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1 Utilização de Capital de Risco como Fomentador de ... - Anpad

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<strong>Utilização</strong> <strong>de</strong> <strong>Capital</strong> <strong>de</strong> <strong>Risco</strong> <strong>como</strong> <strong>Fomentador</strong> <strong>de</strong> Empresas <strong>de</strong> Base Tecnológica: o<br />

Caso da FK Biotecnologia<br />

Autoria: Felipe Ost Scherer<br />

RESUMO<br />

Um dos gran<strong>de</strong>s <strong>de</strong>safios dos empreen<strong>de</strong>dores é buscar recursos para financiar suas gran<strong>de</strong>s<br />

idéias. No mundo e mais recentemente no Brasil, muito se tem falado da importância do<br />

<strong>de</strong>senvolvimento da indústria <strong>de</strong> capital <strong>de</strong> risco <strong>como</strong> fonte <strong>de</strong> recursos para financiar<br />

empresas <strong>de</strong> base tecnológica. O objetivo <strong>de</strong>sse trabalho é ressaltar a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> se<br />

fomentar a indústria <strong>de</strong> capital <strong>de</strong> risco <strong>como</strong> um todo, não apenas os investidores formais<br />

<strong>como</strong> tem sido feito até agora no Brasil. Para alcançar o objetivo proposto, utiliza-se o<br />

estudo <strong>de</strong> caso <strong>de</strong> uma empresa <strong>de</strong> biotecnologia na qual verificam-se os papéis<br />

<strong>de</strong>sempenhados pelos investidores informais e os capitalistas <strong>de</strong> risco formais no crescimento<br />

da mesma. Após a análise dos resultados, propõem-se algumas ações a serem tomadas por<br />

<strong>de</strong>corrência do estudo.<br />

INTRODUÇÃO<br />

No paradigma técnico-econômico atual baseado em conhecimento, velocida<strong>de</strong> e<br />

mudança, qualquer país que vise manter-se ou tornar-se competitivo <strong>de</strong>ve fomentar o<br />

<strong>de</strong>senvolvimento tecnológico <strong>de</strong> suas empresas e criar um ambiente favorável à inovação.<br />

Nesse sentido, a ativida<strong>de</strong> empreen<strong>de</strong>dora do capital humano <strong>de</strong> uma nação <strong>de</strong>sempenha papel<br />

primordial, pois é através das chamadas empresas <strong>de</strong> base tecnológica (EBTs) que o<br />

<strong>de</strong>senvolvimento científico transforma-se em riqueza.<br />

É preciso, portanto, analisar e enten<strong>de</strong>r profundamente as características particulares<br />

das EBTs para permitir o surgimento e crescimento <strong>de</strong>las. Essas empresas <strong>de</strong>senvolvem<br />

ativida<strong>de</strong>s inovadoras atuando nas mais diversas áreas, tais <strong>como</strong> microeletrônica,<br />

comunicação, nanotecnologia, softwares, biotecnologia e outras, mantendo sempre um<br />

processo contínuo <strong>de</strong> pesquisa e <strong>de</strong>senvolvimento. Segundo Andino et al (2004, p. 4):<br />

“As EBTs se diferenciam <strong>de</strong> outros tipos <strong>de</strong> empresas num primeiro momento porque em<br />

comparação com as gran<strong>de</strong>s corporações, utilizam pouco pessoal e produzem produtos e<br />

serviços com alto valor agregado. Da mesma forma, ten<strong>de</strong>m a relacionar-se com universida<strong>de</strong>s<br />

e centros <strong>de</strong> pesquisa... tendo uma gran<strong>de</strong> proporção <strong>de</strong> pessoal altamente qualificado...”.<br />

Cabe aqui utilizar <strong>como</strong> exemplo, um setor que traduz claramente as peculiarida<strong>de</strong>s<br />

das EBTs: as empresas que utilizam nanotecnologia i . Previsões da agência governamental<br />

americana National Science Foundation (NSF) estimam que o mercado <strong>de</strong> produtos<br />

nanotecnológicos atingirá um trilhão <strong>de</strong> dólares no ano <strong>de</strong> 2015. Entretanto, o<br />

<strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong>ssa tecnologia é algo difícil e custoso. Praticamente todos os países<br />

industrializados e diversos outros em <strong>de</strong>senvolvimento criaram programas <strong>de</strong> incentivos à<br />

pesquisa e criação <strong>de</strong> empresas que utilizem nanotecnologia. Segundo Braunschweig (2003),<br />

uma empresa <strong>de</strong> nanotecnologia po<strong>de</strong> <strong>de</strong>mandar a fusão <strong>de</strong> mentes brilhantes em diversas<br />

áreas <strong>de</strong> conhecimento, tais <strong>como</strong> biologia, química, engenharia e física. Atualmente, essas<br />

empresas possuem milhares <strong>de</strong> patentes registradas, mas poucos produtos efetivamente em<br />

escala comercial. Com os chamados nanotubos ii , por exemplo, prevê-se que se possa fazer<br />

uma infinida<strong>de</strong> <strong>de</strong> produtos <strong>de</strong> alto <strong>de</strong>sempenho. O problema é que hoje, essas estruturas não<br />

passam <strong>de</strong> uma fração <strong>de</strong> milímetro com custos elevados <strong>de</strong> fabricação.<br />

1


Percebem-se então, quatro características básicas, que po<strong>de</strong>m ser estendidas a todas<br />

EBTs (SMART et al, 2003):<br />

• Crescimento rápido das empresas que necessitam gran<strong>de</strong>s investimentos em ativos<br />

fixos e capital humano, resultando em provável ausência <strong>de</strong> lucros nos primeiros anos;<br />

• Os ativos mais importantes <strong>de</strong>ssas empresas, não estão representados nos balanços<br />

contábeis, e sim na proprieda<strong>de</strong> intelectual e patentes que possuem;<br />

• Possuem um portfolio <strong>de</strong> produtos com gran<strong>de</strong> potencial, mas que, muitas vezes, ainda<br />

não foram concretamente testados no mercado, o que aumenta o risco envolvido;<br />

• Normalmente os empreen<strong>de</strong>dores não são empresários, e sim pessoas com gran<strong>de</strong>s<br />

conhecimentos e habilida<strong>de</strong>s técnicas, apresentando <strong>de</strong>ficiências quanto às<br />

capacida<strong>de</strong>s gerenciais.<br />

Assim, um dos gran<strong>de</strong>s <strong>de</strong>safios dos empreen<strong>de</strong>dores é buscar recursos para fomentar<br />

suas gran<strong>de</strong>s idéias. Entretanto, há riscos envolvidos nessa busca, <strong>como</strong> alertam Christensen<br />

& Raynor (2003, p. 264):<br />

“Como o processo <strong>de</strong> obtenção <strong>de</strong> financiamento força muitas idéias potencialmente<br />

disruptivas a serem mo<strong>de</strong>ladas, ao contrário, <strong>como</strong> inovadoras sustentadoras, que miram<br />

mercados óbvios <strong>de</strong> gran<strong>de</strong>s volumes, o processo em si <strong>de</strong> levantar dinheiro para iniciar um<br />

empreendimento, já po<strong>de</strong> ser o ponto <strong>de</strong> partida <strong>de</strong> uma trajetória rumo ao fracasso”.<br />

Segundo Shanley (1998), <strong>de</strong>vido o longo lead-time entre os gastos com o<br />

<strong>de</strong>senvolvimento dos projetos <strong>de</strong> pesquisa e os retornos (incertos) com a venda dos produtos<br />

resultantes, impõem-se barreiras na busca por financiamentos. O gran<strong>de</strong> <strong>de</strong>safio a aqueles que<br />

disponibilizam os recursos é criar metodologias confiáveis <strong>de</strong> avaliação e mensuração dos<br />

riscos. É preciso separar o que é apenas uma “boa tecnologia” daquilo que será um gran<strong>de</strong><br />

negócio.<br />

No mundo e mais recentemente no Brasil, muito tem se falado da importância do<br />

<strong>de</strong>senvolvimento da indústria <strong>de</strong> capital <strong>de</strong> risco <strong>como</strong> fonte <strong>de</strong> recursos para EBTs em um<br />

país e <strong>como</strong> essa influencia positivamente a competitivida<strong>de</strong> e também as capacida<strong>de</strong>s<br />

tecnológicas e inovadoras <strong>de</strong> uma nação (KORTUM & LERNER, 1998 e 2000; LERNER,<br />

2002; PAULA et al, 2003a; 2003b; CALAZANS, 2005). De fato, o foco das atenções tem<br />

sido os capitalistas <strong>de</strong> risco formais iii , formados pelas empresas que administram os fundos <strong>de</strong><br />

investimento, <strong>de</strong>ixando uma parcela importante <strong>de</strong> fonte <strong>de</strong> recursos, os chamados capitalistas<br />

<strong>de</strong> risco informais, em segundo plano. A idéia é que a ausência <strong>de</strong> um fluxo consistente <strong>de</strong><br />

aplicações por parte dos investidores informais acaba gerando uma ruptura em um dos elos da<br />

ca<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> financiamento das EBTs. A presença <strong>de</strong>sses investidores <strong>de</strong>sempenha o papel <strong>de</strong><br />

ponte <strong>de</strong> ligação entre a etapa <strong>de</strong> crescimento inicial (normalmente financiada com capital<br />

próprio do empreen<strong>de</strong>dor) com uma fase mais adiantada <strong>de</strong> crescimento da empresa (na qual<br />

os capitalistas <strong>de</strong> risco brasileiro costumam atuar iv ).<br />

Sullivan & Miller (1996, p.25) afirmam que os investidores formais:<br />

“... não preenchem uma parte importante das necessida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> muitos novos negócios. Os<br />

bancos comerciais não são propensos a emprestar aos novos negócios... e os capitalistas <strong>de</strong><br />

risco profissionais preferem firmas novas, mas com algum histórico do que não testadas startups...<br />

Esta importante brecha <strong>de</strong> mercado é preenchida normalmente por indivíduos que... estão<br />

dispostos a investir seus próprios recursos em novos negócios... Estes investidores não<br />

institucionais ou informais... representam a maior fonte <strong>de</strong> capital nos Estados Unidos, assim<br />

<strong>como</strong> no Reino Unido e em outros países industrializados”.<br />

2


Wilson (1995) afirma ter havido uma mudança no foco <strong>de</strong> atuação dos capitalistas <strong>de</strong><br />

risco formais, que agora buscam empreendimentos em etapas mais avançadas, ao invés <strong>de</strong><br />

realmente fomentar as empresas nascentes e que esse papel foi substituído pelos investidores<br />

informais. Ele cita o caso dos Estados Unidos que mantém o fluxo <strong>de</strong> empresas nascentes <strong>de</strong><br />

base tecnológica em função da gran<strong>de</strong> presença dos investidores informais, tais <strong>como</strong> os<br />

anjos.<br />

Assim, o objetivo <strong>de</strong>sse trabalho é ressaltar a importância <strong>de</strong> se fomentar a indústria <strong>de</strong><br />

capital <strong>de</strong> risco <strong>como</strong> um todo, não apenas os investidores formais <strong>como</strong> tem sido feito até<br />

agora no Brasil. Para alcançar o objetivo proposto, o artigo está estruturado da seguinte<br />

forma: inicia-se <strong>de</strong>finindo os diferentes investidores atuantes em empresas <strong>de</strong> base<br />

tecnológica e suas peculiarida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> atuação. Em seguida, faz-se uma relação entre esses<br />

investidores e as etapas <strong>de</strong> crescimento <strong>de</strong> uma EBT, para então revelar a disponibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

recursos <strong>de</strong> investidores informais no Brasil. Através <strong>de</strong> um estudo <strong>de</strong> caso da empresa FK<br />

Biotecnologia, verifica-se <strong>como</strong> os investidores informais, mais precisamente os angels, e os<br />

capitalistas <strong>de</strong> risco formais <strong>de</strong>sempenham papel importante no crescimento <strong>de</strong> uma EBT.<br />

Após a análise dos resultados, propõem-se algumas ações a serem tomadas por <strong>de</strong>corrência do<br />

estudo.<br />

1. REFERENCIAL TEÓRICO<br />

<strong>Capital</strong> <strong>de</strong> risco v é uma prática <strong>de</strong> financiamento <strong>de</strong> longo prazo em que os<br />

investidores assumem uma participação acionária na empresa, po<strong>de</strong>ndo fornecer em troca não<br />

só dinheiro, mas também assistência gerencial, sua re<strong>de</strong> <strong>de</strong> contatos e sua reputação<br />

(KORTUM & LERNER, 1998; SHANLEY, 1998; ALLEN & PERCIVAL, 2000;<br />

HELLMANN & PURI, 2000; SCHMITT JR, 2002; MAHBOUBI & BAGHERI, 2005). Sua<br />

principal vantagem em relação às formas convencionais <strong>de</strong> financiamento é que os<br />

investidores acompanham o crescimento da firma, sem requerer <strong>de</strong>sembolsos nos primeiros<br />

anos do financiamento. O retorno do investimento para o capitalista <strong>de</strong> risco po<strong>de</strong>-se dar<br />

através do lançamento <strong>de</strong> ações da empresa em bolsa <strong>de</strong> valores, venda da sua participação<br />

para outros investidores ou empresas, pela recompra por parte do empreen<strong>de</strong>dor, etc vi .<br />

Esta revisão apresenta aspectos teóricos, permitindo através do conhecimento existente<br />

fazer uma ligação entre o estágio <strong>de</strong> crescimento <strong>de</strong> uma firma com as opções <strong>de</strong><br />

financiamento <strong>de</strong> longo prazo disponíveis. Ressaltam-se também a situação brasileira em<br />

relação à atração <strong>de</strong> investidores informais.<br />

1.1 Investidores em Empresas <strong>de</strong> Base Tecnológica<br />

A maioria dos empreen<strong>de</strong>dores ao iniciarem um negócio utiliza seus próprios recursos.<br />

Sem dúvida, essa é a forma <strong>de</strong> financiamento mais barata disponível, pois o único custo<br />

envolvido é o <strong>de</strong> oportunida<strong>de</strong>, ou seja, caso não estivesse sendo colocado nesse<br />

empreendimento, ele po<strong>de</strong>ria estar investido <strong>de</strong> outras formas, <strong>como</strong> no mercado financeiro,<br />

imobiliário ou qualquer alternativa <strong>de</strong> capitalização. Entretanto, muitas vezes os<br />

empreen<strong>de</strong>dores <strong>de</strong> EBTs, normalmente jovens com gran<strong>de</strong>s idéias e poucos recursos,<br />

precisam recorrer a financiamento <strong>de</strong> terceiros para fomentar seus negócios. Surgem então os<br />

investidores informais, que po<strong>de</strong>m ser os chamados 3 Fs (family, friends and fools vii ) ou os<br />

business angels (anjos).<br />

Na realida<strong>de</strong>, além <strong>de</strong> familiares próximos e amigos, a categoria dos 3 Fs po<strong>de</strong> incluir<br />

colegas <strong>de</strong> trabalho, vizinhos, outros parentes e até organizações não governamentais. Pelo<br />

3


grau <strong>de</strong> confiança existente entre as partes, as taxas <strong>de</strong> retorno esperadas pelo ofertante do<br />

capital não po<strong>de</strong>m ser elevadas (algumas vezes até nulas), uma vez que há nessa transação,<br />

uma forte conotação <strong>de</strong> “dar uma ajuda” ao empreen<strong>de</strong>dor (BYGRAVE, 2005). Percebe-se<br />

isso claramente no gráfico 1, que apresenta as taxas <strong>de</strong> retorno esperadas pelos investidores<br />

informais (estão incluídos os investidores anjos) comparadas com as taxas <strong>de</strong> retorno<br />

esperadas pelos próprios empreen<strong>de</strong>dores.<br />

Gráfico 1 - Taxa <strong>de</strong> retorno esperada por empreen<strong>de</strong>dores e investidores informais<br />

Fonte: Bygrave (2005)<br />

Outra categoria <strong>de</strong> investidor informal são os anjos ou business angels. Conforme<br />

Hellman & Puri (2000), esses investidores são indivíduos <strong>de</strong> consi<strong>de</strong>rável riqueza, que<br />

diversificam parte <strong>de</strong> seus recursos investindo em jovens empresas. Normalmente eles não<br />

possuem uma equipe <strong>de</strong> apoio para supervisão dos investimentos e ten<strong>de</strong>m a investir em áreas<br />

<strong>de</strong> seu conhecimento. Hill & Power (2002) afirmam que muitos angels <strong>de</strong>dicam apenas uma<br />

parte <strong>de</strong> seu tempo para prospectar, investir e monitorar suas aplicações nas empresas. Po<strong>de</strong>m<br />

ser executivos ou empreen<strong>de</strong>dores já aposentados ou empresários <strong>de</strong> sucesso na busca por<br />

diversificar suas aplicações.<br />

O capital anjo é tido <strong>como</strong> “capital semente competente”, pois combina duas formas<br />

<strong>de</strong> capital que são críticas nos estágios iniciais <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> novos negócios: o<br />

capital financeiro e o capital humano <strong>de</strong> investidores individuais experientes. O capital<br />

humano é, por vezes, tão ou mais importante que o financeiro, incluindo importantes ativos<br />

intangíveis constituídos pelo investidor e que são repassados ao novo empreendimento, tais<br />

<strong>como</strong>: seu conhecimento da indústria; seus conhecimentos estratégicos, técnicos e gerenciais;<br />

sua credibilida<strong>de</strong> pessoal e sua re<strong>de</strong> <strong>de</strong> relacionamentos (networking), que abre portas junto a<br />

clientes, parceiros e fornecedores. Cabe ressaltar que <strong>de</strong>vido aos altos riscos envolvidos nesse<br />

tipo <strong>de</strong> investimento, alguns países criaram legislações viii específicas para regular a atuação<br />

dos angels.<br />

Os principais custos e riscos para o empreen<strong>de</strong>dor, envolvidos na captação <strong>de</strong> recursos<br />

<strong>de</strong> investidores informais, estão apresentados no Quadro 1:<br />

4


INVESTIDOR PRINCIPAIS CUSTOS / RISCOS<br />

Business angels - (anjos)<br />

Possível perda <strong>de</strong> agilida<strong>de</strong> na<br />

Sem experiência no<br />

tomada <strong>de</strong> <strong>de</strong>cisão<br />

negócio<br />

Dinheiro não inteligente<br />

Com experiência no Experiência também é cobrada via<br />

negócio<br />

participação acionária<br />

3 F´s (amigos, familia, vizinhos...)<br />

Stress familiar<br />

Amigos e Família<br />

Destruição da amiza<strong>de</strong><br />

Perda <strong>de</strong> prestígio pessoal<br />

Outros<br />

Possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> longos e<br />

complicados processos (justiça)<br />

Quadro 1 – Tipos <strong>de</strong> investidores anjos e o custo do dinheiro<br />

Fonte: Adaptado <strong>de</strong> Eccelera (2005)<br />

Sullivan & Miller (1996) i<strong>de</strong>ntificam três tipos básicos <strong>de</strong> investidores informais: os<br />

que buscam retornos econômicos, os que visam à satisfação pessoal ou reconhecimento e os<br />

investidores altruístas. Segundo eles, claramente eles não se comportam <strong>de</strong> maneira<br />

homogênea, <strong>de</strong> forma que se po<strong>de</strong> segmentá-los em função dos diferentes benefícios que cada<br />

um buscam. Já Landström (1998), afirma que, <strong>de</strong> certa forma, os investidores informais<br />

consi<strong>de</strong>ram-se empreen<strong>de</strong>dores, consi<strong>de</strong>rando-se “co-criadores” do negócio. Além <strong>de</strong><br />

possuírem um processo <strong>de</strong> <strong>de</strong>cisão completamente diferente dos formais, levando em<br />

consi<strong>de</strong>ração alguns fatores emocionais, ao invés <strong>de</strong> apenas indicadores econômicos.<br />

Os capitalistas <strong>de</strong> risco tradicionais, formais ou venture capitalists são investidores<br />

profissionais em tempo integral, atuando através <strong>de</strong> fundos <strong>de</strong> investimentos formados por<br />

recursos <strong>de</strong> terceiros (HELLMAN & PURI, 2000). Segundo Shanley (1998), é um engano<br />

encarar os capitalistas <strong>de</strong> risco simplesmente <strong>como</strong> tomadores <strong>de</strong> risco. Na realida<strong>de</strong>, eles são<br />

pagos para minimizar os riscos envolvidos num investimento <strong>de</strong>ssa natureza. O processo <strong>de</strong><br />

escolha da empresa que receberá os recursos é extremamente rigoroso e po<strong>de</strong> levar bastante<br />

tempo.<br />

Os fundos <strong>de</strong> capital <strong>de</strong> risco po<strong>de</strong>m ser formados por recursos <strong>de</strong> companhias <strong>de</strong><br />

seguro, gran<strong>de</strong>s empresas, agentes governamentais, fundos <strong>de</strong> pensão, bancos e até mesmo <strong>de</strong><br />

pessoas físicas <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> riqueza, Uma vez formados, eles possuem uma equipe completa <strong>de</strong><br />

especialistas que prospectam, avaliam, monitoram e buscam alternativas para o<br />

<strong>de</strong>sinvestimento. Na fase <strong>de</strong> avaliação promovem as chamadas due diligences, visando<br />

conhecer a fundo o potencial <strong>de</strong> cada investimento, um dos motivos pelo qual, ten<strong>de</strong>m a ter<br />

resultados mais positivos do que os investidores informais (GOMPERS & LERNER, 2001).<br />

Para reduzir a exposição ao risco, promovem os investimentos em etapas, alocando os<br />

recursos conforme o atendimento dos objetivos (SMART et al, 2003).<br />

Finalmente, o governo exerce também papel importante para financiamento <strong>de</strong><br />

empresas <strong>de</strong> base tecnológica. Lerner (1999) em seu trabalho analisa o impacto positivo da<br />

atuação do governo <strong>como</strong> capitalista <strong>de</strong> risco nos Estados Unidos.<br />

Uma vez i<strong>de</strong>ntificados os principais investidores, é necessário relacionar sua atuação<br />

com as etapas <strong>de</strong> crescimento <strong>de</strong> uma EBT. Esse cruzamento é feito a seguir.<br />

1.2 Estágio <strong>de</strong> Crescimento da Empresa e as Formas <strong>de</strong> Financiamento <strong>de</strong> Longo Prazo<br />

Disponíveis<br />

5


Os diferentes investidores em EBTs apresentados apóiam empreendimentos em<br />

diferentes estágios <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento, conforme as características <strong>de</strong> cada uma das fases.<br />

Não existe uma fronteira rígida que <strong>de</strong>limite a atuação <strong>de</strong> cada um <strong>de</strong>les, na prática os limites<br />

se sobrepõe conforme a figura 1. As etapas pela quais uma EBT passa durante seu ciclo <strong>de</strong><br />

vida po<strong>de</strong>m ser separadas <strong>de</strong> forma esquemática em: incubação, start-up, expansão e<br />

maturida<strong>de</strong> (ALLEN & PERCIVAL, 2000; HELLMANN & PURI, 2000; HILL & POWER,<br />

2001; SCHMITT JR, 2002; PAULA et al, 2003b; CALAZANS, 2005; GARRETON, 2005).<br />

Figura 1 – Fonte <strong>de</strong> recursos disponíveis nas diferentes etapas <strong>de</strong> uma EBT<br />

Fonte: Elaborado pelo autor<br />

A etapa <strong>de</strong> incubação ou semente é caracterizada pela concepção do negócio, na qual a<br />

partir da idéia inicial são feitos os estudos <strong>de</strong> viabilida<strong>de</strong>, as pesquisas e o <strong>de</strong>senvolvimento<br />

dos produtos ou serviços visados. Nesse momento são feitos os protótipos, mas ainda não há<br />

geração <strong>de</strong> caixa. Devido aos altíssimos riscos envolvidos nessa etapa, o capital próprio do<br />

empreen<strong>de</strong>dor, fontes <strong>de</strong> instituições públicas <strong>de</strong> fomento e os investidores informais (3 Fs e<br />

anjos) são as formas mais comuns <strong>de</strong> financiamento.<br />

No estágio seguinte (start-up / 1 o estágio), a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> capital é significativa,<br />

sendo crucial o acesso a financiamento <strong>de</strong> terceiros. Os produtos ou serviços <strong>de</strong>senvolvidos na<br />

fase anterior começam a chegar ao mercado, ainda que em bases limitadas. Po<strong>de</strong> ocorrer<br />

alguma geração <strong>de</strong> receita, mas ainda não <strong>de</strong> lucros. Os financiamentos governamentais e os<br />

investidores informais são fontes interessantes <strong>de</strong> recursos. De forma discreta no Brasil,<br />

alguns fundos <strong>de</strong> capital <strong>de</strong> risco também se arriscam nessa fase ix .<br />

Ao atingir a fase <strong>de</strong> expansão, tem-se um fluxo regular <strong>de</strong> receitas crescentes. Apesar<br />

do aumento das receitas, o exce<strong>de</strong>nte ainda é insuficiente para fomentar a consolidação e<br />

crescimento da empresa. Em especial as empresas <strong>de</strong> base tecnológica, que visam utilizar ao<br />

máximo seu potencial para conquistar novas fatias <strong>de</strong> mercado. Nesse estágio, não são raras<br />

as <strong>de</strong>mandas por investimentos serem na faixa dos milhões <strong>de</strong> reais, o que acaba afastando os<br />

investidores informais das transações. Com objetivos <strong>de</strong> médio e longo prazo, entram “em<br />

cena” os fundos <strong>de</strong> capital <strong>de</strong> risco, na medida que o risco envolvido já é menor do que nas<br />

fases anteriores. Por sua vez, os bancos oferecem opções <strong>de</strong> empréstimos x <strong>de</strong> curto prazo,<br />

visto que já possuem algumas garantias por parte do empreen<strong>de</strong>dor, mas essa forma <strong>de</strong><br />

6


financiamento não é aconselhável uma vez que prevê <strong>de</strong>sembolsos num breve espaço <strong>de</strong><br />

tempo.<br />

Na maturida<strong>de</strong> uma EBT já está estabelecida no mercado com forte geração <strong>de</strong> caixa.<br />

A empresa começa a apresentar resultados positivos o que permite fazer alguns investimentos<br />

com recursos próprios. Entretanto, para manter a taxa <strong>de</strong> crescimento são necessários esforços<br />

cada vez maiores, pois somente através <strong>de</strong> um constante processo <strong>de</strong> inovação nos produtos e<br />

serviços a empresa mantém-se competitiva. Agora se po<strong>de</strong>m buscar recursos através <strong>de</strong><br />

empréstimos <strong>de</strong> médio e longo prazo, pelo mercado acionário e pelos investidores <strong>de</strong> risco<br />

que atuam em empresas na fase madura (private equity).<br />

Assim, estabelece-se a importância dos investidores informais nas fases iniciais, <strong>como</strong><br />

fonte <strong>de</strong> recursos para o crescimento das empresas <strong>de</strong> base tecnológica. Esses investidores,<br />

juntamente com o governo e os capitalistas <strong>de</strong> risco formais permitem que uma EBT atinja a<br />

maturida<strong>de</strong>, formando um ciclo virtuoso <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento tecnológico e inovação<br />

(GOMPERS & LERNER, 2001).<br />

A seguir, verifica-se a <strong>de</strong>ficiência <strong>de</strong> recursos disponíveis no Brasil por parte dos<br />

investidores informais, o que, <strong>de</strong> certa forma, também contribui para a pouca oferta <strong>de</strong> capital<br />

<strong>de</strong> risco formal, uma vez que um elo da ca<strong>de</strong>ia é <strong>de</strong>ficiente.<br />

1.3 Disponibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Recursos <strong>de</strong> Investidores Informais e <strong>Capital</strong> <strong>de</strong> <strong>Risco</strong> no Brasil<br />

Conforme pesquisa realizada pelo Global Entrepreneurship Monitor, a maior parte do<br />

capital necessário para abrir um novo empreendimento provém do próprio empreen<strong>de</strong>dor. O<br />

sistema cultural, político e econômico brasileiro não favorece os investimentos informais e<br />

apenas uma pequena parcela dos novos empreendimentos po<strong>de</strong>riam ser fundados com os<br />

investimentos informais disponíveis no país, conforme gráfico 2. O Brasil aparece <strong>como</strong> a<br />

menor disponibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong>ntre todos os países pesquisados (BYGRAVE, 2005).<br />

No Brasil, os investidores angels ten<strong>de</strong>m a manterem-se no anonimato por motivos <strong>de</strong><br />

segurança. Esta atitu<strong>de</strong>, apesar <strong>de</strong> correta do contexto social, é discutível para o<br />

<strong>de</strong>senvolvimento do mercado em todos os sentidos. Empresas que necessitam <strong>de</strong> capital não<br />

encontram investidores. Acadêmicos que gostariam <strong>de</strong> estudar o setor não encontram<br />

informação e muito menos seus agentes. E os próprios investidores, não conseguem fomentar<br />

o crescimento do mercado, pois suas poucas operações não aparecem. Desta forma, tanto a<br />

operacionalização <strong>de</strong> investimentos quanto o encontro <strong>de</strong> novas oportunida<strong>de</strong>s ficam<br />

inviabilizadas (LUIZ, 2005).<br />

Gráfico 2 - Percentual <strong>de</strong> empresas nascentes que po<strong>de</strong>riam ser fundadas com os investimentos informais<br />

7


Fonte: Bygrave (2005)<br />

O governo vem incentivando a ativida<strong>de</strong> <strong>de</strong> capital <strong>de</strong> risco através <strong>de</strong> programas<br />

<strong>como</strong> o Projeto Inovar xi . Além <strong>de</strong> alocar recursos em fundos <strong>de</strong> empresas emergentes <strong>de</strong> base<br />

tecnológica, ações <strong>como</strong> aproximar os investidores dos empreen<strong>de</strong>dores, disseminar<br />

informações sobre o capital <strong>de</strong> risco e criar um ambiente favorável para o <strong>de</strong>senvolvimento da<br />

indústria. Entretanto, os investimentos ainda são pequenos, <strong>de</strong>monstrando o gran<strong>de</strong> potencial<br />

<strong>de</strong> crescimento da indústria no país (CALAZANS, 2005).<br />

2. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS<br />

O estudo foi estruturado para examinar as implicações das diferentes formas e etapas<br />

<strong>de</strong> aportes <strong>de</strong> recursos em uma EBT brasileira. O método utilizado para a pesquisa foi o<br />

estudo <strong>de</strong> caso individual, realizado em uma empresa <strong>de</strong> base tecnológica que <strong>de</strong>senvolve<br />

produtos biotecnológicos no estado do Rio Gran<strong>de</strong> do Sul, a FK Biotecnologia. A escolha da<br />

empresa <strong>de</strong>ve-se ao fato da mesma ter recebido recursos <strong>de</strong> diferentes tipos <strong>de</strong> investidores ao<br />

longo <strong>de</strong> sua trajetória <strong>de</strong> crescimento.<br />

Com o estudo procura-se respon<strong>de</strong>r as seguintes questões: (1) quais foram os<br />

investidores que aplicaram recursos em cada uma das etapas <strong>de</strong> crescimento da empresa; (2)<br />

qual foi o papel <strong>de</strong> cada um dos investidores nas diferentes rodadas <strong>de</strong> investimento na FK<br />

Biotecnologia; (3) até que ponto as diferentes formas <strong>de</strong> financiamento modificaram e<br />

contribuíram para a capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> inovação e gestão da empresa.<br />

Segundo Yin (2001), o estudo <strong>de</strong> caso permite a investigação profunda <strong>de</strong> uma<br />

empresa, com o objetivo <strong>de</strong> validar hipóteses ou questões construídas a partir <strong>de</strong> um<br />

referencial teórico. Além disso, é um modo <strong>de</strong> pesquisa empírica indicada para investigar<br />

fenômenos contemporâneos em seu contexto real, quando os limites entre fenômeno e o<br />

contexto não estão claramente <strong>de</strong>finidos. Define-se esse estudo <strong>como</strong> qualitativo. A pesquisa<br />

qualitativa <strong>de</strong>ve ser preferida quando um fenômeno po<strong>de</strong> ser mais bem compreendido no<br />

contexto em que ocorre e do qual é parte, <strong>de</strong>vendo ser analisado numa perspectiva integrada.<br />

Esta pesquisa caracteriza-se também <strong>como</strong> <strong>de</strong>scritiva, uma vez que, partindo <strong>de</strong> um<br />

esquema conceitual e <strong>de</strong> pressupostos teóricos, busca <strong>de</strong>screver as características <strong>de</strong> um<br />

fenômeno específico – o papel <strong>de</strong> diferentes formas <strong>de</strong> financiamento <strong>de</strong> empresas <strong>de</strong> base<br />

tecnológica durante seu crescimento.<br />

O estudo <strong>de</strong> caso foi elaborado a partir <strong>de</strong> coleta <strong>de</strong> dados disponíveis em<br />

bibliografias, sites na Internet e <strong>de</strong> entrevista em profundida<strong>de</strong> com realizada na se<strong>de</strong> da<br />

empresa com o fundador e CEO da FK Biotecnologia. Uma entrevista em profundida<strong>de</strong><br />

consiste em um diálogo que visa coletar, <strong>de</strong> <strong>de</strong>terminada fonte, dados relevantes para uma<br />

pesquisa, permitindo que os pesquisadores partam <strong>de</strong> certos questionamentos básicos, os<br />

quais oferecem amplo campo <strong>de</strong> interrogativas, que vão surgindo à medida que se recebe a<br />

resposta do informante. A entrevista em profundida<strong>de</strong> é mais a<strong>de</strong>quada à metodologia<br />

qualitativa por valorizar a presença do investigador e, ao mesmo tempo, por oferecer todas as<br />

perspectivas possíveis para que o informante alcance a liberda<strong>de</strong> e a espontaneida<strong>de</strong><br />

necessárias, enriquecendo a investigação (TRIVIÑOS, 1987).<br />

As informações obtidas pela coleta <strong>de</strong> dados foram agrupadas e analisadas quanto à<br />

convergência ou divergência em relação à teoria. A transcrição da entrevista permitiu uma<br />

análise qualitativa do material, auxiliando a compreensão das questões estudadas.<br />

8


3. O CASO DA FK BIOTECNOLOGIA<br />

3.1 A Empresa<br />

Resultado <strong>de</strong> mais <strong>de</strong> 10 anos <strong>de</strong> pesquisas por parte <strong>de</strong> seu fundador, um médico com<br />

doutorado em biotecnologia, a FK Biotecnologia foi criada em julho <strong>de</strong> 1999 em uma<br />

incubadora <strong>de</strong> negócios apoiada pelo governo do estado do Rio Gran<strong>de</strong> do Sul. A empresa foi<br />

concebida para atuar em pesquisa, <strong>de</strong>senvolvimento, produção e comercialização <strong>de</strong> produtos<br />

biotecnológicos.<br />

De forma ampla, o termo biotecnologia refere-se à utilização, alteração e otimização<br />

<strong>de</strong> organismos vivos ou <strong>de</strong> suas partes, células, organelas e moléculas, para gerar produtos,<br />

processos e serviços com aplicações econômicas em saú<strong>de</strong> humana e animal, agricultura e<br />

meio ambiente (JUDICE & BAÊTA, 2003). A FK Biotecnologia foca sua área <strong>de</strong> atuação em<br />

saú<strong>de</strong> humana, com produtos para diagnóstico e terapia <strong>de</strong> doenças humanas.<br />

Os principais clientes da empresa são laboratórios convencionais <strong>de</strong> análises clínicas<br />

ligados a planos <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> ou in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes, e o mercado institucional. Existem poucos<br />

concorrentes atuantes no mercado alvo e essa é formada basicamente por gran<strong>de</strong>s<br />

laboratórios, que oferecem no país apenas produtos importados. Por dominar a tecnologia <strong>de</strong><br />

fabricação, oferecer produtos com qualida<strong>de</strong> internacional com preços competitivos, a<br />

empresa conquista rapidamente seu espaço no mercado nacional.<br />

A indústria <strong>de</strong> biotecnologia é caracterizada <strong>como</strong> um setor que requer constante<br />

<strong>de</strong>senvolvimento tecnológico e capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> inovação das empresas atuantes (MOREL et al,<br />

2005). A FK Biotecnologia aposta fortemente em P&D, <strong>de</strong>senvolvendo seus projetos em<br />

parceria ou in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntemente. Diversos convênios <strong>de</strong> cooperação tecnológica foram<br />

firmados, com instituições <strong>como</strong> a Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral do Rio Gran<strong>de</strong> do Sul<br />

(<strong>de</strong>partamentos <strong>de</strong> biofísica, materiais, farmácia...), Hospital <strong>de</strong> Clínicas <strong>de</strong> Porto Alegre e<br />

outros.<br />

As tecnologias e produtos resultantes dos esforços <strong>de</strong> pesquisa e <strong>de</strong>senvolvimento são<br />

protegidos através <strong>de</strong> patentes, tanto no Brasil <strong>como</strong> no exterior. Para uma empresa <strong>de</strong> base<br />

tecnológica <strong>como</strong> a FK Biotecnologia, a proprieda<strong>de</strong> intelectual representa um ativo bastante<br />

valioso. Como exemplo, a empresa <strong>de</strong>tém patente <strong>de</strong> uma nova tecnologia <strong>de</strong> vacina celular<br />

anticâncer. Além disso, o registro das marcas FK Biotecnologia e Bioprospecta, fazem parte<br />

da estratégia <strong>de</strong> crescimento e reconhecimento da empresa no mercado.<br />

3.2 O Ciclo <strong>de</strong> Crescimento da Empresa e o Impacto dos Investidores<br />

Após anos trabalhando e pesquisando na área <strong>de</strong> biotecnologia fora do país, o<br />

empreen<strong>de</strong>dor voltou ao Brasil para estabelecer a FK Biotecnologia. De forma semelhante à<br />

maioria dos negócios no Brasil, a fundação da empresa <strong>de</strong>u-se com recursos advindos do<br />

próprio empreen<strong>de</strong>dor.<br />

Corroborando com o apresentado na literatura, o empreen<strong>de</strong>dor possuía gran<strong>de</strong><br />

competência técnica e científica no negócio, mas carecia <strong>de</strong> conhecimentos gerenciais e<br />

administrativos para enfrentar o mercado. Nesse sentido, ele buscou iniciar as ativida<strong>de</strong>s da<br />

empresa em uma ambiente no qual pu<strong>de</strong>sse suprir essas carências. Devido às características<br />

inovadoras e o gran<strong>de</strong> potencial, a empresa foi amparada pela Incubadora Tecnológica da<br />

Cientec, on<strong>de</strong> recebeu as orientações e o apoio gerencial necessário para dar continuida<strong>de</strong> ao<br />

projeto.<br />

9


Nesse momento, a empresa começou as ativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> pesquisa e <strong>de</strong>senvolvimento,<br />

sem apresentar ainda geração <strong>de</strong> caixa. A necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> recursos acentuava-se conforme o<br />

<strong>de</strong>senrolar dos projetos. Visando suprir essa crescente <strong>de</strong>manda, o empreen<strong>de</strong>dor foi então em<br />

busca <strong>de</strong> recursos externos.<br />

Utilizando sua re<strong>de</strong> <strong>de</strong> contatos pessoal, ele partiu em busca <strong>de</strong> financiamento para dar<br />

continuida<strong>de</strong> às pesquisas por meio <strong>de</strong> algum investidor informal. Assim <strong>como</strong> visto na seção<br />

1.3 a oferta <strong>de</strong> recursos é muito limitada no Brasil, <strong>de</strong> maneira que o empreen<strong>de</strong>dor acabou<br />

encontrando auxílio apenas fora do país, em <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 1999, praticamente 6 meses após o<br />

início das ativida<strong>de</strong>s. Valendo-se dos contatos feitos durante seu período <strong>de</strong> doutoramento e<br />

pesquisas no Canadá, surgiu então o interesse <strong>de</strong> um investidor anjo daquele país em alocar<br />

recursos na FK Biotecnologia.<br />

Esse investidor anjo disponibilizou os recursos para fomento das ativida<strong>de</strong>s da<br />

empresa sem, entretanto, exercer diretamente alguma ativida<strong>de</strong> na mesma. Pela questão da<br />

distância e dificulda<strong>de</strong> <strong>de</strong> manter um apoio mais restrito ao <strong>de</strong>senvolvimento do negócio, a<br />

atuação do business angel restringiu-se, praticamente a apenas fornecer o dinheiro. Se por um<br />

lado a empresa não se po<strong>de</strong> valer do chamado smart money, visto que não houve um<br />

envolvimento efetivo do investidor, por outro, evitou-se também possíveis ocorrências <strong>de</strong><br />

problemas relacionados com a intervenção direta <strong>de</strong> investidores externos na gestão. Não se<br />

po<strong>de</strong> esquecer que além dos principais problemas xii envolvidos em todos os financiamentos <strong>de</strong><br />

risco, ainda é comum haver contratempos ligados com o relacionamento pessoal investidor –<br />

empreen<strong>de</strong>dor. Portanto, é imperativo que não apenas o investidor proceda <strong>de</strong> maneira<br />

rigorosa na escolha da empresa, mas que essa também busque recursos naqueles que tenham<br />

estratégias convergentes com seus anseios.<br />

Ainda assim, a disponibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> recursos era insuficiente, visto que os gastos com<br />

P&D continuavam elevados e a empresa ainda não gerava receitas com a venda <strong>de</strong> seus<br />

produtos. Foi então em maio <strong>de</strong> 2000 que o fundo <strong>de</strong> capital <strong>de</strong> risco RSTec, administrado<br />

pela Companhia Riogran<strong>de</strong>nse <strong>de</strong> Participações (CRP), aprovou a primeira rodada <strong>de</strong><br />

capitalização na FK Biotecnologia, vislumbrando, em função do mercado futuro da empresa e<br />

<strong>de</strong> seu cientista-empreen<strong>de</strong>dor, um investimento com gran<strong>de</strong> potencial <strong>de</strong> retorno.<br />

Constituído em outubro <strong>de</strong> 1999, o fundo <strong>de</strong> investimento em empresas emergentes<br />

RSTec <strong>de</strong> venture capital é formado por diversos investidores privados e públicos, tais <strong>como</strong><br />

o BNDESPar, BID, SEBRAE, e empresas do Rio Gran<strong>de</strong> do Sul. O fundo é administrado <strong>de</strong><br />

forma profissional pela CRP, que atua <strong>de</strong>s<strong>de</strong> 1981 sendo uma das pioneiras na ativida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

capital <strong>de</strong> risco no país. Seus investimentos são focados em empresas <strong>de</strong> base tecnológica em<br />

fases iniciais e expansão. Mesmo assim, a FK Biotecnologia apresentou-se <strong>como</strong> o primeiro<br />

investimento no setor <strong>de</strong> biotecnologia pela companhia.<br />

Por tratar-se <strong>de</strong> um fundo administrado por uma empresa <strong>de</strong> venture capital com<br />

gran<strong>de</strong> experiência no mercado, a FK Biotecnologia po<strong>de</strong> valer-se da estrutura e do capital<br />

humano da investidora. A empresa passou por uma profissionalização na sua gestão, contando<br />

com apoio em funções importantes <strong>como</strong> marketing, finanças e distribuição. Além disso,<br />

passou a ter respaldo <strong>de</strong> um gran<strong>de</strong> investidor institucional em suas negociações, tanto com<br />

fornecedores quanto com clientes.<br />

A empresa passava por um ritmo <strong>de</strong> crescimento acelerado e continuava a <strong>de</strong>mandar<br />

por recursos. Como é normal acontecer na indústria <strong>de</strong> capital <strong>de</strong> risco, a empresa foi em<br />

busca <strong>de</strong> uma nova rodada <strong>de</strong> investimentos. Nesse mesmo período, a FINEP iniciou as<br />

primeiras ações do projeto Inovar no sentido <strong>de</strong> aproximar os investidores dos empresários e<br />

<strong>de</strong> criar um ambiente institucional que favorecesse o <strong>de</strong>senvolvimento da indústria do capital<br />

10


<strong>de</strong> risco. Dois meses após o primeiro Venture Fórum Brasil (VFB), realizava-se em <strong>de</strong>zembro<br />

<strong>de</strong> 2000 em Porto Alegre a segunda edição.<br />

Segundo dados divulgados pela FINEP xiii , o 2 o VFB contou com 135 empresas<br />

candidatas, sendo que <strong>de</strong>stas 30 foram pré-selecionadas para receber uma avaliação mais<br />

rigorosa para participar do evento, e apenas 12 <strong>de</strong>las pu<strong>de</strong>ram apresentar seus planos <strong>de</strong><br />

negócios no fórum. Uma <strong>de</strong>las foi a FK Biotecnologia. Estiveram presentes 25 investidores<br />

em busca <strong>de</strong> opções <strong>de</strong> negócios que estivessem <strong>de</strong> acordo com seus critérios <strong>de</strong> aplicação.<br />

Entretanto, apenas 1 das empresas que estiveram presentes no evento conseguiram captar<br />

investimentos.<br />

Segundo o empreen<strong>de</strong>dor, o VFB serviu <strong>como</strong> aprendizado para a empresa, entretanto<br />

a captação <strong>de</strong> novos recursos ficou dificultada, pois a FK Biotecnologia havia recém recebido<br />

um aporte <strong>de</strong> recursos:<br />

“Naquele momento... a empresa estava capitalizada, então a gente entrou em uma posição<br />

bastante valorizada. Quando se faz uma rodada <strong>de</strong> capitalização, tem-se dinheiro no caixa... tu<br />

já fizeste uma negociação, o valor do teu negócio aumenta. E aí, se torna um investimento<br />

caro. Quanto maior teu valuation, aquele recurso que tu vais receber representa uma fatia<br />

menor. Então, nós tivemos negociações com dois fundos a partir do Venture Fórum Brasil.<br />

Mas acabou que os fundos queriam entrar na mesma “batida” que o pessoal do RSTec entrou.<br />

Entretanto o nível <strong>de</strong> risco era diferente”.<br />

A partir daí, a empresa começou, <strong>de</strong> forma mo<strong>de</strong>sta, gerar receitas com a venda <strong>de</strong><br />

seus produtos. Foi necessário aumentar o mix <strong>de</strong> produtos, ampliar a capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> produção,<br />

investir em marketing e manter os projetos <strong>de</strong> pesquisa e <strong>de</strong>senvolvimento. No final <strong>de</strong> 2004 a<br />

empresa realizou uma segunda rodada <strong>de</strong> capitalização com outros capitalistas <strong>de</strong> risco. Por<br />

contar com investidores capitalizados, a empresa po<strong>de</strong> manter sua trajetória <strong>de</strong> crescimento.<br />

Atualmente, a empresa está saindo da fase start-up e entrando na fase <strong>de</strong> expansão,<br />

buscando fatias maiores no seu mercado <strong>de</strong> atuação. A ativida<strong>de</strong> <strong>de</strong> pesquisa e<br />

<strong>de</strong>senvolvimento continua sendo importante na estratégia da empresa, resultando em um<br />

aumento do mix <strong>de</strong> produtos oferecidos. Além disso, está ampliando a abrangência geográfica<br />

<strong>de</strong> atuação, não se restringindo apenas à região sul. Por conseqüência, para 2005 a expectativa<br />

<strong>de</strong> faturamento é que atinja a casa dos 7 dígitos.<br />

4. ANÁLISE DOS RESULTADOS<br />

Percebe-se que a FK Biotecnologia possui as características levantadas anteriormente<br />

nesse trabalho <strong>como</strong> típicas <strong>de</strong> EBTs, ou seja, crescimento rápido nos primeiro anos<br />

necessitando <strong>de</strong> muitos recursos, seu maior patrimônio estava nos ativos intangíveis, possuía<br />

produtos com gran<strong>de</strong> potencial <strong>de</strong> mercado mas ainda não efetivamente consolidados e a<br />

carência <strong>de</strong> habilida<strong>de</strong>s gerenciais do empreen<strong>de</strong>dor-cientista.<br />

O caso apresentado corrobora com a hipótese inicial <strong>de</strong> que a presença <strong>de</strong> investidores<br />

informais é importante para que as empresas consigam atingir o momento <strong>de</strong> entrada dos<br />

capitalistas <strong>de</strong> risco formais. Apesar dos ciclos <strong>de</strong> financiamento terem ocorrido <strong>de</strong> forma<br />

bastante acelerada, o papel <strong>de</strong>sempenhado pelo investidor anjo foi fundamental para que a<br />

empresa tivesse “fôlego” para continuar suas pesquisas. A necessida<strong>de</strong> do empreen<strong>de</strong>dor<br />

buscar esses recursos fora do país, <strong>de</strong> certa forma, confirma da escassez <strong>de</strong>sses investidores<br />

no Brasil.<br />

É interessante observar que, <strong>de</strong> maneira geral, a literatura afirma que os business<br />

angels costumam investir em negócios que estejam geograficamente próximos às suas<br />

residências ou escritórios, o que não ocorreu na FK Biotecnologia. (GOMPERS & LERNER,<br />

11


2001; HILL & POWER, 2001). Certamente essa situação <strong>de</strong>u-se em função da re<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

contatos construída pelo empreen<strong>de</strong>dor quando <strong>de</strong> suas pesquisas em biotecnologia fora do<br />

país.<br />

Outro ponto a ser <strong>de</strong>stacado é que a entrada no negócio pelo fundo RSTec <strong>de</strong>u-se em<br />

uma fase <strong>de</strong> crescimento pouco comum <strong>de</strong> ocorrer no Brasil xiv . A empresa ainda não gerava<br />

receitas com vendas, estava recém passando para a fase <strong>de</strong> start-up e os riscos atrelados à<br />

operação eram elevados. Não bastasse a fase inicial pela qual a empresa passava, a indústria<br />

<strong>de</strong> atuação é caracterizada por períodos mais longos <strong>de</strong> retorno <strong>de</strong> investimento. A <strong>de</strong>scoberta<br />

<strong>de</strong> um medicamento com base na pesquisa biotecnológica usualmente <strong>de</strong>manda gran<strong>de</strong>s<br />

investimentos e o retorno médio é <strong>de</strong> sete a oito anos, enquanto em uma companhia<br />

tradicional fica em torno <strong>de</strong> três anos.<br />

Na FK Biotecnologia ficou fortemente caracterizada a importância dos ativos<br />

intangíveis que a empresa possuía para atrair investidores. Por tratar-se <strong>de</strong> uma indústria <strong>de</strong><br />

conhecimento intensivo, a capacitação técnica e científica do empreen<strong>de</strong>dor representavam<br />

um valioso capital a ser explorado. Além disso, a proteção legal via patentes representava<br />

segurança tanto para o empreen<strong>de</strong>dor quanto para os investidores.<br />

Utilizando o mo<strong>de</strong>lo proposto por Muller et al (2004), no qual i<strong>de</strong>ntificam-se as<br />

condições necessárias para o crescimento da bioindústria – figura 2 – po<strong>de</strong>-se vislumbrar um<br />

movimento futuro da FK Biotecnologia. Até então a empresa mantém seus contatos restritos a<br />

três elementos do mo<strong>de</strong>lo – o governo, os institutos <strong>de</strong> pesquisa e universida<strong>de</strong>s e os<br />

capitalistas <strong>de</strong> risco – não tendo ainda interagido com as gran<strong>de</strong>s empresas. Com o governo,<br />

através <strong>de</strong> programas <strong>de</strong> incentivos à inovação e pesquisas em áreas consi<strong>de</strong>radas estratégicas<br />

para o país, no caso a biotecnologia. Com as universida<strong>de</strong>s e institutos <strong>de</strong> pesquisa, a empresa<br />

mantém acordos <strong>de</strong> cooperação para utilização <strong>de</strong> laboratórios e <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong><br />

produtos. E com os capitalistas <strong>de</strong> risco há uma interação praticamente <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o início das<br />

ativida<strong>de</strong>s da empresa, primeiro com um investidor informal (anjo) e após com o investidor<br />

formal (fundo <strong>de</strong> investimento).<br />

Figura 2 – Condições necessárias para o crescimento da bioindústria<br />

Fonte: Adaptado <strong>de</strong> Muller et al (2004)<br />

Entretanto, ainda não há uma relação entre a FK Biotecnologia e uma gran<strong>de</strong> empresa<br />

<strong>de</strong> atuação mundial. Segundo Muller et al (2004), gran<strong>de</strong>s empresas farmacêuticas estão<br />

movendo-se gradualmente para o setor <strong>de</strong> produtos biotecnológicos. Dessa maneira, essas<br />

12


empresas estão buscando EBTs especializadas em biotecnologia para pesquisa e<br />

<strong>de</strong>senvolvimento conjunto visando à <strong>de</strong>scoberta <strong>de</strong> novos produtos e <strong>de</strong>senvolvimento dos<br />

processos <strong>de</strong> produção. Po<strong>de</strong> também ocorrer a aquisição direta das pequenas empresas<br />

biotecnológicas, adquirindo assim, sua base <strong>de</strong> conhecimento e suas patentes. Assim, é<br />

possível que a forma <strong>de</strong> saída do investimento dos capitalistas <strong>de</strong> risco ocorra através da<br />

venda para uma gran<strong>de</strong> empresa.<br />

RECOMENDAÇÕES E CONSIDERAÇÕES FINAIS<br />

Esse artigo analisa a importância do <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> todos os elos da indústria <strong>de</strong><br />

capital <strong>de</strong> risco, e não apenas os capitalistas <strong>de</strong> risco formais. Através da análise empírica do<br />

caso apresentado, po<strong>de</strong>-se perceber a relevância da presença <strong>de</strong> todos os investidores para o<br />

<strong>de</strong>senvolvimento da empresa.<br />

O governo brasileiro vem reunindo esforços no sentido <strong>de</strong> incentivar o gran<strong>de</strong><br />

potencial empreen<strong>de</strong>dor da população, contudo o mesmo carece <strong>de</strong> recursos para financiar o<br />

crescimento da imensa quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> novas empresas que surgem cada ano. Uma alternativa<br />

interessante, já consagrada em diversos países para substituir a presença governamental no<br />

papel <strong>de</strong> financiador, é a presença <strong>de</strong> uma atuante indústria <strong>de</strong> capital <strong>de</strong> risco. Des<strong>de</strong> o início<br />

da década com a conscientização da importância <strong>de</strong>ssa ativida<strong>de</strong> para o país, muitos<br />

progressos têm sido alcançados com o programa. Mesmo que, por infeliz coincidência, o<br />

programa tenha sido lançado justamente quando a indústria <strong>de</strong> capital <strong>de</strong> risco mundial<br />

começava a entrar em crise, <strong>de</strong>vido ao chamado “estouro da bolha” das empresas <strong>de</strong> internet<br />

nos Estados Unidos.<br />

Cabe ressaltar que, da mesma forma que os investidores informais po<strong>de</strong>m ser um elo<br />

<strong>de</strong> ligação entre os empreen<strong>de</strong>dores e os capitalistas <strong>de</strong> risco institucionais, eles também<br />

po<strong>de</strong>m estabelecer uma dificulda<strong>de</strong> a mais nas negociações. Caso o acordo firmado entre o<br />

investidor informal e o empreen<strong>de</strong>dor seja <strong>de</strong>masiadamente oneroso, os capitalistas <strong>de</strong> risco<br />

formais po<strong>de</strong>rão não estar dispostos a pagar pelo negócio.<br />

Algumas questões não respondidas provêm <strong>de</strong>sse estudo para futuras<br />

investigações.Uma vez <strong>de</strong>finida <strong>como</strong> importante a atuação dos investidores informais para o<br />

<strong>de</strong>senvolvimento das EBTs, quais medidas <strong>de</strong>vem ser tomadas para que se incentive e<br />

aumente a oferta <strong>de</strong>sses recursos? Certas questões econômicas <strong>como</strong> redução da taxa <strong>de</strong> juros<br />

para incentivo <strong>de</strong> investimentos no setor produtivo e políticas, tais <strong>como</strong> a regulamentação <strong>de</strong><br />

proteção ao patrimônio <strong>de</strong> investidores pessoa física para aplicações em EBTs, parecem<br />

óbvias. Contudo é necessário mais do que isso.<br />

Há condições culturais que precisam ser levadas em consi<strong>de</strong>ração para uma ampla<br />

análise. É fato, por exemplo, que o comportamento risk-takers dos investidores norte<br />

americano contribui para explicar a gran<strong>de</strong> presença <strong>de</strong> investidores informais naquele país.<br />

Assim, quando todos os fatores forem i<strong>de</strong>ntificados, po<strong>de</strong>r-se-á montar um plano <strong>de</strong> ação para<br />

a realida<strong>de</strong> brasileira.<br />

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YIN, R. K. Estudo <strong>de</strong> caso: planejamento e métodos. 2. ed. Porto Alegre: Bookman, 2001.<br />

i<br />

Nanotecnologia significa a manipulação da matéria em escala atômica, na qual pelo menos uma das dimensões<br />

tem <strong>de</strong> 1 a 100 nanômetros. Tem sido aplicada em diversas indústrias, tais <strong>como</strong>: materiais, medicina, tecnologia<br />

da informação, alimentos, combustíveis e outras.<br />

ii<br />

Os nanotubos <strong>de</strong> carbono são 100 mil vezes mais finos que um fio <strong>de</strong> cabelo, mas apesar disso, possuem a<br />

maior resistência mecânica <strong>de</strong>ntre todos os materiais conhecidos. Para que os nanotubos cheguem a se incorporar<br />

a materiais <strong>de</strong> uso comum, ainda é necessário <strong>de</strong>senvolver uma tecnologia barata e confiável para produzir o<br />

material em quantida<strong>de</strong> e segundo especificações pré-<strong>de</strong>terminadas (requisitos imprescindíveis para seu uso<br />

industrial). Os processos conhecidos <strong>de</strong> síntese <strong>de</strong>ssas estruturas ainda não dão conta <strong>de</strong> uma produção em larga<br />

escala. (www.inovacao.unicamp.br)<br />

iii<br />

Os investidores em empresas <strong>de</strong> base tecnológica serão mais bem <strong>de</strong>talhados na seção 1.1 <strong>de</strong>sse trabalho.<br />

iv<br />

Conforme Calazans (2005), apenas 8% dos investimentos realizados pelos capitalistas <strong>de</strong> risco formais em<br />

2003 foram em empresas que estavam em estágios iniciais (semente / start up).<br />

v<br />

Nesse trabalho consi<strong>de</strong>ram-se tanto os investidores informais quanto os formais <strong>como</strong> sendo capitalistas <strong>de</strong><br />

risco, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> que o investimento seja feito na forma <strong>de</strong> capital e não <strong>de</strong> dívida.<br />

vi<br />

Ver estratégias <strong>de</strong> <strong>de</strong>sinvestimento em Smart et al (2003)<br />

vii<br />

A expressão, criada com sentido irônico, ressalta a forte incidência <strong>de</strong> riscos envolvidos nesse tipo <strong>de</strong><br />

investimento.<br />

15


viii<br />

Os Estados Unidos, através <strong>de</strong> legislação da Securities and Exchange Commission (SEC), estabelece valores<br />

mínimos referentes a patrimônio e ganhos anuais para que se possa atuar <strong>como</strong> investidor anjo. A idéia é<br />

proteger os indivíduos da possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> irem a falência em função dos altos riscos envolvidos nos<br />

investimentos (SCHEER, 2004). No Brasil não há legislação semelhante.<br />

ix<br />

Ver Guia En<strong>de</strong>avor <strong>de</strong> Fundos <strong>de</strong> Venture <strong>Capital</strong> e Private Equity no Brasil – Agosto 2004.<br />

x<br />

É importante distinguir o financiamento via capital <strong>de</strong> contração <strong>de</strong> dívida via agentes financeiros. Os<br />

capitalistas <strong>de</strong> risco tornam-se sócios das empresas e alcançam suas taxas <strong>de</strong> retorno mediante o sucesso das<br />

mesmas. Já os agentes financeiros emprestam recursos a taxas <strong>de</strong>finidas in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte dos resultados da empresa.<br />

xi<br />

A Financiadora <strong>de</strong> Estudos e Projetos (FINEP), empresa pública vinculada ao Ministério da Ciência e<br />

Tecnologia, lançou em maio <strong>de</strong> 2000 o Projeto Inovar que tem <strong>como</strong> objetivo criar um arcabouço institucional –<br />

uma ponte entre as empresas e os investidores – que estimule a cultura <strong>de</strong> investimentos <strong>de</strong> capital <strong>de</strong> risco em<br />

empresas nascentes emergentes <strong>de</strong> base tecnológica, ajudando a completar o ciclo da inovação tecnológica<br />

(www.capital<strong>de</strong>risco.gov.br).<br />

xii<br />

Problemas <strong>de</strong> agência, risco moral e seleção adversa são os mais comuns <strong>de</strong> ocorrerem em investimentos <strong>de</strong><br />

risco (SCHMITT JR, 2002).<br />

xiii<br />

Disponível site: www.capital<strong>de</strong>risco.gov.br<br />

xiv<br />

Ver Calazans (2005).<br />

16

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