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Urgências metabólicas no paciente oncológico - Revista Onco

Urgências metabólicas no paciente oncológico - Revista Onco

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Divulgação<br />

emergências oncológicas<br />

Simone Maradei<br />

* Hematologista do Centro<br />

de Tratamento <strong>Onco</strong>lógico<br />

(CENTRON) e do Centro de<br />

Transplante de Medula Óssea<br />

(CEMO) – INCA<br />

Contato: simaradei@gmail.com<br />

Divulgação<br />

Leonardo Javier Arcuri<br />

* Hematologista do Centro<br />

de Tratamento <strong>Onco</strong>lógico<br />

(CENTRON) e do Centro de<br />

Transplante de Medula Óssea<br />

(CEMO) – INCA<br />

Contato: leonardojavier@gmail.com<br />

Daniel Tabak<br />

* Hematologista-oncologista;<br />

diretor médico do Centro de<br />

Tratamento <strong>Onco</strong>lógico (CENTRON);<br />

membro titular da Academia<br />

Nacional de Medicina<br />

Contato: dantabak@terra.com.br<br />

44 outubro/<strong>no</strong>vembro 2011 <strong>Onco</strong>&<br />

<strong>Urgências</strong> <strong>metabólicas</strong><br />

<strong>no</strong> <strong>paciente</strong> <strong>oncológico</strong><br />

Introdução<br />

OS PACIENTES COM NEOPLASIAS ESTÃO SUJEITOS<br />

A DESENVOLVER VÁRIAS COMPLICAÇÕES META -<br />

BÓLICAS QUE REQUEREM IMEDIATA AVALIAÇÃO<br />

e tratamento. Entre as principais situações meta -<br />

bólicas que exigem rápida atenção, encontramos a<br />

hipercalcemia, a hiponatremia e a síndrome de lise<br />

tumoral. Com o aumento da incidência de câncer<br />

na população em geral e com a melhora da terapia<br />

antineoplásica, os <strong>paciente</strong>s passaram a ter maior<br />

sobrevida e essas emergências ocorrem com mais<br />

frequência. Por isso, os médicos devem ser capazes<br />

de reconhecer prontamente essas condições clínicas<br />

para que o tratamento seja iniciado antes que os<br />

sintomas se agravem.<br />

Hipercalcemia<br />

A hipercalcemia é relativamente comum em <strong>paciente</strong>s<br />

com câncer, ocorrendo em aproximadamente<br />

20% a 30% dos casos durante o curso da<br />

doença. Ocorre em <strong>paciente</strong>s com tumores sólidos,<br />

bem como nas neoplasias hematológicas.<br />

Os cânceres mais comuns associados com<br />

hipercalcemia são mama, pulmão e mieloma múltiplo.<br />

A ocorrência de hipercalcemia <strong>no</strong> curso de<br />

neoplasias tem um impacto prognóstico desfavorável<br />

na grande maioria dos casos. A hipercalcemia<br />

nesses <strong>paciente</strong>s ocorre em virtude do<br />

aumento da reabsorção óssea e da liberação de cálcio<br />

dos ossos. Há quatro principais mecanismos<br />

pelos quais isso pode ocorrer: (1) metástases osteo -<br />

líticas com liberação local de citocinas (incluindo<br />

fatores de ativação dos osteoclastos); (2) tumor que<br />

secreta proteínas relacionadas ao hormônio da<br />

paratireoide (PTHrP); (3) tumor com produção de<br />

1,25-dihidroxivitamina D (calcitriol); e (4) produção<br />

ectópica do PTH.<br />

As metástases osteolíticas representam cerca de<br />

20% dos casos de hipercalcemia secundária ao<br />

câncer. A indução de osteólise local por células tu-<br />

morais é comum em alguns tumores sólidos que<br />

são metastáticos ao osso e <strong>no</strong> mieloma múltiplo,<br />

sendo me<strong>no</strong>s frequente <strong>no</strong>s linfomas e na leu -<br />

cemia. O tumor sólido que geralmente produz<br />

hipercalcemia por esse mecanismo é o câncer de<br />

mama. A destrui ção óssea observada nas metástases<br />

osteolíticas é mediada principalmente pelos<br />

osteoclastos e não é um efeito direto das células tumorais.<br />

As citocinas como IL-1 e TNF têm uma<br />

participação importante nesse processo, pois ace -<br />

leram a transformação de precursores de osteoclastos<br />

em osteoclastos maduros.<br />

O segundo tipo é a hipercalcemia humoral maligna<br />

(HHM), causada pela secreção do PTHrP na<br />

circulação sistêmica pelas células tumorais. É a<br />

causa mais comum de hipercalcemia em <strong>paciente</strong>s<br />

com tumores sólidos não metastáticos e em alguns<br />

<strong>paciente</strong>s com linfoma não-Hodgkin. Essa condição<br />

é responsável por até 80% dos <strong>paciente</strong>s <strong>oncológico</strong>s<br />

com hipercalcemia. Os tumores que mais comumente<br />

causam HHM são carci<strong>no</strong>mas de células<br />

escamosas (pulmão, cabeça e pescoço e colo<br />

uteri<strong>no</strong>), carci<strong>no</strong>ma renal, de bexiga e endométrio.<br />

O PTHrP tem propriedades hipercalcemiantes<br />

pois atua de forma semelhante ao PTH, aumentando<br />

a reabsorção óssea (maior atividade osteoclástica)<br />

<strong>no</strong>s rins, promovendo fosfatúria. O PTHrP produzido<br />

localmente aumenta a expressão do receptor<br />

ativador do fator nuclear kappa B ligante (RANKL)<br />

<strong>no</strong> osso. O RANKL contribui para o desenvolvimento<br />

de hipercalcemia pela ligação ao receptor ativador<br />

do fator nuclear kappa B (RANK) sobre a<br />

superfície de precursores dos osteoclastos. Os resultados<br />

da interação RANKL/RANK promovem ativação,<br />

migração, diferenciação e fusão de células<br />

hematopoiéticas da linhagem dos osteoclastos para<br />

iniciar o processo de reabsorção. Além disso, citocinas<br />

como IL-6, IL-8, IL-1 e VEGF são secretadas por<br />

células do câncer de mama e podem contribuir para<br />

os efeitos do PTHrP na reabsorção óssea.


O terceiro tipo está relacionado ao aumento da produção de 1,25dihidroxivitamina<br />

D (calcitriol). Essa é a causa de quase todos os casos<br />

de hipercalcemia em linfoma de Hodgkin e aproximadamente um<br />

terço dos casos de linfoma não-Hodgkin. Também tem sido descrita<br />

em <strong>paciente</strong>s com disgermi<strong>no</strong>ma de ovário. Em indivíduos <strong>no</strong>rmais, a<br />

conversão de 25-hidroxivitamina D (calcidiol) em 1,25-dihidroxivitamina<br />

D (calcitriol, o metabólito mais ativo da vitamina D) ocorre<br />

através de uma 1-hidroxilase <strong>no</strong> rim que está sob o controle fisiológico<br />

do hormônio da paratireoide (PTH). A alta concentração sérica de fosfato<br />

pode alterar esse controle. A hipercalcemia deve suprimir a libe -<br />

ração de PTH e, portanto, a produção de 1,25-dihidroxivitamina D<br />

(1,25 D). O aumento da absorção de cálcio <strong>no</strong> intesti<strong>no</strong> induzida pela<br />

alta concentração sérica de 1,25 D é a a<strong>no</strong>rmalidade primária.<br />

O quarto tipo está associado à produção ectópica de PTH (e não<br />

PTH-rp). É uma condição rara, havendo poucos casos descritos na li -<br />

teratura. Alguns tumores como rabdomiossarcoma metastático, carci<strong>no</strong>ma<br />

papilífero de tireoide e carci<strong>no</strong>ma de pulmão podem ocasionar<br />

hipercalcemia em virtude dessa produção ectópica.<br />

Quadro clínico<br />

Dependendo da severidade e da rapidez de instalação, os <strong>paciente</strong>s<br />

com hipercalcemia podem apresentar graus variados de sinais e sintomas.<br />

Os sintomas da hipercalcemia incluem a<strong>no</strong>rexia, náusea,<br />

vômito, constipação e poliúria. Os sintomas relacionados ao sistema<br />

nervoso central predominam, tais como progressivo declínio da capacidade<br />

cognitiva, estupor e coma. As alterações na função renal (incapacidade<br />

de concentrar a urina, acarretando poliúria) e <strong>no</strong> trato<br />

gastrointestinal (a<strong>no</strong>rexia, náuseas e vômitos) corroboram para a<br />

desidratação e agravam a hipercalcemia.<br />

Alterações <strong>no</strong> aparelho cardiovascular, como hipertensão, bradicardia,<br />

encurtamento do intervalo QT, bloqueio AV, assim como<br />

fraqueza muscular, dores ósseas e artralgias, fazem parte do quadro.<br />

Em geral, as complicações neurológicas e renais são proporcionais ao<br />

grau da hipercalcemia.<br />

Diagnóstico<br />

O diagnóstico da hipercalcemia é geralmente feito através da<br />

dosagem do cálcio sérico total. Porém, esse método pode sofrer interferências<br />

que levam ao diagnóstico de resultados falso-positivos e<br />

negativos. Na presença de hipoalbuminemia, podemos ter níveis falsamente<br />

baixos, e o valor do cálcio deve ser corrigido. Por outro lado,<br />

alguns raros mielomas múltiplos produzem imu<strong>no</strong>globulinas ligadoras<br />

de cálcio, e teremos cálcio total superestimado. Assim, em alguns<br />

casos seria me lhor considerar o cálcio ionizado. Adota-se, atualmente,<br />

que a elevação de cálcio até 12 mg/dl corresponde a uma al-<br />

teração leve, cuja avaliação deve ser feita em ambulatório. Níveis de<br />

cálcio plasmático entre 12-14 mg/dl configuram uma elevação mo -<br />

derada de cálcio, e acima de 14 mg/dl correspondem a hipercalcemia<br />

grave, que se associa a um quadro amplo de manifestações clínicas.<br />

Essa situação configura, em geral, uma urgência médica, e o seu<br />

pronto reconhecimento e tratamento implicam em redução acentua -<br />

da de morbimortalidade.<br />

A dosagem de PTH-rP circulante só é necessária quando a origem<br />

da hipercalcemia não pode ser definida com base <strong>no</strong>s exames clínicos.<br />

Da mesma forma, a dosagem de 1,25 dihidroxivitamina D terá valor<br />

na presença de linfomas e outros raros tumores que produzem essa vitamina.<br />

A radiografia do esqueleto é muito útil <strong>no</strong>s casos de mieloma,<br />

enquanto a cintigrafia óssea auxiliará na identificação das metástases<br />

<strong>no</strong>s demais tumores.<br />

Deve-se suspeitar de hipercalcemia humoral em qualquer <strong>paciente</strong><br />

com um tumor sólido na ausência de metástases ósseas. E também em<br />

<strong>paciente</strong>s com hipercalcemia de outra forma inexplicável, que apresentam<br />

uma concentração baixa de PTH <strong>no</strong> soro. Níveis de PTH ina -<br />

propriadamente <strong>no</strong>rmais/altos em um <strong>paciente</strong> que sabidamente tem<br />

câncer <strong>no</strong>s remetem à pesquisa de hiperparatireoidismo primário ou<br />

a mais um raro caso em que o PTH é produzido pela neoplasia.<br />

O diagnóstico de hipercalcemia humoral maligna (HHM) pode ser<br />

confirmado ao se demonstrar uma alta concentração sérica de PTHrP.<br />

Essa alta concentração está presente na maioria dos <strong>paciente</strong>s com tumores<br />

sólidos hipercalcêmicos. As concentrações séricas de PTHrP são<br />

baixas (indetectável na maioria dos ensaios) em <strong>paciente</strong>s com hiperparatiroidismo<br />

primário e em indivíduos <strong>no</strong>rmais.<br />

Além de sua importância diagnóstica, os níveis séricos de PTHrP<br />

em <strong>paciente</strong>s com hipercalcemia induzida por tumor podem fornecer<br />

informações sobre o prognóstico. Pacientes com hipercalcemia induzida<br />

por PTHrP relacionados ao câncer <strong>no</strong>rmalmente têm doença<br />

avançada e um mau prognóstico.<br />

Tratamento<br />

O tratamento definitivo da hipercalcemia em <strong>paciente</strong>s com neoplasia<br />

requer o tratamento da doença de base e deve ser instituído logo que<br />

possível. Além disso, é necessária a correção da desidratação e dos distúrbios<br />

metabólicos. O tratamento baseia-se em:<br />

1. Medidas gerais: Remover o cálcio da alimentação parenteral,<br />

interromper medicamentos que contribuem para a hipercalcemia (suplementação<br />

de cálcio e vitamina D, lítio, tiazídicos), além de reduzir<br />

sedativos para melhorar o nível de consciência e favorecer a deambulação,<br />

sempre que possível.<br />

2. Hidratação: Os <strong>paciente</strong>s habitualmente encontram-se<br />

desidratados, pela me<strong>no</strong>r ingestão de alimentos e fluidos causada por<br />

<strong>Onco</strong>& outubro/<strong>no</strong>vembro 2011 45


a<strong>no</strong>rexia, náuseas e vômitos. A hipercalcemia, por si só, reduz a capacidade<br />

tubular renal de reabsorver água por mecanismo mediado<br />

pelos receptores de cálcio, o que agrava ainda mais a hipercalcemia e<br />

a desidratação. Por outro lado, a redução da filtração glomerular reduz<br />

a capacidade renal de excretar cálcio. Assim, a hidratação generosa do<br />

<strong>paciente</strong> com grandes quantidades de solução salina é uma etapa fundamental<br />

do tratamento. Somente após adequada expansão de volume<br />

pode-se associar diurético de alça, como a furosemida, para aumentar<br />

ainda mais a calciúria.<br />

3. Reposição de fosfato: A hipofosfatemia é comum em decorrência<br />

do efeito fosfatúrico do PTHrP nas HHM, do uso de diuréticos<br />

de alça, da própria hipercalcemia ou da me<strong>no</strong>r ingestão alimentar. A<br />

reposição de fosfato auxilia a reduzir a reabsorção óssea e, quando<br />

necessária, deve ser feita por sonda nasogástrica A reposição intrave<strong>no</strong>sa<br />

(IV) deve ser evitada pelos riscos de insuficiência renal,<br />

hipotensão e hipocalcemia grave.<br />

4. Glicocorticoides: Quando o excesso de 1,25 dihidroxivitamina<br />

D está envolvido na gênese da hipercalcemia, o tratamento pode incluir<br />

glicocorticoides para reduzir a absorção intestinal, recomendando-se<br />

prednisona 60 mg/dia via oral (VO) por 10 dias ou<br />

hidrocortisona 200 a 300 mg IV durante 3-5 dias.<br />

5. Redução de reabsorção óssea: Combater a osteólise é fundamental,<br />

e os bisfosfonatos são os medicamentos mais eficientes para<br />

esse fim, por seu reconhecido efeito apoptótico e antiproliferativo<br />

sobre os osteoclastos. Eles devem ser iniciados tão logo detectada a<br />

hipercalcemia, preferindo-se a via ve<strong>no</strong>sa devido à pobre absorção por<br />

VO. Pelo seu potencial nefrotóxico, o zolendronato deve ser evitado<br />

<strong>no</strong>s <strong>paciente</strong>s com alteração da função renal. O pamidronato parece<br />

ter me<strong>no</strong>r potencial nefrotóxico, sendo inclusive considerado para uso<br />

em <strong>paciente</strong>s com disfunção renal (Tabela 1).<br />

No momento, nenhum tratamento específico que inibe a liberação<br />

de PTHrP está disponível. A administração de análogos da vitamina D<br />

pode diminuir a liberação de PTHrP in vitro. Se esses agentes se reve -<br />

larão eficazes em <strong>paciente</strong>s, ainda não se sabe. Em casos refratários<br />

pode ser necessário o uso de diálise peritoneal ou hemodiálise.<br />

46 outubro/<strong>no</strong>vembro 2011 <strong>Onco</strong>&<br />

Nome Dose<br />

Pamidronato<br />

Ácido zoledrônico<br />

Clodronato<br />

60 – 90 mg<br />

4 mg<br />

300 mg<br />

Hiponatremia<br />

A hiponatremia é a alteração eletrolítica mais frequente na prática<br />

clínica hospitalar e reflete uma alteração do balanço de água, com<br />

consequente diminuição da osmolaridade plasmática. A osmolaridade<br />

é o fator determinante da distribuição da água corporal. Em<br />

condições <strong>no</strong>rmais, existe um equilíbrio entre a administração de<br />

água (proveniente da ingestão, dos alimentos e do metabolismo) e<br />

a sua excreção (na urina, nas fezes e em perdas insensíveis pela pele<br />

e pelo aparelho respiratório), o que mantém a osmolaridade plasmática<br />

dentro de determinados limites. Essa regulação do balanço<br />

de água é mediada por osmorreceptores localizados <strong>no</strong> hipotálamo,<br />

que na presença de alterações da osmolaridade plasmática determinam<br />

modificações na ingestão e na excreção de água. Essas, por sua<br />

vez, são mediadas pelo mecanismo da sede e por alterações na secreção<br />

de vasopressina ou hormônio antidiurético (ADH), promovendo<br />

a retenção de água livre.<br />

Pacientes com câncer frequentemente sofrem de hiponatremia, e<br />

a fisiopatologia nem sempre é bem compreendida.<br />

A síndrome de secreção inapropriada do hormônio antidiurético<br />

(SIADH) deve ser considerada quando um <strong>paciente</strong> <strong>oncológico</strong> se<br />

apresenta com hiponatremia. A SIADH é uma condição clínica ca -<br />

rac terizada pela diminuição gradual da natremia, com valores extre -<br />

mamente reduzidos, por vezes de 100 a 110 mmol. Com origem <strong>no</strong><br />

hipotálamo, ou ectopicamente em neoplasias, a secreção de ADH<br />

ocorre de forma inapropriada para os estímulos osmóticos e não osmóticos,<br />

resultando em retenção de água, diluição de solutos e<br />

aparecimento de hiponatremia e hipo-osmolaridade. Embora a<br />

SIADH possa ser causada por muitas drogas como antidepressivos,<br />

inibidores de enzima conversora de angiotensina e alguns<br />

quimioterápicos, o tumor mais frequentemente associado com essa<br />

síndrome é o carci<strong>no</strong>ma de pequenas células do pulmão e o ade<strong>no</strong>carci<strong>no</strong>ma<br />

do pâncreas. Outra causa frequente de hiponatremia em<br />

<strong>paciente</strong>s com câncer é a presença de edema levando a uma síndrome<br />

de diluição. Tal situação clínica pode ser observada na presença<br />

de ascite e/ou derrame pleural.<br />

Tabela 1: Bisfosfonatos usados para corrigir hipercalcemia, com dose recomendada<br />

Diluição Infusão<br />

SF ou SG 200 mL<br />

SF ou SG 50 mL<br />

SF 0,9% 200 mL<br />

2h<br />

15 min<br />

1 – 2h


Quadro clínico<br />

Os sintomas e sinais clínicos vão depender da rapidez com que a<br />

hiponatremia ocorreu. A hiponatremia resulta, quase invariavelmente,<br />

em hipotonicidade do líquido extracelular (LEC), com consequente<br />

fluxo de água em direção ao líquido intracelular (LIC). Com isso, pode<br />

ocorrer edema intracelular, com prejuízo do funcionamento de algumas<br />

células, principalmente as do sistema nervoso central (SNC), onde a<br />

restrição volumétrica exercida pelos ossos do crânio limita a expansão<br />

do parênquima cerebral ocasionada pelo edema. Os achados neurológicos<br />

causados pela hiponatremia variam em função da sua gravidade e<br />

também da velocidade de instalação. O tecido nervoso dispõe de<br />

mecanismos capazes de contrabalancear as oscilações da osmolaridade<br />

plasmática, de forma que uma instalação insidiosa da hiponatremia permite<br />

que esses mecanismos se instalem causando me<strong>no</strong>s sintomas do<br />

que quando da instalação abrupta. Entre os vários mecanismos destacase<br />

a perda de solutos do LIC para compensar a hipotonicidade do meio<br />

exter<strong>no</strong>, de forma a evitar o influxo excessivo da água e, portanto, o<br />

edema cerebral. Os sintomas neurológicos da hiponatremia são ines -<br />

pecíficos, semelhantes a outras encefalopatias <strong>metabólicas</strong>. Nas formas<br />

leves de hiponatremia (Na > 125 mEq/l), sintomas gerais ocorrem,<br />

como mal-estar e náuseas. Valores de sódio plasmático < 120 mEq/l<br />

cursam com cefaleia e obnubilação. As formas graves de hiponatremia<br />

(Na < 115 mEq/l) costumam induzir coma e convulsões. Mais raramente,<br />

manifestações clínicas envolvendo outros sistemas podem ocorrer<br />

em função do influxo rápido de água para o LIC, como hemólise<br />

intravascular e microangiopatia.<br />

Tratamento<br />

A escolha da terapia adequada em <strong>paciente</strong>s com hiponatremia devido a<br />

SIADH varia de acordo com a gravidade da hiponatremia, com a presença<br />

ou ausência de sintomas e, até certo ponto, da osmolaridade urinária.<br />

Entre os <strong>paciente</strong>s com hiponatremia sintomática grave que se<br />

apre sentam com convulsões ou outras a<strong>no</strong>rmalidades neurológicas<br />

graves, recomendamos intervenção urgente com solução salina<br />

hipertônica, em vez de outras terapias. Um regime eficaz inicial é de<br />

100 ml de solução salina 3% dado como um bolus IV, o que deve elevar<br />

a concentração de sódio <strong>no</strong> soro por cerca de 1,5 meq/l em homens<br />

e 2,0 meq/l em mulheres, reduzindo assim o grau de edema cerebral.<br />

Se os sintomas neurológicos persistirem ou piorarem, um bolus de<br />

100 ml de solução salina 3% pode ser repetido uma ou duas vezes<br />

mais, em intervalos de dez minutos.<br />

Alguns <strong>paciente</strong>s apresentam manifestações neurológicas me<strong>no</strong>s<br />

graves, principalmente aqueles com concentração de sódio sérico<br />

abaixo de 120 meq/l, por mais de 48 horas, ou hiponatremia crônica<br />

moderada (sódio sérico 120-129 meq/l). A terapêutica inicial desses<br />

<strong>paciente</strong>s depende, em parte, da gravidade dos sintomas.<br />

Para <strong>paciente</strong>s com confusão e letargia, recomenda-se a adminis-<br />

tração inicial da terapia salina hipertônica para elevar o sódio sérico, que<br />

deve ser medido em duas a três horas. A taxa de perfusão subsequente<br />

deve ser ajustada para atingir uma taxa de correção de me<strong>no</strong>s de 10<br />

meq/l em 24 horas e me<strong>no</strong>s de 18 meq/l em 48 horas. Caso haja necessidade<br />

de correção rápida, os antagonistas do receptor da vasopressina<br />

podem ser usados. Eles produzem uma diurese seletiva de água, sem<br />

afetar o sódio e a excreção do potássio. O conivaptan (VAPRISOL ® ) e o<br />

tolvapta<strong>no</strong> estão disponíveis e aprovados para o uso em <strong>paciente</strong>s com<br />

hiponatremia secundária a SIADH, porém seu uso é limitado em virtude<br />

da necessidade de internação hospitalar e do alto custo.<br />

Para <strong>paciente</strong>s que têm apenas sintomas leves, como esquecimento<br />

e distúrbios da marcha, sugerimos terapia inicial com restrição de líquidos<br />

e comprimidos orais de sal ao invés de solução salina hipertônica.<br />

A terapia de manutenção em <strong>paciente</strong>s que inicialmente tinham<br />

hiponatremia sintomática pode prevenir uma subsequente redução do<br />

sódio sérico e recorrência dos sintomas possíveis. Sugerimos restrição<br />

de líquidos a me<strong>no</strong>s de 800 ml/dia. Se o sódio sérico é persistentemente<br />

inferior a 130 meq/l, adicionamos comprimidos orais de sal e,<br />

se necessário, um diurético de alça (por exemplo, furosemida 20 mg<br />

por VO, duas vezes por dia) em <strong>paciente</strong>s com osmolaridade urinária<br />

alta (mais que o dobro do plasma). Entre os <strong>paciente</strong>s assintomáticos<br />

com SIADH, iniciamos o tratamento com restrição de líquidos. Comprimidos<br />

orais de sal podem ser adicionados e depois, se necessário,<br />

um diurético de alça em <strong>paciente</strong>s com osmolaridade urinária alta.<br />

Síndrome de lise tumoral (SLT)<br />

A síndrome de lise tumoral é caracterizada pela destruição maciça de<br />

células malignas. Embora possa ocorrer de modo espontâneo, a SLT<br />

aparece, em geral, logo após o início do tratamento com agentes<br />

quimioterápicos citotóxicos. Ela acontece quando células neoplásicas<br />

são destruídas e seu conteúdo intracelular – potássio, fósforo e ácidos<br />

nucleicos – é liberado na circulação sanguínea, ultrapassando a capacidade<br />

do organismo de excretar essas substâncias. Clinicamente, é<br />

caracterizada por hiperfosfatemia, hipercalemia, hiperuricemia, hipo -<br />

calcemia e insuficiência renal aguda, frequentemente oligúrica.<br />

O ácido úrico é produzido pelo metabolismo da purina. Ácidos<br />

nucleicos são metabolizados em hipoxantina, xantina e, como produto<br />

final, ácido úrico, que é excretado pelos rins. Hiperuricemia,<br />

portanto, ocorre mais frequentemente em doenças de alto índice<br />

proliferativo, e é agravada pela quimioterapia citotóxica. Em excesso,<br />

o ácido úrico e a xantina cristalizam <strong>no</strong>s túbulos renais, sendo<br />

esse um dos principais mecanismos de insuficiência renal na síndrome<br />

de lise tumoral. Quanto mais ácida a urina, maior a tendência<br />

de cristalização do ácido úrico. A solubilidade da xantina não depende<br />

do pH urinário.<br />

Hiperfosfatemia leva à precipitação de fosfato de cálcio ectópico e<br />

à hipocalcemia, sendo outro importante mecanismo de lesão renal na<br />

<strong>Onco</strong>& outubro/<strong>no</strong>vembro 2011 47


síndrome de lise tumoral. Ao contrário do ácido<br />

úrico, o fosfato de cálcio tende a precipitar em meio<br />

alcali<strong>no</strong>. Além disso, pode ocorrer também precipitação<br />

de fosfato de cálcio <strong>no</strong> sistema de condução<br />

elétrica cardíaco, levando a arritmias. A reposição de<br />

cálcio aumenta o risco de precipitação. A hipocalcemia<br />

é, então, secundária à hiperfosfatemia e pode<br />

levar a tetania, arritmias e convulsões.<br />

Diagnóstico e classificação<br />

O diagnóstico é clínico-laboratorial, classicamente<br />

caracterizado por hiperuricemia, hipercalemia, hi -<br />

perfosfatemia, hipocalemia e insuficiência renal.<br />

A síndrome de lise tumoral é classificada em la -<br />

boratorial ou clínica:<br />

1. Laboratorial: quando há pelo me<strong>no</strong>s dois dos<br />

seguintes critérios: aumento de ácido úrico, fósforo,<br />

potássio (maior que 25% do valor basal ou do limite<br />

da <strong>no</strong>rmalidade) ou queda de cálcio iônico (maior<br />

que 25% do valor basal do limite <strong>no</strong>rmalidade);<br />

2. Clínica: quando há também queda do clea -<br />

rance de creatinina (para valores < 60 mL/min, que<br />

pode ser estimado pela equação de Cockroft e Gault<br />

ou, para crianças, pela fórmula de Schwartz), convulsão,<br />

hipocalcemia sintomática, arritmia cardíaca<br />

ou morte. A dosagem sérica de creatinina não pode<br />

ser utilizada para diagnóstico ou classificação.<br />

Estratificação de risco e profilaxia<br />

A probabilidade de ocorrer a síndrome de lise tumoral<br />

depende diretamente de quatro fatores: a) agressividade<br />

da doença; b) volume tumoral; c) efetividade do<br />

tratamento citotóxico; e d) medidas profiláticas<br />

tomadas. Não se devem subestimar condições clínicas<br />

que contribuam para o desenvolvimento dessa síndrome,<br />

como desidratação, insuficiência renal crônica<br />

prévia, oligúria e hipotensão.<br />

Graças a essa multifatoriedade, as incidências relatadas<br />

de SLT são extremamente variáveis, mesmo<br />

quando se estratifica por doença ou risco.<br />

Apesar de classicamente associado ao tratamento<br />

citotóxico, a lise tumoral pode ocorrer com<br />

doses baixas de corticosteroides e até espontaneamente.<br />

Pacientes que já têm níveis altos de ácido<br />

úrico antes do tratamento, ou com critérios laboratoriais<br />

de lise tumoral, têm risco aumentado.<br />

No momento, não há dados que permitam<br />

48 outubro/<strong>no</strong>vembro 2011 <strong>Onco</strong>&<br />

Tabela 2: Critérios de Cairo e Bishop para diagnóstico de síndrome de lise tumoral<br />

Lise tumoral laboratorial<br />

Lise tumoral clínica<br />

Ácido úrico > 8 mg/dL (ou > 25% do valor basal)<br />

Potássio > 6 mEq/L (ou > 25% do valor basal)<br />

Fósforo > 4,5 mg/dL (ou > 25% do valor basal,<br />

ou > 6,5 mg/dL em crianças)<br />

Cálcio < 7,0 mg/dL (ou < 25% do valor basal)<br />

Insuficiência renal (ClCr estimado < 60 mL/min)<br />

Arritmia cardíaca<br />

Convulsão<br />

Para diagnóstico de lise tumoral laboratorial, são necessários dois critérios. Quando associado<br />

a qualquer um dos critérios de lise tumoral clínica, faz-se esse diagnóstico.<br />

Fórmulas para estimar clearance de creatinina:<br />

- Cockroft e Gault: [140 – idade (a<strong>no</strong>s)] x peso (kg) x 0,85 (mulheres) x [1/Cr (mg%)] x [1/72]<br />

- Schwartz: 0,55 x altura (cm) x [1/Cr (mg%)]<br />

Tabela 3: Classificação de risco<br />

Alto risco<br />

Risco intermediário<br />

Baixo risco<br />

Sem risco<br />

LDH alto quando > 2 vezes o <strong>no</strong>rmal<br />

Linfoma de Burkitt, exceto estágio I totalmente ressecado<br />

Leucemia aguda com contagem leucocitária > 25.000/mm 3<br />

ou infiltração maciça de medula óssea ou LDH alto<br />

Linfoma de Burkitt totalmente ressecado e sem LDH alto<br />

Leucemia aguda com contagem de leucócitos <<br />

25.000/mm 3 e sem LDH alto<br />

Linfoma linfoblástico estágio I – II, sem LDH alto<br />

Linfomas agressivos com LDH alto e alta carga tumoral<br />

Linfoma folicular grau 3B com LDH alto<br />

Tumor germinativo metastático<br />

Neuroblastoma<br />

Câncer de pulmão de pequenas células<br />

Tumor sólido com alta carga tumoral<br />

Leucemia linfocítica crônica tratada com fludarabina<br />

e rituximabe<br />

Mieloma múltiplo com acometimento renal<br />

Pacientes com hiperuricemia, desidratação,<br />

hipotensão ou disfunção renal prévia<br />

Outros tumores sólidos<br />

Linfoma de Hodgkin<br />

Tumor sólido totalmente ressecado


classificar categoricamente o risco de síndrome de lise tumoral em<br />

<strong>paciente</strong>s com tumores sólidos ou linfomas, e todas as classificações<br />

de risco esbarram em um certo grau de subjetividade. A classificação<br />

que será apresentada aqui é baseada em dados disponíveis e<br />

opiniões, e deve ser interpretada criticamente.<br />

Profilaxia<br />

O objetivo das medidas profiláticas é aumentar o débito urinário<br />

(>2 mL/kg.min), através de hiper-hidratação (2 – 3 L/m2 de superfície<br />

corporal) e diurético de alça, e redução dos níveis de ácido úrico. Recomendamos<br />

que a hiper-hidratação seja feita com soro hipotônico e<br />

que se evite ofertar uma quantidade muito grande de NaCl. A hiperhidratação<br />

é a única maneira de reduzir os níveis de fosfato. Vale lembrar<br />

que, uma vez instalada, a síndrome de lise tumoral é um quadro<br />

grave com consequências potencialmente fatais.<br />

Há <strong>no</strong> mercado brasileiro dois agentes para redução de ácido<br />

úrico. O alopuri<strong>no</strong>l, na dose de 300-900 mg/dia por via oral, inibe a<br />

xantina oxidase e reduz o risco de cristalização de ácido úrico. Pode<br />

haver acúmulo de xantina, que, em me<strong>no</strong>r grau, também pode precipitar<br />

<strong>no</strong>s túbulos renais. O efeito máximo da medicação ocorre após<br />

dois dias, que é o tempo que o ácido úrico já existente leva para ser<br />

excretado do organismo. Já a rasburicase é uma enzima que converte<br />

o ácido úrico em alantoína, muito mais solúvel. A redução dos níveis<br />

de ácido úrico ocorre em quatro horas. A dose recomendada é<br />

0,20 mg/kg.dia por cinco dias, por via ve<strong>no</strong>sa. Não deve ser utilizada<br />

em <strong>paciente</strong>s com deficiência de G6PD.<br />

A rasburicase é mais eficaz e reduz mais rapidamente os níveis de<br />

ácido úrico. A única limitação é o custo – por isso é necessário um<br />

uso mais racional, com indicação precisa. Um estudo fase III demons -<br />

trou que o uso por três dias, ao invés de cinco, associado a alopuri<strong>no</strong>l<br />

(tratamento sequencial), tem resultados igualmente satisfatórios em<br />

<strong>paciente</strong>s de alto risco. Há também evidências de que doses me<strong>no</strong>res,<br />

Tabela 4: Profilaxia recomendada<br />

Alto risco<br />

Risco intermediário<br />

Baixo risco<br />

Sem risco<br />

que variam de 0,02 – 0,07 mg/kg, ou fixas entre 3,0 – 7,5 mg, são<br />

igualmente eficazes.<br />

Não há consenso sobre alcalinização da urina. Se, por um lado, ela<br />

reduz a cristalização de ácido úrico, por outro aumenta a precipitação<br />

de fosfato de cálcio. Portanto, não se deve alcalinizar a urina de <strong>paciente</strong>s<br />

com hiperfosfatemia ou que desenvolvem hiperfosfatemia. Os<br />

<strong>paciente</strong>s de alto risco e grande volume de doença podem, adicionalmente,<br />

receber um pré-tratamento quimioterápico em dose baixa para<br />

reduzir o risco de lise tumoral ou alterar o tratamento citotóxico de<br />

modo a torná-lo me<strong>no</strong>s intenso <strong>no</strong> início. Em alguns protocolos, esse<br />

pré-tratamento já está incluso.<br />

Alto risco<br />

Os <strong>paciente</strong>s com doenças de alto índice proliferativo e alta sensibilidade<br />

a quimioterapia, como linfoma de Burkitt, leucemia linfoblástica<br />

aguda e leucemia mieloide aguda, são os de mais alto risco<br />

para desenvolvimento de síndrome de lise tumoral. Nesses <strong>paciente</strong>s,<br />

a carga tumoral, que pode ser estimada pelos níveis de<br />

desidrogenase lática (LDH), contagem leucocitária, tamanho do<br />

tumor e infiltração maciça de medula óssea, é o principal preditor<br />

de desenvolvimento da síndrome.<br />

Pacientes com linfoma de Burkitt, exceto estágio I ressecado, e<br />

com leucemias agudas com contagem de leucócitos > 25.000/mm 3 ,<br />

LDH > 2 vezes o <strong>no</strong>rmal ou infiltração maciça de medula óssea devem<br />

ser considerados de alto risco.<br />

Esses <strong>paciente</strong>s de alto risco devem receber profilaxia intensiva,<br />

que inclui hiper-hidratação e rasburicase. Devem também ser monitorizados<br />

com exames laboratoriais (incluindo LDH, ácido úrico,<br />

sódio, potássio, fósforo, cálcio, ureia e creatinina) pelo me<strong>no</strong>s duas<br />

vezes por dia, pelos primeiros três dias. O débito urinário deve ser<br />

monitorizado a cada quatro a seis horas.<br />

Hiper-hidratação<br />

Rasburicase<br />

Monitorização laboratorial, hídrica e clínica<br />

Hidratação<br />

Alopuri<strong>no</strong>l<br />

Avaliar internação para monitorização<br />

Alopuri<strong>no</strong>l<br />

Não é necessária profilaxia<br />

<strong>Onco</strong>& outubro/<strong>no</strong>vembro 2011 49


Risco intermediário<br />

A lise tumoral em tumores sólidos não é um evento frequente. Os tumores<br />

com maior risco de desenvolver a SLT são os de alta sensibilidade<br />

à quimioterapia, como câncer de pulmão de pequenas células,<br />

neuroblastoma e tumor germinativo metastático. Esses são considerados<br />

de risco intermediário. Além disso, grande volume tumoral, especialmente<br />

quando há metástases hepáticas, pode ser considerado um<br />

fator de risco para o desenvolvimento da lise.<br />

Surpreendentemente, a mortalidade relacionada à síndrome de lise<br />

tumoral é alta em tumores sólidos, o que reflete o baixo índice de suspeição<br />

e o uso de medidas profiláticas me<strong>no</strong>s efetivas.<br />

As neoplasias hematológicas de risco intermediário são os linfomas<br />

agressivos ou com grande carga tumoral e com LDH > 2 vezes o <strong>no</strong>rmal.<br />

Exemplos: linfoma anaplásico, linfoma do manto, linfoma difuso de<br />

grandes células B, linfoma folicular 3B, linfoma T periférico. Linfomas<br />

de Burkitt estágio I, ressecado ou com LDH < 2 vezes o <strong>no</strong>rmal, e linfomas<br />

linfoblásticos estágio I ou II com LDH < 2 vezes o <strong>no</strong>rmal também<br />

devem ser considerados de risco intermediário, assim como leucemias<br />

agudas com LDH < 2 vezes o <strong>no</strong>rmal e leucócitos < 25.000/mm 3 .<br />

Pacientes de baixo risco, porém com disfunção ou acometimento<br />

renal (que é frequente em mieloma múltiplo), devem ser classificados<br />

como risco intermediário, bem como as doenças de baixo índice proliferativo<br />

que apresentam excelente resposta ao tratamento (como, por<br />

exemplo, leucemia linfocítica crônica tratada com esquemas contendo<br />

fludarabina e rituximabe).<br />

Esses <strong>paciente</strong>s devem receber profilaxia com alopuri<strong>no</strong>l e<br />

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50 outubro/<strong>no</strong>vembro 2011 <strong>Onco</strong>&<br />

hidratação ve<strong>no</strong>sa. A necessidade de internação para monitorização<br />

clínica e laboratorial deve ser avaliada caso a caso.<br />

Baixo risco<br />

Pacientes com outros tumores sólidos, mieloma múltiplo sem acometimento<br />

renal, linfoma de Hodgkin, leucemia linfocítica crônica tratada<br />

com agente alquilante, linfomas cutâneos e linfomas agressivos (excluindo-se<br />

linfoma linfoblástico e linfoma de Burkitt) com LDH < 2<br />

vezes o <strong>no</strong>rmal são de baixo risco, e a profilaxia deve ser feita apenas<br />

com alopuri<strong>no</strong>l.<br />

Tumores sólidos totalmente ressecados têm risco negligenciável de<br />

lise tumoral e não é necessária profilaxia.<br />

Tratamento<br />

Uma vez desenvolvida, a síndrome de lise tumoral clínica é um quadro<br />

grave e potencialmente fatal. Pacientes com ácido úrico elevado devem<br />

ser tratados com rasburicase. Hiperfosfatemia e hipercalemia devem<br />

ser tratados agressivamente, com diálise se necessário.<br />

O tratamento é, basicamente, de suporte. A hipocalcemia assintomática<br />

ou sem repercussão eletrocardiográfica não deve ser tratada.<br />

A reposição de cálcio pode causar precipitação de fosfato de cálcio <strong>no</strong>s<br />

túbulos renais, piorando ou precipitando a síndrome.<br />

Deve-se suspender a hiper-hidratação, uma vez que ocorre oligúria<br />

não responsiva a diuréticos de alça, e o <strong>paciente</strong> deve ser avaliado<br />

clínica e laboratorialmente. Não se deve postergar hemodiálise em indivíduos<br />

que desenvolvem hipervolemia secundária à síndrome.<br />

16;355(20):2099-112. Epub 2006 Nov 14.<br />

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