13.05.2013 Views

PREDADORES - Valente – Laboratório de Ideias

PREDADORES - Valente – Laboratório de Ideias

PREDADORES - Valente – Laboratório de Ideias

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

ventos. Só mais tar<strong>de</strong> <strong>de</strong>scobri, aquele comunismo que eu seguia,<br />

aquelas i<strong>de</strong>ias generosas <strong>de</strong> todos iguais e ninguém acima<br />

do outro, não existia em parte nenhuma do mundo, era<br />

tudo uma tremenda mentira. No entanto, as generosas i<strong>de</strong>ias<br />

<strong>de</strong> solidarieda<strong>de</strong> para com os outros, não preten<strong>de</strong>r explorar<br />

ninguém, lutar para que todos os angolanos tenham oportunida<strong>de</strong>s<br />

semelhantes na vida in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntemente do que foram<br />

os pais, essas i<strong>de</strong>ias ainda são as minhas. Se isso é comunismo,<br />

tudo bem, assumo. Mas po<strong>de</strong> ter a certeza, não é aquele que<br />

alguns preten<strong>de</strong>ram impor aos seus povos pela força. Por isso<br />

não me ofen<strong>de</strong> tratando -me <strong>de</strong> comunista.<br />

VC ouviu em silêncio o discurso do outro. Tinha sido<br />

fastidioso, mas ele suportou. Conhecia bem Sebastião Lopes,<br />

não mudara muito, sempre ansioso por dar uma lição <strong>de</strong> política.<br />

O novo aspecto no discurso, afinal, era a confissão <strong>de</strong><br />

solidão do advogado, hoje sem ponto <strong>de</strong> referência no mundo<br />

porque os regimes que se reclamavam do tal comunismo<br />

tinham finalmente mostrado uma face suja. [Se esperavam<br />

ler <strong>de</strong> mim que “tinham finalmente mostrado as mãos sujas”,<br />

<strong>de</strong>senganem -se, não caio nessa inverosimilhança, Caposso<br />

nunca leu Sartre, até po<strong>de</strong> pensar que é alguma marca <strong>de</strong> água<br />

mineral.] O empresário aproveitou logo o aparente momento<br />

<strong>de</strong> fraqueza do outro para atacar:<br />

<strong>–</strong> Não tenho esse dinheiro, não posso pagar in<strong>de</strong>nização<br />

nenhuma.<br />

<strong>–</strong> Não tem dinheiro? Só po<strong>de</strong> estar a brincar. Toda a gente<br />

sabe que tem dinheiro e muito, lá fora.<br />

<strong>–</strong> Fofocas, mentiras dos meus inimigos. Os negócios estão<br />

a correr mal, estou cheio <strong>de</strong> dívidas, essa é a verda<strong>de</strong>.<br />

<strong>–</strong> Se não tivesse muito dinheiro lá fora, não gastava como<br />

o faz em <strong>de</strong>spesas faraónicas e <strong>de</strong> mau gosto. Inútil escon<strong>de</strong>r,<br />

355<br />

Predadores (geral) v2.indd 355 24/05/12 13:29

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!