de Parkins o n” 50 .<br />

Assim co m o ac o nt e c e co m outros sinto m a s , a síndro m e de<br />

Parkins o n, de man eira terrível, tam b é m per mite que aflore o<br />

ver<strong>da</strong>d eir o rosto, ou seja, o padrã o que está por trás dos<br />

sinto m a s e que franc a m e n t e se transfor m a e m caricatura. A<br />

rígi<strong>da</strong> má s c ar a ole o s a e m lugar <strong>da</strong> vivaci<strong>da</strong>d e espiritual<br />

de m o n s tr a d a para o exterior é um sím b ol o diss o.<br />

A tarefa con sist e na realizaç ã o libertad or a do padrã o<br />

expr e s s o nos sinto m a s . Ness e sentido, trata- se de <strong>da</strong>r<br />

pequ e n o s pas s o s , não ergu er muito a voz e prestar aten ç ã o<br />

ao s detalh e s que são exigido s. Antes <strong>da</strong> quanti<strong>da</strong>d e, dev e- se<br />

estar atento para a quali<strong>da</strong>d e , as sutileza s são de central<br />

23<br />

1


importân cia, afinal trata- se so br etud o de um a perturb a ç ã o dos<br />

m o vi m e nt o s sutis. A postura curvad a e a tend ê n ci a de cair<br />

so br e o próprio nariz des via m a aten ç ã o <strong>da</strong> frente para o chã o.<br />

Trata- se de mant er os olho s cui<strong>da</strong>d o s a m e n t e na reali<strong>da</strong>d e<br />

física e se m pr e reto m ar a ela, ou seja, ao chã o dos fatos. A<br />

es crita que vai se tornand o cad a vez m e n o r des via a aten ç ã o<br />

para o fato de que todo ímp et o inicial arrefe c e no curs o <strong>da</strong><br />

aç ã o . A micro gr afia colo c a direta m e n t e a exig ê n ci a de<br />

expr e s s ar as coisa s de man eira m e n o r e m ais realista. O que<br />

no início do ca minh o co m e ç o u tão grand e termina bastant e<br />

m o d e s t o . É precis o ac eitar interna m e n t e es s e con h e ci m e n t o ,<br />

expr e s s o e m cad a linha es crita.<br />

A en or m e rigidez no corp o pod eria ser viven ci ad a de form a<br />

aní mic a na bus c a corresp o n d e n t e m e n t e estrita do es s e n ci al.<br />

As resistên ci a s que surg e m no âm bito físico dev e m ser<br />

incluí<strong>da</strong> s no alto vôo dos pens a m e n t o s . De ac ord o co m seu<br />

diagn ó stic o de trem or e s e paralisia, os pacient e s dev e m<br />

apren d er o m o vi m e nt o e o repous o . Em vez de rigidez e<br />

paralisia, o repous o dev eria introduzir- se e m seus con stant e s<br />

esforç o s para diante, e se m o straria m o vi m e nt o aní mic o e m<br />

vez de m o vi m e nt o s trêmulo s no corpo. Além do m e d o , vibra<br />

tam b é m no trem or o deixar- se tocar, co m o v e r , que falta no<br />

âm bito aní mic o. O m e d o e a falta de esp a ç o expr e s s o s no<br />

rosto ole o s o e no trem or pod e m ser realizad o s co m m ais<br />

con sist ê n ci a no âm bito <strong>da</strong>s idéias. O ele m e n t o de am plidã o de<br />

altos vôo s dev eria ser apan h a d o do chã o e as fronteiras <strong>da</strong><br />

própria reali<strong>da</strong>d e aní mic a dev eria m ser ultrapas s a d a s . A<br />

preten s ã o de fam a e honra, derrotad a no rosto ole o s o do<br />

pacient e, seria justiçad a por m ei o de brilhante s pas s o s no<br />

ca min h o do des e n v olvi m e nt o intern o. Christo s, o ungido, é<br />

propria m e nt e um título hon orífico que o Jesus histórico<br />

con q uistou ao long o de seu ca minh o . Ele repre s e nt a um<br />

des e n v olvi m e nt o que, alé m do corpo, inclui tam b é m a alm a e o<br />

espírito, que une sup erior co m o inferior e o interior co m o<br />

exterior. Ele foi destinad o àqu el e s ser e s cuja vi<strong>da</strong> tornou- se<br />

sinôni m o <strong>da</strong> uni<strong>da</strong>d e do ho m e m e do mun d o . Isso, entretanto,<br />

23<br />

2


é a preten s ã o e a tarefa secr et a s dos paci ent e s de Parkins o n.<br />

P er g u nta s<br />

1. Que senti m e nt o s oculto por trás de minh a cara de<br />

pôqu er?<br />

2. Que susto pen etr ou e m m e u s m e m b r o s ? O que m e faz<br />

perd er a fala?<br />

3. O m e d o <strong>da</strong> m orte me deixa mortal m e nt e rígido?<br />

4. Que m e d o , que am biç ã o m e rem o v e por dentro e<br />

imp e d e a paz interior?<br />

5. Que objetivo elev a d o m e deixa tão inquieto e<br />

insatisfeito?<br />

6. Com o é que minh a co m u nic a ç ã o é tão<br />

des c o m p r o m i s s a d a a ponto de imp e dir a ver<strong>da</strong>d eira co m u n h ã o<br />

ao invés de criá- la?<br />

7. De que man eira gasto minh a s en er gi a s e qual objetivo<br />

m e resta?<br />

8. Onde eu exag er o o pólo ativo mas c ulin o? O que dev o ao<br />

pas sivo feminino? Com o an<strong>da</strong> a crianç a que há em mi m?<br />

9. O que so br o u de não digerido em minh a vi<strong>da</strong>?<br />

10. Onde eu fui mais pela quanti<strong>da</strong>d e no exterior que pela<br />

quali<strong>da</strong>d e no interior?<br />

1 1. Com o é minh a relaç ã o co m a parte de cim a, co m o ela é<br />

co m a parte de baixo, co m m eu próprio sub m u n d o , co m o é a<br />

relaç ã o entre o mund o interno e o extern o?<br />

Coréia ou Dança de São Guido<br />

Este sinto m a , sub stan ci al m e n t e m ais raro e m co m p ar a ç ã o<br />

co m o m al de Parkins o n, perten c e às síndro m e s<br />

extrapira mid ais co m exc e s s o de m o vi m e n t a ç ã o . Tal qual um a<br />

esp a d a de Dâm o cl e s , ele paira co m o um destino so br e o<br />

afetad o desd e o nas ci m e n t o , m anifestand o - se entretanto entre<br />

o 30 o e o 50 o ano de vi<strong>da</strong>. Her<strong>da</strong>d a de man eira auto s s o m á ti c ado<br />

min a nt e 5 1 , qualqu er crianç a que tenha um dos pais afetad o<br />

será surpre e n did a pelo m e s m o destino. Durante um estad o de<br />

23<br />

3


dor m ê n ci a geral <strong>da</strong> mus c ulatura, surg e m rep e ntina m e n t e<br />

m o vi m e nt o s brusc o s e na maioria <strong>da</strong>s vez e s assi m étric o s,<br />

so br etud o nos m e m b r o s e nos mús c ul o s <strong>da</strong> face. Dai o no m e<br />

(do greg o chor eia = <strong>da</strong>nç a). Som a- se a isso um a per<strong>da</strong><br />

progr e s siva <strong>da</strong>s cap a ci<strong>da</strong>d e s con s ci e nt e s , ch e g a n d o até a<br />

de m ê n c i a. Labili<strong>da</strong>d e e m o ci o n al e perturb a ç õ e s espirituais são<br />

freqü e nt e s . É prováv el que bioqui mic a m e n t e , assi m co m o no<br />

mal de Parkins o n, a razã o básic a seja uma perturb a ç ã o no<br />

intercâ m b i o de neurotran s m i s s o r e s , aqu el a s substânci a s que<br />

trans mite m m e n s a g e n s entre as termin a ç õ e s nervo s a s .<br />

O sinto m a adquire sua esp e cifici<strong>da</strong>d e devid o à<br />

implac a bili<strong>da</strong>d e de seu surgim e nt o na segun d a m etad e <strong>da</strong> vi<strong>da</strong><br />

e o long o tem p o (de delib er a ç ã o) que con c e d e a suas vítima s.<br />

É co m o se ele quis e s s e ensin ar- lhes a ac eitar a inevitabili<strong>da</strong>d e<br />

do destino e a aprov eitar o tem p o con c e di d o . O futuro<br />

am e a ç a d o r aum e nt a a pres s ã o para que se desfrute o<br />

m o m e n t o e se viva no aqui e ag or a. Não é raro que es s e<br />

sinto m a leve por ca minh o s frutífero s justa m e n t e devid o à sua<br />

terrível implac a bili<strong>da</strong>d e . Afinal, os afetad o s não têm nen hu m a<br />

pos sibili<strong>da</strong>d e de evitar o "Seja feita a Sua vontad e" do painoss<br />

o . Eles nas c er a m co m es s a tarefa e fica m sab e n d o diss o o<br />

mais tar<strong>da</strong>r quan d o o pai ou a m ã e ado e c e . Isso leva muitas<br />

vez e s a um question a m e n t o prec o c e quanto ao sentido <strong>da</strong> vi<strong>da</strong><br />

e a ocup ar- se co m a tem átic a <strong>da</strong> religio. A pos sibili<strong>da</strong>d e de<br />

en c o ntrar felici<strong>da</strong>d e no mund o mat erial é colo c a d a e m questã o<br />

des d e o princípio. A ligaç ã o do ho m e m co m sua orig e m e a<br />

relaç ã o co m a uni<strong>da</strong>d e alé m do mund o dos opo st o s pod e m<br />

surgir prec o c e m e n t e no ca m p o de visã o. As duas pergunta s<br />

centrais, “De ond e venh o?" e “Para ond e vou?" impõ e m - se<br />

mais ced o do que é usual e, co m elas, a tarefa de apren dizad o<br />

é evid e nt e m e n t e , e so br etud o , o tem a "destino", colo c a d o no<br />

berç o do afetad o.<br />

Quando a am e a ç a fatal não é ac eita, resta so m e n t e a fuga<br />

des e s p e r a d a diante <strong>da</strong> própria deter min a ç ã o . Isso pod e levar a<br />

uma incrível sed e de viver e à tentativa de viven ciar o m áxi m o<br />

pos sív el o m ais rapi<strong>da</strong> m e n t e pos sív el. Mas até m e s m o co m<br />

23<br />

4


isso se apren d e , no sentido <strong>da</strong> tarefa, co m o será de m o n s tr a d o .<br />

Ness e cas o, a própria juventud e significa tudo e os afetad o s<br />

torna m- se um a franc a caricatura desta so ci e d a d e , que sent e<br />

de man eira similar. O zang ar- se co m o duro destino tam b é m<br />

está próxim o, e so br etud o a projeç ã o <strong>da</strong> culpa nos pais. A<br />

acus a ç ã o de que teria sido m elh or eles não tere m posto<br />

nen hu m a crianç a no mun d o é uma <strong>da</strong>s mais brand a s e<br />

corre s p o n d e ao m e s m o tem p o à rec o m e n d a ç ã o <strong>da</strong> medicin a.<br />

A projeç ã o <strong>da</strong> culpa é a variante não resg ata s ia <strong>da</strong><br />

ocup a ç ã o co m a probl e m á tic a <strong>da</strong> heranç a familiar. Ness e cas o,<br />

a tarefa "trans miti<strong>da</strong>" e <strong>da</strong> qual a pes s o a se enc arr e g a<br />

involuntaria m e n t e tom a- se evid e nt e. Tanto a gen étic a co m o<br />

exp eriên ci a s <strong>da</strong> psicot er apia m o stra m o quanto so m o s os filhos<br />

de nos s o s pais. Ain<strong>da</strong> pod e m o s recus ar a heran ç a legal, ma s a<br />

heran ç a gen étic a e a aní mic a per m a n e c e m con o s c o e m todo s<br />

os cas o s 52 . Aqui e m er g e a pes a d a heran ç a dos pais e a<br />

maldiç ã o her e ditária dos antigo s, entrand o no jogo até m e s m o<br />

o kar m a familiar dos hindus. Nós, m o d er n o s , gostaría m o s tanto<br />

de ser nov o s e indep e n d e n t e s nest e mund o . E precis o entã o<br />

que um sinto m a co m o a cor éia infun<strong>da</strong> um terror des m e s u r a d o ,<br />

co m pr o v a n d o dura e clara m e n t e que seu contrário é<br />

ver<strong>da</strong>d eir o. Antiga m e nt e tam b é m havia sub stitutos, já que os<br />

afetad o s era m con sid er a d o s am aldiç o a d o s ou pos suíd o s . O<br />

m é di c o Georg e S. Huntington, de Nova York, teria decidido<br />

pes q uis ar o sinto m a quan d o um a mã e e sua filha, sofren d o um<br />

ataqu e e m público, fora m xingad a s por algun s trans e u nt e s<br />

co m o se foss e m diab o s .<br />

O des ej o co m pr e e n s í v el de, co m tal destino, colo c ar to<strong>da</strong> a<br />

en er gi a na juventud e e apa g ar o tem p o que co m e ç a na m etad e<br />

<strong>da</strong> vi<strong>da</strong> corresp o n d e não so m e n t e à valoraç ã o <strong>da</strong>s fase s <strong>da</strong><br />

vi<strong>da</strong> feita por noss a cultura, m a s é tam b é m a expres s ã o não<br />

redimi<strong>da</strong> de um padrã o vital co m u m às religiõ e s e a muitas<br />

culturas: a saí<strong>da</strong> para o mund o e, a partir do m ei o <strong>da</strong> vi<strong>da</strong>, a<br />

volta, o retorn o para o próprio m ei o.<br />

Ness e sentido pod e- se interpretar tam b é m a de m ê n c i a que<br />

co m e ç a co m o surgim e nt o dos sinto m a s e au m e nt a<br />

23<br />

5


con sta nt e m e n t e . O cér e br o, e m seu pap el de co m a n d o central,<br />

vai lenta m e n t e abdic a n d o de suas funçõ e s até ab and o n ar o<br />

pod er. Os paci ent e s desiste m de to<strong>da</strong> e qualqu er<br />

resp o n s a bili<strong>da</strong>d e e m er gulh a m cad a vez m ais na apatia até<br />

que o contato cota o mun d o se romp e totalm e nt e. Através <strong>da</strong><br />

sinto m átic a corpor al não- redi mi<strong>da</strong>, que corresp o n d e a uma<br />

fuga total <strong>da</strong> resp o n s a b ili<strong>da</strong>d e, apar e c e seu lado redi mi- lo, ou<br />

seja, a tarefa de mud ar de orientaç ã o e dirigir-se para dentro<br />

apó s a m etad e <strong>da</strong> vi<strong>da</strong>. Pode- se rec o n h e c e r nes s a retira<strong>da</strong> do<br />

interes s e pelo am bi e nt e o princípio budista <strong>da</strong> indiferen ç a,<br />

Upekkha, tão valorizad a no Oriente para o ca minh o do<br />

des e n v olvi m e nt o . Tend o e m conta a inevitabili<strong>da</strong>d e do destino<br />

que rec ai so br e os pacient e s , seria se m dúvi<strong>da</strong> ben éfic o aterse<br />

a es s a s pos sibili<strong>da</strong>d e redimi<strong>da</strong> s des d e ante s do surgi m e nt o<br />

<strong>da</strong> sinto m átic a.<br />

O sinto m a m ais esp et a c ular, os m o vi m e nt o s involuntários<br />

se m el h a nt e s a uma <strong>da</strong>nç a, equival e m a des c ar g a s<br />

esp o nt â n e a s de en er gia repre s a d a . Os afetad o s sofre m de<br />

uma drástica falta de tens ã o até que um surto de m o vi m e nt o s<br />

co m p e n s a de man eira exag er a d a o que não foi feito. Eles, no<br />

sentido mais ver<strong>da</strong>d eir o <strong>da</strong> palavra, ex e c uta m uma <strong>da</strong>nç a.<br />

Impõ e- se a pergunta "O que deu e m voc ê?" A voz popular<br />

explica todo s os cas o s de pacient e s que vive m um surto co m o<br />

uma esp é ci e de pos s e s s ã o . De qualqu er m an eira, um a grand e<br />

porç ã o de en er gi a m er g ulh o u nas so m b r a s , abr e um ca min h o<br />

esp et a c ular no surto e, co m isso, colo c a o pacient e<br />

auto m atic a m e n t e no ponto central. Ao m e s m o tem p o ,<br />

des c arr e g a - se a en er gia de um a <strong>da</strong>nç a explosiva. Em última<br />

instância, um a <strong>da</strong>nç a é um a transp o si ç ã o de en er gia e a<br />

corre s p o n d e n t e aç ã o manife sta e m form a ritual. Os<br />

m o vi m e nt o s caract erístic o s de m ã o s e pés, esp e ci al m e n t e ,<br />

lem br a m posturas sim b ólic a s tais co m o os mudra s do siste m a<br />

<strong>da</strong> yog a. No contexto <strong>da</strong> pred et er mi n a ç ã o dos ac o nt e ci m e n t o s ,<br />

am pla m e n t e difundi<strong>da</strong> tam b é m entre os ocid e ntais, surg e a<br />

susp eita de que aqui fora m trazi<strong>da</strong>s para a vi<strong>da</strong> tarefas que<br />

precis a m ser vivi<strong>da</strong>s. Evidente m e n t e , os afetad o s têm<br />

23<br />

6


unica m e n t e a opç ã o de co m quanta con s ci ê n ci a eles irão ao<br />

en c o ntro do tem a propo st o. Possiv el m e n t e , e m um cas o<br />

isolad o, não se trata apen a s de relíquias de se qü ê n ci a s de<br />

<strong>da</strong>n ç a ritual que pod e m ser executad a s se m a con s ci ê n ci a do<br />

eu e se m exp e ctativa s, pois é exata m e n t e isso o que os<br />

pacient e s faze m . Evidente m e n t e exig e- se que eles colo qu e m<br />

sua en er gi a à dispo siç ã o para es s a s <strong>da</strong>nç a s rituais. Com o,<br />

entretanto, eles não têm ne m con s ci ê n ci a ne m co m pr e e n s ã o<br />

<strong>da</strong> profundi<strong>da</strong>d e des s e ac o nt e ci m e n t o , os padrõ e s não<br />

alcan ç a m m ais seu grau de efetivi<strong>da</strong>d e original e rep et e m - se a<br />

intervalo s se m obter um alívio real m e nt e durad o ur o. A<br />

impo s si bili<strong>da</strong>d e de imp e di- los m o stra o quanto eles são<br />

importante s ap e s ar diss o.<br />

Em lugar de imp e dir e conter es s a s explo s õ e s de<br />

m o vi m e nt o , o objetivo autentica m e n t e terap êutic o dev e ser<br />

anim ar os paci ent e s a ir de livre e esp o nt â n e a vontad e até os<br />

extre m o s <strong>da</strong> tens ã o e do relaxa m e n t o , entreg ar- se de co m o e<br />

alm a a <strong>da</strong>nç a s extáticas e a pos sibili<strong>da</strong>d e s profun<strong>da</strong> s de<br />

reg e n e r a ç ã o , a contorc er- se e a con s ol ar- se para <strong>da</strong>n ç ar to<strong>da</strong>s<br />

as contorç õ e s e con s ol a ç õ e s de sua alm a, a fazer caretas para<br />

a vi<strong>da</strong> e a deixar- se ir, enfim, a ced er ao torvelinh o e ao ímp et o<br />

do próprio mun d o intern o. Há um m o d el o ritual entre os índios<br />

norte- am eric a n o s , o costu m e de <strong>da</strong>nç ar ac ord a d o o próprio<br />

son h o .<br />

A história do cantor de can ç õ e s de protesto norte- am eric a n o<br />

Woodie Guthrie e seu filho Arlo m o stra co m o a reb eliã o<br />

inflam a d a e a dev o ç ã o estã o próxim a s e m tal destino. Woodie<br />

cantav a sua can ç ã o mais fam o s a , "This Iand is your land” 53 ,<br />

para sublev ar os faminto s ca m p o n e s e s californian o s . Sua vi<strong>da</strong><br />

foi um único prote st o contra a América esta b el e ci d a de seu<br />

temp o. Antes ain<strong>da</strong> de m orr er de Chorea Huntington, seu filho<br />

Arlo assu miu a tradiçã o do pai e tornou- se um a figura de culto<br />

na luta <strong>da</strong> juventud e am eric a n a contra a guerra do Vietnã, pela<br />

autod et er mi n a ç ã o e pela liberaç ã o <strong>da</strong>s drog a s que expand e m a<br />

con s ci ê n ci a. Mais tarde Arlo Guthrie, de cantor de protesto<br />

en g ajad o , transfor m o u- se e m en g ajad o pes q uis a d o r do<br />

23<br />

7


ca min h o para a auto- realizaç ã o .<br />

P er g u nta s<br />

1. Onde eu deixo a en er gia fluir? Onde eu tend o ao<br />

estan c a m e n t o e à des c ar g a explosiva?<br />

2. Em que ponto tend o a executar um a <strong>da</strong>n ç a que não tem<br />

nen hu m a relaç ã o co m a situaç ã o ?<br />

3. Em que m e did a enc o ntr o o m ei o- term o entre o repous o<br />

e a ativi<strong>da</strong>d e?<br />

4. Que pap el des e m p e n h a a que st ã o do sentido e m minh a<br />

vi<strong>da</strong>?<br />

5. Estou prepar ad o para assu mir a resp o n s a bili<strong>da</strong>d e pelo<br />

m e u destino?<br />

6. Qual é minha relaç ã o co m as fase s <strong>da</strong> vi<strong>da</strong>, juventud e e<br />

velhic e?<br />

7. Que “carg a her e ditária" dev o liberar do ponto de vista<br />

aní mic o?<br />

8. Quão con s ci e nt e é minh a relaç ã o co m os rituais? Em<br />

que m e did a minha vi<strong>da</strong> é um ritual?<br />

Derrame<br />

Ocorre no derra m e uma interrupç ã o de vias nervo as<br />

centrais no cér e br o que leva a uma paralisia lateral que, por<br />

sua vez, afeta um lado inteiro do corp o. Te m importân cia<br />

decisiva se o lado es qu er d o arqu etipica m e n t e feminino ou o<br />

lado direito m a s c ulin o é afetad o e se o paci ent e é um a mulh er<br />

ou um ho m e m . Isso gera quatro situaç õ e s básic a s diferent e s.<br />

A bas e para o ac o nt e ci m e n t o <strong>da</strong> do e n ç a é forne cid a<br />

so br etud o pela alta pres s ã o san g uín e a , co m suas<br />

con s e q ü ê n c i a s . A situaç ã o aní mic a a ela liga<strong>da</strong> esta<br />

repre s e nt a d a por exten s o nos probl e m a s do cora ç ã o 54 . Em<br />

uma formulaç ã o exa g er a d a , trata- se de pes s o a s que assu m e m<br />

agrad e ci d a s to<strong>da</strong> s as lutas para não ter de enfrentar aqu el a<br />

que é a luta decisiva de suas vi<strong>da</strong>s. Um golp e so m e n t e pod e<br />

caus ar <strong>da</strong>n o s quan d o en c o ntra algo duro, rígido, que se<br />

23<br />

8


que br a. Na maioria dos cas o s de derra m e , trata- se de um<br />

proc e s s o de endur e ci m e n t o <strong>da</strong>s artérias. Eles bas ei a m - se no<br />

entupim e nt o de vas o s san g uín e o s por um co á g ul o ou no<br />

estreita m e n t o dos vas o s e m um proc e s s o arterio e s cl er ótic o, o<br />

que provo c a uma deficiên ci a no suprim e nt o do tecido do<br />

cér e br o , ou ain<strong>da</strong> no rompi m e nt o de vas o s co m a con s e q ü e n t e<br />

he m o rr a gi a. Tipica m e n t e, o derra m e ating e a pes s o a na ca m a<br />

ou no banh eir o, quan d o a pres s ã o acu m ulad a pelo esforç o<br />

diminui subita m e n t e . Quase to<strong>da</strong> s as funçõ e s pod e m ser<br />

afetad a s . Caso, por exe m pl o, o centro <strong>da</strong> respiraç ã o seja<br />

afetad o , en c o ntra- s e a morte. Ela freqü e nt e m e n t e se anuncia<br />

atrav é s <strong>da</strong> cha m a d a respiraç ã o Cheyn e- Stokes. A paus a s<br />

angustiante m e n t e long a s se g u e m - se inspiraç õ e s<br />

esp e ci al m e n t e profun<strong>da</strong> s. A direç ã o <strong>da</strong> respiraç ã o<br />

propria m e nt e dita já está falhand o e m e c a ni s m o s de<br />

e m e r g ê n c i a assu m e m o co m a n d o no último m o m e n t o a cad a<br />

vez.<br />

No derra m e típico, as vias de con du ç ã o centrais são<br />

afetad a s ante s de cruzar para o lado opo st o. Quando, por<br />

exe m pl o, ch e g a- se a um bloqu ei o no he mi sfério es qu er d o do<br />

cér e br o , o derra m e afeta o lado direito do corp o. Neste cas o, é<br />

se m pr e o pólo ma s c ulino que é sim b olic a m e n t e afetad o. A ele<br />

dev e- se atribuir o lado direito do corp o, co m o qual se leva a<br />

esp a d a do pod er, e ain<strong>da</strong> o he mi sfério es qu er d o do cér e br o. O<br />

sím b ol o do Tai-Chi nos dá um a imag e m des s a divisã o.<br />

A m etad e direita do corp o corresp o n d e ao ca m p o Yang<br />

23<br />

9


ma s c ulino e traz e m seu centro o ponto negr o do princípio<br />

contrário, o Yin feminin o, expres s o no corp o pelo he mi sfério<br />

direito feminino. Ao contrário, o lado Yin feminino (negr o), que<br />

se en c o ntra do lado opo st o, tem e m seu centro o ponto Yang<br />

branc o , m a s c ulin o. Ele corresp o n d e ri a ao he mi sf ério es qu er d o<br />

do cér e br o no m ei o do lado es q u er d o do corpo, feminino.<br />

Quando, portanto, a deficiên ci a caus a d a pelo derra m e oc orr e<br />

no he mi sfério direito (feminino) do cér e br o , é afetad o o lado<br />

es qu er d o (feminino) do corp o.<br />

O lado afetad o é inteira m e nt e retirado <strong>da</strong> pes s o a afetad a,<br />

ela não o sent e mais e não m ais o rec o n h e c e co m o<br />

perten c e n d o a si. Um pacient e afetad o por um derra m e durante<br />

a noite sentiu- se inco m o d a d o pela perna de sua esp o s a na<br />

ca m a e tentou expuls á- la de sua metad e <strong>da</strong> ca m a. Foi so m e n t e<br />

apó s várias tentativas inúteis que ele perc e b e u tratar- se de sua<br />

própria perna, co m a qual ele perd er a to<strong>da</strong> relaç ã o .<br />

Ness e sinto m a rep et e- se ao m e s m o temp o o dra m a <strong>da</strong><br />

criaç ã o , e m que Deus retirou um lado 55 do prim eiro ser<br />

hum a n o , Adão, para a partir dele <strong>da</strong>r form a a Eva, tend o<br />

nec e s s a ria m e n t e só um a m etad e à dispo siç ã o . Desd e entã o,<br />

os ser e s hum a n o s estã o partido s pela m etad e e têm a tarefa<br />

de reen c o ntrar sua outra “m etad e m elh or". Uma pes s o a e m<br />

cujo corp o o ato <strong>da</strong> criaç ã o volta a ac o nt e c e r é natural m e nt e<br />

afetad a e m sua totali<strong>da</strong>d e. Se lhe for retirado o lado es qu er d o ,<br />

feminin o, ou o direito, ma s c ulino, ela e m qualqu er cas o estará<br />

cond e n a d a ao des a m p a r o e à impot ê n ci a. O sinto m a e o trato<br />

diário co m ele m o stra m que ela, tornad a unilateral, tem ag or a<br />

am b o s os lado s por tarefa. Ela, no sentido m ais ver<strong>da</strong>d eir o <strong>da</strong><br />

palavra, está pro stra d a na ca m a e afasta- se do lado afetad o,<br />

dirigindo auto m atic a m e n t e seu olhar para o outro lado e, co m<br />

isso, para o foco <strong>da</strong> do e n ç a e m seu cér e br o . Durante as<br />

m e di<strong>da</strong> s de reabilitaç ã o , quan d o o pacient e pen o s a m e n t e volta<br />

a colo c ar e m funcion a m e n t o o corp o e m que resid e, ele é<br />

rem etid o de m an eira reforç a d a para o lado saud á v el, dev e n d o<br />

entretanto dirigir to<strong>da</strong> sua aten ç ã o para o lado do e nt e.<br />

Aquele que foi afetad o por um derra m e tem a tarefa de<br />

24<br />

0


procurar sua outra m etad e , que es c orr e g o u no próprio corpo,<br />

estan d o , por isso m e s m o , repres e nt a d a de man eira ain<strong>da</strong> m ais<br />

expr e s siv a. Suspeita nos que ele não a trabalh o u ne m no<br />

âm bito <strong>da</strong> parc eria ne m e m sua alm a. Tal neglig ê n ci a co m uma<br />

m etad e pod e ser enc arn a d a na dec a d ê n ci a e, finalm e nt e, na<br />

elimina ç ã o des s e lado. O destino m o stra ao afetad o sua<br />

parciali<strong>da</strong>d e , e tam b é m que ele arrasta sua outra m etad e pela<br />

vi<strong>da</strong> so m e n t e co m o um ap ên dic e ou até m e s m o co m o lastro. A<br />

situaç ã o torna- se muito con s ci e nt e no sinto m a, já que o lado<br />

aus e nt e precis a ser reb o c a d o co m a aju<strong>da</strong> do lado saud á v el.<br />

Eles ag or a perc e b e m que não progrid e m na vi<strong>da</strong> sen d o tão<br />

unilaterais e não pod e m m ais controlá- la se m sua segun d a<br />

mã o . O canto <strong>da</strong> bo c a pendurad o do lado pendura d o do corp o<br />

deixa entrev er o estad o de ânim o e co m o os dois lado s do<br />

rosto são importante s para expr e s s ar- se ad e q u a d a m e n t e .<br />

O que é freqü e nt e m e n t e des crito co m o um golp e ou um raio<br />

e m céu claro nos confronta, na reali<strong>da</strong>d e , co m tem a s que<br />

fora m sen d o adiad o s . As "nuven s de temp e st a d e " <strong>da</strong>s quais o<br />

raio partiu juntara m- se há muito tem p o ; há muito os sinais <strong>da</strong><br />

torm e nt a podia m ser lidos no céu den s a m e n t e nublad o e m<br />

con s e q ü ê n c i a <strong>da</strong> unilaterali<strong>da</strong>d e. Entretanto, o afetad o não raro<br />

está tão aliena d o <strong>da</strong> probl e m átic a de seu lado neglig e n ci a d o<br />

que esta o en c o ntra subjetiva m e n t e des pr ep ar a d o ape s ar<br />

diss o. Às vez e s , o lado afetad o de seu corp o e de sua alm a<br />

participou tão pouc o <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> que eles jam ais enfrentara m<br />

real m e nt e sua dec a d ê n ci a. Com o típico afasta m e n t o do lado<br />

paralisad o eles expres s a m que não quer e m sab er na<strong>da</strong> dele.<br />

Seus olho s estã o dirigido s para o lado opo st o e olha m para o<br />

foco do ac o nt e ci m e n t o no cér e br o e, co m isso, para a raiz do<br />

probl e m a .<br />

Quando o derra m e atingiu o antigo ch ef e de estad o sulafrican<br />

o e deixou fora de co m b at e seu lado es qu er d o , feminino,<br />

ele e m nenhu m m o m e n t o con sid er o u isso razão suficiente para<br />

ab and o n a r o gov ern o . Com o repre s e nt a nt e do regi m e do<br />

aparth eid, ele era um a figura- sím b ol o na repre s s ã o do pólo<br />

feminin o (negr o). Quando este tam b é m foi eliminad o de sua<br />

24<br />

1


vi<strong>da</strong> pes s o al, ele evid e nt e m e n t e não tinha perdido muita cois a.<br />

Para seus coleg a s de partido, no entanto, a figura que ag or a<br />

podia ser rec o n h e c i d a co m o unilateral tam b é m extern a m e n t e<br />

na chefia de seu Estado tinha se tornad o ver<strong>da</strong>d eira de m ai s.<br />

Um nov o ho m e m precis a v a ser colo c a d o lá para <strong>da</strong>r<br />

pros s e g ui m e n t o à política unilateral. Talvez para es c a p ar ao<br />

destino de seus ante c e s s o r e s ou para prote g e r o país de<br />

rev e s e s e derra m e s político s, ele prec a vid a m e n t e pas s o u o<br />

timã o <strong>da</strong> nav e do Estado para a tend ê n ci a m o d er a d a .<br />

Não é so m e n t e na política que o derra m e pod e se<br />

transfor m ar e m um novo co m e ç o ; to<strong>da</strong>s as m e di<strong>da</strong> s<br />

terap êutic a s têm o m e s m o objetivo. Com o crianç a s pequ e n a s ,<br />

os pacient e s precis a m voltar a apren d er a li<strong>da</strong>r co m o lado<br />

afetad o . O ponto m ais important e <strong>da</strong> ginástic a terap ê utica é<br />

dirigir-s e ao lado deficient e. A cab e ç a é volta<strong>da</strong> uma e outra<br />

vez na direç ã o desd e n h a d a , despr ez a d a . Assim, e m i<strong>da</strong>d e<br />

avan ç a d a , eles aprend e m que têm dois lado s e que dois ser e s<br />

habita m seu peito.<br />

O derra m e , portanto, pod e ser rec o n h e c i d o co m o a<br />

exe c u ç ã o força<strong>da</strong> <strong>da</strong> tarefa formulad a por C. G. Jung de<br />

integrar o próprio lado de so m b r a. Segund o Jung, a parte<br />

feminina, a anima, está aus e nt e <strong>da</strong> con s ci ê n ci a de todo<br />

ho m e m , e sua parte ma s c ulina, o animu s, falta a to<strong>da</strong> mulh er.<br />

À m e di<strong>da</strong> que a vi<strong>da</strong> avan ç a, es s e s co m p o n e n t e s polare s<br />

opo st o s força m cad a vez m ais para realizar- se. No derra m e , o<br />

lado que já estav a paralisad o antes se retira,<br />

indep e n d e n tizan d o - se ao m e s m o tem p o do imp ério do corp o e<br />

opond o - se a to<strong>da</strong>s as orden s. Ele tamp o u c o anun cia o que<br />

quer que seja à central co m u m . Ele está e m grev e e se finge<br />

de m orto. Aqueles contra que m se faz a grev e têm ag or a de<br />

arrastar- se e fazer fisica m e n t e o que se m pr e se neg ar a m a<br />

fazer animic a m e n t e : co m o nunc a ante s, eles ag or a têm de<br />

preo c up ar- se co m sua outra m etad e .<br />

Com pequ e n o s exercí cio s eles aprend e m , pas s o a pas s o , a<br />

an<strong>da</strong>r nova m e n t e . Freqü e nt e m e n t e utiliza- se para isso um<br />

an<strong>da</strong>d o r, explicita m e nt e rec o m e n d a d o para auxiliar o an<strong>da</strong>r na<br />

24<br />

2


infância. No que se refer e à mã o, o rev é s é ain<strong>da</strong> mais<br />

abran g e n t e . O peg ar, co m o qual a crianç a já nas c e , precis a<br />

ser treinad o nova m e n t e pelo lado afetad o. Simb olic a m e n t e ,<br />

torna- se evident e aqui que os pacient e s dev e m tom ar<br />

nova m e n t e o control e de sua vi<strong>da</strong> e real m e nt e apren d er a<br />

co m pr e e n d ê - la. Nas situaç õ e s agud a s, eles são incap az e s de<br />

tom á- la co m as duas m ã o s . Familiares são mantido s junto ao<br />

leito do do e nt e para um a e outra vez, por m ei o de afag o s ,<br />

cha m a r a aten ç ã o do pacient e para o lado afetad o . Enquanto<br />

eles gostaria m de tê- los a seu lado saud á v el, o m é dic o lhes<br />

ped e que justa m e nt e fique m no lado opo st o <strong>da</strong> ca m a. Dess a<br />

form a, os pacient e s são forçad o s a dirigir-se à porç ã o de si que<br />

eles m e s m o s fora m deslig and o . As contorç õ e s<br />

ver<strong>da</strong>d eira m e n t e serp e ntina s que eles exe c uta m nes s e dile m a<br />

m o stra o quanto es s a exig ê n ci a lhes é difícil. Não é raro que<br />

eles ain<strong>da</strong> ag or a tente m des e m b a r a ç a r- se des s a posiç ã o<br />

des a gr a d á v e l so m e n t e para não ter de dirigir-se à m etad e<br />

des pr ez a d a <strong>da</strong> vi<strong>da</strong>. Os derra m e s oc orr e m quas e se m pr e no<br />

último terç o <strong>da</strong> vi<strong>da</strong>, quan d o a tarefa de integra ç ã o do lado<br />

opo st o adquire um significad o central. Para curar- se, o que<br />

falta dev e ser integrad o . Essa tarefa adquire primazia e impõ ese<br />

ao ser hum a n o que ultrapas s o u a m etad e <strong>da</strong> vi<strong>da</strong>,<br />

so br etud o quan d o o que falta é m etad e de sua vi<strong>da</strong>.<br />

P er g u nta s<br />

1. O que é que m eu probl e m a de pres s ã o san guín e a ou<br />

vas cular quer me dizer?<br />

2. Que lado m e seria retirado, o es qu er d o feminino ou o<br />

direito mas c ulino?<br />

3. Em que sentido eu ignor ei, neglig e n ci ei ou m e s m o<br />

des pr ez ei o lado fraco de minh a vi<strong>da</strong>?<br />

4. Eu o delegu ei a um parc eiro e o deixo viver?<br />

5. Em que ponto <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> eu estav a quan d o fui atingido pelo<br />

derra m e ? Em que direç ã o m e e m p urra esta mud a n ç a<br />

inesp er a d a?<br />

6. Que pap el des e m p e n h a v a até ag or a m e u pólo opo st o<br />

24<br />

3


que entrou e m grev e, m e u lado so m b r a? Que pap el lhe será<br />

ad e q u a d o no futuro?<br />

7. Com o esta outra m etad e pod e voltar a mov e r- se para<br />

participar?<br />

8. O que falta ain<strong>da</strong> e m minh a vi<strong>da</strong> para torná- la co m pl et a?<br />

O que m e per mitiria estar são e integr o?<br />

Esclerose múltipla<br />

Mais de 50 mil pes s o a s estã o afetad a s na Alemanha por<br />

es s e quadr o de sinto m a s ; no mund o, m ais de dois milhõ e s .<br />

Eles são e m m ai or núm er o nos país e s setentrion ais que nos<br />

m eridion ais e as mulh er e s são niti<strong>da</strong> m e nt e “preferi<strong>da</strong> s”. A<br />

irrupçã o oc orr e na m ai or parte <strong>da</strong>s vez e s entre o 20 o e o 40 o<br />

ano de vi<strong>da</strong> co m o que, con sid er a n d o e m retrosp e ctiva, os<br />

rastros do quadr o pod e m muitas vez e s ser traçad o s até a<br />

infância. Já o no m e es cl er o s e múltipla nos dá indicaç õ e s<br />

significativas. Esclero s e , traduzido do latim, significa<br />

endur e ci m e n t o . Esta expr e s s ã o <strong>da</strong> m e di cin a se refer e ao<br />

siste m a nervo s o , m a s define igual m e nt e be m o padrã o<br />

psíquic o básic o do afetad o. Este caract eriza- se por um a<br />

extraordinária durez a contra si m e s m o e contra o mun d o , que<br />

freqü e nt e m e n t e se expres s a e m falta de con sid er a ç ã o e m<br />

relaç ã o às próprias nec e s s i d a d e s e e m fun<strong>da</strong> m e n t o s e<br />

con c e p ç õ e s m or ais duros e, e m parte, precipitad o s. Não é raro<br />

que os endur e ci m e n t o s do siste m a nervo s o central en c arn e m o<br />

endur e ci m e n t o de tem a s centrais para a vi<strong>da</strong>. As con ex õ e s<br />

entre os nervo s <strong>da</strong>nificad a s e esp e ci al m e n t e às con e x õ e s dos<br />

nervo s para os mús c ul o s, corresp o n d e a falta de co m pr o m i s s o<br />

e a pouc a dispo siç ã o do pacient e para a m e di a ç ã o entre suas<br />

próprias nec e s s i d a d e s vitais e as exig ê n ci a s do mund o<br />

exterior. A m e di cin a não está se gur a do fun<strong>da</strong> m e n t o físico <strong>da</strong><br />

es cl er o s e múltipla. A única certez a é a deg e n e r a ç ã o <strong>da</strong> cap a<br />

de mielina que rec o br e os nervo s, o que a long o prazo leva à<br />

per<strong>da</strong> <strong>da</strong> cap a cid a d e de con du ç ã o nervo s a .<br />

A enfer mi<strong>da</strong>d e tem tantas face s e sinto m a s que a princípio é<br />

24<br />

4


freqü e nt e m e n t e m al diagn o stic a d a. Estab el e ci d o o diagn ó stic o,<br />

a m e di cin a aca d ê m i c a 56 se cala a resp eito, devido à<br />

implac a bili<strong>da</strong>d e e intratabili<strong>da</strong>d e <strong>da</strong> do e n ç a . Esse<br />

proc e di m e n t o , duvido s o e m si m e s m o , é esp e ci al m e n t e<br />

ab surd o co m pacient e s de es cl er o s e múltipla já que, devido a<br />

seu padrã o aní mic o, eles se vê e m e m um a situaç ã o<br />

des e s p e r a d a se m diagn ó stic o. Com o eles exig e m funcion ar<br />

mais do que be m e fazer tudo co m perfeiçã o , e alé m diss o<br />

tend e m a assu mir eles m e s m o s to<strong>da</strong> a culpa, suas múltiplas<br />

deficiên cias os colo c a m e m situaç õ e s des e s p e r a d o r a s . Isso<br />

ch e g a ao ponto de eles ac eitar e m o diagn ó stic o co m<br />

ver<strong>da</strong>d eir o alívio quan d o finalm e nt e o rec e b e m , já que este os<br />

libera definitiva m e n t e do ódio <strong>da</strong> simulaç ã o e <strong>da</strong> pres s ã o so br e<br />

si m e s m o s e finalm e nt e lhes dá um pretexto para relaxar ao<br />

m e n o s um pouquinh o o próprio perfecci o nis m o . Eles ag or a já<br />

não precis a m mais pod er tudo.<br />

A tend ê n ci a de rang er os dent e s e culpar- se a si m e s m o ,<br />

alia<strong>da</strong> a um a certa teim o si a, são tam b é m um perigo para as<br />

interpreta ç õ e s que se apres e nt a m . Indica- se aqui um a vez<br />

mais que nunc a se trata de avaliaç ã o , ain<strong>da</strong> que o idio m a faça<br />

co m que pareç a ser assi m, ma s se m pr e de interpreta ç ã o .<br />

Quando se interpreta a vi<strong>da</strong> do paci ent e co m todo s os seus<br />

fenô m e n o s , ela não se torna m elh or ou pior; ela se transfor m a<br />

e m significad o.<br />

Apesar de sua varied a d e , os sinto m a s circuns cr e v e m um<br />

padrã o básic o. A sen si bili<strong>da</strong>d e dolori<strong>da</strong> <strong>da</strong> coluna verte br al,<br />

muito freqü e nt e, dec orr e dos proc e s s o s inflam at ório s crônic o s<br />

que se des e n v o l v e m nas profund ez a s des s e âm bito. Muitos<br />

afetad o s queixa m - se de dore s nos pés, o que den ota co m o<br />

para eles é difícil o ca minh o , que na maioria <strong>da</strong>s vez e s não é o<br />

deles m e s m o s . As dor e s nos pés e nas perna s m o stra m co m o<br />

lhes é doloro s o agü e nt ar o ca min h o que está sen d o perc orrido.<br />

Elas força m à cond e s c e n d ê n c i a, a assu mir a própria doloro s a<br />

fraqu ez a. O fato de que se continue afirmand o que a do e n ç a<br />

trans c orr e se m dore s dev e so ar m a c a b r o ao s ouvido s <strong>da</strong>qu el e s<br />

que dela sofre m .<br />

24<br />

5


As perturba ç õ e s <strong>da</strong> sen sibili<strong>da</strong>d e expres s a m que os<br />

afetad o s não m ais sent e m e, co m isso, não m ais perc e b e m e m<br />

muitos ca m p o s do corp o e <strong>da</strong> alm a. Eles não perc e b e m ne m<br />

m e s m o quan d o o m é di c o lhes toca o corp o co m um a agulha.<br />

Eles não perc e b e m m ais ne m m e s m o cois a s que os roça m e<br />

que am e a ç a m feri-los; eles se desligara m . Pode- se de fato<br />

falar de um deslig a m e n t o do mun d o exterior e de seus efeito s.<br />

Tal de sliga m e n t o explicita- se tam b é m e m outros sinto m a s tais<br />

co m o o enfraqu e ci m e n t o dos reflexo s, que pod e che g ar à<br />

per<strong>da</strong> total dos reflexo s. Os reflexo s são as resp o st a s mais<br />

simpl e s que o siste m a nervo s o dá ao s estí m ul o s. As pes s o a s<br />

se m reflexo s perd er a m as mais antigas pos sibili<strong>da</strong>d e s de<br />

reaç ã o ao am bi e nt e que her<strong>da</strong>r a m , ou seja, que lhes fora m<br />

<strong>da</strong><strong>da</strong> s . Eles não reag e m no sentido m ais ver<strong>da</strong> d eir o <strong>da</strong><br />

palavra. Por m ais que seja m estimulad o s , eles per m a n e c e m<br />

mud o s e - no sentido mais profund o - não resp o n d e m mais à<br />

vi<strong>da</strong> e suas exig ê n ci a s. A isso corresp o n d e a apatia, que<br />

muitas vez e s surg e e m fas e s. A palavra "apatia" vai um pas s o<br />

alé m e m seu significad o literal, já que quer dizer "não sofrer"<br />

(do greg o a = não e patho s = sofrim e nt o). Com isso ela<br />

caract eriza, alé m <strong>da</strong> frouxidã o típica, a recus a de participar <strong>da</strong><br />

vi<strong>da</strong> e de co m p a d e c e r - se. É ver<strong>da</strong>d e que os paci ent e s tenta m<br />

fazer tudo correta m e n t e para todo s, m a s se m en g aja m e n t o<br />

interno. Com o é que eles pod e m participar <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> de outros<br />

quan d o eles não simp atiza m co m a própria vi<strong>da</strong>, co m o<br />

de m o n s tr a m as perturba ç õ e s <strong>da</strong> sen sibili<strong>da</strong>d e. Sens a ç õ e s de<br />

surd ez são freqü e nt e m e n t e os prim eiro s sinto m a s e pod e m<br />

co m e ç a r tão paulatina m e n t e que às vez e s os afetad o s<br />

so m e n t e tom a m con s ci ê n ci a de sua situaç ã o mais tarde.<br />

Alia<strong>da</strong> a isso está a per<strong>da</strong> de en er gia que surg e e m quas e<br />

todo s os cas o s . Os pacient e s pouc o a pouc o se dão conta de<br />

que tudo lhes custa muito esforç o e que as ativi<strong>da</strong>d e s<br />

cotidian a s m al pod e m ser levad a s a cab o . A vi<strong>da</strong>, no mais<br />

ver<strong>da</strong>d eir o sentido <strong>da</strong> palavra, custa de m a s i a d o esforç o.<br />

Finalm e nt e eles, muitas vez e s , não pod e m mais ergu er as<br />

perna s. Em sentido figurad o, a fraqu ez a que se impõ e imp e d e<br />

24<br />

6


o progr e s s o e a asc e n s ã o na vi<strong>da</strong>, ape s ar <strong>da</strong> freqü e nt e<br />

am bi ç ã o . Com as perna s que não mais sustenta m , o corp o<br />

sinaliza que a bas e <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> perd e u sua cap a cid a d e de suporte.<br />

A paralisia corp oral extern a é um a repro du ç ã o <strong>da</strong> interna. A<br />

princípio os pacient e s ain<strong>da</strong> tenta m muitas vez e s arrastar- se<br />

pela vi<strong>da</strong>, ag arran d o- se a cad a parad a e a cad a palha. Mesm o<br />

quan d o já estã o há muito cap e n g a s , eles neg a m - se en qu a nt o<br />

pod e m a valer- se <strong>da</strong> aju<strong>da</strong> de um a terc eira perna, que volta a<br />

am pliar a bas e <strong>da</strong> vi<strong>da</strong>. Assim co m o a ben g al a, até m e s m o a<br />

cad eira de ro<strong>da</strong> s, cerc a d a de uma aura de horror, pod e trazer<br />

en or m e alívio quan d o os pacient e s ac e d e m a ac eitar auxilio.<br />

A deficiên cia de força, que che g a a surtos de paralisia nos<br />

ded o s e nas mã o s , mostra que falta força para tom ar nas mã o s<br />

a própria vi<strong>da</strong>. Não pod e hav er coincid ê n ci a m ai or e m am b o s<br />

os plano s. A situaç ã o interna, senti<strong>da</strong> co m o paralisad a,<br />

corre s p o n d e ao s surtos de paralisia.<br />

O can s a ç o paralisant e que surg e e m muitos cas o s se a<strong>da</strong>pta<br />

igual m e nt e a es s e quadr o. Vários pacient e s che g a m a dor mir<br />

até dez e s s e i s horas e o son o con s o m e m ais <strong>da</strong> m etad e de<br />

suas vi<strong>da</strong>s. Não é raro que eles des cr e v a m seu estad o apó s o<br />

des p ertar tardio co m o “entorp e cid o". O entorp e ci m e n t o e m<br />

relaç ã o à própria vi<strong>da</strong> e suas nec e s s i d a d e s é caract erístic o. A<br />

recus a senti<strong>da</strong> de m o n s tr a que já se desistiu do curs o <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> e<br />

já não se dev e mais esp er ar a bus c a de um objetivo co m as<br />

próprias forças. É ver<strong>da</strong> d e que popular m e n t e costu m a- se dizer<br />

que can s a ç o não é do e n ç a , m a s es s a form a que con s o m e to<strong>da</strong><br />

a vi<strong>da</strong> vai muito alé m do can s a ç o resultante do des g a s t e de<br />

en er gi a. Evidente m e n t e há aqui a participaç ã o de um a certa<br />

quanti<strong>da</strong>d e de defe s a contra um a vi<strong>da</strong> fraca que foi forçad a<br />

para o corp o. Os pacient e s afirma m freqü e nt e m e n t e que<br />

prefeririam dor mir ao long o de to<strong>da</strong>s as suas mis érias. Por<br />

outro lado, o disp ê n di o de en er gi a é tam b é m muitas vez e s<br />

en or m e . Para os pacient e s , tudo é tão fatigante que até mes m o<br />

cois a s insignificante s os deixa m extre m a m e n t e can s a d o s . A<br />

faca <strong>da</strong> cozinha pod e ser pes a d a de m ai s quan d o o próprio<br />

braç o já é sentido co m o um lastro. Tais pes o s plúm b e o s<br />

24<br />

7


den ot a m a carg a que oprim e os afetad o s tam b é m e m sentido<br />

figurad o. Suspeita- se que e m algu m lugar há um furo por ond e<br />

a en er gi a es c orr e. É prováv el que a m e dicin a tenha en c o ntrad o<br />

es s e burac o: pes q uis a s so br e o siste m a imun ol ó gic o vê e m na<br />

es cl er o s e múltipla uma do e n ç a de auto- agr e s s ã o . To<strong>da</strong> s as<br />

en er gi a s disponív ei s são utiliza<strong>da</strong> s na luta contra si m e s m o , de<br />

m o d o que so br a pouc o para a vi<strong>da</strong> extern a.<br />

Outros sinto m a s afeta m a bexig a, aqu el e órgã o co m o qual<br />

nos alivia m o s m a s co m que pod e m o s tam b é m pres si o n ar.<br />

Tam b é m nes s e cas o, a fraqu ez a está e m prim eiro plano e m<br />

muitos paci ent e s de es cl er o s e múltipla. Eles não pod e m mais<br />

reter a urina, e a bexig a a deixa es c a p ar à men o r oportuni<strong>da</strong>d e .<br />

O sinto m a força um retorn o à situaç ã o <strong>da</strong> prim eira infância,<br />

co m sua incap a ci<strong>da</strong>d e de controlar as funçõ e s fisiológic a s e a<br />

própria vi<strong>da</strong>. Os pacient e s de EM deixa m fluir e m b aix o, ond e<br />

ningu é m m ais pod e notá- las, as lágrim a s não chora d a s aci m a -<br />

que eles, e m sua aus ê n ci a de reaç ã o e bloqu ei o <strong>da</strong>s<br />

sen s a ç õ e s não pod e m ad mitir. Esse chor o transp o st o pod e<br />

tam b é m voltar a transfor m ar- se e m ver<strong>da</strong>d eir o chor o quan d o a<br />

do e n ç a se des e n v olv e co m pl eta m e n t e e as m e di<strong>da</strong>s de defe s a,<br />

co m o sofrim e nt o, tend e m a des m o r o n a r. Não é raro entã o que<br />

o pacient e se torne extre m a m e n t e chor o s o , o que é muito<br />

dolor o s o para ningu é m mais que o próprio afetad o. Qualquer<br />

insignificân cia, um a cen a de filme tocant e ou algo parecid o,<br />

libera o fluxo aní mic o estan c a d o por tanto temp o e provo c a um<br />

ban h o de lágrim a s . Ou entã o as lágrim a s es c o rr e m<br />

con sta nt e m e n t e , m o stran d o ao s pacient e s co m o eles dev eria m<br />

ter chor ad o (animic a m e n t e). Uma vi<strong>da</strong> sec a de sentim e nt o s<br />

não corre s p o n d e evid e nt e m e n t e à sua deter min a ç ã o , e os<br />

olho s se m pr e úmido s m o stra m co m o eles, no m ais íntimo, se<br />

sent e m tocad o s . Isso é valido e m geral para a insen si bili<strong>da</strong>d e e<br />

a durez a volta<strong>da</strong> s para fora. Onde o dique se romp e, surg e m<br />

explo s õ e s de sentim e nt o que m o stra m uma pes s o a totalm e nt e<br />

diferent e.<br />

Nas inflam a ç õ e s <strong>da</strong> bexig a enc arn a- se o conflito relativo a<br />

soltar, aliviar- se. Este conflito se torna uma nec e s si d a d e<br />

24<br />

8


ard e nt e. O sinto m a o força a fazê- lo con stant e m e n t e , se m que<br />

pos s a <strong>da</strong>r muito de si e de sua alm a. Ele de m o n s tr a não<br />

so m e n t e co m o o alívio é nec e s s á ri o ma s tam b é m co m o ele é<br />

difícil e co m o é sentido de man eira dolor o s a.<br />

A reten ç ã o <strong>da</strong> urina, que oc orr e igualm e nt e e que é<br />

pratica m e n t e o contrário <strong>da</strong> fraqu ez a <strong>da</strong> bexig a, enc arn a a<br />

extre m a res erv a e m relaç ã o às coisa s aní mic a s . O fato de que<br />

a incontin ên ci a choro s a <strong>da</strong> urina pos s a alternar- se co m sua<br />

total reten ç ã o m o stra co m o todo o fenô m e n o é indep e n d e n t e<br />

<strong>da</strong> corp or ali<strong>da</strong>d e pura. A reten ç ã o do próprio fluxo aní mic o é<br />

um sinto m a caract erístic o <strong>da</strong> situaç ã o aní mic a básic a.<br />

Os probl e m a s de linguag e m que oc orr e m ilustra m o m e s m o<br />

dra m a. As perturb a ç õ e s para en c o ntrar palavra s m o stra m que<br />

ao s paci ent e s faltam palavra s. Eles estã o se m fala. Sua autoexpr<br />

e s s ã o fica sen siv el m e n t e perturba d a quan d o se torna<br />

probl e m á tic o con struir um a fras e e m deter min a d o contexto. A<br />

dificul<strong>da</strong>d e e m con struir um a fras e inteira que seja co m pl eta<br />

e m seu sentido para pres erv ar o contexto é outra caract erística<br />

que deixa clara a perturb a ç ã o do contexto geral. A<br />

co ord e n a ç ã o de partes relacio n a d a s uma s co m as outras está<br />

perturba d a. A vi<strong>da</strong> vivi<strong>da</strong> é inco m p atív el co m o próprio ser. Os<br />

probl e m a s de co ord e n a ç ã o são tam b é m decisivo s e m outros<br />

âm bito s. Eles incap a cita m os pacient e s antes ain<strong>da</strong> <strong>da</strong>s<br />

paralisias, levan d o ao típico an<strong>da</strong>r inse g ur o que lem br a o de<br />

um bê b a d o . Os afetad o s titubeia m pela vi<strong>da</strong> e so m e n t e pod e m<br />

dispor de seus mús c ul o s de form a muito limita<strong>da</strong>. Essa<br />

indeter min a ç ã o é geral. O quadr o de sinto m a s ev olui e m altos<br />

e baixo s tão imprevisív ei s que os pacient e s so m e n t e pod e m<br />

confiar no m o m e n t o .<br />

O ponto fraco dos afetad o s no plan o corp or al é a con e x ã o<br />

entre nervo e mús c ul o. De ac ord o co m a m e dicin a ac ad ê m i c a ,<br />

a EM trata- se so br etud o de um a inflam a ç ã o deg e n e r ativa<br />

nervo s o - mus c ular, um conflito crônic o, portanto, no ponto de<br />

con e x ã o entre a con du ç ã o de inform a ç ã o e os órg ã o s de<br />

m o vi m e nt o que a exe c uta m . A trans mi s s ã o de inform a ç õ e s é<br />

colo c a d a e m que st ã o . No cas o <strong>da</strong> dificul<strong>da</strong>d e e m enc o ntrar<br />

24<br />

9


palavras, os paci ent e s não mais trans mite m suas inform a ç õ e s<br />

ao marido ou à esp o s a , perd e n d o assi m um a pos sibili<strong>da</strong>d e<br />

substanci al de exerc er influência so br e o m ei o am bi e nt e. Na<br />

m e di<strong>da</strong> e m que não pod e m m ais influen ciá- lo co m palavras,<br />

eles perd e m tam b é m a cap a cid a d e de gov er n á- lo. A per<strong>da</strong> do<br />

control e verb al é um a am e a ç a terrível para pes s o a s cujo<br />

control e intern o se estend e so br e tudo. Caso a influên cia seja<br />

exer ci<strong>da</strong> atrav é s <strong>da</strong> es crita, a iminent e paralisia do braç o pod e<br />

gerar grand e angú stia. A explicaç ã o para o extraordin ário grau<br />

de organiza ç ã o , tanto dos enfer m o s individuais de EM co m o de<br />

to<strong>da</strong> a co m u nid a d e que co m p artilha es s e destino, está nes s a<br />

tend ê n ci a de controlar e exer c er influência. Eles até m e s m o<br />

ch e g a m a aju<strong>da</strong>r outros do e nt e s e m seus esforç o s<br />

fun<strong>da</strong> m e n t ais. Especial m e n t e os paci ent e s que sup er ar a m<br />

seus próprios proble m a s en c o ntra m aqui um ca m p o para seu<br />

padrã o intern o. Desd e que não seja utilizado para des viar- se<br />

<strong>da</strong>s próprias tarefas e sim, ao contrário, para rec o n h e c ê - las no<br />

esp elh o de outros do e nt e s , há aqui um a soluç ã o ma g nífica.<br />

Os proble m a s de m e m ó ri a apo nta m na m e s m a direç ã o . Os<br />

pacient e s não repara m mais e m na<strong>da</strong>, não reté m na<strong>da</strong> e,<br />

assi m deixa m de participar <strong>da</strong>s conv er s a s . Eles não são m ais<br />

resp o n s á v e i s, eles não são ne m m e s m o cap az e s de resp o n d e r<br />

con cr et a m e n t e , seja às exig ê n ci a s do interlocutor ou às <strong>da</strong><br />

vi<strong>da</strong>. É óbvio que que m não pod e re s p o n d e r tamp o u c o pod e<br />

arcar co m nen hu m tipo de resp o n s a b ili<strong>da</strong>d e. Os pacient e s<br />

ativo s e orgulho s o s rara m e nt e quer e m perc e b e r aquilo que o<br />

quadr o de sinto m a s deixa tão claro, e eles freqü e nt e m e n t e se<br />

neg a m a ac eitar a invalidez, já que ela justa m e n t e os exim e <strong>da</strong><br />

obriga ç ã o de ser resp o n s á v ei s por si mes m o s .<br />

A per<strong>da</strong> <strong>da</strong> cap a ci<strong>da</strong>d e de con c e ntr a ç ã o m o stra a<br />

incap a ci<strong>da</strong>d e de per m a n e c e r e m um a coisa. Os pacient e s de<br />

EM têm fun<strong>da</strong> m e n t al m e n t e a tend ê n ci a de ater- se co m rigor a<br />

ponto s de vista, m e s m o quan d o rara m e n t e estã o e m posiç ã o<br />

de defen d ê - los contra outros e até m e s m o de impô- los. Eles<br />

têm a exig ê n ci a de um a firmez a e um a fideli<strong>da</strong>d e ao s princípio s<br />

que ch e g a à rigidez e à ob stinaç ã o . O declínio <strong>da</strong> cap a ci<strong>da</strong>d e<br />

25<br />

0


de con c e ntr a ç ã o , assi m co m o a incontin ên ci a <strong>da</strong> bexig a, é uma<br />

tentativa de auto- aju<strong>da</strong> do corpo. Sem con c e ntra ç ã o torna- se<br />

impo s sív el para o afetad o persistir trilhand o os ca min h o s ao s<br />

quais está ac o stu m a d o . Ao contrário, eles são atirado s fora <strong>da</strong><br />

pista o temp o todo, es qu e c e m o assunto e precis a m orientar- se<br />

nova m e n t e .<br />

Eles certa m e n t e tam b é m perd e m a reali<strong>da</strong>d e de vista de<br />

man eira muito con cr et a, já que o sentido <strong>da</strong> visão tam b é m se<br />

deteriora co m freqü ê n ci a. Nas raras visõ e s lumino s a s , tais<br />

co m o relâ m p a g o s claro s, pod e- se ver a tentativa do org anis m o<br />

de ac e n d e r uma luz para o pacient e e m relaç ã o à sua<br />

perc e p ç ã o . Eles evid e nt e m e n t e vê e m cois a s que não existe m .<br />

Muitas vez e s véus rec o br e m os olho s e oc orr e m surtos<br />

periódic o s de ce gu eira. Quando exata m e n t e m ei o ca m p o de<br />

visão des a p ar e c e , a interpreta ç ã o é simpl e s: só se vê ain<strong>da</strong><br />

uma m etad e (a própria) <strong>da</strong> reali<strong>da</strong>d e . Imag e n s duplas, que<br />

surg e m co m freqü ê n ci a, den ota m um a duplici<strong>da</strong>d e de<br />

interpreta ç ã o e de sentido bastant e perigo s a. Expres s õ e s co m o<br />

"fundo duplo" ou "dupla m or al" dão a enten d er a quali<strong>da</strong>d e que<br />

aqui participa. Faz parte tam b é m des s e contexto o fato de que<br />

as con c e p ç õ e s m or ais e éticas são muitas vez e s tão estritas<br />

que o que é simple s m e n t e não pod e ser. As imag e n s duplas<br />

tam b é m pod e m apontar para isso. A reali<strong>da</strong>d e - se m que se<br />

perc e b a - é m e did a co m duas m e di<strong>da</strong> s .<br />

A dupla ótica dá a enten d e r que se tenta viver<br />

simultan e a m e n t e e m dois mun d o s inco m p atív eis. O mun d o <strong>da</strong>s<br />

próprias nec e s si d a d e s e o <strong>da</strong>s exig ê n ci a s do m ei o am bi e nt e<br />

são inco m p atív ei s, razão pela qual a m ai oria dos paci ent e s<br />

decid e, incon s ci e nt e m e n t e , atenu ar de man eira drástica os<br />

próprios sentim e nt o s e perc e p ç õ e s ou simples m e n t e não mais<br />

perc e b e r. Entretanto, as imag e n s duplas m o stra m que as<br />

idéias próprias continua m existindo na so m b r a e a partir <strong>da</strong>í<br />

entra m e m con c orr ê n ci a co m o mund o extern o. Os pacient e s<br />

de EM são, por assi m dizer, crianç a s de dois mund o s (em luta<br />

um co m o outro). Eles não pod e m levantar- se inteira m e nt e e m<br />

nen hu m des s e s mun d o s e senta m - se entre os ass e nt o s . Duas<br />

25<br />

1


perc e p ç õ e s que não se co a dun a m faze m muitas vez e s co m<br />

que uma delas se torne vertigino s a. O m e c a ni s m o é o m e s m o<br />

do enjô o quan d o se viaja de navio. Simples m e n t e , um a<br />

vertige m se faz pres e nt e.<br />

As freqü e nt e s perturba ç õ e s do equilíbrio en c aixa m - se aqui.<br />

Elas m o stra m quã o pouc o os paci ent e s estã o e m har m o ni a,<br />

animic a m e n t e faland o. Eles se m o v e m so br e um solo oscilante.<br />

Muitas vez e s, a exp eriên ci a é des crita co m o se o subs ol o (o<br />

solo <strong>da</strong> vi<strong>da</strong>?) afun<strong>da</strong>s s e , é precis o lutar para m o v er- se para a<br />

frente co m o que m ca minha so br e areia m o v e di ç a ou co m o um<br />

equilibrista na cor<strong>da</strong> ba m b a . A sen s a ç ã o de que o chã o<br />

des a p ar e c e so b os pés do afetad o co m o se ele estives s e<br />

bê b a d o m o stra quã o pouc o firme e confiáv el é o contato co m a<br />

própria bas e e o enraiza m e n t o no solo aní mic o. O m e d o de<br />

precipitar- se de ponte s estreitas m o stra a am e a ç a <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> e a<br />

proximi<strong>da</strong>d e do abis m o ao ca min h ar pela crista. De fato, o risco<br />

de precipitaç ã o tom a- se mais próxim o co m o progr e s s o do<br />

quadr o de sinto m a s . A so m b r a não vivi<strong>da</strong> am e a ç a atrair o<br />

pacient e para sua área de influência. Isso torna- se<br />

esp e ci al m e n t e perigo s o quan d o a es s a oscilaç ã o so m a m - se<br />

fraqu ez a e perturb a ç õ e s na sen sibili<strong>da</strong>d e <strong>da</strong>s perna s, que co m<br />

freqü ê n ci a pare c e m extre m a m e n t e pes a d a s ou co m o se<br />

estive s s e m dor m e nt e s .<br />

A estrutura de pers o n ali<strong>da</strong> d e resultante, por um lado, está<br />

impregn a d a do des ej o de controlar e plan ejar tudo co m<br />

antec e d ê n c i a e, por outro, <strong>da</strong> falta de um a reaç ã o ade q u a d a<br />

frente ao s des afio s. Assim que algo vai contra suas<br />

con c e p ç õ e s fixas e freqü e nt e m e n t e rígi<strong>da</strong>s, surg e m resistên ci a<br />

e angú stia nos paci ent e s . O con sid er á v el med o do fracas s o e a<br />

falta de auto c o nfian ç a, no entanto, impe d e m que eles dê e m<br />

expr e s s ã o à sua indign a ç ã o . Para que m está de fora, es s a<br />

mistura dá facilm e nt e a impre s s ã o de teim o si a.<br />

Para o afetad o , a repre s s ã o de todo s os impulso s vitais<br />

próprios, reaç õ e s e resp o st a s à vi<strong>da</strong> é pratica m e n t e<br />

incon s ci e nt e. Quando ela se torna rudim e ntar m e n t e<br />

con s ci e nt e, oc orr e m tam b é m às vez e s ultrac o m p e n s a ç õ e s e<br />

25<br />

2


uma sed e de viver esp e ci al m e n t e de m o n s tr ativa. A rigidez e as<br />

con c e p ç õ e s fixas contrasta m co m a tend ê n ci a de fazer justiça<br />

a tudo. Com isso, os paci ent e s neglig e n ci a m suas próprias<br />

nec e s si d a d e s , o que os torna interna m e n t e irado s. Em bo a<br />

m e di<strong>da</strong> incap az e s de impor- se e extern ar agre s s õ e s , eles as<br />

dirige m para dentro, contra si m e s m o s . A explicaç ã o m é dic a <strong>da</strong><br />

EM co m o um a enfer mid a d e de auto- agre s s ã o explica para<br />

ond e vai a en er gia. Fras e s típicas durante a terapia são: "Eu<br />

não vivi”, "Meu cas a m e n t o foi um único auto- sacrifício", "Eu<br />

pas s ei a vi<strong>da</strong> pedind o des c ulp a s", "Eu nunc a m e per miti um a<br />

fraqu ez a" ou "Eu m e afastei tanto de mi m mes m o ”.<br />

A proble m á tic a sexual des e m p e n h a um pap el muito<br />

substanci al, esp e ci al m e n t e diss e m i n a d a entre os ho m e n s e<br />

que vai <strong>da</strong> impotên ci a à ejacula ç ã o prec o c e e à incap a ci<strong>da</strong>d e<br />

de atingir o orga s m o . Devido ao posicion a m e n t o de vi<strong>da</strong> dos<br />

pacient e s , voltad o para o exterior, é esp e ci al m e n t e difícil que<br />

eles não faça m co m p ar a ç õ e s e m suas valoraç õ e s . Todo<br />

co m p o rta m e n t o dirigido para o orgulho e a con c o rr ê n ci a, que é<br />

fun<strong>da</strong> m e n t al m e n t e imp e ditivo no âm bito sexual, pas s a por<br />

terapias drástica s e a tend ê n ci a geral do quadr o de sinto m a s<br />

de impor a fraqu ez a é ain<strong>da</strong> mais incentivad a.<br />

Por um lado os sinto m a s torna m a pes s o a sinc er a e, por<br />

outro, explicita m a tarefa de apren dizad o e apo nta m o ca minh o .<br />

O endur e ci m e n t o e a fixaçã o exig e m a con s e c u ç ã o firme e<br />

con s e q ü e n t e <strong>da</strong>s próprias nec e s si d a d e s vitais e enc o ntrar força<br />

e m si m e s m o . Uma forte auto c o nfian ç a precis a tornar- se a<br />

bas e <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> aní mic a e substituir o endur e ci m e n t o dos nervo s<br />

físico s. Só vale a pen a am bi cion ar ter nervo s de aç o e m<br />

sentido figurad o. Pacient e s de EM, co m o med o que têm de ver<br />

a si mes m o s - para não falar e m realizar- se - tend e m a fazer- se<br />

pequ e n o s , des a m p a r a d o s e apático s.<br />

A liberaç ã o <strong>da</strong> fraqu ez a, e m última instância, está na<br />

entreg a, e m assu mir o ced er e o deixar ac o nt e c e r impo sto s<br />

pelo corpo. k desistên ci a <strong>da</strong> luta torna- se tarefa. A nec e s s i d a d e<br />

rara m e n t e extern a d a que os paci ent e s de EM têm de plan ejar,<br />

dirigir e controlar tudo de ac ord o co m suas con c e p ç õ e s é<br />

25<br />

3


sub m e tid a a terapia pelo destino. É so m e n t e quan d o se logra<br />

uma liberaç ã o <strong>da</strong>s exig ê n ci a s do m ei o am bi e nt e que se dev e<br />

voltar a transfor m ar o eg oís m o con q uistad o e primaria m e n t e<br />

saud á v el e sub m e t e r- se a um a vontad e sup erior. “Seja feita a<br />

Sua vontad e , não a minha!” Mas antes que tais elev a d o s ideais<br />

religios o s tenha m uma chanc e , é nec e s s á ri o parar<br />

interna m e n t e so br e as próprias perna s. A nec e s s i d a d e de<br />

afirmar a si m e s m o é dirigi<strong>da</strong> por um a existên ci a- so m b r a e é<br />

vivi<strong>da</strong> quas e exclusiva m e n t e nos sinto m a s <strong>da</strong> do e n ç a . É<br />

pos sív el exer c er pod er co m o diagn ó stic o de EM, o que<br />

rara m e n t e é visto e é freqü e nt e m e n t e co m b a tid o. A tarefa não<br />

pod e estar e m mais entre g a às exig ê n ci a s do am bi e nt e, m a s<br />

e m prim eiro lugar e m um a entreg a às próprias nec e s si d a d e s e,<br />

e m última instância, a Deus, ou seja, à uni<strong>da</strong>d e no sentido do<br />

"Seja feita a Sua vontad e!". A entre g a ao am bi e nt e so m e n t e<br />

pod eria atuar de form a red e nt or a quan d o a ob e di ê n ci a<br />

cad a v éric a e o se guir contrariad o oriund o s <strong>da</strong> fraqu ez a<br />

tornar e m - se participaçã o levad a interna m e n t e , tal co m o<br />

ac o nt e c e co m freqü ê n ci a quan d o os paci ent e s intervê m e m<br />

favor de seus coleg a s de sofrim e nt o. A exa g er a d a nec e s s i d a d e<br />

de son o e o can s a ç o paralisant e ac e ntua m a noite e, co m ela,<br />

o lado feminino do dia, alojand o no cora ç ã o dos pacient e s . Os<br />

próprios sentim e nt o s , son h o s e fantasias e seu esp a ç o vital<br />

torna m- se tarefa de vi<strong>da</strong>.<br />

Dores na coluna dirige m a aten ç ã o para a luta pela própria<br />

linha e pela tem átic a <strong>da</strong> retidão, que vibra tam b é m e m outros<br />

sinto m a s . A tend ê n ci a à tontura conté m , alé m diss o, a<br />

exig ê n ci a de girar junto co m o m o n d o , colo c ar e m questã o a<br />

certez a e o mund o apar e nt e s dos próprios princípios e<br />

con c e p ç õ e s m or ais e colo c ar nova m e n t e e m m o vi m e nt o a<br />

rigidez de ponto s de vista <strong>da</strong>í dec orr e nt e s . Os ca minh o s já<br />

perc orrido s e as con c e p ç õ e s en c alhad a s que se tem por diante<br />

e que, portanto, estã o no ca minh o , dev e m ser sacudid o s e<br />

tornar- se vacilante s.<br />

As imag e n s duplas indica m , entre outras cois a s, que há<br />

ain<strong>da</strong> uma outra reali<strong>da</strong>d e ao lado <strong>da</strong> usual e que a vi<strong>da</strong> tem de<br />

25<br />

4


fato um chã o duplo. Aquela autoc o nfian ç a que tanta falta faz<br />

ao s pacient e s de EM so m e n t e pod e cres c e r a partir <strong>da</strong><br />

confian ç a nes s e se g un d o plan o, o plano divino que conté m<br />

todo s os plan o s hum a n o s .<br />

A bexig a incontin e nt e quer incitar a que se deixe fluir as<br />

lágrim a s , aliviand o a pres s ã o <strong>da</strong> repres a aní mic a e m to<strong>da</strong>s as<br />

oportuni<strong>da</strong>d e s . A irritaçã o <strong>da</strong> bexig a dirige a aten ç ã o para o<br />

conflito a resp eito do tem a "aliviar", "soltar". A reten ç ã o <strong>da</strong><br />

urina, uma co m pl eta res erv a e renún cia ao interc â m b i o co m o<br />

mund o, e m seu sentido redimid o sug er e que se reflita so br e si<br />

m e s m o , utilizand o para si as en er gias aní mic a s : e m vez de<br />

res erv a e retira<strong>da</strong>, reflexã o e con sid er a ç ã o por si mes m o .<br />

As perturba ç õ e s <strong>da</strong> sen sibili<strong>da</strong>d e tam b é m apo nta m nes s a<br />

direç ã o : co m a sen s a ç ã o do próprio corp o e a cap a ci<strong>da</strong>d e de<br />

sentir o mund o extern o, é evid e nt e que o mund o exterior co m<br />

to<strong>da</strong>s as suas exig ê n ci a s dev e ter sido arranc a d o <strong>da</strong><br />

con s ci ê n ci a do afetad o . O que resta co m o tarefa é aprend er a<br />

tocar e sentir o mund o interno, que se tornou curto de m ai s. A<br />

indicaç ã o apontand o para o íntimo pod e ser li<strong>da</strong> tam b é m nos<br />

surtos de paralisia. Quando as perna s não agü e nt a m m ais,<br />

evid e nt e m e n t e não se dev e mais sair para o mund o, to<strong>da</strong> a<br />

correria pelo s outros, ou seja, pelo rec o n h e c i m e n t o atrav é s dos<br />

outros, termin ou. And ar para dentro é a única pos sibili<strong>da</strong>d e que<br />

per m a n e c e ab erta. Quando as m ã o s fica m se m força, de<br />

man eira corre s p o n d e n t e deixa de ser seu objetivo agarrar o<br />

mund o exterior para nele esta m p ar seu próprio selo. A tarefa<br />

de tom ar nas mã o s a própria vi<strong>da</strong> interna, ao contrário,<br />

continua sen d o pos sív el e adquire primazia.<br />

A auto- reflexã o que vai m ais long e leva a imag e n s<br />

arqu etípic a s tais co m o as con h e c e m os mitos e a religião.<br />

Portanto, a tarefa m ais abran g e nt e, que pelo m e n o s surg e no<br />

horizonte e m todo s os quadr o s de sinto m a s , é a reflexã o última<br />

e final so br e a pátria aní mic o- espiritual primordial do ser<br />

hum a n o . Em sinto m a s que am e a ç a m terminar co m es s a vi<strong>da</strong><br />

ou limitá- la drastica m e n t e , es s a tarefa torna- se esp e ci al m e n t e<br />

importante. Esse tem a é ac e ntuad o ain<strong>da</strong> mais e m um quadr o<br />

25<br />

5


de sinto m a s tal co m o a es cl er o s e múltipla que, m ais alé m dos<br />

sinto m a s , tão enfatica m e n t e procura forçar um a reto m a d a de<br />

relaç õ e s con sig o m e s m o e co m o próprio mun d o interior. Com<br />

isso, o afetad o aproxim a- se do tem a <strong>da</strong> religio, a religaç ã o co m<br />

a orige m no sentido religios o. E as grand e s que st õ e s <strong>da</strong><br />

existên ci a hum a n a sa e m do mund o <strong>da</strong>s so m b r a s para a luz <strong>da</strong><br />

con s ci ê n ci a:<br />

"De ond e venh o?" - "Para ond e vou?" - "Quem sou eu?"<br />

P er g u nta s<br />

1. Por que sou tão duro co mi g o m e s m o e julgo tão<br />

dura m e nt e os outros e m e s m o assi m tento fazer tudo certo<br />

para eles?<br />

2 Onde eu tento controlar m eu m ei o am bi e nt e ou a mi m<br />

m e s m o se m estar e m con diç õ e s de fazê- lo?<br />

3. Que alternativas há neste mun d o para m eu s inam o vív ei s<br />

ponto s de vista so br e a vi<strong>da</strong>, sua m or al e sua ética?<br />

4. Com o pod eria aliviar a minh a vi<strong>da</strong>? Onde pod eria ter<br />

mais paciên ci a co mi g o m e s m o ? Com o en c o ntrar minha s<br />

fraqu ez a s , posicion ar- m e em relaç ã o a elas?<br />

5. O que m e imp e d e de participar <strong>da</strong> vi<strong>da</strong>? O que leva a<br />

que eu m e desligu e? Que pos sibili<strong>da</strong>d e s tenh o de incorrer e m<br />

stre s s , exig ê n ci a s exag er a d a s e con s u mi ç ã o ?<br />

6. O que paralisa minh a corag e m aní mic a? Que resistên ci a<br />

m e deixa can s a d o ?<br />

7. Por que eu m e en surd e ç o ? Onde eu m e finjo de surdo?<br />

Para que estou ce g o ?<br />

8. Em que m e did a dirijo minha en er gia principal contra mim<br />

m e s m o ?<br />

9. Onde pos s o perc e b e r e m minha vi<strong>da</strong> o fluxo aní mic o que<br />

vaza de minha bexig a? Onde as lágrim a s estã o atras a d a s ,<br />

ond e elas são sup érfluas?<br />

10. Até que ponto sou cap az de resp o n d e r à vi<strong>da</strong> e assu mir<br />

resp o n s a bili<strong>da</strong>d e s ? Por que alim e nt o exp e ctativa s e m lugar de<br />

es c utar a mi m m e s m o ? Com o pas s o <strong>da</strong> deter min a ç ã o pelo s<br />

outros para a resp o n s a b ili<strong>da</strong>d e própria?<br />

25<br />

6


1 1. De que man eira as corrent e s de minha alm a se<br />

relacion a m e m um padrã o? Qual é sua orde m natural? O que<br />

está e m prim eiro lugar? Com o pod e m ser co ord e n a d a s as<br />

ord en s extern a e interna?<br />

12. O que m e impe d e de enc o ntrar ab erta m e n t e o<br />

incalculáv el e o mutáv el de minha vi<strong>da</strong>?<br />

13. Com o pos s o incluir-m e no grand e todo e en c o ntrar o<br />

sentido de minh a vi<strong>da</strong> se m prejudic ar minha identi<strong>da</strong>d e<br />

aní mic a?<br />

Epilepsia<br />

A epilep sia nos confronta co m o mais assu stad o r cas o de<br />

ataqu e que con h e c e m o s . A palavra “ataqu e" quer dizer que<br />

algo atac a um a pes s o a , algo estran h o que evid e nt e m e n t e ve m<br />

de fora. Em muitas culturas, co m o por exe m pl o na hindu, a<br />

do e n ç a é con sid er a d a a m anifesta ç ã o do sagr ad o que,<br />

proc e d e n t e de um outro plan o, so br e v ê m ao afetad o . A partir<br />

diss o, os indian o s con clu e m que ser e s espirituais estran h o s<br />

apo s s ar a m - se do afetad o. Eles vê e m o ataqu e co m o uma luta<br />

entre dois espíritos por aqu el e corpo. A m e dicin a antiga usav a<br />

tam b é m a den o m i n a ç ã o "morbu s sa c e r", m al sagr ad o .<br />

Fenô m e n o s de pos s e s s ã o tam b é m são con h e ci d o s entre<br />

nós, sen d o que ne m m e s m o a psiquiatria, que na ver<strong>da</strong> d e<br />

dev eria sab ê- lo, se atrev e a tocar no assunto. Poss e s s ã o e,<br />

principal m e nt e, a existên ci a de ser e s espirituais a<strong>da</strong>pta m - se<br />

tão pouc o à imag e m que tem o s do mund o que um silêncio<br />

m ortal rec ai so br e tais fenô m e n o s . Entretanto, sab e- se<br />

perfeita m e nt e que ignorar os probl e m a s não exerc e qualqu er<br />

influên cia so br e sua existên cia. Os cas o s de epilep sia e m que<br />

é precis o presu mir urna pos s e s s ã o , de m o d o algu m tão raros,<br />

são de qualqu er m an eir a um proble m a psiquiátrico que dev eria<br />

ser tratado co m o um a do e n ç a espiritual, cujas condiç õ e s de<br />

ponto de parti<strong>da</strong> são fun<strong>da</strong> m e n t al m e n t e diferent e s.<br />

O grand e ataqu e epiléptico clás sic o é cha m a d o pela<br />

m e di cin a de Grand Mal, e m franc ê s . Ao contrário dest e, há<br />

25<br />

7


tam b é m os ataqu e s cha m a d o s de P etit Mal, e m que o<br />

co m p o n e n t e convulsivo está aus e nt e e unica m e n t e a<br />

con s ci ê n ci a é perdi<strong>da</strong> por um curto períod o de tem p o . Em<br />

am b a s as desig n a ç õ e s há a con c e p ç ã o de que algo ruim se<br />

impõ e e m um ataqu e, seja golp e a n d o do exterior, seja<br />

irromp e n d o do interior.<br />

Naturalm e nt e, os fenô m e n o s corp or ais que se produz e m<br />

pod e m ser interpretad o s se gund o os m e s m o s critérios que<br />

outros sinto m a s , sen d o que no entanto volta- se se m pr e a<br />

trop e ç ar na fronteira <strong>da</strong> do e n ç a psíquic a. O que é decisivo e m<br />

todo s os tipos de epilep sia, inclusive as aus ê n ci a s , é a per<strong>da</strong><br />

de con s ci ê n ci a. Os pacient e s vão e m b o r a, estã o real m e nt e<br />

aus e nt e s . Sua con s ci ê n ci a ab and o n a o corp o, levan d o - os ao<br />

m e s m o temp o desta reali<strong>da</strong>d e para um a outra, na qual eles<br />

não con s e g u e m se orientar e <strong>da</strong> qual e m geral não pod e m<br />

trazer nenhu m a lem br a n ç a . Seu sofrim e nt o tam b é m se<br />

diferen cia dos proble m a s pura m e n t e físico s, já que eles não<br />

pres e n ci a m os mo m e n t o s decisivo s de seu estad o .<br />

Quando se con sid er a o ataqu e do ponto de vista físico, ele<br />

se ass e m e l h a a um terre m o t o . Após um a curta aura 57 que<br />

surg e de vez e m quan d o e que anuncia ao s pacient e s o<br />

ac o nt e ci m e n t o iminent e, eles ca e m simultan e a m e n t e ao chã o e<br />

na incon s ci ê n ci a. A pres s ã o san g uín e a cai igualm e nt e, e a<br />

princípio a respiraç ã o pratica m e n t e se paralisa. Às vez e s o<br />

pacient e e mite um forte grito no início. Finalm e nt e, o corp o é<br />

sacudid o por violenta s convuls õ e s , co m freqü ê n ci a há espu m a<br />

na bo c a e pod e- se che g ar a m ord er a língua e à e mi s s ã o de<br />

feze s e urina. Procura- se prote g e r o pacient e de suas próprias<br />

m ordi<strong>da</strong> s enfiand o- lhe uma cunh a de borracha entre os dente s<br />

para que ele não se dilac er e a bo c a e os lábio s. As pupilas<br />

fica m dilata<strong>da</strong> s e não reag e m , imóv ei s co m o as de um m orto.<br />

Para que m ob s erva de fora, é co m o se de fato os pacient e s<br />

estive s s e m <strong>da</strong>nd o os último s estertor e s . Após algun s minuto s<br />

de luta, caract eriza<strong>da</strong> pelas convuls õ e s , sua en er gi a se es g ota,<br />

as convuls õ e s arrefe c e m e che g a- se a um son o profund o,<br />

cha m a d o de termin al, do qual os pacient e s des p erta m<br />

25<br />

8


ab atido s, extre m a m e n t e can s a d o s e freqü e nt e m e n t e co m dor<br />

de cab e ç a .<br />

Os pequ e n o s ataqu e s epiléptico s apres e nt a m um a série de<br />

estad o s crepus c ul ar e s , co m atord o a m e n t o se m el h a nt e a<br />

quan d o se son h a, e delírios. Pode- se che g ar a alucinaç õ e s ,<br />

des ori e nta ç ã o , estad o s de excitaç ã o física e até m e s m o atos<br />

falhos tais co m o explos õ e s de violên cia. Além diss o, há um a<br />

abun d â n ci a de estad o s psiquiátricos que vão <strong>da</strong> dispo siç ã o<br />

depr e s siv a co m irritaçã o e tend ê n ci a s suici<strong>da</strong>s até fenô m e n o s<br />

extrava g a nt e s tais co m o ataqu e s de mania de ca min h ar ou a<br />

cha m a d a epilepsia de suor.<br />

Antes de interpretar os sinto m a s individual m e nt e, eu go staria<br />

de falar de um fenô m e n o do ma cr o c o s m o s que, e m seu<br />

sim b olis m o , corre s p o n d e a muitos asp e ct o s do Grand e Mal: o<br />

terre m o t o . Aqui tam b é m en er gi a s pod er o s a s se des c arr e g a m<br />

e m m o vi m e nt o s se m e l h a nt e s a solav a n c o s . A terra trem e até<br />

que as grand e s tens õ e s tenha m pas s a d o e entã o, após<br />

pequ e n o s trem or e s posterior e s, ch e g a- se à cal m a. O<br />

trans curs o e as perturba ç õ e s são tão se m el h a nt e s que se<br />

pod eria dizer que a terra sofreu um ataqu e epiléptic o. Até<br />

m e s m o o no m e pod eria ser transp o st o, pois um terre m o t o é um<br />

grand e m al do ponto de vista <strong>da</strong>s pes s o a s afetad a s . É precis o<br />

duvi<strong>da</strong>r se ele tam b é m o é do ponto de vista <strong>da</strong> Terra, quan d o<br />

se ob s erva o pan o de fundo <strong>da</strong> ativi<strong>da</strong>d e sís mic a. Os<br />

terre m o t o s oc orr e m nas cha m a d a s zona s de tens ã o <strong>da</strong><br />

sup erfície <strong>da</strong> Terra, sen d o provo c a d o s por duas placa s<br />

tectônic a s que roça m um a na outra. Com o suas bor<strong>da</strong> s não<br />

são ho m o g ê n e a s , isso termina por acu m ular en or m e s ca m p o s<br />

de tens ã o . Quando o arc o está hiperten si o n a d o , es s a s tens õ e s<br />

acu m ul ad a s ao long o de déc a d a s se libera m so b a form a de<br />

ac e s s o s de trem or e s . São Francisc o , que está direta m e n t e<br />

so br e a fen<strong>da</strong> de Santo André, uma <strong>da</strong>s maior e s des s a zona<br />

de tens ã o , pod e ser co m p ar a d a a um epiléptic o que esp er a o<br />

próxim o ataqu e. Os pes q uis a d o r e s de terre m o t o s não ficara m<br />

satisfeito s co m o trem or oc orrido lá e m 19 9 0 , já que lhes<br />

parec e u muito fraco para equilibrar as imen s a s tens õ e s<br />

25<br />

9


acu m ul ad a s des d e o último grand e trem or. Em sua<br />

argu m e n t a ç ã o , os pes q uis a d o r e s parte m do princípio de que a<br />

Terra precis a des s e trem or para livrar- se de suas tens õ e s<br />

interna s. Os paci ent e s precis a m liberar- se exata m e n t e <strong>da</strong><br />

m e s m a man eira. A epilepsia não é nenhu m a exc e ç ã o , ain<strong>da</strong><br />

que provo q u e <strong>da</strong>n o s alar m a nt e s ao siste m a nervo s o .<br />

Uma outra imag e m do âm bito <strong>da</strong> m e dicin a que é e m grand e<br />

m e di<strong>da</strong> análo g a ao transcurs o de um ataqu e seria o trata m e nt o<br />

de eletro c h o q u e . Na antiga psiquiatria, tentav a- se obter<br />

m elh or a s e m quadr o s de sinto m a s psiquiátrico s atrav é s <strong>da</strong><br />

aplicaç ã o de fortes corrent e s elétricas so b narc o s e . O todo<br />

pareci a- se ao exorcis m o do de m ô ni o co m o Belzebu. A<br />

exp eriên ci a m o str ou no entanto que os ma u s e s pírito s às vez e s<br />

ass o m b r a v a m real m e nt e a vastidã o por algu m temp o.<br />

Externa m e n t e , um eletro c h o q u e pare c e um ataqu e epiléptico<br />

artificial, ou um ataqu e parec e um eletro c h o q u e natural. O<br />

ataqu e do Grande Mal pod e ser visto de fato co m o um<br />

fenô m e n o elétrico e m que to<strong>da</strong> a ativi<strong>da</strong>d e elétrica do cér e br o é<br />

so br e p o s t a por um poten cial hiperdi m e n si o n a d o cha m a d o<br />

focu s , sen d o assi m silenciad a. A con s ci ê n ci a do paci ent e é<br />

igual m e nt e deslig ad a por um pod er sup erior. A questã o é: por<br />

que m e para quê? A resp o st a m ais profun<strong>da</strong> m al pod e ser<br />

deduzi<strong>da</strong> dos sinto m a s físico s, já que o es s e n ci al é um<br />

fenô m e n o <strong>da</strong> con s ci ê n ci a e nós entretanto m al sab e m o s o que<br />

oc orr e naqu el e outro plan o inac e s s í v el à con s ci ê n ci a desp erta.<br />

Os sinto m a s extern o s visíveis ain<strong>da</strong> assi m nos dão ac e s s o<br />

às con diç õ e s de deline a m e n t o <strong>da</strong> do e n ç a e tam b é m às tarefas<br />

ele apren dizad o nela cifra<strong>da</strong> s. A aura, o prim eiro sinal<br />

evid e nt e m e n t e en sin a pacient e a prestar aten ç ã o ao s sinais,<br />

so br etud o ao s sinais prov e ni e nt e s de uma outra esfera. Eles<br />

nec e s s a ria m e n t e aprend e m a avaliar o significad o iminent e de<br />

tais indícios, m e s m o se m pod er es clar e c ê - los ou co m pr e e n d ê -<br />

los.<br />

O ataqu e convulsivo é a reprodu ç ã o de um a luta. To<strong>da</strong> luta<br />

en gl o b a se m pr e ao m e n o s dois partido s rivais. Assim co m o as<br />

duas plac a s tectônic a s entra m e m colisã o durante um<br />

26<br />

0


terre m o t o , nos epiléptico s pare c e tam b é m que dois mund o s<br />

entra m e m conflito. As convuls õ e s são a expr e s s ã o do atrito<br />

resultante. A con s ci ê n ci a luta contra um outro plan o não<br />

con s ci e nt e e sucu m b e rapi<strong>da</strong> m e n t e . Este outro plan o dev e ser<br />

atribuído e m todo s os cas o s ao incon s ci e nt e. A ac eitaç ã o pelo s<br />

indian o s <strong>da</strong> intro miss ã o de outros mun d o s espirituais na vi<strong>da</strong> é<br />

tão pouc o excluí<strong>da</strong> des s a m an eira co m o a pos sibili<strong>da</strong>d e de<br />

uma irrupçã o <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> e m outros mund o s espirituais. Em<br />

qualqu er cas o , pare c e que a tarefa é entre g ar- se à luta entre<br />

os mund o s e estar se m pr e pronto a fazê- lo assi m que o m e n o r<br />

sinal do outro lado o conv o q u e para tal. Caso o contato co m o<br />

outro lado, que na do e n ç a é forçad o co m violên cia, foss e feito<br />

de livre e esp o ntân e a vontad e , o corp o seria des c arr e g a d o .<br />

Sob a form a de ataqu e, torna- se clara a tens ã o acu m ul ad a<br />

pelo pacient e. Eles espu m a m pela bo c a e co m isso m o stra m<br />

literalm e nt e co m o se sente m . Se eles espu m a m de ira ou<br />

algu m a outra en er gi a, e m qualqu er cas o sai deles algo que<br />

estav a estan c a d o há muito temp o. Pode- se supor que eles<br />

vive m co m o freio puxad o e m suas vi<strong>da</strong>s burgu e s a s nor m ai s.<br />

Até aqui o ataqu e, durante o qual eles pod e m por uma vez<br />

real m e nt e espu m a r, é tam b é m relaxant e. Oliver Sacks<br />

m e n ci o n a ataqu e s epiléptico s "que dec orr e m co m um a<br />

sen s a ç ã o de paz e de ver<strong>da</strong>d eir o be m - estar". Cinco imag e n s<br />

de paci ent e s faze m refer ên ci a a erupç õ e s vulcânic a s e a<br />

drag õ e s soltand o fogo.<br />

A tend ê n ci a de mord er a língua, provo c a d a pelas convuls õ e s<br />

<strong>da</strong> mus c ulatura, nos fala <strong>da</strong> tens a situaç ã o ao início do<br />

fenô m e n o . Há um a expres s ã o que diz que é m elh or m ord er a<br />

língua que declarar algo e que se aplica perig o s a m e n t e ao s<br />

epiléptico s. Os epiléptic o s per mite m rec o n h e c e r um a tend ê n ci a<br />

à mor<strong>da</strong> cid a d e quan d o m ord e m os próprios lábio s. Dess a<br />

man eira a espu m a <strong>da</strong> ira e um grito não pod e m ultrapas s ar os<br />

lábio s. Eles prefer e m dilac er ar- se antes de colo c ar algo para<br />

fora.<br />

Na que d a dos pacient e s e no principio do des m ai o está a<br />

exig ê n ci a de livrar- se do pod er e deixar- se cair. Aqui tam b é m<br />

26<br />

1


trata- se <strong>da</strong> entreg a àqu el e outro pod er que não pod e ser<br />

atingido co m os m ei o s de nos s o confiáv el mund o. É<br />

unica m e n t e e m seus incon s ci e nt e s que os pacient e s es c olh e m<br />

uma m an eira drástica de entre g ar- se a seu destino. A<br />

indicaç ã o de entre g ar- se é reforç a d a por outros sinto m a s<br />

físico s. A pres s ã o san guín e a que cai m o stra que ag or a não se<br />

trata de um a impo siç ã o , m a s de ac eitaç ã o e, por es s a razão,<br />

de entreg ar- se às forças sup erior e s .<br />

A tem átic a <strong>da</strong> liberaç ã o <strong>da</strong> pres s ã o acu m ulad a se reflete<br />

tam b é m na e mis s ã o involuntária de urina. A bexig a é o órg ã o<br />

co m o qual reagi m o s <strong>da</strong> m an eira m ais sen sív el à pres s ã o a<br />

cuja altura não esta m o s , animic a m e n t e faland o. Nós a<br />

utilizam o s e m to<strong>da</strong> s as oc a si õ e s pos sív ei s para eclipsar- nos e<br />

aliviar a opress ã o acu m ul ad a e m um lugarzinho tranqüilo e<br />

se m confrontaç ã o .<br />

Após a luta inicial, a imag e m do ataqu e m o stra um<br />

relaxa m e n t o e m to<strong>da</strong> a linha de batalha, e entã o entra e m cen a<br />

o intestino co m a igual m e nt e involuntária eva c u a ç ã o . As feze s<br />

prov ê m direta m e n t e do sub m u n d o do corp o, aqu el e país de<br />

so m b r a s e m que reina Plutão- Hades, o deus do Reino dos<br />

Mortos. Visto des s a man eira, nest e sinto m a há a exig ê n ci a de<br />

aliviar- se co m to<strong>da</strong> a sinc eri<strong>da</strong> d e e e m público, se m verg o n h a e<br />

con sid er a ç ã o e m relaç ã o a seu mun d o de so m b r a s . Os<br />

es c ur o s tem a s estan c a d o s aqui con s e g u e m co m o ataqu e a luz<br />

pública que de outra man eira lhes é ve e m e n t e m e n t e neg a d a<br />

devido a seu conteúd o sim b ólic o profund o. Finalm e nt e,<br />

dev e m o s rec o n h e c e r tam b é m nes s e sinto m a a exig ê n ci a de<br />

deixar tudo o que é m at erial so b e atrás de si. O conjunto nos<br />

dá um a imag e m de desinibiç ã o , um a desinibiç ã o que não tem a<br />

míni m a chanc e na vi<strong>da</strong> do afetad o fora do ataqu e. Teste m u n h o<br />

contrário diss o, por exe m pl o, é a caligrafia ped a nt e de muitos<br />

epiléptico s, que mo stra um a orde m impregn a d a de aprum o .<br />

A parad a inicial <strong>da</strong> respiraç ã o , a cha m a d a apn éia, per mite<br />

supor que o estad o forçad o pelo ataqu e não é dest e mun d o . A<br />

respiraç ã o é um a clara expres s ã o de noss a ligaç ã o co m a<br />

polari<strong>da</strong>d e , o mund o dos contrário s. Os dois pólo s <strong>da</strong><br />

26<br />

2


inspiraç ã o e <strong>da</strong> expiraç ã o nos ac orr enta m a ela do prim eiro ao<br />

último fôleg o. Antes do prim eiro ain<strong>da</strong> não esta m o s real m e nt e<br />

neste mund o, co m o último precis a m o s deixá- lo. Modernas<br />

pes q uis a s so br e a m orte revela m que pes s o a s e m estad o de<br />

m orte apar e nt e, quan d o portanto não mais respira m , têm<br />

exp eriên ci a s que coincid e m ass o m b r o s a m e n t e entre si m a s<br />

que, por outro lado, não são dest e mund o 58 . A pes q uis a de<br />

pes s o a s e m m e ditaç ã o profun<strong>da</strong> resultou e m que exp eriên ci a s<br />

extrac orp ór e a s e m outros mun d o s espirituais estã o<br />

relacion a d a s a períod o s de susp e n s ã o <strong>da</strong> respiraç ã o .<br />

Nisso enc aixa m - se tam b é m as pupilas dilata<strong>da</strong> s que não<br />

reag e m , co m p o rtand o - se pratica m e n t e co m o na m orte. O fato<br />

de elas estar e m dilata<strong>da</strong> s, co m o se es c a n c a r a d a s de terror,<br />

pod e indicar, assi m co m o o grito inicial que às vez e s oc orr e,<br />

que be m no início os paci ent e s têm uma visã o fulminant e do<br />

outro plan o, que lhes instila o m ais profund o terror ou um a<br />

ad mira ç ã o incrédula. Normal m e nt e, grita- se de dec e p ç ã o ou de<br />

m e d o ou porqu e algo sup er a as próprias forças; às vez e s<br />

tam b é m de deleite. Até m e s m o um grito de so c orr o seria<br />

co m p atív el co m a situaç ã o , be m co m o um grito prim ordial<br />

arranc a d o <strong>da</strong>s profund ez a s do afetad o. O neurop sic ól o g o<br />

Oliver Sacks lem br a que Dostoiev s ki às vez e s viven ci av a auras<br />

epiléptica s estática s e o cita co m o se se g u e : “Há m o m e n t o s , e<br />

eles dura m apen a s cinc o ou seis se gund o s , nos quais se<br />

exp eri m e nt a a existên ci a de um a har m o ni a divina... A horrível<br />

clarez a co m que eles se rev ela m e o arreb ata m e n t o co m que<br />

nos en c h e são assustad or e s . Se es s e estad o duras s e m ais<br />

que cinc o ou seis se g un d o s , a alm a não o pod eria suportar e<br />

teria de fugir. Ness e s cinc o se gund o s eu vivo to<strong>da</strong> um a vi<strong>da</strong><br />

hum a n a, e por eles eu <strong>da</strong>ria tudo, se m ach ar que estav a<br />

pag a n d o muito caro... 59 ”.<br />

A AEC corro b or a as interpretaç õ e s de invas ã o súbita de algo<br />

pod er o s o . A ativi<strong>da</strong>d e elétrica do cér e br o é deslig ad a de um só<br />

golp e. Os fusíveis se quei m a m e um a força muito m ais<br />

pod er o s a assu m e a iniciativa. O siste m a nervo s o dos pacient e s<br />

não está e m con diç õ e s de mant er a corrent e invas or a, mais<br />

26<br />

3


forte, na con s ci ê n ci a. Aqui, volta a ficar clara a se m e l h a n ç a<br />

co m a interpreta ç ã o hindu, de que na epilep sia um a força<br />

sagra d a se aplac a. Nós tam b é m con h e c e m o s tais idéias <strong>da</strong><br />

Bíblia, quan d o as pes s o a s não suporta m olhar direta m e n t e<br />

para Deus e são adv erti<strong>da</strong> s várias vez e s para não tentar fazêlo.<br />

Pode- se ao m e n o s con statar que no ataqu e atua um a<br />

en er gi a que sup er a e m muito a dos pacient e s . Nem o siste m a<br />

nervo s o está eletrica m e n t e à sua altura ne m a con s ci ê n ci a<br />

pod e fazer- lhe frente e m outros asp e ct o s . É co m o se<br />

rep entina m e n t e se pas s a s s e <strong>da</strong> corrent e alternad a para um a<br />

corrent e de alta voltag e m . De ac ord o co m as exp eriên ci a s <strong>da</strong><br />

terapia <strong>da</strong> reen c arn a ç ã o , no cas o <strong>da</strong> epilep sia trata- se<br />

so br etud o <strong>da</strong> invas ã o de forças sup erior e s es cur a s.<br />

É co m pr e e n s í v el que apó s tudo isso os pacient e s precis e m<br />

dor mir. Entretanto, o son o profund o e ain<strong>da</strong> quas e incon s ci e nt e<br />

que não restaura as forças, sen d o ele m e s m o ain<strong>da</strong> m ais<br />

fatigante, é prova de que ou as exp eri ên ci a s no outro plan o<br />

continua m ou entã o são integrad a s e m um proc e s s o que<br />

con s o m e as en er gias, e os con duto s elétrico s ultracan s a d o s<br />

precis a m se reg e n e r ar. É claro que a cab e ç a dói após o<br />

ataqu e, ela foi totalm e nt e exigi<strong>da</strong> ao m e n o s en er g etic a m e n t e ,<br />

ma s talvez tam b é m quanto a seu conteúd o . Os pacient e s se<br />

refaz e m ao s pouc o s <strong>da</strong> long a viag e m que ro mp e as fronteiras<br />

de sua con s ci ê n ci a. Depois, eles estã o co m p ar ativa m e n t e<br />

relaxad o s e quas e não se lem br a m <strong>da</strong> exp eriên ci a.<br />

Pode- se con cluir do fato de que células cer e br ais são<br />

destruí<strong>da</strong> s a cad a ataqu e do Grand e Mal e que a long o prazo a<br />

cois a es c a p ar á <strong>da</strong> própria vontad e. Quadros tardios de<br />

epiléptico s tam b é m aponta m nes s a direç ã o , já que pod e m<br />

m o strar desd e um ralenta m e n t o geral <strong>da</strong>s ativi<strong>da</strong>d e s até sinais<br />

de de m ê n c i a.<br />

Os sinto m a s do Pequ e n o Mal vão ain<strong>da</strong> mais alé m no<br />

âm bito psiquiátrico e serã o m e n ci o n a d o s à marg e m aqui<br />

so m e n t e para indicar que eles, fun<strong>da</strong> m e n t al m e n t e , aponta m na<br />

m e s m a direç ã o . Por trás <strong>da</strong>s aus ê n ci a s oculta m- se estad o s<br />

crepus c ular e s que se apod er a m rep entina m e n t e do paci ent e. O<br />

26<br />

4


crepús c ul o é um a situaç ã o de pas s a g e m de um plan o para<br />

outro: do dia para a noite ou <strong>da</strong> vigília para o son o. As<br />

aus ê n ci a s força m o pacient e a ultrapas s ar es s e s ponto s de<br />

pas s a g e m entre os plano s, nest e cas o entre a vigília e os<br />

son h o s , ou seja, entre a vigília e o son o. A tarefa é<br />

evid e nt e m e n t e tom ar a zona de lusc ofus c o con s ci e nt e, prestar<br />

mais aten ç ã o a ela con s ci e nt e m e n t e e tom ar- se um an<strong>da</strong>rilho<br />

entre os mund o s .<br />

Apariçõ e s ilusórias já são exp eriên ci a s de um outro mund o.<br />

O pacient e que sofre de alucinaç õ e s óticas vê algo que<br />

ningu é m mais alé m dele perc e b e . O m e s m o é válido para<br />

form a s de alucinaç ã o acústic a, olfativa e tátil 60 . Evidente m e n t e ,<br />

o pacient e dev e e precis a aprend er a integrar es s a s outras<br />

dim e n s õ e s de sua reali<strong>da</strong>d e na vi<strong>da</strong>. Com o as alucinaç õ e s são<br />

e m sua maioria manife staç õ e s <strong>da</strong> so m b r a, a lição a ser<br />

apren di<strong>da</strong> é clara: os conteúd o s forçad o s para fora <strong>da</strong><br />

con s ci ê n ci a há muito tem p o quer e m ser rec o n h e c i d o s e<br />

integrad o s .<br />

Esse contexto tom a- se ain<strong>da</strong> mais claro nos delírios. Neles<br />

e m e r g e m as so m b r a s mais puras, ou seja, mais es cur a s, razão<br />

pela qual a psiquiatria costu m a despr ez a- las co m o<br />

inexistent e s. Manifesta- se natural m e nt e no delírio tudo aquilo<br />

que os pacient e s não con h e c e m de sua vi<strong>da</strong> burgu e s a . Sob<br />

muitos asp e ct o s , será exata- m e nt e o contrário. Mas isso não<br />

faz co m que seja m inexistent e s , ma s deixa m entrev er que<br />

faze m parte do mais profund o ser do pacient e. É sua so m b r a,<br />

seu outro lado, es c ur o. Quando "atos violento s incontroláv ei s e<br />

se m sentido" irromp e m , isso m o stra por um lado que o pacient e<br />

mant e v e es s a s en er gias so b control e totalm e nt e e por tanto<br />

temp o que evident e m e n t e a única saí<strong>da</strong> que lhes resta con siste<br />

e m obter ar por m ei o <strong>da</strong> violên ci a. Por outro, deixa entrev er<br />

que es s e atos não faze m nenhu m sentido quan d o julgad o s de<br />

ac ord o co m a existên cia burgu e s a dos pacient e s , m a s e m<br />

relaç ã o à sua existên ci a total, repres e nt a m seu outro lado, o<br />

lado es c ur o, e des s e ponto de vista faze m muito sentido. Essa<br />

m etad e es c ura precis o u evid e nt e m e n t e suportar um a<br />

26<br />

5


existên ci a na so m b r a por muito temp o, de m an eira que ag or a<br />

força sua pas s a g e m para a luz <strong>da</strong> con s ci ê n ci a co m um efeito<br />

de esta m pid o. Tam b é m faze m parte des s e âm bito aqu el a s<br />

raras auras e m que voz e s se torna m cad a vez m ais altas e<br />

importun a s sen d o que e m seu aug e a con s ci ê n ci a do afetad o é<br />

oblitera<strong>da</strong>.<br />

Em sinto m a s tais co m o a mania de ca min h ar, sai à luz do<br />

dia o caráter de exortaç ã o . O pacient e evid e nt e m e n t e<br />

per m a n e c e u no lugar, ou seja, ficou pend e nt e de um m e s m o<br />

lugar ou tem a por de m a s i a d o temp o . Agora ele é levad o<br />

forço s a m e n t e a pôr- se a ca min h o e e mi gr ar para outros<br />

âm bito s e outros mun d o s .<br />

A express ã o “epilepsia de suor" m o stra muito clara m e n t e a<br />

m e n s a g e m : não se trata mais de preferir m ord er a língua a<br />

abrir os lábios. A ép o c a <strong>da</strong> res erv a ele g a nt e, ou seja, tolhi<strong>da</strong>,<br />

pas s o u. O paci ent e já se tolheu por temp o suficiente e ag or a<br />

isso se apo d er a inteira m e n t e dele e a corrent e há tanto temp o<br />

estan c a d a flui na transpiraç ã o . O sinto m a aqui repre s e nt a<br />

justa m e nt e o rompi m e n t o dos diqu e s. Todo s os ataqu e s<br />

epiléptico s se ass e m e l h a m neste ponto: eles são co m o<br />

rompi m e nt o s de dique s que põ e m e m m o vi m e n t o os<br />

co m p o n e n t e s contido s do ser.<br />

Cone ctar- se à pod er o s a corrent e de en er gi a <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> e deixar<br />

fluir livre m e nt e as próprias en er gi a s, ou seja, aliviar- se, se m<br />

dúvi<strong>da</strong> faze m parte <strong>da</strong>s liçõ e s m ais pre m e n t e s a ser e m<br />

apren di<strong>da</strong> s que são força<strong>da</strong> s pelo fenô m e n o epiléptic o. Por<br />

outro lado, está cifra<strong>da</strong> nele tam b é m a exig ê n ci a de abrir- se<br />

para outros plano s, esp e ci al m e n t e aqu el e s que estã o ved a d o s<br />

à con s ci ê n ci a de vigília nor m al. Novos plano s de con s ci ê n ci a,<br />

mund o s de son h o s e de fantasias, m a s tam b é m ab ertura<br />

m e diúnic a para outras dim e n s õ e s espirituais são sug erido s<br />

pelo quadr o de sinto m a s e, portanto, inclue m - se no âm bito <strong>da</strong>s<br />

tarefas<br />

De um ponto de vista prático, justa m e n t e tudo aquilo que<br />

parec e errad o se g un d o as con c e p ç õ e s alopática s é<br />

esp e ci al m e n t e ben éfic o. A terapia respiratória intensiva, que<br />

26<br />

6


não recua diante <strong>da</strong>qu el e s âm bito e m que as travas interna s<br />

são expres s a s exterior m e nt e, tem <strong>da</strong>d o bon s resultad o s . É ao<br />

m e s m o temp o uma oportuni<strong>da</strong>d e de prev e nir os grand e s<br />

ataqu e s de convuls õ e s , já que o pacient e se apres e nt a ao<br />

princípio do tolhim e nt o de ante m ã o e de livre e esp o nt ân e a<br />

vontad e , liberan d o de m an eira dos a d a as inibiçõ e s do mund o<br />

<strong>da</strong> alm a e do corpo. Uma ses s ã o de terapia <strong>da</strong> respiraç ã o<br />

ofer e c e um a reprodu ç ã o ho m e o p á tic a (se m el h a nt e) de um<br />

ataqu e.<br />

Um orga s m o viven ciad o totalm e nt e tam b é m apre s e nt a<br />

paralelo s e tem uma certa se m el h a n ç a co m um ataqu e. Neste<br />

cas o tam b é m des c arr e g a m - se en er gi a s so b a form a de ond a s<br />

que perc orr e m todo o corp o ain<strong>da</strong> que aqui o foco esteja no<br />

baixo- ventre e não na cab e ç a . Segund o a psicot er apia, muitos<br />

ataqu e s epiléptico s nos dão indicaç õ e s de um deslo c a m e n t o<br />

de en er gia de baixo para cim a. Os pacient e s não ous a m soltar<br />

to<strong>da</strong> a sua en er gia no plan o inferior, quas e se m pr e<br />

des q u alificad o co m o sen d o sujo, e deslo c a o fenô m e n o , todo o<br />

grand e orga s m o por assi m dizer, para o plan o <strong>da</strong> cab e ç a , mais<br />

limpo a seus olho s. Uma vi<strong>da</strong> sexual intensiva que per mite às<br />

en er gi a s fluíre m e explodire m é con s e q ü e n t e m e n t e uma<br />

terapia para os epiléptico s.<br />

O asp e ct o m ais substanci al, entretanto, é ced er de livre e<br />

esp o nt â n e a vontad e às tend ê n ci a s força<strong>da</strong> s pelo ataqu e e<br />

pas s ar a cruzar con s ci e nt e m e n t e as fronteiras entre os<br />

mund o s , e m pr e e n d e r viag e n s a outros âm bito s <strong>da</strong> reali<strong>da</strong>d e<br />

que inclue m o Reino <strong>da</strong>s Som br a s, e confiar- se à forte corrent e<br />

<strong>da</strong> vi<strong>da</strong>.<br />

P er g u nta s<br />

1. Que grand e s corrent e s contrárias invest e m uma contra a<br />

outra em minh a alm a?<br />

2. Que pos sibili<strong>da</strong>d e s de des c ar g a para a en er gia<br />

estan c a d a eu me per mito alé m dos ataqu e s ?<br />

3. Onde seria nec e s s á ri o e m mim um rompi m e nt o de dique<br />

aní mic o? Poss o deixar- m e ir se m inibiçõ e s ?<br />

26<br />

7


4. Que sinais de outros plano s eu rec e bi e ignor ei?<br />

5. Com o pod eria, de livre e esp o nt â n e a vontad e , criar<br />

esp a ç o e m mi m para as so m b r a s ?<br />

6. Sou cap az de entreg ar- m e a outros (poder e s)?<br />

7. Que relaç ã o eu tenh o co m o mun d o trans c e n d e n t e alé m<br />

<strong>da</strong> noss a perc e p ç ã o usual de tem p o e esp a ç o ?<br />

8. Poss o imagin ar- m e cruzan d o con s ci e nt e m e n t e as<br />

fronteiras entre os mun d o s ?<br />

26<br />

8


5<br />

O Pesc o ç o<br />

Com o ligaç ã o entre a cab e ç a e o tronc o, o pes c o ç o é uma<br />

regiã o m ar c a d a m e n t e sen sív el, um desfilad eiro atrav é s do qual<br />

tudo o que é es s e n ci al precis a pas s ar. O ar que se respira, a<br />

alim e nta ç ã o e as orden s e miti<strong>da</strong>s pela cab e ç a vê m de cim a<br />

para baixo, en qu a nt o as co m u nic a ç õ e s do corp o são<br />

dev olvi<strong>da</strong> s para a central que está aci m a. Três vias centrais de<br />

co m u nic a ç õ e s con c e ntr a m - se aqui e m um esp a ç o<br />

extre m a m e n t e restrito: a traqu éia, o es ôfag o e a m e d ula<br />

espinh al. Cons e q ü e nt e m e n t e , o control e des s a s ligaç õ e s é<br />

uma funçã o es s e n ci al des s a regiã o. A decisiva diss e m i n a ç ã o<br />

<strong>da</strong> voz feita pela laring e tam b é m está relacio n a d a à<br />

trans mi s s ã o e à co m u nic a ç ã o . Comunic a ç ã o para fora atrav é s<br />

<strong>da</strong> voz e co m u ni c a ç ã o para dentro atrav é s do es ôfa g o são os<br />

tem a s básic o s <strong>da</strong> regiã o. Os nervo s <strong>da</strong> m e d ula espinh al<br />

transita m e m am b a s as direç õ e s .<br />

Devido à estreitez a do min a nt e, o pes c o ç o tem um a estreita<br />

ligaç ã o co m a angústia (do latim angu st u s = estreito) e<br />

esp e ci al m e n t e co m a angústia <strong>da</strong> m orte. Todo s so m o s<br />

confrontad o s co m a co m bi n a ç ã o de estreitez a e angú stia no<br />

início <strong>da</strong> vi<strong>da</strong>. Com o tudo já está contido no início, assi m co m o<br />

a árvor e na se m e n t e , não é de ad mirar que a angústia seja e<br />

continu e sen d o um a exp eriên ci a hum a n a fun<strong>da</strong> m e n t al. Quando<br />

se aperta o pes c o ç o , e m seu caráter de desfilad eiro decisivo<br />

para as três vias de ligaç ã o decisiva s entre a cab e ç a e o corp o,<br />

isso repres e nt a uma am e a ç a de m orte so b vários asp e ct o s .<br />

Pode- se sufoc ar e m questã o de minuto s, m orr er de sed e e m<br />

dias, m orr er de fom e 61 e m se m a n a s e, no cas o <strong>da</strong> m e d ul a<br />

espinh al, em segun d o s quan d o oc orr e um a paralisia central.<br />

Assim, o pes c o ç o é na ver<strong>da</strong>d e um lugar pred e stina d o para<br />

matar ser e s hum a n o s . As soci e d a d e s m ais divers a s e<br />

totalm e nt e heter o g ê n e a s des e n v o lv er a m os m ais diferent e s<br />

26<br />

9


m ét o d o s de execuç ã o , m a s a maioria tem prefer ê n ci a pelo<br />

pes c o ç o co m o local do ac o nt e ci m e n t o . Na Franç a, ele era<br />

cortad o na guilhotina co m precis ã o ma q uin al, na Inglaterra o<br />

delinqü e nt e era pendurad o por ele, nos país e s orientais ele é<br />

sec ci o n a d o co m a esp a d a, en q u a nt o no Ocident e utilizava- se o<br />

ma c h a d o . Os ass a s sin o s utilizam de prefer ê n ci a um xale ou<br />

suas próprias mã o s para estran g ulá- lo. Sendo assi m, é<br />

ab s oluta m e n t e co m pr e e n s í v el que a angú stia <strong>da</strong> m orte nos<br />

oprim a o pes c o ç o , ou que este se aperte quan d o esta m o s<br />

perdido s. Com o a angústia se m pr e surg e quan d o as cois a s<br />

aperta m , o pes c o ç o é seu lar natural.<br />

Em con s e q ü ê n c i a, ter algo ao redor do pes c o ç o é algo<br />

am e a ç a d o r , ou pelo m e n o s incô m o d o . Quando caí m o s nas<br />

mã o s de um usurário, pod e m o s endivi<strong>da</strong>r- nos até o pes c o ç o , e<br />

a água nos ch e g a até o pe s c o ç o . Pular no pes c o ç o de algué m<br />

colo c a es s a pes s o a e m um a situaç ã o perig o s a de imediato,<br />

ac o nt e c e n d o algo se m el h a nt e quan d o algu é m dá um a<br />

"gravata" e m outra pes s o a . Por outro lado, per mitir que algué m<br />

colo qu e os braç o s ao redor do pes c o ç o co m intenç ã o am á v el é<br />

uma prova de confianç a. A pes s o a tem certez a de que ele não<br />

vai ser torcido. Tam b é m e m sentido figurad o, pod e- se confiar<br />

os se gr e d o s carre g a d o s de angústia a tal pes s o a . Ela não vai<br />

colo c ar um a cor<strong>da</strong> ao redor de seu pes c o ç o .<br />

Além <strong>da</strong> angú stia, a avidez tam b é m resid e no pes c o ç o ,<br />

esp e ci al m e n t e a avidez de incorp or ar e, con s e q ü e n t e m e n t e , a<br />

de pos suir. Para muitas pes s o a s , en g olir repres e nt a um a<br />

satisfaç ã o ain<strong>da</strong> m ai or que a de sentir o sab or. Ao ob s ervar<br />

pes s o a s co m e n d o , tem- se freqü e nt e m e n t e a impres s ã o de que<br />

se trata de eng olir o máxi m o pos sív el no m e n o r temp o<br />

pos sív el. O sim b olis m o relacio n a n d o o pes c o ç o co m a pos s e e<br />

a avidez é muito profund o.<br />

Uma outra ca m a d a de significad o s está relacio n a d a co m a<br />

nuca. Ela é um lugar de en er gi a prim ordial, e a angú stia<br />

senti<strong>da</strong> na nuca é esp e ci al m e n t e am e a ç a d o r a . Com as nuca s<br />

de touro s literais [em ale m ã o , Stiernack e n : Stier = touro /<br />

nack e n = nuca] pod e- se des at ol ar as carro ç a s . A pes s o a co m<br />

27<br />

0


nuca de touro é um m o d el o popular de força. Ela se g u e seu<br />

ca min h o de man eira firme e se m ser tocad a por dúvi<strong>da</strong>s<br />

intelectuais, impond o- se pela própria força e pela teim o si a que<br />

a ac o m p a n h a . Golpes na nuca são tão perigo s o s justa m e nt e<br />

porqu e ating e m o local <strong>da</strong>s forças sim b ólic a s . Além diss o, eles<br />

vê m de trás e são, portanto, golp e s <strong>da</strong>d o s pelas co sta s,<br />

injustos e freqü e nt e m e n t e revi<strong>da</strong>d o s .<br />

Finalm e nt e, o pes c o ç o é importante tam b é m para a visã o de<br />

conjunto e, co m isso, para o horizonte espiritual. Ele deter min a<br />

a direç ã o <strong>da</strong> cab e ç a e, portanto, do ca m p o de visão. Assim<br />

co m o seu xará titânico carre g a v a todo o glob o terrestre, a<br />

vértebr a cervic al sup erior carre g a noss a cab e ç a e, co m isso,<br />

noss o mund o. Além diss o, o Atlas gira ao redor <strong>da</strong> segun d a<br />

vértebr a, o áxis, que des s a form a torna- se o eixo do mun d o .<br />

Ele é a parte do corp o m ais importante para a torçã o do<br />

pes c o ç o , que se m o v e na direç ã o mais oportun a a cad a<br />

m o m e n t o co m o se foss e um cata- vento. Mais quadr o de<br />

costu m e s que do e n ç a , o torcic ol o inspira muito mais tem or pelo<br />

des g a s t e aní mic o- espiritual que pelo des g a s t e propria m e n t e<br />

físico. A postura do pes c o ç o é ao m e s m o temp o a postura <strong>da</strong><br />

cab e ç a . Ness e sentido, ele oculta muito sim b olis m o . Quando<br />

algué m não tem a cora g e m de ir ao enc o ntr o <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> co m a<br />

cab e ç a direita e ergui<strong>da</strong>, não é so m e n t e e m sentido figurad o<br />

que ele ab aixa a cab e ç a . O pes c o ç o tem entã o de suportar a<br />

carg a <strong>da</strong> cab e ç a pend e nt e, o que a long o prazo força e m<br />

de m a s i a os mús c ul o s <strong>da</strong> nuca. A ob stina ç ã o é a con s e q ü ê n c i a<br />

e ao m e s m o temp o uma tentativa de se prev e nir contra golp e s<br />

na nuca. que m an<strong>da</strong> cabis b aix o pelo mun d o não vê muito dele<br />

e, co m isso, não obté m muito dele e <strong>da</strong> vi<strong>da</strong>. Ele se ofer e c e<br />

co m o vítima e em sinal diss o assu m e a postura corresp o n d e n t e<br />

co m a sen sív el nuca. Ness a postura, quas e não se pod e evitar<br />

os esp er a d o s golp e s na nuca. Ao m e s m o temp o, os afetad o s<br />

oculta m a parte anterior de seu pes c o ç o , a garg a nta, e co m ela<br />

o âm bito <strong>da</strong> incorp or a ç ã o e <strong>da</strong> pos s e . Eles não esp er a m na<strong>da</strong><br />

<strong>da</strong> vi<strong>da</strong> que valha a pen a ser incorp or a d o . Eles co m pri m e m no<br />

esp a ç o mais estreito aquilo que têm, e o es c o n d e m do mund o .<br />

27<br />

1


Trata- se de um círculo vicios o típico, pois os afetad o s<br />

viven ci a m o todo na projeç ã o . Eles ach a m que mant ê m a<br />

cab e ç a baixa porqu e o mun d o é tão ruim e, de qualqu er form a,<br />

so m e n t e tem cois a s neg ativa s para ofer e c e r- lhes. Eles deixa m<br />

a cab e ç a cair um pouc o m ais a cad a golp e e, co m isso, atrae m<br />

mais certa m e n t e ain<strong>da</strong> o próxim o golp e na nuca.<br />

Sua tarefa de aprendizad o é liberar es s a postura curva<strong>da</strong> e<br />

transfor m ar o ab ati m e nt o e m humil<strong>da</strong>d e . que m esp er a co m<br />

humil<strong>da</strong>d e aquilo que a vi<strong>da</strong> deixa vir a seu enc o ntr o não força<br />

seu pes c o ç o a viver de m an eira substitutiva es s a postura. A<br />

ob stinaç ã o ced er á a um a m o bili<strong>da</strong>d e a<strong>da</strong>ptáv el. Quem se<br />

colo c a ao s pés do mun d o co m ver<strong>da</strong> d eir a humil<strong>da</strong>d e, terá<br />

finalm e nt e o mund o a seus pés, e ele de qualqu er m an eir a<br />

deixará de golp e á- lo.<br />

A postura contrária é o nariz e m pin a d o , e m que a cab e ç a é<br />

atira<strong>da</strong> so br e a nuca e o queixo e m p urrad o para a frente.<br />

Dess a man eira, o queixo é res s altad o co m o sím b ol o <strong>da</strong><br />

vontad e . Tudo dev e se g uir o nariz <strong>da</strong> pes s o a que tem o nariz<br />

e m pin a d o . De m an eir a corresp o n d e n t e , ela ob s erva de cim a<br />

para baixo o mun d o que tem a seus pés. Ao m e s m o temp o, o<br />

pes c o ç o é forçad o para a frente, esticad o e tend e n ci o s a m e n t e<br />

incha d o , o que ev o c a a tem átic a <strong>da</strong> insaciabili<strong>da</strong>d e. To<strong>da</strong> a<br />

figura <strong>da</strong> pes s o a co m nariz e m pin a d o expr e s s a a exp e ct ativa<br />

de con quistar a sub mi s s ã o . Antiga m e nt e , os aristo cr ata s<br />

olhav a m para cim a em direç ã o ao s caval o s, que tinha m em alta<br />

con sid er a ç ã o , e de m an eir a corresp o n d e n t e , desd e es s a<br />

postura olhav a m para seus súditos co m altivez. Não era raro<br />

que este s, humild e s ou humilhad o s ao dirigir o olhar para am a<br />

viss e m um pes c o ç o inchad o co m o um bócio.<br />

A lição e red e n ç ã o des s a m á postura está e m con q uistar o<br />

olhar des d e cim a e m sentido figurad o e des e n v o l v er a genuín a<br />

corag e m que repou s a na força interna e m substituiçã o <strong>da</strong><br />

so b er b a. que m sub m e t e o mund o nest e sentido m ais profund o<br />

não precis a provar sua so b er a ni a para si m e s m o e para o<br />

mund o e m pin a n d o fisica m e n t e o nariz. Ele está à altura do<br />

mund o e não vai tentar cres c e r artificialm e nt e um pouc o m ais<br />

27<br />

2


por mei o de um a postura força<strong>da</strong>.<br />

A postura lateral m e nt e inclina<strong>da</strong> <strong>da</strong> cab e ç a m o stra o quanto<br />

corp o e alm a an<strong>da</strong> m de mã o s <strong>da</strong>d a s. Basta inclinar a cab e ç a<br />

um pouc o para um lado para que o olhar se fech e para este<br />

lado e se abra na m e s m a m e di<strong>da</strong> para o lado opo st o. Um<br />

exp eri m e nt o simple s m o stra co m o a inclinaç ã o <strong>da</strong> cab e ç a para<br />

a direita abr e para o lado es qu er d o e vice- vers a. Neste<br />

exp eri m e nt o, basta espr eitar dentro de si m e s m o para sentir<br />

que abrir- se para o lado es q u er d o , feminin o, faz co m que surja<br />

auto m atic a m e n t e um estad o de espírito mais brand o , de<br />

ab and o n o . Quando, ao contrário, inclina- se a cab e ç a para a<br />

es qu er d a, abrindo- se assi m para a "m etad e direita do mun d o",<br />

a tend ê n ci a do pólo ma s c ulino torna- se corresp o n d e n t e m e n t e<br />

mais dura e deter min a d a .<br />

Quando algu é m m ant é m sua cab e ç a per m a n e n t e m e n t e<br />

inclinad a para um lado, a brincad eir a torna- se um sinto m a que<br />

m o stra exata m e n t e qual m etad e <strong>da</strong> reali<strong>da</strong>d e está sen d o<br />

evitad a e qual está sen d o favor e cid a. A lição con siste e m<br />

dirigir-se con s ci e nt e m e n t e para o lado preferido e deixar que o<br />

olhar des c a n s e nele até que se pos s a rec o n h e c e r e ac eitar sua<br />

es s ê n ci a e, assi m, tornar- se m adur o para o outro lado <strong>da</strong><br />

reali<strong>da</strong>d e. A sinto m átic a é ain<strong>da</strong> mais clara no cas o do<br />

torcic ol o, e m que um a m etad e <strong>da</strong> reali<strong>da</strong>d e é totalm e nt e<br />

oblitera<strong>da</strong>. Tam b é m nes s e cas o, a soluç ã o pas s a pelo lado<br />

ob s ervad o con stant e m e n t e . De qualqu er form a, o dirigir-se<br />

extern a m e n t e para ele dev e tornar- se algo intern o e a<br />

ob s erva ç ã o , co m isso, sub stan ci al m e n t e mais profun<strong>da</strong>.<br />

1. A laringe<br />

A voz: barômetro do ânimo<br />

A língua ale m ã privilegia noss o órg ã o <strong>da</strong> voz e m relaç ã o ao s<br />

outros órgã o s ao referir- se à voz de um a pes s o a co m o "o<br />

27<br />

3


órg ã o". Ao lado do conteúd o extern a d o , ela expres s a tam b é m o<br />

resp e ctivo ânim o , ou seja, o estad o de ânim o e m que se<br />

per m a n e c e u por algu m tem p o . Pratica m e n t e to<strong>da</strong> s as pes s o a s ,<br />

ain<strong>da</strong> que e m outros cas o s ne m son h a s s e m 62 e m interpretar<br />

funçõ e s org ânic a s ou sinto m a s , atribue m um significad o à<br />

condiç ã o <strong>da</strong> voz. Por es s a razão, as interpreta ç õ e s nest e<br />

âm bito são esp e ci al m e n t e fáceis, já que para nós são cois a<br />

corrent e.<br />

A voz torna- se sinto m a quan d o não corre s p o n d e à form a do<br />

corp o. Ela m o stra log o quan d o algu m a cois a não bate, e nest e<br />

ponto é mais sinc er a que os conteúd o s que divulga. Uma voz<br />

baixa e sussurra<strong>da</strong> e m um corp o grand e e robusto está tão fora<br />

de es qu a dr o co m o uma voz profun<strong>da</strong> e volum o s a e m um tenro<br />

corp o de m e m b r o s finos. Enquanto o prim eiro cas o é bastant e<br />

freqü e nt e, o último não oc orr e pratica m e n t e nunc a. A voz não<br />

tem sup erfície de ress o n â n ci a suficiente e m um corp o franzino<br />

para alcan ç ar profundi<strong>da</strong>d e e volum e . Mas é be m pos sív el não<br />

utilizar um a grand e sup erfície de ress o n â n ci a, não deixar a voz<br />

vibrar na m e di<strong>da</strong> de suas pos sibili<strong>da</strong>d e s .<br />

Uma voz se m el h a nt e ao s pios de um pá s s a r o que nos<br />

importun a saind o de um corp o impon e nt e fala por um<br />

proprietário que não confia e m si m e s m o para estar à altura de<br />

suas pos sibili<strong>da</strong>d e s e colo c á- las e m uso. Ele não per mite que a<br />

voz vibre e m conjunto co m o corp o. É de supor tanto o m e d o<br />

<strong>da</strong> própria força e <strong>da</strong> impre s s ã o que se caus a quanto a<br />

distância <strong>da</strong> corp or ali<strong>da</strong>d e. O ânim o interno, ao contrário <strong>da</strong><br />

apar ê n ci a interna, é m e dr o s o e se m auto c o nfian ç a. Uma voz<br />

trêmula deixa igualm e nt e que o m e d o vibre e m conjunto, ma s<br />

e m deter min a d o s m o m e n t o s pod e vibrar tam b é m co m o<br />

m o vi m e nt o interno e a co m o ç ã o . Um parent e próxim o é a voz<br />

sem som, que perten c e a pes s o a s de s a ni m a d a s , que<br />

precis ar a m humilhar- se prec o c e m e n t e e não che g ar a m a<br />

des e n v olv er a própria força ne m obtivera m para si um a<br />

expr e s s ã o mais forte.<br />

A voz rouca dev e- se a cor<strong>da</strong>s voc ais irrita<strong>da</strong>s e não a um<br />

estad o de ânim o rec o n h e c i d a m e n t e irritado. Ela pod e indicar,<br />

27<br />

4


por exe m pl o, que seu proprietário per m a n e c e con sta nt e m e n t e<br />

nas proximi<strong>da</strong>d e s do grito se m real m e nt e berrar do fundo do<br />

coraç ã o . A voz so a extre m a m e n t e fatigad a, seja porqu e gritou<br />

de man eira apen a s parcial e não total, ou entã o porqu e o brad o<br />

tem de ser con stant e m e n t e reprimid o. A rouquidã o m o stra que<br />

a voz prov é m do âm bito <strong>da</strong> cab e ç a e do pes c o ç o , e certa m e n t e<br />

não <strong>da</strong> barriga e do cora ç ã o . Cons e q ü e nt e m e n t e , seu<br />

proprietário não colo c a to<strong>da</strong> a sua pes s o a naquilo que<br />

exterioriza. Juntam e nt e co m o impuls o de falar, perc e b e - se<br />

simultan e a m e n t e no atrito a resistên ci a ao ato de falar. Quem,<br />

por exe m pl o, não abr e m ã o de falar ap e s ar de estar resfriado,<br />

fica rouc o rapi<strong>da</strong> m e n t e . O fato é que ele está ch ei o até o nariz<br />

e go staria m e s m o é de não ouvir, ver ou ch eirar, fechando - se<br />

totalm e nt e. A voz rouc a deixa entrev er a situaç ã o ultra- irrita<strong>da</strong>.<br />

Uma voz que falou de m ai s so m e n t e se torna ain<strong>da</strong> mais rouc a<br />

quan d o seu proprietário falou de m ai s e m relaç ã o às<br />

circunstânci a s. Sem a sup erfície de res s o n â n ci a do corp o, é<br />

duvido s o que a voz enc o ntr e ress o n â n ci a entre os ouvinte s.<br />

quanto mais rouc a e grasn a nt e ela é, m e n o s digna de crédito<br />

ela so a.<br />

A rouquidã o pod e ch e g ar à per<strong>da</strong> <strong>da</strong> voz (afonia), um<br />

sinto m a <strong>da</strong> m ai oria <strong>da</strong>s do e n ç a s que atac a a laring e, <strong>da</strong><br />

inflam a ç ã o e <strong>da</strong> paralisia até o tum or. Não ter voz não significa<br />

apen a s não ter direito à palavra na política. Uma voz<br />

totalm e nt e aus e nt e indica um a situaç ã o não ad miti<strong>da</strong> de<br />

destituiçã o de pod er e de direitos. Em prim eiro plan o ela pod e<br />

ser teste m u n h o de estreitez a física, devid o a um bó cio, por<br />

exe m pl o. Por trás diss o, no entanto, se m pr e se volta a<br />

en c o ntrar a opres s ã o aní mic a.<br />

Profes s o r e s e cantor e s sofre m de rouquidã o co m freqü ê n ci a<br />

e co m isso sinaliza m que por um lado so br e c a rr e g a m a voz, e<br />

por outro que não en c o ntra m sua força (voc al) total. Muitas<br />

vez e s ch e g a- se ao ponto e m que os nódulo s não diss olvido s<br />

do ânim o precipita m- se e m nódulos nas cor<strong>da</strong>s vocais, de<br />

man eira que estas não m ais se fecha m correta m e n t e . que a<br />

extirpaç ã o cirúrgica não pod e ser a soluç ã o final de um<br />

27<br />

5


probl e m a é m o strad o pelo s cantor e s que pas s ar a m várias<br />

vez e s por es s a op er a ç ã o se m co m isso que br ar a resistên ci a<br />

<strong>da</strong>s cor<strong>da</strong>s voc ais à sua voz disc ord a nt e. Seu organis m o<br />

se m pr e volta a en c arn ar pacient e m e n t e os nós dos probl e m a s ,<br />

quas e nos m e s m o s lugar e s. quan d o , por outro lado, o nó e stá<br />

no lugar, a voz pod e vibrar mais alta e cheia que nunc a, co m<br />

to<strong>da</strong>s as suas pos sibili<strong>da</strong>d e s . Freqü e nt e m e n t e , são exer cí cio s<br />

de respiraç ã o que des ata m os nós e per mite m ao s afetad o s<br />

inspirar e criar co m to<strong>da</strong> a força. O fluxo <strong>da</strong> respiraç ã o , e m seu<br />

caráter de "em a n a ç ã o <strong>da</strong> alm a", pod e con s e g uir colo c ar os<br />

ver<strong>da</strong>d eir o s estad o s de ânim o e m m o vi m e n t o .<br />

A tarefa, na rouquidã o , está evid e nt e m e n t e e m baixar o<br />

volu m e e aprend er a calar, o que leva à pres erv a ç ã o e ao<br />

des c a n s o no plan o corp or al e ao aprofund a m e n t o no plano<br />

aní mic o. Este é nec e s s á ri o quan d o as exteriorizaç õ e s dev e m<br />

ser des e m p e n h a d a s pela pes s o a inteira e por todo o seu corp o.<br />

Só entã o a voz pod e entrar e m aç ã o .<br />

Quem fala co m voz pouco níti<strong>da</strong> é mal co m pr e e n di d o . Ali<br />

ond e os outros não o enten d e m surg e a pergunta, se ele afinal<br />

quer ser co m pr e e n di d o e se sustenta aquilo que diz. Será que<br />

são claro s para ele os pen s a m e n t o s que expres s a co m tão<br />

pouc a clarez a? A lingua g e m pouc o níti<strong>da</strong>, que per mite que as<br />

palavras se confund a m um a s co m as outras, per mite supor<br />

pen s a m e n t o s igual m e nt e indiferen ciad o s . A pes s o a que fala<br />

enrola e tem m e d o de che g ar, vá que aquilo que foi dito se<br />

rev el e m e n o s linguag e m que tolice. Ela evid e nt e m e n t e não<br />

gostaria de co m pr o m e t e r- se co m isso, seus ponto s de vista<br />

não são suficiente m e n t e firme s, claro s e se g ur o s para que ela<br />

os expon h a co m voz mais firme, mais clara e mais segur a.<br />

A fala insegura, tolhi<strong>da</strong>, aponta para um a direç ã o<br />

se m el h a nt e. A cad a palavra soprad a aqu el e que sopra diz,<br />

juntam e nt e co m o conteúd o soprad o : "Por favor, não faça na<strong>da</strong><br />

co mi g o que eu tam b é m não faço na<strong>da</strong> co m voc ê". A suavi<strong>da</strong>d e<br />

ac e ntuad a levanta rapi<strong>da</strong> m e n t e a que st ã o de sua autentici<strong>da</strong>d e<br />

e a susp eita de que ela dev e ocultar um lob o e m pele de<br />

cord eiro. Algo parecid o oc orr e co m voz e s chor o s a s ou<br />

27<br />

6


ge m e n t e s , por trás <strong>da</strong>s quais pratica m e n t e não há ênfas e<br />

algu m a. Mas cas o haja pres s ã o por trás <strong>da</strong>s palavras e o m e d o<br />

imp e ç a sua expr e s s ã o son or a, isso é sentido no timbr e forçad o<br />

do hálito, ou seja, no res s ai b o queixo s o do ge mi d o .<br />

Quem fala se m ênfas e e expr e s s ã o e por m e d o <strong>da</strong> en er gia e<br />

<strong>da</strong> força <strong>da</strong> expres s ã o se refugia na suavi<strong>da</strong>d e tem, de fato, a<br />

suavi<strong>da</strong> d e por lição a ser aprendid a. Dado o cas o, ele precis a<br />

rec o n h e c e r sua suavi<strong>da</strong>d e co m o falsa ou pouc o sinc er a, pois<br />

até m e s m o um pisa- m an sin h o pisa. Os son s baixo s são para<br />

ele lição e pos sibili<strong>da</strong>d e de se en c o ntrar. Som e nt e entã o o<br />

son or o terá tam b é m um a chanc e . Caso contrário, ele continua<br />

sen d o um lobo e m pele de cord eiro. Mas cas o ele se exer cite<br />

e m assu mir inteira m e nt e o caráter de cord eiro, notará que tem<br />

algo m ais, muito diferent e, m etido dentro de si. Enquanto ele<br />

continuar se fazend o de cord eiro, existe o perig o de que e m<br />

algu m m o m e n t o ele se torne um e a autêntica suavi<strong>da</strong>d e<br />

per m a n e ç a oculta para se m pr e. Caso ele, ao contrário,<br />

des c u br a e ac eite sua porç ã o de naturez a de lob o, a suavi<strong>da</strong>d e<br />

força<strong>da</strong> se transfor m ar á e m son ori<strong>da</strong>d e liberad a que tam b é m<br />

pod e express ar- se de m an eira corresp o n d e n t e : terna e suav e<br />

co m o um sus surro ou enfatica m e n t e vociferad a.<br />

Uma voz que se m pr e so a alta e troante torna- se igual m e nt e<br />

sinto m a . Muitas vez e s ela so br e c arr e g a to<strong>da</strong>s as e m o ç õ e s<br />

mais ternas ou até m e s m o as atrop el a. que m é se m pr e um<br />

canh ã o e per mite que as pared e s retum b e m co m o troar dos<br />

canh õ e s não so m e n t e des g o s t a o am bi e nt e co m o tem p o ma s<br />

está ele m e s m o des g o s t a d o . O estad o de anim o é algo mutáv el<br />

e sen sív el; para expres s á- lo de man eira con diz ent e é<br />

nec e s s á ria a con s o n â n ci a do m o m e n t o e m que st ã o . A soluç ã o<br />

para os espíritos de canh ã o notório s tam b é m está e m seu jeito<br />

alto e até indiscr eto, engra ç a d o e alegr e. Se eles se<br />

per mitiss e m por um a vez m er gulhar inteira m e n t e na alegria e<br />

na joviali<strong>da</strong>d e, até sentir o m ais íntim o de si mes m o s , pod eria m<br />

entã o voltar a relaxar e estaria m ab erto s para nov o s estad o s<br />

de ânim o e m novas situaç õ e s .<br />

A voz sibilante revela um ser serp e ntin o, co m o profund o<br />

27<br />

7


sim b olis m o que se ad eriu a es s e réptil desd e os temp o s<br />

bíblico s. Nisso está incluí<strong>da</strong> não apen a s a falsi<strong>da</strong>d e <strong>da</strong> língua<br />

bifurcad a m a s tam b é m o sedutor. Sibilar algo para algué m ,<br />

assi m co m o a própria voz sibilante, tem algo de perigo e de<br />

con s piraç ã o . O pólo opo st o é con stituído por palavra s<br />

ab erta m e n t e articulad a s e níti<strong>da</strong>s que não tem e m a exp o si ç ã o<br />

pública.<br />

A sedu ç ã o tam b é m so a, ou m elh or dito, roça na voz<br />

raspa<strong>da</strong>, pois sug er e que seu proprietário viveu e am o u<br />

exc e s siv a m e n t e . Fumant e s que estã o con stant e m e n t e<br />

defum a n d o suas laring e s pod e m freqü e nt e m e n t e rec orr er a<br />

este registro significativo. Uma voz ásp er a m o stra que as<br />

cois a s não desliza m para fora dos lábio s co m facili<strong>da</strong>d e, ma s<br />

que a pes s o a resp o n d e a um a certa resistên ci a. Caso a voz<br />

seja ásp er a co m o um ralad or, o esforç o ao falar tom a- se<br />

audív el. A soluç ã o está e m ad mitir real m e nt e as resistên ci a s<br />

interna s.<br />

Com um a voz estridente bus c a- se forçar para si a aten ç ã o<br />

e a con sid er a ç ã o dos outros que provav el m e n t e não seria m tão<br />

fáceis de obter co m os conteú d o s exteriorizad o s . O tocad or de<br />

tam b o r no rom a n c e O Ta m b o r de Lata, de Günter Grass, pod e<br />

ser con sid er a d o o protótipo des s e tipo. Quando to<strong>da</strong>s as<br />

cor<strong>da</strong>s se romp e m e ele não con s e g u e se impor ne m m e s m o<br />

co m o rufo m ar cial do tam b or, sua voz estrident e faz tilintar as<br />

vidraç a s .<br />

Uma voz sufoca<strong>da</strong> está tingi<strong>da</strong> <strong>da</strong>quilo que a sufoc a.<br />

Lágrim a s reprimi<strong>da</strong>s pod e m so ar, assi m co m o a raiva ou a ira.<br />

A voz abafad a se m pr e é e m última instância a reprodu ç ã o de<br />

uma aflição aní mic a.<br />

A fala molha<strong>da</strong> é m e n o s um probl e m a voc al que um<br />

probl e m a de expres s ã o . Embor a rec o n h e c i d a m e n t e inofen siv o,<br />

o sinto m a é extre m a m e n t e malvisto e m razão de seu óbvio<br />

sim b olis m o . Aqui algu é m co sp e sua agre s s ã o . Assim ele<br />

se m pr e pas s a para seus ouvinte s aquilo que não con s e g uiria<br />

tão facilm e nt e de outra m an eira. Por trás, oculta- se a tentativa<br />

de esforç ar- se esp e ci al m e n t e e de articular declarad a m e n t e<br />

27<br />

8


e m . Em vez de fazê- lo des s a man eira infantilm e nt e bab a d a ,<br />

será que os afetad o s pod eria m ous ar expres s ar a nec e s s á ria<br />

agud e z a e con cis ã o por m ei o do conteúd o ?<br />

Para har m o niz ar- se co m sua voz, é inevitáv el ad mitir- se nos<br />

plan o s de sentim e nt o s que vibra m e m conjunto a cad a<br />

m o m e n t o , vivê- los e deixar que fale m a partir de si m e s m o s .<br />

Som e nt e assi m surg e a chan c e de estar (voc al m e n t e) livre e<br />

ab erto para todo s os estad o s de ânim o.<br />

P er g u nta s<br />

1. Minha voz está a<strong>da</strong>ptad a? (À minha apar ê n ci a? Minha<br />

posiç ã o profission al? Social? Minha deter min a ç ã o ?)<br />

2. Minha voz assu m e o prim eiro plano ou se es c o n d e ? Isso<br />

corre s p o n d e ao s m eu s reais ans ei o s <strong>da</strong> vi<strong>da</strong>?<br />

3. Poss o confiar e m minh a voz e falar livre m e nt e? Eu<br />

ch e g o co m ela àqu el e s a que m falo?<br />

4. Consig o expr e s s ar- m e livre m e nt e quan d o há<br />

resistên ci a s?<br />

5. Que senti m e nt o básic o minha voz expres s a ? Ele<br />

corre s p o n d e à tonali<strong>da</strong>d e de minh a alm a?<br />

6. Eu per m a n e ç o voc al m e n t e e m deter min a d o s estad o s de<br />

ânim o ou fico ab erto para cad a mo m e n t o ?<br />

7. Que m e n s a g e n s minha voz transp orta alé m do<br />

conteú d o ?<br />

O pigarro com o sintoma<br />

Naturalm e nt e, o pigarro so m e n t e adquire valor de do e n ç a<br />

quan d o surg e freqü e nt e m e n t e e co m e ç a a se tornar importun o<br />

para a própria pes s o a e evid e nt e para os outros. É a tentativa<br />

de limpar as vias aér e a s para ao final dizer algo. Assim, ele<br />

naturalizou- se co m o o sinal co m o qual se anun cia um<br />

discurs o. Quando algué m pigarreia con stant e m e n t e , anun cia o<br />

temp o todo uma alocuç ã o que entã o não ve m. Trata- se,<br />

portanto, de uma pes s o a que tam b é m gostaria de dizer algo<br />

algu m a vez, m a s que e m p a c a logo no princípio. Ela não<br />

27<br />

9


en c o ntra as palavra s no sentido m ais ver<strong>da</strong>d eir o do term o,<br />

per m a n e c e n d o nas preliminar e s co m seus son s guturais de<br />

limp ez a. Muitas vez e s o pigarro quer tam b é m cha m a r a<br />

aten ç ã o so br e si e anun ciar a própria critica se m formulá- la.<br />

A lição con siste e m obter audiç ã o , con sid er a ç ã o e aten ç ã o<br />

para as próprias palavras. O am e a ç a d o r pigarro critico pod eria<br />

transfor m ar- se em conteú d o crítico ab erto.<br />

2. A tireóide<br />

A glândula tireóid e tem a form a de um es c ud o . Comp ar á v el<br />

a uma borb ol eta, seu corp o es g ui o agarra- se à parte inferior <strong>da</strong><br />

cartilag e m tireoidian a que está so br e a laring e en quant o as<br />

as a s <strong>da</strong> borb ol et a, os dois lob o s <strong>da</strong> glândula tireóid e, estã o<br />

dispo sta s de am b o s os lado s <strong>da</strong> traqu éi a. Sua funçã o é a<br />

produç ã o do hor m ô ni o do m eta b olis m o que apar e c e so b duas<br />

form a s . A L-tiroxina e a ain<strong>da</strong> mais eficaz tri-iodotironina<br />

con sist e m sub stan ci al m e nt e de iodo e têm a funçã o de<br />

m o bilizar o m eta b olis m o . Elas aum e nt a m a vitali<strong>da</strong>d e por m ais<br />

temp o e de man eira mais durad o ur a que os hor m ô ni o s de açã o<br />

rápi<strong>da</strong> produzido s pelas glândulas supra- renais, a adren alina e<br />

a noradr e n alina. Além do siste m a circulatório, co m a pres s ã o<br />

san guín e a e a freqü ê n ci a cardíac a, são estimulad a s tam b é m<br />

as funçõ e s respiratórias e digestiva s, a temp er atura se elev a,<br />

aum e nt a n d o tam b é m o m eta b olis m o basal, a ativi<strong>da</strong>d e nervo s a<br />

e a excitabili<strong>da</strong>d e mus c ular; en qu a nt o o tem p o de reaç ã o<br />

diminui, au m e nt a m o estad o de alerta e a velo cid a d e de<br />

raciocínio.<br />

Além diss o, a glândula tireóid e des e m p e n h a um pap el<br />

decisivo nos proc e s s o s de cres ci m e n t o . Franz Alexand er indica<br />

que, no proc e s s o de ev oluç ã o , ela per mitiu a pas s a g e m <strong>da</strong><br />

água para a terra. É so m e n t e a partir dos anfíbio s que os ser e s<br />

vivos têm glândulas tireóid e s . Aplicaç õ e s exp eri m e nt ai s de<br />

tiroxina no axolote Molchart m exic a n o propicia m a sub stituiçã o<br />

<strong>da</strong> respiraç ã o bran quial pela pulm o n ar, de man eira que os<br />

28<br />

0


anim ais transfor m a m - se de ser e s aquátic o s e m habitantes <strong>da</strong><br />

terra firme. W. L. Brown cha m o u a tireóid e de "glândula <strong>da</strong><br />

criaç ã o". A tireóid e con s erv a a relaç ã o co m o mar até hoje por<br />

m ei o do iodo, que oc orr e principal m e nt e no mar e<br />

exclusiva m e n t e a partir do qual ela pod e produzir seus<br />

hor m ô ni o s . quan d o os ser e s hum a n o s afasta m - se muito do<br />

mar e, por exe m pl o, es c al a m m o ntan h a s distantes, pas s a m a<br />

ter facilm e nt e proble m a s de tireóid e.<br />

O significad o dos hor m ô ni o s <strong>da</strong> glândula tireóid e para o<br />

am a d ur e ci m e n t o hum a n o é m o strad o por sua car ên ci a, que<br />

provo c a cretinis m o e mixed e m a , ond e o des e n v o l vi m e n t o<br />

corp or al e espiritual fica m atras a d o s . As juntas de cres ci m e n t o<br />

dos long o s oss o s <strong>da</strong>s extre mi d a d e s , por exe m pl o, so m e n t e se<br />

fecha m tardia m e n t e , o des e n v o l vi m e n t o <strong>da</strong> intelig ên ci a é<br />

prejudic ad o . Durante a fas e de des e n v o l vi m e n t o , a tiroxina<br />

exer c e efeitos análo g o s ao s do hor m ô ni o de cres ci m e n t o <strong>da</strong><br />

hipófise.<br />

O bócio<br />

Quando o local de produç ã o de substânci a s meta b ólic a s que<br />

contê m iodo au m e nt a de tam a n h o , está- se sofren d o<br />

nec e s s a ria m e n t e de um a elev a d a "falta de co m b u stív el". Com<br />

a expans ã o do local de fabricaç ã o localizad o no pes c o ç o , o<br />

org anis m o sinaliza ao s afetad o s que eles não estã o<br />

rec o n h e c e n d o suas nec e s s i d a d e s m otrizes aum e nt a d a s . A<br />

fom e de en er gi a, ativi<strong>da</strong>d e e mud a n ç a m er gulh o u na so m b r a.<br />

Esta fom e de mais m eta b olis m o relacio n a- se e m prim eiro lugar<br />

co m a en er gia <strong>da</strong> mud a n ç a , e só e m se g ui<strong>da</strong> co m a substânci a<br />

nec e s s á ria. O bó cio mais freqü e nt e dev e- se à carên ci a de iodo<br />

na alim e nta ç ã o . Os afetad o s , e m sua m ai oria aferrad o s a<br />

tradiç õ e s rígi<strong>da</strong>s, vive m e m um am bi e nt e que lhes ofer e c e<br />

muito pouc a en er gia e varied a d e . O bó ci o trai a fom e<br />

relacion a d a a isso. Ele se des e n v olv e tanto co m bas e e m um a<br />

car ên ci a hor m o n al co m o no subfuncion a m e n t o . Através <strong>da</strong><br />

form a ç ã o do bó ci o, a tireóid e con s e g u e finalm e nt e co brir as<br />

28<br />

1


nec e s si d a d e s m eta b ólic a s utilizand o cad a áto m o de iodo.<br />

Com o subfuncion a m e n t o , o bó ci o m o stra igual m e nt e o<br />

aum e nt o <strong>da</strong> nec e s si d a d e de co m b u stív el. A situaç ã o nes s e<br />

ponto pros s e g u e sua es c al a d a quan d o , ap e s ar do au m e nt o do<br />

local de produç ã o , es s a nec e s si d a d e não é co b erta. Os<br />

pacient e s torna m - se indolent e s e gord o s, não ac o nt e c e m ais<br />

na<strong>da</strong> (energ etic a m e n t e) e m suas vi<strong>da</strong>s. Até m e s m o a fom e<br />

des a p ar e c e , já que falta a en er gia para fazer algo co m o<br />

alim e nt o.<br />

Na hiperfunç ã o <strong>da</strong> tireóid e, os afetad o s sente m a fom e de<br />

troca de substânci a s (ou m eta b olis m o) co m um ap etite<br />

ver<strong>da</strong>d eira m e n t e des e nfr e a d o . Eles pod e m co m e r<br />

ininterrupta m e n t e se m eng ord ar porqu e seus corpo s quei m a m<br />

as substânci a s imediata m e n t e . Seu pouc o pes o trai o fato de<br />

que eles não dão conta <strong>da</strong>s exig ê n ci a s en er g étic a s do corp o<br />

ape s ar de a tireóid e ter form a d o um bó cio. Eles co m e m e<br />

co m e m , e nunc a é suficiente.<br />

Corresp o n d e n d o ao s tipos de bó cio, os proble m a s pod e m<br />

ser dividido s e m três grand e s grupo s, a hiperfunç ã o , a<br />

hipofunç ã o e a form a ç ã o de bó ci o se m disfunç ã o m eta b ólic a.<br />

Este bó ci o co m valor e s nor m ai s de funçã o glandular estav a<br />

am pla m e n t e difundido e m regiõ e s ond e se con s u mi a sal pobr e<br />

e m iodo. Com o variante inofen siva, ele não apres e nt a nen hu m<br />

sinto m a no que se refer e ao m eta b olis m o , so m e n t e seu<br />

tam a n h o exa g er a d o do ponto de vista estétic o ou m e c â ni c o . A<br />

falta de iodo na alim e nta ç ã o faz co m que a tireóid e cres ç a o<br />

suficiente para pod er utilizar cad a míni m a quanti<strong>da</strong>d e <strong>da</strong><br />

precio s a substânci a que apar e ç a . O efeito para fora m ais<br />

importante que o bó cio resultante exer c e são probl e m a s<br />

cos m é ti c o s , en qu a nt o para dentro os ponto s principais são,<br />

entre outros, soluç o s , falta de ar e proble m a s voc ais.<br />

O pes c o ç o gros s o dá a impre s s ã o de gros s e ria e relaç ã o<br />

co m a terra, o contrário <strong>da</strong> eleg â n ci a, liga<strong>da</strong> que está ao es g ui o<br />

pes c o ç o do cisn e. Quando o pe s c o ç o de algué m incha, ele<br />

ac e ntua co m isso o âm bito do incorp or ar e do pos suir. Em<br />

ale m ã o se fala popular m e nt e de um "pes c o ç o incha d o"<br />

28<br />

2


(Blähhal s), referind o- se assi m a um a pes s o a presu mi d a. Mas<br />

que m incorp or a muito tem muito e, co m isso, é importante ou,<br />

no míni m o , algué m de pes o . Expres s õ e s e m ale m ã o tais co m o<br />

Gierhal s [Gier = avidez / Hals = pes c o ç o] enfatiza m a<br />

incorp or a ç ã o , en qu a nt o Geizhal s e Geizkra g e n [Geiz = avar ez a<br />

/ Krag e n = colarinho] refer e m - se m ais ao pos suir. Trata- se<br />

evid e nt e m e n t e de pes s o a s que nunca colo c a m o suficie nt e<br />

go ela abaixo e tend e m a acu m ul ar. Quanto m e n o s isso lhes é<br />

con s ci e nt e, co m m ais clarez a o am bi e nt e o vê. Em todo cas o,<br />

pod e ser que a avidez de pos suir esteja tão reprimi<strong>da</strong> que ela<br />

tam b é m deixa de cha m a r a aten ç ã o dos que estã o de fora. Não<br />

é so m e n t e a dim e n s ã o mat erial que faz parte do tem a<br />

"incorp or ar", tal co m o talvez seja aludido tam b é m pelo queixo<br />

duplo. Os pacient e s de bó cio tam b é m têm a tend ê n ci a de<br />

e m b ol s a r algu m e m sentido figurad o. Finalm e nt e, o pes c o ç o<br />

gros s o sinaliza ain<strong>da</strong> a pouc a m o bili<strong>da</strong>d e nes s e âm bito,<br />

ch e g a n d o até a deixar o pes c o ç o duro, o que por sua vez atua<br />

neg ativa m e n t e na visão geral e no horizonte espiritual.<br />

Em algu m a s regiõ e s o bó ci o era algo tão nor m al que fazia<br />

parte <strong>da</strong> imag e m <strong>da</strong> populaçã o rural. Evidente m e n t e , um lenç o<br />

enfeitad o co m jóias ao redor do pes c o ç o fazia parte <strong>da</strong><br />

vesti m e nt a <strong>da</strong>s ca m p o n e s a s . Assim co m o co m os pelican o s ,<br />

um bó cio be m ch ei o sim b olizav a a bols a rech e a d a e altos<br />

rendi m e nt o s . Os afetad o s era m e m sua m ai oria ca m p o n e s e s<br />

que viviam <strong>da</strong> própria terra e a que m condizia a impre s s ã o<br />

robusta e rude ac e ntuad a pelo bó ci o. Eram pes s o a s que<br />

carre g a v a m seus bó cio s so br e os o m br o s co m esta bili<strong>da</strong>d e,<br />

con s erv a v a m estritam e nt e tradiç õ e s que e m parte rem etia m à<br />

I<strong>da</strong>de Média e que não <strong>da</strong>va m muito valor à am pliaç ã o de seu<br />

horizonte espiritual ou até m e s m o a mud a n ç a s e m seu m o d o<br />

de vi<strong>da</strong>. A en or mi d a d e de sua imo bili<strong>da</strong>d e con s er v a d o r a e de<br />

seus esforç o s para a obten ç ã o de pos s e s era e m geral<br />

incon s ci e nt e e ocultava- se por trás <strong>da</strong> religiosi<strong>da</strong>d e . Mas quã o<br />

significativo era o pos suir e o pap el desta c a d o que os valor e s<br />

tradicion ais des e m p e n h a v a m são m o strad o s pelas peç a s de<br />

teatro corresp o n d e n t e s , que quas e se m exc e ç ã o tratava m<br />

28<br />

3


des s e assunto. Não se trata so m e n t e <strong>da</strong>s filhas, ma s se m pr e<br />

do dote tam b é m , que muitas vez e s revelav a o caráter de<br />

ven e n o junta m e nt e co m o de pres e nt e. Além diss o, a m ai or<br />

parte gira e m tom o do princípio "Isso se m pr e foi assi m".<br />

Som av a- se a isso o isola m e n t o <strong>da</strong>s regiõ e s afetad a s , que<br />

favor e ci a a falta de ativi<strong>da</strong>d e e mud a n ç a .<br />

Com a introduç ã o do sal de cozinh a io<strong>da</strong>d o e a adiçã o de<br />

iodo na água potáv el, es s e tipo de bó ci o regr e diu<br />

notav el m e n t e , e m b o r a natural m e nt e o tem a não foss e<br />

eliminad o co m isso. Ele entã o precis o u busc ar outros m ei o s<br />

(de expres s ã o). De qualqu er form a, o isola m e n t o original e a<br />

imutáv el m o n ot o ni a <strong>da</strong>s regiõ e s ca m p o n e s a s foi sen d o perdi<strong>da</strong><br />

nas gera ç õ e s seguintes co m a ab ertura para a cultura <strong>da</strong><br />

ci<strong>da</strong>d e que oc orr eu ao long o do tem p o , e co m isso foi<br />

des a p ar e c e n d o tam b é m a pred o m i n â n ci a <strong>da</strong> postura aní mic a<br />

básic a.<br />

O bó ci o extern o, co m muita freqü ê n ci a, sim b oliza exig ê n ci a s<br />

de pos s e e pod er não ad miti<strong>da</strong>s. Os afetad o s "exib e m " aquilo<br />

que têm, co m o be m sab e a sab e d o ri a popular. O bó cio voltad o<br />

para dentro está mais es c o n di d o e é, por es s a razão, mais<br />

probl e m á tic o. A tem átic a de fundo, natural m e nt e, é<br />

se m el h a nt e, só que aqui tudo é en g olido e ocultad o do<br />

am bi e nt e. Isso dá um a impre s s ã o m elh or para fora, e por es s a<br />

razã o a impre s s ã o para dentro é tanto mais perig o s a.<br />

Aqui, o tem a <strong>da</strong> co biç a está m etido m us profun<strong>da</strong> m e n t e no<br />

incon s ci e nt e e provo c a probl e m a s corresp o n d e n t e m e n t e m ais<br />

profund o s. Esse tipo não ad mitido para si m e s m o de<br />

aç a m b a r c a r e arreb at ar pod e imp e dir a respiraç ã o e, co m isso,<br />

o interc â m b i o e a co m u nic a ç ã o . Muitas vez e s, o bó cio que<br />

cres c e para dentro pod e dificultar tam b é m a deglutiçã o,<br />

m o stran d o co m o continuar a eng olir pod e ser doloro s o e<br />

opressiv o. Caso a opress ã o atinja tam b é m a laring e, a voz<br />

pod e ser afetad a e adquirir um timbr e rouc o, de gras nid o. Por<br />

um lado os afetad o s so a m co m o abutre s, por outro, co m o se<br />

estive s s e m sufoc a n d o , e assi m é e m certo sentido. Eles<br />

am e a ç a m sufoc ar de co biç a.<br />

28<br />

4


Neste contexto, um a imag e m de conto de fa<strong>da</strong>s nos é <strong>da</strong><strong>da</strong><br />

pela Gata Borralheira e os po m b o s que vê m e m seu so c orr o.<br />

Eles transfor m a m e m seu contrário aquilo que foi dito até<br />

entã o. Segund o o lem a "O bo m na pan elinha, o ruim no<br />

papinh o", diferen cia- se cui<strong>da</strong>d o s a m e n t e o que dev e ser<br />

atribuído ao mund o e o que dev e ser guar<strong>da</strong>d o para si m e s m o .<br />

Naturalm e nt e, não pod e ser muito saud á v el colo c ar tudo o que<br />

é bo m e assi miláv el para fora e guar<strong>da</strong>r para si m e s m o e<br />

en g olir tudo o que é ruim e não pod e ser assi milad o .<br />

Na introduçã o ao pes c o ç o , este foi rec o n h e c i d o co m o sen d o<br />

o lar <strong>da</strong> angústia. Naturalm e nt e, es s e tem a é declara d o por um<br />

bó cio que am e a ç a fech ar a garg anta de um a pes s o a . Sendo<br />

um dos dois ponto s de bloqu ei o mais importante s do corp o, o<br />

pes c o ç o é um lugar que se tend e a tranc ar co m um ferrolho.<br />

Permitir o cres ci m e n t o de um bó ci o torna- se entã o, tam b é m ,<br />

uma pos sibili<strong>da</strong>d e de isolar a cab e ç a do corpo.<br />

P er g u nta s<br />

1. Vivo e m um am bi e nt e que prop orci o n a pouc o s estí mulo s<br />

à minh a vivaci<strong>da</strong>d e ?<br />

2. Exag er o o tem a "pos s e"? Deixo minha s pos s e s<br />

expo st a s? Já tenh o minh a s pos s e s pendurad a s no pes c o ç o ?<br />

3. Faç o a mim m e s m o cois a s que m e incha m e que m e<br />

imp e d e m de participar <strong>da</strong> vivaci<strong>da</strong>d e mutant e <strong>da</strong> vi<strong>da</strong>?<br />

4. Com o and o co m o tem a- pes o (importân cia)? Sinto- m e<br />

importante ou precis o fazer- m e de importante?<br />

5. Escond o muita cois a? Coisas valios a s ? Valores? Coisas<br />

des a gr a d á v e i s?<br />

6. Açam b ar c o se m deixar que os outros perc e b a m (bócio<br />

interno)? Faç o- o para não ter de renun ciar a na<strong>da</strong> ou por<br />

verg o n h a ?<br />

7. Aquilo que aç a m b a r c o mold a a minha vi<strong>da</strong>?<br />

8. Eu m e tranc o no pes c o ç o e sep ar o minh a cab e ç a do<br />

corp o, meus pen s a m e n t o s de m eu s sentim e nt o s ?<br />

Hipertireoidism o<br />

28<br />

5


O hipertireoidis m o oc orr e co m freqü ê n ci a, ma s não precis a<br />

vir ac o m p a n h a d o nec e s s a ria m e n t e de um bó cio. Ele, muitas<br />

vez e s , apres e nt a form a ç õ e s nodular e s , sen d o que se<br />

diferen cia m os nódulo s frios, que arm az e n a m pouc o ou<br />

nen hu m iodo, dos quent e s , forte m e n t e impregn a d o s . A variante<br />

fria está tão deg e n e r a d a no que se refer e ao s tecido s que não<br />

cumpr e m ais sua funçã o de produzir hor m ô ni o s e, alé m diss o,<br />

tend e a deg e n e r ar de form a malign a. Mas ela não leva à<br />

hiperfunç ã o .<br />

Os nódulo s quent e s , por trás dos quais oculta m- se<br />

ad e n o m a s 63 autôn o m o s (assi m cha m a d o s pela m e di cin a),<br />

torna m- se rapi<strong>da</strong> m e n t e um ferro que nt e na vi<strong>da</strong>, o qual não se<br />

gosta de tocar. Concr eta m e n t e , não se suporta na<strong>da</strong> ap ertad o<br />

ao redor do pes c o ç o . A largura do colarinh o au m e nt a<br />

rapi<strong>da</strong> m e n t e se m que se deixe de ter a sen s a ç ã o de aperto.<br />

Isso corresp o n d e animic a m e n t e a tend ê n ci a s claustrofó bic a s ,<br />

ou seja, to<strong>da</strong>s as situaç õ e s restritivas são tem er o s a m e n t e<br />

evitad a s. O pes c o ç o incha e deixa claro o impuls o de<br />

cres ci m e n t o que m er gulh o u no corpo e que mal pod e ser<br />

fread o. O cora ç ã o bate mais rápido, a pres s ã o arterial e a<br />

temp er atura do corpo aum e nt a m e há um surto de su<strong>da</strong> ç ã o e<br />

de nervo si s m o . A inquietaç ã o m ot or a é alivia<strong>da</strong> por m ei o do<br />

nervo sis m o , de trem or e s e <strong>da</strong> agitaç ã o . A insônia roub a ao<br />

corp o o des c a n s o nec e s sitad o co m urgên cia. Os olho s trem e m<br />

de excitaç ã o , se arreg al a m e pod e m até m e s m o ficar<br />

niti<strong>da</strong> m e nt e saltad o s 64 .<br />

O pavor está es crito no rosto dos pacient e s co m o no de<br />

algué m que foi estran g ulad o , cujos olho s arreg al a d o s de m e d o<br />

parec e m que vão saltar <strong>da</strong>s órbitas. Franz Alexand er fala de<br />

"Based o w de cho q u e " 65 . Esse s olho s não estã o so m e n t e<br />

arreg al a d o s , eles estã o sup erdi m e n si o n a d o s . Em alar m a<br />

máxi m o , eles olha m para um a luta entre a vi<strong>da</strong> e a m orte, para<br />

a qual o resto do corpo evid e nt e m e n t e se prepara. A con ex ã o<br />

co m o terror não se rev ela so m e n t e na expres s ã o do rosto,<br />

tend o sido confirm a d a até m e s m o e m exp eri ên ci a s co m<br />

28<br />

6


anim ais. Poo dl e s confrontad o s co m martas ao s quais se tinha<br />

cortad o a rota de fuga des e n v olv er a m todo s os sinais de<br />

hipertireoidis m o , inclusive a so br e s s ali ê n ci a dos glóbulo s<br />

ocular e s, cha m a d a de exoftal mia. Encontra m o s nas histórias<br />

de pes s o a s do e nt e s a persp e ctiva de um a ép o c a pavor o s a ,<br />

co m o corresp o n d e n t e sofrim e nt o aní mic o de long a duraç ã o ,<br />

co m mais freqü ê n ci a que algu m ac o nt e ci m e n t o assu stad o r<br />

agud o. De qualqu er m an eir a, há tam b é m na maioria dos cas o s<br />

en c o ntro s prec o c e s co m a m orte e exp eriên ci a s co m a per<strong>da</strong><br />

de pes s o a s próxim a s . Entretanto, a angústia <strong>da</strong> m orte e o<br />

terror não são confrontad o s e sim rejeitad o s por m ei o <strong>da</strong><br />

neg a ç ã o e <strong>da</strong> repres s ã o , esta m p a n d o - se entã o no rosto.<br />

Muitas vez e s a neg a ç ã o che g a a tal ponto que os paci ent e s<br />

procura m justa m e n t e as situaç õ e s que mais tem e m . Além <strong>da</strong><br />

expr e s s ã o do rosto, o m e d o m anifesta- se tam b é m no pânic o<br />

que ator m e nt a os pacient e s , eles se borra m de m e d o, tal co m o<br />

diz a expres s ã o popular. Em vez de m arc h ar atrav é s <strong>da</strong><br />

situaç ã o e m sentido figurad o, eles vive m a "marcha" no<br />

intestino, so b a form a de diarréia. A tend ê n ci a a transpirar alé m<br />

do suor de m e d o , pod e ser apadrinh a d a tam b é m pelo esforç o e<br />

tens ã o exag er a d o s .<br />

De fato, os pacient e s não recua m ne m diante de fadigas<br />

ne m de esforç o s . Além do pânic o, o pes c o ç o inchad o e os<br />

olho s saliente s nos dão a imag e m de um esforç o imen s a m e n t e<br />

exc e s siv o, assi m co m o um halterofilista que abus a de suas<br />

forças. A tend ê n ci a de abus ar <strong>da</strong>s próprias forças en c o ntra- se<br />

na m ai or parte <strong>da</strong>s histórias de vi<strong>da</strong> dos afetad o s . Eles tend e m<br />

a am a d ur e c e r prec o c e m e n t e e a assu mir resp o n s a bili<strong>da</strong>d e s<br />

ced o de m ai s para pes s o a tão joven s. O exc e s s o de hor m ô ni o<br />

de cres ci m e n t o e de am a d ur e ci m e n t o e m seu san g u e sinaliza<br />

mais tarde as corresp o n d e n t e s preten s õ e s que m er gulhar a m<br />

no corp o. Muitas vez e s até m e s m o sep ar a d o s <strong>da</strong> m ã e ,<br />

en g a n a d o s ou rejeitad o s , eles tenta m co m b at er a angú stia e a<br />

incertez a resultante s identificand o- se eles m e s m o s co m o<br />

pap el mat ern o . ("Se eu não pos s o tê- la, dev o tornar- m e igual a<br />

ela, de m o d o que pos s a pas s ar se m ela.") Isso leva muitas<br />

28<br />

7


vez e s a que as mulh er e s afetad a s des e n v o l v a m uma ligaç ã o<br />

quas e ince stu o s a co m o pai e à fixaçã o e m um pap el feminin o<br />

nos ho m e n s que pod e ch e g ar ao ho m o s s e x u alis m o . Os<br />

pacient e s per m a n e c e m abn e g a d a m e n t e fiéis ao des e m p e n h o<br />

do pap el mat ern o que eles exig e m de si m e s m o s . O fracas s o<br />

de um a tal tentativa de co m p e n s a ç ã o pod e deton ar a<br />

sinto m átic a.<br />

Mas e m seus olho s arreg al a d o s pod e se refletir tam b é m a<br />

sed e de luta e até m e s m o a curiosi<strong>da</strong> d e . Encontrar e m o s co m<br />

freqü ê n ci a ain<strong>da</strong> maior es s a apar e nt e contradiç ã o . Amea ç a d o s<br />

e ac o s s a d o s , pare c e que os paci ent e s estã o se prep ar and o<br />

para grand e s feitos que exig e m to<strong>da</strong> a sua en er gia. Os sinais<br />

são de tem p e st a d e , co m o se a m ais feroz luta pela<br />

so br e viv ê n ci a foss e iminent e. No entanto, eles m e s m o s não<br />

sab e m na<strong>da</strong> diss o, ao contrário muitas vez e s con sid er a m seus<br />

sinto m a s co m grand e distan cia m e n t o intern o e, tal co m o<br />

de m o n s tr a a exp eri ên ci a, de m o r a m a se apres e nt ar no<br />

con s ultório m é dic o . Eles não têm a tend ê n ci a a deixar- se<br />

declarar do e nt e s , agü e nt an d o pelo m ai or temp o pos sív el. Sua<br />

corag e m para a luta m er gulh o u na so m b r a e lhes é<br />

perfeita m e nt e incon s ci e nt e. No corp o, ao contrário, eles<br />

de m o n s tr a m co m to<strong>da</strong> a hon e sti<strong>da</strong>d e , em nódulos quent e s e no<br />

pes c o ç o inchad o , co m o estã o cand e nt e s por expans ã o e<br />

des e n v olvi m e nt o e os esforç o s que estã o dispo sto s a fazer<br />

para isso. Eles não quer e m ap en a s tornar- se mais am plo s,<br />

ma s so br etud o progr e dir, sua fom e é insaciáv el e trai um<br />

apetite se m el h a nt e pela vi<strong>da</strong>. Eles não con s e g u e m enc h e r<br />

suficiente m e n t e a go el a e muitas vez e s se con s o m e m de<br />

ardent e am bi ç ã o [Ehrg eiz e m ale m ã o : Ehr honra / Geiz =<br />

avar ez a]. Esse tipo de avar ez a salienta- se no prim eiro plano.<br />

Às vez e s , a inquieta ç ã o se explicita e m um ver<strong>da</strong>d eir o zunido<br />

ou um a pulsaç ã o do bó ci o. Esse estad o tem algo de<br />

debilitante, a m o vi m e nt a ç ã o básic a é tão alta que os afetad o s<br />

e m a g r e c e m e a impres s ã o de que estã o sen d o ac o s s a d o s é<br />

sublinhad a ain<strong>da</strong> mais. Eles se dev or a m de am biç ã o e vontad e<br />

de produzir.<br />

28<br />

8


O local <strong>da</strong> luta cand e nt e, no contexto <strong>da</strong> form a de avar ez a<br />

que co biç a honra, deixa entrev er um outro tem a alé m do pavor<br />

e <strong>da</strong> fraca dispo siç ã o para a defe s a. Sendo pas s a g e m do<br />

corp o para a cab e ç a , o pes c o ç o con stitui o ac e s s o para a<br />

instância sup erior. Ness e lugar não só foi erguido um es cu d o<br />

defen siv o aum e nt a d o diante de um a <strong>da</strong>s zona s m ais sen sív ei s<br />

do corp o por m ei o do bó ci o, m a s foi tam b é m pas s a d a um a<br />

tranc a que estreita to<strong>da</strong> s as vias vitais de ab a st e ci m e n t o . Ao<br />

redor des s e bloqu ei o trava- se um a acirra<strong>da</strong> disputa que pod e<br />

ser interpretad a co m o uma luta pelo ac e s s o ao local m ais<br />

elev a d o . Muitas vez e s es c o n d e - se por trás diss o a enc arn a ç ã o<br />

de um ve e m e n t e conflito de autori<strong>da</strong>d e que tem algo de<br />

decisiva m e n t e vital para os afetad o s . O corp o m o stra co m o<br />

es s a luta é des g a s t a nt e, co m o con s o m e as en er gias, e co m o a<br />

pas s a g e m para cim a se estreita cad a vez mais. O m e d o e a<br />

inquietaç ã o explicita m- se nos trem or e s . Constante m e n t e e m<br />

pânic o de que estã o perdido s ante s m e s m o de ter con s e g uid o<br />

algu m a cois a, cad a estreita m e n t o os deixa fora de si. Não é<br />

raro que eles, quan d o na pres e n ç a de um a figura de autori<strong>da</strong>d e<br />

corre s p o n d e n t e , não con sig a m levar uma xícara de café à bo c a<br />

devido ao trem or. Eles têm um a bola na garg a nta,<br />

de m o n s tr a n d o que na<strong>da</strong> mais pod e subir, e m b o r a e m sentido<br />

figurad o tudo neles queira subir. A sed e de vi<strong>da</strong> alia<strong>da</strong> ao med o<br />

(<strong>da</strong> m orte) de perd er tudo o que é es s e n ci al na vi<strong>da</strong> tam b é m<br />

tem um a participaç ã o aqui.<br />

Caso um a palavra ain<strong>da</strong> aflore e m seus lábio s quan d o nesta<br />

situaç ã o , eles o dev e m a sua grand e cap a cid a d e de aprum arse<br />

e de aplicar prag m atis m o a tudo. Eles retê m os estí mulo s<br />

e m o ci o n ai s - esp e ci al m e n t e os hostis - e sentim e nt o s de todo<br />

tipo abaixo <strong>da</strong> barreira form a d a pelo bó ci o. Eles gosta m de<br />

aju<strong>da</strong>r até m e s m o seus opo sitor e s bas e a n d o - se e m<br />

con sid er a ç õ e s racion ais, assi m co m o colo c a m - se, de<br />

prefer ê n ci a, mat ern al e protetora m e n t e ao lado dos irmã o s co m<br />

os quais rivaliza m. Som e nt e quan d o , vez por outra, o dique no<br />

pes c o ç o se ro mp e, abr e m - se as co m p o rta s e banh o s de<br />

lágrim a s apar e nt e m e n t e se m m otivo en c o ntra m o ca minh o <strong>da</strong><br />

28<br />

9


liber<strong>da</strong> d e . Às vez e s eles tam b é m são traído s pela voz raspa d a,<br />

rouc a, audivel m e n t e aflita, m o stran d o quanto a situaç ã o lhes<br />

dá o que fazer. Ela fala clara m e n t e <strong>da</strong> pres s ã o so b a qual eles<br />

se en c o ntra m e o estad o de espírito oprimido de que está<br />

ch eia. Nece s s aria m e n t e baixa, a voz, força<strong>da</strong> co m o é, deixa<br />

so ar as preten s õ e s propria m e nt e ditas. Aqui a pes s o a gostaria<br />

de extern ar- se mais e mais alto, ma s não o con s e g u e .<br />

O co m p o n e n t e de cres ci m e n t o dos hor m ô ni o s <strong>da</strong> tireóid e<br />

alicerç a as interpreta ç õ e s , pois o exc e s s o de hor m ô ni o m o stra<br />

as preten s õ e s de cres ci m e n t o que m er g ulh ar a m no corp o.<br />

Esse é o seu lugar até a adol e s c ê n c i a, ma s dep ois dev e<br />

localizar- se exclusiva m e n t e no nível aní mic o- espiritual.<br />

Portanto, não é de ad mirar que pratica m e n t e não exista<br />

hipertireoidis m o na infância e que sua oc orr ê n ci a au m e nt e<br />

so m e n t e apó s a pub erd a d e . Nos adultos, o exc e s s o de<br />

hor m ô ni o rev ela uma regr e s s ã o , um recuo a um plano que não<br />

é mais ad e q u a d o . Os pacient e s não ad mite m ne m seus<br />

esforç o s de cres ci m e n t o ne m os de luta. Sua preten s ã o de<br />

am a d ur e c e r e cres c e r de form a esp e ci al m e n t e rápi<strong>da</strong> e de<br />

viven ci ar o máxi m o pos sív el é e m p urrad a para o corp o, ond e<br />

se des a b af a co m o au m e nt o <strong>da</strong> produç ã o de hor m ô ni o. O<br />

exc e s s o de hor m ô ni o m eta b ólic o e de cres ci m e n t o os deixa<br />

exa g er a d a m e n t e sen sív ei s, volúveis, turbulento s e<br />

exc e s siv a m e n t e vivaz e s, fom e ntando a angústia de morte. Eles<br />

estã o tão des p erto s que não con s e g u e m m ais fechar ne m um<br />

olho. As pálpe br a s trem e m o dia todo, de noite eles evita m o<br />

son o. A evitaç ã o do son o, o irmã o m e n o r <strong>da</strong> m orte, fecha o<br />

circulo <strong>da</strong> angústia <strong>da</strong> m orte. Algum a s histórias de do e nt e s<br />

levanta m a susp eita de que se trata do m e d o de termin ar a vi<strong>da</strong><br />

antes que ela tenha sido vivi<strong>da</strong>.<br />

Cham a a aten ç ã o que as mulh er e s seja m afetad a s cinc o<br />

vez e s mais que os ho m e n s . Isso pod eria levar à con clus ã o de<br />

que as pos sibili<strong>da</strong>d e s so ciais de cres ci m e n t o e de realizaç ã o<br />

seja m niti<strong>da</strong> m e nt e piores e, portanto, a prob a bili<strong>da</strong>d e de que<br />

seja m reprimi<strong>da</strong> s seja m ai or. Além diss o, e m muitas paci ent e s<br />

é evident e o des ej o de satisfaz er seus esforç o s de cres ci m e n t o<br />

29<br />

0


co m a gravid ez e, alé m diss o, per mitir o cres ci m e n t o <strong>da</strong> família<br />

co m ado ç õ e s e filhos de criaç ã o , o que gera probl e m a s e m um<br />

am bi e nt e relativa m e n t e hostil às crianç a s . Alexand er fala de<br />

"mania de con c e p ç ã o ap e s ar do m e d o <strong>da</strong> gravid ez". Essa<br />

contradiç ã o se reflete na tentativa <strong>da</strong>s mulh er e s afetad a s de,<br />

assi m, defend er e m - se <strong>da</strong> própria angústia de morte, já que dão<br />

vi<strong>da</strong> e m outro plano.<br />

A relaç ã o entre gravid ez e glândula tireóid e pod e ser<br />

co m pr o v a d a de várias m an eira s. Durante a gravid ez, por<br />

exe m pl o, ela está ligeira m e n t e au m e nt a d a e trabalha mais<br />

intens a m e n t e . Uma ativi<strong>da</strong>d e glandular insuficiente leva<br />

freqü e nt e m e n t e a esterili<strong>da</strong>d e ou a ab orto s. O hor m ô ni o <strong>da</strong><br />

tireóid e tam b é m exer c e um a influên cia positiva so br e a<br />

fertili<strong>da</strong>d e dos ho m e n s . Ele produz um au m e nt o no núm er o de<br />

esp er m a t o z ói d e s exp elido s e tam b é m na sua velo cid a d e de<br />

deslo c a m e n t o . Há indício s de que, e m relaç ã o à história <strong>da</strong><br />

ev oluç ã o , a tireóid e se origin e do âm bito uterino.<br />

"Progredir por m ei o dos filhos" é uma variante freqü e nt e <strong>da</strong><br />

am bi ç ã o en c o ntrad a de man eira geral no hipertireoidis m o , que<br />

é a de progr e dir a qualqu er preç o. Fora isso, es s e e m p e n h o se<br />

realiza e m um progra m a de trabalh o que che g a ao<br />

es g ot a m e n t o e nas exig ê n ci a s de produtivi<strong>da</strong>d e de si m e s m o e<br />

do am bi e nt e. Neste ponto, tam b é m , as fronteiras são mais<br />

e str eita s para as mulh er e s , en c arn a n d o - se dolor o s a m e n t e no<br />

hipertireoidis m o . quan d o o des ej o s de gravid ez ou de<br />

produtivi<strong>da</strong>d e são colo c a d o s e m que stã o , isso pod e levar ao<br />

surto <strong>da</strong> sinto m átic a.<br />

Uma outra razão para a m ai or freqü ê n ci a entre as mulh er e s<br />

pod e estar no fato de que a tem átic a do produzir, lutar e se<br />

impor perten c e mais ao pólo arqu etípic o ma s c ulino e, por es s a<br />

razã o, é fun<strong>da</strong> m e n t al m e n t e mais difícil para as mulh er e s . É<br />

muito difícil, por exe m pl o, transp ô- lo para o âm bito<br />

primordial m e nt e feminino do <strong>da</strong>r à luz. À parte o fato de que a<br />

vontad e de produzir pratica m e n t e não corresp o n d e a es s e<br />

âm bito, um grand e núm er o de filhos é na ver<strong>da</strong>d e punido pela<br />

soci e d a d e . O dinheiro <strong>da</strong>d o pelo Estado para aju<strong>da</strong>r a mant er<br />

29<br />

1


as crianç a s não contradiz isso, ao contrário, é na ver<strong>da</strong>d e<br />

expr e s s ã o de má con s ci ê n ci a e m relaç ã o àqu el e s que fora m<br />

prejudic ad o s pela prole num er o s a .<br />

Finalm e nt e, a tem átic a <strong>da</strong> autori<strong>da</strong>d e entre mã e e filha é<br />

muito mais difícil de solucion ar para a filha que para o filho.<br />

Segund o Alexand er, todo s os afetad o s ado e c e m <strong>da</strong> dificul<strong>da</strong>d e<br />

de do min ar a troca de pap éis, de cui<strong>da</strong>d o a cui<strong>da</strong>d or.<br />

A lição a ser aprendid a con siste e m ad mitir para si m e s m o o<br />

m e d o e o pânic o e m relaç ã o à própria vi<strong>da</strong> e as altas<br />

preten s õ e s de des e n v olvi m e nt o , produtivi<strong>da</strong>d e , cres ci m e n t o e<br />

vivên ci a que co m eles contrasta m . Os en or m e s esforç o s e o<br />

e m p e n h o para obter o rec o n h e c i m e n t o <strong>da</strong> autori<strong>da</strong>d e, na<br />

maioria <strong>da</strong>s vez e s es c olhid a pelo próprio paci ent e, dev e m ser<br />

relacion a d o s co m a própria história. Para liberar o padrã o, é<br />

nec e s s á ri o rec o n h e c e r a própria participaç ã o na situaç ã o<br />

contraditória: na maior parte <strong>da</strong>s vez e s , a angú stia e o m e d o<br />

que se esta m p a m na cara pod e m ser seguid o s até dec e p ç õ e s<br />

prec o c e s (infantis) dos próprios des ej o s de dep e n d ê n ci a. As<br />

tentativas de substituir a se g ura n ç a am e a ç a d a <strong>da</strong>nd o- a a<br />

outros projeta m luz so br e a exig ê n ci a exc e s siv a. Pois co m o se<br />

pod e <strong>da</strong>r algo que não se tem, ma s de que se precis a co m<br />

urgên ci a? A alta preten s ã o e a en or m e dispo siç ã o para a<br />

produç ã o e o sofrim e nt o torna m pos sív el aquilo que é<br />

contraditório e, ao m e s m o temp o, quas e impo s sí v el. A situaç ã o<br />

que deton a a sinto m átic a <strong>da</strong> do e n ç a , que faz colap s ar o edifício<br />

feito de angústia, esforç o e neg a ç ã o de si m e s m o , e m p urra os<br />

impulso s corre s p o n d e n t e s para o corp o que, por sua vez,<br />

colo c a- se so b a m ais alta exig ê n ci a e o incita a um a luta que<br />

não pod e ser ven ci<strong>da</strong>. Os deton a d o r e s , que pod e m ir de crise s<br />

de relacion a m e n t o até a per<strong>da</strong> por m ei o <strong>da</strong> m orte e que são<br />

alim e ntad o s pelo m e d o fun<strong>da</strong> m e n t al, na m ai oria <strong>da</strong>s vez e s já<br />

oc orr er a m e m pen s a m e n t o s e, por es s a razão, env olv e m - se<br />

ain<strong>da</strong> mais no terror de um a profecia tornad a reali<strong>da</strong>d e .<br />

Quando o próprio fundo aní mic o é trabalhad o , para o que<br />

uma psicoter apia muitas vez e s não pod e ser evita<strong>da</strong>, trata- se<br />

de voltar a viver con s ci e nt e m e n t e os impuls o s que fora m<br />

29<br />

2


e m p urrad o s para o corp o. A am biç ã o , que gan h a asa s no<br />

des ej o de luta, e o emp e n h o estã o no coraç ã o que faz co m que<br />

até o pes c o ç o pulse. Após a ad mis s ã o de co m o são ardent e s<br />

co m tudo na vi<strong>da</strong> e co m tudo o que vive m , co m a asc e n s ã o e o<br />

rec o n h e c i m e n t o de co m o gostaria m de ser na reali<strong>da</strong>d e as<br />

"pes s o a s quent e s" que eles até entã o so m e n t e vivera m às<br />

es c o n di d a s , os son h o s de alto vô o têm um a chan c e autêntica<br />

de m e dir- se co m a reali<strong>da</strong>d e . Quando se rec o n h e c e o bloqu ei o<br />

no âm bito do pes c o ç o que sep ar a a cab e ç a <strong>da</strong> reali<strong>da</strong>d e do<br />

corp o e, por exe m pl o, sep ar a tam b é m a própria voz de seu<br />

ca m p o de res s o n â n ci a no corp o, só entã o todo o m e d o m etido<br />

no desfilad eiro do pes c o ç o e que está pres o nos olho s<br />

arreg al a d o s pod e tornar- se con s ci e nt e. Os afetad o s não têm<br />

apen a s um nó con cr et o no pes c o ç o , seu probl e m a são os nós<br />

aní mic o s , que form a m uma barreira entre o que está e m cim a e<br />

o que está e m b aix o. quan d o se defronta m co m es s a angú stia,<br />

que eles até entã o apen a s m et er a m go el a ab aixo (no bó ci o), a<br />

luta no mun d o exterior pas s a a ter um a chanc e . É pos sív el<br />

tam b é m que ela deixe de ser nec e s s á ri a a partir do m o m e n t o<br />

e m que as en er gias de cres ci m e n t o busc a m outros rum o s mais<br />

pacíficos.<br />

O princípio <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> mer gulh o u na so m b r a e quer retornar ao s<br />

níveis con s ci e nt e s . O hipertireoidis m o sim b oliza um a incrível<br />

abun d â n ci a de vi<strong>da</strong> e cres ci m e n t o , de m a s i a d a para o corpo. É<br />

precis o des viar es s e exc e s s o de vi<strong>da</strong> para os can ais aní mic oespirituais,<br />

pois lá quanta s direç õ e s se queira, na ver<strong>da</strong>d e<br />

to<strong>da</strong>s as direç õ e s , estã o ab ertas.<br />

P er g u nta s<br />

No cas o de nódulos frios:<br />

1. Tenh o nódulo s (= probl e m a s não res olvido s) no pes c o ç o<br />

que pod eria m matar- m e co m sua fria hostili<strong>da</strong>d e à vi<strong>da</strong>?<br />

2. O que pod eria m e ac o nt e c e r de ruim por continuar a<br />

ignorá- los?<br />

3. Onde há um âm bito substanci al <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> do qual retirei<br />

to<strong>da</strong> a en er gi a, que tento mant er frio?<br />

29<br />

3


No cas o de hipertireoidis m o e nódulo s quent e s:<br />

1. Qual é o ferro que nt e que eu não quer o se gur ar?<br />

2. Que am biç ã o ardent e e grand e preten s ã o m e<br />

impulsion a m ? Qual o objetivo de minh a fom e insaciáv el?<br />

3. O que me dá ímp et o, o que m e deixa louc o <strong>da</strong> vi<strong>da</strong>?<br />

4. Que pelote, que angú stia tenh o m eti<strong>da</strong> há tem p o na<br />

garg a nta?<br />

5. que m pod eria pular no m e u pes c o ç o ? No pes c o ç o de<br />

que m gostaria de pular? Ao redor de que autori<strong>da</strong>d e gira minh a<br />

luta?<br />

6. Até que ponto os cilo entre a angú stia <strong>da</strong> m orte e a<br />

avidez de vi<strong>da</strong>?<br />

7. Por que en gulo estí m ul o s hostis?<br />

8. Com o che g u ei a ponto de colo c ar o prag m atis m o aci m a<br />

<strong>da</strong>s e m o ç õ e s ? Por que forço discus s õ e s cand e nt e s para o<br />

corp o?<br />

9. O que se es c o n d e por trás de minh a exag er a d a<br />

dispo siç ã o para aju<strong>da</strong>r? O que se es c o n d e por trás de m e u<br />

(exag er a d o ?) des ej o de ter filhos?<br />

10. O que se es c o n d e por trás de m eu des a m p a r o quan d o<br />

se trata de mi m e <strong>da</strong> defe s a de meus próprios interes s e s ?<br />

1 1. A que urge m e u alto índic e m eta b ólic o (= troca de<br />

substânci a s)? que sub stân ci a de minha vi<strong>da</strong> é precis o trocar?<br />

que troca é des n e c e s s á ri a?<br />

12. Onde quer o che g ar co m o exc e s s o de vi<strong>da</strong> que há e m<br />

mi m?<br />

Hipotireoidism o<br />

Ao contrário <strong>da</strong> hiperfunç ã o , no hipotire oidis m o muito pouc o<br />

hor m ô ni o <strong>da</strong> tireóid e ch e g a ao san gu e. As con s e q ü ê n c i a s são<br />

baixo m eta b olis m o basal e carên ci a de en er gia. A pres s ã o<br />

arterial cai, assi m co m o o nível de glico s e do san gu e, surg e a<br />

an e mi a e o m eta b olis m o so m e n t e funcion a no fogo mais baixo,<br />

levan d o ao can s a ç o , m ol ez a, uma falta geral de impuls o, e ao<br />

29<br />

4


aum e nt o de pes o. Som a m - se a isso a falta de ap etite e a<br />

prisão de ventre, en qu a nt o os cab el o s* torna m- se sec o s e<br />

hirsutos e pod e m cair. A pele é m al irriga<strong>da</strong> pelo san g u e e, e m<br />

con s e q ü ê n c i a, fria, tend e n d o a en gr o s s ar. O tecido subcutân e o<br />

adquire um a con sist ên ci a esp o njo s a e dura, razão pela qual os<br />

m é di c o s falam de mixed e m a . O estad o de espírito é<br />

des al e nta d o - depr e s siv o , a expr e s s ã o do rosto é e m b o t a d a e<br />

desinter e s s a d a . A pers o n ali<strong>da</strong>d e letárgica, ralenta<strong>da</strong>,<br />

intelectual m e n t e ador m e c i d a a ponto de <strong>da</strong>r a impres s ã o de<br />

atras o m e ntal é o maior contrast e co m os viva m e nt e des p erto s,<br />

hiper ex citad o s pacient e s de hipertireoidis m o chei o s de<br />

angústia.<br />

Os pacient e s de mixed e m a des e n v olv er a m uma ca s c a<br />

gro s s a para sep ar á- los do mun d o exterior. Com a irrigaç ã o<br />

san guín e a eles retiram ain<strong>da</strong> m ais a en er gia vital <strong>da</strong> pele<br />

ma s s u d a e inchad a, isto é, eles não quer e m esta b el e c e r<br />

qualqu er contato vivo co m o mund o lá fora. A pele, co m o<br />

fronteira para fora, per m a n e c e assi m fria e se m vi<strong>da</strong>. As mã o s<br />

frias, cas o eles as esten d a m para cumpri m e nt ar algué m ,<br />

deixa m perc e b e r que não ac eita m qualqu er contato afetuo s o<br />

ou calor o s o . Os pés frios revela m que seu enraiza m e n t o na<br />

terra é na ver<strong>da</strong>d e se m vi<strong>da</strong> e deficiente. quan d o se tem os pés<br />

frios [em ale m ã o , ter pés frios = estar e m uma situaç ã o<br />

des a gr a d á v e l], log o ve m tam b é m a angú stia. Uma pes s o a que<br />

ain<strong>da</strong> não enc o ntr ou um lugar para deitar raízes vive<br />

natural m e nt e co m um a angústia fun<strong>da</strong> m e n t al.<br />

Isso colo c a os pacient e s , co m seus co m p a n h e ir o s de<br />

sofrim e nt o, no pólo opo st o <strong>da</strong> hiperfunç ã o . Com o to<strong>da</strong>s as<br />

opo siç õ e s , es s e s dois contrário s tam b é m se opõ e m um ao<br />

outro, m a s ain<strong>da</strong> assi m se enc o ntra m no m e s m o eixo. Onde os<br />

pacient e s de hipertireoidis m o vão ao enc o ntr o <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> co m<br />

angústia <strong>da</strong> m orte e dão a impres s ã o de que estã o lutando e m<br />

pânic o pela so br e viv ê n ci a, os pacient e s de hipotire oidis m o vão<br />

ao enc o ntr o <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> co m indiferen ç a, co m o se ela não lhes<br />

diss e s s e resp eito. Assim co m o todo o resto, ela os deixa<br />

inteira m e nt e frios. Parec e que eles estã o se fingindo de morto s.<br />

29<br />

5


Mas no tem a <strong>da</strong> m orte há nova m e n t e algo e m co m u m co m os<br />

pacient e s de hipertireoidis m o . Uns a tem e m en qu a nt o os<br />

outros a imita m, ma s todo s ocup a m - se con stant e m e n t e co m<br />

ela.<br />

Não é de ad mirar tanto que os pacient e s não se sinta m be m<br />

dentro de sua pele fria e esp o nj o s a. O estad o de espírito<br />

deprimid o e a expr e s s ã o am ort e cid a do rosto, ond e falta<br />

qualqu er sinal de participaç ã o , o deixa m be m claro. O coraç ã o<br />

bate e m um ritmo fraco e can s a d o , m o vi m e nt a n d o um san gu e<br />

ao qual falta sub stân ci a. Trata- se de um a seiva vital real m e nt e<br />

rala, co m pouc o s portad or e s de en er gia (glóbulo s ver m el h o s) e<br />

pouc o co m b u stív el (açúc ar). A baixa taxa de açúc ar den ot a<br />

alé m diss o que falta doçura a es s a vi<strong>da</strong>. Não é de ad mirar que<br />

tam b é m extern a m e n t e os paci ent e s m o str e m uma imag e m de<br />

afasta m e n t o <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> e m to<strong>da</strong> regra. Uma retira<strong>da</strong> incondicion al<br />

de to<strong>da</strong> s as frentes <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> m er g ulh o u aqui na so m b r a e se<br />

en c arn o u. Este sinto m a m o stra seu caráter e m seu cas o<br />

extre m o , o co m a por mixed e m a , co m estad o s de m orte<br />

apar e nt e e temp er aturas inferiores a 23 graus. A vi<strong>da</strong> aqui está<br />

quas e con g el a d a, as funçõ e s vitais estã o pratica m e n t e<br />

susp e n s a s . Há muito que os pacient e s , e m sua profun<strong>da</strong><br />

incon s ci ê n ci a, já não dão sinal de vi<strong>da</strong>. Eles já não pod e m mais<br />

sentir qualqu er calor pela vi<strong>da</strong>, isso so m e n t e é pos sív el ain<strong>da</strong><br />

por m ei o <strong>da</strong> aju<strong>da</strong> vin<strong>da</strong> de fora. Eles pod e m de fato ser<br />

trazido s de volta para a vi<strong>da</strong>. Tais situaç õ e s extre m a s estã o por<br />

trás <strong>da</strong> m ai or parte dos ma c a b r o s relato s de pes s o a s<br />

enterrad a s vivas.<br />

Paciente s de hipofunç ã o não m o stra m qualqu er dispo siç ã o<br />

para assu mir a luta pela vi<strong>da</strong>, eles não se interes s a m ne m<br />

m e s m o por suas vi<strong>da</strong>s. Os olho s can s a d o s e ocultos e m<br />

profun<strong>da</strong> s olheiras contrasta m co m os olho s faisc ant e s e que<br />

salta m <strong>da</strong>s órbitas de seus adv er s ário s co m hiperfunç ã o . Uma<br />

preguiç a, uma apatia que não se interess a por na<strong>da</strong> contrasta<br />

co m um a agitaç ã o hiperativa. Uns não se m ex e m do lugar,<br />

outros voa m de um lugar para outro se m jam ais che g ar a lugar<br />

algu m. Com tudo o que opõ e um e m relaç ã o ao outro, eles<br />

29<br />

6


co m p artilha m o tem a que os divide e que se en c o ntra no m ei o,<br />

entre eles, e do qual am b o s enc o ntra m - se igual m e nt e<br />

distante s. Trata- se de seu lugar na vi<strong>da</strong>. Entre muito pouc a<br />

vi<strong>da</strong> e m um cas o e vi<strong>da</strong> de m ai s no outro, en c o ntra- se a igual<br />

distância de am b o s , a mei o ca minh o entre eles: a vi<strong>da</strong>.<br />

A m e di cin a m o d e r n a, que co m seus m ét o d o s terap êutic o s<br />

radicais de radioterapia e cirurgia muitas vez e s transfor m a<br />

hiperfunç õ e s e m hipofunç õ e s , m o stra tam b é m co m o os dois<br />

pólos estã o na reali<strong>da</strong>d e próxim o s . As pes s o a s assi m trata<strong>da</strong>s<br />

pas s a m nec e s s a ria m e n t e a precis ar ser esta biliza<strong>da</strong> s por m ei o<br />

de aplicaç õ e s de hor m ô ni o <strong>da</strong> tireóid e para o resto de suas<br />

vi<strong>da</strong>s. Através des s e proc e di m e n t o , os afetad o s viven cia m o<br />

m e s m o tem a fun<strong>da</strong> m e n t al de dois lado s contraditório s.<br />

Enquanto a terapia <strong>da</strong> m e dicin a ac ad ê m i c a para a hipofunç ã o<br />

é regi<strong>da</strong> pelo princípio <strong>da</strong> sub stituiçã o e segu e pen s a m e n t o s<br />

alopátic o s (a falta de vi<strong>da</strong> dos pacient e s é trata<strong>da</strong> co m os<br />

hor m ô ni o s vitais <strong>da</strong> tireóid e), a radioterapia co m raios de iodo<br />

segu e ca min h o s quas e ho m e o p á tic o s . Os paci ent e s eng ol e m<br />

iodo radio ativo que se acu m ula na tireóid e e que, a partir desta,<br />

se irradia de dentro para fora. Durante o temp o de trata m e nt o o<br />

pacient e inteiro está tão radiativa m e n t e radiante que precis a<br />

ser rigoro s a m e n t e isolad o. Os radiolo gista s contrap õ e m algo<br />

ain<strong>da</strong> mais agre s siv o ao s impuls o s vitais agr e s siv o s do sinto m a<br />

que m er g ulh ar a m no corp o. As sub stân ci a s radio ativa s são <strong>da</strong>s<br />

mais ativas e, portanto, <strong>da</strong>s m ais vivas que se pos s a imagin ar.<br />

Elas co m o que explod e m de dentro para fora, dilac er a n d o - se,<br />

e m outras palavra s, para sua vivaci<strong>da</strong>d e letal.<br />

A lição a ser aprendid a pelo s pacient e s e a red e n ç ã o do<br />

tem a hipofunç ã o con sist e e m voltar- se con s ci e nt e e<br />

inteira m e nt e para si m e s m o , limitar as ativi<strong>da</strong>d e s ao míni m o<br />

nec e s s á ri o e apren d er a deixar ac o nt e c e r. A "mol ez a" que<br />

todo s os afetad o s enc o ntra m dev e ser transfor m a d a naqu el e<br />

"Seja feita a Sua vontad e" con s ci e nt e. A tarefa não con siste em<br />

deixar- se levar de um lado para o outro por todo s, m a s per mitir<br />

pacient e m e n t e que a vi<strong>da</strong> lhe m o str e seu lugar. Não<br />

resign a ç ã o e m relaç ã o à vi<strong>da</strong>, ma s um a retira<strong>da</strong> do "Eu quer o!"<br />

29<br />

7


para "Seja feita Sua vontad e!”.<br />

Enquanto na hiperfunç ã o a vi<strong>da</strong> m er g ulh o u na so m b r a, aqui<br />

foi a m orte. Portanto, é precis o deixar que tudo o que é velho<br />

m orra, os velho s padrõ e s e progra m a s , tudo aquilo que há<br />

muito estav a m ortal m e nt e can s a d o . O pacient e de mixed e m a<br />

parec e um cad á v e r, frio, inchad o , exan g u e . Sua tarefa mais<br />

urgent e é enten d er- se co m a m orte. Ele so m e n t e pod er á viver<br />

quan d o apren d er a m orr er. Pode pare c e r uma tarefa bastant e<br />

des pr o p o sitad a e m um a so ci e d a d e industrial m o d er n a.<br />

Entretanto, há culturas nas quais a prepar a ç ã o para a m orte<br />

era o conteú d o m ais importante <strong>da</strong> vi<strong>da</strong>, tal co m o no antigo<br />

Egito, entre os maia s e tam b é m entre os lam a s do Tibete. Os<br />

Livros dos Mortos corre s p o n d e n t e s são teste m u n h o s des s e<br />

ca min h o .<br />

Com a subfunç ã o ou o não funcion a m e n t o inato <strong>da</strong> tireóid e,<br />

des e n v olv e- se o quadr o de cretinis m o , co m nanis m o e<br />

debili<strong>da</strong>d e m e ntal e m divers o s graus. Neste cas o , a lição a ser<br />

apren di<strong>da</strong> des crita e m prim eiro lugar fica ain<strong>da</strong> mais clara, já<br />

que ela tam b é m se dirige ao s pais de m an eira muito<br />

substanci al. A inteligên ci a é nec e s s á ri a para tornar reali<strong>da</strong>d e o<br />

"Eu quer o", ao m e n o s e m parte. Quando ela falta e m grand e<br />

m e di<strong>da</strong>, a sub ordina ç ã o do am bi e nt e à própria vontad e não é<br />

um tem a. Os déb ei s m e ntais perc e b e m o mund o de m an eir a<br />

instintiva e m vez de inteligent e, eles estã o de fora des d e o<br />

co m e ç o . Inúteis para os objetivo s <strong>da</strong> so ci e d a d e e<br />

con sta nt e m e n t e dep e n d e n t e s de sua aju<strong>da</strong>, eles são um a<br />

carg a para ela. queira m ou não, os afetad o s têm de suportar<br />

to<strong>da</strong>s es s a s situaç õ e s humilhant e s . Na maioria <strong>da</strong>s vez e s , é<br />

m e n o s difícil para eles que para seus pais. A única soluç ã o<br />

está e m aprend er a humil<strong>da</strong>d e a partir <strong>da</strong> humilha ç ã o . O<br />

nanis m o expr e s s o tam b é m dev e ser enten did o nes s a direç ã o .<br />

Evidente m e n t e , não se trata de ser um grand e protag o ni sta<br />

nesta vi<strong>da</strong>, ma s de en c aixar- se e m um a pequ e n a m oldura e m<br />

um grand e mund o e des e m p e n h a r seu pap el pequ e n o e<br />

m o d e s t o .<br />

29<br />

8


P er g u nta s<br />

1. Por que não quer o mais estar vivo? O que m e leva a<br />

viver so m e n t e e m ponto morto?<br />

2. Para que precis o de uma pele tão gros s a?<br />

3. O que m eu exc e s s o de pes o quer m e dizer? O que ele<br />

substitui e m mim?<br />

4. Onde es c o n d o minha en er gi a vital?<br />

5. O que me transfor m a em um bloc o de gelo?<br />

6. Com o pos s o transfor m ar minh a resign a ç ã o e m entreg a,<br />

m e u fatalis m o e m dev o ç ã o ?<br />

7. O que dev eria deixar morr er para voltar a estar vivo?<br />

8. Até que ponto fiquei dev e n d o o enten di m e n t o co m a<br />

m orte?<br />

9. Onde está m eu lugar, ond e pod eria viver e flores c e r?<br />

29<br />

9


6<br />

A Coluna Vertebral<br />

Noss o órgã o mais co m u ni c a nt e é a colun a verte br al (CV),<br />

que co m u ni c a o sup erior (cab e ç a) co m o inferior (bacia). Neste<br />

ponto, o no m e colun a vertebr al (Colu m n a verte bralis ) é<br />

so m e n t e um a aproxim a ç ã o <strong>da</strong> reali<strong>da</strong>d e, já que durante a<br />

maior parte <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> ela é muito mais um arco que um a coluna.<br />

Visto de perfil, es s e arc o delineia um duplo S. A coluna<br />

vertebr al co m p o rta- se co m o um a uni<strong>da</strong>d e funcion al, e m b o r a<br />

con sista de 34 até 35 oss o s : 7 vértebr a s cervic ais, 12<br />

torácic a s, 5 lom b ar e s , 5 sacrais e 5 coc cí g e a s . As 24 vérte br a s<br />

sup erior e s são m ó v ei s, en qu a nt o as 10 ou 1 1 inferiores estã o<br />

sol<strong>da</strong> d a s um a s às outras até o oss o sacr o e o cóc cix. À<br />

uni<strong>da</strong>d e funcion al <strong>da</strong> coluna vertebr al dev e- se so m ar ain<strong>da</strong> os<br />

550 mús c ul o s e 400 tend õ e s e liga m e nt o s do apar elh o de<br />

apoio circund a nt e, que garant e m a esta bili<strong>da</strong>d e e ao m e s m o<br />

temp o pos sibilitam a impre s si o n a nt e m o bili<strong>da</strong>d e nas 14 4<br />

pequ e n a s articulaç õ e s . Com exc e ç ã o <strong>da</strong>s duas vérte br a s<br />

cervic ais sup erior e s , Atlas e Áxis, to<strong>da</strong> s as outras têm um a<br />

form a básic a se m e l h a nt e.<br />

30<br />

0


Enquanto os corpo s m a ciç o s <strong>da</strong>s vértebr a s suporta m o pes o<br />

do corpo, o can al vertebr al, form a d o por pequ e n a s ab erturas<br />

nas vérte br a s sup erp o st a s , prote g e a sen sív el m e d ul a<br />

espinh al. Nervo s espinh ais sa e m <strong>da</strong> inters e ç ã o de cad a duas<br />

vértebr a s vizinhas. As vérte br a s peitorais dispõ e m alé m diss o<br />

de pequ e n a s sup erfícies de articulaç ã o para as co st el a s,<br />

per mitindo assi m os m o vi m e nt o s <strong>da</strong> caixa torácic a que<br />

dep e n d e m <strong>da</strong> respiraç ã o . Devido ao s prolon g a m e n t o s ós s e o s<br />

e m form a de espinh o que aponta m para fora, a CV é cha m a d a<br />

muitas vez e s de "espinh a dors al", provav el m e n t e porqu e es s a<br />

crista níti<strong>da</strong> foi a prim eira cois a que as pes s o a s perc e b e r a m <strong>da</strong><br />

CV.<br />

A diferent e m o bili<strong>da</strong>d e de cad a um a de suas se ç õ e s<br />

principais está bas e a d a e m bo a parte nos disc o s que sep ar a m<br />

uma vértebr a <strong>da</strong> outra. Ca<strong>da</strong> um des s e s disc o s conté m um<br />

núcleo co m p o s t o por um a sub stân ci a líqui<strong>da</strong> e visc o s a<br />

se m el h a nt e ao tutano. Nos rec é m - nas cid o s , eles são<br />

con stituído s e m 80 % de água, sen d o que es s e índic e ain<strong>da</strong> é<br />

de 70 % e m uma pes s o a de 70 ano s de i<strong>da</strong>d e. Ao redor des s e<br />

núcleo m a ci o e mal e á v el, que se a<strong>da</strong>pta ao s m o vi m e n t o s <strong>da</strong><br />

CV e que pod e funcion ar tanto para distribuir a pres s ã o durante<br />

as torçõ e s co m o para am orte c ê - la nos estira m e nt o s , dispõ e- se<br />

uma estrutura fibros a e m form a de an el. Esta limita os<br />

m o vi m e nt o s do núcle o ma ci o e m ant é m os disc o s e m form a no<br />

sentido m ais ver<strong>da</strong>d eir o <strong>da</strong> palavra. Fissuras ev e ntuais nes s a<br />

estrutura fortifica<strong>da</strong> favor e c e m a temi<strong>da</strong> hérnia de disc o. A forte<br />

pres s ã o interna do núcle o gelatino s o é equilibrad a pelo s<br />

num er o s o s mús c ul o s e liga m e n t o s <strong>da</strong> CV. O resultad o é um<br />

equilíbrio tens o, co m p ar á v el ao dos ma stro s de um barc o a<br />

vela. Os núcle o s gelatino s o s têm por m eta a dilataç ã o à qual<br />

os an éis fibros o s que os rec o br e m opõ e m resistên ci a. Os<br />

mús c ul o s ata m as vérte br a s um a s às outras e as ap erta m ,<br />

tend e n d o a mant er a pes s o a pequ e n a e co e s a .<br />

Ao ob s ervar a colun a verte br al co m o um único órg ã o<br />

funcion al, dois asp e ct o s salta m ao s olho s: a form a de serp e nt e<br />

e a estrutura polar. As vérte br a s individuais atua m co m o os<br />

30<br />

1


seg m e n t o s do corpo de um a serp e nt e. A serp e nt e é na<br />

ver<strong>da</strong>d e só colun a verte br al, con sistindo quas e que<br />

exclusiva m e n t e de vérte br a s.<br />

Uma ob s erv a ç ã o m ais atenta faz co m que seja ress altad a a<br />

estrutura polar, expres s a na intercala ç ã o dos rígido s corp o s<br />

<strong>da</strong>s vértebr a s co m os disc o s , mais maci o s .<br />

O m otivo <strong>da</strong> serp e nt e tem igual m e nt e e m si uma relaç ã o<br />

níti<strong>da</strong> co m a polari<strong>da</strong>d e, que é evid e nt e m e n t e a <strong>da</strong> serp e nt e<br />

bíblica, que seduziu os prim eiro s ser e s hum a n o s e os atraiu<br />

para o mun d o polar dos opo st o s . Com o prolon g a m e n t o do<br />

braç o do de m ô ni o, ela leva Eva a violar a árvor e do<br />

con h e ci m e n t o do be m e do m al. É so m e n t e apó s provar o fruto<br />

proibido que os ser e s hum a n o s são cap az e s de rec o n h e c e r<br />

sua opo siç ã o , ou seja, sua sexuali<strong>da</strong>d e , e pas s a m a co brir<br />

suas verg o n h a s co m as fam o s a s folhas de figueira. A serp e nt e<br />

abriu- lhes os olho s para a polari<strong>da</strong>d e , e ningu é m é mais apto<br />

que ela pai a fazê- lo. Sendo um m e c a ni s m o do de m ô ni o, o<br />

sen h o r dest e mund o polar 66 , ela se m o v e con stant e m e n t e entre<br />

os dois pólo s <strong>da</strong> reali<strong>da</strong>d e. Com o sím b ol o <strong>da</strong> polari<strong>da</strong>d e, ela<br />

está muito mais pres a à terra que os outros anim ais.<br />

Finalm e nt e, a pos sibili<strong>da</strong>d e de red e n ç ã o está e m sua<br />

periculosid a d e , já que ela dispõ e do ven e n o que pod e se<br />

transfor m ar e m rem é di o. Segund o es s e ponto de vista, ela é<br />

30<br />

2


uma típica criatura de Lúcifer, que traz igual m e nt e em si - e não<br />

só no que à língua se refer e - a pos sibili<strong>da</strong>d e de tom ar- se<br />

portad or a <strong>da</strong> luz.<br />

Além diss o, ao ob s ervar m o s extern a m e n t e a CV, cha m a a<br />

aten ç ã o o fato de sua form a de serp e nt e lem br ar a víbora de<br />

Esculápio, o sím b ol o dos m é dic o s . Assim co m o a víbora de<br />

Esculápio ao redor do bastã o de Esculápio, a coluna verte br al<br />

enrola- se ao redor <strong>da</strong> linha imagin ária <strong>da</strong> força <strong>da</strong> gravi<strong>da</strong> d e<br />

que, ao long o do corp o hum a n o , é con stant e m e n t e puxad a e m<br />

direç ã o à terra, forçan d o- o assi m a assu mir a postura dos<br />

anim ais. Os m é di c o s <strong>da</strong> Antigui<strong>da</strong>d e con sid er a v a m que<br />

endireitar a víbor a, ou seja, elev ar o inferior, era sua tarefa<br />

central. Eles estav a m incu m bid o s ain<strong>da</strong> de livrar a hum a ni<strong>da</strong>d e<br />

do cativeiro do mun d o m at erial inferior e <strong>da</strong>r- lhe ac e s s o ao s<br />

asp e ct o s ideais sup erior e s <strong>da</strong> reali<strong>da</strong>d e . Surge aqui a ponte<br />

para o âm bito cultural indian o, no que o con h e ci m e n t o so br e o<br />

des e n v olvi m e nt o sup erior do ser hum a n o está ligado a en er gi a<br />

<strong>da</strong> serp e nt e, "Kun<strong>da</strong>lini", e à CV. Segund o a con c e p ç ã o védic a,<br />

a serp e nt e Kun<strong>da</strong>lini dor m e no chakra inferior, Muladhara,<br />

enrolad a e m três voltas e m eia. Esse chakra inferior, o prim eiro<br />

de sete centro s de en er gia distribuído s ao long o <strong>da</strong> CV, está<br />

localizad o acim a do oss o sacr o. Segund o as cren ç a s<br />

hinduístas, a en er gi a hum a n a primordial repou s a nes s e oss o,<br />

tam b é m con sid er a d o sagra d o por nos s a anato mi a, até que é<br />

des p erta d a e, pas s a n d o pelo s chakra s, se elev a ao long o <strong>da</strong><br />

CV. Quando o chakra sup erior ou cranian o é alcan ç a d o e<br />

ab erto, a pes s o a se realiza, se ilumina ou, co m o dize m os<br />

indian o s , torna- se purush a, um ser hum a n o propria m e nt e dito.<br />

A anato mi a oculta do hinduis m o parte do princípio de que há<br />

três can ais na regiã o <strong>da</strong> espinh a dors al atrav é s dos quais a<br />

en er gi a pod e se elev ar: I<strong>da</strong> e Pingala de am b o s os lado s e<br />

Shushu m n a no m ei o. Há muitas e ve e m e n t e s adv ertên ci a s<br />

contra brincar co m as grand e s forças ador m e c i d a s nes s a área<br />

e contra atrev er- se a pen etrar nes s a s regiõ e s se m um<br />

profes s o r co m p et e nt e. Por outro lado, não se deixa qualqu er<br />

dúvi<strong>da</strong> quanto ao fato de que o tornar- se um ver<strong>da</strong>d eir o ser<br />

30<br />

3


hum a n o oc orr e nec e s s a ri a m e n t e ao long o <strong>da</strong> CV. Assim co m o<br />

a en er gia, to<strong>da</strong> a pes s o a precis a es c al ar es s e eixo central até<br />

atingir a retidã o final. Outras culturas tam b é m sabia m <strong>da</strong>s<br />

en er gi a s que fluem ao long o <strong>da</strong> CV Os tratado s chin e s e s de<br />

acupuntura falam igual m e nt e de vas o s (meridian o s) nes s a<br />

regiã o que têm um significad o central.<br />

A serp e nt e que seduziu as (prim eiras) pes s o a s para o<br />

mund o <strong>da</strong> polari<strong>da</strong>d e tam b é m lhes per mite, no plan o<br />

en er g étic o, cres c e r para alé m <strong>da</strong> polari<strong>da</strong>d e e retornar à<br />

uni<strong>da</strong>d e, ou seja, à cura. Assim, a serp e nt e se tom a o sím b ol o<br />

de des e n v olvi m e nt o . Assim co m o o desp ertar <strong>da</strong> serp e nt e de<br />

en er gi a Kun<strong>da</strong>líni é decisivo para a asc e n s ã o rum o ao<br />

ver<strong>da</strong>d eir o ser hum a n o espiritual, foi o endireita m e n t o físico<br />

dos ho m e n s primitivos que pos sibilitou pela prim eira vez a<br />

postura ereta e, co m isso, o tornar- se hum a n o propria m e nt e<br />

dito. A CV, portanto, ocup a a posiç ã o central do ser hum a n o<br />

segun d o am b o s os ponto s de vista. Expres s o de man eira algo<br />

po ética, os mais elev a d o s son h o s <strong>da</strong> hum a ni<strong>da</strong>d e e m to<strong>da</strong>s as<br />

ép o c a s subia m pela CV e tinha m por objetivo libertar- se <strong>da</strong><br />

Mãe Terra e aproxi m ar- se do pai no céu.<br />

Com o sím b ol o <strong>da</strong> polari<strong>da</strong>d e, a serp e nt e está e m um a ótim a<br />

posiç ã o para aju<strong>da</strong>r a sup er ar o mund o dos contrário s.<br />

Entretanto, os acid e nt e s espirituais que oc orr e m devid o ao<br />

trato levian o <strong>da</strong>d o à en er gia de Kun<strong>da</strong>lini m o stra m quã o<br />

facilm e nt e es s e pres e nt e pos sív el volta a se transfor m ar e m<br />

ven e n o . O perig o está e m perd er o equilíbrio e ir long e de m ai s<br />

e m um dos pólos. Som e nt e o ca minh o do m ei o leva ao<br />

objetivo, e ele so m e n t e pod e ser perc orrido quan d o as en er gias<br />

polare s laterais, a feminina e a ma s c ulina, estã o equilibrad a s .<br />

A segun d a propried a d e <strong>da</strong> CV, alé m <strong>da</strong> form a de serp e nt e, é<br />

a mud a n ç a de pólos ao long o de todo o seu co m pri m e nt o, já<br />

que cad a corp o verte br al óss e o é seguid o por um disc o<br />

vertebr al elástic o. A interc alaçã o de m at éria dura co m o os s o<br />

co m tutano brand o e aqu o s o (no núcle o dos disc o s vertebr ais)<br />

é nec e s s á ria para seu funcion a m e n t o . Simb olica m e n t e , aquilo<br />

que é duro e forte perten c e na ver<strong>da</strong>d e ao pólo m a s c ulino,<br />

30<br />

4


en qu a nt o a suav e cap a ci<strong>da</strong>d e de a<strong>da</strong>pta ç ã o do ele m e n t o<br />

aqu o s o , que é do min a nt e nos disc o s , é feminina. Na<br />

intercala ç ã o con stant e de ma s c ulino e feminin o, a CV con stitui<br />

um sim b olis m o primordial que é con h e ci d o de to<strong>da</strong> s as culturas<br />

e de to<strong>da</strong>s as religiõ e s. O taoís m o repre s e nt a es s a ligaç ã o no<br />

sím b ol o do Tai-Chi, a mitolo gia greg a no cordã o de pérola s de<br />

Harm o nia feito por Hefesto s, o ferreiro dos deus e s , que nele<br />

intercalou pérolas negr a s e branc a s .<br />

A aplicaç ã o do principio <strong>da</strong> polari<strong>da</strong>d e au m e nt a<br />

en or m e m e n t e a cap a cid a d e de carg a <strong>da</strong> CV. Enquanto a parte<br />

óss e a se ocup a <strong>da</strong> solidez e <strong>da</strong> esta bili<strong>da</strong>d e, a parte aqu o s o -<br />

gelatino s a garant e a elastici<strong>da</strong>d e e a cap a cid a d e de a<strong>da</strong>pta ç ã o ,<br />

igual m e nt e nec e s s á ri a s. quadr o s de sinto m a s nos quais um<br />

dos asp e ct o s torna- se insuficiente m o stra m a probl e m átic a dos<br />

extre m o s : o m al de Bechter e w leva ao endur e ci m e n t o e à<br />

ossificaç ã o <strong>da</strong>s zona s interverte br ais. A con s e q ü ê n c i a é um a<br />

limitaç ã o extre m a <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> dos pacient e s , um a ossificaç ã o de<br />

seu m ei o no sentido m ais ver<strong>da</strong>d eir o <strong>da</strong> palavra. No pólo<br />

opo st o, pod e m oc orr er colap s o s localizad o s na CV e m<br />

con s e q ü ê n c i a de proc e s s o s de am ol e ci m e n t o dos os s o s<br />

caus a d o s por proc e s s o s de raquitis m o ou pela tuberculo s e . Em<br />

con s e q ü ê n c i a, a postura ereta é muitas vez e s limita<strong>da</strong> por<br />

defor m a ç õ e s que pod e m che g ar à form a ç ã o de um a corcun d a.<br />

Nos cas o s extre m o s , há a am e a ç a de uma paralisia por<br />

sec ci o n a m e n t o transv er s al. A form a topo gr áfica <strong>da</strong> CV tam b é m<br />

ob e d e c e ao princípio dos pólo s que se alterna m um co m o<br />

outro. A form a de S duplo implica e m uma alternânci a<br />

con sta nt e entre curvas côn c a v a s e conv e x a s . Obs erv a d a de<br />

perfil, a cha m a d a lordo s e cervic al se impõ e por sua saliên cia e,<br />

assi m, destac a seu ele m e n t o ma s c ulino, en quant o a cifos e 67<br />

torácic a, recuand o e ac olh e n d o protetora m e n t e os órgã o s<br />

torácic o s, tem algo de feminino e ac olh e d o r. Na pas s a g e m <strong>da</strong><br />

colun a verte br al torácic a para a lom b ar segu e- se nova m e n t e<br />

uma lordo s e , e m m o vi m e nt o contrário. Na união do sacr o co m<br />

o có c cix surg e nova m e n t e a típica topo gr afia ac olh e d o r a e<br />

feminina co m p o n d o a parte posterior <strong>da</strong> pélvis.<br />

30<br />

5


Tanto a interc alaçã o de ele m e n t o s duros e brand o s co m o a<br />

intercala ç ã o de form a s, que na ver<strong>da</strong>d e transfor m a m a CV e m<br />

uma guirlan<strong>da</strong> de vérte br a s, realiza m de man eira simple s a<br />

idéia do am ort e c e d o r . Os dois princípios estã o e m con diç õ e s<br />

de am orte c e r golp e s e torçõ e s de form a ideal. Normal m e n t e ,<br />

há um a pres s ã o de 30 a 50 kg so br e os disc o s interverte br ais.<br />

Eles pod e m ab s orv er um a carg a quatro vez e s m ai or co m um<br />

ach ata m e n t o míni m o . A a<strong>da</strong>pta ç ã o à carg a diária pod e ser<br />

co m pr o v a d a de man eira muito simpl e s co m um a fita m étrica.<br />

Uma pes s o a é niti<strong>da</strong> m e n t e mais alta pela man h ã que à noite. A<br />

carg a do dia a co m pri m e (em até 2 cm).<br />

Cargas agud a s , ao contrário, são am ort e cid a s por flexõ e s <strong>da</strong><br />

CV. Os am ort e c e d o r e s de um auto m ó v e l segu e m es s e<br />

principio genial. As flexõ e s <strong>da</strong> CV corre s p o n d e m às m olas e m<br />

espiral que, circund a n d o por fora os am ort e c e d o r e s<br />

propria m e nt e ditos, ab s orv e m golp e s rep entin o s. Os<br />

am ort e c e d o r e s propria m e n t e ditos corre s p o n d e m ao siste m a<br />

vértebr o- discal, que suporta m as carg a s contínua s.<br />

Com o ac o nt e c e co m tanta freqü ê n ci a, a proble m átic a está<br />

nos extre m o s : co m a co m pr e s s ã o exag er a d a <strong>da</strong> form a e m S,<br />

perd e- se a posiç ã o ereta e m favor de um a exc e s siv a<br />

cap a cid a d e de a<strong>da</strong>pta ç ã o . Essas pes s o a s des e n v olv e m um a<br />

corc o v a. quan d o a form a e m S se co m pri m e muito pouc o,<br />

ac o nt e c e o contrário. Os afetad o s se pavo n ei a m pela vi<strong>da</strong> se m<br />

a nec e s s á ri a cap a ci<strong>da</strong>d e de a<strong>da</strong>pta ç ã o e se m a pos sibili<strong>da</strong>d e<br />

de ab s orv er golp e s e cho q u e s . Eles são muito duro s (de<br />

m ol ejo) e retos e, con s e q ü e n t e m e n t e , prop e n s o s a se ferir.<br />

Antes de ab ord ar m o s proble m a s con cr et o s <strong>da</strong> colun a<br />

vertebr al, vale a pen a <strong>da</strong>r uma olhad a na ev oluç ã o . O<br />

des e n v olvi m e nt o hum a n o e o <strong>da</strong> coluna verte br al estã o<br />

estreita m e n t e ligad o s. quanto a es s e ponto, não é de ad mirar<br />

que a grand e maioria dos proble m a s de colun a tenha raízes na<br />

história <strong>da</strong> ev oluç ã o . Por outro lado, quan d o se pen s a que um a<br />

entre cad a duas pes s o a s de nos s a civilizaç ã o já teve dore s nas<br />

costa s, fica claro o quanto es s a história é proble m á tic a até<br />

hoje.<br />

30<br />

6


Na vira<strong>da</strong> do sécul o o pale o nt ól o g o Schwalb e con s e g uiu<br />

provar que o ergu er- se so br e as patas tras eiras oc orr eu muito<br />

antes do des e n v olvi m e n t o do cér e br o. Foi enc o ntrad o o<br />

es qu el et o de um ser co m 30 milhõ e s de ano s de i<strong>da</strong>d e que<br />

ain<strong>da</strong> tinha o cér e br o de um ma c a c o , m a s que já an<strong>da</strong>va so br e<br />

as perna s. Outras con sid er a ç õ e s corro b or a m a supo siç ã o de<br />

que ergu er- se so br e as patas tras eiras foi o pas s o decisivo<br />

para tornar- se hum a n o . Pois por muito orgulho s o s de nos s o<br />

cér e br o que pos s a m o s estar, ele não é de form a algu m a único.<br />

Diversa s baleias e delfins têm cér e br o s maior e s e até m e s m o<br />

mais diferen ci ad o s . A postura ereta, ao contrário, é única,<br />

assi m co m o a ab ó b a d a dos pés que a torna pos sív el e que não<br />

tem o s e m co m u m co m nenhu m a outra criatura. Neste sentido,<br />

de um ponto de vista anatô mi c o é isso, junta m e nt e co m a CV<br />

ereta, o que há de mais hum a n o no ser hum a n o .<br />

A postura ereta não nos é <strong>da</strong>d a de pres e nt e des d e o<br />

princípio; ela nos é colo c a d a no berç o co m o pos sibili<strong>da</strong>d e.<br />

Ca<strong>da</strong> individuo precis a elab or á- la de nov o.<br />

Os m é dic o s falam que a filog enia (história <strong>da</strong> esp é ci e) e a<br />

onto g ê n e s e (história do individuo) se corresp o n d e m . Por es s a<br />

razã o, o ser hum a n o e m cres ci m e n t o precis a voltar a <strong>da</strong>r os<br />

pas s o s es s e n ci ais do des e n v olvi m e nt o <strong>da</strong> esp é ci e hum a n a de<br />

form a abr eviad a e ao m e s m o temp o sim b ólic a. Ele co m e ç a<br />

co m o um ser unicelular, tornand o - se dep ois um ser aquátic o,<br />

razã o pela qual o liquido am ni ótic o con s er v a até hoje<br />

deter min a d o s paralelo s co m a água marinha. Após o<br />

nas ci m e nt o , ele se apóia na barriga co m o os répteis, lutando<br />

dep ois para arrastar- se so br e as quatro patas antes de pod er<br />

ergu er- se definitiva m e nt e so br e as patas tras eiras. O biólo g o<br />

Adolf Portm ann presu miu que o ser hum a n o ve m ao mund o um<br />

ano ante s do tem p o . Enquanto um chimp a n z é rec é m - nas cid o<br />

já tem as prop or ç õ e s de um chimp a n z é adulto, o ho m e m<br />

precis a cres c e r para atingir seu padrã o corp or al adulto. Ele não<br />

con s e g u e sentar e colo c ar a CV na vertical ante s do 5 o m ê s . A<br />

partir do 6 o m ê s - e isso é o mais ced o pos sív el - ele con s e g u e<br />

ficar so br e suas próprias perna s, ma s ain<strong>da</strong> assi m so m e n t e<br />

30<br />

7


co m aju<strong>da</strong> extern a. Os prim eiros pas s o s , hesitante s m a s já<br />

livres, são pos sív ei s no 1 1 o m ê s , portanto quas e um ano<br />

dep ois. Quem pôd e ob s ervar es s e s fatigantes pas s o s do<br />

des e n v olvi m e nt o de uma crianç a, teve ao m e s m o temp o um a<br />

imag e m <strong>da</strong>qu el e s prim eiros pas s o s igualm e nt e pod er o s o s<br />

<strong>da</strong>d o s por noss o s anc e strais na alvorad a dos tem p o s .<br />

A e m bri olo gi a rev ela co m o nos s a heranç a filog e n étic a está<br />

enraizad a profun<strong>da</strong> m e n t e e m nós. Por um lado o e m b riã o , até<br />

o 40 m ê s , tem uma colun a vertebr al substanci al m e n t e m ais<br />

long a, m ais long a devido àqu el a parte que cha m a m o s de<br />

caud a nos "outros anim ai s verte br a d o s ". Por outro lado, a<br />

e m b riol o gia desv el o u a CV co m o um des e n v olvi m e nt o posterior<br />

<strong>da</strong> cha m a d a Chor<strong>da</strong> dor s alis 68 , que é co m u m a todo s os<br />

vertebr a d o s . O ser hum a n o não nas cid o tem no início um a<br />

des s a s cor<strong>da</strong>s primitivas. Ao long o do des e n v o l vi m e n t o , a<br />

irrigaç ã o san guín e a <strong>da</strong> cor<strong>da</strong> diminui e a partir dela form a m - se<br />

os núcle o s gelatinos o s dos disc o s verte br ais. Quanto a isto, é<br />

pos sív el não so m e n t e ler na CV quanto s ano s um indivíduo<br />

tem nas co sta s m a s tam b é m quanto s milhõ e s de ano s a<br />

hum a nid a d e já tem atrás de si.<br />

Em noss o s probl e m a s co m os disc o s verte br ais des e n h a m -<br />

se as dificul<strong>da</strong>d e s que tive m o s até hoje co m (a história de)<br />

noss o des e n v olvi m e nt o . Isso se torna explícito por m ei o <strong>da</strong><br />

ob s erva ç ã o anatô mi c a. Movend o- se so br e as quatro patas, o<br />

corp o repou s a v a estáv el so br e quatro pilares confiáv eis.<br />

Mesm o quan d o um a faltava, as outras três era m suficiente s.<br />

Além diss o, o perig o de uma qued a era pequ e n o devid o à<br />

proximi<strong>da</strong>d e do chã o. A CV ain<strong>da</strong> não era um a coluna,<br />

ass e m e l h a n d o - se muito mais a um a corrent e leve m e n t e<br />

curvad a. Dela pendia de form a firme e segur a um a ver<strong>da</strong>d eira<br />

bols a para as sen sív ei s vísc er a s. A cab e ç a ain<strong>da</strong> não ocup av a<br />

o lugar m ais alto na vi<strong>da</strong> e portanto ain<strong>da</strong> não tinha tom a d o o<br />

pod er. Devido à man eira trotante de deslo c ar- se para diante, a<br />

cab e ç a pendia para a frente e, portanto, per m a n e c i a ab aixo <strong>da</strong><br />

linha dos o m br o s a m ai or parte do temp o. Isso tinha a<br />

vantag e m , já m e n ci o n a d a , de que nos s o s antep a s s a d o s se<br />

30<br />

8


esfriava m co m men o r freqü ê n ci a.<br />

Mas não foi so m e n t e pelo nariz entupido que os orgulho s o s<br />

ser e s hum a n o s que se esforç a v a m em direç ã o ao alto trocara m<br />

sua postura ereta. Troca n d o qua tro colun a s segur a s por duas<br />

perna s de pau os cilante s, eles deslo c ar a m seu centro de<br />

gravi<strong>da</strong> d e perigo s a m e n t e para cim a e transfor m ar a m um<br />

equilíbrio estáv el e m instáv el. Os ser e s hum a n o s que lutava m<br />

para ergu er- se fizera m o m elh or que podia m co m isso,<br />

adquirindo não so m e n t e um a segur an ç a tranqüilizad or a so br e<br />

suas duas patas tras eiras ma s ain<strong>da</strong> uma habili<strong>da</strong>d e<br />

impres si o n a nt e co m as patas dianteiras libera<strong>da</strong> s . Trata- se<br />

aqui, provav el m e n t e , <strong>da</strong> mais antiga form a de ec o n o m i a de<br />

trabalh o por m ei o <strong>da</strong> racion alizaç ã o . Mas a liber<strong>da</strong> d e adquiri<strong>da</strong><br />

atrav é s <strong>da</strong> liberaç ã o de duas patas unha seu preç o .<br />

Com a postura ereta, o tem a <strong>da</strong> retidã o pas s o u a fazer parte<br />

<strong>da</strong> vi<strong>da</strong> e a cab e ç a pas s o u a ocup ar o lugar mais alto e,<br />

portanto, o prim eiro lugar. Nenhu m a pes s o a razo áv el esp er aria<br />

retidã o de um anim al que vive so br e as quatro patas. Por outro<br />

lado, nos alegra m o s esp e ci al m e n t e quan d o noss o s anim ais<br />

do m é s tic o s se co m p o rta m co m o se foss e m gent e. quanto mais<br />

hum a n o s , ou seja, quanto m ais ereto s eles fica m, m ais<br />

próxim o s nos sentim o s deles. No final, leva m o s tão pouc o a<br />

mal a falta de retidão nos anim ais co m o nas crianç a s , basta<br />

que se m o v a m so br e as quatro patas. Som e nt e quan d o a<br />

cab e ç a assu m e o lugar m ais elev a d o e a CV assu m e a postura<br />

ereta é que a retidão se torna pos sív el. Com es s e s dois<br />

pas s o s , no entanto, ela se tom a um a exig ê n ci a cate g ó ric a, e a<br />

partir <strong>da</strong>i so m e n t e um ho m e m direito é con sid er a d o ac eitáv el.<br />

Nós instintiva m e n t e rec o n h e c e m o s a falta de retidã o co m o<br />

sen d o um a car ên ci a de des e n v olvi m e nt o , e o recus a m o s .<br />

Com a vi<strong>da</strong> ereta, ou seja, co m a elev a ç ã o <strong>da</strong> cab e ç a , um a<br />

torrente de exig ê n ci a s e enc ar g o s (carg a s) recaiu so br e os<br />

ser e s hum a n o s .Junta m e n t e co m a cap a ci<strong>da</strong>d e de carreg ar<br />

carg a s físicas so br e os o m br o s por long a s distân cias, veio<br />

tam b é m a de suportar carg a s so br e os o m br o s e m sentido<br />

figurad o. Com isso, foi <strong>da</strong>d a tam b é m a pos sibili<strong>da</strong>d e de<br />

30<br />

9


so br e c ar g a e m am b o s os sentido s. Não foi so m e n t e o nariz<br />

e m pin a d o e, portanto, tantas vez e s entupido, que se tornou um<br />

órg ã o de anún ci o dos nov o s proble m a s ; tam b é m a CV, afetad a<br />

direta m e n t e , colo c o u- se naturalm e nt e no centro dos conflitos.<br />

To<strong>da</strong> s as carg a s, resp o n s a bili<strong>da</strong>d e s e fardo s assu mi d o s , ma s<br />

tam b é m a visã o m ais ampla que se tem quan d o se está so br e<br />

as patas tras eiras, dera m sua contribuiçã o para voltar a<br />

deprimir o ho m e m erguido. Para isso, as carg a s físicas ain<strong>da</strong><br />

era m as mais inofen siva s, pois ele se m pr e teve con s ci ê n ci a<br />

delas. Hoje e m dia são so br etud o os enc ar g o s e fardo s<br />

incon s ci e nt e s que deprim e m as pes s o a s e torna m as cois a s<br />

difíceis para os m o d er n o s disc o s verte br ais.<br />

1. Problemas de disco<br />

Todo o pes o <strong>da</strong>s so br e c a r g a s físicas con s ci e nt e s e<br />

so br etud o o <strong>da</strong>s carg a s aní mic o- espirituais incon s ci e nt e s<br />

atua m so br e os disc o s verte br ais. Enquanto é pos sív el, eles se<br />

a<strong>da</strong>pta m e ced e m , ma s e m algu m m o m e n t o o colarinh o (isto é,<br />

o an el fibros o) arreb e nt a - um incident e grav e, o prolap s o de<br />

disc o. Então, na dor e e m outros sinto m a s que vão de<br />

perturba ç õ e s <strong>da</strong> sen si bili<strong>da</strong>d e até a paralisia, torna- se claro<br />

co m o a pres s ã o é am e a ç a d o r a . A pres s ã o deixa a pes s o a<br />

incap az de mov er- se e de lutar e dá vontad e de gritar de dor.<br />

Os locais mais freqü e nt e s para tais incident e s resulta m de<br />

con sid er a ç õ e s anatô mi c a s . Os disc o s se vê e m mais forçad o s<br />

lá ond e a cap a ci<strong>da</strong>d e am orte c e d o r a do siste m a é m e n o r e a<br />

carg a é m ai or. Por esta razão, mais de 90 % dos incident e s<br />

afeta m os três disc o s inferiores e esp e ci al m e n t e os dois<br />

último s. Os último s são m ordid o s pelo s cã e s , co m o diz o ditado<br />

ale m ã o . Os ortop e dista s, co m a m elh or <strong>da</strong>s intenç õ e s , corta m<br />

fora o brand o, o feminin o que se en c o ntra entre as m ó s do que<br />

é duro e m a s c ulino e que ced e u á pres s ã o e grita por so c orr o<br />

so b a form a de dor. Isso, entã o, não pod e mais do er, es s a é a<br />

en c a nt a d o r a lógica. Mas o probl e m a não é eliminad o do mun d o<br />

31<br />

0


co m isso, so m e n t e posto de lado. No prolap s o de disc o<br />

en c arn a- se a tend ê n ci a de desviar a pres s ã o cad a vez mais<br />

para o lado. A op er a ç ã o alivia a situaç ã o a curto prazo, m a s o<br />

tem a pen etra ain<strong>da</strong> m ais profun<strong>da</strong> m e n t e na so m b r a, de ond e<br />

voltará a cha m a r a aten ç ã o na prim eira oportuni<strong>da</strong>d e .<br />

A pré- história de um prolaps o de disc o co m e ç a muito antes:<br />

nor m al m e n t e , o núcle o gelatino s o e elástic o saud á v el no<br />

interior dos disc o s desvia para os lado s disten did o s to<strong>da</strong> s as<br />

pres s õ e s exer ci<strong>da</strong> s por carg a s. quan d o perd e sua elastici<strong>da</strong>d e ,<br />

ele não pod e m ais desviá- las tão be m . Com o au m e nt o <strong>da</strong><br />

pres s ã o , au m e nt a o perig o de uma fissura no an el fibros o<br />

extern o. quan d o isso ac o nt e c e , m e s m o co m a carg a de<br />

pres s ã o nor m al o núcle o es c a p a pela fissura e pres si o n a os<br />

resp e ctivo s nervo s, caus a n d o uma dor intens a. Nos prolaps o s<br />

posterior e s são principal m e nt e as raízes laterais dos nervo s<br />

que sofre m . A dor resultante se irradia ao long o <strong>da</strong>s vias<br />

nervo s a s , para a periferia. Na ciática típica, a dor pod e ir até a<br />

panturrilha e m e s m o che g ar ao pé. Mais rara m e n t e , o disc o<br />

es m a g a d o pod e pres si o n ar no m ei o, contra a m e d ula espinh al.<br />

As dore s serã o senti<strong>da</strong> s entã o naqu el a s zona s inferiores do<br />

corp o de ond e prov ê m as fibras nervo s a s es m a g a d a s . Pode m<br />

apar e c e r divers o s surtos de paralisia, tanto nas perna s co m o<br />

na bexig a ou no intestino. Após oc orr ê n ci a s agud a s , o núcle o<br />

que foi pres si o n a d o para fora volta muitas vez e s por si m e s m o ,<br />

pod e n d o e m muitos cas o s ser colo c a d o de volta no lugar por<br />

m ei o de traçã o ou de manipulaç õ e s quiroprática s. Entretanto, o<br />

afetad o estará sujeito a um nov o incident e a cad a vez que fizer<br />

um movi m e nt o extre m o .<br />

Para se che g ar a um a soluç ã o ver<strong>da</strong> d eira, a parte brand a<br />

pres si o n a d a precis aria ser alivia<strong>da</strong> e liberad a a long o prazo <strong>da</strong><br />

situaç ã o de opres s ã o . Voltar a endireitar a situaç ã o ós s e a fora<br />

do lugar pod e aju<strong>da</strong>r, ma s e m última instân cia a história<br />

atrapalhad a precis a ser nova m e n t e endireitad a no plan o<br />

aní mic o- espiritual.<br />

Quando falam o s do tiro <strong>da</strong> bruxa [Hex e n s c h u s s =<br />

lumb a g o], não se trata de um a caract erística acidental <strong>da</strong><br />

31<br />

1


língua ale m ã , já que tal oc orr e e m muitos idio m a s . Na<br />

Antigui<strong>da</strong>d e, con cluía- se evident e m e n t e que mal e s e dor e s<br />

esp e ci al m e n t e rep e ntino s era m enviad o s pelo destino e,<br />

portanto, pelo s deus e s . Hécate e Pandor a se distinguira m e m<br />

relaç ã o a isso. Em es c o c ê s e e m irland ê s há as palavras<br />

Alb s c h o s s [Alb = espírito malign o] e Elfflint [Elf= effo] para<br />

desig n ar o lumb a g o . Os antigo s viam pura e simple s m e n t e a<br />

entrad a do m al nas dore s que surgia m de golp e, atribuindo- as<br />

ás bruxas m á s. Ain<strong>da</strong> que hoje e m dia tenha m o s sup er a d o tais<br />

explicaç õ e s caus ais, esta m o s tão próxim o s do m e c a ni s m o <strong>da</strong><br />

projeç ã o co m o naqu el a ép o c a. Muitas pes s o a s alim e nta m a<br />

idéia de que algué m , des d e que não seja m elas m e s m a s , dev e<br />

ser culpad o pelo incident e. Ness e sentido, a expres s ã o "tiro <strong>da</strong><br />

bruxa" tam b é m se a<strong>da</strong>pta a nós. Talvez a prim eira vitima des s e<br />

sinto m a tenha real m e nt e procurad o por algu m a bruxa de<br />

man eira de m a si a d o abrupta. Talvez ele tenha literal m e nt e se<br />

torcido brusc a m e n t e ao ver a bel<strong>da</strong>d e . Se ele tives s e ad mitido<br />

seu arreb at o, sua CV teria participad o do jogo se m recla m ar.<br />

Mas que m se deixa arreb atar se m ad mitir seu interes s e corre o<br />

risco de viven ciar a fissura fisica m e n t e dep ois, até que não<br />

tenha m ais nenhu m a dúvi<strong>da</strong> quanto à sua participaçã o direta<br />

no que ac o nt e c e u . A design a ç ã o “tiro <strong>da</strong> bruxa” atribui a<br />

resp o n s a bili<strong>da</strong>d e <strong>da</strong> bruxa corresp o n d e n t e ao tiro que atingiu o<br />

afetad o ao m e s m o tem p o pelas costa s e se m razão. Na<br />

ver<strong>da</strong>d e , a bruxa mais en c a nt a d o r a so m e n t e pod e virar aqu el a<br />

cab e ç a (e aqu el a colun a verte br al) que se deixa enlev ar. Há<br />

natural m e nt e muitíssi m a s outras situaç õ e s e m que se pod e<br />

ficar algo des g a s t a d o e que não têm na<strong>da</strong> a ver co m o tem a <strong>da</strong><br />

bruxa. Mas to<strong>da</strong>s têm e m co m u m o padrã o de que se trata de<br />

m o vi m e nt o s incon s ci e nt e s e portanto des c o ntr olad o s , que não<br />

se é cap az de suportar e m to<strong>da</strong> a sua exten s ã o .<br />

Quando um prolap s o de disc o sub siste por um períod o m ais<br />

long o, apó s sen s a ç õ e s iniciais de formig a m e n t o , pod e- se até<br />

ch e g ar a paralisias tais co m o um a síndro m e de seç ã o<br />

transv er s al. Quanto às sen s a ç õ e s falsas, o sinto m a deixa claro<br />

co m o a perc e p ç ã o que se tem <strong>da</strong> m etad e inferior do corp o é<br />

31<br />

2


incon gru e nt e e des ori e ntad a. Na paralisia m o stra- se entã o<br />

co m o a parte que se en c o ntra ab aixo do prolap s o é se m vi<strong>da</strong> e<br />

incontroláv el. A lição a ser aprendid a é igual m e nt e aludi<strong>da</strong><br />

pelo s sinto m a s . As sen s a ç õ e s falsas dirige m a aten ç ã o para<br />

baixo e ac e ntua m a nec e s s i d a d e de cui<strong>da</strong>r des s e âm bito. Na<br />

paralisia en c arn a- se um a form a não redimi<strong>da</strong> <strong>da</strong> disten s ã o . A<br />

lição ensin a a viver esta última de form a liberad a em relaç ã o ao<br />

baixo- ventre e às perna s. Com as perna s e sua incap a citaç ã o ,<br />

m e n ci o n a m - se os tem a s estar e m pé (firmez a, esta bili<strong>da</strong>d e) e<br />

an<strong>da</strong>r (avan ç ar, progr e s s o , asc e n s ã o). Trata- se de disten d erse<br />

e m relaç ã o a isso, ou seja, de trazer disten s ã o a es s e s<br />

âm bito s.<br />

A probl e m átic a esp e ci al <strong>da</strong>s m ol é stias resulta de seu<br />

resp e ctivo padrã o de sinto m a s . Para muitos pacient e s de<br />

hérnia discal, por exe m pl o, não é m ais pos sív el ergu er- se<br />

retos. Curvad o s para a frente na articulaç ã o dos quadris, eles<br />

so m e n t e pod e m atrav e s s ar o dia curvad o s e co m as co sta s<br />

extre m a m e n t e rígi<strong>da</strong>s. Aqui, evid e nt e m e n t e , enc arn a- se a<br />

probl e m á tic a <strong>da</strong> falta de retidã o. Repres e nt a- se de form a muito<br />

con cr et a co m o é dolor o s o para os afetad o s ser e m direitos, ou<br />

seja, an<strong>da</strong>r ereto s. Não lhes é pos sív el endireitar- se, isso para<br />

não falar de m o strar a espinh a dors al, ou seja, aprum ar- se. A<br />

soluç ã o está expr e s s a na postura curva<strong>da</strong>/hu milhad a. Trata- se<br />

evid e nt e m e n t e de assu mir es s a posiç ã o , o que quer dizer<br />

curvar- se real m e nt e, ou seja, transfor m ar a humilha ç ã o e m<br />

humil<strong>da</strong>d e autêntica.<br />

Certam e nt e , no entanto, so b o m e s m o diagn ó stic o “corre m ”<br />

tam b é m as form a s opo sta s. Aqueles paci ent e s rígido s,<br />

des m e s u r a d a m e n t e ereto s, que ca min h a m e se m o vi m e n t a m<br />

e m ângulo s retos co m o rob ô s porqu e a m e n o r curvatura ou<br />

des vi o <strong>da</strong> vertical lhes oc a si o n a m ol é stias insup ortáv ei s. Esse<br />

sinto m a m o stra enfatica m e n t e co m o eles são inflexíveis,<br />

rígido s e pouc o vivos. Eles se pavon ei a m por um a vi<strong>da</strong><br />

impregn a d a de m o vi m e nt o s suav e s e pas s a g e n s flui<strong>da</strong>s que<br />

nec e s s a ria m e n t e per m a n e c e des c o n h e c i d a para eles. Em seu<br />

an<strong>da</strong>r express a- se niti<strong>da</strong> m e n t e que eles não ad mite m nen hu m<br />

31<br />

3


m ei o- tom, nenhu m a nuan ç a e na<strong>da</strong> fluido e m seu íntimo.<br />

Estruturas duras e retidã o exag er a d a deter min a m suas vi<strong>da</strong>s<br />

até che g ar à mania de ter se m pr e razão. Eles des c o n h e c e m os<br />

m ei o s- tons e a ver<strong>da</strong>d eira humil<strong>da</strong>d e. A retidã o é forçad a e dá<br />

a impres s ã o de não ser autêntica, ela é a muleta que lhes<br />

per mite pavon e a r- se ereto s e certo s <strong>da</strong> vitória pela vi<strong>da</strong> real. A<br />

imag e m do solteirão ou do oficial prussian o é condiz ent e co m<br />

uma tal paisa g e m aní mic a. A tarefa a ser liberad a no sinto m a<br />

dá a enten d e r que aqu el a retidão que se de m o n s tr a<br />

con sta nt e m e n t e porqu e não se con s e g u e sair de seu estreito<br />

corp et e dev e ser transfor m a d a e m retidão e sinc eri<strong>da</strong>d e<br />

genuín a s para con sig o mes m o .<br />

Os dois tipos, de pólos opo st o s , co m p artilha m um proble m a<br />

co m u m : retidã o. O “torto” precis a redimir seu ser curvad o e<br />

liberar a humil<strong>da</strong>d e que ali está oculta. Tend o con s e g uid o isso,<br />

lhe corresp o n d e r á tam b é m a sinc eri<strong>da</strong>d e e a retidã o do pólo<br />

opo st o. O “solteirão” tes o precis a assu mir sua rigidez e<br />

apren d er que sua liberaç ã o está à esp er a em sua retidã o e sua<br />

lineari<strong>da</strong>d e aní mic o- espiritual. A partir do m o m e n t o e m que<br />

en c o ntra es s a profun<strong>da</strong> sinc eri<strong>da</strong>d e e m si m e s m o , torna- se- lhe<br />

tam b é m facilm e nt e pos sív el des c e r às profund ez a s <strong>da</strong> vi<strong>da</strong>,<br />

curvar as próprias costa s e humild e m e n t e posicion ar- se diante<br />

<strong>da</strong> vi<strong>da</strong>. Proveni e nt e s de tens õ e s fun<strong>da</strong> m e n t ais não- redimi<strong>da</strong> s<br />

opo sta s, tanto o nariz e m pin a d o co m o o humilhad o aproxim a m -<br />

se do m e s m o tem a redimid o de lado s distintos: retidão<br />

(sinc eri<strong>da</strong>d e) e humil<strong>da</strong>d e. Ain<strong>da</strong> que esteja m apar e nt e m e n t e<br />

tão distantes um do outro, a ver<strong>da</strong>d e é que eles estã o<br />

próxim o s . Ningué m , por exe m pl o, corre tanto perig o de ser<br />

humilhad o co m o algué m que tem o nariz e m pin a d o . E ningu é m<br />

dá um a impres s ã o tão arrog a nt e e repulsiva co m o o corcun d a,<br />

que não sab e na<strong>da</strong> de seus m o d o s retorcido s . Sua<br />

proximi<strong>da</strong>d e é ain<strong>da</strong> m ais palpáv el no plano redimid o, já que a<br />

pes s o a ver<strong>da</strong>d eira m e n t e humilde é tam b é m ab s oluta m e n t e<br />

correta.<br />

Um outro ponto significativo é o fator repous o . A m ai oria dos<br />

pacient e s co m probl e m a s de disc o são forçad o s a ele por seu<br />

31<br />

4


sinto m a , já que qualqu er m o vi m e n t o lhes provo c a dor e s. Eles<br />

evid e nt e m e n t e se carreg ar a m e m de m a s i a e ag or a sent e m as<br />

dore s que provo c a o m o v er- se so b a carg a de suas vi<strong>da</strong>s. O<br />

sinto m a já lhes prop or cion a a terapia, forçan d o - os ao<br />

nec e s s á ri o repou s o . Assim, eles pod e m m e ditar co m to<strong>da</strong> a<br />

cal m a por que e para que se so br e c arr e g a r a m des s a man eira<br />

ou per mitira m que outros o fizes s e m . O resultad o de tais<br />

con sid er a ç õ e s levará ao rec o n h e c i m e n t o de que eles tentara m<br />

con q uistar um rec o n h e c i m e n t o esp e ci al m e n t e grand e atrav é s<br />

de feitos esp e ci ais. O turbilhã o extern o ao redor <strong>da</strong> am biç ã o e<br />

<strong>da</strong> asc e n s ã o deixa entrev er um déficit intern o e se precipita nas<br />

vértebr a s . A lição a ser apren di<strong>da</strong> é suportar a si m e s m o e m<br />

repou s o e m vez de continuar suportan d o o pes o de to<strong>da</strong>s as<br />

tentativas de tapar o sentim e nt o de inferiori<strong>da</strong>d e interno co m o<br />

tornar- se extern a m e n t e impres cindív el. Assim co m o é precis o<br />

deitar- se quan d o se está nes s a situaç ã o , seria apropriad o<br />

ab and o n a r to<strong>da</strong> s as carg a s sup érfluas e des c a n s a r.<br />

Mais rara m e nt e, oc orr e que pacient e s que já estã o e m<br />

repou s o e deitad o s sent e m as dore s mais pavor o s a s e<br />

con s e q ü e n t e m e n t e ca minha m irrequieto s e ch e g a m até a<br />

tentar dor mir sentad o s devido à dor. Aqui o sinto m a leva ao<br />

m o vi m e nt o e força a per m a n e c e r ac ord a d o , ou seja, a<br />

des p ertar. Não se trata evid e nt e m e n t e de continuar<br />

des c a n s a n d o tranqüila m e nt e na ca m a ; exig e- se ativi<strong>da</strong>d e,<br />

sinc eri<strong>da</strong>d e e resp o n s a b ili<strong>da</strong>d e, imediata m e n t e .<br />

P er g u nta s<br />

1. Com o an<strong>da</strong> o tem a retidão e m minha vi<strong>da</strong>?<br />

2. Eu m o stro as co sta s e m e prep ar o para cois a s<br />

importante s?<br />

3. Sou flexível e cap az de genuín a humil<strong>da</strong>d e?<br />

4. Minha porçã o feminina é sub stituí<strong>da</strong> ou até m e s m o<br />

expuls a pela mas c ulina quan d o so b pres s ã o ?<br />

5. Suporto incon s ci e nt e m e n t e carg a s que não agü e ntaria<br />

con s ci e nt e m e n t e ?<br />

6. Que fardo s carreg o e m troca de rec o n h e c i m e n t o ?<br />

31<br />

5


7. Meu sinto m a exig e de mi m repou s o ou movi m e nt o ?<br />

2. Deslocamento <strong>da</strong> primeira vértebra cervical<br />

O desl o c a m e n t o <strong>da</strong> vérte br a cervic al sup erior, quas e se m pr e<br />

caus a d o por um acident e, atrav é s de irradiaç õ e s doloro s a s<br />

provo c a proble m a s que pod e m alcan ç ar to<strong>da</strong> a coluna verte br al<br />

(CV). Na mitolo gia é o titã Atlas que, co m o puniçã o pela revolta<br />

urdi<strong>da</strong> por todo s os titãs, dev e carre g ar o glob o terrestre e m<br />

equilíbrio so br e os o m br o s . De man eira análo g a, a vértebr a<br />

cervic al sup erior tem a tarefa de tom ar so br e si nos s o glob o<br />

cranian o, não ap en a s para carre g á- lo ma s tam b é m para<br />

equilibrá- lo.<br />

Quando (o) Atlas se es quiva des s e pap el de tanta<br />

resp o n s a bili<strong>da</strong>d e , tentan d o es c a p ar para o lado, trata- se de<br />

uma tentativa de eludir a resp o n s a bili<strong>da</strong>d e que lhe foi impo sta.<br />

Ele, ao m e s m o tem p o , registra co m as dor e s co m o a carg a do<br />

glob o lhe é dolor o s a. Com o não se sente o único resp o n s á v e l,<br />

ele deixa que as dor e s se irradie m tam b é m para os outros<br />

m e m b r o s sub ordin a d o s <strong>da</strong> corrent e verte br al. A cab e ç a tornouse<br />

o mund o para os ser e s hum a n o s ; certa m e n t e é assi m para<br />

os que sofre m des s e mal.<br />

O corp o, repres e nt a d o por seu oficial mais importante, Atlas,<br />

lhes m o stra que não está dispo sto a continuar suportand o se m<br />

queixas a pes a d a carg a <strong>da</strong> cab e ç a (dura). Ele cha m a a<br />

aten ç ã o para si, e grita por soc orr o na m e s m a m e di<strong>da</strong> e m que<br />

as dor e s são violentas. O que ele gostaria mes m o é de es c a p ar<br />

pela tang e nt e e expres s a isso log o de saí<strong>da</strong> e m sua mud a n ç a<br />

de posiç ã o . O tem a que m er gulh o u na so m b r a é o seguinte: o<br />

pes o <strong>da</strong> cab e ç a não é mais suportáv el, a fronteira <strong>da</strong> dor foi<br />

ultrapas s a d a . A única soluç ã o sen s at a con sist e e m deixar que<br />

a cab e ç a volte a se endireitar. Na m elh or <strong>da</strong>s hipóte s e s , isso<br />

ac o nt e c e naturalm e nt e e m sentido figurad o. Mas o prim eiro<br />

pas s o pod e tam b é m contar co m a colab or a ç ã o de um<br />

quiroprático extern o. Um forte puxão que m o v e a cab e ç a um<br />

31<br />

6


pouquinh o alé m do objetivo pod e fazer co m que ela volte a<br />

assu mir sua posiç ã o natural. Essa interven ç ã o relativa m e n t e<br />

drástica m o stra que já é nec e s s á ri o um bo m puxão para voltar<br />

a enc aixar uma posiç ã o tão desl o c a d a . Significativa m e n t e ,<br />

so m e n t e um en c aixa m e n t o físico não basta a long o prazo, a<br />

vértebr a corresp o n d e n t e continua tend e n d o a deslo c ar- se outra<br />

vez en qu a nt o a situaç ã o não é san a d a e m sentido figurad o. O<br />

acident e que dá ao Atlas a oc a si ã o para seu deslo c a m e n t o<br />

m o stra co m sua ve e m ê n c i a co m o é con sid er á v el a resistên ci a<br />

a mud a n ç a s de direç ã o . Já é nec e s s á ri a algu m a violên ci a para<br />

virar a cab e ç a do afetad o . Tanto o acident e co m o o<br />

quiroprático de m o n s tr a m co m o até m e s m o mud a n ç a s de<br />

direç ã o abruptas pod e m ser nec e s s á ri a s.<br />

A lição a ser aprendid a co m o Atlas desl o c a d o con siste e m<br />

saltar fora dos ca minh o s já trilhado s , ain<strong>da</strong> que seja ao s<br />

tranc o s, voltar a cab e ç a para um a nova direç ã o , per mitir talvez<br />

que ela seja vira<strong>da</strong> algu m a vez por outras pes s o a s ex citant e s<br />

e m vez do quiroprático, se m o e m pr e g o <strong>da</strong> violên cia, de livre e<br />

esp o nt â n e a vontad e e m otivad o pelo praz er que a novi<strong>da</strong> d e<br />

prop orci o n a.<br />

Os pacient e s form a m o pólo opo st o imitand o as corujas, que<br />

m o v e m suas cab e ç a s co m o birutas ao vento. Eles são<br />

con s ci e nt e s de seu co m p o rta m e n t o , já que está bas e a d o e m<br />

esp e c ul a ç ã o con s ci e nt e e um a conv e ni e nt e dos e de<br />

oportunis m o . A con s ci ê n ci a intencion al de sua postura<br />

que stion á v el lhes poupa, no entanto, de sinto m a s físico s, cas o<br />

contrário suas vérte br a s cervic ais já estaria m gasta s.<br />

Quando algué m se torc e a cad a oportuni<strong>da</strong>d e , surg e a<br />

susp eita de que não ad mite suas man o b r a s oportunistas, e o<br />

corp o as torna con s ci e nt e s des s a m an eira. Ele é<br />

dolor o s a m e n t e levad o a co m pr e e n d e r que vai long e de m ai s e m<br />

suas torçõ e s e ultrapas s a o alvo. Nova m e nt e, o sinto m a traz<br />

e m si a terapia e força os afetad o s a an<strong>da</strong>r co m antolho s de<br />

vez e m quan d o , se m olhar ne m para a es qu er d a ne m para a<br />

direita, se g uind o seu nariz co m con s e q ü ê n c i a. Após esta<br />

exp eriên ci a de co m pr o v a ç ã o no pólo opo st o, a soluç ã o a long o<br />

31<br />

7


prazo está e m en c o ntrar a ver<strong>da</strong> d eir a m o bili<strong>da</strong>d e e a<br />

ver<strong>da</strong>d eira cap a cid a d e de a<strong>da</strong>pta ç ã o . Não lhes é rec o m e n d a d o<br />

voltar- se e dirigir-se a cad a pequ e n a vantag e m , m a s sim fluir<br />

co m a vi<strong>da</strong> e a<strong>da</strong>ptar- se às suas exig ê n ci a s .<br />

P er g u nta s<br />

1. Minha cab e ç a se transfor m o u e m um a carg a elev a d a e<br />

insuportáv el?<br />

2. Contra que m eu Atlas se reb el a?<br />

3. O que m eu destino quer m e dizer ao endireitar minha<br />

cab e ç a ?<br />

4. O que pod e m e virar a cab e ç a , e o que pod e pô- la no<br />

lugar?<br />

5. Com o an<strong>da</strong> m minha cap a ci<strong>da</strong>d e de a<strong>da</strong>pta ç ã o e minh a<br />

flexibili<strong>da</strong>d e?<br />

3. Problemas de postura<br />

A postura extern a corresp o n d e à interna, ou seja, a en c arn a.<br />

Quando algu é m tenta en c o b rir sua postura interna co m outra<br />

extern a assu mi d a con s ci e nt e m e n t e , isso e m pouc o temp o será<br />

perc e bid o pelo s outros e criará probl e m a s para o próprio<br />

afetad o . Por outro lado, m o dificaç õ e s extern a s feitas<br />

con s ci e nt e m e n t e , no sentido talvez de um ritual, pod e m muito<br />

be m criar reali<strong>da</strong>d e s interna s. Esta idéia fun<strong>da</strong> m e n t a as as an a s<br />

e mudra s <strong>da</strong> hatha- yog a. Devido à sua con s ci ê n ci a, tais rituais<br />

não provo c a m qualqu er sofrim e nt o físico tais co m o aqu el e s<br />

caus a d o s pela pen o s a manut e n ç ã o continua de más posturas.<br />

Quando um quadr o de sinto m a s força algu é m a um a<br />

deter min a d a postura corpor al, apre s e nt a- se tam b é m um a outra<br />

interna que lhe corresp o n d e e <strong>da</strong> qual o pacient e, entretanto,<br />

não tem con s ci ê n ci a. O ponto decisivo para as interpreta ç õ e s é<br />

se a pes s o a se identifica con s ci e nt e m e n t e co m um a postura ou<br />

se se transfor m o u e m um a vitima incon s ci e nt e dela. Uma<br />

pes s o a humild e pod e sentir- se muito be m co m um a postura<br />

31<br />

8


algo curvad a e co m os olho s voltad o s para baixo e não sentir<br />

qualqu er m ol é stia devido a ela. Outra pes s o a pod e ter a<br />

m e s m a postura força<strong>da</strong>, sentir- se humilhad o co m ela e sofrer<br />

as dore s corresp o n d e n t e s e m relaç ã o à sua resistên ci a.<br />

Portanto, um a postura por si só não pod e ser equipara d a a um<br />

sinto m a , o decisivo é a atitude que o afetad o tem e m relaç ã o à<br />

sua postura.<br />

Cifose, lordose e “espinha estica<strong>da</strong>”<br />

A proximi<strong>da</strong>d e dos opo st o s que se torna clara nos<br />

probl e m a s de disc o têm continui<strong>da</strong>d e nos m al e s posturais.<br />

Aqui, cifos e e lordo s e são os dois lado s <strong>da</strong> m e s m a m o e d a . A<br />

cifos e nos deixa entrev er um a crianç a curvad a e, às vez e s , até<br />

m e s m o que br a d a (ou entã o, m ais tarde, o adulto<br />

corre s p o n d e n t e). Mas justa m e nt e es s a sinc eri<strong>da</strong>d e que salta<br />

ao s olho s é um espinh o nos olho s dos educ a d o r e s . Eles não<br />

quer e m ser confrontad o s co m o resultad o de sua influên cia e,<br />

por es s a razão, não se can s a m de fazer adv ertên ci a s tais<br />

co m o : “Endireite- se!”, “Barriga para dentro, peito para fora!”.<br />

Com o temp o, o sinc er o sinto m a <strong>da</strong> cifos e pod e ser treinad o<br />

para assu mir o padrã o de co m p e n s a ç ã o repres e nt a d o pela<br />

lordo s e ou “pequ e n o oficial <strong>da</strong> guar<strong>da</strong>”. As costa s curva<strong>da</strong> s <strong>da</strong>s<br />

pes s o a s que apres e nt a m cifos e m o stra m que algué m se<br />

inclina, não pod e ficar ereto e é “inverte br a d o ”. Pode- se<br />

que br ar as costa s de um a pes s o a se m tocá- la fisica m e n t e.<br />

Quando se que br a a vontad e de um caval o, isso se dá<br />

tornan d o dócil sua resistent e colun a verte br al. Quando se<br />

que br a um ser hum a n o , isso ac o nt e c e igual m e nt e tornan d o sua<br />

espinh a dors al dócil e flexível, impe dind o- o de ergu er- se por<br />

seus próprios interes s e s e opiniõ e s e de an<strong>da</strong>r direito pela vi<strong>da</strong>.<br />

Tal tipo de pes s o a curvad a é naturalm e nt e torci<strong>da</strong> e de fato<br />

tamp o u c o é sinc er a, já que não apóia sua própria vi<strong>da</strong>. Neste<br />

sentido, a voz popular con strói a imag e m do ciclista, que curva<br />

as co sta s para m elh or pod er seguir adiante. Esta imag e m é a<br />

caricatura de todo um enfo qu e de vi<strong>da</strong>: curvar- se para cim a,<br />

31<br />

9


pe<strong>da</strong>l ar para baixo. Outras imag e n s , tais co m o a do adulad or<br />

que rasteja ou a do puxa- sac o , rev ela m posturas oportunistas<br />

se m el h a nt e s , ond e a falta de retidã o e de ab s oluta m e n t e<br />

qualqu er linha própria são co m u n s . Trata- se de pes s o a s<br />

incon si st e nt e s , que não se endireita m e não pod e m ir pela vi<strong>da</strong><br />

ereta s. Em sua corc o v a aní mic a elas enc arn a m um retroc e s s o<br />

no tem p o , quan d o os "ser e s hum a n o s " ain<strong>da</strong> não ca minhava m<br />

ereto s. Provav el m e n t e , é es s a regr e s s ã o que nos cai tão m al,<br />

porqu e go sta m o s tão pouc o de ser lem br a d o s <strong>da</strong> ép o c a es cur a<br />

de noss o pas s a d o coletivo.<br />

O pólo opo st o, a lordose [em ale m ã o , Hohlkre u z = espinh a<br />

oc a], é um parent e próxim o. A expr e s s ã o e m ale m ã o é muito<br />

ver<strong>da</strong>d eira e deixa entrev er co m o es s a postura é vazia. Se a<br />

cifos e corresp o n d e à m ar c a do pacient e de hérnia de disc o<br />

corc o v a d o e humilhad o , a lordo s e trai o ho m e m de be m<br />

cap e n g a que se esforç a igualm e nt e pela vi<strong>da</strong>. Sua pélvis está<br />

projetad a para a frente e, para co m p e n s a r es s a so br e c ar g a<br />

dianteira e continuar <strong>da</strong>nd o uma impres s ã o ereta, ao m e n o s<br />

e m certa m e di<strong>da</strong>, ele precis a forçar de man eira extre m a o peito<br />

para trás. O resultad o é a postura de um sím b ol o de<br />

interro g a ç ã o (?), que tam b é m deter min a sua vi<strong>da</strong>. Enquanto o<br />

corc o v a d o se curva diante de todo s para não ficar encurrala do<br />

e m nenhu m lugar, os pacient e s de lordo s e , e m sua tentativa de<br />

fazer tudo certo, tenta m alé m diss o caus ar um a bo a impres s ã o ,<br />

ou seja, um a impres s ã o resp eitáv el. Eles força m extre m a m e n t e<br />

a postura <strong>da</strong> colun a verte br al, que e m si já é força<strong>da</strong>, e assi m<br />

ca min h a m pela vi<strong>da</strong>.<br />

A m á postura mais refinad a, por ser a m ais difícil de ser<br />

detectad a e exerc er um efeito de resp eitabili<strong>da</strong>d e, assu m e a<br />

form a <strong>da</strong> "espinha estica<strong>da</strong>". Com a colun a esticad a e reta<br />

co m o um pau, eles de m o n s tr a m exe m pl ari<strong>da</strong>d e e ain<strong>da</strong>, ao<br />

m e s m o tem p o , retidã o, um ca min h ar ereto imp e c á v el co m o<br />

peito orgulho s a m e n t e chei o. Quando es s a postura não é<br />

natural, m a s de m o n s tr ativa, surg e a susp eita de que ela sirva<br />

de co m p e n s a ç ã o para um ser secr eta m e n t e rastejant e e<br />

corc o v a d o ou um "espinh a oc a" que se enc olh e u nas so m b r a s .<br />

32<br />

0


Criança s "que br a d a s " que se deixa m treinar nes s a postura<br />

são um exe m pl o triste e muitas vez e s ridículo para os<br />

sol<strong>da</strong> d o s . Quanto mais dura é a disciplina, "m elh or e s " são os<br />

sol<strong>da</strong> d o s . O objetivo <strong>da</strong> disciplina con siste substanci al m e n t e<br />

e m que brar a vontad e e, co m isso, a e s pinh a do "servidor".<br />

“Esqu erd a, volver!", "Em frente, march e!", "Desc a n s ar!",<br />

"Movam- se!", etc. Exige- se servidã o abs oluta e ob e di ê n ci a<br />

incondicion al, que são treinad a s até a exaustã o . A ver<strong>da</strong> d e é<br />

que o sol<strong>da</strong>d o não dev e pen s ar por si m e s m o ne m repres e nt ar<br />

seus intere s s e s , cas o contrário ele dificilm e nt e colo c aria sua<br />

vi<strong>da</strong> e m jogo para defen d e r as idéias de gen er ai s ou político s.<br />

Ele dev e funcion ar seguind o orden s estran h a s , se m<br />

ab s oluta m e n t e meditar so br e elas. Tudo o que é nec e s s á ri o lhe<br />

é dito, <strong>da</strong> direç ã o para a qual ele dev e olhar até a postura de<br />

sua colun a vertebr al. Um sol<strong>da</strong>d o de elite que tinha<br />

interiorizad o es s e ideal freqü e nt e m e n t e desig n a v a a si m e s m o ,<br />

ch ei o de orgulho, co m o uma "má quin a de luta". Para tornar- se<br />

má q uin a é precis o natural m e nt e per mitir que a própria vontad e<br />

seja expuls a, ou seja, colo c á- la incon dicion al m e n t e so b a<br />

direç ã o de outro. A espinh a dors al é sub stituí<strong>da</strong> por férreas<br />

estruturas de orde m . Mas co m o sol<strong>da</strong>d o s avan ç a n d o co m<br />

cifos e s ver<strong>da</strong> d eir a s não iriam impre s si o n ar ne m o ch ef e ne m<br />

os inimig o s, uma coluna rígi<strong>da</strong> é treinad a e impo sta so br e ela.<br />

As ord en s que se refer e m a isso - justa m e n t e e m sua ingênu a<br />

estupid ez - são ver<strong>da</strong> d eira s: "Endireite m - se!", "Alto!",<br />

"Apres e nt ar arm a s!" Essas indicaç õ e s são impróprias para a<br />

luta; aqui estã o sen d o es culpi<strong>da</strong> s m arion et e s às quais se<br />

pres cr e v e cad a minúcia até que funcion e m ceg a m e n t e . Nem é<br />

precis o dizer que pes s o a s postas so b tutela des s a man eira são<br />

trata<strong>da</strong> s unilateral m e nt e na segun d a pes s o a . O treina m e n t o<br />

<strong>da</strong>s propried a d e s de rob ô, que faze m tudo de man eira flexível<br />

e ob e di e nt e e desliga m o próprio pen s a m e n t o , tem por objetivo<br />

uma literal ob e di ê n ci a de cad á v e r.<br />

A postura libera<strong>da</strong> <strong>da</strong> espinh a dors al, que repre s e nt a o<br />

contrap o nt o a todo s os outros três extre m o s , aproxim a- se<br />

extern a m e n t e <strong>da</strong> postura do sol<strong>da</strong>d o , estan d o interna m e n t e<br />

32<br />

1


impregn a d a de en er gi a fluente e m lugar de reti<strong>da</strong>. Pess o a s que<br />

têm con s ci ê n ci a de si m e s m a s têm es s a form a ereta e elástica.<br />

Os her óis "bon s" dos filme s irradia m es s a retidão e es s a<br />

en er gi a que ve m de dentro, assi m co m o pes s o a s dispo sta s a<br />

lutar por seus direitos. Ness e sentido, sol<strong>da</strong>d o s pod e m<br />

en c aixar- se ai. Neste ponto, pod e- se pen s ar no guerr eiro<br />

Arjuna, o herói do Bhagav a d Gita, e m Palas Atena ou no ideal<br />

guerreiro dos xam ã s : tão orgulho s o que não se curva diante de<br />

ningu é m , e tão humild e que não per mite que ningu é m se curve<br />

diante dele. Para mi m, a mais bela imag e m des s a postura é a<br />

do m e str e de Tai-Chi, que con s e g u e apan h ar um pás s ar o<br />

graç a s à sua elastici<strong>da</strong>d e. Em pé, ereto e quieto, ele ofer e c e<br />

um lugar e m seu o m br o para o pás s ar o. Este pous a porqu e,<br />

devido à aus ê n ci a de m e d o do m e str e, sente que tamp o u c o<br />

precis a ter m e d o . Quando quer voar nova m e n t e , não<br />

con s e g u e . Assim que ele quer levantar vôo o mestr e, co m seus<br />

m o vi m e nt o s fluidos, ced e. O m e str e precis a ofer e c e r- lhe<br />

resistên ci a para que ele pos s a recup er ar sua liber<strong>da</strong> d e .<br />

Este vô o que vai do quarto <strong>da</strong>s crianç a s para o guerr eiro<br />

con s ci e nt e, pas s a n d o pelo pátio de exercí cio s, pretend e<br />

m o strar que as posturas extre m a s no âm bito <strong>da</strong> colun a<br />

vertebr al trata m de um tem a que gira e m tom o do eixo: falta de<br />

apoio nas costa s e uma postura interna m ol e por um lado e<br />

retidã o corajo s a por outro. A expres s ã o "má postura" é muito<br />

apropriad a, pois m o stra que aqui se trata de um a postura má<br />

por estar tão distante <strong>da</strong> própria postura.<br />

P er g u nta s<br />

Para a cifos e:<br />

1. Vivo curvad o ? Que pas s o s eu tem o , e m que m eu piso?<br />

De que eu tenh o med o ?<br />

2. Para que m ou para o que eu me curvo?<br />

3. O que eu esp er o diss o para mi m? Onde quer o ch e g ar<br />

co m isso?<br />

Para a lordo s e (= coluna oc a):<br />

32<br />

2


1. O que está oc o na minha vi<strong>da</strong>?<br />

2. O que eu quer o provar para que m ?<br />

3. Que golp e s eu tem o , diante de que eu quer o ced er?<br />

Para a colun a rígi<strong>da</strong>:<br />

1. Que vantag e n s m e traz m eu bo m funcion a m e n t o e<br />

minh a ob e di ê n ci a?<br />

2. O que ac o nt e c e e m mi m quan d o assu m o um a postura<br />

extern a m e n t e ?<br />

3. Quanta razão eu tenh o para assu mir um a postura tão<br />

orgulho s a?<br />

4. A corcun<strong>da</strong><br />

Uma corcun d a está bas e a d a em uma curvatura para a frente<br />

<strong>da</strong> colun a vertebr al e pod e ter divers a s razõ e s . Vértebras<br />

pod e m se romp er e m con s e q ü ê n c i a de proc e s s o s de<br />

tuberculo s e ou raquitis m o , ou ela pod e ser inata ou caus a d a<br />

por um acident e. O efeito repulsivo que exerc e lem br a, entre<br />

outros, a velha bruxa corcun d a dos conto s de fa<strong>da</strong>s. Uma de<br />

suas principais caract erística s é o olhar que, e m vez de estar<br />

voltad o para o céu, olha para a terra, para baixo. Tal co m o foi<br />

dito na proble m átic a <strong>da</strong> serp e nt e, para nós tudo o que é baixo<br />

é extre m a m e n t e susp eito, para não dizer um horror. As<br />

crianç a s , por exe m pl o, sente m um a avers ã o natural e m relaç ã o<br />

ao s corcun d a s e os evita m. Não se trata evid e nt e m e n t e de<br />

uma rejeiç ã o <strong>da</strong>s pes s o a s afetad a s , m a s de repugn â n ci a e m<br />

relaç ã o à sua form a. Ela en c arn a um tem a do qual os afetad o s<br />

quas e nunc a são con s ci e nt e s co m tanta clarez a.<br />

Pess o a s marc a d a s de tal man eira pelo destino são liga<strong>da</strong>s<br />

ao m al des d e ép o c a s ime m o ri ais. Uma cren ç a popular muito<br />

difundi<strong>da</strong> vê na corcun d a um a puniçã o por m á s aç õ e s<br />

pas s a d a s , en quant o povo s orientais vê e m nela uma puniçã o<br />

cár mic a ou um a penitên ci a. Sem entrar na probl e m á tic a <strong>da</strong>s<br />

tarefas trazi<strong>da</strong>s para a vi<strong>da</strong>, pod e- se con statar que a form a<br />

32<br />

3


corc o v a d a é a m e s m a de um penitent e. Para as pes s o a s<br />

curvad a s pelo destino existe evident e m e n t e pouc a<br />

pos sibili<strong>da</strong>d e de ir ao en c o ntro do mund o co m um a atitude de<br />

confronto, ofen siva. Elas têm os olho s caído s e dão um a<br />

impres s ã o se m e l h a nt e. A postura que lhes foi impo sta imp e d e<br />

deter min a d a s exp eriên ci a s nesta vi<strong>da</strong>, obvia m e n t e não é a vez<br />

deles, outros posicion a m - se contra isso.<br />

A tarefa corresp o n d e e m princípio à dos curvad o s pacient e s<br />

de ciática, sen d o que ag or a seu objetivo é muito mais profund o<br />

e fun<strong>da</strong> m e n t al. Trata- se de aprend er a humil<strong>da</strong>d e a partir <strong>da</strong><br />

postura humilhad a. O proble m a <strong>da</strong> avaliaç ã o é esp e ci al m e n t e<br />

perig o s o e m um tem a e m o ci o n al m e n t e tão carreg a d o . Em um<br />

cas o con cr et o, algué m que ob s erv e de fora se m pr e será cap az<br />

de rec o n h e c e r o tem a, m a s dificilm e nt e perc e b e r á o plan o e m<br />

que ele é vivido e de m an eira algu m a até que ponto ele já está<br />

redimid o. Quasím o d o , o sineiro de Notre Dam e, pod e servir de<br />

exe m pl o aqui. Poss o dizer por exp eriên ci a própria que um a <strong>da</strong>s<br />

pes s o a s m ais humild e s que con h e ci é um a mulh er corcun d a<br />

muito velha. Ela utilizou sua "form a de bruxa" para tornar- se um<br />

anjo para as pes s o a s a ela confia<strong>da</strong> s e para redi mir sua própria<br />

tarefa. Ela deixou que a humil<strong>da</strong>d e cres c e s s e a partir <strong>da</strong><br />

humilha ç ã o do destino. Ao lado de sua paciên ci a e am a bili<strong>da</strong>d e<br />

de anjo, cha m a a aten ç ã o sua entre g a incondicion al a seu<br />

destino.<br />

P er g u nta s<br />

1. Onde m eu destino quer que eu dê co m o nariz? Eu m e<br />

deixo rebaixar ? Faç o- o eu m e s m o ? Ou co m outros?<br />

2. O que deixei de ver e m pes s o a s próxim a s que estã o a<br />

m e u s pés? Com o reajo e m relaç ã o ao s corcun d a s ?<br />

3. Onde tend o a ficar corcun d a, ond e deixo que outros o<br />

faça m ?<br />

4. Diante de que m e curvo? Os outros precis a m curvar- se<br />

diante de mi m?<br />

5. Que situaç õ e s me humilha m ? Em quais eu humilho?<br />

6. Com o m e co m p o rt o em relaç ã o à humil<strong>da</strong>d e?<br />

32<br />

4


7. Com o estou nesta vi<strong>da</strong>?<br />

5. A escoliose ou desvio lateral <strong>da</strong> coluna<br />

A es c olio s e , o desvi o lateral <strong>da</strong> coluna vertebr al, é um desvio<br />

incon s ci e nt e do m ei o e m um âm bito central. Além des s e fato, o<br />

sinc er o corp o m o stra ain<strong>da</strong> a direç ã o do desvi o que, co m o to<strong>da</strong><br />

unilaterali<strong>da</strong>d e, prejudic a os dois lado s. Quando o centro de<br />

gravi<strong>da</strong> d e <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> se deslo c a para a es qu er d a, para o lado<br />

feminin o, o direito, m a s c ulin o, fica auto m atic a m e n t e curto<br />

de m ai s, e m b o r a tamp o u c o o feminino vá be m . Com a<br />

prefer ê n ci a invers a pelo lado direito, não so m e n t e o lado<br />

es qu er d o , feminin o, é favor e cid o , ma s o direito sofre co m seu<br />

próprio so br e p e s o . Assim co m o os dois lado s lucra m co m o<br />

equilíbrio har m ô ni c o , am b o s sofre m e m conjunto co m a per<strong>da</strong><br />

des s e equilíbrio.<br />

Quando oc orr e m des vi o s ac e ntuad o s <strong>da</strong> linha m e di a n a, os<br />

órg ã o s intern o s <strong>da</strong> caixa torácic a tam b é m são afetad o s .<br />

Quando o cora ç ã o não e stá do lado certo, as interpretaç õ e s<br />

torna m- se desn e c e s s á ri a s. O m e s m o ac o nt e c e quan d o os<br />

pulm õ e s não se expan d e m livre m e n t e . Eles precis a m de<br />

esp a ç o para expan dir- se. Nenhu m a expans ã o é pos sív el<br />

quan d o o esp a ç o é tolhido, seja e m sentido con cr et o ou do<br />

ponto de vista <strong>da</strong> co m u ni c a ç ã o .<br />

A um a torçã o corp oral corre s p o n d e um a torçã o aní mic a.<br />

Trata- se aqui so br etud o de de s vi o s de percur s o que não<br />

agrad a m ne m um pouc o os afetad o s . Por m ais que eles dê e m<br />

voltas e voltas, eles têm o erro atrás de si, e m suas co sta s. Os<br />

des vi o s têm se m pr e um caráter duplo, algué m se des via de<br />

algo, e dirige- se a algu m a outra coisa. É interes s a nt e notar que<br />

há um a níti<strong>da</strong> prep o n d e r â n ci a de es c olio s e s que se desvia m<br />

para o lado direito, m a s c ulin o. Um pacient e viven ci ou na<br />

terapia, nova m e n t e con s ci e nt e, co m o o desvi o de sua colun a<br />

vertebr al co m e ç o u na pub erd a d e , quan d o não pôd e endireitarse<br />

diante de seu pai e, e m vez diss o, afastou- se fisica m e n t e.<br />

32<br />

5


Dram a s muito esp e ci ais oc orr er a m à m e s a , ond e o filho tinha<br />

que sentar- se à direita do pai. Com o ele não con s e g uiu<br />

distanciar- se animic a m e n t e , sua CV o substituiu e afastou- se<br />

do pai. Apesar diss o ele tentou, se m de m o n s tr ar firmez a,<br />

serp e nt e ar pela vi<strong>da</strong>. Pess o a s co m tais des vi o s tenta m<br />

es quivar- se diante <strong>da</strong> franqu ez a se m rodei o s. Sua colun a<br />

vertebr al perc orr e ca minh o s curvo s e revela prefer ê n ci a s<br />

se m el h a nt e s e m sentido figurad o que elas não ad mite m para si<br />

m e s m a s . Em vez de tom ar ca min h o s retos e direto s, e m sua<br />

co m u nic a ç ã o elas prefer e m enrolar, es c ol h e n d o rod ei o s para<br />

des viar- se dos ob stácul o s. Nisso elas pod e m perd er- se e m<br />

muitos rod ei o s e enrolar- se a si m e s m a s . Uma variante des s e<br />

padrã o treinad a física e con s ci e nt e m e n t e pod e ser estud a d a no<br />

teatro de varied a d e s , nos cha m a d o s ho m e n s - co br a.<br />

A tarefa con sist e e m posicion ar- se real m e nt e no lado<br />

preferido. Quando se viven ci a es s e pólo, o corpo é aliviado e<br />

pod e voltar a distribuir seu pes o de form a equilibrad a. A<br />

ab ertura real para um a m etad e torna sua parciali<strong>da</strong>d e<br />

con s ci e nt e e abr e a oportuni<strong>da</strong>d e de des c o b rir e m seu fundo<br />

tam b é m a quali<strong>da</strong>d e do lado opo st o. A red e n ç ã o do serp e nt e ar<br />

está na a<strong>da</strong>pta ç ã o flexível às nec e s si d a d e s <strong>da</strong> vi<strong>da</strong>. O que se<br />

pretend e aqui não é mud ar de ac ord o co m o vento, m a s vibrar<br />

no ritmo <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> no sentido que lhe dá Heráclito e seu<br />

con h e ci m e n t o ate m p o r al: panta rhei, tudo flui.<br />

P er g u nta s<br />

1. De qual de m e u s lado s m e desvi ei, qual m e resta?<br />

2. O que é curto de m ai s e m minha vi<strong>da</strong>? De que go sto de<br />

des viar- m e?<br />

3. Que ob stácul o s eu contorn o, e m águas turvas quan d o<br />

nec e s s á ri o?<br />

4. Com o an<strong>da</strong> minha retidão? A que co m pr o m i s s o s e leve s<br />

des vi o s estou dispo st o nes s e sentido?<br />

5. Até ond e quer o trepar por m e u s ca min h o s retorcido s?<br />

32<br />

6


6. Paralisia causa<strong>da</strong> por secção <strong>da</strong> medula<br />

Ela é quas e se m pr e a con s e q ü ê n c i a de um a rotura<br />

traum átic a <strong>da</strong> espinh a dors al. A espinh a dors al do afetad o é<br />

que br a d a, no sentido mais ver<strong>da</strong>d eir o <strong>da</strong> palavra, por um<br />

acident e. A coluna vertebr al é tão <strong>da</strong>nificad a e m um<br />

deter min a d o local que o m ais sagr ad o , o can al nervo s o<br />

protegid o por resistent e s pared e s de oss o, é rompid o. É o<br />

acident e que interro m p e a continui<strong>da</strong>d e <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> <strong>da</strong> man eira<br />

mais grav e, já que sec ci o n a a ligaç ã o entre o sup erior e o<br />

inferior, entre a cab e ç a e o corp o ou o baixo- ventre.<br />

Paralisias por sec ç ã o <strong>da</strong> m e d ul a pod e m oc orr er a qualqu er<br />

altura <strong>da</strong> CV. Quando o traum a ating e o can al nervo s o muito<br />

aci m a, o resultad o é a m orte por paralisia <strong>da</strong> respiraç ã o , co m o<br />

e m um enforc a m e n t o . A m ai oria <strong>da</strong>s paralisias por sec ç ã o<br />

transv er s al <strong>da</strong> m e d ul a ating e m o baixo- ventre e força m a uma<br />

vi<strong>da</strong> na cad eira de ro<strong>da</strong>s. Estritam e nt e, esta é um a prótes e e<br />

per mite um a m o bili<strong>da</strong>d e que o destino quis na ver<strong>da</strong>d e retirar.<br />

Ela se torna um a parte <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> e pod e, tornan d o - se<br />

tecnic a m e n t e cad a vez mais ma dur a, voltar a abrir vários<br />

âm bito s <strong>da</strong> vi<strong>da</strong>.<br />

O sinto m a m o stra a imo bili<strong>da</strong>d e se m vi<strong>da</strong> <strong>da</strong> m etad e inferior<br />

do corpo, que arqu etipica m e n t e se inclina para o feminin o, e a<br />

irrem e di a bili<strong>da</strong>d e <strong>da</strong> situaç ã o . Não existe mais qualqu er<br />

relaç ã o viva entre a cab e ç a e o baixo- ventre, m a s um bloqu ei o<br />

co m pl et o. A impotên ci a e m relaç ã o ao próprio pólo inferior<br />

torna- se palpáv el na paralisia. O sinto m a força os afetad o s a se<br />

dirigire m à sua m etad e inferior co m o se foss e um corpo<br />

estran h o . Eles ag or a precis a m ocup ar- se dela o tem p o todo,<br />

ma s de fora e se m um sentim e nt o intern o de participaçã o . Ao<br />

m e s m o tem p o , a situaç ã o lhes deixa claro o quanto o pólo<br />

inferior é nec e s s á ri o para a so br e viv ê n ci a. O funcion a m e n t o<br />

óbvio <strong>da</strong> m etad e inferior foi interro m pid o e ag or a é<br />

pen o s a m e n t e sub stituído por esforç o s extern o s. Com o no início<br />

<strong>da</strong> vi<strong>da</strong>, o controle <strong>da</strong> bexig a e do intestino precis a ser<br />

apren did o nova m e n t e , e isso so b as con diç õ e s m ais adv er s a s .<br />

32<br />

7


Os afetad o s viven cia m co m o se tornou difícil para eles eliminar<br />

ab aixo aquilo que foi ad mitido aci m a. A do a ç ã o mat erial<br />

corre s p o n d e à defe c a ç ã o , en qu a nt o a aní mic a é repres e nt a d a<br />

pelo ato de urinar. O sinto m a rev ela que o sentim e nt o natural<br />

para o m o m e n t o de <strong>da</strong>r está aus e nt e. Agora, gov er n a d o por<br />

reflexo s condicio n a d o s e indep e n d e n t e de sen s a ç õ e s interna s,<br />

é precis o aprend er a soltar. No que a isso se refer e, a vi<strong>da</strong> se<br />

transfor m a e m um ritual forçad o .<br />

A sexuali<strong>da</strong>d e genital torna- se totalm e nt e impo s sív el. Neste<br />

ponto o ac o nt e ci m e n t o não é so m e n t e um revé s , m a s um<br />

retroc e s s o à prim eira infância. A genitali<strong>da</strong>d e e, co m ela, o<br />

pod er do próprio sex o, é retira<strong>da</strong> rep e ntina m e n t e de man eira<br />

radical. Tam b é m an<strong>da</strong>r, ficar e m pé e subir, e co m isso<br />

avan ç ar, progr e dir e asc e n d e r, ficara m paralisad o s . O<br />

progr e s s o extern o e a postura ereta tornara m - se impo s sí v ei s e<br />

so m e n t e pod e m ser substituído s pelo s pas s o s intern o s<br />

corre s p o n d e n t e s . O círculo <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> está niti<strong>da</strong> m e nt e restringido<br />

e limitado por um am bi e nt e estreito.<br />

É evid e nt e que os afetad o s dev e m desl o c ar o centro de<br />

gravi<strong>da</strong> d e de sua vi<strong>da</strong> <strong>da</strong>s ativi<strong>da</strong>d e s extern a s para as internas<br />

e con s e g uir temp o para rec o n h e c e r sua situaç ã o . Eles não são<br />

mais livres, tend o sido ac orr entad o s pelo destino (à cad eira de<br />

ro<strong>da</strong>s). Em vez do progr e s s o extern o, indica- se o<br />

des e n v olvi m e nt o intern o. Em vez de con q uistar o mun d o , é<br />

precis o <strong>da</strong>r- se be m e m um circulo restrito. A liber<strong>da</strong> d e e a<br />

retidã o que fora m cortad a s levanta m a susp eita de proble m a s<br />

anterior e s a es s e resp eito. Golpes duros do destino<br />

dec orr e nt e s de acident e s m o stra m o quanto mud a n ç a s de<br />

curs o abruptas e profun<strong>da</strong> s são nec e s s á ri a s.<br />

A partir de declara ç õ e s de vitima s de paralisia caus a d a por<br />

sec ç ã o transv er s al <strong>da</strong> m e d ul a que do min ar a m seu duro destino<br />

e voltara m a tom ar nas m ã o s as réd e a s de sua vi<strong>da</strong>,<br />

depr e e n d e - se muitas vez e s um auto- con h e ci m e n t o profund o e<br />

uma interpreta ç ã o condiz ent e do trágic o ac o nt e ci m e n t o . “O<br />

acident e pôs fim à minha impulsivi<strong>da</strong>d e selva g e m " seria um tal<br />

auto- con h e ci m e n t o . O afetad o colo c a e m palavras que foi<br />

32<br />

8


long e de m ai s e se exc e d e u e m sua ous a di a. Ele so m e n t e<br />

des e n v olv e u a ver<strong>da</strong> d eir a corag e m após o acid e nt e, dep ois<br />

que, nos prim eiros m o m e n t o s de des e s p e r o , teve de<br />

rec o n h e c e r que a ous a dia era ap en a s a co m p e n s a ç ã o de um<br />

profund o senti m e nt o de inferiori<strong>da</strong>d e. Outros dep oi m e n t o s , de<br />

m oto ci clistas e praticant e s de outros esp orte s radicais<br />

acidentad o s , co m pr o v a m que o acident e ac a b o u co m um a fas e<br />

de m o vi m e n t a ç ã o extern a exag er a d a e, so br etud o ,<br />

incon s ci e nt e, mant e n d o - os salutar m e nt e de volta ao chã o<br />

firme. É dep ois de um períod o inicial e m que a vi<strong>da</strong> na cad eira<br />

de ro<strong>da</strong>s é senti<strong>da</strong> co m o não valen d o na<strong>da</strong> que os olho s se<br />

abr e m para o valor <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> e m si. O que antes era óbvio pod e<br />

ser rep e ntina m e n t e rec o n h e c i d o co m o um valios o pres e nt e e<br />

uma pos sibili<strong>da</strong>d e de viven ci ar exp eriên ci a s profun<strong>da</strong> s . Muitas<br />

vez e s é, portanto, a cad eira de ro<strong>da</strong>s que rev ela o milagr e <strong>da</strong><br />

loco m o ç ã o . Um afetad o sentiu- se levad o de um a viag e m se m<br />

rum o de volta a seu ca minh o pelo acid e nt e: "Talvez eu nunc a o<br />

tives s e enten did o se m o acid e nt e". A arrog â n ci a no trato co m o<br />

sexo opo st o so m e n t e se tornou con s ci e nt e para um pacient e<br />

quan d o perd e u a pos sibili<strong>da</strong>d e de exer c er a sexuali<strong>da</strong>d e<br />

genital. Carinho s que antes lhe pare cia m ban ais e<br />

insignificante s ganh ar a m uma profundi<strong>da</strong>d e e um significad o<br />

jam ais imagin a d o s . Em paralítico s por sec ç ã o transv er s al <strong>da</strong><br />

m e d ul a do sex o feminino, a dupla incap a ci<strong>da</strong>d e , pois há<br />

tam b é m a de apoiar seu m arido, é muitas vez e s o ponto<br />

principal.<br />

A lição se g uinte é enc ar ar a reali<strong>da</strong>d e e aprend er a ac eitar o<br />

des a m p a r o . Para pes s o a s que levav a m antes um a vi<strong>da</strong><br />

exa g er a d a m e n t e ativa e extern a m e n t e m o vi m e n t a d a , a<br />

mud a n ç a de pólo para a ativi<strong>da</strong>d e e o m o vi m e n t o interno s é tão<br />

difícil co m o nec e s s á ri a. Não s e deixar abat er, no sentido de<br />

“não desistir, não resign ar- se", é o lem a de muitos afetad o s .<br />

Mas e m um sentido mais profund o, é claro que eles precis a m<br />

antes abaixar- s e, voltar para o tapet e, ac a b ar co m seus altos<br />

vô o s, m e dir suas grand e s preten s õ e s pela reali<strong>da</strong>d e. A vi<strong>da</strong><br />

sed e nt ária os força a impor- se na vi<strong>da</strong>. Na cad eira de ro<strong>da</strong> s<br />

32<br />

9


eles, de m an eir a muito con cr et a, tom a m a vi<strong>da</strong> nas próprias<br />

mã o s e ro<strong>da</strong> m atrav é s dela. O acid e nt e aguç a a con s ci ê n ci a de<br />

que a vi<strong>da</strong> não dura para se m pr e e tem um valor con sid er á v el.<br />

É precis o rec o n h e c e r que valor tinha no pas s a d o a m etad e<br />

inferior do corp o e, co m isso, o pólo feminino. Embor a os<br />

pacient e s tenha m obtido muito dele, eles muitas vez e s não<br />

estav a m dispo st o s a recipro c ar a con sid er a ç ã o<br />

corre s p o n d e n t e . Agora eles precis a m ficar de castig o e<br />

dedic ar- lhe to<strong>da</strong> a aten ç ã o , e m b o r a não pos s a m esp er ar<br />

pratica m e n t e na<strong>da</strong> m ais dele. Com o sinal diss o, o lado<br />

feminin o pend e deles co m o se foss e um corp o e stra nh o. A<br />

sinto m átic a não so m e n t e torna explicito o quanto o próprio lado<br />

feminin o é estran h o ma s tam b é m força a dedic ar- lhe aten ç ã o<br />

redo br a d a. Torna- se palpáv el que ele co m p õ e m etad e <strong>da</strong> vi<strong>da</strong><br />

e que se m ele a vi<strong>da</strong> é so m e n t e m ei a vi<strong>da</strong>.<br />

A tarefa central que se segu e à ac eitaç ã o do infortúnio é<br />

fazer uso do pólo sup erior que resta, e isso de um a posiç ã o<br />

mais humild e que antes. Os afetad o s apren d e m a olhar para<br />

cim a, já que pratica m e n t e todo s sup er a m sua altura. Sendo<br />

assi m, a posiç ã o sub ordin a d a de fraqu ez a e a nec e s s i d a d e de<br />

auxilio torna m- se ao m e s m o temp o lição e exig ê n ci a. Assim<br />

co m o tinha m de ficar de castig o na es c ol a, eles precis a m ficar<br />

esp er a n d o e m muitas situaç õ e s . O âm bito <strong>da</strong>s relaç õ e s de<br />

cas al, que deixa muita gent e esp er a n d o sentad a, co m pr o v a o<br />

quanto es s a s situaç õ e s são humilhant e s. Por outro lado os<br />

afetad o s , no âm bito <strong>da</strong>s relaç õ e s , forço s a- m e nt e deixa m o<br />

parc eiro e a si m e s m o s na mã o no que se refer e ao asp e ct o<br />

sexual. Reco m e n d a - se ao s pacient e s , rebaixa d o s no sentido<br />

físico e m suas cad eira s de ro<strong>da</strong>s, a tere m co m pr e e n s ã o ; eles<br />

precis a m aprend er a ac eitar aju<strong>da</strong>. O pod er transfor m a- se e m<br />

impotênci a <strong>da</strong> noite para o dia. Fisica m e n t e , eles ficara m de<br />

joelho s e são forçad o s a per m a n e c e r sentad o s para se m pr e.<br />

Agora é precis o en c h er es s a postura de en er gia aní mic oespiritual<br />

e dedic ar- se às pos sibili<strong>da</strong>d e s que resta m . Se até<br />

entã o podia m olhar para a vi<strong>da</strong> de cim a para baixo, eles ag or a<br />

senta m - se a seus pés. O trato co m o mund o, tal co m o os<br />

33<br />

0


sinto m a s dão a enten d e r, con s e q ü e n t e m e n t e pas s a a ser muito<br />

am pla m e n t e impregn a d o pelo pólo feminin o. Do ponto de vista<br />

redimid o, por m ei o <strong>da</strong> entre g a e <strong>da</strong> humil<strong>da</strong>d e , ou por m ei o <strong>da</strong><br />

resign a ç ã o e de estad o s de hum or caprich o s o s 69 que pod e m<br />

ch e g ar à depr e s s ã o no cas o de não ter sido liberad o .<br />

Sentar- se ao s pés <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> pod eria ser o ponto de parti<strong>da</strong><br />

para dedic ar- se e m paz ao sentido <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> e a en c o ntrar a si<br />

m e s m o . Sempr e volta a oc orr er que pes s o a s cujas vi<strong>da</strong>s fora m<br />

co m o que cortad a s ao m ei o por um tal golp e do destino<br />

transfor m a m a biss e ç ã o de suas pos sibili<strong>da</strong>d e s e m um a<br />

oportuni<strong>da</strong>d e de fazer rend er as que resta m e ao m e s m o<br />

temp o cres c e r para alé m de si m e s m a s e de suas<br />

pos sibili<strong>da</strong>d e s . A sinto m átic a de limitaç ã o dos m o vi m e nt o s<br />

m o stra que o ca min h o indicad o pelo destino apo nta m ais e m<br />

direç ã o ao ca m p o aní mic o- espiritual que à Olimpíad a dos<br />

diminuído s físico s. Por outro lado, quan d o serv e m para<br />

ad e q u ar à reali<strong>da</strong>d e a preten s ã o de ser o Númer o 1 ab s oluto e<br />

para ac e ntuar a alegria do m o vi m e n t o e <strong>da</strong>s pos sibili<strong>da</strong>d e s<br />

restant e s, tais des afio s pod e m ser saud á v ei s. A luta contra um<br />

destino tão difícil continua sen d o se m pr e um ca min h o de<br />

pod er, assi m co m o tentativas de m o strar e provar a todo s que<br />

não se precis a de nen hu m a co m p aixã o . To<strong>da</strong> a paleta de<br />

co m p o rta m e n t o s do "ag or a sim" está co m pr o m e tid a<br />

univo c a m e n t e co m o pólo guerreiro- m a s c ulin o, en qu a nt o aqui<br />

se trata de aproxim ar o pólo ma s c ulino do jeito feminin o.<br />

Dos três centro s, o que está localizad o mais ab aixo, o centro<br />

<strong>da</strong> pélvis, é o m ais exten s a m e n t e afetad o, en qu a nt o o centro<br />

do cora ç ã o e o <strong>da</strong> cab e ç a são integral m e n t e pres erv a d o s e<br />

torna m- se tarefa. O pacient e não foi jogad o para fora <strong>da</strong><br />

estrad a e m vão. As tentativas de ignorar as indicaç õ e s do<br />

destino por m ei o <strong>da</strong>s próte s e s mais refinad a s não leva m a<br />

nen hu m a soluç ã o de alcan c e profund o; alé m do que, não<br />

existe qualqu er tipo de prótes e para as sen s a ç õ e s e<br />

sentim e nt o s dos quais o pacient e foi privad o. Elas continua m<br />

sen d o um a tentativa funcion al de en g a n ar o destino. Não se<br />

con h e c e até hoje um único cas o e m que isso tenha sido<br />

33<br />

1


lograd o definitiva m e nt e, seja nos registros <strong>da</strong> história ou nas<br />

mais antigas religiõ e s e es critos mitoló gic o s dos pov o s. Isso<br />

não quer dizer que não se dev a utilizar as m o d e r n a s e<br />

refinad a s pos sibili<strong>da</strong>d e s técnic a s. Elas so m e n t e se torna m<br />

perig o s a s quan d o leva m à repre s s ã o do ac o nt e ci m e n t o<br />

original. Então o destino precis a pens ar e m algu m a outra cois a<br />

para nova m e n t e voltar a e m brulhar a m e s m a lição. Enquanto<br />

até m e s m o as maravilho s a s pos sibili<strong>da</strong>d e s <strong>da</strong> protética<br />

m o d e r n a são limita<strong>da</strong> s, as do destino continua m sen d o<br />

infinitam e nt e varia<strong>da</strong> s.<br />

P er g u nta s<br />

1. O que m e que br o u a espinh a? O que retirou o antigo<br />

conteú d o e o antigo su st e nt o de minha vi<strong>da</strong>?<br />

2. O que minh a m etad e inferior m orta quer m e dizer? De<br />

que eu sofro apó s sua per<strong>da</strong>?<br />

3. Com o and o e m relaç ã o ao "<strong>da</strong>r", tanto no sentido<br />

mat erial co m o no sentido aní mic o?<br />

4. O que significa retidão para mi m?<br />

5. Sinto- m e humilhad o ou próxim o <strong>da</strong> humil<strong>da</strong>d e ?<br />

6. Com o enc ar o o destino que m e tornou tão pequ e n o , que<br />

tirou de mi m a metad e inferior?<br />

7. O que tenh o a ver co m o tem a «ficar esp er a n d o<br />

sentad o "?<br />

8. Com o lido co m a nec e s s i d a d e de aju<strong>da</strong> e co m a<br />

dep e n d ê n c i a?<br />

9. Com o m e co m p o rt o e m relaç ã o ao pod er e à<br />

impotênci a?<br />

10. Que apar ê n ci a tem minha relaç ã o co m o que está<br />

aci m a, co m a cab e ç a e co m o céu? E co m o que está abaixo,<br />

co m a pélvis e co m a terra?<br />

33<br />

2


7<br />

Os Ombros<br />

A postura dos o m br o s deixa entrev er algo <strong>da</strong> postura e m<br />

relaç ã o à vi<strong>da</strong>. As clavículas e as o m o pl ata s mant ê m a área<br />

sup erior do corp o uni<strong>da</strong>. Na parte anterior do corp o os o m br o s ,<br />

pas s a n d o pelas clavículas, che g a m até o estern o, en qu a nt o<br />

atrás suas o m o pl ata s co br e m a parte sup erior <strong>da</strong>s co sta s. Os<br />

o m br o s liga m a expr e s sivi<strong>da</strong>d e dos braç o s e <strong>da</strong>s m ã o s ao<br />

peito, local do m ei o e <strong>da</strong> integraç ã o . Juntam e nt e co m a coluna<br />

vertebr al, eles são a área do corp o ond e se pod e ler qual carg a<br />

uma pes s o a carre g a, e co m o a leva. Más posturas internas<br />

crônic a s pod e m m anifestar- se nos o m br o s so b a form a de<br />

mús c ul o s endur e cid o s e tens o s ou até m e s m o co m o m á s<br />

form a ç õ e s do es qu el et o ós s e o .<br />

Os mais nítidos são os ombros erguidos, entre os quais<br />

parec e quer er es c o n d e r- se uma cab e ç a m e dr o s a . Com o e m<br />

um carac ol ou um a tartarug a, ela se m et e para dentro ao<br />

confrontar os perig o s do mun d o lá fora. Quando algo nos<br />

assusta, nós auto m atic a m e n t e en c olh e m o s a cab e ç a . Então,<br />

quan d o o susto pas s a, os o m br o s retorna m á postura não<br />

assustad a e a cab e ç a se atrev e nova m e n t e para diante.<br />

Cons e q ü e nt e m e n t e , o m br o s cronic a m e n t e erguido s m o stra m<br />

que seu proprietário per m a n e c e con stant e m e n t e nes s e estad o<br />

ab aixad o e cho c a d o e não con s e g u e mais livrar- se do m e d o .<br />

Talvez, tam b é m , ele já tenha levad o tanto na cab e ç a que<br />

incon s ci e nt e m e n t e prefer e ab aixar- se e pas s ar de man eira<br />

furtiva pela vi<strong>da</strong> co m a cab e ç a m eti<strong>da</strong> entre os o m br o s . O<br />

m e d o crônic o con g el a d o na área dos o m br o s m o stra- se<br />

tam b é m na estreitez a <strong>da</strong> postura. Não é raro que a es s e s<br />

o m br o s falte m a largura e a en er gi a para suportar o fardo <strong>da</strong><br />

vi<strong>da</strong> e a resp o n s a b ili<strong>da</strong>d e corresp o n d e n t e . O o m br o es qu er d o<br />

erguido unilateral m e nt e serv e tanto para prote g e r o coraç ã o<br />

co m o para bloqu e á - lo.<br />

33<br />

3


O pólo opo st o anatô mi c o é con stituído por pes s o a s co m os<br />

ombros caídos, que expr e s s a m resign a ç ã o . Eles lem br a m<br />

pás s ar o s co m as asa s caí<strong>da</strong>s e, de fato, as o m o pl atas têm<br />

certa se m el h a n ç a co m asa s rec olhi<strong>da</strong>s. Ombro s caíd o s<br />

nec e s s a ria m e n t e suporta m mais carg a (resp o n s a bili<strong>da</strong>d e) do<br />

que são cap az e s , seus pos suid or e s estã o so br e c a rr e g a d o s . Os<br />

o m br o s tenta m deixar es c orr e g ar aquilo que é de m a s i a d o para<br />

eles, e tenta m subtrair- se. Há algo niss o que des p erta<br />

co m p aixã o , so br etud o quan d o os o m br o s são alé m do mais<br />

estreitos. Os afetad o s dão a impres s ã o de que tom a m para si<br />

todo o pes o do mun d o . Dá vontad e de abraç á- los so b os<br />

braç o s (igual m e nt e caído s) e aliviá- los um pouc o.<br />

Ombros ac e ntuad a m e n t e estreito s evid e n ci a m uma<br />

cap a cid a d e reduzi<strong>da</strong> de assu mir a carg a <strong>da</strong> resp o n s a b ili<strong>da</strong>d e<br />

pela própria vi<strong>da</strong>. Seus pos suid or e s se rec olh e m para pod er<br />

ater- se co m a vi<strong>da</strong>. Eles dão a impres s ã o de que teriam de<br />

fazer um esforç o imen s o para suportar os enc ar g o s que têm<br />

pela frente. Com o bas e para o âm bito e m questã o , tais o m br o s<br />

são um pres s up o st o bastant e fraco, o controle <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> so m e n t e<br />

pod e ser assu mi d o co m grand e s fadigas. É natural que os<br />

pos suid or e s de o m br o s que serv e m mais para orna m e n t o que<br />

outra coisa tenha m um a grand e nec e s s i d a d e de apoio,<br />

preferindo o m br o s esp e ci al m e n t e largo s ond e pos s a m apoiar a<br />

cab e ç a e, junta m e nt e co m ela, a resp o n s a bili<strong>da</strong>d e .<br />

Entre os o m br o s erguido s e os o m br o s caíd o s localiza m- se<br />

os o m br o s e m ângulo reto, que den ot a m um estad o nor m al.<br />

Entretanto, m e s m o nest e cas o há sinais de exa g er o que não<br />

deixa m de ser significativo s. Os o m br o s tipica m e nt e<br />

ma s c ulino s, co m os má s c ul o s estirad o s , sinaliza m para todo o<br />

mund o que aqui algué m está dispo st o a assu mir a<br />

resp o n s a bili<strong>da</strong>d e por si m e s m o e m ais. Acentuan d o<br />

esp e ci al m e n t e es s a expr e s s ã o , talvez atrav é s de ma s s a<br />

mus c ular obti<strong>da</strong> à custa de treina m e n t o ou dos enc hi m e n t o s<br />

corre s p o n d e n t e s , algué m m o stra o quanto pen s a no efeito que<br />

exer c e so br e os outros. Neste ponto, ele levanta tam b é m a<br />

susp eita de simular coisa s que go staria de ter. Os sol<strong>da</strong> d o s ,<br />

33<br />

4


que não so m e n t e usa m galõ e s e m suas jaquetas ma s tam b é m<br />

tiras e m to<strong>da</strong> s as ca mi s a s , se trae m co m o coletivi<strong>da</strong>d e e m<br />

relaç ã o a isso. A voz popular fala de om br o s incha d o s . Indicase<br />

para o exterior quanto pod er e quanta resp o n s a b ili<strong>da</strong>d e se<br />

está dispo st o a assu mir, sen d o que na ver<strong>da</strong> d e a m ai oria teve<br />

a espinh a que br a d a para exer c er, so b orden s , a falta de<br />

resp o n s a bili<strong>da</strong>d e . Ombro s sup erdi m e n s i o n a d o s indica m eg o s<br />

similares, en qu a nt o o m br o s estreitos indica m o contrário.<br />

Quando, alé m diss o, eles são caíd o s, isso indica que neste<br />

cas o algué m desistiu de se afirmar e de mo strá- lo ao mun d o .<br />

Os o m br o s , portanto, dize m algo so br e o tipo de conflito que<br />

se tem co m o mun d o , sen d o que os o m br o s e m ângulo reto<br />

estã o real m e nt e na altura certa. Quando caído s , m o stra m o<br />

des â ni m o de seu proprietário; erguido s, que quer e m eludir a<br />

resp o n s a bili<strong>da</strong>d e para cim a. Pois o m br o s erguido s tam b é m se<br />

torna m estreitos, <strong>da</strong>nd o prote ç ã o adicion al á cab e ç a e m sua<br />

tentativa de eclipsar- se.<br />

Além diss o, a altura relativa dos o m br o s m o stra, co m o lado<br />

mais baixo, qual m etad e <strong>da</strong> polari<strong>da</strong>d e é ac e ntuad a na vi<strong>da</strong>.<br />

Assim, nos ho m e n s é geral m e n t e o om br o direito que está mais<br />

baixo, indican d o co m isso que estã o mais disten did o s nes s e<br />

âm bito e tend e n d o a ir de enc o ntr o ao mun d o de man eira<br />

ma s c ulina m e n t e controlad a e agre s siv a. O o m br o es qu er d o<br />

mais baixo, que oc orr e e m mulh er e s na maioria <strong>da</strong>s vez e s ,<br />

indica que se en c ar a seu am bi e nt e de m an eira feminina m e n t e<br />

pas siva. Com o o m br o mais baixo m o stra- se ao mund o o lado<br />

do qual se está mais segur o.<br />

A funçã o própria dos o m br o s é <strong>da</strong>r liber<strong>da</strong> d e de açã o ao s<br />

braç o s . Mas de man eira similar a co m o eles, co m o temp o,<br />

pod e m m o v er- se para cim a e prop orci o n ar um es c o n d e rijo para<br />

a cab e ç a , eles pod e m m o v er- se tam b é m para a frente para<br />

abrigar entre si o peito e o cora ç ã o . Esta é uma típica postura<br />

de auto- prote ç ã o , co m a qual os afetad o s m o stra m co m o se<br />

sent e m vulneráv ei s e car ent e s de prote ç ã o . Muitas vez e s , nas<br />

mulh er e s , há por trás diss o a sen s a ç ã o de ter de prote g e r ou<br />

ain<strong>da</strong> ocultar seu peito do mun d o . Essas m á s posturas<br />

33<br />

5


em et e m - se freqü e nt e m e n t e à pub erd a d e . Quando a m e nin a<br />

na ver<strong>da</strong> d e dev eria ter sido um m e nin o, os seios que co m e ç a m<br />

a cres c e r não são saud a d o s co m alegria e sim es c o n did o s co m<br />

verg o n h a . Seios grand e s , e m um a situaç ã o de inse g ur a n ç a de<br />

si m e s m o , pod e m levar a que se prefira ocultar um a<br />

feminili<strong>da</strong>d e tão de m o n s tr ativa. Sentim e nt o s de inferiori<strong>da</strong>d e e<br />

inse g ur an ç a s e m relaç ã o ao próprio pap el feminino que não<br />

são confrontad o s con s ci e nt e m e n t e en c arn a m - se e, nas regiõ e s<br />

corre s p o n d e n t e s , torna m- se visíveis e palpáv ei s co m o<br />

coura ç a s . Quando a postura protetor a tem por objetivo o<br />

coraç ã o e seus sentim e nt o s , é esp e ci al m e n t e o o m br o<br />

es qu er d o que está esp e ci al m e n t e curvad o para a frente.<br />

Com es s a postura os afetad o s se faze m estreito s, é co m o se<br />

eles se es c o n d e s s e m e m si m e s m o s . Dess a m an eir a, seu<br />

interior torna- se estreito e seus pulm õ e s já não pod e m<br />

expan dir- se <strong>da</strong> m an eira corresp o n d e n t e . A respiraç ã o curta<br />

que <strong>da</strong>i resulta explícita a pobr e dispo siç ã o para a<br />

co m u nic a ç ã o . A imag e m de isolar- se e de fechar- se para fora<br />

co m bin a co m a tend ê n ci a de con s er v ar as e m o ç õ e s para si<br />

m e s m o e de pratica m e n t e não se defen d e r de golp e s<br />

ev e ntuais. Em vez diss o, as vitima s des s a postura tend e m a<br />

retirar- se ain<strong>da</strong> m ais para seu esp a ç o prote gid o, que con sist e<br />

de o m br o s adiantad o s , e braç o s e costa s curva<strong>da</strong> s . Mas,<br />

juntam e nt e co m a prote ç ã o des ej a d a , todo bunk e r eficaz traz<br />

tam b é m con sig o estreitez a, rigidez e opres s ã o que pod e m<br />

levar até a falta de ar.<br />

1. Problemas dos ombros<br />

O braço luxado<br />

Nesta lesã o <strong>da</strong> articulaç ã o do o m br o, esp et a c ul ar e<br />

freqü e nt e, a cab e ç a do oss o do braç o salta de seu en c aix e, ao<br />

m e s m o tem p o que os afetad o s perd e m a pos e. Em última<br />

instância, eles já estav a m fora de si antes, já que a lesã o<br />

33<br />

6


dec orr e de m o vi m e nt o s exa g er a d o s dos braç o s . Neste cas o ,<br />

tentou- se algo co m mã o s e pé s , de m an eira forçad a,<br />

des c o n h e c e n d o e sup er e sti m a n d o as próprias pos sibili<strong>da</strong>d e s .<br />

O braç o m o stra a exig ê n ci a exa g er a d a ao não mais participar<br />

do jogo, aba n d o n a n d o sua posiç ã o tradicion al e indican d o<br />

dolor o s a m e n t e que não so m e n t e ele, m a s seu proprietário<br />

inteiro tom o u o ca minh o errad o. É nec e s s á ri o um imen s o<br />

des g a s t e , heróic o, con s ci e nt e e rep etido <strong>da</strong>s próprias<br />

pos sibili<strong>da</strong>d e s de articulaç ã o para que as cois a s seja m levad a s<br />

de volta ao ca minh o correto. O terap e uta apóia o pé na axila <strong>da</strong><br />

vítima e o colo c a de volta no lugar co m um puxão; na m ai oria<br />

<strong>da</strong>s vez e s , apó s ele ter <strong>da</strong>d o um puxão aní mic o e m si m e s m o<br />

para atrev er- se a um a tal interven ç ã o ao m e s m o temp o her óic a<br />

e brutal. Esse proc e di m e n t o , exc e p ci o n al m e n t e rec o n h e c i d o de<br />

form a unâni m e por to<strong>da</strong>s as corrent e s <strong>da</strong> m e dicin a, m o stra<br />

justa m e nt e tend ê n ci a s ho m e o p á tic a s . Aquele ato exc e s si v o e m<br />

que o incident e oc orr eu é nova e con s ci e nt e m e n t e con su m a d o<br />

e exa g er a d o . Fisica m e n t e , pelo m e n o s , o braç o que se perd eu<br />

é nova m e n t e levad o ao ca min h o correto. Seu proprietário<br />

en c o ntrar es s e ca min h o dep e n d e substanci al m e nt e de quã o<br />

con s ci e nt e ele torna o ac o nt e ci m e n t o . Em cas o contrário,<br />

ch e g a- se à cha m a d a fraqu ez a <strong>da</strong> cápsula do o m br o, ou seja,<br />

ele continua desl o c a n d o o braç o e m situaç õ e s deter min a d a s e,<br />

finalm e nt e, e m qualqu er oc a si ã o . Assim co m o transfor m a seu<br />

corp o e m vitima crônic a de tentativas de m o vi m e nt o<br />

exa g er a d o , ele m e s m o torna- se vitima de tentativas heróic a s<br />

de trata m e n t o . Quase todo s os m é dic o s precis a m fazer um<br />

grand e esforç o antes de forçar sua vítima des s a man eira.<br />

Naturalm e nt e, teria mais sentido se os afetad o s<br />

deslo c a s s e m suas tentativas de m o vi m e n t o s extre m a d o s para<br />

o âm bito aní mic o- espiritual. No que a isso se refer e, a alm a<br />

suporta mais e, alé m diss o, abr e oportuni<strong>da</strong>d e s para que o<br />

objetivo propria m e nt e dito <strong>da</strong> ous a d a m o bili<strong>da</strong>d e pos s a ser<br />

alcan ç a d a . O braç o sai do lugar, e m geral, devido a<br />

m o vi m e nt o s de arre m e s s o se m el h a nt e s ao de um a catapulta.<br />

Neste cas o, salta ao s olho s que o grand e arre m e s s o tem m ais<br />

33<br />

7


chan c e s de ser be m - suc e did o e m sentido figurad o.<br />

A terapia usual <strong>da</strong> situaç ã o crônic a tem por objetivo<br />

fortalec er a cápsula do o m br o atrav é s do treina m e n t o de<br />

m o vi m e nt o s e exercí cio s m o d e r a d o s de força que, dentro dos<br />

limites de fronteiras se g ura s, fortaleç a m os mús c ul o s e<br />

liga m e nt o s circund a nt e s . Dess a man eira, evita- se continuar<br />

des g a s t a n d o a cápsula <strong>da</strong> articulaç ã o tal co m o ac o nt e c e a<br />

cad a desl o c a m e n t o e a resp e ctiva reinstalaç ã o que se segu e.<br />

Esse con c eito pod e ser transp o st o para o plano dos probl e m a s<br />

aní mic o s . Os afetad o s dev eria m praticar m o vi m e nt ar- se<br />

estrita m e nt e dentro <strong>da</strong>s circunstânci a s extern a s deter min a d a s<br />

pelas fronteiras pre e st a b el e ci d a s . O pres s up o st o para isso é<br />

apren d er a con h e c e r as fronteiras. Portanto, não se exig e<br />

cui<strong>da</strong>d o , mas cora g e m . Quem con h e c e seus limites pod e ous ar<br />

até m e s m o cres c e r para alé m de si m e s m o . Essa seria,<br />

entretanto, a tarefa redi mi<strong>da</strong> tal co m o a repro duz o braç o que<br />

ultrapas s o u seus limites. É precis o ous ar m ais e alcan ç ar<br />

objetivo s distantes, ain<strong>da</strong> que seja à custa de grand e s esforç o s<br />

e até m e s m o dor e s.<br />

P er g u nta s<br />

1. Onde vou long e de m ai s? Em que m e di<strong>da</strong> ultrapas s o<br />

minh a s pos sibili<strong>da</strong>d e s e co m p e t ê n ci a s ?<br />

2. Exijo de m ai s de mi m m e s m o ? Tento alcan ç ar o<br />

inalcan ç á v el e me ma c h u c o de man eira absurd a?<br />

3. Onde, e m sentido figurad o, recu o diante de fronteiras e<br />

m e faço m ais estreito do que corresp o n d e a mi m e a m eu<br />

objetivo de vi<strong>da</strong>?<br />

4. O que quer o alcan ç ar? Para ond e quer o ir? Qual o<br />

objetivo do m eu projeto de vi<strong>da</strong>? Qual a "grand e jogad a" pela<br />

qual m e esforç o (secr eta m e n t e)?<br />

33<br />

8<br />

A síndrome ombro- braço<br />

Trata- se de uma sinto m átic a de dor na áre a do o m br o e do


aç o que freqü e nt e m e n t e está liga<strong>da</strong> a um a síndro m e <strong>da</strong>s<br />

vértebr a s cervic ais. A m e di cin a ac ad ê m i c a enu m e r a m ais de<br />

vinte caus a s diferente s, de hérnia de disc o a tum or e s . Trata- se<br />

na m ai oria dos cas o s de um a sinto m átic a de so br e c a r g a co m<br />

irritaçã o do plexo cérvic o- braquial, a red e nervo s a resp o n s á v e l<br />

pelo braç o. Com isso os m o vi m e n t o s dos braç o s torna m- se<br />

dolor o s o s e, finalm e nt e, o braç o mal pod e ser levantad o , de<br />

qualqu er form a não aci m a <strong>da</strong> horizontal. Muitas vez e s tem- se a<br />

sen s a ç ã o de que ele é exc e s si v a m e n t e pes a d o , o que m o stra<br />

co m o é difícil sair <strong>da</strong> posiç ã o de repou s o repre s e nt a d a pela<br />

posiç ã o pendurad a.<br />

Quando o paci ent e não con s e g u e m ais ergu er o braç o, a<br />

interpreta ç ã o torna- se quas e disp e n s á v el. Ele não está m ais<br />

e m con diç õ e s de assu mir o control e de sua vi<strong>da</strong>, ag arrá- la e<br />

m o strar que m mand a (no corp o). Para a interpreta ç ã o , é<br />

decisivo sab er se é o braç o direito, m a s c ulin o, que está<br />

bloqu e a d o , o braç o co m o qual se leva a esp a d a do pod er, ou o<br />

es qu er d o , feminino, co m o qual se ped e algo <strong>da</strong>nd o à mã o a<br />

form a de uma con c h a. O sinto m a deixa claro o que dev e<br />

retroc e d e r na vi<strong>da</strong>, já que impe d e os afetad o s de atingir o<br />

objetivo. É evid e nt e que se tentou por temp o m ais que<br />

suficiente alcan ç ar tudo co m es s e lado. Ele obté m um<br />

des c a n s o forçad o , e o outro, sua chan c e . Os pacient e s pod e m<br />

estar imp e did o s e m sua tentativa de tornar o mun d o dócil<br />

quan d o o braç o que golp eia, o direito, é desliga d o . Eles não<br />

pod e m mais pôr e dispor co m o go sta m . Com o es qu er d o ,<br />

retira- se a pos sibili<strong>da</strong>d e de ag arrar e segur ar e,<br />

sim b olic a m e n t e , a de pedir e m e n dig ar.<br />

A lição a ser aprendid a con sist e e m <strong>da</strong>r um des c a n s o no que<br />

se refer e ao asp e ct o imp edid o. Caso o pólo ma s c ulino esteja<br />

bloqu e a d o , isso leva auto m atic a m e n t e a um relacion a m e n t o<br />

mais intens o co m o âm bito feminin o. Resta ap en a s o es qu er d o ,<br />

e des s a form a os afetad o s são forçad o s a usá- lo m ais,<br />

e m pr e g a n d o aqu el a postura mais solta e des c o ntr aíd a do pólo<br />

feminin o, ao qual falta a tenacid a d e do lado contrário. Caso o<br />

lado feminin o esteja bloqu e a d o , é precis o ocup ar- se mais do<br />

33<br />

9


pólo ma s c ulin o. É precis o tom ar as réd e a s na própria mã o ,<br />

usan d o o braç o direito. Olhar para a direita, diz a lição, e ela<br />

exig e que se controle a nav e <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> co m o próprio punho e<br />

que a própria pes s o a deter min e o futuro.<br />

P er g u nta s<br />

1. Qual o lado que não controlo mais?<br />

2. Até que ponto m e exc e di na tem átic a do lado<br />

bloqu e a d o ? E atrav é s do quê?<br />

3. Para que ergui o braç o bloqu e a d o ? Para jurar, para<br />

golp e ar, para ac e n ar, para pedir a palavra... ? O que estav a<br />

errad o?<br />

4. Com qual parte de m e u ser, neglig e n ci a d a até ag or a,<br />

sou forçad o a m e ocup ar?<br />

Tensão nos ombro s<br />

Tens õ e s que pod e m che g ar ao total endur e ci m e n t o do<br />

mús c ul o nos o m br o s e na regiã o sup erior <strong>da</strong>s co sta s têm<br />

estreita relaç ã o co m proble m a s de so br e c a r g a na regiã o <strong>da</strong>s<br />

vértebr a s lom b ar e s inferiores. Pois tudo o que colo c a m o s (ou<br />

que nos colo c a m ) so br e os o m br o s termin a finalm e nt e por<br />

pres si o n ar a pélvis. Assim co m o ac o nt e c e co m as dore s nas<br />

costa s, não são as carg a s que o m br e a m o s con s ci e nt e- m e nt e e<br />

co m gosto que nos caus a m m ol é stias, e sim aqu el a s<br />

obriga ç õ e s que arrasta m o s con o s c o de m an eir a incon s ci e nt e e<br />

não ad miti<strong>da</strong>. Quando esta m o s á altura de um a<br />

resp o n s a bili<strong>da</strong>d e , nós a agü e nta m o s . Aquilo que carreg a m o s<br />

con s ci e nt e- m e nt e, seja con cr et o ou sim b ólic o, é suportáv el,<br />

ain<strong>da</strong> que seja objetiva m e n t e pes a d o . Mas aquilo pelo qual não<br />

nos resp o n s a biliza m o s e não ad mitim o s torna- se rapi<strong>da</strong> m e n t e<br />

insuportáv el. Quem, con s ci e nt e e voluntaria m e n t e , suportou o<br />

pes o e a dura resp o n s a b ili<strong>da</strong>d e de sua vi<strong>da</strong>, exib e o m br o s<br />

fortes co m os corresp o n d e n t e s mús c ul o s treinad o s . Quem, ao<br />

contrário, suporta m e n o s , ma s contra a vontad e ou de form a<br />

incon s ci e nt e, sente a carg a m ais pes a d a e seus mús c ul o s se<br />

34<br />

0


torna m rígido s e seus o m br o s , devid o ao des g a s t e , do e m .<br />

A lição diz que é precis o ter clara para si a so br e c a r g a, para<br />

confrontar aquilo que se tom o u so br e si de m an eir a con s ci e nt e<br />

e incon s ci e nt e e o que, diss o, oprim e e tension a. Pode- se<br />

entã o optar con s ci e nt e m e n t e entre continuar suportand o - o<br />

voluntaria m e n t e ou se é precis o des c arr e g á - lo, porqu e se<br />

tornou insuportáv el e torna a vi<strong>da</strong> arra sta d a. Som e nt e se pod e<br />

livrar <strong>da</strong>quilo que real m e nt e se con h e c e .<br />

P er g u nta s<br />

1. O que pes a so br e mi m e m e so br e c arr e g a ? O que m e<br />

oprim e?<br />

2. O que assu mi se m queixar- m e, m a s co m secr eta má<br />

vontad e? O que assu mi so b protesto?<br />

3. Que dev er e s , que resp o n s a bili<strong>da</strong>d e s pes a m so br e mi m?<br />

4. O que quer o carreg ar? O que precis o suportar? O que<br />

gostaria de não ter mais de agü e nt ar?<br />

34<br />

1


8<br />

Os Braço s<br />

Noss o s braç o s subdivide m - se e m braç o e ante br a ç o , ligado s<br />

pela articulaç ã o do cotov el o. Os braç o s sim b oliza m a en er gia e<br />

a força, são por assi m dizer nos s a s forças arm a d a s pes s o ai s.<br />

Os joven s apo nta m para seus bíc ep s, os mús c ul o s que dobra m<br />

os braç o s , quan d o de m o n s tr a m sua força para impre s si o n ar.<br />

Torna m o - nos cap az e s de m anipular por m ei o dos ante br a ç o s ,<br />

já que neles estã o todo s os mús c ul o s que per mite m os<br />

m o vi m e nt o s <strong>da</strong>s m ã o s . Os cotov el o s , articulaç õ e s e m form a de<br />

dobra diç a, colo c a m e m jogo aqu el a s pos sibili<strong>da</strong>d e s de<br />

alavanc a por m ei o <strong>da</strong>s quais pod e m o s apan h ar tudo aquilo que<br />

co biç a m o s . Ter braç o s long o s sim b oliza exer c er grand e<br />

influên cia, pres si o n ar um a alavanc a mais long a significa<br />

tam b é m ter m ais pod er. Além diss o, eles reflete m tam b é m<br />

noss a cap a ci<strong>da</strong>d e de resistên ci a. Assim, nos s a s extre mid a d e s<br />

sup erior e s m o stra m noss a força, noss a flexibili<strong>da</strong>d e e noss a<br />

m o bili<strong>da</strong>d e no trato co m o mun d o , co m o tom a m o s nos s a vi<strong>da</strong><br />

nas mã o s e va m o s ao enc o ntr o de outras pes s o a s .<br />

O âm bito interp e s s o al torna- se esp e ci al m e n t e ac e s s í v el por<br />

m ei o deles, já que são os tentáculo s que estend e m o s e m<br />

direç ã o ao mun d o e seus habitantes. Herman Weidelen er<br />

relacion a os braç o s co m a pobr ez a [Ar m = braç o / Armut =<br />

pobr ez a]. Partindo <strong>da</strong> ser e nid a d e [Gleich m ut ] co m o postura<br />

espiritual inata, ele vê a pobr ez a surgir quan d o saí m o s <strong>da</strong><br />

ser e nid a d e . Portanto, o ânim o [Mut ] dos braç o s torna- se<br />

sím b ol o de pobr ez a espirítual.<br />

Braço s saud á v ei s são prop or cion ai s ao corp o e, nest e<br />

quadr o, são tanto vigor o s o s co m o flexíveis, confiáv ei s e<br />

m ó v ei s, fortes e suav e s . Eles pod e m fech ar- se violenta m e n t e e<br />

abraç ar co m ternura, reter e m ant er distante do corpo, ser<br />

gen er o s o s e tam b é m agarrar co m decis ã o ; pod e m ag arrar os<br />

outros so b os braç o s quan d o precis a m de aju<strong>da</strong>, e tam b é m<br />

34<br />

2


ficar imóv ei s en qu a nt o algu é m m orr e de fom e. Quando não se<br />

leva algu é m a sério, pod e- se e m vez diss o tomá- lo no s bra ç o s<br />

e fazê- lo regr e dir à etap a infantil.<br />

Caso os braç o s não corresp o n d a m a es s e ideal, há niss o<br />

uma declara ç ã o so br e seu proprietário. Além de sua força e<br />

pod er, braços pes a d o s e musculosos m o stra m , entre outras<br />

cois a s, um a certa lentidã o e falta de flexibili<strong>da</strong>d e. Pode ser que<br />

lhes falte o sentido para as sutilezas e tam b é m , ás vez e s , tato.<br />

Eles dão um a impre s s ã o bruta e gros s eir a e, esp e ci al m e n t e ao<br />

an<strong>da</strong>r, balan ç a m de m o d o algo acanhado e, alé m diss o,<br />

des aj eitad o. Os proprietário s dão a impres s ã o de que eles<br />

m e s m o s não se dão conta des s a s pod er o s a s ferra m e n t a s . Mas<br />

pod e ser tam b é m que eles dê e m pes o a seu pes o,<br />

esp e ci al m e n t e quan d o se esforç ar a m tanto para que<br />

incha s s e m de form a tão impre s si o n a nt e. As corresp o n d e n t e s<br />

ma s s a s de mús c ul o s dos halterofilistas dev eria m ser vistas <strong>da</strong><br />

m e s m a man eira que os om br o s resp e ctivo s.<br />

O pólo opo st o é form a d o por braços fracos, co m o que<br />

atras a d o s e m seu des e n v o l vi m e n t o . Eles expres s a m a falta de<br />

cap a cid a d e para abraç ar e apod er ar- se <strong>da</strong> vi<strong>da</strong>. Partindo de<br />

uma sen s a ç ã o de impotên ci a, eles mal estã o e m con diç õ e s de<br />

segur ar aquilo de que precis a m , pers e v e r ar naquilo que lhes é<br />

importante e m ant er distante de si aquilo que não suporta m . A<br />

partir diss o, Wilhelm Reich deduz que a vi<strong>da</strong> de tais pes s o a s<br />

destac a- se pela "falta de iniciativa". É frequ e nt e que a elas se<br />

so m e m m ã o s frias, ac e ntuand o quã o pouc o calor o s o e<br />

afetuo s o é o contato dos afetad o s co m o mun d o 70 .<br />

Braço s finos e fortes, que lem br a m as patas de uma aranh a,<br />

rev ela m um ser que esten d e a m ã o para aquilo que quer, que<br />

talvez seja até m e s m o imp ertin ent e, m a s que tam b é m muitas<br />

vez e s suporta proble m a s . Há neles a tend ê n ci a à rigidez, e a<br />

falta de flexibili<strong>da</strong>d e e de habili<strong>da</strong>d e pod e tornar- se evid e nt e.<br />

Lembr and o pinças, eles tend e m a aprov eitar as oportuni<strong>da</strong>d e s<br />

e muitas vez e s , tam b é m , à apropriaç ã o . Movimento s terno s,<br />

flexíveis e suav e s lhes são na ver<strong>da</strong>d e estran h o s .<br />

Braço s gord o s e fraco s atua m de m an eira des aj eitad a e até<br />

34<br />

3


m e s m o des a str ad a. Eles têm um jeito indolent e e deixa m<br />

entrev er pouc a m o bili<strong>da</strong>d e e alegria de viver, seu próprio pes o<br />

lhes é de m a si a d o , assi m co m o a carg a <strong>da</strong> vi<strong>da</strong>. Eles custa m a<br />

se pôr e m m o vi m e nt o e deixa m a des ej ar quanto a dina mi s m o ,<br />

força e tam b é m flexibili<strong>da</strong>d e.<br />

1. Problemas dos braços<br />

Fraturas dos braço s<br />

Um braç o que br a d o sim b oliza uma relaç ã o rompi<strong>da</strong> co m o<br />

mund o. Perdeu- se o controle <strong>da</strong> vi<strong>da</strong>, não se pod e m ais<br />

ag arrar ne m apan h ar na<strong>da</strong>, não se pod e mais trazer o mun d o a<br />

si ne m participar de ativi<strong>da</strong>d e s nor m ai s. A pes s o a está<br />

incap a citad a para agir. Caso o braç o direito seja afetad o, não<br />

se pod e ne m m e s m o assinar o próprio no m e e é precis o<br />

resign ar- se, o que é o m e s m o que retirar a própria assinatura<br />

<strong>da</strong> vi<strong>da</strong>. Em algu m a s culturas antigas, que br a v a- se ou<br />

am putava- se o braç o dos ladrõ e s . Dess a m an eir a, eles era m<br />

total ou temp or aria m e n t e forçad o s a abdic ar de seu ofício. Os<br />

ladrõ e s desig n a m a invas ã o de um a cas a co m o "que br ar", e m<br />

ec o n o m i a um a que br a é algo igualm e nt e fatal, dá na mes m a se<br />

algué m é roub a d o direta ou indireta m e n t e atrav é s <strong>da</strong> que bra<br />

<strong>da</strong>s cotaç õ e s . Sempr e, trata- se de um a continui<strong>da</strong>d e até entã o<br />

confiáv el que se romp e abrupta e dolor o s a m e n t e .<br />

Nas fraturas, a tarefa a ser apren di<strong>da</strong> con sist e e m<br />

interro m p e r con s ci e nt e m e n t e o padrã o de vi<strong>da</strong> e m pr e e n di d o .<br />

Com o veredicto de "incap a citad o para agir", o sinto m a<br />

esta b el e c e a m oldura extern a. O braç o que cai fora é<br />

significativo: o direito, co m o qual abrim o s ca minh o , ou o que<br />

ped e, o es qu er d o . Ao m er gulhar no repous o rec eitad o , dev e m<br />

resultar indicaç õ e s de co m o no futuro a alternânci a pod eria<br />

introduzir- se na vi<strong>da</strong> so b a form a de tens ã o e relaxa m e n t o . A<br />

ev oluç ã o do ac o nt e ci m e n t o que levou á fratura repre s e nt a a<br />

lição a ser apren di<strong>da</strong> so b a form a física, não liberad a. Um<br />

34<br />

4


m o vi m e nt o inusual ou exa g er a d o e m sua exten s ã o elev a a<br />

tens ã o de form a dra m átic a até que o relaxa m e n t o volta a<br />

esta b el e c e r- se quan d o o os s o ced e . Tais ac o nt e ci m e n t o s são<br />

igual m e nt e pen s á v ei s e con cr eta m e n t e têm m ais lógica e m<br />

sentido figurad o.<br />

À parte os des vi o s <strong>da</strong> lei <strong>da</strong>s alavan c a s , o gros s o <strong>da</strong>s<br />

fraturas de braç o oc orr e m devid o a que<strong>da</strong>s. Estas co m p õ e m<br />

e m geral a maior parte dos acidentes . A que d a nos põ e e m<br />

contato co m um a probl e m á tic a hum a n a primordial: a qued a <strong>da</strong><br />

uni<strong>da</strong>d e paradisíac a na polari<strong>da</strong>d e . Outras culturas utilizam<br />

outras imag e n s , mas nen hu m a es c a p a des s e padrã o primordial<br />

<strong>da</strong> rejeiç ã o de seu criador por parte do ho m e m e de sua qued a<br />

final. Na Antigui<strong>da</strong>d e, a hybris, a reb eliã o do ho m e m contra<br />

Deus, era con sid er a d a o único pec a d o . O ho m e m precis av a<br />

assu mi- la cas o quis e s s e perc orr er o ca minh o do<br />

des e n v olvi m e nt o . O exe m pl o de Prom et e u m o stra a fas e <strong>da</strong><br />

rejeiçã o de form a explicita quan d o traz o fogo ao s ho m e n s ,<br />

contrariand o a orde m dos deus e s . Ele cai fundo dep ois diss o, e<br />

a puniçã o que tem de suportar até sua liberaç ã o é drástica.<br />

O sim b olis m o é se m el h a nt e quan d o que br a m o s noss o s<br />

oss o s , quan d o o plano corp or al torna- se incap a citad o para<br />

tentativas de rejeiç ã o . Nós exag er a m o s algo e contraria m o s as<br />

leis de nos s a naturez a. Segu e- se a puniçã o, e m b o r a a<br />

m e n s a g e m evid e nt e m e n t e não seja: jam ais ous ar nova m e n t e ,<br />

jam ais voltar a ultrapas s ar as fronteiras. Ao contrário, é precis o<br />

atrev er- se a viver e a con sid er ar a vi<strong>da</strong> co m o um des afio.<br />

Quanto m ais diversi<strong>da</strong>d e é introduzi<strong>da</strong> no curs o fixo <strong>da</strong> vi<strong>da</strong>,<br />

m e n o s o tem a che g a ao s os s o s . Na m ai oria dos cas o s , o local<br />

fraturad o torna- se m ais firme ain<strong>da</strong> por m ei o <strong>da</strong> form a ç ã o de<br />

um calo. Quando uma fratura óss e a não se cura direito, isso é<br />

sinal de que os pas s o s intern o s não fora m suficiente s e o<br />

des a c o r d o que persiste reflete- se no corp o.<br />

Precisa m o s se m pr e arrisc ar cair e m nos s o ca min h o . Uma<br />

que d a dev eria ser um a oportuni<strong>da</strong>d e para deter- se e procurar<br />

outros ca minh o s , so br etud o ca min h o s nov o s que se desvi e m<br />

do trote co stu m eir o. É precis o romp er a continui<strong>da</strong>d e e colo c ar<br />

34<br />

5


os fun<strong>da</strong> m e n t o s anterior e s, já firme s, e m questã o ,<br />

esp e ci al m e n t e quan d o resulta difícil.<br />

P er g u nta s<br />

1. Qual de m e u s lado s, o m a s c ulino ou o feminino, está tão<br />

en c alh a d o que um a interrupç ã o se fez nec e s s á ria?<br />

2. Até que ponto eu não só tinha es s a parte de mim so b<br />

control e, mas a estav a estran g ulan d o ?<br />

3. Será que a fratura foi nec e s s á ri a para romp er a<br />

m o n ot o ni a? O que a varied a d e que ve m co m a fratura traz para<br />

mi m?<br />

4. Onde é que as convic ç õ e s são firme s de m ai s, os<br />

con c eito s se torna m prec o n c eito s , ond e tensio n ei e exag er ei<br />

de m ai s as coisa s?<br />

5. Onde é que m eu ca min h o exig e m ais liber<strong>da</strong>d e (de<br />

m o vi m e nt o)?<br />

6. Com o an<strong>da</strong> minha cora g e m para ir até os limites e<br />

ultrapas s á- los e m sentido figurad o?<br />

7. Com o pos s o trazer para minha vi<strong>da</strong> varied a d e , tens ã o e<br />

relaxa m e n t o que faça m sentido?<br />

Inflamação dos tendõe s<br />

A inflam a ç ã o dos tend õ e s deriva igualm e nt e de um esforç o<br />

exc e s siv o, e m b o r a não de pod er o s a s aç õ e s de alavan c a<br />

exa g er a d a s e golp e s violento s, ma s de pequ e n o s m o vi m e n t o s<br />

de contraç ã o rep etido s, tal co m o oc orr e m ao digitar ou tricotar<br />

de man eira en c arniç a d a. Aqui tam b é m não é a ativi<strong>da</strong>d e e m si<br />

que provo c a proble m a s , m a s sua execuç ã o contraí<strong>da</strong>. Tricotar,<br />

natural m e nt e, pod e ser relaxante. Mas que m afirma isso so br e<br />

sua ativi<strong>da</strong>d e de tricotar e ain<strong>da</strong> por cim a des e n v o l v e um a<br />

inflam a ç ã o dos tend õ e s m o stra, simpl e s m e n t e , que não tem<br />

con s ci ê n ci a do quanto está contraíd o. Algo que não é de form a<br />

algu m a relaxant e se insinua entre as malh a s se m ser notad o.<br />

Talvez algué m dev a ser atraído ou dev a cair nes s a s m alha s<br />

co m o a m o s c a na teia <strong>da</strong> aranh a. Tais m otivaç õ e s prenh e s de<br />

34<br />

6


destino pod e m en c h er de tens ã o a ativi<strong>da</strong>d e m ais relaxant e. O<br />

conflito incon s ci e nt e inflam a- se entã o na bainh a dos tendõ e s ,<br />

já que eles são as cor<strong>da</strong>s <strong>da</strong>s quais tudo ou, de qualqu er<br />

form a, pelo m e n o s a força dos mús c ul o s, dep e n d e . Em vez de<br />

suportar a força m o d e s t a m e n t e , eles provo c a m dificul<strong>da</strong>d e s e,<br />

co m gritos de dor, força m um des c a n s o para si e, para seus<br />

proprietários, um a paus a para m e ditaç ã o . To<strong>da</strong> terapia<br />

des e m b o c a r á no repous o , seja pela razã o no m o m e n t o<br />

oportun o ou, mais tarde, pelo ge s s o .<br />

A lição oculta, no entanto, so m e n t e tem o repous o co m o<br />

objetivo sup erficial. A partir dele seria nec e s s á ri o que se<br />

des e n v olv e s s e a con s ci ê n ci a <strong>da</strong> doloro s a situaç ã o . Os<br />

pacient e s dev eria m tornar- se tão con s ci e nt e s de sua ativi<strong>da</strong>d e<br />

a ponto de rec o n h e c e r o sentido mais profund o e as intenç õ e s<br />

co m ele relacio n a d a s . Os mús c ul o s contraíd o s revela m<br />

resistên ci a. É precis o des c o b rir contra que esta se dirige. O<br />

forte atrito caus a d o pela resistên ci a pod e ser sentido e quas e<br />

que ouvido na sen si bili<strong>da</strong>d e doloro s a <strong>da</strong> inflam a ç ã o<br />

con s u m a d a na bainh a dos tendõ e s . O tendã o , so b a tens ã o e a<br />

dor, pratica m e n t e rasg a a bainha que o env olv e, to<strong>da</strong> a<br />

flexibili<strong>da</strong>d e é eliminad a e m prol de um esforç o fatigante,<br />

segun d o o lem a "ag or a sim". Sempr e há, portanto, um certo<br />

en c arniç a m e n t o na inflam a ç ã o <strong>da</strong> bainh a do tendã o . É precis o<br />

m ord er os dente s para ignorar os sinais de adv ertên ci a que<br />

pod e m ser sentido s co m nitidez, ir e m frente e m er g ulh ar no<br />

sinto m a totalm e nt e des e n c a d e a d o .<br />

Os pan o s de fundo pod e m variar, natural m e nt e ne m se m pr e<br />

se trata de um pulôv er que dev e ficar pronto rapi<strong>da</strong> m e n t e . Essa<br />

situaç ã o é típica unica m e n t e porqu e expr e s s a o conflito entre o<br />

des ej o con s ci e nt e de eficiên cia e con clus ã o do trabalh o e a<br />

resistên ci a incon s ci e nt e e m relaç ã o à obra. A bainha dos<br />

tend õ e s tam b é m pod e incorrer e m conflitos cand e nt e s co m<br />

outros trabalh o s manuais tais co m o a <strong>da</strong>tilografia. As<br />

ocup a ç õ e s m e n ci o n a d a s têm e m co m u m a m o n ot o ni a dos<br />

m o vi m e nt o s que não são can s ativo s ou es g otad o r e s e m si e a<br />

resistên ci a não ad miti<strong>da</strong> que se en c arn a e ao m e s m o temp o se<br />

34<br />

7


es c o n d e na bainh a dos tend õ e s .<br />

Não se trata de nen hu m a grand e resistên ci a perigo s a co m<br />

tend ê n ci a a sair <strong>da</strong>nd o golp e s - esta dev eria m o strar- se nos<br />

mús c ul o s dos braç o s - ma s de uma resistên ci a con sta nt e, be m<br />

es c o n di d a (na bainha dos tend õ e s), que tam b é m se oculta<br />

habilm e nt e e m sentido figurad o por trás de racion alizaç õ e s tais<br />

co m o "ma s eu go sto tanto de fazê- lo para ele (ou para as<br />

crianç a s), e na ver<strong>da</strong>d e eu só o faço por am or". É pos sív el,<br />

e m b o r a difícil, executar por am or ou amizad e um a ativi<strong>da</strong>d e<br />

m o n ót o n a que não gera nen hu m a alegria e que, no fundo do<br />

coraç ã o , deixa insatisfeito. Fazer co m entreg a algo<br />

m ortal m e nt e ab orr e cid o é quas e impo s sí v el co m o pen s a m e n t o<br />

objetivo dirigido a uma m eta deter min a d a. Isso so m e n t e<br />

funcion a mo m e n t a n e a m e n t e co m o entreg a ritual.<br />

O probl e m a se torna esp e ci al m e n t e nítido quan d o a<br />

inflam a ç ã o surg e e m ativi<strong>da</strong>d e s que não se sa e m be m na<br />

avaliaç ã o geral. Onde "tricotad o pela própria pes s o a " e<br />

sinôni m o de falta de ele g â n ci a, não é de ad mirar que isso não<br />

produz a nenhu m a satisfaç ã o profun<strong>da</strong>. Quem <strong>da</strong>tilografa o que<br />

outro pens o u precis a ter um a profun<strong>da</strong> identificaç ã o co m es s a<br />

pes s o a para sentir- se be m co m es s e trabalh o "alien ad o". É<br />

freqü e nt e que e m tais ativi<strong>da</strong>d e s des e n v o l v a m - se resistên ci a s<br />

que solap a m a m otivaç ã o . Em vez de continuar fazend o- o<br />

co m o até entã o, uma ver<strong>da</strong>d eira prev e n ç ã o e m relaç ã o à<br />

inflam a ç ã o <strong>da</strong> bainh a dos tendõ e s seria es clar e c e r seu<br />

co m p o rta m e n t o e m relaç ã o a es s a ativi<strong>da</strong>d e, tratar de fazer<br />

uma paus a quan d o for o cas o (antes <strong>da</strong> paus a força<strong>da</strong> pelo<br />

ges s o), mud ar o trabalh o ou a postura e m relaç ã o a ele.<br />

P er g u nta s<br />

1. Com o an<strong>da</strong> m eu cora ç ã o e m relaç ã o à minh a ativi<strong>da</strong>d e?<br />

2. Que objetivo s (tens o s ?) eu persig o e m se gr e d o co m<br />

ela? Que m otivaç ã o , no fundo, tricota, <strong>da</strong>tilografa ou atua e m<br />

conjunto?<br />

3. Quão enc arniç a d a m e n t e eu persig o intenç õ e s secr eta s ?<br />

4. O que tenh o secr eta m e n t e contra m eu trabalh o? De<br />

34<br />

8


ond e ve m minha resistên ci a, a que se relacio n a exata m e n t e ?<br />

5. Em que m e did a ela tem a ver co m a valoraç ã o geral do<br />

m e u trabalh o? Não m e con sid er o cap az de mais ativi<strong>da</strong>d e s<br />

co m mais resp o n s a bili<strong>da</strong>d e ?<br />

6. Com o m e relacion o co m a m o n ot o ni a? Poss o ver<br />

tam b é m seu asp e ct o ritual ou so m e n t e a estupid ez?<br />

2. O cotovelo<br />

Com seu auxilio pod e m o s trazer o mun d o até nós e nele<br />

abrir ca minh o ao s so c o s . É a alavanc a clás sic a co m a qual<br />

colo c a m o s to<strong>da</strong> s as alavan c a s e m m o vi m e n t o , co m a qual<br />

afasta m o s os outros de nós ou os atraí m o s carinh o s a m e n t e .<br />

Alguns trabalha m co m ligadura s tão duras que des e n v olv e m<br />

uma couraç a de es c a m a s nos cotov el o s . A psorías e* tem aqui<br />

um de seus lugare s de apariçã o m ais freqü e nt e s . Não é raro<br />

que ela co m e c e a partir des s e lugar. As sup erfície s<br />

endur e ci<strong>da</strong> s são uma esp é ci e de cotov el eira portad or a de<br />

conflitos. As peç a s de vestuário co m reforç o s nes s e s ponto s,<br />

seja de fabricaç ã o ou dep ois de se des g a st ar e m , m o stra m o<br />

quanto elas pod e m ser nec e s s á ri a s. Abrir ca min h o co m a aju<strong>da</strong><br />

dos cotov el o s é um a expr e s s ã o bastant e co m u m e m várias<br />

língua s ocid e ntais.<br />

O sinto m a am pla m e n t e difundido do braç o de tenista está<br />

bas e a d o e m um esforç o exc e s siv o provo c a d o pela utilizaç ã o<br />

imprópria co m o alavan c a. É um exe m pl o clás sic o <strong>da</strong> existên cia<br />

paralela e simultân e a do impuls o de golp e ar e <strong>da</strong> inibiçã o do<br />

golp e. A raqu et e, sen d o um a exten s ã o do braç o, aum e nt a<br />

en or m e m e n t e a força <strong>da</strong> alavan c a . Então, quan d o se joga e m<br />

uma postura tens a, talvez so b muita pres s ã o para obter<br />

resultad o s ou co m am bi ç ã o e m p e rr a d a, a articulaç ã o <strong>da</strong><br />

alavanc a é força<strong>da</strong> e o co m u ni c a por m ei o <strong>da</strong> dor. Em si, todo<br />

o nec e s s á ri o voltaria ao bo m ca min h o co m isso. Um cotov el o<br />

dolorido contrap õ e - se a continuar jogan d o e provid e n ci a a<br />

nec e s s á ria paus a para m e ditaç ã o , durante a qual o jogad or<br />

34<br />

9


pod e testar suas razõ e s profun<strong>da</strong> s para tais m o vi m e nt o s<br />

exc e s siv o s . A cois a so m e n t e se torna probl e m á tic a quan d o os<br />

afetad o s não dão ouvido s ao claro aviso do corp o e continua m<br />

raqu et e a n d o se m pied a d e ,jogand o os outros contra a pare d e .<br />

A lição a ser aprendid a seria enten d er a idéia do jogo e jogar<br />

de man eira esp ortiva. Aquilo que se falou so br e o cotov el o de<br />

tenista não vale natural m e nt e só para o tênis, ma s para to<strong>da</strong>s<br />

as situaç õ e s análo g a s corresp o n d e n t e s . Mesm o que m nunc a<br />

segur o u um a raqu et e de tênis nas mã o s pod e sofrer des s e<br />

mal.<br />

P er g u nta s<br />

1. O que quer o real m e nt e quan d o ponh o to<strong>da</strong> s as<br />

alavanc a s e m m o vi m e nt o (empr e g o todo s os m ei o s<br />

disponív ei s)? Quem eu quer o tirar <strong>da</strong> jogad a? Onde eu<br />

exa g er o no empr e g o <strong>da</strong>s minh a s alavan c a s ?<br />

2. A que avis o s para des c a n s a r eu deixei de aten d er?<br />

3. Que resistên ci a se m o v e junto quan d o m o v o minh a s<br />

alavanc a s ?<br />

4. Que m otivo s não ad mitido s (que am bi ç ã o ?) se<br />

alavanc a m e m mi m? Que golp e s reb ota m de volta e m mi m e<br />

m e ab ala m (minha articulaç ã o)? Para que m eles fora m<br />

real m e nt e pen s a d o s ?<br />

35<br />

0


9<br />

As Mãos<br />

Elas são nos s o s órgã o s m an ej a d o r e s , co m os quais<br />

segur a m o s e agarra m o s , tom a m o s a vi<strong>da</strong> nas mã o s , faze m o s a<br />

paz, trata m o s dos do e nt e s , ac aricia m o s e ab e n ç o a m o s , m a s<br />

tam b é m manipula m o s (do latim: man a s = mã o). Palavras tais<br />

co m o "apre e n d e r" m o stra m co m o elas estã o próxim a s <strong>da</strong>s<br />

funçõ e s sup erior e s. Para pod er apre e n d e r algu m a cois a é<br />

precis o tom á- la na m ã o e m sentido figurad o, e isso oc orr e de<br />

man eira análo g a a agarrar algo. Quando ag arra m o s , o pole g ar<br />

m o v e- se e m opo siç ã o ao s ded o s . Quando quer e m o s<br />

apre e n d e r algo, rec orr e m o s igualm e nt e à opo siç ã o . Som e nt e<br />

enten d e m o s "rico" co m a aju<strong>da</strong> de "pobr e", "grand e" torna- se<br />

con c e b í v el para nós atrav é s de "pequ e n o " e "bo m" rem et e- se a<br />

"mau". No mund o polar, to<strong>da</strong> apre e n s ã o e co m pr e e n s ã o<br />

precis a dos contrários. A mã o o explicita anato mi c a m e n t e .<br />

O lequ e de pos sibili<strong>da</strong>d e s de nos s a s mã o s torna explicito o<br />

princípio fun<strong>da</strong> m e n t al do qual elas dep e n d e m . É<br />

Herm e s/Mercúrio, o deus do co m é r ci o [em ale m ã o ,<br />

Hand el /Hand = m ã o] e dos neg ó ci o s [Verhand eln], dos ofícios<br />

[Hand werk] e <strong>da</strong> destrez a ma nual, um neg o ci a d o r<br />

[Unter händ ler] tão hábil co m o refinad o, resp o n s á v el pela<br />

co m u nic a ç ã o entre deus e s e ho m e n s , m a s tam b é m entre os<br />

ho m e n s .<br />

As m ã o s são órg ã o s muito individuais. Não existe m duas<br />

mã o s iguais entre si. Os criminalistas utilizam es s e fato quan d o<br />

esta b el e c e m identi<strong>da</strong>d e s a partir do padrã o de linhas <strong>da</strong>s<br />

impres s õ e s digitais. No âm bito <strong>da</strong> co m u ni c a ç ã o não- verb al, as<br />

mã o s são tão confiáv eis co m o a bo c a e significativa m e n t e mais<br />

sinc er a s que os conteú d o s procla m a d o s . Até m e s m o sua<br />

temp er atura per mite tirar con clus õ e s important e s. Mãos<br />

quentes expres s a m o des ej o de contato, elas vê m do cora ç ã o<br />

co m o o san gu e que as es q u e nt a 70 . Mãos frias, ao contrário,<br />

35<br />

1


falam de distân cia. Elas não estã o be m irriga<strong>da</strong> s de san gu e e<br />

deixa m entrev er que seu pos s uid or retê m sua en er gia vital e<br />

não procura o en c o ntro. Nas mãos sua<strong>da</strong>s e frias vibra,<br />

adicion al m e n t e , o m e d o . Quando algu é m co m e ç a a suar frio,<br />

sent e- se mais ator m e nt a d o que co m u ni c ativo.<br />

A impres si o n a nt e sinc eri<strong>da</strong> d e <strong>da</strong>s m ã o s e sua pele sinc er a<br />

são utiliza<strong>da</strong> s na psicoter apia quan d o , durante a se s s ã o ,<br />

m e di m o s e ob s erva m o s a resistên ci a <strong>da</strong> pele. Vale a pen a,<br />

esp e ci al m e n t e e m fas e s críticas, conv er s ar direta m e n t e co m a<br />

pele do pacient e, já que suas resp o st a s são mais diretas e têm<br />

m e n o s res erv a s . Enquanto seus pos s uid or e s ain<strong>da</strong> dão um a<br />

impres s ã o bastant e cool, suas mã o s já pod e m de m o n s tr ar uma<br />

grand e agitaç ã o que ab s oluta m e n t e não ch e g o u ain<strong>da</strong> à<br />

con s ci ê n ci a do afetad o . É a pele <strong>da</strong> mã o , portanto, que<br />

trans mite o es s e n ci al <strong>da</strong>s profund ez a s <strong>da</strong> alm a.<br />

Mãos fortes, be m irriga<strong>da</strong> s e que já ao cumpri m e nt ar<br />

ag arra m calor o s a m e n t e , m o stra m algu é m que está<br />

ac o stu m a d o a lançar m ã o e tom ar a vi<strong>da</strong> nas próprias m ã o s .<br />

Em co m p ar a ç ã o a estas, há mã o s que são ab and o n a d a s ao<br />

cumpri m e nt ar. Esse m o d el o "chorã o" quer dizer: "Você pod e<br />

fazer o que quis er co mi g o , eu não tenh o nen hu m a preten s ã o<br />

(na vi<strong>da</strong>)". Finalm e nt e, dev eria m e n ci o n ar- se ain<strong>da</strong> as mãos<br />

sensíveis , que sent e m e expres s a m muito se m grand e ênfas e<br />

física. Elas perten c e m a pes s o a s se m e l h a nt e s . Entre elas, há<br />

todo s os tipos de gra<strong>da</strong> ç ã o . Som e nt e o fato de que cad a<br />

pes s o a tem sua própria caligrafia tanto con cr eta m e n t e co m o<br />

e m sentido figurad o m o stra as am pla s pos sibili<strong>da</strong>d e s de<br />

expr e s s ã o <strong>da</strong>s mã o s .<br />

O fato de que estend a m o s as mã o s para saud ar e para nos<br />

des p e dir pod e ter sua orige m e m um a ép o c a e m que as<br />

pes s o a s , mais intuitiva m e n t e dotad a s , apre e n dia m a lingua g e m<br />

<strong>da</strong>s m ã o s de man eira óbvia. Quando ain<strong>da</strong> hoje sela m o s<br />

neg ó ci o s co m um aperto de m ã o s , isso é tam b é m um sím b ol o<br />

de sinc eri<strong>da</strong> d e . Ao apertar as m ã o s , pod e- se sentir se o<br />

neg ó ci o está em ord e m e é sustentáv el para as duas partes.<br />

A linguag e m <strong>da</strong>s mã o s , portanto, per mite que se<br />

35<br />

2


co m pr e e n d a muito se m que se rec orra à expres s ã o <strong>da</strong>s linhas<br />

<strong>da</strong>s mã o s ou se avalie a caligrafia. Até m e s m o tais m ét o d o s ,<br />

con sid er a d o s ocultistas, têm enc o ntrad o cres c e n t e<br />

rec o n h e c i m e n t o . Recent e m e n t e , um grupo de m é dic o s ingles e s<br />

pod e co m pr o v ar um a relaç ã o convinc e nt e entre o co m pri m e nt o<br />

<strong>da</strong> linha <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> e o co m pri m e nt o <strong>da</strong> vi<strong>da</strong>. To<strong>da</strong> s es s a s<br />

pos sibili<strong>da</strong>d e s m o stra m co m o as m ã o s são expres sivas e<br />

individuais e quã o clara m e n t e elas, sen d o nos s a s m elh or e s<br />

ferra m e n t a s , torna m a obra de nos s a vi<strong>da</strong> apre e n s í v el. Elas<br />

m o stra m proble m a s de contato e estruturas de co m u ni c a ç ã o ,<br />

m o stra m noss a habili<strong>da</strong>d e para esta b el e c e r ligaç õ e s e rev ela m<br />

noss a cap a ci<strong>da</strong>d e de assu mir co m pr o m i s s o s .<br />

1. Contração de Dupuytren ou mão torci<strong>da</strong><br />

Neste sinto m a , a plac a de tend õ e s <strong>da</strong> sup erfície interna <strong>da</strong><br />

mã o , co m e ç a n d o pelo ded o mínim o , vai se contraind o<br />

paulatina m e n t e . Com o tem p o , a mã o forços a m e n t e se fech a e<br />

torna explicito um variad o sim b olis m o . Por um lado ela é um<br />

sinal de insinc eri<strong>da</strong>d e , já que para selar algo co m o sen d o<br />

sinc er o é precis o <strong>da</strong>r a própria palavra, e para isso utiliza- se a<br />

mã o ab erta. Com o a palavra de honra tam b é m perc orr e o<br />

ca min h o ch ei o de sim b olis m o do aperto de m ã o s , pod e hav er<br />

na m ã o fech a d a, alé m <strong>da</strong> falta de sinc eri<strong>da</strong> d e , algo de indign o.<br />

Por outro lado, a m ã o fech a d a reflete estreitez a e, co m isso,<br />

angústia. Som a- se a isso a impres s ã o <strong>da</strong> contraç ã o . O poleg ar<br />

env olvido pelo s ded o s é um típico sinal de angú stia e de<br />

inse g ur an ç a nas crianç a s . Além do m e d o , o punh o fech a d o no<br />

bols o expres s a agr e s s ã o , e é freqü e nt e que am b o s and e m de<br />

mã o s <strong>da</strong>d a s. A insinc eri<strong>da</strong> d e está nova m e n t e pres e nt e, na<br />

m e di<strong>da</strong> e m que esta mã o está es c o n di d a no bols o e as unha s,<br />

suas garras, na mã o . Caso o punh o fecha d o seja es c ol hid o<br />

con s ci e nt e m e n t e co m o sím b ol o, tal co m o o m o vi m e n t o<br />

trabalhista dispo st o à luta, o tem a <strong>da</strong> agre s s ã o e <strong>da</strong> luta é<br />

unívo c o , m a s na so m b r a do espírito de luta o m e d o está<br />

35<br />

3


se m pr e à espr eita. Na gestuali<strong>da</strong>d e cotidian a, o punh o fech a d o<br />

é sím b ol o de am e a ç a , vinganç a ou vontad e de luta. O poleg ar<br />

que se desta c a sozinh o e m relaç ã o ao s quatro ded o s é um<br />

sím b ol o de uni<strong>da</strong>d e e de individuali<strong>da</strong>d e . Caso esteja env olvido<br />

pelo s ded o s , res s alta- se tam b é m e m relaç ã o a isso a<br />

nec e s si d a d e de proteç ã o , que pod e ser alim e ntad a tanto pelo<br />

m e d o co m o pela agr e s s ã o que, co m o se sab e , é a m elh or<br />

defe s a.<br />

Finalm e nt e, o sím b ol o <strong>da</strong> mã o fecha d a, pod e expr e s s ar<br />

ain<strong>da</strong> a mania de se gr e d o s . Os afetad o s não quer e m falar de<br />

suas peculiari<strong>da</strong>d e s porqu e são muito tímido s e inse g ur o s, ou<br />

muito agr e s siv o s . O sinto m a, portanto, explicita por um lado<br />

falta de sinc eri<strong>da</strong>d e e intenç õ e s ocultas e, por outro, expres s a<br />

agre s sivi<strong>da</strong>d e disponív el m a s não vivi<strong>da</strong>. To<strong>da</strong> s es s a s<br />

tend ê n ci a s e m seus man ej o s são natural m e nt e incon s ci e nt e s<br />

para os afetad o s , razão pela qual elas são en c e n a d a s no<br />

corp o. Além diss o, a m ã o nod o s a que se fecha é um a imag e m<br />

<strong>da</strong> rapaci<strong>da</strong>d e . No entanto, a ver<strong>da</strong>d e é que os afetad o s ,<br />

con cr et a m e n t e , não pod e m ne m <strong>da</strong>r ne m tom ar. Quem<br />

so m e n t e reté m e não m ais dá, natural m e nt e tamp o u c o rec e b e<br />

mais na<strong>da</strong>. Ele não pod e mais <strong>da</strong>r ne m m e s m o a mã o . Os<br />

ded o s curvad o s e m garras o m o stra m , assi m co m o os nós dos<br />

ded o s , que os afetad o s abraç a m per m a n e n t e m e n t e co m a<br />

mã o . Os nós sim b oliza m os probl e m a s que os afetad o s<br />

oculta m de todo o mun d o de man eira tão estrita que todo s<br />

volta m a notá- lo.<br />

Na imen s a maioria dos cas o s , as mã o s e seus man ej o s são<br />

afetad o s , e muito rara m e nt e a sola dos pés e o âm bito dos<br />

ponto s de vista. O lado afetad o per mite diferen ci ar ain<strong>da</strong> mais<br />

o quadr o. Ness e sentido, o co m p o rta m e n t o no âm bito so cial é<br />

muito es clar e c e d o r . Caso o lado es qu er d o seja afetad o , ele<br />

será es c o n did o na m e di<strong>da</strong> e m que as circunstânci a s o<br />

per mitire m e sofrerá exata m e n t e o m e s m o destino que o lado<br />

feminin o dos sentim e nt o s . Caso seja o direito, a coisa se torna<br />

social m e n t e mais difícil, ma s não m e n o s sinc er a. Para<br />

cumpri m e nt ar, a pes s o a é obriga d a a <strong>da</strong>r a m ã o es qu er d a. À<br />

35<br />

4


parte o fato de se m pr e <strong>da</strong>r um a impres s ã o algo ac anha<strong>da</strong> e<br />

des aj eitad a, sim b olic a m e n t e o fato é muito revelad o r. Escon d ese<br />

a mã o direita, que exer c e o pod er, e se exib e a inoc e nt e<br />

es qu er d a. Caso as duas m ã o s seja m afetad a s , não se pod e<br />

mais simular qualqu er franqu e z a, um cumpri m e nt o nor m al<br />

torna- se impo s sí v el. Caso se renun ci e totalm e nt e às<br />

de m o n s tr a ç õ e s de rec e p ç ã o calor o s a, isso tam b é m é sinc er o.<br />

Mas ag or a o rever s o <strong>da</strong> res erv a pod e apar e c e r quan d o , por<br />

exe m pl o, a pes s o a a ser saud a d a não quer renun ciar a um<br />

genuín o contato de saud a ç ã o . Ela pod e entã o, por exe m pl o,<br />

segur ar a m ã o fech a d a , env olv ê- la por fora e ao m e s m o tem p o<br />

aprision á- la. É justa m e n t e nas tentativas de cumpri m e nt ar que<br />

a probl e m á tic a se torna grafica m e n t e clara. Os afetad o s não<br />

estã o mais ab erto s para a vi<strong>da</strong>. Eles pod e m segur á- la tão<br />

pouc o co m o a m ã o estendi<strong>da</strong> para cumpri m e nt ar. Então, a<br />

trag é di a de sua situaç ã o torna- se clara tam b é m pelo fato de<br />

eles não pod er e m mais segur ar a m ã o que se estend e para<br />

aju<strong>da</strong>r ou salvar. Devido ao ávido e m p e n h o de lançar mã o de<br />

tudo (sobr etud o cois a s mat eriais) e não m ais soltá- lo, eles ao<br />

final não pod e m mais reter a vi<strong>da</strong> nas próprias m ã o s . Cham a a<br />

aten ç ã o o fato de co m freqü ê n ci a surgir, paralela m e n t e , um<br />

probl e m a de alco olis m o . Os afetad o s , co m isso, se co br e m de<br />

entulho e se es c o n d e m . Eles se fech a m sim b olic a m e n t e co m a<br />

mã o . Seu ser está e m sua s mã o s e so m e n t e ai torna- se visível<br />

para todo s, razão pela qual as mã o s são es c o n did a s .<br />

Com m ã o s desfigura<strong>da</strong> s , contorci<strong>da</strong> s, o fech a m e n t o "limpo"<br />

de neg ó ci o s torna- se tam b é m impo s sív el, já que dev e m ser<br />

selad o s co m um aperto de m ã o . A contraç ã o imp e d e o contrato<br />

sinc er o, e deixa- se entrev er o es c ur o lado so m b ri o do pacto, no<br />

qual os dois lado s oculta m intenç õ e s não declarad a s . Trata- se,<br />

por assi m dizer, de um neg ó ci o feito por baixo do pan o.<br />

A lição é voltar a viven ci ar a quali<strong>da</strong>d e dos próprios m an ej o s<br />

e colo c ar- se de seu lado ape s ar <strong>da</strong>s ass o ci a ç õ e s neg ativa s.<br />

Trata- se de ad mitir para si m e s m o que se quer ag arrar e<br />

con s erv ar coisa s para si e que se abriga intenç õ e s que não<br />

dev e m ser ab erta s ao público. Caso o eg oí s m o corre s p o n d e n t e<br />

35<br />

5


seja vivido de m an eir a con s ci e nt e, não há razão para que ele<br />

se sedi m e n t e no corp o. O m e s m o é válido para os impuls o s<br />

agre s siv o s , para o m e d o e para a inse g ur an ç a . A avar ez a pod e<br />

ser transfor m a d a e m um a res erv a que faça sentido, a mania de<br />

segr e d o s e m discriçã o, os romp a nt e s agr e s siv o s e m en er gia<br />

vital trans b or d a nt e, o m e d o em sábia limitaç ã o .<br />

P er g u nta s<br />

1. Onde sou insinc er o? Que indício s dão form a a m e u s<br />

ded o s ?<br />

2. Curvar a mã o [Eine krum m e Hand ma c h e n] significa ser<br />

corrupto; para que serv e minh a mã o? Ain<strong>da</strong> pos s o lavar<br />

minh a s mã o s se m culpa?<br />

3. O que oculto de mi m e do am bi e nt e? Quem ou o que<br />

tenh o nas m ã o s ? A que m estã o destinad a s as am e a ç a s que<br />

minh a mã o expres s a ?<br />

4. Onde dev eria de fato estar a dispo siç ã o para a luta<br />

sedi m e n t a d a e m meu punho fech a d o ?<br />

5. Onde não ad mito m eu oportunis m o ? Com o an<strong>da</strong> o <strong>da</strong>r e<br />

rec e b e r? O que significa para mi m o fato de não pod er mais<br />

abrir a mã o , ma s tam b é m nunc a mais estar de mã o s vazias?<br />

6. Quais nós (proble m a s) tenh o fech a d o s no punho, de<br />

form a que ningu é m mais os vê e so m e n t e eu os sinto?<br />

7. De que tenh o m e d o , o que m e deixa tão inse g ur o e<br />

imp e d e de man eira agre s siv a que eu viva minh a<br />

individuali<strong>da</strong>d e?<br />

8. O que significa para mi m o fato de não pod er esten d e r a<br />

mã o (pela vi<strong>da</strong>, para aju<strong>da</strong>r)? E não pod er agarrar a mã o<br />

salvad or a?<br />

9. O que quer o ocultar? Do mund o? De mi m?<br />

2. As unhas<br />

As unha s <strong>da</strong>s mã o s e dos pés des e n v olv er a m - se a partir <strong>da</strong>s<br />

garras, ou seja, são res quí cio s destas, e e m con s e q ü ê n c i a têm<br />

35<br />

6


a ver co m noss a heran ç a agr e s siva e nos s a orig e m . Com o<br />

deixa m o s de utilizar as garras direta m e n t e na luta diária pela<br />

vi<strong>da</strong>, precis a m o s apará- las. Antiga m e nt e elas se des g a st a v a m ,<br />

co m o ac o nt e c e co m os anim ai s de rapina. Quanto a isto, é<br />

igual m e nt e uma atitude hon e st a e um a desilus ã o ob s ervar<br />

que m alé m de nós tem garras no mund o anim al; o<br />

rev e sti m e nt o agre s siv o, tanto <strong>da</strong>s unha s co m o <strong>da</strong>s pes s o a s ,<br />

fica claro.<br />

Agora, e m uma ép o c a que ao m e s m o temp o co m b a t e a<br />

agre s s ã o e é extre m a m e n t e agre s siv a, não é m ais tão fácil<br />

mant er as unha s perfeitas. Seja por ser e m atac a d a s por<br />

ag e nt e s estran h o s tais co m o fungo s ou amputad a s de livre e<br />

esp o nt â n e a vontad e co m os dente s, so br etud o pelas crianç a s ,<br />

ou ain<strong>da</strong> por se tornar e m que br a di ç a s e lasc ar e m co m<br />

facili<strong>da</strong>d e, elas se m pr e lanç a m um a luz so br e nos s a man eira<br />

de li<strong>da</strong>r co m a agr e s s ã o . Em muitas culturas, seu co m pri m e nt o<br />

é sinal do quanto a pes s o a se mant e v e distante do indign o<br />

trabalh o braç al diário. Ao m e s m o tem p o , es s e costu m e deixa<br />

claro quanta agre s sivi<strong>da</strong>d e é nec e s s á ri a para impor um tal<br />

estilo de vi<strong>da</strong> e con s er v ar o pod er corresp o n d e n t e . Tam b é m<br />

entre nós, unha s be m cui<strong>da</strong>d a s são um sinal de trabalh o<br />

intelectual e de seu trato refinad o co m a agr e s sivi<strong>da</strong>d e .<br />

Em nos s a cultura, é principal m e nt e o mund o <strong>da</strong>s sen h or a s<br />

que exib e seus sím b ol o s de agre s s ã o co m orgulho, não<br />

poupand o gasto s em seu cui<strong>da</strong>d o e colo c a n d o - os e m evid ê n ci a<br />

co m cor e s brilhante s. O es m alt e de unha s tornou- se um<br />

co m p o n e n t e per m a n e n t e <strong>da</strong> vi<strong>da</strong>. Excep ci o n al m e n t e , ele tem a<br />

cor <strong>da</strong> ma dr e p é r ol a, aqu el e m at erial irides c e nt e no qual<br />

divers o s ser e s aquátic o s se env olv e m , e sinaliza que para seus<br />

proprietários a tem átic a agre s siv a transfor m o u- se e m algo<br />

cintilante, precio s o . O ver m el h o , es c olhid o de form a<br />

prep o n d e r a nt e, é muito apropriad o sim b olic a m e n t e , pois se<br />

trata <strong>da</strong> cor do deus <strong>da</strong> guerra, Marte, e de sua rival e<br />

co m p a n h eir a, Vênus, a deus a do am or. A agr e s s ã o e o am or<br />

une m - se e m paixão nas long a s unha s pinta<strong>da</strong> s de ver m el h o , e<br />

as garras assi m ac e ntuad a s sinaliza m algo erotica m e n t e<br />

35<br />

7


sedutor que se m pr e é criado a partir des s a s duas fontes. Não é<br />

de surpre e n d e r, já que Eros/Amor, o deus do erotis m o , é filho<br />

de Vênus e Marte. Com as arm a s de guerra do pai, o arco e a<br />

flecha, ele instila o des ej o <strong>da</strong> m ã e , o am or, no coraç ã o dos<br />

ho m e n s .<br />

Quando se pen s a nas luzes do se m áf or o e no tras eiro dos<br />

babuín o s , o ver m el h o é tam b é m a clás sic a cor de aviso, que<br />

pod e ser vista de long e. Unhas ver m el h a s cha m a m a aten ç ã o<br />

para si, para as quali<strong>da</strong>d e s sedutora s de seu proprietário, ou<br />

para o san g u e que goteja de suas unha s. Finalm e nt e, as unha s<br />

têm ain<strong>da</strong> um caráter saturnino, limitador, já que pod e m<br />

tam b é m sinalizar: "Até aqui, não pros sig a."<br />

Inflamação <strong>da</strong>s unhas<br />

Este sinto m a, tam b é m cha m a d o de pan arício, pod e surgir<br />

tanto nas unha s <strong>da</strong>s m ã o s co m o dos pés. O leito <strong>da</strong> unha, o<br />

esp a ç o ond e ela cres c e e se alim e nta, está inflam a d o e co m<br />

pus. A inflam a ç ã o nes s a regiã o en c arn a um conflito e m relaç ã o<br />

ao lar <strong>da</strong> agre s s ã o , ou seja, <strong>da</strong> vitali<strong>da</strong>d e. De m an eira<br />

se m el h a nt e ao que ac o nt e c e na inflam a ç ã o <strong>da</strong>s gen giv a s<br />

(gen givite), o tem a <strong>da</strong> confianç a prim ordial está sen d o aludido.<br />

As ferra m e nt a s <strong>da</strong> agre s s ã o , garras e dent e s, precis a m de um<br />

fun<strong>da</strong> m e n t o saud á v el para tornar- se agr e s siv o s de ac ord o co m<br />

sua deter min a ç ã o . De man eira análo g a, uma pes s o a precis a<br />

<strong>da</strong> confian ç a primordial para pod er <strong>da</strong>r expr e s s ã o a sua<br />

agre s s ã o , sua vitali<strong>da</strong>d e e sua en er gia.<br />

Quando falta autoc o nfian ç a às crianç a s e, so br etud o,<br />

confian ç a nos pais, elas não se atrev e m a ser agr e s sivas.<br />

Aquilo que extern a m e n t e parec e um a louváv el afeiç ã o é,<br />

muitas vez e s , falta de confian ç a. Quando, ao contrário, elas se<br />

atrev e m a algo que os pais de form a algu m a valoriza m,<br />

manife sta m co m isso confianç a, pois pod e m contar co m os<br />

pais m e s m o quan d o dão vazã o à sua agr e s sivi<strong>da</strong>d e , ou seja,<br />

sua vitali<strong>da</strong>d e. Estar per m a n e n t e m e n t e gru<strong>da</strong>d o na barra <strong>da</strong><br />

saia <strong>da</strong> m ã e , ao contrário, deixa entrev er m e d o e falta de<br />

35<br />

8


confian ç a.<br />

Quando ao conflito na bas e <strong>da</strong> agre s s ã o no leito <strong>da</strong> unha<br />

so m a- se ain<strong>da</strong> roer as unha s, a situaç ã o torna- se m ais clara<br />

ain<strong>da</strong>. A crianç a não se atrev e a agarrar a vi<strong>da</strong> e m o strar as<br />

garras. A válvula de es c a p e para a en er gi a vital não é<br />

suficiente e a crianç a, portanto, dirige sua agr e s sivi<strong>da</strong>d e contra<br />

si m e s m a e castra suas próprias ferra m e nt a s de agre s s ã o . Em<br />

vez de ficare m content e s pelo fato de as crianç a s não dirigire m<br />

suas m ordi<strong>da</strong>s contra eles, não é raro que os pais rec orra m a<br />

puniç õ e s . Na tentativa de tirar o "vício" de seu filho, eles faze m<br />

co m que o proble m a <strong>da</strong> agr e s s ã o m er g ulh e ain<strong>da</strong> m ais na<br />

so m b r a. É justa m e n t e a sinc eri<strong>da</strong>d e do sinto m a que enfurec e<br />

os educ a d o r e s . Agora todo s pod e m ver co m o seu filho vive de<br />

form a contrária à vitali<strong>da</strong>d e.<br />

Algum a s crianç a s leva m es s a situaç ã o tão long e que<br />

ch e g a m a roer tam b é m as unha s dos pés. O que sua fom e de<br />

agre s s ã o pod eria deixar claro? Caso o sinto m a perdur e até a<br />

adol e s c ê n c i a ou m e s m o até a i<strong>da</strong>d e adulta, isso m o stra a<br />

contínua carên ci a de pos sibili<strong>da</strong>d e s de expres s ã o para a<br />

própria vitali<strong>da</strong>d e. Não é raro que o sinto m a des a p ar e ç a para<br />

voltar a e m e r gir mais tarde co m outra roupag e m , por exe m pl o<br />

so b a form a de uma alergia.<br />

Com o as unha s freqü e nt e m e n t e são roí<strong>da</strong> s quas e até a<br />

bas e , as pontas dos ded o s fica m des pr ot e gid a s e tend e m a<br />

inflam ar- se. O panarício típico, entretanto, afeta unha s intactas<br />

que rep entina m e n t e des e n v olv e m um a tend ê n ci a para<br />

en cr av ar. Elas perfura m a própria carn e e, assi m, declara m a<br />

guerra. Em geral, a situaç ã o não é tão crônic a co m o quan d o se<br />

rói as unha s, inflam a n d o - se e m um conflito agud o. Ain<strong>da</strong><br />

assi m, há pes s o a s que se m pr e volta m a rec orr er a este plano<br />

de conflitos e m torno de sua confian ç a prim ordial.<br />

Além <strong>da</strong> típica feri<strong>da</strong> no leito <strong>da</strong> unha, há outras man eira s<br />

que pod e m ch e g a r até os os s o s . Quando o perióste o , os os s o s<br />

ou os tend õ e s são afetad o s , a probl e m átic a aní mic a que sai à<br />

luz é corresp o n d e n t e m e n t e mais profun<strong>da</strong>. Os agre s s o r e s , no<br />

sentido físico, são na maioria dos cas o s estafiloc o c o s ou outras<br />

35<br />

9


actérias, no quadr o de um a assi m cha m a d a infecç ã o mista.<br />

Enquanto a pes s o a se deixa inflam ar por es s e s ag e nt e s , os<br />

tem a s propria m e n t e caus a d o r e s obtê m muito pouc o esp a ç o .<br />

De fato, um a pes s o a que declara guerra a si m e s m a , ou seja,<br />

cujo siste m a de arm a s ofen siva s, por dentro e por baixo, está<br />

por assi m dizer sen d o colo c a d o e m questã o e m seu próprio<br />

pais, be m , es s a pes s o a m al pod eria defen d e r- se, quanto m ais<br />

tom ar por si m e s m a a decis ã o de atac ar. A feri<strong>da</strong> costu m eir a<br />

no leito <strong>da</strong> unha pod e fazer co m que esta se solte e, co m isso,<br />

indicar uma per<strong>da</strong> na disponibíli<strong>da</strong>d e para a defe s a.<br />

As garras postas temp or aria m e n t e fora de co m b a t e aponta m<br />

para a lição a ser apren di<strong>da</strong>: trazer a própria vitali<strong>da</strong>d e e<br />

agre s sivi<strong>da</strong>d e de volta para plan o s con s ci e nt e s . A guerra e m<br />

tom o do siste m a de arm a s do corp o dev eria ser travad a e m<br />

plan o s ond e as soluç õ e s são pos sív ei s. Ness e cas o, as arm a s<br />

do espírito têm prec e d ê n c i a so br e as arm a s do corp o. Até<br />

m e s m o ag arrar e arranh ar con s ci e nt e m e n t e tem mais sentido<br />

que cultivar ulcera s nas unha s.<br />

P er g u nta s<br />

1. Onde dev eria m o strar minh a s garras e não m e atrev o?<br />

Onde eu incon s ci e nt e m e n t e guard o algo so b as unha s?<br />

2. Até que m e did a m e u m e d o m e deixa indefe s o diante <strong>da</strong><br />

agre s s ã o ?<br />

3. Onde, e m sentido figurad o, sou vítima de minh a<br />

agre s s ã o ?<br />

4. Onde pod eria en c o ntrar confian ç a e m minha força e<br />

minh a vitali<strong>da</strong>d e?<br />

5. Onde há pos sibili<strong>da</strong>d e s significativas para minh a<br />

disponibili<strong>da</strong>d e agre s siv a de defe s a? Com o minh a fom e<br />

pod eria ser melh or aplac a d a?<br />

36<br />

0


10<br />

O Peito<br />

O peito é um órg ã o tanto do ponto de vista <strong>da</strong>s glândulas<br />

ma m á ri a s femininas co m o repres e nt a n d o a regiã o central de<br />

noss o tronc o. Ao lado <strong>da</strong> cáp sula óss e a <strong>da</strong> cab e ç a e <strong>da</strong> bacia,<br />

o tórax é um terc eiro recipient e de órg ã o s que têm importân cia<br />

vital. Ele abriga os pulm õ e s , noss o s órgã o s de contato e<br />

co m u nic a ç ã o , e noss o m ei o en er g étic o, o cora ç ã o .<br />

Enquanto o crânio e a bacia são rec e ptácul o s bastant e<br />

firme s e rígido s, o cesto form a d o por cost ela s e mús c ul o s<br />

destac a- se por um a ass o m b r o s a m o bili<strong>da</strong>d e. Com o cora ç ã o e<br />

os pulm õ e s , ele não só conté m dois órgã o s que se m o v e m<br />

ininterrupta m e n t e e m ritmo ac el er a d o , m a s segu e o ritmo <strong>da</strong><br />

respiraç ã o co m uma dúzia de expans õ e s e contraç õ e s por<br />

minuto. A am arra ç ã o articulad a <strong>da</strong>s co st el a s na colun a<br />

vertebr al e sua elástica ligaç ã o cartilagin o s a co m o estern o<br />

per mite m es s a gen er o s a m o bili<strong>da</strong>d e . Apesar de sua<br />

elastici<strong>da</strong>d e , o tórax é ao m e s m o tem p o um a fortalez a<br />

proteg e n d o seu sen sív el conteú d o .<br />

No m ei o dele, no coraç ã o , está o centro <strong>da</strong> circulaç ã o<br />

san guín e a e en er g étic a. No plan o corp or al, tudo gira e m torno<br />

do cora ç ã o . Os orientais con sid er a m o chakra do cora ç ã o ,<br />

Anahata, co m o sen d o o quarto centro e tam b é m o ponto<br />

central dos sete centro s en er g étic o s do ser hum a n o . Os<br />

pulm õ e s são o órg ã o <strong>da</strong> co m u nic a ç ã o , já que é a coluna de ar<br />

que, ade q u a d a m e n t e m o d ulad a pela laring e e pela cavi<strong>da</strong> d e<br />

buc al, dá form a à noss a linguag e m . Quando se pens a que o<br />

ser hum a n o é, e m prim eiro lugar, um ser so cial (os biólo g o s<br />

falam de um zoon politikon, um anim al político), fica claro o<br />

quanto o lar dos sentim e nt o s do nos s o cora ç ã o e do nos s o<br />

intercâ m b i o co m u nic ativo é central para nos s a existên cia. Para<br />

a interpreta ç ã o do peito, so m a- se o fato de ele ser o m ei o e,<br />

portanto, o local de integraç ã o de tudo o que é racion al e que<br />

36<br />

1


ve m de cim a para baixo, de arcaic o- intuitivo que ve m de baixo<br />

para cim a, e de e m o ci o n al que vai de dentro para fora. Ele<br />

reflete, e m sua form a e funçã o, co m o o ser hum a n o li<strong>da</strong> co m<br />

es s e variad o exer cí cio.<br />

1. O tórax saliente 71<br />

Quando a funçã o de abrigo do tórax, devid o a um a<br />

nec e s si d a d e exa g er a d a de prote ç ã o , é reforç a d a atrav é s do<br />

en c o ur a ç a m e n t o mus c ular e do enrijeci m e nt o <strong>da</strong>s articulaç õ e s ,<br />

o cesto transfor m a- se e m um a gaiola que m ant é m pres o s o<br />

coraç ã o e os pulm õ e s . Ain<strong>da</strong> que es s a gaiola, por m ei o <strong>da</strong><br />

ventilaç ã o corresp o n d e n t e , pos s a ser bastant e esp a ç o s a ,<br />

continua sen d o um a prisão. Ao se prend er ser e s alado s, o<br />

sentido es s e n ci al de suas vi<strong>da</strong>s se perd e. Os pulm õ e s , e m seu<br />

pap el de órgã o de intercâ m b i o do corp o, têm suas<br />

pos sibili<strong>da</strong>d e s limita<strong>da</strong>s e ne m pod e m extravas ar<br />

co m pl et a m e n t e ne m inalar ar fresc o na m e di<strong>da</strong> de suas<br />

pos sibili<strong>da</strong>d e s . O ar é nos s a en er gi a vital primária, já que<br />

conté m o oxig ê ni o que nos m ant é m vivos, o prana, a força <strong>da</strong><br />

vi<strong>da</strong> que nos dá sua en er gi a. Com o nós de qualqu er m an eira<br />

tend e m o s a utilizar ap en a s um a pequ e n a parte de noss a<br />

cap a cid a d e pulm o n ar, um a limitaç ã o m ai or ain<strong>da</strong> pod e até ser<br />

co m p atív el co m a so br e viv ê n ci a, mas não co m uma vi<strong>da</strong> plena.<br />

O am or, seu principal m otivo, m orr e na prisão, um a vez que<br />

vive de <strong>da</strong>r e de rec e b e r.<br />

Quando nós nos con c e n tra m o s no peito, inspira m o s<br />

profun<strong>da</strong> m e n t e e e m seguid a rete m o s o ar, tem o s um a<br />

sen s a ç ã o des s e estad o rígido, intum e s ci d o . Com bastant e<br />

rapidez surg e um a sen s a ç ã o de so br e c ar g a e de plenitud e,<br />

ma s um a plenitud e que provo c a pres s ã o . Pelo fato de<br />

expan dir- se o tronc o se torna do min a nt e. Com relaç ã o ao s<br />

sentim e nt o s , m a s tam b é m no âm bito de aba st e ci m e n t o de<br />

en er gi a, sua expan s ã o ac o nt e c e à custa <strong>da</strong> parte inferior do<br />

36<br />

2


corp o. Assim co m o o peito impon e nt e se destac a do resto do<br />

corp o, es s e estad o físico reflete a atitude básic a <strong>da</strong> alm a, que<br />

devido a um sentim e nt o de sup eriori<strong>da</strong>d e quer controlar a si<br />

m e s m a e ao resto do mun d o . A do e n ç a tipica m e n t e<br />

relacion a d a co m es s e tipo de peito é o enfis e m a pulm o n ar co m<br />

tórax de barril. Essa é a den o m i n a ç ã o para um a caixa torácic a<br />

muito am pliad a, e m form a de barril, que se enrijec e, não<br />

per mitindo flexibili<strong>da</strong>d e ne m ab ertura para a en er gia vital <strong>da</strong><br />

respiraç ã o .<br />

É nec e s s á ri o reprimir os sentim e nt o s para que es s e<br />

des c o n h e c i m e n t o de si m e s m o pos s a existir. Isso, por sua vez,<br />

é natural para es s e tipo de peito já que ele, e m sua rigidez, se<br />

fecha para o fluxo de to<strong>da</strong>s as en er gias. Assim, não é raro que<br />

a ab ó b a d a peitoral, exterior m e nt e tão impre s si o n a nt e,<br />

transfor m e - se e m túmulo dos estí mulo s m ais ternos e<br />

sentim e nt o s m ais afetuo s o s <strong>da</strong> alm a. Os proprietário s de<br />

tam a n h o perí m etr o peitoral rara m e nt e chor a m e não m o stra m<br />

qualqu er fraqu ez a, de qualqu er form a não co m freqü ê n ci a e de<br />

form a algu m a e m público. Por es s a razão, eles tend e m ao<br />

e m a g r e ci m e n t o e à agitaç ã o , à sed e de do mínio e de control e,<br />

à hiperten s ã o , ao s probl e m a s cardíac o s , as m a e enfis e m a<br />

pulm o n ar. Em princípio, os probl e m a s cardíac o s ass e m e l h a m -<br />

se ao s dos pulm õ e s . Enquanto deixa m m orr er de fom e o<br />

coraç ã o que trabalha so b um a pres s ã o esp e ci al m e n t e elev a d a,<br />

provo c a n d o a angina pe ct oris ou o infarto, os pulm õ e s<br />

des e s p e r a d a m e n t e hiperinflado s pela as m a ou pelo enfis e m a<br />

não rec e b e m en er gi a vital suficiente.<br />

2. O tórax estreito<br />

Pess o a s co m a ab ó b a d a peitoral estreitad a exp eri m e nt a m<br />

uma pres s ã o no sentido contrário. Onde os pos s uid or e s de<br />

tórax saliente s a ponto de trans b o r d ar m orr e m de fom e e m<br />

m ei o à abund â n ci a, este s o faze m na indigên ci a. Enquanto<br />

aqu el e s , co m seus eg o s inflado s, agü e nta m o am bi e nt e e não<br />

36<br />

3


aras vez e s se deixa m naufrag ar, o peito subd e s e n v o l vid o,<br />

côn c a v o , deixa entrev er um eg o se m e l h a nt e. Muito distante de<br />

tomar a vi<strong>da</strong> a peito, os afetad o s sent e m - se fraco s, vazio s e no<br />

fim. Essa sen s a ç ã o de vi<strong>da</strong> tam b é m pod e ser facilm e nt e<br />

simulad a pela respiraç ã o , quan d o se expira totalm e nt e e não<br />

se volta a inspirar por um long o períod o de temp o. A sen s a ç ã o<br />

de pres s ã o do vazio transfor m a- se muito rapi<strong>da</strong> m e n t e e m algo<br />

torturante e des e s p e r a d o r, a estreitez a e a angústia<br />

estran g ula m os afetad o s . Eles se sent e m per m a n e n t e m e n t e<br />

co m o se a angústia ou o m e d o tives s e tom a d o conta de seu<br />

corp o e eles precis a s s e m aprum ar a si e a seus tórax reunind o<br />

as últimas res erv a s de en er gi a.<br />

Com a profundi<strong>da</strong> d e <strong>da</strong> respiraç ã o diminuí<strong>da</strong> e o batim e nt o<br />

cardíac o fraco, eles têm razã o e m sentir- se es qu e ci d o s pela<br />

vi<strong>da</strong>, e m b o r a evid e nt e m e n t e deixe m de inspirar ar fresc o<br />

suficiente e renovar seu san g u e . Ness e sentido, não é de<br />

ad mirar que eles freqü e nt e m e n t e sofra m co m a sen s a ç ã o de<br />

não rec e b e r a parte que lhes toca e esp er e m aju<strong>da</strong> extern a. O<br />

estad o aní mic o fun<strong>da</strong> m e n t al está impre g n a d o de senti m e nt o s<br />

de m e s q uinh e z e de inferiori<strong>da</strong>d e, ch e g a n d o a depr e s s õ e s . A<br />

quali<strong>da</strong>d e <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> é do min a d a pela estreitez a e pela angú stia.<br />

Os afetad o s pod e m sentir- se co m o um rato cinzento, vazio s,<br />

inúteis e deixad o s de lado. Eles cha m a m tão pouc o a aten ç ã o<br />

que isso até volta a cha m a r a aten ç ã o . Cansa d o s d(est)a vi<strong>da</strong>,<br />

eles es qu e c e r a m que aquilo que ad mite m e m seu peito estreito<br />

tem pouc o a ver co m a vi<strong>da</strong>. Neles a caixa do peito, que na<br />

ver<strong>da</strong>d e quer trans b or d ar de senti m e nt o s e e m o ç õ e s , é<br />

pequ e n a de m ai s, vazia e fech a d a . Por es s a razã o, eles<br />

costu m a m ter na cab e ç a grand e s pens a m e n t o s que che g a m<br />

até às fantasias de onipot ên ci a.<br />

Nos opo sitor e s co m peito des m e s ur a d o es s a caixa é grand e<br />

de m ai s, ab arrotad a e igual m e nt e fecha d a. Ambo s, a partir de<br />

pólos diferent e s , con struíra m barricad a s contra a vi<strong>da</strong>. Os<br />

inflado s con stro e m fortificaç õ e s contra a vi<strong>da</strong>, os que precis a m<br />

de prote ç ã o co m o peito retraído se disfarç a m . Assim am b o s ,<br />

e m sua opo siç ã o extre m a , estã o de ac ord o quanto ao ponto<br />

36<br />

4


decisivo: ass e nt a d o s no solo dos sentim e nt o s de inferiori<strong>da</strong>d e,<br />

eles não estã o ab erto s e per m e á v e i s para a en er gia <strong>da</strong> vi<strong>da</strong>.<br />

3. "Sintomas" do peito<br />

Fratura de costelas<br />

Fraturas de cost ela s, esp e ci al m e n t e as fraturas e m série,<br />

abr e m um a fen<strong>da</strong> na fortificaç ã o do tórax. E nec e s s á ri a<br />

violên cia con sid er á v el e um a situaç ã o esp e ci al m e n t e restritiva<br />

e fixador a para romp er um a con struç ã o tão elástica co m o o<br />

tórax. Normal m e nt e, to<strong>da</strong> a pes s o a se es quivaria, ou entã o a<br />

estrutura de cost elas e cartilag e n s ab s orv eria o golp e. Na<br />

fratura de cost ela s, a violên cia precis a ser en or m e e apan h ar a<br />

vitima despr e v e ni d a, ou entã o esta está entalad a e não pod e<br />

mais sair <strong>da</strong> situaç ã o restritiva. A des criç ã o <strong>da</strong> situaç ã o física<br />

caract eriza ao m e s m o temp o a situaç ã o aní mic a, já que a<br />

fratura de cost ela s faz co m que se torne nec e s s á ri o romp er<br />

co m um a situaç ã o rígi<strong>da</strong> e restritiva. Em última instân cia, é a<br />

tentativa de abrir um burac o na fortalez a e forçar a franqu e z a<br />

neg a d a por m ei o <strong>da</strong> violên cia.<br />

Aquela ab ertura física força<strong>da</strong> pela fratura e, so br etud o , a<br />

maior m o bili<strong>da</strong>d e obti<strong>da</strong> des s a m an eira, dev eria ser realizad a<br />

no plano aní mic o- espiritual. Por m ei o <strong>da</strong> fratura, nova s<br />

"articulaç õ e s auxiliares", os locais <strong>da</strong> fratura, são postas<br />

temp or aria m e n t e e m funcion a m e n t o . A profilaxia e m relaç ã o a<br />

outras fraturas seria reviver de livre e esp o nt â n e a vontad e as<br />

muitas pos sibili<strong>da</strong>d e s de m o vi m e n t o que já estã o à dispo siç ã o .<br />

O tem a e a lição são a flexibili<strong>da</strong>d e, que dev e ser realizad a<br />

so br etud o no sentido figurad o. É precis o deixar que o nov o<br />

irromp a, abrir- se para em b at e s extre m o s e trazer para o mun d o<br />

dos sentim e nt o s do coraç ã o e do interc â m b i o um a m o bili<strong>da</strong>d e<br />

que alivie fisica m e n t e o tórax.<br />

P er g u nta s<br />

36<br />

5


1. O que, alé m <strong>da</strong> violên ci a, pod e arro m b ar o tes o ur o do<br />

m e u peito?<br />

2. Que âm bito do mun d o de m e u s sentim e nt o s está de tal<br />

m o d o en c ar c er a d o que sua única chan c e con siste e m libertarse<br />

violenta m e n t e ?<br />

3. Onde man o b r ei e m um lugar tão estreito que não sei<br />

mais sair e estou à m er c ê <strong>da</strong> violên ci a extern a?<br />

4. Até que ponto neglig e n ci ei o interc a m b i o ?<br />

5. Tenh o confianç a para per mitir que os tem a s <strong>da</strong> ab ertura<br />

(sinc eri<strong>da</strong>d e) e <strong>da</strong> flexibili<strong>da</strong>d e volte m a ganh ar fôleg o e m<br />

minh a vi<strong>da</strong>?<br />

Roncar<br />

O fenô m e n o do ronc o, que se torna mais freqü e nt e à m e did a<br />

que a i<strong>da</strong>d e avan ç a afeta, mais que a respiraç ã o , o tem a <strong>da</strong><br />

co m u nic a ç ã o . Som a- se a isso um a probl e m átic a de ritmo que<br />

se expr e s s a nas fas e s irregular e s <strong>da</strong> respiraç ã o . No âm bito<br />

noturno, a co m u ni c a ç ã o dec orr e de form a angulo s a e ásp er a,<br />

há um a resistên ci a con sid er á v el e m jogo. As pes s o a s que<br />

ronc a m têm m e d o de inco m o d a r os outros e o faze m noite<br />

apó s noite. Seu contato co m o am bi e nt e está perturba d o . O<br />

org anis m o deixa claro que quer ficar sozinh o ao m e n o s durante<br />

a noite. Ruidos a m e n t e , eles mant ê m os outros a distância.<br />

Com o "pretexto" de não quer er inco m o d a r, eles abr e m esp a ç o<br />

para si m e s m o s . Ain<strong>da</strong> que se e m p e n h e m e m enfatizar o<br />

quanto gostaria m de pas s ar a noite juntos na ca m a de cas al,<br />

seu sinto m a fala um a outra lingua g e m . Caso algu é m ain<strong>da</strong><br />

assi m ous a s s e aproxi m ar- se deles durante a noite, precis aria<br />

de con sid er á v el humil<strong>da</strong>d e e vontad e de sub ordin a ç ã o e m<br />

m ei o a seu ritmo inaudív el, ou entã o de tamp õ e s de ouvido.<br />

Ele, assi m, estará surdo e m relaç ã o ao ronc a d o r. Não resta<br />

dúvi<strong>da</strong> quanto a que m dá o tom aqui. Suspeita- se que os<br />

ronc a d o r e s não estã o e m con diç õ e s de abrir esp a ç o , exigir<br />

distância e resp eito e <strong>da</strong>r o tom durante o dia. Eles<br />

de m o n s tr a m e m alto e bo m so m que precis a m de mais<br />

36<br />

6


aten ç ã o , de qualqu er man eira ao men o s no que se refer e a seu<br />

lado noturno, de so m b r a s . Este corresp o n d e à porçã o feminina,<br />

es c ur a <strong>da</strong> alm a.<br />

O ruído de serrote e m um a ou e m am b a s as fase s <strong>da</strong><br />

respiraç ã o fala de uma co m u nic a ç ã o dura, pouc o afia<strong>da</strong>. Por<br />

trás diss o, oculta- se um a argu m e n t a ç ã o crua e um esforç o<br />

para co m u ni c ar de que os afetad o s não têm con s ci ê n ci a. Para<br />

os outros, no entanto, o estilo de co m u nic a ç ã o alto,<br />

de m o n s tr ativo, que não pod e deixar de ser ouvido e que<br />

freqü e nt e m e n t e é agr e s siv o fica muito claro. O fato de os<br />

ronc a d o r e s ser e m os único s que não perc e b e m seus ronc o s<br />

indica que eles tam b é m são os único s que não perc e b e m seu<br />

estilo de co m u nic a ç ã o .<br />

À noite, portanto, eles precis a m de válvulas de es c a p e para<br />

expr e s s ar de form a crua tudo aquilo que ain<strong>da</strong> não foi dito. O<br />

alto con su m o de en er gia des s e tipo de co m u ni c a ç ã o é audív el<br />

no esforç o que faze m . Ao ac ord ar, eles estã o<br />

corre s p o n d e n t e m e n t e m e n o s des c a n s a d o s .<br />

O probl e m a de ritmo desta c a- se nas paus a s de respiraç ã o<br />

extre m a m e n t e long a s, que oc orr e m co m freqü ê n ci a e que de<br />

form a reflexa força m a um a inspiraç ã o esp e ci al m e n t e profun<strong>da</strong>.<br />

As pes s o a s que ronc a m de m o n s tr a m o quanto pen etrara m de<br />

form a co m u nic ativa e m um dos pólos. Reflete- se aqui um a<br />

form a de co m u nic a ç ã o can s ativa a ponto de fazer faltar o ar,<br />

forçan d o às paus a s de respiraç ã o corresp o n d e n t e s . Os long o s<br />

intervalo s se m ar explicita m que muitas vez e s não oc orr e<br />

qualqu er interca m b i o . Comunic a ç ã o é troca. As pes s o a s que<br />

ronc a m , entretanto, exp el e m mais do que co m p artilha m , e<br />

finalm e nt e se bloqu ei a m até que pouc o ante s de sufoc ar<br />

volta m a tom ar ar de m an eir a que não pod e deixar de ser<br />

ouvi<strong>da</strong>. Não respirar quer dizer não participar <strong>da</strong> vi<strong>da</strong>.<br />

Foi co m pr o v a d o co m a mai oria <strong>da</strong>s pes s o a s que ronc a m que<br />

elas, devido a seu extenu a nt e estilo de co m u nic a ç ã o precis a m ,<br />

por um lado, de long a s paus a s de reg e n e r a ç ã o , e que por outro<br />

des c a n s a m pouc o co m es s e tipo de son o. Elas co m p e n s a m a<br />

baixa quali<strong>da</strong>d e por m ei o <strong>da</strong> quanti<strong>da</strong>d e . Aqui pod eria estar<br />

36<br />

7


tam b é m a explicaç ã o para as indicaç õ e s <strong>da</strong>s estatística s de<br />

que as pes s o a s que ronc a m não são saud á v ei s. Não é tanto<br />

que o ronc ar e m si não seja saud á v el; ele é um a indicaç ã o de<br />

uma situaç ã o fun<strong>da</strong> m e n t al m e n t e pouc o saud á v el.<br />

P er g u nta s<br />

1. Onde exag er o um dos pólo s <strong>da</strong> reali<strong>da</strong>d e?<br />

2. Até que ponto falta e m mi m a ligaç ã o entre os extre m o s ?<br />

3. Que pap el des e m p e n h a a co m u nic a ç ã o do lado feminino<br />

<strong>da</strong> alm a?<br />

4. Onde m e excluo <strong>da</strong> corrent e <strong>da</strong> vi<strong>da</strong>?<br />

5. O que sep ar a e m minha co m u ni c a ç ã o , o que liga?<br />

6. Com o pos s o enc o ntrar um ritmo de vi<strong>da</strong> har m ô ni c o ?<br />

Para<strong>da</strong> respiratória em recém- nascido s ou morte infantil<br />

súbita<br />

Este quadr o de do e n ç a , na ver<strong>da</strong>d e de m orte, que tem se<br />

tornad o m ais freqü e nt e nos último s temp o s , per m a n e c e<br />

co m pl et a m e n t e inexplicáv el pela m e dicin a. Os rec é m - nas cid o s<br />

m orr e m de parad a respiratória e são enc o ntrad o s m orto s no<br />

berç o se m qualqu er sinto m a ou sinal de um a luta interior. É<br />

co m o se eles es qu e c e s s e m de respirar. Emb or a naturalm e nt e<br />

não exista qualqu er exp eriên ci a terap êutic a, os pais afetad o s<br />

têm grand e interes s e e m interpretar o enig m átic o<br />

ac o nt e ci m e n t o . Ele surg e des d e o início co m o um a susp e n s ã o<br />

<strong>da</strong> co m u nic a ç ã o co m o mun d o , talvez se pudes s e dizer co m<br />

este mund o. De fato, nos s o am bi e nt e am e a ç a d o ,<br />

esp e ci al m e n t e nas grand e s ci<strong>da</strong>d e s e esp e ci al m e n t e para as<br />

crianç a s , já não é mais um lugar ond e vale a pen a viver.<br />

Sem quer er imputar to<strong>da</strong> a culpa à morte infantil súbita, cad a<br />

vez mais crianç a s sofre m e m orr e m devid o ao fecha m e n t o <strong>da</strong><br />

laring e caus a d o pela difteria, pas s a n d o pela bron quite<br />

ob strutiva e pela as m a . Paralela m e n t e no tem p o a es s e<br />

fenô m e n o antes des c o n h e c i d o , um outro dra m a igualm e nt e<br />

misterio s o oc orr e nos m ar e s do plan eta. Ca<strong>da</strong> vez m ais, as<br />

36<br />

8


aleias se suici<strong>da</strong> m ao na<strong>da</strong>r para a terra e resign ar- se. As<br />

tentativas hum a n a s de imp edir o dra m a são freqü e nt e m e n t e<br />

aniquila<strong>da</strong> s pela pod er o s a força de vontad e dos anim ais.<br />

4. O peito feminino<br />

O peito feminino, tanto por sua funçã o co m o por sua form a,<br />

tem importân cia central. Cham a d a de m a m a na lingua g e m<br />

utiliza<strong>da</strong> pela m e di cin a, ele sim b oliza a m at erni<strong>da</strong>d e e a<br />

cap a cid a d e de nutrir. Com o cres ci m e n t o <strong>da</strong> crianç a no útero,<br />

cres c e m tam b é m os seio s, e no m o m e n t o do nas ci m e n t o eles<br />

estã o túrgido s devid o ao leite que os en c h e . A prim eira vez e m<br />

que a crianç a é am a m e n t a d a desp erta um sentim e nt o de<br />

volúpia entre m ã e e filho. Além do m ais, isso tem um efeito<br />

favoráv el e m relaç ã o às dor e s puerp er ais e à recup er a ç ã o do<br />

útero. É, por assi m dizer, o sinal para a recup er a ç ã o apó s o<br />

nas ci m e nt o . Além do sentim e nt o de felici<strong>da</strong>d e e de volúpia<br />

sentido pela m ai oria <strong>da</strong>s m ã e s ao am a m e n t ar, es s e ato traz<br />

tam b é m alívio ao s seios túrgido s, sen d o agrad á v el tam b é m<br />

nes s e sentido. Embora ma m a r seja um reflexo inato à crianç a,<br />

o contato co m o seio ma ci o e o fluxo de leite m orn o a enc h e<br />

igual m e nt e co m um a sen s a ç ã o de felici<strong>da</strong>d e e satisfaç ã o 72 .<br />

Os seio s são extre m a m e n t e sen sív ei s. O suav e toqu e<br />

ac ariciante <strong>da</strong>s fac e s infantis e so br etud o o toqu e dos lábio s e<br />

<strong>da</strong> língua ao ma m a r des p erta m sen s a ç õ e s voluptuo s a s e m<br />

muitas mulh er e s . Neste sentido, o fun<strong>da</strong> m e n t o do am or<br />

mat ern o é tam b é m de tipo sexual. A partir diss o, Grodd e c k<br />

con clui que am a m e n t ar atiça a paixão na mulh er e a estimula a<br />

voltar a procurar as relaç õ e s sexuais. Ele interpreta es s a<br />

ob s erva ç ã o a serviç o <strong>da</strong> con s erv a ç ã o <strong>da</strong> esp é ci e co m o<br />

biolo gic a m e n t e significativa. Entretanto, dep õ e contra isso o<br />

fato de que é justa m e nt e a am a m e n t a ç ã o que forne c e um<br />

es c ud o prev e nin d o um a nova con c e p ç ã o de m a s i a d o prec o c e .<br />

A tem átic a sexual do seio que am a m e n t a é co m b atid a<br />

so br etud o por aqu el e s que colo c a m a mat erni<strong>da</strong>d e no céu,<br />

36<br />

9


cond e n a n d o entretanto a sexuali<strong>da</strong>d e ao inferno. A relaç ã o<br />

sexual geral do peito feminin o, ao contrário, é inquestion á v el.<br />

Ele é tom a d o voluptuo s a m e n t e na bo c a tanto quan d o<br />

am a m e n t a co m o quan d o é beijad o, um proc e di m e n t o que<br />

oc orr e no plano sup erior do corpo e que não deixa de ser<br />

se m el h a nt e à relaç ã o sexual co m pl eta que oc orr e abaixo. O<br />

seio des e m p e n h a aqui o pap el do pênis pen etrant e,<br />

corre s p o n d e n d o a cavi<strong>da</strong>d e buc al à vagina.<br />

Sem levar e m conta a que stã o de se a crianç a, ao ma m a r, já<br />

viven ci a a mulh er na mã e, o significad o central do peito na vi<strong>da</strong><br />

posterior é evid e nt e. O vinculo co m o seio é o prim eiro que o<br />

ser hum a n o viven ci a. Neste sentido, é natural que ele continu e<br />

procurand o o am or no seio. Isso é válido tam b é m para as<br />

mulh er e s . Elas gosta m de pres si o n ar- se mutua m e n t e contra o<br />

peito, trans mitind o assi m uma terna sen s a ç ã o de proteç ã o . A<br />

relaç ã o de um a mulh er co m o peito de outra mulh er é<br />

natural m e nt e muito mais próxim a que a de um ho m e m co m o<br />

m e m b r o de um co m p a n h eir o do m e s m o sex o. Apertar algué m<br />

contra o peito é se m pr e um ge st o de simp atia e de am or.<br />

Tam b é m , nen hu m outro órgã o expres s a a co m p aixã o de form a<br />

mais intens a e caloro s a; e m nen hu m outro lugar, por exe m pl o,<br />

pod e- se reclinar a cab e ç a e chorar. Que os seio s, alé m de sua<br />

funçã o m at ern al de alim e nta ç ã o , são tam b é m um órgã o de<br />

relacion a m e n t o , é m o strad o pelo fato de eles ser e m<br />

per m a n e n t e m e n t e saliente s unica m e n t e entre os ser e s<br />

hum a n o s , en qu a nt o nos "outros ma m íf er o s" só se des e n v olv e m<br />

temp or aria m e n t e na ép o c a <strong>da</strong> am a m e n t a ç ã o .<br />

No am or sexual, finalm e nt e, o peito torna- se órgã o sexual, já<br />

que os ho m e n s bus c a m instintiva m e nt e o peito, cha m a d o hoje<br />

e m dia de seio. Essa express ã o e m si m e s m a é errad a, pois a<br />

rigor um seio desig n a uma sinuo sid a d e , uma baia, o esp a ç o no<br />

m ei o, o dec ot e. Esse lugar entre os seios ve m sen d o<br />

des nu d a d o desd e a Antigui<strong>da</strong>d e para excitar o outro sexo. Por<br />

mais que as tend ê n ci a s <strong>da</strong> m o d a tenha m variad o ao long o <strong>da</strong>s<br />

diferent e s ép o c a s , só muito rara m e n t e se renunciou à<br />

expo siç ã o des s e local tão excitante. Em parte, ép o c a s m ais<br />

37<br />

0


antigas ch e g ar a m a ser até m e s m o mais gen er o s a s a es s e<br />

resp eito; basta pen s ar nos vestido s <strong>da</strong> ép o c a de Luís XIV que<br />

deixav a m os seio s livres, isso para não falar na "mod a" dos<br />

cha m a d o s pov o s primitivo s. No antigo Egito, a profundi<strong>da</strong>d e do<br />

dec ot e corre s p o n di a ao grau de influên cia so cial, e e m Atenas<br />

as mulh er e s burgu e s a s co m p ar e ci a m às oc a si õ e s festivas co m<br />

o busto nu. O tople s s , portanto, não é de form a algu m a um a<br />

inven ç ã o de nos s a ép o c a liberal.<br />

Os seio s tam b é m são ac e ntuad o s de man eira m e n o s óbvia:<br />

erguido s por m ei o de esp artilho s, atad o s e ao m e s m o tem p o<br />

exibido s por sutiãs, posto s e m form a por corp et e s esp e ci ais ou<br />

simpl e s m e n t e quan d o a mulh er aperta os braç o s por baixo<br />

deles e se exib e. Até m e s m o o acintura m e n t o <strong>da</strong> roupa serv e<br />

e m parte para ac e ntuar o busto. Jóias tais co m o broch e s e<br />

colar e s apo nta m para as precio sid a d e s que estã o abaixo. Para<br />

muitos ser e s do sexo m a s c ulin o, mais excitante que o peito nu<br />

que se ofer e c e é a sug e st ã o de que eles pod eria m m er e c e r<br />

visão tão gen er o s a . Neste sentido, as resval adiç a s mulh er e s<br />

que usa m vestido s dec otad o s ag e m de form a igual m e nt e hábil<br />

e (se mi) con s ci e nt e.<br />

Assim co m o as mulh er e s se m pr e tivera m a tend ê n ci a de<br />

e m pr e g ar seus seio s, por naturez a pro e mi n e nt e s , no jogo<br />

social, os ho m e n s jam ais o quis er a m evitar. São quas e<br />

exclusiva m e n t e ho m e n s que, no que diz resp eito ao s seios,<br />

deter min a m os ca min h o s muito retilíne o s <strong>da</strong> m o d a. Os seio s,<br />

co m sua ma ci ez e flexibili<strong>da</strong>d e, são a regiã o do corpo que<br />

m e n o s resistên ci a ofer e c e . Esse con h e ci m e n t o , adquirido de<br />

man eira intuitiva pelo be b ê , se m pr e foi usad o pelo s ho m e n s<br />

para con q uistar to<strong>da</strong> a mulh er por mei o dos seios.<br />

Enquanto as mulh er e s e m geral "pulam no pes c o ç o " dos<br />

ho m e n s 73 , os ho m e n s co stu m a m voar para o peito. Sua suav e<br />

form a se mi- esféric a é talvez forte m e n t e resp o n s á v e l pela<br />

prefer ê n ci a que, tam b é m mais tarde na vi<strong>da</strong>, tem o s por to<strong>da</strong> s<br />

as cois a s arred o n d a d a s . Nele na<strong>da</strong> rep el e, sen d o tudo atraent e<br />

e enc a nta d o r. Sendo assi m, tanto e m form a s de expres s ã o<br />

exig e nt e s co m o nas mais m o d e s t a s , ele é circund a d o por<br />

37<br />

1


imag e n s que corresp o n d e m à sua perfeita form a redond a.<br />

Entre as frutas, a ma ç ã é esp e ci al m e n t e solicita<strong>da</strong> e m relaç ã o<br />

a isso, às vez e s tam b é m as pêras. Para os m a mil o s, serv e m<br />

de m o d el o as fram b o e s a s e os m or an g o s , ou entã o os botõ e s<br />

<strong>da</strong>s flores. Enquanto os húng ar o s falam de botõ e s tam b é m na<br />

linguag e m colo quial, os ale m ã e s não se acanha m e m falar de<br />

verrug a s [Warz e n ].<br />

Com isso, faz- se refer ê n ci a a algo rep el e nt e, repug n a nt e<br />

m e s m o , que nós na ver<strong>da</strong>d e co stu m a m o s relacio n ar co m as<br />

bruxas velha s e má s. Quem go staria de colo c ar uma verrug a<br />

na bo c a? Essa desig n a ç ã o pod e ser uma relíquia dos temp o s<br />

<strong>da</strong> Inquisiçã o, aqu el a projeç ã o de loucura coletiva que via<br />

bruxas m á s e sedutor a s esp e ci al m e n t e nas mulh er e s<br />

atraent e s . O m o vi m e n t o feminista des c o b riu es s a tem átic a e,<br />

des s e lado, fala- se por princípio nas pérolas do peito. A palavra<br />

verrug a, nes s e contexto, per mite presu mir que e m ale m ã o as<br />

atitude s incon s ci e nt e s neg ativa s e m relaç ã o à feminili<strong>da</strong>d e<br />

ma dur a pred o m i n a m . Estas tam b é m têm sua tradiçã o na<br />

história. Na I<strong>da</strong>de Média, os fanático s religios o s xingav a m o<br />

dec ot e de "janela do inferno", e os seio s de "foles do diab o" ou<br />

"bolas do diab o". Até m e s m o a política se ocup av a dos seio s<br />

excitante s, e ch e g ar a m até nós decr et o s dirigido s contra sua<br />

"verg o n h o s a exibiçã o". Naquela ép o c a tentou- se,<br />

esp e ci al m e n t e nos país e s católico s, prev e nir o perigo s o<br />

des e n v olvi m e nt o dos seio s e m geral, por exe m pl o colo c a n d o<br />

so br e eles pes a d o s pratos de chu m b o à noite.<br />

O peito feminino é de long e o órgã o sexual secun d ári o e o<br />

cha m a riz óptico mais important e. Ele é ampla m e n t e utilizado<br />

nes s a funçã o, e às vez e s explorad o . São so br etud o as<br />

industrias de cine m a am eric a n a e italiana que destac a m as<br />

"estrelas ch eias de curvas" que faze m os cora ç õ e s dos ho m e n s<br />

bater e m m ais rápido. As mulh er e s são reduzi<strong>da</strong> s a três cifras,<br />

sen d o que o busto ocup a o lugar mais importante. Assim, o<br />

peito evident e m e n t e torna- se o órg ã o pelo qual a mulh er<br />

nec e s s a ria m e n t e se deixa definir e pelo qual muitas vez e s<br />

tam b é m se autod efin e. Em um a ép o c a digital, um a cifra é<br />

37<br />

2


suficiente. Ânimo s m ais fora de m o d a ain<strong>da</strong> define m seu ideal<br />

de man eira mais des critiva. Os seio s entã o dev e m ser be m<br />

form a d o s , firme s e de tam a n h o m é di o. Caso seja m muito<br />

pequ e n o s , são degr ad a d o s co m o aus e nt e s , e quan d o são<br />

grand e s de m ai s pas s a m a ser con sid er a d o s um a provo c a ç ã o ,<br />

juntam e nt e co m sua proprietária. É difícil para nós con c e b e r<br />

que existe m culturas que têm outro ideal e que, por exe m pl o,<br />

dão prefer ê n ci a ao s "peitos caído s", que lá são sím b ol o s de<br />

ma dur ez, fertili<strong>da</strong>d e e de um a vi<strong>da</strong> muito be m vivi<strong>da</strong>.<br />

Na Alem anha, a fórmula simpl e s que se es c o n d e por trás <strong>da</strong><br />

definiçã o digital é que quanto maior o busto, m ais<br />

(sexual m e nt e) excitante é a mulh er. Trata- se de uma<br />

sexuali<strong>da</strong>d e co m forte orla mat ern al. O "con quistad or<br />

ma s c ulino" pod e es c o n d e r- se e m tais seio s e deixar- se mi m ar<br />

por eles co m o quan d o era be b ê . É nes s e sentido que o<br />

sinto m a do fetichis m o dos seio s pod e ser interpretad o . Tais<br />

ho m e n s procura m a m ã e na mulh er, m ais que para a<br />

satisfaç ã o genital m adur a, para <strong>da</strong>r- lhes co b ertura e m o ci o n al,<br />

abrigo e proteç ã o e, junta m e nt e co m isso, a mulh er pod er o s a .<br />

que a infantil cultura norte- am eric a n a, que vai <strong>da</strong> co mi<strong>da</strong> ao<br />

per m a n e n t e jogo de índios e co w b o y s e pas s a por Mickey<br />

Mouse, se desta q u e tam b é m aqui, é tão pouc o de ad mirar<br />

co m o a prefer ê n ci a italiana corresp o n d e n t e . Classic a m e n t e , a<br />

ma m m a italiana tem seio s fartos e colo c a- se inteira m e nt e à<br />

dispo siç ã o de suas crianç a s , grand e s e pequ e n a s .<br />

Vários proble m a s co m o peito e co m os seios se<br />

des e n v olv e m a partir <strong>da</strong> valoraç ã o social, m a s tam b é m do<br />

resp e ctivo am bi e nt e individual. A silhueta ideal está e m bo a<br />

parte sub m e tid a ao go sto de cad a ép o c a . Se na vira<strong>da</strong> do<br />

sécul o a de m a n d a ain<strong>da</strong> era por silhueta s arred o n d a d a s e mais<br />

gen er o s a s , hoje e m dia ped e- se um a linha es g uia. A imag e m<br />

ideal <strong>da</strong> estrela ch eia de curvas difundi<strong>da</strong> por Hollywo o d era a<br />

<strong>da</strong> mulh er es b elta co m seio s grand e s . O ideal Twiggy, um a<br />

silhueta de rapaz pratica m e n t e se m seios, já fez furor no<br />

mund o antigo. Nesta varied a d e de ideais, os probl e m a s não<br />

pod e m ficar de fora. De fato nen hu m órgã o, incluindo o nariz, é<br />

37<br />

3


op er a d o tão freqü e nt e m e n t e se m nec e s si d a d e m é dic a co m o o<br />

peito (glândulas ma m á ri a s) feminin o. Ao m e s m o tem p o ,<br />

entretanto, tam b é m nenhu m órg ã o feminin o é op er a d o co m<br />

mais urgên ci a e nec e s si d a d e , já que o carcin o m a <strong>da</strong> ma m a é o<br />

cân c er mais freqü e nt e nas mulh er e s .<br />

Câncer de mama<br />

O cân c er de m a m a não só é o cân c er feminin o m ais<br />

freqü e nt e co m o é tam b é m o mais angu stiante. Quando algo tão<br />

duro e tão m align o cres c e de m an eira tão palpáv el no lugar<br />

mais belo e m ais ma ci o, provo c a ain<strong>da</strong> mais horror. Os<br />

princípio s enun ciad o s no capítulo geral so br e cân c er são<br />

válido s para o sinto m a e m geral. A localizaç ã o e o significad o<br />

esp e ci al do órgã o e m que st ã o traze m o plano do<br />

ac o nt e ci m e n t o para si. Quando o suav e tecido glandular <strong>da</strong><br />

ma m a , e m vez do natural ac o n c h e g o e prazer que prop orci o n a<br />

torna- se duro e malign o, os tem a s <strong>da</strong> mat erni<strong>da</strong>d e , do prazer e<br />

do relacio n a m e n t o são enun ciad o s e fornec e m a bas e do<br />

dra m a. "Aquilo" atingiu a afetad a no lugar m ais sen sív el, nas<br />

proximi<strong>da</strong>d e s do coraç ã o , e ela o guar<strong>da</strong> para si, não deixand o<br />

que ningu é m perc e b a o quanto está feri<strong>da</strong> e zang a d a. O corp o,<br />

portanto, precis a m o strar o que está real m e nt e ac o nt e c e n d o . E<br />

é o inferno que pulsa e m seu seio, o coraç ã o tornad o<br />

literalm e nt e antro de ass a s si n o s .<br />

Ao lado do asp e ct o <strong>da</strong> sen sibili<strong>da</strong>d e, o peito, devid o à sua<br />

form a, tem um caráter destac a d o tam b é m na sexuali<strong>da</strong>d e , e<br />

portanto é enun ciad o tam b é m o co m p o n e n t e agr e s siv o do<br />

erotis m o .<br />

A fase do colap s o do siste m a imun oló gi c o e, co m ele, a <strong>da</strong><br />

irrupçã o <strong>da</strong> do e n ç a propria m e n t e dita está, no cas o do cân c er<br />

de m a m a , marc a d a por um a profun<strong>da</strong> preo c up a ç ã o que a<br />

afetad a não ad mite e m to<strong>da</strong> a sua env er g a d ur a. Ela se aflige<br />

co m algo muito m ais do que ad mite, ap ertan d o- o e m seu peito<br />

não para tê- lo m ais perto, m a s para ocultá- lo. Ela não grita o<br />

quanto está preo c up a d a ou zang a d a co m o ultraje ou o<br />

37<br />

4


ferim e nt o infligido, tend e n d o a con s erv á- lo e m seu seio, ond e<br />

ele pod e en c arn ar- se e transfor m ar- se e m cân c er.<br />

Aquilo que pare c e res erv a altruísta e que às vez e s é<br />

con sid er a d o e m al interpretad o co m o sen d o co m pr e e n s ã o , é<br />

muito mais a angústia de atac ar e de acus ar, de lutar pelo s<br />

próprios interess e s . Muitas vez e s o orgulho tam b é m imp e d e<br />

uma oportun a erupç ã o . A mat erni<strong>da</strong>d e sacrificad a está<br />

esp e ci al m e n t e distante do eg oís m o , que é portanto<br />

con s ci e nt e m e n t e reprimido. Mas ele volta a se exprimir no<br />

corp o, e justa m e nt e no lugar ond e a ver<strong>da</strong>d eir a m ei guic e e a<br />

co m pr e e n s ã o mat ern al vive m (para tudo). Não se pod e dizer<br />

na<strong>da</strong> contra es s e s elev a d o s ideais, ap en a s que a afetad a<br />

evid e nt e m e n t e (ain<strong>da</strong>) não está e m condiç õ e s de viver es s e<br />

objetivo se m res erv a s . A res erv a não ad miti<strong>da</strong> se en c arn a e<br />

deixa ver quanta en er gia infernal estav a ador m e c i d a no próprio<br />

seio e ag or a está des p erta. To<strong>da</strong> a agre s sivi<strong>da</strong>d e , en er gi a<br />

destrutiva, avidez e falta de con sid er a ç ã o irromp e ag or a no<br />

plan o do corp o.<br />

Os m a ci o s tecido s alim e ntad o r e s do peito, cuja tarefa é <strong>da</strong>r,<br />

cui<strong>da</strong>r e alim e ntar, torna m - se eg oí stas a um ponto que a<br />

afetad a jam ais gostaria con s ci e nt e m e n t e de ser. O corp o, co m<br />

isso lhe retira algo que ela recus a, não porqu e não o tenha mas<br />

porqu e não o assu m e ou não o ad mite.<br />

Tam b é m no que se refer e ao peito co m o órgã o de<br />

relacion a m e n t o , no cân c er de m a m a a agre s sivi<strong>da</strong>d e m er gulha<br />

igual m e nt e na so m b r a. Muitas vez e s o cân c er, na form a de<br />

reentrân ci a s <strong>da</strong> pele, mo stra que a afetad a desistiu <strong>da</strong> iniciativa<br />

e optou pelo rec olhi m e nt o. O rec olhi m e nt o, entretanto, não é<br />

indicad o no plano corp or al, m a s unica m e n t e no aní mic o, e<br />

m e s m o assi m so m e n t e no sentido de recup er a ç ã o <strong>da</strong> religio.<br />

Com o órgã o pro e m i n e nt e, se m el h a nt e ao nariz, cab eria ao<br />

peito, entre outras cois a s, ser agr e s siv o. O quanto es s e<br />

co m p o n e n t e é important e pod e ficar claro pelo fato de es s e s<br />

órg ã o s ser e m de long e os que mais são m o dificad o s<br />

cirurgica m e n t e , evid e nt e m e n t e para pod er salientar m elh or as<br />

quali<strong>da</strong>d e s dirigi<strong>da</strong>s para o exterior.<br />

37<br />

5


O ele m e n t o agre s siv o não vivido con s ci e nt e m e n t e expres s ase<br />

tanto no surgi m e nt o do cân c er co m o nas terapias corrent e s .<br />

Quando os nódulos, que e m si são se m pr e um sím b ol o de<br />

probl e m a s não solucion a d o s , são extirpad o s cirurgica m e n t e<br />

co m o bisturi, não é pos sív el deixar de rec o n h e c e r a agr e s s ã o ,<br />

que ch e g a a ser san gr e nt a. Mas as irradiaç õ e s ricas e m<br />

en er gi a tam b é m irradia m agre s sivi<strong>da</strong>d e , já que m ata m muitas<br />

células saud á v ei s junta m e nt e co m as can c erí g e n a s . O m e s m o<br />

é válido para a quimiot er apia, cujo tipo de agre s sivi<strong>da</strong>d e<br />

diab ólic a li<strong>da</strong> co m o env e n e n a m e n t o e o bloqu ei o e é o que<br />

sim b olic a m e n t e se enc o ntra m ais próxim o do cân c er. Esse s<br />

m ét o d o s repulsivo s colo c a m e m jogo algo que falta ao pacient e<br />

de cân c er. Caso ele o integrass e e m sua con s ci ê n ci a, pod eria<br />

libertar o princípio de sua existên cia de so m b r a corp oral e<br />

livrar- se <strong>da</strong> am e a ç a .<br />

Na mitolo gia há um m otivo que se aproxim a des s e<br />

ac o nt e ci m e n t o . Pentes siléia, a rainha <strong>da</strong>s am az o n a s , amputa o<br />

seio direito para m elh or pod er estirar seu arc o na luta, ou seja,<br />

para fazer bonito e m um mun d o de ho m e n s . Seguindo seu<br />

exe m pl o, as am az o n a s pas s a m a mutilar o peito de suas filhas<br />

para equip á -las m elh or para a luta pela vi<strong>da</strong> e para ser e m<br />

co m o ho m e n s ao m e n o s do lado direito. Elas renun cia m de<br />

livre e esp o ntân e a vontad e a um a parte de sua feminili<strong>da</strong>d e<br />

porqu e ela m et e u- se e m seu ca minh o e as imp ed e de enfrentar<br />

a dura vi<strong>da</strong>.<br />

O cân c er de ma m a sinaliza igual m e nt e que a suav e m an eir a<br />

feminina tornou- se um e m p e c ilh o para o do mínio <strong>da</strong> vi<strong>da</strong>. Ele<br />

m o stra que a suavi<strong>da</strong> d e se transfor m a e m durez a e que, se as<br />

circunstânci a s o per mite m , é precis o renun ciar totalm e nt e a<br />

uma parte <strong>da</strong> feminili<strong>da</strong>d e. O que não ac o nt e c e e m sentido<br />

figurad o torna- se e m algu m m o m e n t o tarefa do cirurgião, que<br />

extirpa o que está no ca min h o (<strong>da</strong> vi<strong>da</strong>). que m não está<br />

dispo st o a proc e d e r às incisõ e s nec e s s á ria s e m sua vi<strong>da</strong>,<br />

precis a finalm e nt e per mitir que elas seja m feitas no plano não<br />

redimid o.<br />

A tarefa de abrir mã o (temp or aria m e n t e) de certo s âm bito s<br />

37<br />

6


<strong>da</strong> vi<strong>da</strong> para atend er a outros que ne m de long e estã o<br />

rec e b e n d o a aten ç ã o devi<strong>da</strong> quer dizer, nest e cas o , ab and o n ar<br />

o reino <strong>da</strong>s mã e s , o mun d o <strong>da</strong> Lua. Isso pod e significar, por<br />

exe m pl o: desistir de dep e n d ê n ci a s ; renun ciar a garantias de<br />

be m - estar m at erial liga<strong>da</strong> s a condiç õ e s contrárias ao<br />

des e n v olvi m e nt o; ab and o n ar o pap el de "bo a esp o s a", am a nt e<br />

tolerant e e per m a n e n t e m e n t e e m se gund o plan o, "filha<br />

queri<strong>da</strong>", m ã e co m pr e e n s i v a" a que m tudo agra<strong>da</strong>, enterrar e m<br />

sentido figurad o e de livre e esp o nt ân e a vontad e a casinh a<br />

co m lareira; aba n d o n a r a postura de princ e sin h a do ped a ç o ;<br />

deixar m orr er a m e nin a privilegiad a de bo a família; ab and o n ar<br />

a mã e igreja em prol do próprio ca minh o , etc.<br />

O cân c er é fun<strong>da</strong> m e n t al m e n t e um sinal de que não se trilha<br />

ou não se está m ais trilhand o o próprio ca min h o de<br />

des e n v olvi m e nt o , que o nas ci m e n t o <strong>da</strong> alm a não está se<br />

con s u m a n d o . O cân c er resp e ctivo m o stra à pes s o a e m que<br />

ponto do can al de nas ci m e n t o se ficou atas c a d o . Em se<br />

tratand o do peito, arranh a- se o sen sív el âm bito <strong>da</strong> mat erni<strong>da</strong>d e<br />

e, co m isso, to<strong>da</strong> a probl e m á tic a de cui<strong>da</strong>r e ser cui<strong>da</strong>d o, de<br />

alim e ntar e ser alim e ntad o , de am a m e n t ar e ser am a m e n t a d o ,<br />

de prov er e ser provido. Portanto, não é de ad mirar que nas<br />

pacient e s de cân c er de m a m a , quas e se m exc e ç ã o ,<br />

en c o ntr e m o s relacio n a m e n t o s esp e ci ais de mat erni<strong>da</strong>d e ,<br />

des d e inexistent e s, pas s a n d o pelo s que são neg a d o s , até<br />

"exc e p ci o n al m e n t e profund o e bo m ". É nes s e contexto que se<br />

dev e pen s ar tam b é m no que se refer e à racha dur a do ma milo,<br />

um sinal de alerta para o cân c er de ma m a que afeta no míni m o<br />

10 % <strong>da</strong>s paci ent e s . As glândulas m a m á ria s co m e ç a m a<br />

produzir leite e indica m que o tem a <strong>da</strong> alim e nta ç ã o e <strong>da</strong><br />

am a m e n t a ç ã o m er gulh o u na so m b r a.<br />

Com o sím b ol o <strong>da</strong> maci ez e <strong>da</strong> m ei guic e, enun cia- se tam b é m<br />

co m o peito a tem átic a do mant er e ser mantido, <strong>da</strong><br />

vulnera bili<strong>da</strong>d e e do m artírio, do insulto e <strong>da</strong> sen sibili<strong>da</strong>d e. O<br />

peito, co m o órgã o de relacion a m e n t o , colo c a perigo s a m e n t e<br />

e m cen a os tem a s do rec olhi m e nt o e do estar- fora- de- si, <strong>da</strong><br />

atraç ã o e <strong>da</strong> sedu ç ã o , do oculta m e nt o e do des afio.<br />

37<br />

7


Em tudo isso, o objetivo justa m e n t e não é fazer "o certo", "o<br />

que é bo m" ou "o que se esp er a", mas des c o b rir e impor aquilo<br />

que é próprio, individual. Ca<strong>da</strong> ca minh o de des e n v olvi m e n t o é<br />

único, ain<strong>da</strong> que sua m eta, a uni<strong>da</strong>d e, seja idêntica à de todo s<br />

os outros ca min h o s . Em última instân cia, é precis o realizá- lo,<br />

ma s ante s dev e real m e nt e entrar e m jogo o am or co m o<br />

liberaç ã o <strong>da</strong> tem átic a do cân c er. Esse am or não tem<br />

evid e nt e m e n t e na<strong>da</strong> a ver co m ser am á v el. Antes de ch e g ar a<br />

es s e ponto, e m que a mulh er é uma co m tudo e co m todo s,<br />

justa m e nt e é precis o deixar claro que ela não está de ac ord o<br />

co m tudo, m a s que tem a intenç ã o de trilhar seu próprio<br />

ca min h o . Para isso ela precis a entã o, temp or aria m e n t e , fazer<br />

pouc o <strong>da</strong> suavi<strong>da</strong>d e , <strong>da</strong> flexibili<strong>da</strong>d e, <strong>da</strong> cap a ci<strong>da</strong>d e de<br />

a<strong>da</strong>pta ç ã o e dos outros atributos típico s <strong>da</strong> feminili<strong>da</strong>d e. É<br />

certa m e n t e mais saud á v el renun ciar a isso de livre e<br />

esp o nt â n e a vontad e e m deter min a d a s fase s <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> que<br />

precis ar renun ciar ao sím b ol o des s e s traç o s feminino s típico s,<br />

o peito.<br />

Caso o peito já tenha sido perdido nes s e ajuste de conta s,<br />

torna- se claro entã o o que a mulh er tinha nele. Perdeu- se<br />

muito m ais que um órgã o. Vai-se tam b é m um sím b ol o e, co m<br />

ele, um a parte do sentim e nt o de valor próprio. Quando uma<br />

mulh er não se sent e mais um a mulh er de ver<strong>da</strong>d e apó s a<br />

am puta ç ã o , ela sentia- se mulh er so br etud o por m ei o de seu<br />

corp o. No futuro, ela será forçad a a não mais se definir<br />

unica m e n t e segun d o a feminili<strong>da</strong>d e corp or al. Outros conteúd o s<br />

vitais quer e m ser aten did o s .<br />

Mulheres que sacrificara m um ou até m e s m o os dois seio s<br />

ao cân c er e so br e viv er a m muitos ano s à am puta ç ã o relata m<br />

impres si o n a d a s co m o suas vi<strong>da</strong>s se m o dificara m ,<br />

principal m e nt e no sentido do conteú d o . O mito <strong>da</strong>s am az o n a s<br />

pod e deixar transp ar e c e r aqui um pan o de fundo. Assim, a<br />

per<strong>da</strong> pod e transfor m ar- se e m oportuni<strong>da</strong>d e para enc o ntrar<br />

uma nova identi<strong>da</strong>d e individual. Um conteúd o vital central<br />

con sig o m e s m o e que tem pouc o a ver co m os outros precis a<br />

entrar na vi<strong>da</strong>.<br />

37<br />

8


Aqui pod e ficar claro por que o cân c er de m a m a tornou- se o<br />

cân c er feminin o m ais freqü e nt e. Sua taxa de cres ci m e n t o é<br />

impres si o n a nt e. Enquanto m e n o s de 30 e m cad a 100 mil<br />

mulh er e s m orria m de cân c er de m a m a na República Fed er al<br />

Alemã e m 19 6 1 , e m 1 9 8 5 já era m mais de 40. Essas cifras<br />

torna m- se ain<strong>da</strong> mais assustad or a s quan d o se pen s a que o<br />

siste m a de rec o n h e c i m e n t o prec o c e 74 já tinha obtido êxito<br />

co m pl et o e a op er a ç ã o per mitia a quas e 90 % <strong>da</strong>s mulh er e s<br />

so br e viv er ao s 5 ano s se g uintes se m rec aí<strong>da</strong>. O en or m e índic e<br />

de cres ci m e n t o tem evid e nt e m e n t e a ver co m um a<br />

probl e m á tic a que ve m se acu m ul and o e m noss a so ci e d a d e<br />

m o d e r n a. As glândulas m a m á ria s, de qualqu er form a, nunc a<br />

fora m um órg ã o esp e ci al m e n t e prop e n s o ao cân c er. Com o já<br />

foi m e n ci o n a d o , há culturas que não con h e c e m es s e au m e nt o<br />

<strong>da</strong> incidên ci a de cân c er e, con s e q ü e n t e m e n t e , es s e aum e nt o<br />

<strong>da</strong> incidên ci a de cân c er <strong>da</strong> m a m a . No cas o do peito, trata- se<br />

natural m e nt e de tecido s declara d a m e n t e sen sív ei s. Por outro<br />

lado, eles existe m tam b é m na bo c a. Aqui se dev eria so m ar<br />

ain<strong>da</strong> o contato co m um se m - núm er o de substânci a s<br />

can c erí g e n a s . Apesar diss o, há muitíssi m o m e n o s cân c er nas<br />

muc o s a s <strong>da</strong> bo c a. Nas vac a s leiteiras, que sofre m de<br />

inflam a ç õ e s do úb er e co m maior freqü ê n ci a que as mulh er e s<br />

sofre m de inflam a ç õ e s <strong>da</strong>s glândulas m a m á ria s, o cân c er<br />

nes s a regiã o é des c o n h e c i d o .<br />

Ao se busc ar a situaç ã o esp e c ífica, não é difícil des c o b rir a<br />

neglig ê n ci a do ca minh o feminino próprio, que não precis a ter<br />

na<strong>da</strong> a ver co m o ideal feminino e m vog a e que requ er muito<br />

mais durez a e força do que muitos con sid er a m correto. Neste<br />

contexto, en c aixa- se tam b é m o fato de que as freiras são<br />

afetad a s pelo cân c er de m a m a co m um a freqü ê n ci a aci m a <strong>da</strong><br />

m é di a. Fica e m susp e n s o sab er e m que m e di<strong>da</strong> a voc a ç ã o<br />

religios a vai contra o ca min h o feminin o. Provav el m e n t e são<br />

afetad a s justa m e n t e aqu el a s freiras que não estã o se guind o<br />

seu ca minh o porqu e não se g u e m uma voc a ç ã o ver<strong>da</strong> d eira,<br />

tend o sido e m p urrad a s para o conv e nt o pela vi<strong>da</strong>. E talvez<br />

tam b é m aqu el a s que real m e nt e ouvira m um cha m a d o m a s<br />

37<br />

9


dep ois perd er a m contato co m o ca min h o m o n á stic o e m e s m o<br />

assi m per m a n e c e r a m . Assim co m o a vi<strong>da</strong> m o n á stic a mal<br />

utiliza<strong>da</strong> para a fuga pro m o v e o cân c er, ela pod e tam b é m<br />

imp e di- lo na m e di<strong>da</strong> e m que leva a mulh er ao ca min h o que lhe<br />

corre s p o n d e .<br />

Pesquis a s epid e m i ol ó gi c a s conten d o a distribuiçã o <strong>da</strong><br />

do e n ç a entre a populaç ã o rev ela m outras relaç õ e s<br />

interes s a nt e s . Enquanto as freiras ado e c e m de cân c er <strong>da</strong><br />

ma m a co m freqü ê n ci a aci m a <strong>da</strong> m é di a, as mulh er e s que<br />

tivera m m ais crianç a s quan d o joven s são as m e n o s afetad a s .<br />

Se elas já tinha m mais de 25 ano s por oc a si ã o do parto, o risco<br />

volta a subir. Mulheres que só têm filhos dep ois dos 30 pas s a m<br />

a correr mais risco que as que não têm filhos. Naturalm e nt e,<br />

não faz o m e n o r sentido esta b el e c e r plan o s de família co m<br />

bas e nes s a s estatística s. Isso seria co m pr e e n d e r mal o sentido<br />

caus al <strong>da</strong>s estatística s. Por outro lado, elas têm um caráter<br />

indicativo bastant e confiáv el. Logo, ter filhos prec o c e m e n t e<br />

continua sen d o decisivo para a auto- realizaç ã o de muitas<br />

mulh er e s , en quant o ter filhos m ais tarde pod eria ser um a<br />

exig ê n ci a que ve m de fora ou uma con sid er a ç ã o racion al. A<br />

isso corresp o n d e m exp eriên ci a s <strong>da</strong> psicoter apia ond e não é<br />

raro con statar que, so b a sup erfície de um estilo de vi<strong>da</strong><br />

m o d e r n o , continua m viven d o ideais e padrõ e s prim e v o s . As<br />

interpreta ç õ e s <strong>da</strong>s estatística s são se m pr e m elindr o s a s ,<br />

esp e ci al m e n t e co m um tem a des s e s e e m um a ép o c a tão<br />

en g ajad a nes s e sentido. Fun<strong>da</strong> m e n t al m e n t e , pod e- se con statar<br />

que ap e s ar de to<strong>da</strong>s as indicaç õ e s quanto à importân cia do<br />

ca min h o próprio, não se pod e seguir de man eira geral os<br />

grand e s rastro s do m o vi m e n t o de e m a n cip a ç ã o . Este contribuiu<br />

talvez co m aqu el e que é o m ais importante profilático do cân c er<br />

de ma m a <strong>da</strong>s ultimas déc a d a s , já que abriu novo s esp a ç o s<br />

(livres) e pos sibili<strong>da</strong>d e s para as mulh er e s . Mas à m e di<strong>da</strong> que<br />

obtev e pod er, lanç o u um a so m b r a so br e si m e s m o . A<br />

prev e n ç ã o do cân c er de ma m a seria um estimulo para o<br />

ca minh o fe minino próprio. O ac e nt o aqui está igual m e nt e<br />

distribuído entre próprio e feminin o, m a s o m o vi m e n t o<br />

38<br />

0


feminista, usand o palavra s de orde m legítim a s e m suas<br />

ban d eira s, anim a cad a vez mais as mulh er e s a se impor e m<br />

co m o ho m e n s , des v al orizan d o assi m, se m intenç ã o , o ca min h o<br />

feminin o. Onde crianç a s , cozinha e igreja transfor m a m - se e m<br />

palavras pejorativas, torna- se difícil para muitas mulh er e s<br />

en c o ntrar e valorizar seu ca min h o . Esses âm bito s tem átic o s<br />

estã o anc or a d o s mais profun<strong>da</strong> m e n t e do que agrad a ao s<br />

defen s o r e s do espírito <strong>da</strong> ép o c a.<br />

É pratica m e n t e impo s sí v el en c o ntrar um perfil esp e c ífic o de<br />

pers o n ali<strong>da</strong>d e pred e stin ad a ao cân c er de ma m a . A con st el a ç ã o<br />

de probl e m a s é tão individual co m o o ca min h o . O tem a do<br />

ca min h o ab and o n a d o ou não enc o ntrad o ou de qualqu er form a<br />

não trilhad o transp ar e c e , so b uma form a ou outra, quas e<br />

se m pr e. No que se refer e à m at erni<strong>da</strong>d e , os nódulos que<br />

cres c e m indica m que aqui algo está cres c e n d o e m sub stituiçã o<br />

à mat erni<strong>da</strong>d e genuín a, algo frio e perigo s o . A afetad a pod e<br />

ser integral m e nt e mã e, tal co m o apar e c e nos livros. Quando o<br />

ser m ã e não está e m seu coraç ã o e ela des e m p e n h a para o<br />

mund o o pap el de m ã e de livro ilustrad o, este não é seu<br />

ca min h o e se transfor m a em um perigo. Em seu mod o altruísta,<br />

o am or mat ern o é um a reprodu ç ã o do am or cele st e. Quando<br />

ve m do coraç ã o , ele é um rem é di o milagr o s o , m a s quan d o<br />

so m e n t e imita nor m a s sociais, pod e custar a vi<strong>da</strong>. A mulh erm<br />

o d el o que está inteira m e n t e satisfeita con sig o m e s m a e co m<br />

seu co m p a n h eir o pod e ter o m e s m o probl e m a por se aproxi m ar<br />

tanto do ideal feminin o. Mas quan d o ele não corresp o n d e a seu<br />

ideal interno, sua vi<strong>da</strong> m o d el ar tam b é m pod e ser susp eita de<br />

cân c er. Até m e s m o a mulh er agre s siva, que apar e nt e m e n t e<br />

so m e n t e busc a aquilo que a diverte, não está auto m atic a m e n t e<br />

segur a. Quem des e m p e n h a o pap el de va m p e co m tanto êxito<br />

se m sê- lo está e m perig o co m o o rato cinzento que gostaria de<br />

ser va m p e e não se atrev e. A mulh er m o d er n a, que se<br />

"em a n cip a" porqu e hoje isso faz parte, ma s que son h a co m o<br />

clás sic o pap el de ser- so m e n t e- mã e há muito des c artad o pelo<br />

espírito <strong>da</strong> ép o c a, faz igual m e nt e parte do grupo de risco.<br />

To<strong>da</strong> s as m e di<strong>da</strong>s extern a s a resp eito dos padrõ e s ditado s<br />

38<br />

1


pela so ci e d a d e são prec árias, pois quas e nunc a corre s p o n d e à<br />

man eira própria. Mas que m não corresp o n d e à sua própria<br />

man eira de ser vive perigo s a m e n t e . O perig o é que sua<br />

deg e n e r a ç ã o , este sair <strong>da</strong> própria esp é ci e, m er g ulh a no corp o<br />

e, nes s e plan o, revi<strong>da</strong> contra ela m e s m a . Cons e q ü e n t e m e n t e ,<br />

a m elh or profilaxia contra o cân c er é um a vi<strong>da</strong> corajo s a, ou<br />

seja, trilhar o ca minh o individual rum o à singulari<strong>da</strong>d e . O<br />

ca min h o é perfeita m e n t e individual, m a s a m eta é supraindividual<br />

e perfeita.<br />

O rabino has sídic o Susya diss e pouc o ante s de sua m orte:<br />

"Quando eu che g ar ao céu, não vão m e perguntar: por que<br />

voc ê não foi Moisés? Mas eles vão perguntar: por que voc ê<br />

não foi Susya? Por que voc ê não foi aquilo que so m e n t e voc ê<br />

podia ser?".<br />

P er g u nta s<br />

1 Que pap el des e m p e n h a o tem a m ã e e m minha vi<strong>da</strong>?<br />

Espero que cuide m de ruim? Satisfaz- m e cui<strong>da</strong>r de outros?<br />

Qual minh a posiç ã o e m relaç ã o à minha mã e, a ser mã e?<br />

2. Que pap el des e m p e n h a o sustentar para ruim? Por que<br />

razõ e s eu sustento? Com que sentim e nt o e a que preç o eu<br />

deixo que me sustent e m ? Poderia sustentar a ruim mes m a ?<br />

3. Que pap el des e m p e n h a para ruim a auto- suficiên cia, ou<br />

seja, a em a n cip a ç ã o ?<br />

4. Quão agr e s siv o e de m o n s tr ativo per mito que m e u peito<br />

seja? Atrevo- m e a usá- lo co m o sinal?<br />

5. Encontrei m e u ca minh o co m o mulh er? Estou<br />

progr e din d o nele?<br />

6. Isso que vivi até ag or a foi minh a vi<strong>da</strong>? Isso que vejo vir<br />

e m minh a direç ã o é minha vi<strong>da</strong>?<br />

7. Para ond e vai m e levar? Qual é m eu son h o ? Qual é<br />

minh a m eta?<br />

38<br />

2


11<br />

O Ventre<br />

Após ter interpretad o exten s a m e n t e a vi<strong>da</strong> interna do ventre<br />

no livro Pro bl e m a s dige stiv o s 75 , resta interpretá- lo co m o regiã o.<br />

Localizad o entre o peito e a bacia, ele proteg e muito m e n o s<br />

que este s. Com a ereç ã o so br e as perna s tras eiras, ele sofreu<br />

a maioria <strong>da</strong>s des v a nt a g e n s . Quando se ca minhava so br e as<br />

quatro patas, suas tripas ain<strong>da</strong> estav a m real m e nt e protegid a s<br />

na cavi<strong>da</strong>d e abd o m i n al. A co b ertura acim a era feita pela coluna<br />

vertebr al, os m e m b r o s garantia m a segur an ç a dos flanc o s, por<br />

baixo estav a o chã o protetor, a parte frontal era garanti<strong>da</strong> pelo<br />

baluarte <strong>da</strong> caixa torácic a. Ao ficar m o s ereto s, o ventre ficou<br />

ab erto para a frente e ampla m e n t e despr ot e gi d o . Som e nt e a<br />

cap a abd o m i n al, co m seus mús c ul o s long o s e ach atad o s , o<br />

proteg e de ferim e nt o s e imp e d e que as vísc er a s caia m para<br />

fora.<br />

Mas não foi so m e n t e prote ç ã o , o ventre perd e u tam b é m<br />

significad o co m a asc e n s ã o <strong>da</strong> cab e ç a . Baseand o - se na<br />

história dos des e n v olvi m e nt o s individual e <strong>da</strong> esp é ci e,<br />

análo g o s em grand e s traço s, pod e- se ver, pela importân cia que<br />

o ventre tem para o be b ê , que pap el ele dev e ter<br />

des e m p e n h a d o para nos s o s prim eiro s anc e strais. Para a<br />

crianç a pequ e n a , tudo gira ao redor dele e de sua sen s a ç ã o de<br />

vi<strong>da</strong>. Quando ele está quent e e ch ei o, o mund o está e m orde m ,<br />

quan d o ele está vazio e tens o, surg e m sinais de torm e nt a. As<br />

con sid er a ç õ e s <strong>da</strong> cab e ç a ain<strong>da</strong> não des e m p e n h a m pap el<br />

nen hu m , e até m e s m o os estí mulo s do coraç ã o fica m atrás <strong>da</strong>s<br />

sen s a ç õ e s <strong>da</strong> barriga.<br />

Nós e m geral não quer e m o s ter m ais na<strong>da</strong> a ver co m es s a<br />

prim eira fas e <strong>da</strong> história de nos s o des e n v o l vi m e n t o .<br />

Expres s õ e s tais co m o "aterriss ar de barriga" ou "cair de<br />

barriga" m o stra m que retroc e s s o s no temp o, quan d o a vi<strong>da</strong><br />

girava ao redor do ventre, são extre m a m e n t e m alvisto s. Quem<br />

38<br />

3


ag e a partir <strong>da</strong> "barriga vazia" não desfruta de qualqu er<br />

rec o n h e c i m e n t o . A fria cab e ç a distan cia- se do ventre e de suas<br />

exig ê n ci a s des or d e n a d a s e até mes m o caótica s.<br />

Aquelas culturas que, co m o a indian a, confia m nos<br />

sentim e nt o s do ventre e na intuição, fora m aba n d o n a d a s e m<br />

noss o mund o. Preferim o s cha m a r as que so br e vivera m de<br />

primitivas. De fato, os sentim e nt o s e e m o ç õ e s do esp a ç o<br />

abd o m i n al têm algo de primitivo quan d o co m p ar a d o s co m as<br />

diferent e s opiniõ e s e reflexõ e s <strong>da</strong> cab e ç a . Uma en er gia tão<br />

primordial co m o a fom e que abr e ca minh o a partir <strong>da</strong>s<br />

profund ez a s do intestino será nec e s s a ri a m e n t e con sid er a d a<br />

gros s eira e bruta e m co m p ar a ç ã o co m as contribuiç õ e s se m pr e<br />

prontas para a discus s ã o do cér e br o . A ira na barriga é o<br />

co m p a n h eir o mais difícil para a cab e ç a inteligent e.<br />

Se a cab e ç a é a central <strong>da</strong> razã o e o coraç ã o é o centro <strong>da</strong>s<br />

e m o ç õ e s e dos m o vi m e n t o s afetivo s <strong>da</strong> alm a, o ventre é o lar<br />

dos sentim e nt o s e impuls o s primitivo s, infantis por um lado e,<br />

por outro, arcaic o s . O terc eiro chakra, localizad o ab aixo do<br />

umbig o, está ligado à en er gia e ao pod er prim ev o s . Para a<br />

crianç a pequ e n a , seu umbig o ain<strong>da</strong> é o um big o do mund o.<br />

Quando algo a contraria, ela reag e co m dore s de barriga, e se<br />

tudo vai be m ela pod e esfre g ar a barriga de contenta m e n t o . Os<br />

adultos até hoje atribue m ao estô m a g o sentim e nt o s de estar a<br />

salvo e de prote ç ã o so br e os quais não têm do mínio. Uma<br />

angústia profun<strong>da</strong> e incon c e b í v el provo c a dore s de barriga,<br />

probl e m a s intelectuais têm um a con e x ã o direta co m a dor de<br />

cab e ç a e a pres s ã o em o ci o n al ating e so br etud o o coraç ã o .<br />

O que o con d e Dürckhei m Hara cha m o u de o m ei o do<br />

mund o do ser hum a n o , é con sid er a d o de m an eir a geral pelo s<br />

orientais co m o o centro do corp o a partir do qual, por exe m pl o,<br />

eles des e n v o l v e m a en er gi a para as artes marciais. Com isso,<br />

as tradiç õ e s orientais ac eitara m e do min ar a m o des afio surgido<br />

co m o desnu d a m e n t o de nos s o ponto fraco. Para a maioria dos<br />

ocid e ntais, a barriga continua sen d o a parte fraca. Sua<br />

freqü e nt e flacidez gorduro s a a m o stra, assi m co m o a barriga<br />

grávi<strong>da</strong> e a cavi<strong>da</strong>d e abd o m i n al, co m o "local feminino<br />

38<br />

4


primordial" <strong>da</strong> rec e p ç ã o , <strong>da</strong> digestã o e <strong>da</strong> reg e n e r a ç ã o .<br />

Desprote gid o e vulneráv el, o ventre é o lugar do corpo para<br />

expr e s s ar a angú stia existen ci al e a resp e ctiva am e a ç a do<br />

ho m e m e m seu mun d o . O um big o é o teatro <strong>da</strong> prim eira crise<br />

existen ci al grav e <strong>da</strong> vi<strong>da</strong>. Antes ain<strong>da</strong> que a nova pos sibili<strong>da</strong>d e<br />

de provisã o seja testad a, o cordã o umbilical, aqu el a linha de<br />

ab a st e ci m e n t o que garantia as condiç õ e s de país <strong>da</strong>s delicias<br />

no ventre mat ern o , é cortad o. A angú stia de m orr er de fom e,<br />

certa m e n t e um a <strong>da</strong>s m ais prim ordiais de to<strong>da</strong>s, é enun ciad a.<br />

Ao m e s m o temp o, sofre m o s no um big o a prim eira cicatriz<br />

inevitáv el <strong>da</strong> luta pela vi<strong>da</strong>. Caso se tentas s e adiar o corte do<br />

cordã o um bilical, a vi<strong>da</strong> física se veria extre m a m e n t e<br />

incap a citad a, se não am e a ç a d a . A tentativa de adiar o corte do<br />

cordã o um bilical no sentido figurad o leva a proble m a s que<br />

freqü e nt e m e n t e se sedi m e n t a m no estô m a g o ou no duod e n o 75 .<br />

Finalm e nt e, o ventre é tam b é m o arm az é m do corpo e<br />

m o stra as res erv a s mat eriais disponív ei s. Basta um olhar para<br />

a m o d er n a so ci e d a d e do be m - estar e seu proble m a de exc e s s o<br />

de pes o 76 para sab er quanta s pes s o a s gosta m de levar con sig o<br />

todo o nec e s s á ri o. Com o local de aprovision a m e n t o para<br />

ép o c a s de vac a s m a gr a s, a barriga m o stra a confianç a no<br />

futuro mat erial.<br />

Nós não valoriza m o s esta última funçã o, des pr ez a n d o a<br />

barriga por sua prec a u ç ã o arm az e n a d o r a . Quando tem o s bo a<br />

intenç ã o e m relaç ã o a um a pes s o a dize m o s "Erga a cab e ç a!<br />

Não se deixe ab at er!" e ac e ntua m o s o pólo sup erior. Uma<br />

barriga gor<strong>da</strong> e ch eia nos puxa para baixo, e há pouc a s coisa s<br />

que detest e m o s tanto. "Uma barriga cheia não estu<strong>da</strong> direito",<br />

diz a voz popular, e a expr e s s ã o "barriga preguiç o s a " m o stra<br />

definitiva m e n t e a crianç a (não) intelectual que é a barriga.<br />

Torna- se nova m e n t e claro o conflito de interes s e s entre o<br />

sup erior e o inferior. Todo o san g u e que o ventre co m pr o m e t e<br />

para suas ativi<strong>da</strong>d e s digestiva s falta à am bicio s a cab e ç a que<br />

quer estud ar. Preferim o s não ver que a barriga que nos puxa<br />

para baixo tam b é m nos liga à terra.<br />

O que o ho m e m m o d e r n o mais gostaria de ter e m lugar <strong>da</strong><br />

38<br />

5


arriga é um burac o , mús c ul o s abd o m i n ai s rijos que não têm<br />

pratica m e n t e na<strong>da</strong> a es c o n d e r, e ficar e m paz e m relaç ã o ao<br />

mund o inferior, inde c e nt e por definiçã o. Assim, os son s<br />

produzido s pela barriga, por exe m pl o, nos são extre m a m e n t e<br />

repugn a nt e s , en qu a nt o não tem o s na<strong>da</strong> contra aqu el e s do<br />

coraç ã o e até m e s m o valoriza m o s o que sai <strong>da</strong> bo c a, des d e<br />

que tenha a ver co m a digestã o intelectual, e não a con cr et a.<br />

Entretanto, pen a que a barriga res m u n g u e e m defe s a de seus<br />

interes s e s e até m e s m o o intestino se faça notar. O que a<br />

m etad e inferior tem a ofer e c e r não é real m e nt e muito fino. De<br />

qualqu er form a, ain<strong>da</strong> que não seja muito dign o, é<br />

ab s oluta m e n t e sinc er o.<br />

O ho m e m - ventre é o pólo opo st o m e n o s valorizad o do<br />

estetica m e n t e intelectualizad o ho m e m - cab e ç a , que exer c e a<br />

disciplina, tend e à razã o e no pior dos cas o s ao fanatis m o . Isso<br />

está long e do ho m e m - ventre, voltad o para o corp o e o praz er,<br />

que vive de seus pres s e nti m e n t o s e sen s a ç õ e s e para seus<br />

apetites.<br />

1. Herpes- zoster, a zona<br />

Com o, no cas o <strong>da</strong> zona, esta m o s tratand o do m e s m o<br />

quadr o de sinto m a s <strong>da</strong> erisipela facial, o que lá foi dito tam b é m<br />

dev e ser levad o e m con sid er a ç ã o . A infecç ã o secun d ária co m<br />

o vírus <strong>da</strong> varic ela zoster pod e afetar qualqu er um, pois<br />

pratica m e n t e todo s entrara m e m contato co m a varic ela,<br />

tam b é m cha m a d a de catap or a. Os ag e nt e s caus a d o r e s não<br />

ab and o n a m o corp o apó s a inofen siva do e n ç a infantil, ma s se<br />

entrinch eira m nas raízes posterior e s dos nervo s <strong>da</strong> m e d ul a<br />

espinh al. Sendo assi m, so m e n t e na áre a do tronc o há 3 1 pares<br />

de nervo s por cuja área de difusã o eles pod e m esp alh ar- se. A<br />

principal localizaç ã o do ataqu e dos vírus está acim a <strong>da</strong> linha <strong>da</strong><br />

cintura, e a faixa etária en c o ntra- se entre os 50 e os 70 ano s<br />

de i<strong>da</strong>d e.<br />

38<br />

6


A inflam a ç ã o co m e ç a e m geral algun s dias dep ois <strong>da</strong><br />

erupç ã o típica, co m violenta s dore s ardent e s e agud a s . As<br />

pequ e n a s bolha s, restritas exclusiva m e n t e à áre a de difusã o<br />

dos nervo s afetad o s , circund a m o corp o form a n d o um cinturão.<br />

Ataque s bilaterais ou a propa g a ç ã o por m ais de dois<br />

seg m e n t o s de nervo são raros. Ain<strong>da</strong> assi m, dentro de quadr o s<br />

de enfer mi<strong>da</strong>d e s que enfraqu e c e m o siste m a de defe s a do<br />

org anis m o tais co m o a AIDS ou a leuc e m i a linfática, pod e- se<br />

ch e g ar à difusã o por todo o tronc o (zoster gen er alizad o).<br />

Normal m e n t e , as bolha s cheias de liquido sec a m rapi<strong>da</strong> m e n t e ,<br />

e as crosta s ca e m se m deixar cicatrizes apó s duas ou três<br />

se m a n a s . Complica ç õ e s tais co m o a form a ç ã o de úlcera s e a<br />

deg e n e r a ç ã o de tecido s pod e m retar<strong>da</strong>r o proc e s s o de<br />

recup er a ç ã o . Mais alé m de tais probl e m a s , o vírus continua<br />

agind o perfi<strong>da</strong> m e n t e. Um ou dois ano s apó s a extinçã o <strong>da</strong>s<br />

erupç õ e s cutân e a s , os locais afetad o s ain<strong>da</strong> pod e m do er<br />

violenta m e n t e e estar extre m a m e n t e sen sív ei s. O sinto m a afeta<br />

cad a pes s o a e m seu lugar m ais sen sív el, e m um m o m e n t o e m<br />

que as forças de defe s a do org anis m o diminu e m ou até mes m o<br />

entra m em colap s o .<br />

As rosa s que flores c e m na pele anuncia m ao pacient e que<br />

algo nele quer entrar e m erupç ã o . O vírus que espr eita,<br />

entrinch eirad o nas ramificaç õ e s posterior e s <strong>da</strong> m e d ul a<br />

espinh al, aprov eita um m o m e n t o de fraqu ez a para irromp er de<br />

seu exílio voluntário. Seu tem a se cha m a inflam a ç ã o e, co m<br />

isso, conflito e m um duplo sentido. Com bas e nas do e n ç a s<br />

fun<strong>da</strong> m e n t ais, que na m ai oria dos cas o s enc arn a m , por seu<br />

lado, um conflito, o herp e s- zoster repre s e nt a nova m e n t e um<br />

tem a de conflito. Um des e nt e n di m e n t o adiad o por muito temp o<br />

cha m a dolor o s a- m e nt e a aten ç ã o so br e si a reb o q u e de tropas<br />

estran g eir a s.<br />

Trata- se aí de um conflito de fronteiras, já que o cinturão e a<br />

cintura marc a m a fronteira entre o mund o sup erior e o mund o<br />

inferior, en qu a nt o a pele é o órg ã o geral de fronteira. A zona<br />

en c arn a o rompi m e nt o des s a fronteira e a irrupçã o do cont eú d o<br />

aní mic o so b a form a do liquido <strong>da</strong>s bolha s. Ela provo c a feri<strong>da</strong>s<br />

38<br />

7


úmi<strong>da</strong> s e abr e as fronteiras e m am b a s as direç õ e s . Assim<br />

co m o o liquido sai, os ag e nt e s caus a d o r e s pod e m entrar. Aqui<br />

tam b é m há algo de pérfido, pois en qu a nt o os afetad o s<br />

bloqu ei a m estrita m e nt e suas fronteiras entre o que está aci m a<br />

e o que está ab aixo e entre o que está dentro e o que está fora,<br />

o ass alto tem êxito partindo do próprio interior do país. Os vírus<br />

zoster assu m e m o pap el de quinta- coluna. O caráter de<br />

bo m b a - relógio <strong>da</strong> tem átic a é ac e ntuad o por sua esp e ci al<br />

man eira de agir. Ela pod e ser adiad a por muito temp o, ma s não<br />

ser posta de lado.<br />

Além diss o, a pele colo c a e m jogo os tem a s <strong>da</strong> defe s a e <strong>da</strong><br />

resistên ci a a um tem a central <strong>da</strong> vi<strong>da</strong>. A do e n ç a primária já<br />

deixa entrev er uma resistên ci a, que é nec e s s a ri a m e n t e tão<br />

grand e a ponto de abrir inteira m e n t e o corp o. Aquilo que por<br />

muito tem p o deu no s nerv o s desl o c a- se ag or a de b aix o <strong>da</strong> pele.<br />

A erupç ã o doloro s a do ataqu e torna o surto de resistên ci a<br />

dolor o s a m e n t e con s ci e nt e. O sentim e nt o de tens ã o , de algo<br />

que vai se estreitand o , en c arn a por um lado a angú stia e<br />

estreitez a <strong>da</strong> situaç ã o , e por outro tam b é m a nec e s si d a d e , já,<br />

<strong>da</strong> erup ç ã o. O ataqu e golp eia e m um mo m e n t o e m que já se foi<br />

golp e a d o por outro lado. É co m o se foss e um golp e traiço eir o<br />

na barriga, ou seja, diante do peito. Sua form a de cinto<br />

des e n h a imag e n s se m el h a nt e s a uma corrent e, grilhõ e s<br />

torturantes ou um rosário.<br />

A imag e m <strong>da</strong> rosa que flores c e [o no m e popular <strong>da</strong> do e n ç a<br />

e m ale m ã o é Ro s e n g ü rt el = cinto de rosa s] faz so ar tam b é m<br />

pos sibili<strong>da</strong>d e s de liberaç ã o do sinto m a . Arma<strong>da</strong> de espinh o s a<br />

rosa, alé m de prontidã o, abrir- se e servir de sím b ol o do am or,<br />

sim b oliza tam b é m a cap a ci<strong>da</strong>d e de resistên ci a. Inflam ad a s<br />

rosa s ver m el h a s so br e a co b ertura do corp o são sím b ol o s de<br />

dispo siç ã o para a luta. O rubro dos ataqu e s de fúria pod e m ser<br />

tão belo s co m o as cha m a s dev or a d o r a s do am or, do<br />

entusias m o ardent e e <strong>da</strong>s labar e d a s <strong>da</strong> ira sagr ad a.<br />

É precis o tornar- se nova m e n t e vulneráv el, abrir fronteiras,<br />

romp er muro s e des a b r o c h a r. Desa br o c h ar significa procurar<br />

contato. As flores des a b r o c h a m para ser fecund a d a s . Com<br />

38<br />

8


seus botõ e s elas atrae m os inseto s. Com cad a flores ci m e n t o e<br />

cad a erupç ã o , o que está dentro tom a- se visível, os lado s<br />

lumino s o s e tam b é m os so m b ri o s. Não é o cas o de virar para<br />

fora so m e n t e os lado s rosa d o s , m a s fazer flores c e r seu cern e<br />

ver<strong>da</strong>d eir o. Assim co m o as rosa s porta m suas se m e n t e s no<br />

m ei o de seu ser, não é por ac a s o que os botõ e s <strong>da</strong> zona<br />

contê m liquido inflam at ório e m seu m ei o. Na água, sím b ol o do<br />

aní mic o, na<strong>da</strong> aqui um se m - núm er o de células agr e s siv a s de<br />

am b o s os lado s, de glóbulo s bran c o s e anticorp o s até ag e nt e s<br />

caus a d o r e s . Muita cois a que pod e ferir quan d o dita de form a<br />

nua e crua sai aqui sim b olic a m e n t e à luz. Os espinh o s <strong>da</strong> rosa<br />

propria m e nt e dita são assu mi d o s pelas dor e s agud a s do<br />

sinto m a . Aquele cujo flanc o pura e simpl e s m e n t e se rasg a<br />

precis a deixar sair o que está dentro, ain<strong>da</strong> que não seja<br />

rosa d o e sim rubro de ira ou repulsivo co m o es s e ataqu e. E<br />

dev eria per mitir que o que está fora entras s e e m seus lado s<br />

lumino s o s e so m b ri o s. "Levantar!", diz o ditado báv ar o quan d o<br />

um levant e é nec e s s á ri o, tanto para o be m co m o para o mal. É<br />

precis o atrav e s s ar os muro s, e os prim eiro s pas s o s são os<br />

mais difíceis e os mais doloro s o s . Em um proc e s s o ofen siv o, o<br />

sup erior e o inferior, o interno e o extern o quer e m ser juntad o s.<br />

Tal dispo siç ã o para o levant e des c arr e g a o corp o de levant e s e<br />

ataqu e s . Som e nt e a partir des s a postura de ab ertura pod e- se<br />

gerar a en er gia nec e s s á ri a para ass e n h o r e a r- se <strong>da</strong> sinto m átic a<br />

primária.<br />

P er g u nta s<br />

1. Que conflito aní mic o- espiritual tenh o e m cas a (no<br />

corp o)?<br />

2. O que há muito m e deu nos nervo s e, so b a pele, ain<strong>da</strong><br />

não foi es qu e c i d o ?<br />

3. Que m e d o faz co m que eu m e fech e tanto a ponto de ter<br />

de me abrir tanto corp or al m e n t e ?<br />

4. O que precis a flores c e r fisica m e n t e porqu e não pod e<br />

abrir- se aní mic o- espiritualm e nt e?<br />

5. O que so m e n t e m e atrev o a dizer por m eio de flore s ? De<br />

38<br />

9


que jam ais pod eria livrar- m e se m que flores ç a?<br />

6. Que fronteiras estã o carre g a d a s de conflitos para ruim,<br />

ond e m e sinto limitado? Que cad ei a s m e prend e m ?<br />

7. Que mina s estã o enterrad a s no jardim <strong>da</strong> minha alm a?<br />

2. Rompimentos ou hérnias<br />

As hérnias surg e m e m sup erfície s fronteiriças, ond e regiõ e s<br />

muito divers a s do corp o se enc o ntra m . Ter min a m por oc orr er<br />

invas õ e s pela cha m a d a porta hernial, e m que um a parte<br />

pen etra na outra, ond e não tem na<strong>da</strong> a fazer. Ca<strong>da</strong> hérnia é ao<br />

m e s m o tem p o uma invas ã o e um a interfer ên ci a. Ela explicita<br />

uma situaç ã o de con c o rr ê n ci a entre duas área s vizinha s e m<br />

que deixa m de ser ob s erva<strong>da</strong>s as relaç õ e s de fronteira e de<br />

propried a d e . As fronteiras váli<strong>da</strong>s existente s são ignorad a s e<br />

feri<strong>da</strong>s de form a perigo s a. O âm bito ocup a d o se vê restringido,<br />

pres si o n a d o para o lado e cortad o e m seus direitos vitais. Mas<br />

a usurpaç ã o tamp o u c o serv e de na<strong>da</strong> ao tecido invas or, o<br />

esp a ç o vital gan h o não traz nen hu m alívio, ao contrário,<br />

freqü e nt e m e n t e a estreita porta hernial provo c a<br />

estran g ula m e n t o s . A analo gi a co m a invas ã o crimino s a, que de<br />

man eira se m e l h a nt e não deixa o perp etrad or content e, é clara<br />

e per mite que trac e m o s algun s outros paralelo s.<br />

O crimin o s o ne m é levad o à invas ã o por algu m a pres s ã o<br />

con sid er á v el ne m a oportuni<strong>da</strong>d e é tão atraent e assi m. No<br />

corp o, a situaç ã o hernial resulta de m an eira análo g a à<br />

co m bin a ç ã o <strong>da</strong> elev a ç ã o <strong>da</strong> pres s ã o de um lado, e a fraqu ez a<br />

do outro. Quanto mais elev a d a a pres s ã o e quanto mais fraca a<br />

pared e que sep ar a, mais facilm e nt e a fronteira é ro mpi<strong>da</strong>.<br />

Quem abus a de suas forças, e m sentido figurad o ou<br />

con cr et a m e n t e , facilm e nt e provo c a e m si m e s m o um<br />

rompi m e nt o. Ele ab ord o u agre s siv a m e n t e um tem a fraco<br />

de m ai s e não estav a à altura <strong>da</strong> pres s ã o resultante.<br />

Pode- se contar co m co m plica ç õ e s e m to<strong>da</strong> s as hérnias, por<br />

exe m pl o a inflam a ç ã o do sac o hernial. Isso corre s p o n d e a um<br />

39<br />

0


conflito agre s siv o e m torno <strong>da</strong> invas ã o . A guerra é uma reaç ã o<br />

apropriad a a um a situaç ã o des s a s . Ela dirige a aten ç ã o para o<br />

ponto fraco e para a elev a d a pres s ã o do min a nt e. Além diss o,<br />

pod e oc orr er o estran g ula m e n t o do sac o hernial junta m e nt e<br />

co m seu conteú d o . Ness e en c ar c er a m e n t o , o sac o hernial<br />

ch ei o fica pres o e corre perig o de vi<strong>da</strong>. O tecido pinçad o deixa<br />

de rec e b e r o fluxo san guín e o e é estran g ulad o no estran g eir o.<br />

Na áre a dos intestinos, pod e- se ch e g ar a um rompi m e n t o co m<br />

inflam a ç ã o gen er alizad a do peritônio, e a um estad o e m que se<br />

corre risco de vi<strong>da</strong>.<br />

Hérnia umbilical<br />

Hérnias um bilicais são do mí nio <strong>da</strong> m e dicin a infantil, sen d o<br />

que ain<strong>da</strong> co m p õ e m 5 % <strong>da</strong>s hérnias que oc orr e m na i<strong>da</strong>d e<br />

adulta. O prim eiro ferim e nt o do ser hum a n o volta a se abrir, os<br />

mús c ul o s do abd ô m e n ced e m à pres s ã o interna e so m e n t e a<br />

elástica pele reté m o intestino. Após ter pen etrad o na fen<strong>da</strong>,<br />

fugindo <strong>da</strong> pres s ã o <strong>da</strong> cavi<strong>da</strong> d e abd o m i n al, ele fica pendurad o<br />

do lado de fora, um a esp é ci e de m o c hila de pele que pod e<br />

ch e g ar a atingir o tam a n h o de uma cab e ç a .<br />

Em rec é m - nas cid o s , ch e g a- se freqü e nt e m e n t e a isso por<br />

duas razõ e s . Uma é que a feri<strong>da</strong> do um big o ain<strong>da</strong> está fresc a,<br />

e outra é que eles se colo c a m tantas vez e s so b pres s ã o ao<br />

chor ar que não é a garg a nta que se romp e , e sim a barriga,<br />

muito m ais sen sív el nes s a i<strong>da</strong>d e. Eles quer e m se fazer notar e<br />

ultrapas s ar suas estreitas fronteiras ao s berro s. Quando não<br />

en c o ntra m nenhu m a ress o n â n ci a, a pres s ã o física pod e subir<br />

devido ao s gritos cad a vez m ais irado s até que o dique se<br />

romp a no ponto m ais fraco. Devido às contraç õ e s <strong>da</strong> barriga, a<br />

pres s ã o se dirige para as próprias pared e s e, aqui,<br />

esp e ci al m e n t e contra a antiga porta para o mun d o . Assim, volta<br />

a ser ab erto um antigo ca min h o que na ver<strong>da</strong>d e dev eria fecharse<br />

co m o des e n v olvi m e nt o . Isso deixa entrev er um a tend ê n ci a<br />

regr e s siva, um des ej o de retorn ar a condiç õ e s anterior e s,<br />

quan d o a crianç a não precis a v a esfalfar- se tanto, a pres s ã o<br />

39<br />

1


não era tão alta e, so br etud o , a situaç ã o de ab a st e ci m e n t o era<br />

muito mais óbvia.<br />

Quando o um big o de um adulto se romp e, as condiç õ e s são<br />

fun<strong>da</strong> m e n t al m e n t e as m e s m a s . Ele, se m perc e b e r, pas s o u a<br />

estar so b pres s ã o e m seu mund o de sentim e nt o s arcaic o s e<br />

não pod e satisfaz er algu m a nec e s s i d a d e básic a tal co m o , por<br />

exe m pl o, a fom e (de abrig o e proteç ã o , de provis õ e s m at eriais<br />

ou de pod er). Na falta de outro m ei o de pres s ã o , ele tenta<br />

livrar- se do exc e s s o de pres s ã o contra- indo o abd ô m e n ,<br />

pres si o n a n d o assi m e m um a direç ã o e m que se m pr e confiou.<br />

Incons ci e nt e m e n t e , ele procura a saí<strong>da</strong> e m um retorn o ao s<br />

bons e velho s temp o s , quan d o tudo corria muito m elh or e,<br />

so br etud o, por si m e s m o .<br />

A lição a ser aprendid a exig e tornar- se con s ci e nt e <strong>da</strong><br />

pres s ã o existen cial e ced er a ela. Trata- se de abrir nov o s<br />

esp a ç o s , trilhar nov o s ca minh o s e, alé m diss o, apoiar- se nas<br />

exp eriên ci a s con h e ci d a s do pas s a d o . Seguind o o instinto,<br />

dev e- se ter por objetivo um a ruptura nos tem a s centrais <strong>da</strong><br />

bas e mat erial <strong>da</strong> vi<strong>da</strong>.<br />

Tipica m e n t e , a hérnia umbilical ating e mulh er e s entre os 40<br />

e os 50 ano s de i<strong>da</strong>d e, favor e ci<strong>da</strong> pelo exc e s s o de pes o e<br />

outras carg a s físicas. Em i<strong>da</strong>d e mais jove m , uma gravid ez<br />

tam b é m pod e prep ar ar o ca minh o . Os esforç o s físico s m o stra m<br />

co m o os afetad o s precis a m se esfalfar para ass e g ur ar seu<br />

sustento, en qu a nt o o exc e s s o de pes o m o stra co m o lhes custa<br />

agü e ntar a carg a <strong>da</strong> própria existên ci a, e um a gravid ez é<br />

apropriad a para per mitir a ab ertura de feri<strong>da</strong>s relacion a d a s ao<br />

próprio nas ci m e n t o . Além diss o, des s a m an eira que st õ e s de<br />

segur an ç a existen cial não es clar e ci<strong>da</strong> s torna m - se atuais e m<br />

um duplo asp e ct o. Caso o probl e m a do sustento m at erial ain<strong>da</strong><br />

esteja ab erto na ép o c a <strong>da</strong> m e n o p a u s a - quan d o na ver<strong>da</strong>d e o<br />

ca min h o de cas a aní mic o já dev eria estar ass e nt a d o so br e<br />

terren o bastant e se gur o - é precis o provo c ar um a ruptura, ou<br />

seja, tornar con s ci e nt e o des ej o urgent e de ter um futuro<br />

ass e g ur a d o . Caso es s a nec e s s i d a d e seja des al ojad a <strong>da</strong><br />

con s ci ê n ci a, a ruptura "tem suc e s s o " no corp o.<br />

39<br />

2


A terapia con sist e e m rec o n duzir o conteúd o intestinal que<br />

errou o ca minh o e fech ar a porta hernial ilegal. Nos rec é m -<br />

nas cid o s , isso se dá por m ei o do cha m a d o e m pl a stro um bilical,<br />

en qu a nt o os adultos são freqü e nt e m e n t e op er a d o s e o<br />

es c o n d e rijo infantil, e co m ele a barriga, é costurad o<br />

definitiva m e n t e . Quando a saí<strong>da</strong> física é nova m e n t e tranc a d a,<br />

seria nec e s s á ri o rec o n duzir o des e nt e n di m e n t o para o plano <strong>da</strong><br />

con s ci ê n ci a.<br />

As cha m a d a s hérnias abdominais, direta m e n t e na linha<br />

central ou tam b é m laterais, expr e s s a m uma probl e m átic a<br />

se m el h a nt e. Na hérnia do diafragma pod e- se diferen ciar as<br />

hérnias genuín a s <strong>da</strong>s falsas, mais freqü e nt e s , quan d o o<br />

estô m a g o resv ala para cim a, pas s a n d o pela ab ertura do<br />

es ôfa g o e pen etran d o na cavi<strong>da</strong>d e torácic a se m form ar um<br />

sac o hernial. Essa situaç ã o de subi<strong>da</strong> de partes femininas <strong>da</strong><br />

área abd o m i n al para o tórax, ma s c ulino, é des crita e m<br />

Pro bl e m a s dige stiv o s 75 .<br />

P er g u nta s<br />

1. Onde estou so b pres s ã o con sid er á v el? Pression a d o ?<br />

Atascad o ? Estrangulad o?<br />

2. Em qual âm bito de minha existên ci a abus ei de minh a s<br />

forças?<br />

3. Onde m e propus algo que m e exig e de m ai s, m e colo c a<br />

so b alta pres s ã o ?<br />

4. Onde tenh o sentim e nt o s primitivos estan c a d o s ? Onde<br />

deixo de prestar aten ç ã o e m m eu s instintos?<br />

5. Preferiria retroc e d e r ao s bons velho s temp o s ? Que<br />

ab erturas e rotas de fuga deixei ab ertas?<br />

6. Onde, e m m eu s sentim e nt o s ventrais, estou à beira <strong>da</strong><br />

ruptura ou do colap s o ?<br />

Hérnia inguinal<br />

A cha m a d a hérnia inguinal já perten c e ao âm bito <strong>da</strong> bacia e,<br />

co m um a incidên ci a de 80 % dos cas o s , con stitui a form a m ais<br />

39<br />

3


freqü e nt e de to<strong>da</strong> s as hérnias. Ela pod e ser inata ou adquiri<strong>da</strong><br />

e afeta so br etud o os ho m e n s . Em sua form a direta, o intestino<br />

se espr e m e atrav é s do can al inguinal, uma pequ e n a ab ertura,<br />

so b a pele, na cavi<strong>da</strong> d e abd o m i n al. Na form a indireta, o<br />

conteú d o hernial segu e o can al se min al (Funniculu s<br />

sp er m a ticu s ) e, nas mulh er e s , o cha m a d o Liga m e n t u m<br />

rotund u m (= fita redo n d a), e termina no es cr ot o ou nos grand e s<br />

lábio s.<br />

O asp e ct o de es c a p a d a que termina em um bec o se m saí<strong>da</strong>,<br />

co m u m a to<strong>da</strong>s as hérnias, torna- se aqui esp e ci al m e n t e<br />

retum b a nt e. Por m ei o de contraç õ e s abd o m i n ai s, a pres s ã o<br />

aum e nt a d a es c a p a por um atalho e termin a na áre a sexual ou,<br />

pelo m e n o s , nas suas proximi<strong>da</strong>d e s . A tarefa natural <strong>da</strong>s<br />

contraç õ e s abd o m i n ai s é exprimir o cont e ú d o intestinal. Elas o<br />

faze m tam b é m nest e cas o , e m b o r a por ca minh o s ob s c ur o s .<br />

Cheg a- se à form a ç ã o de um a hérnia quan d o a pres s ã o interna<br />

do abd ô m e n torna- se muito alta, por exe m pl o ao se fazer<br />

esforç o s físico s tais co m o levantar carg a s de m a si a d o pes a d a s ,<br />

e quan d o há ponto s fraco s na regiã o inguinal.<br />

Expres s õ e s co m o «exc e d e r- se" e "abus ar <strong>da</strong>s próprias<br />

forças" [sich übern e h m e n = abus ar <strong>da</strong>s próprias forças, ma s<br />

tam b é m "ser presun ç o s o ", "ufanar- se"] m o stra a proble m á tic a<br />

de fundo do exc e d e r- se, ou seja, <strong>da</strong> presun ç ã o , <strong>da</strong> so b er b a.<br />

Quem abus a con sid er a v el m e n t e <strong>da</strong>s próprias forças m o stra<br />

tam b é m um a bo a dos e de "presun ç ã o ". A so br e e s ti m a ç ã o e m<br />

relaç ã o às próprias forças é a bas e <strong>da</strong> hérnia. Em<br />

con s e q ü ê n c i a, partes do intestino tom a m ca minh o s<br />

alternativo s. Postas so b pres s ã o de man eira exc e s si v a, elas<br />

tom a m o ca minh o de m e n o r resistên ci a e invad e m a virilha dos<br />

afetad o s apó s romp er a pared e de mús c ul o s do abd ô m e n . À<br />

m e di<strong>da</strong> que o mun d o de sentim e nt o s arcaic o s pen etra em suas<br />

virilhas e e m seus es cr oto s ou grand e s lábios, o sinto m a<br />

m o stra que eles não agü e nt a m tanto quanto crê e m . Qualquer<br />

esforç o reforç a a contraç ã o do abd ô m e n e, co m isso, o<br />

probl e m a .<br />

Ain<strong>da</strong> que pos s a parec er que se trata principal m e nt e de um<br />

39<br />

4


esforç o exa g er a d o no plano físico, neste cas o tam b é m são<br />

so br etud o os conteúd o s aní mic o s que se sedi m e nt a m no corp o<br />

dep ois de não rec e b e r e m aten ç ã o . Há pes s o a s que ergu e m<br />

pes o e o carre g a m durante to<strong>da</strong> a vi<strong>da</strong> se m adquirir hérnias. A<br />

tortura aní mic a não ad miti<strong>da</strong> que surg e quan d o se suporta ou<br />

agü e nta algo para o qual não se está à altura é muito mais<br />

perig o s a que a so br e c a r g a objetiva, física.<br />

Assim co m o ac o nt e c e co m as outras hérnias, a lição a ser<br />

apren di<strong>da</strong> exig e nov o s ca minh o s que forne ç a m vias de es c a p e<br />

para a pres s ã o interna e que expan d a m as fronteiras existent e s<br />

até entã o. Vale a pen a notar que o cont eú d o de senti m e nt o s<br />

primitivos, prim e v o s , expres s o pelo mun d o intestinal bus c a<br />

ac e d e r ao âm bito sexual. Estab el e c e - se a ligaç ã o entre os<br />

sentim e nt o s <strong>da</strong>s entran h a s e a sexuali<strong>da</strong>d e. Quando a en er gia<br />

impulsor a <strong>da</strong> cavi<strong>da</strong>d e abd o m i n al não pres si o n a e m direç ã o ao<br />

mund o sup erior, co m o ac o nt e c e co m a hérnia do diafrag m a ,<br />

ma s sim para baixo, e m direç ã o ao âm bito sexual, isso pod e<br />

significar, por exe m pl o, um a fom e instintiva de satisfaç ã o<br />

sexual. Poder o s o s senti m e nt o s arcaic o s pres si o n a m e m<br />

direç ã o à esfera sexual. Isso pod e surpre e n d e r e m ho m e n s<br />

idos o s , que "segura m " sua hérnia por m ei o de um a faixa<br />

hernial. Mas a sexuali<strong>da</strong>d e está liga<strong>da</strong> de man eira muito men o s<br />

substanci al às fase s <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> do que e m geral supo m o s . Ela<br />

pod e ac o m p a n h a r es s a form a que por muito temp o bus c a um a<br />

saí<strong>da</strong> para fora de m an eir a não libera<strong>da</strong>, esp e ci al m e n t e<br />

quan d o não foi suficiente m e n t e expres s a nas fas e s anterior e s<br />

<strong>da</strong> vi<strong>da</strong>.<br />

To<strong>da</strong> hérnia unifica dois âm bito s que antes estav a m<br />

sep ar a d o s . Até m e s m o um a invas ã o crimino s a unifica duas<br />

situaç õ e s de propried a d e que até entã o estav a m sep ar a d a s e<br />

esta b el e c e ligaç õ e s , ain<strong>da</strong> que por ca min h o s tortos. Quem<br />

sofre um a hérnia pod e, pen s a n d o alopatica m e n t e , ass e g ur arse<br />

ain<strong>da</strong> mais e ergu er barricad a s ain<strong>da</strong> melh or e s . Do ponto de<br />

vista ho m e o p á tic o , seria pos sív el rec o n h e c e r a exig ê n ci a de<br />

tornar- se m ais gen er o s o e ab erto. Com gen er o sid a d e<br />

con s ci e nt e, pod e- se prev e nir, ou seja, <strong>da</strong>r, aquilo que cas o<br />

39<br />

5


contrário o destino tom a de form a violenta. Pode- se deplorar e<br />

recla m ar aquilo que foi roub a d o e perdido ou, se g un d o o<br />

epíteto estóic o, que foi dev olvido.<br />

P er g u nta s<br />

1. Onde estou so b pres s ã o e m relaç ã o a meus senti m e nt o s<br />

primitivos e tom ei o ca min h o errad o?<br />

2. Onde en c o ntrar nov o s ca min h o s e abrir esp a ç o s<br />

frutífero s ?<br />

3. Minha sexuali<strong>da</strong>d e está sep ar a d a de outras en er gias?<br />

Onde me exc e d o quanto às nec e s s i d a d e s sexuais?<br />

4. Onde faço justiça ao mund o de m e u s sentim e nt o s<br />

instintivos?<br />

5. O que, e m minh a vi<strong>da</strong>, estav a sep ar a d o até ag or a e<br />

precis a ser unificad o?<br />

6. Onde exc e d o minh a s forças e confio de m ai s e m ruim?<br />

Onde sou presun ç o s o ?<br />

7. Será que es s a so br e e s ti m a ç ã o e es s e exc e s s o têm a<br />

ver co m a sep ar a ç ã o <strong>da</strong>s fontes de en er gi a sexual?<br />

39<br />

6


12<br />

A Bacia<br />

A bacia sustenta o corp o e é seu fun<strong>da</strong> m e n t o . Com três<br />

chakra s, ela abriga mais centro s de en er gi a do que a cab e ç a . A<br />

serp e nt e Kun<strong>da</strong>lini des c a n s a enrolad a e m seu piso e esp er a<br />

ser des p erta d a para ergu er- se até o alto <strong>da</strong> cab e ç a . Com o<br />

fonte <strong>da</strong> en er gi a, pod er- se- ia relacio n ar es s e recipiente co m o<br />

Graal. À parte o se gr e d o de nos s a en er gia, ela abriga os<br />

órg ã o s de reprodu ç ã o e, co m a bexig a e a porç ã o final do<br />

intestino gros s o , tam b é m os <strong>da</strong> elimina ç ã o . Repres e nt a n d o as<br />

fun<strong>da</strong>ç õ e s <strong>da</strong> colun a verte br al, ela não so m e n t e sustenta to<strong>da</strong><br />

a carg a do tronc o m a s tam b é m une entre si noss o s órgã o s de<br />

loco m o ç ã o . Os m o vi m e n t o s real m e nt e fortes parte m <strong>da</strong> bacia,<br />

co m o se pod e viven ciar co m a prática do Tai-Chi. Ela é o<br />

fun<strong>da</strong> m e n t o de noss o progr e s s o , a plac a de ress o n â n ci a e m<br />

relaç ã o à terra. De fato, a bacia é tam b é m um instrum e nt o<br />

music al, e m o stra co m o vibra m o s e m relaç ã o à nos s a bas e .<br />

A postura <strong>da</strong> bacia per mite ver "co m o as coisa s estã o<br />

parad a s e co m o as cois a s vão". Duas posiç õ e s extre m a s se<br />

cristaliza m: uma delas é a bacia ab erta, e m que a pelve está<br />

tão inclinad a para a frente que seu conteúd o pod e es c o rr er<br />

tranqüila m e n t e para fora. Essa postura força a colun a a curvarse<br />

ac e ntuad a m e n t e e niti<strong>da</strong> m e n t e força o tras eiro para fora.<br />

Sendo um a postura tipica m e n t e feminina, ela é con sid er a d a<br />

excitante devido à sua evident e irradiaç ã o ac e ntuad a m e n t e<br />

sen s u al. A refer ên ci a sexual é m anifesta, o an<strong>da</strong>r lem br a o de<br />

um pato. Ao ac e ntuar o pólo corpor al inferior, feminin o, es s a<br />

pes s o a , alé m <strong>da</strong> bacia be m form a d a, pod e freqü e nt e m e n t e<br />

fun<strong>da</strong>r- se tam b é m e m perna s estáv ei s. Para co m p e n s a r o<br />

tras eiro ac e ntuad o , a barriga fica algo desta c a d a e muitas<br />

vez e s au m e nt a adicion al m e n t e de tam a n h o devido à<br />

abun d â n ci a de sentim e nt o s que contê m . Trata- se de um a<br />

pes s o a que sup er a sua timidez nes s e s plano s inferiores. O<br />

39<br />

7


tronc o e a regiã o do peito, ao contrário, ficam leve m e n t e m ais<br />

para trás e m o stra m que a auto- afirm a ç ã o fica e m se gund o<br />

plan o e m relaç ã o à esta bili<strong>da</strong>d e do corp o e à sen s u ali<strong>da</strong> d e .<br />

Essa postura tipica m e n t e feminina é assu mi d a pela maioria dos<br />

negr o s e se expres s a e m sua man eira de <strong>da</strong>n ç ar. Pratica m e n t e<br />

não há branc o s e m condiç õ e s de deixar sua pelve m o v er- se ao<br />

ritmo do blue s co m tanta naturali<strong>da</strong>d e . Podería m o s ver todo o<br />

rock, que se des e n v o l v e u a partir do rhythm- blue s, co m o uma<br />

tentativa de pedir des c ulp a s à neglig e n ci a d a bacia. "Elvis the<br />

pelvis" foi um típico repre s e nt a nt e des s a tend ê n ci a<br />

provo c a d o r a. Pess o a s co m um a bacia neglig e n ci a d a e até<br />

m e s m o se m vi<strong>da</strong> sent e m - se provo c a d a s por es s e tipo de<br />

m o vi m e nt o e de <strong>da</strong>nç a.<br />

O outro extre m o a<strong>da</strong>pta- se pen o s a m e n t e ao ho m e m típico,<br />

que não per mite fluir de sua pelve um a única gota de<br />

sentim e nt o ou até m e s m o de sen s u ali<strong>da</strong> d e , de tão fecha<strong>da</strong><br />

que a tem. Essa imag e m típica <strong>da</strong> po stura res erv a d a é<br />

ac e ntuad a ain<strong>da</strong> mais pelas nád e g a s ap ertad a s . Na postura<br />

opo sta, o tras eiro está relaxad o e sinaliza tam b é m ab ertura<br />

para trás. A pelve volta<strong>da</strong> para cim a é a marc a registrad a do<br />

m o cinh o dos filmes de co w b o y. A caixa torácic a<br />

pod er o s a m e n t e des e n v o l vi<strong>da</strong> e aprum a d a , ele e m p urra para a<br />

frente a bacia fecha d a e estreita, ou m elh or, subd e s e n v o l vid a.<br />

As nád e g a s tens a s garante m a retagu ard a. Ele não se per mite<br />

qualqu er em o ç ã o ou sentim e nt o; so m e n t e um a aten ç ã o tens a e<br />

uma férrea vontad e de auto- afirm a ç ã o do min a m a postura. A<br />

postura assu mi d a tipica m e n t e pelo s sol<strong>da</strong> d o s vai nes s a<br />

direç ã o , sen d o que o sol<strong>da</strong>d o prussian o ain<strong>da</strong> por cim a bate os<br />

calcanhar e s , indican d o a seus coleg a s o quanto está adiantad o<br />

no que se refer e à paralisaç ã o dos sentim e nt o s e do mí nio <strong>da</strong><br />

sen s u ali<strong>da</strong>d e . Nessa postura, a en er gia sexual fica e m<br />

des v a nta g e m . Quando surg e, não o faz de man eira sen s u al e<br />

sim de golp e e, muitas vez e s, de form a surpre e n d e n t e m e n t e<br />

prec o c e . A primazia <strong>da</strong> produtivi<strong>da</strong>d e que ac o m p a n h a es s e<br />

hábito relacio n a- se co m o pólo sup erior, m a s c ulin o. Os<br />

sentim e nt o s são restringido s e pas s a m a segun d o plan o, a<br />

39<br />

8


sen s u ali<strong>da</strong>d e é manti<strong>da</strong> so b estrito controle. Essas posturas<br />

apertad a s são freqü e nt e m e n t e pag a s co m he m o rr ói<strong>da</strong>s* e<br />

perturba ç õ e s sexuais. Tens õ e s na barriga, na bacia e na parte<br />

inferior <strong>da</strong>s costa s são a regra. Muitas vez e s , até m e s m o a<br />

privilegiad a cab e ç a reag e co m avis o s dolor o s o s .<br />

As duas posturas extre m a s traze m con sig o suas<br />

dificul<strong>da</strong>d e s , a soluç ã o está no m ei o, e m um a postura que<br />

prop orci o n a um a certa ab ertura tanto para a frente co m o para<br />

trás. A "postura de pato" abr e para trás, ac e ntuan d o assi m a<br />

primitiva postura anim al durante o ato sexual. No que a isso se<br />

refer e, apar e c e m aqui noss o s traço s anim ais instintivo s. Por<br />

outro lado, es s a postura está fecha d a para a frente, a vi<strong>da</strong> não<br />

é confrontad a e a ela, e m vez diss o, se ofer e c e a retagu ard a.<br />

Na "postura her óic a", o âm bito posterior de noss a heranç a<br />

anim al, tem p or aria m e n t e deixad o para trás, é isolad o, e tudo é<br />

feito co m bas e na confrontaç ã o . Na postura de pato, o m e m b r o<br />

ma s c ulino é es c o n did o e dirigido para baixo. A postura heróic a,<br />

ao contrário, o dirige orgulho s a m e n t e para cim a, o e m p urra<br />

para a frente e ac e ntua seu caráter de arm a. Sendo que os<br />

desfiles rec o n h e c i d a m e n t e dize m pouc o so br e a ver<strong>da</strong>d eir a<br />

força bélica.<br />

1. Herpes Genital<br />

Apesar <strong>da</strong> AIDS, trata- se aqui, de long e, <strong>da</strong> mais freqü e nt e<br />

enfer mi<strong>da</strong>d e sexual. O vírus do herp e s sim pl e x já surgiu aci m a<br />

<strong>da</strong> linha <strong>da</strong> cintura co m o o cha m a d o tipo 1, que atac a e<br />

desfigura os lábios e o rosto. O tipo 2 esp e ci alizou- se na regiã o<br />

genital, extern a m e n t e não se diferen ci a de seu co m p a n h e ir o de<br />

arm a s e m ab s oluto e, interna m e n t e , muito pouc o. Igualm e nt e<br />

pouc a s são as diferen ç a s no que se refer e à deflagra ç ã o <strong>da</strong><br />

infecç ã o e seu quadr o extern o. Som e nt e há algu m a s<br />

diferen ç a s quanto ao co m p o rta m e n t o . Substan cial m e nt e m ais<br />

agre s siv o que a variante do mund o sup erior, ape s ar diss o o<br />

tipo 2 está m e n o s difundido no mund o inferior, já que o<br />

39<br />

9


contá gi o oc orr e so m e n t e por m ei o <strong>da</strong>s relaç õ e s sexuais.<br />

Enquanto seu irmã o gê m e o colonizou pratica m e n t e to<strong>da</strong> a<br />

hum a nid a d e m o d er n a, o tipo 2 so m e n t e está em cas a em cerc a<br />

de 1 5 % de noss a populaç ã o . Na ÁfrIca do Sul, entretanto, ele<br />

infecta cerc a de 70 % <strong>da</strong> populaçã o negr a. Com es s e s<br />

núm er o s , o herp e s genital é pura e simpl e s m e n t e a epide mi a<br />

do praz er m o d er n a. Ele tam b é m é con sid er a d o um a do e n ç a<br />

ven ér e a pela m e di cin a. Com o o lado so m b ri o do mun d o<br />

voluptuo s o de Vênus, ele so br e p ujou de muito a sífilis e a<br />

gon orr éia. Quando se pen s a na histeria que des e n c a d e o u nos<br />

Estado s Unidos, ele talvez ain<strong>da</strong> tenha sua ép o c a de ouro<br />

entre nós diante de si. Neste ponto ele faz jus a seu no m e (do<br />

greg o herp eto s = mal insidios o) já que, co m o os outros vírus de<br />

sua estirpe, fica paci ent e m e n t e à espr eita, es c o n di d o ,<br />

aguard a n d o sua oportuni<strong>da</strong>d e , para entã o atac ar pelas costa s,<br />

dolor o s a e des c o n si d er a d a m e n t e . Ele se entrinch eira nos<br />

gân glio s posterior e s <strong>da</strong> m e d ul a espinh al e dor m e até que um a<br />

situaç ã o oportun a o desp erta. A co m p ar a ç ã o co m um<br />

sub m a rin o espr eitand o a vitima é oportun a.<br />

Emb or a niti<strong>da</strong> m e nt e m ais agre s siv o que a variante do<br />

mund o sup erior, o tipo do sub m u n d o orienta- se muito mais pelo<br />

padrã o aní mic o no que se refer e ao contá gi o. Tipica m e n t e, a<br />

do e n ç a é des e n c a d e a d a por um a es c orr e g a d e l a. O vírus pod e<br />

ser trans mitido des s a m an eir a, m a s não nec e s s a ria m e n t e . A<br />

verg o n h a e o sentim e nt o de culpa são freqü e nt e m e n t e<br />

suficiente s para levar o vírus a manife star- se. A es c o rr e g a d e l a<br />

pod e criar tais proble m a s que as con s e q ü ê n c i a s ac a b a m pro<br />

vindo <strong>da</strong> própria pes s o a . A infec ç ã o é entã o um a autopuniç ã o<br />

por pular a cerc a, ao qual não se está real m e nt e à altura, e que<br />

indica palpav el m e n t e , de m an eir a evid e nt e - e so br etud o - o<br />

lugar ond e o pas s o e m falso oc orr eu. Os afetad o s tend e m<br />

freqü e nt e m e n t e a colo c ar a culpa nos parc eiro s ilegais, m e s m o<br />

quan d o es s e s co m pr o v a d a m e n t e não são portad or e s do vírus.<br />

Caso contrário eles teriam de ad mitir que eles m e s m o s são a<br />

fonte <strong>da</strong> "verg o n h a" e, e m última instân cia, tam b é m colo c ar a m<br />

e m perig o o próprio parc eiro.<br />

40<br />

0


Assim co m o to<strong>da</strong>s as outras do e n ç a s ven ér e a s , o herp e s<br />

genital está impregn a d o de prec o n c e it o s m or ais. Geralm e nt e,<br />

do e n ç a s ven ér e a s são con sid er a d a s co m o sen d o<br />

esp e ci al m e n t e sujas e verg o n h o s a s . Em nenhu m a outra parte<br />

a cifra sub m e r s a é tão alta, e e m nenhu m a outra parte a<br />

m e di cin a projeta a culpa co m tanta valentia. Inúm er a s pia<strong>da</strong> s<br />

canta m um a can ç ã o a es s e resp eito: O valent e pai de família<br />

diz ao m é dic o , após este ter diagn o stic a d o herp e s genital: "Eu<br />

dev o ter apan h a d o isso no banh eir o"; resp o n d e o exp erient e<br />

m é di c o <strong>da</strong> família: "Que des c o nf ortáv el."<br />

A pos sibili<strong>da</strong>d e de apan h ar o vírus e m um ban h eir o é<br />

pura m e n t e teórica e não foi co m pr o v a d a até hoje. Entretanto, é<br />

pos sív el que um a latrina desp ert e tal horror - e as<br />

corre s p o n d e n t e s ass o ci a ç õ e s de repug n â n ci a - que o padrã o<br />

interno de asc o , e os vírus já disponív ei s, seja m ativad o s . O W.<br />

C. esterilizad o pod e, portanto, disp arar a herp e s . Hoje e m dia,<br />

con clui- se nec e s s a ria m e n t e que o contá gi o do vírus, m e s m o<br />

e m burgu e s e s social m e n t e m elh or posicion a d o s , so m e n t e<br />

oc orr e por m ei o de relaç õ e s sexuais, m a s que muitos<br />

ado e ci m e n t o s são surtos rec e nt e s de vírus há muito pres e nt e s<br />

no organis m o . Ness e sentido, os saltad or e s de cerc a atrevido s ,<br />

graç a s à con s ci ê n ci a de si m e s m o s , leva m vantag e m e m<br />

relaç ã o ao s tímido s e co m sentim e nt o de culpa. Durante o<br />

surto <strong>da</strong> do e n ç a , os vírus não se en c o ntra m so m e n t e nas<br />

células dos gân glio s e nas vias nervo s a s , m a s tam b é m so br e a<br />

sup erfície <strong>da</strong>s muc o s a s dos órg ã o s genitais.<br />

A infecç ã o , que quanto a seu asp e ct o não se diferen cia <strong>da</strong>s<br />

bolhas de herp e s acim a <strong>da</strong> linha <strong>da</strong> cintura, afeta aci m a de<br />

tudo as muc o s a s genitais: os grand e s lábios corresp o n d e m ao s<br />

lábio s sup erior e s , e os pequ e n o s lábios corresp o n d e n d o à<br />

gland e do órgã o ma s c ulino e à área do prepúcio. To<strong>da</strong> a pele e<br />

to<strong>da</strong> a muc o s a do âm bito genital e dos órg ã o s genitais<br />

feminin o s extern o s pod e m , alé m diss o, inchar e inflam ar- se. Os<br />

gân glio s linfático s genitais, posto s de vigilância <strong>da</strong> áre a genital,<br />

fica m inchad o s e do e m quan d o pres si o n a d o s . As vez e s , as<br />

bolhas ating e m o lado extern o do pênis, a coxa e o perín e o ,<br />

40<br />

1


ch e g a n d o até a regiã o anal. O cha m a d o herpes anal dep e n d e<br />

so br etud o <strong>da</strong>s práticas sexuais corresp o n d e n t e s . Trata- se<br />

quas e se m pr e de lugare s íntimo s que estã o carreg a d o s de<br />

con sid er á v el senti m e nt o de verg o n h a . O fato de que o herp e s<br />

genital oc orra co m freqü ê n ci a e m pes s o a s que co m e ç a m ced o<br />

a ter relaç õ e s sexuais e que troca m freqü e nt e m e n t e de<br />

parc eiro s é óbvio e m se tratand o de um a do e n ç a ven ér e a , mas<br />

os prec o n c e it o s o reforç a m . Mulheres grávi<strong>da</strong> s tam b é m são<br />

afetad a s acim a <strong>da</strong> m é di a estatística.<br />

Uma pes s o a marc a a si m e s m a co m as bolha s de herp e s ,<br />

ou per mite que a mar qu e m ; não por Deus, mas por um parc eiro<br />

relativa m e n t e des c o n h e c i d o na maioria dos cas o s . Isso não<br />

quer dizer que os afetad o s seja m culpad o s , ma s sim que eles<br />

se sent e m culpad o s . Assim co m o o herp e s labial m e n ci o n a d o<br />

aci m a imp e d e qualqu er beijo, o do mund o inferior imp e d e as<br />

relaç õ e s sexuais. Os afetad o s vê e m seu des ej o de mais des ej o<br />

e se pun e m , co m falta de des ej o e co m a dor, por "seu des ej o<br />

sujo". O que esta b el e c e a relaç ã o co m a sujeira são as<br />

pequ e n a s bolha s, esp e ci al m e n t e dep ois que o liquido que<br />

contê m fica turvo devid o à con c e ntra ç ã o de bactérias. É natural<br />

a ass o ci a ç ã o co m algu é m que pes c a e m águas turvas e abriga<br />

intenç õ e s turvas.<br />

As bolha s finalm e nt e se romp e m e o liquido repug n a nt e<br />

esp alha- se pelas partes íntima s. É níti<strong>da</strong> a ass o ci a ç ã o co m a<br />

seiva do des ej o, que aqui está e m seu lugar. Caso as<br />

secr e ç õ e s se torne m purulentas, m ais esp e s s a s e am ar el a d a s ,<br />

a ass o ci a ç ã o co m o sê m e n é ain<strong>da</strong> mais direta. Este tam b é m é<br />

perig o s o , e pod eria infectar um a mulh er co m um a criatura<br />

prov e ni e nt e <strong>da</strong> parc eira errad a, razã o pela qual é<br />

cui<strong>da</strong>d o s a m e n t e isolad o e m tais situaç õ e s . Na fas e seguinte <strong>da</strong><br />

infecç ã o , a confluên ci a de bolha s pod e levar à form a ç ã o de<br />

grand e s áre a s de feri<strong>da</strong>s sup erficiais que sim b oliza m a<br />

"ab ertura perig o s a" que o afetad o se per mitiu. No está gi o e m<br />

que está saran d o , as crosta s lanç a m um holofote so br e as<br />

atitude s interna s incrustad a s , no que se refer e à sexuali<strong>da</strong>d e ,<br />

co m as quais se vive.<br />

40<br />

2


É a infec ç ã o pela impurez a, já que a sexuali<strong>da</strong>d e<br />

social m e n t e des c o ntr olad a continua sen d o um tem a tabu<br />

m e s m o e m temp o s apar e nt e m e n t e es clar e ci d o s . A verg o n h a<br />

arde so br e tudo isso. Depen d e n d o <strong>da</strong>s forças <strong>da</strong> am e a ç a d o r a<br />

instância do sup er e g o , os pen s a m e n t o s clas sificad o s co m o<br />

impuro s já pod e m ser suficiente s para colo c ar e m marc h a a<br />

autopuniç ã o viral. Vistos des s a man eira, os vírus de herp e s<br />

são tropas vingad or a s do sup er e g o . Som e nt e o pen s a m e n t o de<br />

ab and o n a r o ca minh o ord en a d o e legal pres crito e "<strong>da</strong>r um a<br />

es c a p a d a ", saltar para o lado ou vagu e ar pelo estran g eir o pod e<br />

parec er suficiente m e n t e dign o de puniçã o. Aqui pod eria estar<br />

tam b é m a razã o aní mic a para o surto, durante a gravid ez, dos<br />

vírus acu m ulad o s , já que se trata de um a ép o c a e m que a<br />

mulh er precis a confiar de man eira muito esp e ci al e m um<br />

co m p a n h eir o. Caso, entretanto, ela rem e x a e m pen s a m e n t o s<br />

ou, con cr et a m e n t e , e m tabus, a autopuniç ã o pod e ser aplicad a<br />

de form a esp e ci al m e n t e rápi<strong>da</strong> e drástica. Não é so m e n t e a<br />

própria segur an ç a que está e m perigo, ma s tam b é m a <strong>da</strong><br />

crianç a não- nas ci<strong>da</strong>. Por um lado, o perigo s o e o proibido são<br />

muito quent e s , e por outro a futura m ã e cond e n a a si m e s m a<br />

por todo s os risco s assu mi d o s intencion al m e n t e , que põ e m e m<br />

perig o o futuro de seu filho. Há um perigo con cr et o de que a<br />

crianç a seja infectad a pelo herp e s durante o nas ci m e n t o ou<br />

m e s m o antes. Uma infecç ã o do rec é m - nas cid o por herp e s é<br />

se m pr e um a am e a ç a à sua vi<strong>da</strong>.<br />

A bas e aní mic a do herp e s genital está na am biv al ê n ci a do<br />

des ej o e do sentim e nt o de culpa. Inveja- se algo que no fundo<br />

não se pod e invejar. Assim, a inflam a ç ã o genital é um a<br />

reprodu ç ã o do conflito que pulsa no intimo entre o prazer<br />

genital e o m e d o <strong>da</strong> impurez a. O des ej o <strong>da</strong> carn e alheia e o<br />

nojo do prazer carn al e <strong>da</strong> infideli<strong>da</strong>d e colo c a m - se um diante<br />

do outro co m o adv er s ário s. Em prim eiro lugar ve m a luxúria. A<br />

puniçã o, entretanto, lhe pisa os calcanhar e s , ou m elh or, as<br />

verg o n h a s , golp e a n d o de form a doloro s a e múltipla. A renun cia<br />

a outras aventura s no Reino <strong>da</strong> Luxúria, força<strong>da</strong> pelo sup er e g o ,<br />

so m a- se à "verg o n h a", e isso ag or a inclui até m e s m o o terren o<br />

40<br />

3


per mitido. Quando se co m p ar a o brev e m o m e n t o de praz er<br />

co m a exten s ã o <strong>da</strong> con d e n a ç ã o que ac arreta, o resultad o é um<br />

des e q uilíbrio que pod e real m e nt e fazer des a p ar e c e r todo o<br />

des ej o <strong>da</strong> pes s o a .<br />

Portanto, não é de ad mirar que os afetad o s se torne m<br />

rec e ptivo s às projeç õ e s de culpa de um am bi e nt e imo bilizad o<br />

que so m e n t e go sta de cond e n ar aquilo que des ej a para si<br />

m e s m o ma s não se atrev e a con cr etizá- lo. Delineia- se um<br />

círculo vicios o: a tentativa de reprimir ain<strong>da</strong> mais o des ej o após<br />

a má exp eriên ci a leva a um repre s a m e n t o ain<strong>da</strong> maior e<br />

so m e n t e torna a próxim a ruptura do diqu e ain<strong>da</strong> m ais prováv el.<br />

Desejo e êxtas e são nec e s s i d a d e s hum a n a s fun<strong>da</strong> m e n t ai s que<br />

não pod e m ser eliminad a s do mun d o , so m e n t e postas de lado.<br />

Atira<strong>da</strong>s para o lado, elas aterriss a m na so m b r a.<br />

Seria m elh or en c or ajar o afetad o- , prop or cion ar- lhe vias de<br />

es c a p e , já que as es c a p a d a s não são, natural m e nt e, as únicas<br />

pos sibili<strong>da</strong>d e s . Em qualqu er cas o , é nec e s s á ri o se g uir as<br />

nec e s si d a d e s ardent e s , voltar a ac e n d e r as cha m a s no âm bito<br />

do des ej o, e m vez de cultivar inflam a ç õ e s . Quando algu m a<br />

cois a co ç a, dev er- se- ia rasp ar para des c o b rir o que se es c o n d e<br />

por trás e que dev e ser vivido. O que não quer dizer "não<br />

per mitir que na<strong>da</strong> pegu e fogo" a partir de ag or a e so m e n t e<br />

pers e g uir nec e s s i d a d e s erótica s sup erficiais. A sexuali<strong>da</strong>d e<br />

não é m ais, ma s tamp o u c o é m e n o s que o asp e ct o físico do<br />

am or. A regiã o <strong>da</strong>s verg o n h a s quer ser pre e n c hi d a de vi<strong>da</strong> e<br />

transfor m a- se e m tem a e m seu duplo sentido. Trata- se aqui de<br />

mais ab ertura viva e m relaç ã o a si m e s m o e ao s outros. É<br />

certa m e n t e m elh or m et er- se co m um a pes s o a e aprend er a<br />

con h e c ê - la e m suas múltiplas fac eta s que fazê- lo co m muitos<br />

parc eiro s virais. Abrir-se inteira m e n t e para um a pes s o a é muito<br />

mais significativo que abrir- se um pouc o para muitas. É<br />

pos sív el aproxim ar- se perigo s a- m e nt e de um/a, m a s<br />

dificilm e nt e se con s e g uirá isso co m muitos/as. Para satisfaz er<br />

as exig ê n ci a s totalm e nt e prim ordiais des s e tem a é nec e s s á ri o<br />

viver a ab ertura para o nov o, para o estran h o , que existe no<br />

salto de cerc a, assi m co m o a verg o n h a que se expr e s s a na<br />

40<br />

4


autopuniç ã o sub s e q ü e n t e . Há uma pos sibili<strong>da</strong>d e redimi<strong>da</strong> no<br />

"des ej o se cr et o", que conté m tanto o estran h o co m o a<br />

verg o n h a . O grand e segr e d o que cad a parc eiro repre s e nt a é a<br />

própria so m b r a, que dev eria propor cion ar mat erial suficiente.<br />

O nojo e a verg o n h a do estran h o , dos outros, tam b é m são<br />

tem a e lição. O que não está na própria pes s o a não pod e<br />

assustar desd e fora, co m o con stata m o s e m relaç ã o ao herp e s<br />

dos lábio s sup erior e s. Trata- se, portanto, de investigar o que é<br />

tão estran h o ao próprio ser a ponto de precis ar ser procurad o e<br />

neg a d o nos outros.<br />

O objetivo distante é tornar- se tão ab erto co m o implica m as<br />

feri<strong>da</strong>s <strong>da</strong> infec ç ã o . A terapia <strong>da</strong> m e dicin a aca d ê m i c a não tem<br />

muito a ofer e c e r, já que não existe m antibiótico s contra os vírus<br />

tais co m o os que co m b a t e m as bact érias, sen d o que os<br />

antivirais têm um a aç ã o muito limita<strong>da</strong>. Eles so m e n t e m ant ê m<br />

os vírus e m um estad o estátic o. A des c o b e rta rec e nt e mais<br />

interes s a nt e é um rem é di o produzido pelo próprio corpo, que<br />

se m pr e estev e à dispo siç ã o do m é dic o interno e que a<br />

m e di cin a cha m a de interfero n. Trata- se de uma substânci a<br />

secr eta d a pela célula atac a d a por vírus pouc o ante s de sua<br />

m orte e que está e m condiç õ e s de prote g e r as outras células<br />

dos vírus. É, por assi m dizer, o testa m e n t o <strong>da</strong> célula moribun d a<br />

para as que ficam, e que põ e fim ao s outros vírus. O con c eito é<br />

familiar: ced er ao vírus leva e m última instância à sua<br />

sup er a ç ã o .<br />

P er g u nta s<br />

1. Com o estou e m relaç ã o ao s sentim e nt o s de verg o n h a e<br />

de culpa sexuais?<br />

2. Tenh o a tend ê n ci a de punir- m e pelo s pas s o s e m falso?<br />

É o herp e s minh a puniçã o pelo des ej o de des ej o s ilegais?<br />

3. Tenh o um a postura natural e m relaç ã o ao sex o, ou<br />

prep o n d e r a e m ruim a parte que o neg a co m o algo sujo?<br />

4. O que ous o arrisc ar sexual m e n t e ? Em relaç ã o a mi m<br />

m e s m o ? Em relaç ã o a parc eiro s estran h o s ?<br />

5. Descubr o ain<strong>da</strong> coisa s nova s co m m e u parc eiro, ou<br />

40<br />

5


so m e n t e co m parc eiro s nov o s ?<br />

6. Que conflitos sexuais não ad mito? Onde tenh o que abrir<br />

minh a s fronteiras nas dificul<strong>da</strong>d e s sexuais?<br />

7. O que m e dá coc eira, o que m e quei m a real m e nt e?<br />

Com o pod eria <strong>da</strong>r a m e u s genitais a aten ç ã o pela qual arde m ,<br />

co m des ej o e se m sentim e nt o s de culpa?<br />

8. Em que m e did a não ad mito real m e nt e m e u parc eiro e<br />

seus (meus) segr e d o s ?<br />

2. A próstata e seus problemas<br />

Aumento s de tam a n h o <strong>da</strong> próstata são um proble m a<br />

am pla m e n t e difundido na i<strong>da</strong>d e m adur a dos ho m e n s . Através<br />

des s e paulatino aum e nt o de tam a n h o , a próstata, que env olv e<br />

a uretra ma s c ulina, pres si o n a o fluxo de urina. Ele é<br />

estran g ulad o e a tend ê n ci a ao estran g ula m e n t o é cres c e n t e . A<br />

bexig a so m e n t e pod e ser esv aziad a atrav é s dela co m um a<br />

pres s ã o (esforç o) con sid er á v el, o que transfor m a o ato de<br />

urinar e m um esforç o, sen d o que a bexig a não mais se esv azia<br />

co m pl et a m e n t e . Isso faz, por um lado, co m que seja nec e s s á ri o<br />

urinar m ais freqü e nt e m e n t e , perturb and o assi m o son o, e por<br />

outro o fluxo de urina, orgulho de tantos m e nin o s , transfor m ase<br />

e m um fio can s a d o . O grand e arco urinário sucu m b e<br />

cla m o r o s a m e n t e , e os mictórios público s são pen o s a m e n t e<br />

evitad o s já que a fraqu ez a (do jato) é senti<strong>da</strong> co m o humilhant e.<br />

O orgulho s o jato co m o qual o m e nin o apo sta que m ch e g a<br />

mais long e (na vi<strong>da</strong>?), tam b é m serv e nes s a ép o c a prec o c e<br />

para diferen ciar- se de m an eira expr e s s a do sex o que, nest e<br />

asp e ct o, é decidi<strong>da</strong> m e n t e m ais fraco. Som a- se a isto o fato de<br />

que a postura ma s c ulina ao urinar é um a postura de pod er.<br />

Com as perna s be m afastad a s , o jato é dirigido agre s siv a m e n t e<br />

para diante. Nos jogo s dos m e nin o s , o m e m b r o torna- se<br />

real m e nt e um apar elh o esp ortivo. A Bíblia já utiliza a son or a<br />

palavra es c ol hi<strong>da</strong> por Lutero, "piss e n" (= mijar) co m o um<br />

sím b ol o de força ma s c ulina. A postura feminina<br />

40<br />

6


corre s p o n d e n t e , ao contrário, exer c e um efeito de humil<strong>da</strong>d e. A<br />

mulh er se põ e de cóc or a s e, na postura aga c h a d a , deixa que o<br />

líquido flua.<br />

Quando es s a cap a cid a d e de diferen ci a ç ã o ced e, à m e di<strong>da</strong><br />

que a i<strong>da</strong>d e avan ç a, o corp o indica que se está aproxi m a n d o<br />

do sexo fraco. Ele ag or a não pod e m ais eliminar sua água co m<br />

tanta facili<strong>da</strong>d e e form a n d o um arco tão alto, situaç ã o na qual<br />

as mulh er e s vive m se m pr e. O org anis m o explicita que a<br />

aproxi m a ç ã o ao pólo feminin o tem lugar no plan o corpor al. É<br />

natural susp eitar que a tarefa propria m e n t e dita, a aproxim a ç ã o<br />

ao próprio pólo feminin o, a anima, fica aqu é m do nec e s s á ri o, e<br />

o corp o precis a viver o que a alm a evita.<br />

O sinto m a m o stra a tarefa: trata- se <strong>da</strong> anulaç ã o <strong>da</strong>s<br />

fantasias m a s c ulina s de grand e z a. O corp o torna sinc er o e<br />

força o afetad o a rec o n h e c e r que seu jato ma s c ulino e a<br />

irradiaç ã o a ele relacio n a d a já não che g a muito long e. A tarefa<br />

de aproxim a ç ã o ao pólo feminino se con cr etiza<br />

simultan e a m e n t e e m sentido figurad o.<br />

Uma indicaç ã o terap êutic a corrent e lanç a um a luz adicion al<br />

so br e o quadr o sinto m átic o. A funçã o <strong>da</strong> próstata é produzir<br />

liquido para que tudo deslize be m durante o ato sexual e o<br />

sê m e n esteja aprovision a d o para sua viag e m . O tam a n h o <strong>da</strong><br />

próstata, con s e q ü e n t e m e n t e , diminui devido ao esv azia m e n t o .<br />

Neste ponto, o con s el h o do urolo gista para que se tenha<br />

relaç õ e s sexuais co m freqü ê n ci a é con s e q ü e n t e . Caso, e m<br />

relaç ã o a isso, o pacient e não esteja dispo st o ou não seja<br />

cap az, ele força o próprio urologista a apalpá- lo. O ded o metido<br />

no ânus pod e exer c er pres s ã o so br e a próstata au m e nt a d a e<br />

espr e m ê - la por m ei o des s a ma s s a g e m anal. A própria<br />

ativi<strong>da</strong>d e sexual está certa m e n t e sen d o levad a e m<br />

con sid er a ç ã o , pois o fluxo de sê m e n que surg e é um alívio.<br />

O sinto m a <strong>da</strong> do e n ç a quer forçar o pacient e a relacion ar- se<br />

mais co m sua sexuali<strong>da</strong>d e . Ness e contexto, é interes s a nt e<br />

notar que nas culturas árab e s , ond e a ativi<strong>da</strong>d e sexual<br />

freqü e nt e até a velhic e é a regra para o xá de pos s e s , não<br />

surg e m quais qu er probl e m a s de próstata co m p ar á v ei s. Por<br />

40<br />

7


outro lado, a hiperplasia <strong>da</strong> próstata é muitas vez e s o resultad o<br />

<strong>da</strong> impot ê n ci a. A glândula produz líquido s que entã o não são<br />

mais utilizado s. Eles ficam repres a d o s , e torna- se nec e s s á ri o<br />

am pliar a repre s a.<br />

O sinto m a <strong>da</strong> do e n ç a força a exerc er mais a sexuali<strong>da</strong>d e e,<br />

co m isso, ao rec o n h e c i m e n t o e à elab or a ç ã o do tem a <strong>da</strong><br />

polari<strong>da</strong>d e . O pacient e evid e nt e m e n t e deixou de se ocup ar<br />

suficiente m e n t e do assunto. É nec e s s á ri o, portanto,<br />

rec o m e n d a r- lhe mais contato físico co m o sex o feminino e mais<br />

contato aní mic o co m o próprio lado feminin o. Com a i<strong>da</strong>d e<br />

avan ç a d a , o centro de gravi<strong>da</strong> d e do enc o ntr o sexual deslo c ase<br />

para o enc o ntr o co m a anima. Quanto a isso, o plano<br />

corp or al continuará sen d o importante nes s e sinto m a na mes m a<br />

m e di<strong>da</strong> e m que não foi suficiente m e n t e trabalhad o até entã o. A<br />

próstata incha d a indica tam b é m a nec e s s i d a d e de um<br />

cres ci m e n t o adicion al <strong>da</strong> ma s c ulini<strong>da</strong>d e. Entretanto, o grand e<br />

obje tivo continua sen d o realizar e m si o pólo opo st o, não no<br />

plan o do jato de urina, ma s no <strong>da</strong> irradiaç ã o aní mic o- espiritual.<br />

P er g u nta s<br />

1. Em que m e did a sinto- m e enfraqu e ci d o e m minh a<br />

irradiaç ã o m a s c ulina? Sinto- m e velho e des g a st a d o para o<br />

sexo?<br />

2. Onde luto contra resistên ci a s tenaz e s cres c e n t e s ?<br />

3. O que não "bate" co m minha soltura? Onde estan c o<br />

algo?<br />

4. Não "che g o lá" na vi<strong>da</strong>?<br />

5. Onde ponh o o grand e arc o para fora? Onde o perdi de<br />

vista?<br />

6. Que pap el des e m p e n h a o feminin o na minh a vi<strong>da</strong>, que<br />

pap el des e m p e n h a o "sexo fraco"? Que pap el des e m p e n h a o<br />

en c o ntro (sexual) co m ele?<br />

7. Em que m e did a enc o ntr o a feminili<strong>da</strong>d e em ruim?<br />

40<br />

8


3. A articulação coxo-femural<br />

A articulaç ã o coxo- femural é a bas e de noss o ca minhar e,<br />

co m isso, o lar de noss o s pas s o s e progr e s s o s e m grand e e<br />

pequ e n a es c al a, para o be m e para o m al. To<strong>da</strong> viag e m<br />

co m e ç a co m um pas s o , e tam b é m to<strong>da</strong> ca min h a d a . Dores na<br />

articulaç ã o coxo- femural, que na mai oria dos cas o s têm orig e m<br />

e m um a artros e, impe d e m es s a s ca min h a d a s e sinaliza m ao s<br />

afetad o s que não se pod e m ais contar co m grand e s<br />

progr e s s o s . Eles so m e n t e avan ç a m (na vi<strong>da</strong>) co m dore s. Ao<br />

lado do surgi m e nt o de des g a s t e s , são colo c a d o s e m questã o<br />

co m o bas e m e dicin al, so br etud o , os proble m a s reu m átic o s .<br />

A tarefa seria confor m ar- se co m o des c a n s o forçad o,<br />

rec o n h e c e r co m o o progr e s s o e o m o vi m e nt o são difíceis e <strong>da</strong>r<br />

pas s o s intern o s em vez de extern o s . Com a ad mis s ã o de que a<br />

cap a cid a d e de articulaç ã o nes s e plano foi perdi<strong>da</strong>, os objetivo s<br />

extern o s des a p ar e c e m na distân cia. Ao m e s m o tem p o , nesta<br />

oportuni<strong>da</strong>d e pod e oc orr er ao s afetad o s que continua sen d o<br />

pos sív el articular e tam b é m alcan ç ar objetivo s interno s durante<br />

o des c a n s o forçad o. A articulaç ã o des g a s t a d a , que co m seu<br />

an<strong>da</strong>r tenaz dá a impres s ã o de não ter sido lubrificad a, sinaliza<br />

que os ca minh o s extern o s dev e m ser limitado s. A situaç ã o<br />

en c alh o u. Isso leva natural m e nt e ao des c a n s o . Caso este seja<br />

suficiente m e n t e profund o, dele resultará nova m e n t e<br />

m o vi m e nt o , na ver<strong>da</strong>d e movi m e n t o interno.<br />

A saí<strong>da</strong> utiliza<strong>da</strong> hoje é a articulaç ã o coxo- femural artificial,<br />

um truque tão genial co m o contrário ao des e n v olvi m e n t o que<br />

per mite à pes s o a voltar a viver co m o se na<strong>da</strong> tives s e<br />

ac o nt e cid o. Aqui tam b é m há um a chanc e para a sinc eri<strong>da</strong> d e ,<br />

na m e di<strong>da</strong> e m que se ad mita que o progr e s s o alm ejad o no<br />

futuro é artificial, que estritam e nt e faland o não mais se pára e m<br />

pé so br e as próprias perna s. Nova- m e nt e é de supor que a<br />

partir de ag or a é precis o contar m ais co m a aju<strong>da</strong> de outras<br />

pes s o a s para as cois a s extern a s e, por es s a razão, tornar- se<br />

mais autôn o m o nas cois a s interna s. Daí pod e- se derivar<br />

40<br />

9


tam b é m a con clus ã o de que o progr e s s o extern o pod e ser um<br />

progr e s s o forçad o artificialm e nt e, des d e que o genuín o oc orra<br />

e m um outro plano.<br />

P er g u nta s<br />

1. Com o avan c ei na vi<strong>da</strong>? Com o progr e di? Som e nt e<br />

con sid er ei objetivo s extern o s? Cons e g ui alcan ç á- los?<br />

2. É pos sív el alcan ç ar m e u s objetivo s por ca min h o s<br />

extern o s ?<br />

3. Onde enc alh ei ou m e en g a n c h e i?<br />

4. Que pap el des e m p e n h a para ruim o des c a n s o e o<br />

rec olhi m e nt o ?<br />

5. Onde aterriss ei interna m e n t e , e ond e ain<strong>da</strong> quer o<br />

ch e g ar?<br />

6. Aprendi a amp ar ar- m e na aju<strong>da</strong> extern a, torná- la útil<br />

para minha s nec e s s i d a d e s interna s?<br />

41<br />

0


13<br />

As Pernas<br />

Nossa s perna s, juntam e nt e co m os pés e as articulaç õ e s do<br />

joelho e do tornoz el o, form a m aqu el a s uni<strong>da</strong>d e s funcion ais que<br />

resp o n d e m à pergunta: Com o vai, co m o an<strong>da</strong>? Ain<strong>da</strong> que e m<br />

geral preste m o s pouc a aten ç ã o ao fato, to<strong>da</strong> a nos s a vi<strong>da</strong><br />

des c a n s a so br e as perna s. Respo n s á v ei s pelo m o vi m e n t o no<br />

esp a ç o , elas m o stra m co m o esta m o s no ca min h o . A relaç ã o<br />

<strong>da</strong>s extre mi d a d e s inferiores co m a reali<strong>da</strong>d e con cr eta é<br />

sim b olizad a pelo contato co m o chã o. Enquanto os braç o s<br />

estã o pendura d o s no ar, as perna s, co m os dois pés, estã o<br />

apoiad a s no chã o. Elas deixa m ver que postura assu mi m o s na<br />

vi<strong>da</strong> e co m o nos colo c a m o s nela, co m o nos apres e nt a m o s e se<br />

so m o s m elindro s o s , se so m o s dissi m ulad o s e o que<br />

repre s e nt a m o s , ond e deturpa m o s e o que form a m o s . O<br />

posicion a m e n t o é algo central, e a m an eir a co m o nos<br />

posicion a m o s e m relaç ã o à vi<strong>da</strong> decid e co m o nos sentim o s<br />

nela. A postura pes s o al m o stra se esta m o s a ca min h o na vi<strong>da</strong><br />

unica m e n t e sozinh o s ou a dois. Os adol e s c e n t e s , que ain<strong>da</strong><br />

não se firmara m e ain<strong>da</strong> estã o e m m o vi m e n t o , an<strong>da</strong> m junto s.<br />

Assim co m o os braç o s , as perna s tam b é m tend e m a<br />

con s erv ar en er gi a cinética não conv erti<strong>da</strong>. Impulsos de fuga<br />

bloqu e a d o s enc arn a m - se e m tens õ e s , impuls o s de luta<br />

rejeitad o s e m cãibra s, um a postura indolent e enc arn a- se na<br />

mus c ulatura corresp o n d e n t e . Há tantos tipos de perna co m o há<br />

pes s o a s e ponto s de vista. Apesar diss o, é pos sív el rec o n h e c e r<br />

deter min a d o s padrõ e s rec orr e nt e s . Não é por aca s o que<br />

falam o s de extre mi d a d e s , já que são elas que nos põ e m e m<br />

contato co m os extre m o s <strong>da</strong> proximi<strong>da</strong>d e e <strong>da</strong> distância. Sua<br />

tarefa é son d ar os extre m o s .<br />

Pernas maciças e mus c ul o s a s , que tend e m a m ant er- se<br />

algo afastad a s uma <strong>da</strong> outra devido às m a s s a s de mús c ul o s<br />

que colide m ao ca min h ar, per mite m entrev er um a<br />

41<br />

1


pers o n ali<strong>da</strong>d e se m e l h a nt e. Apesar de to<strong>da</strong> a sua força, a<br />

m o bili<strong>da</strong>d e esp o nt â n e a e mud a n ç a s brusc a s não são seu forte.<br />

O an<strong>da</strong>r rígido, rob ótic o, dá forço s a m e n t e uma impre s s ã o de<br />

esforç o. A m o bili<strong>da</strong>d e fluente e flexível é substituí<strong>da</strong> pela força<br />

robusta. Se a isso se so m a m ain<strong>da</strong> os ma ci ç o s pés<br />

corre s p o n d e n t e s , está pronto o elefa nt e na loja de porc ela n a.<br />

O pólo opo st o é repres e nt a d o por perna s fraca s co m um a<br />

mus c ulatura muito pouc o des e n v olvid a, que têm proble m a s<br />

para mant er seus proprietários so br e os pés e am e a ç a m ced er<br />

a qualqu er m o m e n t o . Com dificul<strong>da</strong>d e s para m ant er- se so br e<br />

as próprias perna s e se m ponto s de vista firme s, os afetad o s<br />

declarad a m e n t e nec e s sita m de apoio. Eles estã o ca minhand o<br />

co m perna s que precis a m de reforç o que cuide de sua postura<br />

e de seu progr e s s o . De m an eira corre s p o n d e n t e , eles bus c a m<br />

apoio e m to<strong>da</strong> parte e corteja m aqu el a confianç a que se<br />

des e n v olv e tão m al e m sua platafor m a de vi<strong>da</strong>. Com o<br />

co m p e n s a ç ã o , eles freqü e nt e m e n t e tenta m adquirir<br />

con sist ê n ci a ao m e n o s e m cim a, ac e ntuand o esp e ci al m e n t e os<br />

mús c ul o s dos braç o s ou o cér e br o.<br />

Pernas de arame são igual m e nt e finas, m a s de form a<br />

algu m a fracas. Elas se desta c a m pela m o bili<strong>da</strong>d e intens a,<br />

esp o nt â n e a , que pod e ch e g ar à inquietud e nervo s a. Sempr e<br />

ca min h a n d o , elas têm probl e m a s para che g ar e para ficar. Tais<br />

perna s são con sid er a d a s atraent e s , pois são rijas e es b elta s,<br />

alé m de ág ei s e nervo s a s . A instabili<strong>da</strong>d e oculta- se<br />

discr eta m e n t e por trás <strong>da</strong> ele g a nt e mo bili<strong>da</strong>d e atarefad a.<br />

Às de ara m e opõ e m - se as pernas maciças e<br />

subdesenvolvi<strong>da</strong>s, cujos proprietários cha m a m a aten ç ã o<br />

pelo an<strong>da</strong>r co m o qual se arrasta m pela vi<strong>da</strong>. Eles costu m a m<br />

es c utar desd e pequ e n o s : "Erga as perna s!" ou "Você ain<strong>da</strong> vai<br />

trop e ç ar nos próprios pés!" Eles freqü e nt e m e n t e se gu e m es s a s<br />

profecias, colo c a m - se e m seu próprio ca min h o , têm<br />

dificul<strong>da</strong>d e s e m se mant er so br e os pés e mais ain<strong>da</strong> e m<br />

progr e dir. A fraqu ez a de sua postura e de seus ponto s de vista<br />

m o stra- se ab aixo, co m o o lastro que eles arrasta m con sig o.<br />

Pode- se imagin ar que seu an<strong>da</strong>r arrastad o , que lem br a o de<br />

41<br />

2


algué m que está dor mind o , é totalm e nt e inapropriad o para ir de<br />

en c o ntro à vi<strong>da</strong>. Arrastand o- se pelo ca minh o , falta- lhes muitas<br />

vez e s a esta bili<strong>da</strong>d e e a pers e v e r a n ç a nec e s s á ri a s para<br />

perc orr ê- lo.<br />

1. A articulação do joelho - problemas de menisco<br />

Na articulaç ã o do joelho elab or a m o s o tem a <strong>da</strong> humil<strong>da</strong>d e .<br />

Ajoelhar- se e do br ar o joelho são ge st o s de sub mi s s ã o . Dess a<br />

man eira se vai ao en c o ntro dos dignitários religios o s ;<br />

antiga m e n t e se co m p ar e ci a assi m perant e o rei. Cham a a<br />

aten ç ã o o fato de que as pes s o a s m o d e r n a s tend e m m e n o s a<br />

dobrar o joelho. Pratica m e n t e não há oportuni<strong>da</strong>d e para isso<br />

fora <strong>da</strong> igreja católica, e m e s m o lá, ve m se proc e s s a n d o um a<br />

notáv el transfor m a ç ã o . Segund o nov o s "regula m e n t o s ", ag or a<br />

se pod e ficar e m pé e m situaç õ e s nas quais antes se<br />

ajo elh a v a. Em vez de dobrar o joelho humilde m e n t e diante do<br />

Todo- Poder o s o , hoje ele é confrontad o . A humil<strong>da</strong>d e e a<br />

sub mi s s ã o não estã o mais muito be m cotad a s .<br />

O ser hum a n o aprum a d o e inflexível tornou- se um ideal -<br />

cad a qual seu próprio rei. Até m e s m o trabalh o s que<br />

antiga m e n t e forçav a m a ajo elh ar- se, tais co m o tirar o pó e<br />

esfre g ar o chã o , hoje e m dia estã o pelo m e n o s tão<br />

m e c a niz a d o s que es s a postura se tornou desn e c e s s á ri a.<br />

Portanto, não é de estran h ar que os probl e m a s dos joelho s,<br />

esp e ci al m e n t e na form a de lesõ e s do m e ni s c o , tenha m<br />

adquirido um significad o con sid er á v el.<br />

A bas e <strong>da</strong>s lesões de menisco é a sup er exig ê n ci a. Os dois<br />

m e ni s c o s , que con siste m de cartilag e m , per mite m que a<br />

articulaç ã o do joelho, se m el h a nt e a uma do br adiç a, exe c ut e<br />

tam b é m m o vi m e n t o s giratório s. Quanto à form a, um equival e a<br />

uma m eia- lua e o outro, à lua cheia. Quanto à funçã o, eles<br />

corre s p o n d e m igual m e nt e ao pólo feminino. Na lesã o<br />

resp e ctiva eles se rasg a m , espr e m i d o s entre os pod er o s o s<br />

oss o s <strong>da</strong> coxa e <strong>da</strong> perna. A terapia usual ass e m e l h a- se a um<br />

41<br />

3


prolap s o de disc o, extirpand o os tecido s <strong>da</strong>nificad o s e fraco s<br />

de m ai s para o esforç o exigido. Finalm e nt e, os afetad o s tenta m<br />

freqü e nt e m e n t e continuar pratican d o o esforç o exc e s si v o se m<br />

as alm ofa d a s cartilagino s a s .<br />

O sinto m a m o stra ao s afetad o s sua arrog â n ci a. Eles<br />

dev eria m rec o n h e c e r seus limites e perc e b e r que seu impuls o<br />

de m o vi m e n t o extern o e o rendi m e nt o exigido do corp o para<br />

isso vão long e de m ai s. Caso eles ignor e m os doloro s o s sinais<br />

de adv ertênci a, os tem a s <strong>da</strong> m o d é s tia e <strong>da</strong> humil<strong>da</strong>d e , nãovivido<br />

s e e m p urrad o s para a so m b r a, precipita m- se nos<br />

joelho s, que para isso estã o pred e stina d o s . Em vez <strong>da</strong><br />

humil<strong>da</strong>d e esp o ntân e a , eles ag or a viven ci a m a m o d é s tia<br />

força<strong>da</strong> e m sua m o bili<strong>da</strong>d e limita<strong>da</strong>, e a humilha ç ã o <strong>da</strong>s dore s.<br />

Quem não reduz de livre e esp o nt ân e a vontad e sua exag er a d a<br />

m o bili<strong>da</strong>d e extern a, é levad o a fazê- lo pelo s menis c o s .<br />

Trata- se de endireitar- se e ad mitir sinc er a m e n t e quais<br />

esforç o s são real m e nt e exigido s. Suspeita- se que justa m e n t e<br />

os atletas radicais utilize m sua exa g er a d a m o bili<strong>da</strong>d e extern a<br />

co m o co m p e n s a ç ã o para a imo bili<strong>da</strong>d e interna. Em vez de<br />

procurar interna m e n t e um a certa flexibili<strong>da</strong>d e e esforç ar- se<br />

para en c o ntrar ponto s de vista alternativo s, eles gira m e viram<br />

extern a m e n t e até que a paciên ci a do destino se es g ota e lhes<br />

rasg a o m e nis c o . Ness e sentido, a lesã o do joelho força a uma<br />

imo bili<strong>da</strong>d e sinc er a que tam b é m corresp o n d e à postura interna.<br />

Seria precis o aprov eitar o des c a n s o forçad o para estar<br />

nova m e n t e e m har m o ni a: para ser o m ai or extern a m e n t e ,<br />

tam b é m são nec e s s á ri a s m o bili<strong>da</strong>d e interna e uma dos e de<br />

m o d é s tia, que pod e ac eitar, que não se deixa forçar a fazer<br />

aquilo que não está dentro dos limites <strong>da</strong>s próprias<br />

pos sibili<strong>da</strong>d e s ou tarefas.<br />

Quando se pes q uis a a incidên ci a de acident e s direto s no<br />

esp orte, por exe m pl o, en c o ntra- se um a situaç ã o ond e a<br />

imo bili<strong>da</strong>d e espIritual precis a ser co m p e n s a d a por torçõ e s<br />

corp or ais exag er a d a s . Caso o jogad or de futeb ol, co m a<br />

cab e ç a pens a nt e que tem acim a, tives s e se posicion a d o m ais<br />

habilm e nt e e m relaç ã o à bola ou ao adv er s ário, não precis aria<br />

41<br />

4


se torc er tanto. Além diss o, na m ai oria <strong>da</strong>s vez e s trata- se de<br />

situaç õ e s e m que os afetad o s "jogav a m " interna m e n t e co m um<br />

sentim e nt o tens o a ponto de se romp er. As lesõ e s jam ais são<br />

provo c a d a s por torçõ e s con s ci e nt e s , exe c utad a s co m o prazer<br />

do movi m e n t o ; para isso é nec e s s á ri o ter tam b é m a cab e ç a um<br />

pouc o torci<strong>da</strong>.<br />

P er g u nta s<br />

1. Que pap el des e m p e n h a a m o d é s tia e m minh a vi<strong>da</strong>? Eu<br />

m e curvo quan d o nec e s s á ri o, ou deixo que o destino m e<br />

curve?<br />

2. Há algu m a pes s o a ou algu m tem a que exig e humil<strong>da</strong>d e<br />

de ruim?<br />

3. Tento des e m b a r a ç a r- m e quan d o estou so br e c arr e g a d o ?<br />

Tend o a curvar- m e fisica m e n t e para isso?<br />

4. Onde sou extre m a d o e so m e n t e m e deixo forçar a<br />

ajo elh ar- m e por uma «forç a sup erior"?<br />

5. Onde, junta m e nt e co m a alegria que sinto e m torc er- m e<br />

extern a m e n t e , pod eria adquirir flexibili<strong>da</strong>d e interna?<br />

6. O praz er que sinto no m o vi m e n t o extern o flui a partir do<br />

repou s o ou nas c e <strong>da</strong> am biç ã o e <strong>da</strong> inquietud e?<br />

7. Para ond e m e volta o destino? Para ond e m e u olhar<br />

dev e se dirigir?<br />

2. A panturrilha e suas cãibras<br />

Elas são a bas e de perna s bela s, que se destac a m por um<br />

saud á v el equilíbrio na mus c ulatura, que dão à perna e a to<strong>da</strong> a<br />

pes s o a en er gi a e elastici<strong>da</strong>d e . Quando algu é m está saltand o<br />

ou prest e s a saltar, isso se m o stra na panturrilha. Em seu vigor<br />

está o se gr e d o para <strong>da</strong>r o salto certo. Quando não se<br />

con s e g u e e se perd e a oportuni<strong>da</strong>d e , são freqü e nt e m e n t e as<br />

panturrilhas que de m o n s tr a m a so br e c ar g a não ad miti<strong>da</strong>. Elas<br />

pod e m ser con sid er a d a s o tes o ur o de nos s a s tens õ e s<br />

e m o ci o n ai s e, de m an eira corresp o n d e n t e a isso, per m a n e c e m<br />

41<br />

5


ocultas e protegid a s por trás <strong>da</strong>s canelas. Estas enc a n a m as<br />

perna s e, con s e q ü e n t e m e n t e , os m o vi m e n t o s , esta b el e c e m<br />

critérios e têm a ver co m a cap a ci<strong>da</strong>d e de agü e nt ar. Quando se<br />

«lev a um a can el a d a", é- se fread o m o m e n t a n e a m e n t e e m seu<br />

progr e s s o . Os jogad or e s de futeb ol e de hock e y no gelo, para<br />

os quais a cap a cid a d e de se impor e a resistên ci a são<br />

decisiva s, proteg e m es s a s regiõ e s fortes e ao m e s m o temp o<br />

sen sív ei s co m can el eira s. Com o as can el a s ca min h a m à frente<br />

na vi<strong>da</strong>, elas e m geral são tam b é m as que m ais apan h a m .<br />

Marcas roxas e dore s "nervo s a s " docu m e n t a m o quanto elas<br />

são sen sív ei s e ranc or o s a s . As ma ci a s panturrilhas tam b é m o<br />

são, ma s de outra man eira.<br />

O que se pod e con cluir a partir dos son h o s durante um surto<br />

de cãibra s noturnas na panturrilha pod e ser facilm e nt e<br />

rec o n h e c i d o nas cãibras nas panturrilhas que surg e m nos<br />

jogad or e s de futeb ol quan d o sofre m um estira m e nt o . Os<br />

estira m e n t o s oc orr e m so m e n t e co m os futeb olistas decidido s,<br />

dos quais dep e n d e o "avan ç o " do time. Quando a tens ã o<br />

e m o ci o n al acu m ul ad a relacion a d a à "asc e n s ã o " e ao "avan ç o "<br />

aproxi m a- se de seu ponto culminant e, as cãibras na panturrilha<br />

m o stra m a carg a e m o ci o n al do individuo. Naturalm e nt e, o<br />

esforç o físico tam b é m se faz notar esp e ci al m e n t e. Entretanto,<br />

e m relaç ã o a isso cha m a a aten ç ã o o fato de que o m e s m o<br />

jogad or e m geral agü e nta tais provas de so br e c ar g a durante os<br />

treina m e n t o s se m probl e m a s e se m cãibra s nas panturrilhas.<br />

Os corred or e s de m ar aton a, que suporta m um des g a st e físico<br />

ain<strong>da</strong> m ai or, pratica m e n t e não têm cãibra s nas panturrilhas. A<br />

razã o pod eria estar na carg a e m o ci o n al sub stan ci al m e n t e<br />

m e n o r, sen d o que nes s e s long o s percurs o s pratica m e n t e não<br />

há decis õ e s tens a s a ser e m tom a d a s .<br />

Cãibras noturna s nas panturrilhas revela m que a tens ã o<br />

e m o ci o n al acu m ulad a ao long o do dia é tão con sid er á v el que<br />

não pod e ser confrontad a de man eira suficiente m e nt e<br />

con s ci e nt e durante a elab or a ç ã o noturna. Ela entã o m er gulha<br />

no corpo, m e s m o so b a prote ç ã o <strong>da</strong> noite, e se faz notar na<br />

mus c ulatura hiperten s a <strong>da</strong> panturrilha.<br />

41<br />

6


As m e di<strong>da</strong>s de prim eiros so c orr o s usuais, que têm por<br />

objetivo relaxar a mus c ulatura endur e cid a, trabalha m<br />

ho m e o p a tic a m e n t e . A perna, so b forte pres s ã o , é apoiad a<br />

contra um suporte resistent e. Desta tens ã o intencion al, que<br />

e m p urra a situaç ã o de hiperten s ã o para a con s ci ê n ci a, resulta<br />

a soluç ã o , o relaxa m e n t o <strong>da</strong> cãibra. As des e s p e r a d a s<br />

tentativas de saltar dos afetad o s têm efeito se m e l h a nt e. O<br />

sinto m a os tira <strong>da</strong> luta física e os força a um a tens ã o<br />

con s ci e nt e. Esse m o m e n t o de con s ci ê n ci a pod e ser suficiente<br />

para deixar clara a luta corp or al que está sen d o travad a e<br />

per mitir rec o n h e c e r qual tens ã o e m o ci o n al e qual am biç ã o se<br />

es c o n d e por trás dela. Trata- se de se apoiar, de corp o e alm a e<br />

con s ci e nt e m e n t e , na am e a ç a e m o ci o n al, pois quan d o a<br />

con s ci ê n ci a ab and o n a a luta, o corp o por si só não tem a<br />

m e n o r chanc e . Ele entã o m o stra a exig ê n ci a exc e s si v a na<br />

cãibra, a caricatura <strong>da</strong> luta. Mas cas o o des afio seja reto m a d o<br />

con s ci e nt e m e n t e , o corp o é aliviad o <strong>da</strong> tarefa de apoiar- se<br />

substitutiva m e n t e contra algo que de qualqu er form a não pod e<br />

ser detido por m ei o s pura m e n t e físico s. A hiperten s ã o física<br />

ced e co m es s e pas s o <strong>da</strong> con s ci ê n ci a e o ritual que é<br />

exe c utad o simultan e a m e n t e . Pode- se entã o voltar a jogar ou a<br />

dor mir, ou seja, a son h ar. Quando a luta é travad a de man eira<br />

con s ci e nt e m e n t e e m o ci o n al, o corp o tam b é m pod e continuar<br />

lutand o. A cãibra física <strong>da</strong> panturrilha, portanto, se m pr e trai<br />

tam b é m uma dos e de resign a ç ã o e de renún cia. Os afetad o s<br />

sinaliza m que fora m posto s fora de co m b at e , ou seja, estã o<br />

incap a citad o s para a luta. O que eles não ad mite m fisica m e n t e<br />

torna- se claro no corp o.<br />

P er g u nta s<br />

1. Que exaltaç ã o e m o ci o n al não ad miti<strong>da</strong> pod eria ter se<br />

acu m ul ad o e m minh a s panturrilhas?<br />

2. Até que ponto a luta e m o ci o n al que se enc arn a na cãibra<br />

faz falta e m minh a vi<strong>da</strong>?<br />

3. Contra o que m e apóio e m sentido figurad o, quan d o<br />

en c o st o minha perna e m convuls õ e s contra um suporte?<br />

41<br />

7


4. Onde dev eria esforç ar- m e de man eira m ais con s ci e nt e<br />

para agü e nt ar um a luta co m forte carg a em o ci o n al?<br />

5. O que e sta e m jogo para ruim no m o m e n t o e co m o lido<br />

co m isso em o ci o n al m e nt e?<br />

6. Onde quer o pular fora e desistir, se m ad miti- lo?<br />

3. Rompimento do tendão de Aquiles<br />

A co m p a ct a mus c ulatura <strong>da</strong> panturrilha liga- se ao calcanhar<br />

por mei o do tendã o de Aquiles. Quando esta cor<strong>da</strong> arreb e nt a, a<br />

pes s o a não dá m ais nenhu m pas s o e tam b é m nenhu m pulo.<br />

Há divers a s razõ e s para que o calc anhar se transfor m a s s e e m<br />

calcanhar de Aquiles e, assi m, no ponto fraco do ser hum a n o .<br />

É nest e local que Eva é am e a ç a d a de ser atac a d a pela<br />

serp e nt e ao ser expuls a do Paraís o. Neste ponto fraco a<br />

serp e nt e, prolon g a m e n t o do braç o do de m ô ni o , sím b ol o <strong>da</strong><br />

duali<strong>da</strong>d e e <strong>da</strong> divisã o, se insinuará para ela. O mito que<br />

apo nta o calc anhar co m o sen d o um a áre a esp e ci al m e n t e<br />

am e a ç a d a se rem et e a Aquiles, o herói <strong>da</strong> guerra de Tróia. Sua<br />

mã e queria imp e dir que qualqu er coisa nest e mund o<br />

ac o nt e c e s s e a seu am a d o filho, e por es s a razã o m er gulh o u- o<br />

no rio do mund o dos m orto s, o Estige, cujas água s con c e di a m<br />

a imortali<strong>da</strong>d e . Mas ela precis av a se gur á- lo por algu m lugar,<br />

para que ele não afun<strong>da</strong> s s e co m pl et a m e n t e . Com o ela<br />

es c ol h e u os calc anhar e s , este s ficara m sen d o o único lugar<br />

vulneráv el de Aquiles. Foi aí que a flech a de Heitor o atingiu,<br />

provo c a n d o - lhe a m orte quan d o ain<strong>da</strong> era jove m . Finalm e nt e, o<br />

calcanhar é tam b é m aqu el e lugar que nos une mais<br />

intens a m e n t e co m a Mãe Terra, que con cr et a e sim b olic a m e n t e<br />

repre s e nt a a polari<strong>da</strong>d e, o mun d o feminin o dos opo st o s .<br />

O mund o <strong>da</strong> duali<strong>da</strong>d e , co m o pólo opo st o <strong>da</strong> uni<strong>da</strong>d e<br />

paradisíac a, é o lugar <strong>da</strong> m ortali<strong>da</strong>d e e de todo o sofrim e nt o. O<br />

calcanhar co m o ponto de união co m a polari<strong>da</strong>d e e m Eva,<br />

Aquiles e o resto <strong>da</strong> hum a nid a d e é co m isso a porta de entrad a<br />

41<br />

8


para to<strong>da</strong> s as iniqüi<strong>da</strong>d e s pos sív ei s. A infelici<strong>da</strong>d e co m o<br />

expr e s s ã o <strong>da</strong> polari<strong>da</strong>d e e pólo opo st o <strong>da</strong> felici<strong>da</strong>d e <strong>da</strong><br />

uni<strong>da</strong>d e go sta esp e ci al m e n t e de pen etrar na vi<strong>da</strong> por aqui.<br />

O tendã o de Aquiles, que se inser e nes s e lugar tão esp e ci al,<br />

é nos s o tendã o m ais ma ci ç o e forte, e é precis o tension ar o<br />

arco de form a extre m a para que ele se romp a. Nas situaç õ e s<br />

corre s p o n d e n t e s , um a pes s o a deixa de calcular suas<br />

pos sibili<strong>da</strong>d e s e tensio n a e romp e seus tend õ e s . Ele<br />

literalm e nt e se romp e e m pe<strong>da</strong> ç o s . Arreb entar- se por um a<br />

obriga ç ã o significa arriscar tudo, e tam b é m m ais do que o<br />

nec e s s á ri o, por ela. E es s a situaç ã o que colo c a e m jogo o<br />

ponto fraco dos ho m e n s . Através do ro mpi m e n t o do tendã o , os<br />

afetad o s são abrupta m e n t e levad o s de volta ao chã o dos fatos.<br />

O calc anhar de Aquiles que não m ais se ergu e deixa claro que<br />

se é so m e n t e um ser hum a n o e que, estan d o e m todo cas o na<br />

polari<strong>da</strong>d e , não se está a<strong>da</strong>ptad o para o so br e n atural. A<br />

arrog â n ci a de equipar ar- se ao so br e n atural é pec a d o , sen d o<br />

que na Antigui<strong>da</strong>d e era inclusive o único. Ele se torna explicito<br />

no pec a d o original, quan d o a serp e nt e leva Eva a colh er <strong>da</strong><br />

árvor e do con h e ci m e n t o do be m e do mal para tornar- se igual a<br />

Deus. Tal con h e ci m e n t o está res erv a d o a Deus, e quan d o Eva<br />

se torna culpad a <strong>da</strong> arrog â n ci a, ele a pers e g u e co m a<br />

polari<strong>da</strong>d e dizen d o à serp e nt e: "Sem e a r ei a disc órdia entre<br />

voc ê e a mulh er. Você olhará para seus calc anhar e s ... ".<br />

Essa relaç ã o se explicita e m um plano m ais ban al nos<br />

ferim e nt o s esp ortivo s do tendã o de Aquiles. Trata- se se m pr e<br />

de esforç o s máxi m o s que exig e m de m a si a d o do corp o e<br />

tension a m ao extre m o seus tend õ e s mais fortes. Quando o<br />

tendã o de Aquiles ced e, ele m o stra que o rec ord e que se tinha<br />

e m vista está fora do alcan c e . É con h e ci d o o fato de que é<br />

se m pr e o mais intelig ent e que ced e . O corpo freqü e nt e m e n t e<br />

tem de des e m p e n h a r es s e pap el ingrato e m relaç ã o à<br />

am bi ci o s a razão, que m et e tantas cois a s pouc o realistas na<br />

ca b e ç a . Isso se tornou esp e ci al m e n t e nítido co m alguns atletas<br />

ligeiro s durante os control e s de doping. Montanha s de<br />

mús c ul o s ergui<strong>da</strong> s à bas e de hor m ô ni o s des e n v o l via m um a<br />

41<br />

9


força que, exigind o de m a s i a d o dos tend õ e s hiperten si o n a d o s ,<br />

fazia co m que se romp e s s e m um atrás do outro. Quando o<br />

siste m a de segur an ç a <strong>da</strong> con s ci ê n ci a ve m ab aixo se m que os<br />

afetad o s o note m , cab e ao corp o parar a louc a viag e m <strong>da</strong><br />

am bi ç ã o .<br />

Providen ci a- se entã o um a paus a para a m e ditaç ã o , e<br />

tam b é m as pos sibili<strong>da</strong>d e s de m o vi m e nt o que não fora m<br />

e m pr e g a d a s e m relaç ã o a isso, as do pens a m e n t o , continua m<br />

sen d o as m elh or e s . Em vez de esp er n e ar fisica m e n t e e tentar<br />

con s e g uir algo incrível, rep entina m e n t e é hora de deixar os<br />

pen s a m e n t o s vagu e ar e m . O org anis m o deixa claro o quanto<br />

um intervalo é nec e s s á ri o. A ligaç ã o dos atos de força<br />

e m o ci o n ai s co m a estrutura interna, sim b olizad a pelo s oss o s , é<br />

muito fraca. Os afetad o s estã o e m um ca min h o que na ver<strong>da</strong>d e<br />

não co m bin a co m eles. O corp o diz que isso precis a parar e<br />

procura justa m e n t e pelo s prim eiro s soc orr o s, paran d o<br />

abrupta m e n t e o projeto de am biç ã o e m pr e e n di d o . Ele não quer<br />

ter mais na<strong>da</strong> a ver co m tais saltos e deixa que a ligaç ã o se<br />

romp a. Ou a força e os ele m e n t o s cinétic o s são fortes de m ai s<br />

para es s a cor<strong>da</strong>, ou a cor<strong>da</strong> é de m a s i a d o fraca para tanta<br />

força.<br />

A lição a ser aprendid a supõ e trocar os pólo s do con c eito<br />

mantido até entã o: <strong>da</strong>r des c a n s o ao corpo e ultrapas s ar<br />

animic a m e n t e o lugar ond e se está e aquilo pelo qual se<br />

esforç a por alcan ç ar. Objetivo s so br e- hum a n o s exig e m<br />

esforç o s so br e- hum a n o s , e co m isso muitas ligaç õ e s<br />

importante s pod e m romp er- se e m ped a ç o s . É precis o<br />

rec o n h e c e r quais ligaçõ e s leva m à infelici<strong>da</strong>d e e dev e m ser<br />

ab and o n a d a s . É evid e nt e que algu m a s se tornara m de m a si a d o<br />

obrigatórias e dev eria m ser cortad a s . Quando a pes s o a se liga<br />

muito forte m e nt e a objetivo s am bi ci o s o s que estã o muito aci m a<br />

<strong>da</strong>s próprias pos sibili<strong>da</strong>d e s , a ligaç ã o co m o mund o polar se<br />

romp e. Caso contrário se perd eria o chã o so b os pés e se<br />

correria o perigo de dec ol ar. É o ro mpi m e n t o por m ei o do corp o<br />

que a traz de volta ao chã o dos fatos.<br />

42<br />

0


P er g u nta s<br />

1. Onde exc e d o minh a s pos sibili<strong>da</strong>d e s ? Pelo que m e<br />

arreb e nt o?<br />

2. Onde m e deixei apan h ar e am arrar por son h o s de vôo<br />

de m a s i a d o alto?<br />

3. Que obriga ç õ e s e m minha vi<strong>da</strong> é precis o cortar?<br />

4. Onde precis o m e soltar, ond e precis o reen c o ntr ar o<br />

chã o?<br />

5. Onde minha am bi ç ã o se transfor m o u em cila<strong>da</strong>?<br />

6. O que eu faço quan d o to<strong>da</strong> s as cor<strong>da</strong> s se romp e m ?<br />

42<br />

1


14<br />

Os Pés<br />

No ponto m ais distante <strong>da</strong> cab e ç a en c o ntra- se o que tem o s<br />

de m ais hum a n o no corp o, a ab ó b a d a do pé. Enquanto<br />

co m p artilha m o s to<strong>da</strong>s as outras estruturas e todo s os outros<br />

órg ã o s , inclusive o cér e br o, co m outras criaturas, as ab ó b a d a s<br />

de nos s o s pés são a única garantia de nos s a postura ereta - e<br />

rec e b e m pouc a aten ç ã o e rec o n h e c i m e n t o por isso. A man eira<br />

co m o li<strong>da</strong>m o s co m noss o s pés trae m noss o estilo de vi<strong>da</strong>.<br />

Emb or a tenha m o s tido contato direto <strong>da</strong> pele co m a terra<br />

durante a m ai or parte <strong>da</strong> história de noss o des e n v o l vi m e n t o ,<br />

nós o evita m o s des d e há alguns século s. An<strong>da</strong>r des c al ç o ain<strong>da</strong><br />

des e m p e n h a um pequ e n o pap el so m e n t e no co m e ç o <strong>da</strong><br />

história <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> do individuo. A tend ê n ci a posterior de usar<br />

sap ato s co m salto m o stra a intenç ã o incon s ci e nt e de<br />

distanciar- nos o m áxi m o pos sív el <strong>da</strong> Mãe Terra. Ao colo c ar<br />

sap ato s de salto alto, as mulh er e s usa m algo que tire seus<br />

calcanhar e s de Aquiles <strong>da</strong> zona de perigo (<strong>da</strong> serp e nt e). A<br />

distância <strong>da</strong> terra é, alé m diss o, eleg a nt e, e por isso a per<strong>da</strong> de<br />

esta bili<strong>da</strong>d e é suportad a de bo m grad o.<br />

Fazer os pés entrar e m à força e m sap ato s extre m a m e n t e<br />

estreitos, ch e g a n d o até ao antigo costu m e chin ê s de impe dir o<br />

cres ci m e n t o dos pés por m ei o de band a g e n s rígi<strong>da</strong>s, lança<br />

uma luz caract erística so br e o martírio de nos s a s "raízes". Essa<br />

prefer ê n ci a por pés pequ e n o s existe até hoje, razã o pela qual<br />

não é raro que os pés seja m m etido s e m sap ato s de m a s i a d o<br />

pequ e n o s . A mutilaç ã o intencion al <strong>da</strong>s raízes na China antiga e<br />

entre nós contrasta co m a prefer ê n ci a de viver à larga. Pois a<br />

exp eriên ci a en sin a que raízes fortes são o fun<strong>da</strong> m e n t o de um a<br />

vi<strong>da</strong> be m - suc e di<strong>da</strong>. Pode- se per mitir algu m a s cois a s quan d o<br />

se tem raízes be m des e n v o l vi <strong>da</strong>s. Quando, ao contrário, elas<br />

são tranc afiad a s e m prisõ e s de m a si a d o estreitas, o preç o diss o<br />

terá de ser pag o e m um plan o mais elev a d o .<br />

42<br />

2


Segund o a lei "Assim aci m a co m o ab aixo", todo o corp o está<br />

reproduzido na planta do pé so b a form a de zona s reflexa s,<br />

sen d o que as zona s corresp o n d e n t e s à cab e ç a estã o<br />

localizad a s na regiã o dos ded o s dos pés. É de supor que o<br />

suplício <strong>da</strong> parte anterior dos pés e m sap ato s muito ap ertad o s<br />

tenha corre s p o n d ê n c i a no aum e nt o vertiginos o <strong>da</strong>s dor e s de<br />

cab e ç a . Nas cha m a d a s culturas primitivas, ond e as pes s o a s<br />

so m e n t e se m o v e m des c al ç a s , as dor e s de cab e ç a são tão<br />

des c o n h e c i d a s co m o o co stu m e de arreb e nt ar a cab e ç a ou<br />

arre m e t ê- la contra a pared e.<br />

A cap a cid a d e de estar e sta b el e ci d o, ter pé firme na vi<strong>da</strong> e<br />

ergu er- se so br e os próprios pés m o stra co m o so m o s<br />

dep e n d e n t e s de nos s a s raízes e co m o não tem sentido<br />

m e n o s p r e z á- las. A con stâ n ci a e a esta bili<strong>da</strong>d e parte m deles e<br />

nos per mite m agü e nt ar a vi<strong>da</strong>. Neste ponto vale a pen a notar<br />

que, segun d o Herman Weidel en er, so m o s um a soci e d a d e<br />

do e nt e dos pés, que corre o perig o de perd er o chã o so b os<br />

pés porqu e ain<strong>da</strong> se ocup a so m e n t e <strong>da</strong> cab e ç a . Assim, cad a<br />

afirma ç ã o está bas e a d a e m um fun<strong>da</strong> m e n t o, e a razã o e a<br />

co m pr e e n s ã o do mun d o dep e n d e m evident e m e n t e do contato<br />

co m o solo. O proble m a está ond e o sap ato aperta, já diz o<br />

ditado.<br />

O pé saud á v el de uma pers o n ali<strong>da</strong>d e estáv el con sist e de<br />

uma ab ó b a d a dupla co m duas ponte s e três ponto s de contato<br />

co m a terra. A pequ e n a ab ó b a d a anterior está apoiad a e m dois<br />

ponto s à altura dos ded o s grand e e pequ e n o , sen d o que a<br />

grand e apóia- se adicion al m e n t e no calcanhar.<br />

Cons e q ü e nt e m e n t e , noss o pé é um tripé e se destac a pela<br />

esta bili<strong>da</strong>d e e pela elastici<strong>da</strong>d e . Apesar diss o, já não são<br />

muitas as pes s o a s m o d er n a s que ain<strong>da</strong> têm es s e contato<br />

perfeita m e nt e equilibrad o co m o solo. A situaç ã o <strong>da</strong> m ai oria é<br />

mais balouç a nt e, já que e m vez de três, posicion a m - se<br />

so m e n t e so br e um ou dois ponto s de apoio. Quem tem os dois<br />

pés no chã o e este s, por sua vez, o toca m e m três ponto s, tem<br />

confian ç a pois está so br e um a bas e segur a e tem um sentido<br />

de reali<strong>da</strong>d e fun<strong>da</strong> m e n t a d o . Quem, ao contrário, desliza pelo<br />

42<br />

3


chã o apoiad o e m um a sup erfície m ais larga, gosta tam b é m de<br />

oscilar e m relaç ã o às coisa s, alheio à reali<strong>da</strong>d e . Sua vi<strong>da</strong> é<br />

algo incon sist e nt e e des c a n s a , ou seja, resvala so br e pés<br />

fraco s.<br />

O ach ata m e n t o <strong>da</strong> pequ e n a ab ó b a d a do pé (pés alargado.)<br />

retira um dos pilares <strong>da</strong> ponte anterior e reduz o contato co m o<br />

solo a dois ponto s. Caso a ab ó b a d a long a tam b é m se ach at e, a<br />

voz popular fala de pé chato. O m ol ejo e os ponto s de apoio<br />

diferen ciad o s se perd e m . Apoiado s so br e as largas sup erfícies<br />

ach atad a s , os afetad o s desliza m por aí quas e co m o se<br />

estive s s e m co m patins de gelo, se m en c o ntrar esta bili<strong>da</strong>d e ou<br />

con sist ê n ci a. Isso muitas vez e s se reflete e m uma vi<strong>da</strong> se m<br />

co m pr o m i s s o s , à qual falta o enraiza m e n t o . A posiç ã o ampla,<br />

sup erficial e algo des a str ad a não é firme, m o v e n d o - se<br />

livre m e n t e . Devido a es s e m o d o de vi<strong>da</strong> infun<strong>da</strong>d o e muitas<br />

vez e s insond á v el, eles não go sta m de se co m pr o m e t e r ou de<br />

ass e nt ar- se.<br />

Pess o a s co m os pés pes a d o s , que gru<strong>da</strong> m no chã o , são<br />

opo sta s ao s "patinad or e s ". Elas ac e ntua m sua posiç ã o mais do<br />

que o nec e s s á ri o e tam b é m mal ergu e m os pés do chã o ao<br />

an<strong>da</strong>r. O pas s o arrastad o já oc orr eu no cas o <strong>da</strong>s perna s<br />

gor<strong>da</strong> s, ma s fracas. Eles tam b é m m al levanta m os pés do chã o<br />

e m sentido figurad o, e portanto tamp o u c o ch e g a m muito long e<br />

nas regiõ e s aér e a s do mund o do pens a m e n t o , ond e a<br />

criativi<strong>da</strong>d e e a esp o ntan ei d a d e estã o e m cas a. Por es s a<br />

razã o, eles são confiáv ei s e con stant e s , razo á v ei s e be m<br />

fun<strong>da</strong> m e n t a d o s . Na<strong>da</strong> ac o nt e c e co m eles facilm e nt e, e m e n o s<br />

ain<strong>da</strong> os derrub a. Onde os pés chato s têm algo de incon stant e,<br />

nos pes a d o s tudo per m a n e c e quieto. Aqui a esta bili<strong>da</strong>d e<br />

prec e d e a m o bili<strong>da</strong>d e. Entretanto, quan d o os pés se<br />

transfor m a m e m chu m b o , eles puxa m seu proprietário para<br />

baixo e impe d e m qualqu er es c a p a d a para outras dim e n s õ e s .<br />

Uma vi<strong>da</strong> que se limita so m e n t e ao chã o dos fatos pod e tornarse<br />

bastant e ab orr e ci<strong>da</strong>.<br />

Muito diferent e s são os príncipe s (princ e s a s) que flutua m<br />

pelo mun d o e esp e ci al m e n t e pelo mun d o dos son h o s nas<br />

42<br />

4


pontas dos pés, co m o se quis e s s e m colo c ar- se aci m a <strong>da</strong>s<br />

depr e s s õ e s <strong>da</strong> terra. No m elh or estilo de balé, eles <strong>da</strong>nç a m<br />

pela vi<strong>da</strong>. An<strong>da</strong>r nas pontas don pés é a variante natural dos<br />

sap ato s de salto alto e m o stra quã o pouc o seus proprietários<br />

liga m para o contato co m o chã o e até m e s m o para a<br />

e sta bili<strong>da</strong>d e . Eles não lanç a m raízes em nenhu m a parte, já que<br />

esta s so m e n t e atrapalharia m suas existên ci a s levian a s (de<br />

artista). Em vez de sentido de reali<strong>da</strong>d e, eles cultiva m a<br />

fantasia. Eles optara m pelas alturas e m am b o s os lado s do<br />

mund o polar, deixand o a profundi<strong>da</strong>d e para os que têm os pés<br />

pes a d o s . Em vez de raízes, eles têm son h o s de alto vôo,<br />

impulso criativo, ímp eto con sid er á v el, fantasia e m abund â n ci a<br />

e nen hu m a firmez a. Eles são ain<strong>da</strong> mais difíceis de derrub ar<br />

que os que têm os pés pes a d o s , pois no mund o de fa<strong>da</strong>s dos<br />

ser e s flutuante s na<strong>da</strong> é firme e tudo flui. Mas a levez a de tais<br />

ser e s feitos de nuve n s tam b é m tem seu lado so m b ri o na<br />

neglig ê n ci a freqü e nt e m e n t e exten s a <strong>da</strong> existên ci a mat erial.<br />

No pólo opo st o estã o ass e nt a d o s os pés em forma de<br />

garra, co m os quais seus proprietários se aferra m à sup erfície<br />

<strong>da</strong> Terra. Os ded o s curvad o s co m o garras bus c a m apoio<br />

convulsiva m e n t e . Tais pés falam de um a existên ci a am e a ç a d a ,<br />

um forte des ej o de enc o ntrar parag e m e de não ced er. Não<br />

so m e n t e os ded o s dos pés, ma s tam b é m os mús c ul o s dos pés<br />

e <strong>da</strong>s perna s, estã o muitas vez e s cronic a m e n t e tens o s e<br />

deixa m entrev er uma postura se m e l h a nt e e m relaç ã o à vi<strong>da</strong>.<br />

Pés inquieto s, ao contrário, revela m a tend ê n ci a de ca minhar<br />

con sta nt e m e n t e e, e m geral, de es c a p ar. Seus proprietários<br />

estã o se m pr e <strong>da</strong>nd o no pé e, freqü e nt e m e n t e , oculta m tam b é m<br />

tend ê n ci a s de fuga por trás de sua co m p uls ã o e interes s e pelo<br />

m o vi m e nt o .<br />

Uma inclinaç ã o extre m a para trás, que perten c e a um tipo de<br />

an<strong>da</strong>r que se apóia nos calc anhar e s , aponta para um a direç ã o<br />

se m el h a nt e. A postura apoiad a nos calcanhar e s indica um<br />

recuo diante <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> e garant e contrag olp e s nas costa s e na<br />

nuca. Por es s a razão, tanto m ais fácil é derrub ar pela frente os<br />

repre s e nt a nt e s des s a posiç ã o . Apesar de ass e g ur ar- se<br />

42<br />

5


m e dr o s a m e n t e , eles tend e m a cair. Um leve vento lateral já é<br />

suficiente para levantá- los pelo s pés.<br />

1. O astrágalo<br />

Quem torc e o tornoz el o não pod e m ais, co m o Hefesto s, o<br />

ferreiro dos deus e s , <strong>da</strong>r grand e s saltos. Ele que br o u seus dois<br />

astrág al o s quan d o sua mã e o arre m e s s o u do céu para a Terra,<br />

e a partir de entã o ele ficou coxo. Algo se m el h a nt e ac o nt e c e<br />

co m aqu el e s que dão saltos grand e s de m ai s e aterriss a m co m<br />

de m a s i a d a durez a so br e o chã o dos fatos. A exig ê n ci a é clara:<br />

per m a n e c e r no chã o e es c al ar degr au a degr au, lenta e<br />

con sta nt e m e n t e . Os grand e s saltos estã o vetad o s pelo destino.<br />

Para as pes s o a s que estav a m se m pr e saltand o para diante,<br />

ficar coxo é uma dura terapia. Quando eles apren d e m a abrir<br />

ca min h o avan ç a n d o pen o s a m e n t e pelo s vales <strong>da</strong> vi<strong>da</strong>, o ges s o<br />

que têm no pé parec e uma bola de ferro. Mas ele pod e tornarse<br />

tam b é m a ânc or a que o m ant é m pres o ao corpo e o imp ed e<br />

de pular fora fisica m e n t e e sair <strong>da</strong> raia. Justam e nt e o corp o<br />

pres o ao chã o pod e transfor m ar- se na bas e ideal para saltos<br />

aér e o s espirituais e vô o s de altitude.<br />

O astrág al o, que se en c o ntra so br e a ab ó b a d a do pé, é a<br />

orig e m de noss a postura ereta, ma s tam b é m <strong>da</strong> pos sibili<strong>da</strong>d e<br />

de neg á- la. O salto para o plan o dos deus e s so m e n t e pod e ser<br />

be m - suc e did o a partir <strong>da</strong>qui. Mas aqui são tam b é m vingad o s<br />

os pas s o s e m falso. Quando torc e m o s o pé, esta m o s sen d o<br />

repre e n did o s sev er a m e n t e , na fratura nós tem o s um estalo.<br />

A lição a ser aprendid a resulta do acident e: os afetad o s<br />

precis a m ad mitir que estã o apoiad o s e m falso, que aterriss a m<br />

de form a muito pouc o flexível quan d o salta m, que apó s seus<br />

altos vôo s leva m um a bron c a <strong>da</strong> reali<strong>da</strong>d e , ou seja, que o<br />

contato entre o mun d o dos pen s a m e n t o s e a reali<strong>da</strong>d e não é<br />

har m ô ni c o e trilha ca minh o s perigo s o s . Eles estã o sen d o<br />

des afiad o s a retirar seu corp o do duro confronto co m a<br />

reali<strong>da</strong>d e, garantir m elh or suas rotas de fuga e am ort e c e r as<br />

42<br />

6


aterriss a g e n s , testar e m pens a m e n t o os ca minh o s pouc o<br />

claro s e ous a d o s antes de exe c utá- los na mat eriali<strong>da</strong>d e. Os<br />

ferim e nt o s por ela caus a d o s os força m ao des c a n s o e os<br />

levanta m pelo s pé s . É precis o poupar o corpo e, nes s e<br />

des c a n s o extern o, e m p e n h a r- se m ais na m o bili<strong>da</strong>d e e nos<br />

saltos espirituais intern o s. O coxo Hefesto s, imp e did o de<br />

progr e dir fisica m e n t e , tornou- se um criativo inventor e<br />

con q uistou assi m o lugar no céu que ante s lhe era neg a d o .<br />

P er g u nta s<br />

1. Que pap el des e m p e n h a a impulsivi<strong>da</strong>d e em minh a vi<strong>da</strong>?<br />

2. Tend o ao s altos vô o s pouc o fun<strong>da</strong> m e n t a d o s na<br />

reali<strong>da</strong>d e? Costum o es qu e c e r na dec ol a g e m a nec e s si d a d e de<br />

aterriss ar? Com o m e relacion o co m o son h o e co m a<br />

reali<strong>da</strong>d e?<br />

3. Negligen ci o minha nec e s si d a d e de repou s o na tentativa<br />

de lutar por m eu lugar?<br />

4. Onde and o mal? Onde minha vi<strong>da</strong> estala, ond e ela<br />

precis a do br ar, ond e ela precis a de um intervalo?<br />

5. Onde tend o a <strong>da</strong>r pas s o s e m falso fisica m e n t e , e m vez<br />

de provar novo s ca min h o s des d e um a persp e ctiva espiritual?<br />

6. Onde m e insurjo contra m eu destino? Onde a<br />

sublev a ç ã o faz parte do m eu destino?<br />

2. Olho de peixe<br />

Os olho s inferiores ofer e c e m um a persp e ctiva muito<br />

diferent e <strong>da</strong> que ofer e c e m os olho s que estã o aci m a. Derivad o<br />

dos olho s e m form a de botã o dos peixes, es s e s ponto s de<br />

pres s ã o crônic o s m o stra m co m muita exatidã o ond e o sap ato<br />

aperta.<br />

Neste contexto, a relaç ã o do aci m a e do ab aixo, tal co m o<br />

rev ela m as zona s reflexa s, é esp e ci al m e n t e caract erística.<br />

Olhos de peixe, que surg e m so br etud o na zona dos ded o s dos<br />

pés, sinaliza m que deter min a d a s zona s <strong>da</strong> cab e ç a estã o so b<br />

42<br />

7


pres s ã o . Quando algué m está pisand o nos ded o s do pé de<br />

outra pes s o a , isso apar e c e co m o tem p o e m ponto s nos pés<br />

dolor o s o s à pres s ã o , m e s m o quan d o os impe di m e n t o s que<br />

surg e m des s a m an eira tenha m um cunh o ac e ntuad a m e n t e<br />

social. Pode até m e s m o ser que a pes s o a pise e m seu próprio<br />

pé e, assi m, ob strua seu próprio ca min h o e imp e ç a seu próprio<br />

progr e s s o . Este é certa m e n t e o cas o , por exe m pl o, quan d o se<br />

usa sap ato s ap ertad o s con s ci e nt e m e n t e . Em um a situaç ã o<br />

des s a s a pes s o a , na maioria dos cas o s a mulh er, per mite que<br />

um ideal de gosto imp e ç a seu progr e s s o con cr et o.<br />

Anato mic a m e n t e , os olho s de peixe con siste m de um<br />

exc e s s o de pele endur e ci<strong>da</strong> que form a um a ca m a d a para<br />

proteg er <strong>da</strong> pres s ã o exer ci<strong>da</strong> a partir do exterior. Eles são um a<br />

tentativa de blin<strong>da</strong>r ponto s fraco s. A exp eriên ci a típica é que<br />

co m o temp o es s a s placa s blin<strong>da</strong>d a s se transfor m e m elas<br />

m e s m a s e m foco s de dor. Quem quer se poup ar de tudo corre<br />

o perig o de sofrer tudo. Trata- se, con s e q ü e n t e m e n t e , de refletir<br />

mais a resp eito de m e di<strong>da</strong> s aní mic o- espirituais de autoproteç<br />

ã o e m vez de prote g e r- se fisica m e n t e co m um a<br />

arm a d ur a. É precis o confrontar aquilo que nos pres si o n a e<br />

entã o adotar as m e di<strong>da</strong>s corresp o n d e n t e s que pos s a m<br />

solucion á- lo. Poder- se- ia, por exe m pl o, ab and o n ar a posiç ã o<br />

que provo c a tanta pres s ã o contrária, ou entã o ass e g ur á- la co m<br />

argu m e n t o s mais sólido s.<br />

P er g u nta s<br />

1. Quem está pisan d o nos m eu s calo s? Pode ser que seja<br />

eu mes m o ?<br />

2. Onde insisto e m m ant er posiç õ e s quan d o a fronteira <strong>da</strong><br />

dor já foi alcan ç a d a e algu é m já esteja pisand o e m m eu s pés?<br />

3. Em que m e did a m e u m e d o , ou seja, minha política de<br />

segur an ç a é dolor o s a e se transfor m o u e m um e m p e c ilh o para<br />

m e u avan ç o ?<br />

4. Que ponto s de pres s ã o eu dev eria afastar de minha<br />

vi<strong>da</strong>?<br />

5. Onde e m p urro dolor o s a m e n t e as fronteiras?<br />

42<br />

8


3. Fungos<br />

Os fungo s do reino veg et al vive m so br etud o de m at éria<br />

org ânic a e m dec o m p o s i ç ã o , ma s coloniza m tam b é m partes<br />

m oribun d a s de plantas vivas. Eles são parasitas declara d o s ,<br />

que se aprov eita m <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> alheia e não dão na<strong>da</strong> e m troca.<br />

Essa m á reputaçã o fez co m que foss e m colo c a d o s na lista de<br />

alim e nt o s proibido s de muitos grupo s espirituais. No reino<br />

anim al e hum a n o , os fungo s coloniza m na ver<strong>da</strong> d e estruturas<br />

vivas, m a s que já estã o enfraqu e ci d a s e no ca minh o<br />

deg e n e r ativo que leva à m orte. Os fungo s pod e m oc orr er<br />

pratica m e n t e e m to<strong>da</strong> s as partes ond e os tecido s desiste m <strong>da</strong><br />

luta pela vi<strong>da</strong>, sen d o ao m e s m o temp o anun ciad or e s <strong>da</strong> m orte.<br />

Todo s os micro or g a ni s m o s que nos visita m requ er e m as<br />

condiç õ e s corresp o n d e n t e s , co m a cap a ci<strong>da</strong>d e de defe s a<br />

reduzi<strong>da</strong>. Som e nt e quan d o o organis m o retira sua en er gia de<br />

uma estrutura, eliminan d o <strong>da</strong> con s ci ê n ci a a tem átic a que ela<br />

repre s e nt a, é que ela se torna vulneráv el ao con quistad or<br />

corre s p o n d e n t e . Enquanto os m e n o r e s , os vírus, na m ai oria<br />

dos cas o s bus c a m a decis ã o e m um surto agud o, as bact érias<br />

opta m por proc e di m e n t o s agud o s lentos e insidios o s , e m b o r a<br />

con h e ç a m tam b é m a conviv ê n ci a sim biótica pacífica, co m o por<br />

exe m pl o as bact érias do intestino. Os fungo s, exc et o e m cas o s<br />

de colap s o total <strong>da</strong>s defe s a s do org anis m o , tend e m a ataqu e s<br />

exe c utad o s lenta m e n t e , nos quais con quista m território pas s o a<br />

pas s o se m am e a ç a r seria m e n t e seu hosp e d eir o. Eles não<br />

traze m a morte, ma s a anun cia m (à área afetad a).<br />

O fungo que atac a os pés é um parasita inofen siv o e m si<br />

m e s m o que não caus a dor, pratica m e n t e não atrapalha e,<br />

ape s ar diss o, leva muitas pes s o a s ao des e s p e r o . Os ser e s<br />

estran h o s coloniza m justa m e nt e noss a s garras, m o stran d o<br />

quã o pouc o resp eito têm por noss a s arm a s . Uma co m p ar a ç ã o<br />

co m o m a cr o c o s m o s es clar e c e o dile m a. É co m o se um band o<br />

de ladrõ e s , inofen siv o no que se refer e ao arm a m e n t o ,<br />

42<br />

9


atac a s s e um país e lá se instalas s e , justa m e n t e , nos quartéis.<br />

Parasitand o e ofer e c e n d o um a imag e m extre m a m e n t e<br />

des a gr a d á v e l para o exterior, ele do min a o siste m a bélico e o<br />

vai minan d o lenta m a s con stant e m e n t e , de tal m an eir a que<br />

logo nenhu m inimig o tem mais qualqu er resp eito por ele.<br />

O fato de que os fungo s unica m e n t e se atrev a m a atac ar<br />

área s que estã o nas últimas lanç a um a luz significativa so br e a<br />

situaç ã o <strong>da</strong>s unha s e m questã o : elas dev e m estar preste s a<br />

m orr er, ou estar desvitaliza<strong>da</strong> s e m grau máxi m o , para pod er<br />

servir de alim e nt o ao s parasitas. A partir do m o m e n t o e m que<br />

os fungo s deita m raízes, eles se desta c a m pela tena ci<strong>da</strong> d e e<br />

neg a m - se a se retirar até m e s m o diante <strong>da</strong> artilharia mais<br />

pes a d a , tais co m o antimic ótic o s quí mic o s . Uma retira<strong>da</strong> tática,<br />

ao contrário, é m ais fácil de ser alcan ç a d a . Mas assi m que o<br />

ataqu e propria m e nt e dito ced e, os des m a n c h a - praz er e s volta m<br />

a apres e nt ar- se e volta m a perturbar a paz aní mic a, m o strand o<br />

ao m e s m o temp o co m isso co m o o afetad o é vulneráv el. Os<br />

fungo s alim e nta m - se <strong>da</strong>s garras já que, co m to<strong>da</strong> a cal m a, as<br />

dev or a m pouc o a pouc o. Essa man eira insidios a m e n t e<br />

agre s siv a, à qual se é entregu e indefes o , é so br etud o<br />

extre m a m e n t e irritante. Além diss o, naturalm e nt e des e m p e n h a<br />

seu pap el o fato de que as arm a s dev or a d a s des s a m an eira já<br />

não são de form a algu m a orna m e n t o s . Fora m- se o brilho e o<br />

polim e nt o. Cheg a- se a um des el e g a n t e impas s e entre as<br />

unha s e os parasitas. Os prim eiros substitue m pouc o a pouc o o<br />

que os último s dev or a m ao s pouc o s . Com isso, a unha<br />

disputad a se torna mais esp e s s a e mais irregular, lem br a n d o<br />

uma lâmina golp e a d a inúm er a s vez e s e ch eia de dente s que<br />

volta se m pr e a ser afia<strong>da</strong>. Quando os fungo s exag er a m e a<br />

unha cai ou é arranc a d a por um proprietário des e s p e r a d o , a<br />

história não aca b a aí. Enquanto a situaç ã o de bas e perdura, o<br />

m e s q uinh o des afio continua.<br />

Finalm e nt e, o asp e ct o <strong>da</strong> sujeira tam b é m des e m p e n h a seu<br />

pap el aqui. Os pés são lavad o s sim b olic a m e n t e e m muitas<br />

religiõ e s, sen d o purificad o s para um a relaç ã o limpa co m o solo<br />

do próprio ser, co m a asc e n d ê n c i a e co m o pas s a d o . Os<br />

43<br />

0


fungo s que atac a m os pés de m o n s tr a m que o contato co m a<br />

Mãe Terra e, portanto, co m o mun d o e m geral, não é<br />

ab s oluta m e n t e limpo. Na clás sic a posiç ã o de m e ditaç ã o do<br />

lótus, as solas dos pés são m anti<strong>da</strong> s volta<strong>da</strong> s para cim a co m o<br />

sím b ol o <strong>da</strong> orientaç ã o perfeita e m relaç ã o ao mun d o espiritual.<br />

Em tal situaç ã o , tanto fungo s co m o verrug a s nas solas dos pés<br />

são tão des a gr a d á v e i s co m o sinc er o s .<br />

A lição é a se g uinte: reduzir o arm a m e n t o , diminuir as<br />

defe s a s . Isso, entretanto, dev eria ac o nt e c e r na con s ci ê n ci a.<br />

Aliviado de m an eira corre s p o n d e n t e pelo lado aní mic oespiritual,<br />

o corp o pod e rec o n stituir suas arm a s feri<strong>da</strong>s e<br />

rec o n q uistar o território perdido. Um conflito crônic o e m torno<br />

<strong>da</strong> própria resistên ci a arm a d a que caiu no es qu e ci m e n t o quer<br />

retorn ar à con s ci ê n ci a e ser res olvido. Com o ac o nt e c e co m<br />

to<strong>da</strong>s as infecç õ e s que têm a ver co m tropas estran h a s , as<br />

defe s a s aní mic o- espirituais estã o de m a s i a d o altas, de man eira<br />

que as do corp o estã o enfraqu e ci d a s . O principio <strong>da</strong> agr e s s ã o<br />

quer ser vivido con s ci e nt e m e n t e ; no cas o <strong>da</strong>s infec ç õ e s por<br />

fungo s, esp e ci al m e n t e os abus o s benign o s , m e n o s agud o s .<br />

Com o todo s os ag e nt e s patoló gic o s , os fungo s con cla m a m à<br />

defe s a. Os fungo s dos pés anim a m esp e ci al m e n t e a que a<br />

pes s o a se ocup e de suas arm a s e ferra m e n t a s , e a que as<br />

deixe voltar a cres c e r. Isso se expres s a grafica m e n t e nas<br />

garra s que se esp e s s a m rude m e n t e . É precis o ocup ar- se<br />

esp e ci al m e n t e <strong>da</strong> prote ç ã o <strong>da</strong>s próprias fronteiras. Quem se<br />

irrita co m parasitas e m e n di g o s tem um proble m a co m es s e<br />

tem a e reprim e os traç o s corresp o n d e n t e s e m si m e s m o . É<br />

precis o voltar a en c o ntrá- los e torná- los con s ci e nt e s . Meter- se<br />

na vi<strong>da</strong> e, cas o seja nec e s s á ri o, ag arrar- se firme m e n t e significa<br />

viven ci ar a tarefa até o limite.<br />

P er g u nta s<br />

1. Onde há um conflito não- ad mitido e m torno <strong>da</strong> autoproteç<br />

ã o ardend o e m surdina no incon s ci e nt e?<br />

2. Onde deixo de m o strar as garras espirituais e de<br />

ag arrar- m e? Que terren o fronteiriço do corpo eu não cultivo e<br />

43<br />

1


deixo que se deg e n e r e ?<br />

3. Se tenh o verg o n h a de minh a s garras físicas carc o m i d a s ,<br />

e m que medi<strong>da</strong> me env er g o n h o <strong>da</strong>s minh a s garras espirituais?<br />

4. Com o pod e ser que a vitali<strong>da</strong>d e de minha s garras esteja<br />

nas últimas?<br />

5. Quem parasita minh a vi<strong>da</strong>? Onde eu parasito?<br />

4. Verrugas na sola do pé<br />

Assim co m o os fungo s que atac a m os pés, as verrug a s não<br />

repre s e nt a m qualqu er am e a ç a física. Animica m e n t e ,<br />

entretanto, elas pod e m ser extre m a m e n t e am e a ç a d o r a s . Elas<br />

são muito m ol e st a s no pé, e esp e ci al m e n t e na sola do pé. A<br />

am e a ç a substanci al, no entanto, dec orr e de sua orig e m<br />

misterio s a. Assim co m o co br a s e aranh a s não repre s e nt a m<br />

qualqu er am e a ç a m ortal e m noss a s latitude s e, ape s ar diss o,<br />

são viven ci ad a s co m o extre m a m e n t e am e a ç a d o r a s devido a<br />

seu resp e ctivo sim b olis m o , o terror que as verrug a s inspira m<br />

está e m sua gestaç ã o sim b ólic a. A verrug a gor<strong>da</strong>, horrível e<br />

talvez ain<strong>da</strong> por cim a co m pêlo s é um sím b ol o típico <strong>da</strong> bruxa<br />

dos conto s de fa<strong>da</strong>s, um a excr e s c ê n c i a do inferno, ou seja, dos<br />

pod er e s <strong>da</strong> es curidã o. Uma tal verrug a des c o n c e rt aria até<br />

m e s m o o mais racion al dos ho m e n s cas o se instalas s e e m seu<br />

nariz. Embora ela não seja um a am e a ç a e não pos s a fazer m al<br />

a ningu é m , até m e s m o o m ais razo á v el dos noss o s<br />

conte m p o r â n e o s sent e que ela, em um plan o mais profund o, se<br />

não ch e g a a ser levad a a mal, é certa m e n t e mal interpretad a,<br />

porqu e apo nta para o mund o do padrã o arqu etípic o do m al.<br />

Além diss o, não se pod e ne m m e s m o aleg ar que ela, vindo de<br />

fora, instalou- se em nós. De man eira unívo c a ela, excr e s c ê n c i a<br />

insignificante, e m e r g e do interior <strong>da</strong> própria pes s o a . Quem<br />

se m pr e li<strong>da</strong> co m verrug a s dispara es s a s es c ur a s ass o ci a ç õ e s ,<br />

de javalis e lagarto s até bruxas má s.<br />

Diversa s form a s de terapia faze m co m que aflore m novo s<br />

<strong>da</strong>d o s quanto à interpreta ç ã o <strong>da</strong>s verrug a s. As tentativas <strong>da</strong><br />

43<br />

2


m e di cin a ac ad ê m i c a , bas e a d a s na violên ci a crua, <strong>da</strong><br />

cauterizaç ã o e do ácido até a extirpaç ã o , desta c a m - se pelo<br />

altos índic e s de fracas s o . Embor a extraí<strong>da</strong> totalm e nt e e se m<br />

deixar resto s, freqü e nt e m e n t e a verrug a volta a e m e r gir no<br />

m e s m o lugar, trazen d o a m e s m a m e n s a g e m do ob s c ur o reino<br />

<strong>da</strong>s so m b r a s . Os m ét o d o s utilizado s pela m e di cin a popular são<br />

mais variad o s e mais be m - suc e did o s . Todo s eles se equival e m<br />

no que diz resp eito ao principio m á gi c o e m que estã o<br />

fun<strong>da</strong> m e n t a d o s . As verrug a s são eliminad a s co m algu m êxito<br />

por m ei o de m a gi a ou oraç õ e s e m uma noite de Lua cheia,<br />

conjurad a s co m as mais varia<strong>da</strong> s fórmulas m á gi c a s ,<br />

enfeitiçad a s pela impo siç ã o de m ã o s ou outros pequ e n o s<br />

rituais. Crianç a s que já têm uma relaç ã o co m a quali<strong>da</strong>d e<br />

má gic a do dinh eiro, às vez e s deixa m tam b é m que elas seja m<br />

co m pr a d a s por uma quantia módic a.<br />

As verrug a s nos confronta m co m nos s o próprio lado es c ur o,<br />

razã o pela qual elas resp o n d e m tão be m ao s trata m e n t o s<br />

oculto s 77 corresp o n d e n t e s . Quando outros sinto m a s tam b é m<br />

resp o n d e m a fórmulas verb ais e manipulaç õ e s ou a<br />

m e di c a m e n t o s , isso mo stra o quanto a antiga medicin a, em sua<br />

totali<strong>da</strong>d e, era má gic a. Quando se pergunta e m que as<br />

verrug a s inco m o d a m ou o que elas impe d e m , obté m - se<br />

indicaç õ e s plausív eis quanto ao significad o individual. Elas e m<br />

geral impe d e m um a apar ê n ci a imaculad a, e é esta má c ula que,<br />

es crita no rosto, inco m o d a con sid er a v el m e n t e . Quanto às<br />

verrug a s na sola do pé pergunta- se, alé m diss o, e m que<br />

m e di<strong>da</strong> se está trop e ç a n d o incon s ci e nt e m e n t e no oculto se m<br />

rec o n h e c e r seu significad o, e m b o r a ele se faça notar a cad a<br />

pas s o . Finalm e nt e trata- se, e m qualqu er cas o, de se a pes s o a<br />

o ad mite ou não. A soluç ã o está na con s ci e ntizaç ã o . O<br />

rec o n h e c i m e n t o do lado so m b ri o que ac o m p a n h a os rituais<br />

má gic o s é, portanto, sup erior ao s m ét o d o s co m b ativ o s. O<br />

principio <strong>da</strong> ho m e o p a ti a, que trata aquilo que é<br />

misterio s a m e n t e ob s c ur o co m m ét o d o s misterio s a m e n t e<br />

ob s c ur o s , tem maior êxito e, so br etud o, es s e é m ais durad o ur o<br />

43<br />

3


que a luta alop átic a contra a m e n s a g e m oriun<strong>da</strong> <strong>da</strong>s próprias<br />

profund ez a s .<br />

P er g u nta s<br />

1. Em que m e did a a verrug a m e inco m o d a ou m e<br />

atrapalha? Não pos s o ficar e m pé ou an<strong>da</strong>r se m sentir dore s?<br />

Ou ela m e desfigura, ou seja, evid e n ci a algo de ruim que eu<br />

não quer o ver e que, so br etud o, os outros não dev e m ver?<br />

2. O que eu es c o n di quan d o a verrug a apar e c e u?<br />

3. Que pap el des e m p e n h a para ruim o des e nt e n di m e n t o<br />

co m o lado es cur o de minh a vi<strong>da</strong>?<br />

4. Sou con s ci e nt e do lado oculto de minh a existên ci a?<br />

43<br />

4


15<br />

Os Problemas <strong>da</strong> Velhice<br />

1. A velhice em nossa época<br />

Em um a ép o c a que deifica a juventud e, a velhic e e o<br />

proc e s s o de env elh e ci m e n t o são nec e s s a ria m e n t e<br />

probl e m á tic o s . Alfred Ziegler diz a es s e resp eito: "Quanto mais<br />

uma ép o c a é ce g a d a por Hebe, a colori<strong>da</strong> deus a <strong>da</strong> juventud e,<br />

tanto mais o horror m ortal <strong>da</strong> velhic e se transfor m a e m um a<br />

epide mi a. Hebe traz ao mund o populaç õ e s de anciã e s" 78 . Dai<br />

se con clui que a epid e m i a de env elh e ci m e n t o é a so m b r a<br />

legítim a de nos s a soci e d a d e sed e nt a de juventud e, <strong>da</strong> m e s m a<br />

man eira pela qual "o ilícito am or pelo mund o do Renas ci m e n t o "<br />

provo c o u a sífilis e "a purez a do brilho dourad o <strong>da</strong>s ab ó b a d a s<br />

<strong>da</strong> cren ç a m e di e v al deflagrara m a m orte negra". Ca<strong>da</strong> ép o c a,<br />

e m seus quadr o s de sinto m a s , tem um a esp é ci e de corretivo<br />

que resta b el e c e seu equilíbrio perdido. Na m e dicin a, há<br />

sécul o s não há unani mi<strong>da</strong> d e quanto a se clas sificar a velhic e<br />

juntam e nt e co m as reali<strong>da</strong>d e s fisiológic a s nor m ai s ou tratá- la<br />

co m o uma do e n ç a . Georg Grodeck co m e n t a: "Os órg ã o s não<br />

estã o des g a s t a d o s co m o surgi m e nt o <strong>da</strong> velhic e, o que o órg ã o<br />

está é carre g a d o de pen s a m e n t o s : se algu é m tem 70 ano s de<br />

i<strong>da</strong>d e, os órg ã o s estã o sen d o carre g a d o s há 70 ano s" 79 . A<br />

torrente de co m pri mid o s colorido s que serv e de prev e n ç ã o à<br />

cinzenta velhic e hoje e m dia m o stra por outro lado que a<br />

m e di cin a mod e r n a con c e b e os sinais <strong>da</strong> velhic e co m o sinto m a s<br />

de um a do e n ç a digna de ser co m b a ti<strong>da</strong>. A mai oria <strong>da</strong>s pes s o a s<br />

hoje e m dia quer tornar- se o mais velha s pos sív el, ma s<br />

ningu é m quer ser velho. Noss o dile m a explicita- se nes s e<br />

parad ox o . É justa m e n t e por ter a velhic e em tão pouc a conta, e<br />

e m tão alta a juventud e, que a soci e d a d e env elh e c e<br />

visivel m e n t e . Nós tenta m o s todo o pos sív el para per m a n e c e r<br />

joven s, e co m isso nos torna m o s cad a vez mais velho s.<br />

43<br />

5


Finalm e nt e, co m todo o culto à juventud e, esta m o s orientad o s<br />

para a velhic e, já porqu e bus c a m o s o progr e s s o e este, por<br />

definiçã o, está no futuro. Relacion a d o à vi<strong>da</strong> hum a n a, o<br />

progr e s s o tem por objetivo a velhic e e a m orte. Custa- nos<br />

esforç o reprimir o fato de que todo s os noss o s esforç o s , que<br />

se m exc e ç ã o estã o orientad o s para o futuro,<br />

con s e q ü e n t e m e n t e procura m se m exc e ç ã o atingir a velhic e e a<br />

m orte e, co m isso, alcan ç a m exata m e n t e o contrário de nos s o s<br />

son h o s de juventud e e vi<strong>da</strong> etern a s .<br />

As fontes <strong>da</strong> juventud e de ép o c a s anterior e s pod e m nos<br />

parec er ridículas, ma s elas não estã o muito distante s de<br />

noss a s tentativas funcion ais de en g a n ar a velhic e e banir a<br />

m orte de noss o ca m p o de visã o. To<strong>da</strong> um a indústria vive do<br />

co m é r ci o co m o m e d o des s e s dois tem a s aterrorizante s. Os<br />

co m pri mid o s colorido s m e n ci o n a d o s , que en c h e m os frasc o s<br />

para co m b a t er a senili<strong>da</strong>d e e a rigidez <strong>da</strong> velhic e ou que, de<br />

algu m a m an eir a, dev eria m rem e di ar a m á circulaç ã o<br />

san guín e a , são as m ais rend o s a s fontes de lucro <strong>da</strong> indústria<br />

farm a c ê utic a, e m b o r a e m sua m ai oria não sirva m<br />

co m pr o v a d a m e n t e para na<strong>da</strong>. Permitim o s que aquilo que não<br />

con s e g ui m o s levantar mais e m sentido figurad o seja levantad o<br />

con cr et a m e n t e por to<strong>da</strong> parte atrav é s de liftings, do rosto,<br />

pas s a n d o pelo pes c o ç o e pelo s seios, até a barriga e o<br />

tras eiro. Tentativas de deixar- se alim e ntar co m células fresc a s<br />

de fetos de anim ai s lem br a m o co stu m e dos sen h or e s<br />

m e di e v ai s de vivificar seu san g u e can s a d o atrav é s de fresc a s<br />

donz el a s. O ditador rom e n o Ceauc e s c u, já e m nos s a ép o c a,<br />

tentava rejuven e s c e r sua vi<strong>da</strong> fen e c e n t e por m ei o de<br />

transfus õ e s de san g u e de rec é m - nas cid o s . Mais m o d e r n a s ,<br />

ma s não m e n o s caract erística s, são as tentativas de obter a<br />

imortali<strong>da</strong>d e física co m a aju<strong>da</strong> de afirma ç õ e s 80 . As fontes <strong>da</strong><br />

juventud e de to<strong>da</strong>s as ép o c a s , ob s erva<strong>da</strong>s co m mais precis ã o ,<br />

parec e m to<strong>da</strong> s ingênu a s . Estimulad a s por esp er a n ç a s<br />

ilusórias, elas con s e g u e m muitos adepto s a curto prazo que se<br />

dec e p ci o n ar a m e m to<strong>da</strong> s as ép o c a s . Se os cirurgiõ e s plástico s<br />

"tiram" rugas, pes s o a s ingênu a s lam b uz a m a cara co m cre m e s<br />

43<br />

6


que controla m a i<strong>da</strong>d e 81 , se cab el o s grisalho s são tingido s e<br />

man c h a s <strong>da</strong> i<strong>da</strong>d e ma q uia<strong>da</strong> s , trata- se se m pr e do m e s m o jogo<br />

ingênu o contra o temp o, que tem so m e n t e um ven c e d o r, a<br />

m orte, e seu arauto, a velhic e.<br />

quanto m ais a velhic e ven c e , na vi<strong>da</strong> individual e na <strong>da</strong><br />

soci e d a d e , tend e m o s a aferrar- nos ain<strong>da</strong> mais ao s ideais<br />

juvenis. A propa g a n d a , a m o d a, o cine m a e a televis ã o<br />

apres e nt a m o char m e <strong>da</strong> tenra juventud e e pes s o a s ativas na<br />

flor <strong>da</strong> juventud e. Eles colo c a m a prim eira m etad e <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> de<br />

tal m an eir a e m prim eiro plano que não so br a na<strong>da</strong> para a<br />

segun d a, e quan d o so m o s sinc er o s , tamp o u c o quer e m o s ver<br />

ou ouvir algo a resp eito. Preferim o s entreg ar- nos à esp er a n ç a<br />

equivo c a d a de jam ais voltar m o s nós mes m o s a ter contato co m<br />

aquilo. Além diss o, há tão pouc a segur an ç a e m noss o prim eiro<br />

suspiro co m o no último. É nec e s s á ri a uma con sid er á v el arte <strong>da</strong><br />

repre s s ã o para deixar de ver de m an eir a tão con s e q ü e n t e<br />

es s e s fatos, be m co m o o ritmo natural <strong>da</strong> vi<strong>da</strong>. Isso so m e n t e se<br />

torna pos sív el atrav é s de um jogo de cabr a- ce g a org anizad o<br />

coletiva m e n t e e que ating e todo s os plan o s <strong>da</strong> soci e d a d e .<br />

Estam o s tão orgulho s o s devido à maior exp e ct ativa de vi<strong>da</strong><br />

que convulsiva m e n t e deixa m o s de ver que des s a m an eir a o<br />

que aum e nt o u foi so br etud o a exp e ct ativa <strong>da</strong> velhic e. quan d o a<br />

m e di cin a quer livrar- nos <strong>da</strong> susp eita de que so m o s um a<br />

ver<strong>da</strong>d eira so ci e d a d e do cân c er, ela argu m e n t a que isso se<br />

dev e à m ai or exp e ct ativa de vi<strong>da</strong>. Som e nt e des s a m an eir a<br />

alcan ç a m o s um a i<strong>da</strong>d e e m que o cân c er é m ais freqü e nt e.<br />

Naturalm e nt e, es s e argu m e n t o pod e ser transp o st o para<br />

muitos quadr o s de sinto m a s , do reu m atis m o ao diab et e.<br />

Tentativas de prolon g ar a vi<strong>da</strong> artificialm e nt e por m ei o, por<br />

exe m pl o, de uni<strong>da</strong>d e s de terapia intensiva, muitas vez e s<br />

prolon g a m so m e n t e o sofrim e nt o. Neste ponto, a m e di cin a<br />

ac ad ê m i c a é quas e um a m e di cin a <strong>da</strong>s so m b r a s , já que faz<br />

tanta justiça ao es c ur o reino <strong>da</strong>s so m b r a s e dos fantas m a s . As<br />

m o d e r n a s uni<strong>da</strong>d e s de terapia intensiva são os próprios<br />

lugare s mal- ass o m b r a d o s des s e mund o, por ond e pera m b ul a m<br />

ser e s que estã o entre a vi<strong>da</strong> e a m orte, que não estã o à<br />

43<br />

7


vontad e ne m lá, ne m cá. Quem pod e m e dir o que sofre um a<br />

alm a en qu a nt o seu corp o e m co m a am arrad o e m um a ca m a<br />

não pod e m orr er e não pod e, às vez e s durante ano s, se guir<br />

seu ca minh o ?<br />

2. A guerra moderna contra o padrão <strong>da</strong> vi<strong>da</strong><br />

Em nen hu m a outra ép o c a houv e um a cultura que ignor ou<br />

co m tanto êxito aqu el a s fase s de des e n v olvi m e nt o que<br />

ilumina m os proc e s s o s <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> e, co m isso, tam b é m os <strong>da</strong><br />

velhic e, transfor m a n d o assi m as crise s <strong>da</strong> maturi<strong>da</strong>d e e m<br />

catástrofe s. Com e ç a co m o nas ci m e n t o , do qual faze m o s um<br />

dra m a m é dic o único. Ca<strong>da</strong> vez mais nas ci m e nt o s são<br />

clas sificad o s co m o sen d o de risco e solucion a d o s por m ei o de<br />

ces arian a s . Isso quer dizer um a única cois a: o co m e ç o <strong>da</strong> vi<strong>da</strong><br />

torna- se cad a vez m ais arrisc a d o . quan d o se pens a que todo<br />

co m e ç o já con c e ntra o des e n v olvi m e nt o posterior e m um<br />

pequ e n o esp a ç o , es s e fato lança um a luz que caract eriza<br />

noss a ép o c a. Vamo s ao en c o ntro do inicio <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> cad a vez<br />

mais proble m á tic o m e dic a m e n t e arm a d o s e, co m isso,<br />

deixa m o s de ver que so m o s nós m e s m o s que torna m o s tudo<br />

tão terrivel m e nt e co m plic a d o e perig o s o .<br />

Um reb e nt o relativa m e n t e jove m <strong>da</strong> ciên cia m é dic a, a<br />

gine c ol o gi a, contribuiu co m algo neste sentido. Ele pôd e, por<br />

exe m pl o, levar as mulh er e s a parir seus filhos e m um a <strong>da</strong>s<br />

posiç õ e s m e n o s favoráv ei s. Todo s os povo s naturais tend e m<br />

natural m e nt e a aum e nt ar a pres s ã o nec e s s á ria de có c or a s .<br />

Com isso, eles evita m o corte e o rompi m e n t o do perín e o . A<br />

posiç ã o deita<strong>da</strong> de costa s, à parte a vantag e m de prop orci o n ar<br />

um bo m ca m p o de trabalh o e de ob s erva ç ã o para o<br />

gine c ol o gi sta, só tem des v a nt a g e n s . Quem não con s e g u e<br />

imagin ar isso, pod eria tentar por um a vez evacuar deitad o. Até<br />

m e s m o para neg ó ci o s tão m e s q uinh o s falta aqui a nec e s s á ri a<br />

pres s ã o por falta de contrapr e s s ã o . Os holan d e s e s dão<br />

prefer ê n ci a à m e s m a posiç ã o pouc o favoráv el para o parto,<br />

43<br />

8


ma s de m o n s tr a m tam b é m que algo é diferent e. Cerca de 90 %<br />

<strong>da</strong>s crianç a s na Holan<strong>da</strong> nas c e m e m cas a se m a colab or a ç ã o<br />

de um gine c ol o gi sta. As cha m a d a s clínicas m ó v ei s co m seus<br />

m é di c o s estã o de prontidã o, m a s so m e n t e para cas o s de<br />

urgên ci a. Naturalm e nt e, a taxa de m ortali<strong>da</strong>d e infantil na<br />

Holan<strong>da</strong> é m e n o r que a nos s a [na Alemanha], já que adora m o s<br />

co m plicar tudo des d e o principio.<br />

O grand e pas s o seguinte rum o à m aturi<strong>da</strong>d e vai no m e s m o<br />

estilo. quan d o , co m o surgi m e nt o <strong>da</strong> puber<strong>da</strong>de, surg e m<br />

impulso s que anuncia m o tornar- se adulto, a soci e d a d e é<br />

unâni m e e m ach ar que ain<strong>da</strong> não se che g o u a tal ponto<br />

en qu a nt o não che g a a tal ponto. Sem os nec e s s á ri o s rituais,<br />

esta m o s indefe s o s quanto às nec e s s i d a d e s de cres ci m e n t o<br />

naturalm e nt e urgent e s . Do lado dos adultos, tenta m o s ir ao<br />

en c o ntro delas co m progra m a s de educ a ç ã o se m pr e novo s e,<br />

do lado dos afetad o s , co m rituais sub stitutivos tão perigo s o s<br />

quanto infrutífero s. quan d o a pub erd a d e sai do plano aní mic o,<br />

o tornar- se adulto se vê am e a ç a d o co m o um todo, e o<br />

nec e s s á ri o pas s o se guinte de cortar o cordã o um bilical <strong>da</strong> cas a<br />

patern a torna- se ain<strong>da</strong> m ais proble m á tic o. Caracteristica m e n t e ,<br />

res erv a m o s o con c eito de pais- corvo ao s pais desn aturad o s<br />

[Ra b e n = corvo / Eltern = pais / Ra b e n e lt ern = pais<br />

des n aturad o s], já que esp erta m e n t e os corvo s expuls a m seus<br />

filhote s do ninho assi m que este s estã o m adur o s, para que<br />

leve m sua própria vi<strong>da</strong>. Provav el m e n t e , precis ar e m o s de muito<br />

temp o e muitos estud o s científico s para con c e b e r a sab e d o ria<br />

natural dos corvo s. Não precis a m o s portanto ad mirar- nos se<br />

e m nos s a soci e d a d e as pes s o a s se torna m cad a vez mais<br />

velha s e, co m isso, cad a vez m e n o s adultas. Uma hor<strong>da</strong> de<br />

psicot er ap e uta s vive de brincar de pub erd a d e co m pes s o a s<br />

que, pelo s ano s que têm, já che g ar a m à crise <strong>da</strong> m ei a- i<strong>da</strong>d e.<br />

Ca<strong>da</strong> fase de vi<strong>da</strong> não do min a d a fornec e a bas e para o<br />

fraca s s o <strong>da</strong> seguinte. E to<strong>da</strong> elab or a ç ã o posterior é tanto m ais<br />

difícil, porqu e o ca m p o favoráv el ao des e n v olvi m e nt o con siste<br />

se m pr e <strong>da</strong> ép o c a natural m e nt e prevista para isso.<br />

Após um nas ci m e nt o exc e s siv a m e n t e cozido e um a<br />

43<br />

9


pub erd a d e não- do min a d a, a crise <strong>da</strong> meia-i<strong>da</strong>de muitas vez e s<br />

tam b é m naufrag ar á. Com o es s e ponto decisivo no padrã o <strong>da</strong><br />

vi<strong>da</strong> de cad a pes s o a está alé m diss o carre g a d o co m o terrível<br />

tem a <strong>da</strong> velhic e, ele freqü e nt e m e n t e fraca s s a até m e s m o<br />

quan d o as crise s anterior e s fora m sup er a d a s . Na mand al a, o<br />

padrã o prim ordial <strong>da</strong> vi<strong>da</strong>, a crise <strong>da</strong> m eia- i<strong>da</strong>d e é<br />

repre s e nt a d a co m o ponto de transiç ã o . A mand al a é um<br />

sím b ol o co m u m a to<strong>da</strong>s as culturas, que se con s erv o u entre<br />

nós nas ros etas <strong>da</strong>s catedr ais góticas, servind o so b divers a s<br />

form a s co m o bas e para a m e ditaç ã o no Oriente e tend o<br />

deixad o seu rastro em to<strong>da</strong>s as culturas.<br />

Rosa alquí mic a de Notre- Dam e e m Paris 82<br />

Sendo o arqu étipo do ca min h o do des e n v olvi m e nt o hum a n o ,<br />

ela está intima- m e nt e liga<strong>da</strong> não so m e n t e à noss a existên cia<br />

ma s tam b é m à de todo o univers o. Ca<strong>da</strong> áto m o é um a<br />

mand al a, co m sua <strong>da</strong>nç a de en er gi a ao redor do próprio centro,<br />

o núcle o atô mic o . Com o tudo nesta criaç ã o con siste de<br />

áto m o s , tudo tam b é m con siste de mand al a s. To<strong>da</strong> célula é<br />

reproduzi<strong>da</strong> a partir do padrã o primordial <strong>da</strong> m and al a, já que<br />

aqui tam b é m tudo gira e m torno do núcle o <strong>da</strong> célula que está<br />

44<br />

0


no centro. Com o a vi<strong>da</strong> veg et al, anim al e hum a n a é feita de<br />

células, tam b é m nest e plan o tudo está bas e a d o na mand al a.<br />

Nossa Terra é igual m e nt e um a mand al a, já que gira ao redor<br />

de seu centro para o qual conv er g e tam b é m a força <strong>da</strong><br />

gravi<strong>da</strong> d e . Até m e s m o o siste m a solar corresp o n d e a um a<br />

mand al a, co m o Sol ao redor do qual circula m todo s os<br />

plan etas. O univers o, finalm e nt e, co m a nebul o s a e m espiral,<br />

tam b é m traz a assin atura <strong>da</strong> m and al a. Em um mund o de<br />

mand al a s, tudo abriga e m si es s e sím b ol o primordial, e<br />

tam b é m , natural m e nt e, o ser hum a n o . Nossa vi<strong>da</strong> se<br />

des e n v olv e nes s e padrã o, e nunc a na<strong>da</strong> nesta criaç ã o pod e<br />

jam ais aba n d o n a r es s a m oldura.<br />

A vi<strong>da</strong> hum a n a co m e ç a co m a con c e p ç ã o no ponto central<br />

<strong>da</strong> mand al a. O ponto, na m at e m á ti c a, é definido co m o não<br />

tend o dim e n s õ e s no esp a ç o e, e m con s e q ü ê n c i a, so m e n t e<br />

pod e ser con c e b i d o ideal m e nt e. Ele é um sím b ol o para um<br />

plan o que não existe neste mun d o , pois no mund o polar tudo<br />

tem dim e n s õ e s . Com a con c e p ç ã o , deixa m o s o infinito se m<br />

dim e n s õ e s e aterriss a m o s no útero m at ern o , ond e entretanto<br />

ain<strong>da</strong> esta m o s be m próxim o s <strong>da</strong> uni<strong>da</strong>d e. A crianç a é um co m<br />

a mã e. Esta uni<strong>da</strong>d e, entretanto, ab and o n a o centro pas s o a<br />

pas s o , dirigindo- se para a periferia <strong>da</strong> mand al a.<br />

No nas ci m e nt o a crianç a, e m m ei o às dor e s do parto, é<br />

expuls a co m grand e violên ci a <strong>da</strong> paradisíac a terra do faz- deconta<br />

do ab a st e ci m e n t o óbvio e auto m átic o. A ligaç ã o física<br />

co m a m ã e e co m a alim e nta ç ã o , o cordã o um bilical, é cortad a.<br />

Com a prim eira inspiraç ã o de ar, sua única grand e câ m ar a<br />

cardíac a divide- se e m dua s m etad e s por m ei o do septo<br />

cardíac o , os dois pulm õ e s se expan d e m e a respiraç ã o , co m<br />

seus pólos de inspiraç ã o e expiraç ã o , termina de prend er- nos<br />

definitiva m e n t e na polari<strong>da</strong>d e. Até a última expiraç ã o , co m a<br />

qual volta m o s a ab and o n a r este mun d o polar, o ser hum a n o<br />

precis a respirar ininterrupta m e n t e e pag ar tributo à polari<strong>da</strong>d e.<br />

Tam b é m dep ois des s e pas s o que se afasta do m ei o e m<br />

direç ã o ao mun d o , viven ci ad o muitas vez e s co m des e s p e r o e<br />

ab and o n a d o ao s gritos, a crianç a per m a n e c e ain<strong>da</strong> muito<br />

44<br />

1


próxim a à m ã e . A principio ela é am a m e n t a d a , até que isso<br />

tam b é m termin a e o alim e nt o é posto cad a vez m ais e m suas<br />

próprias mã o s e, juntam e nt e co m ele, tam b é m a<br />

resp o n s a bili<strong>da</strong>d e . Finalm e nt e, a crianç a precis a an<strong>da</strong>r co m as<br />

próprias perna s, precis a ab and o n ar a estáv el posiç ã o de<br />

bruç o s e m favor do perigo s o e lábil equilíbrio so br e duas<br />

perna s. E assi m ela dev e pros s e g uir a partir de ag or a, até que<br />

finalm e nt e pas s a a ca min h ar so br e as próprias perna s tam b é m<br />

e m sentido figurad o e corta o cordã o um bilical que a liga à<br />

cas a. Ela co m e ç a r á a falar e e m algu m m o m e n t o lançar á seu<br />

prim eiro não ao mun d o , co m o que se delimita e exclui partes<br />

<strong>da</strong> reali<strong>da</strong>d e . Com cad a não e co m cad a pas s o , ela se afasta<br />

ain<strong>da</strong> m ais do centro e se esforç a por pros s e g uir e m direç ã o à<br />

periferia <strong>da</strong> mand al a.<br />

Na pub erd a d e termin a entã o a crianç a, que deixa de ser<br />

neutra e pas s a a ser "a mulh er" ou "o ho m e m " . Nas culturas<br />

arcaic a s , a crianç a precis a v a m orr er ritualm e nt e para que o<br />

adulto pudes s e nas c er. Ela "morria" co m m e d o e so b torturas<br />

e m um ritual de pub erd a d e muitas vez e s san gr e nt o e seus<br />

pais, co m o corresp o n di a, ficava m de luto. O adulto so m e n t e<br />

podia nas c er a partir <strong>da</strong> m orte definitiva <strong>da</strong> crianç a. A partir <strong>da</strong>í<br />

havia mais um adulto no clã, que tinha deixad o tudo o que era<br />

infantil para trás, e m um outro mun d o .<br />

Após a pub erd a d e , a con s ci ê n ci a do fato de que se está<br />

dividido ao m ei o, ou seja, <strong>da</strong> própria imp erfeiç ã o , é tão grand e<br />

que os joven s se põ e m a busc ar sua outra m etad e , a que lhes<br />

falta. A voz popular sab e que se trata <strong>da</strong> m etad e m elh or, <strong>da</strong><br />

cara- m eta d e . quan d o ela é en c o ntrad a, a principio dá de fato<br />

es s a impre s s ã o . Com o temp o, entretanto, perc e b e - se que o<br />

que se es c olh e u foi o próprio lado de so m b r a. Agora já não são<br />

muitos os que têm a cora g e m de rec o n h e c e r que continua se<br />

tratand o, ag or a m ais do que nunc a, <strong>da</strong> m etad e m elh or, aqu el a<br />

que falta para a perfeiç ã o .<br />

Seguind o o m and a m e n t o bíblico "Conquistai a terra!", o<br />

ca min h o continua afastan d o- se do m ei o e e m algu m m o m e n t o ,<br />

apó s se ter lograd o mais ou m e n o s no mund o dos contrário s,<br />

44<br />

2


todo s che g a m à bor<strong>da</strong> <strong>da</strong> mand al a. Tudo ag or a gira, o ca minh o<br />

não pros s e g u e na direç ã o co stu m eir a e to<strong>da</strong>s as tentativas de<br />

pros s e g uir nele ape s ar diss o fracas s a m e dev e m fraca s s ar. O<br />

quanto es s e ponto de transiç ã o na vi<strong>da</strong> é importante pod e ficar<br />

claro pelo fato de que a m e dicin a aca d ê m i c a , que<br />

ab s oluta m e n t e não tem con s ci ê n ci a do padrã o de fundo,<br />

tam b é m o des c o b riu. Na mulh er, não era difícil perc e b e r a<br />

m e n o p a u s a atrav é s do marc a nt e fim <strong>da</strong> m e n struaç ã o e a níti<strong>da</strong><br />

transfor m a ç ã o hor m o n al, ma s co m o tem p o não se pod e deixar<br />

de perc e b e r a crise <strong>da</strong> m eia- i<strong>da</strong>d e no ho m e m tam b é m ,<br />

so br etud o não na m e did a e m que ela se m pr e resv al ou para<br />

âm bito s não liberad o s . Os proble m a s típicos <strong>da</strong> mud a n ç a , de<br />

ond a s de calor a depr e s s õ e s , que só rec e nt e m e n t e colo c ar a m<br />

noss a m e dicin a e m seu rastro, são des c o n h e c i d o s por parte<br />

dos povo s que vive m con s ci e nt e m e n t e no padrã o <strong>da</strong> m and al a.<br />

A razão pod eria estar e m uma outra es c al a de valor e s e e m<br />

uma ac eitaç ã o se m res erv a s <strong>da</strong>s diferente s fase s <strong>da</strong> vi<strong>da</strong>.<br />

Para os povo s arcaic o s , a ép o c a do m ei o <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> é<br />

freqü e nt e m e n t e con sid er a d a o ponto culminant e, que ain<strong>da</strong><br />

ress o a e m noss o con c eito de clím ax [Klimakt eriu m -<br />

m e n o p a u s a]. A expans ã o física e, co m ela, a <strong>da</strong> força e <strong>da</strong><br />

en er gi a extern a s, termin a e m favor <strong>da</strong> expans ã o interna. A<br />

mud a n ç a do des e n v olvi m e nt o extern o para o interno é <strong>da</strong><strong>da</strong> de<br />

ante m ã o pelo padrã o, anun cia- se o retorn o <strong>da</strong> alm a ao lar.<br />

Após um a m etad e de vi<strong>da</strong> ch eia de env olvi m e nt o s , segu e- se<br />

uma de des e n v olvi m e n t o . Os povo s que con s erv ar a m suas<br />

raízes espirituais vive m es s a oportuni<strong>da</strong>d e con s ci e nt e m e n t e .<br />

Aquilo que nós con sid er a m o s co m o sen d o sinal <strong>da</strong> velhic e e<br />

<strong>da</strong> diminuiçã o <strong>da</strong>s forças é be m - vindo para eles, já que eles<br />

vê e m o objetivo <strong>da</strong> volta ao lar, o retorn o à uni<strong>da</strong>d e, co m outros<br />

olho s. Onde a m orte, co m o fim do mund o , nos am e a ç a , é para<br />

eles uma pas s a g e m natural para uma outra form a de<br />

existên ci a. Cons e q ü e n t e m e n t e , es s a última crise <strong>da</strong> vi<strong>da</strong><br />

tamp o u c o repres e nt a um proble m a para eles. Eles saúd a m a<br />

m orte quan d o ela entra, às vez e s até m e s m o a esp er a m e, de<br />

qualqu er man eira, não vê e m nenhu m a razão para fugir dela.<br />

44<br />

3


Nós, ao contrário, esta m o s coletiva m e n t e e m fuga. Até m e s m o<br />

quan d o a m orte surpre e n d e algué m próxim o, tenta m o s ain<strong>da</strong><br />

assi m ignorá- la ou retoc á- la para não vê- la. De que outra<br />

man eira se pod eria interpretar as tentativas de enfeitar os<br />

m orto s de form a juvenil? Nos Estado s Unidos está na m o d a<br />

ma q uiar cad á v e r e s de 80 ano s para caract erizá- los co m o<br />

adol e s c e n t e s . Em co m p ar a ç ã o co m tais tentativas de tapar a<br />

reali<strong>da</strong>d e, é de um a digni<strong>da</strong>d e co m o v e d o r a quan d o os índios<br />

ou os es qui m ó s se prepar a m para es s e último enc o ntr o. Eles<br />

não são lança d o s à água, ne m se per mite que m orra m<br />

impied o s a m e n t e de fom e, tal co m o gosta m o s de m al enten d e r.<br />

Um velho índio, quan d o sent e que sua hora está che g a n d o , se<br />

retira tão tranqüila m e n t e co m o um a jove m índia que sent e que<br />

a hora do parto se aproxi m a. Não há nenhu m a razão para que<br />

o clã "fique louc o" porqu e perd er á ou ganh ar á um m e m b r o<br />

neste plano. Isso faz parte <strong>da</strong> naturez a e é ac eito co m o algo<br />

evid e nt e. Som o s nós que rem o v e m o s os m oribun d o s para<br />

clínicas, e esp e ci al m e n t e os m oribun d o s velho s, e lá entã o,<br />

nova m e n t e , para canto s es c ur o s, ban h eir o s ou algu m outro<br />

lugar ond e não precis e m o s enc ar ar o "atroz ac o nt e ci m e n t o ".<br />

Nós projeta m o s es s e co m p o rta m e n t o indign o nos cha m a d o s<br />

primitivos, que são muito sup erior e s a nós no que a isso se<br />

refer e.<br />

Onde já não tem o s a m e n o r chan c e de driblar a m orte,<br />

blefa m o s nos prim eiro s está gi o s à bas e de força física.<br />

Tenta m o s ignorar a crise <strong>da</strong> m ei a- i<strong>da</strong>d e para entã o ser<br />

nova m e n t e lem br a d o s que isso não pod e continuar assi m, que<br />

a prim ei ra m etad e já pas s o u. Com tais con h e ci m e n t o s ,<br />

qualqu er um dev eria na ver<strong>da</strong>d e con cluir que a vi<strong>da</strong> volta- se e<br />

dirige- se para a m orte, que perd e m o s definitiva m e nt e noss a<br />

juventud e e que e m lugar dela a velhic e está baten d o à porta.<br />

Uma série de probl e m a s m é di c o s relevant e s surg e m a partir <strong>da</strong><br />

resistên ci a a esta seç ã o <strong>da</strong> vi<strong>da</strong>. Experim e nta m o s de m an eira<br />

tanto m ais cras s a no corp o o que não quer e m o s perc e b e r na<br />

con s ci ê n ci a.<br />

44<br />

4


3. Menopausa e osteoporose<br />

Com o os sinto m a s típicos tais co m o os calor e s e os surtos<br />

de transpiraç ã o já fora m ab ord a d o s no prim eiro volum e , aqui<br />

tratare m o s so m e n t e do sinto m a m o d e r n o <strong>da</strong> oste o p o r o s e .<br />

Com o a oste o p o r o s e se m pr e existiu, ele é m o d e r n o na m e di<strong>da</strong><br />

e m que este diagn ó stic o foi relacion a d o há pouc o, ma s não<br />

auto m atic a m e n t e , co m a m e n o p a u s a . De fato, a<br />

des c al cificaç ã o dos oss o s se ac e ntua co m ela. Entretanto, ela<br />

não é um sinto m a de do e n ç a , ma s um sinal nor m al <strong>da</strong><br />

a<strong>da</strong>pta ç ã o do corp o nes s a ép o c a. Apesar diss o, rec e nt e m e n t e<br />

ela ve m sen d o trata<strong>da</strong> co m aplicaç õ e s de estró g e n o por muitos<br />

gine c ol o gi stas. Isso tem adicion al m e n t e o efei to, agradáv el<br />

para muitas mulh er e s , de que a m e n o p a u s a seja ignorad a<br />

co m o paus a. O corpo é en g a n a d o pelas aplicaç õ e s de<br />

estró g e n o a tal ponto que ch e g a a assu mir que tudo continua<br />

co m antiga m e n t e , ou seja, co m o na juventud e, e que a<br />

mud a n ç a não é iminent e.<br />

Quem tem m e d o <strong>da</strong> des c al cificaç ã o dos os s o s e <strong>da</strong> carên ci a<br />

de cálcio dev eria na ver<strong>da</strong>d e fornec er cálcio ao corp o.<br />

Entretanto, é interes s a nt e notar que a aplicaç ã o de cálcio<br />

nes s a ép o c a não tem qualqu er efeito. O corpo con sid er a<br />

sup érfluo o cálcio ministrad o e volta a eliminá- lo. Ele con clui<br />

que ag or a pod e aliviar- se e não precis a m ais de oss o s<br />

ma ci ç o s , já que os tem a s <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> mud a m co m a mud a n ç a e o<br />

centro de gravi<strong>da</strong>d e mud a <strong>da</strong> ativi<strong>da</strong>d e extern a para a interna.<br />

Agora, trata- se m e n o s de apoiar- se nos os s o s físico s que<br />

en c o ntrar suporte na estrutura aní mic a interna. No que se<br />

refer e à vi<strong>da</strong> extern a, a m e n o p a u s a dev eria ter um asp e ct o de<br />

paus a e de repous o . É so m e n t e atrav é s do ludibrio que o corp o<br />

é levad o a continuar dep o sitan d o nos os s o s exata m e n t e tanto<br />

cálcio quanto ante s.<br />

44<br />

5


Pode- se ignorar a m e n o p a u s a co m es s e truque hor m o n al,<br />

continuar brincand o de jove m e exigir dos os s o s . A<br />

populari<strong>da</strong>d e de tais truque s não é de ad mirar quan d o se<br />

pen s a no culto à juventud e do min a nt e e na neg a ç ã o <strong>da</strong> velhic e<br />

que o ac o m p a n h a . Entretanto, per m a n e c e a pergunta se o que<br />

se quer é real m e nt e sacrificar a chanc e de sup er ar<br />

con s ci e nt e m e n t e es s a grand e crise de pas s a g e m <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> e m<br />

prol de um a m e ntira vital. E precis o aliviar- se tanto física<br />

quanto aní mic a m e n t e e prep ar ar- se para o retorn o, o ca minh o<br />

de cas a <strong>da</strong> alm a. Para isso é nec e s s á ri o livrar- se do lastro.<br />

quanto mais isso ac o nt e c e e m sentido figurad o, mais estáv el<br />

per m a n e c e r á a estrutura do corp o.<br />

Apesar <strong>da</strong>s reivindica ç õ e s e m contrário, o ho m e m m o d e r n o<br />

é hostil às mud a n ç a s na vi<strong>da</strong>. A mud a n ç a do verã o para o<br />

invern o e vice- vers a já é suficiente para que milhõ e s de<br />

pes s o a s , simultân e a e coletiva m e n t e , tenha m o nariz entupido<br />

e rec orra m à gripe para repre s e nt ar o tem a. Os ag e nt e s<br />

nec e s s á ri o s pod e m ser enc o ntrad o s e m qualqu er canto.<br />

Parec e tão simpl e s m and ar tudo o que é des a gr a d á v e l para<br />

o corp o às favas. O fato de que a m e di cin a ain<strong>da</strong> por cim a<br />

apói e es s e jogo é um erro cô mi c o de seu des e n v o l vi m e n t o tão<br />

ch ei o de mud a n ç a s . Quando se m e dita so br e os argu m e n t o s<br />

gine c ol ó gi c o s , eles so m e n t e pod e m caus ar estup or. Quem<br />

m et e m e d o nas mulh er e s dizend o que seus os s o s vão se<br />

que br ar cas o não en gula m nenhu m estró g e n o dev eria, entre<br />

outras coisa s, per mitir-se perguntar co m o os bilhõ e s de<br />

mulh er e s que vivera m ante s <strong>da</strong> m o d a do estró g e n o puder a m<br />

sup er ar es s a ép o c a perigo s a se m fraturas ós s e a s , tal co m o<br />

muitas anciãs con s e g u e m fazer até hoje.<br />

Este argu m e n t o so m e n t e perd e e m impertinên ci a para<br />

aqu el e outro, não m e n o s querido nest e s temp o s tão ch ei o s de<br />

mud a n ç a s : "Se a sen h or a não per mite que seu útero seja<br />

retirado, ele pod e se deg e n e r ar de form a m align a". Seria<br />

pos sív el rec o m e n d a r a am puta ç ã o dos braç o s utilizand o a<br />

m e s m a lógica. Eles se m pr e pod eria m ter cân c er de pele e<br />

deg e n e r ar. Esse pânic o fabricad o não só levou a um au m e nt o<br />

44<br />

6


se m prec e d e n t e s no índic e de op er a ç õ e s do útero, m a s alé m<br />

diss o esp alh o u uma inse g ur an ç a preo c up a nt e. Naturalm e nt e,<br />

tanto ante s co m o ag or a, há situaç õ e s nas quais o útero dev e<br />

ser retirado. Mas co m o a mulh er pod e sab er se seu<br />

gine c ol o gi sta participa <strong>da</strong> cruzad a contra os útero s ou tem<br />

razõ e s m e dic a m e n t e fun<strong>da</strong> m e n t a d a s ? Uma <strong>da</strong>s minh a s<br />

exp eriên ci a s "m é dic a s" m ais verg o n h o s a s é a de que os<br />

mio m a s pod e m en c olh er simpl e s m e n t e pelo fato de as<br />

mulh er e s con s ultar e m para um a segun d a opinião um<br />

gine c ol o gi sta que não é cirurgião, que não tem nen hu m<br />

interes s e pes s o al na op er a ç ã o .<br />

Não há infelizm e nt e nenhu m truque corresp o n d e n t e para a<br />

probl e m á tic a <strong>da</strong> oste o p o r o s e , exc et o talvez rec orr er à saud á v el<br />

razã o hum a n a e um olhar so br e a cad ei a de gera ç õ e s<br />

feminina s, de nos s a s avó s até Eva, a prim eira mulh er. To<strong>da</strong> s<br />

elas tivera m que ad ministrar e mant er seus hor m ô ni o s e m<br />

ord e m se m a aju<strong>da</strong> de gine c ol o gi sta s, e m e s m o assi m, e m<br />

m é di a, atingira m um a i<strong>da</strong>d e m ais elev a d a que seus m arido s e,<br />

de qualqu er form a, não que br ar a m seus os s o s co m m ai or<br />

freqü ê n ci a.<br />

A profilaxia mais razo á v el e m relaç ã o a to<strong>da</strong> a proble m átic a<br />

con sist e e m um a vi<strong>da</strong> plena e satisfatória para o pólo feminin o,<br />

antes que a m e n o p a u s a se anunci e. Quando ela ch e g a, um<br />

deslo c a m e n t o dos tem a s e m que st ã o para plan o s aní mic oespirituais<br />

prop orci o n a o m ais profund o alívio. Quem, nas<br />

oc a si õ e s oportuna s, trans mitiu seu calor ao ho m e m , dep ois<br />

diss o não precis a se fazer de mulh er ardent e em circunstânci a s<br />

inconv e ni e nt e s . Agora seria natural ser fogo s a e m relaç ã o a<br />

outros conteú d o s , de entusias m a r- se pelo pólo opo st o, o<br />

mund o espiritual. Quem re s olv e u seus des ej o s de<br />

des c e n d ê n c i a, de ter reb e nt o s , não precis a deixar que na<strong>da</strong><br />

mais se des e n v olva e m seu útero após a m e n o p a u s a . A<br />

fertili<strong>da</strong>d e e o cres ci m e n t o ag or a faze m parte do mun d o<br />

aní mic o- espiritual. Quem se livra de lastro na m e n o p a u s a e<br />

mud a a orienta ç ã o <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> <strong>da</strong> expan s ã o exterior para a interior,<br />

não precis a mais de os s o s tão pes a d o s e tem neles suficiente<br />

44<br />

7


tutano para enfrentar o cainh o de volta à cas a <strong>da</strong> alm a se m<br />

fraturas.<br />

P er g u nta s<br />

1. Poss o assu mir a tarefa <strong>da</strong> mud a n ç a que ac o m p a n h a a<br />

crise <strong>da</strong> m ei a- i<strong>da</strong>d e?<br />

2. Admiti e satisfiz m e u s des ej o s e m relaç ã o à<br />

des c e n d ê n c i a e à "vi<strong>da</strong>", ou deixo que aquilo que falta cres ç a<br />

so b a form a de mio m a s ? Vivi o suficiente? Estou farta?<br />

3. Há plano s nos quais go staria de mud ar e não m e<br />

atrev o? Onde pod eria tornar- m e fértil e m sentido figurad o?<br />

4. Que lastro dev eria soltar? Que tarefa dev eria co m e ç a r ?<br />

5. Onde m e falta estrutura? Onde pos s o en c o ntrá- la?<br />

4. A crise <strong>da</strong> meia-i<strong>da</strong>de<br />

Trata- se <strong>da</strong> m e n o p a u s a ma s c ulina, ou seja, <strong>da</strong>s exig ê n ci a s<br />

de mud a n ç a que resvalara m para plan o s não liberad o s . A<br />

palavra greg a kris is (= crise) quer dizer, entre outras cois a s,<br />

decis ã o , e o ho m e m de fato precis a decidir se quer<br />

e m pr e e n d e r o ca minh o de volta con s ci e nt e m e n t e ou pad e c ê - lo<br />

incon s ci e nt e m e n t e . A decis ã o so br e se ele quer se g uir adiante<br />

co m o ante s ou retorn ar não cab e a ele. O padrã o não a ad mite<br />

e força ao retorn o de um a form a ou de outra. Onde no ca minh o<br />

de i<strong>da</strong> valia a fras e bíblica: "Conquistai a terra", para o ca minh o<br />

de volta vale: "Em ver<strong>da</strong>d e vos digo que se não retorn ar e m e<br />

não voltare m a ser co m o as crianç a s , não alcan ç ar ã o o reino<br />

cele st e de Deus."<br />

A m ai oria sente o puxão para trás nes s a ép o c a . Só que,<br />

co m o se m pr e, a res olv er as cois a s no plan o físico. Assim,<br />

pes s o a s de 50 ano s, e m vez de se tornar e m outra vez co m o as<br />

crianç a s animic a m e n t e , torna m - se extern a m e n t e infantis,<br />

vest e m - se co m m o d a jove m , co m pr a m carro s esp ortivo s e<br />

procura m na m o r a d a s joven s. Com o culto à juventud e<br />

do min a nt e, isso não é difícil. Já do ponto de vista financ eir o,<br />

44<br />

8


carro s esp ortivo s são con struído s principal m e nt e para<br />

sen h o r e s de i<strong>da</strong>d e, a m o d a de qualqu er form a está dirigi<strong>da</strong><br />

para o jove m , e devid o à sep ar a ç ã o aní mic a dos pais, que<br />

oc orr e co m freqü ê n ci a, existe m suficiente s m e nin a s joven s que<br />

de bo m grad o viven cia m co m um sen h or de i<strong>da</strong>d e o proble m a<br />

não res olvido co m o pai. Essa ad ministraç ã o <strong>da</strong> crise no<br />

mund o extern o, algo ridícula, ain<strong>da</strong> é m elh or que a recus a total<br />

e m <strong>da</strong>r o pas s o nec e s s á ri o. Quem se neg a a fazê- lo e m<br />

sentido figurad o força o corp o a tom ar seu lugar. A depressão<br />

seria uma des s a s form a s não- redi mi<strong>da</strong> s de retorn o. Depres s ã o<br />

quer dizer literalm e nt e "long e <strong>da</strong> pres s ã o " ou "dis- tens ã o", e de<br />

fato es s a postura de vi<strong>da</strong> conté m o relaxa m e n t o de to<strong>da</strong>s as<br />

tens õ e s , ain<strong>da</strong> que seja de form a totalm e nt e não- redimi<strong>da</strong>.<br />

Em vez de parar co m tudo e entre g ar o probl e m a <strong>da</strong> própria<br />

vi<strong>da</strong> à previd ê n ci a do Estado, trata- se sim de relaxa m e n t o , mas<br />

de um a form a m ais exig e nt e. A tens ã o é m áxi m a na periferia<br />

<strong>da</strong> m and al a. Justam e nt e lá, ond e a expans ã o do pod er e <strong>da</strong><br />

influên cia está m ais difundi<strong>da</strong>, exig e- se o retorn o à uni<strong>da</strong>d e,<br />

ond e não há qualqu er tens ã o . O ditado seguinte o formula à<br />

sua m an eira: "Quando está m elh or é quan d o se dev e parar".<br />

Por trás dele está a exp eriên ci a de que, cas o contrário,<br />

forço s a m e n t e se tornará m e n o s belo.<br />

O mito des cr e v e o retorn o <strong>da</strong> alm a ao lar e m to<strong>da</strong>s as suas<br />

variante s: Parsifal precis a procurar es s e ca min h o de volta à<br />

uni<strong>da</strong>d e exata m e n t e co m o Ulisses ou os Argonauta s. Na Bíblia<br />

é o filho pródig o, que rec e b e a rec o m p e n s a m er e ci d a por<br />

retorn ar ao pai, o sím b ol o <strong>da</strong> uni<strong>da</strong>d e. Ele é muito sup erior ao<br />

outro, que não ous o u e m pr e e n d e r o ca minh o do mun d o <strong>da</strong><br />

duali<strong>da</strong>d e, do des e s p e r o e <strong>da</strong> des a v e n ç a . Todo herói de conto<br />

de fa<strong>da</strong>s segu e es s e padrã o arqu etípic o. As vez e s o ab and o n o<br />

<strong>da</strong> uni<strong>da</strong>d e é facilitado por um a ma dr a sta má, e m se g ui<strong>da</strong> ele<br />

precis a do min ar o mund o e finalm e nt e en c o ntrar sua outra<br />

m etad e , ou seja, integrar sua so m b r a. Após cas ar- se co m a<br />

figura <strong>da</strong> princ e s a , am b o s retorna m à cas a do pai e "vive m<br />

felizes para se m pr e".<br />

Este padrã o tam b é m é válido <strong>da</strong> m e s m a man eira para as<br />

44<br />

9


pes s o a s m o d er n a s 83 . Antes, o apoio m ais sub stan ci al nes s e<br />

ca min h o era a religião. Até m e s m o e m um a ép o c a e m que as<br />

grand e s religiõ e s se alien a m de seu con h e ci m e n t o , a religio,<br />

co m o religaç ã o do inicio primordial, ain<strong>da</strong> está à altura des s a<br />

tarefa. A m e ditaç ã o tem igualm e nt e por objetivo es s e m ei o,<br />

es s e centro, e ante s o fazia tam b é m a m e di cin a, tal co m o ain<strong>da</strong><br />

se pod e ver na palavra. De qualqu er m an eira, es s a era uma<br />

m e di cin a arqu etípica, que confiava nos sím b ol o s co m o<br />

indicad or e s do ca min h o , co m p ar á v el e m certa m e did a à<br />

m e di cin a pretendid a pelo s índios. Ela não é tom a d a e m form a<br />

de pílulas, mas leva<strong>da</strong> no cora ç ã o .<br />

P er g u nta s<br />

1. Em que ponto do padrã o <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> estou ag or a?<br />

2. Com quais se ç õ e s de m e u ca minh o de vi<strong>da</strong> estou e m pé<br />

de guerra?<br />

3. Onde e de que form a ofer e ç o resistên ci a ao retorn o<br />

exigido pelo padrã o?<br />

4. Com o lido co m a tens ã o na minh a vi<strong>da</strong>?<br />

5. Quais ca min h o s de disten s ã o estã o ab erto s para mi m?<br />

6. Realizei ou m e s m o so br e vivi ao s objetivo s de minh a<br />

vi<strong>da</strong>?<br />

7. O que minh a vi<strong>da</strong> pod eria ain<strong>da</strong> salvar ag or a?<br />

5. Fratura do fêmur<br />

Com este tem a che g a m o s à visão terrorífica <strong>da</strong> velhic e que<br />

os ginec ol o gi sta s têm pintado ultima m e n t e nas pared e s .<br />

Quando o fêmur se que br a, o que pratica m e n t e só ac o nt e c e na<br />

velhic e, rapi<strong>da</strong> m e n t e susp eita m o s de uma assi m cha m a d a<br />

fratura por fadiga. A bas e fisiológic a do can s a ç o dos oss o s é<br />

sua des c al cificaç ã o na velhic e, a cha m a d a osteoporose, que<br />

surg e tanto nas mulh er e s co m o nos ho m e n s . O diagn ó stic o de<br />

fratura por fadiga é m ais sinc er o que a m é di a, já que afirma<br />

que nest e cas o um os s o can s a d o ced e u. Neste ponto,<br />

45<br />

0


tamp o u c o é de ad mirar que freqü e nt e m e n t e não seja<br />

nec e s s á ria a atuaç ã o de qualqu er força, um leve tom b o de<br />

tras eiro já é suficiente.<br />

O tom b o cont é m todo o sim b olis m o <strong>da</strong> qued a. A imen s a<br />

maioria de todo s os acid e nt e s rem et e m - se a um tom b o ou a<br />

uma qued a e, co m isso, à atualizaç ã o de um tem a mitoló gic o<br />

plen o de significad o s . "A so b er b a ve m antes <strong>da</strong> qued a", diz a<br />

interpreta ç ã o prov er bial <strong>da</strong> situaç ã o . Lúcifer, o anjo favorito de<br />

Deus, incorreu na so b er b a antes de ser arre m e s s a d o à<br />

polari<strong>da</strong>d e . Os prim eiros ser e s hum a n o s , Adão e Eva, fizera mse<br />

culpad o s des s e delito, o que acarr etou o pec a d o original e a<br />

con s e q ü e n t e expuls ã o <strong>da</strong> uni<strong>da</strong>d e do Paraís o. E os último s<br />

ser e s hum a n o s tam b é m serã o culpad o s e m relaç ã o a isso. No<br />

Velho Testa m e n t o , o padrã o está cond e n s a d o , e m última<br />

instância, na história <strong>da</strong> con struç ã o <strong>da</strong> Torre de Babel que<br />

finalm e nt e, co m o to<strong>da</strong> so b er b a, termin a na qued a. Para os<br />

antigo s a so b er b a, a sublev a ç ã o contra os deus e s , era<br />

con sid er a d a co m o sen d o o único pec a d o real e ao m e s m o<br />

temp o co m o a única chan c e de atingir o casninh o do<br />

des e n v olvi m e nt o que leva à divin<strong>da</strong>d e . Esse ca minh o contê m<br />

e m si, quas e que nec e s s a ri a m e n t e , o tom b o , tal co m o mo stra a<br />

que d a de Prom et e u.<br />

Em qualqu er cas o, algo de so b er b a é so m atizad o e, ao<br />

m e s m o tem p o , rec e b e sua terapia. Na que d a que leva à fratura<br />

do fêmur, um "oss o velho" é atingido. Na maioria <strong>da</strong>s vez e s ,<br />

sua so b er b a con sist e e m ter ignorad o sua i<strong>da</strong>d e e ter<br />

pretendid o ser tão vigoro s o quanto um jove m . A fratura por<br />

fadiga, que teria poupa d o um jove m na m e s m a situaç ã o ,<br />

resta b el e c e as ver<strong>da</strong>d eiras prop or ç õ e s etárias e sep ar a os<br />

oss o s . Agora não se pod e mais pular fora e tamp o u c o se pod e<br />

saltar as fronteiras naturais.<br />

O sinto m a endireitou as cois a s e força os pacient e s a uma<br />

postura de repous o e de con s ci ê n ci a, m ais ad e q u a d a à sua<br />

i<strong>da</strong>d e. É precis o assu mir de livre e esp o ntân e a vontad e es s a<br />

posiç ã o de distân cia e m relaç ã o à m o vi m e nt a d a vi<strong>da</strong> extern a e<br />

resp eitar as exig ê n ci a s <strong>da</strong> própria i<strong>da</strong>d e. O can s a ç o natural<br />

45<br />

1


que, en g a n a d o extern a m e n t e , en c arn o u- se de m an eira<br />

substitutiva nos os s o s , exig e o que é seu de direito, des c a n s a r.<br />

Caso o pacient e siga es s a rec o m e n d a ç ã o , ele tem to<strong>da</strong>s as<br />

chan c e s de ain<strong>da</strong> lograr interna m e n t e <strong>da</strong>r grand e s pas s o s<br />

rum o ao des e n v olvi m e n t o . Trata- se de um a situaç ã o<br />

se m el h a nt e à dos ferim e nt o s que oc orr e m durante a prática de<br />

esp orte s, um a so br e e s ti m a ç ã o <strong>da</strong>s próprias pos sibili<strong>da</strong>d e s<br />

naturais.<br />

A tarefa seria ac eitar a própria situaç ã o e não mais abus ar<br />

<strong>da</strong>s próprias forças, ma s entre g ar- se ao des c a n s o e à<br />

con s ci e ntizaç ã o que o ac o m p a n h a . A continui<strong>da</strong>d e <strong>da</strong> vi<strong>da</strong><br />

ativa se gund o o padrã o juvenil dev e ser interro m pid a e,<br />

pas s a n d o por um a fas e de des c a n s o , dev e ser dirigi<strong>da</strong> para um<br />

nov o rum o, mais de ac ord o co m a i<strong>da</strong>d e.<br />

P er g u nta s<br />

1. Minha cora g e m já se transfor m o u e m so b er b a? Ela<br />

ain<strong>da</strong> está de ac ord o co m o tem p o ? A que m precis o provar o<br />

que co m ela?<br />

2. Tend o a m e ntir minha i<strong>da</strong>d e? Deixei de ver que não só<br />

tenh o os s o s velho s, ma s que m e tornei um?<br />

3. Comp e n s o minh a estrutura óss e a que vai se<br />

enfraqu e c e n d o co m a ossificaç ã o e m relaç ã o à con s ci ê n ci a?<br />

Exijo de m ai s de m eu corp o para poup ar minh a alm a?<br />

4. Com o lido co m minh a s fronteiras naturais? Onde as<br />

desr e s p eito?<br />

5. Consig o aliviar- m e e arrojar lastro para o retorn o à cas a<br />

<strong>da</strong> alm a?<br />

6. Barba feminina ou a integração dos opostos<br />

Resulta do padrã o dos conto s de fa<strong>da</strong>s que o herói dev e<br />

en c o ntrar sua outra m etad e , unir-se a ela e entã o voltar para<br />

cas a. Segund o C. G. Jung, cab e ao ho m e m ao long o de sua<br />

vi<strong>da</strong> a tarefa de des c o b rir sua m etad e feminina, a anima, e<br />

45<br />

2


des p ertá- la para a vi<strong>da</strong>. À mulh er corre s p o n d e a tarefa de<br />

en c o ntrar a parte ma s c ulina de sua alm a, o animu s , e fazer- lhe<br />

justiça. Ness e contexto, para a unificaç ã o dos opo st o s o<br />

es ot eris m o utiliza a imag e m do cas a m e n t o alquí mic o, na<br />

repre s e nt a ç ã o astroló gic a tem o s a conjun ç ã o do Sol co m a Lua<br />

e, na alqui mia, o andró gin o. Essas imag e n s , e esp e ci al m e n t e a<br />

do andró gin o, que integra em si am b o s os sexo s , não dev eria m<br />

en g a n ar- nos quanto ao fato de que es s a unificaç ã o é aní mic oespiritual.<br />

No âm bito físico, o org a s m o durante a relaç ã o sexual<br />

repre s e nt a um brev e vislum br e do sentim e nt o de unificaç ã o ,<br />

ma s fora isso há nele pouc a s chanc e s de liberar o pólo opo st o.<br />

Quando o ho m e m fisica m e n t e rígido torna- se, co m a i<strong>da</strong>d e,<br />

mais suav e quanto à expres s ã o do rosto, postura e<br />

m o vi m e nt o s , isso pod e repre s e nt ar um fenô m e n o paralelo co m<br />

a aproxim a ç ã o à anima, sen d o entã o rec e bid o de bo m grad o.<br />

Mas o surgi m e nt o de sinais do sexo opo st o no corp o pod e<br />

m o strar tam b é m que a integra ç ã o aní mic o- espiritual ficou muito<br />

curta e que o corp o co m p e n s a es s a car ên ci a. A tarefa entã o é<br />

clara: trata- se de per mitir a m anifesta ç ã o do outro lado, ma s<br />

e m um plano figurad o.<br />

Uma barb a feminina que se des e n v o l v e na m e n o p a u s a é um<br />

sinal típico para que a aten ç ã o seja dirigi<strong>da</strong> ao pólo ma s c ulino<br />

ma s, co m o foi dito, e m outro plan o. Apesar de totalm e nt e<br />

inofen siv o e m si m e s m o , é claro que o sinto m a produz algu m<br />

des g o s t o , m o strand o co m isso a força explosiva do tem a. Ele<br />

indica que a afetad a expres s a seu lado m a s c ulino e m plan o s<br />

extern o s , m e n o s apropriad o s para tal. É pos sív el tam b é m que<br />

isso ac o nt e ç a de um a man eira exc e s si v a m e n t e ma s c ulina. Ela<br />

precis aria busc ar seu próprio ca min h o feminino- lunar para<br />

fazer justiça ao principio ma s c ulino- solar. Não se trata de<br />

tom ar- se ma s c ulina, ma s de aproxi m ar- se do pólo ma s c ulino,<br />

do princípio Yang. Um animu s que fica muito curto no nível<br />

aní mic o- espiritual opta pela saí<strong>da</strong> que leva à pele. Barbear- se,<br />

sen d o a resp o st a m a s c ulina ao cres ci m e n t o indes ej a d o <strong>da</strong><br />

barb a, está por es s a razão pratica m e n t e fora de questã o para a<br />

mulh er, pois a am e a ç a d o r a so m b r a <strong>da</strong> barb a conferiria um a<br />

45<br />

3


durez a ma s c ulina ao rosto. A m eig a suavi<strong>da</strong>d e <strong>da</strong> cútis pod eria<br />

transfor m ar- se e m uma lixa e e m rabugic e, o que pod eria<br />

expr e s s ar algo sinc er o m a s, justa m e nt e por isso, indes ej a d o .<br />

As afetad a s tend e m a arranc ar os pêlo s um a um, co m a<br />

intenç ã o declar ad a de eliminá- los. O fato de que isso quas e<br />

nunc a dê certo explicita quã o important e é a m e n s a g e m<br />

trans miti<strong>da</strong> des s a man eira pelo org anis m o . A extirpaç ã o<br />

marcial ao m e n o s força a um co m p o rta m e n t o marcian oagre<br />

s siv o, ain<strong>da</strong> que nes s a i<strong>da</strong>d e o que dev eria ser des c o b e rto<br />

é o sim b olis m o solar do pólo m a s c ulin o. A diminuiçã o <strong>da</strong><br />

produç ã o de hor m ô ni o s feminino s explica fisiologic a m e n t e a<br />

prep o n d e r â n ci a relativa <strong>da</strong> parte m a s c ulina, que está se m pr e<br />

pres e nt e tam b é m nas mulh er e s . Juntam e nt e co m o<br />

cres ci m e n t o ma s c ulino de pêlo s, pod e m se des e n v olv er<br />

tam b é m traç o s faciais ma s c ulin o s. Uma barb a feminina que<br />

surg e m ais ced o na vi<strong>da</strong> tam b é m m o stra que aqui o princípio<br />

ma s c ulino está sen d o vivido e m um plan o m e n o s redimid o,<br />

mais mat erial. O sinto m a indica que o animu s dev e ser<br />

realizad o e m plano s mais sutis, tal co m o por exe m pl o o<br />

espiritual, e que ele adquiriu um certo exc e s s o de pes o . A<br />

m e n o p a u s a é a hora para isso, e antes, naturalm e nt e , m e n o s .<br />

Um fenô m e n o se m e l h a nt e m o stra- se e m ho m e n s que, ao<br />

env elh e c e r , neglig e n ci a m o trabalh o de des c o b e rta de sua<br />

anima e, e m vez diss o, des e n v o l v e m traço s faciais suav e s e<br />

form a s corp or ais feminina s. Da suaviza ç ã o do rosto, pas s a n d o<br />

por curvas inteira m e n t e atípicas, pod e se ch e g ar até a<br />

form a ç ã o de um busto. A expres s ã o pouc o resp eito s a de<br />

"efe min a d o " para es s a tend ê n ci a indica que o des e n v o l vi m e n t o<br />

aqui desvi ou- se para plano s equivo c a d o s .<br />

Ness e ca minh o de transfor m ar- se fisica m e n t e , mulh er e s e<br />

ho m e n s velho s pod e m ficar parecid o s . As vez e s isso pod e ser<br />

a expr e s s ã o de um des e n v olvi m e nt o interno paralelo, se gund o<br />

o princípio de "assi m dentro co m o fora". Entretanto, é natural a<br />

susp eita de que mais freqü e nt e m e n t e tal ac o nt e ç a co m o<br />

co m p e n s a ç ã o : "em vez de dentro, fora". A prim eira variante<br />

pod e ser rec o n h e c i d a pelo fato de que tais rosto s velho s<br />

45<br />

4


exer c e m um efeito muito belo e har m ô ni c o . É pos sív el viven ciar<br />

a irradiaç ã o andró gin a corresp o n d e n t e e m velho s indian o s e<br />

indian a s, m a s tam b é m e m to<strong>da</strong> s aqu el a s pes s o a s que vivera m<br />

suas vi<strong>da</strong>s e ous ar a m a integraç ã o de suas caras- m etad e s . A<br />

sab e d o ria e a co m p aixã o não são que st õ e s sexuais e se<br />

expr e s s a m de m an eira se m e l h a nt e e m am b o s os sexo s .<br />

Cons e q ü e nt e m e n t e , elas impregn a m os rosto s e os corp o s de<br />

man eira se m el h a nt e.<br />

A tend ê n ci a dos sexo s de se aproxi m ar e m um do outro na<br />

velhic e está relacion a d a tam b é m co m o tem a do retorn o e <strong>da</strong><br />

religio. Caso es s a tend ê n ci a de retorn o seja neglig e n ci a d a e m<br />

sentido figurad o, ela m er g ulh a na so m b r a e se manifesta no<br />

corp o co m o a assi m cha m a d a involuç ã o . A involuç ã o do timo<br />

na pub erd a d e e do útero na m e n o p a u s a é nor m al. Mas ela<br />

tam b é m pod e afetar outros órgã o s e se faz notar de form a<br />

esp e ci al m e n t e des a g r a d á v el no cér e br o . Assim, não é raro que<br />

pes s o a s velha s se torne m nova m e n t e infantis na expres s ã o e<br />

no co m p o rta m e n t o , e a ingenui<strong>da</strong>d e infantil festeja os bon s e<br />

velho s temp o s . A teim o si a <strong>da</strong> velhic e lem br a as fas e s de<br />

ob stinaç ã o <strong>da</strong> infância; pod e- se voltar a bab ar quan d o se<br />

co m e , a lingua g e m torna- se ininteligível, o pas s o inse g ur o. A<br />

en er gi a sexual ador m e c e e aproxim a- se do estad o<br />

caract erístico do início <strong>da</strong> vi<strong>da</strong>. O tem a <strong>da</strong> agre s s ã o retroc e d e<br />

igual m e nt e, e os dente s ab and o n a m a pes s o a um apó s o outro,<br />

assi m co m o viera m . O "retornar- e- voltar- a- ser- co m o - ascrianç<br />

a s" m er g ulh o u no corpo. Quando es s e proc e s s o de<br />

con s ci ê n ci a retroativa e volta ao lar oc orr e na con s ci ê n ci a, leva<br />

ao bo m enten di m e n t o entre avó s e neto s, que oc orr e co m tanta<br />

freqü ê n ci a.<br />

Na viag e m de volta, trata- se de afrouxar o eg o con struído<br />

co m tanto esforç o ao long o <strong>da</strong> vi<strong>da</strong>. Dos sinais físico s <strong>da</strong><br />

velhic e até os sinto m a s típicos tais co m o a de m ê n c i a e o mal<br />

de Alzheim er, pas s a n d o pelo corpo, força m o declínio do eg o<br />

retirand o- lhe sua bas e , o cér e br o . Esse proc e s s o tam b é m pod e<br />

ser res g at a d o na con s ci ê n ci a, quan d o o muito que se sab e é<br />

liberad o e transfor m a d o e m sab e d o ria. Então as crianç a s e os<br />

45<br />

5


anciã e s , vindo de dois lado s, enc o ntra m - se no m e s m o plano.<br />

7. Da ampla visão <strong>da</strong> velhice às rugas<br />

Esses "sinais nor m ai s <strong>da</strong> velhic e" estã o tão difundido s que<br />

mal ve m o s algo de do e nt e neles. Com a presbiopia , o<br />

org anis m o m o stra que se está deixan d o de ver o que está<br />

próxim o. O olhar pas s a por cim a diss o e vagu ei a na distância.<br />

A tarefa é: obter uma visã o de conjunto e enx er g ar long e e m<br />

sentido figurad o. O horizonte <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> per m a n e c e nítido e é até<br />

m e s m o ac e ntuad o pela confus ã o do que está próxim o. É<br />

importante vagu e ar na distância e ter claro para si o que o<br />

futuro res erv a. Aquilo que está próxim o dev e ir para trás <strong>da</strong><br />

visão ampla. Quando se enc o ntra a persp e ctiva <strong>da</strong> vi<strong>da</strong>, é<br />

pos sív el voltar a alcan ç ar aquilo que está perto.<br />

A per<strong>da</strong> <strong>da</strong> memória recente dev e ser enten did a de form a<br />

totalm e nt e análo g a. Enquanto os ac o nt e ci m e n t o s <strong>da</strong> última<br />

guerra são lem br a d o s e surg e m claro s diante <strong>da</strong> visã o interna,<br />

o pas s a d o imediato se esfu m a na név o a do es qu e ci m e n t o , por<br />

exe m pl o aquilo justa m e nt e que se queria co m pr ar. Aqui<br />

tam b é m a tarefa é níti<strong>da</strong>, libertar- se <strong>da</strong>s ninharias do cotidian o<br />

e des c o b rir de prefer ê n ci a o grand e arco <strong>da</strong> vi<strong>da</strong>. A m o n ot o ni a<br />

diária dev e se tornar m o n ót o n a , é precis o lem br ar- se dos<br />

tem a s important e s <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> e interiorizá- los. Caso se faça es s e<br />

trabalh o espiritual, volta a surgir esp a ç o para aquilo que está<br />

próxim o, isso para não falar que a ativi<strong>da</strong>d e espiritual con s er v a<br />

a mo bili<strong>da</strong>d e e uma me m ó ri a treinad a per m a n e c e intacta.<br />

A surdez <strong>da</strong> velhice m o stra ao s afetad o s que eles não<br />

pod e m mais ouvir deter min a d a s cois a s. É natural susp eitar que<br />

eles já as ouvira m de m a si a d a s vez e s e ag or a de sligara m.<br />

Cham a a aten ç ã o nes s e contexto o fato de que a m ai or parte<br />

<strong>da</strong>s dificul<strong>da</strong>d e s de audiçã o <strong>da</strong> velhic e m o stra um a<br />

discr ep â n ci a caract erística: há muita cois a que eles<br />

ab s oluta m e n t e não ouv e m m ais, ma s outras, contra as<br />

exp e ctativa s, são ouvi<strong>da</strong> s, e be m . Quem con h e c e pes s o a s<br />

45<br />

6


velha s que ouv e m m al, às vez e s não pod e evitar a sen s a ç ã o<br />

de que há niss o um a certa dos e de trapaç a. Enquanto o<br />

co m p a n h eir o que está no m e s m o quarto pod e arranc ar a alm a<br />

do corp o a gritos, as conv er s a s <strong>da</strong>s crianç a s no quarto ao lado,<br />

mais interess a nt e s , são bo a s de ouvir. Esse sinto m a, portanto,<br />

é tam b é m um a form a não- redi mi<strong>da</strong> de retira<strong>da</strong> para o mund o<br />

próprio, ond e os outros não o pod e m seguir ne m m e s m o ao s<br />

gritos. O sinto m a isola e distan cia do mun d o e torna a pes s o a<br />

solitária e fecha d a.<br />

O fato de que tantos velho s lute m contra isso atesta que a<br />

orienta ç ã o para o exterior, equival ent e co m o sinto m a, é<br />

tipica m e n t e social. Nova m e n t e , são as cha m a d a s culturas<br />

primitivas que, renun ciand o e m grand e es c al a a es s e s<br />

imp e di m e n t o s típico s <strong>da</strong> velhic e, m o stra m que aquilo que é<br />

nor m al para nós não é na ver<strong>da</strong> d e nor m al e ne m m e s m o<br />

natural.<br />

Apesar <strong>da</strong> abund â n ci a de próte s e s que vão se tornand o<br />

cad a vez m ais refina<strong>da</strong> s, a surd ez contínua sen d o um sinto m a<br />

que transfor m a muitas pes s o a s e m outsid e r s. Enquanto<br />

se m pr e pod e m o s fazer algu m a coisa co m a visão ativa,<br />

continua m o s impotent e s e m relaç ã o à pas siva audiçã o, ap e s ar<br />

de to<strong>da</strong> a técnic a. Devido a seu grand e núm er o os velho s<br />

surdo s, e m seu isola m e n t o , transfor m a m - se e m so m b r a s <strong>da</strong><br />

soci e d a d e e, co m o todo o âm bito <strong>da</strong>s so m b r a s , são vistos de<br />

mau grad o. Dominar e o do mínio vê m e m prim eiro lugar entre<br />

nós. Ouvir, es cutar e ob e d e c e r leva m uma existên ci a de<br />

so m b r a na m ai oria <strong>da</strong>s pes s o a s m o d er n a s . Os velho s nos<br />

m o stra m para ond e leva es s a política de repre s s ã o .<br />

A otoesclerose, a calcificaç ã o dos os sículo s do ouvido,<br />

expr e s s a fisica m e n t e a tem átic a do não- ser- mais- fiexivel no<br />

âm bito <strong>da</strong> audiç ã o e <strong>da</strong> ob e di ê n ci a. A pes s o a já está ch eia (de<br />

ouvir e de ob e d e c e r), enrijec e- se e m relaç ã o às vibraç õ e s<br />

exterior e s e se rec olh e para dentro de si m e s m a co m o um<br />

cara m ujo. Os surdo s, no sentido mais profund o, já não vibra m<br />

mais e m conjunto. Até m e s m o os ceg o s estã o m e n o s isolad o s<br />

e enrijecid o s .<br />

45<br />

7


A tarefa é real m e nt e con c e ntr ar- se e m si m e s m o , reduzir os<br />

contato s co m o exterior e, e m vez de estar se m pr e ouvind o os<br />

outros, es cutar para dentro e apren d er a ob e d e c e r à própria<br />

voz interna. A tend ê n ci a caricaturad a na vi<strong>da</strong> diária de so m e n t e<br />

ouvir ain<strong>da</strong> o que interes s a m o stra o ca min h o : dev e- se ouvir o<br />

que é importante, sub stan ci al. Assim co m o as voz e s extern a s<br />

se torna m mais baixas, as internas torna m- se ag or a mais<br />

níti<strong>da</strong> s. Assumir o voltar- se para dentro seria a chanc e oculta<br />

no sinto m a.<br />

A m o bili<strong>da</strong>d e que diminui na velhic e pod e ch e g ar à rigidez<br />

<strong>da</strong>s articulações . O org anis m o de m o n s tr a co m o está<br />

enferrujad o e que falta óle o ao m e c a ni s m o . Ele quer m o strar<br />

co m o o m o vi m e nt o é difícil, que não vai muito mais para a<br />

frente na vi<strong>da</strong> e pratica m e n t e na<strong>da</strong> para cim a. Então, a tarefa<br />

tam b é m é des c a n s a r exterior m e nt e e con s ci e ntizar- se do pólo<br />

interno que des c a n s a . Dess e des c a n s o do centro pod e entã o<br />

voltar a cres c e r a m o bili<strong>da</strong>d e interna e, e m con s e q ü ê n c i a,<br />

tam b é m a extern a.<br />

O "teatro <strong>da</strong> velhic e" na pele é uma variante tão difundi<strong>da</strong><br />

co m o pouc o queri<strong>da</strong>, à parte o fato de ser m e di c a m e n t e<br />

inofen siva. Na velhic e, qualqu er um rec o n h e c e a pele co m o<br />

sen d o o esp el h o <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> interior. E que m gosta de ver a própria<br />

história es crita tão niti<strong>da</strong> m e n t e na pele e no rosto? Torna- se<br />

co m pr e e n s í v el aqui o mito de Dorian Gray, que vend e u sua<br />

alm a para per m a n e c e r extern a m e n t e jove m . Ao enxa m e de<br />

man c h a s que se coleci o n o u ao long o <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> so m a m - se<br />

mud a n ç a s de cor caract erística s que rec e b e m o traiço eiro<br />

no m e de manchas <strong>da</strong> i<strong>da</strong>de, isso para não falar <strong>da</strong>s dobras e<br />

rugas que m o stra m o res s e c a m e n t o intern o. P é s de galinha<br />

marc a m os vestígios esp e ci al m e n t e persistent e s dos<br />

ac o nt e ci m e n t o s , as do br a s do riso se transfor m a m e m<br />

profund o s sulco s, teste m u n h a s de um pas s a d o que, co m o o<br />

riso, há muito já pas s o u. A tens ã o e a elastici<strong>da</strong>d e<br />

des a p ar e c e r a m , e m vez diss o estran h a s excr e s c ê n c i a s<br />

e m e r g e m <strong>da</strong>s profund ez a s insond á v ei s, cuja ob s c ur a tem átic a<br />

já en c o ntra m o s nas verrug a s. Está- se m ar c a d o co m o um<br />

45<br />

8


tapet e de rem e n d o s e, alé m diss o, qualqu er coisa m e n o s<br />

colorido, pred o m i n a n d o os tons atroz e s do cinza. Ziegler fala<br />

de paisa g e m ári<strong>da</strong>, env elh e ci m e n t o prec o c e 84 e "transfor m ar- se<br />

e m tralha".<br />

A tarefa que surg e e m prim eiro plan o faz co m que o afetad o<br />

bata co m o nariz nas próprias es quisitice s e abus o s , as<br />

man c h a s es c ura s <strong>da</strong> alm a e o con h e ci m e n t o indubitáv el de que<br />

já não se pod e falar de um traje branc o . Ao long o <strong>da</strong> viag e m <strong>da</strong><br />

vi<strong>da</strong>, que é so br etud o um a viag e m <strong>da</strong> alm a, o corpo precis o u<br />

deitar muita água, ou seja, líquido aní mic o. Assim co m o a flor<br />

que vai murch a n d o preo c up a- se ain<strong>da</strong> co m a trans mi s s ã o de<br />

sua se m e n t e , que contê m sua es s ê n ci a e seu legad o , deixan d o<br />

pend e nt e todo o de m ai s, para a pes s o a idos a trata- se ag or a<br />

tam b é m de ocup ar- se de sua es s ê n ci a, de seu lega d o . O<br />

es s e n ci al dela per m a n e c e r á , ma s o invólucr o precis a ir. A pele<br />

que vai murch a n d o pod e explicitá- lo quan d o , con s erv a d a co m o<br />

couro curtido, estira- se so br e os os s o s e dirige o olhar para o<br />

ele m e n t o con s er v a d o r, já que se trata <strong>da</strong> con s er v a ç ã o do que é<br />

es s e n ci al. Ness e sentido, não é de ad mirar que a m ai oria <strong>da</strong>s<br />

pes s o a s se torne con s er v a d o r a na velhic e. Caso isso não se<br />

relacion a s s e so m e n t e à política, ma s tam b é m à alm a, e não<br />

foss e mal- enten did o co m o rigidez e m e d o do nov o, tudo iria<br />

m elh or para as pes s o a s e para o mund o.<br />

8. A cor cinza<br />

A tem átic a do env elh e ci m e n t o tam b é m pod e ser trata<strong>da</strong> a<br />

partir dos con c eito s do tornar- se grisalh o e do horror [Ergrau e n<br />

= enc a n e c e r / Grau e n = alvorad a, ma s tam b é m m e d o , horror].<br />

As m o difica ç õ e s <strong>da</strong> pele dev e m ser clas sificad a s aqui, assi m<br />

co m o o env elh e ci m e n t o <strong>da</strong>s perc e p ç õ e s sen s oriais que pod e m<br />

ch e g ar à catarata, que esten d e um a cortina cinzenta diante do<br />

45<br />

9


mund o colorido. De fato, a perc e p ç ã o <strong>da</strong>s cor e s diminui à<br />

m e di<strong>da</strong> que os ele m e n t o s <strong>da</strong> retina resp o n s á v ei s pela<br />

perc e p ç ã o <strong>da</strong> luz retroc e d e m . Dirige- se um olhar turvo e m<br />

direç ã o a persp e ctivas so m b rias. O véu cinzento tamp o u c o se<br />

deté m diante do ouvido, cuja cap a ci<strong>da</strong>d e auditiva para son s<br />

agud o s diminui, e o pala<strong>da</strong>r e o olfato pas s a m a ignorar as<br />

notas mais picante s dos odor e s e dos sab or e s . Até m e s m o a<br />

alm a pare c e en c a n e c e r de form a múltipla, parec e n d o can s a d a<br />

e vazia, se m vontad e e se m cor.<br />

A retira<strong>da</strong> <strong>da</strong>s cor e s <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> torna- se esp e ci al m e n t e níti<strong>da</strong><br />

nos cab el o s e pod e ser interpretad a co m o sinal de<br />

resign a ç ã o 85 . Quando eles, co m o sinal típico do<br />

env elh e ci m e n t o , en c a n e c e m ante s de cair, trata- se para muitos<br />

de um horror. Sendo que o cinza nas têm p or a s goz a de certa<br />

prefer ê n ci a entre os ho m e n s . Neste cas o, ele estaria<br />

docu m e n t a n d o a exp eri ên ci a do mun d o e <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> que pod e<br />

ac o m p a n h a r a velhic e. Ziegler é de opinião que o<br />

en c a n e c i m e n t o na velhic e tem a ver co m o horror, que esta<br />

fase <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> transfor m a- se e m tarefa. Ele vê as pos sibili<strong>da</strong>d e s<br />

e a loucura des s a ép o c a de form a positiva, já que se trataria de<br />

apren d er o próprio horror e tam b é m ensin á- lo ao s joven s. Esta<br />

relaç ã o desta c a- se esp e ci al m e n t e no enc a n e c i m e n t o<br />

pre m atur o e particular m e nt e no en c a n e c i m e n t o instantân e o<br />

durante a noite. Por trás diss o há situaç õ e s de pavor que os<br />

afetad o s não puder a m digerir con s ci e nt e m e n t e . O corp o<br />

precis a entrar co m o substituto e conferir expres s ã o ao horror<br />

na cor dos cab el o s .<br />

A tarefa é sair de cas a, aprend er a tem er e des e m b a r c a r no<br />

pólo es c ur o, ir de livre e esp o ntân e a vontad e até lá, ond e a<br />

vi<strong>da</strong> perd e todo o colorido: até o mun d o <strong>da</strong>s so m b r a s , o lado<br />

noturno <strong>da</strong> vi<strong>da</strong>. Aqui se está ag or a em seu próprio ele m e n t o , à<br />

noite todo s os gato s são pardo s. As vivas cor e s do mun d o<br />

sup erior não faze m parte dos fantas m a s <strong>da</strong> noite, trata- se <strong>da</strong>s<br />

profund ez a s <strong>da</strong> alm a. O grand e arco, a ab straç ã o , está no<br />

ponto central do trabalh o de elab or a ç ã o <strong>da</strong>s exp eriên ci a s <strong>da</strong><br />

vi<strong>da</strong>, pois to<strong>da</strong> s as teorias tam b é m são cinzenta s. A<br />

46<br />

0


confrontaç ã o co m a so m b r a, des d e que esta seja ac eita e<br />

integrad a, pod e am a d ur e c e r e, e m um sentido m ais profund o,<br />

transfor m ar- se e m sab e d o ria. Quando a luz e a so m b r a se<br />

une m surg e o cinza, e o colorido do mun d o parec e um a ilusão.<br />

Sábio [= Weis] e bran c o [= Weiss] não estã o assi m tão<br />

distante s. To<strong>da</strong> s as cor e s estã o conti<strong>da</strong>s no bran c o , assi m<br />

co m o todo o con h e ci m e n t o na sab e d o ria. E um a questã o <strong>da</strong><br />

con s ci ê n ci a sab er se, ao tornar- se velho e grisalh o, o cinza<br />

indica um a carên ci a de cor ou o branc o ond e se enc o ntra tudo.<br />

Não é pos sív el decidir de fora se a cor dos cab el o s reflete o<br />

estad o intern o ou o co m p e n s a , cad a pes s o a dev e es clar e c ê - lo<br />

por si m e s m a . Um asp e ct o sub stan ci al <strong>da</strong> velhic e está no<br />

horror que, derivan d o <strong>da</strong> cor cinza, des cr e v e um estad o de<br />

alm a. Na m e did a e m que a cor es m a e c e , so br a o cinza. Ness e<br />

contexto, cha m a a aten ç ã o co m o es s a cor está próxim a dos<br />

fantas m a s que vive m , ou m elh or, anim a m e en c h e m de horror<br />

as regiõ e s junto à fronteira <strong>da</strong> vi<strong>da</strong>. Os fantas m a s apar e c e m<br />

se m as cor e s <strong>da</strong> vi<strong>da</strong>, já que mais propria m e n t e são tam b é m<br />

enviad o s do reino dos m orto s. Sua horrível paleta de cor e s<br />

con sist e de nuan ç a s de cinza e vai do cinza quas e negr o até o<br />

cinza es br a n q ui ç a d o . Assim co m o a pele de pes s o a s muito<br />

velha s, suas vest e s que lem br a m farrapo s pend e m deles e,<br />

co m a aus ê n ci a de qualqu er estrutura ou cor, trans mite m a<br />

con h e ci d a impre s s ã o m e d o n h a . Assim co m o o fantas m a g ó ri c o ,<br />

a velhic e se refer e à m orte; m ais alé m do horror que inspira, o<br />

fantas m a <strong>da</strong> velhic e tem um a relaç ã o intima co m o alé m . Mas a<br />

velhic e não co m p artilha so m e n t e a form a e a cor co m o<br />

fantas m a g ó ri c o , m a s tam b é m as locali<strong>da</strong>d e s que prefer e<br />

habitar. Afasta<strong>da</strong> <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> pulsant e, nas m ar g e n s e nicho s <strong>da</strong><br />

soci e d a d e , ela circula por lugar e s sinistros e faz <strong>da</strong>s suas, já<br />

que inspira horror ao s vivos. Os ce mit ério s jam ais fora m<br />

ca m p o s de paz para os vivos co m o o fora m para os que estã o<br />

do lado de lá. De qualqu er form a, eles log o se des e n v o l v er a m<br />

e se transfor m ar a m e m ante- salas do horror, e m portos de<br />

m e d o do outro mun d o . Pode- se ob s ervar, esp e ci al m e n t e no<br />

ca m p o , co m o eles atrae m os velho s e ao m e s m o temp o os<br />

46<br />

1


colo c a m so b seu en c a nt o mági c o .<br />

Nossa ép o c a es clar e cid a limpou a paisa g e m (tanto a<br />

con cr et a co m o a espiritual) de fantas m a s e ass o m b r a ç õ e s ,<br />

ma s não pen s o u que na<strong>da</strong> se deixa eliminar definitiva m e n t e do<br />

mund o. Assim, as apariç õ e s tivera m de es c olh er o ca minh o<br />

que pas s a pelas so m b r a s , que de qualqu er m an eira<br />

corre s p o n d e a seu ser. Elas se instalara m nas uni<strong>da</strong>d e s de<br />

terapia intensiva, be m dissi mulad a s entre m o d er ní s si m o s<br />

apar elh o s reluzent e s m a s se m vi<strong>da</strong>, assi m co m o e m asilos de<br />

velho s, nos dep arta m e n t o s geriátrico s <strong>da</strong>s instalaç õ e s <strong>da</strong><br />

psiquiatria e nas alas de internaç ã o de nos s a s clinicas<br />

m o d e r n a s , ond e a m é di a de i<strong>da</strong>d e so b e cad a vez m ais,<br />

ilustrand o de form a "horrível" os triunfos <strong>da</strong> m e dicin a e tam b é m<br />

seu lado so m b ri o.<br />

Todo o am plo ca m p o <strong>da</strong> velhic e e <strong>da</strong> i<strong>da</strong>d e transfor m o u- se<br />

para nós e m uma ass o m b r a ç ã o . Mal tem o s temp o de co m pr ar<br />

antes que as cois a s já esteja m velha s. Não se ad mite usar<br />

roupa s env elh e ci d a s , opiniõ e s velha s, con h e ci m e n t o s velho s,<br />

e m b o r a tudo isso atest e que já se está gasto, e pouc a s cois a s<br />

são piores que isso. Em nos s o esforç o de se m pr e m ant er tudo<br />

no estad o m ais nov o pos sív el, pura e simpl e s m e n t e lança m o s<br />

uma impres si o n a nt e m a gi a de defe s a contra a velhic e. O pap el<br />

dos castel o s m al- ass o m b r a d o s e <strong>da</strong>s ruínas antiga s 86 foi<br />

transferido para os asilos de velho s, clínicas e outras<br />

instalaç õ e s geriátricas. Por bonito s que seja m extern a m e n t e ,<br />

nós os evita m o s co m o se eles pudes s e m nos influenciar. Nós<br />

não quer e m o s nos infectar co m o vírus <strong>da</strong> velhic e. Podería m o s<br />

ser tom a d o s pelo s (maus) espíritos que lá pad e c e m . A<br />

proximi<strong>da</strong>d e imediata do pólo opo st o torna- se aqui<br />

esp e ci al m e n t e níti<strong>da</strong>, pois esta m o s totalm e nt e pos suíd o s pelo<br />

espírito do nov o. E uma maldiç ã o ser velho e m um a soci e d a d e<br />

tão pos suíd a pela juventud e e sed e nt a de renovaç ã o , e assi m<br />

o m au costu m e de am aldiç o ar, tão difundido antiga m e n t e ,<br />

tam b é m con quistou seu lugar em noss o mei o.<br />

Tanto hoje e m dia co m o antiga m e n t e , pag a m o s um preç o<br />

para ser poup ad o s pelo horrível fantas m a <strong>da</strong> velhic e. Assim<br />

46<br />

2


co m o antiga m e n t e se tentava am e niz ar a dispo siç ã o <strong>da</strong>s<br />

ass o m b r a ç õ e s co m ofer en d a s m at eriais, para que nos<br />

deixass e m e m paz, hoje pratica m e n t e to<strong>da</strong> a so ci e d a d e<br />

contribui co m altas so m a s para o cui<strong>da</strong>d o dos velho s na<br />

esp er a n ç a equivo c a d a de, por es s e m ei o, retirar <strong>da</strong> velhic e<br />

algo de seu horror. A previd ê n ci a <strong>da</strong> velhic e leva na ver<strong>da</strong> d e a<br />

que a pes s o a , be m provi<strong>da</strong> mat erial m e nt e, exp eri m e nt e o<br />

m e d o e o horror <strong>da</strong> velhic e de form a esp e ci al m e n t e clara. Na<strong>da</strong><br />

des via mais do tem a des s a etap a propria m e nt e dito.<br />

A tarefa <strong>da</strong> velhic e cinzenta é o horror. Na so ci e d a d e , são os<br />

velho s que en sina m os joven s a ter m e d o , que se torna m os<br />

estrag a- praz er e s de seu culto à juventud e, en e g r e c e n d o<br />

unilateral m e nt e os pen s a m e n t o s claro s e sup erficiais. Assim<br />

co m o con sig o m e s m o s , eles tam b é m pod e m fazer co m que os<br />

outros fique m preo c up a d o s e oportuna m e n t e es c a p ar para o<br />

es c ur o do se gund o plan o. A luz do Sol não é mais cois a sua,<br />

ela <strong>da</strong>nifica sua pele fatigad a e ceg a seus olho s cad a vez m ais<br />

fraco s. Asso m b r ar des d e o es c o n d e rijo e tec er fios invisíveis,<br />

cuspir na sop a dos que estã o no prim eiro plan o co m o<br />

e min ê n ci a par<strong>da</strong>, este é seu ofício. "O traste velho dev e <strong>da</strong>r<br />

solav a n c o s e fazer barulho, no ático e no porã o. Ele dev e<br />

rum or ejar e ass o m b r ar. Sua hora propicia é a hora dos<br />

espíritos.. " 87 .<br />

O que é válido para a soci e d a d e , natural m e nt e afeta<br />

tam b é m o indivíduo idos o. A ép o c a grisalha é sua chan c e de<br />

confrontar- se co m o es cur o, o horrível de sua vi<strong>da</strong>, fazer a<br />

arrum a ç ã o dos fantas m a s que fora m se acu m ul and o .<br />

Juntam e nt e co m isso, há tam b é m um a participaçã o<br />

substanci al do ele m e n t o "doidic e". O que o velho louco faz é<br />

totalm e nt e inco m pr e e n s í v el para os conte m p o r â n e o s de<br />

orienta ç ã o mun d a n a, porqu e ele já vê as cois a s de uma outra<br />

persp e ctiva. No tarô, o louc o é o grau mais elev a d o . O fato de<br />

que justa m e n t e ele seja clas sificad o por algu m a s es c ol a s de<br />

tarô co m o sen d o o prim eiro sím b ol o, inferior, m o stra a grand e<br />

confus ã o que no entrete m p o se form o u e m relaç ã o a es s e<br />

arqu étipo. O pap el clás sic o do louc o e <strong>da</strong> oportuni<strong>da</strong>d e conti<strong>da</strong><br />

46<br />

3


nes s a fase pod e ser visto na imag e m do bo b o <strong>da</strong> corte. O bo b o<br />

<strong>da</strong> corte era o único que podia dizer a ver<strong>da</strong> d e se m disfarc e s<br />

ao gov er n a nt e se m ter de resp o n d e r por isso. Estand o fora <strong>da</strong><br />

jurisdiçã o nor m al, ele já não podia mais ser culpad o. Seu mai or<br />

crim e era ser chato.<br />

Mostra- se aqui co m o es s e arqu étipo está des a m p a r a d o hoje<br />

e m dia. Te m o s um a profus ã o de político s env elh e ci d o s que se<br />

aferra m ao pod er e que che g a m até m e s m o a levá- lo para a<br />

tumb a. Os adulad or e s <strong>da</strong> corte de ép o c a s anterior e s fora m<br />

substituído s por hor<strong>da</strong> s env elh e ci d a s de funcion ários públicos<br />

que, cinzento s e m e s q uinh o s , deficient e m e n t e repre s e nt a m as<br />

belas e fresc a s cortes ã s de outros temp o s e so m e n t e<br />

con s erv a m flores c e n t e o padrã o do lacaio. Os velho s louc o s ,<br />

que pod e m se per mitir dizer simples m e n t e a ver<strong>da</strong>d e e isso,<br />

ain<strong>da</strong> por cim a, de form a irônica, nos faze m falta. O que não<br />

<strong>da</strong>ría m o s por um velho político que, co m o bo b o <strong>da</strong> corte e<br />

ad m o e s t a d o r que não tem m ais na<strong>da</strong> a perd er e, por isso<br />

m e s m o , tem tudo a ganh ar, es cr e v e a ver<strong>da</strong>d e nua e crua no<br />

livro de visitas <strong>da</strong> solícita ca m arilha de provo c a d o r e s .<br />

O velho louc o, que finalm e nt e pod e dizer o que se m pr e quis<br />

ser declar ad o , seria e m con s e q ü ê n c i a uma soluç ã o do tem a <strong>da</strong><br />

velhic e. De uma man eira mais direta, mais irônica e até m e s m o<br />

mais ob s c e n a , ele pod eria obter ar para si m e s m o . Caso até<br />

entã o ele guar<strong>da</strong> s s e no coraç ã o algu m ranc or ass a s si n o , ag or a<br />

seria a hora de, so b a prote ç ã o <strong>da</strong> velhic e, trazer à luz do dia<br />

to<strong>da</strong>s as form a s es cur a s e indec e nt e s . Talvez es c a n d alizar os<br />

outros trouxe s s e alívio para si m e s m o . Suas adv ertên ci a s<br />

pod eria m es m a g a r a des gr a ç a contra a pared e. Livre <strong>da</strong> carg a<br />

do próprio sustento e do can s ativo jogo <strong>da</strong> soci e d a d e , ele<br />

pod eria recup er ar a alegria infantil provo c a d a por todo s os<br />

segr e d o s e surpres a s <strong>da</strong> vi<strong>da</strong>. É raro que se pres e n ci e ain<strong>da</strong><br />

um des s e s velho s louc o s nas pouc a s grand e s famílias uni<strong>da</strong>s<br />

que ain<strong>da</strong> resta m , que são tratad o s pelas crianç a s co m o um<br />

igual porqu e con sid er a m as regra s de seus jogo s tão<br />

importante s co m o os jogo s dos adultos. Eles ne m<br />

m e n o s p r e z a m o jogo infantil ne m o reve st e m co m a seried a d e<br />

46<br />

4


dos adultos. Eles voltara m a ser se m el h a nt e s às crianç a s (no<br />

sentido bíblico) e por es s a razão freqü e nt e m e n t e são mais<br />

querido s por elas que os próprios pais. O parent e s c o entre as<br />

ép o c a s <strong>da</strong> infância e <strong>da</strong> velhic e é expres s o tam b é m e m<br />

algu m a s imag e n s de rem é di o s ho m e o p á tic o s que des cr e v e m<br />

es s e arqu étipo do velho louc o etern a m e n t e jove m . Viver a<br />

maluquic e des s a man eira é a m elh or profilaxia e m relaç ã o à<br />

loucura psiquiátrica não- redi mi<strong>da</strong>, que de resto castig a a<br />

velhic e co m freqü ê n ci a.<br />

O arqu étipo <strong>da</strong> velhic e citado quas e se m pr e é o do velho<br />

sábio . Ele já não pod e des e m p e n h a r qualqu er pap el e m nos s a<br />

soci e d a d e , porqu e a velhic e se ag arra tão convulsiva m e n t e à<br />

vi<strong>da</strong> que perd e aqu el a soltura impres cin dív el ao velho sábio.<br />

Ele é sábi o porqu e, co m o Sócrate s, sab e que não sab e na<strong>da</strong> e<br />

que a vi<strong>da</strong> é muito mais que sab er e fazer. Velhos sábio s<br />

seria m extre m a m e n t e des a g r a d á v ei s para um a soci e d a d e de<br />

provo c a d o r e s , pois este s teriam de question ar<br />

per m a n e n t e m e n t e o rufar dos tam b or e s produzido co m tanto<br />

esforç o.<br />

9. O mal de Alzheimer<br />

O quadr o de sinto m a s unha antiga m e n t e o no m e de<br />

"de m ê n ci a pré- senil", porqu e colo c a v a prec o c e m e n t e no jogo<br />

<strong>da</strong> vi<strong>da</strong> proc e s s o s <strong>da</strong> dec a d ê n c i a nor m al <strong>da</strong> velhic e. O centro<br />

de gravi<strong>da</strong>d e do ado e ci m e n t o oc orr e entre os 50 e os 60 ano s<br />

de vi<strong>da</strong>, sen d o que as mulh er e s são afetad a s de man eira<br />

prep o n d e r a nt e. Comp ar á v el a um a caricatura do<br />

env elh e ci m e n t o prec o c e do cér e br o que se instaura, este<br />

quadr o de sinto m a s ganh a rapi<strong>da</strong> m e n t e terren o e m um a<br />

soci e d a d e que ado e c e tanto de velhic e. Neste m o m e n t o , 6 %<br />

<strong>da</strong>s pes s o a s co m mais de 65 ano s são afetad a s , em um a curva<br />

que tend e a cres c e r. Embor a exista m 600 mil do e nt e s so m e n t e<br />

na Alemanha, ao s quais se so m a m 50 mil a cad a ano, e o<br />

quadr o de sinto m a s tenha se tornad o no entrete m p o a quarta<br />

46<br />

5


caus a de m orte m ais freqü e nt e nas naç õ e s industrializa<strong>da</strong> s do<br />

Ocident e, ele não des e m p e n h a pratica m e n t e nenhu m pap el na<br />

con s ci ê n ci a dos (ain<strong>da</strong>) não afetad o s . O "grand e<br />

es qu e ci m e n t o " é ele m e s m o es q u e ci d o . Uma do e n ç a que<br />

termin a fazend o co m que se perc a a razã o é um a provo c a ç ã o<br />

para as pes s o a s de um a so ci e d a d e que colo c a a razão acim a<br />

de tudo. Quando o psiquiatra báv ar o Alois Alzheim er a<br />

des cr e v e u pela prim eira vez há quas e um século, os m é dic o s<br />

já não queria m sab er na<strong>da</strong> a resp eito. Foi so m e n t e nos último s<br />

ano s, co m os núm er o s subind o vertigino s a m e n t e , que se<br />

form o u uma certa con s ci ê n ci a des s a que é a mais terrível<br />

per<strong>da</strong> de con s ci ê n ci a <strong>da</strong> qual pod e sofrer um ser hum a n o , a<br />

deg e n e r a ç ã o de seu cér e br o . O véu cinzento <strong>da</strong> velhic e<br />

assu miu aqui a form a <strong>da</strong> cha m a d a sedi m e nt a ç ã o de amilóid e s ,<br />

que oc orr e so br etud o nas ligaç õ e s <strong>da</strong>s células nervo s a s , as<br />

sinap s e s . Esses dep ó sito s de albu min a co m bi n a m - se co m ligas<br />

de alumínio form a n d o um a esp é ci e de arga m a s s a e<br />

e m p ar e d a n d o tanto o interior co m o os prolon g a m e n t o s dos<br />

neurôni o s. Com isso, a funçã o mais important e dos nervo s ,<br />

esta b el e c e r ligaç õ e s , é anulad a. A red e de co m u ni c a ç õ e s entre<br />

o cér e br o , resp o n s á v e l pelas funçõ e s lógica s, e o siste m a<br />

límbic o, do qual dep e n d e o mund o dos sentim e nt o s , é<br />

bloqu e a d a . Enquanto se perd e a m e m ó ri a, a intelig ên ci a, a<br />

cap a cid a d e de decis ã o , a orientaç ã o , a linguag e m , e m sum a,<br />

tudo aquilo a que cha m a m o s de razão, freqü e nt e m e n t e se<br />

con s erv a m por muito temp o os sentim e nt o s e padrõ e s sociais,<br />

a sen s a ç ã o de ritmo e a music ali<strong>da</strong>d e . Após o probl e m a ter<br />

sido pes quis a d o mais intens a m e n t e nos último s temp o s ,<br />

divers a s pistas vão surgind o. Por um lado con clui- se por<br />

defeitos gen étic o s , já que a her e ditaried a d e se co m pr o v a e m<br />

um déci m o dos afetad o s . Som a- se a isso o fato de que<br />

pratica m e n t e todo s os cha m a d o s m o n g ol óid e s , à m e di<strong>da</strong> que<br />

faze m 30 ano s de i<strong>da</strong>d e, des e n v olv e m o m al de Alzheim er.<br />

Ness e ponto, os dois quadr o s de sinto m a s pod eria m ter e m<br />

co m u m um defeito no cro m o s s o m o 2 1. Entretanto, o que es s e<br />

defeito des e n c a d e i a está e m ab erto. Discute- se alé m diss o a<br />

46<br />

6


influên cia de oxig ê ni o agre s siv o, os cha m a d o s radicais óxido s,<br />

que atac a o rev e sti m e nt o gorduro s o dos nervo s, ou seja, um a<br />

car ên ci a de substânci a s protetora s que imp e ç a m isso. Não é o<br />

oxig ê ni o e m si que está so b susp eita, m a s algu m a s m ol é c ula s<br />

isolad a s esp e ci al m e n t e agre s siv a s tais co m o as que resulta m<br />

<strong>da</strong> dec o m p o s i ç ã o do ozô nio.<br />

A sinto m átic a co m e ç a de form a discr eta, co m leves<br />

perturba ç õ e s <strong>da</strong> m e m ó ri a, so br etud o a m e m ó ri a rec e nt e,<br />

per m a n e c e n d o intacta a m e m ó ri a distante. É uma situaç ã o<br />

típica de pes s o a s idos a s, quan d o es qu e c e m aquilo que está<br />

próxim o ma s rec ord a m be m o pas s a d o rem oto. À m e did a e m<br />

que a do e n ç a progrid e, levan d o ao declínio de form a lenta e<br />

implac á v el, freqü e nt e m e n t e so m a m - se a isso inquietud e e<br />

agitaç ã o , que força m o paci ent e a <strong>da</strong>r pequ e n o s pas s o s , alé m<br />

de perturba ç õ e s <strong>da</strong> orienta ç ã o e <strong>da</strong> lingua g e m , proble m a s co m<br />

o rec o n h e c i m e n t o , be m co m o dificul<strong>da</strong>d e s para levar a cab o<br />

atos co er e nt e s , finalm e nt e depr e s s õ e s e, m ais rara m e nt e,<br />

perturba ç õ e s eufórica s do ânim o.<br />

O quadr o de sinto m a s oc orr e se m pr e na se gund a metad e <strong>da</strong><br />

vi<strong>da</strong>, o que quer dizer à ép o c a do retorn o e do rec olhi m e nt o. A<br />

interpreta ç ã o do sinto m a apo nta para a relaç ã o co m o ca min h o<br />

de des e n v o l vi m e n t o e m o stra co m o a ligaç ã o co m es s e<br />

ca min h o se perd e u, ou seja, foi e m p urrad a para o corpo. A<br />

exig ê n ci a cristã de voltar a ser co m o as crianç a s m er gulh o u<br />

nas so m b r a s , os afetad o s se torna m infantis e regride m no<br />

sentido con cr et o.<br />

Os laps o s progr e s siv o s <strong>da</strong> m e m ó ri a rec e nt e m o stra m co m o<br />

se desistiu <strong>da</strong> resp o n s a bili<strong>da</strong>d e por aquilo que está próxim o.<br />

Os pacient e s es qu e c e m sua vi<strong>da</strong> no sentido mais ver<strong>da</strong> d eir o<br />

<strong>da</strong> palavra, partindo do pres e nt e e retroc e d e n d o cad a vez m ais<br />

no pas s a d o . Com o colap s o <strong>da</strong> m e m ó ri a, eles são forçad o s<br />

impied o s a m e n t e a viver no pres e nt e, ou seja, o pas s a d o e o<br />

pres e nt e torna m- se um a e a m e s m a cois a. A vi<strong>da</strong> no aqui e<br />

ag or a, o objetivo do ca minh o do des e n v o l vi m e n t o , têm algo de<br />

horrível so b es s a form a não- redi mi<strong>da</strong>. No m er g ulh o redi mid o<br />

no m o m e n t o pres e nt e, as tarefas es s e n ci ais <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> na<br />

46<br />

7


polari<strong>da</strong>d e fica m para trás, en qu a nt o nos pacient e s de<br />

Alzheim er a inquietaç ã o e a agitaç ã o trae m tudo aquilo que<br />

eles ain<strong>da</strong> têm diante de si. Com a per<strong>da</strong> do tem p o , a<br />

co m pr e e n s ã o do ca minh o <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> e suas tarefas fica no m ei o<br />

do ca min h o . Quem não se lem br a de na<strong>da</strong> e vive fora do tem p o<br />

linear não pod e mais assu mir nenhu m tipo de<br />

resp o n s a bili<strong>da</strong>d e . A per<strong>da</strong> do sentido de orienta ç ã o vai na<br />

m e s m a direç ã o . Nenhu m objetivo foi alcan ç a d o no fim <strong>da</strong> vi<strong>da</strong>;<br />

perd e u- se o ca min h o . Os pacient e s não sab e m mais ond e<br />

estã o, ne m para ond e isso leva. Com a orienta ç ã o, eles<br />

perd er a m literalm e nt e o oriente, a direç ã o <strong>da</strong> qual prov é m a<br />

luz, se g un d o as es crituras sagr ad a s . Ao final de seu ca minh o<br />

não há luz, e portanto não há esp er a n ç a . As depr e s s õ e s<br />

freqü e nt e s env olv e m es s a aus ê n ci a total de persp e ctiva e de<br />

esp er a n ç a . A falta de prudê n ci a e de con sid er a ç ã o , que de<br />

form a tão inquietante pod e <strong>da</strong>r nos nervo s <strong>da</strong>s pes s o a s<br />

próxim a s , surg e de m an eir a quas e forço s a. Com o to<strong>da</strong>s as<br />

funçõ e s de controle <strong>da</strong> razão se interro m p e m , as e m o ç õ e s<br />

pod e m ser des c arr e g a d a s se m e m p e c ilh o s , co m o ac o nt e c e<br />

co m as crianç a s pequ e n a s . Aquilo que os paci ent e s se m pr e<br />

estan c ar a m ao long o de suas vi<strong>da</strong>s, seja devido à educ a ç ã o<br />

que tivera m ou por outras con sid er a ç õ e s , pod e ag or a abrir<br />

ca min h o . O sofrim e nt o, que esp e ci al m e n t e à noite adquire<br />

prop orç õ e s impre s si o n a nt e s quan d o os pacient e s desp erta m<br />

e m pânic o e ao s gritos ou pera m b ul a m pela cas a, é difícil de<br />

enten d e r para as pes s o a s que cui<strong>da</strong> m dos do e nt e s . Com o os<br />

pacient e s estã o se m orientaç ã o e se m m e m ó ri a, eles ac ord a m<br />

à noite e m co m pl et a es c uridã o, se m sab er ond e estã o e, mais<br />

tarde, tam b é m se m sab er que m são. Deixar ac e s a um a<br />

pequ e n a luz, m ais sim b ólic a que outra cois a, já pod e ser<br />

suficiente para acal m á- los, <strong>da</strong> m e s m a man eira que alivia o lado<br />

es c ur o <strong>da</strong> reali<strong>da</strong>d e para as crianç a s .<br />

Absoluta m e n t e mais que qualqu er outra cois a, o sinto m a<br />

dev e ser enten did o co m o um voltar- a- ser- crianç a que<br />

m er gulh o u no corpo. Freqü e nt e m e n t e , os pacient e s segu e m a<br />

pes s o a que os cui<strong>da</strong> co m o crianç a s pequ e n a s , ador a m<br />

46<br />

8


pendurar- se na barra de suas saias ou pelo men o s garantir sua<br />

proximi<strong>da</strong>d e por m ei o de sinais acústic o s tais co m o cantar ou<br />

ass o bi ar. Assim co m o as crianç a s pequ e n a s , eles od eia m<br />

portas fech a d a s e inse g ur an ç a . Do que eles m ais go sta m é<br />

estar no am bi e nt e ao qual estã o ac o stu m a d o s e, de ac ord o<br />

co m as circunstan cia s, pod e m reagir e m pânic o diante de<br />

surpres a s ou mud a n ç a s , ain<strong>da</strong> que be m - intencion a d a s . Eles<br />

não pod e m fazer abs oluta m e n t e na<strong>da</strong> co m argu m e n t o s , m a s<br />

reag e m agrad e ci d o s e co m alegria a aten ç õ e s tais co m o<br />

afag o s e elogio s. Caso se queira evitar ataqu e s de faria, é<br />

precis o <strong>da</strong>r- lhes razão se m pr e que pos sív el, deixar que<br />

gan h e m nos jogo s e, fun<strong>da</strong> m e n t al m e n t e , assu mir to<strong>da</strong> culpa<br />

so br e si m e s m o . Finalm e nt e, eles precis a m ser cui<strong>da</strong>d o s co m o<br />

crianç a s so b todo s os ponto s de vista, des d e alim e ntar- se até<br />

limpar- se. Enquanto os pacient e s retorna m ao princípio de<br />

suas vi<strong>da</strong>s, exig e m de seu am bi e nt e um a humil<strong>da</strong>d e tão difícil<br />

de con s e g uir co m o es c a s s a s são as esp er a n ç a s de m elh or a.<br />

A inquietaç ã o , cha m a d a de acatisia, que leva o pacient e a<br />

<strong>da</strong>r pas sinh o s minús c ul o s de um lado para o outro, é<br />

teste m u n h o do ímp et o de ca minhar, ma s tam b é m de que os<br />

pas s o s são de m a si a d o pequ e n o s e se m direç ã o . Os pacient e s<br />

gira m e m círculos. A incap a ci<strong>da</strong>d e de per m a n e c e r sentad o e<br />

circunsp e ct o de m o n s tr a a nec e s si d a d e de co m u nic a ç ã o ,<br />

ligaç ã o co m a vi<strong>da</strong> e ativi<strong>da</strong>d e. O fato de que eles se<br />

disp ers a m a cad a m o m e n t o , não rec o n h e c e m m ais na<strong>da</strong> e<br />

pera m b ul a m des ori e nta d o s deixa claro o quanto eles se<br />

des viar a m do ca min h o no sentido figurad o.<br />

As perturb a ç õ e s <strong>da</strong> linguag e m indica m co m o o contato se<br />

torna difícil e cad a vez mais impo s sív el. Eles perd e m<br />

con sta nt e m e n t e o fio <strong>da</strong> m e a d a , assi m co m o perd er a m o fio<br />

condutor <strong>da</strong> vi<strong>da</strong>. O filme se romp e co m freqü ê n ci a cad a vez<br />

maior, até que no final resta m so m e n t e imag e n s isolad a s e<br />

des c o n e x a s . As fras e s torna m- se cad a vez mais curtas,<br />

transfor m a n d o - se e m palavra s que pouc o a pouc o perd e m seu<br />

sentido lógic o, até finalm e nt e es g ot ar e m - se por co m pl et o. Os<br />

pacient e s não têm m ais na<strong>da</strong> a dizer quanto ao s m ais variad o s<br />

46<br />

9


assunto s, m a s é no sentido figurad o ond e eles na m ai oria <strong>da</strong>s<br />

vez e s estã o interditad o s . Apesar diss o, eles ain<strong>da</strong> pod e m<br />

expr e s s ar muita cois a atrav é s <strong>da</strong> co m u nic a ç ã o não verb al. A<br />

desig n a ç ã o m é dic a para o probl e m a de linguag e m é disfasia, o<br />

que quer dizer que eles não vibra m mais e m fase, isto é, no<br />

m e s m o ritmo, co m os outros. Eles tam b é m estã o des ori entad o s<br />

verb al m e n t e , o que resulta e m um a exten s a mud e z.<br />

A agn o si a, um outro sinto m a, desig n a a incap a ci<strong>da</strong>d e de<br />

rec o n h e c e r e ao final ch e g a ao ponto e m que os pacient e s não<br />

con h e c e m mais ne m a si m e s m o s . O con h e ci m e n t o de si<br />

m e s m o co m o objetivo do ca minh o hum a n o m er gulh o u nas<br />

so m b r a s , assi m co m o naturalm e nt e o mund o tam b é m não<br />

pod e m ais ser rec o n h e c i d o co m o tarefa. A apraxia, ou<br />

incap a ci<strong>da</strong>d e de executar aç õ e s práticas, imp ed e que os<br />

recurs o s <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> seja m aplicad o s de um a man eira que faça<br />

sentido. Os paci ent e s afun<strong>da</strong> m na inativi<strong>da</strong>d e e no des a m p a r o .<br />

Eles tam b é m não pod e m mais li<strong>da</strong>r co m um mund o que eles<br />

não rec o n h e c e m mais.<br />

Os estad o s depr e s siv o s reduz e m o tem a a seu den o m i n a d o r<br />

co m u m <strong>da</strong> man eira mais clara pos sív el. A palavra de- pre s s ã o<br />

tam b é m pod e ser enten did a co m o dis- ten s ã o , e de fato ela<br />

repre s e nt a um a form a não libera<strong>da</strong> de relaxa m e n t o . Os<br />

pacient e s se deixa m cair aní mic a e fisica m e n t e e deixa m as<br />

preo c up a ç õ e s de suas vi<strong>da</strong>s para o am bi e nt e. Mostra- se aqui<br />

de form a drástica que o retorn o às orig en s <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> m er g ulh o u<br />

nas so m b r a s . Em vez de voltar a ser crianç a do ponto de vista<br />

redimid o, eles regride m à i<strong>da</strong>d e infantil física, aní mic a e<br />

espiritual m e nt e. Em vez de nova m e n t e colo c ar- se ad mirad o s<br />

diante do milagr e <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> co m a bo c a e o cora ç ã o ab erto s, eles<br />

afun<strong>da</strong> m na mud e z. Em vez de con q uistar o círculo <strong>da</strong> vi<strong>da</strong><br />

co m pequ e n o s pas s o s , eles giram e m círculos co m pas s o s<br />

minús c ulo s e se disp ers a m . Eles volta m a se refugiar na falta<br />

de resp o n s a bili<strong>da</strong>d e <strong>da</strong> infância, des ej a m aten ç ã o e cui<strong>da</strong>d o s<br />

se m qualqu er contrap arti<strong>da</strong> e, se m ter con s ci ê n ci a diss o,<br />

exer c e m pod er ao impor a famílias inteiras ou a indivíduo s<br />

próxim o s um a resp o n s a b ili<strong>da</strong>d e que eles de man eira algu m a<br />

47<br />

0


estã o dispo st o s a assu mir. A imag e m do neurônio e m p ar e d a d o<br />

co m suas ligaç õ e s ininterruptas tornad a s inúteis que ag o niza<br />

lenta m e n t e é o impre s si o n a nt e esp elh o anatô mi c o <strong>da</strong> situaç ã o .<br />

O asp e ct o de fuga tam b é m apar e c e quan d o se enten d e depres<br />

s ã o <strong>da</strong> man eira m ais corrent e, co m o pres si o n ar para<br />

baixo, já que todo s os impuls o s vitais são reb aixad o s . O<br />

resultad o é a m orte e m um corp o vivo. Finalm e nt e am b o s , o<br />

relaxa m e n t o total não- redimid o e a co m pl eta supres s ã o <strong>da</strong>s<br />

en er gi a s vitais, leva m à m orte.<br />

Mais alé m de seu lado deprim e nt e, os sinto m a s per mite m<br />

vislum br ar a variante redi mi<strong>da</strong>, na qual a lição a ser apren di<strong>da</strong><br />

se reflete. A per<strong>da</strong> <strong>da</strong> m e m ó ri a significa tam b é m , libertar- se do<br />

pas s a d o . Desiste- se de co m pr o m i s s o s e obriga ç õ e s . A<br />

inquietaç ã o e o impuls o de m o vi m e nt ar- se ac e ntua m a<br />

importân cia de m o v er- se e pôr- se a ca min h o - pequ e n o s<br />

pas s o s são m elh or e s do que nenhu m . A des ori e ntaç ã o e a<br />

incap a ci<strong>da</strong>d e de sab er que m se é faz pen s ar e m paralelo s<br />

mitoló gic o s . Pode e m er gir Ulisses, cujo rec o n h e c i m e n t o de que<br />

era Ningué m lhe salvou a vi<strong>da</strong> perant e o gigant e antrop ófa g o<br />

Polifem o . Ele tinha prendid o Ulisses e seus co m p a n h e ir o s e m<br />

uma cav er n a e am e a ç a v a dev or á- los. Mas Ulisses já tinha<br />

apren did o o suficiente e m seu long o ca minh o . Quando<br />

Polifem o perguntou que m ele era, ele resp o n d e u: "Ningué m ."<br />

Em se guid a Polifem o se deixou burlar e o deixou pas s ar. A<br />

preten s ã o do eg o de ser singular e extraordin ário pod e ser<br />

vislum br a d a na volta ao lar <strong>da</strong> alm a que a Odiss éia des cr e v e .<br />

Isso pod e culmin ar no rec o n h e c i m e n t o <strong>da</strong> própria ignorância<br />

diante do mistério <strong>da</strong> criaç ã o . Por muito que o eg o tenha se<br />

inflado, e m última instân cia ele é insignificante e um ningu é m .<br />

Esse rec o n h e c i m e n t o força o quadr o de sinto m a s de man eira<br />

drástica. Ulisses e Sócrates m o stra m a liberaç ã o des s a tarefa<br />

e m plena con s ci ê n ci a. Immanu el Kant pod e explicitar o quanto<br />

é important e es s e pas s o de relativizaç ã o e sup er a ç ã o de to<strong>da</strong><br />

intelig ên ci a e a volta ao lar, ou seja, o retorn o; ele, con sid er a d o<br />

o ponto mais alto do con h e ci m e n t o <strong>da</strong>qu el a ép o c a , contraiu o<br />

mal de Alzheim er ao s 80 ano s de i<strong>da</strong>d e.<br />

47<br />

1


A mud e z pod e significar a quietud e diante de um mun d o que<br />

caus a esp a nt o e so br e o qual já se falou o suficiente. Da<br />

apraxia, a incap a cid a d e para as cois a s práticas, pod e- se ler a<br />

exig ê n ci a de deixar a vi<strong>da</strong> prática ativa e m paz, assi m co m o o<br />

âm bito do sab er (per<strong>da</strong> de me m ó ri a). O objetivo é na ver<strong>da</strong>d e o<br />

rec o n h e c i m e n t o , m a s no sentido de Ulisses, no sentido <strong>da</strong><br />

religio e <strong>da</strong> filosofia co m o am or à sab e d o ria. Seria o cas o de se<br />

pen s ar aqui na sop hia, a sab e d o ri a feminina <strong>da</strong> vi<strong>da</strong>, que não<br />

neg a o sentim e nt o. A de- pre s s ã o indica a dis- ten s ã o , a<br />

con s ci ê n ci a retroativa do próprio lar <strong>da</strong> alm a. Após a tens ã o<br />

máxi m a no ponto culminant e <strong>da</strong> vi<strong>da</strong>, no âm bito <strong>da</strong> crise <strong>da</strong><br />

m eia- i<strong>da</strong>d e o ca min h o do des e n v o lvi m e nt o tem por objetivo<br />

ab and o n a r o âm bito <strong>da</strong>s tens õ e s e retornar à disten s ã o total <strong>da</strong><br />

uni<strong>da</strong>d e. A euforia que surg e entre as fas e s depr e s siv a s pod e<br />

<strong>da</strong>r um gostinh o <strong>da</strong> be m - aventuran ç a que corre s p o n d e a es s e<br />

âm bito. Realizar e m si o reino cele st e de Deus é o objetivo de<br />

to<strong>da</strong>s as vi<strong>da</strong>s. A vi<strong>da</strong> na polari<strong>da</strong>d e de nos s o mun o de<br />

opo st o s se m pr e visa e m última instân cia a uni<strong>da</strong>d e, o paraís o,<br />

o nirvan a ou co m o quer que se queira cha m á - lo.<br />

Freqü e nt e m e n t e , são duas as pes s o a s afetad a s por es s e<br />

quadr o de sinto m a s . Quando se pens a que os dep ó sito s de<br />

albu min a co m e ç a m 30 ano s ante s do surto dos sinto m a s e que<br />

o percurs o <strong>da</strong> do e n ç a pod e durar até 15 ano s, pod e- se calcular<br />

o que isso significa para o co m p a n h eir o. O probl e m a para o<br />

cui<strong>da</strong>d or, exigido durante todo o dia e às vez e s tam b é m à<br />

noite, pare c e pratica m e n t e insolúv el. Pess o al cui<strong>da</strong>d or<br />

estran h o é rapi<strong>da</strong> m e n t e exigido até o limite devid o à dificul<strong>da</strong>d e<br />

<strong>da</strong> situaç ã o , e na m ai oria dos asilos utilizam calm a nt e s <strong>da</strong><br />

família do Diazep a m (Valium, etc.) que real m e nt e torna m os<br />

pacient e s m ais "tratáv eis"; ma s os sinto m a s piora m. Parentes,<br />

que na m ai oria <strong>da</strong>s vez e s são esp o s a s ou filhas, têm a<br />

incalculáv el vantag e m de am ar os pacient e s ma s, co m isso,<br />

tam b é m o probl e m a de ter um a imag e m positiva deles. Na<br />

maioria dos cas o s , es s a imag e m é destruí<strong>da</strong> se m deixar resto s,<br />

e o que os esp er a é um a desp e di d a que dura ano s, pas s o a<br />

pas s o , irrevo g á v el, que requ er m ais força do que a que se<br />

47<br />

2


pod e exigir de um a pes s o a . Muitas vez e s não se sab e que m<br />

sofre m ais, se os do e nt e s ou aqu el e s que per m a n e c e m<br />

voluntaria m e n t e a seu lado. Enquanto os pacient e s regride m<br />

inexor av el m e n t e e m seu ca min h o , os ac o m p a n h a n t e s trilham<br />

um ca minh o de auto- sacrifício. É um a variante do ca min h o de<br />

volta que foi neg a d a ao s do e nt e s a eles confiad o s . Enquanto<br />

eles ag or a precis a m perc orr ê- lo incon s ci e nt e m e n t e , isto é,<br />

pad e c ê - lo, os aju<strong>da</strong>nt e s que estã o a seu lado são forçad o s a<br />

co m p artilhá- lo con s ci e nt e m e n t e . Algum a s pes s o a s que se<br />

entreg ar a m a es s e ca min h o conta m o quanto ele os<br />

transfor m o u e os enriqu e c e u . Quem se prop õ e es s a tarefa<br />

so br e- hum a n a apren d er á muito so br e si m e s m o e so br e o ser<br />

infantil que se es c o n d e e m cad a pes s o a , so br e a corag e m e<br />

so br e a humil<strong>da</strong>d e . Ao contrário <strong>da</strong> educ a ç ã o de um a crianç a,<br />

ond e todo s os proble m a s estã o ligado s a um a persp e ctiva de<br />

m elh or a, o deprim e nt e aqui é o con h e ci m e n t o de que es s a<br />

persp e ctiva não existe. Enquanto as crianç a s cres c e m , os<br />

pacient e s de Alzheim er afun<strong>da</strong> m . Ness e ponto, as tentativas de<br />

educ a ç ã o feitas pelo s ac o m p a n h a n t e s che g a m co m déc a d a s<br />

de atras o e, na ver<strong>da</strong>d e , estã o fora de lugar. Seria nec e s s á ri o<br />

m o strar o itinerário do ca minh o de volta ao lar. A fase mais<br />

importante e m ais difícil do ca min h o hum a n o , a des ci<strong>da</strong> às<br />

treva s, tom o u form a e não é m e n o s important e para o con dutor<br />

de alm a s voluntário que para os con duzido s . Percorrer es s e<br />

ca min h o faz lem br ar a história de Orfeu e Eurídice, e m b o r a e m<br />

noss o mund o na m ai oria <strong>da</strong>s vez e s seja um a mulh er que<br />

assu m e voluntaria m e n t e a des cid a ao mund o dos m orto s por<br />

am or a uma alm a queri<strong>da</strong>. Com es s a bas e, torna- se<br />

co m pr e e n s í v el quan d o parc eiro s cui<strong>da</strong>d or e s ou crianç a s<br />

relata m os m o m e n t o s felizes do am or que so m e n t e pod e se<br />

manife star quan d o a coura ç a intelectual se des m o r o n a . Nos<br />

está gi o s posterior e s do ca min h o , que se aproxim a m cad a vez<br />

mais <strong>da</strong>s trevas impe n etráv ei s, es s a s exp eriên ci a s precis a m<br />

entã o ser tam b é m sacrificad a s : o am or individual pelo ser<br />

hum a n o individual transfor m a- se nec e s s a ri a m e n t e em um am or<br />

suprap e s s o a l que tudo abran g e , pois a pes s o a que se<br />

47<br />

3


con h e c e u tão be m des a p ar e c e na es curidã o, e é co m o se<br />

ficás s e m o s so m e n t e co m sua form a infantil. Dentro, entretanto,<br />

há so m e n t e um tedio s o vazio 88 . A pes s o a iluminad a tam b é m<br />

desist e de seu eg o, e sua individuali<strong>da</strong>d e des a p ar e c e quan d o<br />

ela entra no grand e vazio. A diferen ç a es s e n ci al, entretanto,<br />

está e m sua con s ci ê n ci a.<br />

À m e di<strong>da</strong> e m que este quadr o de sinto m a s reforç a os<br />

"fenô m e n o s nor m ai s de dec a d ê n ci a <strong>da</strong> velhic e", colo c a um<br />

esp elh o nítido e apav or a nt e diante de um a soci e d a d e que<br />

conviv e co m um num er o cad a vez m ai or de pacient e s de<br />

Alzheim er. Para nós, a velhic e quer dizer muitas vez e s tornarse<br />

infantil, seja co m bas e na es cl er o s e do cér e br o 89 , outras<br />

form a s de de m ê n c i a, derra m e s múltiplos* ou a degr a d a ç ã o<br />

nor m al do cér e br o . A tarefa propria m e nt e dita, entretanto, é<br />

retorn ar con s ci e nt e m e n t e e "voltar a ser co m o as crianç a s".<br />

P er g u nta s para o início do qua dr o de sinto m a s e para os<br />

cui<strong>da</strong>d or e s<br />

1 Alca n c e i a curva, en c o ntr ei o ponto de retorn o e m minha<br />

vi<strong>da</strong> e o utilizei para voltar para cas a?<br />

2. Com o vai a crianç a que há e m mi m? Mantive a ligaç ã o<br />

co m ela e volto a aproxim ar- m e dela na velhic e? Volto a<br />

aproxi m ar- m e <strong>da</strong>s crianç a s?<br />

3. Pelo que pod eria m e "orientar"? De ond e teria de vir a<br />

luz em minh a vi<strong>da</strong>? Que aju<strong>da</strong>s deixo de utilizar?<br />

4. De que man eira se m pr e volto a perd er contato co m<br />

outras pes s o a s e co m a vi<strong>da</strong>?<br />

5. Com o é que recus o a resp o n s a b ili<strong>da</strong>d e por minh a<br />

própria vi<strong>da</strong>?<br />

47<br />

4


Conclusão<br />

Para con cluir, resta a questã o de co m o é que se pod e ficar<br />

saud á v el diante de tam a n h a quanti<strong>da</strong>d e de imag e n s . É<br />

pos sív el sarar co m imag e n s ? O proc e s s o de cura por m ei o de<br />

imag e n s e m si é tão simple s que ch e g a a parec er co m plic ad o<br />

para as pes s o a s intelectualizad a s . Noss o probl e m a co m<br />

padrõ e s e imag e n s está so br etud o no pens a m e n t o de<br />

orienta ç ã o m a s c ulin o- analítica, que tem e m pouc a conta o<br />

significad o do pólo opo st o, feminino- sim b ólic o. Ness e sentido o<br />

proc e di m e n t o contrário, a enfatizaç ã o <strong>da</strong> esfer a imagin ativa,<br />

seria mais ade q u a d o à noss a reali<strong>da</strong>d e interna.<br />

Pode m o s pas s ar se m a n a s e até m e s m o m e s e s se m o pólo<br />

ma s c ulino <strong>da</strong> anális e. Muitos povo s renun cia m totalm e nt e a ele<br />

e, co m isso, ao progr e s s o tal co m o nós o enten d e m o s , se m<br />

qualqu er prejuízo para sua saúd e corp oral ou aní mic a. Mas<br />

cas o a vivên ci a <strong>da</strong>s imag e n s interna s esteja aus e nt e apen a s<br />

por algun s dias, ou por algu m a s noites, des e n v olv e m o s<br />

perturba ç õ e s m e ntais sérias. Nos m o d e r n o s labor atório s do<br />

son o, pod e- se imp e dir que voluntários son h e m . Eles são<br />

des p erta d o s se m pr e que o m o vi m e nt o de seus olho s indica m o<br />

início <strong>da</strong> fas e de son h o s , ou seja, de REM 90 . Ao final <strong>da</strong> noite<br />

eles dor mira m de sete a oito horas se m son h ar. Após no<br />

máxi m o nov e dias, até o último deles pas s a a ter alucinaç õ e s ,<br />

isto é, eles vê e m e ouv e m cois a s que ningu é m alé m deles<br />

perc e b e . Essas imag e n s ilusórias que se vê co m os olho s<br />

ab erto s são cha m a d a s de alucina ç õ e s ópticas pela psiquiatria,<br />

sen d o que as voz e s ilusórias que se ouv e são cha m a d a s de<br />

alucinaç õ e s acústica s. Aquelas imag e n s interna s que ag or a<br />

não pod e m mais ser elab or a d a s nos son h o s torna m - se tão<br />

prep ot e nt e s a ponto de impor- se à con s ci ê n ci a diurna e tornarse<br />

visíveis até m e s m o co m os olho s ab erto s. Isso deixa claro o<br />

quanto as imag e n s interna s são es s e n ci ai s para a vi<strong>da</strong> (e até<br />

m e s m o para a so br e viv ê n ci a), sen d o que aqui se trata ap en a s<br />

47<br />

5


de conte m pl a ç ã o e de form a algu m a, ain<strong>da</strong>, de interpreta ç ã o .<br />

Essa esp é ci e de sho w de imag e n s é viven ci ad a to<strong>da</strong> s as noites<br />

por to<strong>da</strong> pes s o a m e ntal m e nt e saud á v el, até m e s m o por<br />

aqu el a s que não se lem br a m de seus son h o s . Que isso afete<br />

um núm er o cad a vez m ai or de pes s o a s é um sinal de quã o<br />

pouc o o lado feminin o imagin ativo <strong>da</strong> reali<strong>da</strong>d e se expres s a<br />

livre m e n t e no ser hum a n o m o d e r n o . As imag e n s interna s<br />

m er gulha m mais profun<strong>da</strong> m e n t e nas so m b r a s à m e di<strong>da</strong> que se<br />

presta m e n o s aten ç ã o ao s son h o s , e m que os conto s de fa<strong>da</strong>s<br />

são m e n o s con sid er a d o s e as fantasias perd e m significad o. A<br />

seguir, todo des e nt e n di m e n t o co m eles é trabalh o nas so m b r a s<br />

e é saud á v el na m e di<strong>da</strong> e m que recup er a aquilo que foi<br />

perdido, reprimido, e que está aus e nt e.<br />

Te m o s a sen s a ç ã o de que evident e m e n t e esta m o s certo s<br />

e m nos s a prefer ê n ci a pelo pólo m a s c ulin o- analítico e pela<br />

con s ci ê n ci a critica diurna e m relaç ã o à <strong>da</strong> noite. Mas a posiç ã o<br />

contrária é igualm e nt e imagin áv el e tam b é m existe. Os sen oi<br />

são um pov o que dá prefer ê n ci a à noite co m seus son h o s . Seu<br />

dia gira exclusiva m e n t e ao redor <strong>da</strong> noite co m o pos sibili<strong>da</strong>d e<br />

de ter exp eriên ci a s naqu el e plan o de imag e n s e de entrar e m<br />

contato co m o divino. Entre os indian o s tam b é m se pod e<br />

viven ci ar ain<strong>da</strong> o quanto os grand e s son h o s e visõ e s são<br />

centrais para a vi<strong>da</strong> diária e para a vi<strong>da</strong> co m o um todo.<br />

Que pres e n ci ar es s a s imag e n s atua por si m e s m o é<br />

m o strad o pelo fato de que isso m ant é m noss o equilíbrio<br />

aní mic o. Para tal, a cap a cid a d e intelectual de interpreta ç ã o é<br />

des n e c e s s á ri a. Aqui se pod e es clar e c e r a questã o de co m o as<br />

crianç a s li<strong>da</strong>m co m as interpreta ç õ e s . De man eira geral, elas<br />

não têm qualqu er nec e s si d a d e de suas variantes intelectuais e<br />

pod e m poupar- se es s e s rodei o s. Elas tend e m a ac eitar<br />

esp o nt a n e a m e n t e as imag e n s e a integrá- las a seu mund o<br />

aní mic o. O trabalh o de Elisab eth Kübler- Ross é esp e ci al m e n t e<br />

apropriad o para aca b ar co m o prec o n c e it o de que as crianç a s<br />

não pod e m fazer na<strong>da</strong> co m o sim b olis m o e co m as m e n s a g e n s<br />

dos sinto m a s . Ao contrário, elas freqü e nt e m e n t e estã o e m<br />

m elh or situaç ã o para isso que seus pais intelectualizad o s , que<br />

47<br />

6


enten d e m tudo e, muitas vez e s , ain<strong>da</strong> assi m não apre e n d e m<br />

na<strong>da</strong>. Por es s a razão não é precis o, por exe m pl o, con sid er ar<br />

as enc arn a ç õ e s na psicot er apia co m crianç a s , porqu e esta s<br />

ain<strong>da</strong> con sid er a m importante s o sim b olis m o dos conto s de<br />

fa<strong>da</strong>s e <strong>da</strong>s fantasias. Enquanto não são tom a d a s pelo<br />

pen s a m e n t o de que tudo é "apen a s" fantasia, as crianç a s estã o<br />

mais ab erta s para seus padrõ e s interno s. Os pas s o s de<br />

apren dizad o que elas freqü e nt e m e n t e dão por oc a si ã o <strong>da</strong>s<br />

do e n ç a s infantis típicas falam por si m e s m o s . Nos adultos, ao<br />

contrário, a distân cia intelectual é intransp o nív el, porqu e eles<br />

ne m relacio n a m as imag e n s con sig o m e s m o s ne m as<br />

con sid er a m ab s oluta m e n t e importante s.<br />

Na terapia infantil, pod e- se deixar que os pequ e n o s<br />

pacient e s son h e m co m um conto de fa<strong>da</strong>s e apó s algun s<br />

minuto s pergunte m ond e é que eles estã o na história. O<br />

estí m ul o para que eles m e s m o s continue m contan d o a história<br />

é se g uid o alegr e m e n t e na mai oria <strong>da</strong>s vez e s , e assi m se obtê m<br />

e m imag e n s gráficas um padrã o atinad o co m a situaç ã o de<br />

suas vi<strong>da</strong>s. Uma outra pos sibili<strong>da</strong>d e, tão simples co m o eficaz,<br />

é deixar que a própria família seja son h a d a so b a form a de<br />

anim ais. Dai resulta m, igual m e nt e se m proble m a s , as<br />

estruturas familiares e o padrã o de relacion a m e n t o s . Com o as<br />

crianç a s esp o ntan e a m e n t e con sid er a m es s a s imag e n s<br />

importante s e as relacio n a m con sig o m e s m a s , na m ai oria <strong>da</strong>s<br />

vez e s elas estã o e m con diç õ e s de influen ciar a reali<strong>da</strong>d e de<br />

suas vi<strong>da</strong>s por m ei o de m o dificaç õ e s no padrã o de imag e n s .<br />

Com freqü ê n ci a, isso é mais fácil para elas que para os<br />

adultos.<br />

Nós quas e se m pr e aba n d o n a m o s ced o noss a ingenui<strong>da</strong>d e<br />

infantil, influenciad o s por um a ped a g o g i a orientad a para a<br />

eficiên cia. Já no início <strong>da</strong> es c ol a primária, co m e ç a m o s a ouvir:<br />

"Não durm a! Não son h e! Não fique fantasian d o! Você está no<br />

mund o <strong>da</strong> Lua! É melh or con c e ntrar- se!". Quando es s a<br />

educ a ç ã o dá resultad o s , dela resulta m adultos totalm e nt e se m<br />

fantasia, que não se lem br a m mais de seus son h o s e que<br />

freqü e nt e m e n t e não con s e g u e m mais ne m m e s m o dor mir. Não<br />

47<br />

7


é raro que eles termin e m nos con s ultórios dos psicólo g o s para<br />

voltar a apren d er es s a s facul<strong>da</strong>d e s prim ordial m e nt e hum a n a s .<br />

Não é raro que a ped a g o g i a atual confund a trans mi s s ã o de<br />

con h e ci m e n t o s co m form a ç ã o . A ver<strong>da</strong> d eira forma ção tem a<br />

form a não so m e n t e na palavra, ma s tam b é m no coraç ã o .<br />

Com o micro c o s m o s (ser hum a n o), so m o s uma repro du ç ã o<br />

do ma cr o c o s m o s (mund o) e traze m o s e m nós to<strong>da</strong>s as<br />

imag e n s des s e mun d o . Quando es qu e c e m o s isso, elas<br />

m er gulha m cad a vez mais profun<strong>da</strong> m e n t e no incon s ci e nt e e a<br />

form a ç ã o se deg e n e r a e m um a torrente de inform a ç õ e s a cuja<br />

altura não esta m o s , m e s m o co m nos s o intelect o alta m e nt e<br />

treinad o. Até m e s m o na palavra inform a ç ã o es c o n d e - se ain<strong>da</strong><br />

a form a, o padrã o, e m o stra quã o profun<strong>da</strong> m e n t e esta m o s<br />

ligad o s a es s e asp e ct o <strong>da</strong> reali<strong>da</strong>d e . As imag e n s são o<br />

alim e nt o <strong>da</strong> alm a, se m es s e alim e nt o noss a s alm a s m orr e m de<br />

fom e.<br />

As imag e n s <strong>da</strong>s do e n ç a s , os sinto m a s , tam b é m são<br />

alim e nt o <strong>da</strong> alm a, e muito m elh or e s que quais qu er imag e n s .<br />

Este livro é uma excurs ã o intelectual pelo mund o <strong>da</strong>s imag e n s<br />

<strong>da</strong>s do e n ç a s , realizad o co m a esp er a n ç a de que as imag e n s<br />

não fique m estan c a d a s na cab e ç a , m a s leve m a um a form a ç ã o<br />

interior a resp eito <strong>da</strong> relaç ã o entre o corp o e a alm a. Seria<br />

muito bonito se a co m pr e e n s ã o racion al foss e suficiente e<br />

foss e pos sív el curar- se atrav é s <strong>da</strong> leitura e <strong>da</strong> co m pr e e n s ã o de<br />

padrõ e s . Segund o to<strong>da</strong> s as exp eriên ci a s, isso é a exc e ç ã o . A<br />

co m pr e e n s ã o precis a levar a "agarrar" e tocar a alm a e <strong>da</strong>r<br />

ac e s s o ao mun d o dos senti m e nt o s e <strong>da</strong>s sen s a ç õ e s . Quando,<br />

ao final de A Doe n ç a co m o Ca minh o, dize m o s que conte m pl ar<br />

e con h e c e r é suficiente, esta m o s nos referind o co m isso a um<br />

con h e ci m e n t o no sentido bíblico, um a ad mis s ã o de si m e s m o<br />

no sentido mais profund o. Abraão con h e c e u Sara, e o<br />

resultad o ain<strong>da</strong> assi m foi Isaac.<br />

Portanto, a co m p r e e n s ã o intele ctual co m o prim eiro pas s o<br />

não deixa de ser importante, ela só não é suficie nt e. A<br />

ad mis s ã o do próprio mun d o de imag e n s 91 pod eria ser um<br />

segun d o pas s o nes s a direç ã o . Viagen s imagin árias feitas co m<br />

47<br />

8


a aju<strong>da</strong> de músic a para a m e ditaç ã o e imag e n s verb ais vão<br />

mais fundo que excurs õ e s intelectuais. Quando a leitura de um<br />

livro já é perig o s a para velha s posturas e prec o n c eito s ,<br />

excurs õ e s nas as a s <strong>da</strong>s imag e n s interiores,<br />

con s e q ü e n t e m e n t e , contê m exp eri ên ci a s e perig o s m ais<br />

profund o s para velho s m o d o s de co m p o rta m e n t o e de do e n ç a .<br />

As viag e n s no sentido do sub stituto 92 aqui repre s e nt a d o leva m<br />

muitas vez e s a âm bito s que freqü e nt e m e n t e per m a n e c i a m<br />

estran h o s e fech a d o s .<br />

Não se pod e certa m e n t e dizer que viajar é algo inofen siv o.<br />

Mas não viajar é muito m ais perigo s o que viajar. Quem<br />

apren d e u a con h e c e r o mun d o extern o viajand o tam b é m<br />

precis o u enfrentar perigo s. Caso ele, ao contrário, tives s e<br />

per m a n e c i d o por to<strong>da</strong> a vi<strong>da</strong> e m sua ci<strong>da</strong>d e natal, teria evitad o<br />

es s e s perig o s, ma s e m co m p e n s a ç ã o estaria muito m ais<br />

vulneráv el e m relaç ã o ao des c o n h e c i d o . Recon h e c i d a m e n t e ,<br />

as viag e n s forma m e, co m isso, alim e nta m a alm a co m<br />

imag e n s .<br />

Algo análo g o oc orr e co m noss a s viag e n s interiores. O<br />

mund o interno modifica- se tão pouc o por ser con h e ci d o co m o o<br />

extern o. Mas am b o s deixa m de ser am e a ç a d o r e s , porqu e todo<br />

perig o con h e ci d o am e dr o nt a m e n o s . Em última instância, co m<br />

os sinto m a s não se trata de um a modificaç ã o <strong>da</strong>s coisa s e m si,<br />

dos tem a s e dos conteú d o s <strong>da</strong>s do e n ç a s , ma s de mud ar a<br />

man eira de ver. A tarefa de apren dizad o e tam b é m o padrã o<br />

per m a n e c e m os m e s m o s , ma s faz um a grand e diferen ç a se<br />

es s e padrã o é extraditad o para o plan o físico e m um círculo<br />

vicios o ou vive livre m e n t e e m um plan o liberad o . Quem es c uta<br />

sua voz interior pod e tam b é m co m isso ouvir cois a s pouc o<br />

elogio s a s a seu resp eito. Visto des s a m an eir a, a curto prazo é<br />

mais agrad á v el não es cutá- la. Mas ignorá- la é perig o s o a long o<br />

prazo, pois quan d o a voz interior se torna rep e ntina m e n t e alta<br />

apó s ter sido neglig e n ci a d a por muito tem p o , já é tarde. Na<br />

maioria <strong>da</strong>s vez e s, o psiquiatra con sultad o não a es c utará e<br />

dificilm e nt e lhe atribuirá algu m significad o, m a s tentará<br />

bloqu e á- la co m arm a s quí mic a s. A exp eriên ci a diz que faz mais<br />

47<br />

9


sentido apren d er a con h e c e r o mund o interior a temp o e co m<br />

cal m a que so b pres s ã o long a m e n t e acu m ulad a. O<br />

relacion a m e n t o co m o corp o corresp o n d e ao relacion a m e n t o<br />

co m a alm a. A ignorância e a repress ã o são mais cô m o d a s a<br />

curto prazo, ma s a long o prazo é mais saud á v el atrev er- se a<br />

confrontar as imag e n s interna s e cres c e r, e m vez de<br />

pres si o n ar. Os dois tipos de m e di cin a e tam b é m de psicol o gia<br />

têm suas vantag e n s : a medi cin a e a psicolo gi a aca d ê m i c a s têm<br />

por objetivo a prosp eri<strong>da</strong>d e a curto prazo, pond o de lado a<br />

cura, en qu a nt o a m e dicin a e terapia interpretativas colo c a m o<br />

be m - estar em segun d o plan o e busc a m a cura a long o prazo.<br />

Antiga m e nt e viajava- se m e n o s pelo mun d o exterior, e<br />

quan d o se viajava, tratava- se na m ai oria <strong>da</strong>s vez e s de<br />

pere grina ç õ e s , que ligava m o mund o extern o co m o interno. A<br />

tend ê n ci a de e m pr e e n d e r viag e n s extern a s se m relaç ã o co m<br />

viag e n s aní mic a s internas é relativa m e n t e nova e dá um a<br />

impres s ã o peculiar a um olhar m ais atento. Viagen s culturais,<br />

que abs oluta m e n t e não estã o interes s a d a s no culto, flutuam no<br />

ar de man eira tão estran h a co m o as viag e n s de form a ç ã o , que<br />

evita m esta b el e c e r contato co m as imag e n s interiores. Elas<br />

pod eria m ser facilm e nt e substituí<strong>da</strong>s por filme s culturais. As<br />

cha m a d a s viag e n s de resta b el e ci m e n t o , con sid er a d a s do ponto<br />

de vista m é di c o , são e m sua m ai oria um es c árnio à saúd e.<br />

Essa mis éria <strong>da</strong>s viag e n s ch e g o u até ao s org anizad or e s : estã o<br />

sen d o des e n v o l vid o s con stant e m e n t e nov o s con c eito s que, na<br />

m e di<strong>da</strong> e m que lhes falta a relaç ã o co m viag e n s interiores, são<br />

logo nova m e n t e des c arta d o s . Viagen s de aventura pod e m ser<br />

mais eletrizante s que as que se faz para tom ar ban h o de sol,<br />

ma s as ver<strong>da</strong> d eira s aventura s são se m pr e internas; na m elh or<br />

<strong>da</strong>s hipóte s e s , elas tam b é m o são extern a m e n t e .<br />

Em ép o c a s antigas, a viag e m do herói era um ca min h o<br />

interior que unica m e n t e se refletia no exterior. Viagen s rum o às<br />

próprias tarefas de apren dizad o , tais co m o elas se reflete m nas<br />

paisa g e n s interna s dos quadr o s de sinto m a s , são as<br />

ver<strong>da</strong>d eira s viag e n s heróic a s . Elas co m freqü ê n ci a não são<br />

esp e ci al m e n t e agrad á v ei s e nunc a belas, às vez e s elas exig e m<br />

48<br />

0


muita cora g e m , m a s elas são se m pr e rec o m p e n s a d o r a s . Tal<br />

co m o foi des crito no prim eiro volum e , um guia pod e ser útil e m<br />

viag e n s long a s, e às vez e s ele é ne c e s s á ri o. Em noss a ép o c a,<br />

es s e s guias se cha m a m psicot er ap e ut a s. Eles existira m e m<br />

to<strong>da</strong>s as ép o c a s , só que antes, quan d o os ser e s hum a n o s<br />

viviam por si m e s m o s nos mund o s de imag e n s de seus mitos e<br />

conto s de fa<strong>da</strong>s e confiava m e m sua fantasia, eles tinha m<br />

outros no m e s e m e n o s trabalh o. Isso não estav a tão<br />

relacion a d o co m interv en ç õ e s e m crise s agud a s , m a s sim co m<br />

a indicaç ã o do ca minh o e o ac o m p a n h a m e n t o àqu el e outro<br />

mund o intern o que está se m pr e lá e que nos esp er a. Quando<br />

não tom a m o s qualqu er m e did a para nos aproxim ar- nos dele,<br />

ele ve m ao nos s o en c o ntro e nos faz sinais so b a form a de<br />

sinto m a s e de quadr o s de do e n ç a s co m pl et o s .<br />

Quando ve m o s e utilizam o s as oportuni<strong>da</strong>d e s conti<strong>da</strong>s nos<br />

sinto m a s , noss a vi<strong>da</strong> não se torna nec e s s a ri a m e n t e mais fácil,<br />

ma s nós nos torna m o s mais con s ci e nt e s <strong>da</strong> resp o n s a b ili<strong>da</strong>d e e<br />

tam b é m mais ricos. Ca<strong>da</strong> erro se transfor m a e m pos sibili<strong>da</strong>d e<br />

de cres c e r a partir dele, já que acr e s c e n t a algo à nos s a vi<strong>da</strong><br />

que faltava até entã o. Portanto, a valoraç ã o pod eria <strong>da</strong>r um a<br />

volta de 18 0 graus: e m vez de afastar os proble m a s ou<br />

es quivar- se deles, é um a alegria ir a seu en c o ntro e des c o b rir<br />

as pos sibili<strong>da</strong>d e s que neles se oculta m. Ness e sentido, as<br />

pergunta s levantad a s e m cad a capítulo pod e m tornar- se o<br />

fun<strong>da</strong> m e n t o de um a m e ditaç ã o pes s o al, e m um a viag e m ao<br />

mund o dos sím b ol o s <strong>da</strong> própria proble m á tic a. O que tem o s a<br />

perd er? O temp o de vi<strong>da</strong> abr e- se diante de nós co m o um vasto<br />

ca m p o de pos sibili<strong>da</strong>d e s . Tudo é pos sív el quan d o ac eita m o s o<br />

des afio <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> não so m e n t e no sentido extern o, ma s tam b é m<br />

no intern o. Uma vi<strong>da</strong> extern a m e n t e agre s siv a co m cora g e m e m<br />

relaç ã o às próprias pos sibili<strong>da</strong>d e s pod e contribuir para o<br />

des e n v olvi m e nt o , um a vi<strong>da</strong> interior corajo s a pod e levar o<br />

des e n v olvi m e nt o ao objetivo.<br />

As m ais divers a s religiõ e s faze m refer ê n ci a ao ca min h o que<br />

pas s a pelo mun d o interior, e e m noss o âm bito cultural a<br />

doutrina cristã dá indicaç õ e s inequív o c a s a es s e resp eito. Com<br />

48<br />

1


o dito já citado: "Seja quent e ou frio, o m orn o eu cuspirei!",<br />

Cristo ac o n s el h a a que se ous e até os extre m o s , adv ertind o ao<br />

m e s m o tem p o contra os co m pr o m i s s o s m orn o s e falso s. Caso<br />

es s e ca min h o , o <strong>da</strong> viag e m her óic a, seja con quistad o , pas s a a<br />

ser finalm e nt e váli<strong>da</strong> aqu el a outra senten ç a: "Se algué m<br />

golp e ar sua fac e es qu er d a, ofer e ç a- lhe a direita". O ho m e m<br />

auto- realizad o, que en c o ntrou o centro entre os pólos e o<br />

centro e m si m e s m o , não avalia mais e sab e no fundo de seu<br />

coraç ã o que tudo o que distribui volta para ele.<br />

Em última instância, to<strong>da</strong> terapia que m er e c e es s e no m e<br />

pod e ser resu mi d a naqu el e que é talvez o m ais importante dito<br />

de Cristo: "Ama teus inimig o s". Jamais se pod er á dizer mais<br />

so br e as terapias, ne m des cr e v ê - las de man eira m ais brev e e<br />

con cis a. Nós hoje tem o s a tend ê n ci a de des cr e v e r a m e s m a<br />

cois a de m an eira m ais m o d e r n a e m ais co m plic a d a: "Aceite de<br />

volta suas projeç õ e s ". Pois tudo o que nos falta para a cura<br />

está e m nos s a so m b r a, e co m o lá não o pod e m o s ne m<br />

quer e m o s ver, nós o projeta m o s so br e sup erfícies de projeç ã o .<br />

Noss o s inimig o s são sup erfícies extern a s de projeç ã o que<br />

reflete m para nós aquilo que não pod e m o s suportar e m nós e<br />

que por isso m e s m o detesta m o s nos outros. Os sinto m a s <strong>da</strong>s<br />

do e n ç a s são inimig o s intern o s para a m ai oria <strong>da</strong>s pes s o a s . O<br />

próprio corp o transfor m a- se e m sup erfície de projeç ã o <strong>da</strong>s<br />

faceta s de que não go sta m o s . Quando con s e g ui m o s am ar os<br />

inimig o s extern o s e intern o s, o resultad o é a cura. E nós o<br />

con s e g uir e m o s tanto m ais facilm e nt e quanto mais estiver m o s<br />

e m condiç õ e s de rec o n h e c e r a do e n ç a co m o lingua g e m <strong>da</strong><br />

alma. Então, o que tem o s é a do e n ç a co m o ca minh o. Este não<br />

é nov o ne m co m plic a d o , ele é tão ate m p o r al, tão simpl e s e tão<br />

exig e nt e co m o as etern a s palavras: AMA TEUS INIMIGOS.<br />

48<br />

2


Notas<br />

48<br />

3


1 De ac ord o co m as estatística s, e m dez ano s o ale m ã o m é di o pass a por uma do e n ç a ond e corre risco de vi<strong>da</strong>,<br />

dez do e n ç a s grav e s e um se m- núm er o de enfer mid a d e s mais leves. Se tom ar m o s mil pes s o a s na rua e m uma<br />

grand e ci<strong>da</strong>d e e as sub m e t e r m o s aos m o d e r n o s m ét o d o s de diagn ó stic o e de exa m e intensivo, não sobraria<br />

nenhu m a totalm e nt e saud á v el.<br />

2 WHO = World Health Organization [Organizaç ã o Mundial <strong>da</strong> Saúd e <strong>da</strong> ONU].<br />

3 Em quí mic a, uma substân ci a é design a d a de catalisad or quan d o põ e e m curso uma reaç ã o se m m o dificar- se<br />

nes s e proc e s s o . A raçã o não pod e oc orrer se m o catalisad or, e portanto a substân cia participa dela, não sen d o<br />

ela m e s m a entretanto altera<strong>da</strong>. Neste ponto a co m p ar a ç ã o fica um pouc o claudic ant e, pois freqü e nt e m e n t e tais<br />

proc e s s o s de cura tam b é m pod e m oc orr er se m o m é dic o e estã o não per m a n e c e inalterad o durante e terapia.<br />

4 Mais rec e nt e m e n t e , a expr e s s ã o PCP tem sido utiliza<strong>da</strong> so br etud o para uma inflama ç ã o pulm o n ar que surg e<br />

principal m e nt e e m pacient e s de AIDS, significand o entã o Pn e u m o c y s ti s carinii pneu m o ni a . O prim eiro P <strong>da</strong><br />

antiga PCP foi eliminad o , já que de qualqu er form a não queria dizer na<strong>da</strong>.<br />

5 Caso a ho m e o p a tia e a m e dicin a chines a seja m con sid er a d a s form a s de m e dicina natural, esta classificaç ã o<br />

não é váli<strong>da</strong>. Tam b é m no âm bito de um a m e dicin a holística, há pelo m e n o s tentativas de se che g a r a uma<br />

filosofia abran g e nt e <strong>da</strong> do e n ç a .<br />

6 Uma diferen ç a important e, ain<strong>da</strong> que so m e n t e gradu al, consiste certa m e nt e na periculo si<strong>da</strong> d e dos efeitos<br />

colaterais devid o às arm a s colo c a d a s e m ca m p o . Quando o proc e di m e nt o alopático não pod e ser evitad o, dev ese<br />

natural m e nt e <strong>da</strong>r prefer ê n cia a rem é di o s que têm pouc o s ou nenhu m efeito colateral. Mas ele s não dev e m<br />

ser con sid er a d o s m ei o s de cura propria m e nt e ditos, já que eles não têm por objetivo a cura ou a perfeiçã o , ma s<br />

so m e n t e a eliminaç ã o dos sinto m a s .<br />

7 Herman Weidelen er, Leb e n s d e u t u n g au s der W eish eit der Spra c h e , p. 19.<br />

8 Parac els o aponta para o fato de que e m última instância todo nest e mund o é ven e n o . Som e nt e a dos e decid e<br />

o quanto algo é ven e n o s o .<br />

9 Lach e s i s muta é tam b é m , muito concr eta m e n t e , uma serp e nt e ven e n o s a .<br />

1 0 Trata- se de álco ol e água que, se gund o cons e g uiu de m o n strar um grupo de pes q uis a vien e n s e , des e m p e n h a<br />

um pap el decisivo na assi milaç ã o do padrã o do m e dic a m e n t o .<br />

1 1 Isso não é esp e ci al m e nt e surpre e n d e n t e para o es ot eris m o , já que a partir diss o ele se m pr e concluiu que<br />

todo nest e mund o polar tem um pólo opost o e que nós só pod e m o s apre e n d e r o mund o por m ei o des s e s<br />

opost o s. Para enten d er "pequ e n o " precis a m o s de "grand e", "bo m" so m e nt e adquire sentido por m ei o de "mau",<br />

etc.<br />

1 2 Alguma s <strong>da</strong>s cha m a d a s culturas primitivas funcion a m se m pratica m e n t e nenhu m enten di m e nt o caus al, ma s<br />

evid e nt e m e n t e não sã o de form a algu m a uma alternativa para nós.<br />

1 3 Ver tam b é m R. Dahlke, Der Men s c h und die W elt sind ein s - Analo gien zwis c h e n Mikrok o s m o s und<br />

Makro k o s m o s , Munique, 19 8 7 .<br />

1 4 A palavra "cont e m pl a ç ã o " já express a e m si m e s m a o contexto análo g o . O prefixo con quer dizer "junto,<br />

unido", templu m era original m e nt e uma regiã o do céu que um Augur tinha de obs erv ar para deduzir de cima as<br />

clav e s para o que está abaixo. "Unitemplar" - o templo acim a no céu e o que está abaixo na terra - era o<br />

significad o original de conte m pl a ç ã o .<br />

1 5 Ver Dahlke, Der Men s c h und die W elt sind ein s , Munique, 19 8 7.<br />

1 6 A rec eita vale de fato e de direito co m o docu m e n t o . Caso algu é m não autorizad o se atrev a a fazer<br />

m o dificaç õ e s , sujeita- se a ser punido por falsificaç ã o de docu m e n t o .<br />

1 7 Quando os próprios m é dic o s precis a m dedic ar- se a pre e n c h e r as notas fiscais dos do e nt e s e co m p ar a n d o<br />

isso co m suas tarefas propria m e nt e ditas, e m geral ach a m ess a ativi<strong>da</strong>d e humilhant e ou moral m e nt e en erv a nt e.<br />

1 8 Entend e- se por efeito plac e b o o substan cial efeito m e dic a m e n t o s o que se dev e não à substân cia ministrad a,<br />

ma s ao efeito de sug e st ã o sobr e o qual está bas e a d o todo o ritual <strong>da</strong> distribuiçã o de rem é di o s . Esse efeito está<br />

pres e nt e até me s m o nos re m é di o s quí mic o s mais fortes. De vez em quand o , até m e s m o droga s co m o a morfina<br />

pod e m ser substituí<strong>da</strong> s por plac e b o s ministrad o s co m habili<strong>da</strong>d e .<br />

1 9 Aqui pod e estar tam b é m a explica ç ã o para a consid er á v el faixa de freqü ê n ci a de to<strong>da</strong>s as profecias.<br />

Provav el m e nt e é pos sív el, na m elh or <strong>da</strong>s hipótes e s , ver o padrã o, ou seja, a m oldura, e m b o r a sua realizaç ã o<br />

con cr et a per m a n e ç a res erva<strong>da</strong> ao temp o . Cons e q ü e nt e m e n t e , a provid ê n cia existe, mas não é exata m e n t e<br />

previsã o .<br />

20 Quem tives s e afirmad o há 10 0 anos que cad a célula que se despr e n d e <strong>da</strong> unha do pole g ar, por exe m pl o,<br />

cont é m to<strong>da</strong> a inform a ç ã o sobr e o ser hum a n o , teria certa m e nt e provo c a d o garg alh a d a s .<br />

2 1 Send o princípios primordiais, ele s natural m e nt e não estã o só na bas e <strong>da</strong> astrolo gia, ma s na bas e de todo. A<br />

astrolo gia unica m e n t e utiliza es s a s ima g e n s primordiais de man eira con s ci e nt e. Os arqu étipos tam b é m estã o na<br />

bas e de todo, apen a s que nos mitos e nos conto s de fa<strong>da</strong>s eles se toma m esp e ci al m e nt e nítidos.<br />

22 Os 7 relacion a m - se co m os set e plan eta s clássic o s, aos 10 é precis o acresc e n t ar os três plan eta s trans-<br />

saturnino s.


23 Uma exten s a introduç ã o a es s e pen s a m e n t o pod e ser enc o ntra d a no livro Das senkr e c h t e Weltbild , de N.<br />

Klein e R. Dahlke, Munique, 19 8 5 .<br />

24 O fato de tantas pes s o a s não declarar e m mais ab erta m e n t e sua inclinaç ã o pela antiga ima g e m analó gic a do<br />

mund o talvez não tenha levad o ao des a p ar e ci m e n t o de suas m e n s a g e n s , ma s a uma trivializaç ã o e<br />

ban alizaç ã o tal co m o se mostra, talvez, e m divers o s horós c o p o s ilustrad o s.<br />

25 A exc e ç ã o são as crianç a s, que graç a s a seu ac e s s o intuitivo às ima g e n s e sím b ol o s de sua alm a, pod e m<br />

utilizar as do e n ç a s infantis típicas para <strong>da</strong>r saltos impres si o n a nt e s em seu des e n v olvi m e nt o .<br />

26 No es ot eris m o , o cas a m e n t o alquí mic o design a a união dos contrários e é freqü e nt e m e n t e repre s e nt a d o pela<br />

conjunçã o do Sol (para o principio mas c ulino) e <strong>da</strong> Lua (para o princípio feminino).<br />

27 Com es s a express ã o , esta m o s nos referindo aqui ao s opositor e s ao álco ol co m b ativ o s, que repre e n d e m as<br />

pes s o a s que be b e m por sua "deprav a ç ã o " e que não pod e m ser de m o vi d o s de sua missã o , ma s não àqu el e s<br />

que, ape s ar de não be b e r álco ol, deixa m os outros e m paz des d e que não afete m suas vi<strong>da</strong>s.<br />

28 O tato e a própria intuiçã o, que não pod e m ser controlad o s a partir <strong>da</strong> cab e ç a , fora m send o cad a vez mais<br />

reprimid o s ao long o de sua ditadura.<br />

29 Após o cânc er dos pulm õ e s , relacion a d o ao hábito de fumar, ter sido apontad o co m o o cânc er mais freqü e nt e<br />

entre os ho m e n s , e o cânc er do estô m a g o e o cânc er do intestino, resp o n s á v e i s por mais <strong>da</strong> m eta d e de todos<br />

os carcino m a s , tere m sido elab or a d o s exten s a m e n t e e m Pro bl e m a s <strong>da</strong> dige stã o , nest e volu m e se tratará o<br />

cânc e r de ma m a , e m seu devid o lugar, por ser o cânc er de maior incidência nas mulh er e s . O que se gu e , que<br />

corre s p o n d e ao capítulo geral e m Pro bl e m a s <strong>da</strong> dige stã o , e e m con ex ã o co m as des criç õ e s <strong>da</strong>s regiõ e s , pod e<br />

esta b el e c e r a bas e para interpreta ç õ e s de ado e ci m e n t o s esp e ci ais de cânc er que não sã o trabalha d o s de form a<br />

esp e cífica.<br />

30 No entrete m p o , sab e - se ao m e n o s de um carcino m a de retina que foi her<strong>da</strong>d o . Caso um rec é m - nas cid o o<br />

tenh a rec e bid o dos dois prog e nitor e s, ele o her<strong>da</strong>r á co m certez a. Caso o rec é m - nascid o tenh a her<strong>da</strong>d o o "gen e<br />

do cânc e r" de apen a s um dos pais, o des e n v olvi m e nt o <strong>da</strong> do e n ç a dep e n d e r á <strong>da</strong>s influência s do am bi e nt e. O<br />

risco entã o é maior, ma s não obrigatório.<br />

31 De qualqu er forma, aqui seria o cas o de pens ar que o no m e cânc er é mais antigo que o micro s c ó pi o;<br />

so m e n t e a partir des s e m o m e n t o as células e m forma de tes oura do cânc e r de ma m a pod eria m ter sido<br />

des c o b e rt a s.<br />

32 Em algu m a s form a s de leuc e m i a, entretanto, acredita- se mais e m uma orig e m liga<strong>da</strong> aos vírus.<br />

33 Ver a es s e resp eito as publicaç õ e s de Elisab eth Kübler- Ross.<br />

34 Na palavra portugu e s a "resp o n s a bili<strong>da</strong>d e", a habili<strong>da</strong>d e de resp o n d e r é níti<strong>da</strong>.<br />

35 Com o, no uso que faze m o s <strong>da</strong> lingua g e m , ab ertura tem uma con ota ç ã o positiva en qua nt o fecha m e n t o é algo<br />

neg ativo, é fácil que surja m aqui mal- enten did o s . Uma pes s o a que des c a n s a e m seu centro tem uma maior<br />

ab ertura para a vi<strong>da</strong> ape s ar de um exten s o fecha m e n t o de sua pers o n ali<strong>da</strong>d e . Suas fronteiras físicas estã o<br />

fecha d a s , co m o que seu siste m a imunol ó gic o tem a ab ertura nec e s s á ria para fazer exp eriên cias, mant e n d o e m<br />

qualqu er cas o a sup eriori<strong>da</strong>d e em relaç ã o aos ag e nt e s hostis.<br />

36 Para que não surja qualqu er mal- enten did o, diga- se expres s a m e n t e que o diagn ó stic o prec o c e é<br />

substan ci al m e nt e m elh or que o rec o n h e ci m e n t o tardio, apen a s que isso não tem na<strong>da</strong> a ver co m prev e n ç ã o .<br />

37 Dentre as plantas nativas, o visg o é o que mais se pare c e co m o cânc er. Ele afeta os mais diferent e s tipos de<br />

árvor e, contra to<strong>da</strong> s as regra s não cres c e para cim a e sim e m to<strong>da</strong> s as direç õ e s , parasita seu hosp e d e ir o, sua<br />

selva e seu cres ci m e nt o fica m a carg o do hosp e d e ir o. Os limites estã o e m sua relativa benignid a d e , já que<br />

dificilm e nt e ele mata uma árvor e. Do ponto de vista <strong>da</strong> assinatura, por exe m pl o, a figueira asiática, que<br />

estran g ula suas vítima s, teria muito mais a ofer e c e r.<br />

38 Carl Simonton, Wied e r ge s u n d werd e n , Hamburgo, 198 2 .<br />

39 A fita cas s et e que resultou de m e u próprio trabalh o co m pacient e s de cânc er tam b é m pod eria ser<br />

m e n ci o n a d a aqui. No lado 1, que é o mais importante para o co m e ç o , ela traz um m ét o d o de agres s ã o contra o<br />

cres ci m e nt o do cânc e r, enqu a nt o o lado 2 ab ord a as quest õ e s do retorno e <strong>da</strong> volta. R. Dahlke, Kreb s , Edição<br />

Neptun, Munique, 19 9 0 .<br />

40 Tam b é m , pod e- se ver os olho s co m o sím b ol o s <strong>da</strong> totali<strong>da</strong>d e. A forma circular fala e m favor diss o, be m co m o<br />

a relaç ã o co m a luz, que é um símb ol o <strong>da</strong> perfeiçã o . Mas co m o a luz se contrap õ e à so m br a no mund o polar, o<br />

olho tend e mais para o mas c ulino. Fun<strong>da</strong> m e n t al m e nt e o olho, assi m co m o a luz, con s er v a seu caráter de<br />

integri<strong>da</strong> d e , ain<strong>da</strong> que e m nos s a cultura ele seja utilizado sobr etud o sob o asp e ct o ma s c ulino. Ele é tam b é m<br />

esp elh o <strong>da</strong> alm a e pod e não so m e nt e brilhar mas tam b é m respland e c e r, não só ver co m agud e z a ma s tam b é m<br />

olhar. Para nós, entretanto, a visã o tornou- se o sentido do min a nt e sobr etud o devid o à sua óptica calculista.<br />

41 Comp ar ar co m a obra ho m ô ni m a de Joachi m- Ernst Behrendt.<br />

42 A cad a dia se g u e - se uma noite, a cad a verã o um invern o, etc., em um ritmo con stant e e perpétu o.<br />

43 Há um cha m a d o duplo co m pr o m i s s o e m situaç õ e s tais co m o , por exe m pl o, a se guinte: algu é m ganh a de<br />

pres e nt e uma blusa am ar el a e outra ver m el h a . Caso vista a am ar el a, isso quer dizer: "Ah, voc ê não gosta <strong>da</strong><br />

ver m el h a ." Caso vista a ver m el h a , oc orr e o contrário.


44 Ver tam b é m R. Dahlke, Be w u βt Fa st e n , Munique, 19 8 0 .<br />

45 A alquimia tam b é m divide as plantas, co m o todo o mais, nos âm bito s de corp o, alm a e espírito. A parte rígi<strong>da</strong><br />

<strong>da</strong> planta corre s p o n d e ao corpo, à alm a corresp o n d e seu óle o, resp e ctiva m e n t e mais etér e o e que repres e nta a<br />

individuali<strong>da</strong>d e e, co m isso, tam b é m o sab or esp e ci al que tem. O álco ol liberad o pela ferm e nt a ç ã o , tal co m o por<br />

exe m pl o o espírito do vinho (conh a q u e), corresp o n d e ao espírito.<br />

46 Além des s e , rec o n h e cid o por to<strong>da</strong> a m e dicina, existe m ain<strong>da</strong> as vias de inform a ç ã o dos m eridian o s e dos<br />

fenô m e n o s de biorres s o n â n cia, ac eitos apen a s pela m e dicina natural. Além diss o, os ca m p o s m orfo g e n é tic o s<br />

m e n ci o n a d o s no início tam b é m são uma esp é ci e de siste m a abran g e nt e de informa ç õ e s .<br />

47 Evidente m e n t e , as pergunta s coloc a d a s aqui são dirigi<strong>da</strong>s aos adultos. É ver<strong>da</strong>d e que os tem a s aludidos<br />

dize m resp eito a lactantes e crianç a s pequ e n a s , que sã o freqü e nt e m e n t e afetad o s e m b o r a, naturalm e nt e , e m<br />

outros plano s.<br />

48 Neurolépticos são os re m é di o s utilizados na psiquiatria para reprimir os surtos psicótic o s.<br />

49 Oliver Sacks, Der Mann, der s ein e Frau mit ein e m Hut verw e c h s e lt e , p. 1 3 6, Hamburgo, 19 8 7 .<br />

50 Hans Bankl, Viele W e g e führten in die Ewigk eit , Viena, 19 9 0 .<br />

51 O gen e <strong>da</strong> cor éia enc o ntra- se e m um dos 22 pare s de cro m o s s o m o s típicos (= autos s o m o s ) e se impõ e à<br />

heran ç a gen étic a saud á v el do cro m o s s o m o s corresp o n d e n t e (= do min a nt e).<br />

52 Uma tend ê n ci a de trabalh o <strong>da</strong> con s ci ê n ci a que surgiu nos EUA, fun<strong>da</strong>d a por Robert Hoffman e conh e cid o<br />

entre nós pelo no m e de "proc e s s o - quadrinity", trabalh a as relaç õ e s co m os pais de forma intensiva ao long o de<br />

uma se m a n a . Após ess a se m a n a , não resta na<strong>da</strong> do próprio padrã o que não tenha se originad o do pai ou <strong>da</strong><br />

mã e e tenha sido assu mi d o direta m e n t e ou transfor m a d o e m seu contrário.<br />

53 "Este pais é o seu pais": o resto <strong>da</strong> letra <strong>da</strong> canç ã o con siste substan ci al m e nt e de uma des criç ã o <strong>da</strong> paisa g e m<br />

norte- am eric a n a .<br />

54 Ver tam b é m o capítulo sobr e pres s ã o alta e m: R. Dahlke, Herz( e n s ) p r o bl e m e - Be- Deutung und Chan c e der<br />

Herz- Krei slauf- Po bl e m e , Munique, 19 9 0 .<br />

55 Neste lugar, Lutero traduziu livre m e nt e "cost ela" por "costa d o".<br />

56 Além <strong>da</strong> cortison a, de efeitos bastant e discutidos, atualm e nt e a m e dicina acad ê m i c a não tem nenhu m outro<br />

re m é di o para a EM.<br />

57 Ness e contexto, design a- se por aura os brev e s aviso s que oc orre m pouc o ante s do ataqu e propria m e nt e dito.<br />

Existe m auras lumino s a s , ma s tam b é m as que se manife sta m pela audiçã o , pelo palad ar ou pelo olfato.<br />

58 Comp ar ar os trabalh o s de Elisab eth Kübler- Ross e Raym o n d Moody.<br />

59 Oliver Sacks, Der Mann, der s ein e Frau mit ein e m Hut verw e c h s e lt e , Hamburgo, 198 7 .<br />

60 Alucinaç õ e s acústica s nos confronta m co m a audiçã o ilusória, as olfativas co m cheiro s <strong>da</strong> m e s m a natureza,<br />

as táteis co m o toqu e e, finalm e nt e, existe m ain<strong>da</strong> alucinaç õ e s do pala<strong>da</strong>r.<br />

61 Entretanto, é precis o distinguir jejum de pass ar fom e . Pode- se jejuar por se m a n a s , des d e que ac o nt e ç a<br />

con s ci e nt e m e n t e e so b as condiç õ e s correta s.<br />

62 Além diss o, a ver<strong>da</strong>d e é que todos pens a m <strong>da</strong>r significad o às funçõ e s dos órgã o s e m sonh o s , pois a<br />

lingua g e m do incon s ci e nt e é uma lingua g e m de símb ol o s . No mund o dos sím b ol o s , cad a forma tem<br />

natural m e nt e cont eúd o . O incon s ci e nt e vê es s a s relaç õ e s de form a esp o ntân e a , enqu a nt o a con s ci ê n ci a diurna<br />

tem mais proble m a s aqui.<br />

63 Trata- se de um incha ç o benign o <strong>da</strong> glândula que freqü e nt e m e n t e oc orr e se m a forma ç ã o de um bó cio. A<br />

palavra "autôn o m o " faz refer ên ci a ao fato de que os nódulo s produz e m hor m ô ni o indep e n d e n t e m e n t e <strong>da</strong><br />

nec e s si<strong>da</strong>d e .<br />

64 O hipertire oidis m o que faz co m que os glob o s oculares fique m saltad o s (exoftalmia) é cha m a d o tam b é m de<br />

mal de Based o w .<br />

65 Franz Alexand er, P s y c h o s a m a ti s c h e Medizin , p. 13 6, Berlim, 19 7 1 .<br />

66 Na Última Ceia, Cristo dirige- se expres s a m e n t e ao de m ô ni o co m o senh or dest e mund o .<br />

67 A lordo s e design a um abaula m e n t o para a frente, e a cifos e para trás.<br />

68 Chor d a dor s alis = cord a dors al.<br />

69 Laun e [= estad o de ânim o e m ale m ã o] tem a ver co m luna [= Lua e m latim]. Comp ar ar tam b é m co m "estar de<br />

Lua", e m portugu ê s .<br />

70 Ver alé m diss o a seç ã o sobr e perturbaç õ e s circulatórias no âm bito <strong>da</strong> pres s ã o arterial baixa e m R. Dahlke,<br />

Herz( e n s ) p r o bl e m e - Be- Deutun g und Cha n c e der Herz- Kreislauf- Po bl e m e , Munique, 19 9 0 .<br />

71 Para os tipos de form ato do peito e de outras partes do corpo, ver tam b é m : Ken Dycktwald,<br />

Körp er b e w uβ t s ein , Essen, 198 1 .<br />

72 Tais declara ç õ e s pod e m ser feitas a parar de muitas exp eriên ci a s coincid e nt e s co m a terapia <strong>da</strong><br />

reen c arn a ç ã o .<br />

73 Com o pes c o ç o , tal co m o foi m e n ci o n a d o acim a, declara- se o tem a <strong>da</strong> propried a d e . Cons e q ü e n t e m e n t e ,<br />

que m se atira ao pes c o ç o de outra pes s o a visa a (regiã o <strong>da</strong>) propried a d e .


74 Esse rec o n h e c i m e n t o prec o c e é muito m elh or que o rec o n h e c i m e n t o tardio que oc orria usual m e nt e antes,<br />

ma s por outro lado não tem na<strong>da</strong> a ver co m prev e n ç ã o . A profilaxia, co m a qual ele é freqü e nt e m e n t e<br />

confundid o, teria de <strong>da</strong>r um grand e pas s o adiante e impedir o surgim e nt o <strong>da</strong> sinto m átic a, ou seja, torná- lo na<br />

ver<strong>da</strong>d e sup érfluo.<br />

75 R. Höβl e R. Dahlke, Ver<strong>da</strong>uun g s pr o bl e m e , Munique, 19 9 1 .<br />

76 Quanto ao tem a <strong>da</strong> distribuiçã o do pes o, <strong>da</strong>s form a s <strong>da</strong> barriga, pass a n d o pelo fenô m e n o dos culotes, até a<br />

cap a cid a d e de se impor de um tras eiro corre s p o n d e nt e m e n t e volum o s o , ver R. Dahlke, Ge wi c ht s p r o bl e m e ,<br />

Munique, 19 8 9 .<br />

77 Oculto = es cur o, esc o n did o .<br />

78 Alfred Ziegler, Bilder ein er Sch att e n m e d i zin , Zurique, 19 8 7.<br />

79 Georg Grodd e c k, Werke, Vol. I, p. 64.<br />

80 As afirma ç õ e s são as sent e n ç a s coloc a d a s pelo s ad epto s do "pens a m e n t o positivo", co m as quais sa e m a<br />

ca m p o contra tudo o que pos s a ser neg ativo (co m o por exe m pl o os sinto m a s).<br />

81 Do inglês ag e control cre m e ; es s e conc eito colo c a- se co m digni<strong>da</strong>d e ao lado de outros tão ven er á v ei s co m o<br />

"segur o de vi<strong>da</strong>", co m o qual ne m uma única vi<strong>da</strong> tornou- se mais se g ura até hoje.<br />

82 Ver tam b é m R. DahIke, Man<strong>da</strong>la s der W elt , Munique, 19 8 5 . [Man<strong>da</strong>la s - For m a s qu e Re pr e s e n t a m a<br />

Harm o nia do Co s m o s e a En er gia Divina , publicad o pela Editora Pens a m e n t o , São Paulo, 19 9 1 .]<br />

83 No filme de Hollywo o d "Em bus c a <strong>da</strong> crianç a dourad a", por exe m pl o, trata- se exata m e nt e des s e padrã o.<br />

84 As duas palavras e m ale m ã o , grau [= cinza] e greis [= anciã o], têm a m e s m a raiz.<br />

85 Re-signaç ã o = retirar o sinal (<strong>da</strong> vi<strong>da</strong> colori<strong>da</strong>), literalm e nt e (do latim) tirar o lacre, dev olv er, anular.<br />

86 O fato de que tais lugares horripilante s goz e m de uma certa prefer ê n ci a turística tem seu lado bo m , pois<br />

assi m as so m br a s fantas m ai s reprimi<strong>da</strong>s volta m à vi<strong>da</strong>. Esse tipo de lugar mal- ass o m b r a d o , salas dos horror e s,<br />

tre m- fantas m a e tam b é m os corre s p o n d e n t e s filme s de terror têm a vantag e m <strong>da</strong> distância e m relaç ã o aos<br />

asilos para ci<strong>da</strong>dã o s alqu e brad o s e enfraqu e ci d o s pela i<strong>da</strong>d e. Não se é lem br a d o do próprio futuro de man eira<br />

tão ime diata.<br />

87 Alfred Ziegler, Bilder ein er Sch att e n m e d i zin , p. 62, Zurique, 19 8 7 .<br />

88 O grand e vazio, assi m co m o o con c eito cristão de Paraís o, é unica m e nt e uma des criçã o imperfeita <strong>da</strong><br />

perfeiçã o , ou seja, <strong>da</strong> uni<strong>da</strong>d e . Ain<strong>da</strong> que definiçõ e s diferent e s para es s e âm bito que está alé m do nos s o<br />

mund o polar seja m usad a s por diferent e s culturas, só pod e hav er por princípio uma uni<strong>da</strong>d e , que abran g e tudo<br />

e m um instante ou que é o vazio abs oluto ond e tudo existe em poten cial.<br />

89 A cha m a d a calcificaç ã o , que alé m do cér e br o tam b é m pod e afetar os vas o s e todo s os outros órgã o s é, na<br />

ver<strong>da</strong>d e , assi m co m o o mal de Alzheim er, mais uma "albu min a ç ã o ". Os dep ó sito s de albu min a co m e ç a m muito<br />

ante s dos dep ó sitos de cálcio. Aqueles tam b é m oc orr e m muito ante s dos dep ó sitos de cole st er ol e de gordura,<br />

que levara m injusta m e nt e a uma histeria em relaç ã o a uma substân cia vital, o cole st er ol.<br />

90 REM, do inglês rapid ey e mo v e m e n t ; as fases de sonh o sã o ac o m p a n h a d a s por m o vi m e nt o s rápido s dos<br />

olho s.<br />

9 1 Existe m fitas cas s et e esp e ci ais so br e os tem a s: cânc e r, alergia, pres s ã o arterial alta, pres s ã o arterial baixa,<br />

proble m a s dige stivo s, proble m a s de pes o, taba gis m o , proble m a s de fígad o, proble m a s de coluna e angú stia. As<br />

m e ditaç õ e s dirigi<strong>da</strong>s "Médico Interno" e "Relaxa m e n t o Profundo" são alé m diss o apropriad a s para progr e dir e m<br />

planos mais profund o s co m quais qu er sinto m a s ; to<strong>da</strong>s as fitas cas s et e por Ediçõ e s Neptun, Munique.<br />

92 As produç õ e s oriun<strong>da</strong>s <strong>da</strong> atm o sf er a do "Pens a m e n t o Positivo", que enc o br e m os sofrim e nt o s co m<br />

afirma ç õ e s e assi m cria m novas so m br a s , sã o des a c o n s e l h a d a s . Utilizar as interpreta ç õ e s dest e livro para tal<br />

obra de repres s ã o é co m p ar á v el à tentativa de sen sibilizar um organis m o co m o jejum para torná- lo mais<br />

rec e ptivo aos psicofár m a c o s .

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!