07.05.2013 Views

Jornal de Maio 2006 versão ordenada - IBERYSTYKA UW

Jornal de Maio 2006 versão ordenada - IBERYSTYKA UW

Jornal de Maio 2006 versão ordenada - IBERYSTYKA UW

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

D IRECTOR: J OSÉC ARLOSD IAS<br />

COORDINADORA DA SECCIÓN GALEGA:<br />

L U C Í AR O D R Í G U E ZC A E I R O<br />

COORDINADOR DE LA SECCIÓN ESPAÑOLA:<br />

G E R A R D O B E L T R Á N<br />

COORDINADOR DE LA SECCIÓ CATALANA:<br />

J O S E PA N T O N IC L E M E N T<br />

COORDENADOR DA SECÇÃO PORTUGUESA:<br />

J O S É C A R L O S D I A S<br />

C RONISTAS/COLUMNISTAS:<br />

JAUKUBJANKOWSKI,JOSEPANTONICLEMENT<br />

J ORNALISTAS/PERIODISTAS:<br />

A LINAW OJTECZEK,ANIAP LOCICA<br />

A LEKSANDRAG ALAZKA,ALEKSANDRA<br />

J ACKOWSKA,ALEKSANDRAO PARA,<br />

E WELINAS AS,BASIAM IKOLOWICZ,<br />

DOROTAKAZINSKA,GABRIELABADOWSKA,<br />

I WONAC ELLARY,JAKUBJ ANKOWSKI,<br />

J OHNATHAN,JOANNAS TANKIEWICZ,<br />

KAROLINAFRANASZCZUK,MAGDARYBAK,<br />

M AGDAD OMINOWSKA,MAGDAP IELAK,<br />

M AGDALENAS MORCZEWSKA,<br />

M A L G O R Z A T AM I K O W S K A<br />

MARTAMACHOWSKA,MARTYNAGAJEWSKA,<br />

M U R I E L,P I O T RM A J E W S K I<br />

C O L A B O R A D O R E S :<br />

ANNA KALEWSKA, ANACAROLINABELTRÃO,<br />

J O S E PA N T O N IC L E M E N T<br />

C O L A B O R A Ç Ã OE S P E C I A L:<br />

C L A U D I AB E N Í T E ZH E R R E R A,<br />

M ENINASDO3ºANODEL UBLIN!<br />

A B E LA.M U R C I AS O R I A N O<br />

K ATARZYNAZ AK,SYLWIAJ AKUBAS<br />

C OLABORAÇÃOU LTRA-ESPECIAL:<br />

J O S E PA N T O N IC L E M E N T<br />

DESIGN GRÁFICO: JOSÉ CARLOS DIAS<br />

C A P A: B A R B A R AS Z L A C H T A<br />

FOTÓGRAFOS: MENINAS DE LUBLIN,W<strong>UW</strong><strong>UW</strong>U<br />

C ARTONISTA: J AKUBJ ANKOWKSI<br />

CAMPEÕESDEVENDAS: SRA. ANNA DA<br />

S E C R E T A R I A ES R .J A R E K<br />

PÁGINAS DE INTERNET: UHUH! ESTÁ<br />

ACTUALIZADÍSSIMA!MUITOOBRIGADO, SUZANNA!<br />

T I R A G E M: 200 E X E M P L A R E S<br />

MAIOR NOVIDADE: 60 PÁGINAS!!! 12 NÚMEROS<br />

CONSECUTIVOS!3 ANOS DE PUBLICAÇÃO!<br />

IMPRESSÃO: ZAKLAD GRAFICZNY UNIWERSYTETU<br />

W A R S Z A W S K I E G O<br />

EDITORA: INSTITUTO DE ESTUDOS IBÉRICOS E<br />

IBERO-AMERICANOS DA UNIVERSIDADE<br />

D E V A R S Ó V I A<br />

<strong>Maio</strong>/Junho<br />

COM O APOIO DE:<br />

Ano 3 / #10 / Dezembro Mayo/ Junio 2005<br />

www.iberystyka.uw.edu.pl jiberico@mail.telepac.pt<br />

ISSN: 1731-0997


editoriais & editorialsTexto<br />

exto <strong>de</strong> <strong>de</strong> José José Carlos Carlos Dias<br />

Dias<br />

EL VERD ÉS...<br />

El verd <strong>de</strong>scansa en la blavor <strong>de</strong>ls ulls d’una dona.<br />

El verd reviu quan ningú té ja freds <strong>de</strong> neu clara.<br />

El verd espera que el trepitgis quan surts <strong>de</strong> passejada.<br />

El verd sent el pas <strong>de</strong>l temps <strong>de</strong>ls homes que d’alcohol<br />

s’embafen.<br />

El verd a tu et mira quan beus gots <strong>de</strong> rosada.<br />

El verd conté vins d’uns ceps que fa temps mirares.<br />

El verd és un llibre amb pols que <strong>de</strong>ses als prestatges.<br />

SEMPRE EN GALIZA VERDE<br />

2<br />

Text ext ext <strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>de</strong> Josep Josep A. A. Clement<br />

Clement<br />

El verd roman sota el cos <strong>de</strong> la tarda.<br />

El verd és el color que a l’infància et donaren.<br />

El verd és un arbre nu que et rebia quan t’hi atansaves.<br />

El verd porta el nom d’una estança.<br />

El verd és ara la revista <strong>de</strong> les preguntes romanitza<strong>de</strong>s.<br />

El verd és tot allò que vols i se t’escapa.<br />

El verd, benvolgut lector, és un color com qualsevol altre.<br />

Quixera sempre a miña Galiza chea <strong>de</strong> humida<strong>de</strong>,<br />

co seu arrecendo a terra recentemente mollada pola chuvia.<br />

Quixera sentir as pingas sobre min, esvaranado pola miña cara,<br />

embebéndome os cabelos, a roupa.<br />

Quixera saltar nas pozas salferindo con forza.<br />

Quixera esquencer sempre os paraugas e procurar correndo acubillo.<br />

Quixera tirarme na herba ver<strong>de</strong>, chea <strong>de</strong> frescura,<br />

e <strong>de</strong>ixar que o meu corpo recolla toda a enerxía da terra,<br />

que garda as pegadas dos meus ancestros.<br />

Quixera que o sol me feche os ollos, me cegue,<br />

entremestres busco nunha árbore a súa sombra para ler <strong>de</strong>sexos futuros,<br />

respirando profundamente o ver<strong>de</strong> ar.<br />

Non quero que haxa incendios na miña terra, que a época<br />

estival veña cargada <strong>de</strong> <strong>de</strong>forestación. Quero que exista unha<br />

política eficiente, que se evite esta <strong>de</strong>sgraza coa prevención,<br />

que haxa conciencia ecolóxica. Non quero sentir falta <strong>de</strong><br />

*<br />

Texto exto exto <strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>de</strong> Lucía Lucía Rodríguez Rodríguez Caeiro<br />

Caeiro<br />

auga, que as flores murchen, ter se<strong>de</strong> con carraxe. Non<br />

quero ver lume nin ao lonxe non á beira, mestres sinto<br />

como me proe a pel, como as queimaduras me doen na<br />

alma.<br />

Desexo Sempre en Galiza ver<strong>de</strong>, co ceo escampado e lama nas botas.<br />

crónica<br />

PARA SE APERCEBER DESTE EFEITO FIXE E VERDE...<br />

Carta <strong>de</strong>ste mundo para Richard Brautigan<br />

Gee, Bau<strong>de</strong>laire<br />

Trabalha agora<br />

Na fábrica <strong>de</strong> Kalaschnikov.<br />

Em vez <strong>de</strong> pólvora<br />

Enche projécteis<br />

De flores.<br />

Os Russos <strong>de</strong>pois ven<strong>de</strong>m<br />

Armas e cartuchos<br />

A quem quer comprar.<br />

Sobre todos os campos <strong>de</strong> batalha<br />

Voam flores.<br />

In<strong>de</strong>fesas mulheres e crianças<br />

Recebem a sua quantia <strong>de</strong> flores.<br />

O homem foi visto<br />

Que per<strong>de</strong>u um e outro pé.<br />

Agora dos sapatos sai-lhe pelargonium.<br />

Mais do que um<br />

Apanhou mesmo no coração.<br />

Ofensiva japonesa continua.<br />

As lojas com arma<br />

estão cheias <strong>de</strong> ikebana.<br />

Holanda ameaça<br />

ao equlíbrio mundial,<br />

pois os jardineiros <strong>de</strong> lá<br />

estão a um passo <strong>de</strong><br />

fabricar uma bomba-túlipa.<br />

Os <strong>de</strong>sassossegados políticos<br />

Telegrafam,<br />

„Senhor Governador,<br />

não acha Senhor<br />

que a guerra que fazemos,<br />

tornou-se, assim, esquisita?”<br />

Mayo/Junio <strong>Maio</strong>/Junho<br />

Texto exto <strong>de</strong> <strong>de</strong> Jakub Jakub Jankowski<br />

Jankowski<br />

Já ouviram falar? Que o presi<strong>de</strong>nte Bush é um sem-vonta<strong>de</strong>-sua? E que durante encontros oficiais escuta e<br />

repete o que lhe dizem ao ouvido? O que lhe transmitem ao vivo e directamente à cabeça? Gostaria <strong>de</strong> conhecer esta<br />

frequência... Se eu a soubesse...<br />

... transmitia ao pé <strong>de</strong> ouvido <strong>de</strong>le letra <strong>de</strong> canção all we are saying, just give peace a chance. E a <strong>de</strong> R.A.P<br />

(Reggae Against Politics) Deita fora a sua arma.<br />

... lia para ele Crónicas <strong>de</strong> Marte <strong>de</strong> Ray Bradbury, e Catch 22 <strong>de</strong> Joseph Heller, e lia As aventuras do bravo<br />

soldado Svejk <strong>de</strong> Hasek. Lia como se fosse para criança, como se fosse preciso ler para ela dormir em paz (...e até o<br />

<strong>de</strong>ixava assistir a M.A.S.H com Alan Alda até tar<strong>de</strong> na têvê). Para ele dormir sem monstros na cabeça e sonhos <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r<br />

e ignorância.<br />

...recitava para ele poemas. Sim, poemas. De Julian Tuwim Para homem simples (Do prostego cz³owieka). E<br />

o <strong>de</strong> Jacek Podsiad³o:<br />

...e tudo isto acima fazia com que ele percebesse o mundo em ver<strong>de</strong>. Para ele se aperceber <strong>de</strong>ste efeito fixe e<br />

ver<strong>de</strong> <strong>de</strong> que NÓS enfim po<strong>de</strong>mos gozar olhando pela janela.<br />

P.S provavelmente queriam saber que tal a vida da gata da minha namorada? Tudo na paz J Os olhos ver<strong>de</strong>s<br />

<strong>de</strong>la, da gata, não da minha namorada, continuam a hipnotizar e apaziguar.<br />

3


ver<strong>de</strong><br />

A SUPERIORIDADE DUM PEIXE SOBRE UM SAPO<br />

Um sapo... Pequena criatura víscida com os olhos esbugalhados,<br />

em que as raparigas normalmente preferem não tocar. Porém,<br />

não houve pelo menos um momento na nossa vida, quando ao<br />

ver esse bicho verdinho, uma i<strong>de</strong>ia fugaz apareceu: «Talvez...?<br />

Talvez será o meu príncipe encantado?» Bastaria um beijo – um<br />

segundo <strong>de</strong> sacrifício que po<strong>de</strong>ria trazer um prémio tão gran<strong>de</strong>.<br />

É possível que algumas, quando meninas, até tenham cedido à<br />

tentação e concedido um beijinho molhado, verificando primeiro<br />

que ninguém estava ao alcance da vista para evitar a humilhação.<br />

É a herança dos contos <strong>de</strong> fada da nossa infância. Todas sabemos<br />

as histórias das princesas jovens e bonitas (todas elas são sempre<br />

assim!) que durante um passeio ordinário encontram <strong>de</strong> repente<br />

um sapo, beijam-no e ... BUM!!!... já têm um noivo – e, ainda<br />

mais, <strong>de</strong> sangue azul!<br />

Como já estamos com o assunto <strong>de</strong> sapos e contos <strong>de</strong> fada –<br />

pensaram, alguma vez, na razão por que as princesas teimam<br />

em beijar sapos? Não seria melhor tentar encontrar um peixe<br />

dourado?<br />

Primeiro, um peixinho é uma criatura em tanto mais agradável<br />

do que um sapão repugnante. É mais bonito, mais limpo – um<br />

po<strong>de</strong> até se afeiçoar a ele. Além disso, não é preciso beijá-lo!<br />

Segundo, tal peixe dá muito mais possibilida<strong>de</strong>s. Do sapo, mesmo<br />

se conseguirmos apanhar o encantado, po<strong>de</strong> sair apenas um<br />

príncipe e nada mais. O peixe dourado, porém, cumpre os nossos<br />

três <strong>de</strong>sejos – mesmo se usarmos um para o príncipe, restam<br />

ainda dois. Po<strong>de</strong>mos, por exemplo, acrescentar ao príncipe um<br />

castelo e uma carruagem com seis cavalos. Porque aquele do<br />

sapo antes diminuirá os nossos bens do que aumentará. Não se<br />

po<strong>de</strong> esperar que tenha assegurado a fortuna (se a possuiu, do<br />

que não ousamos duvidar, visto que é príncipe) caso fosse<br />

transformado num sapo! Agora, o paizinho já não viverá, a<br />

mãezinha estará no convento, e o principado terá sido aniquilado<br />

por uma guerra ou passado para as mãos dum parente distante,<br />

que nem pensa em reconhecer as pretensões do nosso<br />

preten<strong>de</strong>nte. Além disso, negociando com o peixe dourado<br />

po<strong>de</strong>mos especificar as nossas exigências para garantir não só<br />

sangue nobre, mas também beleza, maneiras distintas e o senso<br />

<strong>de</strong> humor do nosso príncipe. Falando nos termos do mundo<br />

capitalista, po<strong>de</strong>mos “examinar a mercadoria” antes da compra.<br />

No caso do peixe, recebemos o que encomendamos; no caso do<br />

sapo, compramos um gato ensacado. A condição do príncipe <strong>de</strong><br />

ser encantado não o impe<strong>de</strong> <strong>de</strong> ser ao mesmo tempo feio, ru<strong>de</strong> e<br />

mal educado. Se calhar foi a falta <strong>de</strong> educação que o levou ao<br />

estado presente – talvez ele tivesse ofendido alguma bruxa, que<br />

se vingou transformando-o num sapo.E então? Beijamos o sapão<br />

nojento, <strong>de</strong>sencantamos tal indivíduo e ele, Deus nos livre!<br />

apaixona-se e não quer <strong>de</strong>ixar-nos em paz, e o quê <strong>de</strong>pois?<br />

4<br />

Por Por Basia asia<br />

Ainda teremos <strong>de</strong> procurar um peixe dourado – não para <strong>de</strong>sejar<br />

um príncipe, mas para livrar-se <strong>de</strong>le.<br />

Além disso, <strong>de</strong>vemos pensar em diferentes perspectivas. Não há<br />

nenhuma garantia que o nosso sapo / peixe se revele uma criatura<br />

mágica. Embora existam algumas imagens <strong>de</strong> sapos com coroa<br />

na cabeça, o que <strong>de</strong>ve facilitar o reconhecimento do bicho<br />

encantado, eu pessoalmente duvido que haja neste mundo os sapos<br />

coroados. A bruxa que transforma um príncipe em animal<br />

teria que ser estúpida para <strong>de</strong>ixar sinal tão visível. E bruxas<br />

estúpidas raramente conseguem chegar ao momento <strong>de</strong> ter ao<br />

alcance das mãos um príncipe em quem possam praticar a sua<br />

arte mágica. Mas voltemos ao assunto. Não temos certeza se<br />

conseguimos captar um animal encantado. Caso seja o peixe,<br />

sempre po<strong>de</strong>mos levá-lo ao nosso cozinheiro da corte, tê-lo cozido<br />

ou assado ou preparado <strong>de</strong> mil outras maneiras, as quais eu não<br />

conheço (não sou cozinheira da corte!), e comê-lo com gosto –<br />

embora seja temperado um pouco com a amargura duma<br />

oportunida<strong>de</strong> perdida. Até existem peixes com um anel <strong>de</strong> ouro<br />

no estômago. É claro que um anel, mesmo que seja <strong>de</strong> ouro, não<br />

po<strong>de</strong> substituir um príncipe, mas sempre é algum prémio <strong>de</strong><br />

consolação. Agora, o que é que po<strong>de</strong>mos fazer com um sapo que<br />

é só sapo e não príncipe encantado? Não muito. A não ser que<br />

fôssemos as princesas francesas, o nosso sapo se revelaria<br />

completamente inútil, até mesmo para a culinária.<br />

Depois <strong>de</strong> meditar sobre o assunto, cheguei à conclusão que a<br />

razão da estranha preferência das princesas está na convenção.<br />

Os sapos são mais acessíveis do que os peixes, pelo menos para<br />

uma filha <strong>de</strong> família nobre. Alguém já viu uma senhorita bemnascida<br />

sentada num barco, com o vestido molhado e cheia <strong>de</strong><br />

dificulda<strong>de</strong>s em manter o equilíbrio, ao lançar a re<strong>de</strong> no mar? Ou<br />

ao pescar à linha no lago? Simplesmente não convém fazer isso.<br />

E um sapo não é difícil <strong>de</strong> achar. Basta sair para um passeio<br />

romântico ao longo da relva do junco (po<strong>de</strong>-se ao mesmo tempo<br />

suspirar um bocadinho sobre a vida dura ou o amor não<br />

correspondido) e já se encontra um sapo que só está à espera dum<br />

beijo. Mesmo que seja um pouco sujo <strong>de</strong> lodo – não importa.<br />

Quando o bicho se transformar num príncipe, essa lama não será<br />

visível. E, se for, o jovem (por que os príncipes encantados nunca<br />

são velhos?!) lavar-se-á na casa <strong>de</strong> banho real do seu futuro sogro.<br />

Então, quanto ao sapo, basta somente um pouco <strong>de</strong> esforço a que<br />

se acrescente um pouco <strong>de</strong> sorte, e já temos os resultados<br />

<strong>de</strong>sejados. Com o peixe, a situação é mais complicada por causa<br />

<strong>de</strong> essas criaturas espertas escon<strong>de</strong>rem-se <strong>de</strong>ntro das águas<br />

profundas. Contudo, tal trabalho, tal salário. Cabe a nós, e somente<br />

a nós, <strong>de</strong>cidir se é melhor ajeitar-se com o sapo e o resultado<br />

incerto, ou fazer mais esforço e procurar o peixe dourado. <br />

ver<strong>de</strong><br />

AS CORES QUE CURAM<br />

Ja reparaste que todas as ca<strong>de</strong>ias <strong>de</strong> fast-food usam (e<br />

abusam) <strong>de</strong> combinações <strong>de</strong> amarelo, cor <strong>de</strong> laranja e<br />

vermelho? Pensaste por que é que na política a tonalida<strong>de</strong><br />

azul é a mais procurada? E não é verda<strong>de</strong> que os quartos<br />

ver<strong>de</strong>s nos tranquilizam? Muitas vezes não estamos<br />

conscientes da enorme influência das cores na nossa vida.<br />

Mas elas estão lá, agindo sem nos darmos conta disso, e<br />

<strong>de</strong>vemos saber que não se trata apenas <strong>de</strong> um elemento<br />

estético. O po<strong>de</strong>r das cores, que não são nada mais do que<br />

raios solares <strong>de</strong> diferentes frequências, é conhecido e usado<br />

há séculos – tanto por especialistas das relações públicas<br />

como por médicos.<br />

Nos últimos anos vem ganhando muita popularida<strong>de</strong> a tal<br />

chamada cromoterapia, que não tem nada a ver, como alguns<br />

pensam, com o cromo, mas sim, com as cores. Tratada pelos<br />

a<strong>de</strong>ptos da medicina natural como ciência, a cromoterapia<br />

emprega o azul, o vermelho, o amarelo e os seus matizes<br />

para estabelecer ou manter o equilíbrio e a harmonia do<br />

corpo, da mente e das emoções, ou seja, a saú<strong>de</strong> e o bem<br />

estar. Sem ro<strong>de</strong>ios: as cores curam, e alguns médicos não<br />

hesitam em consi<strong>de</strong>rer a cromoterapia como parte<br />

importante da medicina do futuro, <strong>de</strong>vido, como dizem, a<br />

sua simplicida<strong>de</strong>, facilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> aplicação e eficácia.<br />

Os conhecimentos dos valores salutares da luz solar eram<br />

utilizados para restabelecer a harmonia no organismo<br />

humano, mesmo se rara e selectivamente, já nas antigas<br />

civilizações do Egipto, da Grécia, da Índia e da China. Mas<br />

o uso actual das cores nos tratamentos <strong>de</strong> saú<strong>de</strong><br />

propriamente ditos é relativamente recente, e o seu<br />

<strong>de</strong>senvolvimento em práctica po<strong>de</strong>mos observar nos últimos<br />

30 anos. Hoje a cromoterapia já não se liga apenas aos<br />

estudos da medicina natural, mas também a universida<strong>de</strong>s<br />

e faculda<strong>de</strong>s <strong>de</strong> psicologia. Foram precursores na divulgação<br />

da cromoterapia como método <strong>de</strong> tratar problemas orgânicos<br />

e emocionais os cientistas da União Soviética.<br />

É certo que o ser humano necessita da luz do sol para viver.<br />

Recebe-a sob a forma <strong>de</strong> um feixe que se <strong>de</strong>compõe em<br />

sete raios principais (vermelho, laranja, amarelo, ver<strong>de</strong>, azul,<br />

índigo e violeta), logo distribuídos pelo seu corpo. Os seres<br />

vivos são cobertos por um campo energético (Aura) que<br />

reflete o estado <strong>de</strong> equilíbrio em que nos encontramos. De<br />

acordo com a cromoterapia, enten<strong>de</strong>-se o efeito das cores<br />

do espectro solar como o resultado da interferência <strong>de</strong> suas<br />

vibrações em nossa Aura. Todos os órgãos, sistemas e<br />

funções do corpo são conectados a centros <strong>de</strong> energia<br />

<strong>Maio</strong>/Junho Mayo/ Junio 5<br />

Por Por Muriel<br />

Muriel<br />

localizados ao longo da coluna vertebral, chamados<br />

“chakras”. Todas as pessoas tem 7 chakras, e cada chakra<br />

correspon<strong>de</strong> a uma das sete cores energéticas. Se há<br />

<strong>de</strong>sequilíbrio na sua combinação, isto reflete-se no nosso<br />

corpo com a doença. A falta <strong>de</strong> uma das cores resulta no<br />

enfraquecimento do órgão correspon<strong>de</strong>nte, e, por outro lado,<br />

o excesso causa a sua hiperactivida<strong>de</strong>. A impetuosa<br />

tendência <strong>de</strong> uma pessoa para alguma das cores po<strong>de</strong> ser<br />

sinal <strong>de</strong> distúrbios do equilíbrio no organismo.<br />

Dizem os cientistas que o homem <strong>de</strong>s<strong>de</strong> sempre esteva<br />

ro<strong>de</strong>ado <strong>de</strong> cores e sabe instintivamente como usá-las para<br />

atenuar os estados da sua alma e do seu corpo, vestindo<br />

roupas <strong>de</strong> cores a<strong>de</strong>quadas ou manifestando o gosto por<br />

<strong>de</strong>terminadas flores, por exemplo. Hoje, no entanto, começa<br />

a per<strong>de</strong>r este instinto e, obe<strong>de</strong>cendo a moda, com frequência<br />

cerca-se <strong>de</strong> cores entre as quais não se sente bem.<br />

A terapia com as cores usamos profilacticamente para regular<br />

a nossa disposição geral ou para tratar certas<br />

indisposições psíquicas. Entre as cores principais, o<br />

vermelho é o mais energético – estimula a activida<strong>de</strong> e é<br />

utilizado na falta <strong>de</strong> energia, <strong>de</strong>sânimo e estados <strong>de</strong>pressivos.<br />

O azul tranquiliza e regenera o sistema nervoso. O amarelo,<br />

por sua vez, estimula o funcionamento do cérebro, inspira,<br />

facilita a aprendizagem e aumenta a perspicácia; permite<br />

liquidar o pessimismo e a apatia. O mais tranquilizante é o<br />

ver<strong>de</strong>: refresca, estabelece harmonia e acalma os nervos<br />

cansados. Já a laranja é fonte <strong>de</strong> energia e das forças vitais;<br />

é menos agressivo <strong>de</strong> que o vermelho, mas mais inspirativo<br />

e aberto à criativida<strong>de</strong>, po<strong>de</strong>ndo curar a melancolia e a<br />

tristeza extrema. As cores po<strong>de</strong>m, ainda, ser utilizados como<br />

primeiros socorros em moléstias emocionais como insónia<br />

(azul), agorafobia (vermelho), <strong>de</strong>pressão (laranja),<br />

claustrofobia (ver<strong>de</strong>) e vários tipos <strong>de</strong> cansaço (turquesa<br />

para mental, ver<strong>de</strong> para emocional e azul para físico).<br />

A cromoterapia também cura as doenças físicas. Cada parte<br />

do nosso corpo está estritamente relacionada com as cores<br />

do espectro, por isso, <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ndo da moléstia, necessitamos<br />

tratar essa parte com sua cor correspon<strong>de</strong>nte. Portanto, para<br />

indigestão e problemas com fígado, pâncreas, rins, intestinos<br />

ou doenças <strong>de</strong> pele aconselha-se utilizar o amarelo; com o<br />

laranja trata-se asma, bronquite e doenças dos pulmões; o<br />

azul, por outro lado, é i<strong>de</strong>al para inflamação <strong>de</strong> garganta e<br />

prisão <strong>de</strong> ventre, em contraste com o azul-escuro, que cura<br />

resfriados, sinusites e infecções do ouvido; para feridas<br />

e infecções é preciso aplicar o ver<strong>de</strong>; e, por fim, não há nada


ver<strong>de</strong><br />

(CONTINUAÇÃO DO ARTIGO DA PÁGINA ANTERIOR “AS CORES QUE CURAM”)<br />

melhor do que o índigo para inflamações dos olhos<br />

e sangramentos nasais.<br />

Os cromoterapeutas aconselham várias técnicas para a<br />

aplicação das cores. As mais utilizadas são a radiação com<br />

a luz solar ou a luz <strong>de</strong> lâmpadas coloridas e o tratamento<br />

com a água cromatizada, ou seja, a água energizada pelos<br />

raios solares em recipientes <strong>de</strong> diversas cores. Esta última<br />

técnica é consi<strong>de</strong>rada eficaz por agir directamente nos<br />

orgãos que precisam <strong>de</strong> cura. Mas os métodos da aplicação<br />

da cromoterapia sistematicamente multiplicam-se. Segundo<br />

os médicos, já têm valores terapêuticos operações tão<br />

simples como usar roupas e adornos <strong>de</strong> uma cor específica<br />

(basta um cachecol ou uma gravata, ou, melhor, uma roupa<br />

íntima colorida), pintar as pare<strong>de</strong>s ou ro<strong>de</strong>ar-se <strong>de</strong> móveis<br />

e ornamentos <strong>de</strong> tonalida<strong>de</strong>s a<strong>de</strong>quadas. Entre os métodos<br />

mais sofisticados, po<strong>de</strong>mos escolher entre a transmissão<br />

das vibrações por pedras preciosas, o fornecimento <strong>de</strong> cor<br />

através <strong>de</strong> um pêndulo radioestésico ou a estimulação dos<br />

pontos acupuncturais com folhas coloridas. Há também algo<br />

para os fãs da meditação: exercícios <strong>de</strong> auto-equilíbrio por<br />

meio da visualização e da respiração com a cor mentalizada.<br />

As pessoas se perguntam se isso na verda<strong>de</strong> funciona. Bem,<br />

a aplicação da terapia não parece muito complicada, então<br />

basta tentar! Mas é aconselhável fazê-lo sob assistência<br />

médica – também na medicina tradicional tomar<br />

medicamentos sem autorização po<strong>de</strong> ter resultados<br />

inesperados.<br />

QUASE COMO UM SELVA:<br />

A TURBULENTA HISTÓRIA<br />

DUMA PALMEIRA<br />

6<br />

Texto exto exto <strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>de</strong> Magdalena Magdalena D DDominowska<br />

D ominowska<br />

Os poloneses somos, em geral, uma nação que sempre se<br />

queixa <strong>de</strong> tudo. E atribuímos o nosso pessimismo à falta <strong>de</strong><br />

sol e <strong>de</strong> exotismo na nossa vida. Já há alguns anos, temos<br />

pelo menos, um elemento natural que fica ver<strong>de</strong> durante<br />

todo o ano, provém da zona tropical e é um símbolo da<br />

vida cheia <strong>de</strong> calor e alegria. É a única árvore do grupo<br />

Phoenix Canariensis na nossa faixa climática. A palmeira…<br />

Sem ela, a capital da Polônia seria uma das cida<strong>de</strong>s mais<br />

cinzentas da Europa, mas não é.<br />

A autora do projeto, Joanna Rajkowska, nunca pensou<br />

que aquele pedacinho dos trópicos passaria a ser um<br />

elemento tão importante na vida <strong>de</strong> todos nós.<br />

Importante e polêmico.<br />

A palmeira foi instalada na rotunda <strong>de</strong> Gaulle, em pleno<br />

centro <strong>de</strong> Varsóvia, em <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 2002. Um ano<br />

<strong>de</strong>pois, as autorida<strong>de</strong>s da capital, atuando duma maneira<br />

típica das classes dirigentes (isto é, sem ouvir a voz do<br />

povo), quiseram arrancar a árvore da sua ilha. Então,<br />

como resposta a essas ações tão bárbaras, constituiu-se<br />

o Comitê para a Defesa da Palmeira, cujo objetivo foi<br />

salvar a palmeira e obter para ela a permissão da<br />

permanência perpétua na rotunda.<br />

E aqui chegamos a um ponto bastante importante da<br />

história. Resulta que nos momentos <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> perigo<br />

sabemos unir-nos para lutar em nome duma causa justa.<br />

A maioria dos habitantes da capital fez assim e, graças<br />

a seu apoio, o Comitê para a Defesa da Palmeira venceu<br />

a batalha e a palmeira ficou no seu lugar.<br />

Quem pensava que os poloneses pu<strong>de</strong>ssem ser tão<br />

solidários? Graças a Deus, <strong>de</strong> vez em quando são. Que<br />

pena que não somos assim unânimes quanto às questões<br />

políticas. Lá o assunto é muito pior. A vida política em<br />

nosso país é quase como uma selva - todos lutam contra<br />

todos e ninguém po<strong>de</strong> chegar a um acordo.<br />

Mas já basta <strong>de</strong> divagações. Falemos da palmeira.<br />

Resulta que a maioria dos moradores <strong>de</strong> Varsóvia é<br />

orgulhosa <strong>de</strong>la - por fim temos um elemento<br />

característico da nossa cida<strong>de</strong>, por fim temos on<strong>de</strong><br />

encontrar-nos na sexta-feira <strong>de</strong> noite, por fim a polícia<br />

po<strong>de</strong> parecer-se, pelo menos um pouco, com a polícia<br />

<strong>de</strong> Los Angeles, dando multas <strong>de</strong>baixo duma palmeira.<br />

E, além disso, a nossa querida palmeira é especial<br />

também por ser a única palmeira artificial no mundo<br />

que até per<strong>de</strong> folhas durante o outono (no outono do<br />

ano passado da palmeira ficou só com o tronco - as folhas<br />

foram levadas pelo vento)…<br />

Assim, as autorida<strong>de</strong>s têm <strong>de</strong> ouvir a voz do povo. A<br />

PALMEIRA TEM DE FICAR NA ROTUNDA! Porque<br />

<strong>de</strong>sperta em nós tantos sentimentos positivos, porque é<br />

tão única e especial, porque é um dos poucos sopros <strong>de</strong><br />

exotismo na nossa cida<strong>de</strong> e é tão original que não tem<br />

par, porque tem um jeito <strong>de</strong> unir as pessoas…. Palmeira,<br />

queremos que sempre estejas connosco!<br />

ver<strong>de</strong><br />

VERDE GELADO<br />

Passeios pelo parque na Primavera, tar<strong>de</strong>s preguiçosas nos<br />

dias feriados, encontros com os amigos, visitas à casa da<br />

avó - todas estas situações têm algo em comum. O que<br />

po<strong>de</strong>rá ser? Uma sensação <strong>de</strong> felicida<strong>de</strong>? um prazer? o<br />

<strong>de</strong>sprezo do tempo que corre como louco? — Sim, claro,<br />

isso também, mas existe algo mais, que sempre me traz à<br />

memória as recordações dos dias<br />

levianos, cheios <strong>de</strong> riso e alegria. Não<br />

é muito difícil adivinhar o que é isto.<br />

Basta fecharmos os olhos e<br />

lembrarmo-nos dos tempos da<br />

infância quando num dia <strong>de</strong> sol<br />

esten<strong>de</strong>mos as mãozinhas trementes<br />

para uma ven<strong>de</strong>dora que servia<br />

gelados. A carinha lambuzada, os<br />

<strong>de</strong>dos viscosos…Que prazer! Que<br />

<strong>de</strong>lícias!<br />

A predilecção pelos gelados<br />

acompanha-me até hoje. Quando ouvi<br />

o tema <strong>de</strong>sta revista (‘Ver<strong>de</strong>’), pensei logo sobre...a<br />

‘Zielona Budka’, uma empresa muito conhecida na<br />

Polónia que produz gelados. A sua história remonta aos<br />

tempos da Segunda Gran<strong>de</strong> Guerra, quando em 1947 na<br />

esquina das ruas Madaliñskiego e Pu³awska, em Varsóvia,<br />

apareceu uma barraquinha, feita <strong>de</strong> ma<strong>de</strong>ira, on<strong>de</strong> se<br />

vendiam gelados. Os proprietários da gelataria- Edmund<br />

Plewicki, agora <strong>de</strong> 87 anos, e o já falecido Kazimierz<br />

Kozio³ pintaram-na <strong>de</strong> ver<strong>de</strong> (a escolha<br />

tempos da infância<br />

quando num dia <strong>de</strong> sol<br />

esten<strong>de</strong>mos as mãozinhas<br />

trementes para<br />

uma ven<strong>de</strong>dora que<br />

servia gelados.<br />

Mayo/Junio <strong>Maio</strong>/Junho<br />

da tinta era muito limitada,<br />

porque naqueles tempos só se podia<br />

comprar tinta ver<strong>de</strong> ou<br />

vermelha). Assim nasceu o nome<br />

da empresa- ‘Zielona Budka’.<br />

Pouco tempo <strong>de</strong>pois, a gelataria<br />

tornou-se muito famosa entre os<br />

varsovienses. As filas em frente à<br />

barraquinha eram sempre longas.<br />

Todos se entusiasmavam com o<br />

sabor e a consistência dos<br />

gelados. A visita à Rua Pu³awska<br />

aos domingos era quase tão<br />

obrigatória como a participação<br />

na missa. Esperando para comprar<br />

gelados, as pessoas cavaqueavam<br />

alegremente e travavam novas<br />

amiza<strong>de</strong>s. A Pu³awska tornou-se<br />

também o lugar <strong>de</strong> encontros da<br />

nata social varsoviense. Os amadores dos gelados da<br />

Zielona Budka eram vários actores, poetas, políticos, etc.<br />

As iguarias <strong>de</strong> Plewicki e Kozio³ encantavam todos, sem<br />

excepção.<br />

Des<strong>de</strong> aqueles tempos têm-se vindo a introduzir muitas<br />

alterações. A barraquinha ver<strong>de</strong> na<br />

Pu³awska tornou-se um verda<strong>de</strong>iro<br />

salão <strong>de</strong> gelados. Além disso,<br />

abriram-se gelatarias novas, não só<br />

em Varsóvia, mas também em<br />

Gdynia. Em 1980, Zbigniew Grycan<br />

adquiriu a ‘Zielona Budka’. Ele era<br />

um pasteleiro da terceira geração,<br />

então com muita experiência. Hoje<br />

o possuidor da ‘Zielona Budka’ é a<br />

empresa Roncadin GmbH, um dos<br />

maiores produtores <strong>de</strong> gelados na<br />

Europa Oci<strong>de</strong>ntal. A firma <strong>de</strong>clara a<br />

sua afeição à tradição da ‘Zielona<br />

Budka’- usa produtos da primeira qualida<strong>de</strong> e receitas<br />

verificadas.<br />

Provavelmente estas <strong>de</strong>clarações são verda<strong>de</strong>iras. A<br />

minha avó ainda se lembra daqueles gelados dos anos<br />

40, 50 e 60 e confirma que o sabor permaneceu, como<br />

sempre, celestial.<br />

Então, gente- BOM APETITE! <br />

–<br />

Texto exto <strong>de</strong> <strong>de</strong> Aleksandra Aleksandra Galazka<br />

Galazka<br />

`<br />

7


ver<strong>de</strong><br />

É POSSÍVEL QUE OS ESTUDANTES<br />

TENHAM UMA VIDA SAUDÁVEL?<br />

Há pessoas que, quando perguntadas sobre o que<br />

acham mais significante na sua vida, respon<strong>de</strong>m sem<br />

nenhuma hesitação: a saú<strong>de</strong>. É óbvio que para executar<br />

as tarefas do dia-a-dia <strong>de</strong>ve-se estar em boa forma.<br />

Em especial nós, estudantes,<br />

precisamos disso. Porém, o que<br />

significa ter uma vida saudável?<br />

Será tão fácil levar uma vida assim?<br />

Em geral, para se ter uma vida<br />

saudável é indispensável adoptar<br />

alguma regularida<strong>de</strong> <strong>de</strong> hábitos, ter<br />

bastante tempo e, certamente,<br />

dispor <strong>de</strong> dinheiro. E, todos sabem,<br />

o traço característico da vida<br />

estudantil é exactamente a falta<br />

<strong>de</strong>stes três factores.<br />

A pressa, o stress e o cansaço<br />

pautam a vida do estudante médio.<br />

É obrigatório frequentar as aulas,<br />

fazer muitas fotocópias e, após o<br />

dia inteiro passado fora <strong>de</strong> casa,<br />

estudar. E durante o tempo que<br />

resta o estudante prepara-se para o<br />

dia seguinte. São as obrigações<br />

básicas. Entretanto, há ainda muitas<br />

outras activida<strong>de</strong>s que exige <strong>de</strong> nós<br />

a vida.<br />

A maioria esmagadora dos<br />

estudantes em Varsóvia provêm <strong>de</strong><br />

outras cida<strong>de</strong>s da Polónia. Têm que<br />

contar só com eles mesmos e se<br />

esforçar mais que os colegas da<br />

capital. Além disso, cada vez mais<br />

pessoas estudam e trabalham ao<br />

mesmo tempo. Quase todos estão conscientes das<br />

exigências do mercado <strong>de</strong> trabalho e <strong>de</strong> que hoje, para<br />

conseguirem um emprego, só a conclusão dos estudos<br />

já não basta. É necessário ter experiência profissional,<br />

adquirida relativamente mais cedo. E, ainda, a vida<br />

na capital significa maior concorrência entre<br />

pessoas ambiciosas, bem educadas e<br />

8<br />

A maioria esmagadora<br />

dos estudantes em<br />

Varsóvia provêm <strong>de</strong><br />

outras cida<strong>de</strong>s da<br />

Polónia. Têm que<br />

contar só com eles<br />

mesmos e se esforçar<br />

mais que os colegas da<br />

capital. Além disso,<br />

cada vez mais pessoas<br />

estudam e trabalham ao<br />

mesmo tempo. Quase<br />

todos estão conscientes<br />

das exigências do<br />

mercado <strong>de</strong> trabalho e<br />

<strong>de</strong> que hoje, para<br />

conseguirem um<br />

emprego, só a conclusão<br />

dos estudos já<br />

não basta.<br />

<strong>Maio</strong>/Junho<br />

Por Por Dagmara agmara<br />

preparadas para vários sacrifícios rumo ao sucesso<br />

profissional.<br />

Quanto, por exemplo, à alimentação, o estudante<br />

comum nutre-se ora em bares, ora<br />

com sanduíches e petiscos trazidos<br />

<strong>de</strong> casa, e com muita frequência a<br />

caminho das aulas. Já a duração do<br />

sono <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> do período: há tais<br />

momentos em que se po<strong>de</strong> dormir<br />

quase sem limites, e outros quando<br />

é preciso reduzi-lo ao mínimo –<br />

particularmente na época <strong>de</strong><br />

exames.<br />

O esforço físico, por sua vez, é vital<br />

na manutenção da silhueta<br />

esbelta, mas nem todos gostam <strong>de</strong><br />

se mexer. E aqui encontramos uma<br />

contradição: as pessoas que <strong>de</strong>vem<br />

frequentar as aulas da educação<br />

física muitas vezes queixam-se da<br />

obrigatorieda<strong>de</strong>.<br />

A forma preferida <strong>de</strong> passar o<br />

tempo livre é, para a maioria dos<br />

estudantes, o divertimento com os<br />

amigos. A esta altura vão ao cinema<br />

ou à discoteca, circulam pelos<br />

pubs, fumam cigarros ou bebem.<br />

Deste modo po<strong>de</strong>m libertar-se das<br />

tensões da vida quotidiana,<br />

acumuladas ao longo <strong>de</strong> uma difícil<br />

semana <strong>de</strong> estudo.<br />

Ora, é possível, então, que o<br />

estudante leve uma vida saudável?<br />

Para dizer a verda<strong>de</strong>, isso não é tão fácil. Por outro<br />

lado, possível. Em particular quando se dá conta <strong>de</strong><br />

que sempre haverá limites, entre datas e <strong>de</strong>veres, que<br />

não nos facilitam a existência. E a qualida<strong>de</strong> do nosso<br />

bem-estar <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>, em gran<strong>de</strong> parte, <strong>de</strong> nós mesmos.<br />

É preciso lembrar disso, se alguém <strong>de</strong>seja gozar a vida<br />

o máximo possível.<br />

ver<strong>de</strong><br />

VERDE,<br />

QUE TE QUIERO VERDE<br />

El color ver<strong>de</strong>, que solía ser el símbolo <strong>de</strong> la<br />

esperanza, se ha convertido últimamente en un color<br />

muy popular. Lo seguro es que el ver<strong>de</strong> está <strong>de</strong><br />

moda. Y la moda ver<strong>de</strong> se refiere<br />

no solamente a los vestidos, sino<br />

también abarca nuestro estilo <strong>de</strong><br />

la vida, afecta a nuestro modo <strong>de</strong><br />

pensar y nos abre los ojos frente a<br />

la realidad en la que vivimos.<br />

Gracias a este fenómeno, por fin,<br />

nos hemos dado cuenta <strong>de</strong> que<br />

nuestro planeta está amenazado<br />

por nosotros mismos y <strong>de</strong>cidimos<br />

poner nuestro conocimiento al<br />

servicio <strong>de</strong> la naturaleza.<br />

No cabe la menor duda <strong>de</strong> que la<br />

naturaleza que constituye nuestro<br />

habitat, sufre una serie <strong>de</strong> cambios<br />

y transformaciones <strong>de</strong>s<strong>de</strong> que el<br />

hombre salió <strong>de</strong> las cavernas y<br />

puebla la tierra.<br />

Los labradores agrícolas,<br />

cazadores y gana<strong>de</strong>ros han ido<br />

modificando el aspecto y las<br />

características <strong>de</strong> <strong>de</strong>terminados<br />

lugares, dando origen a un paisaje<br />

al que podríamos <strong>de</strong>finir como un<br />

conjunto <strong>de</strong> elementos naturales y<br />

humanos que afectan en un<br />

territorio.<br />

Es evi<strong>de</strong>nte que la acción <strong>de</strong>l<br />

hombre ha influido en el paisaje.<br />

Pienso que incluso podríamos<br />

afirmar que hoy forman parte <strong>de</strong><br />

la naturaleza las tierras <strong>de</strong>l<br />

cultivo, los puentos sobre los ríos,<br />

y, en un sentido más amplio, también los pueblos y<br />

las ciuda<strong>de</strong>s. Un paisaje sin elementos creados por<br />

el hombre es hoy en día una excepción.<br />

Nosotros, hombres <strong>de</strong>l siglo XXI, po<strong>de</strong>mos<br />

No cabe la menor duda<br />

<strong>de</strong> que la naturaleza<br />

que constituye nuestro<br />

habitat, sufre una serie<br />

<strong>de</strong> cambios y transformaciones<br />

<strong>de</strong>s<strong>de</strong> que<br />

el hombre salió <strong>de</strong> las<br />

cavernas y puebla la<br />

tierra. Los labradores<br />

agrícolas, cazadores y<br />

gana<strong>de</strong>ros han ido<br />

modificando el aspecto<br />

y las características <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>terminados lugares,<br />

dando origen a un<br />

paisaje al que podríamos<br />

<strong>de</strong>finir como<br />

un conjunto <strong>de</strong> elementos<br />

naturales y<br />

humanos que afectan<br />

en un territorio.<br />

Mayo/ Junio<br />

Texto exto <strong>de</strong> <strong>de</strong> Magdalena Magdalena Smorczewska<br />

Smorczewska<br />

consi<strong>de</strong>rarcomo marco natural <strong>de</strong> nuestra<br />

convivencia no sólo el paisaje virgen, sino también<br />

aquel en el que, se transcurre nuestra vida: la<br />

comunidad rural, el pueblo y su<br />

entorno, y la gran ciudad con sus<br />

respectivos suburbios.<br />

Creo que con el avance <strong>de</strong> la<br />

civilización, con el progreso<br />

tecnológico, el hombre ha<br />

iniciado un proceso <strong>de</strong> <strong>de</strong>terioro<br />

cada vez mayor <strong>de</strong> la naturaleza,<br />

hasta el punto <strong>de</strong> poner en gran<br />

peligro su propio futuro. La<br />

<strong>de</strong>gradación <strong>de</strong> las aguas y <strong>de</strong> la<br />

atmósfera ha alcanzado un grado<br />

alarmante para todo ser vivo.<br />

Lo que causa esta <strong>de</strong>gradación<br />

son, entre otros, los humos<br />

proce<strong>de</strong>ntes <strong>de</strong> las fábricas, <strong>de</strong> la<br />

calefacción y <strong>de</strong>l tráfico. La<br />

contaminación, al <strong>de</strong>struir el<br />

medio ambiente afecta también<br />

a los animales, tanto los salvajes<br />

como los domésticos, e incluso<br />

a la vida <strong>de</strong>l hombre. Las mareas<br />

negras, formadas por el patroleo,<br />

en cambio, son nocivas para la<br />

flora y fauna marina.<br />

Afortunadamente, nuestra sociedad,<br />

aunque tar<strong>de</strong>, ha comenzado<br />

<strong>de</strong>fen<strong>de</strong>r y proteger la<br />

naturaleza y el medio ambiente<br />

natural. Es la única posibilidad<br />

<strong>de</strong> garantizarnos la<br />

supervivencia.<br />

Por esta razón tenemos que apreciar el duro trabajo,<br />

la fe y las ganas <strong>de</strong> luchar <strong>de</strong> los Ver<strong>de</strong>s, porque<br />

ellos son nuestra última esperanza. Tal vez siga<br />

existiendo una relación entre los términos “ver<strong>de</strong>”<br />

y “esperanza”.<br />

9


ver<strong>de</strong><br />

Ver<strong>de</strong> é uma cor muito bonita – isso todos sabem. Do<br />

que a maioria das pessoas não se dá conta é que esta cor<br />

também parece ser excepcionalmente produtiva quanto<br />

às expressões usadas em várias línguas. Expressões<br />

idiomáticas ou provérbios que contêm nomes das cores<br />

enriquecem o nosso vocabulário e fazem cada discurso<br />

mais interessante. Para todos os que se interessam pela<br />

linguística, como também para os que sempre a acharam<br />

um pesa<strong>de</strong>lo – este artigo é uma tentativa <strong>de</strong> comparação<br />

das expressões com a cor ver<strong>de</strong> em três línguas,<br />

português, inglês e alemão – se calhar vale a pena pelo<br />

menos dar uma vista <strong>de</strong> olhos :-)<br />

Quando se procura as expressões “ver<strong>de</strong>s” em vários<br />

dicionários, a primeira coisa que dá nas vistas é que esta<br />

cor significa, em quase todas as culturas, uma certa<br />

imaturida<strong>de</strong>, tanto quando se trata das frutas ou plantas,<br />

como quando estamos a falar das pessoas. Em português<br />

fala-se dos “ver<strong>de</strong>s anos” ou da “ver<strong>de</strong> ida<strong>de</strong>”, em alemão<br />

há uma expressão “grün hinter <strong>de</strong>n Ohren sein” (port.<br />

“estar ver<strong>de</strong> atrás das orelhas”), em inglês usa-se a cor<br />

ver<strong>de</strong> (“green”) simplesmente como um adjectivo para<br />

<strong>de</strong>screver uma pessoa a quem falta uma certa experiência<br />

na vida. Nesta língua há também uma expressão “not as<br />

green as cabbage-looking” (um pouco difícil <strong>de</strong> traduzir<br />

para qualquer língua :-)) que se po<strong>de</strong> usar quando se quer<br />

acentuar que a pessoa sobre a qual estamos a falar não é<br />

tão inexperiente como se podia pensar.<br />

Adiante, ver<strong>de</strong> significa também a cor da inveja – em<br />

cada uma das nossas três línguas há uma expressão “estar<br />

ver<strong>de</strong> <strong>de</strong> inveja” (ingl. “green with envy”, alem. “grün<br />

vor Neid”), o que significa que as pessoas invejosas<br />

parecem ficar com as caras ver<strong>de</strong>s in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntemente<br />

do país on<strong>de</strong> moram ou da língua que usam J<br />

Um terceiro sentido do “ver<strong>de</strong>” que se po<strong>de</strong> encontrar<br />

em muitas línguas tem que ver com a naturesa, com tudo<br />

o que está sempre ver<strong>de</strong>. Num dicionário português<br />

encontrei uma expressão “cair no ver<strong>de</strong>”, que significa<br />

fugir para o campo, escon<strong>de</strong>r-se no mato. O inglês tem<br />

por exemplo uma expressão “to have green fingers” (“ter<br />

<strong>de</strong>dos ver<strong>de</strong>s”), usada quando se fala <strong>de</strong> uma pessoa que<br />

tem jeito para cultivar plantas. Só os alemães parecem<br />

não se importar muito quanto ao facto <strong>de</strong> que o único<br />

ver<strong>de</strong> verda<strong>de</strong>iro é o da natureza.<br />

Texto exto <strong>de</strong> <strong>de</strong> Olga Olga<br />

Olga<br />

TUDO O QUE VOCÊ SEMPRE QUIS SABER SOBRE O VERDE MAS TINHA MEDO<br />

DE PERGUNTAR EM PORTUGUÊS, INGLÊS OU ALEMÃO.<br />

10<br />

Por outro lado, o que os portugueses não têm no seu<br />

vocabulário tem a ver com a significação da cor ver<strong>de</strong><br />

no tráfego, seja por que razão for (talvez os carros não<br />

<strong>de</strong>sempenhem uma função tão importante na vida dos<br />

portugueses como na dos ingleses ou dos alemães :-)).<br />

Em todo o caso, em inglês, como em alemão encontrase<br />

uma expressão “dar a luz ver<strong>de</strong>” (ingl. “give the green<br />

light”, alem. “grünes Licht geben”), que significa dar<br />

permissão para fazer algo, assim como a luz ver<strong>de</strong><br />

permite os carros seguir.<br />

Quanto às outras expressões com a cor ver<strong>de</strong>, cada uma<br />

das línguas que estamos a analisar tem as suas próprias<br />

singularida<strong>de</strong>s. Em português, por exemplo, encontramse<br />

ditos como “estão ver<strong>de</strong>s!”, usado quando alguém<br />

<strong>de</strong>s<strong>de</strong>nha <strong>de</strong> uma coisa por não po<strong>de</strong>r obtê-la; “tremer<br />

como varas ver<strong>de</strong>s”, quer dizer tremer <strong>de</strong> medo; “não<br />

<strong>de</strong>ixar ver<strong>de</strong> nem seco”, que significa <strong>de</strong>struir tudo<br />

completamente; ou “andar ao ver<strong>de</strong>”, uma expressão<br />

mais bonita para “pastar”.<br />

Em inglês, por outro lado, po<strong>de</strong>-se ainda encontrar um<br />

dito como “the grass is always greener on the other si<strong>de</strong>”<br />

(“a erva está sempre mais ver<strong>de</strong> no outro lado”), usado<br />

pelas pessoas que têm sempre a impressão que os outros<br />

estão melhor ou têm melhor sorte.<br />

A língua que parece ser mais rica em expressões com a<br />

cor ver<strong>de</strong> é o alemão. Além das já mencionadas, nesta<br />

língua usam-se expressões idiomáticas como:<br />

“jeman<strong>de</strong>m nicht grün sein” (“não estar ver<strong>de</strong> para<br />

alguém”), usada quando não se po<strong>de</strong> aguentar alguém;<br />

“auf keinen grünen Zweig mit jeman<strong>de</strong>m kommen”<br />

(“não subir nenhuma ramada ver<strong>de</strong> com alguém”), quer<br />

dizer não po<strong>de</strong>r chegar a termos com uma pessoa; ou<br />

também “alles im grünen Bereich” (“tudo em área<br />

ver<strong>de</strong>”), que significa o mesmo como “tudo está bem”.<br />

Como se po<strong>de</strong> ver, para as línguas, a cor ver<strong>de</strong> constitui<br />

uma fonte inesgotável <strong>de</strong> ditos e expressões, às vezes<br />

ligadas à nossa vida e às nossas experiências, às vezes<br />

completamente abstractas – mas sempre muito preciosas<br />

e úteis.<br />

E quando o Inverno finalmente<br />

acaba e a Primavera começa a pintar<br />

<strong>de</strong> ver<strong>de</strong> a Polónia acinzentada, as<br />

pessoas <strong>de</strong> Lublin...<br />

Mayo/Junio <strong>Maio</strong>/Junho<br />

11


<strong>Maio</strong>/Junho Mayo/ Junio 25


ver<strong>de</strong><br />

A MACONHA E SEUS SIGNIFICADOS<br />

Maconha, cânhamo, marijuana, erva, suruma, cannabis,<br />

tabaco, erva santa, sensi, sensemilia, ganja, holy weed,<br />

coolie, baseado, erva, tora, beise, fumo, bagulho, fininho,<br />

haxixe, bangh, diamba, marihuana - são todos nomes da<br />

erva mais famosa e polêmica do mundo. Muito se fala<br />

sobre o seu uso - que po<strong>de</strong> ser prejudicial para saú<strong>de</strong>,<br />

quando se fuma por prazer, ou benéfico, quando é<br />

medicamento para aliviar a dor. Também muito se discute<br />

o carácter <strong>de</strong> sua legalida<strong>de</strong>. No entanto, poucas pessoas<br />

percebem que em diferentes culturas o uso da maconha<br />

adquire significados vários. Seus primeiros registros<br />

históricos são <strong>de</strong> mais <strong>de</strong> 200 anos A.C. na China, no<br />

Egito e na Índia. Depois seu emprego medicinal foi<br />

conhecido entre povos africanos e<br />

asiáticos, os gregos e os indianos.<br />

Hoje, quando se fala na maconha,<br />

logo se pensa na cultura jamaicana.<br />

Como todos sabemos, na Jamaica<br />

seu uso é bastante popular. Certas<br />

seitas atribuem-lhe po<strong>de</strong>res místicos<br />

e divinos, especialmente para afastar<br />

os maus espíritos. As pessoas<br />

encontram na ganja (nome como a<br />

erva e conhecida no país) energia<br />

para viver e relaxamento após o<br />

trabalho; oferecem a droga, mesmo<br />

aos filhos, para que sejam melhores.<br />

Na população mais pobre, a criança<br />

apren<strong>de</strong> a usar a cannabis, cedo às<br />

vezes se dá maconha até aos bebês.<br />

Fumar a ganja é, portanto, mais que<br />

um costume - um rito ou uma<br />

crença.<br />

Poucas pessoas, no entanto, têm<br />

informações sobre a importância da<br />

maconha na Índia. Lá o consumo da erva é <strong>de</strong> gran<strong>de</strong><br />

importância para os homens consi<strong>de</strong>rados ´santos´.<br />

Alguns <strong>de</strong>les são os babas e os sadhus. Os babas são<br />

mestres espirituais que viajam por todo o país, vestidos<br />

<strong>de</strong> trajes cor <strong>de</strong> laranja com bastão e uma bola nas costas,<br />

nela levam todos os seus bens. Já os sadhus são monges<br />

´mendigos´ que têm barbas gran<strong>de</strong>s, dredlocks e o corpo<br />

coberto com cinzas. Os babas e os sadhus estão em<br />

constante peregrinação. Caminham para a liberda<strong>de</strong> e<br />

são portadores da espiritualida<strong>de</strong> e da harmonia no país.<br />

Eles são, ao mesmo tempo, os maiores consumidores <strong>de</strong><br />

marijuana, a que chamam <strong>de</strong> rap ou charas.<br />

14<br />

Hoje, quando se fala na<br />

maconha, logo se pensa<br />

na cultura jamaicana.<br />

Como todos sabemos, na<br />

Jamaica seu uso é<br />

bastante popular. Certas<br />

seitas atribuem-lhe<br />

po<strong>de</strong>res místicos e<br />

divinos, especialmente<br />

para afastar os maus<br />

espíritos.<br />

Texto exto <strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>de</strong> Ale Ale Miodowska<br />

Miodowska<br />

O cachimbo indiano para fumar cânhamo se chama<br />

chillums. Os Chillums são <strong>de</strong> diferentes tipos e são feitos<br />

<strong>de</strong> diferentes matérias, por exemplo, <strong>de</strong> ouro (!), <strong>de</strong><br />

ma<strong>de</strong>ira, <strong>de</strong> pedra, ou mais freqüentemente <strong>de</strong> argila.<br />

Normalmente tem 18 centímetros <strong>de</strong> comprimento.<br />

Cada cachimbo tem duas peças - uma pedra e o safi. A<br />

pedra serve para colocá-la na maconha e o safi (um<br />

pedaço <strong>de</strong> pano) se põe na parte inferior para preservar<br />

a higiene. O Safi é <strong>de</strong> uso individual e impe<strong>de</strong> que as<br />

cinzas entrem nos pulmões além <strong>de</strong> servir, também, para<br />

limpar o cachimbo, o que se <strong>de</strong>ve fazer <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> cada<br />

utilização.<br />

O momento <strong>de</strong> prepar o cachimbo é<br />

muito importante. Os babas e os<br />

sadhus fazem-no cuidadosamente.<br />

Primeiro se tem que preparar bem a<br />

mistura <strong>de</strong> maconha com tabaco, ou<br />

dois dos vários tipos <strong>de</strong> marijuana.<br />

Na maioria dos casos a mistura é<br />

molhada ligeiramente com a água<br />

sagrada do Ganges. Daí, aspirando<br />

com força, experimentam um estado<br />

<strong>de</strong> harmonia consciente. Esta ação<br />

serve para obter liberda<strong>de</strong> pessoal e<br />

também é uma forma <strong>de</strong> mostrar a<br />

sua filosofia contra a violência.<br />

Fumando eles não se submetem a<br />

nenhum tipo <strong>de</strong> pressão social ou<br />

política, que proíbem o uso da<br />

maconha; pelo contrário, sentem-se<br />

livres e felizes. E, ao finalizar o<br />

cachimbo, esvaziam as suas cinzas<br />

direto na palma <strong>de</strong> mão e as usam<br />

para pintar o seu próprio corpo.<br />

É interessante ver a gran<strong>de</strong> diferença<br />

<strong>de</strong> significado que tem a maconha na Índia e na Europa.<br />

Na Índia a maconha é fumada por certos tipos <strong>de</strong><br />

sacerdotes, e na Europa pelos jovens. Lá é um ritual<br />

lento - o cachimbo é bem preparado e a forma <strong>de</strong> fumar<br />

é forte e tranqüila. Aqui, normalmente a erva é usada<br />

antes das festas, fumada rápido, às escondidas, sem<br />

cerimônia nenhuma. Na cultura hindu serve para<br />

expressar a filosofia <strong>de</strong> não-violência, e aqui é só droga<br />

que se usa para sair da vida quotidiana. Na Índia ainda<br />

o ato <strong>de</strong> fumar não significa per<strong>de</strong>r o contacto com a<br />

realida<strong>de</strong> e não se usa o fumo para fugir dos problemas<br />

- como é frequente na Europa.<br />

ver<strong>de</strong><br />

A FADA VERDE<br />

Absinto. Provavelmente muitas pessoas pensam o que<br />

é que po<strong>de</strong> ser esta coisa! Não é nenhum medicamento,<br />

como alguns crêem. Mas, por outro lado, po<strong>de</strong> também<br />

facilmente curar a tristeza ou mau humor. Eu próprio<br />

tive <strong>de</strong> viver por 14 anos até o meu primeiro encontro<br />

com Absinto - a bebida mais bendita <strong>de</strong> todo o mundo.<br />

Então Absinto é uma bebida <strong>de</strong> cor ver<strong>de</strong> que por si<br />

só, já é muito atraente, e normalmente apresenta uma<br />

percentagem <strong>de</strong> álcool muito elevada(<strong>de</strong> 70% <strong>de</strong> grau<br />

alcoólico) – o que é ainda mais atraente. Por estas<br />

razões, ele é chamado <strong>de</strong> “Fada ver<strong>de</strong>” entre os<br />

consumidores. O nome não estranha porque <strong>de</strong>pois do<br />

consumo, ficamos num estado como se fôssemos<br />

enfeitiçados.<br />

A história <strong>de</strong>sta bebida começa já na Grécia Antiga. A<br />

erva chamava-se absinto, losna ou sintro. Antigamente<br />

esta planta era <strong>de</strong>dicada à <strong>de</strong>usa Artemis. É uma planta<br />

originária da Europa e da Ásia. O sabor <strong>de</strong>la é muito<br />

amargo e também po<strong>de</strong>-se usá-la como planta medicinal.<br />

Em sua <strong>versão</strong> alcoólica, o licor <strong>de</strong> absinto tornou-se<br />

famoso no fim do século XIX e princípio do século<br />

XX, durante a “Belle Époque” na França. Era uma<br />

época da vida boêmia pelos cafés e bulevares <strong>de</strong> Paris.<br />

E naquele momento os artistas <strong>de</strong>scobriram que o<br />

absinto era uma bebida que favorecia os processos<br />

criativos. Depois <strong>de</strong> bebê-lo os pensamentos podiam<br />

fluir com facilida<strong>de</strong> e as emoções, ocultas sob o manto<br />

<strong>de</strong> preocupações diárias, vinham à tona.<br />

A “Fada ver<strong>de</strong>” sempre foi associada à França, mas a<br />

verda<strong>de</strong> é que o licor foi criado na Suíça. Os seus<br />

ingredientes, <strong>de</strong>stilados, compõem-se <strong>de</strong> anis e uma<br />

diversida<strong>de</strong> <strong>de</strong> ervas, das quais se <strong>de</strong>staca a Artemisia<br />

absinthium - responsável por toda a polêmica em<br />

volta do absinto, por conter substâncias alucinógenas.<br />

É por todas estas características que autores como<br />

Oscar Wil<strong>de</strong> e PaulVerlaine escreveram poemas em<br />

seu louvor e Degas, Manet, Van Gogh e Picasso<br />

expressaram o mesmo louvor em seus quadros.<br />

Depois <strong>de</strong> ganhar tanta fama, o Absinto foi proibido<br />

em 1915 por causa das alucinações que provocava,<br />

apesar <strong>de</strong> nunca ter havido provas científicas disso.<br />

Voltou à legalida<strong>de</strong> recentemente - na Polônia até<br />

muito recentemente. Hoje po<strong>de</strong>mos encontrar aproximadamente<br />

189 tipos <strong>de</strong> absinto, e a percentagem <strong>de</strong><br />

álcool é muito variada. A maior quantida<strong>de</strong> produzse<br />

na França, na Alemanha e na República Tcheca.<br />

Como já sabemos on<strong>de</strong> se produz o licor, então é<br />

preciso saber como bebê-lo. Existem 3 maneiras mais<br />

conhecidas <strong>de</strong> consumir esta bebida. A maneira suíça<br />

consta em beber a “Fada ver<strong>de</strong>” só com água fria. A<br />

segunda maneira é francesa, e aqui temos <strong>de</strong> misturar<br />

o licor com açúcar e água. E a última opção, que eu<br />

pessoalmente adoro, é o ritual tcheco: tomamos uma<br />

colher e pomos nela açúcar. Adicionamos um pouco<br />

do absinto e pomos fogo à colher. Quando a chama<br />

<strong>de</strong>saparece, misturamos tudo com absinto no copo<br />

...saú<strong>de</strong>! e preparem-se para sentir as proprieda<strong>de</strong>s<br />

especialíssimas do Absinto.<br />

Vejam por si mesmos!<br />

Texto exto <strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>de</strong> Pedro<br />

Pedro<br />

Mayo/Junio <strong>Maio</strong>/Junho 15


ver<strong>de</strong><br />

INDIA CURRY<br />

Se perguntar a um europeu, seja polaco ou português<br />

„o que é curry?”, o que é que ele respondia? Dizia,<br />

provavelmente, que curry é aquela especiaria amarela.<br />

Que é um pouco amarga. E que vem da Índia. Será<br />

isso toda a verda<strong>de</strong> sobre o curry? Nem pensar. A<br />

palavra curry tem, basicamente, dois sentidos. Um<br />

<strong>de</strong>les é muito interessante, o outro muito menos.<br />

Começemos pelo sentido menos interessante, o da<br />

especiaria amarela e um tanto amarga, o sentido<br />

europeu. Europeu, porque esse condimento é<br />

totalmente <strong>de</strong>sconhecido na Índia. O nome vem da<br />

Índia, sim, mas por uma via indirecta. Em<br />

língua tamil kari significa molho. Daí<br />

vem a palavra inglesa curry que serve<br />

para <strong>de</strong>signar os saborosos e<br />

aromáticos molhos indianos. A<br />

palavra evoluiu e agora<br />

<strong>de</strong>nomina uma invenção<br />

inglesa – a especiaria<br />

utilizada na Europa para<br />

preparar comida “à<br />

indiana”.<br />

A história da<br />

palavra kari –<br />

curry po<strong>de</strong> servir<br />

como uma metáfora<br />

do triste processo<br />

como a nossa visão do<br />

mundo euro-pocêntrica<br />

ridiculariza as culturas<br />

asiáticas, com o aspecto<br />

<strong>de</strong>las que mais me interessa<br />

– a cozinha.<br />

Pois kari é uma palavra <strong>de</strong><br />

tamil – uma das duzentas<br />

línguas faladas na Índia; palavra<br />

que significa molhos preparados<br />

somente na cozinha do sul da Índia. E para<br />

um europeu curry é toda a cozinha da Índia, do país<br />

que tem mais do que mil milhões <strong>de</strong> pessoas <strong>de</strong><br />

diversas etnias, idiomas e religiões. Um universo <strong>de</strong><br />

cheiros, sabores e cores é quase sempre <strong>de</strong>scrito com<br />

uma palavra que nem existe neste universo.<br />

Se olharmos com atenção para um pacote <strong>de</strong> curry,<br />

vamos ver que não é um condimento só. É uma<br />

16<br />

<strong>Maio</strong>/Junho<br />

mistura <strong>de</strong> especiarias; normalmente consiste em<br />

cúrcuma (dá a cor amarela), gengibre, cravos, pimenta<br />

vermelha, pimenta cayenne, alho, canela. A esse tipo<br />

<strong>de</strong> misturas chama-se na Índia masala. As masala<br />

po<strong>de</strong>m conter até vinte especiarias diferentes, várias<br />

ervas, folhas sementes, raízes ou até casca (como no<br />

caso da canela) <strong>de</strong> plantas que abundam nas regiões<br />

do subcontinente indiano. Felizes dos cozinheiros<br />

indianos que não precisam <strong>de</strong> importar os<br />

condimentos que per<strong>de</strong>m os valores durante o<br />

transporte <strong>de</strong> países longínquos. Po<strong>de</strong>m temperar a<br />

comida com mãos-cheias <strong>de</strong> diversas masala e fazemno<br />

com vonta<strong>de</strong>. Mesmo que não se possa<br />

falar <strong>de</strong> uma cozinha indiana, o<br />

gosto <strong>de</strong> utilizar muitas<br />

especiarias é característico<br />

para toda a Índia. Dos<br />

Himalaias, pátria do arroz<br />

basmati, passando por<br />

Punjab, terra da<br />

lentilha, a Tamil<br />

Nadu, região <strong>de</strong><br />

gran<strong>de</strong> herança<br />

vegetariana, as<br />

masala regem<br />

as cozinhas<br />

indianas.<br />

M a i s<br />

picantes no<br />

sul, feitas <strong>de</strong><br />

sementes e<br />

folhinhas inteiras;<br />

mais suaves no<br />

norte, feitas <strong>de</strong><br />

condimentos moídos.<br />

Suaves para o gosto<br />

indiano, obviamente; o<br />

que é verda<strong>de</strong>iramente<br />

picante na Ásia, na Europa<br />

queima as bocas.<br />

Para saborear as masala verda<strong>de</strong>iras, fui a India<br />

Curry, um restaurante que fica na rua ¯urawia,<br />

escondido, <strong>de</strong> uma maneira muito mo<strong>de</strong>sta, atrás <strong>de</strong><br />

um caixote <strong>de</strong> lixo. Fui, saboreei e ter-me-ia<br />

apaixonado, se não me tivesse já apaixonado há quatro<br />

anos atrás pelos sabores <strong>de</strong> um bar indiano que já não<br />

existe. Se calhar apaixonava-me pela beleza exótica<br />

<strong>de</strong> um empregado do India Curry que fala um pouco<br />

polaco, um pouco <strong>de</strong> inglês, um pouco <strong>de</strong> outra coisa<br />

difícil <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ntificar. Mas não lhe pu<strong>de</strong> prestar muita<br />

atenção porque a comida absorveu-me completamente.<br />

Foi uma maravilha que não se po<strong>de</strong> experimentar todos<br />

os dias. A conta também não me ajudou a fazer amiza<strong>de</strong><br />

com o empregado, porque não consegui correspon<strong>de</strong>r<br />

ao sorriso <strong>de</strong>le. Pois, a perfeição custa. Já passaram<br />

os tempos do meu querido bar indiano, on<strong>de</strong> se podia<br />

almoçar por 10 z³oty. O cozinheiro voltou à Índia, se<br />

calhar não suportou a falta das especiarias frescas. Mas<br />

não é coisa <strong>de</strong> chorar – o cozinheiro <strong>de</strong> India Curry<br />

não é pior feiticeiro.<br />

Começámos a refeição com mango lassi, uma bebida<br />

refrescante e um pouco doce, feita <strong>de</strong> iogurte e manga.<br />

Com a garrida cor amarela <strong>de</strong> mango lassi começou o<br />

arco-íris do jantar indiano. Chegaram à mesa pãezinhos<br />

salgados, acompanhados por vários molhos vermelhos<br />

e ver<strong>de</strong>s, e paneer salad – salada <strong>de</strong> beringelas e<br />

queijo. Depois serviram-nos reshmi kebab, uma<br />

espécie <strong>de</strong> espetada <strong>de</strong> frango temperado com<br />

amêndoas e assado no forno tandoor (um forno <strong>de</strong> altas<br />

temperaturas; graças ao curto tempo <strong>de</strong> preparação a<br />

comida mantém as cores garridas, amarela no caso <strong>de</strong><br />

reshmi kebab); dal maharani – lentilha escura cozida<br />

com legumes, ver<strong>de</strong>-esmeralda e muito bem cheirosa;<br />

murgh lawabdar – pedaços <strong>de</strong> frango estufados num<br />

molho <strong>de</strong> legumes. O molho era cor-<strong>de</strong>-laranja e tinha<br />

um sabor difícil <strong>de</strong> <strong>de</strong>finir que quase me fez <strong>de</strong>smaiar<br />

<strong>de</strong> encanto, um sabor forte <strong>de</strong> especiarias exóticas.<br />

Acabámos, obviamente, com sobremesa: gulab<br />

jamoon, umas bolas <strong>de</strong> Berlim pequeninas, embebidas<br />

num xarope <strong>de</strong> mel. Foi tudo realmente óptimo. O<br />

aspecto visual também nos encantou – a comida muito<br />

colorida e servida em vários tipos <strong>de</strong> recipientes:<br />

pequenas tigelinhas <strong>de</strong> metal para a lentilha quase<br />

líquida; um vaso <strong>de</strong> latão posto num forninho com vela<br />

a ar<strong>de</strong>r para o murgh lawabdar, graças a essa maneira<br />

<strong>de</strong> servir o prato não fica frio e as pessoas não têm<br />

que comer <strong>de</strong>pressa. O frango aquece-se lentamente,<br />

dhiire dhiire, e as pessoas po<strong>de</strong>m conversar à vonta<strong>de</strong>,<br />

dhiire dhiire, lentamente também<br />

Com o murgh lawabdar começa a história do outro<br />

significado <strong>de</strong> curry, o significado que abre a porta do<br />

paraíso. A palavra <strong>de</strong>signa também vários tipos <strong>de</strong><br />

pratos, normalmente estufados com vários<br />

condimentos. O uso <strong>de</strong> diferentes especiarias fortes é<br />

Mayo/ Junio<br />

Texto exto <strong>de</strong> <strong>de</strong> Marta<br />

Marta<br />

o mais importante, o prato nem precisa <strong>de</strong> conter<br />

muito molho para po<strong>de</strong>r ser <strong>de</strong>nominado curry. Os<br />

curry po<strong>de</strong>m ser preparados <strong>de</strong> qualquer comida com<br />

base <strong>de</strong>: carnes, peixes, mariscos, legumes; o molho<br />

po<strong>de</strong> conter diversas especiarias que dão ao prato<br />

várias cores, não necessariamente a amarela, como<br />

no caso do curry europeizado. O curry chegou a ser<br />

igualmente pan-asiático como o chá. É preparado em<br />

todos os países da Ásia, com arroz ou com massa<br />

(por exemplo com udon no Japão), ou até com pão.<br />

Os diversos curry pertencem aos panteões das<br />

cozinhas nacionais da China, do Japão, Sri Lanka,<br />

Filipinas, Indonésia, Tailândia, Paquistão. E, claro,<br />

<strong>de</strong> várias regiões da Índia.<br />

Não sei dizer com toda a certeza <strong>de</strong> que região eram<br />

os pratos que comi no India Curry. Nem sei don<strong>de</strong> é<br />

o chefe da cozinha. Mas, se é ele um falante <strong>de</strong> hindi,<br />

tenho um pedido só: mera jadugaar, meu feiticeiro,<br />

não volte para a Índia, fique em Varsóvia.<br />

INDIA CURRY<br />

Morada: Ul. Zurawia, 22<br />

Telefone: 022 4389350<br />

página <strong>de</strong> internet: www.indiacurry.pl<br />

17


ver<strong>de</strong><br />

OLEN POULALAINEN, OLIN SUOMESSA 1<br />

A Finlândia é um país no norte da Europa, é certo, mas o que mais<br />

po<strong>de</strong>mos dizer sobre este país? O que sabemos? O que pensamos<br />

que sabemos? E daquilo que sabemos o que é verda<strong>de</strong>? Como no<br />

caso <strong>de</strong> todos os países, aqui também há vários estereótipos, por<br />

exemplo que a Finlândia é uma terra <strong>de</strong> neve. Na verda<strong>de</strong> é, em<br />

primeiro lugar, um país ver<strong>de</strong>, um país <strong>de</strong> natureza. Como estive<br />

lá há só três semanas atrás, agora posso dizer algo sobre esse tema<br />

tão interessante. Sejam bem-vindos a este pequeno relatório das<br />

férias que passei no norte ‘frio’.<br />

A primeira coisa que vi na Finlândia foram as ilhas no mar Báltico.<br />

O Báltico visto <strong>de</strong> outro lado, claro. Era tão bonito que, se fosse<br />

possível, ficaria no avião parado acima do mar só para admirar<br />

essa vista maravilhosa. Foi como num sonho: umas pequenas ilhas<br />

ver<strong>de</strong>s no mar azul. Infelizmente não podia fazê-lo porque o avião<br />

teve que aterrar em Helsínquia a uma certa hora... Quando aterrou,<br />

olhei pela janela e vi, <strong>de</strong> um lado, alguns aviões e, do outro, a<br />

floresta! Foi incrível – a floresta quase no aeroporto.<br />

Depois tive que ir para Tampere, uma cida<strong>de</strong> a noroeste <strong>de</strong><br />

Helsínquia. Soube sempre que a Finlândia era um país pouco<br />

povoado, mas estava realmente surpreendida ao ver apenas quatro<br />

ou cinco pessoas num autocarro gran<strong>de</strong>... Todavia, quanto à<br />

população da Finlândia, geralmente ficam em casa quando não há<br />

festas, mas no dia 1 <strong>de</strong> <strong>Maio</strong> toda a gente estava na rua! E quase<br />

todos estavam a beber álcool. Segundo o que dizem os meus amigos<br />

que agora vivem na Finlândia, para os Finlan<strong>de</strong>ses não há mau<br />

tempo para beber... E também cada ocasião é boa para pôr a<br />

ban<strong>de</strong>ira nacional numa haste...<br />

Em geral os Finlan<strong>de</strong>ses são uma nação muito simpática e quase<br />

todos falam inglês. Isto foi extremamente importante para mim<br />

porque não falo finlandês... Felizmente, não tive nenhum problema<br />

com a comunicação. Quanto à língua finlan<strong>de</strong>sa, é bonita quando<br />

se ouve, mas pessoalmente não queria aprendê-la: 15 casos no<br />

singular e plural é <strong>de</strong>masiado, mesmo para pessoas tão apaixonadas<br />

pelas línguas estrangeiras como eu... Contudo, aprendi algumas<br />

palavras ou expressões. Agora sou capaz <strong>de</strong> dizer que não falo<br />

finlandês (é uma frase muito importante, não é?): En puhu suomea.<br />

(en-não, puhu-falo,suomea–finlandês.) Conheço também os<br />

nomes dos meses, <strong>Maio</strong> é Toukokuu. Se alguém quer dizer<br />

‘obrigado’ <strong>de</strong> uma forma estranha, po<strong>de</strong> dizer kiitos. É uma língua<br />

bastante difícil, o que po<strong>de</strong> ser comprovado pelas pessoas que têm<br />

aulas há quase um ano, cinco vezes por semana, e ainda não são<br />

capazes <strong>de</strong> falar bem e compreen<strong>de</strong>r os Finlan<strong>de</strong>ses. Inglês é muito<br />

útil; e muito mais fácil.<br />

A Finlândia é conhecida por algumas coisas, os Muumi dos contos<br />

<strong>de</strong> Tove Jansson são uma <strong>de</strong>las. Em Tampere, como em outras<br />

cida<strong>de</strong>s finlan<strong>de</strong>sas, há lojas só com objectos inspirados nos<br />

18<br />

Texto exto <strong>de</strong> <strong>de</strong> Aleksandra Aleksandra Jackowska<br />

Jackowska<br />

personagens <strong>de</strong>ste conto. Há também museus e monumentos dos<br />

Muumi, e há gente que gosta <strong>de</strong> tudo isso... Mas eu não pertenço a<br />

este grupo...<br />

Outra coisa típica neste país é a sauna. Penso que não tenho <strong>de</strong><br />

explicar como é a sauna... Às vezes não se po<strong>de</strong> aguentar a<br />

temperatura lá <strong>de</strong>ntro, mesmo se não for uma sauna pública, on<strong>de</strong><br />

todos põem água nos pedaços do carvão. A humida<strong>de</strong> até impe<strong>de</strong> a<br />

respiração.<br />

Muita gente quer ir à Finlândia para ver um sítio especial, quer<br />

dizer o país do Pai Natal, a famosa Lapónia. Eu não fui lá, mas ouvi<br />

dizer que é giro, mas sobretudo para as crianças... É um pouco<br />

como um país <strong>de</strong> brinquedos. Porém, os adultos também po<strong>de</strong>m ir<br />

lá por razões turísticas. Como o dizem numerosas pessoas, a cida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> Rovaniemi é muito bonita e portanto vale a pena visitá-la. Mas<br />

aqui não posso opinar...<br />

Além disto, no norte po<strong>de</strong> ver-se neve todo o ano, coisa que não é<br />

possível no sul. Em Tampere, em <strong>Maio</strong>, ainda havia neve, mas só<br />

em alguns sítios on<strong>de</strong> se faz esqui. Os lagos estavam gelados e<br />

eram uma vista maravilhosa – todo o lago coberto <strong>de</strong> gelo, apesar<br />

do sol. É verda<strong>de</strong>, a Finlândia também é uma terra <strong>de</strong> sol – na<br />

Primavera, no Verão e no Outono, claro. No Inverno, quando quase<br />

não há sol, Tampere enche-se <strong>de</strong> luzes em forma do Pai Natal, <strong>de</strong><br />

vários animais (por exemplo da famosa rena ou alce) e, obviamente,<br />

dos Muumi. Neste ano, durante o Inverno não havia sol, mas o<br />

tempo não estava tão frio como na Polónia! O nosso inverno foi<br />

mais finlandês do que o da Finlândia!<br />

Neste país do norte há muitos estudantes estrangeiros que,<br />

pobrezinhos, têm <strong>de</strong> apren<strong>de</strong>r a língua finlan<strong>de</strong>sa, e muitos turistas<br />

<strong>de</strong> vários países, não só europeus. Para os visitantes, há sobretudo<br />

igrejas para ver. Na maioria são igrejas protestantes, mas há também<br />

algumas igrejas ortodoxas. Enquanto as igrejas protestantes estão<br />

cobertas <strong>de</strong> várias cores e <strong>de</strong> ouro, as protestantes são pouco<br />

ornamentadas e, por isso, acho-as muito mais bonitas. Para quem<br />

está farto das igrejas católicas, as protestantes são uma boa<br />

alternativa. E para quem está farto <strong>de</strong> igrejas em geral, bem, sempre<br />

há museus e lagos. Estes lagos bonitos e omnipresentes...<br />

Isto é um retrato <strong>de</strong> um país que conhecemos pouco, embora esteja<br />

bastante perto <strong>de</strong> nós, logo do outro lado do Báltico. Vale a pena<br />

vê-lo porque é um país diferente, cheio <strong>de</strong> florestas, vistas<br />

maravilhosas e <strong>de</strong> gente simpática. Recomendo-o a todos que<br />

gostariam <strong>de</strong> passar férias ‘com natureza’ em algum sítio ao que<br />

realmente parece faltar a poluição ligada ao <strong>de</strong>senvolvimento. As<br />

minhas férias foram uma verda<strong>de</strong>ira maravilha!<br />

1 - em finlandês: sou polaca, estive na Finlândia.<br />

ver<strong>de</strong><br />

HORÓSCOPO ALTERNATIVO<br />

CARNEIRO (21.03-20.04)<br />

No verão tudo é possível. Provavelmente sonha com 4 meses <strong>de</strong><br />

trabalho num pub na Inglaterra: quem sabe? Não <strong>de</strong> barman mas<br />

tomando conta <strong>de</strong> velhinhos num hospital na Escócia? Talvez.<br />

Igualmente provável é um estágio não pago numa corporação<br />

gran<strong>de</strong> – a fazer café.<br />

TOURO (21.04-20.05)<br />

Cuidado. Os problemas financeiros po<strong>de</strong>m <strong>de</strong>struir todos os seus<br />

planos para as férias. Não vá tanto às festas porque <strong>de</strong>pois po<strong>de</strong><br />

ter que pagar por exames não aprovados, literalmente dito. E<br />

como na corporação não pagam, nem o seu amigo Carneiro lhe<br />

vai ajudar.<br />

GÉMEOS (21.05-21.06)<br />

A sua dupla personalida<strong>de</strong> vai atrair muita gente, e mesmo se for<br />

<strong>de</strong> natureza tímida, <strong>de</strong>sta vez vai surpreen<strong>de</strong>r a todos com a sua<br />

auto-segurança. Os êxitos amorosos garantidos, especialmente<br />

entre os recém-libertados soldados <strong>de</strong> reserva na praia <strong>de</strong> £eba.<br />

CARANGUEJO (22.06-22.07)<br />

Durante as férias cui<strong>de</strong> principalmente da sua saú<strong>de</strong> e <strong>de</strong>dique<br />

cada momento ao <strong>de</strong>scanso em casa. Tente não sair porque o<br />

perigo <strong>de</strong> acci<strong>de</strong>nte é gran<strong>de</strong>: os conductores agressivos e os<br />

ciclistas perplexos serão o seu maior inimigo.<br />

LEÃO (23.07-23.08)<br />

A sua vida amorosa será, como sempre, muito aventureira.<br />

Aguar<strong>de</strong> mudanças radicais e inesperadas. É o tempo i<strong>de</strong>al para<br />

terminar as relações que aparentemente já não têm futuro. Não<br />

será fácil mas logo encontrará alguém novo e fascinante. Aliás,<br />

mais que um. Na verda<strong>de</strong>, tenha cuidado para que os seus amantes<br />

todos não saibam um do outro.<br />

VIRGEM (24.08-22.09)<br />

As coisas que pareciam complicadas <strong>de</strong> repente tornar-se-ão<br />

banais, e os problemas – fáceis <strong>de</strong> resolver. Olhará para o mundo<br />

com mais alegria e esperança, e até acordará em si necessida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> ajudar <strong>de</strong>sinteressadamente aos outros. Os pobres <strong>de</strong> favelas<br />

e os esfomeados na África esperam-lhe.<br />

BALANÇA (23.09-23.10)<br />

Não negligencie as velhas amiza<strong>de</strong>s porque po<strong>de</strong>m ser necessárias<br />

Texto exto exto <strong>de</strong> <strong>de</strong> Muriel<br />

Muriel<br />

Caros leitores! Como a nossa revista se torna cada vez maior, <strong>de</strong> maior tiragem, mais lida –<br />

aliás, como qualquer revista <strong>de</strong> respeito no mundo editorial –, temos que ter uma página <strong>de</strong><br />

horóscopo. Aqui a têm: algumas previsões para os meses <strong>de</strong> verão directamente da nossa<br />

redactorial bola <strong>de</strong> cristal.<br />

nos momentos difíceis. E não queria ser o último a saber das<br />

mudanças nas vidas dos seus amigos. É bom saber que a tua<br />

melhor colega ganhou na loteria e o teu amigo da primária tem<br />

o clube nocturno mais jazzy da cida<strong>de</strong>, não é?<br />

ESCORPIÃO (24.10-22.11)<br />

O verão será seu se tens talentos artísticos! O mundo da<br />

fotografia e do filme procurao! Vai atrair muitas pessoas,<br />

especialmente com o seu dom <strong>de</strong> conversa. Mas não esqueça<br />

que não todos ao seu redor são dignos <strong>de</strong> confiança. Cuidado<br />

com os falsos fotógrafos que prometem abrir as portas da fama<br />

com uma sessão <strong>de</strong> nu<strong>de</strong>z.<br />

SAGITÁRIO (23.11-21.12)<br />

Alguns acontecimentos trata <strong>de</strong>masiadamente sério. Não lhe<br />

prejudicaria um pouquinho <strong>de</strong> distância <strong>de</strong> si mesmo para não<br />

ficar <strong>de</strong>snecessariamente chateado. Não acredite em todos os<br />

rumores, sobretudo quando falam da sua namorada, a namorada<br />

<strong>de</strong>la e <strong>de</strong> um clube <strong>de</strong> dança nocturno.<br />

CAPRICÓRNIO (22.12-20.01)<br />

Aproveita o aumento das suas capacida<strong>de</strong>s intelectuais: aprova<br />

todos os exames, talvez <strong>de</strong>fenda a tese, se conseguir escrevêla...<br />

Mas não resigne <strong>de</strong> lutar por seus sonhos, mesmo que tratem<br />

<strong>de</strong> <strong>de</strong>ixar os estudos sem acabá-los. A carreira <strong>de</strong> funcionário<br />

<strong>de</strong> limpeza também po<strong>de</strong> trazer satisfação.<br />

AQUÁRIO (21.01-19.02)<br />

Chegam os tempos <strong>de</strong> tratar da sua saú<strong>de</strong>: aproveita a boa posição<br />

da lua para fazer os tratamentos <strong>de</strong> embelezamento. Não tenha<br />

medo <strong>de</strong> mudança radical do corte do cabelo ou dos óculos<br />

extravagantes: durante o verão o seu sentido <strong>de</strong> estilo vai apurarse.<br />

Até uma operação <strong>de</strong> lipoasouração dará certo.<br />

PEIXES (20.02-20.03)<br />

No verão o dinheiro vai gostar <strong>de</strong> ti: não se oponha a gastá-lo<br />

loucamente em compras, festas, prendas. Assim po<strong>de</strong>-se travar<br />

inúmeras amiza<strong>de</strong>s. Claro, estas po<strong>de</strong>m durar pouco e às vezes<br />

ser muito interesseiras, mas pelo menos o divertimento será<br />

espectacular, não é?<br />

E já está tudo claro, meus caros. Agora: boa sorte durante as<br />

férias! Vão precisar.... <br />

Mayo/Junio <strong>Maio</strong>/Junho 19


ver<strong>de</strong><br />

EM SE PERDENDO É QUE SE ENCONTRA: O PARQUE LAGE<br />

Queria ir ao Jardim Botânico do Rio <strong>de</strong> Janeiro, sem saber<br />

que Jardim Botânico também é o nome do bairro que<br />

contém o jardim imperial.<br />

- Leve-me ao Jardim Botânico.<br />

- Que número?<br />

- Não sei, é você que é taxista.<br />

- Mas já estamos na rua Jardim Botânico, que número?<br />

- Não sei, o que quero é chegar ao famoso Jardim Botânico,<br />

enten<strong>de</strong>? Com árvores e flores…<br />

- Aqui tem árvores e flores e tem um museu…<br />

- Mas eu quero um parque!<br />

- Mais à frente tem um parque.<br />

Rendi-me. No primeiro dia que passei no Rio <strong>de</strong> Janeiro<br />

compreendi que com os taxistas cariocas não se discute,<br />

eles é que sabem melhor…<br />

Caminhei mais à frente como sugeriu o tipo do táxi,<br />

convencida que é uma perda do tempo. De repente aos<br />

meus olhos ofereceu-se a vista dum portão ornamentado.<br />

20<br />

<strong>Maio</strong>/Junho<br />

Resignada, pensei comigo que era melhor<br />

entrar do que seguir procurando o tal jardim<br />

em vão.<br />

Atravessei o portão e encontrei-me numa<br />

outra realida<strong>de</strong>, fiquei encantada. Estava no<br />

Parque Lage.<br />

A história do parque leva-nos ao ano 1575,<br />

quando o governador do Rio <strong>de</strong> Janeiro,<br />

Antônio Salema, instalou o Engenho Del<br />

Rei às margens da Lagoa dos Socos (hoje<br />

Lagoa Rodrigo Freitas). Anos <strong>de</strong>pois a<br />

família Rodrigo <strong>de</strong> Freitas Mello adquiriu<br />

a fazenda e contratou um paisagista inglês<br />

para reformar os jardins da proprieda<strong>de</strong>. A<br />

intervenção do arquitecto europeu na<br />

vegetação local, conhecida como Mata<br />

Atlântica, teve um efeito surpreen<strong>de</strong>nte:<br />

imaginem o parque Ùazienki, tirem os<br />

esquilos e pavões e encham-no <strong>de</strong> macacos<br />

e tucanos; troquem os chorões por<br />

palmeiras e adicionem grutas e cataratas.<br />

Gostam? Eu adorei.<br />

Com os novos proprietários, a família Lage,<br />

vieram as novas idéias para reorganizar a<br />

fazenda, que passou a chamar-se Chácara<br />

dos Lage. O aspecto atual do parque <strong>de</strong>ve- se em gran<strong>de</strong><br />

parte ao po<strong>de</strong>r <strong>de</strong> amor. Nos anos 20 do século passado<br />

Henrique Lage casou com Gabriella Bezanzoni, uma das<br />

melhores cantoras <strong>de</strong> ópera da época. Foi como prova do<br />

amor por ela que mandou construir uma mansão em estilo<br />

eclético, importando azulejos, ladrilhos e mármores da Itália<br />

para adornar o interior da casa. Além disso, Lage mandou<br />

construir grutas artificiais, um castelo e um pequeno aquário<br />

talhado em argila. Tudo para agradar Gabriella. E com certeza<br />

agradou, pois a cantora foi para o Brasil, <strong>de</strong>sistindo da sua<br />

carreira promissora.<br />

Anos mais tar<strong>de</strong>, Henrique Lage, falido, teve <strong>de</strong> entregar a<br />

quinta ao Banco do Brasil como pagamento <strong>de</strong> suas dívidas.<br />

A mansão, que nas décadas <strong>de</strong> 30 e 40 foi local <strong>de</strong> gran<strong>de</strong>s<br />

festas e saraus artísticos, preservou a sua aura passando a<br />

abrigar a Escola <strong>de</strong> Artes Visuais, que oferece diversos cursos<br />

<strong>de</strong> arte, organiza exposições e peças <strong>de</strong> teatro. O parque<br />

tornou- se uma espécie <strong>de</strong> refúgio para vários artistas, e<br />

freqüentemente abre novos cursos <strong>de</strong> pintura e teatro. No<br />

entanto, o parque ficou quase completamente esquecido.<br />

É difícil <strong>de</strong> crer, mas<br />

esta pérola da Cida<strong>de</strong><br />

Maravilhosa foi recuperada<br />

e reinau-gurada<br />

há apenas 4 anos. Hoje<br />

o parque oferece<br />

di<strong>versão</strong> para todos. As<br />

crianças vão adorar<br />

<strong>de</strong>scobrir os mistérios<br />

das grutas e observar os<br />

peixes no aquário. Para<br />

os mais preguiçosos,<br />

tem recantos tranqüilos<br />

que criam atmosfera<br />

propícia para meditar.<br />

Se gosta <strong>de</strong> aventuras,<br />

po<strong>de</strong> se banhar num lago<br />

criado por uma linda<br />

catarata. Qual é a<br />

aventura? É que o<br />

acesso é proibido mas os<br />

cariocas não se preocupam<br />

com tamanhas coisas. E ainda, as trilhas do parque<br />

convidam os amantes do ver<strong>de</strong> a caminhar, mas, se acham<br />

que 52 hectares não é o suficiente, tem uma outra opção:<br />

o caminho aberto até o Corcovado.<br />

Muitas pessoas dizem que caminhar ao pico do Corcovado<br />

é muito agradável, mas um pouco perigoso por causa dos<br />

bandidos que assaltam turistas. As minhas impressões são<br />

um pouquinho diferentes: a caminhada dura mais ou<br />

menos 2 horas, o morro é bem íngreme e o calor<br />

insuportável. Passados 30 minutos <strong>de</strong> passeio, você vai<br />

querer morrer ou pelo menos ser assaltado pelos bandidos,<br />

porque a solidão no meio da mata é inquietadora. Minto,<br />

você nunca está sozinho na Floresta <strong>de</strong> Tijuca, que está<br />

cheia <strong>de</strong> macacos maliciosos atirando mangas e ramos<br />

em cima dos turistas. É engraçado, mas atenção: proteja<br />

a cabeça!<br />

No Rio <strong>de</strong> Janeiro, nós, turistas, visitamos os lugares mais<br />

comuns, mais famosos e mais banais. Passamos pela rua<br />

Jardim Botânico, no bairro Jardim Botânico, à procura<br />

do famoso Jardim Botânico (mas que confusão!), e<br />

olhamos pelas janelas dos táxis para os muros do Parque<br />

Lage sem imaginar que lá no fundo os cariocas<br />

escon<strong>de</strong>ram o seu tesouro, o lugar mais encantador e<br />

intrigante da cida<strong>de</strong>.<br />

Mayo/ Junio<br />

Texto exto <strong>de</strong> <strong>de</strong> Karolina arolina Wójcicka<br />

Wójcicka<br />

Eu achei-o por causa <strong>de</strong> um mal-entendido, agora<br />

comparto a minha <strong>de</strong>scoberta com você. Mas não o diga<br />

para ninguém mais – afinal, é um segredo…<br />

INTERESSANTE:<br />

- As palmeiras que crescem no parque são Palmeiras<br />

Imperiais levadas ao Brasil pelo rei Dom João VI.<br />

- A palmeira mais cortejada pelos visitantes foi plantada<br />

pelo compositor Tom Jobim (quem compôs a música da<br />

famosa Garota <strong>de</strong> Ipanema) e seu filho João Francisco.<br />

- Numa homenagem a Tom Jobim, no parque foi instalada<br />

uma estátua em bronze: um pintor retratando o momento<br />

em que Tom e seu filho plantaram a palmeira no parque.<br />

- As imagens do Parque Lage aparecem nestas produções:<br />

Vi<strong>de</strong>oclipes musicais:<br />

- Snoop Dogg e Pharell Beautiful<br />

- Black Eyed Peas Don’t Lie<br />

Filmes brasileiros:<br />

- Glauber Rocha Terra em transe<br />

- Joaquim Pedro <strong>de</strong> Andra<strong>de</strong> Macunaíma<br />

21


ensaio<br />

A CAÍDA DO HEROE<br />

A luz que imaxinou Caravaggio para o cadro A cea en Emaús é<br />

divina e misteriosa. O Cristo crucificado <strong>de</strong> Velázquez está inmerso<br />

na escurida<strong>de</strong>, emerxe das tebras, a luz nace <strong>de</strong>l porque el é a<br />

luz 1 . O ser que representa Sandro Chia é a imaxe da divinda<strong>de</strong><br />

occi<strong>de</strong>ntal ou do divino á fin do século XX. Cores luminosas e en<br />

<strong>de</strong>scomposición que alumean o <strong>de</strong>scen<strong>de</strong>mento dun ser caído sobre<br />

a terra. É a pose final do acto dun ser atordado que semella non<br />

saber que lle aconteceu 2 . Cando Christopher Reeve, o ser real que<br />

leva o disfrace cae do cabalo feríndose traxicamente, a imaxe do<br />

heroe que loita contra o mal - Superman - sobrevoando o mundo<br />

<strong>de</strong>scen<strong>de</strong> cara ao mesmo lugar que ocupa o actor, convivindo co<br />

seu estado tetrapléxico 3 . A ficción e a realida<strong>de</strong> quedan así unidas<br />

pola fraxilida<strong>de</strong>. Reeve consagrou toda a vida a loitar por vencer<br />

a súa enfermida<strong>de</strong>, non se resignou, loitando por el e por outros<br />

coma el, por aqueles que son <strong>de</strong>n<strong>de</strong> agora, <strong>de</strong>n<strong>de</strong> a caída a súa<br />

imaxe e semellanza. O instante que retrata Chia, enlaza a ilusión<br />

profana do heroe Superman, o misticismo relixioso da divinda<strong>de</strong><br />

e o misterio sagrado do mito. No retrato asúmese a realida<strong>de</strong> do<br />

ser humano a través do actor/intérprete 4 . Esta imaxe é coma unha<br />

ventá que nos abre a consciencia da condición do ser na fin do<br />

século, atordado por máscaras e disfraces que lle ocultan a súa<br />

verda<strong>de</strong>ira i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>.<br />

O cabalo que expulsou a Christopher Reeve semella Quirón, aquel<br />

Centauro cuxa sabiduría o separaba dos outros centauros, da<br />

condición violenta e loitadora. A visión do centauro<br />

mitoloxicamente aparece asociada á heroicida<strong>de</strong> e á <strong>de</strong>streza duns<br />

mozos que protexeron o seu pobo duns bois montando a cabalo 5 .<br />

O cabalo transfórmase no pe<strong>de</strong>stal sobre o que o home ascen<strong>de</strong><br />

para sentirse po<strong>de</strong>roso, asumindo propias a velocida<strong>de</strong> e<br />

vigorosida<strong>de</strong> do animal. O cabalo ó que ascen<strong>de</strong>u Christopher<br />

Reeve, obriga ó heroe a regresar á condición humana que<br />

abandonara. Pero acci<strong>de</strong>ntalmente, quizais por carecer da <strong>de</strong>streza<br />

dos mozos tesalienses, nesa separación o home per<strong>de</strong> tamén a súa<br />

corporalida<strong>de</strong>, quedando <strong>de</strong>sactivado, tetrapléxico, sen capacida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> acción. Nesta caída aparatosa, o ser non ten tempo <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>spren<strong>de</strong>rse da súa capa <strong>de</strong> heroe, levándoa coma unha á inútil.<br />

Icaro ascen<strong>de</strong>u cara ó sol para acercarse á visión dos <strong>de</strong>uses - a<br />

relixión cristiá (a <strong>de</strong> Christopher e a <strong>de</strong> Chia) representa a Deus<br />

coma un ollo sempre <strong>de</strong>sperto - e olvidando a súa condición mortal<br />

acaba <strong>de</strong>rretendo as súas ás - tan artificiais coma a capa <strong>de</strong><br />

Superman - e cae ó mar. Este ser pintado por Chia clausura ese<br />

<strong>de</strong>scen<strong>de</strong>mento coa asimilación e coa aceptación da ferida da<br />

mortalida<strong>de</strong>. Pero a Superman Quirón lánzao sobre a terra, para<br />

que viva e supere a súa vergoña <strong>de</strong> verse ferido, para que se<br />

enfronte á verda<strong>de</strong> da súa fraxilida<strong>de</strong>.<br />

22<br />

O meu corazón voaba ledo, coma un paxaro,<br />

E libre planaba, entorno á cordame;<br />

O navío vogaba un ceo sen nubes,<br />

Coma un anxo ebrio <strong>de</strong> sol resplan<strong>de</strong>cente<br />

“Unha Viaxe a Cítera. CXVI”<br />

As Flores do mal, Charles Bau<strong>de</strong>laire<br />

Chia lanza á divinda<strong>de</strong> sobre o mesmo lugar no que caeu Christopher<br />

Reeve 6 . No estado <strong>de</strong> <strong>de</strong>rrota, o Sacro Cuore que representa<br />

Chia, parece proce<strong>de</strong>r dun ceo artificial. Cando <strong>de</strong>sperte, xa non<br />

po<strong>de</strong>rá volver a disfrazarse nin <strong>de</strong> mito nin <strong>de</strong> divinda<strong>de</strong> nin <strong>de</strong><br />

heroe. Esta resignación do heroe, <strong>de</strong>látase nos rasgos cos que Chia<br />

o retrata. A <strong>de</strong>formida<strong>de</strong> da súa estructura, unha á que intenta<br />

transformarse nun brazo, roupaxes que recordan unha armadura,<br />

a vestimenta do combate, unha capa que <strong>de</strong>ixou <strong>de</strong> voar polos<br />

ceos, abandonándose á inercia. En <strong>de</strong>finitiva, é un ser sen vonta<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> ser, cun rostro <strong>de</strong>sencaixado que recorda unha máscara<br />

resignada trala caída. O corazón ro<strong>de</strong>ado <strong>de</strong> espiños e o único<br />

signo sagrado - sen el xa nada nos indicaría á divinda<strong>de</strong> - sostido<br />

por unha man doutro mundo, nun xesto que recorda esas mans<br />

das rodaxes cinematográficas que sosteñen nas tomas unha táboa<br />

pequena para tomar nota da secuencia. Parece que vaia <strong>de</strong>saparecer,<br />

que só veu para levar o trofeo que acaba <strong>de</strong> extraer, o último signo<br />

sagrado que lle quedaba ó ser. Esta imaxe é a fin dunha loita que<br />

xa se rodou. Esta escena é a fin do acto, e esas estrelas que<br />

representa Chia son luces do atordamento; ou tal vez da festa<br />

celebrada en honor á súa <strong>de</strong>rrota; ou son flores lanzadas á area, ó<br />

escenario mentres aínda está inconsciente, tiradas por aqueles que<br />

son coma el. Luces traxicómicas, fogos <strong>de</strong> artificio para iluminar<br />

a escena, para a celebración terreal do regreso ó profano. O<br />

superhome <strong>de</strong> acción tropeza así co home <strong>de</strong> ficción. Imaxinamos<br />

a secuencia completa: no seu <strong>de</strong>sexo <strong>de</strong> ser inmortal, <strong>de</strong> acce<strong>de</strong>r ó<br />

firmamento, ó ceo dos <strong>de</strong>uses, o ser ascen<strong>de</strong>. E no traxecto, mentres<br />

navega mirando á luz da divinda<strong>de</strong>, alcanza os límites on<strong>de</strong> as<br />

imaxes xa non son posibles, e tropeza contra luces artificiais, contra<br />

un satélite que lle obriga a <strong>de</strong>scen<strong>de</strong>r. E atordado cae a terra<br />

estrelándose. Esas luces que orbitan ó seu redor son o recordo das<br />

estrelas ás que acce<strong>de</strong>u no seu voo. Son como as luceciñas <strong>de</strong>ses<br />

carteis luminosos que aparecen nas cida<strong>de</strong>s. Quizais caeu en Las<br />

Vegas, lugar apropiado para a época <strong>de</strong>sencantada que vivíu Chia,<br />

cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> catedrais luminosas, pagás, <strong>de</strong>stinadas a albergar e a<br />

recoller ós perdidos (ou per<strong>de</strong>dores) como este Corazón <strong>de</strong> Chia.<br />

Lugar para soñar eternamente cunha victoria, con gañar<br />

eternamente xogada tras xogada, asumindo a <strong>de</strong>spersonalización<br />

coma a condición do home posmo<strong>de</strong>rno.<br />

O eu real, así, non posúe disfrace, está antes do rostro, el é antiface.<br />

Se algo cambiou na i<strong>de</strong>a da inmortalida<strong>de</strong> á fin do século, é a<br />

imaxe do mundo. Imaxe luminosa e eternamente acendida na que<br />

non hai lugar para a escurida<strong>de</strong> - como en Velázquez - nin para a<br />

convivencia das luces e as tebras, do claroscuro - como en<br />

Caravaggio -. Un mundo irreal, que - como o ollo da divinda<strong>de</strong> -<br />

non <strong>de</strong>scansa 7 .<br />

Mundo sen misterio, espiado por ollos xa non divinos se non<br />

artificiais: polos satélites do ciberespacio. É <strong>de</strong>ste lugar do que<br />

parece caer este Sacro Cuore, aínda inconsciente. Tal vez esa luz<br />

estraña que se albisca con timi<strong>de</strong>z por <strong>de</strong>trás do corazón estea<br />

anunciando a nova posibilida<strong>de</strong> que se entreabre na artificialida<strong>de</strong>.<br />

É aí, nese escenario <strong>de</strong> artificios on<strong>de</strong> o novo corazón se ilumina<br />

por unha luz eléctrica, <strong>de</strong> bombilla, facendo xogo coa imaxe do<br />

home e co mundo no que se atopa. Como Christopher Reeve<br />

transmitíu, a vonta<strong>de</strong> do home é <strong>de</strong>scravarse da cruz (máquina) e<br />

vencer a parálise do humanismo industrial. Por iso este Sacro<br />

Cuore parece un ser exiliado, <strong>de</strong>sterrado do ceo, <strong>de</strong>scielado,<br />

reexpulsado (unha vez máis) do reino prometido para que habite<br />

na terra e asuma as condicións do seu <strong>de</strong>stino. Fronte a esta<br />

expulsión, a esta ultraxe este ser ¿que di? ¿Acaso ten voz? Na<br />

volta ó mundo, non só se lle inmovilizan os membros, a parálise<br />

inva<strong>de</strong> todas as súas vonta<strong>de</strong>s e enmu<strong>de</strong>ce 8 . Semella que ó<br />

<strong>de</strong>spertar dirá algo ¿Revelará a verda<strong>de</strong>? Pero ¿que dicir ante a<br />

consciencia <strong>de</strong> ter perdido a compostura, <strong>de</strong> verse fóra do<br />

escenario? Aínda ó seu pesar, cos restos da armadura, na fin da<br />

transformación, simulando o canto dos cisnes que só cantan cando<br />

auguran a súa morte, chorará entre risas alucinado por seguir sendo<br />

mortal.<br />

“O evanxelio <strong>de</strong> Pedro relata así como unha vez que Cristo foi<br />

<strong>de</strong>scravado da cruz, e colocado no chan,<br />

a terra púxose a temer, e o sol brillou <strong>de</strong> novo.” 9<br />

1 “Eu, que son a luz eterna viñen ó mundo para que quen cre en min non<br />

permaneza entre as tebras”, 12:46, O Evanxelio segundo San Xoan, Sagrada<br />

Biblia.<br />

2 “Sen extremos en que curvar a imaxe. A i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> queda, entón, <strong>de</strong>sprovista<br />

<strong>de</strong> estandartes e ameazas. Errática nun <strong>de</strong>serto sen nome. E o espello<br />

simbólico do coñecemento pobóase <strong>de</strong> penuxes vencidas para sempre e <strong>de</strong><br />

ás tronzadas. As ás rotas do anxo caído<br />

“. José Giménez, El ángel caído, Editorial Anagrama, 1982, p.12<br />

3 “Descen<strong>de</strong>mos así con Tintoretto ó terreal. E ese <strong>de</strong>scenso, no que os<br />

propios anxos quedan como ancorados na terra: Humanos, <strong>de</strong>masiado<br />

humanos...” Ibid., p.60<br />

4 Un home que asume o rostro do Deus da terra, que foi feito home<br />

<strong>de</strong>n<strong>de</strong> o su propio nome, na súa Unción: Christopher: Cristóbal: Cristo.<br />

Incluso no seu disfrace: Superman chega do exterior (o planeta Kriptón),<br />

da imaxinación, é fantasía; Cristo vén dun lugar místico (o Reino dos<br />

ceos, on<strong>de</strong> se recoñece a Superman). Ambos aparecen no mundo cun<br />

mesmo fin: Superman é o xusticieiro; Xesucristo é o Xusto, ambos son<br />

os que imparten xustiza e velan polo ben da humanida<strong>de</strong>. Coma Xesús,<br />

o heroe é sacrificado polos que había salvar.<br />

Mayo/Junio <strong>Maio</strong>/Junho<br />

Texto exto <strong>de</strong> <strong>de</strong> Martín Martín Caeiro, Caeiro, Universida<strong>de</strong> Universida<strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>de</strong> Vigo<br />

Vigo<br />

5 “Monstros fabulosos medio-homes e medio-cabalos, nacidos segundo<br />

uns <strong>de</strong> Centauro, fillo <strong>de</strong> Apolo e Estilbia, filla <strong>de</strong> Perseo e das eguas <strong>de</strong><br />

Magnesia; ou segundo outros <strong>de</strong> Irión e <strong>de</strong> Nube. Os mitólogos <strong>de</strong>rivan<br />

este nome <strong>de</strong> Kenstein, picar e Taurus, touros porque os tesalienses, que<br />

sobresaían entre os gregos na equitación, adquiriron esta habilida<strong>de</strong><br />

combatendo cos touros. ....Segundo conta Paladato... unha manada <strong>de</strong><br />

bois ou touros enfurecéranse e asolaban osarredores do monte Pelión;<br />

algúns mozos, <strong>de</strong>spois <strong>de</strong> a<strong>de</strong>strar os seus cabalos, empren<strong>de</strong>ron libertar<br />

o país daquelas feras que todo o <strong>de</strong>struían, o cal conseguiron pola súa<br />

<strong>de</strong>streza na equitación ou arte <strong>de</strong> montar”. J.F.M.Nöel, Diccionario <strong>de</strong><br />

mitoloxía universal, Tomo I Edicións comunicación, 1991, p.99.<br />

6 “Pero Superman é mito a condición <strong>de</strong> ser unha criatura inmersa na<br />

vida cotiá, no presente, aparentemente ligado ás nosas propias condicións<br />

<strong>de</strong> vida e <strong>de</strong> morte, por moi dotado <strong>de</strong> faculta<strong>de</strong>s superiores que estea.<br />

Un Superman inmortal <strong>de</strong>ixaría <strong>de</strong> ser un home, para converterse en<br />

Deus, e a i<strong>de</strong>ntificación do público coa súa dobre personalida<strong>de</strong>... caería<br />

no baleiro.” Umberto Eco, Apocalípticos e integrados, Editorial Lumen,<br />

1968—2001, p.232. Por iso esta personaxe dá o paso <strong>de</strong>finitivo cara ó<br />

ser mortal distanciándose (ou <strong>de</strong>sprendéndose) <strong>de</strong>finitivamente da<br />

inmortalida<strong>de</strong> divina, <strong>de</strong>ixando ó home a soas consigo mesmo, á<br />

intemperie, alonxado <strong>de</strong> tempos metafísicos, botado en terra, obrigado<br />

a ollar cara si para atopar —tal vez— a mortalida<strong>de</strong> esquencida.<br />

7 “Diríase que tivo lugar unha explosión sobre todo o planeta. Unha luz crúa<br />

arrebata da sombra ata o mínimo resto” escribía Ernst Jünger respecto a esta<br />

iluminación que aclara a realida<strong>de</strong> do mundo. [...] Con este DÍA FALSO,<br />

produto da iluminación das telecomunicacións, xor<strong>de</strong> un sol artificial...”,<br />

Paul Virilio, A Bomba informática, Cátedra, 1999 , pp..22-23. O mesmo<br />

nos di José Jiménez, que O anxo caído unifica a luz artificial e a imaxe<br />

dos satélites impenetrables, insensibles:“En último termo, a luminosida<strong>de</strong><br />

dos astros é unha luminosida<strong>de</strong> petrificada, á que conduce a falseda<strong>de</strong><br />

dos anxos adversos para impedir o recordo da auténtica luz do ceo,<br />

para facer á alma “mor<strong>de</strong>r a luz petrificada dos astros.” (Alberti, 1929b:<br />

149) “. Op.cit. p.22<br />

8 Ispirados (e atordados) pola atmósfera sagrada, estamos tentados a<br />

pensar que Chia o retrata nunha atmósfera tinxida <strong>de</strong> ver<strong>de</strong>, ro<strong>de</strong>ado<br />

dun vapor verdoso, nunha bruma que licua os seus membros e que<br />

comeza a <strong>de</strong>svanecerse, a <strong>de</strong>saparecer, a clarificarse, proce<strong>de</strong>nte da<br />

presenza da kriptonita (<strong>de</strong> cor ver<strong>de</strong>) que inmoviliza ó heroe. Mineral<br />

po<strong>de</strong>roso orixinario do planeta <strong>de</strong> Superman cuxo signo formal,<br />

simbolicamente, é similar a ese anxo caído do ceo, Belzebuc, Satán,<br />

Lucifer, anxo expulsado do reino celestial (seguramente un reino <strong>de</strong> cor<br />

azul celeste) que se enfrontou a Deus e que —do mesmo xeito que a<br />

Kriptonita— é capaz <strong>de</strong> vencer ó ben coa súa aparición, coa súa presenza.<br />

Un fondo en metamorfose para un ser á fin <strong>de</strong> acto, entreabrindo o<br />

pano, mostrándonos a escena na que lle toca representarse a si mesmo,<br />

e abandonar esta postergada (e póstuma) interpretación e a súa<br />

teatralida<strong>de</strong>.<br />

9 Gaston Duchet —Suchaux e Michel Pastourou, A Biblia e os Santos,<br />

Guía iconográfica, Descen<strong>de</strong>mento, Alianza Editorial, 1996, p.129.<br />

23


ensaio<br />

OS NOSSOS VERDES ANOS<br />

Os melhores dos melhores dos meus ver<strong>de</strong>s anos passeios<br />

na ex-Cátedra (hoje Instituto) <strong>de</strong> Iberística da<br />

Universida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Varsóvia. Foram os anos <strong>de</strong> ver<strong>de</strong><br />

acinzentado, da Polónia <strong>de</strong> há vinte e tantos anos,<br />

precedidos pela passagem obrigatória pelo XLII Liceu<br />

Maria Konopnicka em Varsóvia e seguidos <strong>de</strong> muitas<br />

<strong>de</strong>slocações a Portugal, com os objectivos nitidamente<br />

<strong>de</strong>finidos como «leitura – estudo – conhecimento <strong>de</strong><br />

cultura».<br />

Nas minhas passagens por Lisboa encontrava momentos<br />

<strong>de</strong> folga na Cinemateca Portuguesa, rua Barata<br />

Salgueiro, 39. Um impulso dado pela laboriosíssima<br />

Anna K³obucka, a melhor discípula do curso, a chefiar,<br />

hoje, o único <strong>de</strong>partamento lusitanístico in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte,<br />

em Dartmouth, Massachussetts. Houve uma temporada,<br />

porém, quando a Cinemateca funcionou no Palácio Foz,<br />

nos Restauradores, mesmo ao pé da repartição do<br />

Turismo. Foi barato, foi proveitoso. Cerca <strong>de</strong> cem escudos<br />

a entrada. Vi os clássicos do cinema brasileiro,<br />

do cinema chileno, do cienema americano e italiano e,<br />

como não podia <strong>de</strong>ixar <strong>de</strong> ser, do cinema português.<br />

Houve também na Cinemateca Portuguesa umas<br />

mostras do cinema polaco. Vejamos algumas das<br />

películas disponíveis na agenda <strong>de</strong> <strong>Maio</strong>/Junho <strong>2006</strong>.<br />

Tudo legendado em português. Por exemplo, o High<br />

Noon, 1952, Estados Unicos, com Grace Kelly e Gary<br />

Cooper que ganhou aqui o segundo oscar, no papel <strong>de</strong><br />

um xerife que enfrenta uma quadrilha apostada em<br />

abatê-lo, sendo - no dia do casamento – abandonado<br />

por todos os concidadãos compatriotas. Depois, a<br />

Repulsa (Wstrêt, 1965) <strong>de</strong> Roman Polañski, com<br />

Catherine Deneuve. Uma história da mulher jovem<br />

sexualmente recalcada e cheia <strong>de</strong> fobias, aterrorizada<br />

por um pesa<strong>de</strong>lo recorrente que acaba por assassinar<br />

vários homens. Uns três filmes <strong>de</strong> Manoel <strong>de</strong> Oliveria<br />

(Francisca, Mon Cas, os Canibais), com música <strong>de</strong> João<br />

Paes, filmados a partir <strong>de</strong>, respectivamente: o romance<br />

Fanny Owen <strong>de</strong> Agustina Bessa Luís, os escritos <strong>de</strong> José<br />

Régio, Samuel Beckett e os fragmentos da Bíblia (o<br />

Livro <strong>de</strong> Job) e da novela <strong>de</strong> Álvaro Carvalhal, feita<br />

em filme-ópera, inteiramente cantado. Representações<br />

que passam <strong>de</strong> um oscar ao melhor actor à história<br />

permanente do cinema.<br />

24<br />

http://www.cinemateca.pt<br />

Antoni Libera: Madame.<br />

Tradução do polaco <strong>de</strong> Teresa Fernan<strong>de</strong>s ¦wiatkiewicz, Civilização, Lisboa <strong>2006</strong>.<br />

<strong>Maio</strong>/Junho<br />

Vi, na Cinemateca Portuguesa, Os Ver<strong>de</strong>s Anos <strong>de</strong> Paulo<br />

Rocha, oitavo dos relizadores <strong>de</strong> cinema mais citados<br />

em Portugal, segundo o recente inquérito do JL (n o 922).<br />

O topo da lista é, claro, Manoel <strong>de</strong> Oliveira, o melhor<br />

cineasta português contemporâneo ex-aequo com João<br />

César Monteiro. E o mais conhecido da geração jovem,<br />

seria João Canijo, cuja Noite Escura (2004) <strong>de</strong>svenda<br />

uma assustadora metáfora do Portugal <strong>de</strong> hoje como<br />

um espaço concentracionário, um microcosmos <strong>de</strong> uma<br />

casa <strong>de</strong> família/casa <strong>de</strong> alterne encurraladas. Um outro<br />

<strong>de</strong>safio para uma sessão na Rua Barata Salgueiro.<br />

Queremos, pois, Portugal ao espelho. Depois, virá a<br />

Polónia. Numa efígie literária, não menos dolorosa,<br />

como todos os dramas <strong>de</strong> se estar nos seus ´´ver<strong>de</strong>s<br />

anos´´. Ver o mundo a partir <strong>de</strong> um filme ou <strong>de</strong> um romance<br />

filmado (<strong>de</strong> um, <strong>de</strong> outro, <strong>de</strong> ambos) é um truque,<br />

um método estético relativamente seguro para tirar a<br />

máscara.<br />

Antes <strong>de</strong> se aventurar na realização dos emblemáticos<br />

Ver<strong>de</strong>s Anos (1963) Pulo Rocha (nascido a 22.12.1935<br />

no Porto) tinha estudado em Paris com Jean Renoir. O<br />

filme <strong>de</strong> Paulo Rocha em questão – assim como os <strong>de</strong><br />

seu mestre – viviam <strong>de</strong> uma entrega completa às<br />

sugestões dos actores com quem trabalhava (Rui Gomes<br />

e Isabel Ruth) e <strong>de</strong> um forte apoio em toda a equipa<br />

técnica. Seria <strong>de</strong> acrescentar que angariou as melhores<br />

penas da literatura portuguesa <strong>de</strong> então; Nuno Bagança<br />

adaptou o argumento e escreveu os diálogos, Pedro<br />

Tamen foi autor da letra da canção do letimotiv do filme,<br />

musicada por Carlos Pare<strong>de</strong>s.<br />

A sinopse dos Ver<strong>de</strong>s Anos <strong>de</strong>ixa ver Júlio, <strong>de</strong> <strong>de</strong>zanove<br />

anos, que vem da província para Lisboa, tentar sorte<br />

como sapateiro. No dia da chegada, um inci<strong>de</strong>nte levao<br />

a conhecer Ilda, jovem da mesma ida<strong>de</strong>, empregada<br />

doméstica em casa próxima da oficina on<strong>de</strong> Júlio<br />

trabalha. O protagonista sente-se alheio num ambiente<br />

estranho e hostil, <strong>de</strong>senrolando-se uma série <strong>de</strong><br />

peripécias que lhe <strong>de</strong>spertam a <strong>de</strong>sconfiança em relação<br />

a Ilda, que <strong>de</strong>ci<strong>de</strong> romper o namoro. Júlio acaba por<br />

matá-la. Um trágico Bildungsroman à portuguesa.<br />

O legado <strong>de</strong> Paulo Rocha está patente nos filmes que<br />

dão a ver Lisboa, Portugal e o Ultramar como espaço<br />

<strong>de</strong> frustração, uma pequena ´´casa portuguesa´´<br />

claustrofóbica, sem saída, on<strong>de</strong> tudo se frustra e tudo<br />

agoniza numa morte amena. Um pendant aos Ver<strong>de</strong>s Anos<br />

seria A Costa dos Murmúrios (2004), <strong>de</strong> Margarida<br />

Cardoso, um filme sobre a guerra colonial no feminino,<br />

rodado a partir do romance homónimo <strong>de</strong> Lídia Jorge.<br />

Seria-o também O Delfim (2001) <strong>de</strong> Fernando Lopes.<br />

Trata-se, pois, da adaptação <strong>de</strong> um<br />

romance <strong>de</strong> José Cardoso Pires,<br />

traduzido em polaco como Infant por<br />

Wojciech Chabasiñski em 1977 e <strong>de</strong><br />

uma outra refência a um Portugal<br />

salazarista, entregue à evidência<br />

recôndita, abafada, fantasmática.<br />

Uma outra história da década <strong>de</strong> 60<br />

sobre as relações frustradas entre<br />

homens e mulheres que só se<br />

começam a assumir como seres<br />

in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes.<br />

Passemos aos nossos ver<strong>de</strong>s anos<br />

vividos na Polónia. Das Cinzas<br />

(Popio³y, 1904) <strong>de</strong> Stefan ¯eromski,<br />

filmadas por Andrzej Wajda em 1965<br />

às Cinzas e Diamentes (Popió³ i<br />

diament, 1948) <strong>de</strong> Jerzy<br />

Andrzejewski, umas leitura<br />

obrigatórias por aqui, a última exibida<br />

na <strong>versão</strong> fílmica (1958) do mesmo<br />

realizador polaco na Cinemateca<br />

Portuguesa, a 27 <strong>de</strong> <strong>Maio</strong> do corrente,<br />

legendado em espanhol. Os austeros<br />

ver<strong>de</strong>s anos das óptimas aulas <strong>de</strong><br />

Polaco, rigorosamente ministradas<br />

pela Prof a . Teresa Tomczyszyn-<br />

Winiewska no XLII Liceu Maria<br />

Konopnicka em Varsóvia. Sim, muito<br />

rigor, muita severida<strong>de</strong>. Nunca pintei<br />

as unhas (se não fosse para uma noite no Liceu Rejtan).<br />

Fumei o meu primeiro cigarro aos <strong>de</strong>zanove anos, um dia<br />

<strong>de</strong>pois da <strong>de</strong>claração da Lei Marcial na Polónia, na noite<br />

<strong>de</strong> 12 para 13 <strong>de</strong> Dezembro <strong>de</strong> 1981.<br />

Ontem, encontrei na Gazeta Wyborcza a nota obituária da<br />

minha velha professora do Polaco, a severíssima Ginja<br />

(Winia). Morreu no dia 20 <strong>de</strong> <strong>Maio</strong> <strong>de</strong> <strong>2006</strong>. A nota está<br />

assinada pelos amigos e ex-alunos do XLII Liceum Maria<br />

Konopnicka. Um ambiente <strong>de</strong>nso, abafado, controlado<br />

pelos professores, muito exigentes, <strong>de</strong> História, <strong>de</strong> Polaco,<br />

<strong>de</strong> Inglês, <strong>de</strong> Latim ...<br />

Os austeros ver<strong>de</strong>s anos<br />

das óptimas aulas <strong>de</strong><br />

Polaco, rigorosamente<br />

ministradas pela Prof a .<br />

Teresa Tomczyszyn-<br />

Winiewska (...) Sim,<br />

muito rigor, muita<br />

severida<strong>de</strong>. Nunca pintei<br />

as unhas (se não fosse<br />

para uma noite no Liceu<br />

Rejtan). Fumei o meu<br />

primeiro cigarro aos<br />

<strong>de</strong>zanove anos, um dia<br />

<strong>de</strong>pois da <strong>de</strong>claração da<br />

Lei Marcial na Polónia<br />

Empinava tudo, dando cabo do período da vida chamado<br />

por poetas <strong>de</strong> ´´ver<strong>de</strong>s anos´´. O ambiente da escola<br />

polaca na última fase do comunismo reencontro-o no<br />

romance que me cativou absolutamente: a Madame<br />

(título homónimo polaco do romance galardoado com o<br />

prémio Nike em 1999 e com o sucesso comparável ao<br />

do Nome <strong>de</strong> Uma Rosa <strong>de</strong> Umberto Eco) <strong>de</strong> Antoni<br />

Libera, traduzido por Teresa<br />

Fernan<strong>de</strong>s ¦wiatkiewicz, minha<br />

professora <strong>de</strong> Português na ex-<br />

Cátedra. Um grotesco Bildungs-roman<br />

à polaca, um irónico retrato da<br />

Mayo/ Junio<br />

Texto exto <strong>de</strong> <strong>de</strong> Anna Anna K KKalewska<br />

K alewska<br />

Polónia rica em herança cultural e<br />

empobrecida pelo regime vindo do<br />

País dos Sovietes. O tempo da<br />

narração vai <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a déca<strong>de</strong> <strong>de</strong> 60<br />

até ao início do ano <strong>de</strong> 1982,<br />

aquando do estado <strong>de</strong> sítio na<br />

Polónia(o meu primeiro ano na<br />

Faculda<strong>de</strong>). Uma completa perda <strong>de</strong><br />

ilusões sobre o mundo em que<br />

vivíamos ... Uns outros ver<strong>de</strong>s anos,<br />

<strong>de</strong> um ver<strong>de</strong> cinzento <strong>de</strong> tanques e<br />

patrulhas militares que rondavam as<br />

cida<strong>de</strong>s polacas. Conheço um só<br />

livro que igualmente me comoveu:<br />

At Home in Poland, <strong>de</strong> Tommy<br />

Swick, lido <strong>de</strong> um trago numa noite<br />

lisboeta.<br />

Tive a sorte <strong>de</strong> ter professores extraordinários<br />

e competentes (tanto no<br />

Liceu como na ex-Cátedra, i. e., na<br />

Faculda<strong>de</strong>) e bons amigos a quem<br />

<strong>de</strong>vo muito.<br />

Acabou o fascismo em Portugal e o<br />

comunismo na Polónia. E os ver<strong>de</strong>s<br />

anos? Acho que nunca os tive. Francamente, se teria tido<br />

alguns, seriam muito serôdios, pelo fim da década <strong>de</strong> 90.<br />

Passei-os na companhia alegre e estimuladora da Fátima<br />

Fernan<strong>de</strong>s, uma das leitoras <strong>de</strong> Português no nosso<br />

Instituto (ex-Cátedra) <strong>de</strong> Estudos Ibéricos e Ibero-<br />

Americanos da Universida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Varsóvia. Acabado esse<br />

período <strong>de</strong> ver os filmes, ir às farras, fazer caretas <strong>de</strong>via<br />

chegar à ida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Juízo, <strong>de</strong> Bronze ou <strong>de</strong> Prata. A nossa<br />

Ida<strong>de</strong> Viril são os textos fantásticos em várias línguas que<br />

lemos, traduzimos, comentamos. Valeu a pena. Quase<br />

tudo. Mesmo se não fôssemos, <strong>de</strong> todo, senhores do nosso<br />

<strong>de</strong>stino.<br />

25


VERd<br />

SANT JORDI VERD I ALTRES VERDORS<br />

A les terres <strong>de</strong> Geòrgia existeix la imatge <strong>de</strong>l Sant Jordi<br />

Verd. I això, per què? Doncs, perquè és un símbol <strong>de</strong> la<br />

primavera, <strong>de</strong>l renéixer <strong>de</strong> la natura <strong>de</strong>sprés <strong>de</strong> l’hivern,<br />

temps <strong>de</strong> mort i carestia. Volem viure i la naturalesa ens ho<br />

permet fer, per ara.<br />

Igualment com a Catalunya, també <strong>de</strong> Geòrgia n’és el patró.<br />

Però, qui era realment aquest sant <strong>de</strong>ls catalans i georgians?<br />

En realitat, era un soldat romà nascut a la Capadòcia que<br />

fou torturat per no abjurar <strong>de</strong> les seves conviccions<br />

cristianes. Aquest és el punt <strong>de</strong> partença, més endavant<br />

s’iniciarà la creació <strong>de</strong> llegen<strong>de</strong>s que feren d’aquest<br />

personatge un símbol nacional català i el justificant més<br />

palpable per a regalar roses que es panseixen i llibres que<br />

no es llegeixen cap a finals <strong>de</strong>l mes d’abril.<br />

I més mites que ens fan renéixer! Sempre ho hem intentat<br />

car ens cal fer-ho. Els grecs, gràcies als seus ritus practicats<br />

a Eleusis podien percebre com la primavera tornava <strong>de</strong> nou,<br />

com la vida, i la porpra trobada entre el màgic sègol era el<br />

camí per a veure com Persèfone <strong>de</strong>sprés <strong>de</strong> sis mesos<br />

d’absència tornava a la falda <strong>de</strong> Demèter, l’estimada mare<br />

naturalesa. Bon exercici! I també els babilonis! Dalt <strong>de</strong>l<br />

ziggurat, en ple èxtasi sexual, la sacerdotessa copulava per a<br />

retre homenatge a la <strong>de</strong>essa Inana-Ishtar mentre diferents<br />

espècies d’animals entraven en parelles dins <strong>de</strong>l temple per<br />

a esperar que la fecunditat fos el do a rebre. Bon exercici!<br />

I a Polònia, què hi passa? Si comparem les transformacions<br />

que comporta el canvi d’estacions entre els nostre calentet<br />

tros <strong>de</strong> món que es refresca tot tocant el mediterrani amb<br />

aquest país centreeuropeu, no farem sinó que constatar que<br />

per allà dalt tot reviscola amb més empenta, que l’anihilació<br />

absoluta d‘allò que omplia <strong>de</strong> colors i olors els carrers i parcs<br />

<strong>de</strong> Varsòvia amb l’arribada <strong>de</strong>ls temps <strong>de</strong> neu ara s’encamina<br />

cap a una exuberant renaixença <strong>de</strong>ls arbres somorts.<br />

26<br />

Text ext ext <strong>de</strong> <strong>de</strong> Josep Josep Antoni Antoni Clement<br />

Clement<br />

Així doncs, què ha succeït d’especial en aquestes contra<strong>de</strong>s<br />

sota el plàcid domini <strong>de</strong>l bon temps? Doncs, la visita <strong>de</strong>l<br />

Papa! Aquest darrer cap <strong>de</strong> setmana (avui és 29 <strong>de</strong> maig)<br />

va iniciar el seu petit tour al voltant <strong>de</strong> Polònia per la capital<br />

<strong>de</strong>l país. Tothom esperava amb <strong>de</strong>ler l’es<strong>de</strong>veniment, els<br />

diaris omplien les seves pàgines amb informacions precises<br />

<strong>de</strong>l recorregut que realitzaria la rua papal, les converses<br />

teixien un xarxa d’informacions ben vàli<strong>de</strong>s sobre<br />

l’assumpte, la vida es <strong>de</strong>turava per un instant per a gaudir<br />

<strong>de</strong> les televisions que ens documentaven... I què hi ha en<br />

comú amb les celebracions <strong>de</strong>l passat pagà? Us pregunteu<br />

encuriosits tots vosaltres, milers <strong>de</strong> lectors enllepolits.<br />

Doncs, també va haver-hi una experiència ini- ciàtica per a<br />

po<strong>de</strong>r arribar a copsar el sentit últim <strong>de</strong> tot plegat... Dos<br />

dies d’abstinència s’apo<strong>de</strong>raren <strong>de</strong> la capital d’un país on<br />

no es fan pas fàstics a vodkes, cerveses i altres sucs<br />

d’aquesta espècie. Les botigues d’alcohol eren tanca<strong>de</strong>s,<br />

als supermercats es precintaren i es taparen les seccions on<br />

habitualment un pot carregar-hi el carretó <strong>de</strong> <strong>de</strong>stil·lats <strong>de</strong><br />

tot tipus per a no temptar una mirada inoportuna. La<br />

prohibició era absoluta i no hi havia espai per a la <strong>de</strong>serció!<br />

Cal reconèixer que la situació en alguns moments va ser<br />

complicada i es mostrava plena <strong>de</strong> dificultats, però<br />

afortunadament vam po<strong>de</strong>r superar la prova i es<strong>de</strong>vinguérem<br />

un què nou, renaixerem sota la mirada comprensiva <strong>de</strong>l<br />

nostre presi<strong>de</strong>nt Kaczyñski, la <strong>de</strong>l llampant ministre<br />

Giertych i la d’altres persones que ens guien pels verals<br />

d’una primavera santa. Ens férem més forts i entenimentats,<br />

i ho aconseguirem amb un simple esforç <strong>de</strong> cap <strong>de</strong><br />

setmana.<br />

In necessariis unitas<br />

In dubiis libertas<br />

In omnibus caritas<br />

ver<strong>de</strong><br />

UNHA CIDADE VERDE<br />

“Varsovia é moi<br />

ver<strong>de</strong>” dixo Fran<br />

Alonso no seu<br />

relatorio no noso<br />

Instituto o día 16 do<br />

maio. É moi interesante<br />

oír dicir unha<br />

afirmación así dun<br />

galego, xa que como<br />

todos sabemos a súa<br />

terra é famosa polo<br />

verdor que a dilata.<br />

Merece a pena pensar<br />

máis nesta frase. É<br />

moi importante para<br />

nós, xa que nós, os<br />

polacos, xa somos<br />

renomeados pola<br />

nosa ten<strong>de</strong>ncia a<br />

queixarnos do todo o<br />

que po<strong>de</strong>mos. Non<br />

nos gusta Polonia,<br />

consi<strong>de</strong>ramos o noso<br />

país feo, non interesante,<br />

suxo e sen<br />

verdor. Mais, tal vez<br />

esaxeramos (refrán que di: “os vecinhos sempre tenhen o<br />

melhor”) e non nos fixamos nos lados positivos <strong>de</strong>ste país<br />

e <strong>de</strong>sta cida<strong>de</strong>?<br />

A verda<strong>de</strong> é que Varsovia é unha das poucas cida<strong>de</strong>s polacas<br />

que abunda en parques. A pesar do famoso Parque Lazienki<br />

on<strong>de</strong> todos os estranxeiros queren ir, temos outros<br />

igualmente preciosos. A<strong>de</strong>mais da súa beleza, incluso o seu<br />

aspecto medio-ambiental, os parques son importantes tamén<br />

por outra razón; aí teñen lugar moitos acontecementos<br />

culturais ós que vale a pena asisitr. No parque que está en<br />

fronte do meu piso cada mes acontece algo interesante (salvo<br />

un concerto <strong>de</strong> ‘Ich Troje’ cuns políticos polacos). Por<br />

exemplo en xullo hai un concerto <strong>de</strong> Chris Botti (un jazzman<br />

moi relevante). No parque Lazienki hai concertos gratuitos<br />

da música clásica <strong>de</strong> Chopen. No centro <strong>de</strong> Varsovia pó<strong>de</strong>ste<br />

relaxar nos xardíns, “Ogród Saski” e “Ogród Krasiñskich”.<br />

Nas aforas <strong>de</strong> Varsovia hai un parque marabilloso en<br />

Wilanow. Preto da universida<strong>de</strong> tamén temos un lugar<br />

verdísimo e bonito on<strong>de</strong> te po<strong>de</strong>s sentar, relaxar e esperar<br />

as clases tranquilamente. Sería unha pena non aproveitar as<br />

palabras dos estudantes das outras escolas, sempre parecen<br />

impresionados polo noso campus da <strong>UW</strong> ver<strong>de</strong>.<br />

Campus da Universida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Varsovia<br />

Mayo/Junio <strong>Maio</strong>/Junho<br />

Texto exto <strong>de</strong> <strong>de</strong> Dorota orota KK<br />

Kazinska KK<br />

azinska<br />

´<br />

Non se po<strong>de</strong>n olvidar os lugares ver<strong>de</strong>s que hai entre os edificios<br />

correntes; lonxe da vista dos turistas. Troquei <strong>de</strong> piso unhas<br />

veces e sempre vivín fronte a un parque con moitos bancos e<br />

un lago artificial. É case imposible encontrar tantas zonas ver<strong>de</strong>s<br />

noutras cida<strong>de</strong>s polacas. Esas áreas inzadas <strong>de</strong> ver<strong>de</strong> estibadas<br />

entre os bloques <strong>de</strong> pisos nos barrios <strong>de</strong> cemento son un<br />

verda<strong>de</strong>iro sinal da Varsovia ver<strong>de</strong>.<br />

Campus da Universida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Varsovia - vista <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o noso Instituto<br />

27


entrevista<br />

Abel A. Murcia Soriano es en la actualidad director <strong>de</strong>l Instituto Cervantes <strong>de</strong> Varsovia,<br />

pero muchos <strong>de</strong> nosotros lo recordamos como antiguo profesor <strong>de</strong>l Instituto <strong>de</strong> Estudios<br />

Ibéricos <strong>de</strong> la Universidad <strong>de</strong> Varsovia don<strong>de</strong> trabajó durante más <strong>de</strong> 15 años, o conocemos<br />

su faceta <strong>de</strong> traductor, con las traducciones <strong>de</strong> la Premio Nobel Polaca Wis³awa Szymborska<br />

a la cabeza, o su actividad como autor <strong>de</strong> varios diccionarios polaco-español, español-polaco,<br />

etc., etc. Todos estos aspectos son más o menos <strong>de</strong>l dominio público, pero igual que muchos<br />

<strong>de</strong>sconocen la pasión <strong>de</strong> Abel Murcia por los gatos, muy pocos saben <strong>de</strong> su faceta creativa,<br />

que creemos que hoy ve la luz por primera vez en las páginas <strong>de</strong> nuestra revista.<br />

¿Cuándo empezaste a escribir?<br />

- Habría que <strong>de</strong>finir primero que enten<strong>de</strong>mos por escribir…,<br />

pero bueno, supongo que empecé a escribir como casi todos los<br />

que hemos acabado estudiando <strong>de</strong>spués filología ya en la escuela<br />

primaria y <strong>de</strong>spués en el instituto…, en esa época todos creemos<br />

que po<strong>de</strong>mos acabar siendo gran<strong>de</strong>s escritores, pero como dice<br />

Cal<strong>de</strong>rón “los sueños sueños son” y por suerte o por <strong>de</strong>sgracia<br />

son muchos los que abandonan… Hay otros que seguimos<br />

escribiendo y metiendo en el cajón lo que escribimos…<br />

- ¿Hubo alguien, algún profesor, alguna profesora que<br />

influyera en la <strong>de</strong>cisión <strong>de</strong> escribir o en el hecho <strong>de</strong> empezar<br />

escribir?<br />

- Ha habido varias personas a lo largo <strong>de</strong> los años que han ido<br />

manteniendo viva esa llama <strong>de</strong> la vanidad <strong>de</strong>l creador, primero<br />

en el instituto una <strong>de</strong> mis profesoras <strong>de</strong> literatura, <strong>de</strong>spués en la<br />

universidad un amigo alemán que sigue manteniendo hasta hoy<br />

que se convertirá en el editor <strong>de</strong> mis obras completas, <strong>de</strong>spués<br />

algún que otro compañero cuando ya trabajaba en la universidad,<br />

y ahora algunos buenos amigos que ven con buenos ojos lo que<br />

hago… Todos ellos han jugado un papel importantísimo para<br />

alimentar esa llama encendida… También ha habido momentos<br />

particularmente relevantes como la creación <strong>de</strong> un colectivo<br />

literario en 1981 en Vilanova i la Geltrú, <strong>de</strong> don<strong>de</strong> soy, y en el<br />

marco <strong>de</strong>l cual organizaríamos una instalación poética y<br />

publicaríamos una revista <strong>de</strong> literatura, Celobert, que como<br />

tantas otras sólo vería aparecer su número cero. Años más tar<strong>de</strong><br />

tuve una curiosa experiencia con eso <strong>de</strong> la escritura, ya en el<br />

ámbito <strong>de</strong> la enseñanza <strong>de</strong> español como lengua extranjera;<br />

escribiría para una colección <strong>de</strong> lecturas que dirijo con un amigo<br />

en la editorial Edinumen, una lectura graduada, un relato, La<br />

última novela, que aunque pue<strong>de</strong> parecer que está muy lejos <strong>de</strong><br />

la escritura <strong>de</strong> creación, tiene algunos puntos comunes con la<br />

misma y a mí me resultó especialmente gratificante… Yo creo<br />

que escribir es una particular forma <strong>de</strong> relacionarse con la<br />

realidad y tengo la sensación <strong>de</strong> que es algo que vengo haciendo<br />

<strong>de</strong>s<strong>de</strong> siempre…<br />

28<br />

<strong>Maio</strong>/Junho<br />

- Tus primeras incursiones en el mundo <strong>de</strong> la escritura<br />

¿fueron en el ámbito <strong>de</strong> la poesía o en distintos ámbitos<br />

literarios?<br />

- Me fascina la poesía, quizá por ello también como traductor<br />

ése ha sido el terreno que más ha llamado mi atención y en el<br />

que más cómodo me he sentido. Las primeras cosas que escribí<br />

fueron poemas y pequeños cuentos, algunos <strong>de</strong> ellos entrarían<br />

en el mundo <strong>de</strong> lo que ahora se llama microrrelato, pero no sé si<br />

sería capaz <strong>de</strong> encontrarlos entre todos los papeles que he ido<br />

almacenando con el tiempo. Nunca he sabido explicar en qué<br />

consistía esa barrera para escribir textos largos, pero lo cierto<br />

es que incluso cuando escribí La última novela tuve que hacer<br />

una pequeña trampa en la estructura para superar esa frontera<br />

que suponía la página número veinte…. Como <strong>de</strong>cía antes, uno<br />

muchas veces empieza a escribir y sigue escribiendo alentado<br />

por lo que dicen los <strong>de</strong>más y por sus pequeños o gran<strong>de</strong>s<br />

fantasmas… Me explico. Cuando empecé a estudiar filología,<br />

creo que tenía interiorizado ese pensamiento <strong>de</strong> muchos <strong>de</strong> los<br />

que estudiamos filología <strong>de</strong> apren<strong>de</strong>r <strong>de</strong> los maestros, <strong>de</strong> los<br />

gran<strong>de</strong>s, <strong>de</strong> los consagrados… Del <strong>de</strong>sengaño mejor ni te<br />

hablo…<br />

- Es <strong>de</strong>cir que estudiaste filología porque creías que allí te<br />

enseñarían a ser escritor.<br />

Dicho así suena un poco infantil, pero sí es cierto que hay algo<br />

<strong>de</strong> verdad en ello. Seguramente resulta algo inconfesable, pero<br />

quizá tengas razón…, aunque creo que hubo motivos mucho<br />

más palpables…, no sé… Recuerdo que siempre sentí una cierta<br />

atracción por mis profesores <strong>de</strong> literatura… Elena Camón,<br />

FelipePedraza… Felipe, que <strong>de</strong>spués escribió una magnífica<br />

historia <strong>de</strong> la literatura española en varios volúmenes había sido<br />

discípulo <strong>de</strong> José Manuel Blecua al que tuve la suerte <strong>de</strong> tener<br />

en la facultad como profesor en su último curso regular, antes<br />

<strong>de</strong> la jubilación, y que era realmente fascinante… Yo creo que<br />

todos ellos tuvieron parte <strong>de</strong> “culpa”, si me permites la<br />

expresión… Pero en última instancia, mi <strong>de</strong>cisión vino motivada<br />

porque dos <strong>de</strong> mis mejores amigos <strong>de</strong> aquel entonces también<br />

barajaban la posibilidad <strong>de</strong><br />

estudiar filología y aquello<br />

<strong>de</strong> continuar juntos<br />

<strong>de</strong>spués <strong>de</strong>l instituto jugó<br />

un papel impor-tante…<br />

- Volvamos al tema <strong>de</strong> la<br />

escritura. Me comentabas<br />

que en tu caso el<br />

período <strong>de</strong> la facultad fue<br />

uno <strong>de</strong> los períodos más<br />

interesantes y cuando<br />

empiezas a escribir algo<br />

que realmente consi<strong>de</strong>ras<br />

que tiene un cierto<br />

valor…<br />

- Fue uno <strong>de</strong> los períodos<br />

más interesantes en general…<br />

Era una época <strong>de</strong><br />

gran<strong>de</strong>s cambios polí-ticos<br />

y sociales en España y yo<br />

estaba particu-larmente<br />

implicado… La lectura, la<br />

música, la escritura eran<br />

una forma más <strong>de</strong> sentirse<br />

parte activa <strong>de</strong> todo aquel proceso… En cuanto a lo <strong>de</strong> que lo<br />

que escribía tenía un cierto valor, no sé si diría tanto, lo que sí<br />

es cierto es que escribía <strong>de</strong> forma sistemática… En esa época<br />

incluso pensaba en presentarme a premios <strong>de</strong> poesía y <strong>de</strong> hecho<br />

me presenté a uno que evi<strong>de</strong>ntemente no gané… En quinto <strong>de</strong><br />

carrera me voy un año a Moscú y allí escribo unas serie <strong>de</strong><br />

poemas sobre Pushkin y recibo un premio…, más que nada por<br />

haber escrito sobre el poeta nacional ruso, claro. No tuvo la<br />

menor importancia pero fue un trabajo que iba acompañado <strong>de</strong><br />

música y <strong>de</strong> ilustraciones hechas por dos amigos checos… Nos<br />

lo pasamos muy bien y oír uno <strong>de</strong> los poemas traducido al ruso<br />

fue una sensación muy curiosa… Después <strong>de</strong> Moscú, los<br />

acontecimientos se precipitaron y acabé como lector <strong>de</strong> español<br />

en la Universidad <strong>de</strong> £ódz… Poco <strong>de</strong>spués conocí a Fernando<br />

Valls, profesor <strong>de</strong> literatura española <strong>de</strong> la Universidad<br />

Autónoma <strong>de</strong> Barcelona, que nos comentó al lector en Cracovia,<br />

Ubaldo Cerezo, y a mí la posibilidad <strong>de</strong> dar clases <strong>de</strong> español<br />

en los cursos <strong>de</strong> verano <strong>de</strong> la Universidad Menén<strong>de</strong>z Pelayo <strong>de</strong><br />

Santan<strong>de</strong>r. Allí di clases casi diez años y conocí a algunas <strong>de</strong><br />

las personas que han marcado mi vida posteriormente y que<br />

más significan para mí, Javier García, Marisa Coronado, gran<strong>de</strong>s<br />

especialistas <strong>de</strong> español como lengua extranjera, Antonio Pérez<br />

Lasheras, gongorista, profesor <strong>de</strong> literatura <strong>de</strong> la Universidad<br />

<strong>de</strong> Zaragoza y que me presentaría años más tar<strong>de</strong> a Félix<br />

Romeo... Tuve el placer <strong>de</strong> compartir “<strong>de</strong>sayuno” muchas<br />

mañanas con José Hierro, uno <strong>de</strong> los poetas más importantes<br />

Mayo/ Junio<br />

por por José José Carlos Carlos Carlos Dias Dias<br />

Dias<br />

<strong>de</strong>l siglo XX español… Pero me estoy yendo por las ramas y<br />

haciendo un elenco <strong>de</strong> amigos y conocidos… Perdona, pero<br />

lo que quería <strong>de</strong>cir es que algunas <strong>de</strong> esas persona, y otras<br />

que llegarían más tar<strong>de</strong>, como el propio Félix Romeo o Justo<br />

Navarro, recordarían quince años más tar<strong>de</strong> esa faceta <strong>de</strong><br />

escribiente, escribidor, …, y serían los causantes <strong>de</strong> que<br />

ahora me reencuentre con la escritura….<br />

- Antes has comentado algo <strong>de</strong> la traducción, que<br />

personalmente creo que no está muy lejos <strong>de</strong> la escritura,<br />

porque es una especie <strong>de</strong> reescritura o <strong>de</strong> escritura <strong>de</strong><br />

nuevo. ¿Cómo los ves tú? Cuando te enfrentas a la<br />

traducción <strong>de</strong> la poesía ¿qué intentas lograr con tu<br />

traducción? ¿Hasta qué punto el original es un corsé?<br />

- A veces he dicho que la traducción se parece mucho a la<br />

escritura <strong>de</strong> poemas con metro y rima, a la escritura <strong>de</strong> sonetos,<br />

por ejemplo. Hay una serie <strong>de</strong> cuestiones que hay que tener<br />

todo el tiempo presente pero hay una cierta libertad en el<br />

momento <strong>de</strong> escribir… Quizá no sea un símil muy acertado,<br />

pero yo creo que encierra algo <strong>de</strong> verdad… Cuando traduzco<br />

intento imaginar qué sensaciones causa el original en el lector<br />

“natural” <strong>de</strong>l texto y procuro conseguir que suceda lo<br />

mismo –evi<strong>de</strong>ntemente en la medida <strong>de</strong> lo posible- con el<br />

lector <strong>de</strong> la traducción… Es así como entiendo la fi<strong>de</strong>lidad<br />

<strong>de</strong>l traductor…<br />

29


entrevista<br />

- Si volvemos a tu creación personal, ¿podrías hablarnos<br />

<strong>de</strong> cuáles son tus <strong>de</strong>monios?, ¿<strong>de</strong> qué te mueve a escribir?,<br />

¿por qué <strong>de</strong>ci<strong>de</strong>s escribir? ¿qué buscas en la escritura?,<br />

porque ahora no creo que puedas justificarlo hablando<br />

<strong>de</strong> tus profesores <strong>de</strong>l instituto o <strong>de</strong> tus compañeros <strong>de</strong><br />

estudio, o…<br />

- Ojalá tuviera respuesta a todas esas preguntas…, no sé,<br />

creo que escribir es una forma <strong>de</strong> enfrentarse con una cierta<br />

distancia tanto o a nuestra propia vida como al mundo que<br />

nos ro<strong>de</strong>a, como si al escribir encontráramos luces y sombras<br />

<strong>de</strong> todo aquello que conforma nuestro mundo, nuestro<br />

universo, nuestra realidad, <strong>de</strong> una forma diferente a la que<br />

parecía en un primer momento… No sé, es una forma <strong>de</strong><br />

relacionarse con las obsesiones <strong>de</strong> uno y al mismo tiempo<br />

con lo que uno imagina que son las obsesiones <strong>de</strong> otros…<br />

- ¿En qué tipo <strong>de</strong> obsesiones estás pensando, <strong>de</strong> qué luces<br />

y sombras se trata…?<br />

- Lo <strong>de</strong> obsesiones es una forma <strong>de</strong> hablar…, pienso más en<br />

ese tipo <strong>de</strong> lugares comunes recurrentes como el tiempo, pero<br />

no <strong>de</strong>s<strong>de</strong> el punto <strong>de</strong> vista <strong>de</strong>l paso <strong>de</strong>l tiempo, sino el tiempo<br />

como pirámi<strong>de</strong> <strong>de</strong> muchas caras como poliedro en el que<br />

realmente la única medida que tenemos <strong>de</strong> ese transcurrir<br />

somos nosotros mismos pero al mismo tiempo todos los<br />

<strong>de</strong>más objetos, todos los <strong>de</strong>más sujetos, todas las realida<strong>de</strong>s<br />

tienen también su propio tiempo…, es algo difícil <strong>de</strong><br />

aprehen<strong>de</strong>r, pero me atrae esa especie <strong>de</strong> contraste entre las<br />

distintas medidas <strong>de</strong> algo que parece tan universal y que sin<br />

embargo probablemente no lo es…, me atraen también las<br />

pequeñas acciones que componen nuestra vida y que<br />

pareciendo a veces irrelevantes acaban siendo el motor <strong>de</strong><br />

eso que llamamos vida, no se trata <strong>de</strong> buscar gran<strong>de</strong>s verda<strong>de</strong>s<br />

sino <strong>de</strong> una forma <strong>de</strong> ver en los pequeños <strong>de</strong>talles la<br />

dimensión que pue<strong>de</strong>n llegar a tener para nosotros…, quizá<br />

no responda exactamente a tu pregunta pero creo que escribir<br />

es una forma <strong>de</strong> intentar enten<strong>de</strong>r, <strong>de</strong> intentar ver más allá <strong>de</strong><br />

lo que parece que es, …, evi<strong>de</strong>ntemente es una forma también<br />

<strong>de</strong> disfrutar porque en esa búsqueda siempre acabamos<br />

encontrando un poco <strong>de</strong> nosotros mismos que <strong>de</strong>sconocíamos<br />

previamente, me parece que es como mirarse en el espejo<br />

durante muchísimo tiempo y poco a poco empezar a percibir<br />

cosas que antes no veíamos, escribir es una forma <strong>de</strong> mirar…<br />

- Tengo la sensación <strong>de</strong> que en tus poemas hay mucha<br />

ausencia, ¿es una sensación acertada?, ¿es cierto que hay<br />

tantas ausencias como creo percibir?<br />

- Diría que hay ausencias importantes. Yo creo que una <strong>de</strong><br />

las cosas más terribles es el dolor que provoca la ausencia,<br />

es un dolor agudo al principio, físico diría, pero que <strong>de</strong>spués<br />

30<br />

se convierten un dolor permanente al que <strong>de</strong> alguna forma nos<br />

acostumbramos pero que no <strong>de</strong>ja <strong>de</strong> ser dolor…,es un dolor que lo<br />

abarca todo y que pue<strong>de</strong> impregnarlo todo, <strong>de</strong> ahí su importancia…<br />

Quizá el tiempo sólo sea una concatenación <strong>de</strong> ausencias, <strong>de</strong> ausencias<br />

<strong>de</strong> sensaciones, <strong>de</strong> sentimientos, <strong>de</strong> personas, <strong>de</strong> objetos,…<br />

- Escribir se convierte para ti en una forma <strong>de</strong> rellenar las<br />

ausencias…<br />

- No, no es una forma <strong>de</strong> rellenar ausencias, <strong>de</strong> hecho creo que las<br />

ausencias no se pue<strong>de</strong>n rellenar, quizá sí sea una forma <strong>de</strong> convivir<br />

con ellas, una forma <strong>de</strong> darles otro tipo <strong>de</strong> presencia, la <strong>de</strong>l<br />

recuerdo…, la poesía pue<strong>de</strong> ser, en algunos casos claro, una manera <strong>de</strong><br />

exorcizar el dolor… De todas formas creo que hay que distinguir entre<br />

dos yos que pue<strong>de</strong>n estar muy alejados el uno <strong>de</strong>l otro, el yo real, el que<br />

escribe, y el yo poético, no necesariamente trasladable al plano <strong>de</strong> la<br />

realidad, pero susceptible <strong>de</strong> tener experiencias, sensaciones,<br />

sentimientos que quizá el yo real no haya tenido nunca pero <strong>de</strong> cuya<br />

existencia sabe.<br />

- Eso me suena mucho a Pessoa y a la relación que hay entre el<br />

dolor fingido y el dolor que <strong>de</strong> veras se siente. Hay otra cosa que me<br />

recuerda a Pessoa en ti que es ese no publicar, ese escribir para el<br />

cajón. ¿Por qué publicar ahora? ¿te lo pi<strong>de</strong>n esas ausencias...?<br />

- Bueno, ojalá la comparación con Pessoa no acabara ahí…,<br />

pero <strong>de</strong>sgraciadamente no sabría explicar por qué no me ha<br />

interesado nunca publicar o nunca tanto como para intentarlo<br />

obstinadamente y por qué ahora me interesa..., ahora me<br />

interesa compartir lo que escribo con personas a las que<br />

aprecio, a las que quiero y, también por qué no, quizá la<br />

vanidad…, no sé, me cuesta encontrar una explicación más<br />

profunda…<br />

- ¿No será que el tiempo está ahora teniendo una<br />

influencia muy fuerte precisamente sobre ese yo real que<br />

obliga al yo poético a querer formar parte <strong>de</strong> la realidad?<br />

- No sé, <strong>de</strong> verdad… En mi caso quiero creer que todo nace<br />

<strong>de</strong>l recuerdo que los otros tienen <strong>de</strong> lo que un día hice, un<br />

recuerdo que yo casi había olvidado… Antonio que le dice a<br />

Félix Romeo ,que en esa época está pensando en sacar una<br />

revista <strong>de</strong> poesía y que busca a Gerardo Beltrán –Gerardo,<br />

no lo he mencionado y creo que la amistad con él, el haber<br />

compartido gran parte <strong>de</strong> sus poemas en algún momento<br />

previo a veces a la publicación, etc., también pue<strong>de</strong> haber<br />

jugado un papel importantísimo-, <strong>de</strong>cía que Félix busca a<br />

Gerardo para pedirle algunos <strong>de</strong> sus poemas para la revista<br />

y entonces Antonio le dice, “oye, tú sabes que Abel también<br />

escribe”, y entonces Félix me escribe y me dice que a ver<br />

cuándo pienso <strong>de</strong>cirle que escribo y cuándo le envío algunos<br />

poemas para la revista… Una simple casualidad que sirve<br />

<strong>de</strong> <strong>de</strong>tonante para intentar publicar lo que escribo… Sí, un<br />

poco así, diría…<br />

- ¿Qué aporta Polonia a tu escritura?<br />

Uff, no sé si hay suficiente espacio en la revista para que<br />

pueda contestar…, fundamentalmente una tradición literaria<br />

y un uso <strong>de</strong> la lengua diferente al que conocía en español…<br />

Creo que una <strong>de</strong> las personas que me acerca a la literatura<br />

polaca con un especial mimo es Carlos Marrodán, uno <strong>de</strong><br />

los mejores traductores que tiene la literatura en español al<br />

polaco…, con él, con Gerardo, con David Carrión, estuvimos<br />

trabajando juntos en las traducciones <strong>de</strong> Szymborska que<br />

publicaría Hiperión y aprendimos muchísimo…, pero<br />

también me ofrece un abanico <strong>de</strong> sensaciones, <strong>de</strong> texturas,<br />

<strong>de</strong> paisajes, <strong>de</strong>…, <strong>de</strong> tantas y tantas cosas, totalmente nuevas<br />

para mí…<br />

- ¿Cómo es tu escritura? ¿Cuál es la forma que prefieres<br />

y por qué? ¿Cuál es tu relación con las palabras? ¿Cómo<br />

creas tu universo poético?<br />

- Aunque esto pueda resultar una especie <strong>de</strong> evasiva, creo<br />

que lo mejor es leer los siete poemas que figuran a<br />

continuación y <strong>de</strong>jar que el lector lo averigüe solo.<br />

Mayo/Junio <strong>Maio</strong>/Junho 31


poesía<br />

Aquí publicamos, en exclusiva, siete poemas <strong>de</strong> Abel A. Murcia Soriano, traducidos al polaco<br />

por Marta Szafrañska y Carlos Marrodán Casas.<br />

32<br />

Cerrar una ventana.<br />

Y ver como el cristal<br />

Nos aleja <strong>de</strong>l mundo<br />

Y protege un espacio<br />

Del que somos los dueños<br />

O así lo imaginamos.<br />

Observar la tormenta<br />

Y las arremetidas<br />

Del viento y <strong>de</strong> la lluvia<br />

Apenas protegidos<br />

Por una transparencia<br />

Que combate esas otras<br />

Del agua y <strong>de</strong> los aires.<br />

Entrever que la vida<br />

Se abre paso allá fuera<br />

Entre ráfaga y ráfaga<br />

De presencias y ausencias<br />

Que pueblan los recuerdos<br />

De otras muchas tormentas.<br />

Y ver en un reloj<br />

Cómo pasan las horas,<br />

Y <strong>de</strong>jar <strong>de</strong> creer<br />

En el paso <strong>de</strong>l tiempo.<br />

(<strong>de</strong> Acciones infinitesimales. Inédito)<br />

<strong>Maio</strong>/Junho<br />

***<br />

Zamkn±æ okno.<br />

I widzieæ, jak szyba<br />

Oddala nas od wiata<br />

I os³ania przestrzeñ,<br />

Któr± w³adamy<br />

A przynajmniej tak nam siê wydaje.<br />

Obserwowaæ burzê,<br />

U<strong>de</strong>rzenia<br />

Wiatru i <strong>de</strong>szczu,<br />

Chroni±c siê zaledwie<br />

Przezroczystoci±<br />

Zdoln± stawiæ czo³o tamtym dwóm:<br />

Wody i powietrza.<br />

Domylaæ siê ¿ycia, które<br />

Toruje sobie drogê, na zewn±trz,<br />

Miêdzy fal± a fal±<br />

Odwrotów i powrotów<br />

Wype³niajacych pamiêæ<br />

Tylu innych burz.<br />

I widzieæ na zegarze,<br />

Jak mijaj± godziny,<br />

I przestaæ wierzyæ,<br />

¯e mija czas.<br />

(z Acciones infinitesimales. Nieopublikowany)<br />

Traducción <strong>de</strong> Marta Szafrañska<br />

A ti<br />

La nieve se ha adueñado <strong>de</strong>l tejado<br />

apenas son las doce <strong>de</strong> la noche<br />

y espero sin hacer ningún reproche<br />

que el sueño se te lleve <strong>de</strong> mi lado.<br />

Espío el movimiento acompasado<br />

<strong>de</strong>l aire en tus pulmones y algún coche<br />

en la calle, pasada medianoche,<br />

me recuerda, <strong>de</strong>spués <strong>de</strong> haber tocado<br />

el claxon a lo loco, que la vida<br />

anda suelta <strong>de</strong>trás <strong>de</strong> los ladridos<br />

<strong>de</strong> los perros y <strong>de</strong>l silencio atento<br />

<strong>de</strong> los gatos. Y tú sigues dormida<br />

y yo me voy durmiendo, perseguidos<br />

por un callado cielo en movimiento.<br />

(<strong>de</strong> Un territorio <strong>de</strong> 11 x 14. Inédito)<br />

Enhebrar una aguja.<br />

Observar el metal<br />

Y en el metal el aire<br />

Que atraviesa la nada.<br />

Sentir algún algo <strong>de</strong> vida<br />

De dos pares <strong>de</strong> <strong>de</strong>dos<br />

Entre el metal y el hilo.<br />

Buscar el sentido <strong>de</strong>l tacto,<br />

La humedad necesaria <strong>de</strong> la lengua.<br />

Esforzar la mirada<br />

Sin otra lejanía<br />

Que la <strong>de</strong> ese otro ojo<br />

Que impone su presencia<br />

En el extremo opuesto<br />

De toda perspectiva.<br />

Enhebrar una aguja<br />

Como el único paso<br />

Para zurcir los días<br />

Y las noches <strong>de</strong>l tiempo.<br />

(<strong>de</strong> Acciones infinitesimales. Inédito)<br />

Mayo/ Junio<br />

Do ciebie<br />

¦nieg wzi±³ dach ca³y w swoje posiadanie,<br />

pó³noc dopiero, obok ciebie le¿ê,<br />

czekam na chwilê, gdy sen ciê zabierze,<br />

spokojnie czekam, bez pretensji ¿adnej.<br />

Na równomierny ruch zerkam ukradkiem<br />

powietrza w twoich p³ucach, nagle wciek³e<br />

d¼wiêki klaksonu, choæ dobrze po pierwszej,<br />

i dla mnie staj± siê jasnym sygna³em,<br />

¿e pisk hamulców, szczekanie szalone<br />

psów przera¿onych, kotów czujna cisza,<br />

to ¿ycie, ¿ycie samopas puszczone.<br />

A ty, jakby nic, pisz sobie spokojnie,<br />

i ja powoli zaczynam zasypiaæ,<br />

za nami niebo milcz±co ruchome.<br />

(z Un territorio <strong>de</strong> 11 x 14. Nieopublikowany)<br />

Traducción <strong>de</strong> Carlos Marrodán Casas<br />

Nawlec ig³ê.<br />

Wbiæ siê wpierw wzrokiem w metal,<br />

A z metalu przejæ w powietrze<br />

Przeszywaj±ce nicoæ.<br />

Poczuæ choæ odrobinê ¿ycia<br />

W czterech palcach<br />

Zawieszonych miêdzy metalem i nici±.<br />

Doszukaæ siê zmys³u dotyku,<br />

Niezbêdnej wilgoci jêzyka.<br />

Wytê¿yæ wzrok<br />

Za ca³± g³êbiê maj±c<br />

Tylko ostroæ ¼renicy tego ucha<br />

Narzucaj±cej sw± obecnoæ<br />

Z drugiego krañca<br />

Jedynej perspektywy.<br />

Nawlec ig³ê<br />

Jako jedyny krok,<br />

By ³ataæ dni<br />

I noce z czasem.<br />

(z Acciones infinitesimales. Nieopublikowany)<br />

Traducción <strong>de</strong> Carlos Marrodán Casas<br />

33


poesía<br />

Des<strong>de</strong> este <strong>de</strong>sértico rincón<br />

Ahora que la distancia te convierte<br />

en algo más que ausencia y que vacío,<br />

ahora que contemplo el <strong>de</strong>safío<br />

<strong>de</strong> ese tango que bailas con la muerte,<br />

ahora que me pi<strong>de</strong>s que <strong>de</strong>spierte<br />

y en sueños siento un largo escalofrío,<br />

ahora que tu imagen me da frío<br />

y que yaces inmóvil, quieto, inerte,<br />

ahora solicito tu presencia,<br />

ahora te reclamo aquí a la vida<br />

y exijo que regreses aquí ahora.<br />

Ahora como única exigencia,<br />

ahora que es el tiempo <strong>de</strong> esta herida.<br />

Ahora como siempre. Siempre ahora.<br />

(<strong>de</strong> Un territorio <strong>de</strong> 11 x 14. Inédito)<br />

34<br />

Levantarse en la noche.<br />

Palpar <strong>de</strong>s<strong>de</strong> lo negro<br />

En busca <strong>de</strong> la luz<br />

Un universo oscuro<br />

Del que somos el centro.<br />

Buscar en un vaso <strong>de</strong> agua<br />

El oasis oculto<br />

De toda travesía<br />

En un <strong>de</strong>sierto propio.<br />

Regresar a la arena<br />

De un reloj que no ceja<br />

En el empeño vano<br />

De acabar con el tiempo.<br />

(<strong>de</strong> Acciones infinitesimales. Inédito)<br />

A tu presencia permanente<br />

Z tego opustosza³ego miejsca<br />

Twojej nieustaj±cej obecnoci<br />

Teraz, gdy oddalenie ciê obraca<br />

w co wiêcej ponad pustkê i brak ciebie,<br />

teraz, gdy wiem, ¿e mnie dosiêga brzmienie<br />

twego ze mierci± tañczonego tanga,<br />

teraz, gdy mej uwagi siê domagasz<br />

i obraz twój, powracaj±cy we nie,<br />

niespodziewanym mnie przenika dreszczem:<br />

le¿±ca postaæ - cicha, ch³odna, martwa.<br />

teraz uparcie wo³am, ¿±dam, czekam,<br />

teraz chcê ciê przy sobie mieæ z powrotem,<br />

musisz do ¿ycia wróciæ tutaj, teraz.<br />

Teraz to jest jedyne, o co proszê -<br />

teraz, kiedy ta rana mi doskwiera.<br />

Teraz, jak zawsze. Zawsze teraz.<br />

(z Un territorio <strong>de</strong> 11 x 14. Nieopublikowany)<br />

Traducción <strong>de</strong> Marta Szafrañska<br />

***<br />

Wstawaæ noc±.<br />

Po omacku wy³awiaæ z cienia<br />

¦wiat³o<br />

Mrocznego wszechwiata,<br />

Którego jestemy rodkiem.<br />

Doszukiwaæ siê w szklance wody smaku<br />

Ukrytej oazy<br />

Czekaj±cej na ka¿<strong>de</strong>j drodze<br />

Poprzez w³asn± pustyniê.<br />

Wracaæ do piasku<br />

Klepsydry, która nieustannie<br />

Darmo siê trudzi,<br />

By skoñczyæ z czasem.<br />

(z Acciones infinitesimales. Nieopublikowany)<br />

Traducción <strong>de</strong> Marta Szafrañska<br />

Un día vine a verte y a encontrarte<br />

y a hablar <strong>de</strong> todo y nada, y a no hablar.<br />

Bastaba que estuvieras:<br />

tú y tu media sonrisa,<br />

tú y tus ojos abiertos<br />

<strong>de</strong> constante sorpresa<br />

<strong>de</strong> quien ya no se asombra.<br />

Y tal como esperaba<br />

nos compartió el paisaje,<br />

y algún que otro pedazo<br />

<strong>de</strong> un mar que allá en Varsovia<br />

nos intuyó cercanos.<br />

Hoy, aún aquí, ya he empezado a volver<br />

y me esfuerzo en atar a la memoria<br />

la vista que se ve <strong>de</strong>s<strong>de</strong> el salón,<br />

pero todo es presente y resulta imposible.<br />

Los sillones naranja dan la espalda<br />

a los ruidos que llegan <strong>de</strong>s<strong>de</strong> fuera.<br />

Mayo/Junio <strong>Maio</strong>/Junho<br />

Inédito<br />

Nerja, 11.05.<strong>2006</strong><br />

Siempre a ti<br />

La rosa es el silencio.<br />

La rosa es el silencio <strong>de</strong> un fuego congelado.<br />

No hay otro laberinto más perfecto,<br />

ni cáliz más amargo si se vierte.<br />

La rosa es un indicio <strong>de</strong> otro paraíso<br />

arrebatado, un rastro sin <strong>de</strong>stino,<br />

la soledad <strong>de</strong> las flores hecha flor.<br />

La rosa es el silencio,<br />

y también es la ausencia.<br />

La rosa es el reflejo<br />

<strong>de</strong> un jardín que no existe,<br />

un vacío con forma,<br />

un dolor reprimido<br />

entre pétalo y pétalo,<br />

el refugio <strong>de</strong>l aire.<br />

Es la cárcel <strong>de</strong>l tiempo,<br />

una nave sin mar.<br />

La rosa es el silencio.<br />

El silencio es la rosa.<br />

Inédito<br />

***<br />

Przyjecha³em spotkaæ siê z tob±,<br />

porozmawiaæ o wszystkim i o niczym, i nie<br />

porozmawiaæ.<br />

Wystarczy³o, ¿e by³e:<br />

ty i twój pó³umiech,<br />

ty i twój wzrok, pe³en<br />

nieustannego zdumienia<br />

kogo, kto siê ju¿ niczemu nie dziwi.<br />

Rzeczywicie,<br />

zjedna³ nas ze sob± krajobraz,<br />

i jeszcze jaki kawa³ek<br />

morza, które tam, w Warszawie,<br />

wyczu³o nasz± bliskoæ.<br />

Dzi, ci±gle tutaj, zacz±³em wracaæ<br />

i usi³ujê zwi±zaæ z pamiêci±<br />

widok z salonu,<br />

ale wszystko jest tera¼niejsze - wiêc to niemo¿liwe.<br />

Pomarañczowe fotele odwracaj± siê plecami<br />

do ha³asów dobiegaj±cych z ulicy.<br />

Nieopublikowany<br />

Traducción <strong>de</strong> Marta Szafrañska<br />

Nerja, 11.05.<strong>2006</strong><br />

Do ciebie zawsze<br />

Ró¿a jest milczeniem.<br />

Ró¿a jest milczeniem zmro¿onego ognia.<br />

Nie ma doskonalszego labiryntu,<br />

Ani bardziej gorzkiego kielicha jak kielich rozlany.<br />

Ró¿a jest oznak± innego raju<br />

Skradzionego, lad bez przeznaczenia,<br />

Samotnoci± kwiatów rozkwit³± w kwiat.<br />

Ró¿a jest cisz±<br />

I nieobecnoci±.<br />

Ró¿a jest odbiciem<br />

Nie istniej±cego ogrodu,<br />

Pró¿ni±, która ma kszta³t,<br />

bólem umierzonym<br />

miêdzy jednym p³atkiem a drugim,<br />

schronieniem powietrza.<br />

Wiêzieniem czasu,<br />

okrêtem bez morza.<br />

Ró¿a jest milczeniem.<br />

Milczenie jest ró¿±.<br />

Nieopublikowany<br />

Traducción <strong>de</strong> Carlos Marrodán Casas<br />

35


poesia<br />

Como <strong>de</strong> costume, apresentamos o nosso espaço <strong>de</strong>dicado à criação literária, <strong>de</strong>sta vez com<br />

alguma poesia <strong>de</strong> inspiração ver<strong>de</strong> e em outras cores.<br />

VERDEMENTE<br />

36<br />

para Ale<br />

Sangre <strong>de</strong> la piedra.<br />

Fuego bajo el agua.<br />

Río en las entrañas <strong>de</strong>l <strong>de</strong>sierto.<br />

Rayo que se encierra<br />

equidistante<br />

entre el azul celeste<br />

y las llamas <strong>de</strong>l infierno,<br />

entre el calor y el frío.<br />

La verdad es seguramente ver<strong>de</strong><br />

y cruza por el mundo inadvertida,<br />

<strong>de</strong> imagen en imagen,<br />

ver<strong>de</strong>mente.<br />

Do ver<strong>de</strong><br />

prenhe <strong>de</strong> todas as cores<br />

nasceram flores.<br />

A cida<strong>de</strong> toda enver<strong>de</strong>cia,<br />

filtrando o céu.<br />

E tu vieste.<br />

Sabias-me ao musgo muito ver<strong>de</strong><br />

que eu respirava <strong>de</strong>s<strong>de</strong> sempre<br />

e on<strong>de</strong> podia <strong>de</strong>morar<br />

as minhas mãos.<br />

<strong>de</strong> Gerardo Beltrán<br />

E então,<br />

quando tudo<br />

<strong>de</strong>vagar esver<strong>de</strong>cia<br />

tu vinhas <strong>de</strong> mansinho abrir-te em mim.<br />

E eu amava-te como a uma Primavera<br />

a brotar do ver<strong>de</strong> num só dia.<br />

<strong>de</strong> Manuela Teixeira Pinto<br />

<strong>Maio</strong>/Junho<br />

CON GANAS DE VERTE<br />

Aspidistra, ver<strong>de</strong> testigo,<br />

<strong>de</strong>l agua<br />

en sus ojos olivo.<br />

Sólo agua <strong>de</strong> mar<br />

en su sopa, sin ti,<br />

aumentan las ondas.<br />

Vino un Ave <strong>de</strong>l paraíso<br />

naranja y plúmbago,<br />

con tu nombre en el pico.<br />

El corazón <strong>de</strong>stemplado<br />

encuentra tu sombra,<br />

en suaves aromas.<br />

Ya ves, tú,<br />

flor, ave, perfume,<br />

¡cuántos tumbos<br />

y llantos repentinos!.<br />

Con ganas <strong>de</strong> verte,<br />

seguiremos tu aroma,<br />

en el canto<br />

<strong>de</strong> la blanca magnolia.<br />

<strong>de</strong> Claudia Benítez Herrera<br />

PASSAGEIRO<br />

perdi<br />

o caminho<br />

<strong>de</strong> casa<br />

que casa<br />

caso<br />

por acaso<br />

um atraso<br />

uma vida<br />

que vida<br />

vi<strong>de</strong><br />

isto aqui<br />

SOBRE ESTE POEMA IRREGULAR<br />

o que aqui cabe entre nós melhor não pensar<br />

aqui cabe entre nós melhor não pensar o que<br />

cabe entre nós melhor não pensar o que aqui<br />

entre nós melhor não pensar o que aqui cabe<br />

melhor não pensar o que aqui cabe entre nós<br />

pensar o que aqui cabe entre nós melhor não<br />

Mayo/ Junio<br />

o branco te convida<br />

carol beltrão<br />

37


poesía<br />

FRAN ALONSO<br />

O pasado 16 <strong>de</strong> maio pola ocasión do Día das Letras Galegas<br />

pui<strong>de</strong>mos ouvir no noso instituto unha conferencia e un<br />

recital do escritor Fran Alonso, baixo o título “Literatura e<br />

contemporaneida<strong>de</strong> <strong>de</strong>s<strong>de</strong> Galicia”.<br />

Naceu en Vigo no ano 1963, poeta e narrador, é licenciado<br />

en Filoloxía Galego-Portuguesa e está profesionalmente<br />

vencellado ao xornalismo e á edición en lingua galega.<br />

A súa traxectoria narrativa comeza con Trailer (1991),<br />

Premio Blanco Amor <strong>de</strong> Novela, xira arredor da vida e dos<br />

mitos dos camioneiros; Cemiterio <strong>de</strong> elefantes (1994), libro<br />

<strong>de</strong> relatos centrado no mundo da noite; Silencio (1995),<br />

adéntrase na esquizofrenia do mundo urbano a través dunha<br />

situación límite; O brillo dos elefantes (1999), que conta a<br />

historia dun neno centroamericano acurralado pola miseria,<br />

a fame e a guerra; Males <strong>de</strong> cabeza (2001), libro <strong>de</strong> relatos,<br />

sobre as neuroses do noso tempo.<br />

38<br />

“Pó<strong>de</strong>se invertar a ficcción, pero non a realida<strong>de</strong>”<br />

“Meternos en corpos que non son nosos capacítanos para acce<strong>de</strong>r a máis lugares, para enxuizar mellor o mundo”<br />

Sempre procuro ese instante <strong>de</strong> felicida<strong>de</strong>:<br />

un pasado neboento, esvaído, unha praia.<br />

¿Existirán aínda as praias, amor?<br />

Unha lingua nos nocelos.<br />

Unha noz. Unha lura ñas poteiras. Un avó.<br />

Amarróme ó álbum <strong>de</strong> fotos, coma un náufrago;<br />

coma un explorador perdido, os mapas;<br />

a un libro que fala <strong>de</strong> xalun<strong>de</strong>s, <strong>de</strong> noutroras.<br />

E conxugo o pretérito perfecto,<br />

o futuro condicional.<br />

<strong>de</strong> Persianas, pedramol e outros nervios (1992)<br />

Vigo <strong>de</strong>s<strong>de</strong> aqui parece Nova York.<br />

Coma nas películas dos sábados.<br />

E sorrime, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> enfronte, cinicamente,<br />

fermosa e altiva, a cida<strong>de</strong> das miñas penas,<br />

a piques <strong>de</strong> engulirme.<br />

Atrás queda o mar <strong>de</strong> Cangas,<br />

varréndolle os soños ó meu home,<br />

que dorme.<br />

O mesmo mar sempre é distinto a cada instante<br />

e a cada ollo.<br />

<strong>de</strong> Tortillas para os obreiros (1996)<br />

*<br />

Como xornalista é autor <strong>de</strong> Territorio ocupado (1998), Premio<br />

Losada Diéguez, unha crónica <strong>de</strong> literatura xornalística sobre<br />

o conflicto saharauí.Como poeta <strong>de</strong>u á luz A lúa no probador<br />

(1992), poesía e relatos; Persianas, pedramol e outros nervios<br />

(1992), o <strong>de</strong>samor; Tortillas para os obreiros (1996), os<br />

pensamentos <strong>de</strong> muller; Cida<strong>de</strong>s (1997) Premio Rañolas ao<br />

mellor libro infantil e xuvenil do ano, Accésit do Premio<br />

Lazarillo <strong>de</strong> Literatura infantil, Subversións (2001), crítica<br />

do seu tempo; Balada solitaria (2004), a soida<strong>de</strong>.<br />

No seu relatorio <strong>de</strong>scubriunos os seus libros, mostrounos a<br />

súa propia concepción da literatura, achegounos ó sentir dun<br />

escritor dun xeito moi próximo. Ao remate <strong>de</strong>leitámonos cos<br />

seus poemas en galego e un dos seus relatos, coa súa versión<br />

tamén en polaco, tradución dunha alumna do Lectorado <strong>de</strong><br />

Galego, Joanna W³odarczyk, e que a seguir amosamos, “Os<br />

aforros da vella” (Males <strong>de</strong> cabeza, 2001), xunta algúns dos<br />

seus poemas.<br />

Cando choro,<br />

fágoo sempre sobre os mapas,<br />

para que chova sobre as cida<strong>de</strong>s preferidas.<br />

As cida<strong>de</strong>s dos mapas,<br />

aquelas que se po<strong>de</strong>n percorrer<br />

co perfil perdido da mirada,<br />

e viaxar dunha a outra nun segundo,<br />

abarcalas todas,<br />

ou vivir en todas e en ningunha.<br />

Son as cida<strong>de</strong>s dos mapas,<br />

as urbes sobre as que sempre choro<br />

cando estou <strong>de</strong>sconsolado.<br />

<strong>de</strong> Cida<strong>de</strong>s (1997)<br />

Na súa contradición, disfrazado, o tempo é un asasino<br />

estático, un mentirán, un finxidor que engana.<br />

Eu non me movo.<br />

El si, co seu imperceptíbel minuteiro envelenado, co seu<br />

fastío, que me <strong>de</strong>vora.<br />

<strong>de</strong> Balada solitaria (2004)<br />

tradución<br />

OSZCZEDNOSCI STARUSZKI<br />

Staruszka by³a bardzo upart± kobiet±. Potomstwo wk³ada³o wiele<br />

wysi³ku w przekonywanie jej, by wp³aci³a pieni±dze do Kasy<br />

Oszczêdnociowej. Ona zawziêcie odmawia³a. Mówi³a, ¿e ca³e<br />

¿ycie ukrywa³a oszczêdnoci w materacu i nie widzi powodów,<br />

by to zmieniaæ.<br />

– Ale¿ mamo – nalega³y dzieci - nie wiesz, ¿e w dzisiejszych<br />

czasach trzymanie ich w domu jest szalenie niebezpieczne? Kto<br />

mo¿e siê w³amaæ i ukraæ wszystko.<br />

Trzymanie pieniêdzy w znajduj±cym siê poza zasiêgiem wzroku<br />

miejscu, w którym nigdy nie by³a, wydawa³o siê staruszce bardzo<br />

po<strong>de</strong>jrzane. Bêd±c pozbawion± opieki mê¿a wdow±, obawia³a<br />

siê, ¿e kto z Kasy Oszczêdnociowej, mo¿e j± oszukaæ. Co<br />

gorsza, Kasa znajdowa³a siê na dole, w miasteczku, podczas<br />

gdy staruszka mieszka³a wysoko, na terenie górskiej parafii. Ani<br />

jej siê ni³o. By³aby sk³onna, co najwy¿ej, znale¼æ now± skrytkê<br />

– byle w domu lub na podwórku. O powierzeniu pieniêdzy<br />

ludziom z banku, których nawet nie zna³a, mowy nie by³o.<br />

Pewnego dnia staruszka uleg³a naciskom potomstwa. Zgodzi³a<br />

siê na umieszczenie pieniêdzy w niewzbudzaj±cej w niej za grosz<br />

zaufania Kasie, zastrzegaj±c przy tym dzieciom, ¿e s± to<br />

oszczêdnoci ca³ego ¿ycia, które one maj± odziedziczyæ.<br />

W drodze do miasta towarzyszy³a jej najm³odsza córka.<br />

Staruszka dok³adnie zawinê³a pieni±dze w papierow± torebkê i<br />

ukry³a g³êboko, na samym dnie schowanej pod spódnic±<br />

kieszonki. Od wielu lat nie schodzi³a na dó³ i nie by³a pewna,<br />

czy bêdzie w stanie siê tam odnale¼æ. Jej oczom ukaza³o siê<br />

zupe³nie odmienione miasteczko.<br />

W Kasie Oszczêdnociowej dope³niono wszelkich formalnoci.<br />

Na podsuniêtych papierach staruszka z³o¿y³a odcisk palca (nigdy<br />

nie nauczono jej czytaæ ani pisaæ), przyniesiono ksi±¿eczkê<br />

oszczêdnociow±, w której - jak powiedzia³a jej córka - napisane<br />

by³o, ile ma pieniêdzy. Jednak staruszka nalega³a, by<br />

pracowniczka banku pokaza³a miejsce, gdzie schowali jej<br />

banknoty. Kobieta zza biurka wskaza³a ogromne drzwi skarbca.<br />

Czu³y umiech córki towarzyszy³ wychodz±cej z Kasy<br />

starowince. By³a pod wra¿eniem, choæ wci¹¿ pozostawa³a<br />

niespokojna. To siê jej wcale nie podoba³o.<br />

Tego dnia staruszka postanowi³a co tydzieñ schodziæ do<br />

miasteczka, by pracowniczka Kasy Oszczêdnociowej<br />

pokazywa³a jej banknoty. Pozostaj±c nieufn±, chcia³a byæ pewna,<br />

¿e wci±¿ tam s±. Pracownicy Kasy Oszczêdnociowej,<br />

podmiewaj±c siê, postanowili, ¿e przez okienko bêd±<br />

Mayo/Junio <strong>Maio</strong>/Junho<br />

`<br />

´<br />

Tradución radución radución <strong>de</strong> <strong>de</strong> Joanna Joanna Wlodarczyk<br />

Wlodarczyk<br />

pokazywaæ staruszce plik banknotów wyci±gniêtych ze skarbca.<br />

Choæ przez ponad dziesiêæ lat nie oddala³a siê od swego domu,<br />

byd³a i pól, przywyk³a do cotygodniowych wypraw do miasteczka.<br />

Starowinka mieszka³a sama, dzieci odwiedza³y j± tylko w<br />

niedzielê. Nie cieszy³a siê ju¿ dobrym zdrowiem, ale upór i chêæ<br />

postawienia na swoim dodawa³y jej si³ na d³ug± drogê, jaka<br />

dzieli³a po³o¿ony na górze dom od znajduj±cej siê w centrum<br />

miasteczka Kasy Oszczêdnociowej. Za ka¿dym razem, gdy<br />

zobaczy³a swoje banknoty, wraca³a do domu na tyle spokojna,<br />

by przez nastêpny tydzieñ nie zamartwiaæ siê, ¿e kto je zabra³.<br />

Nawet, jeli by³o ich niewiele, cieszy³a siê, ¿e ma co, co mo¿e<br />

zostawiæ dzieciom.<br />

Kiedy na<strong>de</strong>sz³y ch³odne dni, mêczona ró¿nymi dolegliwociami<br />

staruszka, ograniczy³a wyprawy do miasteczka do jednej w<br />

miesi±cu. Dzieci przekonywa³y j±, ¿e z racji wieku nie mo¿e<br />

pozwalaæ sobie na daremny wysi³ek, ale prze<strong>de</strong> wszystkim to<br />

ona sama nie znajdywa³a ju¿ wystarczaj±co du¿o si³. Pó¼niej<br />

z³apa³a grypê i przez pewien czas nie mog³a nawet rzuci okiem<br />

na swoje pieni±¿ki.<br />

Pewnego wiosennego poranka, gdy przygrzewa³o s³oñce, pola<br />

budzi³y siê do ¿ycia i po zimie nie by³o ju¿ ladu, staruszka<br />

mog³a w koñcu zejæ do miasteczka, by, jak to mia³a w zwyczaju,<br />

sprawdziæ czy jej pieni±dze wci±¿ by³y w ogromnym skarbcu,<br />

jakiego nigdzie indziej nie widzia³a.<br />

Jednak, kiedy starowinka dotar³a w znane sobie miejsce, nie<br />

odnalaz³a tam Kasy Oszczêdnociowej. Biedna kobieta<br />

pomyla³a, ¿e postrada³a zmys³y. Lokal, w którym znajdowa³<br />

siê oddzia³ bankowy by³ zamkniêty, okna zas³ania³y papiery i<br />

kartony. Wskazuj±ce na jego obecnoæ napisy znik³y. Jedynie<br />

ma³y plakat informowa³ o przeniesieniu siedziby Kasy na inn±<br />

ulicê, ale staruszka nie umia³a czytaæ.<br />

Chc±c dowiedzieæ siê, co siê sta³o, staruszka wesz³a do ma³ego<br />

sklepiku znajduj±cego siê o krok od lokalu, w którym mieci³a<br />

siê Kasa Oszczêdnociowa i zapyta³a o to sprzedawczyniê.<br />

– A, to pani nie wie? – odpowiedzia³a jej kobieta – Kasa<br />

Oszczêdnociowa wynios³a siê st±d.<br />

Starowinka nie by³a w stanie d³u¿ej tego s³uchaæ. Zda³a sobie<br />

sprawê, ¿e ma nudnoci, jej nogi zrobi³y siê jak z waty. Kasa<br />

Oszczêdnociowa znik³a wraz z jej pieniêdzmi – owocem pracy<br />

ca³ego ¿ycia. Jej serce nie wytrzyma³o. Poczu³a jeszcze smak<br />

krwi w ustach i po chwili runê³a na ziemiê.<br />

-<br />

39


trAduCCIÓ<br />

ZIELONA GES/L’OCA VERDA<br />

El verd ens acomiada en un fi <strong>de</strong> curs envoltat per una natura exuberant que regala a<br />

les terres poloneses l’esperit <strong>de</strong> la vida. Són resurreccions no cristianes arriba<strong>de</strong>s <strong>de</strong>sprés<br />

<strong>de</strong>ls últims gèlids hiverns que ens visitaren. I com se’ns pot revifar <strong>de</strong>l nostre encara<br />

endormiscat quefer quotidià? Podríem provar-ho amb aquests petits episodis teatrals<br />

que l’enginyós Konstanty Il<strong>de</strong>fons Ga³czyñski ens regalà cap a finals <strong>de</strong>ls anys quaranta<br />

(<strong>de</strong>l segle passat!) al setmanari “Secció”. Si més no, serà un breu moment per a riure,<br />

viure i somriure, que ja és bastant. Endavant, doncs.<br />

El Teatre l’Oca Verda<br />

Té l’honor <strong>de</strong> presentar-vos<br />

“Amor”<br />

Personatges:<br />

Ell i ella<br />

Ell:<br />

(poeta) Maria, t’estimo. T’estimo així com ningú ho ha fet o<br />

ho farà. Com ningú estima al món. Com ningú ho ha fet al<br />

llarg <strong>de</strong> la història. D’aquesta manera no estimaren ni Dant<br />

ni Don Joan. Amor. Tu entens el que significa l’amor?<br />

Ella:<br />

(doctora) Ho entenc. És una hipermetamorfosi psíquica que<br />

condueix cap a la hipercinestèsia que, en conseqüència,<br />

provoca neurastènia angiopàtica.<br />

Ell:<br />

Gràcies.<br />

El TELÓ<br />

Baixa tot provocant un sinistre xiulet.<br />

1947<br />

Té l’honor <strong>de</strong> presentar-vos<br />

La faula d’Isop.<br />

“L’ase i la seva ombra”<br />

Viatjant:<br />

(Sobre un ase, darrere l’esquena <strong>de</strong>l propietari a qui li llogà<br />

l’ase com a mitjà <strong>de</strong> transport.): El sol és al zenit. No hi ha<br />

40<br />

<strong>Maio</strong>/Junho<br />

cap núvol. Cap arbre a l’horitzó. On i com aquí a la vora<br />

podria <strong>de</strong>scansar? (pensa ben abstret) Ja ho sé. (obliga al<br />

propietari que aturi l’ase i s’estira a <strong>de</strong>scansar sota l’ombra<br />

<strong>de</strong> la bèstia).<br />

Propietari:<br />

Ah! Tu, espavilat, surt ara mateix d’aquesta ombra, aquesta<br />

ombra és per a mi. Jo et vaig llogar l’ase sense ombra.<br />

(Procura situar-se al bell mig <strong>de</strong> l’ombra <strong>de</strong> l’ase)<br />

Viatjant:<br />

Fora! Pòtol, bor<strong>de</strong>gàs! Quan et vaig llogar el teu ase<br />

comprenia totes les prestacions possibles, és a dir, també<br />

l’ombra. No em moc <strong>de</strong>l lloc. (no es mou <strong>de</strong>l seu lloc)<br />

Ase:<br />

(aprofitant la confusió es mou <strong>de</strong>l lloc i, lleugerament,<br />

<strong>de</strong>sapareix en l’horitzó)<br />

Moralitat<br />

A VEGADES A CAUSA D’UNA INEXISTENT OMBRA<br />

HOM ES MOSTRA VERS L’ALTRI DISGUSTAT<br />

I LA VIDA COM L’ASE JA S’HA ESCAPAT.<br />

TELÓ<br />

1950<br />

Té l’honor <strong>de</strong> presentar-vos<br />

Un drama polonès politicoescatològic<br />

“Nació i sistema”<br />

Hi apareixen:<br />

Nació<br />

Sistema<br />

G¿eg¼ó³ka<br />

Nació:<br />

Sistema, on ets?<br />

Sistema:<br />

Nació:<br />

(més fort) Sistema, on ets!?<br />

Sistema:<br />

Nació:<br />

(fortíssim) Sistema, on ets?!!!<br />

Sistema:<br />

Nació:<br />

El sistema no sent la nació.<br />

G¿eg¼ó³ka:<br />

(extremadament espantat baixa el teló)<br />

1946<br />

Té l’honor <strong>de</strong> presentar-vos<br />

“Eva la golafre”.<br />

Hi apareixen:<br />

La serp, Adam i Eva.<br />

Serp:<br />

(dóna a Eva una poma en una safata) Mossega-la i dóna’n<br />

a l’Adam.<br />

Adam:<br />

(brama) Dóna’m una mossegada! Dóna’m una mossegada!<br />

Eva:<br />

(es menja tota la poma)<br />

Serp:<br />

(espantada) I ara què passarà?<br />

Adam:<br />

Malament. Tota la Bíblia per a res.<br />

TELÓ<br />

1946<br />

Mayo/ Junio<br />

Text ext <strong>de</strong> <strong>de</strong> Josep Josep Antoni Antoni Clement Clement i<br />

i<br />

Ania Ania Plocica<br />

Plocica<br />

-<br />

41


tradución<br />

Concha Rousia naceu en 1962 nunha pequena al<strong>de</strong>a no Sur da Galiza. Coma estudante da escola secundaria<br />

en Vigo viviu o choque <strong>de</strong> non po<strong>de</strong>r utilizar a súa propia lingua, galego-portuguesa. Tal discriminación<br />

da fala do seu pobo espertou nela a rebeldía, que se mostrou na loita pertinaz pola i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> galega. Alén<br />

da súa activida<strong>de</strong> literaria é psícologa clínica. O seu primeiro romance titúlase As Sete Fontes. Escribe<br />

tamén poesía, contos e artigos.A autora confesa: “Eu, que não sou lingüista nem experta em questão outra<br />

que não seja a fala, tenho-me feito muitas preguntas”. Porén aclama que a ortografía galega proposta<br />

pola Real Aca<strong>de</strong>mia Galega é calco do castelán. Por ese motivo séntese indignada e protesta contra tal<br />

proce<strong>de</strong>mento. Reclama o <strong>de</strong>reito <strong>de</strong> escribir en galego na súa forma tradicional, que ela i<strong>de</strong>ntifica cos<br />

rasgos da lingua portuguesa.O poema abaixo apresentado usa a transcrición portuguesa, favorizada pola<br />

escritora e que gañou recoñecemento entre os movementos reintegracionistas (lusistas) na Galiza.<br />

VERDE (REAGIR)<br />

Os pinheiros subindo na la<strong>de</strong>ira<br />

e o seu ver<strong>de</strong> batendo nos teus olhos<br />

Monotonia<br />

A onda que leva e trai o mar incerto<br />

e o seu ver<strong>de</strong> batendo nos teus olhos<br />

In<strong>de</strong>finido<br />

A maçã convidando a tua boca<br />

e o seu ver<strong>de</strong> batendo nos teus olhos<br />

Alouminho<br />

As ortigas dam veneno às caricias<br />

e o seu ver<strong>de</strong> batendo nos teus olhos<br />

Ingratidão<br />

A garrafa que ensina o vinho ver<strong>de</strong><br />

e o seu ver<strong>de</strong> batendo nos teus olhos<br />

Transparência<br />

A nevoeira emborcalhando-se no vale<br />

e o seu ver<strong>de</strong> batendo nos teus olhos<br />

Turbação<br />

O arrepio das roupas <strong>de</strong> hospital<br />

e o seu ver<strong>de</strong> batendo nos teus olhos<br />

Sofrimento<br />

A cicuta tentando co seu talhe<br />

e o seu ver<strong>de</strong> batendo nos teus olhos<br />

Traiçoeira<br />

O verão murchando a erva co seu bafo<br />

e o seu ver<strong>de</strong> batendo nos teus olhos<br />

Esvaído<br />

O inverno enchoupando tudo em água<br />

e o seu ver<strong>de</strong> batendo nos teus olhos<br />

Afogado<br />

42<br />

*<br />

ZIELEÑ (ODPOWIED¬)<br />

Sosny wspinaj±ce siê po zboczu<br />

i ich zieleñ odbijaj±ca siê w twoich oczach<br />

Monotonia<br />

Fala unosz±ca tam i z powrotem zmienne morze<br />

i jej zieleñ odbijaj±ca siê w twoich oczach<br />

Nieokrelone<br />

Jab³ko nêc±ce twoje usta<br />

i jego zieleñ odbijaj±ca siê w twoich oczach<br />

Czu³oæ<br />

Pokrzywy obdarzaj± truj±c± pieszczot±<br />

i ich zieleñ odbijaj±ca siê w twoich oczach<br />

Niewdziêcznoæ<br />

Butelka która ukazuje zielone wino<br />

i jego zieleñ odbijaj±ca siê w twoich oczach<br />

Przezroczystoæ<br />

Mg³a tocz±ca siê po dolinie<br />

i jej zieleñ odbijaj±ca siê w twoich oczach<br />

Niepokój<br />

Wzdrygniêcie na widok szpitalnych fartuchów<br />

i ich zieleñ odbijaj±ca siê w twoich oczach<br />

Cierpienie<br />

Cykuta kusz±ca sw± ³odyg±<br />

i jej zieleñ odbijaj±ca siê w twoich oczach<br />

Zdradliwa<br />

Lato wysusza trawy swym od<strong>de</strong>chem<br />

i jej zieleñ odbijaj±ca siê w twoich oczach<br />

Omdla³e<br />

Zima pogr±¿aj±ca wszystko w wodzie<br />

i jej zieleñ odbijaj±ca siê w twoich oczach<br />

Zatopiona<br />

Os ramos cortados do cemitério<br />

e o seu ver<strong>de</strong> batendo nos teus olhos<br />

Moribundo<br />

Musgo tenro cobrindo a faz da pena<br />

e o seu ver<strong>de</strong> batendo nos teus olhos<br />

Escorrega<br />

O vidoeiro oferece a sombra fresca<br />

e o seu ver<strong>de</strong> batendo nos teus olhos<br />

Repouso<br />

O carvalho que torna a touça em prata<br />

e o seu ver<strong>de</strong> batendo nos teus olhos<br />

Bondoso<br />

O centeio bambeando-se no ar<br />

e o seu ver<strong>de</strong> batendo nos teus olhos<br />

Vacilante<br />

As morugens cobrindo a tona da água<br />

e o seu ver<strong>de</strong> batendo nos teus olhos<br />

Deleitosas<br />

O pão trigo comesto polo mofo<br />

e o seu ver<strong>de</strong> batendo nos teus olhos<br />

Apodrecido<br />

O eucalipto sobe intruso ao teu céu<br />

e o seu ver<strong>de</strong> batendo nos teus olhos<br />

Estrangeiro<br />

Esses olhos entornando a mirada<br />

e o seu ver<strong>de</strong> batendo nos teus olhos<br />

Picareiro<br />

O loureiro coroando a cabeça<br />

e o seu ver<strong>de</strong> batendo nos teus olhos<br />

Honorável<br />

O incêndio tornando preto o bosque<br />

e o seu ver<strong>de</strong> batendo nos teus olhos<br />

Suplicante<br />

Os lameiros ensinando a sua erva<br />

e o seu ver<strong>de</strong> batendo nos teus olhos<br />

Formosura<br />

A seiva abrindo o asfalto nos caminhos<br />

e o seu ver<strong>de</strong> batendo nos teus olhos<br />

Vencedora<br />

A tua Terra tornando ver<strong>de</strong> o ver<strong>de</strong><br />

e o seu ver<strong>de</strong> batendo nos teus olhos<br />

Libertai-me!<br />

Junho 2005<br />

Tradución radución <strong>de</strong> <strong>de</strong> Karolina arolina Franaszczuk<br />

Franaszczuk<br />

¦ciête ga³êzie na cmentarzu<br />

i ich zieleñ odbijaj±ca siê w twoich oczach<br />

Konaj±cy<br />

Delikatny mech okrywaj±cy twarz ¿alem<br />

i jego zieleñ odbijaj±ca siê w twoich oczach<br />

¬lizga siê<br />

Brzoza daje ch³odny cieñ<br />

i jej zieleñ odbijaj±ca siê w twoich oczach<br />

Odpoczynek<br />

D±b srebrz±cy d±browê<br />

i jego zieleñ odbijaj±ca siê w twoich oczach<br />

Dobrotliwy<br />

¯yto ko³ysz±ce siê na powietrzu<br />

i jego zieleñ odbijaj±ca siê w twoich oczach<br />

Chwiejne<br />

Gwiazdnice okrywaj±ce lustro wody<br />

i ich zieleñ odbijaj±ca siê w twoich oczach<br />

Rozkoszne<br />

Pszenny chleb zjedzony przez pleñ<br />

i jej zieleñ odbijaj±ca siê w twoich oczach<br />

Splenia³y<br />

Eukaliptus-intruz pn±cy siê po twoim niebie<br />

i jego zieleñ odbijaj±ca siê w twoich oczach<br />

Obcy<br />

Tamte oczy odwracaj±ce wzrok<br />

i ich zieleñ odbijaj±ca siê w twoich oczach<br />

K³amliwy<br />

Laur wieñcz±cy g³owê<br />

i jego zieleñ odbijaj±ca siê w twoich oczach<br />

Godny<br />

Po¿ar czerni±cy las<br />

i jego zieleñ odbijaj±ca siê w twoich oczach<br />

B³agalny<br />

Mokrad³a ods³aniaj±ce swoje trawy<br />

i ich zieleñ odbijaj±ca siê w twoich oczach<br />

Piêkno<br />

Soki rozbijaj±ce asfalt dróg<br />

i ich zieleñ odbijaj±ca siê w twoich oczach<br />

Zwyciêskie<br />

Twoja Ziemia przemieniaj±ca zieleñ w zieleñ<br />

i jej zieleñ odbijaj±ca siê w twoich oczach<br />

Uwolnijcie mnie!<br />

Styczeñ, 2005<br />

Mayo/Junio <strong>Maio</strong>/Junho 43


tradución<br />

O EMPERADOR; INTERROGATORIO DO ANXO<br />

As dúas obras <strong>de</strong> Zbigniew Herbert presenteinas o xoves día 28 <strong>de</strong> abril na radio<br />

compostelana Calimera (ou Kalimotxo, como digo eu), nun programa sobre literatura.<br />

Lin as versións polaca e galega e xunto cos <strong>de</strong>mais participantes da audición fixen<br />

unha interpretación. A recepción dos poemas polacos foi moi positiva, probablemente<br />

grazas á súa enorme universalida<strong>de</strong>.<br />

A un polaco, ou sexa, non falante materno, resúltalle sumamente difícil, se non imposible,<br />

traducir ben unha obra poética (así como calquera outra, imaxínome). Consciente diso,<br />

doume conta <strong>de</strong> que os efectos dos meus exercicios como tradutor po<strong>de</strong>n ser <strong>de</strong>fectuosos.<br />

Porén, atrévome a presentalos ó público que enten<strong>de</strong> tanto a versión orixinal como a<br />

tradución. Espero que non resulte ridícula.<br />

Quixera agra<strong>de</strong>cerlles a dúas persoas que me posibilitaron levar a cabo as traducións.<br />

A Martiño Picallo Fontes, poeta e o meu compañeiro <strong>de</strong> piso, pola axuda co vocabulario<br />

normativo e acceso ós seus dicionarios. Fóronme <strong>de</strong> moita utilida<strong>de</strong>. E, sobre todo, a<br />

Patricia Ares Framil, a miña namorada, tanto pola axuda coas matizacións e a procura<br />

dos mellores equivalentes na lingua galega, como polo divertimento <strong>de</strong> comentar os<br />

poemas entre grolo e grolo <strong>de</strong> Tanqueray con Nørdic Mist.<br />

O EMPERADOR<br />

Érase unha vez un emperador. Tiña os ollos amarelos e a<br />

mandíbula voraz. Moraba nun palacio cheo <strong>de</strong><br />

mármores e policías. Só.<br />

Despertábase pola noite e berraba. Ninguén o amaba.<br />

Gustaba máis da caza e do terror. Mais fotografábase<br />

con meniños entre flores.<br />

Cando morreu ninguén ousou quitar os seus retratos.<br />

Mira<strong>de</strong>, quizáis inda estea na vosa casa a máscara <strong>de</strong>l.<br />

44<br />

*<br />

CESARZ<br />

By³ sobie raz cesarz. Mia³ ¿ó³te oczy i drapie¿n± szczêkê.<br />

Mieszka³ w pa³acu pe³nym marmurów i policjantów.<br />

Sam.<br />

Budzi³ siê w nocy i krzycza³. Nikt go nie kocha³.<br />

Najbardziej lubi³ polowania i terror. Ale fotografowa³ siê<br />

z dzieæmi wród kwiatów.<br />

Kiedy umar³, nikt nie mia³ zdj±æ jego portretów.<br />

Zobaczcie, mo¿e jest jeszcze u was w domu jego maska.<br />

INTERROGATORIO DO ANXO<br />

Cando se presenta ante eles<br />

na sombra <strong>de</strong> sospeita<br />

inda está enteiro<br />

feito da materia <strong>de</strong> luz<br />

os eóns do seu cabelo<br />

están recollidos nun moño<br />

<strong>de</strong> inocencia<br />

<strong>de</strong>spois da primeira pregunta<br />

as meixelas vístense <strong>de</strong> sangue<br />

o sangue distribúeno<br />

as ferramentas e o interrogatorio<br />

con ferro con cana<br />

con lume libre<br />

<strong>de</strong>fínense os límites<br />

do seu corpo<br />

un golpe nas costas<br />

consolida o espiñazo<br />

entre unha poza e unha nube<br />

pasadas unhas noites<br />

a obra está concluída<br />

a gorxa <strong>de</strong> coiro do anxo<br />

está chea dun viscoso acordo<br />

que fermoso é o intre<br />

cando cae <strong>de</strong> xeonllos<br />

encarnado na culpa<br />

saturado <strong>de</strong> palabras<br />

a lingua vacila<br />

entre os <strong>de</strong>ntes fendidos<br />

e a confesión<br />

cólgano cabeza abaixo<br />

dos cabelos do anxo<br />

escorren pingas <strong>de</strong> cera<br />

formando no chan<br />

unha predición nítida<br />

PRZES£UCHANIE ANIO£A<br />

Kiedy staje przed nimi<br />

w cieniu po<strong>de</strong>jrzenia<br />

jest jeszcze ca³y<br />

z materii wiat³a<br />

eony jego w³osów<br />

spiête s± w pukiel<br />

niewinnoci<br />

po pierwszym pytaniu<br />

policzki nabiegaj± krwi±<br />

krew rozprowadzaj±<br />

narzêdzia i interrogacja<br />

¿elazem trzcin±<br />

wolnym ogniem<br />

okrela siê granice<br />

jego cia³a<br />

u<strong>de</strong>rzenie w plecy<br />

utrwala krêgos³up<br />

miêdzy ka³u¿± a ob³okiem<br />

po kilku nocach<br />

dzie³o jest skoñczone<br />

skórzane gard³o anio³a<br />

pe³ne jest lepkiej ugody<br />

jak¿e piêkna jest chwila<br />

gdy pada na kolana<br />

wcielony w winê<br />

nasycony treci±<br />

jêzyk waha siê<br />

miêdzy wybitymi zêbami<br />

a wyznaniem<br />

wieszaj± go g³ow± w dó³<br />

z w³osów anio³a<br />

ciekaj± krople wosku<br />

tworz±c na pod³odze<br />

prost± przepowiedniê<br />

Tradución radución <strong>de</strong> <strong>de</strong> Dominik ominik Marczuk Marczuk<br />

Marczuk<br />

<strong>Maio</strong>/Junho Mayo/ Junio 45


traducción<br />

Juan Pedro Aparicio nació en León en 1941. Des<strong>de</strong> 1975, año en que publicó El origen <strong>de</strong>l<br />

mono y otros relatos, ha escrito novelas y libros <strong>de</strong> cuentos. Asimismo ha cultivado el ensayo,<br />

el libro <strong>de</strong> viajes y el artículo periodístico. En 1989 obtuvo el Premio Nadal por Relatos <strong>de</strong><br />

ambigú y en 2005 el II Premio Setenil <strong>de</strong> Cuentos al mejor libro <strong>de</strong> relatos publicado en el año,<br />

por La vida en blanco. La mitad <strong>de</strong>l diablo (<strong>2006</strong>) es su primer libro <strong>de</strong> minificción, o “literatura<br />

cuántica”, como él mismo propone. Actualmente es director <strong>de</strong>l Instituto Cervantes <strong>de</strong> Londres.<br />

LÓGICA<br />

El acusado por el Santo Oficio se expresó con toda la humildad <strong>de</strong> que fue capaz: «Señoría –dijo-, me pregunto<br />

si acaso mis caídas en el pecado no obe<strong>de</strong>cen a que mi ángel <strong>de</strong> la guarda no ha sabido velar por mí con la diligencia<br />

que ha puesto, por ejemplo, el suyo, para que los actos <strong>de</strong> vuestra excelencia jamás se <strong>de</strong>sen<strong>de</strong>recen». Argumento<br />

impecable en verdad que, sin embargo, fue rechazado por el presi<strong>de</strong>nte <strong>de</strong>l Santo Tribunal con un mohín <strong>de</strong> indignación.<br />

LOGIKA<br />

(<strong>de</strong> La mitad <strong>de</strong>l diablo, <strong>2006</strong>)<br />

Oskar¿ony przez ¦wiête Oficjum wyrazi³ siê z ca³± pokor± do jakiej by³ zdolny:«Wysoki S±dzie – powiedzia³ -,<br />

zapytujê sam siebie, czy aby win± za moje zejcie na drogê grzechu nie nale¿a³oby obarczyæ mojego Anio³a Stró¿a, który<br />

nie potrafi³ czuwaæ na<strong>de</strong> mn± tak skutecznie, jak na przyk³ad Wasz, który to sprawi³, ¿e Wasza Ekscelencja nigdy nie<br />

zboczy³a z drogi dobra». Argument niew±tpliwie nienaganny, zosta³ jednak odrzucony przez przewodnicz±cego ¦wiêtego<br />

Trybuna³u z grymasem niezadowolenia na twarzy.<br />

LA SOSPECHA<br />

Los zapatos <strong>de</strong>l sepulturero olían raro.<br />

PODEJRZENIE<br />

Buty grabarza pachnia³y dziwnie.<br />

LUIS XIV<br />

LUDWIK XIV<br />

46<br />

*<br />

*<br />

*<br />

YO.<br />

JA.<br />

(z La mitad <strong>de</strong>l diablo, <strong>2006</strong>)<br />

(<strong>de</strong> La mitad <strong>de</strong>l diablo, <strong>2006</strong>)<br />

(z La mitad <strong>de</strong>l diablo, <strong>2006</strong>)<br />

(<strong>de</strong> La mitad <strong>de</strong>l diablo, <strong>2006</strong>)<br />

(z La mitad <strong>de</strong>l diablo, <strong>2006</strong>)<br />

REALISMO<br />

REALIZM<br />

rest restaaurantes<br />

rest urantes<br />

Descubrió que había puesto <strong>de</strong>masiada carne en sus personajes cuando sus libros empezaron a sangrar.<br />

Mayo/Junio <strong>Maio</strong>/Junho<br />

(<strong>de</strong> La mitad <strong>de</strong>l diablo, <strong>2006</strong>)<br />

Odkry³, ¿e jego postacie sta³y siê w cia³em, kiedy jego ksi±¿ki zaczê³y krwawiæ.<br />

INADAPTADO<br />

LA SED DEL DIABLO<br />

*<br />

*<br />

(z La mitad <strong>de</strong>l diablo, <strong>2006</strong>)<br />

Decía no a los po<strong>de</strong>rosos y sí a los débiles. Enseguida la muerte vino a por él.<br />

NIEPRZYSTOSOWANY<br />

Era un joven océano azul y brillante. Un día el diablo le pidió agua y, compa<strong>de</strong>cido, le <strong>de</strong>jó beber. Hoy<br />

es el <strong>de</strong>sierto <strong>de</strong>l Sahara.<br />

PRAGNIENIE DIAB£A<br />

.<br />

Traducción raducción <strong>de</strong> <strong>de</strong> Katarzyna atarzyna Hajost-Z Hajost-Zak Hajost-Z ak<br />

(<strong>de</strong> La mitad <strong>de</strong>l diablo, <strong>2006</strong>)<br />

Zwyk³ mówiæ „nie” potê¿ym i „tak” s³abym. ¦mieræ przysz³a po niego niezw³ocznie.<br />

(z La mitad <strong>de</strong>l diablo, <strong>2006</strong>)<br />

(<strong>de</strong> La mitad <strong>de</strong>l diablo, <strong>2006</strong>)<br />

By³ sobie m³ody, niebieski i b³yszcz±cy ocean. Pewnego dnia diabe³ poprosi³ go o wodê, a ten ogarniêty<br />

wspó³czuciem, pozwoli³ mu ugasiæ pragnienie. Dzi jest Sahar±.<br />

(z La mitad <strong>de</strong>l diablo, <strong>2006</strong>)<br />

47


traducción<br />

LA SOLEDAD<br />

Una serpiente mordió al Presi<strong>de</strong>nte en su rancho <strong>de</strong> Texas. El Presi<strong>de</strong>nte no abría los ojos ni hablaba, a lo<br />

sumo hacía leves muecas. Aquel insólito estado pareció a los médicos propio <strong>de</strong> un hechizo. Pasaron cien años y<br />

el Presi<strong>de</strong>nte <strong>de</strong>spertó. Nadie que lo hubiera conocido vivía ya, salvo un anciano <strong>de</strong>l Cáucaso que residía en una<br />

<strong>de</strong> las varias repúblicas, tan <strong>de</strong>sgraciadas durante el comunismo. El Presi<strong>de</strong>nte pidió que le llevaran hasta él. El<br />

anciano creyó recordar que siendo niño lo había visto en persona, aunque <strong>de</strong> muy lejos, durante una visita a su<br />

país. El Presi<strong>de</strong>nte se abrazó a él y lloró. Había <strong>de</strong>jado <strong>de</strong> sentirse solo en el mundo.<br />

SAMOTNO¦Æ<br />

48<br />

<strong>Maio</strong>/Junho<br />

(<strong>de</strong> La mitad <strong>de</strong>l diablo, <strong>2006</strong>)<br />

W±¿ uk±si³ Prezy<strong>de</strong>ta na jego rancho w Teksasie. Prezy<strong>de</strong>nt nie otwiera³ oczu, nie mówi³, co najwy¿ej<br />

lekko siê krzywi³. Ten niepojêty stan lekarze przypisali czarom. Up³ynê³o sto lat i Prezy<strong>de</strong>nt siê przebudzi³.<br />

Wszyscy, którzy go znali ju¿ nie ¿yli z wyj±tkiem je<strong>de</strong>go starca z Kaukazu, który przebywa³ w jednej z wielu<br />

by³ych republik sowieckich, tak nieszczêsnych w okresie komunizmu. Prezy<strong>de</strong>nt poprosi³ aby go tam zabrano.<br />

Starzec przypomnia³ sobie, ¿e bêd±c dzieckiem widzia³ go podczas wizyty w kraju, aczkolwiek z bardzo daleka.<br />

Prezy<strong>de</strong>nt obj±³ go i zap³aka³. Przesta³ czuæ siê sam na wiecie.<br />

NO FUE POSIBLE LA PAZ<br />

(z La mitad <strong>de</strong>l diablo, <strong>2006</strong>)<br />

Metieron en un gran or<strong>de</strong>nador los datos que enviaban las sondas galácticas a fin <strong>de</strong> tener por primera vez<br />

una perspectiva <strong>de</strong>l Universo <strong>de</strong>s<strong>de</strong> fuera <strong>de</strong> sí mismo. Los hombres no salían <strong>de</strong> su asombro. Visto en la pantalla<br />

<strong>de</strong>l monitor el Universo tenía rostro humano. O mejor, tenía rostro divino: el <strong>de</strong> la Sábana Santa <strong>de</strong> Turín. Ante<br />

tamaña evi<strong>de</strong>ncia, ¿sería al fin posible la armonía universal? Se hicieron nuevas comprobaciones y empezaron las<br />

disi<strong>de</strong>ncias. Unos negaban que la sombra sobre el labio superior fuese un bigote; otros, que la sombra bajo la<br />

barbilla fuese una barba. Algunos lo negaban todo y veían en aquel rostro a una vieja horrible con la nariz y el<br />

mentón como carámbanos. Otros, a una elegante dama con sombrero <strong>de</strong> plumas. Estábamos, pues, como al principio.<br />

POKÓJ NIE BY£ MO¯LIWY<br />

*<br />

(<strong>de</strong> La mitad <strong>de</strong>l diablo, <strong>2006</strong>)<br />

Do wielkiego komputera wprowadzono dane przes³ane przez sondy kosmiczne w celu uzyskania po raz<br />

pierwszy perspektywy Wszechwiata z zewn±trz. Ludzie nie mogli wyjæ ze zdziwienia. Wszechwiat widzany<br />

na ekranie monitora mia³ oblicze ludzkie. A raczej boskie: to z Ca³unu Turyñskiego. Wobec takiej oczywistoci,<br />

by³aby w koñcu mo¿liwa uniwersalna harmonia? Zrobiono nowe badania i zaczê³y siê spory. Jedni negowali fakt,<br />

¿e cieñ nad górn± warg± to w±sy; inni, ¿e cieñ na podbródku to broda. Niektórzy zaprzeczali wszystkiemu widz±c<br />

w tym obliczu okropn± staruchê o nosie i szczêkach jak sople lodu. Jeszcze inni -eleganck± damê w kapeluszu z<br />

piórami. A wiêc wszystko by³o tak jak na pocz±tku.<br />

(z La mitad <strong>de</strong>l diablo, <strong>2006</strong>)<br />

TENER RAZÓN<br />

El alguacil leyó la sentencia en la plaza pública. Diecisiete folios <strong>de</strong> resultandos y consi<strong>de</strong>randos, con los<br />

nombres y las firmas <strong>de</strong> todos los magistrados.<br />

El verdugo era menudo y manipulaba los fierros con la naturalidad con la que el pescador <strong>de</strong>stripa sus<br />

capturas.<br />

El reo tenía la cabeza ora muy alta e inclinada hacia atrás ora muy baja y con la vista en el suelo como si se<br />

le hubiera aflojado la articulación que la sostenía.<br />

Algo le dijo el verdugo y el reo replicó con una mueca. Los guardias lo ataron al poste, el verdugo dio un<br />

rápido giro a los fierros y el cuello <strong>de</strong>l con<strong>de</strong>nado se quebró, sus piernas se estiraron.<br />

Entre el gentío un joven preguntó:<br />

-¿Por qué?<br />

-Por tener razón –le contestaron.<br />

MIEÆ RACJÊ<br />

DIMISIÓN<br />

Hubo un día en que el último hombre que todavía creía <strong>de</strong>jó <strong>de</strong> creer, y Dios, <strong>de</strong>cepcionado, se <strong>de</strong>svaneció<br />

en el éter y borró toda huella <strong>de</strong> Sí, como si jamás hubiera existido.<br />

DYMISJA<br />

(<strong>de</strong> La vida en blanco, 2005)<br />

Egzekutor odczyta³ wyrok na placu miejskim. Sie<strong>de</strong>mnacie stron rozpatrzeñ i orzeczeñ, wraz z nazwiskami<br />

i podpisami wszystkich sêdziów.<br />

Kat by³ niewielkiego wzrostu i obraca³ korb± garoty z tak± naturalnoci± z jak± rybak patroszy swój<br />

po³ów.<br />

Oskar¿ony, a to trzyma³ g³owê bardzo wysoko i odchylon± do ty³u, a to z kolei nisko spuszczon± ze<br />

wzrokiem utkwionym w ziemi tak, jak gdyby os³ab³y stawy, które j± podtrzymywa³y.<br />

Kat co mu szepn±³ do ucha i oskar¿ony odpowiedzia³ grymasem twarzy. Stra¿nicy przywi±zali go do<br />

oparcia, kat dokrêci³ szybko obrêcz garoty i szyja skazañca pêk³a, nogi siê wyci±gnê³y.<br />

Jaki m³ody ch³opak z t³umu zapyta³:<br />

-Dlaczego?<br />

-Bo mia³ racjê - odpowiedziano.<br />

*<br />

(z La vida en blanco, 2005)<br />

(<strong>de</strong> La vida en blanco, 2005)<br />

Nasta³ taki dzieñ, w którym ostatni wierz±cy cz³owiek przesta³ wierzyæ, a Bóg, rozczarowany, rozpuci³<br />

siê w eterze i zatar³ po Sobie wszelki lad, tak, jak gdyby nigdy nie istnia³.<br />

(z La vida en blanco, 2005)<br />

Mayo/ Junio<br />

.<br />

Traducción raducción <strong>de</strong> <strong>de</strong> Katarzyna atarzyna Hajost-Z Hajost-Zak Hajost-Z ak<br />

49


Iberística<br />

VERDE IBÉRICO<br />

O título da presente revista é VERDE. Claro que não se associa somente esta<br />

cor vívida com a natureza que nos finalmente ro<strong>de</strong>ia. Uma das ligações é às<br />

pessoas jovens, como nós – estudantes. Mas não somos as únicas pessoas jovens<br />

na faculda<strong>de</strong>. Por isso, <strong>de</strong>cidimos observar um grupo gran<strong>de</strong> e forte, o grupo<br />

jovem dos nossos professores a quem po<strong>de</strong>ríamos chamar “o ver<strong>de</strong> da Iberística”.<br />

Conheçam as suas impressões a respeito <strong>de</strong> estudar e ensinar.<br />

1. COMO FOI A VIDA DE ESTUDANTE DURANTE<br />

A FACULDADE? COMO RECORDA OS SEUS<br />

PROFESSORES?<br />

Josep Antoni Clement i Rovira (27 anys d’involució) Lector<br />

<strong>de</strong> Català:<br />

La meva vida d’estudiant va ser molt distreta, gairebé tant<br />

com la vida <strong>de</strong> professor a la Universitat <strong>de</strong> Varsòvia! Jo<br />

vaig estudiar a la Universitat Autònoma <strong>de</strong> Barcelona i això<br />

fa que un <strong>de</strong>scobreixi altres vessants relaciona<strong>de</strong>s amb el<br />

món <strong>de</strong> la universitat que s’han <strong>de</strong> gaudir. L’Autònoma és<br />

un campus immens a les rodalies <strong>de</strong> Barcelona que permet<br />

fer un munt d’activitats i troba<strong>de</strong>s fora <strong>de</strong> les classes i em<br />

sembla un punt importantíssim <strong>de</strong>l món a universitari. A<br />

vega<strong>de</strong>s, s’aprèn més en converses amb altres companys<br />

que no pas escoltant els teus professors (si algun <strong>de</strong>ls meus<br />

estimats alumnes diu que sí quan llegeix això... Això vol<br />

dir que tinc raó i sóc un pesat!) Quant als professors... co<br />

mo¿na powiedzieæ?… alguns <strong>de</strong> bons i d’altres <strong>de</strong> dolents,<br />

com a tot arreu.<br />

Jakub Jankowski:<br />

Que vida? A vida na nossa faculda<strong>de</strong> começou a partir do<br />

meu terceiro ano do estudo. Por aí apareceu teatro, revista e<br />

mais coisas fora das aulas. E professores? Gostei <strong>de</strong> alguns<br />

mais como pessoas do que como professores e outros mais<br />

como professores do que como pessoas. Só três ou quatro<br />

<strong>de</strong>les gostei como professor e como pessoa ao mesmo<br />

tempo. Mas não tenho pesa<strong>de</strong>los por causa dos professores.<br />

José Carlos Dias:<br />

A vida <strong>de</strong> estudante universitário foi um período recheado<br />

<strong>de</strong> lições, umas bastante amargas, outras tão doces...; umas<br />

<strong>de</strong>ntro das salas e outras cá fora, nas ruas, nos cafés, nos<br />

bares, em casa. Só então, pu<strong>de</strong> verda<strong>de</strong>iramente enten<strong>de</strong>r<br />

50<br />

muitos dos livros que lia e a tocar-lhes na vida que levavam<br />

<strong>de</strong>ntro.<br />

Recordo apenas os professores que me elevavam e me<br />

acrescentavam em cada lição. Recordo-os especialmente<br />

pelo seu saber e <strong>de</strong>dicação, sublimações só possíveis em<br />

quem ama. Recordo especialmente as aulas do António, que<br />

me ensinou a ler, e do Célio, que me ensinou a contar. Dos<br />

outros, lembro-me como quem se lembra da varicela ou da<br />

papeira. “Ah sim, eu acho que já tive isso, <strong>de</strong>ixa cá ver o<br />

meu boletim <strong>de</strong> vacinas”.<br />

Ana Carolina Beltrão:<br />

Eu não estu<strong>de</strong>i na “Iberystyka”. Formei-me em Comunicação<br />

Social (especialização em <strong>Jornal</strong>ismo) pela Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral<br />

do Rio <strong>de</strong> Janeiro. Ao mesmo tempo, comecei o curso<br />

<strong>de</strong> Letras/Inglês na Universida<strong>de</strong> do Estado do Rio <strong>de</strong> Janeiro,<br />

mas não cheguei a terminá-lo por causa da outra faculda<strong>de</strong> e<br />

do meu trabalho <strong>de</strong> 8 horas diárias numa emissora <strong>de</strong> TV<br />

(trabalho oficialmente <strong>de</strong>s<strong>de</strong> os 19 anos, gente!).<br />

Daí, quando cheguei à Polônia, meu diploma superior não<br />

podia ser reconhecido tão facilmente <strong>de</strong>vido às diferenças<br />

entre os cursos superiores daqui e <strong>de</strong> lá. Então fui para a<br />

“Anglistyka” para terminar o curso <strong>de</strong> Letras e receber o<br />

título <strong>de</strong> “mestre”. Outra vez, estudava e trabalhava<br />

(comecei ao mesmo tempo a dar aulas aqui na nossa<br />

faculda<strong>de</strong>).<br />

Dos meus professores no Brasil, lembro-me <strong>de</strong>les com muito<br />

carinho (bem, pelo menos a maioria). Não sei se vocês<br />

sabem, mas nas universida<strong>de</strong>s brasileiras, especialmente em<br />

cursos mais “liberais”, como Comunicação, o contato<br />

entre professores e alunos é muito mais freqüente e não<br />

impõe uma distância hierárquica tão gran<strong>de</strong>. Assim,<br />

discutíamos <strong>de</strong> igual para igual (cada um tinha o direito <strong>de</strong><br />

opinar), trabalhávamos juntos nos projetos da faculda<strong>de</strong>,<br />

saíamos para tomar cerveja... Era realmente agradável.<br />

Com os professores poloneses foi diferente, um contato<br />

muito mais formal. Também eu já não tinha mais uma<br />

postura <strong>de</strong> 100% estudante, era mais profissional... Mas<br />

posso dizer que alguns dos professores foram bastante<br />

inspiradores.<br />

Agata Adamska<br />

Tenho lembranças muito agradáveis dos quatro anos<br />

passados na nossa faculda<strong>de</strong> como estudante (um ano, no<br />

4º, passei-o em Lisboa). A minha turma era pequenina, só<br />

havia raparigas, entendíamo-nos perfeitamente e fizemonos<br />

muito amigas. Talvez por isso o ambiente foi quase <strong>de</strong><br />

família, o que aliás foi possível também graças aos nossos<br />

professores, sobretudo nas aulas <strong>de</strong> língua e <strong>de</strong> teatro...<br />

2. COMO SE SENTE AGORA QUE É<br />

PROFESSOR(A)? MUDOU MUITO? POR QUE<br />

DECIDIU TORNAR-SE PROFESSOR(A)?<br />

Josep Antoni Clement i Rovira:<br />

Ara que sóc professor i m’he cardat un pèl vell em sento<br />

més viu que mai. Com un xaval! Não mu<strong>de</strong>i muito i tampoc<br />

en tinc ganes. I si em pregunteu la raó per la qual em vaig<br />

convertir en un professor torturador <strong>de</strong> polonesos que<br />

voregen els vint anyets, doncs... Per això mateix! M’agrada<br />

fer-los patir i que em facin anar <strong>de</strong> bòlit! Que tot plegat són<br />

tres dies i qui sap quin dia és avui!<br />

Jakub Jankowski:<br />

Gosto <strong>de</strong> ter po<strong>de</strong>r nas minhas mãos :-) Gosto <strong>de</strong> dar or<strong>de</strong>ns<br />

e sinto-me muito bem como chefe. Estou a brincar, claro.<br />

Para dizer a verda<strong>de</strong>: sinto-me como um dos estudantes,<br />

prefiro discutir com eles em vez <strong>de</strong> proferir palestras, gosto<br />

<strong>de</strong> ouvir as opiniões <strong>de</strong>les, adoro quando me tentam<br />

convencer da sua opinião. Sinto que há mais ainda para<br />

apren<strong>de</strong>r do que agora sei. E por que <strong>de</strong>cidi tornar-me professor?<br />

Por dinheiro, claro :-)<br />

José Carlos Dias:<br />

Sinto-me muito bem como professor, porque foi sempre o<br />

que quis ser, apesar <strong>de</strong> nem sempre o saber. Durante muito<br />

tempo, foi um <strong>de</strong>sejo subterrâneo. Felizmente tive a sorte<br />

<strong>de</strong> o <strong>de</strong>scobrir a tempo. Agora, se mu<strong>de</strong>i? Devo ter mudado<br />

imenso, porque em cada ano que se é professor, muda-se um<br />

Mayo/Junio <strong>Maio</strong>/Junho<br />

bocadinho e consoante os estudantes que se tem. Se os<br />

estudantes são fraquitos e <strong>de</strong>sinteressados, vamos ficando<br />

mais fracos e preguiçosos; se os estudantes são bons,<br />

tornamo-nos fortes, mais sabedores, mais <strong>de</strong>dicados.<br />

Ensinar é sempre contagiar o Outro. E eu já ando a contagiar<br />

e a ser contagiado há 9 anos.<br />

Ana Carolina Beltrão:<br />

Eu já tinha dado aulas <strong>de</strong> Português antes <strong>de</strong> trabalhar aqui.<br />

Mais especificamente, para os adolescentes brasileiros que<br />

se preparavam para o “vestibular” – o exame <strong>de</strong> entrada<br />

que cada universida<strong>de</strong> prepara ao final do ano letivo. Logo<br />

<strong>de</strong>pois <strong>de</strong> entrar para o <strong>Jornal</strong>ismo, fui convidada para<br />

trabalhar numa escola do Rio porque tinha tido notas muito<br />

altas nos meus próprios exames do “vestibular”, e até recebi<br />

prêmios <strong>de</strong> duas universida<strong>de</strong>s na ocasião.<br />

Chegando à Polônia, achei natural dar aulas <strong>de</strong> Português<br />

novamente – só que, <strong>de</strong>ssa vez, para não-nativos... Foi difícil<br />

no começo, mas li muito sobre o ensino <strong>de</strong> línguas<br />

estrangeiras (neste ponto a “Anglistyka” me ajudou<br />

mesmo!) e fui criando o meu jeito <strong>de</strong> dar as aulas. Além<br />

disso, sempre gostei <strong>de</strong> estudar, então não me parecia<br />

estranho seguir uma carreira acadêmica.<br />

Claro que minha vida mudou muito sendo professora. Antes,<br />

o trabalho como jornalista era muito estressante, e agora<br />

<strong>de</strong> verda<strong>de</strong> sinto prazer em entrar na sala <strong>de</strong> aula e ter contato<br />

com os estudantes, preparar as aulas... Também sinto-me<br />

muito bem entre os colegas da seção luso-brasileira e <strong>de</strong><br />

toda a nossa faculda<strong>de</strong>. Sinceramente, agra<strong>de</strong>ço à professora<br />

Bo¿ena Papis por ter-me dado a oportunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> trabalhar<br />

aqui. Ainda me lembro da nossa “entrevista <strong>de</strong> emprego”<br />

...!<br />

Agata Adamska<br />

Texto exto exto <strong>de</strong> <strong>de</strong> Martyna Martyna Gajewska Gajewska e<br />

e<br />

.<br />

Jonathan Jonathan aka aka Grzegorz Grzegorz Pozycka<br />

Pozycka<br />

Sinto-me muito bem como professora porque gosto <strong>de</strong><br />

ensinar e, ao mesmo tempo apren<strong>de</strong>r, sobretudo quando<br />

começo a dar uma nova disciplina. Acho que é um trabalho<br />

i<strong>de</strong>al para uma pessoa um bocadinho individualista mas<br />

que precisa <strong>de</strong> contacto com pessoas interessantes...Não<br />

há duas aulas iguais porque cada turma é diferente, e eu<br />

<strong>de</strong>testo a monotonia. Mas acho que convinha mais perguntar<br />

aos estudantes se eles se sentem bem comigo nas aulas :-<br />

)... Acho que não mu<strong>de</strong>i muito, ainda me lembro bem como<br />

é ser estudante, por isso tento ser compreensiva e ao mesmo<br />

tempo atrair o interesse <strong>de</strong>les às minhas aulas.<br />

51


Qué bonito ...<br />

VERDE QUE TE QUIERO VERDE<br />

Con los colores suele haber problemas, pues no siempre queda claro<br />

cuál es cuál y a qué correspon<strong>de</strong>. Recor<strong>de</strong>mos, por ejemplo, lo que le<br />

pasó a García Márquez cuando, siendo niño, buscó en el diccionario<br />

la palabra amarillo y encontró: <strong>de</strong>l color <strong>de</strong>l limón: “Quedé en las<br />

tinieblas –dice-, pues en las Américas el limón es <strong>de</strong> color ver<strong>de</strong>” 1 .<br />

Pero el ver<strong>de</strong> no está en conflicto solamente con el amarillo, también<br />

con el azul, con el que en muchas culturas se confun<strong>de</strong>. Para los chinos<br />

premo<strong>de</strong>rnos, por ejemplo, la qing podía significar azul, ver<strong>de</strong> y<br />

hasta negro. Quizá <strong>de</strong> ahí venga el dicho: si vas <strong>de</strong> ver<strong>de</strong>, tus parientes<br />

pronto irán <strong>de</strong> negro, aunque parece que esto más bien tiene que ver<br />

con el arsénico con el que los griegos, primeros en obtener un color –<br />

precisamente el ver<strong>de</strong>- <strong>de</strong> manera sintética, pigmentaban sus tejidos<br />

(lo que produjo que varios oradores <strong>de</strong> la respetable Antigüedad cayeran<br />

muertos a la mitad <strong>de</strong> un argumento) 2 .____Pero quizá el conflicto<br />

más agudo lo tenga el ver<strong>de</strong> con el rojo, su color opuesto y<br />

complementario en algunos círculos (no en todos). Esta relación<br />

provoca que dichos colores resalten en su máxima expresión al estar<br />

uno sobre el otro.____A este respecto, Gérard <strong>de</strong> Nerval (Le monstre<br />

vert,1849) relata una instructiva historia <strong>de</strong> tiempos <strong>de</strong> Luis XIII: todas<br />

las noches se oía mucho ruido en una casa vacía construida sobre las<br />

ruinas <strong>de</strong>l castillo <strong>de</strong> Vauvert. Los asustados vecinos avisaron a la<br />

policía. Cuando llegaron los guardias, escucharon un tintineo <strong>de</strong> vasos<br />

mezclado con risas estri<strong>de</strong>ntes. Al principio creyeron que se trataba<br />

<strong>de</strong> una gran orgía y, calculando el número <strong>de</strong> participantes por la<br />

intensidad <strong>de</strong>l ruido, <strong>de</strong>cidieron llamar refuerzos. Las tropas llegaron<br />

por la mañana, penetraron en la casa y no encontraron nada. La<br />

noche volvió y el ruido se escuchó más fuerte que nunca. Esta vez<br />

nadie se atrevió a bajar a la bo<strong>de</strong>ga, pues era evi<strong>de</strong>nte que ahí no<br />

había más que botellas y que, por lo tanto, era el diablo quién las<br />

movía. Finalmente, un sargento <strong>de</strong> la prefectura, más audaz que los<br />

otros, se ofreció a entrar, siempre y cuando le concedieran una pensión<br />

que podría ser transferida, en caso <strong>de</strong> muerte, a una costurera <strong>de</strong><br />

nombre Margot. Era un hombre valiente y, sobre todo enamorado.<br />

Adoraba a la costurera, que no había querido casarse con un simple<br />

sargento <strong>de</strong>sprovisto <strong>de</strong> fortuna. Pero con la pensión todo cambiaría.<br />

Envalentonado, se lanzó escalera abajo. Un extraordinario espectáculo<br />

lo esperaba. Todas las botellas se entregaban a una zarabanda<br />

<strong>de</strong>senfrenada. Las <strong>de</strong> etiqueta ver<strong>de</strong> representaban a los hombres y<br />

las rojas a las mujeres. Había también una orquesta sobre las<br />

estanterías <strong>de</strong> las botellas. Las vacías sonaban como instrumentos <strong>de</strong><br />

viento, las rotas como címbalos y triángulos, y las llenas como algo<br />

parecido a los violines. Al ver sólo botellas, el sargento, que se había<br />

tomado unos tragos antes <strong>de</strong> bajar, se tranquilizó tanto que se puso a<br />

bailar también. Después, animado por la alegría <strong>de</strong>l espectáculo,<br />

agarró una amable botella <strong>de</strong> cuello largo, cuidadosamente sellada<br />

en rojo, y la apretó amorosamente contra su corazón. Risas frenéticas<br />

sonaron por todos lados. El sargento, sorprendido, <strong>de</strong>jó caer la botella,<br />

que se hizo añicos contra el suelo. La danza se interrumpió, se<br />

escucharon gritos <strong>de</strong> terror en todos los rincones <strong>de</strong> la bo<strong>de</strong>ga y el<br />

sargento sintió que el pelo se le ponía <strong>de</strong> punta al ver el vino <strong>de</strong>rramado,<br />

que parecía formar un charco <strong>de</strong> sangre. El cuerpo <strong>de</strong> una mujer<br />

<strong>de</strong>snuda, cuyos cabellos rubios se extendían por el suelo y se<br />

52<br />

<strong>Maio</strong>/Junho<br />

Texto exto exto <strong>de</strong> <strong>de</strong> Gerardo Gerardo Beltrán<br />

Beltrán<br />

empapaban en la humedad rojiza, estaba tendido a sus pies.<br />

Horrorizado, <strong>de</strong>cidió salir, pero no sin antes apo<strong>de</strong>rarse <strong>de</strong> una botella<br />

con etiqueta ver<strong>de</strong> que parecía juguetear ante él: ¡por lo menos una!,<br />

gritó. Le respondió una sonora carcajada. Cuando volvió arriba mostró<br />

la botella a sus compañeros y les dijo: “¡aquí está el diablo!”. Los<br />

guardias corrieron a la bo<strong>de</strong>ga, don<strong>de</strong> sólo encontraron una botella<br />

rota, el resto estaba en su lugar. El sargento <strong>de</strong>cidió guardar la botella<br />

con etiqueta ver<strong>de</strong> para el día <strong>de</strong> su boda. Des<strong>de</strong> luego, recibió la<br />

pensión que le habían prometido y se casó con la costurera. El día <strong>de</strong><br />

la boda, puso la botella entre él y su esposa y sólo ellos bebieron <strong>de</strong><br />

ese vino. La botella era ver<strong>de</strong> sepulcral y el vino rojo como sangre.<br />

Nueve meses <strong>de</strong>spués Margot dio a luz un pequeño monstruo totalmente<br />

ver<strong>de</strong>, con dos cuernos rojos en la frente y algo muy parecido a una<br />

cola. El sargento y la costurera se entregaron a la bebida, pero el<br />

sargento no quería beber más que vino <strong>de</strong> etiqueta roja y su mujer<br />

sólo <strong>de</strong> etiqueta ver<strong>de</strong>. A los trece años, el monstruo <strong>de</strong>sapareció y<br />

nunca se volvió a saber nada <strong>de</strong> él.____Esta historia, que continúa un<br />

poco y lleva su propia moraleja, hace alusión al diablo Vauvert, que<br />

alguna vez habitó el castillo que lleva su nombre (o viceversa). El<br />

castillo estaba situado en un extremo <strong>de</strong> París, y por eso se sigue<br />

diciendo: eso está en lo <strong>de</strong>l diablo Vauvert, váyase al <strong>de</strong>monio Vauvert<br />

o está por lo <strong>de</strong>l diablo ver<strong>de</strong> (es <strong>de</strong>cir, en casa <strong>de</strong>l diablo), cuando se<br />

quiere hablar <strong>de</strong> un lugar muy lejano. ____El relato parece hacer alusión<br />

también -dado que Vauvert remite a viejo ver<strong>de</strong>- al rey Enrique IV<br />

(abuelo <strong>de</strong> Luis XIII), conocido como le Vert Galant (el Viejo Ver<strong>de</strong>),<br />

ya que, según la leyenda, durante su primer bautizo le hume<strong>de</strong>cieron<br />

los labios con vino <strong>de</strong> Jurançon y luego se los frotaron con ajo. Esto,<br />

para darle fuerza y vigor, dotes con las que más tar<strong>de</strong> benefició a una<br />

gran cantidad <strong>de</strong> mujeres.____Aquí vale la pena recordar que la palabra<br />

ver<strong>de</strong> viene <strong>de</strong>l latín vir- dis, que, a<strong>de</strong>más <strong>de</strong>l color <strong>de</strong> la hierba fresca,<br />

significa vigoroso y joven. Vale la pena recordar también que el primer<br />

bautizo <strong>de</strong> Enrique IV fue un bautizo calvinista y que el célebre<br />

hugonote sólo se convirtió al catolicismo para po<strong>de</strong>r ascen<strong>de</strong>r al trono<br />

<strong>de</strong> Francia, momento en el que pronucnió la famosa frase: París bien<br />

vale una misa. Entre su calvinismo y su afición a las mujeres no es <strong>de</strong><br />

extrañar que tuviera muchos enemigos (cuando menos la mitad <strong>de</strong><br />

Francia, una buena parte <strong>de</strong> España y todo el Vaticano), y seguramente<br />

fueron éstos quienes, ver<strong>de</strong>s <strong>de</strong> envidia, se encargaron <strong>de</strong> ponerlo ver<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>sprestigiando <strong>de</strong> todas las maneras posibles su viril sobrenombre.<br />

____Como sea, a pesar <strong>de</strong> todo, y tal vez por la clorofila, por su longitud<br />

<strong>de</strong> onda y por su frecuencia, no cabe duda <strong>de</strong> que el ver<strong>de</strong> es un color<br />

muy saludable y, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> luego, muy bonito.<br />

1 Diccionario <strong>de</strong> uso <strong>de</strong>l español actual (Clave), SM, Madrid, 2000, p. VIII.<br />

2 El diccionario, sin embargo, <strong>de</strong>scribe este elemento químico <strong>de</strong> ácidos<br />

terriblemente venenosos y masónico número atómico (33), como <strong>de</strong> color<br />

gris o amarillo (op. cit., p. 159). Por cierto que la palabra arsénico viene <strong>de</strong>l<br />

latín arsenicum, y este <strong>de</strong>l griego ársenikón, <strong>de</strong> ársen: varonil, macho (RAE).<br />

Tampoco es casual que el arsénico se encuentre frecuentemente mezclado<br />

con el azufre.<br />

...es el amor<br />

OS CONQUISTADORES<br />

Quem não lembra seu primeiro beijo com certa nostalgia?<br />

Quem?<br />

Não digo que o beijo per se tenha sido bom...<br />

Provavelmente não, dado que naquele momento você não<br />

tinha muita experiência no assunto.<br />

Ou, melhor dizendo, experiência<br />

quase zero, contando apenas com as<br />

horas em que você, hipnotizado por<br />

filmes e telenovelas, observava com<br />

atenção cada movimento <strong>de</strong> bocas<br />

escancaradas. Fecha os olhos<br />

primeiro, <strong>de</strong>pois abre a boca, vira a<br />

cabeça... Ou seria primeiro abre a<br />

boca, <strong>de</strong>pois fecha os olhos virando<br />

a cabeça...?<br />

Deixemos <strong>de</strong> lado a qualida<strong>de</strong><br />

técnica, então. O que sobra? Pura<br />

emoção. Chega a hora e você esquece<br />

todos os conselhos esquematicamente<br />

oferecidos por um<br />

amigo. Você está lá, diante daquela<br />

pessoa que vai para sempre ganhar a<br />

memória, e é um momento tão solene,<br />

que você até per<strong>de</strong> a voz. O que acaba<br />

sendo proveitoso, claro, porque o<br />

silêncio também diz muita coisa...<br />

O silêncio chega ao pé do ouvido e<br />

provoca: “Ei, não acha que já<br />

<strong>de</strong>viam...?” Quando dá por si, percebe<br />

que aquela distância mínima –<br />

recomendada em coletivos,<br />

elevadores e outros espaços públicos<br />

– já não existe. Ai, ai... Você teme<br />

passar mal e cair no chão. O coração<br />

é uma bateria <strong>de</strong> escola <strong>de</strong> samba, o<br />

corpo treme que nem mulata... Lembra aquele samba...?<br />

Não, não, você não vai passar mal! Vamos lá! Ai... Seja o<br />

que Deus quiser!<br />

Você já não sabe o que é boca, olho, cabeça, e <strong>de</strong>ci<strong>de</strong><br />

fazer uma combinação aleatória <strong>de</strong> todos os elementos.<br />

Se joga <strong>de</strong> peito aberto e começa a nadar naquele beijo,<br />

sem parar, como se tivesse pulado numa piscina <strong>de</strong> água<br />

fria e quisesse se aquecer... E sua estratégia, enfim, dá<br />

De repente, você, uma<br />

pimentinha tão vermelha<br />

<strong>de</strong> vergonha (e <strong>de</strong> outros<br />

sentimentos que não<br />

conhecia), <strong>de</strong>sgruda do<br />

outro corpo – que não é<br />

celeste, e está bem ali, à<br />

sua frente. A vista<br />

<strong>de</strong>sembaçada, já vê<br />

melhor e cora-se mais<br />

ainda. O que falar? Você<br />

olha, olha... Um<br />

comentário sobre a performance?<br />

Arriscado...<br />

Juras <strong>de</strong> amor? Ah,<br />

não... muito cedo para<br />

isso, muita emoção para<br />

um dia só.<br />

certo – começa a ficar quente! E agora...? E agora, quando<br />

é que acaba??? Você espera um certo tempo, <strong>de</strong>ixa a<br />

iniciativa para o segundo beijoqueiro. Passa uma velhinha<br />

e reclama da falta <strong>de</strong> pudor... Minha senhora, a senhora<br />

sabe o que é pudor num momento <strong>de</strong>sses? Ai, parem o<br />

mundo! Quero <strong>de</strong>scer! Ou não...?<br />

Será que acabei <strong>de</strong> entrar...?<br />

Mayo/ Junio<br />

Texto exto <strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>de</strong> Ana Ana Carolina Carolina Beltrão<br />

Beltrão<br />

De repente, você, uma pimentinha tão<br />

vermelha <strong>de</strong> vergonha (e <strong>de</strong> outros<br />

sentimentos que não conhecia),<br />

<strong>de</strong>sgruda do outro corpo – que não é<br />

celeste, e está bem ali, à sua frente. A<br />

vista <strong>de</strong>sembaçada, já vê melhor e<br />

cora-se mais ainda. O que falar? Você<br />

olha, olha... Um comentário sobre a<br />

performance? Arriscado... Juras <strong>de</strong><br />

amor? Ah, não... muito cedo para isso,<br />

muita emoção para um dia só. Por<br />

fim, dá um “tchauzinho” meio sem<br />

jeito e sai voando. E, obviamente,<br />

tenta disfarçar ao máximo o carnaval<br />

que está sentindo, como se ninguém<br />

pu<strong>de</strong>sse notar...<br />

Os anos vão passando, e a gente não<br />

esquece. Não diga que você esqueceu.<br />

E mais: você sabe que não foi filme,<br />

nem telenovela, e tem pena <strong>de</strong> não<br />

po<strong>de</strong>r voltar a fita, passar <strong>de</strong> novo,<br />

<strong>de</strong> novo e novamente <strong>de</strong> novo... Não<br />

dá, não dá... Você está rindo, não é?<br />

Eu sabia...<br />

Mas o homem é o homem e, assim,<br />

sai à procura <strong>de</strong> algo que o transporte<br />

no tempo. Algo que lhe <strong>de</strong>volva as<br />

incertezas da puberda<strong>de</strong>, que resgate<br />

aqueles milésimos <strong>de</strong> segundo... Daí os esportes radicais,<br />

as viagens fantásticas (até mesmo à lua), os carros<br />

velocíssimos... Festas, então, nem se fala! Ah... Não há<br />

mais nenhum território estranho a ser conquistado? E<br />

aquela estrela <strong>de</strong> Hollywood, que dá aulas <strong>de</strong> ioga a 50<br />

mil dólares? Por que não tentar...?<br />

Você já sabe qual é a resposta. Olha lá, está rindo <strong>de</strong><br />

novo...!<br />

53


cinema<br />

NOITE ESCURA<br />

No Festival do Cinema Europeu em Varsóvia foi<br />

apresentado o filme português „Noite Escura” do ano<br />

2004, da realização <strong>de</strong> João Canijo. O roteiro, escrito pelo<br />

próprio João Canijo e Pierre Hodgson, foi inspirado na<br />

tragédia <strong>de</strong> Eurípe<strong>de</strong>s “Ifigénia em Áulida”. Na obra<br />

antiga, os <strong>de</strong>uses exigem que Agamémnon sacrifique a<br />

vida da filha <strong>de</strong>le, Ifigénia, senão, os barcos gregos não<br />

po<strong>de</strong>rão avançar na rota para a Tróia.<br />

No filme (que constituiu a entrada oficial <strong>de</strong> Portugal para<br />

os Óscares), as circunstâncias da tragédia são bem mais<br />

vulgares: Nélson (Fernando Luís) e Celeste Pinto (Rita<br />

Blanco) são proprietários <strong>de</strong> um “nightclub”; um dia,<br />

Nélson atrapalha um negócio da máfia russa e fica em<br />

dívida para com eles. Os russos fazem uma proposta que<br />

ele não po<strong>de</strong> recusar – vai pagar a dívida com a sua filha<br />

mais nova, Sónia (Cleia Almeida). O espectador segue o<br />

drama, observando como várias pessoas da família<br />

encaram o problema. O pai submete-se às exigências da<br />

máfia. Ao princípio tenta <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>r a filha, mas não sabe<br />

54<br />

dizer mais do que “ainda há coisas sagradas” – um<br />

argumento muito fraco para convencer criminosos que<br />

costumam cortar as gargantas das pessoas que lhes<br />

provocam problemas. Logo, Nélson aceita a situação e<br />

tenta acalmar a consciência meditando em voz alta sobre<br />

a dureza da vida e a inevitabilida<strong>de</strong> do <strong>de</strong>stino. A mãe não<br />

quer crer no que vai acontecer e interessa-se somente pelo<br />

show que a Sónia, cantora principiante, vai dar no “nightclub”.<br />

Acaba por saber do problema, mas ainda acredita<br />

que o marido po<strong>de</strong> resolvê-lo. Para ela tudo é simples:<br />

“mata o russo” - diz ela ao Nelson.<br />

O diálogo que segue mostra as atitu<strong>de</strong>s das duas<br />

personagens: “matar não adianta nada” é o lema da inércia<br />

do marido; “matar adianta sempre” é a resposta da mulher.<br />

A única pessoa que elabora um plano para salvar a Sónia<br />

é Carla, a irmã mais velha <strong>de</strong>la (Beatriz Batarda). Carla é<br />

uma pessoa <strong>de</strong> carácter seco e brusco, nada <strong>de</strong><br />

surpreen<strong>de</strong>nte no caso <strong>de</strong> uma pessoa que cresceu num<br />

bor<strong>de</strong>l, mas com um pensamento muito razoável e<br />

enérgico. Ela quer ajudar a irmã a fugir e tenciona<br />

convencer os homens que ela própria po<strong>de</strong> substituir a<br />

Sónia.<br />

“Noite Escura” é, no meu enten<strong>de</strong>r, um drama <strong>de</strong><br />

caracteres. As pessoas mostram atitu<strong>de</strong>s extremamente<br />

diferentes perante o problema, atitu<strong>de</strong>s que mudam<br />

completamente durante o tempo da acção. Nélson é no<br />

começo o “rei <strong>de</strong> noite”, muito contente com o seu negócio<br />

e consigo próprio. Mas ele praticamente não sabe enfrentar<br />

a tragédia, só sabe pronunciar frases bonitas, mas muito<br />

superficiais. Mesmo assim, <strong>de</strong>fen<strong>de</strong> sempre o seu direito<br />

<strong>de</strong> <strong>de</strong>cidir o <strong>de</strong>stino da família, afinal <strong>de</strong> contas, ele é<br />

homem.<br />

Carla, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o princípio, sabe que é preciso sacrificar tudo<br />

para salvar o ente querido. Não consegue, mas luta até ao<br />

fim, morrendo fuzilada pelos russos. Ela morre a morte<br />

do pai que provocou a tragédia e que não fez nada para<br />

proteger a filha inocente. Celeste, no princípio uma mulher<br />

extremamente leviana, interessada somente no penteado<br />

da Sónia, encontra em si a força necessária para lutar pela<br />

filha. Infelizmente, ela ainda acredita no seu marido, no<br />

homem que tem o direito <strong>de</strong> <strong>de</strong>cidir, mas também o po<strong>de</strong>r<br />

e <strong>de</strong>ver <strong>de</strong> <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>r a família. Por isso, Celeste reage da<br />

única forma que acha possível quando lhe levam a filha;<br />

tira uma pistola e mata o seu marido. Mata-o, porque não<br />

po<strong>de</strong> <strong>de</strong>ixar viver o homem que sacrificou a filha amada<br />

pelo seu próprio sossego.<br />

“Noite escura” tem neste jogo dos caracteres um certo<br />

feminismo – as personagens masculinas não po<strong>de</strong>m<br />

provocar simpatia. Nélson não passa <strong>de</strong> um chulo que se<br />

acha capaz <strong>de</strong> jogar jogos muito perigosos com a máfia.<br />

Per<strong>de</strong> e <strong>de</strong>ixa a família pagar pelos erros <strong>de</strong>le. Mostra-se<br />

forte e <strong>de</strong>cidido perante a esposa e<br />

filhas, mas perante os problemas reais<br />

revela-se fraco, sempre pronto a fugir.<br />

As perso-nagens femininas, no<br />

entanto, são muito mais dignas <strong>de</strong><br />

simpatia e compaixão. A<br />

mundividência <strong>de</strong> Celeste sofre uma<br />

rápida evolução. e durante uma noite<br />

a mulher per<strong>de</strong> a confiança no mundo<br />

machista em que vivia. Carla,<br />

consi<strong>de</strong>rada pela família aquela a<br />

quem “tudo correu mal”, é a mais<br />

forte. Até a Sónia, uma rapariga<br />

mimada e alegre, sabe encontrar em<br />

si uma força incrível. Aceita o seu<br />

<strong>de</strong>stino, não tenta fugir nem lutar e<br />

<strong>de</strong>ixa-se levar pelos russos com a<br />

cabeça erguida, sem uma lágrima.<br />

Quem sabe que o filme se baseia na<br />

tragédia grega, vai ver uma obra<br />

muito interessante: a <strong>versão</strong> mo<strong>de</strong>rna<br />

contém quase todos os elementos<br />

essenciais <strong>de</strong> “Ifigénia em Áulida”<br />

(incluindo a unida<strong>de</strong> <strong>de</strong> espaço,<br />

tempo e acção – tudo se passa durante<br />

uma noite no “nightclub”). O filme<br />

joga com os motivos da antiguida<strong>de</strong>,<br />

os heróis míticos foram substituídos<br />

por uma família patológica, os <strong>de</strong>uses<br />

pela máfia russa. Mas o problema<br />

principal permanece – como se po<strong>de</strong><br />

comportar uma pessoa perante uma<br />

situação extrema? Serão os heróis<br />

louvados pela cultura – Agamémnon,<br />

no caso <strong>de</strong> Eurípe<strong>de</strong>s e o homem machista, o cabeça da<br />

família, no caso <strong>de</strong> João Canijo – realmente dignos <strong>de</strong>sse<br />

louvor? Ou não passarão <strong>de</strong> fracos seres humanos? O filme<br />

está cheio <strong>de</strong> símbolos que dão ao espectador impulsos<br />

para mergulhar no mundo sujo e escuro do filme: a canção<br />

da Sónia “Noite <strong>de</strong> enganos” (é uma obra-prima a cena<br />

em que a rapariga inconsciente da situação canta as<br />

palavras que ilustram o <strong>de</strong>stino <strong>de</strong>la), o “Pai nosso” que<br />

Celeste reza matando o marido, a cena <strong>de</strong><br />

Quem sabe que o filme<br />

se baseia na tragédia<br />

grega, vai ver uma obra<br />

muito interessante: a<br />

<strong>versão</strong> mo<strong>de</strong>rna contém<br />

quase todos os elementos<br />

essenciais <strong>de</strong><br />

“Ifigénia em Áulida”<br />

(incluindo a unida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

espaço, tempo e acção –<br />

tudo se passa durante<br />

uma noite no nightclub).<br />

O filme joga com<br />

os motivos da antiguida<strong>de</strong>,<br />

os heróis<br />

míticos foram substituídos<br />

por uma família<br />

patológica, os <strong>de</strong>uses<br />

pela máfia russa.<br />

Texto exto <strong>de</strong> <strong>de</strong> Marta<br />

Marta<br />

Carla atirando ao lixo uma figura <strong>de</strong> Nossa Senhora, como<br />

que dizendo que afinal, não são forças divinas que tomam<br />

parte no drama.<br />

No entanto, quem não sabe nada da “Ifigénia em Áulida”<br />

vai ver um filme estranho, um drama<br />

<strong>de</strong> caracteres e atitu<strong>de</strong>s pouco<br />

prováveis (como po<strong>de</strong> um pai ven<strong>de</strong>r<br />

a filha amada? como po<strong>de</strong> a rapariga<br />

aceitar facilmente o <strong>de</strong>stino trágico?)<br />

e <strong>de</strong> muitos acontecimentos metidos<br />

num tempo muito curto. As palavras<br />

<strong>de</strong> Nélson “foi uma noite muito longa”<br />

não <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>m a falta <strong>de</strong><br />

verosimilhança. Além disso, a<br />

obscurida<strong>de</strong> do filme, a fotografia em<br />

cores murchas não facilitam a sua<br />

recepção. Se calhar ilustram o<br />

ambiente do local, mas fazem com que<br />

o espectador tenha a impressão <strong>de</strong><br />

mergulhar num charco <strong>de</strong> lama.<br />

Resumindo, “Noite escura” é um<br />

filme esquisito – um roteiro muito<br />

bom foi, no meu parecer, estragado<br />

pelo uso das três regras da unida<strong>de</strong><br />

da tragédia grega e pela realização. A<br />

acção, metida num espaço pequeno e<br />

tempo curto, fica afogada e as i<strong>de</strong>ias<br />

brilhantes per<strong>de</strong>m-se como se fossem<br />

roubadas pela máfia russa. <br />

Actores - Rita Blanco, Beatriz Batarda,<br />

Fernando Luís, Cleia Almeida, José Raposo,<br />

Dmitry Bogomolov, João Reis, Anna<br />

Belozorovich, Rámon Martinez, Anabela<br />

Moreira, Jinie Rainho, Nadina Lopes,<br />

Susana Ferreira, Ana Luísa Leão, Helena<br />

Alves, Lara Carvalho; Márcia <strong>de</strong> Oliveira<br />

Silva;<br />

Argumento e Diálogos - João Canijo, Pierre Hodgson com Mayanne<br />

Von Le<strong>de</strong>bur;<br />

Fotografia - Mário Castanheira;<br />

Som - Phillipee Morel;<br />

Decoração e Guarda-roupa - Zé Branco;<br />

Montagem - João Braz e Jackie Basti<strong>de</strong>;<br />

Música - Alexandre Soares<br />

Produzido por - Paulo Branco<br />

Realização - João Canijo<br />

Portugal / França - 2004 - 1;1,85 - cor - Dolby SRD - 94'<br />

Mayo/Junio <strong>Maio</strong>/Junho 55


lazer<br />

NUMA COZINHA POLACA, COM A COZINHA BRASILEIRA<br />

O dia 18 <strong>de</strong> maio passará para história. Num apartamento<br />

mokotoviense ocorreu um encontro. Um encontro duma<br />

elite <strong>de</strong> <strong>de</strong>z lusitanistas e dois brasileiros. Um encontro com<br />

a cozinha brasileira numa cozinha polaca.<br />

As pessoas chegavam um por um, alguns adiantados, outros<br />

atrasados, mas, enfim, conseguimos juntar-nos todos. No<br />

começo a gente mostrava uma certa timi<strong>de</strong>z por não saber<br />

bem o que nos esperava. Porém, logo <strong>de</strong>pois, o espírito do<br />

trabalho comum – junto à batida <strong>de</strong> abacaxi, um drinque<br />

que estava óptimo! – animaram-nos e pu<strong>de</strong>mos começar a<br />

preparação <strong>de</strong> alguns pratos brasileiros, objetivo da reunião.<br />

Tivemos, felizmente, um guia nesse empreendimento<br />

glorioso. Foi um cozinheiro brasileiro jovem e muito<br />

amável, que com paciência e serenida<strong>de</strong> <strong>de</strong> espírito<br />

explicava passo por passo o que <strong>de</strong>víamos fazer. Repartimos<br />

as obrigações, portanto cada um teve a oportunida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

contribuir para o efeito final. E <strong>de</strong> verda<strong>de</strong> havia muito<br />

trabalho: cortar legumes, <strong>de</strong>scascar tomates, picar alho,<br />

misturar, envolver, cozinhar, fritar, temperar...<br />

56<br />

Trabalhávamos ombro a ombro, como um conjunto<br />

entrosado, preparando a moqueca, o arroz, a farofa e a banana<br />

à milanesa. Ouvia-se risos, comentários, uma confusão<br />

<strong>de</strong> pessoas reclamando uma tábua mais ou perguntando<br />

quantas cebolas <strong>de</strong>viam picar. Os que não encontravam nada<br />

para fazer, anotavam com afã as receitas em papelinhos<br />

pequenos, seguindo o que se passava nas panelas.<br />

O cheiro que saía das panelas e frigi<strong>de</strong>iras, cada vez mais<br />

tentador, tornava-se um suplício. Todos começaram a queixarse<br />

da fome, mas isso não durou muito tempo e o nosso<br />

empenho admirável foi premiado com uma dose substancial<br />

<strong>de</strong>ssa comida gostosa. O momento <strong>de</strong> saborear o fruto <strong>de</strong>sse<br />

encontro polaco-brasileiro foi o melhor.<br />

Achei a aula uma experiência divertida e inesquecível, mas<br />

também a melhor forma <strong>de</strong> aprendizagem que se po<strong>de</strong><br />

imaginar, num contacto directo com outra cultura, uma<br />

activida<strong>de</strong> interessante e envolvente. Gostei, gostamos e<br />

queremos mais.<br />

Segue uma curta <strong>de</strong>scrição dos pratos preparados, para quem<br />

não conhece a cozinha brasileira:Batida <strong>de</strong> abacaxi: é a fruta<br />

“batida” com leite con<strong>de</strong>nsado, açúcar, gelo e cachaça (na<br />

<strong>versão</strong> polonesa, vale vodca!); no nosso caso, foi servida <strong>de</strong><br />

modo bem tropical, no proprio abacaxi!<br />

Moqueca: um cozido <strong>de</strong> peixe com cebola, pimentão, tomate,<br />

azeite <strong>de</strong> <strong>de</strong>ndê (que não encontramos aqui na Polônia...!) e<br />

leite <strong>de</strong> coco – conhecido como um prato típico da Bahia.<br />

Arroz branco: parece simples, mas lá se frita o arroz antes <strong>de</strong><br />

cozinhar (estranho, né?)...<br />

Farofa: um prato <strong>de</strong> acompanhamento cujo ingrediente principal<br />

é a farinha <strong>de</strong> mandioca frita, que fica supercrocante.<br />

Banana à milanesa: também acompanhamento ou sobremesa<br />

– uma banana envolta em ovo batido, farinha <strong>de</strong> trigo e farinha<br />

<strong>de</strong> rosca, frita em óleo.<br />

E já para terminar quero agra<strong>de</strong>cer outra vez ao Edgar, nosso<br />

mestre <strong>de</strong> cozinha mais que legal, à nossa professora Ana<br />

Texto exto <strong>de</strong> <strong>de</strong> Karolina arolina Franaszczuk<br />

Franaszczuk<br />

Franaszczuk<br />

Carolina, que inventou e organizou tudo, e à nossa amiga<br />

Ale, dona da cozinha (polaca) que gentilmente nos recebeu.<br />

E, mais importante, a todas as pessoas que tomaram parte<br />

do evento. Para os que, <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> ler o artigo, estiverem<br />

com água na boca, seguem algumas páginas da internet<br />

on<strong>de</strong> se po<strong>de</strong> encontrar as receitas:<br />

http://www.pratofeito.com.br/pages.php?recid=1475<br />

http://bacaninha.cida<strong>de</strong>internet.com.br/home/cozinha/<br />

secoes/receitas/cozinha_brasileira/<br />

in<strong>de</strong>x_receitas_cozinha_brasileira.htm<br />

http://www.receitasemenus.net/content/category/4/170/<br />

242/<br />

http://www.rudgesbc.com.br/culinaria/cozinha_regional/<br />

cozinha_regional.html<br />

http://www.brasilcultura.com.br/<br />

conteudo.php?menu=106&id=291&sub=305r<br />

<strong>Maio</strong>/Junho Mayo/ Junio 57


Mayo/Junio <strong>Maio</strong>/Junho

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!