19.05.2013 Views

Duque de Caxias - NIMA - PUC-Rio

Duque de Caxias - NIMA - PUC-Rio

Duque de Caxias - NIMA - PUC-Rio

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

Núcleo Interdisciplinar <strong>de</strong> Meio Ambiente<br />

Prefeitura Municipal <strong>de</strong> <strong>Duque</strong> <strong>de</strong> <strong>Caxias</strong><br />

Secretaria <strong>de</strong> Meio Ambiente


<strong>NIMA</strong><br />

Núcleo Interdisciplinar <strong>de</strong> Meio Ambiente<br />

Educação Ambiental<br />

Formação <strong>de</strong> valores ético-ambientais para<br />

o exercício da cidadania no município <strong>de</strong><br />

DUQUE<br />

CAXIAS<br />

DE<br />

<strong>Rio</strong> <strong>de</strong> Janeiro


8 Apresentação<br />

Padre Josafá Carlos <strong>de</strong> Siqueira S. J.<br />

12 Introdução<br />

12 Informações gerais sobre o município <strong>de</strong> <strong>Duque</strong> <strong>de</strong> <strong>Caxias</strong><br />

mapas<br />

32 Introdução<br />

trabalhos <strong>de</strong> campo<br />

22 Morro do Céu<br />

11 Cida<strong>de</strong> dos Meninos<br />

15 Parque Glicério<br />

15 Caixa D’Água<br />

15 Parque Municipal da Taquara<br />

15 Reserva Biológica do Tinguá<br />

15 Barragem Saracuruna<br />

32 O município <strong>de</strong> <strong>Duque</strong> <strong>de</strong> <strong>Caxias</strong> na RMRJ<br />

32 O município <strong>de</strong> <strong>Duque</strong> <strong>de</strong> <strong>Caxias</strong> na Baixada Fluminense<br />

do Estado do <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> Janeiro<br />

32 Distritos do município <strong>de</strong> <strong>Duque</strong> <strong>de</strong> <strong>Caxias</strong><br />

32 Geologia do município <strong>de</strong> <strong>Duque</strong> <strong>de</strong> <strong>Caxias</strong><br />

32 Geomorfologia do município <strong>de</strong> <strong>Duque</strong> <strong>de</strong> <strong>Caxias</strong><br />

32 Hidrografia do município <strong>de</strong> <strong>Duque</strong> <strong>de</strong> <strong>Caxias</strong><br />

32 Uso do solo e cobertura vegetal <strong>de</strong> <strong>Duque</strong> <strong>de</strong> <strong>Caxias</strong><br />

aulas<br />

22 27 <strong>de</strong> Setembro<br />

22 11 <strong>de</strong> Outubro<br />

22 18 <strong>de</strong> Outubro<br />

22 25 <strong>de</strong> Outubro<br />

32 Áreas <strong>de</strong> Unida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> conservação no município <strong>de</strong> <strong>Duque</strong> <strong>de</strong> <strong>Caxias</strong><br />

32 Densida<strong>de</strong> <strong>de</strong> ocupação e <strong>de</strong>nsida<strong>de</strong> urbana <strong>de</strong> <strong>Duque</strong> <strong>de</strong> <strong>Caxias</strong><br />

32 Rodovias no município <strong>de</strong> <strong>Duque</strong> <strong>de</strong> <strong>Caxias</strong><br />

32 [zona especial]<br />

artigos<br />

37 Algumas reflexões para ajudar a enten<strong>de</strong>r a produção <strong>de</strong>sigual<br />

do espaço urbano em <strong>Duque</strong> <strong>de</strong> <strong>Caxias</strong><br />

Alvaro Ferreira<br />

34 <strong>Duque</strong> <strong>de</strong> <strong>Caxias</strong>, município da região Baixada Fluminense:<br />

po<strong>de</strong>r local, gestão do território e política pública<br />

no Estado do <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> Janeiro.<br />

Augusto César Pinheiro da Silva<br />

Rosana Cristine Machado <strong>de</strong> Oliveira<br />

32 Direito Ambiental: origens, <strong>de</strong>senvolvimento e objetivos<br />

Fernando Cavalcanti Walcacer<br />

Virgínia Totti Guimarães<br />

40 Educação Ambiental: por que e para quê?<br />

Regina Célia <strong>de</strong> Mattos<br />

52 Os espaços “vazios” do município <strong>de</strong> <strong>Duque</strong> <strong>de</strong> <strong>Caxias</strong>:<br />

a natureza e sua socieda<strong>de</strong><br />

Rita <strong>de</strong> Cássia Martins Montezuma<br />

Rogério Ribeiro <strong>de</strong> Oliveira<br />

59 Histórico, finalida<strong>de</strong>s, objetivos e princípios da Educação Ambiental<br />

Roosevelt Fi<strong>de</strong>les <strong>de</strong> Souza<br />

34 Jardim Gramacho e o território do lixo<br />

Valéria Pereira Bastos<br />

encerramento<br />

32 Alunos do projeto <strong>de</strong> Educação Ambiental<br />

32 Apresentações<br />

32 Exposições <strong>de</strong> trabalhos<br />

32 Créditos


Num mundo marcado pela fragmentação dos saberes, é admirável<br />

conhecer as experiências que estão sendo vividas e vivenciadas<br />

em escala local, on<strong>de</strong> a união <strong>de</strong> esforços entre o setor<br />

público e o privado, o ensino superior, o ensino médio e o ensino<br />

fundamental buscam caminhos <strong>de</strong> compreensão interdisciplinar<br />

para a complexida<strong>de</strong> dos problemas que envolvem o Município<br />

<strong>de</strong> <strong>Duque</strong> <strong>de</strong> <strong>Caxias</strong>. Não é <strong>de</strong> estranhar que as asas que marcam<br />

o lema do brasão da puc-<strong>Rio</strong>, Allis grave nil, não tenham<br />

sido feitas para voar apenas no pequeno limite do território acadêmico,<br />

mas, sim, para alcançar voos mais longínquos que permitem<br />

conhecer, estudar e <strong>de</strong>volver à Baixada Fluminense, suas<br />

riquezas e suas contradições.<br />

O espírito que move as parcerias entre a puc-<strong>Rio</strong>, a Petrobras<br />

e a Prefeitura Municipal <strong>de</strong> <strong>Duque</strong> <strong>de</strong> <strong>Caxias</strong>, em prol da<br />

formação <strong>de</strong> valores ético-ambientais para o exercício da cidadania,<br />

consiste em construir conhecimentos a partir da realida<strong>de</strong><br />

local e <strong>de</strong>volvê-los aos agentes multiplicadores da educação<br />

ambiental nas escolas. Com essa perspectiva, a equipe do<br />

nima, coor<strong>de</strong>nada pelo pesquisador Luis Felipe Guanaes Rego<br />

e formada pelos professores dos Departamentos <strong>de</strong> Geografia,<br />

Direito e Serviço Social da puc-<strong>Rio</strong>, empenhou-se na <strong>de</strong>safiante<br />

missão <strong>de</strong> conhecer <strong>de</strong> perto um município on<strong>de</strong> a gran<strong>de</strong>za <strong>de</strong><br />

possuir um território coberto por mais <strong>de</strong> 50% <strong>de</strong> área ver<strong>de</strong>,<br />

que ocupa o sexto maior pib do Brasil e abriga uma das maiores<br />

refinarias <strong>de</strong> petróleo do país, está profundamente associada<br />

com a fragilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> seus problemas sociais.<br />

Antes <strong>de</strong> tematizar os conteúdos que foram explicitados<br />

durante os cursos, os professores procuraram conhecer<br />

<strong>de</strong> perto, através dos trabalhos <strong>de</strong> campo e <strong>de</strong> numerosas pesquisas,<br />

as realida<strong>de</strong>s socioambientais do município como um<br />

todo, assim como localida<strong>de</strong>s específicas que fazem parte da<br />

história <strong>de</strong> <strong>Duque</strong> <strong>de</strong> <strong>Caxias</strong>, caso do Morro do Céu, da Cida<strong>de</strong><br />

dos Meninos, do Parque Glicério, da Caixa D’Água, do Parque<br />

Municipal Taquara, da rebio Tinguá e da Barragem Saracuruna.<br />

Inspirados nesta realida<strong>de</strong> concreta, os professores ela- 9<br />

Apresentação


oraram suas reflexões, retratadas nos diferentes artigos que<br />

integram o presente livro.<br />

Abrindo os olhos para uma problemática mais globalizada,<br />

que também está relacionada com a realida<strong>de</strong> local, o<br />

professor Álvaro Ferreira nos fala sobre a produção <strong>de</strong>sigual do<br />

espaço urbano <strong>de</strong> <strong>Duque</strong> <strong>de</strong> <strong>Caxias</strong>, mostrando que o conceito<br />

<strong>de</strong> urbano transcen<strong>de</strong> aquilo que <strong>de</strong>nominamos <strong>de</strong> cida<strong>de</strong>. O<br />

autor termina a sua reflexão com um convite à população local<br />

para uma participação mais ativa e constante, condição necessária<br />

para ser não apenas citadino, mas cidadão. Preocupados<br />

em fazer uma reflexão sobre o po<strong>de</strong>r local, a gestão do território<br />

e a política pública no Estado do <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> Janeiro, os professores<br />

Augusto César Pinheiro da Silva e Rosana Cristine Machado <strong>de</strong><br />

Oliveira procuraram mostrar a complexida<strong>de</strong> das práticas políticas<br />

no espaço territorializado da Baixada Fluminense e a importância<br />

<strong>de</strong> aumentar a capacida<strong>de</strong> do ente público municipal,<br />

para que este possa vir a se tornar uma referência regional.<br />

Com o objetivo <strong>de</strong> elucidar os meandros legais, válidos<br />

para as realida<strong>de</strong>s nacional e local, os professores <strong>de</strong> Direito<br />

Ambiental Fernando Cavalcante Walcacer e Virginia Totti Guimarães<br />

analisaram a evolução da legislação brasileira, o licenciamento,<br />

a participação na gestão e na fiscalização ambiental.<br />

Questionada sobre o porquê e o para que da Educação<br />

Ambiental, a professora Regina Célia <strong>de</strong> Mattos procura fazer<br />

uma reflexão sobre a relação histórica entre a socieda<strong>de</strong> e a<br />

natureza em <strong>Duque</strong> <strong>de</strong> <strong>Caxias</strong>, mostrando os sinais <strong>de</strong> avanços<br />

e as preocupações sociais. Sem negar a importância da Educação<br />

Ambiental, a geógrafa questiona o comportamento do po<strong>de</strong>r<br />

público e empresarial que, muitas vezes, cobra mudanças <strong>de</strong><br />

hábitos e costumes da socieda<strong>de</strong>, mas acaba sem dar o testemunho<br />

<strong>de</strong> ações concretas em favor <strong>de</strong> condições mais dignas<br />

<strong>de</strong> saú<strong>de</strong>, segurança e bem-estar para a socieda<strong>de</strong>.<br />

Preocupados, também, com a relação entre a natureza e<br />

a socieda<strong>de</strong>, os professores Rogério Ribeiro <strong>de</strong> Oliveira e Rita<br />

<strong>de</strong> Cássia Martins Montezuma fazem uma análise cuidadosa da<br />

história da transformação do cenário ambiental <strong>de</strong> <strong>Duque</strong> <strong>de</strong><br />

<strong>Caxias</strong>, formado por diversos ecossistemas. Os autores <strong>de</strong>screvem<br />

as atuais paisagens naturais, as áreas ocupadas e os espaços<br />

“vazios”, ricos e pobres em diversida<strong>de</strong>. Para eles, a heterogeneida<strong>de</strong><br />

ambiental do espaço se modifica na relação entre<br />

encosta e baixada, o que não tira a importância da preservação<br />

das Unida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> Conservação existentes, como também dos<br />

espaços que aparentemente se mostram vazios, mas que, na<br />

verda<strong>de</strong>, estão cheios <strong>de</strong> história, ações e significados geobiofísicos<br />

e sociais. Focado na compreensão didática da temática, o<br />

professor Roosevelt Fi<strong>de</strong>lis <strong>de</strong> Souza procura abordar o histórico,<br />

os princípios e os objetivos da Educação Ambiental, mostrando<br />

os impactos ambientais dos ciclos econômicos e tecendo consi<strong>de</strong>rações<br />

finais sobre a importância <strong>de</strong> uma abordagem mais<br />

ampla e integrada dos processos <strong>de</strong> Educação Ambiental para<br />

as gerações presentes e futuras. O último artigo do livro, elaborado<br />

pela professora Valéria Pereira Bastos, adota um enfoque<br />

local complexo, relacionado ao Jardim Gramacho e ao território<br />

do lixo. Depois <strong>de</strong> apresentar dados sócioeconômicos do município<br />

<strong>de</strong> <strong>Duque</strong> <strong>de</strong> <strong>Caxias</strong>, a autora nos mostra a realida<strong>de</strong> <strong>de</strong>sse<br />

espaço territorial que abriga cerca <strong>de</strong> 40 mil habitantes, on<strong>de</strong><br />

50% das pessoas <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>m direta ou indiretamente das ativida<strong>de</strong>s<br />

econômicas proce<strong>de</strong>ntes da catação do lixo. Fica clara a<br />

preocupação maior da autora com os problemas relacionados<br />

à exclusão, ao <strong>de</strong>semprego e à marginalização.<br />

Fica, aqui, o convite para que os leitores possam assimilar<br />

a riqueza das diferentes abordagens e olhares sobre o território<br />

<strong>de</strong> <strong>Duque</strong> <strong>de</strong> <strong>Caxias</strong>. E a esperança <strong>de</strong> que os professores<br />

do município, verda<strong>de</strong>iros agentes multiplicadores da Educação<br />

Ambiental, possam traduzir, em linguagem acessível aos<br />

seus alunos, as gran<strong>de</strong>zas, os problemas e as soluções ecologicamente<br />

sustentáveis, socialmente justas e solidárias.<br />

Padre Josafá Carlos <strong>de</strong> Siqueira S. J.<br />

Vice-reitor da <strong>PUC</strong>-<strong>Rio</strong><br />

10 11


A preocupação com a preservação do meio ambiente e a melhoria da<br />

qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida tornou-se algo cotidiano e a educação ambiental se<br />

apresenta como um campo <strong>de</strong> estudo preocupado com a formação <strong>de</strong><br />

pessoas conscientes do planeta em que vivem. Quando trabalhamos a<br />

educação ambiental, não falamos apenas <strong>de</strong> meio ambiente, mas abordamos<br />

as complexas relações <strong>de</strong> inter<strong>de</strong>pendência entre os diversos elementos<br />

da natureza, da qual fazemos parte, somos capazes <strong>de</strong> conhecer<br />

e transformar. Nós não nos relacionamos com a natureza apenas como<br />

indivíduos, mas, principalmente, por meio do trabalho e <strong>de</strong> outras práticas<br />

sociais. Assim, as relações <strong>de</strong> todos nós com a natureza possuem<br />

dimensões econômicas, políticas e éticas.<br />

Desta forma, atualmente, quando trabalhamos temas do meio<br />

ambiente, precisamos tratar <strong>de</strong> questões sociais complexas como, por<br />

exemplo, baixos índices <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento, pobreza e falta saneamento<br />

básico. Ao longo <strong>de</strong> nossa história humana, temos expressado uma<br />

admiração pela natureza que nos ro<strong>de</strong>ia e, nas últimas décadas, uma<br />

crescente preocupação em protegê-la. Observamos que, atualmente,<br />

uma série <strong>de</strong> questões relacionadas com as diversas formas <strong>de</strong> <strong>de</strong>gradação<br />

do meio ambiente vêm motivando e <strong>de</strong>spertando boa parcela<br />

da população, em estado <strong>de</strong> alerta no que diz respeito à problemática<br />

ambiental.<br />

Sabemos que a educação é o meio mais eficaz que a socieda<strong>de</strong> possui<br />

para enfrentar as provas do futuro e, <strong>de</strong> fato, a educação moldará<br />

o mundo <strong>de</strong> amanhã. A educação <strong>de</strong>ve ser parte vital <strong>de</strong> todos os esforços<br />

para imaginar e criar novas relações entre as pessoas e promover<br />

um maior respeito pelas necessida<strong>de</strong>s do meio ambiente. Por isso trabalhamos<br />

a educação ambiental em seu aspecto não formal, pois ela não<br />

<strong>de</strong>ve ser relacionada apenas com a escolarida<strong>de</strong> ou o ensino formal, já<br />

que também compreen<strong>de</strong> modos <strong>de</strong> instrução não formais, incluindo o<br />

aprendizado tradicional que se adquire no lar, no seu ambiente. Através<br />

da educação transmitimos um maior grau <strong>de</strong> consciência e sensibilida<strong>de</strong>,<br />

explorando novas visões e conceitos e inventando novas técnicas<br />

e instrumentos.<br />

Percebemos que a Educação Ambiental, para se consolidar, precisa<br />

<strong>de</strong> ações práticas e teóricas que comprovem a viabilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> sua<br />

proposta em todos os níveis sociais, como um processo crítico <strong>de</strong> formação<br />

que faça com que as futuras gerações tenham capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

exercer sua cidadania.<br />

Por isso, percebemos que os valores éticos são o agente mais eficaz<br />

para a mudança e a transformação da socieda<strong>de</strong>. Valores éticos,<br />

como a equida<strong>de</strong>, são adquiridos pela educação, no sentido mais amplo<br />

do termo. A educação é também essencial para que as pessoas possam<br />

usar seus valores éticos a serviço <strong>de</strong> opções conscientes e éticas.<br />

Quando trabalhamos com professores do ensino médio e fundamen-<br />

Introdução<br />

tal, na transmissão <strong>de</strong> novos valores ético-ambientais, imaginamos que<br />

estamos incrementando a capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong>ssas pessoas <strong>de</strong> transformar<br />

suas idéias sobre a socieda<strong>de</strong> em realida<strong>de</strong>s funcionais, e que sem um<br />

fundamento moral e ético dificilmente um novo mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> sustentabilida<strong>de</strong><br />

se tornará realida<strong>de</strong>.<br />

O objetivo maior da educação ambiental é a do repensar o estilo<br />

<strong>de</strong> vida do homem, a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> se formar uma ampla consciência<br />

crítica das relações na natureza on<strong>de</strong> nos inserimos, <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> uma<br />

proposta político-social-filosófica <strong>de</strong> mudança global da socieda<strong>de</strong> e <strong>de</strong><br />

sua estrutura.<br />

A metodologia <strong>de</strong> ação <strong>de</strong>ste projeto <strong>de</strong>lineou-se a partir da diretriz<br />

que vem sendo traçada <strong>de</strong>s<strong>de</strong> experiências anteriores em outros municípios.<br />

Nossa equipe acredita, confiando na sensação <strong>de</strong> <strong>de</strong>ver cumprido<br />

através da troca <strong>de</strong> informações e experiências, que suas variáveis estão<br />

certamente se <strong>de</strong>sdobrando em novas diretrizes, que vão orientar novas<br />

ações na multiplicação <strong>de</strong> valores ético-ambientais para o exercício da<br />

cidadania no Município <strong>de</strong> <strong>Duque</strong> <strong>de</strong> <strong>Caxias</strong>. Essa troca veio se estabelecendo<br />

<strong>de</strong>s<strong>de</strong> o primeiro contato da nossa equipe com a Secretaria<br />

<strong>de</strong> Meio Ambiente do município, através dos trabalhos <strong>de</strong> campo, on<strong>de</strong><br />

foram revelados aspectos socioambientais presentes na realida<strong>de</strong> cotidiana<br />

<strong>de</strong> <strong>Duque</strong> <strong>de</strong> <strong>Caxias</strong>.<br />

Desta forma, a proposta do projeto Educação ambiental: Formação<br />

<strong>de</strong> valores ético-ambientais para o exercício da cidadania no município<br />

<strong>de</strong> <strong>Duque</strong> <strong>de</strong> <strong>Caxias</strong>, promovido pelo Departamento <strong>de</strong> Geografia e pelo<br />

nima / puc-<strong>Rio</strong>, teve como principais objetivos:<br />

● Fornecer uma ampla fonte <strong>de</strong> conhecimentos ambientais sobre o<br />

município <strong>de</strong> <strong>Duque</strong> <strong>de</strong> <strong>Caxias</strong>, construída através <strong>de</strong> um diagnóstico<br />

produzido pela equipe do Departamento <strong>de</strong> Geografia e do<br />

nima / puc-<strong>Rio</strong>, em parceria com a Secretaria <strong>de</strong> Meio Ambiente<br />

do município.<br />

● Investir na formação <strong>de</strong> agentes multiplicadores da educação<br />

ambiental, que transmitirão valores ético-ambientais, capacitando<br />

e promovendo li<strong>de</strong>ranças educacionais/comunitárias.<br />

● Organizar conteúdos, métodos e roteiros didáticos, pautados pelos<br />

resultados do diagnóstico ambiental, disponibilizando os dados<br />

através <strong>de</strong> uma home page específica para o projeto.<br />

● Produzir um livro que transforme o diagnóstico traçado em ferramenta<br />

didática a ser utilizada por toda re<strong>de</strong> <strong>de</strong> ensino do município<br />

perpetuando, assim, a troca inicial <strong>de</strong> informações.<br />

12 13


● Produzir um ví<strong>de</strong>o que relate o <strong>de</strong>senvolvimento e as conclusões<br />

do projeto e que também sirva como material didático e <strong>de</strong> divulgação<br />

do trabalho realizado.<br />

● Propiciar ativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> campo em ecossistemas locais, integrados<br />

à Agenda 21 local e às perspectivas do <strong>de</strong>senvolvimento sustentável<br />

nos municípios.<br />

● Promover ativida<strong>de</strong>s eco-culturais (poesias, teatros, pinturas, etc)<br />

junto aos jovens estudantes, com direito à exposição dos melhores<br />

trabalhos, motivando o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> suas aptidões pessoais<br />

e integrando-os à comunida<strong>de</strong> local.<br />

Neste sentido, o projeto Educação Ambiental: formação <strong>de</strong> valores ético-ambientais<br />

para o exercício da cidadania no município <strong>de</strong> <strong>Duque</strong> <strong>de</strong><br />

<strong>Caxias</strong> configurou-se como excelente forma <strong>de</strong> colocar em prática iniciativas<br />

que visam a sustentabilida<strong>de</strong>. Através da capacitação <strong>de</strong> li<strong>de</strong>ranças<br />

comunitárias, <strong>de</strong> professores e <strong>de</strong> alunos da re<strong>de</strong> pública, transformados<br />

em agentes multiplicadores em comunida<strong>de</strong>s locais, objetivou-se uma<br />

ampliação do exercício consciente e responsável da cidadania, levando<br />

a uma melhoria efetiva na qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida da população.<br />

O projeto, que contou com a participação das secretarias municipais<br />

<strong>de</strong> Educação e Meio Ambiente, capacitou professores da re<strong>de</strong><br />

pública municipal e contemplará as escolas envolvidas com este livro,<br />

que, além do conteúdo didático trabalhado nas aulas <strong>de</strong> capacitação,<br />

apresenta um diagnóstico socioambiental do município, feito através <strong>de</strong><br />

trabalhos <strong>de</strong> campo que envolveram toda a equipe, além <strong>de</strong> representantes<br />

da Secretaria Municipal <strong>de</strong> Meio Ambiente. Em ambos os trabalhos,<br />

utilizamos o Sistema <strong>de</strong> Informações Geográficas (sig), potencializando<br />

a troca <strong>de</strong> informações e experiências, bem como o conteúdo didático e<br />

teórico das aulas <strong>de</strong> capacitação elaborada pelos professores do Departamento<br />

<strong>de</strong> Geografia, em associação com o Núcleo Interdisciplinar <strong>de</strong><br />

Meio Ambiente (nima) da puc-<strong>Rio</strong>. Ao longo do <strong>de</strong>senvolvimento do projeto,<br />

também foi produzido um ví<strong>de</strong>o mostrando todas as etapas do projeto,<br />

que servirá como material didático e <strong>de</strong> divulgação.<br />

A produção <strong>de</strong>ste material é importante para a perpetuação do<br />

projeto <strong>de</strong>ntro e fora das escolas, servindo como ferramentas na multiplicação<br />

dos valores ético-ambientais para o exercício da cidadania.<br />

É importante enfatizar os resultados dos projetos também para a<br />

socieda<strong>de</strong> como um todo, na medida em que po<strong>de</strong>m ser abordados em<br />

congressos científicos nacionais e internacionais. Inúmeras instituições<br />

educativas <strong>de</strong> ensino médio e superior po<strong>de</strong>m receber como doação as<br />

publicações <strong>de</strong> tais resultados. Acessando os links da home page do<br />

projeto, que complementa o material do livro, abre-se a possibilida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> acesso a uma quantida<strong>de</strong> significativa <strong>de</strong> dados e informações sobre<br />

o município <strong>de</strong> <strong>Duque</strong> <strong>de</strong> <strong>Caxias</strong>. O conteúdo <strong>de</strong>ssas informações tornou-se<br />

uma ferramenta fundamental na capacitação dos alunos do projeto.<br />

Através do laboratório do Sistema <strong>de</strong> Informações Geográficas da<br />

puc-<strong>Rio</strong>, o labgis, foram <strong>de</strong>senvolvidos mapas com conteúdo diverso<br />

<strong>de</strong> dados sobre o município, igualmente disponibilizados na re<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

informações da internet através da home page do projeto, contribuindo<br />

para a <strong>de</strong>mocratização <strong>de</strong> todo material levantado. Assim, buscamos oferecer<br />

um redimensionamento da simbologia cultural dos mapas, através<br />

da sua disseminação em meio digital. Acreditamos que a capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

reconhecimento da diversida<strong>de</strong> <strong>de</strong> paisagens do próprio município, através<br />

do uso e disseminação <strong>de</strong>sse material pelos professores e <strong>de</strong>mais<br />

agentes locais, possa potencializar o sentido <strong>de</strong> pertencimento e orgulho<br />

da população local, contribuindo efetivamente na construção <strong>de</strong> valores<br />

ético-ambientais para o exercício da cidadania.<br />

O investimento em uma maior conscientização ético-ambiental,<br />

através da promoção <strong>de</strong> conhecimentos socioculturais e ambientais,<br />

na formação dos agentes multiplicadores, com certeza irá proporcionar<br />

novas territorialida<strong>de</strong>s no uso do espaço geográfico do município <strong>de</strong><br />

<strong>Duque</strong> <strong>de</strong> <strong>Caxias</strong>. Um município com mais <strong>de</strong> 50% do território composto<br />

por área ver<strong>de</strong> po<strong>de</strong> tornar-se uma referência, a partir da escala<br />

local, na gestão ambiental com participação efetiva das instituições<br />

públicas, privadas e da socieda<strong>de</strong> civil organizada.<br />

O projeto também teve o importante papel <strong>de</strong> mostrar a Petrobras<br />

como uma empresa socialmente responsável e preocupada não apenas<br />

com projetos ambientais <strong>de</strong> caráter técnico e conservacionista, mas<br />

também com a formação <strong>de</strong> valores ético-ambientais e com o <strong>de</strong>senvolvimento<br />

sustentável da comunida<strong>de</strong> local, na medida em que ajuda o<br />

município a tomar consciência da importância da elaboração da Agenda<br />

21 local, oferecendo subsídios e metodologias para sua implantação.<br />

Além <strong>de</strong>sse aspecto, o projeto ainda integra a Petrobras nos programas<br />

<strong>de</strong> educação ambiental nas escolas públicas do interior do Estado do<br />

<strong>Rio</strong> <strong>de</strong> Janeiro, mantendo uma preocupação com a sensibilização sobre<br />

as questões ambientais, voltadas para uma abordagem ética.<br />

A gestão socialmente responsável tem revelado reflexos que extrapolam<br />

os limites das empresas, com <strong>de</strong>sdobramentos que afetam toda a<br />

socieda<strong>de</strong>. No exercício da responsabilida<strong>de</strong> social, a relação da empresa<br />

com a comunida<strong>de</strong> é otimizada, tanto nos aspectos da imagem e reputação<br />

da empresa, como nos benefícios que a empresa traz para a comunida<strong>de</strong><br />

do ponto <strong>de</strong> vista econômico, educacional, ambiental, cultural,<br />

entre outros.<br />

A re<strong>de</strong> formada a partir dos conhecimentos adquiridos durante<br />

o projeto – secretarias municipais, coor<strong>de</strong>nação pedagógica escolar, e<br />

principalmente entre li<strong>de</strong>ranças, professores e alunos – certamente con-<br />

14 15


16<br />

tribuirá na formulação e execução <strong>de</strong> novos projetos elaborados pelos<br />

participantes. O material presente nesse livro traz a autonomia necessária<br />

para a continuida<strong>de</strong> das ativida<strong>de</strong>s, tanto nas escolas como nas<br />

famílias e na comunida<strong>de</strong>, abrindo perspectivas futuras na busca <strong>de</strong><br />

alternativas locais sustentáveis. O acesso ilimitado às informações sobre<br />

o município, através da página na internet, transcen<strong>de</strong> as perspectivas<br />

presentes <strong>de</strong> continuida<strong>de</strong> <strong>de</strong> troca <strong>de</strong> informações. O processo <strong>de</strong> inserção<br />

do Brasil na dinâmica da economia global, como potência regional<br />

e como economia emergente, cria reflexos em toda dinâmica sócioespacial<br />

do seu território. Não só o município <strong>de</strong> <strong>Duque</strong> <strong>de</strong> <strong>Caxias</strong>, mas<br />

toda a região da Baixada Fluminense, passam por transformações significativas<br />

no uso do seu espaço geográfico, em razão <strong>de</strong>sta e <strong>de</strong> outras<br />

dinâmicas internas e externas, que promovem constantemente alterações<br />

na sua paisagem. Acreditamos que o exercício pleno da cidadania,<br />

pautado nos valores <strong>de</strong> uma ética ambiental, seja a diretriz para as<br />

ações que incorporem a sustentabilida<strong>de</strong> na dinâmica socioambiental<br />

do município <strong>de</strong> <strong>Duque</strong> <strong>de</strong> <strong>Caxias</strong>. E que o conteúdo <strong>de</strong>sse livro, assim<br />

como seus <strong>de</strong>sdobramentos, seja um ponto <strong>de</strong> referência na construção<br />

<strong>de</strong>ssa realida<strong>de</strong>.


4 distritos<br />

40 bairros<br />

468,3 km²<br />

10% da região metropolitana<br />

842.686 habitantes<br />

1.711 hab/km²<br />

543.646 eleitores<br />

67,49 expectativa <strong>de</strong> vida<br />

0,753 idh<br />

99,6% taxa <strong>de</strong> urbanização<br />

1,67% taxa <strong>de</strong> crescimento<br />

8% taxa <strong>de</strong> analfabetismo<br />

Abriga<br />

REDUC — Petrobras<br />

Instituto São Bento — <strong>PUC</strong>-<strong>Rio</strong><br />

Distritos<br />

1º – <strong>Duque</strong> <strong>de</strong> <strong>Caxias</strong><br />

Jardim 25 <strong>de</strong> Agosto<br />

Parque <strong>Duque</strong><br />

Periquitos<br />

Vila São Luiz<br />

Gramacho<br />

Sarapuy<br />

Centenário<br />

Centro<br />

Dr. Laureano<br />

2º – Campos Elísios<br />

Jardim Primavera<br />

Saracuruna<br />

Vila São José<br />

Parque Fluminense<br />

Campos Elíseos<br />

Cangulo<br />

Cida<strong>de</strong> dos Meninos<br />

Figueira<br />

Chácaras <strong>Rio</strong>-Petrópolis<br />

Informações gerais<br />

sobre o município <strong>de</strong><br />

<strong>Duque</strong> <strong>de</strong> <strong>Caxias</strong><br />

3º – Imbariê<br />

Santa Lúcia<br />

Santa Cruz da Serra<br />

Imbariê<br />

Parada Angélica<br />

Jardim Anhangá<br />

Santa Cruz<br />

Parada Morabi<br />

Taquara<br />

22°30'S<br />

Xerém<br />

Parque Paulista<br />

Campos<br />

Elíseos<br />

<strong>Duque</strong> <strong>de</strong><br />

<strong>Caxias</strong><br />

Imbariê<br />

4º – Xerém<br />

Xerém<br />

Parque Capivari<br />

Mantiqueira<br />

Jardim Olimpo<br />

Lamarão<br />

Amapá<br />

22°30'S<br />

22°40'S<br />

3 1,5 0 3 Km<br />

Brasil;<br />

Estado do <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> Janeiro;<br />

Região Metropolitana;<br />

Baixada Fluminense;<br />

Município <strong>de</strong> <strong>Duque</strong> <strong>de</strong> <strong>Caxias</strong><br />

0 10 20<br />

40 Km<br />

Baixada Fluminense<br />

Olavo Bilac<br />

Chácara Arcampo Parque Equitativa<br />

Bar dos Cavaleiros Eldorado<br />

Alto da Serra<br />

Região Metropolitana<br />

18 Jardim Gramacho São Bento<br />

Santo Antônio da Serra<br />

www.duque<strong>de</strong>caxias.rj.gov.br<br />

19<br />

Itaguaí<br />

Paracambi<br />

Seropédica<br />

Japeri<br />

Queimados<br />

Miguel Pereira<br />

Nova<br />

Iguaçu<br />

Belford Roxo<br />

Mesquita<br />

Nilópolis<br />

<strong>Rio</strong> <strong>de</strong> Janeiro<br />

<strong>Duque</strong> <strong>de</strong><br />

<strong>Caxias</strong><br />

S. João<br />

<strong>de</strong> Meriti<br />

Oceano Atlântico<br />

Petrópolis<br />

Magé<br />

Niterói<br />

Guapimirim<br />

São Gonçalo<br />

44°0'W 43°0'W<br />

Itaboraí<br />

Tanguá<br />

23°0'S


20<br />

trabalhos<br />

<strong>de</strong> campo<br />

Nos dias 9 e 16 <strong>de</strong> agosto <strong>de</strong> 2008, a equipe do Projeto Educação Ambiental:<br />

formação <strong>de</strong> valores ético-ambientais para o exercício da cidadania<br />

reuniu-se no campus da puc-<strong>Rio</strong>, na Gávea, para dar início aos<br />

trabalhos <strong>de</strong> campo, que contaram com a presença <strong>de</strong> representantes<br />

da Secretaria municipal <strong>de</strong> Meio Ambiente da prefeitura <strong>de</strong> <strong>Duque</strong> <strong>de</strong><br />

<strong>Caxias</strong> e contemplaram os quatro distritos que compõem o município:<br />

<strong>Duque</strong> <strong>de</strong> <strong>Caxias</strong>, o primeiro, Campos Elísios, o segundo, Imbariê, o terceiro,<br />

e Xerém, o quarto. O primeiro encontro realizou-se no Pólo Avançado<br />

da puc-<strong>Rio</strong>, o Instituto São Bento, no segundo distrito <strong>de</strong> Campos<br />

Elíseos, on<strong>de</strong> ocorreu uma breve reunião para a apresentação dos integrantes<br />

do projeto, assim como uma palestra sobre as principais <strong>de</strong>mandas<br />

ambientais do município, feita por Wilson Leal, pedagogo da Secretaria<br />

e chefe do setor <strong>de</strong> Educação Ambiental. Foram visitados todos os<br />

quatro distritos que compõem o município nos dois trabalhos <strong>de</strong> campo.<br />

No mês <strong>de</strong> novembro, foi realizado um terceiro trabalho <strong>de</strong> campo com<br />

os professores da re<strong>de</strong> municipal <strong>de</strong> ensino, os alunos do projeto. Esse<br />

trabalho contou com a presença <strong>de</strong> professores do Departamento <strong>de</strong><br />

Geografia da puc-<strong>Rio</strong> e <strong>de</strong> representantes da Secretaria municipal <strong>de</strong><br />

Meio Ambiente. Foram visitados os parques naturais municipais da<br />

Caixa D’Água e da Taquara.<br />

Cida<strong>de</strong> dos Meninos p.32<br />

rebio Tinguá p.34<br />

Xerém<br />

Morro do Céu p.24<br />

<strong>Duque</strong> <strong>de</strong><br />

<strong>Caxias</strong><br />

Barragem Saracuruna p.36<br />

Caixa D’Água p.26<br />

Parque Glicério p.22<br />

Parque Municipal da Taquara p.28<br />

Imbariê<br />

Campos<br />

Elíseos


<strong>Duque</strong> <strong>de</strong> <strong>Caxias</strong><br />

Parque Glicério<br />

Após o encontro com os representantes da Secretaria <strong>de</strong> Meio Ambiente<br />

no centro do município <strong>de</strong> <strong>Duque</strong> <strong>de</strong> <strong>Caxias</strong>, seguimos para uma passarela<br />

próxima à Linha Vermelha, para visualizarmos a área da Zona<br />

Especial <strong>de</strong> Interesse Ambiental (zeia) n°9, <strong>de</strong>nominada Parque Glicério.<br />

De acordo com os representantes da Secretaria <strong>de</strong> Meio Ambiente,<br />

a área do Parque será cedida pela União, pois pertence ao Ministério<br />

da Marinha. A intenção da prefeitura é implementar ali um parque com<br />

atribuição <strong>de</strong> parque urbano para lazer e prática <strong>de</strong> esportes, <strong>de</strong> caráter<br />

municipal regional. A área está completamente <strong>de</strong>scaracterizada, com<br />

22 23<br />

alto grau <strong>de</strong> <strong>de</strong>gradação e poluição dos canais que a cortam. Devido à<br />

fiscalização da Marinha, parte da área on<strong>de</strong> será o parque não sofreu<br />

processo <strong>de</strong> invasão e <strong>de</strong> favelização como aconteceu com outras áreas<br />

do entorno, que além da ocupação irregular recebem ilegalmente o <strong>de</strong>spejo<br />

<strong>de</strong> lixo e <strong>de</strong> entulho <strong>de</strong> obras. A favela Dois Irmãos, fronteiriça com<br />

o parque, faz parte do complexo da favela Beira-Mar. Segundo os integrantes<br />

da secretaria, algumas ocupações irregulares serão removidas<br />

para a construção do parque municipal.<br />

Em seguida, paramos na Rodovia Washington Luis, em frente à<br />

construção <strong>de</strong> um shopping center que será o maior do município. A<br />

mesma empresa responsável pela construção do shopping tem a intenção<br />

<strong>de</strong> erguer um condomínio <strong>de</strong> luxo em frente ao empreendimento,<br />

no trecho ao lado do parque gráfico do jornal O Globo. Trata-se <strong>de</strong> uma<br />

área <strong>de</strong> manguezal, ou seja, área <strong>de</strong> proteção permanente, <strong>de</strong> acordo<br />

com a legislação.


Campos Elíseos<br />

Morro do Céu<br />

No segundo distrito, o grupo dirigiu-se para a parte mais elevada do<br />

bairro <strong>de</strong> São Bento, chamada Morro do Céu, on<strong>de</strong> visualizou a extensão<br />

da Área <strong>de</strong> Proteção Ambiental (apa) São Bento. No alto do Morro<br />

do Céu foi possível observar não só os limites da apa São Bento, como a<br />

parte que apresenta ocupação irregular, <strong>de</strong>flagrando problemas <strong>de</strong> or<strong>de</strong>m<br />

fundiária. Também foram observadas áreas <strong>de</strong> extração irregular <strong>de</strong> saibro.<br />

Essa extração provocou a diminuição <strong>de</strong> alguns morros, alterou o<br />

regime <strong>de</strong> ventos e o microclima da região. A área mostrada é uma planície<br />

alagada, uma característica natural <strong>de</strong> toda região do município que<br />

se encontra no entorno da Baía <strong>de</strong> Guanabara. O afloramento do lençol<br />

freático vindo dos maciços circundantes e a própria cota altimétrica que,<br />

em alguns lugares, está abaixo do nível do mar, faz com que o alagamento<br />

<strong>de</strong> áreas <strong>de</strong> planície seja um processo natural.<br />

24 25<br />

Vista do Morro do Céu, no Bairro São Bento


Campos Elíseos<br />

Caixa D’Água<br />

O outro ponto visitado no segundo distrito foi a zeia 06 da Caixa<br />

D’Água, que recebeu esse nome pelo fato <strong>de</strong> haver uma caixa d’água<br />

abandonada no topo <strong>de</strong> um <strong>de</strong> seus morros. Segundo informações da<br />

própria Secretaria <strong>de</strong> Meio Ambiente, já estaria em andamento o processo<br />

<strong>de</strong> homologação para transformar a zeia numa Área <strong>de</strong> Proteção<br />

Ambiental. A Secretaria tem planos <strong>de</strong> aproveitar a própria estrutura<br />

da caixa d’água para construir um mirante com salas para palestras e<br />

<strong>de</strong>bates. A obra abandonada é cercada por vegetação bastante <strong>de</strong>scaracterizada,<br />

apresentando alto nível <strong>de</strong> <strong>de</strong>gradação, com alguns resquícios<br />

<strong>de</strong> reflorestamento feito anteriormente pela própria Secretaria. Foi<br />

possível observar que a área em torno da futura apa, na base dos morros,<br />

é ocupada por casas da classe média do município. A equipe recebeu<br />

explicações sobre o motivo da região não ser aconselhável para a<br />

ocupação urbana: no verão, a área é frequentemente alagada <strong>de</strong>vido à<br />

dinâmica <strong>de</strong> afloramento <strong>de</strong> lençol freático vindo dos maciços circundantes.<br />

Na ocasião <strong>de</strong>ssa visita a equipe tomou conhecimento da intenção<br />

26 27<br />

Vista da Caixa D’Água<br />

da secretaria <strong>de</strong> acelerar o processo <strong>de</strong> homologação da apa da Caixa<br />

D’Água, para revitalizar a área e iniciar logo os projetos que visem recuperar<br />

o ecossistema local.<br />

Três meses mais tar<strong>de</strong>, realizamos com os alunos do projeto uma<br />

segunda visita, no dia 29 <strong>de</strong> novembro, ao recém emancipado Parque<br />

Natural Municipal da Caixa D’Água. A apa havia sido homologada na<br />

semana anterior à visitação. O representante da Secretaria <strong>de</strong> Meio<br />

Ambiente expôs os principais <strong>de</strong>safios para a área, <strong>de</strong>stacando a necessida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> reflorestamento com espécies nativas e <strong>de</strong> fiscalização. Nessa<br />

visita com a equipe e os professores, observamos que é fundamental a<br />

presença do po<strong>de</strong>r público na gestão <strong>de</strong>ssas áreas. A prefeitura havia<br />

<strong>de</strong>molido no local uma construção irregular do que seria uma rádio<br />

pirata. Vimos que, em apenas três meses <strong>de</strong> intervalo entre a primeira<br />

visita e essa, a ausência da intervenção <strong>de</strong> órgãos gestores da prefeitura<br />

facilitou a construção irregular. Mas, <strong>de</strong> acordo com os representantes<br />

da Secretaria <strong>de</strong> Meio Ambiente, com a homologação do Parque<br />

Natural Municipal da Caixa D’Água haverá fiscalização constante para<br />

evitar irregularida<strong>de</strong>s futuras no local.


Imbariê<br />

Parque Municipal da Taquara<br />

No terceiro distrito, Imbariê, seguimos para a zeia n°1, a Unida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

Conservação <strong>de</strong> Proteção Integral Parque Natural Municipal da Taquara.<br />

A área total do Parque é <strong>de</strong> aproximadamente 20,8 hectares. Localizado<br />

no corredor ecológico que fica no meio da Serra dos Órgãos, da apa<br />

Petrópolis e da Reserva do Tinguá, o Parque Municipal da Taquara apresenta<br />

uma variação <strong>de</strong> vegetação que abrange áreas <strong>de</strong> pasto, vegetação<br />

secundária e Floresta Ombrófila, sendo que esta ocupa a maior parte do<br />

parque, que chega a receber quatro mil pessoas nos dias <strong>de</strong> tempo bom,<br />

segundo os integrantes da Secretaria <strong>de</strong> Meio Ambiente. São moradores<br />

do município, da Baixada Fluminense e <strong>de</strong> cida<strong>de</strong>s vizinhas, que visitam<br />

o local para admirar suas quedas d’água, sua rica fauna e a flora<br />

<strong>de</strong> espécies da Mata Atlântica. Dentro da área do parque, na sua parte<br />

baixa próxima à entrada, há cantinas que servem refeições nos finais<br />

<strong>de</strong> semana, além <strong>de</strong> um espaço com churrasqueiras. Algumas famílias<br />

moram <strong>de</strong>ntro do parque, on<strong>de</strong> criam animais domésticos e fizeram um<br />

lago artificial. O parque possui um rio principal, o <strong>Rio</strong> Taquara, que<br />

corta parte do terreno.<br />

28 29


O Parque da Taquara será ampliado com a incorporação <strong>de</strong> uma área<br />

anexa que foi cedida pela fábrica <strong>de</strong> tecidos Nova América. A área possui<br />

um reservatório <strong>de</strong> água <strong>de</strong>sativado, que servia à fábrica, e que em<br />

dias <strong>de</strong> verão chega a receber uma média <strong>de</strong> cinco mil pessoas. Ele<br />

será reativado pela cedae para captação, tratamento, e distribuição.<br />

Esse fato gera uma preocupação ao po<strong>de</strong>r público, pois, se o reservatório<br />

for reativado, seu uso será vetado à população local, o que po<strong>de</strong><br />

causar conflito com os moradores que já incorporaram a represa como<br />

área <strong>de</strong> lazer.<br />

30 31<br />

Realizamos uma segunda visita ao parque, no dia 29 <strong>de</strong> novembro, com<br />

a presença dos alunos do projeto. Visitamos os pontos mais importantes<br />

do parque e ouvimos explicações do representante da Secretaria<br />

sobre os principais problemas enfrentados pela administração. Um dos<br />

exemplos foi a fiação elétrica que passa <strong>de</strong>ntro do parque, que eventualmente<br />

provoca a morte <strong>de</strong> uma espécie <strong>de</strong> mico. A fiação serve para<br />

levar energia elétrica para algumas casas em torno da área do parque.<br />

Discutimos, então, o fato <strong>de</strong> os órgãos públicos ambientais terem que<br />

pressionar a empresa responsável para que torne subterrânea a fiação,<br />

dando continuida<strong>de</strong> ao abastecimento <strong>de</strong> energia sem causar impacto<br />

aos animais do parque.


Xerém<br />

Cida<strong>de</strong> dos Meninos<br />

A Cida<strong>de</strong> dos Meninos (Zona Especial <strong>de</strong> Interesse Ambiental, zeia 14)<br />

é assim chamada pois ali existia, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a década <strong>de</strong> 1940, um complexo<br />

<strong>de</strong> internatos voltado para menores carentes. Em 1947, a área passou a<br />

albergar o Instituto <strong>de</strong> Malariologia, que produzia para exportação pesticidas<br />

organoclorados, utilizados no controle <strong>de</strong> en<strong>de</strong>mias transmitidas<br />

por vetores <strong>de</strong> malária, febre amarela e doença <strong>de</strong> Chagas. Com a <strong>de</strong>sativação<br />

da fábrica na década <strong>de</strong> 1960, aproximadamente 400 toneladas<br />

<strong>de</strong> pesticidas foram abandonadas, o que acabou causando a contaminação<br />

dos arredores. Os resíduos <strong>de</strong>sse foco principal <strong>de</strong> contaminação<br />

foram disseminados por via aérea, águas pluviais e, principalmente, por<br />

meio do carregamento mecânico para utilização em aterros e aplicação<br />

como agrotóxicos, segundo relatos <strong>de</strong> moradores. Esses são os focos<br />

secundários <strong>de</strong> contaminação e estão distribuídos aleatoriamente pela<br />

região, sendo também objeto <strong>de</strong> estudos já realizados.<br />

32 33<br />

O problema da contaminação ambiental e o seu potencial risco à<br />

saú<strong>de</strong> humana ganhou evidência a partir <strong>de</strong> 1989, quando a imprensa<br />

noticiou a venda dos pesticidas em feiras livres <strong>de</strong> <strong>Duque</strong> <strong>de</strong> <strong>Caxias</strong>.<br />

Devido à contaminação, a área não po<strong>de</strong> ser utilizada para produção<br />

<strong>de</strong> nenhum alimento, seja ele <strong>de</strong> origem animal ou vegetal. Apesar<br />

disso, é possível observar pequenas hortas <strong>de</strong> subsistência e animais<br />

<strong>de</strong> criação como gado, galinhas, porcos e cavalos. Existe interesse da<br />

prefeitura <strong>de</strong> utilizar parte da área para a construção <strong>de</strong> uma usina <strong>de</strong><br />

reciclagem <strong>de</strong> lixo, uma vez que o Aterro Sanitário <strong>de</strong> Gramacho encontra-se<br />

em processo <strong>de</strong> encerramento <strong>de</strong> suas ativida<strong>de</strong>s. Vale ressaltar<br />

que a Cida<strong>de</strong> dos Meninos continua sendo um dos maiores passivos<br />

ambientais do município.<br />

Em seguida, no entorno da Cida<strong>de</strong> dos Meninos, paramos no ponto<br />

<strong>de</strong> abastecimento <strong>de</strong> água para os carros-pipa que estão a serviço do<br />

município. Os integrantes da Secretaria Municipal ressaltaram a qualida<strong>de</strong><br />

da água e a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> regulamentar a captação, tendo em<br />

vista o abastecimento ilegal <strong>de</strong> caminhões-pipa.


Xerém<br />

rebio Tinguá<br />

A zeia n°15 – Unida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Conservação <strong>de</strong> Proteção Integral – Reserva<br />

Biológica <strong>de</strong> Tinguá está situada na Serra do Mar, no Estado do <strong>Rio</strong> <strong>de</strong><br />

Janeiro, nos fundos da Baixada Fluminense. Abrange os municípios <strong>de</strong><br />

Nova Iguaçú, <strong>Caxias</strong>, Petrópolis, Miguel Pereira e Vassouras. É consi<strong>de</strong>rada<br />

Patrimônio da Biosfera pela Unesco <strong>de</strong>s<strong>de</strong> 1992.<br />

Junto com a equipe da Secretaria <strong>de</strong> Meio Ambiente, utilizamos<br />

um dos acessos para a rebio, localizado no 4°distrito. Após passarmos<br />

por um caminho já <strong>de</strong>ntro da reserva, chegamos a uma área às margens<br />

do <strong>Rio</strong> Registro, um dos rios que cortam aquela parte da reserva. A<br />

área é aberta e pu<strong>de</strong>mos observar a presença <strong>de</strong> churrasquerias improvisadas,<br />

constatando que a área é utilizada para churrascos e outras<br />

ativida<strong>de</strong>s pelos moradores do entorno e <strong>de</strong>mais visitantes. Segundo<br />

informações da Secretaria, nos meses <strong>de</strong> verão a reserva chega a receber<br />

cerca <strong>de</strong> três a quatro mil pessoas nos fins <strong>de</strong> semana. Infelizmente,<br />

percebemos que, tanto no caminho <strong>de</strong> acesso como na área à margem<br />

do <strong>Rio</strong> Registro, havia uma quantida<strong>de</strong> consi<strong>de</strong>rável <strong>de</strong> lixo <strong>de</strong>ixada<br />

pelos visitantes. Sobre o rio há uma tubulação <strong>de</strong> água e uma ponte <strong>de</strong><br />

ferro, que está em péssimo estado <strong>de</strong> conservação e não oferece segurança.<br />

A ponte dá continuida<strong>de</strong> ao caminho anterior, cortando a Mata<br />

34 35<br />

Represa <strong>de</strong> Calombé no <strong>Rio</strong> Registro<br />

Atlântica nativa – que, infelizmente, também apresenta um pouco <strong>de</strong><br />

lixo (garrafas Pet, pacotes <strong>de</strong> biscoito, copos plásticos etc.) – e levando<br />

até a Represa do Calombé, no <strong>Rio</strong> Registro, atualmente fora <strong>de</strong> operação.<br />

A represa servia para abastecimento da reduc, mas, <strong>de</strong>vido a<br />

problemas na qualida<strong>de</strong> da água, foi <strong>de</strong>sativada. Os representantes da<br />

Secretaria <strong>de</strong> Meio Ambiente ressaltaram o interesse <strong>de</strong> reativar o sistema<br />

<strong>de</strong> captação <strong>de</strong> água, junto à reduc, para abastecimento <strong>de</strong> diferentes<br />

áreas do município.<br />

O local <strong>de</strong> represamento forma um lago e possui uma beleza cênica<br />

que impressionou a todos da equipe. Segundo informações dos representantes<br />

da Secretaria <strong>de</strong> Meio Ambiente o lago da represa é muito requisitado<br />

para banho pelos visitantes, principalmente no verão. Concordamos<br />

que essa questão da entrada <strong>de</strong> pessoas na reserva, para banho<br />

e outras ativida<strong>de</strong>s, <strong>de</strong>ve ser levada em consi<strong>de</strong>ração na formulação do<br />

seu Plano <strong>de</strong> Manejo, já que, <strong>de</strong> acordo com o Sistema Nacional <strong>de</strong> Unida<strong>de</strong>s<br />

<strong>de</strong> Conservação, o snuc (lei 9.985/2000), a rebio Tinguá está<br />

inserida na categoria <strong>de</strong> Unida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> Conservação <strong>de</strong> Proteção Integral.<br />

Nessa categoria, é proibida a visitação pública, exceto aquela com objetivo<br />

educacional, <strong>de</strong> acordo com regulamento específico.


Xerém<br />

Barragem Saracuruna<br />

A Barragem Saracuruna também fica <strong>de</strong>ntro da zeia nº 15, a Reserva<br />

Biológica (rebio) <strong>de</strong> Tinguá. A represa <strong>de</strong> Saracuruna foi construída<br />

entre 1960 e 1962, com o objetivo <strong>de</strong> substituir a já existente barragem<br />

<strong>de</strong> Registro no fornecimento <strong>de</strong> água bruta para a reduc. A represa<br />

<strong>de</strong> Saracuruna conta com uma área <strong>de</strong> 43 km² e está dividida em duas<br />

partes. A parte superior da bacia é compartilhada com a cedae, que<br />

tem priorida<strong>de</strong> para as captações do sistema Acari. A porção inferior<br />

da bacia fica à jusante do ponto <strong>de</strong> captação da cedae. Devido à sua<br />

localização <strong>de</strong>ntro da Reserva Biológica <strong>de</strong> Tinguá, tem seus mananciais<br />

preservados da ocupação e exploração irregular, o que garante às suas<br />

águas uma boa qualida<strong>de</strong>.<br />

A barragem foi feita pela reduc e está <strong>de</strong>sativada há alguns<br />

anos. O caminho não é <strong>de</strong> fácil acesso, pois passa por algumas áreas<br />

alagadas. Em seu entorno, a represa conta com espécies nativas e exuberante<br />

vegetação <strong>de</strong> Mata Atlântica, assim como com áreas <strong>de</strong> clareira<br />

com vegetação rasteira. Todos concordaram que a represa foi o<br />

lugar mais impressionante visitado pela equipe no município <strong>de</strong> <strong>Duque</strong><br />

36 37<br />

<strong>de</strong> <strong>Caxias</strong>. Apesar <strong>de</strong> possuir um enorme potencial <strong>de</strong> uso como área<br />

<strong>de</strong> lazer, <strong>de</strong> contemplação, <strong>de</strong> conservação e <strong>de</strong> educação ambiental, a<br />

represa é consi<strong>de</strong>rada pela equipe da Secretaria <strong>de</strong> Meio Ambiente como<br />

o maior passivo ambiental do município atualmente.<br />

Logo após, seguimos para a entrada da represa Mantiqueira, administrada<br />

pela cedae, e que, junto com a represa Boa Esperança, abastece<br />

o Sistema Acari, no município vizinho <strong>de</strong> Belford Roxo.


27 <strong>de</strong> setembro<br />

Eu pretendo fazer um trabalho dialógico, ou<br />

seja, trocar experiências e tentar caracterizar<br />

a Geografia como ciência que trabalha com<br />

as <strong>de</strong>mandas dos diferentes territórios do<br />

espaço geográfico.<br />

Augusto César Pinheiro da Silva<br />

A visão da realida<strong>de</strong> local tem que estar<br />

acima <strong>de</strong> todas as coisas para que você<br />

possa pautar o técnico. Se você chegar só<br />

com a visão acadêmica, você se quebra. É<br />

preciso associar as duas visões.<br />

Wilson A. Leal Boiça<br />

A educação ambiental <strong>de</strong>ve gerar conhecimentos<br />

que sirvam à toda socieda<strong>de</strong>.<br />

Gerando mudanças na qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida<br />

e maior consciência na conduta pessoal,<br />

comunitária e populacional.<br />

Roosevelt Fi<strong>de</strong>les <strong>de</strong> Souza<br />

A situação atual é curiosa porque não existem<br />

mais problemas <strong>de</strong> técnica na questão<br />

ambiental, mas sim dificulda<strong>de</strong>s comportamentais<br />

– vivemos uma crise ética.<br />

Luiz Felipe Guanaes Rego<br />

38 39<br />

AULAS<br />

Eu entendo a cida<strong>de</strong> como um ecossistema.<br />

E eu não consigo pensá-la isolada <strong>de</strong><br />

nenhum outro ambiente, qualquer que seja a<br />

distância entre eles.<br />

Rita <strong>de</strong> Cássia Martins Montezuma<br />

11 <strong>de</strong> outubro<br />

A relação do homem com a natureza é tão<br />

intrínseca que muitas das vezes não percebemos<br />

que somos natureza tanto orgânica<br />

como socialmente, a segunda natureza, se é<br />

que po<strong>de</strong>mos separar essas dimensões.<br />

Regina Célia <strong>de</strong> Mattos


Os espaços “vazios” são cheios <strong>de</strong> valores e<br />

significados para a vida do município.<br />

Rogério Ribeiro <strong>de</strong> Oliveira<br />

O que é a cida<strong>de</strong>? Vocês já pararam para<br />

pensar que nós usamos as palavras ‘cida<strong>de</strong>’<br />

e ‘urbano’ como sinônimos? Será que elas<br />

não diferem em nada?<br />

Alvaro Ferreira<br />

18 <strong>de</strong> outubro<br />

25 <strong>de</strong> outubro<br />

Do ponto <strong>de</strong> vista da sustentabilida<strong>de</strong>, o<br />

encerramento do Aterro <strong>de</strong> Gramacho é bom<br />

para todo mundo. É bom para o bairro, é<br />

bom para os catadores, é bom para o trabalho<br />

<strong>de</strong> organização que a gente faz.<br />

Valeria Bastos<br />

40 41<br />

O objetivo maior do Direito Ambiental é proteger<br />

e preservar o meio ambiente.<br />

Virgínia Totti Guimarães


MAPAS<br />

O espaço geográfico é o espaço construído ou transformado pelo homem,<br />

sendo composto por elementos naturais e elementos antrópicos que<br />

interagem entre si. Esse espaço é uno e indivisível, formado por objetos<br />

e sistemas convergentes e/ou divergentes, concretos ou não. Para entendê-lo,<br />

apesar <strong>de</strong> seus elementos serem indissociáveis, existem métodos<br />

que permitem que o dividamos em temas. Esses temas que compõem<br />

o espaço geográfico po<strong>de</strong>m ser representados graficamente através dos<br />

mapas.<br />

A interação entre os mapas que representam os elementos (temas)<br />

que compõem um <strong>de</strong>terminado espaço permite a melhor compreensão<br />

do mesmo, suas especificida<strong>de</strong>s, similarida<strong>de</strong>s e interações com o<br />

entorno e o mundo.<br />

Vivemos, hoje, a era da imagem, da tv, da internet, da telefonia<br />

celular e das informações instantâneas. Há uma supervalorização da<br />

linguagem gráfica, da qual a cartografia e os mapas fazem parte, sendo,<br />

portanto, <strong>de</strong> suma importância o seu uso como facilitador para o entendimento<br />

dos mais diversos espaços e suas relações.<br />

O mapa é uma representação do espaço geográfico em um plano<br />

que se vale <strong>de</strong> códigos (imagens e símbolos) para indicar as feições presentes.<br />

Para usá-lo (lê-lo) é necessário a compreensão <strong>de</strong> alguns conceitos<br />

que são trabalhados na escola. Esse conjunto <strong>de</strong> conceitos é<br />

chamado <strong>de</strong> “elementos do mapa” e seu aprendizado é <strong>de</strong>nominado “alfabetização<br />

cartográfica”. Isso mesmo, na escola não apren<strong>de</strong>mos somente<br />

a ler e a escrever, mas <strong>de</strong>vemos também apren<strong>de</strong>r a ler mapas!<br />

Os elementos básicos que compõe um mapa são: o título, a simbologia<br />

(representação gráfica), o sistema <strong>de</strong> coor<strong>de</strong>nadas e <strong>de</strong> projeção,<br />

a legenda, a orientação, a fonte e a data da informação representada,<br />

a escala e o autor.<br />

42<br />

Elementos dos mapas<br />

Título — Define a área geográfica e o tema representado.<br />

Escala — Demonstra a relação entre o tamanho do espaço contido no<br />

mapa e as distâncias reais correspon<strong>de</strong>ntes no terreno.<br />

Simbologia (representação gráfica) — Permite a codificação da realida<strong>de</strong><br />

através <strong>de</strong> cores e símbolos gráficos expressos nos mapas.<br />

Sistema <strong>de</strong> coor<strong>de</strong>nadas e <strong>de</strong> projeção — Através das coor<strong>de</strong>nadas é<br />

possível localizar a área representada no mapa no Planeta Terra.<br />

Existem vários sistemas <strong>de</strong> coor<strong>de</strong>nadas que permitem a localização<br />

precisa <strong>de</strong> um ponto qualquer na superfície terrestre.<br />

Dentre eles o mais usual é o <strong>de</strong>nominado Coor<strong>de</strong>nadas Geográficas<br />

(latitu<strong>de</strong> e longitu<strong>de</strong>).<br />

A elaboração <strong>de</strong> uma mapa consiste em um método segundo o<br />

qual se faz correspon<strong>de</strong>r a cada ponto na superfície da Terra, em<br />

coor<strong>de</strong>nadas geográficas, um ponto no mapa, em coor<strong>de</strong>nadas<br />

planas. Para se obter essa correspondência utilizam-se os sistemas<br />

<strong>de</strong> projeções cartográficas.<br />

Legenda — I<strong>de</strong>ntifica as convenções utilizadas para representar os<br />

elementos contidos no mapa, permitindo a leitura das geometrias<br />

contidas no mapa.<br />

Orientação — Através da rosa-dos-ventos é feita a orientação dos<br />

mapas, indicando o Norte. Nela, a orientação Norte-Sul é consi<strong>de</strong>rada<br />

sobre qualquer paralelo e a orientação Leste-Oeste, sobre<br />

qualquer meridiano.<br />

Fonte — Indica quem gerou a informação representada ou, em alguns<br />

casos, quem fez o mapa.<br />

Data da informação representada — Indica quando o mapa foi feito ou<br />

quando a informação representada foi adquirida.<br />

Autor — Indica quem foi responsável pela elaboração do mapa.<br />

43<br />

0 2,5<br />

5 km<br />

22°30'S


Novas tecnologias, mapas interativos: Google Earth<br />

A criação e a apropriação <strong>de</strong> tecnologias pelo homem, por mais complexas<br />

que sejam, está ligada à i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> criar um meio facilitador do cotidiano<br />

das socieda<strong>de</strong>s e <strong>de</strong> suas ativida<strong>de</strong>s. Os gran<strong>de</strong>s avanços tecnológicos<br />

que a humanida<strong>de</strong> vem experimentando <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o século xx têm<br />

proporcionado, também, a evolução acelerada <strong>de</strong> tecnologias específicas<br />

ligadas à manipulação <strong>de</strong> dados espaciais ou dados geográficos, como<br />

os sistemas <strong>de</strong> informação geográfica, o sensoriamento remoto e o processamento<br />

digital <strong>de</strong> imagens.<br />

No âmbito <strong>de</strong>stas geotecnologias, po<strong>de</strong>mos <strong>de</strong>stacar especialmente<br />

a evolução dos sensores remotos, que saltaram <strong>de</strong> uma resolução espacial<br />

<strong>de</strong> 80 metros na década <strong>de</strong> 1970 do século passado para 0,5 metros<br />

disponíveis comercialmente hoje. Isso significa que, através <strong>de</strong> uma imagem<br />

<strong>de</strong> satélite, i<strong>de</strong>ntificávamos somente feições superiores a 80 metros<br />

e que hoje é possível i<strong>de</strong>ntificar alvos <strong>de</strong> apenas ½ metro. Realizando<br />

um exercício meramente especulativo, levando em consi<strong>de</strong>ração as imagens<br />

disponíveis comercialmente e suas altíssimas resoluções, po<strong>de</strong>mos<br />

imaginar o que já existe à disposição para fins militares, <strong>de</strong> inteligência<br />

e <strong>de</strong> espionagem em países que <strong>de</strong>senvolvem esses sensores, que fatalmente,<br />

no futuro, estarão disponíveis a todos.<br />

No entanto, o acesso a esse tipo <strong>de</strong> informação geográfica estava<br />

restrito a empresas, universida<strong>de</strong>s, instituições públicas e militares, já<br />

que para sua manipulação era necessário o uso <strong>de</strong> softwares caros e/ou<br />

um alto nível <strong>de</strong> conhecimento especializado. Visando preencher essa<br />

lacuna e <strong>de</strong>mocratizar <strong>de</strong> fato a informação geográfica, foi <strong>de</strong>senvolvido<br />

um programa chamado Google Earth, que utiliza a internet, maior fonte<br />

e repositório <strong>de</strong> informações existente na atualida<strong>de</strong>, como meio.<br />

O Google Earth permite à navegação, através <strong>de</strong> imagens <strong>de</strong> satélite<br />

<strong>de</strong> todo o globo terestre, localizar automaticamente lugares, girar<br />

imagens, mudar o ângulo <strong>de</strong> visão (visão tridimensional), criar marcadores<br />

espaciais e medir distâncias, entre outras funções. Sua base <strong>de</strong><br />

dados já possui planos <strong>de</strong> informação, como vias, se<strong>de</strong>s municipais,<br />

se<strong>de</strong>s distritais entre outros. Ainda permite que o usuário crie suas feições<br />

e as organize também em planos <strong>de</strong> informação. Os planos <strong>de</strong> informação<br />

criados são organizados em arquivos ‘.kml’ ou ‘.kmz’, ambos formatos<br />

do Google Earth, po<strong>de</strong>ndo ser disponibilizados a qualquer outro<br />

usuário.<br />

O projeto Formação <strong>de</strong> Valores Ético-Ambientais para o Exercício<br />

da Cidadania no Município <strong>de</strong> <strong>Duque</strong> <strong>de</strong> <strong>Caxias</strong> disponibiliza, através<br />

do seu website, alguns planos <strong>de</strong> informação, já customizados, <strong>de</strong><br />

temas sobre o município.<br />

44<br />

Descrição dos mapas<br />

Para a construção <strong>de</strong> uma política <strong>de</strong> gestão ambiental – entendida como<br />

o controle dos organismos públicos e/ou privados e da socieda<strong>de</strong> civil<br />

sobre o uso dos recursos socioambientais, utilizando para tanto uma<br />

lógica <strong>de</strong>terminada, que inclui instrumentos reguladores e <strong>de</strong> incentivo –<br />

é necessário, antes, um claro entendimento dos processos <strong>de</strong> criação e <strong>de</strong><br />

reprodução da or<strong>de</strong>m territorial em questão e das condicionantes socioambientais<br />

da região estudada.<br />

Nesse contexto, o <strong>de</strong>senvolvimento sustentável é um conceito-chave<br />

porque abre o questionamento sobre a utilização/reprodução racional dos<br />

recursos socioambientais respeitando, assim, não só as especificida<strong>de</strong>s<br />

naturais <strong>de</strong> um <strong>de</strong>terminado território, mas também as variáveis sociais,<br />

econômicas e culturais. Esse fato torna imprescindível um conhecimento<br />

especializado <strong>de</strong> uma <strong>de</strong>terminada ciência e uma visão holística espacializada<br />

das diversas forças atuantes nesse espaço, naturais e/ou antrópicas,<br />

sendo necessário enten<strong>de</strong>r essa “costura” para futuramente, então,<br />

propor alternativas sustentáveis.<br />

Com o passar dos anos, os avanços tecnológicos vão encurtando<br />

os espaços e <strong>de</strong>rrubando fronteiras. Essa situação ten<strong>de</strong> a agravar-se,<br />

fazendo urgir, emergencialmente, a construção <strong>de</strong> um mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> gestão<br />

ambiental para <strong>Duque</strong> <strong>de</strong> <strong>Caxias</strong>. Para a construção <strong>de</strong>sse mo<strong>de</strong>lo se faz<br />

necessário, previamente, o conhecimento da realida<strong>de</strong> local, possível através<br />

da caracterização das condicionantes socioambientais, cumprindo,<br />

assim, os objetivos pretendidos pelo projeto.<br />

A representação espacial das informações é fundamental para a<br />

análise integrada, por proporcionar um quadro ambiental <strong>de</strong> referência<br />

para a área <strong>de</strong> estudo, facilitando a <strong>de</strong>terminação <strong>de</strong> áreas críticas do<br />

ponto <strong>de</strong> vista <strong>de</strong> <strong>de</strong>gradação socioambiental. Outra vantagem proporcionada<br />

é a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> ser observada a evolução temporal <strong>de</strong> <strong>de</strong>terminados<br />

processos, principalmente aqueles relacionados à ocupação ao<br />

uso do solo, bem como à perda <strong>de</strong> cobertura vegetal, levando à indicação<br />

daqueles que se configuram como mais críticos.<br />

A integração entre a informação e a educação é vital para o sucesso<br />

<strong>de</strong> uma ação na área ambiental, pois é na sala <strong>de</strong> aula que estão sendo<br />

cunhados novos cidadãos que, assim, serão capazes, em um futuro próximo,<br />

<strong>de</strong> exercer <strong>de</strong> forma crítica a sua cidadania. Cidadãos conhecedores<br />

da realida<strong>de</strong> do seu município (pensar global, agindo local) são capazes<br />

<strong>de</strong> transformá-la para melhor, contribuindo, <strong>de</strong> fato, para uma melhoria<br />

na qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida em geral.<br />

45


Fontes: Plano Diretor <strong>de</strong> Recursos Hídricos da Região Hidrográfica da Baía <strong>de</strong> Guanabara – PDRH-BG (2005)<br />

Geomorfologia Geologia<br />

Depressão Fluvio-Lacustre<br />

Planície Alúvio-Colúvio<br />

(Argilosos, Arenosos ou Indiferenciados)<br />

Escarpas Serranas<br />

Talus / Colúvio<br />

Colinas<br />

Maciços Costeiros Interiores<br />

Maciços Intrusivos Alcalinos<br />

Planície Fluvio-Marinha<br />

Tabuleiros<br />

5 2,5<br />

0 5 Km<br />

5 2,5<br />

0<br />

5 Km<br />

22°30'S<br />

22°40'S<br />

Falha e/ou Fratura<br />

Falha e/ou Fratura Encoberta<br />

Falha e/ou Fratura Inferida<br />

Falha Verticalizada<br />

Zona <strong>de</strong> Brecha Preenchida<br />

<strong>de</strong> Mat. Silici<br />

Sedimentos Fluviais / Aluviais<br />

Sedimentos Paludiais<br />

Formação Caceribu<br />

Formação Macacu<br />

Intrusivas Ácidas Homogênea<br />

e Deformadas<br />

Alcalinas <strong>de</strong> Canaã<br />

Unida<strong>de</strong> Serra dos Órgãos<br />

Complexo <strong>Rio</strong> Negro<br />

46 43°20'W 43°20'W<br />

47<br />

22°30'S<br />

22°40'S<br />

Fontes: CIDE 2002 ; IBGE 2000 ; PDBG 2000 Produzido por LabGis <strong>PUC</strong>-<strong>Rio</strong> 2009


Fonte: CIDE 2002 Produzido por LabGis <strong>PUC</strong>-<strong>Rio</strong> 2009<br />

Uso do Solo e<br />

Cobertura Vegetal<br />

Campo / Pastagem<br />

Afloramento Rochoso<br />

Encosta Degradada<br />

Vegetação Secundária<br />

Floresta Ombrófila<br />

Mangue<br />

Mangue Degradado<br />

Várzea<br />

Área Agrícola<br />

Solo Exposto<br />

<strong>Rio</strong>s, Lagos, Lagoas etc<br />

Área Inundável<br />

Área Urbana <strong>de</strong> Baixa Densida<strong>de</strong><br />

Área Urbana <strong>de</strong> Média Densida<strong>de</strong><br />

Gran<strong>de</strong>s Construções<br />

5 2,5<br />

0 5 Km<br />

5 2,5<br />

0<br />

5 Km<br />

22°30'S<br />

22°40'S<br />

Hidrografia<br />

Cursos d’Água<br />

Lagos, Lagoas e<br />

Barragens<br />

48 43°20'W 43°20'W<br />

49<br />

<strong>Rio</strong> Tinguá<br />

<strong>Rio</strong> Tinguá<br />

<strong>Rio</strong> Boa Esperança<br />

<strong>Rio</strong> Pati<br />

Canal Ban<strong>de</strong>ira<br />

Canal Capivari<br />

<strong>Rio</strong> Capivari<br />

<strong>Rio</strong> Ramos<br />

<strong>Rio</strong> João Pinto<br />

<strong>Rio</strong> Iguaçu<br />

<strong>Rio</strong> Calombé<br />

<strong>Rio</strong> Pilar<br />

<strong>Rio</strong> São João <strong>de</strong> Meriti<br />

Barragem<br />

Saracuruna<br />

(Petrobrás)<br />

Canal do Mato Grosso<br />

<strong>Rio</strong> Santo Antonio<br />

Canal Iguaçu<br />

Canal Sarapuí<br />

<strong>Rio</strong> Saracuruna<br />

<strong>Rio</strong> Roncador<br />

Canal da Constância<br />

<strong>Rio</strong> Taquara<br />

Canal do Imbariê<br />

<strong>Rio</strong> Estrela<br />

22°30'S<br />

22°40'S<br />

Fontes: FUNDREM (1975/1976) Produzido por LabGis <strong>PUC</strong>-<strong>Rio</strong> 2009


Fonte: Secretaria Municipal <strong>de</strong> Urbanismo da Prefeitura <strong>de</strong> <strong>Duque</strong> <strong>de</strong> <strong>Caxias</strong> Produzido por Fundação Dom Cintra 2006<br />

5 2,5<br />

0<br />

5 Km<br />

Zonas Especiais Área Urbana<br />

Interesse <strong>de</strong> Negócios<br />

I Estrela<br />

II Figueira<br />

III Campos Elísios<br />

IV Jardim Gramacho<br />

V Xerém<br />

VI Meriti<br />

VII Centro Atacadista<br />

Interesse Social<br />

1 Vila Nova (Lixão)<br />

2 Vila I<strong>de</strong>al<br />

3 Dique da Prainha (parte)<br />

4 São Sebastião (parte)<br />

5 Parque Brasil Novo<br />

6 Vila Operária (parte)<br />

7 Copacabana<br />

8 Fronteira<br />

9 Vila São Sebastião (parte)<br />

10 Teixeira Men<strong>de</strong>s (parte)<br />

11 São Borja (parte)<br />

12 Ca<strong>de</strong>úba (parte)<br />

13 Pistóia<br />

14 Anajás<br />

15 Cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Deus<br />

16 Vila Fraternida<strong>de</strong> (parte)<br />

17 Marquesa <strong>de</strong> Santos<br />

18 Morro da Costela<br />

19 Aliado (parte)<br />

20 Cachopa<br />

21 Vai Quem Quer (parte)<br />

22 Rua Ceará<br />

23 Vila Aracy<br />

24 Vila Cabral (parte)<br />

25 Santa Lucia (parte)<br />

REBIO Tinguá<br />

ZIA <strong>de</strong> Xerém<br />

ZIA do <strong>Rio</strong> Capivari ZIA da Taquara<br />

ZIA do <strong>Rio</strong> Saracuruna<br />

ZIA do <strong>Rio</strong> Pilar<br />

ZIA Cida<strong>de</strong> dos Meninos<br />

Estrada Real<br />

São Bento – Pilar<br />

ZIA do <strong>Rio</strong> Sarapuí<br />

3<br />

18<br />

17<br />

16<br />

4<br />

2<br />

26<br />

1<br />

7<br />

5<br />

10<br />

ZIA do Parque Glicério<br />

II<br />

VII<br />

11<br />

6<br />

8<br />

V<br />

20<br />

9<br />

21<br />

22<br />

III<br />

12<br />

ZIA do <strong>Rio</strong> Roncador<br />

27<br />

13<br />

14<br />

15<br />

VI<br />

19<br />

APA <strong>de</strong> Petrópolis<br />

ZIA da Caixa D’Água<br />

APA <strong>de</strong> São Bento<br />

IV<br />

Estrada Real<br />

Mantiquira – Tinguá<br />

ZIA do Cangulo<br />

I<br />

VII<br />

Estrada Real<br />

Automóvel Clube<br />

25<br />

Interesse Turístico<br />

Interesse Rural<br />

24<br />

23<br />

APP do Mangue<br />

Interesse Ambiental<br />

Rodovia Fe<strong>de</strong>ral<br />

Rodovia Estadual<br />

Distritos<br />

Área Urbana<br />

5 2,5<br />

0<br />

5 Km<br />

26 Jardim da Paz (parte)<br />

50 43°20'W 43°20'W<br />

51<br />

27 Vasquinho<br />

22°30'S<br />

22°40'S<br />

Fontes: CIDE 2002 ; IBGE 2000 ; PDBG 2002 Produzido por LabGis <strong>PUC</strong>-<strong>Rio</strong> 2009


Fontes: CIDE 2002 ; IBGE 2000 ; PDBG 2002 ; PMDC 2006 Produzido por LabGis <strong>PUC</strong>-<strong>Rio</strong> 2009<br />

Unida<strong>de</strong>s <strong>de</strong><br />

Conservação<br />

Proteção Integral<br />

Uso sustentável<br />

APA Tinguá<br />

Reserva Biológica do Tinguá<br />

Parque da Caixa D’Água<br />

APA São Bento<br />

5 2,5<br />

0 5 Km<br />

5 2,5<br />

0<br />

5 Km<br />

APA Estrela<br />

APA Petrópolis<br />

Parque da Taquara<br />

22°30'S<br />

22°40'S<br />

Rodovias<br />

52 43°20'W 43°20'W<br />

53<br />

RJ-116<br />

RJ-105<br />

RJ-085<br />

RJ-085<br />

RJ-071<br />

RJ-101<br />

RJ-115<br />

BR-040<br />

BR-040<br />

BR-040<br />

RJ-071<br />

BR-116<br />

RJ-107<br />

Rodovias<br />

Fe<strong>de</strong>rais<br />

Estaduais<br />

Municipais<br />

Fontes: CIDE 2002 ; IBGE 2000 Produzido por LabGis <strong>PUC</strong>-<strong>Rio</strong> 2009


Região Metropolitana do <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> Janeiro, segundo<br />

número <strong>de</strong> domicílios e esgotamento sanitário<br />

Fontes: IBGE 2000 Produzido por LabGis <strong>PUC</strong>-<strong>Rio</strong> 2009 Fontes: IBGE 2000 Produzido por LabGis <strong>PUC</strong>-<strong>Rio</strong> 2009<br />

Re<strong>de</strong> Geral<br />

7.189<br />

Fossa ou Sumidouro<br />

7.190 – 10.000<br />

Outra Formas<br />

10.001 – 30.000<br />

Sem instalação Sanitária<br />

30.001 – 100.000<br />

100.001 – 250.000<br />

250.001 – 1.000.000<br />

1.000.001 – 1.801.863<br />

54 55<br />

Região Metropolitana do <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> Janeiro, segundo<br />

número <strong>de</strong> domicílios e abastecimento <strong>de</strong> água<br />

Re<strong>de</strong> Geral<br />

7.189<br />

Fossa ou Sumidouro<br />

7.190 – 10.000<br />

Outra Formas<br />

10.001 – 30.000<br />

Sem instalação Sanitária<br />

30.001 – 100.000<br />

100.001 – 250.000<br />

250.001 – 1.000.000<br />

1.000.001 – 1.801.863


Alvaro Ferreira<br />

artigos<br />

Algumas reflexões para ajudar a<br />

enten<strong>de</strong>r a produção <strong>de</strong>sigual do<br />

espaço urbano em <strong>Duque</strong> <strong>de</strong> <strong>Caxias</strong><br />

Partiremos <strong>de</strong> uma questão: o que é a cida<strong>de</strong>? Esta pergunta é muito<br />

importante pois, em geral, todos sabem o que é, contudo, ao tentar respon<strong>de</strong>r,<br />

nos vemos enrascados. Para uma gran<strong>de</strong> parte <strong>de</strong> autores, a<br />

cida<strong>de</strong> se caracteriza pela concentração <strong>de</strong> uma certa quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

população, uma certa <strong>de</strong>nsida<strong>de</strong> física, a presença <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong>s não<br />

diretamente ligadas à produção do campo e um modo <strong>de</strong> vida distinto<br />

do que prevalece em áreas que se qualificam como rurais.<br />

Essa resposta obriga-nos a formular outra pergunta: isso é suficiente<br />

para <strong>de</strong>finir uma cida<strong>de</strong>? As cida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> hoje são mais complexas,<br />

superando o marco <strong>de</strong> suas dimensões <strong>de</strong>mográficas, morfológicas ou<br />

econômicas – a elas múltiplas dimensões são incorporadas.<br />

A diferenciação entre o urbano e o rural se torna cada vez mais<br />

borrada. Mas aqui, já trouxemos outro elemento para o <strong>de</strong>bate: o<br />

urbano. Normalmente, cida<strong>de</strong> e urbano são entendidos como sinônimos,<br />

o que é um equívoco. O urbano transcen<strong>de</strong> a cida<strong>de</strong> e ganha o planeta,<br />

já que, atualmente, alcança todos os lugares, pois incorpora valores,<br />

<strong>de</strong>sejos <strong>de</strong> consumo, formas <strong>de</strong> trabalho e o tempo da metrópole.<br />

Assim, mesmo áreas ditas rurais apresentam elementos e indícios que<br />

nos remetem ao urbano. São modos <strong>de</strong> vestir e <strong>de</strong> falar, formas <strong>de</strong> consumo,<br />

incorporação <strong>de</strong> tecnologias, formas <strong>de</strong> trabalho e <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong>s<br />

típicas das cida<strong>de</strong>s que a<strong>de</strong>ntram o rural. Por isso Rua (2006) acredita<br />

tratarem-se <strong>de</strong> urbanida<strong>de</strong>s no rural.<br />

A cida<strong>de</strong> está ligada à morfologia e à organização espacial, ao<br />

passo que o urbano realiza-se como práxis na cida<strong>de</strong>, através das ativida<strong>de</strong>s<br />

políticas, econômicas e culturais, reunindo assim todos os elementos<br />

da vida social (lefebvre, 2008).<br />

As cida<strong>de</strong>s são a materialização <strong>de</strong> momentos históricos que incorporam<br />

todas as contradições, todas as tensões da socieda<strong>de</strong>. Por isso,<br />

é possível pensarmos nas diversas formas <strong>de</strong> cida<strong>de</strong> através do tempo<br />

(e todas eram igualmente chamadas <strong>de</strong> cida<strong>de</strong>s) como uma contradição<br />

54 55 alvaro ferreira<br />

expressa pelas relações sociais.<br />

O município <strong>de</strong> <strong>Duque</strong> <strong>de</strong> <strong>Caxias</strong> apresenta, também, enormes<br />

contradições: áreas ricas e áreas sem condições mínimas <strong>de</strong> sobrevivência,<br />

bairros bem servidos pelo sistema <strong>de</strong> transporte e outros em<br />

que o serviço é precaríssimo, distritos atendidos por escolas e hospitais<br />

públicos e distritos carentes <strong>de</strong>sses serviços, áreas com alta <strong>de</strong>nsida<strong>de</strong><br />

populacional e áreas com baixa <strong>de</strong>nsida<strong>de</strong> populacional, entre outras<br />

incoerências. Este breve artigo não almeja dar conta especificamente<br />

<strong>de</strong> todas essas contradições, mas objetiva trazer elementos para uma<br />

reflexão acerca da produção <strong>de</strong>sigual do espaço urbano <strong>de</strong> <strong>Duque</strong> <strong>de</strong><br />

<strong>Caxias</strong> e contribuir apontando para a necessida<strong>de</strong> da mobilização social<br />

em busca <strong>de</strong> melhores condições <strong>de</strong> vida e do direito à cida<strong>de</strong>.<br />

A ênfase no processo geral <strong>de</strong> urbanização dificulta a percepção<br />

das diferenciações internas entre os lugares e, muitas vezes, o asfaltamento<br />

e a criação <strong>de</strong> ‘praças’ parece ser suficiente aos olhos dos órgãos<br />

<strong>de</strong> governo.<br />

Por outro lado, há simultaneamente uma impressão <strong>de</strong> características<br />

da metrópole carioca em <strong>de</strong>terminados bairros caxienses, como por<br />

exemplo a construção <strong>de</strong> condomínios fechados. O que acaba fazendo<br />

com que não somente as práticas sociais, mas inclusive as i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>s<br />

dos lugares fiquem sujeitas à valores e necessida<strong>de</strong>s que se referem<br />

à capital do Estado. É necessário ter em conta as necessida<strong>de</strong>s dos<br />

moradores.<br />

Há um gran<strong>de</strong> <strong>de</strong>ficit habitacional em <strong>Duque</strong> <strong>de</strong> <strong>Caxias</strong> e os programas<br />

<strong>de</strong> habitação popular têm se mostrado insuficientes. Recentemente,<br />

em meados <strong>de</strong> 2008, a Secretaria Municipal <strong>de</strong> Urbanismo divulgou<br />

que a Prefeitura começara a entregar as escrituras <strong>de</strong>finitivas dos<br />

imóveis do Conjunto Resi<strong>de</strong>ncial Santa Alice, Nossa Senhora das Graças<br />

e Salgado Filho, em Xerém. Em princípio, seriam beneficiadas 700<br />

famílias que ocupam casas e apartamentos funcionais da antiga Fábrica<br />

Nacional <strong>de</strong> Motores (fnm), construídas na década <strong>de</strong> 1950. Embora a<br />

Secretária divulgue essa notícia como política para redução do <strong>de</strong>ficit<br />

habitacional, essas famílias já moravam no local.<br />

Houve também, seguindo os mol<strong>de</strong>s <strong>de</strong> outros municípios, a abertura<br />

<strong>de</strong> inscrições para o financiamento da casa própria, em parceria<br />

com a Caixa Econômica Fe<strong>de</strong>ral, para funcionários municipais com<br />

renda superior a R$ 1.350. Os imóveis, localizados no condomínio Via-<br />

Parque, em Santa Cruz da Serra (Terceiro Distrito), referem-se a 99<br />

casas <strong>de</strong> 48 m². Medida que aten<strong>de</strong> a uma população específica e em<br />

condições específicas.<br />

Em janeiro <strong>de</strong> 2008, a Secretaria Municipal <strong>de</strong> Urbanismo promoveu<br />

e divulgou, no site da Prefeitura a assinatura <strong>de</strong> escritura da casa<br />

própria <strong>de</strong> 1.067 casas populares, referentes a um projeto <strong>de</strong>nominado<br />

Pedacinho do Céu. Esse projeto beneficiaria moradores <strong>de</strong> áreas consi<strong>de</strong>radas<br />

<strong>de</strong> risco, como Jardim Gramacho, Sarapuí – Favela do Dique –


e Parque Beira-Mar. Os conjuntos habitacionais seriam construídos em<br />

Jardim Gramacho, Parque Paulista, Parque Beira-Mar, Jardim Anhangá<br />

e Parque Marilândia. Eram imóveis com 42 m² e estariam todos prontos<br />

em 14 meses. Portanto, em março <strong>de</strong> 2009 <strong>de</strong>veriam estar prontos.<br />

Como andam as obras? É preciso que se cobre mais que o discurso<br />

apenas.<br />

O Produto Interno Bruto (pib) do município <strong>de</strong> <strong>Duque</strong> <strong>de</strong> <strong>Caxias</strong><br />

está entre os maiores das cida<strong>de</strong>s brasileiras, alcançando até pouco<br />

tempo atrás (2003) o nono lugar do ranking nacional. Apenas para que<br />

tenhamos uma idéia do que isso significa, as <strong>de</strong>z primeiras cida<strong>de</strong>s do<br />

ranking representam 25% do pib nacional. Ainda assim, são inúmeros<br />

os problemas que assolam o município e, para complicar ainda mais,<br />

há gran<strong>de</strong> discrepância no que se refere ao percentual <strong>de</strong> investimentos<br />

aplicados em cada distrito. Portanto, cada vez mais se acirram as<br />

condições <strong>de</strong>siguais no município. Tem sido cada vez maior o número<br />

<strong>de</strong> lançamentos <strong>de</strong> condomínios <strong>de</strong> luxo no Bairro 25 <strong>de</strong> Agosto, como<br />

po<strong>de</strong>mos observar no anúncio veiculado em panfletos e na Internet:<br />

Quer ser chic? Venha morar no Resi<strong>de</strong>ncial Elegance! Seis apartamentos<br />

por andar com lazer completo. Nove andares, apartamentos<br />

tipo coberturas. Até dois estacionamentos por unida<strong>de</strong>. Opção <strong>de</strong> cozinha<br />

americana. Lazer completo com boliche, espaço beleza, game<br />

zone, lan house, fitness, spa, sauna, recreação infantil, brinquedoteca,<br />

piscinas adulto e infantil, home office, lounge gourmet, salão<br />

<strong>de</strong> festas, churrasqueira com forno <strong>de</strong> pizza e car wash. Fachada<br />

sofisticada revestida em cerâmica. Piso da sala em porcelanato e<br />

cerâmica nos quartos. Biometria digital.<br />

O projeto do prédio po<strong>de</strong>ria estar vinculado à qualquer lançamento na<br />

Zona Sul ou Zona Oeste litorânea do município do <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> Janeiro; inclusive<br />

com um projeto que traz, em sua área <strong>de</strong> lazer, uma sala <strong>de</strong> boliche<br />

privativa e um spa.<br />

Se não faltam lançamentos <strong>de</strong>sse tipo no bairro principal <strong>de</strong> <strong>Duque</strong><br />

<strong>de</strong> <strong>Caxias</strong>, o mesmo não se po<strong>de</strong> dizer do restante da cida<strong>de</strong>, que sofre<br />

com a falta <strong>de</strong> saneamento e <strong>de</strong> equipamentos urbanos básicos. É necessário<br />

que se cobre o acesso da população aos distintos equipamentos<br />

urbanos, ao lazer, à reunião e à informação pelos diferentes atores<br />

sociais, pois a reprodução <strong>de</strong>sigual das relações sociais se acirra através<br />

da dominação, por poucos, do espaço urbano. A população que vive<br />

no município com um pib em torno <strong>de</strong> R$ 20 bilhões, precisa ter direito<br />

à cida<strong>de</strong>.<br />

E o direito à cida<strong>de</strong> é mais do que um habitat, é o direito a habitar.<br />

O habitat liga-se à morfologia urbana, mas o habitar é uma ativida<strong>de</strong>.<br />

Referimo-nos à apropriação (lefebvre, 1978). Habitar é apropriar-se<br />

56 ...a produção <strong>de</strong>sigual do espaço urbano... 57 alvaro ferreira<br />

<strong>de</strong> algo, o que é bastante diferente <strong>de</strong> tê-lo como proprieda<strong>de</strong>. Significa<br />

fazer do espaço sua obra, mo<strong>de</strong>lá-lo, apropriar-se <strong>de</strong>le. Mas é também<br />

o lugar dos conflitos, porque o espaço é um produto social, mas é também<br />

produtor, já que as formas construídas interferem no cotidiano da<br />

socieda<strong>de</strong>. A produção do espaço traz consigo uma intencionalida<strong>de</strong>,<br />

por isso é o lugar dos conflitos. É preciso questionar a forma como ele é<br />

produzido e buscar fazê-lo <strong>de</strong> outra maneira, com outros objetivos que<br />

não priorizem a especulação e a dominação do espaço. Em outras palavras:<br />

para mudar a vida é preciso mudar o espaço, é preciso questionar<br />

a proprieda<strong>de</strong> privada do solo, é preciso valorizar o espaço público,<br />

lutar por ele e contra o movimento dos condomínios fechados, das ruas<br />

fechadas. Porque, como afirma Lefebvre (2008) “excluir do urbano grupos,<br />

classes, indivíduos implica também excluí-los da civilização, até<br />

mesmo da socieda<strong>de</strong>”.<br />

Importa romper com a força que a tecnocracia tem ao empreen<strong>de</strong>r<br />

seus projetos e propostas, pois o conhecimento técnico <strong>de</strong>sprendido<br />

da abertura para ouvir os citadinos <strong>de</strong> nada vale. O Estado tem sempre<br />

prescindido da participação dos interessados. É necessário fazer-se<br />

ouvir, mostrar aos políticos e aos tecnocratas aquilo que verda<strong>de</strong>iramente<br />

interessa à população.<br />

Mas cuidado! O direito à cida<strong>de</strong> não se refere a uma espécie <strong>de</strong><br />

direito contratual, que se realiza apenas pelo Estado. Participação não<br />

significa reunir algumas <strong>de</strong>zenas ou centenas <strong>de</strong> pessoas e apresentar-lhes<br />

um projeto <strong>de</strong> intervenções urbanas ou apresentar-lhes o que<br />

será realizado. Isso <strong>de</strong>finitivamente não é participação; é praticamente<br />

apenas uma forma <strong>de</strong> publicida<strong>de</strong> em duplo sentido: o primeiro preten<strong>de</strong><br />

apresentar as propostas do governo e o segundo, fazer crer que o<br />

governo implementa a participação popular.<br />

A verda<strong>de</strong>ira participação <strong>de</strong>ve partir da população e <strong>de</strong>ve ser ativa<br />

e constante; não <strong>de</strong>ve esmorecer após a conquista dos primeiros resultados,<br />

ao contrário, essa conquista <strong>de</strong>ve significar que é possível transformar.<br />

Esse é o momento <strong>de</strong> reavaliar os resultados e lutar por novas<br />

conquistas. Feito assim, estaremos <strong>de</strong>ixando <strong>de</strong> ser apenas citadinos<br />

para sermos verda<strong>de</strong>iros cidadãos.


Bibliografia<br />

lefebvre, Henri. Espaço e política. Belo Horizonte: ufmg, 2008.<br />

lefebvre, Henri. De lo rural a lo urbano. Barcelona: Península, 1978.<br />

rua, João. Urbanida<strong>de</strong>s no Rural: o <strong>de</strong>vir <strong>de</strong> novas territorialida<strong>de</strong>s. In: Campo-<br />

Território. Revista <strong>de</strong> Geografia Agrária v. 1, n. 1, 2006<br />

http://www.duque<strong>de</strong>caxias.rj.gov.br<br />

Alvaro Ferreira<br />

Possui graduação em geografia pela Universida<strong>de</strong> do Estado do <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> Janeiro<br />

(1996), mestrado em Planejamento Urbano e Regional pelo ippur da Universida<strong>de</strong><br />

Fe<strong>de</strong>ral do <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> Janeiro (1999) e doutorado em Geografia (Geografia Humana)<br />

pela Universida<strong>de</strong> <strong>de</strong> São Paulo (2003). Atualmente realiza pós-doutoramento com<br />

o Prof. Horacio Capel na Universitat <strong>de</strong> Barcelona. É professor do Departamento <strong>de</strong><br />

Geografia e do Programa <strong>de</strong> Pós-Graduação em Geografia da Pontifícia Universida<strong>de</strong><br />

Católica do <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> Janeiro (puc-<strong>Rio</strong>) e professor adjunto da Universida<strong>de</strong> do Estado<br />

do <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> Janeiro (uerj). Participa como lí<strong>de</strong>r no grupo <strong>de</strong> pesquisa <strong>de</strong>nominado<br />

Núcleo <strong>de</strong> Estudos e Pesquisa em Espaço e Metropolização (nepem) e no Núcleo<br />

Interdisciplinar <strong>de</strong> Estudos do Espaço da Baixada Fluminense (niesbf); e como<br />

pesquisador do Núcleo <strong>de</strong> Estudos <strong>de</strong> Geografia Fluminense (negef). Tem partici-<br />

pado <strong>de</strong> congressos no Brasil e no exterior, além <strong>de</strong> produzir artigos em períodicos<br />

nacionais e internacionais principalmente ligados aos seguintes temas: (re)produ-<br />

ção do espaço urbano; tecnologias <strong>de</strong> comunicação e informação e as novas espa-<br />

cialida<strong>de</strong>s nas cida<strong>de</strong>s; representações no espaço urbano; relações <strong>de</strong> trabalho e o<br />

espaço urbano; espaço e movimentos sociais.<br />

alvaro_ferreira@puc-rio.br<br />

Apresentação<br />

58 ...a produção <strong>de</strong>sigual do espaço urbano... 59<br />

Augusto César Pinheiro da Silva<br />

Rosana Cristine Machado <strong>de</strong> Oliveira<br />

<strong>Duque</strong> <strong>de</strong> <strong>Caxias</strong>, município<br />

da região Baixada Fluminense:<br />

po<strong>de</strong>r local, gestão do território<br />

e política pública no Estado<br />

do <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> Janeiro.<br />

O projeto Educação Ambiental: Formação <strong>de</strong> valores ético-ambientais<br />

para o exercício da cidadania no município <strong>de</strong> <strong>Duque</strong> da <strong>Caxias</strong>, <strong>de</strong>senvolvido<br />

pelo Núcleo Interdisciplinar <strong>de</strong> Meio Ambiente (nima) da puc-<br />

<strong>Rio</strong> e financiado pela empresa Petróleo do Brasil s.a. (Petrobras), vem<br />

apoiar as pesquisas socioespaciais sobre o <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> Janeiro, em suas<br />

múltiplas dimensões, <strong>de</strong>senvolvidas pelos grupos acadêmicos do Departamento<br />

<strong>de</strong> Geografia da instituição há vários anos. Dos grupos existentes,<br />

o geterj (Gestão Territorial no Estado do <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> Janeiro) implementa,<br />

<strong>de</strong>s<strong>de</strong> 2002, duas linhas <strong>de</strong> investigação: a primeira, <strong>de</strong>nominada<br />

Espaço Carioca e suas Desigualda<strong>de</strong>s e a segunda, Território Fluminense<br />

e suas Sustentabilida<strong>de</strong>s através das quais monografias, dissertações<br />

<strong>de</strong> mestrado e eventos científicos, <strong>de</strong> enfoque geográfico e ciências afins,<br />

ligados ao tema <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> Janeiro vêm sendo produzidos.<br />

Entre as temáticas <strong>de</strong> <strong>de</strong>staque no grupo, a geografia política e a<br />

gestão do território no <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> Janeiro são foco <strong>de</strong> interesse acadêmico<br />

crescente, <strong>de</strong>vido às transformações jurídico-administrativas pelas quais<br />

o estado brasileiro vem passando nos últimos 30 anos, notadamente<br />

após a abertura política <strong>de</strong> 1979 (<strong>de</strong>z anos <strong>de</strong>pois dos atos institucionais<br />

que abalaram gravemente a <strong>de</strong>mocracia brasileira) e da <strong>de</strong>finição da<br />

atual carta magna, em vigência no país <strong>de</strong>s<strong>de</strong> 1988. Com a constituição<br />

fe<strong>de</strong>ralista em vigor, os po<strong>de</strong>res locais no Brasil passaram a ter maior<br />

força <strong>de</strong> gestão sobre os seus territórios institucionalmente <strong>de</strong>finidos.<br />

Unida<strong>de</strong>s subnacionais (estados) e municípios passaram a atuar, mais<br />

efetivamente, nas realida<strong>de</strong>s logísticas, ambientais, sociais e econômi-


cas dos espaços geográficos sob a sua tutela político-representativa.<br />

Governos <strong>de</strong> estado e prefeituras, juntamente com atores sociais<br />

não-governamentais, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> então vão travando estratégias <strong>de</strong> gestão<br />

frente a <strong>de</strong>mandas espaciais específicas, o que impõe às socieda<strong>de</strong>s<br />

locais a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> um maior conhecimento e <strong>de</strong> uma participação<br />

sobre os governos estaduais e municipais, para que estes ajam mais<br />

ativamente na redução das <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong>s socioespaciais e ambientais<br />

tão comuns nas áreas pobres do planeta.<br />

Nesse sentido, as escolas <strong>de</strong> ensino básico dos municípios <strong>de</strong>vem<br />

ser, assim como outros estabelecimentos educacionais do país, lócus<br />

<strong>de</strong> produção <strong>de</strong> conhecimento socioespacial e ambiental e, portanto, <strong>de</strong><br />

educação político-participativa <strong>de</strong> crianças, jovens e adultos em prol<br />

da sustentabilida<strong>de</strong>. Discussões sobre outras possibilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> gestão<br />

dos recursos diversos, além das competências dos po<strong>de</strong>res instituídos,<br />

<strong>de</strong>vem ser somadas ao <strong>de</strong>bate político-pedagógico, sendo que este cabe<br />

às escolas, não só através das aulas regulares e <strong>de</strong> conteúdos específicos,<br />

mas também pela participação crescente <strong>de</strong> professores, corpos<br />

pedagógicos e administrativos, e <strong>de</strong> discentes em geral, no fazer político<br />

dos territórios.<br />

O texto a seguir procura abrir perspectivas <strong>de</strong> educação política<br />

para os professores da re<strong>de</strong> municipal <strong>de</strong> <strong>Duque</strong> <strong>de</strong> <strong>Caxias</strong>, afim <strong>de</strong> que<br />

eles sintam-se mais do que meros coadjuvantes nos processos <strong>de</strong>cisórios<br />

locais. Cabe aos profissionais <strong>de</strong> ensino ser elementos ativos na<br />

transformação socioespacial <strong>de</strong>vido à responsabilida<strong>de</strong>, em parte, pela<br />

formação das racionalida<strong>de</strong>s presentes e futuras das populações municipais,<br />

ou seja, o elo vital na estruturação <strong>de</strong> mentalida<strong>de</strong>s participativas,<br />

questionadoras, reflexivas e valorizadoras das potencialida<strong>de</strong>s e<br />

recursos humanos e ambientais locais.<br />

Como exemplo <strong>de</strong> temáticas que po<strong>de</strong>m ser instrumentos <strong>de</strong> educação<br />

política e ambiental para os professores e alunos <strong>de</strong> <strong>Duque</strong> <strong>de</strong><br />

<strong>Caxias</strong>, no âmbito da formação básica, po<strong>de</strong>mos <strong>de</strong>stacar a qualida<strong>de</strong> da<br />

gestão da saú<strong>de</strong> pública dos caxienses, enten<strong>de</strong>ndo e divulgando o nível<br />

da difusão da re<strong>de</strong> <strong>de</strong> saneamento básico e <strong>de</strong> oferta dos serviços infraestruturais.<br />

Esse termômetro <strong>de</strong> atualida<strong>de</strong> da ação pública municipal<br />

na região da Baixada Fluminense po<strong>de</strong>rá gerar um ambiente educativo<br />

mais propositivo em termos políticos, interdisciplinar na conjunção <strong>de</strong><br />

áreas educativas <strong>de</strong> interesse comum e pró-ativo nas ações coletivas<br />

<strong>de</strong> proteção da vida, sob todos os aspectos, espalhando-se por outros<br />

municípios <strong>de</strong> uma região que tem na pobreza estrutural, o componente<br />

cotidiano das suas relações socioespaciais.<br />

A região Baixada Fluminense: um espaço territorializado por<br />

práticas políticas complexas.<br />

A região Baixada Fluminense é formada por vários territórios 1, on<strong>de</strong><br />

agentes diversos criam um conjunto <strong>de</strong> normas e regras a serem segui-<br />

das por atores que são submetidos aos seus po<strong>de</strong>res. Diante disso, os<br />

territórios na região são configurados por diferentes territorialida<strong>de</strong>s 2 em<br />

que ações são produzidas e impostas, <strong>de</strong>vendo ser cumpridas por aqueles<br />

sobre os quais o po<strong>de</strong>r instituído se faz valer no território políticoadministrativo,<br />

ou seja, os municípios. Aqueles que se colocam contra<br />

essas regras passam a exercer uma força contrária aos que comandam<br />

o po<strong>de</strong>r do Estado <strong>de</strong> direito, ficando claro nos <strong>de</strong>smembramentos territoriais<br />

na região em estudo (emancipações distritais), quando diferentes<br />

interesses econômicos, políticos e sociais contribuem para a formação<br />

<strong>de</strong> novos territórios político-administrativos, caracterizando choques <strong>de</strong><br />

interesses nas diferentes escalas <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r.<br />

Diferentes atuações socioespaciais a região Baixada Fluminense,<br />

produzidas por variadas ações, perspectivas e tonalida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r<br />

resultaram em diversas fragmentações territoriais, revelando as representações<br />

político-administrativas locais através dos municípios. Os<br />

agentes dos po<strong>de</strong>res locais produziram um prolongamento <strong>de</strong> suas<br />

ações, a fim <strong>de</strong> serem criadas re<strong>de</strong>s <strong>de</strong> relações intermunicipais como<br />

forma <strong>de</strong> reconhecimento da atuação <strong>de</strong> seus po<strong>de</strong>res regionalmente<br />

e <strong>de</strong> garantia, portanto, da permanência <strong>de</strong> práticas localistas que ‘se<br />

solidarizam’ com projetos <strong>de</strong> maior amplitu<strong>de</strong> política e <strong>de</strong> força territorial,<br />

como as ações dos governos estadual e fe<strong>de</strong>ral.<br />

Administrativamente, essa região é formada, oficialmente, por 14<br />

municípios fluminenses, segundo a Divisão Política do ci<strong>de</strong>-rj (2005),<br />

a saber: Mangaratiba, Itaguaí, Seropédica, Paracambi, Japeri, Queimados,<br />

Nova Iguaçu, Belford Roxo, Mesquita, São João <strong>de</strong> Meriti, Nilópolis,<br />

<strong>Duque</strong> <strong>de</strong> <strong>Caxias</strong>, Magé e Guapimirim, como mostra o mapa da Baixada<br />

Fluminense (p.19). Antes <strong>de</strong>sses acordos localistas, porém, diferentes<br />

divisões territoriais são necessárias para que os nichos <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r através<br />

da máquina pública possam ser expressos regionalmente, numa verda<strong>de</strong>ira<br />

arquitetura <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r no espaço geográfico.<br />

A figura 2 expressa as emancipações ocorridas na região ao longo<br />

do século xx, quando os interesses das elites locais passaram a exercer,<br />

nesse fragmento do território fluminense, uma relação <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r<br />

com outros agentes do Estado nacional. Nesse sentido, tais emancipações<br />

expressam uma esfera da ação, uma <strong>de</strong>signação da capacida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> agir, direta ou indiretamente, sobre as coisas ou sobre as pessoas,<br />

sobre os objetos ou sobre as vonta<strong>de</strong>s (guichet, 1996 apud castro,<br />

2005, p.99). Dessa maneira, as reivindicações produzidas pela relação<br />

comunida<strong>de</strong>s-elites po<strong>de</strong>m resultar em emancipações e isto <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>rá<br />

das vantagens políticas, econômicas e sociais <strong>de</strong>sses grupos através da<br />

instituição Estado.<br />

60 po<strong>de</strong>r local, gestão do território e política pública 61 augusto césar pinheiro da silva e rosana cristine machado <strong>de</strong> oliveira<br />

1<br />

Segundo Clau<strong>de</strong> raffestin<br />

(1993), “o território se<br />

forma a partir do espaço e<br />

é o resultado <strong>de</strong> uma ação<br />

conduzida por um ator (…)<br />

em qualquer nível” (p.143).<br />

Já para Marcelo Lopes <strong>de</strong><br />

souza (2001), o conceito<br />

po<strong>de</strong> ser compreendido em<br />

sua flexibilida<strong>de</strong>, elasticida<strong>de</strong><br />

formal e <strong>de</strong> conteúdo,<br />

expressos na relação que<br />

<strong>de</strong>senvolve com as noções<br />

<strong>de</strong> espaço e tempo.<br />

2<br />

Para Robert sack (1986),<br />

territorialida<strong>de</strong>s são <strong>de</strong>finidas<br />

como estratégias <strong>de</strong><br />

controle sempre vinculadas<br />

ao contexto social nas quais<br />

se inserem. São estratégias<br />

<strong>de</strong> po<strong>de</strong>r e <strong>de</strong> manutenção<br />

in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes do<br />

tamanho das áreas a serem<br />

dominadas ou do caráter<br />

meramente quantitativo dos<br />

agentes dominadores, ou<br />

seja, são estratégias <strong>de</strong> controle<br />

territorial.


As diversas emancipações territoriais vão gerar no espaço diferentes<br />

relações <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r, sendo que este último, segundo Castro (2005),<br />

assume três formas elementares: a primeira é o po<strong>de</strong>r <strong>de</strong>spótico, a<br />

segunda, o po<strong>de</strong>r fundado na autorida<strong>de</strong> e a terceira, o po<strong>de</strong>r que se<br />

apoia na força da política. Essas três dimensões representam as variadas<br />

formas <strong>de</strong> ação sobre os objetos e as pessoas, além das formas <strong>de</strong><br />

controle sobre eles. Segundo a autora, a primeira forma traz a dimensão<br />

do medo, da coerção pela violência e da ameaça, o que caracteriza bem<br />

a história mo<strong>de</strong>rna da Baixada Fluminense, região marcada pela violência,<br />

tanto explícita quanto implícita 3 , nas suas relações cotidianas.<br />

Essas formas <strong>de</strong> violência po<strong>de</strong>m ser verificadas em <strong>Duque</strong> <strong>de</strong> <strong>Caxias</strong><br />

que teve, ao longo do século xx, um forte po<strong>de</strong>r <strong>de</strong> coerção pelo medo <strong>de</strong><br />

Tenório Cavalcanti, <strong>de</strong>putado e migrante nor<strong>de</strong>stino conhecido como o<br />

Homem da Capa Preta. Este impôs o terror em todo o município, como<br />

forma <strong>de</strong> pressão para que seus interesses e vonta<strong>de</strong>s particularistas<br />

fossem atendidos.<br />

Tenório Cavalcanti foi um dos muitos migrantes que vieram do<br />

Nor<strong>de</strong>ste para a Baixada. Lá, enriqueceu e tornou-se uma po<strong>de</strong>rosa<br />

figura social, criando um sistema clientelista e apoiando-se na<br />

violência como estratégia <strong>de</strong> conquista e manutenção do po<strong>de</strong>r tanto<br />

econômico quanto político. Tenório aproximou-se <strong>de</strong> famílias tradicionais<br />

(inclusive pelo casamento), mas, ao mesmo tempo, manteve<br />

suas relações com os migrantes, inclusive intermediando a vinda <strong>de</strong><br />

muitos outros para a Baixada, quando se formou em Direito. Como<br />

advogado, lutou a favor <strong>de</strong> causas <strong>de</strong> <strong>de</strong>spejo e <strong>de</strong> controle pela<br />

terra. Neste sistema, projetou-se como lí<strong>de</strong>r regional e conseguiu<br />

penetrar nas esferas da política nacional, conseguindo expressivas<br />

votações para o Legislativo.<br />

(ciberlegenda, 2004).<br />

A segunda forma <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r está fundada na autorida<strong>de</strong> que, segundo a<br />

mesma autora,<br />

é um po<strong>de</strong>r exercido como uma concessão, o que o torna uma forma<br />

legitimada pela aceitação e pelo reconhecimento daqueles que a ele<br />

se submete. É nesse reconhecimento e concordância dos que se submetem<br />

que ele se justifica e funda a sua legitimida<strong>de</strong>.<br />

(p.103)<br />

Esse tipo <strong>de</strong> manifestação <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r ten<strong>de</strong> a se tornar mais comum hoje,<br />

po<strong>de</strong>ndo se manifestar através do carisma por parte daqueles que <strong>de</strong>sejam<br />

“impor o po<strong>de</strong>r” através <strong>de</strong> estratégias políticas <strong>de</strong> ações assistencialistas.<br />

Estas legitimam a atuação <strong>de</strong> alguns agentes do espaço e o seu<br />

controle sobre os objetos e sobre as pessoas (CASTRO, 2005).<br />

E, por fim, ainda segundo Castro, o po<strong>de</strong>r político “que compreen<strong>de</strong><br />

em sentido amplo, tanto a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> coerção, típica do po<strong>de</strong>r<br />

<strong>de</strong>spótico, quanto à autorida<strong>de</strong>, <strong>de</strong> fundamento legal” (p. 104). Essa terceira<br />

relação <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r representa as múltiplas escalarida<strong>de</strong>s da ação do<br />

Estado nacional <strong>de</strong> Direito territorialmente, a partir <strong>de</strong> seus fragmentos<br />

político-administrativos, ou seja, as escalas fe<strong>de</strong>ral, estadual e municipal,<br />

três esferas político-administrativas que utilizam o po<strong>de</strong>r <strong>de</strong>spótico<br />

e da autorida<strong>de</strong> em nome <strong>de</strong> um coletivo.<br />

Assim é caracterizada a Baixada Fluminense, uma região cada<br />

vez mais afetada por práticas políticas que provêm <strong>de</strong> distintas forças<br />

e po<strong>de</strong>res, sendo estes relacionados, muitas vezes, a práticas sociais<br />

assistencialistas na forma <strong>de</strong> <strong>de</strong>spotismo <strong>de</strong>clarado ou subsumido pela<br />

legalida<strong>de</strong>. Tais ações aumentam a <strong>de</strong>pendência, a pobreza, a fome e<br />

a <strong>de</strong>gradação ambiental, gerando gestões malsucedidas e complexas.<br />

Outras vezes, porém, o po<strong>de</strong>r é vivenciado sob a forma <strong>de</strong> autorida<strong>de</strong>s<br />

reconhecidas (instituintes) e <strong>de</strong> acordos políticos que legitimam uma<br />

gestão articulada através dos municípios e <strong>de</strong> outras escalas administrativas<br />

(estado e fe<strong>de</strong>ração).<br />

Apesar das transformações técnico-científicas ocorridas no espaço<br />

regional da Baixada Fluminense nas últimas décadas, ainda são poucos<br />

os avanços socioespaciais reconhecidos no que concerne às mudanças<br />

políticas mais estruturantes na região. Isso se <strong>de</strong>ve às ações fragmentadas<br />

e <strong>de</strong>scontinuadas <strong>de</strong> gestões ainda arraigadas por particularismos<br />

<strong>de</strong> parte das representações instituídas, além do que se reconhece<br />

que as esferas <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r ainda não conseguiram, com eficiência, abarcar<br />

os conhecimentos gerados pelas universida<strong>de</strong>s e centros sociais <strong>de</strong><br />

excelência.<br />

Para a proposição <strong>de</strong> gestões mais eficientes, em todas as esferas<br />

da socieda<strong>de</strong>, po<strong>de</strong>riam ser implementados projetos <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento<br />

voltados para uma qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida que vai além da mera perspectiva<br />

economicista. Mas como <strong>de</strong>veria ser um <strong>de</strong>senvolvimento socioespacial<br />

mais amplo e efetivo? Este <strong>de</strong>veria unir as questões sociais, ambientais,<br />

culturais e políticas para uma verda<strong>de</strong>ira autonomia socioterritorial<br />

dos lugares. Segundo Souza (1996), o <strong>de</strong>senvolvimento socioespacial<br />

precisa estar:<br />

livre <strong>de</strong> ranço etnocêntrico, precisa acentuar a idéia <strong>de</strong> cada povo,<br />

cada grupo social, <strong>de</strong>ve possuir a autonomia necessária para <strong>de</strong>finir<br />

o conteúdo <strong>de</strong>sse conceito <strong>de</strong> acordo com as suas próprias necessida<strong>de</strong>s<br />

e <strong>de</strong> conformida<strong>de</strong> com suas características culturais.<br />

(p.10).<br />

Diante disso, projetos <strong>de</strong> mo<strong>de</strong>rnização <strong>de</strong> um <strong>de</strong>terminado espaço<br />

<strong>de</strong>vem levar em conta a participação popular, adaptando-se às características<br />

locais e não simplesmente na aplicação <strong>de</strong> projetos “<strong>de</strong> cima<br />

para baixo”. Já Becker (1987) compreen<strong>de</strong> que o <strong>de</strong>senvolvimento<br />

<strong>de</strong>pen<strong>de</strong> <strong>de</strong> uma ação política que tenha como base:<br />

(…) uma gestão eminentemente estratégica com um princípio <strong>de</strong> fi-<br />

62 po<strong>de</strong>r local, gestão do território e política pública 63 augusto césar pinheiro da silva e rosana cristine machado <strong>de</strong> oliveira<br />

3<br />

Para Marcelo Lopes <strong>de</strong><br />

souza (2000), baseado em<br />

Michel foucault (1979),<br />

a violência implícita é<br />

aquela inerente ao mo<strong>de</strong>lo<br />

<strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento dominante<br />

e que se expressa nas<br />

contradições da civilização<br />

oci<strong>de</strong>ntal, ou seja, nas<br />

<strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong>s e disparida<strong>de</strong>s<br />

<strong>de</strong> formas, serviços e<br />

no acesso das populações<br />

aos bens sociais e materiais<br />

que, sutilmente, acabam<br />

sendo normatizadas; já a<br />

violência explícita é aquela<br />

que se expressa <strong>de</strong> forma<br />

“nua e crua” no espaço geográfico,<br />

on<strong>de</strong> as normas ou<br />

regras morais sociais são<br />

<strong>de</strong>srespeitadas (sequestros,<br />

assaltos, mortanda<strong>de</strong>,<br />

agressões físicas e morais,<br />

poluições diversas…), o que<br />

vem se naturalizando na<br />

mo<strong>de</strong>rnida<strong>de</strong>.


nalida<strong>de</strong> econômica – expressa em múltiplas finalida<strong>de</strong>s específicas<br />

– e um princípio <strong>de</strong> realida<strong>de</strong>, das relações <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r, necessária à<br />

consecução <strong>de</strong> suas finalida<strong>de</strong>s; envolve não só a formulação das<br />

gran<strong>de</strong>s manobras – o cálculo das forças presentes e a concentração<br />

<strong>de</strong> esforços em pontos selecionados – como dos instrumentos – táticos<br />

e técnica – para sua execução. A gestão científico-tecnológica<br />

para articular, coerentemente, múltiplas <strong>de</strong>cisões e ações necessárias<br />

e assim alcançar as finalida<strong>de</strong>s específicas dispondo as coisas<br />

<strong>de</strong> modo conveniente, instrumentalizando o saber <strong>de</strong> direção política,<br />

<strong>de</strong> governo, <strong>de</strong>senvolvendo-se hoje como uma ciência (…)<br />

(p.3).<br />

Desta maneira a gestão <strong>de</strong>verá “integrar elementos da administração<br />

<strong>de</strong> empresa e elementos da governabilida<strong>de</strong>” (foucault, 1979 apud<br />

becker, 1987, p.4). Esses elementos só po<strong>de</strong>rão ocorrer a partir <strong>de</strong><br />

mo<strong>de</strong>los que procurem aten<strong>de</strong>r às necessida<strong>de</strong>s das populações, a partir<br />

<strong>de</strong> planejamentos que busquem sustentabilida<strong>de</strong>s no/do espaço. Através<br />

das estratégias e da gestão científico-tecnológica citadas por Becker,<br />

assim como <strong>de</strong> um <strong>de</strong>senvolvimento que valorize as <strong>de</strong>mandas dos grupos<br />

sociais <strong>de</strong> Souza, po<strong>de</strong>rá ocorrer uma sustentabilida<strong>de</strong> espacial<br />

local. Esta consistiria no conjunto <strong>de</strong> ações produzidas “nos lugares” e<br />

que tenham como objetivo o “<strong>de</strong>senvolvimento pleno <strong>de</strong> cada cidadão da<br />

localida<strong>de</strong>”, permitindo a qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida das populações municipais.<br />

Para que isso aconteça, a sustentabilida<strong>de</strong> local <strong>de</strong>verá privilegiar:<br />

(…) as dimensões sociais (razoável homogeneida<strong>de</strong> social), culturais<br />

(equilíbrio entre o respeito à tradição e à inovação), ecológicas<br />

(preservação dos recursos renováveis), ambientais (respeito e ênfase<br />

da capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> auto<strong>de</strong>puração dos ecossistemas naturais,<br />

territoriais (diminuição da assimetria na aplicação dos investimentos<br />

públicos entre áreas urbanas e rurais), econômicas (<strong>de</strong>senvolvimento<br />

econômico intersetorial equilibrado), além <strong>de</strong> consi<strong>de</strong>rar as<br />

sustentabilida<strong>de</strong>s políticas nacional e internacional (<strong>de</strong>senvolvimento<br />

da capacida<strong>de</strong> do Estado <strong>de</strong> implementar o projeto nacional em<br />

parceria com todos os empreen<strong>de</strong>dores, um pacote Norte-Sul <strong>de</strong> co<strong>de</strong>senvolvimento,<br />

baseado no princípio <strong>de</strong> igualda<strong>de</strong>)<br />

(Adaptado <strong>de</strong> sachs, 2002 apud rua et al. 2007, p.9).<br />

Assim sendo, a gestão para o <strong>de</strong>senvolvimento socioespacial local <strong>de</strong>ve<br />

estar diretamente ligada ao termo sustentabilida<strong>de</strong>, pois o po<strong>de</strong>r público<br />

municipal po<strong>de</strong> criar condições econômicas, políticas e sociais para<br />

que os munícipes possam se <strong>de</strong>senvolver plenamente. Desta maneira,<br />

o ambiente passa a ser sustentável pelo fato <strong>de</strong> as pessoas terem condições<br />

<strong>de</strong> produzir um ambiente <strong>de</strong> vida com qualida<strong>de</strong>. Os setores<br />

públicos e privados <strong>de</strong>vem se unir para criar condições como emprego,<br />

serviços, lazer e educação, sob a observação cautelosa e pró-ativa do<br />

Estado. Assim, a qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida po<strong>de</strong>ria ser oferecida com menores<br />

diferenciações e distinções <strong>de</strong> classes.<br />

Por suas características socioespaciais no conjunto regional do<br />

Estado do <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> Janeiro, a Baixada Fluminense possui condições <strong>de</strong><br />

aplicar políticas efetivas capazes <strong>de</strong> promover a sustentabilida<strong>de</strong> do seu<br />

espaço econômico, social, político, ambiental. Todavia, como <strong>Duque</strong> <strong>de</strong><br />

<strong>Caxias</strong>, alguns municípios da região apresentam ainda gran<strong>de</strong>s dificulda<strong>de</strong>s<br />

em oferecer saú<strong>de</strong> pública <strong>de</strong> qualida<strong>de</strong> a seus habitantes, um<br />

dos índices <strong>de</strong> sustentabilida<strong>de</strong> local. Tal dificulda<strong>de</strong> po<strong>de</strong> ser comprovada<br />

pela má distribuição da re<strong>de</strong> <strong>de</strong> abastecimento <strong>de</strong> água pelos distritos,<br />

situação que reduz os índices <strong>de</strong> qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida no território<br />

por ampliar, por exemplo, as doenças provenientes da baixa qualida<strong>de</strong><br />

do saneamento básico.<br />

A água é um vetor <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> importância na transmissão <strong>de</strong> doenças<br />

como a amebíase. Quando não tratada, ela se transforma em um<br />

agente proliferador <strong>de</strong> patógenos, o que gera danos à saú<strong>de</strong> e leva a situações<br />

extremas como o óbito. Nesse sentido, o saneamento básico é um<br />

dos fatores primordiais na promoção da saú<strong>de</strong> e do bem estar social,<br />

evitando a propagação <strong>de</strong> doenças causadoras <strong>de</strong> epi<strong>de</strong>mias. Logo,<br />

sanear o espaço físico é uma das ações que promovem um ambiente<br />

sustentável.<br />

Nesse sentido, as imagens a seguir mostram, em linhas gerais,<br />

a péssima qualida<strong>de</strong> das águas do <strong>Rio</strong> Sarapuí, que cruza <strong>Duque</strong> <strong>de</strong><br />

<strong>Caxias</strong>, uma das principais fontes <strong>de</strong> abastecimento <strong>de</strong> água <strong>de</strong>sse<br />

município da Baixada Fluminense. As imagens também mostram como<br />

a ocupação humana em suas margens, que po<strong>de</strong>ria ser contida, controlada<br />

e infraestruturada pelo po<strong>de</strong>r público municipal, acaba por ampliar<br />

o grau <strong>de</strong> saturação da potabilida<strong>de</strong> das suas águas, além <strong>de</strong> afetar,<br />

drasticamente, o equilíbrio ecológico da área, ambiente dominado pelos<br />

mangues que mantém algum sopro <strong>de</strong> qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida no fundo da<br />

Baía <strong>de</strong> Guanabara.<br />

64 po<strong>de</strong>r local, gestão do território e política pública 65 augusto césar pinheiro da silva e rosana cristine machado <strong>de</strong> oliveira


Baia <strong>de</strong> Guanabara, foz do <strong>Rio</strong> Sarapuí em <strong>Caxias</strong> com área <strong>de</strong> reflorestamento. Jardim Gramacho ao fundo.<br />

21/11/2006 – Custodio Coimbra / Agência O Globo – RI – Exclusivo<br />

21/11/2006 – Custodio Coimbra / Agência O Globo – RI – Exclusivo<br />

Apesar da <strong>de</strong>gradação das águas do rio em curso pelo território caxiense,<br />

observada nas imagens selecionadas, a presença <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> quantida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> água potável nesse município fluminense é significativa. Nos mananciais<br />

existentes, notadamente, no 4° Distrito Caxiense (Xerém), as reservas<br />

<strong>de</strong> água doce são impressionantes, o que nos leva a concluir que:<br />

1 O sistema <strong>de</strong> saneamento básico (notadamente o sistema <strong>de</strong> esgotamento<br />

sanitário doméstico, comercial e industrial) do município<br />

não tem capacida<strong>de</strong> para preservar a qualida<strong>de</strong> das águas que circulam<br />

pelo território até o seu <strong>de</strong>ságüe na Baia <strong>de</strong> Guanabara e;<br />

2 A abundância <strong>de</strong> água acumulada em algumas regiões distritais<br />

mostra a incapacida<strong>de</strong> do po<strong>de</strong>r público <strong>de</strong> melhor distribuí-la pelo<br />

sistema oficial <strong>de</strong> abastecimento, seja por inoperância técnica ou<br />

incapacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> controle político dos recursos existentes.<br />

A próxima imagem selecionada mostra apenas um pequeno exemplo do<br />

que po<strong>de</strong> ser encontrado em termos <strong>de</strong> recursos hídricos no Município<br />

<strong>de</strong> <strong>Duque</strong> <strong>de</strong> <strong>Caxias</strong>, se este território da Baixada Fluminense for mais<br />

bem explorado, estudado e entendido por moradores, professores, pesquisadores<br />

e gestores em geral.<br />

Reservas <strong>de</strong> água doce em Xerém, 4º Distrito <strong>de</strong> <strong>Duque</strong> <strong>de</strong> <strong>Caxias</strong><br />

66 po<strong>de</strong>r local, gestão do território e política pública 67 augusto césar pinheiro da silva e rosana cristine machado <strong>de</strong> oliveira


Frente à poluição da re<strong>de</strong> hidrográfica que cruza o município caxiense<br />

e, ao mesmo tempo, à abundância dos recursos hídricos no mesmo território,<br />

as conclusões anteriores estão justificadas pelos dados do ibge<br />

(2002), apresentados nas figuras 7 e 8 da página seguinte. A figura 8<br />

indica o número <strong>de</strong> domicílios com abastecimento regular <strong>de</strong> água na<br />

Região Metropolitana do <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> Janeiro (rmrj). Observa-se que cerca<br />

<strong>de</strong> um terço da população caxiense só tem acesso à água não tratada<br />

obtida através <strong>de</strong> poços ou nascentes. Tal situação é similar em quase<br />

todos os municípios da baixada, o que indica que há uma distribuição<br />

irregular da re<strong>de</strong> <strong>de</strong> saneamento básico por esses municípios fluminenses,<br />

notadamente através das disparida<strong>de</strong>s distributivas dos distritos<br />

municipais (há uma enorme <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong> socioespacial entre os eles),<br />

o que impe<strong>de</strong> a água <strong>de</strong> chegar às residências “mais longínquas” por<br />

“problemas operacionais diversos”. Quando analisamos a figura 8, percebemos<br />

o mesmo tipo <strong>de</strong> problema no que se refere à distribuição <strong>de</strong><br />

esgotamento sanitário. Percebe-se, na Baixada Fluminense, a existência<br />

<strong>de</strong> muitos domicílios com banheiro fora da re<strong>de</strong> geral <strong>de</strong> esgotamento<br />

sanitário oficial, sendo que, em <strong>Duque</strong> <strong>de</strong> <strong>Caxias</strong>, um quarto <strong>de</strong>les não<br />

tem re<strong>de</strong> <strong>de</strong> tratamento disponibilizada. Outros municípios que sofrem<br />

muito com o esgotamento sanitário <strong>de</strong>ficiente são Guapimirim, Mesquita<br />

e Paracambi, on<strong>de</strong>, <strong>de</strong> acordo com os dados do ibge (2002), mais<br />

<strong>de</strong> 60% da população lança <strong>de</strong>jetos in natura nos rios, lagos e na Baía<br />

<strong>de</strong> Guanabara.<br />

Diante do quadro infraestrutural mostrado pelas figuras 7 e 8, o abastecimento<br />

<strong>de</strong> água tratada, o recolhimento e o tratamento <strong>de</strong> esgoto<br />

constituem-se ações <strong>de</strong> políticas públicas ineficientes em toda a Baixada<br />

Fluminense. A melhoria <strong>de</strong> tais serviços po<strong>de</strong>ria evitar os efeitos nocivos<br />

à saú<strong>de</strong> das populações nos mais diferentes territórios. Além <strong>de</strong>ssa<br />

necessária melhoria, <strong>de</strong>veriam ser valorizadas as políticas <strong>de</strong> educação<br />

ambiental básica, uma das medidas socioeducativas mais importantes<br />

para a geração <strong>de</strong> um conhecimento capaz <strong>de</strong> capacitar pessoas e instituições<br />

a evitar a disseminação <strong>de</strong> doenças através das águas. Para<br />

tanto, cabe ao po<strong>de</strong>r público municipal estabelecer parcerias entre as<br />

três esferas <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r (fe<strong>de</strong>ral, estadual e municipal), a fim <strong>de</strong> <strong>de</strong>finir<br />

uma re<strong>de</strong> <strong>de</strong> relações e investimentos capazes <strong>de</strong> oferecer serviços que<br />

incrementem a qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida dos moradores.<br />

As políticas territoriais em curso nos Municípios da Baixada Fluminense<br />

(com <strong>de</strong>staque para <strong>Duque</strong> <strong>de</strong> <strong>Caxias</strong>), <strong>de</strong>veriam proporcionar<br />

um <strong>de</strong>senvolvimento humano que valorizasse o índice <strong>de</strong> qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

vida municipal (iqm), para que fossem reduzidas as diversas formas <strong>de</strong><br />

violência às quais a população local está submetida. Nesse sentido, o<br />

aumento da “alfabetização espacial” passa a ser um ato crucial <strong>de</strong> Edu-<br />

cação Ambiental, pois alimenta o crescimento <strong>de</strong> pessoas mais conscientes<br />

<strong>de</strong> seus direitos e <strong>de</strong>veres, <strong>de</strong>senvolve e qualifica a mão <strong>de</strong> obra<br />

local, cada vez mais apta a se promover no mundo do trabalho formal<br />

e legal. Dessa forma, a população regional aumentará sua capacida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> consumo <strong>de</strong> produtos diversos, <strong>de</strong> lazer e, principalmente, <strong>de</strong> serviços<br />

<strong>de</strong> saú<strong>de</strong>, gerando uma ca<strong>de</strong>ia mais efetiva <strong>de</strong> autoregulação das<br />

necessida<strong>de</strong>s locais. Sendo assim, as políticas <strong>de</strong> planejamento e gestão<br />

na Baixada Fluminense po<strong>de</strong>riam fomentar, em médio ou longo<br />

prazo, o surgimento <strong>de</strong> territórios com um <strong>de</strong>senvolvimento socioespacial<br />

local sustentável através <strong>de</strong> técnicas, ações, instrumentos, equipamentos<br />

e práticas educacionais, políticas e econômicas que permitam<br />

a essa imensa população fluminense viver com a qualida<strong>de</strong> e dignida<strong>de</strong><br />

que merecem.<br />

Algumas reflexões finais sobre o ente fe<strong>de</strong>rativo e <strong>Duque</strong> <strong>de</strong> <strong>Caxias</strong>.<br />

O atual território do Município <strong>de</strong> <strong>Duque</strong> <strong>de</strong> <strong>Caxias</strong>, emancipado, em<br />

1943, <strong>de</strong> Nova Iguaçu, sempre teve serviços precários, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> as crises<br />

<strong>de</strong> malária e febre amarela que assolaram as fazendas canavieiras,<br />

matando milhares <strong>de</strong> trabalhadores ameríndios e escravos, nos auspícios<br />

dos séculos xvii e xviii.<br />

Segundo Lacerda (2003), a única presença <strong>de</strong> uma autarquia do<br />

setor público na localida<strong>de</strong>, até o fim dos anos <strong>de</strong> 1930, era a <strong>de</strong> uma<br />

agência fiscal arrecadadora fe<strong>de</strong>ral. A cobrança <strong>de</strong> impostos sobrepunha-se<br />

à prestação <strong>de</strong> serviços públicos essenciais (p.11).<br />

Des<strong>de</strong> a adoção <strong>de</strong> políticas mo<strong>de</strong>rnizadoras por Getúlio Vargas,<br />

nos anos <strong>de</strong> 1940, para tornar “industrializado” o recém-criado município,<br />

em uma guerra entre as elites agraristas regionais e o industrialismo<br />

mo<strong>de</strong>rno do Estado Novo, <strong>Duque</strong> <strong>de</strong> <strong>Caxias</strong> convive com as contradições<br />

características do processo <strong>de</strong> mo<strong>de</strong>rnização a que foi alçada.<br />

Socialmente, não <strong>de</strong>ixou <strong>de</strong> ser um misto <strong>de</strong> socieda<strong>de</strong> escravocrata e<br />

grupos tecnocratas baseados em estruturas mo<strong>de</strong>rnizadoras típicas dos<br />

estados nacionais centralistas e autoritários, o que transformou o município<br />

num espaço <strong>de</strong> contrastes socioespaciais marcantes.<br />

Ao mesmo tempo em que o território municipal possui uma localização<br />

estratégica por estar nos entrecruzamentos <strong>de</strong> importantes rodovias<br />

do país, principalmente no eixo <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> Janeiro – São Paulo, <strong>Duque</strong><br />

<strong>de</strong> <strong>Caxias</strong> tem visto o mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> atração <strong>de</strong> investimentos no qual a<br />

mo<strong>de</strong>rnização fordista se pautou nos últimos 70 anos no Brasil entrar<br />

em colapso, o que vem reduzindo a sua capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> captação <strong>de</strong><br />

recursos industriais tradicionais. Além disso, o papel da Cida<strong>de</strong> do <strong>Rio</strong><br />

<strong>de</strong> Janeiro na re<strong>de</strong> urbana do país se modificou expressivamente, nos<br />

últimos 30 anos, o que vem levando os gestores municipais a buscarem<br />

outras formas <strong>de</strong> estímulo <strong>de</strong> potencialida<strong>de</strong>s (voltadas para as sustentabilida<strong>de</strong>s<br />

locais) ainda pouco reconhecidas e valorizadas como estratégias<br />

<strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento socioespacial.<br />

68 po<strong>de</strong>r local, gestão do território e política pública 69 augusto césar pinheiro da silva e rosana cristine machado <strong>de</strong> oliveira


Tal transformação do mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> mo<strong>de</strong>rnização e da estrutura fe<strong>de</strong>rativa<br />

do Brasil será mais bem aproveitada na escala do município se a<br />

sua população e, consequentemente, os seus gestores souberem enten<strong>de</strong>r<br />

as lógicas <strong>de</strong> crescimento e <strong>de</strong>senvolvimento em gestação na atualida<strong>de</strong>.<br />

Nessa nova or<strong>de</strong>m, o município tem voz ativa na administração<br />

e precisa ser entendido como parte expressiva do pacto fe<strong>de</strong>rativo<br />

nacional. Assim sendo, um bom gestor municipal sabe que educação,<br />

saú<strong>de</strong>, conservação ambiental, gestão integrada dos recursos hídricos<br />

a partir das microbacias hidrográficas e parcerias político-administrativas<br />

entre municípios (consórcios municipais) não são setores periféricos<br />

ou secundários em uma administração que tenha como premissa<br />

a consolidação da qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida.<br />

Nesse sentido, <strong>Duque</strong> <strong>de</strong> <strong>Caxias</strong> se apresenta como um município<br />

que busca mudar, remunerando o seu professorado melhor do que<br />

a média estadual e ampliando o seu quantitativo <strong>de</strong> 35 mil para 85 mil,<br />

na re<strong>de</strong> pública (villar, 2003). Tais atos políticos são importantes e<br />

não po<strong>de</strong>m ser isolados como meras ações <strong>de</strong> governos, precisam funcionar<br />

como ações <strong>de</strong>finitivas do Estado <strong>de</strong> direito local. Assim sendo,<br />

infraestrutura básica, saú<strong>de</strong> pública, transporte coletivo, conservação<br />

ambiental e distribuição <strong>de</strong> recursos sociais são alguns caminhos estruturantes<br />

<strong>de</strong> uma nova or<strong>de</strong>m <strong>de</strong> gestão que será reconhecida como permanente<br />

pela população municipal caxiense. Esta, por sua vez, passará<br />

a reconhecer no po<strong>de</strong>r local a força política que salvaguarda o município<br />

para ele seja <strong>de</strong>legado ao papel <strong>de</strong> uma gerência que atua e se reconhece<br />

nos lugares.<br />

Em termos práticos, se houver um aumento da capacida<strong>de</strong> do<br />

ente público municipal em manter as ativida<strong>de</strong>s e serviços próprios da<br />

administração com recursos oriundos <strong>de</strong> sua competência tributária, o<br />

município se tornará menos <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte das transferências <strong>de</strong> recursos<br />

financeiros dos <strong>de</strong>mais entes governamentais e boa parte da capacida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> investimento municipal será <strong>de</strong>satrelada da arrecadação <strong>de</strong> outros<br />

governos, das esferas Fe<strong>de</strong>rais e Estaduais, transformando sociopoliticamente<br />

o Município <strong>de</strong> <strong>Duque</strong> <strong>de</strong> <strong>Caxias</strong> em uma referência regional<br />

importante frente à lógica <strong>de</strong> um po<strong>de</strong>r revigorado, inovador e promissor<br />

<strong>de</strong> uma nova realida<strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento.<br />

Bibliografia<br />

becker, Bertha K. Elementos para construção <strong>de</strong> um conceito sobre “gestão<br />

do território”. Seminário <strong>de</strong> setembro <strong>de</strong> 1987. Laboratório <strong>de</strong> Gestão do<br />

Território. LAGET.<br />

castro, Iná Elias <strong>de</strong>. Geografia e Política: território, escalas <strong>de</strong> ação e instituições<br />

/ Iná Elias <strong>de</strong> Castro. <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> Janeiro: Bertrand Brasil, 2005.<br />

censo <strong>de</strong>mográfico 2000. Base <strong>de</strong> Informações. Resultados da amostra por<br />

municípios. <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> Janeiro: IBGE, 2002. CD ROM.<br />

centro <strong>de</strong> informações e dados do rio <strong>de</strong> janeiro (ci<strong>de</strong>-rj). www.ci<strong>de</strong>.<br />

org.br. Visitado 14 mai. 2008.<br />

ciberlegenda: Imprensa e Baixada Fluminense: múltiplas representações.<br />

Número 14 / 2004. http://www.uff.br/mestcii/enne1.htm. Visitado em 12<br />

set. 2008.<br />

foucault, Michel. Microfísica do Po<strong>de</strong>r. 3ª ed. <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> Janeiro: Editora Graal,<br />

1979.<br />

freitas, Marcelo Bessa <strong>de</strong>; brilhante, Ogenis Magno; almeida, Liz Maria <strong>de</strong>.<br />

Importância da análise <strong>de</strong> água para a saú<strong>de</strong> pública em duas regiões do<br />

Estado do <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> Janeiro: enfoque para coliformes fecais, nitrato e alumínio.<br />

Cad. Saú<strong>de</strong> Pública v.17 n.3 <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> Janeiro maio/jun. 2001.<br />

Jornal o globo. http://oglobo.globo.com. Fotos Divulgação/ Projeto Olho Ver<strong>de</strong>.<br />

Out./ 2008. Visitado 15 jan. 2009.<br />

lacerda, Stélio José da Silva; villar, Laury <strong>de</strong> Souza; souza, Marlucia<br />

Santos <strong>de</strong>. A Emancipação Política do Município <strong>de</strong> <strong>Duque</strong> <strong>de</strong> <strong>Caxias</strong> (uma<br />

tentativa <strong>de</strong> compreensão). Textos sobre a História <strong>de</strong> <strong>Duque</strong> <strong>de</strong> <strong>Caxias</strong> e<br />

da Baixada Fluminense. Órgão <strong>de</strong> divulgação conjunta: Instituto Histórico<br />

Vereador Thomé Siqueira Barreto / Câmara Municipal <strong>de</strong> <strong>Duque</strong> <strong>de</strong> <strong>Caxias</strong><br />

e Associação dos Amigos do Instituto Histórico. Revista Pilares da História –<br />

Ano II, nº 03, <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 2003. 101p.<br />

rua, João; oliveira, Rogério Ribeiro <strong>de</strong>; ferreira, Álvaro. Paisagem, espaço e<br />

sustentabilida<strong>de</strong>s: uma perspectiva multidimensional da geografia. In Rua J.<br />

(org.). <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> Janeiro: Ed. <strong>PUC</strong>-<strong>Rio</strong>, 2007. p.7-32.<br />

raffestin, Clau<strong>de</strong>. Por uma Geografia do po<strong>de</strong>r. Tradução Maria Célia França;<br />

Série Temas, volume 29. Geografia e Política; <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> Janeiro: Ed. Ática,<br />

1993.<br />

sachs, Ignacy. Caminhos para o <strong>de</strong>senvolvimento sustentável. Organizadora:<br />

Paula Yone Stroh. 4ª ed. <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> Janeiro: Editora Garamond, 2002.<br />

sack, Robert D. The human territoriality: its theory and history. Cambridge:<br />

Cambridge University Press, 1986.<br />

silva, Augusto César Pinheiro da. Espaço, “Sustentabilida<strong>de</strong>s” e Educação<br />

Básica Local: por políticas públicas municipais voltadas para um<br />

<strong>de</strong>senvolvimento socioespacial mais autônomo. In O Social em Questão:<br />

<strong>de</strong>senvolvimento socioambiental local, nº18, 2º sem. 2007. <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> Janeiro:<br />

Editora <strong>PUC</strong>-<strong>Rio</strong>. 2008. p. 49-74.<br />

souza, Marcelo José Lopes <strong>de</strong>. Urbanização e Desenvolvimento no Brasil Atual.<br />

70 po<strong>de</strong>r local, gestão do território e política pública 71 augusto césar pinheiro da silva e rosana cristine machado <strong>de</strong> oliveira


São Paulo: Série Princípios, Editora Ática, 1996.<br />

________. O <strong>de</strong>safio metropolitano. Um estudo sobre a problemática sócio-espacial<br />

nas metrópoles brasileiras. 2ª ed. <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> Janeiro: Bertrand Brasil, 2000.<br />

________. Da fragmentação do tecido sociopolítico-espacial da metrópole à<br />

<strong>de</strong>smetropolização relativa: algumas facetas da urbanização brasileira<br />

nas décadas <strong>de</strong> 80 e 90. In sposito, Maria da Encarnação Beltrão (org.).<br />

Urbanização e cida<strong>de</strong>s: perspectivas geográficas. Presi<strong>de</strong>nte Pru<strong>de</strong>nte:<br />

gasperr/unesp, 2001.<br />

Augusto Cesar Pinheiro da Silva — Geografia<br />

Possui graduação, mestrado e doutorado em geografia pela Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral<br />

do <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> Janeiro (ufrj), concluídos em 1990, 1996 e 2005, respectivamente. Em<br />

1992, fez uma especialização em geografia pela Universität Tubingen (utu), na<br />

Alemanha. Atualmente é professor adjunto da Universida<strong>de</strong> do Estado do <strong>Rio</strong> <strong>de</strong><br />

Janeiro (uerj), professor assistente da Pontifícia Universida<strong>de</strong> Católica do <strong>Rio</strong> <strong>de</strong><br />

Janeiro (puc-<strong>Rio</strong>) e coor<strong>de</strong>nador <strong>de</strong> dois projetos <strong>de</strong> pesquisa: Gestão territorial no<br />

Estado do <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> Janeiro (grupo <strong>de</strong> pesquisa geterj) e Metodologias para a educa-<br />

ção geográfica (gpeg). Possui diversos artigos publicados, entre eles um capítulo<br />

do livro Currículos e práticas pedagógicas nos cpvcs.<br />

augustoc@puc-rio.br<br />

Rosana Cristine Machado <strong>de</strong> Oliveira<br />

Tem experiência na área <strong>de</strong> Geografia, com ênfase em Geografia Humana. É autora<br />

da monografia “Gestão e sustentabilida<strong>de</strong>s da saú<strong>de</strong> pública em <strong>Duque</strong> <strong>de</strong> <strong>Caxias</strong><br />

(rj): os <strong>de</strong>safios atuais do município fluminense frente aos serviços médico-hospi-<br />

talares, <strong>de</strong> saneamento básico e <strong>de</strong> educação pós-Constituição Fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong> 1988”,<br />

<strong>de</strong>fendido no Departamento <strong>de</strong> Geografia da puc-<strong>Rio</strong>, em <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 2008.<br />

rosananete@yahoo.com.br<br />

72 po<strong>de</strong>r local, gestão do território e política pública 73<br />

Fernando Cavalcanti Walcacer<br />

Virgínia Totti Guimarães<br />

Direito Ambiental: origens,<br />

<strong>de</strong>senvolvimento e objetivos<br />

1 O Direito Ambiental Internacional<br />

O meio ambiente, cada vez mais, vem sendo objeto <strong>de</strong> preocupação da<br />

socieda<strong>de</strong> – seja em razão <strong>de</strong> estudos conclusivos a respeito da interferência<br />

nociva do ser humano no equilíbrio ecológico, seja porque as<br />

mudanças <strong>de</strong>correntes <strong>de</strong>sta interferência estão sendo percebidas claramente<br />

no cotidiano <strong>de</strong> cidadãos do mundo inteiro. O aquecimento<br />

global, a perda da biodiversida<strong>de</strong>, o buraco na camada <strong>de</strong> ozônio, o<br />

aumento da <strong>de</strong>sertificação, a contaminação dos solos e das águas, a<br />

poluição do meio ambiente marinho, <strong>de</strong>ntre muitas outras, são notícias<br />

que aparecem diariamente nos jornais, refletindo a preocupação<br />

da socieda<strong>de</strong> com o tema.<br />

O direito ambiental, um ramo novo do direito, profundamente<br />

comprometido com a preservação da biodiversida<strong>de</strong> e a luta contra a<br />

poluição, busca respon<strong>de</strong>r a tais preocupações. Ele surgiu em meados<br />

do século passado e vem se aperfeiçoando ao longo das últimas<br />

décadas.<br />

Estudos realizados pelo chamado Clube <strong>de</strong> Roma – um grupo<br />

informal <strong>de</strong> economistas, educadores e industriais <strong>de</strong> 25 países, criado<br />

com o objetivo <strong>de</strong> contribuir para uma melhor compreensão das principais<br />

questões econômicas, políticas e sociais da época (entre 1960 e<br />

1970) – concluíram que crescimento populacional, produção agrícola,<br />

recursos naturais, produção industrial e poluição seriam importantes<br />

fatores limitadores do <strong>de</strong>senvolvimento econômico. Era, portanto, fundamental<br />

aumentar o nível <strong>de</strong> consciência da população a respeito da<br />

escassez dos recursos do planeta e assim adotar um posicionamento crítico<br />

em relação às políticas então empregadas, tanto por países <strong>de</strong>senvolvidos<br />

como pelos países em processo <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento. 1<br />

Em 1972 foi realizada a Conferência das Nações Unidas sobre Meio<br />

Ambiente e Desenvolvimento (Conferência <strong>de</strong> Estocolmo), com participação<br />

<strong>de</strong> representantes <strong>de</strong> 114 países e 19 órgãos intergovernamentais,<br />

além <strong>de</strong> cerca <strong>de</strong> 400 organizações não-governamentais. 2 A importância<br />

da Conferência advém do fato <strong>de</strong> ela haver adotado uma abordagem<br />

1<br />

mccormick, John. Rumo<br />

ao paraíso. A história do<br />

movimento ambientalista.<br />

Tradução <strong>de</strong> Marco Antonio<br />

Esteves da Rocha e Renato<br />

Aguiar. <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> Janeiro:<br />

Relume Dumará. 1999,<br />

p.86.<br />

2<br />

Embora todos os países<br />

houvessem participado das<br />

reuniões preparatórias, os<br />

países do leste europeu,<br />

exceto a Romênia, se ausentaram<br />

das reuniões.


política, social e econômica dos problemas ambientais, possibilitando,<br />

assim, um maior envolvimento <strong>de</strong> diferentes setores da socieda<strong>de</strong> civil<br />

organizada e garantindo uma cobertura jornalística que sensibilizou boa<br />

parte da opinião pública planetária para as questões ambientais. 3 Os<br />

resultados concretos <strong>de</strong>ssa Conferência foram a criação <strong>de</strong> uma agência<br />

da onu especificamente <strong>de</strong>dicada ao meio ambiente (o pnuma – Programa<br />

das Nações Unidas para o Meio Ambiente, com se<strong>de</strong> na capital do<br />

Quênia, Nairobi), um chamado à cooperação internacional para reduzir<br />

os efeitos da poluição marinha e o estabelecimento <strong>de</strong> uma re<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

monitoramento global do ambiente. A Declaração <strong>de</strong> Princípios (Declaração<br />

<strong>de</strong> Estocolmo) e o Plano <strong>de</strong> Ação adotados pela Conferência <strong>de</strong><br />

Estocolmo, apesar <strong>de</strong> sua gran<strong>de</strong> divulgação, nunca foram efetivamente<br />

levados em consi<strong>de</strong>ração pelos países <strong>de</strong>senvolvidos.<br />

Vinte anos <strong>de</strong>pois realizou-se, no <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> Janeiro, a Conferência<br />

das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento – a Cúpula<br />

da Terra –, que ficou conhecida como <strong>Rio</strong>-92, igualmente reconhecida<br />

como um marco no <strong>de</strong>senvolvimento do Direito Ambiental Internacional.<br />

Mais <strong>de</strong> uma centena <strong>de</strong> chefes <strong>de</strong> Estado e <strong>de</strong> Governo estiveram presentes,<br />

além <strong>de</strong> uma infinida<strong>de</strong> <strong>de</strong> ongs, reunidas no chamado Fórum<br />

Global, que se <strong>de</strong>senvolveu em paralelo à Conferência oficial. Da <strong>Rio</strong>-92<br />

resultaram importantes documentos internacionais, como a Agenda 21<br />

e a Declaração do <strong>Rio</strong> sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, além<br />

da Convenção sobre Diversida<strong>de</strong> Biológica e da Convenção-Quadro das<br />

Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas.<br />

Além da Conferência <strong>de</strong> Estocolmo e da <strong>Rio</strong>-92, muitos outros<br />

tratados e convenções assinados nas últimas décadas retratam a preocupação<br />

internacional com o meio ambiente (é importante <strong>de</strong>stacar<br />

que muitos Estados, embora <strong>de</strong>las sejam signatários, relutam em aplicá-las).<br />

Dentre as principais convenções internacionais que tratam do<br />

meio ambiente, <strong>de</strong>stacam-se:<br />

● Convenção Ramsar sobre Áreas Úmidas <strong>de</strong> Importância Internacional,<br />

adotada em 1971, com ênfase na proteção das áreas<br />

úmidas;<br />

● Convenção sobre Comércio Internacional das Espécies da Flora<br />

e da Fauna Selvagem em perigo <strong>de</strong> Extinção – cites, que entrou<br />

em vigor, no Brasil, em 1975;<br />

● Convenção sobre Direitos do Mar, <strong>de</strong> 1976, que entrou em vigor em<br />

novembro <strong>de</strong> 1994, tendo como foco a proteção do meio ambiente<br />

marinho;<br />

● Convenção <strong>de</strong> Viena para a Proteção da Camada <strong>de</strong> Ozônio, celebrada<br />

em 22 <strong>de</strong> março <strong>de</strong> 1985, e complementada pelo Protocolo<br />

<strong>de</strong> Montreal sobre substâncias que <strong>de</strong>stroem a camada <strong>de</strong> ozônio,<br />

assinado em 17 <strong>de</strong> setembro <strong>de</strong> 1987;<br />

● Convenção da Basiléia sobre o movimento transfronteiriço <strong>de</strong> rejeitos<br />

potencialmente perigosos e seu <strong>de</strong>pósito, <strong>de</strong> 1989, que entrou<br />

em vigor, no Brasil, em 1992;<br />

● Protocolo <strong>de</strong> Quioto, complementar à Convenção-Quadro sobre<br />

Mudanças Climáticas, que estabelece metas para a redução dos<br />

gases <strong>de</strong> efeito estufa pelos países <strong>de</strong>senvolvidos e entrou em vigor<br />

em fevereiro <strong>de</strong> 2005.<br />

2 Evolução da Legislação Ambiental Brasileira 4<br />

Na década <strong>de</strong> 30 surgiram, no Brasil, as primeiras normas específicas<br />

relativas a bens ambientais, tais como o Código Florestal (Decreto<br />

23.793/34), o Código <strong>de</strong> Águas (Decreto 24.643/34; ainda hoje com<br />

muitos dispositivos em vigor), e o Decreto-Lei 25/37, que dispõe sobre<br />

a proteção do patrimônio cultural brasileiro.<br />

Na década <strong>de</strong> 60, foram editados o novo Código Florestal (Lei<br />

4.771/65, muito alterado <strong>de</strong>s<strong>de</strong> então) e a Lei <strong>de</strong> Proteção à Fauna (Lei<br />

5.197/1967, também muito alterada, especialmente pela Lei <strong>de</strong> Ccrimes<br />

e Infrações Administrativas Ambientais – lei 9.605/98). Na década<br />

<strong>de</strong> 70, diversos estados brasileiros instituíram seus sistemas <strong>de</strong> combate<br />

à poluição – o Estado do <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> Janeiro, por exemplo, editou o<br />

Decreto-Lei 134/75, instituindo o Sistema <strong>de</strong> Licenciamento <strong>de</strong> Ativida<strong>de</strong>s<br />

Poluidoras.<br />

Não se pensava ainda, contudo, na proteção do meio ambiente <strong>de</strong><br />

forma sistemática. Isso somente aconteceria com a edição da Lei Fe<strong>de</strong>ral<br />

6.938, em 1981. Essa lei, conhecida como a Lei da Polícia Nacional<br />

<strong>de</strong> Meio Ambiente, conceituou meio ambiente (“o conjunto <strong>de</strong> condições,<br />

leis, influências e interações <strong>de</strong> or<strong>de</strong>m física, química e biológica, que<br />

permite, abriga e rege a vida em todas as suas formas”), e estabeleceu<br />

outros conceitos jurídicos importantes, como o <strong>de</strong> poluição, poluidor,<br />

<strong>de</strong>gradação ambiental etc.<br />

Além disso, a Lei 6.938/81 instituiu o Sistema Nacional do Meio<br />

Ambiente, integrado por órgãos fe<strong>de</strong>rais, estaduais e municipais, e criou<br />

diversos instrumentos para a proteção do meio ambiente, tais como o<br />

zoneamento ambiental, o licenciamento ambiental, o estudo prévio <strong>de</strong><br />

impacto ambiental etc.<br />

Assim, a partir <strong>de</strong> sua edição, qualquer ativida<strong>de</strong> que possa ser<br />

causadora <strong>de</strong> algum tipo <strong>de</strong> <strong>de</strong>gradação ambiental precisa obter dos<br />

órgãos ambientais, antes <strong>de</strong> se instalar, uma licença ambiental (na<br />

verda<strong>de</strong>, são três licenças: a licença prévia, a licença <strong>de</strong> instalação e<br />

a licença <strong>de</strong> operação, cada uma <strong>de</strong>las concedida numa fase do processo<br />

<strong>de</strong> licenciamento). Caso a poluição que vier a ser causada pela<br />

ativida<strong>de</strong> seja consi<strong>de</strong>rada potencialmente significativa, o empreen<strong>de</strong>dor<br />

fica também obrigado a provi<strong>de</strong>nciar a realização <strong>de</strong> um estudo<br />

<strong>de</strong> impacto ambiental, que <strong>de</strong>verá ser discutido com a população inte-<br />

74 direito ambiental: origens, <strong>de</strong>senvolvimento e objetivos 75 fernando cavalcanti walcacer e virgínia totti guimarães<br />

3<br />

John McCormick afirma que<br />

a “Conferência <strong>de</strong> Estocolmo<br />

foi o acontecimento isolado<br />

que mais influiu na evolução<br />

do movimento ambientalista<br />

internacional”.<br />

Explica que apresentou<br />

quatro importantes resultados:<br />

confirmou a tendência<br />

sobre meio ambiente<br />

humano que advém da<br />

transformação do ambientalismo<br />

em uma questão<br />

política mais racional e global;<br />

“forçou um compromisso<br />

entre as diferentes<br />

percepções sobre o meio<br />

ambiente <strong>de</strong>fendidas pelos<br />

países mais e menos <strong>de</strong>senvolvidos”;<br />

marcou o início<br />

do novo papel das ONG’s na<br />

questão ambiental; e, como<br />

produto tangível, originou o<br />

Programa <strong>de</strong> Meio Ambiente<br />

das Nações Unidas. mccormick,<br />

John. Obra citada,<br />

p. 111. Cabe <strong>de</strong>stacar que<br />

a Conferência da Biosfera,<br />

realizada em 1968, não teve<br />

o mesmo alcance, pois discutiu<br />

os aspectos científicos<br />

da conservação da biosfera.<br />

4<br />

A legislação ambiental brasileira<br />

encontra-se disponível<br />

na re<strong>de</strong> mundial <strong>de</strong><br />

computadores nos seguintes<br />

sites:<br />

• leis e <strong>de</strong>cretos fe<strong>de</strong>rais:<br />

www.planalto.gov.br;<br />

• resoluções do conama:<br />

www.mma.gov.br/conama;<br />

• leis estaduais:<br />

www.alerj.rj.gov.br.


essada, em audiências públicas, e avaliado pelos órgãos ambientais<br />

competentes.<br />

Outra importante novida<strong>de</strong> da Política Nacional do Meio Ambiente<br />

foi estabelecer um regime rigoroso <strong>de</strong> responsabilização civil do poluidor<br />

(necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> in<strong>de</strong>nizar ou reparar os danos por ele causados<br />

ao meio ambiente e a terceiros atingidos por suas ativida<strong>de</strong>s). Em tais<br />

casos, dispensou-se a exigência <strong>de</strong> ficar provada a culpa do poluidor –<br />

bastando a comprovação do dano ambiental e <strong>de</strong> sua causa. Assim, se<br />

uma empresa polui um curso d’água, ela <strong>de</strong>verá reparar o dano ambiental<br />

causado, pouco importando quais tenham sido as causas do dano. É<br />

um tipo <strong>de</strong> responsabilida<strong>de</strong> que se fundamenta no risco da ativida<strong>de</strong>,<br />

e não na culpa do agente causador do dano.<br />

Em 1985, foi editada outra norma legal muito importante: a Lei<br />

7.345/85, que disciplina a ação civil pública por danos causados ao<br />

meio ambiente, ao consumidor, e a outros bens e direitos <strong>de</strong> valor artístico,<br />

estético, histórico, turístico e paisagístico. Essa lei permitiu à socieda<strong>de</strong><br />

civil organizada ajuizar ações contra empreendimentos poluidores,<br />

sem que seja preciso <strong>de</strong>monstrar um interesse pessoal no resultado da<br />

causa. Assim, por exemplo, uma associação fundada com a finalida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> proteger o meio ambiente, com se<strong>de</strong> no município do <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> Janeiro,<br />

po<strong>de</strong> ingressar na Justiça contra a poluição que esteja sendo causada<br />

no município <strong>de</strong> <strong>Duque</strong> <strong>de</strong> <strong>Caxias</strong>, ou <strong>de</strong> Resen<strong>de</strong> – ainda que nenhum<br />

<strong>de</strong> seus membros resida ou tenha proprieda<strong>de</strong>s naqueles municípios.<br />

O Ministério Público também teve suas funções relativas à proteção do<br />

meio ambiente extraordinariamente reforçadas pela lei 7.347/85, mais<br />

tar<strong>de</strong> ampliada pelo Código <strong>de</strong> Defesa do Consumidor (lei 8.078/90).<br />

A proteção jurídica do meio ambiente no Brasil teve o seu momento<br />

maior em 1988, quando foi promulgada a nova Constituição da República.<br />

Ela contém inúmeras disposições relativas à matéria, com <strong>de</strong>staque<br />

para o seu artigo 225, que estabelece:<br />

Art.225 Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado,<br />

bem <strong>de</strong> uso comum do povo e essencial à sadia<br />

qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida, impondo-se ao Po<strong>de</strong>r Público e à coletivida<strong>de</strong><br />

o <strong>de</strong>ver <strong>de</strong> <strong>de</strong>fendê-lo e preservá-lo para as presentes<br />

e futuras gerações.<br />

§1º Para assegurar a efetivida<strong>de</strong> <strong>de</strong>sse direito, incumbe ao<br />

Po<strong>de</strong>r Público:<br />

I preservar e restaurar os processos ecológicos essenciais<br />

e prover o manejo ecológico das espécies e<br />

ecossistemas;<br />

II preservar a diversida<strong>de</strong> e a integrida<strong>de</strong> do patrimônio<br />

genético do País e fiscalizar as entida<strong>de</strong>s <strong>de</strong>dicadas<br />

à pesquisa e manipulação <strong>de</strong> material genético;<br />

III <strong>de</strong>finir, em todas as unida<strong>de</strong>s da Fe<strong>de</strong>ração, espaços<br />

territoriais e seus componentes a serem especialmente<br />

protegidos, sendo a alteração e a supressão<br />

permitidas somente através <strong>de</strong> lei, vedada qualquer<br />

utilização que comprometa a integrida<strong>de</strong> dos atributos<br />

que justifiquem sua proteção;<br />

IV exigir, na forma da lei, para instalação <strong>de</strong> obra ou<br />

ativida<strong>de</strong> potencialmente causadora <strong>de</strong> significativa<br />

<strong>de</strong>gradação do meio ambiente, estudo prévio <strong>de</strong><br />

impacto ambiental, a que se dará publicida<strong>de</strong>;<br />

V controlar a produção, a comercialização e o emprego<br />

<strong>de</strong> técnicas, métodos e substâncias que comportem<br />

risco para a vida, a qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida e o meio<br />

ambiente;<br />

VI promover a educação ambiental em todos os níveis<br />

<strong>de</strong> ensino e a conscientização pública para a preservação<br />

do meio ambiente;<br />

VII proteger a fauna e a flora, vedadas, na forma da lei,<br />

as práticas que coloquem em risco sua função ecológica,<br />

provoquem a extinção <strong>de</strong> espécies ou submetam<br />

os animais a cruelda<strong>de</strong>.<br />

§2º Aquele que explorar recursos minerais fica obrigado a<br />

recuperar o meio ambiente <strong>de</strong>gradado, <strong>de</strong> acordo com<br />

solução técnica exigida pelo órgão público competente,<br />

na forma da lei.<br />

§3º As condutas e ativida<strong>de</strong>s consi<strong>de</strong>radas lesivas ao meio<br />

ambiente sujeitarão os infratores, pessoas físicas ou jurídicas,<br />

a sanções penais e administrativas, in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntemente<br />

da obrigação <strong>de</strong> reparar os danos causados.<br />

§4º A Floresta Amazônica brasileira, a Mata Atlântica, a<br />

Serra do Mar, o Pantanal Mato-Grossense e a Zona Costeira<br />

são patrimônio nacional, e sua utilização far-se-á,<br />

na forma da lei, <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> condições que assegurem a<br />

preservação do meio ambiente, inclusive quanto ao uso<br />

dos recursos naturais.<br />

§5º São indisponíveis as terras <strong>de</strong>volutas ou arrecadadas<br />

pelos Estados, por ações discriminatórias, necessárias<br />

à proteção dos ecossistemas naturais.<br />

§6º As usinas que operem com reator nuclear <strong>de</strong>verão ter sua<br />

localização <strong>de</strong>finida em lei fe<strong>de</strong>ral, sem o que não po<strong>de</strong>rão<br />

ser instaladas.<br />

76 direito ambiental: origens, <strong>de</strong>senvolvimento e objetivos 77 fernando cavalcanti walcacer e virgínia totti guimarães


Cabe <strong>de</strong>stacar ainda outras importantes leis sobre proteção do meio<br />

ambiente:<br />

● Lei 4.717/1965: disciplina a ação popular;<br />

● Lei 6.766/1979: dispõe sobre o parcelamento do solo urbano;<br />

● Lei 7.661/1988: instituiu o Plano Nacional <strong>de</strong> Gerenciamento<br />

Costeiro;<br />

● Lei 8.723/1993: dispôs sobre a emissão <strong>de</strong> poluentes por veículos<br />

automotores;<br />

● Lei 9.055/1995: disciplina a utilização do asbesto/amianto;<br />

● Lei 9.433/1997: cria a Política Nacional <strong>de</strong> Recursos Hídricos;<br />

● Lei 9.605/1998: dispõe sobre crimes e infrações administrativas<br />

ambientais;<br />

● Lei 9.795/1999: dispõe sobre a Política Nacional <strong>de</strong> Educação<br />

Ambiental;<br />

● Lei 9.985/2000: instituiu o Sistema Nacional <strong>de</strong> Unida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> Conservação<br />

(snuc);<br />

● Lei 10.257/2001: Estatuto da Cida<strong>de</strong>;<br />

● Lei 10.650/2003: dispõe sobre o acesso público aos dados e informações<br />

do sisnama;<br />

● Lei 11.105/2005: dispõe sobre biossegurança;<br />

● Lei 11.284/2006: institui o Sistema Florestal Brasileiro e o Fundo<br />

Nacional <strong>de</strong> Desenvolvimento Florestal;<br />

● Lei 11.428/2006: dispõe sobre a utilização e a proteção da vegetação<br />

nativa do bioma Mata Atlântica;<br />

● Lei 11.445/2007: dispõe sobre o saneamento básico.<br />

O Direito Ambiental, ramo do direito público, dotado <strong>de</strong> autonomia e<br />

princípios próprios, constitui um sistema coerente e lógico, “voltado à<br />

proteção da diversida<strong>de</strong> biológica e da sadia qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida <strong>de</strong>ntro<br />

<strong>de</strong> um meio ambiente ecologicamente equilibrado”. 5 Nesse sentido, Édis<br />

Milaré o conceitua como “o complexo <strong>de</strong> princípios e normas reguladoras<br />

das ativida<strong>de</strong>s humanas que, direta ou indiretamente, possam afetar a<br />

sanida<strong>de</strong> do ambiente em sua dimensão global, visando à sua sustentabilida<strong>de</strong><br />

para as presentes e futuras gerações”. 6<br />

O Direito Ambiental possui origens relacionadas à necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

disciplinar a atuação e a interferência humanas nos ecossistemas, evitando<br />

as suas drásticas consequências. Seu objetivo é claramente <strong>de</strong>finido:<br />

a proteção e conservação do meio ambiente.<br />

3 O Meio Ambiente na Legislação Brasileira<br />

O tratamento jurídico do meio ambiente é estabelecido por inúmeras<br />

normas, <strong>de</strong>ntre elas leis e <strong>de</strong>cretos fe<strong>de</strong>rais, estaduais e municipais, bem<br />

como resoluções do Conselho Nacional do Meio Ambiente – conama,<br />

alcançando o meio ambiente natural, cultural, artificial e do trabalho.<br />

A seguir, apresentam-se algumas questões importantes tratadas<br />

pelo Direito Ambiental brasileiro.<br />

3.1 Proteção jurídica das florestas<br />

O Código Florestal (Lei 4.771/65) é uma norma <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> importância<br />

para a preservação das florestas. Ele instituiu o conceito <strong>de</strong> Áreas <strong>de</strong><br />

Preservação Permanente (app), compostas pelas florestas e <strong>de</strong>mais<br />

formas <strong>de</strong> vegetação natural situadas:<br />

a) Ao longo dos rios ou <strong>de</strong> qualquer curso d’água <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o seu nível<br />

mais alto em faixa marginal cuja largura mínima será:<br />

● <strong>de</strong> 30 (trinta) metros para os cursos d’água <strong>de</strong> menos <strong>de</strong><br />

10 (<strong>de</strong>z) metros <strong>de</strong> largura;<br />

● <strong>de</strong> 50 (cinquenta) metros para os cursos d’água que<br />

tenham <strong>de</strong> 10 (<strong>de</strong>z) a 50 (cinquenta) metros <strong>de</strong> largura;<br />

● <strong>de</strong> 100 (cem) metros para os cursos d’água que tenham <strong>de</strong><br />

50 (cinquenta) a 200 (duzentos) metros <strong>de</strong> largura;<br />

● <strong>de</strong> 200 (duzentos) metros para os cursos d’água que<br />

tenham <strong>de</strong> 200 (duzentos) a 600 (seiscentos) metros <strong>de</strong><br />

largura;<br />

● <strong>de</strong> 500 (quinhentos) metros para os cursos d’água que<br />

tenham largura superior a 600 (seiscentos) metros;<br />

b) Ao redor das lagoas, lagos ou reservatórios d’água naturais ou<br />

artificiais;<br />

c) Nas nascentes, ainda que intermitentes, e nos chamados “olhos<br />

d’água”, qualquer que seja a sua situação topográfica, num raio<br />

mínimo <strong>de</strong> 50 (cinquenta) metros <strong>de</strong> largura;<br />

d) No topo <strong>de</strong> morros, montes, montanhas e serras;<br />

e) Nas encostas ou partes <strong>de</strong>stas, com <strong>de</strong>clivida<strong>de</strong> superior a 45°,<br />

equivalente a 100% na linha <strong>de</strong> maior <strong>de</strong>clive;<br />

f) Nas restingas, como fixadoras <strong>de</strong> dunas ou estabilizadoras <strong>de</strong><br />

mangues;<br />

g) Nas bordas dos tabuleiros ou chapadas, a partir da linha <strong>de</strong> ruptura<br />

do relevo, em faixa nunca inferior a 100 (cem) metros em pro-<br />

78 direito ambiental: origens, <strong>de</strong>senvolvimento e objetivos 79 fernando cavalcanti walcacer e virgínia totti guimarães<br />

5<br />

figueredo, Guilherme<br />

José Purvin <strong>de</strong>. Curso <strong>de</strong><br />

Direito Ambiental. Curitiba:<br />

Arte & Letra, 2008, p. 37.<br />

6<br />

milaré. Direito do<br />

ambiente: doutrina, prática,<br />

jurisprudência, glossário.<br />

São Paulo: Revista dos<br />

Tribunais, 2000, p. 93.


jeções horizontais;<br />

h) Em altitu<strong>de</strong> superior a 1.800 (mil e oitocentos) metros, qualquer<br />

que seja a vegetação.<br />

Em princípio, as áreas <strong>de</strong> preservação permanente não po<strong>de</strong>m ser utilizadas<br />

pelos seus proprietários, mesmo que não estejam cobertas por<br />

vegetação nativa. Elas possuem a função ambiental <strong>de</strong> preservar os<br />

recursos hídricos, a paisagem, a estabilida<strong>de</strong> geológica, a biodiversida<strong>de</strong>,<br />

o fluxo gênico <strong>de</strong> fauna e flora. Também protegem o solo e asseguram<br />

o bem-estar das populações humanas.<br />

O Código Florestal instituiu, ainda, a Reserva legal, correspon<strong>de</strong>nte<br />

a uma parcela da proprieda<strong>de</strong> rural que <strong>de</strong>ve ser averbada no<br />

Registro Geral <strong>de</strong> Imóveis, após aprovação do órgão estadual <strong>de</strong> meio<br />

ambiente, e na qual se admite unicamente a exploração sustentável, <strong>de</strong><br />

acordo com princípios e critérios técnicos e científicos. 7 Em proprieda<strong>de</strong>s<br />

rurais situadas em área <strong>de</strong> Mata Atlântica, a Reserva legal será <strong>de</strong><br />

20% (vinte por cento).<br />

Em relação à proteção jurídica das florestas, cabe ainda <strong>de</strong>stacar<br />

a Lei 11.428/2006, que estabelece o regime <strong>de</strong> utilização e proteção da<br />

vegetação nativa do bioma Mata Atlântica.<br />

3.2 Unida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> Conservação da Natureza<br />

Unida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Conservação da Natureza é o “espaço territorial e seus recursos<br />

ambientais, incluindo as águas jurisdicionais, com características<br />

naturais relevantes, legalmente instituído pelo Po<strong>de</strong>r Público, com objetivos<br />

<strong>de</strong> conservação e limites <strong>de</strong>finidos, sob regime especial <strong>de</strong> administração,<br />

ao qual se aplicam garantias a<strong>de</strong>quadas <strong>de</strong> proteção” (art. 2º,<br />

I da Lei Fe<strong>de</strong>ral 9.9985/2000).<br />

As Unida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> Conservação são divididas em unida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> proteção<br />

integral e unida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> uso sustentável. As primeiras não admitem<br />

o uso direto, ou seja, aquele que envolve coleta e uso dos recursos<br />

naturais. Já as unida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> uso sustentável objetivam compatibilizar o<br />

uso sustentável dos recursos com a conservação ambiental, admitindo,<br />

assim, o uso direto.<br />

São categorias <strong>de</strong> unida<strong>de</strong> <strong>de</strong> conservação <strong>de</strong> proteção integral:<br />

i Estação Ecológica;<br />

ii Reserva Biológica;<br />

iii Parque Nacional, Estadual ou Municipal;<br />

iv Monumento Natural;<br />

v Refúgio da Vida Silvestre.<br />

São categorias <strong>de</strong> unida<strong>de</strong> <strong>de</strong> conservação <strong>de</strong> uso sustentável;<br />

i Área <strong>de</strong> Proteção Ambiental;<br />

ii Área <strong>de</strong> Relevante Interesse Ecológico;<br />

iii Floresta Nacional, Estadual e Municipal;<br />

iv Reserva Extrativista;<br />

v Reserva <strong>de</strong> Fauna;<br />

vi Reserva <strong>de</strong> Desenvolvimento Sustentável;<br />

vii Reserva Particular do Patrimônio Natural.<br />

Cada categoria <strong>de</strong> unida<strong>de</strong> <strong>de</strong> conservação possui características e objetivos<br />

próprios, que envolvem especialmente:<br />

● A necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> ser constituída por terras públicas ou a possibilida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> ser instituída em terras <strong>de</strong> domínio privado;<br />

● A possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> serem realizadas pesquisas científicas em seu<br />

interior, bem como a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong>sta ativida<strong>de</strong> ser autorizada;<br />

● A admissão <strong>de</strong> visitação pública em seu interior;<br />

● As ativida<strong>de</strong>s que são admitidas nos seus limites.<br />

Assim, <strong>de</strong> acordo com as características do local, o Po<strong>de</strong>r Público <strong>de</strong>verá<br />

verificar qual <strong>de</strong>stas categorias aten<strong>de</strong>rá aos objetivos <strong>de</strong> proteção do<br />

meio ambiente, consi<strong>de</strong>rando-se, ainda, a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>de</strong>sapropriar<br />

as terras envolvidas, assim como a eventual remoção da população resi<strong>de</strong>nte<br />

na área.<br />

Apenas a título <strong>de</strong> exemplo, apresentam-se as principais características<br />

da Reserva Biológica e da área <strong>de</strong> proteção ambiental:<br />

Reserva Biológica: tem como objetivo a preservação integral da<br />

biota e <strong>de</strong>mais atributos naturais existentes em seus limites, sem interferência<br />

humana direta ou modificações ambientais. Admite apenas<br />

medidas <strong>de</strong> recuperação <strong>de</strong> seus ecossistemas alterados e as ações <strong>de</strong><br />

manejo necessárias para recuperar e preservar o equilíbrio natural, a<br />

diversida<strong>de</strong> biológica e os processos ecológicos naturais. É <strong>de</strong> posse e<br />

domínio públicos, sendo que as áreas particulares incluídas nos seus<br />

limites <strong>de</strong>vem ser <strong>de</strong>sapropriadas. A visitação pública é proibida, exceto<br />

quando tenha objetivo educacional. A pesquisa científica <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

autorização prévia do órgão responsável pela administração da unida<strong>de</strong><br />

e está sujeita às condições e restrições por este estabelecidas.<br />

Área <strong>de</strong> Proteção Ambiental: é uma área em geral extensa, com<br />

certo grau <strong>de</strong> ocupação humana, dotada <strong>de</strong> atributos importantes para<br />

a qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida e o bem-estar das populações humanas. Possui<br />

como objetivo proteger a diversida<strong>de</strong> biológica, disciplinar o processo <strong>de</strong><br />

ocupação e assegurar a sustentabilida<strong>de</strong> do uso dos recursos naturais.<br />

Po<strong>de</strong> ser constituída em terras públicas ou privadas. Admite visitação<br />

80 direito ambiental: origens, <strong>de</strong>senvolvimento e objetivos 81 fernando cavalcanti walcacer e virgínia totti guimarães<br />

7<br />

Nos casos <strong>de</strong> utilida<strong>de</strong><br />

pública ou <strong>de</strong> interesse<br />

social, a legislação prevê<br />

a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> supressão<br />

<strong>de</strong> vegetação em área <strong>de</strong><br />

preservação permanente.


pública e pesquisas científicas.<br />

Importa mencionar que as unida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> conservação <strong>de</strong> proteção<br />

integral <strong>de</strong>vem dispor <strong>de</strong> um Conselho Consultivo, presidido pelo órgão<br />

responsável por sua administração e constituído por representantes <strong>de</strong><br />

órgãos públicos, <strong>de</strong> organizações da socieda<strong>de</strong> civil, por proprietários<br />

<strong>de</strong> terras localizadas em Refúgio <strong>de</strong> Vida Silvestre ou Monumento Natural,<br />

quando for o caso.<br />

3.3 Recursos hídricos<br />

A principal legislação brasileira sobre recursos hídricos é a Lei Fe<strong>de</strong>ral<br />

9.433/97, que institui a Política Nacional <strong>de</strong> Recursos Hídricos e cria o<br />

Sistema Nacional <strong>de</strong> Gerenciamento <strong>de</strong> Recursos Hídricos.<br />

A lei estabelece como fundamentos da Política Nacional <strong>de</strong> Recursos<br />

Hídricos os seguintes princípios:<br />

● A água é um bem <strong>de</strong> domínio público;<br />

● A água é um recurso natural limitado, dotado <strong>de</strong> valor<br />

econômico;<br />

● Em situações <strong>de</strong> escassez, o uso prioritário dos recursos hídricos<br />

é o consumo humano e a <strong>de</strong>sse<strong>de</strong>ntação <strong>de</strong> animais;<br />

● A gestão dos recursos hídricos <strong>de</strong>ve sempre proporcionar o uso<br />

múltiplo das águas;<br />

● A bacia hidrográfica é a unida<strong>de</strong> <strong>de</strong> implementação da Política<br />

Nacional <strong>de</strong> Recursos Hídricos e atuação do Sistema Nacional <strong>de</strong><br />

Gerenciamento <strong>de</strong> Recursos Hídricos;<br />

● A gestão dos recursos hídricos <strong>de</strong>ve ser <strong>de</strong>scentralizada e contar<br />

com a participação do Po<strong>de</strong>r Público, dos usuários e das<br />

comunida<strong>de</strong>s.<br />

A partir da edição <strong>de</strong>ssa Lei, como forma <strong>de</strong> reconhecer a água como<br />

um bem econômico e dar ao usuário uma indicação <strong>de</strong> seu real valor,<br />

incentivar a racionalização do seu uso e obter recursos financeiros para<br />

a gestão dos recursos hídricos, foi estabelecida a cobrança pelo uso da<br />

água.<br />

Estão isentos da cobrança:<br />

i O uso <strong>de</strong> recursos hídricos para a satisfação das necessida<strong>de</strong>s <strong>de</strong><br />

pequenos núcleos populacionais, distribuídos no meio rural;<br />

ii As <strong>de</strong>rivações, captações e lançamentos consi<strong>de</strong>rados<br />

insignificantes;<br />

iii As acumulações <strong>de</strong> volumes <strong>de</strong> água consi<strong>de</strong>radas insignificantes.<br />

4 O Licenciamento Ambiental <strong>de</strong> Ativida<strong>de</strong>s Poluidoras<br />

A legislação ambiental exige que empreendimentos e ativida<strong>de</strong>s utilizadoras<br />

<strong>de</strong> recursos ambientais que sejam consi<strong>de</strong>radas efetiva ou<br />

potencialmente poluidoras, bem como os empreendimentos capazes<br />

<strong>de</strong> causar <strong>de</strong>gradação ambiental, sejam submetidos ao prévio licenciamento<br />

do órgão ambiental competente.<br />

A Resolução conama 237/97, principal norma sobre o assunto,<br />

elenca as ativida<strong>de</strong>s e empreendimentos sujeitos ao prévio licenciamento<br />

ambiental (relação constante no anexo 1), sendo que o órgão ambiental<br />

po<strong>de</strong>rá exigir licenças ambientais para ativida<strong>de</strong>s que não constem<br />

<strong>de</strong>sta relação.<br />

A legislação prevê três licenças ambientais:<br />

I Licença Prévia (lp): concedida na fase preliminar do planejamento<br />

do empreendimento ou ativida<strong>de</strong>, com o objetivo <strong>de</strong> aprovar sua<br />

localização e concepção, bem como atestar sua viabilida<strong>de</strong> ambiental.<br />

Nessa fase, quando necessário, é apresentado o Estudo Prévio<br />

<strong>de</strong> Impacto Ambiental (eia);<br />

II Licença <strong>de</strong> Instalação (li): autoriza a instalação do empreendimento<br />

ou ativida<strong>de</strong>;<br />

III Licença <strong>de</strong> Operação (lo): autoriza a operação da ativida<strong>de</strong> ou<br />

empreendimento.<br />

No licenciamento <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong>s e empreendimentos consi<strong>de</strong>rados passíveis<br />

<strong>de</strong> causar significativo impacto ambiental <strong>de</strong>verá ser exigido<br />

o Estudo Prévio <strong>de</strong> Impacto Ambiental (eia) e seu respectivo Relatório<br />

<strong>de</strong> Impacto ao Meio Ambiente (rima), disciplinados pela Resolução nº<br />

001/86 do conama.<br />

O rima é um relatório simplificado, em linguagem acessível à<br />

população, das informações técnicas constantes do EIA, que <strong>de</strong>verá permanecer<br />

disponível para consulta e acesso públicos.<br />

No caso <strong>de</strong> realização <strong>de</strong> eia/rima, sempre que o órgão licenciador<br />

julgar necessário, ou quando solicitado por entida<strong>de</strong> civil, pelo Ministério<br />

Público, ou por 50 (cinquenta) ou mais cidadãos, <strong>de</strong>verão ser realizadas<br />

audiências públicas, com o intuito <strong>de</strong> informar e coletar opiniões<br />

da população acerca do empreendimento.<br />

5 Participação na Gestão Ambiental<br />

Como visto, o meio ambiente ecologicamente equilibrado é um bem<br />

<strong>de</strong> uso comum do povo, tendo a coletivida<strong>de</strong>, juntamente com o Po<strong>de</strong>r<br />

Público, o <strong>de</strong>ver <strong>de</strong> protegê-lo para as presentes e futuras gerações. Além<br />

disso, o direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado pertence<br />

a toda a coletivida<strong>de</strong>.<br />

Alguns instrumentos buscam possibilitar a ampla participação da<br />

82 direito ambiental: origens, <strong>de</strong>senvolvimento e objetivos 83 fernando cavalcanti walcacer e virgínia totti guimarães


socieda<strong>de</strong> na gestão do meio ambiente, po<strong>de</strong>ndo ser mencionados:<br />

● Audiências públicas, realizadas no procedimento <strong>de</strong> licenciamento<br />

ambiental <strong>de</strong> empreendimentos e ativida<strong>de</strong>s que realizem estudo<br />

prévio <strong>de</strong> impacto ambiental;<br />

● Consultas públicas para a instituição <strong>de</strong> unida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> conservação,<br />

exceto estação ecológica ou reserva biológica.<br />

6 Fiscalização ambiental<br />

As normas ambientais estabelecem direitos, <strong>de</strong>veres, obrigações e procedimentos<br />

relacionados à garantia da sadia qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida da população<br />

e da manutenção do meio ambiente ecologicamente equilibrado.<br />

Infelizmente, em muitos casos tais normas não são cumpridas, o<br />

que ocorre, por exemplo, (i) quando uma empresa não possui licença<br />

ambiental para a realização <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong>s potencialmente causadoras<br />

<strong>de</strong> <strong>de</strong>gradação ambiental; (ii) quando não foi solicitada a autorização<br />

<strong>de</strong> supressão <strong>de</strong> vegetação; (iii) quando a emissão <strong>de</strong> efluentes, sejam<br />

eles líquidos ou gasosos, não está <strong>de</strong> acordo com os padrões legais.<br />

Nesses casos, <strong>de</strong>ve ocorrer a responsabilida<strong>de</strong> daquele que praticou a<br />

conduta.<br />

A responsabilida<strong>de</strong> ambiental ocorre em três esferas: cível, em que<br />

se exige a reparação dos danos ambientais causados; penal, na qual<br />

se aplica uma sanção criminal, que po<strong>de</strong> ser <strong>de</strong>s<strong>de</strong> multa até mesmo a<br />

<strong>de</strong>tenção do responsável; administrativa, em que são aplicadas multas,<br />

<strong>de</strong>ntre outras sanções, pelos órgãos ambientais.<br />

Ocorre que, muitas vezes, os órgãos competentes para apurar a<br />

responsabilida<strong>de</strong> dos causadores <strong>de</strong> danos ambientais apenas tomam<br />

conhecimento <strong>de</strong> <strong>de</strong>terminado fato por meio <strong>de</strong> <strong>de</strong>núncias da população<br />

– que constitui um parceiro importante no combate às <strong>de</strong>gradações<br />

ao meio ambiente.<br />

Os principais órgãos responsáveis pela apuração <strong>de</strong> danos ambientais,<br />

nas suas respectivas competências, são:<br />

i Órgãos públicos ambientais: ibama (fe<strong>de</strong>ral), inea (estado do <strong>Rio</strong><br />

<strong>de</strong> Janeiro), Secretaria <strong>de</strong> Meio Ambiente (município <strong>de</strong> <strong>Duque</strong> <strong>de</strong><br />

<strong>Caxias</strong>);<br />

ii Ministério Público, Fe<strong>de</strong>ral ou Estadual.<br />

Além disso, importantes aliados na manutenção do meio ambiente ecologicamente<br />

equilibrado são as organizações não governamentais e associações<br />

civis que, inclusive, possuem competência para ajuizar ação civil<br />

pública diante da ocorrência <strong>de</strong> dano ambiental.<br />

Bibliografia<br />

carson, R. Silent, Spring. Houghton Mifflin Co.: New York, 1962.<br />

comissão mundial in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte sobre meio ambiente e<br />

<strong>de</strong>senvolvimento. Nosso Futuro Comum. <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> Janeiro: Editora da<br />

Fundação Getúlio Vargas, 1988.<br />

machado, Paulo Affonso Leme. Direito Ambiental Brasileiro. 12a ed. rev., atual. e<br />

amp. São Paulo: Malheiros, 2004.<br />

meadows, D. et alli. Os Limites do Crescimento. Editora Perspectiva, 1973.<br />

milaré, Édis. Direito do Ambiente: doutrina, prática, jurisprudência, glossário. 3ª<br />

edição. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2004.<br />

ost, François. A natureza à margem da lei: a ecologia à prova do direito. Lisboa:<br />

Instituto Piaget, 1997.<br />

rodrigues, Marcelo Abelha. Elementos do Direito Ambiental: parte geral. 2ª ed.<br />

rev., atual. e ampl. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2005.<br />

silva, José Afonso da. Direito Ambiental Constitucional. 2a ed. rev.. São Paulo:<br />

Malheiros, 1998.<br />

siqueira, Josafá Carlos <strong>de</strong>. Ética e Meio Ambiente. 2ª edição. São Paulo: Edições<br />

Loyola, 2002.<br />

soares, Guido Fernando Silva. Direito Internacional do Meio Ambiente:<br />

emergência, obrigações e responsabilida<strong>de</strong>s. São Paulo: Atlas, 2001.<br />

Fernando Cavalcanti Walcacer (Direito)<br />

Advogado e professor <strong>de</strong> Direito Ambiental da Pontifícia Universida<strong>de</strong> Católica do<br />

<strong>Rio</strong> <strong>de</strong> Janeiro (puc-<strong>Rio</strong>). Vice-diretor do Núcleo Interdisciplinar <strong>de</strong> Meio Ambiente<br />

e coor<strong>de</strong>nador do setor <strong>de</strong> Direito Ambiental do nima. Coor<strong>de</strong>nador acadêmico do<br />

curso <strong>de</strong> pós-graduação lato sensu em Direito Ambiental da puc-<strong>Rio</strong>.<br />

walcacer@jur.puc-rio.br<br />

Virgínia Totti Guimarães (Direito)<br />

Advogada, mestranda em Planejamento Urbano e Regional no ippur/ufrj.<br />

Especialista em Direito Ambiental pela puc-<strong>Rio</strong> (2008) e em Advocacia Pública<br />

pela uerj (2004).<br />

vtotti@uol.com.br<br />

84 direito ambiental: origens, <strong>de</strong>senvolvimento e objetivos 85 fernando cavalcanti walcacer e virgínia totti guimarães


Regina Célia <strong>de</strong> Mattos<br />

Educação Ambiental:<br />

por que e para quê?<br />

O processo educacional é uma construção permanente e dinâmica. A<br />

educação formal, escolar, é complementada pela <strong>de</strong>nominada informal,<br />

que po<strong>de</strong>mos, sem pecar pela simplificação, enten<strong>de</strong>r como sendo o conjunto<br />

<strong>de</strong> relações sociais sob as quais o indivíduo está submetido, seja<br />

na casa, nos círculos <strong>de</strong> vizinhança, nas brinca<strong>de</strong>iras, nos encontros,<br />

enfim, no cotidiano <strong>de</strong> sua vida. A partir <strong>de</strong>sse entendimento, perguntamo-nos:<br />

por que e para que educação ambiental?<br />

A contemporaneida<strong>de</strong> do capitalismo tem evi<strong>de</strong>nciado, e <strong>de</strong><br />

maneira assustadora, as consequências <strong>de</strong> um processo concentrador<br />

<strong>de</strong> riquezas e <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r por um lado, e, por outro, a pobreza, o abandono<br />

social e a expansão da violência que não se restringe aos espaços<br />

classicamente <strong>de</strong>nominados <strong>de</strong> urbanos. As profundas <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong>s,<br />

a intensificação e a expansão dos múltiplos processos <strong>de</strong> transformação<br />

da natureza têm propiciado um crescente movimento do reconhecimento<br />

dos limites <strong>de</strong>sse tipo <strong>de</strong> reprodução societal, manifestado em<br />

inúmeras matizes, mas que tem como pano <strong>de</strong> fundo a preocupação<br />

com os <strong>de</strong>rivados “problemas ambientais”.<br />

Torna-se cada vez mais premente a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> enten<strong>de</strong>rmos a<br />

problemática ambiental no âmbito <strong>de</strong> um processo <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento<br />

que assume as suas particularida<strong>de</strong>s a partir <strong>de</strong> diretrizes norteadoras<br />

globalizadas, o que <strong>de</strong>monstra a impossibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> separarmos o uso<br />

predatório e aniquilador da natureza e as condições profundamente<br />

<strong>de</strong>siguais em que vivem milhões <strong>de</strong> pessoas. É a partir <strong>de</strong>sse entendimento<br />

que, <strong>de</strong> novo, fazemos a pergunta: por que e para que educação<br />

ambiental?<br />

A relação do homem com a natureza é tão intrínseca que muitas<br />

vezes não percebemos que somos natureza tanto orgânica como socialmente,<br />

a segunda natureza, se é que po<strong>de</strong>mos separar essas dimensões.<br />

Somos água, potássio, magnésio e uma relação imensa <strong>de</strong> elementos<br />

que são responsáveis pela nossa energia e, portanto, pela nossa capacida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> crescer, <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolver movimentos, <strong>de</strong> raciocinar. Em nossa<br />

contemporaneida<strong>de</strong>, os elementos naturais são cada vez mais transformados<br />

por processos que se materializam em vigorosos sistemas técnicos<br />

(edificações, equipamentos, fontes energéticas e outros) que impõem<br />

padrões <strong>de</strong> conduta que nos alienam, distanciando-nos <strong>de</strong>ssa orgânica<br />

relação, pois vemos a natureza apenas como objeto, fonte <strong>de</strong> recursos<br />

e <strong>de</strong> lazer.<br />

É esse processo <strong>de</strong> alienação que faz com que a preservação ou<br />

a conservação da natureza se torne foco crescente <strong>de</strong> estratégias <strong>de</strong><br />

ações tanto <strong>de</strong> agentes privados como públicos, surgindo como quesito<br />

básico para políticas e or<strong>de</strong>namentos territoriais, liberação <strong>de</strong> financiamentos<br />

nacionais e internacionais, tornando-se uma verda<strong>de</strong>ira moeda<br />

<strong>de</strong> troca.<br />

A prática do alienante discurso <strong>de</strong>senvolvimentista-economicista<br />

colocou em xeque a sua sustentabilida<strong>de</strong>. A noção <strong>de</strong> sustentabilida<strong>de</strong><br />

surge em 1992, através da Conferência das Nações Unidas sobre Meio<br />

Ambiente e Desenvolvimento (unced), e se constitui em crescente e<br />

necessária meta nos atuais <strong>de</strong>bates sobre <strong>de</strong>senvolvimento. Objeto <strong>de</strong><br />

múltiplas interpretações, manifesta diferentes representações e i<strong>de</strong>ias,<br />

um campo <strong>de</strong> lutas, conforme analisa Acselrad (2001, p.29):<br />

Mas, ao contrário dos conceitos analíticos voltados para a explicação<br />

do real, a noção <strong>de</strong> sustentabilida<strong>de</strong> está submetida à lógica das<br />

práticas: articula-se a efeitos sociais <strong>de</strong>sejados, a funções práticas<br />

que o discurso preten<strong>de</strong> tornar realida<strong>de</strong> objetiva. Tal consi<strong>de</strong>ração<br />

nos remete a processos <strong>de</strong> legitimação/<strong>de</strong>slegitimação <strong>de</strong> práticas e<br />

atores sociais… Abre-se, portanto, uma luta simbólica pelo reconhecimento<br />

da autorida<strong>de</strong> para falar em sustentabilida<strong>de</strong>. E para isso,<br />

faz-se necessário constituir uma audiência apropriada, um campo<br />

<strong>de</strong> interlocução eficiente on<strong>de</strong> se possa encontrar aprovação. Po<strong>de</strong>rse-á<br />

falar, assim, em nome dos (e para os) que querem a sobrevivência<br />

do planeta, das comunida<strong>de</strong>s sustentáveis, da diversida<strong>de</strong><br />

cultural etc. Resta que a luta em torno a tal representação exprime<br />

a disputa entre diferentes práticas e formas sociais que se preten<strong>de</strong>m<br />

compatíveis ou portadoras <strong>de</strong> sustentabilida<strong>de</strong>.<br />

Portanto, visões alternativas produzem uma “crença na sustentabilida<strong>de</strong>”,<br />

baseadas na busca <strong>de</strong> eficiência na utilização dos recursos disponíveis;<br />

<strong>de</strong> limites ao crescimento tecnoeconômico e do “pensamento<br />

único”; <strong>de</strong> redução da pobreza diante <strong>de</strong> um mo<strong>de</strong>lo altamente concentrador<br />

<strong>de</strong> riquezas e po<strong>de</strong>r e consequente equida<strong>de</strong>; <strong>de</strong> reconhecimento<br />

das diferenças como novas possibilida<strong>de</strong>s; e <strong>de</strong> outra racionalida<strong>de</strong><br />

ética, <strong>de</strong>ntre outras interpretações da relação socieda<strong>de</strong>-natureza<br />

traduzidas em “mo<strong>de</strong>los alternativos <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento”.<br />

A relação socieda<strong>de</strong>-natureza coloca a dimensão espacial como<br />

fundante nesse <strong>de</strong>bate, na medida em que o espaço é um fato histórico,<br />

isto é, fruto da história da socieda<strong>de</strong> na medida em que a história<br />

não se reproduz fora do espaço, e nem a socieda<strong>de</strong> se realiza, se reproduz,<br />

sem o espaço. O espaço geográfico é, por natureza, social, por ser<br />

transformado, através das práticas sociais, em segunda natureza, em<br />

materializações que expressam tanto o uso, o espaço da reprodução,<br />

86 87 regina célia <strong>de</strong> mattos


como a troca, o espaço da produção em suas múltiplas formas. Santos<br />

(1996, p. 186) afirma que:<br />

A história das chamadas relações entre socieda<strong>de</strong> e natureza é, em<br />

todos os lugares habitados, a da substituição <strong>de</strong> um meio natural,<br />

dado a uma <strong>de</strong>terminada socieda<strong>de</strong>, por um meio cada vez mais<br />

artificializado, isto é, sucessivamente instrumentalizado por essa<br />

mesma socieda<strong>de</strong>. Em cada fração da superfície da terra, o caminho<br />

que vai <strong>de</strong> uma situação a outra se dá <strong>de</strong> maneira particular;<br />

e a parte do “natural” e do “artificial” também varia, assim como<br />

mudam as modalida<strong>de</strong>s do seu arranjo.<br />

Como foram construídas, então, as relações entre a socieda<strong>de</strong> e natureza<br />

no município <strong>de</strong> <strong>Duque</strong> <strong>de</strong> <strong>Caxias</strong>? Como são, hoje, tais relações?<br />

Como se organizam os espaços do uso e da troca?<br />

Para enten<strong>de</strong>rmos as relações entre socieda<strong>de</strong> e natureza na contemporaneida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> <strong>Duque</strong> <strong>de</strong> <strong>Caxias</strong>, é preciso que as contextualizemos<br />

historicamente. O crescimento populacional através <strong>de</strong> fluxos migratórios<br />

e o or<strong>de</strong>namento territorial <strong>de</strong> municípios da Baixada Fluminense<br />

ocorreram no período <strong>de</strong> 1930-1950 <strong>de</strong>vido a quatro fatores, segundo<br />

Abreu (2006, p.107):<br />

as obras <strong>de</strong> saneamento realizadas na década <strong>de</strong> 30 pelo dnos<br />

(através do Serviço <strong>de</strong> Saneamento da Baixada Fluminense); a eletrificação<br />

da Central do Brasil, a partir <strong>de</strong> 1935; a instituição da<br />

tarifa ferroviária única em todo o Gran<strong>de</strong> <strong>Rio</strong> (que beneficiou sobretudo<br />

os subúrbios afastados e os municípios da Baixada); e a<br />

abertura da Avenida Brasil, em 1946, que aumentou sobremaneira<br />

a acessibilida<strong>de</strong> dos municípios periféricos.<br />

Essas ações propiciaram um retalhamento espacial através <strong>de</strong> loteamentos<br />

que é estimulado, em <strong>Duque</strong> <strong>de</strong> <strong>Caxias</strong>, com a abertura, em 1928,<br />

da rodovia <strong>Rio</strong>-Petrópolis, além do saneamento visar, conforme Abreu<br />

(2006), a formação <strong>de</strong> um cinturão agrícola abastecedor da Capital da<br />

República. De acordo com os dados abaixo, constatamos a aceleração<br />

do crescimento do município a partir dos anos <strong>de</strong> 1940–50, quando foi<br />

registrada a taxa <strong>de</strong> 12,06% <strong>de</strong> crescimento ao ano, resultado dos intensos<br />

fluxos migratórios.<br />

Tabela 1 Taxa média anual <strong>de</strong> crescimento entre anos selecionados (%)<br />

Unida<strong>de</strong>s 1940 – 50 1950 – 60 1960 – 70 1970 – 80 1980 – 90 1990 – 00 2000 – 05<br />

ERJ 2,61 3,68 2,97 2,30 1,15 1,30 1,30<br />

Baixada Fluminense 8,86 8,80 5,95 3,38 1,38 1,72 1,67<br />

<strong>Duque</strong> <strong>de</strong> <strong>Caxias</strong> 12,06 10,17 5,88 2,93 1,36 1,67 1,63<br />

Fonte: CIDE – Baixada em Dados, 2005<br />

O período <strong>de</strong> 1950–60 também foi <strong>de</strong> intenso crescimento anual, <strong>de</strong>clinando,<br />

progressivamente nas décadas seguintes, com a redução dos<br />

fluxos migratórios e a diminuição do número <strong>de</strong> filhos diante da necessida<strong>de</strong><br />

da mulher também ter que trabalhar fora do âmbito doméstico.<br />

É um período importante, pois a i<strong>de</strong>ologia <strong>de</strong>senvolvimentista economicista<br />

é colocada em prática através do Plano <strong>de</strong> Metas do governo<br />

<strong>de</strong> Juscelino Kubitschek (1956-1961) que estimulou, através <strong>de</strong> incentivos<br />

ao capital externo, um processo <strong>de</strong> industrialização. É interessante<br />

observarmos, também, a dinâmica populacional do município<br />

frente ao Estado do <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> Janeiro e à Baixada Fluminense: nas primeiras<br />

décadas, o crescimento é bem superior aos dois recortes espaciais,<br />

aproximando sua dinâmica às da cida<strong>de</strong> do <strong>Rio</strong> e da Baixada nos<br />

períodos mais recentes, evi<strong>de</strong>nciando uma estabilida<strong>de</strong> no crescimento<br />

populacional.<br />

Em 1961, foi inaugurada a Refinaria <strong>de</strong> <strong>Duque</strong> <strong>de</strong> <strong>Caxias</strong>, reduc,<br />

no distrito <strong>de</strong> Campos Elísios, às margens da antiga <strong>Rio</strong>-Petrópolis, hoje<br />

br-040, que integra Brasília ao <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> Janeiro. A instalação da refinaria<br />

foi mais um importante fator no crescimento do município, uma vez que<br />

<strong>de</strong>mandou gran<strong>de</strong> contingente <strong>de</strong> mão <strong>de</strong> obra que, em gran<strong>de</strong> parte,<br />

permaneceu no local.<br />

Pelos dados do Centro <strong>de</strong> Informações e Dados do <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> Janeiro<br />

(ci<strong>de</strong>), o município possui um dos mais vigorosos comércios e ativida<strong>de</strong>s<br />

<strong>de</strong> serviços da Baixada Fluminense. Com quase 850 mil habitantes<br />

em 2005, dividiu com a capital as principais participações na indústria<br />

<strong>de</strong> transformação, construção civil, estabelecimentos <strong>de</strong> instituições<br />

financeiras, comércio e outros serviços. No mesmo ano <strong>de</strong> 2005, <strong>Duque</strong><br />

<strong>de</strong> <strong>Caxias</strong> foi o segundo município <strong>de</strong> maior Produto Interno Bruto (pib),<br />

acima <strong>de</strong> R$ 1 bilhão a preços básicos. A reduc teve uma participação<br />

<strong>de</strong> quase 60% nesse <strong>de</strong>sempenho (Estudo Socioeconômico, 2007).<br />

Como estão, portanto, organizados os diferentes usos do espaço<br />

do município <strong>de</strong> <strong>Duque</strong> <strong>de</strong> <strong>Caxias</strong>? Observando o Mapa 01 constatamos<br />

a forte concentração populacional nos distritos <strong>de</strong> <strong>Duque</strong> <strong>de</strong> <strong>Caxias</strong>,<br />

Campos Elíseos e Imbariê. O mapa, <strong>de</strong> fato, representa tanto o uso<br />

do espaço para a reprodução (a casa, a família) como para a produção<br />

propriamente dita que se encontram <strong>de</strong>nsamente concentrados, ocasionando<br />

uma <strong>de</strong>nsida<strong>de</strong> <strong>de</strong>mográfica <strong>de</strong> 1.735,65 hab/km², <strong>de</strong> acordo<br />

com o ci<strong>de</strong>.<br />

Observemos, agora, o Mapa 02 – Macrozoneamento – Zonas Especiais.<br />

Elaborado a partir da Lei Complementar do Plano Diretor Urbanístico<br />

<strong>de</strong> <strong>Duque</strong> <strong>de</strong> <strong>Caxias</strong>, <strong>de</strong>marca os diferentes usos do espaço e os futuros<br />

usos, em Zonas Especiais: <strong>de</strong> Interesse Social (zeis), <strong>de</strong> Interesse<br />

Ambiental (zeia), <strong>de</strong> Negócios (zen), Turístico e Negócios Rurais. Nele,<br />

88 educação ambiental: por que e para que? 89 regina célia <strong>de</strong> mattos


vemos com mais clareza a <strong>de</strong>marcação da área ocupada e urbana retratadas<br />

no Mapa 01. Se pudéssemos sobrepor os dois ficariam claros os<br />

limites <strong>de</strong> expansão urbana: do sul para o centro, os espaços concebidos<br />

como Zonas <strong>de</strong> Interesse Ambiental <strong>de</strong> Cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Meninos e São<br />

Bento; no sentido nor<strong>de</strong>ste, a Zona <strong>de</strong> Interesse Ambiental <strong>de</strong> Petrópolis;<br />

e, ao norte, a Zona <strong>de</strong> Interesse Ambiental <strong>de</strong> Xerém e a Reserva<br />

Biológica do Tinguá.<br />

É bastante interessante essa correlação, na medida em que o uso<br />

do espaço tanto para moradias como para ativida<strong>de</strong>s produtivas ocorreu<br />

sem levar em consi<strong>de</strong>ração a necessária preservação dos elementos<br />

naturais, evi<strong>de</strong>nciando suas consequências na qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida da<br />

população. A socieda<strong>de</strong> e o ambiente natural sofrem por usos do espaço,<br />

como as indústrias, que <strong>de</strong>scarregam no solo ou no ar seus resíduos,<br />

acentuando a <strong>de</strong>gradação e aumentando os riscos para a vida. Além do<br />

<strong>de</strong>smatamento, <strong>de</strong>terioração dos recursos hídricos e ocupação em terrenos<br />

insalubres, esse or<strong>de</strong>namento territorial não foi acompanhado por<br />

infraestrutura e medidas <strong>de</strong> saneamento.<br />

A Organização Mundial da Saú<strong>de</strong> (oms) <strong>de</strong>fine saneamento como<br />

o controle <strong>de</strong> todos os fatores do meio físico do homem que exercem ou<br />

po<strong>de</strong>m exercer efeitos nocivos sobre a saú<strong>de</strong>, incluídas as medidas que<br />

visam a prevenir e controlar doenças, sejam elas transmissíveis ou não.<br />

Água, esgotamento sanitário, coleta e <strong>de</strong>stinação <strong>de</strong> resíduos sólidos<br />

urbanos <strong>de</strong>finem, concretamente, as condições <strong>de</strong> saneamento (Estudo<br />

Socioeconômico, 2007, p.26).<br />

De fato, são expressivos os problemas enfrentados pela população<br />

em relação ao acesso à água potável, ao esgotamento sanitário e à coleta<br />

diária do lixo. Dentre essas condições básicas <strong>de</strong> garantia <strong>de</strong> qualida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> vida, a coleta <strong>de</strong> lixo é a que vem recebendo mais atenção pelo po<strong>de</strong>r<br />

público, mas, não, a sua <strong>de</strong>stinação. A coleta, além <strong>de</strong> ser mais barata,<br />

<strong>de</strong>sobstrui as vias <strong>de</strong> circulação, evita a geração <strong>de</strong> outros problemas<br />

nas vias públicas, como a convivência com ratos e baratas, <strong>de</strong>ixando<br />

a paisagem mais limpa, mais politicamente negociável. Porém, a <strong>de</strong>stinação,<br />

quando realizada a<strong>de</strong>quadamente, requer vultosos investimentos<br />

com retorno <strong>de</strong> médio e longo prazos, prática que vai <strong>de</strong> encontro<br />

à lógica política do balcão <strong>de</strong> negócios, cujo tempo <strong>de</strong> retorno é agora,<br />

o imediato.<br />

No bairro Jardim Gramacho (parece ironia), localizado no distrito<br />

<strong>de</strong> <strong>Duque</strong> <strong>de</strong> <strong>Caxias</strong>, encontra-se o aterro <strong>de</strong> Gramacho, o maior aterro<br />

da América Latina, que recebe, por dia, mais <strong>de</strong> sete toneladas <strong>de</strong> lixo,<br />

a maior parte proveniente da cida<strong>de</strong> do <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> Janeiro, e que se encontra<br />

em estado crítico, com mais <strong>de</strong> 50% <strong>de</strong> seu uso paralisado diante da<br />

possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>de</strong>smoronamento. Caso medidas urgentes não sejam<br />

tomadas, a saú<strong>de</strong> <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> parte da população do município estará<br />

ameaçada. Parece-nos, portanto, que os problemas enfrentados pela<br />

população local <strong>de</strong>rivam, com mais persistência, da ausência <strong>de</strong> ações<br />

dos agentes públicos e privados em garantir a saú<strong>de</strong> coletiva. É claro<br />

que a recorrente ausência <strong>de</strong>sses agentes promoveu resultados <strong>de</strong>sastrosos<br />

nos ambientes naturais, tornando-os vetores <strong>de</strong> doenças.<br />

Os problemas enfrentados pelo <strong>de</strong>sigual <strong>de</strong>senvolvimento sócioespacial<br />

convivem, com mais <strong>de</strong> 50% do território municipal <strong>de</strong>marcados<br />

como unida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> conservação (Plano Diretor do Município) que não<br />

garantem, necessariamente, uma boa qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida à população.<br />

Em princípio, a <strong>de</strong>marcação <strong>de</strong> tais unida<strong>de</strong>s objetiva garantir qualida<strong>de</strong><br />

dos recursos naturais a serem utilizados pela população, assim<br />

como preservar ou conservar a biodiversida<strong>de</strong> e os elementos naturais<br />

indispensáveis à reprodução humana. Tais <strong>de</strong>marcações são necessárias?<br />

Sim, mas perguntamo-nos: quais os benefícios que a população<br />

<strong>de</strong> <strong>Duque</strong> <strong>de</strong> <strong>Caxias</strong> tem recebido com a <strong>de</strong>marcação <strong>de</strong>sses territórios?<br />

Os ricos mananciais aten<strong>de</strong>m às necessida<strong>de</strong>s da vida urbana que exige<br />

salubrida<strong>de</strong>? A natureza generosa que conforta o olhar, “<strong>de</strong>scansa o<br />

espírito”, é <strong>de</strong>sfrutada pela população? O município tem um abastecimento<br />

alimentar, diante <strong>de</strong> tantas terras, que propicie condições para<br />

a população, particularmente aquela <strong>de</strong> menor renda, para aten<strong>de</strong>r às<br />

suas necessida<strong>de</strong>s?<br />

A educação ambiental é necessária, sim, mas não basta nas salas<br />

<strong>de</strong> aulas, não basta como ativida<strong>de</strong> lúdica, não basta como ações pontuais.<br />

As indústrias poluem, <strong>de</strong>smatam, e “nós” que temos <strong>de</strong> apren<strong>de</strong>r<br />

a ter “educação ambiental”? Que “ambiente” é esse? O natural? E<br />

o social? As empresas ganham quando promovem práticas <strong>de</strong> “educação<br />

ambiental”: é <strong>de</strong>legar ao Outro a responsabilida<strong>de</strong> com as práticas<br />

socioambientais e continuar poluindo. O po<strong>de</strong>r público não cumpre<br />

com as suas responsabilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> prover segurança <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> à população<br />

e “nós” que temos <strong>de</strong> ensinar aos nossos filhos que não se joga<br />

lixo aqui e acolá, que não <strong>de</strong>vemos agir <strong>de</strong> tal e tal maneira com a natureza,<br />

como se fôssemos os responsáveis pelos infindáveis problemas <strong>de</strong><br />

saú<strong>de</strong> pública, das precárias condições em que vive gran<strong>de</strong> parte da<br />

população das cida<strong>de</strong>s?<br />

É óbvio que temos que ensinar, educar, mas por que todos não<br />

foram, historicamente, “ensinados”, “educados”? Por que as práticas<br />

do po<strong>de</strong>r público e do capital quase sempre <strong>de</strong>sprezaram os problemas<br />

<strong>de</strong>rivados do uso da natureza na medida em que a percebiam infinita?<br />

As <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong>s do <strong>de</strong>senvolvimento socioespacial fizeram com os custos<br />

da <strong>de</strong>gradação dos ambientes naturais fossem divididos pela população<br />

mais pobre, sem condições <strong>de</strong> pagar pela segurança à vida, isto<br />

é, emprego, moradia digna, água potável, esgotamento sanitário, um<br />

entorno sem vetores <strong>de</strong> doenças. Afinal, os “frutos” do <strong>de</strong>senvolvimento<br />

não <strong>de</strong>vem ser repartidos entre todos?<br />

Portanto, mais uma vez nos perguntamos: por que e para que educação<br />

ambiental?<br />

90 educação ambiental: por que e para que? 91 regina célia <strong>de</strong> mattos


Bibliografia<br />

abreu, Mauricio <strong>de</strong> A. Evolução urbana do <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> Janeiro. <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> Janeiro: ipp,<br />

2006.<br />

acserald, Henri. Sentidos da sustentabilida<strong>de</strong> urbana. In: Acserald, Henri (org.).<br />

A duração das cida<strong>de</strong>s: sustentabilida<strong>de</strong> e risco nas políticas urbanas. <strong>Rio</strong><br />

<strong>de</strong> Janeiro: dp&a, 2001, p. 27-57.<br />

ci<strong>de</strong>. Baixada em Dados, 2005. Disponível na internet: http:/www.ci<strong>de</strong>.rj.gov.br/<br />

ci<strong>de</strong>.in<strong>de</strong>x.php. Acesso: em 04/03/2009.<br />

estudo Socioeconômico 2007, <strong>Duque</strong> <strong>de</strong> <strong>Caxias</strong>. Tribunal <strong>de</strong> Contas do Estado<br />

do <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> Janeiro.<br />

Plano Diretor Urbanístico do Município <strong>de</strong> <strong>Duque</strong> <strong>de</strong> <strong>Caxias</strong>, 2006.<br />

santos, Milton. A natureza do espaço: técnica e tempo, razão e emoção. São<br />

Paulo: Editora Hucitec, 1996.<br />

Regina Celia De Mattos – Geografia<br />

Possui graduação em Geografia pela Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral Fluminense (uff), con-<br />

cluída em 1975; mestrado em Geografia pela Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral do <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> Janeiro<br />

(ufrj), finalizado em 1995; e doutorado em Geografia pela Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral<br />

Fluminense (uff), concluído em 2005. É professora da Pontifícia Universida<strong>de</strong><br />

Católica do <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> Janeiro (puc-<strong>Rio</strong>) <strong>de</strong>s<strong>de</strong> 1979. Atualmente, ocupa o cargo <strong>de</strong><br />

professora assistente do Programa <strong>de</strong> Mestrado em Geografia da <strong>PUC</strong>-<strong>Rio</strong>. Na<br />

Universida<strong>de</strong>, participou dos seguintes projetos <strong>de</strong> pesquisa: Projeto <strong>de</strong> formação<br />

<strong>de</strong> li<strong>de</strong>ranças em educação ambiental e Educação ambiental: formação <strong>de</strong> valores éti-<br />

co-ambientais para o exercício da cidadania. Entre vários artigos, livros publicados,<br />

organizados ou edições e capítulos <strong>de</strong> livros, estão os livros: Educação Ambiental:<br />

valores éticos na formação <strong>de</strong> agentes multiplicadores (<strong>Rio</strong> <strong>de</strong> Janeiro: Ed. Loyola,<br />

2001); Educação Ambiental: resgate <strong>de</strong> valores ético-ambientais no município <strong>de</strong><br />

<strong>Rio</strong> das Ostras (<strong>Rio</strong> <strong>de</strong> Janeiro: Petrobrás: puc-<strong>Rio</strong>, 2002); e Educação Ambiental:<br />

resgate <strong>de</strong> valores socioambientais <strong>de</strong> Mangaratiba, RJ (<strong>Rio</strong> <strong>de</strong> Janeiro: Petrobras:<br />

puc-<strong>Rio</strong>, 2003).<br />

rcm@puc-rio.br<br />

92 educação ambiental: por que e para que? 93<br />

Rita <strong>de</strong> Cássia Martins Montezuma<br />

Rogério Ribeiro <strong>de</strong> Oliveira<br />

Natureza e socieda<strong>de</strong> no<br />

município <strong>de</strong> <strong>Duque</strong> <strong>de</strong> <strong>Caxias</strong>:<br />

os significados dos espaços vazios<br />

Uma simples palavra basta para caracterizar o ambiente do município<br />

<strong>de</strong> <strong>Duque</strong> <strong>de</strong> <strong>Caxias</strong>: heterogeneida<strong>de</strong>. Nele tudo é heterogêneo: os<br />

ambientes que compõem a base física do município, a forma <strong>de</strong> ocupação<br />

pelos seus habitantes, a vegetação, a re<strong>de</strong> hidrográfica, o relevo…<br />

Ao longo do eixo norte-sul do município, com quase 40 km em linha<br />

reta, nada se repete: a área <strong>de</strong>nsamente povoada da se<strong>de</strong> do município<br />

e do distrito <strong>de</strong> Campos Elísios em nada lembra os vazios <strong>de</strong>mográficos<br />

dos distritos <strong>de</strong> Imbariê e Xerém. A Mata Atlântica localizada na encosta<br />

Norte da Serra do Mar em nada se parece com os manguezais da Baía<br />

<strong>de</strong> Guanabara. E assim por diante…<br />

Por outro lado, existe muito pouca correspondência entre a vegetação<br />

original no município <strong>de</strong> <strong>Duque</strong> <strong>de</strong> <strong>Caxias</strong> e a atual. Essa também<br />

é a principal característica da cobertura vegetal remanescente <strong>de</strong> toda<br />

a região da Baía <strong>de</strong> Guanabara, principalmente no que se refere ao seu<br />

entorno imediato. Há que se <strong>de</strong>stacar, no entanto, que a feição original<br />

<strong>de</strong>stes ecossistemas não foi alterada em um único evento da história da<br />

sua ocupação, mas foi produto <strong>de</strong> uma sucessão mais ou menos paulatina<br />

<strong>de</strong> intervenções humanas sobre a paisagem original, com gran<strong>de</strong><br />

ênfase para os processos <strong>de</strong>senca<strong>de</strong>ados nas últimas quatro décadas.<br />

Um pouco da história da transformação<br />

O cenário ambiental primitivo da região <strong>de</strong> baixada <strong>de</strong> <strong>Duque</strong> <strong>de</strong> <strong>Caxias</strong><br />

era caracterizado por gran<strong>de</strong>s formações paludosas – brejos, com algum<br />

tipo <strong>de</strong> vegetação emersa. O <strong>Rio</strong> Meriti formava um amplo estuário, com<br />

largura superior a 50 m, em frente ao qual existiam diversas ilhas, entre<br />

as quais Saravatá. Em função da sua proximida<strong>de</strong> com o nível <strong>de</strong> base,<br />

o rio <strong>de</strong>screvia meandros <strong>de</strong> maré num percurso <strong>de</strong> 8 km, até encontrar<br />

o <strong>Rio</strong> Pavuna, seu principal afluente, recebendo também como afluente<br />

o <strong>Rio</strong> Acari. Para o interior, a partir dos manguezais, envolvendo seus<br />

afluentes, ocorriam vastas extensões <strong>de</strong> brejos <strong>de</strong> água doce e salobra,


que se confundiam com várzeas fluviais. A área mal drenada era frequentemente<br />

inundada, favorecendo o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> uma rica<br />

fauna e flora.<br />

Do <strong>Rio</strong> Meriti até o <strong>Rio</strong> São Diogo, o litoral apresentava um trecho<br />

on<strong>de</strong> pequenas colinas chegavam ao litoral, sendo contornadas por um<br />

fino cordão arenoso. O <strong>Rio</strong> Sarapuí, com suas nascentes nas vertentes<br />

das serras <strong>de</strong> Madureira e Bangu, possuía um trecho <strong>de</strong>senvolvido em<br />

meandros <strong>de</strong> maré superior a 5 km, a partir do que contornava colinas<br />

e terraços. Alguns quilômetros a seguir encontrava-se o <strong>Rio</strong> Iguaçu,<br />

<strong>de</strong>senvolvendo um sistema <strong>de</strong> meandros com extensão superior a 20 km,<br />

sendo revestido por um vasto manguezal. Nas proximida<strong>de</strong>s <strong>de</strong>sse rio,<br />

em local que mais tar<strong>de</strong> seria conhecido como Campos Elísios (on<strong>de</strong><br />

se situa a reduc), erguia-se, como o próprio nome indica, um campo<br />

revestido por vegetação arbustiva/herbácea. Essa formação, algo incomum<br />

para a Baía <strong>de</strong> Guanabara, era constituída <strong>de</strong> uma superfície arrasada<br />

da formação Macacu, por terraços marinhos ou por serem áreas<br />

<strong>de</strong> lavoura <strong>de</strong>ixadas em pousio pelos Tupis-Guaranis, que possuíam<br />

al<strong>de</strong>ias na região.<br />

As margens da Baía <strong>de</strong> Guanabara e todo o seu recôncavo já estavam<br />

ocupadas antes do final do século xvi, poucos anos após a fundação<br />

da cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> São Sebastião do <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> Janeiro. Nesse aspecto, é <strong>de</strong><br />

se <strong>de</strong>stacar que a Baía <strong>de</strong> Guanabara e os rios da Baixada iriam exercer<br />

um papel fundamental para a colonização da região. Na impossibilida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> outra forma <strong>de</strong> acesso, <strong>de</strong>vido aos pântanos, manguezais e<br />

brejos, esses rios tiveram um papel <strong>de</strong>cisivo <strong>de</strong> penetração e ocupação<br />

da região. Pelas águas dos rios Meriti, Sarapuí, Iguaçu, Pilar, Saracuruna,<br />

Inhomirim e outros é que foram subindo os <strong>de</strong>sbravadores. Ao<br />

longo <strong>de</strong> suas margens foram se alinhando engenhos e fazendas, e, por<br />

eles, se escoava a produção para o <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> Janeiro. Portanto, todos esses<br />

rios representaram o principal vetor <strong>de</strong> <strong>de</strong>smatamento e colonização da<br />

Baixada Fluminense (ver mapa na p.XX).<br />

Com relação aos vários ecossistemas do município <strong>de</strong> <strong>Duque</strong> <strong>de</strong><br />

<strong>Caxias</strong>, é preciso <strong>de</strong>stacar que a megadiversida<strong>de</strong> característica da Mata<br />

Atlântica é potencializada na Serra do Mar – fachada litorânea que atravessa<br />

o estado do <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> Janeiro no sentido sw-ne – pela varieda<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

biótopos: suas altitu<strong>de</strong>s variam <strong>de</strong> zero a 2.200 m, apresentando encostas<br />

voltadas para diferentes quadrantes. Na bacia drenante da Baía <strong>de</strong><br />

Guanabara, e, em especial, em <strong>Caxias</strong>, o principal ecossistema era a<br />

Floresta Ombrófila Densa (conhecida pela <strong>de</strong>nominação geral <strong>de</strong> Mata<br />

Atlântica). Dentro <strong>de</strong>ssa categoria maior encontravam-se nas partes baixas<br />

do município os ecossistemas 1 <strong>de</strong>scritos na sequencia (alguns ainda<br />

existentes, sob diferentes estágios <strong>de</strong> <strong>de</strong>gradação antrópica):<br />

a) Floresta Ombrófila Densa das Terras Baixas:<br />

Abrangia os ambientes situados entre cerca <strong>de</strong> 5 m acima do nível do<br />

mar e a altitu<strong>de</strong> <strong>de</strong> 50 m, estando assentada sobre rochas do embasamento<br />

cristalino, rochas alcalinas e sedimentos da Formação Barreiras.<br />

Trata-se do ecossistema mais impactado e <strong>de</strong>scaracterizado <strong>de</strong> todos os<br />

<strong>de</strong>mais da Baía <strong>de</strong> Guanabara. Essa tipologia florestal po<strong>de</strong> abranger<br />

uma gran<strong>de</strong> varieda<strong>de</strong> <strong>de</strong> fitofisionomias, mas a característica maior é<br />

a conspícua presença <strong>de</strong> brejos e alagados, o que, <strong>de</strong> certa forma, restringe<br />

a expressão da vegetação arbórea. Nos brejos, as espécies mais<br />

características eram as higrófilas graminói<strong>de</strong>s, como Eleocharis, Typha<br />

e Cyperus. Tratavam-se <strong>de</strong> brejos bastante ricos do ponto <strong>de</strong> vista da<br />

diversida<strong>de</strong> faunística, hábitat do jacaré-<strong>de</strong>-papo-amarelo (Cayman latirostris)<br />

e <strong>de</strong> muitos mamíferos. Essa forma pioneira <strong>de</strong> Floresta <strong>de</strong> Terras<br />

Baixas <strong>de</strong>veria ter ocorrido, <strong>de</strong> acordo com a restituição ambiental<br />

feita por Elmo Amador (1997), em parte consi<strong>de</strong>rável do terreno hoje<br />

ocupado pela reduc.<br />

b) Floresta Ombrófila Densa Submontana<br />

Este ecossistema ainda ocorre em gran<strong>de</strong> extensão na bacia drenante da<br />

Baía <strong>de</strong> Guanabara, embora em localização distante da se<strong>de</strong> do município.<br />

Ocorre na faixa <strong>de</strong> altitu<strong>de</strong> entre 50 e 500 m, em áreas dissecadas<br />

da Serra do Mar, das serras litorâneas e dos maciços isolados,<br />

sobre rochas do embasamento cristalino e rochas ígneas. A orientação<br />

<strong>de</strong> encostas <strong>de</strong>sta formação exerce gran<strong>de</strong> importância na estrutura e<br />

composição da vegetação. Geralmente as vertentes voltadas para o quadrante<br />

sul apresentam menor suscetibilida<strong>de</strong> a incêndios e, por conseguinte,<br />

biomassa e diversida<strong>de</strong> <strong>de</strong> espécies substancialmente maiores.<br />

No caso da bacia da Baía <strong>de</strong> Guanabara, a formação <strong>de</strong> maior extensão<br />

e com maior número <strong>de</strong> tributários – a Serra do Mar e, especialmente,<br />

a Serra dos Órgãos – apresenta todas as suas encostas voltadas para o<br />

quadrante sul, o que favorece as características acima relacionadas.<br />

c) Vegetação com influência fluviomarinha (manguezais)<br />

Na Baía <strong>de</strong> Guanabara, 40% dos manguezais foram eliminados à medida<br />

que a costa sofreu o processo <strong>de</strong> intensa urbanização (Kjerfve; Lacerda,<br />

1993). Des<strong>de</strong> o início da fundação e durante a expansão da cida<strong>de</strong> do<br />

<strong>Rio</strong> <strong>de</strong> Janeiro, tais ativida<strong>de</strong>s se <strong>de</strong>ram, na maioria das vezes, às custas<br />

da drenagem e do aterro <strong>de</strong> brejos, mangues e lagunas, que estendiam-se<br />

por todo primitivo litoral do município do <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> Janeiro. Na<br />

região <strong>de</strong> <strong>Caxias</strong>, os manguezais <strong>de</strong>vem ter ocorrido em três tipos fisiográficos:<br />

os ribeirinhos, <strong>de</strong>senvolvidos às margens <strong>de</strong> rios, geralmente até<br />

on<strong>de</strong> se faça sentir a presença <strong>de</strong> sal no substrato carreado pelas variações<br />

<strong>de</strong> maré; os <strong>de</strong> franja, presentes nas margens <strong>de</strong> costas protegidas,<br />

caracterizando-se por um intenso processo <strong>de</strong> inundação provocado pela<br />

94 natureza e socieda<strong>de</strong> no município <strong>de</strong> duque <strong>de</strong> caxias... 95 rita <strong>de</strong> cássia martins montezuma e rogério ribeiro <strong>de</strong> oliveira<br />

1<br />

A nomenclatura utilizada<br />

para conceituar os ecossistemas<br />

do município <strong>de</strong><br />

<strong>Duque</strong> <strong>de</strong> <strong>Caxias</strong> é a disponível<br />

em: IBGE. Manual<br />

técnico da vegetação brasileira.<br />

Série Manuais<br />

Técnicos em Geociências<br />

n. 1. Fundação Instituto<br />

Brasileiro <strong>de</strong> Geografia e<br />

Estatística. Departamento<br />

<strong>de</strong> Recursos Naturais e<br />

Estudos Ambientais. <strong>Rio</strong> <strong>de</strong><br />

Janeiro. 1992.


ação frequente das marés, e os <strong>de</strong> bacia, situados nas partes mais interiores,<br />

em áreas caracteristicamente <strong>de</strong> pequena variação microtopográfica,<br />

on<strong>de</strong> a variação das águas ocorre <strong>de</strong> forma muito mais lenta da<br />

que a observada nos <strong>de</strong>mais tipos fisiográficos. Em gran<strong>de</strong> parte, essas<br />

formações <strong>de</strong>vem ter sido aterradas para edificação <strong>de</strong> plantas industriais<br />

e ocupação urbana.<br />

Paisagem construída, paisagem natural e espaços “vazios”<br />

Em termos <strong>de</strong> unida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> conservação da natureza, o município <strong>de</strong><br />

<strong>Duque</strong> <strong>de</strong> <strong>Caxias</strong> é muito bem servido e apresenta em seu interior diferentes<br />

modalida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> conservação, como as apa’s 2 <strong>de</strong> Tinguá, São<br />

Bento, Estrela e Petrópolis, os Parques Municipais (Taquara, Caixa<br />

D’Água e Glicério) e mais <strong>de</strong> 20 áreas que o po<strong>de</strong>r municipal <strong>de</strong>cretou<br />

como Zonas Especiais <strong>de</strong> Interesse Ambiental. Somando todas essas<br />

unida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> conservação, vemos que elas abrangem cerca <strong>de</strong> meta<strong>de</strong> do<br />

território. Essa condição <strong>de</strong>ixa <strong>Caxias</strong> muito próximo a países <strong>de</strong>senvolvidos<br />

como a Áustria, que apresenta porcentagem semelhante <strong>de</strong> unida<strong>de</strong>s<br />

<strong>de</strong> conservação.<br />

Vale enten<strong>de</strong>r melhor a gran<strong>de</strong> heterogeneida<strong>de</strong> que existe entre<br />

essas unida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> conservação, pelo menos em termos <strong>de</strong> biodiversida<strong>de</strong>.<br />

Dentro da lógica <strong>de</strong> ocupação do espaço do município, vários condicionantes,<br />

tanto sociais como ambientais, conduziram a uma concentração<br />

da população bastante intensa na se<strong>de</strong> municipal. O mapa<br />

Densida<strong>de</strong> <strong>de</strong> ocupação & <strong>de</strong>nsida<strong>de</strong> urbana (p.XX) evi<strong>de</strong>ncia que as<br />

zonas <strong>de</strong> maior concentração urbana estão localizadas a sudoeste do<br />

município, abrangendo sua se<strong>de</strong> e os distritos <strong>de</strong> Campos Elíseos e<br />

Imbariê. No norte do município, no sopé da Serra do Mar, encontram-se<br />

as áreas <strong>de</strong> floresta contínua mais significativas, formadas principalmente<br />

pela Reserva Biológica Tinguá. Estes dois ambientes distintos – a<br />

encosta da Serra do Mar e a planície – são fundamentalmente diferentes<br />

no que se refere ao patrimônio <strong>de</strong> biodiversida<strong>de</strong>. Enquanto que a primeira<br />

abriga trechos com gran<strong>de</strong> diversida<strong>de</strong> biológica, principalmente<br />

na Reserva Biológica <strong>de</strong> Tinguá, apa <strong>de</strong> Petrópolis e no Parque Municipal<br />

da Taquara, a planície apresenta um quadro diametralmente oposto<br />

– <strong>de</strong> pouca relevância em termos <strong>de</strong> diversida<strong>de</strong>. Tratam-se, portanto,<br />

<strong>de</strong> espaços bastante heterogêneos se comparados entre si.<br />

Na serra localizam-se as verda<strong>de</strong>iras joias em termos <strong>de</strong> biodiversida<strong>de</strong>,<br />

como a rebio Tinguá, apa <strong>de</strong> Petrópolis e Parque da Taquara.<br />

Já na baixada, o cenário ecológico é <strong>de</strong> relativa pobreza. Assim, grosseiramente,<br />

po<strong>de</strong>ríamos dividir, em termos <strong>de</strong> diversida<strong>de</strong>, esses espaços<br />

“vazios” em duas modalida<strong>de</strong>s: os “vazios” pobres e os “vazios” ricos.<br />

Quais seriam, pois, os valores ambientais <strong>de</strong> cada uma <strong>de</strong>stas áreas?<br />

Os “vazios” ricos em diversida<strong>de</strong><br />

Tais áreas <strong>de</strong> alta biodiversida<strong>de</strong> do município <strong>de</strong> <strong>Duque</strong> <strong>de</strong> <strong>Caxias</strong><br />

estão localizadas ao norte, exclusivamente sob o domínio montanhoso<br />

dos maciços costeiros e interiores e das colinas adjacentes (ver mapas:<br />

Geomorfologia pXX; Uso do solo & cobertura vegetal pXX; Unida<strong>de</strong>s <strong>de</strong><br />

Conservação pXX). Segundo dados <strong>de</strong> 1994 da fundação ci<strong>de</strong> (2000),<br />

correspon<strong>de</strong>m a 41,1% <strong>de</strong> toda a área municipal, sendo que 26,6% são<br />

constituídas por Florestas Ombrófilas Densas e 15,1% por Florestas<br />

Secundárias.<br />

Essa variabilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> relevo, associada ao gradiente altitudinal,<br />

favorece a heterogeneida<strong>de</strong> geoambiental que, por sua vez, viabiliza a<br />

multiplicida<strong>de</strong> <strong>de</strong> habitats que gera a gran<strong>de</strong> biodiversida<strong>de</strong> que vem<br />

sendo registrada nessas áreas.<br />

Se consi<strong>de</strong>rarmos a UC <strong>de</strong> maior representativida<strong>de</strong> em área, a<br />

Reserva Biológica <strong>de</strong> Tinguá (rebio Tinguá), serão 24.903 ha <strong>de</strong> mata<br />

contínua, com elevação máxima <strong>de</strong> 1.600 m <strong>de</strong> altitu<strong>de</strong>. Encontra-se<br />

relativamente bem protegida <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o século xix <strong>de</strong>vido à presença <strong>de</strong><br />

inúmeros mananciais, os quais são responsáveis pelo abastecimento <strong>de</strong><br />

parte do município do <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> Janeiro e <strong>de</strong> quase 80% da Baixada Fluminense,<br />

o que tem gerado inúmeros conflitos.<br />

De acordo com o Projeto Paisagem e Flora da Reserva Biológica<br />

do Tinguá: subsídios ao monitoramento da vegetação (ver Instituto <strong>de</strong><br />

Pesquisas Jardim Botânico do <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> Janeiro), nela são registradas três<br />

formações <strong>de</strong> Mata Atlântica:<br />

a) Floresta Montana, entre as cotas 500 m e 1.300 m <strong>de</strong> altitu<strong>de</strong>,<br />

abriga várias espécies raras representativas da flora da Mata Atlântica,<br />

<strong>de</strong>ntre as quais Manilkara salzmannii (massaranduba), Aspidosperma<br />

ramiflorum (pequiá), Geissospermum laeve (pau-pereira),<br />

Teminalia januarensis (mirindiba) e Pradosia kuhlmannii (cascadoce).<br />

b) Alto Montana, entre 1.300 m e 1.500 m, apresenta alta diversida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> flora saxícola, elevada biomassa e gran<strong>de</strong> diversida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

Briófitas e Pteridófitas, além <strong>de</strong> elevada taxa <strong>de</strong> en<strong>de</strong>mismos, <strong>de</strong>stacando-se<br />

a presença <strong>de</strong> Podocarpus sellowii, espécie típica das<br />

florestas <strong>de</strong> gran<strong>de</strong>s altitu<strong>de</strong>s do Sul e Su<strong>de</strong>ste, que foi registrada<br />

pela primeira vez nas porções mais altas da Serra do Tinguá.<br />

c) Campos <strong>de</strong> altitu<strong>de</strong>, registrados nas áreas acima das florestas<br />

altomontanas, sobretudo nos cumes das serras do Tinguá, dos<br />

Caboclos e <strong>de</strong> São Pedro. Nessa formação <strong>de</strong>staca-se a riqueza <strong>de</strong><br />

Orchydaceae, Bromeliaceae, Gramineae e Cyperaceae. Nos campos<br />

do Pico do Tinguá, os a<strong>de</strong>nsamentos <strong>de</strong> Glaziophyton mirabile,<br />

uma espécie <strong>de</strong> bambu endêmico <strong>de</strong> algumas serras do estado<br />

do <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> Janeiro, atualmente são consi<strong>de</strong>rados fósseis vivos por<br />

alguns estudiosos <strong>de</strong> evolução em plantas.<br />

96 natureza e socieda<strong>de</strong> no município <strong>de</strong> duque <strong>de</strong> caxias... 97 rita <strong>de</strong> cássia martins montezuma e rogério ribeiro <strong>de</strong> oliveira<br />

2<br />

De acordo com o Sistema<br />

Nacional <strong>de</strong> Unida<strong>de</strong>s <strong>de</strong><br />

Conservação da Natureza,<br />

a APA (Área <strong>de</strong> Proteção<br />

Ambiental) é uma das<br />

modalida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> Unida<strong>de</strong>s<br />

<strong>de</strong> Uso Sustentável.


Dada essa condição relativamente bem conservada da vegetação, é possível<br />

encontrar na área uma fauna muito rica, on<strong>de</strong> já foram registradas<br />

296 espécies <strong>de</strong> aves e 52 espécies <strong>de</strong> anuros, <strong>de</strong>ntre os quais o menor<br />

anfíbio do mundo já <strong>de</strong>scrito: o sapo pulga. Gran<strong>de</strong>s mamíferos como a<br />

onça-parda e outras espécies ameaçadas <strong>de</strong> extinção, típicas <strong>de</strong> Mata<br />

Atlântica, encontram refúgio na unida<strong>de</strong> (segundo dados do site www.<br />

ibama.gov.br).<br />

Ainda no domínio montanhoso, merece <strong>de</strong>staque o Parque Municipal<br />

da Taquara, o qual, por ser uma unida<strong>de</strong> contígua à apa Petrópolis,<br />

resulta na preservação da totalida<strong>de</strong> da área florestal compreendida<br />

entre estas unida<strong>de</strong>s.<br />

A apa <strong>de</strong> Petrópolis, criada em 1982, abrange parte dos municípios<br />

<strong>de</strong> Petrópolis, Magé, <strong>Duque</strong> <strong>de</strong> <strong>Caxias</strong> e Guapimirim, num total<br />

<strong>de</strong> 59.049 hectares. Funciona como um tampão para a proteção dos<br />

recursos naturais. Possui 50% <strong>de</strong> sua área coberta por Mata Atlântica.<br />

Fazendo parte do domínio montanhoso que <strong>de</strong>limita a Baixada Fluminense,<br />

juntamente com as outras unida<strong>de</strong>s adjacentes, forma um<br />

conjunto <strong>de</strong> vegetação praticamente contínua, protegida sob a forma<br />

<strong>de</strong> diversas unida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> conservação estaduais, municipais e fe<strong>de</strong>rais.<br />

Nela, têm sido registradas várias espécies da fauna, como a onça parda,<br />

cachorro do mato, mão pelada, gato do mato, jaguatirica, paca, caxinguelê,<br />

sagüi, macaco prego, tapiti, queixada, caititu, tatu, ouriço e quati.<br />

Entre as aves, aparecem inhambu, anu, bico-<strong>de</strong>-lacre, beija-flor, ticotico,<br />

tziu e trinca-ferro. A relação <strong>de</strong> répteis inclui teiú, cobra-coral, jararacuçu,<br />

cobra-cipó, cobra <strong>de</strong> capim e jararaca.<br />

Anexado a esse conjunto tem-se o Parque Municipal da Taquara,<br />

on<strong>de</strong> têm sido registradas várias espécies típicas da Mata Atlântica, tais<br />

como gavião-pombo, capivara, marrecos, maracajá, muriqui, onça pintada<br />

preta, tamanduá, pica-pau <strong>de</strong> cabeça preta, saíra, tangará, guaxo<br />

e mico-leão-dourado (observação pessoal <strong>de</strong> Nelson Barroso, gestor do<br />

Parque Municipal da Taquara). Algumas <strong>de</strong>ssas espécies contrariam<br />

as expectativas <strong>de</strong> ocorrência, como no caso <strong>de</strong> duas famílias <strong>de</strong> micoleão-dourado<br />

– primeiro registro recente na área. Tais ocorrências surpreen<strong>de</strong>m<br />

alguns pesquisadores por serem raras nos dias atuais, principalmente<br />

em áreas próximas aos a<strong>de</strong>nsamentos urbanos. Isso só se<br />

explica pela conectivida<strong>de</strong> ainda existente entre diversos fragmentos florestais<br />

em bom estado <strong>de</strong> conservação na região e com as quais o Parque<br />

Municipal da Taquara é contíguo.<br />

Não obstante a falta <strong>de</strong> dados precisos do tamanho das populações<br />

das espécies observadas, a presença <strong>de</strong> mais <strong>de</strong> um <strong>de</strong>sses exemplares,<br />

alguns dos quais compõem a lista <strong>de</strong> espécies da fauna ameaçada <strong>de</strong><br />

extinção no estado e no bioma, é um indicativo da qualida<strong>de</strong> geral da<br />

área. Sua importância do ponto <strong>de</strong> vista da preservação da biodiversida<strong>de</strong><br />

torna-se, portanto, clara.<br />

Subjacente a essa, há que se <strong>de</strong>stacar a importância dos recur-<br />

sos ambientais e das funções ecológicas <strong>de</strong>ssas unida<strong>de</strong>s, tais como os<br />

mananciais que abastecem, oficialmente ou não, parte da população<br />

do município <strong>de</strong> <strong>Duque</strong> <strong>de</strong> <strong>Caxias</strong>, bem como a importância social que<br />

estes recursos representam: áreas <strong>de</strong> lazer, simbolismo cultural, reserva<br />

<strong>de</strong> água e amenização climática, entre outros, inclusive caça, pesca e<br />

subtração <strong>de</strong> espécie da flora para fins diversos, apesar dos danos que<br />

possam causar. A figura a seguir ilustra a importância social que estas<br />

áreas têm para as comunida<strong>de</strong>s do seu entorno.<br />

A represa da Taquara em dia <strong>de</strong> semana ensolarado<br />

(outubro/2008)<br />

Informativo da CEDAE sobre a captação e tratamento<br />

<strong>de</strong> água do <strong>Rio</strong> Taquara<br />

Informativo do Parque<br />

Ao encontro do surf no <strong>Rio</strong> Taquara.<br />

Figura 4: As formas <strong>de</strong> apropriação dos “vazios” do município<br />

<strong>de</strong> <strong>Duque</strong> <strong>de</strong> <strong>Caxias</strong> representadas nas múltiplas funções ecológicas<br />

do Parque Municipal da Taquara e suas formas <strong>de</strong> uso.<br />

98 natureza e socieda<strong>de</strong> no município <strong>de</strong> duque <strong>de</strong> caxias... 99 rita <strong>de</strong> cássia martins montezuma e rogério ribeiro <strong>de</strong> oliveira


Os “vazios” pobres em diversida<strong>de</strong><br />

Estas áreas estão representadas em <strong>Duque</strong> <strong>de</strong> <strong>Caxias</strong> basicamente por<br />

três distintas unida<strong>de</strong>s: os manguezais, os brejos <strong>de</strong> taboa e as colinas<br />

da baixada. Em termos <strong>de</strong> diversida<strong>de</strong>, os manguezais apenas parcialmente<br />

po<strong>de</strong>riam ser caracterizados como sistemas pobres. Somente o<br />

componente arbóreo dos manguezais é que é menos diverso, pois geralmente<br />

são encontradas nele apenas três espécies arbóreas. Dentre as<br />

espécies restritas aos manguezais encontram-se Rhizophora mangle<br />

(mangue vermelho), que ocorre preferencialmente à beira dos canais. O<br />

bosque é formado por a<strong>de</strong>nsamentos <strong>de</strong> Avicennia schaueriana e Laguncularia<br />

racemosa (mangue siriuba e mangue branco, respectivamente).<br />

No entanto, fica por aí esta indicação <strong>de</strong> pobreza biológica: os mangues<br />

constituem um ecossistema riquíssimo em termos <strong>de</strong> fauna, <strong>de</strong> algas<br />

e <strong>de</strong> muitos outros grupos biológicos. Nesse sentido, esse ecossistema<br />

é responsável, junto com os recifes <strong>de</strong> coral, pela manutenção da alta<br />

diversida<strong>de</strong> biológica encontrada nas regiões costeiras tropicais <strong>de</strong> todo<br />

o mundo. Trata-se <strong>de</strong> um ecossistema costeiro que ocorre em regiões<br />

tropicais e subtropicais do mundo, ocupando as áreas entre marés.<br />

É caracterizado por vegetação lenhosa típica, adaptada às condições<br />

limitantes <strong>de</strong> salinida<strong>de</strong>, substrato inconsolidado e pouco oxigenado<br />

e frequente submersão pelas marés. Uma fauna típica compõe ainda<br />

esse ecossistema, igualmente adaptada às características peculiares<br />

do ambiente.<br />

Po<strong>de</strong>mos <strong>de</strong>stacar como principais funções dos manguezais:<br />

● Fonte <strong>de</strong> <strong>de</strong>tritos (matéria orgânica) para as águas costeiras adjacentes,<br />

constituindo a base <strong>de</strong> ca<strong>de</strong>ias tróficas <strong>de</strong> espécies <strong>de</strong><br />

importância econômica e/ou ecológica;<br />

● Área <strong>de</strong> abrigo, reprodução, <strong>de</strong>senvolvimento e alimentação <strong>de</strong><br />

espécies marinhas, estuarinas, límnicas e terrestres;<br />

● Pontos <strong>de</strong> pouso (alimentação e repouso) para diversas espécies<br />

<strong>de</strong> aves migratórias, ao longo <strong>de</strong> suas rotas <strong>de</strong> migração;<br />

● Manutenção da diversida<strong>de</strong> biológica da região costeira;<br />

● Proteção da linha <strong>de</strong> costa, evitando erosão da mesma e assoreamento<br />

dos corpos d’água adjacentes;<br />

● Controlador <strong>de</strong> vazão e prevenção <strong>de</strong> inundações e proteção contra<br />

tempesta<strong>de</strong>s;<br />

● Absorção e imobilização <strong>de</strong> produtos químicos (por exemplo, metais<br />

pesados), filtro <strong>de</strong> poluentes e sedimentos, além <strong>de</strong> tratamento <strong>de</strong><br />

esgotos em seus diferentes níveis;<br />

● Fonte <strong>de</strong> recreação e lazer, associado a seu alto valor cênico;<br />

● Fonte <strong>de</strong> alimento e produtos diversos, associados à subsistência<br />

<strong>de</strong> comunida<strong>de</strong>s tradicionais que vivem em áreas vizinhas aos<br />

manguezais.<br />

O fato <strong>de</strong> o manguezal ocupar uma área <strong>de</strong> transição entre o continente<br />

e o mar, entre a água doce e a salgada, entre o sólido e o líquido, confere<br />

a esse ecossistema características biológicas muito especiais. Mas uma,<br />

em especial, distingue os manguezais <strong>de</strong> outros ecossistemas costeiros:<br />

a sua gran<strong>de</strong> resistência a impactos feitos pelo homem. Esta característica<br />

funcional faz com que os manguezais resistam a pesadas cargas<br />

poluidoras, sejam elas orgânicas, como os esgotos domésticos, ou inorgânicas,<br />

como os metais pesados. Em função disso, o manguezal tem<br />

sido consi<strong>de</strong>rado como uma verda<strong>de</strong>ira barreira geoquímica a poluentes<br />

provenientes do continente em direção ao estuário. Um ótimo exemplo<br />

disso são os manguezais <strong>de</strong> <strong>Duque</strong> <strong>de</strong> <strong>Caxias</strong>, que se localizam na<br />

interface <strong>de</strong> dois ambientes severamente poluídos do Estado do <strong>Rio</strong> <strong>de</strong><br />

Janeiro: a Baía <strong>de</strong> Guanabara e os rios que drenam a Baixada Fluminense.<br />

Da primeira, os manguezais recebem esgotos domésticos, cargas<br />

tóxicas <strong>de</strong> indústrias localizadas no seu entorno, lixo flutuante e<br />

eventuais <strong>de</strong>rramamentos <strong>de</strong> óleo; os rios trazem gran<strong>de</strong> carga orgânica<br />

<strong>de</strong>corrente da virtual inexistência <strong>de</strong> tratamento dos esgotos produzidos<br />

pela região <strong>de</strong> maior <strong>de</strong>nsida<strong>de</strong> <strong>de</strong>mográfica do estado. O gráfico abaixo<br />

dá uma idéia da poluição por um metal pesado (chumbo) existente no<br />

sedimento dos manguezais da Baía <strong>de</strong> Guanabara.<br />

Contaminação por chumbo no sedimento <strong>de</strong> manguezais<br />

da Baía <strong>de</strong> Guanabara (mg/kg <strong>de</strong> peso seco).<br />

0,04<br />

0,02<br />

0,05<br />

0,07<br />

0,1<br />

São Gonçalo<br />

Fonte: Oliveira, 1998.<br />

D. <strong>de</strong> <strong>Caxias</strong> Ilha do<br />

Governador<br />

0,02<br />

0,02<br />

Guapimirim Ilha Gran<strong>de</strong><br />

Mesmo o manguezal localizado nas proximida<strong>de</strong>s do Aterro Metropolitano<br />

<strong>de</strong> Jardim Gramacho mantém-se em razoável vigor, apesar da<br />

carga orgânica e inorgânica a que está submetido. O volume <strong>de</strong> chorume<br />

produzido por este aterro é imenso, assim como imensa é a carga<br />

tóxica <strong>de</strong>rivada do processo aeróbico e anaeróbico da <strong>de</strong>composição das<br />

100 natureza e socieda<strong>de</strong> no município <strong>de</strong> duque <strong>de</strong> caxias... 101 rita <strong>de</strong> cássia martins montezuma e rogério ribeiro <strong>de</strong> oliveira<br />

Profundida<strong>de</strong><br />

0 a 5 cm<br />

20 a 25 cm<br />

3<br />

Dados obtidos em: http://<br />

odia.terra.com.br/rio/htm/<br />

feema_aterro_<strong>de</strong>_ gramacho_entrara_em_colapso_a_<br />

qualquer_momento_160874.<br />

asp


quase 7.700 toneladas <strong>de</strong> lixo, das quais 6.500 são oriundas do município<br />

do <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> Janeiro 11 .<br />

Para enten<strong>de</strong>r (ou tentar enten<strong>de</strong>r) a gran<strong>de</strong> capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> resiliência<br />

do manguezal a esta carga poluidora, o gráfico a seguir traz uma<br />

comparação entre o teor <strong>de</strong> chumbo encontrado em folhas <strong>de</strong> dois tipos<br />

<strong>de</strong> ecossistemas (Oliveira; Bressan; Silva, 1998). Os números são bastante<br />

distintos no que se refere à carga <strong>de</strong> poluição recebida: os dados<br />

referentes à Floresta Atlântica dizem respeito a uma região próxima ao<br />

Pico do Papagaio, localizado no Maciço da Tijuca, em altitu<strong>de</strong> <strong>de</strong> 850 m.<br />

Ou seja, relativamente distante <strong>de</strong> qualquer fonte pontual <strong>de</strong> poluição.<br />

As eventuais entradas que essas folhas recebam são extremamente diluídas,<br />

recebidas exclusivamente por entradas atmosféricas. Já os dados<br />

<strong>de</strong> manguezal referem-se a uma situação oposta: estão submetidos,<br />

duas vezes por dia, por ocasião das marés, à imersão em águas ricas<br />

em chumbo. Apesar da gran<strong>de</strong> diferença em relação à entrada da contaminação<br />

por chumbo, a contaminação das folhas é significativamente<br />

maior no ecossistema <strong>de</strong> Mata Atlântica.<br />

Contaminação por chumbo em folhas <strong>de</strong> espécies <strong>de</strong> Mata Atlântica<br />

e <strong>de</strong> manguezais do Estado do <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> Janeiro (mg/kg).<br />

0,3<br />

Ilha do<br />

Governador<br />

Fonte: Oliveira, 1998.<br />

0,2<br />

Guapimirim<br />

6,0<br />

D. <strong>de</strong> <strong>Caxias</strong><br />

27<br />

Floresta<br />

da Tijuca<br />

21<br />

Floresta<br />

do Camorim<br />

Outra formação relevante que ocorre na área <strong>de</strong> baixada do município<br />

<strong>de</strong> <strong>Duque</strong> <strong>de</strong> <strong>Caxias</strong> são as colinas localizadas na baixada. Em termos<br />

geomorfológicos são formações antigas e correspon<strong>de</strong>m à porção final<br />

da Serra do Mar, paralelas ao seu alinhamento principal. Tratam-se <strong>de</strong><br />

colinas <strong>de</strong> baixa altitu<strong>de</strong> situadas <strong>de</strong> forma não contínua ao longo da<br />

baixada do município. Primitivamente, as mesmas eram revestidas pela<br />

Floresta Ombrófila Densa das Terras Baixas e pela Floresta Ombrófila<br />

Densa Submontana. Como estas colinas erguiam-se como ilhas em meio<br />

às áreas brejosas, forneciam ambiente distinto para a fauna e certamente<br />

eram utilizadas por essas populações na busca por recursos para<br />

a sobrevivência. Mais tar<strong>de</strong>, em período histórico, estas colinas sediaram<br />

distintos ciclos agrícolas da região, como plantio <strong>de</strong> subsistência,<br />

canaviais e plantio <strong>de</strong> laranja. São constituídas por solos <strong>de</strong>ssecados e<br />

<strong>de</strong> baixa fertilida<strong>de</strong> natural. Como muitas <strong>de</strong>ssas colinas localizam-se<br />

nas proximida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> brejos, durante muito tempo funcionaram como<br />

área <strong>de</strong> empréstimo para aterros. Esta situação contribuiu ainda mais<br />

para a <strong>de</strong>gradação da vegetação existente no local.<br />

Com esses condicionamentos históricos, as colinas apresentam,<br />

hoje em dia, uma baixa diversida<strong>de</strong>. A floresta que as reveste – quando<br />

existente – é uma formação secundária com reduzido número <strong>de</strong> espécies<br />

arbóreas. A fauna é bastante pobre e poucas aves po<strong>de</strong>m ser visualizadas.<br />

A pobreza tanto da fauna quanto da flora <strong>de</strong>corre, portanto,<br />

<strong>de</strong> dois fatores: do uso histórico <strong>de</strong>ssas colinas e da situação <strong>de</strong> insulamento<br />

<strong>de</strong>stes fragmentos, verda<strong>de</strong>iras ilhas cercadas por áreas urbanas.<br />

Como essas áreas não recebem propágulos (como, por exemplo, sementes)<br />

<strong>de</strong> outras espécies, a sua flora é constituída por espécies típicas<br />

<strong>de</strong> estágios sucessionais iniciais. As espécies arbóreas mais frequentes<br />

nestas colinas da baixada são: carrapeta (Guarea guidonia), arco-<strong>de</strong>pipa<br />

(Erythroxylum pulchrum), assa-peixe (Vernonia polyanthes), jacaré<br />

(Pipta<strong>de</strong>nia gonoacantha), ipê ver<strong>de</strong> (Cybistax antisyphilitica) e cambará<br />

(Gochnatia polymorpha), a mais comum <strong>de</strong> todas, que forma a<strong>de</strong>nsamentos<br />

monoespecíficos e tem relativa resistência ao fogo. Tratam-se<br />

todas <strong>de</strong> espécies bastante comuns a este tipo <strong>de</strong> ambientes.<br />

Qual seria, pois, o valor ambiental <strong>de</strong>ssas colinas para o município<br />

<strong>de</strong> <strong>Duque</strong> <strong>de</strong> <strong>Caxias</strong>? Diversas po<strong>de</strong>m ser as respostas: algumas dizem<br />

respeito ao presente, outras ao futuro. Para o tempo atual, a vegetação<br />

preservada (ainda que parcialmente em função <strong>de</strong> invasões, incêndios<br />

etc.) significa uma redistribuição das águas <strong>de</strong> chuva. Por apresentar<br />

o seu solo recoberto por serapilheira, essas colinas têm um papel relevante<br />

no que diz respeito ao armazenamento da chuva. O município<br />

apresenta, em sua porção sul, baixíssima altitu<strong>de</strong> em relação ao nível<br />

do mar – inclusive, em muitas áreas, essa chega a ser negativa, ou seja,<br />

o local está alguns metros abaixo no nível do mar. Esse fato resulta<br />

em gran<strong>de</strong> vulnerabilida<strong>de</strong> ecológica, principalmente em um cenário<br />

<strong>de</strong> mudanças climáticas globais. A <strong>de</strong>struição <strong>de</strong>stas poucas formações<br />

florestais, sua urbanização e consequente impermeabilização do solo,<br />

representam um fator relevante no agravamento das enchentes e dos<br />

alagamentos.<br />

Com referência ao futuro do município, a preservação <strong>de</strong>stas colinas<br />

empreendida pelo po<strong>de</strong>r municipal significa uma possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

102 natureza e socieda<strong>de</strong> no município <strong>de</strong> duque <strong>de</strong> caxias... 103 rita <strong>de</strong> cássia martins montezuma e rogério ribeiro <strong>de</strong> oliveira


ganho ambiental significativo para a vida da cida<strong>de</strong>. A <strong>de</strong>cretação <strong>de</strong>ssas<br />

áreas como unida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> conservação significa um primeiro passo<br />

para uma mudança da qualida<strong>de</strong> ambiental. Assim, um gran<strong>de</strong> leque<br />

<strong>de</strong> possibilida<strong>de</strong>s se abre com esta opção. Projetos po<strong>de</strong>m ser <strong>de</strong>senvolvidos<br />

no sentido <strong>de</strong> prover o enriquecimento <strong>de</strong> espécies, via reflorestamento.<br />

A fauna e a flora po<strong>de</strong>m ter uma melhoria que resultará<br />

em maior qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida para a população. Suas funções ecológicas<br />

ligadas à redistribuição das águas <strong>de</strong> chuva po<strong>de</strong>m ser implementadas<br />

com o reflorestamento. A população po<strong>de</strong> passar a dispor <strong>de</strong> um espaço<br />

a<strong>de</strong>quado à contemplação, aos esportes ao ar livre, a ativida<strong>de</strong>s educativas<br />

etc. A criação <strong>de</strong> unida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> conservação sobre esses ambientes<br />

representa, como o recente Parque Municipal da Caixa D’Água, uma<br />

conquista cidadã em torno <strong>de</strong> espaços que, <strong>de</strong> outra forma, po<strong>de</strong>riam<br />

ser perdidos para a violência urbana. Nesse sentido, a preservação no<br />

presente <strong>de</strong>ssas áreas abre uma perspectiva futura para uma verda<strong>de</strong>ira<br />

utopia <strong>de</strong> ações. Algo como um tomar posse hoje, por parte da municipalida<strong>de</strong>,<br />

da qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> seu futuro.<br />

Finalmente, outra área pobre do ponto <strong>de</strong> vista da diversida<strong>de</strong><br />

relativa aos “vazios”, são as áreas planas e em parte brejosas, localizadas<br />

em muitas das áreas planas do município, notadamente a sudoeste<br />

do mesmo, nas proximida<strong>de</strong>s da Refinaria <strong>Duque</strong> <strong>de</strong> <strong>Caxias</strong>. Preteritamente,<br />

essas áreas foram revestidas pela Floresta Ombrófila Densa<br />

das Terras Baixas. Do que existia <strong>de</strong>ssa formação, não se dispõe atualmente<br />

nem mesmo <strong>de</strong> fragmentos, quer no município <strong>de</strong> <strong>Duque</strong> <strong>de</strong><br />

<strong>Caxias</strong>, quer na Baía <strong>de</strong> Guanabara. Esta formação foi <strong>de</strong>struída, em<br />

gran<strong>de</strong> parte, em meados do século passado, nas chamadas obras <strong>de</strong><br />

saneamento. Segundo o presi<strong>de</strong>nte Getulio Vargas, “o saneamento da<br />

Baixada Fluminense é, no gênero, uma obra monumental”. De fato, em<br />

função da abertura <strong>de</strong> canais que se <strong>de</strong>stinavam à dragagem das terras,<br />

foram criadas extensas terras emersas, incluindo aquelas on<strong>de</strong> hoje<br />

se situam a da Refinaria <strong>Duque</strong> <strong>de</strong> <strong>Caxias</strong>. As fotografias a seguir evi<strong>de</strong>nciam<br />

um pouco <strong>de</strong>ste esforço colossal, feito anonimamente por uma<br />

legião <strong>de</strong> trabalhadores.<br />

Etapas da construção dos canais <strong>de</strong> drenagem da Baixada Fluminense.<br />

Fonte: O homem e a Guanabara, <strong>de</strong> Alberto Lamego.<br />

104 natureza e socieda<strong>de</strong> no município <strong>de</strong> duque <strong>de</strong> caxias... 105 rita <strong>de</strong> cássia martins montezuma e rogério ribeiro <strong>de</strong> oliveira


O que era uma rica formação florestal virou, em sua maior parte, uma<br />

área brejosa. Brejo, alagado ou charco são <strong>de</strong>signações utilizadas para<br />

um tipo especial <strong>de</strong> ecossistema <strong>de</strong> águas rasas e semiparadas coberto<br />

com ervas <strong>de</strong> diversos tipos e tamanhos. O nome oficial adotado pelo<br />

ibge para estes ecossistemas é “comunida<strong>de</strong>s aluviais”. A água é o elemento<br />

chave nesse tipo <strong>de</strong> ecossistema. Para que o brejo exista, são<br />

necessárias algumas condições físicas. A primeira é a pouca inclinação<br />

do terreno, que retarda ou impe<strong>de</strong> o escoamento das águas. A segunda<br />

é a existência <strong>de</strong> solos impermeáveis, impedindo ou dificultando a infiltração,<br />

e a terceira é a proximida<strong>de</strong> da rocha-mãe logo abaixo <strong>de</strong> uma<br />

fina camada <strong>de</strong> solos, ou a combinação <strong>de</strong>stes fatores. Des<strong>de</strong> que essas<br />

condições existam, haverá a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> ocorrência <strong>de</strong> brejo. Este<br />

po<strong>de</strong> ser permanente, temporário ou ter um núcleo permanente com<br />

uma zona no entorno on<strong>de</strong> o brejo se expan<strong>de</strong> e se retrai <strong>de</strong> acordo com<br />

a época do ano. A erva mais abundante nos brejos é a taboa (Typha<br />

dominguensis), que cresce em tufos que po<strong>de</strong>m atingir mais <strong>de</strong> dois<br />

metros <strong>de</strong> altura. São comuns, ainda, muitas outras espécies, como a<br />

samambaia-do-brejo (Achrosticum aureum), o aguapé (Echornia crassipes)<br />

e a salsa-do-brejo (Jussiaea sp). Os brejos <strong>de</strong> taboa têm importância<br />

para a fauna, principalmente para aves aquáticas como o jaçanã<br />

(Jacana jacana) e roedores como a preá (Cavia aperea). A taboa é uma<br />

espécie <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> importância para a fabricação <strong>de</strong> artesanatos, principalmente<br />

esteiras.<br />

Muitas <strong>de</strong>ssas áreas brejosas constituem Zonas Especiais <strong>de</strong> Interesse<br />

Ambiental. Assim como as <strong>de</strong>mais áreas <strong>de</strong> baixa diversida<strong>de</strong> do<br />

município, estas apresentam gran<strong>de</strong> valor ambiental, principalmente<br />

no que se refere à circulação <strong>de</strong> águas superficiais e <strong>de</strong> sub-superfície<br />

e também como áreas <strong>de</strong> circulação atmosférica.<br />

Integrando os “vazios”: valores e funcionamento da paisagem <strong>de</strong><br />

<strong>Duque</strong> <strong>de</strong> <strong>Caxias</strong><br />

A paisagem constitui um objeto <strong>de</strong> estudo comum a diversas ciências.<br />

Ela é entendida como o estudo da estrutura, função e dinâmica <strong>de</strong> áreas<br />

heterogêneas compostas por ecossistemas interativos (Forman, 1995).<br />

Atualmente, é bastante estudada pela Geoecologia, <strong>de</strong>finida como uma<br />

ciência que lida com as interações entre a socieda<strong>de</strong> humana e o seu<br />

espaço <strong>de</strong> vida, natural ou construído – ou seja, a paisagem (Metzger,<br />

2001). No entanto, sendo um termo polissêmico, o conceito <strong>de</strong> paisagem<br />

apresenta inúmeros significados e representações. Historicamente,<br />

paisagem significa cenário. Como tal, sua <strong>de</strong>finição torna-se subjetiva.<br />

É <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte dos sentidos, o que para alguns significa distinção não<br />

apenas através da visão, como também do olfato, dos conceitos préconcebidos,<br />

valores, cultura, posição social, religião, crenças, gênero,<br />

enfim, do arcabouço cognitivo <strong>de</strong> cada um.<br />

Para alguns autores, essa <strong>de</strong>limitação espacial po<strong>de</strong> ser feita “até<br />

on<strong>de</strong> a vista alcança” (Santos, 2006). Para outros, a <strong>de</strong>limitação se dá<br />

em função da frequência <strong>de</strong> ocorrência <strong>de</strong> <strong>de</strong>terminados elementos, ou<br />

padrões fisionômicos que regem uma “área terrestre heterogênea, composta<br />

por um conjunto <strong>de</strong> ecossistemas que interagem e se repetem <strong>de</strong><br />

forma similar através da paisagem” (Forman, 1995).<br />

Portanto, para enten<strong>de</strong>rmos a dinâmica da paisagem do município<br />

<strong>de</strong> <strong>Duque</strong> <strong>de</strong> <strong>Caxias</strong>, importa analisá-la como um todo, integrando<br />

seus diversos espaços, sejam eles construídos, naturais ou em distintas<br />

estratégias e formas <strong>de</strong> alterações pela milenar ação do homem. Não se<br />

po<strong>de</strong> pensar a zona <strong>de</strong> planície do município fora do contexto da encosta<br />

da Serra do Mar. A água, seja sob a forma <strong>de</strong> chuva ou <strong>de</strong> escoamento<br />

superficial ou subsuperficial, integra todos esses elementos da paisagem.<br />

Da mesma forma, a proximida<strong>de</strong> com a Baía <strong>de</strong> Guanabara impõe<br />

severas restrições à ocupação do território e <strong>de</strong> seu planejamento para o<br />

futuro. O estudo integrado e dinâmico da paisagem do município constitui<br />

uma forma para o enfrentamento do fenômeno das mudanças climáticas<br />

globais. Ainda mais se consi<strong>de</strong>rando as inúmeras fragilida<strong>de</strong>s<br />

a que o município está sujeito, como a alta <strong>de</strong>nsida<strong>de</strong> populacional, a<br />

reduzida altitu<strong>de</strong> <strong>de</strong> sua se<strong>de</strong> em relação ao nível do mar, a proximida<strong>de</strong><br />

com a Serra do Mar etc.<br />

Como visto, as partes planas do município <strong>de</strong> <strong>Duque</strong> <strong>de</strong> <strong>Caxias</strong><br />

são constituídas por ecossistemas inteiramente <strong>de</strong>scaracterizados <strong>de</strong><br />

sua condição original. Em sua parte não habitada (ou fracamente habitada),<br />

a baixada é constituída <strong>de</strong> pastagens, manguezais e pelas áreas<br />

drenadas nas décadas <strong>de</strong> 1940 e 1950. Associado à i<strong>de</strong>ologia <strong>de</strong> “saneamento”,<br />

que resultou na radical transformação da paisagem do município,<br />

encontra-se a criação, por essa época, <strong>de</strong> uma gran<strong>de</strong> indústria<br />

<strong>de</strong> bhc estatal. Sua falência gerou a tristemente conhecida Cida<strong>de</strong> dos<br />

Meninos, um passivo ambiental antigo e <strong>de</strong> difícil solução.<br />

Assim, <strong>de</strong>ntro do quadro <strong>de</strong> elevada <strong>de</strong>nsida<strong>de</strong> <strong>de</strong>mográfica que<br />

tanto o município como a própria Baixada Fluminense apresentam,<br />

esses espaços vazios têm gran<strong>de</strong> importância para a vida do município<br />

e são relevantes os esforços feitos para a sua proteção. Do ponto <strong>de</strong> vista<br />

da circulação aérea, essas áreas representam um importante papel nas<br />

condições climáticas das áreas mais habitadas. Funcionam também<br />

como dispersores da poluição atmosférica, seja ela oriunda <strong>de</strong> veículos<br />

automotores ou da reduc. Essas áreas planas <strong>de</strong>sabitadas têm também<br />

gran<strong>de</strong> importância no que se refere à circulação <strong>de</strong> águas subterrâneas<br />

do município. Em se tratando <strong>de</strong> um município com alto grau <strong>de</strong><br />

industrialização, a contaminação atmosférica é relevante e essas áreas<br />

representam um gran<strong>de</strong> papel não apenas na dissipação dos poluentes,<br />

como também na amenização do clima, pois tratam-se <strong>de</strong> áreas não<br />

impermeabilizadas pela urbanização.<br />

Em função <strong>de</strong> sua baixa altitu<strong>de</strong>, essas áreas constituem um<br />

ambiente <strong>de</strong> tamponamento das águas provenientes das elevações e<br />

106 natureza e socieda<strong>de</strong> no município <strong>de</strong> duque <strong>de</strong> caxias... 107 rita <strong>de</strong> cássia martins montezuma e rogério ribeiro <strong>de</strong> oliveira


contribuem para minorar as enchentes. Enfim, esse conjunto heterogêneo<br />

<strong>de</strong> espaços “vazios” representa um papel altamente relevante para<br />

as condições <strong>de</strong> vida dos seus habitantes. Entretanto, sua viabilida<strong>de</strong><br />

fica a <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>r do interesse dos grupos sociais que <strong>de</strong>le fazem parte.<br />

A função dos espaços vazios quanto à regulação e manutenção<br />

dos recursos hídricos, qualida<strong>de</strong> do ar, fornecimento <strong>de</strong> alimento, conforto<br />

ambiental, lazer e espaço <strong>de</strong> interação social, ou seja, enquanto<br />

recurso ambiental, só será mantida na medida em que os grupos sociais<br />

que <strong>de</strong>les se utilizam assim <strong>de</strong>sejarem, atribuindo-lhes valores sociais.<br />

Assim sendo, a utilização <strong>de</strong>sses espaços como área <strong>de</strong> preservação<br />

integra um circuito <strong>de</strong> interesses e ações que po<strong>de</strong> ser compreendido<br />

através do esquema abaixo.<br />

necessida<strong>de</strong><br />

funções ecológicas<br />

Socieda<strong>de</strong> Preservação / Conservação<br />

espaços<br />

vazios<br />

Recurso Ambiental<br />

disponibilida<strong>de</strong><br />

do recurso<br />

Visto <strong>de</strong>ssa maneira, como recursos ambientais, passa a ser um conceito<br />

vinculado à cultura e, portanto, à socieda<strong>de</strong>. Socieda<strong>de</strong> com seus<br />

valores associados, suas formas <strong>de</strong> organização específicas e, por isso,<br />

com dinâmicas próprias, sujeita a variações ao longo do tempo. Segundo<br />

Sachs (2000), “é recurso aquela parcela do meio que eu consi<strong>de</strong>ro útil.<br />

É recurso, hoje, o que não era recurso ontem. Não é mais recurso, hoje,<br />

o que era recurso ontem. Será recurso amanhã o que não é um recurso<br />

hoje.”<br />

Portanto, diante <strong>de</strong> cada espaço vazio, cabe a pergunta: Vazio<br />

<strong>de</strong> quê? O que está ausente neste espaço? Quais atributos existem<br />

ou inexistem para que o adjetivemos <strong>de</strong>ssa forma? Atribuir um novo<br />

uso resulta em atribuir novos significados, que só serão respeitados<br />

na medida em que forem também entendidos e apreendidos, afinal, a<br />

paisagem e o sujeito são co-integrados em um conjunto unitário que se<br />

autoproduz e autorreproduz. Paisagem-marca expressa uma civilização<br />

e paisagem-matriz participa dos esquemas <strong>de</strong> percepção, da concepção<br />

e <strong>de</strong> ação-cultura (Rosendahl; Corrêa, 2004).<br />

Nesse sentido, a transformação dos espaços vazios <strong>de</strong> <strong>Duque</strong> <strong>de</strong><br />

<strong>Caxias</strong> em Unida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> Conservação tem seu valor intrínseco enquanto<br />

resgate ou, em certos casos, promoção <strong>de</strong> suas funções ecológicas. Contudo,<br />

estes só manterão suas dinâmicas próprias se e somente se os<br />

grupos sociais a eles associados compreen<strong>de</strong>rem e respeitarem sua<br />

importância. Do contrário, outros usos lhes serão dados, em função<br />

das necessida<strong>de</strong>s que tais grupos i<strong>de</strong>ntificarem.<br />

Cabe ressaltar que essa relação não se restringe à ação local, uma<br />

vez que, segundo dados do Tribunal <strong>de</strong> Contas do Estado do <strong>Rio</strong> <strong>de</strong><br />

Janeiro, o município <strong>de</strong> <strong>Duque</strong> <strong>de</strong> <strong>Caxias</strong> necessitaria implantar 721<br />

ha <strong>de</strong> corredores ecológicos, o que correspon<strong>de</strong> a 1,5% da área total<br />

do município. Isso reitera a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> ter que adotar a paisagem<br />

como o recorte mínimo para a tomada <strong>de</strong> <strong>de</strong>cisão, enten<strong>de</strong>ndo-a como<br />

uma paisagem concreta, em que se conjugam o sistema dito natural e<br />

o cultural, integrando cada espaço como o Ecossistema Humano Total<br />

– seres humanos integrados em seu ambiente total (Naveh, 2000).<br />

Desse modo, po<strong>de</strong>mos concluir que os “vazios” <strong>de</strong> <strong>Duque</strong> <strong>de</strong> <strong>Caxias</strong><br />

são espaços prenhes <strong>de</strong> história, ações, significados. Sendo assim, é fundamental<br />

que cada um <strong>de</strong>sses espaços seja consi<strong>de</strong>rado tanto <strong>de</strong>ntro<br />

do seu contexto geobiofísico e da paisagem em que está inserido, como<br />

também no contexto social que sobre ele atua.<br />

Bibliografia<br />

amador, E.S. Baía <strong>de</strong> Guanabara e ecossistemas periféricos: Homem e Natureza.<br />

Reproarte Gráfica e Editora Ltda. 539 p., 1997.<br />

bressan, F. A.; oliveira, R. R.; silva, E. V. Contaminação por metais pesados<br />

no sedimento e em compartimentos bióticos <strong>de</strong> manguezais da Baía <strong>de</strong><br />

Guanabara. In: IV Simpósio <strong>de</strong> Ecossistemas Brasileiros, 1998, Águas<br />

<strong>de</strong> Lindóia. Anais do IV Simpósio <strong>de</strong> Ecossistemas Brasileiros. Aguas <strong>de</strong><br />

Lindóia, 1998. v. 1. p. 30-37. 86 87<br />

ci<strong>de</strong> – Fundação Centro <strong>de</strong> Informações e Dados do <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> Janeiro. Índice <strong>de</strong><br />

qualida<strong>de</strong> dos municípios – ver<strong>de</strong> (IQM ver<strong>de</strong>). <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> Janeiro, CIDE, 2000.<br />

80p.<br />

forman, R.T.T. Land Mosaics. Cambridge: Cambridge University Press, 1995.<br />

instituto <strong>de</strong> pesquisas jardim botânico do rio <strong>de</strong> janeiro <br />

kjerfve, B. E; lacerda, L. D. Manglares <strong>de</strong> Brasil. In: Conservación y<br />

Aprovechamiento Sostenible <strong>de</strong> Bosques <strong>de</strong> Manglar en las Regiones América<br />

Latina e Africa. Yokohama: itto/ isme Project pd114/90 pd114/90 (F), v.1<br />

p.231–256. 1993.<br />

metzger, J.P. O que é ecologia <strong>de</strong> paisagens? Biota Neotropica, v. 1, n. 1, p. 1-9,<br />

2001.<br />

naveh, N. What is a landscape ecology? A conceptual introduction. Landscape<br />

and Urban Planning. v.50. p. 7 – 26. 2000.<br />

108 natureza e socieda<strong>de</strong> no município <strong>de</strong> duque <strong>de</strong> caxias... 109 rita <strong>de</strong> cássia martins montezuma e rogério ribeiro <strong>de</strong> oliveira


osendahl, Z.; corrêa, R. L. (org). Paisagem, Imaginário e Espaço. <strong>Rio</strong> <strong>de</strong><br />

Janeiro. EdUERJ. 2 Edição. 2004.<br />

sachs, I. Socieda<strong>de</strong>, cultura e meio ambiente. Mundo & Vida, v.2, n.1. p. 7-13.<br />

2000.<br />

santos, M. A natureza do espaço. São Paulo: EDUSP. 2006.<br />

Rogerio Ribeiro De Oliveira — Geografia<br />

Graduado em Comunicacao Social pela Pontifícia Universida<strong>de</strong> Católica do <strong>Rio</strong> <strong>de</strong><br />

Janeiro (puc-<strong>Rio</strong>), em 1976. Fez mestrado e doutorado em Geografia na Universida<strong>de</strong><br />

Fe<strong>de</strong>ral do <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> Janeiro (ufrj) em 1987 e 1999, respectivamente. Tem pós-dou-<br />

torado em História Ambiental, concluído em 2007, pela Universida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Klagenfurt<br />

(Áustria). Atualmente é professor assistente do Departamento <strong>de</strong> Geografia da puc-<br />

<strong>Rio</strong> e integrante do corpo docente dos programas <strong>de</strong> pós-graduação em Geografia<br />

da puc-<strong>Rio</strong>, <strong>de</strong> Ciências Ambientais e Florestais da ufrrj e <strong>de</strong> Ecologia da ufrj.<br />

Entre seus artigos publicados, <strong>de</strong>staca-se Mata Atlântica, paleoterritórios e histó-<br />

ria ambiental (Ambiente & Socieda<strong>de</strong>). Sua produção bibliográfica inclui artigos em<br />

diversos periódicos, livros e capítulos sobre História Ambiental e ecologia da Mata<br />

Atlântica.<br />

rro@geo.puc-rio.br<br />

Rita De Cassia Martins Montezuma — Geografia<br />

Graduada em Ciências Biológicas pela Universida<strong>de</strong> do Estado do <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> Janeiro<br />

(uerj) em 1985. Mestre em Ecologia pela Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral do <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> Janeiro<br />

(ufrj), curso concluído em 1997, e doutora em Geografia pela mesma instituição<br />

(2005). É professora assistente da puc-<strong>Rio</strong>, com atuação em ensino e pesquisa em<br />

cursos <strong>de</strong> graduação e pós-graduação. Escreveu artigos em dois livros: Aspectos<br />

estruturais da paisagem da Mata Atlântica em áreas alteradas por incêndios flores-<br />

tais e As comunida<strong>de</strong>s vegetais das restingas <strong>de</strong> Macaé.<br />

montezum@puc-rio.br<br />

110 natureza e socieda<strong>de</strong> no município <strong>de</strong> duque <strong>de</strong> caxias... 111<br />

Roosevelt Fi<strong>de</strong>les <strong>de</strong> Souza<br />

Histórico, finalida<strong>de</strong>s, objetivos e<br />

princípios da Educação Ambiental<br />

A palavra que melhor traduz o conceito <strong>de</strong> natureza que emerge é “vida”.<br />

De acordo com o artigo 3 da Lei 6.938 <strong>de</strong> 1981, o meio ambiente “permite,<br />

abriga e rege a vida em todas as suas formas”.<br />

Em nome da vida, a questão ambiental adquire dimensão global,<br />

seduzindo <strong>de</strong>fensores alistados numa pluralida<strong>de</strong> <strong>de</strong> espaços sociais e<br />

geográficos. As lutas em <strong>de</strong>fesa do meio ambiente são variações em torno<br />

do tema vida/morte. O sentido ambiental da tensão vida/morte <strong>de</strong>sloca<br />

a questão da sobrevivência <strong>de</strong> uma luta contra as forças naturais para<br />

uma luta em <strong>de</strong>fesa do meio ambiente. O conceito <strong>de</strong> meio ambiente, ao<br />

<strong>de</strong>finir as condições que permitem a vida, nos força a pensar a natureza<br />

como mera possibilida<strong>de</strong>.<br />

Outro aspecto promissor da luta em <strong>de</strong>fesa do meio ambiente é<br />

o combate ao utilitarismo pragmático <strong>de</strong> um projeto <strong>de</strong> dominação da<br />

natureza que <strong>de</strong>sconhece outros valores além da produção e do consumo<br />

<strong>de</strong> bens materiais. Isso não se restringe ao terreno das i<strong>de</strong>ias:<br />

são “ações” concretas que visam reorientar as ativida<strong>de</strong>s econômicas<br />

no sentido <strong>de</strong> atenuar seus impactos ambientais. A questão ambiental<br />

abre espaço para um <strong>de</strong>slocamento valorativo, em que parte da quantida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> crescimento econômico é substituída pela qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida.<br />

Sobre as relações homem-natureza<br />

A crise nas relações homem-natureza <strong>de</strong>ve ser buscada nos mo<strong>de</strong>los <strong>de</strong><br />

conjunto <strong>de</strong> valores, que marcaram as diferentes concepções <strong>de</strong> natureza,<br />

sendo algumas hoje profundamente questionadas. Segundo o<br />

filósofo Gómez-Heras (1997:20), a partir do Renascimento, dois tipos<br />

distintos <strong>de</strong> interpretação da natureza surgiram: um ligado ao i<strong>de</strong>al galileano-cartesiano<br />

<strong>de</strong> ciência, com forte acento na quantificação e formalização<br />

matemática da natureza, e outro relacionado com a dimensão<br />

qualitativa e valorativa da natureza.<br />

A primeira acabou por se expandir ao longo da história, impondo<br />

suas regras nas ciências mo<strong>de</strong>rnas. Na relação com a natureza existe


uma outra racionalida<strong>de</strong>, que não po<strong>de</strong> ser mensurada e quantificada,<br />

pois seus fundamentos são a qualida<strong>de</strong> e os valores. É a racionalida<strong>de</strong><br />

qualitativo-axiológica, ela mostra que nem todo o saber sobre a natureza<br />

tem que ser quantificado e formalizado conforme a matemática.<br />

É preciso reconhecer que as experiências estéticas da natureza<br />

e a vivência <strong>de</strong> valores solidários, harmônicos e inspiradores da própria<br />

natureza viva fornecem também um quadro axiológico qualitativo<br />

<strong>de</strong> extrema importância para a nova mentalida<strong>de</strong> ecológica do mundo<br />

mo<strong>de</strong>rno. Vivemos atualmente mergulhados em duas concepções filosóficas<br />

da natureza. Uma sustentada pela racionalida<strong>de</strong> axiológica, que<br />

correspon<strong>de</strong> a esta visão mais qualitativa da natureza, e outra sustentada<br />

pela racionalida<strong>de</strong> técnico-operacional, alimentada pela cosmovisão<br />

matematizante e quantitativa da natureza.<br />

O <strong>de</strong>safio ético que encontramos consiste em buscar um ponto<br />

<strong>de</strong> equilíbrio entre essas duas concepções, fazendo com que a ativida<strong>de</strong><br />

humana se integre entre ambas, evitando a perda das dimensões subjetiva,<br />

teleológica e teológica da natureza e não permitindo a polarização<br />

excessiva da mentalida<strong>de</strong> objetiva e instrumental da natureza, pois<br />

essa acaba esvaziando a relação do homem com o mundo circundante<br />

e com o próprio sentido radical e absoluto da história, Deus. (Siqueira,<br />

2002:13)<br />

Certamente, qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida é um valor bem mais complexo do<br />

que o <strong>de</strong> progresso material. Isso porque ela é multifacetada, incorporando<br />

as dimensões estética, espiritual e material: à quantida<strong>de</strong> gerada<br />

pela ativida<strong>de</strong> “produtiva” soma-se a qualida<strong>de</strong> que o meio ambiente<br />

não <strong>de</strong>gradado é capaz <strong>de</strong> proporcionar à vida. O planeta Terra abriga<br />

30 milhões <strong>de</strong> espécies <strong>de</strong> vida vegetal e animal, das quais apenas 2<br />

milhões são conhecidos e estudados. Existem atualmente 5.500 espécies<br />

animais e 4 mil espécies vegetais seriamente ameaçadas <strong>de</strong> extinção,<br />

sendo que 450 <strong>de</strong>ssas espécies animais e vegetais são do Brasil.<br />

A ecologia (do grego oikos, casa, lugar, estado) natural <strong>de</strong>senvolveu<br />

os princípios do equilíbrio dos ecossistemas, os quais estão fundados<br />

na inter<strong>de</strong>pendência dos seus diferentes elementos constitutivos.<br />

Interferir em um elemento do ecossistema po<strong>de</strong> implicar a alteração <strong>de</strong><br />

todo o seu equilíbrio. Mudar o curso <strong>de</strong> um rio, <strong>de</strong>smatar uma encosta<br />

ou eliminar alguns insetos são atitu<strong>de</strong>s que po<strong>de</strong>m ocasionar mudanças<br />

no solo, na fauna e no microclima. (Guatari, 1991:68)<br />

Sobre a Educação Ambiental<br />

A Educação Ambiental contribui na afirmação <strong>de</strong> valores e ações que<br />

influenciarão a transformação social, gerando mudanças na qualida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> vida e maior consciência na conduta pessoal, comunitária e<br />

populacional.<br />

A Educação Ambiental <strong>de</strong>ve gerar conhecimentos que sirvam a<br />

toda a socieda<strong>de</strong>, possibilitando reverter este quadro. As transforma-<br />

ções na consciência, conduta pessoal, estilos <strong>de</strong> vida, harmonia entre os<br />

seres humanos e <strong>de</strong>stes com outras formas <strong>de</strong> vida, surgirão a partir da<br />

realização <strong>de</strong> um trabalho que <strong>de</strong>ve ser seriamente realizado em todas<br />

as classes sociais, dos variados níveis intelectuais e faixas etárias.<br />

Com as crescentes pressões humanas sobre os ambientes naturais,<br />

a Educação Ambiental tem se tornado cada vez mais importante<br />

como meio <strong>de</strong> buscar apoio e participação dos diversos segmentos da<br />

socieda<strong>de</strong> para a conservação e melhoria da qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida. A Educação<br />

Ambiental propicia o aumento <strong>de</strong> conhecimentos, mudanças <strong>de</strong><br />

valores e o aperfeiçoamento <strong>de</strong> habilida<strong>de</strong>s, que são condições básicas<br />

para que o ser humano assuma atitu<strong>de</strong>s e comportamentos que estejam<br />

em harmonia com o meio ambiente.<br />

A preocupação oficial com a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> um trabalho educativo<br />

que procurasse sensibilizar as pessoas para as questões ambientais<br />

surgiu em 1972, na Conferência sobre Meio Ambiente Humano, realizada<br />

pela onu, em Estocolmo. A conferência gerou a Declaração sobre<br />

o Meio Ambiente Humano e teve como objetivo chamar a atenção dos<br />

governos para a adoção <strong>de</strong> novas políticas ambientais, entre elas um<br />

Programa <strong>de</strong> Educação Ambiental, visando a educar o cidadão para a<br />

compreensão e o combate à crise ambiental no mundo.<br />

A unesco promoveu, em Belgrado, em 1975, um Encontro Internacional<br />

sobre Educação Ambiental. O encontro culminou com a formulação<br />

<strong>de</strong> princípios e orientações para um programa internacional<br />

<strong>de</strong> Educação Ambiental (ea), segundo o qual esta <strong>de</strong>veria ser contínua,<br />

interdisciplinar, integrada às diferenças regionais e voltada para os interesses<br />

nacionais.<br />

Em 1977, ocorreu a Primeira Conferência sobre Educação Ambiental,<br />

em Tbilisi, Geórgia, consi<strong>de</strong>rada o mais importante evento para a<br />

evolução da Educação Ambiental no mundo. A “Conferência <strong>de</strong> Tbilisi”<br />

como ficou conhecida, contribuiu para precisar a natureza da Educação<br />

Ambiental, <strong>de</strong>finindo objetivos, características, recomendações e estratégias<br />

pertinentes ao plano nacional e internacional. Foi recomendado<br />

que a prática da Educação Ambiental <strong>de</strong>ve consi<strong>de</strong>rar todos os aspectos<br />

que compõem a questão ambiental, ou seja, aspectos políticos, sociais,<br />

econômicos, científicos, tecnológicos, éticos, culturais e ecológicos, <strong>de</strong>ntro<br />

<strong>de</strong> uma visão inter e multidisciplinar.<br />

Na Conferência <strong>de</strong> Tbilisi, a Educação Ambiental foi <strong>de</strong>finida como<br />

uma dimensão dada ao conteúdo e à prática da educação, orientada<br />

para a resolução <strong>de</strong> problemas concretos do meio ambiente, através <strong>de</strong><br />

enfoques interdisciplinares e <strong>de</strong> uma participação ativa e responsável<br />

<strong>de</strong> cada indivíduo e da coletivida<strong>de</strong>, como po<strong>de</strong>mos ver no conceito ratificado<br />

na conferência:<br />

Formar uma população mundial consciente e preocupada com o ambiente<br />

e com os problemas que lhe dizem respeito, uma população<br />

que tenha conhecimentos, as competências, o estado <strong>de</strong> espírito, as<br />

112 histório, finalida<strong>de</strong>s, objetivos e princípios... 113 roosevelt fi<strong>de</strong>les <strong>de</strong> souza


motivações e o sentido <strong>de</strong> participação e engajamento que lhe permitam<br />

trabalhar individualmente para resolver problemas atuais e<br />

impedir que se repitam.<br />

unesco, 1971:10<br />

Durante a Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e<br />

Desenvolvimento, a Jornada Internacional <strong>de</strong> Educação Ambiental, realizada<br />

no Fórum Global durante a <strong>Rio</strong> 92, reafirma o compromisso crítico<br />

da Educação Ambiental no Tratado <strong>de</strong> Educação Ambiental para as<br />

Socieda<strong>de</strong>s Sustentáveis e Responsabilida<strong>de</strong> Global.<br />

O tratado diz que a Educação Ambiental não é neutra, mas i<strong>de</strong>ológica.<br />

É um ato político baseado em valores para a transformação<br />

social. O tratado consi<strong>de</strong>ra a Educação Ambiental para a sustentabilida<strong>de</strong><br />

equitativa como “um processo <strong>de</strong> aprendizagem permanente, baseado<br />

no respeito a todas as formas <strong>de</strong> vida”.<br />

Tal educação afirma valores e ações que contribuem para a transformação<br />

humana e social e para a preservação ecológica.<br />

As <strong>de</strong>finições são muitas, mas o importante a ressaltar é que a<br />

Educação Ambiental se caracteriza por apresentar uma abordagem integradora<br />

e holística (a capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> ver a transversalida<strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>de</strong>tectar<br />

os inter-retro-relacionamentos <strong>de</strong> tudo com tudo) das questões<br />

ambientais.<br />

Somente em 1981, passados 15 anos <strong>de</strong> Tbilisi, foi concebido o<br />

primeiro documento oficial brasileiro sobre a Educação Ambiental, Projeto<br />

<strong>de</strong> Informações sobre Educação Ambiental.<br />

Em 1988, a Constituição Fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong>finiu que a Educação Ambiental<br />

<strong>de</strong>ve ser oferecida em todos os níveis, mas, na realida<strong>de</strong>, pouco se fez<br />

para incorporá-la ao currículo escolar, numa visão interdisciplinar.<br />

Em 1996, foram lançados pelo Ministério da Educação os “Parâmetros<br />

Curriculares”, os quais propõem que a Educação Ambiental seja<br />

discutida no currículo.<br />

Em abril <strong>de</strong> 1999, foi sancionada a Lei Fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong> Educação<br />

Ambiental, nº 9.795, que institui a Política Nacional <strong>de</strong> Educação<br />

Ambiental no Brasil.<br />

Essa lei diz que a Educação Ambiental <strong>de</strong>ve ser um componente<br />

essencial e permanente da educação nacional, <strong>de</strong>vendo estar presente,<br />

<strong>de</strong> forma articulada, em todos os níveis e modalida<strong>de</strong>s do processo educativo,<br />

em caráter formal e não formal. O Art.13, que trata da Educação<br />

Ambiental Não Formal, ou seja, as ações e práticas educativas voltadas<br />

para a sensibilização da coletivida<strong>de</strong> sobre as questões ambientais, com<br />

a participação e parceria <strong>de</strong> escolas, universida<strong>de</strong>s e empresas.<br />

Finalmente, em 17 <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 1999, foi sancionada no <strong>Rio</strong> <strong>de</strong><br />

Janeiro a Lei Estadual <strong>de</strong> Educação Ambiental, 3.325, que dispõe sobre<br />

a Educação Ambiental, institui a Política Estadual <strong>de</strong> Educação Ambiental,<br />

cria o Programa Estadual <strong>de</strong> Educação Ambiental e complementa a<br />

Lei Fe<strong>de</strong>ral 9.795/99 no âmbito do Estado do <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> Janeiro.<br />

Princípios básicos da Educação Ambiental<br />

● Aplicar um enfoque interdisciplinar, aproveitando o conteúdo específico<br />

<strong>de</strong> cada disciplina, <strong>de</strong> modo que adquira uma perspectiva<br />

global.<br />

● Consi<strong>de</strong>rar o meio ambiente em sua totalida<strong>de</strong>, ou seja, em todos<br />

os seus aspectos naturais e criados pelo homem (tecnológico e<br />

social, econômico, político, histórico-cultural, moral e estético).<br />

● Examinar as principais questões ambientais, do ponto <strong>de</strong> vista<br />

local, regional, nacional e internacional, <strong>de</strong> modo que os educandos<br />

se i<strong>de</strong>ntifiquem com as condições ambientais <strong>de</strong> outras<br />

regiões.<br />

● Insistir no valor e na necessida<strong>de</strong> da cooperação local, nacional e<br />

internacional para prevenir e resolver problemas ambientais.<br />

● Ajudar a <strong>de</strong>scobrir os sintomas e as causas reais dos problemas<br />

ambientais.<br />

Objetivos da Educação Ambiental<br />

Consciência — Ajudar os grupos sociais e os indivíduos a adquirirem<br />

consciência do meio ambiente global e sensibilizarem-se por essas<br />

questões.<br />

Conhecimento — Ajudar os grupos sociais e o indivíduo a adquirirem<br />

diversida<strong>de</strong> <strong>de</strong> experiências e compreensão fundamental do meio<br />

ambiente e dos problemas anexos.<br />

Comportamento — Ajudar os grupos sociais e os indivíduos a comprometerem-se<br />

com uma série <strong>de</strong> valores e a sentirem interesse e<br />

preocupação pelo meio ambiente, motivando-os <strong>de</strong> tal modo que<br />

possam participar ativamente da melhoria e da proteção do meio<br />

ambiente.<br />

Habilida<strong>de</strong>s — Ajudar os grupos sociais e os indivíduos a adquirirem<br />

as habilida<strong>de</strong>s necessárias para <strong>de</strong>terminar e resolver os problemas<br />

ambientais.<br />

Participação — Proporcionar aos grupos sociais e aos indivíduos a possibilida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> participar ativamente das tarefas que têm por objetivo<br />

resolver problemas ambientais.<br />

Os impactos ambientais dos ciclos econômicos.<br />

A expansão colonial é a primeira responsável pela <strong>de</strong>gradação ambiental<br />

no Brasil. A natureza foi, ao mesmo tempo, meio e fim da exploração<br />

114 histório, finalida<strong>de</strong>s, objetivos e princípios... 115 roosevelt fi<strong>de</strong>les <strong>de</strong> souza


colonial, constituindo-se como limite e potencialida<strong>de</strong> para a conquista<br />

e a invenção do Brasil. O Brasil foi criado como espaço <strong>de</strong> exploração<br />

ecológica e humana.<br />

Os ciclos<br />

1 Ciclo Econômico — Exploração do Pau-Brasil (exploração <strong>de</strong> uma<br />

única espécie e não <strong>de</strong>struía toda a cobertura vegetal para se<br />

implantar).<br />

2 Ciclo da Cana-<strong>de</strong>-Açúcar — Em São Paulo (São Vicente) e em<br />

Pernambuco, sob o comando <strong>de</strong> Duarte Coelho. Destruição da<br />

Mata Atlântica, além da queima da floresta para abastecer as<br />

cal<strong>de</strong>iras.<br />

3 Ciclo do Gado — Ampliou a colonização do Brasil, penetrando inicialmente<br />

pelo <strong>Rio</strong> São Francisco e <strong>de</strong>pois se espalhando pelo país<br />

todo.<br />

4 Ciclo do Ouro — No final do Séc. xvii e no Séc. xviii, a economia<br />

colonial brasileira esteve centrada na extração <strong>de</strong>ste metal, nas<br />

minas <strong>de</strong>scobertas pelos ban<strong>de</strong>irantes paulistas nos sertões <strong>de</strong><br />

Minas Gerais.<br />

5 Ciclo do Café — No final do Séc. xix, o café foi plantado inicialmente<br />

na Amazônia, mas se adaptou melhor no Su<strong>de</strong>ste. Usou-se<br />

a mesma lógica predatória <strong>de</strong> eliminar florestas para se fazer a<br />

lavoura e, assim que a terra dava sinais <strong>de</strong> esgotamento, mais<br />

mata era <strong>de</strong>rrubada. A contribuição que o Ciclo do Café <strong>de</strong>u ao<br />

país foi que, a partir <strong>de</strong> sua riqueza, se processou o acúmulo <strong>de</strong><br />

capitais necessário para o próximo ciclo: a industrialização.<br />

6 Ciclo da Industrialização — Aberturas <strong>de</strong> novas estradas e consumo<br />

cada vez maior dos recursos da natureza e início dos processos<br />

<strong>de</strong> poluição.<br />

Consi<strong>de</strong>rações finais<br />

Percebemos que, na maioria <strong>de</strong> nossos problemas ambientais, suas<br />

questões fundamentais estão ligadas a fatores políticos, questões socioeconômicas<br />

e a fatores culturais, e essa problemática não tem como<br />

ser resolvida apenas através da novas tecnologias. Ao abordar tais problemas<br />

sob o aspecto apenas ecológico, que é uma confusão que ainda<br />

permeia muitos estudos brasileiros, verifico um profundo <strong>de</strong>sconhecimento<br />

e uma visão simplista da realida<strong>de</strong> que nos cerca e que precisamos,<br />

com urgência, modificar.<br />

É necessário que, no Brasil, as questões sociais em relação ao<br />

meio ambiente tenham priorida<strong>de</strong> educacional, política e econômica por<br />

parte do governo fe<strong>de</strong>ral. Novas exigências aos formatos das políticas<br />

sociais e aos resultados esperados que, em última análise, atendam a<br />

uma concepção integrada <strong>de</strong> Desenvolvimento Social, abarcando o conjunto<br />

das necessida<strong>de</strong>s sociais e ambientais nos termos do Desenvolvimento<br />

Humano Sustentável.<br />

A dinâmica <strong>de</strong>sse <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong>ve combinar políticas econômicas<br />

orientadas para o crescimento sustentado e políticas sociais e<br />

educacionais eficazes com capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> geração <strong>de</strong> emprego e renda,<br />

<strong>de</strong> modo a preservar as bases <strong>de</strong> integração social. A emergência da<br />

formulação <strong>de</strong> políticas sociais ambientais para as todas as áreas e,<br />

em especial, as áreas urbanas, percebendo o aumento do interesse das<br />

cida<strong>de</strong>s em relação ao <strong>de</strong>senvolvimento sustentável, enten<strong>de</strong>ndo este<br />

como o único caminho para se enfrentar as questões ambientais em<br />

nosso país.<br />

De forma mais genérica, não é mais possível pensar a Educação<br />

Ambiental em dimensões isoladas (só pesquisa ou só ensino, só processo<br />

formal ou só informal). É imprescindível acoplar essas dimensões,<br />

enten<strong>de</strong>ndo a educação como um todo dinâmico e diverso.<br />

De uma forma geral, a pobreza e o analfabetismo aparecem como<br />

fatores <strong>de</strong> <strong>de</strong>gradação ambiental. Mas nada impe<strong>de</strong> que uma cida<strong>de</strong><br />

seja ecologicamente saudável e, ao mesmo tempo, socialmente injusta.<br />

Portanto, o ponto central do <strong>de</strong>bate, hoje, <strong>de</strong>sloca-se para as questões<br />

<strong>de</strong> justiça social, educação ambiental e cidadania.<br />

E que este artigo venha a contribuir para promoção <strong>de</strong> novos <strong>de</strong>bates<br />

em que a Educação Ambiental acentue a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> criação <strong>de</strong><br />

um novo estilo <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento, que inclua crescimento econômico,<br />

equida<strong>de</strong> social e conservação dos recursos naturais, capaz <strong>de</strong> propiciar<br />

relações mais humanas, fraternas e justas entre os seres humanos. Que<br />

inspiradas por uma ética ambiental que ofereça princípios norteadores<br />

<strong>de</strong> posturas e condutas das ações transformadoras e educativas <strong>de</strong>sta<br />

relação entre Deus, natureza e socieda<strong>de</strong>, alcancem níveis cada vez mais<br />

crescentes <strong>de</strong> qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida para as futuras gerações.<br />

Bibliografia<br />

comissão mundial sobre meio ambiente e <strong>de</strong>senvolvimento. Nosso<br />

futuro comum. rj: fgv, 1987.<br />

gomez-heras, J.M. Ética <strong>de</strong>l médio ambiente. Ed. Tecnos, Madri, 1997.<br />

guatari, Felix. As três ecologias. Campinas: Papirus, 1991.<br />

mec, Ministério da Educação e Cultura. Política Nacional <strong>de</strong> Educação Ambiental.<br />

Brasília, df, 1999. Disponível em: . Acesso em: 20 maio 2003.<br />

medina, Naná Mininni. A Formação dos Professores em Educação Ambiental. In:<br />

Oficina Panorama <strong>de</strong> Educação Ambiental no Brasil (28 e 29 <strong>de</strong> março <strong>de</strong><br />

116 histório, finalida<strong>de</strong>s, objetivos e princípios... 117 roosevelt fi<strong>de</strong>les <strong>de</strong> souza


2000) MEC/SEF; Coor<strong>de</strong>nação-Geral <strong>de</strong> Educação Ambiental.<br />

ministério do meio ambiente. Educação Ambiental, curso básico à distância,<br />

contido em seis livros: (1) – Questões ambientais, conceitos, história,<br />

problemas e alternativas.(2-3) – Educação e Educação Ambiental I e II. (4) –<br />

Gestão <strong>de</strong> recursos hídricos em bacias hidrográficas sob a ótica da educação<br />

ambiental. (5) – Documentos e legislação da educação ambiental. (6) – Guia do<br />

aluno e ca<strong>de</strong>rno <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong>s. Ed. Fubras, Brasília, 2001.<br />

________. Agenda 21 Brasileira, Bases para a Discussão. Brasília, df. 2000.<br />

pedrini, A. G. Educação Ambiental; Reflexão e prática contemporânea. Ed. Vozes,<br />

RJ, 2000.<br />

reigota, M. Tendências da Educação Ambiental Brasileira. Ed. Atual, sp, 1998.<br />

siqueira, J.C. Ética e Meio Ambiente. Ed. Loyola, São Paulo, sp, 2002.<br />

sorrentino, M. Formação do educador ambiental: um estudo <strong>de</strong> caso. fe/usp,<br />

São Paulo, sp, 1995.<br />

souza, R. F. Uma experiência em Educação Ambiental: Formação <strong>de</strong> valores sócio-<br />

ambientais. Dissertação <strong>de</strong> Mestrado, Departamento <strong>de</strong> Serviço Social da<br />

<strong>PUC</strong>-<strong>Rio</strong>, 2003.<br />

zeppone, R. M. O. Educação Ambiental: teoria e práticas escolares. 1ª edição,<br />

Araraquara, JM Editora, 1999.<br />

Prof. Msc. Roosevelt Fi<strong>de</strong>les <strong>de</strong> Souza<br />

Bacharel e licenciando em História e em Geografia e Meio Ambiente pela puc-<br />

<strong>Rio</strong> (1990). Mestre em Serviço Social pela puc-<strong>Rio</strong> (2003). Professor estatutá-<br />

rio do estado do <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> Janeiro (1998), coor<strong>de</strong>nador <strong>de</strong> Projetos Ambientais do<br />

Núcleo Interdisciplinar <strong>de</strong> Meio Ambiente da puc-<strong>Rio</strong> (nima) e do projeto Jornadas<br />

Ecológicas na Vila Olímpica Clara Nunes (coor<strong>de</strong>nado pelo Departamento <strong>de</strong> Serviço<br />

Social da puc-<strong>Rio</strong>), dá aulas <strong>de</strong> Caminhadas Ecológicas no setor <strong>de</strong> Educação Física<br />

da puc-<strong>Rio</strong>.<br />

roosevelt@puc-rio.br<br />

118 histório, finalida<strong>de</strong>s, objetivos e princípios... 119<br />

Valéria Pereira Bastos<br />

No mundo da globalização, o espaço geográfico ganha novos contornos,<br />

novas características, novas <strong>de</strong>finições. E, também, uma nova<br />

importância, porque a eficácia das ações está estreitamente relacionada<br />

com a sua localização. Os atores mais po<strong>de</strong>rosos se reservam<br />

os melhores pedaços do território e <strong>de</strong>ixam o resto para os outros.<br />

Jardim Gramacho<br />

e o território do lixo<br />

O bairro Jardim Gramacho: o espaço geográfico<br />

milton santos, 2007<br />

Para compreen<strong>de</strong>r a história do “território do lixo”, consi<strong>de</strong>ramos importante<br />

apresentar inicialmente o município <strong>de</strong> <strong>Duque</strong> <strong>de</strong> <strong>Caxias</strong>, circunscrição<br />

administrativa que abriga o bairro Jardim Gramacho.<br />

Inúmeras são as obras que <strong>de</strong>screvem o contexto geográfico do<br />

município, mas selecionamos dois textos que consi<strong>de</strong>ramos apontar os<br />

elementos fundamentais para nossa análise. Então, nos baseamos na<br />

dissertação <strong>de</strong> mestrado <strong>de</strong> Luiz Cláudio Moreira e no documento produzido<br />

pelo ibase em 2005 <strong>de</strong>nominado Diagnóstico social do bairro <strong>de</strong><br />

Jardim Gramacho.<br />

Neste sentido, encontramos a informação <strong>de</strong> que o município <strong>de</strong><br />

<strong>Duque</strong> <strong>de</strong> <strong>Caxias</strong> foi criado através do Decreto Estadual 1.055 <strong>de</strong> 31 <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 1943, tendo completado em <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 2008 65 anos<br />

<strong>de</strong> existência. Antes <strong>de</strong> sua emancipação, a localida<strong>de</strong> pertencia ao 8º<br />

Distrito <strong>de</strong> Nova Iguaçu (ibase, 2005, p.5).<br />

O município <strong>de</strong> <strong>Duque</strong> <strong>de</strong> <strong>Caxias</strong> encontra-se dividido por quatro<br />

distritos e 40 bairros oficiais e eles estão distribuídos da seguinte forma:<br />

no primeiro Distrito, que é o <strong>de</strong> <strong>Duque</strong> <strong>de</strong> <strong>Caxias</strong>, localizam-se os bairros<br />

Jardim 25 <strong>de</strong> Agosto, Parque <strong>Duque</strong>, Periquitos, Vila São Luiz, Gramacho,<br />

Sarapuy, Centenário, Centro, Dr. Laureano, Bar dos Cavaleiros,<br />

Olavo Bilac e Jardim Gramacho. Já no segundo, Campos Elíseos,<br />

encontram-se os bairros Jardim Primavera, Saracuruna, Vila São José,<br />

Parque Fluminense, Campos Elíseos, Cangulo, Cida<strong>de</strong> dos Meninos,<br />

Figueira, Chácaras <strong>Rio</strong>-Petrópolis, Chácara Arcampo e Eldorado. No terceiro<br />

distrito, que é o <strong>de</strong> Imbariê, estão os bairros Santa Lúcia, Santa<br />

Cruza da Serra, Imbariê, Parada Angélica, Jardim Anhangá, Santa Cruz,<br />

Parada Morabi, Taquara, Parque Paulista, Parque Eqüitativa, Alto da


Serra, Santo Antônio da Serra. Por fim, no quarto distrito, Xerém, localizam-se<br />

os bairros <strong>de</strong> Xerém, Parque Capivari, Mantiqueira, Jardim<br />

Olimpo, Lamarão e Amapá.<br />

Por meio do estudo elaborado pelo Tribunal <strong>de</strong> Contas do Estado<br />

do <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> Janeiro, que Moreira cita em sua dissertação, <strong>Duque</strong> <strong>de</strong> <strong>Caxias</strong><br />

está localizado na Região Metropolitana do Estado do <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> Janeiro<br />

que também abriga os municípios do <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> Janeiro, <strong>de</strong> Belford Roxo,<br />

Guapimirim, Itaboraí, Japeri, Magé, Mesquita, Nilópolis, Niterói, Nova<br />

Iguaçu, Paracambi, Queimados, São Gonçalo, São João <strong>de</strong> Meriti, Seropédica<br />

e Tanguá (Moreira, 2007, p. 24).<br />

Em relação à extensão geográfica, o município <strong>de</strong> <strong>Duque</strong> <strong>de</strong> <strong>Caxias</strong><br />

totaliza a área <strong>de</strong> 468, 3 Km², o que representa 10% <strong>de</strong> área ocupada<br />

da Região Metropolitana.<br />

Quanto ao sistema viário e ferroviário <strong>de</strong> <strong>Duque</strong> <strong>de</strong> <strong>Caxias</strong>, informamos<br />

que está integrado à cida<strong>de</strong> do <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> Janeiro, dada a proximida<strong>de</strong>.<br />

Ainda em termos <strong>de</strong> sistema viário, no mês <strong>de</strong> março <strong>de</strong> 2008,<br />

começaram as obras do Arco Rodoviário que intenciona ligar o Porto <strong>de</strong><br />

Sepetiba, em Itaguaí, até Itaboraí, passando por Seropédica. Para tanto<br />

será construído um trecho entre Queimados, Nova Iguaçu e <strong>Duque</strong> <strong>de</strong><br />

<strong>Caxias</strong>.<br />

Registra-se no ibge que, em 2007, a contagem populacional do<br />

município <strong>de</strong> <strong>Duque</strong> <strong>de</strong> <strong>Caxias</strong> alcançou o quantitativo <strong>de</strong> 842.686<br />

munícipes em uma área territorial <strong>de</strong> 465 Km².<br />

O Índice <strong>de</strong> Desenvolvimento Humano (idh) do município em<br />

2000, segundo o ipea,, é <strong>de</strong> 0,753, ocupando assim a 52ª posição no<br />

Estado do <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> Janeiro. Isso porque a base para cálculo <strong>de</strong>sse índice<br />

pren<strong>de</strong>-se ao valor <strong>de</strong> quanto mais próximo <strong>de</strong> um for o idh, maior o<br />

nível <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento humano apurado.<br />

Quanto à taxa média geométrica <strong>de</strong> crescimento, no espaço <strong>de</strong><br />

tempo compreendido entre os anos <strong>de</strong> 1991 e 2000, foi <strong>de</strong> cerca <strong>de</strong> 1,7%<br />

ao ano, contra cerca <strong>de</strong> 1,2% na região e <strong>de</strong> 1,3% no estado. Em relação<br />

ao processo <strong>de</strong> urbanização, registra-se o percentual correspon<strong>de</strong>nte a<br />

99,6% da população, enquanto que na Região Metropolitana a referida<br />

taxa é <strong>de</strong> 99,5%.<br />

No tocante aos domicílios, o município <strong>de</strong> <strong>Duque</strong> <strong>de</strong> <strong>Caxias</strong> tem<br />

um total <strong>de</strong> 256.422 habitações, com uma taxa <strong>de</strong> ocupação <strong>de</strong> 86%.<br />

No entanto, registra-se que 11% <strong>de</strong>las são <strong>de</strong> uso ocasional.<br />

Em relação à raça e religião dos munícipes, registra-se que, por<br />

meio da <strong>de</strong>claração das pessoas, há um predomínio <strong>de</strong> afro-<strong>de</strong>scen<strong>de</strong>ntes,<br />

o que representa 57,7% da população, contra 41% daqueles que<br />

se <strong>de</strong>claram brancos. Na religião, há uma incidência <strong>de</strong> católicos, chegando<br />

ao percentual <strong>de</strong> 46%, o que é superior à soma das outras religiões<br />

<strong>de</strong>claradas.<br />

Quanto à estrutura <strong>de</strong> serviços, o município <strong>de</strong> <strong>Duque</strong> <strong>de</strong> <strong>Caxias</strong><br />

possui sete agências dos correios e telégrafos, 30 agências bancárias e<br />

23 estabelecimentos da re<strong>de</strong> hoteleira.<br />

No tocante à questão <strong>de</strong> acesso ao mundo cultural, o Município<br />

conta com cinco cinemas, três teatros, um museu e duas bibliotecas.<br />

Segundo o Ministério das Cida<strong>de</strong>s, o município <strong>de</strong> <strong>Duque</strong> <strong>de</strong><br />

<strong>Caxias</strong> apresenta o seguinte panorama, no que se refere aos indicadores<br />

urbanos:<br />

● Quanto ao abastecimento <strong>de</strong> água, o município tem 69% dos domicílios<br />

com acesso à re<strong>de</strong> <strong>de</strong> distribuição, 27,9% com acesso a água<br />

através <strong>de</strong> poço ou nascente e 2,7% têm outra forma <strong>de</strong> acesso. O<br />

total distribuído alcança 90.000m³ por dia, dos quais 74% passam<br />

por tratamento convencional e o restante por simples cloração.<br />

● No tocante à re<strong>de</strong> coletora <strong>de</strong> esgoto sanitário, somente 57,1%<br />

dos domicílios têm este serviço, pois 20,9% têm fossa séptica,<br />

4.3% utilizam fossa rudimentar, 13,2% estão ligados a uma vala<br />

e 3,5% são lançados diretamente em um corpo receptor (rio, lagoa<br />

e mar).<br />

● Em relação à coleta regular <strong>de</strong> lixo, registra-se que 88,9% dos<br />

domicílios usufruem do serviço, pois 3,6% têm o lixo jogado em<br />

terrenos baldios ou em logradouros públicos e 6.8% colocam fogo.<br />

Isso porque a produção <strong>de</strong> resíduos diários no município chega à<br />

soma <strong>de</strong> 730 toneladas/dia.<br />

No que tange às ativida<strong>de</strong>s econômicas do município, <strong>Duque</strong> <strong>de</strong> <strong>Caxias</strong>,<br />

representa o sexto maior Produto Interno Bruto (pib) do país e o segundo<br />

em arrecadação do Imposto Sobre Circulação <strong>de</strong> Mercadoria (icms). Isso<br />

porque concentra suas ativida<strong>de</strong>s nas indústrias e no comércio, além <strong>de</strong><br />

abrigar uma das maiores refinarias <strong>de</strong> petróleo do Brasil, a Refinaria <strong>de</strong><br />

<strong>Duque</strong> <strong>de</strong> <strong>Caxias</strong> (reduc), além do pólo gás-químico, inaugurado em<br />

abril <strong>de</strong> 2005, que preten<strong>de</strong> gerar, em um período <strong>de</strong> cinco anos, <strong>de</strong> 30 a<br />

50 mil postos diretos e indiretos <strong>de</strong> trabalho na Baixada Fluminense.<br />

Já em relação ao bairro <strong>de</strong> Jardim Gramacho, integrante do 1º<br />

Distrito <strong>de</strong> <strong>Duque</strong> <strong>de</strong> <strong>Caxias</strong>, enfocamos que se encontra dividido por<br />

localida<strong>de</strong>s que não po<strong>de</strong>m ser conceituadas como sub-bairros, em<br />

razão <strong>de</strong> não serem oficializadas pela prefeitura, mas estão divididas<br />

segundo documento Diagnóstico Social do ibase da seguinte forma:<br />

cohab (conjunto habitacional – 1ª área loteada <strong>de</strong> Jardim Gramacho),<br />

Morro do Cruzeiro, Triângulo e Morro da Placa, locais que já possuem<br />

infraestrutura urbana a<strong>de</strong>quada à necessida<strong>de</strong> local. Por outro lado, o<br />

bairro tem ocupações recentes caracterizadas por bolsões <strong>de</strong> miséria,<br />

sem infraestrutura. Nesse contexto, localizam-se a Chatuba, a Favela<br />

do Esqueleto, o Beco do Saci, a Cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Deus, a Avenida Rui Barbosa,<br />

o Parque Planetário e a comunida<strong>de</strong> da Paz ou Maruim, como é conhecida,<br />

on<strong>de</strong> as casas são construídas em cima do manguezal.<br />

Quanto à questão populacional, Jardim Gramacho tem aproxima-<br />

120 jardim gramacho e o território do lixo 121 valéria pereira bastos


damente 40.000 habitantes, sendo que cerca <strong>de</strong> 50% <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>m direta<br />

ou indiretamente da ativida<strong>de</strong> econômica advinda da catação <strong>de</strong> lixo<br />

(ibase, 2005, p. 10).<br />

Em relação à presença <strong>de</strong> equipamentos sociais voltados para a<br />

educação formal no âmbito do Governo do Estado, o bairro tem a Escola<br />

Estadual Lara Vilela, <strong>de</strong> ensino fundamental o ciep 218 – Ministro Hermes<br />

<strong>de</strong> Lima, <strong>de</strong> ensino médio e fundamental, além <strong>de</strong> possuir uma<br />

turma <strong>de</strong> aceleração <strong>de</strong> jovens, projeto educacional que procura aten<strong>de</strong>r<br />

àqueles que não completaram o ensino em ida<strong>de</strong> compatível. Também<br />

funciona um núcleo do Programa <strong>de</strong> Erradicação do Trabalho Infantil<br />

(peti). Finalizando, há o Colégio Estadual Álvaro Negro Monte, <strong>de</strong> 5ª a<br />

8ª série e ensino médio.<br />

Quanto às escolas municipais, informamos que no bairro registra-se<br />

a instalação da Escola Municipal Jardim Gramacho e da Escola<br />

Municipal Mauro <strong>de</strong> Castro, que também tem em seu anexo uma creche.<br />

No contexto comunitário, contabiliza-se a Creche Comunitária e a<br />

Escola Comunitária Jardim Gramacho, que é apoiada pela Igreja Católica<br />

e pelo Portal do Crescimento. E as escolas particulares estão presentes<br />

com o maior quantitativo, chegando ao número estimado <strong>de</strong> 15<br />

unida<strong>de</strong>s. As <strong>de</strong> maior <strong>de</strong>staque são: Colégio Deco, Colégio abc da Alegria,<br />

Casinha Feliz e Colégio da Penha.<br />

Já no tocante aos equipamentos <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> no bairro <strong>de</strong> Jardim<br />

Gramacho, existem sete postos do Programa <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> da Família, o<br />

Posto Municipal <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> Edina Siqueira Sales e um posto <strong>de</strong> saú<strong>de</strong><br />

apoiado por políticos do local. Mas, no entanto, há registros <strong>de</strong> que 15%<br />

do contingente <strong>de</strong> crianças resi<strong>de</strong>ntes estão em risco nutricional, sendo<br />

12% com <strong>de</strong>snutrição grave (ibase, 2005, p. 22).<br />

Quanto à presença e/ou ausência <strong>de</strong> serviços públicos, bem como<br />

a qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong>sses, encontramos registrado no Diagnóstico Social do<br />

Bairro <strong>de</strong> Jardim Gramacho a seguinte questão:<br />

Com relação aos Serviços públicos, em Jardim Gramacho <strong>de</strong>stacam-se<br />

os serviços <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>. As entrevistas realizadas ressaltam<br />

o esforço do Secretário <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> Oscar Berro na implementação e<br />

ampliação do psf visando aten<strong>de</strong>r a toda a população do bairro. A<br />

atuação do Posto <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> (da prefeitura) também é reconhecida,<br />

embora também vivencie momentos <strong>de</strong> escassez, funciona com a<br />

boa vonta<strong>de</strong> e compromisso <strong>de</strong> seus profissionais.<br />

No que diz respeito às escolas, os entrevistados reclamam do estado<br />

<strong>de</strong> conservação <strong>de</strong> algumas, da qualida<strong>de</strong> do ensino e do número<br />

<strong>de</strong> vagas oferecidas que está aquém da <strong>de</strong>manda local. No entanto,<br />

é importante ressaltar que não tivemos acesso, neste pré-diagnóstico,<br />

ao número <strong>de</strong> crianças em ida<strong>de</strong> escolar resi<strong>de</strong>ntes em Jardim<br />

Gramacho. Segundo as entrevistas realizadas, os vereadores eleitos<br />

com o apoio dos moradores locais possuem significativa força políti-<br />

ca na i<strong>de</strong>ntificação e implementação <strong>de</strong> ações <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento<br />

e melhoria do bairro.<br />

ibase, 2005, p. 17<br />

No tocante ao processo organizacional em <strong>de</strong>fesa do bairro e dos moradores<br />

em Jardim Gramacho, somente foi i<strong>de</strong>ntificada a existência <strong>de</strong><br />

uma associação <strong>de</strong> moradores legitimada, que é a do Parque Planetário,<br />

pois tem representantes eleitos e é inscrita na Fe<strong>de</strong>ração das Associações<br />

<strong>de</strong> Moradores <strong>de</strong> <strong>Caxias</strong> (mub). No entanto, segundo o Diagnóstico<br />

Social <strong>de</strong> Jardim Gramacho, a associação não realiza ações em conjunto<br />

com a fe<strong>de</strong>ração e apenas recorre a ela no período da eleição da diretoria<br />

da associação atual, tendo em vista a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> legitimação do<br />

processo (ibase, 2005, p. 24).<br />

Registramos que, embora não existam outras associações <strong>de</strong> moradores<br />

no bairro <strong>de</strong> Jardim Gramacho, após a realização do Diagnóstico<br />

Social elaborado pelo ibase, foi legitimada, em abril <strong>de</strong> 2006, a instalação<br />

<strong>de</strong> um Fórum Comunitário, composto por 26 instituições locais<br />

que têm quatro grupos <strong>de</strong> trabalho focados em educação, saú<strong>de</strong>, convivência<br />

comunitária e trabalho e renda – on<strong>de</strong> o serviço social do aterro<br />

se faz representar. Esse Fórum é apoiado pelo ibase em parcerias com<br />

Furnas Centrais Elétricas através do Comitê <strong>de</strong> Entida<strong>de</strong>s no Combate<br />

à Fome e pela Vida (coep), e escolheu o bairro com a finalida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

promover o <strong>de</strong>senvolvimento local sustentável. Após vários encontros<br />

visando traçar as metas em busca do <strong>de</strong>senvolvimento, foi inaugurada<br />

uma se<strong>de</strong> própria que está aberta aos moradores para encontros e para<br />

diversas reuniões, precisamente no dia 20 <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 2007. Atualmente,<br />

ocorre, na última segunda-feira <strong>de</strong> cada mês, uma reunião com<br />

as instituições que constituem o Fórum para refletir acerca dos avanços<br />

e retrocessos das ações comunitárias.<br />

O Fórum Comunitário do Jardim Gramacho vem se <strong>de</strong>senvolvendo<br />

e, com o apoio do ibase, apresentou na vi Expo Brasil Desenvolvimento<br />

Local, realizada em Salvador, em 2007, as seguintes questões ligadas<br />

à perspectiva <strong>de</strong> trabalho e renda para os catadores que, em sua maioria,<br />

são moradores do bairro:<br />

O Fórum reivindica hoje a consolidação <strong>de</strong> um sistema <strong>de</strong> coleta<br />

seletiva com núcleos <strong>de</strong>scentralizados no município <strong>de</strong> <strong>Duque</strong> <strong>de</strong><br />

<strong>Caxias</strong>. Cada distrito terá um grupo <strong>de</strong> catadores realizando a coleta,<br />

responsável por levar o material reciclável para o Pólo <strong>de</strong> beneficiamento<br />

e Comercialização <strong>de</strong> Recicláveis, já em operação. “É<br />

um sub-bairro com uma infinida<strong>de</strong> <strong>de</strong> bares e pensões. Esses bares<br />

ven<strong>de</strong>m fundamentalmente para catadores. O fechamento do aterro<br />

afetará muitos moradores, que se <strong>de</strong>ram conta do problema e da<br />

oportunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> lutarem juntos” diz a assistente social do Ibase,<br />

Rita Brandão.<br />

Expo Brasil Desenvolvimento local, 2007, p. 1<br />

122 jardim gramacho e o território do lixo 123 valéria pereira bastos


Através <strong>de</strong>sse pequeno <strong>de</strong>senho do bairro Jardim Gramacho, po<strong>de</strong>mos<br />

enfatizar que ele expressa o que vem sendo apresentando no cenário<br />

<strong>de</strong> milhares <strong>de</strong> bairros brasileiros, ou seja, é mais um local periférico<br />

que revela uma gran<strong>de</strong> <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong> social atrelada a outros tipos <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong>, como a ambiental, por abrigar um dos maiores aterros<br />

<strong>de</strong> lixo da América Latina, o que coloca em <strong>de</strong>bate os riscos ambientais<br />

aos quais a população resi<strong>de</strong>nte e trabalhadora está exposta.<br />

Esse processo apresenta também uma contradição, visto que neste<br />

mundo <strong>de</strong> consumo, global, líquido-mo<strong>de</strong>rno etc, a produção <strong>de</strong> lixo é<br />

crescente. Caso não exista espaço para sua <strong>de</strong>stinação final e, também,<br />

a mão-<strong>de</strong>-obra <strong>de</strong> catação para minimizar os impactos, provavelmente<br />

seremos engolidos por uma avalanche <strong>de</strong> resíduos orgânicos e<br />

inorgânicos (lixo) que produz uma imensa poluição ambiental, quiçá<br />

planetária.<br />

Nossa afirmativa encontra sustentação quando a comparamos<br />

com algumas consi<strong>de</strong>rações expressas no Diagnóstico Social do ibase,<br />

quando efetuam comentários a respeito do bairro e da população <strong>de</strong>le<br />

resi<strong>de</strong>nte:<br />

Na medida em que a população moradora está não só, exposta aos<br />

riscos ambientais por viver nas proximida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> um aterro controlado,<br />

mais conhecido como “lixão” – exposta à contração <strong>de</strong> doenças,<br />

à poeira, sujeira, entre outros – mas também encontra sua fonte <strong>de</strong><br />

sobrevivência na ativida<strong>de</strong> <strong>de</strong> catação, se evi<strong>de</strong>ncia a crise social<br />

<strong>de</strong> <strong>de</strong>semprego e <strong>de</strong> injustiças (social e ambiental). Estas pessoas<br />

são trabalhadoras e em sua maioria, anônimas e <strong>de</strong>stituídas<br />

<strong>de</strong> qualquer direito – muitas não são registradas e não têm nem a<br />

certidão <strong>de</strong> nascimento, vivem em situação <strong>de</strong> total abandono, em<br />

condições precárias <strong>de</strong> infra-estrutura. Po<strong>de</strong>ria se dizer que são os<br />

“não cidadãos (ãs)”. Paradoxalmente esta população vem dando<br />

uma gran<strong>de</strong> contribuição para o circuito da reciclagem <strong>de</strong> materiais<br />

(coleta seletiva), para limpeza pública e ainda para a proteção <strong>de</strong><br />

recursos naturais.<br />

ibase, 2005, p. 30 [Grifo nosso]<br />

Por fim, sinalizamos que o bairro <strong>de</strong> Jardim Gramacho é permeado por<br />

todo o trajeto da rota do lixo e que, por mais que se tente <strong>de</strong>svinculá-lo<br />

da ativida<strong>de</strong> <strong>de</strong> catação, torna-se quase impossível, pois praticamente<br />

todo o bairro tem sua vida ativa economicamente em função da catação.<br />

Nossa reflexão ganha sustentação a partir da seguinte análise:<br />

Em 1978, quando a comunida<strong>de</strong> do distrito <strong>de</strong> Jardim Gramacho<br />

(<strong>Duque</strong> <strong>de</strong> <strong>Caxias</strong> – RJ) testemunhou a inauguração do que viria a<br />

ser o maior aterro sanitário da América Latina, houve preocupação<br />

e revolta. Quase 30 anos <strong>de</strong>pois, o que preocupa agora é o rebatimento<br />

que a <strong>de</strong>sativação do aterro, programada para este ano,<br />

terá sobre a vida <strong>de</strong> uma comunida<strong>de</strong> que apren<strong>de</strong>u a conviver<br />

e viver das mais <strong>de</strong> <strong>de</strong>z toneladas <strong>de</strong> lixo <strong>de</strong>spejadas a cada dia<br />

em <strong>Duque</strong> <strong>de</strong> <strong>Caxias</strong>. Contando com a <strong>de</strong>sativação, representantes<br />

<strong>de</strong> 26 instituições locais, entre associações <strong>de</strong> catadores, igrejas,<br />

Ongs e grupos comunitários resolveram se unir e fundar o Fórum<br />

Comunitário <strong>de</strong> Jardim Gramacho…<br />

Expo Brasil Desenvolvimento local, 2007, p. 1<br />

Jardim Gramacho: o lugar da catação<br />

Nossa atenção, neste momento, será <strong>de</strong>dicada ao lugar que foi, é e será,<br />

ainda por algum tempo, produzido pela ativida<strong>de</strong> <strong>de</strong> catação <strong>de</strong> lixo que<br />

se processa no interior do Aterro Metropolitano <strong>de</strong> Gramacho e no seu<br />

entorno.<br />

Portanto, estamos conceituando <strong>de</strong> “território do lixo” todo o<br />

espaço do Aterro Metropolitano <strong>de</strong> Gramacho e toda a rota que o lixo<br />

percorre no bairro até chegar ao <strong>de</strong>stino final, por enten<strong>de</strong>rmos que a<br />

efervescência gira em torno da ativida<strong>de</strong> mercantil gerada pelo negócio<br />

do lixo, uma vez que consi<strong>de</strong>ramos o que Milton Santos afirma acerca<br />

do território, do dinheiro e <strong>de</strong> sua fragmentação:<br />

O território como um todo é objeto da ação <strong>de</strong> várias empresas, cada<br />

qual, conforme já vimos, preocupadas com suas próprias metas e<br />

arrastando, a partir <strong>de</strong>ssas metas, o comportamento do resto das<br />

empresas e instituições. Que resta então da nação diante <strong>de</strong>ssa<br />

nova realida<strong>de</strong>? Como a nação se exerce diante da verda<strong>de</strong>ira fragmentação<br />

do território, função das formas contemporâneas <strong>de</strong> ação<br />

das empresas hegemônicas?<br />

Milton Santos, 2007, p.86<br />

Complementando sua reflexão a respeito do território e <strong>de</strong>ssas implicações,<br />

Milton Santos enfoca que é <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> um mesmo país que são<br />

criadas diferentes formas e ritmos <strong>de</strong> evolução, governadas pelas metas<br />

e pelos <strong>de</strong>stinos específicos <strong>de</strong> cada empresa hegemônica, que arrastam<br />

com sua presença outros atores, mediante a aceitação ou mesmo<br />

a elaboração <strong>de</strong> discursos “nacionais-regionais” alienígenas ou alienados<br />

(Milton Santos, 2007, p. 87).<br />

Esse sentido dado por Santos ao mundo mercantil <strong>de</strong> negócios é<br />

o mesmo sentido que damos ao território do lixo, por ser um local que<br />

recebe 8 mil toneladas/dia <strong>de</strong> lixo, cujo trajeto é realizado pelos veículos<br />

<strong>de</strong> gran<strong>de</strong> porte (carretas e caminhões compactadores) que transportam<br />

o lixo das vias principais do bairro/município para o Aterro.<br />

A primeira passagem se dá pela Usina <strong>de</strong> Transferência no bairro<br />

do Caju, zona portuária do <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> Janeiro, on<strong>de</strong> os caminhões compactadores<br />

que circulam pelas residências <strong>de</strong>spejam o lixo em um recipiente<br />

com maior capacida<strong>de</strong> em volume cúbico. Por intermédio <strong>de</strong>sses equipamentos<br />

mecânicos, realizam a transferência para carretas com capacida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> 27 toneladas <strong>de</strong> lixo, perfazendo, assim, um percurso <strong>de</strong> 27<br />

124 jardim gramacho e o território do lixo 125 valéria pereira bastos


km até chegar ao aterro, totalizando, a cada dia, 44 viagens oriundas<br />

somente do Caju. Além da supracitada Usina <strong>de</strong> Transferência, existem<br />

mais dois trajetos: Jacarepaguá, que dista do aterro 37 km, sendo realizadas<br />

12 viagens com as carretas por dia, e Irajá, com 17 km <strong>de</strong> distância<br />

do aterro e seis viagens diárias.<br />

Quanto aos outros trajetos, que envolvem os municípios <strong>de</strong> <strong>Duque</strong><br />

<strong>de</strong> <strong>Caxias</strong>, Nilópolis, Queimados, Mesquita e Belford Roxo, a rota é bem<br />

menor, assim como o volume <strong>de</strong> resíduos. Nesse caso, os próprios caminhões<br />

que realizam a coleta domiciliar levam para o vazamento os materiais<br />

recolhidos nas residências, empresas etc.<br />

Na via principal <strong>de</strong> acesso ao aterro, chegam a transitar dia e<br />

noite cerca <strong>de</strong> 600 veículos <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> porte e, quanto mais se diminuir<br />

o fluxo, menor investimento será necessário para a manutenção<br />

e o recapeamento do asfalto, que é <strong>de</strong> responsabilida<strong>de</strong> da empresa<br />

operadora.<br />

Esses trajetos e o volume <strong>de</strong> lixo transportado se revelam como<br />

uma gran<strong>de</strong> mina <strong>de</strong> ouro, pois conforme já mencionamos anteriormente,<br />

o valor do produto potencialmente reciclável cresceu no período<br />

industrial (Velloso 2004), e vem crescendo no mundo contemporâneo.<br />

Dessa forma, há um forte interesse das empresas em comercializar<br />

o material com o catador, que normalmente fica com a menor parte,<br />

enquanto aqueles que já <strong>de</strong>têm o domínio do capital, produzem riquezas,<br />

fragmentações, discurso alienante e, com certeza, também o domínio<br />

do material.<br />

A título <strong>de</strong> registro, informamos que a Companhia Municipal <strong>de</strong><br />

Limpeza Urbana do <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> Janeiro – comlurb realizou, em junho <strong>de</strong><br />

2006, um estudo que proporcionou apurar, em um período <strong>de</strong> 30 dias,<br />

qual foi a quantida<strong>de</strong> retirada dos materiais separados pelos catadores.<br />

Foi <strong>de</strong>scoberto que, diariamente, o contingente <strong>de</strong> catadores separa<br />

cerca <strong>de</strong> 200 toneladas <strong>de</strong> material potencialmente reciclável, isto é,<br />

material que ele já separou da matéria orgânica e dos outros inservíveis,<br />

tais como papel higiênico e absorventes, entre outros sem valor no<br />

mercado, ven<strong>de</strong>ndo-os para ferros velhos instalados na via <strong>de</strong> acesso<br />

ao aterro.<br />

Somado a esse fator, faz-se necessário elucidar que, para o território<br />

efetivamente ganhar vida, circulam diariamente cerca <strong>de</strong> 1.200<br />

catadores que <strong>de</strong>senvolvem ativida<strong>de</strong> <strong>de</strong> catação <strong>de</strong>ntro do aterro, mais<br />

os caminhões dos 42 <strong>de</strong>pósitos que têm autorização para transitar no<br />

local com a finalida<strong>de</strong> <strong>de</strong> proce<strong>de</strong>r à compra e à retirada do material<br />

separado pelo catador.<br />

Mas o que vai <strong>de</strong>marcar o espaço como território, é a forma perversa<br />

existente quanto ao estabelecimento da relação <strong>de</strong> trabalho entre<br />

os catadores e os donos <strong>de</strong> <strong>de</strong>pósito. Pesquisa realizada por Lúcia Pinto<br />

(2004), no território <strong>de</strong> Jardim Gramacho, <strong>de</strong>ixou evi<strong>de</strong>nte que, dos trabalhadores<br />

fixos ligados a eles, a gran<strong>de</strong> maioria entrevistada confirmou<br />

não ter carteira assinada.<br />

Lucia Pinto justifica essa <strong>de</strong>sresponsabilização dos empresários<br />

com os catadores enfocando que o po<strong>de</strong>r <strong>de</strong> barganha dos <strong>de</strong>pósitos,<br />

in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntemente do seu porte, é expresso pelo estabelecimento do<br />

preço do produto coletado, pela oferta <strong>de</strong> trabalho e pela possibilida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> empregar pessoas sem documentação, egressos ou fugidos do sistema<br />

penitenciário, e pela forma <strong>de</strong> pagamento imediata (Pinto, 2004,<br />

p. 12).<br />

O cenário <strong>de</strong>scrito por Pinto nos permite, mais uma vez, ratificar<br />

que o território <strong>de</strong> Jardim Gramacho carrega todo o estigma do rejeito e/<br />

ou refugo humano, tendo em vista que até mesmo os <strong>de</strong>pósitos não têm<br />

uma organização quanto aos equipamentos e em relação ao espaço físico<br />

também, visto que misturam materiais recicláveis com rejeito do lixo.<br />

Assim, os <strong>de</strong>pósitos classificados como precários têm toda a ativida<strong>de</strong><br />

realizada a céu aberto, em péssimas condições <strong>de</strong> higiene e trabalho<br />

e, segundo diagnóstico realizado por Lucia Pinto (2004), “funcionam<br />

em alguns casos próximos ao mangue e em associação com locais<br />

<strong>de</strong> distribuição <strong>de</strong> drogas”, e ainda poluem o ambiente com a queima<br />

<strong>de</strong> fios <strong>de</strong> cobre e pneus.<br />

Outro ponto <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> efervescência no cenário do território <strong>de</strong><br />

Jardim Gramacho é a perversa forma <strong>de</strong> catação efetuada pelos catadores<br />

<strong>de</strong> lixo que, por meio do garimpo <strong>de</strong> saco em saco, separam o<br />

material para ser comercializado. Embora seja responsável pela sobrevivência<br />

<strong>de</strong>sses trabalhadores, a forma visualmente é estigmatizante e<br />

<strong>de</strong>preciativa.<br />

Analisamos a questão acima à luz da fala <strong>de</strong> Dirce Koga a respeito<br />

da classe excluída, que, segundo a autora, <strong>de</strong>verá ter a resistência<br />

dobrada em função da necessida<strong>de</strong> cotidiana da luta pela sobrevivência<br />

física aliada à sobrevivência moral, “pelo fato <strong>de</strong> serem naturalmente<br />

suspeitas no meio <strong>de</strong> uma socieda<strong>de</strong> altamente segregadora” (Koga,<br />

2001, p. 45).<br />

Inúmeras são as questões a serem levantadas pelo território <strong>de</strong><br />

Jardim Gramacho. Listamos algumas por consi<strong>de</strong>rarmos fundamentais<br />

para enten<strong>de</strong>rmos a real situação dos catadores <strong>de</strong> lixo que são, a todo<br />

o momento, furtados da sua condição <strong>de</strong> cidadão trabalhador, primeiro<br />

pelo fato <strong>de</strong> a categoria não ser reconhecida oficialmente, e <strong>de</strong>pois por<br />

diversas perversida<strong>de</strong>s advindas do mundo global e líquido apontados<br />

por Bauman:<br />

126 jardim gramacho e o território do lixo 127 valéria pereira bastos<br />

A “população exce<strong>de</strong>nte” é mais uma varieda<strong>de</strong> <strong>de</strong> refugo humano.<br />

Ao contrário dos homini sacri, das “vidas indignas <strong>de</strong> serem<br />

vividas”!, das vítimas dos projetos <strong>de</strong> construção da or<strong>de</strong>m, seus<br />

membros não são “alvos legítimos” excluídos da proteção da lei<br />

por or<strong>de</strong>m do soberano. São, em vez disso “baixas colaterais”, não<br />

intencionais e não planejadas, do progresso econômico. No curso<br />

do progresso econômico (a principal linha <strong>de</strong> montagem/<strong>de</strong>smon-


tagem da mo<strong>de</strong>rnização), as formas existentes <strong>de</strong> “ganhar a vida”<br />

são sucessivamente <strong>de</strong>smanteladas e partidas em componentes<br />

<strong>de</strong>stinados a serem remontados (“reciclados”) em novas formas.<br />

Nesse processo, alguns componentes são danificados a tal ponto<br />

que não po<strong>de</strong>m ser consertados, enquanto, dos que sobrevivem à<br />

fase <strong>de</strong> <strong>de</strong>smonte, somente uma quantida<strong>de</strong> reduzida é necessária<br />

para compor os novos mecanismos <strong>de</strong> trabalho, em geral mais<br />

dinâmicos e menos robustos.<br />

Bauman, 2004, p. 53<br />

Pensando a partir <strong>de</strong>ssa reflexão, po<strong>de</strong>mos consi<strong>de</strong>rar o catador <strong>de</strong> lixo<br />

como população exce<strong>de</strong>nte do processo, pois já sinalizamos anteriormente<br />

que ele é o menos beneficiado. Assim percebemos que, no jogo <strong>de</strong><br />

po<strong>de</strong>res, os que sobrevivem acabam por se tornar algozes do seu próprio<br />

companheiro, pois o nível <strong>de</strong> mobilida<strong>de</strong> apresentado por eles é <strong>de</strong><br />

se transformar em comprador, ou seja, passar a <strong>de</strong>ter po<strong>de</strong>r do capital.<br />

Com isso, <strong>de</strong>sconhecem sua origem, ou, quando isso não acontece <strong>de</strong><br />

imediato, passam a fazer <strong>de</strong>svio da rota do material que <strong>de</strong>veria ir para o<br />

aterro, <strong>de</strong>ixando chegar somente aquilo que não tem valor comercial.<br />

No entanto, <strong>de</strong>ntro da lógica capitalista, a venda realizada pelos<br />

catadores no aterro ocorre <strong>de</strong> forma a <strong>de</strong>svalorizar o produto que os<br />

<strong>de</strong>pósitos estabelecidos no entorno compram e transportam em seus<br />

caminhões, furtando daqueles que dão a partida no processo a possibilida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> negociar diretamente com as indústrias e se inserirem como<br />

apontam Cortizo e Oliveira (2004).<br />

como integrantes da “articulação do binômio capital-trabalho, na<br />

apropriação coletiva dos meios <strong>de</strong> produção e dos resultados da<br />

produção, na prática da autogestão, na apreensão <strong>de</strong> todo o processo<br />

produtivo pelos todos os trabalhadores, na valorização <strong>de</strong> cada<br />

pessoa, na construção do coletivo, no compromisso com os outros<br />

trabalhadores, com as questões sociais e com a sustentabilida<strong>de</strong><br />

ambiental”<br />

Cortizo e Oliveira, 2004, p. 87<br />

Em face <strong>de</strong>sse cenário <strong>de</strong> <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong> posto no cotidiano da ativida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> catação, na qual estão presentes os processos exclusão/inclusão,<br />

precarização do trabalho, ausência do exercício <strong>de</strong> cidadania, <strong>de</strong>semprego<br />

estrutural, <strong>de</strong>squalificação social e informalida<strong>de</strong>, entre outras<br />

questões, acreditamos ser <strong>de</strong> fundamental importância dialogar com<br />

alguns autores para enten<strong>de</strong>r melhor essa trama.<br />

Por outro lado, faz-se necessário compreen<strong>de</strong>r também como se dá<br />

o processo <strong>de</strong> <strong>de</strong>svio existente no trajeto até o aterro metropolitano, uma<br />

vez que a rota do lixo é <strong>de</strong>marcada por um território construído a partir<br />

<strong>de</strong> <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong>s <strong>de</strong> acesso e <strong>de</strong> vantagens, pois por cada gota <strong>de</strong> chorume<br />

(líquido oriundo do efeito químico produzido pelo lixo orgânico), ou<br />

cada saco <strong>de</strong> coleta domiciliar <strong>de</strong>ixado no caminho, é possível usufruir<br />

<strong>de</strong> um benefício, transformando, assim, em moeda corrente todo e qualquer<br />

resquício advindo <strong>de</strong>ssa ativida<strong>de</strong>. Furta-se, mais uma vez, da mão<br />

do catador o material mais valorizado, pois muito embora o montante<br />

do que é recebido (8 mil toneladas/dia) seja significativo, o que é consi<strong>de</strong>rado<br />

nobre fica pelo caminho, na mão daqueles que <strong>de</strong>têm o domínio<br />

e/ou po<strong>de</strong>r <strong>de</strong> negociação, que, como já vimos, não é o catador.<br />

Para melhor enten<strong>de</strong>r este processo, procuramos buscar sustentação<br />

teórica em Koga (2001), que realizou um estudo a respeito <strong>de</strong> território<br />

que nos permitiu compreen<strong>de</strong>r melhor as tramas existentes nesses<br />

espaços, que não se constituem apenas como área geográfica e/ou<br />

<strong>de</strong> concentração <strong>de</strong> um povo, mas po<strong>de</strong>m ser consi<strong>de</strong>radas como<br />

(…) um dos elementos potenciais para uma nova perspectiva redistributiva<br />

possível para orientar as políticas públicas. A redistribuição<br />

viabilizada pelo acesso às condições <strong>de</strong> vida instaladas no território<br />

on<strong>de</strong> se vive soma-se aos <strong>de</strong>mais processos redistributivos salariais,<br />

fiscais ou tributários, fundiários e das garantias sociais, como<br />

a própria reforma fundiária, a reforma fiscal. Parto do pressuposto<br />

<strong>de</strong> que as políticas públicas ao se restringirem ao estabelecimento<br />

prévio <strong>de</strong> públicos-alvos ou <strong>de</strong>mandas genéricas apresentam fortes<br />

limitações, no que se refere a conseguirem abarcar as <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong>s<br />

concretas existentes nos diversos territórios que compõem uma<br />

cida<strong>de</strong>, e assim permitir maior efetivida<strong>de</strong>, <strong>de</strong>mocratização e conquista<br />

<strong>de</strong> cidadania.<br />

Koga, 2003, p.33<br />

Na busca <strong>de</strong> aprofundarmos o entendimento a respeito do que estamos<br />

problematizando, e, ainda, objetivando apreen<strong>de</strong>r como alguns dos atores<br />

envolvidos percebem a rota do lixo <strong>de</strong>ntro do território <strong>de</strong> Jardim<br />

Gramacho, entre os meses <strong>de</strong> maio e junho realizamos cinco entrevistas<br />

com alguns catadores e com dois donos <strong>de</strong> <strong>de</strong>pósitos, com a finalida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> melhor compreen<strong>de</strong>rmos essa trama <strong>de</strong> relações existentes e o<br />

olhar tanto <strong>de</strong> uns quanto <strong>de</strong> outros a respeito da ca<strong>de</strong>ia produtiva <strong>de</strong><br />

reciclagem e o papel <strong>de</strong>les nesse processo perverso.<br />

Estruturamos as entrevistas com o objetivo <strong>de</strong> saber o que os catadores<br />

tinham em mente a respeito do seu papel na ca<strong>de</strong>ia industrial<br />

<strong>de</strong> reciclagem, além <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ntificar como eles se sentiam na ativida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

catação e como percebiam a sua função em relação ao meio ambiente.<br />

Por fim, procuramos saber o que conheciam a respeito do trajeto dos<br />

caminhões e suas histórias <strong>de</strong>ntro do território, o que <strong>de</strong>nominamos <strong>de</strong><br />

“a rota do lixo <strong>de</strong> Jardim Gramacho”.<br />

Em relação aos donos <strong>de</strong> <strong>de</strong>pósitos, utilizamos as mesmas perguntas<br />

feitas para os catadores, tendo somente modificado a questão relativa<br />

ao trabalho que eles realizavam no aterro junto aos catadores.<br />

No que diz respeito às respostas, os cinco catadores reconheceram<br />

que são importantes na ca<strong>de</strong>ia industrial <strong>de</strong> reciclagem, mas são sabe-<br />

128 jardim gramacho e o território do lixo 129 valéria pereira bastos


dores que o trabalho que <strong>de</strong>senvolvem é <strong>de</strong>svalorizado, principalmente<br />

pelos donos <strong>de</strong> <strong>de</strong>pósitos, mas intencionam trabalhar para romper este<br />

domínio. Como exemplo, apresentamos duas falas das catadoras:<br />

Acho que o catador é um agente ambiental, mas não é valorizado,<br />

não é mesmo, mas por causa das indústrias, porque se agente tiver<br />

a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> estar nas gran<strong>de</strong>s negociações, eliminaria o atravessador,<br />

mas isto é muito difícil.<br />

Entrevista realizada na coopergramacho em 03/06/2005, cooperada<br />

Audinéa da Silva<br />

Acho que o catador é importante, mas seu papel não é tão reconhecido<br />

porque se conseguíssemos ven<strong>de</strong>r para indústria seria melhor,<br />

mas aí o que se tinha que fazer é juntar o material em um núcleo e<br />

com isto agregar mais valor e com isto melhorar o trabalho.<br />

Entrevista realizada com a catadora Maria Sandra da Silva em<br />

03/06/2005<br />

Quanto à importância do seu papel como agentes ambientais, todos se<br />

i<strong>de</strong>ntificaram com a classificação formal junto ao Ministério do Trabalho,<br />

mas não souberam <strong>de</strong>talhar como po<strong>de</strong>riam tornar isso <strong>de</strong> conhecimento<br />

público e ter esse papel reconhecido <strong>de</strong> fato pela socieda<strong>de</strong>.<br />

Po<strong>de</strong>mos ilustrar essa posição com a fala <strong>de</strong> um dos entrevistados:<br />

Eu me consi<strong>de</strong>ro sim, agente ambiental, porque estou reciclando e<br />

evitando menos resíduos lá em cima no vazamento.<br />

Entrevista com a catadora Tânia em 26/05/2005<br />

Eu me consi<strong>de</strong>ro catador <strong>de</strong> material reciclável e um agente ambiental,<br />

assim porque agente contribui com o meio ambiente, porque<br />

aquele material que seria <strong>de</strong>spejado no lixão ou Aterro Sanitário que<br />

prejudica o Meio Ambiente agente ta fazendo outro projeto que é <strong>de</strong><br />

reciclagem e com isto você aumenta a vida útil dos Aterros e evita<br />

que novas matérias-prima seja retirada da natureza para fazer o<br />

mesmo produto.<br />

Entrevista com o catador Sebastião em 06/06/2005<br />

Em relação à rota no território do lixo, <strong>de</strong> acordo com cada um dos<br />

entrevistados que ofereceu riqueza <strong>de</strong> <strong>de</strong>talhes em suas respostas, ficou<br />

evi<strong>de</strong>nte a ocorrência <strong>de</strong> diversas formas <strong>de</strong> <strong>de</strong>svios existentes e as articulações<br />

estabelecidas, ora pelos motoristas das carretas e/ou caminhões,<br />

ora pelos garis, entre outros po<strong>de</strong>res mencionados, que realizam<br />

a comercialização do material potencialmente reciclável que <strong>de</strong>veria ser<br />

conduzido diretamente para o aterro, mas é negociado antes <strong>de</strong> chegar<br />

no seu <strong>de</strong>stino final. Deixaram claro também que é bastante confusa<br />

essa rota e, por vezes, perigosa a interferência para evitar o <strong>de</strong>svio do<br />

material, conforme ilustra a seguinte fala:<br />

Bom penso que diversas coisas acontece <strong>de</strong> lá até aqui, cara, é uma<br />

rota muito confusa, pois <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ndo do material recolhido já sai<br />

negociado <strong>de</strong> lá mesmo, porque hoje em dia o motorista já conhece<br />

o valor do reciclado do lixo, então se ele sabe que aquele material<br />

que esta carregando tem algum valor automaticamente ele já <strong>de</strong>stina<br />

para algum lugar, aqueles que não tem bom conhecimento, mas<br />

alguém conhece que o material tem valor ele já extravia para o meio<br />

do caminho para outro lugar, uma série <strong>de</strong> processos que se ocorre,<br />

outros por uma questão <strong>de</strong> não conhecimento ou questão ética não<br />

<strong>de</strong>stina, mas gran<strong>de</strong> parte fica no meio do caminho.<br />

Entrevista do catador Sebastião em 06/06/05<br />

A catadora Maria Sandra enfoca que:<br />

Aí ele sofre perda nos caminhos é muito <strong>de</strong>sviamento <strong>de</strong> carro, cada<br />

um quer ganhar seu tostãozinho, embora não ache correto prefiro<br />

não falar muito sobre o assunto.<br />

Entrevista catadora Maria Sandra em 03/06/2005<br />

Já os donos <strong>de</strong> <strong>de</strong>pósitos, quando entrevistados, reconheceram a importância<br />

dos catadores na ca<strong>de</strong>ia industrial <strong>de</strong> reciclagem, mas procuraram<br />

justificar a importância e a necessida<strong>de</strong> da existência da categoria<br />

<strong>de</strong> sucateiros, em razão do material oriundo do aterro ser impuro, e com<br />

isso existir uma rejeição total das indústrias quanto à compra direta.<br />

Sua ativida<strong>de</strong> consiste em beneficiar este produto através da limpeza<br />

e misturá-lo com outros materiais, oriundos <strong>de</strong> compra proce<strong>de</strong>nte da<br />

ativida<strong>de</strong> <strong>de</strong> catação nas ruas. Assim ven<strong>de</strong>m para outros atravessadores<br />

que ainda melhoram mais o material, até chegar à indústria. Outro<br />

ponto abordado por eles é a existência dos encargos e tributos que por<br />

vezes os impe<strong>de</strong> <strong>de</strong> negociar diretamente, “que dirá o catador”.<br />

Bom, o catador é a primeira fase da reciclagem do papel, primeira<br />

fase é o catador naturalmente que tira o que é aproveitável do lixo,<br />

tá, a segunda fase é o dono do <strong>de</strong>pósito evi<strong>de</strong>ntemente, né, que nós<br />

fazemos? Damos uma mexida no material <strong>de</strong> forma que separe o<br />

que ele catou e não presta que vai voltar para o lixão e beneficiamos<br />

o que presta, enfardamos e mandamos para o atravessador, isto<br />

porque o papel do lixão é diferente do papel da rampa por uma série<br />

<strong>de</strong> motivos é diferente, porque o material da rua tem um valor e do<br />

lixão tem outro e este material não po<strong>de</strong> ser mandado diretamente<br />

para a indústria porque ela não aceita em razão das impurezas<br />

oriundas do lixão, mas para o atravessador que também compra<br />

papel da rua torna-se vantagem, pois ele mistura 50% <strong>de</strong> cada e<br />

além <strong>de</strong> pagar mais baixo pelo nosso material diminui seu custo e<br />

ele então manda para indústria e o material é aceito.<br />

Entrevista realizada no Aterro Metropolitano <strong>de</strong> Gramacho em 09/06/2005<br />

Sr. Sebastião Luiz – Depósitos 07 e 35<br />

Quanto à rota do lixo, assim como os catadores, todos sabem das tran-<br />

130 jardim gramacho e o território do lixo 131 valéria pereira bastos


sações comerciais executadas antes <strong>de</strong> chegar ao vazamento oficial –<br />

Aterro Metropolitano <strong>de</strong> Gramacho –, mas aceitam e chegam a afirmar<br />

que, embora não tenham certeza por não terem sido ameaçados ainda,<br />

mexer com essa engrenagem po<strong>de</strong> criar <strong>de</strong>sconforto e perigo <strong>de</strong> vida.<br />

Um <strong>de</strong>les relata:<br />

Já ouvi falar que são pessoas com um tipo <strong>de</strong> influência, digamos<br />

em termos <strong>de</strong> coagir as outras pessoas a fazer isto, os próprios carreteiros<br />

da comlurb e s/a paulista, talvez não seja para benefício<br />

próprio, mas uma forma <strong>de</strong> coação senão fizer isto po<strong>de</strong> acontecer<br />

alguma coisa não só com o emprego, mas <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ndo da forma<br />

<strong>de</strong> quem estiver coagindo a sua própria integrida<strong>de</strong> física.<br />

Entrevista realizada no Aterro Metropolitano <strong>de</strong> Gramacho em 03/06/2005<br />

Sr. Gilmar – Depósito 26<br />

Diante dos <strong>de</strong>poimentos, torna-se evi<strong>de</strong>nte que a questão levantada a<br />

respeito da comercialização e do consequente <strong>de</strong>svio do lixo antes <strong>de</strong><br />

o mesmo chegar ao aterro existe. Isso confirma que o catador é lesado<br />

<strong>de</strong> diversas maneiras, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a forma como se dá concretamente o trajeto<br />

do lixo até o seu <strong>de</strong>spejo no <strong>de</strong>stino final, e ainda na formação da<br />

ca<strong>de</strong>ia industrial <strong>de</strong> reciclagem – o material que é mais valorizado no<br />

processo <strong>de</strong> comercialização não chega ao seu <strong>de</strong>stino final inteiro, o<br />

que em muito reduz o ganho daqueles que estão à espera do material<br />

bruto para separação e venda.<br />

Nesse cenário, po<strong>de</strong>mos afirmar que o território <strong>de</strong> Jardim Gramacho<br />

é permeado por questões. Os diversos atores <strong>de</strong>param-se diariamente<br />

com <strong>de</strong>safios em razão do negócio lucrativo do lixo, que envolve<br />

cada vez mais um elenco <strong>de</strong> situações que giram em torno do lucro a ser<br />

obtido, não importando <strong>de</strong> que forma ele possa ter sido adquirido.<br />

Por outro lado, apesar <strong>de</strong> reconhecerem a existência do <strong>de</strong>svio e,<br />

portanto, o furto do seu potencial produto, os catadores <strong>de</strong> lixo não se<br />

organizam para o <strong>de</strong>smonte da rota, preferindo assumir uma atitu<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> acomodação e, consequentemente, resignação diante da realida<strong>de</strong>.<br />

Po<strong>de</strong>-se, diante disso, levantar uma questão: qual seria o po<strong>de</strong>r efetivo<br />

que teriam os catadores para alterar esse estado <strong>de</strong> coisas?<br />

Além disso, os <strong>de</strong>poimentos permitiram abrir um leque <strong>de</strong> informações<br />

sobre fatos que obstaculizam e impe<strong>de</strong>m o catador <strong>de</strong> participar<br />

da ca<strong>de</strong>ia produtiva como agente <strong>de</strong> parte do negócio e, com isso,<br />

usufruir dos lucros. Possibilitou, ainda, olhar para além da forma perversa<br />

utilizada no capitalismo para lidar com essa mercadoria específica<br />

e permitiu vislumbrar a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> aprofundar a discussão e<br />

a reflexão sobre a questão da formação e da organização da categoria<br />

<strong>de</strong> catadores.<br />

Aproximamos o olhar, neste momento em que o catador passa<br />

por esse processo injusto <strong>de</strong> não participação na ca<strong>de</strong>ia produtiva, do<br />

estudo <strong>de</strong>senvolvido por Paugam (2003), a respeito do processo por ele<br />

<strong>de</strong>nominado <strong>de</strong> <strong>de</strong>squalificação social. Esse fator tem relação direta<br />

com o processo <strong>de</strong> precarização do trabalho e, também, <strong>de</strong> ausência <strong>de</strong><br />

qualificação, que por vezes leva o trabalhador ao <strong>de</strong>semprego e, consequentemente,<br />

ao processo <strong>de</strong> exclusão social, aqui reconhecida como<br />

a nova exclusão, que tem características à luz do mundo globalizado,<br />

on<strong>de</strong> o avanço tecnológico e a automação dos serviços se fazem presente<br />

e empurram cada vez mais os indivíduos para a informalida<strong>de</strong>.<br />

O autor, ao apontar o estado <strong>de</strong> <strong>de</strong>squalificação social, i<strong>de</strong>ntifica<br />

ainda diferentes tipos <strong>de</strong> indivíduos. No caso dos catadores, acreditamos<br />

que estejam inseridos na qualificação <strong>de</strong> marginalizados organizados,<br />

visto que participam <strong>de</strong> um contexto cultural tolerável em um espaço<br />

controlado pela experiência das trocas das ativida<strong>de</strong>s cotidianas e, às<br />

vezes, graças aos recursos do imaginário (Paugam, 2003, p. 177).<br />

Inserimos o catador <strong>de</strong> lixo nesse contexto, on<strong>de</strong> foi possível i<strong>de</strong>ntificá-lo<br />

como aquele que, por se sentir excluído do acesso a melhores<br />

condições <strong>de</strong> trabalho, até mesmo <strong>de</strong> usufruir <strong>de</strong> bens e serviços como<br />

qualquer cidadão, <strong>de</strong>senvolveu uma cultura voltada para a submissão,<br />

naturalizando esta condição <strong>de</strong> modo a consi<strong>de</strong>rar que a exploração <strong>de</strong><br />

sua mão-<strong>de</strong>-obra em todos os sentidos é muito normal. Conforme àlguns<br />

<strong>de</strong>poimentos colhidos nas entrevistas que realizamos, para eles é muito<br />

difícil chegar próximo às gran<strong>de</strong>s indústrias. Com isso, a negociação<br />

fica sempre não mão dos sucateiros, ou seja, daqueles que dominam o<br />

“mundo dos recicláveis” através do po<strong>de</strong>r do dinheiro.<br />

Bibliografia<br />

bauman, Zygmunt. I<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>. <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> Janeiro: Zahar, 2004.<br />

cortizo. Maria Del Carmen; OLIVEIRA, Adriana Lucinda. A economia solidária<br />

como espaço <strong>de</strong> politização. in: Serviço Social e Socieda<strong>de</strong>, São Paulo, Cortez,<br />

v.25, n.80, nov. 2004.<br />

expo brasil. Desenvolvimento local. Disponível em: Acesso em: 29 maio 2007.<br />

ibase. Diagnóstico social: bairro Jardim Gramacho. <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> Janeiro: IBASE, ago<br />

2005. Mimeo.<br />

koga. Cida<strong>de</strong>s territorializadas entre enclaves e potências. 2001. Tese <strong>de</strong><br />

Doutorado. (Programa <strong>de</strong> Pós-Graduação em Serviço Social). Pontifícia<br />

Universida<strong>de</strong> Católica. São Paulo, 2001.<br />

pinto, Lucia Luiz. Diagnóstico sobre a situação atual do aterro metropolitano <strong>de</strong><br />

Jardim Gramacho. <strong>Duque</strong> <strong>de</strong> <strong>Caxias</strong>: S/A Paulista, nov. 2004. Mimeo.<br />

santos, Milton; silveira, Maria Laura. O Brasil: território e socieda<strong>de</strong> no início<br />

do século XXI. <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> Janeiro: Record, 2006.<br />

________. Por uma globalização: do pensamento único à consciência universal.<br />

14.ed. <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> Janeiro: Record, 2007.<br />

velloso, Marta Pimenta. A Ativida<strong>de</strong> e Resíduos Resultantes da Ativida<strong>de</strong><br />

132 jardim gramacho e o território do lixo 133 valéria pereira bastos


Humana: da produção do lixo a nomeação do resto. Tese <strong>de</strong> Doutorado.<br />

(Programa <strong>de</strong> Pós-Graduação em Sau<strong>de</strong> do Trabalhador). Fundação Oswaldo<br />

Cruz, Escola Nacional <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> Pública. <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> Janeiro, 2004.<br />

Valéria Pereira Bastos<br />

É doutora em Seviço Social. Suas áreas <strong>de</strong> pesquisa são meio ambiente, estu-<br />

dos culturais e <strong>de</strong>senvolvimento sustentável. Atualmente é professora da Pontifícia<br />

Universida<strong>de</strong> Católica do <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> Janeiro (puc-<strong>Rio</strong>). Sua experiência é com ênfase<br />

em trabalho social voltado para o meio ambiente com catadores <strong>de</strong> materiais reci-<br />

cláveis, atuando principalmente nos seguintes temas: i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>, trabalho, exclu-<br />

são social, políticas sociais e contemporaneida<strong>de</strong>.<br />

vbastos@puc-rio.br<br />

134 jardim gramacho e o território do lixo 135


encerramento<br />

136 Pátio interno do Instituto São Bento<br />

137<br />

No dia 6 <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 2008, o nima realizou a cerimônia <strong>de</strong> encerramento<br />

do projeto Educação Ambiental: formação <strong>de</strong> valores ético-ambientais<br />

para o exercício da cidadania no município <strong>de</strong> <strong>Duque</strong> <strong>de</strong> <strong>Caxias</strong>.<br />

O encontro aconteceu no Pólo Avançado da puc-<strong>Rio</strong>, o Instituto São<br />

Bento, em <strong>Duque</strong> <strong>de</strong> <strong>Caxias</strong>, e contou com a participação <strong>de</strong> representantes<br />

<strong>de</strong> todas as esferas do projeto. O objetivo do evento foi proporcionar<br />

um espaço <strong>de</strong> troca, on<strong>de</strong> todos os participantes pu<strong>de</strong>ssem conhecer<br />

os trabalhos realizados ao longo do semestre.<br />

Durante a abertura da cerimônia, os representantes da puc-<strong>Rio</strong>,<br />

da Diocese <strong>de</strong> <strong>Duque</strong> <strong>de</strong> <strong>Caxias</strong>, da Prefeitura <strong>de</strong> <strong>Duque</strong> <strong>de</strong> <strong>Caxias</strong>, da<br />

Petrobras e do nima <strong>de</strong>stacaram a importância da realização <strong>de</strong> um projeto<br />

como esse que, além <strong>de</strong> respaldar professores da re<strong>de</strong> municipal<br />

no <strong>de</strong>senvolvimento da educação ambiental a partir <strong>de</strong> uma abordagem<br />

local, ainda promove uma integração entre universida<strong>de</strong>, escola e socieda<strong>de</strong>.<br />

Como foi ressaltado por um participante, a mudança <strong>de</strong> postura<br />

que o atual quadro ambiental e social exige passa inexoravelmente pela<br />

educação ambiental, essa maneira holística <strong>de</strong> transmitir conhecimento<br />

ao mesmo tempo em que se afirmam valores.<br />

Após a entrega <strong>de</strong> certificados aos professores municipais <strong>de</strong><br />

<strong>Duque</strong> <strong>de</strong> <strong>Caxias</strong>, ocorreram as apresentações dos projetos <strong>de</strong>senvolvidos<br />

por eles em suas respectivas escolas. Através <strong>de</strong>ssas exposições<br />

ficou claro que a educação ambiental já era abordada na maioria<br />

das instituições, através <strong>de</strong> temas como reciclagem, aproveitamento<br />

integral dos alimentos, uso consciente da água e reaproveitamento <strong>de</strong><br />

materiais. O que nos mostrou, mais uma vez, a importância <strong>de</strong>ssa iniciativa<br />

que busca a integração e a complementação dos trabalhos realizados<br />

nas escolas com o conteúdo acadêmico e científico trazido pela<br />

universida<strong>de</strong>.<br />

O número <strong>de</strong> trabalhos apresentados na tentativa <strong>de</strong> ilustrar <strong>de</strong><br />

forma didática os resultados obtidos, assim como o nítido empenho<br />

dos professores em realizá-los, mostraram o tamanho da necessida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> se trabalhar com esse tema e a vonta<strong>de</strong> que crianças e adultos têm<br />

<strong>de</strong> sentirem que estão fazendo a sua parte na conservação do planeta.<br />

Projetos como Os agentes pedagógicos ambientais, <strong>de</strong>senvolvido pela<br />

Escola Municipal Guadalajara, serviram como exemplo <strong>de</strong> que é possível<br />

envolver alunos, pais e professores em ativida<strong>de</strong>s lúdicas que utilizam<br />

a sensibilida<strong>de</strong> para transmitir conhecimento.<br />

O término da primeira etapa do projeto Educação Ambiental: formação<br />

<strong>de</strong> valores ético-ambientais para o exercício da cidadania garantiu<br />

gran<strong>de</strong> satisfação a seus executores, uma vez que mostrou o interesse<br />

crescente da socieda<strong>de</strong> pela educação ambiental, assim como o valor da<br />

união <strong>de</strong> instituições públicas e privadas na articulação <strong>de</strong> resultados<br />

efetivos em prol do <strong>de</strong>senvolvimento social e ambiental.<br />

Por fim, é necessário salientar que o presente projeto se configura<br />

como uma importante mediação na divulgação e concretização da Lei<br />

n.9795, <strong>de</strong> 27 <strong>de</strong> abril <strong>de</strong> 1999, que institui a Política Nacional <strong>de</strong> Educação<br />

Ambiental, tanto nos aspectos formais como informais.


Outro dia li uma frase que eu achei inte-<br />

ressante… “Nós não herdamos o pla-<br />

neta dos nossos pais, nós o tomamos<br />

emprestado dos nossos filhos”.<br />

Arcebispo Dom José Francisco<br />

Rezen<strong>de</strong> Dias<br />

Arquidiocese <strong>de</strong> <strong>Duque</strong> <strong>de</strong> <strong>Caxias</strong><br />

e São Jõao <strong>de</strong> Meriti<br />

Eu diria que nesse dia nós temos dois<br />

sentimentos. Primeiro, uma alegria e<br />

a esperança… A alegria <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r tra-<br />

duzir aquilo que nós temos no brasão<br />

da nossa universida<strong>de</strong>, um brasão que<br />

tem duas asas… o quanto é importante<br />

saber que essas asas conseguiram voar<br />

lá da Zona Sul até <strong>Caxias</strong>.<br />

Padre Josafá Carlos <strong>de</strong> Siqueira<br />

Vice-Reitor da puc-<strong>Rio</strong><br />

Vocês po<strong>de</strong>rão nos ajudar a exten<strong>de</strong>r<br />

esse sonho, para que a realida<strong>de</strong> da<br />

Baixada, do recôncavo da Guanabara,<br />

cada vez mais possa ter sua própria<br />

formação.<br />

Doutor Celso Pinto Caris<br />

Professor do Departamento <strong>de</strong> Teologia<br />

da puc-<strong>Rio</strong> e do Instituto São Bento<br />

O gran<strong>de</strong> sentido <strong>de</strong> estarmos aqui é<br />

fazer uma gran<strong>de</strong> parceria entre todos.<br />

Não viemos aqui pensando em ensinar<br />

nada a ninguém, viemos com a intenção<br />

<strong>de</strong> trocar coisas.<br />

Professor Luiz Felipe Guanaes Rego<br />

Diretor do <strong>NIMA</strong><br />

138 139<br />

Efetivamente, a gente só vai conse-<br />

guir transformar o quadro caótico e crí-<br />

tico que o planeta vive através <strong>de</strong> uma<br />

mudança <strong>de</strong> postura. Isso passa ine-<br />

xoravelmente por uma coisa chamada<br />

Educação Ambiental.<br />

Ronaldo Chaves Torres<br />

Representante da Petrobras


Professores da re<strong>de</strong> municipal<br />

<strong>de</strong> <strong>Duque</strong> <strong>de</strong> <strong>Caxias</strong> que<br />

participaram do projeto<br />

Adriana Ambrozio Venâncio da Silva (Biologia)<br />

Pré-Iguaçu<br />

Adriana <strong>de</strong> Araújo Maia (Biologia)<br />

e. m. General Mourão Filho<br />

Adriana Olivia Briata da Conceição (Ciências)<br />

Escola Estadual Álvaro Negromonte<br />

Ana Lúcia Teixeira (Geografia)<br />

e. e. Hervalina Diniz Freire<br />

Andrea Nunes da Silva (Orientação Educacional)<br />

e. m. Carmem Corrêa dos Reis Brás<br />

Angélica F. <strong>de</strong> Santana Gue<strong>de</strong>s (Pedagogia)<br />

e. e. Álvaro Negromonte<br />

Aureo Ferreira Muri (Ciências)<br />

ciep 338 (Municipalizado Célia Rabelo)<br />

Bruna C. S. Lima (Ciências Biológicas)<br />

Unigranrio<br />

Carlos José Alves (Ciências)<br />

e. m. Roberto Weguelin <strong>de</strong> Abreu<br />

Cátia Cristina Rodrigues da Silva<br />

Claudia Regina Siqueira do Carmo (Ciências)<br />

Escola Vilela Fernan<strong>de</strong>s<br />

Claudia Souto Vieira da Silva<br />

(Ciências Físicas e Biológicas)<br />

ciep 113 – c. f. Nogueira Mineiro<br />

Cidvaldo Victor Cavalcanti (Educação Artística)<br />

e. m. Anton Dworsak<br />

Cristiane Santos da Silva (Ciências e Biologia)<br />

Colégio Estadual Fernando Figueiredo<br />

Cristina Maria da Silva (Geografia)<br />

e. m. Presi<strong>de</strong>nte Costa e Silva<br />

Denise <strong>de</strong> Oliveira Silva<br />

141<br />

Deusilene Soares Ferreira (Ensino Básico)<br />

e. m. Professora Amélia Câmara dos Santos<br />

Dilza Lima Santos (Geografia)<br />

ciep 340 – Profª Lais Martins<br />

Doti Gay Pinto (Ciências)<br />

e. m. Expedicionário Aquino <strong>de</strong> Araújo<br />

Elisabete Santos Peixoto da Silva (Geografia)<br />

e. e. Frei Henrique <strong>de</strong> Coimbra<br />

Fabiana Pereira Policarpo (Disciplina Integrada)<br />

e. m. Professora Amélia Câmara dos Santos<br />

Giuseppina A<strong>de</strong>lia Briata Leiros (Pedagogia)<br />

e. e. Álvaro Negromonte<br />

Helenita Maria Beserra da Silva (História)<br />

e. e. Guadalajara<br />

Ivana Maria Dias (Ciências/Biologia)<br />

e. e. Álvaro Negromonte<br />

José Antonio Casais Casais (Ciências)<br />

e. m. Carmem Correa<br />

Katya <strong>de</strong> Oliveira Vieira (Ciências)<br />

e. m. Evlina Pinto <strong>de</strong> Barros<br />

Lenise <strong>de</strong> Oliveira Paiva (Sociologia)<br />

Centro <strong>de</strong> Referência <strong>de</strong> Assistência Social<br />

Leo<strong>de</strong>gário Baptista Cor<strong>de</strong>iro (Ciências)<br />

e. m. Expedicionário Aquino <strong>de</strong> Araújo<br />

Lídia <strong>de</strong> Sá Reis (Educação Ambiental)<br />

Coor<strong>de</strong>nadoria Regional Metropolitana V<br />

Lizangela Reis Santana (Educação Infantil)<br />

Casa da Criança Esperança do Futuro<br />

Luciana Ambrozio Venâncio da Silva<br />

(Geografia e História)<br />

Colégio Flama<br />

Centro Educacional Nogueira Mineiro<br />

continua na página seguinte


continuação da página anterior<br />

Marcelen Chagas do Amaral (Pedagogia)<br />

Colégio Flama<br />

Margarida M. da Silva Ribeiro (Educação Básica)<br />

Casa da Criança Esperança do Futuro<br />

Maria Berna<strong>de</strong>te Fonseca Amarante<br />

Maria Mônica Sarandy (História)<br />

e. e. Alemy Tavares da Silva<br />

Marineth Muiz Lyra Cor<strong>de</strong>iro <strong>de</strong> Almeida<br />

Marisa Sanche (Ciências)<br />

Escola Equipe Infantil – sme<br />

Maristela dos Santos <strong>de</strong> Oliveira<br />

Marta <strong>de</strong> Souza Golçalves (Língua Portuguesa)<br />

ciep 199 – Charles Chaplin<br />

ciep 218 – M. Hermes Lima<br />

Nelson Barroso da Conceição (Biologia)<br />

Secretaria <strong>de</strong> Meio Ambiente<br />

Paulo Pedro da Silva (História)<br />

e. m. Professor João Faustino<br />

Regina Célia da Silva<br />

Ricardo Bustamante da Silva (Geografia)<br />

Escola Aquino <strong>de</strong> Araújo<br />

Rômulo Lima Ayres (Geografia e História)<br />

ciep 404<br />

Rosânea Luxidi Duarte da Costa (Ciências)<br />

e. m. Dr. Ely Combat<br />

Si<strong>de</strong>li Vieira Maia (História e Geografia)<br />

Coor<strong>de</strong>nadoria Regional Metro V<br />

Sidney Nascimento Nunes (Biologia)<br />

Agência Nacional do Petróleo<br />

Silvania Rodrigues Maciel (Biologia)<br />

ciep 434 – Maria Jose Machado<br />

Silvia Regina Bastos Souza (Geografia)<br />

crrmv<br />

Simone Côrtes Rodine (Geografia)<br />

e. m. Vitela Fernan<strong>de</strong>s<br />

Suely dos Santos Cozen<strong>de</strong>y (Química)<br />

e. e. Frei Henrique <strong>de</strong> Coimbra<br />

Taciane Peixoto da Silva<br />

Vera Lucia Pifano da Cruz (Ciências e Biologia)<br />

e. m. Expedicionário Aquino <strong>de</strong> Araújo<br />

e. m. Nisla Vilela Fernan<strong>de</strong>s<br />

Apresentações<br />

Visões <strong>de</strong> Meio Ambiente dos alunos do 6º ano<br />

José Antonio Casais Casais<br />

Escola, meio ambiente e profissão<br />

Ivana Maria Dias<br />

Giuseppina Adriana Briata Leiros<br />

Vera Lúcia Pífano da Cruz<br />

Conhecendo as riquezas do Bairro São Bento<br />

Simone Côrtes Rodine<br />

Claudia Regina Siqueira do Carmo<br />

Vera Lucia Pifano da Cruz<br />

Educação ambiental a partir <strong>de</strong><br />

tendas educaticas<br />

Maria Bernar<strong>de</strong>te Amarante Fonseca<br />

Projeto sobre mina <strong>de</strong> água<br />

Luciana Ambrozio Venâncio da Silva<br />

Projeto plantando vidas<br />

Leo<strong>de</strong>gário Baptista Cor<strong>de</strong>iro<br />

Entrevistas sobre a qualida<strong>de</strong> da água<br />

Lídia <strong>de</strong> Sá Reis<br />

Direito à vida<br />

142 143<br />

Maria Mônica Sarandy<br />

Políticas públicas em educação ambiental<br />

Leane Rodrigues Martins<br />

Acampamento e apresentação <strong>de</strong> raps<br />

elaborados pelos alunos do 7º ano<br />

Elisabete Santos Peixoto da Silva<br />

Lixo: restos nos interessam<br />

Silvania Rodrigues Maciel<br />

Projeto água: qual futuro que queremos?<br />

Nelson Barroso da Conceição<br />

Esperança do Futuro<br />

Margarida Maria da Silva Ribeiro<br />

Lizangela Reis Santana<br />

Reciclagem<br />

Suely dos Santos Cozen<strong>de</strong>y<br />

Trabalho confeccionado por alguns alunos<br />

com a técnica <strong>de</strong> mosaico<br />

Suely dos Santos Cozen<strong>de</strong>y<br />

Mina <strong>de</strong> água<br />

Claudia Souto Vieira da Silva<br />

Luciana Ambrozio Venâncio da Silva<br />

Rosane Rangel da Costa<br />

Apresentação <strong>de</strong> cartazes com <strong>de</strong>senho dos<br />

alunos sobre a importância da preservação<br />

da natureza.<br />

Cidvaldo Victor Cavalcanti<br />

Andrea Nunes da Silva


Exposição<br />

<strong>de</strong> trabalhos<br />

144 145


2009<br />

Pontifícia Universida<strong>de</strong> Católica do <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> Janeiro<br />

Prof. Pe. Jesus Hortal Sánchez, S.J. — reitor<br />

Prof. Pe. Josafá Carlos <strong>de</strong> Siqueira, S.J. — vice-reitor<br />

CCS – Centro <strong>de</strong> Ciências Sociais<br />

Prof. Luiz Roberto Azevedo Cunha — <strong>de</strong>cano<br />

Prof. Nizar Messari — coor<strong>de</strong>nador setorial <strong>de</strong> pós-graduação e pesquisa<br />

Profª. Daniela Trejos Vargas — coor<strong>de</strong>nadora setorial <strong>de</strong> graduação<br />

<strong>NIMA</strong> – Núcleo Interdisciplinar <strong>de</strong> Meio Ambiente<br />

Luiz Felipe Guanaes Rego — diretor<br />

Fernando Cavalcanti Walcacer — vice-diretor<br />

Camila Tati Pereira da Silva Barata<br />

Ilana Parga Nina <strong>de</strong> Oliveira<br />

Daise dos Santos Mendonça<br />

Guilherme Moreira<br />

Marcelo Luiz Gue<strong>de</strong>s Fonseca<br />

Ana Clara Matos Carneiro Barbosa Pinto<br />

Rosana Cristine Machado <strong>de</strong> Oliveira<br />

Julia Pereira<br />

Professores<br />

Alvaro Henrique <strong>de</strong> Souza Ferreira<br />

Augusto César Pinheiro da Silva<br />

Josafá Carlos <strong>de</strong> Siqueira<br />

Regina Célia <strong>de</strong> Mattos<br />

Rita <strong>de</strong> Cássia Martins Montezuma<br />

Rogério Ribeiro <strong>de</strong> Oliveira<br />

Virgínia Totti Guimarães<br />

Valéria Pereira Bastos<br />

Prefeitura <strong>de</strong> <strong>Duque</strong> <strong>de</strong> <strong>Caxias</strong><br />

2008<br />

Washington Reis <strong>de</strong> Oliveira — prefeito<br />

José Miguel da Silva — secretário <strong>de</strong> meio ambiente<br />

2009<br />

José Camilo Zito dos Santos Filho — prefeito<br />

Samuel Maia dos Santos — secretário <strong>de</strong> meio ambiente<br />

Créditos<br />

Produçâo do ví<strong>de</strong>o<br />

Julio Uchoa<br />

Adriana Guanaes<br />

Sabrina Gortz Carauta <strong>de</strong> Souza<br />

Web<br />

Paulo Dreyer Marques<br />

Adriana Lessa Garcia<br />

Petrobras<br />

Ricardo Santos Azevedo<br />

Ronaldo Chaves Torres<br />

Da esquerda para a direita: Roosevelt, Rogério, Júlia, Sabrina, Rosana (abaixo), Marcelo,<br />

Ana Clara (abaixo), Ilana, Luiz Felipe, Camila (sentada), Rita, José Miguel, Regina, Cláudia.<br />

Coor<strong>de</strong>nação editorial<br />

Luiz Felipe Guanaes Rego<br />

Elizabeth Grandmasson<br />

Felipe Kaizer<br />

Textos<br />

Introdução (p.??)<br />

Roosevelt Fi<strong>de</strong>les <strong>de</strong> Souza<br />

Marcelo Luiz Gue<strong>de</strong>s Fonseca<br />

Trabalhos <strong>de</strong> campo (p.?? – p.??)<br />

Camila Tati Pereira da Silva Barata<br />

Marcelo Luiz Gue<strong>de</strong>s Fonseca<br />

Mapas (p.?? – p.??)<br />

Guilherme Moreira<br />

Marcelo Luiz Gue<strong>de</strong>s Fonseca<br />

Encerramento (p.?? – p.??)<br />

Ilana Parga Nina <strong>de</strong> Oliveira<br />

Revisão<br />

Luciana Werner<br />

Projeto gráfico & Diagramação<br />

Felipe Kaizer<br />

Escritório Mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> Arquitetura e Design:<br />

Níkolas Pereira (assistente)<br />

Bruno Senise (assistente)<br />

Rodrigo Martins (assistente)<br />

Produção Gráfica<br />

Portas Design:<br />

Karla <strong>de</strong> Souza<br />

Roberta Portas<br />

Imagens<br />

Todas as imagens foram produzidas<br />

pelo <strong>NIMA</strong>, exceto:<br />

Agência O Globo (p.??)<br />

146 147

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!