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1 Lócus de Controle Interno: Uma Característica de ... - Anpad

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<strong>Lócus</strong> <strong>de</strong> <strong>Controle</strong> <strong>Interno</strong>: <strong>Uma</strong> <strong>Característica</strong> <strong>de</strong> Empreen<strong>de</strong>dores?<br />

Autoria: Marcelo <strong>de</strong> Castro Callado, Josemeire Alves Gomes, Luiz Eduardo dos Santos<br />

Tavares<br />

Resumo<br />

Em estudos multinacionais, o lócus <strong>de</strong> controle interno tem sido empiricamente associado à<br />

ativida<strong>de</strong> empreen<strong>de</strong>dora. No sentido <strong>de</strong> contribuir com evidências empíricas nacionais que<br />

permitam alavancar a pesquisa realizada no Brasil em comparação com <strong>de</strong>terminadas<br />

experiências internacionais, o presente estudo tem por objetivo <strong>de</strong>screver os traços <strong>de</strong><br />

personalida<strong>de</strong>, em particular o lócus <strong>de</strong> controle, <strong>de</strong> uma amostra <strong>de</strong> estudantes e<br />

empreen<strong>de</strong>dores. <strong>Uma</strong> pesquisa <strong>de</strong>scritiva quantitativa foi realizada tendo como base a Escala<br />

<strong>de</strong> Levenson. Os resultados mostram que a dimensão <strong>de</strong> internalida<strong>de</strong> é maior do que as<br />

dimensões <strong>de</strong> externalida<strong>de</strong> na amostra <strong>de</strong> empreen<strong>de</strong>dores e estudantes, não tendo sido<br />

encontrada nenhuma diferença significativa entre os dois grupos. Finalmente, não se<br />

encontrou evidência <strong>de</strong> disparida<strong>de</strong>s em relação a esta variável nas análises <strong>de</strong> gênero.<br />

Introdução<br />

Os fatores <strong>de</strong>terminantes que estimulam a ativida<strong>de</strong> empreen<strong>de</strong>dora po<strong>de</strong>m ser investigados<br />

em muitos níveis. Na esfera individual, por exemplo, é possível avaliar os motivos pelos quais<br />

as pessoas <strong>de</strong>ci<strong>de</strong>m se tornar donos dos seus próprios negócios. De outra maneira, po<strong>de</strong>-se<br />

examinar como o mercado e seus mecanismos <strong>de</strong> regulação ativam o empreen<strong>de</strong>dorismo.<br />

Po<strong>de</strong>m-se ainda consi<strong>de</strong>rar as diferenças entre países e analisar se há fatores culturais<br />

envolvidos no grau <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong> empreen<strong>de</strong>dora. Em relação a este último aspecto, evidências<br />

mostram que alguns países e socieda<strong>de</strong>s são mais efetivos em estimular a ativida<strong>de</strong><br />

empreen<strong>de</strong>dora, o que resulta em maiores taxas <strong>de</strong> abertura <strong>de</strong> novos negócios (REYNOLDS;<br />

STOREY; WESTHEAD, 1994). A explicação para estas diferenças encontra base nos fatores<br />

culturais e econômicos.<br />

No Brasil, pesquisadores da área <strong>de</strong> empreen<strong>de</strong>dorismo têm incluído em suas agendas <strong>de</strong><br />

pesquisa um espaço para discussão sobre a influência cultural no comportamento<br />

empreen<strong>de</strong>dor (e.g. LEMOS, 2005). Poucas evidências empíricas, no entanto, existem no<br />

sentido <strong>de</strong> comparar este comportamento ao <strong>de</strong> outros países, em estudos <strong>de</strong> natureza crosscultural.<br />

Estudos internacionais <strong>de</strong>sta natureza são mais comuns em outros países. Thomas e<br />

Mueller (2000), por exemplo, ao avaliarem a orientação empreen<strong>de</strong>dora em diversos países<br />

encontraram evidências <strong>de</strong> que a freqüência <strong>de</strong> traços <strong>de</strong> personalida<strong>de</strong> normalmente<br />

associados a empreen<strong>de</strong>dores, como o lócus <strong>de</strong> controle interno, <strong>de</strong>cresce à medida que a<br />

distância cultural dos Estados Unidos aumenta. No sentido <strong>de</strong> contribuir com evidências<br />

empíricas nacionais que permitam alavancar a pesquisa realizada no Brasil com o objetivo <strong>de</strong><br />

comparação internacional, este trabalho busca a resposta para o seguinte questionamento:<br />

como se caracteriza o lócus <strong>de</strong> controle entre os empreen<strong>de</strong>dores no Brasil?<br />

Em Smith, Dugan e Trompenaars (1997), os autores mostram que o lócus <strong>de</strong> controle interno<br />

encontra-se inversamente relacionado ao nível <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> um país. Tal qual foi<br />

chamado pelos autores, empreen<strong>de</strong>dores <strong>de</strong> países menos mo<strong>de</strong>rnos, como o México, exibem<br />

um lócus <strong>de</strong> controle interno maior do que aqueles situados em países mais mo<strong>de</strong>rnos, como a<br />

Holanda e Suécia. Tal divergência instiga ainda mais o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> bancos <strong>de</strong> dados<br />

que <strong>de</strong>screvam características do empreen<strong>de</strong>dor brasileiro para o propósito <strong>de</strong> futuras<br />

1


comparações. Neste sentido, o objetivo do presente estudo é <strong>de</strong>screver os traços <strong>de</strong><br />

personalida<strong>de</strong>, em particular o lócus <strong>de</strong> controle, <strong>de</strong> uma amostra <strong>de</strong> estudantes e<br />

empreen<strong>de</strong>dores.<br />

O artigo está estruturado da seguinte maneira: em primeiro lugar contextualizam-se os traços<br />

<strong>de</strong> personalida<strong>de</strong> como uma das dimensões <strong>de</strong> mo<strong>de</strong>los multidimensionais sobre<br />

comportamento empreen<strong>de</strong>dor. Em seguida, <strong>de</strong>senvolve-se o esteio teórico que suportará as<br />

análises sobre a mensuração do lócus <strong>de</strong> controle, apresentando os principais mo<strong>de</strong>los<br />

existentes. Metodologia e análises dos resultados são mostradas na seqüência para por fim<br />

traçar comparações entre os resultados <strong>de</strong>ste estudo e outros <strong>de</strong> natureza similar.<br />

Revisão Conceitual<br />

Muito do esforço inicial em enten<strong>de</strong>r o empreen<strong>de</strong>dorismo e a criação <strong>de</strong> novos negócios<br />

focava as características individuais dos empreen<strong>de</strong>dores. Des<strong>de</strong> o trabalho seminal <strong>de</strong><br />

McClelland (1961) 1 que <strong>de</strong>fendia a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> auto-realização como característica da<br />

personalida<strong>de</strong> empreen<strong>de</strong>dora, o campo tem examinado diferentes traços da personalida<strong>de</strong><br />

como o auto-controle, a propensão ao risco e os valores pessoais numa varieda<strong>de</strong> <strong>de</strong> diferentes<br />

estudos. Alguns pesquisadores renomados, como Morris (2001), <strong>de</strong>stacam que a maioria das<br />

questões pesquisadas na área <strong>de</strong> empreen<strong>de</strong>dorismo está vinculada à tentativa <strong>de</strong> construção<br />

(ou <strong>de</strong>sconstrução) <strong>de</strong> traços e características <strong>de</strong> empreen<strong>de</strong>dores (e.g. McCLELLAND, 1961;<br />

GARTNER, 1988; DORNELAS, 2001). Segundo Gartner (1988), esta linha orientada pelos<br />

traços <strong>de</strong> personalida<strong>de</strong> foi caracterizada como “ina<strong>de</strong>quada para explicar o fenômeno do<br />

empreeen<strong>de</strong>dorismo”.<br />

Atualmente, o empreen<strong>de</strong>dorismo tem sido entendido como um processo complexo e<br />

multifacetado, que reconhece as variáveis sociais (mobilida<strong>de</strong> social, cultura, socieda<strong>de</strong>),<br />

econômicas (incentivos <strong>de</strong> mercado, políticas públicas, capital <strong>de</strong> risco) e psicológicas como<br />

influenciadoras no ato <strong>de</strong> empreen<strong>de</strong>r (DE VRIES, 1985). A varieda<strong>de</strong> <strong>de</strong> perspectivas é<br />

melhor entendida através <strong>de</strong> uma abordagem integrativa que tem sido atualmente<br />

<strong>de</strong>senvolvida para explicar o comportamento empreen<strong>de</strong>dor. Nesta linha, sugere-se que o<br />

empreen<strong>de</strong>dorismo é uma ativida<strong>de</strong> que só po<strong>de</strong> ser explicada através da combinação<br />

simultânea <strong>de</strong> elementos individuais associados a este fenômeno. Entre os autores que<br />

reconhecem esta multidimensionalidada<strong>de</strong> estão: Gartner (1985), Shaver e Scott (1991) e,<br />

mais recentemente, Korunka et al. (2003).<br />

Mesmo reconhecendo o avanço legítimo que amplia o entendimento do fenômeno<br />

empreen<strong>de</strong>dorismo, este trabalho volta à dimensão inicial dos estudos, por enten<strong>de</strong>r que<br />

poucas pesquisas empíricas nacionais avaliaram a real existência <strong>de</strong> traços psicológicos<br />

freqüentemente associados a empreen<strong>de</strong>dores. Carland et al. (1984) sintetizam algumas<br />

características que são freqüentemente citadas em estudos nacionais posteriores como sendo<br />

próprias do espírito empreen<strong>de</strong>dor. Entre elas: lócus <strong>de</strong> controle interno, necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

realização, propensão ao risco, criativida<strong>de</strong>, visão, alta energia, postura estratégica e<br />

autoconfiança. Para enten<strong>de</strong>r cada uma <strong>de</strong>stas variáveis é necessário primeiro compreen<strong>de</strong>r<br />

seu real sentido para <strong>de</strong>pois avaliar sua existência entre uma população <strong>de</strong> interesse.<br />

De maneira específica, Rotter introduziu, na década <strong>de</strong> 60, o construto lócus <strong>de</strong> controle,<br />

baseado na teoria da aprendizagem social (PASQUALI; ALVES; PEREIRA, 1998). De<br />

acordo com Barros et al. (1993, apud RIBEIRO, 2000) segundo esta teoria, as variáveis <strong>de</strong><br />

personalida<strong>de</strong> e as características do meio, consi<strong>de</strong>radas individualmente, não explicam o<br />

2


comportamento, pois é preciso consi<strong>de</strong>rar a interação do sujeito com o ambiente. Os<br />

comportamentos sociais são aprendidos e não <strong>de</strong>terminados geneticamente e a personalida<strong>de</strong> é<br />

construída através <strong>de</strong> experiências vivenciadas pelo sujeito que, com o objetivo <strong>de</strong> controlar<br />

as situações, orienta seu comportamento por objetivos. A probabilida<strong>de</strong> da ocorrência <strong>de</strong> um<br />

<strong>de</strong>terminado comportamento relaciona-se não só com a importância dos fins ou dos reforços,<br />

mas também com a antecipação ou expectativa acerca <strong>de</strong>sses fins. Assim, a teoria da<br />

aprendizagem social <strong>de</strong>screve o comportamento como uma função das expectativas, do valor<br />

do reforço e do impacto das situações psicológicas, pondo em relevo a cognição e o<br />

comportamento, as expectativas e os reforços, as características individuais e as influências<br />

situacionais (BARROS, 1991 apud RIBEIRO, 2000).<br />

Rotter (1966, apud MILLER; KETS DE VRIES; TOULOUSE, 1982), ao estudar o lócus <strong>de</strong><br />

controle, estabeleceu uma escala <strong>de</strong> mensuração interna e externa da percepção do indivíduo<br />

em relação ao controle do que acontece com ele e com a vida <strong>de</strong>le. Assim, o lócus <strong>de</strong> controle<br />

po<strong>de</strong> ser interno ou externo. Pessoas com lócus <strong>de</strong> controle interno ten<strong>de</strong>m a atribuir a si<br />

mesmas a responsabilida<strong>de</strong> pelo que acontece a elas, se sentem responsáveis pelo controle da<br />

maior parte das situações que enfrentam e acreditam que po<strong>de</strong>m interferir nos resultados<br />

<strong>de</strong>stas situações. Pessoas com lócus <strong>de</strong> controle externo ten<strong>de</strong>m a atribuir a responsabilida<strong>de</strong><br />

sobre o que lhes acontece aos outros ou a coisas externas a elas, não se sentem com o controle<br />

das situações pelas quais passam. Geralmente são pessoas que acreditam que o <strong>de</strong>stino, a sorte<br />

ou Deus é responsável pelo que lhes ocorre.<br />

Wenzel (1993) refere-se ao lócus <strong>de</strong> controle como sendo o modo como uma pessoa percebe a<br />

relação entre seus esforços e o resultado <strong>de</strong> um evento. Para Dela Coleta (1987), o lócus <strong>de</strong><br />

controle é uma variável que busca explicar uma característica relativa à percepção das pessoas<br />

sobre a fonte <strong>de</strong> controle dos acontecimentos em que estão envolvidas, variando ao longo <strong>de</strong><br />

um contínuo, tendo em um extremo a percepção <strong>de</strong> controle interno ou internalida<strong>de</strong> e no<br />

outro extremo o controle externo ou externalida<strong>de</strong>. A pessoa externamente orientada não<br />

percebe claramente esta relação e acredita que os resultados <strong>de</strong> um evento estão além <strong>de</strong> seu<br />

controle. Por outro lado, a pessoa internamente orientada acredita que os resultados <strong>de</strong> um<br />

evento são conseqüências <strong>de</strong> suas ações, habilida<strong>de</strong>s, esforços e estão sob seu controle<br />

(KAUFMANN; WELSH; BUSHMARIN, 1995; NOE, 1986, NORIEGA et al., 2003).<br />

Nesta mesma linha, Spector e O’Connell (1994) <strong>de</strong>finem que o lócus <strong>de</strong> controle é uma<br />

variável da personalida<strong>de</strong> que exprime as expectativas generalizadas do indivíduo <strong>de</strong> que o<br />

controle <strong>de</strong> sua vida é <strong>de</strong>terminado por ele próprio ou que os resultados <strong>de</strong> suas ações pessoais<br />

sejam controlados por fontes externas. Segundo os autores, o lócus <strong>de</strong> controle vem sendo<br />

estudado em vários contextos, inclusive o organizacional. Ao estudar a relação entre o nível<br />

<strong>de</strong> controle e o <strong>de</strong>sempenho <strong>de</strong> funcionários nas organizações, Spector (1986) i<strong>de</strong>ntificou uma<br />

significativa relação entre o alto nível <strong>de</strong> controle quando associado a altos níveis <strong>de</strong><br />

satisfação no trabalho, compromisso, envolvimento, <strong>de</strong>sempenho e motivação. Spector e<br />

O’Connell (1994) argumentam que, numa perspectiva teórica, po<strong>de</strong>-se esperar que indivíduos<br />

com lócus <strong>de</strong> controle externo, os quais <strong>de</strong> fato não acreditam que po<strong>de</strong>m controlar aspectos<br />

importantes <strong>de</strong> seus ambientes, são mais propensos a consi<strong>de</strong>rar o ambiente <strong>de</strong> trabalho<br />

ameaçador e estressante.<br />

O lócus <strong>de</strong> controle constitui uma das características <strong>de</strong> personalida<strong>de</strong> que permite explicar o<br />

comportamento organizacional estratégico e significa algo que todas as pessoas têm e que as<br />

diferenciam na forma como cada uma se relaciona com o mundo (MILLER; KETS DE<br />

VRIES; TOULOUSE, 1982). Pesquisas posteriores feitas em outros países estabeleceram uma<br />

3


elação entre o lócus <strong>de</strong> controle interno e a propensão do indivíduo engajar-se em uma<br />

ativida<strong>de</strong> empreen<strong>de</strong>dora (GARTNER, 1985; PERRY, 1990; SHAVER; SCOTT, 1991;<br />

KAUFMANN; WELSH; BUSHMARIN, 1995).<br />

Em todos os trabalhos anteriormente citados, a mensuração do lócus <strong>de</strong> controle se faz através<br />

<strong>de</strong> algum tipo <strong>de</strong> escala. Segundo Dela Coleta (1987), a mais amplamente utilizada é a Escala<br />

<strong>de</strong> <strong>Lócus</strong> <strong>de</strong> <strong>Controle</strong> <strong>Interno</strong>-Externo (I-E) <strong>de</strong> Rotter, que por meio <strong>de</strong> processos <strong>de</strong> análise<br />

fatorial ficou reduzida a 23 itens válidos, nos quais se constitui a sua forma atual, tendo cada<br />

item duas opções <strong>de</strong> respostas, uma interna e outra externa. Segundo a autora, os resultados <strong>de</strong><br />

pesquisas <strong>de</strong>senvolvidas posteriormente levaram pesquisadores a questionarem a valida<strong>de</strong> do<br />

conceito unidimensional <strong>de</strong> lócus <strong>de</strong> controle suposto pela Escala <strong>de</strong> Rotter, sugerindo uma<br />

diversida<strong>de</strong> no significado psicológico da externalida<strong>de</strong>.<br />

Desta forma foi que Levenson (1974, apud Pasquali et al., 1998), baseado na escala I-E <strong>de</strong><br />

Rotter, propôs uma nova escala na qual a dimensão da externalida<strong>de</strong> foi dividida em duas,<br />

“porque supunha que as pessoas, ao acreditarem no po<strong>de</strong>r <strong>de</strong> outras sobre si mesmas,<br />

difeririam daquelas que percebiam o mundo como imprevisível e incontrolável” (DELA<br />

COLETA, 1987). De acordo com a autora, na subdivisão da escala <strong>de</strong> Levenson, a<br />

internalida<strong>de</strong> (I) mediria o grau em que o sujeito acredita que mantém controle sobre sua vida,<br />

a externalida<strong>de</strong> (P) mediria a percepção <strong>de</strong> que este controle estaria nas mãos <strong>de</strong> pessoas<br />

po<strong>de</strong>rosas e a externalida<strong>de</strong> atribuída ao acaso (C) mediria a percepção <strong>de</strong> ser controlado pelo<br />

acaso, sorte ou <strong>de</strong>stino. Com base na escala adaptada, estudos empíricos foram realizados no<br />

sentido <strong>de</strong> validá-la. No estudo <strong>de</strong>senvolvido com estudantes, os resultados encontrados por<br />

Walkey (1979) corroboraram as idéias <strong>de</strong> Levenson (1974, apud Pasquali et al, 1998), por<br />

<strong>de</strong>monstrarem consistentes níveis <strong>de</strong> estabilida<strong>de</strong> entre as três dimensões da escala IPC.<br />

A escala <strong>de</strong> Levenson (IPC) foi traduzida e adaptada ao contexto brasileiro por Dela Coleta<br />

(1987). Buscando uma forma mais a<strong>de</strong>quada à compreensão, Dela Coleta (1987) introduziu<br />

algumas modificações no instrumento, que passou <strong>de</strong> seis níveis <strong>de</strong> resposta na escala original<br />

para apenas cinco níveis <strong>de</strong> resposta na escala adaptada.<br />

Em outro estudo baseado na escala <strong>de</strong> Levenson (1974), Pasquali, Alves e Pereira (1998)<br />

validaram a escala entre empregados <strong>de</strong> uma empresa <strong>de</strong> telecomunicações ao mesmo tempo<br />

em que constataram que o nível <strong>de</strong> internalida<strong>de</strong> dos entrevistados caia com o aumento da<br />

experiência profissional. Utilizando escala semelhante num grupo <strong>de</strong> empreen<strong>de</strong>dores e<br />

estudantes russos, Kaufmann, Welsh e Bushmarin (1995) encontraram mais força na<br />

dimensão Interna (I) entre os estudantes do que entre empreen<strong>de</strong>dores. Destes achados emerge<br />

a primeira hipótese <strong>de</strong>ste trabalho.<br />

H1: Os empreen<strong>de</strong>dores apresentam um lócus <strong>de</strong> controle interno menor do que<br />

os estudantes.<br />

Gartner (1985), ao <strong>de</strong>screver o fenômeno da criação <strong>de</strong> um novo negócio, integrou o lócus <strong>de</strong><br />

controle como uma das características psicológicas inerentes ao indivíduo empreen<strong>de</strong>dor.<br />

Segundo Nelson (1991), o lócus <strong>de</strong> controle interno é relacionado na literatura dos pequenos<br />

negócios como uma característica da personalida<strong>de</strong> do empreen<strong>de</strong>dor. De maneira mais<br />

abrangente, Nelson (1991) examina a relação entre o lócus <strong>de</strong> controle e o sucesso do negócio<br />

<strong>de</strong> mulheres empreen<strong>de</strong>doras. Utilizando as dimensões lócus <strong>de</strong> controle interno e externo da<br />

escala <strong>de</strong> Rotter, o autor afirma que as mulheres empreen<strong>de</strong>doras pesquisadas em seu estudo<br />

apresentaram um elevado índice <strong>de</strong> internalida<strong>de</strong>, quando comparadas com mulheres da<br />

população em geral. A questão do gênero associada ao lócus <strong>de</strong> controle também foi<br />

4


trabalhada por Smith, Dugan e Trompenaars (1997), que encontraram evidências <strong>de</strong> maiores<br />

índices <strong>de</strong> internalida<strong>de</strong> entre homens do que entre mulheres. Em Mueller (2004) o autor<br />

avança nesta temática sugerindo que a associação entre o gênero e o lócus <strong>de</strong> controle está em<br />

essência ligada à cultura do país, que po<strong>de</strong>r ser mais masculina ou mais feminina. Destas<br />

reflexões surgem outras hipóteses <strong>de</strong> trabalho:<br />

H2: As mulheres empreen<strong>de</strong>doras apresentam um lócus <strong>de</strong> controle interno<br />

menor do que os homens empreen<strong>de</strong>dores.<br />

No estudo <strong>de</strong>senvolvido sobre empreen<strong>de</strong>dorismo, Perry (1990) concluiu que o lócus <strong>de</strong><br />

controle interno e a motivação dos empreen<strong>de</strong>dores, quando comparado ao restante da<br />

população, é mais elevado. Por ser uma característica atribuída aos empreen<strong>de</strong>dores, Filion<br />

(1999) acrescenta que estes se sentem responsáveis pelo que lhes acontece e que, por isso,<br />

“trabalham duro” para conseguir melhorar a sua vida e a das pessoas a sua volta. Eles se<br />

sentem capazes <strong>de</strong> gerar mudanças, eles acreditam em si mesmos. Assim, surge a terceira<br />

hipótese <strong>de</strong> trabalho:<br />

H3: Empreen<strong>de</strong>dores apresentam na avaliação do lócus <strong>de</strong> controle uma<br />

dimensão <strong>de</strong> internalida<strong>de</strong> maior do que as dimensões <strong>de</strong> externalida<strong>de</strong>s.<br />

Finalmente, a relação entre lócus <strong>de</strong> controle interno e o empreen<strong>de</strong>dorismo foi estudada por<br />

Kaufmann, Welsh e Bushmarin (1995), que focaram suas pesquisas em empreen<strong>de</strong>dores da<br />

República Rússia. Os anos <strong>de</strong> economia fechada vividos por estes empreen<strong>de</strong>dores, segundo<br />

os autores, possivelmente criaram condições culturais que induziram a percepção do controle<br />

mais voltado aos outros do que a eles próprios. O instrumento utilizado também foi a escala<br />

multidimensional <strong>de</strong> lócus <strong>de</strong> controle <strong>de</strong> Levenson e os resultados <strong>de</strong>monstraram que,<br />

quando comparados a outros países, os empreen<strong>de</strong>dores russos têm baixos índices <strong>de</strong><br />

internalida<strong>de</strong>. Na comparação com outros países espera-se encontrar no Brasil níveis <strong>de</strong><br />

internalida<strong>de</strong> semelhante ao <strong>de</strong> países com o mesmo grau <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento econômico, o<br />

que remete a quarta e última hipótese <strong>de</strong> trabalho.<br />

H4: Empreen<strong>de</strong>dores no Brasil apresentam características internas <strong>de</strong> lócus <strong>de</strong><br />

controle semelhantes àquelas encontradas entre empreen<strong>de</strong>dores <strong>de</strong> países com o mesmo<br />

grau <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento.<br />

A seção seguinte mostra os passos metodológicos da pesquisa.<br />

Metodologia<br />

A presente pesquisa é <strong>de</strong>scritiva quantitativa. Foram utilizadas duas populações diferentes:<br />

alunos do curso <strong>de</strong> Administração e empreen<strong>de</strong>dores com negócios já estabelecidos<br />

formalmente em diversos setores da economia. A amostra <strong>de</strong> alunos universitários foi<br />

constituída <strong>de</strong> 201 indivíduos, distribuídos por gênero em 53,2% indivíduos do sexo<br />

masculino e 46,8% do sexo feminino, com a ida<strong>de</strong> média <strong>de</strong> 23,2 anos e <strong>de</strong>svio padrão <strong>de</strong><br />

5,66 anos. Do total <strong>de</strong> alunos pesquisados, 64,7 % estavam na primeira meta<strong>de</strong> do curso <strong>de</strong><br />

administração (10 semestres) e o restante na segunda meta<strong>de</strong> do curso. A amostra <strong>de</strong><br />

empreen<strong>de</strong>dores é composta <strong>de</strong> 32 indivíduos distribuídos por gênero em 59,4 % <strong>de</strong><br />

indivíduos do sexo masculino e 40,6% do sexo feminino.<br />

5


A Escala Multidimensional <strong>de</strong> <strong>Lócus</strong> <strong>de</strong> <strong>Controle</strong> <strong>de</strong> Levenson, adaptada para a população<br />

brasileira por Dela Coleta (1987) foi o instrumento utilizado neste estudo para a avaliação do<br />

lócus <strong>de</strong> controle. A escala <strong>de</strong> Dela Coleta (1987) possui o total <strong>de</strong> 24 itens distribuídos em 03<br />

sub-escalas. A sub-escala I, composta pelos itens 1, 4, 5, 9, 18, 19, 21 e 23, me<strong>de</strong> o grau <strong>de</strong><br />

internalida<strong>de</strong> e quanto mais alto o escore, mais os sujeitos supõem que eles próprios são os<br />

controladores dos fatos que ocorrem em suas vidas. A sub-escala P, composta pelos itens 3, 8,<br />

11, 13, 15, 17, 20, 22, me<strong>de</strong> o grau <strong>de</strong> externalida<strong>de</strong> associado a outros po<strong>de</strong>rosos e quanto<br />

mais alto o escore, maior a indicação <strong>de</strong> que o sujeito supõe que pessoas po<strong>de</strong>rosas têm<br />

controle sobre suas vida. A sub-escala C, composta pelos itens 2, 6, 7, 10, 12, 14, 16, 24,<br />

me<strong>de</strong> o grau <strong>de</strong> externalida<strong>de</strong> ligado ao acaso e quanto mais alto o escore, maior a indicação<br />

<strong>de</strong> que o sujeito explica os acontecimentos <strong>de</strong> sua vida como ligados ao acaso, ao azar, ao<br />

<strong>de</strong>stino e à vonta<strong>de</strong> <strong>de</strong> Deus. Cada item foi dividido em cinco níveis (concordo totalmente,<br />

concordo, in<strong>de</strong>ciso, discordo, discordo totalmente) que correspon<strong>de</strong>m a valores <strong>de</strong> 5, 4, 3, 2,<br />

1, respectivamente, po<strong>de</strong>ndo cada individuo em cada sub-escala obter um escore variando<br />

entre 8 e 40. Desta forma cada indivíduo obtém três escores, um em cada sub-escala.<br />

Para a coleta <strong>de</strong> dados foram distribuídos questionários individuais on<strong>de</strong> os pesquisadores não<br />

influenciaram na interpretação das afirmações nem com relação às respostas fornecidas. A<br />

administração dos questionários na amostra <strong>de</strong> estudantes foi feita em duas universida<strong>de</strong>s:<br />

uma pública e outra privada, <strong>de</strong> maneira eqüitativa. Em relação à amostra <strong>de</strong> empreen<strong>de</strong>dores,<br />

os pesquisadores aplicaram parte dos questionários em reuniões <strong>de</strong> empresários na Fe<strong>de</strong>ração<br />

das Indústrias do Estado e os <strong>de</strong>mais entre comerciantes e empresários <strong>de</strong> estabelecimentos <strong>de</strong><br />

serviços. A coleta <strong>de</strong> dados aconteceu no mês <strong>de</strong> março <strong>de</strong> 2006.<br />

Para testar as hipóteses 1, 2 e 3 <strong>de</strong>ste estudo utilizou-se análise da variância entre as médias<br />

dos fatores e entre os grupos estudados, através <strong>de</strong> tabelas ANOVA, geradas a partir <strong>de</strong> um<br />

software para o tratamento estatístico <strong>de</strong> dados. Faz-se também o teste <strong>de</strong> F e suas<br />

significâncias, que representam o nível <strong>de</strong> significância das variáveis in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes em<br />

relação às variáveis <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes, para verificar a aceitação ou a rejeição das hipóteses.<br />

Complementar a esta análise foi utilizado o λ (Lambda <strong>de</strong> Wilks), que é um teste estatístico<br />

cujos valores variam entre 0 e 1. Caso valor do λ <strong>de</strong> Wilks esteja próximo <strong>de</strong> 1, significa<br />

dizer que as médias dos grupos (centrói<strong>de</strong>s) não parecem ser diferentes umas das outras,<br />

enquanto valores próximos <strong>de</strong> zero indicam que as médias dos grupos parecem ser diferentes<br />

(MALHOTRA, 2001, p. 484).<br />

Para testar a hipótese 4, foi feita uma comparação baseada nos dados dos empreen<strong>de</strong>dores <strong>de</strong><br />

Brasil e Rússia, discriminados por gênero. A metodologia utilizada levou em consi<strong>de</strong>ração as<br />

diferenças entre as escalas aplicadas na Rússia e Brasil. No estudo realizado na Rússia foi<br />

utilizada a escala multidimensional <strong>de</strong> lócus <strong>de</strong> controle <strong>de</strong> Levenson, enquanto no estudo<br />

realizado no Brasil foi utilizada a escala <strong>de</strong> Dela Coleta (1987), que é uma adaptação ao<br />

contexto brasileiro da escala <strong>de</strong> Levenson.<br />

.<br />

4 Discussão dos Resultados<br />

Com relação às médias e <strong>de</strong>svios-padrão atingidos pelos empreen<strong>de</strong>dores em cada uma das<br />

sub-escalas IPC, encontramos os resultados indicados na TAB.1. Quanto à hipótese 1, que os<br />

empreen<strong>de</strong>dores apresentam um lócus <strong>de</strong> controle interno menor dos que os alunos<br />

universitários, os resultados, advindos da análise <strong>de</strong> variância (TAB.2), sugerem que não<br />

existe diferença significativa com relação a sub-escala I. Porém observa-se uma diferença<br />

quanto à percepção da sub-escala C, relativa a externalida<strong>de</strong>, on<strong>de</strong> os alunos pontuam mais<br />

6


que os empreen<strong>de</strong>dores, <strong>de</strong>monstrando que os fatores externos para os alunos adquirem um<br />

nível <strong>de</strong> importância maior do que para os empreen<strong>de</strong>dores. Submetido ao teste do λ <strong>de</strong> Wilks<br />

(TAB 3.) estas diferenças não são significantes.<br />

Tabela 1 - Média e <strong>de</strong>svio-padrão da pontuação <strong>de</strong> alunos e empreen<strong>de</strong>dores das subescalas<br />

IPC<br />

I P C<br />

Alunos Universitários Homens+mulheres<br />

N = 201<br />

Homens<br />

N = 107<br />

Mulheres<br />

N = 94<br />

Empreen<strong>de</strong>dores Homens+mulheres<br />

N = 32<br />

Homens<br />

N = 19<br />

Mulheres<br />

N = 13<br />

x ω<br />

σ<br />

x ω<br />

29,19 3,48 18,65 4,18 18,84 4,17<br />

29,36 3,72 18,43 4,08 18,62 4,49<br />

28,99 3,19 18,90 4,30 19,09 3,77<br />

29,25 3,35 18,38 3,76 17,53 6,10<br />

28,32 3,23 18,53 4,10 18,95 6,60<br />

30,62 3,15 18,15 3,34 15,46 4,79<br />

Tabela 2 – Análise <strong>de</strong> variância entre empreen<strong>de</strong>dores e alunos para os fatores IPC<br />

TABELA ANOVA<br />

soma dos quadrados GL média dos quadrados F Sig.<br />

I 2,511084241 18 0,13950468 1,093518 0,360<br />

P 1,764960899 22 0,080225495 0,612989 0,913<br />

C 7,262790391 24 0,302616266 2,708586 0,000<br />

Tabela 3 - λ <strong>de</strong> Wilks para Empreen<strong>de</strong>dores e alunos para os fatores IPC<br />

λ <strong>de</strong> Wilks<br />

I 0,999610876<br />

P 0,999377487<br />

C 0,989493854<br />

Em relação à hipótese 2, que as mulheres empreen<strong>de</strong>doras apresentam um lócus <strong>de</strong> controle<br />

interno menor do que os homens empreen<strong>de</strong>dores, observando a tabela ANOVA (TAB. 4),<br />

não parecem existir diferenças significantes entre o lócus <strong>de</strong> controle entre homens e<br />

mulheres, achado corroborado pelo λ <strong>de</strong> Wilks (TAB. 5), optando assim pela rejeição da<br />

hipótese.<br />

Tabela 4 – Análise <strong>de</strong> variância entre empreen<strong>de</strong>dores dos gêneros masculino e feminino<br />

para os fatores IPC<br />

TABELA ANOVA<br />

soma dos quadrados GL média dos quadrados F Sig.<br />

I 3,185416667 11 0,289583333 1,277574 0,305<br />

P 2,41875 11 0,219886364 0,82976 0,614<br />

C 3,46875 14 0,247767857 0,991071 0,500<br />

Tabela 5 - λ <strong>de</strong> Wilks para empreen<strong>de</strong>dores dos gêneros masculinos e femininos e os<br />

fatores IPC<br />

λ <strong>de</strong> Wilks<br />

I 0,882707432<br />

σ<br />

x ω<br />

σ<br />

7


P 0,997552342<br />

C 0,918723438<br />

A hipótese 3, que empreen<strong>de</strong>dores apresentam na avaliação do lócus <strong>de</strong> controle uma<br />

dimensão <strong>de</strong> internalida<strong>de</strong> maior do que as dimensões <strong>de</strong> externalida<strong>de</strong>s, é confirmada com<br />

significância pelos dados empíricos como mostrados na TAB. 1. Destaca-se que, quanto à<br />

externalida<strong>de</strong>, a sub-escala P, relativa ao controle que pessoas po<strong>de</strong>rosas exercem sobre sua<br />

vida sobressai-se sobre a sub-escala C, relativa à maior indicação quanto à influência que o<br />

acaso, o azar e o <strong>de</strong>stino po<strong>de</strong>m exercer sobre os acontecimentos da vida dos indivíduos.<br />

Comparando os resultados utilizando o argumento <strong>de</strong> que o nível <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento das<br />

economias emergentes tem relação com os resultados <strong>de</strong> lócus <strong>de</strong> controle encontrados, usa-se<br />

a categoria <strong>de</strong> economias emergentes como <strong>de</strong>finida pelo Fundo Monetário Internacional<br />

(IMF, 2006). Os resultados <strong>de</strong>ste trabalho são interpostos com pesquisa semelhante realizada<br />

na Rússia. Desta forma, conclui-se que a hipótese 4 é confirmada, conforme <strong>de</strong>monstrado na<br />

TAB. 6. Embora as escalas sejam diferentes, todas as variáveis (IPC) utilizadas na Rússia<br />

ficam na meta<strong>de</strong> superior da escala, mostrando uma percepção <strong>de</strong> influência semelhante <strong>de</strong><br />

todas as variáveis. Entretanto na escala utilizada no Brasil apenas o fator I se encontra na<br />

meta<strong>de</strong> superior da escala. Os outros fatores (P e C) ficam na meta<strong>de</strong> inferior da escala,<br />

indicando a percepção <strong>de</strong> uma influência menor <strong>de</strong>stes fatores para o empreen<strong>de</strong>dor.<br />

Tabela 6 – Desempenho comparativo sub-escalas IPC entre economias emergentes:<br />

Brasil e Rússia<br />

I P C<br />

Empreen<strong>de</strong>dores<br />

Brasil<br />

Empreen<strong>de</strong>dores<br />

Rússia<br />

Empreen<strong>de</strong>dores<br />

Brasil<br />

Empreen<strong>de</strong>dores<br />

Rússia<br />

Homens<br />

N = 19<br />

Homens<br />

N = 105<br />

Mulheres<br />

N = 13<br />

Mulheres<br />

N = 67<br />

x ω σ x ω σ x ω σ<br />

28,32 3,23 18,53 4,10 18,95 6,60<br />

30,10 7,84 28,45 9,11 24,97 8,18<br />

30,62 3,15 18,15 3,34 15,46 4,79<br />

28,79 8,35 23,33 9,74 24,70 6,37<br />

Fonte: cálculos dos autores assim como adaptado <strong>de</strong> KAUFMANN; WELSH; BUSHMARIN<br />

(1995)<br />

Consi<strong>de</strong>rações Finais<br />

Este estudo traz evidências empíricas pioneiras sobre o lócus <strong>de</strong> controle <strong>de</strong> um grupo <strong>de</strong><br />

empreen<strong>de</strong>dores e universitários. Os resultados suportam os relatos da literatura <strong>de</strong> que os<br />

empreen<strong>de</strong>dores possuem lócus <strong>de</strong> controle interno acentuado. Ao comparar a amostra <strong>de</strong><br />

empreen<strong>de</strong>dores com a amostra <strong>de</strong> estudantes, não se encontrou diferenças significativas, o<br />

que reforça os rumos da pesquisa na área <strong>de</strong> empreen<strong>de</strong>dorismo sobre a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

enten<strong>de</strong>r o comportamento empreen<strong>de</strong>dor <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> uma visão multidimensional, que vai<br />

além dos traços psicológicos.<br />

Confrontando os resultados <strong>de</strong>sta pesquisa com os resultados <strong>de</strong> outros estudos semelhantes,<br />

levanta-se a necessida<strong>de</strong> urgente <strong>de</strong> acentuar as discussões sobre as influências culturais no<br />

comportamento empreen<strong>de</strong>dor. Mais do que um traço psicológico o lócus <strong>de</strong> controle parece<br />

8


ser uma variável afetada pelo contexto situacional <strong>de</strong> um país. Se tal pressuposto for<br />

comprovado, po<strong>de</strong>ria se propor que pesquisas futuras incluíssem nos seus mo<strong>de</strong>los <strong>de</strong><br />

comportamento empreen<strong>de</strong>dor fatores como antece<strong>de</strong>ntes sociais, pessoais e históricos.<br />

As diferenças estudadas com relação ao gênero <strong>de</strong>ntro da amostra <strong>de</strong> empreen<strong>de</strong>dores<br />

reforçam a influência dos fatores culturais do país. Num país on<strong>de</strong> o público feminino é o<br />

sexto mais empreen<strong>de</strong>dor do mundo, é <strong>de</strong> se esperar que uma característica associada a<br />

empreen<strong>de</strong>dores, como o lócus <strong>de</strong> controle interno, seja mais forte entre as empreen<strong>de</strong>doras<br />

brasileiras do que entre empreen<strong>de</strong>doras femininas <strong>de</strong> outros locais do mundo.<br />

Finalmente, estudos longitudinais são sugeridos <strong>de</strong> tal forma a acompanhar a evolução do<br />

lócus <strong>de</strong> controle a mudanças contextuais. É <strong>de</strong> se esperar que ao longo prazo se <strong>de</strong>scubra<br />

como os fatores sociais, econômicos, políticos e históricos interferem na maneira como as<br />

pessoas, e <strong>de</strong> maneira específica os empreen<strong>de</strong>dores, compreen<strong>de</strong>m o quanto os<br />

acontecimentos a sua volta <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>m exclusivamente da sua força <strong>de</strong> vonta<strong>de</strong> ou estão à<br />

mercê da sorte ou da <strong>de</strong>cisão <strong>de</strong> po<strong>de</strong>rosos.<br />

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Notas Finais<br />

1 Brockhaus (1982) alerta que não há, no trabalho <strong>de</strong> McClelland, uma conecção direta entre a<br />

necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> auto-realização e a <strong>de</strong>cisão <strong>de</strong> iniciar um novo negócio.<br />

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