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um mártir do calvinismo tupiniquim: pedro poti - UTP

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se, como, diz Cristina Pompa, “as alianças e os conflitos que compõem as estratégias<br />

indígenas de sobrevivência e defesa de seus interesses políticos e territoriais”. 4 Tais cartas<br />

constituem, também, <strong>um</strong>a clara demonstração de que os regentes <strong>poti</strong>guaras utilizaram<br />

suas habilidades de mestiços culturais nas negociações entre seu povo e os representantes<br />

<strong>do</strong>s poderes europeus. 5 Com efeito, Poti procurava demonstrar ao primo que os benefícios<br />

recebi<strong>do</strong>s (e a receber) por aliarem-se aos neerlandeses eram (e seriam) melhores <strong>do</strong> que<br />

se manter “sob <strong>um</strong>a nação que nunca tratou de outra cousa senão de nos escravizar”. 6 A<br />

convicção de Poti, de que estar <strong>do</strong> la<strong>do</strong> <strong>do</strong>s neerlandeses era (e seria) melhor para a nação<br />

Potiguar transborda por to<strong>do</strong> o texto da carta: “Estou bem aqui e nada me falta; vivemos<br />

mais livremente <strong>do</strong> que qualquer de vós (..)” que por to<strong>do</strong> o “país se encontram (...)<br />

escraviza<strong>do</strong>s pelos perversos portugueses, e muitos ainda o estariam, si eu não os<br />

houvesse liberta<strong>do</strong>.” 7 Entre ameaças, convites e acusações de ambas as partes, as cartas<br />

trocadas deixam entrever a estreita ligação entre fé e nação, igreja e esta<strong>do</strong> também para<br />

estes índios. De mo<strong>do</strong> que Felipe Camarão lembrava a Poti: “não sabeis que sois cristão?<br />

por que vos quereis perverter? Sois <strong>um</strong> filho de nosso Deus, por que quereis estar sob o<br />

ímpio?” 8 Venha para o nosso la<strong>do</strong>, escrevia a Poti o seu primo católico, antes que “perca a<br />

alma e o corpo”. 9 Adertência temporal e espiritual, portanto. Poti, que convertera-se à fé<br />

reformada ainda em Amsterdã, entre os anos 1625 e 1630, respondeu-lhe: Sou cristão e<br />

melhor <strong>do</strong> que vós: “creio só em Cristo, sem macular a religião com i<strong>do</strong>latria, como fazeis<br />

com a vossa. Aprendi a Religião Cristã e a pratico diariamente”. 10 E concluía garanti<strong>do</strong> ao<br />

primo que, se ele também tivesse si<strong>do</strong> ensina<strong>do</strong> na fé reformada, também de corpo e alma<br />

tomaria o parti<strong>do</strong> <strong>do</strong>s holandeses. 11 Observa-se, aqui, a apreensão e o uso de conceitos<br />

cristãos por parte <strong>do</strong>s índios. Sobre esses mesmos <strong>do</strong>c<strong>um</strong>entos, Pompa afirma que as<br />

cartas “são <strong>um</strong> testemunho precioso da inserção <strong>do</strong>s índios no mun<strong>do</strong> colonial, em<br />

condições de igualdade política”; 12 a meu ver, elas testemunham também a apreensão de<br />

senti<strong>do</strong> e a instr<strong>um</strong>entação, por partes destes índios acultura<strong>do</strong>s, de conceitos cristãos em<br />

suas mútuas tentativas de persuasão. Objetivo: historicizar, a partir da análise da trajetória<br />

de vida de Pedro Poti, índio da nação <strong>poti</strong>guar, a problemática conversão ao protestantismo<br />

por parte de índios no Brasil holandês. Através <strong>do</strong>s fragmentos que nos restaram dessa vida<br />

“exemplar”, várias questões podem ser colocadas e desenvolvidas: as motivações que os<br />

impulsionaram em direção ao <strong>calvinismo</strong>; as implicações, repercussões e desfechos de seu<br />

trânsito religioso no contexto mais envolvente da dinâmica <strong>do</strong>s conflitos coloniais.<br />

Resulta<strong>do</strong>s espera<strong>do</strong>s: Trazer a l<strong>um</strong>e os índios calvinistas no Brasil holandês; recuperar a<br />

imagem algo pálida <strong>do</strong>s índios calvinistas: quem eram eles? Eram crentes sinceros ou sua<br />

conversão representava apenas <strong>um</strong>a segunda demão de “verniz” religioso por sobre <strong>um</strong>a<br />

primeira mão aplicada pelos católicos? E qual o seu papel como media<strong>do</strong>res culturais?<br />

Atividades desenvolvidas: pesquisa <strong>do</strong>c<strong>um</strong>ental e bibliográfica.<br />

Palavras-chave: índios; Calvinismo; conflitos coloniais.<br />

4 POMPA, Cristina. Religião como tradução: missionários, Tupi e “Tapuia” no Brasil colonial. Bauru: EDUSC, 2003.<br />

p. 208.<br />

5 MEUWESE, p. 195.<br />

6 MAIOR, Pedro Souto. Fastos Pernambucanos. In: RIHGB. Tomo LXXV. Imprensa Nacional: Rio de Janeiro, 1913. Relatório<br />

de Gerritsz Resenlaer. In: ABNRJ v.XXIX, 1907. p. 407.<br />

7 ibid., p. 408.<br />

8 ibid., p. 403.<br />

9 ibid., p. 404.<br />

10 ibid., p. 409.<br />

11 ibid.<br />

12 POMPA, Religião como tradução, op. cit., p. 209.

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