Capa e sumrio ROSA DE SALVIA - Universidade Católica de ...
Capa e sumrio ROSA DE SALVIA - Universidade Católica de ...
Capa e sumrio ROSA DE SALVIA - Universidade Católica de ...
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
UNIVERSIDA<strong>DE</strong> CATÓLICA <strong>DE</strong> PETRÓPOLIS<br />
FACULDA<strong>DE</strong> <strong>DE</strong> EDUCAÇÃO<br />
CURSO <strong>DE</strong> MESTRADO EM EDUCAÇÃO<br />
A IMPLANTAÇÃO DA UNIVERSIDA<strong>DE</strong> CATÓLICA <strong>DE</strong> PETRÓPOLIS (UCP)<br />
NO CONTEXTO DA SISTEMATIZAÇÃO ACADÊMICA DA CULTURA CATÓLICA<br />
NO BRASIL<br />
Rosa De Salvia<br />
Petrópolis/RJ<br />
2008
UNIVERSIDA<strong>DE</strong> CATÓLICA <strong>DE</strong> PETRÓPOLIS<br />
FACULDA<strong>DE</strong> <strong>DE</strong> EDUCAÇÃO<br />
CURSO <strong>DE</strong> MESTRADO EM EDUCAÇÃO<br />
A IMPLANTAÇÃO DA UNIVERSIDA<strong>DE</strong> CATÓLICA <strong>DE</strong> PETRÓPOLIS (UCP)<br />
NO CONTEXTO DA SISTEMATIZAÇÃO ACADÊMICA DA CULTURA CATÓLICA<br />
NO BRASIL<br />
Rosa De Salvia<br />
Orientadora<br />
Dissertação apresentada ao Curso <strong>de</strong><br />
Mestrado em Educação da UCP como<br />
requisito parcial para obtenção do<br />
título <strong>de</strong> Mestre.<br />
Professora Doutora Maria Celi Chaves Vasconcelos<br />
Petrópolis/RJ<br />
2008
<strong>DE</strong>DICO<br />
A Sua Excelência Dom Filippo Santoro, bispo diocesano <strong>de</strong> Petrópolis e grão<br />
chanceler da UCP, que me guiou com paternida<strong>de</strong> nos anos dos meus estudos universitários e<br />
possibilitou a realização <strong>de</strong>sta dissertação, autorizando a pesquisa no antigo arquivo da Mitra<br />
Diocesana <strong>de</strong> Petrópolis.<br />
À professora doutora Maria Celi Chaves Vasconcelos, amiga e mestra inesquecível,<br />
que fez <strong>de</strong>sabrochar em mim o sentido <strong>de</strong> ser pesquisadora e incentivou meus estudos,<br />
<strong>de</strong>dicando-se com muita paciência e carinho à orientação <strong>de</strong>ste trabalho.<br />
Às professoras Maria Inês Damasceno <strong>de</strong> Sousa, Ângela Rocha e Fabiana Beutler,<br />
queridas amigas no caminho da vocação, que me acompanharam nos anos <strong>de</strong> minha<br />
permanência em Petrópolis, compartilhando as alegrias e oferecendo-me compreensão e ajuda<br />
nos momentos difíceis.
A G R A D E Ç O<br />
À professora Maria da Glória Rangel Sampaio Fernan<strong>de</strong>s, reitora emérita, incansável<br />
na sua <strong>de</strong>dicação à <strong>Universida<strong>de</strong></strong>, que me guiou no estudo da língua portuguesa e <strong>de</strong>u-me<br />
coragem com seu bel testemunho <strong>de</strong> fé.<br />
Ao doutor José Luiz Rangel Sampaio Fernan<strong>de</strong>s, reitor da UCP, e ao padre José Maria<br />
Pereira, vice-reitor, que me possibilitaram o acesso aos arquivos da reitoria.<br />
À querida professora Sintia Said Coelho, coor<strong>de</strong>nadora geral <strong>de</strong> ensino, e ao professor<br />
Alexandre Sheremetieff, pró-reitor acadêmico, que favoreceram o meu trabalho, aten<strong>de</strong>ndo<br />
com solicitu<strong>de</strong> aos meus pedidos.<br />
Ao padre Gilson Andra<strong>de</strong> da Silva, reitor do Seminário Diocesano Nossa Senhora do<br />
Amor Divino, pelo interesse e o apoio dado a essa pesquisa.<br />
À professora doutora Cleia Zanatta Clavery Guarnido Duarte, pela amiza<strong>de</strong> e pelo<br />
incentivo constante e discreto, ao longo <strong>de</strong>stes anos.<br />
Ao professor doutor Antonio Flávio Barbosa Moreira e à professora doutora Vera<br />
Rudge Werneck, pelas preciosas sugestões dadas no exame <strong>de</strong> qualificação.<br />
Aos professores Jerônimo Ferreira Alves Neto e Helmuth Krüger, pelas informações e<br />
as conversas esclarecedoras.<br />
A Simone Caldara Motta e Gelda Geraldine Cohn, da Secretaria do Mestrado em<br />
Educação, pelas informações precisas, a ajuda e a disponibilida<strong>de</strong>.<br />
A Liliane Cardoso Coelho e a todas as professoras e colaboradoras da Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />
Educação, pela atenção e o apoio carinhoso.<br />
A Marcos Júnior Teixeira <strong>de</strong> Oliveira, a Antonieta Chinelli, às funcionárias e aos<br />
funcionários da Biblioteca Central da UCP, que me auxiliaram na busca <strong>de</strong> materiais <strong>de</strong><br />
arquivo.<br />
A todo o pessoal que trabalha cotidianamente na UCP, pela <strong>de</strong>dicação e gentileza que<br />
me <strong>de</strong>monstraram no período dos meus estudos na <strong>Universida<strong>de</strong></strong>.<br />
A Nossa Senhora Aparecida, a quem confiei o início <strong>de</strong>sta pesquisa e que me guiou até<br />
sua feliz conclusão.
Uma fé que não se torna cultura é<br />
uma fé não acolhida <strong>de</strong> modo<br />
pleno, não inteiramente pensada e<br />
fielmente vivida.<br />
(João Paulo II, ao Pontifício Conselho<br />
para a Cultura, 20/5/1982)
RESUMO<br />
<strong>DE</strong> <strong>SALVIA</strong>, Rosa. A implantação da <strong>Universida<strong>de</strong></strong> <strong>Católica</strong> <strong>de</strong> Petrópolis (UCP) no contexto<br />
da sistematização acadêmica da cultura católica no Brasil. Dissertação (Mestrado em<br />
Educação) – <strong>Universida<strong>de</strong></strong> <strong>Católica</strong> <strong>de</strong> Petrópolis, Petrópolis, 2008.<br />
O presente estudo dissertativo reconstitui a história da origem da <strong>Universida<strong>de</strong></strong> <strong>Católica</strong> <strong>de</strong><br />
Petrópolis (UCP), que foi a primeira instituição educativa <strong>de</strong> ensino superior na cida<strong>de</strong>. O<br />
objetivo <strong>de</strong>sta pesquisa histórico-documental foi produzir um conhecimento da trajetória<br />
institucional da UCP, <strong>de</strong> sua implantação, por iniciativa do bispo diocesano Dom Manuel<br />
Pedro da Cunha Cintra, que fundou, em 1953, a Associação Faculda<strong>de</strong>s <strong>Católica</strong>s<br />
Petropolitanas, até o término <strong>de</strong> seu cargo <strong>de</strong> grão chanceler da UCP, em março <strong>de</strong>1984. Para<br />
a coleta <strong>de</strong> dados, foram utilizados como fontes os documentos existentes nos arquivos<br />
institucionais e pessoais, os relatos <strong>de</strong> testemunhas que participaram da instituição, no período<br />
referido, revistas e jornais da época, material bibliográfico e iconográfico. A análise do<br />
material pesquisado foi realizada à luz do conceito <strong>de</strong> história do presente, construindo um<br />
mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> relação entre a história e a memória. O estudo apresenta, no início, uma síntese<br />
histórica sobre a gênese e as características próprias das universida<strong>de</strong>s católicas, a partir da<br />
Ida<strong>de</strong> Média, como também os princípios orientadores da Igreja católica para estas<br />
instituições <strong>de</strong> ensino, <strong>de</strong> modo especial na América Latina. Descreve-se o crescimento da<br />
UCP, tanto no aspecto físico como acadêmico, a partir do i<strong>de</strong>alismo <strong>de</strong> seus fundadores e<br />
<strong>de</strong>stacam-se os movimentos da comunida<strong>de</strong> acadêmica, que envolveram a participação <strong>de</strong><br />
professores, intelectuais, industriais, autorida<strong>de</strong>s políticas, civis e religiosas. Conclui-se que a<br />
<strong>Universida<strong>de</strong></strong>, no próprio dinamismo educativo e institucional, baseado sobre o vínculo entre<br />
fé e razão, <strong>de</strong>senvolveu os princípios <strong>de</strong> seus i<strong>de</strong>alizadores, proporcionando à socieda<strong>de</strong><br />
petropolitana caminhos educativos cristãos para a formação integral da pessoa.<br />
Palavras chave: <strong>Universida<strong>de</strong></strong> <strong>Católica</strong> <strong>de</strong> Petrópolis, ensino superior, educação católica.
ABSTRACT<br />
<strong>DE</strong> <strong>SALVIA</strong>, Rosa. A implantação da <strong>Universida<strong>de</strong></strong> <strong>Católica</strong> <strong>de</strong> Petrópolis (UCP) no contexto<br />
da sistematização acadêmica da cultura católica no Brasil. Dissertação (Mestrado em<br />
Educação) – <strong>Universida<strong>de</strong></strong> <strong>Católica</strong> <strong>de</strong> Petrópolis, Petrópolis, 2008.<br />
The following study reconstructs the history of the Catholic University of Petrópolis (UCP),<br />
which was the first university in the city. Aim of this historical and documentary research is<br />
the knowledge of the institutional trajectory of UCP, from its establishment, thanks to the<br />
initiative of the diocesan bishop Dom Manuel Pedro da Cunha Cintra, who foun<strong>de</strong>d a civil<br />
association called Faculda<strong>de</strong>s <strong>Católica</strong>s Petropolitanas, in 1953, until the end of his office as<br />
Great Chancellor in March 1984. For the collection of data, the sources used were the<br />
documents from institutional and private archives, the tales of the ones who testify the<br />
institution of the above mentioned period, coeval magazines and newspapers, bibliographic<br />
and iconographic material. The analysis of the collected material has been carried on focusing<br />
the concept of the history of the present, building a mo<strong>de</strong>l of relationship between history and<br />
memory. The first part of this work presents a historical synthesis about the genesis and the<br />
specific characteristics of the Catholic University, since the Middle Ages, as well as about the<br />
orientating principles of the Catholic Church for these school institutions, especially in Latin<br />
America. The work <strong>de</strong>scribes the growth of UCP either in the structural and aca<strong>de</strong>mic aspects,<br />
since the i<strong>de</strong>alism of its foun<strong>de</strong>rs and the movements of the aca<strong>de</strong>mic community which<br />
involved professors, industrialists, intellectual people, religious and civil authorities. We have<br />
come to the conclusion that the UCP, with its educational and institutional dynamism, based<br />
on the relationship between faith and reason, <strong>de</strong>veloped the principles of its foun<strong>de</strong>rs, offering<br />
to the Petropolis’society Christian educational paths for a complete education of the human<br />
being.<br />
Key words: Catholic University of Petrópolis, university teaching, Catholic education.
SIGLAS UTILIZADAS<br />
ABESC Associação Brasileira <strong>de</strong> Escolas Superiores <strong>Católica</strong>s<br />
ACIRP Associação Comercial, Industrial e Rural <strong>de</strong> Petrópolis<br />
AUC Ação Universitária <strong>Católica</strong><br />
BA Conjunto da Rua Barão <strong>de</strong> Amazonas<br />
BC Conjunto da Rua Benjamin Constant<br />
BID Banco Interamericano <strong>de</strong> Desenvolvimento<br />
CAUCP Colégio <strong>de</strong> Aplicação da <strong>Universida<strong>de</strong></strong> <strong>Católica</strong> <strong>de</strong> Petrópolis<br />
CAMESA Centro Ajijic para a Melhoria do Ensino Superior na América<br />
CEAAE Centro <strong>de</strong> Estudos Avançados em Administração e Economia<br />
CELAM Conselho Episcopal Latino-Americano<br />
CEPETUR Centro <strong>de</strong> Pesquisas Turísticas<br />
CETEG Centro Técnico <strong>de</strong> Engenharia<br />
CEUP Centro <strong>de</strong> Estudantes Universitários <strong>de</strong> Petrópolis<br />
CFE Conselho Fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong> Educação<br />
CI<strong>DE</strong>PE Centro Interdisciplinar para o Desenvolvimento da Personalida<strong>de</strong><br />
CIRJ Centro Industrial do Rio <strong>de</strong> Janeiro<br />
CNBB Conferência Nacional dos Bispos do Brasil<br />
CONESCAL Centro Regional <strong>de</strong> Construcciones Escolares para America Latina y el Caribe<br />
CONSAD Conselho <strong>de</strong> Administração<br />
CONSUN Conselho Universitário<br />
CPD Centro <strong>de</strong> Processamento <strong>de</strong> Dados<br />
CPJPF Centro <strong>de</strong> Pesquisas Jurídicas e Prática Forense<br />
CRUB Conselho <strong>de</strong> Reitores das <strong>Universida<strong>de</strong></strong>s Brasileiras<br />
DAEG Diretório Acadêmico Eugênio Gudin<br />
DASTA Diretório Acadêmico Santo Tomás <strong>de</strong> Aquino<br />
DARB Diretório Acadêmico Rui Barbosa<br />
DARC Diretório Acadêmico Costa Ribeiro<br />
DCE Diretório Central dos Estudantes<br />
<strong>DE</strong>D Departamento <strong>de</strong> Educação Física e Desportos<br />
<strong>DE</strong>E Diretório Estadual dos Estudantes<br />
FARUP Fundo Assistencial Rotativo do Universitário Petropolitano<br />
FASE Faculda<strong>de</strong> Arthur <strong>de</strong> Sá Earp<br />
FEI Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Engenharia Industrial
FEUCAL Fe<strong>de</strong>ração <strong>de</strong> Estudantes Universitários Católicos da América Latina<br />
FFCL Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Filosofia, Ciências e Letras<br />
FIUC Fe<strong>de</strong>ração Internacional das <strong>Universida<strong>de</strong></strong>s <strong>Católica</strong>s<br />
FLUMITUR Companhia <strong>de</strong> Turismo <strong>de</strong> Estado do Rio <strong>de</strong> Janeiro<br />
IBM International Business Machine<br />
IES Instituições <strong>de</strong> Ensino Superior<br />
IESC Instituições <strong>de</strong> Ensino Superior <strong>Católica</strong>s<br />
INEP Instituto Nacional <strong>de</strong> Estudos e Pesquisas educacionais<br />
INPC Índice Nacional <strong>de</strong> Preços ao Consumidor<br />
JUC Juventu<strong>de</strong> Universitária <strong>Católica</strong><br />
LEC Liga Eleitoral <strong>Católica</strong><br />
LEEL Laboratório Eletrônico para o Ensino <strong>de</strong> Línguas<br />
LDB Lei <strong>de</strong> Diretrizes e Bases<br />
MEC Ministério <strong>de</strong> Educação e Cultura<br />
MUCE Movimento Universitário Cristão Educacional<br />
OAB Or<strong>de</strong>m dos Advogados do Brasil<br />
ODUCAL Congresso da Organização das <strong>Universida<strong>de</strong></strong>s <strong>Católica</strong>s da América Latina<br />
OVS Obra <strong>de</strong> Vocações Sacerdotais<br />
PATIC Programa <strong>de</strong> Assistência Técnica ao Irmão Carente<br />
PRAPES Programa <strong>de</strong> Amparo Financeiro às IES Particulares<br />
PREMESU Programa <strong>de</strong> Expansão e Melhoria das Instalações do Ensino Superior<br />
PUC-Rio Pontifícia <strong>Universida<strong>de</strong></strong> <strong>Católica</strong> do Rio <strong>de</strong> Janeiro<br />
SE Su Secretaria <strong>de</strong> Educação Superior<br />
SIA Sistema <strong>de</strong> Informações para Administração Universitária<br />
SOPE Serviço <strong>de</strong> Orientação Psicológico-Educacional<br />
UC / UCs <strong>Universida<strong>de</strong></strong>(s) <strong>Católica</strong>(s)<br />
UCP <strong>Universida<strong>de</strong></strong> <strong>Católica</strong> <strong>de</strong> Petrópolis<br />
UNE União Nacional Estudantes<br />
USAID United States Agency for International Development
1 INTRODUÇÃO<br />
SUMÁRIO<br />
1.1 AS MOTIVAÇÕES DA PESQUISA ......................................................... 1<br />
1.2 METODOLOGIA E FONTES UTILIZADAS........................................... 4<br />
2 UNIVERSIDA<strong>DE</strong> E IGREJA<br />
2.1 A ORIGEM DAS UNIVERSIDA<strong>DE</strong>S: UM ESBOÇO<br />
HISTÓRICO......................................................................................................<br />
2.2 A GÊNESE DAS INSTITUIÇÕES CATÓLICAS <strong>DE</strong> ENSINO<br />
SUPERIOR NO BRASIL .................................................................................<br />
2.3 A UNIVERSIDA<strong>DE</strong> CATÓLICA NOS DOCUMENTOS OFICIAIS<br />
DA IGREJA: I<strong>DE</strong>NTIDA<strong>DE</strong> E MISSÃO .......................................................<br />
3 AS FACULDA<strong>DE</strong>S CATÓLICAS PETROPOLITANAS<br />
3.1 OS I<strong>DE</strong>ALIZADORES ............................................................................... 28<br />
3.2 A FUNDAÇÃO DAS FACULDA<strong>DE</strong>S CATÓLICAS<br />
PETROPOLITANAS E A INSTITUIÇÃO DA PRIMEIRA UNIDA<strong>DE</strong>: A<br />
FACULDA<strong>DE</strong> <strong>DE</strong> DIREITO............................................................................<br />
3.3 A FACULDA<strong>DE</strong> <strong>DE</strong> FILOSOFIA, CIÊNCIAS E LETRAS ..................... 39<br />
3.4 A ESCOLA <strong>DE</strong> ENGENHARIA INDUSTRIAL ....................................... 45<br />
4 A UNIVERSIDA<strong>DE</strong> CATÓLICA <strong>DE</strong> PETRÓPOLIS<br />
4.1 A TRANSFORMAÇÃO DAS FACULDA<strong>DE</strong>S CATÓLICAS<br />
PETROPOLITANAS EM UNIVERSIDA<strong>DE</strong> CATÓLICA <strong>DE</strong><br />
PETRÓPOLIS ...................................................................................................<br />
4.2 O ESTATUTO <strong>DE</strong> 1961 A ESTRUTURA ORGANIZACIONAL............ 52<br />
4.3 O <strong>DE</strong>SENVOLVIMENTO DA UNIVERSIDA<strong>DE</strong> CATÓLICA <strong>DE</strong><br />
PETRÓPOLIS NA DÉCADA <strong>DE</strong> 1960 ...........................................................<br />
5 A CONSOLIDAÇÃO DA I<strong>DE</strong>NTIDA<strong>DE</strong> INSTITUCIONAL<br />
5.1 O ESTATUTO <strong>DE</strong> 1970 E A IMPLEMENTAÇÃO DA REFORMA<br />
UNIVERSITÁRIA ............................................................................................<br />
5.2 O AUMENTO DOS CAMPI E A EXPANSÃO DAS FACULDA<strong>DE</strong>S<br />
NA DÉCADA <strong>DE</strong> 1970 ....................................................................................<br />
5.3 A DIMENSÃO FILANTRÓPICA E A INTEGRAÇÃO COM A<br />
COMUNIDA<strong>DE</strong>................................................................................................<br />
11<br />
14<br />
22<br />
32<br />
49<br />
58<br />
76<br />
82<br />
103
5.4 OS ANOS INICIAIS <strong>DE</strong> 1980 E A <strong>DE</strong>SPEDIDA DO PRIMEIRO<br />
GRÃO CHANCELER ......................................................................................<br />
6 CONSI<strong>DE</strong>RAÇÕES FINAIS...................................................................................... 114<br />
7 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS...................................................................... 117<br />
ANEXO A – ATA, CARTAS E DOCUMENTOS........................................................ 122<br />
ANEXO B – FOTOGRAFIAS DO ARQUIVO HISTÓRICO DA BIBLIOTECA<br />
CENTRAL DA UCP.......................................................................................................<br />
108<br />
162
1 INTRODUÇÃO<br />
1.1 AS MOTIVAÇÕES DA PESQUISA<br />
O presente estudo analisa a gênese e o <strong>de</strong>senvolvimento inicial da <strong>Universida<strong>de</strong></strong><br />
<strong>Católica</strong> <strong>de</strong> Petrópolis (UCP), enfocando o âmbito cultural e contextual, que propiciou a<br />
implantação e consolidação da primeira Instituição <strong>de</strong> Ensino Superior em Petrópolis, assim<br />
como discute as razões que levaram a esta dimensão sistemático-acadêmica da cultura<br />
católica, no contexto brasileiro da segunda meta<strong>de</strong> do século XX. A relevância da pesquisa<br />
está na sistematização <strong>de</strong> uma história que até então se encontrava fragmentada,<br />
essencialmente baseada na memória <strong>de</strong> algumas testemunhas diretas dos inícios da UCP, e<br />
que foi parcialmente escrita, sobretudo com intentos comemorativos, por ocasião <strong>de</strong><br />
cerimônias oficiais.<br />
Trata-se <strong>de</strong> uma investigação histórico-documental, cujo objetivo é recompor a<br />
história da UCP, partindo das seguintes questões: qual a origem das <strong>Universida<strong>de</strong></strong>s <strong>Católica</strong>s<br />
(UC) e, especialmente da UCP? Quais os sujeitos que a i<strong>de</strong>alizaram e participaram da sua<br />
criação? Como foi o movimento <strong>de</strong> implantação e a sucessiva transformação das Faculda<strong>de</strong>s<br />
<strong>Católica</strong>s Petropolitanas em <strong>Universida<strong>de</strong></strong>? Em que medida ocorreu a consolidação da<br />
i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> universitária católica e a gênese <strong>de</strong> uma missão que pretendia ser perene?<br />
O problema <strong>de</strong> investigação <strong>de</strong>lineou-se a partir do encontro <strong>de</strong> documentos originais<br />
e textos impressos, referentes a UCP, que estavam guardados no porão da residência do bispo<br />
diocesano, antiga se<strong>de</strong> do arquivo da Mitra da Diocese <strong>de</strong> Petrópolis. A leitura dos textos<br />
achados <strong>de</strong>spertou minha curiosida<strong>de</strong> como professora <strong>de</strong> História e, sucessivamente, fiquei<br />
interessada na possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> or<strong>de</strong>nar aqueles textos espalhados e <strong>de</strong> estudá-los no âmbito<br />
do grupo <strong>de</strong> pesquisa “História e memória da educação fluminense”, do qual estava<br />
participando. Tendo obtido permissão da autorida<strong>de</strong> eclesiástica para examinar os arquivos<br />
<strong>de</strong>scritos, passei a fundamentar cientificamente um trabalho historiográfico, baseado na<br />
extensa documentação encontrada. Dessa forma, o presente estudo visa enfocar as motivações<br />
e as circunstâncias que propiciaram a implantação <strong>de</strong> uma Instituição <strong>Católica</strong> <strong>de</strong> Ensino<br />
Superior em Petrópolis, a UCP, no contexto da sistematização acadêmica da cultura católica<br />
no Brasil, na segunda meta<strong>de</strong> do século XX, e seu <strong>de</strong>senvolvimento até os inícios dos anos <strong>de</strong><br />
1980.
O interesse em realizar esta pesquisa cresceu ao longo dos estudos no Curso <strong>de</strong><br />
Mestrado em Educação. Durante esse período, observei <strong>de</strong> que maneira a UCP está<br />
<strong>de</strong>senvolvendo o seu caminho cultural e acadêmico, buscando promover ações educativas,<br />
relacionadas ao atual contexto sócio-político da cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Petrópolis e do Estado do Rio <strong>de</strong><br />
Janeiro. Nesse sentido, retomar a origem da UCP po<strong>de</strong> levar à reflexão sobre o significado<br />
atual <strong>de</strong> sua presença em Petrópolis e na região serrana, por meio da especificida<strong>de</strong> <strong>de</strong> sua<br />
obra educativa, que se processou juntamente com a história da cida<strong>de</strong>.<br />
Tomando como referência a sucessão cronológica dos bispos diocesanos, que<br />
assumem, também, a função <strong>de</strong> grãos chanceleres da UCP, a história <strong>de</strong>ssa instituição po<strong>de</strong>-se<br />
dividir em quatro períodos:<br />
1. 1953-1984: Dom Manuel Pedro da Cunha Cintra.<br />
2. 1984-1996: Dom José Fernan<strong>de</strong>s Veloso.<br />
3. 1996-2004: Dom José Carlos <strong>de</strong> Lima Vaz.<br />
4. 2004- em diante: Dom Filippo Santoro.<br />
O recorte temporal escolhido para o estudo foi o período da fundação das Faculda<strong>de</strong>s<br />
<strong>Católica</strong>s Petropolitanas até o ano em que o bispo Dom Manuel Pedro da Cunha Cintra, que<br />
dirigiu a Diocese <strong>de</strong> Petrópolis por 36 anos, a partir <strong>de</strong> abril <strong>de</strong> 1948, <strong>de</strong>ixou a mesma Diocese<br />
e a função <strong>de</strong> grão chanceler (1953-1984). A implantação da UCP po<strong>de</strong> ser consi<strong>de</strong>rada como<br />
um dos maiores frutos, junto com o Seminário Diocesano, <strong>de</strong> sua ativida<strong>de</strong> pastoral. Tendo<br />
em vista o i<strong>de</strong>al educativo e cultural da Igreja, Dom Cintra pretendia que a futura<br />
universida<strong>de</strong> surgisse sob inspiração da fé cristã, a serviço da socieda<strong>de</strong> petropolitana, e que<br />
sua meta fosse o <strong>de</strong>senvolvimento do conhecimento e a <strong>de</strong>fesa dos princípios morais e da<br />
dignida<strong>de</strong> da pessoa humana, como ele mesmo afirmou, no discurso <strong>de</strong> instalação da UCP, a<br />
10 <strong>de</strong> março <strong>de</strong> 1962. Sua concepção <strong>de</strong> universida<strong>de</strong> não era apenas a <strong>de</strong> uma escola superior<br />
complexa, com muitos cursos e muitos alunos, mas também <strong>de</strong> “um conjunto lógico,<br />
orgânico, vital, a irradiar em todos os membros a mesma mentalida<strong>de</strong>, o mesmo espírito”<br />
(AÇÃO, abril, 1962, p. 108).<br />
Tal conceito remontava ao i<strong>de</strong>al clássico <strong>de</strong> universida<strong>de</strong>, que tinha suas origens na<br />
Europa da Ida<strong>de</strong> Média, quando não se podia enten<strong>de</strong>r a Universitas Studiorum sem a<br />
faculda<strong>de</strong> teológica, que se encontrava em todas as primeiras universida<strong>de</strong>s. Nascida da<br />
Igreja, a universida<strong>de</strong> era um instituto orgânico, em que se pretendia o cultivo integral das<br />
ciências para a formação do homem. Segundo a visão <strong>de</strong> Dom Cintra, no início do século XX,
em um contexto <strong>de</strong> liberalismo e <strong>de</strong> laicismo, os estudos superiores estavam fragmentados,<br />
em conseqüência da especialização técnica, cuja contribuição era meramente informativa e<br />
não educativa. Portanto, Dom Cintra <strong>de</strong>cidiu seguir o i<strong>de</strong>al da organicida<strong>de</strong> universitária,<br />
animado pelo exemplo do episcopado francês do século XIX, que, diante da laicização<br />
crescente nos quadros educacionais daquele país, resolveu criar as cinco <strong>Universida<strong>de</strong></strong>s<br />
<strong>Católica</strong>s: <strong>de</strong> Paris, <strong>de</strong> Lille, <strong>de</strong> Lyon, <strong>de</strong> Angères e <strong>de</strong> Toulouse. Do mesmo modo, a UCP<br />
pretendia assegurar à Igreja uma influência <strong>de</strong>cisiva, colocando-a no centro das ativida<strong>de</strong>s<br />
educativas.<br />
A 31 <strong>de</strong> maio <strong>de</strong> 1953, Dom Cintra reuniu um grupo <strong>de</strong> pessoas interessadas em<br />
cultura e fundou a associação civil Faculda<strong>de</strong>s <strong>Católica</strong>s Petropolitanas, com a finalida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />
instituir e manter institutos <strong>de</strong> ensino superior em Petrópolis. A 7 <strong>de</strong> março <strong>de</strong> 1954, no bairro<br />
do Retiro, em prédio cedido ad tempus pelo Carmelo São José, iniciaram-se as ativida<strong>de</strong>s da<br />
primeira Faculda<strong>de</strong>, a <strong>de</strong> Direito. Um ano <strong>de</strong>pois, em março <strong>de</strong> 1955, surgiu a Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />
Filosofia, Ciências e Letras. Em 1956, as duas Faculda<strong>de</strong>s passaram a funcionar no centro da<br />
cida<strong>de</strong>, à Rua Barão <strong>de</strong> Amazonas, no prédio do antigo Palace Hotel, comprado com os<br />
recursos oferecidos pelo empresário Guilherme Guinle.<br />
Em 1961, com o patrocínio do Centro Industrial do Rio <strong>de</strong> Janeiro, abriu-se a Escola<br />
<strong>de</strong> Engenharia. Conforme a legislação em vigor, havendo três faculda<strong>de</strong>s, era possível<br />
constituir uma universida<strong>de</strong>. Esta foi reconhecida a 20 <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 1961 e inaugurada a<br />
10 <strong>de</strong> março <strong>de</strong> 1962.<br />
Em 1966, após cumprir três mandatos à frente da Instituição (oito anos dirigindo as<br />
Faculda<strong>de</strong>s <strong>Católica</strong>s Petropolitanas e quatro a nova <strong>Universida<strong>de</strong></strong>), o doutor Arthur <strong>de</strong> Sá<br />
Earp <strong>de</strong>ixou a reitoria para o então bispo auxiliar da Diocese <strong>de</strong> Petrópolis, Dom José<br />
Fernan<strong>de</strong>s Veloso, que dirigia a Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Filosofia, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> seus primórdios. Ao longo da<br />
reitoria <strong>de</strong> Dom Veloso, a UCP conheceu uma nova fase <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento e expansão. O<br />
número <strong>de</strong> alunos duplicou; foram adquiridos três imóveis para a instalação <strong>de</strong> novas<br />
estruturas; iniciaram a funcionar a Gráfica Universitária, a Casa do Estudante e o Restaurante<br />
Universitário. Em 1968, abriu-se a Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Ciências Econômicas, Contábeis e<br />
Administrativas. No ano seguinte, foi adquirida a se<strong>de</strong> do antigo Colégio Sion; abriu-se o<br />
Colégio Aplicação; instalou-se o Conselho <strong>de</strong> Patronos; iniciaram-se os cursos da Escola <strong>de</strong><br />
Reabilitação; fundou-se o Centro <strong>de</strong> Pesquisas Jurídicas e Prática Forense (CPJPF). No<br />
conjunto da Rua Barão <strong>de</strong> Amazonas, teve início a construção do novo pavilhão para oficinas<br />
e laboratórios da Escola <strong>de</strong> Engenharia.
Depois da implantação da reforma universitária <strong>de</strong> 1968, a UCP passou a viver uma<br />
outra fase <strong>de</strong> expansão e <strong>de</strong> crescimento institucional e acadêmico, com três institutos centrais<br />
e cinco faculda<strong>de</strong>s ou escolas. Inaugurou-se a nova biblioteca central; criou-se o curso <strong>de</strong><br />
Turismo e instalou-se o Laboratório Eletrônico para o Ensino <strong>de</strong> Línguas (LEEL). Foi<br />
instituído um convênio <strong>de</strong> assistência mútua com a <strong>Universida<strong>de</strong></strong> Autônoma <strong>de</strong> Guadalajara,<br />
no México, que proporcionou um Curso <strong>de</strong> Mestrado em Educação. Foram criados o Centro<br />
<strong>de</strong> Educação Física, no bairro do Bingen, e alguns centros <strong>de</strong> pesquisas: o Centro <strong>de</strong> Pesquisas<br />
Turísticas (CEPETUR), o Centro Técnico <strong>de</strong> Engenharia (CETEG), o Centro Interdisciplinar<br />
para o Desenvolvimento da Personalida<strong>de</strong> (CI<strong>DE</strong>PE). Promoveram-se cursos <strong>de</strong> extensão e<br />
conferências; inaugurou-se a Rádio UCP.<br />
Estes são somente alguns dos fatos que marcaram a origem e a consolidação da UCP,<br />
cujo <strong>de</strong>senvolvimento, ao longo dos anos em que Dom Cintra foi seu grão chanceler, será<br />
analisado nos capítulos seguintes.<br />
1.2 METODOLOGIA E FONTES UTILIZADAS<br />
Para realizar a presente pesquisa, foram utilizadas fontes documentais textuais, como<br />
atas, regimentos, portarias, mapas, relatórios, cartas públicas e privadas, em versão manuscrita<br />
e/ou datilografada, e fontes impressas, como periódicos, jornais e revistas da época da<br />
fundação da UCP, que se encontram guardadas no antigo arquivo da Mitra Diocesana <strong>de</strong><br />
Petrópolis. Foi localizado, posteriormente, outro arquivo, <strong>de</strong>positado no prédio da reitoria da<br />
UCP, que recolhe documentos oficiais e fontes impressas. Também se tornaram fontes <strong>de</strong><br />
pesquisa: a documentação fotográfica encontrada no arquivo histórico da biblioteca central da<br />
UCP; alguns documentos fornecidos pela doutora Vera Rudge Werneck, professora do Curso<br />
<strong>de</strong> Mestrado em Educação da UCP; várias fotos e boletins, disponibilizados pela professora<br />
Maria da Glória Rangel Sampaio Fernan<strong>de</strong>s, que foi reitora da UCP nos anos <strong>de</strong> 1987 a 1999.<br />
Na primeira fase da pesquisa, foi levantada toda a documentação encontrada: foram<br />
or<strong>de</strong>nados cronologicamente e selecionados os papéis, as anotações, as cartas e as atas,<br />
juntamente com as fontes impressas e as fotografias, que se referem aos anos <strong>de</strong> 1953 (ano do<br />
início das Faculda<strong>de</strong>s <strong>Católica</strong>s Petropolitanas) a 1984. Em uma segunda fase da pesquisa, a<br />
organização e a exploração da documentação recolhida foram complementadas com os relatos<br />
colhidos por meio <strong>de</strong> entrevistas com algumas testemunhas diretas dos fatos examinados. As
entrevistas foram realizadas seguindo um roteiro flexível, com questões semi-estruturadas,<br />
<strong>de</strong>pois <strong>de</strong> um breve esclarecimento sobre os objetivos da pesquisa, assim como a respeito do<br />
conteúdo das questões. Entre várias perguntas, a<strong>de</strong>quadas às possibilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> interlocução<br />
dos entrevistados, as mais comuns se <strong>de</strong>stinavam a conhecer a dinâmica dos acontecimentos,<br />
o valor a estes atribuído pelos entrevistados, a participação dos mesmos e suas recordações.<br />
Os <strong>de</strong>poimentos foram gravados, transcritos e submetidos à aprovação dos entrevistados. Dos<br />
relatos assim recolhidos foram utilizadas somente as informações consi<strong>de</strong>radas mais<br />
significativas para a realização da presente pesquisa. Como afirma Szymanski (2002, p. 14), o<br />
instrumento da entrevista, utilizado em pesquisas qualitativas, representa “um processo<br />
interativo complexo, que tem um caráter reflexivo, num intercâmbio contínuo entre<br />
significados e o sistema <strong>de</strong> crenças e valores, perpassados pelas emoções e sentimentos dos<br />
protagonistas”. A contribuição adquirida ofereceu dados significativos sobre fatos, opiniões,<br />
planos <strong>de</strong> ação, condutas, motivos e valores, guardados na memória dos entrevistados.<br />
A primeira entrevistada foi a professora Maria da Glória Rangel Sampaio Fernan<strong>de</strong>s,<br />
filha <strong>de</strong> um dos fundadores das Faculda<strong>de</strong>s <strong>Católica</strong>s Petropolitanas, o doutor José Sampaio<br />
Fernan<strong>de</strong>s. Atuando como docente das Faculda<strong>de</strong>s <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a primeira turma da Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />
Direito, ela tornou-se uma das principais testemunhas da história da UCP, no período<br />
estudado, com os seus <strong>de</strong>poimentos concedidos em 14 e 20 <strong>de</strong> agosto <strong>de</strong> 2007 e em 28 <strong>de</strong><br />
julho <strong>de</strong> 2008.<br />
A segunda entrevista, em 18 <strong>de</strong> outubro <strong>de</strong> 2007, realizou-se com o professor<br />
Jerônimo Ferreira Alves Neto, docente <strong>de</strong> História na UCP e membro do Instituto Histórico<br />
Petropolitano, que participou da fundação do Colégio <strong>de</strong> Aplicação da UCP e foi um dos seus<br />
primeiros diretores, em 1970.<br />
O terceiro entrevistado, em 23 <strong>de</strong> janeiro <strong>de</strong> 2008, foi o doutor José Luiz Sampaio<br />
Fernan<strong>de</strong>s, atual reitor da UCP, filho também do doutor José Sampaio Fernan<strong>de</strong>s e irmão da<br />
professora Maria da Glória. Ele foi aluno da primeira turma do Curso <strong>de</strong> Engenharia Elétrica<br />
e forneceu notícias e impressões sobre as ativida<strong>de</strong>s e os relacionamentos <strong>de</strong> sua família com<br />
o ambiente acadêmico daquela época.<br />
A quarta entrevista efetuou-se em 15 <strong>de</strong> fevereiro <strong>de</strong> 2008, com o professor Helmuth<br />
Krüger, atualmente diretor da Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Psicologia, que contribuiu para a implantação da<br />
pós-graduação na UCP.<br />
Com o sucessivo <strong>de</strong>saparecimento dos principais protagonistas e com a aceleração
das mudanças do ambiente acadêmico, fez-se necessário o trabalho do historiador, no sentido<br />
tanto <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ntificar, salvaguardar, catalogar e tornar disponíveis as fontes, como <strong>de</strong> afrontar a<br />
tarefa <strong>de</strong> superar a simples crônica, historicizando e interpretando os acontecimentos.<br />
Segundo Marrou,<br />
o processo <strong>de</strong> elaboração da história é <strong>de</strong>flagrado não pela existência <strong>de</strong><br />
documentos, mas por uma abordagem original, a questão proposta, que se<br />
inscreve na escolha, na <strong>de</strong>limitação e na concepção do tema. Po<strong>de</strong> acontecer<br />
que uma pesquisa histórica se inicie com um achado fortuito <strong>de</strong> documentos<br />
[...], a proximida<strong>de</strong> <strong>de</strong> tal <strong>de</strong>pósito <strong>de</strong> arquivos [...], mas isso em nada altera<br />
a priorida<strong>de</strong> lógica da questão que o historiador formulará a esses<br />
documentos (MARROU, 1978, p. 49-50).<br />
Sendo que a implantação da UCP verificou-se em uma época muito próxima, na<br />
análise do material pesquisado foi utilizado o conceito <strong>de</strong> história do presente, que se refere<br />
aos acontecimentos dos cinqüenta ou sessenta últimos anos. O interesse pela história recente<br />
como campo <strong>de</strong> estudos históricos surgiu após a Segunda Guerra Mundial, especialmente nos<br />
Estados Unidos, na Alemanha e na França, quando a ambigüida<strong>de</strong> do termo “história<br />
contemporânea” motivou a busca <strong>de</strong> outros termos como “instant history”, “história imediata”<br />
ou “história do presente”, cujo conceito expressa a idéia <strong>de</strong> uma história em construção.<br />
Bédarida (1996, p. 121) consi<strong>de</strong>ra constitutivo da história do tempo presente o caráter<br />
inacabado e em constante movimento. Utilizando a imagem do palimpsesto, ele afirma que “o<br />
tempo presente é reescrito in<strong>de</strong>finidamente, utilizando-se o mesmo material, mediante<br />
correções, acréscimos, revisões”, num constante processo <strong>de</strong> reescrita, que envolve a<br />
responsabilida<strong>de</strong> social do historiador, especialmente na abordagem <strong>de</strong> temas controversos,<br />
como no caso do racismo e do anti-semitismo. Segundo Chauveau,<br />
a <strong>de</strong>finição <strong>de</strong> história do presente passa principalmente pela referência <strong>de</strong><br />
uma nova relação entre o cientista e seu campo <strong>de</strong> investigação [...] Não se<br />
trata <strong>de</strong> discutir o valor real dos fatos na história, mas sua percepção e as<br />
condições históricas nas e pelas quais eles são percebidos (CHAUVEAU,<br />
1999, p. 31-33).<br />
Colocando a questão da relação entre o historiador, seu tema e seu tempo, Chauveau<br />
evi<strong>de</strong>ncia a função da história como “fator <strong>de</strong> compreensão do presente e vetor <strong>de</strong> opinião<br />
para o corpo social”, cujo objetivo está em “propor novos dados que aumentarão sua<br />
capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> explicitação e <strong>de</strong> sugestão” (CHAUVEAU, ibi<strong>de</strong>m, p. 36). Nessa perspectiva, a
história do presente diferencia-se do simples trabalho sobre a atualida<strong>de</strong>, como o do<br />
jornalista. De acordo com Frank, diretor do Institut d’Histoire du Temps Présent, criado em<br />
1978, “a história do tempo presente não é a história imediata, pois ela não se interessa só pela<br />
espuma da atualida<strong>de</strong>, inscrevendo-se antes nas profun<strong>de</strong>zas e na espessura do tempo<br />
histórico” (FRANK, 1993, p. 16). Embora haja imediatismo entre o historiador do presente e<br />
as testemunhas, a reflexão crítica do historiador realiza uma mediação, colocando o<br />
<strong>de</strong>poimento na perspectiva da duração, tanto do passado próximo, quanto longínquo, na<br />
medida em que a atualida<strong>de</strong> é restituída em suas raízes.<br />
O reconhecimento da intervenção do sujeito na história do presente, tanto como ator<br />
ou testemunho, quanto como historiador do seu próprio tempo, põe em evidência o caráter <strong>de</strong><br />
subjetivida<strong>de</strong> na produção do conhecimento histórico, que utiliza a memória como ponto <strong>de</strong><br />
partida. Nessa perspectiva, Nora (1998, p. 26) afirma que a novida<strong>de</strong> da história da memória<br />
resi<strong>de</strong> no fato <strong>de</strong> que é uma história crítica, que “não se interessa pela memória como<br />
recordação, mas como economia geral do passado no presente”, construindo um mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong><br />
relação entre a história e a memória. Deste ponto <strong>de</strong> vista, o historiador não somente <strong>de</strong>screve<br />
ou narra os acontecimentos em si, mas também estuda como estes são elaborados,<br />
transmitidos e percebidos no processo <strong>de</strong> reconstrução i<strong>de</strong>ológica do passado que condiciona<br />
a própria percepção do presente pelos diferentes grupos sociais. Por outro lado, o problema da<br />
inevitável parcialida<strong>de</strong>, <strong>de</strong>terminada pela proximida<strong>de</strong> do historiador em relação ao seu objeto<br />
<strong>de</strong> estudo, é temperado pela pluralida<strong>de</strong> e a quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> fontes disponíveis, que impe<strong>de</strong>m<br />
que a parcialida<strong>de</strong> seja o caráter prevalente do estudo histórico, concebido como constante<br />
processo <strong>de</strong> reescrita. Com efeito, o presente como objeto <strong>de</strong> estudo é ele próprio memória,<br />
<strong>de</strong>vido à sua inscrição natural na lembrança individual e coletiva; ao mesmo tempo é história,<br />
pela presença <strong>de</strong> documentos que po<strong>de</strong>m ser conhecidos, relacionados e interpretados.<br />
Tomando como referência as teses <strong>de</strong> Koselleck (1986, p. 303), tudo o que acontece<br />
coloca-se na tensão entre uma experiência anterior, guardada na memória, e a espera <strong>de</strong> algo<br />
que acontecerá. As categorias <strong>de</strong> experiência e <strong>de</strong> espera possibilitam a leitura do tempo<br />
histórico como uma tensão inacabada dos homens e das comunida<strong>de</strong>s entre experiências e<br />
expectativas, entre memórias e <strong>de</strong>sejos. Embora não seja possível reconstruir o passado na sua<br />
totalida<strong>de</strong>, po<strong>de</strong> ser recuperado o tempo histórico assim como aparece, por meio <strong>de</strong> sinais e<br />
episódios, que contam tentativas, projetos, certezas, preocupações. Dessa forma, os<br />
acontecimentos são tratados não como uma “causa” mecânica, mas como a “razão suficiente”,<br />
que permite compreen<strong>de</strong>r as modificações <strong>de</strong> um contexto, em que estes se colocam e que é a
experiência humana histórica (FOSCHI, 2006, p. 119-121).<br />
Nessa perspectiva, o relato da implantação da UCP exigiu, junto com uma<br />
reconstrução dos esforços e do i<strong>de</strong>alismo <strong>de</strong> seus fundadores, a análise da relação <strong>de</strong> tudo isso<br />
com seu contexto, no qual foram evi<strong>de</strong>nciados dois aspectos principais:<br />
1) a origem <strong>de</strong> universida<strong>de</strong>s e Instituições <strong>de</strong> Ensino Superior (IES) católicas está<br />
relacionada com a história da Igreja católica no Brasil e a formação <strong>de</strong> um grupo consistente e<br />
influente <strong>de</strong> intelectuais católicos, na década <strong>de</strong> 1930;<br />
2) o projeto <strong>de</strong> fundação <strong>de</strong> universida<strong>de</strong>s e IES católicas, i<strong>de</strong>alizado no âmbito <strong>de</strong><br />
uma socieda<strong>de</strong> prevalentemente agrária, no contexto político da República Velha, foi se<br />
concretizando numa fase <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento industrial.<br />
Para analisar estes temas, à pesquisa das fontes associou-se o estudo da<br />
“bibliografia” relativa à atuação da Igreja católica no âmbito da sistematização acadêmica da<br />
cultura católica no Brasil, na primeira meta<strong>de</strong> do século XX. Em geral, as IES católicas<br />
aparecem consi<strong>de</strong>radas como uma forma supletiva e repetitiva das universida<strong>de</strong>s públicas,<br />
sem originalida<strong>de</strong> e sem contribuição específica (ANTONIAZZI, 1988, p. 316). Por exemplo,<br />
nos escritos <strong>de</strong> Fávero (1977) e <strong>de</strong> Paim (1982), sobre a universida<strong>de</strong> brasileira, não se<br />
encontram referências às contemporâneas universida<strong>de</strong>s e IES católicas. Cunha (1989, p. 20),<br />
referindo-se a <strong>Universida<strong>de</strong></strong> <strong>Católica</strong> do Rio <strong>de</strong> Janeiro (PUC-Rio), utiliza a imagem<br />
gramsciana <strong>de</strong> “muletas da Igreja” para amparar a incapacida<strong>de</strong> pedagógica do Estado, na<br />
época <strong>de</strong> Vargas. A minuciosa análise <strong>de</strong> Salem (1922), sobre a origem da mesma PUC-Rio,<br />
conclui que “seu perfil confessional e seu caráter <strong>de</strong> obra militante se <strong>de</strong>svaneceram. O<br />
projeto inicial [...] morreu no nascedouro” (SALEM, ibi<strong>de</strong>m, p.134). Quanto a esse aspecto<br />
interpretativo, Antoniazzi (ibi<strong>de</strong>m, p.318) <strong>de</strong>staca que é importante não confundir os objetivos<br />
últimos das universida<strong>de</strong>s e IES católicas, que coinci<strong>de</strong>m com a visão antropológica cristã e<br />
com a própria fé, com os objetivos instrumentais, historicamente situados, que são tentativas<br />
<strong>de</strong> concretizar aqueles objetivos últimos numa situação histórica contingente e transitória.<br />
De acordo com Foschi (2006, p. 94), não está aqui em discussão a liberda<strong>de</strong><br />
interpretativa, mas o exercer corretamente a análise historiográfica, que precisa ter em conta o<br />
objeto ao qual se aplica. Para uma a<strong>de</strong>quada interpretação da atuação da Igreja na história, o<br />
historiador não po<strong>de</strong> prescindir do que ela proclama ser sua natureza, resultante do dúplice<br />
elemento humano e divino (Concílio Vaticano II, Lumen Gentium, 8). O mesmo autor<br />
continua afirmando que o critério <strong>de</strong> análise, <strong>de</strong>terminado pelo objeto, é o <strong>de</strong> consi<strong>de</strong>rar
sempre estes termos unidos numa mesma realida<strong>de</strong>, distintos, mas juntos, não confundidos,<br />
mas co-presentes. “Não se po<strong>de</strong> julgar uma pessoa sem levar em conta, em primeiro lugar,<br />
aquilo que ela mesma coloca como problema. Por isso, é importante compreen<strong>de</strong>r o que a<br />
Igreja diz ser, chegar a perceber qual é a substância da sua proposta no mundo” (GIUSSANI,<br />
2004, p. 199). Neste sentido, o ponto central da missão da Igreja é o <strong>de</strong> ensinar Cristo<br />
presente, mas as responsabilida<strong>de</strong>s dos crentes, que vivem e encarnam a fé cristã, po<strong>de</strong>m<br />
assumir atuações diferentes, por influência da própria época (FOSCHI, ibi<strong>de</strong>m, p. 94).<br />
Em estudos mais recentes, no lugar <strong>de</strong> um silêncio ou <strong>de</strong> interpretações sócio-<br />
políticas, se encontra uma análise mais histórica e cultural, que tenta dar conta da<br />
especificida<strong>de</strong> das <strong>Universida<strong>de</strong></strong>s e IES católicas, frente à expansão do ensino superior,<br />
especialmente privado. Por exemplo, o estudo do INEP <strong>de</strong> 2006, “A universida<strong>de</strong> no Brasil:<br />
concepções e mo<strong>de</strong>los”, <strong>de</strong>dica uma seção inteira à história das universida<strong>de</strong>s católicas.<br />
Quanto ao presente estudo dissertativo, a pesquisa sobre a origem <strong>de</strong> uma instituição,<br />
realizada em perspectiva histórica, configura-se, também, segundo as análises <strong>de</strong> Chizzotti<br />
(2006, p. 135), como um estudo <strong>de</strong> caso, que envolve a coleta sistemática <strong>de</strong> informações<br />
sobre um conjunto <strong>de</strong> relações ou processo social, para melhor esclarecer por que as <strong>de</strong>cisões<br />
foram tomadas ou as intervenções implementadas e quais foram os resultados obtidos.<br />
O estudo está organizado em seis capítulos. Depois da introdução, o segundo<br />
capítulo apresenta uma síntese histórica acerca da gênese e das características próprias <strong>de</strong> uma<br />
universida<strong>de</strong> católica, a partir da Ida<strong>de</strong> Média. Os três capítulos centrais procuram narrar a<br />
história da UCP, valorizando os acontecimentos que <strong>de</strong>terminaram sua origem e seu gradual<br />
<strong>de</strong>senvolvimento até os primeiros anos da década <strong>de</strong> 1980, por meio do material documental<br />
pesquisado e dos testemunhos recolhidos pelas entrevistas. Por fim, o sexto capítulo traz<br />
algumas reflexões sobre os acontecimentos <strong>de</strong>scritos, em respostas às questões formuladas no<br />
início <strong>de</strong>sta pesquisa, e outras afirmações que o estudo realizado possibilitou.
2 UNIVERSIDA<strong>DE</strong> E IGREJA<br />
2.1 A ORIGEM DAS UNIVERSIDA<strong>DE</strong>S: UM ESBOÇO HISTÓRICO<br />
A complexa realida<strong>de</strong> <strong>de</strong>finida pelo termo “universida<strong>de</strong>” tem suas raízes na Europa<br />
Medieval. As universitates foram precedidas, cronologicamente, pelos studia particularia,<br />
agremiações acadêmicas situadas em torno às escolas monacais, leigas e episcopais, cuja<br />
clientela e jurisdição eram locais. O afluxo <strong>de</strong> alunos, provenientes <strong>de</strong> todas as partes da<br />
Europa (nationes) a escolas afamadas, como a <strong>de</strong> Paris e <strong>de</strong> Bolonha, tornou-as studia<br />
generalia, <strong>de</strong>tentores do ius ubique docendi, conferido pelo cancelarius (chanceler, quase<br />
sempre o bispo local), na qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> representante do rei, do imperador e, com maior<br />
freqüência, do papa.<br />
O termo studium, que significa esforço, <strong>de</strong>dicação ou <strong>de</strong>voção, passou a <strong>de</strong>signar o<br />
próprio grupo acadêmico que se entregava ao trabalho intelectual. Como afirma Borrero<br />
(1990, p. 78), as gran<strong>de</strong>s proporções assumidas pelo fenômeno <strong>de</strong> convergência <strong>de</strong> alunos<br />
para os gran<strong>de</strong>s centros escolares, bem como o renome e a autorida<strong>de</strong> moral dos mestres ou<br />
doutores, que assessoravam príncipes e pontífices, geraram um “po<strong>de</strong>r do saber”, que se<br />
institucionalizou em corporações – as universida<strong>de</strong>s – e assessorou ou serviu <strong>de</strong> árbitro aos<br />
outros dois po<strong>de</strong>res – o do papa e o do imperador –, cujo conflito dominou a história política<br />
da Ida<strong>de</strong> Média. Estas aglutinações acadêmicas ocorriam, freqüentemente, <strong>de</strong> maneira<br />
espontânea, dando origem às universida<strong>de</strong>s ex consuetudine (espontâneas), como a <strong>de</strong><br />
Bolonha (1088), <strong>de</strong> Paris (1125), <strong>de</strong> Oxford (1167), <strong>de</strong> Lisboa/Coimbra (1288). Outras<br />
surgiram ex privilegio (por fundação), a partir, em muitos casos, <strong>de</strong> escolas preexistentes. Por<br />
exemplo, a <strong>Universida<strong>de</strong></strong> <strong>de</strong> Nápoles foi fundada, em 1224, pelo imperador Fre<strong>de</strong>rico II, em<br />
razão <strong>de</strong> suas disputas com a autorida<strong>de</strong> do papa. Um terceiro tipo nasceu ex migratione, ou<br />
seja, <strong>de</strong> uma secessão ocorrida no próprio seio <strong>de</strong> uma universida<strong>de</strong> já constituída. Assim, a<br />
<strong>de</strong> Pádua (1222) teve sua origem na <strong>de</strong> Bolonha, a <strong>de</strong> Cambridge (1233) se originou por<br />
migração da <strong>Universida<strong>de</strong></strong> <strong>de</strong> Oxford, enquanto a <strong>de</strong> Orléans (1235) proce<strong>de</strong>u da <strong>de</strong> Paris.<br />
Como assinala Zilles (1993, p. 10), a universida<strong>de</strong> tornou-se uma modalida<strong>de</strong> para a ascensão<br />
social, pois admitia estudantes <strong>de</strong> todas as camadas sociais, inclusive pobres, como filhos <strong>de</strong><br />
camponeses e artesãos, contribuindo para a elaboração <strong>de</strong> uma nova consciência crítica.<br />
Universitas era o termo <strong>de</strong>signativo específico da corporação que tinha por ofício o
trabalho intelectual. Como as outras organizações corporativas, seu escopo era a <strong>de</strong>fesa <strong>de</strong><br />
interesses comuns, com regras próprias, hierarquia <strong>de</strong> membros, privilégios e isenções. Em<br />
Paris, a universitas era constituída por estudantes e mestres, cabendo aos primeiros o controle.<br />
Já em Bolonha, os alunos agregavam-se em duas universitates, a dos ultramontanos (os<br />
estrangeiros) e a dos citramontanos (os italianos), dirigidas por reitores distintos, eleitos entre<br />
seus membros, para um breve mandato. Não participavam <strong>de</strong>las os doutores, que eram<br />
recrutados, controlados e remunerados pelas corporações dos alunos. Os reitores cuidavam<br />
das finanças, convocavam e presidiam as assembléias, executavam suas <strong>de</strong>terminações e<br />
representavam a universida<strong>de</strong> perante as autorida<strong>de</strong>s e a justiça. Os <strong>de</strong>canos, eleitos pelos<br />
docentes em exercícios, dirigiam as facultates, termo que indicava os ramos do saber e,<br />
sucessivamente, as partes da estrutura acadêmica do studium. A Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Artes era a mais<br />
numerosa e freqüentada, por ser propedêutica para as <strong>de</strong>mais. Estudavam-se nela o Trivium<br />
(gramática, retórica e dialética) e o Quadrivium (aritmética, geometria, astronomia e música).<br />
A Faculda<strong>de</strong> Teológica, a <strong>de</strong> Direito e a <strong>de</strong> Medicina representavam, com a <strong>de</strong> Artes, o<br />
conjunto típico do saber universitário na Ida<strong>de</strong> Média (VERGER, 1990, p. 48-50).<br />
Estas originais corporações, as universitates, tinham o ofício <strong>de</strong> investigar, entendido<br />
etimologicamente como in vestigium ire, ou seja, retomar os caminhos daqueles que no<br />
passado observaram, coletaram, refletiram, para articular, comparar, incrementar e transmitir<br />
o acervo <strong>de</strong> conhecimentos recebidos. Assim comenta Verger (ibi<strong>de</strong>m, p. 65): “Tudo o que<br />
sabemos da organização material do ensino evoca-nos uma atmosfera <strong>de</strong> trabalho seletivo e<br />
intenso, em que mestres e discípulos se encontram estreitamente ligados, o doutor medieval<br />
era exatamente o contrário do homem <strong>de</strong> gabinete, do pesquisador solitário”.<br />
Mais do que simples instrumentos <strong>de</strong> transmissão dos ensinamentos da Igreja, as<br />
universida<strong>de</strong>s européias se <strong>de</strong>senvolveram como um espaço para o aprofundamento do<br />
pensamento racional e da filosofia da tradição clássica, combinando “elementos <strong>de</strong> forte<br />
individualismo, organização corporativa e vínculos estreitos com a hierarquia eclesiástica”<br />
(SCHWARTZMAN, 1996, p. 61). Investigação e ensino fundiam-se no dia a dia acadêmico,<br />
dominado pela teologia, numa socieda<strong>de</strong> em que a religião moldava a cultura e era parte<br />
integrante da cidadania. Assim, uma esfera especificamente secular ficou inscrita no âmbito<br />
da instituição eclesiástica, que conseguiu colocar num único conjunto as ciências humanas e a<br />
teologia. Po<strong>de</strong>-se observar que “as universida<strong>de</strong>s européias começaram por ser todas<br />
católicas. A catolicida<strong>de</strong> garantia-lhes autonomia e liberda<strong>de</strong> acadêmica” (ZILLES, ibi<strong>de</strong>m,<br />
p. 10). A instituição das universida<strong>de</strong>s estava ligada especialmente à Igreja católica e ao Papa:
39 das 52 universida<strong>de</strong>s, criadas antes <strong>de</strong> 1400, receberam a bula pontifícia <strong>de</strong> fundação 1 .<br />
A distinção da “universida<strong>de</strong> católica” em relação à “não católica” apareceu com a<br />
perda da unida<strong>de</strong> religiosa da Europa, <strong>de</strong>vido à Reforma Protestante 2 , que repulsou a<br />
revelação e o magistério da Igreja, gerando a conseqüente divisão da cristanda<strong>de</strong>. No século<br />
XVI, algumas universida<strong>de</strong>s <strong>de</strong>caíram, outras se tornaram confessionais ou leigas. A Igreja<br />
reagiu, fundando as Escolas Eclesiásticas <strong>de</strong> Roma (a Gregoriana, entre outras). Várias or<strong>de</strong>ns<br />
religiosas fundaram universida<strong>de</strong>s sob a orientação da Igreja (ZILLES, ibi<strong>de</strong>m, p. 10). Nos<br />
séculos seguintes, a revolução industrial e burguesa, bem como a con<strong>de</strong>nação, por parte da<br />
própria Igreja, dos métodos experimentais da ciência e do mo<strong>de</strong>rnismo causaram a perda da<br />
sua influência no mundo universitário. A marginalização do papel cultural e científico da<br />
universida<strong>de</strong> atingiu o seu ápice no século XVIII, quando os po<strong>de</strong>res revolucionários da<br />
Convenção, na França, <strong>de</strong>clararam a supressão <strong>de</strong>ssa instituição 3 .<br />
A <strong>Universida<strong>de</strong></strong> <strong>Católica</strong> (UC) <strong>de</strong> Louvain, fechada em 1797, foi fundada com<br />
caráter novo por iniciativa dos bispos belgas, no ano <strong>de</strong> 1834, na perspectiva <strong>de</strong> inserir a<br />
Igreja no contexto da pesquisa científica e para constituir um lugar <strong>de</strong> preservação do<br />
pensamento católico, frente ao ambiente anticlerical e racionalista das instituições <strong>de</strong> estudos<br />
superiores (HAMMES, 2003, p. 467). Como principais meios foram usados o estudo da<br />
filosofia tomista e a pesquisa nos diferentes campos do pensamento teológico, filosófico e<br />
social, procurando novas formas <strong>de</strong> diálogo entre o saber teológico e as ciências humanas<br />
(ANTONIAZZI, 1988, p. 206). Perseguindo as mesmas finalida<strong>de</strong>s, a partir <strong>de</strong> 1848, alguns<br />
bispos começaram a trabalhar na possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> uma UC na Alemanha. Em 1854, <strong>de</strong> modo<br />
similar na Irlanda, os bispos convidaram John Henry Newman, filósofo convertido do<br />
anglicanismo ao catolicismo romano, com a intenção <strong>de</strong> organizar uma UC em Dublin.<br />
Nas décadas sucessivas, surgiram UCs em diferentes continentes e países, no mo<strong>de</strong>lo<br />
da <strong>de</strong> Louvain: em Lyon, na França (1875), em Washington (1889), em Xangai (1903), em<br />
1 Cf. Constituição Apostólica Deus scientiarum Dominum <strong>de</strong> Pio XI (24-5-1931).<br />
2 A Reforma Protestante foi <strong>de</strong>flagrada por Martinho Lutero, monge agostiniano da região da Saxônia, que<br />
discordou publicamente da prática <strong>de</strong> venda <strong>de</strong> indulgências (remissão da pena temporal <strong>de</strong>vida pelos pecados) a<br />
todos os cristãos, <strong>de</strong>terminada pelo papa Leão X (1513-1521) com o intuito <strong>de</strong> terminar a construção da Basílica<br />
<strong>de</strong> São Pedro. Lutero protestou com 95 proposições que afixou na porta da igreja on<strong>de</strong> era mestre e pregador. Em<br />
suas proposições con<strong>de</strong>nava a prática do pagamento <strong>de</strong> indulgências, o que fez com que Leão X exigisse <strong>de</strong>le<br />
uma retratação pelo ato. O que nunca foi conseguido. Leão X então, excomungou Lutero que, em mais uma<br />
manifestação <strong>de</strong> protesto, rasgou a Bula Papal (documento da excomunhão), queimando-a em público.<br />
3 Após a Revolução Francesa, na Convenção <strong>de</strong> 1793, a França suprimiu as universida<strong>de</strong>s, com o argumento que<br />
elas guardavam valores e práticas reacionárias, como o elitismo e o corporativismo e um forte caráter religioso.<br />
Cf. A. Renault. Les revolutions <strong>de</strong> l’université: essai sur la mo<strong>de</strong>rnisation <strong>de</strong> la culture. Paris: Calmann-Lévy,<br />
1995.
Tóquio (1913), em Lublin, na Polônia (1920), em Milão (1921), em Nimega, na Holanda<br />
(1923), em Pequim (1924). Nas Filipinas, na Índia, na Austrália e em outros países foram<br />
igualmente fundadas universida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> inspiração e orientação católica. No continente latino-<br />
americano, já em 1888, foi instituída a que viria ser a Pontifícia <strong>Universida<strong>de</strong></strong> <strong>Católica</strong> do<br />
Chile, seguida por várias outras ao longo do século XX, criadas por iniciativa <strong>de</strong> bispos e<br />
conferências episcopais (HAMMES, ibi<strong>de</strong>m, p. 468-469).<br />
No Brasil, a história das UCs está ligada à própria atuação da Igreja católica no<br />
período entre o final do século XIX e a primeira meta<strong>de</strong> do século XX, em particular nos anos<br />
<strong>de</strong> 1930 a 1960. As primeiras fundações se situaram no âmbito <strong>de</strong> uma socieda<strong>de</strong><br />
dominantemente agrária, no contexto político da República Velha, sobretudo como<br />
instrumento <strong>de</strong> oposição às i<strong>de</strong>ologias laicistas e anticlericais, como será abordado a seguir.<br />
2.2. A GÊNESE DAS INSTITUIÇÕES CATÓLICAS <strong>DE</strong> ENSINO SUPERIOR NO<br />
BRASIL<br />
Nos anos que se seguiram à proclamação da República e à separação da Igreja do<br />
Estado, a religião católica <strong>de</strong>ixou <strong>de</strong> ser oficialmente reconhecida e cessou o regime <strong>de</strong><br />
padroado. Privada da vinculação com o Estado, a Igreja obteve ampla liberda<strong>de</strong> e igualda<strong>de</strong><br />
com os <strong>de</strong>mais cultos e, como eles, personalida<strong>de</strong> jurídica. A mesma organização hierárquica<br />
da Igreja no Brasil conheceu um rápido <strong>de</strong>senvolvimento, graças a mais estreita ligação com a<br />
Santa Sé: o papa Leão XIII criou novas dioceses e convocou um Concílio Plenário Latino-<br />
Americano, em 1899. Nas quatro primeiras décadas do século XX, surgiram numerosas novas<br />
dioceses. A multiplicida<strong>de</strong> <strong>de</strong>stas circunscrições e o ritmo com que surgiram <strong>de</strong>monstravam o<br />
interesse da Igreja em aten<strong>de</strong>r às necessida<strong>de</strong>s espirituais da crescente população e promover<br />
subsidiariamente outros setores do seu <strong>de</strong>senvolvimento, como a instrução e a saú<strong>de</strong> (LIMA,<br />
2001, p. 156).<br />
No que concerne à educação, a Constituição <strong>de</strong> 1891 estabelecia a laicida<strong>de</strong> do<br />
ensino ministrado nos estabelecimentos públicos. Como resposta a este ato, o tema da<br />
educação ocupou um lugar privilegiado nos documentos do episcopado. Em particular foram<br />
retomadas as conclusões do Concilio Plenário Latino-Americano e afirmou-se a necessida<strong>de</strong><br />
<strong>de</strong> expandir as escolas católicas e <strong>de</strong> criar uma UC, para salvaguardar os valores da fé cristã<br />
(PASSOS, 2005, p. 60). Portanto, o trabalho <strong>de</strong> evangelização da Igreja colocou em <strong>de</strong>staque
a catequese e a criação <strong>de</strong> escolas particulares, consi<strong>de</strong>rada também a precarieda<strong>de</strong> e a<br />
insuficiência numérica dos institutos educacionais do governo (LUSTOSA, 1983, p. 54).<br />
Além disso, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a década <strong>de</strong> 1920, a Igreja preocupou-se com a situação social do país,<br />
criando as primeiras escolas <strong>de</strong> Serviço Social, para formar jovens que atuassem à luz dos<br />
princípios da doutrina social da Igreja (MOURA, 2000, p. 125).<br />
No início do século XX, houve uma reaproximação entre a Igreja e o Estado, <strong>de</strong><br />
cunho diferente. Na Primeira Guerra Mundial (1914-1918), o governo recebeu o apoio da<br />
Igreja, por meio <strong>de</strong> pastorais e circulares <strong>de</strong> bispos e párocos em favor do patriotismo e do<br />
serviço militar. Para a comemoração do centenário da In<strong>de</strong>pendência (1922), a Igreja<br />
promoveu o Congresso Eucarístico Nacional no Rio <strong>de</strong> Janeiro, que teve a participação oficial<br />
<strong>de</strong> representantes do Parlamento e das Forças Armadas. Naquela se<strong>de</strong>, Dom Sebastião Leme<br />
da Silveira Cintra (1882-1942) 4 , ainda arcebispo coadjutor na Diocese do Rio <strong>de</strong> Janeiro,<br />
lançou a idéia do lazarista padre Boss, relativa à entronização da imagem <strong>de</strong> Cristo Re<strong>de</strong>ntor<br />
no alto do Corcovado 5 , com a colaboração <strong>de</strong> todo o País. Na mesma ocasião, a Câmara dos<br />
Deputados inseriu em seus anais a Pastoral Coletiva dos bispos brasileiros (LIMA, ibi<strong>de</strong>m, p.<br />
159-160).<br />
No novo clima <strong>de</strong> liberda<strong>de</strong> para a Igreja, que o padre Julio Maria (1950, p. 242)<br />
<strong>de</strong>fine “o período do combate”, <strong>de</strong>senvolveu-se a ação <strong>de</strong> Jackson <strong>de</strong> Figueiredo 6 e <strong>de</strong> seu<br />
grupo, que em 1921 criou a Revista A Or<strong>de</strong>m e, no ano seguinte, o Centro Dom Vital,<br />
consi<strong>de</strong>rado por Dom Sebastião Leme como “a maior afirmação da inteligência cristã em terra<br />
do Brasil”, num momento crucial da vida política e social do País (CASALI, 1995, p. 119).<br />
Com efeito, a partir da Primeira Guerra Mundial e da Revolução Russa, nasceram três<br />
revoluções simultâneas e inter<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes, caracterizadas pelos seguintes acontecimentos: 1)<br />
o Mo<strong>de</strong>rnismo, com a Semana <strong>de</strong> Arte Mo<strong>de</strong>rna, em São Paulo; 2) o episódio dos “18 do<br />
Forte” e a luta do “tenentismo” contra o “bacharelismo”; 3) a fundação do Partido Comunista<br />
do Brasil, em 1922. No mesmo ano, foram publicadas duas obras fundamentais para a<br />
renovação do pensamento católico no Brasil: A Igreja, a Reforma e a civilização, do sacerdote<br />
4 Ainda jovem sacerdote foi escolhido pelo seu pre<strong>de</strong>cessor, Car<strong>de</strong>al Dom Joaquim Arcover<strong>de</strong>, para ser bispo<br />
auxiliar no Rio <strong>de</strong> Janeiro (1911-1916). Em seguida foi nomeado arcebispo <strong>de</strong> Olinda e Recife (1916-1921) e, <strong>de</strong><br />
volta ao Rio <strong>de</strong> Janeiro, foi primeiramente arcebispo coadjutor se<strong>de</strong> plena, com direito à sucessão, <strong>de</strong>pois<br />
arcebispo metropolitano e car<strong>de</strong>al (1930-1942).<br />
5 A imagem <strong>de</strong> Cristo Re<strong>de</strong>ntor foi inaugurada por Dom Sebastião Leme, no dia 12 <strong>de</strong> outubro <strong>de</strong> 1931.<br />
6 Jackson <strong>de</strong> Figueiredo Martins nasceu em Aracaju, Sergipe, em 1891. Bacharel em direito, formado em<br />
Salvador <strong>de</strong> Bahia, transferiu-se para o Rio <strong>de</strong> Janeiro, on<strong>de</strong> se <strong>de</strong>dicou à política e ao jornalismo. Firme<br />
anticlericalista, paulatinamente inclinou-se para a religiosida<strong>de</strong>, terminando para converter-se ao catolicismo, em<br />
1918. Jornalista e professor <strong>de</strong> literatura, ele tornou-se figura central do movimento católico. Faleceu no Rio <strong>de</strong>
jesuíta Leonel Franca, e Pascal e a inquietação mo<strong>de</strong>rna, <strong>de</strong> Jackson <strong>de</strong> Figueiredo<br />
(BEOZZO, 1984, p. 23).<br />
O Centro Dom Vital surgiu com o objetivo <strong>de</strong> promover reflexões e estudos<br />
religiosos e <strong>de</strong> congregar intelectuais para uma ação apostólica. Os associados do Centro Dom<br />
Vital, entre os quais, Hamilton Nogueira, Durval <strong>de</strong> Moraes, José Vicente <strong>de</strong> Souza, Sobral<br />
Pinto, se reuniam em torno <strong>de</strong> um i<strong>de</strong>al comum. Eles <strong>de</strong>batiam idéias, mas também rezavam.<br />
O momento mais importante, sob o aspecto espiritual, realizava-se nos retiros durante os três<br />
dias <strong>de</strong> carnaval, em Friburgo. Ali nasceu uma estável amiza<strong>de</strong> entre Jackson <strong>de</strong> Figueiredo e<br />
o padre Leonel Franca. Jackson <strong>de</strong> Figueiredo foi um dos maiores expoentes da reação<br />
católica contra as idéias socialistas, que iriam se acentuar no período após a Primeira Guerra<br />
Mundial e a Revolução Russa, inclusive com a fundação do Partido Comunista. Ele tomava<br />
partido pela or<strong>de</strong>m, <strong>de</strong>sejada como fruto <strong>de</strong> uma renovação espiritual, que <strong>de</strong>veria atingir a<br />
vida política e a socieda<strong>de</strong> (BEOZZO, ibi<strong>de</strong>m, p. 22-24).<br />
Depois da morte <strong>de</strong> Jackson <strong>de</strong> Figueiredo, em 1928, Alceu Amoroso Lima, um dos<br />
mais ativos colaboradores <strong>de</strong> Dom Sebastião Leme, assumiu a presidência do Centro Dom<br />
Vital e da sua Revista, tendo como assistente eclesiástico o padre Leonel Franca. As reuniões<br />
informais, <strong>de</strong>stinadas, inicialmente, aos sócios do Centro, se transformaram em cursos e<br />
conferências sobre filosofia, sociologia ou assuntos religiosos, atraindo um público cada vez<br />
mais numeroso, constituído por professores, intelectuais, políticos, empresários, mesmo que<br />
não formalmente vinculados à organização. Paralelamente, verificou-se o <strong>de</strong>sdobramento do<br />
Centro Dom Vital em uma série <strong>de</strong> organizações e associações leigas especializadas, em<br />
diferentes setores da vida nacional. (SALEM, ibi<strong>de</strong>m, p. 109-110). Aten<strong>de</strong>ndo aos projetos <strong>de</strong><br />
Dom Sebastião Leme, Alceu Amoroso Lima organizou, em 1929, a Ação Universitária<br />
<strong>Católica</strong> (AUC), tendo em mira a <strong>de</strong>fesa da religião na universida<strong>de</strong>, por estudantes que se<br />
<strong>de</strong>claravam abertamente católicos.<br />
Os estudos <strong>de</strong> religião e <strong>de</strong> filosofia tomaram muita importância na vida dos<br />
militantes da AUC, o que irá gerar, em 1932, o Instituto Católico <strong>de</strong> Estudos Superiores, sob a<br />
direção <strong>de</strong> Sobral Pinto (LUSTOSA, 1983, p.72). Como observa Beozzo (ibi<strong>de</strong>m, p. 26),<br />
existia, naquele momento, uma unida<strong>de</strong> profunda entre o movimento litúrgico, a renovação do<br />
pensamento filosófico e a entrada em cena dos leigos, por meio do Centro Dom Vital e a<br />
seguir da AUC, do Instituto Católico e da Ação <strong>Católica</strong>.<br />
Janeiro, a 4 <strong>de</strong> novembro <strong>de</strong> 1928, com apenas 37 anos <strong>de</strong> ida<strong>de</strong>.
Na cerimônia <strong>de</strong> inauguração do Instituto Católico <strong>de</strong> Estudos Superiores, presidida<br />
por Dom Sebastião Leme, estavam presentes Fernando <strong>de</strong> Magalhães (reitor da <strong>Universida<strong>de</strong></strong><br />
do Rio <strong>de</strong> Janeiro), Arquime<strong>de</strong>s Memória (diretor da Escola <strong>de</strong> Belas Artes), e Francisco<br />
Campos (ministro da Educação e Saú<strong>de</strong>), como representante do governo provisório. Tal fato<br />
atesta a aprovação do Estado à nova instituição, que se iria tornar a “semente <strong>de</strong> uma gran<strong>de</strong><br />
árvore frondosa: a <strong>Universida<strong>de</strong></strong> <strong>Católica</strong> Brasileira”, como afirmou Alceu Amoroso Lima, no<br />
discurso proferido durante a mesma sessão (SALEM, ibi<strong>de</strong>m, p. 121, nota 38; 122).<br />
Também em âmbito político, manifestou-se uma renovada presença dos católicos.<br />
Dom Sebastião Leme reuniu e formou “li<strong>de</strong>res católicos <strong>de</strong> projeção intelectual e política que<br />
<strong>de</strong>fen<strong>de</strong>ssem e irradiassem os propósitos da Igreja no cenário da nação” (LIMA, ibi<strong>de</strong>m, p.<br />
160-161). Ele conseguiu restabelecer a antiga Liga Eleitoral <strong>Católica</strong> (LEC), em 1932, com o<br />
objetivo <strong>de</strong> organizar e instruir os eleitores católicos, para votar em candidatos i<strong>de</strong>ntificados<br />
com os postulados católicos a ser aceitos pelo Legislativo. A Constituinte <strong>de</strong> 1934-1935<br />
acolheu os votos da maioria católica da nação, que não tinham sido reconhecidos<br />
anteriormente e, na Constituição <strong>de</strong> 1934, foram introduzidos esses princípios:<br />
indissolubilida<strong>de</strong> do matrimônio; ensino religioso facultativo nas escolas oficiais do Estado;<br />
assistência religiosa nas Forças Armadas, prisões e hospitais; legislação trabalhista inspirada<br />
nos preceitos <strong>de</strong> justiça social cristã (LIMA, ibi<strong>de</strong>m, p. 149-163).<br />
A <strong>de</strong>fesa da instrução religiosa nas escolas públicas foi motivo <strong>de</strong> uma vasta<br />
polêmica com os educadores liberais e socialistas, pois os católicos viam, na ação dos<br />
chamados Pioneiros da Educação Nova, um projeto <strong>de</strong> monopolização do ensino pelo Estado.<br />
A <strong>de</strong>fesa dos princípios cristãos guiou as intervenções dos lí<strong>de</strong>res católicos, membros do<br />
Centro Dom Vital, na crítica ao naturalismo dos promotores da Escola Nova, que insistiam na<br />
<strong>de</strong>fesa da laicida<strong>de</strong> do ensino e que se empenhavam na expansão da escola pública (MOURA,<br />
2000, p. 113). Como afirma Cury (2005, p. 96), os educadores liberais, acusados <strong>de</strong> serem<br />
permissivos quanto à entrada <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ais americanos e protestantes, <strong>de</strong>fendiam a escola pública<br />
como caminho para a reconstrução nacional, on<strong>de</strong> o po<strong>de</strong>r do Estado seria <strong>de</strong>cisivo,<br />
expandindo o sistema e implantando novos processos <strong>de</strong> aprendizado, baseados nos métodos<br />
científicos. De acordo com Salem (ibi<strong>de</strong>m, p.99), foi especialmente a década <strong>de</strong> 1930 que<br />
conferiu à escola um papel fundamental para a reconstrução do País. Essa supervalorização<br />
i<strong>de</strong>ológica do processo educacional, compartilhada tanto pelos católicos quanto pelos<br />
escolanovistas, gerou uma disputa também política pelo controle do sistema escolar. O<br />
confronto, baseado nas diferentes filosofias pedagógicas, evi<strong>de</strong>nciava a concorrência entre
projetos alternativos <strong>de</strong> reconstrução nacional. Foi naqueles anos que se <strong>de</strong>finiu mais<br />
claramente o projeto católico da criação <strong>de</strong> uma UC, “para conter o avanço da secularização<br />
da cultura superior brasileira e a infiltração da pedagogia comunista nas políticas educacionais<br />
oficiais” (SALEM, ibi<strong>de</strong>m, p. 129-130).<br />
O padre Leonel Franca, no primeiro Congresso Católico Brasileiro <strong>de</strong> Educação (Rio<br />
<strong>de</strong> Janeiro, 1934), referia-se à UC como a uma “aspiração antiqüíssima <strong>de</strong> nossos bispos e <strong>de</strong><br />
nossos intelectuais”. Já em 1866, a afirmação explicita da idéia <strong>de</strong> uma UC no Brasil<br />
encontrava-se na Introdução ao Direito Civil Eclesiástico Brasileiro (vol. I, Rio <strong>de</strong> Janeiro,<br />
1866, p. XI), na qual o senador Cândido Men<strong>de</strong>s <strong>de</strong> Almeida manifestava o <strong>de</strong>sejo <strong>de</strong> ver a<br />
fundação <strong>de</strong> “uma universida<strong>de</strong> no sentido católico, como têm a Bélgica e a Irlanda”. Esta<br />
aspiração continuou a se manifestar entre os leigos. Em 1908, o Congresso Católico no Rio <strong>de</strong><br />
Janeiro, na Resolução n. 82, assim exprimia-se:<br />
Ar<strong>de</strong>ntíssimos votos faz o Congresso para que em nossa pátria se institua<br />
uma UC, à semelhança das que existem na Europa e notadamente a <strong>de</strong><br />
Louvain; e como preparo a se atingir tal <strong>de</strong>si<strong>de</strong>ratum enten<strong>de</strong> que se po<strong>de</strong>ria<br />
começar pela fundação <strong>de</strong> faculda<strong>de</strong>s especiais, dando-se preferência às <strong>de</strong><br />
filosofia, <strong>de</strong> letras e jurídicas 7 .<br />
No mesmo ano <strong>de</strong> 1908, em São Paulo, foi fundada a Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Filosofia <strong>de</strong> São<br />
Bento pelo aba<strong>de</strong> beneditino Dom Miguel Kruse e o Seminário Arquidiocesano <strong>de</strong> São Paulo<br />
recebeu o título <strong>de</strong> Pontifícia Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Filosofia e Letras, assim funcionando durante seis<br />
anos.<br />
Em 1916, Dom Sebastião Leme, ainda arcebispo <strong>de</strong> Olinda e Recife, exortou<br />
explicitamente à criação <strong>de</strong> uma UC: “A nós católicos se impõe o <strong>de</strong>ver <strong>de</strong> darmos os passos<br />
necessários para que à mocida<strong>de</strong> estudiosa se abram Escolas Superiores francamente católicas<br />
[...]. A Bélgica, a Alemanha, os Estados Unidos têm as suas UCs. Têm-nas o Chile e a<br />
Argentina. Por que não as teremos no Brasil?” (CARTA PASTORAL <strong>DE</strong> SÃO JOSÉ, Olinda,<br />
1916). A referência à <strong>de</strong> Louvain é interessante para a historia da “idéia” da UC, pois Dom<br />
Sebastião Leme <strong>de</strong>fine esta universida<strong>de</strong> como “um hino à aliança da fé com a ciência”. No<br />
Concílio Plenário Brasileiro <strong>de</strong> 1939, os bispos elaboraram uma nova Pastoral Coletiva, na<br />
7 Atas e documentos do II Congresso Católico Brasileiro, Rio 1910, p.424, citado por LACOMBE, p.81 em<br />
Estudos da CNBB n.56, São Paulo: Paulinas, 1988.
qual se lê:<br />
Como expressão cultural superior do catolicismo e como instrumento<br />
imprescindível <strong>de</strong> sua irradiação ampla e benfazeja em todas as esferas<br />
sociais, a universida<strong>de</strong> católica é, para o Brasil, penhor <strong>de</strong> vida no presente e<br />
promessa <strong>de</strong> mais seguro porvir [...]. A fundação da universida<strong>de</strong> católica<br />
será a glória <strong>de</strong> nossa geração (apud ANTONIAZZI, ibi<strong>de</strong>m, p. 305).<br />
Na visão <strong>de</strong> Beozzo (ibi<strong>de</strong>m, p. 33), “a universida<strong>de</strong> aparece como fruto normal <strong>de</strong><br />
uma série <strong>de</strong> fatos, que vão da fundação do Centro Dom Vital, passando pela AUC, até o<br />
Instituto Católico <strong>de</strong> Estudos Superiores”. Em janeiro <strong>de</strong> 1940, no Rio <strong>de</strong> Janeiro, o car<strong>de</strong>al<br />
Sebastião Leme <strong>de</strong>signou o padre Leonel Franca e Alceu Amoroso Lima para preparar a<br />
constituição da Socieda<strong>de</strong> Civil Faculda<strong>de</strong>s <strong>Católica</strong>s, mantenedora da primeira UC do Brasil.<br />
A responsabilida<strong>de</strong> administrativa, científica e didática das Faculda<strong>de</strong>s, fundadas em 21 <strong>de</strong><br />
junho do mesmo ano, foi atribuída à Companhia <strong>de</strong> Jesus. No dia 30 <strong>de</strong> outubro <strong>de</strong> 1940, o<br />
Conselho Nacional <strong>de</strong> Educação autorizou, com o Decreto n. 6.409, o curso <strong>de</strong> bacharelado na<br />
Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Direito e sete cursos na Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Filosofia, Ciências e Letras (FFCL). Em<br />
22 <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro, o padre Leonel Franca foi nomeado reitor. Em 15 <strong>de</strong> março <strong>de</strong> 1941, houve a<br />
solene abertura dos cursos, na presença do ministro da Educação, Gustavo <strong>Capa</strong>nema. Havia<br />
14 alunos <strong>de</strong> Direito (todos homens) e 70 alunos (14 rapazes e 56 moças) nos cursos da FFCL<br />
(SESSENTA ANOS PUC RIO, 2000, p. 18-20). Em 1946, a Escola <strong>de</strong> Serviço Social do<br />
Instituto Social do Rio <strong>de</strong> Janeiro, fundado em 1937, se agregava às Faculda<strong>de</strong>s <strong>Católica</strong>s,<br />
completando o número <strong>de</strong> unida<strong>de</strong>s requerido por lei para a formação <strong>de</strong> uma universida<strong>de</strong>.<br />
Pelo Decreto Fe<strong>de</strong>ral n. 8.681, <strong>de</strong> 15 <strong>de</strong> março <strong>de</strong> 1946, as Faculda<strong>de</strong>s <strong>Católica</strong>s foram<br />
reconhecidas como universida<strong>de</strong>, que, no ano seguinte, recebeu o título e as prerrogativas <strong>de</strong><br />
Pontifícia <strong>Universida<strong>de</strong></strong> <strong>Católica</strong> do Rio <strong>de</strong> Janeiro (PUC-Rio).<br />
Como afirma Cunha (1986), na era <strong>de</strong> Vargas, o apoio à criação das UCs explica-se<br />
no contexto da aproximação Estado e Igreja, quando, em face da dificulda<strong>de</strong> do Estado<br />
assumir o ensino superior, as UCs exerceram uma função supletiva nesse nível <strong>de</strong> ensino.<br />
A <strong>Universida<strong>de</strong></strong> <strong>Católica</strong> surgiu justamente na capital da República, na se<strong>de</strong><br />
do aparelho <strong>de</strong> Estado, visando <strong>de</strong>senvolver o ensino segundo padrões<br />
mo<strong>de</strong>rnos, com estudantes que já tivessem, predominantemente, uma<br />
educação secundária católica, capazes, portanto, <strong>de</strong> terem uma formação<br />
homogênea [...] orientados para a direção da socieda<strong>de</strong> (CUNHA, 1986, p.<br />
317).
No mesmo ano <strong>de</strong> 1946, foi fundada, pelo car<strong>de</strong>al Carlos Carmelo <strong>de</strong> Vasconcelos<br />
Motta e reconhecida pelo governo fe<strong>de</strong>ral, a PUC <strong>de</strong> São Paulo, que recebeu também o título<br />
<strong>de</strong> Pontifícia, contemporaneamente à do Rio. Ela reunia faculda<strong>de</strong>s já existentes e em pleno<br />
funcionamento, como a Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Filosofia <strong>de</strong> São Bento (<strong>de</strong>s<strong>de</strong> 1908), a Faculda<strong>de</strong> Se<strong>de</strong>s<br />
Sapientiae (<strong>de</strong>s<strong>de</strong> 1933), a Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Engenharia Industrial (FEI), fundada em 1945, que<br />
<strong>de</strong>pois se separou novamente. Em 1948, foi reconhecida a UC do Rio Gran<strong>de</strong> do Sul<br />
(Pontifícia <strong>de</strong>s<strong>de</strong> 1950), também constituída a partir <strong>de</strong> faculda<strong>de</strong>s mais antigas. Em 1952, foi<br />
reconhecida a UC <strong>de</strong> Pernambuco; em 1955, a <strong>de</strong> Campinas, cuja origem se situa na<br />
Socieda<strong>de</strong> Campineira <strong>de</strong> Educação e Instrução, fundada em 1941, pela mesma Diocese. A<br />
UC <strong>de</strong> Minas Gerais, que reunia várias escolas e faculda<strong>de</strong>s anteriores, foi reconhecida no ano<br />
<strong>de</strong> 1958. Entre 1959 e 1961, foram constituídas e reconhecidas mais cinco UCs no Brasil: a <strong>de</strong><br />
Goiás, a <strong>de</strong> Paraná, a <strong>de</strong> Pelotas (no Rio Gran<strong>de</strong> do Sul), a <strong>de</strong> Petrópolis e a <strong>de</strong> Salvador.<br />
Surgiram também numerosas escolas e faculda<strong>de</strong>s isoladas <strong>de</strong> orientação católica 8<br />
(ANTONIAZZI, ibi<strong>de</strong>m, p. 306-308).<br />
Esta sintética apresentação mostra como as UCs do Brasil nasceram da fusão ou<br />
simples agregação <strong>de</strong> faculda<strong>de</strong>s isoladas preexistentes, com exceção da PUC-Rio, que foi a<br />
única que teve uma organização orgânica e planejada. Des<strong>de</strong> a década <strong>de</strong> 1930, todas elas<br />
foram constituídas em contextos on<strong>de</strong> os católicos já atuavam intensamente. A idéia<br />
orientadora geral era a função cultural da universida<strong>de</strong>, numa perspectiva cristã. A PUC-Rio,<br />
segundo Antoniazzi (ibi<strong>de</strong>m, p. 310), representou a UC que <strong>de</strong>u maior continuida<strong>de</strong> à atuação<br />
do laicato católico das décadas <strong>de</strong> 1930 e <strong>de</strong> 1940, em particular aos interesses do Centro<br />
Dom Vital. Por outro lado, a ênfase dada a cursos como serviço social, enfermagem,<br />
engenharia, formação <strong>de</strong> professores, filosofia, jornalismo e psicologia explica-se pela<br />
presença <strong>de</strong> numerosas obras da Igreja nesses campos e, ao mesmo tempo, está relacionada<br />
com a <strong>de</strong>manda <strong>de</strong> profissionais, <strong>de</strong>vido ao <strong>de</strong>senvolvimento econômico daqueles anos. O<br />
mesmo autor afirma que a Igreja no Brasil “passou <strong>de</strong> um projeto <strong>de</strong> influência sobre a<br />
socieda<strong>de</strong> através das elites (década <strong>de</strong> 30) a um projeto <strong>de</strong> participação na mudança global da<br />
socieda<strong>de</strong>, a partir dos interesses das classes populares (década <strong>de</strong> 70)” e serviu-se das UCs<br />
como “expressão e instrumentos da sua missão” (ANTONIAZZI, ibi<strong>de</strong>m, p. 317).<br />
2.3. A UNIVERSIDA<strong>DE</strong> CATÓLICA NOS DOCUMENTOS OFICIAIS DA<br />
8 Outras notícias se encontram no Catálogo das Instituições <strong>Católica</strong>s <strong>de</strong> Ensino Superior no Brasil, publicado
IGREJA: I<strong>DE</strong>NTIDA<strong>DE</strong> E MISSÃO.<br />
Ao longo dos últimos dois séculos, observa-se um aumento gradual do interesse da<br />
Igreja para com o mundo da universida<strong>de</strong>, cujo sinal é o número e a extensão dos documentos<br />
que enfocam o assunto. De acordo com as premissas metodológicas do presente estudo, estes<br />
documentos oficiais da Igreja <strong>Católica</strong>, especialmente os elaborados no âmbito da Igreja local<br />
brasileira, foram tomados como referência para uma reflexão teórica sobre a UC.<br />
Segundo a análise da CNBB (1988, p. 206-248), os papas do século XIX e do início<br />
do século XX consi<strong>de</strong>ravam a universida<strong>de</strong> como uma instituição que, tendo excluído Cristo e<br />
seu Evangelho, havia-se tornado um ambiente inimigo e perigoso para os católicos, ambiente<br />
que não podia ser evangelizado diretamente, mas por meio da criação, como alternativa, das<br />
Instituições <strong>de</strong> Ensino Superior Católico (IESC) 9 . Na encíclica Militantis Ecclesia (1-8-1897),<br />
o papa Leão XIII (1878-1903) apelou as UCs <strong>de</strong> “fortes cida<strong>de</strong>las”, nas quais a juventu<strong>de</strong><br />
receberia seu ensinamento, na orientação da sabedoria cristã, contra a liberda<strong>de</strong> “<strong>de</strong>senfreada”<br />
do pensamento e da imprensa e contra as falsas concepções sobre as realida<strong>de</strong>s divinas e<br />
humanas. Esta visão é compreensível, quando se leva em conta o anticlericalismo militante do<br />
ambiente científico e universitário do século XIX. Já com o papa Pio XI (1922-1939), apesar<br />
dos acenos à vigilância e à apologética, vislumbra-se uma visão mais favorável. Na Carta<br />
Apostólica Con vivo compiacimento (22-4-1922) ao padre Agostino Gemelli, fundador e<br />
reitor da <strong>Universida<strong>de</strong></strong> do Sagrado Coração <strong>de</strong> Milão, Pio XI <strong>de</strong>screveu as características <strong>de</strong><br />
uma IESC, <strong>de</strong>stacando a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> “cooperar eficazmente à renovação religiosa e moral<br />
da socieda<strong>de</strong>”; “harmonizar religião e ciência”; “manter bem alta a própria autorida<strong>de</strong> no<br />
campo científico”; “unir ao estudo extenso e profundo das disciplinas humanas um culto não<br />
menos extenso e profundo das verda<strong>de</strong>s católicas”. Na encíclica Divini Magistri (31-12-<br />
1929), o mesmo papa atribuía à Igreja o direito preeminente e privilegiado à educação,<br />
con<strong>de</strong>nando o monopólio estatal sobre a escola; e na Constituição Apostólica <strong>de</strong> 1931, já<br />
citada, ele insistia: “as universida<strong>de</strong>s e faculda<strong>de</strong>s católicas, que são as primeiras em<br />
dignida<strong>de</strong>, se distingam também, em primeiro lugar, entre todos os outros institutos, pela<br />
profun<strong>de</strong>za dos estudos e pelo esplendor das ciências”. Em 1949, o papa Pio XII (1939-1958)<br />
<strong>de</strong>clarou que os princípios cristãos eram a razão <strong>de</strong> ser das IESC, cujo compromisso <strong>de</strong>via ser<br />
o <strong>de</strong> introduzir no corpo social da nação elementos dirigentes e homens <strong>de</strong> cultura que<br />
pela ABESC (Belo Horizonte) em 1978.
honrassem a fé e a Igreja e que fossem levedo regenerador, fator <strong>de</strong> renovação. Os<br />
universitários das IESC <strong>de</strong>viam ser testemunhas dos princípios que moldaram sua cultura<br />
superior, para fazer <strong>de</strong>la o substrato <strong>de</strong> sua vida profissional, para a elevação espiritual e a<br />
restauração da socieda<strong>de</strong> que os receberia (L´imminente celebrazione, Carta ao Padre Gemelli,<br />
17-3-1949, apud Antoniazzi, p. 211). Em 1950, o próprio Pio XII instituiu a Fe<strong>de</strong>ração<br />
Internacional das <strong>Universida<strong>de</strong></strong>s <strong>Católica</strong>s (FIUC), em colaboração com a Congregação<br />
Romana para a Educação <strong>Católica</strong>.<br />
Se as ciências e a universida<strong>de</strong> eram antes consi<strong>de</strong>radas servas conjunturalmente<br />
rebel<strong>de</strong>s da teologia, com a Humani Generis <strong>de</strong> Pio XII, principalmente <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> 1950, foi<br />
afirmada a autonomia da ciência e foi negada a contradição entre ciência e fé. Estas <strong>de</strong>viam<br />
apenas <strong>de</strong>finir seus respectivos setores numa recíproca e respeitosa liberda<strong>de</strong>, aliás, em mútua<br />
colaboração (cf. Paulo VI, 6-12-1966). Com o Concílio Ecumênico Vaticano II (1962-1965),<br />
concluiu-se, em certo sentido, a resistência da Igreja à mo<strong>de</strong>rnida<strong>de</strong> secularizante, na<br />
perspectiva <strong>de</strong> “colocar o mundo mo<strong>de</strong>rno em contato com as energias vivificantes do<br />
Evangelho” (João XXIII, Constituição Apostólica Humanae Salutis, 1961). No interior <strong>de</strong> um<br />
difícil, mas fecundo movimento <strong>de</strong> discernimento, <strong>de</strong> crítica e autocrítica, a Igreja caminhava<br />
para superar a herança <strong>de</strong> ruptura entre o Evangelho e a cultura: colocando as premissas <strong>de</strong><br />
uma “nova reforma” e <strong>de</strong> um “novo iluminismo”, retomava pela própria tradição o melhor<br />
daquelas instâncias, sem <strong>de</strong>scuidar dos erros, como <strong>de</strong>notam especialmente os documentos<br />
Lumen Gentium e Gaudium et Spes (CARRIQUIRY LECOUR, 2002, p. 293-294).<br />
O Concílio Vaticano II tratou das universida<strong>de</strong>s católicas especialmente no parágrafo<br />
n. 10 da Declaração Gravissimum Educationis, que afirmou a necessida<strong>de</strong> da autonomia das<br />
ciências, da liberda<strong>de</strong> <strong>de</strong> pesquisa e do diálogo entre a fé e a razão, enquanto colaboram para<br />
uma só verda<strong>de</strong>. Foi indicada a necessida<strong>de</strong> da presença <strong>de</strong> uma cátedra ou mesmo faculda<strong>de</strong><br />
<strong>de</strong> Teologia, e apontou-se a exigência <strong>de</strong> uma formação qualificada, sublinhando a priorida<strong>de</strong><br />
da qualida<strong>de</strong> sobre a quantida<strong>de</strong>. As IECS cessavam, assim, <strong>de</strong> ser consi<strong>de</strong>radas um meio <strong>de</strong><br />
<strong>de</strong>fesa e adquiriam o significado <strong>de</strong> um princípio ativo, <strong>de</strong> fermento, na massa do mundo<br />
universitário, para efetuar uma presença pública e constante do pensamento cristão, em todo o<br />
esforço <strong>de</strong>dicado em promover a cultura superior.<br />
A renovação conciliar <strong>de</strong>senvolveu-se, cronologicamente e culturalmente, em tempos<br />
<strong>de</strong> forte politização e i<strong>de</strong>ologização, sob o impacto <strong>de</strong> fatos como a revolução cubana, a<br />
9 As IESC constituem, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> 1952, a Associação Brasileira <strong>de</strong> Escolas Superiores <strong>Católica</strong>s (ABESC).
guerra do Vietnã, a contestação universitária <strong>de</strong> 1968, a revolução cultural chinesa, a invasão<br />
soviética <strong>de</strong> Praga, um período <strong>de</strong> muitos conflitos nas fábricas e <strong>de</strong> altos níveis <strong>de</strong> violência<br />
por toda parte, juntamente ao enrijecer-se da contraposição política do mundo bipolar.<br />
Tomando como exemplo a atuação da Igreja do pós-concílio, o papa Paulo VI (1963-1978)<br />
exortou as UC a promover o diálogo com todas as culturas, com os ateus, com os não cristãos,<br />
com os cristãos <strong>de</strong> outras confissões, mas “mantendo intacto o caráter <strong>de</strong> UC [...], procurando<br />
a plena ortodoxia da doutrina, o respeito ao magistério da Igreja, a fi<strong>de</strong>lida<strong>de</strong> à hierarquia e à<br />
Sé Apostólica”, sem relativismo doutrinal ou mimetismo moral (DISCURSO AOS<br />
REITORES DAS IESC, 6-8-1975). Por ocasião da beatificação <strong>de</strong> José Moscati, médico e<br />
professor universitário, Paulo VI ressaltou: a harmonia entre ciência e fé, na vida <strong>de</strong>ste<br />
professor; a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> viver cristã e santamente no difícil ambiente da universida<strong>de</strong>, a<br />
dificulda<strong>de</strong> e o sacrifício que advêm do ser cristão neste ambiente; a sua <strong>de</strong>dicação aos mais<br />
pobres (Roma, 16-11-1975).<br />
Voltando à América Latina, durante a primeira Conferência Geral do Episcopado<br />
Latino-Americano (1955), o papa Pio XII havia promovido a criação do Conselho Episcopal<br />
Latino-Americano (CELAM), instaurando as premissas <strong>de</strong> uma nova dinâmica <strong>de</strong> colaboração<br />
entre todos os bispos e as igrejas locais da América Latina. Na fase <strong>de</strong> renovação gerada pelo<br />
Concílio Vaticano II, a Igreja católica da América Latina promoveu estudos sobre a<br />
i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> e a missão das UCs, especialmente por meio do programa da Conferência Nacional<br />
dos Bispos do Brasil (CNBB) e da Associação Brasileira <strong>de</strong> Escolas Superiores <strong>Católica</strong>s<br />
(ABESC).<br />
A Comissão <strong>de</strong> Educação do CELAM, em 1967, elaborou o documento <strong>de</strong> Buga<br />
(Colômbia), no qual se afirma que a i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> católica <strong>de</strong>ver ser “a inspiração, a alma da<br />
própria universida<strong>de</strong>”, sem “catolicizar” a ciência, mas promovendo “o diálogo<br />
institucionalizado entre a ciência, a técnica e as artes, <strong>de</strong> um lado, e <strong>de</strong> outro, a filosofia e a<br />
teologia”. Acrescenta-se, em seguida, a liberda<strong>de</strong> e o respeito à pessoa, em compromisso com<br />
o momento histórico vivido pelo continente americano. Da segunda Conferência Geral do<br />
Episcopado Latino-Americano, realizada na cida<strong>de</strong> colombiana <strong>de</strong> Me<strong>de</strong>llín, no ano <strong>de</strong> 1968,<br />
resultou o documento <strong>de</strong>nominado A Igreja na atual transformação da América Latina à luz<br />
do Concílio. No contexto da <strong>de</strong>nominada opção preferencial pelos pobres, o capítulo 2 exorta<br />
para que colégios, seminários e universida<strong>de</strong>s sejam lugares on<strong>de</strong> “se forme um sadio sentido<br />
crítico da situação social e se fomente a vocação do serviço”.<br />
O capítulo 4, sobre a educação, insistindo na mesma linha do Concílio Vaticano II,
chama atenção para o diálogo entre a teologia e os diversos ramos do saber, em comunhão<br />
com as exigências mais profundas do homem e da socieda<strong>de</strong>, no respeito do método próprio<br />
<strong>de</strong> cada disciplina. Lembra que as UCs <strong>de</strong>vem ser antes <strong>de</strong> tudo universida<strong>de</strong>s, consagradas ao<br />
ensino e à pesquisa, nas quais a busca da verda<strong>de</strong> seja um trabalho comum entre professores e<br />
alunos. O item 30 afirma também a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> que a Igreja busque prioritariamente o<br />
melhoramento das UCs existentes, antes <strong>de</strong> promover a criação <strong>de</strong> novas instituições (DOIG,<br />
2007, p. 678-679). Influenciada pelas orientações do Concílio, evi<strong>de</strong>ncia-se, portanto, uma<br />
nova atitu<strong>de</strong> da Igreja em perceber-se como uma instituição a serviço do mundo. Juntamente à<br />
salvaguarda da fé católica, sua principal preocupação torna-se a problemática social.<br />
Em 1979, o documento da Conferência <strong>de</strong> Puebla, intitulado A evangelização no<br />
presente e no futuro da América Latina, reafirma basicamente os mesmos princípios, em<br />
relação à UC. No parágrafo n. 1.059 se lê:<br />
Num mundo pluralista, não é fácil para ela manter a própria i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>. Ela<br />
cumprirá sua função, enquanto católica, <strong>de</strong>scobrindo o seu significado último<br />
e profundo em Cristo, na sua mensagem salvífica que abarca o homem em sua<br />
totalida<strong>de</strong> [...]. Enquanto universida<strong>de</strong>, ela procurará sobressair pela<br />
honestida<strong>de</strong> científica, pelo compromisso com a verda<strong>de</strong>, pela preparação <strong>de</strong><br />
profissionais competentes para o mundo do trabalho e pela pesquisa <strong>de</strong><br />
soluções para os problemas mais angustiantes da América Latina.<br />
O parágrafo n. 1.060 insiste no “compromisso na criação duma nova América Latina<br />
mais justa e fraterna”, para renovar a cultura pela força do Evangelho e harmonizar da melhor<br />
maneira “o nacional, o humano e o cristão”. No parágrafo n. 1.062, sugere-se que a UC<br />
ofereça “cursos especializados”, “educação continuada para adultos” e “extensão<br />
universitária, com oferta <strong>de</strong> oportunida<strong>de</strong>s e serviços para marginalizados e pobres”.<br />
O próprio papa João Paulo II, por ocasião da sua participação na Conferência <strong>de</strong><br />
Puebla (31-1-1979), propõe três observações sobre a UC: a primeira é que a mesma <strong>de</strong>ve<br />
oferecer uma contribuição específica à Igreja e à socieda<strong>de</strong>, situando-se num nível <strong>de</strong><br />
investigação científica elevado, encontrando seu significado último e profundo em Cristo,<br />
promovendo uma cultura que tenha em vista o <strong>de</strong>senvolvimento completo da pessoa humana.<br />
A segunda observação é que a UC <strong>de</strong>ve ser formadora <strong>de</strong> homens insignes pelo saber,<br />
dispostos a exercer funções <strong>de</strong> responsabilida<strong>de</strong> na socieda<strong>de</strong> e a testemunhar a sua fé diante<br />
do mundo, promovendo e realizando uma síntese entre fé e razão, entre fé e cultura, entre fé e
vida. Em terceiro lugar, João Paulo II i<strong>de</strong>ntifica como caráter irrenunciável da UC o <strong>de</strong> ser<br />
comunida<strong>de</strong> comprometida na investigação científica, mas também caracterizada visivelmente<br />
por uma vida cristã autêntica: “A <strong>Universida<strong>de</strong></strong> <strong>Católica</strong> <strong>de</strong>ve ser um exemplo <strong>de</strong> cristianismo<br />
vivo e operante [...]. Todos os membros dos diversos níveis – mesmo aqueles que, embora<br />
não sejam católicos, aceitam e respeitam esses i<strong>de</strong>ais – <strong>de</strong>vem formar uma família<br />
universitária” (apud ANTONIAZZI, ibi<strong>de</strong>m, p. 229). Alguns anos mais tar<strong>de</strong>, ele afirmou:<br />
È certo que a ciência e a fé representam duas or<strong>de</strong>ns <strong>de</strong> conhecimento<br />
distintas, autônomas nos seus procedimentos, mas convergentes, finalmente,<br />
no <strong>de</strong>scobrimento da realida<strong>de</strong> integral, que tem sua origem em Deus! [...] Se<br />
no passado se produziram sérios <strong>de</strong>sacordos e mal-entendidos [...], hoje foram<br />
praticamente superados, graças ao reconhecimento dos erros <strong>de</strong> interpretação,<br />
que pu<strong>de</strong>ram <strong>de</strong>formar as relações entre fé e ciência e, sobretudo, graças a<br />
uma melhor compreensão dos respectivos campos do saber (Madrid, 3-11-<br />
1982).<br />
Os documentos citados supõem que o fim e a natureza <strong>de</strong> uma instituição se incluem<br />
mutuamente e se <strong>de</strong>finem um pelo outro. Assim, uma mesma reflexão abrange a i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> e<br />
a missão da UC, como termos inseparáveis na teoria e na prática.<br />
Se inicialmente, no século XIX, a universida<strong>de</strong> era consi<strong>de</strong>rada essencialmente<br />
como o lugar da formação das elites, em vista da influência que estas teriam, em seguida,<br />
sobre a socieda<strong>de</strong> civil, os documentos sucessivos <strong>de</strong>stacavam a função social da<br />
universida<strong>de</strong>, ligada aos <strong>de</strong>safios que a comunida<strong>de</strong> colocava: a <strong>de</strong>scoberta da única verda<strong>de</strong>,<br />
na diversida<strong>de</strong> dos métodos, a formação do homem na sua totalida<strong>de</strong> e não só<br />
profissionalmente, a luta pela justiça social. Os princípios apresentados nestes documentos<br />
fundamentaram a criação, a consolidação e a expansão das UCs em todo o mundo e,<br />
especialmente para este estudo, no Brasil.<br />
O capítulo a seguir irá dissertar sobre a fundação e os primeiros anos das Faculda<strong>de</strong>s<br />
<strong>Católica</strong>s Petropolitanas, semente da futura <strong>Universida<strong>de</strong></strong> <strong>Católica</strong> <strong>de</strong> Petrópolis. No contexto<br />
dos anos <strong>de</strong> 1950, a criação <strong>de</strong> uma instituição <strong>de</strong> Ensino Superior em Petrópolis estava<br />
intimamente ligada à concepção católica <strong>de</strong> educação e à atuação pastoral do bispo<br />
diocesano, Dom Manuel Pedro da Cunha Cintra.
3 AS FACULDA<strong>DE</strong>S CATÓLICAS PETROPOLITANAS<br />
3.1. OS I<strong>DE</strong>ALIZADORES<br />
A instituição da UCP teve sua origem na fundação da associação civil Faculda<strong>de</strong>s<br />
<strong>Católica</strong>s Petropolitanas, que ocorreu em 31 <strong>de</strong> maio <strong>de</strong> 1953, por iniciativa do primeiro bispo<br />
diocesano <strong>de</strong> Petrópolis, Dom Manuel Pedro da Cunha Cintra (1906-1999).<br />
A idéia <strong>de</strong> se criar em Petrópolis uma universida<strong>de</strong> era, porém, mais antiga. O<br />
prefeito Antonio <strong>de</strong> Paula Buarque, que criou a Inspetoria do Ensino, para cuidar<br />
especificamente da instrução escolar, já em 1926 <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>u a hipótese <strong>de</strong> transformar a cida<strong>de</strong><br />
em um centro universitário, a ponto <strong>de</strong> sugerir que a <strong>Universida<strong>de</strong></strong> do Brasil fosse sediada em<br />
Petrópolis 10 . Em 1935, o professor Plínio Leite, que dirigia um dos mais conceituados<br />
estabelecimentos <strong>de</strong> ensino da cida<strong>de</strong>, com a colaboração <strong>de</strong> um grupo <strong>de</strong> ilustrados<br />
professores, entre os quais Mario Aloysio Cardoso <strong>de</strong> Miranda, Jacy dos Reis Junqueira,<br />
Antonio Autram, Carlos Brandão Camacho, chegou a instalar uma universida<strong>de</strong>. No <strong>de</strong>sejo<br />
dos fundadores, a universida<strong>de</strong>, sediada no prédio da Rua Viscon<strong>de</strong> <strong>de</strong> Itaboray, que já tinha<br />
10 Cf. o artigo intitulado “Petrópolis, se<strong>de</strong> universitária?”, publicado na Tribuna <strong>de</strong> Petrópolis, em setembro <strong>de</strong><br />
1926.
hospedado o Instituto Lafayete e o Colégio Americano, funcionaria com os cursos <strong>de</strong><br />
Odontologia, Direito, Administração e Finanças, Educação, Ciências e Letras. Das quatros<br />
unida<strong>de</strong>s acadêmicas pretendidas, funcionou apenas a Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Direito, até o 4º ano, sem<br />
obter o reconhecimento do Conselho Nacional <strong>de</strong> Educação 11 (TRIBUNA <strong>DE</strong> PETRÓPOLIS<br />
– 100 ANOS EM REVISTA 1902-2002, 2002, p. 92).<br />
A instituição <strong>de</strong> uma universida<strong>de</strong> tornou-se possível após a criação da Diocese <strong>de</strong><br />
Petrópolis pela Bula Pastoralis qua urgemur, do papa Pio XII, a 13 <strong>de</strong> abril <strong>de</strong> 1946. Como<br />
primeiro bispo da nova diocese, foi escolhido Dom Manuel Pedro da Cunha Cintra. Originário<br />
do interior <strong>de</strong> São Paulo, ainda seminarista foi enviado a Roma como aluno do Colégio Pio<br />
Latino Americano. Freqüentou a Pontifícia <strong>Universida<strong>de</strong></strong> Gregoriana, recebendo o grau <strong>de</strong><br />
doutor em filosofia e teologia e foi or<strong>de</strong>nado sacerdote em 1930, na Basílica <strong>de</strong> São João em<br />
Latrão. Em 1940, recebeu o título <strong>de</strong> monsenhor; dois anos <strong>de</strong>pois, foi nomeado juiz do<br />
Tribunal Eclesiástico da Arquidiocese do Rio <strong>de</strong> Janeiro. Por oito anos (1940-1948) exerceu o<br />
cargo <strong>de</strong> reitor do Seminário Central da Imaculada Conceição do Ipiranga, em São Paulo.<br />
Quanto à personalida<strong>de</strong> <strong>de</strong> monsenhor Cintra, os seus seminaristas <strong>de</strong> São Paulo se<br />
lembram <strong>de</strong>le como mestre e educador, “dotado <strong>de</strong> senso prático da realida<strong>de</strong>, inflexível em<br />
certos assuntos, mas capaz <strong>de</strong> ce<strong>de</strong>r à verda<strong>de</strong>, venha <strong>de</strong> on<strong>de</strong> vier. Possuía um caráter forte e<br />
<strong>de</strong>sinteressado, norteado pela fé, em que se equilibravam energia e mansidão, amiza<strong>de</strong> e<br />
crítica leal” (AÇÃO, 1948, junho, p. 2-5). Em 1944, o papa Pio XII confiou-lhe funções <strong>de</strong><br />
Visitador Apostólico dos Seminários do Brasil, cargo em que permaneceu até 1956. Depois <strong>de</strong><br />
percorrer <strong>de</strong> norte a sul do País as casas <strong>de</strong> formação eclesiástica, foi pessoalmente a Roma<br />
para relatar os resultados dos seus trabalhos à Sagrada Congregação dos Seminários e<br />
<strong>Universida<strong>de</strong></strong>s. Quando regressou ao Brasil, trouxe o novo programa <strong>de</strong> estudos para os<br />
seminaristas e um documento pontifício dirigido ao episcopado brasileiro, a Carta Apostólica<br />
do papa Pio XII sobre as vocações sacerdotais, na qual se ressaltava a vigorosa e sadia<br />
formação do clero, que constituiu sempre a diretriz e a preocupação máxima <strong>de</strong> monsenhor<br />
Cintra, segundo as palavras do vigário geral, monsenhor Francisco Gentil Costa (AÇÃO,<br />
1948, maio, p. 14-15).<br />
No dia 9 <strong>de</strong> janeiro <strong>de</strong> 1948, foi publicada a nomeação <strong>de</strong> monsenhor Cintra para<br />
bispo da nova Diocese <strong>de</strong> Petrópolis. Sagrado a 28 <strong>de</strong> março, em São Paulo, Dom Cintra<br />
11 Em 1930, sob o governo provisório, Getúlio Vargas criou o Ministério da Educação e Saú<strong>de</strong> Pública e, a<br />
seguir, em 11-4-1931, instituiu por meio do Decreto n. 19.850, o Conselho Nacional <strong>de</strong> Educação (CNE), em<br />
substituição ao Conselho Nacional do Ensino.
tomou posse da sua Diocese a 25 <strong>de</strong> abril <strong>de</strong> 1948. Des<strong>de</strong> o início, ele conseguiu entrosar-se<br />
com a comunida<strong>de</strong>, recebendo a todos os que o procuravam, aceitando convites <strong>de</strong> pessoas<br />
importantes ou simples, comparecendo a reuniões públicas oficiais e particulares, assistindo a<br />
sessões <strong>de</strong> instituições culturais, patrocinando concertos e mostras <strong>de</strong> artes, presidindo<br />
cerimônias cívicas e religiosas. Era muito estimado por sua inteligência e cultura, que se<br />
expressavam em sermões, em conferências, em discursos, assim como nos escritos (AÇÃO,<br />
1949, abril, p. 82). Segundo o testemunho do professor Jerônimo Ferreira Alves Neto 12 , logo<br />
<strong>de</strong>pois a sua chegada em Petrópolis, Dom Cintra freqüentou com assiduida<strong>de</strong> a biblioteca do<br />
Museu Imperial, procurando conhecer a história da cida<strong>de</strong>, para melhor respon<strong>de</strong>r às<br />
necessida<strong>de</strong>s sociais e culturais <strong>de</strong>la. Um outro aspecto da personalida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Dom Cintra é<br />
apresentado na citada lembrança dos seus seminaristas <strong>de</strong> São Paulo:<br />
Quanto à oratória, não é seguramente um gran<strong>de</strong> orador, capaz <strong>de</strong><br />
entusiasmar, às primeiras palavras, as massas; no entanto, o porte sempre<br />
nobre, a distinção inimitável dos gestos, o acento <strong>de</strong> convicção profunda<br />
com que fala, envolvida numa voz que penetra, fazem com que seu verbo<br />
chegue ao âmago dos corações, conseguindo o que o orador se propôs<br />
(AÇÃO, ibi<strong>de</strong>m, p. 82-83).<br />
O novo bispo aten<strong>de</strong>u, primeiramente, à construção e ao funcionamento do<br />
Seminário Diocesano, por julgar essa obra <strong>de</strong> imediata necessida<strong>de</strong>: o clero existente era<br />
insuficiente e o único meio <strong>de</strong> prover ao seu aumento era instituir em Petrópolis uma casa<br />
para essa formação. Com a colaboração <strong>de</strong> monsenhor Gentil Costa, Dom Cintra organizou a<br />
associação da Obra <strong>de</strong> Vocações Sacerdotais (OVS), que, em poucos anos, ultrapassou 12 mil<br />
sócios: eles obrigavam-se a rezar pelas vocações e a recolher contribuições para a construção<br />
e, posteriormente, para a manutenção do Seminário. Os balancetes da OVS, nos quais<br />
apareciam as contribuições das paróquias, dos benfeitores e muitos donativos anônimos, eram<br />
publicados mensalmente na revista diocesana Ação, outro sinal da vitalida<strong>de</strong> da presença<br />
católica na cida<strong>de</strong>. A revista Ação era o órgão oficial da Ação <strong>Católica</strong> local, sob a direção do<br />
Departamento Diocesano <strong>de</strong> Imprensa, Rádio e Informações. Como explicou monsenhor<br />
Gentil Costa, no editorial do número I, escopo da revista era o <strong>de</strong> “ser um signo <strong>de</strong> fé,<br />
percorrendo todos os lares para formar e conquistar almas [...] tornando amplamente<br />
conhecido e amado o mais legítimo e atual apostolado dos católicos leigos: o apostolado da<br />
12 Entrevista concedida em 18 <strong>de</strong> outubro <strong>de</strong> 2007.
Ação <strong>Católica</strong>” (AÇÃO, 1947, agosto, p. 2). Em 1949 assumiu a direção da revista Ação o<br />
advogado e escritor Ascânio Dá Mesquita Pimentel, “homem <strong>de</strong> ação e <strong>de</strong> oração”, que iria<br />
ser um dos diretos colaboradores <strong>de</strong> Dom Cintra na implantação das Faculda<strong>de</strong>s <strong>Católica</strong>s<br />
Petropolitanas. Já prefeito <strong>de</strong> Magé, <strong>de</strong>putado da Assembléia Legislativa do Estado do Rio <strong>de</strong><br />
Janeiro, diretor geral da Prefeitura <strong>de</strong> Petrópolis, <strong>de</strong>dicava-se à literatura e à Ação <strong>Católica</strong>.<br />
Em 1948, foi nomeado presi<strong>de</strong>nte da junta diocesana da Ação <strong>Católica</strong>, assumindo, em 1950,<br />
o cargo <strong>de</strong> presi<strong>de</strong>nte regional da Liga Eleitoral <strong>Católica</strong> (AÇÃO, 1950, setembro, p. 225).<br />
A 25 <strong>de</strong> marco <strong>de</strong> 1949, apenas a 11 meses <strong>de</strong> sua posse, Dom Cintra inaugurou o<br />
Seminário Diocesano Nossa Senhora do Amor Divino, em prédio adaptado da antiga Granja<br />
São Luis, em Corrêas. A seguir, ele iniciou as obras do edifício <strong>de</strong>finitivo, cuja primeira parte<br />
foi inaugurada em <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 1952 (FERREIRA, 2000, p. 20-21). Na cerimônia <strong>de</strong><br />
inauguração, estavam presentes, entre outras autorida<strong>de</strong>s, o governador do Estado do Rio <strong>de</strong><br />
Janeiro, Almirante Amaral Peixoto e o ministro da Educação e Saú<strong>de</strong>, Ernesto Simões Filho,<br />
que reafirmou “segura confiança na ação educacional da Igreja”, reconhecendo<br />
a contribuição fundamental da Igreja e dos seus educadores na formação da<br />
nacionalida<strong>de</strong> [...]. Recristianizar as massas, restabelecer o sentido humano<br />
da educação, que irá moldando as novas gerações, incutindo-lhe os<br />
princípios eternos das relações do homem com Deus e os seus semelhantes,<br />
paralelamente ao esclarecimento da inteligência, também é para o nosso<br />
país um tema ingente e inadiável (AÇÃO, 1953, janeiro, p. 15-17).<br />
Concluindo o seu discurso, o ministro Ernesto Simões Filho afirmou que a realização<br />
do Seminário testemunhava “a vitalida<strong>de</strong> da Igreja no Brasil, a disposição <strong>de</strong> continuar a<br />
cumprir o magistério que assumiu <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o nascer da pátria” (FERREIRA, ibi<strong>de</strong>m, p. 65).<br />
Nessa ótica, não admira que, em outubro <strong>de</strong> 1953, com Decreto Fe<strong>de</strong>ral n. 34.330, foi<br />
reconhecida a valida<strong>de</strong> dos certificados <strong>de</strong> cursos filosóficos eclesiásticos dos Seminários para<br />
a inscrição em exames vestibulares das escolas superiores (AÇÃO, 1954, janeiro, p. 16-18).<br />
Em geral, o reconhecimento da obra educativa da Igreja pelas autorida<strong>de</strong>s públicas foi uma<br />
característica das relações entre Igreja e Estado, que permaneceu constante, ao longo das<br />
mudanças dos regimes.<br />
A construção do Seminário foi concluída em agosto <strong>de</strong> 1956, graças aos donativos <strong>de</strong><br />
muitos benfeitores. Na cerimônia <strong>de</strong> inauguração, estava presente, também, o secretário <strong>de</strong><br />
educação e representante do governador do Estado do Rio <strong>de</strong> Janeiro, Rubens Falcão, que se<br />
congratulou com Dom Cintra pela criação do Seminário, “casa <strong>de</strong> cultura e <strong>de</strong> formação
sacerdotal” (FERREIRA, ibi<strong>de</strong>m, p. 70). A realização <strong>de</strong>ssa nova obra da Igreja se<br />
caracterizava por dois aspectos, que estarão presentes, também, na sucessiva implantação da<br />
<strong>Universida<strong>de</strong></strong>: por um lado, a aprovação do Estado frente à nova instituição e, do outro, a<br />
vivacida<strong>de</strong> cultural e social da atuação dos católicos em Petrópolis, que bem se enten<strong>de</strong> no<br />
mais amplo cenário estadual e nacional, <strong>de</strong>scrito no capítulo anterior.<br />
3.2 A FUNDAÇÃO DAS FACULDA<strong>DE</strong>S CATÓLICAS PETROPOLITANAS E A<br />
INSTITUIÇÃO DA PRIMEIRA UNIDA<strong>DE</strong>: A FACULDA<strong>DE</strong> <strong>DE</strong> DIREITO<br />
Depois da inauguração <strong>de</strong> uma parte do Seminário Diocesano Nossa Senhora do<br />
Amor Divino, em 1949, também encorajado pelas fundações <strong>de</strong> institutos <strong>de</strong> Ensino Superior<br />
ocorridas na década <strong>de</strong> 1940 e nos primeiros anos <strong>de</strong> 1950 13 , Dom Cintra voltou as suas vistas<br />
para uma obra análoga em Petrópolis, “com o escopo <strong>de</strong> habilitar os jovens ao exercício das<br />
profissões liberais, sem obrigá-los a ir procurar no Rio ou em Niterói o saber necessário e o<br />
correspon<strong>de</strong>nte diploma oficial, com o ônus <strong>de</strong> <strong>de</strong>spesas e fadigas” (AÇÂO, 1953, abril, p.<br />
102). O primeiro <strong>de</strong>sses institutos iria ser a Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Direito.<br />
Segundo o relato <strong>de</strong> Dom José Fernan<strong>de</strong>s Veloso 14 à Tribuna <strong>de</strong> Petrópolis, no<br />
início, Dom Cintra pensou em solicitar à PUC-Rio que esten<strong>de</strong>sse seus cursos à Petrópolis.<br />
Consultado, o então reitor da PUC-Rio, padre Pedro Belisário Velloso Rebello, sugeriu que a<br />
Diocese tivesse a sua própria universida<strong>de</strong>, estimulando Dom Cintra a realizar as primeiras<br />
faculda<strong>de</strong>s em Petrópolis. No entanto, padre Velloso Rebello colaboraria, assessorando na<br />
seleção e contratação dos professores e apresentando ao Ministério <strong>de</strong> Educação e Saú<strong>de</strong> 15 o<br />
aval da PUC-Rio para o funcionamento dos primeiros cursos da nova Instituição (TRIBUNA<br />
<strong>DE</strong> PETROPOLIS, 16-9-2003).<br />
13 PUC/RJ, PUC <strong>de</strong> São Paulo, que recebeu também o título <strong>de</strong> Pontifícia contemporaneamente a do Rio, UCs do<br />
Rio Gran<strong>de</strong> do Sul, <strong>de</strong> Pernambuco, <strong>de</strong> Campinas, além <strong>de</strong> escolas e faculda<strong>de</strong>s isoladas <strong>de</strong> orientação católica.<br />
14 Dom José Fernan<strong>de</strong>s Veloso, ainda padre, fora professor e ecônomo no Seminário Central do Ipiranga, em São<br />
Paulo (1942-1952), enquanto monsenhor Cintra era reitor. Nomeado bispo <strong>de</strong> Petrópolis, Dom Cintra o convidou<br />
a lecionar no Seminário Diocesano <strong>de</strong> Petrópolis, em 1953, on<strong>de</strong> exerceu também o cargo <strong>de</strong> reitor. Foi nomeado<br />
bispo coadjutor <strong>de</strong> Petrópolis a 26-11-1981; por sucessão, governou a mesma Diocese <strong>de</strong>s<strong>de</strong> 15-2-1984 até 13-1-<br />
1996.<br />
13 Atualmente é o Ministério <strong>de</strong> Educação e Cultura - MEC.
Numa entrevista realizada pela Tribuna <strong>de</strong> Petrópolis, o doutor Mesquita Pimentel<br />
contou que a idéia, levada por Dom Cintra ao car<strong>de</strong>al Dom Jaime <strong>de</strong> Barros Câmara,<br />
arcebispo do Rio <strong>de</strong> Janeiro e chanceler da PUC-Rio, recebeu logo <strong>de</strong>cidida aprovação.<br />
Aten<strong>de</strong>ndo aos pedidos do bispo diocesano, o car<strong>de</strong>al veio algumas vezes a Petrópolis para<br />
conhecer e resolver diversas questões particulares, assim como para colaborar na formulação<br />
dos estatutos e examinar as condições técnicas da casa em que iria começar a funcionar a<br />
Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Direito. Por sua parte, padre Velloso Rebello ajudou no esclarecimento <strong>de</strong><br />
várias formalida<strong>de</strong>s necessárias ao andamento do processo no Ministério da Educação e<br />
resolveu tomar a Faculda<strong>de</strong> petropolitana sob o patrocínio da PUC-Rio à qual, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o início,<br />
ficaria filiada. O fato <strong>de</strong> se erigir a Faculda<strong>de</strong> como filiada à PUC-Rio facilitaria e abreviaria<br />
os trâmites do processo relativo à fundação, segundo confirmou para Dom Cintra o diretor do<br />
ensino superior, Jurandyr Lodi. Haveria, <strong>de</strong>pois, consi<strong>de</strong>rável beneficio não apenas à<br />
Faculda<strong>de</strong>, que contaria com a assistência da reitoria e dos órgãos técnicos da referida<br />
universida<strong>de</strong>, como também aos alunos, porque o diploma teria a chancela daquela UC, com o<br />
mesmo valor e efeito dos diplomas expedidos pelas universida<strong>de</strong>s oficiais do País (AÇÃO,<br />
1953, abril, p. 103).<br />
A 31 <strong>de</strong> maio <strong>de</strong> 1953, em histórica reunião na residência episcopal, Dom Cintra<br />
fundou juridicamente a associação civil <strong>de</strong>nominada Faculda<strong>de</strong>s <strong>Católica</strong>s Petropolitanas. A<br />
associação foi constituída como pessoa jurídica <strong>de</strong> direito privado, com o objetivo <strong>de</strong><br />
“fundar, manter, administrar e dirigir a Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Direito <strong>de</strong> Petrópolis e outras<br />
instituições culturais e sociais na mesma cida<strong>de</strong>” (art. 2 dos estatutos).<br />
Conforme consta da ata <strong>de</strong> fundação 16 (ANEXO A1), Dom Cintra,<br />
visando proporcionar à diocese <strong>de</strong> Petrópolis, em benefício do maior<br />
aprimoramento e difusão, nos diversos campos do conhecimento, dos<br />
fundamentos doutrinários da religião católica romana, e, bem assim, em<br />
benefício e maior soli<strong>de</strong>z da cultura geral do seu povo e também da<br />
população do Estado do Rio e do País, <strong>de</strong>sejava estabelecer em Petrópolis<br />
um Instituto <strong>de</strong> ensino universitário, com maior número <strong>de</strong> faculda<strong>de</strong>s<br />
possível, <strong>de</strong>ntre as que eram previstas por lei e normalmente se<br />
compreen<strong>de</strong>m nas universida<strong>de</strong>s brasileiras, com cursos regulares e<br />
expedição <strong>de</strong> diplomas legalmente reconhecidos pela nossa legislação.<br />
Como colaboradores nessa sua iniciativa, Dom Cintra mencionou o doutor Arthur <strong>de</strong><br />
Sá Earp Neto, consultor jurídico e advogado da Mitra Diocesana, e o doutor Ascânio Dá<br />
Mesquita Pimentel, já citado, que naquela época era também membro do Conselho<br />
16 Ata registrada no Registro <strong>de</strong> Títulos e Documentos da Comarca <strong>de</strong> Petrópolis (RJ), Cartório do 4º, no livro III
Administrativo da Diocese. Ambos li<strong>de</strong>raram os trabalhos <strong>de</strong> organização e os contatos com<br />
o Ministério da Educação para a realização dos procedimentos burocráticos. Ainda na ata <strong>de</strong><br />
fundação, Dom Cintra <strong>de</strong>clarou que esperava fazer funcionar a primeira faculda<strong>de</strong> já no ano<br />
<strong>de</strong> 1954, e que, em qualquer hipótese, todos os cursos e faculda<strong>de</strong>s integrantes das<br />
Faculda<strong>de</strong>s <strong>Católica</strong>s Petropolitanas estariam sob o patrocínio da PUC-Rio. A reunião<br />
continuou com a leitura e a aprovação dos estatutos. Em seguida foram nomeados pela<br />
autorida<strong>de</strong> diocesana, <strong>de</strong> acordo com os artigos 4 e 5 dos estatutos aprovados, os membros do<br />
Conselho <strong>de</strong> Administração das Faculda<strong>de</strong>s, doutores Arthur <strong>de</strong> Sá Earp Neto, Ascânio Dá<br />
Mesquita Pimentel, Kepler Castro Neves, Francisco <strong>de</strong> Magalhães Castro, José Sampaio<br />
Fernan<strong>de</strong>s, e foi <strong>de</strong>signado como reitor o doutor Arthur <strong>de</strong> Sá Earp.<br />
Alguns meses <strong>de</strong>pois a fundação da associação, o doutor Arthur <strong>de</strong> Sá Earp, numa<br />
entrevista publicada pela revista Ação (<strong>de</strong>zembro, 1953, p. 339), explicou que as Faculda<strong>de</strong>s<br />
<strong>Católica</strong>s Petropolitanas eram um órgão ou instituto <strong>de</strong> caráter pré-universitário, a “entida<strong>de</strong><br />
holding” <strong>de</strong> outras organizações, as faculda<strong>de</strong>s, que iriam ser a ela subordinadas em cada<br />
ramo <strong>de</strong> ensino e por ela criadas, mantidas e administradas através dos diretores, num só<br />
corpo administrativo e legal. A associação era administrada por um Conselho <strong>de</strong> cinco<br />
membros, do qual o reitor era presi<strong>de</strong>nte e o “órgão executivo” (art. 13 dos estatutos). A<br />
Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Direito seria a primeira a ser criada. À medida que fossem fundadas três das<br />
cinco faculda<strong>de</strong>s que a lei consi<strong>de</strong>rava fundamentais, (Direito, Medicina, Engenharia,<br />
Filosofia e Ciências Econômicas), as Faculda<strong>de</strong>s <strong>Católica</strong>s Petropolitanas constituir-se-iam,<br />
então, em <strong>Universida<strong>de</strong></strong>. O mesmo havia acontecido com a PUC-Rio, que começara sob a<br />
organização pré-universitária Faculda<strong>de</strong>s <strong>Católica</strong>s do Rio <strong>de</strong> Janeiro. Em seguida,<br />
confirmou que a Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Direito tinha sua manutenção e seu funcionamento garantidos<br />
pela PUC-Rio, mediante contrato escrito, <strong>de</strong> que ele era signatário com padre Velloso<br />
Rebello. Na mesma entrevista, o reitor acrescentou que a Faculda<strong>de</strong> possuía, além dos<br />
próprios, outros recursos financeiros fixados pelos po<strong>de</strong>res públicos: a Câmara Municipal <strong>de</strong><br />
Petrópolis votou auxílio <strong>de</strong> Cr$ 50.000,00, para 1954; a Assembléia Legislativa do Estado<br />
Cr$ 60.000,00; o Senado da República aprovou emenda <strong>de</strong> Cr$ 400.000,00 17 . Continuando a<br />
entrevista, o doutor Arthur <strong>de</strong> Sá Earp informou que a Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Direito começaria a<br />
funcionar no bairro do Retiro, em amplo imóvel (ANEXO B1), oferecido a Dom Cintra pelas<br />
Irmãs do Carmelo São José, “em caráter inteiramente gratuito e por prazo in<strong>de</strong>terminado”<br />
<strong>de</strong> Registro <strong>de</strong> Socieda<strong>de</strong>s Civis, sob o número <strong>de</strong> or<strong>de</strong>m 192, em 25 <strong>de</strong> agosto <strong>de</strong> 1956.<br />
17 Os valores atualizados na moeda corrente <strong>de</strong> 1º <strong>de</strong> julho <strong>de</strong> 2008, através do IGP-DI da fundação Getúlio<br />
Vargas, são os seguintes: R$ 25.314,07; R$ 30.376,89 e R$ 202.512,57.
(ANEXO A2) 18 . Situado numa área <strong>de</strong> cerca <strong>de</strong> 3.300 metros quadrados, o prédio constava<br />
<strong>de</strong> dois pavimentos, com uma gran<strong>de</strong> varanda coberta e <strong>de</strong>mais <strong>de</strong>pendências internas,<br />
comportando todas as instalações necessárias, além da biblioteca e da capela, em corpo<br />
anexo ao edifício. Concluindo a <strong>de</strong>scrição, o doutor Arthur <strong>de</strong> Sá Earp sublinhou que todo o<br />
prédio estava equipado para as suas finalida<strong>de</strong>s, tendo nele já sido feitas as adaptações e<br />
pinturas necessárias. As carteiras escolares, em número <strong>de</strong> 80, que era o máximo <strong>de</strong><br />
matrículas para o primeiro ano, eram todas individuais, “<strong>de</strong>ntro das exigências mais<br />
mo<strong>de</strong>rnas”. Respon<strong>de</strong>ndo, <strong>de</strong>pois, à pergunta sobre os membros do Conselho <strong>de</strong><br />
Administração das Faculda<strong>de</strong>s, o doutor Arthur <strong>de</strong> Sá Earp afirmou que, como ele, todos<br />
foram escolhidos e nomeados ad nutum pelo bispo diocesano: o doutor Ascânio Dá Mesquita<br />
Pimentel, nomeado também diretor da Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Direito; o doutor Kepler Castro Neves,<br />
engenheiro <strong>de</strong> renome e homem <strong>de</strong> estudos; o doutor Francisco <strong>de</strong> Magalhães Castro,<br />
também engenheiro <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> conceito e graduado em Filosofia pela Sorbonne <strong>de</strong> Paris; José<br />
Sampaio Fernan<strong>de</strong>s, doutor em Farmácia e professor da <strong>Universida<strong>de</strong></strong> do Brasil. De todos<br />
mencionou as qualida<strong>de</strong>s morais, a capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> trabalho, a gran<strong>de</strong> <strong>de</strong>dicação ao ensino, o<br />
alto conceito público e o amor à cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Petrópolis. Finalizando seus esclarecimentos, o<br />
doutor Arthur <strong>de</strong> Sá Earp exprimiu profunda satisfação em colaborar com tão feliz iniciativa:<br />
“é a educação do povo que está sendo superiormente atendida e, portanto, a religião, a moral,<br />
o civismo e a intelectualida<strong>de</strong> brasileira” (AÇÃO, 1953, <strong>de</strong>zembro, p. 340-343).<br />
A instituição da Faculda<strong>de</strong> <strong>Católica</strong> <strong>de</strong> Direito foi <strong>de</strong>cidida na primeira reunião do<br />
Conselho Administrativo das Faculda<strong>de</strong>s, on<strong>de</strong> também se <strong>de</strong>liberou adotar, para regimento<br />
interno da mesma Faculda<strong>de</strong>, o regimento interno da Faculda<strong>de</strong> <strong>Católica</strong> <strong>de</strong> Direito da PUC-<br />
Rio. O Decreto Presi<strong>de</strong>ncial n. 34.922, <strong>de</strong> 12 <strong>de</strong> janeiro <strong>de</strong> 1954, autorizou a Faculda<strong>de</strong> a<br />
funcionar, conce<strong>de</strong>ndo 80 vagas, que foram preechidas em dois concursos <strong>de</strong> habilitação à<br />
matrícula na primeira série. A professora Maria da Glória Rangel Sampaio Fernan<strong>de</strong>s<br />
afirmou 19 que participou das bancas examinadoras como professora <strong>de</strong> francês e acrescentou<br />
que a ligação do doutor José Sampaio Fernan<strong>de</strong>s com as Faculda<strong>de</strong>s não se limitava ao seu<br />
cargo <strong>de</strong> secretário do Conselho <strong>de</strong> Administração, mas envolvia a família inteira. Ele recebia<br />
na sua casa os professores que vinham do Rio <strong>de</strong> Janeiro para lecionar em Petrópolis,<br />
oferecendo apoio logístico, na época em que as Faculda<strong>de</strong>s <strong>Católica</strong>s Petropolitanas<br />
funcionaram no bairro do Retiro.<br />
18 Documento encontrado no arquivo da Mitra Diocesana <strong>de</strong> Petrópolis.<br />
19 Entrevista realizada em 14 <strong>de</strong> agosto <strong>de</strong> 2007.
Na tar<strong>de</strong> do dia 6 <strong>de</strong> março <strong>de</strong> 1954, realizou-se, no salão nobre da Câmara<br />
Municipal, a solenida<strong>de</strong> da instalação oficial da Faculda<strong>de</strong> <strong>Católica</strong> <strong>de</strong> Direito <strong>de</strong> Petrópolis<br />
(ANEXO B2). Tratava-se da inauguração da primeira instituição <strong>de</strong> ensino superior na cida<strong>de</strong>.<br />
À sessão, presidida pelo governador do Estado, Almirante Ernani do Amaral Peixoto,<br />
participaram os reitores da <strong>Universida<strong>de</strong></strong> do Brasil e da PUC-Rio, os professores Pedro<br />
Calmon e padre Velloso Rebello, o secretário da educação do Estado do Rio <strong>de</strong> Janeiro,<br />
doutor Moura e Silva, o corpo docente da Faculda<strong>de</strong>, autorida<strong>de</strong>s civis e religiosas e boa parte<br />
da socieda<strong>de</strong> cultural fluminense.<br />
Dom Cintra, logo no início do discurso inaugural, mencionou a fundação das<br />
primeiras UCs na Europa e na América: a <strong>Universida<strong>de</strong></strong> <strong>de</strong> Louvain em 1834, <strong>de</strong> Friburgo em<br />
1889, <strong>de</strong> Montreal em 1852, <strong>de</strong> Washington em 1886, <strong>de</strong> Dublin em 1908, <strong>de</strong> Milão em 1920,<br />
as quais serviriam <strong>de</strong> mo<strong>de</strong>lo à Faculda<strong>de</strong> <strong>Católica</strong> <strong>de</strong> Direito <strong>de</strong> Petrópolis. Sendo ela<br />
também uma obra germinada no seio da Igreja, era chamada a participar da missão da Igreja:<br />
Missão <strong>de</strong> imortalida<strong>de</strong> a da Igreja. E raiz da imortalida<strong>de</strong> é o conhecimento<br />
da justiça: radix immortalitatis scire iustitiam. Conhecer a justiça,<br />
principalmente a justiça <strong>de</strong> Deus é iniciar em si mesmo um caminho <strong>de</strong><br />
imortalida<strong>de</strong> [...] Mestra exímia da Justiça <strong>de</strong> Deus, a Igreja, cre<strong>de</strong>nciada<br />
por isso mesmo mais do que qualquer Estado para <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>r os direitos dos<br />
homens, po<strong>de</strong> e <strong>de</strong>ve doutrinar a existência <strong>de</strong> um direito natural, <strong>de</strong> uma<br />
justiça natural (não há justiça sem direito), direito divino que brota da<br />
natureza das coisas e por isso mesmo direito humano que ninguém po<strong>de</strong><br />
abolir; não só, mas direito que é a base insubstituível <strong>de</strong> todo outro e<br />
qualquer direito, <strong>de</strong> todo o direito positivo (AÇÃO, abril, 1954, p. 102-103).<br />
Em seguida, Dom Cintra agra<strong>de</strong>ceu àquela que ele chamou <strong>de</strong> “anjo tutelar”, a PUC-<br />
Rio, “sob a garantia do cujo patrimônio material” as Faculda<strong>de</strong>s <strong>Católica</strong>s Petropolitanas<br />
surgiram e se firmaram junto ao Ministério <strong>de</strong> Educação. Mencionou sinceros<br />
reconhecimentos ao diretor do ensino superior, Jurandyr Lodi, pela “esclarecida<br />
coadjuvação”, ao governador do Estado, Almirante Ernani do Amaral Peixoto, que dotou a<br />
Faculda<strong>de</strong>, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> logo, com o mobiliário completo para todas as suas <strong>de</strong>pendências, e às<br />
Carmelitas <strong>de</strong> São José da Avenida Barão do Rio Branco, “magnânimas protetores” da<br />
Fundação, que “ofereceram gratuitamente”, para sua se<strong>de</strong> provisória e por tempo<br />
in<strong>de</strong>terminado, o prédio localizado à Rua Vidal <strong>de</strong> Negreiros n. 97, no bairro do Retiro. No<br />
final, expressou profunda gratidão ao doutor Mesquita Pimentel, nomeado diretor da<br />
Faculda<strong>de</strong> <strong>Católica</strong> <strong>de</strong> Direito <strong>de</strong> Petrópolis, pela sua orientação doutrinária, e ao reitor Arthur<br />
<strong>de</strong> Sá Earp, que conseguiu obter o Decreto Presi<strong>de</strong>ncial n. 34.922, autorizando o
funcionamento da Faculda<strong>de</strong>, e que a ela ce<strong>de</strong>u toda a sua significativa biblioteca <strong>de</strong> direito.<br />
Ao encerrar os agra<strong>de</strong>cimentos, Dom Cintra confiou à Virgem Santíssima a Faculda<strong>de</strong><br />
<strong>Católica</strong> <strong>de</strong> Direito <strong>de</strong> Petrópolis (AÇÂO, ibi<strong>de</strong>m, p. 104-105).<br />
A 24 <strong>de</strong> março <strong>de</strong> 1954, foram iniciadas as aulas, após celebração <strong>de</strong> missa, na anexa<br />
capela <strong>de</strong> Santo Tomás <strong>de</strong> Aquino. De acordo com o art. 43 do regimento da Faculda<strong>de</strong>, o<br />
bispo diocesano nomeou o Conselho Técnico Administrativo, sob a presidência do diretor<br />
Ascânio Dá Mesquita Pimentel. Foi composto dos seguintes professores: Orlando Carlos da<br />
Silva, Aloísio Maria Teixeira, Rafael Cirigliano Filho, Maurício Parreiras Horta, Alberto<br />
Francisco Torres e Paulo Gomes da Silva. Os alunos organizaram o Centro Acadêmico, que<br />
colocaram sob o patrocínio <strong>de</strong> Rui Barbosa. Os seus diretores provisórios apresentaram o<br />
projeto <strong>de</strong> estatuto, que foi aprovado pelo Conselho Técnico Administrativo. Realizou-se a<br />
eleição do Conselho Representativo e do primeiro Diretório (DARB), que foi empossado em<br />
sessão solene e pública, no auditório da Faculda<strong>de</strong>. O Diretório Acadêmico, instalado numa<br />
das salas da Faculda<strong>de</strong>, iniciou suas ativida<strong>de</strong>s estatutárias e realizou articulação com outras<br />
organizações universitárias, como a União Fluminense <strong>de</strong> Estudantes. Segundo o relato do<br />
diretor Ascânio Dá Mesquita Pimentel, durante o ano letivo <strong>de</strong> 1954, a Faculda<strong>de</strong> manteve-se<br />
unicamente com o recurso ordinário das taxas pagas pelos alunos (RELATÓRIO<br />
REFERENTE AOS TRABALHOS DA FACULDA<strong>DE</strong> CATÓLICA <strong>DE</strong> DIREITO, NO ANO<br />
<strong>DE</strong> 1954).<br />
Para fiscalizar as ativida<strong>de</strong>s da Faculda<strong>de</strong>, foi nomeado como inspetor fe<strong>de</strong>ral o<br />
doutor Décio José <strong>de</strong> Carvalho Werneck, que, após <strong>de</strong>ixar a inspeção, tornar-se-ia cooperador<br />
das Faculda<strong>de</strong>s, procurando o patrocínio do Centro Industrial do Rio <strong>de</strong> Janeiro (CIRJ) para a<br />
criação da Escola <strong>Católica</strong> <strong>de</strong> Engenharia Industrial <strong>de</strong> Petrópolis; sucessivamente, ele atuaria<br />
também como membro do Conselho Universitário, secretário do Conselho Superior <strong>de</strong><br />
Administração e do Conselho <strong>de</strong> Patronos da UCP.<br />
Des<strong>de</strong> sua implantação, toda a comunida<strong>de</strong> universitária distinguia a clareza da<br />
i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> católica das Faculda<strong>de</strong>s, que permaneceria <strong>de</strong>pois pelo próprio nome<br />
“<strong>Universida<strong>de</strong></strong> <strong>Católica</strong> <strong>de</strong> Petrópolis”. Sinal <strong>de</strong> tal i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> foi também o brasão <strong>de</strong> arma,<br />
com o lema non exci<strong>de</strong>t - não há <strong>de</strong> fenecer: “inscrito sobre um livro aberto, símbolo da<br />
cultura e da verda<strong>de</strong>, em campo azul a lembrar as coisas do espírito, está encimado pela flor<br />
<strong>de</strong> lis, símbolo <strong>de</strong> Nossa Senhora, Padroeira da Diocese <strong>de</strong> Petrópolis e da <strong>Universida<strong>de</strong></strong>”<br />
(INFORMATIVO UCP, maio <strong>de</strong> 1973, p. 3). A origem e a escolha do lema foram explicadas<br />
por Dom Cintra, durante as celebrações pelo 20º aniversário da fundação da UCP:
A <strong>Universida<strong>de</strong></strong> tem um lema: non exci<strong>de</strong>t. Foi escolhido por mim e por<br />
Dom Veloso entre tantos outros possíveis. É bem mais mo<strong>de</strong>sto do que o<br />
lema da cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Petrópolis: altiora semper petens: “subindo sempre<br />
mais”. O da <strong>Universida<strong>de</strong></strong> diz apenas: “não há <strong>de</strong> <strong>de</strong>smerecer”. É uma<br />
afirmação <strong>de</strong> permanência, sem arrojo e sem vanglória. Reveste-se <strong>de</strong> um<br />
sentido <strong>de</strong> discreta humilda<strong>de</strong>. Aparentemente negativo na expressão, na<br />
realida<strong>de</strong> oculta um conteúdo positivo <strong>de</strong> estabilida<strong>de</strong>, <strong>de</strong> continuida<strong>de</strong>.<br />
Além disso, trazía-nos à mente a figura <strong>de</strong> São Francisco <strong>de</strong> Sales, o bispo<br />
<strong>de</strong> Genebra, literato e santo, que havia fundado em Anecy uma aca<strong>de</strong>mia <strong>de</strong><br />
Ciências e <strong>de</strong> Literatura. É <strong>de</strong>le o non exci<strong>de</strong>t a expressar aquela humilda<strong>de</strong><br />
que o havia feito consentir fosse a Visitação uma Or<strong>de</strong>m contemplativa e<br />
não <strong>de</strong> apostolado externo como havia sido projetada. Sobre o non exci<strong>de</strong>t<br />
<strong>de</strong> nosso brasão pusemos um sinal <strong>de</strong> Maria: a flor <strong>de</strong> lis, a significar a<br />
proteção que jamais haveria <strong>de</strong> faltar sobre a <strong>Universida<strong>de</strong></strong>, da excelsa Mãe<br />
<strong>de</strong> Deus que também é nossa Mãe (UCP, ibi<strong>de</strong>m, p. 41).<br />
Embora “mo<strong>de</strong>sto e <strong>de</strong>spretensioso”, o brasão da UCP tornou-se emblema <strong>de</strong> uma<br />
obra educativa que cresceu rapidamente. O esforço e a <strong>de</strong>dicação dos colaboradores citados,<br />
que participaram do projeto <strong>de</strong>s<strong>de</strong> sua fundação, incentivaram o <strong>de</strong>senvolvimento da<br />
<strong>Universida<strong>de</strong></strong> e propiciaram a criação <strong>de</strong> novos cursos, aten<strong>de</strong>ndo à <strong>de</strong>manda dos anos <strong>de</strong><br />
1950 a 1960.<br />
3.3. A FACULDA<strong>DE</strong> <strong>DE</strong> FILOSOFIA, CIÊNCIAS E LETRAS<br />
Cerca <strong>de</strong> um ano após a instalação da Faculda<strong>de</strong> <strong>Católica</strong> <strong>de</strong> Direito, uma nova<br />
Faculda<strong>de</strong>, a <strong>de</strong> Filosofia, Ciências e Letras, iniciou suas ativida<strong>de</strong>s com três cursos: Filosofia,<br />
Geografia e História, e Línguas Neolatinas 20 , sob a direção do então reitor do Seminário<br />
Diocesano, padre José Fernan<strong>de</strong>s Veloso.<br />
O professor Jerônimo Ferreira Alves Neto 21 , comentando as motivações que levaram<br />
à escolha <strong>de</strong>sta segunda Faculda<strong>de</strong>, afirmou que foi implantada aten<strong>de</strong>ndo à <strong>de</strong>manda <strong>de</strong><br />
formação <strong>de</strong> professores para as escolas <strong>de</strong> Petrópolis e da região serrana. Em conformida<strong>de</strong><br />
com a legislação vigente, o <strong>de</strong>senvolvimento da cultura geral e, <strong>de</strong> modo especial, a formação<br />
<strong>de</strong> professores para os ensinos secundário e normal era <strong>de</strong>mandada à Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Educação,<br />
Ciências e Letras 22 , criada no âmbito da Reforma Francisco Campos, em abril <strong>de</strong> 1931, que<br />
20 Os cursos da Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Filosofia, Ciências e Letras foram autorizados pelo Decreto n. 37.102 <strong>de</strong> 31 <strong>de</strong><br />
março <strong>de</strong> 1955 e reconhecidos pelo Decreto n. 45.612 <strong>de</strong> 24 <strong>de</strong> março <strong>de</strong> 1959.<br />
21 Entrevista realizada em 18 <strong>de</strong> outubro <strong>de</strong> 2007.<br />
22 A criação da Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Filosofia, Ciências e Letras foi prevista com Decreto n. 19.890 <strong>de</strong> 18-4-1931, art. 8.
sancionou o projeto <strong>de</strong> reforma do Ensino Superior 23 .<br />
Segundo a análise <strong>de</strong> Fávero (2000), a criação da Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Filosofia, Ciências e<br />
Letras, em 1931, se apresenta como a medida administrativa e acadêmica mais importante e<br />
inovadora contida no Estatuto das <strong>Universida<strong>de</strong></strong>s, no qual Francisco Campos insiste em não<br />
reduzi-las apenas à sua função didática, mas ao duplo objetivo <strong>de</strong> “equipar tecnicamente as<br />
elites profissionais do país e proporcionar ambiente propício às vocações especulativas e<br />
<strong>de</strong>sinteressadas cujo <strong>de</strong>stino, imprescindível à formação da cultura nacional, é o da<br />
investigação e da ciência pura” (FÁVERO, 2000, p. 41).<br />
Para a criação da Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Filosofia, Ciências e Letras em Petrópolis, o<br />
professor Jerônimo Ferreira Alves Neto indicou, também, uma outra motivação: a necessida<strong>de</strong><br />
dos seminaristas do Seminário Diocesano <strong>de</strong> prosseguir os estudos superiores na Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />
Filosofia. Sublinhou, ainda, que a sua implantação precisava <strong>de</strong> poucos recursos; a<strong>de</strong>mais, a<br />
presença <strong>de</strong> uma Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Filosofia, Ciências e Letras, em conjunto com mais duas<br />
unida<strong>de</strong>s, era uma das exigências legais para que um estabelecimento <strong>de</strong> ensino superior<br />
recebesse a <strong>de</strong>nominação <strong>de</strong> universida<strong>de</strong>. Dessa forma, as Faculda<strong>de</strong>s <strong>Católica</strong>s<br />
Petropolitanas seguiram a mesma trajetória das Faculda<strong>de</strong>s <strong>Católica</strong>s do Rio <strong>de</strong> Janeiro, que<br />
iniciaram com a instalação do curso <strong>de</strong> bacharelado da Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Direito e <strong>de</strong> sete cursos<br />
da Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Filosofia. Além disso, as Faculda<strong>de</strong>s <strong>Católica</strong>s Petropolitanas atuavam<br />
também como veículo <strong>de</strong> evangelização, através da obra educativa do corpo docente. A<br />
revista Ação (janeiro, 1955, p. 425-426), juntamente com o anúncio da abertura dos novos<br />
cursos, publicou o elenco dos professores que lecionavam nas Faculda<strong>de</strong>s, que eram em boa<br />
parte doutores e catedráticos e todos <strong>de</strong>claradamente católicos.<br />
A escolha <strong>de</strong> docentes católicos era motivada pela preocupação do bispo diocesano <strong>de</strong><br />
resguardar a i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> própria da <strong>Universida<strong>de</strong></strong>. Em relação ao contexto nacional, a Igreja<br />
católica, como <strong>de</strong>scrito no segundo capítulo <strong>de</strong>ste estudo, vinha mo<strong>de</strong>rnizando suas estruturas<br />
<strong>de</strong> acordo com a urbanização e o <strong>de</strong>senvolvimento industrial. A criação da CNBB, em 1952, e<br />
23 A Reforma Francisco Campos, que foi estabelecida pelo Decreto n. 19.851, <strong>de</strong> 11-4-1931, foi a primeira a<br />
colocar a universida<strong>de</strong> como mo<strong>de</strong>lo para o <strong>de</strong>senvolvimento do ensino superior, estabelecendo a organização,<br />
composição, competência e funcionamento da administração universitária (reitoria, conselho universitário,<br />
assembléia geral universitária, institutos, conselho técnico-administrativo, congregação etc.) e prevendo a<br />
representação estudantil. Pela primeira vez foi introduzida a "investigação científica" como um dos objetivos do<br />
ensino universitário. As universida<strong>de</strong>s po<strong>de</strong>riam ser criadas e mantidas pela União, pelos Estados, ou sob a<br />
forma <strong>de</strong> fundações ou <strong>de</strong> associações, por particulares, constituindo universida<strong>de</strong>s fe<strong>de</strong>rais, estaduais e livres.<br />
As "universida<strong>de</strong>s livres" (privadas) po<strong>de</strong>riam ser "equiparadas" às universida<strong>de</strong>s fe<strong>de</strong>rais, assim como as<br />
universida<strong>de</strong>s estaduais. A reforma Francisco Campos durou trinta anos, até 1961, <strong>de</strong>caindo com a primeira<br />
LDB, a Lei n. 4.024, <strong>de</strong> 20-12-1961.
a aproximação <strong>de</strong> setores da Igreja às classes populares, por meio das várias seções da Ação<br />
<strong>Católica</strong> 24 levaram a uma crescente politização das ativida<strong>de</strong>s pastorais e ampliaram o espaço<br />
para a atuação dos leigos. Esse catolicismo progressista, influenciado pelas tendências<br />
marxistas, frequentemente foi objeto <strong>de</strong> críticas nos âmbitos eclesiais fieis às orientações da<br />
Santa Sé. Durante seu episcopado, Dom Cintra sempre manteve uma clara posição em <strong>de</strong>fesa<br />
dos princípios enunciados pelo magistério do papa.<br />
A preocupação i<strong>de</strong>al da Igreja com a missão educativa foi explicitada por Dom<br />
Cintra durante a solene inauguração (ANEXO B3) da Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Filosofia, Ciências e<br />
Letras, que se realizou na Câmara Municipal, no dia 29 <strong>de</strong> abril <strong>de</strong> 1955. No seu discurso 25 ,<br />
Dom Cintra afirmou que a nova Faculda<strong>de</strong> era, em primeiro lugar, uma faculda<strong>de</strong> católica:<br />
“católica por fundação e por estatuto. Por fundação, pois nasce filiada à Mitra da Diocese; por<br />
estatuto, pois todos os títulos <strong>de</strong> constituição e organização, <strong>de</strong> orientação e <strong>de</strong> princípios, <strong>de</strong><br />
ativida<strong>de</strong>s e <strong>de</strong> responsabilida<strong>de</strong>s são profundamente presos às normas da Igreja” (p. 1).<br />
Explicou, <strong>de</strong>pois, o sentido <strong>de</strong> Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Ciências, lembrando que<br />
Deus é o Senhor das ciências — Deus scientiarum Dominus est —, com<br />
direitos autorais, mais legítimos do que os <strong>de</strong> qualquer investigação<br />
científica verda<strong>de</strong>ira. [...] Senhor da natureza e do universo inteiro, Deus é e<br />
não po<strong>de</strong> <strong>de</strong>ixar <strong>de</strong> ser o Senhor <strong>de</strong> todas as ativida<strong>de</strong>s que, como a ciência,<br />
tem por finalida<strong>de</strong> precípua essa mesma natureza tateando-lhe as leis e os<br />
princípios, no afã meritório <strong>de</strong> <strong>de</strong>scobri-los (p. 1).<br />
Para <strong>de</strong>stacar o valor da Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Letras, ele utilizou a metáfora <strong>de</strong><br />
aconchego palpitante em que essas letras se cultuam, se aprimoram, tanto na<br />
multiplicida<strong>de</strong> pitoresca das línguas <strong>de</strong> mais variada acentuação e dos mais<br />
coloridos matizes, como na possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> traduzir em gama infinita os<br />
anseios incontáveis <strong>de</strong> que é capaz a alma humana. E po<strong>de</strong>rá estar Deus<br />
alheio a esses anseios <strong>de</strong> beleza? [...] Quão errados, pois os que falam <strong>de</strong><br />
uma pulcritu<strong>de</strong> que prescin<strong>de</strong> do bem, do estudo das letras divorciado do<br />
estudo da moral. Quando o Belo Supremo é também o Ben Supremo, não há<br />
outro caminho a seguir no cultivo verda<strong>de</strong>iro das letras senão o <strong>de</strong> uma<br />
rigorosa vigilância moral (p. 2).<br />
Em seguida, Dom Cintra realçou a importância da Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Filosofia, “ciência<br />
24<br />
Juventu<strong>de</strong> Operária <strong>Católica</strong> (JOC), Juventu<strong>de</strong> Estudantil <strong>Católica</strong> (JEC) e Juventu<strong>de</strong> Universitária <strong>Católica</strong><br />
(JUC).<br />
25<br />
Texto datilografado, encontrado no arquivo da Mitra Diocesana <strong>de</strong> Petrópolis.
das razões últimas, dos motivos transcen<strong>de</strong>ntes”, afirmando que “é impossível haver uma<br />
verda<strong>de</strong>ira filosofia sem Deus, a causa das causas, o ser necessário”. E concluiu seu discurso<br />
com essas palavras:<br />
Hoje, como na Ida<strong>de</strong> Média, como sempre, está a Igreja perfeitamente a<br />
posto para <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>r o patrimônio do autêntico saber humano na criação das<br />
<strong>Universida<strong>de</strong></strong>s. Nem há por que o Estado lhe <strong>de</strong>va rejeitar os passos. Estes<br />
só po<strong>de</strong>rão preparar à Pátria aquela estabilida<strong>de</strong> sem <strong>de</strong>sfalecimentos que<br />
provém dos princípios imutáveis da verda<strong>de</strong> e do bem (p. 2).<br />
Exprimiu, ainda, seus agra<strong>de</strong>cimentos ao governador Miguel Couto Filho, cuja<br />
presença era também sinal do apoio que o governo iria dar às Faculda<strong>de</strong>s. De fato, como se lê<br />
numa carta <strong>de</strong> Dom Cintra ao doutor Guilherme Guinle 26 , em 1955, o mesmo governador<br />
assinou uma lei votada pela Câmara Estadual, autorizando a abertura <strong>de</strong> crédito extraordinário<br />
<strong>de</strong> Cr$ 3.000.000,00 27 para as Faculda<strong>de</strong>s “mediante um acordo, a se firmar, sobre certo<br />
número <strong>de</strong> matrículas gratuitas <strong>de</strong> que disporá o Estado”.<br />
Para autorizar o funcionamento da Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Filosofia, Ciências e Letras, foi<br />
redigido um relatório <strong>de</strong> verificação 28 , em <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 1954, elaborado por Sylvia Ferreira<br />
Pinto, inspetora do ensino superior do Ministério da Educação e Saú<strong>de</strong>. A parte final <strong>de</strong>sse<br />
relatório é bastante interessante, pois <strong>de</strong>screve as favoráveis condições, que Petrópolis<br />
apresentava naquela época e que justificavam a sua escolha para se tornar uma cida<strong>de</strong><br />
universitária. Petrópolis era a se<strong>de</strong> do governo fe<strong>de</strong>ral e do governo estadual, durante os<br />
meses do verão, pois aí se instalavam as autorida<strong>de</strong>s da República e o Corpo Diplomático,<br />
além <strong>de</strong> personalida<strong>de</strong>s <strong>de</strong>stacadas na vida cultural do País. O clima ameno, o ambiente<br />
tranqüilo <strong>de</strong> cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> 130.000 habitantes, a proximida<strong>de</strong> da capital fe<strong>de</strong>ral, a localização na<br />
linha <strong>de</strong> uma das principais vias <strong>de</strong> penetração do interior do País, todos estes eram fatores<br />
que tornavam a cida<strong>de</strong> serrana um centro social <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> importância. Petrópolis era o<br />
segundo parque industrial do Estado do Rio <strong>de</strong> Janeiro, com cerca <strong>de</strong> 70 fábricas, várias <strong>de</strong>las<br />
com mais <strong>de</strong> 1.000 operários; era se<strong>de</strong> também <strong>de</strong> estabelecimentos <strong>de</strong> crédito dos maiores do<br />
país, entre os quais o Banco do Brasil, a Caixa Econômica Fe<strong>de</strong>ral, o Banco <strong>de</strong> Crédito Real<br />
<strong>de</strong> Minas Gerais.<br />
26<br />
Carta encontrada no arquivo da Mitra Diocesana <strong>de</strong> Petrópolis.<br />
27<br />
Valor atualizado na moeda corrente <strong>de</strong> 1º <strong>de</strong> julho <strong>de</strong> 2008, através do IGP-DI da fundação Getúlio Vargas: R$<br />
1.206.725,62.<br />
28<br />
Documento encontrado no arquivo da Mitra Diocesana <strong>de</strong> Petrópolis.
Do ponto <strong>de</strong> vista do ensino, era ressaltado o fato <strong>de</strong> ser a cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> mais baixo<br />
índice <strong>de</strong> analfabetismo no Brasil, o que se <strong>de</strong>via em gran<strong>de</strong> parte à eficiência da extensa re<strong>de</strong><br />
escolar que a servia. Culturalmente, Petrópolis continuava a tradição que tinha <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o<br />
Império. Existiam, entre outras instituições, o Museu Imperial, a Aca<strong>de</strong>mia Petropolitana <strong>de</strong><br />
Letras, o Instituto Histórico <strong>de</strong> Petrópolis, a Biblioteca Municipal, o Liceu <strong>de</strong> Artes e Ofícios,<br />
a Seção do Colégio Internacional <strong>de</strong> Cirurgiões, a Escola <strong>de</strong> Música Santa Cecília, o<br />
Departamento da Escola Nacional <strong>de</strong> Música, o Centro <strong>de</strong> Estudos São Norberto, o Instituto<br />
<strong>de</strong> Meninos Cantores, várias estações <strong>de</strong> rádio difusão e editoras que publicavam revistas e<br />
jornais locais. Dentre os estabelecimentos <strong>de</strong> ensino, <strong>de</strong>stacavam-se, especialmente, alguns <strong>de</strong><br />
inspiração religiosa: o Colégio São Vicente <strong>de</strong> Paulo, dos cônegos Premonstratenses; o<br />
Colégio Notre Dame <strong>de</strong> Sion; o Colégio Santa Isabel, das Irmãs <strong>de</strong> Carida<strong>de</strong> <strong>de</strong> São Vicente<br />
<strong>de</strong> Paula; o Colégio <strong>de</strong> Santa Catarina, das Religiosas <strong>de</strong> Santa Catarina. Muito numeroso era<br />
assim o corpo dos alunos, cuja educação se enquadrava em princípios espirituais, mantidos<br />
por um bispado consi<strong>de</strong>rado um dos mais ativos do País.<br />
O relatório da inspetora Sylvia Ferreira Pinto fornece um quadro da riqueza<br />
econômica e da vivacida<strong>de</strong> cultural <strong>de</strong> Petrópolis, na década <strong>de</strong> 1950, condições que<br />
favoreceram o <strong>de</strong>senvolvimento das Faculda<strong>de</strong>s <strong>Católica</strong>s Petropolitanas, não somente como<br />
Instituição <strong>de</strong> ensino, mas também como centro <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong>s culturais.<br />
Uma circunstância que propiciou esse <strong>de</strong>senvolvimento foi a compra do antigo<br />
Palace Hotel, no centro da cida<strong>de</strong>, que fora se<strong>de</strong> do Hotel Orleans 29 , inaugurado em 1883,<br />
para oferecer acomodações a<strong>de</strong>quadas aos dignitários da Corte nos meses <strong>de</strong> verão. A compra<br />
foi realizada com os recursos doados pelo empresário Guilherme Guinle, personalida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />
29 Uma reconstrução histórica do antigo prédio foi realizada pela bibliotecária da UCP, Maria das Neves Krüger,<br />
em 1993: “Em maio <strong>de</strong> 1891, o prédio do Hotel Orleans foi adquirido pela Companhia Gran<strong>de</strong>s Hotéis,<br />
pertencentes a um empresário português, Antonio Pereira Campos, também proprietário do famoso Hotel<br />
Bragança. Foi um período <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> efervescência para a vida social da cida<strong>de</strong>. No Hotel Orleans eram<br />
realizados concertos, bailes, festas e reuniões sociais. Na praça fronteira, realizavam-se as célebres batalhas <strong>de</strong><br />
flores, no ano <strong>de</strong> 1888, para angariar fundos para emancipação dos escravos negros <strong>de</strong> Petrópolis. Após a queda<br />
da monarquia, o Hotel Orleans caiu em <strong>de</strong>clínio. Em conseqüência da Revolta da Armada em 1893, o governo<br />
do Estado, solicitou a transferência provisória <strong>de</strong> sua administração para Petrópolis. Em 18 <strong>de</strong> setembro <strong>de</strong> 1893,<br />
o Estado adquiriu o prédio do Hotel Orleans, ali instalando a Secretaria <strong>de</strong> Fazenda do Governo, até 20 <strong>de</strong> junho<br />
<strong>de</strong> 1903, quando o governo retornou à Capital que, na época, era Niterói. Por curto período, o prédio abrigou a<br />
Escola Normal Livre <strong>de</strong> Petrópolis. Em 25 <strong>de</strong> abril <strong>de</strong> 1909, foi vendido a Manoel Lobato Carneiro Leão, para<br />
instalação do Ginásio Petrópolis, também <strong>de</strong> curta existência. Em 10 <strong>de</strong> novembro <strong>de</strong> 1913, nesse mesmo prédio<br />
foi inaugurado o Palace Hotel. Poucos anos <strong>de</strong>pois, em 1924, foi comprado por Vitório Falcone. Foi palco <strong>de</strong><br />
homenagens ao Rei Alberto da Bélgica, prestadas juntamente com o presi<strong>de</strong>nte Epitácio Pessoa, quando veio a<br />
Petrópolis em 1920. Lá também se hospedou, enquanto sua casa “A Encantada” estava sendo construída, Alberto<br />
Santos Dumont, o Pai da Aviação. Com o falecimento do proprietário, os her<strong>de</strong>iros ven<strong>de</strong>ram o prédio às<br />
Faculda<strong>de</strong>s <strong>Católica</strong>s Petropolitanas, em 31 <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 1956. O imóvel foi tombado pelo Instituto do<br />
Patrimônio Histórico e Artístico”.
gran<strong>de</strong> relevo na socieda<strong>de</strong> fluminense. Ele foi presi<strong>de</strong>nte do Banco do Brasil, membro do<br />
Conselho Técnico <strong>de</strong> Economia e Finanças e da Fe<strong>de</strong>ração das Indústrias do Rio <strong>de</strong> Janeiro. O<br />
doutor Guilherme Guinle foi também patrocinador <strong>de</strong> pesquisas científicas, financiando a<br />
publicação <strong>de</strong> livros e revistas. Colaborou com a Associação Cristã <strong>de</strong> Moços, proporcionou<br />
uma se<strong>de</strong> própria ao Centro Dom Vital, ajudou financeiramente a PUC-Rio. Ao Museu<br />
Imperial <strong>de</strong> Petrópolis ele doou numerosos objetos <strong>de</strong> sua coleção histórica; o Seminário<br />
Diocesano recebeu <strong>de</strong>le uma contribuição <strong>de</strong> cerca <strong>de</strong> Cr$ 3.000.000,00 30 (ALVES NETO,<br />
2005, p. 70-71).<br />
Logo após a compra do Palace Hotel (ANEXO B4) por parte das Faculda<strong>de</strong>s<br />
<strong>Católica</strong>s Petropolitanas, o edifício foi reformado para as mais urgentes adaptações e na nova<br />
se<strong>de</strong>, em fevereiro <strong>de</strong> 1956, iniciaram as ativida<strong>de</strong>s culturais, com uma série <strong>de</strong> conferências<br />
públicas, às quais compareceu numerosa elite petropolitana. Entre os relatores do primeiro<br />
ciclo das chamadas “conferências <strong>de</strong> verão”, estava Alceu Amoroso Lima, que discursou<br />
sobre Machado <strong>de</strong> Assis e Marcel Proust. O sucesso das ativida<strong>de</strong>s culturais motivou as<br />
Faculda<strong>de</strong>s a programar também cursos <strong>de</strong> extensão universitária (AÇÂO, abril, 1956, p.<br />
110).<br />
A abertura solene dos cursos da Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Filosofia, Ciências e Letras realizou-se<br />
a 10 <strong>de</strong> março <strong>de</strong> 1956, com a benção das novas instalações e a homenagem ao governador do<br />
Estado, Miguel Couto Filho, e ao doutor Guilherme Guinle, cujos retratos foram colocados na<br />
sala <strong>de</strong> recepção. Manifestando sua satisfação ao governador Miguel Couto Filho, pela Lei <strong>de</strong><br />
1955, que autorizou a abertura <strong>de</strong> crédito extraordinário <strong>de</strong> Cr$ 3.000.000,00 31 para as<br />
Faculda<strong>de</strong>s <strong>Católica</strong>s Petropolitanas (ANEXO B5), Dom Cintra afirmou que “foi um<br />
entendimento cordial, em termos amplos <strong>de</strong> confiança recíproca e <strong>de</strong> elevada compreensão do<br />
i<strong>de</strong>al educativo e cultural da Igreja, no empreendimento árduo do magistério <strong>de</strong>sta escola <strong>de</strong><br />
ensino superior” (AÇÃO, abril, 1956, p. 111).<br />
Ao agra<strong>de</strong>cer, <strong>de</strong>pois, ao doutor Guilherme Guinle, pela aquisição do “magnífico<br />
prédio”, Dom Cintra ressaltou que o mesmo pagou o total do sinal para a compra do Palace<br />
Hotel, estabelecido em Cr$ 1.000.000,00, e que, naquele mesmo dia, iria saldar<br />
completamente a dívida da compra do edifício, entregando-lhe os títulos no valor <strong>de</strong> Cr$<br />
30 Valor atualizado na moeda corrente <strong>de</strong> 1º <strong>de</strong> julho <strong>de</strong> 2008, através do IGP-DI da fundação Getúlio Vargas: R$<br />
1.206.725,62.<br />
31 Ve<strong>de</strong> nota anterior.
3.500.000,00 32 . No final, foi proferida pelo <strong>de</strong>sembargador Narcélio <strong>de</strong> Queirós a aula<br />
inaugural sobre o tema “Massa e po<strong>de</strong>r”. Estavam presentes professores e alunos das duas<br />
Faculda<strong>de</strong>s, o clero, membros da Magistratura, alguns <strong>de</strong>putados, como Cordolino Ambrósio<br />
e Miguel Couto Neto, letrados como Levi Carneiro e Alceu Amoroso Lima e a inspetora<br />
fe<strong>de</strong>ral Sylvia Ferreira Pinto (AÇÃO, ibi<strong>de</strong>m, p. 113-115).<br />
A Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Filosofia, Ciências e Letras logo cresceu: no ano <strong>de</strong> 1956, dois novos<br />
cursos se juntaram aos já existentes, o <strong>de</strong> Línguas Anglo-germânicas e o <strong>de</strong> Pedagogia 33 .<br />
Aguardando a criação <strong>de</strong> novas faculda<strong>de</strong>s, foi reformado também o terceiro pavimento do<br />
prédio recém adquirido. A este escopo Dom Cintra aplicou uma parte dos recursos coletados<br />
no âmbito da Campanha da Fé, Cultura e Assistência 34 , realizada <strong>de</strong> janeiro até abril <strong>de</strong> 1960,<br />
em toda a Diocese (AÇÃO, fevereiro, 1960, p. 40-42).<br />
3.4. A ESCOLA <strong>DE</strong> ENGENHARIA INDUSTRIAL<br />
A implantação da terceira das Faculda<strong>de</strong>s <strong>Católica</strong>s Petropolitanas foi fruto <strong>de</strong> um<br />
convênio entre as próprias Faculda<strong>de</strong>s e o Centro Industrial do Rio <strong>de</strong> Janeiro (CIRJ), que,<br />
levando consi<strong>de</strong>ração a crescente procura <strong>de</strong> engenheiros para o <strong>de</strong>senvolvimento da<br />
produção e da economia do País, visava integrar a ativida<strong>de</strong> econômica com a ativida<strong>de</strong><br />
universitária. O objetivo do convênio era o <strong>de</strong> garantir uma sólida formação moral e uma<br />
aprendizagem técnica <strong>de</strong> alto padrão aos jovens que se encaminhavam à indústria. Os<br />
entendimentos prévios foram realizados pelo professor Décio José <strong>de</strong> Carvalho Werneck 35 ,<br />
representando as Faculda<strong>de</strong>s, e pelo vice-presi<strong>de</strong>nte do CIRJ, o industrial Jorge Bhering <strong>de</strong><br />
Mattos. Conforme consta no preâmbulo do acordo (ANEXO A3) 36 , o CIRJ,<br />
32 Os valores atualizados na moeda corrente <strong>de</strong> 1º <strong>de</strong> julho <strong>de</strong> 2008, através do IGP-DI da fundação Getúlio<br />
Vargas, são os seguintes: R$ 359.831,68 e R$ 1.255.372,35.<br />
33 Os Cursos <strong>de</strong> Línguas Anglo-germânicas e <strong>de</strong> Pedagogia foram autorizados pelo Decreto n. 43.705 <strong>de</strong> 13-5-<br />
1958 e reconhecidos pelo Decreto n. 50.786 <strong>de</strong> 12-6-1961.<br />
34 Foi organizada por Dom Cintra com a finalida<strong>de</strong> <strong>de</strong> obter recursos para a construção da torre da Catedral,<br />
para completar a reforma do prédio das Faculda<strong>de</strong>s e construir, no bairro do Carangola, um abrigo para os<br />
<strong>de</strong>samparados, oferecendo também um serviço médico-social.<br />
35 Como inspetor fe<strong>de</strong>ral, orientou os inícios da primeira faculda<strong>de</strong>, a <strong>de</strong> Direito. No ano seguinte, integrou o<br />
corpo docente da Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Filosofia, Ciências e Letras, como professor <strong>de</strong> História. Foi membro do<br />
Conselho Técnico Administrativo e, sucessivamente, do Conselho Superior <strong>de</strong> Administração, como secretário.<br />
Foi repetidamente reeleito representante <strong>de</strong> sua congregação no Conselho Universitário (INFORMATIVO UCP,<br />
outubro, 1973, p. 2).<br />
36 Documento fornecido pela professora Vera Rudge Werneck.
aten<strong>de</strong>ndo às necessida<strong>de</strong>s da a<strong>de</strong>quada formação do elemento humano com<br />
vista aos interesses gerais da produção e a o <strong>de</strong>senvolvimento econômico do<br />
País, que lhe incumbe resguardar e assegurar, <strong>de</strong>ntro dos princípios da<br />
dignida<strong>de</strong> do homem e dos <strong>de</strong>veres da socieda<strong>de</strong> na condução do bem<br />
comum [...] resolve prestar às “FACULDA<strong>DE</strong>S” ajuda técnica e financeira<br />
para a instalação e manutenção <strong>de</strong> um estabelecimento <strong>de</strong> ensino superior <strong>de</strong><br />
Engenharia Industrial a elas incorporado em igualda<strong>de</strong> <strong>de</strong> condições com os<br />
<strong>de</strong>mais que atualmente as compõem.<br />
Ao Centro caberia o custo das obras <strong>de</strong> adaptação do prédio das Faculda<strong>de</strong>s, à Rua<br />
Barão <strong>de</strong> Amazonas, para a instalação da Escola (art. 1) e todas as <strong>de</strong>spesas <strong>de</strong> aquisição da<br />
maquinaria, da aparelhagem, do equipamento técnico e do mobiliário necessário ao seu<br />
funcionamento (art. 3). As Faculda<strong>de</strong>s, <strong>de</strong>ntro dos princípios do CIRJ, referidos no preâmbulo<br />
e que se harmonizavam com as suas próprias finalida<strong>de</strong>s, reservavam-se, porém, “a mais<br />
ampla liberda<strong>de</strong> e autonomia na ministração e orientação do ensino no novo estabelecimento,<br />
inclusive na fixação do regime disciplinar e regimental e na escolha <strong>de</strong> seu corpo dirigente,<br />
bem assim do seu professorado” (art. 6). A nova Escola teria a <strong>de</strong>nominação <strong>de</strong> Faculda<strong>de</strong><br />
<strong>Católica</strong> <strong>de</strong> Engenharia Industrial <strong>de</strong> Petrópolis (art. 7).<br />
Como se lê numa carta do presi<strong>de</strong>nte do CIRJ, Zulfo <strong>de</strong> Freitas Mallmann, ao reitor<br />
Arthur <strong>de</strong> Sá Earp, 37 <strong>de</strong>cidiu-se ainda que uma comissão <strong>de</strong> industriais do Centro, composta<br />
<strong>de</strong> três membros, iniciaria os contactos com 80 indústrias, as quais seriam consi<strong>de</strong>radas<br />
fundadoras <strong>de</strong>sta Faculda<strong>de</strong>, “visando levantar numerários suficientes” para a concretização<br />
do acordo (ANEXO A4).<br />
O convênio entre o CIRJ, na pessoa do presi<strong>de</strong>nte Zulfo <strong>de</strong> Freitas Mallmann, e as<br />
Faculda<strong>de</strong>s <strong>Católica</strong>s Petropolitanas, na pessoa do bispo diocesano Dom Cintra, foi assinado<br />
em 13 <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 1960, no plenário da se<strong>de</strong> da Fe<strong>de</strong>ração das Indústrias do Estado<br />
(ANEXO B6). Estavam presentes os representantes dos governadores do Estado da<br />
Guanabara e do Estado do Rio <strong>de</strong> Janeiro, o núncio apostólico Dom Armando Lombardi, que<br />
presidia a solene cerimônia, o prefeito <strong>de</strong> Petrópolis, doutor Nelson <strong>de</strong> Sá Earp, o vice-<br />
prefeito Mario Pinheiro, o diretor da Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Direito, Aloísio Maria Teixeira, o diretor<br />
da Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Filosofia, Ciências e Letras, padre José Fernan<strong>de</strong>s Veloso, o vigário geral,<br />
monsenhor Gentil Costa. No seu discurso inaugural, Dom Cintra salientou a relevância da<br />
iniciativa voltada à formação <strong>de</strong> técnicos especializados brasileiros, engenheiros industriais,<br />
que iriam aten<strong>de</strong>r às exigências do parque industrial do País com “perfeita preparação<br />
37 Carta datada 15 <strong>de</strong> setembro <strong>de</strong> 1960, encontrada no arquivo da Mitra Diocesana <strong>de</strong> Petrópolis.
profissional e com formação moral segura, bafejada pelos princípios da fé e da moral cristã”.<br />
Ele afirmou que a criação da Escola <strong>de</strong> Engenharia Industrial era “um acontecimento do mais<br />
alto relevo para o Estado, para a Pátria e para a Igreja” e explicou:<br />
Não nos bastaria <strong>de</strong>veras formar técnicos. Devemos pensar em preparar<br />
homens e <strong>de</strong>vemos formar cristãos no sentido autêntico da palavra. A<br />
técnica só po<strong>de</strong> <strong>de</strong>struir e aniquilar, como foram aniquiladas Hiroshima e<br />
Nagasaki. A moral e a fé é que constroem. No mundo conturbado <strong>de</strong> hoje,<br />
talvez precisemos mais <strong>de</strong> profundo sentido humano e cristão da vida do<br />
que <strong>de</strong> arrojadas e ainda hipotéticas concepções da ciência interplanetária.<br />
Com estas o homem po<strong>de</strong>rá ir ao espaço si<strong>de</strong>ral; com aquela a nossa vida no<br />
planeta será razoável e humana (AÇÃO, janeiro, 1961, p. 10).<br />
Concluindo a cerimônia, Dom Cintra agra<strong>de</strong>ceu às Faculda<strong>de</strong>s, ao presi<strong>de</strong>nte da<br />
Fe<strong>de</strong>ração e do Centro e aos seus associados, assim como ao trabalho do reitor Arthur <strong>de</strong> Sá<br />
Earp e do professor Décio José <strong>de</strong> Carvalho Werneck. Dom Cintra afirmou que o rápido<br />
<strong>de</strong>senvolvimento das Faculda<strong>de</strong>s, em menos <strong>de</strong> um <strong>de</strong>cênio, o alto conceito que todos os<br />
órgãos competentes do Ministério da Educação <strong>de</strong>las faziam, o parecer <strong>de</strong> professores<br />
catedráticos <strong>de</strong> outras universida<strong>de</strong>s que, lecionando em Petrópolis, têm podido confirmar a<br />
serieda<strong>de</strong> e a proficiências dos cursos e o índice <strong>de</strong> aproveitamento na escolarização dos<br />
estudantes da UCP, tornavam-se cre<strong>de</strong>nciais para alcançar maiores resultados culturais e<br />
espirituais. Ele concluiu, mencionando o lema das Faculda<strong>de</strong>s <strong>Católica</strong>s Petropolitanas:<br />
“Firmadas nos princípios que as têm redigido e as têm sustentado através <strong>de</strong> todas as<br />
dificulda<strong>de</strong>s, elas continuarão o seu roteiro feliz. Non exci<strong>de</strong>t: não hão <strong>de</strong> <strong>de</strong>sfalecer jamais.<br />
Faxit Deus!”. (AÇÃO, ibi<strong>de</strong>m, p. 12). No final, o núncio apostólico, que também foi<br />
signatário do referido convênio, leu um telegrama do Vaticano, pelo qual o papa João XXIII<br />
enviava a bênção apostólica para o CIRJ, para as Faculda<strong>de</strong>s <strong>Católica</strong>s Petropolitanas, para a<br />
Diocese e todos os que estivessem envolvidos na fundação da Escola <strong>Católica</strong> <strong>de</strong> Engenharia<br />
Industrial.<br />
A nova Faculda<strong>de</strong>, autorizada pelo Decreto n. 50.419 <strong>de</strong> 7 <strong>de</strong> abril <strong>de</strong> 1961 38 , foi<br />
confiada à direção do engenheiro Oscar Lisboa da Graça Couto e foi inaugurada a 6 <strong>de</strong> maio<br />
do mesmo ano, na Câmara Municipal, com uma solene cerimônia, presidida pelo reitor Arthur<br />
<strong>de</strong> Sá Earp (ANEXO B7). Proferindo a aula inaugural sobre o sentido da máquina no mundo<br />
mo<strong>de</strong>rno, o professor Oscar Edinaldo Porto Carrero salientou que a fundação da Escola<br />
38 A Escola <strong>de</strong> Engenharia Industrial foi reconhecida pelo Decreto n. 57.582 <strong>de</strong> 5 <strong>de</strong> janeiro <strong>de</strong> 1966.
<strong>Católica</strong> <strong>de</strong> Engenharia Industrial <strong>de</strong>corria da revolução <strong>de</strong> métodos <strong>de</strong> produção que se<br />
processava no Brasil agrícola, lançado subitamente na era industrial. Para enfrentar o<br />
problema da carência <strong>de</strong> técnicos, ao invés <strong>de</strong> contratá-los no estrangeiro, “alguns industriais<br />
se congregaram para formá-los, por meio <strong>de</strong>ssa Escola, <strong>de</strong>monstrando esforço patriótico em<br />
benefício da nossa economia e da nossa cultura. [...] È natural que a Igreja os reunisse para<br />
esse fim. [...] O pastor não cruza os braços. Luta pelas suas ovelhas” (p.1) 39 .<br />
As ativida<strong>de</strong>s acadêmicas iniciariam com o curso <strong>de</strong> Mecânica, freqüentado por 50<br />
alunos, po<strong>de</strong>ndo contar já com os laboratórios <strong>de</strong> física e <strong>de</strong> química, cujos equipamentos<br />
foram adquiridos em São Paulo pelo professor Décio José <strong>de</strong> Carvalho Werneck. Visando a<br />
integração da nova instituição na ativida<strong>de</strong> industrial petropolitana, os alunos iriam fazer,<br />
também por oportuna indicação da Escola, estágios em indústrias <strong>de</strong>terminadas pelo CIRJ<br />
(JORNAL <strong>DE</strong> PETRÓPOLIS, 17-1-1961, p. 1 e 3).<br />
Com a criação oficializada da Escola <strong>Católica</strong> <strong>de</strong> Engenharia Industrial, em breve,<br />
Petrópolis po<strong>de</strong>ria contar com a sua universida<strong>de</strong> 40 .<br />
4 A UNIVERSIDA<strong>DE</strong> CATÓLICA <strong>DE</strong> PETRÓPOLIS<br />
4.1 A TRANSFORMAÇÃO DAS FACULDA<strong>DE</strong>S CATÓLICAS<br />
PETROPOLITANAS EM UNIVERSIDA<strong>DE</strong> CATÓLICA <strong>DE</strong> PETROPOLIS<br />
Conforme consta na ata <strong>de</strong> sessão extraordinária do Conselho Administrativo das<br />
Faculda<strong>de</strong>s <strong>Católica</strong>s Petropolitanas 41 , <strong>de</strong> 20 <strong>de</strong> setembro <strong>de</strong> 1961, o mesmo Conselho<br />
Administrativo e as Congregações da Faculda<strong>de</strong> <strong>Católica</strong> <strong>de</strong> Direito <strong>de</strong> Petrópolis, da<br />
Faculda<strong>de</strong> <strong>Católica</strong> <strong>de</strong> Filosofia, Ciências e Letras <strong>de</strong> Petrópolis e da Escola <strong>Católica</strong> <strong>de</strong><br />
Engenharia Industrial <strong>de</strong> Petrópolis reuniram-se, em sessão conjunta, <strong>de</strong>liberando para se<br />
39 O texto manuscrito da aula inaugural foi fornecido pela professora Vera Rudge Werneck.<br />
40 Em consi<strong>de</strong>ração <strong>de</strong>sse convênio, no primeiro estatuto da UCP, o <strong>de</strong> 1961, foi estabelecido incluir um<br />
representante do CIRJ no Conselho <strong>de</strong> Administração e Finanças (art. 28).
constituírem em regime universitário com o nome <strong>de</strong> <strong>Universida<strong>de</strong></strong> <strong>Católica</strong> <strong>de</strong> Petrópolis,<br />
mediante a incorporação das três unida<strong>de</strong>s existentes. Na ocasião também foi aprovado, com<br />
mínimas adaptações, o projeto <strong>de</strong> estatuto apresentado pelo reitor (ANEXO A5). A <strong>de</strong>cisão<br />
foi tomada com base nas diretrizes então vigentes para o ensino superior, as da Reforma<br />
Francisco Campos, <strong>de</strong> 1931, que previa a existência <strong>de</strong> pelo menos três estabelecimentos <strong>de</strong><br />
ensino superior para a constituição <strong>de</strong> uma universida<strong>de</strong>: Escola <strong>de</strong> Medicina, Direito e <strong>de</strong><br />
Engenharia ou duas <strong>de</strong>las e mais uma Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Educação, Ciências e Letras. Com as três<br />
Faculda<strong>de</strong>s funcionantes já era possível, portanto, que as mesmas se tornassem uma<br />
universida<strong>de</strong>, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> que o conseguissem ainda em 1961, antes da nova Lei <strong>de</strong> Diretrizes e<br />
Bases Nacionais (LDB n. 4.024/61) que, a partir <strong>de</strong> 10 <strong>de</strong> janeiro 1962, exigiria cinco<br />
faculda<strong>de</strong>s.<br />
Ao final do mesmo ano <strong>de</strong> 1961, durante o período do parlamentarismo republicano,<br />
o presi<strong>de</strong>nte do Conselho <strong>de</strong> Ministros, Tancredo Neves, com Decreto n. 383, <strong>de</strong> 20 <strong>de</strong><br />
<strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 1961 (ANEXO A6), conce<strong>de</strong>u à <strong>Universida<strong>de</strong></strong> <strong>Católica</strong> <strong>de</strong> Petrópolis “as regalias<br />
<strong>de</strong> universida<strong>de</strong> livre equiparada”.<br />
O presi<strong>de</strong>nte do Conselho <strong>de</strong> Ministros, usando das atribuições que lhe<br />
confere o art. 18, item III, do Ato Adicional e tendo em vista o que se<br />
contém no Proc. n. 109.690-61 do Ministério da Educação e Cultura,<br />
<strong>de</strong>creta:<br />
Artigo único. Ficam concedidas as regalias <strong>de</strong> universida<strong>de</strong> livre<br />
equiparada à <strong>Universida<strong>de</strong></strong> <strong>Católica</strong> <strong>de</strong> Petrópolis, mantida pelas Faculda<strong>de</strong>s<br />
<strong>Católica</strong>s Petropolitanas e situada na cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Petrópolis, no Estado do Rio<br />
<strong>de</strong> Janeiro, ficando aprovados os seus estatutos, que com este baixam,<br />
assinados pelo Ministro <strong>de</strong> Estado da Educação e Cultura.<br />
Brasília, em 20 <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 1961: 140º da In<strong>de</strong>pendência e 73º da<br />
República.<br />
Tancredo Neves<br />
Antonio <strong>de</strong> Oliveira Brito<br />
Pela ocasião, em 27 <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 1961, sendo <strong>de</strong> competência do grão chanceler<br />
da <strong>Universida<strong>de</strong></strong> a nomeação do reitor, Dom Cintra reconduziu ao cargo <strong>de</strong> reitor da UCP, por<br />
mais quatro anos, o doutor Arthur <strong>de</strong> Sá Earp, já reitor das Faculda<strong>de</strong>s <strong>Católica</strong>s<br />
Petropolitanas, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> 1953.<br />
41 Cópia da ata registrada no Cartório do 6º Ofício <strong>de</strong> Petrópolis, encontrada no arquivo da reitoria da UCP.
A cerimônia solene da instalação da UCP foi realizada no Teatro Petrópolis, a 10 <strong>de</strong><br />
março <strong>de</strong> 1962, e presidida pelo núncio apostólico Dom Armando Lombardi (ANEXO B8).<br />
Estavam presentes: o reitor da <strong>Universida<strong>de</strong></strong> do Brasil, Pedro Calmon, o representante do<br />
ministro da Educação, Antonio <strong>de</strong> Oliveira Brito, a subdiretora do ensino superior do<br />
Ministério da Educação, Nair Fortes Abu-Merhy, o governador do Estado, Celso Peçanha, o<br />
bispo diocesano, Dom Cintra, o prefeito, Nelson <strong>de</strong> Sá Earp, o presi<strong>de</strong>nte da Câmara, Miguel<br />
Pachá, o reitor da <strong>Universida<strong>de</strong></strong> <strong>de</strong> Juiz <strong>de</strong> Fora, Raimundo Padilha, o comandante do 1º<br />
Batalhão, coronel Dácio Vassimon <strong>de</strong> Siqueira, o reitor e os diretores das Faculda<strong>de</strong>s<br />
<strong>Católica</strong>s Petropolitanas, o corpo docente e outras autorida<strong>de</strong>s civis e eclesiásticas.<br />
Na qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> reitor da <strong>Universida<strong>de</strong></strong> recém-inaugurada, o doutor Arthur <strong>de</strong> Sá<br />
Earp narrou a história da UCP, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a fundação da primeira Faculda<strong>de</strong>. Tomou a palavra,<br />
<strong>de</strong>pois, o bispo diocesano, que evi<strong>de</strong>nciou a trajetória rápida e surpreen<strong>de</strong>nte das Faculda<strong>de</strong>s<br />
<strong>Católica</strong>s Petropolitanas, afirmando que não houve em sua cronologia nenhum salto<br />
imprevisto:<br />
A semelhança dos seres vivos, <strong>de</strong> vitalida<strong>de</strong> especifica e própria, que se<br />
formam e crescem <strong>de</strong> modo orgânico, as Faculda<strong>de</strong>s firmaram-se e<br />
expandiram-se sucessiva e organicamente. Seus setores foram atuando no<br />
ambiente da Escola, com inter<strong>de</strong>pendência inteligente e viva, como partes<br />
<strong>de</strong> um só todo, <strong>de</strong> modo <strong>de</strong> criar entre nós, pouco a pouco, com a<br />
profundida<strong>de</strong> das coisas sérias, o espírito universitário (AÇÂO, abril, 1962,<br />
p. 108).<br />
Com efeito, durante os oito anos <strong>de</strong> existência, as Faculda<strong>de</strong>s conseguiram<br />
estabilida<strong>de</strong> funcional e eficiência cultural: os cursos se <strong>de</strong>sdobraram; passou-se do bairro<br />
afastado do Retiro para o centro da cida<strong>de</strong>; os alunos subiram <strong>de</strong> 50 para o número <strong>de</strong> 550 e<br />
os professores <strong>de</strong> cinco para 69. Dom Cintra agra<strong>de</strong>ceu, portanto, à providência divina e<br />
<strong>de</strong>monstrou seu reconhecimento aos colaboradores diretos, aos benfeitores, aos professores,<br />
aos membros dos Conselhos, em especial do Conselho <strong>de</strong> Administração, e aos componentes<br />
das seções <strong>de</strong> Secretaria e <strong>de</strong> Contabilida<strong>de</strong>.<br />
Examinou, em seguida, o conceito clássico <strong>de</strong> universida<strong>de</strong>, explicitando a idéia <strong>de</strong><br />
educação da Igreja e sua concepção <strong>de</strong> universida<strong>de</strong> católica, frente ao laicismo dominante<br />
nos estudos superiores no Brasil, como já <strong>de</strong>scrito no primeiro capítulo <strong>de</strong>ste estudo.<br />
Concluindo as suas reflexões, Dom Cintra afirmou:
Erguer o lábaro <strong>de</strong> uma <strong>Universida<strong>de</strong></strong> <strong>Católica</strong> nos tempos atuais é<br />
cometimento apostólico que po<strong>de</strong> ser heróico. Nós o dizemos para exprimir<br />
as graves responsabilida<strong>de</strong>s da Diocese que promoveu Instituições <strong>de</strong> tal<br />
magnitu<strong>de</strong>. Confiamos, porém, em que a doutrina da Igreja, profundamente<br />
orgânica no conjunto das verda<strong>de</strong>s reveladas que nos iluminam, nos<br />
princípios morais que nos regem e na Graça dos meios sacramentais que<br />
nos sustentam, há <strong>de</strong> plasmar cada vez mais intensamente a vida cristã <strong>de</strong><br />
nossa família universitária. Nossa <strong>Universida<strong>de</strong></strong> não <strong>de</strong>smerecerá <strong>de</strong> seus<br />
altos i<strong>de</strong>ais <strong>de</strong> <strong>Universida<strong>de</strong></strong> <strong>Católica</strong>. Seus Estatutos foram elaborados com<br />
esse cuidado precípuo. Eles asseguram à Igreja mais do que uma presença<br />
<strong>de</strong>corativa, a influência <strong>de</strong>cisiva, colocando-a no centro da Escola.<br />
(AÇÃO, ibi<strong>de</strong>m, p. 109).<br />
Ao fazer uma saudação ao professor Pedro Calmon, Dom Cintra sublinhou uma<br />
“auspiciosa coincidência”: o mesmo professor, que naquele dia instalava a UCP em nome do<br />
ministro da Educação, oito anos antes instalara a primeira das Faculda<strong>de</strong>s <strong>Católica</strong>s<br />
Petropolitanas, a <strong>de</strong> Direito. Referindo-se <strong>de</strong>pois ao núncio apostólico, concluiu:<br />
Po<strong>de</strong> o Santo Padre ficar certo <strong>de</strong> que, à semelhança da <strong>Universida<strong>de</strong></strong> <strong>de</strong><br />
Paris, a <strong>Universida<strong>de</strong></strong> <strong>de</strong> Petrópolis se gloria <strong>de</strong> ser filha da Igreja. Por isso<br />
traz no seu escudo o símbolo heráldico da Se<strong>de</strong> da Sabedoria, a excelsa Mãe<br />
<strong>de</strong> Deus, com uma inscrição que é, ao mesmo tempo, súplica e i<strong>de</strong>al: non<br />
exci<strong>de</strong>t (AÇÃO, ibi<strong>de</strong>m, p. 110).<br />
A transformação das Faculda<strong>de</strong>s em <strong>Universida<strong>de</strong></strong>, assim “tempestiva e tenazmente”<br />
realizada, indica, mais uma vez, a intensa atuação dos católicos em Petrópolis e as suas<br />
ligações com os órgãos fe<strong>de</strong>rais e estaduais, que reconheciam a obra educativa da Igreja como<br />
fator <strong>de</strong>terminante da i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> nacional.<br />
4.2. 4.2 O ESTATUTO <strong>DE</strong> 1961 E A ESTRUTURA ORGANIZACIONAL<br />
No mesmo ato com que as Faculda<strong>de</strong>s <strong>Católica</strong>s Petropolitanas foram transformadas<br />
em <strong>Universida<strong>de</strong></strong> <strong>Católica</strong> <strong>de</strong> Petrópolis, pelo Decreto n. 383, <strong>de</strong> 20 <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 1961, foi<br />
aprovado também o seu estatuto acadêmico.<br />
O estatuto é, por <strong>de</strong>finição, “a lei orgânica que expressa formalmente os princípios<br />
que regem a organização <strong>de</strong> um Estado, socieda<strong>de</strong> ou associação” (NOVO AURÉLIO, 1999,<br />
p. 830). Apresenta-se, portanto, como a regulamentação <strong>de</strong> uma entida<strong>de</strong>, que <strong>de</strong>fine suas
formas <strong>de</strong> funcionamento, sua se<strong>de</strong>, a quem cabe as <strong>de</strong>cisões e <strong>de</strong> que forma po<strong>de</strong>m ser<br />
tomadas, quem representa a entida<strong>de</strong>. No caso da UCP, como afirmou Dom Cintra no final <strong>de</strong><br />
seu discurso inaugural para a instalação da <strong>Universida<strong>de</strong></strong>, a 10 <strong>de</strong> março <strong>de</strong> 1962, o estatuto <strong>de</strong><br />
1961 foi elaborado com o objetivo <strong>de</strong> assegurar à Igreja uma “influência <strong>de</strong>cisiva”,<br />
colocando-a no centro da ativida<strong>de</strong> acadêmica.<br />
Sob a direção e a aprovação do bispo diocesano, inicialmente foi tomado como<br />
mo<strong>de</strong>lo o estatuto da <strong>Universida<strong>de</strong></strong> <strong>Católica</strong> do Paraná, legalmente reconhecida pelo Decreto<br />
n. 48.232 <strong>de</strong> 17 <strong>de</strong> maio <strong>de</strong> 1960. A leitura comparada entre o estatuto da <strong>Universida<strong>de</strong></strong><br />
<strong>Católica</strong> do Paraná, publicado no Diário Oficial <strong>de</strong> 14 <strong>de</strong> junho <strong>de</strong> 1960, e as primeiras<br />
redações datilografadas do estatuto da UCP revela uma correspondência quase literal dos<br />
títulos e dos artigos, com insistência na formação integral dos alunos, <strong>de</strong> conformida<strong>de</strong> com a<br />
doutrina católica (art. 2). Foram utilizados como referência também outros estatutos. Em uma<br />
carta dirigida ao bispo diocesano (ANEXO A7) 42 , em 16 <strong>de</strong> agosto <strong>de</strong> 1961, padre José<br />
Fernan<strong>de</strong>s Veloso, então diretor da Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Filosofia, Ciências e Letras e reitor do<br />
Seminário Diocesano, afirma ter lido os estatutos das <strong>Universida<strong>de</strong></strong>s <strong>de</strong> Curitiba, do Rio <strong>de</strong><br />
Janeiro e <strong>de</strong> São Paulo e <strong>de</strong> consi<strong>de</strong>rar melhores os <strong>de</strong> Curitiba. Propõe, <strong>de</strong>pois, para Dom<br />
Cintra algumas modificações para o formato do estatuto da UCP e para os sucessivos<br />
regimentos das Faculda<strong>de</strong>s <strong>de</strong> Direito e <strong>de</strong> Filosofia, Ciências e Letras.<br />
A preocupação com a i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> confessional foi afirmada claramente <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o início<br />
das Faculda<strong>de</strong>s <strong>Católica</strong>s Petropolitanas, na ata da fundação 43 e nos seus estatutos, ao se<br />
requerer que os professores <strong>de</strong>clarassem por escrito “a sua plena e irrestrita conformida<strong>de</strong><br />
com a orientação doutrinária católica” (capítulo 4, art. 15). Aten<strong>de</strong>ndo a essa norma, o doutor<br />
Mesquita Pimentel apresentou a primeira “profissão <strong>de</strong> fé” (ANEXO A8) 44 . No estatuto da<br />
UCP <strong>de</strong> 1961 afirma-se que a <strong>Universida<strong>de</strong></strong> é “fundada pela Diocese <strong>de</strong> Petrópolis” (art. 1) e<br />
que “coloca-se <strong>de</strong> modo particular sob o patrocínio <strong>de</strong> Nossa Senhora do Amor Divino e do<br />
Doutor da Igreja, Santo Tomás <strong>de</strong> Aquino” (art. 3). O caráter católico 45 e diocesano da<br />
instituição é ressaltado ainda por ser grão chanceler da <strong>Universida<strong>de</strong></strong> o bispo diocesano, que<br />
42<br />
Carta encontrada no arquivo da Mitra Diocesana <strong>de</strong> Petrópolis.<br />
43<br />
“... em beneficio do maior aprimoramento e difusão, nos diversos campos do conhecimento, dos fundamentos<br />
doutrinários da religião católica romana ...”.<br />
44<br />
Carta datada 24 <strong>de</strong> maio <strong>de</strong> 1954, encontrada no arquivo da Mitra Diocesana <strong>de</strong> Petrópolis.<br />
45<br />
O Código <strong>de</strong> Direito Canônico trata “Das <strong>Universida<strong>de</strong></strong>s <strong>Católica</strong>s e outros Institutos <strong>de</strong> Estudos Superiores”<br />
nos cânones 807 a 814. O cânon 808 diz que uma universida<strong>de</strong> só po<strong>de</strong> usar o título <strong>de</strong> católica com o<br />
consentimento da autorida<strong>de</strong> eclesiástica competente. Os <strong>de</strong>mais cânones falam das características da UC, mas<br />
nada <strong>de</strong>terminam sobre o modo <strong>de</strong> constituí-la ou <strong>de</strong> sua personalida<strong>de</strong> jurídica.
nomeia os membros do Conselho <strong>de</strong> Administração e Finanças 46 , ao qual presi<strong>de</strong> (art. 28, §<br />
único) e ao qual cabem a orientação e supervisão. As atribuições da autorida<strong>de</strong> eclesiástica<br />
estão explicitadas nos seguintes artigos:<br />
Art. 9, § 2. A alienação <strong>de</strong> bens patrimoniais, pela <strong>Universida<strong>de</strong></strong>, só se<br />
efetuará mediante parecer favorável do Grão Chanceler [...].<br />
(...)<br />
Art. 12, § único. O presente estatuto somente po<strong>de</strong>rá ser modificado por<br />
<strong>de</strong>liberação do Conselho Universitário e mediante aprovação do Grão<br />
Chanceler.<br />
Art. 14, § único. O direito <strong>de</strong> expedir estas normas compete ao reitor,<br />
ouvida a autorida<strong>de</strong> eclesiástica quando se tratar <strong>de</strong> assunto <strong>de</strong> or<strong>de</strong>m<br />
doutrinária, moral ou religiosa.<br />
Art. 15, § único. O bispo <strong>de</strong> Petrópolis é o Grão Chanceler da <strong>Universida<strong>de</strong></strong>,<br />
a ele cabendo a presidência dos atos a que comparecer.<br />
(...)<br />
Art. 17. O reitor será escolhido pelo Grão Chanceler.<br />
No capítulo 2 do estatuto, o artigo 5 indica que a <strong>Universida<strong>de</strong></strong> era constituita,<br />
inicialmente, pelas seguintes unida<strong>de</strong>s incorporadas: Faculda<strong>de</strong> <strong>Católica</strong> <strong>de</strong> Direito <strong>de</strong><br />
Petrópolis, reconhecida pelo Decreto n. 43.335 <strong>de</strong> 11 <strong>de</strong> março <strong>de</strong> 1958 e Faculda<strong>de</strong> <strong>Católica</strong><br />
<strong>de</strong> Filosofia, Ciências e Letras <strong>de</strong> Petrópolis, cujos cursos foram reconhecidos pelo Decreto n.<br />
45.612 <strong>de</strong> 24 <strong>de</strong> março <strong>de</strong> 1959; agregadas: Escola <strong>de</strong> Engenharia Industrial, autorizada pelo<br />
Decreto n. 51.419 <strong>de</strong> 7 <strong>de</strong> abril <strong>de</strong> 1961.<br />
Com efeito, o Decreto n. 383, <strong>de</strong> 20 <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 1961, alterou o status da<br />
instituição Faculda<strong>de</strong>s <strong>Católica</strong>s Petropolitanas que, sem per<strong>de</strong>r a qualida<strong>de</strong> jurídica <strong>de</strong><br />
associação 47 , passou a <strong>de</strong>nominar-se <strong>Universida<strong>de</strong></strong> <strong>Católica</strong> <strong>de</strong> Petrópolis, como reza o artigo<br />
46 do estatuto:<br />
46<br />
Com a criação da UCP, o Conselho Administrativo das Faculda<strong>de</strong>s <strong>Católica</strong>s Petropolitanas foi substituído<br />
pelo Conselho <strong>de</strong> Administração e Finanças.<br />
47<br />
Com base no Código <strong>de</strong> Direito Canônico, a UCP po<strong>de</strong> ser enquadrada na categoria <strong>de</strong> associação pública ou<br />
<strong>de</strong> associação privada. O Código <strong>de</strong> Direito Canônico apresenta três capítulos sobre as associações <strong>de</strong> fieis. O<br />
primeiro (cânones 298 a 311) dá normas geris e diz que elas são reconhecidas pela Igreja <strong>de</strong>s<strong>de</strong> que seus<br />
estatutos sejam revisados pela autorida<strong>de</strong> competente; o segundo (cânones 312 a 320) versa sobre as associações<br />
públicas e o terceiro (cânones 321 a 326) sobre as privadas. As associações públicas são erigidas pela autorida<strong>de</strong><br />
competente (c. 312) e pelo mesmo <strong>de</strong>creto <strong>de</strong> ereção constituem-se pessoas jurídicas (c. 313); seus estatutos,<br />
como suas modificações, <strong>de</strong>vem ser aprovados pela autorida<strong>de</strong> (c. 314). Para a administração dos bens, a Igreja<br />
exige (c. 1.280) a constituição <strong>de</strong> um Conselho Econômico, com po<strong>de</strong>r <strong>de</strong>cisivo nos casos mais importantes. As<br />
associações privadas gozam <strong>de</strong> autonomia e são governadas pelos fieis, mas estão sujeitas à vigilância da<br />
autorida<strong>de</strong> eclesiástica (c. 321 e 323); escolhem livremente seus dirigentes (c. 324) e, <strong>de</strong> acordo com os<br />
estatutos, administram livremente os bem que possuem (c. 325). Se seus estatutos foram aprovados pela<br />
autorida<strong>de</strong> eclesiástica competente, po<strong>de</strong>m adquirir personalida<strong>de</strong> jurídica.
Por não haver solução <strong>de</strong> continuida<strong>de</strong>, a <strong>Universida<strong>de</strong></strong> continuará com todos<br />
os compromissos, patrimônio, obrigações e direitos das Faculda<strong>de</strong>s <strong>Católica</strong>s<br />
Petropolitanas que, em perfeita e completa continuida<strong>de</strong> jurídica e com outro<br />
nome se transformam e se adaptam à nova fase, sem mudança ou alteração<br />
<strong>de</strong> pessoa ou pessoas.<br />
O próprio Decreto n. 383 <strong>de</strong>clarava também que a <strong>Universida<strong>de</strong></strong> era “mantida pelas<br />
Faculda<strong>de</strong>s <strong>Católica</strong>s Petropolitanas”. Dessa forma, havia uma entida<strong>de</strong> mantenedora, ou seja,<br />
a associação civil Faculda<strong>de</strong>s <strong>Católica</strong>s Petropolitanas, e havia uma instituição <strong>de</strong> ensino<br />
mantida, ou seja, a UCP, resultante da união das mesmas Faculda<strong>de</strong>s. Embora o supra citado<br />
Decreto mencione as Faculda<strong>de</strong>s <strong>Católica</strong>s Petropolitanas, não se encontra nenhum artigo do<br />
estatuto que indique explicitamente a instituição mantenedora. Portanto, segundo relata o<br />
histórico da situação jurídica da UCP, contido na ata da reunião do CONSAD <strong>de</strong> 17 <strong>de</strong><br />
<strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 2007, o estatuto <strong>de</strong> 1961 não explicitou a questão relativa a quem seria a<br />
mantenedora da nova <strong>Universida<strong>de</strong></strong>, mas<br />
a leitura do que foi estabelecido no artigo 46 permite concluir que houve<br />
uma espécie <strong>de</strong> fusão ( ou <strong>de</strong> confusão, no sentido jurídico do termo!) entre a<br />
Associação mantenedora e a instituição <strong>de</strong> ensino mantida, ou seja, a nova<br />
<strong>Universida<strong>de</strong></strong> <strong>Católica</strong> <strong>de</strong> Petrópolis, resultante da união das Faculda<strong>de</strong>s até<br />
então existentes (Direito, Ciências, Filosofia, Letras e Engenharia). Isto<br />
ocorreu pois naquela ocasião, s.m.j., não havia exigência <strong>de</strong> que houvesse a<br />
separação entre entida<strong>de</strong> mantida e entida<strong>de</strong> mantenedora. Ou seja, na<br />
medida em que ostentava personalida<strong>de</strong> jurídico-civil própria, a UCP<br />
“mantinha-se” a si própria (p. 2).<br />
Por outro lado, a Diocese <strong>de</strong> Petrópolis, fundadora da UCP (art.1) e partícipe da<br />
fundação das Faculda<strong>de</strong>s <strong>Católica</strong>s Petropolitanas, por meio <strong>de</strong> Dom Cintra, continuava<br />
assegurando à <strong>Universida<strong>de</strong></strong> sua orientação <strong>de</strong> or<strong>de</strong>m moral e espiritual.<br />
Juntamente à clara i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> confessional, o estatuto <strong>de</strong> 1961 apresentava constante<br />
observância da legislação fe<strong>de</strong>ral. O artigo 7 afirmava que à UCP era reconhecida “plena<br />
autonomia econômica, administrativa, disciplinar e didática, na forma da lei”. Os termos da<br />
legislação então vigente, a Reforma Francisco Campos (Decreto n. 19.851/31), não eram<br />
suficientemente explícitos, “pois ora é proclamada a liberda<strong>de</strong> dos estabelecimentos <strong>de</strong> ensino<br />
superior, ora lhes é dada <strong>de</strong> forma limitada, o que dá margem, ao mesmo tempo, para uma<br />
abertura momentânea e um fechamento subseqüente” (FÁVERO, 1977, p. 35). O art. 35
prescrevia, <strong>de</strong> forma idêntica ao mesmo artigo do estatuto da <strong>Universida<strong>de</strong></strong> <strong>Católica</strong> do<br />
Paraná, que “os regimentos <strong>de</strong> cada unida<strong>de</strong> aten<strong>de</strong>rão às exigências mínimas da legislação<br />
fe<strong>de</strong>ral do ensino superior”. Contemporaneamente, no art. 36 se lê que “em todas as unida<strong>de</strong>s<br />
integrantes da <strong>Universida<strong>de</strong></strong> funcionará a ca<strong>de</strong>ira <strong>de</strong> religião, equiparada às ca<strong>de</strong>iras regulares<br />
dos cursos, quanto ao funcionamento e regime <strong>de</strong> promoções”. Observação análoga po<strong>de</strong> ser<br />
feita no que se refere a outras UCs. Analisando o caso da PUC-Rio, criada em 1946,<br />
Segenreich (2006, p. 226-227) afirma que<br />
tendo em vista que o governo fe<strong>de</strong>ral somente consi<strong>de</strong>rava equiparadas às<br />
faculda<strong>de</strong>s oficiais aquelas instituições que aten<strong>de</strong>ssem totalmente às<br />
normas e padrões ditados pela União, não admira que o primeiro estatuto da<br />
<strong>Universida<strong>de</strong></strong> <strong>Católica</strong> contivesse artigos transcritos diretamente do Decreto<br />
<strong>de</strong> Francisco Campos, e que sua estrutura organizacional fosse análoga ao<br />
mo<strong>de</strong>lo padrão <strong>de</strong> universida<strong>de</strong> brasileira, em termos, por exemplo, da<br />
exclusivida<strong>de</strong> <strong>de</strong> participação dos professores catedráticos em cargos <strong>de</strong><br />
direção e órgãos colegiados, e da escolha <strong>de</strong> dirigentes como processo<br />
externo à universida<strong>de</strong>.<br />
Com efeito, a estrutura organizacional prevista na Reforma Francisco Campos<br />
(Decreto n.19.851/31, artigos 14 e 26), excetuada a presença da socieda<strong>de</strong> mantenedora,<br />
encontra-se tanto no estatuto da PUC-Rio (Decreto n. 21.963/46, artigos 13 e 31), quanto<br />
naquele da UCP (Decreto n. 383/61, artigos 15 e 33). Neste último, o art. 15 reza:<br />
E no art. 33 se lê:<br />
São órgãos <strong>de</strong> administração da <strong>Universida<strong>de</strong></strong>:<br />
a) a Reitoria;<br />
b) o Conselho Universitário;<br />
c) a Assembléia Universitária;<br />
d) o Conselho <strong>de</strong> Administração e Finanças.<br />
Cada unida<strong>de</strong> universitária será administrada:<br />
a) pelo Diretor;<br />
b) pelo Conselho Técnico Administrativo;<br />
c) pela Congregação.<br />
Na Reforma Francisco Campos, a direção das universida<strong>de</strong>s ficava a cargo do reitor<br />
e do Conselho Universitário; os institutos tinham o Diretor, o Conselho Técnico<br />
Administrativo e a Congregação. No que se refere à forma <strong>de</strong> escolha dos dirigentes da PUC-
Rio, Segenreich (2006, p. 227) comenta que o fato <strong>de</strong> ser um processo externo à universida<strong>de</strong><br />
respondia à preocupação <strong>de</strong> “preservar o i<strong>de</strong>ário católico”, pois o reitor era “nomeado pela<br />
autorida<strong>de</strong> arquidiocesana numa lista apresentada pela Socieda<strong>de</strong> Brasileira <strong>de</strong> Educação, na<br />
forma dos estatutos da socieda<strong>de</strong> mantenedora da <strong>Universida<strong>de</strong></strong>” (art. 1). Nos requisitos<br />
exigidos para exercer a reitoria constava também “ser sacerdote, doutor em Teologia, ou<br />
Direito Canônico ou Filosofia e pertencer ao professorado superior” (art. 16). Da mesma<br />
forma, a nomeação dos diretores era feita pelo reitor sem consulta formal à comunida<strong>de</strong><br />
universitária. Diferente do estatuto da PUC-Rio, no primeiro estatuto da UCP, embora o reitor<br />
seja escolhido pela autorida<strong>de</strong> diocesana, a escolha é feita <strong>de</strong>ntre os professores (art. 18), sem<br />
ulteriores requisitos. Tal norma <strong>de</strong>saparece no estatuto <strong>de</strong> 1970, que simplesmente prescreve a<br />
nomeação do reitor pelo grão chanceler “<strong>de</strong>pois <strong>de</strong> aprovado seu nome pela maioria absoluta<br />
do Conselho Superior <strong>de</strong> Administração, po<strong>de</strong>ndo ser reconduzido” (art. 19). Também a<br />
nomeação dos diretores cabe ao reitor, “<strong>de</strong>pois da aprovação pela maioria absoluta do<br />
Conselho Universitário e pelo Grão Chanceler” (art. 34). Desta sintética análise ressalta a<br />
preeminência do po<strong>de</strong>r <strong>de</strong>liberativo atribuído por estatuto à autorida<strong>de</strong> diocesana, com o<br />
objetivo <strong>de</strong> garantir a orientação doutrinária e moral da UCP.<br />
No que concerne à participação dos estudantes, seja nos órgãos colegiados, como na<br />
organização da vida social universitária, os representantes do corpo discente atuavam nas<br />
formas consentidas por lei. Uma primeira redação do estatuto da UCP, transcrito na ata da<br />
sessão extraordinária do Conselho Administrativo das Faculda<strong>de</strong>s, <strong>de</strong> 20 <strong>de</strong> setembro <strong>de</strong><br />
1961, foi revista sucessivamente para <strong>de</strong>finir a presença dos estudantes. O art. 24, alínea g,<br />
especificava que o representante do corpo discente no Conselho Universitário era o presi<strong>de</strong>nte<br />
do Diretório Central do Estudante; no art. 34 acrescentou-se que o regimento <strong>de</strong> cada unida<strong>de</strong><br />
“assegurará, pelo presi<strong>de</strong>nte do Diretório Acadêmico, a participação do corpo discente nos<br />
seus órgãos, nomeadamente no Conselho Técnico Administrativo e na Congregação”; o<br />
parágrafo único do art. 42 foi substituído pelo art. 43, que rezava: “A concessão <strong>de</strong> bolsas <strong>de</strong><br />
estudo a alunos das unida<strong>de</strong>s universitárias se fará mediante entendimento entre o reitor e o<br />
Diretório Central do Estudante, a fim <strong>de</strong> que seja obe<strong>de</strong>cido rigoroso critério <strong>de</strong> justiça e<br />
oportunida<strong>de</strong>”. O Diretório elaborava um próprio estatuto que, porém, era submetido à<br />
aprovação do Conselho Universitário, para as “alterações necessárias” (art. 40) A este órgão<br />
cabia coor<strong>de</strong>nar a vida social universitária, promovendo “a solidarieda<strong>de</strong> entre os corpos<br />
discentes das unida<strong>de</strong>s universitárias”, realizando “solenida<strong>de</strong>s sociais” e “reuniões <strong>de</strong> caráter<br />
científico, nas quais se exercitam os estudantes em discussões <strong>de</strong> temas doutrinários ou <strong>de</strong>
trabalho <strong>de</strong> observação <strong>de</strong> experiência pessoal” (art. 41). Dessa forma, as atribuições<br />
estatutárias do Diretório Central do Estudante visavam obe<strong>de</strong>cer fielmente à finalida<strong>de</strong> da<br />
UCP, explicitada no art. 2, <strong>de</strong> “promover a formação integral dos alunos, isto é, prepará-los<br />
para o perfeito <strong>de</strong>senvolvimento humano, espiritual e social, <strong>de</strong> conformida<strong>de</strong> com a doutrina<br />
católica”. Neste primeiro estatuto, a única forma <strong>de</strong> associação prevista era a dos Diplomados<br />
(art. 50). Era ainda explicitamente vetado “promover ou autorizar manifestações <strong>de</strong> caráter<br />
político” (art. 45).<br />
Embora houvesse a infiltração das idéias esquerdistas da UNE-JUC na <strong>Universida<strong>de</strong></strong>,<br />
por meio dos Diretórios da Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Filosofia, Ciências e Letras (DASTA) e da Escola <strong>de</strong><br />
Engenharia (DARC), os dirigentes da UCP cuidavam para que o nome da <strong>Universida<strong>de</strong></strong> não<br />
estivesse ligado a iniciativas propagandistas <strong>de</strong> posições <strong>de</strong>saprovadas pelas autorida<strong>de</strong>s<br />
eclesiásticas 48 .<br />
4.3 O <strong>DE</strong>SENVOLVIMENTO DA UNIVERSIDA<strong>DE</strong> CATÓLICA <strong>DE</strong> PETRÓPOLIS<br />
NA DÉCADA <strong>DE</strong> 1960<br />
Os primeiros anos <strong>de</strong> existência da <strong>Universida<strong>de</strong></strong> não viram praticamente aumento na<br />
população universitária: 477 alunos em 1961; 483 em 1962; 520 em 1963; 542 em 1964;<br />
queda para 501 em 1965. Em 1966, a UCP contava ainda com 540 alunos e 92 professores.<br />
A 25 <strong>de</strong> março <strong>de</strong> 1966, o reitor Arthur <strong>de</strong> Sá Earp, solicitando o aumento dos<br />
recursos orçamentários do governo fe<strong>de</strong>ral, para o ano <strong>de</strong> 1967, apresentou ao diretor do<br />
ensino superior o plano <strong>de</strong> expansão da UCP, afirmando:<br />
Precisa <strong>de</strong>senvolver-se para servir à região fluminense em que se situa,<br />
reforçando a capacida<strong>de</strong> escolar do Estado da Guanabara e do sul <strong>de</strong> Minas<br />
Gerais, a que socorre recebendo-lhes estudantes, como os recebe, e tem, <strong>de</strong><br />
vários Estados da Fe<strong>de</strong>ração. [...] Precisa ampliar o seu equipamento<br />
técnico principalmente da Engenharia, que já ultrapassou o número <strong>de</strong> 200<br />
alunos, inaugurando, por outro lado, o regime integral para os professsores<br />
<strong>de</strong> certas ca<strong>de</strong>iras e proporcionando melhores condições econômicas e <strong>de</strong><br />
48 No dia 1º <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 1962, por iniciativa <strong>de</strong> padre José Fernan<strong>de</strong>s Veloso, então diretor da Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />
Filosofia, Ciências e Letras, <strong>de</strong> acordo com o reitor Arthur <strong>de</strong> Sá Earp, foi divulgado um esclarecimento para os<br />
alunos da UCP, em relação ao lançamento, a ser feito na se<strong>de</strong> do DASTA, do livro “Cristianismo hoje”. Ele<br />
julgava a obra “<strong>de</strong> intuito puramente faccioso”, editada “ao arrepio das disposições canônicas”, cuja publicação<br />
revestia um caráter tal que impedia <strong>de</strong> ligar o nome da <strong>Universida<strong>de</strong></strong> à sua promoção. O texto do esclarecimento<br />
foi encontrado no arquivo da Diocese <strong>de</strong> Petrópolis.
estudo para os seus estudantes, mediante a oferta <strong>de</strong> moradia (Of. GR<br />
15/66) 49 .<br />
A <strong>Universida<strong>de</strong></strong> planejou também, para o ano <strong>de</strong> 1967, o aumento dos cursos da<br />
Escola <strong>de</strong> Engenharia e a possibilida<strong>de</strong> do funcionamento <strong>de</strong> uma Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Medicina,<br />
para a qual foi constituída a Fundação Octacílio Gualberto 50 . Com efeito, a implantação <strong>de</strong>ssa<br />
Faculda<strong>de</strong> estava sendo projetada já <strong>de</strong>s<strong>de</strong> 1958. De fato, em 28 <strong>de</strong> junho 1958, o governador<br />
do Estado do Rio, Miguel Couto Filho, entregara a Dom Cintra uma doação em títulos, por<br />
parte do Estado, <strong>de</strong> Cr$ 9.000.000,00 51 , para que, no ano seguinte, funcionasse em Petrópolis<br />
a Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Medicina. Naquela ocasião, o mesmo reitor Arthur <strong>de</strong> Sá Earp acentuou as<br />
dificulda<strong>de</strong>s da fundação <strong>de</strong> uma Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Medicina e expôs o andamento dos estudos<br />
preparatórios da nova unida<strong>de</strong> (AÇÃO, agosto <strong>de</strong> 1958, p. 242-243). Entretanto, o ano<br />
seguinte <strong>de</strong> 1966 traria muitas mudanças e o projeto da Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Medicina tomaria outros<br />
rumos.<br />
Em <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 1965, concluido o terceiro mandato do doutor Arthur <strong>de</strong> Sá Earp,<br />
Dom Cintra, na qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> grão chanceler da UCP, <strong>de</strong>signou para o cargo <strong>de</strong> reitor,<br />
substituindo o doutor Sá Earp, monsenhor José Fernan<strong>de</strong>s Veloso, que era então reitor do<br />
Seminário Diocesano <strong>de</strong> Petrópolis. Ele fora também professor 52 da UCP, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> 1954,<br />
tornando-se diretor da Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Filosofia, Ciências e Letras, em 1955 e vice-reitor da<br />
<strong>Universida<strong>de</strong></strong>, em 1962. Sua consagração episcopal, como bispo auxiliar da Diocese <strong>de</strong><br />
Petrópolis, estava preste a ser realizada, em maio <strong>de</strong> 1966.<br />
Deixando o cargo <strong>de</strong> reitor, o doutor Arthur <strong>de</strong> Sá Earp recebeu o título <strong>de</strong> Reitor<br />
Emérito, que o Conselho Universitário conferiu-lhe em reconhecimento pelos serviços<br />
prestados à frente da UCP. Ele foi agraciado, também, com a Comenda da Or<strong>de</strong>m <strong>de</strong> São<br />
Gregório Magno, con<strong>de</strong>coração pontifícia reservada, em especiais ocasiões, às gran<strong>de</strong>s<br />
personalida<strong>de</strong>s que tivessem merecido a gratidão da Igreja. O próprio Dom Cintra pedira a<br />
Comenda à Santa Sé, em 1963, pagando diretamente a <strong>de</strong>spesa do título (100 dólares).<br />
49<br />
Os Ofícios do Gabinete da Reitoria se encontram, enca<strong>de</strong>rnados por sucessão cronológica, no arquivo da<br />
reitoria da UCP.<br />
50<br />
A escritura <strong>de</strong> Constituição da Fundação Octacílio Gualberto foi registrada em 19 <strong>de</strong> fevereiro <strong>de</strong> 1965, no<br />
Cartório do 7º Ofício <strong>de</strong> Guanabara, livro 1.505, fls.55.<br />
51<br />
Valor atualizado na moeda corrente <strong>de</strong> 1º <strong>de</strong> julho <strong>de</strong> 2008, através do IGP-DI da fundação Getúlio Vargas: R$<br />
2.423.262,06.<br />
52<br />
Lecionou História da Filosofia, no Colégio Sion. Foi professor <strong>de</strong> Religião, na Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Direito, e <strong>de</strong><br />
Introdução à Filosofia, na Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Filosofia, Ciências e Letras da UCP.
Embora tivesse recebido essa distinção pontifícia em fevereiro do ano seguinte, não lhe<br />
pareceu conveniente entregá-la <strong>de</strong> imediato ao <strong>de</strong>stinatário, “por vários motivos especiais”,<br />
que expôs <strong>de</strong> viva voz ao núncio apostólico 53 . A saída do doutor Arthur <strong>de</strong> Sá Earp da reitoria<br />
da UCP foi a circunstância a<strong>de</strong>quada, esperada por Dom Cintra. Como ele afirmou na carta <strong>de</strong><br />
2 <strong>de</strong> março 1966 a Dom Sebastiano Baggio, então núncio apostólico do papa Paulo VI,<br />
[...] premido pelas injunções do início do novo ano universitário, foi-me<br />
necessário provi<strong>de</strong>nciar a substituição do reitor, mesmo antes da nomeação<br />
do Bispo Auxiliar. E eu o fiz, consolando, porém, o reitor <strong>de</strong>missionário<br />
com o anúncio <strong>de</strong>sta Comenda <strong>de</strong> S. Gregório. Por isso, quanto menos<br />
<strong>de</strong>morar a colação da Comenda, mais compensada ficará a solução. 54<br />
A solene cerimônia <strong>de</strong> entrega da Comenda (ANEXO B9), por parte do bispo<br />
diocesano, foi realizada no palácio episcopal, na tar<strong>de</strong> <strong>de</strong> 20 <strong>de</strong> maio <strong>de</strong> 1966, em presença <strong>de</strong><br />
numerosos convidados, autorida<strong>de</strong>s civis, militares e eclesiásticas. No seu discurso 55 , Dom<br />
Cintra explicou que a Comenda pontifícia inscrevia o doutor Arthur <strong>de</strong> Sá Earp na classe civil<br />
da Or<strong>de</strong>m Eqüestre <strong>de</strong> São Gregório Magno, fundada no século XIX, pelo papa Gregório<br />
XVI, com a finalida<strong>de</strong> <strong>de</strong> distinguir aqueles que incorrupta fi<strong>de</strong> et egregio in Nos atque<br />
Sanctam Se<strong>de</strong> studio et obsequio effervescentes, religionis causam pro viribus tuerentur, ou<br />
seja, que “por absoluta fi<strong>de</strong>lida<strong>de</strong> e animados <strong>de</strong> egrégia <strong>de</strong>voção e obediência ao Papa e à Sé<br />
Apostólica, <strong>de</strong>fendam com <strong>de</strong>nodo a causa da religião”. A Or<strong>de</strong>m fixara na medalha da<br />
Comenda as eloqüentes palavras Pro Deo et Principe, referindo-se ao papa como titular da<br />
tiara romana. Dom Cintra mencionou, <strong>de</strong>pois, os méritos do doutor Arthur <strong>de</strong> Sá Earp em<br />
relação à <strong>Universida<strong>de</strong></strong>, “longamente e pacientemente por ele mo<strong>de</strong>lada”, <strong>de</strong>stacando “a<br />
<strong>de</strong>voção plena e a lealda<strong>de</strong> irrestrita”, “o i<strong>de</strong>alismo sem limites <strong>de</strong> sua operosida<strong>de</strong><br />
multiforme” e a sua “<strong>de</strong>dicação exuberante”.<br />
Por sua vez, o doutor Arthur <strong>de</strong> Sá Earp proferiu seu agra<strong>de</strong>cimento, dizendo que<br />
recebia a con<strong>de</strong>coração com dignida<strong>de</strong>, porque ela correspondia a serviços realmente<br />
prestados. Afirmou que <strong>de</strong>ixava a direção da <strong>Universida<strong>de</strong></strong>, pois há tempo lhe fora<br />
comunicado que a nova orientação da Igreja previa a renovação dos cargos <strong>de</strong><br />
responsabilida<strong>de</strong> e a escolha <strong>de</strong> sacerdotes ou eclesiásticos como reitores das UCs. Esperava<br />
que continuasse o espírito <strong>de</strong> confiança que ele imprimira à <strong>Universida<strong>de</strong></strong>, cujas condições <strong>de</strong><br />
53 Carta <strong>de</strong> 13 <strong>de</strong> maio <strong>de</strong> 1964, dirigida ao monsenhor José Mees, encarregado dos negócios da Nunciatura.<br />
54 Carta encontrada no arquivo da Diocese <strong>de</strong> Petrópolis.<br />
55 Os discursos <strong>de</strong> Dom Cintra e do doutor Arthur <strong>de</strong> Sá Earp por ocasião da entrega da Comenda pontifícia<br />
foram publicados no Jornal <strong>de</strong> Petrópolis <strong>de</strong> 21 <strong>de</strong> maio <strong>de</strong> 1966.
estabilida<strong>de</strong> haveriam <strong>de</strong> permanecer na nova administração. Ao final, ele renovou os<br />
agra<strong>de</strong>cimentos pelas <strong>de</strong>monstrações <strong>de</strong> respeito e <strong>de</strong> louvor <strong>de</strong> todos os presentes.<br />
Entre as inúmeras homenagens, que o doutor Arthur <strong>de</strong> Sá Earp recebeu na época <strong>de</strong><br />
sua <strong>de</strong>missão, <strong>de</strong>staca-se uma carta da subdiretora do ensino superior, Nair Fortes Abu<br />
Merhy 56 , que foi publicada no Jornal <strong>de</strong> Petrópolis, a 17 <strong>de</strong> julho <strong>de</strong> 1966:<br />
Prezado amigo Dr. Arthur <strong>de</strong> Sá Earp, poucas pessoas estarão como eu, na<br />
posição <strong>de</strong> avaliar o que o senhor representou para a <strong>Universida<strong>de</strong></strong> <strong>Católica</strong><br />
<strong>de</strong> Petrópolis. Deu-lhe 13 anos <strong>de</strong> vida <strong>de</strong> moço, <strong>de</strong> seu entusiasmo, da sua<br />
cultura, da sua fé. O muito que nela se realizou foi, sem dúvida, pela<br />
confiança que o senhor mereceu das autorida<strong>de</strong>s, por isso que, colocando <strong>de</strong><br />
lado seus próprios interesses financeiros, se i<strong>de</strong>ntificou com a causa da<br />
educação do seu Município, do seu Estado, do nosso Brasil. Muitos louvores<br />
lhe serão entoados, mas muitas vozes se calarão. Pouco importa. O que<br />
prevalece é o julgamento da História da Educação Petropolitana, que<br />
gravará, em letras <strong>de</strong> ouro, o que foi o Dr. Arthur <strong>de</strong> Sá Earp Neto, expressão<br />
<strong>de</strong> <strong>de</strong>dicação completa a uma causa sagrada, para a qual <strong>de</strong>u tudo quanto <strong>de</strong><br />
melhor tinha. A nossa vida <strong>de</strong> católicos militantes não po<strong>de</strong> ser encarada à<br />
luz do natural. Estou certa <strong>de</strong> que, no momento em que o senhor tanto sofre<br />
com o afastamento da obra que, antes do mais, é sua, estão sendo tecidas, no<br />
Céu, as coroas <strong>de</strong> seu merecimento. Receba, mais uma vez, o meu aplauso.<br />
(a.) Nair Fortes Abu-Merhy. — Rio, 14-6-1966.<br />
A <strong>de</strong>speito das palavras <strong>de</strong> Dom Cintra, que, finalizando seu discurso, exprimiu<br />
admiração para o “fino gesto <strong>de</strong> elegância moral inconfundível” com que o doutor Arthur <strong>de</strong><br />
Sá Earp, vendo a <strong>Universida<strong>de</strong></strong> em “condições seguras <strong>de</strong> sobrevivência e maturida<strong>de</strong>,<br />
<strong>de</strong>ixava a sua reitoria nas mãos do novo bispo auxiliar da Diocese”, não era intenção do<br />
doutor Arthur <strong>de</strong> Sá Earp <strong>de</strong>ixar a reitoria da UCP. Para ele, como afirmou Nair Fortes Abu<br />
Merhy, foi um “afastamento” da obra que consi<strong>de</strong>rava uma realização pessoal e que chefiava<br />
com a <strong>de</strong>terminação <strong>de</strong> sua forte personalida<strong>de</strong>. Sabendo que o mandato <strong>de</strong> reitor terminaria<br />
56 Nair Fortes Abu-Merhy, bacharel e licenciada em Pedagogia pela Faculda<strong>de</strong> Nacional <strong>de</strong> Filosofia (RJ),<br />
doutorou-se em Administração Escolar e Educação Comparada pela Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Filosofia, Ciências e Letras da<br />
<strong>Universida<strong>de</strong></strong> do Paraná em 1958. Nessa Faculda<strong>de</strong> exercia a função <strong>de</strong> professora livre docente. Foi Diretora da<br />
Escola Brasileira <strong>de</strong> Administração Pública em 1964. Des<strong>de</strong> 1963 passou a respon<strong>de</strong>r pela ca<strong>de</strong>ira <strong>de</strong><br />
Administração Escolar e Educação comparada na <strong>Universida<strong>de</strong></strong> do Brasil (<strong>de</strong>pois <strong>de</strong>nominada <strong>Universida<strong>de</strong></strong><br />
Fe<strong>de</strong>ral do Rio <strong>de</strong> Janeiro). Foi membro suplente do Conselho Fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong> Educação (CFE) <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o momento <strong>de</strong><br />
sua criação, em 1961. Passou a ser membro titular no início da década <strong>de</strong> 70 (Curriculum vitae publicado na<br />
Revista Documenta n. 107 <strong>de</strong> outubro <strong>de</strong> 1969). O Conselho Fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong> Educação era órgão <strong>de</strong> natureza técnica,<br />
normativa e <strong>de</strong>cisória no âmbito do Ministério <strong>de</strong> Educação e Cultura, com competências específicas, <strong>de</strong>finidas<br />
pela LDB n. 4.024/61, e outras atribuições conferidas por Lei. Era constituído por 24 membros, com mandatos<br />
<strong>de</strong> 06 anos, nomeados pelo Presi<strong>de</strong>nte da República <strong>de</strong>ntre pessoas <strong>de</strong> notável saber e experiência em matéria <strong>de</strong><br />
educação. O CFE funcionou com esse nome e quase a totalida<strong>de</strong> <strong>de</strong> suas atribuições e funções até o governo do<br />
presi<strong>de</strong>nte Itamar Franco (1992-1995) <strong>de</strong>sativá-lo em 19-10-1994.
em <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 1965 e que, <strong>de</strong>ssa vez, não haveria renovação, o doutor Arthur <strong>de</strong> Sá Earp<br />
tentou pressionar o grão chanceler para que mudasse a <strong>de</strong>cisão que lhe fora comunicada<br />
verbalmente, buscando apoio nos docentes da <strong>Universida<strong>de</strong></strong> e procurando a mediação <strong>de</strong><br />
influentes personalida<strong>de</strong>s petropolitanas. Malfadados seus intentos, o doutor Arthur <strong>de</strong> Sá<br />
Earp somente apresentou para Dom Cintra o seu “pedido” <strong>de</strong> <strong>de</strong>missão (ANEXO A9) 57 em 17<br />
<strong>de</strong> maio <strong>de</strong> 1966, quando percebeu a ineficácia das suas tentativas. A carta <strong>de</strong> <strong>de</strong>missão foi<br />
escrita nestes termos:<br />
Tendo Vossa Excelência Reverendíssima me comunicado que a orientação<br />
atual da Igreja é pela renovação dos cargos <strong>de</strong> responsabilida<strong>de</strong> e que os<br />
reitores das universida<strong>de</strong>s católicas <strong>de</strong>vem ser sacerdotes ou eclesiásticos,<br />
venho confirmar estar à disposição <strong>de</strong> Vossa Excelência – como, aliás, sempre<br />
o esteve e o <strong>de</strong>clarei na ocasião – o cargo <strong>de</strong> Reitor da <strong>Universida<strong>de</strong></strong> <strong>Católica</strong><br />
<strong>de</strong> Petrópolis, que exerço <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a fundação da sua primeira unida<strong>de</strong>, há 13<br />
anos. Peço se digne Vossa Excelência Reverendíssima <strong>de</strong>signar dia e ora para<br />
a entrega do cargo ao meu substituto.<br />
No final, ele exprimiu formais agra<strong>de</strong>cimentos pelo título <strong>de</strong> Reitor Emérito e pela<br />
concessão da Grão-Cruz da Or<strong>de</strong>m <strong>de</strong> São Gregório Magno, “em atenção pelo que me foi<br />
possível realizar no exercício do cargo e das funções <strong>de</strong> Consultor Jurídico e membro do<br />
Conselho Administrativo da Diocese, nos longos primeiros anos da sua criação”.<br />
Resolvida a questão burocrática, ou seja, com a <strong>de</strong>missão do doutor Arthur <strong>de</strong> Sá<br />
Earp po<strong>de</strong>ria ser nomeado outro reitor, a <strong>Universida<strong>de</strong></strong>, em relação ao seu projeto<br />
administrativo-acadêmico, teria que perseguir expectativas próprias, diferentes das<br />
expectativas pessoais do antigo reitor. Com a saída do doutor Arthur <strong>de</strong> Sá Earp, foram<br />
interrompidas as providências preparatórias da Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Medicina na UCP, cuja criação<br />
fora anunciada numa cerimônia oficial na Câmara Municipal, em outubro <strong>de</strong> 1965, enquanto<br />
Dom Cintra estava participando, em Roma, dos trabalhos conciliares. Em uma carta <strong>de</strong> 7 <strong>de</strong><br />
novembro do mesmo ano 58 , dirigida ao doutor Arthur <strong>de</strong> Sá Earp, assim o bispo comentara a<br />
notícia, manifestando a sua <strong>de</strong>saprovação:<br />
Soube da publicação oficial que se fez, aí em Petrópolis, no dia 15 <strong>de</strong><br />
outubro, através da Câmara Municipal, da próxima criação da Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />
57 Carta encontrada nos Ofícios do Gabinete da Reitoria, 38/66.<br />
58 Carta encontrada no arquivo da Diocese <strong>de</strong> Petrópolis.
Medicina em nossa <strong>Universida<strong>de</strong></strong>. Fiquei constrangido com a notícia que me<br />
pareceu prematura, uma vez que não foram ouvidos ainda os órgãos<br />
competentes e principalmente a Santa Sé. O sr. sabe, como eu lhe disse,<br />
quanto Ela, nestes últimos tempos, se tem <strong>de</strong>monstrado exigente e<br />
cuidadosa, afim <strong>de</strong> evitar que se criem Institutos Superiores Católicos sem<br />
os necessários requisitos, como vinha acontecendo no Brasil. Oxalá essa<br />
publicida<strong>de</strong> não venha a nos atrapalhar <strong>de</strong>pois!<br />
Em 20 <strong>de</strong> julho <strong>de</strong> 1966, logo <strong>de</strong>pois da saída do doutor Arthur <strong>de</strong> Sá Earp, a<br />
Fundação Octacílio Gualberto, por sua vez, que estava preparando o pedido <strong>de</strong> autorização<br />
que habilitaria o funcionamento da Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Medicina da UCP, foi modificada por uma<br />
outra escritura pública, <strong>de</strong> re-ratificação, lavrada no mesmo Cartório. A Fundação, <strong>de</strong> cujo<br />
Conselho Diretor era membro o próprio doutor Arthur <strong>de</strong> Sá Earp, ficou <strong>de</strong>stinada “a custear<br />
a instalação da Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Medicina <strong>de</strong> Petrópolis, a ser criada, a custear a instalação <strong>de</strong><br />
estabelecimento hospitalar em Petrópolis, que se <strong>de</strong>nominará Hospital <strong>de</strong> Clínicas Arthur <strong>de</strong><br />
Sá Earp Filho e que será parte integrante da Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Medicina <strong>de</strong> Petrópolis”. Dessa<br />
forma, Dom Cintra <strong>de</strong>ixava à iniciativa privada do doutor Arthur <strong>de</strong> Sá Earp o planejamento e<br />
a realização <strong>de</strong> uma Faculda<strong>de</strong> que ainda não estava encontrando na UCP as condições <strong>de</strong> sua<br />
implantação.<br />
O novo reitor, Dom José Fernan<strong>de</strong>s Veloso, no começo <strong>de</strong> seu mandato, procurou<br />
retomar o quanto estava sendo planejado, dando ênfase, antes <strong>de</strong> tudo, à assistência aos<br />
estudantes. De fato, como ele afirmou no “Plano Geral <strong>de</strong> obras”, <strong>de</strong> 22 <strong>de</strong> agosto <strong>de</strong> 1966<br />
(Of. GR 69/66), os jovens <strong>de</strong> outras cida<strong>de</strong>s, que vinham para estudar em Petrópolis,<br />
transferiam-se em massa, <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> um ou dois anos, por falta <strong>de</strong> hospedagem a<strong>de</strong>quada e ao<br />
alcance <strong>de</strong> suas bolsas. Portanto, ele consi<strong>de</strong>rava prioritário proporcionar alojamento,<br />
alimentação e financiamento aos estudantes, antes <strong>de</strong> abrir novas faculda<strong>de</strong>s. Com este<br />
objetivo, em 29 <strong>de</strong> maio <strong>de</strong> 1966, foi instituído o Fundo Assistencial Rotativo do<br />
Universitário Petropolitano (FARUP), a fim <strong>de</strong> aumentar os recursos para concessão <strong>de</strong><br />
bolsas 59 ; estava em constução ainda o prédio do Restaurante Universitário e pensava-se em<br />
adquirir a casa do bairro do Retiro, que foi a primeira se<strong>de</strong> das Faculda<strong>de</strong>s <strong>Católica</strong>s<br />
Petropolitanas, para instalar a Casa do Estudante.<br />
O Fundo Assistencial Rotativo do Universitário Petropolitano (FARUP), como<br />
59 Esta modalida<strong>de</strong> <strong>de</strong> auxílio teve um mo<strong>de</strong>lo internacionalmente conhecido no Instituto Colombiano <strong>de</strong> Crédito<br />
Educativo y Estúdios Técnicos en el Exterior – ICETEX – da Colômbia, criado em 1950 pelo Ministerio <strong>de</strong><br />
Educación Nacional, para proporcionar aos estudantes ajudas financeiras reembolsáveis (Revista da
explicado na introdução do seu estatuto 60 , era <strong>de</strong>stinado aos estudantes que passavam<br />
dificulda<strong>de</strong>s financeiras e eram obrigados a interromper o curso e aos que nem sequer podiam<br />
iniciar os estudos superiores. Consi<strong>de</strong>rando que um diploma <strong>de</strong> curso superior representava<br />
um capital <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> valor, a sua aquisição proporcionaria, concluidos os estudos, uma base<br />
econômica suficiente para o resgate do empréstimo em parcelas mensais. Os mutuários do<br />
FARUP obrigavam-se a fazer o resgate ao menos a partir do terceiro ano após sua diplomação<br />
e <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> tempo igual àquele em que usufruiram do benefício. Dessa forma <strong>de</strong>senvolver-se-<br />
ia, também, o sentido <strong>de</strong> responsabilida<strong>de</strong>, <strong>de</strong> gratidão e <strong>de</strong> solidarieda<strong>de</strong>: por um lado, o<br />
aluno não recebia uma simples esmola e, por outro, retribuia em benefício <strong>de</strong> outrem ao<br />
menos tanto quanto recebeu. Estes princípios, que orientaram a concepção e a estrutura do<br />
Fundo, estavam em profunda sintonia com a natureza da UCP, instituição educativa <strong>de</strong><br />
reconhecida utilida<strong>de</strong> pública fe<strong>de</strong>ral (Decreto n. 68.444 <strong>de</strong> 30 <strong>de</strong> março <strong>de</strong> 1971) e dotada <strong>de</strong><br />
certificação <strong>de</strong> Entida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Fins Filantrópicos. Os recursos do Fundo provinham <strong>de</strong> dotações<br />
tiradas do orçamento da <strong>Universida<strong>de</strong></strong> e <strong>de</strong> donativos <strong>de</strong> empresas ou <strong>de</strong> benfeitores<br />
particulares, que <strong>de</strong>sejassem auxiliar os alunos necessitados. Todas as contribuições feitas à<br />
<strong>Universida<strong>de</strong></strong>, para aplicação no FARUP, podiam ser <strong>de</strong>duzidas na <strong>de</strong>claração do imposto <strong>de</strong><br />
renda (Decreto n. 58.400, <strong>de</strong> 10 <strong>de</strong> maio <strong>de</strong> 1966). O Fundo iniciou suas ativida<strong>de</strong>s em 1967,<br />
aten<strong>de</strong>ndo a seis alunos da Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Direito, 14 da <strong>de</strong> Filosofia e 40 da Escola <strong>de</strong><br />
Engenharia (RELATÓRIO DA REITORIA À ASSEMBLÉIA UNIVERSITÁRIA <strong>DE</strong> 2 <strong>DE</strong><br />
MARÇO <strong>DE</strong> 1968).<br />
O Restaurante Universitário e a Casa do Estudante tornaram-se uma necessida<strong>de</strong><br />
mais aguda em 1966, quando aumentou consi<strong>de</strong>ravelmente o número <strong>de</strong> alunos, sobretudo <strong>de</strong><br />
engenharia, não resi<strong>de</strong>ntes em Petrópolis. No citado “Plano Geral <strong>de</strong> obras”, Dom Veloso<br />
relatou que o Restaurante Universitário foi uma realização <strong>de</strong>vida aos próprios alunos,<br />
especialmente Paulo Cesar Vassalo <strong>de</strong> Azevedo, presi<strong>de</strong>nte do Diretório Acadêmico Rui<br />
Barbosa (DARB), e Paulo Nunes Alves, presi<strong>de</strong>nte do Diretório Estadual dos Estudantes<br />
(<strong>DE</strong>E). Eles perceberam a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> obter recursos do governo estadual, se a<br />
<strong>Universida<strong>de</strong></strong> ce<strong>de</strong>sse o terreno para a construção <strong>de</strong> um edifício <strong>de</strong>stinado ao Restaurante. De<br />
acordo com o então reitor Arthur <strong>de</strong> Sá Earp, que lhe conferiu cre<strong>de</strong>nciais com plenos po<strong>de</strong>res<br />
para tratar com as autorida<strong>de</strong>s estaduais, Paulo Cesar Vassalo <strong>de</strong> Azevedo concluiu as<br />
negociações para a construção do prédio, no terreno do antigo Palace Hotel, utilizando uma<br />
<strong>Universida<strong>de</strong></strong> <strong>Católica</strong> <strong>de</strong> Petrópolis, julho, 1980, p. 44).<br />
60 O FARUP foi instituído pelo Conselho Universitário, que aprovou também seu estatuto, registrado no Cartório<br />
do 4º Ofício, no livro III, sob o n. 328, em 30 <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 1966.
área <strong>de</strong> 425 metros quadrados. No entanto, a obra estava preste a ser concluída e os próprios<br />
alunos movimentavam-se para obter as instalações necessárias, por meio <strong>de</strong> verbas estaduais,<br />
já prometidas, e <strong>de</strong> auxílios da Embaixada Americana.<br />
No mesmo ano <strong>de</strong> 1966, o presi<strong>de</strong>nte da Fundação Calouste Gulbenkian, José<br />
Azeredo Perdigão, que fora convidado na cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Petrópolis pelo professor Lúcio Marques<br />
<strong>de</strong> Souza, visitou as obras em andamento na UCP e atribuiu à <strong>Universida<strong>de</strong></strong> um auxílio <strong>de</strong> $<br />
1.000.000,00 <strong>de</strong> escudos portuguêses 61 . Os $ 750.000,00 (25.826,45 dólares, cambiados por<br />
NCr$ 69.344,01 62 ), recebidos em janeiro <strong>de</strong> 1967, foram aplicados para a construção da<br />
Oficina Mecânica da Escola <strong>de</strong> Engenharia, chamada <strong>de</strong> Pavilhão Gulbenkian. Os restantes $<br />
250.000,00 escudos (8.750 dólares, recebidos em maio <strong>de</strong> 1967 e cambiados por NCr$<br />
23.851,25 63 ) foram <strong>de</strong>stinados para a compra do equipamento <strong>de</strong> cozinha do Restaurante<br />
Universitário. Concluído o prédio, o reitor nomeou duas comissões <strong>de</strong> alunos, sob a<br />
presidência do professor Ivan Gontijo, para cuidar da instalação dos equipamentos e para<br />
estudar a organização e o funcionamento do Restaurante. Os trabalhos, porém, foram bem<br />
mais morosos do que se esperava e foram completados somente em setembro <strong>de</strong> 1968<br />
(INFORMATIVO UCP, setembro, 1968, p. 3-4).<br />
Ainda no final <strong>de</strong> 1966, foram adquiridos dois prédios na Rua Monsenhor Bacelar, n.<br />
85 e n. 93, on<strong>de</strong> passou a funcionar a Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Filosofia.<br />
No ano <strong>de</strong> 1967, na Escola <strong>de</strong> Engenharia Industrial, foi <strong>de</strong>liberado o funcionamento<br />
do Curso <strong>de</strong> Engenharia Elétrica 64 e, na Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Filosofia, o <strong>de</strong> Licenciatura <strong>de</strong> Ciências<br />
para o primeiro ciclo 65 . Em maio do mesmo ano, Dom Cintra comunicou ao então presi<strong>de</strong>nte<br />
da República, marechal Arthur da Costa e Silva, a disponibilida<strong>de</strong> da UCP para a instalação<br />
da Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Medicina, consi<strong>de</strong>rado o problema <strong>de</strong> vagas exce<strong>de</strong>ntes. Esta intenção,<br />
porém, não saiu do papel. Por outro lado, também a Fundação Octacílio Gualberto, por meio<br />
do doutor Arthur <strong>de</strong> Sá Earp, pleiteava a autorização ao funcionamento da Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />
Medicina <strong>de</strong> Petrópolis (FASE). Na petição dirigida as Câmaras <strong>de</strong> Planejamento e Ensino<br />
Superior (Proc. n. 23.667/67, <strong>de</strong> 9 <strong>de</strong> junho <strong>de</strong> 1967), se <strong>de</strong>clarava a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />
61 Valor atualizado a 18 <strong>de</strong> julho <strong>de</strong> 2008: R$ 12.575,15 (fonte: http://ar.finance.yahoo.com).<br />
62 Valor atualizado na moeda corrente <strong>de</strong> 1º <strong>de</strong> julho <strong>de</strong> 2008, através do IGP-DI da fundação Getúlio Vargas: R$<br />
570,46.<br />
63 Valor atualizado na moeda corrente <strong>de</strong> 1º <strong>de</strong> julho <strong>de</strong> 2008, através do IGP-DI da fundação Getúlio Vargas: R$<br />
174.871,76.<br />
64 O Curso <strong>de</strong> Engenharia Elétrica foi reconhecido pelo Decreto n. 72.117 <strong>de</strong> 24-4-1973.<br />
65 O reconhecimento da Licenciatura <strong>de</strong> Ciências para o primeiro ciclo houve juntamente ao <strong>de</strong> Licenciatura<br />
plena em Matemática, pelo Decreto n. 83.677 <strong>de</strong> 3-7-1979.
antecipar a criação da Faculda<strong>de</strong>, tendo em vista o programa do Ministério <strong>de</strong> Educação <strong>de</strong><br />
proporcionar matrícula, ainda em 1967, aos chamados exce<strong>de</strong>ntes <strong>de</strong> Medicina. Mas o<br />
reconhecimento esperado somente será concedido a 10 <strong>de</strong> abril <strong>de</strong> 1973, com Decreto n.<br />
72.075.<br />
O problema <strong>de</strong> vagas exce<strong>de</strong>ntes evi<strong>de</strong>nciava-se, naqueles anos, em conseqüência da<br />
expansão do ensino superior. De fato, na década <strong>de</strong> 1960, para aten<strong>de</strong>r às pressões sociais que<br />
<strong>de</strong>mandavam maior oferta <strong>de</strong> vagas nas universida<strong>de</strong>s, o governo autorizou, através do<br />
Conselho Fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong> Educação, a abertura <strong>de</strong> um gran<strong>de</strong> número <strong>de</strong> escolas isoladas privadas.<br />
Como afirma Fávero (1977, p. 54), a primeira LDB (Lei n. 4.024//61) não apresentou, <strong>de</strong> fato,<br />
inovações para o ensino superior, consi<strong>de</strong>rando a universida<strong>de</strong> como justaposição <strong>de</strong><br />
estabelecimentos isolados, embora ligados pela reitoria, mantendo a cátedra como unida<strong>de</strong><br />
básica e o vestibular fragmentado. Portanto, a percepção da educação como um fator <strong>de</strong><br />
<strong>de</strong>senvolvimento, para aten<strong>de</strong>r os interesses econômicos vigentes, tornava-se motivo das<br />
críticas levantadas pelos estudantes e intelectuais, a fim <strong>de</strong> mudar a política educacional<br />
brasileira. Na tentativa <strong>de</strong> se adotar medidas para o planejamento do sistema educacional, o<br />
governo assinara convênios por meio dos quais o MEC <strong>de</strong>legava, em parte, a reorganização<br />
do sistema <strong>de</strong> ensino aos técnicos indicados pela United States Agency for International<br />
Development (USAID), inaugurando a fase dos “Acordos MEC-USAID”. Posteriormente,<br />
foram instituídos Grupos <strong>de</strong> Trabalho com a tarefa <strong>de</strong> reor<strong>de</strong>nar a educação nacional, em<br />
sintonia com as novas necessida<strong>de</strong>s políticas e econômicas. Resultado <strong>de</strong>sse trabalho foi a Lei<br />
n. 5.540, <strong>de</strong> 28 <strong>de</strong> novembro <strong>de</strong> 1968, conhecida como lei básica da reforma universitária. A<br />
nova lei foi precedida por dois Decretos-leis, n. 53/66 e n. 252/67. O Decreto-lei n. 53/66,<br />
visando especificamente à reorganização das universida<strong>de</strong>s fe<strong>de</strong>rais, estabeleceu alguns<br />
princípios, como o <strong>de</strong> integração e não duplicação <strong>de</strong> meios, a associação entre o ensino e a<br />
pesquisa, a criação <strong>de</strong> uma unida<strong>de</strong> <strong>de</strong>stinada à formação <strong>de</strong> professores para o ensino<br />
secundário, a Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Educação, mas <strong>de</strong>ixou a cargo das universida<strong>de</strong>s a elaboração <strong>de</strong><br />
seus planos <strong>de</strong> reestruturação. O Decreto-lei n. 252, <strong>de</strong> 28 <strong>de</strong> fevereiro <strong>de</strong> 1967, conceituou as<br />
áreas básicas, impôs o sistema <strong>de</strong>partamental; reduziu a autonomia <strong>de</strong> cátedra, integrando-a<br />
no <strong>de</strong>partamento universitário (FÁVERO, ibi<strong>de</strong>m, p. 68).<br />
A UCP interessava-se constantemente no processo <strong>de</strong> reforma do ensino superior,<br />
acompanhando os pronunciamentos do Conselho Fe<strong>de</strong>ral da Educação e os planos<br />
apresentados por outras universida<strong>de</strong>s, levando em consi<strong>de</strong>ração, porém, as suas condições<br />
peculiares e as proporções mo<strong>de</strong>stas. Já em 1967, o Conselho Universitário e diversos
professores receberam um projeto preliminar <strong>de</strong> reforma, para estudos e sugestões, e as leis e<br />
<strong>de</strong>cretos fundamentais para os novos rumos da universida<strong>de</strong> brasileira foram objetos <strong>de</strong><br />
reflexões nos colegiados da <strong>Universida<strong>de</strong></strong>.<br />
No entanto, os empreendimentos <strong>de</strong> assistência aos estudantes proporcionaram o<br />
aumento das matrículas e uma maior estabilida<strong>de</strong> dos alunos. O número <strong>de</strong> alunos dos cursos<br />
<strong>de</strong> graduação subiu <strong>de</strong> 574, em 1966, para 896; a Escola <strong>de</strong> Engenharia Industrial,<br />
especialmente, contou com 437 matriculados em 1967, contra 217 em 1966. Estas<br />
circunstâncias motivaram o esforço da <strong>Universida<strong>de</strong></strong> para adquirir outros imóveis e ampliar as<br />
instalações existentes, com execução <strong>de</strong> obras e compras <strong>de</strong> equipamento para as secretarias,<br />
novas salas <strong>de</strong> aula e a instalação <strong>de</strong> uma biblioteca mais completa. Em janeiro <strong>de</strong> 1967, foi<br />
adquirida, no bairro do Retiro, a primeira se<strong>de</strong> das Faculda<strong>de</strong>s <strong>Católica</strong>s Petropolitanas, para<br />
instalar a Casa do Estudante. Contemporaneamente à Oficina Mecânica (Pavilhão<br />
Gulbenkian), foi instalado o Laboratório <strong>de</strong> Biologia, para o novo curso <strong>de</strong> Ciências. Além<br />
dos cursos <strong>de</strong> graduação das Faculda<strong>de</strong>s <strong>de</strong> Direito, Filosofia e Engenharia Industrial, foram<br />
promovidos vários cursos <strong>de</strong> extensão: Direito Constitucional, Soldagem e Corte <strong>de</strong> metais,<br />
Produtivida<strong>de</strong>, dois cursos <strong>de</strong> Gerência Geral; o curso permanente <strong>de</strong> Iniciação Teológica, que<br />
há 15 anos funcionava no Colégio Sion, foi anexado à <strong>Universida<strong>de</strong></strong>, em outubro <strong>de</strong> 1967. No<br />
mesmo ano, a UCP adquiriu o acervo da Tipografia do Povo, que encerrou suas ativida<strong>de</strong>s em<br />
Petrópolis, para a instalação <strong>de</strong> sua Gráfica Universitária, com off-set e tipografia (BREVE<br />
RELATÓRIO DAS ATIVIDA<strong>DE</strong>S DA UNIVERSIDA<strong>DE</strong> CATÓLICA <strong>DE</strong> PETRÓPOLIS<br />
EM 1967 66 ).<br />
No ano <strong>de</strong> 1968, o número <strong>de</strong> alunos passou <strong>de</strong> 896 a 1.010, sem incluir 171 alunos<br />
nas várias séries do Curso <strong>de</strong> Iniciação Teológica e um número variável <strong>de</strong> participantes nos<br />
<strong>de</strong>mais cursos <strong>de</strong> extensão promovidos durante o ano: Técnica <strong>de</strong> Pintura, Administração<br />
Hospitalar, Pesquisa Histórica, O Problema do Menor e o curso <strong>de</strong> Leitura Dinámica.<br />
A biblioteca, que iniciara na antiga se<strong>de</strong> das Faculda<strong>de</strong>s, no bairro do Retiro, com<br />
doações dos primeiros professores, foi enriquecida graças às sucessivas aquisições e doações:<br />
em 1968, seu acervo era <strong>de</strong> 20.000 volumes. A freqüência dos consulentes, <strong>de</strong> apenas 785 em<br />
1965, subiu para 8.263, trazendo o problema <strong>de</strong> um novo local e novas instalações que<br />
possibilitassem a sua expansão. No setor administrativo, foi reformulado o sistema contábil,<br />
66 Em agosto <strong>de</strong> 1969, para a UCP requerer ao Conselho Nacional <strong>de</strong> Serviço Social a renovação <strong>de</strong> seu registro<br />
<strong>de</strong> Entida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Fins Filantrópicos, Dom Veloso redigiu dois sucintos relatórios das ativida<strong>de</strong>s dos anos 1967-<br />
1968 (Of. GR 242/69).
com a introdução da contabilida<strong>de</strong> mecânica (RELATÓRIO DA REITORIA À<br />
ASSEMBLÉIA UNIVERSITÁRIA <strong>DE</strong> 2 <strong>DE</strong> MARÇO <strong>DE</strong> 1968).<br />
Autorizada pelo Decreto n. 63.039 <strong>de</strong> 25 <strong>de</strong> julho <strong>de</strong> 1968, a nova Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />
Ciências Econômicas, Contábeis e Administrativas 67 iniciou suas ativida<strong>de</strong>s sob a direção do<br />
professor Fernando <strong>de</strong> Souza Ramos e Silva. A 14 <strong>de</strong> setembro, foi inaugurada pelo ministro<br />
da Fazenda, Octávio Gouveia <strong>de</strong> Bulhões, que proferiu a aula <strong>de</strong> abertura.<br />
Além disso, foi planejada a criação da Escola <strong>de</strong> Reabilitação 68 , por proposta do<br />
doutor Júlio Pinto Duarte, com o objetivo <strong>de</strong> formar <strong>de</strong> técnicos em fisioterapia e em terapia<br />
ocupacional. A instalação da Escola era consi<strong>de</strong>rada oportuna, dada a numerosa população<br />
industriária afastada <strong>de</strong> serviço, que precisava <strong>de</strong> atendimento no setor da reabilitação, com a<br />
finalida<strong>de</strong> <strong>de</strong> ser reintegrada no trabalho (CARTA <strong>DE</strong> DOM VELOSO AO CONSELHO<br />
UNIVERSITÁRIO, 22 <strong>DE</strong> MARÇO <strong>DE</strong> 1968).<br />
Aten<strong>de</strong>ndo à ampliação necessária para a instalação <strong>de</strong> novos cursos e laboratórios,<br />
em março <strong>de</strong> 1968, foi provisoriamente alugada uma parte das <strong>de</strong>pendências do prédio do<br />
Seminário São Vicente, dos Padres Lazaristas. Nas instalações do campus da Rua Barão do<br />
Amazonas (Campus BA), completou-se a obra <strong>de</strong> recuperação <strong>de</strong> todas as <strong>de</strong>pendências do<br />
prédio; foi ampliado o Laboratório <strong>de</strong> Eletricida<strong>de</strong> e foi construída uma nova sala <strong>de</strong> 100<br />
metros quadrados para o Gabinete <strong>de</strong> Física. Na frente da mesma Rua, levantou-se um muro,<br />
assim recuperando uma apreciável faixa <strong>de</strong> terreno e um pátio <strong>de</strong> estacionamento (Of. GR<br />
86/69). Completadas todas as instalações, a 4 <strong>de</strong> setembro <strong>de</strong> 1968 iniciou a funcionar o<br />
Restaurante Universitário (ANEXO B10), que foi inaugurado em presença do governador, o<br />
marechal Paulo Torres (INFORMATIVO UCP, setembro, 1968, p. 3-4; maio, 1978, p. 13). O<br />
Restaurante não tinha um escopo comercial, mas era <strong>de</strong>stinado para o uso exclusivo <strong>de</strong><br />
estudantes, funcionários e professores, sobretudo da Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Engenharia, por ser a<br />
maioria das aulas com horário integral 69 .<br />
67 Os cursos <strong>de</strong> Economia e <strong>de</strong> Administração foram reconhecidos pelo Decreto n. 74.257/74 <strong>de</strong> 8-7-1974. O <strong>de</strong><br />
Ciências Contábeis foi reconhecido pelo Decreto n. 79.879/77 <strong>de</strong> 28-6-1977.<br />
68 O funcionamento da Escola <strong>de</strong> Reabilitação foi autorizado pelo Decreto n. 64.782 <strong>de</strong> 3-7-1969. Para mais<br />
notícias, ler a dissertação <strong>de</strong> Mestrado em Educação da UCP, <strong>de</strong>fendida em maio <strong>de</strong> 2008, pela professora<br />
Luciana <strong>de</strong> Cássia Cardoso, e intitulada A trajetória do Curso <strong>de</strong> Fisioterapia na <strong>Universida<strong>de</strong></strong> <strong>Católica</strong> <strong>de</strong><br />
Petrópolis: <strong>de</strong> 1969 a 2007.<br />
69 Como explicou o funcionário da UCP José Antonio da Silva Bastos, o Restaurante foi fechado no final dos<br />
anos 80, quando não houve mais procura por parte dos alunos da Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Engenharia, sendo as aulas<br />
ministradas à noite. Em fevereiro <strong>de</strong> 1990 foi reaberto, não mais apenas para os universitários (INFORMATIVO<br />
UCP, 2º semestre 1989 e primeiro semestre 1990, p. 6). Novamente fechado por escassa procura, para o espaçõ<br />
do antigo Restaurante foram transferidas as instalações da Oficina Mecânica, em 1998 (INFORMATIVO UCP,<br />
março-junho, 1998, p. 7).
Durante o mesmo ano <strong>de</strong> 1968, inaugurou-se a Livraria Universitária da UCP, que<br />
vendia os livros dos vários cursos a preços módicos e com facilitações <strong>de</strong> pagamento e foi<br />
aberta a Casa do Estudante em uma nova se<strong>de</strong>. A proprieda<strong>de</strong> da casa do Retiro foi cedida aos<br />
seus inquilinos e a UCP adquiriu o prédio n. 784, na Avenida Presi<strong>de</strong>nte Kennedy, on<strong>de</strong> a<br />
Casa do Estudante começou a funcionar em agosto do mesmo ano. Embora sua capacida<strong>de</strong><br />
fosse <strong>de</strong> 100 alunos resi<strong>de</strong>ntes, no primeiro ano, dadas as reformas necessárias no imóvel,<br />
foram atendidos somente 36 alunos, provenientes do interior do Estado do Rio <strong>de</strong> Janeiro e <strong>de</strong><br />
outros Estados, que moravam ao preço <strong>de</strong> NCr$ 20,00 70 mensais (INFORMATIVO UCP,<br />
setembro, 1968, p. 4).<br />
Contando com os recursos solicitados ao governo fe<strong>de</strong>ral, no orçamento plurianual,<br />
que abrangia o triênio 1968-1970, a <strong>Universida<strong>de</strong></strong> planejou a ampliação <strong>de</strong> vagas em suas<br />
unida<strong>de</strong>s, a melhoria do padrão <strong>de</strong> ensino, a instalação <strong>de</strong> novos laboratórios e a ampliação<br />
dos existentes, o <strong>de</strong>senvolvimento da pesquisa e a criação <strong>de</strong> novos cursos e escolas.<br />
Para a ampliação do espaço físico, no segundo semestre <strong>de</strong> 1968, surgiu a<br />
oportunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> aquisição do imóvel pertencente ao tradicional Colégio Sion, que encerraria<br />
suas ativida<strong>de</strong>s (ALAMINO, 2008, p. 131-135). A compra do Colégio, que se concretizou em<br />
fevereiro <strong>de</strong> 1969, mediante financiamento em longo prazo, garantiu à <strong>Universida<strong>de</strong></strong> um<br />
espaço físico <strong>de</strong> imediata utilização, com cerca <strong>de</strong> 12.000 metros quadrados <strong>de</strong> área<br />
construída, em terreno <strong>de</strong> mais <strong>de</strong> 22.000 metros quadrados (Of. GR 12/69). Na entrevista<br />
concedida à Tribuna <strong>de</strong> Petrópolis pela comemoração dos 50 anos da UCP, Dom Veloso<br />
afirmou que pensava em novas construções para expansão da <strong>Universida<strong>de</strong></strong>, visando à<br />
consolidação <strong>de</strong> uma “Cida<strong>de</strong> Universitária”, no centro <strong>de</strong> Petrópolis, e acrescentou:<br />
pensamos também num gran<strong>de</strong> campus, para o qual adquirimos um terreno<br />
[na localida<strong>de</strong> Duarte da Silveira, com verba do Fundo <strong>de</strong> Assistência<br />
Social – FAS, como informou a professora Maria da Glória] com face para<br />
o contorno; com os professores e alunos da Escola <strong>de</strong> Engenharia foram<br />
levantadas as curvas <strong>de</strong> nível <strong>de</strong> todo o terreno, do qual se fez uma<br />
reprodução mo<strong>de</strong>lada em barro. Mas a inspeção do terreno <strong>de</strong>saconselhou<br />
os dois locais escolhidos: na parte baixa era terreno <strong>de</strong> aluvião, que exigiria<br />
alicerces com <strong>de</strong>z metros <strong>de</strong> profundida<strong>de</strong>, encarecendo <strong>de</strong>mais a obra; na<br />
parte mais alta, o local apto para um platô era muito pedregoso para o<br />
<strong>de</strong>saterro. Por isso em 1969, posto à venda o Colégio Nossa Senhora <strong>de</strong><br />
Sion, preferimos adquiri-lo, triplicando nosso espaço fisico, com bela<br />
Capela Universitária. Naquela época, o Governo obteve empréstimo externo<br />
em euro-dólares, a ser repassado com juros módicos a <strong>Universida<strong>de</strong></strong>s em<br />
70 Valor atualizado na moeda corrente <strong>de</strong> 1º <strong>de</strong> julho <strong>de</strong> 2008, através do IGP-DI da fundação Getúlio Vargas: R$<br />
131,61.
expansão, facilitando-nos assim o pagamento ao Sion (TRIBUNA <strong>DE</strong><br />
PETRÓPOLIS, 17-9-2003).<br />
Com a compra dos terrenos e dos prédios que pertenceram à Congregação <strong>de</strong> Nossa<br />
Senhora <strong>de</strong> Sion 71 , a UCP ocupou dois conjuntos ou campi: o <strong>de</strong> Sion, na Rua Benjamin<br />
Constant, n. 213 (BC), e o do Barão do Amazonas (BA).<br />
O mo<strong>de</strong>lo espacial dos campi, em geral situados nas periferias urbanas, afirmou-se<br />
na década <strong>de</strong> 1960, no contexto da rápida espansão do ensino superior. Esse mo<strong>de</strong>lo foi<br />
reconhecido e apoiado pelas fontes <strong>de</strong> financiamento internacional, especialmente pelos<br />
consultores norte-americanos, sendo o mo<strong>de</strong>lo que eles valorizavam em seu País e que<br />
consi<strong>de</strong>ravam a<strong>de</strong>quado para atenuar a politização dos estudantes das universida<strong>de</strong>s<br />
brasileiras. Principalmente o Banco Interamericano <strong>de</strong> Desenvolvimento (BID) propiciou a<br />
implantação <strong>de</strong>ste mo<strong>de</strong>lo, por meio <strong>de</strong> convênios <strong>de</strong> apoio financeiro e <strong>de</strong> assistência técnica<br />
ao Ministério <strong>de</strong> Educação (CUNHA, 2000, p. 182-183).<br />
Enquanto o campus suburbano parecia ser a regra para as universida<strong>de</strong>s públicas da<br />
re<strong>de</strong> fe<strong>de</strong>ral, para alcançar os objetivos econômicos da reforma universitária, as privadas<br />
utilizaram o espaço urbano disponível, construindo novos edifícios ou utilizando os<br />
existentes, como <strong>de</strong>monstra, na trajetória da UCP, a compra do Palace Hotel e,<br />
sucessivamente, do Colégio Sion. Ainda que, em 1977, tivesse sido planejada a criação <strong>de</strong> um<br />
campus universitário afastado da cida<strong>de</strong>, este projeto nunca foi concretizado, por razões que<br />
serão explicitadas a seguir.<br />
As novas instalações da <strong>Universida<strong>de</strong></strong> no antigo Colégio Sion foram inauguradas no<br />
dia 1º <strong>de</strong> março <strong>de</strong> 1969, por ocasião da implantação do Conselho <strong>de</strong> Patronos da UCP, que<br />
foi integrato entre os órgãos <strong>de</strong> administração superior da <strong>Universida<strong>de</strong></strong>. O novo Conselho era<br />
71 Com base na dissertação <strong>de</strong> mestrado em Educação da UCP, <strong>de</strong>fendida pela professora Márcia <strong>de</strong> Carvalho<br />
Jimenez Alamino em março <strong>de</strong> 2008 e intitulada Na casa <strong>de</strong> Marta e Maria: um estudo sobre o Colégio Notre<br />
Dame <strong>de</strong> Sion em Petrópolis, esta instituição, fundada pelo padre Teodoro Ratisbonne, na França, em 1842,<br />
iniciou suas ativida<strong>de</strong>s no Rio <strong>de</strong> Janeiro, no final <strong>de</strong> 1888, aten<strong>de</strong>ndo à educação das moças da socieda<strong>de</strong><br />
brasileira. Em 1897, a Congregação <strong>de</strong>cidiu a aquisição <strong>de</strong> terrenos em Petrópolis, para a construção <strong>de</strong> um<br />
Colégio, projetado exclusivamente para este fim. A construção esten<strong>de</strong>u-se <strong>de</strong> 1904 a 1907, quando foi<br />
<strong>de</strong>finitivamente instalado o Colégio Nossa Senhora <strong>de</strong> Sion. Sucessivamente, <strong>de</strong> 1914 a 1922, foi construída a<br />
capela, <strong>de</strong> estilo renascentista, <strong>de</strong> acordo com os cânones arquitetônicos da Capela da Congregação, em Paris. Na<br />
década <strong>de</strong> 1930, o prédio sofreu algumas alterações, com acréscimo <strong>de</strong> mais um andar, embora o estilo tenha<br />
sido preservado. No início <strong>de</strong> 1969, após a <strong>de</strong>sativação do Colégio, a Congregação Nossa Senhora <strong>de</strong> Sion,<br />
ven<strong>de</strong>u as suas proprieda<strong>de</strong>s para a UCP. O prédio foi tombado pelo patrimônio Histórico e Artístico em 22 <strong>de</strong><br />
junho <strong>de</strong> 1981.
constituído por “pessoas <strong>de</strong> alta distinção social e <strong>de</strong> íntegra reputação moral, nomeadas por<br />
três anos pelo grão chanceler” 72 . Na intenção <strong>de</strong> Dom Cintra, a instituição do Conselho <strong>de</strong><br />
Patronos visava a estabelecer bases partimoniais mais sólidas, que possibilitassem à<br />
<strong>Universida<strong>de</strong></strong> o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> suas ativida<strong>de</strong>s culturais e científicas. Como secretário do<br />
novo Conselho e membro do grupo <strong>de</strong> trabalho para elaborar o seu regimento foi <strong>de</strong>signado o<br />
professor Décio José <strong>de</strong> Carvalho Werneck, que se <strong>de</strong>dicara à organização <strong>de</strong>ste primeiro<br />
Conselho <strong>de</strong> Patronos.<br />
Na nova se<strong>de</strong> da Rua Benjamin Constant, foi logo criado o Colégio <strong>de</strong> Aplicação da<br />
<strong>Universida<strong>de</strong></strong> <strong>Católica</strong> <strong>de</strong> Petrópolis (CAUCP), cuja direção foi confiada a um ex-docente do<br />
Colégio Sion, o professor Onésio Mariano Henrichs, na tentativa <strong>de</strong> favorecer uma gradual<br />
transição das alunas 73 remanescentes da antiga escola ao novo Colégio <strong>de</strong> Aplicação. O<br />
Colégio iniciou suas ativida<strong>de</strong>s em 27 <strong>de</strong> fevereiro <strong>de</strong> 1969, como campo <strong>de</strong> estágio e <strong>de</strong><br />
pesquisa para os estudantes da Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Filosofia, Ciências e Letras. O professor<br />
Jerônimo Ferreira Alves Neto forneceu uma precisa <strong>de</strong>scrição dos inícios do Colégio 74 , que<br />
ele dirigiu <strong>de</strong> 1970 a 1981:<br />
A 22 <strong>de</strong> março <strong>de</strong> 1969, o Conselho Universitário aprovou a nomeação <strong>de</strong><br />
uma comissão para estudar a estruturação do Colégio, coor<strong>de</strong>nando-lhe as<br />
ativida<strong>de</strong>s com as da Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Filosofia, Ciências e Letras. Na<br />
oportunida<strong>de</strong> foram nomeados os seguintes professores para integrar a<br />
referida comissão: Maria <strong>de</strong> Glória Rangel Sampaio Fernan<strong>de</strong>s, diretora da<br />
Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Filosofia, Ciências e Letras; Onésio Mariano Henrichs, diretor<br />
do Colégio; Therezinha Fernan<strong>de</strong>s Barbosa, Suelena Pessoa <strong>de</strong> Campos,<br />
Albertina Conceição Nunes da Cunha, Irmã Rosalina <strong>de</strong> Sion e Edson Paulo<br />
Lobo. Como resultado dos estudos realizados pela citada comissão, foi<br />
elaborado o regimento do Colégio, o qual foi aprovado pela Inspetoria<br />
Seccional <strong>de</strong> Niterói, do Ministério da Educação e Cultura, a 8 <strong>de</strong> setembro<br />
<strong>de</strong> 1969, e pelo Conselho Estadual <strong>de</strong> Educação, em 27 <strong>de</strong> novembro <strong>de</strong><br />
1969. Este primeiro regimento apresentava uma série <strong>de</strong> novida<strong>de</strong>s, entre as<br />
quais <strong>de</strong>stacamos: o fato da Direção Geral do Colégio ser sempre exercida<br />
pelo vice-diretor da Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Educação, para facilitar sua integração<br />
com a mesma: a criação <strong>de</strong> um Conselho <strong>de</strong> Coor<strong>de</strong>nação Didático-<br />
72 As personalida<strong>de</strong>s integrantes este primeiro Conselho <strong>de</strong> Patronos foram as seguintes: engº. Affonso Monteiro<br />
da Silva, prof. Afrânio Coutinho, dr. Alberto Soares Sampaio, general Arthur Candal da Fonseca, presi<strong>de</strong>nte<br />
Almirante Augusto Ra<strong>de</strong>maker Gruewald, dr. Carlos Guimarães P. De Almeida, prof. Celestino Sá Freire<br />
Basílio, dr. Décio José <strong>de</strong> Carvalho Werneck, prof. Demósthenes Madureira <strong>de</strong> Pinho, dr. Donald <strong>de</strong> Azambuja<br />
Lown<strong>de</strong>s, marechal do Ar Eduardo Gomes, prof. Eugênio Gudin, dr. Eurico Libânio Vilella, embaixador dr.<br />
Francisco D’Alamo Lousada, prof. Geraldo Siffert Paula e Silva, dr. Henrique <strong>de</strong> Botton, dr. José Nabuco, dr.<br />
José Willemsens Junior, dr. Lars Janér, dr. Lineu Eduardo <strong>de</strong> Paula Machado, dr. Luiz Severiano Ribeiro Junior,<br />
dr. Maurício Vilella, Con<strong>de</strong>ssa Maurina Pereira Carneiro, dr. Paulo Fontainha Geyer, príncipe Dom Pedro<br />
Gastão <strong>de</strong> Orleans e Bragança, dr. Raimundo <strong>de</strong> Britto (INFORMATIVO UCP, junho, 1971, p. 4).<br />
73 O antigo Colégio Sion era freqüentado somente por moças.<br />
74 Texto incluído no site www.ihp.org.br do Instituto Histórico <strong>de</strong> Petrópolis, acessado em 6-8-2007.
Pedagógica, órgão normativo e <strong>de</strong> superior instância do Colégio; o<br />
agrupamento <strong>de</strong> disciplinas afins ou homogêneas em <strong>de</strong>partamentos e a<br />
criação <strong>de</strong> um Serviço <strong>de</strong> Orientação Educacional 75 , com a colaboração do<br />
serviço médico, dos professores, do orientador vocacional, dos assistentes<br />
religiosos e dos pais, para aten<strong>de</strong>r aos múltiplos problemas da criança e do<br />
adolescente.<br />
No mesmo ano da implantação do CAUCP, a <strong>Universida<strong>de</strong></strong> aumentou as suas<br />
unida<strong>de</strong>s com a instalação da Escola <strong>de</strong> Reabilitação, autorizada com Decreto-lei n. 64782, <strong>de</strong><br />
3 <strong>de</strong> junho <strong>de</strong> 1969, cuja solene cerimônia inaugural foi presidida pelo ex-ministro da Saú<strong>de</strong>,<br />
Raimundo <strong>de</strong> Brito, no dia 2 <strong>de</strong> agosto. Foi criado, também, um novo órgão suplementar da<br />
UCP, o Centro <strong>de</strong> Pesquisas Jurídicas e Prática Forense (CPJPF), instituido pela Portaria<br />
31/69. O Centro iniciou suas ativida<strong>de</strong>s com os objetivos seguintes: ministrar aos alunos dos<br />
últimos períodos da Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Direito os cursos <strong>de</strong> estágio profissional <strong>de</strong> advocacia,<br />
como previa o estatuto da Or<strong>de</strong>m dos Advogados do Brasil (OAB); dar assistência jurídica à<br />
própria <strong>Universida<strong>de</strong></strong> e aos beneficiários da justiça gratuita e elaborar trabalhos <strong>de</strong> pesquisa no<br />
campo jurispru<strong>de</strong>ncial. Dessa forma, a UCP procurava incrementar a pesquisa nas diversas<br />
áreas do conhecimento humano, visando tanto à formação <strong>de</strong> seus alunos, como ao serviço à<br />
comunida<strong>de</strong>.<br />
Nesse mesmo contexto, a <strong>Universida<strong>de</strong></strong> ia pondo em prática alguns princípios da<br />
referida Lei n. 5.540/68, como: a unificação dos serviços administrativos, a utilização<br />
permanente das salas <strong>de</strong> aula e <strong>de</strong> equipamentos, a gradual <strong>de</strong>partamentalização da<br />
universida<strong>de</strong>, concebida como uma instituição organicamente integrada. Além disso, em<br />
meados <strong>de</strong> 1968, foi constituída uma comissão especial para elaborar um plano da reforma e<br />
um anteprojeto <strong>de</strong> novo estatuto. Compunham a comissão os professores Therezinha<br />
Fernan<strong>de</strong>s Barbosa, Edson Paulo Lobo e Suelena Pessoa <strong>de</strong> Campos. O Conselho<br />
Universitário discutiu o plano <strong>de</strong> reforma, apresentado no esboço do estatuto proposto, nas<br />
sessões <strong>de</strong> 8 e 22 <strong>de</strong> março <strong>de</strong> 1969. Como resultado, a comissão refez seu trabalho <strong>de</strong> acordo<br />
com as indicações recebidas e a nova redação do anteprojeto foi enviada a todos os<br />
professores e Diretórios Acadêmicos, assim como aos membros do Conselho <strong>de</strong><br />
Administração e Finanças e do Conselho <strong>de</strong> Patronos, para receber sugestões e emendas, num<br />
75 O Serviço <strong>de</strong> Orientação Educacional, sob a direção do professor Cleber Bonecker, funcionou acompanhando<br />
os alunos do CAUCP, os funcionários da <strong>Universida<strong>de</strong></strong> e, em casos <strong>de</strong>terminados, os universitários (Of. GR<br />
74/71). Para aten<strong>de</strong>r também à comunida<strong>de</strong>, o Serviço da UCP foi oferecido a empresas e a órgãos interessados<br />
em orientação vocacional. Em abril <strong>de</strong> 1971, Dom Veloso solicitou que esse Serviço da UCP fosse cre<strong>de</strong>nciado<br />
pela Secretaria <strong>de</strong> Segurança Pública do Estado do Rio <strong>de</strong> Janeiro, para realizar os exames psicotécnicos ou<br />
psicológicos obrigatórios para todos os motoristas, conforme as exigências <strong>de</strong>terminadas pelo CONTRAN (Of.
prazo <strong>de</strong> 15 dias. A nova redação do estatuto voltou à consi<strong>de</strong>ração do Conselho<br />
Universitário, que, a 9 <strong>de</strong> maio <strong>de</strong> 1969, o submeteu ao Conselho Fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong> Educação<br />
(INFORMATIVO UCP, novembro, 1970, p. 4). Para examiná-lo, foi <strong>de</strong>signado como relator<br />
o conselheiro Dumerval Trigueiro Men<strong>de</strong>s, que, entretanto, <strong>de</strong>ixou o Conselho antes <strong>de</strong><br />
apresentar seu parecer, substituído por Roberto Figueira Santos. Com base em algumas<br />
observações <strong>de</strong>ste conselheiro, o Conselho Universitário introduziu várias emendas no texto.<br />
O parecer do relator (n. 22/70) foi aprovado, a 28 <strong>de</strong> janeiro. A 29 <strong>de</strong> julho <strong>de</strong> 1970, o mesmo<br />
Parecer CFE 22/70 foi homologado pelo ministro <strong>de</strong> Estado da Educação e Cultura (Diário<br />
Oficial da União <strong>de</strong> 14 <strong>de</strong> agosto <strong>de</strong> l970, p. 7.17l) e o estatuto foi publicado na íntegra no<br />
Diário Oficial da União, a 28 <strong>de</strong> agosto <strong>de</strong> 1970, p. 7.602-7.605, entrando em vigor nessa<br />
data.<br />
Após a aprovação do estatuto, a comissão especial redigiu o primeiro esboço <strong>de</strong><br />
projeto do regimento geral, utilizando as anotações acumuladas durante os estudos<br />
preparatórios. O Conselho Universitário estudou e reformulou o esboço apresentado e, a 16 <strong>de</strong><br />
junho, a nova redação foi enviada a todos os professores, aos Diretórios Acadêmicos, ao<br />
Conselho Superior <strong>de</strong> Administração e ao Conselho <strong>de</strong> Patronos, com o prazo <strong>de</strong> 30 dias para<br />
emendas. Uma nova comissão, formada pelos professores Edson Paulo Lobo, Francisco<br />
Marcos Rohling e Maria da Glória Rangel Sampaio Fernan<strong>de</strong>s, reelaborou o anteprojeto,<br />
incorporando as últimas emendas. A 12 <strong>de</strong> setembro, o Conselho Universitário aprovou a<br />
redação final do regimento geral, que foi relatado pela conselheira Nair Fortes Abu-Merhy, na<br />
Câmara <strong>de</strong> Ensino Superior, cujo Parecer (n. 797/70) foi aprovado pelo Conselho Fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong><br />
Educação, a 9 <strong>de</strong> outubro <strong>de</strong> 1970. Sucessivamente, a 30 <strong>de</strong> novembro, foi homologado pelo<br />
Ministro da Educação e Cultura (INFORMATIVO UCP, novembro, 1970, p. 4-5). A<br />
professora Maria da Glória Rangel Sampaio Fernan<strong>de</strong>s 76 , comentando as reuniões da<br />
comissão, afirmou que os trabalhos se <strong>de</strong>senvolveram num clima <strong>de</strong> cooperação e que se<br />
procurou adaptar os esquemas já <strong>de</strong>lineados às novas linhas mestras da reforma. Em relação<br />
ao primeiro estatuto <strong>de</strong> 1961, o novo, aprovado em 1970, apresentava significativas<br />
modificações, que serão analisadas no capítulo seguinte.<br />
GR 53/71).<br />
76 Entrevista concedida em 20 <strong>de</strong> agosto <strong>de</strong> 2007.
5 A CONSOLIDAÇÃO DA I<strong>DE</strong>NTIDA<strong>DE</strong> INSTITUCIONAL<br />
5.1 O ESTATUTO <strong>DE</strong> 1970 E A IMPLEMENTAÇÃO DA REFORMA<br />
UNIVERSITÁRIA<br />
O estatuto <strong>de</strong> 1970 e o regimento geral da UCP foram elaborados <strong>de</strong> acordo com os<br />
novos preceitos legais da reforma universitária (Lei n. 5.540/68), preservando, ao mesmo<br />
tempo, a natureza confessional da <strong>Universida<strong>de</strong></strong> e a posição <strong>de</strong> <strong>de</strong>staque institucional das<br />
ciências humanas, como se lê no art. 3 do estatuto:<br />
A <strong>Universida<strong>de</strong></strong> tem por finalida<strong>de</strong> a formação integral do homem, através<br />
da:<br />
[...]<br />
II – formação humana e cristã dos alunos, <strong>de</strong> modo a testemunharem com<br />
maturida<strong>de</strong> a sua fé;<br />
[...]<br />
V – contribuição para formação, aperfeiçoamento e <strong>de</strong>senvolvimento da<br />
cultura nos campos da Filosofia, Ciências, Letras, Artes e Tecnologia, em<br />
conformida<strong>de</strong> com a doutrina católica, colaborando com as instituições<br />
congêneres e intensificando amplo intercâmbio cultural.<br />
O caráter confessional da <strong>Universida<strong>de</strong></strong> foi ainda <strong>de</strong>marcado pela inclusão <strong>de</strong> créditos
do <strong>de</strong>partamento <strong>de</strong> Teologia nos currículos <strong>de</strong> todos os cursos (art. 55). Como garantia<br />
ulterior <strong>de</strong> ligação institucional com a Igreja católica, foi estabelecido (art. 2) que a<br />
mantenedora da UCP fosse a Mitra Diocesana <strong>de</strong> Petrópolis 77 . Apesar <strong>de</strong>ssa menção no<br />
estatuto, a <strong>Universida<strong>de</strong></strong> conservou sua personalida<strong>de</strong> jurídica, distinta e in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte da<br />
Mitra Diocesana, porque a “manutenção” em termos patrímoniais, contábeis, orçamentários e<br />
trabalhistas da UCP era feita por ela mesma, por meio do Conselho Superior <strong>de</strong><br />
Administração que, segundo o disposto no artigo n. 10 do estatuto, era o “órgão superior <strong>de</strong><br />
<strong>de</strong>liberação e controle em assuntos <strong>de</strong> administração e econômico-financeiros” da entida<strong>de</strong>.<br />
Des<strong>de</strong> a “fusão” ocorrida entre as Faculda<strong>de</strong>s <strong>Católica</strong>s Petropolitanas e a nova instituiçaõ <strong>de</strong><br />
ensino criada em 1961, subsistia uma única figura, ou seja, a UCP, que era dotada <strong>de</strong><br />
personalida<strong>de</strong> jurídico-civil e, portanto, <strong>de</strong> autonomia didático-científica, administrativa,<br />
financeira e disciplinar, como reza o artigo n. 1 do estatuto. A relação com a Mitra Diocesana<br />
era mais <strong>de</strong> caráter nominal, sem vinculação efetiva <strong>de</strong> cunho patrimonial, orçamentário ou<br />
econômico 78 . Uma comprovação <strong>de</strong>ssa leitura encontra-se nas palavras da professora Maria<br />
da Glória Rangel Sampaio Fernan<strong>de</strong>s 79 , ao afirmar que foi uma <strong>de</strong>cisão <strong>de</strong> Dom Veloso<br />
indicar a Mitra Diocesana como mantenedora da UCP. Como Dom Veloso era o reitor e bispo<br />
auxiliar e Dom Cintra era o grão chanceler e bispo diocesano, estavam certos que não haveria<br />
problema algum, nem interferências na ativida<strong>de</strong> da UCP, ainda mais pela predileção <strong>de</strong> Dom<br />
Cintra para com a <strong>Universida<strong>de</strong></strong>, que ele beneficiava enviando freqüentemente doações em<br />
dinheiro.<br />
Entre as finalida<strong>de</strong>s da UCP, <strong>de</strong> acordo com os artigos 2 e 31 da Lei n. 5.540/68,<br />
aparecia, pela primeira vez, o ensino associado à pesquisa (art. 3-III). Ao invés <strong>de</strong> quanto<br />
prescrevia o art. 2, letra a, do estatuto <strong>de</strong> 1961: “manter e <strong>de</strong>senvolver o ensino”, o novo<br />
estatuto incluiu, também, a formação <strong>de</strong> pesquisadores, juntamente àquela dos “habilitados<br />
para o exercício das profissões técnico-científicas, liberais e <strong>de</strong> magistério” (art. 3-IV).<br />
No que concerne aos órgãos <strong>de</strong> administração da UCP, estes passaram <strong>de</strong> quatro, no<br />
prece<strong>de</strong>nte estatuto, a seis (art. 7) no <strong>de</strong> 1970. Além do grão chanceler, da reitoria e do<br />
Conselho Universitário, órgão normativo e jurisdicional, juntaram-se três Conselhos: o<br />
Conselho Superior <strong>de</strong> Administração, o Conselho <strong>de</strong> Coor<strong>de</strong>nação do Ensino e Pesquisa e o<br />
77<br />
Entida<strong>de</strong> jurídico-civil que expressa a personalida<strong>de</strong> jurídica da entida<strong>de</strong> jurídico-canônica que é a Diocese <strong>de</strong><br />
Petrópolis.<br />
78<br />
A situação legal da mantenedora foi novamente alterada, em 20 <strong>de</strong> outubro <strong>de</strong> 2007, por <strong>de</strong>cisão do CONSAD,<br />
<strong>de</strong>terminando que a pessoa jurídica mantenedora da UCP seja a Associação com a <strong>de</strong>nominação original <strong>de</strong><br />
“Faculda<strong>de</strong>s <strong>Católica</strong>s Petropolitanas”.<br />
79<br />
Entrevista concedida em 28 <strong>de</strong> julho <strong>de</strong> 2008.
Conselho <strong>de</strong> Patronos. O Conselho Superior <strong>de</strong> Administração era um órgão superior <strong>de</strong><br />
<strong>de</strong>liberação e controle, criado em substituição ao antigo Conselho <strong>de</strong> Administração e<br />
Finanças, para o setor econômico-financeiro. Baseado no disposto no art. 14, § único, da Lei<br />
n. 5.540/68, este órgão era constituído por sete membros proeminentes da comunida<strong>de</strong>,<br />
nomeados pelo grão chanceler, incluindo representantes da cultura, da indústria e da finança,<br />
em número maior do que no prece<strong>de</strong>nte estatuto. O Conselho <strong>de</strong> Coor<strong>de</strong>nação do Ensino e<br />
Pesquisa <strong>de</strong>liberava as normas e coor<strong>de</strong>nava as ativida<strong>de</strong>s no setor especificamente didático e<br />
científico. À reitoria, órgão máximo executivo, cabia ser o ponto <strong>de</strong> convergência e traço <strong>de</strong><br />
união entre os três Conselhos, evitando-se a dispersão <strong>de</strong> diretivas: o reitor e o vice-reitor<br />
eram membros do Conselho Universitário e do Conselho <strong>de</strong> Coor<strong>de</strong>nação do Ensino e<br />
Pesquisa; o próprio reitor encaminhava ao Conselho Superior <strong>de</strong> Administração a proposta<br />
orçamentária e comunicava os processos em andamento.<br />
Outro órgão, que, no estatuto <strong>de</strong> 1970, passou a fazer parte da Administração Superior<br />
da UCP, foi o Conselho <strong>de</strong> Patronos, instituído pelo grão chanceler em 1969, com o objetivo<br />
<strong>de</strong> integrar a <strong>Universida<strong>de</strong></strong> com a comunida<strong>de</strong>. Do novo Conselho participavam<br />
personalida<strong>de</strong>s exponenciais da socieda<strong>de</strong> brasileira, na cultura, na ciência, na administração,<br />
no comércio, na indústria e nas finanças, nomeadas pelo grão chanceler (art. 12). Os<br />
conselheiros, quando solicitados, assessoravam com seu parecer e colaboração o grão<br />
chanceler, o reitor e o Conselho Superior <strong>de</strong> Administração, “visando promover o<br />
<strong>de</strong>senvolvimento, a economia, a cultura e o patrimônio da <strong>Universida<strong>de</strong></strong>” (art. 13).<br />
A presença <strong>de</strong> múltiplos órgãos colegiados não alterou, porém, a centralização na<br />
<strong>de</strong>finição dos rumos da <strong>Universida<strong>de</strong></strong> como instituição confessional. O novo estatuto reservou<br />
um capítulo inteiro, o terceiro (artigos 8 e 9), às atribuições do grão chanceler, que continuou<br />
sendo o bispo diocesano <strong>de</strong> Petrópolis, a quem cabia a presidência <strong>de</strong> todos os atos aos quais<br />
comparecesse e sob cuja autorida<strong>de</strong> a <strong>Universida<strong>de</strong></strong> visava realizar as suas finalida<strong>de</strong>s.<br />
Permaneceu inalterada a forma <strong>de</strong> escolha do reitor e dos diretores, já <strong>de</strong>scrita no capítulo 4,<br />
com base no art. 16-III da Lei n. 5.540/68, que <strong>de</strong>legava aos estatutos das universida<strong>de</strong>s<br />
particulares a competência para a <strong>de</strong>finição da escolha dos seus dirigentes.<br />
As modificações estatutárias <strong>de</strong>correram principalmente <strong>de</strong> adaptações à nova<br />
legislação, aplicadas às circunstâncias particulares da UCP, tendo em vista, também, a<br />
<strong>de</strong>pendência da <strong>Universida<strong>de</strong></strong> em relação às verbas governamentais. Através da Lei n.<br />
5.540/68 (art. 11, letra b), ficou estabelecido que a universida<strong>de</strong> brasileira contasse com uma<br />
“estrutura orgânica, com base em <strong>de</strong>partamentos reunidos ou não em unida<strong>de</strong>s mais amplas”.
Desse modo, o <strong>de</strong>partamento era consi<strong>de</strong>rado como unida<strong>de</strong> constitutiva da universida<strong>de</strong>,<br />
enquanto a criação <strong>de</strong> unida<strong>de</strong>s mais amplas, congregando grupos <strong>de</strong> <strong>de</strong>partamentos afins, era<br />
<strong>de</strong> natureza opcional, a ser <strong>de</strong>finida pelo estatuto <strong>de</strong> cada universida<strong>de</strong>. O princípio básico,<br />
que <strong>de</strong>terminou a instauração do sistema <strong>de</strong>partamental, foi o <strong>de</strong> não-duplicação <strong>de</strong> meios<br />
para fins idênticos ou equivalentes. Isso implicava a substituição <strong>de</strong> unida<strong>de</strong>s acadêmicas<br />
estanques e justapostas por uma estrutura didático-administrativa que eliminasse a duplicação<br />
<strong>de</strong> recursos humanos e materiais.<br />
Sendo a UCP, na época, una instituição mo<strong>de</strong>sta e <strong>de</strong> parcos recursos, a introdução da<br />
nova concepção didática e administrativa da universida<strong>de</strong> foi realizada aos poucos, seguindo a<br />
linha da varieda<strong>de</strong> <strong>de</strong> opções e flexibilida<strong>de</strong> dos cursos, na unida<strong>de</strong> da formação. Dentro <strong>de</strong>sta<br />
concepção, a <strong>Universida<strong>de</strong></strong> constituía um todo didático e administrativamente in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte;<br />
as unida<strong>de</strong>s universitárias não eram consi<strong>de</strong>radas partes estanques a compor um<br />
conglomerado, mas parcelas da <strong>Universida<strong>de</strong></strong>. Conforme o art. 31, essas foram organizadas<br />
em três Institutos centrais: Instituto <strong>de</strong> Ciências Exatas e Naturais; Instituto <strong>de</strong> Teologia,<br />
Filosofia e Ciências Humanas; Instituto <strong>de</strong> Artes e Comunicação; e cinco Unida<strong>de</strong>s <strong>de</strong><br />
Estudos Profissionais: Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Direito; Escola <strong>de</strong> Engenharia; Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Ciências<br />
Econômicas, Contábeis e Administrativas; Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Educação 80 ; Escola <strong>de</strong> Reabilitação.<br />
Aos vários setores foi conferida uma relativa autonomia, mantendo a unida<strong>de</strong> por meio <strong>de</strong><br />
órgãos coor<strong>de</strong>nadores.<br />
Quanto ao Ciclo <strong>de</strong> Estudos Gerais (art. 48-52 do regimento geral), foi implantado<br />
parcialmente, apenas na área <strong>de</strong> Ciências Humanas. Uma das etapas <strong>de</strong> maior<br />
responsabilida<strong>de</strong> na implantação da reforma foi a reformulação dos currículos, entrosando o<br />
curso <strong>de</strong> Direito no ciclo <strong>de</strong> Estudos Gerais da área <strong>de</strong> Ciências Humanas, distribuindo as<br />
disciplinas por períodos semestrais e proporcionando possibilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> especialização (Of.<br />
GR 230/71). Em 1971, algumas modificações, <strong>de</strong>correntes da implantação do ciclo <strong>de</strong> Estudos<br />
Gerais, foram introduzidas nos currículos anteriores somente para os alunos que ingressaram<br />
na área <strong>de</strong> Ciências Humanas. Todos os <strong>de</strong>mais alunos continuaram com os currículos<br />
anteriores, enquanto o Conselho Fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong> Educação ia elaborando os novos currículos<br />
mínimos (INFORMATIVO UCP, novembro, 1970, p. 5-6). A matrícula, assim como a<br />
promoção, eram feitas por disciplinas e não por série; o sistema <strong>de</strong> créditos foi <strong>de</strong>finido no<br />
80 Implantando a reforma universitária, a UCP teve sua estrutura alterada, com a supressão da Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />
Filosofia, Ciências e Letras e a criação da Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Educação e dos três Institutos mencionados.
egimento geral e aplicado em toda a <strong>Universida<strong>de</strong></strong>.<br />
Além da estrutura orgânica com base em <strong>de</strong>partamentos, o art. 11 da Lei n. 5.540/68<br />
prescrevia a unida<strong>de</strong> patrimonial e administrativa, que evitava a multiplicação, pelas<br />
unida<strong>de</strong>s, <strong>de</strong> órgãos e serviços semelhantes e centralizava todos os serviços administrativos,<br />
que não fossem específicos <strong>de</strong> uma unida<strong>de</strong>. Esse princípio já fora adotado pela UCP, porque<br />
a antiga estrutura universitária o permitia. Des<strong>de</strong> o seu início, houve unida<strong>de</strong> <strong>de</strong> patrimônio,<br />
contabilida<strong>de</strong> centralizada e uma única tesouraria. Foi centralizado, também, o registro<br />
acadêmico dos alunos <strong>de</strong> todas as unida<strong>de</strong>s e cursos. Portanto, tornou-se mais fácil adotar<br />
integralmente a filosofia administrativa da reforma e implantá-la. Nessa perspectiva, os alunos<br />
eram consi<strong>de</strong>rados prioritariamente alunos da <strong>Universida<strong>de</strong></strong>, sem <strong>de</strong>trimento dos necessários<br />
registros na secretaria <strong>de</strong> cada unida<strong>de</strong>. O mesmo se provi<strong>de</strong>nciou para os professores e para<br />
os funcionários. A partir <strong>de</strong> 1971, a Secretaria Geral passou a funcionar com expediente<br />
exclusivamente interno, havendo em cada prédio um centro <strong>de</strong> atendimento aos alunos.<br />
Para refletir a organização administrativa e didática da <strong>Universida<strong>de</strong></strong>, o plano <strong>de</strong><br />
contas, que apresentava a perspectiva <strong>de</strong> entrada e <strong>de</strong> saída, foi modificado, com a criação <strong>de</strong><br />
uma sub-conta própria, para a receita e a <strong>de</strong>spesa <strong>de</strong> cada serviço ou setor <strong>de</strong> cada unida<strong>de</strong><br />
universitária. O orçamento único da <strong>Universida<strong>de</strong></strong> discriminava os quantitativos atribuídos a<br />
cada unida<strong>de</strong> ou serviço, respeitando a <strong>de</strong>stinação específica <strong>de</strong> recursos provenientes <strong>de</strong><br />
contribuições, doações, convênios e verbas dos po<strong>de</strong>res públicos.<br />
Obe<strong>de</strong>cendo ao mesmo critério <strong>de</strong> não-duplicação <strong>de</strong> meios para fins idênticos ou<br />
equivalentes, foi estabelecido que todo o patrimônio pertencente à <strong>Universida<strong>de</strong></strong>, imóveis,<br />
móveis, utensílios, laboratórios, equipamentos, servisse a qualquer unida<strong>de</strong> que <strong>de</strong>les<br />
necessitasse, fazendo-se a <strong>de</strong>vida composição <strong>de</strong> horários e <strong>de</strong>terminando as normas para<br />
<strong>de</strong>finir a responsabilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> todos os usuários.<br />
No capítulo 2 da Lei n. 5.540/68 (art. 33, § 3), que tratava do corpo docente, foi<br />
<strong>de</strong>terminada a extinção da cátedra na organização do ensino superior brasileiro. Tal medida<br />
resultava no <strong>de</strong>saparecimento legal da figura do catedrático, centralizador <strong>de</strong> todas as <strong>de</strong>cisões<br />
acadêmicas, uma vez que o <strong>de</strong>partamento estava juridicamente fundado sobre o princípio <strong>de</strong><br />
co-responsabilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> todos os membros que o integravam. De acordo com esta norma, o<br />
novo estatuto da UCP estabeleceu que o <strong>de</strong>partamento fosse a célula da organização didática,<br />
on<strong>de</strong> <strong>de</strong>veriam ser resolvidos, em primeira instância, os problemas peculiares <strong>de</strong> or<strong>de</strong>m<br />
didática. Quando uma disciplina ou um grupo <strong>de</strong> disciplinas era lecionado em mais <strong>de</strong> uma<br />
unida<strong>de</strong>, o mesmo <strong>de</strong>partamento servia às várias unida<strong>de</strong>s. Ao <strong>de</strong>partamento cabia a
orientação didática das disciplinas nele agrupadas e a aprovação dos programas. Assim, o<br />
professor, mesmo titular, <strong>de</strong>via cumprir integralmente o programa, que era da <strong>Universida<strong>de</strong></strong>,<br />
mas aplicado por meio do <strong>de</strong>partamento (OFÍCIO CIRCULAR GR 58/70, <strong>de</strong> 24 <strong>de</strong> fevereiro<br />
<strong>de</strong> 1970). Consi<strong>de</strong>rando conveniente incluir em um único quadro geral do corpo docente<br />
também os professores do Colégio <strong>de</strong> Aplicação, foram <strong>de</strong>signadas três categorias <strong>de</strong><br />
professores universitários (professor titular, adjunto e assistente) e duas <strong>de</strong> professores<br />
auxiliares <strong>de</strong> ensino (professor auxiliar e monitor), classificando entre os auxiliares <strong>de</strong> ensino<br />
os professores dos órgãos suplementares, que não lecionassem nos cursos universitários (art.<br />
116-118 do regimento geral).<br />
Com base no capítulo 3 da citada Lei n. 5.540/68, que se referia ao corpo discente, o<br />
novo estatuto manteve a representação estudantil, com direito a voz e voto, nos órgãos<br />
colegiados da <strong>Universida<strong>de</strong></strong> e das unida<strong>de</strong>s universitárias (art. 138 do regimento geral). Era<br />
garantido, também, o direito <strong>de</strong> associação aos alunos e aos diplomados da UCP (art. 151 do<br />
regimento geral). Aliás, a própria <strong>Universida<strong>de</strong></strong> <strong>de</strong>liberou a constituição <strong>de</strong> um centro social<br />
universitário, com a finalida<strong>de</strong> <strong>de</strong> “promover a aproximação e solidarieda<strong>de</strong> entre os corpos<br />
discentes, docente e administrativo da <strong>Universida<strong>de</strong></strong>”, visando organizar “reuniões <strong>de</strong> caráter<br />
cívico, social, cultural, científico, técnico, artístico e <strong>de</strong>sportivo” (art. 147 do regimento<br />
geral). Com efeito, em 1972, obe<strong>de</strong>cendo à filosofia da reforma, os antigos Diretórios se<br />
fundiram em uma única entida<strong>de</strong>, com a criação do Centro <strong>de</strong> Estudantes Universitários <strong>de</strong><br />
Petrópolis (CEUP) 81 , que se tornou centro <strong>de</strong> união e convergência <strong>de</strong> todos os alunos, sem<br />
distinção <strong>de</strong> faculda<strong>de</strong>, escola ou instituto. Para seu funcionamento, o CEUP utilizava cinco<br />
salas no BA e duas salas no BC e dispunha, por parte da <strong>Universida<strong>de</strong></strong>, <strong>de</strong> uma dotação<br />
correspon<strong>de</strong>nte a 1,8% das anuida<strong>de</strong>s recebidas (INFORMATIVO UCP, março, 1972, p. 11).<br />
Aos estudantes foi permitido criar outras associações, que <strong>de</strong>viam, todavia, submeter-<br />
se à aprovação do Conselho Universitário, ao qual cabia “julgar <strong>de</strong> sua conveniência e<br />
oportunida<strong>de</strong> e baixar normas para o seu reconhecimento” (art. 152 do regimento geral). Além<br />
<strong>de</strong> <strong>de</strong>cidir a criação <strong>de</strong> associações estudantis, o Conselho Universitário controlava as suas<br />
81 Em 1979, a Lei n. 6.680 <strong>de</strong> 16-8-1979 <strong>de</strong>terminaria a extinção do CEUP e a reconstituição dos Diretórios. O<br />
Conselho Universitário da UCP, com a Resolução 4/80, reconstituiu os seguintes Diretórios supressos:<br />
Diretório Central dos Estudantes (DCE), no âmbito <strong>de</strong> toda a <strong>Universida<strong>de</strong></strong>; Diretório Acadêmico Rui Barbosa<br />
(DARB), no da Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Direito; Diretório Acadêmico Santo Tomás <strong>de</strong> Aquino (DASTA), no da Faculda<strong>de</strong><br />
<strong>de</strong> Educação; Diretório Acadêmico Costa Ribeiro (DARC), no da Escola <strong>de</strong> Engenharia; Diretório Acadêmico<br />
Eugênio Gudin (DAEG), no da Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Ciências Econômicas, Contábeis e Administrativas<br />
(INFORMATIVO UCP, março, 1980, p. 10-11).
ativida<strong>de</strong>s, impedindo expressamente “qualquer ação <strong>de</strong> caráter político-partidário” (art. 154<br />
do regimento geral). Já o artigo 61 do estatuto vetava a participação política do conjunto da<br />
instituição: “A <strong>Universida<strong>de</strong></strong>, por qualquer <strong>de</strong> seus órgãos administrativos, ou através dos<br />
corpos docente e discente, abster-se-á <strong>de</strong> promover ou autorizar quaisquer manifestações <strong>de</strong><br />
caráter político-partidário”. Essa mesma proibição fazia parte do estatuto antigo da<br />
<strong>Universida<strong>de</strong></strong> (art. 45), embora os alunos da UCP pouco fossem atingidos pelo fenômeno da<br />
politização do movimento estudantil, que, ao final da década <strong>de</strong> 1960, <strong>de</strong>vido à repressão<br />
política, per<strong>de</strong>u gran<strong>de</strong> parte <strong>de</strong> seu ímpeto (CUNHA, 2000, p. 192).<br />
Como ocorreu com o estatuto <strong>de</strong> 1961, a UCP adaptou também o novo <strong>de</strong> 1970 às<br />
diretrizes do MEC. Contudo, ainda que ligado à política educacional do governo, seja pela<br />
legislação, seja pela <strong>de</strong>pendência financeira, a expansão da <strong>Universida<strong>de</strong></strong> caminhava seguindo<br />
os rumos da natureza confessional da Instituição, garantida por meio do próprio estatuto e do<br />
uso pleno das prerrogativas legais do grão-chanceler. Neste sentido, na década <strong>de</strong> 1970, a<br />
UCP consolidou a sua trajetória institucional, continuando seu <strong>de</strong>senvolvimento.<br />
5.2 O AUMENTO DOS CAMPI E A EXPANSÃO DAS FACULDA<strong>DE</strong>S NA<br />
DÉCADA <strong>DE</strong> 1970<br />
O favorável contexto sócio-político e a clareza das motivações i<strong>de</strong>ais dos dirigentes,<br />
na <strong>de</strong>terminação dos objetivos da UCP, foram os fatores que incentivaram o crescimento da<br />
<strong>Universida<strong>de</strong></strong>, na década <strong>de</strong> 1970.<br />
Em julho <strong>de</strong> 1976, na ocasião do 8º Congresso da Organização das <strong>Universida<strong>de</strong></strong>s<br />
<strong>Católica</strong>s da América Latina (ODUCAL) 82 , Dom Veloso afirmou que, na ótica da política<br />
educacional empreendida pelo governo, a instrução superior, além do próprio valor cultural,<br />
representava um apreciável potencial econômico. As universida<strong>de</strong>s, tornando-se centros <strong>de</strong><br />
pesquisas das inovações tecnológicas, assumiam, cada vez mais, o papel criador <strong>de</strong> novos<br />
82 Tendo como anfitriã a Pontifícia Universidad Javeriana <strong>de</strong> Bogotá, o 8º Congresso e a 9ºAssembléia Geral da<br />
Organização das <strong>Universida<strong>de</strong></strong>s <strong>Católica</strong>s da América Latina (ODUCAL) reuniram-se nos dias 12 a 14 <strong>de</strong> julho<br />
<strong>de</strong> 1976, no Hotel Sochagotá, em Paipa (<strong>de</strong>partamento <strong>de</strong> Boyacá), a 200 quilômetros <strong>de</strong> Bogotá. Dentre os<br />
temas propostos, coube ao reitor da UCP, Dom Veloso, e ao vice-reitor acadêmico da Universidad <strong>Católica</strong><br />
Madre y Maestra <strong>de</strong> Santiago <strong>de</strong> los Caballeros (República Dominicana) discutir o problema do financiamento<br />
das universida<strong>de</strong>s católicas. O discurso proferido por Dom Veloso foi publicado pela UCP no opúsculo<br />
intitulado Financiamento da <strong>Universida<strong>de</strong></strong> <strong>Católica</strong>.
ecursos. Conseqüentemente, a educação <strong>de</strong> nível superior passava a ser consi<strong>de</strong>rada um<br />
investimento <strong>de</strong> alta rentabilida<strong>de</strong> e entrava como item importante nos planos estratégicos <strong>de</strong><br />
<strong>de</strong>senvolvimento da nação (UCP, FINANCIAMENTO DA UNIVERSIDA<strong>DE</strong> CATÓLICA,<br />
1976, p. 7-8). Sem dúvida, o governo brasileiro consi<strong>de</strong>rava indispensável o investimento na<br />
educação, para o preparo e a qualificação <strong>de</strong> recursos humanos. Esse foi o objetivo do<br />
Primeiro Plano Nacional <strong>de</strong> Desenvolvimento Econômico e Social (1972-1974), para a<br />
mo<strong>de</strong>rnização do País.<br />
Em particular, o Plano Setorial <strong>de</strong> Educação e Cultura, para o triênio 1972-1974, tinha<br />
como objetivos: acelerar a implantação da reforma universitária, promover a expansão da<br />
oferta do ensino superior, especialmente nas áreas técnicas, da formação do magistério e das<br />
ciências da saú<strong>de</strong>, e incrementar programas <strong>de</strong> educação física e <strong>de</strong>sporto, por meio da<br />
construção <strong>de</strong> instalações esportivas nas universida<strong>de</strong>s. O Segundo Plano Setorial <strong>de</strong><br />
Educação e Cultura, para o qüinqüênio 1975-1979, previa a assistência técnica e financeira às<br />
instituições privadas e, especificamente, na área do ensino superior. Um dos objetivos <strong>de</strong>sse<br />
Plano era conce<strong>de</strong>r apoio financeiro para: a adaptação da planta física e da estrutura<br />
administrativa às necessida<strong>de</strong>s da reforma acadêmica; a expansão <strong>de</strong> bibliotecas e o<br />
reaparelhamento <strong>de</strong> oficinas e laboratórios didáticos (PAMPLONA, 1973, apud MACHADO,<br />
2002, p. 29).<br />
Esses Planos <strong>de</strong>monstram que o governo, para garantir ensino oficial a todos os<br />
cidadãos aptos, não <strong>de</strong>ixava <strong>de</strong> contribuir com subsídios para o ensino privado, que oferecia<br />
um serviço público e trazia-lhe, contudo, uma apreciável economia <strong>de</strong> recursos,<br />
disponibilizando estruturas próprias e pessoal docente e administrativo já experiente. Neste<br />
sentido, durante o Congresso da ODUCAL mencionado, Dom Veloso <strong>de</strong>clarou que<br />
subvencionar as universida<strong>de</strong>s, que ajudavam o Estado a cumprir o seu <strong>de</strong>ver institucional, era<br />
também obrigação <strong>de</strong> justiça distributiva. Com efeito, aplicando os recursos cobrados <strong>de</strong> toda<br />
a população em benefício apenas dos alunos das instituições públicas, o governo obrigaria os<br />
estudantes dos institutos particulares a sustentar a escola dos outros, pagando, ao mesmo<br />
tempo, integralmente os seus próprios estudos. Com base na legislação brasileira 83 , ele<br />
83 Constituição da República Fe<strong>de</strong>rativa do Brasil <strong>de</strong> 1967, art. 168 §2: O ensino é livre à iniciativa particular, a<br />
qual merecerá o amparo técnico e financeiro dos Po<strong>de</strong>res Públicos, inclusive com bolsas <strong>de</strong> estudo. Lei <strong>de</strong><br />
Diretrizes e Bases da Educação Nacional n. 4.024/61, art. 3: O direito da educação é assegurado: I – pela<br />
obrigação do po<strong>de</strong>r público e pela liberda<strong>de</strong> <strong>de</strong> iniciativa particular <strong>de</strong> ministrarem o ensino em todos os graus,<br />
na forma da lei em vigor; II – pela obrigação do Estado <strong>de</strong> fornecer recursos indispensáveis para que a família<br />
e, na falta <strong>de</strong>sta, os <strong>de</strong>mais membros da socieda<strong>de</strong> se <strong>de</strong>sobriguem dos encargos da educação, quando provada
essaltou o princípio <strong>de</strong> subsidiarieda<strong>de</strong>, já presente nos pronunciamentos do papa João XXIII<br />
e do papa Paulo VI, segundo os quais, as organizações e os grupos sociais, <strong>de</strong> um lado, e o<br />
Estado, do outro, colaboravam mutuamente e se complementavam na sua missão (UCP,<br />
FINANCIAMENTO DA UNIVERSIDA<strong>DE</strong> CATÓLICA, p. 8). Continuando as suas<br />
reflexões, Dom Veloso <strong>de</strong>clarou que o problema financeiro era dos que mais angustiavam a<br />
administração das UCs: o aumento do alunado solicitava mais espaço, acomodações e<br />
recursos; o progresso tecnológico e científico exigia novos equipamentos, mais numerosos,<br />
diversificados e sofisticados; tornava-se indispensável uma reciclagem do corpo docente, com<br />
a introdução <strong>de</strong> novas metodologias didáticas e administrativas. Dom Veloso evi<strong>de</strong>nciou que<br />
os orçamentos das UCs eram <strong>de</strong>sproporcionados à realida<strong>de</strong> a enfrentar, minguados pela<br />
retração <strong>de</strong> doações anteriormente mais generosas e corroídos pela inflação. Ele afirmou:<br />
A exigência mo<strong>de</strong>rna <strong>de</strong> equipamentos caros e corpo docente variado não<br />
po<strong>de</strong> ser suprida apenas pela <strong>de</strong>dicação integral, por amor a Deus e à<br />
vocação, que criou e alimentou muitas <strong>Universida<strong>de</strong></strong>s <strong>Católica</strong>s, da Ida<strong>de</strong><br />
Média aos tempos mais recentes. È ingente o <strong>de</strong>safio, mas é imperioso<br />
enfrentá-lo, pois a <strong>Universida<strong>de</strong></strong> é <strong>de</strong> primordial importância para a Igreja,<br />
cuja missão é ensinar a ser fermento, e para a humanida<strong>de</strong>, hoje obcecada<br />
pelos valores materiais e que necessita da revitalização espiritual<br />
proporcionada pela <strong>Universida<strong>de</strong></strong> <strong>Católica</strong> verda<strong>de</strong>iramente tal. (UCP,<br />
ibi<strong>de</strong>m, 1976, p. 3-4).<br />
Dom Veloso continuou, sublinhando que as contribuições dos alunos, mesmo sendo a<br />
primeira fonte <strong>de</strong> recursos, eram suficientes para manter somente alguns cursos <strong>de</strong> custo mais<br />
baixo, porém, na gran<strong>de</strong> maioria dos casos, eram ina<strong>de</strong>quadas:<br />
Por um lado, a tradição caritativa da Igreja e o i<strong>de</strong>al <strong>de</strong> servir nos fazem<br />
olhar com carinho a difícil situação financeira <strong>de</strong> nossos alunos e, por outro,<br />
os custos <strong>de</strong> alguns cursos, on<strong>de</strong> as turmas são reduzidas e os equipamentos<br />
caríssimos, se traduziriam em anuida<strong>de</strong>s elevadíssimas (UCP, ibi<strong>de</strong>m, 1976,<br />
p. 5).<br />
Concluindo a sua análise, o reitor da UCP afirmou que, além das doações <strong>de</strong> pessoas e<br />
<strong>de</strong> entida<strong>de</strong>s particulares, uma importante fonte <strong>de</strong> recursos eram as subvenções dos po<strong>de</strong>res<br />
públicos. Com efeito, nos ofícios da reitoria da UCP se encontram frequentemente<br />
solicitações <strong>de</strong> verba do Governo, para complementar a receita orçamentária da <strong>Universida<strong>de</strong></strong>,<br />
a insuficiência <strong>de</strong> meios, <strong>de</strong> modo que sejam asseguradas iguais oportunida<strong>de</strong>s a todos”.
tendo em vista a expansão <strong>de</strong> vagas e cursos e, simultaneamente, a ampliação do espaço físico<br />
necessário.<br />
Além disso, ministros e governadores visitaram freqüentemente a UCP, por ocasião <strong>de</strong><br />
cerimônias oficiais ou <strong>de</strong> encontros informais. Em setembro <strong>de</strong> 1968, o ministro da Fazenda,<br />
Octávio Gouveia <strong>de</strong> Bulhões, proferiu a aula <strong>de</strong> abertura da Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Ciências<br />
Econômicas, Contábeis e Administrativas. Em novembro do mesmo ano, o presi<strong>de</strong>nte Costa e<br />
Silva, acompanhado pelo ministro dos Transportes, Mário Andreazza e pelo diretor do<br />
Departamento Nacional <strong>de</strong> Estradas <strong>de</strong> Rodagem, Eliseu Rezen<strong>de</strong>, inaugurou a exposição da<br />
maquete da Ponte Rio-Niterói, na Escola <strong>de</strong> Engenharia. Ainda em 1968, o governador Paulo<br />
Torres inaugurou o Restaurante Universitário. Em 1969, o ministro da Educação, Tarso Dutra,<br />
visitou a UCP; o ministro da Saú<strong>de</strong>, Raimundo <strong>de</strong> Moura Britto, presidiu a solene instalação<br />
da Escola <strong>de</strong> Reabilitação; e o vice-presi<strong>de</strong>nte da República, Augusto Ra<strong>de</strong>maker, participou<br />
da assembléia universitária <strong>de</strong> colação <strong>de</strong> grau. As aulas inaugurais <strong>de</strong> vários anos letivos<br />
foram proferidas por representantes do Governo: em 1971, pelo ministro da Justiça, Alfredo<br />
Buzaid; em 1972, pelo ministro da Educação e Cultura, Jarbas Gonçalves Passarinho; em<br />
1973, pelo ministro do Trabalho, Julio Barata; em 1975, pelo governador Raymundo Padilha<br />
(INFORMATIVO UCP, maio 1978, p. 7-13). Os eventos que <strong>de</strong>notavam a colaboração entre<br />
a UCP e os po<strong>de</strong>res públicos foram sempre numerosos e realizavam-se em um clima <strong>de</strong><br />
estima recíproca. Na saudação ao ministro Jarbas Passarinho, que tinha agra<strong>de</strong>cido à<br />
<strong>Universida<strong>de</strong></strong> com elogios, Dom Veloso afirmou:<br />
Aqui estamos para hipotecar a V. Exa. todo esforço e cooperação que<br />
<strong>de</strong>vemos à tarefa educacional brasileira [...]. Em 17 anos <strong>de</strong> existência, com<br />
um esforço mútuo <strong>de</strong> compreensão entre corpos docente, discente e<br />
administrativo, praticamente <strong>de</strong>sconhecemos a greve e pu<strong>de</strong>mos cumprir<br />
integralmente a letra e o espírito da reforma universitária (INFORMATIVO<br />
UCP, junho 1971, p. 2-3).<br />
De acordo com as palavras do reitor, a UCP aparecia como uma “gran<strong>de</strong> família”, sem<br />
contradições internas. O boletim da <strong>Universida<strong>de</strong></strong>, INFORMATIVO UCP, mostrava sempre as<br />
conquistas da instituição em or<strong>de</strong>m crescente, apresentava os números <strong>de</strong> matrículas e <strong>de</strong><br />
egressos, elogiava as trajetórias vitoriosas <strong>de</strong> ex-alunos, relatava os serviços à comunida<strong>de</strong>.<br />
Ao mesmo tempo, o caráter confessional da <strong>Universida<strong>de</strong></strong> ressaltava seja nas celebrações<br />
religiosas, ao início e ao final <strong>de</strong> cada ano letivo, como nas formaturas <strong>de</strong> alunos <strong>de</strong> diversas<br />
faculda<strong>de</strong>s. Portanto, embora exprimisse uma consonância <strong>de</strong> objetivos com o governo
fe<strong>de</strong>ral, a <strong>Universida<strong>de</strong></strong> atuava <strong>de</strong> forma autônoma e perseguia as finalida<strong>de</strong>s próprias, <strong>de</strong><br />
acordo com o princípio da liberda<strong>de</strong> da Igreja (libertas Ecclesiae), expresso pelo Concílio<br />
Vaticano II: “A liberda<strong>de</strong> da Igreja é princípio fundamental nas relações entre a Igreja e os<br />
po<strong>de</strong>res públicos e todo o or<strong>de</strong>namento jurídico da socieda<strong>de</strong> civil” (Dignitatis Humanae, 7-<br />
12-1965, §13 a).<br />
Sob a gestão <strong>de</strong> Dom Veloso, reconduzido no cargo <strong>de</strong> reitor da UCP, em 1971, com<br />
um novo mandato <strong>de</strong> quatro anos, prosseguiram as obras <strong>de</strong> adaptação e ampliação dos<br />
prédios da <strong>Universida<strong>de</strong></strong>. A necessida<strong>de</strong> das obras justificava-se pelo aumento do número <strong>de</strong><br />
alunos matriculados, que passou <strong>de</strong> 574, em 1966, a 2.276, em 1971, incluindo também os<br />
509 alunos do Colégio <strong>de</strong> Aplicação (INFORMATIVO UCP, junho 1971, p. 3).<br />
No conjunto da Rua Barão <strong>de</strong> Amazonas (BA), concluiu-se a estrutura <strong>de</strong> concreto do<br />
pavilhão <strong>de</strong> tecnologia, com 2.400 metros quadrados <strong>de</strong> área construída, em quatro<br />
pavimentos. Em setembro <strong>de</strong> 1971, o Conselho <strong>de</strong> Patronos <strong>de</strong>cidiu promover a reforma da<br />
fachada do prédio do BA, visto que os recursos normais da <strong>Universida<strong>de</strong></strong> eram inteiramente<br />
absorvidos pela manutenção dos cursos e a melhoria do equipamento e instalações (Of. GR<br />
168/71). No conjunto da Rua Benjamin Constant (BC), ampliaram-se os pátios <strong>de</strong><br />
estacionamento e recuperou-se um dos edifícios anexos, para o funcionamento do curso<br />
primário do Colégio <strong>de</strong> Aplicação.<br />
Para a se<strong>de</strong> do antigo Colégio Sion, foram transferidas a Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Filosofia,<br />
Ciências e Letras e a Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Economia; foi reformado o auditório e instalou-se a nova<br />
biblioteca central, enquanto a biblioteca especializada das áreas tecnológica e bio-médica<br />
continuou funcionando no conjunto BA. A sala <strong>de</strong> leitura da biblioteca central, que foi<br />
sediada no antigo refeitório do Colégio Sion, era dotada <strong>de</strong> 100 mesas individuais, com<br />
ca<strong>de</strong>iras, e <strong>de</strong> duas mesas para oito ou <strong>de</strong>z leitores cada, em estudo coletivo, comportando 120<br />
consulentes. Suas estantes, que ocupavam toda a extensão das pare<strong>de</strong>s, tendo a meia altura um<br />
jirau <strong>de</strong> acesso, podiam receber 35.000 volumes; ao lado, na antiga copa, funcionava a direção<br />
da Biblioteca. As instalações do andar inferior (on<strong>de</strong> se encontravam a cozinha e a <strong>de</strong>spensa<br />
do antigo Colégio) tinham capacida<strong>de</strong> para mais 80.000 volumes. A biblioteca central foi<br />
inaugurada a 8 <strong>de</strong> março <strong>de</strong> 1971 (ANEXO B11), pelo ministro da Justiça, Alfredo Buzaid,<br />
que, naquela ocasião, proferiu também a aula magna <strong>de</strong> abertura do ano universitário.<br />
Estavam presentes o governador do Estado do Rio <strong>de</strong> Janeiro, Raymundo Padilha, o secretário<br />
<strong>de</strong> Educação do Estado, Delton <strong>de</strong> Mattos, o prefeito <strong>de</strong> Petrópolis, João Ésio Caldara, os<br />
diretores, professores e altas autorida<strong>de</strong>s. No mesmo ano, a biblioteca central recebeu a visita
do ministro da Educação e Cultura, Jarbas Gonçalves Passarinho, em ocasião <strong>de</strong> sua primeira<br />
vinda na UCP. Ele voltaria em 1972, a 10 <strong>de</strong> março, para celebrar o 10º aniversário da<br />
instalação da <strong>Universida<strong>de</strong></strong>, proferindo a aula inaugural do ano letivo (INFORMATIVO<br />
UCP, março, 1972, p. 1; abril, 1972, p. 2-3).<br />
Por essa época, a UCP vinha sendo solicitada a abrir uma Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Filosofia,<br />
Ciências e Letras em Teresópolis. Em maio <strong>de</strong> 1971, esse pedido foi apresentado ao reitor por<br />
um grupo <strong>de</strong> alunos, em nome <strong>de</strong> quase 300 jovens, resi<strong>de</strong>ntes em Teresópolis. Dom Veloso,<br />
não <strong>de</strong>sejando criar faculda<strong>de</strong>s “filiais”, consultou o Conselho Fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong> Educação sobre a<br />
possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> manter, em Teresópolis, apenas turmas <strong>de</strong> seus cursos reconhecidos, que<br />
utilizariam as estruturas do Colégio São Paulo, sem criar novos cursos, nem duplicar as<br />
ativida<strong>de</strong>s administrativas (Of. GR 74/71). Em março do ano seguinte, o Conselho Fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong><br />
Educação <strong>de</strong>u, porém, um parecer negativo, com conseqüente trancamento <strong>de</strong> matrícula por<br />
parte <strong>de</strong> muitos estudantes, que não tinham condições econômicas ou <strong>de</strong> trabalho para<br />
freqüentar diariamente as aulas em Petrópolis (Of. GR 116/72).<br />
O êxito negativo da tentativa <strong>de</strong> funcionamento <strong>de</strong> turmas em Teresópolis foi<br />
compensado pela abertura <strong>de</strong> dois novos cursos. Em 4 <strong>de</strong> junho <strong>de</strong> 1971, o Conselho <strong>de</strong><br />
Coor<strong>de</strong>nação do Ensino e Pesquisa aprovou a realização, na Escola <strong>de</strong> Reabilitação, do curso<br />
<strong>de</strong> especialização em Fisiatria (Medicina Física e Reabilitação), sob a direção do professor<br />
doutor J. G. De Lima-Ver<strong>de</strong>, em convênio com a Aca<strong>de</strong>mia Brasileira <strong>de</strong> Medicina Militar<br />
(Of. GR 88/71). Em 21 <strong>de</strong> agosto <strong>de</strong> 1971, o Conselho Universitário, acolhendo o parecer do<br />
Conselho <strong>de</strong> Coor<strong>de</strong>nação do Ensino e Pesquisa, criou o Curso Superior <strong>de</strong> Turismo 84 ,<br />
subordinado ao Instituto <strong>de</strong> Artes e Comunicação. O funcionamento do novo curso era<br />
julgado muito oportuno, em consi<strong>de</strong>ração do interesse público na indústria do turismo e<br />
tratando-se <strong>de</strong> curso inexistente no Brasil. Sua implantação, a<strong>de</strong>mais, não acarretava <strong>de</strong>spesas,<br />
iniciando com disciplinas que não exigiam professores especializados, necessários apenas a<br />
partir do 4º ou do 5º semestre.<br />
A criação do Curso <strong>de</strong> Turismo foi precedida pela instalação <strong>de</strong> um Laboratório<br />
84 De acordo com as exigências do Parecer 35/71 do Conselho Fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong> Educação, que <strong>de</strong>finiu o currículo<br />
mínimo do curso para “planejadores <strong>de</strong> turismo”, o Curso comportava 118 créditos: 25 cumpridos no Ciclo <strong>de</strong><br />
Estudos gerais na área <strong>de</strong> Ciencias humanas, 53 na fase diferenciada e na formação profissional geral e 30 na<br />
especialização opcional (Agências <strong>de</strong> viagens, Hospedagem, Restaurantes). O currículo pleno seria <strong>de</strong>finido pelo<br />
Conselho <strong>de</strong> Coor<strong>de</strong>nação do Ensino e Pesquisa <strong>de</strong>pois das viagens <strong>de</strong> alguns professores ao México, aos<br />
Estados Unidos e a Espanha, para observar o funcionamento <strong>de</strong> cursos <strong>de</strong> turismo similares. O Curso iniciou<br />
oferecendo 100 vagas (Of. GR 205/71). Foi reconhecido pelo Decreto n. 76.952 <strong>de</strong> 30-12-1975.
Eletrônico para o Ensino <strong>de</strong> Línguas (LEEL). Não obstante a estreiteza dos recursos<br />
financeiros, por falta da subvenção fe<strong>de</strong>ral em 1971, Dom Veloso consi<strong>de</strong>rava vantajoso<br />
instalar um Laboratório <strong>de</strong> Línguas, para dispor <strong>de</strong> um instrumental <strong>de</strong> ensino à eficiência dos<br />
cursos da <strong>Universida<strong>de</strong></strong> e para servir à comunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Petrópolis, com cursos extras e<br />
probabilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> retorno rápido do capital empatado, paralelamente à amortização da parte<br />
financiada (Of. GR 124/71). Com efeito, o Laboratório <strong>de</strong> Línguas funcionou logo no ano<br />
seguinte, sob a responsabilida<strong>de</strong> do professor Fernando Mário Franco. Seu equipamento,<br />
importado dos Estados Unidos, constava <strong>de</strong> 60 cabines individuais, com gravadores<br />
Instrutomatic, com fones e microfones conjugados e mesa <strong>de</strong> controle.<br />
Quanto ao valor cultural e social do Curso Superior <strong>de</strong> Turismo, em seu relatório anual<br />
<strong>de</strong> 1972, o reitor da UCP afirmou:<br />
Deseja a <strong>Universida<strong>de</strong></strong> não só formar técnicos <strong>de</strong> alto gabarito, mas,<br />
sobretudo — instituição cultural que é — contribuir para a elaboração <strong>de</strong><br />
uma sadia filosofia do turismo, que não <strong>de</strong>ve ser encarada apenas nem<br />
prepon<strong>de</strong>rantemente pelo aspecto econômico (ainda que muito importante),<br />
mas como veículo e instrumento <strong>de</strong> cultura: <strong>de</strong> ensino das artes, da história<br />
e da geografia; <strong>de</strong> comunicação social, <strong>de</strong> idéias e <strong>de</strong> bens; <strong>de</strong> integração<br />
nacional. Turismo que não seja meio <strong>de</strong> “matar tempo” ou <strong>de</strong>sperdiçar<br />
dinheiro e saú<strong>de</strong> (física e moral), mas modalida<strong>de</strong> frutuosa <strong>de</strong> lazer.<br />
Primordialmente turismo interno, meio imprescindível <strong>de</strong> formar<br />
mentalida<strong>de</strong> e <strong>de</strong> criar infra-estrutura para o turismo que vem do exterior<br />
mais ambicioso; para recebermos condignamente, com aconchego bem<br />
brasileiro, o estrangeiro que nos visite e regresse propagandista <strong>de</strong> nossa<br />
terra, com sauda<strong>de</strong>s <strong>de</strong> retornar. Sem essa mentalida<strong>de</strong> e infra-estrutura, o<br />
incremento do turismo internacional continuará a ser-nos terrivelmente<br />
<strong>de</strong>ficitário: aumentará o êxodo dos nossos e da nossa moeda, sem a <strong>de</strong>sejada<br />
contrapartida; não será para o País a <strong>de</strong>cantada fonte <strong>de</strong> divisas.<br />
(INFORMATIVO UCP, junho 1972, p. 2).<br />
Ao empreendimento do Curso <strong>de</strong> Turismo animou, também, o professor Luis Garibay<br />
Gutierrez, Reitor da <strong>Universida<strong>de</strong></strong> Autônoma <strong>de</strong> Guadalajara, no México, que disponibilizou a<br />
experiência daquela <strong>Universida<strong>de</strong></strong>, por meio <strong>de</strong> um convênio <strong>de</strong> cooperação cultural e<br />
administrativa, assinado entre a UCP e a <strong>Universida<strong>de</strong></strong> Autônoma <strong>de</strong> Guadalajara, a 1º <strong>de</strong><br />
novembro <strong>de</strong> 1971 (INFORMATIVO UCP, novembro 1971, p. 1). Com o apoio do Conselho<br />
<strong>de</strong> Reitores, a UCP foi inserida no âmbito do programa <strong>de</strong> treinamento no exterior,<br />
patrocinado pela USAID, obtendo a ida do professor Fernando Henrique da Silva Carvalho a<br />
Guadalajara, para observar e acompanhar a organização e funcionamento do Curso Superior<br />
<strong>de</strong> Turismo, naquela <strong>Universida<strong>de</strong></strong>, durante dois meses.<br />
Mais ainda, em julho <strong>de</strong> 1972, Dom Veloso solicitou ao Departamento <strong>de</strong> Recursos
Humanos da USAID uma bolsa <strong>de</strong> estudos para o programa <strong>de</strong> treinamento em serviço, sobre<br />
administração universitária, reservada ao doutor Edson Paulo Lobo, que ocupava o cargo <strong>de</strong><br />
assessor <strong>de</strong> planejamento e assessor jurídico. Objetivo da viagem do doutor Lobo era buscar<br />
orientações no Departamento <strong>de</strong> Desenvolvimento da <strong>Universida<strong>de</strong></strong> Autônoma <strong>de</strong><br />
Guadalajara, no âmbito do referido convênio <strong>de</strong> cooperação, visando à formação <strong>de</strong> um<br />
<strong>de</strong>partamento similar na UCP (Of. GR 203/72).<br />
Com efeito, não dispondo ainda <strong>de</strong> computador próprio, a <strong>Universida<strong>de</strong></strong> estava<br />
iniciando as providências para a implantação <strong>de</strong> um novo sistema <strong>de</strong> cadastramento,<br />
começando pelo corpo docente e administrativo. A este fim, em abril <strong>de</strong> 1972, realizou-se na<br />
UCP o primeiro seminário sobre o Sistema <strong>de</strong> Informações para Administração Universitária<br />
(SIA), patrocinado pelo Conselho <strong>de</strong> Reitores das <strong>Universida<strong>de</strong></strong>s Brasileiras (CRUB). O<br />
Sistema visava proporcionar com rapi<strong>de</strong>z, <strong>de</strong> forma sistemática e integrada, todas as<br />
informações administrativas, assim como os dados estatísticos solicitados por órgãos<br />
governamentais e entida<strong>de</strong>s diversas, por meio <strong>de</strong> uma coleta or<strong>de</strong>nada e sempre atualizada<br />
dos dados relativos aos diferentes setores da vida universitária (Of. GR 172/72).<br />
Entre as inovações empreendidas, visando aprimorar o ensino e a pesquisa no campo<br />
educacional, o Conselho Universitário propôs a transformação do Colégio <strong>de</strong> Aplicação em<br />
Centro <strong>de</strong> Ensino Experimental da UCP, em consi<strong>de</strong>ração ao previsto na Lei n. 5.692,<br />
aprovada a 11 <strong>de</strong> agosto <strong>de</strong> 1971. Para elaborar o novo regimento interno do Colégio, foi<br />
criada uma comissão especial, constituída pelos professores: Jerônimo Ferreira Alves Neto,<br />
<strong>de</strong>signado diretor geral do Colégio, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> fevereiro <strong>de</strong> 1970, Henrique José Rabaço, diretor <strong>de</strong><br />
Ensino do Colégio e Edson Paulo Lobo, pró-reitor administrativo da UCP. Esse regimento era<br />
caracterizado por algumas medidas inovadoras: o aperfeiçoamento <strong>de</strong> métodos <strong>de</strong> ensino, <strong>de</strong><br />
formas <strong>de</strong> organização e administração escolar e <strong>de</strong> modalida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> coor<strong>de</strong>nação pedagógica;<br />
a adoção do ensino <strong>de</strong> línguas estrangeiras por níveis e a constituição das turmas <strong>de</strong> educação<br />
física, em conformida<strong>de</strong> com o biótipo dos alunos (Of. GR 210/72). Dessa forma, tornar-se-ia<br />
um laboratório <strong>de</strong> implantação da reforma, sob a égi<strong>de</strong> da Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Educação. Em<br />
substituição do Serviço <strong>de</strong> Orientação já existente, foi implantado o Serviço <strong>de</strong> Orientação<br />
Psicológico-Educacional (SOPE), com o objetivo <strong>de</strong> facilitar o processo <strong>de</strong> adaptação escolar<br />
e o <strong>de</strong>senvolvimento do ensino-aprendizagem. Foram criados, ainda, o Círculo <strong>de</strong> Pais e<br />
Mestres, para a integração família-escola, favorecendo a troca <strong>de</strong> experiências educativas, e o<br />
Centro Cívico Escolar João Pandiá Calógeras, que visava <strong>de</strong>senvolver nos alunos o espírito<br />
<strong>de</strong> iniciativa e o sentimento <strong>de</strong> responsabilida<strong>de</strong> civil.<br />
Pelo Parecer n. 1.169/75, o Conselho Estadual <strong>de</strong> Educação aprovou o regimento<br />
interno do Colégio <strong>de</strong> Aplicação, transformando-o em Centro Experimental <strong>de</strong> Ensino, que
daria plena execução à reforma <strong>de</strong> 1º e 2º graus. O Colégio passou a manter os seguintes<br />
cursos: Pré-Escolar (Jardim e I e II e C.A.), 1° e 2° Graus. No nível <strong>de</strong> 2° Grau, foram<br />
oferecidos os seguintes cursos: Auxiliar Técnico <strong>de</strong> Mecânica, Técnico em Turismo,<br />
Laboratorista <strong>de</strong> Análises Clínicas e Técnico em Processamento <strong>de</strong> Dados (Parecer n.<br />
1.181/75), um dos primeiros a ser criado no Brasil. Estes cursos encontravam apoio nos<br />
laboratórios e cursos mantidos pela UCP, e o <strong>de</strong> Laboratorista <strong>de</strong> Análises Clínicas era<br />
ministrado em convênio com o Laboratório Germano Bretz (INFORMATIVO UCP, junho<br />
1975, p. 6).<br />
No ano <strong>de</strong> 1973, ocorrendo o 20º aniversário da fundação das Faculda<strong>de</strong>s <strong>Católica</strong>s<br />
Petropolitanas, completaram-se 25 anos <strong>de</strong> sagração episcopal <strong>de</strong> Dom Cintra e <strong>de</strong> sua posse<br />
como bispo da Diocese <strong>de</strong> Petrópolis. Pela ocasião, Dom Cintra esteve em Roma, recebido em<br />
audiência especial pelo Papa Paulo VI. Ao seu regresso a Petrópolis, o bispo foi homenageado<br />
durante uma cerimônia solene, após uma missa concelebrada pelo clero na catedral <strong>de</strong> São<br />
Pedro <strong>de</strong> Alcântara. Entre as autorida<strong>de</strong>s estavam presentes: o governador Raymundo Padilha<br />
e senhora; o comandante Erik Balmeir, representando o vice-presi<strong>de</strong>nte da República,<br />
Augusto Ra<strong>de</strong>maker; o príncipe Dom Pedro <strong>de</strong> Orleans e Bragança; os prefeitos <strong>de</strong> Petrópolis,<br />
Paulo Rattes, e <strong>de</strong> Teresópolis, Roger Malhar<strong>de</strong>s; o presi<strong>de</strong>nte do Tribunal <strong>de</strong> Alçada do Rio<br />
<strong>de</strong> Janeiro, Moacyr Marques Murado; o comandante do Batalhão Pedro II, Milton Masselli<br />
Duarte. Participaram também representantes do Conselho <strong>de</strong> Patronos e do Conselho <strong>de</strong><br />
Administração da UCP; associações religiosas e clero; associações culturais; sindicatos<br />
patronais e <strong>de</strong> trabalhadores; estudantes, docentes e funcionários da <strong>Universida<strong>de</strong></strong>. Depois da<br />
saudação do prefeito Paulo Rattes, tomou a palavra o governador Raymundo Padilha, “não em<br />
nome pessoal, mas em nome <strong>de</strong> uma família católica que se preza <strong>de</strong> o ser e que enten<strong>de</strong> que a<br />
nossa própria sobrevivência política está condicionada à transcendência <strong>de</strong> valores espirituais<br />
e éticos <strong>de</strong>rivados do cristianismo”. Ele pôs em <strong>de</strong>staque a obra <strong>de</strong> Dom Cintra, no campo<br />
religioso, social e cultural, tendo as seguintes palavras <strong>de</strong> apoio e admiração para a UCP:<br />
A obra realizada neste jubileu pelo maravilhoso Pastor transcorreu sob os<br />
vossos olhos e se cristalizou em realizações tão fecundas como jamais<br />
Petrópolis tinha conhecido, porque a sua <strong>Universida<strong>de</strong></strong> <strong>Católica</strong>, matriz do<br />
<strong>de</strong>senvolvimento cultural na cida<strong>de</strong>, transformou-a, por assim dizer.<br />
Po<strong>de</strong>mos hoje afirmar sem hipérbole que Petrópolis tem duas existências:<br />
uma antes da <strong>Universida<strong>de</strong></strong>, outra após a <strong>Universida<strong>de</strong></strong>. [...] E a palavra<br />
final, para ser objetiva, para guarda da juventu<strong>de</strong> <strong>de</strong> Petrópolis e para a<br />
alegria do coração <strong>de</strong> Dom Veloso, é o compromisso que assumo diante <strong>de</strong><br />
todos vós: a <strong>Universida<strong>de</strong></strong> <strong>Católica</strong> <strong>de</strong> Petrópolis não terá mais vicissitu<strong>de</strong>s,
enquanto eu estiver no governo (UCP, JUBILEU EPISCOPAL DO GRÃO<br />
CHANCELER, julho, 1973, p. 15-16).<br />
A 6 <strong>de</strong> junho, a <strong>Universida<strong>de</strong></strong> <strong>de</strong>dicou uma sessão especial comemorativa do 20º<br />
aniversário da fundação das Faculda<strong>de</strong>s <strong>Católica</strong>s Petropolitanas ao seu fundador e grão<br />
chanceler. Depois da saudação do presi<strong>de</strong>nte do CEUP, Fernando Cotta Portella Filho, em<br />
nome dos estudantes, tomou a palavra monsenhor Gilberto Ferreira <strong>de</strong> Souza, diretor do<br />
Instituto <strong>de</strong> Teologia, Filosofia e Ciências Humanas, que colocou a história da UCP entre as<br />
outras UCs do mundo. Em seguida, a professora Maria da Glória Rangel Sampaio Fernan<strong>de</strong>s,<br />
diretora do Instituto <strong>de</strong> Artes e Comunicação, salientou que Dom Cintra, por meio da criação<br />
da <strong>Universida<strong>de</strong></strong>, “trouxe a melhor resposta” à juventu<strong>de</strong> que se perguntava o que precisava<br />
fazer para servir ao seu tempo: “trabalhar, pesquisar, progredir, mas sem <strong>de</strong>ixar <strong>de</strong> preocupar-<br />
se com a ciência da alma, a fim <strong>de</strong> que o equilíbrio entre as forças da matéria e as do espírito<br />
leve o homem a realizar-se integralmente”. O professor Henrique José Rabaço, representante<br />
do corpo docente, que viu nascer a UCP, a <strong>de</strong>screveu como “resultado <strong>de</strong> uma doação imensa<br />
a serviço da humanida<strong>de</strong>”, a partir do grupo pioneiro <strong>de</strong> leigos, que constituiu o primeiro<br />
Conselho Administrativo das Faculda<strong>de</strong>s <strong>Católica</strong>s Petropolitanas, até as centenas <strong>de</strong><br />
professores e funcionários, cujo espírito <strong>de</strong> coesão e amiza<strong>de</strong> contribuiu para <strong>de</strong>senvolver um<br />
trabalho “harmonioso, <strong>de</strong>dicado e responsável”. Dom Cintra, agra<strong>de</strong>cendo aos relatores,<br />
<strong>de</strong>stacou que “no crescimento houve uma constante: a presença pública, permanente,<br />
universal do pensamento cristão para o aprofundamento da ciência e dos conhecimentos<br />
humanos, conforme o exige o Concílio Vaticano II, para uma <strong>Universida<strong>de</strong></strong> <strong>Católica</strong>” (UCP,<br />
ibi<strong>de</strong>m, p. 23-42).<br />
Essa preocupação com a i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> católica da UCP era compartilhada, também, pelas<br />
outras componentes da <strong>Universida<strong>de</strong></strong>, que perceberam a exigência <strong>de</strong> criar uma marca, uma<br />
i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> visual, que refletisse a imagem da UCP sem distorções, freqüentes na era da<br />
comunicação <strong>de</strong> massa. O INFORMATIVO UCP, no número <strong>de</strong> fevereiro <strong>de</strong> 1974, apresentou<br />
a seguinte explicação da nova marca escolhida:<br />
<strong>Universida<strong>de</strong></strong><br />
<strong>Católica</strong> <strong>de</strong> Petrópolis
Desenvolvimento da Marca<br />
UNIVERSIDA<strong>DE</strong> CATÓLICA <strong>DE</strong> PETRÓPOLIS<br />
PETRÓPOLIS – cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Pedro – Pedra<br />
Pedra representada pelo quadrado<br />
Forma regular, estável, segura, idéia <strong>de</strong> soli<strong>de</strong>z.<br />
CATÓLICA – “Sobre esta pedra edificarei a minha Igreja”<br />
Igreja católica representada pela cruz.<br />
UNIVERSIDA<strong>DE</strong> – Reunião <strong>de</strong> várias faculda<strong>de</strong>s, <strong>de</strong>partamentos, serviços,<br />
enfim várias partes que se agrupam, representadas<br />
pelos pequenos quadrados, unidos ao redor da cruz.<br />
(professor João Carlos Moura <strong>de</strong> Souza, programador visual)<br />
O sinal criado abrangeria todo o aspecto visual da UCP em sua relação com o público:<br />
letreiros, cartazes, folhetos, avisos, papéis ofício, envelopes, etc., vigorando como marca<br />
oficial até os inícios dos anos <strong>de</strong> 1990 85 .<br />
O ano <strong>de</strong> 1973 viu a expansão do espaço físico da <strong>Universida<strong>de</strong></strong>, que comprou um<br />
novo campus, no bairro do Bingen, para a realização do Centro <strong>de</strong> Educação Física, há tempo<br />
planejado. Já em março <strong>de</strong> 1972, aten<strong>de</strong>ndo às disposições legais, que <strong>de</strong>terminavam a<br />
inserção da educação física em todos os graus <strong>de</strong> ensino e, nas universida<strong>de</strong>s, mesmo sob a<br />
forma <strong>de</strong> esportes, Dom Veloso firmara um convênio com o doutor Moacyr <strong>de</strong> Castro<br />
Miranda, para o uso das instalações do Serrano Futebol Clube por parte dos alunos da UCP,<br />
no período letivo. No entanto, no subsolo do prédio do antigo Colégio Sion, estavam sendo<br />
construídas algumas instalações para ativida<strong>de</strong>s esportivas, que, porém apresentavam<br />
limitações, principalmente no setor do atletismo. Buscando solucionar o problema, a<br />
<strong>Universida<strong>de</strong></strong> adquiriu um terreno à Rua Darmstad, no bairro do Bingen, próximo à estrada do<br />
Contorno <strong>de</strong> Petrópolis. O terreno, que se estendia por mais <strong>de</strong> 60.000 metros quadrados, dos<br />
quais aproximadamente <strong>de</strong> 30.000 metros quadrados aproveitáveis, era <strong>de</strong> proprieda<strong>de</strong> da<br />
Mitra diocesana, que o ce<strong>de</strong>u à <strong>Universida<strong>de</strong></strong> mediante “doação onerosa”. Por essa doação,<br />
gravada com a cláusula <strong>de</strong> inalienabilida<strong>de</strong>, a UCP se obrigava a auxiliar a Mitra diocesana<br />
com uma contribuição mensal <strong>de</strong> seis salários mínimos, durante trinta anos. Para realizar a<br />
<strong>de</strong>sejada construção do Centro <strong>de</strong> Educação Física da UCP, Dom Veloso assinou um<br />
convênio com o Departamento <strong>de</strong> Educação Física e Desportos (<strong>DE</strong>D) do MEC, a 8 <strong>de</strong> maio<br />
<strong>de</strong> 1973. Conforme o projeto, que Paulo Hoelz elaborou <strong>de</strong>ntro dos critérios do MEC, com<br />
pistas <strong>de</strong> atletismo, quadras, piscina, ginásio, o Centro foi concebido como um conjunto que<br />
proporcionasse ampla integração entre <strong>Universida<strong>de</strong></strong> e comunida<strong>de</strong>.<br />
85 Como informou a professora Maria da Glória Rangel Sampaio Fernan<strong>de</strong>s, na entrevista concedida em 28 <strong>de</strong><br />
julho <strong>de</strong> 2008, durante a sua reitoria, <strong>de</strong> 1987 a 1999, o próprio Dom Cintra sugeriu retomar como marca da UCP<br />
o antigo brasão, que continuava sendo usado somente nas atas da reitoria.
As obras foram iniciadas em maio <strong>de</strong> 1973 (ANEXO B12), pela Construtora Gonzáles,<br />
num terreno aci<strong>de</strong>ntado que exigiu gran<strong>de</strong> movimentação <strong>de</strong> terra, dada a excepcional estação<br />
chuvosa do segundo semestre <strong>de</strong> 1973. Com efeito, as chuvas causaram prejuízos na infra-<br />
estrutura <strong>de</strong> terraplenagem e, junto às condições do solo, tornaram mais difícil a abertura dos<br />
alicerces do Ginásio coberto. Todo o terreno <strong>de</strong>stinado às quadras e às pistas precisou ser<br />
drenado; foram construídas galerias coletoras <strong>de</strong> águas pluviais; para prevenir a erosão,<br />
gramaram-se todas as encostas e algumas áreas planas.<br />
O MEC, por meio do <strong>DE</strong>D, contribuiu no financiamento do Centro com Cr$<br />
1.800.000,00 86 , em duas tapas. Em 1973, o ministro Jarbas Passarinho, com o diretor do <strong>DE</strong>D,<br />
Eric Tinoco Marques, conce<strong>de</strong>u Cr$ 800.000,00 87 , por conta <strong>de</strong> verba oriunda da Loteria<br />
Esportiva (INFORMATIVO UCP, maio 1973, p. 1). Naquele ano, também o governador do<br />
Estado, Raymundo Padilha, atribuiu à <strong>Universida<strong>de</strong></strong> um auxílio especial <strong>de</strong> Cr$<br />
1.000.000,00 88 (INFORMATIVO UCP, julho, 1973, p. 1). Em 1975, o novo ministro da<br />
Educação e Cultura, Ney Braga, com o diretor do <strong>DE</strong>D, Osny Vasconcellos, conce<strong>de</strong>u uma<br />
verba também <strong>de</strong> Cr$ 1.000.000,00 89 , para a conclusão do Ginásio coberto. As obras<br />
prosseguiram até março <strong>de</strong> 1976, quando o reitor reuniu a imprensa <strong>de</strong> Petrópolis para<br />
apresentar o Centro <strong>de</strong> Educação Física, que logo iniciou a funcionar (INFORMATIVO UCP,<br />
março, 1976, p. 8).<br />
Juntamente à expansão do espaço físico, a <strong>Universida<strong>de</strong></strong> continuou a criação <strong>de</strong> novos<br />
cursos e novos órgãos suplementares. Em 3 <strong>de</strong> julho <strong>de</strong> 1973, o Conselho Universitário<br />
aprovou a criação do Curso <strong>de</strong> Licenciatura em Estudos Sociais 90 , para aten<strong>de</strong>r às novas<br />
<strong>de</strong>mandas relacionadas à reforma do ensino fundamental. Aten<strong>de</strong>ndo, também, aos insistentes<br />
pedidos dos alunos <strong>de</strong> diversificação dos cursos da Escola <strong>de</strong> Engenharia, foi criado, na<br />
mesma reunião <strong>de</strong> 3 <strong>de</strong> julho <strong>de</strong> 1973, o <strong>de</strong> Engenharia Civil 91 . Já no ano seguinte, em 12 <strong>de</strong><br />
outubro, começaria a funcionar o Centro Técnico <strong>de</strong> Engenharia (CETEG), instituído com<br />
Portaria n. 191/74. O objetivo do Centro era o <strong>de</strong> proporcionar aos alunos mais ensinamentos<br />
técnico-práticos, visto que o mercado <strong>de</strong> trabalho exigia maior experiência profissional dos<br />
86 Valor atualizado na moeda corrente <strong>de</strong> 1º <strong>de</strong> julho <strong>de</strong> 2008, através do IGP-DI da fundação Getúlio Vargas: R$<br />
4.798.359,26.<br />
87 Valor atualizado na moeda corrente <strong>de</strong> 1º <strong>de</strong> julho <strong>de</strong> 2008, através do IGP-DI da fundação Getúlio Vargas: R$<br />
2.132.604,12.<br />
88 Valor atualizado na moeda corrente <strong>de</strong> 1º <strong>de</strong> julho <strong>de</strong> 2008, através do IGP-DI da fundação Getúlio Vargas:<br />
R$ 2.665.755,15.<br />
89 Valor atualizado na moeda corrente <strong>de</strong> 1º <strong>de</strong> julho <strong>de</strong> 2008, através do IGP-DI da fundação Getúlio Vargas: R$<br />
1.714.755,40.<br />
90 O Curso <strong>de</strong> Estudos Sociais foi reconhecido pelo Decreto n. 79.239 <strong>de</strong> 14-12-1976.
ecém-formados. Estava sendo solicitada, também, por parte <strong>de</strong> numerosos alunos concluintes<br />
do curso médio, a abertura <strong>de</strong> um Curso <strong>de</strong> Psicologia. Para estudar sua viabilida<strong>de</strong> e<br />
conveniência, Dom Veloso pediu a colaboração do professor Hans Ludwig Lippmann, diretor<br />
da Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Educação da UCP e membro do Conselho Estadual da Educação do Estado<br />
do Rio <strong>de</strong> Janeiro, que organizara os cursos <strong>de</strong> Psicologia na PUC-Rio e na <strong>Universida<strong>de</strong></strong><br />
Santa Úrsula. O Curso seria criado somente em 1976.<br />
Ainda em 1973, no dia 13 <strong>de</strong> julho, foi inaugurado o Centro <strong>de</strong> Fonoaudiologia 92 , na<br />
Clínica <strong>de</strong> Paralisia Cerebral do doutor Pinto Duarte, em convênio com a Escola <strong>de</strong><br />
Reabilitação da UCP. Em 23 <strong>de</strong> outubro, pela Portaria 210/73, foi criado o Centro <strong>de</strong><br />
Pesquisas Turísticas (CEPETUR), para fornecer aos alunos meios e instrumentos <strong>de</strong> pesquisa<br />
nessa área, promover convênios com empresas, universida<strong>de</strong>s e associações, organizar<br />
conferências e palestras. Estreitaram-se, também, as ligações entre a UCP e a <strong>Universida<strong>de</strong></strong><br />
Autônoma <strong>de</strong> Guadalajara. Por ocasião da Assembléia Universitária <strong>de</strong> abertura do ano letivo<br />
<strong>de</strong> 1973, o reitor da <strong>Universida<strong>de</strong></strong> Autônoma <strong>de</strong> Guadalajara, professor Luis Garibay<br />
Gutierrez, recebera pela UCP o título <strong>de</strong> Doutor honoris causa, como reconhecimento <strong>de</strong> sua<br />
cooperação. A 26 <strong>de</strong> julho do mesmo ano, a <strong>Universida<strong>de</strong></strong> Autônoma <strong>de</strong> Guadalajara<br />
conce<strong>de</strong>u, por sua vez, a Dom Veloso o título <strong>de</strong> Doutor honoris causa (INFORMATIVO<br />
UCP, outubro 1973, p. 1). Alguns meses <strong>de</strong>pois, a 4 <strong>de</strong> setembro <strong>de</strong> 1973, Dom Veloso<br />
obteve ainda um solene reconhecimento do valor <strong>de</strong> sua obra em prol do ensino superior: o<br />
ministro Jarbas Passarinho entregou-lhe a con<strong>de</strong>coração da Or<strong>de</strong>m Nacional do Mérito<br />
Educativo, no grau <strong>de</strong> Cavaleiro.<br />
No ano <strong>de</strong> 1974, ocorrendo o 21º aniversário <strong>de</strong> fundação das Faculda<strong>de</strong>s <strong>Católica</strong>s<br />
Petropolitanas, foi inaugurado o Centro <strong>de</strong> Processamento <strong>de</strong> Dados (CPD) da UCP (ANEXO<br />
B13), cuja implantação estava sendo estudada há alguns anos 93 . Por meio <strong>de</strong> um convênio<br />
com a IBM do Brasil, foi instalado um computador mo<strong>de</strong>lo 11-30, <strong>de</strong> pequeno porte, mas<br />
a<strong>de</strong>quado às necessida<strong>de</strong>s da UCP, que servisse tanto ao controle acadêmico como à pesquisa<br />
científica, sobretudo para a Escola <strong>de</strong> Engenharia e para a Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Ciências Econômicas,<br />
Contábeis e Administrativas. A benção das instalações e do equipamento, por parte <strong>de</strong> Dom<br />
91 O Curso <strong>de</strong> Engenharia Civil foi reconhecido pelo Decreto n. 80.024 <strong>de</strong> 26-7-1977.<br />
92 O Curso <strong>de</strong> Fonoaudiologia foi reconhecido pelo Decreto n. 80.014 <strong>de</strong> 26-7-1977.<br />
93 Já em 1972, Dom Veloso assinara um convênio com os diretores do Laboratório <strong>de</strong> Técnicas Digitais<br />
(LDT/DATA MEC), Carlos Alberto Correa Salles e Luiz Guinle, para instalar um computador <strong>de</strong>stinado ao<br />
treinamento prático <strong>de</strong> pessoal técnico assim como à execução <strong>de</strong> tarefas administrativas da <strong>Universida<strong>de</strong></strong><br />
(INFORMATIVO UCP, março, 1972, p. 5).
Cintra, realizou-se a 1º <strong>de</strong> junho, estando presentes o prefeito <strong>de</strong> Petrópolis, Paulo Rattes, o<br />
comandante do Batalhão Pedro II, Milton Masselli Duarte, o representante da direção da IBM,<br />
A.A. Sabóia Lima, representantes do Conselho Superior <strong>de</strong> Administração da UCP, diretores,<br />
professores, alunos e funcionários da <strong>Universida<strong>de</strong></strong>. Naquela ocasião, Dom Veloso lembrou a<br />
fundação das Faculda<strong>de</strong>s <strong>Católica</strong>s Petropolitanas, “primeira semente <strong>de</strong> que surgiu a UCP” e<br />
afirmou que, ao ingressar numa nova etapa <strong>de</strong> existência da <strong>Universida<strong>de</strong></strong>, reconhecia a<br />
necessida<strong>de</strong> dos “recursos sofisticados da computação eletrônica”, no esforço <strong>de</strong> implantação<br />
da reforma universitária nos campos da administração, do <strong>de</strong>senvolvimento do ensino e da<br />
intensificação da pesquisa. Ele acrescentou que, <strong>de</strong>pois da gradual formação do pessoal, com<br />
a assessoria dos técnicos da IBM, conforme o convênio estipulado, o Centro <strong>de</strong><br />
Processamento <strong>de</strong> Dados serviria não somente para o suporte operacional às ativida<strong>de</strong>s<br />
acadêmicas, mas também para o serviço à comunida<strong>de</strong> petropolitana, “com características <strong>de</strong><br />
cooperação mútua”. Concluindo sua alocução, Dom Veloso agra<strong>de</strong>ceu aos colaboradores que<br />
apoiaram a montagem do centro <strong>de</strong> computação da UCP, “para servir à cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Petrópolis,<br />
no cumprimento fiel da missão própria da <strong>Universida<strong>de</strong></strong>, na comunida<strong>de</strong> em que se integra”<br />
(INFORMATIVO UCP, julho, 1974, p. 1-3).<br />
Ao crescimento institucional da UCP correspon<strong>de</strong>u uma intensificação <strong>de</strong> sua<br />
ativida<strong>de</strong> cultural. A Imprensa Universitária, já divulgadora do boletim INFORMATIVO UCP,<br />
<strong>de</strong>s<strong>de</strong> 1968, e <strong>de</strong> vários opúsculos científicos e comemorativos, publicou o número 1 da<br />
Revista da <strong>Universida<strong>de</strong></strong> <strong>Católica</strong> <strong>de</strong> Petrópolis, organizada pelo CPJPF, sob a<br />
responsabilida<strong>de</strong> dos professores Gleno <strong>de</strong> Paiva e Edson Lobo.<br />
Um outro fruto do intercâmbio cultural estabelecido com a <strong>Universida<strong>de</strong></strong> Autônoma <strong>de</strong><br />
Guadalajara foi a instituição do Centro <strong>de</strong> Estudos Mexicano-Brasileiros, que a UCP instalou<br />
no dia 23 <strong>de</strong> maio <strong>de</strong> 1975, por ocasião da visita a Petrópolis do embaixador do México no<br />
Brasil, Victor Alfonso Maldonado e do reitor da <strong>Universida<strong>de</strong></strong> Autônoma <strong>de</strong> Guadalajara,<br />
Luis Garibay Gutierrez. Naquela ocasião, o doutor Garibay Gutierrez também foi agraciado<br />
com a Medalha Koeler, no grau <strong>de</strong> mérito (INFORMATIVO UCP, junho 1975, p. 5).<br />
Além <strong>de</strong>sses acontecimentos, realizou-se a 2ª Semana Internacional <strong>de</strong> Filosofia, <strong>de</strong> 14<br />
a 20 <strong>de</strong> julho, inaugurada pelo ministro da Educação e Cultura, Ney Braga. De 27 <strong>de</strong> setembro<br />
a 2 <strong>de</strong> outubro, a UCP hospedou o 10º Congresso da Fe<strong>de</strong>ração <strong>de</strong> Estudantes Universitários<br />
Católicos da América Latina (FEUCAL), com a participação das <strong>de</strong>legações universitárias da<br />
Argentina, Bolívia, Brasil, Chile, Equador e Paraguai. Foram tratados os temas da natureza e<br />
da missão da UC e o papel do universitário católico na América Latina daqueles anos
(INFORMATIVO UCP, novembro, 1975, p. 6). Sobre a missão da UC, falou também o papa<br />
Paulo VI a Dom Veloso, na audiência <strong>de</strong> 4 <strong>de</strong> outubro do mesmo ano. O pontífice<br />
congratulou-se com o reitor pelo <strong>de</strong>senvolvimento da UCP e afirmou textualmente:<br />
Deveis ter orgulho <strong>de</strong> ser brasileiros. Este progresso econômico e social<br />
incontrastável exige uma formação sólida – intelectual e moral – das novas<br />
gerações. E aqui está a gran<strong>de</strong> missão da universida<strong>de</strong> católica: preparar os<br />
jovens para enfrentar, com entusiasmo e coragem, serieda<strong>de</strong> e acerto, os<br />
ingentes problemas do progresso e do <strong>de</strong>senvolvimento, do <strong>de</strong>sbravamento<br />
das regiões inexploradas do imenso território nacional e do êxodo dos<br />
campos para a cida<strong>de</strong>. Um <strong>de</strong>senvolvimento extraordinário como o do Brasil<br />
só se obtém num clima <strong>de</strong> segurança e <strong>de</strong> estabilida<strong>de</strong> social, que, entretanto,<br />
não po<strong>de</strong> <strong>de</strong>generar em imobilismo. Daí que a universida<strong>de</strong> católica <strong>de</strong>ve<br />
preparar os jovens para a construção <strong>de</strong> um <strong>de</strong>senvolvimento global –<br />
econômico, social e político – na fi<strong>de</strong>lida<strong>de</strong> (que jamais <strong>de</strong>ve esmorecer) aos<br />
princípios da doutrina cristã. (INFORMATIVO UCP, outubro, 1975, p. 1).<br />
Graças aos freqüentes contatos com a Sé Romana, a UCP não <strong>de</strong>ixou <strong>de</strong> salvaguardar<br />
a ortodoxia da doutrina católica na sua atuação universitária, mesmo com a difusão da<br />
Teologia da Libertação, que teve em Petrópolis um <strong>de</strong> seus núcleos principais.<br />
Retomando a idéia <strong>de</strong> criar uma cida<strong>de</strong> universitária, em junho <strong>de</strong> 1976, foi adquirida<br />
uma área <strong>de</strong> 137.628 metros quadrados <strong>de</strong> terreno, à Rua Luís Winter, próxima à Estrada do<br />
Contorno e ao Centro <strong>de</strong> Educação Física (INFORMATIVO UCP, junho 1976, p. 1). A<br />
construção <strong>de</strong> um campus suburbano correspondia também às exigências da reforma<br />
universitária. Concentrando a maioria dos edifícios em pouco espaço, para centralizar os<br />
serviços comuns, com fácil e rápido acesso, a nova estrutura aten<strong>de</strong>ria ainda às condições<br />
metereológicas <strong>de</strong> Petrópolis. Durante todo o ano <strong>de</strong> 1977, <strong>de</strong>senvolveram-se estudos para o<br />
projeto do novo campus, suficiente para uma expansão <strong>de</strong> até 15.000 alunos, po<strong>de</strong>ndo contar<br />
com a ajuda da <strong>Universida<strong>de</strong></strong> Autônoma <strong>de</strong> Guadalajara e do Centro Regional <strong>de</strong><br />
Construcciones Escolares para America Latina y el Caribe (CONESCAL), que já assessorava<br />
várias instituições no Brasil (MEC, Secretaria <strong>de</strong> Educação do Estado <strong>de</strong> São Paulo,<br />
<strong>Universida<strong>de</strong></strong> Fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong> Minas Gerais etc). Porém, as dificulda<strong>de</strong>s topográficas tornaram o<br />
projeto impraticável. O terreno apresentava um fundo montanhoso, coberto <strong>de</strong> matas, e<br />
calculava-se que somente 40.000 metros quadrados fossem aproveitáveis para as edificações.<br />
Portanto, no final da década <strong>de</strong> 1970, como afirmou a professora Maria da Glória Rangel
Sampaio Fernan<strong>de</strong>s 94 , a idéia <strong>de</strong> uma cida<strong>de</strong> universitária foi abandonada e o terreno foi<br />
vendido à empresa Sola Brasil.<br />
No entanto foi agravando-se a crise financeira. Com a volta do processo inflacionário,<br />
a partir <strong>de</strong> 1976, as anuida<strong>de</strong>s escolares, fonte primária <strong>de</strong> recursos para a <strong>Universida<strong>de</strong></strong>,<br />
foram anualmente reajustadas pelo Conselho Fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong> Educação alguns pontos abaixo do<br />
aumento do custo da vida, mal dando para as <strong>de</strong>spesas <strong>de</strong> pessoal. Também o auxílio<br />
governamental minguou progressivamente no balanço da UCP: a proporção entre o auxílio<br />
financeiro do MEC e a receita <strong>de</strong> anuida<strong>de</strong>s, que chegara a ser <strong>de</strong> 30 para 100, na década<br />
anterior, em 1975 reduziu-se a 8,61% e, em 1978, a 4,8%. A gravida<strong>de</strong> da situação era sentida<br />
por todas as universida<strong>de</strong>s do País, inclusive as públicas, mas o problema era mais angustiante<br />
para as particulares. Em favor <strong>de</strong>stas, por meio do CRUB, foi pleiteado um melhoramento no<br />
apóio governamental, com base no artigo 176 da Constituição Fe<strong>de</strong>ral (INFORMATIVO<br />
UCP, março, 1979, p. 6-7).<br />
Todavia, o crescimento da UCP continuou com a criação <strong>de</strong> outros cursos e órgãos<br />
suplementares. Em 1976, foi instituído o Curso <strong>de</strong> Psicologia 95 (Resolução CONSUN 1/76) e<br />
criou-se o Centro Interdisciplinar para o Desenvolvimento da Personalida<strong>de</strong> (CI<strong>DE</strong>PE)<br />
(Resolução CONSUN 7/76). O Centro, sediado no prédio que serviu à Casa do Estudante 96 ,<br />
na Avenida Presi<strong>de</strong>nte Kennedy, funcionou como central <strong>de</strong> estágio dos cursos <strong>de</strong><br />
Fisioterapia, <strong>de</strong> Psicologia e <strong>de</strong> Fonoaudiologia, prestando também serviço à comunida<strong>de</strong>,<br />
com um gran<strong>de</strong> número <strong>de</strong> atendimentos mensais. As ativida<strong>de</strong>s do CI<strong>DE</strong>PE eram<br />
<strong>de</strong>senvolvidas sob a supervisão do diretor da Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Educação, Hans Ludwig<br />
Lippmann, e do diretor da Escola <strong>de</strong> Reabilitação, Giorgio Mazzantini, acompanhados pela<br />
experiência e competência profissionais <strong>de</strong> médicos e técnicos especializados<br />
(INFORMATIVO UCP, agosto, 1977, p. 1).<br />
Em 1977, o Conselho Universitário autorizou os cursos <strong>de</strong> graduação em Enfermagem<br />
(Resolução CONSUN 2/77) e <strong>de</strong> pós-graduação em Filosofia (Resolução CONSUN 7/77). O<br />
Curso <strong>de</strong> Enfermagem vinha sendo solicitado, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> 1971, especialmente pelo doutor<br />
Raimundo <strong>de</strong> Moura Britto, membro do Conselho <strong>de</strong> Patronos, que julgava uma das mais<br />
94 Entrevista concedida em 28 <strong>de</strong> julho <strong>de</strong> 2008.<br />
95 O Curso <strong>de</strong> Psicologia foi reconhecido com Portaria MEC n. 303 <strong>de</strong> 6-7-1983.<br />
96 A Casa do Estudante foi fechada naquele ano, por falta <strong>de</strong> moradores, geralmente alunos estrangeiros da<br />
América Central, que vinham para estudar em Petrópolis, graças a convênios <strong>de</strong> intercâmbio com outras<br />
universida<strong>de</strong>s. Existia também uma Casa da Estudante, no Alto da Serra, administrada por irmãs, que continuou<br />
funcionando até os anos <strong>de</strong> 1980.
urgentes necessida<strong>de</strong>s do País aten<strong>de</strong>r a formação <strong>de</strong> enfermeiros e enfermeiras <strong>de</strong> nível<br />
superior, em consi<strong>de</strong>ração <strong>de</strong> sua experiência na direção <strong>de</strong> gran<strong>de</strong>s hospitais e como ministro<br />
da Saú<strong>de</strong>. O Curso <strong>de</strong> pós-graduação em Filosofia, nos primeiros anos, oferecia duas áreas <strong>de</strong><br />
concentração: Filosofia da Religião e Filosofia da Educação. Segundo o testemunho do<br />
professor Helmuth Krüger 97 , que passou a integrar o corpo docente na área <strong>de</strong> Filosofia da<br />
Educação em 1978, a primeira <strong>de</strong>las, em face da falta <strong>de</strong> candidatos, foi substituída pela área<br />
<strong>de</strong> Tecnologia educacional. Ao assim proce<strong>de</strong>r, segundo o professor Helmuth Krüger, autor<br />
da sugestão <strong>de</strong> mudança, “se levou em conta a tradição da <strong>Universida<strong>de</strong></strong> e, em particular, o<br />
prestígio da Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Educação daquela época, bem como a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> se<br />
estabelecer um intercâmbio teórico e profissional produtivo entre a Filosofia e a Educação”.<br />
Em 1978, a UCP estabeleceu com a <strong>Universida<strong>de</strong></strong> <strong>de</strong> Tucson (Arizona, Estados<br />
Unidos) um acordo <strong>de</strong> cooperação e <strong>de</strong> intercâmbio para professores e alunos, oferecendo, em<br />
particular cursos <strong>de</strong> pós-graduação em Inglês, Literatura Norte-Americana, Administração <strong>de</strong><br />
Empresas e Jornalismo. Cada <strong>Universida<strong>de</strong></strong> enviaria à outra as publicações <strong>de</strong> sua imprensa<br />
universitária, assim como livros e periódicos publicados por seus institutos (INFORMATIVO<br />
UCP, fevereiro, 1978, p. 2).<br />
No mesmo ano, finalmente completaram-se as obras no conjunto da Rua Barão <strong>de</strong><br />
Amazonas (BA), com o apóio financeiro do MEC, por meio do Programa <strong>de</strong> Expansão e<br />
Melhoria das Instalações do Ensino Superior (PREMESU), que ce<strong>de</strong>u à <strong>Universida<strong>de</strong></strong> algum<br />
equipamento proveniente do Leste Europeu. Também foi completada a reforma interna do<br />
prédio mais antigo do conjunto 98 da Rua Benjamin Constant (BC), iniciada em 1975, que fora<br />
residência <strong>de</strong> um diplomata do Uruguai, Andrés Llamas e, sucessivamente, do Viscon<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />
97 Entrevista concedida em 5 <strong>de</strong> março <strong>de</strong> 2008.<br />
98 Segundo a reconstrução histórica, realizada pela bibliotecária da UCP, Maria das Neves Krüger, em 1993, o<br />
prédio da reitoria, construído em 1846, sobre uma pequena elevação, è o mais antigo do conjunto <strong>de</strong> edifícios,<br />
que pertenceram ao Colégio Sion. Do ponto <strong>de</strong> vista arquitetônico, o prédio, <strong>de</strong> linhas clássicas, reflete a<br />
influência do estilo colonial português, utilizado, sobretudo, nos sobrados e nas fazendas do período colonial no<br />
Brasil. Em 1863, o casarão foi vendido para Joaquim Ribeiro Avelar, barão <strong>de</strong> Ubá, mais tar<strong>de</strong>, Viscon<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />
Ubá. Membro da aristocracia rural, na Província do Rio <strong>de</strong> Janeiro, o Viscon<strong>de</strong> <strong>de</strong> Ubá era tenente-coronel da<br />
Guarda Nacional, oficial da Imperial Or<strong>de</strong>m da Rosa e Fidalgo Cavaleiro da Casa Imperial. A aproximação do<br />
Viscon<strong>de</strong> <strong>de</strong> Ubá com a família imperial foi tal que o palacete foi cedido à Princesa Isabel (15 <strong>de</strong> outubro <strong>de</strong><br />
1864) e ao Con<strong>de</strong> D’Eu, para ali passarem sua lua <strong>de</strong> mel. Em 1888, o Imperador Pedro II, adoentado, veio nele<br />
<strong>de</strong>scansar, antes <strong>de</strong> viajar para Europa. No palacete, até o final do Segundo Império, promoveu-se intensa vida<br />
social e política. Após a queda da monarquia e o falecimento do Viscon<strong>de</strong> <strong>de</strong> Ubá, o palacete foi <strong>de</strong>ixado por<br />
herança a uma <strong>de</strong> suas filhas. O marido da her<strong>de</strong>ira, o Dr. Francisco <strong>de</strong> Carvalho Figueira e Mello, ven<strong>de</strong>u o<br />
imóvel à Congregação das Religiosas <strong>de</strong> Nossa Senhora do Sion, em 20 <strong>de</strong> abril <strong>de</strong> 1903. Finalmente, o prédio<br />
foi adquirido pela UCP, em 1969, após a <strong>de</strong>sativação do Colégio Sion. Foi tombado pelo Patrimônio Histórico<br />
Artístico Nacional, em 1981.
Ubá, antes <strong>de</strong> ser adquirido pela Congregação das Religiosas <strong>de</strong> Nossa Senhora do Sion. No<br />
prédio restaurado foram instaladas a reitoria e a administração central da <strong>Universida<strong>de</strong></strong>.<br />
No dia 31 <strong>de</strong> maio <strong>de</strong> 1978, a UCP comemorou os 25 anos <strong>de</strong> fundação das<br />
Faculda<strong>de</strong>s <strong>Católica</strong>s Petropolitanas, com a instituição da Medalha <strong>de</strong> ouro do Mérito<br />
Universitário, para o fundador e os cinco membros co-fundadores, que com ele assinaram a<br />
ata <strong>de</strong> constituição das Faculda<strong>de</strong>s. Ao lado dos fundadores, foram homenageados igualmente<br />
com a Medalha <strong>de</strong> ouro o reitor da PUC-Rio, padre Pedro Belisário Velloso Rebello, o<br />
empresário Guilherme Guinle e a professora Nair Fortes Abu-Merhy, pelo apoio <strong>de</strong>terminante<br />
que eles <strong>de</strong>ram nos momentos cruciais da história da UCP. Outras 28 medalhas <strong>de</strong> bronze<br />
foram concedidas a professores e funcionários que se distinguiram pela <strong>de</strong>dicação à<br />
<strong>Universida<strong>de</strong></strong>, como o professor Décio José <strong>de</strong> Carvalho Werneck e o funcionário Reynaldo<br />
da Silva Pinto (INFORMATIVO UCP, junho, 1978, p. 4-5). Em seu breve relatório do ano<br />
letivo <strong>de</strong> 1978, Dom Veloso lembrando a instalação da primeira Faculda<strong>de</strong>, a <strong>de</strong> Direito,<br />
afirmou:<br />
Do prédio cedido por empréstimos em 1954 às instalações próprias <strong>de</strong> hoje,<br />
muito se conseguiu. Os 100 pioneiros da primeira Faculda<strong>de</strong> (entre alunos,<br />
professores e funcionários) cresceram a cerca <strong>de</strong> 6000 ucepeanos <strong>de</strong> hoje,<br />
[...] número que caracteriza uma universida<strong>de</strong> <strong>de</strong> pequeno porte para uma<br />
gran<strong>de</strong> cida<strong>de</strong>, mas bastante significativo num município <strong>de</strong> apenas 200.000<br />
habitantes. E as bênçãos <strong>de</strong> Deus, que nos guiaram e protegeram da pequena<br />
semente do Retiro à realida<strong>de</strong> <strong>de</strong> nossos dias, há <strong>de</strong> nos fazer superar e<br />
vencer as dificulda<strong>de</strong>s <strong>de</strong> hoje e nos conduzir a um futuro <strong>de</strong> sempre mais e<br />
melhor serviço à juventu<strong>de</strong> <strong>de</strong> nossa pátria (INFORMATIVO UCP,<br />
março, 1979, p. 7).<br />
No final <strong>de</strong> 1978, Dom Cintra, na qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> grão chanceler, reconduziu Dom<br />
Veloso no cargo <strong>de</strong> reitor da UCP, por mais quatro anos.<br />
Visando incrementar os cursos <strong>de</strong> pós-graduação, em fevereiro <strong>de</strong> 1979, dom Veloso<br />
entrou em entendimentos com dirigentes e professores da <strong>Universida<strong>de</strong></strong> Autônoma <strong>de</strong><br />
Guadalajara para a instalação, na UCP, <strong>de</strong> um Curso <strong>de</strong> Mestrado em Educação, estruturado<br />
como o que ali estavam cursando os professores Maria da Glória Rangel Sampaio Fernan<strong>de</strong>s,<br />
Fernando Henrique Carvalho e Edson Paulo Lobo, no âmbito do citado convênio <strong>de</strong><br />
cooperação entre as duas universida<strong>de</strong>s. O Curso, com duração <strong>de</strong> cinco semestres, previa<br />
uma cooperação inicial <strong>de</strong> 13 professores daquela <strong>Universida<strong>de</strong></strong> mais quatro da <strong>Universida<strong>de</strong></strong><br />
<strong>de</strong> Houston e <strong>de</strong>stinava-se não apenas aos licenciados <strong>de</strong> Pedagogia, mas também aos chefes<br />
<strong>de</strong> <strong>de</strong>partamentos <strong>de</strong> ensino e <strong>de</strong> administração universitária, com o objetivo <strong>de</strong> proporcionar
para todos os setores da <strong>Universida<strong>de</strong></strong> uma visão dos mais recentes recursos didáticos e<br />
administrativos do ensino superior (INFORMATIVO UCP, março, 1979, p. 1).<br />
Enquanto criavam-se novos cursos, outros se tornavam pouco procurados. Portanto,<br />
em 1979, não foi aberto o concurso vestibular para Matemática e Filosofia e, em 1980, não foi<br />
oferecida matrícula aos candidatos do Curso <strong>de</strong> Turismo, cujo número reduziu-se fortemente,<br />
também por falta <strong>de</strong> regulamentação da profissão para os bacharéis em Turismo.<br />
A crise financeira que afetava principalmente as universida<strong>de</strong>s particulares, já exposta<br />
ao ministro da Educação, em 1978, por meio do CRUB, foi apresentada em um memorial que<br />
os reitores das UCs entregaram pessoalmente ao presi<strong>de</strong>nte da República, em setembro <strong>de</strong><br />
1979. O MEC elaborou um Programa <strong>de</strong> Amparo Financeiro para as IES Particulares<br />
(PRAPES), que, porém, não solucionou o problema. Além disso, a natureza filantrópica da<br />
UCP impunha a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> subsidiar alunos e projetos <strong>de</strong>stinados às classes mais<br />
<strong>de</strong>sfavorecidas. Se, por um lado, o espírito cristão <strong>de</strong> serviço aos outros para a promoção da<br />
justiça social revestia-se <strong>de</strong> particular importância em uma instituição católica, por outro os<br />
recursos econômicos limitados tornavam-se um obstáculo também ao <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong>sse<br />
aspecto, ligado à função educativa da UCP. No entanto, foi o caráter filantrópico que<br />
proporcionou à <strong>Universida<strong>de</strong></strong> a sua maior integração com a comunida<strong>de</strong> petropolitana.<br />
5.3 A DIMENSÃO FILANTRÓPICA E A INTEGRAÇÃO COM A COMUNIDA<strong>DE</strong><br />
A dimensão filantrópica foi uma característica própria da UCP, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> seus primórdios.<br />
Por força dos estatutos (art. 56, III-IV), a <strong>Universida<strong>de</strong></strong> aplicava todos os seus recursos, tanto<br />
a receita própria, como as subvenções e doações, no <strong>de</strong>senvolvimento dos cursos, na expansão<br />
da própria <strong>Universida<strong>de</strong></strong>, em bolsas <strong>de</strong> estudos e na assistência aos estudantes. Para estes fins,<br />
eventuais saldos financeiros <strong>de</strong> cada exercício resultavam automaticamente incorporados a<br />
seu patrimônio. A UCP promovia também o aperfeiçoamento cultural <strong>de</strong> seus funcionários,<br />
fornecendo o ensino <strong>de</strong> 1º grau aos empregados, que eventualmente <strong>de</strong>le necessitassem.<br />
Sucessivamente, por iniciativa <strong>de</strong> Dom Veloso, aos funcionários foi oferecida gratuitamente a<br />
matrícula para seus filhos, no Colégio <strong>de</strong> Aplicação, e a oportunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> aprimorarem-se em<br />
cursos universitários (UCP, JUBILEU EPISCOPAL DO GRÃO CHANCELER, p. 35). Além<br />
disso, os cargos <strong>de</strong> direção da UCP, tanto do Conselho Superior <strong>de</strong> Administração quanto do<br />
Conselho Universitário, não eram remunerados, “nem seus titulares usufruíam vantagens ou
enefícios sob qualquer pretexto” (Of. GR 302/73).<br />
Reconhecendo uma situação pública e notória, o Conselho Nacional <strong>de</strong> Serviço<br />
Social, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> setembro <strong>de</strong> 1967, atribuiu à <strong>Universida<strong>de</strong></strong> o certificado <strong>de</strong> Entida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Fins<br />
Filantrópicos, válido por dois anos, com possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> ser renovado mediante comprovação<br />
oficial <strong>de</strong> “Utilida<strong>de</strong> Pública” (Of. GR 54/73). Esse reconhecimento se <strong>de</strong>u pelo Decreto<br />
Fe<strong>de</strong>ral n. 68.444, <strong>de</strong> 30 <strong>de</strong> março <strong>de</strong> 1971, publicado no Diário Oficial <strong>de</strong> 31 <strong>de</strong> março <strong>de</strong><br />
1971 (Of. GR 209/71).<br />
A cooperação entre universida<strong>de</strong> e comunida<strong>de</strong> acompanhou a UCP na sua trajetória<br />
institucional, proporcionando à comunida<strong>de</strong> uma série <strong>de</strong> vantagens sociais e econômicas. Em<br />
sintonia com as diretrizes do Concílio Vaticano II, a <strong>Universida<strong>de</strong></strong> percebia como tarefa<br />
própria não somente a formação <strong>de</strong> profissionais, com conhecimentos e competências<br />
a<strong>de</strong>quadas ao <strong>de</strong>senvolvimento econômico e social do País, mas também a experimentação <strong>de</strong><br />
metodologias <strong>de</strong> ensino-aprendizagem, com as quais os estudantes servissem à socieda<strong>de</strong><br />
mesmo durante o percurso <strong>de</strong> estudos. Entre as finalida<strong>de</strong>s da UCP, o estatuto <strong>de</strong> 1970<br />
indicava expressamente a “extensão à comunida<strong>de</strong>, sob forma <strong>de</strong> cursos e serviços, das<br />
ativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> ensino e pesquisa” (art. 3-VI). Portanto, especialmente a partir da década <strong>de</strong><br />
1970, foi dada maior importância aos cursos <strong>de</strong> extensão universitária, para ampliar o alcance<br />
das ativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> ensino da UCP, juntamente ao atendimento às necessida<strong>de</strong>s da socieda<strong>de</strong><br />
petropolitana.<br />
Em 1970, iniciaram-se novos cursos <strong>de</strong> extensão, <strong>de</strong> caráter permanente: o Curso <strong>de</strong><br />
Elementos <strong>de</strong> Pesquisa Histórica, em convênio com o Museu Imperial; o Curso <strong>de</strong><br />
Computadores; o Centro <strong>de</strong> Estudos <strong>de</strong> História Fluminense, em convênio com o Museu<br />
Imperial, o Instituto Histórico <strong>de</strong> Petrópolis e a Secretaria <strong>de</strong> Educação do Município (Of. GR<br />
136/69). Com o objetivo <strong>de</strong> estimular o intercâmbio social e cultural e para melhor aten<strong>de</strong>r à<br />
expansão universitária, foi criada a Assessoria <strong>de</strong> Relações Públicas (Portaria 10/70), que<br />
funcionava junto à reitoria, divulgando as realizações culturais e os fatos da vida universitária.<br />
No que se refere ao ambiente interno da UCP, esse novo órgão visava a promover o bom<br />
entendimento dos corpos docente, discente e administrativo, difundindo notícias e dados <strong>de</strong><br />
interesse geral. O Conselho Universitário criou também a Diretoria para Cursos <strong>de</strong><br />
Especialização e Aperfeiçoamento (Resolução 20/70), diretamente vinculada à reitoria, a fim<br />
<strong>de</strong> promover cursos <strong>de</strong> especialização e aperfeiçoamento e convidar professores,<br />
conferencistas e especialistas nos diversos campos <strong>de</strong> conhecimento, para ministrarem os<br />
cursos programados. Foi nomeado como diretor o professor Demosthenes Madureira <strong>de</strong>
Pinho, mestre <strong>de</strong> Direito e membro do Conselho <strong>de</strong> Patronos (INFORMATIVO UCP,<br />
setembro, 1970, p. 3).<br />
O tema da integração universida<strong>de</strong>-comunida<strong>de</strong> foi objeto da aula inaugural do ano<br />
letivo <strong>de</strong> 1973, proferida pelo reitor da <strong>Universida<strong>de</strong></strong> Autônoma <strong>de</strong> Guadalajara, Luis Garibay<br />
Gutierrez, perante um auditório composto <strong>de</strong> diretores, professores e representantes dos<br />
empresários <strong>de</strong> Petrópolis. O conferencista, discursando sobre a “Responsabilidad social <strong>de</strong> la<br />
Universidad en su contexto historico-geografico”, explicou como ele conseguiu em<br />
Guadalajara essa integração e as vantagens mútuas que <strong>de</strong>la <strong>de</strong>correram (INFORMATIVO<br />
UCP, abril, 1973, p. 1). Alguns anos mais tar<strong>de</strong>, o mesmo reitor Luis Garibay Gutierrez<br />
aprofundou o tema, durante a 3ª Reunião <strong>de</strong> CAMESA 99 , realizada na UCP <strong>de</strong> 25 a 28 <strong>de</strong><br />
fevereiro <strong>de</strong> 1980. Na sua apreciação sobre o papel da educação superior no crescimento<br />
social, o reitor explicou que a prestação <strong>de</strong> serviços proporcionava, indiretamente, melhor<br />
relacionamento com a comunida<strong>de</strong>, elevando a imagem da universida<strong>de</strong>, que adquiria crédito<br />
e confiança junto à socieda<strong>de</strong>. Por um lado, a universida<strong>de</strong> <strong>de</strong>volvia em serviços à socieda<strong>de</strong><br />
os recursos recebidos pelo po<strong>de</strong>r público, pois <strong>de</strong>ssa forma, as subvenções do governo<br />
convertiam-se, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> logo, em benefício para a coletivida<strong>de</strong>. Por outro lado, não seria possível<br />
alcançar tais serviços <strong>de</strong> utilida<strong>de</strong> pública sem a colaboração do pessoal universitário. Por sua<br />
vez, a <strong>Universida<strong>de</strong></strong> proporcionava um excepcional campo <strong>de</strong> prática, que permitia um<br />
processo <strong>de</strong> ensino-aprendizagem <strong>de</strong> alto valor acadêmico, pondo os estudantes em contato<br />
com a realida<strong>de</strong> do País. O doutor Luis Garibay Gutierrez passou, <strong>de</strong>pois, a ilustrar as<br />
características dos programas <strong>de</strong> “Educación en la comunidad”, realizados pela <strong>Universida<strong>de</strong></strong><br />
Autônoma <strong>de</strong> Guadalajara, que estavam inseridos nos diferentes currículos e no sistema <strong>de</strong><br />
créditos acadêmicos com o mesmo rigor das outras disciplinas, sendo obrigatórios para todos<br />
os estudantes (UCP, REVISTA DA UNIVERSIDA<strong>DE</strong> CATÓLICA <strong>DE</strong> PETRÓPOLIS,<br />
julho, 1980, n. 4, p. 87-105).<br />
Ainda que com modalida<strong>de</strong>s próprias, a UCP movia-se na ótica <strong>de</strong>scrita pelo doutor<br />
Luis Garibay Gutierrez, associando ao ensino teórico-prático o serviço à comunida<strong>de</strong>. O<br />
CPJPF, da Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Direito, instalou um serviço <strong>de</strong> assistência jurídica gratuita (civil,<br />
trabalhista e penal) para aten<strong>de</strong>r a pessoas carentes <strong>de</strong> recursos. Os alunos do 3º, 4º e 5º ano<br />
99 O Centro Ajijic para a Melhoria do Ensino Superior na América (CAMESA) nasceu em Ajijic, no México,<br />
como Centro <strong>de</strong> Extensão e Convenções da <strong>Universida<strong>de</strong></strong> Autônoma <strong>de</strong> Guadalajara, sob a presidência do reitor<br />
Luis Garibay Gutierrez. Finalida<strong>de</strong> do CAMESA, que congregava um grupo seleto <strong>de</strong> universida<strong>de</strong>s e<br />
instituições voltadas para o ensino superior, era a troca <strong>de</strong> experiências, informações e apoio mútuo, em relação<br />
ao progresso do ensino, sua melhor qualificação e orientação em benefício dos valores humanos.
da Faculda<strong>de</strong> realizavam o trabalho sob a orientação <strong>de</strong> vários professores, realizando<br />
consultas e comparecendo às audiências, por eles acompanhados. O CI<strong>DE</strong>PE atendia aos<br />
membros da comunida<strong>de</strong> mediante remuneração variável ou gratuitamente, conforme a faixa<br />
<strong>de</strong> carência do cliente. Os setores mais procurados eram os <strong>de</strong> psicologia, <strong>de</strong> fonoaudiologia,<br />
<strong>de</strong> fisioterapia, <strong>de</strong> musicoterapia e <strong>de</strong> psicopedagogia. A partir <strong>de</strong> 1979, por convênio com as<br />
Secretarias <strong>de</strong> Educação do Estado e do Município, o CI<strong>DE</strong>PE passou a oferecer diversos<br />
serviços gratuitos a alunos carentes das escolas estaduais e municipais.<br />
Ao lado das ativida<strong>de</strong>s institucionais, existiam também iniciativas livres dos<br />
estudantes. Em 1970, foi criada uma associação estudantil, <strong>de</strong>nominada Movimento<br />
Universitário Cristão Educacional (MUCE), para fornecer instrução, orientação moral,<br />
religiosa e cívica e, talvez, assistência médica a pessoas <strong>de</strong>samparadas. Para os menores,<br />
oferecia orientação profissional, conseguindo-lhes colocação em setor <strong>de</strong> aprendizagem<br />
especializada (INFORMATIVO UCP, setembro, 1970, p. 8).<br />
Em abril <strong>de</strong> 1973, no âmbito das ativida<strong>de</strong>s do CEUP, um mini-Projeto Rondon levou<br />
veteranos e calouros a fazerem um levantamento das condições sócio-econômicas dos<br />
moradores <strong>de</strong> uma favela junto ao vazadouro <strong>de</strong> lixo da cida<strong>de</strong> e <strong>de</strong> um conjunto resi<strong>de</strong>ncial<br />
das proximida<strong>de</strong>s. O escopo do trabalho <strong>de</strong>senvolvido foi a preparação <strong>de</strong> um plano<br />
assistencial que incluía: assistência médica, construção <strong>de</strong> fossas, abastecimento <strong>de</strong> água,<br />
recuperação <strong>de</strong> barracos, alfabetização <strong>de</strong> crianças e adultos (INFORMATIVO UCP, abril,<br />
1973, p. 8). Em junho, alguns universitários reconstruíram uma pequena casa <strong>de</strong> tijolos para<br />
uma família que per<strong>de</strong>ra seu barraco, <strong>de</strong>struído por um incêndio, no morro do Alemão<br />
(localida<strong>de</strong> Retiro), com o dinheiro recolhido entre colegas e professores e com o auxílio,<br />
inclusive, <strong>de</strong> operários das obras da UCP (INFORMATIVO UCP, julho, 1973, p. 6). Nessa<br />
ótica, em 1980, o CETEG inaugurou o Programa <strong>de</strong> Assistência técnica ao Irmão Carente<br />
(PATIC), com o objetivo <strong>de</strong> cooperar gratuitamente para a construção <strong>de</strong> habitações<br />
populares. O atendimento era feito por alunos da Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Engenharia, sob a supervisão<br />
<strong>de</strong> professores, e incluia medição <strong>de</strong> terreno, projeto, cálculo, orientações na escolha <strong>de</strong><br />
material, no cumprimento das posturas municipais, na obtenção <strong>de</strong> financiamento e o<br />
acompanhamento técnico da construção. O programa obteve apoio da Secretaria <strong>de</strong> Obras da<br />
Prefeitura Municipal e da Caixa Econômica Fe<strong>de</strong>ral (INFORMATIVO UCP, março, 1980, p.<br />
2-3). Em 1981, no âmbito do PATIC, o CETEG aten<strong>de</strong>u aos apelos <strong>de</strong> uma comunida<strong>de</strong> do<br />
Meio da Serra da Estrela, formada por famílias <strong>de</strong> ex-operários <strong>de</strong> uma indústria que encerrara<br />
suas ativida<strong>de</strong>s, e que estava com sérios problemas <strong>de</strong> saneamento básico, agravados por um
surto <strong>de</strong> doenças infecto-contagiosas. Professores e universitários do PATIC e do CETEG<br />
realizaram projetos para a captação e construção <strong>de</strong> um reservatório <strong>de</strong> tratamento da água<br />
distribuída às casas e <strong>de</strong> substituição da re<strong>de</strong> <strong>de</strong> tubulação. O CPJPF também <strong>de</strong>u sua ajuda,<br />
orientando a formação <strong>de</strong> uma associação <strong>de</strong> moradores, com personalida<strong>de</strong> jurídica, para<br />
tratar dos interesses da comunida<strong>de</strong> (INFORMATIVO UCP, abril, 1981, p. 2).<br />
Outros serviços foram oferecidos à comunida<strong>de</strong> em convênio com várias instituições.<br />
Em 1972, a <strong>Universida<strong>de</strong></strong> e a Casa da Providência assinaram um convênio para atendimento<br />
fisioterápico e fonoaudiológico dos pacientes ali internados por parte dos alunos da Escola <strong>de</strong><br />
Reabilitação (INFORMATIVO UCP, setembro, 1972, p. 3). Em 1977, Dom Veloso, pela a<br />
UCP, e o prefeito Jamil Miguel Sabrá, pela a Prefeitura Municipal <strong>de</strong> Petrópolis, firmaram um<br />
convênio para proporcionar aos estudantes Bolsas <strong>de</strong> Trabalho, que lhes <strong>de</strong>sse direito a<br />
estagiar em diversos setores da Administração Municipal (INFORMATIVO UCP, junho,<br />
1977, p. 3). Em 1980, por meio <strong>de</strong> um convênio <strong>de</strong> duração <strong>de</strong> cinco anos com a Casa <strong>de</strong><br />
Saú<strong>de</strong> e Maternida<strong>de</strong> São Lucas, a UCP assumiu a coor<strong>de</strong>nação dos serviços <strong>de</strong> enfermagem<br />
daquele hospital, para estágio aos alunos do Curso <strong>de</strong> Enfermagem e Obstetrícia<br />
(INFORMATIVO UCP, agosto, 1980, p. 3).<br />
Um novo convênio foi realizado, em 1981, com a Associação Comercial, Industrial e<br />
Rural <strong>de</strong> Petrópolis (ACIRP), para oferecer aos estudantes estágios em empresas do<br />
Município e às empresas uma maior oportunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> seleção <strong>de</strong> pessoal. Além disso, o<br />
convênio previa a promoção <strong>de</strong> pesquisas voltadas ao aperfeiçoamento do uso <strong>de</strong> matéria<br />
prima nas ativida<strong>de</strong>s empresariais e a realização <strong>de</strong> cursos <strong>de</strong> extensão oferecidos à<br />
comunida<strong>de</strong> (INFORMATIVO UCP, novembro, 1981, p. 3). Com efeito, nos anos <strong>de</strong> 1980,<br />
cresceu a presença da iniciativa privada no ensino superior, por meio <strong>de</strong> parcerias entre<br />
universida<strong>de</strong>s e empresas privadas, que também financiavam pesquisas ligadas as suas<br />
ativida<strong>de</strong>s. Dessa forma, enquanto forneciam oportunida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> trabalho aos estudantes, essas<br />
empresas estimulavam a pesquisa na <strong>Universida<strong>de</strong></strong>, tanto com o aporte <strong>de</strong> recursos, como em<br />
termos <strong>de</strong> <strong>de</strong>safio tecnológico.<br />
Ainda em 1981, sob a forma <strong>de</strong> convênio, o SOPE ofereceu diversos serviços a várias<br />
escolas e indústrias <strong>de</strong> Petrópolis, realizando estágios <strong>de</strong> psicologia escolar e <strong>de</strong> psicologia do<br />
trabalho. No mesmo ano, iniciou suas ativida<strong>de</strong>s o Centro <strong>de</strong> Estudos Avançados em<br />
Administração e Economia (CEAAE), promovendo dois cursos <strong>de</strong> extensão<br />
(INFORMATIVO UCP, março, 1982, p. 4: Breve relatório do ano letivo <strong>de</strong> 1981).<br />
Além <strong>de</strong> uma variada gama <strong>de</strong> cursos, <strong>de</strong> conferências e <strong>de</strong> iniciativas promovidos
pelas unida<strong>de</strong>s universitárias como pelo CETEG, o CI<strong>DE</strong>PE e o CEPETUR, foram relizadas,<br />
até os anos <strong>de</strong> 1980, numerosas ativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> caráter artístico, esportivo e musical, entre as<br />
quais: o Coral Universitário, sob a regência do maestro Marco Aurélio Xavier, formado em<br />
Direito pela UCP; o Festival Universitário <strong>de</strong> Música Popular, promovido pelo DASTA; as<br />
Olimpíadas Internas; os Jogos Universitários; as Semanas Petropolitanas <strong>de</strong> cultura e turismo;<br />
as Caminhadas Universitárias, que retomavam a tradição <strong>de</strong> peregrinações estudantis,<br />
seguindo o traçado <strong>de</strong> 1720, da Real Estrada Mineira até a antiga igreja <strong>de</strong> Nossa Senhora <strong>de</strong><br />
Vila Inhomirim, na Raiz da Serra. Todas essas e outras ativida<strong>de</strong>s, que se encontram<br />
amplamente documentadas nas publicações mensais do INFORMATIVO UCP, apesar do<br />
caráter acadêmico, continham a marca da condução instituída por Dom Cintra e prosseguida<br />
por Dom Veloso.<br />
5.4 OS ANOS INICIAIS <strong>DE</strong> 1980 E A <strong>DE</strong>SPEDIDA DO PRIMEIRO GRÃO<br />
CHANCELER<br />
Em 1980, as dificulda<strong>de</strong>s financeiras chegaram ao ponto mais alto, como o próprio<br />
Dom Veloso relatou na Assembléia universitária <strong>de</strong> abertura do ano letivo <strong>de</strong> 1981, na qual<br />
ele solicitou a toda a “família ucepeana” – professores, funcionários e alunos – a<br />
“compreen<strong>de</strong>r as restrições necessárias a economizar material e <strong>de</strong>spesas”, <strong>de</strong>vendo<br />
“concentrar todos os esforços na manutenção dos cursos”, cujo custo era <strong>de</strong>fasado em relação<br />
à receita (INFORMATIVO UCP, abril, 1981, p. 4). A situação se agravou a partir da nova lei<br />
salarial, que <strong>de</strong>terminou uma “atualização” semestral da anuida<strong>de</strong>, tornando também<br />
semestral e, portanto, mais veloz o crescimento da <strong>de</strong>fasagem das anuida<strong>de</strong>s por crédito<br />
acadêmico. Embora a inflação, <strong>de</strong> janeiro a junho <strong>de</strong> 1980, tivesse gerado um aumento das<br />
contas <strong>de</strong> eletricida<strong>de</strong>, gás, correio, telefone, combustíveis, equipamentos, material <strong>de</strong><br />
construção, <strong>de</strong> expediente, <strong>de</strong> consumo, a atualização das anuida<strong>de</strong>s, para as <strong>de</strong>spesas do<br />
segundo semestre, às universida<strong>de</strong>s particulares foi imposta no índice zero (CFE, Parecer<br />
810/80), reconhecendo como aumento existente apenas o <strong>de</strong> pessoal. Para 1981, as normas<br />
legais atualizaram as anuida<strong>de</strong>s ao nível do INPC e não alguns pontos abaixo, como fizeram<br />
em 1976, todavia não corrigiram a <strong>de</strong>fasagem existente. Além disso, a proposta do PRAPES<br />
teve êxito negativo.<br />
No quadro geral da crise das universida<strong>de</strong>s particulares, a UCP tentou contrabalançar
parte da <strong>de</strong>fasagem da receita mediante a contenção <strong>de</strong> <strong>de</strong>spesas, a racionalização <strong>de</strong> serviços<br />
(por exemplo, a média <strong>de</strong> alunos por turma foi elevada para cerca <strong>de</strong> 40), o aumento <strong>de</strong><br />
doações ou <strong>de</strong> cursos <strong>de</strong> extensão. Esta “economia <strong>de</strong> guerra”, como foi <strong>de</strong>finida por Dom<br />
Veloso, não supriu, porém, o déficit das anuida<strong>de</strong>s nem a falta da ajuda governamental.<br />
Assim, a <strong>Universida<strong>de</strong></strong> solicitou várias vezes ao CFE uma correção parcial da <strong>de</strong>fasagem <strong>de</strong><br />
suas anuida<strong>de</strong>s, insistindo, ao mesmo tempo, para obter do MEC alguma melhoria em sua<br />
contribuição (INFORMATIVO UCP, outubro, 1980, p. 4-6). Apesar <strong>de</strong> todos os esforços, a<br />
UCP não retomou o <strong>de</strong>senvolvimento que manteve até 1977, em equipamentos e obras.<br />
Houve apenas uma exceção: a instalação da Rádio UCP, após mais <strong>de</strong> quatro anos <strong>de</strong> estudos<br />
e trabalhos preparatórios. No projeto original, formulado pelo diretor da Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />
Ciências Econômicas, Contábeis e Administrativas, monsenhor Manoel Pestana, e pelo diretor<br />
administrativo, Aristi<strong>de</strong>s Cerqueira Leite, a instalação <strong>de</strong> uma rádio educativa estava ligada à<br />
mo<strong>de</strong>rnização <strong>de</strong> técnicas educativas na <strong>Universida<strong>de</strong></strong> e à criação <strong>de</strong> um Curso <strong>de</strong><br />
Comunicação Social, a instalar-se simultaneamente com a estação emissora <strong>de</strong> rádio. Pela<br />
Portaria n. 330 <strong>de</strong> 5 <strong>de</strong> abril <strong>de</strong> 1978, a Divisão <strong>de</strong> Radiodifusão do Departamento Nacional<br />
<strong>de</strong> Comunicações outorgou permissão à <strong>Universida<strong>de</strong></strong> para operar serviços <strong>de</strong> radiodifusão<br />
sonora, em freqüência modulada, com fins educativos. Devendo a estação entrar no ar <strong>de</strong>ntro<br />
<strong>de</strong> dois anos, a UCP apresentou, em outubro, seus planos e orçamentos ao Ministério das<br />
Comunicações. Mas as sucessivas dificulda<strong>de</strong>s financeiras fizeram redimensionar o projeto,<br />
postergando a criação do Curso <strong>de</strong> Comunicação Social e diferindo a produção <strong>de</strong> programas<br />
educativos.<br />
A Rádio UCP foi inaugurada em maio <strong>de</strong> 1981, com a bênção <strong>de</strong> Dom Cintra, que a<br />
<strong>de</strong>finiu “como uma imensa e quase infinita expansão da <strong>Universida<strong>de</strong></strong>”. Naquela ocasião, o<br />
reitor explicou as finalida<strong>de</strong>s da Rádio UCP:<br />
A Rádio <strong>Universida<strong>de</strong></strong> <strong>Católica</strong> <strong>de</strong> Petrópolis quer ser um instrumento<br />
educativo e cultural da <strong>Universida<strong>de</strong></strong> a serviço <strong>de</strong> Petrópolis; sem qualquer<br />
conotação comercial ou <strong>de</strong> propaganda, <strong>de</strong>seja divulgar nossa cultura, a<br />
realida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Petrópolis e suas potencialida<strong>de</strong>s; apoiar as promoções culturais<br />
da Cida<strong>de</strong> Imperial, ser fulcro <strong>de</strong> extensão a toda comunida<strong>de</strong> da missão<br />
educativa da <strong>Universida<strong>de</strong></strong>; servir a toda a re<strong>de</strong> <strong>de</strong> ensino do Município em<br />
seu noticiário, e posteriormente, quando os recursos disponíveis o permitirem,<br />
com a produção <strong>de</strong> especiais programas educativos (INFORMATIVO UCP,<br />
maio, 1981, p. 3).<br />
A filosofia da programação da Rádio UCP estava inspirada na doutrina cristã <strong>de</strong>
<strong>de</strong>senvolvimento integral do homem, que associava educação e cultura.<br />
O ano <strong>de</strong> 1981 representou, em todo o Brasil, uma diminuição na procura <strong>de</strong> ensino<br />
superior, com queda acentuada nas inscrições para os concursos vestibulares, como Dom<br />
Veloso afirmou em seu relatório daquele mesmo ano letivo. Também na UCP diminuiu a<br />
procura dos cursos <strong>de</strong> licenciatura e no curso <strong>de</strong> História não houve matrículas, tanto em 1981<br />
como em 1982. A situação financeira continuou grave. Todavia a contribuição do MEC, por<br />
meio do SESu, em 1981 chegou a 1,9%, <strong>de</strong>monstrando uma tendência à melhoria<br />
(INFORMATIVO UCP, março, 1982, p. 4-5).<br />
Em 1982, <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> 16 anos, Dom Veloso solicitou exoneração do cargo <strong>de</strong> reitor,<br />
antes do término do mandato, em outubro daquele ano. Como ele mesmo explicou no<br />
comunicado da reitoria, divulgado em 26 <strong>de</strong> fevereiro, o papa João Paulo II o <strong>de</strong>signara bispo<br />
coadjutor da Diocese <strong>de</strong> Petrópolis, <strong>de</strong> que já era bispo auxiliar, e as novas obrigações<br />
impossibilitavam um atendimento continuado na reitoria da UCP. Ouvido o Conselho<br />
Superior <strong>de</strong> Administração, o grão chanceler nomeou reitor o professor Manoel Machado dos<br />
Santos, então vice-reitor (ANEXO B14). Como último ato <strong>de</strong> seu mandado, Dom Veloso leu<br />
o relatório do ano letivo <strong>de</strong> 1981, perante a Assembléia Universitária <strong>de</strong> abertura do novo ano,<br />
a 10 <strong>de</strong> março <strong>de</strong> 1982. No final, retomada brevemente a história da UCP, exprimiu, entre<br />
outras, estas consi<strong>de</strong>rações:<br />
Seria injusto não mencionar a compreensão e o apoio que sempre<br />
encontramos no Ministério <strong>de</strong> Educação e Cultura e sua Secretaria <strong>de</strong><br />
Ensino Superior. Ao Conselho Fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong> Educação <strong>de</strong>vemos um duplo<br />
exemplo e lição: o <strong>de</strong> jamais nos ter facilitado favores in<strong>de</strong>vidos e <strong>de</strong> nos ter<br />
feito justiça quando a postulamos. Aliás, se algum estandarte grandioso<br />
po<strong>de</strong> a UCP ostentar na sua pequenez material e limitados recursos é<br />
precisamente o da serieda<strong>de</strong> em seu agir, o da honestida<strong>de</strong> total em seus<br />
propósitos. [...] E em tudo o que se conseguiu, tiveram parte <strong>de</strong>cisiva o<br />
apoio do corpo docente, a compreensão do corpo discente, a colaboração<br />
fiel dos nossos funcionários; e, na cúpula da <strong>Universida<strong>de</strong></strong>, o estímulo, a<br />
orientação, a amiza<strong>de</strong> efetiva do Conselho <strong>de</strong> Patronos, do Conselho<br />
Superior <strong>de</strong> Administração e do presi<strong>de</strong>nte <strong>de</strong> ambos, o fundador da<br />
<strong>Universida<strong>de</strong></strong> e nosso grão chanceler, Dom Manoel Pedro da Cunha Cintra.<br />
Ao entregar o bastão da <strong>Universida<strong>de</strong></strong> à cultura e à gran<strong>de</strong>za moral do<br />
doutor Manoel Machado dos Santos, a quem não falta sequer a estampa <strong>de</strong><br />
herói nas cicatrizes que trouxe dos campos <strong>de</strong> batalha da FEB, estou certo<br />
<strong>de</strong> que a Providência reserva para a UCP dias <strong>de</strong> trabalho mais intenso,<br />
fecundo para a Pátria e para a Igreja (INFORMATIVO UCP, março, 1982,<br />
p. 2).<br />
Até esse momento, a <strong>Universida<strong>de</strong></strong> tinha vivenciado duas gran<strong>de</strong>s fases: a primeira,<br />
sob a gestão do doutor Arthur <strong>de</strong> Sá Earp, <strong>de</strong> 1953 a 1966, que foi o momento da implantação
das Faculda<strong>de</strong>s <strong>Católica</strong>s Petropolitanas e da transformação <strong>de</strong>las em <strong>Universida<strong>de</strong></strong>; a segunda<br />
fase, <strong>de</strong> 1966 a 1982, tendo à frente o reitor Dom José Fernan<strong>de</strong>s Veloso, na qual houve a<br />
progressiva expansão e consolidação da <strong>Universida<strong>de</strong></strong>. Ambas foram marcadas pela<br />
personalida<strong>de</strong> do grão chanceler, Dom Cintra, cuja autorida<strong>de</strong> <strong>de</strong> fundador obteve estima<br />
maior que todos os órgãos administrativos da UCP e foi reconhecida também por estatuto. A<br />
presença <strong>de</strong> sua estável orientação proporcionou à <strong>Universida<strong>de</strong></strong> uma trajetória fiel aos<br />
princípios da Igreja católica romana, que ele quis garantir escolhendo, como segundo reitor,<br />
Dom José Fernan<strong>de</strong>s Veloso, cujos percursos formativos assemelhavam aos do grão<br />
chanceler.<br />
Dom Veloso, originário também do interior <strong>de</strong> São Paulo, formara-se, como Dom<br />
Cintra, na Pontifícia <strong>Universida<strong>de</strong></strong> Gregoriana, em Roma, <strong>de</strong> 1934 a 1941, quando foi<br />
or<strong>de</strong>nado sacerdote. Em 1942, lecionou no mesmo Seminário Central do Ipiranga (SP), no<br />
qual o então monsenhor Cintra era reitor (ALVES NETO, 1996, p. 49-53). Não admira,<br />
portanto, que Dom Cintra, quando se tornou bispo diocesano <strong>de</strong> Petrópolis, o convidou para<br />
ser professor e reitor do novo Seminário Diocesano e para assumir vários cargos na UCP. A<br />
sua escolha para reitor e a concomitante sagração episcopal coroaram uma trajetória <strong>de</strong><br />
consolidada experiência a serviço da Igreja e da comunida<strong>de</strong>. De acordo com Alves Neto<br />
(ibi<strong>de</strong>m, p. 52), Dom Veloso não somente administrou a <strong>Universida<strong>de</strong></strong> com a competência<br />
própria <strong>de</strong> um empreen<strong>de</strong>dor, mas sempre <strong>de</strong>monstrou a firmeza das suas convicções, como<br />
atestam os seus escritos na imprensa local e nacional.<br />
A 8 <strong>de</strong> março <strong>de</strong>1984, Dom Cintra <strong>de</strong>spediu-se do Conselho <strong>de</strong> Patronos da UCP,<br />
comunicando que o papa João Paulo II aceitara seu pedido <strong>de</strong> renúncia ao governo da Diocese<br />
<strong>de</strong> Petrópolis e que o bispo coadjutor, Dom Veloso, o assumiria, por sucessão canônica<br />
(ANEXO A10). A renúncia episcopal <strong>de</strong> Dom Cintra não se constituiu surpresa, porque dois<br />
anos antes, ao completar 75 anos <strong>de</strong> ida<strong>de</strong> 100 , ele já tinha feito o mesmo pedido, mas não foi<br />
aceito pelo papa, que insistiu para Dom Cintra permanecer no bispado por algum tempo. Nos<br />
meados <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 1983, ele reiterou o pedido <strong>de</strong> renúncia, que, <strong>de</strong>ssa vez, João Paulo II<br />
aceitou, nomeando o bispo coadjutor, Dom Veloso, no cargo <strong>de</strong> bispo diocesano <strong>de</strong><br />
Petrópolis.<br />
100 De acordo com o Direito Canônico vigente, ao completar 75 anos <strong>de</strong> ida<strong>de</strong>, os bispos <strong>de</strong>vem pedir a renúncia<br />
ao cargo.
Ao <strong>de</strong>ixar a diocese, Dom Cintra não quis dar nenhuma <strong>de</strong>claração à imprensa.<br />
Sucessivamente ele enviou aos jornais da cida<strong>de</strong> 101 uma carta com a sua mensagem, na qual<br />
afirmava que o seu afastamento não indicava uma <strong>de</strong>spedida:<br />
Esta não é propriamente uma hora <strong>de</strong> <strong>de</strong>spedida. Porque, embora me<br />
afastando do governo espiritual, não pretendo afastar-me da estima, da<br />
amiza<strong>de</strong> e da generosa <strong>de</strong>dicação <strong>de</strong>ste povo, que durante 36 anos foi o meu<br />
povo, o meu rebanho, a minha família. No Seminário <strong>de</strong> Corrêas, on<strong>de</strong><br />
pretendo residir e prestar ainda algum serviço na formação dos futuros<br />
sacerdotes, ou em outro qualquer lugar em que me encontre, continuarei<br />
tendo meu coração e minhas orações voltadas para os interesses espirituais e<br />
temporais <strong>de</strong> toda a esta gente que generosamente, durante tanto tempo me<br />
ouviu, me aten<strong>de</strong>u, me amou com filial confiança (TRIBUNA <strong>DE</strong><br />
PETRÓPOLIS, 2-3-1984).<br />
Concluindo a sua mensagem, Dom Cintra recomendou, mais uma vez, a fi<strong>de</strong>lida<strong>de</strong> ao<br />
papa e à Igreja:<br />
O fato <strong>de</strong> <strong>de</strong>ixar o governo da diocese mi faz pensar no dia da eternida<strong>de</strong>,<br />
que não po<strong>de</strong> tardar muito. Deve estar próximo. Vai ser o dia do gran<strong>de</strong> e<br />
suspirado encontro com Ele, com Cristo. [...] E o pensamento da eternida<strong>de</strong><br />
me anima a vos recomendar, pela última vez a todos vós, sacerdotes,<br />
religiosos e leigos, fi<strong>de</strong>lida<strong>de</strong> absoluta à Igreja, [...] fi<strong>de</strong>lida<strong>de</strong> às suas<br />
estruturas divinas que firmam a colegialida<strong>de</strong> dos bispos e também o<br />
imprescindível primado do papa na jurisdição e no magistério da fé;<br />
fi<strong>de</strong>lida<strong>de</strong> aos seus ensinamentos, às suas sábias disposições, sem<br />
contestações <strong>de</strong> doutrina ou divergências práticas <strong>de</strong> moral ou <strong>de</strong> liturgia, <strong>de</strong><br />
i<strong>de</strong>ologias ou <strong>de</strong> pluralismo teológico. (TRIBUNA <strong>DE</strong> PETRÓPOLIS,<br />
ibi<strong>de</strong>m, p. 4).<br />
Dessa forma, Dom Cintra afirmava novamente a sua preocupação com a i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong><br />
confessional da <strong>Universida<strong>de</strong></strong>, fiel às orientações da Santa Sé. De fato, a obediência ao papa<br />
foi o que caracterizou constantemente a sua ação pastoral, orientando os seus discursos e as<br />
suas <strong>de</strong>cisões, enquanto, no Brasil, predominava a visão <strong>de</strong> uma Igreja “progressista ou<br />
popular”, com a difusão da Teologia da Libertação, dos movimentos sociais e das pastorais<br />
sociais.<br />
Dom Veloso, assumindo o cargo <strong>de</strong> bispo diocesano, afirmou simplesmente sua<br />
intenção <strong>de</strong> dar continuida<strong>de</strong> ao trabalho pastoral <strong>de</strong> seu pre<strong>de</strong>cessor. Des<strong>de</strong> então, Dom<br />
101 Tribuna <strong>de</strong> Petrópolis, 1 e 2-3-1984; Diário <strong>de</strong> Petrópolis, 1-3-1984; Folha Serrana, 3/9-3-1984.
Cintra tomou o título <strong>de</strong> bispo emérito <strong>de</strong> Petrópolis e foi residir no Seminário Diocesano 102 .<br />
Em 28 <strong>de</strong> março <strong>de</strong> 1984, ocorrendo o 36º aniversário <strong>de</strong> sua sagração episcopal, foi<br />
concelebrada uma missa solene na Catedral São Pedro <strong>de</strong> Alcântara, na qual a comunida<strong>de</strong><br />
petropolitana manifestou a Dom Cintra o seu reconhecimento pela obra prestada à frente da<br />
Diocese.<br />
Dom Cintra concluiu a sua função <strong>de</strong> grão chanceler da UCP vendo a realização da<br />
<strong>Universida<strong>de</strong></strong>, por ele planejada e criada. Seguindo a concepção da universitas studiorum, que<br />
pressupunha a existência <strong>de</strong> uma comunida<strong>de</strong> educativa, a universitas magistrorum e<br />
alumnorum, a UCP, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o início, teve como objetivos a formação integral do homem e a<br />
transmissão da Verda<strong>de</strong>, ou seja, do significado que dá unida<strong>de</strong> a todos os fatores da realida<strong>de</strong><br />
e, <strong>de</strong>ssa forma, criou cultura. Ao longo <strong>de</strong> 30 anos, a <strong>Universida<strong>de</strong></strong> tornara-se um patrimônio<br />
cultural e social a serviço da cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Petrópolis e da região serrana.<br />
6 CONSI<strong>DE</strong>RAÇÕES FINAIS<br />
Ao escolher como tema <strong>de</strong> abordagem a implantação da UCP no contexto da educação<br />
superior no Brasil, preten<strong>de</strong>u-se refletir sobre as instâncias originais e as circunstâncias que<br />
102 Dom Cintra lecionou Doutrina Cristã, Introdução à Filosofia e Teologia Espiritual, até 1995. Faleceu a 30 <strong>de</strong><br />
março <strong>de</strong> 1999, ocorrendo o 50º aniversário da fundação do Seminário Diocesano Nossa Senhora do Amor
conferiram à <strong>Universida<strong>de</strong></strong> uma i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> própria, diferenciando-a <strong>de</strong> outras instituições<br />
congêneres na região serrana.<br />
Como outras UCs, a UCP nasceu da preocupação missionária da Igreja <strong>de</strong> <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>r a<br />
religião católica no Brasil, a partir <strong>de</strong> suas elites dirigentes, dado o caráter anticlerical da<br />
República. Respon<strong>de</strong>u às necessida<strong>de</strong>s do contexto socioeconômico, preocupando-se ainda<br />
com as <strong>de</strong>mandas locais e regionais <strong>de</strong> profissionais qualificados. No âmbito <strong>de</strong> uma<br />
socieda<strong>de</strong> que, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o final da 2ª Guerra Mundial, se urbanizava e se industrializava<br />
rapidamente, formou a mão-<strong>de</strong>-obra especializada que o mercado exigia, mostrando, ao<br />
mesmo tempo, uma aguda sensibilida<strong>de</strong> para os problemas sociais, pertinentes ao gran<strong>de</strong><br />
número <strong>de</strong> fábricas instaladas no município. Cresceu sob o regime militar, que incentivou a<br />
iniciativa privada para aten<strong>de</strong>r à <strong>de</strong>manda crescente <strong>de</strong> educação superior, fundada no<br />
convencimento <strong>de</strong> que a promoção pessoal e social <strong>de</strong>pendia do nível <strong>de</strong> escolarização. Sua<br />
expansão, portanto, realizou-se juntamente ao movimento <strong>de</strong> mobilida<strong>de</strong> social, nos anos do<br />
chamado milagre econômico. Procurou renovar-se, nos anos <strong>de</strong> 1970, com a implantação da<br />
reforma universitária e a institucionalização da pesquisa. Sofreu com as crises econômicas do<br />
País e suas instabilida<strong>de</strong>s inflacionárias. Ao longo <strong>de</strong>ssa trajetória, foram mostradas as<br />
relações entre a UCP, a Igreja e a socieda<strong>de</strong>, na busca dos movimentos dos atores envolvidos,<br />
para compreen<strong>de</strong>r os caminhos que foram percorridos e as opções feitas.<br />
Tomando como referência Nora (1998), a pesquisa realizada buscou <strong>de</strong>screver ou<br />
narrar os acontecimentos em si, mas também estudar como estes foram elaborados,<br />
transmitidos e percebidos na lembrança individual e coletiva, por meio das testemunhas e do<br />
material documentário e iconográfico analisado. As categorias <strong>de</strong> experiência e <strong>de</strong> espera,<br />
que foram indicadas por Koselleck (1986), orientaram a leitura dos acontecimentos <strong>de</strong>scritos e<br />
<strong>de</strong>stacaram a tensão vivida pelas pessoas que se envolveram na história da UCP, tensão entre<br />
experiências bem ou mal sucedidas e expectativas sempre renovadas, tensão entre memórias<br />
guardadas nas famílias e <strong>de</strong>sejos que estimularam atuações diferentes. Embora a reconstrução<br />
realizada seja parcial, susceptível <strong>de</strong> acréscimos e <strong>de</strong> correções, inscrevendo-se no constante<br />
processo <strong>de</strong> reescrita, que caracteriza a história do presente, tentou-se analisar os fatos<br />
narrados como a “razão suficiente”, segundo a expressão <strong>de</strong> Foschi (2006), para compreen<strong>de</strong>r<br />
a implantação da UCP no contexto da sistematização acadêmica da cultura católica no Brasil,<br />
na segunda meta<strong>de</strong> do século XX.<br />
Divino.
Frente à riqueza do material analisado, documentos originais, fontes impressas e orais,<br />
o presente estudo representou uma primeira tentativa <strong>de</strong> diálogo entre história e memória <strong>de</strong><br />
uma instituição educativa que visou distinguir-se pela natureza confessional, pela busca <strong>de</strong><br />
excelência no ensino e na pesquisa e pelo caráter filantrópico-comunitário.<br />
Um dos sinais <strong>de</strong>ssa i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> complexa foi o senso <strong>de</strong> pertença que se gerou e pelo<br />
qual a comunida<strong>de</strong> universitária foi sustentada nas diferentes circunstâncias. Todos os<br />
testemunhos concordaram em <strong>de</strong>stacar o clima <strong>de</strong> colaboração e <strong>de</strong> “doação”, segundo o<br />
termo escolhido pelo professor Henrique José Rabaço, na comemoração do jubileu episcopal<br />
<strong>de</strong> Dom Cintra, em 1973. O i<strong>de</strong>alismo dos administradores, a <strong>de</strong>dicação dos professores e o<br />
espírito <strong>de</strong> coesão e <strong>de</strong> amiza<strong>de</strong> entre os funcionários contribuíram na construção da UCP não<br />
menos do que os recursos materiais.<br />
A <strong>Universida<strong>de</strong></strong>, ao longo dos anos, visou <strong>de</strong>senvolver os princípios <strong>de</strong> seus<br />
i<strong>de</strong>alizadores, que quiseram fundar uma obra a serviço da comunida<strong>de</strong>, enten<strong>de</strong>ndo “serviço”<br />
no sentido do conceito tomista <strong>de</strong> “bem comum”, retomado pelo papa Leão XIII, na encíclica<br />
Rerum Novarum (1891). Nessa concepção, o termo “serviço” contém em si o princípio <strong>de</strong><br />
subsidiarieda<strong>de</strong>. Este princípio, formulado já pelo papa Pio XI na encíclica Quadragesimo<br />
Anno (1931) e aprofundado pelos papas João XXIII e Paulo VI, se fundamenta no fato que o<br />
Estado não é o único ente que respon<strong>de</strong> às necessida<strong>de</strong>s dos indivíduos e da coletivida<strong>de</strong>, mas<br />
que existem outras agregações livres <strong>de</strong> pessoas que o Estado subsidia. Este princípio, nascido<br />
<strong>de</strong> uma cultura cristã, expressa uma visão válida para todos, não apenas para os cristãos,<br />
quando afirma que as instituições, assim como os governos fe<strong>de</strong>rais, estaduais ou municipais,<br />
não se substituem à iniciativa e à responsabilida<strong>de</strong> das pessoas e dos corpos intermediários,<br />
mas as valorizam e as subsidiam. Nesta ótica, a “aventura” da UCP esteve ligada à<br />
responsabilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> seus atores, que enfrentaram as circunstâncias daquele contexto histórico<br />
e se envolveram na realização <strong>de</strong> uma instituição educativa <strong>de</strong> ensino superior com a certeza<br />
<strong>de</strong> estar contribuindo para um empreendimento pessoal e social. Se, por um lado, foi Dom<br />
Cintra que tomou a iniciativa <strong>de</strong> constituir a associação civil Faculda<strong>de</strong>s <strong>Católica</strong>s<br />
Petropolitanas, para a promoção humana e social da socieda<strong>de</strong> petropolitana, sob inspiração<br />
da fé cristã, por outro, o sucesso <strong>de</strong>sse empreendimento foi <strong>de</strong>vido à intensa atuação dos<br />
católicos em Petrópolis e as suas ligações com os po<strong>de</strong>res públicos, que reconheciam na obra<br />
educativa da Igreja um fator <strong>de</strong>terminante da i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> nacional. A transformação das<br />
Faculda<strong>de</strong>s em <strong>Universida<strong>de</strong></strong> <strong>Católica</strong> <strong>de</strong> Petrópolis e o seu <strong>de</strong>senvolvimento, no período<br />
estudado, foram incentivados pelo favorável contexto sócio-político-económico e pela clareza
das motivações i<strong>de</strong>ais dos dirigentes na <strong>de</strong>terminação dos objetivos da <strong>Universida<strong>de</strong></strong>. Na<br />
década <strong>de</strong> 1970, a UCP foi centro <strong>de</strong> uma intensa ativida<strong>de</strong> cultural, promovendo convênios<br />
<strong>de</strong> intercâmbio <strong>de</strong> professores e estudantes com universida<strong>de</strong>s estrangeiras e projetos <strong>de</strong><br />
cooperação para alunos provenientes dos vários países da América Latina, assim colocando-se<br />
em uma posição <strong>de</strong> relevo no panorama internacional.<br />
Particularmente, a presente pesquisa foi ocasião para aprofundar o conhecimento do<br />
valor e da função <strong>de</strong> uma UC, no caso a UCP. Por meio <strong>de</strong> um “olhar europeu”, tentou-se<br />
colher as características <strong>de</strong> uma instituição “irmã” das UCs do velho continente, recuperando<br />
sua historicida<strong>de</strong> e <strong>de</strong>svendando uma i<strong>de</strong>alida<strong>de</strong> comum em um dinamismo específico. Visou-<br />
se, portanto, fornecer uma reconstrução plausível, que possa servir como referência para<br />
outras pesquisas sucessivas, cuja necessida<strong>de</strong> aparece mais urgente pelo estado precário <strong>de</strong><br />
conservação do amplo acervo documental da <strong>Universida<strong>de</strong></strong>. Sugere-se, assim, que seja<br />
retomado o projeto da criação <strong>de</strong> um Centro <strong>de</strong> Memória da UCP, já pleiteado <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o ano<br />
2000, no qual po<strong>de</strong>riam ser <strong>de</strong>senvolvidos estudos reveladores <strong>de</strong> aspectos não mencionados<br />
ou ainda pouco abordados.<br />
7 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS<br />
ABESC I<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> e missão da universida<strong>de</strong> católica. In: CNBB n.56 Evangelização e<br />
pastoral da universida<strong>de</strong>. São Paulo: Paulinas, 1988, pp. 507-510; Anexo V, pp. 320-328.<br />
AÇÃO: Revista da Diocese <strong>de</strong> Petrópolis, 1953- 1984.<br />
ALAMINO, Márcia <strong>de</strong> Carvalho Jimenez. Na casa <strong>de</strong> Marta e Maria: um estudo sobre o<br />
Colégio Notre Dame <strong>de</strong> Sion em Petrópolis, Dissertação <strong>de</strong> Mestrado em Educação,<br />
<strong>Universida<strong>de</strong></strong> <strong>Católica</strong> <strong>de</strong> Petrópolis (UCP), 2008.<br />
ALVES NETO, Jerônimo Ferreira. Textos incluídos no site www.ihp.org.br do Instituto<br />
Histórico <strong>de</strong> Petrópolis, acessado em 6-8-2007.<br />
________________________. Brasileiros ilustres em Petrópolis. Petrópolis: Park Graf
Editora, 2005.<br />
ANTONIAZZI, Alberto. Notas para uma história das universida<strong>de</strong>s católicas no Brasil.<br />
Revista do Centro <strong>de</strong> Ciências Humanas 2:3 (1984), pp. 131-144, publicado como anexo IV<br />
em: Estudo da CNBB n. 56 Evangelização e pastoral da universida<strong>de</strong>. São Paulo: Paulinas,<br />
1988, pp. 302-319.<br />
ANTONIAZZI, Alberto. A <strong>Universida<strong>de</strong></strong> <strong>Católica</strong>; idéias e fatos. Revista do Centro <strong>de</strong><br />
Ciências Humanas 1:1, 1983, pp. 7-25.<br />
BÉDARIDA, François. Tempo Presente e Presença na história. In: FERREIRA, Marieta <strong>de</strong><br />
Moraes; AMADO, Janaína (orgs.). Usos e Abusos da História Oral. Rio <strong>de</strong> Janeiro: Editora da<br />
FGV, 1996.<br />
BEOZZO, José Oscar. Cristãos na universida<strong>de</strong> e na política. Petrópolis: Vozes, 1988.<br />
BORRERO Cabal, Alfonso. I<strong>de</strong>a <strong>de</strong> la Universidad Medieval. Santa Fé <strong>de</strong> Bogotá:<br />
ASCUN/FES/ICFES, 1990.<br />
BRASIL. Decreto n. 19.851, <strong>de</strong> 11 <strong>de</strong> abril <strong>de</strong> 1931. Reforma Francisco Campos.<br />
__________. Ministério <strong>de</strong> Educação e Saú<strong>de</strong>. Relatório <strong>de</strong> verificação para efeito <strong>de</strong><br />
autorização <strong>de</strong> funcionamento da Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Filosofia, Ciências e Letras <strong>de</strong> Petrópolis, no<br />
Estado do Rio <strong>de</strong> Janeiro, 1955.<br />
__________. Lei n. 4.024, <strong>de</strong> 20 <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 1961. Lei <strong>de</strong> Diretrizes e Bases da Educação<br />
Nacional.<br />
__________. Lei n. 5.540, <strong>de</strong> 28 <strong>de</strong> novembro <strong>de</strong> 1968. Reforma Universitária.<br />
__________. Decreto-lei n. 464, <strong>de</strong> 11 <strong>de</strong> fevereiro <strong>de</strong> 1969. Estabelece normas<br />
complementares à Lei n. 5.540/68.<br />
__________. Lei n. 9.394, <strong>de</strong> 24 <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 1996. Lei <strong>de</strong> Diretrizes e Bases da Educação<br />
Nacional.<br />
BRUNEAU, Thomas. O Catolicismo brasileiro em época <strong>de</strong> transição. São Paulo: Loyola,<br />
1974.<br />
CAL<strong>DE</strong>RÓN, Juan Louvier. Transmisión <strong>de</strong> valores y <strong>de</strong>sarrollo integral <strong>de</strong> la persona. In:<br />
Evangelización <strong>de</strong> la cultura hoy. Colección Quinta Conferencia, Analisis 3. Bogotá:<br />
Secretaría General CELAM, 2007.<br />
CARDOSO, Luciana <strong>de</strong> Cássia. A trajetória do Curso <strong>de</strong> Fisioterapia na <strong>Universida<strong>de</strong></strong><br />
<strong>Católica</strong> <strong>de</strong> Petrópolis: <strong>de</strong> 1969 a 2007. Dissertação <strong>de</strong> Mestrado em Educação, <strong>Universida<strong>de</strong></strong><br />
<strong>Católica</strong> <strong>de</strong> Petrópolis (UCP), 2008.<br />
CARRIQUIRY LECOUR, Guzmán. Uma aposta pela América Latina: memória e <strong>de</strong>stino<br />
histórico <strong>de</strong> um continente. São Paulo: Paulus, 2004.
CHAUVEAU, Agnes, TÉTART, Philippe. Questões para a História do presente. Bauru, SP:<br />
EDUSC, 1999.<br />
CHIZZOTTI, Antonio. Pesquisa qualitativa em ciências humanas e sociais. Petrópolis:<br />
Vozes, 2006.<br />
CINTRA, Sebastião Leme da Silveira. Carta Pastoral <strong>de</strong> Dom Sebastião Leme da Silveira<br />
Cintra ao clero e fiéis da Arquidiocese <strong>de</strong> Olinda, 1916.<br />
CÓDIGO <strong>DE</strong> DIREITO CANÔNICO, cânones 807-814.<br />
CONCÍLIO VATICANO II. Dignitatis Humanae. Gaudium et Spes. Gravissimum<br />
Educationis. Lumen Gentium. Documentos disponíveis no site<br />
www.vatican.va/archive/hist_councils, acessado em 16/10/2007.<br />
CONFE<strong>DE</strong>RAÇÃO NACIONAL DOS BISPOS DO BRASIL. Educação, Igreja e socieda<strong>de</strong>.<br />
In: Documentos da CNBB 47. São Paulo: Paulinas, 1992.<br />
CONFERÊNCIA GERAL DO EPISCOPADO LATINO-AMERICANO E DO CARIBE.<br />
Documento <strong>de</strong> Aparecida. São Paulo: Paulinas, 2007.<br />
CUNHA, Luiz Antônio. A universida<strong>de</strong> temporã. Rio <strong>de</strong> Janeiro: Alves Editora, 1986.<br />
___________________. Ensino superior e universida<strong>de</strong> no Brasil. In: Lopes, Eliane Marta<br />
Teixeira; Faria Filho, Luciano Men<strong>de</strong>s; Veiga, Cynthia Greive (org). 500 anos <strong>de</strong> educação<br />
no Brasil. Belo Horizonte: Autêntica, 2000.<br />
CURY, Carlos Roberto Jamil. I<strong>de</strong>ologia e educação brasileira. Coleção Educação<br />
contemporânea. São Paulo: Cortez, 1986.<br />
__________________________. Igreja católica, estado brasileiro e educação escolar nos anos<br />
30. In: RAMOS, Lílian (org). Igreja, Estado e educação no Brasil. Rio <strong>de</strong> Janeiro: Papel<br />
Virtual Editora, 2005.<br />
DOIG K., Germán. Diccionario Rio Me<strong>de</strong>llín Puebla Santo Domingo.São Paulo: Vida y<br />
Espiritualidad, 2007.<br />
FACULDA<strong>DE</strong>S CATÓLICAS PETROPOLITANAS. Estatutos. Petrópolis: Vozes, 1955.<br />
FÁVERO, Maria <strong>de</strong> Lour<strong>de</strong>s <strong>de</strong> Albuquerque. A <strong>Universida<strong>de</strong></strong> brasileira em busca <strong>de</strong> sua<br />
i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>. Petrópolis: Vozes, 1977.<br />
__________________________. <strong>Universida<strong>de</strong></strong> do Brasil – Das origens à construção. Rio <strong>de</strong><br />
Janeiro: Ed. UFRJ/Comped/Inep, 2000.<br />
FERREIRA, Mons. Mario Correa. A história <strong>de</strong> um Prodígio. Petrópolis: Park Graf<br />
Editora, 2002.<br />
FOSCHI, Fabrizio. Camminare nella storia. Lezioni di metodo storico. Soveria Mannelli:
Rubbettino, 2006.<br />
FRANK, Robert. Prefácio a Écrire l’histoire du temps présent. Paris: Institut d’Histoire du<br />
Temps Présent, 1993.<br />
GIUSSANI, Luigi. Por que a Igreja. Rio <strong>de</strong> Janeiro: Nova Fronteira, 2004.<br />
HAMMES, Érico João. <strong>Universida<strong>de</strong></strong> <strong>Católica</strong> e pós-mo<strong>de</strong>rnida<strong>de</strong>: assimilação e criticida<strong>de</strong>.<br />
In: Transferetti, José e Gonçalves, Paulo Sérgio Lopes (org.). Teologia na pós-mo<strong>de</strong>rnida<strong>de</strong>.<br />
São Paulo: Paulinas, 2003.<br />
INFORMATIVO UCP: Órgão <strong>de</strong> circulação interna da UCP, <strong>de</strong> 1968 a 1984.<br />
KOSELLECK, Reinhart. Futuro passato: per uma semantica <strong>de</strong>i tempi storici. Genova:<br />
Marietti, 1986.<br />
LIMA, Maurílio César <strong>de</strong>. Breve História da Igreja no Brasil. Rio <strong>de</strong> Janeiro: Restauro, 2001.<br />
LUSTOSA, Oscar <strong>de</strong> Figueiredo (org.). Igreja e política no Brasil: do partido católico à<br />
L.E.C. (1874-1945). São Paulo: Loyola/ Cepehib, 1983.<br />
__________________________ A presença da Igreja no Brasil. São Paulo: Giro, 1997.<br />
MACHADO, Vera Lúcia <strong>de</strong> Carvalho. A i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> institucional da Puc-Campinas: estudo<br />
dos projetos pedagógicos (1968-1981). Tese <strong>de</strong> Doutorado em Educação, <strong>Universida<strong>de</strong></strong><br />
Estadual <strong>de</strong> Campinas (UNICAMP), 2002.<br />
MARIA, Julio. A Igreja e a República. Brasília: Ed. UnB, 1981.<br />
___________. O Catolicismo no Brasil. Rio <strong>de</strong> Janeiro: Agir, 1950.<br />
MARROU, Henri-Irénée. Sobre o conhecimento histórico. Rio <strong>de</strong> Janeiro: Zahar, 1978.<br />
MOURA, Laércio Dias <strong>de</strong>. A educação católica no Brasil. São Paulo: Loyola, 2000.<br />
NORA, Pierre. La aventura <strong>de</strong> ‘Les Lieux <strong>de</strong> mémoire’. In: BUSTILLO, Josefina Cuesta (ed.)<br />
Ayer. Madrid: Marcial Pons/Asociación <strong>de</strong> Historia Contemporánea, n. 32, 1998 (número<br />
especial Memoria e Historia), p. 26 e 32-33.<br />
NOVO AURÉLIO – O dicionário <strong>de</strong> língua portuguesa. Rio <strong>de</strong> Janeiro: Nova Fronteira, 1999.<br />
PAIM, Antônio. Por uma universida<strong>de</strong> no Rio <strong>de</strong> Janeiro. In: SCHWARTZMAN, Simon.<br />
<strong>Universida<strong>de</strong></strong>s e instituições científicas no Rio <strong>de</strong> Janeiro. Brasília: CNPq, 1982, pp. 17-83.<br />
SALEM, Tânia. Do Centro Dom Vital à <strong>Universida<strong>de</strong></strong> <strong>Católica</strong>. In: SCHWARTZMAN,<br />
Simon. <strong>Universida<strong>de</strong></strong>s e instituições científicas no Rio <strong>de</strong> Janeiro. Brasília: CNPq, 1982, pp.<br />
97-136.<br />
SEGENREICH, Stella Cecília Duarte. PUC-Rio <strong>de</strong> Janeiro: pioneirismo e mudança. In:<br />
MOROSINI, Marília (org). A universida<strong>de</strong> no Brasil: concepções e mo<strong>de</strong>los. Brasília: INEP,
2006.<br />
SCHWARTZMAN, Simon. In: Seminário ANAMEC: O futuro da educação – O papel das<br />
Escolas <strong>Católica</strong>s. Brasília, agosto 1996.<br />
SZYMANSKI, Heloisa (org). A entrevista na pesquisa em educação: a prática reflexiva.<br />
(Série Pesquisa em Educação, 4). Brasília: Plano Editora, 2002.<br />
TRIBUNA <strong>DE</strong> PETRÓPOLIS – 100 ANOS EM REVISTA 1902-2002, novembro <strong>de</strong> 2002,<br />
fascículo 2. Edição especial.<br />
ULLMANN, Reinholdo Aloysio. A universida<strong>de</strong> medieval. II ed. Porto Alegre: EDIPUCRS,<br />
2000.<br />
UNIVERSIDA<strong>DE</strong> CATÓLICA <strong>DE</strong> PETRÓPOLIS. Fundo Assistencial Rotativo do<br />
Universitário Petropolitano (FARUP). Petrópolis: Vozes, 1966.<br />
____________. Estatuto. Petrópolis: Gráfica Universitária, 1970.<br />
____________. Regimento Geral. Petrópolis: Gráfica Universitária, 1970.<br />
____________. Jubileu episcopal do Grão Chanceler. Petrópolis: Gráfica Universitária,<br />
1973.<br />
____________. Financiamento da <strong>Universida<strong>de</strong></strong> <strong>Católica</strong>. Petrópolis: Gráfica Universitária,<br />
1976.<br />
____________. Estatuto - Regimentos. Petrópolis: Gráfica Universitária, 1977.<br />
VERGER, Jaques. As <strong>Universida<strong>de</strong></strong>s na Ida<strong>de</strong> Média. São Paulo: UNESP, 1990.<br />
ZILLES, Urbano; QUADROS, Odoné José <strong>de</strong>. I<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>, <strong>de</strong>safios e futuro das<br />
<strong>Universida<strong>de</strong></strong>s <strong>Católica</strong>s. Porto Alegre: EDIPUCRS, 1993.
ANEXO A – ATA, CARTAS E DOCUMENTOS
ANEXO A1 – ATA <strong>DE</strong> FUNDAÇÃO DA ASSOCIAÇÃO CIVIL FACULDA<strong>DE</strong>S<br />
CATÓLICAS PETROPOLITANAS. Fonte: Arquivo da reitoria da UCP.
ANEXO A2 – CARTA DO CARMELO SÃO JOSÉ A DOM CINTRA. Fonte: Arquivo da<br />
Mitra Diocesana <strong>de</strong> Petrópolis.
ANEXO A3 – TEXTO PREPARATÓRIO DO CONVÊNIO ENTRE O CENTRO
INDUSTRIAL DO RIO <strong>DE</strong> JANEIRO E AS FACULDA<strong>DE</strong>S CATÓLICAS<br />
PETROPOLITANAS. Fonte: Arquivo privado da professora Vera Rudge Werneck.
ANEXO A4 – CARTA DO CENTRO INDUSTRIAL DO RIO <strong>DE</strong> JANEIRO AO<br />
REITOR DAS FACULDA<strong>DE</strong>S CATÓLICAS PETROPOLITANAS. Fonte: Arquivo da<br />
Mitra diocesana <strong>de</strong> Petrópolis.
ANEXO A5 – ATA DO CONSELHO ADMINISTRATIVO DAS FACULDA<strong>DE</strong>S<br />
CATÓLICAS PETROPOLITANAS <strong>DE</strong> 20 <strong>DE</strong> SETEMBRO <strong>DE</strong> 1961. Fonte: Arquivo da<br />
reitoria da UCP.
ANEXO A6 – <strong>DE</strong>CRETO N. 383 <strong>DE</strong> 20 <strong>DE</strong> <strong>DE</strong>ZEMBRO <strong>DE</strong> 1961. Fonte: Arquivo da<br />
reitoria da UCP.
ANEXO A7 – CARTA <strong>DE</strong> PADRE JOSÉ FERNAN<strong>DE</strong>S VELOSO AO BISPO<br />
DIOCESANO. Fonte: Arquivo da Mitra Diocesana <strong>de</strong> Petrópolis.
ANEXO A8 – CARTA DO DOUTOR ASCÂNIO DÁ MESQUITA PIMENTEL A DOM<br />
CINTRA. Fonte: Arquivo da Mitra Diocesana <strong>de</strong> Petrópolis.
ANEXO A9 – CARTA DO DOUTOR ARTHUR <strong>DE</strong> SÁ EARP A DOM CINTRA.<br />
Fonte: Arquivo da Mitra Diocesana <strong>de</strong> Petrópolis.
ANEXO A10 – COMUNICAÇÃO <strong>DE</strong> DOM CINTRA AO CONSELHO <strong>DE</strong><br />
PATRONOS. Fonte: Arquivo da Mitra Diocesana <strong>de</strong> Petrópolis.
ANEXO B – FOTOGRAFIAS DO ARQUIVO HISTÓRICO DA BIBLIOTECA CENTRAL<br />
DA UCP
ANEXO B1 – PRIMEIRA SE<strong>DE</strong> DAS FACULDA<strong>DE</strong>S CATÓLICAS PETROPOLITANAS
ANEXO B2 – CERIMÔNIA <strong>DE</strong> INSTALAÇÃO DA FACULDA<strong>DE</strong> CATÓLICA <strong>DE</strong><br />
DIREITO
ANEXO B3 – CERIMÔNIA <strong>DE</strong> INSTALAÇÃO DA FACULDA<strong>DE</strong> <strong>DE</strong> FILOSOFIA,<br />
CIÊNCIAS E LETRAS
ANEXO B4 – PALACE HOTEL E SE<strong>DE</strong> PRÓPRIA DAS FACULDA<strong>DE</strong>S CATÓLICAS<br />
PETROPOLITANAS
ANEXO B5 – ASSINATURA DO CONVÊNIO DO ESTADO DO RIO <strong>DE</strong> JANEIRO COM<br />
AS FACULDA<strong>DE</strong>S CATÓLICAS PETROPOLITANAS
ANEXO B6 – ASSINATURA DO ACORDO COM O CENTRO INDUSTRIAL DO RIO <strong>DE</strong><br />
JANEIRO PARA A CRIAÇÃO DA ESCOLA <strong>DE</strong> ENGENHARIA INDUSTRIAL
ANEXO B7 – CERIMÔNIA <strong>DE</strong> INSTALAÇÃO DA ESCOLA <strong>DE</strong> ENGENHARIA<br />
INDUSTRIAL
ANEXO B8 – CERIMÔNIA <strong>DE</strong> INSTALAÇÃO DA UNIVERSIDA<strong>DE</strong> CATÓLICA <strong>DE</strong><br />
PETRÓPOLIS
ANEXO B9 – ENTREGA DA COMENDA PONTIFÍCIA AO DOUTOR ARTHUR <strong>DE</strong> SÁ<br />
EARP
ANEXO B10 – INAUGURAÇÃO DO RESTAURANTE UNIVERSITÁRIO
ANEXO B11 – INAUGURAÇÃO DA BIBLIOTECA CENTRAL
ANEXO B12 – OBRAS DO CENTRO <strong>DE</strong> EDUCAÇÃO FÍSICA NO BINGEN
ANEXO B13 – INAUGURAÇÃO DO CENTRO <strong>DE</strong> PROCESSAMENTO <strong>DE</strong> DADOS
ANEXO B14 – O PROFESSOR MANOEL MACHADO DOS SANTOS É NOMEADO<br />
REITOR DA UCP.