Estamos a aplicar o dinheiro como se fôssemos um banco - Ife
Estamos a aplicar o dinheiro como se fôssemos um banco - Ife
Estamos a aplicar o dinheiro como se fôssemos um banco - Ife
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
Então houve mais rigor?<br />
Sim, mas os projectos não são<br />
decididos pelo ministro. Existe<br />
<strong>um</strong>a grelha automática de<br />
avaliação com fórmulas usadas<br />
pelos <strong>banco</strong>s na apreciação de<br />
projectos. Vamos pegar nes<strong>se</strong><br />
<strong>dinheiro</strong> <strong>como</strong> <strong>se</strong> fôs<strong>se</strong>mos<br />
<strong>um</strong> <strong>banco</strong>, não vamos arriscar<br />
<strong>se</strong>m ver <strong>se</strong> há rentabilidade<br />
do projecto e <strong>se</strong>m garantir<br />
que ao fim de três ou quatro<br />
anos o agricultor continua a<br />
produzir. A grelha está criada,<br />
vem nas portarias, e qualquer<br />
pessoa pode fazer <strong>um</strong> ensaio e<br />
perceber logo <strong>se</strong> o <strong>se</strong>u projecto<br />
tem <strong>um</strong>a taxa de rentabilidade<br />
positiva. As pessoas estiveram<br />
desatentas e esta taxa elevada<br />
de ch<strong>um</strong>bos não resultou da<br />
apreciação do técnico que<br />
estava a fazer a avaliação do<br />
projecto, mas sim da grelha que<br />
é puramente matemática. Como<br />
é que imagina que alguém<br />
possa entregar <strong>um</strong> projecto que<br />
dá <strong>um</strong> período de vida útil a<br />
<strong>um</strong> olival de cinco anos quando<br />
este entra em velocidade de<br />
cruzeiro precisamente ao<br />
quinto ano?<br />
Houve muita desatenção,<br />
mas também muitas<br />
pessoas que não queriam<br />
<strong>um</strong> compromisso por mais<br />
de cinco anos.<br />
Isso aconteceu mais em novos<br />
projectos ou em produtores<br />
que queriam reforçar<br />
investimentos?<br />
Repare que definimos fileiras<br />
estratégicas e não podemos<br />
ignorar que não basta produzir, é<br />
preciso saber vender, acrescentar<br />
valor, criar emprego, fazer com<br />
que a riqueza fique no país,<br />
vender e exportar. Se olharmos<br />
para a agricultura, a única<br />
fileira que con<strong>se</strong>guiu fazer isso<br />
foi a do leite. E é aquela que os<br />
grandes teóricos da agricultura<br />
portuguesa diziam que não tinha<br />
futuro.<br />
Mas também temos os<br />
frutícolas…<br />
Sim, mas não foi o sucesso que<br />
era de esperar n<strong>um</strong> país que<br />
tem sol, onde faltava apenas<br />
acrescentar água e dimensão.<br />
Tirando a pêra Rocha, que<br />
ganhou dimensão porque é toda<br />
<strong>um</strong>a região a produzir, muito<br />
Vamos pegar neste<br />
<strong>dinheiro</strong> <strong>como</strong> <strong>se</strong><br />
fôs<strong>se</strong>mos <strong>um</strong> <strong>banco</strong>. Não<br />
vamos arriscar <strong>se</strong>m ver<br />
<strong>se</strong> há rentabilidade do<br />
projecto e <strong>se</strong>m garantir<br />
que ao fim de três ou<br />
quatro anos o agricultor<br />
continua a produzir.<br />
organizada, com excelentes<br />
empresários e boa estrutura<br />
associativa, tirando essa, tivemos<br />
qua<strong>se</strong> em vias de perder tudo<br />
o que eram pomares, embora<br />
tenhamos boas cooperativas mas<br />
que não ganharam dimensão na<br />
sua região para discutir preços<br />
com as grande superfícies. E<br />
foi por isso que mudámos, não<br />
porque não goste dos cereais<br />
ou do leite, mas para tentar<br />
organizar fileiras que nos<br />
permitam <strong>se</strong>rmos auto‑suficientes<br />
e, sobretudo, vocacionados<br />
para a exportação. Temos<br />
exemplos notáveis de pequenas<br />
empresas <strong>se</strong>m dimensão, que<br />
não con<strong>se</strong>guem colocar os <strong>se</strong>us<br />
produtos nas cadeias internas,<br />
mas que con<strong>se</strong>guem vender a<br />
bom preço para o estrangeiro…<br />
E o Proder dava prioridade<br />
à lógica de fileira e não a<br />
projectos individuais…<br />
Se for ver as características de<br />
majoração dos apoios a primeira<br />
prioridade é estar n<strong>um</strong>a das<br />
fileiras estratégicas e o projecto<br />
<strong>se</strong>r de fileira.<br />
Isso foi determinante nesta<br />
taxa de ch<strong>um</strong>bos?<br />
Foi, os projectistas que vinham<br />
do antigamente não <strong>se</strong> deram<br />
conta que as regras eram mesmo<br />
diferentes. Porque antigamente<br />
trabalhava‑<strong>se</strong> para ter o subsídio<br />
máximo, agora já não basta isso<br />
e o resultado foi que tivemos<br />
muitos ch<strong>um</strong>bos…<br />
Mas 80% é <strong>um</strong>a taxa muito<br />
elevada…<br />
Pode não <strong>se</strong>r muito, porque<br />
muita gente apre<strong>se</strong>ntou projectos<br />
de investimento apenas para<br />
comprar <strong>um</strong> tractor ou <strong>um</strong><br />
novo equipamento. É normal<br />
haver ch<strong>um</strong>bos neste tipo de<br />
candidaturas, mas o que não é<br />
normal é que projectos que já<br />
tinha visitado, que estavam em<br />
preparação, ch<strong>um</strong>bas<strong>se</strong>m na<br />
análi<strong>se</strong> do programa informático.<br />
Isso foi desatenção.<br />
Mas também aqui criei<br />
a possibilidade de haver<br />
interferência da decisão da<br />
avaliação, isto é, primeiro<br />
os projectos passam pela tal<br />
grelha igual para todo o país,<br />
e depois a decisão vem para<br />
colégio onde estão os directores<br />
regionais com a autoridade de<br />
gestão. Quis reduzir aquilo que<br />
é a vulgar ‘cunha’, as pessoas<br />
estavam habituadas a ter <strong>se</strong>mpre<br />
candidaturas abertas e quando<br />
algo estava errado falava‑<strong>se</strong> com<br />
o técnico e o projecto voltava a<br />
<strong>se</strong>r reapreciado. Isso acabou com<br />
o sistema de concursos.<br />
Não há abertura para <strong>um</strong>a<br />
<strong>se</strong>gunda oportunidade para<br />
estes projectos?<br />
Há. Dis<strong>se</strong> ao gestor para voltar a<br />
abrir candidaturas de Novembro<br />
a Janeiro [de 2009]. Não me<br />
importo nada que me digam que<br />
não tenho contratos assinados,<br />
tirando os do regadio. Não posso<br />
é ter <strong>um</strong>a taxa de ch<strong>um</strong>bo tão<br />
grande.<br />
Criamos <strong>um</strong>a regra muito<br />
simples. As pessoas recebem <strong>um</strong>a<br />
Vida rural . Março 2009 .