Poética Indígena: um ensaio sobre as origens da poesia - PUC-SP
Poética Indígena: um ensaio sobre as origens da poesia - PUC-SP
Poética Indígena: um ensaio sobre as origens da poesia - PUC-SP
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
su<strong>as</strong> históri<strong>as</strong> glorios<strong>as</strong><br />
distorcid<strong>as</strong><br />
su<strong>as</strong> prátic<strong>as</strong> igualístic<strong>as</strong><br />
incompreendid<strong>as</strong><br />
Mba’é tu remano-xe?<br />
Mba’é tu reiko-xe?<br />
seus séculos, séculos de perseguição,<br />
m<strong>as</strong> você ain<strong>da</strong> está aqui<br />
insiste em superar essa situação<br />
você<br />
vivo<br />
Mba’é tu remano-xe?<br />
Mba’é tu reiko-xe?<br />
Por que você quer morrer?<br />
Por que você quer viver?<br />
(Poty Porá) 3<br />
Interessante é saber que nesse poema a mistura dos idiom<strong>as</strong> português-guarani tinha por<br />
intenção “conversar” com o nome do poema: “Mba’é tu remano-xe? Mba’é tu reiko-xe?” que em<br />
português é: “Por que você quer morrer? Por que você quer viver?”<br />
Esses dois poem<strong>as</strong> dizem mais do que qualquer discurso ou tentativa de descrever a poética<br />
indígena. O primeiro deles é <strong>um</strong> poema tradicional e secular e, segundo Kaka Werá Jecupé, é<br />
conhecido em sua tribo desde muito tempo; o segundo deles, de Poty Porá, foi feito em 2008, por<br />
<strong>um</strong>a índia poeta que n<strong>as</strong>ceu e viveu em contato com o homem branco, colocando em seu discurso<br />
<strong>um</strong> pouco dessa experiência. Su<strong>as</strong> semelhanç<strong>as</strong> e diferenç<strong>as</strong> mostram a evolução do contato do<br />
indígena com o homem branco.<br />
A voz e a escritura<br />
Um texto poético oral, na medi<strong>da</strong> em que deve ser dito e não escrito, rejeita, mais que o texto<br />
escrito, qualquer análise. Uma análise mais detalha<strong>da</strong> ou técnica o dissociaria de sua função social,<br />
do lugar que ele ocupa na comuni<strong>da</strong>de real de que participa, <strong>da</strong> tradição que ele reivindica e d<strong>as</strong><br />
circunstânci<strong>as</strong> n<strong>as</strong> quais ele se faz ouvir.<br />
A emissão de sua voz se situa fora do tempo, esse tempo não constitui <strong>um</strong> fator pertinente dessa<br />
e nessa comunicação. Para que essa mensagem poética possa se integrar à cultura do grupo a que se<br />
refere e participa, ela recorre à memória coletiva e o faz em virtude de sua orali<strong>da</strong>de e não de sua<br />
escritura.<br />
3<br />
O poema Mba’é tu remano-xe? Mba’é tu reiko-xe?, gentilmente cedido por Poty Porá, foi escrito por <strong>um</strong>a poeta<br />
Mbya Guarani que vive na aldeia Krukutu em São Paulo.