Abate de Jacarés no Setor Jarauá - Reserva de Desenvolvimento ...
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<strong>Abate</strong> <strong>de</strong> <strong>Jacarés</strong> <strong>no</strong> <strong>Setor</strong> <strong>Jarauá</strong> - <strong>Reserva</strong> <strong>de</strong><br />
<strong>Desenvolvimento</strong> Sustentável Mamirauá, <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong><br />
2008: Projeto Experimental <strong>de</strong> Manejo Sustentável <strong>de</strong> <strong>Jacarés</strong><br />
na <strong>Reserva</strong> <strong>de</strong> <strong>Desenvolvimento</strong> Sustentável Mamirauá.<br />
Algumas das circunstâncias <strong>de</strong> maior relevância em<br />
momentos anteriores ou posteriores.<br />
RELATÓRIO INSTITUCIONAL<br />
Instituto <strong>de</strong> <strong>Desenvolvimento</strong> Sustentável Mamirauá – IDSM-OS/MCT<br />
Programa <strong>de</strong> Manejo e Conservação <strong>de</strong> <strong>Jacarés</strong><br />
Confeccionado pelos seus membros envolvidos <strong>no</strong> projeto:<br />
Tefé, AM<br />
Março <strong>de</strong> 2009<br />
MSc. Robinson Botero-Arias<br />
Pesquisador<br />
M.V. Juliane Hallal Cabral<br />
Medico Veterinário<br />
Dr. Miriam Marmontel<br />
Coor<strong>de</strong>nadora <strong>de</strong> Pesquisa<br />
Josivaldo Mo<strong>de</strong>sto<br />
Coor<strong>de</strong>nador <strong>de</strong> Operações<br />
Dr. Hel<strong>de</strong>r Lima <strong>de</strong> Queiroz<br />
Diretor Técnico - Cientifico<br />
Ruiter Braga da Silva<br />
Técnico <strong>de</strong> Pesca
Instituto <strong>de</strong> <strong>Desenvolvimento</strong><br />
Sustentável Mamirauá - IDSM<br />
ÍNDICE<br />
Instituto <strong>de</strong> <strong>Desenvolvimento</strong> Sustentável Mamirauá<br />
Estrada do Bexiga, nº 2584 - Bairro Fonte Boa - CEP 69470-000 - Tefé/AM - Brasil<br />
PABX: +55-97-3343-4672 - FAX: +55-97-3343-2736<br />
E-mail: mamiraua@mamiraua.org.br<br />
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Página<br />
INTRODUÇÃO 2<br />
Parte 1: ORGANIZAÇÃO E PARTICIPAÇÃO COMUNITÁRIA NO<br />
PROCESSO DE NEGOCIAÇÃO E PRÉ-BENEFICIAMENTO DE JACARÉS 4<br />
Parte 2: CAPTURAS E CONFINAMENTO DOS JACARÉS, DURANTE<br />
A ATIVIDADES DO ABATE 9<br />
Parte 3: INFRA-ESTRUTURA E LINHA DE ABATE DE JACARÉS 14<br />
Parte 4: RENDIMENTOS DE CARCAÇAS E PELES DE JACARÉS 23<br />
Parte 5: PROCEDIMENTOS DE COLETA DE MATERIAIS BIOLÓGICOS<br />
PARA FINS CIENTÍFICOS 26<br />
Parte 6: ESTIMATIVAS DE ABUNDÂNCIAS E ESTRUTURA DE<br />
TAMANHOS DOS JACARÉS NO SETOR JARAUÁ – RDS MAMIRAUÁ 30<br />
Parte 7: ACOMPANHAMENTO E RASTREABILIDADE DOS PRODUTOS 33<br />
Parte 8: ACOMPANHAMENTO DO BENEFICIAMENTO DAS<br />
CARCAÇAS DE JACARÉ-AÇU 36<br />
Parte 9: SOLUÇÕES E SUGESTÕES PROPOSTAS 41<br />
1
Instituto <strong>de</strong> <strong>Desenvolvimento</strong><br />
Sustentável Mamirauá - IDSM<br />
INTRODUÇÃO<br />
O presente relatório objetiva divulgar os eventos relacionados com o abate<br />
<strong>de</strong> jacarés ocorrido em <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 2008 <strong>no</strong> interior da <strong>Reserva</strong> <strong>de</strong><br />
<strong>Desenvolvimento</strong> Sustentável Mamirauá, como parte das ativida<strong>de</strong>s experimentais<br />
do Projeto <strong>de</strong> Manejo Experimental <strong>de</strong> <strong>Jacarés</strong>, coor<strong>de</strong>nado pelo Gover<strong>no</strong> do Estado<br />
do Amazonas, contando com o apoio e parceria do Instituto Mamirauá.Este abate<br />
teve lugar especialmente para completar uma cota <strong>de</strong> extração autorizada a<strong>no</strong>s<br />
antes pelo IBAMA e continuamente não utilizada. Foi dado um prazo<br />
extremamente exíguo para sua realização e organização, o que explica boa parte das<br />
dificulda<strong>de</strong>s relatadas aqui.<br />
Apesar disso, este abate se mostrou muitas vezes mais organizado que os<br />
dois ocorridos anteriormente (2004 e 2006). Por um longo período, os parceiros do<br />
projeto <strong>de</strong>bateram sobre quais os melhores princípios a seguir e quais os melhores<br />
procedimentos a adotar. Mas esta situação sofreu um avanço substancial. Assim,<br />
<strong>de</strong>s<strong>de</strong> fins <strong>de</strong> 2008 tem sido percebida uma maior abertura por parte dos<br />
representantes do Gover<strong>no</strong> do Estado na discussão <strong>de</strong> princípios e procedimentos,<br />
e uma concordância num conjunto mínimo <strong>de</strong> parâmetros a serem empregados na<br />
construção <strong>de</strong>ste manejo.<br />
Em face disso, neste manejo <strong>de</strong> 2008, pela primeira vez o IDSM partilhou as<br />
responsabilida<strong>de</strong>s na aplicação <strong>de</strong> critérios associados à captura. Tais critérios<br />
envolveram a seleção <strong>de</strong> áreas <strong>de</strong> manejo, avaliação das variáveis ambientais do<br />
período, estabelecimento <strong>de</strong> divisão <strong>de</strong> cotas entre tipos <strong>de</strong> áreas, <strong>de</strong>finição da faixa<br />
<strong>de</strong> manejo ou dos critérios <strong>de</strong> exclusão (estabelecimento <strong>de</strong> comprimentos máximos<br />
e mínimos, e exclusão <strong>de</strong> fêmeas e outras espécies). No entanto, vários problemas<br />
na aplicação dos critérios ainda foram observados. De qualquer forma, a equipe <strong>de</strong><br />
membros do IDSM envolvida consi<strong>de</strong>ra que um gran<strong>de</strong> avanço foi <strong>no</strong>tado em 2008.<br />
Pela primeira vez, um volume significativo <strong>de</strong> informações foi<br />
criteriosamente coletado e registrado, como po<strong>de</strong>rá ser observado neste relatório.<br />
Tais informações são vitais para construção <strong>de</strong> um sistema <strong>de</strong> manejo mais<br />
a<strong>de</strong>quado às condições locais, mas em observância aos parâmetros éticos e legais<br />
que envolvem a exploração <strong>de</strong> animais silvestres. Este relatório reflete o árduo<br />
trabalho <strong>de</strong> alguns membros do IDSM que estiveram muito envolvidos nestas<br />
ativida<strong>de</strong>s. São eles a Dra. Miriam Marmontel, o MSc Robinson Botero-Arias, a MV<br />
Juliane Hallal Cabral, e os técnicos Ruiter Braga da Silva e Josivaldo Mo<strong>de</strong>sto. A<br />
eles, que são os principais autores <strong>de</strong>ste relatório, o IDSM agra<strong>de</strong>ce e<strong>no</strong>rmemente<br />
pelo afinco e compromisso. Estamos certos <strong>de</strong> que relatórios como este contribuem<br />
<strong>de</strong> forma <strong>de</strong>cisiva para o aperfeiçoamento das ações <strong>de</strong> campo e <strong>de</strong> manejo dos<br />
recursos naturais da Amazônia.<br />
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Sustentável Mamirauá - IDSM<br />
Membros <strong>de</strong> outras instituições que não os principais parceiros (IDAM e<br />
IDSM) estiveram presentes e participaram do processo auxiliando nas ativida<strong>de</strong>s.<br />
Po<strong>de</strong>mos citar instituições tais como a CODESAV, o IBAMA, e técnicos da UFRA.<br />
O empresário, comprador do produto do manejo, e alguns <strong>de</strong> seus auxiliares<br />
também estiveram presentes. A todos agra<strong>de</strong>cemos a ajuda, mesmo que em muitos<br />
momentos a convivência não tenha sido tão harmoniosa quanto <strong>de</strong>sejável.<br />
Esperamos po<strong>de</strong>r continuar auxiliando o Gover<strong>no</strong> do Estado neste projeto, e<br />
aprimorar continuamente este importante sistema <strong>de</strong> manejo, com a ajuda <strong>de</strong> todas<br />
as instituições que estão juntas neste objetivo.<br />
Hel<strong>de</strong>r Queiroz<br />
Diretor Técnico-Científico do IDSM<br />
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Instituto <strong>de</strong> <strong>Desenvolvimento</strong><br />
Sustentável Mamirauá - IDSM<br />
Parte 1: ORGANIZAÇÃO E PARTICIPAÇÃO COMUNITÁRIA NO<br />
PROCESSO DE NEGOCIAÇÃO E PRÉ-BENEFICIAMENTO DE<br />
JACARÉS<br />
1.1 Negociação Prévia:<br />
Os membros da Associação <strong>de</strong> Produtores do <strong>Setor</strong> <strong>Jarauá</strong> - APSJ realizaram,<br />
<strong>no</strong> dia 06 <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 2008, uma reunião com o objetivo principal <strong>de</strong> tratar<br />
sobre o manejo <strong>de</strong> jacarés <strong>no</strong> setor <strong>Jarauá</strong>, <strong>Reserva</strong> <strong>de</strong> <strong>Desenvolvimento</strong> Sustentável<br />
Mamirauá - RDSM. Nesta reunião, contaram com a importante participação <strong>de</strong><br />
representantes <strong>de</strong> alguns órgãos governamentais e não governamentais, tais como<br />
Dr. Malvi<strong>no</strong> Salvador (Diretor <strong>de</strong> Assistência Técnica e Extensão Florestal do<br />
IDAM-DITEF), Sônia Canto (Gerente da Fauna Silvestre do Instituto <strong>de</strong><br />
<strong>Desenvolvimento</strong> Agropecuário e Florestal Sustentável do IDAM e também<br />
coor<strong>de</strong>nadora do Projeto <strong>de</strong> Manejo <strong>de</strong> Jacaré), Dr. Hel<strong>de</strong>r Queiroz (Diretor<br />
Técnico-Científico do IDSM), Dra. Miriam Marmontel (Coor<strong>de</strong>nadora <strong>de</strong> Pesquisas<br />
do IDSM), Robinson Botero-Arias (Pesquisador do Programa <strong>de</strong> Manejo e<br />
Conservação e <strong>de</strong> <strong>Jacarés</strong> do IDSM), John Thorbjarnarson (Pesquisador da Wildlife<br />
Conservation Society), Carlos André Vasconcelos (Médico Veterinário da Comissão<br />
Executiva Permanente <strong>de</strong> Defesa Sanitária Animal e Vegetal - CODESAV), e o Sr.<br />
Valdécio Moreira Farias (até aquele momento, empresário interessado na compra<br />
dos jacarés manejados).<br />
O principal assunto <strong>de</strong>sta reunião foi analisar a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> realizar um<br />
abate <strong>de</strong> jacaré para comercialização, ainda <strong>no</strong> a<strong>no</strong> <strong>de</strong> 2008, aproveitando uma parte<br />
não utilizada da cota autorizada em 2006, correspon<strong>de</strong>nte a 446 animais ainda por<br />
serem explorados. Segundo Sônia Canto, não seria viável solicitar <strong>no</strong>va cota ao<br />
IBAMA se ainda não foi capturado o restante da cota autorizada em 2006. E que,<br />
como se encontravam próximos do encerramento da prorrogação da autorização,<br />
sugeria que a mesma fosse aproveitada. Os sócios da APSJ, preocupados em dar<br />
continuida<strong>de</strong> ao manejo <strong>de</strong> jacarés, e temendo serem prejudicados caso não<br />
utilizassem esta cota restante <strong>de</strong> 446 animais, <strong>de</strong>monstraram gran<strong>de</strong> interesse em<br />
realizar a captura ainda <strong>no</strong> mês <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 2008.<br />
Nesta ocasião foram avaliadas as dificulda<strong>de</strong>s que se colocavam àquela<br />
idéia. Os ambientes <strong>de</strong> captura já estavam muito inundados (<strong>de</strong>vido ao momento<br />
do ciclo hidrológico), com muitos capins flutuantes impedindo o trânsito dos<br />
manejadores e o acesso aos animais, com muitas <strong>no</strong>ites <strong>de</strong> luar ocorrendo <strong>no</strong><br />
período <strong>de</strong> trabalho proposto, e o curto período disponível para realizar o trabalho<br />
e preencher a cota restante. Após várias discussões entre técnicos, pesquisadores e<br />
representantes do gover<strong>no</strong>, e confirmado pela maioria dos sócios da APSJ que<br />
queriam realizar o abate <strong>de</strong> jacarés ainda em <strong>de</strong>zembro e antes do Natal, foi<br />
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Sustentável Mamirauá - IDSM<br />
apresentado o potencial comprador. Este se propôs a adquirir todo o produto.<br />
Antes <strong>de</strong> uma <strong>de</strong>cisão final, partiu-se para discussão da programação <strong>de</strong> datas para<br />
iniciar os trabalhos, levando-se em consi<strong>de</strong>ração a palavra do comprador. Este<br />
afirmou que seriam necessários cinco dias, a partir do dia 07/12, para preparar o<br />
barco e chegar até a comunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> São Raimundo do <strong>Jarauá</strong>. Restariam assim 10<br />
dias para trabalhar, contados (a partir do dia 12) até o dia 22 <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 2008.<br />
Novamente, foram mencionadas as dificulda<strong>de</strong>s associadas ao curto prazo para a<br />
execução da tarefa e as condições ambientais. Mais uma vez, os sócios da APSJ<br />
confirmaram que reconheciam as dificulda<strong>de</strong>s, mas se comprometeram e<br />
garantiram a realização da captura da cota restante.<br />
Em seguida o Dr. Hel<strong>de</strong>r Queiroz perguntou ao Sr. Valdécio Moreira <strong>de</strong><br />
Farias, qual seria a quantida<strong>de</strong> mínima, eco<strong>no</strong>micamente viável, <strong>de</strong> animais<br />
extraídos para permitir a formalização <strong>de</strong> um Contrato <strong>de</strong> Compra e Venda. O Sr.<br />
Valdécio informou que a quantida<strong>de</strong> mínima seria <strong>de</strong> 300 animais. Como os<br />
manejadores confirmaram que seriam capazes <strong>de</strong> aproveitar o total da cota <strong>de</strong> 446<br />
animais, ou ao me<strong>no</strong>s a cota mínima <strong>de</strong> 300 animais, garantindo a viabilida<strong>de</strong><br />
econômica da operação, passou-se a discutir os preços e as formas <strong>de</strong> pagamento do<br />
produto. O Sr. Valdécio fez sua proposta <strong>de</strong> R$ 180,00 (cento e oitenta reais) por<br />
cada pele <strong>de</strong> jacaré, e ofereceu 10% do valor líquido apurado na venda da carne.<br />
Além disso, pediu um prazo <strong>de</strong> 90 (<strong>no</strong>venta) dias para efetuar o pagamento.<br />
Disponibilizou-se em antecipar R$ 10.000,00 (<strong>de</strong>z mil reais) para custear as <strong>de</strong>spesas<br />
<strong>de</strong> captura e abate.<br />
Os comunitários consi<strong>de</strong>raram <strong>de</strong>masiadamente baixo o valor oferecido pela<br />
carne, e tentaram negociar, pedindo R$ 250,00 (duzentos e cinquenta reais) por cada<br />
indivíduo extraído (pele e carne). O Sr. Valdécio disse não ter condições <strong>de</strong> pagar<br />
esse valor por animal, e fez uma contra-proposta para pagar R$ 200,00 (duzentos<br />
reais). Esta contra-proposta foi aceita pelos comunitários e foi combinado que seria<br />
assinado um contrato antes do início do abate. O Sr. Valdécio informou também<br />
que gostaria <strong>de</strong> levar, após a extração, todas as partes dos animais produzidos,<br />
incluindo as cabeças (crânios).<br />
Ao final <strong>de</strong>sta reunião, uma série <strong>de</strong> regulamentos foram acordados a priori<br />
com os manejadores para guiarem as ações <strong>de</strong>sta extração. Foram eles:<br />
1. Capturar exclusivamente indivíduos <strong>de</strong> jacaré-açu, em função do interesse<br />
comercial do comprador;<br />
2. As capturas <strong>de</strong>verão ser direcionadas para indivíduos cujo comprimento<br />
total esteja entre 210 cm e 280 cm;<br />
3. O número <strong>de</strong> fêmeas capturadas não po<strong>de</strong>ria exce<strong>de</strong>r 10% da quota total <strong>de</strong><br />
extração;<br />
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4. As capturas só po<strong>de</strong>rão ser realizadas em quatro locais, em que foram<br />
realizadas previamente avaliações das condições <strong>de</strong> acessibilida<strong>de</strong> e<br />
estimativas <strong>de</strong> estoque (abundância relativa).<br />
1.2 Organização da Associação:<br />
No dia 7 <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 2008, a Associação <strong>de</strong> Produtores do <strong>Setor</strong> <strong>Jarauá</strong>-<br />
APSJ reuniu mais uma vez seus associados na casa comunitária <strong>de</strong> São Raimundo<br />
do <strong>Jarauá</strong>, <strong>de</strong>sta vez para construir uma programação e organização para o trabalho<br />
ao longo dos dias <strong>de</strong> abate <strong>de</strong> jacarés. Um dos objetivos <strong>de</strong>ste planejamento foi<br />
envolver todos os associados, tanto homens como mulheres, em alguma das<br />
ativida<strong>de</strong>s, <strong>de</strong> forma que todos tivessem participação <strong>no</strong> processo. Também para<br />
que o trabalho pu<strong>de</strong>sse ser realizado da maneira mais eficiente possível,<br />
distribuindo tarefas entre grupos <strong>de</strong> trabalho.<br />
Os trabalhos foram planejados e divididos em equipes da seguinte forma:<br />
a) Captura - 39 pessoas;<br />
b) Lavagem, Insensibilização e Sangria - 6 pessoas;<br />
c) Esfola - 15 pessoas;<br />
d) Limpeza - 14 pessoas;<br />
e) Cozinha - 10 pessoas, e<br />
f) Fiscalização - 6 pessoas.<br />
Entre todas as equipes, 90 pessoas participariam dos trabalhos. Durante o<br />
abate foi necessário formar uma <strong>no</strong>va equipe, sendo composta por uma maioria <strong>de</strong><br />
mulheres, que foi a equipe <strong>de</strong> Descarne das Peles. Finalizando os trabalhos <strong>de</strong><br />
formação <strong>de</strong> equipes, foram feitos os planejamentos <strong>de</strong> <strong>de</strong>spesas e aquisição <strong>de</strong><br />
utensílios necessários para realização dos mesmos. Como “<strong>de</strong>spesas” foram<br />
incluídos rancho para alimentação dos envolvidos, gasolina para a equipe <strong>de</strong><br />
captura, pilhas, bombilhos, fitas crepe, nylon, lanternas e tiras <strong>de</strong> borracha <strong>de</strong><br />
câmaras <strong>de</strong> motocicleta, para pren<strong>de</strong>r a boca dos jacarés, e fita isolante para este<br />
mesmo fim.<br />
1.3 Início dos Trabalhos:<br />
Devido ao atraso na chegada do barco que havia sido preparado para<br />
armazenar e transportar os jacarés, a captura só iniciou na <strong>no</strong>ite <strong>de</strong> 15/12. Devido<br />
ao atraso do fiscal da CODESAV e da coor<strong>de</strong>nadora do projeto, que <strong>de</strong>veriam estar<br />
presentes para autorizar o início das ativida<strong>de</strong>s, o processo <strong>de</strong> abate e esfola dos<br />
animais, embalagem e armazenamento dos produtos só teve início às 19h00 do dia<br />
16/12. Como as ativida<strong>de</strong>s foram interrompidas à meia-<strong>no</strong>ite <strong>de</strong> 16/12, às 07h00 da<br />
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manhã <strong>de</strong> 17/12, todos os comunitários escalados em equipes <strong>de</strong> trabalho estavam<br />
presentes <strong>no</strong> flutuante da APSJ, local on<strong>de</strong> foram feitas algumas adaptações<br />
mínimas para realização dos trabalhos. No primeiro dia <strong>de</strong> abate, apesar dos<br />
comunitários estarem prontos às 07h 00, o trabalho só iniciou às 10 h 30 <strong>de</strong>vido à<br />
falta <strong>de</strong> entendimento entre os pesquisadores do IDSM e os coletores <strong>de</strong> material<br />
para pesquisa <strong>de</strong> outras instituições. Além disso, o fiscal da CODESAV e o<br />
comprador discutiram por muito tempo alguns pontos referentes ao procedimento<br />
<strong>de</strong> coleta <strong>de</strong> materiais, e tentando <strong>de</strong>finir a linha <strong>de</strong> produção e beneficiamento.<br />
Outro motivo importante a atrasar as ativida<strong>de</strong>s foi o questionamento dos<br />
membros da comunida<strong>de</strong> e do comprador sobre a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> coleta <strong>de</strong> material<br />
e informação para as pesquisas científicas. Segundo estes, tais procedimentos<br />
estavam atrasando a linha <strong>de</strong> produção. Algumas facções da comunida<strong>de</strong><br />
levantaram uma questão relacionada à duração das jornadas <strong>de</strong> trabalho,<br />
especialmente <strong>no</strong> pré-beneficiamento, o que envolveu o representante da<br />
CODESAV, o comprador e representantes do IDSM.<br />
A falta <strong>de</strong> material e suprimentos em quantida<strong>de</strong> suficiente (luvas, fitas,<br />
cordas, pilhas, aventais, facas, ganchos, etc.) fez com que tanto os trabalhos <strong>de</strong><br />
captura quanto <strong>de</strong> abate fossem interrompidos algumas vezes até que tais<br />
suprimentos estivessem <strong>no</strong>vamente disponíveis. De igual forma, a quantida<strong>de</strong><br />
insuficiente <strong>de</strong> lacres do IBAMA para uso <strong>no</strong>s couros, a ser provi<strong>de</strong>nciada pela<br />
coor<strong>de</strong>nação do projeto, gerou a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> interrupção para <strong>no</strong>vo<br />
fornecimento. Todas estas questões contribuíram para gerar atrasos <strong>no</strong> processo <strong>de</strong><br />
captura e abate dos animais.<br />
1.4 Principais Problemas I<strong>de</strong>ntificados nas Fases da Organização:<br />
1. Os membros da associação encontravam-se, ao início das negociações, muito<br />
frustrados por não terem conseguido completar a cota <strong>de</strong> pesca <strong>de</strong> pirarucu,<br />
ativida<strong>de</strong> que havia sido <strong>de</strong>senvolvida até poucas semanas antes. Como não<br />
chegaram a produzir a cota estabelecida, ficaram <strong>de</strong>sta forma<br />
impossibilitados <strong>de</strong> saldar os compromissos <strong>de</strong> financiamento com o Banco<br />
do Brasil. Esta vulnerabilida<strong>de</strong> dos membros da associação foi <strong>de</strong>terminante<br />
para que eles se apresentassem muito receptivos à idéia do abate, e às<br />
propostas nem tão vantajosas que lhes foram colocadas.<br />
2. A tentativa <strong>de</strong> eco<strong>no</strong>mizar os recursos adiantados pelo comprador por parte<br />
dos membros da associação gerou <strong>de</strong>sabastecimento, aquisição <strong>de</strong><br />
suprimentos ina<strong>de</strong>quados e atrasos <strong>no</strong>s trabalhos.<br />
3. Os comunitários que realizavam a esfola dos jacarés se queixaram do pouco<br />
tempo <strong>de</strong> sangria. Sentiram que corriam risco <strong>de</strong> se aci<strong>de</strong>ntar enquanto<br />
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tentavam realizar os cortes iniciais da pele para esfola, e os animais ainda<br />
estavam se <strong>de</strong>batendo.<br />
4. Os diferentes parceiros não tiveram a oportunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> planejar<br />
conjuntamente as ações, o que gerou um choque nítido <strong>de</strong> expectativas, <strong>de</strong><br />
procedimentos, <strong>de</strong> finalida<strong>de</strong>s e <strong>de</strong> precedência <strong>de</strong> priorida<strong>de</strong>s.<br />
5. A coor<strong>de</strong>nadora do projeto não estava a<strong>de</strong>quadamente preparada para que<br />
todo o couro produzido pu<strong>de</strong>sse ser <strong>de</strong>vidamente lacrado conforme<br />
exigência do IBAMA, e esteve ausente por vários momentos do período.<br />
6. A organização interna da associação comunitária não se mostrou capaz <strong>de</strong><br />
permitir a formação <strong>de</strong> grupos <strong>de</strong> trabalho coesos e perenes. Além disso, boa<br />
parte das pessoas listadas para compor as equipes não se apresentaram para<br />
o trabalho.<br />
7. Todos os participantes do experimento (manejadores, coor<strong>de</strong>nadores,<br />
técnicos, pesquisadores, e etc.) <strong>de</strong>monstraram <strong>de</strong>sconhecimento quanto aos<br />
princípios técnicos e etapas <strong>de</strong> pré-beneficiamento, impossibilitando a<br />
criação <strong>de</strong> uma linha <strong>de</strong> produção eficiente.<br />
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Parte 2: CAPTURAS E CONFINAMENTO DOS JACARÉS, DURANTE AS<br />
ATIVIDADES DO ABATE<br />
Para as ativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> captura, foram estabelecidos 9 grupos <strong>de</strong> caçadores,<br />
constituídos por 3 ou 4 comunitários. Cada grupo <strong>de</strong> caçadores se distribuiu <strong>no</strong>s<br />
locais liberados para captura, usando uma ca<strong>no</strong>a com motor rabeta. O método para<br />
a captura foi o uso <strong>de</strong> arpão (11 cm <strong>de</strong> comprimento), procurando os jacarés com<br />
ajuda <strong>de</strong> lanternas. Os animais <strong>de</strong>veriam ser arpoados <strong>de</strong> forma superficial, <strong>de</strong><br />
modo a evitar que morressem. Os arpoamentos <strong>de</strong>veriam ser realizados<br />
preferencialmente na região superior (cabeça ou pescoço), evitando-se ferimentos<br />
profundos que comprometessem a sanida<strong>de</strong> da carne e a integrida<strong>de</strong> do couro.<br />
Após arpoados, os animais foram imobilizados amarrando a boca com cordas, fita<br />
isolante e bandas elásticas (câmara <strong>de</strong> borracha). Os olhos foram cobertos com “fita<br />
crepe” e as extremida<strong>de</strong>s imobilizadas com cordas.<br />
Os animais capturados foram transportados até <strong>no</strong> flutuante do PCP (Projeto<br />
<strong>de</strong> Comercialização <strong>de</strong> Pescado), na comunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> São Raimundo do <strong>Jarauá</strong>, on<strong>de</strong><br />
foram recepcionados e mantidos na área <strong>de</strong> <strong>de</strong>scanso até o momento do abate.<br />
Durante a recepção dos animais foram registrados dados biométricos e a condição<br />
clínica dos mesmos, bem como informações sobre a equipe <strong>de</strong> trabalho e o local <strong>de</strong><br />
captura. A i<strong>de</strong>ntificação consistia na colocação <strong>de</strong> pedaço <strong>de</strong> fita a<strong>de</strong>siva sobre o<br />
animal, on<strong>de</strong> ficavam registrados o <strong>no</strong>me do lí<strong>de</strong>r da equipe e a or<strong>de</strong>m <strong>de</strong> captura.<br />
Foi realizada uma triagem dos animais recepcionados já mortos, afastandoos<br />
dos animais ainda vivos. Animais com ferimentos mais graves foram separados<br />
e mantidos em observação. Animais que estavam fora da faixa <strong>de</strong> tamanho<br />
estabelecida foram liberados, mas foram também consi<strong>de</strong>rados critérios<br />
veterinários antes <strong>de</strong> sua liberação. Animais muito feridos, ainda que me<strong>no</strong>res ou<br />
maiores que a faixa <strong>de</strong> extração, eram sacrificados.<br />
A avaliação para soltura, feita pelo IDSM, consistiu na inspeção do ferimento<br />
causado pelo arpão, on<strong>de</strong> foi observada a profundida<strong>de</strong> da estocada e o possível<br />
da<strong>no</strong> à estruturas internas (principalmente esôfago e traquéia, uma vez que o local<br />
<strong>de</strong> eleição para a arpoada é a região cervical), e verificada a reação do animal a<br />
estímulos exter<strong>no</strong>s. A ausência <strong>de</strong> local a<strong>de</strong>quado para observação dos animais e o<br />
risco iminente aos manipuladores dos jacarés, levou à soltura imediata dos animais<br />
após a avaliação. Conforme havia sido acordado, não foi realizado tratamento <strong>no</strong><br />
local do ferimento do arpão pelo IDSM, sendo reservado esse procedimento ao<br />
veterinário da Inspeção Estadual.<br />
Em diferentes ocasiões a coor<strong>de</strong>nadora do projeto não implementou <strong>de</strong><br />
forma estrita aqueles critérios <strong>de</strong> manejo que <strong>de</strong>finiam a inclusão dos animais (o<br />
comprimento total <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> uma faixa <strong>de</strong> tamanho a<strong>de</strong>quada para manejo). Estes<br />
animais, e também os muito feridos não foram liberados, mas confinados e<br />
<strong>de</strong>stinados para a linha <strong>de</strong> abate, para aproveitamento.<br />
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O local <strong>de</strong> <strong>de</strong>scanso dos animais selecionados foi o mesmo utilizado para o<br />
abate. Para garantir a segurança dos manipuladores, os animais permaneceram sob<br />
contenção física até o momento do abate. Para tanto, as patas dianteiras e traseiras<br />
foram amarradas sobre o dorso, enquanto a boca e olhos dos jacarés foram contidos<br />
com fitas crepe ou do tipo isolante, ou ainda com tiras <strong>de</strong> borracha. A contenção <strong>de</strong><br />
olhos e boca mostrou-se pouco eficiente dada à qualida<strong>de</strong> do material utilizado,<br />
ocorrendo diversos episódios em que os animais soltaram-se, colocando em risco a<br />
segurança das pessoas presentes <strong>no</strong> local.<br />
Nos seis períodos <strong>de</strong> captura (<strong>no</strong>ites dos dias 16 a 22/12) foi capturado um<br />
total <strong>de</strong> 257 jacarés <strong>no</strong>s quatro locais autorizados para a extração. A maior parte dos<br />
jacarés foi capturada <strong>no</strong> Canal <strong>Jarauá</strong>, perto da comunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> S.R. do <strong>Jarauá</strong><br />
(Tabela 1.1).<br />
Tabela 1.1: Porcentagem <strong>de</strong> captura <strong>de</strong> jacarés segundo o local.<br />
Local<br />
Porcentagem cota<br />
extraída (n=257)<br />
Paranã do <strong>Jarauá</strong> 1 9,34 %<br />
Paranã do <strong>Jarauá</strong> 2 71,21 %<br />
Ressaca do Itú 9,34 %<br />
Ressaca do Panema 10,12%<br />
Dos 257 jacarés capturados, quatro eram exemplares <strong>de</strong> jacaré-tinga (Caiman<br />
crocodilus). Destes dois foram liberados e os dois restantes foram <strong>de</strong>scartados (um<br />
foi recepcionado morto, e o outro morreu na área <strong>de</strong> <strong>de</strong>scanso; nenhum dos dois foi<br />
aproveitado).<br />
Dos 253 jacarés-açu capturados, 14 foram liberados (<strong>de</strong>ntre eles 6 fêmeas)<br />
por não se encontrarem na faixa <strong>de</strong> tamanho a<strong>de</strong>quado. Doze indivíduos foram<br />
recepcionados mortos, sendo separados dos vivos, porém mantidos nas mesmas<br />
<strong>de</strong>pendências. As carcaças <strong>de</strong>sses animais foram con<strong>de</strong>nadas <strong>de</strong>vido ao óbito fora<br />
do local <strong>de</strong> abate e por este ter ocorrido em momento muito anterior ao prébeneficiamento.<br />
Dos animais recepcionados mortos foi aproveitado apenas a pele e<br />
realizada coleta <strong>de</strong> material biológico quando correspondiam às categorias <strong>de</strong><br />
interesse. Portanto, foram aproveitados apenas 226 indivíduos (Tabela 1.2).<br />
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Tabela 1.2: Resumo dos animais recepcionados durante as ativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> captura <strong>de</strong> jacarés, em<br />
<strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 2008, <strong>no</strong> setor <strong>Jarauá</strong>, RDS Mamirauá.<br />
Total <strong>de</strong> jacarés capturados 257 100%<br />
Número <strong>de</strong> M. niger capturados 253 98,44%<br />
Número <strong>de</strong> C. crocodilus capturados 4 1,56%<br />
Número <strong>de</strong> fêmeas capturadas (M. niger) 35 13,62%<br />
Número <strong>de</strong> machos capturados(M. niger) 218 84,82%<br />
Número <strong>de</strong> animais liberados (M. niger) 14 5,45%<br />
Número <strong>de</strong> fêmeas liberadas 6 2,33%<br />
Animais que fugiram amarrados 2 0,78%<br />
Animais recepcionados já mortos 12 4,67%<br />
Durante os seis períodos <strong>de</strong> captura <strong>no</strong>turna foi obtida uma média <strong>de</strong> 43<br />
jacarés por <strong>no</strong>ite. No entanto, o número <strong>de</strong> equipes <strong>de</strong> captura variou para cada um<br />
<strong>de</strong>sses períodos. As variações <strong>no</strong> número <strong>de</strong> equipes estiveram associadas à<br />
capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> processamento dos jacarés abatidos (o trabalho das equipes <strong>de</strong> prébeneficiamento).<br />
No total, foram investidas 298 horas para capturar os 257 jacarés,<br />
resultando numa CPUE média <strong>de</strong> 0,86 jacarés/hora (Tabela 1.3).<br />
Tabela 1.3: Relação do numero <strong>de</strong> jacarés capturados por cada período <strong>de</strong> captura, tempos médios <strong>de</strong><br />
captura por período e CPUE (jacarés/tempo).<br />
Período <strong>de</strong><br />
captura<br />
Número <strong>de</strong> equipes<br />
Número indivíduos<br />
capturados por dia<br />
Tempo médio <strong>de</strong><br />
captura por equipe<br />
CPUE<br />
(jacarés/tempo)<br />
15-16<strong>de</strong>z 9 62 08:48 0,77<br />
17-18<strong>de</strong>z 9 73 07:27 1,09<br />
18<strong>de</strong>z 2 9 04:40 0,96<br />
19-20<strong>de</strong>z 9 55 06:56 0,82<br />
20-21<strong>de</strong>z 8 36 06:24 0,70<br />
21-22<strong>de</strong>z 3 22 07:46 0,94<br />
15-22<strong>de</strong>z 40 42,8 06:53 0,86<br />
Do total <strong>de</strong> jacarés capturados e que ficaram em <strong>de</strong>scanso para<br />
aproveitamento, 32% estava- fora da faixa <strong>de</strong> tamanho estipulada <strong>no</strong> acordo inicial<br />
<strong>de</strong> planejamento. Destes, 51 indivíduos tinham tamanho igual ou me<strong>no</strong>r que 210<br />
cm <strong>de</strong> comprimento total e 25 indivíduos tinham tamanho igual ou maior a 280 cm<br />
<strong>de</strong> comprimento total (Figura 1.1a). Durante toda ativida<strong>de</strong> <strong>de</strong> captura foram<br />
capturadas 35 fêmeas (13,66%), e <strong>de</strong>ssas só foram liberadas 6.<br />
Foi registrada variação entre o tamanho dos indivíduos capturados em cada<br />
um dos seis períodos <strong>de</strong> captura. No primeiro dia foram capturados indivíduos<br />
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proporcionalmente maiores; <strong>no</strong>s períodos seguintes foram observadas médias<br />
<strong>de</strong>crescentes <strong>de</strong> tamanho (Figura 1.1b).<br />
Número <strong>de</strong> individuos<br />
60<br />
50<br />
40<br />
30<br />
20<br />
10<br />
0<br />
1.6<br />
1.8<br />
2.0<br />
2.2<br />
2.4<br />
2.6<br />
2.8<br />
Comprimento Total (m)<br />
3.0<br />
> 3.0<br />
1.0<br />
0 1 2 3 4 5 6 7<br />
Dia <strong>de</strong> captura<br />
Figura 1.1: (a) Estrutura <strong>de</strong> tamanho dos jacarés capturados durante todos os períodos <strong>de</strong> captura. (b) Variação<br />
do tamanho dos jacarés capturados durante cada um dos períodos <strong>de</strong> captura.<br />
Dos 239 jacaré-açu mantidos em <strong>de</strong>scanso para serem aproveitados, 27<br />
animais (11,3%) morreram ainda neste recinto. Dentre estes foram <strong>de</strong>scartados 14<br />
animais (5,86%) sem que nenhum tipo <strong>de</strong> aproveitamento fosse realizado.<br />
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Comprimento total (m)<br />
3.5<br />
3.0<br />
2.5<br />
2.0<br />
1.5<br />
Principais Problemas Encontrados Nesta Fase:<br />
a b<br />
1. A falta <strong>de</strong> planejamento a<strong>de</strong>quado e <strong>de</strong> articulação da coor<strong>de</strong>nação do<br />
projeto com os <strong>de</strong>mais atores reunidos na ativida<strong>de</strong> reduziu o tempo<br />
disponível para a captura e o beneficiamento dos animais capturados. Isto<br />
colaborou para dificultar o cumprimento do acordo dos comunitários com o<br />
comprador para produção <strong>de</strong> uma cota mínima <strong>de</strong> 300 jacarés;<br />
2. As ativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> extração não foram planejadas seguindo um calendário <strong>de</strong><br />
ativida<strong>de</strong>s econômicas e sociais apropriado para as comunida<strong>de</strong>s<br />
envolvidas.<br />
3. O <strong>de</strong>sconhecimento <strong>de</strong> técnicas <strong>de</strong> imobilização e contenção <strong>de</strong> jacarés por<br />
parte dos comunitários, associado com o uso <strong>de</strong> materiais e suprimentos <strong>de</strong><br />
péssima qualida<strong>de</strong>, comprometeu a segurança dos caçadores e do pessoal<br />
que manipulou os animais, além do próprio bem-estar dos animais.<br />
4. O uso <strong>de</strong> arpões muito compridos causou ferimentos profundos que<br />
comprometeram o bem-estar do animal e a qualida<strong>de</strong> dos produtos,<br />
especialmente da carne.<br />
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5. A falta <strong>de</strong> um local a<strong>de</strong>quado para o <strong>de</strong>scanso dos animais, que pu<strong>de</strong>sse<br />
permitir a triagem e avaliação a<strong>de</strong>quadas dos jacarés.<br />
6. Ausência <strong>de</strong> uma equipe <strong>de</strong> fiscalização que acompanhasse os grupos <strong>de</strong><br />
captura <strong>no</strong>s eventos <strong>de</strong> extração, avaliando as condições <strong>de</strong> captura e<br />
extração em cada local, e o bem-estar dos animais até o ponto <strong>de</strong> recepção.<br />
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Parte 3: INFRA-ESTRUTURA E LINHA DE ABATE DE JACARÉS<br />
Segundo o Artigo 2 o da Regulamentação <strong>de</strong> Inspeção Sanitária e Industrial <strong>de</strong><br />
Produtos <strong>de</strong> Origem Animal (RIISPOA, <strong>de</strong>creto n o30691/52, alterado pelo Decreto n o<br />
125/62) estão sujeitos à inspeção os produtos alimentícios <strong>de</strong> origem animal <strong>de</strong><br />
quaisquer espécies, ante e post-mortem, estando, portanto, o abate <strong>de</strong> jacarés incluso<br />
nessa legislação. O Artigo 438 do RIISPOA, em seu parágrafo único, torna as<br />
<strong>no</strong>rmas previstas para “pescado” extensivas a outros animais aquáticos não<br />
<strong>no</strong>minados <strong>no</strong> texto do artigo, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> que utilizados para alimentação humana. O<br />
Artigo 21 da mesma lei, <strong>no</strong> segundo parágrafo, <strong>de</strong>fine como “matadouro” o<br />
estabelecimento dotado <strong>de</strong> instalações a<strong>de</strong>quadas para a matança <strong>de</strong> quaisquer das<br />
espécies <strong>de</strong> açougue, visando o fornecimento <strong>de</strong> carne em natureza ao comércio<br />
inter<strong>no</strong>, com ou sem <strong>de</strong>pendências para industrialização. Todos os estabelecimentos<br />
on<strong>de</strong> são abatidos animais, industrializados ou armazenados produtos <strong>de</strong> origem<br />
animal <strong>de</strong>vem obe<strong>de</strong>cer ao RIISPOA. Sendo assim, o <strong>Abate</strong> Experimental <strong>de</strong> <strong>Jacarés</strong><br />
da RDSM está sujeito a essa legislação e suas complementações, dispostas nas<br />
Resoluções da Diretoria Colegiada da Agência Nacional <strong>de</strong> Vigilância Sanitária<br />
(RDC – ANVISA). Além dos aspectos legais do abate, serão abordadas nessa sessão<br />
questões <strong>de</strong> or<strong>de</strong>m técnico-científica pertinentes ao abate realizado.<br />
3.1 Instalações físicas e infra-estrutura para o <strong>Abate</strong>:<br />
Todas as etapas do abate, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a recepção até coleta <strong>de</strong> material biológico,<br />
foram realizadas em uma estrutura flutuante <strong>de</strong> ma<strong>de</strong>ira <strong>de</strong> 14 metros <strong>de</strong><br />
comprimento por 8 <strong>de</strong> largura, construído pelo Projeto <strong>de</strong> Comercialização <strong>de</strong><br />
Pescado (PCP). O piso, também em ma<strong>de</strong>ira, foi pintado com tinta esmalte <strong>de</strong> cor<br />
vermelha. Pouco antes do abate as pare<strong>de</strong>s internas do flutuante foram pintadas<br />
com tinta esmalte na cor branca, procurando aten<strong>de</strong>r às exigências mínimas do<br />
S.I.E. Internamente, o flutuante foi dividido em duas salas, sendo a me<strong>no</strong>r <strong>de</strong> 4<br />
metros <strong>de</strong> comprimento por dois <strong>de</strong> largura. A sala maior foi em parte revestido<br />
por um piso vinílico <strong>de</strong> cor branca, visando melhorar e facilitar higiene do abate.O<br />
flutuante ficou localizado <strong>no</strong> ca<strong>no</strong> do <strong>Jarauá</strong>, em frente à comunida<strong>de</strong> S. R. do<br />
<strong>Jarauá</strong>.<br />
A ventilação é realizada através <strong>de</strong> janelas fechadas com tela <strong>de</strong> nylon<br />
instaladas na meta<strong>de</strong> superior das pare<strong>de</strong>s do flutuante, exceto na sala <strong>de</strong>stinada a<br />
salga do couro. A iluminação foi feita por lâmpadas incan<strong>de</strong>scentes, havendo<br />
quatro pontos <strong>de</strong> luz que iluminavam <strong>de</strong> maneira insatisfatória o ambiente, sendo<br />
insuficientes para o trabalho <strong>no</strong>tur<strong>no</strong>.<br />
O fornecimento <strong>de</strong> água utilizado para higienização do ambiente, dos<br />
animais e das carcaças foi feito através da captação <strong>de</strong> água do ca<strong>no</strong> do <strong>Jarauá</strong>. Essa<br />
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água foi armazenada em tanques localizados na cobertura do barco <strong>de</strong><br />
armazenamento dos produtos do abate, on<strong>de</strong> foi filtrada e clorada. A água<br />
fornecida foi consi<strong>de</strong>rada “hiperclorada”, <strong>no</strong> entanto, não houve controle do nível<br />
<strong>de</strong> cloro residual livre durante o período <strong>de</strong> abate, po<strong>de</strong>ndo este estar acima ou<br />
abaixo das exigências mínimas. O local eleito para a captação da água, ao lado do<br />
barco e do flutuante, recebeu toda a sorte <strong>de</strong> <strong>de</strong>jetos provindos do processamento<br />
dos animais e dos barcos <strong>de</strong> apoio, além dos <strong>de</strong>jetos da comunida<strong>de</strong>.<br />
Abaixo está representada a planta esquemática do flutuante <strong>de</strong>monstrando a<br />
disposição <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong>s realizadas em seu interior durante o abate <strong>de</strong> jacarés:<br />
Salgamento<br />
do couro<br />
Curral <strong>de</strong><br />
espera<br />
(<strong>de</strong>scanso)<br />
Morfometria<br />
Descarne do<br />
couro<br />
Pesagem e<br />
medição do couro<br />
Pesagem das<br />
carcaças<br />
Saída lavagem, material<br />
biológico e carcaças<br />
Descarte<br />
Ganchos <strong>de</strong><br />
esfola<br />
Embalagem das<br />
carcaças<br />
Coleta <strong>de</strong> material Lavagem, atordoamento e insensibilização<br />
Barco<br />
- dinamômetros - ganchos <strong>de</strong> esfola - caixas <strong>de</strong> <strong>de</strong>scarte<br />
Figura 3.1: Planta esquemática das ativida<strong>de</strong>s realizadas <strong>no</strong> interior do flutuante durante o abate <strong>de</strong><br />
jacarés.<br />
Pias<br />
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Recepção dos<br />
jacarés<br />
Entrada sala<br />
<strong>de</strong> abate<br />
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3.2 Estrutura e funcionamento da “linha <strong>de</strong> abate”<br />
O abate foi iniciado às 19 horas do dia 16 <strong>de</strong> Dezembro, após a chegada do<br />
veterinário fiscal da CODESAV, e esten<strong>de</strong>u-se até próximo das 24 horas. O primeiro<br />
lote <strong>de</strong> jacarés capturados foi mantido amarrado <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a captura, que ocorrera<br />
cerca <strong>de</strong> 24 horas antes. Essa situação provocou o aparecimento <strong>de</strong> lesões <strong>no</strong>s<br />
animais, causadas pelo estrangulamento da circulação dos membros com<br />
consequente formação <strong>de</strong> e<strong>de</strong>ma. Alguns animais chegaram a permanecer cerca <strong>de</strong><br />
36 horas nessas condições, havendo alguns em que a e<strong>de</strong>maciação dos membros<br />
provocou a ruptura da pele das mãos e pés. Neste primeiro lote, durante o período<br />
<strong>de</strong> <strong>de</strong>scanso, foi registrada a morte <strong>de</strong> 11 jacarés sem que houvesse qualquer<br />
aproveitamento <strong>de</strong>sses animais.<br />
Foi realizada uma <strong>no</strong>va captura <strong>de</strong> jacarés somente na <strong>no</strong>ite do dia 17-18<br />
<strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro. A partir <strong>de</strong>ssa captura foi <strong>no</strong>rmalizado o período <strong>de</strong> <strong>de</strong>scanso,<br />
sendo acordado entre os participantes que todos os animais capturados durante<br />
a <strong>no</strong>ite seriam abatidos e processados durante o dia seguinte.<br />
Os trabalhos <strong>de</strong> pré-beneficiamento foram iniciados<strong>no</strong>s dias 17 a 21 <strong>de</strong><br />
<strong>de</strong>zembroa partir das 7 horas da manhã e esten<strong>de</strong>ram-se até por volta das 19<br />
horas. No dia 22 foi utilizado apenas o tur<strong>no</strong> da manhã. O horário das 12 às 14<br />
horas foi <strong>de</strong>stinado para o intervalo <strong>de</strong> almoço. À tar<strong>de</strong>, por volta das 16 horas<br />
havia uma pequena interrupção dos trabalhos para o lanche, mas nessa ocasião<br />
os comunitários organizavam a saída em peque<strong>no</strong>s grupos alternados em<br />
rodízio, dando, assim, prosseguimento ao abate. Para cada comunitário<br />
envolvido <strong>no</strong> processamento das carcaças foi fornecido apenas um conjunto <strong>de</strong><br />
botas, camiseta, calças e avental <strong>de</strong>scartável <strong>de</strong> TNT. Não foi utilizado avental<br />
<strong>de</strong> PVC. A disponibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> apenas um uniforme obrigou os comunitários a<br />
utilizar diariamente o mesmo uniforme e impossibilitou a troca <strong>de</strong>ste entre os<br />
tur<strong>no</strong>s <strong>de</strong> trabalho. Outrossim, os comunitários faziam as suas refeições<br />
vestidos com o uniforme <strong>de</strong> trabalho.<br />
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Em relação ao processamento do abate, esse seguiu, em linhas gerais, o<br />
seguinte fluxograma:<br />
Recepção<br />
Descanso<br />
Morfometria<br />
Lavagem<br />
Atordoamento e<br />
insensibilização<br />
Área suja<br />
Área limpa<br />
Embalagem e<br />
lacramento<br />
Corte da<br />
carcaça<br />
Evisceração<br />
Esfola e Toilet<br />
Sangria<br />
Área <strong>de</strong><br />
armazenamento<br />
Transição área limpa -<br />
área suja<br />
Figura 3.2: Fluxograma das etapas associadas à Linha <strong>de</strong> <strong>Abate</strong> <strong>de</strong> <strong>Jacarés</strong><br />
Pesagem da<br />
carcaça<br />
Armazenamento e<br />
Refrigeração<br />
Coleta <strong>de</strong> material<br />
biológico<br />
Descarne, medição e<br />
pesagem das peles<br />
Salgamento e<br />
embalagem das peles<br />
É importante ressaltar que esse fluxograma foi <strong>de</strong>finido <strong>no</strong> <strong>de</strong>curso do<br />
processamento, tendo sofrido várias modificações conforme as necessida<strong>de</strong>s e<br />
situações apresentadas <strong>no</strong> <strong>de</strong>correr do abate. Inicialmente não havia clareza,<br />
por parte dos comunitários e equipe do Gover<strong>no</strong> do Estado, <strong>de</strong> qual era o<br />
or<strong>de</strong>namento correto das ações. Aos poucos, as etapas foram se <strong>de</strong>finindo.<br />
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Porém, em algumas, permaneceram dúvidas a respeito da forma e or<strong>de</strong>m<br />
correta <strong>de</strong> execução, que persistiram até o final do abate.<br />
A morfometria foi a primeira etapa realizada, na qual os animais eram<br />
<strong>no</strong>vamente sexados, medidos e pesados. Essa etapa foi coor<strong>de</strong>nada pela equipe<br />
do IDSM, sendo auxiliados por alguns comunitários e eventualmente pelos<br />
integrantes da equipe do Gover<strong>no</strong>. Após essa etapa, os animais eram<br />
conduzidos até a área externa do flutuante, on<strong>de</strong> eram escovados e lavados com<br />
água hiperclorada. No mesmo local, os animais eram insensibilizados. A<br />
insensibilização iniciou-se pelo uso da marreta, aplicando-se um golpe na<br />
cabeça sobre a região frontal. A seguir foi feita através da secção da medula<br />
oblonga na altura da articulação atlanto-occipital, na região conhecida como seio<br />
occipital. Foram utilizadas facas para a secção. Devido à rica irrigação e<br />
drenagem sangüínea <strong>de</strong>ssa região e a profundida<strong>de</strong> do corte para<br />
insensibilização, esse procedimento já serviu como corte <strong>de</strong> sangria.Após essa<br />
etapa, os animais eram conduzidos arrastados pela área externa do flutuante até<br />
a porta lateral, por on<strong>de</strong> acessavam a sala <strong>de</strong> abate propriamente dita. Assim<br />
que entravam, os animais <strong>de</strong>veriam ser suspensos do solo e pendurados pela<br />
cauda em ganchos metálicos para proporcionar melhor escoamento do sangue.<br />
O tempo <strong>de</strong>corrido entre o final da lavagem, quando acontecia a<br />
insensibilização e o corte para sangria, e a pendura na sala <strong>de</strong> abate foi, <strong>no</strong><br />
entanto, bastante variável. Após verificar os dados coletados durante o abate,<br />
po<strong>de</strong>-se confirmar que o tempo médio entre esses eventos foi <strong>de</strong> cerca <strong>de</strong> 16<br />
minutos, havendo casos em que superou 30 minutos.<br />
Houve clara dificulda<strong>de</strong> dos comunitários para suspen<strong>de</strong>r os jacarés e<br />
iniciar a esfola. Isso se <strong>de</strong>u <strong>de</strong>vido, principalmente, a três fatores: ao elevado<br />
peso e tamanho da maioria dos animais, à insensibilização <strong>de</strong>ficiente (que os<br />
fazia <strong>de</strong>baterem-se <strong>de</strong>masiadamente), e à estrutura ina<strong>de</strong>quada para o<br />
içamento. O método usado para içar os animais, <strong>no</strong> qual se utilizaram cordas <strong>de</strong><br />
nylon para suspen<strong>de</strong>r os ganchos, careceu <strong>de</strong> cordas mais fortes e roldanas para<br />
facilitar o trabalho. Ocorreram algumas quedas <strong>de</strong> animais durante a esfola por<br />
rompimento das cordas, comprometendo a higiene do processo. Outro motivo<br />
<strong>de</strong> queda, muito mais frequente, foi o rompimento da musculatura da cauda,<br />
parte do corpo on<strong>de</strong> o gancho era fixado. A altura da estrutura <strong>de</strong> içamento<br />
também não permitia pendurar com segurança e higiene animais com mais <strong>de</strong><br />
2,80 m, pois esses ficavam com a cabeça encostada <strong>no</strong> chão ou na bacia <strong>de</strong><br />
<strong>de</strong>scarte, e corria-se maior risco das cordas ce<strong>de</strong>rem.<br />
A etapa seguinte à sangria foi a esfola, usando-se a técnica <strong>de</strong> corte<br />
<strong>de</strong><strong>no</strong>minada “belly skin”, que consiste na abertura longitudinal e dorsal da pele<br />
do animal, permitindo o melhor aproveitamento da pele. Após a esfola, a pele<br />
era direcionada ao <strong>de</strong>scarne e à mensuração <strong>de</strong> tamanho. As peles foram<br />
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medidas e pesadas pela equipe do IDSM, com colaboração dos comunitários,<br />
que se capacitaram em todo o processo <strong>de</strong> pré-beneficiamento das peles, <strong>de</strong>s<strong>de</strong><br />
a limpeza até o pré-curtimento e tomada <strong>de</strong> medidas.<br />
O pré-beneficiamento das peles compreen<strong>de</strong>u as seguintes etapas: 1)<br />
<strong>de</strong>scarne; 2) lavagem; 3) imersão em solução <strong>de</strong> água + cloreto <strong>de</strong> sódio +<br />
sulfato <strong>de</strong> cobre (por 1 h); 4) pendura para escorrimento; 5) salga (cloreto <strong>de</strong><br />
sódio + bórax); 6) pendura; 7) <strong>no</strong>va salga (mesma mistura); 8) enrolamento e<br />
embalagem; 9) armazenamento em câmara fria. A solução <strong>de</strong> imersão foi<br />
composta com 20 litros <strong>de</strong> água hipersaturada <strong>de</strong> cloreto <strong>de</strong> sódio e 1 kg sulfato<br />
<strong>de</strong> cobre. A proporção utilizada para salga <strong>de</strong> 10 kg <strong>de</strong> pele é <strong>de</strong> 20 kg cloreto<br />
<strong>de</strong> sódio: 1 kg bórax. Foram medidas 210 peles durante os sete dias <strong>de</strong> abate.<br />
Após a esfola, seguiu-se o pré-beneficiamento da carcaça com a toilet ou a<br />
evisceração, havendo variação na or<strong>de</strong>m dos procedimentos. A toilet consistiu<br />
na retirada das patas, cabeça e <strong>de</strong> locais da carcaça que apresentassem<br />
alterações. A evisceração consistiu na retirada na língua, traquéia, esôfago e<br />
todos os órgãos e <strong>de</strong>mais estruturas presentes nas cavida<strong>de</strong>s torácica e<br />
abdominal. Não foi utilizada a amarração da cloaca na evisceração, ocorrendo<br />
por diversas vezes contato entre o material fecal e as carcaças. Esse<br />
procedimento não foi adotado para que não houvesse prejuízo na qualida<strong>de</strong><br />
das peles. Quando ocorria extravasamento <strong>de</strong> material fecal, a carcaça era<br />
lavada o mais rapidamente possível. Registrou-se o corte <strong>de</strong> diversos órgãos<br />
durante a esfola, constatados <strong>no</strong> momento da coleta <strong>de</strong> material biológico.<br />
Ao térmi<strong>no</strong> da toilet ou da esfola, as carcaças eram lavadas e cortadas em<br />
duas partes, na altura da base da cauda, e seguiam para a embalagem e<br />
lacramento. Esses procedimentos eram feitos sobre pias <strong>de</strong> i<strong>no</strong>x, porém essas<br />
superfícies não era higienizadas, e muitas vezes havia acúmulo <strong>de</strong> água <strong>no</strong><br />
local. Foi frequentemente verificado contato das carcaças com esta superfície.<br />
Após o fechamento das embalagens, essas eram pesadas e encaminhadas para o<br />
armazenamento <strong>no</strong> barco. No barco, as carcaças foram armazenadas em<br />
câmaras isotérmicas, sob camadas <strong>de</strong> gelo escamado.<br />
No tocante ao <strong>de</strong>scarte <strong>de</strong> materiais, vísceras e carcaças con<strong>de</strong>nadas, essas<br />
foram enterradas segundo <strong>de</strong>terminação e critérios <strong>de</strong>finidos pela CODESAV. Todo<br />
sangue produzido durante o abate foi <strong>de</strong>spejado diretamente <strong>no</strong> corpo d’água. Nos<br />
dias do abate, <strong>no</strong> entor<strong>no</strong> do flutuante, muitas vezes percebeu-se odor característico<br />
<strong>de</strong> amônia, provavelmente oriundo da <strong>de</strong>gradação das substâncias <strong>de</strong> origem<br />
protéica geradas <strong>no</strong> abate<br />
No segundo dia <strong>de</strong> abate havia animais mortos há mais <strong>de</strong> 24 horas na área<br />
<strong>de</strong> <strong>de</strong>scanso, contígua à sala <strong>de</strong> abate, on<strong>de</strong> permaneciam os animais vivos. Os<br />
cadáveres já exalavam odor pútrido e começavam e liberar líquidos sangui<strong>no</strong>lentos<br />
pelas cavida<strong>de</strong>s naturais. Somente <strong>no</strong> início da tar<strong>de</strong> esses animais foram retirados<br />
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do recinto. Não houve qualquer tipo <strong>de</strong> aproveitamento <strong>de</strong>sses animais <strong>de</strong>vido ao<br />
seu avançado estado <strong>de</strong> <strong>de</strong>composição. Dos animais que chegaram mortos da<br />
captura, foram aproveitados apenas os couros, sendo a carne <strong>de</strong>scartada. A partir<br />
do terceiro dia <strong>de</strong> abate, os animais mortos passaram a ser os primeiros a serem<br />
processados.<br />
3.3 Principais Problemas Encontrados Nesta Fase:<br />
1. Houve pouco ou nenhum cuidado com o conjunto <strong>de</strong> procedimentos<br />
técnicos e científicos que garantissem o bem-estar dos animais, <strong>de</strong> acordo<br />
com as regras <strong>de</strong> abate humanitário. No caso dos jacarés, esses<br />
procedimentos <strong>de</strong>ver-se-iam ministrar <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a captura, prevalecendo <strong>no</strong>s<br />
momentos prece<strong>de</strong>ntes ao abate.<br />
2. Pelo me<strong>no</strong>s do ponto <strong>de</strong> vista do bem estar dos animais e da sanida<strong>de</strong> e<br />
qualida<strong>de</strong> do produto final, não é <strong>de</strong>sejável a permanência <strong>de</strong> animais<br />
feridos, amarrados e confinados em recintos peque<strong>no</strong>s, pois isto oferece<br />
uma oportunida<strong>de</strong> (porta <strong>de</strong> entrada) para contaminação por agentes<br />
patogênicos ou que prejudicam a conservação da carne. Além disso,<br />
expõe o animal a uma situação <strong>de</strong> estresse prolongado, que po<strong>de</strong> ter<br />
reflexos negativos sobre a qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> sua carne.<br />
3. A forma <strong>de</strong> insensibilização utilizada <strong>no</strong> abate <strong>de</strong> jacarés do <strong>Jarauá</strong>, com<br />
utilização <strong>de</strong> marreta, <strong>de</strong>monstrou ser ineficiente, ao não ter controle<br />
sobre a força mínima a ser exercida e a dificulda<strong>de</strong> <strong>de</strong> conter o animal <strong>no</strong><br />
momento <strong>de</strong> aplicar o golpe, sendo necessário aplicar mais <strong>de</strong> um golpe<br />
para obter a insensibilização. Em muitos casos, mesmo após a aplicação<br />
do golpe, os animais mantinham boa parte <strong>de</strong> seus reflexos protetores,<br />
responsivos aos estímulos exter<strong>no</strong>s.<br />
4. Apesar dos animais terem sido lavados antes <strong>de</strong> dar entrada na sala <strong>de</strong><br />
abate, após a lavagem estes eram arrastados por uma área <strong>de</strong> circulação<br />
livre, prejudicando a finalida<strong>de</strong> <strong>de</strong>sse procedimento. O objetivo do<br />
banho do animal antes do abate é limpar a pele para assegurar uma<br />
esfola higiênica, diminuindo a sujeira na sala <strong>de</strong> abate.<br />
5. A <strong>de</strong>ficiente estrutura do flutuante, pouco a<strong>de</strong>quado aos procedimentos,<br />
comprometeu a qualida<strong>de</strong> do pré-beneficiamento das carcaças. Havia<br />
precarieda<strong>de</strong> em termos <strong>de</strong> espaço; as áreas <strong>de</strong> <strong>de</strong>scanso dos animais, prébeneficiamento<br />
<strong>de</strong> carcaças e peles era praticamente a mesma, havendo<br />
mínima separação entre “área suja” e “área limpa“. No tocante à limpeza<br />
das instalações, esta esteve aquém do indicado. 6. O fornecimento <strong>de</strong><br />
água se <strong>de</strong>u <strong>de</strong> forma ina<strong>de</strong>quada: havia três fontes <strong>de</strong> água clorada, sendo<br />
elas uma mangueira e duas pias com torneiras em péssimo estado <strong>de</strong><br />
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conservação. A captação se <strong>de</strong>u em um ponto muito próximo ao local <strong>de</strong><br />
<strong>de</strong>scarte <strong>de</strong> <strong>de</strong>jetos líquidos e <strong>de</strong> <strong>de</strong>jetos dos barcos <strong>de</strong> apoio e, apesar <strong>de</strong><br />
filtrada e clorada após captação, não houve monitoramento do nível <strong>de</strong> cloro<br />
presente, não sendo possível, portanto, consi<strong>de</strong>rá-la “hiperclorada”.<br />
7. Não houve a preparação <strong>de</strong> qualquer tipo <strong>de</strong> roteiro <strong>de</strong> higienização.<br />
Registrou-se a ausência <strong>de</strong> local a<strong>de</strong>quado para a prévia limpeza e<br />
<strong>de</strong>sinfecção <strong>de</strong> mãos e calçados (lavatório e pedilúvio) antes da entrada na<br />
sala <strong>de</strong> abate. <strong>de</strong>sse tipo <strong>de</strong> procedimento..Não foi adotada a higienização<br />
das mãos dos operadores, das facas ou dos ganchos entre as etapas <strong>de</strong><br />
processamento da mesma carcaça ou entre carcaças. Os ganchos não foram<br />
lavados em momento algum. As facas utilizadas eram <strong>de</strong> uso doméstico,<br />
muitas tendo cabo <strong>de</strong> ma<strong>de</strong>ira. Não foram raros os momentos em que as<br />
facas eram dispostas sobre os bancos, <strong>de</strong>ntro das bacias <strong>de</strong> <strong>de</strong>scarte e até<br />
mesmo <strong>no</strong> chão. Utilizaram-se ainda bancos <strong>de</strong> ma<strong>de</strong>ira que circulavam<br />
entre os operadores e as áreas limpa e suja sem qualquer critério ou higiene.<br />
No que se refere a higienização das instalações (piso e pias), essas eram<br />
limpas <strong>no</strong> início e ao final do dia <strong>de</strong> trabalho, não havendo o uso <strong>de</strong><br />
sanitizantes, apenas <strong>de</strong> sabões líquidos. Além dos perigos representados<br />
para os operadores, a higiene e prevenção da contaminação das carcaças visa<br />
não só a prevenção da veiculação <strong>de</strong> microrganismos patogênicos como<br />
também <strong>de</strong> microrganismos <strong>de</strong>teriorantes, melhorando as condições <strong>de</strong><br />
conservação da carne. Vale ressaltar que os comunitários não foram<br />
capacitados para a execução e monitoramento<br />
8. O fornecimento <strong>de</strong> equipamentos <strong>de</strong> segurança individual não foi<br />
a<strong>de</strong>quado, as luvas utilizadas pelos operadores, do tipo para<br />
procedimentos, mostraram-se <strong>de</strong>masiado frágeis para a tarefa em<br />
execução, rasgando-se com facilida<strong>de</strong> e tendo que ser trocadas com<br />
frequência. Em diversos momentos houve manipulação das carcaças com<br />
exposição das mãos dos operadores. A pouca resistência das luvas<br />
acarretou um uso maior que o esperado, levando ao térmi<strong>no</strong> do estoque<br />
inicial ainda <strong>no</strong> meio da ativida<strong>de</strong>. Houve necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> realizar-se<br />
uma viagem a Tefé exclusivamente para compra <strong>de</strong> materiais que<br />
acabaram antes do previsto, <strong>de</strong>monstrando o mau dimensionamento da<br />
ativida<strong>de</strong>.<br />
9. O corte <strong>de</strong> vísceras, sobretudo dos intesti<strong>no</strong>s e estômago, e a falta <strong>de</strong><br />
amarração da cloaca, como ocorreu durante o abate, po<strong>de</strong> prejudicar a<br />
conservação e a qualida<strong>de</strong> para o consumo da carne. O tempo <strong>de</strong>corrido<br />
entre o início da sangria e o início da evisceração também compromete a<br />
qualida<strong>de</strong> da carne. Existe a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> contaminação da carcaça<br />
via trato gastrintestinal, através da migração <strong>de</strong> microrganismos do<br />
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lúmen intestinal para a cavida<strong>de</strong> abdominal após a morte do animal,<br />
<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ndo do tempo transcorrido entre o abate do animal e a<br />
realização da etapa <strong>de</strong> evisceração . O tempo médio entre o corte e o<br />
início da evisceração foi <strong>de</strong> 50 minutos. A esfola e evisceração são etapas<br />
críticas para o controle da contaminação da carne, por possibilitarem<br />
maior contaminação do produto .<br />
10. Uma observação relevante sobre a inspeção sanitária realizada refere-se à<br />
falta <strong>de</strong> um técnico responsável pelo exame das vísceras. Esse<br />
acompanhamento se <strong>de</strong>u através dos pesquisadores responsáveis pela<br />
coleta <strong>de</strong> material biológico, não sendo, <strong>no</strong> entanto, tarefa <strong>de</strong> sua<br />
responsabilida<strong>de</strong> ou para qual estivessem habilitados.<br />
11. Foi observada a ausência <strong>de</strong> um responsável técnico pelo abate e pelo<br />
preparo <strong>de</strong> todas as ativida<strong>de</strong>s relacionadas ao manejo.<br />
12. Em relação ao <strong>de</strong>scarte <strong>de</strong> <strong>de</strong>jetos, <strong>de</strong>vido à pouca correnteza existente<br />
<strong>no</strong> ca<strong>no</strong> do <strong>Jarauá</strong> nessa época, ao fato <strong>de</strong> o sangue ter a <strong>de</strong>manda<br />
química <strong>de</strong> oxigênio mais alta <strong>de</strong> todos os efluentes líquidos gerados <strong>no</strong><br />
processamento <strong>de</strong> carnes, e pelo local <strong>de</strong> <strong>de</strong>scarte ser ao lado da<br />
comunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> S.R. do <strong>Jarauá</strong>, seria recomendável o acompanhamento<br />
dos padrões físico-químicos e microbiológicos da água durante o período<br />
do abate e imediatamente antes e <strong>de</strong>pois <strong>de</strong>ste, para verificar os possíveis<br />
impactos causados na qualida<strong>de</strong> da água.<br />
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Parte 4: RENDIMENTOS DE CARCAÇAS E PELES DE JACARÉS<br />
Dos 226 indivíduos <strong>de</strong> jacaré-açu que foram comercializados pelos<br />
manejadores, foram processados para pré-beneficiamento da carne apenas 221<br />
indivíduos. Obteve-se, ao final, 5.057,5 kg <strong>de</strong> carne provenientes <strong>de</strong> 203 carcaças,<br />
registrando-se um rendimento bruto <strong>de</strong> 25,01 kg por carcaça aproveitada (Tabela<br />
4.1)<br />
Tabela 4.1. Número <strong>de</strong> animais processados para o pré-beneficiamento da carne e rendimento total<br />
(kg) das 203 carcaças aproveitadas.<br />
Data<br />
Animais<br />
processados<br />
Carcaças<br />
<strong>de</strong>scartadas<br />
Rendimento total<br />
(Kg)<br />
Media <strong>de</strong><br />
rendimento (kg)<br />
16/12 11 3 234,0 29,25<br />
17/12 31 1 985,0 31,77<br />
18/12 38 4 1042,0 30,64<br />
19/12 43 1 781,0 18,59<br />
20/12 49 2 1062,5 21,64<br />
21/12 31 3 596,0 20,86<br />
22/12 20 4 357,0 22,31<br />
Total 221 18 5057,5 25,01<br />
O número <strong>de</strong> animais pré-beneficiados aumentou gradativamente ao<br />
longo do período, possivelmente como resposta à melhoria na organização das<br />
ativida<strong>de</strong>s, aumento da habilida<strong>de</strong> dos beneficiadores e redução do tamanho<br />
dos animais capturados. Nos primeiros dias havia apenas cinco ganchos para<br />
suspensão <strong>de</strong> carcaças; <strong>no</strong> segundo dia passaram para seis e do quarto dia em<br />
diante passaram a existir sete ganchos Entretanto a infra-estrutura do local<br />
claramente não comporta a existência <strong>de</strong> 7 ganchos simultâneos. Em cada<br />
gancho, em média, trabalhavam duas pessoas, <strong>de</strong> modo que estiveram<br />
envolvidos diretamente <strong>no</strong> pré-beneficiamento das carcaças 14 pessoas. Além<br />
<strong>de</strong>ssas, duas a quatro pessoas trabalharam <strong>no</strong> mesmo local diariamente,<br />
responsabilizando-se pela limpeza do chão e <strong>de</strong>stinação dos <strong>de</strong>scartes.<br />
Os <strong>de</strong>scartes da produção <strong>de</strong>veram-se à esfola <strong>de</strong> animais que chegaram<br />
mortos da captura, os quais tiveram sua carne consi<strong>de</strong>rada inapropriada para o<br />
consumo <strong>de</strong>vido ao longo tempo <strong>de</strong>corrido entre morte e beneficiamento. A<br />
pele dos animais esfolados com mais <strong>de</strong> 24 horas após o óbito não po<strong>de</strong> ser<br />
pré-beneficiada, já que se percebeu dão <strong>de</strong>scolamento das escamas córneas da<br />
pele<strong>de</strong>corrente do processo <strong>de</strong> <strong>de</strong>composição.<br />
O processamento <strong>de</strong> animais <strong>de</strong> me<strong>no</strong>r tamanho foi mais fácil e rápido, e<br />
isso foi percebido pelos comunitários que participaram do processamento dos<br />
animais. No primeiro dia <strong>de</strong> pré-beneficiamento, o tempo médio do<br />
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processamento completo foi <strong>de</strong> 1 hora e 42 minutos por animal; <strong>no</strong>s <strong>de</strong>mais dias<br />
o tempo utilizado entre a lavagem dos animais e a pesagem das carcaças esteve<br />
entre 1h 29 min. e 56 minutos por indivíduo (Tabela 4.2).Junto com a<br />
diminuição do tempor <strong>de</strong> pré-beneficiamento, percebeu-se uma tendência <strong>de</strong><br />
diminuição dos tamanhos dos jacarés capturados.<br />
Tabela 4.2: Media do tempo <strong>de</strong> cada uma das etapas do pré-beneficiamento da carne <strong>de</strong> jacarés,<br />
durante os seis dias do processamento.<br />
Data<br />
Animais<br />
processados<br />
Lavagem Lavagem/sangria Esfola Evisceração Toilet<br />
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Intervalo<br />
lavagem-<br />
pesagem<br />
16/<strong>de</strong>z 11 00:09 00:15 00:44 00:09 * 01:42<br />
17/<strong>de</strong>z 31 00:07 00:14 00:43 00:10 00:07 01:29<br />
18/<strong>de</strong>z 38 00:06 00:14 00:41 00:06 00:06 01:23<br />
19/<strong>de</strong>z 43 00:05 00:17 00:32 00:02 00:04 01:10<br />
20/<strong>de</strong>z 49 00:05 00:18 00:34 00:03 00:02 01:08<br />
21/<strong>de</strong>z 31 00:04 00:25 00:58 00:06 00:02 01:18<br />
22/<strong>de</strong>z 20 00:04 00:12 00:29 00:03 00:04 00:56<br />
Tempos médios 00:05 00:16 00:40 00:05 00:04 01:14<br />
* dado não levantado.<br />
Foram processadas 226 peles, as quais foram armazenadas<br />
individualmente em sacolas plásticas, após serem medidas e etiquetadas<br />
com os respectivos lacres <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ntificação (Tabela 4.3).<br />
Tabela 4.3: Medias, <strong>de</strong>svios padrão (D.P.) e medidas mínimas e máximas das regiões mais<br />
representativas da pele <strong>de</strong> 210 indivíduos <strong>de</strong> jacaré-açu.<br />
Comprimento<br />
total (cm)<br />
Largura total - dorso a<br />
dorso (cm)<br />
Largura do<br />
flank (cm)<br />
Comprimento<br />
do flank (cm)<br />
Media 240,6 65,7 10,4 54,1<br />
D.P. 35,8 11,4 2,7 8,6<br />
Mínimo 138 85 3 38<br />
Máximo 328,5 105 19 88<br />
Principais Problemas Encontrados Nesta Fase:<br />
1. O principal problema associado a esta etapa foi o não aproveitamento <strong>de</strong><br />
animais e o <strong>de</strong>scarte <strong>de</strong> carcaças, causado basicamente pela falta <strong>de</strong><br />
planejamento e organização.<br />
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2. Houve falta <strong>de</strong> <strong>de</strong>finição <strong>de</strong> uma “linha <strong>de</strong> produção” que esclarecesse a<br />
sequência correta <strong>de</strong> procedimentos do ponto <strong>de</strong> vista sanitário e <strong>de</strong><br />
otimização da mão <strong>de</strong> obra.<br />
3. Outro problema i<strong>de</strong>ntificado foi o pouco preparo dos comunitários para a<br />
ativida<strong>de</strong> e a ina<strong>de</strong>quada estrutura do local <strong>de</strong> abate. Havendo organização,<br />
preparo e melhor estrutura muito provavelmente o pré-beneficiamento das<br />
carcaças <strong>de</strong> jacarés teria se dado em me<strong>no</strong>r tempo, o que representaria<br />
me<strong>no</strong>s exposição das carcaças à contaminação, melhor aproveitamento <strong>de</strong><br />
mão <strong>de</strong> obra e redução <strong>de</strong> custos <strong>de</strong> produção.<br />
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Parte 5: PROCEDIMENTOS DE COLETA DE MATERIAIS BIOLÓGICOS<br />
PARA FINS CIENTÍFICOS<br />
Imediatamente após o térmi<strong>no</strong> da esfola, os conjuntos <strong>de</strong> vísceras dos<br />
animais abatidos eram encaminhados, em ban<strong>de</strong>jas ou sacos plásticos, à mesa<br />
<strong>de</strong> tratamento <strong>de</strong> material biológico. Duas equipes trabalharam com o material<br />
biológico: membros do Instituto Mamirauá estavam interessados em coletar<br />
amostras para estudos <strong>de</strong> parâmetros reprodutivos, dieta, genética e<br />
parasitologia, além <strong>de</strong> material biológico para histologia dos diversos órgãos e<br />
tecidos <strong>de</strong> jacaré; integrantes da Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral Rural da Amazônia-<br />
UFRA objetivavam analisar helmintofauna e alterações histológicas <strong>de</strong>correntes<br />
<strong>de</strong> doença ou parasitos, e presença <strong>de</strong> metais pesados na carne.<br />
Usou-se um espaço estreito, <strong>de</strong> passadiço /passeio do flutuante do PCP, <strong>de</strong><br />
cerca <strong>de</strong> 1 m <strong>de</strong> largura e 6 m <strong>de</strong> comprimento, limitado por um lado pela pare<strong>de</strong><br />
do flutuante e por outro pelo casco do barco <strong>de</strong> armazenagem da carne. A<br />
superfície <strong>de</strong> trabalho era constituída por 2 mesas <strong>de</strong> 2 m <strong>de</strong> comprimento cada, <strong>no</strong><br />
1 o dia, e 3 mesas semelhantes a partir do 2.o dia.<br />
As vísceras foram pesadas em uma balança digital; e o recipiente contendo o<br />
material i<strong>de</strong>ntificado com a numeração do lacre <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ntificação correspon<strong>de</strong>nte, e<br />
com o sexo e comprimento do animal. O material passava então a uma das equipes<br />
<strong>de</strong> trabalho ou era armazenado em uma caixa <strong>de</strong> isopor contendo gelo para<br />
<strong>de</strong>sacelerar o processo <strong>de</strong> <strong>de</strong>composição.<br />
Os procedimentos e coletas realizados pelo IDSM po<strong>de</strong>m ser encontrados<br />
neste relatório; os procedimentos e informações <strong>de</strong> coleta realizados por integrantes<br />
da UFRA po<strong>de</strong>m ser encontrados <strong>no</strong> relatório correspon<strong>de</strong>nte, também neste site.<br />
Apenas uma pessoa do IDSM ficou encarregada das necropsias durante o 1.o dia; a<br />
partir do 2.o dia houve a colaboração e participação <strong>de</strong> membros da comunida<strong>de</strong><br />
nesta ativida<strong>de</strong>. Os animais eram processados à medida <strong>de</strong> sua chegada, e até que<br />
se esgotassem os animais <strong>de</strong> cada dia.<br />
Foram criadas 2 categorias <strong>de</strong> necropsia, <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ndo do interesse <strong>no</strong><br />
espécime. A necropsia básica consistiu na extração e biometria do estômago e<br />
coleta (em álcool 70%) <strong>de</strong> conteúdo estomacal; biometria e coleta (em formol 10%)<br />
do trato reprodutivo completo; coleta (em formol 10%) da gordura estruturada<br />
associada ao fígado; e coleta <strong>de</strong> peque<strong>no</strong> fragmento <strong>de</strong> coração e/ou fígado e/ou<br />
músculo (em álcool 96%) para fins <strong>de</strong> análises genéticas. A necropsia completa<br />
consistiu na separação <strong>de</strong> todos os órgãos da cavida<strong>de</strong> abdominal,<br />
individualmente, seguido da tomada <strong>de</strong> medidas e peso <strong>de</strong> cada órgão. A seguir,<br />
coletava-se um peque<strong>no</strong> fragmento <strong>de</strong> tecido <strong>de</strong> cada órgão que foi conservado em<br />
formol 10% para posterior análise histológica. Foi feita ainda uma busca minuciosa<br />
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<strong>de</strong> parasitos na cavida<strong>de</strong> abdominal e torácica e <strong>no</strong> interior dos órgãos. A necropsia<br />
completa foi realizada em todas as fêmeas, e em casos <strong>de</strong> machos que estivessem<br />
abaixo e acima da faixa-alvo <strong>de</strong> abate (180-210 cm), e animais que por alguma razão<br />
fossem consi<strong>de</strong>rados especiais (e.g. ossos coletados, presença <strong>de</strong> 2 arpões na carne,<br />
etc).<br />
Do total <strong>de</strong> 25 fêmeas necropsiadas, 22 foram submetidas a necropsias<br />
completas (i.e. incluindo a coleta do trato reprodutivo completo). O comprimento<br />
das fêmeas amostradas variou entre 197 e 276 cm (Fig. 5.1). Embora não se conheça<br />
com exatidão o comprimento <strong>de</strong> primeira maturação sexual, supõe-se que fêmeas<br />
acima <strong>de</strong> 220 cm já se encontram sexualmente maduras. Conteúdos estomacais <strong>de</strong><br />
13 fêmeas foram coletados; em pelo me<strong>no</strong>s 5 amostras o estômago encontrava-se<br />
vazio. Material genético foi coletado <strong>de</strong> 21 dos 25 exemplares manuseados. Crânio<br />
e patas foram coletados <strong>de</strong> (pelo me<strong>no</strong>s) dois indivíduos (7452811 <strong>de</strong> 206 cm;<br />
7452972 <strong>de</strong> 244 cm).<br />
Foram realizadas 181 necropsias (144 básicas e 35 completas; 2 animais<br />
foram <strong>de</strong>scartados) <strong>de</strong> machos <strong>de</strong> jacaré açú. A faixa <strong>de</strong> comprimento envolvida foi<br />
<strong>de</strong> 175 a 318 cm (n= 181) (Fig. 5.1). O trato reprodutivo <strong>de</strong> todos (exceto 8) animais<br />
foi coletado. Pelo me<strong>no</strong>s 55 estômagos encontravam-se vazios; <strong>de</strong> 102 estômagos<br />
com conteúdo estomacal, 97 foram amostrados. Dois (pelo me<strong>no</strong>s) conjuntos <strong>de</strong><br />
crânio e patas (7452391, 214 cm; 7452967 ou 2969) e 162 amostras genéticas <strong>de</strong><br />
indivíduos distintos foram coletadas.<br />
Número <strong>de</strong> Individuos<br />
30<br />
24<br />
18<br />
12<br />
6<br />
0<br />
1.7 1.81.92.02.12.22.32.42.52.62.72.82.93.0>3.0>3.1<br />
Comprimento Total (m)<br />
SEXO<br />
fêmea<br />
macho<br />
Figura 5.1: Distribuição <strong>de</strong> frequência <strong>de</strong> exemplares <strong>de</strong> jacaré-açu necropsiados durante o evento <strong>de</strong><br />
abate 2008, por sexo.<br />
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Principais Problemas Encontrados Nesta Fase:<br />
Um dos problemas enfrentados foi a inexistência <strong>de</strong> uma área a<strong>de</strong>quada<br />
para o processamento das vísceras <strong>no</strong> local <strong>de</strong> processamento dos animais. Um<br />
espaço separado <strong>no</strong> convés superior do BP Mamirauá não dispunha <strong>de</strong> água<br />
corrente, além <strong>de</strong> que o escoamento da água <strong>de</strong> <strong>de</strong>scarte, contendo sangue e partes<br />
<strong>de</strong> vísceras, comprometeria o <strong>de</strong>ck inferior da embarcação <strong>de</strong> apoio.<br />
O local improvisado para manipulação dos materiais biológicos implicava<br />
risco à segurança dos envolvidos (manuseio <strong>de</strong> facas, chão escorregadio, superfície<br />
<strong>de</strong> passagem muito estreita, dificultando a movimentação <strong>de</strong> pessoas e materiais e<br />
aumentando a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> aci<strong>de</strong>ntes). Não havia cobertura para os<br />
trabalhadores; uma proteção foi improvisada com uma lona plástica estendida<br />
entre o barco e a pare<strong>de</strong> do flutuante, o que tornava o ambiente quente durante a<br />
maior parte do dia, e acumulava água quando chovia, terminando por transbordar<br />
sobre a mesa e as amostras. Não havia água encanada, e a limpeza <strong>de</strong> materiais e<br />
equipamentos cirúrgicos tinha que ser feita por meio <strong>de</strong> bal<strong>de</strong>s e peque<strong>no</strong>s canecos.<br />
Não havia iluminação, e à <strong>no</strong>ite era preciso puxar fios <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o barco. O<br />
fornecimento <strong>de</strong> energia para o funcionamento da balança teve que ser adaptado,<br />
com a conexão <strong>de</strong> uma bateria e adaptador sujeito às chuvas. Gran<strong>de</strong>s volumes <strong>de</strong><br />
<strong>de</strong>jetos tiveram que ser removidos sobre superfície estreita e escorregadia,<br />
passando por uma rampa e finalmente através da área limpa (abate) para alcançar o<br />
isopor que servia <strong>de</strong> local <strong>de</strong> <strong>de</strong>scarte.<br />
O procedimento <strong>de</strong> manter as vísceras ainda por serem processadas em<br />
caixa <strong>de</strong> gelo apenas concretizou-se <strong>no</strong> 1.o dia, <strong>de</strong>vido à priorida<strong>de</strong> do uso do gelo<br />
para o resfriamento da carne dos animais. Desta forma, materiais biológicos ficaram<br />
diversas horas sem ser processados e conservados, sofrendo efeitos da <strong>de</strong>gradação.<br />
A equipe trabalhando <strong>no</strong>s procedimentos <strong>de</strong> necropsia era claramente<br />
insuficiente para o volume <strong>de</strong> material. No primeiro dia, em função <strong>de</strong> <strong>no</strong>ssa<br />
reduzida equipe (1 pessoa <strong>de</strong>dicada) e <strong>de</strong> uma fase <strong>de</strong> acomodação aos<br />
procedimentos em geral, do exame minucioso <strong>de</strong> muitas carcaças e dos<br />
procedimentos adotados, a coleta do IDSM ficou prejudicada, e alguns exemplares<br />
foram <strong>de</strong>scartados sem ter sido amostrados. A partir do 2.o dia 3 jovens da<br />
comunida<strong>de</strong> auxiliaram nas coletas, sendo que uma ficou encarregada <strong>de</strong> a<strong>no</strong>tar as<br />
informações, outra <strong>de</strong> auxiliar na necropsia e a 3.a acabou sendo <strong>de</strong>slocada para<br />
controlar os tempos <strong>de</strong> abate e inserção do material <strong>no</strong> freezer. Este foi um ótimo<br />
momento <strong>de</strong> capacitação e <strong>de</strong> dar a conhecer a membros da comunida<strong>de</strong> parte do<br />
trabalho <strong>de</strong> pesquisa, paralelo ao abate em si com finalida<strong>de</strong> <strong>de</strong> manejo,<br />
experimento e comercialização e salientar entre membros da comunida<strong>de</strong> a<br />
importância da pesquisa e <strong>de</strong> seus subsídios para um manejo, além <strong>de</strong> capacitação<br />
<strong>de</strong> uma jovem cientista. Ao final do processo, a jovem treinada assumiu a maior<br />
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parte das tarefas, ficando ainda aguardando auxílio quando <strong>de</strong> necropsias<br />
completas <strong>de</strong> fêmeas. Mesmo com o auxílio das comunitárias, o processamento<br />
ocorreu por longos períodos, o que chegou a significar até 18 horas ininterruptas<br />
(acarretando dores musculares, e problemas circulatórios), terminando <strong>no</strong><br />
momento <strong>de</strong> chegada <strong>de</strong> uma <strong>no</strong>va leva <strong>de</strong> animais para serem medidos e préprocessados.<br />
Inicialmente, todos os materiais eram repassados à equipe da UFRA, que<br />
<strong>de</strong>pendia <strong>de</strong> material muito fresco para suas análises histológicas, parasitológicas e<br />
<strong>de</strong> metais. Em função <strong>de</strong> o material já chegar bastante <strong>de</strong>teriorado , e <strong>de</strong> se terem<br />
perdido alguns exemplares (por terem sido <strong>de</strong>scartados sem terem sido<br />
encaminhados à <strong>no</strong>ssa equipe), o procedimento foi alterado <strong>de</strong> forma que o IDSM<br />
tivesse oportunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> amostrar fêmeas, ou machos muito peque<strong>no</strong>s ou muito<br />
gran<strong>de</strong>s, fora da faixa alvo <strong>de</strong> comprimento. Estes dados são essenciais para avaliar<br />
os procedimentos do próprio sistema <strong>de</strong> manejo em construção. Este problema (a<br />
falta <strong>de</strong> clareza da precedência dos procedimentos) repetiu-se em diversas situações<br />
durante os dias <strong>de</strong> abate, causando stress entre os pesquisadores e repercutiu sobre<br />
as <strong>de</strong>mais equipes <strong>de</strong> trabalho.<br />
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Parte 6: ESTIMATIVAS DE ABUNDÂNCIAS E ESTRUTURA DE<br />
TAMANHOS DOS JACARÉS NO SETOR JARAUÁ – RDS<br />
MAMIRAUÁ<br />
Entre setembro <strong>de</strong> 2007 e janeiro <strong>de</strong> 2009, <strong>no</strong> setor <strong>Jarauá</strong>, foram<br />
realizados cinco levantamentos populacionais <strong>de</strong> crocodilia<strong>no</strong>s. Os locais <strong>no</strong>s<br />
quais foram realizados os levantamentos incluem as áreas selecionadas pelo<br />
projeto. Os levantamentos <strong>no</strong>tur<strong>no</strong>s dos meses <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 2008 e janeiro<br />
2009 foram programados para acompanhar e monitorar o efeito do<br />
aproveitamento, avaliando o estoque <strong>de</strong> animais <strong>no</strong>s locais <strong>de</strong> extração e o<br />
possível efeito após a extração.<br />
Os levantamentos <strong>no</strong>tur<strong>no</strong>s se iniciaram após das 19h00, percorrendo-se<br />
total ou parcialmente os corpos <strong>de</strong> água selecionados. Durante os levantamentos foi<br />
contabilizada a totalida<strong>de</strong> <strong>de</strong> crocodilia<strong>no</strong>s avistados. A cada 5 a 10 indivíduos<br />
avistados, foi registrada a espécie e uma estimativa do comprimento total do<br />
individuo. A estrutura <strong>de</strong> tamanhos foi sumarizada pelo agrupamento das<br />
medidas, em categorias <strong>de</strong> 20 centímetros do comprimento total estimado. As taxas<br />
<strong>de</strong> encontro (abundancia relativa) foram estimadas, com a relação do número <strong>de</strong><br />
indivíduos visualizados pela distância, em quilômetros, percorrida <strong>no</strong>s<br />
levantamentos.<br />
As variações nas taxas <strong>de</strong> encontro <strong>de</strong> jacarés, registradas durante os 5<br />
levantamentos, estão associadas diretamente com o nível d’agua, registrando-se as<br />
maiores taxas <strong>de</strong> encontro <strong>no</strong>s períodos <strong>de</strong> baixo nível d’agua (Tabela 6.1, Figura<br />
6.1)<br />
Tabela 6.1: Número total <strong>de</strong> jacarés avistados, taxas <strong>de</strong> encontro e procentagem <strong>de</strong> indivíduos <strong>de</strong> M.<br />
niger registrados durante os cinco levantamentos realizados entre setembro <strong>de</strong> 2007 e janeiro <strong>de</strong><br />
2009, <strong>no</strong> <strong>Setor</strong> <strong>Jarauá</strong>-RDSM.<br />
Período<br />
Total <strong>de</strong><br />
jacarés<br />
avistados<br />
Km<br />
percorridos<br />
Número <strong>de</strong> corpos<br />
<strong>de</strong> água avaliados<br />
Taxa <strong>de</strong> encontro<br />
(ind/km)<br />
Porcentagem<br />
<strong>de</strong> M. niger<br />
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Nível dágua<br />
(m)*<br />
Setembro 2007 13305 81 6 164,3 78,5 1,44<br />
Dezembro 2007 323 39,2 3 8,2 83,6 9,15<br />
Setembro 2008 9282 89,4 8 103,8 72,3 1,78<br />
Dezembro 2008 468 52,3 4 8,9 88,5 7,45<br />
Janeiro 2009 234 49,5 4 4,72 88,8 9,42<br />
* Nível dágua <strong>no</strong> rio Solimões, registrado <strong>no</strong> porto <strong>de</strong> Tabatinga (dados SNPH)<br />
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Comprimento Total Estimado (m)<br />
4.5<br />
3.6<br />
2.7<br />
1.8<br />
0.9<br />
0.0<br />
set/07 <strong>de</strong>z/07 set/08 <strong>de</strong>z/08 jan/09<br />
Contagens<br />
Figura 6.2: Comprimento total dos indivíduos <strong>de</strong> M.niger avistados durante os cinco levantamentos<br />
populacionais <strong>de</strong> crocodilia<strong>no</strong>s <strong>no</strong> <strong>Setor</strong> <strong>Jarauá</strong>–RDSM.<br />
Nos levantamentos <strong>no</strong>tur<strong>no</strong>s pré-abate foram avaliadas a acessibilida<strong>de</strong><br />
ao local e o estoque <strong>de</strong> jacarés em quatro sítios. Observou-se que a proporção <strong>de</strong><br />
extração <strong>de</strong> jacarés, por parte dos comunitários, não esteve associada com a<br />
proporção <strong>de</strong> disponibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> estoque apresentada pelas taxas <strong>de</strong> encontro,<br />
levando a uma “sobre-exploração” <strong>de</strong> jacarés <strong>no</strong> local i<strong>de</strong>ntificado como <strong>Jarauá</strong><br />
2 (Tabela 6.2).<br />
Tabela 6.2: Porcentagem da cota estimada <strong>de</strong> captura segundo a taxa <strong>de</strong> encontro <strong>de</strong> jaca’res, em cada<br />
local, e a porcentagem <strong>de</strong> animais capturados.<br />
Local<br />
Porcentagem da cota<br />
estimada (n= 468)<br />
Porcentagem da cota<br />
extraída (n=257)<br />
Paranã do <strong>Jarauá</strong> 1 33,2 % 9,34 %<br />
Paranã do <strong>Jarauá</strong> 2 36,6 % 71,21 %<br />
Ressaca do.Itú 9,6 % 9,34 %<br />
Ressaca do Panema 20,5% 10,12 %<br />
Os levantamentos <strong>no</strong>tur<strong>no</strong>s pós-abate foram realizados 20 dias após a<br />
extração dos animais, em condições <strong>de</strong> nível d’água diferentes do levantamento<br />
pré-abate; <strong>no</strong> entanto, não foram registradas diferenças significativas nas estruturas<br />
<strong>de</strong> tamanhos dos jacarés (Figura 5.3). Foi observado <strong>no</strong>s animais um “efeito <strong>de</strong><br />
cautela” (wariness) maior após o abate, <strong>no</strong> momento da aproximação para<br />
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i<strong>de</strong>ntificação da espécie e estimativa do tamanho. Os animais fugiam como resposta<br />
à aproximação do bote utilizado pelos pesquisadores.<br />
Porcentagem <strong>de</strong> jacarés (%)<br />
30<br />
24<br />
18<br />
12<br />
6<br />
0<br />
0.6 0.8<br />
1.0<br />
1.2<br />
Dezembro <strong>de</strong> 2008 Janeiro <strong>de</strong> 2009<br />
1.4 1.61.82.02.22.4<br />
Comprimento Total (m)<br />
2.6<br />
2.8<br />
3.0 > 3<br />
0.6<br />
0.8<br />
1.0<br />
1.2<br />
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1.4<br />
1.6<br />
1.8<br />
2.0<br />
2.2<br />
2.4 2.6<br />
2.8<br />
3.0<br />
> 3<br />
Comprimento Total (m)<br />
Figura 6.3: Estrutura <strong>de</strong> tamanhos dos jacarés, agrupados a cada 20 cm, registrados durantes as<br />
contagens Pré e Pós –abate, <strong>no</strong> <strong>Setor</strong> <strong>Jarauá</strong>- RDSM.<br />
Porcentagem <strong>de</strong> jacarés (%)<br />
25<br />
20<br />
15<br />
10<br />
5<br />
0<br />
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Parte 7: ACOMPANHAMENTO E RASTREABILIDADE DOS PRODUTOS<br />
O IDSM está criando um sistema <strong>de</strong> rastreamento dos jacarés manejados<br />
experimentalmente, baseado na possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> acompanhar e i<strong>de</strong>ntificar todos os<br />
animais e produtos <strong>de</strong>ste manejo experimental por meio do uso <strong>de</strong> lacres<br />
numerados e <strong>de</strong> um sistema informatizado <strong>de</strong> rastreamento.<br />
O sistema foi i<strong>de</strong>alizado como uma forma <strong>de</strong> monitorar mais proxima e<br />
a<strong>de</strong>quadamente as ações <strong>de</strong> cada um dos elos da ca<strong>de</strong>ia produtiva que estão sendo<br />
afetados por este projeto. Mas este sistema po<strong>de</strong> assumir múltiplas funções e<br />
admitir múltiplos usuários. Ele po<strong>de</strong> ser utilizado tanto pelos diferentes elos da<br />
ca<strong>de</strong>ia produtiva e custodial (produtores, transportadores, intermediários,<br />
compradores, exportadores e importadores, ven<strong>de</strong>dores e consumidores) quanto<br />
pelas autorida<strong>de</strong>s ambientais (estaduais e/ou fe<strong>de</strong>rais), interessadas em uma<br />
ferramenta <strong>de</strong> apoio <strong>no</strong> <strong>de</strong>sempenho das ações <strong>de</strong> fiscalização e <strong>de</strong> controle. Ele<br />
po<strong>de</strong> também ser utilizado por todas aquelas pessoas interessadas em acompanhar<br />
as transações comerciais <strong>de</strong> produtos naturais sustentáveis da Amazônia.<br />
Ao mesmo tempo em que o sistema <strong>de</strong> rastreamento é uma ferramenta <strong>de</strong><br />
controle, e uma ferramenta geral <strong>de</strong> monitoramento, ele é também um instrumento<br />
que certifica a origem dos produtos. Certifica também algumas das condições<br />
sociais e ambientais nas quais esses produtos foram produzidos.<br />
Quando este sistema, que se encontra ainda em fase final <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento, já<br />
estiver funcionando, sua operação será muito amigável. Basta que os usuários<br />
(parceiros do projeto, colegas técnicos e pesquisadores, membros das comunida<strong>de</strong>s<br />
produtoras, compradores, membros das agências ambientais, etc.) realizem o acesso<br />
à página específica do sistema, que se encontra <strong>no</strong> sítio eletrônico do IDSM<br />
(http://www.mamiraua.org.br/pagina.php?cod=196 ) e forneçam o(s) número(s)código(s)<br />
do(s) lacre(s) que i<strong>de</strong>ntifica(m) o(s) jacaré(s) que <strong>de</strong>ve ser rastreado. Todos<br />
os animais rastreados são os capturados e abatidos em <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 2008, mas o<br />
sistema admite a entrada <strong>de</strong> dados relacionados aos abates que, eventualmente,<br />
vierem a ocorrer a partir <strong>de</strong> agora.<br />
Além do lacre fixado pelo IDAM em cada animal manejado, em<br />
cumprimento a uma <strong>de</strong>terminação do IBAMA, cada um <strong>de</strong>les recebeu também um<br />
outro lacre, do IDSM, com uma numeração in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte. Esta numeração foi<br />
reproduzida em outras réplicas, mas <strong>de</strong> cores diferentes. Deste modo, cada produto<br />
oriundo <strong>de</strong> um único animal recebia o mesmo número, que referia-se ao indivíduo<br />
abatido. Os lacres na cor azul foram colocados em cada uma das carcaças. Após a<br />
esfola, cada peça <strong>de</strong> couro recebeu um lacre <strong>de</strong> mesmo número, <strong>de</strong>sta vez na cor<br />
amarela. O lacre <strong>de</strong> cor laranja, mas com o mesmo número da carcaça, foi utilizado<br />
para i<strong>de</strong>ntificar cabeças. Lacres <strong>de</strong> cor ver<strong>de</strong> foram utilizados para substituir<br />
quaisquer outros da série <strong>de</strong> 5, que tivessem sido danificados ou extraviados. Os<br />
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lacres <strong>de</strong> cor vermelha foram reservados para serem colocados nas caixas <strong>de</strong> carne<br />
<strong>de</strong>sossada (já beneficiada), compostas por material proveniente <strong>de</strong> uma única<br />
carcaça, que seriam preenchidas posteriormente, nas <strong>de</strong>pendências <strong>de</strong> um<br />
frigorífico a ser <strong>de</strong>finido pelas autorida<strong>de</strong>s sanitárias.<br />
O <strong>de</strong>senho <strong>de</strong>ste sistema pretendia proporcionar a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> rastrear<br />
os produtos até o momento do consumo. Os principais produtos, carne e couro,<br />
po<strong>de</strong>riam ser localizados ao longo da ca<strong>de</strong>ia produtiva a qualquer momento. E<br />
po<strong>de</strong>riam ter sua origem certificada simplesmente pela checagem das informações<br />
<strong>no</strong> sistema <strong>de</strong> rastreamento on-line. Se tudo pu<strong>de</strong>sse ser conduzido conforme o<br />
planejado, o consumidor po<strong>de</strong>ria comprar as parcelas <strong>de</strong> carne com a numeração<br />
do lacre <strong>no</strong> rótulo, <strong>de</strong> modo que seria possível saber exatamente <strong>de</strong> qual animal a<br />
carne comprada seria originária. Da mesma maneira, os órgãos <strong>de</strong> inspeção <strong>de</strong><br />
exportação <strong>de</strong> couro, e os importadores do produto, po<strong>de</strong>rão conhecer as origens<br />
do material exportado a partir <strong>de</strong> uma consulta simples ao sistema.<br />
O sistema foi construído <strong>de</strong> tal forma que o usuário, após fornecer o número<br />
do lacre, po<strong>de</strong>rá visualizar uma imagem <strong>de</strong> satélite <strong>de</strong>stacando o ponto em que<br />
aquele jacaré foi capturado. Na mesma tela será possível também visualizar muitas<br />
outras informações relevantes sobre a produção. Serão disponibilizadas aquelas<br />
informações já publicadas na parte do sítio do IDSM relativo ao projeto<br />
(http://www.mamiraua.org.br/admin/imgeditor/File/jacares/abate/Relatorio_d<br />
e_<strong>Abate</strong>_2008_IDSM.pdf ), tais como data da produção, a associação comunitária<br />
<strong>de</strong> produtores, a data da venda, o comprador e a cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>de</strong>sti<strong>no</strong> dos animais,<br />
<strong>de</strong>ntre outras. Além disso, informações relativas ao animal (sexo, comprimento,<br />
peso, etc.) e seu abate (local, data, hora, tempo <strong>de</strong> processamento, etc.) também<br />
serão disponibilizadas para cada espécime.<br />
Pelas informações obtidas <strong>no</strong>s últimos momentos antes do térmi<strong>no</strong> da<br />
confecção <strong>de</strong>ste relatório, po<strong>de</strong>mos afirmar que o tipo <strong>de</strong> rastreamento planejado<br />
não po<strong>de</strong>rá ser realizado para a carne. Este produto não tem sido mantido<br />
individualizado durante o processamento <strong>no</strong> frigorífico. As peças <strong>de</strong> carne<br />
originárias <strong>de</strong> cada uma das carcaças estão sendo colocadas em tanques para<br />
lavagem juntamente com as peças oriundas <strong>de</strong> outras carcaças. Este procedimento<br />
<strong>de</strong> lavagem ocasiona a mistura das peças, e torna-se impossível i<strong>de</strong>ntificá-las<br />
posteriormente. Consequentemente, os órgãos <strong>de</strong> controle e os consumidores da<br />
carne estão per<strong>de</strong>ndo a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> conhecer a origem do produto e a<br />
capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> rastreamento final. Seria muito recomendável que esta prática do<br />
frigorífico fosse reavaliada nas próximas oportunida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> abate, para manter<br />
íntegro o sistema <strong>de</strong> rastreamento construído.<br />
Esperamos po<strong>de</strong>r incluir, num futuro próximo, os <strong>de</strong>mais elos da ca<strong>de</strong>ia<br />
produtiva do jacaré que se mostrem interessados em participar <strong>de</strong>sta iniciativa.<br />
Esperamos que os processadores do couro, os empresários <strong>de</strong> exportação, os<br />
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importadores e os varejistas aceitem <strong>de</strong>clarar aberta e voluntariamente a origem<br />
e o <strong>de</strong>sti<strong>no</strong> dos produtos do manejo <strong>de</strong> jacarés que se encontrem sob seu<br />
cuidado e sua responsabilida<strong>de</strong>. Estamos certos <strong>de</strong> que o nível <strong>de</strong> transparência<br />
é um dos melhores indicadores da sustentabilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> um negócio tão<br />
importante, que lida com a exploração <strong>de</strong> produtos naturais. Este será um dos<br />
principais instrumentos para promover a conservação <strong>de</strong>ste importante recurso<br />
natural da Amazônia.<br />
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Parte 8: ACOMPANHAMENTO DO BENEFICIAMENTO DAS CARCAÇAS DE<br />
JACARÉ-AÇU<br />
O beneficiamento e a comercialização da carne são responsabilida<strong>de</strong> do<br />
comprador, <strong>no</strong> entanto é obrigatório o cumprimento <strong>de</strong> <strong>no</strong>rmas associadas com a<br />
vigilância sanitária estadual, que permitirão a certificação necessaria (Selo <strong>de</strong><br />
Inspeção Estadual – SIE) para o consumo huma<strong>no</strong> <strong>no</strong> estado <strong>de</strong> Amazonas. A<br />
CODESAV é o órgão estadual que tem acompanhado, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o inicio do processo,<br />
todas as etapas do último aproveitamento <strong>de</strong> jacarés.<br />
Segundo o planejado pelo comerciante, Sr. Val<strong>de</strong>cio, após o prébeneficiamento<br />
feito pelos comunitários, as carcaças seriam direcionadas ao<br />
Frigorífico “O Peixão”, em Manaus, local cre<strong>de</strong>nciado com Selo <strong>de</strong> Inspeção<br />
Estadual – SIE, pela CODESAV. Neste local seriam armazenadas e beneficiadas a<br />
carne fresca para <strong>de</strong>pois ser distribuída e comercializada o mais rpidamente<br />
possível.<br />
No dia 27 <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro, o barco que transportou as carcaças <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a RDS<br />
Mamirauá atracou na balsa <strong>de</strong> <strong>de</strong>sembarque pesqueiro em frente à Feira da Panair,<br />
em Manaus, para <strong>de</strong>sembarcar as carcaças <strong>no</strong> Frigorífico “O Peixão”. O<br />
<strong>de</strong>sembarque só se iniciou <strong>no</strong> dia 29 <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro, armazenando-se<br />
aproximadamente 2,5 toneladas <strong>de</strong> carne em uma câmara frigorífica; porém as<br />
carcaças não foram congeladas, só resfriadas com uma camada <strong>de</strong> gelo. O<br />
<strong>de</strong>sembarque das carcaças foi interrompido, <strong>de</strong>vido a <strong>de</strong>sentendimentos entre o<br />
comerciante e o proprietário do frigorífico e pela falta <strong>de</strong> pessoal capacitado para<br />
realizar os cortes <strong>de</strong> beneficiamento das carcaças. O gerente do frigorífico <strong>de</strong>u<br />
priorida<strong>de</strong> ao processamento do peixe, ativida<strong>de</strong> cotidiana do frigorífico. Foram<br />
realizadas varias tentativas <strong>de</strong> negociação, tentado dar continuida<strong>de</strong> ao<br />
<strong>de</strong>sembarque das carcaças e ao beneficiamento da carne, <strong>no</strong> entanto não foi<br />
possível mediar um acordo para o beneficiamento da carne entre o comerciante e o<br />
proprietário do frigorífico; foi acertado apenas que as carcaças, já <strong>de</strong>sembarcadas,<br />
po<strong>de</strong>riam ficar armazenadas <strong>no</strong> frigorífico até que fosse <strong>de</strong>finido um <strong>no</strong>vo <strong>de</strong>sti<strong>no</strong><br />
para estas.<br />
Após varias reuniões e negociações entre o comerciante, a coor<strong>de</strong>nadora do<br />
projeto, o Dr. Malvi<strong>no</strong> do IDAM, os fiscais da CODESAV e o Dr. Ornã Teles da<br />
Silva (fiscal da Superintendência da Agricultura e Pecuária do Ministério da<br />
Agricultura – MAPA) foi <strong>de</strong>cidido que as carcaças po<strong>de</strong>riam ser direcionadas para<br />
o frigorífico Frigopesca, em Manacapuru, local com certificação fe<strong>de</strong>ral (Selo <strong>de</strong><br />
Inspeção Fe<strong>de</strong>ral – SIF), mas que o processo <strong>de</strong> acompanhamento e fiscalização<br />
<strong>de</strong>veria ser encabeçado pela CODESAV.<br />
No dia 31 <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro, as carcaças armazenadas <strong>no</strong> Frigorífico “O Peixão”,<br />
juntamente com as armazenadas nas câmaras frias do barco, foram encaminhadas<br />
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para o frigorífico “Frigopesca”, em Manacapuru, on<strong>de</strong> foram congeladas nas<br />
câmaras frigoríficas da balsa Hiolanda.<br />
As carcaças permaneceram armazenadas durante 2 meses nas câmaras do<br />
frigorífico “Frigopesca”; durante este tempo, foram realizadas avaliações da<br />
qualida<strong>de</strong> da carne, a partir <strong>de</strong> análises microbiológicas e físico químicas. Segundo<br />
a doutora Lilian Brasil, representante da CODESAV, os resultados das análises<br />
efetuadas nas carcaças mostraram que era possível o consumo huma<strong>no</strong>, já que os<br />
resultados estavam <strong>de</strong>ntro dos parâmetros consi<strong>de</strong>rados <strong>no</strong>rmais. No entanto, não<br />
foi disponibilizado ou publicado um laudo <strong>de</strong>scritivo dos resultados das análises<br />
efetuados.<br />
O Sr. Val<strong>de</strong>cio também realizou análises particulares <strong>de</strong> qualida<strong>de</strong> da carne,<br />
<strong>no</strong> laboratório NUTRECOM, cre<strong>de</strong>nciado pela CODESAV, mas o resultado <strong>de</strong>sta<br />
análise também não foi disponibilizado.<br />
Após apresentados os resultados dos análises da qualida<strong>de</strong> e sanida<strong>de</strong> da<br />
carne, comprador, CODESAV e MAPA negociaram as características e informações<br />
do rótulo da embalagem das carnes.<br />
O processamento das carcaças <strong>de</strong> jacaré-açu efetuou-se entre os dias 9 e 11<br />
<strong>de</strong> março <strong>de</strong> 2009, <strong>no</strong> frigorífico “Frigopesca” da firma Pinheiro & Rodrigues Ltda,<br />
localizado na cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Manacapuru – AM. O trabalho foi realizado numa linha <strong>de</strong><br />
produção <strong>de</strong> 18 funcionários, em media. O processamento se iniciou na tar<strong>de</strong> do dia<br />
9 <strong>de</strong> março, com uma pequena <strong>de</strong>monstração dos cortes que seriam feitos,<br />
orientados pela MV. Lais Ferreira, que orientou a realizar os seguintes cortes:<br />
pescoço, costela, patas, lombo, postas da cauda, capa da cauda, filé da cauda e<br />
aparas (carnes aparadas do peito e tronco). Segundo o Sr. Val<strong>de</strong>cio, as carnes em<br />
cortes <strong>de</strong> aparas serão processadas em forma <strong>de</strong> charque. O processamento só foi<br />
efetivado <strong>no</strong>s dias 10 e 11/03, quando foram processados todos os animais<br />
congelados.<br />
Em resumo, dos 5057,5 kg <strong>de</strong> carne provenientes das 203 carcaças<br />
aproveitadas, obteve-se um <strong>de</strong> 3289 kg <strong>no</strong>s diferentes cortes <strong>de</strong> carne,<br />
representando 65,7% <strong>de</strong> rendimento das carcaças. O corte que apresentou maior<br />
rendimento porcentual foi o <strong>de</strong> cauda, seguido pelo corte <strong>de</strong> costelas (Tabela<br />
8.1).<br />
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Tabela 8.1: Peso total e porcentagem <strong>de</strong> rendimento <strong>de</strong> cada um dos cortes efetuados <strong>no</strong><br />
processo <strong>de</strong> beneficiamento das 203 carcaças <strong>de</strong> jacaré-açu.<br />
Tipo <strong>de</strong> corte Peso total (kg) Rendimento (%)<br />
Cauda 876,75 26,7<br />
Lombo 281,6 8,6<br />
Filé da cauda 160,5 4,9<br />
Postas da cauda 261,6 8,0<br />
Patas 421,85 12,8<br />
Costelas 795,25 24,2<br />
Aparas 277,5 8,4<br />
Carne <strong>de</strong> pescoço 214,0 6,5<br />
Total 3.289,15 100<br />
Foi separada uma amostra <strong>de</strong> 20 carcaças, com a finalida<strong>de</strong> <strong>de</strong> quantificar<br />
o rendimento por carcaça. Entretanto, como já eram as últimas carcaças a ser<br />
processadas, correspon<strong>de</strong>ram a animais peque<strong>no</strong>s, com comprimento total<br />
entre 181 a 254 cm e 10 a 32 kg <strong>de</strong> massa <strong>de</strong> carcaça. Onze carcaças foram<br />
abertas em mantas, <strong>de</strong> forma a não conter ossos, para testar o rendimento após<br />
a salga. Nas <strong>no</strong>ve carcaças restantes foram realizados os cortes padrão do<br />
processo, ficando ossos somente <strong>no</strong>s cortes <strong>de</strong> costelas e patas.<br />
Nas carcaças processadas como mantas, po<strong>de</strong> se observar que a carne<br />
representou 35,5% do peso do animal inteiro, e 59,5% do peso da carcaça<br />
(Tabela 8.2).<br />
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Tabela 8.2: Relação <strong>de</strong> rendimento <strong>de</strong> carne <strong>de</strong> jacaré-açu com o corte em formato <strong>de</strong> manta<br />
(baseado <strong>no</strong> beneficiamento <strong>de</strong> 11 carcaças).<br />
Lacre <strong>de</strong><br />
I<strong>de</strong>ntificação<br />
Comprimento<br />
total (cm)<br />
Peso do<br />
animal vivo<br />
(kg)<br />
Massa da<br />
carcaça (kg)<br />
Peso da carne<br />
beneficiada<br />
(kg)<br />
Peso do<br />
<strong>de</strong>scarte (kg)<br />
Rendimento<br />
total (%)<br />
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Porcentagem <strong>de</strong><br />
rendimento da<br />
carcaça<br />
7452972 244 55 32 15,20 5,3 27,6 47,5<br />
7452583 219 29 15 8,65 4,8 29,8 57,7<br />
7452210 204 24 13 7,45 3,85 31,0 57,3<br />
7452585 230 35 19 12,15 6,0 34,7 63,9<br />
7452387 231 35 20 12,90 4,9 36,9 64,5<br />
7452966 254 45 24 14,80 8,05 32,9 61,7<br />
7453017 207 29 16 11,30 5,45 38,9 70,6<br />
7452559 236 24 23 14,30 4,9 59,6. 62,2<br />
7452391 214 32 18 11,35 5,35 35,5 63,1<br />
7452159 213 28 16 8,90 4,8 31,8 55,6<br />
7452592 236 46 29 14,45 5,8 31,4 49,8<br />
Média 226,18 34,7 20,45 11,95 5,38 35,5 59,4<br />
Nas carcaças processadas com os cortes padrão, o rendimento da carne,<br />
em relação ao peso do animal inteiro foi <strong>de</strong> 36,4%, e em relação ao peso da<br />
carcaça foi <strong>de</strong> 67,2% (Tabela 8.3).<br />
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Tabela 8.3: Relação <strong>de</strong> rendimento <strong>de</strong> carne <strong>de</strong> jacaré-açu com os corte padrão (baseado <strong>no</strong><br />
beneficiamento <strong>de</strong> 9 carcaças).<br />
Lacre <strong>de</strong><br />
I<strong>de</strong>ntificação<br />
Comprimento<br />
total (cm)<br />
Peso do<br />
animal vivo<br />
(kg)<br />
Massa da<br />
carcaça (kg)<br />
Peso da carne<br />
beneficiada<br />
(kg)<br />
Peso do<br />
<strong>de</strong>scarte (kg)<br />
Rendimento<br />
total (%)<br />
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Porcentagem <strong>de</strong><br />
rendimento da<br />
carcaça<br />
7453004 194 24 13 9,25 2,25 38,5 71,1<br />
7452586 213 38 20 15,50 3,35 40,8 77,5<br />
7452759 181 18 10 4,60 3,55 25,6 46,0<br />
7452956 225 35 19 14,00 3,25 40,0 73,7<br />
7452204 202 23 13 9,10 2,55 39,6 70,0<br />
7453006 188 20 11 7,45 2,5 37,2 67,7<br />
7452581 192 19 10 6,45 1,75 33,9 64,5<br />
7452200 217 34 18 13,60 3,45 40,0 75,6<br />
7452392 196 22 12 7,00 2,2 31,8 58,3<br />
Média 200,8 25,9 14,0 9,7 2,8 36,4 67,2<br />
Não foi possível lacrar as embalagens para fins <strong>de</strong> rastreamento<br />
conforme planejado, pois na linha <strong>de</strong> produção do beneficiamento da carne os<br />
cortes das carcaças eram separados e juntados indiscriminadamente em<br />
ban<strong>de</strong>jas <strong>de</strong> armazenagem segundo o tipo <strong>de</strong> corte, não sendo possível<br />
i<strong>de</strong>ntificar a carcaça <strong>de</strong> procedência.<br />
40
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Parte 9: SOLUÇÕES E SUGESTÕES PROPOSTAS<br />
Com base <strong>no</strong>s fatos relatados e <strong>no</strong>s problemas i<strong>de</strong>ntificados, a equipe do<br />
IDSM quer oferecer algumas sugestões visando solucionar ou mi<strong>no</strong>rar tais<br />
problemas:<br />
1. O planejamento <strong>de</strong> todas as ativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong>ve ser realizado previamente,<br />
com longo prazo disponível para antever todas as necessida<strong>de</strong>s (recursos<br />
huma<strong>no</strong>s e materiais) bem como para compatibilizar os calendários dos<br />
manejadores (comunitários) e dos representantes das instituições<br />
cooperantes. É recomendável que seja <strong>de</strong>finido um momento fixo ao<br />
longo do ciclo hidrológico para a realização <strong>de</strong>stas ativida<strong>de</strong>s.<br />
2. É muito necessário oferecer capacitação aos comunitários para que eles<br />
possam executar a contento todas as etapas nas quais foram envolvidos<br />
(captura, contenção, transporte, avaliação e recepção, biometrias, registro<br />
<strong>de</strong> informações, insensibilização, sangria, içagem, e as <strong>de</strong>mais etapas do<br />
pré-beneficiamento).<br />
3. É fundamental que os coor<strong>de</strong>nadores do projeto, especialmente os<br />
representantes do gover<strong>no</strong>, tenham maior clareza quanto à estrutura da<br />
linha <strong>de</strong> produção (<strong>de</strong> captura a pré-beneficiamento) e as peculiarida<strong>de</strong>s<br />
<strong>de</strong> cada uma das mais <strong>de</strong> 10 etapas envolvidas, para que possa orientar,<br />
acompanhar, avaliar e ajustar (quando necessário) tais etapas <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong><br />
parâmetros aceitáveis da legislação e do tratamento ético <strong>de</strong> animais.<br />
4. Uma avaliação para aplicação <strong>de</strong> métodos alternativos <strong>de</strong> captura, tais<br />
como re<strong>de</strong> e laço, para evitar a morte e/ou sofrimento dos animais <strong>no</strong><br />
período compreendido entre a captura e o abate, <strong>de</strong>ve ser realizada. A<br />
morte antes do abate inviabiliza a utilização da carne <strong>de</strong>vido à <strong>de</strong>mora<br />
da sangria, o que prejudica sobremaneira as características físicoquímicas<br />
da carne e aumenta a velocida<strong>de</strong> <strong>de</strong> proliferação bacteriana. O<br />
ferimento cervical dificulta o processo <strong>de</strong> soltura <strong>de</strong> animais que estejam<br />
fora das categorias estabelecidas, bem como <strong>de</strong> jacarés-tinga<br />
erroneamente capturados, pois <strong>de</strong>bilita os animais e fornece solução <strong>de</strong><br />
continuida<strong>de</strong> entre o meio exter<strong>no</strong> e inter<strong>no</strong>, favorecendo a instalação <strong>de</strong><br />
infecções secundárias. Todo abate <strong>de</strong>ve zelar pelas condições dos<br />
animais <strong>no</strong> período pré-abate, reduzindo ao máximo as condições <strong>de</strong><br />
sofrimento e seguindo as orientações para o abate “humanitário”,<br />
preconizado para todas as espécies <strong>de</strong> animais utilizados para consumo<br />
ou aproveitamento <strong>de</strong> subprodutos.<br />
5. Recomenda-se fortemente a utilização <strong>de</strong> arpões me<strong>no</strong>res que 11 cm<br />
(existem já vários mo<strong>de</strong>los disponíveis, do tipo “toogle dart”), o que<br />
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reduziria o da<strong>no</strong> aos animais, possibilitando a liberação sem maiores<br />
riscos quando animais fora da faixa <strong>de</strong> manejo forem capturados.<br />
6. Devem ser utilizados materiais e suprimentos <strong>de</strong> qualida<strong>de</strong> na contenção<br />
dos animais, caso contrário existe risco real <strong>de</strong> que alguns se soltem antes<br />
da insensibilização.<br />
7. Deve-se implementar com urgência os critérios <strong>de</strong> exclusão já acordados,<br />
e não recepcionar animais me<strong>no</strong>res que 210cm, maiores que 280cm, ou<br />
fêmeas em maior proporção que os 10% da captura diária. Assim, a cada<br />
dia esta avaliação po<strong>de</strong> ser feita após a captura, e antes do prébeneficiamento.<br />
8. Os animais a serem <strong>de</strong>volvidos (por não aten<strong>de</strong>rem à faixa <strong>de</strong> manejo)<br />
<strong>de</strong>vem ser alvo <strong>de</strong> um manejo mínimo do ferimento causado pelo arpão,<br />
para minimização da dor e possíveis infecções secundárias.<br />
9. A estrutura <strong>de</strong> recepção dos animais e principalmente a estrutura para<br />
repouso dos mesmos <strong>de</strong>vem ser mais a<strong>de</strong>quadas ao volume <strong>de</strong> animais<br />
recebidos, <strong>de</strong>vendo haver uma comunicação direta da sala <strong>de</strong> repouso<br />
para o ambiente <strong>de</strong> recepção, por um lado, e a área suja <strong>de</strong> prébeneficiamento,<br />
pelo outro lado.<br />
10. É recomendável a existência <strong>de</strong> um local separado da área <strong>de</strong> repouso<br />
para colocação <strong>de</strong> animais excluídos, para que sejam observados e<br />
tratados antes <strong>de</strong> serem liberados <strong>no</strong>s locais <strong>de</strong> captura.<br />
11. Deve ser ampliado o período <strong>de</strong> sangria para pelo me<strong>no</strong>s 30 minutos <strong>de</strong><br />
duração.<br />
12. Deve ser utilizado uma haste <strong>de</strong> aço, cobre ou alumínio (como é utilizado<br />
<strong>no</strong> Pantanal Matogrossense) para realização da secção medular e<br />
completar o processo <strong>de</strong> insensibilização.<br />
13. A atual área <strong>de</strong> trabalho não comporta mais que 5 ganchos<br />
simultaneamente, e esta capacida<strong>de</strong> não <strong>de</strong>ve ser ultrapassada sob pena<br />
<strong>de</strong> aumentar o risco para os tratadores, e as chances <strong>de</strong> contaminação<br />
das carcaças.<br />
14. O sistema <strong>de</strong> ganchos para o içamento não é a<strong>de</strong>quado. Por um lado, não<br />
está acoplado a<strong>de</strong>quadamente na parte superior, e os animais maiores<br />
chegam a arrastar suas extremida<strong>de</strong>s. Por outro lado, existe gran<strong>de</strong><br />
dificulda<strong>de</strong> em içar com cordas fracas e ganchos sem proteção. Um<br />
sistema <strong>de</strong> ganchos altos, associados a trilhos e roldanas po<strong>de</strong>rá facilitar<br />
não apenas a içagem mas também o transporte das carcaças ao longo das<br />
etapas <strong>de</strong> pré-beneficiamento e através das áreas suja e limpa.<br />
15. O sistema <strong>de</strong> hidro-higienização necessita <strong>de</strong> maior controle, para<br />
<strong>de</strong>finição das concentrações <strong>de</strong> cloro na água utilizada, e na distribuição<br />
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Estrada do Bexiga, nº 2584 - Bairro Fonte Boa - CEP 69470-000 - Tefé/AM - Brasil<br />
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Sustentável Mamirauá - IDSM<br />
<strong>de</strong>sta água em mangueiras suspensas com válvulas <strong>de</strong> esguicho na<br />
extremida<strong>de</strong>.<br />
16. Os equipamentos utilizados, e as superfícies <strong>de</strong> trabalho <strong>de</strong>vem ser<br />
constantemente higienizadas, especialmente entre as carcaças<br />
beneficiadas.<br />
17. A retirada das mãos <strong>de</strong>ve prece<strong>de</strong>r a remoção do couro (esfola).<br />
18. Deve ser realizada a amarração da porção terminal da cloaca antes da<br />
evisceração, para evitar chances <strong>de</strong> contaminação da carcaça. Um<br />
protocolo <strong>de</strong> consenso para preservar a integrida<strong>de</strong> do couro neste<br />
procedimento <strong>de</strong>ve ser <strong>de</strong>senvolvido.<br />
19. As áreas <strong>de</strong> saída <strong>de</strong> produtos (couros e carcaças) e <strong>de</strong> <strong>de</strong>jetos (vísceras,<br />
rejeitos, e etc.) <strong>de</strong>vem ser separadas.<br />
20. Deve ser realizada a vistoria ou acompanhamento por uma equipe <strong>de</strong><br />
inspeção para atestar as condições <strong>de</strong> abate e pré-beneficiamento.<br />
21. A coleta <strong>de</strong> material científico <strong>de</strong>ve ser melhor planejada e o papel <strong>de</strong><br />
cada pesquisa e <strong>de</strong> cada instituição <strong>de</strong>ve ser <strong>de</strong>finido com antecedência,<br />
<strong>de</strong> modo que não existam dúvidas sobre a precedência <strong>de</strong> material, <strong>de</strong><br />
ações, e <strong>de</strong> acesso.<br />
22. Um local apropriado para realização <strong>de</strong> necropsias e coleta <strong>de</strong> material<br />
biológico, associado à estrutura <strong>de</strong> abate, <strong>de</strong>ve ser planejado (incluindo<br />
água corrente, fornecimento a<strong>de</strong>quado <strong>de</strong> energia e condições mínimas<br />
<strong>de</strong> conforto aos processadores), a fim <strong>de</strong> garantir a qualida<strong>de</strong> das<br />
amostras, a segurança dos amostradores e a compatibilização do<br />
processamento <strong>de</strong> amostras com a velocida<strong>de</strong> das ativida<strong>de</strong>s<br />
relacionadas ao abate.<br />
23. Todas as pesquisas envolvidas <strong>no</strong> projeto <strong>de</strong>vem ser submetidas a uma<br />
coor<strong>de</strong>nação geral, realizada pelo IDSM.<br />
24. Novas pesquisas <strong>de</strong>vem ser realizadas para aprimorar o manejo:<br />
a. Parâmetros comportamentais para avaliação <strong>de</strong> stress dos<br />
animais;<br />
b. Eficiência da sangria e quantificação da hemoglobina residual;<br />
c. Microbiologia da carne nas diferentes etapas para testes <strong>de</strong><br />
contaminação;<br />
d. Controle dos níveis <strong>de</strong> DBO (<strong>de</strong>manda bioquímica <strong>de</strong> oxigênio) e<br />
DQO (<strong>de</strong>manda química <strong>de</strong> oxigênio), <strong>de</strong> Nitrogênio análise<br />
microbiológico, antes e após o abate, para verificação do potencial<br />
poluidor da ativida<strong>de</strong> <strong>no</strong>s efluentes e corpos d´água.<br />
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