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Estamos a aplicar o dinheiro como se fôssemos um banco - Ife

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<strong>Estamos</strong> a <strong>aplicar</strong><br />

o <strong>dinheiro</strong><br />

<strong>como</strong> <strong>se</strong> fôs<strong>se</strong>mos<br />

<strong>um</strong> <strong>banco</strong><br />

O ministro da agricultura vai dar direitos de RPU aos<br />

jovens agricultores. Esta <strong>se</strong>rá a contrapartida à garantia<br />

de <strong>se</strong> manterem cinco anos em produção nos projectos<br />

apoiados pelo Proder. N<strong>um</strong>a entrevista de balanço de<br />

mandato, Jaime Silva fala da difícil relação com alguns<br />

<strong>se</strong>ctores da agricultura nacional, explica as razões das<br />

medidas polémicas que tomou e avisa que está a <strong>aplicar</strong> o<br />

<strong>dinheiro</strong> do Proder com o rigor de <strong>um</strong>a entidade bancária.<br />

Quanto ao futuro, garante que lhe apetece fazer ‘coisas<br />

diferentes’.<br />

. Vida rural . Março 2009<br />

Jaime Silva<br />

Ministro da Agricultura,<br />

do De<strong>se</strong>nvolvimento Rural<br />

e das Pescas<br />

Texto_Isabel Martins<br />

Fotos_Gil Garcia<br />

Comecemos pelo Proder, que é o tema<br />

mais ‘quente’ do momento.<br />

Não, só há duas pessoas que estão excitadas<br />

com o assunto, o Sr. João Machado e o Dr.<br />

Paulo Portas…<br />

Neste momento temos ou não contratos<br />

assinados de projectos de investimento?<br />

Como sabe, o Proder foi aprovado há<br />

<strong>um</strong> ano. Primeiro passaram as medidas<br />

Agro‑Ambientais, depois as indemnizações<br />

Compensatórias e finalmente os projectos<br />

de investimento. O Proder pagou, <strong>dinheiro</strong><br />

saído e não comprometido, até 31 de<br />

Dezembro de 2008, 431 milhões de euros.<br />

Estou a falar em todas as medidas,<br />

incluindo as de investimento. Podíamos<br />

ter encerrado as candidaturas, até porque<br />

havia <strong>um</strong>a taxa de ch<strong>um</strong>bos de 80%. Podia<br />

ter feito isso e já ninguém me criticava,<br />

mas simplesmente nas candidaturas havia<br />

<strong>um</strong>a medida importantíssima, que era a<br />

rectroactividade a 1 de Janeiro de 2007.<br />

Sempre anunciei que os produtores deviam<br />

guardar as facturas e não concluir o projecto<br />

antes da sua aprovação, porque as facturas<br />

são elegíveis desde dia 1 de Janeiro de<br />

2007. Repare que havia candidaturas que<br />

repre<strong>se</strong>ntavam cerca de 800 milhões de<br />

euros de investimento…<br />

Porque é que a taxa de reprovação foi tão<br />

alta? Não havia <strong>dinheiro</strong>?<br />

Havia <strong>dinheiro</strong>, mas as pessoas não<br />

tomaram a devida atenção aos projectos,<br />

nomeadamente os projectistas que estavam<br />

habituados ao anterior QCA. Sempre dis<strong>se</strong><br />

que não íamos cometer os erros do passado,<br />

dos anteriores QCA, onde <strong>se</strong> gastaram em<br />

média 3.000 milhões de euros cada <strong>se</strong>te<br />

anos. Mas chegámos a 2006 com o produto<br />

agrícola idêntico ao de 1986. Este quadro<br />

<strong>se</strong>rá, provavelmente, o último onde vamos<br />

ter 3.500 milhões de euros de Bruxelas,<br />

mais o orçamento nacional, com <strong>um</strong> total de<br />

4.500 milhões de euros. Não podemos fazer<br />

a mesma coisa, isto é, aprovar projectos e no<br />

final fazer a avaliação e perceber que não<br />

criámos fileiras…


Então houve mais rigor?<br />

Sim, mas os projectos não são<br />

decididos pelo ministro. Existe<br />

<strong>um</strong>a grelha automática de<br />

avaliação com fórmulas usadas<br />

pelos <strong>banco</strong>s na apreciação de<br />

projectos. Vamos pegar nes<strong>se</strong><br />

<strong>dinheiro</strong> <strong>como</strong> <strong>se</strong> fôs<strong>se</strong>mos<br />

<strong>um</strong> <strong>banco</strong>, não vamos arriscar<br />

<strong>se</strong>m ver <strong>se</strong> há rentabilidade<br />

do projecto e <strong>se</strong>m garantir<br />

que ao fim de três ou quatro<br />

anos o agricultor continua a<br />

produzir. A grelha está criada,<br />

vem nas portarias, e qualquer<br />

pessoa pode fazer <strong>um</strong> ensaio e<br />

perceber logo <strong>se</strong> o <strong>se</strong>u projecto<br />

tem <strong>um</strong>a taxa de rentabilidade<br />

positiva. As pessoas estiveram<br />

desatentas e esta taxa elevada<br />

de ch<strong>um</strong>bos não resultou da<br />

apreciação do técnico que<br />

estava a fazer a avaliação do<br />

projecto, mas sim da grelha que<br />

é puramente matemática. Como<br />

é que imagina que alguém<br />

possa entregar <strong>um</strong> projecto que<br />

dá <strong>um</strong> período de vida útil a<br />

<strong>um</strong> olival de cinco anos quando<br />

este entra em velocidade de<br />

cruzeiro precisamente ao<br />

quinto ano?<br />

Houve muita desatenção,<br />

mas também muitas<br />

pessoas que não queriam<br />

<strong>um</strong> compromisso por mais<br />

de cinco anos.<br />

Isso aconteceu mais em novos<br />

projectos ou em produtores<br />

que queriam reforçar<br />

investimentos?<br />

Repare que definimos fileiras<br />

estratégicas e não podemos<br />

ignorar que não basta produzir, é<br />

preciso saber vender, acrescentar<br />

valor, criar emprego, fazer com<br />

que a riqueza fique no país,<br />

vender e exportar. Se olharmos<br />

para a agricultura, a única<br />

fileira que con<strong>se</strong>guiu fazer isso<br />

foi a do leite. E é aquela que os<br />

grandes teóricos da agricultura<br />

portuguesa diziam que não tinha<br />

futuro.<br />

Mas também temos os<br />

frutícolas…<br />

Sim, mas não foi o sucesso que<br />

era de esperar n<strong>um</strong> país que<br />

tem sol, onde faltava apenas<br />

acrescentar água e dimensão.<br />

Tirando a pêra Rocha, que<br />

ganhou dimensão porque é toda<br />

<strong>um</strong>a região a produzir, muito<br />

Vamos pegar neste<br />

<strong>dinheiro</strong> <strong>como</strong> <strong>se</strong><br />

fôs<strong>se</strong>mos <strong>um</strong> <strong>banco</strong>. Não<br />

vamos arriscar <strong>se</strong>m ver<br />

<strong>se</strong> há rentabilidade do<br />

projecto e <strong>se</strong>m garantir<br />

que ao fim de três ou<br />

quatro anos o agricultor<br />

continua a produzir.<br />

organizada, com excelentes<br />

empresários e boa estrutura<br />

associativa, tirando essa, tivemos<br />

qua<strong>se</strong> em vias de perder tudo<br />

o que eram pomares, embora<br />

tenhamos boas cooperativas mas<br />

que não ganharam dimensão na<br />

sua região para discutir preços<br />

com as grande superfícies. E<br />

foi por isso que mudámos, não<br />

porque não goste dos cereais<br />

ou do leite, mas para tentar<br />

organizar fileiras que nos<br />

permitam <strong>se</strong>rmos auto‑suficientes<br />

e, sobretudo, vocacionados<br />

para a exportação. Temos<br />

exemplos notáveis de pequenas<br />

empresas <strong>se</strong>m dimensão, que<br />

não con<strong>se</strong>guem colocar os <strong>se</strong>us<br />

produtos nas cadeias internas,<br />

mas que con<strong>se</strong>guem vender a<br />

bom preço para o estrangeiro…<br />

E o Proder dava prioridade<br />

à lógica de fileira e não a<br />

projectos individuais…<br />

Se for ver as características de<br />

majoração dos apoios a primeira<br />

prioridade é estar n<strong>um</strong>a das<br />

fileiras estratégicas e o projecto<br />

<strong>se</strong>r de fileira.<br />

Isso foi determinante nesta<br />

taxa de ch<strong>um</strong>bos?<br />

Foi, os projectistas que vinham<br />

do antigamente não <strong>se</strong> deram<br />

conta que as regras eram mesmo<br />

diferentes. Porque antigamente<br />

trabalhava‑<strong>se</strong> para ter o subsídio<br />

máximo, agora já não basta isso<br />

e o resultado foi que tivemos<br />

muitos ch<strong>um</strong>bos…<br />

Mas 80% é <strong>um</strong>a taxa muito<br />

elevada…<br />

Pode não <strong>se</strong>r muito, porque<br />

muita gente apre<strong>se</strong>ntou projectos<br />

de investimento apenas para<br />

comprar <strong>um</strong> tractor ou <strong>um</strong><br />

novo equipamento. É normal<br />

haver ch<strong>um</strong>bos neste tipo de<br />

candidaturas, mas o que não é<br />

normal é que projectos que já<br />

tinha visitado, que estavam em<br />

preparação, ch<strong>um</strong>bas<strong>se</strong>m na<br />

análi<strong>se</strong> do programa informático.<br />

Isso foi desatenção.<br />

Mas também aqui criei<br />

a possibilidade de haver<br />

interferência da decisão da<br />

avaliação, isto é, primeiro<br />

os projectos passam pela tal<br />

grelha igual para todo o país,<br />

e depois a decisão vem para<br />

colégio onde estão os directores<br />

regionais com a autoridade de<br />

gestão. Quis reduzir aquilo que<br />

é a vulgar ‘cunha’, as pessoas<br />

estavam habituadas a ter <strong>se</strong>mpre<br />

candidaturas abertas e quando<br />

algo estava errado falava‑<strong>se</strong> com<br />

o técnico e o projecto voltava a<br />

<strong>se</strong>r reapreciado. Isso acabou com<br />

o sistema de concursos.<br />

Não há abertura para <strong>um</strong>a<br />

<strong>se</strong>gunda oportunidade para<br />

estes projectos?<br />

Há. Dis<strong>se</strong> ao gestor para voltar a<br />

abrir candidaturas de Novembro<br />

a Janeiro [de 2009]. Não me<br />

importo nada que me digam que<br />

não tenho contratos assinados,<br />

tirando os do regadio. Não posso<br />

é ter <strong>um</strong>a taxa de ch<strong>um</strong>bo tão<br />

grande.<br />

Criamos <strong>um</strong>a regra muito<br />

simples. As pessoas recebem <strong>um</strong>a<br />

Vida rural . Março 2009 .


carta a dizer que o <strong>se</strong>u projecto<br />

não está em condições e têm 10<br />

dias para dizer <strong>se</strong> concordam<br />

com esta decisão que nós<br />

explicamos o porquê…<br />

10 dias não é pouco?<br />

Não, porque a <strong>se</strong>guir abrimos<br />

candidaturas. Quando os<br />

produtores foram ao ministério<br />

foi‑lhes dito que os erros eram<br />

técnicos e que íamos ter novo<br />

período de candidaturas. E até<br />

31 de Janeiro o resultado foi que<br />

recebemos candidaturas para<br />

mais qua<strong>se</strong> 1.200 milhões. A<br />

maior das candidaturas entraram<br />

no dia 31 de Janeiro…<br />

Já tem números desta <strong>se</strong>gunda<br />

‘ronda’?<br />

Sim, posso dizer‑lhe que temos<br />

comprometidos cerca de 800<br />

milhões de euros.<br />

. Vida rural . Março 2009<br />

Qual é a taxa de ch<strong>um</strong>bo?<br />

Baixou, mas ainda é elevada.<br />

Deve ultrapassar os 50%...<br />

Os mesmos erros?<br />

Não, mas temos de<br />

<strong>se</strong>r rigorosos a <strong>aplicar</strong> o<br />

<strong>dinheiro</strong>. Para tranquilizar as<br />

pessoas posso dizer que hoje<br />

[13 de Fevereiro] decidimos em<br />

Con<strong>se</strong>lho de Ministros criar <strong>um</strong>a<br />

linha de eficiência energética<br />

que vamos financiar ainda com<br />

<strong>dinheiro</strong> que sobrou do quadro<br />

anterior.<br />

De quanto <strong>dinheiro</strong> está a<br />

falar?<br />

30 milhões. Vou abrir <strong>um</strong><br />

concurso rápido e simples para<br />

as pessoas comprarem painéis<br />

solares, motores, eficiência<br />

energética pura. É <strong>um</strong>a<br />

candidatura simples que entra<br />

na Direcção Regional, tem <strong>um</strong><br />

financiamento de 50% a fundo<br />

perdido, e desta forma respondo<br />

aos muitos projectos que<br />

entraram e vão <strong>se</strong>r ch<strong>um</strong>bados…<br />

Temos que pensar que o<br />

investimento não parou. O ano<br />

passado pagámos do quadro<br />

anterior, e já com Proder, 250<br />

milhões de euros de apoios<br />

públicos, ou <strong>se</strong>ja, houve<br />

investimento de projectos<br />

aprovados em 2005, 2006 e<br />

alguns em 2007 que foram<br />

executados. Como ainda temos<br />

30 milhões para gastar do<br />

quadro anterior, atra<strong>se</strong>i <strong>um</strong>a<br />

outra medida do Proder, que são<br />

os investimentos até 25.000€,<br />

<strong>um</strong>a rubrica dirigida à renovação<br />

da vida útil dos motores,<br />

tractores, etc. Foi atrasada<br />

para tentar encaixar estes<br />

projectos nesta nova medida.<br />

Houve muitas candidaturas que<br />

apareceram disfarçadas de fileira<br />

estratégica apenas para <strong>se</strong> tentar<br />

mudar o tractor.<br />

As pessoas têm de perceber que<br />

não podemos, por exemplo,<br />

apoiar jovens agricultores, a<br />

quem dávamos <strong>um</strong> prémio à<br />

instalação, eles estavam lá dois<br />

anos e iam embora. Agora têm<br />

Faltam quatro regiões<br />

perceberem que eu só<br />

aceito <strong>um</strong>a única CVR.<br />

Na região Centro não faz<br />

<strong>se</strong>ntido que as Beiras,<br />

Bairrada e Távora-Varosa<br />

olhem para o Dão<br />

com medo. Enquanto<br />

estão nesta discussão o<br />

Ribatejo e Estremadura já<br />

estão a pensar em vender<br />

a região <strong>como</strong> marca.<br />

de permanecer cinco anos. Se<br />

tiverem <strong>um</strong> projecto associado<br />

é o ideal, passam à frente e<br />

vamos anunciar outra coisa.<br />

Como têm de ficar cinco anos,<br />

vamos dar‑lhes direitos de RPU.<br />

O jovem agricultor não tem<br />

histórico e o Estado tem direitos<br />

que não distribuiu o ano passado<br />

e que estão guardados para os<br />

jovens agricultores. Eles ainda<br />

não sabem, vão saber quando<br />

assinarem os contratos, mas<br />

vamos dar‑lhes este histórico<br />

com a garantia de que vão ficar a<br />

produzir cinco anos.<br />

Quanto <strong>dinheiro</strong> tem<br />

disponível para isso?<br />

Mais de 20 milhões de euros. Até<br />

agora, o número de candidaturas<br />

que entraram é idêntico ao<br />

número de jovens que instalámos<br />

no QCA anterior todo. Se<br />

aprovás<strong>se</strong>mos todos, eram tantos<br />

n<strong>um</strong> ano <strong>como</strong> em <strong>se</strong>te anos do<br />

anterior quadro.<br />

Os atrasos do Proder não <strong>se</strong><br />

devem à falta de <strong>dinheiro</strong> do<br />

Ministério da Agricultura?<br />

Não é verdade. As pessoas<br />

sabem que o programa tem<br />

<strong>um</strong> ano e que nes<strong>se</strong> espaço de<br />

tempo con<strong>se</strong>guimos pagar 431<br />

milhões de euros e não faltou<br />

<strong>dinheiro</strong> para o investimento.<br />

Dentro de duas <strong>se</strong>manas vão ter<br />

acesso aos números na internet.<br />

Mas é preciso perceber que não<br />

podemos gastar o <strong>dinheiro</strong> todo<br />

no primeiro ano.<br />

Há necessidade de ratear?<br />

Há necessidade de não pôr em<br />

causa a legitimidade da política<br />

do próximo Governo.<br />

Há muitas queixas que os<br />

atrasos nos pagamentos <strong>se</strong><br />

devem aos controlos que estão<br />

parados…<br />

Nada está parado, temos ainda<br />

650 controlos de 2007 para<br />

concluir e estamos a fazer os<br />

controlos de 2008. Temos de<br />

fazer em média 7,5% de todas as<br />

candidaturas, e temos mais de<br />

200.000 candidaturas.<br />

A escolha das pessoas<br />

a controlar é feita<br />

aleatoriamente?<br />

Há <strong>um</strong>a fórmula que é o índice<br />

de risco. É o sistema informático


que escolhe pela dimensão do<br />

projecto, o tipo de produto, o<br />

tipo de ajuda... Não há qualquer<br />

manipulação da parte do<br />

organismo de controlo. Muitas<br />

vezes o agricultor é alvo de vários<br />

controlos porque <strong>se</strong> candidatou<br />

a várias ajudas. Decidimos em<br />

Bruxelas que este processo tem<br />

de <strong>se</strong>r afinado para que <strong>se</strong>ja feito<br />

<strong>um</strong> único controlo.<br />

Quanto é que terminam as<br />

regulamentações das medidas<br />

em falta?<br />

Até final de Fevereiro devemos<br />

terminar a regulamentação do<br />

que falta.<br />

Faltam três grandes acções e<br />

estávamos a fazer <strong>um</strong>a portaria<br />

por cada sub‑acção e isso não<br />

vai voltar a acontecer. Vamos<br />

simplificar e publicar as acções<br />

totalmente. Aquilo que é<br />

es<strong>se</strong>ncial para o investimento,<br />

a pre<strong>se</strong>rvação do património<br />

genético, o combate aos agentes<br />

bióticos e doenças, o apoio à<br />

biodiversidade, a diversificação<br />

das actividades, isso já está em<br />

funcionamento.<br />

As agro-ambientais foram<br />

muito criticadas pela<br />

complexidade das medidas e<br />

pela lógica de mercado difícil<br />

de c<strong>um</strong>prir …<br />

Não é <strong>um</strong>a lógica de mercado.<br />

Temos que pensar que o nível<br />

das ajudas vai baixar. Quando<br />

negociamos o QCAIII eram<br />

15 Estados‑membros e hoje<br />

somos 27. O orçamento da<br />

Comunidade não a<strong>um</strong>entou<br />

mas na negociação con<strong>se</strong>guimos<br />

não reduzir as ajudas para este<br />

quadro. Mas não vai voltar a<br />

acontecer no futuro…<br />

Em que é isso nos leva às<br />

agro-ambientais?<br />

Temos que pensar que a<br />

biodiversidade é o desafio do<br />

século XXI e o cons<strong>um</strong>idor tem<br />

de perceber que tem de pagar<br />

isso. Se o cidadão quer <strong>um</strong><br />

ambiente mais limpo, <strong>se</strong> quer<br />

pre<strong>se</strong>rvar os recursos naturais<br />

para os <strong>se</strong>us filhos, tem de<br />

pagar isso directamente. Estou<br />

a fazer <strong>um</strong>a coisa que é muito<br />

difícil que é dar sinais claros que<br />

as ajudas são só para medidas<br />

que sobressaem de imediato<br />

<strong>como</strong> medidas de protecção<br />

do ambiente de que ninguém<br />

duvida, caso da agricultura<br />

biológica.<br />

O apoio ao ambiente tem de <strong>se</strong>r<br />

dado pelo mercado.<br />

E acha que o nosso mercado<br />

paga isso?<br />

Não pode pagar, mas também<br />

ainda não <strong>se</strong>nte que exista<br />

interes<strong>se</strong> em pagar.<br />

Então porque é que está já a<br />

condicionar as agro-ambientais<br />

ao mercado <strong>se</strong> o cons<strong>um</strong>idor<br />

ainda não pode pagar?<br />

Não estou a condicionar. O que<br />

estou a dizer aos produtores<br />

é que andámos muitos anos a<br />

pagar a protecção integrada,<br />

que é <strong>um</strong>a primeira fa<strong>se</strong> da<br />

aprendizagem da agricultura,<br />

mas temos que ir à fa<strong>se</strong> <strong>se</strong>guinte<br />

que é a produção integrada.<br />

Obviamente que temos menos<br />

candidaturas na produção<br />

integrada, mas temos de passar à<br />

fa<strong>se</strong> <strong>se</strong>guinte. E <strong>como</strong> não temos<br />

mais 10 anos para continuar<br />

a pedagogia, tive de fazer <strong>um</strong><br />

sobressalto e estabelecer três<br />

grandes áreas onde de facto<br />

protegemos o ambiente. Mas<br />

o cons<strong>um</strong>idor tem de perceber<br />

que tem de pagar es<strong>se</strong> ambiente<br />

e <strong>se</strong> dou <strong>um</strong>a ajuda para<br />

produzir agricultura biológica<br />

es<strong>se</strong> produto tem de <strong>se</strong>r vendido<br />

no mercado <strong>como</strong> agricultura<br />

biológica…<br />

O mercado não absorve<br />

ainda es<strong>se</strong>s produtos…<br />

Absorve, a taxa de<br />

crescimento é superior a<br />

10%.<br />

Mas a maior parte dos<br />

produtores que faz biológico<br />

vê-<strong>se</strong> obrigada a colocar<br />

no mercado <strong>um</strong>a parte da<br />

produção <strong>como</strong> não biológico,<br />

mais barata, para escoar os<br />

produtos…<br />

Por isso é que temos de<br />

incentivar a candidatura de<br />

fileira para promover e melhor<br />

vender es<strong>se</strong>s produtos.<br />

Sei que já está a negociar em<br />

Bruxelas <strong>um</strong>a reestruturação<br />

de alg<strong>um</strong>as medidas.<br />

Sim, eu <strong>se</strong>mpre dis<strong>se</strong> que não<br />

podemos deixar passar <strong>se</strong>te anos<br />

e fazer a avaliação no final do<br />

Proder, porque aí já é tarde. Dis<strong>se</strong><br />

que iríamos avaliar e mudar<br />

anualmente. Já há três mudanças<br />

na área da agricultura biológica<br />

que começámos a discutir<br />

em Bruxelas: vamos alargar<br />

a área das pastagens naturais<br />

permanentes, que hoje só estão<br />

apoiadas <strong>se</strong> estiverem em rede<br />

Natura e que não valorizamos<br />

fora dessa rede. Esta medida<br />

<strong>se</strong>rá introduzida ainda este ano.<br />

Vamos apoiar a <strong>se</strong>menteira<br />

directa, que não foi incluída no<br />

ano passado mas <strong>se</strong>rá este ano, e<br />

já temos luz verde da Comissão<br />

para isso e vamos ainda<br />

alargar as zonas de intervenção<br />

territoriais integradas à Serra<br />

de Monchique. São os primeiros<br />

três pontos onde houve discussão<br />

com as associações e onde há<br />

abertura de Bruxelas.<br />

Também vamos alterar<br />

a aplicação de alg<strong>um</strong>as<br />

medidas que já existem, caso<br />

do enrelvamento da vinha,<br />

por exemplo, que tinha <strong>um</strong><br />

período muito longo de não<br />

mobilização das terras. Vamos<br />

adaptar alg<strong>um</strong>as medidas que<br />

estão em vigor para torná‑las<br />

Interessa-me saber o<br />

que pode acontecer <strong>se</strong><br />

distribuir os rendimentos<br />

do RPU igualmente por<br />

todos os agricultores<br />

de <strong>um</strong>a mesma região.<br />

Desaparece a produção<br />

de cereais? Desaparece a<br />

produção de leite? Se for<br />

es<strong>se</strong> o caso, eu não faço<br />

regionalização.<br />

Vida rural . Março 2009 .


mais adaptadas à realidade,<br />

haverá outra leitura sobre a<br />

elegibilidade.<br />

Que resultados espera destas<br />

alterações?<br />

Espero <strong>um</strong> a<strong>um</strong>ento superior a<br />

15%.<br />

Não é muito…<br />

Não escondo nem nunca escondi<br />

que o Proder tem <strong>um</strong> limite<br />

que é co‑financiamento e o<br />

orçamento nacional.<br />

Acaba de anunciar <strong>um</strong>a linha<br />

de crédito de 170 milhões de<br />

euros…<br />

Esta linha de crédito não é para<br />

saneamento de empresas em<br />

dificuldades financeiras. É <strong>um</strong>a<br />

linha global para a produção,<br />

agro‑indústria e floresta. Visa<br />

a competitividade e o reforço<br />

da capacidade de exportação e<br />

não é <strong>um</strong>a linha para responder<br />

a <strong>um</strong>a cri<strong>se</strong>, que foi financeira<br />

e económica, e está em vários<br />

<strong>se</strong>ctores da actividade. Mas<br />

queremos chamar ainda mais<br />

investimento, em especial<br />

nas adegas cooperativas que<br />

estão em situações financeiras<br />

graves. Não vamos dar ajudas<br />

para viabilização económica,<br />

mas sim criar condições para<br />

a concentração, de forma a<br />

estarem em condições de ir ao<br />

Proder.<br />

Porque é que acabaram as<br />

ajudas à electricidade verde?<br />

Porque, n<strong>um</strong> universo de qua<strong>se</strong><br />

300.000 agricultores, tínhamos<br />

cerca de 23.000 candidaturas, a<br />

maioria de grandes empresas,<br />

nomeadamente na área de aves<br />

e ovos. Era <strong>um</strong>a medida pouco<br />

utilizada pela produção agrícola,<br />

para além de <strong>se</strong>r <strong>um</strong>a ajuda<br />

nacional que não foi notificada<br />

para Bruxelas e que era paga a<br />

100% pelo Estado português…<br />

Bruxelas questionou essa<br />

ajuda?<br />

Questionaram todas as ajudas<br />

nacionais.<br />

10 . Vida rural . Março 2009<br />

Mas foi <strong>um</strong>a decisão sua?<br />

Sim, foi <strong>um</strong>a decisão minha. Nós<br />

nunca fizemos nenh<strong>um</strong> controlo,<br />

nem à electricidade, nem ao<br />

gasóleo verde…<br />

O gasóleo verde continua?<br />

O gasóleo verde mantém‑<strong>se</strong><br />

e não vai acabar. Mas na<br />

electricidade verde tivemos<br />

taxas de irregularidade de 30%.<br />

Com <strong>um</strong>a taxa tão grande e<br />

tão poucos agricultores<br />

abrangidos, eu prefiro<br />

dar <strong>um</strong>a ajuda para a<br />

eficiência energética e<br />

manter o gasóleo verde.<br />

Estruturalmente é este o<br />

caminho mais inteligente e<br />

mantemos o gasóleo verde<br />

que custa mais de 100 milhões<br />

de euros e atinge muitos<br />

agricultores.<br />

Está a fazer controlo no<br />

gasóleo?<br />

Sim, mas não há taxas de<br />

inc<strong>um</strong>primento significativas que<br />

me levas<strong>se</strong>m à necessidade de<br />

moralizar. Mas estamos a fazer<br />

<strong>um</strong> novo controlo para perceber<br />

<strong>se</strong> o nível de cons<strong>um</strong>o é normal<br />

para o tipo de exploração e<br />

agricultura que cada agricultor<br />

tem.<br />

Como é que está o Plano de<br />

Arranque de Vinha, já foi<br />

anunciado o rateio?<br />

Sim, as pessoas estão<br />

informadas, as prioridades<br />

estavam estabelecidas, 50%<br />

das candidaturas ficaram de<br />

fora, mas para o ano há mais<br />

Estou a fazer <strong>um</strong>a coisa<br />

que é muito difícil<br />

que é dar sinais claros<br />

que as ajudas são só<br />

para medidas que<br />

sobressaem de imediato<br />

<strong>como</strong> medidas de<br />

protecção do ambiente<br />

de que ninguém duvida,<br />

caso da agricultura<br />

biológica.<br />

candidaturas. Mas atenção, essa<br />

não é a prioridade do Governo,<br />

a prioridade é a reestruturação<br />

da vinha, ter vinhas de mais<br />

qualidade. Nes<strong>se</strong> ponto estou<br />

muito satisfeito porque nas<br />

regiões de VQPRD há poucas<br />

candidaturas e isso é óptimo.<br />

No Douro praticamente não há<br />

candidaturas, a não <strong>se</strong>r no Vitis.<br />

E <strong>se</strong> vão ao Vitis, e não ao plano<br />

de arranque, isso é muito bom<br />

sinal.<br />

Está praticamente concluída a<br />

reestruturação das CVR?<br />

Falta apenas <strong>um</strong>a região. Ou<br />

melhor, faltam quatro regiões<br />

perceberem que eu só aceito <strong>um</strong>a<br />

única CVR. Na região Centro<br />

não faz <strong>se</strong>ntido que as Beiras,<br />

Bairrada e Távora‑Varosa olhem<br />

para o Dão com medo.<br />

É o protagonismo de <strong>um</strong>a<br />

região que poderá estar a criar<br />

problemas?<br />

Sim, mas pode ficar <strong>um</strong>a CVR<br />

do Centro que pode certificar<br />

as várias regiões, que têm<br />

identidade própria. Enquanto<br />

estão nesta discussão o Ribatejo<br />

e Estremadura já estão a pensar<br />

em vender a região <strong>como</strong><br />

marca, caso de Lisboa. O Centro<br />

também tem de pensar assim.<br />

Quem vai ficar a certificar o<br />

Algarve, a CVR do Alentejo?<br />

Pode <strong>se</strong>r o Alentejo, é <strong>um</strong><br />

acordo entre eles, mas não<br />

podemos impor isso. A região<br />

está preparada para o fazer mas<br />

penso que está a reagir <strong>como</strong> <strong>um</strong><br />

recém‑chegado ao êxito que olha<br />

para as outras regiões, <strong>como</strong> o<br />

Algarve e as terras do Sado, e diz<br />

‘não tenho nada a ver com isso’.<br />

No início havia a hipóte<strong>se</strong> de<br />

<strong>um</strong>a grande região a Sul do Tejo,<br />

mas o Alentejo tem identidade<br />

e mérito próprio. De qualquer<br />

forma, não vejo qualquer<br />

problema em poderem certificar<br />

o Algarve. É <strong>um</strong>a questão de<br />

capacidade técnica.<br />

A reestruturação do Ministério<br />

da Agricultura levou a<br />

grandes mudanças na área<br />

da investigação. Há quem<br />

diga mesmo que está a <strong>se</strong>r<br />

desmantelada. A ideia é a<br />

investigação passar cada


vez mais para os privados?<br />

Ass<strong>um</strong>e de facto <strong>um</strong><br />

desmantelamento?<br />

Temos excelentes investigadores<br />

no Ministério da Agricultura,<br />

que nalguns campos fizeram<br />

trabalhos excelentes, mas<br />

não houve transmissão de<br />

conhecimentos para a agricultura<br />

portuguesa. Não houve<br />

extensão. E dou‑lhe o exemplo<br />

das variedades de oliveiras<br />

nacionais. Os olivais modernos<br />

estão a <strong>se</strong>r feitos com variedades<br />

importadas, espanholas, e tendo<br />

investigação nesta área, não<br />

o fizemos em tempo útil para<br />

saber, por exemplo, <strong>como</strong> reage<br />

a Galega em olival intensivo…<br />

Com <strong>um</strong>a investigação de 30<br />

anos poderíamos ter melhorado<br />

esta cultivar para <strong>se</strong>r rentável<br />

noutro sistema de produção.<br />

A investigação não foi feita ao<br />

mesmo ritmo que os espanhóis<br />

e os americanos relativamente às<br />

variedades que <strong>se</strong> generalizaram<br />

em todo o mundo. Ora, <strong>um</strong><br />

elemento de competitividade é a<br />

diferença.<br />

Nos vinhos, por exemplo,<br />

quem está mais avançado no<br />

melhoramento da Touriga<br />

Nacional, em situações de stress<br />

hídrico prolongado, são os<br />

australianos. Ora a variedade é<br />

nossa…<br />

N<strong>um</strong> ministério com esta<br />

dimensão, os ministros não<br />

têm tempo, n<strong>um</strong>a legislatura,<br />

para <strong>se</strong> preocupar com a<br />

investigação que é gerida por<br />

professores universitários que<br />

estão n<strong>um</strong> circuito fechado.<br />

Quando comecei a fazer alg<strong>um</strong>as<br />

visitas, tive <strong>um</strong>a conversa<br />

muito interessante com o prof.<br />

Antero Martins que me fez <strong>um</strong>a<br />

proposta para <strong>um</strong>a Fundação<br />

que finalmente con<strong>se</strong>guis<strong>se</strong><br />

coordenar n<strong>um</strong> único local<br />

todas as castas nacionais, com<br />

pre<strong>se</strong>rvação da sua variabilidade<br />

de forma a fazer transmissão de<br />

conhecimentos para o mercado.<br />

Quando ele me explica isto,<br />

dei‑me conta que não obstante<br />

o ministério ter várias Estações<br />

de Vitivinicultura, a Estação<br />

de Dois Portos e excelentes<br />

investigadores, não havia <strong>um</strong>a<br />

coordenação que garantis<strong>se</strong><br />

as nossas mais de 200 castas.<br />

Vamos então fazer <strong>um</strong>a parceria<br />

com universidades e privados<br />

de forma a criar <strong>um</strong>a ‘fileira’<br />

de pre<strong>se</strong>rvação da variabilidade<br />

genética, que é obrigação do<br />

Estado, e simultaneamente fazer<br />

melhoramento de forma a que<br />

os privados e as universidades<br />

possam capitalizar o resultado da<br />

investigação. Será <strong>um</strong>a espécie<br />

de <strong>banco</strong> público‑privado.<br />

Isso vai <strong>se</strong>r replicado noutras<br />

áreas?<br />

Sim, na área da veterinária.<br />

Tínhamos <strong>um</strong> edifício<br />

praticamente vazio no Vairão,<br />

<strong>um</strong> laboratório inaugurado<br />

em 2002, moderníssimo, com<br />

poucos veterinários lá dentro.<br />

Decidi que, em vez de ir gastar<br />

<strong>um</strong>a fortuna a fazer <strong>um</strong> novo<br />

laboratório, já que este espaço<br />

existe, e tem todas as condições<br />

de <strong>se</strong>gurança, fazer des<strong>se</strong> local<br />

a <strong>se</strong>de da investigação<br />

veterinária, em associação<br />

com a Universidade do<br />

Porto, que já utilizava<br />

<strong>um</strong>a parte das instalações<br />

para aulas. O último passo<br />

<strong>se</strong>rá convidar privados para <strong>se</strong><br />

instalarem lá, já dis<strong>se</strong> ao <strong>se</strong>ctor<br />

do leite ‘há espaço para vocês,<br />

venham lá instalar‑<strong>se</strong>’…<br />

Então vai mesmo desmantelar<br />

a estrutura de investigação?<br />

O que vou desmantelar,<br />

<strong>se</strong> qui<strong>se</strong>r, é a investigação<br />

académica dentro do Ministério<br />

da Agricultura. Estou muito<br />

interessado na valorização<br />

do património genético com<br />

transmissão de conhecimentos<br />

para o mercado. É este divórcio<br />

que é preciso desmantelar.<br />

E os nossos investigadores têm<br />

que começar a saber vender<br />

aquilo que fazem.<br />

Como é que está a passagem<br />

da <strong>se</strong>de do INIA para Elvas?<br />

Reconhece que essa opção<br />

criou <strong>um</strong> problema complicado<br />

na mobilidade das pessoas?<br />

Decidi que Elvas ia <strong>se</strong>r o centro<br />

do antigo INIA, porque é o que<br />

faz <strong>se</strong>ntido. É claro que não posso<br />

dizer a quem vive em Lisboa<br />

desde <strong>se</strong>mpre que vou fechar<br />

a porta em Oeiras e vão todos<br />

para Elvas. Até nos dirigentes<br />

é complicado. E dou‑lhe <strong>um</strong><br />

exemplo qua<strong>se</strong> caricato: escolhi<br />

<strong>um</strong> investigador da área da<br />

Veterinária para liderar o Vairão<br />

e passados três me<strong>se</strong>s estava<br />

instalado em Lisboa. É muito<br />

difícil. A própria estrutura<br />

combate a descentralização,<br />

quando chegámos à prática às<br />

vezes é de perder a paciência.<br />

Houve <strong>um</strong>a polémica recente<br />

com o Centro Operativo de<br />

Tecnologia de Regadio (COTR)?<br />

O que é que aconteceu?<br />

O Centro existia, o Ministério<br />

pagava a conta, mas nem sabia<br />

de quem dependia. Começamos<br />

logo aqui a ter <strong>um</strong> equívoco.<br />

Os olivais modernos<br />

estão a <strong>se</strong>r feitos com<br />

variedades importadas,<br />

espanholas, e tendo<br />

investigação nesta<br />

área, não o fizemos em<br />

tempo útil para saber,<br />

por exemplo, <strong>como</strong><br />

reage a Galega em<br />

olival intensivo… Com<br />

<strong>um</strong>a investigação de 30<br />

anos poderíamos ter<br />

melhorado esta cultivar<br />

para <strong>se</strong>r rentável noutro<br />

sistema de produção.<br />

Não depende do ex-INIA?<br />

Não, depende da Direcção<br />

Geral de Agricultura e<br />

De<strong>se</strong>nvolvimento Rural. Um<br />

dia, abro o jornal e leio que<br />

querem acabar com o Centro<br />

Operativo. E pergunto, o que é<br />

isto? E dizem‑me que foi criado<br />

para testar o regadio em função<br />

do Alqueva. E pergunto, quantos<br />

agricultores ajudaram?<br />

E quantos?<br />

Ainda não tenho o relatório…<br />

Mas pergunto o <strong>se</strong>guinte: os<br />

espanhóis estão a transferir<br />

tecnologia directamente de<br />

Espanha para cá. Este Centro<br />

não podia ter dito que tinha<br />

Vida rural . Março 2009 . 11


feito experimentação com olival<br />

intensivo? E perguntei: quanto<br />

custa es<strong>se</strong> Centro? E quanto<br />

ganha o responsável por es<strong>se</strong><br />

Centro? Quem é que lhe paga?<br />

E qual o resultado disso tudo?<br />

Se é pago pelo Ministério tem<br />

de mostrar os resultados do que<br />

faz…Se é para continuar a ver os<br />

espanhóis trazer a tecnologia toda<br />

de fora, tenho pena mas o COTR<br />

acaba. A questão é que a maioria<br />

dos investimentos feitos no<br />

Alentejo nos últimos três anos não<br />

passaram pelo Centro. A EDIA<br />

vai passar a ter <strong>um</strong> papel mais<br />

activo, vai associar‑<strong>se</strong> e começar<br />

a trabalhar com resultados, caso<br />

contrário não <strong>se</strong> justifica. E há<br />

outra coisa. O COTR foi criado<br />

fora da estrutura de investigação<br />

do Ministério. Se o INIA não<br />

funcionava bem, a solução não<br />

era criar <strong>um</strong> grupo à parte,<br />

com autonomia, cujo director<br />

tinha <strong>um</strong> estatuto equiparado a<br />

director‑geral, n<strong>um</strong>a estrutura<br />

no Baixo Alentejo, e abandonar<br />

a Estação de Elvas. Não partilho<br />

12 . Vida rural . Março 2009<br />

isso. Tem que haver ligação<br />

à Estação Agronómica, não<br />

podemos ter núcleos à parte a<br />

viver do Orçamento do Estado.<br />

E há outra coisa, estruturas<br />

destas, que envolvem privados,<br />

têm de <strong>se</strong>r rentáveis. Os centros<br />

operativos, <strong>se</strong> querem ter<br />

autonomia, e <strong>se</strong> não querem que<br />

o ministro dê orientação política<br />

para lá, têm de <strong>se</strong>r independentes<br />

financeiramente. E não era o<br />

caso.<br />

A modulação voluntária entra<br />

em vigor em 2010?<br />

Sim, anunciei que <strong>se</strong>rá de 10%<br />

e dis<strong>se</strong> ainda que não a aplicava<br />

em 2008 devido à subida dos<br />

factores de produção e devido à<br />

quebra do preço do leite. Posso<br />

aplicá‑la em 2010, ou não. Se<br />

este ano a Primavera correr mal<br />

e a produção cair não <strong>aplicar</strong>ei.<br />

Mas os agricultores têm de<br />

perceber que estou a tirar de <strong>um</strong><br />

lado para pôr no outro.<br />

Es<strong>se</strong> <strong>dinheiro</strong> irá para o<br />

<strong>se</strong>gundo pilar e não <strong>se</strong><br />

sabe muito bem <strong>como</strong> <strong>se</strong>rá<br />

aplicado…<br />

Eles já sabem que vai <strong>se</strong>r aplicado<br />

em medidas agro‑ambientais e<br />

em investimento.<br />

Mas a maioria não irá concorrer<br />

a essas medidas…<br />

Sim, mas a Comissária dizia este<br />

ano que as ajudas desligadas<br />

da produção não poderiam<br />

continuar no futuro tal <strong>como</strong><br />

estão e, inclusive, convida os<br />

Estados‑membros a regionalizar<br />

as ajudas. Os cereais, o milho<br />

por exemplo, tem cerca de 75<br />

milhões de euros/ano de ajuda,<br />

<strong>se</strong> a produção começar a baixar<br />

e deixarem de produzir <strong>se</strong>m<br />

alternativas não podemos ficar<br />

de braços cruzados, temos de<br />

<strong>aplicar</strong> a modulação.<br />

Posso aplicá-la<br />

[a modulação] em<br />

2010, ou não. Se este<br />

ano a Primavera correr<br />

mal e a produção cair<br />

não <strong>aplicar</strong>ei. Mas os<br />

agricultores têm de<br />

perceber que estou a<br />

tirar de <strong>um</strong> lado para<br />

pôr no outro.<br />

Para si modular é <strong>um</strong>a forma<br />

de garantir que os agricultores<br />

continuam a produzir?<br />

É <strong>um</strong>a forma de dizer que as<br />

ajudas são <strong>dinheiro</strong> público.<br />

Não é só <strong>dinheiro</strong> de Bruxelas,<br />

porque Portugal é contribuinte,<br />

os portugue<strong>se</strong>s pagam para<br />

o orçamento da comunidade<br />

qua<strong>se</strong> 1500 milhões de euros<br />

ano e recebemos 3.000 milhões.<br />

Temos obrigação de saber<br />

<strong>se</strong> es<strong>se</strong> <strong>dinheiro</strong> está a <strong>se</strong>r<br />

aplicado ou não. Estas ajudas<br />

podem provocar distorção de<br />

concorrência.<br />

Mas o desligamento foi <strong>um</strong>a<br />

imposição comunitária…<br />

Mas a não regionalização já foi<br />

<strong>um</strong>a opção portuguesa.<br />

É favorável a essa<br />

regionalização?<br />

Não, o Gabinete de Planeamento<br />

está a fazer <strong>um</strong>a análi<strong>se</strong> do<br />

que significa a regionalização<br />

em termos de rendimento<br />

distribuído. Interessa‑me<br />

saber o que pode acontecer <strong>se</strong><br />

distribuir os rendimentos do<br />

RPU igualmente por todos os<br />

agricultores de <strong>um</strong>a mesma<br />

região. Desaparece a produção<br />

de cereais? Desaparece a<br />

produção de leite? Se for es<strong>se</strong> o<br />

caso, eu não faço regionalização,<br />

mas acho que tenho a obrigação<br />

de chamar a atenção dos<br />

produtores, porque o RPU<br />

vai necessariamente baixar<br />

e a única forma de defender<br />

que es<strong>se</strong> <strong>dinheiro</strong> não vai para<br />

outras políticas comunitárias é o<br />

de<strong>se</strong>nvolvimento rural.<br />

Acredita que a partir de 2013<br />

não há RPU?<br />

Vai baixar substancialmente. Não<br />

irá desaparecer mas terá de <strong>se</strong>r<br />

justificado de outra forma. Não<br />

é <strong>um</strong>a herança para o resto da<br />

vida.<br />

Por que instr<strong>um</strong>ento <strong>se</strong> pode<br />

substituir o histórico de forma<br />

a con<strong>se</strong>guir que a agricultura<br />

portuguesa <strong>se</strong> mantenha<br />

competitiva?<br />

Dizendo ao agricultor que o<br />

histórico <strong>se</strong> mantém <strong>se</strong> devolver<br />

com criação de riqueza, com<br />

<strong>um</strong>a actividade produtiva. E<br />

a modulação é <strong>um</strong>a forma de<br />

lhes poder devolver o <strong>dinheiro</strong><br />

sobre a forma de apoios ao<br />

de<strong>se</strong>nvolvimento rural. E mais,<br />

muitos produtores dizem que<br />

o Proder dá <strong>um</strong>a majoração<br />

de 10% às fileiras estratégicas<br />

e que eles têm menos. Mas na<br />

realidade têm mais porque têm<br />

RPU…<br />

Mas o RPU não é <strong>um</strong>a ajuda<br />

ao investimento, é <strong>um</strong>a<br />

compensação de preços…<br />

Ah, mas então vamos falar sobre<br />

isso. O RPU foi criado para<br />

baixar preços. A ajuda era de


63€ por tonelada para que os<br />

preços de mercado fos<strong>se</strong>m de<br />

101€ por tonelada. Subimos a<br />

ajuda para os 77€ e congelámos<br />

o histórico. Mas neste momento<br />

vende‑<strong>se</strong> o milho a 250€ a<br />

tonelada…<br />

Essas eram as expectativas no<br />

início da campanha de 2008, os<br />

preços reais ficaram bastante<br />

abaixo. Mas terá ainda de<br />

somar o a<strong>um</strong>ento dos custos de<br />

produção desde essa altura…<br />

Por isso é que lhe digo que<br />

os 63€ devem estar lá <strong>se</strong> não<br />

con<strong>se</strong>guir vender acima de<br />

130/140€ hoje em dia. Se<br />

vendem a 250€…<br />

Porquê esta ‘guerra’ com os<br />

produtores de cereais?<br />

Quer saber o meu histórico?<br />

É simples. Enquanto chefe<br />

de divisão dos cereais<br />

negociei as ajudas para os<br />

cereais portugue<strong>se</strong>s, a ajuda<br />

co‑financiada… Tinha <strong>um</strong><br />

histórico de apoio aos cereais<br />

que mais nenh<strong>um</strong> técnico deste<br />

ministério tinha.<br />

Mas faz <strong>se</strong>ntido ou não apoiar<br />

o incremento da produção de<br />

cereais no nosso país?<br />

Faz <strong>se</strong>ntido termos <strong>um</strong>a boa<br />

produção de cereais mas nunca<br />

<strong>se</strong>remos auto‑suficientes. Em<br />

2006 produzimos 1 milhão<br />

de toneladas. Sempre dis<strong>se</strong><br />

que temos condições para<br />

produzir <strong>um</strong> milhão e meio<br />

e eu gostaria que assim<br />

fos<strong>se</strong>. Com as ajudas que<br />

existem, com o apoio ao<br />

regadio e com os preços de<br />

mercado não há razões para que<br />

assim não fos<strong>se</strong>. Mas não sonhem<br />

passar para 2 ou 3 milhões de<br />

toneladas porque cons<strong>um</strong>imos<br />

4 milhões por ano e <strong>se</strong>remos<br />

<strong>se</strong>mpre largamente deficitários<br />

e importadores. Não haverá<br />

problemas de falta de cereais<br />

para o pão ou para as rações<br />

para animais porque a União<br />

é super excedentária. Temos é<br />

que ter capacidade de ter água<br />

para <strong>se</strong>rmos mais produtivos e,<br />

sobretudo, ter capacidade de<br />

armazenagem para negociar<br />

preços, para não ficarmos na<br />

mão dos importadores. Nes<strong>se</strong><br />

ponto já dis<strong>se</strong> que ajudava,<br />

porque temos silos do Estado.<br />

Mas <strong>como</strong> não <strong>se</strong> pode depender<br />

da boa ou má vontade de <strong>um</strong><br />

ministro de três em três anos,<br />

quero fazer <strong>um</strong> protocolo a 30<br />

anos para passar a gestão dos<br />

silos para as cooperativas que<br />

ficarão assim responsáveis pela<br />

sua manutenção.<br />

Vai entregá-los então às<br />

organizações de produtores?<br />

Sim, às cooperativas. A produção<br />

tem de ter capacidade de<br />

armazenagem. Para não ter de<br />

vender o milho ou o trigo ao<br />

primeiro que lhe aparece à porta.<br />

Vou ajudar na armazenagem<br />

desde que as<strong>se</strong>gurem a<br />

manutenção, porque ninguém<br />

está a fazer obras nos silos.<br />

Também não poderão criar<br />

monopólios e terão de estar<br />

abertos a todos. Tenho <strong>um</strong><br />

protocolo que já apre<strong>se</strong>ntei ao<br />

primeiro grupo que <strong>se</strong> mostrou<br />

interessado, no Baixo Alentejo,<br />

para assinar com eles para os<br />

próximos 30 anos.<br />

Beja?<br />

Sim. São três silos. Está a ver que<br />

gosto dos produtores de cereais.<br />

Mas <strong>como</strong> não <strong>se</strong> pode<br />

depender da boa ou<br />

má vontade de <strong>um</strong><br />

ministro de três em três<br />

anos, quero fazer <strong>um</strong><br />

protocolo a 30 anos para<br />

passar a gestão dos silos<br />

para as cooperativas<br />

que ficarão assim<br />

responsáveis pela sua<br />

manutenção.<br />

Se o PS ganhar as eleições, e <strong>se</strong><br />

for convidado, quer continuar<br />

<strong>como</strong> ministro da agricultura?<br />

Francamente nunca faço<br />

projectos a prazo. Estava<br />

sos<strong>se</strong>gado em Bruxelas quando<br />

me propu<strong>se</strong>ram este desafio.<br />

Quando acreditamos no que<br />

estamos a fazer devemos aceitar<br />

os desafios e não devemos evitar<br />

a mudança. Foi o fiz, e estou<br />

a gostar, sabendo que é difícil<br />

e que vim mudar muita coisa,<br />

apesar de que saber que há <strong>um</strong>a<br />

outra confederação que não<br />

estão satisfeitas.<br />

A sua missão está terminada?<br />

O es<strong>se</strong>ncial está feito. O<br />

programa do Governo está<br />

praticamente concluído, fiz<br />

a reforma que dis<strong>se</strong> que ia<br />

fazer, o Proder repre<strong>se</strong>nta essa<br />

mudança, com mecanismos de<br />

adequação para o que vier a<br />

<strong>se</strong>guir. Considero que c<strong>um</strong>pri<br />

essa missão, <strong>se</strong> isso pode<br />

completado nos próximos<br />

quatros, naturalmente que<br />

sim, mas as pessoas têm de<br />

ter a noção de que não temos<br />

permanentemente novas ideias,<br />

mas temos de ter a certeza de<br />

que há permanentemente novos<br />

desafios. Sempre tentei não<br />

perder o pé da realidade.<br />

É <strong>um</strong> dos ministros da<br />

agricultura mais impopulares<br />

de que me recordo...<br />

Nunca houve ministros da<br />

agricultura populares. Houve<br />

alguns que caíram com<br />

manifestações e eu estou a entrar<br />

no último ano da legislatura e<br />

estou cá. Muita da contestação<br />

surge no momento em que há<br />

<strong>dinheiro</strong> fresco… Penso que<br />

sou impopular junto de certos<br />

<strong>se</strong>ctores ou confederações,<br />

<strong>se</strong>ctores que já são muito<br />

apoiados e não precisam mais<br />

de ajudas directas. Há outros<br />

<strong>se</strong>ctores que podiam dar riqueza<br />

ao país e não estão a dá‑la<br />

porque nunca foram apoiados.<br />

Eu sabia que ia provocar es<strong>se</strong><br />

sobressalto, mas o país é outro.<br />

E apetece-lhe continuar ou<br />

não?<br />

A mim apetece‑me fazer coisas. E<br />

muitas vezes diferentes. •<br />

Vida rural . Março 2009 . 13

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