Boaventura de Souza Santos e Guerreiro Ramos: Um Olhar ... - Anpad
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<strong>Boaventura</strong> <strong>de</strong> <strong>Souza</strong> <strong>Santos</strong> e <strong>Guerreiro</strong> <strong>Ramos</strong>: <strong>Um</strong> <strong>Olhar</strong> Crítico Sobre as<br />
Ausências e Emergências em Organizações<br />
Resumo<br />
Autoria: Ketlle Duarte Paes, Eloise Helena Livramento Dellagnelo<br />
Este artigo faz parte <strong>de</strong> estudos que discutem o uso <strong>de</strong> abordagens fundamentadas no<br />
paradigma funcionalista como lentes para compreen<strong>de</strong>r práticas sociais atravessadas por<br />
múltiplas racionalida<strong>de</strong>s. Para tanto, busca-se, por meio da perspectiva da sociologia das<br />
ausências e das emergências proce<strong>de</strong>r a uma análise da produção acadêmica brasileira<br />
na área da administração a fim <strong>de</strong> refletir se alguns <strong>de</strong>sses estudos abordam práticas<br />
sociais emergentes. Além disso, preten<strong>de</strong>-se também discutir se os estudos emergentes<br />
praticam os pressupostos da redução sociológica, conforme estabelecidos por <strong>Guerreiro</strong><br />
<strong>Ramos</strong>. Isso com o objetivo <strong>de</strong> proporcionar um alargamento teórico aos Estudos<br />
Organizacionais a respeito <strong>de</strong> alternativas na produção do organizar.<br />
Introdução<br />
1
O processo <strong>de</strong> <strong>de</strong>puração pelo qual passou a socieda<strong>de</strong> nos últimos séculos<br />
engendrou a emergência <strong>de</strong> um tipo particular <strong>de</strong> racionalida<strong>de</strong> que subordinou o<br />
pensamento múltiplo pelo uno (DELEUZE e GUATTARRI, 2005). Conforme os<br />
autores, durante esse processo, estabeleceu-se o pensamento binário que produziu a<br />
metafísica, privilegiando a transcendência em <strong>de</strong>trimento à imanência. Assim, como<br />
forma <strong>de</strong> transgredir o pensamento uno, os autores propõem o pensamento múltiplo,<br />
baseado na noção <strong>de</strong> rizoma.<br />
Para os autores, o rizoma seria uma maneira <strong>de</strong> expressar as multiplicida<strong>de</strong>s sem<br />
recair sobre o pensamento dialético ou binário. Assim, os autores enten<strong>de</strong>m o rizoma<br />
como algo que não tem começo nem fim, mas que é transbordante e constituído por<br />
multiplicida<strong>de</strong>s que não varia suas dimensões sem mudar <strong>de</strong> natureza nela mesma e se<br />
metamorfosear. Enfim, Deleuze e Guatarri (2005, p. 32) salientam ainda que o “rizoma<br />
é feito somente <strong>de</strong> linhas: linhas <strong>de</strong> segmentarieda<strong>de</strong>, <strong>de</strong> estratificação, como<br />
dimensões, mas também linhas <strong>de</strong> fuga ou <strong>de</strong> <strong>de</strong>sterritorialização como dimensão<br />
máxima segundo a qual a multiplicida<strong>de</strong> se metamorfoseia, mudando <strong>de</strong> natureza”.<br />
Referências <strong>de</strong>sse pensamento po<strong>de</strong>m ser encontradas também no trabalho <strong>de</strong><br />
Bruno Latour. Para Latour (1994), a mo<strong>de</strong>rnida<strong>de</strong> produziu alguns paradoxos <strong>de</strong>ntre os<br />
quais, <strong>de</strong> um lado, a especialização dos saberes e <strong>de</strong> outro, as hibridações e misturas,<br />
compondo as re<strong>de</strong>s sociotécnicas. Segundo o autor, as re<strong>de</strong>s são formadas por fluxos,<br />
misturas, conexões tendo sempre múltiplas entradas e saídas. Nas re<strong>de</strong>s não há<br />
hierarquias, todos são atores, não só os humanos, mas também os não-humanos que são<br />
(re)produzidos a cada momento.<br />
Em consonância com as preocupações citadas a respeito da epistemologia<br />
dominante na contemporaneida<strong>de</strong>, <strong>Boaventura</strong> <strong>de</strong> <strong>Souza</strong> <strong>Santos</strong> (2002), chama nossa<br />
atenção para o fato <strong>de</strong> que, em termos científicos e sociais, vivemos no presente um<br />
tempo <strong>de</strong> ambigüida<strong>de</strong> e <strong>de</strong> transição, difícil <strong>de</strong> enten<strong>de</strong>r e <strong>de</strong> percorrer.<br />
Diante da constatação <strong>de</strong> que vivemos um momento <strong>de</strong> transição, <strong>Boaventura</strong> <strong>de</strong><br />
<strong>Souza</strong> <strong>Santos</strong> (2002) nos convida a refletir sobre novas possibilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> sociabilida<strong>de</strong><br />
produzidas a partir <strong>de</strong> experiências alternativas a globalização neoliberal que emergem<br />
dos subterrâneos do pensamento hegemônico. O autor nos leva a questionar a<br />
racionalida<strong>de</strong> dominante que produz ativamente como não existentes as experiências<br />
sociais alternativas numa operação <strong>de</strong> expansão do presente e <strong>de</strong> contração do futuro,<br />
ocultando todas as temporalida<strong>de</strong>s existentes e possíveis <strong>de</strong> existir.<br />
O autor <strong>de</strong>staca que a partir da epistemologia do norte, as ausências são<br />
produzidas por meio <strong>de</strong> cinco monoculturas, a saber: a monocultura do saber, a do<br />
tempo linear, a da naturalização das diferenças sociais, a da escala dominante e a do<br />
produtivismo capitalista. Nessa lógica, tudo o que vai contra a esse pensamento é<br />
consi<strong>de</strong>rado ignorante, residual, inferior, local e improdutivo. Assim, a i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong><br />
subverter a racionalida<strong>de</strong> dominante visa, essencialmente, questionar essa produção <strong>de</strong><br />
ausências transformando-as em objetos presentes, num processo <strong>de</strong> substituir as<br />
monoculturas por ecologias (dos saberes, das temporalida<strong>de</strong>s, do reconhecimento, das<br />
escalas locais e globais e das produtivida<strong>de</strong>s), apresentando contrapontos frutíferos <strong>de</strong><br />
inúmeras possibilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> outras sociabilida<strong>de</strong>s.<br />
Diante da discussão sobre a produção das ausências pela razão dominante,<br />
cabem algumas reflexões sobre o exercício da redução sociologia proposta por<br />
<strong>Guerreiro</strong> <strong>Ramos</strong>. Para o autor, era fundamental o exercício da consciência crítica da<br />
realida<strong>de</strong> nacional para a realização <strong>de</strong> uma sociologia a ela relevante, consubstanciada<br />
naquilo que ele chamava “uma sociologia em mangas <strong>de</strong> camisa” (BARIANI, 2006).<br />
2
Em <strong>Guerreiro</strong> <strong>Ramos</strong> (1996), a consciência crítica e a autoconsciência coletiva são<br />
produtos históricos, emergindo <strong>de</strong> um projeto <strong>de</strong> existência.<br />
Assim, para <strong>Guerreiro</strong> <strong>Ramos</strong> (1996, p. 68): “Até agora, consi<strong>de</strong>rável parcela <strong>de</strong><br />
estudiosos se conduziu sem se dar conta dos pressupostos históricos e i<strong>de</strong>ológicos do<br />
seu trabalho científico. Sua conduta era reflexa e se submetia passivamente e<br />
mecanicamente a critérios oriundos <strong>de</strong> países plenamente <strong>de</strong>senvolvidos”, e, continua<br />
dizendo que “á assimilação literal e passiva dos produtos científicos importados ter-se-á<br />
<strong>de</strong> opor a assimilação crítica <strong>de</strong>sses produtos”.<br />
Para proce<strong>de</strong>r à redução, o autor, propõe a observação <strong>de</strong> algumas leis gerais:<br />
Lei da universalida<strong>de</strong> dos enunciados gerais da ciência; Lei das fases; Lei do<br />
comprometimento; Lei do caráter subsidiário da produção científica estrangeira.<br />
Conforme <strong>Guerreiro</strong> <strong>Ramos</strong> (1996), teoria e prática são indissociáveis e pressupõem um<br />
saber sobre a socieda<strong>de</strong> brasileira. Para ele, os objetivos da produção do conhecimento<br />
científico têm que ser práticos. Esse é o papel do pesquisador engajado e comprometido<br />
com a geração <strong>de</strong> melhorias para a socieda<strong>de</strong>.<br />
Com base nestas reflexões, busca-se, por meio da perspectiva da sociologia das<br />
ausências e das emergências proce<strong>de</strong>r a uma análise da produção acadêmica brasileira<br />
na área da administração a fim <strong>de</strong> refletir se alguns <strong>de</strong>sses estudos abordam práticas<br />
sociais emergentes. Além disso, preten<strong>de</strong>-se também discutir se os estudos emergentes<br />
praticam os pressupostos da redução sociológica, conforme estabelecidos por<br />
<strong>Guerreiro</strong> <strong>Ramos</strong>.<br />
Para tanto, preten<strong>de</strong>mos olhar para algumas das práticas citadas por <strong>Boaventura</strong><br />
<strong>Santos</strong> (2002) em seus estudos, tais como iniciativas <strong>de</strong> economia solidária,<br />
cooperativas, empresas autogeridas, associações <strong>de</strong> micro-crédito e experiências <strong>de</strong><br />
comércio justo.<br />
Dito isso, compartilhamos da premissa apresentada por Misoczky (2009) <strong>de</strong> que<br />
a aplicação acrítica <strong>de</strong> teorias e mo<strong>de</strong>los pré-construídos ten<strong>de</strong> a naturalizar as formas e<br />
práticas hegemônicas <strong>de</strong> organizar e complementa:<br />
Em oposição, acreditamos que os estudiosos críticos das<br />
organizações têm como uma das tarefas políticas mais<br />
urgentes explorar os processos <strong>de</strong> organização da<br />
resistência e das lutas sociais, que ten<strong>de</strong>m a ser ignorados<br />
pelo discurso organizacional contemporâneo. Para fazê-lo,<br />
é preciso escolhas seletivas e críticas dos referenciais a<br />
serem utilizados, sob pena <strong>de</strong> em vez <strong>de</strong> contribuirmos<br />
para tornar visíveis organizações e práxis libertadoras, as<br />
calemos submetendo-as a mo<strong>de</strong>los gerados para apoiar o<br />
<strong>de</strong>sempenho <strong>de</strong> práticas e relações sociais que são o seu<br />
alvo <strong>de</strong> contestação (MISOCZKY, 2009, p. 1550).<br />
Assim, a importância <strong>de</strong>sse estudo insere-se na perspectiva <strong>de</strong> contribuição<br />
teórica para as pesquisas que buscam <strong>de</strong>snaturalizar os fundamentos epistemológicos da<br />
área da administração (SERVA, 1992, 1997; CARVALHO e VIEIRA, 2007;<br />
CARVALHO e DELLAGNELO, 2004; MISOCZKY E FLORES, 2009) que vêem no<br />
management a única e melhor forma <strong>de</strong> organizar (PARKER, 2002) fundada nos<br />
pressupostos <strong>de</strong> eficiência e do cálculo utilitário <strong>de</strong> consequência. Isso porque,<br />
conforme apontam Serva et al (2009) apesar da necessida<strong>de</strong> urgente <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolver<br />
teorias que tentem explicar as práticas organizacionais <strong>de</strong> uma forma mais complexa, a<br />
gran<strong>de</strong> maioria das pesquisas <strong>de</strong>senvolvidas na área ainda apresenta métodos<br />
tradicionais <strong>de</strong> orientação positivista e funcionalista. Serva et al (2009) apontam os<br />
3
estudos <strong>de</strong> Vergara e Peci (2003) em três revistas estrangeiras e três brasileiras, todas <strong>de</strong><br />
gran<strong>de</strong> reputação que buscaram verificar essa afirmação.<br />
Outro fator <strong>de</strong> relevo para se levar a diante tal empresa, consiste na dificulda<strong>de</strong><br />
<strong>de</strong> se encontrar estudos <strong>de</strong>sse tipo na área <strong>de</strong> administração, refletindo também a<br />
dificulda<strong>de</strong> <strong>de</strong> se encontrar interlocutores. Assim, esse estudo preten<strong>de</strong> contribuir para a<br />
área <strong>de</strong> Estudos Organizacionais como mais uma opção não ortodoxa <strong>de</strong> análise para os<br />
fenômenos organizacionais, lançando um novo olhar para realida<strong>de</strong>s ininteligíveis pela<br />
razão dominante, produzidas ativamente como não existentes, mas que se constituem<br />
em práticas sociais dotadas <strong>de</strong> uma racionalida<strong>de</strong> própria com temporalida<strong>de</strong> própria<br />
existentes no espaço social mais amplo.<br />
Contudo, segundo Silva et al. (2006) as conseqüências da lógica capitalista<br />
geram um movimento <strong>de</strong> resistência por parte daqueles atores que buscam a inversão<br />
das posições que ali se apresentam. Em relação a isso, <strong>Santos</strong> (2008) aponta para outras<br />
possibilida<strong>de</strong>s da produção <strong>de</strong> um novo organizar por meio <strong>de</strong> um movimento contrahegemônico<br />
que venha <strong>de</strong> baixo, venha dos pobres, dos marginalizados e dos excluídos,<br />
ou seja, do espaço banal. Segundo o autor, essa subversão é possível em virtu<strong>de</strong> <strong>de</strong> que<br />
o processo <strong>de</strong> globalização que influência os aspectos da vida social, econômica e<br />
cultural, não perpetua sua i<strong>de</strong>ologia <strong>de</strong> modo homogêneo, pois encontra a resistência da<br />
cultura preexistente <strong>de</strong>ntro da qual há a possibilida<strong>de</strong>, cada vez mais freqüente, <strong>de</strong> um<br />
novo organizar por meio do discurso contra-hegemônico.<br />
Nesse sentido, a fim <strong>de</strong> viabilizar essa pesquisa preten<strong>de</strong>mos analisar, <strong>de</strong>ntro do<br />
espaço hegemônico da administração a produção acadêmica em estudos organizacionais<br />
nos periódico nacionais classificados no sistema Qualis da Capes como A1, A2 e B1,<br />
consi<strong>de</strong>rando como data do levantamento o mês fevereiro <strong>de</strong> 2012.<br />
Para tanto, preten<strong>de</strong>mos analisar quais tipos <strong>de</strong> objetos são alvos <strong>de</strong> estudos na<br />
área para então realizar uma classificação sob a perspectiva <strong>de</strong> <strong>Boaventura</strong> <strong>Santos</strong> em<br />
ausências e emergências. Diante disso, nos basearemos nos exemplos <strong>de</strong> ausências e<br />
emergências apontadas por pelo autor em seus estudos. Em seguida preten<strong>de</strong>mos<br />
realizar uma análise a partir da idéia da redução sociológica <strong>de</strong> <strong>Guerreiro</strong> <strong>Ramos</strong> a fim<br />
<strong>de</strong> verificar se os estudos selecionados apresentam essa preocupação. Para tanto,<br />
utilizaremos como parâmetro as leis gerais da redução sociológica propostas por<br />
<strong>Guerreiro</strong> <strong>Ramos</strong>.<br />
Referencial Teórico<br />
Por uma sociologia das ausências e das emergências<br />
<strong>Boaventura</strong> <strong>Santos</strong> (2002) <strong>de</strong>senvolveu estudos teórico-emprírico nos últimos<br />
anos, a fim <strong>de</strong> teorizar sobre a questão da emancipação social. Para tanto empreen<strong>de</strong>u<br />
uma pesquisa cujo objetivo foi <strong>de</strong>terminar em que medida a globalização alternativa<br />
esta sendo produzida a partir <strong>de</strong> baixo e quais são as suas possibilida<strong>de</strong>s e limites. Para<br />
trabalhar sua hipótese, o autor realizou pesquisas em Moçambique, um dos países mais<br />
pobres do mundo. As pesquisas também foram realizadas na África do Sul, no Brasil, na<br />
Colômbia, na Índia e em Portugal. Conforme o autor, nestes países, i<strong>de</strong>ntificaram-se<br />
movimentos e experiências que mais claramente se con<strong>de</strong>nsam os conflitos Norte/Sul<br />
(BOAVENTURA SANTOS, 2002, p. 260).<br />
Com relação a esse projeto, <strong>Boaventura</strong> <strong>Santos</strong> (2002) <strong>de</strong>staca a reflexão<br />
epistemológica por que passou e chegou a algumas consi<strong>de</strong>rações tais como: tratou-se<br />
<strong>de</strong> um projeto conduzido por fora dos centros hegemônicos <strong>de</strong> produção da ciência<br />
social, com o objetivo <strong>de</strong> criar uma comunida<strong>de</strong> científica internacional in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte<br />
4
<strong>de</strong>sses centros; o projeto implicou o cruzamento não apenas <strong>de</strong> diferentes tradições<br />
teóricas e metodológicas das ciências sociais, mas também <strong>de</strong> diferentes culturas e<br />
formas <strong>de</strong> interação entre a cultura e o conhecimento; o projeto <strong>de</strong>bruçou-se sobre lutas,<br />
iniciativas, movimentos alternativos, muitos dos quais locais, muitas vezes lugares<br />
remotos do mundo e, assim, talvez fáceis <strong>de</strong> <strong>de</strong>sacreditar como irrelevantes, ou<br />
<strong>de</strong>masiado frágeis ou localizados para oferecer uma alternativa credível ao capitalismo<br />
(BOAVENTURA SANTOS, 2002, p. 238).<br />
Para dar visibilida<strong>de</strong> às experiências sociais alternativas <strong>Boaventura</strong> <strong>Santos</strong><br />
(2002) realiza a crítica da racionalida<strong>de</strong> do mo<strong>de</strong>lo hegemônico, a qual, seguindo<br />
Leibniz, chama <strong>de</strong> razão indolente, propondo como substituto um outro mo<strong>de</strong>lo, que<br />
<strong>de</strong>signa como razão cosmopolita. O autor <strong>de</strong>senvolve três procedimentos sociológicos,<br />
a partir da razão cosmopolita: a sociologia das ausências, a sociologia das emergências e<br />
o trabalho <strong>de</strong> tradução. Para tanto, o autor expõe que a forma <strong>de</strong> compreensão do mundo<br />
tem a ver com concepções do tempo. Além disso, o aspecto central da racionalida<strong>de</strong><br />
hegemônica é o fato <strong>de</strong>, por um lado, contrair o presente e, por outro, expandir o futuro.<br />
Dentro <strong>de</strong>ste pensamento o autor propõe uma racionalida<strong>de</strong> cosmopolita cujo<br />
fluxo implica em realizar a trajetória inversa: expandir o presente e contrair o futuro<br />
com o fito <strong>de</strong> criar o espaço-tempo necessário para conhecer e valorizar a inesgotável<br />
experiência social que está em curso no mundo <strong>de</strong> hoje. O autor <strong>de</strong>staca que para<br />
expandir o presente, há a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> se fazer uma sociologia das ausências; pra<br />
contrair o futuro, uma sociologia das emergências.<br />
A sociologia das ausências parte <strong>de</strong> alguns questionamentos sobre as razões que<br />
levaram um tipo <strong>de</strong> racionalida<strong>de</strong> unilateral e exclu<strong>de</strong>nte a dominar o cenário social nos<br />
últimos duzentos anos. Para o autor, torna-se importante confrontar e superar essa<br />
concepção <strong>de</strong> totalida<strong>de</strong> e a razão indolente que a sustenta. Esses questionamentos já<br />
foram alvos <strong>de</strong> reflexão por várias vertentes da sociologia crítica, dos estudos sociais e<br />
culturais da ciência, da critica feminista, da <strong>de</strong>sconstrução, dos estudos pós-coloniais,<br />
etc. <strong>Boaventura</strong> <strong>Santos</strong> (2002) explica que para superar a hegemonia da razão<br />
indolente faz-se necessário por em questão cada uma das lógicas ou modos <strong>de</strong> produção<br />
<strong>de</strong> ausência que ela sustenta. Para tanto, propõe como alternativa epistemológica, à<br />
partida <strong>de</strong>scredibilizadas, as ecologias dos sabres, das temporalida<strong>de</strong>s, dos<br />
reconhecimentos, das trans-escalas e das produtivida<strong>de</strong>s, <strong>de</strong>finidas como segue<br />
(BOAVENTURA SANTOS, 2002, p. 250).<br />
A ecologia <strong>de</strong> saberes. A primeira lógica, a lógica da monocultura do saber e do<br />
rigor científicos, tem <strong>de</strong> ser questionada pela i<strong>de</strong>ntificação <strong>de</strong> outros saberes e <strong>de</strong> outros<br />
critérios <strong>de</strong> rigor que operam credivelmente em contextos e práticas sociais <strong>de</strong>clarados<br />
não-existentes pela razão indolente.<br />
A ecologia das temporalida<strong>de</strong>s. A segunda lógica, a lógica da monocultura do<br />
tempo linear, <strong>de</strong>ve ser confrontada com a i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> que tempo linear é uma entre muitas<br />
concepções do tempo. O domínio do tempo linear não resulta da sua primazia enquanto<br />
concepção temporal, mas da primazia da mo<strong>de</strong>rnida<strong>de</strong> oci<strong>de</strong>ntal que o adotou como seu.<br />
Pela mo<strong>de</strong>rnida<strong>de</strong> oci<strong>de</strong>ntal a partir da secularização da escatologia judaico-cristã, mas<br />
nunca eliminou, nem mesmo no Oci<strong>de</strong>nte, outras concepções como o tempo circular, a<br />
doutrina do eterno retorno e outras concepções que não se <strong>de</strong>ixam captar<br />
a<strong>de</strong>quadamente nem pela imagem nem pela imagem <strong>de</strong> círculo.<br />
A ecologia dos reconhecimentos. A terceira lógica da produção <strong>de</strong> ausências é a<br />
lógica da classificação social. A sociologia das ausências confronta-se com a<br />
colonialida<strong>de</strong>, procurando uma nova articulação entre o princípio da igualda<strong>de</strong> e o<br />
5
princípio da diferença e abrindo espaço para a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> diferenças iguais, uma<br />
ecologia <strong>de</strong> diferenças feita <strong>de</strong> reconhecimentos recíprocos.<br />
A ecologia das trans-escalas. A quarta lógica, a lógica da escala global, é<br />
confrontada pela sociologia das ausências através da recuperação do que no local não é<br />
efeito da globalização hegemônica. Ao <strong>de</strong>sglobalizar o local relativamente à<br />
globalização hegemônica, a sociologia das ausências explora também a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />
uma globalização contra-hegemônica.<br />
A ecologia da produtivida<strong>de</strong>. A quinta lógica, a lógica produtivista, sobre essa<br />
lógica a sociologia das ausências atua na recuperação e a valorização dos sistemas<br />
alternativos <strong>de</strong> produção, das organizações econômicas populares, das cooperativas<br />
operárias, das empresas autogeridas, da economia solidária, entre outros, que a<br />
ortodoxia produtivista capitalista ocultou ou <strong>de</strong>scredibilizou. Para <strong>Boaventura</strong> (2002)<br />
este é o domínio mais controverso da sociologia das ausências, uma vez que põe<br />
diretamente em questão o paradigma do <strong>de</strong>senvolvimento e do crescimento econômico<br />
infinito que sustenta o capitalismo global. Entretanto, esta lógica nunca dispensou<br />
outras formas <strong>de</strong> produção e apenas as <strong>de</strong>squalificaram para mantê-las na relação <strong>de</strong><br />
subalternida<strong>de</strong>.<br />
A sociologia das emergências, conforme <strong>de</strong>senvolvida por <strong>Boaventura</strong> <strong>Santos</strong><br />
(2002) consiste em substituir o vazio do futuro segundo o tempo linear por um futuro <strong>de</strong><br />
possibilida<strong>de</strong> plural e concreto, simultaneamente utópico e realista. Para o autor, a<br />
noção que presi<strong>de</strong> à sociologia das emergências é o conceito <strong>de</strong> ainda-não proposto por<br />
Ernst Bloch (1995). Conforme <strong>de</strong>screve <strong>Boaventura</strong> <strong>Santos</strong>, Bloch questiona o fato <strong>de</strong> a<br />
filosofia oci<strong>de</strong>ntal ter sido dominada pelos conceitos <strong>de</strong> Tudo e Nada, nos quais tudo<br />
parece estar contido como latência, mas <strong>de</strong> on<strong>de</strong> nada novo po<strong>de</strong> surgir.<br />
Com essas idéias Bloch, salienta <strong>Boaventura</strong> <strong>Santos</strong>, introduz dois novos<br />
conceitos o Não e o Ainda-não, sendo aquele a falta <strong>de</strong> algo e a expressão da vonta<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />
superar essa falta, pois dizer não é dizer sim a algo diferente. O Ainda-Não é uma<br />
categoria mais complexa, porque exprime o que existe apenas como tendência, um<br />
movimento latente no processo <strong>de</strong> se manifestar. O Ainda-Não é o modo como o futuro<br />
se inscreve no presente e o dilata. Não é um futuro in<strong>de</strong>terminado nem infinito. É uma<br />
possibilida<strong>de</strong> e uma capacida<strong>de</strong> concretas que nem existem no vácuo, nem estão<br />
completamente <strong>de</strong>terminadas (BOAVENTURA SANTOS, 2002, p. 255).<br />
Desse modo, para o autor, enquanto a sociologia das ausências expan<strong>de</strong> o<br />
domínio das experiências sociais disponíveis, a sociologia das emergências expan<strong>de</strong> o<br />
domínio das experiências sociais possíveis. É importante <strong>de</strong>stacar, conforme<br />
<strong>Boaventura</strong> <strong>Santos</strong> (2002) que as duas sociologias estão estreitamente associadas, visto<br />
que quanto mais experiências estiverem disponíveis no mundo mais experiências são<br />
possíveis no futuro. Quando maior for a multiplicida<strong>de</strong> e diversida<strong>de</strong> das experiências<br />
disponíveis e possíveis, maior será a expansão do presente e a contração do futuro. Na<br />
sociologia das ausências, essa multiplicação e diversificação ocorrem pela via da<br />
ecologia dos saberes, dos tempos, das diferenças, das escalas e das produções, ao passo<br />
que a sociologia das emergências as revela por vida da amplificação simbólica das<br />
pistas ou sinais.<br />
Por uma sociologia em mangas <strong>de</strong> camisa<br />
A idéia central da obra “A Redução Sociológica” diz respeito a elaboração<br />
conceitual <strong>de</strong> uma “sociologia em mangas <strong>de</strong> camisa” (BARIANI, 2006) rejeitando o<br />
saber neutro. Para <strong>Guerreiro</strong> <strong>Ramos</strong> (1996), a nossa formação econômica, política e<br />
social <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte foi engendrada pelo colonialismo cultural, a partir da subordinação da<br />
6
elite nativa em relação a cultura dos países dominantes. Assim, a assimilação da cultura<br />
européia e norte-americana levou a nação canarinho a uma concepção alienada da<br />
“realida<strong>de</strong> nacional”, homogeneizadora que distorce a realida<strong>de</strong>.<br />
Diante <strong>de</strong>ssa constatação, para <strong>Guerreiro</strong> <strong>Ramos</strong> (1996, p. 11) era fundamental<br />
por em prática a razão sociológica como um instrumento <strong>de</strong> reflexão a respeito <strong>de</strong> si<br />
com relação à estrutura social à qual estava vinculada. Desse modo, ao método crítico<br />
capaz <strong>de</strong> proce<strong>de</strong>r a uma reflexão <strong>de</strong>ssa natureza, assimilando criticamente as<br />
contribuições teorias “importadas”, <strong>Guerreiro</strong> <strong>Ramos</strong> chamou “redução sociológica”.<br />
Assim, para o autor, era fundamental o exercício da consciência crítica da<br />
realida<strong>de</strong> nacional para a realização <strong>de</strong> uma sociologia a ela relevante, e, <strong>de</strong>fen<strong>de</strong> que a<br />
consciência crítica e a autoconsciência coletiva são produtos históricos. A redução<br />
sociológica, segundo <strong>Guerreiro</strong> <strong>Ramos</strong> (1996, p. 11), é uma “atitu<strong>de</strong> parentética”, não<br />
espontânea que põe entre parênteses os fenômenos, recusando a afirmação ou aceitação<br />
imediata das percepções. Conforme o autor, a realida<strong>de</strong> se constitui por relações sociais<br />
não fortuitas, mas referidas umas as outras por vínculos <strong>de</strong> significação.<br />
<strong>Guerreiro</strong> <strong>Ramos</strong> (1996), <strong>de</strong>fen<strong>de</strong> a prática da autoconsciência da socieda<strong>de</strong><br />
brasileira por meio <strong>de</strong> uma sociologia engajada com a realida<strong>de</strong> nacional. O autor travou<br />
combates com vários intelectuais, como Florestan Fernan<strong>de</strong>s, Darci Ribeiro, Costa<br />
Pinto, Roger Basti<strong>de</strong>, na luta contra a transplantação irrefletida <strong>de</strong> idéias estrangeiras em<br />
prol da autonomia da socieda<strong>de</strong> brasileira, não poupando o que chamou <strong>de</strong> “sociologia<br />
importada”, “consular”, “enlatada” (GUERREIRO RAMOS, 1996, p. 10).<br />
O autor, em seus estudos sobre a construção do pensamento social brasileiro<br />
buscou uma relação tanto próxima quanto crítica com a herança cultural e a prática<br />
intelectual, e, combateu duramente o que consi<strong>de</strong>rava alienação e inautenticida<strong>de</strong><br />
(GUERREIRO RAMOS, 1996). Assim, as leis que regem a redução sociológica,<br />
conforme proposta pelo autor são as que seguem.<br />
A primeira lei, a lei do comprometimento, foi enunciada pelo autor da seguinte<br />
maneira: nos países periféricos, a idéia e a prática da redução sociológica somente<br />
po<strong>de</strong>riam ocorrer ao cientista social que tivesse adotado sistematicamente uma posição<br />
<strong>de</strong> engajamento ou <strong>de</strong> compromisso consciente com o seu contexto. Isso quer dizer que,<br />
uma visão do mundo não seria adquirida, apenas, por meio do esforço intelectivo, sendo<br />
difícil para qualquer cientista, em especial o cientista social (GUERREIRO RAMOS,<br />
1996, p. 111).<br />
A segunda lei da redução sociológica afirma que “toda a produção científica<br />
estrangeira era <strong>de</strong> caráter subsidiário para o sociólogo que tenha adotado<br />
sistematicamente uma posição <strong>de</strong> engajamento ou <strong>de</strong> compromisso consciente com o<br />
seu contexto” (GUERREIRO RAMOS, 1996, p. 113). A terceira lei, a lei da<br />
universalida<strong>de</strong> dos enunciados gerais da ciência, prega: "a redução sociológica admite a<br />
universalida<strong>de</strong> da ciência tão somente no domínio dos enunciados gerais, não<br />
implicando <strong>de</strong> modo algum, negar a universalida<strong>de</strong> da ciência. Seu propósito é, apenas,<br />
levar o cientista a submeter-se à exigência <strong>de</strong> referir o trabalho científico à comunida<strong>de</strong><br />
em que vive" (GUERREIRO RAMOS, 1996, p. 121).<br />
Por fim, a quarta lei, a lei das fases diz o seguinte: "à luz da redução sociológica,<br />
a razão dos problemas <strong>de</strong> uma socieda<strong>de</strong> particular é sempre dada pela fase em que tal<br />
socieda<strong>de</strong> se encontra" (GUERREIRO RAMOS, 1996, p. 129). Assim, conforme<br />
<strong>Guerreiro</strong> <strong>Ramos</strong> (1996, p. 135) “sob a espécie da fase, o sentido dos acontecimentos se<br />
clarifica. Os acontecimentos não po<strong>de</strong>m ser compreendidos senão quando referidos à<br />
totalida<strong>de</strong> (fase) que os transcen<strong>de</strong> e a que são pertinentes. Por isso que não se verificam<br />
7
<strong>de</strong> modo arbitrário, estão sujeitos às <strong>de</strong>terminações particulares <strong>de</strong> cada seção do fluxo<br />
histórico-social em que transcorrem” (GUERREIRO RAMOS, 1996, p. 135).<br />
A postura redutora sempre foi utilizada por <strong>Guerreiro</strong> <strong>Ramos</strong> em sua trajetória.<br />
Por meio <strong>de</strong>ssas quatro leis, ele começaria a elaborar estudos com vistas à formulação<br />
<strong>de</strong> uma teoria da socieda<strong>de</strong> brasileira, apropriando-se, principalmente, das perspectivas<br />
sociológicas, política e administrativa que contornavam nossa realida<strong>de</strong> social (FARIA,<br />
2009, AZEVEDO, 2006, BARIANI, 2006).<br />
Procedimentos Metodológicos<br />
Este estudo caracteriza-se como uma estratégia <strong>de</strong> pesquisa teórico-empírica e se<br />
baseou em artigos científicos publicados em periódicos nacionais classificados pela<br />
Capes, em revistas da área <strong>de</strong> avaliação: administração, ciências contábeis e turismo.<br />
Desse levantamento, realizado no mês <strong>de</strong> fevereiro <strong>de</strong> 2012 chegamos a sete (7)<br />
revistas, sendo duas <strong>de</strong>las Qualis A e as restantes Qualis B1. As revistas selecionadas<br />
são: Gestão & Produção (UFSCAR), Revista <strong>de</strong> Administração Pública, Ca<strong>de</strong>rnos<br />
EBAPE (FGV), RAC Eletrônica, RAE Eletrônica, Revista Contabilida<strong>de</strong> & Finanças e<br />
Revista Portuguesa e Brasileira <strong>de</strong> Gestão (Lisboa).<br />
Para melhor <strong>de</strong>limitar as unida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> análise, buscamos artigos que tivessem as<br />
palavras: “economia solidária”, “cooperativa”, “comércio justo”, “autogestão” e<br />
“microcrédito” no corpo do seu texto; posteriormente, foram excluídos os que não<br />
tratavam <strong>de</strong> experiências sociais alternativas tratados como estudos teóricos empíricos;<br />
o que totalizou seis (06) trabalhos, sendo um (1) em 2005, um (1) em 2008, dois (2) em<br />
2009 e dois (2) publicados em 2011.<br />
Assim, tendo em vista garantir uma compreensão mais ampla do que <strong>Boaventura</strong><br />
<strong>Santos</strong> chamou <strong>de</strong> sociologia das ausências e emergências como experiências sociais<br />
criativas e sem respaldo no paradigma dominante nos baseamos nas noções por ele<br />
<strong>de</strong>senvolvidas para contrapor a razão hegemônica às chamadas <strong>de</strong> ecologias: dos<br />
saberes, das temporalida<strong>de</strong>s, do reconhecimento, das escalas locais e globais e das<br />
produtivida<strong>de</strong>s. Buscamos nesse trabalho também discutir se os autores dos trabalhos<br />
em análise praticam a redução sociológica proposta por <strong>Guerreiro</strong> <strong>Ramos</strong>. Utilizamos<br />
como parâmetro <strong>de</strong> analise as Leis da redução preconizadas pelo autor, quais sejam: Lei<br />
da universalida<strong>de</strong> dos enunciados gerais da ciência; Lei das fases; Lei do<br />
comprometimento; Lei do caráter subsidiário da produção científica estrangeira.<br />
Análise dos trabalhos selecionados<br />
Para essa pesquisa foram analisadas sete revistas nacionais da área <strong>de</strong><br />
administração classificadas pela Capes como A2 e B1 (Gestão & Produção (UFSCAR),<br />
Revista <strong>de</strong> Administração Pública, Ca<strong>de</strong>rnos EBAPE (FGV), RAC Eletrônica, RAE<br />
Eletrônica, Revista Contabilida<strong>de</strong> & Finanças e Revista Portuguesa e Brasileira <strong>de</strong><br />
Gestão). Dentre elas, cinco retornaram com artigos quando pesquisadas com as palavras<br />
(“economia solidária”, “cooperativa”, “comércio justo”, “autogestão” e “microcrédito”).<br />
No total foram encontrados 27 artigos, no entanto apenas seis <strong>de</strong>les traziam<br />
estudos teórico-empíricos sobre a temática em foco. Na sequencia esses trabalhos foram<br />
analisados levando em consi<strong>de</strong>ração as ecologias apontadas por <strong>Boaventura</strong> <strong>Santos</strong> (dos<br />
saberes, das temporalida<strong>de</strong>s, do reconhecimento, das escalas locais e globais e das<br />
produtivida<strong>de</strong>s).<br />
O primeiro artigo analisado intitula-se: De catadores <strong>de</strong> rua a recicladores<br />
cooperados: um estudo <strong>de</strong> caso sobre empreendimentos solidários <strong>de</strong> Diego Bonaldo<br />
8
Coelho e Arilda Schmidt Godoy, publicado na RAP em 2011. Nesse artigo, os autores<br />
tiveram por objetivo analisar e refletir aspectos socio-organizacionais <strong>de</strong> um<br />
empreendimento solidário a partir da perspectiva interpretativa. Para tanto, optaram por<br />
interpretar o processo organizativo <strong>de</strong> empreendimento solidário típico, levando-se em<br />
consi<strong>de</strong>ração suas características particulares, que extrapolam a questão econômica,<br />
adquirindo importante dimensão social e política.<br />
Assim, os autores realizaram o estudo na Cooperlírios, localizada no interior <strong>de</strong><br />
São Paulo, uma cooperativa <strong>de</strong> seleção e processamento <strong>de</strong> materiais recicláveis<br />
formada por antigos catadores <strong>de</strong> rua. Os autores contam que a formação da cooperativa<br />
se <strong>de</strong>u a partir da interação entre a Prefeitura Municipal <strong>de</strong> Americana e a comunida<strong>de</strong><br />
periférica da favela da Vila Martins, quando das primeiras intervenções locais do setor<br />
público na execução <strong>de</strong> política <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento urbano para a região. Com isso, foi<br />
constatada a presença <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> carga <strong>de</strong> entulho e lixo nas zonas resi<strong>de</strong>nciais, que<br />
acabava por se tornar refúgio <strong>de</strong> insetos, roedores e outros vetores <strong>de</strong> zoonoses. Ao se<br />
estudar a origem <strong>de</strong>sses entulhos e lixos, os agentes da prefeitura <strong>de</strong>scobriram se tratar<br />
do resultado da ativida<strong>de</strong> <strong>de</strong> coleta <strong>de</strong> matérias recicláveis e/ou reutilizáveis por parcela<br />
consi<strong>de</strong>rável das famílias locais.<br />
Ao analisar esse artigo, observamos que se trata <strong>de</strong> um trabalho cujo tema está<br />
<strong>de</strong>ntro do que <strong>Boaventura</strong> <strong>Santos</strong> chamou <strong>de</strong> sociologia das ausências e das<br />
emergências. Vislumbramos no caso analisado modos alternativos <strong>de</strong> conhecimento e<br />
<strong>de</strong> práticas sociais marginalizadas e <strong>de</strong>scredibilizadas porque ocupam um lugar <strong>de</strong> “não<br />
existência”, na perspectiva da lógica hegemônica. O exemplo da Cooperlírios está<br />
permeado por uma série <strong>de</strong> ecologias, propostas por <strong>Boaventura</strong> <strong>Santos</strong>, <strong>de</strong>ntre as quais<br />
<strong>de</strong>stacamos a Ecologia dos saberes, Ecologia da trans-escalas e Ecologia das<br />
produtivida<strong>de</strong>s. A evi<strong>de</strong>ncia <strong>de</strong>ssas ecologias esta registrada no texto analisado quando<br />
o autor comenta a experiência dos cooperados em serem seus próprios patrões. Essa<br />
nova realida<strong>de</strong> é comemorada e segundo os relatos dos cooperados isso imprimiu um<br />
novo ritmo as assembleias gerais que passaram a serem espaços <strong>de</strong> aprendizagem<br />
coletiva.<br />
Além disso, nos propusemos a analisar também até que ponto esses trabalhos<br />
que tratam <strong>de</strong> temas emergentes praticam o exercício da consciência crítica da realida<strong>de</strong><br />
nacional para a realização <strong>de</strong> uma sociologia a ela relevante com base nas leis da<br />
redução sociológica proposta por <strong>Guerreiro</strong> <strong>Ramos</strong>. Após a análise do referencial<br />
teórico utilizado e dos resultados <strong>de</strong> pesquisa, verificamos que o exemplo expressa<br />
algumas das leis citadas, tais como Lei da universalida<strong>de</strong> dos enunciados gerais da<br />
ciência, quando apresenta um referencial teórico pertinente à área <strong>de</strong> economia solidária<br />
com a busca por estudos <strong>de</strong> pesquisadores brasileiros que já se <strong>de</strong>bruçaram sobre esse<br />
mesmo problema. Além disso, observa-se a Lei do comprometimento e a Lei do caráter<br />
subsidiário da produção científica estrangeira, quando os autores mostram preocupação<br />
em recuperar a história <strong>de</strong> surgimento da cooperativa como um empreendimento local<br />
com a participação dos agentes interessados - os moradores do local.<br />
O segundo artigo analisado Pilares para a compreensão da autogestão: o caso<br />
<strong>de</strong> um programa <strong>de</strong> habitação da Prefeitura <strong>de</strong> Belo Horizonte é <strong>de</strong> Cleiton F. Klechen,<br />
Raquel <strong>de</strong> Oliveira Barreto e Ana Paula Paes <strong>de</strong> Paula, publicado na revista RAP em<br />
2011.<br />
Os autores expõem que o objetivo do artigo é analisar a experiência do<br />
Programa <strong>de</strong> Autogestão da Habitação, da Secretaria Municipal <strong>de</strong> Habitação <strong>de</strong> Belo<br />
Horizonte, à luz dos pilares <strong>de</strong>finidos pelos autores para autogestão com base na<br />
literatura sobre o tema.<br />
9
Os autores comentam que a questão da autogestão vem sendo bastante discutida<br />
no âmbito da aca<strong>de</strong>mia, uma vez que as recentes experiências <strong>de</strong> economia solidária e<br />
<strong>de</strong> cooperativismo trouxeram o assunto <strong>de</strong> volta à pauta <strong>de</strong> discussões. De um modo<br />
geral, dois posicionamentos costumam ser <strong>de</strong>fendidos. De um lado, busca-se conciliar<br />
as práticas <strong>de</strong> heterogestão e <strong>de</strong> autogestão para um melhor funcionamento do sistema<br />
capitalista e, <strong>de</strong> outro, busca-se a autogestão como uma alternativa a este sistema. Este<br />
segundo posicionamento se alinha à i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> uma proposta mais ampla <strong>de</strong> mudança<br />
social, que se acopla à economia solidária, freqüentemente apontada como uma nova<br />
utopia.<br />
Assim, para os autores, no âmbito dos estudos organizacionais, o<br />
<strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong>ssa abordagem torna-se a<strong>de</strong>quado à compreensão <strong>de</strong> novas formas<br />
<strong>de</strong> organização que representam possibilida<strong>de</strong>s concretas <strong>de</strong> transformação social e <strong>de</strong><br />
emancipação humana. Percebemos no trabalho várias passagens que contemplam as leis<br />
da redução sociológica apontadas por <strong>Guerreiro</strong> <strong>Ramos</strong>, <strong>de</strong>ntre elas <strong>de</strong>stacamos a Lei da<br />
submissão da literatura estrangeira, uma vez que os autores do trabalho analisado, expõe<br />
que “a autogestão, segundo Misoczky et al (2004), consiste na gestão dos meios <strong>de</strong><br />
produção e organização social em que todos têm direito e participação igualitária,<br />
pautando-se nos princípios da liberda<strong>de</strong> e da igualda<strong>de</strong> (KLECHEN, BARRETO e<br />
PAULA, 2011, p. 671).<br />
Para realizar esse estudo os autores buscaram em Belo Horizonte, o exemplo a<br />
ser analisado. Foi em 1994, que surgiu a primeira experiência <strong>de</strong> gestão autônoma, a<br />
construção <strong>de</strong> um conjunto habitacional, resultado <strong>de</strong> uma política voltada para a<br />
resolução do problema <strong>de</strong> habitação para as famílias <strong>de</strong> baixa renda. A presença do<br />
movimento <strong>de</strong> luta por moradia teve gran<strong>de</strong> importância neste processo, principalmente<br />
através da formação <strong>de</strong> associações que reivindicavam, por meio <strong>de</strong> <strong>de</strong>bates com as<br />
esferas <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r, soluções para o déficit <strong>de</strong> moradia.<br />
Os autores narram que as políticas <strong>de</strong> habitação surgiram, assim, como uma<br />
iniciativa da Prefeitura <strong>de</strong> Belo Horizonte em resposta a uma <strong>de</strong>manda social. Assim, o<br />
programa <strong>de</strong> Autogestão da citada prefeitura foi o objeto <strong>de</strong> análise <strong>de</strong>sse artigo com<br />
base nos pilares para a autogestão <strong>de</strong>finidos na fundamentação teórica pelos autores. Os<br />
pilares são: 1) autonomia e equida<strong>de</strong> no processo <strong>de</strong>cisório; 2) valores humanistas e 3)<br />
disponibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> conhecimento técnico-administrativo para os membros da<br />
organização.<br />
Ressaltamos que o primeiro e o segundo pilares para autogestão po<strong>de</strong>m ser<br />
classificados <strong>de</strong>ntro da sociologia das ausências e emergências <strong>de</strong> <strong>Boaventura</strong>, pois<br />
convergem com as idéias contidas nas ecologias propostas pelo autor, nas quais os<br />
saberes e as temporalida<strong>de</strong>s são múltiplos. Como exemplo disso, encontramos na fala<br />
dos autores do texto analisado que a experiência da autogestão tem possibilitado aos<br />
participantes uma efetiva participação nas diversas etapas do projeto, bem como uma<br />
influência também efetiva no processo <strong>de</strong>cisório. Segundo os autores, a prática da<br />
autogestão proporcionou um empo<strong>de</strong>ramento aos participantes e uma simetria entre<br />
eles, <strong>de</strong> modo que todos têm iguais oportunida<strong>de</strong>s para opinar nos assuntos apresentados<br />
e influir no processo <strong>de</strong>cisório. Essa prática é estranha ao pensamento administrativo<br />
hegemônico e po<strong>de</strong> ser compreendido a partir da ecologias dos saberes <strong>de</strong> <strong>Boaventura</strong><br />
<strong>de</strong> <strong>Souza</strong> <strong>Santos</strong>.<br />
Com relação ao exercício da consciência crítica da realida<strong>de</strong> nacional para a<br />
realização <strong>de</strong> uma sociologia a ela relevante, a partir das idéias da redução sociológica<br />
<strong>de</strong> <strong>Guerreiro</strong> <strong>Ramos</strong> percebemos que este trabalho apresenta tal preocupação.<br />
Demonstração disso, tem-se no referencial teórico <strong>de</strong>senvolvido pelos autores, o qual se<br />
10
circunscreve a realida<strong>de</strong> nacional com a utilização das abordagens <strong>de</strong>senvolvidas por<br />
estudiosos brasileiros sobre o tema.<br />
Esse trabalho assim como o anterior, apresenta a participação do po<strong>de</strong>r público<br />
na elaboração das políticas públicas que acabaram se tornando projetos aplicados em<br />
comunida<strong>de</strong>s carentes. Esse segundo exemplo conta com a presença e auxílio do<br />
movimento social <strong>de</strong> luta por moradia. Esse movimento acabou sendo um agente que<br />
contribuiu para que o Estado buscasse soluções para um problema econômico-social<br />
importante como é o caso da moradia.<br />
O terceiro artigo analisado é A semântica do lixo e o <strong>de</strong>senvolvimento<br />
socioeconômico dos catadores <strong>de</strong> recicláveis: consi<strong>de</strong>rações sobre um estudo <strong>de</strong> caso<br />
múltiplo em cooperativas na cida<strong>de</strong> do Rio <strong>de</strong> Janeiro <strong>de</strong> Scarlet Carmo da revista<br />
Ca<strong>de</strong>rnos Ebape, ano 2009.<br />
A autora expõe que o objetivo do estudo foi apontar quais as implicações que a<br />
mudança <strong>de</strong> significados (semântica) do lixo tem trazido para o trabalho dos catadores,<br />
consi<strong>de</strong>rando-se a importância da catação para gerar emprego e renda para pessoas com<br />
dificulda<strong>de</strong> <strong>de</strong> inserção no mercado <strong>de</strong> trabalho formal.<br />
Sobre esse artigo observamos que a temática insere-se nas sociologias das<br />
ausências e emergências <strong>de</strong> <strong>Boaventura</strong> <strong>Santos</strong> por se tratar <strong>de</strong> um tema sobre um tipo<br />
produtivo estranho a lógica hegemônica, embora seja uma conseqüência do modo <strong>de</strong><br />
produção exclusivista do capitalismo mo<strong>de</strong>rno.<br />
Os autores contam que no Rio <strong>de</strong> Janeiro, a partir da década <strong>de</strong> 1990, o po<strong>de</strong>r<br />
público procurou dar apoio aos catadores <strong>de</strong> rua, com a formação <strong>de</strong> cooperativas e<br />
chegaram a algumas conclusões tais como: o apoio caminhou lado a lado com a<br />
mo<strong>de</strong>rnização dos processos <strong>de</strong> coleta, sem que isso tenha significado uma melhoria nas<br />
condições sociais e <strong>de</strong> trabalho; o acesso dos catadores aos produtores e doadores <strong>de</strong><br />
resíduos tem se tornado cada vez mais difícil e foi constatado também que é muito<br />
difícil melhorar as condições <strong>de</strong> trabalho dos catadores sem alguma forma <strong>de</strong> apoio<br />
externo.<br />
A exposição do caso em análise, empreendido pela autora, nos permitiu perceber<br />
alguns elementos que se enquadram nas ecologias dos saberes e temporalida<strong>de</strong>s <strong>de</strong><br />
<strong>Boaventura</strong>, tais como <strong>de</strong>monstrado na passagem que segue:<br />
É o <strong>de</strong>sejo <strong>de</strong> autonomia e <strong>de</strong> controle sobre a tarefa que<br />
<strong>de</strong>sempenham (trabalhar por conta própria e ausência <strong>de</strong><br />
patrão) que explicaria o fato <strong>de</strong> alguns optarem por uma<br />
ativida<strong>de</strong> que não exige filiação ou vínculo. Muitas vezes,<br />
os catadores apresentam costumes e valores diferentes<br />
daqueles preconizados como os necessários em um<br />
contexto <strong>de</strong> mercado <strong>de</strong> trabalho habitual, como<br />
assiduida<strong>de</strong> e competitivida<strong>de</strong>. O trabalho fora <strong>de</strong> horários<br />
e rotinas <strong>de</strong>terminados e a ausência <strong>de</strong> patrão representam<br />
uma flexibilida<strong>de</strong> que os trabalhadores habituais nem<br />
sempre dispõem (CARMO, 2009, p. 595).<br />
Esse empreendimento, a exemplo dos outros dois já analisados, também contou<br />
com o apoio do po<strong>de</strong>r público para sua realização. No caso especifico <strong>de</strong>sse trabalho,<br />
um fato que nos chamou atenção foi o envolvimento <strong>de</strong> uma Universida<strong>de</strong> com o<br />
projeto e a pressão exercida por essa para que os membros da cooperativa fossem mais<br />
assíduos em suas ativida<strong>de</strong>s.<br />
Esse tipo <strong>de</strong> preocupação parece <strong>de</strong>monstrar a tentativa <strong>de</strong> enquadramento do<br />
trabalho solicitada pela administração do projeto para que o trabalhador tenha mais<br />
assiduida<strong>de</strong> para com as tarefas executadas na cooperativa, fato que <strong>de</strong>monstra a<br />
11
pressão da racionalida<strong>de</strong> dominante em enquadrar as formas <strong>de</strong> produtivida<strong>de</strong> nos<br />
padrões por ela reconhecidos <strong>de</strong> tempo linear e eficácia.<br />
Por fim, com relação à redução sociológica, este trabalho se enquadra nos<br />
pressupostos em algumas das leis da redução, quais sejam: Lei do comprometimento e a<br />
Lei do caráter subsidiário da produção científica estrangeira, uma vez que analisou um<br />
caso local, a luz <strong>de</strong> uma abordagem nacional empreendida para esse tipo <strong>de</strong> tema<br />
específico.<br />
O quarto artigo analisado foi Os dilemas da economia solidária: um estudo<br />
acerca da dificulda<strong>de</strong> <strong>de</strong> inserção dos indivíduos na lógica cooperativista <strong>de</strong> Raquel <strong>de</strong><br />
Oliveira Barreto e Ana Paula Paes <strong>de</strong> Paula, publicado na revista Ca<strong>de</strong>rnos Ebape no<br />
ano <strong>de</strong> 2009.<br />
Os autores relatam que o artigo teve como objetivo analisar as dificulda<strong>de</strong>s<br />
encontradas pelos indivíduos para se inserirem na lógica cooperativista. Com isso visou<br />
contribuir para o <strong>de</strong>bate na área da Economia Solidária e apresentou como fundamentos<br />
as idéias <strong>de</strong> <strong>Guerreiro</strong> <strong>Ramos</strong> e Maurício Tragtenberg.<br />
Esse artigo apresenta um tema que é caro à sociologia das ausências e<br />
emergências <strong>de</strong> <strong>Boaventura</strong> <strong>Souza</strong> <strong>Santos</strong>, o cooperativismo e a autogestão. Contudo, os<br />
autores do estudo, relatam que no caso da Coopetex, os princípios do cooperativismo<br />
são parcialmente observados e nas questões principais tais como participação<br />
<strong>de</strong>mocrática e igualitária nas <strong>de</strong>cisões sobre a gestão do empreendimento não se<br />
realizam na prática, ficando a gestão nas mãos <strong>de</strong> poucos cooperados.<br />
Diante das reflexões realizadas pelos autores nesse estudo, o tipo <strong>de</strong><br />
empreendimento apresentado a Coopetex, especificamente, apesar <strong>de</strong> ser uma<br />
cooperativa não se respalda pelas ecologias propostas por <strong>Boaventura</strong> <strong>Santos</strong>, uma vez<br />
que as práticas <strong>de</strong> gestão nelas empregadas estão <strong>de</strong>ntro da lógica hegemônica<br />
capitalista que prega a eficácia e o lucro em primeiro lugar. Contudo, cabe <strong>de</strong>stacar que<br />
embora o caso apresentado não ilustrasse as ecologias <strong>de</strong>fendidas pelo autor, a pesquisa<br />
propriamente dita empreendida pelos autores está ancorada nos princípios da redução<br />
sociológica <strong>de</strong> <strong>Guerreiro</strong> <strong>Ramos</strong> uma vez que faz uso <strong>de</strong> uma literatura nacional<br />
ancorada em autores que se preocupam com a realida<strong>de</strong> nacional para o tema em<br />
questão. Isso fica evi<strong>de</strong>nte na passagem abaixo:<br />
Para a compreensão do sentido <strong>de</strong> Economia<br />
Solidária, faz-se necessária uma <strong>de</strong>sconstrução da<br />
concepção <strong>de</strong> economia prepon<strong>de</strong>rante atualmente.<br />
Isso significa conceber a economia <strong>de</strong> mercado apenas<br />
como uma <strong>de</strong>ntre as <strong>de</strong>mais formas <strong>de</strong> comportamento<br />
econômico, a saber, reciprocida<strong>de</strong>, domesticida<strong>de</strong> e<br />
redistribuição (POLANY, 1983, RAMOS, 1983). A<br />
partir <strong>de</strong>ssa visão <strong>de</strong> economia plural (BARRETO e<br />
PAULA, 2009, p. 200).<br />
Nesse trabalho um fator nos chamou atenção é que diferentemente dos estudos<br />
anteriores esse não foi uma iniciativa que precisou do apoio do setor público para se<br />
realizar, tratou-se, conforme relatam os autores <strong>de</strong> um empreendimento que surgiu a<br />
partir <strong>de</strong> um arrendamento <strong>de</strong> uma companhia industrial, em virtu<strong>de</strong> <strong>de</strong> sua falência.<br />
Esta última foi uma gran<strong>de</strong> indústria do setor têxtil, fundada em maio <strong>de</strong> 1911 em<br />
Minas Gerais. Em janeiro <strong>de</strong> 1999, a empresa interrompeu <strong>de</strong>finitivamente o seu<br />
funcionamento, o que resultou na extinção <strong>de</strong> um número significativo <strong>de</strong> postos <strong>de</strong><br />
trabalho. Entretanto, por meio da iniciativa <strong>de</strong> um ex-funcionário da fábrica, formulouse<br />
uma proposta <strong>de</strong> arrendamento, a qual culminou, meses <strong>de</strong>pois, na constituição da<br />
COOPETEX. Os autores comentam também a dificulda<strong>de</strong> da inserção dos indivíduos na<br />
12
lógica cooperativista, uma vez que os membros estavam inseridos na lógica capitalista<br />
<strong>de</strong> produção.<br />
A diferença apresentada na constituição do empreendimento quando comparada<br />
aos estudos anteriores <strong>de</strong>monstra a ausência das dimensões ecológicas propostas por<br />
<strong>Boaventura</strong> <strong>Santos</strong>. Conforme já indicam os autores do artigo, observamos que no caso<br />
<strong>de</strong>sse exemplo, os membros da cooperativa passaram abruptamente da condição <strong>de</strong><br />
empregados <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> uma lógica capitalista <strong>de</strong> produção para membros <strong>de</strong> uma<br />
cooperativa cuja lógica se opõe aquela. Assim, percebe-se, diante dos relatos <strong>de</strong><br />
pesquisa, que predomina a lógica da razão indolente na gestão do empreendimento<br />
Cabe <strong>de</strong>stacar, por fim, que uma das possíveis explicações para as diferenças<br />
encontradas nesse exemplo dos três anteriores seja que os membros da cooperativa eram<br />
empregados da empresa falida e ao assumirem o controle da empresa não tiveram tempo<br />
para trabalhar novas referências a respeito dos valores próprios do novo<br />
empreendimento – autogestão, aspecto que não percebemos nos exemplos anteriores<br />
uma vez que os membros já praticavam as ativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> sustento <strong>de</strong> forma mais livre e<br />
como autônomos seguindo uma lógica diferente dos sistemas produtivos hegemônicos.<br />
Isso nos faz lembrar as ecologias <strong>de</strong> <strong>Boaventura</strong> e o espaço banal <strong>de</strong> Milton <strong>Santos</strong> que<br />
<strong>de</strong>screvem realida<strong>de</strong>s nas quais a criativida<strong>de</strong>s dos agentes resultam em experiências e<br />
práticas sociais das mais diferentes espécies, temporalida<strong>de</strong>s e racionalida<strong>de</strong>s.<br />
O quinto artigo analisado é A gestão no campo da economia<br />
solidária: particularida<strong>de</strong>s e <strong>de</strong>safios <strong>de</strong> Caroline Andion publicado na revista RAC em<br />
2005. A autora apresenta como objetivo <strong>de</strong> pesquisa i<strong>de</strong>ntificar as particularida<strong>de</strong>s da<br />
gestão das organizações da economia solidária, entendidas ao mesmo tempo como<br />
organizações que internalizam uma preocupação com a solidarieda<strong>de</strong> e propõem<br />
serviços <strong>de</strong> proximida<strong>de</strong> que visam à transformação social. Para a autora, a premissa<br />
que direcionou o estudo foi que a especificida<strong>de</strong> das organizações da chamada<br />
economia solidária pressupunha formas também particulares <strong>de</strong> interação dos seus<br />
membros e entre estes e o meio externo, assim como lógicas singulares <strong>de</strong> tratamento<br />
das ativida<strong>de</strong>s econômicas e técnicas.<br />
Para realizar a análise pretendida a autora lançou mão <strong>de</strong> uma multiplicida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />
literatura, tanto estrangeira, quanto nacional com a preocupação <strong>de</strong> <strong>de</strong>finir categorias <strong>de</strong><br />
análises capazes <strong>de</strong> refletir o fenômeno da economia solidária. Para esse estudo a autora<br />
<strong>de</strong>finiu como lente <strong>de</strong> análise as noções <strong>de</strong>senvolvidas a partir dos trabalhos da teoria da<br />
ação comunicativa, elaborada por Jürgen Habermas; a noção <strong>de</strong> economia substantiva<br />
proposta por Karl Polanyi; a noção <strong>de</strong> autonomia social, difundida nas ciências sociais<br />
por Edgar Morin e a teoria substantiva das organizações <strong>de</strong>senvolvida por <strong>Guerreiro</strong><br />
<strong>Ramos</strong> no campo da teoria das organizações.<br />
Assim, a autora analisa duas organizações sem fins lucrativos que se enquadram<br />
no campo da economia solidária, isso na cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Montreal, Canadá. O trabalho<br />
analisado, em termos da abordagem das sociologias das ausências e emergências <strong>de</strong><br />
<strong>Boaventura</strong> <strong>Santos</strong> apresenta o tema abrangido por essa i<strong>de</strong>ia. Sobre a análise dos casos<br />
propostos pela autora percebemos elementos das ecologias dos saberes, das<br />
temporalida<strong>de</strong>s e das produtivida<strong>de</strong>s.<br />
Isso fica evi<strong>de</strong>nte no relato da autora sobre a composição do núcleo gestor dos<br />
empreendimentos que nos dois casos eram formados por uma multiplicida<strong>de</strong> <strong>de</strong> atores:<br />
os membros, os voluntários, o Conselho <strong>de</strong> Administração, a coor<strong>de</strong>nadora e os<br />
trabalhadores. Esses possuíam funções, interesses e lógicas diferentes e as suas visões a<br />
respeito da organização e <strong>de</strong> seus objetivos nem sempre eram comuns. Assim, conforme<br />
a autora, para se construir uma visão comum e um projeto social coletivo foi essencial,<br />
13
nos dois casos, a existência <strong>de</strong> espaços formais <strong>de</strong> comunicação que permitiram a<br />
manifestação e a negociação <strong>de</strong>ssas lógicas particulares. Esta prática era um importante<br />
elemento <strong>de</strong> socialização, pois fazia emergir um mundo da vida comum nos grupos<br />
Este exemplo, vale <strong>de</strong>stacar, se diferencia dos anteriores sob alguns aspectos.<br />
Trata-se <strong>de</strong> uma experiência <strong>de</strong> economia solidária em um centro hegemônico, Canadá.<br />
Os exemplos anteriores foram <strong>de</strong> experiências produtivas em um país do hemisfério Sul,<br />
o Brasil, lugar, segundo <strong>Boaventura</strong> <strong>Santos</strong> e Milton <strong>Santos</strong>, propício para a emergência<br />
<strong>de</strong> experiências sociais criativas e alternativas ao pensamento hegemônico da razão<br />
indolente. Outro aspecto que marca a diferença é que essa experiência não constitui algo<br />
oriundo da ajuda do Estado à maneira dos três primeiros casos, nem tampouco trata-se<br />
<strong>de</strong> um empreendimento que tinha como objetivo central a geração <strong>de</strong> renda para os<br />
agentes locais. Nesse sentido, é possível perceber que no caso apresentado há uma<br />
evi<strong>de</strong>ncia maior da <strong>de</strong>frontação das diversas racionalida<strong>de</strong>s que perfazem o mundo<br />
social, para além da prepon<strong>de</strong>rância da racionalida<strong>de</strong> instrumental, centro da razão<br />
indolente.<br />
Em relação à redução sociológica observamos que este trabalho apresentou uma<br />
preocupação com a escolha da lente <strong>de</strong> análise a partir da qual olharia seu objeto, a<br />
gestão em economia solidária, <strong>de</strong> modo a espelhar os pressupostos <strong>de</strong> diferentes leis da<br />
redução propostas por <strong>Guerreiro</strong> <strong>Ramos</strong>, tais como a Lei do comprometimento, a Lei da<br />
universalida<strong>de</strong> dos enunciados gerais da ciência e a Lei da submissão da literatura<br />
estrangeira. Isso fica evi<strong>de</strong>nte no referencial teórico utilizado, no qual, a autora lançou<br />
mão <strong>de</strong> uma multiplicida<strong>de</strong> <strong>de</strong> literatura, tanto estrangeira, quanto nacional com a<br />
preocupação <strong>de</strong> <strong>de</strong>finir categorias <strong>de</strong> análises capazes <strong>de</strong> refletir o fenômeno em estudo.<br />
O sexto artigo analisado é A Dinâmica Política no Espaço Organizacional: um<br />
Estudo das Relações <strong>de</strong> Po<strong>de</strong>r em uma Organização Cooperativa <strong>de</strong> Valéria da Glória<br />
Pereira Brito, Mônica Carvalho Alves Cappelle, Mozar José <strong>de</strong> Brito e Paulo Jose Silva,<br />
publicado na revista RAC, ano 2008.<br />
Os autores estabeleceram como objetivo do estudo analisar, sob o enfoque da<br />
perspectiva política, as relações <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r entre os grupos <strong>de</strong> interesse em uma<br />
organização cooperativa, a partir da ocorrência <strong>de</strong> um processo <strong>de</strong>cisório.<br />
Conforme os autores, a organização cooperativa estudada está situada na região<br />
sul <strong>de</strong> Minas Gerais e tem como principais ativida<strong>de</strong>s econômicas a produção cafeeira e<br />
a pecuária leiteira. No quadro social <strong>de</strong>ssa organização estão associados 900 produtores<br />
rurais, <strong>de</strong>stacando-se os produtores <strong>de</strong> leite do tipo B e C. Entre os serviços prestados<br />
pela cooperativa <strong>de</strong>stacam-se: a comercialização e industrialização do leite produzido<br />
por seus associados, manutenção <strong>de</strong> estoques <strong>de</strong> bens <strong>de</strong> capital e consumo, com vistas<br />
a aten<strong>de</strong>r à <strong>de</strong>manda por parte dos associados, prestação <strong>de</strong> assistência técnica e<br />
médico-odontológica e a formação <strong>de</strong> estoques reguladores, principalmente <strong>de</strong> café.<br />
Esta pesquisa apresentou um tema que está <strong>de</strong>ntro do campo <strong>de</strong>finido por<br />
<strong>Boaventura</strong> <strong>Santos</strong> das sociologias das ausências e das emergências. Contudo, na<br />
<strong>de</strong>scrição e análise do caso, não foi possível, com os dados disponíveis, verificar as<br />
questões das ecologias propostas por <strong>Boaventura</strong> <strong>Santos</strong>.<br />
Em relação à abordagem da redução sociológica <strong>de</strong> <strong>Guerreiro</strong> <strong>Ramos</strong>,<br />
percebemos uma preocupação dos autores em <strong>de</strong>senvolver estudos que enfoquem a<br />
dimensão política em pesquisas no campo do cooperativismo, já que por se tratarem <strong>de</strong><br />
organizações que tem como escopo a <strong>de</strong>mocracia e igualda<strong>de</strong> para <strong>de</strong>cidir sobre suas<br />
necessida<strong>de</strong>s, não se leva em conta as relações <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r que po<strong>de</strong>m fazer <strong>de</strong>sse do<br />
processo <strong>de</strong> <strong>de</strong>cisão <strong>de</strong>mocrático ou não. Esse objetivo nos remete a Lei do<br />
comprometimento estabelecida por <strong>Guerreiro</strong> <strong>Ramos</strong> para a redução sociológica, além<br />
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disso, a utilização <strong>de</strong> estudos <strong>de</strong> pesquisadores que se <strong>de</strong>bruçaram sobre as questões <strong>de</strong><br />
po<strong>de</strong>r <strong>de</strong>monstram a preocupação em utilizar o conhecimento estrangeiro sobre o tema<br />
para efetuar os estudos empíricos nacionais, ensejando assim, a Lei da submissão da<br />
literatura estrangeira.<br />
Consi<strong>de</strong>rações finais<br />
Neste trabalho buscamos empreen<strong>de</strong>r uma análise da produção acadêmica<br />
brasileira, em administração, <strong>de</strong>ntro do que <strong>Boaventura</strong> <strong>Santos</strong> (2002) <strong>de</strong>nomina <strong>de</strong><br />
Sociologia das ausências e das emergências. Buscamos também analisar se a produção<br />
encontrada mostrou-se preocupada com o exercício da consciência crítica da realida<strong>de</strong><br />
nacional para a realização <strong>de</strong> uma sociologia a ela relevante, a partir das idéias da<br />
redução sociológica <strong>de</strong> <strong>Guerreiro</strong> <strong>Ramos</strong>.<br />
Assim, dos 27 artigos encontrados, os quais tratavam das temáticas em estudo<br />
realizamos a análise em apenas seis <strong>de</strong>les em virtu<strong>de</strong> <strong>de</strong> apresentarem trabalhos teóricoempíricos<br />
sobre o tema.<br />
Nos primeiros três casos analisados, observamos algumas práticas <strong>de</strong> gestão que<br />
lembram as ecologias <strong>de</strong> <strong>Boaventura</strong> <strong>Santos</strong>, tais como a autogestão na Cooperlírios, no<br />
programa <strong>de</strong> habitação da prefeitura <strong>de</strong> Minas Gerais e no caso do Catadores <strong>de</strong><br />
Recicláveis, nos quais se percebeu uma lógica do organizar diferente daquela própria do<br />
pensamento administrativo hegemônico. Isso fica evi<strong>de</strong>nte, uma vez que esses<br />
empreendimentos apresentam um organizar no qual se percebe a realização, por parte<br />
dos seus membros, <strong>de</strong> um trabalho mais autônomo sem estabelecimento <strong>de</strong> regras ou<br />
horários a cumprir.<br />
Já no quarto caso analisado percebemos que a lógica mercantil da empresa falida<br />
permaneceu entre os membros que assumiram o negócio em forma <strong>de</strong> cooperativa.<br />
Talvez aqueles indivíduos, mergulhados na lógica do tempo linear e do saber único, não<br />
tomaram consciência da mudança ocorrida e continuaram a reproduzir a lógica<br />
dominante <strong>de</strong> produção.<br />
O quinto artigo analisado também apresenta suas peculiarida<strong>de</strong>s, pois se trata <strong>de</strong><br />
um empreendimento solidário, porém em um país do Hemisfério Norte – Canadá.<br />
Diferentemente <strong>de</strong> todos os casos analisados, esse exemplo não diz respeito à dimensão<br />
da produção, mas se trata <strong>de</strong> um empreendimento solidário entre pais que não tinham<br />
on<strong>de</strong> <strong>de</strong>ixar suas crianças para trabalharem. O caso apresentou algumas das ecologias<br />
<strong>de</strong>fendidas por <strong>Boaventura</strong> <strong>Santos</strong>, porém conforme a própria autora <strong>de</strong>stacou o<br />
empreendimento sofre uma tensão permanente entre a razão indolente e as múltiplas<br />
racionalida<strong>de</strong>s presentes no mundo da vida.<br />
O último artigo analisado focou a dinâmica do po<strong>de</strong>r na tomada <strong>de</strong> <strong>de</strong>cisão das<br />
ativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> uma cooperativa que reúne vários produtores <strong>de</strong> leite e seus <strong>de</strong>rivados.<br />
Esse caso se apresenta diferente dos <strong>de</strong>mais, na medida em que reúne vários produtores<br />
em torno do empreendimento solidário. Apesar <strong>de</strong> não ser possível a observância das<br />
ecologias <strong>de</strong>fendidas por <strong>Boaventura</strong> <strong>Santos</strong>, em virtu<strong>de</strong> da maneira como os autores<br />
apresentaram os dados, pu<strong>de</strong>mos perceber, por meio das análises dos autores do artigo,<br />
que o processo <strong>de</strong> <strong>de</strong>cisão e ação não po<strong>de</strong>m ser vistos como práticas sociais<br />
consensuais, como pressupõem as abordagens funcionalistas que procuram explicar o<br />
funcionamento das cooperativas. Assim, apesar <strong>de</strong> serem concebidas e gerenciadas em<br />
bases supostamente <strong>de</strong>mocráticas, não há como negar a existência <strong>de</strong> relações <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r<br />
e <strong>de</strong> ações que, muitas vezes, extrapolam os limites da <strong>de</strong>mocracia representativa.<br />
No que diz respeito às leis da redução sociológica propostas por <strong>Guerreiro</strong><br />
<strong>Ramos</strong> (1996) observamos, <strong>de</strong> maneira geral, uma preocupação por parte dos<br />
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pesquisadores dos artigos analisados com o comprometimento com o contexto sobre o<br />
qual realizam suas pesquisas, bem como com o referencial teórico escolhido para<br />
empreen<strong>de</strong>r a análise <strong>de</strong>sejada.<br />
Diante do exposto, concluímos com essa pesquisa que a produção do organizar<br />
se dá <strong>de</strong> várias formas e que as ausências e emergências <strong>de</strong> <strong>Boaventura</strong> <strong>Santos</strong> são uma<br />
realida<strong>de</strong> em nosso contexto brasileiro. O fato <strong>de</strong> encontrarmos exemplos <strong>de</strong><br />
empreendimentos com lógicas distintas em periódicos qualis A e B1 em administração<br />
<strong>de</strong>nota a importância do tema e abre boas perspectivas <strong>de</strong> interlocução na área para<br />
temas não dominantes em administração, e que se preocupem em <strong>de</strong>snaturalizar a visão<br />
hegemônica na área <strong>de</strong> que as formas <strong>de</strong> organização das ativida<strong>de</strong>s econômicas e da<br />
própria socieda<strong>de</strong> são oriundas, sobremaneira, da lógica instrumental da razão<br />
indolente.<br />
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