1 Práticas de Gestão da Responsabilidade Social: um ... - Anpad
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<strong>Práticas</strong> <strong>de</strong> <strong>Gestão</strong> <strong>da</strong> Responsabili<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>Social</strong>:<br />
<strong>um</strong> estudo em Indústrias Beneficiadoras <strong>de</strong> Tabaco <strong>da</strong> Região Sul do Brasil<br />
Autoria: Betina Ines Backes, Paulo Mauricio Selig, Sidnei Vieira Marinho<br />
RESUMO: Este artigo tem por objetivo retratar a gestão <strong>da</strong> responsabili<strong>da</strong><strong>de</strong> social em<br />
empresas beneficiadoras <strong>de</strong> tabaco na região sul do Brasil. O referencial teórico abor<strong>da</strong><br />
conceitos, evolução e principais mo<strong>de</strong>los teóricos que contribuíram para o entendimento<br />
contemporâneo <strong>da</strong> temática <strong>da</strong> responsabili<strong>da</strong><strong>de</strong> social, com <strong>de</strong>staque para a abor<strong>da</strong>gem no<br />
Brasil. Abor<strong>da</strong>-se ain<strong>da</strong> a utilização <strong>de</strong> indicadores na gestão <strong>da</strong> responsabili<strong>da</strong><strong>de</strong> social. Para<br />
possibilitar a coleta <strong>de</strong> <strong>da</strong>dos junto às empresas, foram <strong>de</strong>fini<strong>da</strong>s sete categorias <strong>de</strong><br />
investigação: perfil, entendimento <strong>de</strong> responsabili<strong>da</strong><strong>de</strong> social e temas relacionados, processos<br />
<strong>de</strong> adoção <strong>da</strong> responsabili<strong>da</strong><strong>de</strong> social, gestão <strong>da</strong> responsabili<strong>da</strong><strong>de</strong> social, monitoramento e<br />
avaliação do <strong>de</strong>sempenho <strong>da</strong> responsabili<strong>da</strong><strong>de</strong> social, relacionamento com as partes<br />
interessa<strong>da</strong>s e <strong>de</strong>safios e tendências na responsabili<strong>da</strong><strong>de</strong> social. Para a coleta dos <strong>da</strong>dos, as<br />
categorias foram <strong>de</strong>sdobra<strong>da</strong>s em questões específicas, estrutura<strong>da</strong>s por meio <strong>de</strong> <strong>um</strong><br />
questionário. A partir <strong>de</strong>sdobramento <strong>da</strong>s categorias dói possível analisar as práticas <strong>de</strong> gestão<br />
<strong>da</strong> responsabili<strong>da</strong><strong>de</strong> social. A pesquisa abrangeu cinco indústrias beneficiadoras <strong>de</strong> tabaco,<br />
vincula<strong>da</strong>s ao Sindif<strong>um</strong>o (Sindicato <strong>da</strong> Indústria do F<strong>um</strong>o), <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> <strong>um</strong> universo total <strong>de</strong><br />
doze empresas. As informações levanta<strong>da</strong>s retratam entendimentos e práticas <strong>de</strong> gestão <strong>da</strong><br />
responsabili<strong>da</strong><strong>de</strong> social diferencia<strong>da</strong>s entre as empresas pesquisa<strong>da</strong>s. Com relação a<br />
indicadores, normas, diretrizes e princípios, todos são <strong>de</strong> conhecimento <strong>da</strong>s empresas, no<br />
entanto o Balanço <strong>Social</strong>, Indicadores Ethos, OHSAS 18001 e SA 8000 mostraram-se como<br />
os mais utilizados. Com relação aos públicos, há poucos mecanismos <strong>de</strong> diálogo. Os <strong>de</strong>safios<br />
percebidos pelas empresas são pressão e cobrança do mercado, atendimento <strong>de</strong> <strong>de</strong>man<strong>da</strong>s<br />
ca<strong>da</strong> vez maiores e a necessi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>um</strong>a atuação conjunta do setor. Ao analisar os <strong>da</strong>dos que<br />
retraram o <strong>de</strong>sempenho <strong>de</strong>sse segmento, percebeu-se a importância <strong>de</strong>ste setor na economia<br />
dos municípios on<strong>de</strong> as empresas estão instala<strong>da</strong>s, cuja gestão social <strong>de</strong> indústrias<br />
beneficiadoras <strong>de</strong> tabaco promove <strong>um</strong>a visão mais positiva por parte <strong>da</strong> comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>. O<br />
estudo mostra ain<strong>da</strong> que aca<strong>de</strong>mia e empresas possuem entendimentos diferentes para a<br />
responsabili<strong>da</strong><strong>de</strong> social, gerando equívocos que necessitam ser revistos, principalmente com<br />
relação ao caráter operacional <strong>da</strong> gestão social nas organizações pesquisa<strong>da</strong>s. No entanto,<br />
diante do cenário competitivo e <strong>da</strong> crescente pressão sobre o setor f<strong>um</strong>ageiro, as próprias<br />
empresas <strong>de</strong>monstraram na pesquisa a necessi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> aprimoramento <strong>da</strong> gestão social, bem<br />
como <strong>um</strong> melhor entendimento <strong>da</strong>s <strong>de</strong>man<strong>da</strong>s dos stakehol<strong>de</strong>rs. Além disso, a preocupação<br />
com os <strong>de</strong>safios que a gestão <strong>da</strong> responsabili<strong>da</strong><strong>de</strong> social impõe nesse segmento <strong>de</strong> negócio.<br />
1
1. Introdução<br />
A adoção <strong>da</strong> Responsabili<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>Social</strong> (RS) vem ganhando <strong>um</strong> <strong>de</strong>staque ca<strong>da</strong> vez maior entre<br />
as empresas. Na visão <strong>de</strong> Dias (2006), há <strong>um</strong>a nova concepção <strong>de</strong> empresa que requer a<br />
prática <strong>da</strong> RS, concretiza<strong>da</strong> a partir do respeito aos direitos h<strong>um</strong>anos, na melhoria <strong>da</strong><br />
quali<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> vi<strong>da</strong> <strong>da</strong> comuni<strong>da</strong><strong>de</strong> e socie<strong>da</strong><strong>de</strong> e na preservação do ambiente natural. De<br />
acordo com Makray (2000, p.112), para sobreviver ou ampliar sua participação <strong>de</strong> mercado,<br />
as empresas tiveram que repensar seus negócios e processos, “articulando visões e missões<br />
que pu<strong>de</strong>ssem traduzir objetivos e estratégias para os clientes internos e externos <strong>de</strong> <strong>um</strong><br />
mundo crescente globalizado.” Para Oliveira (2008, p.3), as empresas <strong>de</strong>têm <strong>um</strong> gran<strong>de</strong> po<strong>de</strong>r<br />
econômico; suas <strong>de</strong>cisões, além “dos impactos econômicos, têm impactos sociais, ambientais<br />
e políticos, que não po<strong>de</strong>m ser ignorados pela socie<strong>da</strong><strong>de</strong>.”<br />
Em empresas vistas como socialmente problemáticas, a boa reputação na área <strong>da</strong> RS é bem<br />
vin<strong>da</strong>. É o que ocorre com empresas do setor f<strong>um</strong>ageiro, que vêm investindo em RS. Sabe-se<br />
que o pano <strong>de</strong> fundo para a polêmica em torno <strong>de</strong>sse setor é a saú<strong>de</strong>, comprometi<strong>da</strong> <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o<br />
manuseio e cultivo do f<strong>um</strong>o ao longo <strong>da</strong> ca<strong>de</strong>ia produtiva até o cons<strong>um</strong>o do cigarro<br />
propriamente dito. De acordo com Boeira e Guivant (2003), a saú<strong>de</strong> <strong>da</strong>s famílias <strong>de</strong><br />
agricultores que cultivam f<strong>um</strong>o é agredi<strong>da</strong> <strong>de</strong> diversas formas: uso <strong>de</strong> agrotóxicos; contato<br />
direto com a planta úmi<strong>da</strong>, que libera nicotina, sendo esta absorvi<strong>da</strong> pela epi<strong>de</strong>rme; cheiro <strong>da</strong>s<br />
folhas durante a secagem nas estufas e utilização <strong>de</strong> trabalho infantil no cultivo do f<strong>um</strong>o. Na<br />
visão <strong>de</strong> Palmer (2006, p. 89), a indústria <strong>de</strong> tabaco é <strong>um</strong>a <strong>da</strong>s áreas <strong>de</strong> negócios mais<br />
“politicamente incorreta” e, ao mesmo tempo, <strong>um</strong>a <strong>da</strong>s mais lucrativas. No entanto, na visão<br />
<strong>de</strong> Boeira e Guivant (2003, p. 62), essa situação muitas vezes é utiliza<strong>da</strong> para pressionar ou<br />
até mesmo evitar medi<strong>da</strong>s mais drásticas sobre o produto. “(...) ao longo <strong>da</strong> história <strong>da</strong><br />
indústria <strong>de</strong> tabaco, como conseqüência <strong>da</strong> controvérsia existente quanto ao cons<strong>um</strong>o <strong>de</strong> seus<br />
produtos, os empresários tornaram-se mais articulados entre si, na <strong>de</strong>fesa <strong>de</strong> todo o setor<br />
f<strong>um</strong>ageiro”.<br />
Diante <strong>de</strong>sse complexo cenário, discutir RS nesse setor é quase <strong>um</strong> paradoxo. De <strong>um</strong> lado a<br />
polêmica que permeia o setor, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a ca<strong>de</strong>ia produtiva até o produto final. De outro, a<br />
representativi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> empresas do segmento na economia assim como os próprios<br />
investimentos nas questões sociais, percebidos em projetos e ações e enaltecidos pelas<br />
comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>s locais. No entanto, o intuito não é discutir essas contradições. O objetivo <strong>de</strong>ste<br />
artigo é retratar a gestão <strong>da</strong> responsabili<strong>da</strong><strong>de</strong> social em empresas beneficiadoras <strong>de</strong> tabaco na<br />
região sul do Brasil, ou seja, analisar práticas e mo<strong>de</strong>los <strong>de</strong> gestão em RS.<br />
2. Conceitos <strong>de</strong> Responsabili<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>Social</strong><br />
A era mo<strong>de</strong>rna <strong>da</strong> RS iniciou nos anos 50, <strong>de</strong>senca<strong>de</strong>ando o processo <strong>de</strong> construção <strong>de</strong> <strong>um</strong><br />
conceito acerca <strong>da</strong> responsabili<strong>da</strong><strong>de</strong> social. A déca<strong>da</strong> <strong>de</strong> 60 chamou a atenção para a<br />
necessi<strong>da</strong><strong>de</strong> urgente <strong>de</strong> mu<strong>da</strong>nças nos métodos <strong>de</strong> atuação <strong>da</strong>s empresas. Atribuem-se às<br />
empresas a responsabili<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> afetar amplos interesses na totali<strong>da</strong><strong>de</strong> do sistema social, além<br />
dos próprios interesses técnicos e econômicos. Nos anos 70 os conceitos se proliferam,<br />
iniciam-se pesquisas relaciona<strong>da</strong>s ao tema e surgem enti<strong>da</strong><strong>de</strong>s específicas acerca <strong>da</strong> RS. Nos<br />
anos 80 os estudos focam a hipótese <strong>de</strong> que as empresas socialmente responsáveis seriam<br />
lucrativas. A partir dos anos 90, são incorporados à responsabili<strong>da</strong><strong>de</strong> social temas alternativos,<br />
tais como: stakehol<strong>de</strong>rs, ética e a performance social corporativa. (CARROL, 1999; SOUZA,<br />
2003; BARBOSA e LEMME, 2007). Com o impulso gerado pela globalização, as questões<br />
inovadoras oriun<strong>da</strong>s <strong>de</strong> estudos no exterior sobre RS chegam ao Brasil. Dos anos 2000 em<br />
diante, <strong>de</strong>stacam-se os temas alternativos relacionados à RS (SOUZA, 2003, p.13).<br />
No entano, ain<strong>da</strong> não há <strong>um</strong> único conceito consoli<strong>da</strong>do para responsabili<strong>da</strong><strong>de</strong> social.<br />
Pesquisadores e organizações vêm propondo diferentes <strong>de</strong>finições para o tema (quadro 01).<br />
2
FONTE CONCEITO<br />
ASHLEY<br />
(2002, p. 6-7)<br />
CARROL<br />
(1979, p. 500)<br />
INSTITUTO<br />
ETHOS<br />
(2007)<br />
LIVRO VERDE<br />
(COMISSÃO DAS<br />
COMUNIDADES<br />
EUROPÉIAS)<br />
(2001, p. 4)<br />
MCINTOSH et al.<br />
(2001, p. 313)<br />
MELO NETO e<br />
BRENNAND<br />
(2004, p. 7)<br />
REETZ e<br />
TOTTOLA<br />
(2006, p. 18)<br />
Compromisso que <strong>um</strong>a organização <strong>de</strong>ve ter para com a socie<strong>da</strong><strong>de</strong>, expresso por meio<br />
<strong>de</strong> atos e atitu<strong>de</strong>s que a afetem positivamente, <strong>de</strong> modo amplo, ou a alg<strong>um</strong>a comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>,<br />
<strong>de</strong> modo específico, agindo proativamente e coerentemente no que tange a seu papel<br />
específico na socie<strong>da</strong><strong>de</strong> e a sua prestação <strong>de</strong> contas para com ela.<br />
A responsabili<strong>da</strong><strong>de</strong> social dos negócios envolve expectativas econômicas, legais, éticas<br />
e discricionárias, que a socie<strong>da</strong><strong>de</strong> tem <strong>da</strong>s organizações em <strong>de</strong>terminado período <strong>de</strong><br />
tempo.<br />
Responsabili<strong>da</strong><strong>de</strong> social diz respeito à maneira como as empresas realizam seus<br />
negócios; critérios que utilizam para a toma<strong>da</strong> <strong>de</strong> <strong>de</strong>cisões; valores que <strong>de</strong>finem suas<br />
priori<strong>da</strong><strong>de</strong>s; e relacionamentos com todos os públicos com os quais interagem.<br />
A responsabili<strong>da</strong><strong>de</strong> social <strong>da</strong>s empresas é, essencialmente, <strong>um</strong> conceito segundo o qual<br />
as empresas <strong>de</strong>ci<strong>de</strong>m, n<strong>um</strong>a base voluntária, contribuir para <strong>um</strong>a socie<strong>da</strong><strong>de</strong> mais justa e<br />
para <strong>um</strong> ambiente mais limpo. [...] Esta responsabili<strong>da</strong><strong>de</strong> manifesta-se em relação aos<br />
trabalhadores e, mais genericamente, em relação a to<strong>da</strong>s as partes interessa<strong>da</strong>s afeta<strong>da</strong>s<br />
pela empresa e que, por seu turno, po<strong>de</strong>m influenciar os seus resultados.<br />
To<strong>da</strong>s as empresas têm responsabili<strong>da</strong><strong>de</strong>s econômicas, sociais, éticas e ambientais,<br />
alg<strong>um</strong>as <strong>da</strong>s quais precisam estar em conformi<strong>da</strong><strong>de</strong> com a lei e outras que precisam do<br />
julgamento próprio <strong>de</strong> quem for responsável para garantir que a empresa não opere<br />
intencionalmente para prejudicar a socie<strong>da</strong><strong>de</strong>. No coração do movimento <strong>da</strong> RSC estão<br />
as questões <strong>de</strong> transparência e <strong>de</strong> responsabili<strong>da</strong><strong>de</strong> para que todos os interessados e a<br />
própria empresa façam auditorias e relatórios sobre questões éticas, financeiras, sociais e<br />
ambientais.<br />
Responsabili<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>Social</strong> é <strong>um</strong>a ativi<strong>da</strong><strong>de</strong> favorável ao <strong>de</strong>senvolvimento sustentável, à<br />
quali<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> vi<strong>da</strong> do trabalho e na socie<strong>da</strong><strong>de</strong>, ao respeito às minorias e aos mais<br />
necessitados, à igual<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> oportuni<strong>da</strong><strong>de</strong>s, à justiça com<strong>um</strong> e ao fomento <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>da</strong>nia<br />
e respeito aos princípios e valores éticos e morais.<br />
A responsabili<strong>da</strong><strong>de</strong> social é, na essência, <strong>um</strong> conceito segundo o qual as empresas<br />
<strong>de</strong>ci<strong>de</strong>m, n<strong>um</strong>a base voluntária, contribuir para <strong>um</strong>a socie<strong>da</strong><strong>de</strong> mais justa e para <strong>um</strong><br />
ambiente mais limpo.<br />
Quadro 01: Definições <strong>de</strong> responsabili<strong>da</strong><strong>de</strong> social<br />
Fonte: A<strong>da</strong>ptado <strong>de</strong> BACKES (2008, p 41-42)<br />
Nas <strong>de</strong>finições <strong>de</strong> responsabili<strong>da</strong><strong>de</strong> social apresenta<strong>da</strong>s, perecebe-se ênfase no papel e<br />
compromisso <strong>da</strong> empresa em relação à socie<strong>da</strong><strong>de</strong>, meio ambiente e públicos interessados, os<br />
chamados stakehol<strong>de</strong>rs, buscando o bem com<strong>um</strong>. Também, <strong>um</strong>a visão compartilha<strong>da</strong> <strong>de</strong> que<br />
responsabili<strong>da</strong><strong>de</strong> social diz respeito à forma <strong>de</strong> conduzir os negócios, com ênfase para ética.<br />
3. Responsabili<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>Social</strong> no Brasil<br />
Po<strong>de</strong>-se dizer que a difusão e discussão do tema RS no Brasil são recentes. De acordo com<br />
Torres (2007), as primeiras discussões ocorreram na déca<strong>da</strong> <strong>de</strong> 70. Um dos impulsionadores<br />
foi a “Carta <strong>de</strong> Princípios do Dirigente Cristão <strong>de</strong> Empresas”, publica<strong>da</strong> em 1965 pela<br />
Associação <strong>de</strong> Dirigentes Cristãos <strong>de</strong> Empresas do Brasil (ADCE Brasil). Já naquela época<br />
ela usava o termo responsabili<strong>da</strong><strong>de</strong> social <strong>da</strong>s empresas. No final dos anos 80 <strong>um</strong>a pequena<br />
parcela <strong>de</strong> empresas passou a intensificar e a institucionalizar o discurso em relação às<br />
questões sociais e ambientais. Nesse período surgem estudos e publicações acadêmicas acerca<br />
do tema. Como marco referencial po<strong>de</strong>-se <strong>de</strong>stacar o livro <strong>de</strong> Duarte e Dias (1986), pioneiros<br />
autores a <strong>de</strong>bater esse assunto no Brasil. A déca<strong>da</strong> <strong>de</strong> 90 marca o surgimento e crescimento <strong>de</strong><br />
diversas instituições com foco na RS e o início do <strong>de</strong>senca<strong>de</strong>amento <strong>de</strong>sse processo nas<br />
organizações. Entre o final dos anos 80 e 90, ocorre a fun<strong>da</strong>ção e consoli<strong>da</strong>ção <strong>de</strong> importantes<br />
institutos e organizações <strong>da</strong> socie<strong>da</strong><strong>de</strong> civil ligados ao meio empresarial, tais como Grupo <strong>de</strong><br />
Institutos Fun<strong>da</strong>ções e Empresas (GIFE), criado em 1989 e formaliza<strong>da</strong> como organização em<br />
1995; a Fun<strong>da</strong>ção Abrinq pelos Direitos <strong>da</strong> Criança (fevereiro <strong>de</strong> 1990); e o Instituto Ethos <strong>de</strong><br />
Responsabili<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>Social</strong> (junho <strong>de</strong> 1998). O foco <strong>da</strong>s instituições é o comportamento<br />
empresarial ético e responsável. Paralelamente, alg<strong>um</strong>as empresas passaram a divulgar<br />
3
periodicamente suas ações realiza<strong>da</strong>s internamente, junto à comuni<strong>da</strong><strong>de</strong> e em relação ao meio<br />
ambiente, utilizando para isso relatórios e balanços sociais. Também nesse período as<br />
organizações não-governamentais (ONGs) começaram a utilizar mais intensamente o termo<br />
RS e passaram a incentivar nas empresas (TORRES, 2007). O quadro 02 apresenta, além <strong>da</strong>s<br />
instituições já menciona<strong>da</strong>s, mais alg<strong>um</strong>as, com <strong>de</strong>staque para o foco <strong>de</strong> atuação.<br />
ORGANIZAÇÃO OBJETIVO / FOCO<br />
Prêmio ECO – Empresa e Comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>,<br />
(lançado em 1982, pelas Câmaras Americanas<br />
<strong>de</strong> Comércio <strong>de</strong> São Paulo - AMCHAM).<br />
Fun<strong>da</strong>ção Abrinq<br />
(cria<strong>da</strong> em 1990)<br />
Prêmio Nacional <strong>da</strong> Quali<strong>da</strong><strong>de</strong> (PNQ),<br />
(lançado em 1991)<br />
GIFE – Grupo e Institutos, Fun<strong>da</strong>ções e<br />
Empresas.<br />
(criado em 1995)<br />
IBGC – Instituto Brasileiro <strong>de</strong> Governança<br />
Corporativa<br />
(fun<strong>da</strong>do em 1995)<br />
IBASE - Instituto Brasileiro <strong>de</strong> Análises<br />
Sociais e Econômicas<br />
(fun<strong>da</strong>do em 1998)<br />
Instituto Ethos <strong>de</strong> Empresas e<br />
Responsabili<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>Social</strong> Empresarial<br />
(constituído em 1998)<br />
Instituto Akatu pelo<br />
Cons<strong>um</strong>o Consciente<br />
(fun<strong>da</strong>do em 2001)<br />
Destaca-se pelo pioneirismo no incentivo e reconhecimento <strong>de</strong><br />
ações <strong>de</strong> empresas volta<strong>da</strong>s para comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>s do entorno.<br />
Forma<strong>da</strong> por empresas fabricantes <strong>de</strong> brinquedos, <strong>de</strong>stacou-se<br />
pela mobilização gera<strong>da</strong> no combate ao trabalho infantil no<br />
país, envolvendo as empresas nessa mobilização.<br />
Abriu crescente espaço para questões sociais e ambientais e<br />
relações <strong>da</strong>s empresas com seus stakehol<strong>de</strong>rs como indicadores<br />
<strong>de</strong> quali<strong>da</strong><strong>de</strong> na gestão empresarial.<br />
Desempenha papel-chave na mobilização empresarial em prol<br />
<strong>de</strong> questões públicas, reunindo atualmente cerca <strong>de</strong> 100<br />
organizações <strong>de</strong> origem empresarial que praticam investimento<br />
social privado.<br />
Desempenha papel relevante na disseminação do que são<br />
consi<strong>de</strong>ra<strong>da</strong>s boas práticas <strong>de</strong> governança pelas empresas.<br />
Democratizar as informações a respeito <strong>da</strong> reali<strong>da</strong><strong>de</strong> brasileira<br />
no campo econômico, social e político. Uma <strong>da</strong>s linhas <strong>de</strong> ação<br />
do IBASE <strong>de</strong>fen<strong>de</strong> posturas éticas e socialmente responsáveis<br />
na atuação <strong>da</strong>s empresas, em especial por meio <strong>de</strong> práticas <strong>de</strong><br />
gestão mais transparentes, passando pela publicação <strong>de</strong><br />
balanços sociais.<br />
Tem <strong>de</strong>sempenhado papel fun<strong>da</strong>mental, tanto no Brasil como<br />
no mundo, na promoção <strong>da</strong> responsabili<strong>da</strong><strong>de</strong> social empresarial,<br />
<strong>de</strong>stacando a necessi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> traduzir princípios éticos em<br />
indicadores e ferramentas <strong>de</strong> gestão aplicáveis no cotidiano <strong>da</strong>s<br />
práticas <strong>da</strong>s empresas, e a necessi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> sua a<strong>de</strong>são ao i<strong>de</strong>al<br />
do <strong>de</strong>senvolvimento sustentável.<br />
Desenvolve ações que visam conscientizar e mobilizar a<br />
socie<strong>da</strong><strong>de</strong> para que cons<strong>um</strong>a <strong>de</strong> maneira a contribuir para a<br />
sustentabili<strong>da</strong><strong>de</strong> do planeta, engajando as próprias empresas<br />
nesse movimento.<br />
Quadro 02: Organizações e movimentos brasileiros voltados à responsabili<strong>da</strong><strong>de</strong> social<br />
Fonte: BACKES (2008, p. 34), a<strong>da</strong>ptado <strong>de</strong> Schommer e Rocha (2007, p. 6-7).<br />
Percebe-se, portanto que foi no final dos anos 90 que o movimento <strong>da</strong> responsabili<strong>da</strong><strong>de</strong> social<br />
teve forte impulso no Brasil, “por meio <strong>da</strong> ação <strong>de</strong> enti<strong>da</strong><strong>de</strong>s não-governamentais, institutos<br />
<strong>de</strong> pesquisa e empresas sensibiliza<strong>da</strong>s pela questão” (LOURENÇO e SCHRÖDER, 2003, p.<br />
85). O surgimento <strong>de</strong> diversas organizações não-governamentais e o <strong>de</strong>senvolvimento do<br />
Terceiro Setor intensificou o movimento no Brasil. Termos como filantropia, ci<strong>da</strong><strong>da</strong>nia<br />
empresarial, ética nos negócios, voluntariado e responsabili<strong>da</strong><strong>de</strong> social foram incorporados<br />
pelas empresas (TENÓRIO, 2006).<br />
4. Mo<strong>de</strong>los Conceituais <strong>de</strong> Responsabili<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>Social</strong><br />
A visão contemporânea <strong>da</strong> RS é resultado <strong>de</strong> <strong>um</strong>a evolução, <strong>de</strong>corrente <strong>de</strong> diversos estudos e<br />
pesquisas acerca <strong>de</strong>ssa temática. A partir <strong>de</strong> <strong>um</strong>a análise bibliográfica (livros, artigos<br />
nacionais e internacionais e trabalhos acadêmicos), verificou-se que os pesquisadores mais<br />
4
evi<strong>de</strong>nciados na aca<strong>de</strong>mia são: Ackerman (1973), Sethi (1975), Carroll (1979), Preston e Post<br />
(1981), Wartick e Cochran (1985), Wood (1991), Swanson (1995) e Quazi e O’Brien (2000).<br />
O quadro 03 apresenta <strong>um</strong>a síntese <strong>de</strong>sses principais mo<strong>de</strong>los <strong>de</strong> responsabili<strong>da</strong><strong>de</strong> social,<br />
<strong>de</strong>stacando os autores, período, mo<strong>de</strong>lo e abor<strong>da</strong>gem.<br />
AUTOR / PERÍODO / MODELO ABORDAGEM<br />
ACKERMAN<br />
(1973)<br />
Mo<strong>de</strong>lo <strong>da</strong> reativi<strong>da</strong><strong>de</strong> social <strong>da</strong>s<br />
empresas<br />
SETHI<br />
(1975)<br />
Mo<strong>de</strong>lo dos três estágios para<br />
classificação do comportamento<br />
corporativo<br />
CARROLL<br />
(1979)<br />
Mo<strong>de</strong>lo pirâmi<strong>de</strong> <strong>da</strong><br />
responsabili<strong>da</strong><strong>de</strong> social<br />
PRESTON e POST<br />
(1981)<br />
Mo<strong>de</strong>lo <strong>da</strong> responsabili<strong>da</strong><strong>de</strong> pública<br />
WARTICK e COCHRAN<br />
(1985)<br />
Mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> avaliação do <strong>de</strong>sempenho<br />
social<br />
WOOD<br />
(1991)<br />
Mo<strong>de</strong>lo do <strong>de</strong>sempenho social<br />
corporativo<br />
SWANSON<br />
(1995)<br />
Mo<strong>de</strong>lo do <strong>de</strong>sempenho social<br />
Abordou o processo <strong>de</strong> engajamento <strong>da</strong>s empresas em ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong><br />
caráter social, compreen<strong>de</strong>ndo três fases:<br />
Fase I: Fase Política (<strong>de</strong>spertar)<br />
Fase II: Fase Técnica (toma<strong>da</strong> <strong>de</strong> posição)<br />
Fase III: Fase <strong>de</strong> institucionalização (envolvimento mais<br />
profundo)<br />
Propôs <strong>um</strong> mo<strong>de</strong>lo segundo o qual o comportamento <strong>da</strong> empresa<br />
po<strong>de</strong> ser situado em três estágios:<br />
Obrigação social (prescritiva)<br />
Responsabili<strong>da</strong><strong>de</strong> social (normativa)<br />
Responsivi<strong>da</strong><strong>de</strong> social (antecipatória e preventiva)<br />
Para a classificação do comportamento <strong>da</strong> empresa propôs oito<br />
dimensões: buscar legitimi<strong>da</strong><strong>de</strong>, normas éticas, prestação <strong>de</strong> contas<br />
pela ativi<strong>da</strong><strong>de</strong> empresarial, estratégia operacional, resposta às<br />
questões sociais, ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s relativas às ações do governo,<br />
ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s políticas e legislativas e filantropia.<br />
Desenvolveu <strong>um</strong>a classificação para a responsabili<strong>da</strong><strong>de</strong> social <strong>da</strong>s<br />
empresas, em forma <strong>de</strong> pirâmi<strong>de</strong>, a partir <strong>de</strong> quatro níveis:<br />
Econômica (ser lucrativa)<br />
Legal (obe<strong>de</strong>cer à lei)<br />
Ética (fazer o que é certo, evitando <strong>da</strong>nos)<br />
Filantrópica (papel social <strong>da</strong>s empresas ass<strong>um</strong>ido<br />
voluntariamente)<br />
Desenvolveram <strong>um</strong> mo<strong>de</strong>lo enaltecendo que as empresas e a<br />
socie<strong>da</strong><strong>de</strong> interagem <strong>de</strong> duas formas diferentes, <strong>de</strong>nomina<strong>da</strong>s:<br />
Relações primárias (orienta<strong>da</strong>s pelo mercado: clientes,<br />
empregados, acionistas e credores)<br />
Relações secundárias (fora do mercado: lei e as forças<br />
morais)<br />
Propuseram <strong>um</strong> mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> avaliação do <strong>de</strong>sempenho social (a partir<br />
do aprimoramento do mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> Carroll), on<strong>de</strong> são incorporados<br />
<strong>de</strong>safios e preocupações <strong>da</strong> relação entre os negócios e a socie<strong>da</strong><strong>de</strong>,<br />
a partir <strong>de</strong> três orientações:<br />
Orientação Filosófica – Princípios <strong>de</strong> Responsabili<strong>da</strong><strong>de</strong><br />
<strong>Social</strong> (econômico, ético, legal e discricionário)<br />
Orientação Institucional – Processos <strong>de</strong> Responsivi<strong>da</strong><strong>de</strong><br />
(reativo, <strong>de</strong>fensivo, acomo<strong>da</strong>tivo e interativo)<br />
Orientação organizacional – Gerenciamento <strong>da</strong>s questões<br />
sociais (i<strong>de</strong>ntificação <strong>da</strong>s questões, análise <strong>da</strong>s questões e<br />
<strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> respostas)<br />
Propôs <strong>um</strong> mo<strong>de</strong>lo para o <strong>de</strong>sempenho social <strong>da</strong>s empresas (a partir<br />
<strong>da</strong> contribuição <strong>de</strong> outros pesquisadores), dividido em três aspectos:<br />
Princípios <strong>de</strong> responsabili<strong>da</strong><strong>de</strong> social corporativa<br />
<br />
(institucional, organizacional e individual)<br />
Processos <strong>de</strong> responsivi<strong>da</strong><strong>de</strong> social corporativa (meio<br />
ambiente, stakehol<strong>de</strong>rs e gerenciamento)<br />
Resultados do comportamento <strong>da</strong> empresa (impactos<br />
sociais, programas sociais e políticas sociais)<br />
Desenvolveu <strong>um</strong>a reorientação ao mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> performance social <strong>de</strong><br />
Wood (1991), integrando princípios, processos e resultados<br />
organizados em quatro grupos:<br />
Macroprincípios <strong>de</strong> responsabili<strong>da</strong><strong>de</strong> social (institucional e<br />
5
empresarial reorientado organizacional)<br />
Microprincípios <strong>de</strong> responsabili<strong>da</strong><strong>de</strong> social (toma<strong>da</strong> <strong>de</strong><br />
<strong>de</strong>cisão e valores pessoais)<br />
Cultura corporativa (toma<strong>da</strong> <strong>de</strong> <strong>de</strong>cisão – nível gerencial e<br />
<strong>de</strong> empregados, valores pessoais e programas e políticas<br />
sociais)<br />
Impactos sociais (a<strong>um</strong>ento ou diminuição)<br />
QUAZI e O’BRIEN<br />
(2000)<br />
Mo<strong>de</strong>lo bidimensional <strong>da</strong><br />
responsabili<strong>da</strong><strong>de</strong> social corporativa<br />
Quadro 03: Síntese dos principais mo<strong>de</strong>los conceituais <strong>de</strong> RS<br />
Fonte: BACKES (2008, 48-49)<br />
Propuseram <strong>um</strong> mo<strong>de</strong>lo chamado “Mo<strong>de</strong>lo Bidimensional”, a partir<br />
<strong>de</strong> duas vertentes <strong>da</strong> responsabili<strong>da</strong><strong>de</strong> social:<br />
Responsabili<strong>da</strong><strong>de</strong> ampla (mo<strong>de</strong>rna e filantrópica)<br />
Responsabili<strong>da</strong><strong>de</strong> restrita (socioeconômica e clássica)<br />
N<strong>um</strong>a análise <strong>da</strong> utilização e referência dos principais mo<strong>de</strong>los conceituais <strong>de</strong><br />
responsabili<strong>da</strong><strong>de</strong> social <strong>de</strong>senvolvidos, o mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> Carroll (1979, 1991) e o mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong><br />
Wood (1991) têm gran<strong>de</strong> representativi<strong>da</strong><strong>de</strong> conceitual e são os mais referenciados no campo<br />
<strong>de</strong> estudo <strong>da</strong> responsabili<strong>da</strong><strong>de</strong> social, principalmente no Brasil. O mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> Quazi e O’Brien<br />
(2000) apresenta <strong>um</strong>a visão mais recente sobre o tema e, embora menos difundido, tem<br />
representativi<strong>da</strong><strong>de</strong> e vem sendo referenciado em diversos estudos acerca <strong>da</strong> RS<br />
(CAVALCANTI e FALK, 2007; MORETTI e FIGUEIREDO, 2007; PEREIRA e CAMPOS<br />
FILHO, 2006; MACHADO FILHO e ZYLBERSZTAJN, 2003; BORGER, 2001).<br />
5. Indicadores na <strong>Gestão</strong> <strong>da</strong> Responsabili<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>Social</strong><br />
Na gestão <strong>da</strong> responsabili<strong>da</strong><strong>de</strong> social, para verificar se o empreendimento está atingindo os<br />
resultados esperados e satisfazendo os stakehol<strong>de</strong>rs, são necessários indicadores voltados aos<br />
processos-chave, ou seja, indicadores que meçam o resultado global dos processos,<br />
contemplando todos os stakehol<strong>de</strong>rs.<br />
Para Melo Neto e Froes (2001), há três dimensões a serem consi<strong>de</strong>ra<strong>da</strong>s ao avaliar a<br />
responsabili<strong>da</strong><strong>de</strong> social corporativa, as quais seguem: 1) Dimensão ética: analisa <strong>de</strong> que forma<br />
a empresa se comporta, quais valores adota e como os difun<strong>de</strong> e promove junto aos seus<br />
diversos públicos; 2) Dimensão pragmática: analisa como a empresa <strong>de</strong>senvolve suas ações<br />
sociais, qual o foco <strong>de</strong>ssas ações, beneficiários, total <strong>de</strong> investimentos, retorno obtido e<br />
resultados alcançados; 3) Dimensão político-institucional: analisa como a empresa se<br />
relaciona com os seus diversos públicos-alvo (empregados e <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes, clientes, governo,<br />
fornecedores, distribuidores, acionistas, comuni<strong>da</strong><strong>de</strong> e socie<strong>da</strong><strong>de</strong>).<br />
O quadro 04 apresenta <strong>um</strong> res<strong>um</strong>o dos indicadores e diretrizes existentes, distribuídos por<br />
foco <strong>de</strong> atuação, abrangendo: Iniciativas Globais, Direitos H<strong>um</strong>anos, Direitos <strong>da</strong>s Relações <strong>de</strong><br />
Trabalho, Proteção <strong>da</strong>s Relações <strong>de</strong> Cons<strong>um</strong>o, Meio Ambiente, Governança Corporativa,<br />
Iniciativa Setorial Internacional – Setor Financeiro, Iniciativa Setorial Nacional e<br />
Implementação <strong>de</strong> RSE.<br />
FOCO NORMA / DIRETRIZ<br />
Iniciativas Globais Diretrizes <strong>da</strong> OCDE para Empresas Multinacionais<br />
Agen<strong>da</strong> 21<br />
Princípios do Global Compact<br />
Objetivos <strong>de</strong> Desenvolvimento do Milênio (ODM)<br />
Carta <strong>da</strong> Terra<br />
Convenção <strong>da</strong> ONU contra a Corrupção<br />
Direitos H<strong>um</strong>anos Declaração Universal dos Direitos H<strong>um</strong>anos (DUDH)<br />
Normas <strong>da</strong>s Responsabili<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> Corporações Transnacionais e Outras<br />
Empresas em Relação aos Direitos H<strong>um</strong>anos<br />
Direitos <strong>da</strong>s Relações <strong>de</strong> Trabalho Guia <strong>de</strong> Normas Internacionais do Trabalho<br />
6
SA 8000 – <strong>Social</strong> Accountability 8000<br />
Princípios e Direitos Fun<strong>da</strong>mentais do Trabalho e seu Seguimento<br />
OHSAS 18001 – Occupational Health Safety Assessment Series<br />
Diretrizes sobre Sistemas <strong>de</strong> <strong>Gestão</strong> <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> e Segurança Ocupacional<br />
(ILO-OSH 2001)<br />
Proteção <strong>da</strong>s Relações <strong>de</strong> Cons<strong>um</strong>o Diretrizes <strong>da</strong> ONU para a Proteção do Cons<strong>um</strong>idor<br />
Meio Ambiente The Natural Step (TNS)<br />
Convenção sobre Diversi<strong>da</strong><strong>de</strong> Biológica (CDB)<br />
Declaração do Rio sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento<br />
Princípios do FSC<br />
Série ISO 14000<br />
Convenção <strong>da</strong>s Nações Uni<strong>da</strong>s sobre Mu<strong>da</strong>nça do Clima<br />
Convenção <strong>de</strong> Viena para a Proteção <strong>da</strong> Cama<strong>da</strong> <strong>de</strong> Ozônio<br />
Convenção <strong>de</strong> Estocolmo sobre os Poluentes Orgânicos Persistentes<br />
Governança Corporativa OCDE – Princípios <strong>de</strong> Governança Corporativa<br />
IBGC – Código <strong>da</strong>s Melhores <strong>Práticas</strong> <strong>de</strong> Governança Corporativa<br />
Recomen<strong>da</strong>ções <strong>da</strong> CVM sobre Governança Corporativa<br />
Iniciativa Setorial Internacional – Princípios do Equador<br />
Setor Financeiro<br />
Iniciativa Setorial Nacional<br />
Princípios Básicos <strong>de</strong> Responsabili<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>Social</strong> – Associação Brasileira<br />
<strong>da</strong>s Enti<strong>da</strong><strong>de</strong>s Fecha<strong>da</strong>s <strong>de</strong> Previdência Complementar (Abrapp) / Ethos<br />
Índice <strong>de</strong> Sustentabili<strong>da</strong><strong>de</strong> Empresarial – ISE Bovespa<br />
Implementação <strong>de</strong> RSE Balanço <strong>Social</strong> Ibase<br />
AA1000<br />
Indicadores Ethos<br />
Diretrizes para Relatórios <strong>de</strong> Sustentabili<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong> Global Reporting<br />
Initiative (GRI)<br />
ABNT-NBR 16001:2004 – Norma Brasileira: Responsabili<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>Social</strong> –<br />
Sistema <strong>de</strong> gestão – Requisitos<br />
Quadro 04: Indicadores e diretrizes voltados à RSE<br />
Fonte: BACKES (2008, p. 92-93) a<strong>da</strong>ptado <strong>de</strong> Instituto Ethos (2006).<br />
Dentre os indicadores, diretrizes e normas apresentados no quadro anterior, alguns são<br />
conhecidos e utilizados amplamente. Outros ain<strong>da</strong> são restritos, <strong>da</strong><strong>da</strong> sua complexi<strong>da</strong><strong>de</strong>,<br />
dificul<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> implementação e pouca aplicabili<strong>da</strong><strong>de</strong> no dia a dia <strong>da</strong>s organizações. Como<br />
resultado <strong>da</strong> necessi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> monitoramento e mensuração <strong>de</strong> <strong>de</strong>sempenho <strong>da</strong> responsabili<strong>da</strong><strong>de</strong><br />
social, percebe-se <strong>um</strong> movimento crescente <strong>de</strong> adoção <strong>de</strong> normas, indicadores e diretrizes <strong>de</strong><br />
gestão.<br />
6. Metodologia<br />
A pesquisa realiza<strong>da</strong> neste estudo é <strong>de</strong> natureza aplica<strong>da</strong>. Com relação à abor<strong>da</strong>gem do<br />
problema, utilizou-se o método quantitativo e qualitativo. Do ponto <strong>de</strong> vista quantitativo, pela<br />
utilização <strong>de</strong> <strong>um</strong> questionário para o levantamento dos <strong>da</strong>dos (SILVA e MENEZES, 2005). O<br />
método qualitativo, porque <strong>de</strong> acordo com Richardson (1999, p. 90), a pesquisa qualitativa<br />
caracteriza-se como “a tentativa <strong>de</strong> <strong>um</strong>a compreensão <strong>de</strong>talha<strong>da</strong> dos significados e<br />
características situacionais apresenta<strong>da</strong>s pelos entrevistados, em lugar <strong>da</strong> produção <strong>de</strong><br />
medi<strong>da</strong>s quantitativas <strong>de</strong> características ou comportamentos.” Do ponto <strong>de</strong> vista dos seus<br />
objetivos, a pesquisa realiza<strong>da</strong> é <strong>de</strong>scritiva, pois foram levanta<strong>da</strong>s informações acerca <strong>da</strong><br />
gestão social em indústrias do setor f<strong>um</strong>ageiro, utilizando-se para isso <strong>um</strong> questionário.<br />
Este artigo é parte dos resultados <strong>de</strong> <strong>um</strong>a pesquisa <strong>de</strong> 4 anos que culminou na realização <strong>de</strong><br />
<strong>um</strong>a tese <strong>de</strong> doutorado. Para a coleta <strong>da</strong>s informações junto às empresas, <strong>um</strong>a <strong>da</strong>s etapas foi<br />
<strong>de</strong>finir categorias <strong>de</strong> investigação (sete) que foram <strong>de</strong>sdobra<strong>da</strong>s em questões específicas, <strong>de</strong><br />
forma a obter as informações necessárias para o estudo (Quadro 05).<br />
CATEGORIAS QUESTÕES<br />
7
Perfil<br />
Nome, Localização, Ano <strong>de</strong> fun<strong>da</strong>ção, Uni<strong>da</strong><strong>de</strong>s, Origem <strong>de</strong> capital, Número <strong>de</strong><br />
funcionários, Missão, Visão, Valores, Certificações e Premiações.<br />
Entendimento <strong>de</strong> RS e Entendimento <strong>de</strong> Responsabili<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>Social</strong>, Marketing <strong>Social</strong>, Desenvolvimento<br />
temas relacionados Sustentável, Sustentabili<strong>da</strong><strong>de</strong> e a relação entre Ética e RS.<br />
Processo <strong>de</strong> adoção <strong>da</strong> RS Origem e período <strong>da</strong> adoção, Motivações e Base conceitual.<br />
Localização funcional, Funções, Relação com questão ambiental, Vinculação ao<br />
<strong>Gestão</strong> <strong>da</strong> RS<br />
Planejamento Estratégico, Existência <strong>de</strong> políticas e objetivos específicos para a<br />
RS, Existência <strong>de</strong> Comitês e Códigos relacionados à RS, Transparência na<br />
gestão, Realização <strong>de</strong> Auditoria e Mensuração <strong>de</strong> impactos.<br />
Monitoramento e Conhecimento e utilização <strong>de</strong> indicadores, normas, princípios e diretrizes<br />
avaliação do relacionados à RS e justificativa para utilização, Formas <strong>de</strong> mensuração do<br />
<strong>de</strong>sempenho <strong>da</strong> RS <strong>de</strong>sempenho social e Existência <strong>de</strong> indicadores próprios.<br />
Relacionamento com<br />
as partes interessa<strong>da</strong>s<br />
I<strong>de</strong>ntificação dos stakehol<strong>de</strong>rs <strong>da</strong> empresa, Formas <strong>de</strong> diálogo, Existência <strong>de</strong><br />
políticas para relacionamento e Indicadores <strong>de</strong> avaliação do relacionamento<br />
com stakehol<strong>de</strong>rs.<br />
Desafios e tendência Percepção <strong>de</strong> <strong>de</strong>safios na RS, pressão sobre o setor, relação entre RS e<br />
na RS sustentabili<strong>da</strong><strong>de</strong> e tendências na RS.<br />
Quadro 05: Relação entre categorias e questões<br />
Fonte: BACKES (2008, p. 144).<br />
Para a coleta dos <strong>da</strong>dos utilizou-se como instr<strong>um</strong>ento <strong>um</strong> questionário. A estrutura seguiu as<br />
categorias <strong>de</strong> investigação e as questões foram estrutura<strong>da</strong>s em perguntas abertas e fecha<strong>da</strong>s.<br />
O universo <strong>da</strong> pesquisa <strong>de</strong>ste estudo foram empresas do ramo f<strong>um</strong>ageiro estabeleci<strong>da</strong>s na<br />
Região Sul do Brasil e associa<strong>da</strong>s ao Sindicato <strong>da</strong> Indústria do F<strong>um</strong>o (Sindif<strong>um</strong>o), órgão<br />
representativo do setor. No momento <strong>da</strong> aplicação <strong>da</strong> pesquisa, esse universo correspondia a<br />
<strong>um</strong> total <strong>de</strong> doze empresas: 1) Alliance One Brasil Exportadora <strong>de</strong> Tabacos Lt<strong>da</strong>; 2) A.T.C. –<br />
Associated Tabacco Comapany (Brasil) Lt<strong>da</strong>; 3) Brasf<strong>um</strong>o Indústria Brasileira <strong>de</strong> F<strong>um</strong>os<br />
S.A.; 4) CTA – Continental Tobaccos Alliance S.A.; 5) Industrial Boettcher <strong>de</strong> Tabacos Lt<strong>da</strong>.;<br />
6) Intab – Indústria <strong>de</strong> Tabacos e Agropecuária Lt<strong>da</strong>.; 7) Kannenberg & Cia Lt<strong>da</strong>.; 8)<br />
KBH&C – Tabacos Lt<strong>da</strong>.; 9) Philip Morris Brasil Indústria e Comércio Lt<strong>da</strong>.; 10) Souza Cruz<br />
S.A.; 11) Sul América Tabacos Lt<strong>da</strong>.; 12) Universal Leaf Tabacos Lt<strong>da</strong>.<br />
Foram analisa<strong>da</strong>s características, semelhanças e diferenças existentes entre as empresas em<br />
relação às etapas <strong>da</strong> ca<strong>de</strong>ia produtiva. Ao consi<strong>de</strong>rar as diferenças entre elas, participaram do<br />
estudo as indústrias que realizam o beneficiamento do f<strong>um</strong>o, abrangendo as empresas<br />
números 1, 3, 4, 8 e 12, totalizando cinco (5) indústrias. As empresas 5, 6 e 7 não beneficiam<br />
tabaco e portanto foram excluí<strong>da</strong>s; a empresa 10, por ser cigarreira (e que por isso possui <strong>um</strong>a<br />
atuação social diferencia<strong>da</strong>), não foi consi<strong>de</strong>ra<strong>da</strong> na amostra. Já as empresas 2 e 11, embora<br />
classifica<strong>da</strong>s como beneficiadoras e inicialmente incluí<strong>da</strong>s nesse estudo, ain<strong>da</strong> não tem<br />
atuação social consoli<strong>da</strong><strong>da</strong>.<br />
7. Resultados<br />
Ao apresentar os resultados do estudo realizado no setor f<strong>um</strong>ageiro em relação à sua gestão<br />
social, primeiramente faz-se <strong>um</strong> apanhado geral do <strong>de</strong>sempenho do setor f<strong>um</strong>ageiro e sua<br />
representativi<strong>da</strong><strong>de</strong> na economia nacional, regional e local.<br />
7.1 Desempenho do setor<br />
O f<strong>um</strong>o é o terceiro produto agrícola na pauta <strong>de</strong> exportações primárias do Brasil, superado<br />
apenas pela soja e pelo café. Representa cerca <strong>de</strong> 1,50 % do total <strong>da</strong>s ven<strong>da</strong>s externas do país,<br />
sendo o Brasil o segundo maior produtor mundial (a China ocupa a primeira posição). Des<strong>de</strong><br />
1993, o Brasil ocupa a posição <strong>de</strong> maior exportador <strong>de</strong> f<strong>um</strong>o do mundo. Do total <strong>da</strong> produção<br />
<strong>de</strong> f<strong>um</strong>o no Brasil, em torno <strong>de</strong> 96% se dá nos três Estados que compõem a Região Sul do<br />
Brasil – Rio Gran<strong>de</strong> do Sul, Santa Catarina e Paraná. Os 4% restantes são produzidos nos<br />
estados <strong>da</strong> Bahia e Alagoas (Região Nor<strong>de</strong>ste). Deste vol<strong>um</strong>e total, 85% são <strong>de</strong>stinados ao<br />
8
mercado internacional. Em 2006, as exportações do setor totalizaram 560 mil tonela<strong>da</strong>s. Com<br />
relação ao vol<strong>um</strong>e <strong>de</strong> exportações, o f<strong>um</strong>o representa 1,4 % <strong>da</strong>s exportações brasileiras, 6,4 %<br />
<strong>da</strong> Região Sul e 11% do total <strong>da</strong>s exportações do Estado do Rio Gran<strong>de</strong> do Sul.<br />
As empresas que compõem o setor f<strong>um</strong>ageiro na Região Sul são <strong>de</strong> pequeno, médio e gran<strong>de</strong><br />
porte, classifica<strong>da</strong>s como compradoras, beneficiadoras e <strong>de</strong> industrialização (fabricantes <strong>de</strong><br />
cigarro). Juntas, geram cerca <strong>de</strong> 30 mil empregos diretos em suas uni<strong>da</strong><strong>de</strong>s industriais,<br />
distribuídos em municípios dos três estados: Paraná, Santa Catarina e Rio Gran<strong>de</strong> do Sul. A<br />
movimentação financeira gera<strong>da</strong> pelas empresas do setor gira em torno <strong>de</strong> R$ 10 bilhões/ano,<br />
consi<strong>de</strong>rando-se as diversas etapas do processo produtivo e comercial. Essas etapas abrangem<br />
<strong>de</strong>s<strong>de</strong> a comercialização e financiamento dos ins<strong>um</strong>os aos agricultores, aquisição <strong>da</strong> produção<br />
dos f<strong>um</strong>icultores, industrialização do produto, <strong>de</strong>spesas com materiais, com energia e com<br />
fretes, pagamento <strong>de</strong> salários, até o recolhimento <strong>de</strong> tributos, comercialização no mercado<br />
doméstico e as exportações. (SINDIFUMO, 2008).<br />
7.2 Resultados <strong>da</strong> pesquisa<br />
As empresas pesquisa<strong>da</strong>s estão situa<strong>da</strong>s na Região do Vale do Rio Pardo (RS). Em relação à<br />
origem <strong>de</strong> capital, divi<strong>de</strong>m-se entre nacional (2) e multinacional (3). Há <strong>um</strong>a característica<br />
predominante no setor em relação à constituição <strong>de</strong> capital (multinacional), embora<br />
atualmente se perceba <strong>um</strong> crescimento do número <strong>de</strong> empresas com capital totalmente<br />
nacional.<br />
Em termos <strong>de</strong> geração <strong>de</strong> empregos diretos, as indústrias pesquisa<strong>da</strong>s, sedia<strong>da</strong>s em três<br />
municípios (Santa Cruz do Sul, Venâncio Aires e Santa Cruz do Sul) são responsáveis por<br />
15.493 empregos diretos. Os três municípios somam 203.001 habitantes, n<strong>um</strong>a relação <strong>de</strong><br />
7,63 % <strong>de</strong>ssa população emprega<strong>da</strong> por essas indústrias.<br />
Os <strong>de</strong>mais aspectos investigados na pesquisa estão apresentados a seguir (Quadro 06), sob a<br />
forma <strong>de</strong> <strong>um</strong> res<strong>um</strong>o comparativo. O quadrante “práticas <strong>da</strong>s empresas” evi<strong>de</strong>ncia <strong>um</strong> res<strong>um</strong>o<br />
dos resultados <strong>da</strong> pesquisa; “visão acadêmica” é basea<strong>da</strong> no referencial teórico <strong>de</strong>senvolvido<br />
no estudo, e “conclusões” enfatiza o posicionamento em relação às questões investiga<strong>da</strong>s.<br />
9
PRÁTICAS DAS EMPRESAS VISÃO ACADÊMICA<br />
PERFIL:<br />
CONCLUSÕES<br />
A missão, em geral, está foca<strong>da</strong> para a quali<strong>da</strong><strong>de</strong> e A responsabili<strong>da</strong><strong>de</strong> social é <strong>um</strong> critério <strong>de</strong><br />
O perfil estratégico <strong>da</strong> empresa (missão e visão)<br />
para os públicos relacionados.<br />
competitivi<strong>da</strong><strong>de</strong>.<br />
<strong>de</strong>clara os compromissos e ações <strong>da</strong>s empresas e retrata<br />
A visão foca o crescimento <strong>de</strong>sejado e, como A missão retrata o escopo básico do negócio e <strong>da</strong>s o posicionamento frente às questões sócio-ambientais.<br />
conseqüência, a<strong>um</strong>ento também <strong>de</strong> investimento operações bem como seus valores, diferenciando a Os valores norteiam a postura <strong>da</strong> empresa frente a seus<br />
nas questões sociais.<br />
empresa <strong>de</strong> organizações similares.<br />
públicos.<br />
Valores focados em relacionamentos (internos e A visão po<strong>de</strong> guiar <strong>um</strong>a estratégia, sugerindo caminhos Certificações retratam padrões a<strong>de</strong>quados <strong>de</strong><br />
com públicos) e comportamentos <strong>de</strong>sejados. para o negócio.<br />
<strong>de</strong>sempenho, porém não <strong>de</strong>monstra por si só, a<br />
Certificações: to<strong>da</strong>s <strong>de</strong>têm ISO 9000 e alg<strong>um</strong>as A RS embuti<strong>da</strong> nos valores traz sustentabili<strong>da</strong><strong>de</strong>. responsabili<strong>da</strong><strong>de</strong> sócio ambiental <strong>da</strong> empresa.<br />
ISO 14001, OHSAS 18001 SA 8000.<br />
Normas e padrões auditáveis promovem e facilitam as As premiações ocasionam visibili<strong>da</strong><strong>de</strong> o que po<strong>de</strong><br />
Premiações: a atuação social reconheci<strong>da</strong> por meio trocas internacionais <strong>de</strong> produtos e serviços.<br />
refletir no a<strong>um</strong>ento <strong>da</strong> cobrança <strong>da</strong> socie<strong>da</strong><strong>de</strong>. Porém<br />
<strong>de</strong> premiações e méritos concedidos.<br />
(AAKER, 2001; BARBIERI, 2004; MELO NETO e não po<strong>de</strong>m ser vistos como indicadores <strong>de</strong> resultado <strong>da</strong><br />
FROES, 2001)<br />
gestão social.<br />
ENTENDIMENTO DE RS E TEMAS RELACIONADOS:<br />
Responsabili<strong>da</strong><strong>de</strong> social: filosofia <strong>de</strong> negócio, com É <strong>um</strong> conceito em construção.<br />
O entendimento <strong>de</strong> RS é influenciado pelo ambiente,<br />
ênfase para a ética na gestão. Diferencia-se <strong>de</strong> Diz respeito ao comprometimento <strong>da</strong> empresa com a cenário <strong>de</strong> negócio e setor <strong>de</strong> atuação <strong>da</strong> empresa.<br />
filantropia e a importância dos stakehol<strong>de</strong>rs é socie<strong>da</strong><strong>de</strong> e envolve expectativas econômicas, legais, Deve relatar comportamento ético, compromisso com<br />
evi<strong>de</strong>ncia<strong>da</strong>. Foco em públicos, prática <strong>de</strong> negócio éticas e discricionárias.<br />
os públicos e com o <strong>de</strong>senvolvimento sustentável e<br />
e <strong>de</strong>senvolvimento social e relacionado com ética. Comportamento socialmente responsável e ético. ação pró-ativa e como resultado.<br />
Marketing social: ferramenta estratégica <strong>de</strong> Contribuição social voluntária.<br />
A sustentabili<strong>da</strong><strong>de</strong> é o resultado <strong>da</strong> conduta<br />
posicionamento.<br />
Ativi<strong>da</strong><strong>de</strong> favorável ao <strong>de</strong>senvolvimento sustentável. socialmente responsável.<br />
Desenvolvimento sustentável visto sob ângulos Entendimento varia <strong>de</strong> acordo com o contexto histórico O marketing social, juntamente com a RS, po<strong>de</strong> trazer<br />
diferentes; po<strong>de</strong> ser <strong>um</strong> mo<strong>de</strong>lo econômico ou a e social.<br />
bons resultados à organização. No entanto, <strong>de</strong>ve ser<br />
atuação local <strong>da</strong> empresa comprometi<strong>da</strong> com o Ética na forma <strong>de</strong> conduzir os negócios.<br />
usado como ferramenta para alcançar resultados <strong>de</strong><br />
<strong>de</strong>senvolvimento dos públicos relacionados e A sustentabili<strong>da</strong><strong>de</strong> vem sendo incorpora<strong>da</strong> à RS. mu<strong>da</strong>nça.<br />
entorno.<br />
O marketing social melhora a reputação <strong>da</strong> empresa, á Responsabili<strong>da</strong><strong>de</strong> social sucita ética nos negócios.<br />
Sustentabili<strong>da</strong><strong>de</strong>: percepção similar para<br />
medi<strong>da</strong> que está mais voltado à publici<strong>da</strong><strong>de</strong> do que<br />
<strong>de</strong>senvolvimento sustentável e sustentabili<strong>da</strong><strong>de</strong> em melhora <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>da</strong>nia corporativa.<br />
alg<strong>um</strong>as empresas; em outras, ênfase para a relação (ASHLEY, 2002; BORGER, 2001; CARROLL, 1979;<br />
<strong>da</strong> atuação <strong>da</strong> empresa nas questões <strong>de</strong><br />
COSENZA, 2007; GOMES, BERNARDO e BRITO,<br />
produtivi<strong>da</strong><strong>de</strong>, melhoria <strong>de</strong> produtos e métodos <strong>de</strong> 2005; MELO NETO e FROES, 2001; MELO NETO e<br />
gestão e relacionamento com partes interessa<strong>da</strong>s. BRENNAND, 2004; PORTER e KRAMER, 2006;<br />
Relação entre a ética e RS: reconheci<strong>da</strong> por to<strong>da</strong>s<br />
as empresas. O próprio entendimento <strong>de</strong> RS <strong>de</strong><br />
alg<strong>um</strong>as empresas enfatiza a ética.<br />
RODRIGUES, 2004)<br />
PROCESSO DE ADOÇÃO DA RS:<br />
Período: a partir <strong>de</strong> 1994, porém a ação conjunta O processo <strong>de</strong> a<strong>de</strong>são à RS é voluntário. As empresas foram pró-ativas na adoção <strong>da</strong> RS <strong>um</strong>a<br />
10
do setor iniciou em 1998. Percebeu-se <strong>um</strong>a<br />
evolução; assistencialismo, praticado por meio <strong>de</strong><br />
ações isola<strong>da</strong>s, foi substituído por <strong>um</strong>a visão<br />
abrangente, envolvendo os stakehol<strong>de</strong>rs.<br />
Motivações diferentes: foco <strong>de</strong> dirigentes,<br />
mercado, aprimoramento <strong>de</strong> filantropia, ação<br />
conjunta do setor.<br />
Embasamento: diversi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> meios e estratégias<br />
utiliza<strong>da</strong>s como embasamento para o processo <strong>de</strong><br />
incorporação <strong>da</strong> RS<br />
Estrutura para a gestão <strong>da</strong> RS: enquadra<strong>da</strong> no<br />
setor <strong>de</strong> RH na maioria <strong>da</strong>s empresas.<br />
Funções: internas e externas como foco em ações e<br />
projetos sociais. Representativi<strong>da</strong><strong>de</strong> em questões<br />
sociais. Atendimento do público interno.<br />
Questões ambientais: inseri<strong>da</strong>s na gestão <strong>da</strong><br />
Responsabili<strong>da</strong><strong>de</strong> social; trata<strong>da</strong>s <strong>de</strong> forma<br />
específica, com visão integra<strong>da</strong> com a RS.<br />
Planejamento estratégico: RS vincula<strong>da</strong> ao<br />
processo <strong>de</strong> planejamento estratégico e to<strong>da</strong>s as<br />
empresas possuem políticas e objetivos <strong>de</strong>finidos<br />
voltados à RS.<br />
Códigos ou comitês relacionados à RS: <strong>um</strong>a<br />
empresa não possui; outra está em fase <strong>de</strong><br />
construção. Demais possuem alg<strong>um</strong> tipo <strong>de</strong> código,<br />
com ênfase para: Manual <strong>de</strong> Conduta, Comitê <strong>de</strong><br />
Ergonomia, Código <strong>de</strong> Ética (2 empresas) Comitê<br />
<strong>de</strong> <strong>Gestão</strong> e Comitê Editorial.<br />
Transparência <strong>de</strong> gestão: <strong>um</strong>a empresa não possui<br />
e as <strong>de</strong>mais relataram que possuem gestão<br />
transparente.<br />
Auditorias: a maioria realiza auditorias internas e<br />
externas, obrigatórias e voluntárias. Periodici<strong>da</strong><strong>de</strong>:<br />
bimestral, semestral e/ou anual.<br />
Mensuração <strong>de</strong> impactos: to<strong>da</strong>s mensuram, porém<br />
Foi no final dos anos 90 que a RS começou a ter forte<br />
impulso no Brasil.<br />
Não há mais dúvi<strong>da</strong> na <strong>de</strong>cisão <strong>de</strong> incorporar RS nos<br />
processos <strong>de</strong> gestão; a questão é como fazê-lo na<br />
prática.<br />
O processo <strong>de</strong> adoção <strong>da</strong> RS é peculiar para ca<strong>da</strong><br />
organização, normalmente <strong>de</strong>senca<strong>de</strong>ado por <strong>um</strong>a<br />
<strong>de</strong>cisão interior <strong>de</strong> <strong>um</strong> indivíduo ou grupo <strong>de</strong><br />
indivíduos. A RS representa <strong>um</strong>a nova estratégia para<br />
a<strong>um</strong>entar o lucro e potencializar o <strong>de</strong>senvolvimento.<br />
(ASHLEY, 2002; CALSING, 2004b; LOSCHIAVO<br />
NETO e PINEDO, 2000; MAKRAY, 2000)<br />
GESTÃO DA RS:<br />
A RS requer avaliação <strong>de</strong> <strong>de</strong>sempenho balanceado,<br />
<strong>de</strong>scentralização do <strong>de</strong>bate e transparência<br />
organizacional.<br />
A RS requer <strong>um</strong>a nova abor<strong>da</strong>gem que integre questões<br />
sociais nas operações e estratégias.<br />
A RS inseri<strong>da</strong> no planejamento estratégico requer<br />
mu<strong>da</strong>nça e a elaboração e disseminação <strong>de</strong> normas que<br />
estabeleçam seu escopo na organização.<br />
Códigos <strong>de</strong> ética e conduta servem como orientação<br />
para possíveis dilemas possam surgir no contexto <strong>da</strong><br />
organização.<br />
Mecanismos <strong>de</strong> transparência quando utilizados <strong>de</strong><br />
maneira formal e burocrática, pouco agregam aos<br />
ativos <strong>da</strong> organização.<br />
(ALMEIDA, 2007; ASHLEY, 2002; PONCHIROLLI,<br />
2007; (PORTER e KRAMER, 2006)<br />
vez que a difusão do tema ocorreu nos final dos anos<br />
90 no Brasil.<br />
As razões para adoção <strong>da</strong> RS variam <strong>de</strong> acordo com as<br />
peculiari<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> mercado e dos próprios dirigentes.<br />
Os referenciais utilizados nas organizações <strong>de</strong>vem ser<br />
a<strong>de</strong>quados ao perfil <strong>de</strong> gestão social <strong>da</strong> empresa.<br />
Não há <strong>um</strong>a única razão para a<strong>de</strong>rir à RS; é <strong>um</strong><br />
conjunto <strong>de</strong> fatores, relacionados ao ambiente, situação<br />
<strong>da</strong> empresa; visão <strong>de</strong> dirigentes e relação com seus<br />
públicos.<br />
Responsabili<strong>da</strong><strong>de</strong> social, atualmente, é <strong>um</strong>a questão <strong>de</strong><br />
sobrevivência e perpetuação do negócio.<br />
A gestão <strong>da</strong> RS não po<strong>de</strong> se restringir a ações e funções<br />
específicas e pontuais. Requer visão abrangente com<br />
estratégias <strong>de</strong> operacionalização interna <strong>de</strong>fini<strong>da</strong>s, ao<br />
longo <strong>de</strong> to<strong>da</strong> a empresa e com o público interno.<br />
Os códigos <strong>de</strong> ética e conduta não po<strong>de</strong>m ser apenas<br />
mecanismos <strong>de</strong> comunicação entre o que a organização<br />
acredita. Precisam ser referenciais para a toma<strong>da</strong> <strong>de</strong><br />
<strong>de</strong>cisão.<br />
A socie<strong>da</strong><strong>de</strong> ten<strong>de</strong> a cobrar transparência <strong>da</strong>s empresas<br />
<strong>da</strong> mesma forma como vem cobrando <strong>da</strong> gestão<br />
pública.<br />
As auditorias auxiliam no processo <strong>de</strong> transparência <strong>da</strong><br />
gestão <strong>da</strong> empresa.<br />
A mensuração <strong>de</strong> impactos atrela<strong>da</strong> apenas às<br />
exigências legais <strong>de</strong> certificações e afins não po<strong>de</strong>m ser<br />
vistas como <strong>um</strong> diferencial na gestão do social. Precisa<br />
ir além <strong>de</strong>sses aspectos.<br />
11
o foco está nas exigências <strong>da</strong>s certificações.<br />
Indicadores e normas: conhecem a maioria, mas<br />
utilizam apenas o Balanço <strong>Social</strong>, Indicadores<br />
Ethos, OSHAS e SA 8000.<br />
Princípios e diretrizes: conhecem a maioria, mas<br />
utilizam apenas GRI, Metas do Milênio e Triple<br />
botton line.<br />
Mensuração do <strong>de</strong>sempenho social: to<strong>da</strong>s avaliam<br />
seu <strong>de</strong>sempenho. Meios utilizados: indicadores<br />
próprios, acompanhamento <strong>de</strong> ações realiza<strong>da</strong>s na<br />
comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>, monitoramento e avaliação <strong>de</strong><br />
projetos, pesquisas junto aos públicos relacionados,<br />
participação <strong>da</strong> comuni<strong>da</strong><strong>de</strong> em programas sociais,<br />
funcionários em grupos <strong>de</strong> voluntariado, imagem <strong>da</strong><br />
empresa na comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>, relacionamento com<br />
imprensa, premiações, certificações e avaliações<br />
<strong>da</strong>s auditorias internas e externas.<br />
Indicadores próprios: <strong>um</strong>a empresa não possui;<br />
outra não mencionou. As <strong>de</strong>mais utilizam:<br />
<strong>de</strong>sempenho e freqüência escolar dos filhos <strong>de</strong><br />
produtores <strong>de</strong> f<strong>um</strong>o, parecer dos pais e professores;<br />
pesquisa <strong>de</strong> clima organizacional, auditoria <strong>da</strong><br />
SRTP, pesquisa com a comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>, análise <strong>de</strong> safra<br />
e índice <strong>de</strong> satisfação dos participantes <strong>da</strong>s oficinas<br />
dos projetos socioambientais.<br />
Os stakehol<strong>de</strong>rs <strong>da</strong>s empresas são: clientes,<br />
comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>, fornecedores, governo, meio<br />
ambiente, público interno, sindicatos e enti<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong><br />
classe, socie<strong>da</strong><strong>de</strong>, cons<strong>um</strong>idores, mídia, ONGs e<br />
acionistas.<br />
Tem diálogo com as partes interessa<strong>da</strong>s, porém<br />
os meios utilizados são restritos a: mídia, reuniões,<br />
pesquisas, telefone 0800, caixa <strong>de</strong> sugestões, meios<br />
<strong>de</strong> comunicação interna e externa, acesso à direção<br />
<strong>da</strong> empresa.<br />
Políticas para relacionamento com os<br />
MONITORAMENTO E AVALIAÇÃO DA RS:<br />
A avaliação do <strong>de</strong>sempenho social <strong>de</strong>ve ser balancea<strong>da</strong><br />
e contemplar os três aspectos: ambiental, econômico e<br />
social.<br />
Indicadores são medidores que propõem <strong>um</strong> parâmetro,<br />
sinalização ou expressão <strong>de</strong> <strong>um</strong>a reali<strong>da</strong><strong>de</strong> que po<strong>de</strong> ser<br />
mensura<strong>da</strong>.<br />
Na RS são necessários indicadores voltados aos<br />
processos–chave <strong>da</strong> organização.<br />
Um sistema <strong>de</strong> informações voltado à RS po<strong>de</strong> avaliar<br />
os resultados obtidos.<br />
Atualmente as empresas estão utilizando indicadores<br />
certificáveis como prova do seu <strong>de</strong>sempenho social.<br />
A ênfase dos indicadores atuais está nos procedimentos<br />
e não nos impactos <strong>de</strong>sses procedimentos.<br />
(ASKEY, 2002; CALSING, 2004a; MELO NETO e<br />
FROES, 1999; RODRIGUES, 2004)<br />
RELACIONAMENTO COM AS PARTES INTERESSADAS:<br />
A empresa é compreendi<strong>da</strong> como <strong>um</strong> sistema<br />
relacionado com a socie<strong>da</strong><strong>de</strong>, através dos grupos<br />
afetados.<br />
As empresas são influencia<strong>da</strong>s pelas pessoas <strong>da</strong> mesma<br />
forma que impactam na vi<strong>da</strong> <strong>de</strong>las.<br />
As preocupações dos stakehol<strong>de</strong>rs são ca<strong>da</strong> vez mais<br />
importantes para as empresas.<br />
A orientação estratégica <strong>da</strong> empresa quanto à RS<br />
<strong>de</strong>pen<strong>de</strong> do perfil e po<strong>de</strong>r dos seus stakehol<strong>de</strong>rs.<br />
Ain<strong>da</strong> não há clareza <strong>de</strong> como <strong>de</strong> quem são e como<br />
<strong>de</strong>ve ser o relacionamento <strong>da</strong> empresa com os<br />
Os indicadores e normas disponíveis <strong>de</strong>vem ser<br />
utilizados <strong>de</strong> acordo com o foco <strong>da</strong> RS <strong>de</strong> ca<strong>da</strong><br />
empresa.<br />
Normas certificadoras garantem padrões, mas nem<br />
sempre são a<strong>de</strong>quados à reali<strong>da</strong><strong>de</strong> e negócio <strong>da</strong><br />
empresa. Portanto, é preciso escolher indicadores<br />
a<strong>de</strong>quados ao perfil <strong>de</strong> gestão social <strong>da</strong> empresa.<br />
A utilização <strong>de</strong> indicadores traz o resultado <strong>da</strong> ação <strong>da</strong><br />
empresa na RS.<br />
Pela avaliação <strong>de</strong> princípio e diretrizes <strong>da</strong> RS, as<br />
empresas não têm abor<strong>da</strong>gem integra<strong>da</strong> às<br />
problemáticas sociais comuns nos seus projetos e<br />
ações, mostrando <strong>um</strong>a atuação individual. Teriam<br />
resultados melhores e mais abrangentes ao consi<strong>de</strong>rar<br />
problemáticas sociais gerais e não apenas locais.<br />
Para analisar a gestão social e po<strong>de</strong>r aprimorá-la, a<br />
mensuração <strong>de</strong> <strong>de</strong>sempenho se faz necessária. Com a<br />
<strong>de</strong>finição e utlização <strong>de</strong> indicadores próprios, a gestão<br />
social <strong>da</strong> empresa po<strong>de</strong>rá aten<strong>de</strong>r melhor as <strong>de</strong>man<strong>da</strong>s<br />
específicas do negócio e seus stakehol<strong>de</strong>rs.<br />
A empresa <strong>de</strong>ve ter clareza <strong>de</strong> quem são seus públicos<br />
e <strong>de</strong>senvolver mecanismos <strong>de</strong> diálogo permanente.<br />
A partir disso, estabelecer <strong>um</strong> diálogo pró-ativo para<br />
<strong>um</strong>a ação conjunta, consi<strong>de</strong>rando expectativas e<br />
<strong>de</strong>man<strong>da</strong>s que os públicos têm em relação à empresa.<br />
Para avaliar seu relacionamento com os públicos<br />
precisa <strong>de</strong> indicadores quantificáveis em relação a ca<strong>da</strong><br />
público e avaliá-los periodicamente.<br />
Uma atitu<strong>de</strong> <strong>de</strong> diálogo pró-ativo com os públicos po<strong>de</strong><br />
trazer bons resultados às organizações e evitar<br />
ocorrências e riscos futuros.<br />
12
stakehol<strong>de</strong>rs: duas empresas não possuem e três<br />
empresas têm políticas específicas.<br />
Indicadores relacionamento com os stakehol<strong>de</strong>rs:<br />
<strong>um</strong>a empresa não mencionou indicadores e outra<br />
utilzia “Indicadores gerais e setoriais relativos ao<br />
“Atendimento e Satisfação dos Clientes”. As<br />
<strong>de</strong>mais empresas não possuem indicadores para<br />
stakehol<strong>de</strong>rs.<br />
Desafios: <strong>um</strong>a empresa não percebe <strong>de</strong>safios. As<br />
<strong>de</strong>mais <strong>de</strong>stacaram: polêmica em torno do setor;<br />
compromisso com a questão social; parceria com<br />
enti<strong>da</strong><strong>de</strong>s e po<strong>de</strong>r público, crescente <strong>de</strong>man<strong>da</strong><br />
sócio-ambientais, paradigma do pensar coletivo.<br />
Pressão sobre o setor f<strong>um</strong>ageiro: to<strong>da</strong>s percebem<br />
essa pressão, porém utilizam <strong>de</strong>stratégias<br />
diferencia<strong>da</strong>s para tratá-la: trabalho conjunto do<br />
setor, divulgação <strong>de</strong> ações, ações conjuntas, apri<br />
moramento <strong>de</strong> projetos e ações e transparência com<br />
públicos.<br />
Relação entre sustentabildia<strong>de</strong> e RS: visão<br />
compartilha<strong>da</strong> <strong>de</strong> que, a partir <strong>da</strong> adoção <strong>da</strong> RS,<br />
chega-se à sustentabili<strong>da</strong><strong>de</strong>. Conseqüência <strong>da</strong><br />
atuação socialmente responsável <strong>da</strong> empresa junto<br />
às partes relaciona<strong>da</strong>s.<br />
Tendências: foco <strong>de</strong> expectativa em relação à<br />
importância, continui<strong>da</strong><strong>de</strong>, ampliação e<br />
aprimoramento <strong>de</strong> ações existentes; engajamento<br />
maior do setor para atuação em parceria.<br />
Aprimoramento e melhoria <strong>da</strong> gestão <strong>da</strong> RS, com<br />
ênfase para avaliação <strong>de</strong> <strong>de</strong>sempenho e<br />
direcionamento estratégico <strong>da</strong> empresa em prol <strong>da</strong><br />
RS. Qualificação <strong>da</strong>s ações e necessi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>um</strong><br />
engajamento coletivo para aten<strong>de</strong>r as novas<br />
<strong>de</strong>man<strong>da</strong>s sociais, exigindo mu<strong>da</strong>nças em relação a<br />
ações projetos socioambientais.<br />
stakehol<strong>de</strong>rs.<br />
O diálogo com os stakehol<strong>de</strong>rs é <strong>um</strong>a oportuni<strong>da</strong><strong>de</strong><br />
para a construção <strong>de</strong> <strong>um</strong> novo mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> negócio,<br />
baseado na ética e na transparência.<br />
(FREEMAN, 1984; MELO NETO e FROES, 1999;<br />
RODRIGUES, 2004; SAVITZ, 2007; STROBEL,<br />
2005)<br />
DESAFIOS E TENDÊNCIAS NA RS:<br />
As iniciativas e práticas sociais vêm sendo percebi<strong>da</strong>s<br />
pelos cons<strong>um</strong>idores.<br />
As empresas precisam compreen<strong>de</strong>r as dinâmicas e<br />
políticas sociais que têm influência sobre suas<br />
ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s.<br />
Os novos tempos trazem <strong>um</strong>a postura rígi<strong>da</strong> dos<br />
clientes exigindo organizações <strong>de</strong> gestão ética.<br />
A RS remete a <strong>um</strong>a socie<strong>da</strong><strong>de</strong> sustentável.<br />
O avanço <strong>da</strong> RS requer <strong>um</strong> entendimento amplo <strong>da</strong><br />
inter-relação <strong>da</strong> empresa com a socie<strong>da</strong><strong>de</strong> e, ao mesmo<br />
tempo, ancorá-la nas estratégias específicas e ativi<strong>da</strong><strong>de</strong><br />
<strong>de</strong> empresas específicas.<br />
É preciso ultrapassar a visão <strong>da</strong>s empresas como<br />
origem e centro <strong>da</strong> RS.<br />
Há três on<strong>da</strong>s na gestão <strong>da</strong> RS: filantropia,<br />
investimento social ou responsabili<strong>da</strong><strong>de</strong> social<br />
empresarial.<br />
(ALMEIDA, 2007; ASHLEY, 2002; BUFARA e<br />
PEREIRA, 2003; PORTER e KRAMER, 2006;<br />
SHOMER e ROCHA, 2007; TACHIZAWA, 2002)<br />
Quadro6: Res<strong>um</strong>o comparativo entre resultados <strong>da</strong> pesquisa, visão acadêmica e conclusões<br />
Fonte: A<strong>da</strong>ptado <strong>de</strong> BACKES (2008, p. 198-201)<br />
Indicadores para avaliar o relacionamento com os<br />
públicos permitem <strong>um</strong> melhor diálogo.<br />
Ao diagnosticar as expectativas e traduzi-las em<br />
indicadores, é possível avaliar constantemente o<br />
diálogo com os públicos.<br />
A cobrança <strong>da</strong> socie<strong>da</strong><strong>de</strong> por ética, transparência e boa<br />
conduta está crescendo e as empresas são chama<strong>da</strong>s a<br />
ass<strong>um</strong>ir esse compromisso.<br />
Diante <strong>da</strong> pressão existente sobre o setor f<strong>um</strong>ageiro, a<br />
atuação social precisa ser ain<strong>da</strong> mais consoli<strong>da</strong><strong>da</strong>.<br />
Como estratégia <strong>de</strong> sustentabili<strong>da</strong><strong>de</strong>, a ação pró-ativa<br />
<strong>da</strong>s empresas é <strong>um</strong>a estratégia <strong>de</strong> sobrevivência diante<br />
<strong>de</strong> <strong>um</strong> mercado futuro que ten<strong>de</strong> a diminuir nos<br />
próximos anos.<br />
Não há como ignorar a percepção do mercado sobre o<br />
impacto do produto. A atuação conjunta e engaja<strong>da</strong> no<br />
setor em <strong>de</strong>man<strong>da</strong>s e problemáticas sócio-ambientais<br />
po<strong>de</strong> trazer melhores resultados.<br />
Os relatos <strong>da</strong>s empresas apontam para a necessi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong><br />
<strong>um</strong>a ação engaja<strong>da</strong> do setor nas temáticas sociais. Deve<br />
envolver os stakehol<strong>de</strong>rs e suas expectativas e<br />
<strong>de</strong>man<strong>da</strong>s. Uma gestão integra<strong>da</strong> do setor nas<br />
porblemáticas sociais comuns ao setor trará resultados<br />
mais efetivos em relação à gestão <strong>da</strong> responsabildia<strong>de</strong><br />
social <strong>de</strong> ca<strong>da</strong> <strong>um</strong>a <strong>da</strong>s empresas e ao setor como <strong>um</strong><br />
todo.<br />
13
8. Conclusão<br />
Tratando-se <strong>de</strong> setores críticos como o tabagista, foco <strong>de</strong>sse estudo, a gestão social gera<br />
controvérsias. A polêmica está justamente em discutir esse tema n<strong>um</strong> setor que, por diversos<br />
aspectos <strong>da</strong> ca<strong>de</strong>ia produtiva e pelo produto final em si, contradiz muitos dos princípios<br />
básicos que norteiam a responsabili<strong>da</strong><strong>de</strong> social. Isso porque, embora até então não se tenha<br />
<strong>um</strong>a <strong>de</strong>finição única, a melhoria <strong>da</strong> quali<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> vi<strong>da</strong> é <strong>um</strong> dos aspectos <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> relevância<br />
na responsabili<strong>da</strong><strong>de</strong> social <strong>da</strong>s empresas.<br />
Neste contexto, <strong>de</strong>ve-se confrontar o impacto e contribuição <strong>da</strong>s empresas no cenário sócioeconômico<br />
e <strong>de</strong> outro, a crítica e cobrança sobre <strong>um</strong> setor extremamente polêmico. Devido ao<br />
produto final gerado – cigarro – e também problemas com relação à mão-<strong>de</strong>-obra infantil e<br />
manuseio <strong>de</strong> produtos agrotóxicos ao longo <strong>da</strong> ca<strong>de</strong>ia produtiva, a pressão e cobrança sobre o<br />
setor tem a<strong>um</strong>entando. Ou seja, trata-se <strong>de</strong> <strong>um</strong> setor polêmico, criticado pela socie<strong>da</strong><strong>de</strong> em<br />
geral, tanto no cenário nacional como internacional. Assim, nesse segmento, a questão social<br />
se contradiz. No entanto, o objetivo <strong>de</strong>ste estudo não foi discutir os paradoxos presentes no<br />
segmento quando se trata <strong>de</strong> RS. O foco foi analisar a gestão social <strong>de</strong> indústrias<br />
beneficiadoras <strong>de</strong> tabaco, que há alg<strong>um</strong> tempo vem investindo nessa abor<strong>da</strong>gem<br />
Como conclusão <strong>da</strong> pesquisa, percebeu-se que, assim como na aca<strong>de</strong>mia, as empresas<br />
possuem entendimentos diferentes para a responsabili<strong>da</strong><strong>de</strong> social. Com relação a outros temas<br />
relacionados à gestão social, diferente <strong>da</strong> visão <strong>de</strong> pesquisadores, há equívocos em alguns<br />
casos, ao associar sustentabili<strong>da</strong><strong>de</strong> apenas às questões ambientais e ao utilizar o marketing<br />
social como ferramenta <strong>de</strong> divulgação <strong>de</strong> ações e programas sociais. Na condução <strong>da</strong> gestão<br />
social, embora inseri<strong>da</strong> no planejamento estratégico, ela tem caráter operacional nas<br />
organizações pesquisa<strong>da</strong>s. Está enquadra<strong>da</strong> geralmente na área <strong>de</strong> recursos h<strong>um</strong>anos e a<br />
própria ênfase <strong>da</strong> gestão social está no público interno, embora com alg<strong>um</strong>as controvérsias,<br />
principalmente nas políticas <strong>de</strong> contratação <strong>de</strong>monstra<strong>da</strong>s por meio <strong>de</strong> números levantados na<br />
pesquisa. Sabe-se que esse direcionamento é o primeiro passo para qualquer organização que<br />
queira a<strong>de</strong>rir a <strong>um</strong>a gestão socialmente responsável. No entanto, o relacionamento com os<br />
<strong>de</strong>mais públicos requer <strong>um</strong>a ação mais pró-ativa e comprometi<strong>da</strong>, <strong>de</strong>monstrando a evolução e<br />
maturi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong> gestão social, questão essa carente nas empresas investiga<strong>da</strong>s.<br />
No que diz respeito às auditorias e medição <strong>de</strong> impacto, elas estão vincula<strong>da</strong>s às normas<br />
certificadoras, <strong>de</strong>monstrando não ser <strong>um</strong> processo voluntário. A transparência ain<strong>da</strong> requer<br />
aprimoramento consi<strong>de</strong>rando os meios utilizados para <strong>de</strong>monstrá-la, atrelados aos relatórios<br />
<strong>de</strong> gestão. O próprio posicionamento <strong>da</strong>s empresas para participar <strong>de</strong>ste estudo contradiz sua<br />
política <strong>de</strong> transparência. Para monitoramento e avaliação <strong>da</strong> RS, os indicadores e normas<br />
disponíveis são conhecidos pelas empresas. No entanto, apenas o Balanço <strong>Social</strong>, os<br />
Indicadores Ethos e as Normas OHSAS 18001 e SA 8000 são utilizados. Com relação às<br />
diretrizes e princípios globais, conclui-se que ain<strong>da</strong> não são referenciais <strong>de</strong> gestão social no<br />
contexto investigado. Por fim, diante do cenário competitivo e <strong>da</strong> crescente pressão sobre o<br />
setor f<strong>um</strong>ageiro, as próprias empresas <strong>de</strong>monstraram na pesquisa a necessi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong><br />
aprimoramento <strong>da</strong> gestão social, bem como <strong>um</strong> melhor atendimento <strong>de</strong> <strong>de</strong>man<strong>da</strong>s dos seus<br />
stakehol<strong>de</strong>rs.<br />
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