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Valores Normais de Medidas Ecocardiográficas. Um Estudo de ...

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Arq Bras Cardiol<br />

volume 75, (nº 2), 2000<br />

Objetivo – Descrever as medidas ecocardiográficas e a<br />

massa ventricular esquerda em uma amostra representativa da<br />

população sadia <strong>de</strong> adultos da região urbana <strong>de</strong> Porto Alegre.<br />

Métodos - Realizou-se um estudo observacional, <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>lineamento transversal e <strong>de</strong> base populacional. Em<br />

amostragem por estágios múltiplos, selecionaram-se 114<br />

indivíduos para a realização do ecocardiograma uni e<br />

bidimensional com Doppler a cores. As análises se restringiram<br />

aos participantes hígidos, especialmente quanto<br />

a patologias do sistema cardiovascular. As medidas<br />

ecocardiográficas foram <strong>de</strong>scritas por média, <strong>de</strong>svio padrão,<br />

percentis e intervalo <strong>de</strong> confiança <strong>de</strong> 95%.<br />

Resultados - <strong>Um</strong> total <strong>de</strong> 100 participantes, similares em<br />

várias características à população <strong>de</strong> origem, realizaram o<br />

ecocardiograma. As dimensões da aorta, átrio esquerdo, septo<br />

interventricular, ventrículo esquerdo em sístole e díastole, pare<strong>de</strong><br />

posterior e massa ventricular esquerda, corrigida ou não<br />

pela área <strong>de</strong> superfície corporal e pela altura, foram significativamente<br />

superiores no sexo masculino. A dimensão do<br />

ventrículo direito foi semelhante em ambos os sexos. Muitas<br />

medidas ecocardiográficas estão <strong>de</strong>ntro dos valores <strong>de</strong> referência,<br />

mas septo interventricular, pare<strong>de</strong> posterior, massa<br />

ventricular esquerda, corrigida ou não para medidas antropométricas,<br />

e dimensões aórticas apresentaram média e amplitu<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> valores inferiores aos da literatura <strong>de</strong> referência.<br />

Conclusão - As médias e estimativas <strong>de</strong> distribuição<br />

para as dimensões <strong>de</strong> septo interventricular, pare<strong>de</strong> posterior<br />

<strong>de</strong> ventrículo esquerdo e massa ventricular esquerda encontradas<br />

neste estudo foram inferiores às apontadas pela literatura<br />

<strong>de</strong> referência como <strong>de</strong>limitadoras <strong>de</strong> normalida<strong>de</strong>.<br />

Palavras-chave: ecocardiograma, valores normais<br />

Hospital <strong>de</strong> Clínicas <strong>de</strong> Porto Alegre da Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral do Rio Gran<strong>de</strong> do Sul<br />

Correspondência: Flávio Danni Fuchs - Serviço <strong>de</strong> Cardiologia - Hospital <strong>de</strong> Clínicas<br />

<strong>de</strong> Porto Alegre – Rua Ramiro Barcelos, 2350 - 90035-003 - Porto Alegre – RS<br />

E-mail: ffuchs@hcpa.ufrgs.br<br />

Recebido para publicação em 26/11/99<br />

Aceito em 5/1/2000<br />

Schvartzman e cols<br />

<strong>Valores</strong> normais <strong>de</strong> medidas ecocardiográficas<br />

Paulo Roberto Schvartzman, Flávio Danni Fuchs, Alex Gules Mello, Maikel Coli, Mario Schvartzman,<br />

Leila Beltrami Moreira<br />

Porto Alegre, RS<br />

Arq Bras Cardiol, volume 75 (nº 2), 107-110, 2000<br />

Artigo Original<br />

<strong>Valores</strong> <strong>Normais</strong> <strong>de</strong> <strong>Medidas</strong> <strong>Ecocardiográficas</strong>. <strong>Um</strong> <strong>Estudo</strong><br />

<strong>de</strong> Base Populacional<br />

Os valores normais para medidas ecocardiográficas<br />

estão consolidados em livros textos 1 , mas sua origem é heterogênea<br />

e por vezes inconsistente. Algumas investigações<br />

originais apresentam valores obtidos em indivíduos<br />

encaminhados para exame por suspeita <strong>de</strong> lesão cardíaca<br />

não confirmada 2,3 . Esses indivíduos po<strong>de</strong>m estar livres <strong>de</strong><br />

doença cardiovascular <strong>de</strong>tectável pelo ecocardiograma, porém<br />

não representam a população <strong>de</strong> normais. Outros trabalhos<br />

não apontam a origem da amostra ou utilizam familiares<br />

<strong>de</strong> pacientes ou funcionários do hospital para <strong>de</strong>terminar<br />

valores normais 4 .<br />

Os valores ecocardiográficos representativos <strong>de</strong> uma<br />

população <strong>de</strong>veriam provir <strong>de</strong> uma amostra aleatória da população,<br />

não hospitalizada e assintomática. Nenhum estudo<br />

estabeleceu parâmetros <strong>de</strong> normalida<strong>de</strong> no Brasil, valendose<br />

<strong>de</strong> amostras representativas <strong>de</strong> adultos livres <strong>de</strong> doença<br />

cardiovascular. Na literatura internacional, há relatos <strong>de</strong><br />

valores normais das dimensões, função e massa do ventrículo<br />

esquerdo. No entanto os padrões <strong>de</strong> normalida<strong>de</strong> utilizados<br />

em outros países po<strong>de</strong>m não se aplicar ao Brasil 1,5 . Assim, é<br />

<strong>de</strong> pertinência científica e técnica estabelecer valores <strong>de</strong><br />

normalida<strong>de</strong> do ecocardiograma em brasileiros livres <strong>de</strong><br />

doença cardiovascular e que representem a constituição<br />

étnica e social das comunida<strong>de</strong>s.<br />

Neste estudo apresentamos os dados obtidos em uma<br />

amostra representativa dos indivíduos adultos da cida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

Porto Alegre.<br />

Métodos<br />

<strong>Estudo</strong> observacional, analítico, <strong>de</strong> <strong>de</strong>lineamento<br />

transversal e <strong>de</strong> base populacional. O processo <strong>de</strong> amostragem<br />

aleatória proporcional <strong>de</strong>u-se por estágios múltiplos e<br />

por conglomerados, a partir <strong>de</strong> dados do IBGE, relativos ao<br />

censo <strong>de</strong> 1991. Os critérios <strong>de</strong> inclusão <strong>de</strong> entrevistados<br />

foram ter 18 anos completos ou mais e residir no domicílio<br />

sorteado. Entre 1.219 indivíduos sorteados e entrevistados<br />

no domicílio, selecionou-se uma subamostra, por sorteio<br />

simples, para a realização do ecocardiograma uni e bidimensional<br />

com Doppler a cores.<br />

107<br />

107


Schvartzman e cols<br />

<strong>Valores</strong> normais <strong>de</strong> medidas ecocardiográficas<br />

Inicialmente, sortearam-se 10% da amostra <strong>de</strong> base e<br />

mais 10% <strong>de</strong>stes, como substitutos para não comparecimentos,<br />

perfazendo um total <strong>de</strong> 132 indivíduos. Destes,<br />

compareceram 75 indivíduos, correspon<strong>de</strong>ndo a 57% dos<br />

elegíveis. Em substituição e com o intuito <strong>de</strong> manter o tamanho<br />

da amostra proposta, sortearam-se 57 participantes<br />

moradores dos mesmos setores censitários dos ausentes,<br />

dos quais 39 (68%) compareceram. A amostra final foi <strong>de</strong><br />

114 indivíduos. Tanto na 1ª quanto na 2ª fase <strong>de</strong> recrutamento,<br />

proce<strong>de</strong>u-se, seqüencialmente, em convite por carta,<br />

contacto telefônico, se possível, visita domiciliar e oferta <strong>de</strong><br />

custeio <strong>de</strong> <strong>de</strong>spesas para realizar o procedimento.<br />

As análises restringiram-se aos participantes hígidos,<br />

especialmente quanto a doenças do sistema cardiovascular,<br />

com base nos achados <strong>de</strong> anamnese e exame físico. Adicionalmente,<br />

foi excluída doença valvar através <strong>de</strong> avaliação<br />

pelo Doppler. Nenhum participante apresentava história <strong>de</strong><br />

hipertensão arterial sistêmica ou encontrava-se em uso <strong>de</strong><br />

medicação cardiovascular.<br />

O cálculo do tamanho da amostra foi orientado por<br />

estimativas <strong>de</strong> precisão das medidas, ou seja, procurou-se<br />

estudar um número suficiente <strong>de</strong> adultos para que a dispersão<br />

dos dados propiciasse intervalos <strong>de</strong> confiança, razoavelmente<br />

limitados, para estimar com precisão os parâmetros<br />

da população <strong>de</strong> origem. Pela ausência <strong>de</strong> referencial<br />

teórico equivalente (estudos <strong>de</strong> amostragem representativa<br />

<strong>de</strong> comunida<strong>de</strong>s) valeu-se da <strong>de</strong>scrição <strong>de</strong> médias e medidas<br />

<strong>de</strong> dispersão apresentada por estudos que empregaram<br />

amostras sistemáticas, on<strong>de</strong> gran<strong>de</strong> parte <strong>de</strong>sses <strong>de</strong>screve<br />

os parâmetros e associações em amostras <strong>de</strong> aproximadamente<br />

100 indivíduos, um número operacionalmente factível<br />

nesta investigação.<br />

Realizou-se ecocardiograma modo-M orientado pelo<br />

bidimensional nos indivíduos na posição <strong>de</strong> <strong>de</strong>cúbito lateral<br />

esquerda, utilizando aparelho <strong>de</strong> ecocardiograma Aloka<br />

mo<strong>de</strong>lo 870 com transdutor <strong>de</strong> 3,5 MHz e registro concomitante<br />

<strong>de</strong> uma <strong>de</strong>rivação eletrocardiográfica. Três medidas<br />

consecutivas foram realizadas para cada parâmetro ecocardiográfico<br />

no final da expiração, sendo a média utilizada<br />

como o valor do parâmetro. Em todos os pacientes foi utilizada<br />

a janela paraesternal longitudinal esquerda para obtenção<br />

das variáveis em estudo. Todas as medidas ecocardiográficas<br />

foram realizadas <strong>de</strong> acordo com as normas estabelecidas<br />

pela Socieda<strong>de</strong> Americana <strong>de</strong> Ecocardiografia 6 e<br />

com as recomendações propostas por Devereux e cols. 7 .<br />

Aorta, átrio esquerdo, espessura do septo e da pare<strong>de</strong><br />

posterior, ventrículo esquerdo em sístole e diástole e ventrículo<br />

direito foram as variáveis estudadas. Utilizou-se o início<br />

do complexo QRS (primeira <strong>de</strong>flexão) como o local para<br />

realização das medidas do final da diástole e o nadir do movimento<br />

septal para as medidas da dimensão sistólica do<br />

ventrículo esquerdo 6 . Mediram-se as cavida<strong>de</strong>s e pare<strong>de</strong>s<br />

ao nível das cordoalhas em adultos e adolescentes 6 .<br />

A massa ventricular esquerda foi calculada pela da fórmula<br />

<strong>de</strong> Devereux e cols. 7 : massa ventricular esquerda (g)=<br />

0,80x[1,04 {E (ESVd+DdVE+EPPd) 3 -(DdVE) 3 }]+0,6 on<strong>de</strong><br />

ESVd é espessura do septo ventricular em diástole, DdVE é<br />

108<br />

108<br />

Arq Bras Cardiol<br />

volume 75, (nº 2), 2000<br />

diâmetro diastólico do ventrículo esquerdo e EPPd é espessura<br />

da pare<strong>de</strong> posterior em diástole. Foram também aferidos<br />

o peso (quilogramas), altura (centímetros), índice <strong>de</strong> massa<br />

corporal (quilograma por metro quadrado) e área <strong>de</strong> superfície<br />

corporal (calculada pela fórmula: peso 0,425 x altura 0,725<br />

x 72,84/10.000). Outros dados, incluindo consumo <strong>de</strong> etanol<br />

e nível socioeconômico foram coletados por questionário<br />

padronizado.<br />

Os parâmetros aferidos foram <strong>de</strong>scritos através <strong>de</strong> medidas<br />

<strong>de</strong> tendência central (média) e distribuição (<strong>de</strong>svio<br />

padrão, intervalo <strong>de</strong> confiança <strong>de</strong> 95%). As análises foram<br />

feitas tomando-se a amostra global e subamostras estratificadas<br />

por sexo. Os valores <strong>de</strong> P calculados são apresentados<br />

neste trabalho, assumindo-se a significância estatística<br />

quando o P foi menor do que 5%.<br />

Resultados<br />

A amostra <strong>de</strong> origem apresentou distribuição <strong>de</strong> sexo,<br />

ida<strong>de</strong> e outras características <strong>de</strong>mográficas representativas<br />

da população <strong>de</strong> Porto Alegre.<br />

Realizaram-se ecocardiogramas em 114 indivíduos,<br />

sendo 100 em participantes livres <strong>de</strong> doença cardiovascular<br />

ou outras clinicamente evi<strong>de</strong>ntes. Cinqüenta e dois (52%)<br />

eram do sexo feminino e 17 (17%) <strong>de</strong> cor negra. Trinta e nove<br />

(39%) participantes eram fumantes, com consumo diário <strong>de</strong><br />

14,6±13,9 cigarros por dia, 11 (11%) ex-fumantes e 50 (50%)<br />

nunca fumaram.<br />

As características dos indivíduos estudados, classificados<br />

por sexo, são apresentadas na tabela I. Ida<strong>de</strong>, índice<br />

<strong>de</strong> massa corporal e pressão arterial sistólica e diastólica<br />

foram semelhantes entre homens e mulheres. Já altura, área<br />

<strong>de</strong> superfície corporal, peso, freqüência cardíaca, consumo<br />

<strong>de</strong> álcool e anos <strong>de</strong> estudos escolares foram significativamente<br />

maiores nos homens. A freqüência cardíaca foi significativamente<br />

maior nas mulheres.<br />

Os registros <strong>de</strong> 11 pacientes foram avaliados por um<br />

segundo ecocardiografista com a finalida<strong>de</strong> <strong>de</strong> avaliar variabilida<strong>de</strong><br />

interobservador. As médias das medidas ecocar-<br />

Tabela I - Caracterização dos indivíduos estudados classificados<br />

por sexo<br />

Características Sexo<br />

Masculino Feminino P<br />

(n=48) (n=52)<br />

Ida<strong>de</strong> (anos) 44,2±14,2 45,1±14,9 0,7<br />

Altura (m) 1,74±8,1 1,61±6,1


Arq Bras Cardiol<br />

volume 75, (nº 2), 2000<br />

diográficas apresentaram uma variabilida<strong>de</strong> inferior a 5% em<br />

todas as variáveis analisadas pelo ecocardiograma.<br />

As medidas ecocardiográficas estão apresentadas,<br />

por sexo, na tabela II, incluindo-se os valores <strong>de</strong> massa<br />

ventricular esquerda corrigidos pela área <strong>de</strong> superfície corporal<br />

e pela altura. As dimensões <strong>de</strong> aorta, átrio esquerdo,<br />

septo interventricular, ventrículo esquerdo em sístole e<br />

díastole, pare<strong>de</strong> posterior e massa ventricular esquerda,<br />

corrigida ou não, foram significativamente superiores nos<br />

homens. A dimensão do ventrículo direito foi semelhante<br />

em ambos os sexos.<br />

Os percentis <strong>de</strong> 5 e 95% dos parâmetros ecocardiográficos<br />

estão apresentados na tabela III.<br />

A massa ventricular esquerda dos participantes <strong>de</strong> cor<br />

branca foi <strong>de</strong> 121,5±34,4g e nos indivíduos <strong>de</strong> cor negra foi<br />

<strong>de</strong> 124,2±33,6g (P=0,77). A massa ventricular corrigida por<br />

altura ou área <strong>de</strong> superfície corporal também não foi estatisticamente<br />

diferente entre brancos e negros (resultados não<br />

apresentados).<br />

Não houve diferença estatisticamente significativa <strong>de</strong><br />

massa ventricular esquerda, absoluta ou corrigida para altura<br />

ou área <strong>de</strong> superfície corporal, entre fumantes atuais, exfumantes<br />

e participantes que nunca fumaram.<br />

Discussão<br />

<strong>Estudo</strong>s que objetivam <strong>de</strong>finir valores <strong>de</strong> referência<br />

<strong>de</strong>vem <strong>de</strong>screver a população investigada e os critérios <strong>de</strong><br />

amostragem. A maioria absoluta dos estudos <strong>de</strong> referência<br />

<strong>de</strong> valores <strong>de</strong> normalida<strong>de</strong> para medidas ecocardiográficas<br />

carece <strong>de</strong>ssas informações. <strong>Valores</strong> <strong>de</strong> referência para variáveis<br />

ecocardiográficas <strong>de</strong>vem originar-se <strong>de</strong> uma amostra<br />

populacional representativa dos habitantes livres <strong>de</strong> doença<br />

cardiovascular ou outras clinicamente relevantes para o<br />

parâmetro <strong>de</strong> interesse. Muitos estudos não especificam a<br />

origem da amostra estudada ou utilizam familiares <strong>de</strong> pacientes,<br />

funcionários voluntários ou indivíduos cujo ecocardiograma<br />

foi interpretado como normal 2-4,8,9 . Os critérios<br />

<strong>de</strong> amostragem da presente investigação diferenciam-na <strong>de</strong><br />

Schvartzman e cols<br />

<strong>Valores</strong> normais <strong>de</strong> medidas ecocardiográficas<br />

gran<strong>de</strong> parte da literatura, pois privilegiaram a possibilida<strong>de</strong><br />

probabilística equivalente <strong>de</strong> os adultos habitantes <strong>de</strong> Porto<br />

Alegre serem selecionados para o estudo.<br />

A influência da substituição <strong>de</strong> alguns nomeados que<br />

não compareceram por substitutos não pô<strong>de</strong> ser diretamente<br />

aferida. Consi<strong>de</strong>rando-se que a proporção <strong>de</strong> faltantes<br />

na primeira convocação foi relativamente pequena e<br />

que os substitutos foram buscados na mesma região, <strong>de</strong>finida<br />

geograficamente e por nível socioeconômico, supõe-se<br />

que não tenha ocorrido viés <strong>de</strong> seleção. A amostra estudada<br />

permitiu que as estimativas populacionais dos parâmetros<br />

aferidos tivessem pequena dispersão, como po<strong>de</strong> se ver<br />

pelos intervalos <strong>de</strong> confiança <strong>de</strong> 95% calculados.<br />

Dificulda<strong>de</strong>s para obtenção <strong>de</strong> imagens ecocardiográficas<br />

aceitáveis ocorreram em 5% dos participantes, tendo<br />

sido excluídos. Savage e cols. 10 estudaram esse problema em<br />

6.148 homens e mulheres do estudo <strong>de</strong> Framingham com ida<strong>de</strong><br />

entre 17-90 anos. Obtiveram imagens passíveis <strong>de</strong> avaliação<br />

em 80% dos casos, atingindo 97% para pacientes com<br />

faixa etária mais baixa. Obesida<strong>de</strong>, capacida<strong>de</strong> pulmonar dimi-<br />

Tabela II - <strong>Medidas</strong> ecocardiográficas em homens e mulheres (média ± DP e intervalo <strong>de</strong> confiança <strong>de</strong> 95%)<br />

Características Sexo Sexo<br />

Masculino Feminino P<br />

(n=48) (n=52)<br />

Aorta (mm) 3,1±0,3 (3,0-3,2) 2,8±0,4 (2,7-2,9)


Schvartzman e cols<br />

<strong>Valores</strong> normais <strong>de</strong> medidas ecocardiográficas<br />

nuída e doença cardiovascular estavam associadas com<br />

ecocardiogramas inaceitáveis, in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntemente da ida<strong>de</strong>.<br />

A análise <strong>de</strong> confiabilida<strong>de</strong> interobservadores no presente<br />

estudo <strong>de</strong>monstrou que os dois ecocardiografistas<br />

que analisaram os mesmos exames não diferiam, relevantemente,<br />

quanto às estimativas <strong>de</strong> dimensão e função. A dispersão<br />

<strong>de</strong> valores encontra-se <strong>de</strong>ntro dos parâmetros referidos<br />

na literatura 11 .<br />

As diferenças entre os valores <strong>de</strong> parâmetros ecocardiográficos<br />

encontradas na presente investigação e os <strong>de</strong><br />

referência na literatura são chamativas, tais como espessura<br />

do septo e da pare<strong>de</strong> posterior e dimensões aórticas. Por<br />

conseqüência das medidas do septo e da pare<strong>de</strong> posterior, a<br />

massa ventricular esquerda, isoladamente ou corrigida para<br />

área <strong>de</strong> superfície corporal ou altura, também foi inferior aos<br />

valores <strong>de</strong> referência. O limite <strong>de</strong> normalida<strong>de</strong>, <strong>de</strong>finido pelo<br />

percentil <strong>de</strong> 95%, seria <strong>de</strong> 1,0cm para septo e pare<strong>de</strong> posterior,<br />

contrariamente ao valor <strong>de</strong> 1,1cm apontado por livro<br />

texto 1 . As médias para esses parâmetros também diferiram<br />

entre os achados nesta investigação e os referidos na literatura<br />

2,3,5,8,9,12 . As diferenças têm maior magnitu<strong>de</strong> se, para <strong>de</strong>finir<br />

normalida<strong>de</strong>, for utilizado o intervalo <strong>de</strong> confiança <strong>de</strong><br />

95% como estimativa <strong>de</strong> valores plausíveis para os achados<br />

populacionais. Outras medidas ecocardiográficas encontradas<br />

estão <strong>de</strong>ntro dos valores <strong>de</strong> referência da literatura<br />

internacional 2-5,8,9,12 . Pelo menos um estudo brasileiro formalmente<br />

publicado, baseando-se em amostra <strong>de</strong> 32 funcionários<br />

<strong>de</strong> um hospital, apresentou valores semelhantes ao<br />

presente estudo 4 . Parte das diferenças encontradas po<strong>de</strong>m<br />

ser <strong>de</strong>vidas ao emprego <strong>de</strong> fórmulas diversas para cálculo<br />

da massa ventricular esquerda. Primeiramente utilizou-se o<br />

método <strong>de</strong> Penn, que excluiu a interface endocárdica das<br />

espessuras parietais e a incluiu nas dimensões das cavida<strong>de</strong>s.<br />

A Socieda<strong>de</strong> Norte-Americana <strong>de</strong> Ecocardiografia recomenda<br />

a realização das medidas com utilização do ecocardiograma<br />

mais externo (leading to leading edge) 6 . Porém,<br />

1. Feigenbaum H. Echocardiography. 5 th Edition ed. Phila<strong>de</strong>lphia: Lea & Febiger;<br />

1993.<br />

2. Trivedi S, Gupta O, Jain A, et al. Left ventricular M-mo<strong>de</strong> echocardiographic<br />

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3. Knutsen K, Stugaard M, Michelsen S, et al. M-mo<strong>de</strong> echocardiographic findings<br />

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methods. Circulation 1978; 58: 1072-83.<br />

110<br />

110<br />

Referências<br />

Arq Bras Cardiol<br />

volume 75, (nº 2), 2000<br />

como isto resulta em superestimação sistemática da massa<br />

ventricular esquerda avaliada por necropsia, é necessário<br />

corrigir os valores encontrados por um fator <strong>de</strong>rivado <strong>de</strong><br />

estudos anatômicos post-mortem 7 .<br />

As mesmas razões po<strong>de</strong>m explicar parte das discrepâncias<br />

entre os valores <strong>de</strong> massa ventricular esquerda fornecidos<br />

pelos aparelhos <strong>de</strong> ecocardiografia e os presentes achados.<br />

Por exemplo, no aparelho utilizado na presente investigação,<br />

a fórmula para cálculo contida no programa é a <strong>de</strong> Penn.<br />

Mesmo com diferentes fórmulas, persistem diferenças<br />

aparentemente inexplicáveis. As únicas consistentes, assumindo-se<br />

que os exames foram realizados com rigor técnico<br />

e segundo normas internacionais 6 , é <strong>de</strong> que <strong>de</strong>corram dos<br />

critérios <strong>de</strong> amostragem utilizados ou da própria população<br />

<strong>de</strong> origem. A primeira explicação é mais plausível, dado ser a<br />

constituição étnica dos habitantes <strong>de</strong> Porto Alegre similar à<br />

<strong>de</strong> países europeus e norte-americanos. Eventuais diferenças<br />

antropométricas po<strong>de</strong>riam explicar somente as diferenças<br />

absolutas entre as dimensões referidas.<br />

A menor dimensão da aorta também <strong>de</strong>stacou-se em<br />

relação aos valores <strong>de</strong> referência. Novamente, restam como<br />

melhor explicação disponível para a discrepância entre os<br />

valores encontrados e os valores <strong>de</strong> referência internacionais,<br />

os diferentes critérios <strong>de</strong> amostragem.<br />

Em conclusão, os achados <strong>de</strong>sta investigação permitiram<br />

concluir que, em adultos da região urbana <strong>de</strong> Porto Alegre,<br />

as médias e estimativas <strong>de</strong> distribuição aceitas convencionalmente<br />

como <strong>de</strong>limitadoras <strong>de</strong> normalida<strong>de</strong> para as dimensões<br />

<strong>de</strong> septo interventricular, pare<strong>de</strong> posterior <strong>de</strong> ventrículo<br />

esquerdo e massa ventricular esquerda são inferiores<br />

às apontadas pela literatura <strong>de</strong> referência; a massa ventricular<br />

esquerda é maior em homens, quer em termos absolutos<br />

ou corrigidos para as características antropométricas.<br />

As conseqüências <strong>de</strong>stes achados para a prática clínica<br />

são evi<strong>de</strong>ntes, como, por exemplo, para a estratificação <strong>de</strong><br />

risco em pacientes com hipertensão arterial sistêmica.<br />

7. Devereux R, Alonso D, Lutas E, et al. Echocardiographic assesment of left ventricular<br />

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8. Devereux R, Lutas E, et al. Standardization of M-mo<strong>de</strong> echocardiographic left<br />

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12. Marcus R, Krause L, We<strong>de</strong>r A, et al. Sex-specific <strong>de</strong>terminants of increased left<br />

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928-936.

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