15.05.2013 Views

Urgências metabólicas no paciente oncológico - Revista Onco

Urgências metabólicas no paciente oncológico - Revista Onco

Urgências metabólicas no paciente oncológico - Revista Onco

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

Quadro clínico<br />

Os sintomas e sinais clínicos vão depender da rapidez com que a<br />

hiponatremia ocorreu. A hiponatremia resulta, quase invariavelmente,<br />

em hipotonicidade do líquido extracelular (LEC), com consequente<br />

fluxo de água em direção ao líquido intracelular (LIC). Com isso, pode<br />

ocorrer edema intracelular, com prejuízo do funcionamento de algumas<br />

células, principalmente as do sistema nervoso central (SNC), onde a<br />

restrição volumétrica exercida pelos ossos do crânio limita a expansão<br />

do parênquima cerebral ocasionada pelo edema. Os achados neurológicos<br />

causados pela hiponatremia variam em função da sua gravidade e<br />

também da velocidade de instalação. O tecido nervoso dispõe de<br />

mecanismos capazes de contrabalancear as oscilações da osmolaridade<br />

plasmática, de forma que uma instalação insidiosa da hiponatremia permite<br />

que esses mecanismos se instalem causando me<strong>no</strong>s sintomas do<br />

que quando da instalação abrupta. Entre os vários mecanismos destacase<br />

a perda de solutos do LIC para compensar a hipotonicidade do meio<br />

exter<strong>no</strong>, de forma a evitar o influxo excessivo da água e, portanto, o<br />

edema cerebral. Os sintomas neurológicos da hiponatremia são ines -<br />

pecíficos, semelhantes a outras encefalopatias <strong>metabólicas</strong>. Nas formas<br />

leves de hiponatremia (Na > 125 mEq/l), sintomas gerais ocorrem,<br />

como mal-estar e náuseas. Valores de sódio plasmático < 120 mEq/l<br />

cursam com cefaleia e obnubilação. As formas graves de hiponatremia<br />

(Na < 115 mEq/l) costumam induzir coma e convulsões. Mais raramente,<br />

manifestações clínicas envolvendo outros sistemas podem ocorrer<br />

em função do influxo rápido de água para o LIC, como hemólise<br />

intravascular e microangiopatia.<br />

Tratamento<br />

A escolha da terapia adequada em <strong>paciente</strong>s com hiponatremia devido a<br />

SIADH varia de acordo com a gravidade da hiponatremia, com a presença<br />

ou ausência de sintomas e, até certo ponto, da osmolaridade urinária.<br />

Entre os <strong>paciente</strong>s com hiponatremia sintomática grave que se<br />

apre sentam com convulsões ou outras a<strong>no</strong>rmalidades neurológicas<br />

graves, recomendamos intervenção urgente com solução salina<br />

hipertônica, em vez de outras terapias. Um regime eficaz inicial é de<br />

100 ml de solução salina 3% dado como um bolus IV, o que deve elevar<br />

a concentração de sódio <strong>no</strong> soro por cerca de 1,5 meq/l em homens<br />

e 2,0 meq/l em mulheres, reduzindo assim o grau de edema cerebral.<br />

Se os sintomas neurológicos persistirem ou piorarem, um bolus de<br />

100 ml de solução salina 3% pode ser repetido uma ou duas vezes<br />

mais, em intervalos de dez minutos.<br />

Alguns <strong>paciente</strong>s apresentam manifestações neurológicas me<strong>no</strong>s<br />

graves, principalmente aqueles com concentração de sódio sérico<br />

abaixo de 120 meq/l, por mais de 48 horas, ou hiponatremia crônica<br />

moderada (sódio sérico 120-129 meq/l). A terapêutica inicial desses<br />

<strong>paciente</strong>s depende, em parte, da gravidade dos sintomas.<br />

Para <strong>paciente</strong>s com confusão e letargia, recomenda-se a adminis-<br />

tração inicial da terapia salina hipertônica para elevar o sódio sérico, que<br />

deve ser medido em duas a três horas. A taxa de perfusão subsequente<br />

deve ser ajustada para atingir uma taxa de correção de me<strong>no</strong>s de 10<br />

meq/l em 24 horas e me<strong>no</strong>s de 18 meq/l em 48 horas. Caso haja necessidade<br />

de correção rápida, os antagonistas do receptor da vasopressina<br />

podem ser usados. Eles produzem uma diurese seletiva de água, sem<br />

afetar o sódio e a excreção do potássio. O conivaptan (VAPRISOL ® ) e o<br />

tolvapta<strong>no</strong> estão disponíveis e aprovados para o uso em <strong>paciente</strong>s com<br />

hiponatremia secundária a SIADH, porém seu uso é limitado em virtude<br />

da necessidade de internação hospitalar e do alto custo.<br />

Para <strong>paciente</strong>s que têm apenas sintomas leves, como esquecimento<br />

e distúrbios da marcha, sugerimos terapia inicial com restrição de líquidos<br />

e comprimidos orais de sal ao invés de solução salina hipertônica.<br />

A terapia de manutenção em <strong>paciente</strong>s que inicialmente tinham<br />

hiponatremia sintomática pode prevenir uma subsequente redução do<br />

sódio sérico e recorrência dos sintomas possíveis. Sugerimos restrição<br />

de líquidos a me<strong>no</strong>s de 800 ml/dia. Se o sódio sérico é persistentemente<br />

inferior a 130 meq/l, adicionamos comprimidos orais de sal e,<br />

se necessário, um diurético de alça (por exemplo, furosemida 20 mg<br />

por VO, duas vezes por dia) em <strong>paciente</strong>s com osmolaridade urinária<br />

alta (mais que o dobro do plasma). Entre os <strong>paciente</strong>s assintomáticos<br />

com SIADH, iniciamos o tratamento com restrição de líquidos. Comprimidos<br />

orais de sal podem ser adicionados e depois, se necessário,<br />

um diurético de alça em <strong>paciente</strong>s com osmolaridade urinária alta.<br />

Síndrome de lise tumoral (SLT)<br />

A síndrome de lise tumoral é caracterizada pela destruição maciça de<br />

células malignas. Embora possa ocorrer de modo espontâneo, a SLT<br />

aparece, em geral, logo após o início do tratamento com agentes<br />

quimioterápicos citotóxicos. Ela acontece quando células neoplásicas<br />

são destruídas e seu conteúdo intracelular – potássio, fósforo e ácidos<br />

nucleicos – é liberado na circulação sanguínea, ultrapassando a capacidade<br />

do organismo de excretar essas substâncias. Clinicamente, é<br />

caracterizada por hiperfosfatemia, hipercalemia, hiperuricemia, hipo -<br />

calcemia e insuficiência renal aguda, frequentemente oligúrica.<br />

O ácido úrico é produzido pelo metabolismo da purina. Ácidos<br />

nucleicos são metabolizados em hipoxantina, xantina e, como produto<br />

final, ácido úrico, que é excretado pelos rins. Hiperuricemia,<br />

portanto, ocorre mais frequentemente em doenças de alto índice<br />

proliferativo, e é agravada pela quimioterapia citotóxica. Em excesso,<br />

o ácido úrico e a xantina cristalizam <strong>no</strong>s túbulos renais, sendo<br />

esse um dos principais mecanismos de insuficiência renal na síndrome<br />

de lise tumoral. Quanto mais ácida a urina, maior a tendência<br />

de cristalização do ácido úrico. A solubilidade da xantina não depende<br />

do pH urinário.<br />

Hiperfosfatemia leva à precipitação de fosfato de cálcio ectópico e<br />

à hipocalcemia, sendo outro importante mecanismo de lesão renal na<br />

<strong>Onco</strong>& outubro/<strong>no</strong>vembro 2011 47

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!